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Manual de Vigilância Acarológica

ESTADO DE SÃO PAULO

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Adriana Maria Lopes VieiraCelso Eduardo de SouzaMarcelo Bahia LabrunaRenata Caporalle MayoSavina Silvana Lacerra de SouzaVera Lucia Fonseca de Camargo-Neves

AUTORES

Antonio Ferreira de Lima NettoElisete Alves CipolliLílian Cristina Neves do NascimentoMarcelo Pavone PimontShirlei Bruno Tonetto

COLABORADORES

Luiz Jacintho da SilvaREVISÃO

Vera Lucia Fonseca de Camargo-NevesCOORDENAÇÃO

DIAGRAMAÇÃO

CAPA E EDIÇÃO

Sérgio [email protected]

Liana Cardoso Soares

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índice para Catálogo Sistemático:1. Carrapatos : Vigilância acarológica : Saúde

pública 614.433

04-5568 CDD-614.433

São Paulo (Estado). Secretaria de Estado daSaúde. Superintendência de Controle deEndemias - SUCENManual de vigilância acarológica / coordenação

Vera Lucia Fonseca de Camargo-Neves. -- São Paulo :A Secretaria, 2004.

Vários autores.Vários colaboradores.Bibliografia.

1. Ácaros - Controle 2. Ácaros como vetores dedoenças - controle 3. Carrapatos - Controle4. Carrapatos como vetores de doenças - Controle5. Saúde pública I. Camargo-Neves, Vera LuciaFonseca de. II. Título.

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Apresentação

Este Manual de Vigilância Acarológica representa aincorporação definitiva do carrapato no conjunto deresponsabilidades da SUCEN. A preocupação da saúdepública brasileira com estes vetores se restringia à febremaculosa, mesmo assim, as ações de controle sempreforam de pequena abrangência. Com a percepção de queos carrapatos são vetores de diversas doenças, o Manualvem preencher uma lacuna.

Dessas doenças, pelo menos duas delas podem serconsideradas emergentes em São Paulo no que pese quesua ocorrência vem sendo detectada com freqüênciacrescente: a febre maculosa brasileira e a borreliose deLyme. Afora essas, há evidência de que infecçõeshumanas por Erlichia spp e Babesia spp possam tambémestar presentes no Brasil. Importante lembrar que aelaboração do Manual não foi uma mera colagem derecomendações adotadas em outros países, é fruto deuma experiência crescente de um conjunto depesquisadores e de profissionais de saúde pública dediferentes instituições, não apenas da SUCEN.

Agora numa versão definitiva, este Manual passou poruma longa maturação, estando disponível para consulta naWorld Wide Web por vários meses.

Temos certeza de que será de valia para a saúde públicacomo um todo e esperamos contribuições que possammelhorar uma segunda edição.

Luiz Jacintho da [email protected]

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a4

Í ndice

1 Introdução 62 Fauna Brasileira de Carrapatos 7

2.1 Família Argasidae 82.2 Família Ixodidae 9

3 Biologia de Carrapatos 113.1 Características Biológicas do Amblyomma cajennense 14

4 Epidemiologia dos Carrapatos de Importância Médica no Brasil 154.1 Amblyomma cajennense 164.2 Amblyomma aureolatum 224.3 Amblyomma cooperi 23

5 Vigilância Acarológica 245.1 Notificação de Parasitismo Humano 255.2 Notificação de Casos Humanos de Doenças Transmitidas por

Carrapatos 276 Métodos de Coleta, Acondicionamento, Preservação e Identificação de

Carrapatos 296.1 Coleta em Animais 296.2 Coleta no Meio Ambiente 30

6.2.1 Técnica de Arrasto com Flanela Branca 306.2.2 Técnica de Armadilha de CO2 32

6.3 Acondicionamento e Preservação 336.4 Identificação Taxonômica 34

7 Atividades Educativas 357.1 Áreas de Reconhecida Transmissão 357.2 Áreas de Transmissão não Reconhecida 36

8 Medidas Preventivas 369 Controle de Carrapatos 38

9.1 Amblyomma cajennense 389.1.1 Intervindo na População Parasitária 399.1.2 Intervindo na População de Vida Livre 42

9.2 Amblyomma aureolatum 4410 Referências Bibliográficas 4511 Anexos 51

11.1 Anexo 1 5111.2 Anexo 2 5211.3 Anexo 3 5311.4 Anexo 4 5511.5 Anexo 5 5711.6 Anexo 6 5911.7 Anexo 7 60

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5S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

1 Ninfa de Amblyomma sp 122 Fêmea de A. cajennense ingurgitada, em processo de oviposição 123 Ciclo de vida de um carrapato de um hospedeiro (monoxeno) 124 Ciclo de vida de um carrapato de três hospedeiros (trioxeno) 135 Amblyomma cajennense macho e fêmea 146 Ciclo biológico do Amblyomma cajennense 157 Distribuição do A. cajennense, A. aureolatum e A. cooperi nas Américas 178 Distribuição do Amblyomma cajennense segundo unidades

federativas do Brasil 179a Dinâmica sazonal do carrapato Amblyomma cajennense no Sudeste

do Brasil 189b Dinâmica sazonal de Amblyomma cooperi e Amblyomma cajennense,

na região de Campinas 1810 Pastos Sujos 2111 Mata ciliar da região de Campinas 2112 Pastos Limpos 2113 Distribuição do Amblyomma aureolatum segundo unidades federativas

do Brasil 2214 Distribuição do Amblyomma cooperi segundo unidades federativas

do Brasil 2315a Retirada de carrapato com a utilização de pinça 2915b Retirada de carrapato com a utilização de pinça 2916 Esquema da flanela preparada para captura de carrapatos 3017 Técnica do arrasto com flanela branca 3118 Rota esquematizada para a técnica do arrasto 3119 Larvas de carrapato no corpo do capturador 3120 Armadilha atrativa de CO2 3221 Acondicionamento de carrapatos vivos para envio ao laboratório 3322 Placas educativas advertindo a população em áreas endêmicas para

febre maculosa 3523 Pessoa atacada por uma alta carga de carrapatos 3724 Aplicação de carrapaticida em eqüino 40

Í nd ice das f iguras

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a6

Grupo de patógeno Principais doenças Gênero de Ocorrência notransmitido causadas Patógeno Brasil

Arbovírus Encefalites Flavivirus DesconhecidaFebres hemorrágicas Nairovirus Desconhecida

Bactérias Febres maculosas Rickettsia ConfirmadaErliquioses Ehrlichia Suspeita*Doença de Lyme Borrelia Confirmada**Febres recorrentes Borrelia Suspeita***

Protozoários Babesioses Babesia Desconhecida

INTRODUÇÃO

Carrapatos são artrópodes ectoparasitas, da classe Arachnida, dedistribuição mundial, parasitando vertebrados terrestres, anfíbios, répteis,aves e mamíferos.

Podem permanecer fixados à pele do hospedeiro por dias ou se-manas, secretando uma saliva que impede a coagulação sangüínea e asreações de defesa do organismo no local de fixação. A saliva possui subs-tâncias vasoativas, que induzem a vasodilatação local, facilitando a inges-tão de sangue.

Os carrapatos alimentam-se principalmente de sangue (hemato-fagia), mas também de linfa e restos tissulares presentes na pele dohospedeiro. Isto se dá pela alta especialização destes artrópodes ao pa-rasitismo por possuírem peças bucais adaptadas que perfuram e pene-tram na pele, a fim de obter o alimento. Dadas as particularidades deseus hábitos alimentares, constituem hoje o segundo grupo em impor-tância de vetores de doenças infecciosas para animais e humanos (QUA-DRO 1). Entre os microrganismos, transmitidos incluem-se vírus, bacté-rias, protozoários e helmintos.

A transmissão de patógenos do carrapato para o hospedeiro se dábasicamente pela saliva, que exerce fundamental importância no local deinoculação, minimizando as reações imunológicas do hospedeiro.

* Baseado em inquéritos sorológicos, com resultados positivos (Yoshinari et al., 1997).** Silva, L. J., 2002 . Comunicação pessoal.*** Baseado em isolamento da espécie Borrelia brasiliense do carrapato Ornithodoros

brasiliensis proveniente do Rio Grande do Sul (Davis, 1952).Fonte: Hoogstraal, 1985.

QUADRO 1

Principais doenças causadas por patógenos transmitidos por carrapatos

ao homem no Mundo e no Brasil.

1

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7S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

A importância dos carrapatos como transmissores da doençafoi inicialmente reconhecida nas ciências veterinárias. Em 1886, Theo-bald Smith descreveu a então denominada Texas Cattle Fever, hojeconhecida como babesiose. Alguns anos depois, em 1889 e 1890, opróprio Smith e Frederick Kilborne, demonstraram a transmissão dadoença por carrapatos. No início do século 20, os estudos de Rickettsnos EUA demonstraram a transmissão por carrapatos da febre maculo-sa das montanhas rochosas, uma riquetsiose. Mais tarde, a encefalitetransmitida por carrapatos, uma infecção por flavivírus, foi reconhecidacomo um problema de saúde pública da Europa Central à Sibéria. Em1929, Piza e Gomes descrevem o tifo exantemático paulista, hoje co-nhecida como febre maculosa brasileira, uma riquetsiose.

Além de atuar como vetores de doenças, os carrapatos podemexercer por si só diversos efeitos deletérios no organismo do hospedei-ro, que vão desde a anemia ocasionada por uma infestação maciça, àinoculação de toxinas neurotrópicas que causam paralisia ascendente,eventualmente fatal. Obviamente, tais efeitos variam conforme a espé-cie de carrapato e a área geográfica.

Cerca de 90% das espécies de carrapatos parasitam exclusiva-mente animais silvestres. As demais podem ser encontradas parasitan-do os animais domésticos e humanos. Grande parte das pesquisas temsido dirigida a carrapatos de maior importância econômica. Por outrolado, o conhecimento das espécies parasitas de animais silvestres tor-na-se relevante, já que muitas delas participam diretamente na manu-tenção enzoótica de patógenos na natureza. Além disso, a história mostraque algumas destas espécies, antes confinadas ao ambiente silvestre,são vetoras de zoonoses emergentes.

São conhecidas cerca de 825 espécies de carrapatos no mundo,divididas em três famílias: Ixodidae (625 espécies), Argasidae (195espécies) e Nuttallielidae (uma espécie) (Keirans, 1992). No Brasil, foramidentificadas 55 espécies, divididas em seis gêneros da família Ixodidaee quatro gêneros da família Argasidae (QUADRO 2) (Aragão e Fonseca,1961; Guimarães et al., 2001).

FAUNA BRASILEIRA DE CARRAPATOS2

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a8

QUADRO 2

Número de espécies conhecidas de carrapatos,

segundo as famílias e gêneros da fauna brasileira.

FAMÍLIAS GÊNEROS No deEspécies

ARGASIDAE Argas 1Ornithodoros 5Antricola 1Otobius 1

IXODIDAE Ixodes 8Amblyomma 33Haemaphysalis 3Anocentor 1Rhipicephalus 1Boophilus 1

Fonte: Guimarães et al. (2001).

2.1 Família Argasidae

Nesta família, o gênero Argas está relacio-nado com aves domésticas, estando presente emgalinheiros de “fundo de quintal”. O gênero Antrico-la e algumas espécies de Ornithodoros estão rela-cionados exclusivamente com morcegos. Outras es-pécies do gênero Ornithodoros estão relacionadascom aves e mamíferos, podendo parasitar huma-nos. Os Argasídeos geralmente habitam ambientesbastante restritos, tais como tocas, cavernas, ninhos,troncos de árvores, e até mesmo habitações. Algu-mas espécies de Ornithodoros têm sido encontra-das parasitando humanos dentro de domicílios.Nestes locais, os carrapatos saem de seus escon-derijos no chão ou no forro do telhado durante anoite, caminham em direção a pessoas adormeci-das, provocando uma picada muito dolorosa. A pre-sença deste carrapato em habitações humanas estáassociada à presença de morcegos ou roedoresque, como hospedeiros primários, mantêm a popu-lação de carrapatos nestes locais.

Carrapatos do gênero Ornithodoros são ve-tores de borrélias causadoras de febres recorren-

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9S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

tes em diferentes partes do mundo. No Brasil, a es-pécie Ornithodoros brasiliensis é incriminada comovetor de Borrelia brasiliensis, cujo potencial de in-fecção humana é desconhecido (Davis, 1952). Ou-tras espécies de Ornithodoros são incriminadascomo potenciais vetores e reservatórios de Ricket-tsia rickettsii, agente causador da febre maculosaem humanos nas Américas (Davis, 1943). Algumasespécies de vírus, agentes de doenças humanas, jáforam isoladas de diferentes espécies de Ornithodo-ros (Hoogstraal, 1985).

2.2 Família Ixodidae

Esta família engloba a maioria das espécies decarrapatos do Brasil, dentre eles, os de maior importânciamédico-veterinária. Os gêneros Boophilus, Anocentor eRhipicephalus, cada um representado por uma únicaespécie, são os principais carrapatos encontrados embovinos, eqüinos e cães, respectivamente. Nenhumdeles assume importância como parasita de humanos,embora sejam de grande importância em veterinária.As espécies dos gêneros Ixodes e Haemaphysalisestão restritas a aves e mamíferos silvestres, nãohavendo registros de parasitismo humano no Brasil.O gênero Amblyomma, o mais numeroso do Brasil(33 espécies), é o de maior importância médica, jáque inclui as principais espécies que parasitamhumanos neste país. Dentre elas, destacam-seAmblyomma cajennense, A. aureolatum e A.cooperi, que estão incriminadas na manutençãoenzoótica e na transmissão da febre maculosa parahumanos (Fonseca, 1935; Dias & Martins, 1939;Lima et al., 1995; Lemos et al., 1996). Na regiãoAmazônica, outras espécies assumem maiorimportância no parasitismo humano, tais como A.ovale, A. oblongoguttatum e A. scalpturatum(Labruna et al. 2002a).

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11S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

Todos os carrapatos da família Ixodidae passam por quatro está-gios em seus ciclos de vida: ovo, larva, ninfa e adulto. Espécies da famí-lia Argasidae se diferenciam por apresentarem de dois a oito estágiosninfais, ao passo que espécies da família Ixodidae apresentam apenasum estágio ninfal. À exceção dos ovos, todos os estágios precisam para-sitar um hospedeiro para dar seqüência ao ciclo. Dada a maior importân-cia médico-veterinária da família Ixodidae no Brasil, as informações bio-lógicas descritas a seguir são características desta família.

As larvas, ao eclodirem dos ovos no ambiente, são de tamanhobastante reduzido, ao redor de 0,5 mm. Ao parasitarem um hospedeiro,fixam-se à sua pele por alguns dias, quando se ingurgitam de sangue tor-nando-se abauladas, mas com tamanho ainda bem reduzido, ao redor de1 mm a 2 mm de comprimento. Uma vez alimentadas, as larvas realizam emalguns dias ou semanas, a muda ou “troca de pele” para o próximo estágio,as ninfas (Figura 1). Estas, quando não alimentadas, são basicamente domesmo comprimento das larvas ingurgitadas que lhes deram origem. Noentanto, ao parasitarem um hospedeiro, se ingurgitam de sangue em algunsdias, tornando-se abauladas e de tamanho variando de 3 mm a 10 mm,dependendo da espécie. Uma vez alimentadas, as ninfas ingurgitadas reali-zam a muda para o estágio adulto, último do ciclo. Estes, antes de se ali-mentarem, são do mesmo tamanho das ninfas ingurgitadas, sendo o únicoestágio que apresenta dimorfismo sexual. De modo geral, metade das nin-fas muda para adultos machos, e a outra metade para adultos fêmeas. Aoparasitarem o hospedeiro, as fêmeas se ingurgitam em dias ou semanas e,depois de fertilizadas pelos machos em cima do hospedeiro, podem atingirtamanhos variando de 0,5 mm a 30 mm de comprimento, tornando-se maisfacilmente detectáveis sobre o hospedeiro. Uma vez ingurgitadas, as fême-as se desprendem do hospedeiro para o ambiente, onde procuram locaisescondidos, com temperaturas mais frescas e umidade elevada (embaixode coberturas vegetais, frestas, etc.), onde irão colocar milhares de ovosdando início a uma nova geração. Cada fêmea de Ixodidae pode colocar de1.000 a 20.000 ovos, variando conforme a espécie e o tamanho da fêmeaingurgitada (Figura 2). De modo geral, o número de ovos postos está direta-mente relacionado ao tamanho da fêmea ingurgitada. Ao término da postu-ra, as fêmeas morrem, encerrando uma geração de carrapatos. De cadaovo colocado, nasce uma larva, iniciando-se um novo ciclo.

1 BIOLOGIA DE CARRAPATOS3

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a12

Figura 1: Ninfa de Amblyomma sp.

Figura 2: Fêmea de A. cajennense ingurgitada,em processo de oviposição.

As mudas dos estágios de larva para ninfa e de ninfa para adulto, para os gênerosBoophilus e Anocentor, se realizam sobre a pele do próprio hospedeiro. Estas espéciesde carrapatos são classificadas como monoxenos ou carrapatos de um único hospedeiro(Figura 3). Para as demais espécies de carrapatos do Brasil, as mudas ocorrem após odesprendimento da larva ou ninfa ingurgitada do hospedeiro. Estas espécies, que realizamas mudas fora do hospedeiro são classificadas de trioxenos ou carrapatos de trêshospedeiros (Figura 4).

Os carrapatos monoxenos completam a fase parasitária em um único hospedeiro,pois uma vez que sobem neste, na fase de larva, irão desprender e cair ao solo somentena fase de fêmea ingurgitada. É o caso do carrapato-dos-bovinos (Boophilus microplus),e o carrapato-da-orelha-dos-eqüinos, (Anocentor nitens). Uma vez eclodida no ambiente,a larva sobreviverá apenas com as reservas energéticas provenientes do ovo. Este é,portanto, o principal estágio de resistência no ambiente. Larvas de B. microplus e A.nitens sobrevivem apenas poucos meses no ambiente, às vezes menos que 60 dias nosmeses mais quentes do ano.

Figura 3: Ciclo de vida de um carrapato de um hospedeiro (monoxeno).

Larvas a espera deum hospedeiro

Larvas eclodem dos ovos

Fêmea cheia desangue realizapostura de milharesde ovos no solo

Larva mudapara ninfa

HOSPEDEIRO

AMBIENTE

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13S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

Figura 4: Ciclo de vida de um carrapato de três hospedeiros (trioxeno).

Os carrapatos trioxenos precisam de três hospedeiros para comple-tar a fase parasitária, ou seja, um para a larva, um para a ninfa e outro parao estágio adulto. De modo geral, os estágios de larva e ninfa são os queapresentam menor especificidade parasitária, podendo parasitar diferentesespécies, desde aves até mamíferos de diferentes tamanhos. Já o estágioadulto apresenta maior especificidade parasitária, restrita a apenas algu-mas espécies. Tal comportamento faz dos carrapatos trioxenos os de maiorimportância na transmissão de patógenos na natureza, pois o fato de para-sitarem diferentes espécies de vertebrados facilita o intercâmbio de agentescausadores de doenças entre os hospedeiros.

Dada a menor especificidade parasitária das larvas e ninfas, estessão os principais estágios que parasitam os seres humanos. Um exemploclássico é a espécie A. cajennense. Larvas e ninfas desta espécie podemparasitar várias espécies de mamíferos e aves, inclusive humanos. O está-gio adulto é mais específico de grandes mamíferos tais como eqüinos, an-tas e capivaras e, eventualmente, quando as populações deste carrapato seapresentam muito numerosas, é que o estágio adulto irá parasitar outrosmamíferos inclusive humanos. No caso dos carrapatos trioxenos, tanto aslarvas, como as ninfas e adultos são estágios de resistência no ambiente, jáque terão uma sobrevida dependente das reservas energéticas adquiridasdo estágio anterior do ciclo de vida. O adulto é o estágio que por mais tempoconsegue sobreviver sem que encontre um hospedeiro, seguido pela ninfa,e por último, a larva, que apresenta a menor sobrevida em jejum. De modogeral, os adultos de Amblyomma spp podem sobreviver em jejum, sob con-dições naturais, por 12 a 24 meses, a ninfa por até 12 meses, e as larvas aoredor de 6 meses (Diamant & Strickland, 1965).

Larvas a espera deum hospedeiro

Larvas eclodem dos ovos

Fêmea cheia desangue realizapostura de milharesde ovos no solo

Larva mudapara ninfa

Ninfa mudapara adulto

Larva caiao solo

Ninfa caiao solo

Fêmea ingurgitadacai ao solo

LARVA SE ALIMENTA NINFA SE ALIMENTA ADULTO SE ALIMENTA

HOSPEDEIRO

AMBIENTE

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a14

3.1 Características biológicas doAmblyomma cajennense

Dada sua importância na transmissão de doen-ças, ressaltam-se a seguir as características biológicasdo Amblyomma cajennense descritas por Flechtmann(1985) e Guimarães et al. (2001).

As fêmeas depois de fecundadas e ingurgitadas(teleóginas) desprendem-se do hospedeiro e caem navegetação do solo, onde cerca de 12 dias depois, ini-cia-se o período de oviposição (Figura 2). Neste perío-do uma única fêmea ovipõe em torno de 5 mil ovos, aolongo de 25 dias, finalizando com sua morte. Após operíodo de incubação (30 dias em média à temperaturade 25ºC) ocorre a eclosão dos ovos e o nascimento daslarvas (hexápodes) com aproximadamente 95% de lar-vas viáveis.

As larvas sobem e descem a vegetação, conformevariações ambientais, até o encontro do primeiro hospedei-ro, onde realizam o repasto de linfa, sangue e/ou tecidosdigeridos, por 3 a 6 dias; em seguida desprendem-se dohospedeiro e buscam abrigo no solo onde, num períodode18 a 26 dias, ocorre a ecdise transformando-se no está-gio seguinte (ninfa).

As ninfas (octópodes) fixam-se em um novo hos-pedeiro e durante 5 a 7 dias ingurgitam-se de sangue.Assim como no estágio larval, as ninfas encontram abri-go no solo e sofrem nova ecdise após 23 a 25 dias, trans-formando-se nos carrapatos adultos que dentro de 7 diasjá estão aptos para parasitar novos hospedeiros.

Uma vez no hospedeiro os carrapatos machos efêmeas (Figura 5) fazem o repasto tissular e sanguíneo,ocorrendo o acasalamento. A fêmea fertilizada inicia oingurgitamento que termina em 10 dias aproximadamen-te. A partir de então a fêmea solta-se da pele do hospe-deiro, vai ao solo e dá início a uma nova geração. O Am-blyomma cajennense completa uma geração por ano,mostrando os três estágios parasitários marcadamentedistribuídos ao longo do ano (Figura 6).

Figura 5: Amblyommacajennense macho (A) efêmea (B). Adaptado de

Aragão & Fonseca, 1961.

A

B

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15S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

Figura 6: Ciclo biológico do Amblyomma cajennense. Adaptado de Pereira e Labruna, 1998.

O Amblyomma cajennense é responsável pela manutenção da R.rickettsii nanatureza, pois ocorre transmissão transovariana e transestadial. Esta característicabiológica permite ao carrapato permanecer infectado durante toda a sua vida e tam-bém por muitas gerações após uma infecção primária. Portanto, além de vetores, oscarrapatos são verdadeiros reservatórios da riquétsia na natureza, uma vez que todasas fases evolutivas, no ambiente, são capazes de permanecer infectadas meses ouanos à espera do hospedeiro, garantindo um foco endêmico prolongado.

Doença de Lyme é uma enfermidade infecciosa causada por espiroquetasda espécie Borrelia burgdoferi (sensu lato), veiculadas por carrapatos do gêneroIxodes (Guimarães et al., 2001). Sensu lato significa que há variações genéticasda espécie conforme a região considerada. A doença de Lyme propriamente dita

EPIDEMIOLOGIA DOS CARRAPATOS DEIMPORTÂNCIA MÉDICA NO BRASIL

4

Larva: 3 a 6 dias Ninfa: 5 a 7 dias Adulto: 7 a 10 dias

Larva

ECDISE

18 a 26 diasNinfa

Ninfa Adulto

23 a 25 dias

ECDISEFêmeafecundada eingurgitada caino solo

Acasalamento

LARVAS

LARVAS = MICUINS ADULTOS = CARRAPATO = ESTRELANINFAS = VERMELHINHO

Março Julho Novembro Março

Teleógina realizapostura demilhares deovos no solo

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a16

não foi encontrada no Brasil ou mesmo no hemisfériosul, mas muito indiscutivelmente manifestações clíni-cas, muito semelhantes, causadas por outras borreliasdevam ser mais comuns do que se tem identificadoaté o presente. Os casos descritos no Brasil comodoença de Lyme tiveram diagnóstico clínico e soroló-gico apenas, sendo considerados como Lyme-símile(Silva, 2002. Comunicação oral).

Atualmente, a febre maculosa, doença causadapela bactéria Rickettsia rickettsii, é a única zoonose trans-mitida por carrapatos, de ocorrência reconhecida no Bra-sil (QUADRO 1). Casos humanos de febre maculosa têmsido relatados na região Sudeste desde a década de 20,especialmente nos Estados de São Paulo e Minas Ge-rais. Pelo menos três espécies do gênero Amblyomma(A. cajennense, A. aureolatum e A. cooperi) foram incri-minadas de participarem na epidemiologia da febre ma-culosa no Brasil. A seguir, são apresentados dados epi-demiológicos e ecológicos específicos de cada uma des-tas espécies.

4.1 Amblyomma cajennense

Este carrapato está presente desde o sul dos Es-tados Unidos ao norte da Argentina, incluindo algumasilhas do Caribe (Figura 7). No Brasil, é encontrado comabundância em todos os estados das regiões sudeste ecentro oeste, porém com distribuição limitada nas demaisregiões (Figura 8). É a principal espécie de carrapato queparasita seres humanos no centro-sul brasileiro sendo con-siderado o principal vetor da febre maculosa brasileira.Seus ataques a humanos, muitas vezes em massa, sãorespondidos com reações de imediata ou retardada aantígenos específicos presentes na saliva do carrapato,podendo causar intenso prurido, que persiste por váriosdias no local de fixação. Infecções bacterianas secundá-rias podem ocorrer em função da deposição de bactériasnas feridas, durante ao ato de coçar intensamente (Ara-gão e Fonseca, 1961).

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Figura 7: Distribuição do A. cajennense, A. aureolatum e A. cooperi nas Américas.

Figura 8: Distribuição do Amblyomma cajennense segundo unidades federativas do Brasil.

LEGENDA

Sem ocorrência confirmada

A. cajennense

A. cajennense + A. coopert

A. cajennense + A. aureolatum

A. coopert + A. aureolatum

A. cajennense + A. coopert+ A. aureolatum

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a18

O A. cajennense completa apenas uma geração por ano no sudeste do Brasil,com os três estágios parasitários marcadamente distribuídos ao longo do ano (Olivei-ra et al., 2000; Labruna et al., 2002). As larvas, vulgarmente chamadas de micuim,predominam nos meses de abril a julho; as ninfas, popularmente chamadas de “ver-melhinho”, predominam de julho a outubro e os adultos, vulgarmente chamados de“rodoleiro” ou de “carrapato-estrela”, predominam nos meses quentes e chuvosos, deoutubro a março (Figura 9a e 9b). Dadas essas diferenças temporais entre os diferen-tes estágios, é relativamente comum encontrar pessoas com anos de vivência no cam-po, que interpretem estes diferentes estágios do A. cajennense como se fossem trêsespécies distintas de carrapatos.

Figura 9b: Dinâmica sazonal de Amblyomma cooperi eAmblyomma cajennense, na região de Campinas (Souza et al., 2002).

Figura 9a: Dinâmica sazonal do carrapato Amblyomma cajennense noSudeste do Brasil (adaptado de Labruna, 2000).

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Nas áreas rurais da região Sudeste, os eqüi-nos são os principais hospedeiros para todos osestágios do A. cajennense, muito embora diversasespécies de mamíferos e aves silvestres possamter participação efetiva. Esta maior importância doseqüinos pode ser avaliada pela grande capacida-de de albergar altas infestações. Em condições na-turais, um único eqüino pode se apresentar para-sitado por mais de 50 mil larvas, ou mais de 12 milninfas, ou mais de 2 mil adultos de A. cajennense,sem que sua vida esteja em risco (Labruna, 2000).Por outro lado, os animais silvestres, especialmenteos de pequeno e médio porte, dificilmente estarãoalbergando uma carga tão alta de carrapatos, ouse estiverem, suas vidas muito provavelmente es-tarão em risco. Além disso, os eqüinos, por seremanimais domésticos, são criados em áreas cerca-das, com altas densidades de animais. Tal fato éextremamente favorável às larvas recém-eclodidasou ninfas e adultos recém-mudados, que se en-contram no ambiente à espera da passagem deum hospedeiro. Como regra geral, pode-se dizerque quanto maior a densidade populacional de hos-pedeiros, maior será a população de carrapatos.Por esta razão, nos ambientes silvestres, com omínimo de intervenção humana, as populações decarrapatos tendem a ser mais baixas, já que a den-sidade de hospedeiros (entendida aqui como ofer-ta de alimento para os carrapatos) vai ser signifi-cativamente menor.

Embora o A. cajennense tenha uma baixaespecificidade parasitária, para que uma populaçãoesteja estabelecida numa área, há dois pontos críti-cos a serem considerados:

1 - A presença de hospedeiros primários.2 - Condições ambientais favoráveis às fa-

ses de vida livre (não parasitárias) do carrapato.Em termos práticos, um hospedeiro primá-

rio é o vertebrado, sem o qual, uma determinadapopulação de carrapato não é capaz de se estabe-

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a20

lecer numa determinada localidade. Para o A. cajennense,os hospedeiros primários são os eqüinos, as antas e as capi-varas. Numa área onde uma população de A. cajennenseestá estabelecida, pelo menos uma destas três espécies dehospedeiros deverá estar presente. Uma vez que a popula-ção de carrapatos cresce, ela passa a parasitar outros hos-pedeiros, chamados secundários. Na literatura há diversosrelatos do parasitismo por A. cajennense em dezenas de es-pécies de hospedeiros mamíferos e aves. Como regra geral,quanto maior a população de A. cajennense numa determi-nada área, maior a chance de encontrá-lo parasitando ou-tras espécies de hospedeiros, humanos inclusive. De fato, aocorrência de parasitismo humano por A. cajennense estáassociada a altas infestações por este carrapato em seushospedeiros primários (eqüinos, antas e capivaras) (Labrunaet al., 2001). Na região de Campinas, em levantamento dasespécies, o A. cooperi apareceu em freqüência significativasimilar ao A. cajenennse. Nessas áreas não ocorre presençade eqüinos, sendo as capivaras os hospedeiros primários pre-dominantes para A. cajennense (Souza et al., 2002).

Em algumas áreas, mesmo na abundância de hos-pedeiros primários para A. cajennense, este pode não seestabelecer em função de condições ambientais, que nãopropiciem um microclima adequado para as fases de vidalivre do carrapato. Estas condições são dependentes prin-cipalmente da latitude (baixas temperaturas ao sul do esta-do do Paraná limitam o estabelecimento deste carrapato) edo tipo de cobertura vegetal, que vai influir diretamente nomicroclima do solo. Tanto a presença como a abundânciade populações de A. cajennense estão fortemente associa-das à presença de áreas com média a densa cobertura ve-getal, tais como pastos “sujos”, capoeiras e matas (Figura10). Na região de Campinas, a mata ciliar (Figura 11) apre-senta-se como um ecossistema importante no estabeleci-mento de populações de A. cajennense e de destaque naepidemiologia da febre maculosa, já que essas áreas são oprincipal refúgio de grandes populações de capivaras na-quela região. Por outro lado, áreas de pastos limpos limi-tam o estabelecimento deste carrapato, mesmo na farturade hospedeiros primários (Figura 12).

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Figuras 10: Pastos sujos (não uniformes, com presença de arbustos, ramos, moitas, etc.).

Figura 11: Mata ciliar da região de Campinas.

Figura 12: Pastos limpos.

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4.2 Amblyomma aureolatum

Esta espécie é encontrada em diversos países da América do Sul; no Brasil,especialmente em áreas de mata atlântica das regiões sul e sudeste (Figura 13). O A.aureolatum já foi incriminado como vetor da febre maculosa para humanos no Estadode São Paulo (Dias & Martins, 1939). Em dois casos registrados da doença na área ruralde Mogi das Cruzes, SP, esta espécie foi a única encontrada nos animais domésticos ehumanos, em grande número.

Figura 13: Distribuição doAmblyomma aureolatumsegundo unidadesfederativas do Brasil.

Carnívoros silvestres são os hospedeiros primários para o estágio adulto, embo-ra os cães criados em algumas áreas rurais se comportem como hospedeiros primários.As larvas e ninfas parecem estar associadas a roedores e aves silvestres (Fonseca,1935; Arzua, 2004), não havendo registros em carnívoros. Somente o estágio adultotem sido encontrado parasitando humanos.

Não há informações sobre a dinâmica populacional deste carrapato. Sabe-seque os cães podem se apresentar infestados pelo estágio adulto por todo o ano, porém,sem um pico de infestação definido (Pinter et al., 2002). As populações de A. aureola-tum nas áreas rurais são geralmente baixas, apresentando baixo risco de parasitismohumano. Em situações excepcionais, quando há uma permanência por anos consecuti-vos de uma alta densidade de cães em áreas com presença de A. aureolatum, as popu-lações deste carrapato podem tornar-se abundantes, determinando um maior risco deparasitismo humano.

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4.3 Amblyomma cooperi

Esta espécie está presente de norte ao sulna América do Sul. No Brasil, é relatado nos estadosdas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste (Figura 14).As capivaras são consideradas hospedeiros primáriospara todos os estágios parasitários de A. cooperi. Em-bora haja controvérsias sobre o parasitismo humanopor este carrapato, sua importância médica se ba-seia principalmente numa possível participação nociclo enzoótico de riquétsias na natureza, já que ascapivaras são consideradas potenciais reservatóriosde R. rickettsii (Travassos e Vallejo, 1942a, b). Alémdisso, grandes populações de A. cooperi têm sidoencontradas, juntamente com a espécie A. cajennense,em alguns focos de febre maculosa na região su-deste (Souza et al., 2001).

Lemos et al. (1996) isolaram de exemplar destaespécie, coletado de capivara, uma riquétsia do grupoda febre maculosa, numa área endêmica de febremaculosa em Pedreira, SP.

Figura 14: Distribuição do Amblyomma cooperisegundo unidades federativas do Brasil.

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Considerando o importante papel desempenhado pelos carrapa-tos como vetores e reservatórios de doenças e o desconhecimento damagnitude da febre maculosa brasileira (FMB), assim como da distribui-ção da fauna de ixodídeos no Estado de São Paulo, a vigilância acaroló-gica baseada em critérios pré-estabelecidos possibilitará o conhecimentoda distribuição desta fauna de importância médica no Estado de São Pauloe o desencadeamento de medidas preventivas e de controle, com objeti-vo de prevenir a transmissão dessa e de outras enfermidades transmiti-das por carrapatos.

Dessa forma, propõe-se um sistema de vigilância por meio denotificação visando conhecer, inicialmente, as áreas infestadas por A. ca-jennense e/ou A. aureolatum e que apresentem parasitismo humano porcarrapatos, portanto de risco para FMB. Esta proposta de vigilância aca-rológica tem como vantagem o baixo custo e uma maior simplicidade namontagem de uma rede de notificação. Para tanto, deverão ser selecio-nadas unidades básicas (UBS) ou outros serviços de saúde que compo-rão essa rede, em conjunto com a vigilância epidemiológica municipal,considerando-se as áreas potenciais para a ocorrência de carrapatos eparasitismo humano. A partir dessa seleção, município e Serviço Regio-nal da SUCEN (SR) deverão desenvolver atividades educativas para es-timular a população de abrangência dessa unidade para a atenção quan-to à infestação por carrapatos e às medidas preventivas e de controle.

A estratégia para o desencadeamento das ações está baseadaem dois tipos de notificação:

Notificação espontânea de parasitismo humano por carrapa-tos, às UBS ou a outros serviços de saúde.

Notificação de caso humano suspeito ou confirmado defebre maculosa ou outra doença transmitida por carrapatos.

5.1 Notificação de parasitismo humano

Nesta situação deve-se orientar a população a encaminhar osexemplares de carrapatos coletados às UBS ou outros serviços de saú-de, que por sua vez, os encaminharão aos SR - SUCEN de referênciapara identificação. O fluxo de notificação, mais detalhado é apresentadono QUADRO 3.

VIGILÂNCIA ACAROLÓGICA5

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A partir do recebimento dos carrapatos coletados pela po-pulação, a unidade de notificação deverá preencher a “Ficha deNotificação de Parasitismo Humano por Carrapatos” (Anexo 1) for-necida pela SUCEN, deverá acondicionar e etiquetar a amostra(Anexo 2) conforme descrito no item 6 deste manual, e encaminhara amostra com a respectiva Ficha ao SR – SUCEN.

O SR - SUCEN deverá identificar os exemplares e a partirda identificação duas condutas poderão existir:

1. Quando se tratar de carrapatos do gênero Amblyomma: oSR deverá realizar a investigação de foco em conjunto com o muni-cípio, devendo ser preenchido o “Boletim de Investigação de Focode Carrapatos” (Anexo 3) e classificada a área quanto ao risco paraparasitismo humano e conseqüentemente para FMB ou outro agra-vo transmitido por carrapatos.

Áreas de baixo risco: o município deverá desencadear ativi-dades educativas junto à população da área e enviar relató-rio ao SR.

Áreas de alto risco: o SR deverá desencadear, em conjuntocom o município, medidas preventivas e de controle de car-rapatos, deverá identificar as unidades de saúde a fim deestruturar uma rede de atendimento e notificação, com pro-fissionais de saúde capacitados e realizar atividades educa-tivas. O SR deverá enviar relatório das ações desenvolvidasà sede da SUCEN.

OBS.: A intervenção na população de carrapatos por meiode medidas de controle químico no meio ambiente deve-rá ser realizada pela SUCEN somente após avaliação dorisco de transmissão de FMB ou outro agravo transmitidopor carrapatos, devendo ser priorizadas as ações no meioambiente.

2. Quando os espécimes forem de outros gêneros: a área seráclassificada como de baixo risco e o SR informará o município, quedeverá dar as orientações sobre as medidas preventivas e de con-trole aos responsáveis pelo local.

Como dito anteriormente, as atividades educativas deverãoser realizadas para conscientização da população sobre os riscosde infestação por carrapatos, informando-a sobre as medidas pre-ventivas para evitar a infestação.

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a26

QUADRO 3: Desenvolvimento de ações a partir da notificaçãoespontânea de parasitismo humano por carrapatos.

UBS/Serviço de Saúde- Preenchimento da Ficha de Notificaçãode Parasitismo Humano por Carrapatos- Envio da Ficha e dos Carrapatos para

Identificação

Munícipe- Entrega de carrapatos

SR - SUCEN- Identificação taxonômica

Amblyomma

Sim Não

SR - SUCEN- Investigação de foco

- Preenchimento do Boletim de Investigação de Foco de Carrapatos- Classificação da área quanto ao risco de parasitismo humano

Área de baixo risco

MUNICÍPIO- Orientação sobre

medidas preventivas e decontrole de carrapatos ao

responsável pelo local

MUNICÍPIO- Orientação sobre medidaspreventivas e de controle de

carrapatos à população da área- Envio de relatório ao SR - SUCEN

Área de altorisco

Área de baixorisco

SR - SUCEN e MUNICÍPIO- Medidas preventivas e controle de

carrapatos- Identificar unidades de saúde para a

rede de atendimento e notificação- Atividades educativas

- Envio de relatório de controle de foco àsede da SUCEN

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27S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

5.2 Notificação de casos humanosde doenças transmitidaspor carrapatos

A notificação de caso suspeito ou confirmado de doençatransmitida por carrapatos deve ser feita pela UBS ou por outroserviço de saúde à Direção Regional de Saúde (DIR) de referência.A DIR notificará os casos com local provável de infecção (LPI) noEstado de São Paulo ao SR - SUCEN de referência, enviando có-pia da ficha de investigação epidemiológica, conforme o fluxo deta-lhado no QUADRO 4.

O SR - SUCEN realizará a investigação no local provável deinfecção em conjunto com o município, fazendo a coleta e identifica-ção dos carrapatos lá existentes e preenchendo o “Boletim de Investi-gação de Foco de Carrapatos” (Anexo 3). Da investigação podem re-sultar três situações:

1. Quando se tratar de carrapatos do gênero Amblyomma: oSR desencadeará, em conjunto com o município, medidaspreventivas e de controle de carrapatos, identificará as uni-dades de saúde a fim de estruturar uma rede de atendi-mento e notificação, com profissionais de saúde capacita-dos e realizará atividades educativas. O município deverárealizar atividades educativas junto à população expostaao risco e enviar relatório ao SR. Este por sua vez deveráenviar relatório das ações de controle de foco à sede daSUCEN e à Vigilância Epidemiológica (VE) da DIR.

2. Quando os espécimes forem de outros gêneros: o SR de-verá enviar relatório de investigação de foco à VE - DIRque solicitará à VE do município a reavaliação do LPI.

3. Quando não forem encontrados carrapatos: o SR deveráenviar relatório de investigação de foco à VE - DIR quesolicitará à VE do município a reavaliação do LPI.

Nos dois primeiros casos os boletins de investigação de focode carrapatos, com as identificações discriminadas no verso dosmesmos, deverão ser enviadas para a sede da SUCEN, para ali-mentar o banco de dados e proceder a compilação e divulgaçãodos dados.

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QUADRO 4 - Desenvolvimento de ações a partir da notificaçãode casos humanos de doenças transmitidas por carrapatos

Município- Notificação de caso humano

suspeito ou confirmado

Amblyomma

Sim Não

VE - DIR- Notificação dos casos com LPI no Estado de

São Paulo ao SR

SR - SUCEN e Município- Investigação de foco- Coleta de carrapatos

- Preenchimento do Boletim deInvestigação de Foco de Carrapatos- Identificação taxonômica pelo SR

SR - SUCEN e MunicípioMedidas preventivas e controle de carrapatos

- Identificar unidades de saúde paraa rede de atendimento e notificação

- Atividades educativas

SR - SUCEN- Envio de relatório de investigação

de foco à VE - DIR

VE - DIR- Envio de relatório de investigação

de foco à VE - Município

VE - Município- Reinvestigação do local provável

de infecção

Município- Ativ. educ. junto à população

exposta ao risco- Envio de relatório ao SR - SUCEN

SR - SUCEN- Envio de relatório de controle

de foco à VE - DIR e Sede da SUCEN

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Os carrapatos podem ser coletados em fase parasitária, sobre os animais (fixa-dos à pele de seus hospedeiros) ou em fase de vida livre (no meio ambiente). Os carra-patos do meio ambiente podem ser coletados ativamente, pela sua busca na vegetaçãoe no corpo dos capturadores, ou passivamente, por intermédio de armadilhas atrativas.

6.1 Coleta em animais

Os carrapatos fixados aos animais são coletados simplesmente retirando-os dapele do hospedeiro, com torções leves, seguidas de movimentos de tração, com a utili-zação de pinça (Figuras 15a e 15b), permitindo que os carrapatos sejam retirados intei-ros, evitando-se a quebra do aparelho bucal, imprescindível para a identificação. É con-tra-indicada a retirada utilizando-se calor (fósforos, por exemplo), bem como métodosque possam perfurá-los, comprimi-los ou esmagá-los evitando-se a eliminação de se-creções e excreções que possam conter patógenos. Todos os carrapatos coletados deum mesmo animal devem ser armazenados num mesmo frasco. Carrapatos coletadosde diferentes animais não devem ser misturados em um mesmo frasco. Os frascoscontendo carrapatos devem ser acondicionados e identificados (vide item 6.3).

MÉTODOS DE COLETA,ACONDICIONAMENTO, PRESERVAÇÃO E

IDENTIFICAÇÃO DE CARRAPATOS

6

Figura 15a: Retirada de carrapato com a utilização de pinça(www.cdc.gov/ncidod/dvrd/msf/Prevention.htm).

Figura 15b: Retirada de carrapato com autilização de pinça (foto cedida pelo Prof.Dr. Adivaldo Henrique Fonseca – UFRRJ).

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a30

6.2 Coleta no meio ambiente

6.2.1 Técnica de arrasto com flanela branca

Esta técnica consiste na utilização de uma flanela branca com dimensões de1,50m de comprimento por 0,80m de largura, com duas hastes de ferro (vergalhão), demadeira ou canos de ferro, de 0,85m e meia polegada de diâmetro, transpassadas empresilhas feitas em cada extremidade da mesma, com o objetivo de manter a flanelaaberta e o mais próximo possível da vegetação. Se necessário deve-se fixar pesos naextremidade posterior (Oliveira, 1998), com aproximadamente um quilo e meio no total,como apresentado na Figura 16.

A técnica de arrasto é indicada tanto para locais com vegetação do tipo herbácea(gramíneas, leguminosas, compostas e outras forrageiras), como para áreas deconfinamento de animais (pastos) ou peridomicílio (Figura 17). Deve-se percorrer toda aextensão da área, andando lentamente e parando a cada 4 a 5 metros, para verificaçãoe coleta de indivíduos capturados sobre a face da flanela que é arrastada em contatocom a vegetação. Em áreas de pastagens, a flanela deve ser arrastada seguindo a rotaesquematizada na figura 18. Esta técnica é satisfatória para a coleta de estágios imaturos(larvas e ninfas), sendo menos eficiente para o estágio adulto (Oliveira et al., 2000).

Figura 16: Esquema da flanela preparada para captura de carrapatos.

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Figura 17: Técnica do arrasto com flanela branca.

Figura 18: Rota esquematizada paraa técnica do arrasto.

Ao caminhar pelas matas,durante o arrasto da flanela, deve-se sempre vasculhar as roupas eo corpo à procura de carrapatosno máximo a cada quatro horas.Estes devem, também, ser cole-tados e agrupados separadamen-te com os capturados pela flane-la, compondo uma nova amostra(Figura 19).

Os capturadores deverãofazer uso de macacões de man-gas longas e botas, sempre bran-cos para facilitar a visualizaçãodos carrapatos. A barra do maca-cão deverá ser presa à bota utili-zando-se fita adesiva larga paraimpedir o acesso dos carrapatosà pele (Figura 19). Os carrapatospodem ser retirados do macacão,durante a captura, utilizando-seuma escova.

Figura 19: Larvas de carrapato no corpodo capturador. Destaque para as

medidas preventivas.

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6.2.2 Técnica de armadilha de CO2

O dióxido de carbono (CO2, gelo seco) tem sido utilizado como um eficiente atra-tivo químico para algumas espécies de carrapatos (Sonenshine, 1993). Armadilhas comgelo seco são eficazes para coleta de carrapatos adultos de diversas espécies, modera-damente eficazes para o estágio de ninfas e pouco eficazes para as larvas (Oliveira etal., 2000). De modo geral, estas armadilhas podem atrair e capturar carrapatos adultosnum raio de até 10m (Balashov, 1972; Koch e McNew, 1982).

Esta técnica consiste em colocar aproximadamente 500g de gelo seco no centrode uma flanela branca (1,0m x 1,0m) esticada sobre o solo, contendo fita adesiva dedupla face em suas bordas (Figura 20).

O tempo de permanência da armadilha deve ser de no mínimo uma e no máximoduas horas. Estas armadilhas apresentam a vantagem de poderem ser utilizadas emqualquer tipo de ambiente, especialmente em matas, onde o arrasto de flanela estálimitado pela densa vegetação.

Para as larvas, de difícil remoção da flanela do arrasto, recomenda-se a retira-da de 30 exemplares, com pinça e as demais, utilizando-se fita adesiva. Uma vezremovidas as larvas, a fita adesiva deverá ser acondicionada no interior de um frascoseco. No caso de altas infestações, isto é, se a flanela do arrasto ou a armadilha deCO2 contiverem muitos indivíduos dos diferentes estágios (larvas, ninfas ou adultos),deve-se colocá-las dentro de um saco plástico hermeticamente fechado e encaminhá-las ao laboratório, onde após permanecerem por um período de 10 a 20 minutos embaixa temperatura (geladeira) os carrapatos ficarão temporariamente imobilizados,facilitando sua retirada.

Figura 20: Armadilha atrativa de CO2.

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6.3 Acondicionamento e preservação

Os carrapatos coletados no campo ou recebidos da popula-ção deverão ser acondicionados em frascos de plástico branco oupreto, como os de filme fotográfico ou de coletor universal. Paramantê-los vivos, o frasco deverá estar totalmente seco, e os carra-patos deverão ser colocados no seu interior juntamente com algunspedaços de folhas verdes frescas, de qualquer tipo de vegetação(Figura 21A). Pequenos furos, realizados com a ponta de uma agu-lha, deverão ser feitos na tampa do frasco (Figura 21B). Os carra-patos mortos deverão ser encaminhados preservados em álcool etí-lico a 70%.

Cada frasco deverá ser devidamente identificado com o nú-mero da amostra, a data da coleta, o hospedeiro (quando for o caso),o nome do capturador e o número de notificação do Boletim deInvestigação de Foco de Carrapato ou da Ficha de Notificação deParasitismo humano (Figura 21C).

O Boletim de Investigação de Foco de Carrapato (Anexo 3)deverá ser preenchido na localidade de pesquisa e encaminhadoao laboratório junto com as amostras de carrapatos coletadas. AFicha de Notificação de Parasitismo humano (Anexo 1) deverá serpreenchida na unidade notificante e encaminhada ao laboratóriojunto com as amostras de carrapatos entregues pelo munícipe.

Figura 21: Acondicionamento de carrapatos vivos para envio ao laboratório.

A: coloque os carrapatos em um frasco seco, apenas com algumas folhas verdes frescas.

B: Faça pequenos furos na tampa do frasco.

C: Identifique o frasco com o nome do hospedeiro, data, local e capturador.

Fotos cedidas por Marcelo Labruna FMVZ, USP.

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a34

No laboratório, os carrapatos deverão ser mortosem água quente e poderão ser preservados em:

Álcool etílico a 70%, caso se destinem apenasà identificação taxonômica.

Álcool isopropílico absoluto, caso se destinemà identificação taxonômica e ao posterior pro-cessamento para detecção de DNA de riquét-sias, por reação de cadeia de polimerase(PCR).

Quando o destino dos carrapatos for a tentativade isolamento de riquétsias de seus órgãos, os carrapa-tos devem ser congelados, em tubos criotubos secos,quando ainda estiverem vivos, em nitrogênio líquido ouem freezer a -80oC.

6.4 Identificação taxonômica

Para a identificação taxonômica dos carrapatos, énecessário um microscópio estereoscópico, com ilumina-ção incidente. Esta identificação deve obrigatoriamente se-guir três passos:

1 - Identificar o estágio de vida do carrapato (lar-va, ninfa, adulto macho ou adulto fêmea).

2 - Identificar o gênero do carrapato. Para este pas-so, deve-se utilizar a chave taxonômica dicotô-mica e pictórica, descrita nos Anexos 4 e 5.

3 - Identificar a espécie do carrapato. Para estepasso, pode-se utilizar as chaves dicotômicasdescritas por Aragão & Fonseca (1961), Robin-son (1926), Jones et al. (1972) e Guimarães etal. (2001). Em se tratando de larvas e ninfasdos gêneros Amblyomma ou Ixodes, a identifi-cação da espécie não será possível, pois aschaves dicotômicas disponíveis na literatura sãorestritas ao estágio adulto desses gêneros.

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35S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

Paralelamente às ações de controle do vetor, cabe às Secretarias Municipais deSaúde, por intermédio das áreas de vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, vigi-lância ambiental e educação em saúde, orientar a população sobre o risco de contrair afebre maculosa. Atualmente, existem áreas conhecidas de transmissão da doença e, asatividades de orientação e divulgação à população poderão contribuir para a identifica-ção de novas áreas, dessa forma, as ações deverão ser desenvolvidas visando atingir apopulação de risco nas duas situações.

7.1 Áreas de reconhecida transmissão

Nas áreas onde já existe histórico de transmissão da doença, a população usuá-ria do local, deverá ser orientada a vistoriar o corpo minuciosamente a cada 2 ou 3 horasapós a exposição, à procura de carrapatos; sobre a forma correta de retirada decarrapatos (torções leves seguidas de movimentos de tração) e utilização de barreirasfísicas no corpo tais como calças compridas com a parte inferior no interior de botas decano alto, roupas claras para facilitar a visualização dos carrapatos.

A população deverá ser estimulada a enviar carrapatos aderidos no corpo àsunidades básicas de saúde ou outros serviços de saúde para serem identificados, obje-tivando manter a vigilância acarológica (Quadro 3; Anexos 5 e 6).

Quando se tratar de áreas públicas, deverão ser afixadas placas com orienta-ções informando a ocorrência de casos na área e a necessidade dos usuários procura-rem um serviço de saúde caso venham a apresentar febre ou tenham sido infestadospor carrapatos (Figura 22).

ATIVIDADES EDUCATIVAS7

Figura 22: Placas educativasadvertindo a população em áreasendêmicas para febre maculosa

(municípios de Jaguariúna ePedreira respectivamente).

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a36

Em áreas de residências ou trabalho, recomenda-se uma ação mais efetiva,incluindo visitas com medidas que possam ser adotadas, pela população visando umamenor exposição ao vetor.

Tanto o poder público como os proprietários deverão ser orientados quanto àroçagem de pastos e gramados e à forma correta de aplicação de carrapaticidas nosanimais.

Trabalhos com a rede de ensino são prioritários nessas áreas.

7.2 Áreas de transmissão não reconhecida

Nestas situações, recomenda-se o trabalho com grupos específicos de risco,tais como: pescadores, caçadores, tratadores de animais etc. As atividades deverãoincluir, tanto a vestimenta adequada, como a retirada correta dos carrapatos e a procuraurgente a serviços de saúde na presença de febre após terem sido parasitados porcarrapatos (Quadro 3, Anexos 5 e 6).

Os proprietários de estabelecimentos que comercializam produtos veterinários,as clínicas veterinárias e farmácias deverão ser orientados para que possam estar cola-borando na divulgação de medidas a serem adotadas à população usuária. O trabalhocom estes proprietários poderá ser realizado pela vigilância sanitária, quando das visi-tas a estes estabelecimentos.

Deverão ser desenvolvidos trabalhos de orientação e de divulgação direcio-nados para festas de peão, feiras ou exposições agropecuárias e atividades de eco-turismo.

É sabido que, uma vez fixado ao hospedeiro, um carrapato infectado leva ummínimo de seis horas para transmitir a riquétsia. Sendo assim, quanto mais rápido umapessoa retirar os carrapatos de seu corpo, menor será o risco de contrair a doença.Quando uma pessoa é atacada por poucos carrapatos, torna-se relativamente mais fácile prático retirar todos estes carrapatos num curto espaço de tempo. Por outro lado,quando uma pessoa é atacada por uma alta carga de carrapatos (Figura 23), dificilmen-te ela consegue retirar todos nas primeiras horas, passando alguns despercebidos porvárias horas, ou até mesmo alguns dias. Diante de tais fatos, é óbvio dizer que, quantomaior a população de carrapatos em uma área endêmica para febre maculosa, maior é

MEDIDAS PREVENTIVAS8

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37S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

o risco de se contrair a doença.

Como não existem vacinas para

serem utilizadas em humanos,

como medidas profiláticas da

febre maculosa, a medida pre-

ventiva mais eficaz é o contro-

le das populações de carrapa-

tos a níveis mínimos, reduzin-

do substancialmente os riscos

de parasitismo humano.

Quando a exposição a

carrapatos é inevitável, reco-

menda-se o uso de mangas lon-

gas, botas e de calça comprida

com a parte inferior dentro das

meias, todos de cor clara para

facilitar a visualização dos car-

rapatos, e após a utilização, to-

das as peças de roupas devem

ser colocadas em água ferven-

te para a retirada dos mesmos.

A Organização Mundial

de Saúde (1997) refere que re-

pelentes para carrapatos não

são comumente aplicados so-

bre a pele e sugere para pre-

venir ataques de carrapatos e,

para proteção mais duradoura,

a impregnação de roupas com

PERMETHRIN a 0,65-1g de in-

grediente ativo/m2 como o me-

lhor produto, mas DEET e BU-

TOPYRONOXYL como sendo

também efetivos. No Brasil, não

se tem conhecimento sobre a

eficácia da utilização de repe-

lentes para carrapatos.

Figuras 23: Pessoa atacada por umaalta carga de carrapatos .

(A) Destaque do antebraço.(B) Destaque de dorso.

Fotos cedidas por Adriano Pinter, FMVZ – USP.

B

A

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a38

9.1 Amblyomma cajennense

Em áreas endêmicas de zoonoses transmitidas porcarrapatos, apenas uma parcela da população de carrapa-tos se apresenta infectada pelo agente. Esta parcela variaconforme a doença, assim como o contexto temporal e es-pacial. Logo, nessas áreas endêmicas, quanto maior o graude parasitismo humano, maior é o risco de uma pessoa serparasitada por um carrapato infectado.

O A. cajennense é o principal vetor da febre maculo-sa no Brasil. Para que suas populações estejam excessiva-mente aumentadas, há a necessidade, principalmente, decondições ambientais favoráveis às fases de vida livre. Taiscondições seriam pastos “sujos”, com formações de capo-eiras ou matas. Uma vez estabelecida a condição ambientalfavorável ao carrapato no ambiente, é necessária a presen-ça de hospedeiros primários, que podem ser eqüinos, antasou capivaras. Com relação aos eqüinos, e até mesmo àsantas, poucos indivíduos seriam suficientes para propiciaruma grande multiplicação de carrapatos, já que um únicoanimal pode albergar grandes quantidades de carrapatos.No caso das capivaras, a população de carrapatos estaráaumentada à medida que aumentar a população deste hos-pedeiro na área, já que estes animais tendem a albergarmenores quantidades de carrapatos. Sendo assim, o con-trole das populações de A. cajennense pode ser executadoem duas formas:

1. Intervindo na população parasitária de carrapa-tos, especialmente sobre os hospedeiros primários.

2. Intervindo na população de vida livre de carra-patos, presente principalmente nos locais do solo em quea cobertura vegetal e/ou as condições das instalações ofe-recem o microclima favorável a seu desenvolvimento esobrevivência.

CONTROLE DE CARRAPATOS9

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9.1.1 Intervindo na populaçãoparasitária

A aplicação de produtos químicos, compropriedades carrapaticidas, sobre os animais,é o método mais tradicional para combater oscarrapatos. No caso de A. cajennense, este mé-todo é usualmente recomendado somente quan-do há participação de eqüinos como hospedei-ros primários para o carrapato, já que ainda nãoexistem métodos apropriados para tratamentoscarrapaticidas contínuos em animais silvestresde vida livre.

Qualquer programa de controle de carra-patos deve ser considerado como um programacontínuo, com resultados que serão evidenciadossomente a médio ou a longo prazo. O principalobjetivo do programa de controle deve ser a re-dução da contaminação do ambiente, das fasesde vida livre do carrapato, por meio de tratamen-tos contínuos nos animais.

Por outro lado, há uma forte tendência cul-tural da busca por resultados imediatos. Numa si-tuação de alta infestação por carrapatos, os resul-tados imediatos serão apenas aqueles evidencia-dos ao curar uma infestação momentânea de umanimal, severamente infestado, com uma únicaaplicação de carrapaticida. Tratamentos curativospontuais não surtem qualquer efeito na populaçãode vida livre do carrapato, ou seja, não controlamos carrapatos.

O A. cajennense completa apenas uma ge-ração por ano na região Sudeste, com cada umdos três estágios parasitários predominando emuma época do ano (Figuras 6, 9a e 9b). Há evi-dências de que o estágio adulto é naturalmentemais resistente aos carrapaticidas comerciais queos estágios de larva e ninfa (Pinheiro, 1987). Des-ta forma, o controle químico deste carrapato em

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a40

Figura 24: Aplicação de carrapaticida em eqüino.

eqüinos deve se concentrar entre os me-ses de abril a julho, quando predominam aslarvas, e de julho a outubro, quando predo-minam as ninfas. Para os meses de outu-bro a março, quando predominam os carra-patos adultos, alguns autores têm recomen-dado com sucesso a remoção manual defêmeas ingurgitadas dos eqüinos, a inter-valos semanais (Leite et al., 1997). Obvia-mente, tal prática é mais viável para peque-nas tropas de animais.

Os únicos carrapaticidas comerciaisindicados para tratamentos dos eqüinos sãoos piretróides, nas formulações para aplica-ção na forma de banhos, aspersão ou pulve-rização (Figura 24). Por motivo de incompati-bilidade específica, não se deve utilizar pro-dutos à base de amitraz em eqüinos pelo ris-co de intoxicações irreversíveis. Embora hajaformulações à base de piretróides, indicadaspara a aplicação pour-on (sobre a linha dodorso) em bovinos, estes não devem ser usa-dos em eqüinos, pois não apresentariam aeficácia desejada nestes hospedeiros.

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Em áreas onde há presença de bovinos juntamen-te com eqüinos e/ou capivaras, estes devem ser tratadosno mesmo esquema já citado para os eqüinos, ou seja,banhos carrapaticidas semanais, de abril a outubro. No casodos bovinos, há a possibilidade do uso de produtos de apli-cação pour-on, de maior praticidade.

Numa situação de alta população de carrapatos,com relatos freqüentes de parasitismo humano, o controlequímico deve ser conduzido com tratamentos carrapatici-das semanais, durante todo o período de predomínio dasformas imaturas, de abril a outubro (Labruna et al., 2002).Se os tratamentos não abrangerem todo este período, nãosurtirão resultados satisfatórios. O intervalo entre os ba-nhos não pode ser superior a sete dias, pois cada indiví-duo imaturo, seja larva ou ninfa, que sobe sobre um hos-pedeiro, parasita-o por um período muito curto, de no má-ximo sete dias. Deve-se salientar que este período preco-nizado para os banhos corresponde à estação seca do ano,favorecendo a aplicação de banhos nos animais.

Como o A. cajennense apresenta apenas uma ge-ração por ano, os resultados de um ano do programa sóserão evidenciados na próxima geração, no próximo ano.Depois do primeiro ano do programa, se bem conduzido,a população de carrapatos estará significativamente re-duzida. Neste caso, os tratamentos carrapaticidas a par-tir do segundo ano poderão ser concentrados somentena época de predomínio de larvas, de abril a julho. É im-portante dizer que uma vez mantidas as condições devegetação favoráveis às fases de vida livre do carrapato,este pode nunca ser erradicado. Portanto, o objetivo pri-mário do programa deve ser o controle da população decarrapatos a níveis mínimos de infestação, e nunca a suaerradicação. Por outro lado, quando as populações en-contram-se reduzidas, os riscos de parasitismo humanotornam-se mínimos, prevenindo a transmissão de doen-ças para o homem.

Toda aplicação de produtos carrapaticidas deve se-guir as normas de biossegurança quanto ao manuseio, pre-paro da solução, aplicação, equipamentos de proteção in-dividual, lavagem de equipamentos e descarte.

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a42

9.1.2 Intervindo na população de vida livre

Em algumas situações, quando a área altamente infestadapor carrapatos for apenas um pasto “sujo”, sem a presença de matasresiduais ou de preservação, pode-se conseguir a redução drásticada contaminação ambiental pela destruição momentânea dos micro-climas necessários ao desenvolvimento do carrapato no ambiente.

Isto pode ser feito utilizando-se roçadeiras mecânicas, quedevem ser passadas rente ao solo por toda a área da pastagem, pelomenos uma vez por ano, durante os meses de verão. O uso anual deroçadeiras nesta época do ano evita a formação de pastos “sujos”,pois favorece a rebrota de gramíneas forrageiras sem a competiçãocom plantas invasoras. Labruna e colaboradores, 2001 em um traba-lho recente realizado em 40 propriedades rurais no Estado de SãoPaulo mostraram que a presença e a abundância das infestações porA. cajennense nos eqüinos está fortemente associada com a presen-ça de pelo menos um pasto “sujo” na propriedade. Além disso, aoroçar um pasto rente ao solo, o microclima necessário às fases devida livre do carrapato é destruído, reduzindo drasticamente o seudesenvolvimento e sobrevivência no ambiente. Deve-se salientar que,durante a época preconizada para tal uso de roçadeiras (meses deverão), a maior parte da população de vida livre do carrapato serácomposta por ovos e larvas, que estarão se preparando para formaro pico de infestação por larvas a partir do início do outono, em abril.Como ovos e larvas são os estágios mais sensíveis às alterações demicroclima, uma drástica destruição da cobertura vegetal do solo nestaépoca comprometerá a sobrevivência desses estágios.

Obviamente, a indicação do uso de roçadeiras nos meses deverão fica restrita a áreas de pastagens. Quando eqüinos são criadosem áreas de mata ciliar ou residual, onde a intervenção mecânicaembarga em limitações ecológicas, a alternativa mais viável seria ocontrole químico, como citado anteriormente. Por outro lado, impediro acesso de eqüinos a estas áreas de mata também surtirá resulta-dos satisfatórios. Porém, os resultados levarão mais de 12 mesespara serem evidenciados, dada a longa sobrevida das formas de vidalivre do carrapato num ambiente favorável.

Em área urbana devem ser feitas a limpeza e capina de lotesnão construídos a fim de evitar que eqüinos sejam levados para pas-tejo nesses locais.

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43S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

Em áreas com casos confirmados de febre maculosaou outra doença causada por carrapatos a humanos, com altainfestação de carrapatos onde a redução seja necessária deforma rápida e que, esgotadas todas as outras medidas decontrole recomendadas ainda persista a infestação, após de-cisão conjunta entre os órgãos de controle envolvidos, umavez que o monitoramento é indispensável, pode-se utilizar ocontrole químico no meio ambiente.

Quando uma área de mata se apresenta com altas po-pulações de A. cajennense, tendo apenas animais silvestres(antas e/ou capivaras) como os hospedeiros primários para ocarrapato, tornam-se impraticáveis, tanto o controle químiconos animais, como a intervenção mecânica no ambiente. Nes-tes casos, em se tratando de uma área endêmica para febremaculosa, as atividades educacionais com a população deve-rão ser prioritárias, visando evitar ao máximo o acesso a estaárea. Por outro lado, programas de controle populacional devertebrados ou de animais de vida livre, especialmente capi-varas, devem ser encarados como uma medida prioritária.

Por último, métodos alternativos de controle, tais comoaqueles baseados na auto-aplicação de carrapaticidas em ca-pivaras e antas de vida livre, devem ser testados no Brasil.

O fornecimento de alimentos previamente tratados comivermectin a cervídeos de vida livre foi testado para o controlede infestações por carrapatos nestes animais nos EstadosUnidos, com resultados promissores (Pound et al., 1996). Ain-da neste país, foram desenvolvidos bretes (tipo de cercado,armadilha) que aplicam produtos carrapaticidas automatica-mente em veados de vida livre, ao serem atraídos para o bre-te, por alimentos continuamente ofertados. Reduções signifi-cativas das populações de carrapatos foram observadas nasáreas em que estes bretes foram utilizados (Pound et al., 2000).No entanto, o impacto do fornecimento destes alimentos nocrescimento das populações de vida livre destes animais édesconhecido.

Qualquer medida direcionada ao controle das infes-tações por A. cajennense em capivaras, deverá, conseqüen-temente, atuar nas populações de A. cooperi, já que estaúltima utiliza-se apenas das capivaras, como hospedeirosprimários.

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a44

9.2 Amblyomma aureolatum

Nas áreas endêmicas para febre maculosa, onde estecarrapato está incriminado como vetor, os cães domésticossão os principais hospedeiros primários para o estágio adul-to, e aves e/ou pequenos roedores possivelmente assumemo papel de hospedeiros primários para os estágios imaturos.Os ambientes favoráveis às fases de vidas livre deste carra-pato são tipicamente as matas e florestas, onde a interven-ção mecânica é inviável. Desta forma, o controle químiconos cães torna-se a medida mais satisfatória. Segundo Pin-ter e colaboradores (2002), os cães podem se apresentarinfestados pelo estágio adulto por todo o ano sem que seperceba um pico definido de infestação. Portanto, o controledas infestações deve-se basear na aplicação contínua deprodutos carrapaticidas nestes animais. Estas aplicaçõespodem ser na forma de banhos carrapaticidas regulares, acada sete ou 14 dias; aplicações mensais de produtos delonga ação, nas formulações pour-on; e por último, uma al-ternativa extremamente prática é a colocação de coleiras car-rapaticidas. Existem vários modelos no mercado, que man-têm alta eficácia carrapaticida por 3 a 6 meses consecutivos.

Obviamente, o rigor do tratamento dos cães deve serencarado em função do status endêmico da área para febremaculosa. Se for uma área onde nunca fora relatado um casoda doença, os tratamentos devem ser indicados somentequando houver um aumento substancial da infestação porcarrapatos. Se for uma área já considerada endêmica para adoença em humanos, os tratamentos nos cães devem sermais rigorosos. Uma forma de se avaliar o risco endêmicode uma área para febre maculosa, onde o A. aureolatum foro carrapato incriminado como vetor, é a investigação soroló-gica dos cães.

Deve-se salientar que, por mais rigorosos que sejamos tratamentos nos cães, a erradicação do A. aureolatum épraticamente inviável, pois esta espécie se mantém nas matasparasitando exclusivamente animais silvestres, tais comoaves e roedores pelos estágios imaturos, e carnívoros sil-vestres pelo estágio adulto.

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TRAVASSOS, J. & VALLEJO, A. Possibilidade de Amblyomma cajennensese infectar em Hydrochoerus capybara experimentalmente inoculadocom o vírus da febre maculosa. Mem. Inst. Butantan, 15: 87-90,1942b.

Page 51: manualsucen parte 2

M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a50

YOSHINARI, N. H. et al. Perfil da Borreliose de Lyme no Brasil. Rev.Hosp. Clín. Fac. Med. S. Paulo. 52: 111-7, 1997.

WOOLLEY, T. A. Acarology. Mites and human welfare. Fort Collins,Colorado, Library of Congress cataloging in Publication, 1987. 484 p.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Chemical Methods for Control ofVectors and Pests of Public Health Importance. Geneva, 1997.

Page 52: manualsucen parte 2

51S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

ANEXOS11

Anexo 1 - Ficha de notificação de parasitismohumano por carrapatos

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDESUCEN

SUPERINTENDÊNCIA DE CONTROLE DE ENDEMIAS

FICHA DE NOTIFICAÇÃO DE PARASITISMO HUMANO POR CARRAPATO

UNIDADE NOTIFICANTE: CODUNIDADE:

DATA DA NOTIFICAÇÃO: / / NO DE NOTIFICAÇÃO:

I - IDENTIFICAÇÃO:

SR

MUNICÍPIO:NOME DO PACIENTE:

TEL.:ENDEREÇO:

DIR CÓDMUN.: 3 5

REFERÊNCIA:BAIRRO:

II - DADOS SOBRE O PARASITISMO

FIXO À PELE HUMANA: NÃO SIM

NO DE EXEMPLARES:

OBSERVAÇÃO:

TEM ANIMAL EM CASA NÃO SIM QUAL?

LOCALIDADE PROVÁVEL DA INFESTAÇÃO:

III - IDENTIFICAÇÃO DO SERVIÇO REGIONAL DA SUCEN:

GÊNERO / ESPÉCIEADULTO

MACHO FÊMEANINFA LARVA TOTAL

DATA DA IDENTIFICAÇÃO: _____/_____/_____ RESPONSÁVEL: ____________________________________________

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a52

Anexo 2 - Etiqueta de Identificação deAmostra de Carrapatos

DATA DA COLETA: / /

DATA DA NOTIFICAÇÃO:

NO DA AMOSTRA:

HOSPEDEIRO:

COLETOR:

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53S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

Anexo 3 - Boletim de Investigação de Foco

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDESUCEN

SUPERINTENDÊNCIA DE CONTROLE DE ENDEMIAS

BOLETIM DE INVESTIGAÇÃO DE FOCO DE CARRAPATOS

UNIDADE NOTIFICANTE: CODUNIDADE:

DATA: NO DE NOTIFICAÇÃO:

PARASITISMO HUMANO

CASO SUSPEITO DE FMB CASO CONFIRMADO DE FMB NO SINAN

NOME DO PACIENTE

I - IDENTIFICAÇÃO:

SR

ENDEREÇO:PROPRIETÁRIO:

COORDENADAS GEOGRÁFICAS:LOCALIDADE:

DIR CÓDIGO 3 5 MUNICÍPIO:

INVESTIGAÇÃO NO /LAT o ’ ” LONG. o ’ ”

II - PRESENÇA DE ANIMAIS:

ANIMAL NO HABITAT / FORMA DE CRIAÇÃO* DESCRIÇÃO DO AMBIENTE**

LEGENDA:* 1) SOLTO (A PASTO) 2) PRESO (ESTABULADO) 3) PERIDOMICILIAR 4) INTRADOMICILIAR 5) MATA** 1) PASTO LIMPO 2) PASTO SUJO (NÃO UNIFORME, COM PRESENÇA DE ARBUSTOS, RAMOS, MOITAS, ETC.) 3) NÃO SE APLICA

III - COLETA:1 - AMBIENTENO DA AMOSTRA LOCAL CAPTURA

NO ARRASTOS NO ARM.TIPO DE COLETA

HORA INÍCIO HORA TÉRMINOPERÍODO NO EXEMPLARES

2 - MANUALNO DA AMOSTRA HOSPEDEIRO NO EXEMPLARES COLETADOS

IV - CONDIÇÕES CLIMÁTICAS:CHUVA: 1 FORTE 2 MODERADO 3 FRACO 4 AUSENTE-NUBLADO 5 AUSENTE-LIMPO

NOME DA EQUIPE DE CAPTURADORES:

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a54

Verso Boletim de Investigação de Foco

V - IDENTIFICAÇÃO:

GÊNERO / ESPÉCIEADULTO

MACHO FÊMEANINFA LARVANO DA AMOSTRA

DATA IDENTIFICAÇÃO: / /

RESPONSÁVEL

VI - OBSERVAÇÕES:

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55S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

Anexo 4 - Chave Pictórica para Identificaçãode Carrapatos

Page 57: manualsucen parte 2

M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a56

Page 58: manualsucen parte 2

57S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

Anexo 5 - Modelo de Folder (frente e verso)

F R E N T E

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a58

VERSOH

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59S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

Anexo 6 - Modelo de Folheto de Orientação

Febre Maculosa(Febre do Carrapato)

É uma doença transmitida pelo carrapato estrela contaminado.(Amblyomma cajennense)

Se você freqüentou locaiscom presença de

carrapatos e apresentar:

DORES DE CABEÇA

DORES PELO CORPOCALAFRIOSE FEBRE ALTA

PONTINHOSAVERMELHADOSNA PALMA DA MÃOE NA SOLA DO PÉ

(Principalmente nas coxas ebarriga das pernas)

Procure o Centro de Saúde mais próximo da sua casa,e não esqueça de falar que foi picado por carrapato.

CUIDADOS AO RETIRAR O CARRAPATO DO CORPO:Não espremê-lo com as unhas.

Não encostar fósforos, cigarro ou agulhas no carrapato.Retirá-lo com leves torções através de uma pinça.

CUIDADO! Quando não tratada a tempo a Febre maculosa pode matar!

Page 61: manualsucen parte 2

M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a60

Durante a investigação de foco de carrapatos pode-se encontrar espécies de menor importância na transmissãode doenças ao homem, tais como Rhipicephalus sanguineus,Anocentor nitens e Boophilus microplus freqüentemente pa-rasitando cães, eqüinos e bovinos, respectivamente. Estãodestacadas a seguir algumas características dessas trêsespécies de carrapatos extraídas do livro “Ectoparasitos deImportância Veterinária” (Guimarães et al., 2001).

Rhipicephalus sanguineus (Latreille).“Carrapato vermelho do cão”

Morfologia. São carrapatos de coloração avermelha-da ou castanho-avermelhada com base do capítulo hexago-nal e aparelho bucal curto. A coxa da perna I é bífida em am-bos os sexos e os machos possuem placas pares em cadalado do ânus.

Biologia. Espécie de grande importância veteriná-ria. Este é um carrapato típico de três hospedeiros (larvas,ninfas e adultos vivendo em hospedeiros separados). É co-mumente encontrado no cão e também em outros mamífe-ros, podendo parasitar aves. Eles se desprendem dos cães,em qualquer fase de desenvolvimento, espalhando-se pelashabitações. São encontrados em grande número, sendo dedifícil controle. Fêmeas ingurgitadas depositam cerca de3.000 ovos que eclodem em 28 dias, mas podem levar até 3meses, dependendo da temperatura. As larvas alimentam-se entre 3 a 6 dias e sofrem mudas no período de 5 a 49dias. As ninfas ingurgitam em 3 a 9 dias e mudam em 10 a16 dias. A fêmea alimenta-se entre 4 e 21 dias. Não há evi-dências de que esta espécie possa parasitar o homem, limi-tando-se ao parasitismo de cães e gatos. Os adultos fixam-se na pele, entre o coxim plantar e as orelhas do cão. Estes

Anexo 7 - Carrapatos FreqüentementeEncontrados em AnimaisDomésticos

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61S u p e r i n t e n d ê n c i a d e C o n t r o l e d e E n d e m i a s

carrapatos escalam muros e cercas, freqüentemente abri-gando-se em frestas e forro dos canis, em grande númerodebaixo de móveis e em outros locais. Não raro é visto nasparedes das residências infestadas. Aspectos da biologiadesta espécie foram estudados em condições de laborató-rio, por Sartor et al. (1996).

Anocentor nitens (Neumann).“Carrapato da orelha dos eqüinos”

Morfologia. Corpo arredondado nas fêmeas, decoloração castanho-avermelhada. Escudo sem ornamen-tação; coxas I bífidas em ambos os sexos. Palpos curtos,moderados em largura. Olhos presentes. Sulcos lateraisdo corpo ausentes no macho. Sulcos marginais ausentesnas fêmeas. Placas espiraculares ovais salentes bem ca-racterísticas, lembrando um dial de telefone. As coxas sãode tamanhos crescentes do primeiro ao quarto par. Setefestões marginais presentes. A larva foi descrita por Amo-rim et al. (1997).

Biologia. Primariamente parasita de cavalos, as-nos e mulas, também registrada em bovinos, ovelhas, ca-bras, onças, cervídeos e cão (Aragão & Fonseca, 1953;Diamant & Strickland, 1965; Yunker et al., 1986; Serra-Freire & Barros, 1992). É curioso que esta espécie origi-nária do Novo Mundo, tenha preferência em parasitaranimais domésticos, originários do Velho Mundo. A ore-lha e divertículo nasal são os locais preferidos de fixação.Podem ser encontrados em qualquer parte do corpo (Stri-ckland & Gerrish, 1964; Falce et al., 1983), em fortes in-festações. Supurações, nas orelhas, predispõem o ani-mal ao parasitismo por miíases.

Carrapato de um só hospedeiro, isto é, as transfor-mações de larva a adulto ocorrem sobre o mesmo animal.Os adultos copulam dois dias após a muda e permanecem“in coitu” até a queda de fêmea. Esta, ingurgita entre 9 e 23dias e inicia a postura de 3 a 15 dias após a queda do hos-

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M a n u a l d e V i g i l â n c i a A c a r o l ó g i c a62

pedeiro, ovipondo 3.400 ovos no solo. Em labo-

ratório o tempo de desova varia de 9 a 10 dias e

a eclosão ocorre entre 50 a 53 dias, em tempe-

ratura ambiente (Malheiro, 1952). A biologia da

fase não parasitária foi estudada por Daemon &

Serra-Freire (1984), Bastos et al. (1996) e La-

bruna (2000).

Boophilus microplus (Canestrini).

“Carrapato do boi”

Morfologia. Corpo relativamente peque-

no, sem ornamentações. Capítulo hexagonal.

Aparelho bucal curto; hipostômio mais longo do

que os palpos. Placas espiraculares circulares.

Sulco anal e festões, ausentes. Machos com

quatro placas adanais longas e distintas; o cor-

po termina numa ponta aguda. Nas fêmeas o

corpo termina normalmente arredondado.

Biologia. B. microplus é um carrapato

de um só hospedeiro. Seu desenvolvimento se

completa em duas fases: fase parasitária, que

ocorre sobre os bovinos, e fase de vida livre,

em que o carrapato completa o ciclo no solo,

após abandonar seu hospedeiro. Espécie muito

abundante, parasita predominantemente bovi-

nos, podendo infestar também búfalos, came-

los, cavalos, ovelhas, burros, cabras, gatos, co-

elhos, preguiças, cães e porcos. Machado et al.

(1995) estudaram infestações naturais de B. mi-

croplus em capivaras e cervos dos Estados do

Mato Grosso do Sul e São Paulo. É curioso que

este carrapato, comum e extremamente abun-

dante em certas zonas, só excepcionalmente

ataca o homem, ao contrário do que acontece

com Amblyomma cajennense.

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