maria de Ágreda; mística cidade de deus

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MÍSTICA CIDADE DE DEUS

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  1. 1. MSTICACIDADEDEDEUS
  2. 2. fr LIVRO Vigilncia de Maria pela Igreja 135. Do cume da graa e santidade, possveis a pura criatura, a grande Senhora doinundoolhava,comsuadivinacincia, a pequena grei da Igreja, que todos os dias ia se multiplicando. EstecuidadodaMedaluz,defendia aquela santa famlia que a piedosa Rainha considerava sua,eestimavacomoheranae propriedade de seu Filho Santssimo, por- o eleita do Altssimo, escolhida entre todo o resto dos mortais. Orao de Maria pela Igreja 136. Recebei, Filho meu, o sacrif- cio de meus lbioseda minha Vontade, que ofereo com vossos prprios mritos. Atendei piedoso a vossos fiis, guiai aos que s em vos esperam e se entregam vossa santa f. Iluminai aPedrovossovig- rio, para que ele governe com acerto as ovelhas que lhe encomendastes. Guardai a todososapstolos, vossosministrosemeus senhores. Cobri-os com vossa feliz bno (SI 20,4), paraquetodoscumpramos vossa vontade perfeita e santa. Perfeies de Maria 210. Em seu corao purssimo tra- ziaaleievanglicaeavidadaIgreja,comos trabalhos e tribulaes que os fiis teriam que sofrer. A respeito de tudo, conferia com o Senhor e consigo mesma, para dis- portodasascoisasnadivina luzccincia da santa vontadedo Altssimo. Nos pensamentos, era sublime; na sabedoria, profunda, nos conselhos, prudentssima; nojulgar, retssima ejusta; nasaessantssima; naspalavras verdadei- ra e simples; e, em tudo o que era bom, perfeita e singular. Para os fracos, piedosa; para os humildes, terna e suave; para os soberbos, de severa majestade. A prpria grandeza no a desvanecia, a adversidade no a alterava, os trabalhos no a abatiam. Em todas as aeserao retrato de seu Filho santssimo. 8o LIVRO Maria despede-se da Igreja 722. Igreja santa e catlica que, no futuro, te chamars romana, me e senhora minha, verdadeiro tesouro de minha alma: foste o nico consolo de meu desterro; o refgio e alvio de meus trabalhos; minha alegria, descanso e esperana. A ti sempredei todocorao e meus cuidados, mas j tempo de partir c me despedirdetuadocecompanhiae chegar ao fim de minha viagem. Igreja, minha honra c minha glria, deixo-te na vida mortal, mas na eterna te encontrarei com alegria, naquele Ser que tudo encerra. De l, te olharei com carinho e pedirei pelo teu crescimento, teus xitos c progressos. Pedidos ao: MOSTEIRO PORTACELI Caixa Postal, 595 84001-970 - PontaGrossa - Paran
  3. 3. Impresso e Acabamento: Vnpag - Indstria Pontagrossense de Artes Grficas Ltda. Rua Balduno Taques, 2030 - Fone/Fax: (42) 3225-3004 e-mail: [email protected] - Ponta Grossa - Paran
  4. 4. Registro: 284.420 Livro: 514 Folha: 80 da Fundao BIBLIOTECA NACIONAL/RJ Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPG/Pr. greda, Soror Maria de A277 Mstica cidade de Deus (Obraclssica do saXVM) : 1655- I660./Soror Maria de greda; traduo de Irm Edwiges Caleffi. 2.ed Ponta Grossa, Mosteiro Portaceli, 2000. 4v. . Contedo : v.L Maria no Mistrio da Criao, v.2. Maria no Mistrio de Cristo, v.3. Mariano Mistrio da Redeno. v.4 Maria no Mistrio da Igreja. 1- Religio. 2- Maria - me de Jesus. 3- Maria - Mistrios. CDD: 232.9 Direitos reservados ao Mosteiro Portaceli MSTICA CIDADE DE DEUS
  5. 5. SOROR MARIA DE GREDA MSTICA CIDADE DE DEUS VIDA DA VIRGEM ME DE DEUS QUARTO TOMO Maria no Mistrio da Igreja (do Pentecostes Assuno) Edio brasileira em 4 Tomos Traduo de Irm Edwiges Caleff da Ordem da Imaculada Conceio (Obra clssica do scc. XVII) 1655 - 1660 3
  6. 6. MSTICACiuaad deDios.W^rrJ d o : u O m r a p o t e n c i a ^ y O T r f - s i mo 11 H I S T O E i D I V I N A , yWi ddela^rgenlvAadr^ ce-J_>os,Reyt^uy Sonora, nuctra^JviAR1A Saiitiffim Retauradora^de,taa_pa.de* Eua,y meaianera.de*]accia. T)ict-Acla.y^iiii^ua^encftos vltimosSv,^ gos por ia mifina >cnora. atu cicla.ua*dov MARA d e l E S Y S A b a d e f a .u d ^ ^ a . cie,Coiucnto de Ialrmiao.il^ckrCori=: c-pcondc)a"Vilia.ac Tlorcda. uRuncio.aleoria c?eIaYcia Catoltcayconfl; J ^ j 2 * ^ g k t g f f t a l e s ^s-y^ rtvtcualw Primeira pgina do manuscrito original, at hoje conservado no Mosteiro Conccpcionista de greda - Espanha
  7. 7. MSTICA CIDADE DE DEUS MILAGRE DE SUA ONIPOTNCIA E ABISMO DA GRAA. HISTRIA DIVINA E VIDA DA VIRGEM ME DE DEUS, RAINHA E SE- NHORA NOSSA MARIA SANTSSIMA RESTAURADORA DA CULPA DE EVA E MEDIANEIRA DA GRAA. Ditada e manifestada nestes ltimos sculos pela mesma Senhora sua escra- va Soror Maria de Jesus, humilde Aba- dessa deste Convento da Imaculada Con- ceio da Vila de greda, para nova luz do mundo, alegria da Igreja Catlica e confi- ana dos mortais.
  8. 8. Ilustraes: desenhosdas Irms Servas doEsprito Santo, extradasdaedioalem, 1954. Outrasgravurasefotos. Capa: CoraomisericordiosodeMaria. Esculturade Frei M. Bernard SCotia a ^J) 9le uivl A Tradutorae suaComunidade religiosaagradecem e rezam portodo: quecolaboraram parasuapublicaoe pelos leitores quese alimentar espiritualmentedeseuedificantecontedo. Direitos reservados ao Mosteiro Portaceli
  9. 9. LIVRO7o INTRODUO TERCEIRA PARTE DA DIVINA HISTRIA E VIDA SANTSSIMA DE MARIA MAE DE DEUS. Temores da Escritora 1. Quem navega emperigoso e alto mar (Ecl43, 26), quanto mais nele avana, tanto mais costuma sentir o temor das tempestades e o receio dos inimigos corsrios que o podem atacar. A ignorncia e afraqueza aumentam o medo. No sabe quando epor onde sobrevir operigo e tampouco capaz de o evitar antes que chegue, ou lhe resistir quando vier. o que me acontece, mergulhada no imensoplago da excelncia e grandeza de Maria Santssima, embora seja mar de leite, cheio de serenidade muito tranq como vejo e confesso. Para vencer meus temores, no basta encontrar-me to alto neste oceano de graa, tendoj escrito aprimeira e segunda parte de sua vida santssima. Nela me como em imaculado espelho, conheci com maior luz e claridade, minha prpria insuficincia e vileza. Quanto mais evidente se me apresenta o conhecimento do objeto desta divina Histria, vejo-o mais impenetrvel e menos compreensvelpara qualqu to criado. Os inimigos, prncipes das trevas, tambm no descansam. Semelhante corsrios importunssimos, pretendem me afligir e perturbar, com iluses e cheias de tal iniqidade e astcia, que ultrapassam minha ponderao. O navegante no tem outro recurso seno olharpara o norte que, como estrela do mart segura e imvel, o governa e guia entre as ondas. Eu me esforopara fazer mesmo, na tormenta de minhas diversas tentaes e temores. Voltada para o norte da vontade divina e para minha estrela Maria Santssima, pela qual conheo vontade, muitas vezes aflita, perturbada e temerosa, clamo do ntimo do corao e digo: Senhor e Deus Altssimo, que farei nesta dvida ? Prosseguirei esta Histr mudarei de resoluo? E vs, Me da graa e minha Mestra, mostrai-me vossa vontade e a de vosso Filho Santssimo. Resposta de Deus 2. Devo confessar a verdade de que a divina benignidade sempre deu resposta
  10. 10. Stimo Livro - Introduo minhas splicas. Nunca me recusou sua paterna] clemncia, declarando-me sua vontade por diversos modos, lista verdade pode ser entendida ao se comprovar a assistncia da divina luz, pela qual deixo escritas a primeira e segunda parle. Alm deste favor, inmeras vezes o Senhor, por Si mesmo, por sua M Santssima epelos anjos, me tranqilizou e assegurou, com certezas e afirmaes vencer meu temor e covardia. Ainda mais: os prelados e ministros do Senhor em sua santa Igreja, anjos visveis, me aprovaram e intimaram a vontade doAltssimopara q sem receios, nela cresse e a cumprisse, prosseguindo esta divina Histria. No mefaltou tambm a inteligncia da luz ou cincia infusa que, com forte suavidade e doce energia, chama, ensina e estimula a conhecer o mais elevado da perfeio, o mais puro da santidade, a suprema virtude, o mais amvelpara a vontade. Tudo isto se me oferece como encerrado na arca mstica de Maria Santssima, man escondido (Hb 9, 4), para que chegue a sabore-lo e possui-lo. Dificuldades pessoais 3. Apesar de tudo isto, para entrar na terceira parte e comear a escrev-la, senti novas e fortes contradies, no menos difceis de vencer do que para as duas primeiras. Posso afirmar, sem receio, que a cadafrase e palavra que escrevo, maior o nmero de tentaes do que as letras de que so compostas. Para justificar estes temores basta minha pessoa. Sabendo quem sou, no posso deixar de me acovardar, no podendo confiar em mim, pois tenho experincia de minha fraqueza. No era isto, porm, nem a importncia do assunto, o impedim que encontrava, embora no o tenha logo percebido. Apresentei ao Senhor a segunda parte que escrevera, como antes fizera com a primeira. A obedincia compelia-me fortemente a dar comeo a esta terceira e, com a energia que esta virtude comunica a quem se lhe sujeita, encorajava minha covardia para executar o que me era ordenado. No obstante, entre o desejo e a dificuldade de comear, andei flutuando alguns dias, como embarcao agitada por fortes ventos contrrios. Encorajamentos e desnimos 4. Por um lado, o Senhor me ordenava que prosseguisse o comeado, que era essa sua vontade e beneplcito, e em minhas continuas splicas nunca entendi coisa. s vezes, eu dissimulava estas ordens do Altssimo e no as comunicava logo ao prelado e confessor. No agia assim por escond-las, maspara maior segurana e para no suspeitar que eles se influenciavam por minhas informaes. Deus, porm, que no se contradiz em suas obras, punha-lhes no corao a deciso de me ordenarem, com autoridade e preceitos, como sempre tm feito. Por outro lado, a inveja e malcia da antiga serpente malsinava os fatos e sentimentos. Investia-me comfuriosa tormentade tentaes: s vezes queria me guindar aos cumes da soberba, e em outras pretendia abater-me ao profundo da desconfiana e me envolver em negra trevo de temores desordenados. Acrescentava a estas, diversas 2
  11. 11. Stimo Livro - Introduo tentaes interiores e exteriores que cresciam medida que eu prosseguia esta Histria, e ainda aumentavam quando me resolvia a termin-la. O inimigo valeu-se tambm do parecer de algumas pessoas que, por natural obrigao, eu devia alguma considerao e no me ajudavam aprosseguir o comea- do. Perturbava as religiosas que tenho a meus cuidados; parecia-me no dispor de tempo, pois no deveria deixar de seguir a comunidade, meu primeiro dever como superiora. Com esta perturbao, no acabava de estabelecer meu interior na paz e tranqilidade necessrias para receber a atual luz e inteligncia dos mis escrevo. Esta no bem captada, nem se comunica plenamente, no torvelinho das tentaes que inquietam o esprito. S chegam na branda e serena virao que refre as potncias (3Rs 19, 11-12). Exigncias de perfeio 5. Aflita e conturbada por tantas e diferentes tentaes, no cessava de rezar, e certo dia disse ao Senhor: Altssimo Senhor e bem de minha alma, no so ocultos vossa sabedoria meus gemidos e o desejo de vos dar gosto e no errar no vosso servio(Sl 37,10). Em vossa realpresena, amorosamente me queixo: ou me ma Senhor, o que noposso fazer, ou deixais que vossos e meus inimigos, com sua malcia, me impeam. Respondeu-me a estaqueixa e, umpouco severamente, me disse: - Nopoders continuar oque comeaste, nem acabars de escrever a vidade minhaMe, se n em tudo muito perfeita e agradvel a meus olhos. Quero ver em ti o copiosofruto deste favor, e que sejas aprimeira a receb-lo complenitude. Para o alcanares como Eu o quero, necessrio que desaparea em ti tudo o que terreno, herdado de A efeitos do pecado, com suas inclinaes e maus hbitos. Esta resposta do Senhor despertou-me nova solicitude e mais ardentes desejos defazer tudo o que me era indicado. No consistia apenas na comum mortificao das inclinaes epaixes, mas na morte absoluta da vida animal e terrena, para se renovar e transformar noutro ser de vida celeste e anglica. Sofrimentosfsicos 6. Desejando empregar todo o esforo no que me era proposto, examinava minhas inclinaes e apetites, percorria todas as ruas e esquinas de meu interior e sentia veemente aspirao de morrer a todo visvel e terreno. Neste exerccio, s durante alguns dias muita aflio e desconsolo, porque ao passo que meus desejos cresciam, aumentavam os perigos e ocasies de distraes com criaturas. Era o que bastava para me atrapalhar, e quanto mais queria afastar-me de tudo, tanto mais afogada e oprimida me encontrava com o mesmo que procurava evitar. De tudo se aproveitava o inimigo para me desanimar, apresentando-me como impossvel a perfeio de vida que eu ambicionava. 3
  12. 12. Stimo Liro - Introduflo A este desconsolo se acrescentou outro extraordinrio e por mim inesperado, comecei a sentir uma disposio corporal estranha, com extrema sensibilidade para o c/t/e erapenoso. O mais leve trabalho se mefazia mais intolervel que os maiores que at esto passava. As ocasies de mortificao, que antes eramfacilmente suportv se me tornavam violentssimas e terrveis. Sentia-me to fraca que qualquer dor me parecia mortais feridas. Uma disciplina'1'faz/a-me desmaiar e cada golpe mepartia o corao. No exagero dizendo, que s o tocar de uma das mos na outra, me arrancava lgrimas, com grande confuso e desconsolo de me ver to miservel. Esforando-mepor trabalhar, no obsta que sofria, o sangue saltou-me pelas unhas. Recurso a Deus 7. Ignorando a causa desta novidade, refletia comigo mesmo e dizia com desgosto: Ai de mim, que misria e que mudana esta7 Manda-me o Senhor que mortifique e morra a tudo, e agora me sinto mais viva e menos mortificada. Sofri alguns dias grande amargura e desgosto com minha preocupao, mas o Senhor me consolou, dizendo: Filha e esposa minha, no se ajlija (eu corao com o sacrifcio e a surpresa de tanta sensibilidade. Quis, por este modo, extinguir em ti os efeitos do pecado, afim de te transformares para vida e operaes mais elevadas e de meu maior agrado; sem conseguir este novo estado, no poders comear a escr o que falta sobre a vida de minha Me e tua Mestra. Esta resposta do Senhor fez-me recobrar alguma coragem, porque suas palavras sempre so de vida (Jo 6, 69) e a comunicam ao corao. Ainda que os trabalhos e tentaes no diminuam, dispunha-me a trabalhar e combater, sempre porm, desconfiando de minha fraqueza e duvidando obter remdio para ela. Pro rava-o na Me da vida e determinei pedir instantemente sua proteo, como o nico e ltimo refgio dos necessitados e ajlitos. Dela epor Ela, a mim, a mais intil da te sempre me vieram muitos bens. Recorre Maria Santssima 8. Prostrei-me aos ps desta grande Senhora do cu e da terra, e derramando meu esprito em sita presena, pedi-lhe misericrdia e remdio para m es e defeitos. Apresentei-lhe meu desejo de agradar a Ela e a seu Filho santssimo, e ofereci-me de novo a seu sen>io, ainda que custa depassar pelo fogo, por tormentos, e de derramar meu sangue. A esta splica, respondeu-me a piedosa Me: Minha jilha, no ignoras que os desejos que o Altssimo desperta em teu corao so prendas efrutos do amor com que te chama, para sua ntima comunicao e familiaridade. Sua vontade e a minha que os realizes para no frustrar tua vocao e no retardar mais o agrado que o Senhor quer ter em ti. Em todo o decurso da Vida que ests escrevendo, te adverti sobre a obrigao- Disciplina: flagelao. Mortificao tradicional usada na vida monstica.N.T.
  13. 13. Stimo Livro - Introduo que este grande beneficio te acarreta. Deves reproduzir em ti a cpia viva da doutrina que te dou e o modelo de minha vida, conforme asforas que a graa te conceder. Chegaste terceira parte de minha Histria. tempo que te eleves minha perfeita imitao, que te vistas defortaleza e estendas tua mo a coisas rduas (Pv31, 17-19). Neste novo estado espiritual, comears o que falta escrever, pois deveras ir praticando o quefores conhecendo. Sem esta disposio nopoders escrever, porque vontade do Senhor que minha vidafique escrita mais em teu corao do que no papel. Deves sentir o que escreves, e escrever o que sentes. Admoestaes da Virgem 9. Para isto, quero que teu interior se esvazie de toda imagem eafeto das coisas da terra (Si 44, 11). Alheia e esquecida de todo o visvel, teu contnuo convvi (Fl 3, 20) com o Senhor, comigo e com seus anjos efora disto tudo o mais seja para ti estranho. Com aforada virtude epureza que de tiquero, esmagars a cabeada serpente e vencers a oposio que tefaz para escrever e agir. Acolhendo suas falsas sugestes de infundado temor, tefazes lenta em atender ao Senhor e entrar no caminho por onde Ele quer te levar, se acreditares em seus favores. Quero dizer-te agora, ser este o motivo por que sua divina Providncia permitiu ao drago ser ministro de sua justia, e castigar tua incredulidade e resistncia sua perfeita vontade. O inimigo aproveitou-se para te fazer cair em algumas faltas, propondo-te seus enganos cobertos de boa inteno e fins virtuosos: esforou-se em te persuadir, falsamente, que no s para to grandes e raros favore porque nenhum mereces, e assim te levou negligncia e indelicadeza no agradecer. Como se estas obras do Altssimofossem concedidas por justia, e no p graa, o maligno te embaraou muito neste engano. Deixaste de fazer o muito poderias ter feito, com a graa divina, e no correspondes te ao que, sem mereceres recebes. tempo, carssima, de no mais duvidar, e crer no Senhor e em Mim que te ensino a mais segura e elevada perfeio, a minha perfeita imitao. Seja, assim, vencida a soberba e crueldade do drago e esmagada sua cabea pelo poder divino. No razo que a impeas ou retardes, mas esquecida de tudo, te entregues amorosamente vontade de meu Filho Santssimo e minha. De ti queremo o mais santo, louvvel e agradvel a nossos olhos e beneplcito. Fragilidade humana 10. Com este ensinamento de minha divina Senhora, Me e Mestra, minha alma recebeu nova luz e desejos de obedecer-lhe em tudo. Renovei meus propsitos, determinei superar a mim mesma com a graa doAltssimo, eprocurei dispor-me p remover qualquer obstculo ao cumprimento da vontade divina em mim. Ajudei-me com a dolorosa aspereza da mortificao, para mim muito penosa pela viva sensibilida em que me encontrava, como disse acima. Apesar de tudo, no cessava a guerra e resistncia do demnio. Eu compreendia que minha empresa era muito difcil e que o estado ao qual 5
  14. 14. Sen mo Liro - Introduo me levava o Senhor, ser-me-ia salvaguarda, porm era muito elevado para a humana fragilidade e para o peso da natureza terrena. Darei a entender bem esta verdade e a tardana de minha rudefragilidade, confessando que o Senhor, durante toda a minha vida, trabalhou para me levantar do p e do estreo de minha vileza, multiplicando favores e benefcios que excedem meu pensamento. Sua destra poderosa concedia-os para essefim. No convm, nem me possv agora referi-los todos; tampouco meparece justo silenci-los completamente, para que se veja em que baixa condio nos colocou o pecado; que distncia cavou entre a criatura racional e a virtude e perfeio da qual capaz, e quanto custa restitui-la a esse fim. Morte mstica 11. Alguns anos antes do que agora escrevo, recebi grande favor da divina destra. Foi uma espcie de morte civil para as operaes da vida animal e terrena, seguindo-se a esta morte, novo estado de luz e operaes. Como, porm, a alma fica sempre sob a veste da mortal e terrena corrupo, continua a sentir este peso que a oprime efaz descer (Sb 9, 15), se o Senhor no lhe renovar ofavor e a no ajudar com sua graa. Na ocasio de quefalei (n9), repetiu-o para mim, por intermdio da de piedade. Numa viso, disse-me esta dulcssima Senhora e grande Rainha: Presta ateno, minha filha, quej no devers viver tua vida, mas a de teu Esposo Cristo em ti (Gl 2, 20). Ele h de ser vida de tua alma e alma de tua vida. Para isto Ele deseja que por minha mo morras novamente antiga vida, do modo que j ofez contigo outra vez, e assim passes vida que de ti queremos. Desde hoje, saiba o cu e a terra que minha filha e senya Maria de Jesus morreu para o mundo. OAltssimo assim ofez, afim de que esta alma viva realmente s para aquilo que af ensina. Pela morte natural deixa-se tudo. Esta alma, assim despojada por ltima vontade e testamento, entregou sua alma a seu Criador e Redentor, e seu corpo terra do prprio conhecimento e ao sofrimento sem oposio. Desta alma nos encarregamos, meu Filho santssimo e Eu, para cumprir sua ltima vontade, se nos obedecer prontido. Celebramos suas exquias, com os habitantes de nossa corte, e damos-lh sepultura nopeito da humanidade do Verbo eterno, que ojazigo dos que morrem para o mundo e para a vida mortal. Desde agora no viver em si e para si, com operaes de Ado, mas nela se h de manifestar a vida de Cristo, que a sua vida. Suplico sua imensa piedade receber, s para si, a alma desta defunta e reconhec-la peregrina e estrangeira na terra, habitante no que elevado e mais divino. Aos anjos ordeno reconhec-la por companheira e com ela se comuniquem, como se estivesse livre da carne mortal. Disposies cia morte mstica 12. Aos demnios mando que deixem a defuma, como deixam os monos que ja nao eslo sob suajurisdio, nem tm pane com eles; desde hoje ela deve ficar mais
  15. 15. Stimo Livro - Introduo morta s coisas visveis, do que os defuntos ao mundo. Aos homens conjuro que a percam de vista ea esqueam como esquecem osmortos, eadeixem em repouso, sem perturbar sua paz. E a ti, alma, mando e admoesto que te consideres como os que partiram do tempo ej esto na eternidade, em presena do Altssimo. Quero que no estado f os imites, pois a certeza e a verdade do objeto, a mesma para ti como para eles. Tua conversao h de ser nas alturas (Fl 5,20), teu convvio com oSenhor de toda a criao, teu Esposo; teus dilogos sejam com os anjos e santos, e toda a ateno ser para Mim, tua Me e Mestra. Para tudo o mais, terrestre e visvel, no ter vida nem movimento, operaes nem atos, tal como um corpo morto que no d sinal de vida, nem sentimento com tudo o que lhe acontece ou sefaz com ele. No te ho de inquietar as ofensas, nem comover-te as lisonjas; no hs de sentir as injrias nem se desvanecer pelas honras; a presuno no te elevar, nem a desconfiana tefar cair: no devers consentir em movimento algu concupiscncia e da ira, porque teu modelo, nestas paixes, h de ser um corpo j defunto e livre delas. Do mundo, tampouco deves esperar mais atenes, do que as que ele tem por um morto que logo esquecido, at pelos que o louvavam quando vivia; mesmo os seus mais ntimos, procuram depressa afast-lo, ainda que fosse pai ou irm Por tudo isso passa o defunto, sem queixar-se e sentir-se ofendido e sem se incomodar com os vivos, ou com o que deixa entre eles. Finalidade da morte mstica 13. Quando j estiveres assim defunta, resta apenas que te consideres alimento de vermes e desprezvel corrupo, sendo sepultada na terra de teu prprio conhecimento. Seja isto de tal modo, que teus sentidos epaixes no tenham a ousadia de exalar mau cheiro diante do Senhor e entre os vivos, por estarem mal enterradas, como sucede a um corpo morto. Se te mostrares viva ao mundo ou compaixes menos mortificadas, o asco, a teu entender, que causars a Deus e aos santos, ser maior do que na terr produziriam aos homens, cadveres insepultos. Usar de tuas potncias, olhos, ouvidos, tato e o mais, para servir ao gosto ou deleite, deve ser para ti coisa to estranha e escandalosa, como se visses um defunto se movendo. Por esta morte, porm,ficarspreparada para ser singular esposa de meu Filho santssimo e minha verdadeira discpula e filha carssima. Tal o e de ti quero, e assim elevada ser a sabedoria com que te ensinarei seguir minhas pegadas, imitando minha vida e copiando em ti minhas virtudes, no grau que te for concedido. Este ser ofruto de escrever minhas excelncias e os altssimos sacramen tos de minha santidade que o Senhor te manifestar. No quero siam do cofre do teu corao, sem deixar realizada em ti a vontade de meu Filho e a minha, a saber, a tua mximaperfeio. Bebendo as guas da sabedoria em sua origem, noprp Senhor, no razo que fiques vazia e sedenta do que ds aos outros, nem acabes 1
  16. 16. Stimo Livro - Introduo de escrever esta Histria sem aproveitar do grande beneficio que recebes. Prepara teu corao com esta morte que de ti quero, e rea/izars o meu e o teu desejo. Deserto espiritual 14. At aqui as palavras que a grande Senhora do cu me dirigiu nesta ocasio, semfalar em todas as outras com que me repetiu esta doutrina de salutar e eterna vida; muito j foi escrito nas doutrinas que me deu nos captulos da primeira e segunda parte, e continuarei a expor nesta terceira. Tudo dar bem a conhecer minha lentido e pouco agradecimento a tantos benefcios; sempre me encontro atrasada n virtude e suscetvelfilha de Ado, apesar desta grande Rainha e seu poderoso Filho me teremprometido tantas vezes que, se eu morrer terra ea mim mesma, me levantaro a outro estado muito elevado. Consiste na solido e deserto entre as criaturas, sem ter sociedade com elas; participa-se apenas da presena e comunicao do Senhor, de sua Me Santssim dos santos anjos, deixando que todas as operaes e movimentos sejam governadas pela fora de sua divina vontade e para osfins de sua maior honra e glria. Provaes fsicas e espirituais 15. Durante toda minha vida, desde a infncia, o Altssimo me tem exerc com alguns trabalhos de contnuas enfermidades, dores e outras provaes atravs criaturas. Aumentando os anos, cresceu tambm o sofrimento com uma nova tribulao que me fez esquecer bastante todas as outras: uma espada de dois gumes que me penetrou at o corao, e dividiu-me o esprito e a alma, como diz o Apstolo (H 12). o temor que muitas vezes insinuei, e por motivo do qual tenho sido repreendida nesta Histria. Quando menina j o sentia muito, mas depois que me tornei religiosa e me apliquei totalmente vida espiritual e o Senhor comeou a se manifestar mais minh alma, esse temor atingiu grandes propores. Desde esse tempo o Senhor me fixou nesta cruz, e apertou-me o corao nesta prensa. Passei a temer se estaria em bom caminho ou enganada e se perderia a graa e amizade de Deus. Agravou-se muito essa tribulao, com a publicidade que, naquele tempo, fizeram algumas pessoas imprudentes, para meu grande desgosto, e pnico que outros me despertaram a respeito de meu caminho. De tal modo, se arraigou em meu corao este vivo temor, que jamais cessou. No tenho podido super-lo completamente, ne com a segurana de meus confessares e prelados, nem com a doutrina com que instruram, nem com as repreenses com que me tm corrigido, nem por qualquer ou meio que para isto empregaram. Ainda mais: quando os anjos, a Rainha do cu e o mesmo Senhor me tranqilizavam, em sua presena sentia-me libertada; saindo, porm, da la divina luz, logo era assaltada novamente com incrvel violncia lista violncia mostrava bem proceder da crueldade do infernal drago, que voltava a me afligir com o temor do perigo, como se a verdade fra iluso
  17. 17. Stimo Livro - Introduo O inimigo mais me aterrorizava, quando me dispunha a tudo comunicar a meus confessares e principalmente ao prelado que me dirigia, porque o prncipe das trevas nada teme tanto, como a luz e o poder dos ministros do Senhor. Bom e mau temor 16. Entre a amargura desta dor e o ardentssimo desejo de estar na gra no perder a Deus, tenho vivido muitos anos, passando-se comigo tantos e to diferentes sucessos, que seria impossvel referi-los. Creio que a raiz deste temor era santa, mas muitos de seus ramos tinham sido infrutuosos, ainda que de tudo sabe servir- se a divina Sabedoria para chegar a seusfins. Por isto, permitia ao inimigo que me afligisse atravs doprprio dom do Senhor, pois o temor desordenado e que atrapalha ainda que deseje imitar o bom, mau e do demnio. Em certas ocasies, minha aflio chegava a ponto, que me parece graa de Deus, no ter acabado com a vida de meu corpo e de minha alma. O Senhor, porm, a quem os mares e os ventos obedecem (Mt 8f 27) e todas as coisas o servem (SI 118, 91), que d alimento a toda criatura no tempo mais oportuno (SI 144, 15), dignou-se dar tranqilidade a meu esprito, para usufrui-la na trgua enquanto escrevo o res Histria. Faz alguns anos que Ele me consolou, prometendo conceder-me sossego e paz interior antes de morrer; se o drago se enfurecia tanto contra mim, era porque suspeitava no ter bastante tempo para me perseguir (Ap 12, 12). Certeza e humilde temor 17. Para escrever esta terceira parte, certo dia, com singular agrado e benignidade falou-me o Senhor: Esposa e amiga minha, quero aliviar tuas penas e moderar tuas aflies. Sossega, minha pomba, e descansa na segura suavidade do meu amor e de minha poderosa e real palavra. Por ela, te garanto que sou Eu que te falo e escolho teus caminhos para meu agrado. Sou Eu que te conduzo por eles; estou direita de meu eterno Pai, e no sacramento da Eucaristia sob as espcies de po. Dou-te esta certeza de minha verdade, para que te tranqilizes e te assegures. No te quero, amiga minha, para escrava, mas para filha e esposa de minhas delcias. Basta de temores e amarguras. Venha aserenidade e sossego a teu aflito corao. Estes carinhos e afirmaes do Senhor, muitas vezes reiterados, levar algum a pensar qu no humilham e s do gozo. No. Abatem-me o corao at o p e me enchem de cuidados e receios de meu perigo. Quem imaginar o contrrio, teria pouca experincia destas graas e segred do Altssimo e para elas seria incapaz. E certo que senti mudana em meu interio muito alvio nas perturbaes e tentaes deste desordenado temor. Mas to sbio e poderoso o Senhor que, se de um lado d certeza, por outro desperta a alma e a pe em novos cuidados, pelo perigo de cair; com isto, no a deixa esquecer o prprio conhecimento e humilhao. 9
  18. 18. Stimo Livro - Introduo Temor bem ordenado 18. Posso confessar que, estes e outros contnuosfavores do Senhor, no foram tanto para me tirar os temores, quanto para os colocar em ordem. Sempre vivo na ansiedade de pensar se o desgostarei e perderei; como hei de ser agradecida e como corresponder suafidelidade; como amarei totalmente, quem o Sumo Bem e merece todo o amor que lhe posso dar e mesmo o que no posso. Invadida por estes receios, oprimida por minha grande misria, desventura e muitas culpas, numa destas ocasies, eu disse ao Altssimo: Didcissimo amor meu, Senhor de minha alma, ainda que tanto me assegurais, para sossegar meu turbado corao; como posso viver sem temor nosperigos de topenosa e temerosa vida, cheia de tentaes e ciladas, se mais do que ningum levo o meu tesouro em vaso frgil quebradio? (2Cor 4, 7). Com paterna! benignidade, respondeu-me: Minha querida esposa, no quero que deixes o temor justo de ofender-me. Todavia, minha vontade que no te perturbes nem te entristeas desordenadamente, embaraando-te na busca da perfei amor. Tens minha Me, Mestra para te ensinar e modelo para imitares. Eu te assisto com minha graa e te guio com minha direo. Dize-me, pois, que queres de mim, para tua segurana e tranqilidade. Graa especial para ser fiel 19. Com a submisso que me foi possvel, respondi ao Senhor: Altssi Senhor e Pai meu, muito o que mepedis, embora tudo devo vossa bondade e imenso amor. Mas, conhecendo minha fraqueza e inconstncia, s terei sossego quando n mais vos ofender, nem com um leve pensamento, nem com um movimento de minhas potncias, e quando todas minhas aes sejam de vosso agrado e beneplcito. Respondeu-me: No te faltaro meus contnuos auxlios e favores s corresponderes. E para que melhor o faas, quero conceder-te uma graa digna amor com que te amo. Ligarei meu ser imutvel tua pequenez, com uma cadeia de especial providncia. Nelaficarsatada e presa de maneira que se, por tua fraqueza ou vontade, fizeres algo que destoe de meu agrado, sentirs minha influncia a te dete e chamar de volta para Mim. Desde j conhecers e sentirs o efeito deste favor, escrava atada para no fugir. A mesma graa triplicada 20. O Todo-poderoso tem cumprido esta promessa, com grande jbilo e bem de minha alma. Entre outros muitos favores e benefcios - que no convm referir interessam ao presente assunto - nenhum foi para mim to estimvel como este. Sinto o, no s nos grandes perigos, como ainda nos mnimos. Se, por negligncia o descuido, omito algum ato ou cerimnia do culto, ainda que seja o de humildade e beijar a terrapara adorar o Senhor - como costume na vida religiosa - logo sinto uma 10
  19. 19. Stimo Livro - Introduo suaveforaque medesperta eavisa de meudefeito e, quanto desuaparte, no me deixa cometer nem uma pequena imperfeio. Se algtimas vezes caio por fragilidade, logo deparo com essafora divina, e meu corao se parte com enorme pena. Esta dor serve defreio para deter qualquer inclinao desordenada e de estmulo para procurar logo o remdio da culpa imperfeio cometida. Como os dons do Senhor so sem arrependimento (Rm 11, 29), Ele no me tem retirado o que recebo com esta misteriosa cadeia. Ainda mais, por sua divina dignao, em certo dia, festa de seu santo Nome e Circunciso, vi que triplicava esta cadeia para governar-me com maior energia, e para ser mais irresistvel, pois o cordel triplicado, como diz o Sbio, dificilmente quebra (Ecl 4, 12). Tanto necessita minha fraqueza, para no ser vencida pelas importunas e astutas tentaes que a antiga serpente forja contra mim. Interveno dos Anjos 2L Estas foram aumentado tanto nesse tempo que, no obstante as graas e os referidos mandatos do Senhor, a obedincia e outras circunstncias, eu vacila em comear a escrever esta ltimaparte. Sentia de novo contra mim, ofuror das trev e seus poderes que me queriam submergir. Assim entendi e me explicarei com aspalavras de So Joo no captulo 12 do Apocalipse: O enorme drago lanou de sua boca as guas de um rio contra aque Mulher divina (Ap 12, 15), a quem movia perseguio desde quando esteve no cu. Como no pde afog-la nem atingi-la, voltou-se com grande ira contra a descendn cia daquela grande Senhora, os assinalados com o testemunho de Cristo Jesus (idem, 17) em sua Igreja. Esta antiga serpente estreou sua ira em mim, pelo tempo de que vou falando. Perturbou-me eforou-me, naforma quepde, a cometer algumas faltas que empa vam apureza eperfeio de vida que mepediam, para escrever o que me ordenavam. Continuando neste combate interior, chegou o dia da festa do santo Anjo custodio, 1 de maro(2>. Estando no coro a recitar matinas, senti de repente rindo muito grande que me produziu grande temor reverenciai e me humilhou at a terra. Logo vi grande multido de anjos no ar, em todo o coro, tendo no meio deles um de maior brilho e beleza, como se estivesse num tribunal. Entendi logo que era o arcanjo So Miguel. Disseram-me que eram enviados pelo Altssimo, com poder e autoridade para fazer o julgamento de minhas culpas e descuidos. Repreenso dos Anjos 22. Eu desejava prostrar-me na terra, reconhecer meus erros e chor-los, humilhada ante aqueles soberanos juizes; mas por estar entre as religiosas no me atrevi a despertar-lhes a ateno com aquele ato. Fi-lo, porm, interiormente como me foi possvel, chorando amargamente meus pecados. 2 -Atualmente a 2 de Outubro 11
  20. 20. Stimo Livro - Introduo Neste nterim, compreendi que os anjos diziam entre si: Esta criatura Intil lenta epouco fervorosa emfazer o que o Altssimo e nossa Rainha lhe ordenam, No acaba de dar crdito a seus benefcios e s continuas iluminaes que por ns rec Retiremos-lhe todos estes benefcios, pois no trabalha com eles, no quer ser to pur e perfeita como lhe ensina o Senhor, nem se resolve a escrever a vida de sua Me santssima, como lhefoi ordenado tantas vezes. J que no se emenda, no justo qu receba tantos e to grandes favores e doutrina de santidade. Ouvindo estas palavras, cresceu meu pranto, enchi-me de aflio. Cheia de confuso e de ntima dor e amargura, prometi aos santos anjos a emenda de minhas faltas, e obedecer ao Senhor e sua Me santssima, at morrer se fosse preciso. Pureza anglica 23. A esta humilhao e promessa, os espritos anglicos abrandaram severidade. Disseram-me que, se eu cumprisse com diligncia o que lhes prometia, eles me garantiam assistir-me sempre com seu favor e amparo; aceitar-me-iam por sua companheira, comunicando-se comigo como ofazem entre si. Agradeci-lhes estefavor e lhes pedi que, por mim, o agradecessem ao Senhor. Desapareceram, advertindo-me que para ofavor que me ofereciam eu tinha que imit- los napureza, sem cometer cxdpanem imperfeio deliberada. Esta era a condio para cumprirem o prometido. Meios sensveis de perfeio 24. Depois destes e de outros muitos sucessos que no convm referir, fiquei mais humilhada por me ver to ingrata e indigna de tantos benefcios, exortaes mandatos. Cheia de confuso e dor refleti que j no tinha desculpa para resistir vontade divina, em tudo o que conhecia e a mim tanto importava. Tomando a resoluo de a cumprir, ainda quefosse para morrer na demanda, andei imaginando algum meio sensvel e enrgico que me despertasse e avisass minhas inadvertncias; que me empurrasse de tal modo que, se fosse possvel, no ficasse em mim operaes nem movimentos imperfeitos, e em tudo fizesse o mais santo e agradvel aos olhos do Senhor. Com submisso e de todo o corao, pedi a meu confessor e prelado que me repreendesse severamente e me obrigasse aserperfeita e cuidadosa em tudo o que fosse mais ajustado divina vontade, para eu cumprir o que Deus queria de mim. Neste cuidado ele era vigilntssimo, como quem estava no lugar de Deus e conhecia vontade santssima e o meu caminho. Todavia, nem sempre podia atender-me nem esta presente, pelas ausncias a que o obrigavam os ofcios da vida religiosa e de seu cargo. Decidi tambmfalar a uma Irm, com quem estava mais em contato, rogando- Ihe me cisasse freqentemente com alguma palavra de repreenso, de advertncia ameaa. Imaginava estes e outros meios, com ardente desejo de dar prazer ao Senho e sua Me Santssima eMestra de minha virtude, e aos santos anjos, pois todos tinha igual desejo de meu aproveitamento na maior perfeio.
  21. 21. Stimo Livro - Introduo Interveno do Anjo da guarda 25. Estando assim preocupada, certa noite mantfesfou-se-me o meu anjo da guarda e me disse, com especial agrado: o Altssimo quer condescender com teus desejos e que eu faa contigo o oficio que ests querendo eprocurando quem o exer Eu serei teu fiel amigo e companheiro, para avisar-te e chamar-te a ateno. Para isto sempre me acharspresente, como agora, em qualquer ocasio e tempo que me dirigires o olhar, com desejo de mais agradar a teu Senhor e Esposo, guardando-lhe inteira fidelidade. Eu te ensinarei a louv-lo continuamente, alternando comigo seus louvores, e te manifestarei novos mistrios e tesouros de sua grandeza. Dar-te-ei particulares conhecimentos de seu ser imutvel e de suas perfeies divinas. Quando estiveres ocupada, por obedincia ou caridade, e quando por alguma negligncia te disfrares com alguma coisa exterior e terrena, eu te chamarei e avisarei para volares a colocar no Senhor a lua ateno. Para isto te direi alguma palavra e muitas vezes ser esta: Quem como Deus que habita nas alturas e nos humildes de corao (SI 112, 5)7 Em outras, te lembrarei os benefcios que receheste do Altssimo, o quanto deves a seu amor, inspirand elevares para Ele o teu corao. Nestas advertncias deveras ser pontual, atenta e obediente a meus avisos. O Anjo pertencia aos custdios da Me de Deus 26. O Altssimo no quer esconder-te umfavor que at agora ignoras te, entre tantos que recebeste de sua liberalidade, para desde j lhe agradeceres. Sou um dos mil anjos que seniram de custdios nossa grande Rainha no mundo, e dos assinalado com a divisa de seu admirvel e santo nome. Olha-me, e o vers em meu peito. O prontamente e o vi escrito com grande resplendor, o que me encheu de consolo ejbilo espiritual. Prosseguiu o santo anjo: Mandou-me tambm revelar-te que destes mil anjos poucos e raras vezes so destinados aguardar outras almas; e at agora as que guarda, foram todas do nmero dos santos e nenhuma dos rprobos. Considera, pois, tua obrigao de no alterar esta ordem, pois se com tal graa te perdesses, tua pena e castigo seria dos mais duros entre todos os condenados, e serias conhecida pela mais infeliz e ingrata das filhas de Ado. Ofato de receberes oprivilgio de seres guardada por mim, um dos que foram custdios de nossa grande Rainha e Me de nosso Criador, Maria Santssim desgnio de sua altssima Providncia. Procedeu de te haver escolhido, em sua m divina, entre todos os mortais, para escrever e imitar a vida de sua Me beatssima. F designado para te instruir e assistir, como testemunha imediata das divinas obras e excelncias de nossa Rainha. 13
  22. 22. Stimo Livro - Introduo Instrues do Anjo 27. Embora este oficio seja desempenhado principalmente pela grande Senhora, eu te administro as espcies necessrias, para declarar o que a divina te ensinou Por ordem do Altssimo te dou outras inteligncias para com maior facilidade, escreveres os mistrios que te manifesta. Tu sabes de tudo isto por experincia, ainda que nem sempre conhecias a ordem e mistrio desta providncia. Empregando-a de modo especial contigo, o Senhor me encarregou de, com suave energia, te compelir imitao de sua Me purssima, nossa Rainha, seguindo e obedecendo suas doutrinas. Desde agora, com maior instncia e eficcia, voufazer o que mefoi mandado. Prope serfidelssimae agradecida a to singulares favores, subindo s alturas da perfeio que te pedida e ensinada. Adverte que, se alcanasses os supremos serafins, ainda ficarias devendo muito a to copiosa e liberal misericrdia. O novo modo de vida que o Senhor quer de ti, est contido e se resume na doutrina que recebes de nossa grande Rainha e Senhora, e no mais que entenders e escrevers nesta terceira parte. Ouve-o com docilidade, agradece com humildade, pe- no em prtica, solcita e cuidadosamente. Se o fizeres sersfeliz e bem-aventura Maria abenoa o incio da terceira parte 28. Outras coisas que me disse osanto anjo, no so necessriaspara este caso O que deixo dito e escrito tem afinalidade de manifestar o modo que o Altssimo usou comigo para me obrigar a escrever esta Histria, como tambm para se conhecer pouco, os altos desgnios de sua sabedoria em mandar escrev-la. Eles so, no apenas para mim, mas para todos que desejarem aproveitar do fruto deste beneficio, como eficiente meio para receber pessoalmente o da nossa redeno. Aprender-se- tambm que a perfeio crist no se alcana se lutas com o demnio, sem incessante trabalho em vencer e subjugar as paixes e ms inclinaes de nossa depravada natureza. Para comear esta terceira parte, disse-me a divina Me e Mestra, com aprazvel semblante : Minha bno eterna e a de meu Filho santssimo desa ti, para escreveres o resto de minha vida, fazendo-o com a perfeio que desejamos. Amm. 14
  23. 23. LIVRO T STIMO LIVRO E PRIMEIRO DA TERCEIRA PARTE. CONTM: Os Dons concedidos por Deus Rainha do cu para trabalhar na Santa Igreja; a vinda do Esprito Santo; o copioso fruto da redeno e da pregao dos Apstolos; a primeira perseguio Igreja; a converso de So Paulo e a misso de So Tiago na Espanha; a apario da Me de Deus em Saragoa e a fundao do Santurio de nossa Senhora do Pilar.
  24. 24. A Ssma. Trindade confia a Igreja aos cuidados da Virgem Maria 16
  25. 25. CAPTULO 1 O SALVADOR PERMANECE DIREITA DO PAI, E MARIA SANTSSIMA DESCE DO CU PARA COOPERAR NO ESTABELECIMENTO DA IGREJA COM SUA ASSISTNCIA E MAGISTRIO. A morte no tinha direito sobre Maria 1. Encenei felizmente a segunda parte desta Histria, deixando nossa gran- de Rainha e Senhora no Cenculo e no cu empreo, assentada direita de seu Filho e Deus Eterno (SI 44, 10). Pelo modo mila- groso que lhe concedeu o poder divino, como fica dito, seu coipo santssimo esta- va em ambos os lugares. O Filho de Deus, para tornar sua ascenso mais admirvel, levou-a consigo para dar a posse da inef- vel recompensa que Ela at ento merece- ra, e marcar-lhe o lugar que correspondia aos seus mritos presentes e futuros, e que preparara desde a eternidade. Eu disse tambm, como a Santssima Trindade deixou escolha da divina Me: ficar eternamente naquele felicssimo estado de glria, ou voltar ao mundo para consolo dos primeiros filhos da Igreja do Evangelho, cooperando em seu estabelecimento. Sob esta condio, a vontade das trs divinas Pessoas se incli- nava, pelo amor que tinham a esta singular criatura, a conserv-la naquele abismo em que se encontrava absorta, e a no restitui- la outra vez ao mundo, entre os desterra- dos filhos de Ado. Por um lado, parece que a justia assim o exigia. O mundoj estava redimido com a paixo e a morte de seu Filho, tendo Ela cooperado com toda a plenitude e per- feio. A morte no tinha direito sobre Ela, no s por ter padecido em Si as dores de Cristo nosso Salvador - como disse em seu lugar (2' parte, ns. 1264, 1341, 1381) - mas tambm porque a grande Rainha nun- ca foi tributria da morte, do demnio e do pecado. Por conseguinte, a lei comum dos filhos deAdo (Hb 9,27) no aatingia. Sem morrer como eles, desejava o Senhor - a nosso modo de entender - que tivesse trnsito diferente, passando de viadora a compreensora, do estado mortal ao imor- tal, sem morrer na terra, quem nela no havia cometido culpa para merecer amorte. Mesmo estando no cu, podia o Altssimo pass-la de um estado a outro. A Santssima Trindade d Maria ao mun- do 2. Por outro lado, havia a solicita- o da caridade e humildade desta admir- vel e querida Me. O amor a inclinava a socorrer seus filhos, e a trabalhar para que o nome do Altssimo fosse conhecido e exaltado na Igreja nascente. Desejava tam- bm, com sua intercesso, trazer muitos 17
  26. 26. Stimo Livro - Capitulo 1 perfeio da f, eimitar seusfilhos e irmos de natureza, morrendo na terra ainda que no estava sujeita a este tributo, pois no tinha pecado (Rm 6, 23). Com sua grandiosa sabedoria e admirvel prudncia, conhecia quo esti- mvelerapodermerecer oprmio ea coroa, mais do que possu-la por breve tempo, ainda que fosse na glria. Esta humilde sabedoria no ficou sem pagamento vis- ta. O eterno Pai publicou a todos os corte- sos do cu, o desejo divino e a escolha de Maria para o bem da Igreja militante e amparo dos fiis. Todos conheceram no cu o que justo conhecermos agora na terra. O Pai eterno que, como diz So Joo, amou o mundo at lhe dar seu Unignito para o redimir (Jo 3, 16), agora dava novamente sua filha MariaSantssima, enviando-a de sua glria, para plantar a Igreja que Cristo havia fundado. O Filho deu sua amantssima e dileta Me, e o Esprito Santo a sua querida Esposa. Este benefcio teve outra caracte- rstica que o elevou ao mximo: foi conce- dido aps as injrias, paixo e ignominiosa morte de Cristo, nosso Redentor, que tor- nara o mundo mais desmerecedor. Oh! infinito amor! Caridade imensa! Como fica provado que as muitas guas de nossos pecados no a podem extinguir (Ct 8, 7)! Maria volta docu 3. Terminados trs dias completos que Maria permaneceu no cu, gozando em alma e corpo a glria, direita de seu Filho e Deus verdadeiro; tendo sido aceita sua vontade de voltar terra, partiu do supremo cu empreo para o mundo, com a bno da Santssima Trindade. Deus or- denou a inumervel multido de anjos para a acompanhar, escolhendo-os de todos os coros e muitos dos supremos serafins, mais prximos ao trono da Divindade. Refulgentssima nuvem ou globo luminoso recebeu-a, servindo-lhe de pre- cioso carro ou relicrio, conduzida pelos serafins. No pode caber em humano pen- samento, na vida mortal, abeleza e resplen- dor com que vinha a divina Senhora. E certo que nenhuma criatura vivente a po- deria ver sem perder a vida. Por isso, foi necessrio que o Altssimo velasse sua refulgncia aos que a olhavam, at que se fosse moderando a luz que refletia. S ao evangelista So Joo foi concedido ver a divina Rainha, na plena irradiao da glria que gozava no cu. Bem podemos compreender a magnfica formosura e esplendor da Rainha e Senho- ra dos cus, descendo do trono da beatssima Trindade, pelo que se passou com Moiss (Ex 34,29): tendo falado com Deus no monte Sinai, onde recebeu a lei, voltou com a face to luminosa que os israelitas no o podiam fitar (2Cor 3,13). E no sabemos se o Profeta teria visto claramente a Divindade. Mas ainda que a visse, certssimo que tal viso no chegou ao mnimo da que gozou a Me de Deus. Orao de Maria 4. A grande Senhora chegou ao Cenculo, para substituir seu Filho santssimo na Igreja nascente. Vinha to repleta de dons da graa para o exerccio deste ministrio, que foi a admirao dos anjos e o assombro dos santos, pois era o vivo retrato de Cristo, nosso Mestre e Redentor. Desceu da nuvem de luz e, sem ser vista pelos que estavam no Cenculo, fi- cou em seu ser natural, no sentido de estar s naquele lugar. No mesmo instante, a Mestra da santa humildade prostrou-se em 18
  27. 27. Stimo Livro - Captulo 1 terra e apegando-se ao p, disse: Deus altssimo e Senhor meu, aqui est este vil bichinho da terra, reconhecendo que dela fui formada (Gn 2, 7), passando da no existncia ao ser que tenho, por vossa liberalssimaclemncia. Reconheotambm, altssimo Pai, que vossa inefvel dignao, sem Eu me- recer, me elevou do p dignidade de Me de vosso Unignito. De todo meu corao, louvo e exalto vossa imensa bondade, por assim me terdes favorecido. Em agradeci- mento de tantos benefcios, ofereo-me para viver e trabalhar novamente nesta vida mortal, o quanto vossa vontade santa ordenar. Sacrifco-me como serva fiel, vos- sa e dos filhos da santa Igreja. Apresento-os todos ante vossa imensa caridade e vos suplico, do ntimo de meu corao, que os olheis como Deus e Pai clementssimo. Porelesofereoo sacri- fcio de no gozar vossa glria e repouso, para servi-los; de ter escolhido, livremen- te, privar-me de vossa clara viso, para sofrer e trabalhar no que vos to agrad- vel. So Joo evangelista conhece o mistrio 5. Para voltar ao cu, despediram- se da Rainha os santos anjos que a tinham acompanhado, dando terra parabns por- que nela deixaram novamente por morado- ra a grande Rainha e Senhora. Advirto que, estando a escrever isto. os santos prncipes me perguntaram porque eu no costumava, mais vezes nes- ta Histria, chamar Maria Santssima, Rai- nha e Senhora dos anjos: que no descui- dasse faz-lo daqui em diante, pelo grande gozo que sentem com isso. Para lhes obe- decer e lhes dar gosto, daqui em diante, muitas vezes, darei esse ttulo Me de Jesus. Prossigamos nossa Histria. De- pois que a divina Me desceu do cu ao Cenculo, permaneceu por trs dias muito abstrada de tudo, gozando a redundncia do jbilo e demais efeitos da glria que recebera nos trs dias precedentes no cu. Deste escondido sacramento, ape- nas o Evangelista, entre todos os mortais, teve conhecimento. Numa viso lhe foi manifestado como a grande Rainha subira ao cu em companhia de seu Filho Santssimo, e de l aviu descer com a glria e os dons com que voltou ao mundo, para enriquecer a Igreja. Pasmado de to surpre- endente mistrio, So Joo esteve dois dias como suspenso e fora de si. Depois de sua Me santssima ter descido das altu- ras, queria falar-lhe mas no tinha coragem. So Joo na presena de Maria 6. Entre o fervor do amor e o retra- imento da humildade, esteve o predileto Apstolo lutando consigo quase um dia todo. Vencido pela afeio filial, lesolveu ir presena da divina Me no Cenculo. mas de caminho ainda hesitou, pensando: Como atrever-me a satisfazer meu desejo, sem primeiro saber a vontade do Altssimo e de minha Senhora? Meu Redentor e Mestre, porm, ma deu por Me e favore- cendo-me com o ttulo de filho me confiou a obrigao de servi-la. meu ofcio, e suave e piedosa como , me perdoar e no desprezar meu desejo. Vou prostrar-me a seus ps. Decidiu-se e entrou onde estava a divina Rainha, em orao com os demais fiis. No momento que levantou os olhos para v-la, caiu prostrado sentindo efeitos semelhantes aos que, com seus dois com- panheiros, sentira no Tabor quando o Se- nhor se transfigurou (Mt 17, 2). O resplendor que So Joo viu no rosto da Me Santssima era muito seme- 19
  28. 28. Stimo Livro - Capitulo 1 lhante ao do Salvador, naquela ocasio. Como o Apstolo ainda tinha presentes as espcies da viso, na qual a viu descer do cu, suanatural fraqueza noresistiuecaiu em terra. Repleto de admirao e gozo, esteve assim prostrado quase uma hora sem poder levantar-se, venerando profun- damente a Me de seu Criador. Os demais Apstolos e discpulos que se encontravam no Cenculo, no estranharam nem perceberam a razo des- se fato porque, imitao de seu divino Mestre e com o exemplo e ensinamento de Maria Santssima, rezavam muitas vezes em cruz ou prostrados, enquanto aguarda- vam a chegada do Esprito Santo. Humildade da Virgem 7. Estando assim prostrado o hu- milde e santo apstolo, aproximou-se a piedosa Me e o fez levantar-se do solo. Mostrando-se com o semblante mais nor- mal, ps-se dejoelhos e lhe disse: Senhor, - meufilho,j sabeis quetodasminhas aes sero feitas por obedincia a vs, porque estais no lugar de meu Filho santssimo e meu Mestre, para ordenar-me tudo o que devo fazer. Quero pedir-vos novamente que assim o faais, pelo consolo que sinto em obedecer. Ao ouvir estas palavras, o santo Apstolo encheu-se de pasmo e confu- so, em vista do que conhecera sobre a grande Senhora. Tornou a prostrar-se em sua presena, oferecendo-se por seu es- cravo e suplicando fosse Ela a mand-lo e govern-lo em tudo. Nesta porfia persistiu So Joo al- gum tempo, mas por fim, vencido pela humildade de nossa Rainha, sujeitou-se sua vontade, obedecendo-lhe em mand- la, como a Senhora desejava. Para ele era o mais acertado, e para ns exemplo raro e enrgico para nos repreender e ensinar a reprimir a soberba. Se nos confessamos filhos e devotos desta divina Me e Mestra de humildade, justo e devido imit-la e segui-la. Ficaram to impressas no entendi- mentoepotnciasinterioresdo Evangelista, as espcies do estado em que viu a grande Rainha dos anjos que, por toda a sua vida, aquela imagem lhepermaneceu no interior. Nesta ocasio, quando a viu descer do cu, ficou suspenso de admirao. As inteli- gncias que dela teve, o santo Evangelista exps mais tarde no Apocalipse, em parti- cularnocaptulo21, como direi no seguinte desta histria. DOUTRINA QUE ME DEU A GRANDE RAINHA E SENHORA DOS ANJOS. Condies de progresso 8. Minha filha, at agora, muitas
  29. 29. Sclimo Li vezes repeti que deves te afastai de todas as coisas visveis e terrenas, morrer a ti mesma e tua herana de filha de Ado. Assim te admoestei e ensinei nas doutri- nas da primeira e segunda parte de minha vida. Agora te chamo novamente, com afeto de amorosa e piedosa Me. Em nome de meu Filho santssimo, meu e de seus anjos, que tambm muito te amam, convi- do-te para, esquecida de tudo o que tem ser, te elevares a outra nova vida mais alta, celestial e imediata eterna felicidade, Quero que te afastes completamen- te de Babilnia, de teus inimigos e das falsas vaidades com que te perseguem, e te aproximes da celestial Jerusalm. Vive em seus trios, ocupando-te inteiramente em minha verdadeira e perfeita imitao. Por ela, com a divina graa, chegars ntima unio com meu Senhor e teu divino e fidelssimo Esposo. Ouve. pois, carssima, a minha voz, com alegre devoo e pronta vontade. Segue-me, fervorosa, renovando tua vida pelo modelo que vais delineando com a minha. Atende ao que eu fiz, depois que da destra de meu Filho santssimo voltei ao mundo. Medita e penetra cuidadosamente minhas obras, para, segundo a graa que receberes, copiares em tua alma o que entenderes e escreveres. O auxlio divino no te faltar, porque o Altssimo nada quer recusar a quem, de sua parte, faz o que pode no que de seu agrado e beneplcito. S por tua negligncia desmerece- rs seu favor. Prepara e abre teu corao, afervora tua vontade, purifica teu entendi- mento, esvazia ruas potncias de toda ima- gem, e espcies de criaturas visveis. Que nenhuma te embarace e te faa cometer uma leve culpa ou imperfeio sequer, para que o Altssimo possa depositar em ti sua oculta sabedoria. Deste modo, estars pre- parada e pronta para realizar com ela todo o mais agradvel a nossos olhos, conforme - Captulo 1 te ensinaremos. Vida ressuscitada 9. Desde hoje, tua vida dever ser como a vida de algum que a recebeu ressuscitada, depois de ter morrido que tinha antes. Quem recebe esta graa, cos- tuma voltar vida transformado e quase estranho a tudo o que antes amava. Seus desejos mudaram, refoimou-se sua menta- lidade e seu procedimento completamen- te outro. Deste modo, e com maior eleva- o, quero que tu, minha filha, fiques reno- vada. Devers viver como se participasses dos dotes gloriosos da alma, na forma que te possvel e com o poder divino que agir em ti. Para estes efeitos to divinos, po- rm, necessrio que colabores e prepares o corao. Fica livre, como tbua bem po- lidaecerabranda, onde odedo do Altssimo possa escrever e desenhar sem resistn- cia, e imprimir-lhe a marca deminhas virtu- des. Quer o Senhor que sejas, em sua poderosa mo, o instr umento para realizar sua vontade santa e perfeita. O instrumen- to no resiste vontade do artfice, e se tem vontade usa dela s para se deixar manejar. Vem, pois, carssima, para onde te chamo. Adverte que, se ao Sumo Bem natural, em todos os tempos, comunicar-se e beneficiar suas criaturas, no presente sculo quer este Senhor e Pai das miseri- crdias manifestar mais sua liberal clemn- cia pelos mortais. Isto porque o tempo se esgota e so poucos os que querem se dispor para rece- ber os dons de sua poderosa destra. No percas tu, to boa oportunidade. Segue e cone aps meus passos e no contristes o Esprito Santo, com morosidade, quando Ele teconvida a tanta felicidade com mater- nal amor e to elevada e perfeita doutrina. 21
  30. 30. CAPTULO 2 SO JOO EVANGELISTA, MARIA E O APOCALIPSE. NO CAPTULO 21 FALA, LITERALMENTE, DA VISO QUE RECEBEU AO V-LA DESCER DO CU. SoJoo Evangelista, secretriode Maria santssima 10. Com amor de predileo, nosso Salvador crucificado dera ao apstolo So Joo o sobreexcelente ofcio e dignidade de filho de Maria Santssima. Era conse- qente a esta obrigao, tornar-se secret- rio dos inefveis mistrios da grande Rai- nha, que a outros permaneciam mais ocul- tos. Por isto, foram-lhe revelados muitos dos que Nela se realizaram, e foi testemu- nha ocular do misterioso segredo especial que sucedeu no dia da Ascenso do Se- nhor aos cus. Foi concedido a esta guia sagrada ver subir o sol, Cristo nosso bem, com luz sete vezes mais intensa, como diz Isaias (30,26), e a lua com luz como a do sol, to semelhante lheera. Viu-a ofeliz Evangelista subir e permanecer destra de seu Filho, e com grande admirao viu-a tambm des- cer. Conheceu como voltava ao mundo, renovada e transformada, depois que rece- bera a inefvel glria do cu, com tantos influxos da Divindade e participao de seus atributos. Prometera nosso Salvador Jesus aos Apstolos que, antes de subir ao cu, providenciaria para que sua Me Santssimapermanecesse com eles na Igre- ja, para seu consolo e instruo como ficou dito no fim da segunda parte (3). O Aps- tolo Joo, porm, com o gozo e admirao de ver a grande Rainha direita de Cristo nosso Salvador, esqueceu-se por um mo- mento daquela promessa. Absorto naque- la to inesperada novidade, chegou a rece- ar que a divina Me ficasse l na glria que gozava. Nesta dvida, padeceu So Joo, apesar dojbilo que sentia, outros amoro- sos delquios que muito o afligiram, at que tomou a se recordar das promessas de seu Mestre e Senhor, e viu sua Me Santssima descer novamente terra. Os mistrios de Maria esua oportunidade 11. Os mistrios desta viso fica- ram impressos na memria de So Joo e jamais os esqueceu, como tambm os de- mais que lhe foram revelados sobre a gran- de Rainha dos anjos. Desejava ardente- mente, o sagrado Evangelista, deixar not- cias deles na Igreja. A humildade prudentssima de Maria, Senhora nossa, impediu-o de os manifestar, enquanto Ela vivia na terra. Deveria conserv-los escondidos no corao, at o Altssimo ordenar de outro modo, porque naquela poca no 3 - 2* parte, n" 1505 23
  31. 31. Stimo Livro - Captulo 2 convinha torn-los conhecidos no mun- do. Obedeceu o Apstolo vontade da divina Me. Ao chegar o tempo oportuno, de acordo com a disposio divina, o Evangelista, antes de morrer, enriqueceu a Igreja com o tesouro destes ocultos sacra- mentos. Foi ordem do Esprito Santo que os escrevesse em metforas e inigmas, to difceis de entender, como a prpria Igreja reconhece. Foi conveniente que no ficas- sem claros para todos, mas fechados e selados como a prola e o ncarno interior da concha, ou como o ouro oculto nos veios da terra, para que a Igreja com nova luz e operosidade, os extrasse quando fosse necessrio. Enquanto isso, perma- neceriam em depsito na obscuridade das sagradas Escrituras, especialmente no li- vro do Apocalipse, assim como declaram os santos Doutores. Perigo da idolatria 12, A respeito da providncia que usou o Altssimo em esconder a grandeza de sua Me Santssima na primitiva Igreja, j falei alguma coisa no decurso desta divina Histria (2a parte, n 413). No me dispenso de repetir aqui a mesma adver- tncia, pela admirao que vai sentir quem agora a for conhecendo. Para tirar a dvida, se algum a tiver, ajudarmuitoconsiderar oque diver- sos santos e Doutores advertem, sobre o fato de ter Deus ocultado aos judeus o corpo e a sepultura de Moiss (Dt 34, 6). Foi para evitar que aquele povo, to incli- nado idolatria, prestasse adorao ou algum outro culto supersticioso e vo, ao corpo do Profeta que tanto haviam estima- do. Dizem que,pelamesmarazo, quan- do Moiss descreveu a criao do mundo e de todas as criaturas, ainda que os anjos eramapartemaisnobredelas, oProfeta no os designou com palavras claras, mas su- bentendeu sua criao, naquela frase: Deus criou a luz (Gn I, 3). Nesta expresso, deixou possibilidade para se entender a luz material, que ilumina este mundo visvel e, por metfora, tambm aquelas luzes subs- tanciais e espirituais, os santos anjos, de quem, naquela ocasio, no era oportuno deixar mais claranotcia. Chegou o tempo de exaltar Maria 13. A idolatria sempre contagiara os hebreus, pelo contato e proximidade com os gentios, to inclinados e cegos em atribuir divindade a todas as criaturas que lhes pareciam grandes, poderosas ou su- periores em algum poder. Muito maior pe- rigo havia para os prprios gentios, se ao comear lhes pregar o Evangelho e a f em Cristo nosso Salvador, se lhes propuses-
  32. 32. Stimo Livro - Captulo 2 se, ao mesmo tempo, a excelncia de sua Me santssima. Como prova desta verdade basta o testemunho de So Dionisio Areopagita.(4) Sbio filsofo, atravs da natureza chegou ao conhecimento da Deus. Apesar disso, chegando, quando cristo, a ver e falar com Maria santssima, declarou que se a f no lhe ensinara ser Ela pura criatura, t-la-ia considerado e adorado como divindade. Neste perigo incorreriam os pagos ignorantes e confundiriam a divindade do Redentor, em que deveriam crer, com a grandeza de sua Me purssima, se ambas lhes fosse propostas ao mesmo tempo. Pensariam que tambm Ela era Deus como seu Filho, j que eram to semelhantes na santidade. Este perigo agora cessou. Arrai- gou-se profundamente na Igreja a f do Evangelho, ilustrada com a doutrina dos sagrados Doutores e com tantas maravi- lhas operadas por Deus, para manifesta- o do Redentor. Com toda esta luz, sabe- mosquesEleDeusehomem verdadeiro, cheio de graa e de verdade (Jo 1,14); que sua Me pura criatura e, sem ter divinda- de, foi cheia de graa, imediata a Deus e superior a todo o resto das criaturas. Nesta poca, esclarecida pelas ver- dades divinas, sabe o Senhor, quando e como convm aumentar a glria de sua Me santssima, revelando os enigmas e segredos das sagradas Escrituras, onde a conserva encerrada. Maria no Apocalipse 14.0 mistrio de que vou falando, com outros muitos de nossa grande Rai- nha, foi descrito sob metforas pelo Evangelista, no captulo 21 do Apocalipse, em particular quando chamou Maria Santssima cidade santa de Jerusalm, e a 4 - S. Dion. in epis. ad Pautam descreveu em todo aquele captulo. Na primeira parte desta Histria, expliquei-o mais por extenso, em trs cap- tulos, aplicando-o, conforme me foi dado a entender, ao mistrio da Imaculada Con- ceio da Me santssima. Agora, ser comentado para explicar a descida da Ra- inha dos Anjos do cu terra, depois da Ascenso de seu Filho santssimo. No se pense, por isto, haver con- tradio entre estas interpretaes. Ambas esto contidas no texto sagrado, pois no h dvida que a divina Sabedoria pode, na mesmaletra, encerrarperfeitamentemuitos mistrios. Disse David (SI 61, 12) que numa palavra se podem entender duas coisas, como realmente as entendeu, sem confuso nem engano. E esta uma das causas da dificuldade da Sagrada Escritura e necessrio, para que a obscuridade a faa mais fecunda e estimvel, e seja tratada pelos fiis commaior humildade, ateno e reverncia. Tal estilo, cheio de mistrio e metforas, adequado para significar me- lhormuitos mistrios, sem for-los dentro dos limites de termos mais restritos. Dois mistrios num s texto ( 15. Isto se entender melhor no mistrio de que falamos: Diz o Evangelista que viu descer do cu a cidade santa de Jerusalm nova e adornada, etc. (Ap 21,2). No h dvida que a metfora de cidade convmrealmente aMaria santssima; ago- ra desceu do cu, depois de ter a ele subido com seu bendito Filho. Antes, na sua con- cepo imaculada, tambmdesceu da men- te divina, onde foi formada como novo cu e nova terra, segundo ficou explicado na primeira parte. Quando a viu descer corporalmen- te, na ocasio que vamos descrevendo, o Evangelista abrangeu ambos os mistrios, 25
  33. 33. Stimo Livro - Capitulo 2 e os encenou naquele captulo. Agora ser explicado neste sentido e, ainda que se repita a letra do sagrado texto, ser com mais brevidade, pelo que j ficou dito na primeira explicao. Desta vez, falarei em nome doEvangelista paramecingirmais ao texto. O novo cu e a nova terra 16. "Vi, diz So Joo, um cu novo e terra nova, porque j passou o primeiro cu eaprimeira terra, eomarnomaisexiste (Ap 21, 1)". Cu novo e terra nova signi- ficam a humanidade santssima do Verbo Incarnado e sua divina Me. Cu pela habitao, novo pela renovao. Em Cristo Jesus nosso Salvador habita a divindade (Cl 2, 9) em unidade de pessoa pela unio substancial e indissolvel. Depois de Cris- to, a divindade habita em Maria, por modo singular, de graa. Agora, aps a ressurreio e a asceno, estes cus so novos. A Huma- nidade passvel, chagada, morta e sepulta- da, S. Joo aviu elevada e colocada destra de su eterno Pai, coroada dos dotes da glria, merecidos por sua vida e morte. Viu tambm a Me que lhe deu este serpassvel e cooperou na redeno da linhagem hu- mana, assentada destra de seu Filho (SI 44, 10). Absorta no oceano da divina e inacessvel luz, participando da glria de seu Filho pelo ttulo de Me e pelo justo mrito de suas obras de inefvel caridade. Chamou tambm cu novo e terra nova a ptria dos viventes, renovada com a lmpadado Cordeiro (Ap 21,23), com os despojos de seu triunfo e com a presena de sua Me. Reis verdadeiros, ao tomarem posse do reino eterno, renovaram-no pelo novo gozo que comunicaram a seus anti- gos moradores. Esta alegria procedeu da sua presena e dos novos filhos de Ado que trouxeram para povoar o cu, como cidados e familiares que jamais o perde- ro. Com esta novidade, terminou o pri- meiro cu e a primeira terra, por diversos motivos. O cu da Humanidade santssima de Cristo e o de Maria, onde Cristo viveu comonumprimeiro cu, subiram s eternas moradas, levando a elas a terra da natureza humana. Por sua vez os homens passaram do antigo cu e terra da natureza passvel, aos novos do estado da impassibilidade. Foram-se os rigores da justia e chegou o descanso. Passou o inverno dos sofrimen- tos (Ct 2, 11) e chegou o vero do eterno gozo e alegria. Acabou tambm a primeira terra e cu dos mortais, porque entrando Cristo, nosso bem, com sua Me Santssima na celestial Jerusalm, quebraram-se as fe- chaduras e cadeados que a conservavam fechada h cinco mil duzentos etrinta e trs anos. Neste tempo os mortais nela no podiam entrar, enquanto a divina justia no fosse satisfeita pela reparao do pe- cado. Maria, novo cu e nova terra 17. Maria santssima, em particular, foi novo cu e nova terra, ao subir ao cu com seu Filho e Salvador Jesus. Ai tomou posse, sua destra, na glria da alma e do corpo, sem haver passado pela morte co- mum a todos os filhos dos homens. Em sua condio humana, Elaj era cu onde, por modo especialssimo, vivia a Divindade. Agora, por ordem admirvel, passou a ser novo cu e nova terra, onde habitava Deus com suma glria entre todas as criaturas. Por esta renovao, nesta terra habitada por Deus, no existia mar. Para Ela, Maria, teriam terminado as amarguras e tormentos dos trabalhos se aceitasse 26
  34. 34. Stimo Livro Captulo 2 permanecer, desde aquela hora, naquele felicssimo estado. Para os outros que, em alma e coipo ou s em alma, ficaram na glria, tampouco houve mar de borrascas e perigos, como havia na primeira terra do estado mortal. As riquezas da graa em Maria 18. "E eu, Joo - prossegue o Evangelista - vi a cidade santa de Jerusa- lm que descia do cu e de Deus, adornada como a esposa para o seu esposo (Ap 21, 2)". - A mim, indigno Apstolo de Jesus Cristo, foi revelado este oculto mistrio, para manifest-lo ao mundo. Vi a Me do Verbo humanado, verdadeira e mstica ci- dade de Jerusalm, viso de paz, que des- ciadotronodeDeusterra. Vinha revestida de divindade, adornada com nova partici- pao de seus atributos - sabedoria, poder, santidade, imutabilidade, amabilidade - e toda semelhante a seu Filho. Vinha como instrumento da onipotente destra, como vice-deus, por nova participao. Privan- do-se, voluntariamente, do gozo da viso beatfca, vinha terra para trabalhar em benefcio dos fiis. Por este motivo, determinou o Altssimo envi-la preparada e guarnecida com todo o seu poder. Quis suprir o estado da viso beatfca que Ela deixara, com outra participao e viso de sua incom- preensvel divindade. Compatvel com o estado de viadora, esta viso era to divina e elevada que excedia a todo humano e anglico entendimento. Para isto adornou-a, por sua mo, com todos os dons possveis, e a deixou preparada como esposa para seu esposo, o Verbohumanado.Nenhuma graae exce- lncia, das que Ele pudesse lhe desejar, n'Ela faltou. Nem por estar ausente de seu trono, este Esposo deixou de permanecer com Ela e n'Ela como em cu e trono pro- porcionado. Como a esponja se embebe do licor onde mergulha, enchendo com ele todos seus espaos, assim tambm, a nos- so modo de entender, ficou esta grande Senhora repleta da influncia e comunica- o da divindade. Por Maria, Deus permanece com os ho- mens 19. Prossegue o texto: "Ouvi uma grande voz que saa do trono e dizia: Olha o tabernculo de Deus com os homens; habitarcom eles, sero seu povo e ele ser seu Deus. (Ap21,3)". Esta voz que saiu do trono, atraiu toda minha ateno, com divinos efeitos de suavidade e gozo. Entendi como, ainda em vidamortal, agrande Senhora recebia a posse da recompensa futura, por singular favor e prerrogativa, devida somente a Ela entre todos os mortais. Ainda que nenhum dos que che- gam a receber esta recompensa, tem poder ou liberdade para voltar a este mundo, a esta esposa nica foi concedida tal graa, para exaltao de sua grandeza. Tendo chegado posse da glria do cu, reconhe- cida e aclamada por seus cortesos, como legtimaRainha eSenhora, livremente des- ceu terra, para ser serva de seus prprios vassalos e cri-los e dirigi-los como filhos. Por esta imensa caridade, mereceu novamente ter a todos os mortais como seu povo, sendo-lhe confirmada a posse da Igreja militante, onde voltava a ser habitan- te e governadora. Assim, mereceu tambm que Deus permanecesse com os homens, misericordioso e propcio, porque no peito de Maria purssima esteve sacramentado todo o tempo que Ela viveu na Igreja, depois que desceu do cu. Paraficarcom 27
  35. 35. Scumo Livro - Capitulo 2 Ela, ainda que no houvesse outras razes, seu Filhoter-se-ia sacramentado. Em suma, pelos mritos e splicas de sua Me, esta- va Ele com os homens, por graa e novos favores. Maria, alegria do mundo 20. Porissoacrescenta: "Eenxuga- r as lgrimas de seus olhos, e no haver maismorte, nem prantonem clamor(Ap 21, 4y Vindo esta grande Senhora como Me dagraa, damisericrdia, do gozoe da vida, Ela enche o mundo de alegria e enxu- ga as lgrimas que o pecado de nossa me Eva ocasionou. Ela transformou o luto em regozijo, o pranto em novo jbilo, os cla- mores em louvor e glria, e a morte do pecado em vida, para quem a Ela recorrer. J se acabou a morte do pecado, os clamo- res dos rprobos e sua dor irremedivel. Se, a tempo, os pecadores procura- rem refgio neste sagrado tabernculo, nele acharo perdo, misericrdia e conso- lo. Os primeiros sculos que no possu- ram Maria, a Rainha dos anjos, j se foram e passaram com ador. Terminaramtambm os clamores dos que a desejaram e no a viram. Agora, o mundo a possui para seu remdio e amparo, pois Ela detm ajustia divina e solicita misericrdia para os pe- cadores. Maria, tipodasantidadeevanglica 21. "O que estava no trono disse: Presta ateno, que fao novas todas as coisas (Ap 21,5)". Esta voz foi do Eterno Pai que me deu a conhecer como fazia tudo novo: nova Igreja, nova lei, novos Sacra- mentos. Tendo feito tantos favores aos homens, com dar-lhes seu Filho unignito - (Jo 3, 16), fazia-lhes outro singularissimo. enviava-lhes sua Me, toda renovada com admirveis dons, e com poder para distri- buir os tesouros da redeno. Seu Filho deps em suas mos para os derramai sobre os homens, conforme sua prudentssima vontade. Por isto, de seu real trono a enviou Igreja, renovada com a imagem de seu Unignito, marcada pelos atributos da Divindade. Fiel cpia daquele original, quanto em pura criatura era pos- svel, seria tipo da santidade da nova Igreja evanglica. Em Cristo e Maria, Deus tudo deu aos homens 22. " E disse-me: Escreve, porque estas palavras so fidelssimas e verdadei- ras. Eme disse tambm:jestfeito. Eusou o princpio e o fim, e ao sedento darei gratuitamente a beber da fonte da vida. Quem vencer possuir estas coisas, serei Deus para ele e ele ser filho para mim (Ap 21,5-7)". De seu trono, o prprio Senhor me mandou escrever este mistrio, para teste- munho da fidelidade e verdade de suas palavras, e das admirveis obras que rea- lizou com Maria Santssima, em cuja gran- deza e glria empenhou sua onipotncia. Por serem estes mistrios to ocultos e elevados, eu os escrevi em smbolos e enigmas. No tempo marcado pelo Senhor, seriam manifestados ao mundo, e se enten- deria quej estava realizado todo o poss- vel e conveniente para o remdio e salva- o dos homens. Dizendo que estava feito, os responsabilizava de todos estes bene- fcios: enviara seu Unignito para redimi- los com sua Paixo e morte, e instru-los com sua vida e doutrina; deu-lhes sua Me, enriquecida para socorrer e amparar 28
  36. 36. Stimo Livro - Captulo 2 a Igreja; mandara o Esprito Santo para a propagar, ilustrar, confirmar e fortalecer com seus dons, como lhes prometera. E, porque no teve mais o que dar, o Eterno Pai disse: "j est feito Era como se dissesse: Dei todo o possvel minha onipotncia e o conveni- ente minha equidade e bondade, como princpio e fim que sou de tudo o que tem ser. Como princpio, dou-o a todas as coi- sas pela onipotncia de minha vontade; como fim, asrecebo, ordenandopor minha sabedoria os meios para chegarem a con- seguir este fim. Osmeios seresumem emmeu Filho e sua Me, minha dileta e nica entre os filhos de Ado. Neles se encontram as guas puras e vivas da graa. Nesta fonte e origem, bebem todos os mortais que, sedentosdasalvaoeterna,vierem busc- las (Jo 7, 37). Para eles sero concedidas gratuitamente pois no as podem merecer. Foram merecidas pela vida de meu Filho humanado eporsuafeliz Mequeasobtm e merece para os que a Ela recorrem. Para quem vencer a si mesmo, ao mundoeaodemnio, quepretendem impe- dir estas guas de vida eterna, serei Deus liberal, amoroso e onipotente. Este vence- dor possuir todos os seus bens e quanto lhe preparei por meio de meu Filho e sua Me. Adot-lo-ei por filho e herdeiro de minha eterna glria. A segunda e eterna morte 23. "Quanto aos tmidos, aos in- crdulos, execrveis, homicidas, fornicadores, feiticeiros, idolatras e a to- dos os mentirosos, sua parte ser o tanque de fogo e enxofre, que a segunda morte (Ap21,8y A todos os filhos de Ado dei o meu Unignito por Mestre, Redentor e Irmo. Dei-lhes sua Me para amparo, medianeira e poderosa advogada junto a Mim. Como tal, a devolvo ao mundo para todos entenderem ser meu desejo que se valham de sua proteo. Aos que, porm, no venceram a covardia da carne em padecer, ou no creram nos testemunhos e maravilhas que realizei a seu favor e esto testificados em minhas Escrituras; aos que, apesar de te- rem acreditado, se entregaram s torpes impurezas dos deleites carnais; aos feiti- ceiros, idolatras que abandonaram meu verdadeiro poder e divindade, para seguir o demnio; a todos os que praticaram a mentira e a maldade; no os aguarda outra herana, mais do que aquela que eles mes- mosescolheram. Seroformidvel fogo do inferno, o tanque de enxofre que arde sem claridade, com abominvel odor. Ali haver para os rprobos, diver- sidade de penas e tormentos correspon- dentes s abominaes de cada um, ainda quetodas tenham a mesma durao eterna, e a privao da viso divina que beatfca aos Santos. Ser a segunda morte sem remdio, porque no se aproveitaram da- quele quelhesfoi oferecido para a primeira morte do pecado. Teriam podido resgat- lo erecuperado avida dagraa, por virtude do Redentor e de sua Me. Os castigos no fim dos tempos 24. Prosseguindo a viso, diz o Evangelista: "Veio um dos sete anjos que tinham sete taas cheias dos sete ltimos castigos, efalou comigodizendo: Vem,eeu te mostrarei a noiva, a esposa do Cordeiro (Ap21,9)". Conheci que estes anjos eram dos supremos e mais prximos do trono da 29
  37. 37. Stimo Livro - Captulo 2 beatssima Trindade. Foi-lhes dado espe- cial poder, para castigar a ousadia dos homens que cometessem os referidos pe- cados, depois de realizado no mundo o mistrio da Redeno, vida, doutrina e morte de nosso Salvador. E depois de disporem de sua Me Santssima, para remediar aos pecadores que a invocam de todo o corao. Na sucesso dos tempos, estes sacramentos iriam sempremais se manifes- tando, com milagreseluzafavor do mundo, com os exemplos e vida dos santos, em particular os fundadores dos institutos de vida religiosa, e tantos mrtires e confes- sores. Por estas razes, os pecados dos homens, nos ltimos sculos, sero mais graves e detestveis. Na medida de tantos benefcios, a ingratido ser mais pesada e digna de maiores castigos. Em conseqn- cia, merecero maior indignao dajustia e ira divina. Assim, nos tempos futuros - que para ns o presente - Deus castigar os homens rigorosamente, com pragas excessivas, porque sero as ltimas e as mais prximas ao juzo final. (Veja-se na primeira parte o nmero 266). Maria, a Jerusalm celeste 25. "E o anjo transportou-me em esprito a um grande e alto monte e mos- trou-me a cidade santa, Jerusalm, que descia do cu, de junto de Deus (Ap 21, 10)". Com a fora do poder divino, fui elevado a um alto monte de suprema inte- ligncia e luz de ocultos sacramentos. Com o esprito iluminado, vi a noiva do Cordei- ro, sua Esposa, como a cidade santa de Jerusalm. Noiva do Cordeiro, pela seme- lhana e amor com Aquele que tirou os pecados do mundo (Jo 1, 29). Esposa, porque O acompanhou, inseparavelmente, em todas suas obras e maravilhas. Por Ela desceu do seio de seu eterno Pai, e veio ter suas delcias com os filhos dos homens (Pv 8, 31), visto serem irmos desta Esposa, e por Ela, tambm irmos do mesmo Verbo humanado (Mt 28, 10: Jo 20, 17). Vi-acomocidadedeJerusalm, hos- pedando em si e dando espaosa habita- o a quem os cus e a terra no podem conter (2a Parte 6,18). Nesta cidade, Ele ps o templo e propiciatrio onde quis ser procurado, para se mostrar propcio e libe- ral com os homens. Vi-a como cidade de Jerusalm, porque vi encerradas em seu interior todas as perfeies da Jerusalm triunfante, e todo o fruto da redeno hu- mana. Ainda que,na terra, Ela se humilhava e se prostrava a nossos ps, vi-a nas altu- ras, elevada ao nono direita de seu Unignito (SI 44,10), donde descia Igre- ja, prspera e enriquecida para favorecer aos seus filhos e fiis. 30
  38. 38. CAPTULO 3 CONTINUAO DA EXPLICAO DO CAPTULO 21 DO APOCALIPSE. A imensa glria de Maria 26. Esta cidade santa de Jerusalm, Maria, Senhora nossa - diz o Evangelista - "tinha a claridade de Deus e seu resplen- dorera semelhante aumapedrapreciosa de jaspe, transparente como cristal (Ap 21, 11). Desde, o instante em que Maria Santssima recebeu a existncia, sua alma foi repleta e banhada de uma participao da Divindade, nunca vista nem concedida aoutracriatura.nica, sElaeraaclarssima aurora que participava dos resplendores do sol, Cristo, Deus e homem verdadeiro, qued'Elahaveriadenascer. Adivinaluzfoi crescendo at Maria chegar ao supremo estado, destra de seu Filho unignito, no trono da beatssima Trindade. Vestida com a variedade de todos os dons, graas, mritos, virtudes e glria, ultrapassou to- das as criaturas (SI 44,10). Quando a vi naquele lugar e luz inacessvel, pareceu-me que tinha a pr- pria claridade de Deus. N'Ele encontrava- se como na fonte e origem, e em Maria por participao. Por meio da humanidade de seu Filho unignito, a mesma luz se via na Me e no Filho, diferenciando-se apenas pelo grau de intensidade. Na substncia, porm, parecia a mesma, e no era vista em qualquer outro bem-aventurado, nem em todos eles reunidos. Pela cintilao pare- cia jaspe, pelo valor era preciosa, e pela belezadaalmaedocorpo, eracristal banha- do e transformado na mesma claridade e luz. Maria, inexpugnvelcidade de refgio. 27. "Tinha a cidade um grande e alto muro com doze portas e nelas doze anjos, e escritos os nomes das doze tribos de Israel: trs portas ao Oriente, trs ao Setentrio, trs ao Meio-dia e trs ao Oci- dente (Ap21,12-13)". O muro que defendia e cercava esta cidade santa de Maria Santssima, era to alto e grande quanto o o mesmo Deus, com sua onipotncia infinita e todos seus atributos. Todo seu poder e grandeza divi- na, toda sua sabedoria imensa ele empre- gou em guarnecer esta grande Senhora, para fortific-la e defend-la dos inimigos que a poderiam assaltar. Estainvencveldefesafoi duplicada, quando Ela desceu ao mundo para nele viver sozinha, sem a presena de seu Filho santssimo, afimde estabelecer a nova Igreja do Evangelho. Para esta misso dis- 5 - Setentrio : Norte Meio Dia : Sul Oriente : Leste 1 Ocidente : Oeste
  39. 39. Stimo Livro ps, sua vontade, de todo o poder de Deus contra os inimigos da Igreja, visveis e invisveis. Depois que o Altssimo fundou esta cidade de Maria, franqueou liberalmente seus tesouros. Por Ela quis chamar todos os mortais ao seu conhecimento e eterna felicidade, sem fazer acepo entre genti- os,judeus e brbaros, nem entre diferentes naes e estados. Por este motivo, cons- truiu esta cidade santa com doze portas, distribudas igualmente pelas quatro par- tes do mundo. Nelas colocou doze anjos, que chamassem e convidassem a todos os filhos de Ado, para despertar em todos a devoo e piedade por sua Rainha. Estas portas traziam os nomes das doze tribos, para que ningum se conside- re excludo do sagrado refgio desta Jeru- salm divina. Todos devem entender que Maria Santssima leva seus nomes grava- dos no corao e nos mesmos privilgios que recebeu do Altssimo, para ser Me de clemncia e misericrdia, e no dejustia. Rainha e mestra dos Apstolos 28. "O muro desta cidade tinha doze fundamentos, e neles estavam escri- tos os nomes dos doze Apstolos do Cor- deiro (p21,14)' Quando nossa grande Me e Mes- tra esteve destra de seu Filho e Deus verdadeiro, no trono de sua glria, ofere- ceu-se para voltar ao mundo e trabalhar pela Igreja. Nesta ocasio, o Senhor encar- regou-a do particular cuidado pelos Aps- tolos e gravou seus nomes no purssimo e ardente corao desta divina Mestra. Se fosse possvel, nele os veramos escritos. Ainda que ento, os Apstolos eram s onze, no lugar de Judas foi escrito So Ma- tias que, de antemo, recebeu esta sorte. - Captulo 3 Do amor e sabedoria desta Senhora procedeu a doutrina, o ensinamento, a firmeza e toda a organizao com que ns, os doze Apstolos e So Paulo, fundamos a Igreja e a estabelecemos no mundo. Por isto, os nomes de todos foram escritos nesta mstica cidade de Maria Santssima, apoio e alicerce em que se firmaram os princpios da Santa Igreja e de seus funda- dores, os Apstolos. Com sua doutrina nos instruiu, com sua sabedoria nos esclareceu, com sua caridade nos inflamou, com sua pacincia nos tolerou. Sua mansido nos atraa, seus conselhos nos orientavam, seus avisos nos preveniam, e com o poder divino que dispunha nos livrava dos perigos. A todos acudia, como a cada um em particular, e a cada um como a todos juntos. Para ns, os Apstolos, as doze portas desta cidade santa estiveram mais franqueadas que a todos os outros filhos de Ado. Enquanto viveu, nossa Mestra e amparo jamais se esqueceu de algum de ns, mas em todo o tempo e lugar nos teve presentes, e usufrumos de sua defesa e proteo, sem que Ela nos faltasse em necessidade e trabalho algum. Desta e por esta grande e poderosa Rainha, participamos e recebemos todos os benefcios, graas e dons que nos co- municou o brao do Altssimo, para ser- mos idneos ministros do Novo Testa- mento (2Cor 3,6). Por todas estas razes, estavam nossos nomes gravados nos fun- damentos desta cidade mstica, Maria Santssima. Maria excede a todos os anjos e santos 29. "O que falava comigo tinha uma medida de cana de ouro para medir a cidade, suas portas e o muro. A cidade quandrangular, to comprida quanto lar-
  40. 40. Stimo Livro - Capitulo 3 ga; e mediu a cidade com a cana de ouro at doze mil estdios; o seu comprimento, a sua altura e asua largura so iguais. (Ap 21, 15-16)'Para que eu entendesse a magnitu- de imensa desta cidade santa de Deus, aquele que me falava mediu-a em minha presena. Para medi-la trazia na mo uma cana ou vara de ouro, smbolo da humani- dade deifcada na pessoa do Verbo, com seus dons, graas e merecimentos. Esta vara de ouro simbolizava a fragilidade do ser humano e terreno, e a imutabilidade preciosa e inestimvel do ser divino que sublimava a humanidade e seus mritos. No obstante esta medida exceder tanto ao que era medido, no se encontra- va outra, nem no cu nem na terra, para medir Maria Santssima e sua grandeza. Fora de seu Filho e Deus verdadeiro, todas as criaturas humanas e anglicas eram in- feriores e sem proporo para poder calcu- lar e medir esta mstica e divina cidade. Medida, porm, por seu Filho, era propor- cionada a Ele, como suadigna Me, sem lhe faltar coisa alguma para esta proporciona- da dignidade. Sua extenso continha doze mil estdios no comprimento e na altura de cada um dos quatro lados do muro. Deste modo, era exatamente quadrangular. Tal era agrandeza, imensidade e harmonia dos dons e excelncias desta grande Rainha. Se os demais Santos receberam a medida de cinco ou dois talentos (Mt 25, 15), Ela recebeu a de doze mil, excedendo- nos a todos com imensa magnitude. Esta medida j lhe fora concedida ao passar da no existncia ao ser, em sua imaculada conceio, como preparao para vir a ser Me do Verbo Eterno. Agora, quando desceu do cu para plantar a Igreja, foi medida outra vez proporo de seu Unignito glorifcado destra do Pai. Recebeu ajusta dimenso, tanto para receber a bem-aventurana ce- leste, como para voltar Igreja e nela exer- cero ofciode seu prprio Filho e Redentor do mundo. O exterior e o interior de Maria 30.4'O muro era construdo de pe- dra dejaspe; e a mesma cidade era de ouro finssimo, semelhante ao vidro puro e lmpido. Seus fundamentos estavam ador- nados com todo gnero de pedras precio- sas (Ap21, 18-19)". As aes e o procedimento exterior de Maria Santssimavistos portodos, como o muro que circunda a cidade, eram de grande e admirvel beleza. S o seu exem- plo, cativava e abria os coraes de todos os que a viam, ou com Ela tratavam. Sua presena afugentava os demnios e des- vanecia suas fantasiosas miragens. Por isto, o muro desta cidade santa era de jaspe. Com sua atividade exterior, nossa Rainha operou maiores maravilhas e obte- ve mais numerosos frutos que todos os apstolos e santos daquele sculo. O inte- rior, porm, desta divina cidade era finssimo ouro de inexplicvel caridade, participada daquela de seu Filho, e to imediata a do Ser infinito que parecia um raio desta. No s de ouro preciosssimo era a cidade, mas tambm de vidro claro, puro e transparente; era o espelho imaculado onde se refletia a Divindade, sem outra qualquer coisa alm desta divina imagem. Alm disso, era uma tbua cristali- na onde segravara a lei do Evangelho, para que nela, e por ela, fosse ostentada ao mundo todo. Por isso era de cristal trans- parente e no de pedra opaca (Ex 31, 18), como a de Moiss destinada para um s povo. 33
  41. 41. Stimo Livro - Capitulo 3 Os fundamentos do muro desta grande cidade eram todos de pedras preci- osas, porque foi fundada pela mo do Altssimo. Rico e poderoso sem limites, alicerou-a sobre o mais precioso, estim- vel e slido de seus dons, privilgios e favores, significados nas pedras de maior valor, riqueza e formosura que se conhe- cem entre as criaturas. (Veja-se o captulo 19 do primeiro livro). Maria, caminho da felicidade 31. "Cada porta desta cidade era de uma prola. Doze portas, doze prolas. A praa era de ouro puro como vidro translcido. Nela no havia templo, por- que seu templo o prprio Deus onipoten- te e o Cordeiro (Ap 21, 22)". Quem chega a esta cidade santa de Maria e nela entra pela f, esperana, vene- rao, piedade e devoo, achar a preci- osa prola de sua proteo que o tornar feliz, rico e prspero nesta vida, e na outra bem-aventurada. No sentir medo de en- trar nesta cidade de refgio, porque suas portas so amveis e cobiveis como preciosas e ricas prolas. Nenhum dos mortais ter desculpa, se no se valer de Maria Santssima e sua dulcssima piedade pelos pecadores, pois nela nada houve que deixasse de os atrair a si e ao caminho da eterna vida. Se as portas so to ricas e belas, mais o ser o interior, a praa desta admi- rvel cidade. definssimoebrilhante ouro de ardentssimo amor e desejo de receber a todos, e enriquec-los com os tesouros da felicidade eterna. Para isto,