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M ANGÁ T ROPICAL - U M E STUDO DE C ASO - 1 - MANGÁ TROPICAL UM ESTUDO DE CASO Patrick Raymundo de Moraes Brasília 2011

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M a n g á T r o p i c a l - u M e s T u d o d e c a s o

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MANGÁ TROPICALUM ESTUDO DE CASO

Patrick Raymundo de Moraes

Brasília2011

P at r i c k r ay m u n d o d e m o r a e s

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© by Patrick Raymundo – 2011

Ficha Técnica

Revisão e ComposiçãoAutor Patrick Raymundo

DiagramaçãoHelkton Gomes

[email protected]

Arte da CapaAlexandre Nagado

ISBN: 978-85-86524-62-2

Raymundo, Patrick Manga Tropical- Um estudo de caso / Patrick Raymundo de Moraes. – Brasília, 2011. 60 p.

CDU 659.3

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AGRADE CIMENTOS

Agradeço a Elza Keiko, Alexandre Soares e Alexandre Nagado pelo prestimoso apoio à conclusão deste trabalho. Agradeço à minha mãe e avô pelo apoio em um momento de difi-culdade de saúde. Agradeço a Deus pela chan-ce de poder terminar este trabalho. E saúdo minha avó (em memória) e minha orientadora pela luz e sabedoria com as quais me orienta-ram. Obrigado a todos.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6

CAPíTUlO I - A história e criação dos mangás no Japão . . . .10

CAPíTUlO II - Narrativa e estilo dos quadrinhos . . . . . . . . . .21

CAPíTUlO III - Estudos culturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34

CAPíTUlO IV - Mangá Tropical . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39

CONClUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42

REFERÊNCIAS BIBlIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43

BÔNUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46

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APRESENTAÇÃO

Em 2005, estava terminando a faculdade de Comunicação Social- Jornalismo, pelo IESB. O mercado de animês (de-

senhos animados japoneses) e mangás (histórias em quadrinhos japonesas) dava um salto para o futuro. O Canal Animax estrea-va sua programação voltada exclusivamente para os animês, e as editoras JBC e Conrad, desde o ano de 2000, distribuíam man-gás para todo o Brasil. Foi nesse cenário que eu produzi minha monografia. Em 2010, tivemos um novo cenário, muito positivo para os mangás. A editora JBC ganhou a companhia de outras editoras, como a Panini e a NewPop. Maurício de Souza lançou Turma da Mônica Jovem e, inclusive, a Marvel lançou seus heróis no formato estético japonês. lamentavelmente, a Conrad, como será explicado no trabalho, teve que renegociar diversos de seus títulos e o Animax mudou de perfil e, agora, é só mais um canal jovem com programas diversificados na sua grade, deixando os animês de lado. E o trabalho continua atual? Sim, a produção de novas histórias brasileiras, com a influência da narrativa e estética japonesa, continua a todo vapor, portanto o meu estudo continua válido para tentar analisar esses produtos. Vamos começar!

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INTRODUÇÃO

O tema abordado neste trabalho refere-se a questão de ordem cultural: existe um mangá genuinamente nacional? Isto

é, histórias feitas por brasileiros e que possuem inspiração nas histórias em quadrinhos japonesas (mangás)? Para tal, é necessário entender o conceito de mangá, identidade cultural, cultura de massa e abordar o tema relacionado com a globalização. Seria possível que uma técnica possa ser transmitida sem que a sua ideia – conceito do que seja o mangá em si – se perca ou se transforme assimilando o sentido da nova sociedade?

O termo mangá é a união de dois ideogramas japoneses: man (humor/divertido) e ga (imagem). O termo fora defindo por Katsuhika Hokusai (1760 – 1849) em 1814, sendo uma palavra que caracteriza histórias em quadrinhos, as revistas que as publicam, como caricaturas e cartuns em geral. Para início de trabalho, mangá será usado como definição de histórias em quadrinhos. No parágrafo abaixo, iniciaremos um pequeno salto na história e veremos o crescimento do interesse do mangá no Brasil, pois o surgimento do mangá, no Japão, será tema para o capítulo I.

No Brasil, em 2000, observamos o crescimento do interesse pelo mangá, porque a editora Conrad, na época, lançou 4 títulos – Pokemon, Gen- Pés Descalços, Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, seguindo o modo de leitura oriental. Em 2001, a editora JBC anuncia o lançamento de 4 mangás: Samurai X, Video Girl Ai, Sakura Card Captors e Guerreiras Mágicas de Rayearth. A

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novidade, para a época, era que estes lançamentos seguiam quase todas as regras de edição dos quadrinhos japoneses, ou seja, quadrinhos em preto e branco, leitura oriental (orientação de leitura da direita para a esquerda), além de tamanho e papéis semelhantes aos usados no Japão.

“Como a JBC é uma editora japonesa com sede também no Brasil, optamos por lançar o mangá com as mesmas características do original publicado no Japão. Tanto o formato quanto a leitura foram mantidos, assim como as onomatopéias originais. A intenção é fazer um produto seguindo o padrão de qualidade nipônico.” (Prefácio da primeira edição de Samurai X, editora JBC).

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A diferença entre um mangá importado do Japão e o mesmo título lançado lá era o número de capítulos. Os mangás brasileiros tinham o dobro do número de edições do original japonês, porque tinham a metade dos capítulos por edição. Atualmente, JBC e Panini estão lançando mangás com a mesma quantidade de capítulos que os originais, embora a prática do meio “tanko” permaneça forte.

Esse fenômeno recente se desenvolveu. A Panini e JBC disputam o mercado com as editoras que tentam desenvolver o trabalho de autores nacionais. Segundo a História dos Mangás no Brasil, o mangá nacional se desenvolveu na década de 60.

“...o estilo mangá passa a ser adotado no Brasil ainda nos anos 60, quando vários artistas, descendentes de japoneses, começaram a ter seus trabalhos publicados. Tiveram histórias sobre ninjas e samurais publicadas pela editora Edrel, em revistas que duraram até os anos 70... As tentativas de trazer os autênticos mangás para o Brasil não deram certo, talvez pela simples razão da barreira que separava o mercado ocidental do oriental.”

Apesar da estética mangá nacional ter sido identificada, no Brasil, em 1960, foi com a massificação do mangá japonês, pelas editoras acima, realizando uma onda de transformação que, possivelmente, o mangá nacional foi divulgado. Stuart Hall (2000:15) identifica que, à medida que diferentes áreas do globo são colocadas em contato uma com as outras, “ondas de transformação atingem virtualmente todo o globo”.

O trabalho visa identificar a estética mangá nacional e se ela produz a imagem de um produto nacional, usando-se de

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técnicas e enredos – que chamaremos de arcabouço temático japonês (ATJ). Ou seja, se ele possui uma identidade nacional, um discurso que produz sentido sobre a “nação” (Brasil), sentido com os quais podemos nos identificar, como brasileiros, em união com a identidade nipônica. Trataremos o objeto de estudo, então, como um produto híbrido, possuidor de duas identidades.

Recapitulando:

Identificar enredos e técnicas próprias de mangás (ATJ) que possam estar sendo usados para a construção de quadrinhos no Brasil. Dentro do ATJ, identificar estruturas próprias da cultura japonesa e características semelhantes no objeto de estudo: Manga Tropical. Para tanto estaremos usando um objeto de estudo – Mangá Tropical, para tentar responder a esta pergunta.

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CAPíTUlO I

A história e criação dos mangás no Japão

Para se entender melhor a criação de mangás no Brasil, que teve início na década de 60, e com nomes como Minami Kei-

zi e Cláudio Seto, precisamos analisar a sua origem no Japão.

Parte de um Chojugiga

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No Japão

A história do mangá é uma das teorias mais controversas que há, pois, como diz o site especializado em cultura japonesa Manga Xplosion, o mangá teve início da seguinte maneira: “vol-tando nossos olhos para um Japão do século VI e VII, notamos o povo japonês abraçando a poderosa crença Budista e os perga-minhos chamados Chojugiga, que apresentavam animais em situ-ações humanas. Chojugiga que significa, literalmente, ‘quadros humorísticos de animais e pássaros’, era a primeira aparição do mangá no Japão”.

Esses pergaminhos serviam para transmitir os ensinamen-tos de Buda fazendo o homem ponderar sobre seus erros e peca-dos, em uma era de guerra (Kamakura). Alfons Moliné (2004:18) informa que esses pergaminhos são de autoria do sacerdote-artista Toba (1053-1140).

Já outros estudiosos, como Alexandre Barbosa (2005:109), defendem a teoria de que a globalização, isto é, o contato do Japão com outras culturas, como a britânica, foi decisiva para a criação do mangá. A abertura dos portos japoneses, na era Meiji, trouxe várias novidades para o Japão, entre as quais o quadrinho. Charles Wirgman, um inglês que havia trabalhado no Punch, cria, por volta de 1868, o Japan Punch, que trazia charges e cartuns com humor e irreverência. Barbosa ainda cita que os japoneses entraram no mun-do dos quadrinhos vendo um humor e uma forma narrativa que não era a sua, mas que, com o tempo, conseguiriam adaptar.

O mangá foi sendo desenvolvido gradativamente ao longo dos séculos. O mangá se iniciou como pequenas charges de uma

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página que retratavam o dia-a-dia das pessoas. Exatamente como os pergaminhos do final do século VI e VII.

Danilo Saraiva, para o site especializado em cultura pop japonesa OHAYO, já assume a posição de que a criação do man-gá possui mais de três séculos. “Ao contrário do que se pensa, o mangá não é uma coisa tão recente. Estudos afirmam que a pri-meira história em quadrinhos japonesa surgiu em 1702, já com divisões em quadrados, traços de expressão e balões de fala”. Se-gundo Danilo, o estilo só foi se especializar mesmo no início do século XX, quando surgiram editoras interessadas em publicar esse conteúdo e os mangás passaram a ter distribuição popular, não sendo mais uma coisa limitada a guetos ou do conhecimento de poucos.

Matéria da FOX NEWS (26/08/2005) parece ser da mes-ma opinião, ao relatar que podemos traçar a verdadeira origem do mangá no Japão do século12, mas a criação oficial do mangá começou no século 19, quando famosos artistas regionais, como Hokusai, produziram as primeiras pinturas em blocos de madeira, muito similares aos quadrinhos, publicando algumas cenas/ske-tches em uma coleção intitulada “hokusai manga”.

Alfons Moliné defende a tese de que, como os pergami-nhos Chojugiga possuíam tais características, e o significado da palavra mangá é amplo, podendo significar cartuns, quadrinhos, caricaturas e toda a sorte de impresso de histórias em quadri-nhos, a sua origem se dá com o nascimento dos pergaminhos Chojugiga.