manuscrito economico filosofico karl marx

42
Prefácio Já anunciei, no Deutsch-Franzoesischer Jahrbücher , uma crítica do Direito e da Ciência Política sob a forma de crítica à filosofia Hegeliana do Direito. Entretanto, ao preparar o trabalho a ser publicado , ficou evidente que s eria assaz inconveniente uma combinação da crítica dirigida somente à teoria especulativa com a crítica de vários ass untos; isso tolheria a exposição da argumentação e tornar ia esta mais difícil de ser acompanhada. Ademais, eu só poderia comprimir tal riqueza e diversidade de assuntos em um único livro se escrevesse em estilo aforismático, e uma apresentação assim aforismática daria a impressão de sistematização arbitrária. P or conseguinte , publicarei minha crítica do Direito, Moral, Política, etc., em diversos opúsculos separados, e, por fim, tentarei, em uma obra a parte, apresentar o conjunto inter-relacionado, mostrando as relações entre as várias partes e a presentando uma crítica do tratamento especulativo desse material. É  por isso que, no presente trabalho, as relações da Ec onom ia Política com o Estado, o Direito, a Moral, a vida civil, etc., são apenas a bordadas na medida em que a própria Econom ia Política trata desses assuntos.  Não é necessário assegurar a o leitor familiarizado com a Economia Política que minhas conclusões são o fruto de uma análise inteirament e empírica, baseadas em u m meticuloso estudo crítico da Economia Política. É claro que além de aos socialistas franceses e ingleses ta mbém recorri a trabalhos de socialistas alemães. Mas as obras alemães originais e importantes a este respeito - fora as de Weitling - limitam-se aos ensa ios publicados por Hess no Einundzwanzib Bogen , e ao de Engels, "Umrisse zur Kritik der Nationaloekonomie" no Deutsch-Franzoesischer Jahrbücher . Nesta última publicação, eu mesmo indiquei, de forma bastante genérica, os elementos básicos do presente trabalho. A crítica positiva, humanista e naturalista tem início c om Feuerbach. Os trabalhos menos espetaculares de Feuerbach são os mais certos, profundos, extensos e duradouros em sua influência; eles são os únicos, desde a Fenomeno logia e a Lógica de Hegel que contêm uma verdadeira revolução teórica. Ao contrário dos teólogos críticos de nossa época, considerei o capítulo final do  presente trabalho, uma exposição crítica da dialética h egeliana e de sua filosofia geral, como absolutamente essencial, pois iss o ainda não foi feito. Esta falta de meticulosidade não é acidental, pois o teólogo crítico continua a ser um teólogo. Ele tem de partir, seja de certos pressupostos da filosofia a ceita como oficial, ou então, se no decurso da crítica e como resultado de descobertas de outras pessoas surgirem-lhe na mente dúvidas acerca dos pressupostos filosóficos, abandona -os de forma covarde e sem justificativa, abstrai a partir deles, e demonstra ao mesmo tempo dependência servil face a elas e seu ressentimento a essa dependência de maneira negativa, inconsciente e sofística. Olhada mais de perto, a crítica teológica, que foi no começo do movimento um fator genuinamente progressista, é vista como sendo, em última análise, nada mais que a culminação e conseqüência do antigo transcendentalismo filosófico, e especialmente hegeliano, deformado num a caricatura teológica. Descr everei alhures, com maior minúcia, esse ato interessante de justiça histórica, e ssa nêmese que agora destina a

Upload: biondoboxer

Post on 08-Apr-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 1/42

Page 2: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 2/42

teologia, sempre o setor infectado da filosofia, a espelhar em si a mesma dissoluçãonegativa da filosofia, isto é, o processo de sua decadência.

Trabalho Alienado

(XXII) Partimos dos pressupostos da Economia Política. Aceitamos sua terminologia e

suas leis. Aceitamos como premissas a propriedade privada, a separação do trabalho,capital e terra, assim como também de salários, lucro e arrendamento, a divisão dotrabalho, a competição, o conceito de valor de troca, etc. Com a própria economia

 política, usando suas próprias palavras, demonstramos que o trabalhador afunda até umnível de mercadoria, e uma mercadoria das mais deploráveis; que a miséria dotrabalhador aumenta com o poder e o volume de sua produção; que o resultado forçosoda competição é o acumulo de capital em poucas mãos, e assim uma restauração domonopólio da forma mais terrível; e, por fim, que a distinção entre capitalista e

 proprietário de terras, e entre trabalhador agrícola e operário, tem de desaparecer,dividindo-se o conjunto da sociedade em duas classes de possuidores de propriedades etrabalhadores sem propriedades.

A economia Política parte do fato da propriedade privada; não o explica. Ela concebe o processo material da propriedade privada, como ocorre na realidade, por meio defórmulas abstratas e gerais que, então, servem como leis. Ela não compreende essas leis;isto é, ela não mostra como surgem da natureza da propriedade privada. A EconomiaPolítica não dá nenhuma explicação da base para a distinção entre trabalho e capital,entre capital e terra. Quando, por exemplo, a relação entre salários e lucros é definida,isso é explicado em função dos interesses dos capitalistas; por outras palavras, o quedevia ser explicado é admitido. Analogamente, a competição é referida a todos os

 pontos e explicada em função das condições externas. A Economia Política nada nos diza respeito da medida em que essas condições externas, e aparentemente acidentais, sãosimplesmente a expressão de uma evolução necessária. Vimos como a própria troca seafigura um fato acidental. As únicas forças propulsoras reconhecidas pela EconomiaPolítica são a avareza e a guerra entre os gananciosos, a competição.

Justamente por deixar a Economia Política de entender as interconexões dentro dessemovimento, foi possível opor a doutrina de competição à de monopólio, a doutrina deliberdade da profissão à das guildas, a doutrina de divisão da propriedade imobiliária ados latifúndios; pois a competição, liberdade de ocupação e divisão da propriedadeimobiliária foram concebidas tão-somente como conseqüências fortuitas produzidas

 pela vontade e pela força, em vez de conseqüências necessárias, inevitáveis e naturaisdo monopólio, do sistema de guildas e da propriedade feudal.

Por isso, temos agora de apreender a ligação real entre todo esse sistema de alienação -

 propriedade privada, ganância, separação entre trabalho, capital e terra, troca ecompetição, valor e desvalorização do homem, monopólio e competição - e o sistemado dinheiro.

 Não iniciaremos nossa exposição, como o faz o economista, por uma legendáriasituação primitiva. Uma tal situação arcaica nada explica; simplesmente afasta a

 pergunta para uma distância turva e enevoada. Ela afirma como fato ou acontecimento oque deveria deduzir, ou seja, a relação necessária entre duas coisas; por exemplo, entre adivisão do trabalho e a troca. Da mesma maneira, a teologia explica a origem do mal

Page 3: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 3/42

 pela queda do homem; isto é, ela assegura como fato histórico aquilo que deveriaelucidar.

Partiremos de um fato econômico contemporâneo. O trabalhador fica mais pobre àmedida que produz mais riqueza e sua produção cresce em força e extensão. Otrabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens. A

desvalorização do mundo humano aumenta na razão direta do aumento de valor domundo dos objetos. O trabalho não cria apenas objetos; ele também se produz a simesmo e ao trabalhador como uma mercadoria, e, deveras, na mesma proporção em que

 produz bens.

Esse fato simplesmente subentende que o objeto produzido pelo trabalho, o seu produto,agora se lhe opõe como um ser estranho, como uma força independente do produtor. O

 produto do trabalho humano é trabalho incorporado em um objeto e convertido em coisafísica; esse produto é uma objetificação do trabalho. A execução do trabalho ésimultaneamente sua objetificação. A execução do trabalho aparece na esfera daEconomia Política como uma perversão do trabalhador, a objetificação como uma perda e uma servidão ante o objeto, e a apropriação como alienação.

A execução do trabalho aparece tanto como uma perversão que o trabalhador se perverte até o ponto de passar fome. A objetificação aparece tanto como uma perda doobjeto que o trabalhador é despojado das coisas mais essenciais não só da vida, mastambém do trabalho. O próprio trabalho transforma-se em um objeto que ele só podeadquirir com tremendo esforço e com interrupções imprevisíveis. A apropriação doobjeto aparece como alienação a tal ponto que quanto mais objetos o trabalhador produztanto menos pode possuir e tanto mais fica dominado pelo seu produto, o capital.

Todas essas conseqüências decorrem do fato de o trabalhador ser relacionado com o produto de seu trabalho como com um objeto estranho. Pois está claro que, baseadonesta premissa, quanto mais o trabalhador se desgasta no trabalho tanto mais poderosose torna o mundo de objetos por ele criado em face dele mesmo, tanto mais pobre setorna a sua vida interior, e tanto menos ele se pertence a si próprio. Quanto mais de simesmo o homem atribui a Deus, tanto menos lhe resta. O trabalhador põe a sua vida noobjeto, e sua vida, então, não mais lhe pertence, porém, ao objeto. Quanto maior for suaatividade, portanto, tanto menos ele possuirá. O que está incorporado ao produto de seutrabalho não mais é dele mesmo. Quanto maior for o produto de seu trabalho, por conseguinte, tanto mais ele minguará. A alienação do trabalhador em seu produto nãosignifica apenas que o trabalho dele se converte em objeto, assumindo uma existênciaexterna, mas ainda que existe independentemente, fora dele mesmo, e a ele estranho, eque com ele se defronta como uma força autônoma. A vida que ele deu ao objeto volta-se contra ele como uma força estranha e hostil.

(XXIII) Examinemos agora, mais de perto, o fenômeno da objetificação, a produção dotrabalhador e a alienação e perda do objeto por ele produzido, nisso implícitas. Otrabalhador nada pode criar sem a natureza, sem o mundo exterior sensorial . Esteultimo é o material em que se concretiza o trabalho, em que este atua, com o qual e por meio do qual ele produz coisas.

Todavia, assim como a natureza proporciona osmeios de existência do trabalho, naacepção de este não poder viver sem objetos aos quais possa aplicar-se, igualmente

Page 4: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 4/42

 proporciona os meios de existência em sentido mais restrito, ou sejam os meios desubsistência física para o próprio trabalhador . Assim, quanto mais o trabalhador apropria o mundo externo da natureza sensorial por seu trabalho, tanto mais se despojade meios de existência, sob dois aspectos: primeiro, o mundo exterior sensorial se tornacada vez menos um objeto pertencente ao trabalho dele ou um meio de existência de seutrabalho; segundo, ele se torna cada vez menos um meio de existência na acepção direta,

um meio para a subsistência física do trabalhador.

Sob os dois aspectos, portanto, o trabalhador se converte em escravo do objeto: primeiro, por receber um objeto de trabalho, isto é, receber trabalho, e em segundolugar por receber meios de subsistência. Assim, o objeto o habilita a existir, primeirocomo trabalhador e depois como sujeito físico.

O apogeu dessa escravização é ele só poder se manter como sujeito físico na medida emque é um trabalhador , e de ele só como sujeito físico poder ser um trabalhador.

(A alienação do trabalhador em seu objeto é expressa da maneira seguinte, nas leis daEconomia Política: quanto mais o trabalhador produz, tanto menos tem para consumir;

quanto mais valor ele cria, tanto menos valioso se torna; quanto mais aperfeiçoado o seu produto, tanto mais grosseiro e informe o trabalhador; quanto mais civilizado o produto,tão mais bárbaro o trabalhador; quanto mais poderoso o trabalho, tão mais frágil otrabalhador; quanto mais inteligência revela o trabalho, tanto mais o trabalhador decaiem inteligência e se torna um escravo da natureza.)

 A economia Política oculta a alienação na natureza do trabalho por não examinar a

relação direta entre o trabalhador (trabalho) e a produção. Por certo, o trabalhohumano produz maravilhas para os ricos, mas produz privação para o trabalhador. Ele

 produz palácios, porém choupanas é o que toca ao trabalhador. Ele produz beleza, porém para o trabalhador só fealdade. Ele substitui o trabalho humano por maquinas,mas atira alguns dos trabalhadores a um gênero bárbaro de trabalho e converte outrosem máquinas. Ele produz inteligência, porém também estupidez e cretinice para ostrabalhadores.

 A relação direta do trabalho com seus produtos é a entre o trabalhador e os objetos de

 sua produção. A relação dos possuidores de propriedade com os objetos da produção ecom a própria produção é meramente uma conseqüência da primeira relação e aconfirma. Apreciaremos adiante este segundo aspecto. Portanto, quando perguntamosqual é a relação importante do trabalho, estamos interessados na relação do trabalhador 

com a produção.

Até aqui consideramos a alienação do trabalhador somente sob um aspecto, qual seja o

de sua relação com os produtos de seu trabalho. Não obstante, a alienação aparece nãosó como resultado, mas também como processo de produção, dentro da própriaatividade produtiva. Como poderia o trabalhador ficar numa relação alienada com o

 produto de sua atividade se não se alienasse a si mesmo no próprio ato da produção? O produto é, de fato, apenas a síntese da atividade, da produção. Conseqüentemente, se o produto do trabalho é alienação, a própria produção deve ser alienação ativa - aalienação da atividade e a atividade da alienação A alienação do objeto do trabalhosimplesmente resume a alienação da própria atividade do trabalho.

Page 5: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 5/42

O que constitui a alienação do trabalho? Primeiramente, ser o trabalho externo aotrabalhador, não fazer parte de sua natureza, e por conseguinte, ele não se realizar emseu trabalho mas negar a si mesmo, ter um sentimento de sofrimento em vez de bem-estar, não desenvolver livremente suas energias mentais e físicas mas ficar fisicamenteexausto e mentalmente deprimido. O trabalhador, portanto, só se sente à vontade em seutempo de folga, enquanto no trabalho se sente contrafeito. Seu trabalho não é voluntário,

 porém imposto, é trabalho forçado. Ele não é a satisfação de uma necessidade, masapenas um meio para satisfazer outras necessidades. Seu caráter alienado é claramenteatestado pelo fato, de logo que não haja compulsão física ou outra qualquer, ser evitadocomo uma praga. O trabalho exteriorizado, trabalho em que o homem se aliena a simesmo, é um trabalho de sacrifício próprio, de mortificação. Por fim, o caráter exteriorizado do trabalho para o trabalhador é demonstrado por não ser o trabalho delemesmo mas trabalho para outrem, por no trabalho ele não se pertencer a si mesmo massim a outra pessoa.

Tal como na religião, a atividade espontânea da fantasia, do cérebro e do coraçãohumanos, reage independentemente como uma atividade alheia de deuses ou demôniossobre o indivíduo, assim também a atividade do trabalhador não é sua própria atividade

espontânea. É atividade de outrem e uma perda de sua própria espontaneidade.

Chegamos a conclusão de que o homem (o trabalhador) só se sente livremente ativo emsuas funções animais - comer, beber e procriar, ou no máximo também em suaresidência e no seu próprio embelezamento - enquanto que em suas funções humanas sereduz a um animal. O animal se torna humano e o humano se torna animal.

Comer, beber e procriar são, evidentemente, também funções genuinamente humanas.Mas, consideradas abstratamente, à parte do ambiente de outras atividades humanas, econvertidas em fins definitivos e exclusivos, são funções animais.

Consideremos, agora, o ato de alienação da atividade humana prática, o trabalho, sobdois aspectos: 1) a relação do trabalhador com o produto do trabalho como um objetoestranho que o domina. Essa relação é, ao mesmo tempo, a relação com o mundoexterior sensorial, com os objetos naturais, como um mundo estranho e hostil; 2) arelação do trabalho como o ato de produção dentro do trabalho. Essa é a relação dotrabalhador com sua própria atividade humana como algo estranho e não pertencente aele mesmo, atividade como sofrimento (passividade), vigor como impotência, criaçãocomo emasculação, a energia física e mental pessoal do trabalhador, sua vida pessoal(pois o que é a vida senão atividade?) como uma atividade voltada contra ele mesmo,independente dele e não pertencente a ele. Isso é auto-alienação, ao contrário da acimamencionada alienação do objeto.

(XXIV) Temos, agora, de inferir uma terceira característica do trabalho alienado, partindo das duas já vistas.

O homem é um ente-espécie não apenas no sentido de que ele faz da comunidade (sua própria, assim como as de outras coisas) seu objeto, tanto prática quanto teoricamente,mas também (e isto é simplesmente outra expressão da mesma coisa) no sentido detratar-se a si mesmo como a espécie vivente, atual, como um ser universal econseqüentemente livre.

Page 6: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 6/42

A vida da espécie, para o homem assim como para os animais, encontra sua base físicano fato de o homem (como os animais) viver da natureza inorgânica, e como o homem émais universal que um animal, assim também o âmbito da natureza inorgânica de queele vive é mais universal. Vegetais, animais, minerais, ar, luz, etc., constituem, sob o

 ponto de vista teórico, uma parte da consciência humana como objetos da ciêncianatural e da arte; eles são a natureza inorgânica espiritual do homem, se meio intelectual

de vida, que ele deve primeiramente preparar para seu prazer e perpetuação. Assimtambém, sob o ponto de vista prático, eles formam parte da vida e atividade humanas. Na prática, o homem vive apenas desses produtos naturais, sob a forma de alimento,aquecimento, roupa, abrigo, etc. A universalidade do homem aparece, na prática, nauniversalidade que faz da natureza inteira o seu corpo: 1) como meio direto de vida, eigualmente, 2) como o objeto material e o instrumento de sua atividade vital. A naturezaé o corpo inorgânico do homem; quer isso dizer a natureza excluindo o próprio corpohumano. Dizer que o homem vive da natureza significa que a natureza é o corpo dele,com o qual deve se manter em contínuo intercâmbio a fim de não morrer. A afirmaçãode que a vida física e mental do homem e a natureza são interdependentes,simplesmente significa ser a natureza interdependente consigo mesma, pois o homem é

 parte dela.

Tal como o trabalho alienado:

1) aliena a natureza do homem e

2) aliena o homem de si mesmo, de sua própria função ativa, de sua atividade vital,assim também o aliena da espécie. Ele transforma a vida da espécie em uma forma devida individual. Em primeiro lugar, ele aliena a vida da espécie e a vida individual, e

 posteriormente transforma a segunda, como uma abstração, em finalidade da primeira,também em sua forma abstrata e alienada.

Pois, trabalho, atividade vital, vida produtiva, agora aparecem ao homem apenas comomeios para a satisfação de uma necessidade, a de manter sua existência física. A vida

 produtiva, contudo, é vida da espécie. É vida criando vida. No tipo de atividade vital,reside todo o caráter de uma espécie, seu caráter como espécie; e a atividade livre,consciente, é o caráter como espécie dos seres humanos. A própria vida assemelha-sesomente a um meio de vida.

O animal identifica-se com sua atividade vital. Ele não distingue a atividade de simesmo. Ele é sua atividade.

O homem, porém, faz de sua atividade vital um objeto de sua vontade e consciência. Eletem uma atividade vital consciente. Ela não é uma prescrição com a qual ele esteja

 plenamente identificado. A atividade vital consciente distingue o homem da atividadevital dos animais: só por esta razão ele é um ente-espécie. Ou antes, é apenas um ser auto-consciente, isto é, sua própria vida é um objeto para ele, porque ele é um ente-espécie. Só por isso, a sua atividade é atividade livre. O trabalho alienado inverte arelação, pois o homem, sendo um ser autoconsciente, faz de sua atividade vital, de seu

 ser , unicamente um meio para sua existência.

A construção prática de um mundo objetivo, a manipulação da natureza inorgânica, é aconfirmação do homem como um ente-espécie, consciente, isto é, um ser que trata a

Page 7: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 7/42

espécie como seu próprio ser ou a si mesmo como um ser-espécie. Sem dúvida, osanimais também produzem. Eles constróem ninhos e habitações, como no caso dasabelhas, castores, formigas, etc. Porém, só produzem o estritamente indispensável a simesmos ou aos filhotes. Só produzem em uma única direção, enquanto o homem.

 produz universalmente. Só produzem sob a compulsão de necessidade física direta, ao passo que o homem produz quando livre de necessidade física e só produz, na verdade,

quando livre dessa necessidade. Os animais só produzem a si mesmos, enquanto ohomem reproduz toda a natureza. Os frutos da produção animal pertencem diretamentea seus corpos físicos, ao passo que o homem é livre ante seu produto. Os animais sóconstróem de acordo com os padrões e necessidades da espécie a que pertencem,enquanto o homem sabe produzir de acordo com os padrões de todas as espécies e comoaplicar o padrão adequado ao objeto. Assim, o homem constrói também emconformidade com as leis do belo.

É justamente em seu trabalho exercido no mundo objetivo que o homem realmente secomprova como um ente-espécie. Essa produção é sua vida ativa como espécie; graças aela, a natureza aparece como trabalho e realidade dele. O objetivo do trabalho, portanto,é a objetificação da vida como espécie do homem, pois ele não mais se reproduz a si

mesmo apenas intelectualmente, como na consciência, mas ativamente e em sentidoreal, e vê seu próprio reflexo em um mundo por ele construído. Por conseguinte,enquanto o trabalho alienado afasta o objetivo da produção do homem, também afastasua vida como espécie, sua objetividade real como ente-espécie, e muda a superioridadesobre os animais em uma inferioridade, na medida em que seu corpo inorgânico, anatureza, é afastado dele.

Assim como o trabalho alienado transforma a atividade livre e dirigida pelo próprioindivíduo em um meio, também transforma a vida do homem como membro da espécieem um meio de existência física.

A consciência que o homem tem de sua espécie é transformada por meio da alienação,de sorte que a vida como espécie torna-se apenas um meio para ele.

(3) Então, o trabalho alienado converte a vida do homem como membro da espécie, etambém como propriedade mental da espécie dele, em uma entidade estranha e em ummeio para sua existência individual . Ele aliena o homem de seu próprio corpo, anatureza extrínseca, de sua vida mental e de sua vida humana.

(4) Uma conseqüência direta da alienação do homem com relação ao produto de seutrabalho, à sua atividade vital e a sua vida como membro da espécie, é o homem ficar 

alienado dos outros homens. Quando o homem se defronta consigo mesmo, tambémestá se defrontando com outros homens.

O que é verdadeiro quanto à relação do homem com seu trabalho, com o produto dessetrabalho e consigo mesmo, também o é quanto à sua relação com outros homens, com otrabalho deles e com os objetos desse trabalho.

De maneira geral, a declaração de que o homem fica alienado da sua vida como membroda espécie implica em cada homem ser alienado dos outros, e cada um dos outros ser igualmente alienado da vida humana.

Page 8: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 8/42

A alienação humana, e acima de tudo a relação do homem consigo próprio, é pela primeira vez concretizada e manifestada na relação entre cada homem e os demaishomens. Assim, na relação do trabalho alienado cada homem encara os demais deacordo com os padrões e relações em que ele se encontra situado como trabalhador.

(XXV) Principiamos por uma fato econômico, a alienação do trabalhador e de sua

 produção. Exprimimos esse fato em termos conceituais como trabalho alienado e, aoanalisar o conceito, limitamo-nos a analisar um fato econômico.

Examinemos, agora, mais além, como esse conceito de trabalho alienado deveexpressar-se e revelar-se na realidade. Se o produto do trabalho me é estranho eenfrenta-me como uma força estranha, a quem pertence ele? Se minha própria atividadenão me pertence, mas é uma atividade alienada, forçada, a quem ela pertence? A um ser,outro que não eu. E que é esse ser? Os deuses? É evidente, nas mais primitivas etapasde produção adiantada, por exemplo, construção de templos, etc., no Egito, Índia,México, é nos serviços prestados aos deuses, que o produto pertencia a estes. Mas osdeuses nunca eram por si sós os donos do trabalho humano; tampouco o era a natureza.Que contradição haveria se quanto mais o homem subjugasse a natureza com seu

trabalho, e quanto mais as maravilhas dos deuses fossem tornadas supérfluas pelas daindustria, ele se abstivesse da sua alegria em produzir e de sua fruição dos produtos por amor a esses poderes!

O ser estranho a quem pertencem o trabalho e o produto deste, a quem o trabalho édevotado, e para cuja fruição se destina o produto do trabalho, só pode ser o própriohomem. Se o produto do trabalho não pertence ao trabalhador, mas o enfrenta como umaforça estranha, isso só pode acontecer porque pertence a um outro homem que não o

trabalhador . Se sua atividade é para ele um tormento, ela deve ser uma fonte desatisfação e prazer para outro. Não os deuses nem a natureza, mas só o próprio homem

 pode ser essa força estranha acima dos homens.

Considere-se a afirmação anterior segundo a qual a relação do homem consigo mesmose concretiza e objetiva primariamente através de sua relação com outros homens. Se,

 portanto, ele está relacionado com o produto de seu trabalho, seu trabalho objetificado,como com um objeto estranho, hostil, poderoso e independente, ele está relacionado detal maneira que um outro homem, estranho, hostil, poderoso e independente, é o donode seu objeto. Se ele está relacionado com sua atividade como com uma atividade não-livre, então está relacionado com ela como uma atividade a serviço e sob jugo, coerçãoe domínio de outro homem.

Toda auto-alienação do homem, de si mesmo e da natureza, aparece na relação que ele postula entre os outros homens, ele próprio e a natureza. Assim a auto-alienação

religiosa é necessariamente exemplificada na relação entre leigos e sacerdotes, ou, jáque aqui se trata de uma questão do mundo espiritual, entre leigos e um mediador. Nomundo real da prática, essa auto-alienação só pode ser expressa na relação real, prática,do homem com seus semelhantes.

O meio através do qual a alienação ocorre é, por si mesmo, um meio prático. Graças aotrabalho alienado, por conseguinte, o homem não só produz sua relação com o objeto eo processo da produção como com homens estranhos e hostis, mas também produz arelação de outros homens com a produção e o produto dele, e a relação entre ele próprio

Page 9: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 9/42

e os demais homens. Tal como ele cria sua própria produção como uma perversão, uma punição, e seu próprio produto como uma perda, como um produto que não lhe pertence, assim também cria a dominação do não-produtor sobre a produção e os produtos desta. Ao alienar sua própria atividade, ele outorga ao estranho uma atividadeque não é deste.

Apreciamos até aqui essa relação somente do lado do trabalhador, e posteriormente aapreciaremos também do lado do não-trabalhador.

Assim, graças ao trabalho alienado o trabalhador cria a relação de outro homem que nãotrabalha e está de fora do processo do trabalho, com o seu próprio trabalho. A relação dotrabalhador com o trabalho também provoca a relação do capitalista (ou como quer quese denomine ao dono da mão-de-obra) com o trabalho. A propriedade privada é,

 portanto, o produto, o resultado inevitável, do trabalho alienado, da relação externa dotrabalhador com a natureza e consigo mesmo.

A propriedade privada, pois, deriva-se da análise do conceito de trabalho alienado: istoé, homem alienado, trabalho alienado, vida alienada, e homem afastado.

Está claro que extraímos o conceito de trabalho alienado (vida alienada) da EconomiaPolítica, partindo de uma análise do movimento da propriedade privada. A análise desteconceito, porém, mostra que embora a propriedade privada pareça ser a base e causa dotrabalho alienado, é antes uma conseqüência dele, tal e qual os deuses não são

 fundamentalmente a causa, mas o produto de confusões da razão humana. Numa etapa posterior, entretanto, há uma influência recíproca.

Só na etapa final da evolução da propriedade privada é revelado o seu segredo, ou seja,que é, de um lado, o produto do trabalho alienado, e do outro, o meio pelo qual otrabalho é alienado, a realização dessa alienação.

Esta elucidação lança luz sobre diversas controvérsias não solucionadas:

(1) A Economia Política inicia tomando o trabalho como a verdadeira alma da produçãoe, a seguir, nada lhe atribui, concedendo tudo à propriedade privada. Proudhon,defrontando-se com essa contradição, decidiu em favor do trabalho contra a propriedade

 privada. Percebemos, contudo, que essa aparente contradição é a contradição dotrabalho alienado consigo mesmo e que a Economia Política meramente formulou asleis do trabalho alienado.

Observamos, também, por conseguinte, que salários e propriedade privada sãoidênticos, porquanto os salários como o produto ou objetivo do trabalho, o próprio

trabalho remunerado, são apenas conseqüência necessária da alienação do trabalho. Nosistema de salários, o trabalho aparece não como um fim por si mas como o servo dossalários. Mais tarde nos entenderemos sobre isto, limitando-nos, aqui, a desvendar algumas das conseqüências (XXVI).

Um aumento de salários imposto (desprezando outras dificuldades, e especialmente ade que uma anomalia dessas só poderia ser mantida pela força) não passaria de umaremuneração melhor de escravos, e não restauraria, seja para o trabalhador seja para otrabalho, seu significado e valor humanos.

Page 10: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 10/42

Mesmo a igualdade das rendas que Proudhon exige só modificaria a relação dotrabalhador de hoje em dia com seu trabalho em uma relação de todos os homens com otrabalho. A sociedade seria concebida, então, como um capitalista abstrato.

(2) Da relação do trabalho alienado com a propriedade privada também decorre que aemancipação da sociedade da propriedade privada, da servidão, assume a forma política

de emancipação dos trabalhadores; não no sentido de só estar em jogo a emancipaçãodestes, mas por essa emancipação abranger a de toda a humanidade. Pois toda servidãohumana está enredada na relação do trabalhador com a produção, e todos os tipos deservidão são somente modificações ou corolários desta relação.

Como descobrimos o conceito de propriedade privada por uma análise do conceito detrabalho alienado, com o auxílio desses dois fatores também podemos deduzir todas ascategorias da Economia Política, e em cada uma, isto é, comércio, competição, capital,dinheiro, descobriremos só uma expressão particular e ampliada desses elementosfundamentais.

Sem embargo, antes de considerar essa estrutura, tentemos solucionar dois problemas.

(1) Determinar a natureza geral da propriedade privada como resultou do trabalhoalienado, em sua relação com a propriedade humana e social genuína.

(2) Tomamos como fato e analisamos a alienação do trabalho. Como sucede, podemosindagar, que o homem aliene seu trabalho? Como essa alienação se alicerça na naturezada evolução humana? Já fizemos muito para resolver o problema, visto termostransformado a questão referente ã origem da propriedade privada em uma questãoacerca da relação entre trabalho alienado e o processo de evolução da humanidade.Pois, ao falar de propriedade privada, acredita-se estar lidando com algo extrínseco àespécie humana. Mas, ao falar de trabalho, lida-se diretamente com a própria espéciehumana. Esta nova formulação do problema já encerra sua solução.

ad (1) A natureza geral da propriedade privada e sua relação com a propriedade genuína. 

Decompusemos o trabalho alienado em duas partes, que se determinam mutuamente, oumelhor, constituem duas expressões distintas de uma única relação. A apropriação aparece como alienação e alienação como apropriação; alienação como aceitaçãogenuína na comunidade.

Consideramos um aspecto, o trabalho alienado, em seus reflexos no própriotrabalhador, isto é, a relação alienada do trabalho humano consigo mesmo. E

constatamos ser corolário obrigatório dessa relação, a relação de propriedade do não-trabalhador com o trabalhador e com o trabalho. A propriedade privada, comoexpressão material sinóptica do trabalho alienado, inclui ambas as relações: a relação

do trabalhador com o trabalho, com o produto de seu trabalho e com o não-trabalhador, e a relação do não-trabalhador com o trabalhador e com o produto do

trabalho deste.

Já vimos que em relação ao trabalhador, que apropria a natureza por intermédio de seutrabalho, a apropriação se afigura uma alienação, a atividade própria como atividade

Page 11: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 11/42

 para outrem e de outrem, a vida como sacrifício da vida, e a produção do objeto como perda deste para uma força estranha, um homem estranho. Consideremos, agora, arelação deste homem estranho com o trabalhador, com o trabalho e com o objeto dotrabalho.

Deve ser observado, de início, que tudo que aparece ao trabalhador como uma atividade

de alienação, aparece ao não-trabalhador como uma condição de alienação. Emsegundo lugar, a atitude prática real do trabalhador na produção e face ao produto(como estado de espírito) afigura-se ao não-trabalhador, que com ele se defronta, comouma atitude teórica.

(XXVII) Em terceiro lugar, o não-trabalhador faz contra o trabalhador tudo que este fazcontra si mesmo, mas não faz contra si próprio o que faz contra o trabalhador.

Examinemos mais de perto essas três relações.

[o manuscrito interrompe-se aqui]

Segundo Manuscrito

A Relação da Propriedade Privada

(XL) . . . forma os juros de seu capital. O trabalhador é a manifestação subjetiva do fatode o capital ser o homem inteiramente perdido para si mesmo, assim como o capital é amanifestação objetiva do fato de o trabalho ser o homem perdido para si mesmo.Contudo, o trabalhador tem o infortúnio de ser um capital vivo, um capital comnecessidades, que se deixa privar de seus interesses e, conseqüentemente, seu ganha-

 pão, todo momento em que não se acha trabalhando. Como capital, o valor dotrabalhador varia conforme a oferta e a procura, e sua existência física, sua vida, foi e éconsiderada um estoque de mercadoria, similar a qualquer outra. O trabalhador produzcapital e o capital produz o trabalhador. Assim, ele se produz a si mesmo, e o homemcomo trabalhador, como utilidade, é o produto de todo esse processo. O homem ésimplesmente um trabalhador, e como tal suas qualidades humanas só existem em

 proveito do capital que lhe é estranho. Como trabalho e capital são estranhos um aoOutro, e por isso relacionados unicamente de maneira acidental e exterior, esse caráter de alienação tem de aparecer na realidade. Logo que ocorre ao capital ² seja forçadaseja voluntariamente ² não existir mais para o trabalhador, ele não mais existe para simesmo: ele não tem trabalho, nem salários, e como existe exclusivamente comotrabalhador e não como ser humano, pode perfeitamente deixar-se enterrar, morrer a

míngua, etc, O trabalhador só é trabalhador quando existe como capital para si próprio,e só existe como capital quando há capital para ele. A existência do capital é aexistência dele, sua vida, visto determinar o conteúdo de sua vida independentementedele. A Economia Política, pois, não reconhece o trabalhador desocupado, o homemcapaz de trabalhar, uma vez colocado fora dessa relação de trabalho. Vigaristas, ladrões,mendigos, os desempregados, o trabalhador faminto, indigente e criminoso, são figurasnão existentes para a Economia Política, mas apenas para os olhos de outros: médicos,

 juízes, coveiros, burocratas, etc. Eles são figuras fantasmagóricas fora do domínio daEconomia. As necessidades do trabalhador, portanto, reduzem-se à necessidade de

Page 12: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 12/42

mantê-lo durante o trabalho, de molde a não se extinguir a raça de trabalhadores.Conseqüentemente, os salários têm exatamente o mesmo significado da manutenção dequalquer outro instrumento de produção e do consumo de capital em geral, de modo aque este possa reproduzir-se a si mesmo com juros. Ë como o óleo aplicado a uma roda

 para conservá-la rodando. Os salários, portanto, formam parte dos custos necessários docapital e do capitalista, e não devem exceder ao montante assim necessário. Por isso,

era assaz lógico para os donos de fábricas ingleses, antes da Emenda de 1834, deduzir dos salários as esmolas públicas recebidas pelos trabalhadores através das taxasestabelecidas pela lei de assistência aos pobres, tratando-as como parte integrante dosrespectivos salários.

A produção não apenas produz o homem como uma utilidade, a utilidade humana, ohomem sob a forma de mercadoria; de acordo com essa situação, produz o homemcomo um ser mental e fisicamente desumanizado. ² Imoralidade, aborto, escravidão detrabalhadores e capitalistas. ² Seu produto é a mercadoria com consciência própria ecapacidade grande passo dado à frente por Ricardo, Mill, etc., em contraposição aSmith e Say, declarar a existência de seres humanos ² a maior ou menor produtividadehumana da mercadoria ²como indiferente, ou deveras nociva. O verdadeiro objetivo da

 produção não é o número de trabalhadores sustentados por determinado capital, porém ovolume de juros que ele adquire, a poupança total anual. Foi, analogamente, um grandeavanço lógico da recente economia política inglesa (XLI) que, embora estabelecendo otrabalho como seu princípio exclusivo, distinguisse claramente a relação inversa entresalários e juros do capital e observasse que, via de regra, o capitalista só poderiaaumentar os ganhos pelo rebaixamento dos salários e vice-versa. A relação normal é

considerada como sendo não a burla do consumidor, mas a trapaça mútua de capitalistae trabalhador. A relação da propriedade privada inclui em seu íntimo, em estado latente,a relação da propriedade privada como trabalho, a relação da propriedade privada comocapital, e a influência recíproca de ambos. Por um lado, é a produção da atividadehumana como trabalho, isto é, uma atividade alheia a si mesma, ao homem e à natureza,e portanto alheia à consciência e à realização da vida humana; a existênciaabstrata dohomem como um mero trabalhador que, por conseguinte, diariamente salta de suanulidade realizada para a nulidade absoluta, para a não-existência social, e por isso real.Por outro lado, há a produção de objetos do trabalho humano sob a forma de capital,onde toda característica natural e social do objeto é dissolvida, onde a propriedade

 privada perdeu sua qualidade natural e social (e, portanto, perdeu totalmente seudisfarce político e social e não mais se afigura vinculada às relações humanas), e onde omesmo capital permanece o mesmo nas mais diversas circunstâncias naturais e sociais,sem relevância para o conteúdo real dele. Esta contradição, em seu auge, éforçosamente o apogeu e o declínio da relação inteira.

É, por conseguinte, outra grande conquista da recente Economia Política inglesa ter 

definido o arrendamento da terra como a diferença entre os rendimentos da terra pior cultivada e da melhor, ter posto abaixo as ilusões românticas do proprietário de terras ² sua suposta importância social e a identidade de seus interesses com os do conjunto dasociedade (uma opinião sustentada por Adam Smith ainda após os Fisiocratas) ² e ter antecipado e preparado a evolução da realidade que transformará o proprietário de terrasem um capitalista comum e prosaico e, portanto, simplificará a contradição, superando-ae preparando sua solução. A terra como terra, o arrendamento de terra como

arrendamento de terra, perderam sua diferenciação de status, convertendo-se em meroscapital e juros, ou, melhor, capital e juros que só entendem a linguagem do dinheiro.

Page 13: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 13/42

A distinção entre capital e terra, lucro e arrendamento de terra, e a distinção entresalários, indústria, agricultura, propriedade privada imóvel e móvel, é uma distinçãohistórica, nunca uma distinção inscrita na natureza das coisas. Ë uma etapa fixa naformação e desenvolvimento da antítese entre capital e trabalho. Na indústria, etc., aocontrário da propriedade agrária imóvel, só o modo de origem e a antítese face àagricultura graças à qual a indústria se desenvolveu, é manifestada. Como um género

 particular de trabalho, como uma distinção mais significativa, importante e global, elaexiste apenas na medida em que a indústria (vida urbana) se estabelece em oposição à propriedade agrária (vida feudal aristocrática). Em uma situação assim, o trabalho ainda parece ter um significado social, ainda tem o significado de genuína vida comunal, eainda não progrediu para a neutralidade face a seu conteúdo, para uma auto-suficiênciacompleta, isto é, para um estado de abstração de todas as outras existências e, pois, parao capital liberado. 

(XLII) Mas, o desenvolvimento forçoso do trabalho é a indústria liberta, constituídasomente para si mesma, e o capital liberado. O poder da indústria sobre seu opositor éatestado pelo surto da agricultora como uma indústria verdadeira, enquanto outrora amaior parte do trabalho era deixada ao próprio solo e ao escravo do solo, graças ao qual

a terra se cultivava a si mesma. Com a transformação do escravo em trabalhador livre,isto é, em assalariado, o próprio dono da terra é transformado em um senhor daindústria, em um capitalista.

Esta transformação tem lugar a princípio por intermédio do lavrador rendeiro. Este, porém, é o representante, o segredo revelado, do dono da terra. Só por meio dele o donoda terra tem existência econômica, como possuidor de propriedades; pois oarrendamento da terra só existe como resultado da competição entre rendeiros. Assim, odono da terra já se converteu, na pessoa do rendeiro, em um capitalista comum. E issotem de Ser realizado na realidade; o capitalista que dirige a agricultura (o rendeiro) temde transformar-se em dono da terra, ou vice-versa. O negócio industrial do rendeiro é odo proprietário, pois a existência daquele estabelece a deste.

Recordando suas origens e ascendência contrastantes, o proprietário de terras identificano capitalista seu sublevado, liberado e enriquecido escravo de ontem, e vê-se como unicapitalista ameaçado por ele. O capitalista vê o proprietário de terras como o ocioso,crue1 e egoísta senhor de ontem; ele sabe que o prejudica como capitalista, e, semembargo, que a indústria é responsável por sua presente importância social, por suas

 posses e prazer. Ele encara o proprietário de terras como a antítese da livre iniciativa edo capital livre, que independe de toda limitação natural. Esta oposição é extremamenteacerba de ambos os lados e cada um exprime a verdade acerca do outro. Basta ler osataques contra a propriedade imobiliária feitos pelos representantes da propriedademóvel, e vice-versa, a fim de se obter um quadro nítido de sua respectiva indignidade. O

 proprietário de terras ressalta a nobre linhagem de sua propriedade, reminiscênciasfeudais, a poesia das recordações, seu caráter generoso, sua importância política, etc., equando fala em termos econômicos afirma que somente a agricultura é produtiva. Aomesmo tempo, descreve seu oponente como um indivíduo sonso, regateador, impostor,mercenário, rebelde, impiedoso e desalmado, um bandido extorsionista, mesquinho,servil, adulador, lisonjeiro e ressequido, sem honra, princípios, poesia ou qualquer outracoisa, alienado da comunidade que ele vende livremente, e que alimenta, nutre eacalenta a competição e, com esta, a pobreza, o crime e a dissolução de todos os laçossociais. (Ver, entre outros, o fisiocrata Bergasse, que Camille Desmoulins fustiga em

Page 14: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 14/42

seu diário  Révolutions de France et de Brabant; ver, também, von Vincke, Lancizolle,Halle, Leo, Kosegarteu (1) e Sismondi.)

A propriedade móvel, por sua parte, indica o milagre da indústria moderna e de suaexpansão. E o filho, o filho nativo e legítimo da era moderna. Apiada-se de seuoponente como um simplório, ignorante de sua própria natureza (e isso é inteiramente

verdade) que quer substituir o capital moralizado e o trabalho livre pela coação brutal eimoral e pela servidão. Representa-o como um Don Quixote que, sob a aparência de

 franqueza, decência, o interesse geral e estabilidade, oculta sua incapacidade paraexpandir-se, cobiça, egoísmo, interesse parcial e má intenção. Expõe-no comomonopolista; despeja água fria sobre suas reminiscências, poesia e romantismo, por uma récita histérico-satírica da baixeza, crueldade, degradação, prostituição, infâmia,anarquia e revolta que pululavam nos românticos castelos.

Ela (a propriedade móvel) alega ter conquistado a liberdade política para o povo,retirado os grilhões que tolhiam a sociedade civil, unido entre si mundos diferentes,estabelecido o comércio que promove a amizade entre os povos, criado uma moral purae cultura agradável. Deu ao povo, em lugar de suas necessidades cruéis, outras mais

civilizadas, assim como os modos de satisfazê-las. Mas, o proprietário de terras ² esseocioso especulador de cereais ² aumenta o preço das necessidades básicas da vida do

 povo e, por isso, obriga o capitalista a elevar os salários sem ser capaz de aumentar a produtividade, tolhendo assim e finalmente impedindo o crescimento da renda nacionale a acumulação de capital da qual depende a criação de trabalho para o povo e deriquezas para o país. Ele dá lugar a um declínio generalizado, e parasitariamente exploratodas as vantagens da civilização moderna sem fazer a mínima contribuição para esta, esem abandonar qualquer de seus preconceitos feudais. Finalmente, faz com que ele ² 

 para quem o amanho do solo e a própria terra só existem como uma fonte de dinheiromandada pelo céu ²encare o rendeiro e diga se ele próprio não é um canalha íntegro,

 fantástico e ladino que, no fundo do coração e realmente, de há muito foi conquistado pela livre indústria e pelas delíciais do comércio, por mais que possa resistir-lhes emurmurar acerca de recordações históricas ou de objetivos morais e políticos. Tudo queele de fato pode apresentar em justificativa sé é verdade no tocante ao cultivador da

terra (o capitalista e seus empregados) de quem o dono da terra é antes o inimigo;assim, ele depõe contra si mesmo. Sem capital, a propriedade imobiliária é coisa semvida e sem valor. E, com efeito, a vitória civilizada da propriedade móvel ter descobertoe criado o trabalho humano como fonte da riqueza, em vez de coisas sem vida. (Ver Paul Louis, Courier, Saint-Simon, Ganilh, Ricardo, Mill, MacCulloch, Destutt de Tracye Michel Chevalier.)

 Da verdadeira marcha da evolução (a ser inserida aqui), decorre a vitória fatal docapitalista, isto é, da propriedade privada adiantada sobre a propriedade privada

subdesenvolvida e imatura representada pelo proprietário imobiliário. Em geral, omovimento tem de triunfar da imobilidade, a baixeza franca e autoconsciente da baixezadisfarçada e inconsciente, avareza do esbanjamento, o interesse próprio e capaz econfessadamente irrequieto do esclarecimento do interesse próprio da superstição

local, prudente, simples, inativo e fantástico, e o dinheiro das outras formas de propriedade privada.

Page 15: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 15/42

Os Estados que pressentem o perigo representado pela livre indústria plenamentedesenvolvida, pela moralidade pura e pelo comércio fomentador da amizade entre os

 povos, tentam, mas assaz em vão, obstar a capitalização da propriedade agrária.

A propriedade agrária, ao contrário do capital, é propriedade privada, capital, aindaafligido por preconceitos locais e políticos; é capital que ainda não emergiu de seu

envolvimento com o capital mundial não-desenvolvido. No decurso de sua formaçãonuma escala mundial ela tem do alcançar sua expressão abstrata, isto é, pura. 

As relações da propriedade privada são capital, trabalho, e suas interconexões.

Os estágios por que esses elementos têm de passar são:

Primeiramente, união mediata e não-mediata dos dois ± O capital e o trabalho a princípio ainda estão unidos; depois, com efeito, separam-se e alienam-se um do outro,mas desenvolvendo-se e fomentando-se reciprocamente como condições positivas. 

Oposição entre os dais ² eles excluem-se mutuamente; o trabalhador identifica o

capitalista como sua própria não-existência e vice-versa; cada um procura privar o outrode sua existência.

Oposição de cada um a si mesmo ± Capital trabalho acumulado = trabalho. Como tal,divide-se em capital propriamente dito e juros; estes se dividem em juros e lucro.

Sacrifício completo d0 capitalista. Pie afunda na classe trabalhadora, tal como otrabalhador ² mas só excepcionalmente ² torna-se um capitalista. Trabalho como ummomento do capital, seu custo. Por isso, os salários são um sacrifício de capital.

O trabalho divide-se em trabalho propriamente dito e salários do trabalho. O própriotrabalhador como um capital, uma mercadoria.

Choque das contradições recíprocas 

[O segundo manuscrito termina aqui]

(1)  Ver o palavroso teólogo hegeliano à moda antiga, Funke, que, segundo Herr Leo,

contou com lágrimas nos olhos como um escravo recusara, quando foi abolida a

servidão, cessar de ser uma propriedade nobre. Ver, também, o livroPatriotische

Phantasien, de Justus Moser, que se destaca pelo fato de nunca abandonar, por

nenhum momento, o horizonte ingênuo, pequeno-burguês, "feito em casa", comum e

limitado do filisteu, e no entanto permanece sendo pura fantasia. Essa contradição

tornou essas fantasias tão aceitáveis ao espírito alemão.

 Notas:

(1) Ver o palavroso teólogo hegeliano à moda antiga, Funke, que, segundo Herr Leo, contou com lágrimas nos olhos como um escravo recusara, quando foi abolidaa servidão, cessar de ser uma propriedade nobre. Ver, também, o livro Patriotische

Phantasien, de Justus Moser, que se destaca pelo fato de nunca abandonar, por nenhum momento, o horizonte ingênuo, pequeno-burguês, "feito em casa", comum e

Page 16: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 16/42

limitado do filisteu, e no entanto permanece sendo pura fantasia. Essa contradiçãotornou essas fantasias tão aceitáveis ao espírito alemão.

Terceiro Manuscrito

Propriedade Privada e Trabalho

(1) ad  página XXXVI. A essência subjetiva da propriedade privada, a propriedade privada como atividade em si mesma, como sujeito, como pessoa, é trabalho. Éevidente, portanto, que só a Economia Política que reconheceu o trabalho por princípio(Adam Smith) e que não mais viu na propriedade privada unicamente uma condição extrínseca ao homem, pode ser considerada tanto um produto do dinamismo real eexpansão da propriedade privada[N1], um produto da indústria moderna, quanto umaforça que acelerou e exaltou o dinamismo e o desenvolvimento da industria e tornou-auma potência no plano da consciência.

Assim, em vista dessa economia política esclarecida que descobriu a essência subjetiva da riqueza dentro da estrutura da propriedade privada, os partidários do sistemamonetário e do mercantilismo, para quem a propriedade privada é uma entidade

 puramente objetiva  para o homem, não fetichistas e católicos. Engels está certo, por isso, de chamar Adam Smith o Lutero da Economia Política. Assim como Lutero reconheceu a religião e a fé como a essência do mundo real, e por essa razão assumiuuma posição adversa ao paganismo cristão; assim como ele anulou a religiosidadeexterna ao mesmo passo que fazia da religiosidade a essência interior do homem; assimcomo ele negou a distinção entre sacerdote e leigo porque transferiu o sacerdócio para ocoração do leigo; também a riqueza extrínseca ao homem e dele independente (só

 podendo, pois, ser adquirida e conservada de fora) é anulada. Isso quer dizer, suaobjetividade externa e indiferente é anulada pelo fato de a propriedade privada ser incorporada ao próprio homem, e de ser o próprio homem reconhecido como suaessência. Mas, como resultado, o próprio homem é levado para a esfera da propriedade

 privada, exatamente como, com Lutero, é levado para a da religião. Sob o disfarce dereconhecer o homem, a economia política, cujo princípio é o trabalho, leva à sua lógicaconclusão a negação do homem. O próprio homem não mais é uma condição da tensãoexterna com a substância externa da propriedade privada; ele próprio se converteu naentidade oprimida por tensões, que é a da propriedade privada. O que era anteriormenteum fenômeno de ser extrínseco a si mesmo, uma manifestação extrínseca real dohomem, transformou-se, agora no ato de objetivação, de alienação. Esta economia

 política parece, por conseguinte, a princípio, reconhecer o homem com suaindependência, sua atividade pessoal, etc. Ela incorpora a propriedade privada à

essência mesma do homem, e não é mais, portanto, condicionada pelas característicaslocais ou nacionais da propriedade privada considerada como existente fora delamesma. Ela manifesta uma atividade cosmopolita, universal, que destrói todos oslimites e todos os vínculos, reputando-se a si mesma como a única orientação, a única

universalidade, o único limite e o único vínculo. Em seu desenvolvimento ulterior,contudo, vê-se obrigada a rejeitar essa hipocrisia e a mostrar-se em todo o seu cinismo.Faz isso, sem qualquer consideração pelas contradições aparentes a que sua doutrinaconduz, revelando por uma outra maneira unilateral , e por isso com maior lógica eclareza, que o trabalho é a única essência da riqueza, e demonstrando que essa doutrina,

Page 17: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 17/42

ao contrário da concepção original, tem conseqüências daninhas ao homem. Finalmente,ela aplica o golpe de morte à renda da terra, aquela última forma individual e natural da

 propriedade privada e fonte de riqueza existente independentemente do movimento dotrabalho que foi a expressão da propriedade feudal, mas tornou-se inteiramente suaexpressão econômica e não mais consegue oferecer qualquer resistência à economia

 política. (A Escola de Ricardo.)

 Não só o cinismo da Economia Política aumenta a partir de Smith, passando por Say,Ricardo, Mill, etc., uma vez que para este último as conseqüências da industria seafiguraram cada vez mais ampliadas e contraditórias; sob um ponto de vista positivoelas tornaram-se mais alienadas, e mais conscientemente alienadas, do homem, emcomparação com suas predecessoras. Isso é somente porque sua ciência se expande commaior lógica e verdade. Posto que eles fazem a propriedade privada em sua forma ativaformar o tema, e posto que ao mesmo tempo fazem o homem como não-entidade tornar-se uma entidade, a contradição na realidade corresponde inteiramente à essênciacontraditória por eles aceita como princípio. A realidade dividida (II) da indústria estálonge de refutar, antes confirma, seu princípio de autodivisão. Seu princípio, com efeito,é o princípio dessa divisão.

A doutrina fisiocrática de Quesnay constitui a transição do sistema mercantilista paraAdam Smith. A Fisiocracia é, em seu sentido direto, a decomposição econômica da

 propriedade feudal, mas, por essa razão, é da mesma forma direta a transformação

econômica, o restabelecimento, desta mesma propriedade feudal, com a diferença de sualinguagem não ser mais feudal porém econômica. Toda a riqueza se reduz a terra e

cultivo (agricultura). A terra ainda não e capital, mas sim um modo particular deexistência de capital, cujo valor se diz residir em sua particularidade natural, da qual

 provém; a terra, não obstante, é um elemento natural e universal, ao passo que o sistemamercantilista só encarava os metais preciosos como riquezas. O objeto da riqueza, suamatéria, por esse motivo recebeu sua máxima universalidade dentro dos limites naturais - uma vez que é também, como natureza, riqueza diretamente objetiva. E é só pelotrabalho, pela agricultura, que a terra existe para o homem. Conseqüentemente, aessência subjetiva da riqueza já está transferida para o trabalho. Mas, simultaneamente,a agricultura e o único trabalho produtivo. O trabalho, pois, ainda não assumiu suauniversalidade e sua forma abstrata; ele ainda se acha unido a um elemento particular danatureza como sendo a sua matéria, e só é reconhecido em um modo especial deexistência determinado pela natureza. O trabalho é ainda, apenas, uma alienação

determinada e específica do homem, e seu produto também é concebido como partedeterminada da riqueza devida mais à natureza do que ao trabalho propriamente dito. Aterra ainda é vista como algo existente naturalmente e sem levar em conta o homem, enão ainda como capital, isto é, como fator do trabalho. Pelo contrario, a terra parece ser um fator da natureza. Porém, desde que o fetichismo da antiga riqueza externa,

existente somente como objeto, foi reduzido a um elemento natural bastante simples, edesde que sua essência foi em parte, e de certa maneira, reconhecida em sua existência,subjetiva, realizou-se o necessário progresso ao identificar-se a natureza universal dariqueza e ao elevar o trabalho à sua forma absoluta, ou seja, em abstrato,ao princípio.Demonstra-se, contra os fisiocratas, que, sob o ponto de vista econômico (i. é, sob oúnico ponto de vista válido), a agricultura não difere de qualquer outra indústria, nãosendo, por conseguinte, um gênero específico de trabalho, ligado a um elemento

 particular, ou a uma manifestação particular do trabalho, mas o trabalho em geral que ea essência da riqueza.

Page 18: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 18/42

A aristocracia nega a riqueza específica, externa, puramente objetiva, ao declarar que otrabalho é essência dela. Para os fisiocratas, entretanto, o trabalho é, antes de mais nada,apenas a essência subjetiva da propriedade imobiliária. (eles partem daquele tipo de

 propriedade que aparece historicamente como o predominantemente reconhecido.)Simplesmente convertem a propriedade imobiliária em homem alienado. Anulam seucaráter feudal ao declarar ser a indústria (agricultura) a essência, mas rejeitam o mundo

industrial e aceitam o sistema feudal ao declarar que a agricultura e a única indústria.

É evidente que quando a essência subjetiva - indústria em oposição a propriedadeagrária, indústria formando-se a si mesma como tal - é percebida, ela inclui a oposiçãodentro de si mesma. Pois, assim como a indústria incorpora a propriedade agrária por ela desbancada, sua essência subjetiva abarca a desta.

A propriedade agrária (ou imobiliária) é a primeira forma de propriedade privada, e aindústria aparece pela primeira vez na história simplesmente em oposição a ela, comouma forma particular de propriedade privada (ou melhor, como o escravo libertado da

 propriedade agrária); essa seqüência se repete no estudo científico da essência subjetivada propriedade privada, e o trabalho aparece, a princípio, apenas como trabalho

agrícola, mas depois estabelece-se como trabalho em geral.

(III) Toda riqueza transformou-se em riqueza industrial , a riqueza do trabalho e aindústria é trabalho concretizado; exatamente como o sistema fabril é a essênciaconcretizada da indústria (i. é, do trabalho) e o capital industrial é a forma objetivaconcretizada da propriedade privada. Assim, vemos que é só nesta etapa que a

 propriedade privada pode consolidar seu domínio sobre o homem e tornar-se, em suaforma mais genérica, uma potência na história mundial.

Notas: 

[1] É o movimento Independente da propriedade privada tornando-se consciente de simesma; é a industria moderna como Pessoa.

Propriedade Privada e Comunismo

ad  página XXXIX. Todavia, a antítese entre a não-posse de propriedade (*) e propriedade ainda é uma antítese indeterminada, não concebida em sua referência ativaàs relações intrínsecas, não concebidas ainda como uma contra dição, desde que não écompreendida como uma antítese entre trabalho e capital. Mesmo sem a expansãoevoluída da propriedade privada, p. ex., na Roma antiga, na Turquia, etc., esta antítese

 pode ser expressa em uma forma primitiva. Nesta forma, ela não aparece ainda comoestabelecida pela própria propriedade privada. O trabalho, porém, a essência subjetiva

da propriedade privada como exclusão de propriedade, e o capital, trabalho objetivocomo exclusão de trabalho, constituem propriedade privada como a relação ampliadada contradição e, pois, uma relação dinâmica que tende a resolver-se.

ad ibidem. A substituição do auto-alheamento segue a mesma marcha do auto-alheamento. A propriedade privada é primeiro considerada somente em seu aspectoobjetivo, mas considerado o trabalho como sua essência. Sua maneira de existir,

 portanto, é o capital , que é necessário abolir, "como tal". (Proudhon.) Ou, então, a forma específica de trabalho (trabalho que é levado a um nível comum, subdividido e,

Page 19: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 19/42

 por isso, não-livre) é visto como a fonte da nocividade da propriedade privada e de suaalienação em relação ao homem.Fourier , de acordo com os Fisiocratas, encara otrabalho agrícola como sendo, no mínimo, o tipo exemplar de trabalho. Saint-Simon assevera, pelo contrário, ser o trabalho industrial , como tal, a essência do trabalho, e emconseqüência pleiteia o papel exclusivo dos industriais e um melhoramento da situaçãodos operários. Finalmente, o comunismo e a expressão positiva da abolição da

 propriedade privada e, em primeiro lugar, da propriedade privada universal. Entendendoessa relação em seu aspecto universal , o comunismo é (1) em sua primeira forma,apenas a generalização e concretização dessa relação. Como tal, ele aparece numa formadupla; a ascendência da propriedade material avulta de tal maneira que visa a destruir tudo que for incapaz de ser possuído por todos como propriedade privada. Ele quer abolir o talento, etc., pela força. A posse física imediata parece-lhe a única meta da vidae da existência. O papel do trabalhador não é abolido, mas ampliado a todos oshomens. A relação da propriedade privada continua a ser a da comunidade com omundo das coisas. Por fim, essa tendência a opor a propriedade privada em geral à

 propriedade privada é expressa de maneira animal; o casamento (que éincontestavelmente a forma de propriedade privada exclusiva) é posto em contraste coma comunidade das mulheres, em que estas se tornam comunais e propriedade comum.

Pode-se dizer que essa idéia de comunidade das mulheres é o segredo de Polichinelo desse comunismo inteiramente vulgar e irrefletido. Assim como as mulheres terão de

 passar do matrimônio para a prostituição universal, igualmente todo o mundo dasriquezas (i. é, o mundo objetivo do homem) terá de passar da relação de casamentoexclusivo com o proprietário particular para a de prostituição universal com acomunidade. Esse comunismo, que nega a personalidade do homem em todos ossetores, é somente a expressão lógica da propriedade privada, que é essa negação. Ainveja universal estabelecendo-se como uma potência é apenas uma forma camuflada decupidez que se reinstaura e satisfaz de maneira diferente. Os pensamentos de toda

 propriedade privada individual são, pelo menos, dirigidos contra qualquer propriedade privada mais abastada, sob a forma de inveja e do desejo de reduzir tudo a um nívelcomum; destarte, essa inveja e nivelamento por baixo constituem, de fato, a essência dacompetição. O comunismo vulgar é apenas o paroxismo de tal inveja e nivelamento por 

 baixo, baseado em um mínimo preconcebido. Quão pouco essa eliminação da propriedade privada representa uma apropriação genuína é demonstrado pela negaçãoabstrata de todo o mundo da cultura e da civilização, e pelo retorno â simplicidadeinatural (IV) do pobre e indigente que não só ainda não ultrapassou a propriedade

 privada, mas nem ainda a atingiu.

A comunidade é só uma comunidade de trabalho e de igualdade de salários pagos pelocapital comunal, pela comunidade como capitalista universal. Os dois aspectos darelação são elevados a uma suposta universalidade; o trabalho como uma situação emque todos são colocados, e o capital como a universalidade e poder admitidos na

comunidade. Na relação com a mulher , como presa e serva da luxúria comunal, manifesta-se ainfinita degradação em que o homem existe para si mesmo; pois o segredo dessa relaçãoencontra sua expressão inequívoca, inconteste, franca e patente na relação do homemcom a mulher e na maneira pela qual se concebe a relação direta e natural da espécie. Arelação imediata, natural e necessária de ser humano como ser humano é também arelação do homem com a mulher . Nesta relação natural da espécie, a relação do homemcom a natureza é diretamente sua relação com o homem, e sua relação com o homem é

Page 20: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 20/42

diretamente sua relação com a natureza, com sua própria funçãonatural . Portanto, nessarelação se revela sensorialmente, reduzida a um fato observável, até que ponto anatureza humana se tornou natureza para o homem e a natureza se tornou naturezahumana para ele. Dessa relação, pode-se estimar todo o nível de evolução do homem.Conclui-se, do caráter dessa relação, até que ponto o homem se tornou, e se entendeassim, um ser-espécie, um ser humano. A relação do homem com a mulher é a mais

natural de ser humano com ser humano. Ela indica, por conseguinte, até que ponto ocomportamento natural do homem se tornou humano, e até que ponto sua essênciahumana se tornou uma essência natural para ele, até que ponto sua natureza humana setornou natureza para ele. Também mostra até que ponto as necessidades do homem setornaram necessidades humanas e, conseqüentemente, até que ponto a outra pessoa,como pessoa, se tornou uma de suas necessidades, e até que ponto ele é, em suaexistência individual, ao mesmo tempo um ser social. A primeira anulação positiva da

 propriedade privada, o comunismo vulgar, é, portanto, apenas uma forma fenomenal dainfâmia da propriedade privada representando-se como comunidade positiva.

(2) O comunismo (a) ainda político em sua natureza, democrático ou despótico; (b) coma abolição do Estado, mas ainda incompleto e influenciado pela propriedade privada,

isto é, pela alienação do homem. Em ambas as formas, o comunismo já se dá conta deser a reintegração do homem, seu retorno a si mesmo, o repúdio da auto-alienação dohomem. Porém, como ainda não aprendeu a natureza positiva da propriedade privada,ou a natureza humana das necessidades, ainda se acha cativo e contaminado pela

 propriedade privada. Compreendeu bem o conceito, mas não a essência.

(3) O comunismo é a abolição positiva da propriedade privada, da auto-alienação

humana e, pois, a verdadeira apropriação da natureza humana através do e para ohomem. ele é, portanto, o retorno do homem a si mesmo como um ser  social , isto é,realmente humano, um regresso completo e consciente que assimila toda a riqueza daevolução prece dente. O comunismo como um naturalismo plenamente desenvolvido éhumanismo e como humanismo plenamente desenvolvido é naturalismo. É a resoluçãodefinitiva do antagonismo entre o homem e a natureza, e entre o homem e seusemelhante. É a verdadeira solução do conflito entre existência e essência, entreobjetificação e auto-afirmação, entre liberdade e necessidade, entre indivíduo e espécie.É a resposta ao enigma da História e tem conhecimento disso.

(V) Assim, todo o desenvolvimento histórico, tanto a gênese real do comunismo (onascimento de sua existência empírica) quanto sua consciência pensante, e seu processoentendido e consciente de vir-a-ser; ao passo que o outro, o comunismo ainda nãodesenvolvido procura, em certas formas históricas contrarias a propriedade privada, uma

 justificação baseada no que já existe e, com esse fito, arranca de seu contexto elementosisolados desse desenvolvimento (Cabet e Villegardelle destacam-se entre os que se

dedicam a esse passatempo), apresentando-os como provas de seu pedigree histórico.Ao fazê-lo ele deixa claro que, de longe, a mor parte desse desenvolvimento contradizsuas próprias afirmações e que, se jamais existiu, sua existência pretérita refuta sua

 pretensão a entidade essencial .

É fácil entender a necessidade que leva todo movimento revolucionário a encontrar sua base empírica, assim como a teórica, na evolução da propriedade privada e, mais precisamente, do sistema econômico.

Page 21: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 21/42

Essa propriedade privada material, diretamente perceptível , é a expressão material esensória da vida humana alienada. Seu movimento produção e consumo - e amanifestação sensória do movimento de toda a produção anterior, i. é, a realização ourealidade do homem. A religião, a família, o Estado, o Direito, a moral, a ciência, a arte,etc., são apenas formas particulares de produção e enquadram-se em sua lei geral. Asubstituição positiva da propriedade privada como apropriação da vida humana,

 portanto, é a substituição de toda alienação, e o retorno do homem, da religião, doEstado, da família, etc., para sua vida humana, i.é, social . A alienação religiosa comotal, ocorre somente no campo da consciência, na vida interior do homem, mas aalienação econômica e a da vida real , e por isso, sua substituição afeta ambos osaspectos. Está claro, a evolução em diferentes nações tem início diferente, conforme avida efetiva e estabelecida das pessoas esteja mais vinculada ao reino da mente ou aomundo exterior, seja mais uma vida real ou ideal. O comunismo começa onde começa oateísmo (Owens), mas o ateísmo de início está bem longe de ser comunismo; de fato, eleé, na maior parte, ainda uma abstração. Assim, a filantropia do ateísmo é, a princípio,unicamente uma filantropia filosófica abstrata, enquanto a do comunismo é desde logoreal e orientada e voltada para a ação.

Vimos como, na suposição da propriedade privada ter sido positivamente revogada, ohomem produz o homem, a si mesmo e a outros homens; como o objeto que é aatividade direta de sua personalidade, ao mesmo tempo é a existência dele para outroshomens e a destes para ele. Analogamente, o material do trabalho e o próprio homemcomo sujeito são o ponto de partida, bem como o resultado, desse movimento (e porquedeve haver esse ponto de partida, a propriedade privada é uma necessidade histórica).Por conseguinte, o caráter social e o caráter universal de todo o movimento; da mesmaforma que a sociedade produz o homem como homem, também ela é produzida  por ele.A atividade e o espírito são sociais em seu conteúdo, assim como em sua origem; elessão atividade social e espírito social . O significado humano da natureza só existe para ohomem social , porque só neste caso a natureza é um laço com outros homens, a base desua existência para outros e da existência destes para ele. Só, então, a natureza e abase

da própria experiência humana dele e um elemento vital da realidade humana. Aexistência natural do homem tornou-se, com isso, sua existência humana, e a próprianatureza tornou-se humana para ele. Logo, a sociedade é a união efetiva do homem coma natureza, a verdadeira ressurreição da natureza, o naturalismo realizado do homem e ohumanismo realizado da natureza.

(VI) A atividade social e o espírito social não existem apenas, de forma alguma, sob aforma de atividade ou espirito que sela diretamente comunal. Sem embargo, a atividadee o espírito comunais, i. é, atividade e espírito que se exprimem e confirmamdiretamente em associação real com outros homens, ocorrem sempre onde essaexpressão direta de sociabilidade brote do conteúdo da atividade ou corresponda à

natureza do espírito.Ainda quando realizo trabalho cientifico, etc., uma atividade que raramente possoconduzir em associação direta com outros homens, efetuo um ato social , por ser humano. Não é só o material de minha atividade - como a própria língua que o pensador utiliza - que me é dado como um produto social. Minha própria existência é umaatividade social. Por essa razão, o que eu próprio produzo, o faço para a sociedade, ecom a consciência de agir como um ser social.

Page 22: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 22/42

Minha consciência universal é apenas a forma teórica daquela cuja forma viva é acomunidade real, a entidade social, embora no presente essa consciência universal sejauma abstração da vida real e oposta a esta como uma inimiga. Por isso é que a atividade

de minha consciência universal como tal é minha existência teórica como um ser social.

Acima de tudo, é mister evitar conceber a "sociedade" uma vez mais como uma

abstração com que se defronta o indivíduo. O indivíduo é o ser social . A manifestaçãoda vida dele - ainda quando não apareça diretamente sob a forma de manifestaçãocomunal, realizada em associação com outros homens - é, por conseguinte, umamanifestação e afirmação de vida social . A vida humana individual e a vida-espécie nãosão coisas diferentes, conquanto o modo de existência da vida individual seja um modomais especifico ou mais geral da vida-espécie, ou da vida-espécie seja um modo maisespecífico ou mais geral da vida individual.

Em sua consciência como espécie, o homem confirma sua verdadeira vida social, ereproduz sua existência real em pensamento; reciprocamente, a vida-espécie confirma-se na consciência como espécie e existe por si mesma em sua universalidade como ser 

 pensante. Embora o homem seja um indivíduo original, e é justamente esta

 particularidade que o torna um indivíduo, um ser comunal realmente individual - ele éigualmente o conjunto, o conjunto ideal, a existência subjetiva da sociedade como éimaginada e vivenciada. Ele existe na realidade como a representação e o verdadeiroespirito da existência social, e como a soma da manifestação humana da vida.

Pensar e ser são deveras distintos, mas também formam uma unidade. A morte pareceser uma impiedosa vitória da espécie sobre o indivíduo e contradizer sua unidade;

 porém, o indivíduo em particular é apenas um determinado ente-espécie, e, como tal,mortal.

(4) Tal e qual a propriedade privada é a mera expressão sensorial do fato de o homemser ao mesmo tempo um fato objetivo para si mesmo e tornar-se um objeto estranho enão-humano para si mesmo; tal e qual sua manifestação de vida é também sua alienaçãoda vida e sua realização própria uma perda da realidade, o aparecimento de umarealidade estranha, assim também a revogação positiva da propriedade privada, i. é, aapropriação sensorial da essência humana e da vida humana do homem objetivo e dascriações humanas, pelo e para o homem, não devem ser consideradas exclusivamente naacepção de fruição imediata e exclusiva, ou na de possuir ou ter . O homem apropria seuser multiforme de maneira global, e portanto como homem integral. Todas as suasrelações humanas com o mundo - ver, ouvir, cheirar, saborear, pensar, observar, sentir,desejar, agir, amar - em suma, todos os órgãos de sua individualidade, como órgãos quesão de forma diretamente comunal (VII), são, em sua ação objetiva (suaação com

relação ao objeto) a apropriação desse objeto, a apropriação da realidade humana. A

maneira pela qual eles reagem ao objeto é a confirmação da realidade humana. (1) Éefetividade humana e sofrimento humano, pois o sofrimento, consideradohumanamente, é uma fruição do eu pelo homem.

A propriedade privada tornou-nos tão néscios e parciais que um objeto só e nossoquando o temos, quando existe para nós como capital ou quando é diretamente comido,

 bebido, vestido, habitado, etc., em síntese, utilizado de alguma forma; apesar de a propriedade privada propriamente dita só conceber essas várias formas de posse como

Page 23: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 23/42

meios de vida e a vida para a qual eles servem como meios ser a vida da propriedade

 privada - trabalho e criação de capital.

Assim, todos os sentidos físicos e intelectuais foram substituídos pela simples alienaçãode todos eles, pelo sentido de ter . O ser humano tinha de ser reduzido a essa pobrezaabsoluta a fim de poder dar à luz toda sua riqueza interior. (Sobre a categoria de ter ver 

Hess em Einundzwanzig Bogen. )

A anulação da propriedade privada é, pois, a emancipação completa de todos osatributos e sentidos humanos. Ela é essa emancipação porque esses atributos e sentidostornaram-se humanos, tanto sob o ponto de vista subjetivo quanto sob o objetivo. Oolho tornou-se olho humano quando seu objeto passou a ser um objeto humano, social,criado pelo homem e a este destinado. Os sentidos, portanto, tornaram-se direta menteteóricos na prática. Eles se relacionam com a coisa em atenção a esta, mas a própriacoisa é uma relação humana objetiva consigo mesma e com o homem, e vice-versa. (2)A necessidade e a fruição, portanto, perderam seu caráter egoísta, e a natureza perdeusua mera utilidade pelo fato de sua utilização ter-se tornado utilização humana.

Semelhantemente, os sentidos e os espíritos dos outros homens tornaram-se sua própria apropriação. Logo, além desses órgãos diretos, são constituídos órgãos sociais sob aforma de sociedade; por exemplo, a atividade em associação direta com outros tornou-se um órgão para a manifestação da vida e um modo de apropriação da vida humana.

(1) Por conseguinte, ela valia tanto quanto as tendências da natureza e das atividadeshumanas.

(2) Na prática, só posso relacionar-me de maneira humana com uma coisa quando estase relaciona de maneira humana com o homem.

É evidente que o olho humano aprecia as coisas de maneira diferente do olho bruto,não-humano, assim como o ouvido humano diferentemente do ouvido bruto. Conformevimos, é só quando o objeto se torna um objeto humano, ou humanidade objetiva, que ohomem não fica perdido nele. Isso somente é possível quando o objeto se torna umobjeto social , e quando ele próprio se torna um ser social e a sociedade se torna para ele,nesse objeto, um ser.

Por um lado, é só quando a realidade objetiva em toda parte se torna para o homem-em-sociedade a realidade das faculdades humanas, a realidade humana, e portanto arealidade de suas próprias faculdades, que todos os objetos se tornam para ele aobjetificação dele próprio. Os objetos, então, confirmam e realizam a individualidadedele, eles são os objetos dele próprio, i. e, o próprio homem torna-se o objeto. A

maneira pela qual esses objetos passam a ser dele, depende da natureza do objeto e danatureza da faculdade correspondente, pois é exatamente o caráter determinado dessarelação que constitui o modo real específico de afirmação. O objeto não e o mesmo parao olho que para o ouvido, para o ouvido que para o olho. O caráter distintivo de cadafaculdade é precisamente sua essência característica e, pois, também, o modocaracterístico de sua objetificação, de seu ser objetivamente real , vivo. Portanto, não éapenas em pensamento (VIII), mas por intermédio de todos os sentidos que o homem seafirma no mundo objetivo.

Page 24: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 24/42

Consideremos, a seguir, o aspecto subjetivo. O sentido musical do homem só édespertado pela música. A mais bela musica não tem significado para o ouvido não-musical, não e um objeto para ele, porque meu objeto só pode ser a corroboração deuma de minhas próprias faculdades. Ele só pode existir para mim na medida em queminha faculdade existe por si mesma como capacidade subjetiva, porquanto osignificado de um objeto para mim só se estende até onde o sentido se estende (só faz

sentido para um sentido adequado). Por essa razão, os sentidos do homem social sãodiferentes dos do homem não-social. E só por intermédio da riqueza objetivamentedesdobrada do ser humano que a riqueza da sensibilidade humana subjetiva (um ouvidomusical, um olho sensível à beleza das formas, em suma, sentidos capazes de satisfaçãohumana e que se confirmam como faculdades humanas) é cultivada ou criada. Pois nãosão apenas os cinco sentidos, mas igualmente os chamados sentidos espirituais, ossentidos práticos (desejar, amar, etc.), em suma, a sensibilidade humana e o caráter humano dos sentidos, que só podem vingar através da existência de seu objeto, atravésda natureza humanizada. O cultivo dos cinco sentidos é a obra de toda a históriaanterior. O sentido subserviente às necessidades grosseiras só tem um significadorestrito. Para um homem faminto, a forma humana de alimento não existe, mas apenasseu caráter abstrato como alimento. Poderia muito bem existir na mais tosca forma, e é

impossível afirmar de que modo essa atividade de alimentar-se diferia da dos animais. Ohomem necessitado, assoberbado de cuidados, não é capaz de apreciar o mais beloespetáculo. O vendedor de minerais só vê seu valor comercial, não sua beleza ou suascaracterísticas particulares; ele não possui senso mineralógico. Assim, a objetificação daessência humana tanto teórica quanto praticamente, é necessária parahumanizar os

 sentidos humanos, e também para criar os sentidos humanos correspondentes a toda ariqueza do ser humano e natural.

Exatamente como no início a sociedade encontra, graças ao desenvolvimento da propriedade privada com sua riqueza e pobreza (tanto intelectual quanto material), osmateriais necessários para essa evolução cultural, assim também a sociedade

 plenamente constituída produz o homem em toda a plenitude de seu ser, o homem ricodotado de todos os sen tidos, como uma realidade permanente. E só em um contextosocial que subjetivismo e objetivismo, espiritualismo e materialismo, atividade e

 passividade, deixam de ser antinomias e, assim, deixam de existir como tais antinomias.A resolução das contradições teóricas somente é possível através de meios práticos,somente através da energia prática do homem. Sua resolução não é, de forma alguma,

 portanto, apenas um problema de conhecimentos, mas um problema real da vida, que afilosofia foi incapaz de solucionar exatamente porque viu nele um problema puramenteteórico.

Pode ser notado que a história da indústria, e a indústria como existe objetivamente, éum livro aberto das  faculdades humanas, e uma psicologia humana que pode ser 

apreendida sensorialmente. Essa história não foi até aqui concebida com relação ànatureza humana, mas só sob um ponto de vista utilitário superficial, desde que nasituação de alienação só era viável conceber faculdades humanas reais e ação da espécie

humana sob a forma de existência humana em geral, como religião, ou como história emseu aspecto geral, abstrato, como política, arte e literatura, etc. A indústria material 

quotidiana (que pode ser concebida como parte daquela evolução geral; ou igualmente,a evolução geral pode ser concebida como parte específica da industria, visto que toda aatividade humana até agora tem sido trabalho, i. é, indústria, atividade auto-alienação)revela-nos, sob a forma de objetos úteis sensoriais, de maneira alienada, as faculdades

Page 25: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 25/42

humanas essenciais transformadas em objetos. Nenhuma psicologia para a qual esselivro, i. é, parte mais sensivelmente presente e acessível da História, permaneçafechado, pode tornar-se uma ciência de verdade com um conteúdo genuíno. Que se deve

 pensar de uma ciência que se mantém apartada de todo esse enorme campo do trabalhohumano e que não se sente sua própria inadequação, mesmo que essa grande riqueza deatividade humana nada mais signifique para ela senão, quiçá, o que pode ser expresso na

simples expressão - "necessidade", "necessidade comum"?

As ciências naturais desenvolveram uma atividade tremenda e reuniram uma semprecrescente massa de dados. Mas a filosofia tem-se mantido alheia a essas ciências,exatamente como elas o têm feito em relação à filosofia. Seu momentâneorapprochement foi somente uma ilusão fantasiosa. Havia um desejo de união, masfaltou o poder para efetivá-la. A própria historiografia só leva a ciência natural em contafortuitamente, encarando-a como um fator de esclarecimento, de utilidade prática e dedeterminados grandes descobrimentos. A ciência natural, contudo, penetrou mais

 praticamente na vida humana por intermédio da indústria. Ela transformou a vidahumana e preparou a emancipação da humanidade, conquanto seu efeito imediato fosseacentuar a desumanização do homem. A indústria é a relação histórica concreta da

natureza, e portanto da ciência natural, com o homem. Se a indústria é concebida comoa manifestação exotérica das faculdades humanas essenciais, a essência humana danatureza e a essência natural do homem também podem ser entendidas. A ciêncianatural, então, abandonará sua orientação materialista abstrata, ou melhor, idealista, e setornará a base de uma ciência humana, tal como já se converteu - malgrado de formaalienada - em base da vida humana prática. Uma base para a vida e outra para a ciênciaé, a priori , uma falsidade. A natureza, como se desenvolve através da história humana,no ato de gênese da sociedade humana, é a natureza concreta do homem; assim, anatureza, como se desenvolve por intermédio da indústria, embora de forma alienada, éverdadeiramente natureza antropológica.

A experiência dos sentidos (ver Feuerbach) tem de ser a base de toda ciência. A ciênciasó é ciência genuína quando procede da experiência dos sentidos, nas duas formas de

 percepção sensorial e necessidade sensória, i. é, só quando procede da natureza. Oconjunto da História é uma preparação para o 'homem" tornar-se um objeto da

 percepção sensorial , e para o desenvolvimento das necessidades humanas (asnecessidades do homem como tal). A própria História é uma parte real da História

 Natural , do aperfeiçoamento da natureza até chegar ao homem. A ciência natural algumdia incorporará a ciência do homem, exatamente como a ciência do homem incorporaráa ciência natural; haverá uma única ciência.

O homem é o objeto direto da ciência natural, porque a natureza diretamente perceptível 

é para o homem experiência sensorial. Sua própria experiência sensorial só existe como

a outra pessoa que lhe é diretamente apresentada de maneira sensorial. Sua própriaexperiência sensorial só existe como experiência sensorial humana através da outra pessoa. Mas, a natureza é o objeto direto da ciência do homem. O primeiro objeto parao homem - o próprio homem - é a natureza, a experiência sensorial; e as faculdadeshumanas sensórias em particular, que só podem encontrar realização objetiva emobjetos naturais, só podem alcançar o conhecimento próprio na ciência do ser natural. O

 próprio elemento do pensamento, o elemento da manifestação viva do pensamento, alinguagem, é de natureza sensorial. A realidade social da natureza e ciência naturalhumana ou ciência natural do homem, são expressões idênticas.

Page 26: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 26/42

A partir daqui, ver-se-á como, em lugar da riqueza e pobreza da Economia Política,teremos o homem rico e a plenitude da necessidade humana. O homem rico é, aomesmo tempo, aquele que precisa de um complexo de manifestações humanas da vida,e cuja própria auto-realização existe como uma necessidade interior, como umacarência. Não só a riqueza como também a pobreza do homem, adquire, em uma

 perspectiva socialista, o significado humano, e portanto social. A pobreza é o vinculo

 passivo que leva o homem a experimentar uma carência da máxima riqueza, a outra pessoa. O ímpeto da entidade objetiva dentro de mim, a rotura sensorial de minhaatividade vital, é a paixão que aqui se torna a atividade de meu ser.

(5) Um ser não se encara a si mesmo como independente a menos que seja seu própriosenhor, e ele só é seu próprio senhor quando deve sua existência a si mesmo. Umhomem que vive pelo favor de outro, considera-se um ser dependente. Mas, eu vivocompletamente por favor de outra pessoa quando lhe devo não apenas a continuação deminha vida, como igualmente sua criação; quando ele é a origem dela. Minha vida temforçosamente uma causa assim extrínseca quando não é de minha própria criação. Aidéia de criação, pois, é difícil de eliminar da consciência popular. Essa consciência eincapaz de conceber a natureza e o homem existindo por sua própria conta, pois tal

existência contraria todos os fatos tangíveis da vida prática.

A idéia da criação da Terra recebeu sério golpe da ciência da geogenia, i. é, da ciênciaque descreve a formação e o desenvolvimento da Terra como um processo de geraçãoespontânea. Generatio aequivoca (geração espontânea) é a única refutação prática dateoria da criação.

É fácil, todavia, deveras, dizer a um indivíduo em particular do que Aristóteles disse:você foi gerado por seu pai e sua mãe, e conseqüentemente foi o coito de dois sereshumanos, um ato da espécie humana, que produziu o ser humano. Vê-se, pois, quemesmo em um sentido físico o homem deve sua existência ao homem. Por conseguinte,não basta ter em mente apenas um dos dois aspectos, a progressão infinita e perguntar aseguir: quem gerou meu pai e meu avô? Também se tem de ter em vista o movimento

circular , perceptível nessa progressão, segundo o qual o homem, no ato da geração,reproduz-se a si mesmo: destarte, o homem sempre permanece como sujeito. Mas,responder-se-á: admito esse movimento circular, mas em troca você deve aceitar a

 progressão, que leva ainda mais adiante ao ponto onde eu pergunto: quem criou o primeiro homem e a natureza como um todo? Só posso responder: sua pergunta é, em simesma, um produto da abstração. Pergunte a si mesmo como chegou a essa pergunta.Pergunte-se se sua pergunta não nasce de um ponto de vista a que eu não possoresponder por que ele é deturpado. Pergunte-se se essa progressão existe como tal para o

 pensamento racional. Se você indaga acerca da criação da natureza e do homem, vocêestá abstraindo estes. Você os supõe não-existentes e quer que eu demonstre que eles

existem. Replico: desista de sua abstração e ao mesmo tempo você abandonará sua pergunta. Ou então, se você quer manter sua abstração, seja coerente, e se pensa nohomem e na natureza como não-existentes (XI) pense também em você como não-existente, pois você também é homem e natureza. Não pense nem formule quaisquer 

 perguntas, pois logo que você o faz sua abstração da existência da natureza e do homemse torna sem sentido. Ou será você tão egoísta que concebe tudo como não-existente,mas quer que você exista?

Page 27: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 27/42

Você pode retrucar: não quero conceber a inexistência da natureza, etc.; só lhe perguntoacerca do ato de criação dela, tal como indago do anatomista sobre a formação dosossos, etc.

Como, no entanto, para o socialista, o conjunto do que se chama história mundial nadamais é que a criação do homem pelo trabalho humano, e a emergência da natureza para

o homem, ele, portanto, tem a prova evidente e irrefutável de sua autocriação, de suas próprias origens. Uma vez que a essência do homem e da natureza, o homem como umser natural e a natureza como uma realidade humana, se tenha tornado evidente na vida

 prática, na experiência sensorial, a busca de um ser estranho, um ser acima do homem eda natureza (busca essa que é uma confissão da irrealidade do homem e da natureza)torna-se praticamente impossível. O ateísmo, como negação desse irrealismo, não maisfaz sentido, pois ele é uma negação de Deus e procura afirmar, por essa negação, aexistência do homem. O socialismo dispensa esse método assim tão circundante; ele

 parte da percepção teórica e prática sensorial do homem e da natureza como seresessenciais. É autoconsciência positiva humana, não mais uma autoconsciênciaalcançada graças à negação da religião; exatamente como avida real do homem é

 positiva e não mais alcançada graças à negação da propriedade privada, por meio docomunismo. O comunismo é a fase de negação da negação e é, por conseguinte, para a

 próxima etapa da evolução histórica, um fator real e necessário na emancipação ereabilitação do homem. O comunismo é a forma necessária e o princípio dinâmico dofuturo imediato, mas o comunismo não é em si mesmo a meta da evolução humana - aforma da sociedade humana.

Necessidades, Produção e Divisão do Trabalho

(XIV) (7) Vimos que a importância deve ser atribuída, em uma perspectiva socialista, àriqueza das necessidades humanas, e conseqüentemente também a um novo sistema de

 produção e a um novo objeto de produção. Uma nova manifestação das forças humanas

e um novo enriquecimento do ser humano. Dentro do sistema da propriedade privada,ela tem o significado diametralmente oposto. Cada homem especula sobre a criação deuma nova necessidade no outro a fim de obrigá-lo a um novo sacrifício, colocá-lo sobnova dependência, e induzi-lo a um novo tipo de prazer e, em conseqüência, à ruínaeconômica. Todos procuram estabelecer um poder estranho sobre os outros, para comisso encontrar a satisfação de suas próprias necessidades egoístas. Com a massa deobjetos, por conseguinte, cresce também o reino de entidades estranhas a que o homemse vê submetido. Cada novo produto é uma nova  potencialidade de mútua fraude eroubo. O homem torna-se cada vez mais pobre como homem; ele tem necessidadecrescente de dinheiro para poder apossar-se do ser hostil. O poder de seu dinheirodiminui na razão direta do aumento do volume da produção, i. é, sua necessidade crescecom o poder crescente do dinheiro. A necessidade de dinheiro é, pois, a necessidade

real criada pela economia moderna, e a única necessidade por esta criada. A quantidadede dinheiro torna-se cada vez mais sua única qualidade importante. Assim como elereduz toda entidade a sua abstração, também se reduz a si mesmo, em seu própriodesenvolvimento, a uma entidade quantitativa. Excesso e imoderação passam a ser seuverdadeiro padrão. Isso é demonstrado subjetivamente, em parte pelo fato de a expansãoda produção e das necessidades tornar-se uma subserviência engenhosa e semprecalculista a apetites desumanos, depravados, antinaturais e imaginários. A propriedade

 privada não sabe como transformar a necessidade bruta em necessidadehumana; seuidealismo é fantasia, capricho e ilusão. Nenhum eunuco lisonjeia a seu tirano de forma

Page 28: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 28/42

mais desavergonhada nem procura por meios mais infames estimular seu apetiteembotado, a fim de granjear algum favor, do que o eunuco da indústria, o homem deempresa, a fim de adquirir algumas moedas de prata ou de atrair o ouro da bolsa de seuamado próximo. (Todo produto é uma isca por meio da qual o indivíduo tenta engodar aessência da outra pessoa, o dinheiro desta. Toda necessidade real ou potencial é umafraqueza que atrairá o passarinho para o visgo. A exploração universal da vida humana

em comunidade. Como toda imperfeição do homem é um vínculo com o céu, um pontoem que seu coração é acessível ao sacerdote, assim também toda necessidade material éuma oportunidade para a gente aproximar-se do próximo, com uma atitude amistosa, edizer: "Caro amigo, dar-lhe-ei aquilo de que você precisa, mas você conhece a conditio

 sine qua non . Você sabe qual tinta tem de usar para entregar-se a mim. Eu o trapaceareiao proporcionar-lhe satisfação.") O homem de empresa concorda com os maisdepravados caprichos de seu próximo, desempenha o papel de alcoviteiro entre eles esuas necessidades, desperta apetites mórbidos, nele, e presta atenção a cada fraqueza afim de, posteriormente, reivindicar a remuneração por esse serviço de amor.

Essa alienação é em parte mostrada pelo fato de o requinte das necessidades e dos meiosde satisfazê-las produzir, como correspondente, uma selvajaria bestial, uma

simplicidade completa, primitiva e abstrata das necessidades; ou melhor, simplesmentereproduzir-se no sentido oposto. Para o trabalha dor, até a necessidade de ar fresco deixade ser uma necessidade. O homem volta novamente a morar em cavernas, mas agora éenvenenado pelo ar pestilento da civilização. O trabalhador só tem um direito precário ahabitá-las, pois elas se transformaram em residências estranhas que de repente podemnão estar mais disponíveis, ou de que ele pode ser despejado se não pagar o aluguel. Eletem de pagar por esse sepulcro. A residência cheia de luz que Prometeu, em Ésquilo,indica como uma das grandes dádivas por meio das quais converteu selvagens emhomens, deixa de existir para o trabalhador. Luz, ar, e a mais singela limpeza animaldeixam de ser necessidades humanas. A imundície, essa corrupção e putrefação quecorre pelos esgotos da civilização (isto deve ser tomado literalmente), torna-se oelemento em que o homem vive. Negligência total e antinatural , a natureza putrefata,

 passa a ser o elemento em que ele vive. Nenhum de seus sentidos sobrevive, seja sobforma humana, seja mesmo em forma não-humana, animal. Os processos (einstrumentos) mais grosseiros de trabalho humano reaparecem; assim, o moinhoacionado pelos pés dos escravos romanos tornou-se o modo de produção e o modo deexistência de muitos operários ingleses. Não basta que o homem perca suasnecessidades humanas; até as necessidades animais desaparecem. Os irlandeses nãomais têm nenhuma necessidade senão a de comer - comer batatas, e ainda assim só da

 pior espécie, batatas bolorentas. Mas a França e a Inglaterra já possuem em toda cidadeindustrial uma pequena Irlanda. Selvagens e animais podem, ao menos, satisfazer suasnecessidades de caçar, fazer exercício e ter companheiros. A simplificação damaquinaria e do trabalho, porém, é utilizada para fazer operários dos que ainda estão

crescendo, que ainda estão imaturos, crianças, enquanto o próprio operário converteu-seem uma criança desatendida de qualquer cuidado. A maquinaria é adaptada à fraquezado ser humano, de modo a transformar o fraco ser humano em máquina.

O fato de o aumento das necessidades e dos meios de satisfazê-las resultar em uma faltade atendimento das necessidades e meios de satisfazê-las, é demonstrado de váriasmaneiras pelo economista (e pelo capitalista; com efeito, é sempre a homens denegócios empíricos que nos referimos quando falamos de economistas, que são suaauto-revelação e existência científica). Primeiramente, reduzindo as necessidades do

Page 29: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 29/42

trabalhador às míseras exigências ditadas pela manutenção de sua existência física, ereduzindo a atividade dele aos movimentos mecânicos mais abstratos, o economistaassevera que o homem não tem necessidade de atividade ou prazer além daquelas; e noentanto declara ser esse gênero de vida um gênero humano de vida. Em segundo lugar,aceitando como padrão geral de vida (geral por ser aplicado à massa dos homens) a vida

mais pobre que se possa conceber; ele transformar o trabalhador em um ser destituído

de sentidos e necessidades, assim como transforma a atividade dele em uma abstração pura de toda atividade. Assim, todo o luxo da classe trabalhadora parece-lhecondenável, e tudo que ultrapasse a mais abstrata exigência (quer se trate de umasatisfação passiva ou uma manifestação de atividade pessoal) é encarada comoluxo. AEconomia Política, a ciência da riqueza, portanto, ao mesmo tempo, a ciência darenúncia, da privação e da poupança, que de fato consegue privar o homem de ar fresco

e de atividade física. A ciência de uma indústria maravilhosa é, concomitantemente, aciência do ascetismo. Seu verdadeiro ideal é o sovina, ascético porém usurário, e oescravo ascético porém produtivo. Seu ideal moral é trabalhador que leva uma parte dosalário para a caixa econômica. Chegou mesmo a achar uma arte servil para corporificar essa idéia favorita, que foi apresentada de forma sentimental no palco. Assim, a despeitode sua aparência mundana e sequiosa de prazeres, ela é uma ciência verdadeiramente

moralista, a mais moralista de todas as ciências. Sua tese principal é a renúncia à vida eàs necessidades humanas. Quanto menos se comer, beber, comprar livros, for ao teatroou a bailes, ou ao botequim, e quanto menos se pensar, amar, doutrinar, cantar, pintar,esgrimir, etc., tanto mais se poderá economizar e maior se tornará o tesouro imune àferrugem e às traças - o capital . Quanto menos se for , quanto menos se exprimir nossavida, tanto mais se terá, tanto maior será nossa vida alienada e maior será a economiade nosso ser alienado. Tudo o que o economista tira da gente sob a forma de vida ehumanidade, devolve sob a de dinheiro e riqueza. E tudo que não se pode fazer, odinheiro pode fazer para a gente; pode-se comer, beber, ir ao baile e ao teatro. Ele podeadquirir arte, saber, tesouros históricos, poder político; e pode-se viajar. Ele podeapropriar todas essas coisas para a gente, pode comprar tudo; ele é a verdadeiraopulência. Mas, apesar de poder fazer tudo isso, ele só quer  criar a si mesmo, e comprar a. si mesmo, pois tudo mais se lhe submete. Quando se possui o dono, também se possuio servo, e ninguém precisa do servo do dono. Dessa maneira, todas as paixões eatividades têm de ser submersas na avareza. O trabalhador deve ter apenas o que lhe énecessário para desejar viver, e deve desejar viver para ter isso.

É verdade que apareceu certa controvérsia no campo da Economia Política. Algunseconomistas (Lauderdale, Malthus, etc) advogam o luxo e condenam a poupança,enquanto outros (Ricardo, Say, etc.), advogam a poupança e condenam o luxo. Mas, os

 primeiros admitem que desejam luxo a fim de criar trabalho, i. é, poupança absoluta, ao passo que os últimos admitem que advogam a poupança a fim de criar a riqueza, i. é,luxo. Os primeiros têm a idéia romântica de que a avareza não deve determinar por si só

o consumo dos ricos, e contradizem suas próprias leis ao representar a prodigalidadecomo sendo um meio direto de enriquecer; seus opositores, então, demonstram comgrande minúcia e convicção, que a prodigalidade diminui ao invés de aumentar minhas

 posses. O segundo grupo é hipócrita, ao não admitir que são o capricho e a fantasia quedeterminam a produção. Esquecem-se das "necessidades requintadas", e que semconsumo não haveria produção. Esquecem-se de que, através da competição, a produçãotem de tornar-se sempre mais universal e luxuosa, que é o uso que determina o valor dascoisas e que o uso é função da moda. Eles querem que a produção seja limitada a"coisas úteis", mas esquecem que a produção de um número excessivo de coisas úteis

Page 30: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 30/42

resulta em muitas pessoas inúteis. Ambos os lados esquecem que prodigalidade e parcimônia, luxo e abstinência, riqueza e pobreza, são equivalentes.

 Não se tem de ser abstinente apenas na satisfação de nossos sentidos diretos, comocomer, etc., mas também em nossa participação em interesses gerais, nossa compaixão,confiança, etc., se se deseja ser econômico e evitar arruinar-se devido a ilusões.

Tudo o que se possui deve ser tornado venal , i. é, útil. Suponhamos que eu pergunte aoeconomista: estou agindo de acordo com as leis econômicas se ganhar dinheiro com avenda de meu corpo, prostituindo-o à concupiscência de outra pessoa (na França, osoperários chamam à prostituição de suas esposas e filhas a enésima hora de trabalho, oque é literalmente verdadeiro); ou se eu vender meu amigo aos marroquinos (e a vendadireta de homens ocorre em todos os países civilizados sob a forma de alistamento nasforças armadas)? Ele responderá: você não está agindo contra as minhas leis, mas temde levar em conta o que a Prima Moral e a Prima Religião têm a dizer. Minhamoralidade e religião econômicas nada têm a objetar, porém Mas, a quem se deve dar crédito, ao economista ou ao moralista? A moral da economia política é ganho,trabalho, parcimônia e sobriedade - no entanto, a economia política promete satisfazer 

minhas necessidades. A economia política da moral é a riqueza de uma boa consciência,virtude, etc., mas como posso ser virtuoso se não estiver vivo e como posso ter uma boaconsciência se não me der conta de nada? A natureza da alienação subentende que cadaesfera aplica uma norma diferente e contraditória, que a Moral não aplica a mesmanorma que a Economia Política, etc., porque cada uma delas é uma alienação particular do homem; (XVII) cada uma está concentrada em uma área específica de atividadealienada e, por sua vez, acha-se alienada da outra.

É assim que M. Michel Chevalier censura Ricardo por não levar em conta a Moral. MasRicardo deixa a Economia Política falar sua língua própria; não se deve condená-lo seessa língua não é a da Moral. M. Chevalier ignora a Economia Política, ao preocupar-seunicamente com a Moral, mas ignora de fato e necessariamente a Moral quando se

 preocupa com a Economia Política; pois o reflexo desta naquela é arbitrário e acidental,carecendo, assim, de qualquer base ou caráter científico, uma mera impostura, ou entãoé essencial e só pode ser então uma relação entre as leis econômicas e a Moral. Se nãoexiste uma relação assim, pode Ricardo ser chamado à responsabilidade? Outrossim, aantítese entre Moral e Economia Política é em si mesma apenas aparente; há umaantítese e igualmente não há antítese. A Economia Política exprime à sua própria

maneira, as leis morais.

A ausência de exigências, como princípio da economia política, é atestada da formamais chocante em sua teoria da população. Há homens em demasia. A própriaexistência do homem é puro luxo, e se o trabalhador for "moralizado" , ele será

econômico ao procriar . (Mill sugere louvor público aos que se mostrarem abstêmiosnas relações sexuais, e condenação pública aos que pequem contra a esterilidade domatrimônio. Não é essa a doutrina moral do ascetismo?) A produção de homens afigura-se uma desgraça pública.

O significado da produção com relação aos ricos é revelado no que tem para os pobres. No alto, sua manifestação é sempre requintada, disfarçada, ambígua, uma aparência; nascamadas inferiores, ela é crua, franca, sem rodeios, uma realidade. A necessidadeáspera do trabalhador é fonte de muito maior lucro do que a necessidade requintada do

Page 31: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 31/42

abastado. As moradias em porões de Londres dão mais aos senhorios do que os palácios, i. é, elas constituem maior riqueza no que toca ao senhorio e, assim, emtermos econômicos, maior riqueza social .

Assim como a indústria se reflete no refinamento das necessidades, também o faz emsua rudeza, e na rudeza delas produzida artificialmente, cuja verdadeira alma é a auto-

estupefação, a satisfação ilusória das necessidades, uma civilização dentro da barbáriegrosseira da necessidade. As tavernas inglesas, são, portanto, representações simbólicasda propriedade privada. Seu luxo desmascara a relação real do luxo industrial e dariqueza com o homem. Elas são, pois, adequadamente, o único divertimento dominicaldo povo, pelo menos tratado com brandura pela polícia inglesa.

Já vimos como o economista estabelece a unidade do trabalho e do capital de váriasmaneiras: (1) o capital é trabalho acumulado; (2) a finalidade do capital dentro da

 produção - em parte a reprodução do capital com lucro, em parte o capital comomatéria-prima (material do trabalho), em par te o capital como ele mesmo uminstrumento de trabalho (a máquina é capital fixo, que é idêntico ao trabalho) - étrabalho produtivo; (3) o trabalho é capital; (4) os salários fazem parte dos custos do

capital; (5) para o trabalhador, o trabalho é a reprodução de seu capital-vida; (6) para ocapitalista, o trabalho é um fator na atividade de seu capital.

Por fim, (7) o economista pressupõe a união original de capital e trabalho como uniãode capitalista e trabalhador. Essa é a situação paradisíaca original. Como esses doisfatores (XIX), tal como se fossem duas pessoas, avançam para a garganta do outro, é,

 para o economista, um acontecimento fortuito que por isso pode ser explicado apenas pelas circunstâncias exteriores (ver Mill).

As nações ainda estonteadas pelo fulgor físico de metais preciosos e, por isso, aindafetichistas do dinheiro metálico, não são ainda nações financeiras plenamentedesenvolvidas. Com pare-se a França com a Inglaterra. A medida em que a solução deum problema teórico incumbe à prática, e é conseguida pela prática, e a medida em quea prática correta é a condição para uma teoria verídica e positiva, é demonstrada, por exemplo, no caso do fetichismo. A percepção sensorial de um fetichista difere da de umgrego porque sua existência sensorial é diferente. A hostilidade abstrata entre sentidos eespírito é inevitável enquanto o sentido humano para a natureza, ou o significadohumano da natureza, e conseqüentemente o sentidonatural do homem, não tiver sido

 produzido por meio do trabalho do próprio homem.

A igualdade nada mais é que o alemão "Ich-Ich", traduzido para a forma francesa, i. é, política. A igualdade como base do comunismo é uma fundação política e é a mesma dequando os alemães apóiam sobre ela o fato de conceberem o homem como

autoconsciência universal . Está claro, a transcendência da alienação sempre provém daforma de alienação que é a força dominante; na Alemanha, autoconsciência; na França,igualdade, por causa da política; na Inglaterra, a necessidade real, material, auto-suficiente, prática. Proudhon deve ser apreciado e criticado sob este ponto de vista.

Se agora caracterizarmos o próprio comunismo (pois, como negação da negação, como aapropriação da existência humana que medeia entre uma e outra por meio da negação da

 propriedade privada não é a posição verdadeira, originada por si mesma, mas antes, umaque parte da propriedade privada)[N2] . . . a alienação da vida humana continua e uma

Page 32: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 32/42

alienação bem maior continua quanto mais a gente tem consciência disso) só pode ser realizada pelo estabelecimento do comunismo. A fim de revogar a idéia de propriedade

 privada bastam as idéias comunistas, mas é necessária atividade comunista genuína no

 sentido de revogar a propriedade privada real. A História produzirá, e a evolução que jáem pensamento reconhecemos como autotranscendente na realidade implicará em um

 processo severo e prolongado. Temos, entretanto, de considerá-lo um avanço, pois

obtivemos previamente uma noção da natureza limitada e do alvo da evolução históricae podemos ver para além dela.

Quando artesãos comunistas formam associações, o ensino e a propaganda são seus primeiros objetivos. Mas, sua própria associação cria uma necessidade nova - anecessidade da sociedade - o que parecia ser um meio torna-se um fim. Os resultadosmais notáveis desse fato prático podem ser vistos quando operários socialistas francesesse reúnem. Fumar, comer e beber não mais são meios de congregar pessoas. Asociedade, a associação, o divertimento tendo também como fito a sociedade, ésuficiente para eles; a fraternidade do homem não é frase vazia, mas uma realidade, e anobreza do homem resplandece sobre nós vindo de seus corpos fatigados.

(XX) Quando a Economia Política afirma que a oferta e a procura sempre se equilibram,esquece imediatamente sua própria tese (a teoria da população) de que a oferta dehomens sempre excede a procura, e conseqüentemente, que a desproporção entre ofertae procura é mais chocantemente expressa no fim essencial da produção - a existência dohomem.

O grau até o qual o dinheiro, que tem a aparência de um meio, é o poder real e o único fim, e em geral o grau até que o meio que me assegura a existência e posse do ser objetivo estranho é um fim em si mesmo, podem ser vistos no fato da propriedadeagrária onde a terra é a fonte da vida, e cavalo e espada onde estes são os verdadeirosmeios de vida, são também reconhecidos como os verdadeiros poderes políticos. NaIdade Média, um estado torna-se emancipado quando tem o direito de levar espada.Entre povos nômades, é o cavalo que torna livre o homem, fazendo-o membro dacomunidade.

Dissemos, acima, que o homem está regressando à habitação da caverna, mas numaforma alienada e maligna. O selvagem em sua caverna (um elemento natural que lhe élivremente oferecido para uso e proteção) não se sente um estranho; pelo contrário,sente-se tão em casa quanto um peixe na água. Mas, a habitação do pobre num porão éuma habitação hostil, "um poder estranho, constrangedor, que só se entrega em troca desuor e sangue". Ele não pode considerá-la como seu lar, como um lugar onde afinal

 possa dizer "aqui estou em casa". Pelo contrário, ele se encontra na casa deoutra

 pessoa, a casa de um estranho que está à sua espera diariamente e o despeja se não

 pagar o aluguel. Ele também se dá conta do contraste entre sua própria morada e umaresidência humana, como as que existem naquele outro mundo, o paraíso dos ricos.

A alienação é evidente não só no fato de meu meio de vida pertencer a outrem, de meusdesejos serem a posse inatingível de outrem, mas de tudo ser algo diferente de simesmo, de minha atividade ser outra coisa qualquer , e, por fim (e isso também ocorrecom o capitalista), de um poder desumano mandar em tudo. Há uma espécie de riquezaque é inativa, pródiga e devotada ao prazer, cujo beneficiário se comporta como umindivíduo efêmero de atividade sem propósito, que encara o trabalho escravo dos outros,

Page 33: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 33/42

 sangue e suor humanos, como a presa de sua cupidez e vê a humanidade, e a si mesmo,como um ser supérfluo e votado ao sacrifício. Assim, ele adquire um desprezo pelahumanidade, expresso na forma de arrogância e de malbaratamento de recursos que

 poderiam sustentar cem vidas humanas, e também na forma da ilusão infame de que suaextravagância irrefreada e interminável consumo improdutivo é condição indispensávelao trabalho e à subsistência de outros. Ele vê a realização dos poderes essenciais do

homem apenas como a realização de sua própria vida desordenada, de seus caprichos ede suas idéias inconstantes e bizarras. Tal riqueza, contudo, que vê a riqueza somentecomo um meio, como algo a ser consumido, e que é, portanto, tanto senhora comoescrava, generosa como mesquinha, caprichosa, presunçosa, vaidosa, refinada, culta eespirituosa, ainda não descobriu a riqueza como uma força inteiramente estranha, masvê nela seu próprio poder e fruição antes que riqueza. . . meta final. [N3] 

(XXI) . . .. e a fulgente ilusão acerca da natureza da riqueza, produzida por suaestonteante aparência física, é defrontada pelo industrial trabalhador, sóbrio,econômico e prosaico, que está esclarecido a respeito da natureza da riqueza e que,embora incrementando a amplitude da vida regalada do outro e lisonjeando-o com seus

 produtos (pois seus produtos são outros tantos ignóbeis mimos para os apetites do

 perdulário), sabe como apropriar para si mesmo, da única maneira útil , os poderesdecadentes do outro. Malgrado, portanto, a riqueza industrial pareça à primeira vista ser o produto de riqueza pródiga e fantástica, não obstante despoja o último de maneiraativa por seu próprio desenvolvimento. A queda da taxa de juros é uma conseqüêncianecessária da evolução industrial. Assim, os recursos do arrendatário esbanjador minguam proporcionalmente ao aumento dos meios e oportunidades de divertimento.Ele se vê obrigado, seja a consumir seu capital e arruinar-se, seja a tornar-se ele próprioum industrial. . . Por outro lado, há um aumento constante da renda da terra no decorrer do progresso industrial, mas consoante já vimos deve chegar uma hora em que a

 propriedade imobiliária, como qualquer outra forma de propriedade, recai na categoriade capital que se reproduz por meio do lucro - e isso é resultado do mesmo progressoindustrial. Assim, o perdulário proprietário de terras tem de entregar seu capital earruinar-se, ou então tornar-se um rendeiro de sua própria propriedade - um industrialagrícola.

O declínio da taxa de juros (que Proudhon considera como abolição do capital e umatendência para a socialização do capital) é, pois, antes um sintoma direto da vitóriacompleta do capital ativo sobre a riqueza pródiga, i. é, a transformação de toda

 propriedade privada em capital industrial. É a vitória completa da propriedade privadasobre suas qualidades aparentemente humanas, e a submissão total do dono da

 propriedade à essência da propriedade privada - o trabalho. É evidente que o capitalistaindustrial também tem seus prazeres. Ele não retorna absolutamente a uma simplicidadeantinatural em suas necessidades, mas sua fruição é somente questão secundária; é

recreação subordinada à produção, e, assim, um divertimento calculado, econômico, pois ele anota seus prazeres como um desembolso de capital e o que esbanja não deveser mais do que pode ser substituído com lucros pela reprodução do capital. Destarte, odivertimento fica subordinado ao capital e o indivíduo amante de prazeres e sujeito aoacumulador de capital, enquanto outrora ocorria o contrário. A queda da taxa de juros é,

 por conseguinte, um mero sintoma de abolição do capital, na medida em que é umsintoma de seu crescente domínio e alienação que acelera sua própria abolição. Demaneira geral, essa e a única maneira pela qual o que existe afirma seu contrário.

Page 34: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 34/42

A disputa entre economistas a respeito de luxo e poupança, portanto, é apenas umadisputa entre a economia política que se deu bem conta da natureza da riqueza e a queainda está sobrecarregada com recordações românticas, anti-industriais. Nenhum doslados, entretanto, sabe como expressar o assunto da disputa em termos simples, ou écapaz, por conseguinte, de resolver a pendenga.

Além disso, a renda da terra, qua renda da terra, foi posta abaixo, pois contra aargumentação dos Fisiocratas de ser o dono da terra o 'único produtor legítimo, aeconomia moderna demonstra, antes, que o dono da terra como tal é o únicoarrendatário completamente improdutivo. A agricultura é um negócio do capitalista, queemprega seu capital nela quando pode contar com uma taxa de lucro normal. Aafirmação dos Fisiocratas de que a propriedade agrária, como única propriedade

 produtiva, devia ser a única a pagar impostos e, em conseqüência, ser a única a aprová-los e a participar dos negócios públicos, é transformada na convicção oposta de que osimpostos sobre o arrendamento da terra são os únicos impostos sobre um rendimentoimprodutivo e, assim, os únicos não nocivos ao produto nacional. Está claro que sobeste ponto de vista, nenhum privilégio político para os proprietários de terras decorre desua situação como principais contribuintes de impostos.

Tudo o que Proudhon concebe como um movimento do trabalho contra o capital ésomente o movimento do trabalho sob a forma de capital, de capital industrial contra oque não é consumido como capital , i. é, industrialmente. E a esse movimento segue seucaminho triunfante, o caminho da vitória do capital industrial. Ver-se-á que só quando otrabalho é concebido como a essência da propriedade privada é que podem ser analisadas as características reais do movimento econômico propriamente dito.

A sociedade, como é vista pelo economista, é a  sociedade civil , em que cada indivíduo éuma totalidade de necessidades e apenas existe para outra pessoa, como esta existe paraele, na medida em que cada um é um meio para o outro. O economista (como a políticaem seus direitos do homem) reduz tudo ao homem, i. é, ao indivíduo, a quem eledespoja de todas as características com o fito de classificá-lo como capitalista ou comotrabalhador.

A divisão do trabalho é a expressão econômica do caráter social do trabalho no quadroda alienação. Ou, visto ser o trabalho apenas uma expressão da atividade humana noquadro da alienação, de atividade vital como alienação da vida, a divisão do trabalho

nada mais é que a instituição alienada da atividade humana como uma real atividade da

espécie ou a atividade do homem como um ente-espécie.

Os economistas mostram-se muito confusos e contradizem-se a si mesmos acerca danatureza da divisão do trabalho (que, naturalmente, tem de ser olhada como uma força

motivadora principal na produção da riqueza desde que o trabalho é reconhecido como aessência da propriedade privada), i. é, acerca da forma alienada da atividade humana

como atividade da espécie.

Adam Smith[N4]:

"A divisão do trabalho. . . não é originariamente o efeito de qualquer sabedoria humana.. . E a conseqüência obrigatória, se bem que muito lenta e gradativa, da propensão a

 barganhar, trocar e cambiar uma coisa por outra. [Quer essa propensão seja um daqueles

Page 35: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 35/42

 princípios originais da natureza humana. . .] ou quer, como parece mais provável, seja aconseqüência necessária das faculdades da razão e da fala [não cabe aqui investigar]. Écomum a todos os homens e não pode ser encontrada em nenhuma outra raça deanimais. . . [Em quase todas as outras raças de animais, o indivíduo] quando atinge amaturidade está inteiramente independente. . . Mas o homem tem oportunidade quaseconstante para necessitar do auxílio de seus irmãos, e é em vão que ele esperará obtê-lo

unicamente da benevolência deles. É mais provável que seja bem sucedido se puder interessar o egoísmo deles em seu favor, mostrando-lhes que será vantajoso para elesfazer-lhe o que lhes solicita. . . Não nos dirigimos à demência deles, mas a seu egoísmo,e nunca falamos de nossas necessidades porém das vantagens deles (págs. 12-13).

"Como é por meio de tratado, de troca e de compra que obtemos de outros a maior partedos bons ofícios de que mutuamente carecemos, assim também é essa mesmadisposição para negociar que originariamente enseja a divisão do trabalho. Em umatribo de caçadores ou pastores, uma de terminada pessoa faz arcos e flechas, por exemplo, com maior rapidez e perícia que qualquer outra. Freqüentemente as troca por gado ou carne de veado com seus companheiros, e acaba verificando que dessa maneira

 pode conseguir mais gado ou carne de veado do que se fosse pessoalmente ao campo

 para pegá-los. Tendo em vista seu interesse próprio, então, a confecção de arcos eflechas passa a ser seu principal negócio. . . (págs. 13-14) .

"A diferença de talentos naturais de homens diferentes. . . não é. . . tanto a causa quantoo efeito da divisão do trabalho. . . Sem a disposição para negociar, trocar e cambiar,cada homem teria que providenciar por si mesmo tudo que desejasse de necessário econveniente. Todos teriam de ter. . . o mesmo trabalho a fazer, e não poderia ter havidoessa diferença de ocupação, a única capaz de dar margem a qualquer diferença grandede talentos (pág. 14).

"Assim como é essa distribuição que forma aquela diferença de talentos. . . entre oshomens, também é ela que torna útil tal diferença. Muitas tribos de animais. . . damesma espécie recebem da natureza uma diferenciação de índole muito mais notável doque, precedendo o costume e a educação, parece ter lugar entre os homens. Por natureza, um filósofo não é no temperamento e na inclinação nem a metade diferente deum carregador do que o é um mastim de um galgo, ou um galgo de um spaniel , ou esteúltimo de um cão-pastor. Essas diferentes tribos de animais, contudo, apesar de todas damesma espécie, são de pouca utilidade uma para a outra. O vigor do mastim (XXVI)não é, pelo me nos, assistido seja pela agilidade do galope, seja. . . Os efeitos dessesdiferentes temperamentos e talentos, à falta de capacidade ou inclinação para trocar ecambiar, não podem ser congregados em um cabedal comum, e em nada contribuem

 para melhor acomodação e utilidade da espécie. Cada animal continua obrigado asustentar-se e a defender-se, separada e independentemente, e não obtém qualquer 

gênero de superioridade dessa variedade de talentos com que a natureza distinguiu seussemelhantes. Entre os homens, pelo contrário, os mais diversos pendores são deutilidade mútua; os diferentes produtos de seus respectivos talentos, graças à inclinaçãogeral para trocar, negociar e cambiar, são reunidos, por assim dizer, em um cabedalcomum, onde cada homem pode adquirir qualquer parte da produção dos talentos deoutros homens para que tenha aplicação (págs. 14-15).

"Como é a capacidade de trocar que dá oportunidade à divisão do trabalho, a extensãodessa divisão tem sempre de - ser limitada pela extensão daquela capacidade, ou, por 

Page 36: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 36/42

outras palavras, pela extensão do mercado. Quando o mercado é muito pequeno,ninguém pode encontrar qualquer estímulo para dedicar-se inteiramente a um emprego,

 por falta de capacidade para cambiar a parte excedente de seu próprio trabalho, acima ealém de seu próprio consumo, por partes análogas da produção do trabalho de outroshomens para que tiver aplicação." (pág. 15).

 Num estágio adiantado da sociedade: "Todo homem, pois, vive por meio da troca, outorna-se, em certa medida. um mercador, e a própria sociedade alcança o que é

 propriamente uma sociedade comercial" (pág. 20). (Ver Deustutt de Tracy[N5]: "Asociedade é uma série de trocas recíprocas; o comercio é toda a essência da sociedade.")A acumulação de capital aumenta com a divisão do trabalho e vice-versa.

- Até aqui falou Adam Smith.

"Se toda família produzisse tudo o que consome, a sociedade poderia prosseguir semque tivesse lugar qualquer espécie de intercâmbio. Em nosso estado adiantado desociedade, a troca, apesar de não ser fundamental , é indispensável."[N6] "A divisão dotrabalho é um hábil desdobramento das capacidades do homem; ela aumenta a produção

da sociedade - seu poder e seus prazeres - mas diminui a capacidade de cada pessoaconsiderada individualmente. A produção não pode ter lugar sem a troca."[N7] 

- Assim falou J. B. Say.

"As faculdades intrínsecas do homem são sua inteligência e sua capacidade física paratrabalhar. As oriundas da situação da sociedade consistem na capacidade para repartir otrabalho e distribuir tarefas entre diferentes pessoas e no poder trocar os serviços e

 produtos que constituem os meios de subsistência. O motivo que impele o homem a dar seus serviços a outro é o interesse próprio; ele exige uma retribuição pelos serviços

 prestados. O direito à propriedade privada exclusiva é indispensável ao estabelecimentodas trocas entre os homens. . . Troca e divisão do trabalho são mutuamentedependentes."[N8] 

- Assim falou Skarbek.

Mill apresenta a troca aperfeiçoada - o comércio - como uma conseqüência da divisãodo trabalho:

"A atuação do homem pode ser reconstituída por elementos muito simples. Ele não pode, com efeito, fazer mais nada se não produzir movimento. Pode aproximar as coisasuma da outra, (XXXVII) e pode separá-las uma da outra: as propriedades da matériadesincumbem-se do resto. . . No emprego do trabalho e da maquinaria, constata-se,

amiúde, que os efeitos podem ser aumentados pela distribuição hábil, pela separação dasoperações que têm qualquer tendência a se obstarem mutuamente, e pela conjugação detodas as operações que podem ser feitas de modo a auxiliarem-se umas às outras. Comoos homens em geral não podem executar muitas operações diferentes com a mesmarapidez e destreza com que pela prática aprendem a executar algumas, é semprevantajoso limitar tanto quanto possível o número de operações impostas a cada um. Paradividir o trabalho, e repartir os esforços dos homens e máquinas, com a máximavantagem, em muitos casos e necessário operar em grande escala; por outras palavras,

 produzir as utilidades em grandes quantidades. E essa vantagem que dá existência às

Page 37: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 37/42

grandes manufaturas, de que umas poucas, instaladas nos locais mais convenientes,freqüentemente abastecem não um país, porém muitos, com a quantidade desejada dautilidade produzida."[N9] 

- Assim falou Mill.

Toda a moderna Economia Política, entretanto, está acorde em que a divisão do trabalhoe riqueza da produção, a divisão do trabalho e acumulação de capital, determinam-semutuamente; e também que só a propriedade privada livre e autônoma pode produzir amais eficaz e extensiva divisão do trabalho.

O raciocínio de Adam Smith pode ser sintetizado da seguinte forma: a divisão dotrabalho confere a este uma capacidade de produção ilimitada. Ela se origina da

 propensão a trocar e barganhar , uma propensão especificamente humana que provavelmente não é acidental porém determinada pelo uso da razão e da fala. O motivodos que se empenham nas trocas não é a bondade, mas o egoísmo. A diversidade dostalentos humanos é mais o efeito que a causa da divisão do trabalho, i. é, dointercâmbio. Ademais, é só a última que torna útil essa diversidade. As qualidades

 particulares das diferentes tribos dentro de uma espécie animal são naturalmente mais pronunciadas que as diferenças de aptidões e atividades dos seres humanos. Mas comoos animais não são capazes de estabelecer troca, a diversidade de atributos dos animaisda mesma espécie, porém de tribos diferentes, não beneficia qualquer animalindividualmente. Os animais são incapazes de combinar as varias qualidades de suaespécie, ou de contribuir para a superioridade e conforto comum da espécie. Dá-se ocontrario com os homens, cujos mais diversos talentos e formas de atividade são úteisuns aos outros, porque eles podem reunir seus diferentes produtos em um cabedalcomum, de que cada homem pode comprar. Como a divisão do trabalho surge da

 propensão a trocar, ela se desenvolve e é limitada pela extensão da troca, pela extensão

do mercado. Em condições adiantadas, todo homem é um mercador e a sociedade éuma associação comercial . Say encara a troca como acidental e não fundamental. Asociedade poderia existir sem ela. Torna-se indispensável em um estágio adiantado dasociedade. Todavia, a produção não pode ocorrer  sem ela. A divisão do trabalho é ummeio cômodo e útil , um hábil desdobramento das faculdades humanas para a riquezasocial, mas diminui a capacidade de cada pessoa considerada individualmente. Oúltimo comentário é um progresso da parte de Say.

Skarbek distingue as faculdades inatas individuais do homem, inteligência e capacidadefísica para trabalhar, das oriundas da sociedade - troca e divisão do trabalho, que sedeterminam mutuamente. A condição prévia indispensável da troca, porém, é a

 propriedade privada. Skarbek exprime aqui objetivamente o que dizem Smith, Say,Ricardo, etc., ao designar o egoísmo e o interesse próprio como base da troca e o

regateio comercial como a forma de troca essencial e adequada.Mill representa o comércio como conseqüência da divisão do trabalho. Para ele, aatividade humana reduz-se a movimento mecânico. A divisão do trabalho e o uso demaquinaria promovem a abundância da produção. A cada indivíduo deve ser dada amenor amplitude possível de operações. A divisão do trabalho e o uso de maquinaria,

 por sua vez, exigem a produção em massa da riqueza, i. é, de produtos. Essa é a razão para a manufatura em larga escala.

Page 38: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 38/42

(XXXVIII) A consideração da divisão do trabalho e da troca é do máximo interesse, posto que são a expressão perceptível, alienada, da atividade e capacidades humanascomo a atividade e as capacidades próprias de uma espécie.

Declarar que a propriedade privada é a base da divisão do trabalho e da troca ésimplesmente afirmar que o trabalho é a essência da propriedade privada; uma

afirmação que o economista não pode provar e que desejamos provar para ele. É precisamente no fato de a divisão do trabalho e da troca serem manifestações da propriedade privada que encontramos a prova, primeiro de que a vidahumana

necessitava da propriedade privada para sua realização, e, segundo, que ela agora exigea revogação da mesma.

A divisão do trabalho e a troca são os dois fenômenos que levam o economista a gabar o caráter social de sua ciência, enquanto, ao mesmo tempo, inconscientemente exprimea natureza contraditória dessa ciência - o estabelecimento da sociedade graças ainteresses não-sociais, particulares.

Os fatores que temos de considerar agora são os seguintes: a propensão a trocar - cuja

 base é o egoísmo - é encarada como a causa do efeito recíproco da divisão do trabalho.Say considera a troca como não sendo fundamental para a natureza da sociedade. Ariqueza e a produção são explicadas pela divisão do trabalho e pela troca. Oempobrecimento e o desnaturamento da atividade individual devido a divisão dotrabalho, são admitidos. A troca e a divisão do trabalho são reconhecidas como as fontesda grande diversidade dos talentos humanos, que por sua vez se torna útil emdecorrência da troca. Skarbek distingue duas partes nas faculdades produtivas doshomens: 1) as aptidões específicas ou habilidades, as individuais e inatas, e a suainteligência; 2) as provindas não do indivíduo real, mas da sociedade - a divisão dotrabalho e a troca. Além disso, a divisão do trabalho é limitada pelo mercado. Otrabalho humano é simples movimento mecânico; a maior parte é feita pelas

 propriedades materiais dos objetos. O menor número possível de operações deve ser atribuído a cada indivíduo. Fissão do trabalho e concentração do capital; a nulidade da

 produção do indivíduo e a produção em massa de riqueza. Significado da propriedade privada livre na divisão do trabalho.

Notas: 

[2] Uma parte da página está rasgada neste ponto, e seguem-se fragmentos de seis linhasque são insuficientes para reconstruir a passagem. - Nota do T. (retornar ao texto)

[3] O fim da página está rasgado e faltam várias linhas do texto. - Nota do T. (retornar ao texto)

[4] As passagens seguintes são de A Riqueza das Nações, Livro I, Cap. II, III e IV.Marx refere-se à tradução francesa: Recherches sur la nature et les causes de la richessedes nations, por Adam Smith. Marx cita com omissões e em alguns casos, parafraseia otexto original, usando a edição Everyman, colocando dentro de colchetes as partes que

foram parafraseadas. - Nota do T.

[5] Destutt de Tracy, Éléments d'idéologie. Traité de Ia volonté et ses effets:, Paris,1826, págs. 68, 78. (retornar ao texto)

Page 39: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 39/42

[6] Jean-Baptiste, Say, Traité d'économie politique. 3éme édition, Paris, 1817. T. I, pág.300. (retornar ao texto)

[7] Ibid, pág. 76. (retornar ao texto)

[8] F. Skarbek, Théorie des richesses sociales, suivie d'une bibliographie de l'économie

 politique, Paris, 1829, T. I, págs. 25-27. (retornar ao texto)

[9 ] James Mill, Elemeats of Political Economy, Londres, 1821. Marx cita da traduçaofrancesa por J. T. Parisot (Paris, 1823). - Nota do T. (retornar ao texto)

Dinheiro

(XLI) Se os sentimentos, paixões, etc. do homem não são meras característicasantropológicas no sentido mais restrito, mas sim afirmações verdadeiramenteontológicas do ser (natureza), e se só são realmente afirmadas na medida em que seuobjetivo existe como um objeto dos sentidos, então é evidente:

(1) que seu modo de afirmação não e um só e imutável, mas, antes, que os diversosmodos de afirmação constituem o caráter distintivo de sua existência, de sua vida. Amaneira pela qual o objeto existe para eles é a forma distintiva de sua gratificação;

(2) onde a afirmação sensorial é uma anulação direta do objeto em sua formaindependente (como ao beber, comer, trabalhar um objeto, etc), esta é a afirmação doobjeto;

(3) na medida em que o homem, e daí também seus sentimentos, etc., são humanos, aafirmação do objeto por outra pessoa também é sua gratificação própria;

(4) só por meio da indústria evoluída, i. é, por meio da propriedade privada, concretiza-se a essência ontológica das paixões humanas, em sua totalidade e humanidade; a própria ciência do homem é um produto da autoformação do homem graças à atividade prática;

(5) o significado da propriedade privada - liberta de sua alienação - é a existência de

objetos essenciais ao homem, como objetos de divertimento e atividade.

O dinheiro, já que possui a propriedade de comprar tudo, de apropriar objetos para simesmo, é, por conseguinte o object par excellence . O caráter universal dessa

 propriedade corresponde à onipotência do dinheiro, que é encarado como um ser onipotente. . . o dinheiro é a proxeneta entre a necessidade e o objeto, entre a vida

humana e os meios de subsistência. Mas, o que serve de medianeiro à minha vidatambém serve à existência de outros homens para mim. Ele é para mim a outra pessoa.

"Com a breca! pernas, braços peito,Cabeça, sexo, aquilo é teu;Mas, tudo o que, fresco, aproveito,Será por isso menos meu?Se podes pagar seis cavalos,As suas forças não governas?

Page 40: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 40/42

Corres por morros, clivos, valos,Qual possuidor de vinte e quatro pernas."(GOETHE, Fausto, Mefistófeles)[N10] 

Shakespeare em Tímon de Atenas:

"Que é isto? Ouro? Ouro amarelo, brilhante, precioso? Não, deuses: eu não faço protestos vãos. Raízes quero, ó céus azuis! Um pouco disto tornaria o preto branco; ofeio, belo; o injusto, justo; o vil, nobre; o velho, novo; o covarde, valente. Mas, oh, ódeuses! por que é isso? isto que é, deuses? Isto fará com que os vossos sacerdotes e osvossos servos se afastem de vós; isto fará arrancar o travesseiro de debaixo das cabeçasdos homens fortes. Este escravo amarelo fará e desfará religiões; abençoará os réprobos;fará prestar culto à alvacenta lepra; assentará ladrões, dando-lhes título, genuflexões eaplauso, no mesmo banco em que se assentam os senadores; isto é que faz com que ainconsolável viuva contraia novas núpcias; e com que aquela, que as úlceras purulentase os hospitais tornavam repugnante, fique outra vez perfumada e apetecível como umdia de abril. Anda cá, terra maldita, meretriz, comum a toda a espécie humana, quesemeia a desigualdade na turba-malta das nações, vou devolver-te à tua verdadeira

natureza."

E mais adiante:

"Ó tu, amado regicida; caro divorciador da mútua afeição do filho e do pai; brilhantecorruptor dos mais puros leitos do Himeneu! valente Marte! tu, sempre novo, viçoso,amado galanteador, cujo brilho faz derreter a virginal neve do colo de Diana! tu, deusvisível, que tornas os impossíveis fáceis, e fazes como que se beijem! que em todas aslínguas te explicas para todos os fins! Ó tu, pedra de toque dos corações! trata oshomens, teus escravos, como rebeldes, e, pela tua virtude, arremessais a todos emdiscórdias devoradoras, a fim de que as feras possam ter o mundo por império!"[N11] 

Shakespeare retrata admiravelmente a natureza do dinheiro. Para entendê-lo,comecemos interpretando o trecho de Goethe.

O que existe para mim por intermédio do dinheiro, aquilo por que eu posso pagar (i. é,que o dinheiro pode comprar), tudo isso sou eu, o possuidor de meu dinheiro. Meu

 próprio poder é tão grande quanto o dele. As propriedades do dinheiro são as minhas próprias (do possuidor) propriedades e faculdades. O que eu sou e posso fazer , portanto,não depende absolutamente de minha individualidade. Sou feio, mas posso comprar amais bela mulher para mim. Consequentemente, não sou feio, pois o efeito da feiúra,seu poder de repulsa, é anulado pelo dinheiro. Como indivíduo sou coxo, mas o dinheiro

 proporciona-me vinte e quatro pernas; logo, não sou coxo. Sou um homem detestável,

sem princípios, sem escrúpulos e estúpido, mas o dinheiro é acatado e assim também oseu possuidor. O dinheiro é o bem supremo, e por isso seu possuidor é bom. Além domais, o dinheiro poupa-me do trabalho de ser desonesto; por conseguinte, sou

 presumivelmente honesto. Sou estúpido, mas como o dinheiro é o verdadeiro cérebro de tudo, como poderá seu possuidor ser estúpido? Outrossim, ele pode comprar pessoastalentosas para seu serviço e não é mais talentoso que os talentosos aquele que podemandar neles? Eu, que posso ter, mediante o poder do dinheiro, tudo que o coraçãohumano deseja, não possuo então todas as habilidades humanas? Não transforma meudinheiro, então, todas as minhas incapacidades em seus contrários?

Page 41: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 41/42

Se o dinheiro é o laço que me prende à vida humana, e a sociedade a mim, e me liga ànatureza e ao homem, não é ele o laço de todos os laços? Não é ele também, portanto, oagente universal da separação? Ele é o meio real tanto de separação quanto de união, aforça galvano-química da sociedade.

Shakespeare ressalta particularmente duas propriedades do dinheiro:

(1) ele é a divindade visível, a transformação de todas as qualidades humanas e naturaisem seus antônimos, a confusão e inversão universal das coisas; ele converte aincompatibilidade em fraternidade;

(2) ele é a meretriz universal, o alcoviteiro universal entre homens e nações.

O poder de inverter e confundir todos os atributos humanos e naturais, de levar osincompatíveis a confraternizarem, o poder divino do dinheiro reside em seu caráter como a vida espécie alienada e auto-alienadora do homem. Ele é a força alienada dahumanidade.

O que sou incapaz de fazer como homem, e, pois, o que todas as minhas faculdadesindividuais são incapazes de fazer, me é possibilitado pelo dinheiro. O dinheiro, por conseguinte, transforma cada uma dessas faculdades em algo que ela não é, em seuantônimo.

Se estou com vontade de comer, ou desejo de viajar na diligência da posta por não ser  bastante forte para ir a pé, o dinheiro proporciona-me a refeição e a diligência, i. é, eletransforma meus desejos de representações em realidades, de seres imaginários em

 seres reais. Atuando assim como mediador, o dinheiro é uma força  genuinamente

criadora.

A procura também existe para o indivíduo sem dinheiro, mas sua procura é meracriatura da imaginação, que não tem efeito nem existência para mim, para um terceiro,

 para. . . (XLIII) e que, assim, permanece irreal e sem objeto. A diferença entre a procuraefetiva, apoiada pelo dinheiro, e a inefetiva, baseada em minhas necessidades, minha

 paixão, meu desejo, etc., é a diferença entre ser e pensar , entre a representaçãomeramente interior e a representação existente fora de mim mesmo como objeto real .

Se não disponho de dinheiro para viajar, não tenho necessidade - nenhuma necessidadereal e auto-realizável - de viajar. Se tenho vocação para estudar, mas não disponho dodinheiro para isso, então não tenho vocação, i. é, não tenho vocação efetiva, legítima. Odinheiro é o meio e poder , externo e universal (não oriundo do homem como homem ouda sociedade humana como sociedade) para mudar a representação em realidade e a

realidade em mera representação. Ele transforma faculdades humanas e naturais reaisem meras representações abstratas, i. é, imperfeições e torturantes quimeras; e, por outrolado, transforma imperfeições e fantasias reais, faculdades deveras importantes e sóexistentes na imaginação do indivíduo, em faculdades e poderes reais. A esse respeito,

 portanto, o dinheiro é a inversão geral das individualidades, convertendo-as em seusopostos e associando qualidades contraditórias às qualidades delas.

O dinheiro, então, aparece como uma força demolidora para o indivíduo e para os laçossociais, que alegam ser entidades auto-subsistentes. Ele converte a fidelidade em

Page 42: Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

8/7/2019 Manuscrito Economico Filosofico Karl Marx

http://slidepdf.com/reader/full/manuscrito-economico-filosofico-karl-marx 42/42

infidelidade, amor em ódio, ódio em amor, virtude em vício, vício em virtude, servo emsenhor, boçalidade em inteligência e inteligência em boçalidade.

Posto que o dinheiro, como conceito existente e ativo do valor, confunde e troca tudo,ele é a confusão e transposição universais de todas as coisas, o mundo invertido, aconfusão e transposição de todos os atributos naturais e humanos.

Aquele que pode comprar a bravura é bravo, malgrado seja covarde. O dinheiro não étrocado por uma qualidade particular, uma coisa particular ou uma faculdade humanaespecifica, porém por todo o mundo objetivo do homem e da natureza. Assim, sob o

 ponto de vista de seu possuidor, ele troca toda qualidade e objeto por qualquer outro,ainda que sejam contraditórios. Ele é a confraternização dos incomparáveis; força oscontrários a abraçarem-se.

Suponhamos que o homem seja homem e que sua relação com o mundo seja humana.Então, o amor só poderá ser trocado por amor, confiança, por confiança, etc. Se sedesejar apreciar a arte, será preciso ser uma pessoa artisticamente educada; se se quiser influenciar outras pessoas, será mister se ser uma pessoa que realmente exerça efeito

estimulante e encorajador sobre as outras. Todas as nossas relações com o homem ecom a natureza terão de ser uma expressão específica, correspondente ao objeto denossa escolha, de nossa vida individual real . Se você amar sem atrair amor em troca, i.é, se você não for capaz, pela manifestação de você mesmo como uma pessoa amável,fazer-se amado, então seu amor será impotente e um infortúnio.

Notas: 

[10] Goethe, Fausto, Parte 1, Cena 4. Esta passagem foi tirada da trad. por BayardTaylor, The Modem Library, Nova York, 1950 - N. do T (N. do T. - Em português,

recorremos à trad. de Jenny Klabin Segail, S. Paulo, Instituto Progresso Editorial, 1949, pàg. 106.) (retornar ao texto)

[11] Shakespeare, Timon of Athens, Act Iv, Scene 3. Marx citou a traduçao (alemã) deSchlegel-Tieck. - Nota do T. (N. do T. - Recorremos à tradução portuguesa de HenriqueBraga, Pôrto, Livraria Chardron, de Leilo & Irmao, 1913, págs. 119 e 145.) (retornar ao

texto)

Notas: 

[12] Isto é, Hegel substitui essas abstrações fixadas pelo ato de abstração rodopiandodentro de si mesmo. Ao fazê-lo, antes de mais nada ele tem o mérito de haver indicado a

fonte de todos aqueles conceitos Inadequados que originariamente pertenciam a

diferentes filosofias, e havê-los reunido e estabelecido a amplitude global dasabstrações, em vez de uma determinada abstração, como o objeto da crítica. Veremosmais tarde por que Hegel separa o pensamento do sujeito. Já esta claro, todavia, que se o

homem não for humano a expressão de sua natureza não poderá ser humana e,consequentemente, o próprio pensamento não poderá ser concebido como uma

expressão da natureza humana, como uma expressão de um sujeito humano e natural,com olhos, ouvidos, etc., vivendo na sociedade, no mundo e na natureza.