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Rio de Janeiro, 27 de março de 2015 ISSN: 2446-7014 • Número 10 Os textos contidos neste boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião oficial da Escola de Guerra Naval nem da Marinha do Brasil. Regiões América do Sul América do Norte e Central África Subsaariana Oriente Médio e Norte da África Europa Rússia e ex-URSS Sul da Ásia Leste Asiático Sudeste Asiático e Oceania Ártico e Antártica O GRUPO GEOCORRENTE O grupo Geocorrente surgiu com o objetivo de discutir o sistema internacional através da lente teórica da Geopolítica, procurando identificar os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em andamento, assim como as com potencial iminência de ocorrência em uma moldura temporal de curto prazo. Para isso conta com integrantes de diversas áreas de conhecimento, cuja pluralidade proporciona uma análise mais ampla de contextos e cenários geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento dos problemas correntes internacionais. O LABORATÓRIO DE SIMULAÇÕES E CENÁRIOS O LSC é um órgão vinculado ao Centro de Estudos Políticos e Estratégicos da Escola de Guerra Naval, tendo sido fundado com o objetivo principal de ser o apoio institucional para a pesquisa científica derivada de experiências feitas no Centro de Jogos de Guerra da EGN. O Laboratório conta com diversos grupos, os quais possuem suas próprias agendas de pesquisa, assim como participam dos Jogos de Guerra. Esses grupos de pesquisa são formados por doutorandos, mestrandos e graduandos das áreas de Relações Internacionais, História, Defesa e Gestão Estratégica Internacional, Ciência Política e correlatas, de diversas instituições de ensino. CONTATO Comentários, críticas e sugestões sobre as análises devem ser enviados para [email protected]. CMG (RM1) Leonardo Faria de Mattos (Coordenador-geral do Grupo Geocorrente) Jéssica Germano de Lima (Coordenadora do Grupo Geocorrente) Noele de Freitas Peigo (Editora responsável) André Figueiredo Nunes Brenda Cardoso Severino Leão Caio Ferreira Almeida Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior Diane de Almeida Cruz Gustavo Felipe Augusto Rodolfo Medeiros Igor Lourenço Oliveira Lais de Mello Rüdiger Luciane Noronha Moreira de Oliveira Matheus Souza Galves Mendes Pedro Allemand Mancebo Silva Thayná Fernandes Alves Ribeiro Vinicius Guimarães Reis Gonçalves Vivian de Mattos Marciano (Pesquisadores do Grupo Geocorrente) A EQUIPE

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Rio de Janeiro, 27 de março de 2015 ISSN: 2446-7014 • Número 10

Os textos contidos neste boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião oficial da Escola de Guerra Naval nem da Marinha do Brasil.

Regiões

América do Sul

América do Norte e Central

África Subsaariana

Oriente Médio e Norte da África

Europa

Rússia e ex-URSS

Sul da Ásia

Leste Asiático

Sudeste Asiático e Oceania

Ártico e Antártica

▪ O GRUPO GEOCORRENTEO grupo Geocorrente surgiu com o objetivo de discutir o sistema internacional através da lente teórica da Geopolítica, procurando identificar os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em andamento, assim como as com potencial iminência de ocorrência em uma moldura temporal de curto prazo. Para isso conta com integrantes de diversas áreas de conhecimento, cuja pluralidade proporciona uma análise mais ampla de contextos e cenários geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento dos problemas correntes internacionais.

▪ O LABORATÓRIO DE SIMULAÇÕES E CENÁRIOSO LSC é um órgão vinculado ao Centro de Estudos Políticos e Estratégicos da Escola de Guerra Naval, tendo sido fundado com o objetivo principal de ser o apoio institucional para a pesquisa científica derivada de experiências feitas no Centro de Jogos de Guerra da EGN. O Laboratório conta com diversos grupos, os quais possuem suas próprias agendas de pesquisa, assim como participam dos Jogos de Guerra. Esses grupos de pesquisa são formados por doutorandos, mestrandos e graduandos das áreas de Relações Internacionais, História, Defesa e Gestão Estratégica Internacional, Ciência Política e correlatas, de diversas instituições de ensino.

▪ CONTATOComentários, críticas e sugestões sobre as análises devem ser enviados para [email protected].

CMG (RM1) Leonardo Faria de Mattos(Coordenador-geral do Grupo Geocorrente)

Jéssica Germano de Lima(Coordenadora do Grupo Geocorrente)

Noele de Freitas Peigo(Editora responsável)

André Figueiredo NunesBrenda Cardoso Severino Leão

Caio Ferreira AlmeidaCarlos Henrique Ferreira da Silva Júnior

Diane de Almeida Cruz GustavoFelipe Augusto Rodolfo Medeiros

Igor Lourenço OliveiraLais de Mello Rüdiger

Luciane Noronha Moreira de OliveiraMatheus Souza Galves MendesPedro Allemand Mancebo Silva

Thayná Fernandes Alves RibeiroVinicius Guimarães Reis Gonçalves

Vivian de Mattos Marciano(Pesquisadores do Grupo Geocorrente)

A EQUIPE

América do SulCaminho para o mar

Em 26 de fevereiro, faltando poucos dias para deixar a presidência do Uruguai, José Mujica assinou um memorando de entendimentos com Evo Morales, presidente boliviano, sobre uma saída para o Oceano Atlântico. Esse memorando prevê facilidades e condições para o uso boliviano de um porto de águas profundas no departamento de Rocha. O porto além de servir como saída para o mar para o país andino, também beneficiará o escoamento do Brasil, pelo Mato Grosso do Sul, assim como do Paraguai, pela hidrovia Paraguai-Paraná, e Argentina. Contudo, apesar do estabelecimento do memorando, o litígio com o Chile sobre a saída para o Oceano Pacífico, ainda não foi esquecido, e tem passado por muitas discussões.

Cerca de uma semana após a assinatura do memorando, o chanceler chileno, Heraldo Muñoz, indagou se a Bolívia respeitará a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ), caso o veredito do processo iniciado em 2013 seja favorável ao Chile. Muñoz aponta questões preocupantes, como o fato do país vizinho confiar mais em sua campanha político comunicacional do que nos argumentos jurídicos. Tal campanha, por exemplo, baseia-se em alegações de que Salvador Allende, ex-presidente chileno, devolveria a saída para o Pacífico aos bolivianos se não fosse deposto em 1973; um vídeo confeccionado pelo Ministério de Comunicação boliviano, onde são apresentadas manifestações de apoio à demanda marítima; assim como uma pesquisa de opinião sobre a concessão da soberania marítima, realizado em fevereiro por um canal estatal boliviano, nas cidades de Iquique, Antofagasta e Santiago, sendo que a primeira fazia parte do litoral sul do Peru, e a segunda era o litoral boliviano, ambas perdidas para o Chile na Guerra do Pacífico (1879 - 1883).

Muñoz considera que a revisão do Tratado de Paz e Amizade de 1904 entre Chile e Bolívia, que fixou os limites entre eles de maneira perpétua, seria um “erro histórico”, visto que abriria precedente para outros litígios fronteiriços. O chanceler chileno também destaca que a possível revisão foge do escopo temporal da CIJ, já que a mesma só pode intervir em tratados posteriores a sua fundação (1948). No início de maio, ocorrerá a apresentação dos argumentos orais de ambos os países naquela Corte.

A necessária paz colombianaNo dia 02 de fevereiro, após cerca de um mês e meio de paralisação, as negociações do processo de

paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o governo de Juan Manuel Santos foram retomadas em Havana, Cuba. Apesar da atuação violenta das FARC por meio século, as recentes negociações seguem de forma pacífica, rumo a acordos bilaterais. Um desses acordos, objetiva a desativação de minas terrestres existentes em diversas regiões, muitas das quais foram implantadas pelo próprio grupo guerrilheiro. De acordo com dados governamentais, a Colômbia possui o segundo maior número de vítimas mortais ou com mutilações provocadas por minas terrestres, perdendo apenas para o Afeganistão. No último dia 15 de março, Santos informou que as mais recentes vítimas fatais foram dois irmãos, de nove e dez anos, vitimados por uma mina localizada na zona rural a oeste do país, em seu trajeto de volta da escola.

América do Sul

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Fonte: The Economist

América do Norte e CentralOs possíveis impactos ambientais do Canal da

NicaráguaEm meados de 2014 iniciaram-se as negociações para a

criação do Canal da Nicarágua, envolvendo o investimento de empresas chinesas, mostrando assim uma clara forma de inserção dos chineses na América Latina. Neste mesmo período está sendo discutida a ampliação do Canal do Panamá, através de recursos americanos. Informou-se que as obras do Canal da Nicaraguá teriam início em dezembro de 2014, com inauguração prevista para 2019, porém ainda não foram iniciadas. Esse novo canal visa suprir a demanda de navios que realizam a travessia entre os Oceanos Atlântico e Pacífico através de uma rota mais eficiente, assim como possibilitar a

passagem dos navios de maior tonelagem. Uma das vantagens deste projeto é a largura e profundidade do canal, superiores aos do Panamá, estima-se que possam navegar embarcações de até 18.000 TEU´s .

Apesar dos inúmeros benefícios previstos para o canal, um grupo internacional de cientistas ambientais levantou recentemente preocupações sobre os potenciais efeitos negativos que o canal pode gerar em relação ao ecossistema do Lago Cocibolca. Para que o canal possa conectar os Oceanos Atlântico e Pacífico, será criada uma rota que cruzará o Lago Cocibolca, principal reservatório de água doce da América Central, além do lar de alguns dos mais frágeis ecossistemas da região. Também ocorreriam impactos sociais, uma vez que comunidades indígenas seriam realocadas.

Algumas das principais preocupações dos cientistas são: graves danos à fauna e flora, uma vez que navios transoceânicos são conhecidos como introdutores de espécies invasoras gerando desequilíbrio no ecossistema local, danos duradouros causados pela dragagem frequente, além do risco de derramamento acidental de óleo, proveniente do intenso tráfego na região. O derramamento de óleo é relativamente comum em regiões

Essa região possui elevado valor estratégico para o país, uma vez que faz fronteira marítima com o Mar do Caribe e o Oceano Pacífico e fronteira terrestre com a América Central. Por conta dos diversos acessos, a região tornou-se rota de plantação de Coca e escoamento de cocaína (vide mapa). Cerca de 60% do território colombiano é formado por extensas planícies, que são em maior parte, cobertas por selvas pouco exploradas e com uma densidade populacional bastante reduzida, fatores que dificultam o monitoramento da área e facilitam o desenvolvimento de atividades ilícitas.

A questão do tráfico de drogas na região fronteiriça preocupa também o Brasil, uma vez que os ilícitos podem trasbordar para o país. No dia 21 de março, de acordo com informações da Polícia Civil, quatro homens foram detidos em Manaus, vindos da Colômbia com mais de 220kg de entorpecentes. Cabe ao governo colombiano uma atuação proativa e efetiva nas regiões de fronteira, assim como em relação aos acordos bilaterais de paz. A proliferação de atividades ilícitas em zonas fronteiriças gera perdas para a Colômbia, países vizinhos e ainda para os integrantes do Mercosul, por afastar e desencorajar investimentos externos, assim como a inserção de multinacionais, postergando o almejado desenvolvimento sul americano.

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Fonte: Stratfor

Fonte: SMN Weekly

Oriente Médio e Norte da ÁfricaO programa nuclear iraniano e a rivalidade com a Arábia Saudita

O programa nuclear iraniano foi iniciado em 1957 com finalidade pacífica e contando com apoio do programa “Átomos Pela Paz” dos Estados Unidos. Nesse período, o Irã era considerado um aliado estratégico contra a influência soviética no Oriente Médio. Com a Revolução Islâmica de 1979, o apoio norte-americano foi retirado e o programa passou a ser acompanhado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Mesmo que signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), o Irã foi acusado, em 2003, de desenvolver secretamente armas nucleares, tendo sido seu programa paralisado até 2005. Após esse período,

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África SubsaarianaO papel das forças não-africanas no atual cenário nigeriano

As ofensivas realizadas pelo governo nigeriano com o objetivo de retomar cidades até então dominadas pelo grupo extremista Boko Haram, ao norte e nordeste do país, têm gerado resultados positivos. Apesar do envolvimento de forças de países vizinhos na resolução da problemática nigeriana, existe o interesse, e até mesmo a participação de atores externos ao continente africano, na questão que se desenrola em uma das áreas mais estratégicas do continente africano. A França é um país extremamente dependente de energia nuclear, e o urânio utilizado nas usinas francesas é proveniente do oeste africano, mais precisamente do Níger que é o quarto maior produtor de urânio no mundo. Nos últimos meses ocorreram ataques do Boko Haram na fronteira entre a Nigéria e o Níger, o que fez com que a França enviasse consultores militares para a região fronteiriça.

Com toda a instabilidade na região, alguns analistas defendem que a Nigéria seria o país propício para abrigar o quartel general da AFRICOM, que atualmente fica situado em Stuttgart, Alemanha. Essa hipótese corrobora com a ideia de militarização do continente africano que está ocorrendo de modo crescente nos últimos anos. Outro fator que pode contribuir para embasar a dita militarização, é a recente aliança firmada entre o Boko Haram e o Estado Islâmico. Tal aliança, além das supostas ligações do grupo com a Al Qaeda e com Al Shabaab, põem em estado de alerta países como os EUA em relação aos extremistas nigerianos, deixando ainda mais explícita a ameaça que esses representam à segurança internacional.

Apesar da atuação de outros personagens não africanos na busca pela estabilidade política nigeriana, é extremamente necessária a participação dos Estados africanos e do próprio país na resolução da problemática. Tal postura é necessária para a construção e posterior consolidação de uma identidade regional africana no que tange questões de defesa e segurança, para que futuramente não sejam necessários intervenção ou auxílio de Estados e forças não pertencentes ao continente. A existência de uma força multinacional, assim como um inimigo em comum, podem servir como um ponto de partida para uma futura e endógena concertação africana.

de grande tráfego de embarcações, o caso desse tipo mais recente em território brasileiro, foi o ocorrido no dia 16 de março no litoral Angra dos Reis, durante uma operação de transferência de óleo entre navios da Transpetro.

Os cientistas reconheceram os benefícios economicos que podem ser gerados pelo Canal da Nicarágua, porém não descartam os riscos e danos de cunho social e ambiental. Desse modo, solicitaram que o governo possa divulgar uma avaliação detalhada do projeto, que inclua tanto análises de custo-benefício quanto considerações em relação ao meio ambiente. É, mais uma vez, a questão ambiental ganhando peso no cenário internacional, não devendo ser desconsiderada por qualquer governo responsável.

[5]

a AIEA retomou o acompanhamento e, desde então, representantes do Irã e dos países P5+1 (China, Estados Unidos, França, Rússia, Reino Unido e Alemanha) têm se reunido periodicamente para chegar a um acordo sobre o futuro do programa.

No Oriente Médio, alguns Estados como a Arábia Saudita tem se posicionado contra o desenvolvimento nuclear do Irã. Ambos os países são rivais na região no que concerne à cultura (árabe vs. persa), à produção de petróleo e à influência religiosa (Arábia Saudita xiita vs. Irã sunita).

No que tange à política internacional, sauditas e persas possuem percepções estratégicas diferentes. A deposição de Saddam Hussein, por exemplo, foi considerada para o Irã uma vitória, já para os árabes como o fortalecimento da influência xiita no Iraque. A diferença de política externa se acentua no campo das alianças internacionais, visto que, enquanto a Arábia Saudita possui uma forte parceria com os EUA e com outros países da península arábica – apesar das diferenças com o Yemen –, o Irã mantém cooperações com países como a Rússia, a Coreia do Norte e a Venezuela.

Um Irã com capacidade nuclear poderia representar uma ameaça à influência saudita na região e levar a uma corrida armamentista, pois se judeus e persas possuírem armamento nuclear, possivelmente a Arábia Saudita seria a principal candidata a representar a maior etnia da região com este tipo de armamento, os árabes.

Oriente Médio e Norte da ÁfricaDecisão nas urnas e incerteza na conjuntura

No dia 17 de março, Benjamin Netanyahu, pertencente ao partido de direita Likud, venceu uma disputa acirrada nas urnas israelenses, mantendo-se na posição de primeiro-ministro, cargo que exerce desde 2009.

Alguns dias antes do resultado eleitoral, Netanyahu encontrava-se em uma situação delicada: Ytzhak Herzog, líder da União Sionista – aliança de centro-esquerda – havia conseguido reunir um grande número de eleitores devido à insatisfação com o governo de Netanyahu, ameaçando assim a manutenção deste como premiê. Com a finalidade de conquistar mais adeptos, Netanyahu satisfez a extrema-direita ao anunciar que, caso fosse reeleito, não permitiria a criação de um Estado palestino e conduziria a construção de assentamentos judaicos em territórios ocupados. Apesar de a declaração ter se revelado uma estratégia positiva no cenário doméstico, ela acarretou várias críticas no âmbito internacional, prejudicando a credibilidade de Netanyahu.

A Autoridade Palestina anunciou que, em resposta à posição do primeiro-ministro, encerrará a cooperação que havia sendo mantida com forças de segurança de Israel na Cisjordânia. Além disso, a oposição ao premiê cresceu no Oriente Médio após seu discurso no Congresso norte-americano, no qual se opôs ao acordo entre Teerã e Washington sobre a contenção do programa nuclear.

Com o papel de mediador exercido pelos EUA nas relações de paz entre Israel e as autoridades palestinas, a declaração de Netanyahu não foi bem vista pela Casa Branca. O presidente Barack Obama, ao receber a notícia da vitória do Likud, fez uma ligação para o primeiro ministro para parabenizá-lo e, ao mesmo tempo, afirmar seu compromisso com a criação de um Estado palestino, relembrando também a importância de se ter os EUA como aliado no sistema político internacional. Desde então, Netanyahu vem tentando suavizar a sua situação, declarando que, na verdade, apoia a criação do Estado palestino, mas que as circunstâncias atuais é que não permitiriam que tal projeto fosse colocado em prática.

Fonte: Stratfor

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EuropaUma União Europeia armada

A integração regional europeia pode viver, em breve, um novo capítulo. Após o processo separatista que abalou a Ucrânia, apoiado pela Rússia, dois dos principais líderes europeus, com destaque à chanceler alemã Angela Merkel, apresentaram um discurso polêmico e que deve perdurar por algum tempo: a criação de Forças Armadas da União Europeia. Tal medida impactaria na balança de poder no continente, mas pode esbarrar, ironicamente, na própria configuração da integração regional.

A ideia de se criar Forças Armadas na Europa é antiga e remonta o fim da Segunda Guerra Mundial. A criação da OTAN, em 1949, configurou à Europa a oportunidade de crescer e manter como uma “zona de segurança” estável e próspera. Porém, com a crise na Ucrânia, revivendo os anos de Guerra Fria, a presença dos EUA como membro da Aliança Militar, em território europeu, não seria tolerada pela Rússia, diretamente interessada na crise da ex-nação soviética.

O presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker, também alemão, foi quem trouxe novamente este assunto à tona. O apoio da compatriota Merkel é fundamental, mas não há unanimidade na Europa. O Reino Unido já não se mostra a favor desse tema, assim como a OTAN. Já houve pronunciamento de líderes tanto do país bretão como da Organização Militar de que não há sentido na criação de Forças Armadas para o bloco.

Vale lembrar que há muitos países europeus dependentes do gás russo como principal matriz energética. Uma vez que 27% do gás importado do bloco vem da Rússia, sendo que alguns países são extremamente dependentes dessa matriz energética, chegando a usar mais de 90% da mesma, tais como Finlândia, Eslováquia, Bulgária e os bálticos, segundo a Eurogas. Lembrando que, para a criação de tais Forças Armadas, seria necessária a unanimidade dos 28 Estados membros da Organização, ou seja, a premissa da integração regional poderia ser o fator definitivo para a não consecução dessa política.

Os esforços que hoje existem remetem a existência da “Política Comum em Segurança e Defesa” (CSDP, em inglês) que possui diversas missões civil-militares, como a própria EUAM, de caráter civil que atua na Ucrânia desde o ano passado, com forças auxiliares para a ordem pública e o cumprimento da lei.

Rússia e ex-URSSPresença russa no Mar do Caribe

No mês de fevereiro o ministro russo da Defesa Sergei Shoigu anunciou que, como parte de um plano de modernização militar do governo Putin, a Rússia planeja expandir bases militares permanentes na Ásia e na América Central. Segundo o ministro, as negociações não são apenas para ampliação das bases militares marítimas, mas também para uso de portos na América Latina e possível uso de bases aéreas locais para abastecimento de suas forças aéreas de bombardeio em missão de patrulha.

Vale ressaltar que, atualmente, a Rússia possui apenas um porto fora de seu entorno estratégico, o porto de Tartus na Síria. Na América Central e do Sul, as negociações são conduzidas com Cuba, Nicarágua e Venezuela. No caso deste, em 2008, a pedido do então presidente Hugo Chávez, foi realizado um treinamento em conjunto das Marinhas venezuelana e russa no Mar do Caribe, com participação da Esquadra do Pacífico, um navio de mísseis

Fonte: Speaking in the Agora

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teleguiados movido a energia nuclear, Pedro o Grande, e um navio antissubmarino, o Almirante Chabanenko.Neste ano de 2015, após as declarações dos EUA de que o governo de Nicolás Maduro representa uma

ameaça para a segurança e política externa norte-americanas, o governo venezuelano enviou um contingente de aproximadamente 10 mil homens para 10 dias de jogos de guerra na Rússia com participação de chineses e planeja um novo treinamento em conjunto no Mar do Caribe com uma esquadra muito maior que a de 2008.

Cabe ressaltar que, em momentos de escalonamento de crises políticas internas, os atores domésticos tendem a buscar alianças internacionais para se fortalecer. Assim, uma vez que os opositores de Maduro na Venezuela procuram ajuda dos EUA para derrubar o governo; este, por sua vez, aciona suas alianças, principalmente, com Rússia e China para obter ajuda.

A Rússia é uma potencial aliada de qualquer movimento na América Latina que seja não alinhado aos EUA. Para Putin interessa bastante uma “distração” no entorno estratégico dos EUA, a América do Sul e o Caribe, como tentativa de diminuir sua atenção na Ucrânia, área de prioridade geopolítica russa.

Rússia e ex-URSS

Sul da ÁsiaPrograma Nuclear Paquistanês no século XXI: o caso do Shaheen – III

No último dia 9 de março, o Paquistão realizou o teste do seu mais novo míssil intercontinental superfície – superfície, o Shaheen - III. O sucesso do mesmo gerou grande satisfação entre os cientistas e militares envolvidos, mas grande apreensão das mídias local e internacional. Com 2.750 km de alcance, o míssil é capaz de transportar uma carga nuclear para qualquer parte do subcontinente indiano, bem como para o Oriente Médio.

O receio é de que a silenciosa corrida armamentista que está em curso na região seja agravada. O Shaheen - III foi apresentado, não por coincidência, apenas um mês depois de um acordo de cooperação nuclear entre Nova Délhi e Washington. Soma-se a isso a recente coalizão feita entre o partido indiano BJP com o governo da Caxemira administrada pela Índia, o que enfraquece a influência do Paquistão sobre a região. Por fim, o investimento crescente em seu programa nuclear é justificado pelo governo paquistanês como forma de conseguir capacidade de dissuasão contra um rival vizinho que não apenas já possui superioridade nas forças convencionais, como também amplia cada vez mais seu orçamento para defesa.

Segundo relatório do Conselho de Relações Exteriores dos EUA, o Paquistão tem o programa nuclear que cresce mais rapidamente no mundo atualmente, e teria material suficiente para produzir mais de 200 artefatos deste tipo em 2020. Ainda segundo o mesmo documento, intitulado “Estabilidade Estratégica na Segunda Era Nuclear”, o Sul da Ásia aparece como a região com o maior risco de conflitos desta natureza, haja vista a crescente nuclearização daqueles países e os imbróglios envolvendo litígios territoriais e terrorismo.

Leste AsiáticoO que está por trás do interesse da China no Irã?

A República Islâmica do Irã é o quarto maior produtor de petróleo do mundo e o terceiro em reservas comprovadas - com cerca de 140 bilhões de barris - segundo a OPEP. Para efeito de comparação, o Brasil possui hoje, entre reservas comprovadas, possíveis e prováveis, em torno de 27 bilhões de barris. Além disso, o Irã possui uma população de aproximadamente 80 milhões e, segundo a revista The Economist, seu PIB deve somar US$ 539 bilhões em 2015, podendo atingir em 2016 o patamar de US$ 897 bilhões, o que o colocaria entre as 20 maiores economias do planeta (atualmente é a vigésima sexta).

A China sob Xi Jinping delineou uma estratégia de aproximação comercial com países em desenvolvimento, particularmente com lideranças regionais. Sob essa ótica, o Irã é a chave para o Oriente Médio e para a “Nova Rota da Seda” que Pequim deseja criar – um programa de integração e infraestrutura que deverá consumir US$ 40 bilhões em investimentos. O acordo nuclear provisório assinado pelo P5+1 em novembro passado teve impacto positivo no comércio bilateral: seu volume total foi de US$ 52 bilhões em 2014, 10% maior do que em 2013. O Irã exportou para a China, no ano passado, US$ 8,5 bilhões em petroquímicos e US$ 8 bilhões em não petroquímicos.

Porém, para os analistas da região, o potencial de promoção comercial do acordo provisório já está próximo do esgotamento. Progressos maiores dependem do fim das sanções impostas pela ONU, que dependem por sua vez de um acordo nuclear permanente. Pode-se esperar, portanto, significativa pressão chinesa nesse sentido, contrabalanceando o lobby conservador e pró-Israel que influencia a diplomacia norte-americana durante a próxima reunião do Six Party Talks.

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Leste AsiáticoJapão: Problemas Demográficos

O Japão se encontra sob o efeito de uma crescente contração demográfica. Sua população, que atualmente é de 127 milhões, tende a cair para 87 milhões em 2060. A causa principal desse fenômeno é a baixa taxa de natalidade: em 2014 nasceram 1,001 milhão de pessoas, o menor número já registrado. A diminuição da população causará um impacto direto na economia, com a gradual redução da proporção de trabalhadores ativos para cada aposentado. Tais estatísticas indicam uma provável mudança na política de imigração japonesa, tema que já havia sido abordado pelo Primeiro Ministro Shinzo Abe em 2014.

Iniciativas que visem a um “relaxamento” na política de imigração japonesa são tópico sensível para o atual governo. O principal problema vem de uma cultura que preza pela homogeneidade da população. A opinião pública tende a crer que os baixos índices de crimes violentos - 1,1 estupros e 0,5 homicídios para cada 100 mil habitantes - sejam consequência da incipiente presença de estrangeiros no país, pois os mesmos seriam uma ameaça à ordem pública, à paz e à estabilidade.

Imigrantes coreanos representam 4/5 dos estrangeiros residentes no país e acabam sendo os principais alvos de discriminação. A história japonesa também revela experiências negativas em relação aos brasileiros residentes no país. Em 2007, o número de descentes de japoneses (Nikkeijin) chegou ao seu ápice - 300 mil - como consequência de uma lei de 1989 que concedia visto para os mesmos. Porém, a inabilidade em dominar o idioma e a crise de 2008 fizeram com que esse número diminui-se bastante, chegando em 2014 à marca de 80 mil.

Diante da atual conjuntura o governo japonês se encontra cada vez mais forçado a investir em mão de obra estrangeira, implementando uma reforma estrutural impopular e gerando atritos no ambiente doméstico. Porém, como expressava o slogan de campanha de Abe, “existe apenas esse caminho”( Kono Michi Shikanai) para combater a contração demográfica e garantir o funcionamento da economia japonesa.

Sudeste Asiático e OceaniaEscolha de Sofia: Economia ou Sustentabilidade?

Prevista para dezembro deste ano, em Paris, a Conferência Ambiental da ONU, pretende, conforme decidido na edição de 2011, que os 196 países integrantes cheguem a um acordo final sobre mudanças climáticas e diminuição dos danos ao meio ambiente. Até o dia 31 deste mês, os Estados participantes precisam enviar suas metas para conter os prejuízos ambientais. Essa discussão é, entretanto, delicada. O carvão, por exemplo,

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Leste Asiático

Ártico e AntárticaA busca norte-americana pela cooperação russa

No dia 12 de março deste ano, o representante americano no Conselho do Ártico, Almirante Robert Papp, fez declarações relativas à reestruturação da rede de defesa promovida pela Rússia na região. Apesar de ressaltar o aumento do interesse russo, o almirante afirmou que enxerga nas ações da Federação Russa uma intencionalidade não necessariamente agressiva, mas também uma preocupação com a infraestrutura de transporte e navegação, já é antecipado um aumento no tráfego nas rotas comerciais que cruzam a região. A reativação de bases e a estruturação de um comando militar voltado para essa área podem responder, também, a necessidades de natureza logística.

Enquanto o Almirante Papp assume um discurso mais conciliador com relação à militarização da região, o Chefe do Estado-Maior Conjunto americano , em uma audiência no Senado de seu país, declarou que a constituição dessa estrutura de defesa visa no futuro próximo a dar meios à Rússia de “aumentar sua presença e ter impacto na região (...)”. Ambos os discursos revelam muito da percepção norte-americana dessa situação e da sua estratégia para, apesar das relações não tão boas com a Rússia, manter aberta a comunicação dentro do Conselho do Ártico.

Uma chave importante para ler essas duas declarações é a atual situação diplomática entre os membros do Conselho do Ártico. Todos os membros permanentes se envolveram nas sanções impostas à Rússia, mas, ao mesmo tempo, compreendem o papel fundamental da mesma como player na política do Ártico, bem como na implementação das regras e políticas que forem adotadas pelo Conselho. À luz dessa situação, as declarações das duas autoridades americanas podem ser compreendidas como um esforço no sentido de deixar claro que os Estados Unidos da América estão cientes e acompanhando com cuidado o avanço dos projetos russos na região, mas ao mesmo tempo, acredita ser importante que a Rússia não seja trancada do lado de fora das decisões mais importantes para a governança polar.

Sudeste Asiático e Oceania

ainda é uma das matérias-primas mais utilizadas para geração de energia no mundo, segundo dados de 2013 do Institute for Energy Research (IER), principalmente nos países em desenvolvimento. Dessa forma, diminuir o uso deste mineral – que é o objetivo da Conferência – desaceleraria as produções, incorrendo em custo financeiro e social.

A preocupação fazendária não deveria diminuir a preocupação ambiental, sobretudo no sudeste asiático, onde houve grande devastação para o cultivo de poucas culturas – importantes para exportação e desenvolvimento econômico. Fortes neblinas causadas por queimadas (conhecidas como smogs) já acometem os países da região e principalmente a China – aumentando os riscos à saúde dos cidadãos e prejudicando o funcionamento do país.

Mesmo a Austrália, amplamente considerada um país desenvolvido, não está em situação muito melhor. Apenas dez fábricas são responsáveis por 1/3 de sua emissão total de gases estufa. A dicotomia entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental reflete-se na declaração de que “O carvão é o futuro”, feita pelo Primeiro Ministro australiano, Tony Abbot, em novembro de 2014. Dados da Agência de Administração e Informação em Energia dos Estados Unidos (U.S EIA) mostram que em 2012 a produção de carvão na Austrália ultrapassou 450 milhões de toneladas. Tal fato nos lembra de que acordos internacionais, por mais que se deseje, não são vinculantes. Não há solução para a questão ambiental que dependa exclusivamente de fatores econômicos e não perpasse (e convença) a esfera política.

Fonte: Stratfor

THE DIPLOMAT - 20/03/2015Mongolia’s Dubious Merchant Navy - by Graham Alexander

PROJECT SYNDICATE - 25/03/2015Decision Time on Venezuela - por Jorge G. Castañeda

STRATFOR - 24/03/2015China’s Fragile Evolution - by Rodger Baker and John Minnich

THE NEW YORK TIMES - 26/03/2015Egypt Says It May Send Troops to Yemen to Fight Houthis - by David D. Kirkpatrick

THE GUARDIAN - 26/03/2015UK defence policy heading for chaos - by Richard Norton-Taylor

DER SPIEGEL - 18/03/2015Russian Far-Right Idol: The Man Who Started the War in Ukraine - by Benjamin Bidder

[Ao clicar sobre os títulos das reportagens, abrem-se os respectivos links]

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Dicas de artigos selecionados