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Os SINDICATOS como instrumentos de avanço da democracia e da justiça social

Os SINDICATOS como instrumentos de

avanço da democracia e da justiça social

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Os SINDICATOS como instrumentos de avanço da democracia e da justiça social

ExpedientePublicação da Internacional de Serviços Públicos - ISP Brasil

Pesquisa e texto: Maria Silvia Portela de Castro

Apoio: FNV/Holanda e enti dades fi liadas a ISP Brasil

São Paulo, dezembro de 2010

Essa publicação foi organizada pela Internacional de Serviços Públicos no Brasil, dentro do projeto com trabalhadores municipais patrocinado pela FNV – Central Sindical da Holanda. Sua elaboração foi feita por Maria Silvia Portela de Castro, que pode ser contatada pelo e-mail: [email protected]. Sua reprodução integral ou parcial pode se dar, mediante citação de créditos para a ISP Brasil.

INTERNACIONAL DE SERVIÇOS PÚBLICOS – ISP

Presidente: Dave Prenti sSecretário Geral: Peter Waldorff Endereço: 45, Avenue Voltaire, BP 9, F-01211Ferney-Voltaire Cedex, FranceTelefone: + 33 (0) 4 50 40 64 64Fax: + 33 (0) 4 50 40 73 20Web site: htt p://www.world-psi.orgE-mail: [email protected]

Secretário Regional das Américas: Jocélio DrummondOfi cina Regional da ISPEndereço: 1100 H St NW., Suíte 650Washington, D.C. 20005, USAE-mail: [email protected]

No BrasilDiretor: Edvaldo Gomes SouzaRepresentante no Comitê Mundial de Mulheres: Junéia Bati staSecretária Subregional: Mônica ValenteCoordenadora de Projetos: Élida Cruz

Endereço: Rua Sete de Abril, 105 – conjunto 5B - CentroSão Paulo - SP - CEP 01043-000E-mail: [email protected]

Criação e diagramação: InformProdução Gráfi ca: InformTiragem: 500 exemplares

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Os SINDICATOS como instrumentos de avanço da democracia e da justiça social

ÍndiceApresentação .............................................................................5

1. Avançar no processo de contratação coletiva no 1. Avançar no processo de contratação coletiva no serviço público. serviço público. .................................................................... ....................................................................99

2. A democratização do Estado e o controle das políticas públicas ...............................................................25

3. O Sindicalismo global deve intervir e pressionar por mudanças nos organismos multilaterais, principalmente no FMI, OMC e ONU ...................................31

4. Conclusões .........................................................................41

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Os SINDICATOS como instrumentos de avanço da democracia e da justiça social

O texto a seguir procura fazer uma abordagem mais ampla, que pode ser absorvida por toda e qualquer organização

sindical, tendo em vista o papel estrutural e estratégico dos sin-dicatos no relacionamento entre Estado e sociedade.

A globalização econômica e produtiva provocou uma pro-funda diversifi cação da economia e da produção, da relação en-tre as nações, da relação da sociedade civil e o Estado e alterou profundamente os padrões de produção e de relações de traba-lho. Nesse processo, o Brasil, assim como a maioria dos países latino-americanos, abriu sua economia ao comercio e passou a conviver com os principais impactos da agenda econômica, po-lítica e social global.

Uma das conseqüências desse processo foi uma profunda modifi cação do funcionamento do mercado de trabalho, provo-cando a simplifi cação de funções, o aumento da polivalência e

Apresentação

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um maior distanciamentos entre os segmentos mais qualifi cados e de maior especialização e os de menor qualifi cação.

O processo de privatizações dos serviços e empresas pú-blicas e o crescente processo de terceirização dos contratos, nas mais diferentes áreas – campo e cidade, público e privado – con-tribuem decisivamente para o aumento da precarização das rela-ções trabalhistas e debilitamento dos sindicatos.

Frente a esse novo quadro os sindicatos passaram a en-frentar novos desafi os, entre eles a diversifi cação de sua agen-da. Em um país de economia aberta e internacionalizada, in-tegrado a um mercado global e comprometido com acordos externos (multilaterais e regionais) que reduzem sua soberania, os sindicatos têm que reaprender suas funções, pois o papel que lhes exige como membro da sociedade civil vai além das tradicionais atividades corporativas.

Entendendo como positiva, mas difícil, essa diversifi cação de agenda, pretendemos abordar alguns dos desafi os colocados para os sindicatos, para cumprir um papel de ator social estraté-gico, capaz de estabelecer laços com outros movimentos e orga-nizações sociais, no desempenho da missão que hoje se coloca não só para seu fortalecimento, mas para a sua própria sobrevi-vência. Dentre essas tarefas, uma das principais, é o controle das políticas públicas e a democratização do Estado, para ampliar e reforçar a participação da sociedade civil.

No caso do sindicalismo do serviço público todos esses te-mas colocam-se como atuais e urgentes. Muito diferente de uma realidade passada, quando o serviço público era verdadeiramen-te uma carreira, dispunha de melhores condições de trabalho, mas as relações com o Executivo (nos níveis federal, estadual e

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municipal) reduziam-se a uma questão administrativa. Não ha-via negociação e nem sindicatos.

Desde a redemocratização do país, principalmente após a Constituinte, o sindicalismo do setor público organizou-se e passou a ser uma das principais forças sociais atuantes. Esse novo quadro demanda maior organização dos trabalhadores e trabalhadoras nos seus locais de trabalho, nas suas entidades sin-dicais e, principalmente, a conquista de avanços em matéria de contratação coletiva.

E mais que isso, por seu duplo papel – como trabalhador/a e também como parte da administração, esse segmento passou a ter uma responsabilidade ainda maior, por ter mais condições e capacidade de intervir na execução das políticas públicas, de-nunciando inclusive suas necessidades e precariedades.

Além desses aspectos, há o tema internacional. Se até há 10 anos atrás, o trabalho no serviço público não era diretamente afetado pelos acordos e ações externas do governo, pois suas atividades profi ssionais em geral estão restritas ao plano inter-no, com os avanços dos acordos de livre comercio na área de serviços, esse segmento passou a ser diretamente afetado, assim como os trabalhadores e trabalhadoras do setor privado. E além disso, o desenvolvimento dos acordos regionais, como o caso do Mercosul, podem afetar positiva ou negativamente a execu-ção de políticas essenciais como saúde, educação, segurança, e outras, tendo em vista que os compromissos que o Estado vai assumindo restringem sua soberania.

Além disso, não se pode esquecer dos efeitos ainda cor-rentes da perigosa crise fi nanceira que ronda nossos países e que vem exigindo dos países que quebraram - como é o caso

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de Grécia, Irlanda, Espanha e, possivelmente Portugal - a cor-tarem drasticamente os gastos públicos, demitindo milhares de trabalhadores/as do serviço público. Neste sentido, os temas que estão sendo tratados no G 20 e na Reforma Financeira (a cargo do FMI) devem interessar a todos os sindicatos, pois as mesmas afetarão a todos.

Partindo dessa base, decidimos abordar os três eixos que embasam a defi nição da estratégia sindical nesse momento: a ação sindical propriamente dita; o papel dos sindicatos e federa-ções trabalhadores e trabalhadoras do serviço público no proces-so de controle e melhoria das políticas públicas e na democrati-zação do estado; e os desafi os e demandas do sindicalismo em geral no novo cenário internacional.

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São mais de 11 milhões de trabalhadores públicos no Brasil, en-tre municipais, estaduais e federais, que podem avançar muito

no próximo período se conseguirem estabelecer uma estratégia de unidade baseada em alguns pontos estratégicos para o setor.

O primeiro fator positivo é o cenário político que se ins-taurou com as eleições gerais de 2010, fazendo avançar mais o voto em legendas progressistas e de corte democrático e popular.

A vitória da candidata Dilma Roussef, com 55,7 milhões de votos no segundo turno, cerca de 56,1% do total, garante a continuidade das políticas desenvolvidas pelo governo Lula e propicia uma situação favorável para os sindicatos avançarem mais na modernização e democratização do sistema de relações trabalhistas na esfera da administração pública.

Da mesma forma, houve grande avanço na eleição dos go-vernadores. O PT fi cou na segunda colocação em número de

Avançar no processo de contratação coletiva no contratação coletiva no

serviço público.serviço público.

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votos. Em primeiro fi cou o PSDB, com 28,1 milhões de votos; em terceiro o PMDB, com 17,7 milhões de votos e em 4ª colo-cação o PSB fi cou, com 11,2 milhões de votos

O PT obteve o correspondente a 20,1% dos votos válidos elegeu 5 governadores – manteve as administrações de governo do Acre, com a eleição de Tião Viana, da Bahia, com Jaques Wagner e de Sergipe com Marcelo Deda e elegeu Tarso Gen-ro para o Rio Grande do Sul e Agnelo Queiroz para o Distri-to Federal. Esses dois últimos estados que nos últimos 8 anos atravessaram períodos de péssimas administrações, cujas perdas podem ser recuperadas a médio prazo, tendo em vista os níveis de organização e experiência do sindicalismo do setor público.

O PSB também elegeu 5 governadores: Cid Gomes – CE e Eduardo Campos – PE – que foram se reelegeram e Renato Casagrande – ES, Camilo Capiberibe – AP e Wilson Martins – PI. O PMDB fi cou com 3 governadores: Roseana Sarney – MA, Silval Barbosa – MT e Sérgio Cabral – RJ. Em 3 dos 8 Estados em que a frente que apoiou Dilma venceu, 3 Vice- Governado-res, são do PT: Dora Nascimento (AP), Givaldo Vieira (ES) e Washington Luiz (MA).

O DEM, após eleger 4 governadores em 2002, caiu para 1 em 2006 e agora elegeu 2 governadores. O PMN elegeu 1 go-vernador.

Isso quer dizer que teremos um ambiente favorável em ter-mos no Executivo federal e em, pelo menos, 10 Estados (onde governam o PT e o PSB). E há outros Estados governados pelo PMDB (como por exemplo o Rio de Janeiro) que podem ser sensíveis a pressões e infl uência do governo federal.

Ao nível do legislativo – órgão importante para o avanço dos direitos e mesmo negociações no serviço público – temos

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também um quadro positivo. No âmbito federal temos uma maioria da Frente Dilma Presidente e, inclusive, a maior banca-da será a do PT, com 14 Senadores. Somados com outros parti-dos que apoiaram a Dilma e mais outros partidos progressistas sensíveis às demandas do funcionalismo teremos uma bancada de 21 senadores do PMDB1, dois do PDT, 3 do PSB, 1 do PC do B e 2 do PSOL. O que soma um total de 41 Senadores em um plenário de 76 parlamentares, ou seja 54%.

Na Câmara Federal também o partido mais votado foi o PT, que recebeu 16,3 milhões de votos para deputado federal, o equivalente a 16,8% dos votos válidos. O PMDB fi cou na segun-da posição, com 12,5 milhões de votos (13,0%) e o PSDB em 3º com 11,9 milhões de votos. O PR atingiu 7,32 milhões de votos e fi cou na 4ª posição, superando o DEM.

O PT elegeu 88 deputados, formando a maior bancada da Câmara. Os partidos que compõem a Coligação Dilma Presi-dente (PRB / PDT / PT / PMDB / PTN / PSC / PR / PTC /PSB / PC do B) elegeram 310 deputados, o equivalente a 60% da Câmara Federal.

Mas também nos legislativos estaduais os partidos progres-sistas tiveram crescimento e melhor desempenho. Com 14,9 mi-lhões de votos, o equivalente a 15,3% dos votos válidos, o PT retomou a posição que ocupava a na legislatura 2003-2006, de partido mais votado para os legislativos estaduais. O PSDB, com 13,1 milhões de votos (15,8%), foi o segundo partido mais votado

1 Sabemos que o PMDB é um partido sem perfi l ideológico claro e que abriga muitos conservadores que não apóiam as teses sindicais – porem como integram a base de apoio do governo podem ser sensibilizados por um apelo do Executivo.

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e o PMDB fi cou na terceira posição, com 11,3 milhões de votos (11,6%). O PT elegeu inclusive a maior bancada em Estados onde nunca isso havia ocorrido, como é o caso de São Paulo, onde tem condições de pleitear a Presidência da Mesa.

Temos assim um quadro macro-político extremamente fa-vorável para avançar nas conquistas sindicais do setor público– seja no plano organizativo, seja no plano negocial.

O segundo aspecto a contribuir para um cenário positivo é o macro-econômico. Além da excelente situação econômica que vive o pais, atingindo marcas que superam os 5% de cres-cimento (num momento em que boa parte do mundo não apre-sentará crescimento positivo) tem-se uma situação de maior arrecadação fi scal e, portanto, Estado com mais condições de conceder benefícios.

Alem disso, com o desemprego na marca dos 6% e a me-lhoria na distribuição de renda, o que vemos é o crescimento do mercado consumidor e com isso também da arrecadação fi scal.

Outro avanço importante, certamente o mais signifi cativo, resultante da pressão do sindicalismo do setor público, foi a ra-tifi cação da Convenção 151 da OIT que garante o direito de or-ganização sindical desse segmento. Trata-se porém de avançar na sua aplicação.

O Senado aprovou, em plenário, o projeto no dia 30 de março de 2010. Com a promulgação da Convenção 151, fi cam garan-tidos aos servidores públicos alguns direitos básicos que nunca foram regulamentados no Brasil: direito legal de greve, organi-zação e negociação dos servidores públicos, independência das organizações de trabalhadores da função pública face as autorida-des públicas e proteção contra atos de ingerência das autoridades governamentais na formação, funcionamento e administração das

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organizações de trabalhadores do setor público. Indubitavelmen-te, inaugura-se um marco histórico de um novo tempo para o fun-cionalismo municipal, estadual e federal.

A Convenção 151 tem seis eixos que precisam ser regula-mentados: proteção contra os atos de discriminação que acarre-tem violação de liberdade sindical em matéria de trabalho; inde-pendência das organizações de trabalhadores da função pública face às autoridades públicas; proteção contra atos de ingerência das autoridades públicas na formação, funcionamento e admi-nistração das organizações de trabalhadores da função pública; liberação dos representantes das organizações reconhecidas dos trabalhadores para cumprir suas atividades, seja durante as suas horas de trabalho ou fora delas; instauração de processos que permitam a negociação das condições de trabalho entre as auto-ridades públicas interessadas e as organizações de trabalhadores da função publica e; garantias dos direitos civis e políticos es-senciais ao exercício normal da liberdade sindical.

Hoje existem dois projetos de regulamentação da conven-ção, resultantes de dois fóruns tripartites diferentes:a Mesa de Negociação Permanente do Ministério do Planejamento ( que já mandou o projeto para o Congresso) e o GT criado pelo Minis-tério do Trabalho 2.

2 Existem duas mesas de negociação dessa regulamentação – a primeira

criada em 2007 e instalada no seio do Ministério do Planejamento, da qual participam a CUT, a CONDSEF, Unacon, CNTE, Sinal, Assibge, Sindireceita, Sinasempu, Confetam, Proifes, Sindifi sco Nacional, SINAIT, Sinagências e Fenajufe e a outra, instalada por último, em 2008 coordenada pelo Ministério do Trabalho, com a participação de 5 centrais sindicais - CGTB, CTB, FS, NCST e UGT. O GT do Ministério do Planejamento, que conta com a participação da maior parte das entidades de servidores públicos, já encerrou seus trabalho e está enviando o projeto para a Casa Civil.

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Avanço nas negociações coletivasNos últimos seis a sete anos, registram-se avanços no qua-

dro do funcionalismo federal – não se conseguiu reverter a situ-ação no sistema de aposentadoria, mas sim recuperar parte das perdas salariais dos 8 anos de FHC e a recomposição da força de trabalho, através da realização de concursos públicos de admis-são de quadros, não só para suprir lacunas, como para diminuir os níveis de terceirização existente.

Também no processo negocial pode-se registrar importan-tes avanços, através da instalação, em 2003, da Mesa de Nego-ciação Permanente coordenada pelo Ministério do Planejamen-to. Trata-se de uma experiência inédita e inovadora no serviço público federal que busca estabelecer compromissos com a re-presentação dos servidores públicos, que resultem em melhoria da qualidade do serviço prestado aos cidadãos e das condições de trabalho, carreira e remuneração dos servidores

Outro exemplo é o da Mesa de Negociação como Estratégia de Fortalecimento do SUS e Valorização dos Trabalhadores de Saúde - MNNP – SUS, que trataremos mais adiante.

O Sistema de Negociação Permanente3

A criação da Mesa Nacional de Negociação Permanente, buscou atender duas necessidades prioritárias: a) dar tratamento às demandas sindicais mais urgentes, apresentadas logo à posse

3 MENDONÇA, Sergio – “A experiência recente da negociação coletiva na administração pública no Brasil” paper apresentado no Foro Iberoamericano: Revitalización de la Administración Pública. Estrategias para la Implantación de la Carta Iberoamericana de la Función Pública. México D.F., México, 5 y 6 de mayo de 2005.

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do novo governo federal e b) promover a construção coletiva de um Sistema de Negociação Permanente.

A Mesa Nacional foi constituída por intermédio da celebra-ção de um Protocolo e têm suas regras de funcionamento fi xadas em Regimento Interno, ambos aprovados por consenso do go-verno e dos sindicatos.

A Mesa Nacional de Negociação Permanente é compos-ta de duas Bancadas: a Bancada de Governo, composta por 8 Ministérios e a Bancada Sindical, composta por 18 entidades sindicais de representação nacional. A Mesa Nacional é coor-denada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, por intermédio da Secretaria de Recursos Humanos.

Existem ainda, 10 Mesas Setoriais, implantadas em 10 Mi-nistérios, com as mesmas características da Mesa Nacional, com a diferença que estas Mesas estão autorizadas a negociar assun-tos que não dizem respeito a questões econômicas. E qualquer proposta neste sentido, deve ser levada para apreciação da Mesa Nacional.

Para agilizar a discussão de temas estratégicos, a Mesa Na-cional constituiu 4 Comissões Temáticas: Política Sindical, Segu-ridade Social, Diretrizes de Planos de Carreira e Política Salarial.

A metodologia de trabalho adotada no início estabeleceu um debate sobre as bases conceituais da negociação coletiva no setor público e em seguida o modelo de negociação que seria adotado. Finalmente então se buscaria sua sustentação legal, sugerindo legislação específi ca, constitucional e infraconstitu-cional. Ou seja, o processo de negociação do serviço público deixou de ser uma ação administrativa para fazer parte de uma política real de recursos humanos e de relações trabalhistas.

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Desta forma foi consensuado pelos participantes o docu-mento “Sistema Democrático de Negociação Permanente – SINP: uma concepção política – Bases conceituais para insti-tuição do Sistema de Negociação Permanente na Administração Pública Federal, posteriormente ratifi cado pela Mesa Nacional de Negociação Permanente”.

O estudo serviu de balizamento teórico para a formulação do modelo de negociação a ser implementado no âmbito da ad-ministração pública federal e apresentou-se como um conjunto de referências e diretrizes orientadoras da regulamentação da ne-gociação coletiva para outras esferas da administração pública.

Em seguida debateu-se a instituição da estrutura defi niti-va da Mesa Nacional de Negociação Permanente, proposta pelo governo. Vencida essa etapa passou-se a tratar das questões nor-mativas, como por exemplo o detalhamento das regras em esta-tuto, regimento ou convênio especial, a serem fi rmados entre os participantes diretamente interessados; a norma constitucional específi ca e a legislação de suporte.

Em uma avaliação realizada por Sergio Mendonça, em 2005, na época Secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e coordenador do Siste-ma, surgiam resultados muito positivos demonstrando a necessi-dade de continuar e aprofundar o processo.

Segundo Mendonça por causa da “Mesa Nacional de Nego-ciação Coletiva no Setor Público entre 2003 a 2004, a dinâmica do processo de negociação com os sindicatos que representam os servidores públicos federais alcançaram resultados inéditos na história da administração pública federal. Nestes anos foram apresentados ao Congresso Nacional mais de 26 atos normativos, todos aprovados por consenso de todos os Partidos Políticos.

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Os resultados do período 2003/2004 foram condensados no quadro abaixo:

O ex-secretario conclui seu texto mencionando os desafi os que colocavam-se à época e que continuam vigentes. Um dos principais desafi os é lograr a ampliação do escopo da negocia-ção incorporando também a “pauta” da Administração Pública Federal. “O fortalecimento da transparência e do controle social, embora possam ser considerados avanços inequívocos do proces-so de democratização das relações de trabalho, não garantem a estabilidade desse sistema.” É preciso que os diferentes interesses da sociedade sejam incorporados ao processo de negociação, para que o apoio externo ajude a manter o processo.

Resultados QuantitativosCarreiras estruturadas ou reestruturadas, sendo que doze destas carreiras passaram por duas negociações separadas, com objetos distintos 51Grupo de cargos isolados como se carreiras fossem, estruturados ou reestruturados, sendo que três destes grupos de cargos isolados passaram por duas negociações separadas, com objetos distintos 11Planos Especiais de Cargos criados 5Tabelas Remuneratória reestruturadas 112Negociações concluídas 47Negociações concluídas, dependendo deencaminhamento 9Negociações em andamento, dependendo de solução orçamentária (criação de duas carreiras e de dois planos especiais de cargos de reestruturação de uma carreira e de três tabelas remuneratórias) 2Servidores que tiveram seus cargos, carreiras e tabelas remuneratórias reestruturados (servidores ativos e aposentados e pensões) 1.116.138

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Naturalmente existe uma tensão entre os interesses dos ad-ministradores e dos servidores públicos na mesa de negociação. Portanto, a incorporação de temas como a melhoria dos serviços públicos prestados à população, contribuirá para que a sociedade apóie a iniciativa, deixando de lado o preconceito que muitas vezes os usuários nutrem em relação aos trabalhadores e trabalhadoras do serviço público (o velho preconceito de que esses não trabalham e mobilizam-se apenas em defesa de suas demandas corporativas).

O fundamental é reconhecer as vantagens sindicais desse processo, que advém da unifi cação de todos os segmentos em uma única mesa. Por que? Na Administração Pública existem grupos de interesse mais “fortes” que outros. É o caso das car-reiras que exercem funções estratégicas, tais como auditoria fi s-cal, polícia, área jurídica, previdência, entre outras. Por outro lado, os setores que consideramos essenciais ao bem estar da população, serviços jurídicos, etc – como não põem em risco as fi nanças e a segurança do Estado, têm menor poder de pressão. A mesa de negociação pode funcionar como elemento de com-pensação da pouca força de alguns segmentos, porque reúne no mesmo espaço, a negociação dos interesses dos servidores pú-blicos de toda a Administração.

O projeto de lei que está em discussão Atualmente está sendo discutido um projeto de lei que re-

gulamentará o funcionamento da Mesa Nacional de Negociação Permanente do Governo Federal – MNNP – visando “promover a democratização das relações de trabalho entre servidores e o Estado e buscar a melhoria contínua dos serviços públicos prestados à sociedade”.

Os Títulos I e II estabelecem os princípios da negociação, seu funcionamento e sua composição.

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O Titulo III apresenta O Observatório das Relações de Trabalho na Administração Pública Federal, descrito como um “órgão permanente e de relevância pública, e terá por objetivo: I – atuar como observador, instância consultiva e moderadora nos eventuais confl itos advindos das mesas de negociação co-letiva; II - analisar projetos de auto-regulamentação de greve, com vistas ao seu acolhimento; e III - desenvolver estudos e pesquisas na área das relações de trabalho no serviço público. “Assim como a Mesa o Observatório também será composto por representantes governamentais, sindicais e da sociedade civil.

E o mais importante, é a qualifi cação da negociação coleti-va como

“processo de diálogo que se estabelece com vistas ao trata-mento dos confl itos nas relações de trabalho, em especial: con-dições de trabalho, política salarial, seguridade social, direitos coletivos, melhoria do serviço público, plano de carreiras e ne-cessidades funcionais coletivas, será exercida por intermédio da Mesa Nacional de Negociação Permanente e terá por objetivo:

I – tratar os confl itos decorrentes das relações de trabalho;II - defi nir procedimentos para a explicitação de confl itos; eIII - fi rmar compromissos em que as representações compar-

tilhem a defesa do interesse público e que propiciem a melhoria da qualidade dos serviços públicos prestados à sociedade, no bojo dos princípios da solidariedade e da cooperação.

Parágrafo único: é assegurada a liberdade de pauta dos partícipes, o direito à apresentação formal de pleitos, o estabele-cimento prévio de prazos regimentais e o acesso amplo e irrestrito a procedimentos de defesa de direitos, interesses ou demandas.”

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As negociações na área do SUS4

A Mesa de Negociação como Estratégia de Fortalecimen-to do SUS e Valorização dos Trabalhadores de Saúde - MNNP – SUS- é um fórum paritário e permanente de negociação do trabalho, instituído por gestores públicos, privados e entidades representativas dos trabalhadores do SUS.

Foi criada em 1993, através da Resolução nº 52 do Con-selho Nacional de Saúde, mas até 2002 teve funcionamento es-porádico, sendo reativada após a eleição do atual governo. Em 2003 foi reinstalada através da Resolução nº 331.

A MNNP-SUS está vinculada ao CNS e sua fi nalidade é tratar de assuntos referentes às relações de trabalho no SUS, visando a qualidade dos serviços prestados à população.

Estrutura da MNNP – SUS

4 Fontes: Dieese e Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social – CNTSS- CUT

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As reuniões ordinárias são mensais, mas pode haver reuniões extraordinárias, desde que requerida por maioria absoluta.

Sistema Nacional de NegociacãoPermanente do SUS

Dentre seus principais objetivos destacam-se: - Instituir processos de negociação permanente entre traba-

lhadores, gestores públicos e prestadores privados afi m de debater e pactuar questões pertinentes às relações de tra-balho em saúde, visando à melhoria e à qualidade dos ser-viços em saúde;

- Contribuir para o pleno funcionamento do SUS; - Negociar a pauta de reivindicação dos trabalhadores do

SUS; - Pactuar metodologias para a implantação das diretrizes

aprovadas nas Conferencias de Saúde e NOB-RH;- Pactuar condições apropriadas para instituição de um sis-

tema nacional de educação permanente que contemple o pleno desenvolvimento na carreira do SUS;

- Estimular a implantação de Mesas de Negociação Perma-nentes nos Estados e Municípios.

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Além disso a MNNP-SUS deve acompanhar, através de sua Secretaria Executiva, os processos de negociação em âmbito na-cional, atinentes às relações de trabalho e emprego no setor saúde;- Implementar instrumentos, metodologias e indicadores que

possibilitem a avaliação da efi ciência, efi cácia e efetividade dos processos de negociação do trabalho no âmbito do SUS que garantam a qualidade dos serviços de saúde;

- Fomentar o desenvolvimento de mecanismos de gestão da força de trabalho, especialmente nos aspectos relativos à negociação e soluções de confl itos decorrentes das condi-ções e relações de trabalho.

ParticipantesParticipam 11 representantes do Gestor Público, - 9 repre-

sentantes de cinco Ministérios (Saúde, Trabalho e Emprego, Educação, Planejamento, Previdência Social ); 1 representante do CONASS; 1 representante do CONASEMS; 2 representantes do Gestor Privado e 13 representantes de Entidades sindicais

O responsável pelo Gestor Publico é o Ministério da Saú-de que atua no Sistema através de seus principais órgãos - De-partamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde, Departamento de Gestão da Educação em Saúde, Coordenação Geral de Recursos Humanos do Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Fundação Nacional de Saúde – Funasa.

Já o Gestor Privado é representado por duas entidades pa-tronais – a Confederação Nacional de Saúde – CNS e a Confede-ração das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas – CMB.

A bancada sindical é integrada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social – CNTSS/CUT e a

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Confederação Nacional dos Trabalhadores em Saúde – CNTS, Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência e Assistência Social – FENASPS, Fede-ração Nacional dos Médicos – FENAM/Confederação Médica Brasileira CMB, Federação Nacional dos Enfermeiros – FNE, Federação Interestadual dos Odontólogos – FIO, Federação Nacional dos Psicólogos – FENAPSI, Federação Nacional dos Farmacêuticos – FENAFAR, Confederação Nacional dos Traba-lhadores no Serviço Público Municipal – CONFETAM, Confe-deração Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Fede-ral – CONDSEF, Federação de Sindicatos de Trabalhadores das Universidades Brasileiras – FASUBRA SINDICAL, Federação Nacional dos Assistentes Sociais – FENAS

MediaçãoEm caso de impasse as partes poderão nomear um media-

dor para viabilizar a negociação. A indicação deve ser de comum acordo e recair sobre representante da sociedade civil

Resultados mais recentesCriação do Comitê Nacional de Promoção da Saúde do Tra-

balhador do Sistema Único de Saúde, reivindicado pelas orga-nizações sindicais da saúde que fazem parte da MNNP- SUS, através da Portaria Nº. 2.871, de 19 de novembro de 2009. Sua primeira tarefa foi elaborar, no período entre janeiro e maio de 2010, uma proposta de Diretrizes da Política Nacional de Pro-moção da Saúde do Trabalhador do SUS.

O comitê é paritário e foi integrado por 22 membros sendo 11 da bancada de trabalhadores e 11 da bancada de gestores dos órgãos e entidades que compõem a MNNP-SUS.

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Do ponto de vista da representação da CNTSS era funda-mental construir uma proposta em que o trabalhador do SUS fosse tomado como protagonista da melhoria da situação de saú-de da população e da equidade social. O principal intuito foi o de construir ações voltadas para a promoção da saúde do traba-lhador do Sistema Único de Saúde – SUS.

A proposta metodológica deste comitê foi construída de forma coletiva entre as bancadas, onde através de grupos de tra-balhos e debates em plenárias as partes fossem construindo o arcabouço desta política,

A princípio foram realizadas apresentações das políticas que tem interface com a promoção da Saúde do Trabalhador do SUS, como HumanizaSUS, Gestão no Trabalho e Educação em Saúde, SIASS, Promoção á saúde, Saúde do Homem, Renast. Sobre essa base o GT constituído trabalhou sobre 6 eixos macro: Contextualização, Conceitos, Gestão do Trabalho, Promoção e Vigilância á Saúde e Assistência.

Segundo o relato da representante da CNTSS5 nesse comi-tê, a representação sindical buscou “deixar claro que a nossa visão de saúde do trabalhador não se resume apenas ao seu lo-cal e/ou a sua atividade laboral...... o processo de precarização que o trabalhador do SUS vem sofrendo, desde a década de 90, fruto do neoliberalismo, não só afetou as condições e as rela-ções de trabalho. Foi mais além, afetou a alma do servidor que vem sendo cotidianamente através de alguns governos e com o apoio da mídia desvalorizado profi ssionalmente, fi nanceira-mente e socialmente.”

5 Relatório de Lindinere Jane Ferreira - Sindsprev-PE à CNTSS, abril de 2010.

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22O segundo pilar que queremos abordar é a participação so-

cial em fóruns e conselhos institucionais, com o objetivo de aproximar as decisões do governo em suas diferentes áreas e as demandas e interesses da sociedade civil.

Os sindicatos, como força organizada por sua própria es-sência – representam interesses de corporações – têm um papel fundamental nesse processo, pois muitas vezes têm capacidade de dar suporte a sua atuação nos fóruns institucionais através da mobilização de suas bases de representação.

E as organizações sindicais do serviço público têm papel ainda mais relevante, pois muitas vezes acedem a informações e dados que podem embasar suas propostas e/ou contestar me-didas tomadas.

Não se propõe aqui que os trabalhadores e trabalhadoras do serviço público fi ram a ética ou os compromissos que suas

A democratização do Estado e o controle

das políticas públicas

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profi ssões e os contratos lhes impõem, mas sim que refl itam so-bre o instrumental que dispõem e que muitas vezes não perce-beram como poderiam utilizar.

Atualmente estão em funcionamento 20 Conselhos em organismos da administração direta e indireta, alem de fóruns de natureza um pouco diferente – como o CDES -Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e o Fórum Consul-tivo Econômico Social. O primeiro é coordenado pelo Mi-nistério de Relações Institucionais e os/as representantes das mais diversas áreas da sociedade civil são convidados pelo Ministério a integrar o CDES; o segundo é um âmbito de re-presentação exclusivo da sociedade civil e tem como função representá-la junto aos organismos institucionais de gestão do Mercosul6 .

Poderíamos mencionar ainda mais uma série de espaços de participação, que têm funcionamento sistemático e podem in-fl uir na condução das políticas. Por exemplo vários subgrupos temáticos do Mercosul – relações trabalhistas, energia, meio ambiente, educação, saúde; Reuniões Especializadas de Mu-lheres, de Cooperativas, de Juventude, de Direitos Humanos; a Comissão Sociolaboral do Mercosul; o Conselho do Merco-sul Social e Participativo; o GT sobre Política Internacional do Ministério do Trabalho e Emprego; a participação do FCES nas discussões da Seção Nacional do Grupo Mercado Comum do Mercosul- GMC que coordena a participação do Brasil nas

6 O FCES é um fórum regional integrado por 4 Seções Nacionais onde participam representantes indicados por entidades nacionais sindicais, patronais e de outros setores de cada um dos países do Mercosul.

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negociações7. Também poderíamos citar a recente representa-ção dos trabalhadores no Sistema S – que se desdobra em con-selhos estaduais e regionais.

7 Normalmente o GMC reúne todos os/as realiza reuniões preparatórias com os/as representantes dos ministérios e outros órgãos que participam das negociações do Mercosul e convida também a Seção Brasileira para trazer as demandas da sociedade à reunião, assim como opinar sobre as posições que serão apresentadas.

Conselhos NacionaisCONSEA - Conselho Nacional de Segurança Alimentar e NutricionalCONJUVE - Conselho Nacional de JuventudeCNDM - Conselho Nacional dos Direitos da MulherCNPIR - Conselho Nacional de Promoção de Igualdade RacialCODEFAT -Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao TrabalhadorCCFGTS - Conselho Curador do FGTSCONAETI - Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho infantilCNIg - Conselho Nacional de ImigraçãoConselho Nacional de Previdência SocialConselho Curador da FundacentroCONCIDADES - Conselho das CidadesCCFDS - Conselho Curador do Fundo de Desenvolvimento SocialCGFNHIS - Conselho Gestor do Fundo Nacional de Habitação de Interesse SocialCNS - Conselho Nacional de SaúdeCDES -Conselho de Desenvolvimento Econômico e SocialConselho de Administração do BNDESCONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do AdolescenteCONADE - Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de De iciênciaCARF - Conselho Administrativo de Recursos FiscaisConselho Deliberativo da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial –ABDI

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A existência de uma administração democrática e com grandes preocupações sociais e desenvolvimentistas, não é sufi -ciente para garantir a democratização do Estado, como aparelho de gestão administrativo. Basta ver nossa história recente.

Quando saímos da ditadura, não havia praticamente ne-nhum espaço de participação da sociedade. Os sindicatos eram vistos apenas como estruturas com a missão de buscar melhores salários e melhores condições de vida para seus representados.

Os primeiros Conselhos criados, por lei, foram o CCFGTS e o CODEFAT, ainda no Período do governo Sarney.

Em 1990 entrou o governo Collor que manteve em fun-cionamento o CCFGTS e o CODEFAT e criou o Conselho Na-cional de Saúde, todos previstos pela Constituição aprovada em 1988. Outros instrumentos de debate e negociação criados foram as Câmaras Setoriais, pensadas inicialmente como espa-ços de negociação entre governo e empresários para controle de preços e impostos. A única Câmara que efetivamente fun-cionou foi a Automotiva, tendo em vista a vontade das partes e o peso político dessa categoria de trabalhadores. No Governo Itamar continuou apenas a Câmara do Setor Automotor e as demais não foram adiante.

Com a queda de Collor em 1992, entra seu vice Itamar Franco. Um governo débil, com baixa sustentação política e que teve que confrontar-se com uma alta infl ação e alto desem-prego. Talvez por essa falta de apoio e baixa legitimidade polí-tica, tenha sido mais sensível à participação das representações sociais em diversas áreas do governo. Quase todos os Minis-térios criaram Conselhos e Fóruns de Consulta (a maioria sem formalização legislativa).

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Com a eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994, a quase totalidade desses organismos deixou de funcionar - com exceção do CCFGTS, CODEFAT e CNS que eram regulamen-tados por lei. A existência desses Fóruns de participação da so-ciedade não coadunava com a política neoliberal com que essa administração gerenciou o pais por 8 anos.

Com o governo Lula – primeiro e segundo mandato – os espaços foram retomados e ampliados.

Seria simplório dizer que os espaços criados no governo Itamar foram desarticulados no governo FHC apenas porque não tinham status legislativo. Obviamente esse fator tornou mais fácil desarticulá-los. Mas o concreto é que, provavel-mente, não havia envolvimento e participação tão sólida dos atores sociais, a ponto desses não brigarem pela manutenção dos espaços conquistados.

É certo que o governo Itamar durou pouco tempo e que no governo FHC os sindicatos foram acossados pela alta do desem-prego e da precariedade trabalhista. Fatores que não ocorrem hoje. Mas com certeza se não houver um envolvimento real da sociedade – e ai é grande a responsabilidade dos sindicatos – sempre será fácil destruir esses espaços.

É fundamental que os sindicatos e as organizações sociais participem, se envolvam e principalmente, não percam sua inde-pendência e autonomia. A participação não deve ocorrer porque “nos identifi camos com a linha política de quem está no governo “ isso é compadrio, cooptação. O fundamental é consolidar es-paços democráticos de debate, de obtenção de informações e de apresentação de criticas, demandas e propostas. Somente assim teremos um Estado Democrático e conseguiremos melhoras du-radouras nas políticas públicas.

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33Não resta dúvida que a crise fi nanceira mundial ainda con-

dicionará por um bom tempo as possibilidades de desen-volvimento e de recuperação dos empregos de qualidade. Mes-mo para países como o Brasil, que já no fi nal de 2009 havia retomado o crescimento e atualmente apresenta baixas taxas de desemprego.

O risco decorre da manutenção da chamada “guerra cam-bial”, que nada mais é do que uma mecanismo de favorecimento comercial utilizado pelas economias mais ricas como os Estados Unidos, a Alemanha e a China, para recuperar ou manter um superávit comercial. Dessa forma prejudicam a capacidade ex-portadora dos países em desenvolvimento e provocam mesmo a desindustrialização desses. Esse é o risco que o Brasil corre nesse momento.

O Sindicalismo global deve intervir e pressionar por

mudanças nos organismos multilaterais, principalmente

no FMI, OMC e ONU

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Em 2009 e 2010 os governos que compõem o G208 pas-saram a reunir-se freqüente-mente e assumiram compromissos públicos de promover uma reforma, ou no mínimo algumas mu-danças na estrutura e funcionamento dos organismos multila-terais, principalmente os fi nanceiros. Na reunião de Pittsburgh, em setembro de 2009, reconheceram que a crise tinha uma di-mensão multifacética e que, portanto, temas como o emprego deveriam também fazer parte da agenda principal. Chegaram inclusive a considerar a criação de um Grupo de Trabalho sobre Emprego, o que levou à realização de uma reunião dos Ministros do Trabalho do G20, em abril de 2010, em Washington. No en-tanto, nas duas últimas reuniões – Toronto em junho e Seul em novembro – tudo isso foi deixado de lado e o enfrentamento da crise passou a ser feito através de medidas conservadoras e anti-desenvolvimentistas, como sempre ocorreu em crises anteriores. O GT de Emprego desapareceu da mesa dos chefes de Estado e o dialogo com o movimento sindical fi cou restrito a encontros com o Chefe de Estado do país que sedia a reunião, para a en-trega das propostas elaboradas.

8 O G-20, foi criado na reunião de cúpula do G7 e estabelecido formalmente em setembro de 1999. O G20 é um fórum para cooperação e consulta nas matérias pertencentes ao sistema fi nanceiro internacional. Estuda, revisa e promove a discussão entre os principais países industriais e emergentes do mercado das edições de política que pertencem à promoção da estabilidade fi nanceira internacional, e procura dirigir-se às edições que vão além das responsabilidades de toda uma organização. A sociedade do G-20 compreende os ministros de fi nanças e os reguladores dos bancos centrais do G7 e de outros 12 países chaves, além do Banco Central Europeu. Os países que integram o G 20 são os seguintes: Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e União Européia.

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A tônica inicial de que era preciso aumentar os subsídios e a intervenção do Estado na economia foi cedendo espaço para as recomendações de mais ajuste e combate ao défi cit público como remédio principal. O governo brasileiro é um dos poucos que mantém a postura desenvolvimentista, mas também deixou de defender a criação do GT de Emprego.

A Cumbre do G20 em Seul esteve marcada pelo desacordo entre os Chefes de Estado quanto ao estabelecimento de limites quantitativos dos desequilíbrios comerciais e pela continuidade da paralisação do impulso inicial em direção à reforma e regu-lamentação fi nanceira internacional. Por outro lado, manteve-se a tendência no G20 de priorizar a redução do défi cit público, deixando de lado uma ação coordenada que apóie a demanda e o emprego na economia mundial. O único pequeno avanço, resul-tado da pressão sindical, foi a inclusão de uma menção positiva sobre o emprego na Declaração de Líderes de Seul (#5 - Re-conhecemos a importância de levar em conta as preocupações dos mais vulneráveis. Com este objetivo, nos comprometemos a colocar o emprego no centro da recuperação, fornecer proteção social e um trabalho digno, e assegurar um crescimento acele-rado nos países de baixa renda”).

Por outro lado, as medidas nacionais, do “Plano de Ação de Seul”, adotado pela Cumbre, referem-se unicamente aos ob-jetivos de emprego em um contexto de políticas estruturais, muito similares àquelas que eram adotadas antes da explosão da crise em 2008.

A pergunta é simples: como fazer ajustes fi scais e manter um alto superávit primário em meio a uma crise como esta? A custa principalmente de cortes de verbas públicas e da redução do Estado.

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O que estamos vendo nesse momento são os direitos dos trabalhadores do serviço público sendo diretamente atacados e utilizados como moeda de barganha nas negociações para assistência fi nanceira e empréstimos. Essa deve ser a nossa primeira demanda: modifi car as condicionalidades e contra-partidas dos pacotes de socorro fi nanceiro. Ao invés de cortes públicos e redução da política ao controle de défi cit, colocar com contrapartida os investimentos públicos em infra estrutura e áreas de geração de emprego de qualidade. Ao invés de de-missões e precarização do emprego, trabalho decente e respei-to aos direitos fundamentais. Melhoria dos serviços públicos como forma de compensar a queda da renda e o aumento da desigualdade social.

É muito importante que durante a Presidência da França durante 2011, o G 20 volte a tomar decisões coletivas, sob pena de vermos novamente o estancamento do crescimento e o au-mento do desemprego. O Presidente francês declarou que suas prioridades incluiriam medidas relativas à taxa sobre transações fi nanceiras e a regulamentação do setor fi nanceiro.

A OMC também deve sofrer uma profunda mudança e se colocar a serviço de um comércio com justiça, o que signifi ca: estabelecer prazos e ritmos de abertura diferenciados; favorecer o acesso e o compartilhamento do desenvolvimento tecnológico e que impedir o protecionismo e as barreiras postas pelos países mais ricos e industrializados frente aos países em desenvolvi-mento e mais pobres.

É preciso democratizar a estrutura de funcionamento e de decisão da OMC e não permitir que se aprovem acordos que permitam a privatização e liberalização comercial dos serviços

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públicos essenciais e estratégicos. É preciso reivindicar espaço de intervenção para o sindicalismo e os movimentos sociais.

No bojo desse debate, e da busca de saídas, joga também importante papel a relação entre as economias centrais e os países em desenvolvimento e mais pobres. Nossas intervenções e ações devem ter como meta a mudança na forma como se dão as rela-ções norte x sul, defendendo um comércio com justiça, sem bar-reiras protecionistas, com o compartilhamento da tecnologia e da informação e o fi m da xenofobia e discriminação aos emigrantes.

A CSI e o Global Unions - do qual faz parte o ISP - deve-riam propor e liderar a execução de um plano de lutas global que ajude os sindicatos na defesa dos direitos fundamentais e parti-cipação nas decisões, nesse momento tão importante.

Nos próximos meses, tendo como pano de fundo uma re-cuperação vacilante, o movimento sindical deverá pressionar os Líderes do G20 para que recuperem seu espírito de cooperação em torno de ações voltadas à promoção do emprego e a recupe-ração, ao invés fi carem imóveis frente ao pânico nos mercados fi nanceiros. É fundamental que seja realizada uma reunião dos Ministros de Trabalho no início de 2011 e que seja fi nalmente criado um GT do G 20 para tratar do tema emprego.

No caso do Brasil, devemos reivindicar do governo nossa participação nos esforços de fortalecer as relações econômicas, comerciais e políticas com outros países do hemisfério sul e, juntamente com as organizações sindicais, participarmos de fó-runs como o BRICS, pressionando para que este assuma uma agenda não só econômica, mas fundamentalmente voltada para a implementação de um modelo de desenvolvimento sustentável, assumindo e fazendo cumprir as normas básicas da OIT.

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Aprofundar e consolidar o MercosulO Mercosul cumprirá 20 anos em março de 2011 e pode

exibir uma série de conquistas e avanços, não só na área comer-cial, mas também na área de integração produtiva – através das recentes iniciativas de promover os acordos setoriais – e na área social e política. Mas esses avanços ainda são muito tímidos e sofrem com o emperramento burocrático e a carência de verbas e fi nanciamentos para sua implementação. Principalmente nos espaços que tratam de temas sociais e trabalhistas.

No seu primeiro pronunciamento, em 1991 em Foz de Igua-çu, a Coordenadora de Centrais Sindicais do Cone Sul – CCSCS (da qual hoje fazem parte 11 centrais sindicais dos países do Mercosul e Chile) apoiou o projeto da integração e, ao mesmo tempo, demonstrou sua preocupação de que esse fosse dirigido para gerar empregos, e não para eliminá-los.

Em 1994, na Conferencia de Ouro Preto, a CCSCS apre-sentou uma carta aos Presidentes analisando o andamento do processo, a pouca importância que se estava dando para os te-mas trabalhistas e a ausência do tema emprego nas discussões e resoluções governamentais. Apontou também a necessidade do reconhecimento da existência de assimetrias entre as 4 econo-mias e o estabelecimento de trato diferenciado para as menores, bem como a necessidade de se criar um Fundo de Financiamento que ajudasse no processo de integração produtiva.

Na época nossas propostas não foram consideradas. Mas em 2004, depois das profundas mudanças políticas que ocorreram, a partir da eleição do presidente Lula no Brasil, os governos do Mercosul chegaram a essas teses e posteriormente foi criado o FOCEM e o Grupo de Integração Produtiva, o qual as organizações

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sindicais apoiaram e acompanharam com muito interesse, vendo fi nalmente contemplada sua demanda de 10 anos antes.

Da mesma forma o sindicalismo viu como muito positivo a criação do Parlasul e defende que o mesmo seja um instrumento de democratização e maior consolidação do bloco – será o pri-meiro órgão supranacional do Mercosul.

Outra grande preocupação é o tratamento dos temas traba-lhistas. As centrais sindicais sempre defenderam que a integra-ção seja um instrumento não apenas para aumentar e dinamizar o comercio, mas fundamentalmente para promover a geração de empregos de qualidade.

As representações sindicais sempre participaram do Sub-grupo de Relações Trabalhistas, Emprego e Seguridade Social – criado logo no princípio, em 1992. Participaram da elaboração da Declaração Sociolaboral e da criação da Comissão Sociola-boral, que tem a responsabilidade de dar seguimento à aplicação da Declaração. Os sindicatos foram os proponentes e incentiva-dores do Observatório do Mercado de Trabalho do Mercosul e, depois da Conferencia Regional de Emprego, em 2004, partici-param ativamente do Grupo de Alto Nível de Estratégia de Em-prego, que já aprovou diretrizes para Mercosul sobre esse tema.

O sindicalismo do Mercosul sempre entendeu o Emprego como um fator econômico e social e, como tal, um tema que deve estar no topo da agenda política e econômica do Merco-sul. Mas, ao mesmo tempo, não se pode contentar com a gera-ção de empregos de baixa qualidade e baixa remuneração, sob o argumento que os países precisam ser competitivos para poder exportar a outros mercados. As organizações sindicais entendem que para ser competitivo é preciso oferecer uma educação de

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qualidade, oportunidades de qualifi cação; contratos de trabalho regulados pela legislação e convenções coletivas que refl itam as potencialidades dos setores; garantia de cobertura previdenciá-ria e médica; meio ambiente seguro e saudável, etc.

O patronato e alguns segmentos dos governos entendem que um dos fatores que garantem a competitividade é a redução de encargos sociais e a fl exibilização trabalhista. A prática de-monstra o contrario. Alguns países que fi zeram isso, ou voltaram atrás, reconhecendo a inutilidade dessa política, ou não conse-guem ultrapassar o status de pais maquila, de base exportadora de multinacionais, que opera com grandes investimentos, mas com baixíssimo valor agregado e altas exportações de capitais.

Se não houver empregos de qualidade os países do Merco-sul não serão competitivos e nem alcançarão a excelência que necessitam.

Por isso o movimento sindical deve pressionar os governos dos quatro países a valorizar efetivamente os organismos socio-laborais e os espaços de negociação da integração produtiva do Mercosul. Para quem acompanha esses âmbitos são visíveis dois grandes problemas que difi cultam o fortalecimento e a efetivida-de de políticas que podem ser geradas nesses espaços. O primei-ro diz respeito aos processos de integração produtiva – além de estabelecer meios e políticas que permitam a agregação de pequenas e medias empresas às cadeias produtivas selecionadas, esses organismos têm que garantir que as empresas fornecedoras gerem empregos de qualidade, cumpram a legislação trabalhista e também garantir que nos fi nanciamentos para os foros de com-petitividade sejam previstos verbas para formação profi ssional.

A segunda preocupação diz respeito ao funcionamento dos organismos sociolaborais. Não é possível ter uma Comissão

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Sociolaboral atuante e forte, com autoridade para garantir a apli-cação da Declaração, se essa não contar com recursos fi nanceiros e estrutura sufi ciente para a realização de pesquisas, inspeções, averiguações, etc. O mesmo aplica-se ao Observatório do Tra-balho – este organismo não será capaz de medir os impactos da integração e da implementação das políticas sobre os empregos se não contar recursos fi nanceiros e estrutura sufi ciente para a realização de pesquisas. A dotação de verbas orçamentárias para esses organismos seria uma demonstração que nossos governos realmente valorizam esses temas.

Há que reconhecer-se que nos últimos anos, as questões da dimensão social, do diálogo social e das políticas sociais, cres-ceram muito na agenda da America Latina. Mas qual tem sido o papel dos sindicatos dos trabalhadores e trabalhadoras dos serviços públicos, que executam essas políticas e que portanto, melhor que ninguém conhecem as debilidades, potencialidades e necessidades dessas políticas?

Praticamente nenhum. Uma das raras exceções é a Reunião de Ministros da Educação do Mercosul que criou um Fórum Per-manente e uma Rede de Discussões, que tem tido signifi cativos avanços e que conta com a participação ativa e sistemáticas dos sindicatos de trabalhadores da educação dos 4 países (fi nanciada pelos Ministérios da Educação). O desempenho excelente des-se organismo demonstra claramente a tese de que quanto mais os governos do Mercosul interagirem com a sociedade, com os setores envolvidos, garantindo as condições dessa participação, mais avançará e mais próximo se estará da realidade.

O mesmo comentário poderia ser feito a REAF (Reunião Especializada de Agricultura Familiar) e à Reunião especiali-zada de Direitos Humanos, que funcionam de forma semelhante.

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Infelizmente não há outros exemplos dentro da estrutura do Mercosul, em matéria de políticas públicas, desconsiderando a contribuição que os trabalhadores e trabalhadoras do serviço pú-blico poderiam dar.

É importante deixar claro que com o avanço da integração, o papel e responsabilidades das entidades sindicais do serviço público no nível nacional se reproduzem no nível regional. E mais ainda, pois os acordos externos podem, às vezes, retardar a implementação de avanços já alcançados no plano nacional, ou ao contrario, muitas vezes avanços conseguidos em negociações externas esbarram em travas da legislação nacional, ou mesmo não conseguem superar as barreiras dos hábitos culturais ou os interesses de fornecedores do Estado.

Mas principalmente a responsabilidade de participação dá-se no chamamento ao controle das políticas públicas e democra-tização do Estado. Em um processo de associação os Estados nacionais perdem soberania em função dos compromissos que assumem. Com isso se enfraquecem os instrumentos e meca-nismos nacionais que as sociedades dispõem para exercerem o controle sobre o Estado. Dai é necessário recuperar essa perda de soberania construindo organismos de controle e de participa-ção social de âmbito e atuação regional.

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44Ao relatar o cenário político nacional positivo que as últimas

eleições proporcionaram, na esfera Executiva e legislativa; as experiências das Mesas de Negociação permanente existen-tes e a conquista advinda da ratifi cação da Convenção 151 e da elaboração de um Projeto de Lei de Regulamentação do Sistema de Negociação Coletiva Permanente – quisemos mostrar o alar-gamento de condições objetivas para se avançar na ampliação dos direitos trabalhistas e sindicais dos trabalhadores e trabalha-doras do serviço público.

O fortalecimento e o exercício dos direitos sindicais básicos – organização, direito de greve e de negociação coletiva – são fundamentais para se avançar nas conquistas sociais, políticas e econômicas desses trabalhadores/as, mas também para forta-lecer o papel dos sindicatos no processo de democratização do estado Brasileiro.

Conclusões

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A decisão de incluir nas negociações os interesses e deman-das de segmentos da sociedade civil faz com que melhore a qua-lidade do serviço e a qualifi cação dos trabalhadores. Conquistas que não só têm um enorme valor ideológico, mas que reforçarão, de fora para dentro, a capacidade de pressão dos trabalhadores, já que esses terão na sociedade um aliado e não um crítico – como muitas vezes acontece hoje, quando ocorrem greves em áreas como saúde, previdência social e educação.

Além disso, a existência de uma mesa única de negocia-ção democratiza as relações entre os diferentes segmentos de trabalhadores, pois permite que aqueles com maior poder de pressão estendam, aos de menor poder de barganha, mais for-ça na negociação. Um sistema democrático e unitário permite contemplar e diminuir as diferenças entre os diversos segmen-tos do serviço público.

O segundo eixo analisado vincula-se ao primeiro – sindi-calismo com conquistas e melhores condições de trabalho pode melhorar a qualidade do serviço prestado e cobrar mais verbas e melhor instrumental para a execução de políticas públicas fun-damentais. Pode criar as condições para debater a composição e uso do Orçamento Público, maior transparência na ação do Estado, enfi m contribuir para o controle da sociedade sobre o Estado e a formulação e execução de políticas.

Obviamente isso não é tarefa única do sindicalismo do setor público e não pode ser feita pela ótica corporativa – ou seja mesclada, ou submetida às demandas salariais e profi s-sionais – desta forma não alcançaria o apoio da sociedade. Por outro lado, se o sindicalismo do serviço público for capaz de executar esse papel de agente formador e informador, arti-culando-se com outros segmentos organizados da sociedade,

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não só terá contribuído para a mudança, como terá mais força em sua luta corporativa.

Por fi m temos a agenda internacional. Nós descrevemos os vários fóruns e os desafi os que estão postos. No Mercosul 9 te-mos um desafi o muito semelhante ao existente no plano nacio-nal, pois quanto mais avança a integração mais mesclam-se as políticas públicas. É fundamental a troca de experiências, a com-paração de situações funcionais e salariais (levando-se em conta logicamente o tamanho dos aparatos estatais), a formulação de políticas comuns na região.

Mas o grande desafi o colocado pela agenda internacional decorre da situação gerada pela crise mundial e das respostas que os organismos multilaterais fi nanceiros insistem em dar. Hoje na Europa o funcionalismo público vive uma situação de forte ameaça de perda de emprego e de direitos, devido aos cor-tes orçamentários em nome do combate ao défi cit fi scal. O G20 que iniciou sua trajetória com colocações não inusitadas para esse tipo de fórum, mencionando a intervenção do Estado para promover o desenvolvimento e a geração de emprego como for-ma de combater a crise, nestas duas últimas reuniões (Toronto e Seul) deu pra trás e voltou ao velo jargão monetarista, abando-nando as decisões coletivas para deixar que cada Estado tome suas decisões. Isso levará a permanência das políticas conserva-doras e das condicionalidades arrochantes por parte dos organis-mos multilaterais e alimentará a guerra do câmbio que exportará a crise aos países em desenvolvimento que hoje exibem índices de crescimento positivos.

9 A UNASUL ainda esta longe de ter uma estrutura e um funcionamento capaz de comportar maior participação e intervenção da sociedade.

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Esta é uma luta coletiva do sindicalismo internacional e as entidades sindicais brasileiras – do setor privado e do setor pú-blico – têm que instar e apoiar seus organismos internacionais a implementar uma agenda mais ativa e mobilizadora, que pres-sione pela reforma do sistema fi nanceiro mundial, pela mudança nas condicionalidades que hoje são exigidas para que um país receba o apoio fi nanceiro – ao invés de cortes, privatizações e precarização das relações trabalhistas, a contrapartida deve ser a implementação de um programa de desenvolvimento, o aumen-to de subsídios e investimentos públicos e a plena vigência do trabalho decente.

Maria Silvia Portela de Castro30 de novembro de 2010