mal agudo da montanha: descrisÇÃo do quadro … · 2018-10-09 · revista saberes da faculdade...

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Revista Saberes da Faculdade São Paulo FSP _______________________________________________ 1 Acadêmica do 4º Período do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade São Paulo FSP Rolim de Moura-RO. E-mail: [email protected]. 2 Mestra em Fisioterapia Cardiorrespiratória, Docente do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade São Paulo FSP Rolim de Moura-RO, orientadora do presente trabalho. E-mail: [email protected]. 6 Mestra em Ciências Ambientais, coordenadora e docente do Curso de Bacharelado em Fisioterapia MAL AGUDO DA MONTANHA: DESCRISÇÃO DO QUADRO SINTOMATOLÓGICO EM FUNÇÃO DAS DIFERENTES ALTITUDES Érica Ferreira Teixeira 1 Daiane da Silva Gobbi 2 Dayane Cristina da Silva 3 Nathalia Zanelato Miranda 4 Neide Garcia Ribeiro Castilho 5 Jéssica Jamali Lira 6 RESUMO A doença da altitude refere-se à um distúrbio do organismo submetido à baixa pressão barométrica, especialmente elevada altitude (entre 3600 e 5400 metros elevada altitude) e extrema atitude (acima de 5400 metros). O objetivo deste trabalho foi descrever o quadro sintomatológico de acordo com as diferentes altitudes, presente na doença da altitude e, trata-se de um estudo bibliográfico que utilizou os descritos em saúde e suas combinações para a pesquisa. Neste trabalho utilizou-se um total de 15referências (13 artigos científicos, 2 livros e 1 trabalho de conclusão de curso). A deficiência do oxigênio no sangue arterial promove a hipóxia hipóxica e, esta condição provoca o aparecimento de sinais e sintomas importantes (cefaleia, perda de apetite, vômito, cansaço), os quais progridem para um quadro mais severo, principalmente depois que ultrapassa 3000 metros de altitude. Embora seja difícil definir nitidamente a que altitude começa de fato a desenvolver o quadro sintomatológico. Palavras-chave: doença da altitude. pressão atmosférica. aclimatação. sinais e sintomas. ABSTRACT The altitude sickness refers to a disturbance of the organism under low barometric pressure, especially high altitude (between 3600 and 5400 meters - high altitude) and extreme attitude (above 5400 meters). The objective of this work was to describe the symptomatological picture according to the different altitudes present in the altitude sickness, and it is a bibliographic study that used those described in health and its combinations for the research. In this work a total of 17 references were used (13 scientific articles, 3 books and 1 work of conclusion of course). Deficiency of oxygen in the arterial blood promotes hypoxic hypoxia, and this condition causes the appearance of important signs and symptoms (headache, loss of appetite, vomiting, tiredness), which progress to a more severe condition, especially after it exceeds 3000 meters altitude. Although it is difficult to clearly define how altitude actually begins to develop the symptomatological picture. Keywords: altitude sickness. atmospheric pressure. acclimatization. signs and symptoms.

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Revista Saberes da Faculdade São Paulo – FSP

_______________________________________________

1 Acadêmica do 4º Período do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade São Paulo – FSP – Rolim de

Moura-RO. E-mail: [email protected]. 2 Mestra em Fisioterapia Cardiorrespiratória, Docente do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade São

Paulo – FSP – Rolim de Moura-RO, orientadora do presente trabalho. E-mail: [email protected]. 6 Mestra em Ciências Ambientais, coordenadora e docente do Curso de Bacharelado em Fisioterapia

MAL AGUDO DA MONTANHA: DESCRISÇÃO DO QUADRO

SINTOMATOLÓGICO EM FUNÇÃO DAS DIFERENTES ALTITUDES

Érica Ferreira Teixeira1

Daiane da Silva Gobbi2

Dayane Cristina da Silva3

Nathalia Zanelato Miranda4

Neide Garcia Ribeiro Castilho5

Jéssica Jamali Lira6

RESUMO

A doença da altitude refere-se à um distúrbio do organismo submetido à baixa pressão barométrica,

especialmente elevada altitude (entre 3600 e 5400 metros – elevada altitude) e extrema atitude (acima

de 5400 metros). O objetivo deste trabalho foi descrever o quadro sintomatológico de acordo com as

diferentes altitudes, presente na doença da altitude e, trata-se de um estudo bibliográfico que utilizou os

descritos em saúde e suas combinações para a pesquisa. Neste trabalho utilizou-se um total de

15referências (13 artigos científicos, 2 livros e 1 trabalho de conclusão de curso). A deficiência do

oxigênio no sangue arterial promove a hipóxia hipóxica e, esta condição provoca o aparecimento de

sinais e sintomas importantes (cefaleia, perda de apetite, vômito, cansaço), os quais progridem para um

quadro mais severo, principalmente depois que ultrapassa 3000 metros de altitude. Embora seja difícil

definir nitidamente a que altitude começa de fato a desenvolver o quadro sintomatológico.

Palavras-chave: doença da altitude. pressão atmosférica. aclimatação. sinais e sintomas.

ABSTRACT The altitude sickness refers to a disturbance of the organism under low barometric pressure, especially

high altitude (between 3600 and 5400 meters - high altitude) and extreme attitude (above 5400 meters).

The objective of this work was to describe the symptomatological picture according to the different

altitudes present in the altitude sickness, and it is a bibliographic study that used those described in

health and its combinations for the research. In this work a total of 17 references were used (13 scientific

articles, 3 books and 1 work of conclusion of course). Deficiency of oxygen in the arterial blood

promotes hypoxic hypoxia, and this condition causes the appearance of important signs and symptoms

(headache, loss of appetite, vomiting, tiredness), which progress to a more severe condition, especially

after it exceeds 3000 meters altitude. Although it is difficult to clearly define how altitude actually begins

to develop the symptomatological picture.

Keywords: altitude sickness. atmospheric pressure. acclimatization. signs and symptoms.

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1 INTRODUÇÃO

O Mal Agudo da Montanha refere-se à um distúrbio, síndrome ou reação do organismo

submetido à baixa pressão atmosférica ou também denominada como baixa pressão barométrica

ou ambiente hipobárico (LEMOS et al., 2010; ALBUQUERQUE, 2013; SOUZA et al.; 2015).

Ressalta-se que o primeiro relato sobre o Mal Agudo da Montanha foi constatado em

Plutarco (46-120 depois de Cristo) ao observar a narrativa dos exercícios de Alexandre III e, o

segundo registro foi citado pela Dinastia Han em 30 antes de Cristo, onde era denominada

“Montanha da Grande Dor de Cabeça e Monte da Febre” (AMORIN, 2015).

O ar atmosférico é, em realidade, uma mistura de diferentes gases, por exemplo,

oxigênio, nitrogênio, argônio, anidrido carbônico, neônio, hélio, entre outros (PINILLA, 2014)

e, à medida que se atingem elevadas altitudes, ocorrem mudanças expressivas na fisiologia do

organismo, e os fatores atmosféricos são os que mais influenciam no aparecimento desses

distúrbios (POWERS; HOWLEY, 2014).

Referente à classificação das altitudes, destacam-se três zonas de altitude que podem

ocasionar problemas, sendo: moderada – entre 2400 e 3600 metros; alta – entre 3.600 e 5.400

metros e extrema – acima de 5400 metros (AMORIN, 2015). Assim, a cada conquista de uma

nova altitude é requerido uma permanência de alguns dias ou semanas, tempo suficiente, para

que o corpo se acostume com a nova hipóxia hipóxica (hipóxia decorrente da menor pressão de

oxigênio na atmosfera) e, esse processo de adaptação é amplamente conhecido como

aclimatação (LEMOS et al., 2010; TARABORELLI et al., 2010).

Deste modo, geralmente, o quadro sintomatológico ocorre, acima dos 3000 metros de

altitude e, estima-se que a metade das pessoas que permanecem acima de 3000 metros acima

do nível do mar, durante mais de seis horas, são afetadas pelo Mal Agudo da Montanha em

graus muito diversos, ou seja, podem desenvolver uma simples fadiga, mal estar, cefaleia,

respiração ofegante, como também palpitações severas e mal estar geral (AMORIN, 2015).

Caso não sejam respeitadas as recomendações preconizadas para a aclimatação

(repouso, ascender às grandes altitudes de maneira lenta e progressiva), os sintomas iniciais do

Mal Agudo da Montanha evoluem e, consequentemente, o indivíduo poderá desenvolver o

Edema Pulmonar Agudo e/ou do Edema Cerebral Agudo e, subsequentemente estes distúrbios

levam os indivíduos às graves complicações e, muitas vezes ao óbito (McARDLE; KATCH;

KATCH, 2013).

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Neste sentido, este estudo teve como objetivo descrever o quadro sintomatológico de

acordo com as diferentes altitudes, presente no Mal Agudo da Montanha.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O Mal da Montanha também é amplamente conhecido como Mal Agudo da Montanha,

Doença da Altitude, Doença Aguda da Montanha, Doença de Acosta, puna ou soroche e, o

primeiro relato sobre este distúrbio foi constatado em Plutarco (46-120 depois de Cristo) ao

observar a narrativa dos exercícios de Alexandre III. Em contrapartida, o segundo registro foi

citado pela Dinastia Han em 30 anos antes de Cristo, na qual viajantes chineses denominaram

uma grande altitude de “Montanha da Grande Dor de Cabeça e Monte da Febre”. Há outros

relatos antigos sobre este distúrbio, um nos Andes (o povo inca –1100-1533 anos depois de

Cristo, discorreu sobre o distúrbio, nomeando-o de “soroche”); outro descrito pelo padre Jesuíta

José de Acosta, durante sua estadia no Peru, no ano de 1590 e, um outro na Índia, por volta do

ano de 1630 (relatos provenientes de um dos primeiros jesuítas ao explorar o planalto tibetano)

(AMORIN, 2015).

Em contrapartida, Lemos et al. (2010) descreveram que somente no ano de 1922, é que

foi realizado um estudo exaustivo nos Andes Peruanos, por Carlos Monge, onde se verificou o

verdadeiro efeito da altitude sobre o sistema fisiológico. Contudo, Amorin (2015) enfatizou que

os estudos mais específicos e acurados iniciaram a partir do ano de 1968 quando ocorreram as

Olimpíadas na cidade do México, com altitude de 2240 metros e, em 1970 com a Copa do

Mundo de Futebol nessa mesma cidade. Contudo, o pioneiro da medicina de alta altitude foi o

médico inglês Thomas Holmes Ravenhill (1881-1952), o qual escreveu um artigo no ano de

1913 constando a classificação da doença, que ainda está em uso nos dias atuais. Salienta-se

que o texto apresentado na época (1913) continha as primeiras descrições sobre o Edema Agudo

Pulmonar e Edema Agudo Cerebral provenientes da alta altitude.

De acordo com Lemos et al. (2010), Albuquerque (2013) e Souza et al. (2015) o Mal

Agudo da Montanha refere-se à um distúrbio, síndrome ou reação do organismo submetido à

baixa pressão atmosférica ou também denominada como baixa pressão barométrica ou

ambiente hipobárico.

Adicionalmente, torna-se imprescindível salientar que vários gases compõem a

atmosfera, formando uma mistura transparente, incolor e inodora, conhecida como ar

atmosférico, sendo que os gases mais pesados concentram-se próximos à superfície da terra e,

os gases mais leves ficam mais distantes e, isso ocorre devido à força da gravidade (PINILLA,

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2014). Deste modo, a pressão barométrica é uma somatória das pressões parciais de vários gases

que nela estão presentes, como nitrogênio, oxigênio, vapor d’água, dióxido de carbono e outros

gases inerentes (POWERS; HOWLEY, 2014). Portanto, o ar atmosférico é, em realidade, uma

mistura de gases, formada, essencialmente, por nitrogênio (78,08%), oxigênio (20,95%),

argônio (0,93%), anidrido carbônico (0,03%), neônio (0,02%) e o hélio (0,005%). Em pequenas

porcentagens, ainda encontram-se traços de criptônio, hidrogênio, xenônio, ozônio, metano,

protóxido de nitrogênio e radônio (PINILLA, 2014).

Ao nível do mar, a pressão barométrica corresponde à 760 milímetros de mercúrio

(mmHg), sendo que desta pressão, um total de 159,2 mmHg equivale à pressão parcial de

oxigênio (PO2). Contudo, quanto mais elevada vai se tornando a altitude, menor será a pressão

barométrica e, consequentemente menor será a PO2 e dos demais gases (POWERS; HOWLEY,

2014). Sabe-se que quanto mais se ascende para as regiões de elevadas altitudes, mais rarefeito

/ leve se torna a camada de ar. Ao nível do mar, a pressão barométrica corresponde à 760

mmHg; nos primeiros 1500 metros, a queda da pressão barométrica é muito rápida, 8,25 mmHg

para cada 100 metros verticais, em média; enquanto que, mais acima, a queda é mais lenta, a

5000 metros a pressão barométrica corresponde à 500 mmHg (AMORIN, 2015).

Deste modo, no ponto mais alto do monte Everest, numa altitude de 8.848 metros, por

exemplo, a pressão barométrica atinge o valor de aproximadamente 250 mmHg e a PaO2 atinge

aproximadamente 51 mmHg (OLIVEIRA, 2010). Adicionalmente, ressalta-se ainda que a

pressão barométrica não é um elemento constante, ou seja, sofre alterações de acordo com a

época do ano, clima e local específico onde é realizada a mensuração, deste modo, usando

novamente o monte Everest como exemplo, a pressão barométrica pode oscilar entre 243

mmHg em janeiro e 255 mmHg em junho/julho. Porém, mesmo com todas as alterações da

pressão barométrica, o percentual de oxigênio (O2) presente no ar segue inalterado, tanto ao

nível do mar quanto em elevadas altitudes, ou seja, o percentual de O2 na atmosfera sempre

corresponderá à 20,95% (TARABORELLI et al., 2010; McARDLE; KATCH; KATCH, 2013).

À medida que se atingem elevadas altitudes, surgem mudanças na fisiologia do

organismo, e os fatores atmosféricos são os que mais influenciam no aparecimento de

problemas fisiológicos quando os indivíduos estão expostos à altitude. O grande desafio da

altitude não resulta diretamente da pressão barométrica total reduzida, nem de qualquer

mudança nas concentrações relativas dos gases inspirados no ar e sim da menor pressão de

oxigênio no ambiente (PO2) (POWERS; HOWLEY, 2014).

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A classificação das altitudes em baixas, médias e/ou altas, é possível ao considerar a

função da natureza da atividade praticada e, principalmente em função dos efeitos da altitude

sobre o organismo humano, ou seja, a partir de 2400 metros de altitude, as pessoas já começam

a sentir os efeitos da mudança na PO2 e, deste modo, destacam-se três zonas de altitude que

podem ocasionar problemas, sendo: moderada – entre 2400 e 3600 metros; alta – entre 3.600 e

5.400 metros e extrema – acima de 5400 metros (Figura 1) (AMORIN, 2015).

FIGURA 1 – Classificação das altitudes.

fonte – Amorin (2015), p. 37.

Um outro ponto importante que deve ser considerado ao se estudar as altitudes, condiz

com a temperatura da atmosfera, a qual também varia significativamente conforme se atinge

altitudes mais elevadas. Isto se deve ao aquecimento do ar pela ação solar também ser variável,

ou seja, os raios solares atingem a atmosfera com um ângulo muito pequeno nas regiões polares

e quase de forma perpendicular ao nível do Equador, logo, isto faz com que a altitude da

atmosfera seja menor nos pólos do que no Equador, pela expansão dos gases em maiores

temperaturas (PINILLA, 2014).

Desta forma, a temperatura do ar cai numa taxa de aproximadamente 1° Celsius para

cada 150 metros de subida. A temperatura média próxima do ápice do Monte Everest é estimada

em cerca de 40° Celsius negativos, ao passo que ao nível do mar ela é de aproximadamente 15°

Celsius. O ar frio retém muito pouca água e, consequentemente a umidade absoluta também

diminui e, com este comportamento pode ocorrer com grande facilidade a desidratação, sendo

que o indivíduo perde grande volume de água corporal através da evaporação respiratória

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(aumento da frequência respiratória) e da transpiração durante o exercício na altitude em razão

do ar seco (McARDLE; KATCH; KATCH, 2013; POWERS; HOWLEY, 2014).

Durante os anos em que os alpinistas tentaram escalar os picos mais altos do mundo,

sempre houve uma expressiva preocupação voltada para as adaptações advindas de forma

progressiva com a conquista de cada nova altitude e, este processo denomina-se aclimatação,

ou seja, refere-se às respostas adaptativas na fisiologia e no metabolismo que aprimoram a

tolerância individual à hipóxia que decorre da altitude (LEMOS et al., 2010).

Segundo Amorin (2015) a cada 1000 metros que o indivíduo ascende às grandes

altitudes, a temperatura externa cai em 6,5º graus Celsius e, além disso, os ventos são mais

fortes e a radiação solar é gradativamente mais intensa, predispondo o indivíduo às importantes

queimaduras de pele; o vapor de água diminui, gerando um ar muito seco e promovendo a

desidratação do organismo e, sobretudo, os fatores de resfriamento são mais predisponentes à

hipotermia ou ao congelamento.

Em relação à intensidade da radiação solar, percebe-se que conforme atinge as altas

altitudes a atmosfera fica gradativamente menos densa e mais seca (com menor quantidade de

vapor d’água) e, consequentemente o indivíduo fica mais vulnerável a luz solar (SOUZA et al.,

2015).

Considera-se aclimatação um mecanismo complexo de mudanças fisiológicas

reversíveis que o corpo humano realiza quando exposto em elevadas altitudes por tempo

prolongado e, geralmente ocorre num período superior entre duas a três semanas

(TARABORELLI et al., 2010).

Assim, a cada conquista de uma nova altitude é requerido uma permanência de alguns

dias ou semanas, tempo suficiente, para que o corpo se acostume com a nova hipóxia hipóxica

(hipóxia decorrente da menor PO2) (AMORIN, 2015).

A hipóxia hipóxica é o elemento fundamental para a aclimatação, visto ser ela que

estimula os mecanismos da aclimatação, dependendo da altitude e da duração da permanência

do indivíduo nestes locais, assim, uma pessoa que permanece em altitudes elevadas por dias,

semanas ou anos, torna-se mais aclimatada, de modo que ela produz menos efeitos prejudiciais

ao corpo e também torna possível trabalhar mais ou subir às altitudes maiores, sem apresentar

nenhum tipo de manifestação sintomatológica indesejada (GRANJA; NEVES, CALLES,

2016). Como orientação básica geral, são necessárias aproximadamente duas semanas para se

adaptar a altitudes de até 2300 metros. Daí em diante, para cada aumento de 610 metros na

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altitude, o indivíduo necessitará de uma semana para a adaptação completa, até uma altitude de

cerca de 4600 metros (AMORIN, 2015).

Portanto, o tempo necessário para a aclimatação depende da altitude, isto é, para 2700

metros, cerca de 7 a 10 dias; para 3600 metros, de 15 a 21 dias e para 4600 metros, de 21 a 25

dias. Esses valores demonstram simples aproximações, pois grande parte depende do próprio

indivíduo (MARQUES JUNIOR, 2012; ALBUQUERQUE, 2013).

Segundo Amorin (2015) a aclimatação ocorre através de etapas e, caso o indivíduo

venha apresentar algum sintoma / sinal indesejado, ele deverá retornar para uma altitude inferior

cerca de 300 metros, para dormir, visto que durante o descanso / repouso numa altitude inferior,

ocorrerá uma redução consideravelmente dos efeitos da altitude, dando mais tempo para que o

corpo se adapte. Além disso, também é aconselhado que ao atingir uma altitude elevada, o

indivíduo deverá retornar à um nível mais baixo para o descanso (dormir).

Por outro lado, Souza et al. (2015) relataram que a aclimatação ocorre quando o

indivíduo fica exposto por dias à uma determinada altitude, comumente um período de duas a

três semanas, passa a existir uma adaptação fisiológica crônica àquelas condições ambientais.

Vale a pena destacar que o processo de aclimatação dos nativos que vivem em altitudes

elevadas começa no período neonatal. O tamanho do tórax é muito aumentado, enquanto o

tamanho do corpo é reduzido, resultando numa elevação da relação entre a capacidade

ventilatória e a massa corporal. Além disso, o lado direito do coração dos nativos de elevadas

altitudes é muito maior comparado ao lado direito do coração dos habitantes das terras baixas

(nível do mar), pois, fornece uma elevada pressão arterial pulmonar para bombear o sangue

pelo sistema capilar pulmonar, que está muito expandido. Assim, o fornecimento sanguíneo de

O2 aos tecidos também é facilitado nesses nativos. Em todos os aspectos da aclimatação, os

nativos das altitudes elevadas são superiores, até mesmo aos mais bem aclimatados habitantes

de terras baixas, ainda que os mesmos possam ter vivido em grandes altitudes por 10 anos ou

mais (McARDLE; KATCH; KATCH, 2013).

Entre as mais importantes alterações fisiológicas que ocorrem durante a aclimatação

destacam-se: 1) aumento do impulso respiratório, resultando em uma hiperventilação pulmonar;

2) aumento no fluxo sanguíneo no repouso ou no exercício submáximo, o que levará a um

aumento da concentração sanguínea das hemácias; 3) aumento da capacidade de difusão dos

gases nos pulmões; 4) aumento da vascularização dos tecidos e, 5) aumento da capacidade das

células utilizarem o oxigênio apesar da baixa PO2 (GRANJA; NEVES, CALLES, 2016).

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3 METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de um estudo bibliográfico, ou também denominado de

fontes secundárias, que compreende a bibliografia tida como pública em relação ao tema

proposto de estudo (publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas,

monografias, teses, material cartográfico, meios de comunicação oral – rádio, gravações em fita

magnética e audiovisuais, entre outras (MARCONI; LAKATOS, 2010).

Deste modo, como estratégia para a pesquisa do assunto proposto considerou-se os

descritores em saúde utilizados como palavras-chave e suas combinações nos idiomas

português, espanhol e inglês: doença da altitude / mal de altura / altitude sickness; pressão

atmosférica / presión atmosférica / atmospheric pressure; aclimatação / aclimatación /

aclimatization; sinais e sintomas / signos y sintomas / signs and symptoms. Ressalta-se ainda

que na busca dos conteúdos sobre o tema proposto levou-se em consideração os seguintes

aspectos: a) locais de publicação: Literatura Latino-Americano e do Caribe em Ciência e Saúde

(LILACS); Scientific Electronic Library Online (SCIELO); Biblioteca Virtual em Saúde

(BVS); Google Acadêmico e, Acervo da Biblioteca da Faculdade São Paulo (FSP) e, b) os tipos

de publicações: livros, artigos, periódicos, dissertações, teses – todos com a descrição na íntegra

e que abordavam sobre o Mal Agudo da Montanha, especialmente referente ao quadro

sintomatológico desenvolvido nas diferentes altitudes.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No presente estudo foram encontrados 58 trabalhos científicos voltados para o mal

agudo da montanha e, ao considerar as palavras-chave utilizadas, os locais de publicação e os

tipos de publicações, conforme descrito na metodologia, pôde-se constatar que somente 15

referências mencionaram sobre o contexto do quadro sintomatológico em função das diferentes

altitudes, as quais foram utilizadas no presente estudo. Deste total de referências utilizadas no

presente estudo, a maioria correspondeu à artigo científico (12), apenas um corresponde à

trabalho de conclusão de curso e, os demais são livros do acervo da Biblioteca da Faculdade

São Paulo de Rolim de Moura-Estado de Rondônia, conforme demonstrado no Quadro 1.

O quadro sintomatológico presente nos indivíduos submetidos às altitudes elevadas

derivam, excepcionalmente da diminuição da pressão barométrica, o que consequentemente

afeta diretamente a PO2 e, sobretudo a pressão parcial do oxigênio arterial (PaO2), visto que

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este é diretamente proporcional à quantidade de O2 que pode estar fisicamente dissolvido no

sangue (AMORIN, 2015; GRANJA; NEVES, CALLES, 2016).

Sendo assim, a hipóxia definida como uma deficiência de O2 no sangue arterial,

promove uma importante diminuição no número de moléculas de O2 disponível para um bom

funcionamento celular, sendo suficiente para causar o impedimento da sua função fisiológica.

A instalação insidiosa da hipóxia é o aspecto mais ameaçador na conquista de altitudes elevadas

(PINILLA, 2014) e, de acordo com Powers e Howley (2014) ela pode ser aguda (aparece

durante as 10 primeiras horas de exposição à altitude) ou crônica (deve-se à uma exposição

prolongada a altitude).

Quadro 1 – Trabalhos científicos utilizados no presente estudo.

Artigos científicos

Alves et al., 2010

Amorin, 2015

Cereceda, Sanchez e Molina-Mula, 2017

Faria et al., 2005

Fiori e Scott, 2010

Granja, Neves e Calles, 2016

Lemos et al., 2010

Marques Junior, 2012

Oliveira et al., 2010

Pinilla, 2014

Souza et al., 2015

Taraboreli et al., 2010

Trabalho de Conclusão de Curso Albuquerque, 2013

Livros Powers e Honley, 2014

Mcadle, Katch e Katch, 2013

Fonte – elaborado pelas autoras.

Esta hipóxia decorrente da ascensão às altitudes elevadas denomina-se hipóxia hipóxica

ou barométrica e, fisiologicamente ocorre devido uma troca gasosa inadequada nas membranas

alvéolo-capilar, a qual, provavelmente, é causada por uma PO2 inadequada no ar inspirado.

Adicionalmente, um suprimento insuficiente de O2 para o sangue resulta em uma deficiência

de O2 para os tecidos, o que representa a causa mais comum de hipóxia encontrada na altitude

e pode se instalar a partir do momento que atinge uma altitude correspondente aos 3048 metros

(OLIVEIRA et al., 2010; SOUZA et al., 2015).

De acordo com Pinilla (2014) a saturação de oxigênio sanguíneo (SaO2) na altitude de

3048 metros sofre uma importante diminuição (correspondente à 87%) sendo que, ao nível do

mar essa SaO2 equivale à 98%. Todavia, até uma altitude de 3000 metros, a SaO2 continua

dentro dos parâmetros de normalidade, ou seja, até pelo menos 90%; porém, acima de 3000

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metros de altitude há uma queda progressiva nessa SaO2, sendo de 70% à uma altitude de 6100

metros, onde a pressão de oxigênio alveolar é reduzida para cerca de 40 mmHg na pessoa não

aclimatada, e bem menos em altitudes mais elevadas.

Em uma altitude de 1981 metros a pressão do O2 alveolar é reduzida para 78 mmHg;

porém, a hemoglobina ainda possui 90% de SaO2. Embora essa redução relativamente pequena

na quantidade de O2 carreada pelo sangue não produza um efeito significante nos indivíduos

durante o repouso ou até mesmo ao realizar exercícios leves, os exercícios aeróbicos e intensos

serão bastante comprometidos com a altitude (POWERS; HOWLEY, 2014).

De acordo com Cereceda-Sánchez e Molina-Mula (2017), seria comum observar uma

queda na PaO2 antes da queda SaO2, caso não ocorresse o equilíbrio instantaneamente. Nesse

equilíbrio a SaO2 da hemoglobina é igual a quantidade de hemoglobina combinada com o O2,

e com isso observa-se que há mudança em ambos os lados da equação, pois quanto mais O2 for

oferecido ao sistema, mais O2 se ligará à hemoglobina; sendo que quanto mais O2 dissolvido

no plasma for usado pelos tecidos ou não for reposto através de adequada troca pulmonar, mais

O2 será deslocado dessa hemoglobina, diminuindo mais a SaO2. Ressalta-se que o conteúdo de

O2 é a soma do O2 hemoglobínico com o O2 livre no sangue.

Para uma variação de 30 mmHg na PaO2, observa-se uma variação de apenas 4,8% na

SaO2, e este comportamento da hemoglobina de variar pouco a sua SaO2 (mesmo com grande

variação da PaO2), contribui para uma das maiores proteções contra a hipóxia, protegendo os

tecidos e permitindo que captem grandes quantidades de O2 do sangue com pequenas quedas

na PaO2 (OLIVEIRA et al., 2010; PINILLA, 2014).

Existe para a PaO2 um valor considerado como limítrofe, sendo de 60 mmHg, que

corresponde a uma SaO2 de 90%. Valores abaixo desse, ocasionam dessaturações importantes.

Por outro lado, se a SaO2 estiver acima de 95%, um aumento da PaO2 não indica incremento

significativo na mesma. Deste modo, um ponto crítico, ao qual se deve estar atento, é quando a

SaO2 encontra-se em valores inferiores a 95% (CERECEDA-SÁNCHEZ; MOLINA-MULA,

2017). Em altitudes entre 2500 e 5000 metros, cerca de 20% a 90% dos indivíduos que não

estão aclimatados irão apresentar sintomas leves do Mal Agudo da Montanha. A prevalência

dessa síndrome, nos Alpes suíços, varia de 9% (as altitudes correspondentes aos 2850 metros)

à 53% (altitudes correspondentes aos 4559 metros). Na região do Monte Everest,

aproximadamente 50% dos mochileiros (treckkers) que caminham em altitudes acima de 4000

metros, também apresentam sinais e sintomas importantes (FIORI; SCOTT, 2010;

ALBUQUERQUE, 2013).

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Para Fiori e Scott (2010) dentre os aspectos sintomatológicos provenientes da hipóxia

hipóxica, o mais importante é a diminuição da proficiência mental, que compromete o

julgamento, a memória e o desempenho dos movimentos motores discretos. A inconsciência

decorrente da hipóxia é uma preocupação séria para os indivíduos que atingem elevadas

altitudes. A quantidade de tempo que esse indivíduo é capaz de executar as funções críticas em

um ambiente deficiente de O2 é referida como tempo de desempenho efetivo ou tempo de

consciência útil.

Dentre os sinais e sintomas agudos evidentes e importantes da hipóxia hipóxica,

observados a partir de uma altitude de aproximadamente 3700 metros, encontram-se:

sonolência; prostração; fadiga mental e muscular; cefaleia; náuseas e algumas vezes euforia;

sendo que estes sinais e sintomas podem progredir para um estágio mais preocupante, com

abalos e convulsões, principalmente considerando a altitude superior a 5500 metros e, a partir

dos 7000 metros de altitude, a pessoa não aclimatada pode facilmente desenvolver o coma

(MARQUES JUNIOR, 2012).

Os sintomas que, habitualmente regridem dentro de alguns dias, referentes ao Mal

Agudo da Montanha, incluem a cefaleia (sintoma mais frequente, provavelmente devido à

dilatação dos vasos sanguíneos cerebrais) que persiste mais no período noturno; apatia;

vertigens; náuseas; constipação; vômitos; débito urinário deprimido (até mesmo com uma

hidratação adequada); falta de coordenação motora; tosse; pressão no peito; respiração

irregular; perda de apetite; visão turva; insônia e fraqueza generalizada (McARDLE; KATCH;

KATCH, 2013).

De acordo com Taraborelli et al. (2010), a cefaleia está presente em 96% dos indivíduos

que ascendem as altitudes elevadas e, em segundo lugar encontra-se a insônia (70%), em

terceiro e quarto lugar destacam-se a perda de apetite e as náuseas, com 38% e 35%,

respectivamente.

Adicionalmente, a supressão do apetite pode ser intensa durante os estágios iniciais da

permanência em uma altitude elevada, resultando em uma redução média de 40% da ingestão

energética, assim como uma perda concomitante da massa corporal. Em geral, uma dieta rica

em carboidratos tende a aprimorar a tolerância às altitudes, reduzir a intensidade dos sintomas

/ sinais do Mal Agudo da Montanha, e melhorar a queda no desempenho físico durante os

primeiros estágios de exposição a uma determinada altitude (PINILLA, 2014).

Segundo Alves et al. (2008) a visão é o primeiro sentido a ser prejudicado pela

diminuição de O2 tecidual, sendo tal fato evidenciado pela diminuição da visão noturna.

Revista Saberes da Faculdade São Paulo – FSP

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Percebe-se um enfraquecimento e incoordenação da musculatura extra-ocular, bem como, uma

diminuição da amplitude de acomodação, gerando uma visão borrada para perto. O prejuízo na

visão é decorrente a partir das seguintes alterações: os vasos retinianos escurecem e ficam

cianóticos; as arteríolas para compensar, aumentam o seu diâmetro em 10% a 20%; o volume

de sangue na retina aumenta em aproximadamente quatro vezes; ocorre leve aumento pressórico

nas arteríolas retinianas e ao longo de todo sistema pressórico vascular e, consequentemente o

diâmetro pupilar diminui.

Para Fiori e Scott (2010), o sintoma primário para diagnosticar o Mal Agudo da

Montanha é a cefaleia, embora este sintoma também esteja presente na ocasião em que o

indivíduo se desidrata. Por conseguinte, para o correto diagnóstico, os especialistas informam

que o paciente precisa estar com cefaleia a uma altitude de pelo menos 2500 metros, bem como,

apresentar, pelo menos, um dos sinais e sintomas descritos na sequência: a) falta de apetite,

náuseas ou vômitos; b) exaustão ou fraqueza; c) tonturas (vertigens); d) insônia; e) câimbras; f)

ofegância (falta de ar ao esforço); g) sonolência; h) mal-estar geral e, i) inchaço das mãos, pés

e face (edema periférico).

De acordo com Lemos et al. (2010) os indivíduos expostos a uma altitude de 610 a 2440

metros acima do nível do mar já podem apresentar alterações na aprendizagem e, em altitudes

superiores à 3500 metros, podem ocorrer comportamento de ansiedade, bem como, cefaleia,

insônia, taquicardia, falta de ar e vertigens, semelhantes aos relatos de ataques de pânico ou de

ansiedade severa. Os autores ainda apresentaram que esse quadro é decorrente da

hiperventilação em consequência da hipóxia, que pode levar a uma diminuição das

concentrações de dióxido de carbono no sangue arterial. Além disso, também demonstraram

que nas altitudes de 5000 metros, os efeitos da hipóxia podem produzir no organismo menor

resistência muscular nos braços e nas pernas, expressiva cefaleia, tonturas, dificuldades para

respirar e, sobretudo, alterações visuomotoras, mudanças de personalidade (como sintomas

obsessivo-compulsivos e hostilidade).

A partir de 3500 metros de altitude, há uma diminuição perceptível da PO2 e,

consequentemente o corpo irá receber menos O2 e, assim será necessário aumentar a frequência

respiratória. Essa situação impõe um aumento na produção de hemoglobina e um subsequente

espessamento dos vasos e inchamento dos alvéolos pulmonares, além de produzir mais dióxido

de carbono que envenena o cérebro, acarretando os sintomas como cefaleia, náusea, falta de

apetite, insônia, visão turva e cansaço (ALBUQUERQUE, 2013).

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Geralmente, o quadro sintomatológico ocorre, acima dos 3000 metros de altitude.

Estima-se que a metade das pessoas que permanecem acima de 3000 metros acima do nível do

mar, durante mais de seis horas, são afetadas pelo Mal Agudo da Montanha em graus muito

diversos (AMORIN, 2015). Assim, para melhor compreensão o autor em questão realizou uma

busca sistemática na literatura e, a partir de 10 trabalhos científicos que descreveram as

informações sobre os sintomas e sinais do Mal Agudo das Montanhas, ele pôde concluir que a

cefaleia é o sintoma mais prevalente, foi referido nos 10 artigos investigados, seguido da náusea

(9), perda de apetite (8); insônia (7); cansaço / fadiga, respiração ofegante, vômito (6) e; todas

os demais sinais e sintomas foram citados apenas em um dos artigos, sendo eles: desidratação,

diminuição da diurese, fraqueza, câimbras, sonolência, mal estar geral, edema nas mãos e nos

pés, palpitações severas, dispneia e irritabilidade

De acordo com Mcardle, Katch e Katch (2013), se não forem respeitadas as

recomendações descritas anteriormente (repouso, ascender às grandes altitudes de maneira lenta

e progressiva) os sintomas iniciais do Mal Agudo da Montanha poderão evoluir e,

consequentemente, agravar-se, podendo predispor o indivíduo ao desenvolvimento do Edema

Pulmonar Agudo e/ou do Edema Cerebral Agudo. Além disso, os autores ainda descreveram

que é possível determinar qual é a manifestação predominante levando em consideração a

localização da altitude, a ocorrência de acordo com o período (dias) de ascensão da montanha,

os sintomas e sinais que prevalecem, como demonstrado no Quadro 2.

O Edema Agudo Pulmonar decorrente do Mal Agudo das Montanhas está presente em

apenas 2% das pessoas que permanecem pouco tempo em altitudes muito elevadas e, a possível

causa para essa enfermidade pode ser o aumento na pressão da artéria pulmonar, o que causaria

o acúmulo de líquidos nos pulmões (FARIA et al., 2005).

QUADRO 2 – Principais efeitos fisiológicos causados pela exposição à elevada altitudes altitudes.

Variáveis Mal Agudo da Montanha Edema Pulmonar Agudo Edema Cerebral Agudo

Altitude

(metros) Acima de 2400 Acima de 3050 Acima de 3660

Ocorrência

(dias) 1 a 2 dias após a subida

3 a 4 dias após a subida, ou

possivelmente mais tarde

4 a 7 dias após a subida,

ou possivelmente mais

tarde

Sintomas Cefaleia, letargia, distúrbios

do sono, anorexia, náuseas.

Dispneia em repouso,

debilidade (fraqueza

muscular) e tosse.

Cefaleia intensa,

confusão mental e

alucinações.

Sinais Leve taquicardia, possível

edema periférico.

Taquicardia, taquipnéia,

febre baixa e cianose.

Ataxia, sinais

neurológicos e visuais,

hemorragia retiniana.

fonte – Faria et al. (2005); Mcardle, Katch e Katch (2013) (elaborado pelas autoras).

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De acordo com Albuquerque (2013) o indivíduo que desenvolve o Edema Agudo

Pulmonar pode apresentar cianose (tom azulado) nos lábios, nas extremidades do corpo e com

frequência nas orelhas, devido à falta de O2 no sangue. Além disso, a tosse é frequente e

inicialmente seca e, nos casos mais avançados produzirá uma espuma rosada, bem como,

catarros avermelhados.

Em contrapartida, no Edema Agudo Cerebral, condizente com o Mal Agudo das

Montanhas, o indivíduo apresentará os sintomas iniciais de cefaleia, porém exacerbados e,

caracteriza-se por uma grande vasodilatação cerebral (resultado de um acúmulo excessivo de

líquidos nesta região) (FARIA et al., 2005).

Albuquerque (2013) descreveu que clínica e patologicamente o Edema Agudo Cerebral

é o estágio final do Mal Agudo da Montanha e, é o distúrbio que mais leva aos óbitos. Nesta

ocasião o cérebro fica edemaciado pela retenção de líquido, provocando um aumento

expressivo da pressão intracraniana e, o indivíduo apresentará náuseas, perda de apetite, uma

significativa cefaleia, vômitos, confusão mental, dificuldade na tomada de decisões, perda da

coordenação motora (paralisia de um hemicorpo), alteração da visão (papiledema), problemas

com a memória e, eventualmente, coma seguido de morte, que ocorre pela herniação cerebral.

De acordo com Lemos et al. (2010) uma em cada oito pessoas que escolhem escalar a

maior montanha do mundo, Monte Everest, com 8848 metros de altitude, morre. Além disso,

uma em cada quatro pessoas que atingem o objetivo (atingem o cume da montanha) vão á óbito

durante a descida ou durante a subida logo após uma longa exposição à altitude.

É difícil de definir nitidamente a que altitude o quadro sintomatológico aparece, pois

varia de pessoa para pessoa e, leva em conta os aspectos biológicos e estilo de vida de cada um

(ALBUQUERQUE, 2013).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De modo geral, observa-se que o quadro sintomatológico decorrente da exposição às

altitudes elevadas altera negativamente inúmeras funções do organismo, assim, uma exposição

a uma região com altitude de 610 a 2440 metros acima do nível do mar, já é suficiente para os

indivíduos já começarem a apresentar alterações na aprendizagem e, em altitudes superiores

aos 3500 metros, podem ocorrer comportamento de ansiedade, bem como, cefaleia, insônia,

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taquicardia, falta de ar e vertigens, semelhantes aos relatos de ataques de pânico ou de ansiedade

severa.

Por conseguinte, para afirmar que o indivíduo se encontra com o Mal Agudo da

Montanha, é preciso que apresente cefaleia a uma altitude de pelo menos 2500 metros, bem

como, apresentar, pelo menos, um dos seguintes sinais e sintomas (falta de apetite, náuseas ou

vômitos; exaustão ou fraqueza; tonturas (vertigens); insônia; câimbras; ofegância (falta de ar

ao esforço); sonolência; mal-estar geral e, edema nas mãos, pés e face (edema periférico).

Adicionalmente, caso o indivíduo não atenda as exigências que impedem o

aparecimento e a evolução dos sintomas (repouso, ascender às grandes altitudes de maneira

lenta e progressiva, uso de medicamentos), os sintomas iniciais do Mal Agudo da Montanha

poderão evoluir e, consequentemente, agravar-se, podendo predispor o indivíduo ao

desenvolvimento do Edema Pulmonar Agudo (acúmulo excessivo de líquido nos pulmões

decorrente do aumento na pressão da artéria pulmonar) e/ou do Edema Cerebral Agudo

(aumento da pressão intracraniana pelo aumento da presença de líquido), sendo que este último

é o distúrbio que mais leva aos óbitos.

Deste modo, embora seja difícil definir nitidamente a que altitude começa de fato a

desenvolver o quadro sintomatológico, pois varia de pessoa para pessoa e, leva em conta os

aspectos biológicos e estilo de vida de cada um, é imprescindível e desejável que mais estudos

a respeito da temática sejam realizados a fim de investigar os mecanismos específicos

envolvidos no desenvolvimento de cada sinal e sintoma que advém a partir do momento que se

avança para novas altitudes e, sobretudo, cada vez mais elevadas.

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