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LOGÍSTICA REVERSA: UMA PERCEPÇÃO AMBIENTAL COM CONSUMIDORES DE CALÇADOS Leandro Adriano Wallauer (Feevale ) [email protected] Danielle Paula Martins (Feevale ) [email protected] dusan schreiber (Feevale ) [email protected] A sustentabilidade ambiental é um desafio para as organizações e pode ser interpretada como uma oportunidade para a concepção de diferencial competitivo, caso da logística reversa. Este estudo tem por objetivo geral avaliar se a logística rreversa pode contribuir para o desenvolvimento sustentável e constituição de diferencial competitivo, para uma empresa do setor calçadista. Com este objetivo foi realizada uma survey, com consumidores de calçados desta empresa, visando identificar a percepção ambiental dos mesmos, em relação ao calçado, na etapa pós-consumo. A pesquisa pode ser considerada descritiva e exploratória, com abordagem quantitativa. Apesar das evidências que apontam para o desconhecimento do processo de logística reversa pelos consumidores de calçados, foi possível constatar que maioria dos respondentes está sensível à questão de sustentabilidade empresarial e necessidade de preservação ambiental, com interesse em contribuir, desde que as organizações criem a estrutura necessária para a operacionalização de logística reversa. Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável, Setor calçadista, Logística reversa. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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LOGÍSTICA REVERSA: UMA

PERCEPÇÃO AMBIENTAL COM

CONSUMIDORES DE CALÇADOS

Leandro Adriano Wallauer (Feevale )

[email protected]

Danielle Paula Martins (Feevale )

[email protected]

dusan schreiber (Feevale )

[email protected]

A sustentabilidade ambiental é um desafio para as organizações e pode

ser interpretada como uma oportunidade para a concepção de

diferencial competitivo, caso da logística reversa. Este estudo tem por

objetivo geral avaliar se a logística rreversa pode contribuir para o

desenvolvimento sustentável e constituição de diferencial competitivo,

para uma empresa do setor calçadista. Com este objetivo foi realizada

uma survey, com consumidores de calçados desta empresa, visando

identificar a percepção ambiental dos mesmos, em relação ao calçado,

na etapa pós-consumo. A pesquisa pode ser considerada descritiva e

exploratória, com abordagem quantitativa. Apesar das evidências que

apontam para o desconhecimento do processo de logística reversa

pelos consumidores de calçados, foi possível constatar que maioria dos

respondentes está sensível à questão de sustentabilidade empresarial e

necessidade de preservação ambiental, com interesse em contribuir,

desde que as organizações criem a estrutura necessária para a

operacionalização de logística reversa.

Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável, Setor calçadista,

Logística reversa.

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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1. Introdução

O meio ambiente é um tema que está em evidência e transformou-se em um ponto importante

para as empresas, independente do ramo de atuação. A ideia de um “consumo ecológico”

direciona a introdução de questões ambientais nas estratégias e na cultura das organizações, a

fim estabelecer um modo de produzir que controle e minimize os danos ao meio ambiente, de

forma que, adotar estes procedimentos pode se caracterizar como um diferencial competitivo,

podendo também, fortalecer a imagem da empresa perante a comunidade geral.

Dentro deste contexto, a logística reversa representa um procedimento que pode ser adotado

pelas empresas, e, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), constitui-

se de um "instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto

de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos

sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos

produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.” (BRASIL, 2010).

Esta atividade se inicia no momento em que a logística tradicional se encerra, e deve ser

incorporada pelas empresas, pois o ciclo de vida de um produto não se encerra com a entrega

deste ao cliente. Conforme a PNRS (BRASIL, 2010), no Brasil existem legislação e

instruções normativas orientando a operacionalização do processo de logística reversa de

alguns produtos, sem contemplar a produção de calçados, que de uma forma geral apresenta

apenas práticas sustentáveis.

Neste contexto surgiu a necessidade de responder ao seguinte problema: A logística reversa

pode ser um diferencial estratégico nas organizações calçadistas? Este estudo teve por

objetivo geral avaliar se a logística reversa pode contribuir para o desenvolvimento

sustentável do setor calçadista no âmbito de gestão ambiental. Para atendimento deste

objetivo foram estabelecidos como objetivos específicos: descrever as características e a

sustentabilidade do mercado calçadista; verificar a existência de práticas de logística reversa

“pós-consumo” por empresas deste segmento e identificar a percepção ambiental dos

consumidores com relação ao calçado após o seu consumo.

Para atingir o objetivo foi desenvolvida uma pesquisa quantitativa a partir de um questionário

estruturado, cuja coleta resultou em 326 respondentes. Compreende a estrutura deste estudo:

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referencial teórico, metodologia, resultados e análises, considerações finais e referências

consultadas.

2. Referencial teórico

O referencial teórico contém tópicos sobre: logística reversa, setor calçadista e suas ações

sustentáveis.

2.1. Logística reversa

A logística tradicional desempenha relevante papel dentro das organizações, de forma a

controlar os fluxos de materiais e todas as fases do fluxo logístico da cadeia de suprimentos.

Conforme Leite (2009) a logística empresarial possui quatro áreas, que são: logística de

suprimentos (fornecedor e empresa); logística de apoio à manufatura (produção); logística de

distribuição (empresa e consumidor) e logística reversa (retorno de bens pós-consumo e pós-

venda).

A logística de suprimentos, de apoio à manufatura e a distribuição estão contidas nos Canais

de Distribuição Diretos (CDD) e se referem ao fluxo dos produtos na cadeia de distribuição,

desde a matéria-prima até o mercado consumidor. Já a logística reversa está contida nos

Canais de Distribuição Reversos (CDR) e conforme Leite (2009, p.17) apresenta a seguinte

definição:

Área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações

logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao

ciclo de negócios ou ao ciclo de produtivo, por meio dos canais de distribuição

reversos, agregando-lhes valores de diversas naturezas: econômico, de prestação de

serviços, ecológico legal, logístico, de imagem corporativa, dentre outros.

Guarnieri (2011) cita que o processo de logística reversa possui três pontos de vista principais,

que são: ponto de vista logístico (o ciclo de vida de um produto não se encerra com a sua

entrega ao cliente, pois estes podem ser adequadamente descartados, reparados ou

reaproveitados); ponto de vista financeiro (todos os custos relacionados ao gerenciamento do

fluxo reverso) e ponto de vista ambiental (devem ser considerados e avaliados os impactos do

produto sobre o meio ambiente). Segundo a autora a logística reversa pode ser ainda dividida

em duas áreas de atuação: logística reversa de pós-venda e logística reversa de pós-consumo.

A figura 1 mostra de forma prática o funcionamento dos canais de distribuição direto e

reverso. A logística reversa de pós-venda está contida nos canais de distribuição reversa de

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pós-venda (CDR-PV), e o seu fluxo de retorno se estabelecerá pelos diversos elos da cadeia

de distribuição direta. Conforme Leite (2009), o objetivo desta é novamente agregar valor a

um produto devolvido.

Já a logística reversa de pós-consumo se encontra nos canais de distribuição reversa de pós-

consumo (CDR-PC) e o seu fluxo de retorno se estabelecerá por meio de canais de

distribuição específicos. Leite (2009) descreve que este tipo de logística procura retornar ao

ciclo de negócio ou ao ciclo produtivo produtos já utilizados e descartados pela sociedade.

Figura 1 - Canais de distribuição diretos e reversos

Fonte: Pereira et al., 2012

Segundo Pereira et. al (2012) a logística reversa é um processo com foco empresarial, de

cultura de redução de custos e com busca pelo lucro, e não um processo que foi desenvolvido

visando o alcance da sustentabilidade. Nem todo processo de logística reversa é sustentável,

embora alguns processos contenham ações de sustentabilidade. Processos deste tipo são

denominados de “logística verde”.

Guarnieri (2011) diferencia logística verde de logística reversa. Enquanto que a logística

reversa trata dos resíduos após terem sido gerados, a logística verde tem como foco atender

aos princípios de sustentabilidade ambiental. “A logística verde, portanto surge para oferecer

uma alternativa de interação entre as dimensões sociais, econômicas e, principalmente,

ambientais na logística reversa” (PEREIRA et al., 2012, p.153). Dessa forma, pode-se dizer

que a logística reversa é uma parte da logística verde, que pode ser trabalhado

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estrategicamente para aumentar a lucratividade de todo tipo de empresa, inclusive a indústria

calçadista, alvo deste estudo de caso.

2.2. O setor calçadista e suas ações sustentáveis

O setor calçadista é um segmento industrial de tecnologia simples e uso intensivo de atividade

manual. A indústria calçadista tem um importante papel econômico e social para o Brasil,

destacando-se entre as indústrias de transformação. De acordo com o site Brazilian Footwear

(2014), o Brasil é o terceiro maior produtor de calçados do mundo, com 819 milhões de pares

produzidos em 2011 e o décimo maior exportador, com 113 milhões de pares de calçados

exportados para mais de 145 países. Além disso, é o quarto maior consumidor de calçados do

mundo com 740 milhões de pares consumidos no período analisado.

Com relação à distribuição geográfica, Motta (2004) explica que este segmento no Brasil é

constituído de clusters, onde o Estado do Rio Grande do Sul é um dos principais produtores,

destacando-se as cidades localizadas no Vale do Rio dos Sinos, Vale do Paranhana, Vale do

Taquari e Serra Gaúcha. Em São Paulo destacam-se as cidades de Franca, Jaú e Birigui. Já

Santa Catarina apresenta um polo calçadista na cidade de São João Batista, e Minas Gerais

possui a cidade de Nova Serrana.

Um fato importante a ser mencionado na história da indústria calçadista é a realocação do

polo fabril no nordeste brasileiro na década de 90, que de acordo com Correa 2001 apud

Zingano 2012, foi motivado pelos incentivos oferecidos pelos governos estaduais, pela busca

de mão-de-obra mais barata e pela proximidade da região com os principais mercados

importadores (EUA e Europa). Com isso, empresas do Sul do país se sentiram atraídos e

instalaram suas unidades produtivas principalmente nos Estados do Ceará, Bahia e Paraíba.

A razão de existir de uma empresa é o lucro, porém estas devem almejar a lucratividade de

seus negócios apresentando soluções que visem alcançar um desenvolvimento sustentável.

Barbieri (2011, p. 105) explica que “uma empresa sustentável é aquela que cria valor de longo

prazo aos acionistas ou proprietários e contribui para a solução dos problemas ambientais e

sociais”. Dougherty (2011) comenta que a mudança para uma sustentabilidade empresarial

existirá e cabe à organização decidir se irá usá-la como oportunidade de crescimento ou se

deixará que ela a coloque em desvantagem competitiva.

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Com relação à sustentabilidade do segmento calçadista brasileiro, verifica-se a prática de

ações sustentáveis que visam atender a legislação vigente e/ou reduzir os custos de produção.

Vale ressaltar que há alguns trabalhos realizados em conjunto, mostrando a iniciativa do

segmento e dentre eles, destacam dois, intitulado “Amanhã mais feliz” (AMANHÃ MAIS

FELIZ, 2014) e “Caminho sustentável” (CAMINHO SUSTENTÁVEL, 2014). Ambos são

programas socioambientais que envolvem toda a cadeia produtiva e a comunidade do Vale do

Paranhana, e sua finalidade consiste na redução da geração de resíduos e no destino correto

dos resíduos inutilizáveis. Além destes, pode-se citar o “Origem Sustentável” (ORIGEM

SUSTENTÁVEL, 2014), programa que visa certificar através de um selo (Bronze, Prata,

Ouro e Diamante) as indústrias brasileiras de calçados e componentes que já apresentam

iniciativas de sustentabilidade em seus processos.

No que diz respeito à logística reversa de produtos pós-consumo, percebe-se a existência de

dois programas voltados à área calçadista. O programa “Reuse-A-Shoe” (NIKE, 2014)

realizado pela empresa Nike transforma sapatos usados em um material utilizado para criar e

recondicionar quadras atléticas, playgrounds infantis e em alguns produtos da marca. Já a

empresa Adidas possui o programa “Pegada sustentável” (REVISTA EXAME, 2014), que

visa utilizar como combustível para alimentar fornos de cimento sapatos sem condições de

uso, que são descartados por clientes nas lojas da marca.

Com base no referencial teórico descrito até o presente momento, o capítulo seguinte tem por

finalidade apresentar a metodologia empregada na pesquisa survey.

3. Metodologia

Este artigo, de natureza aplicada, aborda o problema de forma quantitativa. Conforme

Prodanov e Freitas (2013, p. 80), a pesquisa quantitativa “considera que tudo pode ser

quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e

analisá-las”.

Quanto aos objetivos, a presente pesquisa é considerada descritiva e exploratória. Segundo

Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa descritiva ocorre quando o pesquisador descreve os

fatos observados sem interferir neles, utilizando técnicas específicas de coleta de dados, em

um formato de levantamento. Já Gil (2008, p.27) explica que a pesquisa exploratória “têm

como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em

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vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos

posteriores”.

Para elaboração deste artigo foram utilizados procedimentos técnicos de pesquisa

bibliográfica e questionário estruturado. Conforme Gil (2008) a pesquisa bibliográfica

expõem ao pesquisador materiais que possuem relação direta ao assunto pesquisado, enquanto

que uma pesquisa realizada através de um questionário estruturado, segundo Gil (2008)

envolve a interrogação de um grupo significativo de pessoas acerca de um problema, cujo

comportamento se deseja conhecer.

O questionário desenvolvido pelo pesquisador e pela professora orientadora foi constituído de

quatorze (14) questões, abordando temas relativos ao entrevistado quanto à sua: localidade,

faixa etária, sexo, grau de escolaridade, renda familiar, pratica de coleta seletiva, consumo de

sapatos, itens analisados na hora da compra de um calçado e destino que é dado ao sapato

após seu uso. Também foram abordadas questões pertinentes à logística reversa. A

formulação do questionário deu-se principalmente a partir de questões fechadas de múltipla

escolha e por duas questões com alternativas de respostas segundo a Escala de Likert. No

capítulo seguinte serão apresentados os resultados e as análises obtidas com as entrevistas.

4. Resultados e análises

A amostra foi constituída de consumidores de calçados da marca localizados nas cidades de:

Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Florianópolis (SC) região metropolitana de Porto

Alegre e a cidade de Nova Petrópolis (RS). O questionário aplicado obteve um total de 326

preenchimentos e para um melhor entendimento deste capítulo houve uma subdivisão em:

caracterização da amostra e percepção do público analisado.

4.1. Caracterização da amostra

O questionário foi aplicado pelos representantes dos quatro estados onde a empresa possui

uma maior atuação, bem como o pesquisador (na cidade de Nova Petrópolis/RS) no período

de 15/08/14 à 31/08/14. Não se estabeleceu uma quantidade mínima por local de entrevista, e

sim, a disponibilidade de tempo para aplicação por parte do representante. No Rio Grande do

Sul houve 127 entrevistados (39,0%) e esta maior quantidade se deve ao fato de que o

representante deste estado e o próprio pesquisador aplicaram a pesquisa. O segundo estado

com maior nível de respondentes foi Minas Gerais (24,5%), seguido de Santa Catarina

(19,9%) e São Paulo (16,6%).

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Acredita-se que o menor poder aquisitivo e a dependência familiar motivaram para o baixo

número de entrevistados com idade até 18 anos (2,5%). A faixa etária de maior

representatividade foi a de 26 a 32 anos, com 105 entrevistados (32,2%). Na sequência vieram

entre 33 e 40 anos (26,4%), entre 19 e 25 anos (22,1%) e 41 anos ou mais (16,9%).

As entrevistas foram realizadas em lojas multimarcas (lojas de sapatos que vendem várias

marcas) com pessoas que se encontravam no estabelecimento e que aceitaram realizar a

pesquisa. Do total de 326 pesquisas, 212 eram do gênero feminino, representado 65,0% da

amostra coletada e evidenciando que o sapato é um acessório de moda que a mulher adora

comprar, indispensável no guarda-roupa feminino.

O 2º Grau completo foi o grau de instrução ou escolaridade mais respondido com 86

entrevistados (26,4%). Porém, é interessante mencionar que os grupos com ensino superior

em andamento ou já concluído somam 54% da amostra coletada, o que demonstra um

aumento do grau de escolaridade da população brasileira nos locais pesquisados.

A renda familiar no questionário correspondeu à soma dos rendimentos de todos os membros

da família do entrevistado e a renda predominante foi de até 4 salários mínimos, constatada

em 80 das 326 amostras coletadas (24%), porém pode-se perceber que 50,4% dos

entrevistados possuem renda de até 4 salários mínimos, representando renda de até

R$2.896,00, baseado em um salário mínimo de R$ 724,00.

4.2. Percepção do público analisado

A sexta questão procurou identificar o local onde os respondentes praticam a coleta seletiva

de resíduos. De múltica escolha, apresentou as opções “em casa” (76,1%) e “no trabalho”

(65,0%) como as mais votadas, porém 12,0% dos entrevistados não praticam a coleta seletiva

em nenhum local. A coleta seletiva de resíduos consiste de um assunto atual, e em conexão

com o assunto de logística reversa. Conforme Guarnieri (2011), o ciclo de vida de um produto

não se encerra com a sua entrega ao cliente, pois estes podem ser adequadamente descartados,

reparados ou reaproveitados.

A sétima questão abordou o consumo de sapatos por parte dos entrevistados no período de um

(01) ano. Conforme a amostra, 162 respondentes (49,7%) compra entre 1 a 3 pares neste

período. Na seqüência veio de 4 a 6 pares (31,9%), de 7 a 10 pares (10,7%). Entretanto,

chama a atenção os 7,7% de entrevistados que adquirem mais do que 10 pares de sapato, o

que para a pesquisa representou 25 pessoas.

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Já a tabela 1, referente à questão 8 mostrou à importância dada a determinados itens no

momento em que um consumidor está procurando comprar um calçado. Como se pode

visualizar, os itens “conforto”, “aparência visual”, “qualidade/durabilidade” e “preço” são

respectivamente os itens considerados mais importantes no momento da compra (82,5%,

74,5%, 65,6% e 51,2%). A sua totalidade quase é atingida se forem considerados os que

avaliam estes tópicos também como item importante.

Na sequência vem “tecnologia” (23,3%) e “marca” (19,3%). Os itens de menor importância

de avaliação no momento da compra de um calçado são "Impactos ao meio ambiente" e

"informações sobre responsabilidade ambiental na embalagem do produto". Apesar de serem

pouco representativos, estes tópicos não devem ser desprezados, pois conforme Barbieri

(2011) visa criar valor a um longo prazo.

Tabela 1 - Classificação dos itens analisados no momento de compra de um calçado

Fonte: Elaborado pelo autor, 2014

A nona questão procurou identificar o que os respondentes fazem com o sapato que não lhe é

mais útil. De múltipla escolha, a doação foi à atividade realizada por 278 dos entrevistados,

fazendo com que pessoas reutilizem e prolonguem a vida útil deste produto. Em contrapartida,

o descarte em lixo comum é um procedimento que não dá um destino correto aos resíduos e é

uma ação realizada por 106 respondentes. Leite (2009) enfatiza que este procedimento deixa

de inserir ao ciclo produtivo materiais que poderiam ser reutilizados como matéria-prima ou

até mesmo descartados corretamente. Além destes, 28 pessoas vendem/trocam o calçado

usado e 4 pessoas utilizam este produto na confecção de artesanato. A alternativa de devolver

o sapato após o uso para a loja não foi assinalada por nenhum entrevistado.

A décima questão evidenciou que 96,9% da amostra não têm conhecimento se a loja ou

empresa fabricante recebe o calçado que não tem mais utilidade. Estes números podem

representar uma oportunidade para este segmento, e vem de encontro ao pensamento de Leite

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(2009) sobre o tema “logística reversa”, porém, para que isto ocorra deve ser adotado um

sistema de logística reversa de pós-consumo, o qual é constituído de canais de distribuição

específicos.

O nível de compreensão da temática logística reversa foi abordado na questão seguinte. Dos

326 entrevistados, 266 (81,6%) não sabiam o significado desta palavra. Para não comprometer

o restante da pesquisa foi descrito um conceito para a logística reversa, sendo esta “o retorno

para a indústria dos resíduos (lixo) de um produto após o seu consumo, que vise o

reaproveitamento em seu ciclo produtivo, ou a coleta destes para um destino final

ambientalmente correto”.

Partindo da idéia de que os entrevistados compreenderam o que vem a ser logística reversa, a

pergunta de número 12 teve por objetivo entender se pode influenciar no momento da compra

saber que uma empresa pratica este procedimento. Evidenciou-se que 132 entrevistados

(40,5%) pensam que a prática de logística reversa por parte de empresas pode influenciar na

hora da compra, enquanto que 95 entrevistados (29,1%) pensam que isto pode ocorrer para

alguns tipos de produtos. Os resultados desta pesquisa e o fato de o calçado ser um acessório

de moda influenciaram o pesquisador a acreditar que um produto com apelo sustentável tende

a ser o tipo de produto que possa influenciar no momento de compra. Além destes, 38 pessoas

(11,7%) se mostraram indiferentes, 31 pessoas (9,5%) acham que não influência e 30 pessoas

(9,2%) não tinham conhecimento do assunto.

A penúltima questão evidenciou que 38,7% dos entrevistados não pretendem pagar nenhum

centavo a mais e que 39,6% estão dispostos a pagar até 10% a mais por um produto de apelo

ambiental, constituindo a maior parte dos entrevistados. Isso demonstra que há a necessidade

de se fazer algo em prol do meio ambiente, porém sem onerar em custo ao cliente. Na

seqüência, 14,1% (até 20%); 6,1% (até 30%) e 1,5% (acima de 30%).

A última pergunta procurou verificar a classificação de alguns itens que motivariam um

consumidor a participar de um sistema de logística reversa para calçados que não tem mais

utilidade. Como se pode visualizar na tabela 2, o item “incentivos econômicos”, adquiridos ao

participar desta ação constitui-se do item de maior relevância. Com 66,6% da amostra o

considerando um item de muita importância, este fato demonstra o quanto à empresa deve ser

criativa para desenvolver estratégias que mobilizem o público alvo a aderir a uma

determinada atividade.

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Tabela 2 - Classificação de itens que motivariam a participação dos consumidores em um sistema de logística

reversa para calçados que não tem mais utilidade

Fonte: Elaborado pelo autor, 2014

Já o item “ter mais conhecimento sobre as ações ambientais que a empresa promove”

apresentou a menor importância de avaliação, porém não deixa de ser importante. O fato é

que a empresa deve trabalhar em sintonia com o meio ambiente, produzindo e gerando ações

que minimizem os impactos ambientais gerados por seus produtos e/ou serviços, envolvendo

seus colaboradores, a comunidade local e seus consumidores sobre a importância destas

ações. Esse processo de mudança rumo à sustentabilidade existirá, e conforme Dougherty

(2011) pode trazer oportunidade de crescimento à empresa, além de vantagem competitiva

frente aos seus concorrentes.

5. Considerações finais

Tendo em vista que os resíduos são um problema e que gradativamente aumenta a consciência

do consumidor de possíveis riscos que esta situação oferece para o meio ambiente, cabe às

indústrias reverem os procedimentos de trabalho e de tomada de decisão, de modo a

disponibilizar para o mercado um produto que contribua à preservação ambiental. As

indústrias de transformação geram uma grande quantidade de resíduos e uma alternativa que

beneficie o meio ambiente é a adoção da logística reversa, que de acordo com Leite (2009)

consiste no caminho inverso da logística tradicional.

Diante de tal contexto, o problema inicial proposto era saber se a logística reversa poderia ser

um diferencial estratégico nas organizações calçadistas. Os resultados da pesquisa

evidenciaram que 81,6% dos consumidores de calçados que participaram do estudo

desconhecem a palavra logística reversa, e esta pratica não esta contemplada na legislação

ambiental que regula as atividades de fabricação e comercialização de calçados no Brasil, o

que pode oferecer uma oportunidade para constituir um diferencial estratégico sustentável.

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Este estudo teve como objetivo geral avaliar se a logística reversa pode contribuir para o

desenvolvimento sustentável do setor calçadista no âmbito de gestão ambiental. Acredita-se

que esta pesquisa alcançou o objetivo proposto.

O perfil da amostra constitui-se de forma majoritária no gênero feminino, com idade entre 26

e 32 anos, renda familiar de até 4 salários mínimos e ensino médio completo. Os

respondentes, enquanto consumidores de calçados compram de forma determinante com base

nos critérios conforto, aparência/visual, qualidade/durabilidade. Porém, os aspectos

ambientais também são considerados, mesmo não sendo determinantes na decisão de

aquisição do produto. Um dos possíveis motivos pode estar na inexistência de uma estrutura

específica de logística reversa.

A maior dificuldade encontrada para a elaboração deste trabalho foi à aplicação da pesquisa

por parte dos representantes das regiões pesquisadas, devido as suas atribuições e

responsabilidades diárias.

O tema apresentado neste trabalho é de grande relevância e está em evidência. Por isso, se

espera que possa contribuir para outras empresas que venham a querer incorporar uma gestão

ambiental em seus negócios, bem como instigar ou despertar interesse para futuras pesquisas

na área.

REFERÊNCIAS

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Acesso em 07 jun. 2014.

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Saraiva, 2011. 376p.

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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 18

mar. 2014.

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<http://www.brazilianfootwear.com.br/site/sobre_economia.php>. Acesso em 08 jun. 2014.

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<http://www.caminhosustentavel.org.br/p.asp?id=2&param=paginas>. Acesso em 07 jun. 2014.

DOUGHERTY, Brian. Design gráfico sustentável. São Paulo, SP: Edições Rosari, 2011. 183p.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas da pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. 200p.

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GUARNIERI, Patrícia. Logística reversa: em busca do equilíbrio econômico e ambiental. Recife, PE: Clube de

Autores, 2011. 308 p.

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