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ANO 4 Nº 70 • 13 DE ABRIL DE 2018 ISSN 2446-7014 ESCOLA DE GUERRA NAVAL SUPERINTENDÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO NÚCLEO DE AVALIAÇÃO DA CONJUNTURA O Boletim Geocorrente é uma publicação quinzenal do Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), vinculado à Superintendência de Pesquisa e Pós-Graduação (SPP) da Escola de Guerra Naval (EGN). O NAC acompanha a Conjuntura Internacional sob o olhar teórico da Geopolítica, a fim de fornecer mais uma alternativa para a demanda global de informação, tornando-a acessível e integrando a sociedade aos temas de segurança e defesa. Além disso, proporciona a difusão do conhecimento sobre crises e conflitos internacionais procurando corresponder às demandas do Estado-Maior da Armada. O Boletim tem como finalidade a publicação de artigos compactos tratando de assuntos atuais de dez macrorregiões do globo, a saber: América do Sul; América do Norte e Central; África Subsaariana; Oriente Médio e Norte da África; Europa; Rússia e ex-URSS; Sul da Ásia; Leste Asiático; Sudeste Asiático e Oceania; Ártico e Antártica. Ademais, algumas edições contam com a seção “Temas Especiais”. O grupo de pesquisa ligado ao Boletim conta com integrantes de diversas áreas do conhecimento, cuja pluralidade de formações e experiências proporciona uma análise ampla da conjuntura e dos problemas correntes internacionais. Assim, procura-se identificar os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em andamento, bem como seus desdobramentos. NORMAS DE PUBLICAÇÃO Para publicar nesse Boletim, faz-se necessário que o autor seja pesquisador do Grupo de Geopolítica Corrente, do NAC e submeta seu artigo contendo até 350 palavras ao processo avaliativo por pares. Os textos contidos neste Boletim são de responsabilidade única dos autores, não retratando a opinião oficial da EGN ou da Marinha do Brasil. CORRESPONDÊNCIA Escola de Guerra Naval – Superintendência de Pesquisa e Pós- Graduação. Av. Pasteur, 480 - Praia Vermelha – Urca - CEP 22290-255 - Rio de Janeiro/RJ - Brasil TEL.: (21) 2546-9394 | E-mail: [email protected] Os textos do BOLETIM GEOCORRENTE poderão ser encontrados na home page da EGN: <https://www.egn.mar.mil.br/boletimgeocorrente.php> BOLETIM GEOCORRENTE

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ANO 4 • Nº 70 • 13 DE ABRIL DE 2018

ISSN 2446-7014

ESCOLA DE GUERRA NAVALSUPERINTENDÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

NÚCLEO DE AVALIAÇÃO DA CONJUNTURA

O Boletim Geocorrente é uma publicação quinzenal do Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), vinculado à Superintendência de Pesquisa e Pós-Graduação (SPP) da Escola de Guerra Naval (EGN). O NAC acompanha a Conjuntura Internacional sob o olhar teórico da Geopolítica, a fim de fornecer mais uma alternativa para a demanda global de informação, tornando-a acessível e integrando a sociedade aos temas de segurança e defesa. Além disso, proporciona a difusão do conhecimento sobre crises e conflitos internacionais procurando corresponder às demandas do Estado-Maior da Armada.O Boletim tem como finalidade a publicação de artigos compactos tratando de assuntos atuais de dez macrorregiões do globo, a saber: América do Sul; América do Norte e Central; África Subsaariana; Oriente Médio e Norte da África; Europa; Rússia e ex-URSS; Sul da Ásia; Leste Asiático; Sudeste Asiático e Oceania; Ártico e Antártica. Ademais, algumas edições contam com a seção “Temas Especiais”.O grupo de pesquisa ligado ao Boletim conta com integrantes de diversas áreas do conhecimento, cuja pluralidade de formações e experiências proporciona uma análise ampla da conjuntura e dos problemas correntes internacionais. Assim, procura-se identificar os elementos agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos e crises em andamento, bem como seus desdobramentos.

NORMAS DE PUBLICAÇÃOPara publicar nesse Boletim, faz-se necessário que o autor seja pesquisador do Grupo de Geopolítica Corrente, do NAC e submeta seu artigo contendo até 350 palavras ao processo avaliativo por pares.

Os textos contidos neste Boletim são de responsabilidade única dos autores, não retratando a opinião oficial da EGN ou da Marinha do Brasil.

CORRESPONDÊNCIAEscola de Guerra Naval – Superintendência de Pesquisa e Pós-Graduação. Av. Pasteur, 480 - Praia Vermelha – Urca - CEP 22290-255 - Rio de Janeiro/RJ - Brasil TEL.: (21) 2546-9394 | E-mail: [email protected]

Os textos do BOLETIM GEOCORRENTE poderão ser encontrados na home page da EGN:<https://www.egn.mar.mil.br/boletimgeocorrente.php>

BOLETIMGEOCORRENTE

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ÍNDICECONSELHO EDITORIALEDITOR RESPONSÁVELLeonardo Faria de Mattos (egn)

EDITOR CIENTÍFICOFrancisco eduardo aLves de aLMeida (egn)

EDITORES ADJUNTOSJéssica gerMano de LiMa siLva (egn)Luciane noronha Moreira de oLiveira (egn)noeLe de Freitas Peigo (FacaMP)________________________________________________________PEQUISADORES DO NÚCLEO DE AVALIAÇÃO DA CONJUNTURA

ana Luiza coLares carneiro (uFrJ)adriana escosteguy Medronho (ehess)andré Figueiredo nunes (eceMe)ariane dinaLLi Francisco (universität osnabrück)beatriz Mendes garcia Ferreira (uFrJ)beatriz victória aLbuquerque da siLva raMos (egn)caroLina côrtes góis (Puc-rio)carLos henrique Ferreira da siLva Júnior (uFrJ)danieL santos kosinski (universidade de Praga)doMinique Marques de souza (uFrJ)eLy Pereira da siLva Júnior (uerJ)FeLiPe augusto rodoLFo Medeiros (egn)Franco naPoLeão aguiar de aLencastro guiMarães (Puc-rio)gabrieLa Mendes cardiM (uFrJ)gabrieLe Marina MoLina hernandez (uFF)giuLianna bessa reis anveres (Puc-rio)Jéssica Pires barbosa barreto (uerJ)João victor Marques cardoso (unirio)José gabrieL de MeLo Pires (uFrJ)karine Fernandes santos (uFrJ)Lais de MeLLo rüdiger (uFrJ)Louise Marie hureL siLva dias (London schooL oF econoMics)Luciane noronha Moreira de oLiveira (egn)MarceLLe torres aLves okuno (ibMec)Matheus bruno Ferreira aLves Pereira (uFrJ)Matheus souza gaLves Mendes (egn)Pedro aLLeMand Mancebo siLva (uFrJ)Pedro eMiLiano kiLson Ferreira (universidade de santiago)Pedro Mendes Martins (uerJ) PhiLiPe aLexandre Junqueira (uerJ) rebeca vitória aLves Leite (uFrJ)rita de cássia oLiveira FeodriPPe (egn)rodrigo abreu de barceLLos ribeiro (uFrJ)steFany Lucchesi siMões (unesP)taynara rodrigues custódio (uFrJ)thaïs abygaëLLe dedeo (uFrJ)thayná Fernandes aLves ribeiro (uFrJ)victor eduardo kaLiL gasPar FiLho (Puc-rio)vinícius de aLMeida costa (egn)vinicius guiMarães reis gonçaLves (uFrJ)vivian de Mattos Marciano (uFrJ)

Ameaças à segurança da fronteira colombo-equatoriana ................................. 3Desdobramentos históricos da Guerra do Pacífico ........................................... 3

Os desafios da Força de Submarinos do Canadá ............................................. 4

Gana: a nova sede do AFRICOM? .................................................................... 4Herança colonial e autoritarismo nos Camarões ............................................... 5

Brexit: período de transição e indústria pesqueira ............................................ 6

Arábia Saudita nuclear? .................................................................................... 6A guerra por procuração no Iêmen .................................................................... 7

O impacto da crise Skripal nas relações com o Reino Unido ............................ 7

O papel de Washington nas tensões entre Pequim e Taipei ............................. 8A pesquisa científica como elemento do poder marítimo chinês ....................... 9Coreia do Sul e EUA mostram avanços no diálogo com Pyongyang ................ 9

“O príncipe” indiano em xeque e a deterioração da política regional indiana .. 10

A importância comercial do Sudeste Asiático para China ................................ 10

A segunda expedição científica turca na Antártica ........................................... 11

A problemática das bandeiras de conveniência ............................................... 11

AMÉRICA DO NORTE & CENTRAL

ÁFRICA SUBSAARIANA

EUROPA

AMÉRICA DO SUL

RÚSSIA & EX-URSS

LESTE ASIÁTICO

OCEANIA & SUDESTE ASIÁTICO

Referências............................................................ 13

SUL DA ÁSIA

Artigos Selecionados & Notícias de Defesa........... 12

TEMAS ESPECIAIS

ORIENTE MÉDIO & NORTE DA ÁFRICA

Calendário Geocorrente......................................... 12

ANTÁRTICA & ÁRTICO

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Os últimos dias do mês de março foram marcados por mais um episódio de violência na fronteira do Equador

com a Colômbia, quando três jornalistas equatorianos foram sequestrados por membros dissidentes das FARC. A motivação do ato se deu pela tentativa de negociação da libertação de três membros do grupo, presos no Equador.

De acordo com a mídia local, os ataques perpetrados na região são de responsabilidade de um grupo dissidente, o qual estima-se conter 500 membros, liderado pelo equatoriano “Guacho”. Desde o ano anterior, apesar dos avanços significativos do Acordo de Paz, ocorreu uma escalada de violência, sobretudo entre as províncias fronteiriças de Nariño (Colômbia) e Esmeraldas (Equador), onde se localiza aproximadamente metade dos membros da dissidência.

As atividades criminosas na fronteira colombo-equatoriana atualmente são as principais fontes de preocupação de ambos os governos. Previamente, no início do ano, líderes de ambos os países firmaram acordos

de segurança que, acima de tudo, previam um plano de ação decorrente da coordenação de políticas públicas para combater o tráfico de drogas, o crime organizado e as dissidências das FARC, uma vez que as principais atividades referentes ao narcotráfico na área fronteiriça estão diretamente relacionadas a esses grupos.

Os acordos bilaterais podem ser estrategicamente mais eficientes para conter tais ameaças, sobretudo porque ações conjuntas na fronteira podem evitar crises diplomáticas entre os dois países, como já ocorreu anteriormente, devido a decisões unilaterais tomadas pela Colômbia. Em todo caso, os recentes acontecimentos apontam para uma possível desestabilização da segurança interna no Equador, gerada por uma rearticulação das guerrilhas atuantes na fronteira. Já para a Colômbia, apesar da ocorrência de uma transição histórica conduzida através do Acordo de Paz, os antigos problemas de violência no país ainda estão longe de chegar ao fim.

Ameaças à segurança da fronteira colombo-equatorianaBeatriz Mendes

AMÉRICA DO SUL

Fonte: Blog Outras Palavras

A Guerra do Pacífico (1879-1883) foi um conflito que fundamentou os processos históricos de consolidação

dos Estados boliviano, chileno e peruano, cujos desdobramentos definem a política internacional da região na contemporaneidade. No caso chileno, a identidade nacional construiu-se a partir do século XIX, no contexto desta guerra, em torno de conceitos como legalidade, estabilidade e respeito à institucionalidade. Para a Bolívia, no entanto, a Guerra do Pacífico representou um processo histórico, utilizado para a construção de um ideal nacional, mediante cenário étnico altamente heterogêneo e diversificado. Como consequência do conflito, a Bolívia perdeu seu acesso ao mar, território hoje sob a jurisdição chilena, tornando-se essa sua principal reivindicação geopolítica.

O embrião do confronto se desenvolveu da crescente importância econômica das riquezas naturais encontradas no atual norte chileno, territórios pertencentes, à época, ao Peru e à Bolívia. Os desenlaces da guerra compõem os quadros da geopolítica latino-americana, uma vez que a ocupação chilena do porto de Antofagasta, bem como a derrota militar da

aliança Peru-Bolívia, desenrolam-se na assinatura do Pacto de “Trégua Indefinida”, em 1884, que desenhou os atuais

Desdobramentos históricos da Guerra do PacíficoPedro Kilson

AMÉRICA DO NORTE & CENTRAL

ÁFRICA SUBSAARIANA

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No fim de março, o submarino canadense HMCS “Chicoutimi” regressou para a base em Esquimalt,

Columbia Britânica, após 197 dias na região da Ásia-Pacífico. Tendo como principal missão, segundo o governo do país, “apoiar a estratégia de engajamento global do Canadá por meio de parcerias estratégicas, visitas a portos e interações operacionais”. O submarino foi o primeiro, em quase 50 anos, a operar na região, além de ter constituído a operação mais longa dos submarinos da classe “Victoria” até hoje. Na primeira metade de 2017, o país já havia enviado duas fragatas para a área – HMCS “Ottawa” e HMCS “Winnipeg” – para evidenciar a importância estratégica e aumentar a interoperabilidade entre Marinhas aliadas, em especial com a japonesa.

Além de operar com forças aliadas, como a Marinha dos Estados Unidos e a Marinha Real Australiana, o submarino visitou a base naval de Yokosuka, no Japão. Outro ponto de destaque foi a participação do Canadá no USN-JMSDF “AnnualEX”, exercício originalmente bilateral entre Japão e EUA na região, sendo a primeira vez que uma Marinha exógena participou desse exercício.

Embarcação de origem britânica, o HMCS “Chicoutimi”

forma, com mais três da mesma classe, a força de submarinos da Canadian Royal Navy. Originalmente pertencentes à classe “Upholder Type 2400” da Royal Navy, foram os últimos submarinos convencionais produzidos pelo Reino Unido, sendo transferidos para o Canadá em 1998. Apesar de vários reparos ao longo dos últimos anos, a Marinha afirma que a classe pode ser mantida em serviço até 2030.

Em maio de 2017, um relatório do comitê permanente do Senado sobre segurança nacional e defesa apontou para a necessidade de investimento na renovação da força de submarinos para defesa da costa do país e, principalmente, para a dinâmica na região do Ártico. Afirmando que outros países já estão entrando no “jogo dos submarinos”, principalmente desenvolvendo capacidades nucleares, o documento traz como ideal a aquisição de 12 novos submarinos. Isso enalteceu no país o debate sobre o custo desse novo investimento e a possibilidade de aquisição de submarinos híbridos; entretanto, nada foi mencionado no National Shipbuilding Strategy (2010) ou na revisão da política de defesa canadense lançada pelo primeiro-ministro Justin Trudeau, em 2017.

Os desafios da Força de Submarinos do CanadáJéssica Barreto

AMÉRICA DO NORTE & CENTRAL

contornos nacionais boliviano e chileno. Sob a interpretação de uma desvantagem histórica, em 19 de março de 2018, foram abertos os espaços de argumentação perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia.

Apesar da garantia do livre trânsito de bens bolivianos aos portos chilenos e a construção da ferrovia Arica-La Paz, as relações entre os países, desde o conflito, são marcadas pelo ressentimento boliviano, em razão de fortes prejuízos econômicos acarretados ao país, além de tensões diplomáticas. Em Haia, o argumento boliviano se fundamentou na obrigação jurídica, derivada de acordos e

negociações, asseverando o caráter de imposição do Tratado de Paz e Amizade de 1904, que finalizou formalmente o conflito. A comitiva chilena, em contrapartida, embasou seu posicionamento na ausência de uma formalidade dos compromissos adotados, mantendo sua histórica posição de negação em ceder seu espaço territorial e marítimo. Concluída a fase de audiências orais, os magistrados de Haia deverão emitir uma decisão, num período de quatro a oito meses, cujo contexto é marcado pela reafirmação da soberania do território chileno, nos discursos de Sebastián Piñera, e pela campanha à reeleição do boliviano Evo Morales, em 2019.

Um novo acordo entre os EUA e Gana pode representar uma inflexão na política do governo de Donald Trump

para a África. Pelos termos do acordo, as Forças Armadas dos EUA receberiam acesso às instalações militares de

Gana: a nova sede do AFRICOM?

Franco Alencastro

ÁFRICA SUBSAARIANA

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Segundo o governo de Camarões, em 2 de abril, o Exército libertou dezoito reféns, incluindo doze

turistas europeus, após um suposto sequestro orquestrado por separatistas anglófonos. O porta-voz do governo os denominou de “terroristas secessionistas”, os defensores da Ambazônia – um novo Estado independente do francófono Camarões. O Ambazonian Defence Force, principal grupo separatista, negou qualquer envolvimento, sobretudo no sequestro de estrangeiros. A agência de turismo responsável pelos europeus negou o sequestro, informando que houve apenas uma breve abordagem não violenta num checkpoint, seguida de liberação.

Prolongando-se desde 2017, a crise camaronesa (Boletins 62 e 67), é uma resposta à herança colonial, quando a região da Ambazônia, controlada pelo Reino Unido, decidiu em 1961, via referendo, o seu destino político. Não houve a opção pela independência, pois, segundo análise da Stratfor, contrariar-se-ia a política pós-colonial inglesa em fortalecer o vizinho nigeriano. Uma parcela desse território atendeu a união com a Nigéria, outra parcela, contudo, sob a promessa de autonomia regional, decidiu pela permanência em Camarões. Tal região, atualmente, é o epicentro da crise, à medida que a autonomia jamais foi cumprida diante do autoritarismo do governo Ahmadou Ahidjo (1960-1982), tampouco pelo

sistema partidário dominante do sucessor e atual Presidente Paul Biya, cujo partido, nas eleições de março, venceu 63 dos 70 assentos do Congresso. Dessa forma, a insurreição das zonas anglófonas, alegando a marginalização das minorias de língua inglesa, dirige-se contra a centralização e a "francesização" da capital, Yaoundé.

Tal como no período colonial, quando o controle francês sobre a maior parte de Camarões fora decisivo para comportar o acesso à terra, recursos agrícolas e minerais, além do evidente ponto estratégico no Golfo da Guiné, capaz de garantir suprimentos via Porto de Douala aos seus territórios no centro da África (atual Chade e República Centro-Africana), a relevância geopolítica de Camarões se conserva na atualidade. Por fim, tornando-se evidente a herança colonial do conflito, bem como o risco da instabilidade, cabe observar a disputa por narrativas entre as forças políticas sobre a realidade dos fatos, conforme observado no primeiro parágrafo.Considerado um país estável, os Camarões se encontram à beira do limite intrínseco ao autoritarismo, de modo que necessita de alternativa capaz de reorganizar as forças sociais e conferir institucionalmente a representatividade necessária às minorias, caso contrário, o transbordamento regional poderá ser inegável.

Herança colonial e autoritarismo nos CamarõesJoão Victor Marques

ORIENTE MÉDIO & NORTE DA ÁFRICA

Gana e poderiam manter tropas no país enquanto que as suas Forças Armadas receberiam US$ 20 milhões em treinamento e equipamentos. A oposição ao presidente Nana Afuko Addo, que negociou o acordo, organizou protestos contra sua celebração e acusa o acordo de ser o prelúdio de uma presença militar permanente dos EUA em Gana.

Embora tanto as autoridades de Gana como as norte-americanas destaquem que o objetivo não é o estabelecimento de uma base militar americana no país - que se tornaria a segunda no continente, depois da localizada no Djibuti - elementos do acordo, como sua duração por tempo indeterminado, concessão de uso exclusivo de certas instalações pelas FFAA norte-americana e permissão para treinamento de tropas norte-americanas no território de Gana, assemelham-se às prerrogativas de uma base militar. Especula-se, ainda, que o objetivo futuro do acordo seja o estabelecimento da sede do AFRICOM, o comando e controle das forças norte-americanas que atuam no

continente africano. Criado em 2008, o AFRICOM é, até o momento, sediado em Stuttgart, Alemanha.

Além da possível ingerência que a presença militar norte-americana poderia provocar no país do Golfo da Guiné, a principal preocupação dos opositores ao acordo é que ela poderia atrair atividade extremista para o território do país africano, a exemplo de grupos que atuam em países da região, como o Boko Haram e a Al Qaeda do Maghreb Islâmico (AQMI). Apesar do radicalismo religioso não ser significativo em Gana, a AQMI vem estendendo seus ataques para o sul, como no recente atentado em Burkina Faso e os ataques em Gana não podem ser desconsiderados. Quanto ao Brasil, o aumento da presença militar norte-americana em Gana, parte da área de interesse estratégico, pode representar uma perda relativa da influência brasileira na região; Gana foi um dos países que apoiou, em 1987, a criação das ZOPACAS, e a única embaixada de Gana na América do Sul se localiza no Brasil.

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ORIENTE MÉDIO & NORTE DA ÁFRICA

Em março, Reino Unido e União Europeia (UE) chegaram a um acordo sobre um período de transição

no qual ambas as partes teriam tempo de implementar o novo regime da relação pós-Brexit. Esse período de transição deve vigorar entre março de 2019 e dezembro de 2020. Com isso, algumas mudanças nas tratativas entre ambos serão realizadas paulatinamente ao longo desse intervalo de tempo, enquanto outras somente poderão entrar em vigência a partir de janeiro de 2021.

Uma das maiores críticas a esse acordo diz respeito à manutenção do Reino Unido no Common Fisheries Policy (CFP), a política de pesca da UE, uma das questões que só será estabelecida em 2021. A expectativa era de que o Reino Unido recuperasse a soberania de suas águas jurisdicionais até 200 milhas náuticas (ZEE), já que a CFP permite a pesca nas ZEE de quaisquer países-membros da UE.

A indústria pesqueira britânica não representa grande impacto na economia do país, apenas £ 1,4 bilhões (0,12% de valor agregado). Entretanto, mais da metade está baseada na Escócia, onde há forte impacto local em empregos, negócios e embarcações. Em 2014, cerca de

58% do pescado dentro da ZEE britânica foi apanhado por embarcações oriundas da UE, representando cerca de 650 mil toneladas de peixe — mais de £ 400 milhões por ano. Por outro lado, em 2015, o Reino Unido pescou entre 90 e 150 mil toneladas em ZEE da UE, representando cerca de £ 90 a £ 170 milhões.

Ademais, a frota cada vez mais reduzida de embarcações pesqueiras do país, que vem decrescendo desde 1976 (Guerra do Bacalhau), pode ser um atenuante. Segundo a Convenção de Montego Bay (1982), um Estado costeiro que não possua capacidade de capturar, em sua totalidade, os recursos vivos de sua ZEE, deve permitir que outros tenham acesso ao excedente dessa captura. Ainda, deve ser concedido o direito tradicional de pesca a Estados vizinhos (Boletim 57), o que ocorreu em larga escala nas águas britânicas nos últimos anos.

A questão da pesca no Reino Unido está longe de ter um fim satisfatório para os que vivem dela. Além disso, será um constante problema para os governantes conseguirem um bom acordo sobre essa política e ainda assegurarem a soberania de suas águas jurisdicionais.

Brexit: período de transição e indústria pesqueira

Matheus Mendes

Arábia Saudita nuclear?André Nunes

No dia 19 de março, em entrevista à rede de televisão norte-americana CBS, quando perguntado se a

Arábia Saudita precisaria de armamento nuclear para conter o Irã, o príncipe herdeiro, e atual ministro da defesa saudita, Mohammed bin Salman, respondeu: “A Arábia Saudita não quer adquirir nenhuma bomba nuclear, mas, sem dúvida, se o Irã desenvolver uma bomba nuclear, seguiremos o mesmo caminho o mais rápido possível”.

A declaração do príncipe demonstra que, no mínimo, Riad possui planos para o desenvolvimento de tecnologia nuclear para fins militares e que o colapso do acordo iraniano de 2015 pode levar a uma corrida armamentista nuclear no Oriente Médio. Vale ressaltar que 12 de maio foi o prazo estipulado pelo presidente Donald Trump para a recertificação do acordo com Alemanha, França

e Reino Unido. Durante o período de visita oficial de aproximadamente

duas semanas aos Estados Unidos, iniciado no mesmo dia da entrevista à CBS, é possível que o príncipe tenha procurado influenciar a administração Trump de forma a fazer valer alguns dos interesses sauditas na possível renegociação do acordo nuclear iraniano. Isto ocorreu pouco mais de um mês antes do deadline definido pelo presidente norte-americano.

Além da questão envolvendo o Irã, a Arábia Saudita tem procurado adquirir tecnologia para construção de reatores nucleares que diversifiquem sua matriz energética calcada em fontes de combustíveis fósseis. De acordo com os dados do BP Statistical Review of World Energy 2017, o Estado saudita é o maior consumidor de petróleo

EUROPA

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No último mês, completaram-se três anos desde o início da guerra civil no Iêmen, um dos maiores conflitos

reconhecidos entre sunitas e xiitas da região. O Iêmen vive esse cenário de guerra desde março de 2015, momento em que os primeiros ataques aéreos se concretizaram, causando um deslocamento interno de aproximadamente 2 milhões de pessoas.

Os principais atores são as forças do governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi, apoiadas pela Arábia Saudita em uma coalizão sunita, e os rebeldes Houthis, de natureza xiita e apoiados pelo Irã. As instabilidades no país se intensificaram após a Primavera Árabe em 2011, quando diversas problemáticas se tornaram cada vez mais perceptíveis e membros do grupo rebelde dos Houthis aproveitaram a fragilidade da região em diversas tentativas de dominação, obtendo sucesso ao ocupar Sanãa, capital do país, em 2014.

O conflito no Iêmen pode ser caracterizado como um ensaio de guerra convencional entre Irã e Arábia Saudita, sendo, o território iemenita o laboratório desse ensaio. Em uma tentativa de sobrevivência diária, a população enfrenta, além dos ataques e conflitos armados, questões como insegurança alimentar e insuficiência do serviço de saúde, juntamente ao rápido alastramento de doenças, como a cólera. A estimativa da ONU é de que 8,4 milhões de pessoas correm o risco de perder a vida devido à fome que assola a população, e 22 milhões necessitam de ajuda humanitária imediata. Nas zonas

controladas por rebeldes, os dados chegam a 10 mil mortes, dentre elas mais de 2 mil crianças. Como apoio, no último dia 3, ocorreu em Genebra uma conferência da ONU focada na arrecadação de doações financeiras, visando responder às demandas da população iemenita com o valor prometido de até US$ 2 bilhões.

O Iêmen possui uma importante posição estratégica, visto que se localiza no estreito de Bab-el-Mandeb, o qual faz ligação com o continente africano sendo uma rota estratégica de navios petroleiros. O país passa por uma grave crise e não há perspectivas para uma melhoria do cenário, perpetuando o sentimento de incerteza e insegurança da população e dos países vizinhos, que lidam com as constantes violações de direitos humanos, intensas migrações forçadas, preocupações quanto às insurgências e escalada de violência.

A guerra por procuração no Iêmen

RÚSSIA & EX-URSS

Ana Luiza Carneiro

No dia 4 de março, o ex-espião russo Sergei Skripal foi envenenado, junto com sua filha Yulia, em Salisbury,

Londres. Skripal era coronel do Serviço de Inteligência Militar russo (GRU, sigla em russo) e, até 2004, trabalhou

como informante da inteligência britânica. Em 2006, foi julgado e condenado por alta traição a 13 anos de prisão, além de perder patente e títulos. Entretanto, em 2010, no mandato de Medvedev, foi enviado para Londres em uma

O impacto da crise Skripal nas relações com o Reino UnidoJosé Gabriel Melo

do Oriente Médio e o 5° maior consumidor mundial, à frente de países como o Brasil, que possui uma população quase sete vezes maior. O bioma desértico, o calor, e o investimento em plantas de dessalinização de água são algumas das razões do grande dispêndio energético do Estado árabe.

A Arábia Saudita tem privilegiado a tecnologia nuclear americana, mas também tem negociado com outros países,

como Rússia, França, China e Japão. No entanto, existe certa dificuldade de dissociação dos programas civil e militar do Estado árabe, pois Riad tem se recusado a aceitar um acordo que proíba o enriquecimento de urânio a ponto de produzir combustível nuclear e o reprocessamento de plutônio, o que possibilitaria o desenvolvimento do armamento nuclear.

Fonte: Geopolitical Futures

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RÚSSIA & EX-URSS

LESTE ASIÁTICO

De um lado, Taiwan, considerada uma “província rebelde” pela China, é apoiada pelos Estados

Unidos (EUA), seu maior fornecedor de armamentos, e discursa em prol de independência. De outro, o presidente Xi Jinping, no Congresso Nacional do Povo, faz uma manifestação de caráter altamente nacionalista, alertando que aqueles que se opuserem à China receberão “a maior punição da história”.

O apoio de Washington a Taiwan, segundo Alex Wong, subsecretário de Estado adjunto dos EUA, “nunca esteve tão forte”. A ilha foi o sexto maior comprador de armas norte-americanas em 2016, com cifras que ultrapassaram a marca de US$ 1 bilhão. Mais recentemente, avançaram as licenças para que empresas de defesa dos EUA disponibilizem tecnologia de submarino para Taipei, de forma a auxiliar o desenvolvimento e a construção nacional desse tipo de navio no país.

Além disso, a administração Trump ratificou, em março, uma lei que encoraja o envio de funcionários norte-americanos de alto escalão para Taiwan e vice-versa. A mesma estabelece um nível de interação entre

burocratas, que é reservado, geralmente, a países com os quais os EUA possuem laços diplomáticos como antigos aliados.

Essa decisão cria desconfianças ainda maiores entre o continente e a ilha, pois Taiwan não é considerado um Estado soberano, e sim parte integrante do território chinês. O apoio demonstrado agora pelo presidente Trump marca uma posição dissidente, que desagrada a Pequim, indo de encontro à afirmação, no início do mandato, de que os EUA concordavam com a política da “China Única”. As inquietações são agravadas pela constante presença do navio porta-aviões chinês, que realiza exercícios com outros navios no estreito de Taiwan.

As tensões na região, que são elevadas devido à ocupação chinesa das ilhas no Mar do Sul da China, à corrida econômica-militar e à questão nuclear da Coreia do Norte, ganham contornos ainda mais preocupantes com esse acirramento no triângulo Pequim - Taipei - Washington.

O papel de Washington nas tensões entre Pequim e TaipeiGiulianna Anveres

troca de espiões feita com o governo britânico.O ataque a Skripal foi visto como uma afronta à

soberania britânica. Em discurso, a primeira-ministra, Theresa May, acusou Moscou de estar por trás do acontecido e expulsou 23 diplomatas russos do país. O caso foi pauta no encontro do Conselho Europeu, nos dias 22 e 23 de março, onde houve uma pressão para uma resposta em bloco, que resultou na expulsão de mais de 100 diplomatas russos de cerca de 28 países. A OTAN também se posicionou sobre o caso, reduzindo o número de representantes russos na organização. De acordo com o secretário geral, Jens Stoltenberg, a resposta em bloco tem como objetivo mostrar ao Kremlin os custos de um comportamento como esse.

A porta-voz do governo russo declarou que são acusações infundadas e que os britânicos estariam ignorando o protocolo estabelecido pela Organização

pela Proibição das Armas Químicas para casos como esse. Por outro lado, o Kremlin também suspendeu a construção do Consulado Geral Britânico em São Petersburgo, revogou as atividades do Conselho Britânico na Rússia e fechou o Consulado norte-americano em São Petersburgo.

Esse confronto de narrativas traz efeitos reais: a linha de investigação seguida pelos britânicos aponta o Kremlin como mandante, e Moscou, por sua vez, utiliza essas acusações para alimentar um discurso de russofobia por parte do Ocidente. O caso é nebuloso e talvez permaneça sem solução, mas o que chama a atenção é o Reino Unido ter conseguido uma resposta coordenada de grandes proporções contra a Rússia, uma reação que reforça a percepção de quanto os europeus temem a volta do protagonismo internacional russo.

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A exploração em águas profundas é uma atividade científica em que a China tem investido nos últimos

anos, impulsionada pela contínua confirmação acerca da riqueza mineral do leito marinho. Em 4 de abril, o submersível não-tripulado Hailong III mergulhou mais de quatro quilômetros abaixo da superfície do Oceano Pacífico, conforme informado pela agência de notícias Xinhua. O equipamento é parte de um aparato tecnológico desenvolvido pelo país em sua estratégia de mapeamento geológico de recursos naturais, sujeitos ao aproveitamento econômico.

Afirmando o potencial científico no mar, o Estado chinês está engajado numa grande missão de conhecimento e defesa do que considera seus interesses e direitos marítimos. Das iniciativas polares, no Ártico e na Antártica, aos investimentos em vigilância e presença, nos mares do Leste e do Sul da China, Pequim reafirma o caráter abrangente da construção de seu poder marítimo. Esquadras modernas e ilhas artificiais são parte do jogo político que pretende integrar as atividades econômicas e militares de um país que tradicionalmente esteve voltado para o continente.

Em conjunto com o emprego da força naval, seja na

forma da Marinha do Exército de Libertação Popular ou da recentemente militarizada Guarda Costeira, os chineses utilizam instituições civis, como a Agência Estatal Oceânica, para consolidar seu domínio em águas regionais. Holmes e Yoshihara (2009) apontam para a qualidade mahaniana da estratégia marítima chinesa, que busca o comando do mar de forma completa e perene, não apenas no exercício de negação da movimentação inimiga, como também na associação indivisível entre prosperidade comercial e primazia naval.

Nesse sentido, a compreensão de que a China é uma nação oceânica reverbera a percepção de Mahan de que o poder marítimo não pode ser dissociado da grandeza nacional, ou seja, a transformação do país em uma potência marítima depende, necessariamente, do fortalecimento de outras áreas. Operando o binômio de C&T como instrumento em benefício da estratégia, o governo chinês demonstra uma leitura contemporânea do sistema internacional, em que a integração civil-militar se aprofunda no reforço mútuo de capacidades multidimensionais.

A pesquisa científica como elemento do poder marítimo chinês

Rita Feodrippe

O cenário político da Península Coreana passou por significativas mudanças nos últimos dois meses,

devido aos esforços do presidente sul-coreano, Moon Jae-in, em buscar o equilíbrio entre a reaproximação com o regime vizinho e a manutenção da aliança com os Estados Unidos. Nesse período, Coreia do Sul e Coreia do Norte apresentaram casos exitosos de cooperação e, como resultado, acordaram em realizar uma cúpula intercoreana, marcada para o dia 27 de abril em Panmunjom, na zona desmilitarizada. O encontro não será o primeiro entre presidentes coreanos. Em 2000 e 2007 também ocorreram cúpulas, ambas durante o período em que a Coreia do Sul se engajou na reconciliação com o regime norte-coreano através da Sunshine Policy.

Entretanto, há um fator que não esteve presente nas ocasiões anteriores: a predisposição norte-americana para dialogar bilateralmente com Pyongyang sobre a desnuclearização da península. No mês passado, Trump informou que aceitaria a proposta de Kim Jong-un para a realização do primeiro encontro entre presidentes dos dois países, previsto para acontecer no final de maio. A notícia foi bem recebida pelos aliados norte-americanos, bem como

pela China – que parece apoiar a decisão de Kim, apesar de se manter receosa sobre a influência dos Estados Unidos na região. Ademais, o possível encontro despertou otimismo em relação à retomada do Six-party talks, plataforma de diálogo multilateral composta por Coreia do Sul, Coreia do Norte, Estados Unidos, China, Japão e Rússia, estagnado desde 2008.

Embora o contexto atual indique a possibilidade de desenvolvimento das discussões para alcançar a resolução do conflito e a desnuclearização da península, é importante que as expectativas não sejam elevadas, dado que essa não é a primeira vez que a Coreia do Norte se mostra disposta a negociar o assunto. A questão dificilmente será resolvida em um único encontro e, no que se refere ao propósito norte-americano, Trump busca uma desnuclearização completa e verificável – o que requer um grande esforço e vontade de todas as partes envolvidas. Contudo, o momento deve ser visto como uma grande oportunidade de progresso, sobretudo pela Coreia do Sul, que conseguiu assumir uma posição de protagonismo nesse cenário de repercussão mundial.

Coreia do Sul e Estados Unidos mostram avanços no diálogo com Pyongyang

Ely Pereira

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SUL DA ÁSIA

Nos últimos boletins, foram comentadas as recentes iniciativas da Índia para o Oriente Médio, ressaltando-

se a crescente assertividade que o país sul-asiático está assumindo em relação à sua política Link West. Todavia, a tendência em relação ao Mediterrâneo não consegue ser repetida no entorno de interesse primário da Índia, onde o país encontra, atualmente, dificuldade em se projetar. Na última das tensões, o governo das Ilhas Maldivas anunciou que pretende devolver um helicóptero dado por Nova Délhi entre 2010 e 2011.

Na filosofia política hindu antiga, um dos pontos de maior destaque quanto ao papel do líder é o cortejo aos vizinhos amistosos de modo a manter não só a influência, mas também a segurança regional. Segundo esse pensamento, faz-se importante criar uma boa imagem de si e aprofundar os laços para evitar hostilidades.

Tais premissas estiveram presentes durante boa parte do governo de Narendra Modi. Através do carisma, o primeiro-ministro indiano inspirou confiança quanto ao relacionamento de Nova Délhi em relação ao Sul da

Ásia. No entanto, dois aspectos centrais minaram seus esforços nos últimos meses: primeiramente, o caráter intervencionista em relação à política doméstica de países como Nepal e Bangladesh. Em segundo lugar, a reticência indiana em assumir o papel de liderança em questões regionais, como no caso dos rohingyas, o não cumprimento da promessa de fornecer treinamento para o exército das Maldivas, e a falta de uma resposta clara quanto à oportunidade oferecida pelo Sri Lanka para investir na infraestrutura do país.

Todos estes aspectos geram um vácuo de liderança no Sul da Ásia que está sendo paulatinamente ocupado pela China, e demonstram as fragilidades que persistem na política externa da Índia e, em última instância, na sua estratégia marítima – como ilustrado pelo exemplo das Maldivas. O ambiente regional de desconfiança coloca em xeque os fundamentos clássicos da inserção indiana em seu entorno mais importante e deteriora o já frágil ambiente de segurança do Sul da Ásia.

“O príncipe” indiano em xeque e a deterioração da política regional indianaLuciane Noronha

OCEANIA & SUDESTE ASIÁTICO

No fim de março, ocorreu em Vientiane, capital do Laos, a Semana Lacang-Mekong, com o encontro de

representantes dos países participantes da Lacang-Mekong Cooperation (LMC). A LMC é um instrumento que tem por objetivo consolidar a prática de colaboração entre países na sub-região estabelecida por Camboja, China, Laos, Mianmar, Tailândia e Vietnã – os quais usufruem dos recursos do Rio Mekong. O evento discutiu as políticas de proteção ambiental, sobretudo em relação à poluição da água.

O embaixador da China em Laos, Wang Wentian, afirmou que a LMC está entrando em uma nova fase, passando do período de “nutrição” para o de “crescimento”, ressaltando também os ótimos resultados obtidos até o momento.

O rio é responsável pelo abastecimento de 60 milhões de pessoas, que utilizam seus recursos principalmente para fornecimento de alimentos, água e transporte, conectando o interior do Sudeste Asiático com os portos ocidentais da

China. A LMC apresenta-se como uma cooperação entre os países para o desenvolvimento e a manutenção dos mesmos ao longo do rio e de seus afluentes, consistindo em rota fluvial fundamental para o comércio entre essas nações.

A China é a principal investidora na cooperação, financiando empréstimos que, no total, passam da marca de dois bilhões de dólares e são voltados para a infraestrutura e o aumento da capacidade de produção. Além disso, projetos têm sido elaborados, sob a liderança chinesa, para o desenvolvimento industrial, comercial e agrícola da região, além da busca pela diminuição da pobreza e da pesquisa voltada para questões sobre fontes hídricas.

Deve-se atentar para a importância da iniciativa para Pequim, não só sob o aspecto de influência regional e aperfeiçoamento de sua imagem frente aos vizinhos, mas principalmente em vista do potencial comercial existente. Somada a isso, está em curso a construção das estradas de

A importância comercial do Sudeste Asiático para ChinaMatheus Bruno Alves

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ARTIGOS SELECIONADOS E NOTÍCIAS DE DEFESA

TEMAS ESPECIAIS

Um relatório publicado em março pela organização Internacional Oceana identificou que alguns navios

de pesca comercial estavam desligando seus sistemas de rastreamento (Automated Identification System - AIS) quando se aproximavam de áreas de reserva ambiental marinhas ou águas nacionais de outros países. Em outubro de 2014, o navio de bandeira panamenha, Tiuna, desligou seu sinal por 15 dias quando se aproximou da zona econômica exclusiva e reserva marinha de Galápagos, no Equador. Galápagos conta com espécies de alto valor comercial, que estão em situação de vulnerabilidade. A postura em regiões como essa levanta suspeitas de que o navio poderia estar realizando pesca ilegal.

Panamá, Libéria e Ilhas Marshall são as três principais bandeiras de registro e internacionalmente conhecidas por atuarem como bandeiras de conveniência. Todo navio deve possuir uma bandeira, ou seja, um registro que determine a qual país e, consequentemente, a quais leis ele está

vinculado. Segundo dados da UNCTAD, mais de 70% da frota comercial mundial está registrada sob uma bandeira que é diferente do Estado de propriedade do navio. Há armadores que registram navios em outros países, nos quais as taxas de registro são mais baixas. A legislação relativa à segurança do navio é mais fraca, ou então não existe tanta fiscalização para garantir o cumprimento das regras. Nesses países, os direitos trabalhistas não costumam ser respeitados, portanto, os custos relacionados ao registro nesses países são mais baixos e mais atrativos aos armadores. A esses países dá-se o nome de "países de bandeira de conveniência".

A comunidade internacional vê as práticas das bandeiras de conveniência como arriscadas à segurança da vida humana no mar e da navegação. Os navios que arvoram bandeiras de conveniência não costumam manter as condições mínimas de segurança estipuladas internacionalmente, o que pode ocasionar acidentes. Tais acidentes envolvem não só a perda da carga, o que afeta o seguro, mas também desastres naturais, no caso de navios petroleiros. Em busca do lucro,

A problemática das bandeiras de conveniência

Beatriz Albuquerque

ferro China-Laos e China-Tailândia. Torna-se nítido, pois, a importância do LMC para que a China alcance os seus

objetivos comerciais, tanto na região, quanto em seu projeto geopolítico maior: a Iniciativa Cinturão e Rota.

ÁRTICO & ANTÁRTICA

A Turquia finalizou sua segunda expedição científica na Antártica. Os trabalhos, que foram iniciados no fim

de fevereiro, tiveram a duração de aproximadamente um mês e contaram com a participação de 28 pesquisadores focados em temas como movimentos sísmicos e evolução de espécies. Este número é significativamente maior do que o do ano passado, quando o país realizou sua primeira expedição ao continente gelado, contando com apenas 9 pesquisadores.

Segundo o ministro da indústria e da tecnologia, Faruk Özlü, estas expedições fazem parte do novo programa antártico turco, que tem por objetivo colocar a Turquia como o 30° país membro consultivo do Tratado Antártico de 1959. O país assinou o tratado como parte não consultiva em 1996, mas o protocolo de proteção ambiental foi assinado apenas em 2017. Já tendo sido criado, em 2015, o Centro de Pesquisa Polar da Universidade Técnica de

Istambul, e realizadas tais expedições, os próximos passos são o estabelecimento de uma base de pesquisa, a ratificação do tratado pelo Parlamento e a realização de uma terceira viagem à Antártica. Com isso, o país teria argumentos para justificar sua evolução de parte não consultiva para consultiva.

Os interesses envolvidos em se tornar uma parte consultiva do Tratado Antártico são muitos. Nas próprias declarações do ministro Özlü, foi mencionado o fato de que, além de possuir diversas fontes de energia, o continente antártico contém mais de 70% de toda água potável do mundo, um recurso que será extremamente valorizado no futuro. Outro ponto relevante é a maior participação da Turquia no cenário internacional e a busca do país por ser reconhecido como um centro relevante de desenvolvimento de novas tecnologias e pesquisa científica.

A segunda expedição científica turca na Antártica

Stefany Simões

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• INSTITUTE FOR DEFENSE STUDIES AND ANALYSIS Will great-power conflict return?

• GEOPOLITICAL FUTURES Making sense of the Balkans

• THE BALANCE Rising sea levels and their impact on the economy and you

• DEFENSE NEWS From record cocaine seizures to hybrid war, coast guard missions on the rise

• CIMSEC Three hard questions for U.S. maritime strategy in a digital age

ARTIGOS SELECIONADOS E NOTÍCIAS DE DEFESA

• RUSSIAN COUNCIL Russia’s post-election foreign policy: new challenges, new horizons

• FOREIGN AFFAIRS Decades under the influence: how Europe's parties have been shifting right

• PROJECT SYNDICATE Asia after Trump

• EL PAIS Las claves de la guerra comercial entre Estados Unidos y China: socios y enemigos

• FOREIGN POLICY How to start a war in 5 easy steps

CALENDÁRIO GEOCORRENTE

13 - 14 Cúpula das Américas

19Eleições legislativas cubanas e nomeação

presidencial

273ª Cúpula inter-coreana

ABRIL MAIO JUNHO

6Eleições presidenciais libanesas

8Rodada de Negociações do NAFTA

1570° da criação do Estado de Israel e abertura da embaixada dos EUA em Jerusalém

20Eleições presidenciais venezuelanas

8 - 944ª Cúpula do G7

esses navios não respeitam tratados internacionais que determinam a exclusividade da pesca na ZEE do Estado costeiro, por exemplo. Além disso, a própria condição

de manutenção dos navios não garante a qualidade dos produtos lá processados.

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REFERÊNCIAS

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XINHUA. Lacang. Mekong Cooperation entering new growth phase: Chinese envoy. Xinhua Net. Acesso em: 03 abr. 2018.ZHOU, Laura. Five things to know about the Lancang-Mekong Cooperation summit. South China Morning Post. Acesso em: 03 abr. 2018.

• A segunda expedição científica turca na AntárticaEROZDEN, Can. Turkish research team Antarctica-bound for 2nd time. Anadolu Agency. Ankara. 13 fev. 2018. Acesso em: 07 abr. 2018.DEMITAş, Serkan. Turkey deploys scientists to Antarctica to upgrade status in treaty, conduct research. Hurriyet Daily News. Ankara. 16 fev. 2018. Acesso em: 07 abr. 2018.

• A problemática das bandeiras de conveniênciaOCEANA. Avoiding Detection: Global Case Studies of Possible AIS Avoidance. Acesso em: 06 abr. 2018.ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. UNCTAD/RMT/2017 – Review of Maritime Transport 2017. Acesso em: 06 abr. 2018.