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FACULDADE ASSIS GURGACZ CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO LUCIANA CARLA DUCATTI A CIDADE: DA ORIGEM À CONTEMPORANEIDADE CASCAVEL 2009

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FACULDADE ASSIS GURGACZ CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

LUCIANA CARLA DUCATTI

A CIDADE: DA ORIGEM À CONTEMPORANEIDADE

CASCAVEL

2009

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LUCIANA CARLA DUCATTI

A CIDADE: DA ORIGEM À CONTEMPORANEIDADE

Trabalho de Conclusão do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da FAG, apresentado na modalidade Teórico-conceitual, como requisito parcial para a aprovação na disciplina: ARQ001 Trabalho Final de Graduação.

Orientador: Arquiteta Solange Irene Smolarek Dias - Doutora

CASCAVEL 2009

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LUCIANA CARLA DUCATTI

A CIDADE: DA ORIGEM À CONTEMPORANEIDADE

DECLARAÇÃO

Declaro, de acordo com item II do Artigo15 do Manual de TCC do Curso de Arquitetura e Urbanismo – FAG, que realizei em novembro de 2009 a revisão lingüistico-textual, ortográfica e gramatical da monografia de Trabalho de Conclusão de Curso denominado: A cidade: da origem a contemporaneidade, de autoria de Luciana Carla Ducatti, discente do Curso de Arquitetura e Urbanismo - FAG. Tal declaração contará das encadernações e arquivo magnético da versão final do TCC acima identificado.

Catanduvas, 05 de novembro de 2009.

ILZA RIBEIRO GONÇALVES Bacharel Licenciado em Letras/UNIOESTE/1991

RG nº39959097 – SSP/PR

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FACULDADE ASSIS GURGACZ CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

LUCIANA CARLA DUCATTI

A CIDADE: DA ORIGEM À CONTEMPORANEIDADE

Trabalho apresentado no Curso de Arquitetura e Urbanismo da FAG, como requisito básico para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação da arquiteta professora Solange Irene Smolarek Dias – Doutora.

BANCA EXAMINADORA

Arquiteta Orientadora Faculdade Assis Gurgacz

Solange Irene Smolarek Dias – CREA nº PR-4798/D Doutora

Arquiteta e Urbanista Avaliadora Faculdade Assis Gurgacz

Silmara Dias Feiber – CREA nº PR-27566/D

Arquiteta Urbanista Avaliadora Secretaria de Planejamento do Município de Cascavel – SEPLAN/PMC

Isabel Cristina dos Santos Gomes Bianchessi – CREA nº PR-101697/D Graduada

Cascavel, 27 de novembro de 2009

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DEDICATÓRIA

Dedico aos meus pais e as minhas queridas irmãs, que

sempre fizeram a diferença em minha vida e, por estarem

sempre ao meu lado me incentivando para que eu lutasse

pelo meu sonho.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela vida e pela luz que me acompanhou

durante toda essa longa caminhada, pois quando avistei apenas um par de pegadas

na areia da praia era Ele que estava me carregando em seus braços.

Agradeço aos meus pais por me incentivarem, por me darem uma direção

na vida, acreditarem em meu potencial e nunca me deixarem desistir do meu sonho.

Agradeço às minhas irmãs pelo apoio, paciência, e por também acreditarem

em meu potencial.

Agradeço à minha madrinha Carmem Daltoé, pelo seu grande incentivo.

Agradeço à minha orientadora Profª Solange Irene Smolarek Dias pela

grande orientação e acolhida generosas, pelo seu grande incentivo como professora

e amiga, por ter acreditado em meu trabalho e em meu potencial e a ter me

compreendido em meus momentos mais difíceis.

Agradeço à Neuci Cicheroli, por me dar o maior incentivo à minha vida.

Agradeço a todos os professores, os quais me ensinaram seus

conhecimentos ao longo desses anos de faculdade.

Aos meus colegas, os quais puderam ter uma rica troca de experiências, e

que me deram motivação, incentivo ao longo de toda a faculdade, e, sobretudo pelas

amizades conquistadas.

E em especial agradeço as pessoas que fizeram diferença em minha vida, e

que não passará em branco, pois sempre estarão comigo onde eu estiver.

Muito Obrigada!

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EPÍGRAFE

“Cidades cheias de vida têm essa maravilhosa habilidade, inata, de compreender, de comunicar, de concatenar e inventar o que será necessário para combater suas dificuldades... Cidades ativas, diversificadas, intensas contêm não só as sementes de sua própria regeneração, como energia suficiente para irradiar soluções para problemas e necessidades além de seus próprios limites.”

Jane Jacobs

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RESUMO

O Urbanismo possui a cidade como objeto principal de estudos e intervenções. Os primeiros conceitos de urbanização foram aplicados no fim do século XIX. No entanto, já na antiguidade, surgindo as primeiras aglomerações urbanas, se começou a pensar na organização arquitetônica dos centros residenciais e econômicos, segundo pontos de vista estratégicos e climáticos. Segundo Thomas More, século XVI, ideias utopistas surgem, caracterizando-se por uma modelação espacial de uma realidade futura desejada. As utopias desenvolvidas até o século XIX eliminam uma contradição entre o campo e a cidade, porém com tentativas fracassadas. O Urbanismo surge na Europa, no fim do século XIX, na revolução industrial, como campo de conhecimento, o qual as cidades caóticas buscam organização. Em 1933, surge A Carta de Atenas, como manifesto de uma nova cidade, com princípios de organização acaba se tornando um dos principais artifícios na arquitetura moderna. Atualmente, as cidades ainda apresentam um conceito tradicional, porém o urbanismo decorre de formas diferentes, trazendo novos conceitos de urbanização. As cidades estão num processo em que a maioria delas apresenta problemas, devido ao desenvolvimento rápido da tecnologia, que geram problemas sociais, fazendo com que o espaço urbano se deteriore. Através dos enigmas da cidade contemporânea, surge a problemática desta pesquisa: O Urbanismo da antiguidade tem significância histórica para o século XX e XXI? E que conceitos a cidade contemporânea (re)produziu até os tempos atuais? A hipótese é de que a aplicação do Urbanismo dos séculos passados gerou propostas urbanísticas até hoje, como o Novo Urbanismo. Destaca-se a acupuntura urbana, como um novo conceito de urbanismo que pode reorganizar a cidade de forma barata, rápida e eficaz, tendo em vista a solidariedade urbana. Contudo, a cidade atual se adapta conforme o seu desenvolvimento e a cultura da sua população, tornando-se o espelho de quem a habita.

Palavras chave: Cidade; Acupuntura Urbana; Urbanismo; Contemporaneidade.

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ABSTRACT

The Urbanism has the city as a main object of studies and interventions. The first concepts of urbanization have been applied in the end of the nineteenth century. However, in ancient times, the first urban agglomeration began to think about the architectural organization of residential and economic centers, according with the strategic viewpoints and climate. According to Thomas More, utopian ideas appear in the sixteenth century, characterized by a spatial modeling of a desired future reality. Utopias developed until the nineteenth century, eliminate a contradiction between town and country, but with failed attempts. The Urbanism arises in Europe in the end of nineteenth century, in the industrial revolution, as a field of knowledge, which chaotic cities look for organization. In 1933, appears The Athens Letter, as manifest in a new city, with organizations principles has become one of the main artifices in modern architecture. Currently, cities still have a traditional concept, but the urbanism takes place in different ways, bringing new concepts of urbanization. Cities are in a process which most of them have problems due to the quick development of technology that generates social problems, causing deterioration in urban areas. Through the enigmas of a contemporary city, there is the problem of this research: Has the antiquity Urbanism historical significance for the nineteenth and twentieth century? And what concepts contemporary city (re) produced till today? The hypothesis is that the application of Urbanism past centuries led urban proposals today, as the New Urbanism. Standing out the urban acupuncture, as a new concept of urbanism that can reorganize the city on the cheap, fast and effective, with the urban solidarity view. However, current city adapts according to its development and culture of its population, becoming the mirror of inhabitants.

Key-words: City; Urbanism; Ancient times; Contemporary; Acupuncture. Urban.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01: Cidade de Pedra do Egito.

Figura 02: Vista da Acrópole de Atenas (Grécia).

Figura 03: Traçado quadricular do Plano Hipodámo de Mileto.

Figura 04: Cidade de Roma e o Fórum Romano, o epicentro de seu

desenvolvimento.

Figura 05: Planta da cidades medievais com Traçado Irregular.

Figura 06: Planta da cidade ideal de Sforzinda em forma de estrela, criada por

Filarete.

Figura 07: Cidade de Londres na revolução Industrial.

Figura 08: Planta baixa do plano de Paris de Georges Eugène Haussmann, 1851-

1870.

Figura 09: Vista da Paris de Haussmann,1890.

Figura 10: Vista aérea do Falanstério de Fourier.

Figura 11: Diagrama elaborado por Èbenezer Howard, “constelação das cidades”,

mostrando os três imãs de atração da população: a cidade inchada , o campo vazio,

e a cidade-campo, que seria a terceira solução.

Figura 12: Cidade-jardim: Distrito e Centro (a cidade dividida em 6 setores).

Figura 13: Vista aérea da cidade industrial idealizada por Tony Garnier.

Figura 14: As Megacidades do século XXI.

Figura 15: Vista de uma Megalópole.

Figura 16: As Cidades-Ciborgues.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

TCC Trabalho de Conclusão de Curso.

CAU FAG Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Assis Gurgacz.

CIAM

CNU

Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna.

Carta ao Novo Urbanismo.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 13

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E SUPORTE TEÓRICO 18

2.1 A PRÉ-HISTÓRIA, E A ORIGEM DAS CIDADES 18

2.2 O URBANISMO NA ANTIGUIDADE: GRÉCIA E ROMA 22

2.3

2.4

O URBANISMO DAS CIDADES ANTIGAS E CLÁSSICAS

A CIDADE INDUSTRIAL E O URBANISMO MODERNO

25

32

3 ABORDAGENS TEMÁTICAS 43

3.1 A CARTA DE ATENAS 43

3.2 CARTA AO NOVO URBANISMO 47

3.2 ACUPUNTURA URBANA 52

4 TERCEIRO CAPÍTULO 58

4.1

4.2

4.3

4.3.1

4.3.2

4.4

4.5

A CIDADE ATUAL

LIMITES E REFLEXÕES DO URBANISMO MODERNO

A CRISE DA ESPECULAÇÃO DA CIDADE E O MEDO

A crise e a teoria da especulação da cidade

As cidades do medo

TENDÊNCIAS DAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS

A CIDADE SOMOS NÓS

58

60

61

61

63

65

68

5

6

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

73

79

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13

1 INTRODUÇÃO

A linha de pesquisa refere-se à Arquitetura e Urbanismo. Segundo Vitrúvio

(séc. I), “A Arquitetura é a arte de construir edifícios com base científica para a

satisfação das necessidades materiais, sociais e psicológicas do homem”. A

aderência da pesquisa na linha ocorre no grupo História da Arquitetura e do

Urbanismo, a qual se relaciona diretamente com a história da criação e evolução do

homem, nascendo a partir do momento em que o homem constrói o seu espaço,

com a finalidade de se proteger contra os fenômenos da natureza, e de animais

predadores.

Glancey (2001 p.7), afirma, “[...] É a história do notável esforço humano, um

dos caminhos pelos quais tentamos criar ordem e dar sentido ao infinitamente

curioso e, não obstante, confuso mundo [...]”. Dentro de tal linha o objeto de estudo,

é o Urbanismo, resgatando a sua origem e seus conceitos desde a antiguidade até

os tempos modernos, na temática que contempla a produção da Arquitetura e do

Urbanismo nos séculos XX e XXI.

O assunto da presente pesquisa é “A História do Urbanismo no século XX e

XXI”, tal assunto está inserido na matriz curricular do CAU-FAG de Arquitetura e

Urbanismo. O tema a ser tratado corresponde à História do Urbanismo, a teoria da

cidade e seu conceito contemporâneo.

Segundo Santos (2005), o urbanismo é um campo de conhecimento,

estimado ora como técnica e ciência, e que possui a urbe1 como um objeto principal

de estudos e influências. E sua importância maior se dá no final século XIX, na

1 Urbe aqui é definida pelo minidicionário da língua portuguesa Professor Francisco Silveira Bueno, como “cidade; metrópole”.

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Europa, no período da pós-revolução industrial, em busca de transformações e

mudanças no cenário cidade, que permanece ostentada pelo caos.

Justifica-se que o urbanismo e seus relatos representam para os

historiadores a reconstrução da cidade concreta ocorrida no passado, mas também

representa objeto de estudo para a cidade atual, que é pensada e justificada através

das marcas do tempo. Com finalidade acadêmica, este será um relato aprofundado

sobre a cidade e o urbanismo, que servirá como base e suporte teórico e contribuirá

para estudos de futuros pesquisadores.

O problema da pesquisa é: O Urbanismo da antiguidade tem significância

histórica para os séculos XX e XXI? E que conceitos a cidade contemporânea

(re)produziu até os tempos atuais? A hipótese é a de que as aplicações do

Urbanismo dos séculos passados geraram as propostas urbanísticas até a

contemporaneidade e continuam a formular até hoje novos conceitos de urbanismo,

e, a partir também de problemas que a cidade possui, surgem outros tipos de

soluções, conceitos para as novas cidades contemporâneas.

O objetivo geral desta pesquisa é o relato da evolução histórica das cidades

e do urbanismo e o que isso representou para a arquitetura e o urbanismo até a

contemporaneidade. Os objetivos específicos são: a) Pesquisa bibliográfica sobre a

história da cidade em toda a Antiguidade; b) Pesquisa bibliográfica sobre a história

do Urbanismo e da cidade no século XVIII ao XXI; c) Pesquisa bibliográfica sobre o

urbanismo e a cidade Contemporânea; d) Análise e apontamento dos fatos

decorrentes da história, arquitetura, do urbanismo e a relação com a cidade, desde a

antiguidade até a os tempos contemporâneos; e) Descrição e compreensão dos

fatos decorrentes da história, arquitetura, do urbanismo e a relação com a cidade. e)

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Conclusão da análise teórica, da história da cidade da antiguidade à

contemporaneidade; f) Apresentação e publicação do presente estudo.

A fundamentação teórica é considerada essencial para a compreensão

desta pesquisa. Considerando que a história da cidade é um sinônimo de civilidade,

as cidades nascem antes mesmo da arquitetura. Glancey (2001 p.14), afirma que, “o

ponto de partida da arquitetura e do urbanismo nasce em Jericó, sendo o mais

primitivo desenvolvimento urbano conhecido”.

Para entender o processo de desenvolvimento das cidades, inicia-se

buscando o entendimento do contexto, “Sagrado e o Profano”, que sacraliza a terra,

a casa e a família, e tem como objeto principal, a crença. Segundo DIAS (2006), a

crença, ao longo da história, sacralizou espaços, trazendo para o imaginário coletivo

da urbe do século XXI a relação já existente entre o sagrado e o profano da

Antiguidade.

Harouel (2004 p.22) cita “Fundar uma cidade é para os romanos um ato

sagrado que é marcado pela observação de um ritual arcaico tomado de empréstimo

aos etruscos.”

Foi no período do Barroco, que transpôs as urbanizações atuais para a

arquitetura edificada.

Tietz (1998), afirma que os conceitos de urbanização e urbanismo foram

aplicados pela primeira vez no fim do século XIX. No entanto, já na antiguidade,

quando surgiram as primeiras aglomerações urbanas, começou a se pensar na

melhor organização e estruturação arquitetônica desses centros residenciais e

econômicos, segundo pontos de vista estratégicos e climáticos.

Segundo Thomas More, Apud Harouel (2004), no século XVI, idéias

utopistas surgem, caracterizando-se por uma modelação espacial de uma realidade

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futura desejada. A utopia propõe um modelo de organização do espaço suscetível

de ser realizado e possui a capacidade de transformar o mundo natural instaurando

espaços que antes não existiam.

Tietz (1998), afirma que as utopias desenvolvidas até o século XIX eliminam

uma contradição entre o campo e a cidade. Porém a maioria de suas tentativas foi

fracassada.

O Urbanismo acaba surgindo como um campo do conhecimento apenas no

fim do século XIX, na Europa. Foi no período da revolução industrial, o qual as

cidades salubres, e caóticas buscam mudanças que mudem suas realidades.

A Carta de Atenas, encabeçada por Le Corbusier, em 1933, como um

manifesto de uma nova cidade, com os princípios de organização das cidades,

acaba se tornando um dos principais artifícios na arquitetura moderna, apesar de

não serem aceitas algumas de suas propostas. Habitar, trabalhar, circular e recrear-

se eram seus princípios, essas funções continuam a se espelhar até os dias atuais.

O encaminhamento metodológico apresenta algumas proposições de

argumentos favoráveis ou contrários a uma proposição de significância histórica, e

que requer pesquisa a fim de coletar dados válidos e suficientes para a elaboração

da pesquisa.

O procedimento técnico da pesquisa terá o seguinte encaminhamento: a) A

pesquisa bibliográfica de análise da cidade desde a antiguidade até a

contemporaneidade; b) Análise de correlatos; c) Descrição dos resultados.

No que diz respeito à pesquisa bibliográfica, a mesma ocorreu em livros,

sites acadêmicos disponíveis na web, revistas, artigos científicos, projetos de

pesquisa e em produções acadêmicas do curso de Arquitetura e Urbanismo da

Faculdade Assis Gurgacz.

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Para maior entendimento do urbanismo moderno, nas abordagens temáticas

retratará sobre os movimentos mais importantes que marcaram o urbanismo

moderno até a contemporaneidade: a Carta de Atenas e a Carta ao Novo

Urbanismo, e um novo conceito para as cidades: Acupuntura Urbana, pelo arquiteto-

urbanista e ex-prefeito da cidade de Curitiba Jaime Lerner.

O terceiro capítulo apresenta o urbanismo no século XXI. Tendo como

abordagens: a cidade do século XXI e algumas definições; até que ponto chega os

limites e as reflexões do urbanismo moderno; a crise da especulação da cidade, e o

medo da cidade contemporânea transmitida às pessoas; as tendências das cidades

contemporâneas. Por final abordará uma nova conceituação de cidade, uma vez que

está perdendo suas definições, a qual: “a cidade somos nós”, de Rosane de

Azevedo de Araujo, doutora em Urbanismo.

A conclusão retomará em síntese os principais aspectos relatados neste

trabalho, que reúne toda a história das cidades, desde a antiguidade até a

contemporaneidade. E conduz que a cidade atual, que passa por inúmeras

transformações, pode ser organizada com muitos conceitos e formas de urbanismo

do passado, e podem ser reutilizados nas cidades atuais, assim como podem ser

criados outros conceitos. A cidade atual pode ser organizada de formas simples e

barata, se as pessoas mantiverem uma relação de solidariedade a ela.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E SUPORTE TEÓRICO

2.1 A PRÉ-HISTÓRIA, E A ORIGEM DAS CIDADES

Que é a cidade? Como foi que começou a existir? Que processos promovem? Que funções desempenham? Que finalidades preenchem? Não há definição que se aplique sozinha a todas as suas manifestações nem descrição isolada que cubra todas as suas transformações, desde o núcleo social embrionário até as complexas formas da sua maturidade e a desintegração corporal da sua velhice. As origens da cidade são obscuras, enterrada ou irrecuperavelmente apagada uma grande parte de seu passado, e são difíceis de pesar suas perspectivas futuras. (MUMFORD, 1961, p.9).

Glancey (2001), afirma que a história da cidade é um sinônimo de

civilidade2. As cidades surgem antes mesmo da arquitetura.

De acordo com Arruda (1993) Apud Abiko (1995), a história da civilização

humana começou no início na pré-história, estudiosos apontam que são divididas

em três fases de grande evolução do homem durante a pré-história, as fases seriam:

a Idade da Pedra ou Paleolítico inferior (500.000 – 30.000 a.C.) e o Paleolítico

superior (30.000 – 18.000 a.C.); a nova Idade da Pedra ou Neolítico (18.000- 5000

a.C.) e a Idade dos Metais.

As primeiras civilizações da era histórica, passadas as fases obscuras da pré-história e da proto-história, aparecem nos vales férteis dos rios Nilo, Tigre, Eufrates e Indo. Nestes ergueram-se uma série de grandes impérios, que lutavam entre si para alcançar a supremacia política, ao mesmo tempo em que eram destruídos por outros que os substituíam, deixando a todos alguma contribuição no curso evolutivo do mundo civilizado, restando apenas os gigantescos monumentos religiosos e fúnebres, ou quando muito alguns palácios de monarcas divinizados. (GOITIA, 1953, et al Apud SILVA, 2005, p.2).

2 Civilidade é definida pelo Minidicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 2ª edição: “Formalidades observadas pelos cidadãos entre si em sinal de respeito mútuo e consideração.

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Em Abiko (1995), na idade da Pedra, o homem vive voltado para a caça, a

pesca, e começa a fabricação de utensílios como arcos e flechas, e objetos de

pedra.

No período Paleolítico superior, o homem se volta a atividades da colheita,

obrigado a se manter, devido aos problemas de variações de temperaturas e de

clima, que acabam com as fontes habituais de alimentos voltados a caça. Acaba-se

a fase do nomadismo, e as pessoas começam a habitar nesses próprios locais que

estão à beira de rios, e onde são sustentadas as lavouras agrícolas.

Conforme Mumford (1998), em meio às peregrinações intrigadas do homem

paleolítico, os mortos, já neste período, foram os primeiros a terem morada

permanente: uma caverna, que era considerada um marco, por ser distinguida por

um amontoado de pedras, como se fosse uma sepultura coletiva. Nesse período

paleolítico nascem as primeiras concepções de aldeia, isoladas umas das outras e

onde se desenvolvem novas tecnologias.

Segundo Abiko (1995), após esse período paleolítico, se inicia o período

Neolítico onde o homem habita perto dos vales de rios, Nilo (Egito), Tigre e Eufrates

(Mesopotâmia), seus solos são muito férteis, começam a organizar os espaços em

que habitam, começam a irrigar o solo, a cultivar frutos, a fabricar seus utensílios,

armas para a pesca e a caça, e a domesticar animais. O homem possui uma cultura

maior, onde já conhece as estações do ano e sabe se prevenir e adotar técnicas de

sobrevivência adaptando o ambiente em que está vivendo, as características de

civilização urbana vão sendo introduzidas neste espaço.

Mumford (1998) afirma que o período neolítico, também é o período em que

o homem aprende a se domesticar, reconhecendo seus laços de família, e

começando a trazer vestígios de sedentarismo. Afirma ainda que neste período,

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antes mesmo de nascer a cidade, as aldeias criaram as vizinhanças – aqueles que

moram perto e com quem compartilham com as dificuldades da vida. E a partir da

evolução das aldeias, os espaços começam a se agrupar.

Conforme Abiko (1995), é nesse período que começam a se formar os

primeiros aglomerados humanos, tendo as primeiras características de cidade. A

população aumenta, e as chamadas antigas aldeias agora são transformadas em

cidades, as quais implicam inúmeras mudanças no campo da organização espacial

e social.

O homem agora conhece o ambiente em que vive, ele abandona seus

instrumentos de pedra, e passa a explorar a produção do bronze, do cobre, do

estanho, fazendo novas ferramentas. Esta fase é marcada como a Idade dos Metais

(3.000 a.C. no Egito e na Mesopotâmia).

Glancey (2001), afirma que através de pesquisas arqueológicas, o ponto de

partida da arquitetura e do urbanismo nasce em Jericó, (7.000 a.C.) sendo o mais

primitivo sítio de desenvolvimento urbano conhecido.

De acordo com Abiko (1995), na Mesopotâmia, com planícies férteis, as

técnicas de irrigação são melhoradas e ampliadas. Com a introdução dos metais,

nascem os transportes, com a roda, os quais são puxados por animais como bois e

burros de cargas. As embarcações a velas também são inseridas. A mesopotâmia

se torna um enorme centro de civilização.

Segundo Benevolo (2003), as terras das cidades eram repartidas como se

fossem propriedades particulares entre os habitantes da cidade, em aversão aos

que moravam no campo, e que era governado pelos deuses.

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Dias (2006), afirma que o processo de desenvolvimento das cidades (polis)

ocorre no eixo do sagrado e o profano, que sacraliza a terra, a casa e a família, e

tem como objeto principal, a crença.

Abiko (1995) cita que, no Egito, sendo uma das civilizações mais antigas do

mundo, a agricultura era considerada bem desenvolvida e rica, através das margens

do Nilo. Essa região era unificada e governada pelo Faraó, onde recebia excedente

de produto, e construía as cidades, com templos de deuses, época em que

acreditavam na vida após a morte, que foi marcado por uma arquitetura de

pirâmides, com tumbas monumentais e onde o faraó tinha o dom da imortalidade.

Figura 01: Cidade de Pedra do Egito.

Fonte: <http://seteantigoshepta.blogspot.com/2009/01/3-parte-as-pirmides-de-giz-mistrios.html>

Conforme Benevolo (2003), os marcos do Egito, como as pirâmides e a

esfinge, não formavam o núcleo da cidade, eram organizados como uma cidade

única, independente e eterna e, que domina os homens. Essa cidade, considerada

divina, era edificada com materiais como a pedra (figura 01), a qual significava

imutável ao longo do tempo até a eternidade, e utilizavam-se também de formatos

Page 22: LUCIANA DUCATTI MONOGRAFIA 2009.pdf

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geométricos, e eram grandiosas. A cidade para os Egípcios era ocupada pelos

mortos, ela foi construída para ser vista de longe, com seu fundo sempre presente

na cidade real, dos vivos.

2.2 O URBANISMO NA ANTIGUIDADE: GRÉCIA E ROMA

Segundo Abiko (1995), “A Grécia foi o berço das civilizações mais completa

da Antiguidade”, em continuidade com a cidade de Roma.

[...] Antes de qualquer fundação urbana era consultado um oráculo, e no momento de empreender as obras se faz um sacrifício aos deuses. A religião, o culto comum da divindade da polis constitui, aliás, um dos fundamentos da solidariedade entre os membros da comunidade civil [...]. (HAROUEL, 2004, p.12).

Abiko (1995), afirma que Hipócrates3 foi o primeiro pensador grego a

enfrentar a urbe como algo sólido, o qual especulou todos os ambientes dela, todos

os seus aspectos físicos e morais. Porém precisou chegar ao século IV para se

instaurar com Aristóteles e Platão, criando uma verdadeira reflexão do urbanismo.

Platão expõe em Crítias e principalmente nas Leis os princípios que devem comandar a instalação material da cidade ideal. Ele insiste por sua vez, sobre a escolha do sítio, do qual ele examina as ocorrências quanto à salubridade, as vantagens econômicas e também quanto ao clima psicológico e moral, o que o conduz a desaconselhar os sítios marítimos. Ele fixa o número ideal de habitantes em 5.040 e preconiza a criação de uma acrópole onde seriam instalados os principais santuários e as habitações dos guerreiros. (HAROUEL, 2004, p.12).

3 Hipócrates considerado o pai da medicina, nasceu na ilha de Cos, na Grécia, 460 a.C. Instituiu o

Tratado dos ares, das águas e dos lugares (século V a.C.) que, no invés de atribuir uma origem divina às doenças, discutiu suas causas ambientais. Ele sugeriu que considerações tais como o clima de uma população, a água ou sua situação num lugar em que os ventos sejam favoráveis são elementos que podem ajudar ao médico a avaliar à saúde geral dos habitantes da cidade.

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23

Figura 02: Vista da Acrópole de Atenas (Grécia). Fonte: <http://www.estudosobre.com/Acr%C3%B3pole>

De acordo com Dias (2006), com os pensadores Platão e Aristóteles existe

uma reflexão urbanística adequada. Platão defende sobre o conceito de sítios, onde

ele questiona ocorrências quanto à salubridade, e estipula um número ideal para

habitantes (exatos 5.040), onde recomenda a criação de uma Acrópole (santuários e

habitações dos guerreiros) (Figura: 01). Já Aristóteles, é considerado o grande

teórico do urbanismo grego, aconselhando um sítio, não somente salubre, mas que

permita um abastecimento fácil, devendo a urbe tirar partido tanto do mar quanto do

campo, se preocupando com as fortificações.

Para Harouel (2004), o período que corresponde o século IV e V, é marcado

com o aparecimento do traçado urbano ortogonal da Grécia Antiga, chamados

quadriculados regulares, aplicável em Mileto4, e se espalha por todo o mundo grego,

chegando até o filósofo Hipódamo de Mileto, e se denominou como plano

“Hipodâmico” (figura 03), não se limitando a rigorosidade geométrica do traçado, se

comportando como uma divisão do espaço urbano em zonas delimitadas por

marcos. 4 O plano quadriculado adotado por Mileto no século V constitui a transcrição urbanística de um

pensamento cujas especulações filosóficas de caráter matemático e as meditações sobre a melhor organização política da cidade resultam na procura de uma estrutura urbana correspondente. (HAROUEL, 1990, p.15).

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Figura 03: Traçado quadricular do Plano Hipodámo de Mileto. Fonte:<http://www.dearqueologia.com/urbanismo_edad_oscura.htm>

De acordo com Abiko (1995), a cidade de Roma, (figura 3), situada próxima

ao Mar Mediterrâneo, tem sua formação no século VII a.C., ela foi desenvolvida com

a incorporação das culturas gregas e etruscas. Após o desenvolvimento dessas

tradições, ela se converteu na capital de um império, chegando a integrar

politicamente todo o espaço mediterrâneo.

Segundo Harouel (2004 p.22), “[...] Fundar uma cidade é para os romanos,

um ato sagrado que é marcado pela observação de um ritual arcaico tomado de

empréstimo aos etruscos.”

Harouel (2004) afirma ainda, que a polis romana (figura 04) herda

características da polis grega: um exemplo significante é o fórum, que era situado na

praça; essa por vez era rodeada de edifícios públicos que são geralmente ligados

por colunas, as quais foram inspiradas nos pórticos das ágoras gregas.

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Contemporâneo de Augusto, Vitrúvio, inspirado pelos gregos, edita um tratado de urbanismo, intitulado de Architectura, sendo esta a obra mais completa que nos foi legada pela Antiguidade. Preocupa-se com a salubridade, com a comodidade e a estética urbana, questões estas temporais e, portanto, profanas. Vitruvio organiza espacialmente, metodologicamente, o princípio até então vigente, sagrado e ritualístico, de criação de cidades romanas. (DIAS, 2006, p.14).

Figura 04: Cidade de Roma e o Fórum Romano, o epicentro de seu desenvolvimento.

Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Roma_Antiga>

2.3 O URBANISMO DAS CIDADES ANTIGAS E CLÁSSICAS

Para Harouel (2004), o período do urbanismo medieval e do renascimento

consagra o conceito do crescimento das aglomerações urbanas na Europa. Busca-

se um modelo de cidade ideal, onde a Igreja é a precursora de toda a vida urbana.

Le Goff (1992) cita que o urbanismo medieval, o qual possuía um caminhar

lento, segue em quatro direções: a segurança, a regularidade, a limpeza e a beleza,

uma caminhando ao lado da outra.

De acordo com Abiko (1995), existe um declínio no mundo clássico,

marcado pelo cristianismo e pelas invasões bárbaras, inicia-se aí o período da Idade

Média. Nesse tempo a Igreja vem para substituir o Império em seu posto historicista.

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O mesmo autor ainda afirma que com a queda do Império Romano, as

cidades passam por um momento de readequação, sendo feita uma conexão com o

mundo romano e o bárbaro. Roma, que possui um sistema unificador, perde lugar

para o sistema feudal, que era representado por uma organização social e

econômica descentralizada. O sistema feudal visava ser um sistema agrário,

transformando toda a sua sociedade em agrária.

As sociedades foram divididas em três classes que não se misturavam, e

que eram representadas pelos: nobres, aqueles que lutavam; pelo clero, aqueles

que rezavam; e pelos servos, aqueles que representavam a classe trabalhadora.

A Idade Média compreende anos de conflitos bélicos ocorridos em função da formação dos feudos, dos principados e dos reinados, com sucessivas invasões de bárbaros: os habitantes das cidades se recolhem atrás de muralhas. O principal elemento urbano é que a cidade, agressora ou agredida, deve estar em condição de garantir sua segurança. Então, ela é fechada por muros. É a Igreja que salva a vida urbana, e muitas aglomerações se formam em volta de monastérios. (DIAS, 2006, p.15).

Conforme Silva (2005), na alta idade média e desde o baixo império, um

fenômeno de vida urbana ocorre, sendo uma conseqüência da anarquia política e da

crise econômica, as quais se acrescentavam às primeiras invasões bárbaras, sendo

marcada por um período de insegurança, onde os habitantes se recolhiam atrás de

muralhas estreitas e altas, provocando um ríspido encolhimento do território urbano.

Nesse período de insegurança a Igreja surge como a salvadora da vida

urbana. Na Itália, cada cidade romana era uma sede de um episcopado, servindo o

bispo como um defensor da cidade dentro principalmente do aspecto religioso.

Passados os conflitos mais violentos, os agrupamentos se formam vagarosamente

ao redor de monastérios situados fora dos muros sobre o túmulo de alguns santos.

Com o fim das invasões bárbaras há um relevante desenvolvimento urbano com a

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melhora das condições de segurança, também há um aprimoramento das técnicas

agrícolas.

De acordo com Harouel (2004), as cidades mais populosas se encontravam

na Itália, com restrição de Paris, que possuía 200 mil habitantes, a Itália bizantina5

se destaca, aumentando sua população significativamente, em Milão e Veneza para

200 mil habitantes, e nas cidades de Florença, Gênova, Nápoles e Palermo, com

100 mil habitantes, as cidades mais interioranas com 40 e 50 mil habitantes. É

interessante notar também que há uma notável preocupação estética nessas

cidades a partir do século XIV.

A cidade da época medieval, propriamente dita, só aparece em começos do século XI, e desenvolve-se principalmente nos séculos XII e XIII. Até esse momento, a organização feudal e agrária da sociedade domina completamente. Frente a esta, o crescimento das cidades é originado principalmente pelo desenvolvimento de grupos específicos, do tipo mercantil e artesão. (...) Com o desenvolvimento do comércio nos séculos XI e XII, vai se constituindo uma sociedade burguesa que é composta não só de viajantes, mas também por outra gente fixada permanentemente nos centros onde o tráfico se desenvolve: portos, cidades de passagem, mercados importantes, vilas de artesãos, etc. Estabelecem-se nestas cidades pessoas que exercem os ofícios requeridos pelo desenvolvimento dos negócios: armadores de barco, fabricantes de aparelhos de velejar, de barris, de embalagens diversas, e até geógrafos que desenham os mapas marítimos, etc. A cidade atrai, por conseguinte, um número cada vez maior de pessoas do meio rural que encontram ali um ofício e uma ocupação que, em muitos casos, os liberta da servidão do campo. Esta sociedade burguesa que paulatinamente, se vai desenvolvendo, é o estímulo da cidade medieval. (GOITIA, 1992, Apud ABIKO 1995, p.29).

Para Abiko (1995), de acordo com essa tese de Goitia (1992), a ascendência

das cidades medievais é uma das doutrinas mais benquistas e respeitadas por

inúmeros estudiosos e historiadores. No entanto, a origem das cidades medievais é

um tema que possui muitas controvérsias.

De acordo com Harouel (2004), acontece nas cidades medievais uma

ruptura dos quadriculados romanos, havendo uma irregularidade no traçado da 5 Também Império Bizantino, conhecido como Império Romano do Oriente, que sucedeu o Império Romano.

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formação das ruas, acompanhando o desenvolvimento linear ao longo de uma

estrada ou de um rio e pela atração por um centro urbano ou por um edifício

imponente (igreja, castelo, ou monastério) que é progressivamente envolvido por

edificações novas com a formação de agrupamentos circulares. Nessa época há

uma desapropriação das utilidades públicas, sendo substituída pelos melhoramentos

de novas fortificações.

Figura 05: Planta da cidades medievais com Traçado Irregular.

Fonte: <www.fag.edu.br/.../historia%20das%20cidades/cidades%20gregas%20e%20romanas.doc>

Em Abiko (1995), o período renascentista tem origem no ano de 1453,

quando os turcos tomam a cidade de Constantinopla, colocando um término no

Império Romano do Oriente e dando abertura para uma ampla revolução econômica

e cultural da sociedade européia. Com o declínio da cidade de Constantinopla, as

rotas de comércio principais do Mediterrâneo se desarticularam para o Oceano

Atlântico.

Segundo Harouel (2004), o Renascimento rompe com o urbanismo

medieval. Ele surge do urbanismo clássico com o retorno ao espírito arquitetônico e

urbanista platônico da cidade ideal, surgido com Alberti, que se inspira nos princípios

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do pai da arquitetura: Vitrúvio6. Humanista florentino, Alberti ainda continua com

suas origens nos conceitos medievais, como por exemplo, a da localização exata

dos traçados urbanos.

Ainda segundo Harouel (2004), foi Alberti (século XV), que movido pela

cultura antiga, introduziu no contexto urbano as exigências da tríade: comoditas

(conforto), necesitas (necessidade) e voluptas (prazer estético), as quais a cidade

devia não somente ser adequada e confortável, mas que também fosse bonita e

admirável. Ele cria o tratado de urbanismo, De re aedificatoria7, o qual exprime todas

as vontades de sua época citadina nos padrões da antiguidade, aparecendo pela

primeira vez o conceito de que a estrutura de um edifício ou de uma cidade pode

depender de um conjugado de gravidades racionais que possuem sua lógica própria.

Florentino, ele também; Filarete é o inventor desses traçados urbanos em estrela que fascinam os homens da renascença. (...) Primeiro a conceber para a sua cidade ideal, ele chamou Sforzinda, um plano radio concêntrico. Seu desenho tem a forma de uma estrela com oito pontas, portanto um polígono de 16 lados, com 16 ruas radiados que convergem para a praça central onde está edificado o palácio do soberano. (...) Esse esquema perfeitamente geométrico traduz uma pesquisa estética significativa de um novo estado de espírito: pelo traçado de um belo plano tem a partir de então um fim em si mesmo. (HAROUEL, 2004, p.45).

Essa ideia de Filarete (figura 06) foi ajustada pelo artista e engenheiro de

Siena chamado Francesco de Giogio Marini. Ele admitia em seu tratado, o plano

como sendo parte submissa do sítio militar e civil, adequado ao terreno sobre uma

colina, quadriculado para uma cidade plana, e era estabelecida ao lado de um rio.

Porém a cidade ideal é um octógono regular que possui em seu meio uma praça

6 Vitrúvio foi o arquiteto do século I a.C., que escreveu em 10 volumes os modelos da arquitetura

romana, o qual deu o nome De Architectura. Ele salientava que a boa arquitetura era resultado de um equilibrio entre firmistas (solidez), utilitas (utilidade) e venustas (beleza). 7 Escrito por Leon Battista Alberti entre 1443 e 1452, o De re aedificatoria em latim é considerado “Sobre a Arte de construir”, um tratado arquitetônico clássico, fundamentado de conceitos acerca da beleza, em profundas reflexões filosóficas. Foi o primeiro livro impresso sobre arquitetura na antiguidade, era um deliberado desafio à obra de Vitruvius.

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octogonal de onde irradiam oito ruas cortadas por vias circulares concêntricas ao

seu traçado.

Figura 06: Planta da cidade ideal de Sforzinda em forma de estrela, criada por Filarete. Fonte: <http://www.artehistoria.jcyl.es/arte/obras/15760.htm>

Uma influência importante para o urbanismo foi o desenvolvimento das

artilharias, sendo contribuída pelos engenheiros militares, as quais seguiam suas

estratégias de traçado urbano, inspiradas e comparadas as de Filarete.

Conforme Abiko (1995 p. 35), “O pensamento utópico vigente à época

elabora cidades geométricas ideais, com predominância dos traçados regulares e

apresentando simetria e proporção rígida na execução das vias e praças.”

Segundo Dias (2006 p.17), “Uma das linhas de pensamento da Renascença

é a que propunha o homem como responsável pelo seu destino”.

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De acordo com Harouel (2004) a utopia8 de Thomas More é uma inspiração

da ‘modelagem espacial’ de uma realidade prometida desejada, num modelo de

organização do espaço capaz de ser concretizado, tendo a capacidade de formar o

mundo natural instaurando espaços que antes não havia que propiciaria a passagem

das sociedades corrompidas em sociedades dignas. Essa ideia de utopia era uma

ilha de 54 cidades construídas em um mesmo plano, e que ofereciam um mesmo

aspecto.

Segundo Abiko (1995), do período renascentista decorre para o período

barroco, destacando maior importância das urbes, especialmente das capitais de

Estados, e vinculado ao comércio desenvolvido, e que agora se tornam grandes

fontes políticas do poder econômico. Paris, capital da França, foi a cidade de maior

destaque.

O traçado das cidades barrocas não apresenta diferenças significativas em relação às cidades clássicas. A cidade barroca é a herdeira dos estudos teóricos do renascimento onde os esquemas se baseavam na pura harmonia geométrica com independência da percepção visual. Nesse período, desejava-se criar uma cidade como obra de arte de imediata percepção visual, usando como instrumento a perspectiva. Os principais fundamentos do urbanismo barroco são: a linha reta, a perspectiva monumental, o programa e a uniformidade. (IDOETA, 1979, Apud ABIKO, 1995, p. 36).

Conforme o mesmo autor, diferente da época renascentista, agora o Estado

nacional era colocado em primeiro lugar, e a cidade era o adensamento localizado

dos órgãos políticos estabelecidos pelo Estado. A cidade é considerada burocrática.

A capital barroca gira em torno da lei, da ordem e da uniformidade, e sua economia

é a política capitalista mercantil. A urbe barroca possui traços marcantes culturais, e

8 O termo “utopia”, de origem grega significa “nenhum lugar”. Porém, este termo não foi cunhado pelos gregos antigos. Thomas More foi o primeiro filósofo a utilizar a palavra “utopia”. Utopia é o resultado de um termo composto que consiste do advérbio negative “ou”, significando “não” e a palavra “topos,” significa “lugar”.

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agora era considerada uma obra de arte de esperteza visual imediata, nascendo os

primeiros conceitos de perspectiva.

Os novos tempos agora são ditados pela revolução francesa. Tendo como seus ideais urbanos o Iluminismo. Filósofos, médicos, arquitetos: uma gama variada de pensadores cada vez mais se interessa pela cidade. (DIAS, 2006, p.19).

Segundo Rachel Silva (2006), o Iluminismo9 e o Modernismo, passam a

existir embalados pela cidade. Sendo considerada de tal forma para os

renascentistas, a cidade livre das muralhas e da servidão, de um novo pensamento,

e que geraria um novo homem, e uma nova sociedade.

2.4 A CIDADE INDUSTRIAL E O URBANISMO MODERNO

Silva (2006 p.27) “Ser moderno significava estar na cidade e ser urbano. O

campo era o lugar da opressão, da escuridão e do atraso. A cidade era o lugar da

libertação, do claro e do avanço. A fronteira a ser conquistada era o campo.”

De acordo com Abiko (1995), as cidades tomam forma de poder. Possui um

explosivo crescimento demográfico, começando pela Inglaterra, após na França e

mais tardar na Alemanha.

Segundo Silva (2006), com a cidade em expansão surgem novos meios de

tecnologias de comunicação e meios de transporte, o homem começa a migrar do

9 O Iluminismo surgiu na França do século XVII, e se estendeu até o século XVIII, defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média. Segundo os filósofos iluministas, esta forma de pensamento tinha o propósito de iluminar as trevas em que se encontrava a sociedade. Suas idéias baseavam-se no racionalismo, defendiam a democracia, o liberalismo econômico e a liberdade de culto e pensamento.

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campo para as cidades, criando assim uma expansão demográfica desordenada,

era a chamada Revolução Industrial (figura 07).

Figura 07:Cidade de Londres na revolução Industrial.

Fonte: <http://cidadejardimecidadeindustrial.blogspot.com/>

Conforme Abiko (1995) aumentam as dificuldades de abastecimentos e os

preços das mercadorias, há distanciamento dos bairros que impedem as facilidades

de comunicação. A cidade agora está doente.

Aparecem nesta época as exigências de salubridade: a circulação do ar, fluído vital, tem que ser assegurado pelo alargamento das ruas e limitação das alturas das casas; a existência dos jardins, que são destruídos pelas novas construções, dando lugar a limitados jardins públicos e particulares; a higienização urbana: pavimentação das ruas, criação de um sistema de esgotos; atividades poluidoras tais como os matadouros, curtumes e fundições de gordura; as prisões e hospitais, os quais eram também considerados pelos administradores e higienistas como insalubres e outras edificações tais como câmaras municipais, palácios de justiça, hotéis, mercados e igrejas. O abastecimento de água se torna crítico: os processos de adução e a construção dos reservatórios multiplicaram-se nas cidades. Surge a necessidade de bombas hidráulicas. Na França o engenheiro de pontes e açudes, Perronet, propõe um sistema de aquedutos que permite captar as águas dos rios. Em Paris, os irmãos Perrier, em 1777, recebem o privilégio de exclusividade de abastecimento por bombas a vapor, por 15 anos. A idéia de captação fluvial triunfa no início do século XIX. (SILVA, 2005, p.7).

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De acordo com Harouel (2004), a população mundial aumenta nos últimos

dois séculos. A população do mundo quadruplica após 1850, e a população urbana

se multiplica por dez, há um inchaço urbano.

Em Choay (2003 p.03), “Londres passa de 864.845 habitantes no ano de

1.801 a 1.873.676 em 1841, passando para 4.232.118 habitantes em 1891”.

O mesmo autor ainda afirma que, funções novas na vida citadina continuam

em processo de transformação, também desenvolvendo os meios de produção e

transporte. No desejo de adaptar Paris às novas exigências sociais e econômicas,

nesse novo império, Haussmann surge, chocando a população com uma obra

realista. Uma cidade que se assemelha aos grandes negociantes.

As vias de comunicação agora são racionalizadas, há uma abertura nas

artérias, criam-se estações. A cidade é setorizada, são criados novos órgãos que

mudam a aparência da cidade: as grandes lojas, grandes hotéis, prédios para

alugar, sendo caracterizadas pelo seu ‘gigantismo’. A suburbanização assume um

papel importante na cidade: as indústrias implantam-se nos arredores, a classe

operária e a média se deslocam para os subúrbios, e a cidade deixa de ser uma

entidade espacial bem demarcada.

Com o acréscimo de pessoas nas cidades, no século passado, muitos

pensadores da época, culparam e analisaram os fatos de que a exploração da mão

de obra infantil e adulta influenciava na qualidade de vida e produzia níveis baixos

desta, eles também se preocupavam com a existência de processos de degradação

ambiental.

Uns são inspirados por sentimentos humanitários: são dirigentes municipais, homens da Igreja, principalmente médicos e higienistas, que denunciam, com o apoio de fatos e números, o estado de deterioração física e moral em que vive o proletariado urbano. Publicam séries de artigos em jornais e revistas, particularmente na Inglaterra, onde a situação é mais aguda [...]. O

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outro grupo de polemistas é constituído por pensadores políticos. Freqüentemente, suas informações são de uma amplitude e precisão notáveis. Engels, em particular, pode ser considerado como um dos fundadores da sociologia urbana. [...] Nesse grupo de pensadores políticos, os espíritos mais diversos, ou até opostos, Matthew Arnold e Fourier, Proudhon e Carlyle, Engels e Ruskin, reúnem-se para denunciar a higiene física deplorável das grandes cidades industriais: o habitat insalubre do trabalhador, freqüentemente comparado com covis, as grandes distâncias que separam o local de trabalho do de habitação [...], os lixões fétidos amontoados e a ausência de jardins públicos nos bairros populares. A higiene moral também é considerada: há contraste entre os bairros habitados pelas diferentes classes sociais, chegando à segregação, fealdade e monotonia das construções ‘para o maior número’. (CHOAY, 2003, p. 5 e 6).

Segundo Giovanaz (1990), são apresentados instrumentos que procuram

solucionar todos os problemas urbanos, que estão matando as cidades. A

remodelação e o saneamento foram argumentos constantes nos projetos de

intervenção urbana desenvolvidos nos séculos XIX e XX. Esses novos projetos de

ordenação urbana foram administrados por arquitetos e engenheiros, na época

denominados especialistas e que objetivavam sanear, organizar e modernizar a

urbe.

Em Choay (2003), no período de crescimento desordenado das cidades da

Europa, uma nova ordem de cidade é criada, nesse sentido, Haussmann10 aparece

no desejo de adaptar Paris às exigências econômicas e sociais do segundo Império,

fazendo uma obra realista.

Conforme Harouel (2004), Napoleão III pretende fazer de Paris, a maior

capital do mundo, definindo uma política de urbanismo ambiciosa. Para empreendê-

la ele acaba escolhendo Haussmann para administrá-la.

10

Georges-Eugène Haussmann (1809-1891) nasceu e morreu em Paris, advogado, funcionário público, político, administrador francês, foi nomeado prefeito por Napoleão III. Foi o grande remodelador de Paris, cuidando do planejamento da cidade, durante 17 anos, com a colaboração dos melhores arquitetos e engenheiros. Haussmann planejou uma nova cidade, melhorando os parques parisienses e criando outros, construindo vários edifícios públicos, como a L’Opéra.

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Os objetivos de Napoleão e Haussmann eram de fazer a imagem da cidade

antiga e insalubre, desaparecer. Facilitando a circulação, multiplicando as ligações

dos diferentes lugares da cidade com a parte central, valorizando os monumentos e

colocando-os em um eixo de perspectiva na cidade de Paris. (figuras 08 e 09).

Haussmann planejou as avenidas largas (que serviam tanto para melhorar o fluxo do tráfego como para o alinhamento rápido de soldados em caso de revolta popular); os boulevards e principais parques urbanos; também deu importância às fachadas góticas. Instalou outros equipamentos: rede de esgoto, distribuição de água e gás, mercados, feiras, colégios, prisões, etc. As grandes obras também serviram para expulsar a população de classe baixa das áreas centrais. (RELPH, 1987, Apud COSTA, 2001, p.44).

Figura 08: Planta baixa do plano de Paris de Georges Eugène Haussmann, 1851-1870.

Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp292.asp>

Figura 09: Vista da Paris de Haussmann,1890. Fonte: <www.vivercidades.org.br/.../pezerat2_Paris.jpg>

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De acordo com Choay (2003), a cidade tomando uma forma própria, provoca

um novo movimento, de observação e reflexão. Com desejo de sanear a cidade

surgem pensadores; uns inspirados por sentimentos humanitários: homens de

igrejas, médicos e higienistas, que denunciam, com apoio de fatos e números, o

estado de deterioração física e moral em que vive o proletariado urbano. Outro

grupo de polemistas é constituído de pensadores políticos, onde se destacam Marx,

Fourier, Engels, Ruskin entre outros, que se reuniam para denunciar a higiene física

deplorável das cidades industriais.

Segundo Harouel (2004), toda a cidade está doente, diante de epidemias e

tomada pela delinquência. Uma série de pensadores repudia a noção tradicional de

cidade e elabora modelos que permitem reorganizar a cidade. Surge daí a principal

corrente progressista, que é tomada pela modernidade, a qual deixa para trás as

correntes naturalistas e humanistas.

Choay (2003) define o espaço do modelo progressista como amplamente

aberto, rompido por vazios e verdes, sendo uma exigência de higiene. O espaço é

traçado conforme as funções humanas, classificando os locais distintos de habitat,

de trabalho, de cultura e de lazer.

Conforme Harouel (2004), essa corrente foi inspirada na filosofia das Luzes,

baseando-se numa concepção abstrata do homem, com descrições da cidade ideal.

Fourier propõe substituir a cidade, por um Falanstério com 1.200 habitantes.

(figura 10). Owen preconiza a fundação de ‘cidades de harmonia e cooperação’

reagrupando 1.200 pessoas em conjuntos habitacionais. Rompendo com os

modelos tradicionais de cidades, tornando essa utopia repressiva.

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Figura 10: Vista aérea do Falanstério de Fourier. Fonte: <http://www.homeoint.org/articles/meira/filo.htm>

Em Choay (2003), o urbanismo culturalista opõe-se ao modelo progressista,

por ter um clima propriamente urbano.

Conforme Abiko (1995), Ebenezer Howard constitui uma cidade-jardim,

(figuras 11 e 12), onde coloca três princípios básicos em sua hipótese: 1) domínio do

crescimento e que a população se limitasse – a cidade deveria estar rodeada por um

cinturão agrícola e estipularia uma população com aproximadamente 30.000

habitantes; 2) o banimento da especulação das terras, e; 3) deveriam existir entre o

campo e a cidade, as residências, o comércio e a indústria, num equilíbrio funcional.

Segundo Jacobs (2003), a teoria do planejamento cidade-jardim abordou o

problema do planejamento de cidades como um cientista de ciências físicas

analisando um problema simples de duas variáveis. As duas principais variáveis na

concepção da cidade-jardim eram a quantidade de moradias e o número de

empregos. Elas foram consideradas como estando inter-relacionadas de maneira

simples e direta, na forma de sistemas relativamente fechados. A cidade como um

todo era mais uma vez considerada uma entre duas variáveis numa relação simples

e direta entre cidade e cinturão verde.

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Figura 11: Diagrama elaborado por Èbenezer Howard, “constelação das cidades”, Mostrando os três

imãs de atração da população: a cidade inchada , o campo vazio, e a cidade-campo, que seria a terceira solução.

Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq042/arq042_02.asp>

Figura 12: Cidade-jardim: Distrito e Centro (a cidade dividida em 6 setores)

Fonte: <http://cidadejardimecidadeindustrial.blogspot.com/>

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40

Segundo Tietz (1998), enquanto o projeto da cidade-jardim era implantado

no campo, o arquiteto Tony Garnier elabora um modelo planejado para uma cidade

industrial moderna, apresentando em 1904, o projeto de uma “Cité de industrielle”

(figura 13), que organizava os setores da cidade como funcionais, e separavam os

setores de habitação, de trabalho, o lazer e o tráfego. O sistema de tráfego era

constituído por vias rodoviárias separadas das vias de travessias, e metade da

cidade era constituída por áreas verdes. No meio dos espaços eram implantados

blocos de habitação isolados. Garnier preparou o terreno para as concepções

modernistas.

Figura 13: Vista aérea da cidade industrial idealizada por Tony Garnier.

Fonte:<http://cidadejardimecidadeindustrial.blogspot.com/>

Conforme Harouel (2004), em 1901 Tony Garnier elabora um plano da

cidade industrial, onde se encontra quase tudo o que está na base do urbanismo

atual. E é de grande significância sua influência sobre os arquitetos racionalistas,

que criam o Estilo Internacional e elaboram o modelo de urbanismo progressista.

Eles constituem, a partir de 1928, um movimento internacional designado: CIAM

(Congresso de Arquitetura Moderna).

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41

De acordo com Tietz (1998), em 1933 esses arquitetos que faziam parte do

CIAM, elaboraram um manifesto de uma nova cidade, nomeando-o de Carta de

Atenas, que foi publicada apenas em 1943 pelo precursor Le Corbusier e pelo grupo

CIAM francês.

Para Costa (2001), na Carta de Atenas, os pensadores depositavam suas

teses em forma de ensinamento, dando evidência às condições de higiene, ao

espaço aberto e à água, e exigia também construções altas, distantes umas das

outras, isoladas no verde e na luz. Permanecendo com maior fidelidade em um

período de 50 anos, aos seus ideais.

Ao Urbanismo interessam tanto as aglomerações urbanas como os agrupamentos rurais. As três funções fundamentais do Urbanismo são: habitar, trabalhar e recrear, e os seus objetivos são: a ocupação do solo, a organização da circulação e a legislação. (BIRKHOLZ, 1967, Apud ABIKO 1999, p. 42).

Segundo Harouel (2004 p.121), “para Le Corbusier todos os homens

possuem as mesmas necessidades”.

De acordo com Dias (2006), no começo do modernismo, muitas teorias

urbanísticas que têm como base a Carta de Atenas, dividem a cidade em zonas:

trabalho, moradia e diversão. A cidade, e a arquitetura, relacionam-se à metáfora da

máquina. Esta é a importância resultante da extrema desorganização espacial

reinante nas cidades resultantes da Revolução Industrial. A cidade ressignifica-se,

ordena-se.

As teorias do modernismo, principalmente aquelas que tem como precursor

Le Corbusier, não resistem à década de 1970. As propostas para evitar a confusão

urbana, repartindo a cidade em zonas, interligando-as com vias, separam, além das

diversas funções urbanas, o cidadão. A cidade deposita o silêncio dos cidadãos. O

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que antes era ponto de encontro, hoje passa a ser lugar de trabalho e ganha-pão. A

cidade perde a vida, adoece.

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3 ABORDAGENS TEMÁTICAS

Neste capítulo serão abordados três temas de grande importância: A Carta

de Atenas, A Carta ao Novo Urbanismo e a Acupuntura Urbana das cidades.

3.1 A CARTA DE ATENAS

Desde 1928 os C.I.A.M. (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna) concentravam energias até então dispersas, realizando suas assembléias em diferentes cidades da Europa. Em 1933, foi Atenas... No período de opressão e de coibição da profissão (arquitetura e urbanismo) em 1941-1942, o nome de Atenas apareceu como um invólucro reluzente e o vocábulo de Carta como uma injunção a pensar corretamente. Os trabalhos do Congresso de Atenas constituíram a base da Carta. Era necessário redigir, coordenar, colocar entre as mãos do público uma matéria complexa, encontrar nesta época turbulenta uma forma suficientemente anônima para não comprometer, através da assinatura de um nome censurado como o meu, os objetivos ensejados por aquela edição. (LE CORBUSIER, 1957, Apud SOUZA, 2006, p. 96).

De acordo com a Carta de Atenas (1933), os objetivos do CIAM eram:

formular o problema arquitetônico contemporâneo, apresentar a ideia arquitetônica

moderna, fazendo essa ideia penetrar nos círculos técnicos, econômicos e sociais,

zelando pela solução dos problemas da arquitetura.

Conforme Irazábal (2001) a Carta de Atenas foi formulada por um grupo

internacional de arquitetos urbanistas, logo após uma série de congressos nos quais

se debateu como o modelo da arquitetura moderna poderia responder aos

problemas causados pelo rápido crescimento das cidades. Este grupo de

profissionais finalizou a Carta de Atenas, no V Congresso do CIAM, depois de

haverem analisado um total de 33 cidades de diversos climas do mundo.

A primeira parte da Carta de Atenas (1933) detém-se à discussão de

generalidades em relação à cidade e da região, enfatizando a cidade como sendo

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uma parte de um conjunto social, econômico e político que constitui uma região. Na

segunda parte da carta, tem-se uma avaliação crítica do estado atual das cidades,

dando destaque às considerações a respeito de habitação, trabalho, circulação,

lazer e patrimônio histórico das cidades. E na terceira e última parte da carta, são

apresentadas conclusões, destacando-se os pontos de suas doutrinas.

Quanto mais a cidade evolui, menos as condições naturais nela são

respeitadas. Uma expansão sem controle privou as cidades dos elementos

fundamentais fisiológicos e psicológicos. As pessoas que perdem o contato com a

natureza pagam através das doenças.

Conforme a Carta de Atenas (1933), o primeiro dever do urbanismo era pôr-

se de acordo com as necessidades vitais dos homens da cidade. A saúde de cada

um dependia de sua subordinação às condições naturais. As três matérias-primas

do urbanismo são: o sol, a vegetação e o espaço. O sol, que comanda todo

crescimento, deveria penetrar no interior de cada moradia; o espaço deveria ser

espalhado com liberalidade; e o ar deveria ser totalmente puro.

O urbanismo era definido como a administração dos lugares e dos locais diversos que deveriam abrigar o desenvolvimento da vida material, sentimental e espiritual em todas as suas manifestações, individuais ou coletivas. Ele envolve tanto as aglomerações urbanas quanto os agrupamentos rurais. O urbanismo não poderia mais estar exclusivamente subordinado às regras de um estetismo gratuito. Por sua essência, ele é de ordem funcional. As três funções fundamentais pela realização das quais o urbanismo deve velar são: habitar; trabalhar; recrear-se. Seus objetivos são: a ocupação do solo; a organização da circulação; a legislação. Essas três funções fundamentais não são favorecidas pelo estado atual das aglomerações. As relações entre os diversos locais que lhes são destinados devem ser recalculadas de maneira a determinar uma justa proporção entre volumes edificados e espaços livres. O problema da circulação e o da densidade deve ser reconsiderado. O parcelamento desordenado do solo fruto de partilhas, de vendas e da especulação, deve ser substituído por uma economia territorial de reagrupamento. Este reagrupamento, base de todo urbanismo capaz de responder às necessidades presentes, assegurará aos proprietários e à comunidade a justa distribuição das mais-valias resultantes dos trabalhos de interesse comum. (CARTA DE ATENAS, 1933, p.30).

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Uma parte da carta que se refere ao zoneamento é a operação feita sobre

um plano de cidade com o objetivo de atribuir a cada função e a cada indivíduo que

viva em um lugar justo. Tendo por base evitar a discriminação da cidade entre as

diversas atividades humanas, como: locais de habitação, centros industriais ou

comerciais, salas ou terrenos destinados ao lazer. A ideia era de tornar acessível

para todos, por meio de uma legislação implacável, uma qualidade de bem-estar,

independente da situação financeira.

Segundo a Carta, logo que surge a ‘era da máquina’, as cidades se

desenvolveram sem controle. A displicência é a única explicação para esse

crescimento descontrolado e irracional, o qual é um fator das suas doenças.

Impondo assim, que as densidades urbanas das cidades sejam fixadas de acordo

com as suas formas de habitação.

A Carta faz uma organização da cidade, mencionando que nos novos bairros

que eram condenados pela saúde pública, onde as leis de higiene e saneamento

nas moradias não bastavam, era preciso criar e administrar seus prolongamentos

exteriores, os seus locais de educação física e espaços diversos para esporte,

inserindo, antecipadamente, no plano geral, as áreas que lhes serão reservadas.

Ela consente a destruição dos espaços grandes e insalubres, para

construção de grandes áreas verdes que beneficiem em ampla escala os moradores

que estão próximos.

A vida das cidades é considerada pela Carta, um fator contínuo, se

manifestando através de obras materiais, construções e traçados, os quais lhe

conferem uma identidade própria. Essas obras históricas fazem parte do patrimônio

humano, devendo por isso, serem salvaguardadas.

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A cidade deve garantir uma liberdade individual e o benefício da ação

coletiva. As chaves do urbanismo se resumem em quatro funções: habitar, trabalhar,

recrear-se e circular.

O urbanismo exprime a maneira de ser de uma época. Até agora, ele só atacou um único problema, o da circulação. Ele se contentou em abrir avenidas ou traçar ruas, constituindo assim quarteirões edificados cuja destinação é abandonada à aventura das iniciativas privadas. Essa é uma visão estreita e insuficiente da missão que lhe está destinada. O urbanismo tem quatro funções principais, que são: primeiramente, assegurar aos homens moradias saudáveis, isto é, locais onde o espaço, o ar puro e o sol, essas três, condições essenciais da natureza, lhe sejam largamente asseguradas; em segundo lugar, organizar os locais de trabalho, de tal modo que, ao invés de serem uma sujeição penosa, eles retomem seu caráter de atividade humana natural; em terceiro lugar, prever as instalações necessárias à boa utilização das horas livres, tornando-as benéficas e fecundas; em quarto lugar, estabelecer o contato entre essas diversas organizações mediante uma rede circulatória que assegure as trocas, respeitando as prerrogativas de cada uma. Essas quatro funções, que são as quatro chaves do urbanismo, cobrem um domínio imenso, sendo o urbanismo a conseqüência de uma maneira de pensar levada à vida pública por uma técnica de ação. (Carta de Atenas, 1933, p.24).

Esse discurso apresenta suas autonomias, organizando a cidade nas suas

condições habituais da vida, da cultura e do trabalho e disposições particulares. O

urbanismo deve assegurar a liberdade individual e ao mesmo tempo beneficiar a

ação coletiva.

Sendo assim, de acordo com a Carta, a cidade deverá crescer com

harmonia, dispondo de ligações e espaços onde poderão se inscrever

equilibradamente as fases de seu próprio desenvolvimento.

3.2 CARTA AO NOVO URBANISMO

A carta ao Novo Urbanismo (CNU), segundo Macedo (2007), foi formulada

em 1996, na cidade de Carolina do Sul nos Estados Unidos, sendo considerado um

documento de referência do congresso do Novo Urbanismo, em que se reuniram

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266 profissionais a fim de formalizar um enfoque para o urbanismo, explorando as

possibilidades reais do desenvolvimento das cidades norte-americanas. Ela

estabelece em 27 princípios, conceitos sobre a formação do espaço regional, da

relação das cidades e dos bairros, articulando as áreas urbanizadas centrais da

cidade com as cidades menores em setores delimitados do território, evitando a

ocupação dispersa e valorizando a acessibilidade dos transportes coletivos.

Conforme a arquiteta Clara Irazábal (2001), a CNU foi elaborada com os

princípios da Carta de Atenas, surgindo como resposta aos crescimentos

desordenados dos subúrbios norte-americanos. Onde enfatiza a diversidade social,

mescla de atividades e tipos de circulação, acessibilidade pedestre, participação

democrática e respeito à expressão da cultura local.

Em Figueira (s/d) esse Novo Urbanismo surgiu como reação ao

planejamento nas áreas suburbanas desde os anos de 1940 nos Estados Unidos, do

processo de êxodo rural, decorrentes da economia do pós guerra.

De acordo com Macedo (2007), o Novo Urbanismo, é recente nos Estados

Unidos apenas no sentido de instituir princípios relacionando o espaço local com o

espaço regional pelo sistema de transportes, de instigar um tipo de parcelamento do

solo e organização das áreas residenciais, retomando os conceitos das antigas

cidades-jardim, de Èbenezer Howard, promovendo um processo de gestão dos

espaços com a participação popular.

Segundo a CNU, são defendidos: a restauração dos centros urbanos

existentes dentro de cidades das regiões metropolitanas, a reconfiguração do

desenvolvimento dos subúrbios em sociedades de distritos e bairros distintos e a

conservação dos ambientes naturais e do patrimônio edificado.

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Sua ideia-força central é, na verdade, um esforço de compatibilização de desenvolvimento urbano, em seu sentido capitalista, com certos valores "comunitários" e com certa escala humana, enfim quase uma espécie de síntese entre a tradição antimodernista, tão bem simbolizada por Jane Jacobs(1994) e o pragmatismo mercadófilo, e isso tudo se acrescentando o estilo pós-modernista. (SOUZA, 2002, Apud SANTOS, 2005).

Para Santos (2005), o “New Urbanism ”11 pode ser analisado voltado para

um planejamento físico-territorial mais limitado, mostrando como podem existir

diversos tipos de conceitos, sejam eles referindo-se a ideários clássicos passados,

ou tentando recriar ele de certa maneira com estas ideias, de modo que busque

trazer um desenvolvimento teórico e também de forma a reinventar uma nova

consideração de Urbanismo dentro de um curso de pensamento.

Em Irazábal (2001), os projetistas do Novo Urbanismo, cujo estilo lhes

conferiu também o Urbanismo Sustentável, são a favor de comunidades menores e

mais densas que os subúrbios comuns, impondo limites, e que tenham uma

variedade de funções que reúnam os espaços comerciais, de lazer, os espaços

institucionais e de serviço, em estreita dependência com moradias de vários tipos.

Sendo consideradas estas habitações acessíveis a diversos grupos

socioeconômicos, e adequadas com igualdade racial.

De acordo com Macedo (2007), as cidades de subúrbios, mesmo sendo

completas com equipamentos públicos relacionados à habitação, não possuem

ofertas de locais de trabalho em conjunto. Dependem sempre do automóvel para

qualquer locomoção, mesmo sendo próximos. Isso acaba se conferindo a esses

locais, caráter de cidades-dormitório. Atualmente, essas cidades tem sido

revitalizadas pelo novo urbanismo, de forma a criar espaços para atividades

diversificadas, e cidades feitas com um enfoque global que se tornem completas e

que interajam com novos sistemas de transportes em uma escala regional.

11

Novo Urbanismo

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Segundo Bohl (2003) Apud Hulsmeyer (2008), o Novo Urbanismo possui

princípios de design que atuam em um número de escalas, de edificações,

condomínios, quadras, distritos, bairros e ultimamente em cidades e regiões. Os

princípios fazem referência ao desenvolvimento organizado em padrões

consistentes com vilarejos históricos e cidades que sejam compactas, onde fazem a

estimulação das pessoas a andar a pé, com trânsito tranqüilo e que contenham uma

gama diversificada de unidades habitacionais, semelhantes a eco vilas.

Luigi Frascati comenta: “O Novo Urbanismo é o que planejadores urbanos, arquitetos, engenheiros civis, empreendedores, corretores de imóveis, avaliadores de imóveis e banqueiros em todos os Estados Unidos se referem como simplesmente urbanismo. É um processo muito familiar para nós, pelo qual as cidades grandes, pequenas e os bairros têm sido idealizados, planejados e construídos. (MACEDO, 2007, p.14).

Os princípios da carta ao Novo Urbanismo citados por Figueira (s/d)

começam abordando os principais componentes do espaço urbano e suas

importâncias. Na carta, cita-se que a componente básica do espaço urbano é o

bairro, a partir do qual se tornam as cidades e as vilas. Nos bairros necessitam-se

variedade de usos edificados, onde precisam existir espaços públicos, de trabalho e

de comércio articulados a partir do espaço público.

Ainda o mesmo autor, cita que a corrente do novo urbanismo permite

estruturar bairros completos de qualidade e com noção de comunidade. De acordo

com a corrente se é estipulada uma área para os bairros compreendida entre 40 a

160 hectares. Quanto aos percursos, aborda que uma distância de 5 minutos a pé

do centro para a maioria das habitações é fundamental, enfatizando que a partir de

uma distância superior a essa, se tornaria impossibilitada e desconfortável a ser

percorrida.

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De acordo com Irazábal (2001), as distâncias de um lugar a outro seriam

minimizadas, onde poderiam ser percorridas a pé, e se podia chegar caminhando

até as estações de transporte público, que conectem com outras comunidades

semelhantes. Essas características propiciariam um lugar único e com a sensação

de boa vivência à identidade do grupo de habitantes que ali convivem.

Nas descrições da carta, citadas por Figueira (s/d), o essencial para o bairro

é que o centro se destaque evidentemente, e deva conter locais de emprego,

comércio e também habitações em pisos superiores. Os espaços públicos precisam

se localizar em lugares de acesso fácil, e devem garantir a identidade do local, para

fortalecer os laços de comunidade, de tal forma que contribua para uma cidadania

ativa. As ruas são espaços públicos que devem ser confortáveis para todas as

formas de deslocamento. A respeito da circulação, o Novo Urbanismo, defende

muitas medidas relacionadas ao desenho urbano, e que devem ser reabilitadas nas

áreas existentes.

Ainda afirma que o Novo Urbanismo, é um planejamento feito à escala

humana, sendo que a rede de pedestres que for estruturada, será um meio

essencial para a obtenção dos fins a que se propõe.

O novo urbanismo é um complexo de políticas e princípios de projeto para operar nas múltiplas escalas do desenvolvimento urbano. Ele tem sido mal interpretado como apenas um movimento conservador de retorno ao passado, considerando tipos e estilos da arquitetura, ignorando as questões do tempo presente.” [...] “nostalgia não é o que os novos urbanistas estão propondo. Suas metas e intenções são muito maiores, mais completas e desafiadoras. Muito do desentendimento tem sido causado pelo foco dos críticos na escala da arquitetura dos bairros, sem o entendimento da interação desta escala com a maior da região. (PETER CALTHORPE, s/d, Apud MACEDO, 2007, p.17).

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Conforme “The Charter of the New Urbanism”12, reconhece que diante dos

problemas da cidade, as soluções físicas por si só não resolverão os problemas

sociais e econômicos. A Carta, se apoiando em ideários passados, acaba

defendendo a reestruturação política pública e práticas de desenvolvimento para

apoiar os respectivos princípios: os bairros devem ser diversificados no seu uso para

a população; as comunidades devem ser projetadas para o pedestre e para o

trânsito; nas cidades e vilas devem ser adaptados os espaços públicos o definindo

como universal; os locais urbanos devem possuir relação entre a arquitetura e o

paisagismo que celebram a história local, a ecologia, o clima e as características

construtivas.

A Carta ao Novo Urbanismo institui democracia para as cidades,

restabelecendo a relação da arte de edificar e fazer da comunidade, cidadãos

empenhados no planejamento participativo. Ajudar a entender os desafios de

construir e melhorar sua própria região acaba proporcionando novas formas de uma

educação pública e profissional, fazendo que a cidade se desenvolva com

consciência e sem problemas.

Meados do século XXI ainda se possuem uma imagem contraproducente em

relação aos casuais progressos do Novo Urbanismo, de acordo com Castello (2001),

essa opinião negativa em relação aos casuais progressos do Novo Urbanismo,

parece encontrar-se abaixo de qualquer expectativa: a corrente busca no urbanismo

da primeira metade dos anos 1920 uma inspiração para a urbe do início do século

XXI. Ou seja, tenta reproduzir muitos anos os mesmos ensinamentos daquilo que os

urbanistas da época consagraram como sendo de qualidade no meio urbano.

O mesmo autor aponta que o Novo Urbanismo acaba se tornando uma

tentativa de fugir para o passado, e conclui por se tornar apenas uma variação a 12 A Carta ao Novo Urbanismo.

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girar em torno de um mesmo tema, é uma fuga a realidade habitual assim como ela

apresenta, a fim de que introduza nostalgicamente um conjunto de ícones do

passado.

Conclui que o bom urbanismo não é necessariamente aquele dos novos urbanistas. Que o sucesso obtido pelo Novo Urbanismo, como repercussão na sociedade, tem sido maior que suas realizações, se analisadas do ponto de vista técnico. Que o movimento poderá ter vida efêmera e que Harvard não poderá orientar seu curso pelos postulados do Novo Urbanismo, e sim continuar ensinando a como fazer ‘bom urbanismo’. (KRIEGER, 2006, Apud MACEDO, 2007, p.19).

3.3 ACUPUNTURA URBANA

Sempre tive a ilusão e a esperança de que, com uma picada de agulha, seria possível curar doenças. O princípio de recuperar a energia de um ponto doente ou cansado por meio de um simples toque tem a ver com a revitalização deste ponto e da área ao seu redor. (LERNER, 2005, p.7).

Lerner13 (2005), faz uma analogia à acupuntura, acreditando que para uma

cidade ser sanada, nela deverá ser aplicada através da medicina tradicional chinesa,

acreditando que é possível aplicar as cidades uma revitalização iniciada por

intervenções pontuais.

Justifica que, assim como a medicina precisa de uma relação entre o médico

e o paciente, no Urbanismo também é preciso, em uma relação de cidade e projeto

urbano. É indispensável intervir para revitalizar, fazer o organismo trabalhar de outra

maneira. Criando relações positivas e em cadeia, de modo que melhorem a cidade. 13 Jaime Lerner, nascido em Curitiba em 1937, é engenheiro civil (1960) e arquiteto e urbanista (1964) formado pela Universidade Federal do Paraná. Três vezes prefeito da Cidade de Curitiba (1971-75; 1979-83; 1989-92), Lerner liderou a revolução urbana que fez da cidade referência nacional e internacional em planejamento urbano, principalmente em transportes, em meio ambiente, em programas sociais e em projetos urbanísticos. Em 2002 foi eleito, para um mandato de três anos, presidente da União Internacional de Arquitetos, onde tem como principal plataforma o programa “Celebração das Cidades”, que convoca todas as nações e culturas do planeta à proposição de soluções para as suas cidades.

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Para Lerner (2005), o planejamento é um processo. Por maior e melhor que

seja, ele não consegue gerar transformações imediatas a uma cidade. Afirma que

quase sempre esse processo, é como se fosse uma ‘centelha’, que se inicia com

uma pequena ação para depois subsequentemente fazer a propagação desta ação.

O que chamaria de uma verdadeira acupuntura urbana.

Afirma que a acupuntura reage de maneira diferente de uma cidade a outra,

umas possuindo mudanças culturais, outras vezes a acupuntura vem por um toque

de genialidade. Em outros casos as intervenções se dão mais por necessidade de

desejo, que vem para recuperar feridas que o próprio homem produziu na natureza,

como as pedreiras, e que com o tempo, estas feridas criaram outra paisagem. Em

outros casos ainda, que geraram uma boa acupuntura, pode-se dar o mérito aos

sistemas de transporte, que estão presentes entre seculares estações de metrô no

mundo todo.

Muitos casos, com a introdução de um novo hábito, um novo costume,

criam-se condições positivas para a transformação de uma urbe. Muitas vezes essa

intervenção humana, sem planejamento ou sem a realização de uma obra material,

acaba se tornando uma acupuntura. É importante que se resgate a identidade

cultural de uma comunidade e de um local. Muitas cidades carecem da acupuntura

porque abandonam suas identidades culturais.

Lerner (2005), ainda coloca que muitos dos problemas urbanos acontecem

por falta de continuidade. O vazio de um local ou de uma região sem moradia ou

sem atividade pode se somar ao vazio dos lotes baldios, o qual preenchê-los seria

uma atraente e ótima acupuntura. É essencial estimular uma moradia, ou uma

atividade econômica local. Um terreno quando começa a apresentar abandono tem

que ser preenchido rapidamente, sendo priorizadas atividades de animação, mesmo

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que as estruturas sejam provisórias até que surjam novos projetos. Isso seria uma

acupuntura das novas estruturas através da instalação de organismos portáteis, que

possibilitam ser colocados no local até garantir vida, revitalizar uma região, gerando

assim uma função urbana que esteja faltando.

Lerner (2005 p.40), afirma que “A mistura de funções é importante. E a

continuidade é um processo fundamental. Continuidade é vida”.

As cidades têm que possuir o som, a cor e o cheiro das ruas, devendo ser

visto com olhos generosos, dada a amplitude de sua atuação, afinal isto é uma

identidade preciosa das urbes. É desprezível uma cidade que não possui cheiro e

nem odor.

Cada cidade possui a sua história, e seus pontos nodais. Os locais que

pertencem à memória da cidade são pontos fundamentais para a sua identidade, do

sentimento de pertencer à cidade. Muitos desses pontos acabam sendo

descaracterizados com o tempo, e como não se é possível recuperar muitas dessas

áreas e reviver as antigas atividades, é importante encontrar novos tipos de uso, que

tragam vida ao local.

Exemplos de revitalização em cidades: as reciclagens urbanas, como em

Barcelona e São Francisco; toques de genialidade, como o Porto Madero, em

Buenos Aires, e parte da estação Julio Prestes, em São Paulo; obras que mudam a

cultura local, como o Museu Bilbao e o Centro Pompidou em Paris; ou para curar as

próprias feridas que o homem produziu na natureza, e se transformaram, como na

Ópera de Arame, em Curitiba.

Lerner cita que para uma boa acupuntura, é importante que cada pessoa

tenha conhecimento de sua cidade e goste dela. A cidade é o centro a partir do qual

se criam muitos códigos de convivência. É também, o último refúgio da

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solidariedade, onde a cidade não é um problema, mas sim uma solução. Um conflito

ideológico em que as cidades do mundo vivem hoje é o da globalização x

solidariedade. Separa-se trabalho e vida. A cidade não deve ser pensada como

sedimentada e sim, ser vista como uma estrutura de vida e trabalho unidos. Quanto

mais as pessoas se integrarem às funções urbanas, quanto mais se misturar idades,

rendas, mais humana a cidade ficará.

Acupuntura nem sempre pode ser caracterizada como uma transformação

física da cidade. Muitas vezes uma boa ideia pode modificar a história de uma

cidade. As cidades de hoje enfrentam problemas de inchaço urbano, e muitos

problemas de circulação, que os automóveis acarretaram.

Um verdadeiro ‘colesterol urbano’ prejudica as cidades. Esse colesterol

urbano é traduzido por Jaime Lerner, como um acúmulo, nas veias e artérias, pelo

uso demasiado dos automóveis. A solução para uma mobilidade lógica é utilizar ele

adequadamente e com menos frequência, e ter a integração de todos os meios de

deslocamento.

A cidade sendo pensada como em função do automóvel é um grande

problema, os shoppings centers que se situam fora das cidades induzem a falta de

exercícios para as pessoas, impedindo as caminhadas pela cidade, e que também

evitam o conhecimento da sua cidade como um todo, pois as pessoas já não sabem

correr por seus caminhos. Quando se tentam separar as funções urbanas de

moradia, trabalho e recreação para locais distintos, é provocado um desperdício de

energia, tendo como consequência um aumento do congestionamento, havendo

tempo perdido e o estresse da sociedade.

A acupuntura para as cidades é uma questão de consciência das pessoas. A

solidariedade ao próximo e às futuras gerações. De nada adianta motivar as

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populações do mundo todo com desenvolvimento sustentável, para recuperar a

natureza das nossas cidades, se as próprias pessoas destroem as cidades em que

vivem. A natureza é uma acupuntura, as árvores são acupuntura, que curam a dor

da ausência de sombra, de vida, de cor e de luz.

Para a acupuntura, o importante é que a picada seja rápida e precisa, para

não se tornar dolorosa. A mesma coisa acontece com a acupuntura urbana.

Exemplos na cidade de Curitiba são a Ópera de Arame, o Museu Oscar Niemayer,

que transformaram um espaço burocrático num espaço destinado a criatividade, a

identidade, a arte e ao urbanismo. A rapidez desta acupuntura tinha uma finalidade:

que fosse evitada a inércia dos vendedores de complexidade, de mesquinhez e de

política, que viessem a inviabilizar momentos e obras fundamentais.

Com a globalização das cidades, há uma tendência a se comprar coisas

embaladas, prontas e em espaços acabados demais. A sociedade não vê as coisas

em seu estado normal. A nostalgia de ver os produtos em estado natural atrai as

pessoas. As feiras e mercados de todas as cidades do mundo são grandes pontos

de referência e caracterização, e considerados grandes acupunturas de identidade,

pois as pessoas cansam de coisas iguais demais, como os shoppings das cidades.

O homem procura no mercado, um local rústico, menos acabado e simplório,

encontrar o seu próximo para fazer integrações culturais.

A acupuntura urbana, é valorizar a cidade, é ser solidário com todos para

que a cidade possa evoluir e que não venha a se degradar, bem como, acabar. Além

de tudo é uma maneira simples, criativa e barata de cuidar e reorganizar uma

cidade. As “picadas de agulha” curam doenças da cidade, despertando-a.

Acupuntura urbana é um gesto de amor a cidade. É viver na cidade e enxergar a

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vida nela e o que pode ser melhor para ela. Depende das pessoas conhecerem a

urbe, e sentir o que ela tem de melhor, que é a solidariedade.

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4 TERCEIRO CAPÍTULO:

4.1 A CIDADE ATUAL

Segundo Zein (2001 p.79), “uma década nos separa do fim do século e

parece que o futuro perdeu seu charme, [...] mudou o futuro ou mudamos nós?”.

Se perguntássemos ao Corbusier dos anos 1920 como seria a cidade do ano 2000 a resposta seria, altíssimas torres soltas em meio a parques com grandes avenidas cheias de carros Ford modelo T. Já Frank Lloyd Wright apostaria na sua Broadacre, um suceder de bucólicas chácaras com piscina interligadas por autogiros. Para Archigam seriam cidades desmontáveis, deslocáveis em balões; para outros, imensas megaestruturas; e, para muitos, apenas escombros. Como se vê, não é fácil acertas as formas do futuro, que são sempre muito mais surpreendentes do que podemos imaginar e, ao mesmo tempo, muito mais óbvias – embora isso só seja constatável a posteriori. Assim, em vez de supor as formas do futuro poderíamos, com mais segurança, adiantar algo de seus conteúdos. (ZEIN 2001, p.81).

Para Abiko (1995), a cidade não é um feito recente: ele é resultante de um

grandioso processo histórico. Ao longo deste século e do passado o que se

observou foi um aumento vertiginoso da migração da população rural para as

cidades, o que de fato tem modificado a distribuição da população mundial.

“O gigantismo da metrópole não é resultado do progresso tecnológico. Ao

contrário do que diz a crença popular, o crescimento das grandes cidades antecedeu

os decisivos progressos técnicos dos últimos dois séculos.” (Mumford, 1998, p.587)

De acordo com Tietz (1998), os problemas da cidade, como o trânsito,

lembram os sintomas da crise das cidades européias do século XIX. A história

parece voltar no tempo, porém a transposição dos métodos de planejamento urbano

desenvolvido ao longo dos últimos cem anos parece questionável.

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Figura 14: As Megacidades do século XXI.

Fonte: http://www.tvi24.iol.pt/ambiente/guy-burgel-conferencias-cidade-seculo-xxi-vinganca-desafio/1013015-4070.html

Segundo Limena (1996), compreender as cidades no limite do século é o

desafio principal do pensamento contemporâneo. A crise das megacidades14 (figura

14) demonstra uma visão de cidade que, ao mesmo tempo em que são trazidos

claramente os problemas designadamente urbanos, como o crescimento caótico das

cidades, a carência de infra-estrutura para aspirar ao acréscimo da população,

aponta no sentido para restaurar a historicidade do acontecimento urbano e da

modernidade como modo de responder as questões e perspectivas das cidades

futuras.

14

“Megacidades” são áreas urbanas com mais de cinco milhões de habitantes. E caracterizam-se por terem uma enorme densidade demográfica. Em 1950, 30% da população mundial vivia nas cidades. Em 2000 esse número era já de 47%. Em 2007, 3.3 mil milhões de pessoas, mais de metade da população mundial, vivia nas cidades. Por volta de 2015, o mundo terá cerca de 60 megacidades, albergando no seu conjunto mais de 600 milhões de pessoas. Este total pode mesmo alcançar os 60% por volta de 2030. Tamanho crescimento urbano, principalmente nos países em desenvolvimento, que gera uma imensidão de oportunidades e desafios. .

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4.2 LIMITES E REFLEXÕES DO URBANISMO MODERNO

Até onde vão as reflexões do Urbanismo, que nos fazem pensar dos

problemas que hoje a cidades enfrentam?

De acordo com PaoIi (s/d), que faz uma releitura do livro “O Urbanismo,

Utopias e realidades” de Françoise Choay, a autora define o século XIX como um

período em que foram escritos os primeiros textos da antologia, entendendo como

precursores do Movimento Moderno dos anos de 1920, como a ‘era das metrópoles’.

Essa ‘era’ foi identificada como momento de ruptura fundamental, onde as grandes

transformações dos modos de produção ocasionaram uma redistribuição da

população no território, concentrando-as nas cidades.

Conforme Paoli (2005), Choay atribui um fracasso ao urbanismo dessa ‘era’,

à recusa fundamental da metrópole e da sociedade industrial, e que através desse

fracasso as cidades tenham se influenciado atualmente.

Para Choay, o distanciamento da realidade conduz a uma recusa global do espaço do presente, confirmada pela dupla etimologia do termo utopia: eutopia (lugar agradável) e outopia (sem lugar).

Deste modo, as utopias são organizadas por ela em duas categorias principais, que orientam-se “seguindo as duas direções fundamentais do tempo: o passado e o futuro, para assumir as formas da nostalgia ou do progressismo. […] assim são delineados dois tipos de projeções espaciais, de imagens da cidade futura que chamaremos daqui para a frente de ‘modelos’.”

A distinção entre ‘culturalismo’ (utopia voltada para o passado) e ‘progressismo’ (utopia voltada para o futuro) é meramente taxonômica, pois as duas vertentes possuem as mesmas limitações – o fato de serem utopias, justamente –, ou seja, de fracassarem no controle da realidade metropolitana. (PAOLI, 2005, p. 4).

Paoli (2005) enfatiza que o século XVIII, é considerado por Choay, um

período de ruptura histórica violenta para o Urbanismo. A revolução industrial

representaria uma aceleração das problemáticas do Renascimento. Após as

mudanças sociais, territoriais, e econômicas provocadas pelo progresso, a leitura

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etnocêntrica da própria cultura deixa de ser possível. A técnica, que na definição de

Marx aparece como um fator alienante, separando o homem de sua produção, pode

ser vista como o elemento que promove a desorientação.

Há uma degeneração do conceito de utopia, na medida em que ao seu redor

se delineia um cenário apocalíptico, que culmina no movimento moderno.

A autora afirma que a literatura de ficção cientifica do século XX empenhou-

se em construir utopias, mas que estas não tinham por objetivo propor modelos para

uma eventual sociedade futura, mas fazer uma crítica direta da sociedade presente,

o qual se nomeia Distopias. As Utopias do século XX são caracterizadas meramente

como um regime coercitivo, totalitário, identificado como caricatura do mundo real.

Conforme Paoli (2005), seria importante levar em consideração essa ideia

de Choay, para entender o desenvolvimento do urbanismo atual em um olhar mais

crítico, porém essa não é a verdadeira versão do que de fato aconteceu no

Movimento Moderno. Essa é a visão negativa do Movimento moderno produzido a

partir de 1960, porém que causam inquietações para muitos historiadores

contemporâneos, e que deixam mais perguntas sobre o que tenha ocorrido no

século passado.

4.3 A CRISE DA ESPECULAÇÃO DA CIDADE E O MEDO

4.3.1 A crise e a teoria da especulação da cidade

Segundo Zein (2001), a cidade sendo o campo mais abrangente dos

arquitetos e urbanistas, além de sofrer seus males, como o crescimento incessante,

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62

a falta de recursos e a pobreza, sofre com sucessivas tentativas de novas teorias,

que teimam em se adequar.

As imagens ideais da urbe propostas pelos teóricos, com o tempo passam a

ter vida própria, reagindo sobre as cidades já existentes como se fossem entidades

independentes, não importando se às vezes reúnem em si hipóteses desiguais,

adotadas convictamente desde leigos até políticos.

Desde o século XIX, a base em que se apóiam as forças sociais, que criam e

modificam as cidades atuais, está no modelo da cidade européia, quando se falam

em centros urbanos e de preservação, quando se fala em propostas da vanguarda,

das noções de zoneamento à Carta de Atenas e quando se fala em ordenar as

cidades.

Ainda de acordo com Zein (2001), estamos em uma ‘era’, da cidade da

especulação, onde é muito simples acusar a má qualidade urbana como mero

resultado da especulação financeira. Sempre possuirá uma saída de afirmar que não

se pode fazer nada, a cidade contemporânea é assim mesmo, e o que se deve é

simplesmente trabalhar em suas regras, ou aperfeiçoá-las.

Ninguém reinventa uma cidade sozinho, apenas uma sociedade a faz evoluir

progressivamente. A cidade não é um fenômeno isolado, e nem é um produto da

incúria dos arquitetos.

Conforme Zein (2001 p. 79), “A solução não é começar de novo da página em

branco, repetindo a vã tentativa das vanguardas, pois há muito que aprender com a

sabedoria dos antigos.”

Jacobs (2003), afirma que o planejamento urbano, nos dias atuais, estagnou.

Ele se agita, mas não progride. Os planos de hoje, apresentam um progresso

mínimo, ou nenhum, em relação aos planos elaborados nos séculos passados.

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63

4.3.2 As cidades do medo

De acordo com Silva (2006), na cidade contemporânea, muitos autores vem

mostrando ela como um local de insegurança, de medo, resultando um

distanciamento das pessoas, atribuindo-se essa imagem à mídia, que a constrói

dessa forma e a reproduz.

Segundo Cronos (2008), em entrevista com Patrick Le Guirriec, nas cidades

contemporâneas, revestidas de formas diversas e em dependência dos grupos

sociais e lugares envolvidos, geram um sentimento de medo. Esse medo é

associado a representação que se faz do outro e do estranhamento. O fenômeno da

urbanização, o qual não para de se desenvolver, produz heterogeneidade

sociocultural e uma propagação de figuras do outro. Quanto maior for a cidade, mais

vai ser sua heterogeneidade, maior o estranhamento e mais desenvolvido é o

sentimento de medo.

Cronos (2008), ainda afirma através de Márcio Moraes Valença, que na

contemporaneidade as cidades que crescem, perdem o seu caráter interiorano, as

pessoas deixam de se conhecer. As cidades se tornam impessoais, mediadas por

relações institucionais. Certos espaços de vivência se expandem para além dos

limites da cidade. As pessoas ficam atormentadas com violência, havendo dessa

forma uma esquizofrenia urbana. As cidades se transformam em extensos desertos

de ruas vazias de pedestres, particularmente nas áreas residenciais de classe

média-alta.

Le Guiirriec, afirma através de Cronos (2008), que a segregação sócio-

espacial15 que sempre existiu nas cidades, parece nos dias atuais formar uma

15

É caracterizada como o espaço urbano das cidades: de um lado, da cidade concentram-se pessoas de alto poder aquisitivo e de mobilidade, formando uma “cidade legal” cheia de infra-estrutura; do

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64

tendência cada vez mais importante na organização das sociedades, e o pior

cenário que poderia se enxergar para as cidades futuras seria uma sobreposição de

lugares fechados e tomados por populações homogêneas, o que causaria um

enfraquecimento da cidadania.

Podemos ter esperanças para nossas cidades? O que, em particular, podemos delas esperar? Todos nós almejamos viver em lugar seguro, sem transtornos e felizes; entretanto, que essas esperanças possam vir a ser fundadas numa outra forma de pensar a cidade, não mais a partir de padrões normativos ideais, mas no alargamento da imaginação, que deve contribuir para a apropriação do tempo, do espaço, da vida e do desejo, de modo a introduzir o rigor na invenção e o conhecimento na utopia. (LIMENA, 2001, p. 43).

Cronos (2008) questiona em que tipo de cidade se deveria viver no século

XXI. Não existe uma direção única para o desenvolvimento das cidades. Os atores

locais que fazem a diferença na cidade, e há sempre novas formas de adaptar a vida

social.

Para Cronos (2008), na entrevista de Márcio Moraes Valença, viver bem no

limiar do século é em uma cidade cosmopolita e provinciana, com oferta de bens

culturais, onde toda sociedade pode ter uma relação equilibrada com o tempo. Onde

se possa ter vivência expandida, próspera, respeitosa e impessoal com o outro e ter

uma vida particular e próxima com os seus. Uma cidade ética, onde requer um

desenvolvimento histórico-geográfico bem menos desigual que o de hoje, um

desenvolvimento que só pode vir a existir com intensa participação social.

outro lado, a classe formada por pobres e miseráveis, com baixíssima condição de mobilidade, habitando as chamadas “cidades ilegais” desprovidas de serviços, equipamentos e de infra-estruturas; e ainda, mais distante, os que vivem na área rural, a qual se constitui em um espaço isolado dentro do contexto da cidade. A rede de transporte está diretamente relacionada com a segregação sócio-espacial, a sua configuração espacial o seu funcionamento podem estimular a segregação e determinar o controle sobre a mobilidade social de determinados grupos populacionais. (PEGORETI, SANCHES, 2004, p. 2)

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4.4 TENDÊNCIAS DAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS

A’ cidade já não existe. Entretanto a noção de cidade sofre uma distorção sem precedentes, insistir em sua natureza primordial, seja através de desenhos, regras ou invenções, conduz irrevogavelmente da nostalgia à irrelevância (...) Para assegurar sua sobrevivência, o urbanismo terá que imaginar uma nova idéia do novo (...) Temos que imaginar mil e um conceitos alternativos de cidade, temos que correr riscos desproporcionados, temos que nos atrever a ser profundamente acríticos, devemos agüentar a adversidade e perdoar a direita e a esquerda. (REEM KOOLHAS, 2002, Apud ARAUJO, 2004 p.189).

Megalópoles16 (figura 15), metápolis17, cibercidades18, videocidades19,

cidades- ciborgues, cidades-espetáculo, segundo Araujo (2004), são termos que

definem as cidades contemporâneas.

Segundo Monte-Mór (s/d), a cidade contemporânea, é a cidade do

espetáculo, que é definida como uma cidade de simulações, cada vez mais ligada

ao capital financeiro, ao turismo, ao marketing e a cultura.

A cidade contemporânea pode ser considerada o espaço topológico, eletronicamente construído, que se refigura à medida que a tecnologia introduz, assimila e modifica formas e funções (novas e antigas), num alcance virtualmente infinito. (SILVA, 2006, p.47).

16 Uma Megalópole é uma extensa região urbanizada, pluri-polarizada por metrópoles conurbadas. Correspondem às mais importantes e maiores aglomerações urbanas da atualidade e possuem mais de dez milhões de A megalópole representa, ao mesmo tempo, concentração e dispersão. A megalópole não é apenas uma aglomeração de metrópoles, mas também uma coleção de subúrbios. 17 O conceito Metápole ou metapolis é desenvolvido por François Ascher, no livro Metapolis: acerca do futuro da cidade (1998). Para o professor do Instituto Francês de Urbanismo, Metápole é um conjunto de espaços em que a totalidade, ou parte, dos habitantes, das atividades econômicas ou dos territórios está integrada ao funcionamento cotidiano de uma metrópole ou de um conjunto de grandes cidades. Com uma bacia comum de emprego, de residência e atividades, a metápole é composta por espaços heterogêneos e não necessariamente contíguos, e compreende algumas centenas de milhares de habitantes. Apresentando-se sob formas muito variadas, a metápole constitui-se a partir de metrópoles pré-existentes muito diferentes e integra um conjunto heterogêneo de espaços novos e diversos. (ARAUJO, 2007, p.45). 18

Podem ser chamadas também como cidades digitais. O conceito de Cibercidade foi desenvolvido pelo filósofo da cultura virtual contemporânea Pierre Lévy, em seu livro Cibercultura (1999). A relação entre a cidade e o ciberespaço dá-se mediante as articulações entre o funcionamento urbano e as formas de inteligência coletiva que se desenvolvem no ciberespaço. (ARAUJO, 2007, p. 47). 19 Em seu livro O espaço crítico e as perspectivas do tempo real (1993), o urbanista Paul Virilio desenvolve o conceito de Videocidade, ou cidade sem portas, que é aquela em que o espaço urbano perde sua realidade geopolítica em benefício único de sistemas instantâneos de deportação.

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Figura 15: Vista de uma Megalópole

Fonte: <www.jauregui.arq.br/megacidades.html>

Segundo Dias (2006), a cidade-espetáculo, é transformar a cidade como

mercadoria, que passa por um processo de marketing de cada cidade, e o marketing

é parte de processos culturais, sociais e políticos locais de cada cidade.

De acordo com Lemos (2004), as cidades contemporâneas estão passando

por imensas transformações com esse aumento das tecnologias da informação e de

comunicação. Torna-se urgente compreender essas transmutações que a cidade

anda sofrendo. Essas cidades na atualidade começam a ser vistas como cidades-

ciborgues20 (figura 16).

Lemos (2004), define as cidades-ciborgues como: cidades complementadas

por redes telemáticas, e que somam as redes de energia, transporte, saneamento e

comunicação; são as cidades da cibercultura21.

20 A cidade-ciborgue nada mais é do que a cidade contemporânea permeada por mais uma gama de redes de infra-estrutura de comunicação. 21 Pode-se entender por Cibercultura a forma sociocultural que advém de uma relação de trocas entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base micro-eletrônicas surgidas na década de 70, graças à convergência das telecomunicações com a informática. a Cibercultura é a cultura contemporânea fortemente marcada pelas tecnologias digitais.

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67

O mesmo autor afirma ainda que, as cidades de hoje são extensões da

urbanização que teve início no século XIX, que amadurece no século XX, e se

estabelece como chamada cidade-mundo na ‘nova era’ a que hoje é chamada de

pós-industrial.

Figura 16 : As Cidades-Ciborgues.

Fonte: <www.jauregui.arq.br/megacidades.html>

As cidades-ciborgues são a evolução da cidade-máquina, que vêm sendo

tomadas pela economia pós-fordista e informacional e podem ser consideradas

cidades da informação, pois estão ligadas fortemente a globalização.

As fronteiras do afastamento entre o público e o privado estão sendo

modificados e a vida urbana atual é mais rápida, mais volátil, mais fragmentada e

mais duvidosa do que em qualquer outra época.

Segundo Lemos (2004), as cidades-ciborgues, não representam a

destruição e a morte das cidades, mas dão início a formação delas como uma

estrutura ‘super-industrial’. Há uma relação muito grande de co-dependência entre

espaço físico e espaço virtual da cidades-ciborgues O ciberespaço acaba por

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contribuir a nova formação dos espaços urbanos, nunca substituindo o espaço físico

das cidades, apenas adicionando funcionalidades.

4.5 A CIDADE SOMOS NÓS

De acordo com a autora Rosane de Azevedo de Araujo (2007), nos dias

atuais, estamos passando por enormes mutações resultantes do desenvolvimento

rápido da tecnologia, e a conceituação do urbanismo e da cidade está sendo posta

em análise. A cidade e suas definições foram relativizadas. As cidades hoje são

definidas como: videocidades, cidades informacionais22, cidades digitais23,

sustentáveis24, da distopia25, da e-topia26, entre outras.

Conforme muitos autores da contemporaneidade, há uma inquietação de

como re-situar as cidades em um novo conceito para o mundo. Afinal, o que

aconteceu com o Urbanismo? As cidades e suas noções sofreram uma deformidade

sem precedentes e a urbanização generalizada transformou toda condição urbana.

Por sua vez a cidade que hoje se transforma graças ao fluxo de capital e informação, acelerado pelas novas tecnologias, pode ser problematizada como e-topia, metápole ou cibercidade, vocábulos forjados que crivam a questão da relativização dos parâmetros tradicionais identificadores do urbano, como o espaço físico e geográfico e tempo cronológico. (ARAUJO, 2007, p.34).

22 É considerada como a cidade da sociedade atual, e tem como embasamento as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação e é constituída por dualismos: enorme potencial de produtividade e capacidade de destruição; (ARAUJO, 2007, p.104). 23 A cidade digital é aquela habitada pelos tele-trabalhadores e pelas tele-comunidades que usam informação e comunicação tecnológica para trabalhar e se comunicar à distância. (ARAUJO, 2007, p. 73) 24 Cidade sustentável é uma cidade que possui uma política de desenvolvimento urbano, de modo que promova medidas para proteger o meio-ambiente natural e construído, garantindo a função social ambiental da propriedade na cidade. 25 A cidade da Distopia se refere ao lado negro da utopia. Cidades que fazem alusão ao aglomerado incontrolável de pobreza urbana, à poluição, ao crime. É equivalente ao um submundo da cidade global. Onde não existe educação, bom nível de vida de trabalho. (ARAUJO, 2007, p.108). 26 As e-topias são cidades econômicas e ecológicas que funcionam de maneira mais inteligente do que os modelos urbanos familiares. (ARAÚJO, 2007, p. 48)

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De acordo com Araujo (2007), os espaços da cidade e suas funcionalidades,

hoje estão disseminados por todas as partes. Há uma subversão dos espaços, as

cidades hoje podem ser definidas como heterotrópolis27.

Araujo (2007), afirma que estamos em uma época que a cidade se tornou

voltada para o meio eletrônico, e os seres urbanos são considerados cidadãos do

mundo, pelo fato de serem conectados a ele. Os cidadãos hoje são considerados

cosmopolitas28, e a cidade está onde o cosmopolita está. E o urbanismo, poderia ser

chamado de Orbanismo29, pelo fato das cidades não terem limites nem fronteiras,

virtualmente, o mundo é considerado nossa cidade.

Cidade é o modo urbano de habitar / ocupar o planeta. O conceito de cidade abrange, hoje, todas as relações de habitação no mundo, com ou sem cidade (geograficamente falando) ao lado. [...] os autores são unânimes em demonstrar que a cidade extrapolou o espaço físico-geográfico e tornou-se abrangente. Este modo de habitar o mundo acabou com as fronteiras. Existem focos urbanos mais ou menos densos que não coincidem necessariamente com o tamanho geográfico. As variáveis foram deslocadas, não adianta pensar em área geográfica. Podemos determinar onde começa e termina o foco e franja de uma cidade, se considerarmos todo o tipo de trocas, intercâmbios, interações comerciais, culturais, financeiras das quais ela participa e depende? (ARAUJO, 2007, p. 197).

E ainda afirma:

O modo urbano de habitar é o modo contemporâneo (com ou sem cidade geográfica ao lado), e o que temos são focos urbanos mais ou menos densos. Não existe um modo de vida fora do modo urbano, dada esta amplitude, podemos passar a falar em Orbanismo, pois nossas considerações abrangem o mundo e o universo como formações dessa Pessoa-cidade (ARAUJO, 2007, p.203).

27

Heterotrópolis são locais onde se estabelecem conflitos e paradoxos, cujos cidadãos são sujeitos distintos, configurando o espaço da diferença que desestabiliza crenças universais que contribuíram para a organização coletiva do espaço urbano. (ARAUJO, 2004, p.109) 28 Cosmopolita , de origem grega=cidadão do mundo. O termo cosmopolita denomina um indivíduo que tem as suas origens num determinado país, tendo, no entanto aprendido a apreciar outras culturas, e isto num sentido quer local como global. 29 Orbanismo é definido como Urbe=cidade; Orbe=globo, mundo, universo. Articulado por Rosane Azevedo de Araújo (2007).

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Para a autora, a cidade contemporânea, em meio à globalização hoje é

encontrada com várias conceituações, e que geram incertezas. E é através da

psicanálise que ela encontra a nova conceituação para as cidades atuais.

Araujo (2007) incorpora o conceito da cidade junto ao conceito do Eu,

trazendo a afirmativa ‘A cidade sou Eu’, onde a ‘cidade’ não se restringe a geografia

e a história, e o ‘Eu’, não se restringe como indivíduo, ou primeira pessoa do

singular.

Ora, afirmar A cidade sou eu é integrar definitivamente ao urbanismo os efeitos da mentalidade topológica. As transformações emergentes – no repertório já conhecido das tecnologias da comunicação e informação, da radical relativização dos parâmetros de mobilidade, comunicação e vizinhança, com o colapso das fronteiras tradicionais – já fazem a cidade funcionar em regime de atectonia. É o estado atual da rede de formações no mundo que está constituindo Eu = Pessoa como lugar. Ou seja, Eu = Pessoa como rede faz o lugar e não o contrário. (ARAUJO, 2007, p.192).

Segundo a autora, não há uma diferença entre a cidade que as pessoas

habitam e a cidade que somos. Conceituar a cidade igualando o Eu=Pessoa produz

um efeito desejado, pois o axioma contemporâneo produz transformações na

cidade, e vêm articulando os conceitos de lugar, espaço, rede, e de pessoas.

A Cidade Sou Eu é a formulação conceitual de que não há distância/diferença entre realidade e representação simbólica. Se quisermos transpor para estes termos, “a cidade que uma pessoa é” são as suas representações simbólicas. Uma pessoa-cidade é também um conjunto de representações simbólicas. (ARAUJO, 2007, p. 207).

A conceituação do espaço urbano da cidade, saiu de um axioma de se

prender somente a história e a geografia, cada pessoa vê a cidade como quer, e é

preciso se definir a Pessoa, como ‘eu’ inicialmente, para depois definir a cidade (de

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sua concepção). Para Araujo (2007, p.197) “o conceito de cultura urbana é que gere

o planeta”.

Neste sentido, cada Pessoa é a própria composição que vai situá-la num certo grau de urbanização. E o grau de urbanização de uma Pessoa não coincide com o grau de urbanização do espaço geométrico o urbano que ela freqüenta. Assim sendo, este espaço geométrico funciona como apenas mais uma de suas conexões. Seguindo este raciocínio podemos especular que, no conceito clássico de cidade afirmava-se que as cidades continham pessoas, agora podemos afirmar que o que temos é que as Pessoas são as cidades. Muda, portanto, a referência para o entendimento da cidade: a cidade (de) uma Pessoa não será igual à (de) nenhuma outra. Por mais semelhantes ou coincidentes que sejam em algumas formações, sempre dependerão da formação resultante de um conjunto enorme de formações, cada uma com seus vetores próprios. As pessoas podem sim compartilhar algumas ou várias formações: neste caso, podemos dizer são partes de pessoas que constituem cidades bastante semelhantes. A cidade (Pessoa) neste contexto é definida pelo conjunto de formações (materiais, geográficas, mentais, intelectuais, informacionais, históricas, etc.) que constituem a morada de uma cidadania. A cidade são as injunções de uma Pessoa. As conexões entre formações de cada uma é que recortam o mundo. Cada Pessoa constitui a cidade resultante de diferentes formações e articulações (financeiras, mentais, tecnológicas, sintomáticas, geográficas, etc. (ARAUJO, 2004, p.110).

De acordo com Araujo (2007), nenhuma pessoa é igual à outra pessoa, e

cada pessoa tem uma visão diferente de como é a cidade. As pessoas com suas

diferenças próprias até podem compartilhar muitas informações de sua cidade,

porém cada uma tendo uma visão. A cidade “que eu sou” “não é a cidade que você

vê”. Portanto “a cidade que eu sou” é definida a partir do espaço que produzimos, de

acordo com as competências, gostos pra ir a determinados lugares, memórias de

percursos da rotina, caminhos para lugares os quais desenhamos na mente, é a

história da vida citadina da pessoa. A cidade, é explicada pela reunião de várias

formações, sejam elas mentais, materiais, geográficas, históricas, intelectuais, e que

formam a morada de uma cidadania, a cidade são imposições tópicas que formam

uma pessoa.

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As ligações entre constituições de cada ser humano, é que separam o

mundo, e cada pessoa é produto da junção das diferentes articulações e formações

que a formam como a cidade que ela é. Portanto, para Araujo (2007) “A cidade sou

eu”.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No primeiro capítulo foram apresentados os conceitos e os principais

processos de desenvolvimento das cidades desde o princípio das civilizações até o

urbanismo moderno. O início da pré-história é marcado pelo desenvolvimento do

homem pré-histórico e as características das primeiras aglomerações urbanas. O

urbanismo da antiguidade, nas cidades de Roma e Grécia, apresenta os primeiros

traçados regulares, e os primeiros pensadores urbanísticos. O Urbanismo das

cidades antigas e clássicas mostra todo processo das aglomerações urbanas, a

mudança dos traçados das cidades, os tratados impostos pelos pensadores a fim de

organizar e embelezar as cidades. A cidade industrial e o urbanismo moderno são

marcados pelo crescimento desordenado das cidades, que precisa ser reorganizado

e sanado; surgem os Planos de Haussmann, que modificam todo o traçado de Paris,

e surgem pensadores políticos como: Marx, Fourier, Èbenezer Howard (cidade-

jardim), Tony Garnier, (cidade industrial), que idealizam em suas utopias modelos de

cidades ideais.

No segundo capítulo, foram apresentadas abordagens temáticas sobre a

Carta de Atenas, a Carta ao Novo Urbanismo e a Acupuntura Urbana.

No século XIX, com o crescimento descontrolado das cidades, surge a Carta

de Atenas que possuía os seguintes princípios de organização: moradia, trabalho e

recreação.. Já em meados do século XX, é formulada a Carta ao Novo Urbanismo,

sendo embasada na Carta de Atenas e, nos princípios da cidade-jardim (Èbenezer

Howard) que procuram reorganizar as cidades contemporâneas. A Acupuntura

Urbana possui um conceito de que muitas transformações importantes na vida das

cidades ocorrem sem necessitar interferir radicalmente no seu planejamento, possui

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novos princípios para reorganizar uma cidade, como a milenar acupuntura chinesa,

em que o modo de tratar uma cidade é investir em intervenções pontuais no

contexto urbano, sendo de forma instantânea, funcional e eficaz.

O terceiro capítulo abordou a cidade da contemporaneidade, sendo ela um

processo histórico resultante das cidades antigas; apresentou muitas de suas novas

conceituações como: megacidades, megalópoles, videocidades, cidades-ciborgues,

cidades-espetáculo, entre outras, e; a relação de medo que as pessoas passam nas

cidades devido a segregação sócio-espacial. Para Rosane de Azevedo de Araujo,

na atualidade as cidades passam por enormes processos resultantes da

globalização e perdem suas características, e por fim destaca-se um novo conceito

sobre a identidade das cidades, retratando que a cidade somos nós.

Com relação à hipótese que foi apresentada no início desta pesquisa, de

que: as aplicações do Urbanismo dos séculos passados geraram as propostas

urbanísticas até a contemporaneidade, e que as marcas do Urbanismo Moderno

continuam a constituir novos conceitos de urbanismo, conclui-se que ela tem grande

significância, pois a relação da história da cidade e do urbanismo desde o proto-

urbanismo é refletida até os dias atuais.

Segundo Kevin Linch, (1997, p.1) “como obra arquitetônica, a cidade é a

construção no espaço, mas uma construção em grande escala; uma coisa só pode

ser percebida no decorrer de longos períodos de tempo”.

Num primeiro momento foram analisados os primeiros conceitos da cidade e

a sua relação com o homem. O primeiro espaço conquistado pelo homem foi a

caverna, logo as aldeias foram se expandindo e tomando forma de cidades. No

período neolítico começam a existir os primeiros aglomerados urbanos que dão

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origem as cidades. Na antiguidade a cidade era vista pelas pessoas como se fosse

sagrada, eram criadas para ser vistas de longe e veneradas.

Os problemas da cidade começam a surgir a partir das aglomerações

urbanas na cidade medieval, nessa época surgem pensadores, que buscam

melhorar a vida das cidades.

O processo de desenvolvimento das cidades tem maior importância no

século XIX, tomada pela revolução industrial. É na cidade industrial que a cidade se

desenvolve, e toma forma de poder, era a ‘era da máquina’, a população dobra e

possui muitos problemas devido ao inchaço urbano, provocado pelo êxodo rural.

Nessa época surge a maioria dos pensadores utópicos que buscavam organizar e

melhorar as cidades, e a idealizavam como um organismo perfeito, criando regras

para toda população, porém não tiveram bons resultados porque fugiam do controle,

e não tinham uma perspectiva de planejamento a longo prazo.

Um dos pensadores a que se dá grande destaque é Èbenezer Howard, que

constitui uma cidade-jardim, e sugere três princípios básicos em sua hipótese: 1)

domínio do crescimento e limitação da população – a cidade deveria estar rodeada

por um cinturão agrícola e a população deveria se constituir de no máximo 30.000

habitantes; 2) o banimento da especulação das terras, e; 3) deveriam existir entre o

campo e a cidade, as residências, o comércio e a indústria, num equilíbrio funcional.

Logo após esse período, surgem mais arquitetos-urbanistas revolucionários

que buscavam melhorar a cidade, dentre eles Le Corbusier, que funda o CIAM

(Congresso Internacional de Arquitetura Moderna). Em 1933, os membros do CIAM,

elaboram um manifesto de uma nova cidade e o nomeiam “Carta de Atenas”.

A cidade e a arquitetura relacionam-se à metáfora da máquina. E seus

conceitos perduram até os dias atuais.

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Com o passar do tempo, a cidade ainda é tomada pelo caos e pelo

crescimento incessante. Os problemas da cidade de hoje, como o trânsito, lembram

os sintomas da crise das cidades européias do século XIX. A história parece voltar

no tempo, porém a transposição dos métodos de planejamento urbanos

desenvolvidos ao longo dos últimos cem anos parece questionável.

O gigantismo das cidades é resultado dos progressos técnicos dos últimos

dois séculos, e não um resultado de processo tecnológico como afirmam alguns

autores.

A cidade hoje está totalmente voltada para os meios eletrônicos, é a era da

cidade globalizada, e, portanto, recebe várias denominações, como cidade-ciborgue,

megalópole, hipercidade, cidade-espetáculo, entre outras. A cidade- espetáculo é a

cidade virtual que transforma a cidade como mercadoria; a cidade-ciborgue é a

cidade tomada pelas tecnologias da informação e da comunicação. Porém as

enormes transformações que a cidade apresenta para os dias atuais, resultantes do

desenvolvimento rápido da tecnologia, estão causando uma desconceituação do

urbanismo e das cidades.

O crescimento incessante das megacidades transmite às pessoas uma

relação impessoal, que resulta um sentimento de insegurança e medo,

conseqüentemente, trazendo um distanciamento entre elas.

Quanto maior as cidades, maior a heterogeneidade, maior o estranhamento

entre as pessoas e mais desenvolvido é o sentimento do medo.

Não existe uma direção única para o desenvolvimento das cidades, a vida

social hoje é adaptável. Pessoas não tem pensamentos iguais, porém estão em

constante convivência, isso faz a relação da cidade e das pessoas.

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As ocorrências do século passado trouxeram influências para as cidades

atuais. Os pensadores utópicos e a Carta de Atenas, ainda continuam sendo

criticadas, porém continuam a ser utilizadas no processo de novos conceitos para

reorganizar as cidades.

De tudo isso, fazer a releitura das cidades do passado é importante para

analisar os problemas atuais das cidades. Acredita-se que essa proposta para a

cidade atual, de querer resgatar o passado, é muito importante. Compreender e

melhorar as grandes cidades do século XXI é um desafio, uma vez que temos

apenas nove anos de novo século.

Não é apenas interesse dos arquitetos, urbanistas e planejadores para

melhorar o futuro das cidades, é uma importância de toda a sociedade.

Os conceitos de urbanismo provocam uma definição dos processos

subjacentes ao desenvolvimento das cidades, resultando do conjunto de

transformações decorrentes da industrialização e da modernidade. Porém com

tantas medidas para propor novas técnicas de urbanismo, esquecemos de que a

cidade não é apenas uma cidade, ‘a cidade sou eu, é você, somos todos nós’.

À medida que as cidades crescem, junto a elas cresce a mentalidade das

pessoas, a ideia da autora Rosane de Azevedo de Araujo coloca que Eu=Pessoa é a

definição da cidade atual, porque não há mais distâncias entre o homem, a cidade e

as maneiras de habitá-la.

Acredita-se que a proposta de Acupuntura Urbana, defendida por Jaime

Lerner, encontra pontos fortes de sustentação para reorganizar uma cidade

contemporânea.

Jaime Lerner faz uma analogia à acupuntura urbana, e acredita que para a

cidade ser curada, nela deve se aplicar os princípios da medicina tradicional

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chinesa. Para ele, o planejamento faz parte de um processo, e não gera

transformações imediatas numa cidade. Uma cidade reage de forma diferente à

outra. As cidades perdem suas identidades culturais, por isso é necessário que as

pessoas cultuem novos costumes de gentileza para com suas cidades.

A cidade deve ser tratada como um organismo vivo, e é importante que cada

pessoa goste de sua cidade e a respeite.

No mundo de hoje existem problemas tão grandes que podem ser

solucionados com pequenos gestos, apenas identificando a cidade como ela é e

participando de relações sociais saudáveis que ela oferece. A acupuntura urbana é

ser solidário com todos e com a cidade, é um gesto de amor. É viver na cidade e

enxergar a vida nela existente e o que pode ser melhor para ela.

Essa é uma idéia significante, ‘barata, que não dói e não custa nada às

pessoas’ e que ainda, pode ser posta em prática nas cidades atuais, antes que

sejam criados novos conceitos de urbanização para elas. Devendo ser levadas em

consideração, pois a cada dia as cidades estão se acabando.

Morrendo a cidade, morremos nós! Porque afinal a cidade somos nós!

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