machado, vânia pereira. lá enquanto cá
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LÁ, ENQUANTO CÁ
estratégias de adaptação nas práticas alimentares de
migrantes
Professora: Drª Antónia Lima [email protected]
Mestranda: Vânia Daniela Machado, nº 60090 [email protected]
Lisboa, Janeiro de 2013
ISCTE-IUL – Instituto Universitário de Lisboa Mestrado em Antropologia
Seminário: Migrações Contemporâneas
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1. INTRODUÇÃO
Ao produzir material que disserte sobre migrações contemporâneas, é possível optar
pela escolha de uma entre muitas abordagens. Inclusive existe a possibilidade de uma
abordagem com múltiplas orientações. Normalmente a abordagem restringe-se por aspectos
culturais, económicos, históricos ou políticos. Recortes provocados por etnia, género,
linguagem, nacionalidade ou nível de desenvolvimento económico são aspectos possíveis de
serem seleccionados como orientadores, porém, optei pela utilização da alimentação como
vertente que permita a análise social do fenómeno de migrações contemporâneas.
As práticas de consumo alimentares, por sua universalidade existencial entre humanos,
e os modos de produção de alimentos, pela sua quase dependência à humanidade, podem
permitir uma análise social que reduza a dependência da identificação de fenómenos e
categorias sociais, normalmente considerados como vinculados a possíveis diferenças
culturais. Deste modo, permite-se a análise de fenómenos sociais (como a migração) através
de elementos onde a similaridade de categorias, ou a categorização dos elementos
constituintes não assume o ponto de partida.
A alimentação como prática humana é omnipresente, porém possui forma, meios,
costumes e relações que se apresentam de modos múltiplos e variáveis, conforme aspectos
culturais, económicos, geográficos e sociais também enfatizados por Poulain (2004) através
do que ele chamou de “espaço social alimentar”. Fischler (1990) acrescenta que os hábitos
alimentares apresentam diferentes resoluções de acordo com cada formação cultural. O autor
afirma que o acto de se alimentar seria central na formação de uma identidade colectiva e, ao
mesmo tempo, de distinção do "outro" (FISCHLER, 1996).
Ao mesmo tempo em que a alimentação é moldada por aspectos culturais,
económicos, geográficos e sociais, é de se observar que a alimentação também os molda.
Define modos de ser, onde e como estar, quem, quando e quanto pode comer e as relações
entre as pessoas que a realizam. Hábitos e modos alimentares são construções culturais e
sociais que podem ser transmitidos de geração para geração, com ou sem mudanças e
adaptações (Barbosa, 2012). A geografia pode e é afectada pelas necessidades de plantio e
cultivo e de criação de animais. E a economia de um grupo, aldeia ou nação pode ser
completamente alterada ou definida pela sua capacidade e acesso de meios de produção ou
meios de consumo alimentares.
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O fenómeno migratório contemporâneo é identificado como o deslocamento de
indivíduos, ou grupos de indivíduos, que almejam atingir metas ou objectivos, que julgam ser
mais facilmente tangíveis noutro contexto geográfico ou cultural específico (Assunção, 2011,
Calvo, 1982).
Conforme Codesal (2010) a migração produz fortes mudanças aos seus realizadores
quando a sua cosmologia, os seus conhecimentos e as suas práticas anteriores podem ser
colocados em xeque. A autora também sugere que os processos envolvidos na alimentação
(desde comprar ou procurar alimentos, até os comer) podem facilitar e atenuar as alterações
que por ventura possam existir em um processo de migração (CODESAL, 2010).
Conforme já demonstrado por outros autores (Assunção, 2011; Halter, 1995; Oliveira,
2012), mesmo durante a participação num movimento de migração, a utilização das práticas
alimentares, como forma de vínculo com a sua origem e/ou como forma de manter ou
demonstrar a sua identidade cultural é possível de ser evidente e comum (Assunção, 2011;
Calvo, 1982: Contreras e Gracia, 2004; Halter, 1995; Oliveira, 2012).
Fortes restrições religiosas e linguísticas (Codesal, 2010; Kubota, 2012; Lins, 2012;
Martez & Rodriguez, 2004; Oliveira, 2012) não são totalmente capazes de impedir a
sobrevivência e adaptação das práticas alimentares, quando inseridas num processo de
migração. De tal forma, que se conclui que a alimentação pode tornar-se uma ferramenta
bastante efectiva para análise de processos e fenómenos migratórios, uma vez que os sujeitos
que dela participam tendem a manter as suas práticas alimentares, enquanto podem perder ou
alterar de modo mais significativo outras práticas culturais, tais como religiosidades (Lins,
2012; Oliveira, 2012), linguísticas (Kubota, 2012; Lins, 2012), territoriais (Dorigon et al,
2012; Rodrigues, 2012; Santos, 2012), etc.
O modo como a alimentação permite a sustentação e manutenção da identidade
cultural, mesmo quando afastado do grupo originário (quando em processo de migração por
exemplo), permite a identificação e análise adequada dos perfis culturais colectivos. E o modo
como as práticas alimentares e de produção de alimentos se adaptam conforme o meio onde
são realizadas, permite validar a resistência de tais hábitos em continuarem a ser transmitidos
geração após geração (Cascudo, 2003; Froehlich, 2012; Nóbrega & Daflon, 2012; Rekowsky,
2012; Santos, 2012; Zanini, 2007).
A migração de indivíduos ainda permite a disseminação de práticas culturais, que
incluem práticas alimentares e modos de produção de alimentos (Assunção, 2011; Calvo
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1982; Halter, 1995; Kubota, 2012; Lins, 2012; Martes e Rodriguez, 2004; Oliveira, 2012;
Rekowsky, 2012; Silva, 2007).
Pelo conhecimento de tal situação, assume-se como fundamental uma perspectiva que
contemple a transferência de práticas culturais, aqui representadas pelos hábitos alimentares,
ao analisar o fenómeno migratório.
A proposta de discussão aqui realizada remete a dados oriundos de estudos terceiros
que os realizaram com orientação teórica focada ao estudo das migrações ou da antropologia
da alimentação. Após a apresentação de alguns exemplos práticos, remete-se a discussão
sobre o possível impacto que a migração pode provocar nos indivíduos que a realizam, no que
tange os seus valores e práticas culturais. Substancialmente, identificou-se que existe alguma
resistência por parte da colectividade dos indivíduos em permitir alterações ou esquecimento
de práticas alimentares, principalmente se comparar tais práticas com outras práticas culturais.
Modos pelos quais os indivíduos reduzem os impactos da migração nas suas práticas
alimentares, seja por analogias a significados e signos que para os mesmos são “menos
estranhos” são também apresentados e discutidos. A utilização de cadeias de fast-food,
comidas prontas e congeladas, marcas de renome internacional e “adaptações” a pratos típicos
para permitir a tentativa de fuga da situação de “deslocado” também é apresentada e discutida.
No último item, adaptações locais e nacionais de modelos internacionais,
supostamente globais de “padrões alimentares” (adaptações nacionais como o Bob’s picanha e
a Mc bifana) demonstram o esforço de incorporação do mercado local no global.
2. ANTROPOLOGIA DA ALIMENTAÇÃO
A alimentação esteve mais ou menos presente na antropologia, de forma indirecta,
desde a formação da disciplina nas suas monografias clássicas. Autores como Frazer (1982) e
Durkheim (2000) demonstram nos seus estudos interesse na alimentação, embora quase
sempre ligada à religião. Robert Smith abordou a capacidade do alimento criar solidariedades,
ser catalisador de comunidade, além de servir para socializar o indivíduo na sua própria
cultura.
Posteriormente, com Levi-Strauss (2006), o género ganha foco na alimentação ao
distinguir, de forma dicotómica, o espaço e processos alimentares relacionados ao homem e à
mulher. Por um lado o cozido, que está do lado da cultura, como da mulher, por outro o
assado, do lado da natureza, pertencente ao homem.
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A alimentação, como reflexo do interesse teórico da época, baseava-se no estudo do
exótico, ou seja, práticas e comportamentos alimentares do “outro”, diferente de nós.
Contrariamente a essa tendência, Mauss (2003) apresentou dados alimentares nas nossas
próprias sociedades.
Só na década de 60, precisamente com os estruturalistas é que a antropologia se volta a
debruçar sobre alimentação. Levi-Strauss (2006) dedica-se à questão alimentar chegando a
considerar a cozinha como “uma linguagem na qual cada sociedade codifica as mensagens
que lhe permite significar ao menos uma parte do que essa sociedade é” e ainda que a comida
permite perceber “atitudes inconscientes da sociedade ou sociedades consideradas” (LEVI-
STRAUSS, 2006:87). Com isto, passa-se de questões que remetiam ao exótico, para
interrogações sobre a comida vista como código, linguagem, portadora de significados. Um
pouco nessa perspectiva, Barthes (1993) relaciona alimentos e pratos confeccionados com a
cultura, a idade e o género atribuindo-lhes significados remetendo à construção de uma
identidade que remete à nação, como o caso do bife e das batatas fritas para os franceses.
Não apenas limitada a análise “do que se come”, mas também do que não se come,
como se come, quem come, quanto e quando come, a antropologia da alimentação permite
embasar teoricamente a análise social e cultural de dado grupo social, ou grupo de indivíduos.
Mary Douglas (1981 & 1984) analisa os tabus alimentares dos judeus presentes no texto do
antigo testamento "o Levítico" e com isso interroga-se sobre os tabus alimentares da sua
própria sociedade, bem como o estudo da sua alimentação e a forma como as refeições são
estruturadas segundo a escala de importância do dia, semana, ano e ciclo de vida em que
mesmo a menor refeição tem um significado que representa a estrutura maior.
Contrariamente a este tipo de abordagem simbólica, Harris (1985) considera que as
escolhas culturais escondem uma vantagem adaptativa dos alimentos. Argumento contestado
pelo seu aluno Sahlins que restitui o valor simbólico da alimentação ao dizer que o que se
come é inversamente relacionado com a humanidade (2003:175). Esta explicação estaria na
base de não comermos cães e gatos, por exemplo. Essa explicação está, de certo modo,
interligada com aquilo que fora visionado por Leach (1964) na questão dos tabus alimentares
em relação à distância em relação aos humanos: não se come o que está longe e nos é
desconhecido (animais selvagens), nem o que está demasiado perto e por isso são como nós
(animais de estimação); são preferidos aqueles que mantêm uma distância intermediária.
Todas estas formas de encarar a alimentação desconsideravam as dimensões
económicas e sociais internas das sociedades que interferem no seu domínio. Goody (1982)
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resgata essas dimensões, anteriormente marginalizadas, no seu trabalho mantendo o cultural
no centro na sua análise. Mintz (1985), tal como Goody (1980), tem em vista a globalização
dos sistemas de produção alimentar e o impacto da industrialização da produção e do
desenvolvimento das tecnologias de conservação alimentar sobre a alimentação quotidiana,
mas onde a história se torna o foco da sua abordagem.
Na França, sem desconsiderar a existência de princípios universais por trás da
variedade de hábitos alimentares, Fischler (1990 & 1996) dirá que esses princípios
apresentam diferentes resoluções de acordo com cada formação cultural. Para ele, o acto de se
alimentar seria central na formação de uma identidade colectiva e, ao mesmo tempo, de
distinção do "outro".
Poulain (2004) apresenta o conceito de "espaço social alimentar" incorporando várias
contribuições disciplinares como a antropologia, sociologia, geografia, etologia, etnobotânica,
etnozoologia, fundamentais para a compreensão de práticas alimentares.
Apesar de sempre terem existido trocas entre os povos de diferentes continentes e
regiões, os estudos que relacionam a globalização com a alimentação são muito recentes na
antropologia (Kuper & Kuper, 1996 Stocking, 1982). Desta feita, é de extrema importância
que esta abordagem leve em conta os contextos sociais e históricos quando se propõe a
analisar determinados fenómenos como é o caso das mudanças nos padrões alimentares com
impacto global.
O fast-food, nesse sentido, tem sido um dos fenómenos globais mais observados nos
últimos tempos, fruto daquilo que Ritzer (1983) chamou de Macdonalização1 da sociedade,
processo de racionalização que ocorre nos Estados Unidos e se tem alastrado por vários outros
lugares do mundo.
Uma sociedade racionalizada, é também sinónimo de uma sociedade que se curva
perante a emergência de ser-se moderno. Nesse sentido ser-se moderno significa também
poder descolar-se globalmente e pertencer a esse universo. A migração é um fenómeno chave
nesse sentido que sempre existiu, mas hoje mais do que nunca merece a nossa atenção.
Por fim, enquanto “lente de aumento” para análise e para a observação do fenómeno
migratório, a antropologia da alimentação permite vislumbrar as relações que podem vir a
existir entre meio ambiente, sujeitos, práticas culturais e recursos, sejam os disponíveis, os
utilizados ou os procurados e desejados.
1 Tradução livre do original em inglês: “THE MCDONALDIZATION OF SOCIETY”.
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3. MIGRAÇÕES CONTEMPORÂNEAS
A antropologia começou a estudar as migrações humanas relativamente tarde (Kuper
& Kuper, 1996; Stocking, 1982). A antropologia clássica estava interessada na cultura, na
comunidade, na organização social entre outros aspectos mas sempre pensando-a como uma
comunidade fechada. Geertz, por exemplo, trabalhou em Bali e Java e ignorou as influências
externas a esses contextos nas suas pesquisas. Também Margaret Mead no seu trabalho em
Samoa ignora a migração existente para a Austrália que atingia mais de 50% da população2.
Na década de 70, a teoria da prática de Bourdieu constitui um paradigma nas ciências
sociais, e, claro está, para a antropologia. No caso particular das migrações, esta teoria vem
procurar os seus processos concretos, abandonando a centralidade nos aspectos económicos e
sociais, valorizando a forma como as migrações são vividas, ou seja, a experiência de vida de
pessoas concretas.
Apesar de sempre terem existido migrações, em 1990 estimava-se haver cerca de 120
milhões de pessoas fora do seu país de origem. Já em 2000, no virar do milénio, o número de
pessoas fora do seu contexto de origem estava estimado nos 160 milhões, ou seja, em apenas
10 anos houve um aumento de mais de 30% de migrantes (OCDE, 2005 & 2007 & 2008).
Com o crescente aumento de migrações, mais do que pensar o processo migratório
como um processo unívoco bem definido, começa a ser de extrema importância pensá-lo
como um processo de mobilidade ou de fluxos que pode conduzir a vários locais de passagem
para alcançar um outro objectivo. Mapril (2012) aplica o termo de “re-migrações” ao
descrever precisamente os percursos dos migrantes do Bangladesh entre Dhaka, Lisboa e
Londres mostrando como as fronteiras se diluem nas formas em que as pessoas se movem
segundo os locais em que se constituem relações com a família e com o trabalho. Com isto, a
geografia das oportunidades permite viver o sonho da modernidade que, no caso dos
migrantes do Bangladesh passa por consumir determinados produtos, ter determinado tipo de
casa e acesso a consumos diferentes daqueles que os pais tinham (MAPRIL, 2012).
A ideia de assimilação e de aculturação como parte da integração no local de chegada
começa a não fazer jus aos fenómenos observados. Aliás, as migrações contemporâneas e a
2 Tanto Clifford Geertz como Margaret Mead possuem uma elevada quantidade de publicações sobre tais
comunidades, sendo portanto a referência de todas as publicações algo que em muito extrapolaria o espaço do presente material.
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globalização estão aliadas a uma ideia de modernidade, onde as diferenças e os valores dos
outros com diferentes origens socioétnicas devem ser reconhecidos.
Apesar dessas mudanças na configuração do processo migratório, as pessoas, ou os
agentes envolvidos nesse processo continuam a ser pessoas que se encontram numa situação
mais desfavorecida e que procuram melhorar as suas vidas. Há também a circulação global de
elites financeiras e de estatutos profissionais valorizados no chamado mercado global de
trabalho. Contudo, não se fala destes profissionais deslocados como migrantes pois não entra
dentro do estereótipo.
Para entender estas mobilidades, é fundamental entender que os imigrantes não são
indivíduos isolados, mas estão conectados em redes sociais, formadas por familiares, parentes
e conhecidos localizados tanto no país de origem como no de acolhimento. Estudos sócio-
antropológicos mostram que a migração internacional é possibilitada por estas redes, que
buscam diminuir riscos e perigos presentes na mudança para outro país (MASSEY,1990).
Não obstante, mantêm essa rede de relações com o local de origem e com a família chegando
mesmo a mentir-lhes sobre a sua situação de empregabilidade no país de destino, de forma a
não perder a sua reputação nem desiludir os entre queridos no que toca a viver o sonho de ser
moderno (MAPRIL, 2012).
Os imigrantes experienciam a transnacionalidade3 por estarem envolvidos em
processos que cruzam fronteiras geográficas, culturais e políticas. Como tal, os imigrantes
podem ser entendidos como transmigrantes na medida em que desenvolvem e mantêm
múltiplas relações (familiares, económicas, religiosas, políticas, entre outras) na sociedade de
acolhimento e na sua sociedade de origem (Glick-Schiller, Basch e Blanc-Szanton 1992).
Exige-se dessa forma, um olhar de perspectiva dinâmica e processual das mobilidades
humanas como um fenómeno múltiplo e complexo que gera vários produtos que podem ser
analisados como é o caso da comida como um processo de industrialização da cultura e das
identidades culturais.
4. A ALIMENTAÇÃO EM CONTEXTO MIGRATÓRIO
Bouly de Lesdain (2002) informa que práticas de consumo alimentar são excelentes
factores de análise antropológica, pois são resistentes a alterações que possam estar
3 Termo usado pela primeira vez por Glick-Schiller.
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culturalmente ou fisicamente interiorizados. É possível identificar que determinados
alimentos ou práticas alimentares são considerados marcadores étnicos. Imigrantes preservam
os seus hábitos alimentares, mesmo quando em processo de migração, é de se deduzir que a
análise social realizada pelo recorte alimentar pode ser utilizada como ferramenta para
identificação cultural.
Pode-se afirmar que as práticas alimentares são o traço cultural que se mantém de
modo mais longínquo e menos alterado nos migrantes. A produção e consumo de culinária é
facilmente utilizável como “identificador” de estrangeiros (Dutra, 1991). Calvo (1982)
também argumenta que as práticas alimentares são as últimas características dos imigrantes a
serem perdidas.
Contreras e Gracia (2004) afirmam que os hábitos alimentares podem ser utilizados
como resistência à aculturação pelo mesmo motivo. Outros autores (Mintz, 2001) afirmam
que é mais fácil alterar alguns significativos símbolos de identificação nacional, como o
sistema político, do que práticas alimentares.
Calvo (1982) sugere que ao analisar em conjunto o contexto alimentar e o migratório
identificam-se três grupos de elementos característicos: os marcadores do grupo/local de
destino, o contexto que o grupo de origem possui, e as relações sociais (económicas e
políticas) existentes entre os dois ambientes.
Práticas e hábitos alimentares de imigrantes podem ser analisados como possuindo
diferentes momentos de existência (Calvo, 1982). Sugere três situações: a prática alimentar no
contexto original, a prática alimentar no contexto de destino e o processo transitório. Este
processo transitório entre eles ocorre numa relação dual, anómica e dicotómica entre a
culinária no local de origem e no local de destino.
É possível compreender os fenómenos de adaptação de práticas alimentares em
contexto migratório pelo modo como os imigrantes assimilam novos valores e saberes às suas
práticas alimentares, mediante o que é disponibilizado pelo “novo meio”, enquanto mantém
“a lógica” do seu funcionamento cultural original (Creen et al, 2010).
A “correria” existente em zonas urbanas, como Lisboa, é diferente do vivido em Cabo
Verde segundo Oliveira, (2012). O autor demonstra que não apenas a existência de novos
produtos, e a inexistência de outros, antes comuns, são capazes de permitir adaptações aos
processos de produção alimentar, como o próprio ambiente, ou características daqueles que
nele vivem também o fazem. A “correria em zonas urbanas” provoca alterações nas práticas
alimentares, como o que se come e quando se come.
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Assunção (2011) demonstra no seu artigo o modo como as práticas alimentares de
imigrantes brasileiros que se encontram nos Estados Unidos (Boston) são afectadas por
estarem em processo migratório, de forma muito similar ao descrito por Creen et al (2010,
citado por Assunção, 2011). Além dos efeitos descritos por Creen et al, a autora identifica a
formação e manutenção de mercados de distribuição e consumo de produtos estrangeiros em
Boston pela elevada quantidade de brasileiros na região.
Um elemento adicional apresentando pela autora remete a uma possível mobilidade da
comida como característica complementar ao analisar o fenómeno migratório. Demonstra que
mesmo com dificuldades, são produzidas e distribuídas plantas e animais com pouca
adaptação ao clima e terreno dos Estados Unidos, a fim de fornecer alimentos “brasileiros”
aos imigrantes que lá se encontram. Deste modo, ocorre não apenas trânsito de pessoas como
o de plantas e animais, fornecendo melhores condições para manter práticas alimentares do
país de origem.
A alimentação pode ser utilizada como discurso explicativo do passado e presente, ela
explica, conecta e resume o que ocorreu e o que ocorre: “antes era assim, mas agora, com este
alimento acessível, é assim”, afirma Assunção (2011). Este fenómeno, de “formação de
mercado étnico especializado” não é restrito ao brasileiro (Assunção, 2011; Halter, 1995;
Martes & Rodriguez, 2004). A manutenção e participação das redes formadas por tais
mercados étnicos permite tanto a permanência da identidade étnica, como a inserção no novo
contexto (Boston).
Ao analisar restaurantes italianos na grande São Paulo, Collaço (2008) percebe as
adaptações que os pratos italianos sofreram, e demonstra a relação de tais práticas, e suas
alterações, entre os dois meios (São Paulo e a culinária italiana). Collaço (2008) e Mintz
(1985) sugerem que práticas alimentares, em contexto migratório, acabam por se
“domesticar”, transformando-se e adaptando-se.
Segundo Assunção (2011) é também possível analisar esses processos de adaptações e
transformações nas práticas alimentares de imigrantes, não como um processo de
continuidade reprodutiva, que impossibilitaria a existência de processos de descontinuidade.
A autora sugere que ambos processos podem coexistir.
Observação similar ocorre em Oliveira (2012), quando argumenta que não é possível
afirmar perda de identidade da “cozinha cabo-verdiana”, pois segundo o autor a identidade,
assim como a cozinha, de um povo está em constante mudança. Reforça que determinadas
práticas alimentares, que possuem suporte e apoio de outras práticas culturais (religiosas, por
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exemplo) são mais difíceis de serem “alteradas” do seu contexto original, mesmo noutro país.
Oliveira (2012) exemplifica o suporte cultural às práticas alimentares cabo-verdianas em
determinadas situações pela realização de rituais de matrimónio e funerais.
A antropologia da alimentação, quando analisada em contexto migratório, permite
demonstrar como a alimentação pode desencadear efeitos de acesso e revitalização de
lembranças, normalmente na forma de memórias (Collaço, 2008). A memória, por sua vez,
pode ser vista como um dos processos fundamentais para o desenvolvimento, a definição e o
resgate à identidade, sendo tal evento ainda mais evidente quando em situação de
deslocamento, nomeadamente em contexto migratório de média e longa durações (Collaço,
2008). Oliveira (2012) sugere a utilização da alimentação como possibilidade de análise dos
processos de reafirmação de identidade dos imigrantes em território estrangeiro.
Mintz (2001) afirma que as práticas alimentares podem, de facto, moldar e seleccionar
memórias. Oliveira (2012) constatou que, cabo-verdianos instalados em Lisboa, possuem nas
práticas alimentares, e nos recintos onde as praticam, o modo pelo qual recuperam suas
memórias de Cabo Verde. Sempre que se referem as lembranças de Cabo Verde, os sabores,
gostos, alimentos e cheiros são citados, informa o autor.
A procura por alimentos do país de origem do imigrante é custeada em parte pela
saudade existente do seu país de origem, dos seus amigos e familiares. A comida é, portanto,
um modo de “se reaproximar de casa”, “matar a saudade” (Assunção, 2011). Os interlocutores
de Oliveira (2012) remetem a memórias de alimentos consumidos e produzidos em Cabo
Verde para os distinguir daqueles que são produzidos e consumidos em Portugal. A
alimentação é portanto utilizada como referência de orientação para recuperação de memória.
Conforme observado nesta secção, as práticas alimentares podem ser responsáveis
pelo resgate à memória e, desta forma, moldar a identidade do indivíduo quando o mesmo se
encontra em migração. Por ser a alimentação uma das características culturais mais difíceis de
serem perdidas, ela pode ser utilizada para permitir uma singular capacidade de análise social
de indivíduos que se encontram fora de seu contexto cultural. Desta forma, oriento a
discussão realizada nas percepções que a análise antropológica pode obter ao considerar os
aspectos das práticas alimentares dos seus sujeitos de estudo, nomeadamente em situações de
deslocamento.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Conforme já demonstrado, o fenómeno migratório contemporâneo é existente,
inegável e possui aumento crescente na quantidade de adeptos. É necessário, portanto, a
análise deste fenómeno e identificar os potenciais impactos que o mesmo possa provocar além
de tentar compreender as regras de execução. A movimentação de indivíduos por todo o globo
provoca, além do trânsito de pessoas, trânsito parcial de traços culturais, que são identificados
como parte da identidade cultural do mesmo, assim como, em muitos casos, da sua região ou
do seu país. O indivíduo em situação de deslocamento possui necessidade de manter a sua
identidade cultural, podendo realizar a manutenção desta identidade cultural de diversos
meios: práticas religiosas (muçulmanos, religiões afros ou monges budistas por exemplo),
utilização do idioma nativo com outros indivíduos que o conheçam (nomeadamente em locais
onde há elevada presença de migrantes falantes do mesmo idioma, por exemplo ex-colónias),
traços fisiológicos característicos ou de sua etnia (indianos, asiáticos) ou a posse de símbolos
nacionais (por exemplo bandeiras).
Foi identificado que a alimentação entre outras práticas culturais é aquela que possui
maior resistência e durabilidade em contexto migratório. Por este motivo, a selecção do uso
das práticas alimentares como recorte para análise dos imigrantes e pelo facto das práticas
alimentares estarem directamente vinculadas às tentativas de identificação e reforço de
identidade cultural.
O imigrante por sua vez remete com frequência à saudade que possui do seu local
natal. As suas memórias e lembranças do visto e do vivido no seu país de origem
acompanham-no por toda a sua trajectória. Tais lembranças e memórias são, como já
demonstrado, orientadas ou definidas pelas suas práticas alimentares ou por contextos
relacionados às mesmas (produção ou aquisição de alimentos por exemplo). A alimentação ao
mesmo tempo que fornece os dispositivos para proporcionar resgate às memórias do
indivíduo ou grupo, ao qual o mesmo era inserido proporciona modos de identificação do
sujeito imigrante por terceiros, quer seja imigrantes ou não. Deste modo, considero ser
também possível e aplicável uma análise social tendo as práticas alimentares como norteador
da pesquisa.
Ao analisar a tentativa de manutenção da identidade do imigrante é observável a
adaptação da referida identidade, sendo esta adaptação incentivada ou mesmo provocada pelo
meio onde o imigrante se insere. Ou seja, ao mesmo tempo que tenta manter a sua identidade
cultural, absorve valores ou traços pertinentes a outras identidades culturais. Considera-se que
há um início de conflito da determinação da sua identidade.
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Com o incremento constante do número de migrantes por todo o planeta, este conflito
na determinação da identidade dos imigrantes tende a ficar mais explícito conforme alguns
factores: abertura do imigrante na recepção de valores culturais do local de destino,
inexistência de tabus ou restrições culturais que impeçam a absorção de um ou mais
comportamentos e hábitos de terceiros e, principalmente, a existência de maior diversidade
nos perfis tanto dos imigrantes como dos locais de destino, por fim, há existência de uma
maior facilidade de trânsito de sujeitos entre diferentes meios propiciando, desta forma, ainda
maior diversidade nos perfis dos imigrantes.
Com o aumento da quantidade de migrantes em trânsito pelo mundo, ocorrem
situações onde existe maior ou menor similaridade de traços e valores culturais entre o
ambiente de origem do imigrante e o local de destino da sua emigração. Quando existe maior
disparidade entre tais grupos de traços culturais e/ou quando o próprio imigrante possui tabus
ou restrições culturais que o impeçam ou dificultem sua inserção no local de destino podem
ocorrer situações onde inexiste a absorção ou a referida é reduzida, de valores e traços
culturais, o que pode ocasionar conflitos entre o imigrante e a sociedade local. Não se espera
que o imigrante assimile todos ou muitos dos valores comportamentais da sociedade onde se
insere, porém a resistência total ou a negação a determinados comportamentos pode ser
problemática. Nestas situações o governo e principalmente as políticas públicas,
nomeadamente aquelas que atingem uma parcela dos imigrantes, acabam por cooperar ou não
com a integração e inserção devida do imigrante no seu local destino.4
A discussão não se limita a “simples” questão do imigrante e dos comportamentos e
valores culturais apresentados. Ao mesmo tempo em que o imigrante tenta manter os seus
valores identitários, ele almeja participar de um processo onde apresenta algo próximo a uma
“identidade global”, que inclui, mas não se limita a práticas que impeçam, ou dificultem a
identificação da origem, etnia ou grupo cultural do individuo. Alguns exemplos de práticas de
“identidade global” ou multicultural poderiam, com os devidos ajustes, incluir prática
agnóstica, comportamento cosmopolita (APPADURAI, 2004) e transnacionalidade (GLICK-
SCHILLER; BASCH; BLANC-SZANTON, 1992).
O imigrante, para além de se debater com as suas questões de origem identitária vive
ao mesmo tempo num mundo em que ser moderno se torna emergente. Esta demanda do
4 Não é o objectivo deste trabalho entrar no mérito da discussão sobre a necessidade, validade ou importância do imigrante assimilar características da cultura onde se insere. Os exemplos apresentados são utilizados apenas para demonstrar algumas das relações que podem existir entre o imigrante e o governo, representado por políticas públicas.
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mundo global também é traduzida nas questões alimentares sob a forma de uma cozinha (mais
ou menos) global. Um bom exemplo são os fast-food que se popularizaram um pouco por
todo mundo, como demonstrou Ritzer (1983), fruto da racionalização das sociedades. Com o
facto de as pessoas, quer sejam nativas, ou imigrantes, terem que conciliar sistematicamente
as duas cozinhas, aparentemente dicotómicas, por uma lado a tradição, a autenticidade e por
outro a novidade e o inovador levou a que as próprias cadeias de fast-food incorporassem nos
seus menus, alimentos, ou pratos tradicionalmente definidos, de forma a captar o interesse
daqueles que se mostram mais resistentes a uma alimentação “global”. Como exemplo da
situação anterior, existe em Portugal a inclusão de sopas do dia nos menus, bem como a
criação da Mc Bifana que remete à um produto tipicamente popular e tradicional em Portugal.
Concluindo, é de extrema importância o olhar da antropologia através da alimentação
no que respeita às migrações contemporâneas. A partir do momento que os países recebem
formações culturais tão distintas, parece necessário que se criem estruturas e políticas publicas
que respeitem diversidades étnicas e culturais. Sendo, como já foi discutido, a alimentação um
dos factores de maior resistência por parte dos imigrantes, no que diz respeito a identidade
cultural quando em contacto com outras organizações culturais, é de se valorizar a utilização
de mecanismos sociais que permitam aos imigrantes dispor de meios para realizar práticas
alimentares conforme os modelos aos quais teriam acesso e disponibilidade no seu local de
origem. Na impossibilidade de oferta de recursos que permitam a realização de tais práticas,
deve-se propor cuidadosamente alternativas que viabilizem, de forma similar, os interesses
das pessoas afectadas.
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5 A “excessiva” quantidade de referências bibliográficas oriundas dos anais da 28ª Reunião Brasileira de
Antropologia remete ao facto de eu ter participado, como visitante, dos dois grupos de trabalhos que relacionaram alimentação e migração neste evento.
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