luxemburgo, r - greve de massas, partido e sindicatos[completo]

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Análise da autora marxista alemã que pretende renovar a análise das greve gerais após as experiências da Revolução Russa de 1905.

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    GREVE DE MASSAS,PARTIDO E SINDICATOS*

    Rosa Luxemburgo

    Quase todos os documentos e declaracoes do socialismo in-ternacional que abordam 0problema da greve de massas datamda epoca anterior a Revolucao Russa, onde foi experimentadopela primeira vez na historia, em larga escala, este metodo deluta. Assim se explica porque envelheceram estes documentosna sua maioria. Inspiram-se numa concepcao identica a de En-gels que, em 1873, criticando Bakunin e a sua mania de forjarartificial mente a revolucao na Espanha, escrevia:

    A greve geral e , no programa de Bakunin, 0ermento que desencadeiaa revolucao social. Uma bela rnanha opera rios de todas as empresasde urn pais ou de todo 0mundo abandon am 0 trabalho, obrigandoassim, mais ou menos em quatro semanas, as classes poderosas ou acapi tular, ou a atacar os operarios, tendo estes 0 direito de defender-se , e ao mesmo tempo de abater inteiramente a ve lha sociedade. Estasugestao esta longe de ser uma novidade: os socialistas franceses e em

    * A traducao deste texto foi revis ta por Isabel Loureiro, com base na edicao alerna dasObras Completas deRosa Luxemburgo, publicada pela Editora Dietz de Berlim.

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    sas, recentemente combatida como contraria a agio politica doproletariado, aparece hoje como a arma mais poderosa da lutapoli tica na conquista dos direitos polft icos. Se e verdade que aRevolucao Russa obriga a rever profundamente 0antigo pontode vista rnarxista relativo a greve de massas, contudo, somenteo marxismo, com seus rnetodos e perspectivas, obtern nestecampo a vitoria sob uma nova forma. "A amada do Mouro sopode morrer as maosdo Monro",

    2Quanto a greve de massas, os acontecimentos na Russia

    obrigam-nos, em prirneiro lugar, a uma revisao da concepcdogeral do problema. Ate agora, os part idarios de "tentar a grevede massas" na Alemanha, os Bernstein, Eisner etc., assirn comoos inimigos ferozes de tal tentativa representados no sindicato,por exemplo, por Boemelburg, concordam no fundo com aconcepcao anarquista. Os polos opostos nao so nao se excluemaparentemente, como ainda se cornpletam, e condicionam mu-tuamente. Com efeito, pela concepcao anarquista das coisas, aespeculacao sobre a "grande transforrnacao", sobre a revolucaosocial, nao e mais do que urn aspecto exterior e nao essencial;o essencial e 0modo abstrato anti-historico de considerar agreve de massas, assim como todas as condicoes da luta prole-taria. 0 anarquista concebe somente duas condicoes materiaispre1iminares nas suas especulacoes "revolucionarias": em pri-meiro lugar, "0 espago etereo", e em seguida a boa vontade e acoragem de salvar a humanidade do vale de lagrimas capitalistaem que hoje geme. Neste "espaco etereo" nasceu, hi mais de60 anos, 0 arrazoado de que a greve de massas era 0 caminhomais curto, mais seguro e mais ficil para dar 0 saIto perigosoate urn alem social melhor. Neste mesmo "espaco etereo" nas-

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    ceu recentemente a ideia, saida da especulacao teorica,. de quea luta sindical e a unica e real "acao direta de massas" e, porconseguinte, a unica luta revolucionaria - retrao ultimo dos"sindicalistas" franceses e italianos, como se sabe. A infelicidadepara 0anarquismo surgiu, quando osmetodos improvisados deluta no "espaco etereo" se revelaramsempre como puras utopias,alem de que na maior parte do tempo, recusando-se a contarcorn a triste e desprezada realidade, deixavam insensivelmentede ser teorias revolucionarias, para se tornarem auxiliares pra-ticos da reacao,

    Ora, no mesmo terreno da consideracao abstrata e sempreocupacao historica, colocam-se hoje, de urn lado, os queproximamente gostariam de ver desencadear na Alemanha,num dia assinalado no calendario, por urn decreto da direcaodo Partido, a greve de massas, do outro lado, os que,como osdelegados do Congresso Sindicalde Colonia, que rem liquidardefinitivamente 0problema da greve de mass as; inierceptandoa sua "propaganda". Uma e outra das tendencias partem da ideiacomum, e absolutamente anarquica, de que a greve de massase uma arma puramente teorica, que facilmente, de acordocom 0que sejulgue util , poderia ser facilmente "decidida" ou,inversamente, "proibida", qual navalha que se pode ter fechadano bolso para qualquer eventualidade ou, ao contrario, aberta epronta a servir, quando se decidir. Sem duvida, os adversariesda greve de massas reivindicam muito justamente 0merito deter comandado 0terreno hist6rico e as condicoes materiaisda situacao atual na Alemanha, em oposicao aos "romanticosda revolucao" que viajam no espaco imaterial e se recusamterminantemente a lancar urn olhar a dura realidade, suaspossibilidades e impossibilidades. "Fatos e mimeros, mimerose fatos", exclamam como M. Gradgrind em a s t em p os d if c eis

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    certa da greve de massas, como a sua possibilidade absoluta ea vitoria assegurada. Tambem 0 valor da dernonstracao e 0mesmo nos dois casos, quer dizer, nulo. E por isso que temera propaganda em favor das greves de massas e pretender exco-mungar formalmente os culpados deste crime e ser vftima deurn absurdo mal-entendido. E tao dificil "propagar" a greve demassas como meio abstrato de luta, como "prop agar" a revolu-

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    da greve de massas na Alemanha a hist6ria 0decidira como fezna Russia; para a hist6ria, a social-democracia e suas resolu~6essao urn fator importante, decerto, mas urn fator entre muitos.

    3A greve de massas, como- tema atual de discussao na

    Alemanha, .e urn fenomeno particular muito claro e muitosimples de conceber, as suas limitacoes sao precisas: trata-seunicamente da greve polftica de massas. Entende-se como taluma arrancada rnacica e unica do proletariado industrial em-preendida por ocasiao dum ato politico da maior importanciacom base num acordo redproco estabelecido a esse prop6sitoentre as direcoes do partido e dos sindicatos, e que, conduzidana mais perfeita ordem e com espirito de disciplina, terminecom uma ordem ainda mais perfeita, sob a palavra de ordemdada no momenta oportuno pelos dirigentes, nao esquecendoque a administracao dos substdios, as despesas, os sacriffcios,numa palavra, todo 0balance material e determinado a p r io r icom precisao.

    Ora, comparando este esquema te6rico com a greve demassas tal como se processa ha cinco anos na Russia, e-se le-vado a constatar que 0conceito a volta do qual giram todas asdiscuss6es alemas, nao corresponde a realidade de nenhuma dasnumerosas greves de massas que se realizam e que, por outrolado, as greves de massas se apresentam na Russia sob formastao variadas que e absolutamente impossivel falar de "a" grevede massas, de uma greve esquematica abstrata. Nao s6 cadaelemento da greve de massas, mas tambern a sua particularcaracterfstica, segundo as cidades e as regi6es, e principalmenteo seu pr6prio carater geral, se modificaram com frequencia ~odecorrer da revolucao, As greves conheceram na Russia uma

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    certa evolucao hist6rica que ainda continua. Assim, quem queirafalar:de greve de massas na Russia deve, antes de tudo, ter a suahist6ria diante dos olhos.

    Inicia-se, justamente, 0periodo atual, por assim dizer ofi-cial, da Revolucao Russa com a sublevacao do proletariado de S.Petersburgo em 22 de janeiro de 1905, esse desfile de 200 miltrabalhadores diante do palacio do tsar que terminou com urnterrivel massacre. A sangrenta fuzilaria de S. Petersburgo foi,como se sabe, 0marco que desencadeou a primeira e gigantescaserie de greves de massas; em poucos dias estenderam-se a todaa Russia e fizeram ecoar a chamada a revolucao por todos oscantos do Imperio, ganhando todas as camadas do proletariado.Mas a sublevacao de S. Petersburgo, em 22 de janeiro, nao foimais que 0ponto culminante de uma greve de massas que puseraem movimento todo 0proletariado da capital tsarista, em janeirode 1905. Por seu lado, a greve de janeiro em S. Petersburgo foia consequencia imediata da gigantesca greve geral que estalarapouco antes, em dezembro de 1904, no Caucaso, em Baku, emanteve suspensa toda aRussia. Ora, os acontecimentos de Bakueram taQ somente 0 ult imo e poderoso eco das grandes grevesque, em 1903 e 1904, quais tremores de terra peri6dicos, abala-ram todo 0sul cia Russia e cujo prologo foi a greve de Batum,no Caucaso, em marco de 1902. No fundo, esta serie de grevesna cadeia continua das atuais erupcoes revolucionarias, somentedista da greve geral dos operarios texteis de S.Petersburgo, em1896e 1897,cinco ou seisanos. Pode pensar-se que alguns anosde aparente calma e de severa reacao separam 0movimento deentao da revolucao de hoje; mas se conhecermos urn pouco daevolucao poli tica interna do proletariado russo, ate ao estagioatual da sua consciencia de classe e da sua energia revolucionaria,nao deixaremos de relacionar a hist6ria do presente periodo de

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    contribuiu fortemente para a criacao, tal como esta guerra, deuma consciencia revolucionaria. A crise provocou urn grandesurto de desemprego, alimentando 0 descontentamento damassa proletaria, Tambem 0governo resolveu, para apaziguar aclasse operaria, enviar a "mao de obra irniti l" para 0seu pais deorigem. Tal medida, que devia abranger cerca-de 400 operariosdo petr6leo, provocou precisamente em Batum urn protestomacico, Realizaram-se manifestacoes, prisoes, uma repressaosangrenta e, finalmente, urn processo politico no decurso doqual a luta, por reivindicacoes parciais e puramente econornicas,tomou foros de acontecimento politico e revolucionario. A grevede Batum, que nao saiu coroada de sucesso e que conduziu auma derrota, teve como resultado uma serie de manifestacoesrevolucionarias em Nijni-Novgorod, em Saratov e noutrascidades; esteve assim na origem da vaga revolucionaria geral.jaern novembro de 1902 nota-se a primeira e verdadeirarepercussao sob a forma de uma greve geral em Rostov do

    Don. Este movimento foi desencadeado por urn conflito quesurgiu nas oficinas do caminho de ferro em Vladicaucaso aprop6sito dos salaries. Porque a administracao queria reduziros salaries, e publicado urn manifesto pela direcao do PartidoSocial-democrata, apelando para a greve e formulando as se-guintes reivindicacoes: 9 horas de trabalho, aumento de salaries,supressao dos castigos, expulsao dos engenheiros impopularesetc. Todas as oficinas do caminho.de ferro entraram em greve.Todos os outros ramos de atividade sejuntaram ao movimen-to, e Rostov conhece em breve uma situacao sem precedentes:suspensao total do trabalho na industria, todos os dias se rea-lizavam meetings" extraordinarios ao ar livre com 15 a 20 miloperarios, estando os manifestantes cereados varias vezes porurn cordao de cossacos: os oradores social-democratas usararn

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    da palavra publicamente e pela primeira vez; discursos inflama-dos sobre 0socialismo e a liberdade polftica eram apresentadose.acolhidos com entusiasmo extraordinario; eram difundidastarjetas revolucionarias as dezenas de milhares. Em plena Russiacongelada no seu absolutismo, 0proletariado de Rostov, pelaprimeira vez, no fogo da acao, conquista 0direito de reuniao e aliberdade de palavra. Claro que a sangrenta repressao nao se fezesperar. Em poucos dias, as reivindicacoes salariais nas oficinasdo caminho de ferro de Vladicaucaso tomaram as proporcoesde uma greve polftica geral e de uma batalha revolucionaria derua. Imediatamente, se seguiu uma segunda greve, desta vezna estacao de Tichoretzkaia, na mesma linha de caminho deferro. Ainda ai teve lugar uma repressao feroz, seguida de urnprocesso, e Tichoretzkaia entra, por sua vez, na cadeia ininter-rupta dos epis6dios revolucionarios.

    A primavera de 1903 trouxe uma cornpensacao para asgre-yes de Rostov e de Tichoretzkaia: em maio,junho,julho todo 0sul da Russia se inflama. Ha Iiteralmente greve geral em Baku,Tiflis, Batum, Elisabethgrad, Odessa, Kiev, Nicolaiev, Ekateri-noslav, Mas, tambem ai, a greve nao foidesencadeada apartir deurn nucleo, segundo urn plano preconcebido:-desencadeou-seem diversos pontos por motivos diversose sob formas diferentespara depois confluir. Baku abre 0desfile: varias reivindicacoesparciais de salaries em diversas fabricas e diversos ramos acabampor conduzir a uma greve geral. Em Tiflis, 2 mil empregadosdo comercio, cujo horatio de trabalho iadas 6 horas da rnanhaas 11horas da noite, iniciam a greve; em 4 de julho, as 8 ho-ras da tarde, abandonam todas as lojas e desfilam em cortejoao longo da cidade, obrigando os lojistas a fechar. A vit6ria ecompleta: os empregados do comercio alcancam 0dia de tra-balho de 8 horas e meia; em breve 0movimento se estende as

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    fecham por decisao ministerial; outras profissoes continuamem greve parcial pelas suas reivindicacoes, Por contagio, agreve geral chega a Nicolaiev, sob a imediata influencia dasnoticias vindas de Odessa, Baku, Batum e Tiflis, nao obstantea resistencia do comite social-democrata, que queria, retardaro comeco do movimento ate ao momenta em que as tropassaissem para manobras; os grevistas iam de oficina em oficina;a resistencia do exercito nao fez mais que lancar azeite no fogo.Cedo se viu formarem-se enormes cortejos que impeliam, aosom de canticos revolucionarios, todos os operarios, emprega-dos, pessoal dos bondes, homens e mulheres. 0 levantamentoera total. Em Ekaterinov, em 3 de agosto, os padeiros entramem greve, no dia 8 param os bondes, nao hi jornais. Assim serealizou a grandiosa greve geral do suI da Russia no verao de1903. Mil conflitos econornicos parciais, mil incidentes "fortui-tos" convergiam, confluindo num poderoso oceano; em poucassemanas, todo 0suI do Imperio tsarista foitransformado numaestranha Republica operaria revolucionaria,

    Abracos fraternais, gritos de entusiasmo e contentamento, canticosde liberdade, risos felizes, alegria e delirio; urn perfeito concertodespontava desta multidao de milhares de pessoas indo e vindoatraves da cidade, de manha a noite. Reinava uma atmosfera de eu-foria; quase sepodia crer que uma nova e melhor vida principiara naterra. Espetaculo profundamente comovedor, idilico e enternecedorao mesmo tempo.Assim escrevia entao 0correspondente do Osvobojdenie ,

    orgao liberal do senhor Peter v. Struve.No inicio de 1904 rebentou a guerra, 0que provocou uma

    interrupcao no movimento grevista por algum tempo. De iniciovemos espalhar-se pelo pais uma turbulenta vaga de manifes-tacoes "patrioticas" organizadas pela policia. 0 chauvinismo

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    oficial tsarista comecou por abater a sociedade burguesa "libe-ral". Mas cedo a social-democracia retomou a posse do campode batalha; as manifestacoes policiais da canalha patri6tica seopoem as manifestacoes operarias revolucionarias. Por fim, asvergonhosas derrotas do exercito tsarista arrancam do seu sonoa propria sociedade liberal. Inaugura-se a era dos congressos,dos banquetes, dos discursos, das felicitacoes, dos manifestosliberais e democriticos. Momentaneamente diminuido, pelavergonhosa derrota, 0 absolutismo desorientado deixa agiresses senhores que ja veem abrir-se ante si 0 paraiso liberal.o liberalismo esta na vanguarda da cena politica durante 6meses, 0 proletariado reentra na sombra. Somente ap6s umalonga depressao 0absolutismo se organiza, a camarilha reuneas suas forcas; bastou espicacar os cossacos para lancar em de-bandada os liberais, a partir de dezembro. E os discursos, oscongressos, sao tachados de "insolente pretensao" e proibidospor urn trace de tinta; subitamente, 0 l iberalismo acha-se nofim do seu latim. Mas no momento em que 0liberalismo estacompletamente desorientado, entra 0proletariado em acao. Emdezembro de 1904 rebenta a celebre e gigantesca greve geralde Baku contra 0 desemprego; 0 operariadci ocupa de novo 0campo de batalha. A palavra proibida e reduzida a silencio, aac,;aorecomeca, Em Baku, durante varias semanas, em plenagreve geral, a social-democracia domina inteiramente a situa-c,;ao;os inesperados acontecimentos de dezembro no Ciucasoteriam provocado uma grande ernocao se nao tivessem sidorapidamente invadidos pela vaga crescente da revolucao, naorigem da qual estes se encontram. As noticias fantasiosas econfusas sobre a greve geral de Baku nao tinham alcancadoainda todas as extremidades do Imperio, quando, em janeiro,de 1905, explodiu a greve geral de S. Petersburgo.

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    desde luta sindical, conduzida em boa e devida forma pelobern treinado exercito de elite do proletariado industrial, ate aexplosao de uma revolta anarquista de urn punhado de ope-rarios agrfcolas e ao levantamento confuso de uma guarni~aomilitar, ate a revolta discreta e distinta, de punhos de renda ecolarinhos altos numa mesa de jogo, e aos protestos, timidose audaciosos, de policiais descontentes, secretamente reunidosnum posto enfumacado, escuro e sujo.

    Os partidarios das "batalhas ordenadas e disciplinadas" con-cebidas segundo urn plano e umesquema, os que em particularquerem sempre saber com antecedencia como "sera preciso fa-zer", consideram que foi urn "grave erro" retalhar a grande a

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    De fato, que mais podia obter a greve geral dejaneiro? E preci-so ser-se inconsciente para esperar, de uma s6vez, 0esmagamen-to do absolutismo com uma s6greve geral "prolongada", segundoo modelo anarquista. E peIo proletariado que 0absolutismo naRussia tern de ser derrubado. Mas para tanto, 0proletariado temnecessidade de urn alto grau de educacao polftica, de consciencinde classe e organizacao. Nao pode aprender todas estas coisasem brochuras ou em panfletos; tal educacao ele a adquirira naescola polit ica viva, na luta e pela luta, no decorrer da revolucaoem marcha. Alias, 0 absolutismo nao pode ser derrubado, sejaquando for, com a exdusiva ajuda de uma dose suficiente de"esforcos" e "perseveranca", A queda do absolutismo nao e maisque urn sinal exterior da evolucao interior das classes na sociedaderussa. Antes que 0 absolutismo possa ser derrubado e precisoestabelecer a estrutura interna da futura Russia burguesa, cons-tituir sua estrutura de Estado modemo de classes. Isso imp lieaa divisao e a diversificacao das camadas sociais e dos interesses,a constituicao, nao somente do partido revolucionario operario,mas ainda dos diversos partidos: liberal, radical, pequeno-bur-gues, conservador e reacionario; isso implica 0despertar para 0conhecimento, para a consciencia de classe nao s6 das camadaspopulares, mas ainda das camadas burguesas; estas ult imas naopodem constituir-se nem amadurecer senao na luta, no cursoda revolucao em marcha, na escola viva dos acontecimentos ,no seu confronto com 0proletariado e entre si num confrontocontinuo e redproco. Esta divisao e esta maturacao das classesna sociedade burguesa, assim como a sua a~ao na luta contra 0absolutismo, sao,ao mesmo tempo, travadas e dificultadas por urnlado, estimuladas e aceleradas por outro, pelo papel dominantee particular do proletariado e pela sua ac;aode classe. As diversascorrentes subterraneas do processo revolucionario entrecruzam-

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    . se, criam mutuamente obstaculos, avivam contradicoes internasda revolucao, 0que tern por resultado, no entanto, a precipitacaoe intensificacao da poderosa explosao,

    Assim, este problema, tao simples na aparencia, tao poucocomplexo, puramente rnecanico - a queda do absolutismo,exige urn completo processo social; e necessario que 0 terrenosocial seja arado de alto a baixo, que 0 que esta por baixo venhaa superficie, 0que esta por cima seja profundamente enterrado,que a "ordem" aparente se transforme em caos e que, a partirda aparente anarquia, seja criada uma nova ordem. Ora, nesteprocesso de transformacao das estruturas sociais da antigaRussia nao foi unicamente 0"trovao" dejaneiro que desempe-nhou urn papel insubstituivel, mas principalmente as grandestempestades da primavera e do verao. A batalha geral e encar-nicada dos assalariados contra 0capital contribuiu, ao mesmotempo, para a diferenciacao das varias camadas populares e dascamadas burguesas, para a formacao de uma consciencia declasse no proletariado revolucionario e tambern na burguesialiberal e conservadora. Se, nas cidades, as reivindicacoes salariaiscontribuiram para a criacao do grande partido rnonarquico dosindustriais de Moscou, a grande revolta camponesa na Livonialevou a rapid a liquidacao do famoso liberalismo aristocratico eagrario dos zemstvos .

    Simultaneamente, 0 periodo das batalhas econornicas, naprimavera e no verao de 1905, permitiu ao proletariado dascidades tirar licoes do prologo de janeiro e tomar conscienciadas tarefas futuras da revolucao, grac;as a intensa propagandaconduzida pela social-democracia e gra

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    de 1905 tiveram, quase todas, urn fim vitorioso. 'Citemos, so-mente a titulo de exemplo, escolhidos numa colecao de fatosimportantes, de que nao se pode medir ainda a amplitude, umcerto mimero de dados de algumas greves importantes que sedesenrolaram em Varsovia, sob a direcao da social-democraciapolaca e lituana. Nas maiores empresas me ta lUrg icas de Vars6via:-Sociedade Anonima Lilpop, Rau e Lowenstein, Rudzki &Cia.,Bormann, Schwede &Cia., Handtke, Gerlach &Pulst, GeislerIrmaos, Eberhard, Wolski &Cia., Sociedade anonima Conrad&Jarmuszkiewits, Weber & Daehn, Gwizdzinski & Cia., fa-brica de arame Wolanowski, Sociedade anonima Gostynski &Cia., K.Brun &Filho, Fraget, Norblin, Werner, Buch, Kenne-berg Irmaos, Labor, fabrica de Iampadas Dittmar, Serkowski,Weszyski, ao todo 22 empresas - os operarios obtiveram, ap6suma greve de 4 a 5 semanas (iniciada em 25 e 26 de janeiro),o dia de trabalho de 9h assim como urn aumento nos salariesde 15 a 25%; obtiveram tarnbem diversos melhorarnentos demenor importancia. Nas maiores fabricas do s et o r mad ei re ir oem Vars6via, nomeadamente Karmanski, Darniecki, Grornel,Szerbinski, Treuerovski, Horn, Bevensee, Tworkovski, Daab&Martens, 10 empresas ao todo, os grevistas obtiveram no dia23 de fevereiro 0 dia de trabalho de 9 horas; entretanto, naose contentaram com i550e mantiveram a exigencia do dia de8 horas, que conseguiram obter uma semana mais tarde, aomesmo tempo que urn aumento de salaries. Toda a industriada cons trucdo se pas em greve em 27 de fevereiro, redamando,segundo a palavra de ordem dada pela social-democracia, 0dia de trabalho de 8 horas; em 11de marco obtinham 0 dia detrabalho de 9 horas, urn aumento de salario, pagamento regulardo salario por semana, etc. Os pintores , os carpinte iros, os seleiros eosferreiros conquistaramjuntos 0horatio de trabalho de 8 horas

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    .sem reducao de salaries. Os empregados dos telefones fizeramgreve durante 10 dias, obtendo assim 0 dia de trabalho de 8horas e urn aumento de salario de 10 a 15%. A grande fibricade tecelagem de linho de Hielle e Dietrich (10 mil operarios)conquista , apos 9 semanas de greve, a reducao de 1hora no diade trabalho e um aumento de salario de 5 a lO%.Constatam-se'resultados anilogos corn infinitas variantes em todas as outrasindiistrias de Varsovia, Lodz, Sosnowiec.

    Na Russia propriarnente dita foi conquistado a d ia d e t ra ba lh ade 8horas: em dezembro de 1904, por varias categorias dos petro-leiros em Baku; em maio de 1905, pelos operarios das refinariasde acucar do distrito de Kiev; emjaneiro, no conjunto das tipo-grafias da cidade de Samara (aomesmo tempo que urn aumentode salaries por peca e a abolicao das rnultas); ern fevereiro, nafibrica de instrumentos medicos do exercito, numa fibricade rnoveis e na fabrica de rnunicoes de S. Petersburgo. Aindamais: criou-se um sistema de trabalho por equipes de 8 horasnas minas de Vladivostok; em marco, na oficina mecanica datipografia dos papeis do Estado, pertencente aoEstado; em abril,pelos ferreiros de Bobruisk; em maio, foi adotado igualmenteo horatio de 8 h e meia na enorme empresa: de teceIagem de laem Morosov (ao mesmo tempo, abolia-se 0 trabalho noturno,e os salaries aumentavam 8%); emjunho, adotava-se 0 dia detrabalho de 8 horas em varies lagares de azeite ern S. Peters-burgo e Moscou; emjulho, 0horatio de trabalho de 8h e meia,para os rnednicos do porto de S. Petersburgo; em novembro,todas .as tipografias particulares da cidade de Orel adotam 0dia de trabalho de 8h, assim como alcancam urn aumento de20% no salario/hora e de 100% nos salaries por empreitada;institufa-se igualmente urn cornice diretivo composto por igualmimero de patroes e operarios.

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    fluxo e refluxo da-revolucao e seu p e so i nt el e ct ua l: 0 crescimentointermitente do proletariado no plano intelectual e cultural e umagarantia absoluta do seu irresistfvel progresso futuro, tanto na lutaeconomica, como na luta polftica. Mas nao e tudo: as pr6priasrelacoes entre operarios e patroes sofrem transforrnacoes; ap6sa greve geral de janeiro e as greves seguintes de 1905, 0princf,pio do capitalista senhor em sua casa e praticamente suprimido.Vimos constituir-se espontaneamente comites operarios, (micasinstancias que negociam com 0patrao, nas maiores fabricasde todos os centros industriais mais importantes. E, por fim,ainda mais: as greves aparentemente ca6ticas e a a

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    ._rnissao na Russia. Decidiu-se a fundacao de urn s indicato, a elei'Sao deuma comissao constituida por 12 membros encarregada deredigi r asestatutos e de convocar umaAssembleia Geral de Sapateiros. Os estatutosforam redigidos , mas nao sepode ate agora imprimi-Ios nem con~ocara Assembleia Geral.Tais foram os difi~eis cemecos dos sindicatos. Surgiram

    seguidamente asjornadas deoutubro, a segunda greve geral,o edito de 30 de outubro e 0curto "periodo constitucional".Os trabalhadores lancaram-se com entusiasmo nas ondas daliberdade polft ica, para uti liza-la no trabalho de organizac;ao.A par das atividades politicas cotidianas - reunioes, discuss6es,criacao de grupos - empreende-se 0 trabalho de organizacaosindical. Em outubro e novembro quarenta novos sindicatosforam criados em S. Petersburgo. Criou-se imediatamente urn"gabinete central", quer dizer, uma uniao sindical; surgem va-rios jornais sindicais, e a partir de novembro um orgao central:o S ind i ca to . A descricao do que se passou em S. Petersburgoaplica-se a Moscou e Odessa, a Kiev e Nicolaiev, a Saratove Voronezh, a Samara e Nijni-Novgorod, a todas as grandescidades da Russia e mais ainda a Polonia. Os sindicatos des-tas cidades procuram encetar contatos entre si; realizam-seconferencias. 0im do "perfodo constitucional" e 0 regressoa reacao em dezembro de 1905 poem fim provisoriamente aenorme atividade publica dos sindicatos, sem contudo levarao seu desaparecimento. Mantem-se clandestinos como or-ganiza

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    em diante a maior parte das lutas economicas sao dirigidaspelos sindicatos."

    E assim que a grande luta economica, cujo ponto de part idafora a greve geral de janeiro e que continua, ate agora, consti-tui 0pano de fundo da revolucao de onde se ve, ora brotaremexplosoes isoladas, ora rebentarem imensas batalhas de todo 0proletariado sob a influencia conjugada e alternada da propagan-da polft ica e dos acontecimentos exteriores. Citemos algumasdestas sucessivas explosoes: em Vars6v ia , no dia lOde Maio, porocasiao da Festa dos trabalhadores, rebenta uma greve geral,total, ate entao sem precedentes, acornpanhada de uma rna-nifestacao de massas perfeitamente pacifica, que termina comuma confrontacao sangrenta da multidao desarmada contra astropas; em Lodz , em junho, dispersao de urn ajuntamento peloexercito, motivando uma manifestacao de 100 mil operariospor ocasiao do funeral de algumas vitimas da soldadesca, urn

    3 S6 nas duas prime ir as semanas de junho de 1906 , os sindica tos empreenderam asseguintes lutas reivindicativas: os tip6grafos de S. Petersburgo, Moscou, Odessa,Minsk, Vilna, Saratov, Moghilev, Tambov, pelo dia de trabalho de 8h e pelo descan-so semanal; greve geral dos marinheiros em Odessa, Nicolaiev, Kertch, Crimeia ,Caucaso, da frota do Volga, em Cronstadt, Vars6via e Plock, pelo reconhecimentodo sindica to e pela l ibertacao dos delegados pre sos ; dos ope ra rios dos por tos emSaratov, Nicolaiev, Tsaritsima, Archangelsk, Nijni- Novgorod e Ribinsk; a greve dospadeiros em Kiev, Archangelsk, Bialystok, Vilna, Odessa, Kharkov, Brest-Litovsk,Radom, e Tif lis; dos operarios agrfcolas dos distr itos de Werchnedneprowsk,Borissovsk, Simferopol, dos governos de Podolsk, Tula, Kursk, dos distr itos deKoslov, Lipovitz, na Pinlandia, nos governos de Kiev, do distrito de Elisabethgrad;em va rias c idades a greve estendeu-se num certo perfodo a todas a sprofi ssoe s aomesmo tempo; par exemplo, em Saratov, Archangelsk, Kertch eKrementchug; emBachmut, greve geral dos mineiros em toda a bacia ; noutras cidades0movimentoreivindicativo atingiu sucessivamente, nessasduas semanas, todas asprofissoes, porexernplo em S. Petersburgo, Vars6via, Moscou, em toda a provincia de Ivanovo-Vosnessensk . A greve em toda a parte t inha como obje tivos : a reducao do tempode trabalho, 0 repouso semanal, reivindicacoes relativas aos salaries.A m a i or p a r tedasgre ve s conduzi ram a vitoria. Os relatorios locais fazern ressaltar que elas atingiramparcialmente categorias de operarios que pela primeira vez participaram numa lutareivindicativa. .

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    novo encontro com 0 exercito e, finalmente, uma greve geral,conduzindo esta, em 23, 24 e 25 de maio, a um combate debarricadas, 0primeiro no imperio dos tsares; emjunho rebenta,no porto de Odessa, a primeira grande revoita dos marinheirosda frota do Mar Negro devido a urn pequeno incidente a bordodo couracado Potemkin 0 que provocou, como contragoIpe,urna enorme greve de massas em Odessa e Nicola iev . Esta re-volta teve ainda outras repercussoes: uma greve e revoltas dosmarinheiros em K r o ns ta d t, L i ba u e Vladivostok.

    Em outubro, tern Iugar em S. Petersburgo a experiencinrevolucionaria da instauracao do dia de trabalho de 8 horas. 0Conselho dos Delegados operarios decide criar por rnetodosrevolucionarios 0dia de trabalho de 8 horas. E assim que numadata determinada todos os operarios de S. Petersburgo decla-raram aos seus patroes que se recusavam a trabalhar mais de 8horas por dia e abandonariam os seus locais de trabalho a horaassim fixada. Esta ideia deu ocasiao para uma intensa campanhade propaganda, sendo acolhida e executada entusiasticamentepelo proletariado que nao olhou aos maiores sacriffcios. E assimque os operarios texteis, ate entao pagos por unidade e cujo diade trabalho era de l lh, representando,portanto, uma enormeperda de salaries 0 dia de trabalho de 8h, 0 aceitam sem hesi-tacao, N um a sem an a, 0 dia de tr aba lh o de 8h f oi a do ta da p or to da sa s fa br ic a s e c fi ci na s d e S . P et er sb ur go , ocasionando uma alegriasem limites no proletariado. Em breve, contudo, 0patronato deinfcio desmantelado se prepara para a resposta: por toda parte,a ameaca de fechar as fabricas. Urn certo ruimero de operariosaceita negociar, obtendo, aqui, 0horatio de 10horas, 0horariode 9 horas alem, Mas, a elite do proletariado de S.Petersburgo,os operarios das grandes fabricas metalt irgicas nacionais per-manecem inabalaveis: segue-se 0ock-out, 45 a 50 mil operarios

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    TEO RIA DA ORGANIZA

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    sao despedidos por urn meso Dai que movimento a favordo dia de trabalho de 8h prossiga na greve geral de dezembrodesencadeada, em grande parte, pelo lock -out .

    Entretanto, tern lugar em outubro, em resposta ao projetoda Duma de Bulygin, a segunda poderosfssima greve geraldesencadeada pela palavra de ordem vinda dos ferroviarios,estendendo-se a todo 0 Imperio. Esta segunda grande a~aorevolucionaria do proletariado reveste-se de urn carater sensi-velmente diferente da primeira greve dejaneiro. A conscience,politica desempenha aqui urn papel muito importante. Naverdade, 0motivo que desencadeou a greve de massas foi aquiainda acessorio e aparentemente fortuito: trata-se do confli toentre os ferroviarios e a adrninistracao, a proposito da Caixade Aposentadoria. Mas 0 levantamento geral do proletariadoindustrial que se seguiu assenta num pensamento politicoclaro. 0 prologo da greve de janeiro fora uma suplica dirigidaao tsar para obter a liberdade polftica; a palavra de ordem dagreve de outubro era: ' 'Acabemos com a comedia constitucionaldo tsarismo!" E gracas ao sucesso imediato da greve geral, aomanifesto tsarista de 30 de outubro, 0movimento nao refluiusobre si mesmo como em janeiro, regressando ao inicio da lutaeconomic a, mas transvasa para 0exterior, exercendo com ardora liberdade polftica recentemente conquistada. Manifestacoes,reunioes, uma nova imprensa, discuss6es piiblicas, massacressangrentos, pondo fim aos regozijos, seguidos de novas grevese de novas manifestacoes, tal e 0movimentado quadro dasjornadas de novembro e dezembro. Em novembro, porapelo dasocial-democracia, e organizada a primeira greve demonstrativade protesto contra a repressao sangrenta em S. Petersburgo ea proclarnacao do estado de sitio na Livonia e na Polonia. 0sonho da Constituicao e seguido de urn despertar brutal. A

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    surda agitacao acaba por desencadear a terceira greve geral demassas em dezembro, a qual se estende a todo 0Imperio. Agorao desenrolar e 0fim sao completamente diferentes dos casosprecedentes. A a~ao polft ica nao cede lugar a acao economicacomo em janeiro, mas tambern nao alcanca uma rapida vitoriacomo em outubro. A camarilha tsarista nao renova as suas ten-tativas para instaurar uma verdadeira liberdade polftica, e a a

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    brilhar 0ogo de art iffcio da sua eloquencia, Por fim, a cort inade ferro cai bruscamente. Os atores sao dispersos, do furor daeloquencia liberal nao resta mais que fumo e poeira. A tentativada social-democracia para organizar uma quarta manifestacaode greve de massas em favor da Duma e do restabelecimento daliberdade de expressao cai por terra. A greve polit ica de massasesgotou 0seu papel, enquanto tal, e a passagem da greve ao le-vantamento geral do povo e aos combates de rua nao e possfvel,o episodic liberal acabou, 0episodic proletario nao comecouainda. A cena fica provisoriamente vazia,

    4Nas paginas anteriores tentamos esbocar, em traces suma-

    rios, a historia da greve de massas na Russia. Urn simples erapido olhar por esta historia da-nos uma imagem que nao secompara em nada ao que habitualmente na Alemanha se dizsobre a greve de massa no decurso das discussoes. Em vez doesquema ngido e vazio que nos apresenta uma "acao" linear,executada com prudencia e segundo urn plano aprovado pelasin~tancias supremas dos sindicatos, vemos urn fragmento davida real feito de carne e sangue, que se nao pode arrancar aomeio revolucionario, ligado por mil lacos a toda a organizacaorevolucionaria.

    A greve de massas tal como nos e apresentada pela Revolu-

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    por varies anos, as vezes por decenios. Se considerarmos asinumeras e diferentes greves de massa que ocorreram na Russiadesde hi quatro anos, uma unica variante, e esta de importancusecundaria, corresponde a definicao de greve de massas como atounico e breve de caracteristicas puramente polfticas, desencadea-do e suspenso arbitrariamente segundo-urn plano pre-concebido;trata-se da simples greve de protesto. Ao longo de urn perfodo decinco anos, vemos na Russia so algumas greves de protesto, empequeno numero e,fato notavel, ordinariamente limitadas a umacidade. Citemos entre outras: a greve geral anual do lOde Maioem Varsovia e Lodz - na Russia propriamente nao esta muitodifundido 0habito de celebrar 0 lOde Maio com uma suspensaodo trabalho; a greve de massas em Varso,viaem 11de setembro de1905por ocasiao das exequias do condenado a morte Martin Kas-przak; a de novembro de 1905 em S. Petersburgo como protestocontra a proclamacao do estado de sit io na Polonia e na Livonia;a de 22 de janeiro de 1906 em Vars6via, Zodz, Tsenstochau ena bacia mineira de Dombrowa, assim como em certas cidadesrussas em cornemoracao do domingo sangrento de S.Petersbur-go; emjulho de 1906 realiza-se uma greve geral em Tiflis comomanifestacio de solidariedade para com os soldados condenadospor rebeliao e, por fim, pelo mesmo motivo em setembro desteana no decorrer do processo militar de Reval. Todas as outrasgreves de massas parciais ou greves gerais nao foram greves deprotesto, mas de luta; como tais nasceram espontaneamente porocasiao de incidentes particulares, locais e fortuitos, e nao a partirde urn plano preconcebido e deliberado e,com 0poder de forcaselementares, adquiriram dimensoes dum movimento de grandeenvergadura; nao terminavam com uma retirada em ordem, mastransformavam-se ora em lutas economicas, ora em combatesde rua, ora desmoronavam por si mesmas.

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    Neste quadro de conjunto, as g~e\Tesde puro protesto pohti-codesempenharam urn papel menor - 0de pontos minusculese isolados numa grande superffcie. Se considerarmos as coisascronologicamente, nota-se 0 seguinte: as greves de protestoque, ao contrario das greves de luta, exigem urn nivelde dis-ciplina partidaria muito elevado, uma direcao politica e umaideologia polftica conscientes e, portanto, parecem segundo 0esquema como a forma mais elevada e mais refletida da grevede massas, sao sobretudo importantes n o i ni ci o do movimento.Assim a arrancada geral no dia lode Maio de 1905 em Vars6-via, primeiro exemplo da aplicacao perfeita de uma decisao doPartido, foi urn acontecimento de grande envergadura para 0movimento proletario da Polonia, Da mesma maneira, se feznotar a greve de solidariedade de S. Petersburgo em novembrode 1905, primeiro exemplo de uma a

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    rapidamente. Os mesmos fatores que tornavam objetivamentepossivel 0 desencadear das greves de protesto, de acordo comurn plano concebido anteriormente e a partir das palavras deordem dos partidos, nomeadamente 0 desenvolvimento daconsciencia polft ica e da educacao do proletariado, impedemesta especie de greve; hoje, 0proletariado russo, mais precisa-:mente avanguarda ativa das massas.ja nao quer saber de grevesde protesto; os operarios ja nao estao para brincadeiras e so que-rem lutas serias com todas as suas consequencias, Se e verdadeque no decorrer da primeira grande greve, emjaneiro de 1905,o elemento de protesto desempenhou urn grande papel - sobuma forma nao deliberada, mas instintiva e espontanea - emcontrapartida a tentativa do Comite Central do Partido Social-democrata russo para chamar a greve a favor da Duma, emagosto, fracassou, entre outros motivos, por causa da aversao doproletariado consciente a acoes frouxas e puramente de protesto.

    2. Mas se em vez desta categoria secundaria das greves deprotesto considerarmos a greve de luta que constitui hoje naRussia 0suporte real da a

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    possibilidades de acao exterior, e dao novas forcas ao proleta-riado para me1horar a sua situacao aumentando a sua combati-vidade. Cada vaga de a

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    greve geral dos ferroviarios holandeses que, nao obstante asardentes simpatias que suscitou, se extinguiu na imobilidadeabsoluta de todo 0proletariado, e urn exemplo gritante.

    Inversamente, s6 no pedodo revolucionario, em que saoabalados os alicerces sociais e as muralhas que separam asclasses sociais, qualquer acao do proletariado pode em poucashoras arrancar da indiferenca as camadas populares ate entaona sombra, 0que se manifesta natural mente numa batalhaeconomica tumultuosa. Os operarios eletrizados bruscamentepela a~ao politica reagem de imediato no campo que esta maispr6ximo deles: insurgem-se contra a sua condicao de escravidaoeconomica. 0 gesto de revolta que e a luta politica faz-lhes sentircom uma intensidade inesperada 0peso das suas eadeias eco-nomicas, Enquanto na Alemanha a mais violenta luta polftica, acampanha eleitoral ou os debates parlamentares a prop6sito dastarifas alfandegarias tern uma influencia minima no curso ouna intensidade das lutas reivindicativas conduzidas simultanea-mente, na Russia qualquer a~ao do proletariado se manifestaimediatamente por uma extensao e uma intensificacao da lutaeconornica.

    Assim, e a revolucao que eria por si s6 as condicoes sociaispermitindo uma passagem imediata da luta economica a lutapolitica, e vice-versa, 0que se traduz na greve de massas. 0esquema vulgar so compreende a relacao entre greve e revolucaonos combates sangrentos a que conduzem as greves de massas;mas, urn exame mais profundo dos acontecimentos russosobriga-nos a detectar uma relacao lnoersa: na realidade, nao ea greve de massas que produz a revolucao, mas e a revolucaoque produz a greve de massas.

    4. Basta resumir 0que atras dissernos, para descobrir asolucao para 0problema da direcao eonseiente e da iniciativa

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    da greve de massas. Se a greve de mass as nao representa urnato isolado, mas todo urn perfodo da luta de classes, e se estepertodo se eonfunde com 0 periodo revolucionario, e claroque nao se pode desencadear arbitrariamente a greve demassas, mesmo se a decisao vier de instancias supremas domais poderoso partido socialista. Tanto nao esta ao alcanceda social-democracia suscitar ou travar revolucoes a seu belprazer, que 0entusiasmo e a impaciencia mais fogosa dashostes socialistas nao conseguiram provocar urn perfodo degreve de mass as que fosse urn movimento popular podero-so e vivo. A audicia da direcao do partido e a diseiplina dosoperarios podem ocasionar, sem duvida, uma manifestacaounica e de fraca duracao: foi 0easo da greve de massas naAustria, ou ainda a greve de 17dejaneiro em Hamburgo. Noentanto, estas greves assemelham-se tanto a urn verdadeiroperfodo de greve revolucionaria quanta as manobras navaisnum porto estrangeiro, quando as relacoes diplomatic asestao tensas, se assemelham a uma guerra. Uma greve geralsimplesmente produzida pela disciplina e pelo entusiasmo s6desernpenhara, no melhor dos casos, 0papel de urn sintomada combatividade dos trabalhadores, ap6s 0que a situacaoregressari ao calmo fame-fame cotidiano. Mesmo durantea revolucao, as greves nao caem do ceu. E preciso que sejamfeitas, de uma maneira ou de outra, pelos operarios, A reso-lucao e a decisao da classe operiria desempenham tarnbern 0seu papel, mas e necessario frisar que a iniciativa e a direcaode ulteriores operacoes natural mente dizem respeito ao setormais esclarecido e mais bern organizado do proletariado, asocial-democracia. Mas essa iniciativa e essa direcao s6 seaplicam na execucao de tal ou tal a

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    curso, e mais frequentemente no interior de uma dada cida-de. Ja vimos, por exemplo, a social-democracia, mais de umavez, dar expressamente, e com sucesso, a palavra de ordempara a realizacao de uma greve em Baku, Varsovia, Lodz,S. Petersburgo. Tal iniciativa tern menos probabilidades desucesso se for aplicada a movimentos gerais que englobcrntodo 0 proletariado. Por outro lado, a iniciativa e a direcaodas operacoes tern os seus limites determinados. Justamentedurante a revolucao, e extremamente diftcil a urn organismodirigente do movimento operario prever e calcular a ocasiaoe os fatores que provoquem ou nao 0 levantamento. Tomar ainiciativa e a direcao das operacoes, tambemaqui, nao con-siste em dar ordens arbitrariamente, mas sim em adaptar-se asituacao 0mais habilmente possivel, mantendo 0mais estreitocontacto com 0moral das massas. 0 elemento espontaneo de-sempenha, como vimos, urn enorme papel em todas as grevesde massas na Russia, quer como elemento motor, quer comofreio. Este fato nao e motivado por a social-democracia russ aser ainda jovem e fraca, mas porque em cada ate particularda luta tomam parte uma infinidade de fatores economicos,poli ticos e socia is, gerais e locais, materiais e psicologicos, detal maneira que nenhum deles pode ser definido ou calculadocomo urn exemplo aritrnetico. Mesmo se 0proletariado, coma social-democracia a cabeca, desempenhar 0papel dirigente,a revolucao nao e uma manobra do proletariado, mas umabatalha que se desenrola enquanto a sua volta desmoroname se deslocam sem cessar todos os alicerces sociais. Se 0 ele-mento espontaneo desempenha urn papel tao importante nagreve de massas na Russia, nao e porgue 0proletariado russoseja "deseducado", mas porgue as revolucoes nao se aprendemna escola.

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    Por outro lado, constatamos na Russia gue esta revolucaoque tanto dificulta a direcao a social-democracia, que ora lherouba, ora the estende a batuta de maestro, em contrapartidaresolve todas as dificuldades, dificuldades essas que 0esquemateorico, como e discutido hoje na Alemanha, considera a prin-cipal preocupacao da direcao: 0problema do "abastecimento",das"despesas", dos "sacrificios materiais". Sem duvida, naoos resolve da maneira como sao discutidos, lapis na mao, nodecorrer de uma pacifica conferencia secreta, dirigida pelasinstancias superiores do movimento operario. A solucao detodos estes problemas resume-se no seguinte: a revolucao fazentrar em cena uma tao enorme massa popular que qualquertentativa para compensar de anternao ou calcular 0 custo domovimento - como se avaliam as despesas de urn processocivil- surge como urn empreendimento sem esperanc;a. Tam-bern na Russia, os organismos diretivos tentam alimentar 0melhor possivel as vitimas do combate. Assim, por exemplo,o Partido ajudou durante semanas as corajosas vitimas dosgigantescos lock -out de S. Petersburgo, em consequencia dacampanha a favor do dia de trabalho de 8 horas. Mas todasestas medidas, no imenso balance da revolucao sao uma got ade agua no oceano. 0 prec;o que a massa proletaria paga porcada revolucao e com efeito urn oceano de privacoes e sofri-mentos horrfveis, Urn pedodo revolucionario resolve estadificuldade aparentemente insoluvel, desencadeando na massaurn tao grande idealismo que esta se mantem insensivel aossofrimentos mais atrozes. Nao se pode fazer uma revolucaonem uma greve com apsicologia de urn sindicalizado ques o consentiria em suspender 0 trabalho no 10 de Maio nacondicao de poder contar, se for despedido, com urn subsi-dio anteriormente determinado com precisao. No entanto,

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    na tempestade revolucionaria, proletario, 0prudente paide familia, desejoso de assegurar subsidio, transforma-senum "revolucionario rornantico" para quem bern supremo_ a vida - e com mais razao bem-estar material tern umaimportancia diminuta em comparacao com 0 ideal de luta.

    Se e pois verdade que ao periodo revolucionario cabe adi-recao da greve no sentido da iniciativa do seu desencadeamentoe da responsabilidade nas despesas, nao e menos verdade quenoutro sentido a direcao das greves de massas cabe a social-democracia e aos seus orgaos diretivos. Em vez de ser postaperante 0 problema da tecnica e do mecanismo da greve demassas, a social-democracia e chamada, no periodo revolucio-nario, a tomar a sua direcao politica. A tarefa mais importantede "direcao" no periodo de greve de massas consiste em dar apalavra de ordem da luta, em orienta-la, em dirigir a tdtica daluta politica de tal modo que em cada fase e em cada instantedo combate, sejarealizada e posta em a~aoa totalidade do poderdo proletariado, ja comprometido e lancado na batalha, e queeste poder se exprima pela posicao do Partido na luta; e precisoque a tatica da social-democracia, no tocante a sua energia erigor, jamais se encontre aquem do nfvel da correlacao de forcasreal, mas que, ao contrario, ultrapasse este nivel; esta e a maisimportante tarefa da "direcao" no Perfodo das greves de massa.E assim a direcao polit ica transformar-se-a automaticamenteem certa medida numa direcao tecnica. Uma tatica socialistaconsequente, resoluta, avancada, provoca na massa urn sen-timento de seguranca, de confianca, de combatividade; umatactica hesitante, fraca, alicercada na subestimacao das forcas doproletariado, paralisa e desorienta as massas. No primeiro caso,as greves de mass as explodem "espontaneamente" e sempre"oportunamente"; no segundo caso, e em vao que a direcao do

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    Partido chama diretamente a greve. A Revolucao Russa oferece-nos exemplos sugestivos de ambos os casos.

    5P6e-se agora a seguinte questao: em que medida as licoes

    tiradas da greve geral na Russia se aplicam a Alemanha? Ascondicoes sociopoliticas, a historia e a situacao do movimentooperario diferem profundamente na Alemanha e na Russia. Aprimeira vista poder-se-a pensar que as leis internas das gre-yes de massas na Russia, tal como as expusemos, resultam decondicoes especificamente russas, que de nenhum modo saovalidas para 0proletariado aleman. Na revolucao as lutas politicae economica estao unidas pelas mais estreitas relacoes internas;a sua unidade revela-se no perfodo grevista. Mas nao e isso umasimples consequencia do absolutismo russo? Num Estado emque todas as formas e todas as manifestacoes do movimentooperario sao proibidas, em que a mais simples greve e urn cri-me, qualquer luta economica se transforma necessariamenteem luta polftica.

    Por outro lado, se inversamente, a primeira explosao da re-volucao conduziu a urn ajuste de contasentre a classe operariae 0patronato, foi pelo fato de 0operariado russo ter ate entao 0mais baixo nivel de vida, e de jamais ter travado a mais pequenabatalha economic a para melhorar a sua sorte. 0 proletariadorusso tinha de comecar por se libertar da mais ign6bil condi-< : ; 3. 0 : 0 que ha de espantoso em ter sido tornado por urn ardorjuvenil quando a revolucao trouxe 0primeiro sopro vivificadora atmosfera sufocante do absolutismo? Finalmente, 0decorrertumultuoso da greve de massas assim como 0seu carater ele-mentar e espontaneo explicam-se, por urn lado, devido a atra-sada situacao polftica da Russia, por outro lado, devido a falta

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    de organizacao e educacao do proletariado russo. Num pais emque a classe operaria tern atras de S I trinta anos de experienciada vida polftica, com urn poderoso partido socialista com tresrnilh6es de votos e com urn grupo sindicalmente organizadoque atinge urn milhao e urn quarto, e impossivel que a lutapolitica, que as greves de mass a se revistam do mesmo caratertempestuoso e elementar que num Estado semibarbaro acabadode transitar da Idade Media para a ordem burguesa moderna.Tal e a ideia que geralmente tern os que querem medir 0graude maturidade da situacao economica de urn pals a partir dainterpretacao das suas leis escritas.

    Examinemos os problemas urn a urn. Primeiro, e inexatoquerer fazer remontar 0nicio da luta econornica a explosao darevolucao. De fato, as greves e os conflitos salariais estavam cadavez mais na ordem do dia, desde 0nicio dos anos de 1890 naRussia propriamente dita, e na Polonia russa mesmo a partir dofim dos anos de 1880, tendo praticamente adquirido 0direitode cidadania. E verdade que ocasionavam frequentes e brutaisrepressoes da policia, contudo faziarn parte dos acontecimentoscotidianos. E assim que em Vars6via e Lodz, a partir de 1891,existia uma importante Caixa Sindical coletiva; 0entusiasmopelos sindicatos fez ate nascer por algum tempo na Polonia asilus6es "economistas" que, anos mais tarde, reinaram em S.Petersburgo e no resto da Russia.

    Tambern existern muitos exageros na ideia que se fazia damiseria do proletariado no Imperio tsarista antes da revolucao,A categoria dos operarios atualmente mais ativa e mais ardentena luta economica e politica, ados trabalhadores da grande in-dustria nas grandes cidades, tinha urn nivel de vida s6levementeinferior ao das categorias correspondentes do proletariado ale-mao; num certo numero de profissoes encontram-se salaries

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    iguais e por vezes superiores aos adotados na Alemanha. Tam-bern, no que respeita a duracao do trabalho, a diferenca entreasgrandes empresas industriais dos dois paises e insignificante.Assim, a ideia de uma pretensa servidao material e cultural daclasse operaria russa nao tern fundamento. Se refletirrnos urnpouco nesses fatos, a ideia e refutada pela pr6pria revolucao epeIo eminente papel que 0proletariado desempenhou. Nao ecom urn subproletariado miseravel que sefazem revolucoes comesta maturidade e esta lucidez politicas. Os operarios da grandeindustria de S. Petersburgo, Vars6via, Moscou e Odessa, queocupavam a primeira fila do combate, estao, no plano culturale intelectual, muito mais pr6ximos do tipo ocidental do queimagina quem considera 0parlamentarismo burgues e a praticasindical regular a unica, a indispensavel escola do proletariado.omoderno desenvolvimento industrial na Russia e a influenciade 15 anos de social-democracia, dirigindo e encorajando a lutaeconornica, realizaram urn importante trabalho civilizador,mesmo sem as garantias exteriores da ordem legal burguesa.

    Mas as diferencas tambem se atenuam se considerarmosoutro aspecto da questao e examinarmos mais de perto 0ver-dadeiro nfvel de vida da dasse operaria a lemd . As grandes grevespoliticas de massas sacudiram, logo no primeiro instante, asmais largas camadas do proletariado russo, que se lancou febril-mente na batalha econornica. Mas nao existem na Alemanha,no seio da classe operaria, categorias vivendo numa obscuridadeque a benfazeja luz sindical mal aqueceu, categorias que maltentaram, ou tentaram sem sucesso, sair de sua servidao social,travando diariamente lutas pelos salaries? Tomemos comoexemplo a m i se r ia d o s m i n ei ro s: mesmo no mais calma rame-fame cotidiano, na fria atmosfera da rotina parlamentar alerna- alias como em outros paises, mesmo na Inglaterra, paraiso

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    dos sindicatos - a luta dos mineiros so se manifesta por golpes,por fortes erupcoes, por greves de massas com caracteristicas deforcas elementares. Esta e a prova de que a oposicao entre capitale trabalho esta demasiado exacerbada, e demasiado violenta parapermitir a divisao em lutas sindicais parciais calmas e metodicas.Mas esta miseria operaria de carater eruptivo que, rnesrno, emtempo normal, consti tui urn foco de tempestade donde provemabalos violentos, deveria desencadear de repente e inevitavel-mente urn conflito politico e economico brutal, por ocasiaode qualquer acao polftica de massas na Alemanha, de qualquerchoque relativamente violento. Tomemos agora como exemploa m i se ri a d os o p er dr io s texteis: tambem aqui a luta economica semanifesta por exasperadas explosoes, irniteis na sua maioria,que, sacudindo 0pafs todos os dois ou tres anos, dao somenteuma debil ideia da violencia eruptiva pela qual reagiria a enor-me massa aglomerada dos escravos da grande industria textilassociada no momenta de uma explosao politica por ocasiaode uma poderosa a

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    previa necessaria sem a qual nao se "pode pensar" em greve demassas naAlemanha. 0 curso verdadeiro e natural dos aconte-cimentos s6 pode ser inverso: somente por uma a

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    Russia, a todo urn periodo de lutas economic as elementares.Os receios dos dirigentes sindicais assentam numa concepcaoescolistica e gratuita do desenrolar dos acontecimentos ao te-merem que, num periodo de greve de massas, a batalha pelosobjetivos economicos seja desviada ou sufocada. Urn perfodorevolucionario transformaria, mesmo na Alemanha, 0caraterda batalha economics e intensifica-la-ia a tal ponto que a atualpequena guerrilha sindical surgiria em cornparacao como urnjogo de criancas. E, por outr~ lado, esta explosao elementar degreves economic as de mass as daria urn novo impulso e novasforcas a luta economica, A interacao entre a luta econornica e aluta politica, que hoje constitui 0motor interno das greves demassas na Russia e ao mesmo tempo 0mecanismo regulador daa

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    se pela luta, e uma luta que nao e unicamente uma pequenaguerra entre ras e ratos nas aguas paradas do parlamentarismoburgues, mas urn periodo revolucionario de violentas lutas demassas. A concepcao dgida e mecanica da burocracia s6 admitea luta como resultado da organizacao que atinja um certo graude forca, Ao contrario, a evolucao dialetica, viva, faz nascer aorganizacao como produto da luta. Vimos ja urn exemplo mag-nifico deste fenomeno na Russia, onde urn ptoletariado quasedesorganizado cornecou a criar uma vasta rede de organizacoesdepois de urn ana e meio de lutas revolucionarias tumultuosas.Urn outro exemplo e-nos fornecido pela pr6pria hist6ria dossindicatos alemaes, Em 1878 os sindicatos contavam 50 milmembros. Segundo a teoria dos atuais dirigentes sindicais,vimo-lo ja, esta organizacao nao era "suficientemente forte" parase comprometer numa luta polit ica violenta. Mas os sindicatosalemaes, por rnais fracos que fossem na epoca, envolveram-sena luta - referimo-nos a luta contra a lei de cxcecao contra ossocialistas - e revelaram-se nao so "s~f~ientemente fortes" paraobterem a vitoria, mas tambem quintuplicararn 0seu poder.Ap6s a supressao da leide 1891, contavam com 227.659 aderen-tes. Para dizer averdade, 0metodo uti lizado pelos sindicatos, egra

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    Toda verdadeira grande luta de classes deve alicercar-se noapoio e na colaboracao das mais largas rnassas; uma estrategiade luta de classes que nao contasse com essa colaboracao,e naovisse mais que os desfiles bern ordenados da pequena parte doproletariado arregimentada nas suas fileiras, estariacondenadaa uma lamentavel derrota.

    Na Alemanha as greves de massas, as lutas politicas demassas nao podem ser conduzidas unicamente pelos militantes. organizados, nem podem ser comandadas por uma "direcao"saida do comite central do Partido. Nesse caso - como na Russia-, ha menos necessidade de "disciplina", de "educacao", de umaavaliacao tao precisa quanto possivel das despesas e subsidiesdo que de uma ac;aode classe resoluta e verdadeiramente revo-lucionaria, capaz de atingir e arrastar as camadas mais extensasdas mass asproletarias desorganizadas, mas revolucionarias porsua disposicao e condicao.

    A superestimacao e a falsa apreciacao do papel organizativodo proletariado na luta de classes esta ligada geralmente a uma"subestimacao da massa proletaria desorganizada e da sua matu-ridade polftica. S6 num perfodo revolucionario, na efervescenciadas gran des lutas de classe tempestuosas se manifesta 0 papeleducador da rapida evolucao do capitalismo e da influenciasocialista nas grandes camadas populares; em tempo normal,as estatisticas das organizacoes, ou ate as estatfsticas eleitorais,nao dao mais que uma palida ideia dessa influencia.

    Vimos que na Russia, de ha mais ou menos dois anos paraca, 0mais pequeno conflito, a mais pequena brutalidade porparte das autoridades governamentais locais podem ocasionarimediatamente uma ac:saogeral do proletariado. Todo mundose apercebe desse fato e acha-o natural, porque precisarnentena Russia existe a "revolucao"; mas, que quer isso dizer? Quer

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    dizer que 0 sentimento, 0 instinto de classe esta de tal maneiravivo no proletariado que qualquer assunto parcial, interessandourn grupo restrito de operarios the diz diretamente respeitocomo se fosse urn assunto geral, urn assunto de dasse, e ime-diatamente reage na sua totalidade. Enquanto que naAlemanha,Franca, Italia, Holanda, os conflitos sindicais do proletariadonao ocasionam uma ac;;aogeral do proletariado - nern mesmodo seu grupo organizado - na Russia, 0 menor incidente de-sencadeia uma violenta tempestade. Isso significao seguinte:por mais paradoxal que possa parecer, 0 instinto de classe no .jovem proletariado russo, deseducado, pouco esdarecido e aindamenos organizado, e infinitamente mais vigoroso que na dasseoperaria organizada, educada e esdarecida, daAlemanha ou deoutro pais da Europa Ocidental. Isto nao se explica por qualquervirtude do "Oriente,jovem e virgem" em oposicao ao "Ocidenteapodrecido"; muito simplesmente e 0 resultado da ac;ao revo-lucionaria direta das massas. No operario alemao esdarecido,a consciencia de dasse incutida pela social-democracia e umaconsciencia t eo rua , l a te n te : no periodo do dominio parlamentarburgues, geralmente nao tern ocasiao de semanifestar por umaac:saodireta de massas; e 0resultado ideal dis 400 acoes paralelasdas circunscricoes durante a luta eleitoral, dos numerosos con-fl itos economicos parciais, etc. Na revolucao, em que a pr6priamassa aparece na cena politica, a conscienciade classe torna-sep rdt ica , a t iv a . Assim, urn ana de revolucao deu ao proletariadorusso essa "educacao" que trinta anos de lutas parlamentarese sindicais nao podem artificialmente dar ao proletariado ale-mao. Por certo, esse vivo e ativo instinto de classe que anima 0proletariado decrescera sensivelmente, mesmo na Russia, umavez acabado 0 perfodo revolucionario e uma vez insti tufdo 0regime parlamentar legal burgues, ou pelo menos transformar-

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    TEORIA DA ORGANIZA

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    se-a numa consciencia oculta, latente. Mas inversamente, nao emenos certo que, na Alemanha, urn periodo de acoes politicasenergicas, urn instinto de classe revolucionario, vivo, avido deagir, apoderar-se-a das camadas mais vastas e mais profundasdo proletariado; isso far-se-a tanto mais rapida e energicamente,quanta mais poderosa for a influencia educadora da social-democracia. Esta obra educadora, assim como a estimulantea

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    A Revolu

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    industrial urbano e hoje a alma da revolucao na Russia. Mas paraempreender uma ac;ao polftica de massas, e preciso primeiroque 0 proletariado se una em massa; para isso, e preciso quesaia das fabricas e das oficinas, das minas e dos altos fornos, eultrapasse a dispersao e a fragmentacao a que 0juga capitalistao condena, Deste modo a gre"e de massas e aprimeira formanatural e espontanea de qualquer grandiosa acao revoluciom.,ria do proletariado; quanta mais a industria se transformar naforma predominante de economia numa sociedade, tanto maiso proletariado desempenha urn papel importante na revolucao,tanto mais a oposicao entre trabalho e capital se aguca e tantomais as greves de massas necessariamente adquirem amplitudee importancia. 0 que era antes a principal forma da revolucaoburguesa, 0 combate nas barricadas, 0 confronto direto comas forcas armadas do Estado, s6 constitui na revolucao atual 0ponto culminante, urn momenta de todo 0 processo da lutade mass as proletaria,

    Assim, a nova forma da revolucao permitiu alcancar 0 es-tagio "civilizado" e "atenuado" das lutas de classe profetizadopeIos oportunistas da social-democracia alema, os Bernstein,os David e consortes. Na verdade, eles imaginavam esta lutade classes atenuada, civilizada, segundo suas ilusoes pequeno-burguesas e democraticas, pensavam que a luta de classes selimitava exclusivamente a batalha parlamentar eque a revolucao,no sentido de combate de ruas, seria simplesmente abolida. Ahist6ria solucionou 0 problema a seu modo, que e ao mesmotempo mais profundo e mais sutil: fez surgir a greve de mass asrevolucionaria que, evidentemente, nao substi tui nem tornasuperfiuos confrontos diretos e brutais na rua, mas os reduz aurn momenta do longo periodo de lutas politicas e, ao mesmotempo, liga a revolucao a urn gigantesco trabalho civilizador

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    no sentido preciso do termo: a elevacao material e intelectualde toda a classe operaria, "civilizando" as formas barbaras deexploracao capitalista.A greve de massas aparece assim naocomo urn produto

    especifico do absolutismo russo, mas como uma forma uni-versal de luta das classes proletarias, determinada pelo estagioatual do desenvolvimento capitalista e da correlacao de classes.As tres revolucoes burguesas, a grande Revolucao Francesaem 1789, a revolucao alema em 1848, e a atual RevolucaoRussa constituem, segundo este ponto de vista, uma cadeia .de evolucao continua: refletem a grandeza e a decadencia doseculo capitalista. Na grande Revolucao Francesa os conflitosinternos ainda latentes da sociedade burguesa dao lugar a urn

    e ,longo periodo de lutas brutaisem que as oposicoes, rapida-mente germinadas e amadurecidas no calor da revolucao,rebentam com uma violencia extrema e sem qualquer freio.Meio seculo mais tarde a revolucao da burguesia alema, explo-dindo na rnetade do eaminho do desenvolvimento capitalista, einterrompida pela oposicao dos interesses e pelo equilfbrio dasforcas entre capital e trabalho, abafada por urn cornpromissoentre 0 feudalismo e a burguesia, reduzida a urn breve e las-timoso episodio rapidarnente arnordacado. Mais meio seculoe a Revolucao Russa atual explode num ponto do caminhohist6rico situado ja na outra vertente da montanha, passadoo apogeu da soeiedade eapitalista: a revolucao burguesa janao pode ser sufocada pela oposicao entre a burguesia e 0proletariado, e,ao contrario, estende-se por urn largo perfodode eonflitossociais violentos que fazem parecer irr isorios osvelhos ajustes de contas com 0 absolutismo, quando cornpa-rados aos novos exigidos pela revolucao. A revolucao realizahoje, no easo particular da Russia absolutista, os resultados do

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    desenvolvimento capitalista internacional; aparece- nos rnenoscomo herdeira das velhas revolucoes do que como precursorade uma nova serie de revolucoes proletarias no ocidente. 0pais mais atrasado, precisamente porque agiu com urn atrasoimperdoavel a levar a cabo a sua revolucao burguesa, rnostraao proletariado da Alemanha e dos pafses capitalistas maisavancados as vias e os metodos da futura luta de classes.

    E completarnente errado, mesmo segundo esta perspectiva,avaliar a distancia a Revolucao Russa como urn grandioso espe-taculo, como qualquercoisa especificamente russ a, contentan-do-se em admirar 0heroismo dos combatentes, quer dizer, osacess6rios exteriores da batalha. Ao contrario, importa que osoperarios aprendam a ver a Revolucao Russa como sua p r o pr iacausa; nao basta que sintam uma solidariedade internacional declasse para com 0proletariado russo, devem olhar essa revolucaocomo urn c a p it ul o da sua p r o pr ia h i st o ri a so ci a l epo l i ti c a. Os dirigen-tes sindicais e os parlamentares que pensam que 0proletariadoalemao e "demasiado fraco" e que a situacao na Alemanha estapouco amadurecida para as lutas revolucionarias de massa naoimaginam que 0grau de maturidade da siruacao de classe e 0poder do proletariado alernao nao se refletem nas estatisticassindicais nem nas estatisticas eleitorais, mas nos acontecimentosda Revolucao Russa. 0 grau de maturidade das lutas de classena Franca sob 0dominio da Monarquia de Julho e as batalhasde junho em Paris mediu-se na revolucao de marco de 1848 naAlemanha, na sua evolucao e no seu fracasso. Hoje, tambem amaturidade das oposicoes de classe da Alemanha se reflete nosacontecimentos e no poder da Revolucao Russa. Os burocratasbuscam nas gavetas de seus escrit6rios a prova do poder e damaturidade do movimento operario alemao sem verem que 0que procuram esta na sua frente, numa grande revelacao hist6-

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    rica. Porque, historicamente, a Revolucao Russa e 0 reflexo dopoder e da maturidade do movimento operario internacionale, em primeiro lugar, do rnovimento operario alernao,

    Seria reduzir a Revolucao Russa a urn resultado bern me-diocre, grotescamente mesquinho, se dela tirassemos a simplesli

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    provaveis consequencias e pode-se regular a propria condutaem funcao deles.o perigo politico mais iminente que espia hi anos 0 rno-vimento operario alemaoe urn golpe de estado da reacao quepretendesse privar asmais largas camadas populares do seu rnaisimportante direito polftico: 0sufragio universal para as elei~6esdo Reichstag. Apesar da importancia que urn tal fato teria, e im-possfvel predizer com rigor, repetimo-Io, que imediatamentehouvesse uma resposta popular direta a esse golpe de Estado, soba forma de uma greve de massas. Ignoramos hoje, com efeito,ainfinidade de circunstancias e fatores que, num movimentode massas, contribuiria para determinar a situacao. Contudo,se considerarmos a exasperacao dos antagonismos de dassena Alemanha ese, por outro lado, considerarmos as multiplasconsequencias internacionais da Revolucao Russa, assim comouma Russia renovada no futuro, e evidente que a agitacao politicaprovocada na Alemanha pela abolicao do sufragio universal naopararia na exclusiva defesa deste direito. Um tal golpe de Estadodesencadearia inevitavelmente uma explosao de calera elementarnum lapso de tempo mais ou menos longo. Uma vez acordadas,asmassas populares cyustariam suas contas polfticas com a reacao:levantar-se-iam contra 0 prec;o usurario do pao, contra 0 arti-ficial encarecimento da carne, contra os encargos impostos porilimitadas despesas feitas com 0militarismo e a marinha, contraa corrupcao da polit ica colonial, contra a vergonha nacional doprocesso de Koenigsberg, contra a suspensao das reformas sociais;levantar-se-iam contra asmedidas que tinham como f1mprivar osferroviarios, os empregados dos correios, os operarios agrfcolas,dos seus direitos; contra as medidas repressivas tomadas contraos mineiros, contra 0julgamento de Lobtau e toda ajustica dedasse, contra 0 sistema brutal do l oc k- ou t - em resumo, contra

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    toda a opressao exercida ao longo de vinte anos pelo poder aliadodos fidalgotes da Prussia Oriental e do grande capital dos carteis,

    Uma vez posta a pedra em movimento, ela nao para de rolar,quer a social-democracia queira quer nao. Os adversaries dagreve de massas recusam a licao e 0exemplo da Revolucao Russacomo nao aplicaveis a Alemanha sob0pretexto de que na Russiaera preciso saltar primeiro, sem transicao, do regime orientaldespotico para a moderna ordem legal burguesa. Esta diferencaformal entre 0antigo regime politico e 0moderno bastaria paraexplicar a veernencia e aviolencia da Revolucao Russa. Possuimoshi muito tempo na Alemanha as formas e as garantias de urnregime deEstado fundado no direito; assim urn desencadeamentotao elementar de conflitos sociais e impossivel a seus olhos. Osque assim raciocinam esquecem que em contrapartida, uma veziniciadas as lutas politicas na Alemanha 0seu objetivo historicoseria diferente do atual objetivo na Russia. Justamente, porquena Alemanha 0 regime constitucional existe hi muito este tevetempo de enfraquecer e de chegar ao seu declfnio e porque ademocracia burguesa e 0liberalismo chegaram ao seu terrno, naopode por-se a questao de uma revolucao burguesa. Tambem urnperfodo de lutas polit icas frontais na Alemanha so teria neces-sariamente por objetivo historico a di tadura dopro le ta r iado . Mas adistancia que separa na Alemanha a atual situacao deste objetivoe muito mais consideravel do que a que separa 0 regime legalburgues do despotismo oriental, E por isso que esse objetivo naopode ser atingido de uma so vez; s6 pode ser realizado a partirde um longo perfodo de gigantescos conflitos sociais.

    Mas nao hayed flagrantes contradicoes nas perspectivasque abrimos? Por urn lado, afirmamos que no decorrer de urneventual futuro periodo de acoes de massas serao as camadassociais mais atrasadas da Alemanha, os operarios agricolas, os

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    TEO RIA DA ORGANIZACAO POLITICA

    ferroviarios e os empregados dos correios quem comecara por

    ADEMAR BOGO (ORG.)

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    obter 0direito de associacao e que bastard suprimir desde logoos mais odiosos excessos da exploracao capitalista; por outrelado, 0objetivo politico deste periodo seria a conquista imediatado poder poli tico pelo proletariado. Por urn lado, tratar-se-ia dereivindicacoes economic as e sindicais tendo em vista interessesimediatos, por outro lado, tratar-se-ia do objetivo final da social-democracia. Por certo hi ai contradicoes flagrantes, contradicoesessas que ressaltam nao da nossa logica, mas da evolucao do capi-talisrno, 0 capitalismo nao evolui seguindo uma bela linha reta,segue urn percurso caprichoso e cheio de bniscoszigue-zagues.Assim como os diferentes pafses capitalistas apresentam os maisdiversos estagios de evolucao, tambem no interior de cada paisse encontram diversas camadas da mesma dasse operaria. Masa hist6ria nao espera pacientemente que os paises e as camadasmais atrasadas tenham alcancado os paises e as camadas maisavancadas, a fim de que 0conjunto possa por-se simetricamenteem marcha, em colunas cerradas. Ha explosoes nos pontos maisefervescentes, desde que a situacao esteja apta, e bastam algunsdias ou alguns meses de tormenta revolucionaria para compensaros atrasos, corrigir as desigualdades, por em andamento todo 0progresso social de uma so vez.

    Na Revolucao Russa, todos os estagios de desenvolvimen-to, toda a escala de interesses das diversas categorias operariasestavam representados no programa revolucionario da social-democracia e 0 infinito numero de lutas parciais desembocavana imensa a~ao comum de classe do proletariado; acontecerao mesmo na Alemanha, quando a situacao se proporcionar. Atarefa da social-democracia consistira em regular a sua tatica apartir dos estagios mais avancados da evolucao, e nao a partir dosestagios mais atrasados.

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    No perfodo de grandes lutas que se abrira, mais tarde oumais cedo, para 0proletariado alemao, uma das condicoes maisimportantes para alcancar 0sucesso sed" alem de uma taticaresoluta e consequente, maior unidade possfvel na ala avanca-da do proletariado, a social-democracia, unidade sem a qual eimpossfvel 0maximo de eficacia, Contudo, desde as primeirastimidas tentativas para empreender uma acao de massas comcerta importancia, urn estado realmente deploravel se revelou: adivisao e a autonomia completa das duas organizacoes do mo-vimento operario, 0partido social-democrata por urn lado, ossindicatos por outro.

    Olhando atentamente as grevesde massas na Russia e a si-tuacio alema, vemos claramente que e impossfvel encarar umaimportante a

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    nomicas ou poliricas prosseguiriam sem des; num caso analogoaconteceria 0mesmo aos dirigentes do partido.

    Com efeito, a distincao entre luta economica e luta polit ica,a autonomia destas duas formas de luta nao sao mais que urnproduto artificial, embora historicamente explicavel, do periodoparlamentat. Por urn lado, na ordem "normal" da sociedadeburguesa a luta economica esta dispersa, fragmentada numainfinidade de lutas parciais em cada empresa, em cada ramoda producao. Por outro lado, a luta politica e conduzida naopela propria massa numa acao direta, mas de acordo com asformas do Estado burgues, pela via representativa, por umapressao exercida nos corpos legislativos. Desde que se inicieurn periodo de lutas revolucionarias, quer dizer, desde que essasmassas apare~am no campo de batalha, essa dispersao de lutaseconomicas cessa, assim como a forma parlamentar indiretada luta politica. Numa a

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    luta sindical. A luta parlamentar esta para a polit ica do partidosocial-democrata como aparte esta para 0todo, exatamente comoo trabalho sindical. 0 partido social-democrata e precisamente 0ponto de encontro da luta parlamentar com a luta sindical. Relineem si os dois aspectos da luta de classes que visam a destruicar, .da ordem social burguesa.

    A teoria da "igualdade de direitos" entre os sindicatos eopartido socialista nao e portanto urn simples mal-entendido, umapura confusio te6rica: exprime a tendencia bern conhecida daalaoportunista do Partido que efetivamente pretende reduzir a lutapolitica da classe operaria a luta parlamentar e pensa transformaro carater revolucionario da social-democracia para dele fazer urnpartido reformista pequeno-burgues." Se 0 partido socialista4 Como aex is tenc ia de ta l tendenc ia no i nt er io r do Part ido Soc ia l-Democra ta Ale rnao e

    geralmente negada, temos de prestar homenagem a f ranqueza com a qual aalaopor tu-n is ta re eentemen te def in iu os s eus ob jet ivos e os s eus voto s. Numa r euniao do Pa rtidoreaIizada em Mainz em 10 de setembro ultimo, 0Dr. David apresentou a seguinter esolucao que fo i ado tada: "Consi der ando que 0Part ido Soc ia l-Democ ra ta eoneebe anoc io de ' revol ucao' nao no sen ti do de t ransf or rnac io v io lent a mas no senti do pacff icode evolucao, quer dizer, de construicao urn novo e progressive sistema economico, aassembIeia do Partido, reunida em Mainz, recusaqualquer "romantisrno revolucionirio".AAssembleia ve na eonquista do poder politico somente a eonquista da rnaioria dapopulacao pelas ideias e exigencias da soeia l-democracia , eonquis ta fei ta nao pela vio-l enci a mas pel a r evo lucao nos cspiri to s e fe tuada po r uma propaganda i deol6gic a e po rum trabalho concreto de reforma em todos os dominios da vida politica, economics esocial.Convenci dade que a soc ia l- democr ac ia ganha ma is empregando met odos l egais do quemetodos i legais e a sublevacao violenta, a assembleia rejei ta 0principio tat ico da a

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    democracia, entregam-se a uma verdadeira tentativa de suiddio.Destacar a pratica sindical da teor ia do socialismo cientificoequivaleria, para os sindicatos alemaes, a perder imediatamentea superioridade em relacao a todos os sindicatos burgueses, e adescer ao nfvel de urn empirismo vulgar e titubeante.

    3. Enfim, mesmo que os seus dirigentes tivessem perdidopouco a pouco a consciencia disso, sao ainda os sindicatos,quanta ao seu poder numerico , urn produto do movimento e dapropaganda socialistas. Nao hi duvida que a propaganda sindicalprecede em muitos campos a propaganda do partido, e por todaa parte 0 trabalho sindical pre para 0 caminho ao trabalho dopartido. Do ponto de vista da a

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    pequenas, ve a cabeca do seu sindicato como dirigentes maisativos precisamente os mesmos colegas que ele sabe na vidapublica serem membros do partido social-democrata, sejam elesdeputados do Reichstag ou do Landtag, ou eleitos municipais, ousejam ainda homens da confianca do Partido, presidentes doscomites eleitorais, redatores de jornais, secretaries das organi-zacoes do Partido, ou simplesmente oradores e propagandistasdo Partido. Encontra nos temas de propaganda evocados noseu sindicato as mesmas ideias familiares que the sao queridassobre a explora

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    repudiam com indignacao - corolario obrigat6rio da teoria da"neutralidade" - aideia de que os sindicatos seriam escolas derecrutamento para 0socialismo. De fato, esta hipotese que lhesparece tao insultuosa e que, na realidade, seria extremamenteagradivel, e puramente imagin.iria, porque a situacao e inver-sa no geral: e a social-democracia que na Alemanha constituiuma escola de recrutamento para os sindicatos. 0 trabalho deorganizacao sindical e ainda diflcil e penoso. Para que a colheitaseja abundante, e preciso nao so - salvo em certos casos e emcertas regi6es - que 0 terreno tenha sido lavrado anteriormentepela social-democracia, mas e necessario ainda que a sementesindical e os semeadores sejam socialistas, sejam "vermelhos".Se compararmos portanto 0mimero de sindicalizados, nao como dos mili tantes socialistas, mas com 0dos eleitores socialistas- unica comparacao correta - chega-se a uma conclusao muitodiferente da geralmente propagada. Nota-se com efeito que os"sindicatos livres" so representam atualmente na Alemanha umaminoria da classe operaria consciente, visto que 0 seu rnilhaoe urn quarto de aderentes nao atinge sequer metade da massaabrangida pela social-democracia. A mais importante conclu-sao que dos fatos aqui expostos podemos tirar e a seguinte: acompleta unidade do movimento operario sindical e socialista,indispensavel as futuras lutas de massas naAlemanha, esta desdeja realizada; esta concretamente encarnada na enorme massaque constitui ao mesmo tempo a base do partido socialista edos sindicatos; os dois aspectos do movimento operario estaoconfundidos na unidade espiritual constituida pela conscienciadessa enorme massa. Assim, a pretensa oposicao entre Part ido esindicatos reduz-se a oposicao entre 0Partido e urn certo gru-po de dirigentes sindicais; mas essa mesma oposicao existe no

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    dos operarios sindicalizados.o enorme desenvolvimento do movimento sindical na Ale-manha no decorrer dos ultimos quinze anos, e especialmenteno pedodo de prosperidade economica entre -1895 e 1 9 0 0 ,ocasionou naturalmente, uma maior autonomia dos sindicatos,uma especializacao dos seus metodos de luta e da sua direcao,originando assim uma verdadeira casta de dirigentes sindicaispermanentes. Todos estes fenomenos sao 0resultado histori-camente explicavel do desenvolvimento dos sindicatos durantequinze anos, sao 0produto da prosperidade economica e dacalma politica na Alemanha. Embora inseparaveis de certosinconvenientes nao deixam de ser urn mal necessario. Contudoa dialetica da evolucao quer que esses metodos indispensaveis aodesenvolvimento do sindicato se transforrnem num obstaculo acontinuacao desse mesrno desenvolvimento quando a situacaohistorica atingir urn certo nfvel de maturidade.Os funcionarios sindicais tornam-se vitimas da burocraciae de uma certa estreiteza de perspectivas devido aespeciali-zacao da sua atividade profissional e a mesquinhez dos seus -horizontes, resultado de urn fracionamento das lutas econo-micas em periodo de calma. Estes dois defeitos manifestam-seem diversas tendencies que podem ser fatais para 0futuro domovirnento sindical. Uma delas consiste em supervalorizar aorganizacao transformando-a, pouco a pouco, num fim em sie considerando-a urn bern supremo a que os interesses da lutadevem ser subordinados. Assim se explica a confessada neces-sidade de repouso, esse temor ern aceitar uma acao importanteperante os pretensos perigos que ameacariam a existencia dossindicatos, essa hesitacao ante 0 fim incerto das realizacoes demassas de certa amplitude e enfim a supervalorizacao da propria

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    gentes sindicais, continuamente absorvidos na luta econornicacotidiana, que se dao ao trabalho de explicar as massas 0valorinestimavel de umaumento de salaries ou da mais pequena re-ducao no horario de trabalho, acabam por perder pouco a poucoo sentido das grandes realizacoes de conjunto e da situacao geral.Assim se explica, por exemplo, que acentuem com tanta satisfa-~aoos sucessos dos til timos quinze anos, os milhoes de marcosdespendidos no aumento de salaries, em vez de insistirem, aocontrario, no reverso da medalha: 0 decrescimo simultaneoe consideravel do nfvel de vida dos operarios, causado peloprec:;odo pao, por toda uma polit ica fiscal e alfandegaria, pelaespeculacao sobre os terrenos, fazendo subir os pre

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    para a cega devocao das massas pelos sindicatos. Baseiam-se noargumento de que so uma f cega e pueril na luta sindical, iinicomeio de salvacao, pode ganhar e conservar as massas operariasna organizacao. E 0contrario do socialismo que fundamenta asua influencia na inteligencia e no sentido critico das massas,revelando-Ihes as contradicoes da ordem existente e a naturezacomplicada da sua evolucao, exigindo delas uma atitude crit icaem todos os momentos e em todos os estagios da sua proprialuta de classes. Ao contrario, a partir dessa teoria equivocada,os sindicatos baseiam a sua influencia e 0 seu poder na falta dedecisao e de sentido crftico das massas. "E preciso manter intactaa fedo povo" - deste principio partiram numerosos funcionariossindicais para qualificar de ataque contra 0movimento sindicalqualquer analise crftica das limitacoes desse movimento. Por fim,como resultado ultimo dessa especializacao e desse burocratismo,citemos a forte tendencia para a autonomia e a "neutralidade" dossindicatos em relacao ao partido socialista. A autonomia externada organizacao sindical e 0produto natural do seu desenvolvi-mento, nasceu da divisao tecnica do trabalho entre asformas deluta poHtica e sindical. A "neutralidade" dos sindicatos alemaes ,por seu lado, urn produto da legislacao reacionaria das associacoese do carater policial do Estado prussiano. Com 0empo, estes doiselementos mudaram de natureza. Da neutralidade politica dossindicatos, estado de fato imposto pela pressao policial, extraiu-se por fim uma teoria da sua neutralidade voluntaria de que sefez uma necessidade pretensamente baseada na propria naturezada luta sindical. E a autonomia tecnica dos sindicatos, baseadanuma divisao do trabalho pratico no interior de uma unica lutade classes, de carater socialista, conduziu ao separatismo dossindicatos que se desligaram do partido social-democrata, das

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    de direitos" corn 0partido. .'Ora, esta aparencia de autonomia e de igualdade entre

    sindicatos e part ido encarna-se especial mente nos funciona-rios sindicais, alimentada pelo aparelho administrativo dossindicatos.Exteriormente, a existencia de todo urn corpo defimcionarios, de comites centrais absolutamente independentes,de numerosos jornais corporativos e congressos sindicais da aperfeita ilusao de urn paralelismo com 0aparelho administrativodo partido social-democrata, com a sua direcao, com a sua im-prensa e congressos. Esta aparencia de igualdade entre part idoe sindicatos ocasionou a monstruosa consequencia de que 0congresso do partido e as conferencias sindicais, discutindoordens do dia semelhantes, conduziam a resolucoes diferentesdo mesmo problema, ou mesmo absolutamente opostas. Poruma divisao do trabalho entre 0 congresso do partido, querepresenta os interesses e as tarefas gerais do movimento ope-rario, e as conferencias sindicais, q