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  • A PEDAGOGIA DE COMENIUS: uma experincia didtico-pedaggica

    atravs da leitura visual no Centro Velho de Santos

    MONTEIRO, Leide Patrcio, mestranda do Programa de Mestrado em Educao,

    Universidade Catlica de Santos UNISANTOS, Santos, Brasil,

    [email protected]

    FRANCO, Luciana. Mestre e membro egresso do Programa de Mestrado em Educao,

    Universidade Catlica de Santos UNISANTOS, Santos, Brasil,

    [email protected]

    RESUMO

    A pedagogia comeniana tem como ponto central do ensino a experincia e, a partir

    dessa premissa, ter a oportunidade de reconhecer e valorizar a cultura local,

    experienciando-a e integrando-a a formao dos alunos da educao bsica,

    constituindo isso uma forma de ensino-aprendizagem. Assim, a vivncia esttica e a

    produo textual dos estudantes do Ensino Fundamental II no conhecimento do

    patrimnio artstico/histrico da cidade de Santos o tema deste trabalho, que buscou

    investigar a percepo dos estudantes em relao leitura do espao na perspectiva do

    pedagogo morvio Comenius. Este trabalho parte da pesquisa em andamento

    desenvolvida no Mestrado em Educao da Universidade Catlica de Santos e tem

    como fundamentos tericos os conceitos de Comenius, Freire, Hernndez e Barbosa,

    que discutiram a questo da cultura visual e a importncia da leitura do mundo na

    formao do sujeito, a partir dos pressupostos de Freire e Manguel. O presente estudo,

    de natureza qualitativa, foi desenvolvido por meio da observao do patrimnio

    histrico e artstico do Centro Velho da cidade de Santos por alunos de Ensino

    Fundamental II de uma das escolas municipais, os quais relataram suas percepes

    sobre os locais visitados, utilizando-se de registros grficos, escritos e manuais. O

    trabalho toma por base os relatos de experincia dos participantes, analisando os dados

    por eles apresentados. Os resultados da anlise mostraram aspectos positivos em relao

    ao desenvolvimento da alfabetizao visual dos alunos e em seu envolvimento com a

    escrita e a produo de objetos artsticos, alm de outros aspectos referentes ao modo

    como passaram a olhar a cultura local, na expresso de sentimento e de pertena do

    patrimnio histrico e artstico da cidade.

    Palavras-chave: leitura do espao, produo textual, pedagogia comeniana.

  • Introduo

    A educao sempre foi um tema muito discutido e controverso na evoluo da

    humanidade, porque mobiliza mltiplos interesses scio-politico-economico-culturais.

    A historicidade desse assunto oferece oportunidade para muitas reflexes, entre elas a

    temporalidade e o legado que alguns personagens deixam para a contemporaniedade

    educacional. Destaca-se como um desses personagens Jan Amos Komensky, conhecido

    por Comenius, nasceu em 1592 na Morvia. Homem religioso protestante envolveu-se

    em lutas polticas e religiosas do seu tempo. Destacou-se por ser um estudioso e

    pesquisador incansvel na rea da Educao, sua preocupao no era s o acesso das

    crianas e dos jovens s escolas, mas sim que recebessem os ensinamentos com

    qualidades de contedos. Criou o primeiro livro-texto pedaggico ilustrado o Orbis

    Pictus (O mundo em imagens), publicado em 1650, onde se pode perceber sua

    preocupao com a importncia da representao visual e as experincias na vida do ser

    humano (Narodowski, 2004).

    Seus estudos sobre a Educao culminaram numa obra pedaggica

    revolucionria: a Didtica Magna (1640). Essa obra abrangia ensinamentos sobre a

    educao na infncia, na juventude, melhorar a funo da escola e que todos tivessem o

    direito de freqent-la. A instituio era local para aprender a ler e cuidar da formao

    do carter e tinha na natureza referncias de verdade, ordem e bons caminhos. A

    formao humanstica, ponto forte da Didtica Magna, era pautada no aprendizado pela

    experincia, na qual os pressupostos da alegria e a segurana trariam o aluno mais

    prximo da realidade e seja que tal que se desenvolva sem severidade e sem pancadas,

    sem nenhuma coarctao, com a mxima delicadeza e suavidade quase de modo

    espontneo [...] os exerccios se convertem no esprito em sabedoria, virtude e piedade

    (COMENIUS, 2006, p. 110).

  • Para Comenius a compreenso das palavras tinha que fazer sentido para o aluno, isto

    deve ser de regra saber expressar tudo o que compreendido, e, reciprocamente,

    aprender a entender tudo o que dito. A ningum seja permitido falar do que no sabe

    ou entender o que no possa expressar (COMENIUS, 2006, p.223). A experincia era

    a forma pela qual valorizava o aprendizado e tinha como presssuposto que a apreenso

    sobre o mundo passava pela cultura dos sentidos. O ensino das artes tambm ocupava

    um lugar to valorizado quanto cincia na sua Didtica Magna.

    A Arte tem a capacidade de mobilizar todos os sentidos do homem, isto , o

    sensvel e o inteligvel do ser humano, posto que no tem importncia para o homem

    somente como instrumento para desenvolver sua criatividade e sua percepo, mas tem

    importncia em si mesma, como assunto, como objeto de estudo (BARBOSA, 1995,

    p.113). Nesse aspecto, o desenvolvimento da capacidade esttica do estudante do

    ensino fundamental e mdio pressupe um trabalho que integra contedos disciplinares,

    possibilitando ao aluno a oportunidade de unir os contedos de educao artstica e

    lngua portuguesa, vivenciando-os numa experincia esttica, conciliando, deste modo,

    a aprendizagem significativa para sua formao.

    A aprendizagem significativa, por sua vez, est em consonncia com uma

    prtica pedaggica que leva em conta a importncia da alfabetizao visual, cujo

    objetivo desenvolver diferentes leituras dos objetos, incluindo-se as leituras dos

    espaos nos quais os estudantes esto inseridos. Para tanto, importante que eles

    saibam o real valor do ato de ler, uma vez que, no ponto de vista de Freire (1989, p. 9)

    a leitura do mundo precede a leitura da palavra, da que a posterior leitura desta no

    possa prescindir da continuidade da leitura daquela. Esse mesmo autor salienta que a

    compreenso do texto a ser alcanado por sua leitura crtica, que compreende a

    percepo das relaes entre o texto e contexto, contribui para o exerccio da criticidade

    e da autonomia, posto que seja por meio da expresso escrita e oral que o sujeito se

    manifesta. Portanto Freire comunga com o pensamento de Comenius quanto ao valor da

    leitura significativa, para a formao do aluno.

    Deste modo, faz-se necessrio reconhecer e valorizar a cultura local, colocando-

    a como o principal ponto de referncia. Sob esse aspecto, o projeto de leitura do espao,

    desenvolvido junto Unidade Municipal de Ensino Pedro II, em parceria com a

  • Fundao Arquivo e Memria de Santos, teve como foco o resgate e a manuteno da

    memria da cidade, com objetivo de conscientizar os alunos do curso fundamental II,

    nono ano, sobre o valor do patrimnio histrico e artstico do perodo Barroco,

    considerando que Santos possui inmeros monumentos e obras artsticas que retratam

    esse perodo da arte. Ao iniciar o estudante no conhecimento e na cultura de

    preservao do patrimnio artstico e histrico do Municpio, busca-se ampliar a sua

    capacidade de olhar as obras artsticas, compreendendo-as dentro de um contexto

    espacial, histrico e poltico, de modo a desenvolver habilidades para a interpretao

    das imagens a partir da expresso artstica e textual.

    Em termos gerais, os estudantes do ensino fundamental II no tm noo do

    valor artstico e histrico de obras de arte, bem como do valor dessas obras como

    documento de registro da poca, no qual esto grafados os momentos econmicos,

    polticos e culturais do perodo. Por outro lado, quando preparado com fundamentao

    terica, e tem a oportunidade de estar em contato direto com essas produes, o

    estudante pode diminuir as dificuldades de entendimento em relao s obras artsticas.

    Alm disso, ao realizar uma atividade vinculada ao conhecimento artstico de modo que

    possibilite compreender as produes culturais em seu contexto, h mltiplos ganhos

    em relao ao desenvolvimento esttico. Hernndez (2000) ao estudar essas questes

    afirma que:

    [...] algo que, por bvio, muitos esquecem: que no s potencia uma

    habilidade manual, desenvolve um dos sentidos (a audio, a viso, o tato) ou

    expande sua mente, mas, tambm, e, sobretudo, delineia e fortalece sua

    identidade em relao s capacidades de discernir, valorizar, interpretar,

    comprender, imaginar, etc., o que lhe cerca e tambm a si mesmo

    (HERNNDEZ, 2000, p. 42).

    Dessa forma, o ensino/aprendizagem flui, acontece de forma espontnea e

    ldica, transformando a experincia esttica em conhecimento enriquecedor, o que d

    ao estudante condies de ser mais crtico, questionador e apreciador do belo. Outro

    aspecto desse aprendizado diz respeito educao patrimonial e ao respeito em relao

    ao meio ambiente. O sistema bio-ecolgico no foi o nico espao a sofrer eroso e

    depredaes; os patrimnios histrico-artsticos e naturais tambm sofreram

  • dasagregao de valores, considerando a era industrial, com a produo em srie e o

    lucro financeiro colocados acima de qualquer outro interesse social, somados aos

    avanos desenfreados da era tecnolgica, em meados do sculo XX e comeo do sculo

    XXI, embricados falta de polticas educacionais e de interesses poltico-econmicos

    que se omitiram diante desse processo destrutivo.

    Fundamentao terica

    Um olhar cuidadoso sobre a Didtica Magna de Comenius faz pensar que, aps

    longos anos de pesquisas e estudos, seus conhecimentos sobre a educao ainda esto

    muito presentes na Pedagogia, como a graduao, a simultaneidade e a universalidade

    (NARODOWSKI, 2004), portanto, na abordagem comeniana como fundamentao

    terica, destaca-se o valor da leitura e a compreenso da mesma, o mtodo do ensino

    das lnguas e o mtodo para o ensino das artes.

    Geralmente associado apenas ao aspecto escrito, o ato de ler implica na

    percepo das relaes entre o texto e o contexto, visto que quando se resume mera

    decodificao do cdigo lingstico, o educando l o que est escrito, porm tm certa

    dificuldades ao fazer inferncias ou de associar as informaes a outras que faam parte

    de sua realidade. Assim, tomando por base o pensamento de Freire (2005), a palavra

    escrita no flui para a palavra-mundo e, deste modo, sua compreenso fica limitada, de

    maneira que a formao do leitor se torne fragmentada, parcial e incompleta. Conforme

    nos lembra Manguel (1997, p. 53), ao seguir o texto, o leitor pronuncia seu sentido por

    meio de um mtodo profundamente emaranhado de significaes aprendidas,

    convenes sociais, leituras anteriores, experincias individuais e gosto pessoal.

    Assim, retomendo Freire (2005), mister acentuar que a leitura de um texto, tomado como

    pura descrio de um objeto e feita no sentido de memoriz-la, nem real leitura nem dela,

    portanto, resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. (FREIRE, 2005, p. 4)

    Neste mesmo sentido, necessrio que se destaque que o texto e a tessitura textual no

    so elementos empricos da disciplina d elngua portuguesa ou estritamente ligados aos texto

    escrito: ao contrrio, o mundo o campo de significaes e os textos vo desdes os signos

    verbais aos visuais, conforme se percebe no ensino da arte. A arte, assim como a leitura, est

  • presente em toda trajetria das atividades humanas e sua influncia na Educao se d

    ao longo de toda vida. Partindo desse pressuposto, as prticas do professor de Arte, ao

    focar a alfabetizao visual, podem transformar a realidade do ensino-aprendizagem dos

    professores em formao, a fim de que possam oferecer melhor qualidade de ensino aos

    seus estudantes. Parte-se do princpio que a reflexo um dos conceitos mais utilizados

    para pensar as aes realizadas. Dentro dessa linha, considera-se importante que o

    exerccio do pensar naquilo que se faz se transforme em reflexo metdica, a fim de que

    se possa aprender com as experincias e mudar as prticas. O estudo das prticas

    pedaggicas decorre da necessidade de rever novos referenciais, pois,

    o saber dos professores no um conjunto de contedos cognitivos definidos

    de uma vez por todas, mas um processo em construo ao longo de uma

    carreira profissional na qual o professor aprende progressivamente a dominar

    seu ambiente de trabalho. Ao mesmo tempo em que se insere e o interioriza

    por meio de ao que se torna parte de sua conscincia prtica (TARDIF,

    2005, p.15).

    Sendo uma das disciplinas do currculo escolar do ensino fundamental II, a

    Arte-Educao no usvel em si mesma e seu lugar considerado perifrico no

    currculo (BARBOSA, 1995, p. 38). Em contraste, as demais disciplinas, por seu

    turno, tm valor reconhecido no currculo porque atendem aos interesses da escola e da

    sociedade. J aquelas voltadas educao artstica precisam justificar e convencer o

    porqu de sua incluso no currculo escolar. Hernndez (2000, p. 43) em estudo sobre

    a importncia da arte na formao, mostra que, junto com a histria, so as

    experincias e conhecimentos afins ao campo das artes os que mais contribuem para

    configurar as representaes simblicas portadoras dos valores que os detentores do

    poder utilizam para fixar sua viso de realidade.

    Dessa forma, verifica-se que a Arte ainda um campo de conhecimento pouco

    valorizado no conjunto do currculo enquanto as outras disciplinas correspondem com

    mais compreenso s expectativas colocadas pelas polticas e pelas escolas.

    Mtodo de pesquisa utilizado

  • A fim de atender aos objetivos da pesquisa, este estudo buscou investigar a

    percepo dos participantes sobre a leitura visual do Centro Velho de Santos e, para tal

    fim, teve como primeira ao a observao monitorada, proporcionando uma experncia

    educativa em espaos no escolares, uma vez que, na perspectiva de Freire (2004), o

    espao pedaggico um texto para ser constantemente lido, interpretado, escrito e

    reescrito. O pensamnto de Freire insere-se no discurso Comeniano, o pedagogo diz

    como o professor dever

    se organizar para que com uma nica atividade sejam feitos dois ou trs

    trabalhos: a formao da juventude deve ser organizada de modo semelhante,

    para que cada atividade possa produzir mais resultados. Para tal fim, como

    regra geral, as coisas correlatas devero ser ensinadas juntas, sempre e em

    toda parte. Por exemplo, ligar as palavras s coisas, a leitura escrita, o

    exerccio do engenho ao do estilo, o aprendizado ao ensino, as coisas srias

    s agradveis, e assim por diante (COMENIUS, 2006, p. 223).

    Trabalhar o ensino da arte e da lgua portuguesa foi uma ao educativa na qual

    a preocupao com a qualidade do aprendizado estava presente no decorrer dessa

    experincia educacional artstica e esttica.

    A viso dos estudantes

    A anlise da produo textual dos sujeitos envolvidos (trinta e trs, no total),

    possibilitou a caracterizao dos principais referenciais, a saber, apreciar, apreender e

    conhecer aes relatadas nos textos produzidos e que constituram valores

    epistemolgicos na formao educacional do estudante. A anlise dessas categorias

    possibilitou visualizar um universo esttico que se amplia por meio do desenvolvimento

    da percepo e da sensibilidade, que, por sua vez, so fundamentais para que haja o

    aprendizado e o conhecimento.

    Os alunos tambm manifestaram sentimentos de alegria, emoo, tristeza,

    felicidade, auto-estima, quando aproximados da cultura visual. Essa emoo expressou-

    se na imagem do escuro e do cho duro e frio do local histrico visitado, onde

    permaneciam os escravos. Rompeu-se a passividade do pensamento, e, atravs da

  • dialtica entre o mundo interno e externo, a emoo aflorou no registro da expresso

    escrita. Dessa forma, compreende-se melhor esse processo da comunicao, porque o

    pensamento tem que passar primeiro pelos significados e depois pelas palavras

    (VIGOTSKI, 1999, p. 186).

    O reconhecimento de valor do espao-histrico e dos objetos artsticos, assim

    como a reconstruo do conceito de tempo, na construo da cultura do cotidiano dos

    estudantes, alm do sentimento de pertena do patrimnio histrico e artstico da cidade

    em que vivem, refora o conceito de que a aprendizagem deve ser concebida como uma

    produo ativa (HERNNDEZ, 2000).

    Na segunda etapa do trabalho, props-se a questo aos alunos: qual o sentimento

    que voc experimentou ao vivenciar o projeto? Ao que foi respondido:

    Meu sentimento foi timo por que eu nunca fiz um passeio

    igual a esse pelo centro Histrico de Santos. Foi muito bom

    saber como era antigamente a cidade de Santos. Adorei, valeu a

    pena! (Aluna A).

    Eu me senti muito bem. Foi como se eu tivesse naquele tempo antigo imaginando como seria tudo aquilo. Eu achei uma

    maravilha por que fiquei sabendo de coisas que nem imaginava

    que aconteceram (Aluno B).

    Senti tristeza quando conheci o Pantheon dos Andradas, e quando vi o lugar onde os escravos dormiam, no cho duro, frio

    e no escuro (Aluno C).

    As mini-narrativas dos alunos expressam o desejo de conhecer o passado, mas

    tambm denotam percepes relacionadas opresso do poder econmico-poltico do

    colonizador branco sobre os negros, e deixam fluir o sentimento de compaixo pelos

    escravos. A relao da percepo com o espao, o sentimento de satisfao por adquirir

    um novo saber e a importncia de estar num local histrico-artstico de sua cidade foram

    relatados pelos alunos que, no momento da produo artstica e textual, demonstraram

    interesse, imaginao e criatividade.

    Os comentrios dos alunos tambm demonstram, mesmo que de forma no

    intencional, uma leitura afetiva do espao:

  • Eu me senti surpreso, no sabia que esses lugares eram to importantes. Confesso que pensei que fosse chato, mas fui

    descobrindo como apreciar aquilo, que faz parte da nossa

    cidade. O que era para ser um passeio, a fim de descobrir a arte

    que habita a nossa cidade, virou um passeio histrico e

    divertido, e o que posso dizer que faria esse passeio outra vez (Aluno F).

    Eu senti que estava adquirindo mais conhecimento, no tinha noo que todas aquelas casas, monumentos, igrejas antigas,

    tinham tanta cultura para nos oferecer. Mas depois do passeio

    adquiri mais conhecimento do que aqueles patrimnios

    histricos, no so apenas coisas antigas, sem importncia, mas,

    sim, aprendemos mais sobre o nosso passado, a importncia

    daqueles patrimnios, e que para vivermos o nosso presente e

    futuro com mais cultura, precisamos estudar o passado para

    vivermos o agora. Gostei muito de ter feito o passeio, pois

    enriqueceu mais meu conhecimento (Aluna G).

    A aluna G mostra em seu relato que, durante o passeio, os conhecimentos

    apresentados foram se incorporando aos seus interesses culturais, e que despertados pela

    curiosidade, constituam-se novos conhecimentos. Pode-se constatar atravs dos

    registros das expresses escritas dos estudantes, que, num passeio scio-cultural aliado

    a prtica pedaggica, criou a posssibilidade de ensino-aprendizagem por um caminho

    que benefeca, tambm a reflexo do professor quanto s suas prticas, porque o

    professor

    no trabalha apenas um objeto, ele trabalha com sujeitos e em funo de um

    projeto: transformar os alunos, educa -los e instru-los. Ensinar agir com

    outros seres humanos; saber agir com seres humanos que sabem que lhes

    ensino; saber que ensino a outros seres humanos que sabem que sou um

    professor, etc. Da decorre um jogo sutil de conhecimentos, de reconhecimentos e de papis recprocos, modificados por expectativas e

    perspectivas negociadas. Portanto o saber no uma substncia ou um

    contedo fechado em si mesmo; ele se manifesta atravs de relaes

    complexas entre o professor e seus alunos. Por conseguinte, preciso

    inscrever no prprio cerne do saber dos professores a relao com o outro, e,

    principalmente, com esse outro coletivo representado por uma turma de

    alunos (TARDIF, 2005, p.13).

  • relevante refletir, quanto s instituies atuais, por que a pedagogia de

    Comenius salienta, no captulo XII da sua obra, que as escolas podem ser reformadas e

    melhoradas, propondo 31 cnones entre eles, salientando que

    todos sejam educados para uma cultura no vistosa, mas verdadeira, no

    superficial, mas slida, de tal sorte que o homem, como animal racional, seja

    guiado por sua prpria razo e no pela de outrem e se habitue no s a ler e

    a entender nos livros as opinies alheias e a guard-las de cor e a recit-las,

    mas a penetrar por si mesmo na raiz das coisas e delas extrairem autntico

    conhecimento e utilidade. A mesma solidez necessria para a moral e a em

    processopiedade (COMENIUS, 2006, p.110).

    Percebe-se que o pensamento do pedagogo morvio, quanto ao empenho para

    melhorar a qualidade das escolas, continua sendo um processo que permeia as

    organizaes escolares atuais e que educar e educar-se so tarefas constantes e

    dinmicas na relao professor-aluno e de todos que fazem parte desse cenrio escolar.

    Visto que abrange as polticas scio-educacionais as quais atendem aos interesses

    econmicos do pas.

    Consideraes finais

    Importa ressaltar que a vivncia esttica e tica dos estudantes do ensino do

    fundamental II, no conhecimento do patrimnio artstico-histrico da cidade de Santos,

    buscou caracterizar a importncia da observao dos espaos atravs de desenhos e

    produes textuais com gneros literrios como: mini-narrativas, poemas e relatos,

    consolidando essas produes em conhecimentos.

    Pde-se constatar que o aprendizado no foi mecanizado, simplesmente

    memorizado, houve muitos questionamentos sobre os locais visitados, sobre a poca,

    sobre a arte barroca e, principalmente, sobre a importncia daquele universo novo que

    estavam desvelando e incorporando como transformao na sua formao como ser

    humano. E nessa perspectiva que o discurso de Comenius, destaca quo significativa

    a qualidade dos contedos que sero transmitidos pela educao. Os atributos dos

  • contedos so to relevantes quanto a quantidade e a extenso dos recursos mediante os

    quais se distribuiro os saberes (NARODOWSKI, 2004, p. 30).

    Por isso, saber ler o mundo das imagens, isto , o espao em que vivem, com

    sensibilidade, esttica e tica, aprender a pensar com Arte, ter a possibilidade de

    transformar o mundo de acordo com sua vontade, tendo a liberdade de escolhas.

    Comenius ao criar em 1650 o livro-texto pedaggico ilustrado Orbis Pictus

    demonstra sua preocupao com a importncia das imagens no processo de apreenso

    dos objetos facilitando a compreenso do mundo. A alfabetizao visual que se fez

    presente nesse projeto, como parte do processo da sensibilizao, para compreender-se

    o quanto s imagens, captadas pelo olhar, podem interferir na viso que se elabora sobre

    ns mesmos e sobre o mundo, tanto na viso do professor ou como na do aluno, reflete

    o quanto esse ensino-aprendizagem foi significativo para os participantes.

    Est, portanto, na formao do professor-crtico-reflexivo, a importncia da

    subjetividade ao fazer reflexes que norteiem suas prticas. O pensar-agir com tica no

    aceita a postura do professor que no tenha respeito, comprometimento e coerncia com

    sua profisso, e tambm com o aluno, o qual deve ser tratado com respeito e afeto.

    As inmeras dificuldades encontradas no percurso da profisso, a falta de

    polticas educacionais voltadas s realidades sociais, a falta de um olhar com dignidade

    ao educador, desencanta e esmorece esse profissional da educao, que, por vezes,

    diante das dificuldades presente na profisso, se deixa abater, tranformando-se num

    mero transmissor de conhecimento, Mas na coerncia de pensar com profundidade e

    na compreenso do ato de educar que se encontra a fora criadora para superar essas

    adversidades.

    Saber combinar seus conhecimentos pedaggicos, adapt-los e (re) elabor-los

    de acordo com as realidades so formas de construir saberes pedaggico mais

    relacionados com experincias, sendo esse o papel do educador como transformador na

    sociedade.

    A curiosidade que move e estimula o interesse em busca do conhecimento

    tambm o coloca em confronto com as diversas formas de experincias. Diante de

    situaes como essas, o professor reflexivo e crtico necessitam estar atento s

    mudanas que sua prtica exige, porm, considerar o rigor metodolgico e cientfico da

  • cincia, pode ajud-lo a criar e fundamentar teoria e prtica no saber-fazer docente, a

    partir do contexto scio-cultural do aluno e do professor, pois, o dialgo no pode

    existir sem esperana. A esperana est na raiz da inconcluso dos homens, a partir da

    qual eles se movem em permanente busca. Busca em comunho com os outros

    (FREIRE, 1979, p. 43).

    Na medida em que o professor amplia sua conscincia sobre suas prticas,

    percebe que a teoria fundamenta, legitima esse conhecimento, e proporciona uma

    atuao mais emancipatria e criativa da sua prtica pedaggica.

    Referncias Bibliogrficas

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    Mello e Silva. SP: Cortez & Moraes, 1979.

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