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MARINHA DO BRASIL
ESCOLA DE GUERRA NAVAL
C-PEM/2005
P-III-4 (Mo) – MONOGRAFIA
TEMA: A GUERRA ASSIMÉTRICA NO PÓS-GUERRA FRIA
TÍTULO: A GUERRA ASSIMÉTRICA NO PÓS-GUERRA FRIA E A POLÍTICA DE
DEFESA NACIONAL
CMG RODOLFO HENRIQUE DE SABOIA
2005
MARINHA DO BRASIL
ESCOLA DE GUERRA NAVAL
A GUERRA ASSIMÉTRICA NO PÓS-GUERRA FRIA E A POLÍTICA DE DEFESA
NACIONAL
CMG RODOLFO HENRIQUE DE SABOIA
2005
Saboia, Rodolfo Henrique de
A Guerra Assimétrica no Pós-Guerra Fria e a Política de Defesa
Nacional / Rodolfo Henrique de Saboia. Rio de Janeiro: EGN, 2005.
34 p.
Bibliografia: p.37 – 39
Monografia: C-PEM, 2005.
1. Geopolítica 2. Guerra Assimétrica 3. Política de Defesa Nacional
4. Globalização 5. Nova Ordem Mundial
RESUMO
Após a dissolução da União Soviética, com o surgimento de uma única potência
hegemônica, o mundo pós-Guerra Fria se transforma num cenário geopolítico instável e
desigual. Essas desigualdades foram acentuadas pelo fenômeno da globalização, ocorrida,
especialmente a partir da década de oitenta.
As motivações dos conflitos surgidos a partir de então, de origens tais como
nacionalismo, separatismo, religião, entre outros, num ambiente de pronunciadas
desigualdades, de todas as naturezas, incluindo a militar, resultou em que a maioria dos
enfrentamentos ocorridos desde então se deram sob a forma de guerras do tipo assimétricas,
como Guerra Irregular, Guerra de Guerrilha e terrorismo.
A fim de melhor compreender esse fenômeno e discutir a validade de que ele seja
considerado para os efeitos da Política de Defesa Nacional (PDN), são apreciados os
antecedentes históricos mais importantes dessa que pode ser considerada uma das mais
antigas formas de guerra.
São brevemente considerados os principais pensadores da estratégia clássica. As
implicações da Nova Ordem Mundial nesse pensamento são abordadas, a fim de auxiliar a
compreensão de uma nova geração de estudiosos da guerra, que pregam a existência de uma
realidade que subverte algumas das premissas sobre as quais esse pensamento clássico foi
edificado.
Com o propósito de melhor entender a assimetria, são estudadas as formas e os
princípios básicos que formam o contexto em que ela se dá. Em virtude da estreita relação de
causa e efeito entre globalização e Guerra Assimétrica, é apresentado um panorama de como
se dá a relação de sinergia entre essas duas ocorrências.
Examinando o fenômeno da Guerra Assimétrica no pós-Guerra Fria, é apresentada a
forma como se deu a transição do mundo anterior à dissolução da URSS para o mundo atual,
e como as assimetrias se manifestaram nesse período.
A Política de Defesa Nacional é estudada, sob os aspectos em que o conceito de Guerra
Assimétrica é pertinente, e são examinadas as formas sob as quais é razoável que seus
preceitos sejam considerados e de que forma podem ter implicações para o esforço de
mobilização do país, com a finalidade de contribuir para o propósito de aprimorar a sua
defesa.
As duas regiões mostradas pela PDN como sendo as que apresentam maior
vulnerabilidade pelas suas fronteiras terrestres e marítimas, a Amazônia e o Atlântico Sul, são
1
objeto de consideração específica, como cenários possíveis de emprego não-convencional de
meios, a fim de respaldar a conclusão de que, no presente, para alguns tipos de ameaça
existentes, é necessária a inclusão do emprego de meios e táticas de natureza assimétrica no
preparo e emprego dos meios de defesa disponíveis.
Palavras Chaves: Guerra Assimétrica; Política de Defesa Nacional; Globalização; Nova
Ordem Mundial.
2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1
CAPÍTULO 1 – ORIGENS DA GUERRA ASSIMÉTRICA ............................................... 3
1.1 – PRIMEIROS REGISTROS .......................................................................................... 3
1.2 – O PENSAMENTO ESTRATÉGICO CLÁSSICO ...................................................... 4
1.3 – A NOVA ORDEM MUNDIAL E O PENSAMENTO ESTRATÉGICO.................... 6
1.4 – COMPREENDENDO E EXPLORANDO A ASSIMETRIA...................................... 9
CAPÍTULO 2 – A GUERRA ASSIMÉTRICA NO PÓS-GUERRA FRIA ........................... 13
2.1 – GLOBALIZAÇÃO E GUERRA ASSIMÉTRICA ....................................................... 13
2.2 – “DESTRUIÇÃO MÚTUA ASSEGURADA” E GUERRA ASSIMÉTRICA .............. 15
2.3 - CARACTERÍSTICAS E FORMAS DE GUERRA ASSIMÉTRICA .......................... 16
CAPÍTULO 3 – A GUERRA ASSIMÉTRICA E SUAS POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES PARA
A POLÍTICA DE DEFESA NACIONAL ................................................................. 23
3.1 – A POLÍTICA DE DEFESA NACIONAL .................................................................... 23
3.2 – A PDN E AS AMEAÇAS DE NATUREZA ASSIMÉTRICA ................................... 25
3.3 – MOBILIZAÇÃO E GUERRA ASSIMÉTRICA ......................................................... 26
3.4 – A AMAZÔNIA COMO CENÁRIO DE GUERRA ASSIMÉTRICA ......................... 28
3.5 – O ATLÂNTICO SUL COMO CENÁRIO DE GUERRA ASSIMÉTRICA ............... 33
CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 35
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 37
INTRODUÇÃO
Não há nada hoje que não possa se tornar uma arma. (Qiao Liang e WangXiangsui)
O desaparecimento do mundo politicamente definido como bipolar, com o fim da
Guerra Fria, que produziu uma nova ordem mundial, é um fato sobejamente conhecido de
todos. É provável que nenhuma outra referência tenha sido tão freqüente nos textos de
natureza política, militar, geopolítica ou econômica, desde o início da década de noventa.
No campo militar, o surgimento de um mundo orientado em torno de uma única
potência de caráter global, em proporções inéditas na história, tem sido alvo de inúmeras
tentativas de ver decifrada a natureza que terão os conflitos que surgirão a partir dessa
perturbadora realidade.
Foi nesse mundo, que tem na desproporção de poder militar, o reflexo de uma
desigualdade entre as nações que se estende por vários outros campos de poder, que a Guerra
Assimétrica ganhou destaque, como resultado da busca de uma alternativa de defesa, capaz de
resistir a um poder avassaladoramente superior.
O presente trabalho se propõe a examinar o seu surgimento, como forma de organização
do poder nacional, para ser empregado numa situação em que a nação seja levada a ter que
enfrentar um inimigo de poder incomparavelmente superior, em que contexto e sob que
motivações ela se faz presente.
Em virtude da inesgotável diversidade dos recursos que se prestam a serem empregados
nesse tipo de guerra, serão examinadas as formas que ela podem assumir, ou, de que forma as
assimetrias podem ser exploradas.
Considerando a sua importância para a questão da defesa nacional nos dias de hoje, será
abordado de que modo a Guerra Assimétrica pode ter implicações para a Política de Defesa
Nacional (PDN) (5), a fim de discutir a sua aplicabilidade ao documento que orienta o preparo
e o emprego da capacitação nacional voltados para as ameaças externas.
Por último, será investigada a possibilidade da extensão ao emprego do Poder Naval,
dos preceitos, oportunidades e métodos de Guerra Assimétrica.
Para alcançar esses propósitos a que o trabalho se propõe, serão apresentados os
exemplos históricos de emprego de Guerra Assimétrica; as várias definições para esse tipo de
guerra; quais as formas de assimetrias que podem ser identificadas nas guerras e quais serão
aquelas consideradas para efeito do estudo; e por fim discutir a validade de que princípios de
1
Guerra Assimétrica venham a merecer consideração, à luz do documento que, no mais alto
nível, fixa os objetivos para a defesa nacional, a Política de Defesa Nacional.
2
CAPÍTULO 1
ORIGENS DA GUERRA ASSIMÉTRICA
A disputa não era física, mas moral, e, portanto batalhas seriam um erro.(Lawrence da Arábia)
1.1 - PRIMEIROS REGISTROS
A expressão Guerra Assimétrica induz, de imediato, a noção de um conflito em que, de
certo modo, prevalece alguma forma de desigualdade entre os dois lados envolvidos.
As ocorrências de enfrentamentos desiguais, talvez a mais antiga forma de guerra,
remontam a tanto tempo quanto os registros históricos alcançam, começando a partir da
história bíblica do pastor David contra o gigante Golias, e, desde então, vêm alimentando o
imaginário popular com o irresistível apelo da improvável vitória do menor sobre o maior, dos
fracos e oprimidos sobre os fortes e poderosos, que ganhou vida até mesmo nos populares
desenhos animados de Tom e Jerry, e nos quais podemos perceber que não é usando a força
que se pode chegar à vitória sobre um inimigo mais forte.
Cronologicamente, talvez o primeiro registro de um conflito que possa apresentar
elementos de Guerra Assimétrica seja a audaciosa investida, contra o Império Romano, do
General cartaginês Aníbal na península itálica, com um pequeno contingente, impondo uma
série de derrotas aos romanos, apesar de possuir uma força muitas vezes menor do que as 23
legiões romanas enviadas para combatê-lo. O enorme esforço despendido pelos romanos para
impedir que Aníbal tomasse Roma quase levou os romanos à bancarrota, no episódio que
ficou sendo conhecido como a Segunda Guerra Púnica, entre 218 e 202 a.C. (31).
No continente americano, talvez os primeiros eventos que podem ser associados aos
princípios desse tipo de guerra sejam os enfrentamentos dos conquistadores europeus com os
nativos indígenas. As desigualdades de naturezas diversas, principalmente de ordem
tecnológica e tática, que podem ser observadas nos dois lados do conflito, produzido com a
chegada ao continente da civilização européia, apresentam uma visão bastante coerente com a
descrição de assimetria (9).
Esse tipo de enfrentamento engloba algo que é descrito de formas variadas por diversos
autores, e recebe deles denominações que variam, de acordo com as circunstâncias de sua
3
ocorrência. As principais designações para ele são Guerra Irregular, Guerra de Guerrilha,
Guerra Irrestrita e Guerra Além dos Limites. Todas essas denominações dizem respeito a
formas de combater que empregam táticas e técnicas que caracterizam os conflitos
assimétricos. Embora seja possível encontrar distinções de natureza técnica mais ou menos
sutis nas descrições de cada uma delas, dependendo do autor, em essência, a noção básica de
que estão impregnadas é a mesma.
No seu espírito, está presente o embate entre duas forças de porte absolutamente
desiguais, em que não existe, para uma delas, nenhuma chance de vitória pelos métodos
convencionais de combater. Nas fontes que tratam do assunto, são apresentadas as
características que cada uma dessas manifestações de conflitos assimétricos configura.
O conceito de assimetria surge da ausência absoluta de correspondência entre as partes
situadas em lados opostos e, da percepção dessa desigualdade, é gerada a necessidade de
explorar métodos que possam desfazer ou diminuir a vantagem de seu oponente, procurando
usar contra o inimigo a sua própria força. Daí nasce a Guerra Assimétrica.
A condição de combatente em inferioridade nesses termos leva à busca dos caminhos
que possam neutralizar essa inferioridade. A fim de alcançar este propósito, alguns princípios
são de grande valia. Entre eles podemos mencionar algumas idéias clássicas como a surpresa,
a iniciativa e a mobilidade. Com a combinação eficaz das táticas não-convencionais com
esses princípios, busca-se a construção de uma perspectiva de êxito.
A fim de definir o alcance deste trabalho, as diversas designações do tipo de conflito em
questão serão identificadas e examinadas para que delas possam ser extraídos os
ensinamentos que servem de fundamento para o estudo do tema e para que sejam
consideradas como instrumento útil à PDN. Para a finalidade do presente trabalho, o mais
importante é manter presente a perspectiva sob a qual fica estabelecida a relação que existe
entre os dois lados do conflito: a assimetria.
1.2 - O PENSAMENTO ESTRATÉGICO CLÁSSICO
Como pode ser constatado pelo embasamento contido na obra de seus principais
expoentes, como Jomini e Clawsevitz, a história militar vem, através dos tempos, servindo de
principal ferramenta para o desenvolvimento das mais conhecidas teorias de estratégia militar
desenvolvidas até hoje. Da análise dos episódios militares mais significativos do passado,
esses grandes estudiosos desse assunto extraíram a luz que lhes permitiu a mais acurada
compreensão do fenômeno da guerra, de maneira que fossem capazes de edificar o conjunto
do conhecimento clássico sobre o tema, e pudessem, assim, criar os corolários com que se
4
propuseram a estabelecer aquilo que cada um acreditava ser a melhor forma de conduzir a
guerra, com o propósito de alcançar seus objetivos políticos.
Todavia, há que se ter em mente que esses autores estudaram a arte da guerra à luz do
universo em que viveram e do estudo do passado deste mesmo universo, e dessa realidade
nasceram aquelas que foram as primeiras tentativas de estabelecimento de um pensamento
estratégico, com base em preceitos científicos.
Não por acaso, foi no século XIX, depois das transformações que o mundo sofreu com
as Revoluções Americana e Francesa, e com o fim das Guerras Napoleônicas, que Jomini e
Clausewitz construíram suas teorias. Para ambos, a experiência militar colhida das Guerras
Napoleônicas foi o principal pano de fundo para o desenvolvimento de suas idéias. (18)
Do mundo surgido do Tratado de Westphalia, em 1648, havia emergido uma Europa
marcada intensamente pela consolidação do conceito, que viria a se tornar clássico, de Estado-
Nação.
As grandes potências européias viviam a nacionalização dos exércitos, com a
constituição de forças terrestres de efetivos numericamente formidáveis, construídos a partir
da idéia de “nação em guerra”, que deu origem, entre outras coisas, à conscrição militar.
Neste novo exército, não havia mais espaço para a grande proporção de mercenários que
compunham os efetivos relativamente pequenos de até então.
Assim também, a Revolução Industrial, que vivia seus estágios iniciais, contribuiu com
a possibilidade da fabricação em massa do armamento necessário aos exércitos.
A essas novas variáveis em jogo, Napoleão acrescentou táticas em que usava a
mobilidade para compensar a inferioridade numérica, redefiniu o papel da artilharia formando
unidades móveis para compor melhor o apoio às tropas, além de implementar inovações
logísticas como a padronização das balas de canhão, a fim de facilitar o suprimento e a
compatibilidade do armamento (36).
Por sua vez, no mar, a superioridade da Marinha Real Britânica foi capaz de manter a
Inglaterra de pé, não obstante os reveses sofridos pelas coalizões em que tomou parte,
demonstrando a importância do Poder Naval para a consecução dos objetivos da guerra
terrestre.
Esse era o arcabouço que compunha o cenário de onde Jomini e Clausewtiz tiraram suas
conclusões. Da experiência dessas guerras de coalizões entre exércitos nacionais, que, a
despeito de eventuais diferenças numéricas e táticas, guardavam uma similaridade estrutural
com a composição dos poderes militares aos quais se contrapunham. Dessa forma foram
vistos os conflitos desde então, passando pelas Guerras da Criméia, Franco-Prussiana,
Primeira Guerra Mundial, chegando até a Segunda Guerra Mundial, entre outras menos
5
importantes.
1.3 - A NOVA ORDEM MUNDIAL E O PENSAMENTO ESTRATÉGICO
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo assumiu uma conformação
geopolítica diferente, com duas potências mundiais, Estados Unidos da América (EUA) e a
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), polarizando os demais países em torno
delas, durante todo o período que durou a chamada Guerra Fria.
O fim da URSS, em 1991, virou mais uma página da história e inaugurou um outro
período, desta vez com o surgimento de uma única potência global dominante, os EUA.
No entanto, essa nova ordem mundial estabelecida com o fim deste mundo polarizado
criou uma nova e inquietante realidade. Seria interessante, caso fosse possível, ouvir o que
aqueles geniais estudiosos da guerra, anteriormente mencionados, teriam a dizer sobre os
conflitos do período pós-Guerra Fria.
Inicialmente, o fim do conflito latente que manteve o mundo dividido por décadas
sugeria o início de um período que se imaginava como sendo de plena paz, como resultado do
final do enfrentamento ideológico entre o capitalismo e o socialismo. Entretanto, o que se viu
foi o despertar de velhos antagonismos em âmbitos regionais e globais. Nacionalismo,
separatismo, terrorismo e intolerância étnica e religiosa, entre outras causas de menor
importância, funcionaram como o combustível para o recrudescimento dessas rivalidades que
estiveram engessadas por todo o período da Guerra Fria, e que afloraram com renovada
energia.
Esses antagonismos, que o mundo imaginava superados, por sua vez, produziram
conflitos em pontos variados do globo, como nos Balcãs, na Ásia central e na África. Lidar
com esses conflitos mostrou ser, às grandes potências, um novo desafio que foi enfrentado
com intervenções militares, mais ou menos bem-sucedidas, em diversos locais.
Essa liberdade de iniciativa exibida pelos países mais desenvolvidos contribuiu para
uma sensação de insegurança generalizada, que passou a existir a partir da ansiedade
decorrente do medo das velozes mudanças de um inimigo que não se pode ver ou sentir; a
sensação de que o seu emprego, sua comunidade ou local de trabalho pode sofrer
transformações a qualquer momento, por forças anônimas econômicas e tecnológicas,
altamente instáveis, trazidas pela globalização (7).
Além disso, o fato mais importante na arquitetura do mundo que nascia era o surgimento
de uma única potência de âmbito global e de poder incontrastável, nem mesmo por qualquer
combinação de alianças entre os demais países, o chamado "Estado protomundial"(34): os
6
EUA.
Concomitantemente, o ágil processo de integração cultural e econômico, além do
desenvolvimento das tecnologias de informações que levaram à criação da Internet,
especialmente após a década de oitenta, promoveram uma aceleração jamais vista ao processo
social de globalização.
Este processo de globalização, que se dá de forma igualmente assimétrica, contribuiu
para que fossem estendidos, aos quatro cantos do planeta, os campos de batalha dos litígios
com sua origem em causas locais. Nesse contexto, é como ferramenta disponível aos mais
fracos que a Guerra Assimétrica se insere num mundo fértil em desigualdades de todo tipo.
Por via de conseqüência, esse “Estado protomundial” extraordinariamente forte e seu
excedente de poder passaram a ser desafiados, no âmbito mundial, por uma terrível forma de
ameaça, de natureza nitidamente assimétrica: o terrorismo internacional. E, na ausência de
outros meios disponíveis, e de encaminhamento político de soluções para esse conflito e para
as suas complexas motivações, parece haver uma ocorrência deste tipo de fenômeno
diretamente proporcional ao excedente de poder presente.
O terrorismo internacional é uma forma de recurso à violência que vive hoje a sua
Quarta Onda. As três anteriores foram as ondas anti-imperialista, a anti-colonização e a anti-
capitalista. A atual é conhecida como a onda do terrorismo religioso (24).
Em virtude das contradições que envolvem o seu reconhecimento, ainda não se
conseguiu sequer alcançar uma definição de terrorismo que seja internacionalmente aceita.
Atualmente, tramita na Organização das Nações Unidas por iniciativa do seu Secretário-Geral
Kofi Annan, uma proposição que o define como “um ato político violento que visa os civis e
que procura criar um ambiente de medo com um objetivo político ou ideológico” (25).
Como forma de condução de um conflito por um ator não-estatal, o terrorismo
internacional não observou limites geográficos e foi levado a diversos pontos do planeta, com
resultados, muitas vezes catastróficos.
Buscando a compreensão dos processos políticos e sociais atuais, alguns autores, como
o israelense de origem holandesa, Martin Van Creveld, entendem que as condições que
existiam quando Clausewitz escreveu sobre a guerra, nos séculos dezoito e dezenove, foram
dramaticamente alteradas, e o que se vê hoje apresenta mais semelhança com o mundo que
existia antes do Tratado de Westphalia, em que prevaleciam e se irradiavam os chamados
conflitos de baixa intensidade, que vêm a ser a forma como são conhecidos os conflitos entre
uma força, normalmente, regular e milícias não regulares (3). Depois desse Tratado, as
guerras foram travadas, predominantemente, por estados contra estados.
À semelhança do que acontecia antes de 1648, hoje, como se pode observar, outros
7
atores que não somente os estatais, são capazes de promover a violência, agora não mais sob a
forma de guerras convencionais.
Nesse caso, se o monopólio do uso da força, escapar das mãos dos estados, a distinção
entre guerra e crime deixará de ser clara. E então, se as relações entre os elementos-chave da
teoria de Clausewitz: povo, exército e governo, modificarem-se radicalmente ou forem até
mesmo eliminadas, o que acontecerá? (18)
Contribuindo para indicar a configuração de uma nova realidade, cabe lembrar que
desde a declaração oficial de guerra pelos soviéticos ao Japão, quase ao final da Segunda
Guerra Mundial, somente na guerra entre as duas Coréias e na guerra do Yon Kippur
aconteceram declarações de guerra (2). Este fato, no entanto, longe de significar que
tenhamos tido paz o restante desse tempo, indica na verdade que a guerra sofreu uma
transformação considerável desde então, e que os conflitos, com naturezas diversas, se
proliferaram por todo o globo.
A ausência de declarações de guerra em vários conflitos como nas Guerras do Vietnã,
Afeganistão e do Golfo, por exemplo, são um mero reconhecimento de que, hoje, estar em
guerra pode ter um significado diferente do que tinha em outros tempos. Este é mais um
indicador das transformações pelas quais a guerra passa.
É difícil inferir o porquê de os países terem agido assim. Todavia, olhando para conflitos
como as Guerras do Vietnã e do Afeganistão, por exemplo, não é difícil concluir que, tanto os
EUA num caso, quanto a URSS no outro, não estariam amparados para usarem legitimamente
a força, nos termos da carta da Organização das Nações Unidas (ONU) (27).
É de se supor que, num conflito do tipo convencional, em que ambos os lados,
inicialmente, têm a perspectiva da vitória, no momento em que um deles perde de vista essa
possibilidade, passe a existir, a tendência a que a paz seja estabelecida, a fim de preservar o
que pode ser salvo da destruição inevitável e a sobrevivência do estado. Nos conflitos
assimétricos, não acontece assim, por causa da assimetria de objetivos.
Se, por um lado, as potências mais poderosas têm, ao longo dos últimos anos, se
envolvido em conflitos contra forças desproporcionalmente menores, por outro lado, não têm
se mostrado capazes de se saírem vitoriosas deles, do ponto de vista dos seus objetivos
políticos.
Ainda segundo Van Creveld, baseado na sua observação daquilo que ocorreu nos
últimos sessenta anos, no caso de lutas desiguais, o mais forte está condenado a não poder
vencer. Isto acontece em virtude de que lutar contra o mais fraco transforma o forte em fraco.
Quando se luta contra alguém que se encontra numa situação em que lhe restam as
alternativas de perder ou perder, não há chance de vitória.
8
Configura-se, nesses casos, uma situação em que se é colocado na obrigação de ter que
agir como um covarde, e terminando por se tornar um. Nessa situação, se o mais poderoso
destrói seu oponente é condenado publicamente por isso; se o seu oponente o destrói, o mais
poderoso é humilhado publicamente por ele.
O mesmo autor cita as experiências da Argélia, do Vietnã, do Afeganistão e do conflito
entre Israel e Palestinos, como exemplos de que, nos conflitos assimétricos, não há esperança
de vitória definitiva para o mais forte. O conflito atual no Iraque parece também contribuir
para confirmar esta tese de Van Creveld, que, citando um sábio chinês que viveu a 2.400
anos, Lao-Tzu, afirma que, “uma espada colocada em água salgada irá enferrujar”, é só uma
questão de tempo. Este ditado chama a atenção da importância do papel de um elemento
essencial à Guerra Assimétrica: o tempo (14).
1.4 - COMPREENDENDO E EXPLORANDO A ASSIMETRIA
A definição e a designação desse tipo de enfrentamento varia entre os autores que se
dedicam ao assunto, sobretudo pela forma da abordagem às assimetrias, porém todos giram
em torno de uma idéia central comum.
Segundo Darc Costa e Carlos Lessa, Guerra Assimétrica é a Guerra Irregular travada no
espaço mundial (23:93). Os chineses Qiao Liang e Wang Xiangsui a chamam de guerra sem
limites ou além dos limites (11); e o norte-americano General Montgomery C. Meigs, a define
como sendo a guerra em que existe a ausência de uma base comum de comparação relativa a
uma qualidade, ou, em termos operacionais, uma capacidade (24:1).
Para Carlos Lessa, podem ser identificados quatro tipos diferentes de guerra: a Guerra
Convencional; a Guerra de Destruição em Massa; a Guerra Irregular e a Guerra Assimétrica.
As duas primeiras fogem ao tema deste trabalho, e as duas últimas apresentam inúmeros
pontos em comum, que serão vistos adiante.
A definição apresentada por Darc Costa e Carlos Lessa está diretamente relacionada
com o tipo de conflito em que participa um dos chamados atores não estatais. Esses atores
ganharam destaque também após o fim da Guerra Fria como forma de manifestações de
grupos de origem variada, em busca de reconhecimento por questões internacionais ou locais,
valendo-se de métodos variados, violentos ou não. Entre eles estão os grupos terroristas de
motivações diversas.
A Guerra Irregular pode ser, por vezes confundida com a guerrilha, uma vez que nela os
oponentes operam em espaços com limites mal definidos (23:93).
Atores não-estatais, como já abordado, não limitam suas ações a um espaço geográfico,
9
e se valem dessa liberdade de ação para ampliar enormemente suas opções e dificultar, na
mesma medida, as ações daqueles que lhe dão combate. Muitas vezes esses atores valem-se
do terrorismo, que se diferencia da guerrilha pelo fato de que esta, diferentemente do terror,
busca preparar as condições para a confrontação e derrota das forças regulares.
Tanto na Guerra Irregular quanto na Guerra Assimétrica, prevalece a estratégia de ação
indireta, em que espaço e tempo traduzidos em movimento, são os fatores determinantes para
a superação do poder de fogo.
Ainda segundo Lessa, os combatentes das Guerras Irregular e Assimétrica têm que
manter a iniciativa das ações e assim escolher o tipo de combate que desejam travar. A essa
vantagem ele pode somar a possibilidade de mudar não só o tipo, mas a forma da guerra. As
suas formas mais usuais são: Guerra Psicológica; Guerra com Armamento usual; Guerra
Radiológica, Nuclear ou Radioativa; Guerra Biológica, Bacteriológica ou Virótica; Guerra
Cibernética, Eletrônica ou Informática; e Guerra Química (23:97).
Aquele que é considerado o primeiro a empregar e a reunir conhecimentos sobre alguma
forma de Guerra Assimétrica, sob a forma de Guerra Irregular, foi o inglês Thomas Edward
Lawrence, também conhecido como Lawrence da Arábia. Na verdade, ao chefiar a revolta
árabe em 1916 contra os turcos, colocou em prática o que viria a ser conhecido como a Guerra
de Guerrilhas. Este tipo de combate recebeu essa designação durante a ocupação da Espanha
por tropas francesas de Napoleão, em que o feroz movimento de resistência dos espanhóis era
feito por meio de “guerrilla”, palavra em castelhano que significa “pequena guerra” (20:369).
Por seu caráter limitado às ações no campo militar, diferentemente da idéia muito mais
abrangente da Guerra Assimétrica, a Guerra de Guerrilha só parcialmente pode receber o
rótulo de assimétrica.
Entretanto, alguns princípios de Guerra Assimétrica, como a negação de um objetivo
militar ao inimigo pela ausência da existência de um exército regular, e a escolha do local e
do momento da ação pelos árabes, mantendo o sigilo de sua localização até o momento do
ataque, estabelecem uma similaridade entre as duas coisas.
Ao aplicar os princípios de Guerra Irregular, Lawrence recomendava a identificação do
elo mais fraco do inimigo, e visar esse ponto com insistência; explorar a mobilidade com o
emprego de unidades com o menor tamanho possível, que evitassem oferecer as condições
necessárias para a ocorrência de uma batalha a todo custo, e tivessem a possibilidade de
realizar o maior número de ataques. Costumava dizer que, nesse tipo de guerra, quando dois
homens estão juntos, um está sendo desperdiçado, e que a Guerra de Guerrilhas era muito
mais intelectual que uma estocada de baionetas, uma vez que visava atingir mais a mente do
que o corpo do inimigo (14).
10
O General vietnamita Vo Nguyen Giap, que comandou a resistência do seu país contra
três grandes potências militares, Japão, França e EUA, é outro notável teórico das técnicas de
resistência frente a um inimigo mais poderoso, e seus ensinamentos são considerados uma
referência no assunto.
De seus escritos, após depurá-los de seus aspectos panfletários de natureza comunista,
pode-se extrair muitos conhecimentos úteis à Guerra Assimétrica (17).
O primeiro aspecto estratégico relevante à resistência, para o qual Giap chama a
atenção, é para o fato de que essa é uma guerra de longa duração, na qual o tempo transforma
a nossa fraqueza em força. Ela pode ser dividida em três fases: estágio de contenção, período
de equilíbrio e ofensiva geral.
Para ele, o sucesso de uma campanha desse tipo depende fundamentalmente do grau de
envolvimento da população na campanha de resistência. Esse grau de entusiasmo popular é,
por sua vez, dependente da identificação, por parte do povo, da legitimidade dos interesses
nacionais envolvidos. Só isso fará com que ele esteja disposto a fazer os sacrifícios
necessários, que não são pequenos, nesse tipo de luta.
Giap aponta o fato de os franceses não terem sido capazes de compreender essa
identificação, para explicar como foi capaz de vencê-los com um exército recém-criado,
numericamente pequeno, mal organizado, dirigido por oficiais inexperientes, provido de
equipamento antiquado e insuficiente, um estoque de munições limitado, além de não possuir
tanques, aviões ou artilharia.
A aplicação dessa estratégia requer, entretanto, um enorme esforço de organização nos
campos militar e econômico, e inclinação para o sacrifício, tanto na frente de batalha, quanto
na retaguarda.
Outro aspecto que o líder vietnamita destaca é a importância da capacidade em obter
ajuda de uma potência que, mesmo não se envolvendo diretamente, possa prestar apoio, papel
esse desempenhado pela então USSR junto ao Vietnã.
Giap também assinala que, durante a campanha, o desgaste sofrido provocará a tentação
de que seja buscado o fim mais rápido da guerra por meio de combates convencionais, o que
considerou como sendo aventuras militares. Ele, em contra-partida, adverte que o caminho
traçado inicialmente não deve ser abandonado, e que a obstinação em perseverar nele foi
determinante para o sucesso da sua campanha.
Durante a campanha, Giap recomenda, não muito diferentemente dos demais, que o
inimigo seja evitado onde está forte, e atacado onde está fraco, e concentrar forças onde ele
está exposto. Também aconselha sempre o uso da iniciativa, da rapidez, da surpresa, do
ataque repentino, seguido de retirada.
11
Das conceituações apresentadas pelos autores até aqui referenciados, é possível observar
a existência de algumas variações e até superposições no entendimento das várias expressões
das guerras tratadas.
Entretanto, a meu juízo, a Guerra Assimétrica não deve ser incluída no mesmo plano de
discussão que as demais formas de guerra descritas, em virtude de que considero que ela se
reveste de uma idéia que indica a condição relativa presente entre as partes envolvidas, ao
passo que as demais apontam para formas sob as quais essa assimetria se faz presente, ou se
manifesta na maneira de combater.
12
CAPÍTULO 2
A GUERRA ASSIMÉTRICA NO PÓS-GUERRA FRIA
Produzir um novo conceito de arma não requer o suporte de nova tecnologia;é necessário somente pensamento lúcido e incisivo. (Qiao Liang e Wang Xiangsui)
2.1 - GLOBALIZAÇÃO E GUERRA ASSIMÉTRICA
Juntamente com o desencanto pela perda da ilusão de paz que se supunha que sucederia
à Guerra Fria, o mundo assistiu ao surgimento de uma nova ordem que trazia à cena política
internacional a instabilidade e a incerteza, com relação à natureza que teriam os conflitos
futuros.
O conceito moderno de Estado-Nação, não significava mais o único tipo de ator
internacional a estar à frente das organizações sociais, políticas, econômicas e culturais
existentes. À semelhança de quando nasceram esses primeiros Estados-Nações, que surgiram
em meio a uma sangrenta disputa, as cada vez mais rápidas transformações pelas quais passa
o mundo não se têm feito sem que ocorram conflitos entre poderosos interesses.
Essas transformações aceleradas, que conformam o cenário de incertezas e contradições
que definem o mundo em que as assimetrias se acentuam e pontuam cada vez mais as relações
e os contrastes entre as nações, são o arcabouço da globalização.
Para o estudo da Guerra Assimétrica, é indispensável a compreensão desse fenômeno
tão discutido, que constitui a moldura contextual em que ela acontece.
O final do século XIX já apresentava, na verdade, uma realidade em que o grau de
interdependência entre os países era, sob muitos aspectos, maior do que é hoje. Já naquela
ocasião, o banqueiro alemão Barão Carl Meyer von Rothschild, ao assistir aos mercados de
capitais despencarem em todo o mundo, no auge da maior crise financeira daquele século
exclamou: "O mundo é uma cidade". Nessa altura não eram necessários passaportes, 15% da
população dos EUA eram pessoas nascidas no estrangeiro (hoje esse número não ultrapassa
8%) e 95% das importações alemãs eram livres de impostos (7).
Além disso, o surgimento, nesse período, do telégrafo e das linhas de ferro contribuíram
para o aparecimento de duas das principais características da globalização, segundo o
13
Professor Nizar Messari, que são a redução do tempo e do espaço (25).
Essa tendência de aproximação e intercâmbio adquiriu uma nova dimensão com o
surgimento dos principais organismos internacionais, como, primeiramente, a Liga das
Nações e, posteriormente, a ONU, após o término da Segunda Guerra Mundial.
A partir da década de oitenta, a ascensão de Margareth Thatcher e de Ronald Reagan aos
governos da Grã-Bretanha e dos EUA respectivamente são considerados marcos no
surgimento do fenômeno de globalização que caracteriza o mundo pós-Guerra Fria, pela
adoção de políticas econômicas de natureza liberal que difundiam a queda de barreiras
comerciais.
Entretanto, foi a disseminação no mercado das novas tecnologias de informação, como
internet e telefonia celular que imprimiu um impulso ainda mais extraordinário a esse
processo de diminuição de espaço e tempo.
Esse globalismo, que substituiu a Guerra Fria, por conta dessas inovações, e pela
expansão e intensificação da atividade humana no planeta, teve um caráter multidimensional.
Segundo, ainda, o Professor Messari, ele pode ser observado em diferentes áreas, como a
financeira, mas também política, e na social e cultural.
Todavia, o político liberal português Antônio Marques Mendes considera que se pode
decompô-lo em quatro campos: econômico, militar, ambiental e sóciocultural (7).
Duas dessas dimensões da globalização têm relação com o propósito desse estudo: a
dimensão militar e a dimensão ambiental.
A primeira refere-se a redes de interdependência em que a força e ameaça (ou promessa
de ameaça) da força são empregados. Essa forma de manifestação da globalização diz respeito
às formas de associação dos países criadas a fim de empreender o uso da força. O Conselho
de Segurança das Nações Unidas é a única instância capaz de autorizar o uso da força no
âmbito mundial, no interesse da comunidade internacional, emprestando assim legitimidade a
iniciativas dessa natureza. Não obstante, devemos reconhecer que nem sempre as coisas se
passam obedecendo a esse requisito.
A dimensão ambiental, por sua vez, diz respeito ao movimento de longa distância de
materiais nos oceanos ou na atmosfera, ou ainda, de substâncias biológicas. Neste sentido, a
redução da camada de ozônio, a expansão do HIV e a devastação da floresta amazônica são
características da globalização ambiental ou biológica.
Aqui podemos perceber duas manifestações que abordam aspectos da globalização que
ao Brasil importam diretamente, e que serão consideradas adiante: a existência de redes de
interdependência de força, resultante da associação de países para emprego em iniciativas que
visem ao atendimento daquilo que for considerado de interesse comum pela ONU, e a
14
identificação de fatores ambientais, no nosso caso particular a devastação da floresta
amazônica, como vetores globalizantes, de danos localizados, ao meio ambiente.
2.2 - "DESTRUIÇÃO MÚTUA ASSEGURADA" E GUERRA ASSIMÉTRICA
Antes de 1991, durante a Guerra Fria, as duas superpotências existentes contiveram-se
mutuamente por um mecanismo de equilíbrio de poder que ficou conhecido como MAD, da
sigla em inglês para a expressão que significava “destruição mútua assegurada”. Naquele
período, EUA e URSS, os dois centros de poder mundiais, eram dotados de enormes arsenais
nucleares, com poderes várias vezes superiores ao necessário para a destruição de toda a vida
existente no planeta.
O maior de todos os pesadelos da humanidade, àquela época, a Guerra Nuclear, estava
permanentemente ao alcance de um botão que podia ser pressionado em Washington ou
Moscou, produzindo uma hecatombe, de resultados desastrosamente incalculáveis. O conceito
de MAD era um sistema de equilíbrio surgido da certeza que cada lado do conflito tinha de
que, mesmo que tivesse a iniciativa do ataque, estava condenado à destruição, em virtude de
que o seu oponente era dotado da capacidade de realizar eficazmente uma retaliação maciça.
Por conta desse mecanismo neutralizador, que existiu até a dissolução da URSS, durante
todo esse período, o enfrentamento entre as duas superpotências ocorreu em episódios que
ficaram conhecidos como “Proxy Wars”, ou “Guerras por Procuração”. “Guerras por
Procuração” foram conflitos do tipo indireto entre as duas superpotências, com o propósito de
contenção do adversário ou de expansão da sua própria região de influência, que envolviam
uma terceira nação. Como exemplos desse tipo de guerra podem ser citadas as guerras do
Afeganistão, Angola e Vietnã (37).
Como esses conflitos tinham, normalmente, de um lado uma das superpotências e do
outro um país, de poderio militar acentuadamente menor, atuando por "procuração" da
potência oponente, foram conflitos tipicamente assimétricos. Assim aconteceu a maioria dos
conflitos armados durante a Guerra Fria, dentro de uma conjuntura que favoreceu o
surgimento do emprego de técnicas de Guerra Assimétrica.
Esta situação desapareceu com o fim da URSS, e, após os atentados de 11 de setembro
de 2001, os EUA divulgaram uma nova “Estratégia de Segurança Nacional” que continha o
seu entendimento do direito, de que se considera detentor, de fazer o que chamou de Guerra
Preemptiva. Este é um tipo de guerra em que uma nação, julgando-se sob o risco de um
ataque iminente, toma a iniciativa da ação, atacando primeiro, sob a justificativa de ser
obrigado a proteger-se assim de um ataque inevitável.
15
Esse princípio foi utilizado no ataque ao Iraque em 2003, gerando polêmica, a respeito
da sua legalidade, à luz da Carta das Nações Unidas, em quase todo mundo, despertando
desconfianças e constituindo uma nova fonte de incertezas. Muitos países, que não foram
capazes de enxergar nas alegações anglo-americanas motivos que justificassem o ataque, se
mostraram preocupados com o precedente aberto pela Guerra Preemptiva.
Será o Iraque o primeiro de uma série de ataques preemptivos? O que acontecerá se
outros países como Índia, Paquistão, China e Rússia advogarem também o seu direito de
efetuar ataques preemptivos?
Essas perguntas ainda não possuem respostas definitivas, porém uma coisa é certa: a
insegurança e a incerteza, quanto ao futuro próximo das relações internacionais aumentaram.
Na verdade, o desfecho da questão iraquiana, possivelmente, terá uma grande influência sobre
o futuro do emprego do Poder Militar.
2.3 - CARACTERÍSTICAS E FORMAS DA GUERRA ASSIMÉTRICA
Referências à Guerra Assimétrica podem ser notadas em vários contextos e para
designar eventos que possuem um sem número de formas de assimetrias. Menções a
desequilíbrios, que podem suscitar a idéia da assimetria, surgem em contextos diversos, de
natureza comercial, tecnológica, econômica, e entre muitos outros, com freqüência cada vez
maior. Com o fenômeno da globalização ocorrendo de forma também assimétrica, o mundo se
transforma num lugar em que, a cada dia, ao mesmo tempo em que a globalização aproxima
os povos, aumenta a distância que separa os mais pobres dos mais ricos, e assim os mais
poderosos dos menos poderosos.
Em termos militares e de segurança, atuar assimetricamente é pensar, agir, e organizar-
se de modo diferente do seu oponente, de forma a maximizar suas próprias vantagens e
melhor explorar as fraquezas do inimigo; manter a iniciativa e desenvolver maior liberdade de
ação; e implementar o emprego de novas capacidades que a força oponente não percebe ou
compreende.
O emprego da assimetria significa ser capaz de possuir um grau de conhecimento maior
do ambiente físico do conflito, da situação, e da força oponente, além de ser capaz de se
adaptar rapidamente às condições de um campo de batalha volátil.
Convencionalmente, o exercício do Comando na guerra é feito em termos de: uns
pensam, outros executam. Na Guerra Assimétrica, todos pensam e todos executam.
Sendo uma ocorrência de natureza competitiva, a guerra pode ser comparada com uma
disputa comercial. Em ambas é necessário identificar, enfatizar e gerenciar eficazmente tudo
16
aquilo que é possível fazermos melhor que o oponente.
Nas palavras dos chineses Qiao Liang e Wang Xiangsui (11), não há nada no mundo
hoje que não possa se transformar em uma arma. Esse é o princípio que deve ser assimilado
por aqueles aos quais não resta alternativa no desequilíbrio da balança do poder. Assim devem
pensar aqueles que estão nas fimbrias dos principais acontecimentos mundiais. Com esse
princípio em mente, uma enorme variedade de recursos pode ser empregada, desde de que se
saiba de que maneira se pode transformar algo préexistente, com uma finalidade qualquer
diferente da bélica, em um instrumento capaz de infligir dano ao inimigo. É nesse ponto que
se apresenta a imperiosa necessidade de que sejam buscados meios capazes de desenvolver ou
identificar esses instrumentos.
A fim de permitir uma melhor visualização da forma como a Guerra Assimétrica vem
sendo tratada, é importante tecer algumas considerações a respeito dos tipos de assimetria que
um conflito pode apresentar.
Segundo o autor Darc Costa, a Guerra Assimétrica pode apresentar, entre outras, as
seguintes assimetrias, entre os dois lados de um conflito:
Do ponto de vista do lado mais forte:
Assimetria de poder econômico e financeiro – muitos recursos versus poucos;
Assimetria de capacidade bélica – relativa e absoluta;
Assimetria de estruturação organizacional – hierarquia versus rede.
Do ponto de vista do mais fraco:
Assimetria de objetivação – número quase infinito de alvos versus poucos alvos;
Assimetria de resultados – indiferença de resultados a curto e médio prazos versus a
necessidade de resultados expressivos no curto prazo;
Assimetria comportamental – não-sujeita a nenhuma regra, admitindo inclusive o
suicídio, versus preso a regras e convenções (12).
Para Carlos Lessa, esse tipo de guerra, que busca colocar em xeque a superioridade das
potências ocidentais, tem três componentes distintos, que por vezes se superpõem:
a)Assimetria de atores, que diz respeito ao fato de que os Estados vêm se confrontando com
atores não-estatais, como grupos terroristas e quadrilhas internacionais;
b)Assimetria de objetivos, em que os dois lados têm propósitos distintos, como no caso da
Guerra do Vietnã, em que os vietnamitas lutavam pela liberdade da sua pátria e que para os
EUA significava um dos teatros de operações da Guerra Fria. Também no conflito entre Israel
e os palestinos fica nítida essa assimetria, uma vez que, enquanto os israelenses desejam a paz
através de um cessar fogo que inclua os grupos terroristas, os palestinos não se satisfazem
com nenhuma oferta que não contemple o reconhecimento do seu Estado;
17
c)Assimetria de meios, que tem um caso típico no episódio da Somália, em 1993, em que os
norte-americanos dispunham do armamento mais sofisticado do mundo, e os somalis não
possuíam nada além de fuzis kalachnikovs (23:89).
É preciso buscar compensar a superioridade aérea, de inteligência, vigilância,
reconhecimento e outras vantagens tecnológicas do inimigo, recorrendo ao enfrentamento
durante períodos de visibilidade reduzida e em terrenos complexos tão distintos quanto
ambientes urbanos e de selvas.
As possibilidades oferecidas pela globalização devem ser consideradas para emprego na
Guerra Assimétrica. O recurso a uso de sistemas financeiros, Internet, comunicação, e outros
sistemas que possam configurar redes das quais façam parte o inimigo, devem estar incluídos
no planejamento de ações que visam atingir o inimigo em pontos vulneráveis que possam
contribuir para o efeito surpresa do seu uso.
É importante desenvolver a capacidade de surpreender o inimigo por meio do uso de
recursos em que o emprego de tecnologias de ordem variada, combinando alta, média e baixa
sofisticação tecnológica, sendo capaz de golpeá-lo de maneira inesperada.
O General Meigs, por sua vez, descreve aquilo que chama de idiossincrasias. São rotinas
observadas regularmente em procedimentos sistematizados que, uma vez detalhadamente
estudados, podem oferecer uma chance de identificar vulnerabilidades, que por sua vez são
passíveis de serem exploradas para atingir o inimigo. Ainda segundo ele, no sentido militar, a
idiossincrasia significa uma abordagem ou maneira não ortodoxa de aplicar uma capacidade,
que não segue as regras e é sinistramente peculiar (24:1).
Utilizando este princípio, os ataques de 11 de setembro de 2001 aos EUA foram
possíveis, em pleno interior da mais poderosa nação do mundo, porque foram identificadas
nos processos envolvidos na preparação da ação, as vulnerabilidades existentes que
propiciaram: a entrada no país dos terroristas, a sua formação como pilotos em cursos de
pilotagem nos EUA, a compra de passagens em vôos domésticos, a hospedagem em hotéis, o
embarque nos aviões, entre outras atividades que precederam o ataque. Tais passos
aconteceram devido às facilidades que a liberdade de movimentação, os sistemas de
informação, a preocupação com os direitos civis e o relaxamento com a segurança pública
existente nos EUA, na ocasião, permitiram. Os terroristas que empreenderam essa operação,
que insidiosamente recorreu às rotinas norte-americanas em vigor para perpetrar o golpe,
serviram-se de caminhos já existentes, que eles foram capazes de identificar, e que
caracterizam a idiossincrasia da qual fizeram uso. Ao andarem por caminhos existentes e
abertos a todos os que desejassem percorrê-los, os terroristas maximizaram a componente
surpresa do golpe.
18
Na pesquisa e análise dos processos e sistemas empregados pelo inimigo mais poderoso
reside a capacidade de descobrir o caminho que pode servir para atingi-lo, onde, quando e
como ele menos espera, de modo a provocar o colapso de um de seus sistemas.
Os chineses Qiao Liang e Wang Xiangsui surgiram na cena internacional ao editarem,
no ano de 1999, o livro intitulado “Unrestricted Warfare” (11), sem tradução oficial para o
português até o momento, que aborda o que chamaram de “Guerra Além dos Limites”. Nesse
livro, eles produziram a sua própria interpretação de como o uso irrestrito de recursos
disponíveis em qualquer dos campos do poder nacional, pode se transformar em instrumento
de uma nova forma de conduzir uma guerra, cujo campo de batalha se tornou virtualmente
indefinido. Particularmente, eles se dedicam a examinar como deverão ser as guerras futuras,
dentro de uma perspectiva chinesa, voltados para um eventual conflito do seu país com os
EUA.
Ao fazê-lo, visualizam uma nova forma de condução da guerra que procura enxergar em
tudo uma forma de sua transformação num recurso útil à guerra. Esse modo de conduzir a
guerra, desenvolvido à luz do estudo dos conflitos recentes, explora as formas não-
convencionais e que se valem de aspectos comparativos assimétricos para infligir dano ao
inimigo.
Nesse sentido, lembram que um único abalo no mercado de ações, que pode ser
provocado por um só homem, uma única invasão de vírus em determinado computador, ou
um rumor ou escândalo que resulte em flutuação no câmbio do país inimigo ou exponha seus
líderes na Internet são possibilidades resultantes dos avanços tecnológicos ocorridos nas
últimas décadas.
Consideram que o combatente digital está assumindo o lugar do combatente tradicional,
e que a assimetria, como um princípio, é um ponto de apoio importante à idealização da
guerra além dos limites, cuja inspiração essencial deve ser caminhar pelo sentido contrário, no
fio condutor do pensamento que idealiza o equilíbrio resultante da simetria, e desenvolver a
ação combatente nessa direção. Desde a disposição de forças, e seu emprego, seleção do eixo
principal de combate e centro de gravidade do ataque, até a escolha das armas a serem
empregadas, a assimetria de todos esses fatores deve ser pesada sob esses dois caminhos e ser
usada como a ferramenta para a consecução dos objetivos.
Na escolha do que Qiao Liang e Wang Xiangsui chamam de centro de massa do assalto,
deve ser eleito o ponto que resultará no mais espetacular choque psicológico ao adversário. É
freqüente o inimigo, que utiliza forças convencionais e ações convencionais como sua
principal força de combate, parecer “um elefante numa loja de porcelana”, ao enfrentar um
combatente que se vale da assimetria.
19
Em contraposição ao conceito de "Military Operations Other Than War" (MOOTW),
cujo significado é: “operações militares que não a guerra”, Qiao Liang e Wang Xiangsui
desenvolvem o de “non-military war operations”, que significa “operações não-militares de
guerra”. A diferença entre os dois conceitos é muito maior do que a semelhança entre as
palavras sugere. No primeiro, está contido o conceito do emprego de efetivos militares em
operações consideradas como não sendo de guerra, e no segundo, surge a idéia da extensão do
estado de guerra a, virtualmente, todo o campo do empreendimento humano, e muito além do
que está contido na noção de “operação militar”.
As operações desse tipo podem ser, principalmente, as seguintes:
Guerra comercial – deixou de ser meramente uma força de expressão para indicar uma
maneira de conduzir “operações não-militares de guerra”. É um instrumento do qual vários
Estados, particularmente, os EUA, sabem fazer uso de modo bastante eficiente. Algumas
manifestações desse tipo de operação são o uso da legislação doméstica comercial no cenário
internacional; o estabelecimento ou suspensão arbitrário de barreiras tarifárias; o emprego de
sanções comerciais não previstas; a imposição de embargos na exportação de tecnologias
críticas e o uso de tratamento favorecido a determinados países. Cada um desses instrumentos
pode produzir um efeito destrutivo que se iguala àquele de uma operação militar.
Guerra financeira – um “ataque financeiro” inesperado que foi deliberadamente
planejado e iniciado pelos donos do capital móvel internacional serviu, há não muito tempo,
para derrubar um país após o outro, inclusive alguns que pouco antes eram conhecidos como
“tigres asiáticos”. Como conseqüência das dificuldades econômicas, muitos países chegaram
próximo ao colapso e à desordem política. Uma das manifestações mais explícitas de um
mundo globalizado, a “guerra financeira”, facilmente manipulável, é uma forma de “operação
não-militar”, tão terrível quanto uma guerra, na qual, no entanto, nenhum sangue é
derramado.
Nova guerra de terror em contraste à guerra de terror tradicional – em contrapartida às
ações produzidas pelo terrorismo tradicional, que normalmente produz um número de vítimas
menor do que uma campanha de guerra convencional, o novo terrorismo tem assombrado o
mundo com uma nova forma de agir. Essa modalidade de empreender o terror ganhou
contornos dramaticamente assustadores, ao incorporar tecnologias novas às suas formas de
operar, de modo a galgar um novo patamar de capacidade de dano. Ações como o ataque com
gás Sarin no metrô de Tóquio, levado a cabo pelos seguidores de Aum Shimrikyo, é um
exemplo dessa nova possibilidade. Também há grupos menos conhecidos, como o italiano
“Forças Armadas Falange”, que se especializaram em conduzir ações com emprego de alta
tecnologia, cujas metas são invadir redes de computadores de bancos e de organizações de
20
mídia, a fim de roubar dados armazenados, danificar programas e disseminar desinformação.
Além desses, há o novo “terrorismo religioso” que conjuga o emprego de tecnologias de
naturezas distintas, como foi o caso dos ataques de 11 de setembro de 2001.
Guerra ecológica – esse tipo de guerra implica no uso de tecnologias, que, espera-se,
estejam disponíveis num futuro não muito distante, e que sejam capazes de produzir efeitos
nocivos por meio de influências a cursos de rios, oceanos, a crosta da terra, as calotas polares,
o ar circulante na atmosfera e a camada de ozônio. A possibilidade de que alguma tecnologia
dessa natureza venha a estar disponível, e possa vir a ser utilizada por grupos terroristas para,
por exemplo, criar artificialmente um fenômeno El Niño, abre a perspectiva de que um
holocausto ecológico possa se tornar uma idéia exeqüível no futuro.
Além dessas formas de guerra, Qiao Liang e Wang Xiangsui apontam também outras
modalidades possíveis de luta, que podem se converter em instrumentos não-militares de
guerra. Algumas já existem, enquanto outras poderão vir a existir no futuro. Entre elas estão a
guerra psicológica, a guerra de mídia, a guerra de drogas, a guerra de redes, a guerra
tecnológica, a guerra de recursos, a guerra de ajuda econômica, a guerra cultural e a guerra de
legislação internacional, além de outros campos que, eventualmente, possam vir a se oferecer
para esse fim.
Como esses dois chineses enfatizam, como linha de pensamento ou como princípio
guiando as operações de combate, a assimetria se manifesta, de alguma forma, em todos os
aspectos do conflito. Compreender e empregar o princípio da assimetria corretamente permite
encontrar e explorar os pontos onde o inimigo é mais vulnerável.
Para eles, o mundo não é mais o que costumava ser, e olhando para os recentes
atentados terroristas, para as crises financeiras que assolaram e de certa forma ainda atingem
certos países, e as disputas comerciais por todo o globo, não é difícil enxergar que existe um
novo tipo de brutalidade. Essa é a guerra na era da globalização.
Mais recentemente, a Guerra do Iraque tem trazido também alguns ensinamentos
relativos à Guerra Assimétrica.
Após uma campanha militar que teve início em 20 de março de 2003, com ímpeto
arrasador, que em cerca de três semanas chegou à capital do país, Bagdá, depôs o regime de
Sadam Hussein, e levou o Presidente George W. Bush declarar em tom triunfal, em 1º de
maio de 2003, “missão cumprida”, o que se viu foi o início de uma gradual situação de Guerra
Irregular.
A fim de contrapor-se ao poderio tecnológico norte-americano, tem sido colocada em
prática uma estratégia que explora de várias formas a natureza assimétrica do conflito. A ação
dos insurgentes iraquianos tem variado na forma, porém os recursos mais empregados têm
21
sido o uso de minas anticarro de fabricação caseira combinado com ataques com armas de
fogo e de carros e homens-bomba. Desde o começo da guerra, já são mais de 1800 mortos
entre os norte-americanos, que não têm se mostrado capazes de controlar a escalada de
violência no país.
Mais uma vez pode ser constatado o efeito do tempo na campanha de Guerras
Assimétricas, dividindo o papel principal com as ações não-convencionais, resultando em que
o mais formidável aparato militar do planeta se mostre incapaz de manter o controle da
situação.
22
CAPÍTULO 3
A GUERRA ASSIMÉTRICA E SUAS POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES PARA A
POLÍTICA DE DEFESA NACIONAL
Nós brasileiros temos que olhar este novo tipo de guerra nos dois enfoques,o chinês e o norte-americano, pois podemos nos ver ora como pedra, oracomo vidraça. (Darc Costa)
3.1 - A POLÍTICA DE DEFESA NACIONAL
A PDN, voltada, preponderantemente, para ameaças externas, é o documento
condicionante de mais alto nível do planejamento de defesa e que tem por finalidade fixar os
objetivos e diretrizes para o preparo e o emprego da capacitação nacional, com o
envolvimento dos setores militar e civil, em todas as esferas do Poder Nacional, sob a
coordenação do Ministério da Defesa (MD).
Esse documento também assinala, quando aborda o ambiente internacional, que países
detentores de grande biodiversidade, enormes reservas de recursos naturais e imensas áreas
para serem incorporadas ao sistema produtivo podem tornar-se objeto de interesse
internacional. Além disso, chama a atenção para a importância das condições que favorecem a
prática de ilícitos transnacionais e crimes relacionados com ele, e que facilitam a presença de
grupos com objetivos que contrariam os interesses nacionais na região. (5)
Numa demonstração da importância de que se revestem as condições peculiares dos
conflitos atuais, a PDN menciona também a sua natureza difusa e o seu elevado grau de
incertezas, como resultado da velocidade das mudanças que têm ocorrido no mundo. Nesse
particular, adverte para a necessidade de que as Forças Armadas estejam prontas a operar com
versatilidade, interoperabilidade, sustentabilidade, e mobilidade estratégica, por meio de
forças leves e flexíveis, capazes de cumprirem diferentes tipos de missões.
A importância estratégica e a riqueza que abrigam, fazem da Amazônia brasileira e do
Atlântico Sul áreas prioritárias para a defesa nacional.
Ambas se revestem de importância igual do ponto de vista da defesa nacional. Todavia,
como veremos mais adiante, há razões para considerar que, sob o ponto de vista da Guerra
Assimétrica, a Amazônia, hoje, encontra-se sob uma ameaça mais objetiva do que o Atlântico
23
Sul.
Como foi visto, a nova ordem mundial deu vida a um mundo em que as instabilidades
regionais afloraram e tornaram mais voláteis várias regiões do globo. O nosso entorno
regional, a América do Sul, tem produzido alguns conflitos dessa natureza, no entanto, tem
sido capaz de reduzir e administrar em níveis toleráveis seus contenciosos, até porque é
considerada uma das regiões mais desmilitarizadas do planeta,
Entretanto, a PDN explicitamente indica, por meio da sua Orientação Estratégica, a
adoção de uma atitude preventiva da defesa nacional, que reside na valorização da ação
diplomática como instrumento primeiro de solução e em uma postura estratégica baseada na
existência de capacidade militar com credibilidade, apta a gerar efeito dissuasório.
Dessa orientação decorre que o papel de prover a dissuasão convencional conserva uma
importância primordial dentro da Orientação Estratégia nacional. Assim, a manutenção da
componente militar do poder nacional, em condições de oferecer credibilidade como tal, e
dessa forma contribuir para a estabilidade política regional, obriga a que sejam empreendidas
as medidas adequadas à tarefa de orientação e preparo desse poder militar de modo que
estejamos prontos para fazer frente a uma ameaça de natureza convencional.
No intuito de provermos o país dessa capacidade dissuasória capaz de garantir a
manutenção da paz com potências de igual ou menor porte, o preparo das Forças Armadas
para o seu emprego clássico continua sendo indispensável, a despeito de toda evolução e
transformação no conceito de guerra. A eventual necessidade de emprego em hipóteses que
requerem essa forma de aplicação do poder militar continua sendo o aspecto mais relevante
no preparo do poder militar, como se pode extrair da própria PDN.
Na verdade, o que se pode depreender do exame criterioso da realidade geopolítica
mundial que inclua as chamadas “Novas Ameaças”, indica que a missão das Forças Armadas
passa a incorporar a necessidade do desenvolvimento de novas competências. É inegável que
o mundo atravessa um período em que as transformações ocorrem num ritmo cada vez mais
acelerado, e ignorar o impacto dessas transformações nas hipóteses de emprego dessas forças,
contribui, a meu juízo, para a sua obsolescência.
A natureza difusa das ameaças modernas e o caráter diversificado que assumem as
possibilidades de emprego das Forças Armadas são um novo ingrediente a ser considerado na
orientação do seu preparo e emprego. Disso resulta um acréscimo de tarefas para as quais elas
devem estar preparadas. Participação em operações de manutenção/imposição de paz, de
garantia da lei e da ordem e envolvimento em conflitos de características assimétricas são
novos elementos a serem incorporados a esse elenco de tarefas.
A dinâmica da geopolítica mundial estará, constantemente, produzindo novos desafios
24
nesse sentido, e a capacidade de adaptação a essa realidade em permanente transformação
deve se constituir numa preocupação regular.
Entretanto, quando a PDN explicitamente menciona que um país que é detentor de
grande biodiversidade e enormes reservas de recursos naturais pode se tornar objeto de
interesse internacional, e, como veremos adiante, figuras de expressão internacional, de
nacionalidades e cargos distintos confirmam isso, ao expressarem sua preocupação com a
aptidão dos brasileiros de gerenciar o que eles consideram ser um bem da humanidade, há
aqui algo que, especificamente, merece a nossa atenção.
3.2 - A PDN E AS AMEAÇAS DE NATUREZA ASSIMÉTRICA
Nos últimos anos, tem sido comum nos meios militares internacionais a discussão em
torno do que se convencionou chamar de “Novas Ameaças”. Esse novo conceito, reconhecido
na PDN, surge com a necessidade de serem classificadas aquelas ameaças surgidas depois do
fim da Guerra Fria. Entre elas estão o terrorismo e os delitos transnacionais, como ameaças à
paz e à segurança dos Estados.
Em todo o mundo, as Forças Armadas foram convocadas a darem a sua contribuição ao
enfrentamento desses novos desafios perturbadores da ordem pública mundial, ao incorporá-
los à orientação do preparo de seu emprego.
Considerando que, para a maioria dos países, as ameaças convencionais não deixaram
simplesmente de existir, essa cobrança por parte das sociedades nacionais adicionou um
ingrediente a mais a ser incluído no elenco de considerações que orientam o preparo e o
emprego do Poder Militar, cada país a seu próprio modo.
Por outro lado, têm sido freqüentes as iniciativas, com caráter internacional e inspiração
variada, como as guerras do Golfo, do Kosovo e do Iraque, entre outras, de intervenções
militares em regiões e países diversos, em função de critérios e princípios fluídos, que muitas
vezes movem-se no sentido de adquirir uma inegável semelhança com interesses, de natureza
principalmente econômica, das grandes potências.
No cenário internacional, com o fim da questão ideológica que permeava os conflitos
em todo o globo, pode ser observada, entre os interesses das nações mais desenvolvidas, uma
maior tolerância recíproca de origem pragmática, de modo que cada um empreste ao outro
alguma legitimidade, em questões de interesse específico. Pode ser observado um
comportamento bastante volúvel das principais forças políticas mundiais, ao se posicionarem
em relação a uma determinada questão, em função de interesses objetivos momentâneos,
elevando assim o grau de incerteza de algumas decisões tomadas em organismos
25
internacionais.
Logo após os ataques terroristas de 2001 aos EUA, por exemplo, a Rússia, que vinha
sofrendo pressões norte-americanas em relação à repressão que exercia sobre o separatismo
chechêno, apressou-se em solidarizar-se com o país atingido e tratou de incluir as suas ações
na Chechênia como parte daquilo que Washington chamou de “Guerra Global ao
Terrorismo”, neutralizando assim aquelas pressões.
Além dessas incertezas, não pode ser esquecido que as principais potências têm, muitas
vezes, agido à revelia das resoluções da ONU, contribuindo dessa forma também para esse
aumento das incertezas do cenário internacional.
Essas duas formas de agir ajudam a elevar a volatilidade do cenário global, em que as
ameaças se tornam difusas e não é mais possível limitar-se à construção de hipóteses de
guerra nos moldes em que sempre estivemos acostumados. Não é mais possível restringir o
exercício prospectivo às ameaças a que estivemos acostumados a enxergar, e sim prepararmo-
nos para o desenvolvimento de novas competências diversas.
Assim, o estabelecimento da versatilidade e da flexibilidade na orientação do preparo e
emprego do Poder Militar não pode deixar de considerar a Guerra Assimétrica como uma das
possibilidades futuras de emprego das Forças Armadas, como se pode constatar dos conflitos
recentes no mundo.
3.3 - MOBILIZAÇÃO E GUERRA ASSIMÉTRICA
De acordo com a PDN, a vertente defensiva da Defesa Nacional baseia-se, entre outros,
no pressuposto básico da capacidade de mobilização nacional. Considerando que a Guerra
Assimétrica é um cenário concreto e freqüente no mundo atual, faz-se necessário que, no
planejamento dessa mobilização, a Guerra Assimétrica seja considerada.
Na esfera de envolvimento de ambos os setores, civil e militar, algumas capacitações se
revestem de grande valia para a Guerra Assimétrica, e, uma vez identificadas, devem ser
visadas mais especificamente.
Por exemplo, deve ser considerada a identificação dos recursos humanos e materiais de
valor para a Guerra Assimétrica, como “hackers” e outros usuários qualificados de recursos
tecnológicos de informação que possam ser utilizados de modo a infligir dano ao inimigo, por
exemplo, pela possibilidade de promover interferência nos seus sistemas de comando e
controle.
A abrangência praticamente ilimitada da Guerra Assimétrica tem implicações diretas no
esforço de mobilização da Defesa Nacional, na medida em esse tipo de guerra abre um amplo
26
espectro de possibilidades e torna o esforço de mobilização um elemento chave na
organização e controle daqueles recursos que vierem a ser identificados como úteis a esse tipo
de campanha.
O fato de que o combatente que detém a superioridade do fator tecnológico tem uma
inerente dificuldade de superar a barreira de pensamento que essa superioridade impõe deve
ser explorado pelo desenvolvimento da habilidade de pensar além da tecnologia.
A guerra é, hoje mais do nunca, um fenômeno muito mais abrangente do que um
conflito armado. Por isso, confrontamo-nos com uma realidade que apresenta um tipo de
combate de largo espectro, que se desdobra para um campo de batalha sem fronteiras, em que
não é mais possível confiar exclusivamente no poder militar para garantir a segurança
nacional, num sentido estratégico mais amplo. Como conseqüência, o que se verifica são
cenários em que é difícil delimitar o campo de batalha, distinguir entre guerra e paz e entre
combatente e não-combatente.
A fim de identificar as formas de combater que melhor exploram as possibilidades da
Guerra Assimétrica. Esse esforço deve contar com a contribuição dos melhores intelectos
disponíveis no país, e por isso a comunidade acadêmica nacional deve ser convidada a
participar desse esforço.
Especialmente no que tange à Amazônia, órgãos dessa natureza da região, por
possuírem um conhecimento particularmente amplo sobre as tipicidades regionais, devem ser
convidados a darem a sua contribuição. Entidades como o Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (INPA) e as universidades da região amazônica devem ser consideradas para o
esforço de desenvolvimento de inovações que resultem na possibilidade de transformação de
recursos característicos da região em instrumentos úteis, em formas diversas de Guerra
Assimétrica. Os estímulos incluídos na Lei de Inovação (6), também podem ser examinados
entre as possibilidades para que medidas de incentivo à pesquisa e à inovação possam
contribuir para esse desenvolvimento de competências.
O conflito assimétrico, todavia, não deve ser considerado exclusivamente na hipótese de
envolvimento do Brasil, na condição de inferioridade, em termos de capacitação.
Como mostram os exemplos já mencionados de Guerra Assimétrica, como Vietnã e
Afeganistão, os conflitos dessa natureza, quando ocorrem no plano interestatal, são levados
ao território do menos capaz pela potência mais forte. Considerando a presença dos princípios
constitucionais de observância da autodeterminação dos povos, da não-intervenção e da
igualdade entre os Estados, não é possível imaginar que o Brasil se envolva em um conflito na
condição de agressor.
A participação do Brasil em missões de paz da ONU, todavia, pode levar a que efetivos
27
militares brasileiros enfrentem a assimetria do ponto de vista do mais forte. A Missão das
Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTHA), chefiada pelo Brasil, tem
comprovado essa possibilidade.
Os militares brasileiros, integrantes dessa missão, têm experimentado, durante suas
missões de patrulhamento nas regiões mais perigosas do país, enfrentamentos com elementos
fiéis ao ex-Presidente Jean-Bertrand Aristide armados, além de criminosos comuns, que
realizam emboscadas aos integrantes das Forças de Paz, em ações típicas de Guerra Irregular,
que, eventualmente, têm produzido baixas entre integrantes dessas forças.
Sendo assim, o exercício e o desenvolvimento de técnicas e táticas assimétricas de
combate, com propósitos defensivos, devem servir também para subsidiar a assimilação da
capacitação para o enfrentamento de poderes inferiorizados que se valham desses métodos.
3.4 - A AMAZÔNIA COMO CENÁRIO DE GUERRA ASSIMÉTRICA
Como já vimos anteriormente, a PDN é explícita com relação à ameaça que o interesse
internacional na Amazônia representa para a defesa nacional.
De acordo com esse documento, podem ser identificados dois tipos de ameaça à
Amazônia: a ameaça representada pelos ilícitos transnacionais e crimes conexos; e a ameaça
representada pelo interesse internacional sobre a biodiversidade e os recursos naturais da
região.
Como já mencionado, a dimensão ambiental da globalização inclui a devastação da
floresta amazônica como instrumento de promoção do movimento de longa distância de
materiais na atmosfera (5). Além disso, a questão ambiental que envolve a Amazônia tem
adquirido relevância crescente no cenário mundial. Além de personalidades diversas como
Margareth Thatcher, Mikhail Gorbachev e Al Gore no passado, mais recentemente
autoridades de reconhecida importância na cena política internacional atual, como Pascal
Lamy, Diretor da Organização Mundial do Comércio (26) e Pascal Boniface, membro da
Junta Consultiva das Nações Unidas para o Desarmamento (33), e Diretor do Instituto de
Relações Internacionais e Estratégicas, com sede em Paris, têm manifestado sua convicção de
que, em algum momento, pode ser necessária a internacionalização da Amazônia, como meio
de proteger a floresta.
A título de ilustração, vejamos o que este último escreveu em seu livro “Les Guerres de
Demain”, de 2001:
O governo brasileiro decidiu, ao início dos anos noventa, subvencionar o
28
desbravamento das florestas amazônicas, ameaçando assim a suaintegridade. A Amazônia pertence plenamente ao Brasil. Porém, se aspotências ocidentais fizeram uma exceção ao sacrossanto princípio dasoberania dos estados para fazer a guerra na Iugoslávia e ajudar osKosovares (uma vez que o Kosovo pertencia à Iugoslávia), por que não ofariam contra o Brasil para se apropriar da Amazônia? O pretexto não seria aproteção de uma população, mas da “espécie humana”. Sendo a Amazônia opulmão da terra, caso o Brasil não a proteja corretamente, tornar-se-á deverdos outros Estados fazê-lo, em nome da humanidade. (Pascal Boniface) (4) 1
É inegavelmente preocupante assistir a uma autoridade de renome internacional, que
desempenha uma função de destaque no principal organismo internacional, a ONU, fazer um
comentário dessa natureza. A propagação de justificativas racionais para uma intervenção na
Amazônia pode não ser nada mais do que manifestações isoladas de pessoas desinformadas,
que ainda pensam que as florestas tropicais são os pulmões do mundo, mas também pode ser
parte de um esforço de convencimento da opinião pública mundial de que essa intervenção
será necessária, um dia.
Considerando que a proteção da Amazônia brasileira é uma das diretrizes contidas na
PDN, declarações como as dessas autoridades constituem uma ameaça que não pode ser
simplesmente desconsiderada, independentemente do quanto acreditemos que seja ela um
temor infundado ou um risco real.
O tema ambiental, como se pode ver, assume nos dias de hoje uma importância inédita,
e chega mesmo a merecer do jornalista norte-americano Thomas L. Friedman o uso da
expressão “geo-green”, para dar uma dimensão estratégica à sua importância, tanto como
assunto recorrente na agenda dos fóruns de natureza multinacionais, como pela importância
de que se reveste a necessidade de que sejam criados projetos de desenvolvimentos de fontes
alternativas aos combustíveis fósseis, de grande impacto ambiental, e cujas reservas
conhecidas encontram-se próximas do esgotamento (32).
Enfrentar objetivamente essa questão requer iniciativas em dois planos. Sob o prisma do
interesse nacional, essa questão não pode deixar de passar pela necessidade de que
demonstremos ao mundo nossa aptidão para gerir de forma sustentável e soberana as riquezas
naturais da floresta amazônica. Esse caminho contribui de forma insofismável para o
estabelecimento de uma legitimidade importante ao nosso inalienável direito de soberania
sobre a região, aos olhos atentos da opinião pública mundial. Transmitir uma imagem de
irresponsabilidade com tamanha riqueza é uma conduta conveniente para aqueles que
alimentam a idéia de que as riquezas da Amazônia devem ser tratadas como um patrimônio
natural, a ser compartilhado pelo restante da humanidade.
De outro lado, a única forma de permanecermos tranqüilos quanto à soberania sobre a
1 Tradução livre feita pelo autor
29
nossa parcela da Amazônia, é com o desenvolvimento da capacidade dissuasória necessária.
A garantia de que esta nossa capacidade é suficiente é uma medida de difícil avaliação, uma
vez que essa garantia só será obtida pelo seu reconhecimento por quem representa essa
ameaça. Identificar quem é essa ameaça, por sua vez, não é uma tarefa das mais fáceis. Pascal
Boniface, no entanto, nos dá uma pista.
Imaginar que um organismo internacional, do qual o Brasil é associado e com o qual
esteja comprometido, possa se tornar um dia o patrocinador de uma intervenção em nosso país
pode parecer paradoxal e até mesmo impensável. Entretanto, num mundo em que os processos
sociais ocorrem de forma globalizada, é preciso não perder de vista que, se algum dia algo
semelhante acontecer, será ao amparo de razões perfeitamente compreensíveis, aos olhos da
opinião pública internacional, e no interesse da humanidade. E é mesmo provável que essa
intervenção viesse a ser assistida pelo restante do mundo, da mesma forma distanciada que
assistimos ao bombardeio de Belgrado, em 1999, pelos países da Organização do Atlântico
Norte (OTAN).
Acordos internacionais de defesa aos quais o Brasil esteja ligado, como o Tratado
Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) serão de absoluta inutilidade, uma vez que
os demais países americanos signatários estarão, das duas, uma: integrados à coalizão ou
incapacitados de darem qualquer contribuição militar relevante.
Esse tipo de iniciativa internacional situa-se no campo do que os norte-americanos
chamam de MOOTW. A despeito dessa designação, esse tipo de operação pode ou não
contemplar ações de combate, e é descrito como um emprego de força militar em prol do
“interesse mundial” (9).
Não obstante ser de difícil definição qual deve ser o Poder Militar capaz de garantir esse
efeito dissuasivo, há um claro indicador: a recorrência da idéia da internacionalização é um
alerta de que a nossa capacidade de dissuasão hoje é insuficiente.
Não é difícil chegar a essa conclusão, ao observarmos que, no outro lado da moeda
ambiental, está o dióxido de carbono, principal agente do aquecimento global, que tem 90%
de sua produção originada na Europa e América do Norte, sem que isso tenha produzido
nenhuma idéia de intervenção nos países que eventualmente recusem-se a colaborar com o
esforço de redução da emissão de gases poluentes (38).
Nesses termos, é necessária a formação de um Poder Militar capaz de fazer com que a
dissuasão a uma intervenção na Amazônia, em nome da defesa do meio ambiente, esteja
amparada na nossa capacidade de defendê-la, e não no que a opinião pública mundial seja ou
não convencida a julgar legítimo ou justificável.
Considerando o estabelecimento de um paralelo com a intervenção militar na Sérvia,
30
feito por Boniface, é de se esperar que uma ameaça com a mesma característica multinacional
possa vir a ser aplicada ao Brasil. Por razões que não cabe aqui mencionar, é hoje improvável,
no Brasil, alocação às Forças Armadas dos recursos que permitam a constituição de uma
poder capaz de se opor eficazmente a tamanha ameaça, como seria de se desejar. Não
obstante, esse objetivo deve ser perseguido constantemente.
Em nome do interesse em mantermos a integridade do nosso território, o desejável é
que sejamos capazes de impor um custo tão alto à iniciativa de intervenção, que desestimule,
ao menos, o surgimento de manifestações desse tipo no noticiário internacional. Até lá,
todavia, temos que estar preparados da melhor forma possível.
Há poucas coisas mais arriscadas do que tentar adivinhar a forma como um potencial
inimigo irá agir. Não faltam exemplos na história de erros cometidos pela suposição das
intenções adversárias, desconsiderando todas as suas possibilidades. Todavia, a fim de inferir
as formas e os princípios de Guerra Assimétrica que podem ser incorporados ao elenco de
medidas de preparação do emprego do Poder Nacional na defesa da Amazônia, serão
assumidas algumas premissas.
Em virtude da natureza do ambiente, é de se prever que, na hipótese de emprego das
Forças Armadas em defesa da Amazônia contra uma força de intervenção estrangeira, buscar
inspiração em táticas utilizadas pelos vietnamitas na Guerra do Vietnã pode ser de grande
utilidade. No entanto, devem ser levadas em conta peculiaridades de natureza política, social,
cultural e ambiental, a fim de corretamente adequarmos os exemplos vietnamitas.
Não obstante serem ambos ambientes de floresta tropical, há outras distinções, que
favoreceram a luta dos vietnamitas, como o fato de que aquele é um país de dimensões
pequenas e de alta densidade demográfica, ao contrário da região amazônica, de dimensões
gigantescas e densidade demográfica baixíssima. Os dois fatores foram explorados a seu favor
pelos combatentes asiáticos, e a nós caberá tornar as nossas características regionais em
fatores que nos favoreçam.
O Exército Brasileiro (EB) desenvolveu, a partir da constatação da incapacidade de
prover essa defesa empregando táticas convencionais, o que recebeu o nome de “Estratégia de
Resistência”, que consiste de uma adaptação ao ambiente amazônico de táticas de Guerra
Assimétrica.
Cabe, a essa altura, enfatizar que prever a execução de um plano de defesa do território
nacional ou de parte dele, com base no emprego de Guerra Assimétrica é algo absolutamente
indesejável, e embute o reconhecimento da incapacidade de fazê-lo da forma adequada, para a
qual existem as Forças Armadas.
A escolha da Estratégia de Resistência não pode ser entendida como a adoção de uma
31
opção estratégica, mas a aceitação do fato de que a opção que deveria existir não está
disponível. É a escolha pela falta de opção, e a sua implementação não deve significar que a
questão da defesa nacional está equacionada em termos satisfatórios. Ao contrário, deve ser
entendida como um indicador da necessidade cabal da implementação de um programa de
reaparelhamento das nossas armas. Só assim será alcançado o objetivo primeiro das Forças
Armadas que é o efeito dissuasório.
Não obstante, o desenvolvimento e o aprimoramento dessa estratégia, que visa negar o
controle da região ocupada ao inimigo, deve ser incrementado. As técnicas de combate de
resistência devem ser exploradas, e o sistema de comando e controle, dificultado pelas
características da região e pela presença do inimigo, deve ser treinado e experimentado
sempre que possível. Técnicas como as que o EB já vem empregando, como o uso de pombos
correios e de línguas indígenas nas comunicações devem ser constantemente identificadas e
desenvolvidas, no esforço de construir um elenco de recursos úteis à única estratégia aplicável
a essa hipótese de emprego.
A constituição de efetivos que sejam capazes de empreender ações do tipo não-
convencional é de suma importância para a formação de núcleos difusores de atividades dessa
natureza no ambiente da selva e ribeirinho. As Forças Especiais são efetivos especializados
em que desempenhar missões não-convencionais que em muito se assemelham às ações de
Guerra Assimétrica. Por isso, essas unidades adquirem relevância singular, diante da
possibilidade de emprego de recursos assimétricos.
Um dimensionamento adequado de contingentes desses combatentes é de grande valia
para esse tipo de combate. Em virtude da sua familiarização com esse tipo de operação, esses
efetivos podem também produzir um importante efeito multiplicador de técnicas úteis, no
caso de transformação de combatentes convencionais em elementos qualificados para missões
não convencionais, inseridas na Estratégia de Resistência. Funcionam como núcleos em torno
dos quais o combate de resistência pode se organizar.
Da mesma forma, a atividade de inteligência é de grande valia para permitir o
levantamento das informações indispensáveis ao desenvolvimento do planejamento das ações.
O recrutamento de contingentes de militares entre as populações locais e ribeirinhas
também deve ser estimulado. Esses efetivos trazem consigo uma familiarização com o meio
ambiente importantíssima no preparo do emprego dos meios na Estratégia de Resistência,
uma vez que, todo habitante das margens dos rios é um prático com inigualável conhecimento
dos inúmeros caminhos por furos e paranás do meio fluvial, e que permitirão o seu
deslocamento em meio à selva com incomparável desenvoltura, além de terem melhores
chances de se diluírem em meio ao ambiente sóciocultural ribeirinho
32
Imaginando a hipótese de uma força de intervenção que tenha como objetivo o controle
da região amazônica, é de se esperar que ela seja obrigada a estabelecer o controle da calha do
Rio Amazonas. Esse controle por sua vez obriga ao controle da foz do rio, o que exigirá o
estabelecimento de um controle de área marítima na região próxima à foz do rio.
O emprego de submarinos na sua função clássica de negação do uso do mar teria aí uma
chance considerável de êxito. O conhecimento e a familiarização desses meios com o
ambiente operacional da foz do rio são de suma importância, a fim de elevar a probabilidade
de sucesso no seu emprego. Para tal finalidade, é desejável a condução regular de exercícios
na área considerada com esse fim.
No uso da calha principal do rio, a presença de embarcações de porte oceânico
necessárias ao controle do cenário fluvial é um alvo potencial para ações de minagem e de
sabotagem. Da mesma forma, o uso de minas nas vias de acesso à calha do rio é uma medida
possível de ser bem-sucedida.
O eventual apoio da opinião pública mundial a uma intervenção militar na Amazônia
pressupõe que isso seja feito em nome da defesa do meio ambiente, visando à preservação da
floresta equatorial. Nesse caso, o uso de desfolhantes químicos, como o agente laranja, e
bombas incendiárias teria um efeito desmoralizador da causa ecológica, e seu uso
provavelmente seria evitado.
Isso contribui para que a defesa do ambiente amazônico deva ser levada para o interior
da floresta, onde o soldado nativo, como elemento básico da unidade combatente, tem a
vantagem do conhecimento do ambiente operacional. Esse é o melhor cenário onde ser
explorada a sabida dificuldade do combatente equipado com a mais alta tecnologia em lidar
com as táticas não-convencionais e de ardis que combinem e alternem o uso de tecnologias
diversas, tanto rudimentares como de ponta. Dessa forma, estarão sendo explorados alguns
dos princípios mais importantes no emprego de Guerra Assimétrica, que são a escolha do
local de enfrentamento e da arma mais adequada.
3.5 - O ATLÂNTICO SUL COMO CENÁRIO DE GUERRA ASSIMÉTRICA
Independentemente da ameaça considerada, é necessário reconhecer que o Atlântico Sul
será parte integrante de qualquer teatro de operações que envolva partes do território
brasileiro. Isso é verdade na medida em que qualquer iniciativa nesse sentido, muito
provavelmente, incluiria o emprego de Navio-Aeródromo nesta área a fim de realizar tarefas
como ataque aéreo, projeção de poder, etc...
Inicialmente, portanto, não pode ser descartado que o Atlântico Sul seja incluído como
33
parte do cenário de uma intervenção armada na Amazônia. A premissa inicialmente assumida
de uma ação limitada à própria região amazônica está calcada na hipótese de que não venha a
existir a autorização para que a operação se estenda além dos seus limites geográficos.
Entretanto, à semelhança do que ocorreu na Sérvia, no primeiro semestre de 1999, há
que se considerar que uma intervenção, mesmo possuindo um objetivo restrito a determinada
região do país, implique em ataques a alvos militares situados fora dessa região, como é o
caso de bases militares e outros alvos estratégicos.
Também é possível que bases de países de fora da região, localizadas próximas às
fronteiras terrestres do Brasil sejam utilizadas com esse propósito. Todavia não deve ser
desconsiderada a possibilidade da presença em águas jurisdicionais brasileiras de uma força
naval, nucleada em Navio-Aeródromo, a fim de realizar um ataque de neutralização dos meios
de reação nacionais.
A capacidade de enfrentar uma esquadra superior, todavia, é uma alternativa que oferece
poucas chances de sucesso.
A guerra no mar, diferentemente das campanhas terrestres, raramente oferece chance ao
lado mais fraco. No mar não é possível construir posições antecipadamente. Não existem
colinas, nem pântanos para guardar um flanco. A proporção entre atacantes e defensores de 3
para 1 que se observa como necessária em terra, não se aplica no mar. Lá não há sentido em
manter qualquer força em reserva, e toda a energia disponível deve ser empregada para atacar
o inimigo antes que ele o faça. Não há como tornar o tempo um aliado. No mar a ação
ofensiva predomina de uma maneira desconhecida aos combatentes terrestres. É na paz que os
estrategistas devem avaliar o valor da sua Marinha, quando comparada à do inimigo. Caso
contrário, arriscam-se a serem humilhados com ou sem derramamento de sangue (20:4).
Nesse caso, portanto, é quase certo que os meios navais disponíveis pela Marinha do
Brasil não seriam capazes de oferecer oposição a tal poder.
Restaria a possibilidade de emprego de submarinos, desempenhando a sua tarefa
clássica de negação do uso do mar, que deverá constituir o esforço principal de defesa no
mar. Pela sua mobilidade e autonomia, a posse de submarinos a propulsão nuclear se mostra
como um fator elevador da capacidade de dissuasão, pela capacidade de afetar de maneira
decisiva a posição da balança que tem, de um lado o peso dos interesses envolvidos e do
outros o seu custo.
34
CONCLUSÃO
Poder Nacional é o resultado de uma integração multidimensional de
poderes. (Elton Fernandes e Darc Costa)
Conforme foi apresentado, as transformações decorrentes, principalmente, da Nova
Ordem Mundial, resultante do colapso da URSS e do fenômeno da globalização
descortinaram um cenário de elevadas desigualdade e imprevisibilidade.
Nesse mundo, passam a coexistir fenômenos contraditórios como unilateralismo e
multilateralismo, integração e separatismo, globalização e nacionalismo, elevando ainda mais
o caráter volátil das relações internacionais.
Nesse contexto, passamos a assistir ao emprego da força ora com o aval da ONU, ora à
revelia desta. Observamos temas como ambientalismo, ajuda humanitária e imposição de paz
ascenderem ao centro dos debates dos foros internacionais e testemunhamos a inclusão
unilateral do direito ao ataque preemptivo na Doutrina de Segurança Nacional dos EUA.
É bastante compreensível, portanto, que em um ambiente com tamanhas desigualdades
e volatilidade, os conflitos entre as nações, que se desenvolvam nesse contexto, transfiram
essa desigualdade para o terreno dos instrumentos que serão utilizados na resolução desses
conflitos.
Dentro dessa nova realidade, ganha expressão uma corrente de pensamento estratégico
que, valorizando os efeitos dessas transformações nas relações entre os países e entre estes e
as organizações internacionais, aponta para o surgimento em uma escala inédita, do emprego
de métodos e técnicas de combate de natureza não-convencionais.
Todas as designações das formas de guerra mencionadas ao longo do trabalho - que não
a Guerra Convencional - como Guerra Irregular, Guerra de Guerrilha, Guerra sem Limites,
Guerra Além dos Limites entre outras, por terem sua inspiração estratégica e/ou tática no
reconhecimento da desigualdade existente entre as partes envolvidas, são manifestações da
chamada Guerra Assimétrica.
Dentro desse quadro de ameaças difusas e da dinâmica dos interesses em jogo no
cenário mundial, o estudo da Guerra Assimétrica ganha importância à luz de objetivos,
orientações estratégicas e diretrizes contidas na PDN e da constatação da natureza assimétrica
de algumas das ameaças que podem identificadas, mais explicitamente em relação à região
35
amazônica.
Considerando o panorama de grande abrangência da Guerra Assimétrica, o esforço de
mobilização, naquilo que a PDN chama de “o potencial dos recursos nacionais mobilizáveis”,
deverá incluir todos os campos do poder nacional.
O cidadão brasileiro tem se mostrado, no passado recente, avesso a dar importância aos
temas ligados à defesa do seu país. Da mesma forma, não se pode dizer que as elites nacionais
tenham o tema “Defesa Nacional” entre suas preocupações prioritárias. Isso pode ser medido
pelas crescentes restrições orçamentárias que têm sido impostas às suas Forças Armadas, por
governos que, eleitos democraticamente, expressam ao menos em tese, direta ou
indiretamente, a vontade dos seus eleitores. A ausência prolongada da percepção de uma
ameaça externa, provavelmente, contribui para que assim seja.
Hoje, o Brasil ainda é um ator de porte relativamente pequeno no concerto das nações.
Não obstante todo o nosso conhecido potencial, temos uma participação que gira em torno de
meros 1% no comércio internacional. Um índice desse porte indica uma baixa probabilidade
de que nossos interesses entrem em rumo de colisão com interesses de outros países.
Entretanto, com o eventual desenvolvimento dessas potencialidades, é de se esperar
que, com uma maior participação nos mercados internacionais, nos desloquemos
gradualmente para o centro das questões globais mais importantes.
Assim sendo, ao percorrermos o caminho para o crescimento econômico, serão
consideravelmente mais elevadas as chances de que mais e maiores interesses nacionais
passem a entrar em choque com os interesses de outras nações. Estas, por sua vez, podem ver
na ausência de uma componente militar capaz de dar respaldo à discussão desses
contenciosos, um estímulo ao exercício de pressões de naturezas diversas, a fim de remover o
obstáculo que eventualmente representarmos. É, então, provável que a noção de ameaça se
torne mais nítida, e o valor de Forças Armadas com uma boa capacidade dissuasória seja mais
bem compreendida.
A um militar não é exatamente estimulante o recurso ao emprego de formas de Guerra
Assimétrica, como a Estratégia de Resistência. A decisão da sua utilização não resulta de uma
opção, mas, da ausência de opções convencionais dissuasórias adequadas e a sua inclusão no
preparo do emprego da força, na verdade, significa o reconhecimento tácito da insuficiência
dos meios disponíveis para uma defesa eficaz, dada uma determinada ameaça.
De modo algum a escolha e o desenvolvimento dessa doutrina pode ser tranqüilizador
para o país. Ao contrário, esta situação deve ser vista como um indicador claro da carência de
recursos que atinge o nosso Poder Militar. É nesse contexto que a Guerra Assimétrica se
reveste de importância para a PDN.
36
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