Download - Luciana Franco
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A PEDAGOGIA DE COMENIUS: uma experincia didtico-pedaggica
atravs da leitura visual no Centro Velho de Santos
MONTEIRO, Leide Patrcio, mestranda do Programa de Mestrado em Educao,
Universidade Catlica de Santos UNISANTOS, Santos, Brasil,
FRANCO, Luciana. Mestre e membro egresso do Programa de Mestrado em Educao,
Universidade Catlica de Santos UNISANTOS, Santos, Brasil,
RESUMO
A pedagogia comeniana tem como ponto central do ensino a experincia e, a partir
dessa premissa, ter a oportunidade de reconhecer e valorizar a cultura local,
experienciando-a e integrando-a a formao dos alunos da educao bsica,
constituindo isso uma forma de ensino-aprendizagem. Assim, a vivncia esttica e a
produo textual dos estudantes do Ensino Fundamental II no conhecimento do
patrimnio artstico/histrico da cidade de Santos o tema deste trabalho, que buscou
investigar a percepo dos estudantes em relao leitura do espao na perspectiva do
pedagogo morvio Comenius. Este trabalho parte da pesquisa em andamento
desenvolvida no Mestrado em Educao da Universidade Catlica de Santos e tem
como fundamentos tericos os conceitos de Comenius, Freire, Hernndez e Barbosa,
que discutiram a questo da cultura visual e a importncia da leitura do mundo na
formao do sujeito, a partir dos pressupostos de Freire e Manguel. O presente estudo,
de natureza qualitativa, foi desenvolvido por meio da observao do patrimnio
histrico e artstico do Centro Velho da cidade de Santos por alunos de Ensino
Fundamental II de uma das escolas municipais, os quais relataram suas percepes
sobre os locais visitados, utilizando-se de registros grficos, escritos e manuais. O
trabalho toma por base os relatos de experincia dos participantes, analisando os dados
por eles apresentados. Os resultados da anlise mostraram aspectos positivos em relao
ao desenvolvimento da alfabetizao visual dos alunos e em seu envolvimento com a
escrita e a produo de objetos artsticos, alm de outros aspectos referentes ao modo
como passaram a olhar a cultura local, na expresso de sentimento e de pertena do
patrimnio histrico e artstico da cidade.
Palavras-chave: leitura do espao, produo textual, pedagogia comeniana.
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Introduo
A educao sempre foi um tema muito discutido e controverso na evoluo da
humanidade, porque mobiliza mltiplos interesses scio-politico-economico-culturais.
A historicidade desse assunto oferece oportunidade para muitas reflexes, entre elas a
temporalidade e o legado que alguns personagens deixam para a contemporaniedade
educacional. Destaca-se como um desses personagens Jan Amos Komensky, conhecido
por Comenius, nasceu em 1592 na Morvia. Homem religioso protestante envolveu-se
em lutas polticas e religiosas do seu tempo. Destacou-se por ser um estudioso e
pesquisador incansvel na rea da Educao, sua preocupao no era s o acesso das
crianas e dos jovens s escolas, mas sim que recebessem os ensinamentos com
qualidades de contedos. Criou o primeiro livro-texto pedaggico ilustrado o Orbis
Pictus (O mundo em imagens), publicado em 1650, onde se pode perceber sua
preocupao com a importncia da representao visual e as experincias na vida do ser
humano (Narodowski, 2004).
Seus estudos sobre a Educao culminaram numa obra pedaggica
revolucionria: a Didtica Magna (1640). Essa obra abrangia ensinamentos sobre a
educao na infncia, na juventude, melhorar a funo da escola e que todos tivessem o
direito de freqent-la. A instituio era local para aprender a ler e cuidar da formao
do carter e tinha na natureza referncias de verdade, ordem e bons caminhos. A
formao humanstica, ponto forte da Didtica Magna, era pautada no aprendizado pela
experincia, na qual os pressupostos da alegria e a segurana trariam o aluno mais
prximo da realidade e seja que tal que se desenvolva sem severidade e sem pancadas,
sem nenhuma coarctao, com a mxima delicadeza e suavidade quase de modo
espontneo [...] os exerccios se convertem no esprito em sabedoria, virtude e piedade
(COMENIUS, 2006, p. 110).
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Para Comenius a compreenso das palavras tinha que fazer sentido para o aluno, isto
deve ser de regra saber expressar tudo o que compreendido, e, reciprocamente,
aprender a entender tudo o que dito. A ningum seja permitido falar do que no sabe
ou entender o que no possa expressar (COMENIUS, 2006, p.223). A experincia era
a forma pela qual valorizava o aprendizado e tinha como presssuposto que a apreenso
sobre o mundo passava pela cultura dos sentidos. O ensino das artes tambm ocupava
um lugar to valorizado quanto cincia na sua Didtica Magna.
A Arte tem a capacidade de mobilizar todos os sentidos do homem, isto , o
sensvel e o inteligvel do ser humano, posto que no tem importncia para o homem
somente como instrumento para desenvolver sua criatividade e sua percepo, mas tem
importncia em si mesma, como assunto, como objeto de estudo (BARBOSA, 1995,
p.113). Nesse aspecto, o desenvolvimento da capacidade esttica do estudante do
ensino fundamental e mdio pressupe um trabalho que integra contedos disciplinares,
possibilitando ao aluno a oportunidade de unir os contedos de educao artstica e
lngua portuguesa, vivenciando-os numa experincia esttica, conciliando, deste modo,
a aprendizagem significativa para sua formao.
A aprendizagem significativa, por sua vez, est em consonncia com uma
prtica pedaggica que leva em conta a importncia da alfabetizao visual, cujo
objetivo desenvolver diferentes leituras dos objetos, incluindo-se as leituras dos
espaos nos quais os estudantes esto inseridos. Para tanto, importante que eles
saibam o real valor do ato de ler, uma vez que, no ponto de vista de Freire (1989, p. 9)
a leitura do mundo precede a leitura da palavra, da que a posterior leitura desta no
possa prescindir da continuidade da leitura daquela. Esse mesmo autor salienta que a
compreenso do texto a ser alcanado por sua leitura crtica, que compreende a
percepo das relaes entre o texto e contexto, contribui para o exerccio da criticidade
e da autonomia, posto que seja por meio da expresso escrita e oral que o sujeito se
manifesta. Portanto Freire comunga com o pensamento de Comenius quanto ao valor da
leitura significativa, para a formao do aluno.
Deste modo, faz-se necessrio reconhecer e valorizar a cultura local, colocando-
a como o principal ponto de referncia. Sob esse aspecto, o projeto de leitura do espao,
desenvolvido junto Unidade Municipal de Ensino Pedro II, em parceria com a
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Fundao Arquivo e Memria de Santos, teve como foco o resgate e a manuteno da
memria da cidade, com objetivo de conscientizar os alunos do curso fundamental II,
nono ano, sobre o valor do patrimnio histrico e artstico do perodo Barroco,
considerando que Santos possui inmeros monumentos e obras artsticas que retratam
esse perodo da arte. Ao iniciar o estudante no conhecimento e na cultura de
preservao do patrimnio artstico e histrico do Municpio, busca-se ampliar a sua
capacidade de olhar as obras artsticas, compreendendo-as dentro de um contexto
espacial, histrico e poltico, de modo a desenvolver habilidades para a interpretao
das imagens a partir da expresso artstica e textual.
Em termos gerais, os estudantes do ensino fundamental II no tm noo do
valor artstico e histrico de obras de arte, bem como do valor dessas obras como
documento de registro da poca, no qual esto grafados os momentos econmicos,
polticos e culturais do perodo. Por outro lado, quando preparado com fundamentao
terica, e tem a oportunidade de estar em contato direto com essas produes, o
estudante pode diminuir as dificuldades de entendimento em relao s obras artsticas.
Alm disso, ao realizar uma atividade vinculada ao conhecimento artstico de modo que
possibilite compreender as produes culturais em seu contexto, h mltiplos ganhos
em relao ao desenvolvimento esttico. Hernndez (2000) ao estudar essas questes
afirma que:
[...] algo que, por bvio, muitos esquecem: que no s potencia uma
habilidade manual, desenvolve um dos sentidos (a audio, a viso, o tato) ou
expande sua mente, mas, tambm, e, sobretudo, delineia e fortalece sua
identidade em relao s capacidades de discernir, valorizar, interpretar,
comprender, imaginar, etc., o que lhe cerca e tambm a si mesmo
(HERNNDEZ, 2000, p. 42).
Dessa forma, o ensino/aprendizagem flui, acontece de forma espontnea e
ldica, transformando a experincia esttica em conhecimento enriquecedor, o que d
ao estudante condies de ser mais crtico, questionador e apreciador do belo. Outro
aspecto desse aprendizado diz respeito educao patrimonial e ao respeito em relao
ao meio ambiente. O sistema bio-ecolgico no foi o nico espao a sofrer eroso e
depredaes; os patrimnios histrico-artsticos e naturais tambm sofreram
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dasagregao de valores, considerando a era industrial, com a produo em srie e o
lucro financeiro colocados acima de qualquer outro interesse social, somados aos
avanos desenfreados da era tecnolgica, em meados do sculo XX e comeo do sculo
XXI, embricados falta de polticas educacionais e de interesses poltico-econmicos
que se omitiram diante desse processo destrutivo.
Fundamentao terica
Um olhar cuidadoso sobre a Didtica Magna de Comenius faz pensar que, aps
longos anos de pesquisas e estudos, seus conhecimentos sobre a educao ainda esto
muito presentes na Pedagogia, como a graduao, a simultaneidade e a universalidade
(NARODOWSKI, 2004), portanto, na abordagem comeniana como fundamentao
terica, destaca-se o valor da leitura e a compreenso da mesma, o mtodo do ensino
das lnguas e o mtodo para o ensino das artes.
Geralmente associado apenas ao aspecto escrito, o ato de ler implica na
percepo das relaes entre o texto e o contexto, visto que quando se resume mera
decodificao do cdigo lingstico, o educando l o que est escrito, porm tm certa
dificuldades ao fazer inferncias ou de associar as informaes a outras que faam parte
de sua realidade. Assim, tomando por base o pensamento de Freire (2005), a palavra
escrita no flui para a palavra-mundo e, deste modo, sua compreenso fica limitada, de
maneira que a formao do leitor se torne fragmentada, parcial e incompleta. Conforme
nos lembra Manguel (1997, p. 53), ao seguir o texto, o leitor pronuncia seu sentido por
meio de um mtodo profundamente emaranhado de significaes aprendidas,
convenes sociais, leituras anteriores, experincias individuais e gosto pessoal.
Assim, retomendo Freire (2005), mister acentuar que a leitura de um texto, tomado como
pura descrio de um objeto e feita no sentido de memoriz-la, nem real leitura nem dela,
portanto, resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. (FREIRE, 2005, p. 4)
Neste mesmo sentido, necessrio que se destaque que o texto e a tessitura textual no
so elementos empricos da disciplina d elngua portuguesa ou estritamente ligados aos texto
escrito: ao contrrio, o mundo o campo de significaes e os textos vo desdes os signos
verbais aos visuais, conforme se percebe no ensino da arte. A arte, assim como a leitura, est
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presente em toda trajetria das atividades humanas e sua influncia na Educao se d
ao longo de toda vida. Partindo desse pressuposto, as prticas do professor de Arte, ao
focar a alfabetizao visual, podem transformar a realidade do ensino-aprendizagem dos
professores em formao, a fim de que possam oferecer melhor qualidade de ensino aos
seus estudantes. Parte-se do princpio que a reflexo um dos conceitos mais utilizados
para pensar as aes realizadas. Dentro dessa linha, considera-se importante que o
exerccio do pensar naquilo que se faz se transforme em reflexo metdica, a fim de que
se possa aprender com as experincias e mudar as prticas. O estudo das prticas
pedaggicas decorre da necessidade de rever novos referenciais, pois,
o saber dos professores no um conjunto de contedos cognitivos definidos
de uma vez por todas, mas um processo em construo ao longo de uma
carreira profissional na qual o professor aprende progressivamente a dominar
seu ambiente de trabalho. Ao mesmo tempo em que se insere e o interioriza
por meio de ao que se torna parte de sua conscincia prtica (TARDIF,
2005, p.15).
Sendo uma das disciplinas do currculo escolar do ensino fundamental II, a
Arte-Educao no usvel em si mesma e seu lugar considerado perifrico no
currculo (BARBOSA, 1995, p. 38). Em contraste, as demais disciplinas, por seu
turno, tm valor reconhecido no currculo porque atendem aos interesses da escola e da
sociedade. J aquelas voltadas educao artstica precisam justificar e convencer o
porqu de sua incluso no currculo escolar. Hernndez (2000, p. 43) em estudo sobre
a importncia da arte na formao, mostra que, junto com a histria, so as
experincias e conhecimentos afins ao campo das artes os que mais contribuem para
configurar as representaes simblicas portadoras dos valores que os detentores do
poder utilizam para fixar sua viso de realidade.
Dessa forma, verifica-se que a Arte ainda um campo de conhecimento pouco
valorizado no conjunto do currculo enquanto as outras disciplinas correspondem com
mais compreenso s expectativas colocadas pelas polticas e pelas escolas.
Mtodo de pesquisa utilizado
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A fim de atender aos objetivos da pesquisa, este estudo buscou investigar a
percepo dos participantes sobre a leitura visual do Centro Velho de Santos e, para tal
fim, teve como primeira ao a observao monitorada, proporcionando uma experncia
educativa em espaos no escolares, uma vez que, na perspectiva de Freire (2004), o
espao pedaggico um texto para ser constantemente lido, interpretado, escrito e
reescrito. O pensamnto de Freire insere-se no discurso Comeniano, o pedagogo diz
como o professor dever
se organizar para que com uma nica atividade sejam feitos dois ou trs
trabalhos: a formao da juventude deve ser organizada de modo semelhante,
para que cada atividade possa produzir mais resultados. Para tal fim, como
regra geral, as coisas correlatas devero ser ensinadas juntas, sempre e em
toda parte. Por exemplo, ligar as palavras s coisas, a leitura escrita, o
exerccio do engenho ao do estilo, o aprendizado ao ensino, as coisas srias
s agradveis, e assim por diante (COMENIUS, 2006, p. 223).
Trabalhar o ensino da arte e da lgua portuguesa foi uma ao educativa na qual
a preocupao com a qualidade do aprendizado estava presente no decorrer dessa
experincia educacional artstica e esttica.
A viso dos estudantes
A anlise da produo textual dos sujeitos envolvidos (trinta e trs, no total),
possibilitou a caracterizao dos principais referenciais, a saber, apreciar, apreender e
conhecer aes relatadas nos textos produzidos e que constituram valores
epistemolgicos na formao educacional do estudante. A anlise dessas categorias
possibilitou visualizar um universo esttico que se amplia por meio do desenvolvimento
da percepo e da sensibilidade, que, por sua vez, so fundamentais para que haja o
aprendizado e o conhecimento.
Os alunos tambm manifestaram sentimentos de alegria, emoo, tristeza,
felicidade, auto-estima, quando aproximados da cultura visual. Essa emoo expressou-
se na imagem do escuro e do cho duro e frio do local histrico visitado, onde
permaneciam os escravos. Rompeu-se a passividade do pensamento, e, atravs da
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dialtica entre o mundo interno e externo, a emoo aflorou no registro da expresso
escrita. Dessa forma, compreende-se melhor esse processo da comunicao, porque o
pensamento tem que passar primeiro pelos significados e depois pelas palavras
(VIGOTSKI, 1999, p. 186).
O reconhecimento de valor do espao-histrico e dos objetos artsticos, assim
como a reconstruo do conceito de tempo, na construo da cultura do cotidiano dos
estudantes, alm do sentimento de pertena do patrimnio histrico e artstico da cidade
em que vivem, refora o conceito de que a aprendizagem deve ser concebida como uma
produo ativa (HERNNDEZ, 2000).
Na segunda etapa do trabalho, props-se a questo aos alunos: qual o sentimento
que voc experimentou ao vivenciar o projeto? Ao que foi respondido:
Meu sentimento foi timo por que eu nunca fiz um passeio
igual a esse pelo centro Histrico de Santos. Foi muito bom
saber como era antigamente a cidade de Santos. Adorei, valeu a
pena! (Aluna A).
Eu me senti muito bem. Foi como se eu tivesse naquele tempo antigo imaginando como seria tudo aquilo. Eu achei uma
maravilha por que fiquei sabendo de coisas que nem imaginava
que aconteceram (Aluno B).
Senti tristeza quando conheci o Pantheon dos Andradas, e quando vi o lugar onde os escravos dormiam, no cho duro, frio
e no escuro (Aluno C).
As mini-narrativas dos alunos expressam o desejo de conhecer o passado, mas
tambm denotam percepes relacionadas opresso do poder econmico-poltico do
colonizador branco sobre os negros, e deixam fluir o sentimento de compaixo pelos
escravos. A relao da percepo com o espao, o sentimento de satisfao por adquirir
um novo saber e a importncia de estar num local histrico-artstico de sua cidade foram
relatados pelos alunos que, no momento da produo artstica e textual, demonstraram
interesse, imaginao e criatividade.
Os comentrios dos alunos tambm demonstram, mesmo que de forma no
intencional, uma leitura afetiva do espao:
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Eu me senti surpreso, no sabia que esses lugares eram to importantes. Confesso que pensei que fosse chato, mas fui
descobrindo como apreciar aquilo, que faz parte da nossa
cidade. O que era para ser um passeio, a fim de descobrir a arte
que habita a nossa cidade, virou um passeio histrico e
divertido, e o que posso dizer que faria esse passeio outra vez (Aluno F).
Eu senti que estava adquirindo mais conhecimento, no tinha noo que todas aquelas casas, monumentos, igrejas antigas,
tinham tanta cultura para nos oferecer. Mas depois do passeio
adquiri mais conhecimento do que aqueles patrimnios
histricos, no so apenas coisas antigas, sem importncia, mas,
sim, aprendemos mais sobre o nosso passado, a importncia
daqueles patrimnios, e que para vivermos o nosso presente e
futuro com mais cultura, precisamos estudar o passado para
vivermos o agora. Gostei muito de ter feito o passeio, pois
enriqueceu mais meu conhecimento (Aluna G).
A aluna G mostra em seu relato que, durante o passeio, os conhecimentos
apresentados foram se incorporando aos seus interesses culturais, e que despertados pela
curiosidade, constituam-se novos conhecimentos. Pode-se constatar atravs dos
registros das expresses escritas dos estudantes, que, num passeio scio-cultural aliado
a prtica pedaggica, criou a posssibilidade de ensino-aprendizagem por um caminho
que benefeca, tambm a reflexo do professor quanto s suas prticas, porque o
professor
no trabalha apenas um objeto, ele trabalha com sujeitos e em funo de um
projeto: transformar os alunos, educa -los e instru-los. Ensinar agir com
outros seres humanos; saber agir com seres humanos que sabem que lhes
ensino; saber que ensino a outros seres humanos que sabem que sou um
professor, etc. Da decorre um jogo sutil de conhecimentos, de reconhecimentos e de papis recprocos, modificados por expectativas e
perspectivas negociadas. Portanto o saber no uma substncia ou um
contedo fechado em si mesmo; ele se manifesta atravs de relaes
complexas entre o professor e seus alunos. Por conseguinte, preciso
inscrever no prprio cerne do saber dos professores a relao com o outro, e,
principalmente, com esse outro coletivo representado por uma turma de
alunos (TARDIF, 2005, p.13).
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relevante refletir, quanto s instituies atuais, por que a pedagogia de
Comenius salienta, no captulo XII da sua obra, que as escolas podem ser reformadas e
melhoradas, propondo 31 cnones entre eles, salientando que
todos sejam educados para uma cultura no vistosa, mas verdadeira, no
superficial, mas slida, de tal sorte que o homem, como animal racional, seja
guiado por sua prpria razo e no pela de outrem e se habitue no s a ler e
a entender nos livros as opinies alheias e a guard-las de cor e a recit-las,
mas a penetrar por si mesmo na raiz das coisas e delas extrairem autntico
conhecimento e utilidade. A mesma solidez necessria para a moral e a em
processopiedade (COMENIUS, 2006, p.110).
Percebe-se que o pensamento do pedagogo morvio, quanto ao empenho para
melhorar a qualidade das escolas, continua sendo um processo que permeia as
organizaes escolares atuais e que educar e educar-se so tarefas constantes e
dinmicas na relao professor-aluno e de todos que fazem parte desse cenrio escolar.
Visto que abrange as polticas scio-educacionais as quais atendem aos interesses
econmicos do pas.
Consideraes finais
Importa ressaltar que a vivncia esttica e tica dos estudantes do ensino do
fundamental II, no conhecimento do patrimnio artstico-histrico da cidade de Santos,
buscou caracterizar a importncia da observao dos espaos atravs de desenhos e
produes textuais com gneros literrios como: mini-narrativas, poemas e relatos,
consolidando essas produes em conhecimentos.
Pde-se constatar que o aprendizado no foi mecanizado, simplesmente
memorizado, houve muitos questionamentos sobre os locais visitados, sobre a poca,
sobre a arte barroca e, principalmente, sobre a importncia daquele universo novo que
estavam desvelando e incorporando como transformao na sua formao como ser
humano. E nessa perspectiva que o discurso de Comenius, destaca quo significativa
a qualidade dos contedos que sero transmitidos pela educao. Os atributos dos
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contedos so to relevantes quanto a quantidade e a extenso dos recursos mediante os
quais se distribuiro os saberes (NARODOWSKI, 2004, p. 30).
Por isso, saber ler o mundo das imagens, isto , o espao em que vivem, com
sensibilidade, esttica e tica, aprender a pensar com Arte, ter a possibilidade de
transformar o mundo de acordo com sua vontade, tendo a liberdade de escolhas.
Comenius ao criar em 1650 o livro-texto pedaggico ilustrado Orbis Pictus
demonstra sua preocupao com a importncia das imagens no processo de apreenso
dos objetos facilitando a compreenso do mundo. A alfabetizao visual que se fez
presente nesse projeto, como parte do processo da sensibilizao, para compreender-se
o quanto s imagens, captadas pelo olhar, podem interferir na viso que se elabora sobre
ns mesmos e sobre o mundo, tanto na viso do professor ou como na do aluno, reflete
o quanto esse ensino-aprendizagem foi significativo para os participantes.
Est, portanto, na formao do professor-crtico-reflexivo, a importncia da
subjetividade ao fazer reflexes que norteiem suas prticas. O pensar-agir com tica no
aceita a postura do professor que no tenha respeito, comprometimento e coerncia com
sua profisso, e tambm com o aluno, o qual deve ser tratado com respeito e afeto.
As inmeras dificuldades encontradas no percurso da profisso, a falta de
polticas educacionais voltadas s realidades sociais, a falta de um olhar com dignidade
ao educador, desencanta e esmorece esse profissional da educao, que, por vezes,
diante das dificuldades presente na profisso, se deixa abater, tranformando-se num
mero transmissor de conhecimento, Mas na coerncia de pensar com profundidade e
na compreenso do ato de educar que se encontra a fora criadora para superar essas
adversidades.
Saber combinar seus conhecimentos pedaggicos, adapt-los e (re) elabor-los
de acordo com as realidades so formas de construir saberes pedaggico mais
relacionados com experincias, sendo esse o papel do educador como transformador na
sociedade.
A curiosidade que move e estimula o interesse em busca do conhecimento
tambm o coloca em confronto com as diversas formas de experincias. Diante de
situaes como essas, o professor reflexivo e crtico necessitam estar atento s
mudanas que sua prtica exige, porm, considerar o rigor metodolgico e cientfico da
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cincia, pode ajud-lo a criar e fundamentar teoria e prtica no saber-fazer docente, a
partir do contexto scio-cultural do aluno e do professor, pois, o dialgo no pode
existir sem esperana. A esperana est na raiz da inconcluso dos homens, a partir da
qual eles se movem em permanente busca. Busca em comunho com os outros
(FREIRE, 1979, p. 43).
Na medida em que o professor amplia sua conscincia sobre suas prticas,
percebe que a teoria fundamenta, legitima esse conhecimento, e proporciona uma
atuao mais emancipatria e criativa da sua prtica pedaggica.
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