mal agudo da montanha: descrisÇÃo do quadro … · 2018-10-09 · revista saberes da faculdade...
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Revista Saberes da Faculdade São Paulo – FSP
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1 Acadêmica do 4º Período do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade São Paulo – FSP – Rolim de
Moura-RO. E-mail: [email protected]. 2 Mestra em Fisioterapia Cardiorrespiratória, Docente do Curso de Bacharelado em Fisioterapia da Faculdade São
Paulo – FSP – Rolim de Moura-RO, orientadora do presente trabalho. E-mail: [email protected]. 6 Mestra em Ciências Ambientais, coordenadora e docente do Curso de Bacharelado em Fisioterapia
MAL AGUDO DA MONTANHA: DESCRISÇÃO DO QUADRO
SINTOMATOLÓGICO EM FUNÇÃO DAS DIFERENTES ALTITUDES
Érica Ferreira Teixeira1
Daiane da Silva Gobbi2
Dayane Cristina da Silva3
Nathalia Zanelato Miranda4
Neide Garcia Ribeiro Castilho5
Jéssica Jamali Lira6
RESUMO
A doença da altitude refere-se à um distúrbio do organismo submetido à baixa pressão barométrica,
especialmente elevada altitude (entre 3600 e 5400 metros – elevada altitude) e extrema atitude (acima
de 5400 metros). O objetivo deste trabalho foi descrever o quadro sintomatológico de acordo com as
diferentes altitudes, presente na doença da altitude e, trata-se de um estudo bibliográfico que utilizou os
descritos em saúde e suas combinações para a pesquisa. Neste trabalho utilizou-se um total de
15referências (13 artigos científicos, 2 livros e 1 trabalho de conclusão de curso). A deficiência do
oxigênio no sangue arterial promove a hipóxia hipóxica e, esta condição provoca o aparecimento de
sinais e sintomas importantes (cefaleia, perda de apetite, vômito, cansaço), os quais progridem para um
quadro mais severo, principalmente depois que ultrapassa 3000 metros de altitude. Embora seja difícil
definir nitidamente a que altitude começa de fato a desenvolver o quadro sintomatológico.
Palavras-chave: doença da altitude. pressão atmosférica. aclimatação. sinais e sintomas.
ABSTRACT The altitude sickness refers to a disturbance of the organism under low barometric pressure, especially
high altitude (between 3600 and 5400 meters - high altitude) and extreme attitude (above 5400 meters).
The objective of this work was to describe the symptomatological picture according to the different
altitudes present in the altitude sickness, and it is a bibliographic study that used those described in
health and its combinations for the research. In this work a total of 17 references were used (13 scientific
articles, 3 books and 1 work of conclusion of course). Deficiency of oxygen in the arterial blood
promotes hypoxic hypoxia, and this condition causes the appearance of important signs and symptoms
(headache, loss of appetite, vomiting, tiredness), which progress to a more severe condition, especially
after it exceeds 3000 meters altitude. Although it is difficult to clearly define how altitude actually begins
to develop the symptomatological picture.
Keywords: altitude sickness. atmospheric pressure. acclimatization. signs and symptoms.
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1 INTRODUÇÃO
O Mal Agudo da Montanha refere-se à um distúrbio, síndrome ou reação do organismo
submetido à baixa pressão atmosférica ou também denominada como baixa pressão barométrica
ou ambiente hipobárico (LEMOS et al., 2010; ALBUQUERQUE, 2013; SOUZA et al.; 2015).
Ressalta-se que o primeiro relato sobre o Mal Agudo da Montanha foi constatado em
Plutarco (46-120 depois de Cristo) ao observar a narrativa dos exercícios de Alexandre III e, o
segundo registro foi citado pela Dinastia Han em 30 antes de Cristo, onde era denominada
“Montanha da Grande Dor de Cabeça e Monte da Febre” (AMORIN, 2015).
O ar atmosférico é, em realidade, uma mistura de diferentes gases, por exemplo,
oxigênio, nitrogênio, argônio, anidrido carbônico, neônio, hélio, entre outros (PINILLA, 2014)
e, à medida que se atingem elevadas altitudes, ocorrem mudanças expressivas na fisiologia do
organismo, e os fatores atmosféricos são os que mais influenciam no aparecimento desses
distúrbios (POWERS; HOWLEY, 2014).
Referente à classificação das altitudes, destacam-se três zonas de altitude que podem
ocasionar problemas, sendo: moderada – entre 2400 e 3600 metros; alta – entre 3.600 e 5.400
metros e extrema – acima de 5400 metros (AMORIN, 2015). Assim, a cada conquista de uma
nova altitude é requerido uma permanência de alguns dias ou semanas, tempo suficiente, para
que o corpo se acostume com a nova hipóxia hipóxica (hipóxia decorrente da menor pressão de
oxigênio na atmosfera) e, esse processo de adaptação é amplamente conhecido como
aclimatação (LEMOS et al., 2010; TARABORELLI et al., 2010).
Deste modo, geralmente, o quadro sintomatológico ocorre, acima dos 3000 metros de
altitude e, estima-se que a metade das pessoas que permanecem acima de 3000 metros acima
do nível do mar, durante mais de seis horas, são afetadas pelo Mal Agudo da Montanha em
graus muito diversos, ou seja, podem desenvolver uma simples fadiga, mal estar, cefaleia,
respiração ofegante, como também palpitações severas e mal estar geral (AMORIN, 2015).
Caso não sejam respeitadas as recomendações preconizadas para a aclimatação
(repouso, ascender às grandes altitudes de maneira lenta e progressiva), os sintomas iniciais do
Mal Agudo da Montanha evoluem e, consequentemente, o indivíduo poderá desenvolver o
Edema Pulmonar Agudo e/ou do Edema Cerebral Agudo e, subsequentemente estes distúrbios
levam os indivíduos às graves complicações e, muitas vezes ao óbito (McARDLE; KATCH;
KATCH, 2013).
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Neste sentido, este estudo teve como objetivo descrever o quadro sintomatológico de
acordo com as diferentes altitudes, presente no Mal Agudo da Montanha.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O Mal da Montanha também é amplamente conhecido como Mal Agudo da Montanha,
Doença da Altitude, Doença Aguda da Montanha, Doença de Acosta, puna ou soroche e, o
primeiro relato sobre este distúrbio foi constatado em Plutarco (46-120 depois de Cristo) ao
observar a narrativa dos exercícios de Alexandre III. Em contrapartida, o segundo registro foi
citado pela Dinastia Han em 30 anos antes de Cristo, na qual viajantes chineses denominaram
uma grande altitude de “Montanha da Grande Dor de Cabeça e Monte da Febre”. Há outros
relatos antigos sobre este distúrbio, um nos Andes (o povo inca –1100-1533 anos depois de
Cristo, discorreu sobre o distúrbio, nomeando-o de “soroche”); outro descrito pelo padre Jesuíta
José de Acosta, durante sua estadia no Peru, no ano de 1590 e, um outro na Índia, por volta do
ano de 1630 (relatos provenientes de um dos primeiros jesuítas ao explorar o planalto tibetano)
(AMORIN, 2015).
Em contrapartida, Lemos et al. (2010) descreveram que somente no ano de 1922, é que
foi realizado um estudo exaustivo nos Andes Peruanos, por Carlos Monge, onde se verificou o
verdadeiro efeito da altitude sobre o sistema fisiológico. Contudo, Amorin (2015) enfatizou que
os estudos mais específicos e acurados iniciaram a partir do ano de 1968 quando ocorreram as
Olimpíadas na cidade do México, com altitude de 2240 metros e, em 1970 com a Copa do
Mundo de Futebol nessa mesma cidade. Contudo, o pioneiro da medicina de alta altitude foi o
médico inglês Thomas Holmes Ravenhill (1881-1952), o qual escreveu um artigo no ano de
1913 constando a classificação da doença, que ainda está em uso nos dias atuais. Salienta-se
que o texto apresentado na época (1913) continha as primeiras descrições sobre o Edema Agudo
Pulmonar e Edema Agudo Cerebral provenientes da alta altitude.
De acordo com Lemos et al. (2010), Albuquerque (2013) e Souza et al. (2015) o Mal
Agudo da Montanha refere-se à um distúrbio, síndrome ou reação do organismo submetido à
baixa pressão atmosférica ou também denominada como baixa pressão barométrica ou
ambiente hipobárico.
Adicionalmente, torna-se imprescindível salientar que vários gases compõem a
atmosfera, formando uma mistura transparente, incolor e inodora, conhecida como ar
atmosférico, sendo que os gases mais pesados concentram-se próximos à superfície da terra e,
os gases mais leves ficam mais distantes e, isso ocorre devido à força da gravidade (PINILLA,
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2014). Deste modo, a pressão barométrica é uma somatória das pressões parciais de vários gases
que nela estão presentes, como nitrogênio, oxigênio, vapor d’água, dióxido de carbono e outros
gases inerentes (POWERS; HOWLEY, 2014). Portanto, o ar atmosférico é, em realidade, uma
mistura de gases, formada, essencialmente, por nitrogênio (78,08%), oxigênio (20,95%),
argônio (0,93%), anidrido carbônico (0,03%), neônio (0,02%) e o hélio (0,005%). Em pequenas
porcentagens, ainda encontram-se traços de criptônio, hidrogênio, xenônio, ozônio, metano,
protóxido de nitrogênio e radônio (PINILLA, 2014).
Ao nível do mar, a pressão barométrica corresponde à 760 milímetros de mercúrio
(mmHg), sendo que desta pressão, um total de 159,2 mmHg equivale à pressão parcial de
oxigênio (PO2). Contudo, quanto mais elevada vai se tornando a altitude, menor será a pressão
barométrica e, consequentemente menor será a PO2 e dos demais gases (POWERS; HOWLEY,
2014). Sabe-se que quanto mais se ascende para as regiões de elevadas altitudes, mais rarefeito
/ leve se torna a camada de ar. Ao nível do mar, a pressão barométrica corresponde à 760
mmHg; nos primeiros 1500 metros, a queda da pressão barométrica é muito rápida, 8,25 mmHg
para cada 100 metros verticais, em média; enquanto que, mais acima, a queda é mais lenta, a
5000 metros a pressão barométrica corresponde à 500 mmHg (AMORIN, 2015).
Deste modo, no ponto mais alto do monte Everest, numa altitude de 8.848 metros, por
exemplo, a pressão barométrica atinge o valor de aproximadamente 250 mmHg e a PaO2 atinge
aproximadamente 51 mmHg (OLIVEIRA, 2010). Adicionalmente, ressalta-se ainda que a
pressão barométrica não é um elemento constante, ou seja, sofre alterações de acordo com a
época do ano, clima e local específico onde é realizada a mensuração, deste modo, usando
novamente o monte Everest como exemplo, a pressão barométrica pode oscilar entre 243
mmHg em janeiro e 255 mmHg em junho/julho. Porém, mesmo com todas as alterações da
pressão barométrica, o percentual de oxigênio (O2) presente no ar segue inalterado, tanto ao
nível do mar quanto em elevadas altitudes, ou seja, o percentual de O2 na atmosfera sempre
corresponderá à 20,95% (TARABORELLI et al., 2010; McARDLE; KATCH; KATCH, 2013).
À medida que se atingem elevadas altitudes, surgem mudanças na fisiologia do
organismo, e os fatores atmosféricos são os que mais influenciam no aparecimento de
problemas fisiológicos quando os indivíduos estão expostos à altitude. O grande desafio da
altitude não resulta diretamente da pressão barométrica total reduzida, nem de qualquer
mudança nas concentrações relativas dos gases inspirados no ar e sim da menor pressão de
oxigênio no ambiente (PO2) (POWERS; HOWLEY, 2014).
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A classificação das altitudes em baixas, médias e/ou altas, é possível ao considerar a
função da natureza da atividade praticada e, principalmente em função dos efeitos da altitude
sobre o organismo humano, ou seja, a partir de 2400 metros de altitude, as pessoas já começam
a sentir os efeitos da mudança na PO2 e, deste modo, destacam-se três zonas de altitude que
podem ocasionar problemas, sendo: moderada – entre 2400 e 3600 metros; alta – entre 3.600 e
5.400 metros e extrema – acima de 5400 metros (Figura 1) (AMORIN, 2015).
FIGURA 1 – Classificação das altitudes.
fonte – Amorin (2015), p. 37.
Um outro ponto importante que deve ser considerado ao se estudar as altitudes, condiz
com a temperatura da atmosfera, a qual também varia significativamente conforme se atinge
altitudes mais elevadas. Isto se deve ao aquecimento do ar pela ação solar também ser variável,
ou seja, os raios solares atingem a atmosfera com um ângulo muito pequeno nas regiões polares
e quase de forma perpendicular ao nível do Equador, logo, isto faz com que a altitude da
atmosfera seja menor nos pólos do que no Equador, pela expansão dos gases em maiores
temperaturas (PINILLA, 2014).
Desta forma, a temperatura do ar cai numa taxa de aproximadamente 1° Celsius para
cada 150 metros de subida. A temperatura média próxima do ápice do Monte Everest é estimada
em cerca de 40° Celsius negativos, ao passo que ao nível do mar ela é de aproximadamente 15°
Celsius. O ar frio retém muito pouca água e, consequentemente a umidade absoluta também
diminui e, com este comportamento pode ocorrer com grande facilidade a desidratação, sendo
que o indivíduo perde grande volume de água corporal através da evaporação respiratória
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(aumento da frequência respiratória) e da transpiração durante o exercício na altitude em razão
do ar seco (McARDLE; KATCH; KATCH, 2013; POWERS; HOWLEY, 2014).
Durante os anos em que os alpinistas tentaram escalar os picos mais altos do mundo,
sempre houve uma expressiva preocupação voltada para as adaptações advindas de forma
progressiva com a conquista de cada nova altitude e, este processo denomina-se aclimatação,
ou seja, refere-se às respostas adaptativas na fisiologia e no metabolismo que aprimoram a
tolerância individual à hipóxia que decorre da altitude (LEMOS et al., 2010).
Segundo Amorin (2015) a cada 1000 metros que o indivíduo ascende às grandes
altitudes, a temperatura externa cai em 6,5º graus Celsius e, além disso, os ventos são mais
fortes e a radiação solar é gradativamente mais intensa, predispondo o indivíduo às importantes
queimaduras de pele; o vapor de água diminui, gerando um ar muito seco e promovendo a
desidratação do organismo e, sobretudo, os fatores de resfriamento são mais predisponentes à
hipotermia ou ao congelamento.
Em relação à intensidade da radiação solar, percebe-se que conforme atinge as altas
altitudes a atmosfera fica gradativamente menos densa e mais seca (com menor quantidade de
vapor d’água) e, consequentemente o indivíduo fica mais vulnerável a luz solar (SOUZA et al.,
2015).
Considera-se aclimatação um mecanismo complexo de mudanças fisiológicas
reversíveis que o corpo humano realiza quando exposto em elevadas altitudes por tempo
prolongado e, geralmente ocorre num período superior entre duas a três semanas
(TARABORELLI et al., 2010).
Assim, a cada conquista de uma nova altitude é requerido uma permanência de alguns
dias ou semanas, tempo suficiente, para que o corpo se acostume com a nova hipóxia hipóxica
(hipóxia decorrente da menor PO2) (AMORIN, 2015).
A hipóxia hipóxica é o elemento fundamental para a aclimatação, visto ser ela que
estimula os mecanismos da aclimatação, dependendo da altitude e da duração da permanência
do indivíduo nestes locais, assim, uma pessoa que permanece em altitudes elevadas por dias,
semanas ou anos, torna-se mais aclimatada, de modo que ela produz menos efeitos prejudiciais
ao corpo e também torna possível trabalhar mais ou subir às altitudes maiores, sem apresentar
nenhum tipo de manifestação sintomatológica indesejada (GRANJA; NEVES, CALLES,
2016). Como orientação básica geral, são necessárias aproximadamente duas semanas para se
adaptar a altitudes de até 2300 metros. Daí em diante, para cada aumento de 610 metros na
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altitude, o indivíduo necessitará de uma semana para a adaptação completa, até uma altitude de
cerca de 4600 metros (AMORIN, 2015).
Portanto, o tempo necessário para a aclimatação depende da altitude, isto é, para 2700
metros, cerca de 7 a 10 dias; para 3600 metros, de 15 a 21 dias e para 4600 metros, de 21 a 25
dias. Esses valores demonstram simples aproximações, pois grande parte depende do próprio
indivíduo (MARQUES JUNIOR, 2012; ALBUQUERQUE, 2013).
Segundo Amorin (2015) a aclimatação ocorre através de etapas e, caso o indivíduo
venha apresentar algum sintoma / sinal indesejado, ele deverá retornar para uma altitude inferior
cerca de 300 metros, para dormir, visto que durante o descanso / repouso numa altitude inferior,
ocorrerá uma redução consideravelmente dos efeitos da altitude, dando mais tempo para que o
corpo se adapte. Além disso, também é aconselhado que ao atingir uma altitude elevada, o
indivíduo deverá retornar à um nível mais baixo para o descanso (dormir).
Por outro lado, Souza et al. (2015) relataram que a aclimatação ocorre quando o
indivíduo fica exposto por dias à uma determinada altitude, comumente um período de duas a
três semanas, passa a existir uma adaptação fisiológica crônica àquelas condições ambientais.
Vale a pena destacar que o processo de aclimatação dos nativos que vivem em altitudes
elevadas começa no período neonatal. O tamanho do tórax é muito aumentado, enquanto o
tamanho do corpo é reduzido, resultando numa elevação da relação entre a capacidade
ventilatória e a massa corporal. Além disso, o lado direito do coração dos nativos de elevadas
altitudes é muito maior comparado ao lado direito do coração dos habitantes das terras baixas
(nível do mar), pois, fornece uma elevada pressão arterial pulmonar para bombear o sangue
pelo sistema capilar pulmonar, que está muito expandido. Assim, o fornecimento sanguíneo de
O2 aos tecidos também é facilitado nesses nativos. Em todos os aspectos da aclimatação, os
nativos das altitudes elevadas são superiores, até mesmo aos mais bem aclimatados habitantes
de terras baixas, ainda que os mesmos possam ter vivido em grandes altitudes por 10 anos ou
mais (McARDLE; KATCH; KATCH, 2013).
Entre as mais importantes alterações fisiológicas que ocorrem durante a aclimatação
destacam-se: 1) aumento do impulso respiratório, resultando em uma hiperventilação pulmonar;
2) aumento no fluxo sanguíneo no repouso ou no exercício submáximo, o que levará a um
aumento da concentração sanguínea das hemácias; 3) aumento da capacidade de difusão dos
gases nos pulmões; 4) aumento da vascularização dos tecidos e, 5) aumento da capacidade das
células utilizarem o oxigênio apesar da baixa PO2 (GRANJA; NEVES, CALLES, 2016).
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3 METODOLOGIA
O presente trabalho trata-se de um estudo bibliográfico, ou também denominado de
fontes secundárias, que compreende a bibliografia tida como pública em relação ao tema
proposto de estudo (publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas,
monografias, teses, material cartográfico, meios de comunicação oral – rádio, gravações em fita
magnética e audiovisuais, entre outras (MARCONI; LAKATOS, 2010).
Deste modo, como estratégia para a pesquisa do assunto proposto considerou-se os
descritores em saúde utilizados como palavras-chave e suas combinações nos idiomas
português, espanhol e inglês: doença da altitude / mal de altura / altitude sickness; pressão
atmosférica / presión atmosférica / atmospheric pressure; aclimatação / aclimatación /
aclimatization; sinais e sintomas / signos y sintomas / signs and symptoms. Ressalta-se ainda
que na busca dos conteúdos sobre o tema proposto levou-se em consideração os seguintes
aspectos: a) locais de publicação: Literatura Latino-Americano e do Caribe em Ciência e Saúde
(LILACS); Scientific Electronic Library Online (SCIELO); Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS); Google Acadêmico e, Acervo da Biblioteca da Faculdade São Paulo (FSP) e, b) os tipos
de publicações: livros, artigos, periódicos, dissertações, teses – todos com a descrição na íntegra
e que abordavam sobre o Mal Agudo da Montanha, especialmente referente ao quadro
sintomatológico desenvolvido nas diferentes altitudes.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No presente estudo foram encontrados 58 trabalhos científicos voltados para o mal
agudo da montanha e, ao considerar as palavras-chave utilizadas, os locais de publicação e os
tipos de publicações, conforme descrito na metodologia, pôde-se constatar que somente 15
referências mencionaram sobre o contexto do quadro sintomatológico em função das diferentes
altitudes, as quais foram utilizadas no presente estudo. Deste total de referências utilizadas no
presente estudo, a maioria correspondeu à artigo científico (12), apenas um corresponde à
trabalho de conclusão de curso e, os demais são livros do acervo da Biblioteca da Faculdade
São Paulo de Rolim de Moura-Estado de Rondônia, conforme demonstrado no Quadro 1.
O quadro sintomatológico presente nos indivíduos submetidos às altitudes elevadas
derivam, excepcionalmente da diminuição da pressão barométrica, o que consequentemente
afeta diretamente a PO2 e, sobretudo a pressão parcial do oxigênio arterial (PaO2), visto que
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este é diretamente proporcional à quantidade de O2 que pode estar fisicamente dissolvido no
sangue (AMORIN, 2015; GRANJA; NEVES, CALLES, 2016).
Sendo assim, a hipóxia definida como uma deficiência de O2 no sangue arterial,
promove uma importante diminuição no número de moléculas de O2 disponível para um bom
funcionamento celular, sendo suficiente para causar o impedimento da sua função fisiológica.
A instalação insidiosa da hipóxia é o aspecto mais ameaçador na conquista de altitudes elevadas
(PINILLA, 2014) e, de acordo com Powers e Howley (2014) ela pode ser aguda (aparece
durante as 10 primeiras horas de exposição à altitude) ou crônica (deve-se à uma exposição
prolongada a altitude).
Quadro 1 – Trabalhos científicos utilizados no presente estudo.
Artigos científicos
Alves et al., 2010
Amorin, 2015
Cereceda, Sanchez e Molina-Mula, 2017
Faria et al., 2005
Fiori e Scott, 2010
Granja, Neves e Calles, 2016
Lemos et al., 2010
Marques Junior, 2012
Oliveira et al., 2010
Pinilla, 2014
Souza et al., 2015
Taraboreli et al., 2010
Trabalho de Conclusão de Curso Albuquerque, 2013
Livros Powers e Honley, 2014
Mcadle, Katch e Katch, 2013
Fonte – elaborado pelas autoras.
Esta hipóxia decorrente da ascensão às altitudes elevadas denomina-se hipóxia hipóxica
ou barométrica e, fisiologicamente ocorre devido uma troca gasosa inadequada nas membranas
alvéolo-capilar, a qual, provavelmente, é causada por uma PO2 inadequada no ar inspirado.
Adicionalmente, um suprimento insuficiente de O2 para o sangue resulta em uma deficiência
de O2 para os tecidos, o que representa a causa mais comum de hipóxia encontrada na altitude
e pode se instalar a partir do momento que atinge uma altitude correspondente aos 3048 metros
(OLIVEIRA et al., 2010; SOUZA et al., 2015).
De acordo com Pinilla (2014) a saturação de oxigênio sanguíneo (SaO2) na altitude de
3048 metros sofre uma importante diminuição (correspondente à 87%) sendo que, ao nível do
mar essa SaO2 equivale à 98%. Todavia, até uma altitude de 3000 metros, a SaO2 continua
dentro dos parâmetros de normalidade, ou seja, até pelo menos 90%; porém, acima de 3000
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metros de altitude há uma queda progressiva nessa SaO2, sendo de 70% à uma altitude de 6100
metros, onde a pressão de oxigênio alveolar é reduzida para cerca de 40 mmHg na pessoa não
aclimatada, e bem menos em altitudes mais elevadas.
Em uma altitude de 1981 metros a pressão do O2 alveolar é reduzida para 78 mmHg;
porém, a hemoglobina ainda possui 90% de SaO2. Embora essa redução relativamente pequena
na quantidade de O2 carreada pelo sangue não produza um efeito significante nos indivíduos
durante o repouso ou até mesmo ao realizar exercícios leves, os exercícios aeróbicos e intensos
serão bastante comprometidos com a altitude (POWERS; HOWLEY, 2014).
De acordo com Cereceda-Sánchez e Molina-Mula (2017), seria comum observar uma
queda na PaO2 antes da queda SaO2, caso não ocorresse o equilíbrio instantaneamente. Nesse
equilíbrio a SaO2 da hemoglobina é igual a quantidade de hemoglobina combinada com o O2,
e com isso observa-se que há mudança em ambos os lados da equação, pois quanto mais O2 for
oferecido ao sistema, mais O2 se ligará à hemoglobina; sendo que quanto mais O2 dissolvido
no plasma for usado pelos tecidos ou não for reposto através de adequada troca pulmonar, mais
O2 será deslocado dessa hemoglobina, diminuindo mais a SaO2. Ressalta-se que o conteúdo de
O2 é a soma do O2 hemoglobínico com o O2 livre no sangue.
Para uma variação de 30 mmHg na PaO2, observa-se uma variação de apenas 4,8% na
SaO2, e este comportamento da hemoglobina de variar pouco a sua SaO2 (mesmo com grande
variação da PaO2), contribui para uma das maiores proteções contra a hipóxia, protegendo os
tecidos e permitindo que captem grandes quantidades de O2 do sangue com pequenas quedas
na PaO2 (OLIVEIRA et al., 2010; PINILLA, 2014).
Existe para a PaO2 um valor considerado como limítrofe, sendo de 60 mmHg, que
corresponde a uma SaO2 de 90%. Valores abaixo desse, ocasionam dessaturações importantes.
Por outro lado, se a SaO2 estiver acima de 95%, um aumento da PaO2 não indica incremento
significativo na mesma. Deste modo, um ponto crítico, ao qual se deve estar atento, é quando a
SaO2 encontra-se em valores inferiores a 95% (CERECEDA-SÁNCHEZ; MOLINA-MULA,
2017). Em altitudes entre 2500 e 5000 metros, cerca de 20% a 90% dos indivíduos que não
estão aclimatados irão apresentar sintomas leves do Mal Agudo da Montanha. A prevalência
dessa síndrome, nos Alpes suíços, varia de 9% (as altitudes correspondentes aos 2850 metros)
à 53% (altitudes correspondentes aos 4559 metros). Na região do Monte Everest,
aproximadamente 50% dos mochileiros (treckkers) que caminham em altitudes acima de 4000
metros, também apresentam sinais e sintomas importantes (FIORI; SCOTT, 2010;
ALBUQUERQUE, 2013).
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Para Fiori e Scott (2010) dentre os aspectos sintomatológicos provenientes da hipóxia
hipóxica, o mais importante é a diminuição da proficiência mental, que compromete o
julgamento, a memória e o desempenho dos movimentos motores discretos. A inconsciência
decorrente da hipóxia é uma preocupação séria para os indivíduos que atingem elevadas
altitudes. A quantidade de tempo que esse indivíduo é capaz de executar as funções críticas em
um ambiente deficiente de O2 é referida como tempo de desempenho efetivo ou tempo de
consciência útil.
Dentre os sinais e sintomas agudos evidentes e importantes da hipóxia hipóxica,
observados a partir de uma altitude de aproximadamente 3700 metros, encontram-se:
sonolência; prostração; fadiga mental e muscular; cefaleia; náuseas e algumas vezes euforia;
sendo que estes sinais e sintomas podem progredir para um estágio mais preocupante, com
abalos e convulsões, principalmente considerando a altitude superior a 5500 metros e, a partir
dos 7000 metros de altitude, a pessoa não aclimatada pode facilmente desenvolver o coma
(MARQUES JUNIOR, 2012).
Os sintomas que, habitualmente regridem dentro de alguns dias, referentes ao Mal
Agudo da Montanha, incluem a cefaleia (sintoma mais frequente, provavelmente devido à
dilatação dos vasos sanguíneos cerebrais) que persiste mais no período noturno; apatia;
vertigens; náuseas; constipação; vômitos; débito urinário deprimido (até mesmo com uma
hidratação adequada); falta de coordenação motora; tosse; pressão no peito; respiração
irregular; perda de apetite; visão turva; insônia e fraqueza generalizada (McARDLE; KATCH;
KATCH, 2013).
De acordo com Taraborelli et al. (2010), a cefaleia está presente em 96% dos indivíduos
que ascendem as altitudes elevadas e, em segundo lugar encontra-se a insônia (70%), em
terceiro e quarto lugar destacam-se a perda de apetite e as náuseas, com 38% e 35%,
respectivamente.
Adicionalmente, a supressão do apetite pode ser intensa durante os estágios iniciais da
permanência em uma altitude elevada, resultando em uma redução média de 40% da ingestão
energética, assim como uma perda concomitante da massa corporal. Em geral, uma dieta rica
em carboidratos tende a aprimorar a tolerância às altitudes, reduzir a intensidade dos sintomas
/ sinais do Mal Agudo da Montanha, e melhorar a queda no desempenho físico durante os
primeiros estágios de exposição a uma determinada altitude (PINILLA, 2014).
Segundo Alves et al. (2008) a visão é o primeiro sentido a ser prejudicado pela
diminuição de O2 tecidual, sendo tal fato evidenciado pela diminuição da visão noturna.
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Percebe-se um enfraquecimento e incoordenação da musculatura extra-ocular, bem como, uma
diminuição da amplitude de acomodação, gerando uma visão borrada para perto. O prejuízo na
visão é decorrente a partir das seguintes alterações: os vasos retinianos escurecem e ficam
cianóticos; as arteríolas para compensar, aumentam o seu diâmetro em 10% a 20%; o volume
de sangue na retina aumenta em aproximadamente quatro vezes; ocorre leve aumento pressórico
nas arteríolas retinianas e ao longo de todo sistema pressórico vascular e, consequentemente o
diâmetro pupilar diminui.
Para Fiori e Scott (2010), o sintoma primário para diagnosticar o Mal Agudo da
Montanha é a cefaleia, embora este sintoma também esteja presente na ocasião em que o
indivíduo se desidrata. Por conseguinte, para o correto diagnóstico, os especialistas informam
que o paciente precisa estar com cefaleia a uma altitude de pelo menos 2500 metros, bem como,
apresentar, pelo menos, um dos sinais e sintomas descritos na sequência: a) falta de apetite,
náuseas ou vômitos; b) exaustão ou fraqueza; c) tonturas (vertigens); d) insônia; e) câimbras; f)
ofegância (falta de ar ao esforço); g) sonolência; h) mal-estar geral e, i) inchaço das mãos, pés
e face (edema periférico).
De acordo com Lemos et al. (2010) os indivíduos expostos a uma altitude de 610 a 2440
metros acima do nível do mar já podem apresentar alterações na aprendizagem e, em altitudes
superiores à 3500 metros, podem ocorrer comportamento de ansiedade, bem como, cefaleia,
insônia, taquicardia, falta de ar e vertigens, semelhantes aos relatos de ataques de pânico ou de
ansiedade severa. Os autores ainda apresentaram que esse quadro é decorrente da
hiperventilação em consequência da hipóxia, que pode levar a uma diminuição das
concentrações de dióxido de carbono no sangue arterial. Além disso, também demonstraram
que nas altitudes de 5000 metros, os efeitos da hipóxia podem produzir no organismo menor
resistência muscular nos braços e nas pernas, expressiva cefaleia, tonturas, dificuldades para
respirar e, sobretudo, alterações visuomotoras, mudanças de personalidade (como sintomas
obsessivo-compulsivos e hostilidade).
A partir de 3500 metros de altitude, há uma diminuição perceptível da PO2 e,
consequentemente o corpo irá receber menos O2 e, assim será necessário aumentar a frequência
respiratória. Essa situação impõe um aumento na produção de hemoglobina e um subsequente
espessamento dos vasos e inchamento dos alvéolos pulmonares, além de produzir mais dióxido
de carbono que envenena o cérebro, acarretando os sintomas como cefaleia, náusea, falta de
apetite, insônia, visão turva e cansaço (ALBUQUERQUE, 2013).
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Geralmente, o quadro sintomatológico ocorre, acima dos 3000 metros de altitude.
Estima-se que a metade das pessoas que permanecem acima de 3000 metros acima do nível do
mar, durante mais de seis horas, são afetadas pelo Mal Agudo da Montanha em graus muito
diversos (AMORIN, 2015). Assim, para melhor compreensão o autor em questão realizou uma
busca sistemática na literatura e, a partir de 10 trabalhos científicos que descreveram as
informações sobre os sintomas e sinais do Mal Agudo das Montanhas, ele pôde concluir que a
cefaleia é o sintoma mais prevalente, foi referido nos 10 artigos investigados, seguido da náusea
(9), perda de apetite (8); insônia (7); cansaço / fadiga, respiração ofegante, vômito (6) e; todas
os demais sinais e sintomas foram citados apenas em um dos artigos, sendo eles: desidratação,
diminuição da diurese, fraqueza, câimbras, sonolência, mal estar geral, edema nas mãos e nos
pés, palpitações severas, dispneia e irritabilidade
De acordo com Mcardle, Katch e Katch (2013), se não forem respeitadas as
recomendações descritas anteriormente (repouso, ascender às grandes altitudes de maneira lenta
e progressiva) os sintomas iniciais do Mal Agudo da Montanha poderão evoluir e,
consequentemente, agravar-se, podendo predispor o indivíduo ao desenvolvimento do Edema
Pulmonar Agudo e/ou do Edema Cerebral Agudo. Além disso, os autores ainda descreveram
que é possível determinar qual é a manifestação predominante levando em consideração a
localização da altitude, a ocorrência de acordo com o período (dias) de ascensão da montanha,
os sintomas e sinais que prevalecem, como demonstrado no Quadro 2.
O Edema Agudo Pulmonar decorrente do Mal Agudo das Montanhas está presente em
apenas 2% das pessoas que permanecem pouco tempo em altitudes muito elevadas e, a possível
causa para essa enfermidade pode ser o aumento na pressão da artéria pulmonar, o que causaria
o acúmulo de líquidos nos pulmões (FARIA et al., 2005).
QUADRO 2 – Principais efeitos fisiológicos causados pela exposição à elevada altitudes altitudes.
Variáveis Mal Agudo da Montanha Edema Pulmonar Agudo Edema Cerebral Agudo
Altitude
(metros) Acima de 2400 Acima de 3050 Acima de 3660
Ocorrência
(dias) 1 a 2 dias após a subida
3 a 4 dias após a subida, ou
possivelmente mais tarde
4 a 7 dias após a subida,
ou possivelmente mais
tarde
Sintomas Cefaleia, letargia, distúrbios
do sono, anorexia, náuseas.
Dispneia em repouso,
debilidade (fraqueza
muscular) e tosse.
Cefaleia intensa,
confusão mental e
alucinações.
Sinais Leve taquicardia, possível
edema periférico.
Taquicardia, taquipnéia,
febre baixa e cianose.
Ataxia, sinais
neurológicos e visuais,
hemorragia retiniana.
fonte – Faria et al. (2005); Mcardle, Katch e Katch (2013) (elaborado pelas autoras).
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De acordo com Albuquerque (2013) o indivíduo que desenvolve o Edema Agudo
Pulmonar pode apresentar cianose (tom azulado) nos lábios, nas extremidades do corpo e com
frequência nas orelhas, devido à falta de O2 no sangue. Além disso, a tosse é frequente e
inicialmente seca e, nos casos mais avançados produzirá uma espuma rosada, bem como,
catarros avermelhados.
Em contrapartida, no Edema Agudo Cerebral, condizente com o Mal Agudo das
Montanhas, o indivíduo apresentará os sintomas iniciais de cefaleia, porém exacerbados e,
caracteriza-se por uma grande vasodilatação cerebral (resultado de um acúmulo excessivo de
líquidos nesta região) (FARIA et al., 2005).
Albuquerque (2013) descreveu que clínica e patologicamente o Edema Agudo Cerebral
é o estágio final do Mal Agudo da Montanha e, é o distúrbio que mais leva aos óbitos. Nesta
ocasião o cérebro fica edemaciado pela retenção de líquido, provocando um aumento
expressivo da pressão intracraniana e, o indivíduo apresentará náuseas, perda de apetite, uma
significativa cefaleia, vômitos, confusão mental, dificuldade na tomada de decisões, perda da
coordenação motora (paralisia de um hemicorpo), alteração da visão (papiledema), problemas
com a memória e, eventualmente, coma seguido de morte, que ocorre pela herniação cerebral.
De acordo com Lemos et al. (2010) uma em cada oito pessoas que escolhem escalar a
maior montanha do mundo, Monte Everest, com 8848 metros de altitude, morre. Além disso,
uma em cada quatro pessoas que atingem o objetivo (atingem o cume da montanha) vão á óbito
durante a descida ou durante a subida logo após uma longa exposição à altitude.
É difícil de definir nitidamente a que altitude o quadro sintomatológico aparece, pois
varia de pessoa para pessoa e, leva em conta os aspectos biológicos e estilo de vida de cada um
(ALBUQUERQUE, 2013).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De modo geral, observa-se que o quadro sintomatológico decorrente da exposição às
altitudes elevadas altera negativamente inúmeras funções do organismo, assim, uma exposição
a uma região com altitude de 610 a 2440 metros acima do nível do mar, já é suficiente para os
indivíduos já começarem a apresentar alterações na aprendizagem e, em altitudes superiores
aos 3500 metros, podem ocorrer comportamento de ansiedade, bem como, cefaleia, insônia,
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taquicardia, falta de ar e vertigens, semelhantes aos relatos de ataques de pânico ou de ansiedade
severa.
Por conseguinte, para afirmar que o indivíduo se encontra com o Mal Agudo da
Montanha, é preciso que apresente cefaleia a uma altitude de pelo menos 2500 metros, bem
como, apresentar, pelo menos, um dos seguintes sinais e sintomas (falta de apetite, náuseas ou
vômitos; exaustão ou fraqueza; tonturas (vertigens); insônia; câimbras; ofegância (falta de ar
ao esforço); sonolência; mal-estar geral e, edema nas mãos, pés e face (edema periférico).
Adicionalmente, caso o indivíduo não atenda as exigências que impedem o
aparecimento e a evolução dos sintomas (repouso, ascender às grandes altitudes de maneira
lenta e progressiva, uso de medicamentos), os sintomas iniciais do Mal Agudo da Montanha
poderão evoluir e, consequentemente, agravar-se, podendo predispor o indivíduo ao
desenvolvimento do Edema Pulmonar Agudo (acúmulo excessivo de líquido nos pulmões
decorrente do aumento na pressão da artéria pulmonar) e/ou do Edema Cerebral Agudo
(aumento da pressão intracraniana pelo aumento da presença de líquido), sendo que este último
é o distúrbio que mais leva aos óbitos.
Deste modo, embora seja difícil definir nitidamente a que altitude começa de fato a
desenvolver o quadro sintomatológico, pois varia de pessoa para pessoa e, leva em conta os
aspectos biológicos e estilo de vida de cada um, é imprescindível e desejável que mais estudos
a respeito da temática sejam realizados a fim de investigar os mecanismos específicos
envolvidos no desenvolvimento de cada sinal e sintoma que advém a partir do momento que se
avança para novas altitudes e, sobretudo, cada vez mais elevadas.
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