operações psicológicas no afeganistão versão final - f&v

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Afeganistão

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  • ACADEMIA MILITAR

    DIRECO DE ENSINO

    CURSO DE INFANTARIA

    TRABALHO DE INVESTIGAO APLICADA

    OPERAES PSICOLGICAS NO AFEGANISTO

    CAPA

    AUTOR: Aspirante-Aluno Teixeira Rocha

    ORIENTADOR: Tenente-Coronel Silva Vieira

    Lisboa, Setembro de 2008

  • TRABALHO DE INVESTIGAO APLICADA

    OPERAES PSICOLGICAS NO AFEGANISTO

    AUTOR: Aspirante

    ORIENTADOR: Tenente

    ACADEMIA MILITAR

    DIRECO DE ENSINO

    CURSO DE INFANTARIA

    TRABALHO DE INVESTIGAO APLICADA

    OPERAES PSICOLGICAS NO AFEGANISTO

    FOLHA DE ROSTO

    AUTOR: Aspirante-Aluno Teixeira Rocha

    ORIENTADOR: Tenente-Coronel Silva Vieira

    Lisboa, Setembro de 2008

    TRABALHO DE INVESTIGAO APLICADA

    OPERAES PSICOLGICAS NO AFEGANISTO

    Coronel Silva Vieira

  • DEDICATRIA

    Aos quatro

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    A concluso deste trabalho no teria sido possvel sem o apoio de inmeras pessoas que dentro dos seus conhecimentos e influncias concorreram para que este trabalho pudesse ser lido. Aproveito esta oportunidade para expressar a todos os meus sinceros agradecimentos no deixando de destacar as pessoas que contriburam de forma mais decisiva para esta realidade.

    Em primeiro lugar ao Tenente-Coronel Silva Vieira, por me ter concedido a honra de me orientar na realizao deste trabalho, fornecendo indicaes preciosas na conduo e correco do mesmo, garantindo a coerncia necessria na utilizao dos termos de um tema to especfico.

    Ao Tenente-General Sousa Lucena, pela entrevista concedida que me permitiu entender o envolvimento da Aco Psicolgica em Moambique na Guerra de frica (1961-74) e pela disponibilidade e prontido em esclarecer qualquer assunto relacionado.

    Ao Tenente-Coronel (DEU) Michael Schierenberg, pela amabilidade e disponibilidade em conceder-me uma entrevista, proporcionando a percepo do Comandante da CJPOTF da ISAF X e pela prontido no esclarecimento de qualquer assunto relacionado.

    Ao Tenente-Coronel Marques Saraiva, pela informao, primeiro testemunho e percepo interna do Ambiente Operacional no Afeganisto e especificamente ao nvel das Operaes Psicolgicas.

    Ao Tenente-Coronel Ramos Vieira pela motivao na escolha do tema do trabalho, informao cedida e primeiro contacto com as Operaes Psicolgicas e tambm, pela entrevista concedida, testemunho na primeira pessoa das Operaes Psicolgicas na ISAF VII e VIII.

    Ao Capito Gilberto Lopes pela disponibilidade imediata, informao cedida e pelo testemunho das Operaes Psicolgicas na ISAF IX.

    Ao Capito Hugo Rodrigues, pela disponibilidade, documentao fornecida, e testemunho, concedido informalmente e atravs de entrevista, das Operaes Psicolgicas na ISAF XI.

    Ao Sargento-Mor (EUA) Herbert Friedman pelo esclarecimento de alguns aspectos relacionados com as Operaes Psicolgicas na Operao Enduring Freedom.

    Ao Professor Lind-Guimares, da Academia Militar, pela ajuda na interpretao e correces ortogrficas e gramaticais no uso da lngua inglesa.

    Aos meus Pais, Irm e Namorada por, ao longo destes 5 anos de Academia Militar, me terem motivado, apoiado e dado as condies, para que pudesse finalizar mais esta etapa.

    A todos o meu Muito Obrigado.

  • v

    NDICE GERAL

    NDICE DE FIGURAS ............................................................................................... vii NDICE DE QUADROS ............................................................................................. viii LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ..................................................................... ix RESUMO .................................................................................................................. xiii ABSTRACT ............................................................................................................... xv

    INTRODUO ............................................................................................................ 1

    I AS OPERAES PSICOLGICAS ...................................................................... 5

    1. A Dimenso Psicolgica dos Conflitos ...................................................................... 5 2. Estados Unidos da Amrica ...................................................................................... 6 3. Organizao do Tratado do Atlntico Norte .............................................................. 8 4. Portugal .................................................................................................................... 9

    4.1. Guerra de frica (1961-74) Aco Psicolgica ........................................... 9 4.2. Actualidade ................................................................................................. 11

    5. Conceitos Chave .................................................................................................... 11

    II AS OPERAES MILITARES EM ANLISE .................................................... 15

    1. O Teatro de Operaes: Afeganisto ...................................................................... 15 2. Operao Enduring Freedom: A Campanha Psicolgica ........................................ 16

    2.1. Os Antecedentes ........................................................................................ 16 2.2. Fase I Interveno Inicial ......................................................................... 17 2.3. Fase II Entrada das Foras convencionais .............................................. 19 2.4. Fase III - Consolidao ............................................................................... 21 2.5. Entrada na Operao de estabilizao ....................................................... 22

    3. International Security Assistance Force .................................................................. 23

  • vi

    III O CONTRIBUTO DAS PSYOPS NO AFEGANISTO ...................................... 27

    1. Na OEF................................................................................................................... 27

    1.1. Os Resultados na Operao Enduring Freedom ......................................... 27 1.2. Comparao com a Operao N Grdio ................................................... 30

    2. Na ISAF .................................................................................................................. 33

    2.1. Misses e Linhas de Operao ................................................................... 33 2.2. Os Objectivos Psicolgicos ......................................................................... 35 2.3. Consideraes Finais ................................................................................. 39

    CONCLUSES ......................................................................................................... 41

    BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 47

    Referncias Bibliogrficas .......................................................................................... 47 Bibliografia Complementar .......................................................................................... 49 Entrevistas .................................................................................................................. 50

    ANEXOS

    Anexo A Estudo do Meio Humano: Anlise do Quadro e das Estruturas ................A-1 Anexo B O Acordo de Bonn ....................................................................................B-1 Anexo C Produtos da Campanha Psicolgica na OEF ........................................... C-1 Anexo D Entrevistas .............................................................................................. D-1 Anexo E Constituio da ISAF ................................................................................E-1 Anexo F Constituio da CJPOTF .......................................................................... F-1 Anexo G O Ciclo de Desenvolvimento de Produtos ............................................... G-1 Anexo H Produtos das Vrias LOP da CJPOTF .................................................... H-1 Anexo I Operao N Grdio ................................................................................... I-1 Anexo J Indicadores da Eficcia de PSYOPS da ISAF ............................................ J-1

  • vii

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1: Panfleto AFD189: Ataque ao World Trade Center C-1 Figura 2: Panfleto AFD22b Frente: Os Terroristas no reconhecem fronteiras C-1 Figura 3: Poster AFC035: Ataque ao World Trade Center C-1 Figura 4: AFD-22b Frente: A Sociedade das Naes est aqui para ajudar C-2 Figura 5: Panfleto AFD40d Frente: AC130 Spectre C-2 Figura 6: Panfleto AFD40d Verso: Sabemos onde esto escondidos C-2 Figura 7: Panfleto AFD40e Frente e Verso: Sabemos onde esto escondidos C-2 Figura 8: Panfleto AFD10c F: A Sociedade das Naes est aqui para ajudar C-3 Figura 9: Panfleto AFD10c V: Ajudar o povo do Afeganisto C-3 Figura 10: Rdio Kaito C-3 Figura 11: Afego a usar o Kaito C-3 Figura 12: Panfleto AFD06: Frequncia Rdio da Coligao C-4 Figura 13: Panfleto AFD16g frente: "Est a ser lanada ajuda" C-4 Figura 14: Panfleto AFD16g verso: "Est a ser lanada ajuda" C-4 Figura 15: Panfleto AFD39 Frente e Verso: "Comida / Perigo bomba" C-5 Figura 16: Panfleto AFD12b: "EUA doaram milhes de dlares para ajudar C-5 Figura 17: Panfleto AFD69b Frente: Al-Qaeda: pensam que esto seguros C-6 Figura 18: AFD69b Verso: ..."no vosso tmulo?" C-6 Figura 19: Panfleto AFD62 Frente: sabemos onde esto C-6 Figura 20: Panfleto AFD62: "deixem de lutar pelos Talib e vivem" C-6 Figura 21: Ciclo de Desenvolvimento de Produtos de PSYOPS G-1 Figura 22: Panfleto: Preveno contra IED H-1 Figura 23: Panfleto: Reportar IEDs polcia H-1 Figura 24: Trifold: Combate ao Narcotrfico H-2 Figura 25: Artigo: Combate ao Narcotrfico H-2 Figura 26: Panfleto: Promoo ao ANA H-3 Figura 27: Artigo: Ataques suicidas vs Islo H-3 Figura 28: Panfleto: Reconstruo do Afeganisto H-4 Figura 29: Panfleto: Futuro do Afeganisto H-4 Figura 30: Panfleto: Reconstruir o Afeganisto H-4 Figura 31: Artigo: Pneumonia H-5 Figura 32: Artigo: Dar Esperana H-6 Figura 33: Artigo: Dar Esperana H-6

  • viii

    Figura 34: Artigo: Apoio ao Presidente Hamid Karzai H-7 Figura 35: Artigo: Apoio ao programa governamental contra a fome H-7 Figura 36: Artigo: Cooperao entre ISAF e Governo Afego H-8 Figura 37: Artigo: Hamid Karzai apoia Expanso da ISAF H-8 Figura 38: Novelty Items H-9 Figura 39: Cartaz: Expanso ao RC West H-9 Figura 40: Matriz de Coordenao de meios no apoio s Eleies 10 Figura 41: Cartaz: Eleies e Desenvolvimento do Afeganisto H-11 Figura 42: Trifold: Apresentao das foras Lituanas H-11 Figura 43: Panfleto: Comportamentos a adoptar em Checkpoint 12 Figura 44: Mapa do Distrito de Cabo Delgado I-1 Figura 45: Plano da Aco Militar Terrestre na OpNG I-1

    NDICE DE QUADROS

    Quadro 1: Diferenas nas Definies de PSYOPS 12 Quadro 2: Coordenao entre PSYOPS e Manobra na OEF 28 Quadro 3: Coordenao entre APSIC e Manobra na OpNG 31

  • ix

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    AJP Allied Joint Publication Publicao Conjunta da Aliana do Tratado Atlntico Norte

    ANA Afghan National Army Exrcito Nacional Afego

    ANP Afghan National Police Polcia Nacional Afeg

    ANSF Afghan National Security Forces Foras de Segurana Nacionais Afeg

    AOR Area of Responsability rea de Responsabilidade

    AOO Area of Operations rea de Operaes

    APSIC Aco Psicolgica CENTCOM Central Command

    Comando Central das Foras Norte-Americanas CIMIC Civilian Military Cooperation

    Cooperao Civil Militar CJPOTF Combined Joint Psychological Operations Task-Force

    Fora-Tarefa Conjunta e Combinada de Operaes Psicolgicas COFI Comando Operacional das Foras de Interveno de Moambique COMISAF Commander ISAF

    Comandante da ISAF CPO Combat Psychological Operations

    Operaes Psicolgicas de Combate CRO Crisis Response Operations

    Operaes de Resposta a Crises CRPO Crisis Response Psychological Operations

    Operaes Psicolgicas de Resposta a Crises EME Estado-Maior do Exrcito EUA Estados Unidos da Amrica FM Field Manual

    Manual de Campanha do Exrcito dos Estados Unidos da Amrica

  • x

    FMT Forward Media Team Equipa de Avanada de Correspondentes (jornalistas)

    GOA Government of Afghanistan Governo do Afeganisto

    FRELIMO Frente de Libertao de Moambique HARRC Headquarters Allied Rapid Reaction Force

    Quartel-General do Corpo de Reaco Rpida da NATO HQ Headquarters

    Quartel-General IED Improvised Explosive Device

    Engenho Explosivo Improvisado INFO OPS Information Operations

    Operaes de Informao ISAF International Security Assistance Force

    Fora Internacional de Segurana e assistncia para o Afeganisto JCEB Joint Coordination Effect Branch

    Repartio Conjunta de Coordenao de Efeitos JCMB Joint Coordination Monitoring Board

    Frum Conjunto de Monitorizao e Coordenao JOA Joint Operations Area

    rea de Operaes Conjunta JPOTF Joint Psychological Operation Task-Force

    Fora-Tarefa Conjunta de Operaes Psicolgicas LOP Line of Operations

    Linhas de Operao NA Northern Alliance

    Aliana do Norte NATO North Atlantic Treaty Organization

    Organizao do Tratado Atlntico Norte NRDCT-I NATO Rapid Deployable Corps Italy

    Corpo de Projeco Rpida da NATO Itlia NRDCT-T NATO Rapid Deployable Corps Turkey

    Corpo de Projeco Rpida da NATO Turquia OEF Operation Enduring Freedom

    Operao Enduring Freedom OO Objectivo Operacional

  • xi

    OP Objectivo Psicolgico OpNG Operao N Grdio OPO Operational Psychological Operations

    Operaes Psicolgicas de nvel Operacional PI Public Information

    Informao Pblica PIB Produto Interno Bruto PRT Provincial Reconstruction Team

    Equipa de Reconstruo Provincial PSYOPS Psychological Operations

    Operaes Psicolgicas RC Regional Command

    Comando Regional RCI Regulamento de Campanha Informaes RCO Regulamento de Campanha Operaes RCPSE Regional Command PSYOPS Support Element

    Elemento de Apoio de Operaes Psicolgicas do Comando Regional

    SOCOM Special Operations Command Comando das Operaes Especiais Norte-Americanas

    SOF Special Operations Forces Foras de Operaes Especiais

    SPO Strategic Psychological Operations Operaes Psicolgicas Estratgicas

    SUPLAN Supporting Plan Plano de Apoio de Operaes Psicolgicas

    TA Target Audience Audincias Alvo

    TAA Target Audience Analisis Anlise das Audincias Alvo

    TDM Theatre Distribution Manager Responsvel da CJPOTF pela Distribuio de Produtos no Teatro

    TF Task-Force Fora-Tarefa

    TPF Tactical PSYOPS Force Fora Tctica de Operaes Psicolgicas

  • xii

    TPO Tactical Psychological Operations Operaes Psicolgicas de nvel Tctico

    TPSE Theatre PSYOPS Support Element Elemento de Apoio de Operaes Psicolgicas de Teatro

    TPT Tactical PSYOPS Teams Equipas Tcticas de Operaes Psicolgicas

    UN United Nations Organizao das Naes Unidas

    UNSC United Nations Security Council Conselho de Segurana das Naes Unidas

    UNSCR United Nations Security Council Resolution Resoluo do Conselho de Segurana das Naes Unidas

    USAir Force United States Air Force Fora Area dos Estados Unidos da Amrica

    USArmy United States Army Exrcito dos Estados Unidos da Amrica

    USDoD United States Department of Defence Departamento de Defesa dos Estados Unidos da Amrica

    USMarine Corps United States Department of Defence Corpo de Marines dos Estados Unidos da Amrica

    USNavy United States Navy Marinha dos Estados Unidos da Amrica

    VSAT Very Small Aperture Terminal Terminais de Satlite de Abertura Muito Pequena

    WTC World Trade Center

  • xiii

    RESUMO

    O presente trabalho tem como objectivo averiguar se a orientao da misso das unidades de Operaes Psicolgicas era a mais adequada para apoiar a manobra da coligao na Operao Enduring Freedom e da International Security Assistance Force na actual operao de estabilizao levada a cabo no Afeganisto.

    Inicia-se pela exposio das doutrinas de Operaes Psicolgicas de referncia onde se explica que so operaes militares desenvolvidas utilizando meios de comunicao sobre determinadas audincias seleccionadas, para influenciar as suas percepes, atitudes e comportamentos de forma a facilitar os objectivos definidos. So explicadas as diferentes doutrinas e principais conceitos relacionados.

    Numa segunda fase detalha as operaes militares em estudo, dividindo a Operao Enduring Freedom nas suas fases distintas e descrevendo as actividades de apoio de Operaes Psicolgicas em cada uma delas. A Operao de Estabilizao actual estudada a partir da International Security Assistance Force VII at actualidade, em cada misso so apontados os principais objectivos e prioridades da fora e paralelamente as actividades de apoio de Operaes Psicolgicas.

    O problema analisado incidindo sobre as relaes objectivo-resultado e manobra-apoio, analisando os indicadores que indiciam resultados da aco das Operaes Psicolgicas. So tambm comparadas as misses e objectivos das foras em estudo e a forma como as actividades de Operaes Psicolgicas desenvolvidas concorrem para alcanar os objectivos definidos.

    Conclui-se com algumas reservas, que o desempenho das Operaes Psicolgicas era adequado ao cumprimento da misso. Conclui-se ainda que os resultados obtidos pelas mesmas, so afectados pela aco de mltiplas variveis que condicionaram e anularam alguns efeitos das Operaes Psicolgicas e a forma como estas concorreram para apoiar os objectivos finais da Operao Enduring Freedom e da International Security Assistance Force.

    PALAVRAS-CHAVE: OPERAES PSICOLGICAS, AFEGANISTO, ISAF, OPERAO ENDURING FREEDOM.

  • xv

    ABSTRACT

    This monograph aims to determine if the application of the mission of the Psychological Operations Units was the most suitable to support the maneuver of Operation Enduring Freedom Coalition Forces in the present stabilization operation going on in Afghanistan.

    First, we compare several armies reference doctrines on Psychological Operations, to explain that Psychological Operations are military operations that use the media through selected audiences to influence their perceptions, attitudes and behaviors so that they can better facilitate the units final objectives. The main differences between the various doctrines and related terms are also explained.

    The second phase of this monograph details the military operations studied, dividing Operation Enduring Freedom into its several phases, explaining the support activities of Psychological Operations units in each of those phases. The present stability operation is studied from International Security Assistance Force VII mission to the present, indicating in each stage the main goals and priorities, and simultaneously the Psychological Operations activities in support of those goals.

    The analysis focuses on the objective-result and maneuver-support relations, studying the indicators of Psychological Operations results. The missions and objectives of the forces studies are compared too, such as the way their activities affected the achievement of the selected objectives.

    Conclusions indicate, with some reservations, that Psychological Operations support to Operation Enduring Freedom coalition forces and International Security Assistance Force was the most adequate to fulfill their objectives. We also found some variables to Psychological Operations forces activities conditioning and reducing their effectiveness.

    KEY WORDS: PSYCHOLOGICAL OPERATIONS, AFGHANISTAN, ISAF, OPERATION ENDURING FREEDOM

  • Operaes Psicolgicas no Afeganisto

    1

    INTRODUO

    the cognitive domain is in the minds of the participants () This is the domain where many battles and wars are actually won and lost (Alberts, et al., 2001 p. 13)

    Num mundo actual onde tudo inconstante, onde os conflitos e todas as suas variveis so instveis e volteis, onde se multiplicam as ameaas ao que, agora, chamamos convencional, o controlo da informao torna-se uma necessidade importante de qualquer fora, a par da articulao coordenada de todas as funes de combate, uma vez que so vitais para o sucesso do cumprimento da misso e da proteco da fora. Se concluirmos, como Watson (1978), que desde o final da II Guerra Mundial foram vrias as guerras desenvolvidas sob a forma de guerrilha e contra-guerrilha numa luta pelos hearts and minds da populao na zona de conflito, e tendo em conta a concepo de Alberts (2001), em que as operaes militares se desenvolvem numa trilogia de trs domnios (o fsico, o cognitivo e o das informaes), facilmente se torna perceptvel que o domnio decisivo das operaes militares modernas, com estas caractersticas, o domnio cognitivo.

    Neste domnio, cujos subdomnios so as mentes individuais de cada actor, singular, que tome parte no conflito (aliado, hostil ou neutro), tm lugar percepes, juzos de valor, entendimentos, crenas e valores. Se as dificuldades principais se prendem com a no-aceitao dos valores que se tentam incutir, resultando daqui novas ameaas, a soluo pode bem passar por tentar influenciar o entendimento da informao pelos vrios agentes dos teatros de operaes. neste domnio que entram as Operaes Psicolgicas (PSYOPS), que apesar de no serem uma ferramenta nova, revestem-se agora de uma nova importncia.

    Nesta luta pelos coraes e mentes, as PSYOPS actuam facilitando a aco das foras de manobra no campo de batalha. No caso concreto do Afeganisto verifica-se a presena de militares actuando quer em estruturas de PSYOPS, quer integrando as foras de estabilizao. Assim, surge a oportunidade de estudar a relao entre estes tipos de foras e inferir sobre as sinergias que produzem.

    Neste enquadramento, o objectivo deste trabalho avaliar o contributo dado pelas PSYOPS na prossecuo dos objectivos militares no Afeganisto durante a Operao Enduring Freedom (OEF) e na actual fase de estabilizao levada a cabo pela International

  • Introduo

    2

    Security Assistance Force (ISAF). A escolha do tema resultado de um recente e crescente interesse das Foras Armadas por este tipo de operaes, interesse esse que, no caso portugus, no se verificava desde a Guerra de frica (1961-1974), ao qual se soma a participao de militares portugueses em diversos teatros de operaes, desempenhando funes relacionadas com as PSYOPS, as Operaes de Estabilizao, ou como no caso do Afeganisto, ambas simultaneamente. Assim sendo, a anlise da cooperao entres estes dois tipos de foras constitui-se como uma oportunidade nica e irrecusvel.

    Este estudo pretende responder seguinte questo central: as PSYOPS estiveram/esto correctamente orientadas para apoiar a Coligao (na OEF) e a ISAF no cumprimento das suas misses?

    Dever da mesma forma responder s seguintes questes derivadas: Quais os Objectivos Psicolgicos definidos e Audincias-Alvo (TA) seleccionadas? As PSYOPS demonstraram/ tm tido sucesso em influenciar as TA de forma a

    facilitar o cumprimento da misso da fora? verificvel um paralelismo entre as PSYOPS actuais e a Aco Psicolgica (APsic)

    da Guerra de frica (1961-74)? Para que seja possvel responder a estas questes torna-se necessrio abordar

    previamente as principais temticas relacionadas. Com esse intuito, ser desenvolvido um captulo introdutrio referente parte conceptual onde ser abordado o enquadramento das PSYOPS nas Operaes Militares, os principais conceitos nucleares e comparadas sucintamente as vrias doutrinas de referncia. No segundo captulo, ser explicada a OEF e a evoluo da ISAF at actualidade, salientando as actividades das unidades de PSYOPS envolvidas. No captulo final, tendo em conta as relaes manobra-apoio de PSYOPS e objectivos-resultados, procurar-se- responder s questes formuladas. Ainda neste captulo, ser desenvolvida uma analogia entre a campanha psicolgica na OEF e na Operao N Grdio (OpNG), em Moambique (1970), com vista avaliao do paralelismo anteriormente enunciado. A escolha da OpNG justifica-se por ter sido a maior operao militar desenvolvida nos trs teatros da Guerra de frica, conflito onde as PSYOPS, na altura sob a designao de APsic, se revestiam de uma importncia vital na luta anti-subversiva com caractersticas muito semelhantes ao que se verifica no teatro de operaes afego. Respondidas as questes, sero confirmadas ou negadas as seguintes hipteses:

    H1 As PSYOPS tiveram um desempenho adequado e sucesso no apoio manobra da Coligao na OEF.

    H2 As PSYOPS tm tido um desempenho adequado e sucesso no apoio misso da ISAF no actual processo de estabilizao.

    H3 Confirma-se um paralelismo entre a APsic e as PSYOPS actuais.

  • Operaes Psicolgicas no Afeganisto

    3

    A anlise dos factos dever incidir em dois perodos: o primeiro relacionado com a OEF, que se inicia a 11 de Setembro de 2001 e termina em Dezembro de 2002, quando a OEF assume caractersticas de uma operao de estabilizao; o segundo relativo ISAF, que se inicia na misso da ISAF VII prolongando-se at misso da actual ISAF XI. A anlise dever apenas ter em conta as doutrinas de referncia nas vrias operaes, ou seja, a doutrina Norte-Americana na OEF, a doutrina da Organizao do Tratado Atlntico Norte (NATO) na ISAF e a doutrina nacional de APsic da dcada de 60, na OpNG.

    O mtodo a utilizar ser o mtodo indutivo. Consistir fundamentalmente na anlise de alguma bibliografia, documentao oficial e estudos estatsticos sobre o tema, o que permitir relacionar as actividades com os resultados. No entanto, para se conseguir uma perspectiva mais directa sobre o objecto, a realizao de entrevistas torna-se fundamental para obter uma perspectiva directa das operaes e interpretao da documentao. Portanto, conforme a adequabilidade e oportunidade sero includas tambm, alguns contributos pertinentes dessas entrevistas a militares com experincia em operaes psicolgicas nos referidos teatros.

    Embora constitua tambm propsito desta investigao a avaliao de resultados das PSYOPS no Afeganisto, esta constitui-se como uma das maiores dificuldades para os militares que a planeiam e executam, e por outro lado reveste-se sempre de alguma subjectividade associada s inmeras variveis da natureza humana, esta ltima como sabemos, objecto das PSYOPS. Assim, a anlise e concluses apresentadas no final deste trabalho, constituem somente, o ponto de vista do autor sobre o assunto, aps aturada reflexo e investigao, podendo em grande medida, ser influenciadas pelas limitaes encontradas no acesso s fontes oficiais.

  • Operaes Psicolgicas no Afeganisto

    5

    I AS OPERAES PSICOLGICAS

    As Foras militares no podem, de facto, alhear-se da existncia actual de uma arma psicolgica de valor preponderante e da sua aplicao tanto defensiva como ofensiva (EME, 1963 p. VI)

    Antes de nos debruarmos sobre o problema central deste trabalho, importante conhecer os aspectos conceptuais do tema, ou seja, indispensvel explicar o que so as PSYOPS luz das vrias doutrinas de referncia, quais as suas categorias, como concorrem para auxiliar a manobra e definir alguns conceitos que melhor caracterizam as PSYOPS na actualidade.

    igualmente relevante, tendo em conta a analogia que ser desenvolvida no terceiro captulo entre as PSYOPS no Afeganisto e na Guerra de frica (1961-1974) no teatro de Moambique, entender a forma como eram vistas estas operaes, na altura sob a designao de Aco Psicolgica.

    1. A DIMENSO PSICOLGICA DOS CONFLITOS

    As PSYOPS no so uma forma recente das operaes militares, pelo contrrio, so vrios os relatos da utilizao deste tipo de operaes ao longo dos tempos, seja de um modo mais indirecto e ponderado ou de um modo mais directo e espontneo. A verdade que desde sempre existiu uma componente psicolgica associada aos conflitos armados e que esta componente est relacionada com o fluxo de informao entre os seus intervenientes.

    Para entender o modo como a informao afecta a conduo de operaes militares necessrio considerar, como Alberts (2001), os seus trs domnios: o domnio fsico, o domnio da informao e o domnio cognitivo.

    Segundo este autor, o domnio fsico onde se encontra a situao que os militares procuram influenciar, onde se desenrola a manobra. neste domnio onde tradicionalmente se faz a medio dos resultados, uma vez que aqui que a medio dos objectivos se faz com maior facilidade.

    O domnio da informao onde circula a informao, onde criada, manipulada e partilhada, e onde possvel a comunicao entre os intervenientes das operaes militares. A informao que circula neste domnio pode no reflectir o que acontece no domnio fsico uma vez que toda a informao que recebemos deste domnio afectada

  • I - As Operaes Psicolgicas

    6

    pela forma como interagimos com o domnio da informao, ou seja pela nossa percepo da realidade. aqui que entra o domnio cognitivo.

    O domnio cognitivo composto pelas mentes dos participantes, onde se encontram as percepes, as crenas e valores e consequentemente onde as decises so tomadas. Este o domnio afectado pela liderana, pelo moral, pela coeso, nvel de treino, experincia ou leitura da situao operacional. Os atributos deste domnio so extremamente difceis de avaliar uma vez que cada sub-domnio, cada mente individual nica.

    Tendo em conta estes trs domnios podemos facilmente relacion-los de forma a entender o objecto, a importncia e o modo de produo de resultados das PSYOPS. As PSYOPS actuam ao nvel do domnio cognitivo, para influenciar a interaco dos seus alvos (o individuo ou um grupo) com o domnio da informao, originando efeitos no domnio fsico e no domnio da informao, que induzem estes alvos a conduzir as aces previstas pela operao psicolgica, ou seja, o estado final psicolgico desejado, que naturalmente concorre para os objectivos operacionais da misso.

    2. ESTADOS UNIDOS DA AMRICA

    O Exrcito Norte-americano , actualmente, um dos mais evoludos, e com base nos conflitos actuais em que se envolveu e permanece envolvido, tambm um dos mais experientes. portanto normal que mantenha bastante actualizada a sua doutrina sobre todos os domnios das operaes, no sendo excepo as PSYOPS.

    No manual de campanha Operations (US Army, 2008) so definidas cinco tarefas1 ao nvel da informao para moldar o ambiente de informao e por consequncia o ambiente operacional (US Army, 2008). Uma dessas aces, Information Engagement, visa informar atravs do emprego da capacidade de Assuntos Civis audincias internas e amigas, bem como influenciar audincias externas e designadamente os seus lderes, de forma a modificar os seus comportamentos de molde favorvel. Ao nvel do Information Engagement, dirigido a audincias externas, so definidas vrias capacidades que a fora deve ter, entre as quais se incluem as PSYOPS. Estas so definidas como operaes planeadas para levar informao a audincias externas de modo a influenciar emoes, motivaes, percepes e, finalmente, os comportamentos de governos estrangeiros, organizaes, grupos, e indivduos de forma a reforar a tomada de atitudes e comportamentos favorveis aos objectivos dos seus autores (US Joint Staff, 2003).

    1 Information Engagement, Guerra de Comando e Controlo, Proteco da Informao, Segurana das

    Operaes, e a Decepo Militar.

  • Operaes Psicolgicas no Afeganisto

    7

    O termo audincias externas, grupo seleccionado para ser influenciado atravs de meios de PSYOPS, prende-se com a limitao imposta legalmente s unidades de PSYOPS de conduzir qualquer aco psicolgica sobre cidados Norte-Americanos, no entanto, prev a utilizao de meios de PSYOPS para providenciar Informao Pblica (PI) dirigida a audincias Norte-Americanas em perodos de desastre ambiental ou crise, e ainda sobre TA externas para informar, no intuito de restaurar ou reforar a legitimidade de foras Norte-Americanas num qualquer cenrio de conflito ou crise (US Army, 2005).

    Para o exrcito Norte-Americano, a importncia deste tipo de operaes, prende-se com a possibilidade da diminuio do nmero de baixas entre os militares pela reduo da vontade de combater do adversrio, do seu moral e consequentemente da sua eficincia para combate (US Army, 2005). Podendo actuar tambm, no sentido de desacreditar os elementos da cadeia de comando, desarticulando a organizao inimiga levando a que os soldados se rendam sem lutar, sendo nesse mbito, consideradas uma capacidade nuclear das Operaes de Informao (INFO OPS) e da sua vertente exclusivamente militar a Guerra de Comando e Controlo2. So vistas tambm, como operaes de moldagem que criam e preservam oportunidades para o lanamento da Operao Decisiva (US Army, 2005), mas tambm lhes so atribudas responsabilidades e possibilidades de actuao durante todas as fases dum conflito.

    O Exrcito Norte-americano define trs categorias de operaes psicolgicas (US Joint Staff, 2003):

    PSYOPS Estratgicas (SPO), que desenvolvem actividades de informao internacional, levadas a cabo pelas agncias governamentais Norte-Americanas, com vista a atingir as metam e objectivos do governo dos EUA em tempo de paz e conflito;

    PSYOPS Operacionais (OPO), conduzidas em todo o espectro das operaes militares, incluindo as levadas a cabo em tempo de paz, numa rea Operacional Conjunta (JOA) bem definida, para garantir a eficincia das campanhas desenvolvidas pelo comandante da fora;

    PSYOPS Tcticas (TPO), conduzidas numa rea de responsabilidade (AOR) de um comandante de uma unidade tctica, para apoiar a misso tctica atribuda a essa comandante. Esta diviso em categorias tem em conta, unicamente, o nvel das operaes, e

    diferente da classificao definida pela Aliana Atlntica como veremos mais frente.

    2 Os cinco pilares da Guerra de Comando e Controle so a Segurana das Operaes, Decepo

    Militar, Guerra Electrnica, PSYOPS e Destruio Fsica.

  • I - As Operaes Psicolgicas

    8

    3. ORGANIZAO DO TRATADO ATLNTICO NORTE

    A Poltica da Organizao do Tratado Atlntico Norte definida por acordo entre os seus estados membros, por isso provvel que as doutrinas de cada membro sejam semelhantes uma vez que derivam da doutrina NATO.

    A doutrina da aliana para as Operaes Psicolgicas define as PSYOPS como sendo actividades psicolgicas planeadas que usam mtodos de comunicao e outros meios, dirigidas a audincias aprovadas com vista a influenciar percepes, atitudes e comportamentos, contribuindo assim para a prossecuo de objectivos polticos e militares (NATO, 2003). Por audincias aprovadas entende-se um indivduo ou um grupo seleccionado para ser influenciado ou atacado por meios de PSYOPS, no entanto, a NATO impem limitaes na seleco destas audincias. Assim, as foras NATO, esto proibidas de conduzir PSYOPS sobre elementos da Imprensa Internacional, sobre naes ou foras de naes NATO ou coligaes NATO/aliados, e sobre civis exteriores JOA (NATO, 2003).

    Apesar de a definio da doutrina aliada no apresentar grandes diferenas da doutrina norte-americana, existem porm, algumas diferenas que se colocam sobretudo quanto s categorias de PSYOPS. Enquanto a diviso Norte-Americana baseada exclusivamente no nvel das operaes, a diviso NATO, tem em conta, para alm do nvel das operaes, o espectro das Operaes Militares (NATO, 2007). Assim sendo, as trs categorias de Operaes Psicolgicas reconhecidas pela NATO so (NATO, 2007): Strategic Psychological Operations (SPO) Operaes Psicolgicas Estratgicas.

    PSYOPS planeadas que tm como objectivo ganhar o apoio e a cooperao de TA neutrais e amigas, diminuir a vontade e a capacidade de TA hostis, ou potencialmente hostis, em empreenderem aces agressivas e contriburem para a gesto e dissuaso de crises, em apoio das aces diplomticas.

    So planeadas ao mais alto nvel governamental e so uma responsabilidade nacional. Os seus objectivos so de longo prazo e de natureza poltica. As SPO tm uma natureza essencialmente no militar.

    Crisis Response Psychological Operations (CRPO) Operaes Psicolgicas de Resposta Crise. PSYOPS planeadas e conduzidas como parte integrante das CRO, com o objectivo de criar um esprito cooperante entre as partes em conflito e a populao civil na JOA, de forma a cumprir os objectivos da misso, bem como contribuir para a proteco da fora.

    So conduzidas quer ao nvel operacional, quer ao nvel tctico, sendo uma responsabilidade do comandante militar que conduz a CRO. Devem ser coordenadas pelas INFO OPS com outras actividades operacionais, a fim de compatibilizar designadamente a PI, a Cooperao Civil-Militar (CIMIC) e outras actividades, com as

  • Operaes Psicolgicas no Afeganisto

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    PSYOPS propriamente ditas. O termo populao deve ser entendido em sentido amplo, significando os elementos civis na JOA, incluindo refugiados, evacuados, deslocados e outros.

    Combat Psychological Operations (CPO) Operaes Psicolgicas de Combate. PSYOPS que fazem parte integrante das operaes de combate, planeadas e conduzidas contra TA aprovadas na JOA, com a finalidade de derrotar o inimigo atravs da reduo, ou eliminao, da sua vontade em prosseguir a agresso e tambm apoiar a liberdade operacional do comandante.

    So conduzidas a nvel operacional e tctico, sob responsabilidade do respectivo comando e o seu planeamento e execuo insere-se integralmente nas operaes de combate, pelo que devem ser coordenadas com as outras actividades operacionais. As CPO dirigem-se contra as foras militares opositoras, civis sobre o seu controlo, e outras AA aprovadas, essencialmente com o objectivo de reduzir o potencial de combate do adversrio, por exemplo, atravs da eroso da moral dos seus lderes, tropas e da vontade da populao em apoiar as suas operaes militares; e ao mesmo tempo apoiar a liberdade operacional do comandante.

    Outra diferena entre as PSYOPS NATO e Norte-Americanas prende-se com as competncias atribudas a este tipo de operaes na conduo de misses de PI. Enquanto os EUA prevem a utilizao de unidades de PSYOPS para conduzirem misses de PI, a NATO, exclui esta possibilidade diferenciando sempre ambas as actividades pelo facto das PSYOPS terem como objectivo influenciar e a PI informar. Enquanto a PI faz uso exclusivo dos meios de comunicao social para passar informao, as PSYOPS, disseminam as suas mensagens atravs de meios orgnicos ou de contratao local (NATO, 2007).

    4. PORTUGAL

    Sobre a doutrina nacional referente s PSYOPS importa distinguir dois perodos: o primeiro referente Guerra de frica (1961-1974) e o segundo, o perodo actual em que a doutrina nacional apoiada na doutrina NATO.

    4.1. GUERRA DE FRICA (1961-74) ACO PSICOLGICA

    A Guerra de frica desenvolveu-se sobretudo como uma guerra subversiva e de contra-subverso onde a necessidade de obter o apoio da populao era primordial, constituindo a conquista da sua opinio o objectivo principal a atingir (EME, 1963 p. II-1).

    Para tal, o Exrcito teria que exercer uma aco psicolgica sobre o adversrio e sobretudo sobre a populao, e ainda sobre esta ltima, para a tornar mais receptiva quela aco, uma eficaz aco social, contribuindo assim directamente, dentro das suas

  • I - As Operaes Psicolgicas

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    possibilidades, para conservar ou reconquistar o apoio dessa populao (EME, 1963 p. V). Estudados os factores que influenciam o estado psquico, momentneo de um indivduo, chegou-se concluso que a APsic poderia servir-se dos instintos fundamentais, condicionando-os e inibindo-os para influenciar e orientar a conduta dos agrupamentos humanos (Secretariado Geral da Defesa Nacional, 1963 p. 6).

    Neste campo, at ento desconhecido para as Foras Amadas Portuguesas, foi desenvolvida doutrina e foram criados manuais para que o Exrcito estivesse moral e tecnicamente preparado para tomar parte numa luta desta natureza e, muito em especial, que estivesse imunizado contra as aces de propaganda que o adversrio, certamente, sobre ele exerceria (EME, 1963 p. II-1).

    Assim, a APsic era definida como um conjunto de diversas medidas, devidamente coordenadas, destinadas a influenciar as opinies, os sentimentos, as crenas e, portanto, as atitudes e o comportamento dos meios amigos, neutros e adversos (EME, 1963 p. I-1). Este conjunto de aces visava fortificar a determinao e o esprito combativo dos meios amigos; atrair a simpatia activa dos meios neutros; esclarecer a opinio de uns e de outros, e contrariar a influncia adversa sobre eles; modificar a actividade dos meios adversos num sentido favorvel aos objectivos a alcanar (EME, 1963 p. I-1).

    Para atingir estes objectivos, a APsic, deveria actuar no sentido de influenciar a opinio colectiva definida como o conjunto das opinies superficiais, opinies estas, que o indivduo altera e abdica com facilidade ao contrrio das opinies fundamentais, firmes, que correspondem a convices profundas e que caracterizam a verdadeira personalidade. Por isso, a Aco Psicolgica devia evitar entrar em conflito ou ferir as opinies fundamentais individuais. Tudo se resume a enxertar um sentimento superficial em crenas e convices profundas bem conhecidas (Secretariado Geral da Defesa Nacional, 1963 pp. 13-14).

    As TA da APsic, frequentemente designadas por meios ou campos, mas sobretudo por grupos humanos eram as foras inimigas, as nossas tropas e a populao. Entendia-se por grupo humano um conjunto de indivduos que apresentando certas caractersticas comuns pode ser influenciado psicologicamente da mesma forma e apresentar a essa influncia reaces semelhantes (EME, 1963 p. VI:6).

    A aco sobre a populao poderia ser facilitada se primariamente lhe fossem satisfeitas algumas necessidades bsicas (aco designada por aco social), o que permitia ganhar o seu afecto e confiana e desse modo facilitar a aplicao da aco psicolgica. Estas duas aces conjuntas, aplicadas sobre a populao, originavam a aco final que se pretendia realizar e que s no dava nome a esta forma de actuao por no ser passvel de ser utilizada sobre o inimigo ou as nossas foras (EME, 1963), era designada por Aco Psicossocial (EME, 1963).

  • Operaes Psicolgicas no Afeganisto

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    Apesar de no se falar, como actualmente, da coordenao das PSYOPS com o CIMIC, da APsic fazia tambm parte uma forte componente aco social. Por outro lado era sempre possvel alvejar as nossas tropas o que contrrio s doutrinas NATO e Norte-Americana.

    Pode-se, portanto, verificar que apesar de no incio do conflito ultramarino, praticamente no existir uma estrutura de Aco Psicolgica, esta foi-se desenvolvendo e consolidando nas vrias unidades de forma que no incio da dcada de 70 se tenha tentado criar um servio especializado de mbito nacional, mas que no se chegou a verificar visto o conflito ter terminado (Queijo, 2001).

    4.2. ACTUALIDADE

    Contrariamente ao que se verificava para a APsic, a doutrina actual para as PSYOPS no se consagra num manual especfico, mas sim num captulo do Regulamento de Campanha de Operaes (RCO) e em referncias no Regulamento de Campanha Informaes (RCI).

    A doutrina de PSYOPS apresentada no RCO onde as PSYOPS so definidas como actividades psicolgicas planeadas que utilizam meios de comunicao e outros meios, dirigidas sobre audincias aprovadas, de forma a influenciar atitudes, percepes e comportamentos, que contribuam para a realizao de objectivos polticos e militares (EME, 2005 pp. 5-1). Constituindo-se como objectivos gerais o enfraquecimento da vontade do adversrio, o reforo dos sentimentos dos fiis, o estmulo da cooperao dos simpatizantes e apoio dos elementos neutrais (EME, 2005).

    Tal como na doutrina aliada a classificao das PSYOPS tem em conta o nvel e o espectro das operaes. Assim sendo, as trs categorias definidas pela doutrina nacional so: SPO, CRPO e CPO (EME, 2005).

    5. CONCEITOS CHAVE

    Apresentadas as vrias definies de PSYOPS e algumas diferenas nas vrias doutrinas, importa comparar as vrias definies e expor outros conceitos relacionados com as PSYOPS necessrios para o entendimento deste trabalho.

    O Quadro 1 apresenta uma sntese das vrias definies, facilitando a comparao entre as mesmas. Dessa comparao so perceptveis as diferenas mnimas entre os conceitos, concretamente ao nvel da designao variando entre operaes, actividades e medidas. Se a designao diferente, na prtica estas diferenas no se verificam,

  • I - As Operaes Psicolgicas

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    sendo a conduo de PSYOPS apenas varivel com os factores de deciso que afectam todos os outros tipos de operao.

    Do quadro 1 so facilmente enumerados os fenmenos psicolgicos que as PSYOPS pretendem influenciar: emoes, motivaes, percepes, atitudes e comportamentos. Apesar desta variedade extensiva de fenmenos, uns derivam dos outros estando todos relacionados. Explica-se de seguida estas relaes de derivao para uma melhor compreenso dos conceitos.

    Quadro 1 Diferenas nas Definies de PSYOPS (EME, 1963; EME, 2005; NATO, 2007; US Army, 2005)

    Iniciando no conceito de motivao que uma componente directa e dinmica do comportamento e determinada por uma combinao de factores biolgicos, sociais e de aprendizagem. A motivao activa o comportamento na prossecuo de determinado objectivo (NATO, 2007).

    Esta resulta de uma hierarquia de necessidades3, que desencadeia as motivaes individuais. essa hierarquia de necessidades que deve ser tida em conta nas PSYOPS, ou seja, o conhecimento sobre as motivaes da TA garante ao planeamento da PSYOP a oportunidade de analisar as necessidades dessa audincia e gera a base para alcanar o objectivo da mesma (NATO, 2007).

    3 Conhecida por Pirmide das Necessidades de Maslow. Segundo este autor, as necessidades do ser

    humano esto hierarquizadas, como numa pirmide, por grau de complexidade, sendo condio necessria para atingir os patamares superiores da pirmide, a satisfao das necessidades dos patamares inferiores. Assim, as necessidades estendem-se desde as fisiolgicas at s de auto-realizao (NATO, 2007).

    USA NATO PORTUGAL

    ACTUALIDADE

    PORTUGAL NA GUERRA DE

    FRICA (1961-1974)

    So Operaes

    planeadas para

    levar informao

    Actividades

    psicolgicas

    planeadas que usam

    Mtodos de

    comunicao e

    outros meios directos

    Actividades

    psicolgicas planeadas

    que usam meios de

    comunicao e outros

    meios

    Diversas medidas coordenadas

    Dirigidas a

    Audincias

    externas Audincias aprovadas Audincias aprovadas

    Meios

    Campos

    Grupos humanos (Populao,

    Inimigo e NT)

    Que visam

    influenciar

    Emoes

    Motivao

    Percepes

    Comportamentos

    Percepes

    Atitudes

    Comportamentos

    Percepes

    Atitudes

    Comportamentos

    Opinies

    Sentimentos

    Crenas

    Atitudes

    Comportamento

    Para

    Reforar tomada

    de atitudes e

    comportamentos

    favorveis aos

    seus autores

    Afectar a

    prossecuo de

    objectivos polticos e

    militares

    Contribuir para a

    realizao de

    objectivos polticos e

    militares

    Fortificar a determinao (amigos)

    Atrair a simpatia (neutros)

    Esclarecer a opinio (amigos e

    neutros)

    Modificar a actividade (inimigo)

  • Operaes Psicolgicas no Afeganisto

    13

    Visto que as atitudes resultam das necessidades individuais, e que estas so hierarquizadas e progressivas, importa agora perceber o conceito de atitude. A doutrina NATO define a atitude como sendo um sistema, relativamente estvel e duradouro, de julgamentos, emoes e reaces, que predispem um determinado comportamento para atingir determinado objectivo (NATO, 2007). A atitude pode ser considerada positiva ou negativa e decompem-se em trs componentes (NATO, 2007):

    Uma componente cognitiva, que inclui convices e juzos de valor para cada objecto especfico;

    Uma componente emocional que inclui as relaes emocionais perante determinado objecto;

    Uma componente motora que inclui tendncias reactivas para agir de acordo com a atitude individual. a parte observvel da atitude. Concluir sobre a alterao de uma atitude s possvel, atravs da observao dos

    comportamentos subjacentes a essas atitudes visto que os comportamentos so aces ou reaces de pessoas em resposta a estmulos externos ou internos (NATO, 2007).

    Sendo relativamente estvel, a atitude, confere essa estabilidade ao modo de vida de um indivduo e por tal facto, difcil ser alterada. Porm, uma alterao de atitude possvel, e quando acontecem so normalmente baseadas em: novas experincias especialmente emocionais ou traumatizantes; para acompanhar as alteraes do meio envolvente, ao perceber que as nossas tendncias j no se enquadram nesse meio; com base nas causas que tendencialmente atribumos a determinado fenmeno (NATO, 2007). As mudanas de atitude so provocadas pela percepo que a TA tem dos fenmenos e esta pode definir-se como a tomada de conhecimento sensorial de objectos ou de acontecimentos exteriores que vai dar origem a sensaes mais ou menos numerosas ou complexas (IESM, 2007 p. 10) . As mudanas de atitude podem ser classificadas da seguinte maneira (NATO, 2007):

    Complacncia quando o membro da audincia alvo cede a alguma ameaa ou suborno da parte da PSYOP. o processo de alterao de atitude mais simples, a sua estabilidade bastante limitada e na maior parte dos casos nem comporta de facto uma mudana de atitude verdadeira, mas sim uma alterao de conduta temporria de acordo com os interesses imediatos de um indivduo.

    Identificao verifica-se quando um indivduo escolhe enquadrar-se com as atitudes e opinies de um determinado grupo. uma mudana de atitude mais estvel que a complacncia.

    Internalizao Verifica-se quando a audincia-alvo aceita as atitudes do actor psicolgico como se fossem suas. Estas atitudes, depois de internalizadas podem

  • I - As Operaes Psicolgicas

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    constituir convices profundas no indivduo que sofre esta influncia. a forma mais duradoura de alterao de atitude. Explicados os principais conceitos da componente psicolgica das PSYOPS, interessa

    agora, definir os conceitos tcnicos deste tipo de operaes, comeando pela classificao quanto origem aparente dos produtos de PSYOPS, no sem antes definir o produto de PSYOPS como sendo qualquer item udio, visual, comunicao audiovisual utilizada sobre numa TA com vista a atingir os objectivos de PSYOPS (US Army, 2005).

    Assim sendo, quanto origem dos produtos, as PSYOPS podem ser (EME, 2005): Preta - quando a origem diferente daquela que se pretende fazer crer; Cinzenta quando se pretender manter a origem na dvida; Branca quando a origem reconhecida como oficial.

    Relacionados com os produtos de PSYOPS esto os temas de PSYOPS, que so ideias ou tpicos nos quais as PSYOPS podem ser baseadas (NATO, 2007). Integrando os conceitos de produtos e temas, os programas de PSYOPS so planos faseados para o emprego de produtos de PSYOPS, so baseados em temas e destinam-se a cumprir objectivos de PSYOPS (IESM, 2007 p. 12).

    Os conceitos definidos at aqui visam cumprir a misso de PSYOPS, entendida como uma expresso clara e concisa que define o que devem as PSYOPS alcanar (tarefa e finalidade) para modificar, no grau necessrio, a atitude das TA, de forma a apoiar a misso do respectivo comando (IESM, 2007 p. 10). A misso cumprida quando se atinge o estado-final psicolgico, ou seja, as condies atingidas pelas TA que indicam que a misso das PSYOPS e respectivos objectivos foram atingidos (IESM, 2007 p. 10), objectivos psicolgicos esses que devem corresponder a uma descrio mensurvel das mudanas desejadas nas percepes, atitudes e comportamentos da TA (IESM, 2007 p. 10).

    Os resultados de PSYOPS podem ser afectados pela aco de propaganda de entidades hostis ou concorrentes sobre as TA. Entende-se por propaganda qualquer informao, ideia, doutrina ou apelo disseminado para influenciar as opinies, emoes, atitudes ou comportamentos de qualquer grupo especfico, com benefcios para a origem da propaganda (NATO, 2007). Para combater esta aco as unidades de PSYOPS, conduzem contra-PSYOPS, que so aces que visam detectar e contra-atacar actividades psicolgicas hostis (NATO, 2003).

    Em sntese, o planeamento e conduo de PSYOPS pressupe a utilizao de todo um vocabulrio especfico, no entanto, a sua essncia simples: influenciar grupos humanos para apoiar uma misso.

  • Operaes Psicolgicas no Afeganisto

    15

    II AS OPERAES MILITARES EM ANLISE

    guerrilla war, above all others, is a supremely psychological battle, a fight for the hearts and minds of the civilians in the middle (Watson, 1978).

    1. O TEATRO DE OPERAES: AFEGANISTO4

    Situado no SUL do Continente Asitico, fazendo fronteira com o Paquisto a ESTE e SUL e com o Iro a ESTE, o Afeganisto tem uma extenso 7 vezes superior de Portugal e, num terreno muito acidentado (49% do terreno a uma altitude superior da Serra da Estrela) e com um clima muito hostil, especialmente no inverno, integra uma populao 3 vezes superior populao portuguesa. Esta populao distribui-se por 7 etnias (Pashtun, 42%; Tajik, 27%; Hazara, 9%; Uzbek, 9%; Aimak, 4%; Turkmen, 3%; Baloch, 2%) que falam 2 lnguas principais (Phastum e Dari) e dezenas de variantes, professando 2 religies principais, ambas variantes do Islo (MarcadorPosio1).

    A actualidade reflecte a sua Histria, onde as querelas internas, relaes internacionais e a prpria existncia como estado independente, foram em larga medida influenciados pela sua localizao geogrfica na intercepo da sia do SUL, Ocidental e Central, e por onde ao longo dos sculos passaram frequentemente exrcitos que tomavam controlo da regio, sem no entanto subjugarem completamente as suas populaes. Assim e apesar de ser atravessado por rotas comerciais prsperas e sede de grandes imprios, s apenas em 1747, Durrani logrou conseguiu unir as tribos da regio fundando uma monarquia que passou a funcionar como um separador entre o Imprio Russo e Britnico (Bashiri, 2002).

    Posteriormente o Afeganisto ganha a sua independncia do controlo Ingls em 1979, para alguns anos depois ser invadido pela Unio Sovitica numa Guerra que durou at 1989. Esta vitria sobre o domnio sovitico vai de novo acentuar as divergncias internas entrando o Afeganisto numa srie de guerras civis, propiciando aos Talib (um movimento conservador de origem paquistanesa entretanto surgido) assumir o controlo do Afeganisto em 1996 (Blood, 2001). Este movimento derrotado e o seu regime deposto em 2001, mas at hoje se ope ao actual regime afego e presena de foras internacionais no territrio.

    Neste pas, onde a populao est predominantemente associada agricultura e pastorcia com 53% dos afegos a viver abaixo do limiar da pobreza, o grau de iliteracia

    4 O Anexo A apresenta com maior detalhe o Estudo do Meio Humano no Afeganisto.

  • II As Operaes Militares em Anlise

    16

    muito elevado, o que em conjunto com o relevo acidentado (que dificulta imenso a difuso rdio a todo o territrio e onde a televiso e internet constitui ainda mistrio para muita gente) torna a comunicao a nvel nacional impossvel de realizar sem a combinao de vrios meios de comunicao e lnguas, agravando ainda mais a possibilidade de adequao da mesma mensagem a todos os afegos, complicando assim em larga medida a actuao de unidades de PSYOPS.

    2. OPERAO ENDURING FREEDOM: A CAMPANHA PSICOLGICA

    2.1. OS ANTECEDENTES

    Na sequncia dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, os EUA declararam Guerra ao Terrorismo. Dado que a responsabilidade dos atentados foi atribuda Al-Qaeda, uma organizao terrorista com estrutura no Afeganisto, pas governado pelos Talibs, aos quais apenas se opunham foras da Aliana do Norte (NA)5, os EUA desencadeiam uma operao militar cujo nome inicialmente previsto seria Infinite Justice (Global Security, 2008), mas que depois rebaptizada de OEF. A alterao da sua denominao deveu-se ao receio de ofender a populao muulmana que apenas reconhece a Al a competncia para atribuir justia infinita. Para esta operao forma-se uma coligao que contava inicialmente com tropas do Canad, Austrlia, Frana, Itlia, Alemanha e Reino Unido e com o apoio de dezenas de outras naes. Esta coligao ficou sob o comando do United States Central Command (CENTCOM) sob a liderana do General Tommy Franks (CENTCOM, 2008).

    Os trabalhos das Unidades de PSYOPS comearam logo aps os ataques terroristas do 11 de Setembro com o 940 Destacamento de PSYOPS tcticas6 a iniciar a Target Audience Analisis (TAA)7 do Afeganisto, seleccionando como TA a Populao, os Talibs e a Al-Qaeda (Lamb, 2005). A 22 de Setembro, o CENTCOM ordenou que o SOCOM8 (Special Operations Command) formasse uma Fora Tarefa Conjunta de PSYOPS (Joint PSYOPS Task Force - JPOTF) para apoiar a campanha militar que se estava a preparar.

    5 Aliana do Norte a designao dada pela imprensa ocidental para Frente Islmica Unida para a

    Salvao do Afeganisto. composta maioritariamente por elementos das etnias do NORTE do Afeganisto, Tajik, Uzbek e Hazara (Maloney, 2005) 6 O Tactical PSYOP Detachment 940 uma unidade pertencente Companhia B do 9 Batalho de

    PSYOPS do 4 Grupo de PSYOPS, que est sob dependncia do US Army Special Forces Command (Friedman, 2006). 7 TAA: Anlise de Audincias Alvo o processo pelo qual as potenciais AA so refinadas e

    analisadas (US Army, 2005). 8 O SOCOM o comando unificado das operaes especiais norte-americanas e compreende o

    comando das foras de operaes especiais do US Army, US Navy, US Air Force e US Marine Corps e ainda a Joint Special Operations University Center. Integrado no Comando de Operaes Especiais do US Army, est o 4th Psychological Operations Group que a nica unidade norte-americana responsvel pela conduo de PSYOPS (SOCOM, 2008).

  • Operaes Psicolgicas no Afeganisto

    17

    Essa JPOTF foi activada a 4 de Outubro e ficou sob controlo operacional do CENTCOM (Lamb, 2005).

    2.2. FASE I INTERVENO INICIAL

    A OEF iniciou-se a 8 de Outubro de 2001 e tinha como objectivos operacionais iniciais (Lamb, 2005):

    1. Destruio de campos de treino e de outras infra-estruturas utilizadas por terroristas em territrio Afego;

    2. Captura dos lderes da Al-Qaeda; 3. Trmino de todas as actividades terroristas no Afeganisto. A misso da JPOTF era apoiar o CENTCOM durante o cumprimento de misses de

    curta durao, operaes de contra-terrorismo de longa durao e outros empenhamentos. A 10 de Outubro, a JPOTF era composta por 95 militares, dos quais, 74 estavam na sede da JPOTF em Fort Bragg, na Carolina do Norte (Lamb, 2005).

    O USCENTCOM Campaign Plan: Enduring Freedom, Plano de Operaes da operao, definia para alm das TA, os objectivos psicolgicos (Lamb, 2005):

    1. Isolar a Al-Qaeda dos Talibs, e ambos de qualquer apoio interno ou externo; 2. Legitimar a interveno militar no sentido de convencer a populao a no interferir

    no conflito; 3. Reduzir a eficincia para combate das Foras Talib e da Al-Qaeda, realando a

    inevitabilidade da sua derrota e incitando rendio. As primeiras aces do conflito consistiram em ataques areos levados a cabo por

    avies de combate a partir de bases areas terrestres e a partir de porta-avies, bem como o lanamento de msseis Tomahawk a partir de navios Britnicos e Norte-Americanos.

    Durante esta fase inicial da operao, a populao afeg tinha uma imagem muito negativa das foras da coligao e da justificao das aces militares que esta se preparava para iniciar. O Regime Talib esforou-se por explicar populao que a aco militar prestes a ser iniciada visava atacar a f da nao afeg, tentando desta forma ganhar o apoio poltico da populao e promover a resistncia a qualquer aco da coligao.

    Perante esta situao, primeiro programa de PSYOPS a ser posto em prtica, tinha como objectivo legitimar a aco militar que estava prestes a iniciar, explicando que a coligao no pretendia atacar o Islo, mas apenas atacar as actividades terroristas (Friedman, 2006). Para que tal fosse possvel, utilizou inicialmente trs meios: o lanamento de panfletos, de comida e outra ajuda humanitria, e a emisso rdio.

    Devido ao mau tempo, o lanamento de panfletos no pde ser iniciado, assim a primeira aco de PSYOPS foi atravs de emisso rdio, a 5 de Outubro, 2 dias antes do

  • II As Operaes Militares em Anlise

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    incio da OEF9. Os primeiros militares da coligao a actuar no terreno foram militares de operaes especiais e constituam equipas de ligao com a NA que desenvolvia a manobra ao nvel do solo, apoiados pela aviao e pelos msseis das foras americanas e britnicas. Estas equipas de ligao actuavam no solo desde 26 de Setembro e a sua misso era garantir uma relao slida com a chefia da Aliana do Norte, no s para garantir a coordenao dos ataques com as foras da coligao, mas tambm para que a coligao pudesse usar o vale de Panjshir como uma base de operaes no interior do territrio afego (Maloney, 2005), uma vez que era nesta localizao que a Aliana do Norte se havia concentrado para resistir ao regime Talib.

    Durante as operaes de combate iniciais a JPOTF focou a sua ateno na ajuda humanitria, na emisso rdio a partir do EC-130E e na produo de panfletos que seriam enviados para a base Norte-Americana de Diego Garcia, no Oceano ndico, para serem colocados em bombas dispersoras de panfletos e disseminados a partir dos bombardeiros B-52 (Lamb, 2005)

    O primeiro lanamento de panfletos aconteceu somente na noite de 14 de Outubro e foi devidamente coordenado com emisses rdio do 193rd Special Operation Wing10 a partir do EC-130E. Cerca de 385 000 Panfletos foram lanados sobre a cidade de Ghazni e entre Sheberghan e Herat (Friedman, 2006), ao mesmo tempo que a populao ouvia as emisses rdio em 7500 aparelhos rdio portteis distribudos por via area e por membros das equipas de Operaes Especiais de ligao (Lamb, 2005).

    Os panfletos visavam inicialmente separar as foras da Al-Qaeda das foras Talibs (Objectivo 1), lanando mensagens aos Talibs para deixarem de apoiar os terroristas da Al-Qaeda. Esta mensagem no foi utilizada por muito tempo pois rapidamente fotos de Talibs apareceram, nos panfletos, debaixo de mira ao lado de membros da Al-Qaeda (Friedman, 2006) semelhana do panfleto AFD40d (anexo C).

    A seguir a Mazar-e-Sharif caram as cidades de Talogan, Herat e Shindand e nos dias 13 e 14, a capital Kabul e Jalalabad. A conquista destas cidades deveu-se a uma aco coordenada entre os comandantes da Aliana do Norte, as equipas de ligao, os ataques areos da coligao, a resistncia da populao afeg ao Regime Talib e nalguns casos rendio de foras Talib (Global Security, 2008).

    Com os primeiros bombardeamentos e a destruio de infra-estruturas perto da populao, os esforos da JPOTF tinham que desenvolver-se tambm, no sentido de legitimar a interveno militar (Objectivo 2) com panfletos alusivos aos ataques de 11 de

    9 Foram emitidas mensagens rdio a partir de plataformas areas designadas EC-130E Commando

    Solo Transmiting Aircraft que incidiam sobretudo sobre o reconhecimento do direito dos Afegos poderem praticar o Islo em paz (Friedman, 2006). 10

    Unidade especial da Guarda Republicana que atravs dos EC-130E tem capacidade para transmitir rdio e TV. As mensagens transmitidas so produzidas pelo 4th PSYOPS Group (Maloney, 2005).

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    Setembro. Inicialmente pensou-se em lanar um panfleto que traduzisse o ataque terrorista aos EUA e produziu-se o panfleto AFD-189 (anexo C) que mostrava uma imagem de uma das torres do WTC aps o embate de um dos avies. A imagem era acompanhada pelo seguinte texto: 20 de Setembro de 138011. A coligao vem para prender os responsveis por este ataque terrorista contra a Amrica. Vm tambm para prender todos os que os tentarem proteger. Mais de 3000 pessoas nos Estados Unidos da Amrica foram assassinados nestes ataques (Friedman, 2006).

    Foi, no entanto, produzido um poster (AFC035 Ver Anexo C) com uma imagem mais tardia do que a do panfleto anterior mostrando tambm uma das torres, mas de outra perspectiva, com enormes chamas (Friedman, 2006).

    2.3. FASE II ENTRADA DAS FORAS CONVENCIONAIS

    Aps as primeiras vitrias da NA no solo, a coligao projectou a primeira fora convencional a partir de Jacobabad, no Paquisto: a Fora Tarefa (Task Force - TF) 58 de Marines (EUA) que em 25 de Novembro conquistou um aeroporto a SUL de Kandahar estabelecendo uma base de operaes avanada cuja importncia, segundo o General Franks era to give us a capability to be an awful lot closer to the core objectives we seek12 (Strategy Pages, 2002). Integrando a fora de Marines estavam TPT que acompanhavam e antecediam as suas aces de combate com indicaes de rendio (objectivo 3) e da inevitabilidade da derrota s foras talib atravs do megafone (Friedman, 2006).

    Da legitimao, a JPOTF passou a tentar ganhar a simpatia da populao tentando produzir um sentimento de solidariedade em que o Afeganisto, tal como os EUA, havia sofrido com os terroristas. Foi produzido um panfleto muito semelhante ao AFD-22b (anexo C) com duas imagens, a primeira a representar o WTC em chamas e a segunda a representar umas runas em Herat no Afeganisto. As Imagens eram legendadas pela identificao dos locais e acompanhadas pelo seguinte texto: Terroristas externos no acreditam em fronteiras (Friedman, 2006). No verso outra imagem de um Norte-Americano e um Afego a abraar-se sobre o desenho de um aperto de mos. Nas extremidades as bandeiras da coligao e o desenho dos limites do Afeganisto preenchido com 3 faixas a preto, vermelho e verde como a Bandeira Afeg (Friedman, 2006).

    At ao final de Novembro foi tambm conquistada a cidade de Konduz que era o ltimo bastio Talib no NORTE e o aeroporto de Bagram nos arredores de Kabul que passou a funcionar como uma base de operaes avanada. Na conquista de Konduz, renderam-se mais de 1000 soldados Talibs sem oferecer resistncia depois de terem sido

    11 Referente data em que aconteceram os ataques terroristas no Calendrio Persa.

    12 dar-nos a capacidade de estarmos mais perto dos objectivos nucleares que perseguimos

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    largados intensamente panfletos sobre as posies Talibs com indicaes para a rendio (Lamb, 2005).

    Para garantir que as suas emisses rdio chegavam populao, a JPOTF desenvolveu panfletos para fornecer indicaes de utilizao dos rdios aos afegos. Foram lanados panfletos com uma imagem de uma antena e dois rdios que era acompanhada da indicao da frequncia rdio em que a coligao estava a transmitir. Esta seria a nica informao rdio disponvel no Afeganisto e limitava-se a transmitir informao relativa coligao. A estao de rdio Talib com maior cobertura, a emitir a partir de Kabul, A voz da Sharia, havia sido destruda nos dias anteriores por um mssil da coligao (Friedman, 2006).

    Apesar da coligao ter garantido, praticamente a exclusividade da transmisso rdio, outro problema se colocava. A electricidade no chegava a toda a extenso do territrio, muito menos as baterias. Para que tal situao se resolvesse, a coligao distribuiu um aparelho rdio, o Kaito, (ver anexo C) que poderia funcionar usando as baterias convencionais, energia solar ou energia gerada por um dnamo incorporado no aparelho (Friedman, 2006).

    Em Dezembro as operaes desenvolveram-se ao mesmo ritmo, tendo a 4 de Dezembro as primeiras foras do Exrcito Norte-Americano sido projectadas para Mazar-e-Sharif. A 7 de Dezembro as foras Talibs da ltima grande cidade Talib, Kandahar, renderam-se a foras da Aliana do Norte sob o comando de Hamid Karzai. At meados de Dezembro a resistncia Talib resumia-se a pequenas bolsas em cidades ou em cavernas nas montanhas (Global Security, 2008).

    medida que as operaes se desenvolviam e a NA avanava para SUL, a JPOTF dedicou muita ateno populao e o contedo das mensagens dos panfletos passou a ser mais poltico que militar. Os panfletos passavam agora a ter um interesse especial, desempenhando funes mais voltadas para o servio pblico, para o bem-estar da populao, fornecendo indicaes sobre a identificao de minas, a importncia das vacinas e do uso da gua potvel. Indicaes muito gerais que poderiam ser utilizadas em qualquer lado, mas que deixavam transparecer um cuidado muito especial com as caractersticas do povo Afego (Lamb, 2005). Panfletos que davam felicitaes por um feriado Islmico; que informavam que as raes se encontravam de acordo com as restries da dieta islmica; que davam instrues de como consumir as raes (AFD16G anexo C); que informavam sobre a quantidade de ajuda humanitria fornecida pelos EUA ao Afeganisto (AFD12b anexo C); ou que chamavam a ateno para a semelhana entre embalagem da rao e engenhos explosivos e como os distinguir (AFD39); eram sinais de preocupao com a cultura afeg que poderiam ser facilmente entendidos pela populao (Friedman, 2006).

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    Paralelamente ao lanamento destes panfletos de servio pblico eram tambm lanados panfletos que responsabilizavam os Talibs e a Al-Qaeda pela interveno militar da coligao e destruio do Afeganisto e ofereciam recompensa a troco de informaes relevantes sobre as foras adversrias ou sobre a localizao dos lderes da Al-Qaeda e do Regime Talib. A 14 de Novembro, aps a queda de Kabul que os Talib haviam prometido defender at morte, tendo acabado por retirar durante a noite, o regime deu sinais de estar a desmoronar. A guerra estava prestes a entrar numa nova fase em que as foras da coligao perseguiam as foras talibs enquanto estas fugiam para se refugiar nas montanhas. As foras da coligao tentaram bloquear o acesso s montanhas e simultaneamente lanaram 1,5 milhes de panfletos (AFD29o ver anexo C) e emitiram mensagens rdio a oferecer 25 milhes de dlares a quem entregasse Bin Laden. O lanamento de panfletos (ver anexo C) a oferecer recompensa por informaes que levassem captura de Bin Laden foi uma constante durante toda a OEF (Friedman, 2006).

    2.4. FASE III - CONSOLIDAO

    No final da segunda fase da Operao, j com todas as cidades e aglomerados populacionais ocupados pela coligao, as PSYOPS, comeavam agora a tentar a consolidao e a desenvolver um esforo voltado para o apoio coligao. As PSYOPS actuavam agora tambm conversando com a populao cara a cara (Lamb, 2005), divulgando mensagens que s a coligao garantia a segurana aos Afegos ao mesmo tempo que encorajavam o desarmamento voluntrio e a busca de informaes sobre elementos da Al-Qaeda e dos Talibs (ver anexo C).

    A 5 de Dezembro foi assinado o acordo de Bonn (anexo B) que respondia necessidade de estabelecer um governo para o Afeganisto bem como necessidade de uma fora internacional para auxiliar no garante da paz e segurana no territrio afego. Assim, a 22 de Dezembro, Hamid Karzai tomou posse como Chefe do Governo Provisrio e foi estabelecido que a fora internacional acordada em Bonn, a ISAF I, iria ser responsvel por garantir a segurana em Kabul. A 3 de Janeiro de 2002, a ISAF contava j com 4500 militares sob o comando do Major-General Britnico John McColl (Global Security, 2008).

    A TF 58 foi rendida por elementos da 101 Diviso Aerotransportada, a 29 de Janeiro em Kandahar, e adoptou a designao de TF Rakkasan. Quatro semanas depois, no aeroporto de Kandahar, um avio C-130, descarregou 16 toneladas de ajuda humanitria. Seria o primeiro voo de ajuda humanitria no Afeganisto (Global Security, 2008).

    A 29 de Fevereiro, foras Australianas, Canadianas, Dinamarquesas, Francesas e Norueguesas juntaram-se s foras Norte-Americanas no terreno para consolidarem e levarem a cabo a Operao Anaconda que visava assaltar e capturar foras Talibs no

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    SUESTE do territrio Afego. Foi a operao militar com maior nmero de baixas desde que havia comeado o conflito: 8 soldados Norte-Americanos morreram e 82 ficaram feridos (Global Security, 2008).

    As operaes de combate visavam agora eliminar as bolsas de resistncia. Estas eram antecedidas por panfletos (anexo C) que visavam minar o moral dos Talibs, assegurando-os da inevitabilidade da derrota, dizendo que no estavam seguros em lado algum e que por mais escondidos que estivessem a sua localizao era sempre conhecida. Estes panfletos acentuavam a diferena de potencial entre o armamento da coligao e dos Talibs, tentando passar a mensagem que era apenas uma questo de tempo at que fossem eliminados ou capturados (Friedman, 2006).

    Em meados de Maio, o General Franks projectou para territrio Afego a Combined Joint Task Force (CJTF) -18013, para garantir uma estrutura de comando e controlo no territrio afego, sob comando do Tenente-General Dan K. McNeill que assumiu a responsabilidade pela maioria das foras a operar no Afeganisto e ficaria sob comando do CENTCOM (Global Security, 2008). Simultaneamente as foras especiais Norte-Americanas comearam a formar o novo Exrcito Nacional Afego (ANA).

    2.5. ENTRADA NA OPERAO DE ESTABILIZAO

    Os elementos da resistncia que haviam escapado para as montanhas tinham tido algum tempo para se reorganizar. Iniciava-se aqui a quarta fase da operao, em que os membros da resistncia se esconderam e reagruparam nas cidades ou nas montanhas. A partir de Setembro apareciam agora como novos grupos auto-entitulados Neo-Taliban, Anti-Coalition Militia ou Hezbi Islami Gulbuddin(Roberts, 2005), que se constituam como o principal obstculo das foras internacionais no Afeganisto que procuravam agora estabilizar a situao e desenvolver o pas.

    O Afeganisto tinha agora Governo, ainda que provisrio, as cidades tinham sido tomadas, as foras da coligao ocupavam as cidades e os aglomerados populacionais, a ISAF I garantia a segurana de Kabul Os Talibs tinham-se refugiado nas montanhas.

    Em meados de 2002, tornava-se claro, devido aos conflitos que surgiam entre lderes locais, que o novo Presidente Hamid Karzai no reunia o apoio de toda a populao. As PSYOPS promoviam agora o apoio ao Presidente e ao Governo (anexo C) pois apenas o novo Governo poderia trazer prosperidade e segurana ao Afeganisto (Lamb, 2005).

    A segurana passava a ser um assunto relacionado com a prontido do novo ANA que comeava a ser preparado. Enquanto isso, a ISAF II assumia o controlo de Kabul e

    13 A CJTF 180, era uma Task-Force de comando, com experincia anterior na Interveno militar no

    Haiti em 1994 e permitiu ao General Tommy Franks, libertar-se do controlo directo das Operao de Combate, para poder iniciar a fase de estabilizao.

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    desenvolvia tambm as suas prprias PSYOPS no sentido de dar estabilidade capital, ponto de partida para o resto do territrio (Maloney, 2005).

    3. INTERNATIONAL SECURITY ASSISTANCE FORCE

    Em Fevereiro de 2005, o NRDC-T (NATO Rapid Deployable Corps - Turkey) liderado pelo Tenente-General Ethem Erdagi, assume o comando da ISAF VII substituindo o EUROCORPS. A 10 de Fevereiro de 2005, a NATO decide expandir a ISAF para OESTE, e em 8 de Junho os ministros da defesa dos pases NATO concordaram apoiar a preparao e execuo das eleies tendo, tambm, anunciado o incio do planeamento da expanso da ISAF para SUL (ISAF, 2008a).

    Era portanto natural que as prioridades do Comando da ISAF (COMISAF) e consequentemente das PSYOPS traduzissem estas intenes. A fora de PSYOPS do HQ ISAF, o TPSE (Theatre PSYOPS Support Element) assumiu essas mesmas preocupaes e converteu-as nos seus objectivos, programas e temas definindo a sua misso. Assim sendo, os objectivos do TPSE prendiam-se com a consolidao do recentemente criado RC North, com a necessidade de comear a preparar a expanso para OESTE com vista ao cumprimento do Stage 2 da expanso a todo o territrio, mas sobretudo com o acompanhamento das eleies que constitua o acontecimento mais crtico desde a criao da ISAF em que TPSE desempenharia certamente um papel fundamental fornecendo informao populao e incutindo a necessidade do voto (Vieira, 2008). Paralelamente a estas prioridades, outras linhas de operao mais comuns, constituam tambm programas e temas de PSYOPS como o combate ao trfico ilegal de armas e narcotrfico, a reconstruo do pas, a legitimidade de actuao da ISAF e o apoio e credibilizao do ANA.

    Em Agosto de 2005 o NRDC italiano substitui o NRDC turco e o Tenente-general Mauro del Vecchio assume comando da ISAF VIII. A 13 de Setembro, o UNSC emite a resoluo 1623 que prolonga o mandato da ISAF por mais um ano e a 18 de Setembro, realizam-se as primeiras eleies parlamentares em 30 anos (ISAF, 2008a).

    O TPSE manteve as linhas de operao decorrentes da misso anterior e foi responsvel neste perodo pelo acompanhamento e rescaldo das eleies. As suas preocupaes passaram tambm por preparar a expanso para SUL e por outros assuntos pontuais imprevistos como foi o caso de minimizar a reaco negativa da populao aquando da publicao dos cartoons dinamarqueses sobre o profeta Maom que foram considerados por todo o mundo islmico uma desonra e um desrespeito inaceitvel pela f muulmana. Complementando estes objectivos especficos, outros temas e programas

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    anteriores eram continuados, tal como os relativos aos Direitos das Mulheres, o apoio s foras de segurana nacionais e a reconstruo de infra-estruturas (Vieira, 2008).

    Segundo o Tenente-Coronel Ramos Vieira (2008), as principais dificuldades sentidas nesta poca prendiam-se com o isolamento de Kabul, sede do TPSE. O que obrigava ao deslocamento areo entre Kabul e os PRT, e por vezes, contratao de empresas civis para fazer o transporte, a distribuio e at a disseminao de produtos de PSYOPS. Apesar destas dificuldades a actividade do TPSE, com a Seco de TAA constantemente empenhada no levantamento da situao psicolgica da populao constitua uma mais-valia importante para a campanha psicolgica. Este oficial indicou tambm que os factores que mais influenciavam os resultados das PSYOPS eram o medo de atentados, os spots rdio e televisivos que enfatizavam a aco de grupos anti-foras internacionais e os rumores, estes ltimos, apesar de todos os esforos, constituam a principal fonte de informao da populao.

    Quanto coordenao das actividades de PSYOPS em todo o Afeganisto, o Tenente-Coronel Vieira, afirmou haver calendrio fixo de reunies de avaliao da situao psicolgica com os elementos das unidades de PSYOPS dos RC e PRT e com pessoal afecto s PSYOPS da OEF, onde era feita essa coordenao, no entanto, estas reunies tornaram-se menos frequentes no perodo ps-eleies.

    Em Maio de 2006 a ISAF VIII substituda pela ISAF IX que fica sob comando Britnico do Headquarters Allied Rapid Reaction Corps (HARRC) liderado pelo Tenente-General David Richards. Em 8 de Junho a primeira reunio de todos os ministros da defesa de todos os pases contribuidores (NATO e no NATO) confirmou as intenes da expanso para SUL e a 6 de Julho, a ISAF expande a sua a sua rea de operaes a mais 6 provncias no SUL (ISAF, 2008a).

    A 12 de Setembro de 2006 o UNSC adopta a resoluo 1707 conferindo mais doze meses de mandato ISAF que, a 5 de Outubro de 2006, implementa a sua quarta fase de expanso, passando a comandar as foras internacionais, at ento, ao servio da Coligao da OEF liderada pelas foras dos EUA actuando no ESTE do Afeganisto, assumindo assim, controlo completo de todo o territrio afego (ISAF, 2008a).

    Para garantir segurana, estabilidade e a informao populao durante os dois momentos da expanso (SUL e ESTE) s restantes partes do territrio, o COMISAF (Comander ISAF) apoiou-se na sua fora de PSYOPS do seu HQ. Essa fora sofreu remodelaes originadas pelas novas funes que a ISAF passou a desempenhar nos recentes territrios absorvidos. A expanso criou a necessidade de um comando de PSYOPS mais centralizado e uma execuo mais descentralizada com responsabilidades, neste campo, atribudas aos RC. Assim o TPSE d lugar a uma CJPOTF que passa a ter responsabilidades mais ligadas ao planeamento e coordenao da campanha psicolgica de

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    teatro em acumulao com a execuo no RC Capital enquanto nos restantes RCs, essa execuo era da responsabilidade dos RCPSE (Regional Command PSYOPS Support Element).

    Perante esta expanso da ISAF, a CJPOTF teve que preparar, acompanhar e consolidar a ocupao dos dois RC, obrigando ao desenvolvimento de um grande nmero de actividades de PSYOPS. Paralelamente aos objectivos da expanso, a CJPOTF esteve bastante envolvida no acompanhamento peregrinao a Meca onde aproveitou para reforar a ideia de que as suas aces no eram contrrias ao Islo. A CJPOTF esteve tambm bastante empenhada no desenvolvimento e produo de produtos de PSYOPS destinados a apaziguar o ambiente entre a populao e as tropas da ISAF, que se tinha degradado gravemente depois de uma srie de incidentes. Estes incidentes, em que as foras ISAF reagiam contra elementos da populao que se interpunham entre as viaturas de colunas militares causando algumas baixas entre a populao, estavam a tornar-se frequentes e a contribuir para diminuir a confiana na ISAF. Portanto, foi necessrio informar a populao dos comportamentos a adoptar e a evitar na presena de colunas militares, bem como a informar a populao do que podia ser considerado como ameaa s foras ISAF e como reagir a determinados gestos dos militares (Lopes, 2008).

    Segundo o Capito Gilberto Lopes (2008), a conversao cara-a-cara com a populao era o meio com melhores resultados na populao, no entanto, o esforo de todas as actividades incidia sobre os grandes aglomerados populacionais, em detrimento dos subrbios e das cidades mais pequenas. Acrescia a esta situao, o facto das foras ISAF apenas actuarem nestes locais durante o dia. Estes factores conjugados deixavam estes pequenos aglomerados, mais expostos aos Talibs, especialmente no SUL e ESTE, regies fronteirias com o Paquisto, de onde provem os grupos Talibs e da Al-Qaeda. Esta situao, segundo o Capito Gilberto Lopes, constitui a origem da maior insegurana que se sente no Afeganisto, que conjugada com alguns incidentes que envolvem foras ISAF, vo dar corpo aos objectos da propaganda Talib, obrigando a CJPOTF a estar constantemente a rebater essa propaganda e como consequncia a situao psicolgica no consegue evoluir.

    Em Junho de 2006, a ISAF X, sob comando Norte-americano liderado pelo Tenente-General J. McNeill, substitui a ISAF IX. A 19 de Setembro de 2007, o UNSC emite a resoluo 1776 que prolonga o mandato da ISAF at 13 de Outubro de 2008 (ISAF, 2008a).

    Com todo o territrio ocupado as preocupaes da ISAF e consequentemente da CJPOTF voltavam-se agora (para alm da consolidao da presena ISAF em todo o territrio) para outros assuntos at ento deixados para segundo plano devido importncia do acompanhamento da expanso. Estes so temas mais relacionados com os objectivos apoio e credibilizao das foras nacionais de militares e de segurana, ao desenvolvimento

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    do territrio e educao da populao como motor para esse desenvolvimento (Schierenberg, 2008).

    De acordo com o Tenente-Coronel Michael Schierenberg (2008), durante a ISAF X, a CJPOTF teve grandes dificuldades em corresponder s expectativas do COMISAF, uma vez que nos pequenos aglomerados populacionais, onde a presena da ISAF menos frequente, havia grande dificuldade em conversar com a populao devido s condies de insegurana que se verificavam e hostilidade crescente da populao claramente influenciada pela propaganda Talib que explorava muito bem qualquer erro das foras internacionais. Para a CJPOTF, explicar estes erros, sobretudo quando implicavam baixas entre a populao, era muito difcil se no impossvel. Segundo o Tenente-Coronel Schierenberg, a CJPOTF, era tambm condicionada pela falta de pessoal no seu quadro orgnico, especialmente na Tactical PSYOPS Force (TPF), que era a unidade que contactava directamente com a populao e como tal obtinha melhores resultados. Para alm disso, a TPF gerava algum feedback da situao psicolgica da populao que, dada a falta de recursos humanos, financeiros e temporais necessrios realizao de sondagens nacionais na frequncia necessria, constitua o primeiro mtodo do processo de avaliao de resultados.

    Em Fevereiro de 2008, o Tenente-General McNeill, volta a assumir o comando da ISAF, desta vez, a ISAF XI, actualmente em vigor no territrio afego. Dando continuidade campanha psicolgica desenvolvida durante a misso ISAF anterior, a CJPOTF actuou somente em quatro linhas de operaes (LOP) da ISAF: a segurana, o desenvolvimento, o apoio ao Governo do Afeganisto (GOA) e a aceitao e confiana na ISAF (COMISAF, 2007).

    Neste perodo actual, a principal dificuldade na actuao da ISAF e da CJPOTF, e que constitui tambm a prioridade dos esforos destas foras , segundo o Capito Hugo Rodrigues (2008), a falta de condies de segurana, situao que se tem vindo a degradar nos ltimos anos, mas que segundo o mesmo, apresentam agora alguns sinais de melhoria. No entanto, apresenta-se agora um novo problemas que compromete o processo de desenvolvimento do Afeganisto, que a corrupo no seio das ANSF.

    Em sntese, o apoio das PSYOPS s foras de manobra acompanhou sempre as intenes do COMISAF, no entanto, para a consecuo dos objectivos finais da ISAF no concorrem apenas as unidades de PSYOPS, sendo que, a responsabilidade principal permanece nas foras de manobra. Sobre a adequabilidade do apoio de PSYOPS ISAF e o sucesso em influenciar as TA seleccionadas (que, pelas actividades desenvolvidas, se deduzem ser, de forma geral, a populao local, os lderes da opinio afeg e os lderes e membros de grupos destabilizadores), concluiremos mais frente.

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    III O CONTRIBUTO DAS PSYOPS NO AFEGANISTO

    PSYOPS: a completely legitimate and necessary tool in the toolbox of any stabilization operation (Maloney, 2005).

    1. NA OEF

    O contributo das PSYOPS nos resultados da OEF no pode ser avaliado sem integrar uma componente de deduo e subjectividade. A nica possibilidade de garantir uma avaliao exacta e objectiva da importncia das PSYOPS, no desenrolar da manobra e prossecuo dos objectivos, era comparando a OEF com uma operao com os mesmos objectivos, com as mesmas foras em conflito, no mesmo terreno, na mesma altura, com as mesmas variveis, excepo da existncia de PSYOPS. Como a nica opo que garantiria resultados inquestionveis tambm impossvel de efectuar, resta estudar esta problemtica com base em correlaes entre comportamentos observveis e origens hipotticas dos mesmos, no podendo deixar de integrar alguma subjectividade, tentando, no entanto, reduzir essa subjectividade ao mnimo.

    Ainda sobre o estudo da problemtica, sero comparadas as operaes N Grdio e Enduring Freedom com base nas informaes obtidas sobre as duas, no deixando de considerar as diferenas temporais e situacionais entre ambas.

    1.1. OS RESULTADOS NA OPERAO ENDURING FREEDOM

    Avaliar a influncia das PSYOPS nos resultados e consequncias da OEF seria tanto mais fcil quanto mais orientados para mudanas de comportamento objectivamente observveis fossem os resultados pretendidos, uma vez que a alterao de comportamento a parte verificvel da alterao das atitudes pretendidas (NATO, 2007), sendo esta alterao catalisada pela alterao da percepo de determinado fenmeno especfico. O que se verifica na OEF precisamente o oposto, ou seja, os objectivos psicolgicos designados no so passveis de induzir, nas TA, estados finais psicolgicos objectivamente observveis, ou de outro modo, comportamentos que quando verificados permitem concluir que so fruto das actividades de PSYOPS.

    Nestas condies, o melhor mtodo de avaliao de resultados seria a realizao de estudos estatsticos, incidentes sobre as TA numa fase ps-aco, para de forma directa averiguar a existncia e a origem dos estmulos que incidiram sobre as TA, originando ou inibindo resultados. Mais uma vez, este mtodo ideal, no se torna passvel de ser utilizado, uma vez que as unidades que conduziram PSYOPS na OEF, no dispunham, segundo

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    Lamb (2005), de oportunidade nem de recursos humanos ou econmicos necessrios realizao de tal estudo, inviabilizando ainda mais esta possibilidade, o facto de a coligao no conseguir controlar todo o territrio nem as TA.

    Perante estas limitaes, a avaliao de resultados s se torna possvel estabelecendo uma correlao, com probabilidade varivel, entre os acontecimentos passados e as aces de PSYOPS que possam ter desencadeado, contribudo ou inibido esses acontecimentos.