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para a modernização da lavoura cacaueira Jay Wallace fala sobre o futuro da CEPLAC Cacau cabruca: a conservação da mata atlântica Agropolo de fruticultura: emprego e renda no sul da Bahia VOL. 3 | N• I | JAN/AGO 2011 | ISSN 0103-3824

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para a modernização da lavoura cacaueira

MANEJOINTEGRADO

Jay Wallace fala sobre ofuturo daCEPLAC

Cacaucabruca:a conservaçãoda mataatlântica

Agropolo defruticultura:emprego e renda no sul da Bahia

VOL. 3 | N• I | JAN/AGO 2011 | ISSN 0103-3824

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A Revista Difusão Agropecuária foi editada pela primeira vez no ano de 1989, em substituição a Revista Ca-

cau Atualidades, uma publicação de sucesso que há décadas levava informações aos produtores sobre a tecnologia do cacau, apresentando dados econô-micos e curiosidades da lavoura, notícias muito apreciadas pelos leitores que dela desfrutavam.

A Difusão Agropecuária surgiu pela necessidade de ampliar o foco das notícias, levando aos produtores informações de interes-se para a tomada de decisão na gestão da atividade agropecuária. A revista apresentava informes da pesquisa e extensão rural; um artigo tratava da análise de conjuntura do mercado do cacau e uma reportagem divulgava exemplos exitosos dos produtores com o pro-pósito de serem compartilhados.

Nesta oportunidade, a Ceplac apresenta ao seu público a nova edição da Revista Difusão Agropecuária, a fim de oferecer atualidades aos interessados. Além dos temas mencionados, este número apresenta uma entrevista com o Diretor da Ceplac, Dr. Jay Wallace da Silva e Mota, abordando as principais questões de inte-resse da lavoura cacaueira e dos esforços empreendidos com vistas a tornar a Ceplac uma organização moderna, a altura de enfrentar os seus grandes desafios.

A reportagem de capa com o extensionista Milton Concei-ção mostra como realizar o manejo integrado na cacauicultura mo-derna. O ambientalista Dan Lobão apresenta uma rica argumenta-ção, mostrando que o “cacau cabruca” conserva a Mata Atlântica. Outros artigos também tratam do manejo do cacaueiro e melhora-mento genético. Na área de economia é apresentado um importante trabalho sobre o mercado do cacau, além de custos e rentabilidade em diferentes cenários. A diversificação também está presente com trabalhos sobre fruticultura, apicultura, juçara e açaí.

Há mais de meio século, a Ceplac atua ao lado dos cacauicul-tores e agropecuaristas, investindo na geração e transferência de tec-nologia, buscando novidades a fim de proporcionar-lhes informações indispensáveis ao alcance de bons resultados.

Mesmo com as dificuldades vivenciadas nas regiões produto-ras de cacau, não podemos deixar de perceber que o futuro nos acena com grandes oportunidades. É neste contexto que todos nós envolvi-dos neste trabalho resolvemos apostar, acreditando que a transferên-cia da informação poderá contribuir para um ciclo virtuoso de reto-mada do desenvolvimento das regiões produtoras de cacau.

Adonias de Castro Virgens FilhoChefe do Cepec

EDITORIAL EXPEDIENTE:

DIFUSÃO AGROPECUÁRIA é uma publi-cação quadrimestral do Centro de Pesquisas do Cacau destinada à difusão de tecnologias relativas a agropecuária das regiões cacauei-ras do Brasil e divulgação de fatos de interesse econômico - social e ambiental ligados àque-las regiões.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Ministro: Jorge Alberto Portanova Mendes Ribeiro Filho

Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira - CEPLACDiretor: Jay Wallace da Silva e Mota

Superintendência Regional no Estado da Bahia - SUEBA Superintendente: Antônio Zózimo de Matos Costa

Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC)Chefe: Adonias de Castro Virgens Filho

Centro de Extensão (CENEX)Chefe: Sergio Murilo Correia Menezes

Superintendência Regional no Estado de Rodônia - SUERO Superintendente: Francisco das Chagas Ro-drigues Sobrinho

Superintendência Regional no Estado do Pará - SUEPA Superintendente: Raymundo da Silva Mello Júnior

Gerência Regional do Espírito Santo:Paulo Roberto Siqueira

Gerência Regional do Mato Grosso:Fernando César Oliveira da Silva

Comitê editorial: Adonias de Castro Virgens Filho, Stela Dalva da Silva Midlej, José Mar-ques Pereira, Marta Almeida, Antonio Luiz Oliveira ConceiçãoEditor: Adonias de Castro Virgens FilhoNormatização: Maria Christina de C. FariaiFotos: Acervo da CEPLACEditoração digital, produção, reportagens e finalização: Companhia da mídia - 73. 8117-3776 | 8117.1506Jornalista Responsável: DRT 2749/BAEndereço para correspondência:DIFUSÃO AGROPECUÁRIACEPLAC/Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC)Km 22 Rod. Ilhéus/Itabuna, C.P. 0745600-970, Itabuna, Bahia, Brasil.Telefone: (73) 3214 3200/ 3214 3217Fax: (73) 3214 3204 e-mail: [email protected]

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Desenvolvimentoda apiculturano Sul daBahia

Manejo Integradona cacauiculturamoderna

Matériade capa

Técnicas deproduçãode mudas

Cacau cabruca:conservaçãoprodutivada mataatlântica

SUMÁRIO

04

43 46

32

09

36

19

51

39

22 2823

Entrevista Economia GenéticaJay Wallace

Apicultura

Mercado Mundial do Cacau

Polpa do frutoda juçara e doaçaí: alimentosde alto teornutritivo

Diversificação

Contigenciamentoda monilíase

DefesaFitossanitária

MelhoramentoGenético docacaueiro

CEPLAC completa54 anos derealizações

Ponto de vista

Agropolo: Geração de emprego erenda no valedo Rio dasContas

Fruticultura

BiotecnologiaProjetoRenorbruxa

Propagação docacaueiro

SistemaAgroflorestal

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ENTREVISTA

JAY WALLACEDiretor Geral da Ceplac

Desde que assumiu a direção da Ceplac em 2008, o pesquisador Dr. Jay Wallace tem dedicado seu tem-po para fortalecer a instituição, a fim de torná-la uma organização moderna, a altura de enfrentar os seus gran-des desafios. Envolvido com os muitos compromissos da função, que incluem gestão administrativa, contatos com diferentes setores do governo, reuniões com produtores e viagens constantes pelos estados produtores de cacau, Dr. Jay encontrou um rápido intervalo numa de suas vindas ao Sul da Bahia para dar uma entrevista a Revista Difusão Agropecuária. Acompanhe então a entrevista feita na Superintendência Regional em Ilhéus.

DA: Primeiramente como está a

Ceplac em termos de renovação

de recursos humanos?

Como vocês sabem desde

o governo Sarney a Ceplac não

contrata funcionários, o que é

uma situação muito complicada,

primeiro pelo envelhecimento

do quadro de pessoal, e segundo

porque ao longo destes

vinte e poucos

anos, a própria

ciência evo-

luiu bastante,

várias es-

pecialidades surgiram e a Ceplac

praticamente se privou do concur-

so de novos profissionais. De cer-

to modo a situação foi amenizada

porque boa parte dos nossos pes-

quisadores acabou redirecionando

suas especialidades, fez cursos de

doutorado na área de biologia mo-

lecular e fitopatologia, suprindo

esta necessidade que não era aten-

dida através de concurso. Mas esta

solução se aproxima do fim por-

que não há mais como esperar a

renovação do quadro da Ceplac, e

é exatamente por isso que desde o

momento que chegamos à direção

geral iniciamos gestões no sentido

de resolver este problema.

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DA– Há previsão de concursos? O primeiro ponto é que a Ceplac não dispunha de um plano de cargos e salários. Uma boa pos-sibilidade, já aceita pelo governo federal, é a de que a Ceplac possa fazer parte da carreira de Ciência e Tecnologia. Os funcionários atuais teriam um plano específico que os aproximaria bastante. Na verdade criaria uma espécie de equipara-ção com o Ministério da Ciência e Tecnologia, porque a Constituição não permite que funcionários se-jam simplesmente reenquadrados numa carreira nova. Isso deve ser feito por meio de concurso ou até mesmo de um plano que os equi-pare, como já aplicado em outros órgãos. A idéia é que tão logo seja enviado um projeto de lei com este objetivo, já seja encaminhada a proposta de concurso.

Recentemente a Ceplac encaminhou ao Ministério da Agricultura proposta para con-tratação de recursos humanos. Estamos solicitando inicialmente uma reposição em torno de qui-nhentos funcionários. Depois de concluído nosso planejamento es-tratégico, será definido o número de funcionários para a Ceplac, e aí os concursos terão apenas o objetivo de repor as áreas que serão abertas com aposentadoria dos funcionários.

DA – E quais são as propostas para o fortalecimento da Ceplac como instituição? A atual natureza jurídica da Ceplac dificulta não só a defi-nição de um plano específico de cargos e salários, mas também o próprio exercício das suas atri-buições e responsabilidades. A Ceplac necessita de autonomia que lhe é tolhida pela condição de órgão da administração direta. Muito se comenta, se discute às vezes, que a Ceplac precisa ser institucionalizada, mas na ver-dade ela já é institucionalizada. Esta discussão decorre desde o início do processo de redemocra-tização do país, quando a Ceplac era mantida como órgão criado por decreto, e como tal pode-ria ser extinta por um simples decreto por iniciativa do Presi-dente da República. Mas a partir do governo Collor, ela foi final-mente institucionalizada através de uma lei, portanto para ela ser extinta, também teria que passar uma lei pelo congresso. O for-talecimento já está em processo

adiantado de discussão, e a base principal para esta discussão é a proposta de planejamento es-tratégico, que além de deixar de uma forma bastante clara e de-finida as atribuições e desafios que a Ceplac terá que enfrentar, delineia a estrutura para melhor cumprir com a sua nova missão, com as suas novas atribuições. A proposta é uma reorientação ins-titucional para colocar a Ceplac como um órgão da administração indireta, para que ela possa recu-perar autonomia administrativa, financeira, enfim, uma estrutura mais próxima daquilo que nós defendemos para um órgão que é essencialmente de execução.

“A idéia é que tão logo seja enviado um proje-to de lei com este ob-jetivo, já seja encami-nhada a proposta de concurso... Estamos propondo inicialmente uma reposição em tor-no de quinhentos fun-cionários.”

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DA– Desde o fim do Procacau, não há um programa liderado pela Ceplac com metas e atribuições bem definidas na implementação de políticas publicas do governo federal. Como reverter isso? Quando o Procacau foi en-cerrado, coincidentemente acon-teceram dois fatos marcantes. Primeiro foi o fim das facilidades do crédito rural, que surpreendeu a agricultura brasileira como um todo, e segundo, no caso especí-fico do cacau, houve a entrada da vassoura de bruxa na Bahia, o que acabou mobilizando toda a inteli-gência da Ceplac para a solução deste problema, especificamente na região cacaueira do sul baiano. A Ceplac não teve oportunidade ou iniciativa de propor programas que pudessem dar continuidade ou conclusão aos programas iniciados, e com isso a região ficou até mais fragilizada, porque dentre os com-promissos estava a diversificação agropecuária. A partir do Procacau tudo isso foi tocado, mas sem um contrato com o governo federal, onde se reconhecesse que havia necessidade da Ceplac ser dotada de recursos humanos, financeiros, materiais para o cumprimento de metas e a consolidação de cadeias produtivas importantes para as re-giões produtoras de cacau. Esses problemas pretendemos reverter com o planejamento estratégico.

DA – Quais são as perspectivas para a cacauicultura brasileira diante das complicações geradas pela vassoura de bruxa? Nenhum país do mundo conseguiu em tão pouco tempo gerar tanta tecnologia capaz de enfrentar o problema da vassoura de bruxa como foi feito no Brasil, especificamente no sul da Bahia. Hoje a região dispõe de 39 clones recomendados para plantar com produtividade excelente, com grau de compatibilidade resolvido e to-lerância à doença. Alguns destes clones foram desenvolvidos em parceria com produtores de cacau e até isoladamente pelo produtor de cacau na Bahia e também no Pará, que treinados pela Ceplac, orienta-dos pelos extensionistas e pesqui-sadores, aprenderam a identificar atributos nas plantas seleciona-das na própria fazenda. Para-lelamente foi desenvolvido todo um programa de sele-

ção de agentes para o controle bio-lógico da doença, controle químico, enfim, o controle integrado. Hoje a região conta com uma tecnologia que permite alcançar produtividade superior a do período que antecedeu a entrada da vassoura de bruxa...

DA – Qual a produtividade? Hoje nós temos pactuado na renegociação com o governo federal, através do FNE Verde, produtividade de 50 arrobas. Essa é a produtividade que nós nos arriscamos a pactuar, em ter-mos médios, porque nós sabemos que nem todos os produtores vão adotar de imediato a tecnologia, até porque ainda existe uma fração de produtores que não teria acesso a crédito inicialmente. Mas nós temos na região exemplos em diferentes extratos de produto-res (pequenos, médios, grandes) produtividade de 90...e até acima de 100 arrobas por hectare. Então temos tecnologia, o que limita esta capacidade é o acesso ao crédito rural.

“Nenhum país do mundo conseguiu em tão pouco tempo gerar tanta tecno-logia capaz de enfrentar o problema da vassoura de bruxa como foi feito no Brasil, especificamente no sul da Bahia.”

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DA – E quais são os avanços até o momento no equacionamento do passivo dos produtores? Em primeiro lugar gosta-ria de dizer que nós já pegamos o caminho andando e quando chega-mos à direção da Ceplac nos resta-va renegociar ou ajudar os produ-tores a renegociar, numa condição melhor, os passivos decorrentes das fases 3 e 4. Nós mostramos com dados que foram praticamente a zero as operações de adubação, controle de pragas e doenças nestas fases, e justamente por acatar esta argumentação técnica da Ceplac é que o Governo do Estado da Bahia, juntamente com o Ministério da Agricultura, recomendaram altera-ções nas leis que orientavam a re-negociação da dívida, culminando com a situação atual de que o pro-dutor de cacau tenha oportunidade de ter um rebate maior, desconto maior, mesmo para os grandes. Inicialmente havia cinco classes de descontos em função do tamanho

do produ-

tor e hoje são apenas três classes com descontos que vão até 90% da dívida, dependendo da fase em que o produtor se endividou; em alguns casos até 100% quando a dívida é de até 10 mil reais. O interessante é que a partir dessa discussão, com a participação da Ceplac, da EBDA, da Secretaria de Agricultura do estado da Bahia, os produtores passaram a ter a possibilidade de negociar suas dívidas dentro das mesmas condições estabelecidas pelo FNE Verde, que dá oito anos de carência e mais doze de prazo para pagar.

DA – É o adequado? É uma situação melhor do que existia, porque este tempo é suficiente para que o produtor possa elevar a produtividade dele para uma produtividade mínima de 50 arrobas por hectare, que lhe permite arcar com o pagamento da dívida, e possivelmente de um fi-nanciamento novo a ser contraído para que ele possa implementar plenamente o pacote tecnológico.

Agora, existe uma situação pendente, mas que está sen-

do discutida com apoio do Governo do Esta-

do, do Ministério da Agricultura e

do Banco do N o r d e s t e ,

que é a situ-ação dos

produtores que estão impedidos, ainda que adimplentes, de alcan-çar esta linha de crédito do FNE Verde porque tiveram suas dívidas inicialmente negociadas através do PESA. Eu acredito que para es-tes casos, vai ser apresentada uma solução em definitivo ainda este ano.

DA – Quais são as perspectivas de aumento no consumo de cacau e como o Brasil pode se posicionar nesse cenário? A partir de 2003, o País saiu de um consumo per capita de 400 gramas de cacau para algo em torno de um quilo e 300 gra-mas. Nas projeções que nós faze-mos, baseados na curva de con-sumo nos últimos 40 anos, nós verificamos que dentro de cinco anos o mundo vai demandar um acréscimo de algo em torno de 650 mil toneladas de cacau. Isso sem considerar os efeitos de cur-to prazo, dos últimos dez anos, em

“O Brasil hoje tem tec-nologia para reagir e voltar a ser grande no mercado de cacau.”

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que houve um incremento maior de consumo de chocolate e cacau no Brasil, como também em países como China, União Soviética, com a própria abertura do leste euro-peu. O Brasil hoje tem tecnologia para reagir e voltar a ser grande no mercado de cacau se posicionando com destaque nesse novo cenário.

DA – E como seriam então as es-tratégias para melhorar a posição da cacauicultura brasileira no ranking mundial? Exatamente baseada nestas projeções que a Ceplac apresentou uma versão na forma de minuta na Câmara Setorial de um progra-ma que se propõe, aos moldes do Procacau, a elevar a participação brasileira no mercado com duas preocupações: primeiro de tornar o Brasil pelo menos autosuficien-te na produção de cacau para não precisar mais importar, e acima de tudo nos candidatar a suprir grande parte desta demanda , destas 650 mil toneladas adicionais nos próxi-mos 5 anos, ou 1 milhão e 300 mil toneladas nos próximos 10 anos. Nesta proposta a Ceplac, junta-mente com a classe produtora de cacau, os governos dos estados e a Câmara Setorial do Cacau, preten-dem também mobilizar o governo federal, no sentido de prestigiar as políticas públicas voltadas para o processamento local da produção, que possa levar à implantação de fábricas nas regiões produtoras.

DA – Agregar valor com o choco-late... Isso. E o processamento local envolve iniciativas para esti-

mular a instalação de plantas nas regiões produtoras nos diferentes níveis que hoje é possível...o gran-de, o médio e o pequeno proces-samento. É preciso reservar uma grande parte dos esforços e recur-sos ao estímulo e à implantação das pequenas plantas que o Brasil desenvolveu e que permitem hoje que o produtor, de forma organi-zada, possa chegar a produzir não só líquor de cacau, mas até o cho-colate. Isso vai não só permitir a agregação de valor e a geração de empregos, como também ainda há a possibilidade de explorar plena-mente todas as propriedades intrín-secas associadas a este cacau. O grande demérito que o cacau brasi-leiro sofria, em termos de imagem no mercado internacional, resulta-va do fato de que nosso cacau era todo misturado, independentemen-te de ser produzido na Bahia, ou no Espírito Santo, em cabruca ou a pleno sol, e isso não permitia que o chocolateiro percebesse as nu-ances associadas a cada região de produção.

“É preciso reservar uma grande parte dos esfor-ços e recursos ao estí-mulo e à implantação das pequenas plantas que o Brasil desenvolveu e que permitem hoje que o produtor, de forma or-ganizada, possa chegar a produzir não só líqu-or de cacau, mas até o chocolate. Isso vai não só permitir a agregação de valor e a geração de empregos, como também ainda há a possibilidade de explorar plenamente todas as propriedades intrínsecas associadas a este cacau.”

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DA- É a questão da certificação de origem... Exatamente. Com estas pe-quenas plantas é possível praticar um modelo muito parecido com o que se vê nas vinícolas, onde cada fazenda propicia a criação de um vinho específico. As condições reinantes numa propriedade são únicas: o solo, o clima, a inclina-ção do terreno, o grau de umidade, de insolação, tudo isso determina um produto diferente, ainda que o clone seja o mesmo, de uma re-gião para outra. Processando este cacau, isoladamente, sem misturar com outro, ou ainda que mistura-do, mas em proporções definidas e conhecidas, será gerado um produ-to único.

DA – Em sua opinião, com o avan-ço dos meios de comunicação, que estratégias e metas devem ser as-similadas pela extensão rural? Isso é uma discussão que a gente vem estimulando não só na extensão rural, mas na Ceplac como um todo, porque nós vive-mos nos últimos anos um processo de revolução nos meios de comu-nicação e muitas vezes a gente não

acompanha. Então começamos a estimular os colegas a desenvol-ver métodos que possam incluir estas tecnologias, como a inter-net, a possibilidade de alcançar o produtor através de redes sociais, o estabelecimento de contatos muito mais estreitos do que sim-plesmente daqueles que depen-diam do deslocamento físico do agente de extensão e de pesquisa da Ceplac até sua propriedade. Também temos o projeto de im-plantação de centros de qualifica-ção, capacitação e treinamento de

mão de obra, onde a nossa idéia é criar um espaço dotado de to-dos os recursos de mídia, para ser utilizado não só pelos técnicos, mas pela comunidade como um todo e possamos também fazer uso de um recurso moderno que é a transferência de informação através dos métodos de ensino a distância.

DA - Dentro deste contexto, como o senhor avalia o retorno da Revista Difusão Agropecuá-ria? Eu vejo com muito bons olhos, porque a despeito dos re-cursos que hoje a tecnologia nos permite, nós nunca vamos poder abrir mão do prazer de folhear uma revista, e quando esta revista pretende divulgar soluções tecno-lógicas, associado aos resultados positivos, sejam eles desenvolvi-dos pela Ceplac, por parceiros, ou pelos próprios produtores, é sem-pre bom. Na verdade desde que chegamos aqui defendemos esta iniciativa; não é à toa que surgiu o Jornal do Cacau. O importante é oferecer ao produtor e à comuni-dade mecanismos de divulgação.

“...a despeito dos re-cursos que hoje a tec-nologia nos permite, nós nunca vamos poder abrir mão do prazer de folhear uma revista, e quando esta revista pretende divulgar so-luções tecnológicas é sempre bom.”

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ECONOMIA

Rosalina Ramos MidlejMestre em Economia, Pesquisadora da Ceplac

O mercado mundial de cacau aponta para um aumento

da produção na safra internacio-nal de 2010/11 com um valor de 3.938 mil toneladas. Atualmente o maior produtor de cacau é a Costa

do Marfim, responsável por 33,6% da produção mundial, o que cor-responde a 1.325 mil toneladas. O Brasil é sexto produtor com 4,8% (190 mil toneladas). Segundo da-dos da Organização Internacional do Cacau – OIC, independente-

mente do nível de produção, todos os países produtores, com raras ex-ceções, apresentarão variações po-sitivas fazendo com que a safra in-ternacional de 2010/2011, aumente 8,0% em relação à de 2009/2010 (Figura 1).

A redução na produção vem do continente asiático e oce-ânico, com 6,9%. Com relação aos países maiores produtores de cacau, apenas Indonésia e Equa-dor deverão apresentar redução de 9,1% (de 550 mil t. para 500 mil t.) e 6,3%, (de 160 mil t. para 150 mil t.), respectivamente. Gana

apresentará o maior acréscimo de 30,5% (de 632 mil t. para 825 mil t.), seguido do Brasil com au-mentos de 17,9% (de 161,2 mil t. para 190 mil t.), Camarões de 7,3% (205 mil t. para 220 mil t.) e Costa do Marfim de 6,7% (de 1.242 mil t. para 1325 mil t.). As previsões para as moagens mundiais apontam para

um aumento total de 2,8%, com ex-ceção de Costa do Marfim e Reino Unido que apresentarão redução de 20,1% e 12,5%, respectivamente. A recuperação da economia mundial é fator importante para o aumento da demanda por cacau. Nos Estados Unidos a revitali-zação econômica vem ocorrendo

Mil Toneladas

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1.6001.4001.2001.000

800600400200

0

Costa do Marfim Gana Nigéria Camarões Brasil Indonésia

Fonte: Quartely Bulletin of Cocoa Statistics.

MERCADO MUNDIALDO CACAU

Figura 1. Produção de cacau em amêndoas nos principais países produtores (mil t.), 1960/61-2010/11.

REVISTA DIFUSÃO AGROPECUÁRIA PÁG. 10

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em ritmo moderado, muito em-bora, as perspectivas de cresci-mento sejam favoráveis. Na re-gião do euro existe um alto nível de incerteza, levando a políticas monetárias mais restritivas, o que pode contribuir para o enfraqueci-mento da atividade nessa região. Por outro lado, nas econo-

mias dos mercados emergentes, as perspectivas são bastante favo-ráveis. O crescimento é impulsio-nado pelo aumento do consumo doméstico. Entretanto o “boom” dessas economias constitui um risco para a economia mundial, devido ao seu efeito sobre a ma-téria-prima e os preços das com-

modities. Na Figura 2 fica evidente a redução nas moagens nos prin-cipais países a partir da crise de 2008/09. A partir daí observa-se uma recuperação na maioria dos países, com exceção da Costa do Marfim.

A produção brasi-leira de cacau na safra de 2010/11

apresentou um volume de 198 mil toneladas, com um aumento de 28,9% em comparação com a sa-fra anterior. Já a produção baiana, após

a tendência decrescente até a sa-fra de 1999/00, quando atingiu seu menor nível (96.039 t.), vem cres-cendo muito lentamente. Na safra de 2010/2011 ocorreu um excep-cional aumento de 40,24% em rela-ção à safra anterior, corresponden-do a 150 mil toneladas. Segundo

informações de Lindolfo Pereira, estatístico do Cepec, o aumento da produção baiana foi principalmen-te em conseqüência das condições climáticas favoráveis, tendo como principal fator a elevação da tem-peratura no período de dezembro a março de 2009/10.

Fonte: Quartely Bulletin of Cocoa Statistics

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Produção brasileira de cacau

Figura 2. Moagem nos principais países (mil t.), 1990/91-2010/11.

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Preços recebidos pelo produtor

Os preços do cacau por arroba no decorrer da década passada oscilou entre R$ 40,00 e R$ 60,00. O mercado apresentou duas altas de destaque nas últimas décadas, conforme se pode facilmente visua-lizar na Figura 3.

A primeira alta ocorreu entre os anos 2002 e 2003, que não se manteve nos anos seguin-tes e foi facilmente explicada. Foi uma época de conflitos políticos na Costa do Marfim, que im-possibilitaram o escoamento da produção para o mercado inter-nacional. A segunda, desde 2007, inicialmente em conseqüência da crise econômica iniciada nos Estados Unidos e espalhada pelo mundo. Uma das conseqüências dessa crise foi a explosão do in-

vestimento especulativo em com-modities básicas. Os preços no mercado mundial para as commo-dities cresceram quando os gran-des investidores retiraram-se dos investimentos tradicionais e dos mercados de crédito para inves-timentos mais lucrativos. Neste cenário, o capital especulativo redirecionou-se para o mercado futuro de commodities, elevando consideravelmente seus preços, visto que esses mercados futuros são utilizados como ponto de re-

ferência para a atual negociação das commodities físicas. A partir de 2009, apesar do aumento dos preços internacio-nais, verificou-se uma tendência decrescente dos preços recebidos pelo produtor brasileiro de cacau. Uma das prováveis causas dessa discrepância de comportamento foi a desvalorização do dólar em relação ao real no mesmo perío-do. Por outro lado, o ágio pago ao produtor reduziu o efeito da variação do câmbio (Tabela 1).

(R$

de m

aio

2011

/@)

600

500

300

100

400

200

0

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

Fonte: CEPLAC.2011 – Informações até maio de 2011.

Figura 3. Preços médios de cacau em amêndoas recebido pelo produtor(corrigidos para maio de 2011), 1975/2011.

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Relação entre o preço do cacau e o salário mínimo

As informações da Tabela 2 permitem avaliar a relação

entre o preço do cacau e o salário

pago pelo produtor. Levando em consideração o período de 2000 a maio de 2011, a variação do salá-rio mínimo foi superior a ocorrida

com o preço do cacau. De acordo com Rosalina Midlej “os resulta-dos apontam para uma redução na rentabilidade da cultura”.

Tabela 1. Preço médio nominal de cacau em amêndoa cotado no eixo de Ilhéus-Itabuna e na bolsa de Nova Iorque e Câmbio, 2009/11.

ANOEixo Ilhéus-Itabuna

(R$/@) (Var %)Bolsa Nova Iorque

(US$/t.) (Var %)Câmbio

(R$/US$) (Var %)

2009 87,68 2,002.779,79- - -

79,90 1,633.150,52-4,52 -6,53 -7,3983,69 1,762.957,46-4,56 -5,63 -12,002010

2011

Tabela 2. Preço do cacau (R$ de maio/2011/@) e salário mínimo (R$ de maio/2011/mês)*.* Preços e salário corrigidos pelo IGP –DI da FGV. Fonte: Ceplac/Cepec/Sesoe

ANO

Preço cacau(Reais demaio de2011/@)

Preço cacau(índice base2000=100)

Saláriomínimo

(índice base2000=100)

Saláriomínimo/preço

cacau

Saláriomínimo

(Reais demaio de

2011/mês)

200020012002200320042005200620072008200920102011

2011 (média de janeiro a maio)

55,7478,18

155,57130,6495,8773,5965,0674,6183,51

100,1990,8081,23

100,00140,26279,10234,37171,99132,02116,72133,85149,82179,75162,90145,73

360,40383,00380,69366,28368,34393,62455,55479,05472,67522,73547,98543,75

100,00106,27105,63101,63102,20109,22126,40132,92131,15145,04152,05150,87

6,474,902,452,803,845,357,006,425,665,226,046,69

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Custo de produção e rentabilidade do cacau

O c o n h e c i m e n t o sobre o retorno financeiro da ati-

vidade agrícola é de fundamen-tal importância para a tomada de decisão por parte dos produtores. Nesse caso, devem-se considerar a produtividade, os custos, os inves-timentos e o lucro como variáveis relevantes. A realização de um manejo adequado na cultura do ca-cau é importante não só na recupe-ração da produtividade da lavoura, mas também no desempenho fi-nanceiro. As respostas de cada área à aplicação de um método de ma-nejo podem ser diferentes, mesmo quando o produtor tem conheci-mento do comportamento de todas as variá-

veis que possam influenciar o re-sultado. O objetivo da atividade produtiva é a maximização dos lucros, isto é, obter o máximo de lucro possível, nesse sentido re-força-se a necessidade do conhe-cimento do comportamento dos custos, receitas e de todos os seus componentes. A estimativa de al-guns indicadores representativos permite ao produtor realizar infe-rências com um grau elevado de segurança, subsidiando as tomadas de decisões. Assim, para a escolha de um determinado padrão tecno-lógico é fundamental que o produ-tor tenha um conhecimento preciso da sua realidade e dos riscos que sua atividade está sujeita.

Para a análise dos custos de produção foram con-

sideradas áreas anti-gas, onde ocorre a

predominância de uma média

de plantas por hectare entre 500 e 700. Análise

do custo de manutenção de áreas com cacau com densidades de 500 e 700 plantas por hectare. A análise de rentabilida-de das áreas com cacau na região cacaueira da Bahia levou em con-sideração o stand de 500 e 700 plantas por hectare. Desse modo os custos operacionais estimados conforme a realização das práticas pressupõem produtividades míni-mas de 35@/ha/ano para a densi-dade de 500 plantas/ha e 50@/ha/ano na densidade de 700 plantas. i.i) Estimativas do custo operacional de um hectare de ca-cau para o stand de 700 plantas. A análise dos indicadores de rentabilidade da produção de cacau para uma densidade de 700 plantas e produtividade estimada de 50 @ por hectare, mostra que essa atividade tem retorno limita-do. A relação benefício/custo de 1,16 significa que para cada real aplicado na atividade ocorre um retorno de 1,16 reais, ou seja, um ganho de R$ 0,16. O ponto de nivelamento de 43,11@/ha é de 86% da produtividade esperada

de 50@/ha/ano (Tabela 3).i.ii) Estimativas do

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Tabela 3. Receita bruta total, custo operacional total, relação benefício/custo e ponto de nivelamento para a produção de um hectare de cacau por nível de densidade e produtivi-dade, junho de 2011. Fonte: Tabelas 5 e 6.

custo operacional de um hectare de cacau para o stand de 500 plantas Para aquelas propriedades com densidade de 500 plantas/ha e produtividades estimadas em 35@/

ha os resultados de rentabilidade também foram positivos, porém inferiores ao stand de 700 plantas. A relação benefício/custo de 1,06 mostra que para cada real investido

na atividade o lucro é de R$0,06. O ponto de nivelamento corresponde a 95% da produtividade esperada de 35@/ha/ano (Tabela 3).

Densidade eprodutividade

700 plantas/50@

500 plantas/35@

3.763,00

2.634,10

3.244,22

2.491,82

1,16

1,06

43,11

33,11

64,88

71,19

Receitabruta total

Relaçãobenefício/custo

Ponto de nivelamento(@/ha) (R$/ha)

Custo operacionaltotal

Análise de sensibilidade

A análise de sensibi-lidade dos indica-dores de rentabili-

dade é utilizada com o objetivo de mostrar algumas incertezas que podem afetar o resultado final. Apesar de existirem várias variá-

veis que podem comprometer os resultados, considera-ram-se as variações que podem ocorrer no preço

do cacau como rele-vantes para a análise de risco.

Para esta análise foram si-muladas reduções de 5,0%, 10,0% e 14% no preço médio do cacau praticado pelo mercado de R$ 75,26 por arroba no mês de junho de 2011, para as áreas com den-sidade de 700 plantas e produti-vidade estimada de 50@/ha. No caso de uma redução de 14,0% ocorre um pon-to em que a a t iv i -d a d e

apenas remunera os custos ope-racionais. Para uma redução de 10,0% no preço do cacau, ainda assim a relação benefício/custo de 1,04 significa que para cada apli-cação de R$1,00 ocorre um retor-no de R$1,04 (Tabela 4). Já para as áreas

com densi-dade de 500 plantas por hectare e p r o d u t i -v i d a d e

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Tabela 4. Análise de sensibilidade dos indicadores de rentabilidade na região cacaueira da Bahia, no caso de redução do preço do cacau, junho de 2011. Preço de R$ 75,26 por arroba no mês de junho de 2011.Fonte: Ceplac/Cepec/Sesoe

estimada em 35@ na mesma uni-dade de área, a redução no preço do cacau foi de 5,0%. No caso de uma redução no preço do cacau de 5,0% ocorre um ponto de indi-ferença em que a atividade nem remunera o produtor nem ocor-re prejuízo. Esta última situação apesar de não significar um pre-juízo na atividade, não é atraente

para o produtor (Tabela 4). Esses resultados apon-tam para a vulnerabilidade da atividade, principalmente no caso de áreas com 500 plantas por hectare. Devido as cons-tantes flutuações nos preços do cacau, a produtividade se torna indispensável para o au-mento da rentabilidade da cul-

tura. Essa situação prevalece na maioria das plantações do sul da Bahia, notadamente no agrossistema Almada, fato que sugere medidas de incentivo a recuperação das plantações, considerando-se principal-mente a importância sócio- econômica e ambiental da ca-cauicultura

Discriminação

700 plantas/50@Preço NormalRedução de 5%Redução de 10%Redução de 14%

Preço NormalRedução de 5%

500 plantas/35@

1,161,101,041,00

1,061,00

43,1145,3847,9050,00

33,1135,00

Ponto de nivelamento (@/ha)Relaçãobenenefício/custo

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Tabela 5. Custo operacional estimado (R$/ha), receita bruta (R$/ha), relação benefício/custo e ponto de nivelamento (@/ha e R$/ha), supondo uma densidade de 700 plantas por hectare e produtividade de 50@/ha/ano. Fonte: Ceplac/Cenex

Discriminação

1. Mão de obraRoçagemPoda e remoção de VassouraAplicação de InseticidaAdubaçãoAplicação de FungicidaColheita e beneficiamentoDesbrotaRemoção de VassouraCalagemCorreção do Sombreamento

7 jorn. / hectare58,33 planta por dia0,25 jor/aplicação175 planta / jornada400 plantas jor / apli0,6 jor / arroba700 plantas / jor100 plantas / jor1 jor / hactare0,5 jor / hactare

2. InsumosInseticida líquidoFertilizante NPKGasolina FugGasolina InsÓleo 2 T FugÓleo 2 t InsFungicida CúpricoCalcário

0,8 litro / aplicação380 g / planta5 l / dia5 l / dia5% gasolina5% gasolina6 g de PC / planta20 sacas / ha

3. Transporte

4. Assistência Técnica

8. Ponto de Nivelamento

9. Ponto de Nivelamento

43,11

64,88

@/ha

R$/ha

5. Custo Operacional Estimado

6. Receita Bruta

7. Relação Benefício/Custo

Unidade Quantidade Valor (R$)Frequênciadas práticas

Preço(R$)

h/dh/dh/dh/dh/dh/dh/dh/dh/dh/d

28,3428,3428,3428,3428,3428,3428,3428,3428,3428,34

7,012,00

0,34,001,8

30,01,07,01,00,5

2.359,31396,76340,0814,17

113,36148,79850,2056,68

396,7628,3414,17

2121312211

sacasacalitrolitrolitrolitroKgsaca

46,0095,002,722,728,008,00

23,527,00

0,805,328,751,250,440,1

420

812,1836,80

505,4023,803,403,500,50

98,78140,00

40,61

32,12

3.244,22

3.763,00

1,16

5% doitem 21% de1+2+3

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Tabela 6. Custo operacional estimado (R$/ha), receita bruta (R$/ha), relação benefício/custo e ponto de nivelamento (@/ha e R$/ha), supondo uma densidade de 500 plantas por hectare e produtividade de 35@/ha/ano. Fonte: Ceplac/Cenex.

Discriminação

1. Mão de obraRoçagemPoda e remoção de VassouraAplicação de InseticidaAdubaçãoAplicação de FungicidaColheita e beneficiamentoDesbrotaRemoção de VassouraCalagemCorreção do Sombreamento

7 jorn. / hectare58,33 planta por dia0,25 jor/aplicação175 planta / jornada400 plantas jor / apli0,6 jor / arroba700 plantas / jor100 plantas / jor1 jor / hactare0,5 jor / hactare

2. InsumosInseticida líquidoFertilizante NPKGasolina FugGasolina InsÓleo 2 T FugÓleo 2 t InsFungicida CúpricoCalcário

0,8 litro / aplicação380 g / planta5 l / dia5 l / dia5% gasolina5% gasolina6 g de PC / planta20 sacas / ha

3. Transporte

4. Assistência Técnica

8. Ponto de Nivelamento

9. Ponto de Nivelamento

33,11

49,84

@/ha

R$/ha

5. Custo Operacional Estimado

6. Receita Bruta

7. Relação Benefício/Custo

Unidade Quantidade Valor (R$)Frequênciadas práticas

Preço(R$)

h/dh/dh/dh/dh/dh/dh/dh/dh/dh/d

28,3428,3428,3428,3428,3428,3428,3428,3428,3428,34

7,08,600,3

2,901,3

21,00,75,01,00,5

1.803,84396,76243,7214,1782,19

106,28595,1439,68

283,4028,3414,17

2121312211

sacasacalitrolitrolitrolitroKgsaca

46,0095,002,722,728,008,00

23,527,00

0,803,806,251,250,310,1

320

631,7236,80

361,0017,003,402,480,48

70,56140,00

31,59

24,67

2.491,82

2.634,10

1,06

5% doitem 21% de1+2+3

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MELHORAMENTO GENÉTICODO CACAUEIRO

Desde que a vas-soura de bruxa foi detectada na

região cacaueira da Bahia em 1989, os produtores e a comu-nidade em geral têm convivido com termos como melhoramen-to genético, clones de cacau, genes, germoplasma e resistên-cia entre outros. A citada doença reduziu

drasticamente a produção baiana e trouxe enormes prejuízos aos agricultores. “A partir da chega-da da vassoura de bruxa a pre-servação da cacauicultura fi-cou mais dependente de fatores tecnológicos como o desenvol-vimento de variedades melho-radas e técnicas para o contro-le da doença”, diz o agrônomo José Luís Pires, doutor em Ge-

nética e Melhoramento. José Luís explica que atualmente há diversas varieda-des comerciais de clones resis-tentes à vassoura de bruxa e que o princípio do melhoramento ge-nético para resistência é a busca de genes (a unidade fundamental da hereditariedade) com efeitos sobre o desenvolvimento de de-terminada doença.

“A partir da chegada da vassoura de bruxa a preservação da ca-cauicultura ficou mais dependente de fatores tecnológicos como o desenvolvimento de variedades melhora-das e técnicas para o controle da doença”

José Luís Pires

GENÉTICA

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A evolução do fungo e o avanço da pesquisa

Assim como acontece com outras doenças, o fungo da vassoura de bruxa Moni-

liophtora perniciosa tem apresen-tado uma evolução que dificulta o trabalho de combate. Pesquisas de-senvolvidas por Pires e pela dou-tora em Fitopatologia Karina Gra-macho, revelaram, inicialmente em 2002, na Coleção de Germoplasma de Cacau do Cepec, a redução da resistência de descendentes do clo-ne Scavina 6 (posteriormente hou-ve aumento de vassouras nesses materiais em várias localidades, de forma aparentemente independen-te). Além disso, os pesquisadores captaram um processo de evolução do patógeno (o fungo), sendo que

amostras de fungo ob-tidas de materiais re-sistentes, entre eles descendentes de Scavina 6, diferi-ram geneticamen-te de amostras obtidas de plan-tas susceptíveis. Assim, alterações genéticas do fungo

estiveram associa-das ao incremento

de sua eficiência sobre materiais resistentes.

Diferenças para o fungo também foram observadas entre

países e entre regiões, entre mu-nicípios dentro da região cacauei-ra da Bahia, entre fazendas de um mesmo município, entre espécies de plantas atacadas (muitas das quais só vieram a ser atacadas na Bahia), entre partes de uma mes-ma planta (frutos, almofada, gema vegetativa) e entre anos para um mesmo grupo e plantas. Isto mos-tra uma excepcional capacidade de adaptação e enorme variabili-dade do fungo na região. A situação descrita reforça a necessidade de se fazer o con-trole minucioso de vassouras nas áreas cultivadas com materiais resistentes, retardando assim a evolução ou adaptação do fungo. É importante evitar que as vas-souras venham a esporular. Para

isso são recomendados o controle biológico através do fungo Tri-choderma stromaticum (TRICO-VAB), que impede a esporulação do Moniliophtora perniciosa e sua sobrevivência nos restos cultu-rais infectados e a eliminação das vassouras secas e frutos infecta-dos. Em casos excepcionais, com maiores níveis de infecção, deve ser feita a aplicação de fungicida sistêmico/erradicante (Folicur). Mas uma notícia boa para os cacauicultores é que estudos na Ceplac identificaram genó-tipos com níveis de resistência significativamente superiores ao de descendentes do Scavina 6, ou que não tiveram alteração com-portamental com a mudança dos tipos predominantes do fungo, ou seja, novas variedades, mais resistentes, que serão mais efi-cientes no controle da doença. As perspectivas são positivas. “Po-demos destacar a identificação de um número bem grande e de dife-rentes fontes de resistência, com uma ampla divergência genética. Além disso, temos a identifica-ção de genes diferentes, junção de alguns genes e constatação de maior durabilidade de resistência dos genes agrupados. Este grupo de materiais com mais de um gene está sendo testado em larga escala em várias fazendas”, destaca José Luís Pires.

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Variedades resistentes, produtivase de alta qualidade

Com a pesquisa é possível conse-guir, por meio

do melhoramento genético, não apenas mais resistência à vassoura de bruxa, mas também um cacau de alta qualidade. “A espinha dorsal do melhoramento é a junção de genes resistentes, mas nestas associações, nestes cruza-mentos, tentam-se trazer também

outras características de interesse como a qualidade de chocolate”, comenta Pires, convicto da pers-pectiva de bons resultados com os trabalhos da pesquisa. A idéia do chocolate de va-riedade é uma proposta do Progra-ma de Melhoramento Genético do Cacau do Cepec. Como acontece com o vinho, o chocolate pode ser produzido de uma única varieda-

de ou de uma mistura estabelecida de variedades. Com a clonagem é possível que o cacauicultor invis-ta num cultivo com material es-pecífico, adequado para um tipo de chocolate. “Uma característica das variedades clonais é que você pode conseguir a uniformidade e isso pode criar novos e lucrativos mercados para o chocolate brasi-leiro”, conclui o pesquisador.

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BIOTECNOLOGIA

Ceplac dá início a projeto de pesquisa para ocontrole da vassoura de bruxa com a participação

da UESC, Unicamp, USP e Cenargen/Embrapa

A Ceplac está dando início a um projeto financiado pelo FI-

NEP, Ministério da Ciência e Tec-nologia e Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, que tem como objetivo desenvolver uma es-tratégia completa de combate à do-ença vassoura de bruxa na área de genética e biotecnologia. Essa ini-ciativa leva em conta os resultados de pesquisa já alcançados e concen-tra os novos estudos em ações com-plementares, a serem desenvolvi-das por uma rede interinstitucional. O projeto é coordenado pelo Centro de Pesquisas do Cacau da Ceplac e tem como co-executores a Univer-sidade Estadual de Santa Cruz - UESC, Universidade de Campinas - Unicamp, Universidade de São Paulo - USP e o Centro de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Em-presa Brasileira de Pesquisa Agro-pecuária – Cenargem/Embrapa. As equipes e instituições participantes foram integradas pela sua profici-ência nas áreas requeridas. O projeto denominado Re-nobruxa – Rede do Renorbio – Vas-soura-de-Bruxa, recebeu aprovação em 27 de dezembro de 2010 e fi-nanciará recursos de R$ 6 milhões de reais. Essa ação teve o apoio da Associação de Produtores de Cacau - APC, através do seu presidente Henrique Almeida, que apresentou

ao Presidente do Comitê Gestor do Fundo Setorial do Agronegócio do Ministério da Ciência e Tecnologia, Dr. Luiz Antônio Barreto de Castro, a realidade dos produtores de cacau e mostrou a necessidade de um vi-goroso financiamento para apoiar os estudos para o controle da vas-soura de bruxa. Em seguida foram realizadas discussões sob a lideran-ça do pesquisador da Ceplac, José Luís Pires, doutor em Melhoramen-to Genético, que falou da importân-cia de se desenvolverem estudos que englobassem os principais as-pectos genéticos para o controle da doença. Nesta fase houve grande apoio da Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia e do Ministério da Agricultura Pecuária e Abasteci-mento / CEPLAC, garantido, o úl-timo, parte dos recursos que seriam disponibilizados. O projeto Renobruxa tem como meta ampliar a geração de tecnologia para a revitalização da cacauicultura baiana e dinamização da cacauicultura nacional, através do controle da vassoura-de-bruxa do cacaueiro. Entre as ações pro-postas almeja-se o desenvolvimento de novas variedades de cacau para plantio comercial com adequada qualidade de produto, boas caracte-rísticas gerais e maior durabilidade de resistência. Essa durabilidade pode ser obtida pela acumulação

de genes de resistência e utiliza-ção de variedades com diferentes conjuntos de genes associados a este caráter. Também está prevista a identificação de novos genes de resistência à vassoura-de-bruxa e marcadores ligados a estes. Uma ação de pesquisa visa-rá a produção de fungicida à base de moléculas de RNAs homólogas a genes essenciais aos processos de infecção, crescimento, obtenção de nutrientes, reprodução ou ou-tros aspectos da patogenicidade do agente causal da vassoura de bruxa. Haverá pesquisas para o estabele-cimento de bases para produção de plantas transgênicas de cacau, visando ao controle da referida do-ença, identificação e validação in vitro de fragmentos protéicos com potencial como agentes antimicro-bianos e antifúngicos de amplo es-pectro; indução de resistência por agentes químicos, com elucidação de mecanismos de atuação e iden-tificação de genes expressos em plantas induzidas. Esta é mais uma iniciativa para a evolução perma-nente do conhecimento visando o aumento da produção, produtivida-de e qualidade do cacau sob condi-ções de ocorrência da vassoura de bruxa. Tudo isso sem esquecer que o Brasil é o país que mais avançou no conhecimento sobre o controle dessa terrível doença.

PROJETO RENORBRUXA

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SISTEMA AGROFLORESTAL

O plantio de cacau em sistema cabruca foi desenvolvido na

Bahia pelos pioneiros da lavoura ca-caueira. Já são mais de 260 anos cons-truindo a história, a cultura e a paisa-gem do sudeste do estado. A palavra de som peculiar é pouco conhecida fora da região ca-caueira. Há duas versões para sua ori-gem; a primeira é que provém de ca oca, a palavra tupi-guarani (ca = ma-deira, mata; oca = casa, que significa a casa de mata do cacau); a segunda versão é a que procede da fusão de palavras com o verbo brocar e deu origem às expressões cabrocar e ca-brucar. O significado? - Roçar, abrir a mata cortando arbustos e árvores pe-quenas para plantar cacau. É este con-ceito que está arraigado na cultura re-

gional e foi aprimorado ao longo dos anos, conciliando de forma eficiente produção e conservação num mesmo espaço. Doutor em Agronomia e Mestre em Ciências Florestais, o en-genheiro florestal Dan Érico Lobão, pesquisador da Ceplac, explicando que o sistema agrossivilcultural ca-cau cabruca é, possivelmente, o maior legado que a região sulbaiana gerou em benefício do desenvolvimento sustentável, cita uma afirmação do engenheiro agrônomo e Mestre em Desenvolvimento Regional Wallace Setenta, Presidente da Central Nacio-nal dos Produtores de Cacau (Cnpc): “a cabruca foi concebida num contex-to limitado de um espaço geográfico, pela relação direta homem - natureza, que propiciou as bases da formação

histórica e cultural de um território ge-nuíno, a região cacaueira da Bahia”. A integração do cacau cabru-ca ao ecossistema regional é um fato incontestável. Mesmo não sendo um elemento natural, ele está perfeita-mente integrado, uma vez que se be-neficia, protege, e interage com os re-cursos naturais do sul da Bahia. Essa agricultura proporcionou que o uso, a conservação e a produção coexistis-sem harmonicamente em um mesmo território, estabelecendo a conserva-ção produtiva. “Por isso, esse modelo sui generis de ‘conservar produzindo’ do sistema agrossilvicultural (agroflo-restal) cabruca, por si só, deveria ser motivo suficiente para garantir a sua manutenção, e mesmo a sua adoção e difusão para outros cultivos além do cacau”, diz o pesquisador.

O CACAU CABRUCAPROPORCIONA A

CONSERVAÇÃO PRODUTIVANO BIOMA MATA ATLÂNTICA

Parafraseando Liev Tolstoi: ‘‘Há quem olhe paraRegião Cacaueira da Bahia e veja apenas o cacau’’

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A lavoura cacaueira já ocupou uma área em torno de 700 mil hectares. Calcula-se que pelo menos 500 mil hectares eram de cacau cultivado em sistema cabruca. Na fase áurea do cacau, mais de 90 municípios do Sul da Bahia tinham na cacauicultura a sua principal sustentação econômica (figura 1).

Um sistema que con-serva bens comuns globais e gera ativos ambientais fundamentais. Entre eles, podem-se destacar:• a conservação e a perma-nência de fragmentos rema-nescentes da Mata Atlânti-ca, inseridos no entorno da cacauicultura, compondo o agroecossistema cacaueiro;• a conservação de exem-plares significativos de espécies arbóreas de dife-rentes estádios da sucessão natural, entre as árvores que proporcionam sombre-amento ao cacaueiro;• a conservação de espécies arbóreas que se encontram sob forte pressão antrópica e ameaçadas de extinção;• a conectividade gênica entre fragmentos florestais, uma vez que a cabruca é um eficiente corredor de biodi-versidade;• a contribuição na fixação de carbono;• a conservação de uma fauna silvestre bem diver-sificada, com aumento da capacidade de suporte fau-nístico de remanescentes florestais, proporcionando proteção (abrigo e alimen-to); • a conservação de recur-sos hídricos regionais asso-ciados; e a conservação de solos próxima aos de uma floresta.

Figura1. Mapa de localização da áreaplantada com cacau.

Região Cacaueira da Bahia.

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A sustentabilidade do siste-ma cabruca ganha mais força com o aproveitamento de outros produ-tos e sub-produtos de base flores-tal. “É preciso olhar para o cacau cabruca e perceber além da amên-doa do cacau, encontrando formas viáveis e sustentáveis de explorar suas potencialidades” diz Lobão. O cultivo em consórcio com outros cultivos tais como flores tropicais, açaí, pupunha, seringueira e mes-mo a pastagem, o aproveitamento racional de madeira residual e ain-da a comercialização de sementes de essências florestais são cami-

nhos apontados pelos especialistas da área. Mas é sempre bom lem-brar, que apesar de importante, não há como confundir a cabruca com a mata nativa. “O cacau ape-sar de manter a paisagem, alterou profundamente a estrutura da flo-resta original. A floresta atlântica original foi modificada quanto a sua estrutura horizontal e vertical (diversidade, densidade, volume e outros parâmetros descritores po-pulacionais); todo o sub-bosque – herbáceo, arbustivo, subarbóreo e até mesmo o arbóreo – foi alte-

rado onde o cacaueiro foi introdu-zido e cultivado. A área cultivada com cacau deixou de ser uma área de floresta natural e passou a ser uma área agrícola, ou melhor, uma agrossilvicultura (agricultura + ár-vores). Contudo, o pesquisador afirma que foi significativo e am-bientalmente positivo o que rema-nesceu. Segundo ele, nenhum ou-tro sistema agrícola praticado nos domínios da Mata Atlântica, foi capaz de conservar e manter tantos bens comuns globais e ativos am-bientais, como o cacau cabruca.

Sistema Cacau cabruca – conservando os recursos naturais associados (Foto 3.a cedida pelo Instituto Cabruca).

Cacau cabruca, osistema agrossilvicultu-

ral que salvou a Mata Atlântica no Sul da

Bahia, salvou também a Árvore Nacional, o

pau-brasil.

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Salvando a árvore símbolo do Brasil

árvorepau-brasil

Com a experiência adquirida com o sistema cabruca e

preocupada com a pressão preda-tória sobre espécies arbóreas no-bres, a Ceplac em parceria com ou-tras instituições, desenvolve ações para salvar a Árvore Nacional – o pau-brasil. O Programa Pau-brasil promove o resgate e a conservação produtiva da árvore que deu nome ao país, com o incremento de pes-quisas, educação ambiental, incen-tivo ao plantio e uso sustentável, eliminando o risco de extinção da espécie.

Figura 4. A Árvore Nacional, o pau-brasil no cacau cabruca

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De acordo com Dan Lo-

bão foram vários os parceiros

envolvidos desde a concepção

até o desenvolvimento do Pro-

grama: CNPC – Central Nacio-

nal dos Produtores de Cacau,

COOPERCACAU – Coopera-

tiva Central dos Produtores de

Cacau, FUNPAB – Fundação

Pau-brasil, POTURU – Funda-

ção Ecológica, GRAMA - Gru-

po de Resistência às Agressões

do Meio Ambiente, CDAC -

Centro de Desenvolvimento

Ambiental e Cidadania, IPCI,

uma associação internacional

que agrega fabricantes de arco

de violino, ABA – Associa-

ção Brasileira de Achetarios,

UESC – Universidade Estadual

de Santa Cruz, Jardim Botâni-

co do Rio de Janeiro, IBAMA

e UNESP-FCAV – Departa-

mento de Produção Vegetal.

O sucesso e a manuten-

ção de ações positivas com este

programa dependem do com-

promisso de manter a cacaui-

cultura de forma sustentável,

conciliando a produção com

a conservação. Lobão conclui

afirmando que “a Ceplac tem

a missão de estabelecer novos

rumos de maneira a possibi-

litar que a Região Cacaueira

resgate sua dignidade e impor-

tância no contexto nacional e

internacional”.

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A produção de mu-das para renova-ção dos cacauais

em busca de melhor produtivida-de e controle da doença vassoura

de bruxa tem sido um dos caminhos utilizados para o fortalecimento da lavoura cacaueira.

Doutor em Produção Ve-getal, com Mestrado em Solos e Nutrição Mineral de Plantas, o Engenheiro Agrônomo George Sodré, pesquisador da Seção de

Solos da Ceplac, explica que a técnica de produção das mudas de cacau por via seminal (com sementes) é secular. Surgiu no

México, quando os povos Astecas iniciaram o cultivo do cacaueiro, provavelmente antes do século XV e até mesmo da chegada dos espanhóis à América. “A propaga-ção vegetativa, que usa partes de uma planta para produzir novos indivíduos, também não é uma técnica nova, pois já era usada na América Central desde o século passado” diz o pesquisador. Segundo Sodré a propaga-

ção vegetativa surgiu da necessi-dade de produzir plantas clonais e assim uniformizar a produtivi-dade dos cacaueiros, já que a pro-pagação por sementes em geral é mais heterogênea, resultando em plantas com diferentes níveis de produção. As mudas são utiliza-das basicamente para a implan-tação de novas áreas ou replantio de lavouras antigas, substituindo plantas que por motivos diversos tenham morrido após o plantio. Com mudas de clones mais resis-tentes a doenças como a vassoura de bruxa é possível também re-compor áreas de baixa produtivi-dade, trazendo assim maior renta-bilidade para a propriedade. As técnicas de produção de mudas têm avançado e estão sendo aprimoradas constante-mente. Hoje, para produzir uma muda de cacaueiro de alta quali-dade, explica Sodré, é necessário selecionar plantas matrizes e por-taenxertos que possibilitem maior vigor da planta, resistência às do-enças e eficiência na absorção e transporte de nutrientes.

TÉCNICAS DEPRODUÇÃO DE MUDAS

PROPAGAÇÃO DOCACAUEIRO

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C om as duas técnicas: seminais e clonais, atu-almente é possível produzir vários tipos de mudas de cacaueiro, cada uma apresentando

suas vantagens e também desvantagens. As mudas seminais, também conhecidas como pé franco, são fáceis de produzir e tem custo baixo, mas apre-sentam variabilidade genética e possibilidade de segregar características indesejáveis.

Tipos de mudas

Mudas clonais enxertadas em portaenxerto no viveiro

Este tipo de muda tem como vantagens a ma-nutenção da capacidade pro-dutiva do material genético e a possibilidade de realizar a primeira poda de formação no viveiro. Estas, porém, exigem cuidados no prepa-ro e têm custo mais elevado se comparado com o plantio direto ou enxertia no campo. Contudo, permite fazer uma seleção melhor de plantas, descartando precocemente mudas de baixa qualidade.

Mudas produzidas inicial-mente em tubetes e repica-das em sacos pequenos e médios

Quando as condições de irrigação são inexistentes ou insuficientes. Nesse caso, a melhor época para plantio é entre os meses de junho e agosto onde ocorrem preci-pitações freqüentes e tempe-raturas mais amenas;

Mudas clonais de estaquia

Esta outra modalida-de é produzida em biofábri-cas usando hastes de ramos plagiotrópicos, substratos e tubetes. Também mantêm a capacidade produtiva do material genético e ainda apresentam como vantagem, a facilidade de obtenção de material para propagação. No entanto, precisam de um número maior de podas de formação e exigem cuidados na fase inicial após o plan-tio no campo, apresentando maiores riscos de perda. As mudas em tubetes só devem ser plantadas dire-tamente no campo em áreas novas (implantação), com sombreamento uniforme de uma única espécie, a exem-plo da bananeira, mandioca ou gliricídia e possibilidade de realizar irrigação;

Muda em saco ou mudão

Existe também um tipo de muda de saco conhe-cida como mudão. “Ela é obtida pela permanência da muda enraizada por um pe-ríodo entre 6 e 12 meses no viveiro de crescimento, após a repicagem para sacos de altura superior a 40 centíme-tros”. O mudão é recomen-dado para recompor falha (adensamento) em áreas onde os cacaueiros foram enxerta-dos em brotos basais ou em mudas seminais, ou ainda quando o sombreamento não é adequado.

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Até chegar às fazen-das e promover a renovação da la-

voura, as mudas percorrem um longo caminho. A produção em larga escala está concentrada no IBC – Instituto Biofábrica de Ca-cau, organização social criada com o apoio do Governo do Estado da Bahia e da CEPLAC em 1999. O IBC faz a propagação vegetativa e comercialização das mudas clo-nais de cacaueiro e ainda de espé-cies florestais e frutíferas. Nas atuais linhas de pesqui-sa, George Sodré está trabalhando num projeto para produzir muda clonal de ramos ortotrópicos, que são mudas muito parecidas com aquelas de origem seminal. Esses materiais são também clones e tem a vantagem de reduzir o número de

podas e, conseqüentemente, me-nos mão-de-obra durante o estabe-lecimento das plantas em campo. Na área de substratos or-gânicos estão sendo testados ma-teriais, a exemplo do tegumento da amêndoa do cacau (testa do ca-cau), que podem ser usados como componentes de misturas para en-chimento dos saquinhos, substi-tuindo o solo. O pesquisador informa que é comum que os próprios fa-zendeiros assumam a responsabi-lidade de produzir suas mudas. A produção própria demanda inves-timentos em viveiros protegidos por tela, além de água de qualida-de (limpa de resíduos e com bai-xa salinidade), escolha adequada de solos ou substratos orgânicos para o enchimento dos sacos, ti-

pos de sacos, fertilizantes, corre-tivos, adubos foliares e defensivos para controle de pragas. Por outro lado, existem poucos viveiristas na região credenciados pelo Ministé-rio da Agricultura para produção e comercialização em “larga escala” de mudas de sementes ou clonais por estaquia ou enxertadas em portaenxerto. Sodré também enfatiza que mudas de cacaueiro devem ser vigorosas para gerar no cam-po plantas produtivas, precoces e resistentes às doenças. “Por isso, para a comercialização de mudas é necessário que o viveiro esteja legalizado no Ministério da Agri-cultura, a fim de que as normas técnicas adequadas sejam efetiva-mente respeitadas”, adverte o pes-quisador.

Pesquisa e produção

Viveiro de mudas de cacaueiro

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A renovação dos ca-cauais com o plantio de mudas é apenas

a primeira etapa de um processo. De nada vai adiantar o investimen-to em mudas de qualidade se não houver acompanhamento adequa-do após o plantio. O manejo inclui diferentes tratos, como a poda de formação, adubação, controle de pragas, raleamento de sombra e até mesmo irrigação, entre outros. É preciso seguir as recomendações da assistência técnica para a exe-cução dessas práticas, inclusive observando o melhor período para realizá-las. A prática agrícola in-correta eleva custos para o produ-tor e quase sempre, atrasa a produ-ção de novas plantas. George Sodré informa que com o surgimento de novos clones, a necessidade de recompor ou im-plantar novas áreas, será preciso usar apenas mudas que tenham ga-rantia de qualidade genética, ele-vado vigor e que permitam retorno econômico. É importante lembrar, destaca o pesquisador, que a pro-dução agrícola é um somatório do clima, solo, planta, organismos, adequação ambiental e capacida-de financeira do produtor para in-vestimentos em insumos. Conclui dizendo que por melhor que seja uma muda de cacaueiro é preciso considerar todos estes fatores para garantir sucesso na produção do cacau.

Eficiênciano campo

Plantas propagadas por estaquia

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MATÉRIA DE CAPA

A produtividade de cacau na Bahia é um tema bastante

discutido a fim de que sejam ado-tadas medidas que proporcionem o alcance de índices elevados, bem acima daqueles obtidos his-toricamente. Nos últimos trinta anos, o estatístico Lindolfo Perei-ra Filho, pesquisador do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec), conduzindo o projeto Previsão de Safra de Cacau no sul da Bahia, identificou variações na produção e verificou que a produtividade foi afetada drasticamente por vá-rios fatores, além do já conhecido efeito da doença vassoura de bru-

xa. Em um levantamento recente, o engenheiro agrônomo, Milton Conceição, assessor técnico do Centro de Extensão da Ceplac (CENEX), analisou que entre os anos de 1978 e 1979, cada plan-ta produzia em média 159 bilros. Dez anos depois, nessas mesmas plantas, a quantidade média re-duziu para 86 bilros, e vinte anos depois, para apenas 32 bilros/planta. A produtividade de uma la-voura tem uma relação direta com os seguintes fatores: tecnologia, solo, clima e planta. A exposição às condições adversas de baixa fertilidade do solo, o excesso de

sombra e a vulnerabilidade das plantas às pragas e doenças, são os principais fatores que explicam a redução da produtividade do ca-cau de 160 para 32 frutos-bilros /planta. Essa situação se refletiu na produção total do sul da Bahia. Na safra 1962/63, quando foi criado o CEPEC, a produção era de 88 mil toneladas. Em 1987, a região alcançou o pico com apro-ximadamente 400 mil toneladas. Mas nos anos seguintes, começou um declínio drástico, agravado em 1993 com os efeitos da chega-da da vassoura de bruxa, ocorrido em 1989. Na safra 1999/00, a pro-dução caiu para 96 mil toneladas.

MANEJO INTEGRADO NA CACAUICULTURA MODERNA

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Apesar do aumento de produção ve-rificado na safra

2010/2011, que ficou em torno de 154 mil toneladas, a situação atual das plantações em boa parte da re-gião cacaueira da Bahia está longe da desejada. A densidade média nas lavouras - hoje de 550 plantas por hectare - é muito baixa. O re-comendado são 1.111 plantas por hectare. O índice de frutos por qui-lo de cacau seco também não é o adequado. Hoje são necessários 28

frutos/kg e o desejável são 20 fru-tos/kg. Convertendo este resultado para arrobas, verifica-se que exis-te atualmente uma necessidade de 428 frutos para produção de uma arroba (@) de cacau, quando o al-mejado são 300 frutos/@. Também estão abaixo do ideal os seguintes indicadores: o número de sementes por fruto, o peso das sementes, a resistência das plantas às doenças e o porte dos cacaueiros (que ainda é muito alto). Plantas de porte mais baixo facilitam o manejo.

“Outro dado importante é a quantidade de frutos por planta. Hoje com a baixa densidade e a falta de manejo se produzem em média 11 frutos por planta, geran-do apenas 18 arrobas por hectare. Esta produtividade não é suficien-te para pagar os custos relativos à adoção da tecnologia. Com a densi-dade desejada de 1.111 plantas por hectare, se cada planta produzir 27 frutos em média, a produtividade será de 100 arrobas por hectare”, destaca Milton Conceição.

Situação atual x Situação desejada

As causas da baixa produtividade do cacauei-ro são inúmeras, podendo-se destacar pelo menos dezessete situações que ocorrem

com freqüência no sul da Bahia. Na lista elaborada pelo extensionista, mencionam-se entre as mais importantes, os solos pobres ou empobrecidos, o emprego de material ge-nético de baixa produtividade, a suscetibilidade à vassoura de bruxa, plantas velhas que não respondem à tecnologia e o excesso de sombreamento. Há fazendas da região que apresentam todas estas causas e basta apenas um fator iso-lado para provocar a baixa produtividade. A redução da produção diminui a renda do agricultor que devido à falta de dinheiro, emprega menos recursos no manejo da plan-tação; a limitação no manejo reduz mais ainda a produ-ção, diminuindo gradativamente a sua renda. Essa situação provoca um empobrecimento contínuo, causando o que se costuma denominar de “Ciclo da pobreza”. A propriedade tem baixa produtividade, conseqüentemente baixa produ-ção; num cenário de preço baixo, a receita é pequena, o poder de investimento é baixo, as retiradas são pequenas, faltam recursos para custeio e assim a produtividade e a produção continuam baixas, repetindo o ciclo.

Ciclo da pobreza

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Sem a renovação urgente das plan-tas velhas de baixa

produtividade e sua substituição por plantas produtivas e com resistência a vassoura de bru-xa, será difícil a recuperação de uma lavoura. A chegada da vas-soura de bruxa de certa forma forçou a renovação de parte dos cacauais. Mas isso foi feito de forma acelerada e com muitas imperfeições. Portanto, o mane-jo integrado é o melhor caminho para alcançar a recuperação da cacauicultura baiana. Ele con-siste num conjunto de práticas culturais, tratos fitossanitários, controle biológico e controle químico. Mas o sucesso do ma-

nejo integrado depende da rea-lização das práticas de maneira correta e na época certa, respei-tando o calendário agrícola, dis-ponível em todas as unidades da Ceplac. Não adianta adubar uma roça, se esta prática não for feita na época certa e acompanhada da adequação da sombra. A questão da luminosida-de é outra preocupação no ma-nejo integrado. Com a vassoura de bruxa, muitas roças foram abandonadas e o sombreamen-to tornou-se bastante denso. Em algumas áreas com excesso de sombra, a plantação de cacau fica bastante escura mesmo du-rante o dia, mas o cacaueiro pre-cisa de 60 a 70% de incidência

de luz para produzir adequada-mente. O controle químico é um coadjuvante dos tratos culturais e fitossanitários, devendo ser empregado quando houver ne-cessidade de proteger os frutos, a fim de garantir a produtivida-de. O controle biológico da vas-soura de bruxa com o Tricovab é outra prática empregada com a vantagem de evitar impacto ao meio ambiente. Esta técnica voltará a ser empregada com o registro do produto, cujo proces-so já se encontra em fase final junto aos órgãos competentes. A correção do solo e a fertilização também são ferramentas impor-tantes do manejo.

Manejo integrado, a melhor solução

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A clonagem hoje é uma realidade na cacauicultura bra-

sileira, sendo um importante com-ponente do manejo integrado por possibilitar o emprego de clones produtivos e resistentes a vassou-ra de bruxa e, portanto, essencial à renovação da lavoura e aumento da produtividade.

A Ceplac, entre os vários clones recomendados, destaca os seguintes: TSH 1188, TSAN 792, CEPEC 2002 e 2004, PH 09 e 16, SJ 02, PS 1319, CCN 51, CCN 10, CCN 16, IPI 01 e CP 49. Outros clones estão sendo disponibiliza-dos após avaliação em experimen-tos realizados em nível de proprie-dades localizadas nos diferentes agrossistemas. Existem algumas particularidades nesses clones, como por exemplo: o grupo CCN não deve ser cultivado em áreas propensas à podridão parda, pois são muito susceptíveis. Os produ-tores devem procurar os escritórios locais da Ceplac para solicitar in-

formações detalhadas sobre essas particularidades. Os clones devem ser plan-tados em filas alternadas ou em grupos de filas alternadas, com no máximo cinco filas, para difi-cultar a evolução de patógenos, particularmente do agente causal da vassoura de bruxa. A identi-ficação dos clones em cada fila ou grupo de filas possibilita a colheita individualizada, quando o produ-tor fizer opção por este método, o qual lhe permitirá a avaliação da produção e da qualidade do cacau produzido, além de facilitar a cer-tificação de origem. Não há ainda informações conclusivas sobre as vantagens da utilização de plantios monoclonais em comparação aos policlonais sobre o aumento da produtividade. “Outra recomendação importante é investir no consór-cio do sistema agroflorestal, es-pecialmente com a seringueira, que garante maior rentabilidade da fazenda, pois quando a produ-ção do cacau está na entressafra, a produção de borracha está na sa-fra e vice versa, e isso melhora o fluxo de caixa, além do fato de que o SAF aumenta as receitas por hectare”, diz Milton Concei-ção que finaliza destacando que a tecnologia existe e o que fal-ta é o produtor receber dinheiro novo para voltar a investir em suas lavouras. O produtor tem de visar sempre a planta, o ambiente e o solo. A planta deverá ser excelen-te, o ambiente ajustado e o solo calibrado.

A escolha do clone

As características do clone ideal são basicamente:• A autocompatibilidade (as planta se cruzam);• Porte baixo;• Resistência às pragas e doenças;• Produção precoce e alta produtividade.

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DEFESA FITOSSANITÁRIA

Uma das maiores ameaças à ca-cauicultura no

Brasil é a possibilidade real de ocorrência da doença monilíase, causada pelo fungo Moniliophto-ra roreri, invadir o território na-cional e afetar os cacauais silves-tres e cultivados, principalmente na Amazônia. Um dos elemen-tos facilitadores para que isso aconteça é a extensa fronteira do Brasil com países onde ocorre a doença, tendo em vista que é des-povoada, tem pouca fiscalização e apresenta trânsito regular de pessoas e material botânico. A ação que oficializa as preocupações amazônicas com a monilíase, data do final do mês de abril de 2006, quando foi rea-lizada a prospecção nos cacauei-ros na tríplice fronteira com o estado do Amazonas (Colômbia, Venezuela e Peru). Desde 2007, a Ceplac, como organismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento (MAPA), desenvolve ações conjuntas com as Superin-tendências Federais de Agricul-tura (SFAs), onde a cacauicultu-ra está presente, para tratar deste assunto especifico. Também par-ticipam desse esforço as agên-

cias de defesa sanitária estaduais da Bahia, Pará, Rondônia, Ama-zonas, Mato Grosso e Espírito Santo. Dentre os vários riscos de instalação da monilíase em áreas cacaueiras, o que chama mais atenção é a ligação do Bra-sil, a partir dos estados do Acre e Rondônia com o Oceano Pa-cífico, através de estradas que passam pela fronteira peruana, especificamente pela cidade de Pucallpa. Neste ponto, apenas uma ponte inaugurada recentemente liga os dois países, faci-litando o fluxo de pessoas e o que condu-zem. Mais que isso, com uma distância a ser vencida entre frontei-ras de 100 a 150 quilôme-tros e dada às características de transmissão da do-ença, pode-se ter uma idéia dos riscos que essa disseminação pode causar.

Considerando tal possi-bilidade foi formalizado o Pla-no de Contingência da Monilía-se do Cacaueiro elaborado pelo MAPA, através da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), Ceplac e Superintendências Fe-derais de Agricultura (SFAs). O Governo da Bahia, representado pela Agência de Defesa Agrope-cuária da Bahia (ADAB), tam-bém participa dos esforços.

CONTINGENCIAMENTO DA MONILÍASE

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A segunda versão do Pla-no foi definida no II Encontro de Trabalho sobre Monilíase do Cacaueiro, realizado em feverei-ro de 2009, no auditório Hélio Reis de Oliveira, do Centro de Pesquisa do Cacau na Superin-tendência da Ceplac na Bahia, e a última, em maio, no auditório da Superintendência Federal de Agricultura em Belém, Pará, que objetivou dar os contornos técni-cos e protocolares finais ao tra-balho desenvolvido em Ilhéus. O fiscal federal agropecu-ário da Superintendência da Ce-plac no Estado do Pará, Fernan-do Teixeira Mendes, informa que

na última versão do Plano, den-tre outras ações, foram indicadas as alternativas mais urgentes que servem para orientar as deci-sões das autoridades do MAPA quando do início das atividades do Plano. Merecem destaque as prospecções de áreas de frontei-ra com Peru, Bolívia e Colômbia para saber a que distância está o fungo e se há disseminação; a intensificação da fiscalização em portos, aeroportos e postos de fronteira, visando a inter-ceptação de produtos agríco-las, artigos regulamentados e bagagens de passageiros pro-venientes de locais onde há

ocorrência da monilíase.Além disso, são previstas as se-guintes ações: um programa de educação sanitária que envolva produtores, técnicos da defesa agropecuária dos estados, exten-são rural e a sociedade em geral, na região de fronteira com países atacados pela doença, para evitar a introdução da monilíase; me-didas de emergência para erra-dicação de focos da praga, ime-diatamente após sua detecção; e qualificação e atualização do quadro de fiscais federais agro-pecuários e técnicos envolvidos diretamente nas ações de moni-toramento e controle da doença.

Segundo Fernando Tei-xeira Mendes, o trabalho a ser desenvolvido pelo Plano de Con-tingência da Monilíase é uma ar-ticulação do MAPA, através do envolvimento das SFAs dos esta-dos do Norte do País e as Secre-tarias Estaduais de Agricultura, via seus órgãos de fiscalização agropecuária e agências de defe-sa sanitária, contemplando todas as fases. Para tanto, já foi provi-

denciado o convênio, que prevê repasse de recursos financeiros do MAPA aos governos estaduais para manutenção da fiscalização nos estados brasileiros do Ama-zonas, Acre, Pará e Rondônia. Durante as prospecções nos países vizinhos são colhidas amostras de cacaueiros e fru-tos, que são encaminhadas para análise em laboratórios. Além disso, o produtor dessas regiões

é orientado a comunicar às auto-ridades locais qualquer mudança que observar na sua lavoura. Na tentativa de aumentar o espec-tro de atuação, bem como tornar ágil o processo de identificação de amostras suspeitas da doença, alguns laboratórios da Ceplac estão sendo credenciados pelo MAPA para atuarem, se necessá-rio, na identificação e isolamen-to de áreas.

Até dezembro de 2010, período da última varredura, nada foi encontrado, pois, apesar

de o Plano ainda não ter sido oficializado pelo MAPA, o trabalho dos fiscais federais agrope-

cuários do Ministério continua na região Amazônica, incluindo as áreas fronteiriças de Ta-

batinga e Letícia. Ainda em 2011, tem-se a expectativa de que, pelo menos, dois técnicos da

Ceplac possam viajar à Costa Rica, na América Central, e à Colômbia, para serem treinados

na identificação e manejo da doença em barreiras sanitárias, antecipando uma das fases do

Plano, que é a qualificação de profissionais.

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No caso da fronteira com o Peru, a maior preocupação no momento, Fernando Teixei-ra Mendes defende a fixação de barreiras fitossanitárias com atu-ação de 24 horas, assim como nas áreas fronteiriças onde há regis-tro da doença, principalmente se houver fluxo intenso de pessoas e de mercadorias. Por último, disse que quando do reajuste do Plano de Contingência da Monilíase do Cacaueiro, em Belém, fez-se o planejamento para contenção da doença no Brasil, com ações em áreas cacaueiras do norte do País, sul da Bahia e Espírito Santo. No Estado da Bahia, a ADAB - atenta aos acontecimen-tos na área de fronteira do Brasil com o Peru, ao trânsito intenso de vegetais (cacau, cupuaçu, pupu-nha) dos estados brasileiros que fazem fronteira com países onde ocorre a doença para o território baiano, à construção da ferrovia Oeste-Leste, ao risco eminente de sua introdução no território brasileiro e disseminação para os demais estados produtores - jun-tamente com a CEPLAC, vem executando uma série de medi-das de prevenção através do Pro-jeto Fitossanitário de Prevenção à Monilíase do Cacaueiro, haja vista que as tentativas de erra-dicação ou contenção da doença não obtiveram êxito em outros países. O Projeto - que tem por objetivo prevenir a entrada e o estabelecimento da monilíase no Estado da Bahia - contempla ações integradas de defesa sani-

tária vegetal, pesquisa, assistên-cia técnica e educação. Desde 2007, ADAB, CEPLAC e demais parceiros, realizam seminários e encontros técnicos em nível nacional e regional, com ampla participação de produtores e pro-fissionais para discussão sobre o perigo que representa a praga, risco de introdução e Plano de Contingência da Monilíase para o Estado da Bahia; capacitação de produtores, administradores e operários rurais quanto sintoma-tologia, medidas de prevenção e importância da notificação; di-vulgação em mídia; confecção e distribuição de material educati-vo, como informativo e cartazes. Em novembro de 2009, organizou o primeiro Curso de Emergência Fitossanitária com ênfase na Monilíase do Cacauei-

ro em nível nacional, onde fiscais federais, estaduais e extensionis-tas exercitaram um simulado de gabinete e de campo no caso de ocorrência de foco. Em 2010, como desdobramento das ações desenvolvidas foram descritas e divulgadas metodologias para prospecção de detecção, moni-toramento de áreas produtoras de cacau consideradas de baixo risco para introdução da monilí-ase e Projeto Educativo Sanitário para sensibilização dos princi-pais atores da cadeia produtiva, sendo que tais metodologias fo-ram validadas durante encontros técnicos, com a participação in-clusive, de pesquisadores equa-torianos (INIAP) e colombianos (CORPOICA) e de mais de 100 profissionais das Ciências Agrá-rias e Fitossanidade. Recentemente, em maio de 2011, foi criado o Comitê Técnico de Prevenção à Moni-líase do Cacaueiro na Superin-tendência da Ceplac na Bahia, sendo que essa representação estadual tem por objetivo coor-denar as ações de prevenção no estado, integrando os diversos segmentos da cadeia produtiva. A prioridade é a instalação das áreas de monitoramento, inicia-da nos Territórios do Baixo Sul e Litoral Sul, e o Projeto Edu-cativo Sanitário que já formou 43 multiplicadores, entre en-genheiros agrônomos e técni-cos agrícolas, e mobilizou mais de 150 profissionais atores do agronegócio cacau, no primeiro semestre de 2011.

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A crise econômica que nos últimos 20 anos vem afetando

a Região Cacaueira da Bahia pro-vocada por uma série de fatores, tais como baixos preços do cacau no mercado internacional, dimi-nuição da oferta de crédito aos agricultores e ocorrência danosa da doença “vassoura-de-bruxa”, se constituiu num enorme desafio a ser vencido pelos cacauicultores e a sociedade em geral. Na região do Vale do Rio das Contas, os produtores encontraram uma so-lução interessante para enfrentar o problema, criando um agropo-lo de Fruticultura, que vem

se consolidando ano a ano, apre-sentando resultados que já im-pactam a economia regional. Estudos conduzidos pela CEPLAC, sob a responsabilida-de do pesquisador Antonio Carlos Araújo, mestre em Economia Ru-ral, apontaram a agroindústria de polpa de frutas como uma impor-tante alternativa para a geração de emprego e renda com perspectiva de ancorar a cadeia produtiva da fruticultura no sul da Bahia, ati-vidade que há dez anos era pouco expressiva na região. As pesquisas se basearam na premissa de que o plantio de fruteiras em imóveis

dedicados exclusivamente a lavoura do cacau, propor-cionaria uma sinergia po-sitiva entre as culturas, possibil i tando o me-lhor uso dos recursos ociosos das proprie-

d a d e s

agrícolas. O diagnóstico levou em conta a capacidade instalada da agroindústria de polpas, que ad-quiria grande parte da sua matéria-prima fora da região. Com base nessa demanda, o Consórcio dos Municípios do Vale do Rio das Contas – associação de 15 prefei-turas da região - juntamente com a Ceplac, se dedicou à criação de um pólo de desenvolvimento com o objetivo de superar a crise da economia regional e proporcionar a melhoria da qualidade de vida da população. O crescimento desse traba-lho exigiu a participação de novos atores, a exemplo do Governo da Bahia, através da Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri) e Secretaria de Indústria, Comércio e Mineração (SICM), assim como, a Federação da Agricultura do Estado da Bahia (FAEB), através do Senar, o Se-brae, o Instituto Biofábrica de Ca-cau e a Associação dos Produtores de Frutas (Aprofruta). Essa ampla cooperação institucional viabili-zou a consolidação do Agropolo do Vale do Rio das Contas.

AGROPOLO: GERAÇÃO DEEMPREGO E RENDA NO

VALE DO RIO DAS CONTAS

FRUTICULTURA

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Na região do Médio Rio das Contas, o parque agroin-dustrial, que a princípio se instalou com base na oferta de polpa de cacau, assegurou mercado para a polpa de outras frutas, possibilitando a expan-

são da fruticultura. A perspec-tiva de demanda e as condições edafo-climáticas favoráveis a esta atividade possibilitaram a expansão do plantio de cupua-çu, maracujá, graviola, goiaba e acerola, fruteiras cuja área

plantada evoluiu de 30 hectares no ano 2000 para 1.229,8 hec-tares em 2010 (Tabela 1). Ape-sar desse crescimento, a produ-ção atual ainda corresponde a 40% das necessidades do setor agroindustrial regional.

Tabela 1 – Evolução da área plantada com fruteiras no Agropolo do Vale do Rio das Contas. Fonte: CEPLAC/CENEX/IPIAÚ

Ano

20002001200220032004200520062007200820092010

-20,080,073,043,0

126,598,5

108,5251,8138,5260,0

30,050,0

130,0203,0246,0372,5471,0579,5831,3969,8

1.229,8

Área (ha) Incremento (ha)

Conforme apresentado na Tabe-la 2, verifica-se que à exceção do cajá, atualmente utilizado como sombrea-mento espontâneo do cacaueiro, as de-mais fruteiras cultivadas na região ge-raram uma produção de 5.712 toneladas de frutas, 3.690 empregos diretos e um valor da produção de 6,85 milhões de reais, em 2010. Tais informações de-monstram que o agropolo já está contri-buindo na formação de emprego e renda na sua área de abrangência.

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Atualmente, no Agropo-lo do Vale do Rio das Contas, operam seis agroindústrias de polpa de frutas, consideradas

de médio e grande porte que geraram uma receita bruta de 51,4 milhões de reais e 1.050 empregos diretos em 2010. O

cajá aparece em primeiro lu-gar na formação dessa receita (28,30%), vindo a seguir o caju (9,27%) e a goiaba (8,45%).

A assistência técnica para os produ-tores é realizada

pelo Centro de Extensão da Ceplac (Cenex) em 80 % das áre-as e pelas Secretarias Municipais de Agricultura. A Ceplac realiza seminários e treinamentos perio-dicamente, através do Cepec e Cenex, além da Universidade do Sudoeste Baiano (UESB), visando difundir as principais técnicas e manter os produtores atualizados. Os eventos têm apoio do Senar, Sebrae e Prefeituras. Estas ações são importantes porque os produ-tores precisam oferecer produtos de qualidade para o mercado a um custo competitivo, o que exige a

adoção da tecnologia e eficiência nos métodos de gestão. A expansão da área de fru-ticultura é feita, principalmente, com mudas produzidas pelo Ins-tituto Biofábrica de Cacau que assegura qualidade e sanidade, evitando riscos com a dissemina-ção de pragas e doenças. No ano de 2010, a Seagri liberou 90.390 mudas de fruteiras para plantio pelos pequenos produtores dos 15 municípios que fazem parte do agropolo. Somente essas mudas possibilitaram o aumento de 222 hectares na área cultivada com fruteiras, sendo que a gravioleira representa 32 % do total. Os grandes e médios pro-

dutores têm rea-lizado o plantio de fru-teiras com re-cursos próprios em razão da dificuldade de acesso ao crédito. Contudo, alguns pequenos produtores têm obtido crédito agrícola através do Pronaf, junto ao Banco do Brasil e Banco do Nordeste.

Tabela 2 – Situação da fruticultura no Agropolo do Vale do Rio das Contas no ano de 2010. Fonte dos dados básicos: CEPLAC, 2010.

Assistência aos produtores

Discriminação Quantidade

Produtores envolvidosÁrea plantada (ha)

- Em desenvolvimento- Safreira

Produção (t)Empregos diretosValor da produção (em mil reais)

7641.229,8

778,8451,05.7123.9606.854

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Os agropolos se c a r a c t e r i z a m pela intervenção

bem articulada de diferentes ins-tituições públicas e privadas em um determinado espaço geográfi-co, com o propósito de fortalecer o capital humano, social e econô-mico. Nas regiões com potencial de crescimento do agronegócio, a estratégia é focada no desenvol-vimento das cadeias produtivas, procurando-se integrar sinergica-mente os elos de insumos, produ-ção, agroindústria e distribuição, visando à conquista do mercado, através do atacado e varejo. O agropolo do Vale do Rio das Contas foi inspirado nas ex-periências de sucesso de outros estados, a exemplo do Pólo Pe-trolina (PE) / Juazeiro (BA), no qual se obteve notável desenvol-

vimento numa região semi-árida, graças à irrigação de fruteiras com a água do rio São Francis-co e facilitação de competências para os empreendedores locais. No estado do Ceará, pobre em recursos hídricos, a implantação de agropolos é um exemplo de mudança na qualidade de vida da população. Os agropolos são usados como alicerce da política de desenvolvimento do estado, merecendo destaque a região do Baixo Jaguaribe que, em período relativamente curto, passou a ser um modelo virtuoso, tendo a agri-cultura como alavanca de um pro-cesso de promoção de mudanças positivas para a sociedade. No Vale do Rio das Con-tas a gestão do Agropolo é reali-zada por um coordenador desig-nado pelo prefeito ocupante do

cargo de presidente do Consórcio dos Municípios do Vale do Rio da Contas, o qual representa as pre-feituras de Aiquara, Apuarema, Barra do Rocha, Dário Meira, Gongogi, Ibirapitanga, Ibirataia, Ipiaú, Itagi, Itagiba, Itamari, Je-quié, Jitaúna, Nova Ibiá e Ubatã, com poderes para execução de ações necessárias à sua consoli-dação e expansão. Atualmente o presidente do consórcio é o pre-feito de Barra do Rocha, Jona-tas Ventura dos Santos. As ações desenvolvidas na condução do Agropolo têm sido apartidárias, razão do sucesso da iniciativa. Também colabora na gestão um grupo formado pelos representan-tes das instituições parceiras. Atu-almente a coordenação é exercida pelo representante da CEPLAC, Antonio Carlos Araújo.

Importância do agropolo

Segundo o ex-presi-dente da Associação de Produtores de

Frutas do Vale do Rio das Contas, Jorge Joaquim de Carvalho, a fruti-cultura foi introduzida como ativi-dade econômica em um momento em que os produtores rurais esta-vam desanimados e alguns pensan-do em abandonar a região. O plan-tio de graviola em sua propriedade, no município de Ubatã, iniciou uma nova era de prosperidade,

sendo que a renda gerada pela fru-teira contribuiu para o trabalho de recuperação da propriedade, já que a graviola, nas condições locais, produz até 40 toneladas por hecta-re, o que corresponde a uma receita bruta de R$ 48 mil aos preços atuais de R$ 1,20 o quilograma. Segundo Jorge Carvalho, a produção de graviola, além de me-lhorar o resultado financeiro de sua propriedade, está contribuindo para recuperar a área de cacau. A fruti-

cultura contribuiu para a formação de 80% da receita do imóvel. Além das vantagens mencionadas, um destaque para ele é que fruteiras como a graviola, por exemplo, têm máxima produção de dezembro a março, meses que coincidem com o período em que o cacaueiro passa a reduzir a produção. Isso melhora o fluxo de caixa e permite uma me-lhor utilização da mão-de-obra. “É preciso acreditar e ir a luta”, finali-za o produtor.

Experiência de um produtor

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Apicultura é a ci-ência, ou arte, da criação de

abelhas com ferrão. A criação racional de abelhas para fins co-merciais tem como objetivo, a produção de mel, própolis, geléia real, pólen, cera e veneno, entre outros produtos. Além disso, as abelhas são importantes polini-zadoras. A atividade apícola vem sendo incentivada pelo Centro de Pesquisa do Cacau – Cepec da Ceplac, como alternativa de diversificação das propriedades agrícolas e geração de renda para pequenos produtores do sul da Bahia. Dentre as principais ativi-dades pecuárias, a apicultura é a que mais tem se desenvolvido no Brasil, nas últimas décadas, gra-ças a pesquisas realizadas na área de biologia das abelhas, manejo e atividades com vista ao melhora-mento genético das abelhas afri-canizadas. As maiores dificuldades da apicultura brasileira foram sendo superadas à medida que o manejo das abelhas africanizadas se aper-feiçoava. A produção de mel e a

oferta no mercado interno amplia-ram-se de forma que possibilita-ram ao Brasil tornar-se um grande produtor de mel e dos demais pro-dutos apícolas que interessam ao mercado. No Nordeste, as abelhas africanizadas adaptaram-se facil-mente ao habitat natural, tendo em vista as semelhanças das ca-racterísticas climáticas da região com o seu local de origem. As abelhas africanizadas apresentam vantagens significa-tivas se comparadas às abelhas européias. Experiências compro-

vam que as colônias se desenvol-vem mais rapidamente, são mais resistentes a doenças, são alta-mente polinizadoras, produzem mais mel e própolis, conseguindo adaptar-se melhor às regiões de clima tropical, como o do Nor-deste brasileiro.

DESENVOLVIMENTO DAAPICULTURA NO SUL DA BAHIA

APICULTURA

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O incentivo à ativi-dade apícola, efe-tuada pela Ceplac

na região sul da Bahia, teve início no ano de 1992, quando se reali-zou uma verdadeira “catequese” com os produtores, pois as abe-lhas por si só geravam medo à população do campo, onde eram relatados casos de ataque às pes-soas. Embora nem sempre ver-dadeiros, os casos se espalhavam e eram repetidos ao longo do tem-po, impedindo que os produtores se interessassem pela apicultura. Nesse período foram feitas pa-lestras de sensibilização e cursos básicos mostrando os aspectos econômicos, ambientais e sociais da atividade. Ao longo desses 20 anos pode-se afirmar que a atividade apícola no sul da Bahia está con-solidada e o processo é irreversí-vel. Hoje se estima que mais de 2.200 famílias vivem da ativida-de em 29 associações de apicul-

tores, cuja produção de mel já ultrapassa a 400 toneladas/ano, enquanto a de pólen corresponde a 25 toneladas/ano. Com o crescimento acelerado, em 2009 a Ceplac criou o Núcleo Regional de Apicultura, lo-calizado no Cepec, a fim de atender a grande demanda dos produtores. As ações da Ceplac/Cepec na apicultura en-volvem desde a pesquisa e capacitações até serviços aos pequenos apicultores. Na área de pesquisa atua no melhoramento de abelhas rai-nhas, identificação de plantas apí-colas, caracterização dos produtos das abelhas, entre outras ações. As análises dos produtos são fei-tas com cromatografia líquida, cujos resultados são precisos. Na área de capacitação

disponibiliza treinamentos bá-sicos para os produtores, mane-jo avançado, produção e bene-ficiamento de cera de abelhas, produção de abelhas rainhas, produção de própolis, produ-ção de pólen e elaboração de compostos. Na área de serviços re-cebe a cera bruta dos pequenos produtores e beneficia, transfor-mando-a em cera alveolada; dis-ponibiliza equipamentos para a secagem de pólen de pequenos produtores; envasa mel em sache e distribui rainhas selecionadas.

A CEPLAC e a apicultura no sul da Bahia

Número de Apicultores: 2.200 – do Baixo sul ao extremo sul, área onde a Ceplac atua. Produção de Mel: 400 toneladas/ano safra 2009/2010 - Receita: R$ 1.600.000,00 Produção de Pólen: 35 toneladas/ano safra 2009/2010 - Receita: R$ 1.700.000,00 Produção de Própolis: 400 quilos/ano safra 2009/2010 - Receita: R$ 200.000,00 Número de Associação: 29Número de Cooperativas: 04Receita Bruta Total com a Cadeia Apícola no sul da Bahia: R$ 4.500.000,00

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Melhoramento genético de abelha rainha

A substituição na-tural como vem sendo feita pe-

los apicultores não distingue as colônias melhores - perpe-tuam tanto as boas como as más famílias. O objetivo da Ceplac na criação e melhora-mento de abelhas rainhas é o aumento da produtividade dos produtos das abelhas, com o propósito de tornar a apicultu-ra do sul da Bahia competitiva com relação a outras regiões do Brasil. Como objetivos se-cundários, a Ceplac disponi-biliza apoio para que o apicul-tor possa ampliar seu apiário. Nesse sentido faz a reposição de rainhas por perda natural e troca rainhas velhas por rai-nhas novas e mais produtivas. A técnica utilizada pelo Centro de Pesquisa do Cacau – Cepec para a produção de abelhas rainha é de transferên-cia de larvas desenvolvida por G.M. Doolittle e publicada em 1889. Desde então, algumas adaptações foram feitas, mas a técnica consiste basicamen-te em transferir larvas do favo da colônia escolhida para cú-pulas de cera ou acrílico com geléia real. A técnica permite a produção de abelhas rainha em escala industrial. A Ceplac, a t ravés do

Centro de Pesquisa do Cacau já distribuiu 520 rainhas para os produtores e vem apoiando apicultores nos municípios

de Itaju do Colônia (Palmi-ra), Guaratinga, Eunápolis, Itacaré, Ilhéus e seu distrito Olivença.

No sul da Bahia a criação de rainhas é umainiciativa essencial para a prática de uma apicultura intensiva

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DIVERSIFICAÇÃO

As palmeiras juçara e açaí se consti-tuem em importan-

te fonte para a produção de palmi-to, bastante conhecido na culinária brasileira. Nos últimos anos o fru-to do açaí vem sendo empregado em larga escala para a produção de polpa, sendo um alimento bastante nutritivo e reconhecido pelo seu va-lor energético. O que é ainda pouco divulgado, é que a polpa da juçara também apresenta características nutritivas excepcionais e começa a ser consumida pelos apreciadores de alimentos exóticos. Nesse senti-do, os pesquisadores do Centro de Pesquisa do Cacau - CEPEC, Ma-ria das Graças Conceição Parada Costa Silva, Waldemar de Sousa Barreto e Maria Helena Serôdio, realizaram um estudo visando co-nhecer o valor nutritivo das pol-pas de açaí e juçara nas condições ambientais da região Sul da Bahia, obtendo resultados interessantes.

POLPA DO FRUTO DA JUÇARAE DO AÇAÍ: ALIMENTOS DE

ALTO TEOR NUTRITIVO

A polpa dajuçara e doaçaí

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A juçara, típica da floresta Atlântica, encontra-se distri-

buída por toda a encosta do Sul da Bahia, seguindo até o Rio Gran-de do Sul, sendo encontrada tam-bém nos estados de Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e Sergipe. O palmito extraído dela é famoso pelo sabor. Contudo, o uso irregular e a exploração extrativis-ta estão acabando com a espécie, a ponto de colocá-la na “Lista de Espécies em Extinção”. Até pouco tempo, o palmi-to era o produto mais conhecido da juçara. No entanto, o processamen-to do fruto para obtenção de polpa apresenta grande perspectiva sob o ponto de vista alimentar, podendo

se constituir em um importante ne-gócio para os produtores do Sul da Bahia. No Sul e Sudeste do Brasil já existem programas institucionais e da sociedade civil para estimular o uso da polpa na alimentação, in-clusive na merenda escolar.

No estudo realizado pelos pesquisado-res citados, no La-

boratório de Análises de Tecidos Vegetais da Seção de Fisiologia do CEPEC, se constatou que a polpa da juçara é tão nutritiva quanto a do açaí, podendo ser consumida de forma similar. Os frutos foram colhidos em plantios da Estação Experi-mental Lemos Maia, no município de Una, e submetidos ao mesmo tratamento durante o beneficia-mento da polpa que consiste em:

lavagem, imersão em água à tem-peratura indicada, processamento em despolpadeira e peneiramento absolutamente igual. Foram analisados os se-guintes elementos: Nitrogênio, Fósforo, Potássio, Cálcio, Mag-nésio, Ferro, Zinco, Cobre e Man-ganês, além da acidez, açúcares totais e níveis de gordura. Os resultados mostraram que a pol-pa de juçara supera a do açaí em 20,8% no nível de Zinco, 65,7% no de Potássio e 70,3% no de Fer-ro. O açaí ficou à frente apenas

nos teores de Fósforo e Cobre. Os demais elementos se equivaleram. A juçara também mostrou ter um maior valor energético, sem dife-rença nos níveis de acidez. Os autores da pesquisa concluíram que o uso da polpa do fruto da juçara na alimentação humana é uma excelente alterna-tiva do ponto de vista da saúde e de grande potencial econômico e ambiental, por agregar valor aos remanescentes florestais da região e contribuir para a preservação da espécie.

Em um teste de degustação realizado na 26ª Semana do Fazen-deiro, promovida pela Ceplac na EMARC, em Uruçuca, Bahia, a polpa da juçara ganhou a preferên-cia em relação ao açaí, por ser mais doce e ter sabor neutro, podendo ser misturada com qualquer fruta.

Estudo comparativo entre aspolpas de açaí e juçara

Trabalhos realizados por pes-quisadores do Instituto Agronô-mico de Campinas, São Paulo, constataram maior teor de an-tocianinas (pigmento da família dos flavonóides) no fruto da ju-çara (1.347 mg / 100 g de frutos frescos), que no açaí ( 336 mg / 100 g / frutos frescos), o que lhe confere característica de gran-de poder antioxidante.

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EVENTOS & NOTÍCIAS

Premiação

Apicultura

A pesquisadora Edna Dora Martins Newman Luz, da Ceplac, recebeu o prêmio Destaque de Fitopatologia 2011. A homenagem foi feita durante o 44º Congresso Brasileiro de Fitopatologia, realizado na cidade de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. A escolha da pesquisadora, de acordo com os organiza-dores do evento, se deu por conta da grande contribuição à fitopatologia em toda a sua vida profissional. Para a pesquisadora, o prêmio é - sobretudo - uma demonstração da qualidade da área de pesquisa da Ceplac, que tem contribuí-do significativamente para o fortalecimento da lavoura cacaueira e outras culturas.

Em outubro, a Ceplac e o Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento, Secretaria Estadu-al de Agricultura e Reforma Agrária, Sebrae, Confe-deração Brasileira de Apicultura, Federação Baiana de Apicultura e Meliponicultura e Associação Cana-vieirense de Apicultura promoverão três eventos si-multâneos: o VI Seminário de Própolis do Nordeste; o V Encontro Nacional de Produtores de Pólen e a Feira da Cadeia Produtiva da Apicultura e Melipo-nicultura. Os eventos ocorrerão entre os dias 25 e 28 de outubro, no auditório Hélio Reis da Ce-plac/Sueba/Cepec, na rodovia BR-415, entre Itabuna e Ilhéus. Segundo o coordenador do evento, Ediney Magalhães, na programação serão discutidos temas variados relacionados ao setor, como manejo para produção intensiva de pólen, produção e beneficiamento da própolis e criação de abelhas sem ferrão, entre outros assuntos relevantes. Na feira, entre as atrações estão programa-dos demonstração do beneficiamento do pólen, labo-ratório para análise dos produtos e exposição de equi-pamentos. Uma ótima oportunidade para quem quer investir na apicultura, um setor que cresce a cada ano! São esperadas mais de 600 pessoas nos eventos que contarão com delegações de vários estados, mantendo a riqueza de informações que são apresentadas por pa-lestrantes renomados no assunto, e também pelo nível dos expositores.

Dra Edna Dora recebeu no RS o prêmio Dr. Álvaro Santos Costa

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Simpósio da pupunheira Foi um sucesso total. A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacauei-ra (Ceplac), em parceria com a Secretaria de Agricultura do Estado e Universidade Estadual de Santa Cruz, (Uesc) organizou o I Simpósio Brasileiro da Pupunheira, (I Simbrap), no período de 27 a 30 de setem-bro de 2011, no Centro de Convenções de Ilhéus, BA. O evento teve ainda o apoio da Fundação Pau Brasil, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano – Campus de Uruçuca, Bahiatursa, Adab - Agência Estadual de Defesa Agropecu-ária da Bahia, Ebda - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola, Faeb - Fede-ração da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia, Uesb - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Senar - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, Banco do Nordeste, Sebrae - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, Embrapa - Empresa Brasileira de Pes-

quisa Agropecuária, Inaceres - Indústria de Alimentos no mercado de palmitos, Coopalm - Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia, Cul-tiverde - Produtos Sustentáveis, Viveiro Flora do Vale, Grupo Gabrielli, Associa-ção Brasileira de Horticultura, Sociedade Brasileira de Fruticultura, Fibradesigne e prefeituras de Ilhéus, Uruçuca e Una. O primeiro encontro nacional reuniu pro-dutores, agroindustriais, pesquisadores, extensionistas, estudantes e outros profis-sionais do setor. Durante os quatro dias, foram discutidos temas relevantes sobre a pupunheira, especialmente produção de palmito, contribuindo para o fortaleci-mento da cadeia produtiva e para a conso-lidação da exploração do fruto como ati-vidade econômica com vistas à segurança alimentar e à melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais. Outro pro-duto da pupunheira ainda pouco utilizado,

a madeira do estipe, também foi tema de discussão no evento. Foram registrados cerca de 500 participantes. Na programação, houve palestras, mesas redondas, apresentação oral, sessão de pôsteres nas áreas temáti-cas: palmito e frutos da pupunheira, além de feira e exposição de produtos e servi-ços do agronegócio pupunha. Produtos saborosos feitos com o fruto da pupunha fizeram muito sucesso nos “Pupunha Bre-ak” tais como bolos, doces, vatapá para acarajé e até mesmo escondidinho de car-ne seca. De acordo com a coordenadora do evento, a pesquisadora Maria das Gra-ças Conceição Parada Costa, a realização deste I Simbrap foi um passo importante para a integração entre os setores envolvi-dos com a pupunheira, contribuindo para a difusão de informações e apoiando o desenvolvimento sustentável das regiões produtoras.

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Em 20 de janeiro de 1957, a CEPLAC inicia a sua trajetória

com o compromisso de executar o Plano de Recuperação da Lavoura Cacaueira prestando inicialmente assistência financeira aos cacaui-cultores. A partir da recomposição das dívidas dos produtores, esta or-ganização alçou novos vôos em di-reção à pesquisa, à educação pro-dutiva, à extensão rural e depois ao melhoramento da infraestrutura da Região. O então inusitado modelo institucional, ímpar na agricultu-

ra brasileira, abringan-

do, sob o mesmo a r c o a d m i -nistra-tivo, a p e s -

quisa, a extensão rural/assistência técnica e a educação produtiva respondeu às demandas das regiões produtoras de cacau do Brasil com o desenvolvimento sustentável da cacauicultura e dos cultivos a ela associadas e com inegáveis impac-tos social e econômico. Sob esse modelo, come-moramos significativos resultados, elevando o Brasil à condição de se-gundo maior produtor mundial de cacau, através do PROCACAU, na década de 80, com geração de di-visas da ordem de US$ 01 bilhão/ano e 400 mil empregos diretos. Na Amazônia, o PROCACAU ele-vou a produção anual de 1.700 ton. para mais de 60 mil, colocando os estados do Pará e Rondônia como segundo e terceiro produtores de cacau do país, respectivamente. O programa de diversificação agro-pecuária das regiões cacaueiras, aliado à verticalização da cadeia produtiva do cacau, impulsionou a agroindustrialização e assegurou importantes resultados em termos de agregação de renda e geração de empregos. Foram instaladas pequenas indústrias com gera-ção de mais de 2.000 empre-gos diretos, somente no sul da Bahia. A marca da CEPLAC se chama REALIZAÇÃO. De-

senhada para objetivos e resulta-dos, procurou harmonizar o com-promisso público com os interesses de cerca de 60.000 produtores rurais, materializando a presença do Estado nas regiões de atuação, promovendo o desenvolvimento do agronegócio, atenuando as de-sigualdades sociais e protegendo os recursos do meio ambiente.

Nesses 54 anos de exis-tência a CEPLAC destaca-se pela sua capacidade empreendedora, e nos oferece a satisfação dos gran-des resultados e, em especial, a expectativa de novos desafios. Escudada na sua força de traba-lho e no seu aparato institucional, assegura às regiões cacaueiras do Brasil o saber técnico-científico - matéria-prima do desenvolvi-mento econômico-social – a uni-versalização do conhecimento e a dedicação dos seus servidores. Como integrante da atu-al Diretoria da Ceplac, sinto-me gratificado por também pertencer aos seus quadros e aproveito esta oportunidade para valorizar os nossos servidores e reconhecer a contribuição de todos. É o vela-do “ORGULHO DE SER CEPLA-QUEANO”, a nossa marca, que nos faz preservar e buscar novas conquistas.

CEPLAC 54 ANOS DEREALIZAÇÕES

Edmir FerrazDiretor Geral Substituto da CEPLAC - Brasília-DF

PONTO DE VISTA

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