logistica reversa
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG
FACULDADE DE ENGENHARIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM LOGÍSTICA ESTRATÉGICA E SISTEMAS DE
TRANSPORTES
LOGÍSTICA REVERSA: MODELO DE PROCESSO LOGÍSTICO REV ERSO PARA
OS RESÍDUOS PAPEL E PAPELÃO
Cristiano Ferreira Campos
Orientador: Prof. Dr. Antônio Artur de Souza
BELO HORIZONTE
2009
CRISTIANO FERREIRA CAMPOS
LOGISTICA REVERSA: MODELO DE PROCESSO LOGÍSTICO REV ERSO PARA
OS RESÍDUOS PAPEL E PAPELÃO
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Logística Estratégica e Sistemas de Transporte, da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Logística Estratégica e Sistemas de Transporte.
Orientador: Prof. Dr. Antônio Artur de Souza
BELO HORIZONTE
2009
Este trabalho foi analisado e julgado adequado para a obtenção do título de
Especialista em Logística Estratégica e Sistemas de Transporte e aprovado em sua
forma final pelo orientador e pelo Coordenador do Programa de Pós-graduação em
Logística Estratégica e Sistemas de Transporte.
_______________________________________ Prof. Antônio Artur de Souza, Dr.
Orientador ____________________________________ Prof. David José A. V. de Magalhães, Dr.
Coordenador
BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Antônio Artur de Souza Orientador Prof. Dr. Ronaldo Guimarães Gouveia Avaliador
RESUMO
A logística reversa é um termo bastante amplo, que abrange todas as operações relacionadas com a reutilização de produtos e materiais. Trata-se de uma nova área que busca o retorno de bens e materiais após o seu consumo e venda. Nesse contexto, o objetivo deste estudo de caso é propor um modelo de processo para coleta, seleção, desmontagem, armazenagem e disposição dos resíduos papel e papelão para a empresa Metform S/A. A realização deste modelo é de grande importância para a empresa, pois possibilitaria o reaproveitamento e a reciclagem de materiais já utilizados de uma forma mais eficiente, minimizando, assim, o impacto ao meio ambiente. Além disso, auxiliaria a empresa na elaboração de novas formas de estratégias de preservação de sua imagem corporativa, de modo a tornar-se proativa no aproveitamento de oportunidades por meio da introdução de novos métodos de trabalho capazes de gerar algum tipo de ganho ou benefício. O trabalho foi estruturado em quatro partes, a saber: na primeira, elaborou-se uma introdução à logística reversa, descrevendo-se os conceitos e a estrutura de suporte ao estudo de caso e às conclusões do trabalho; na segunda, apresentou-se a metodologia de previsão de demanda futura na qual foi baseado o estudo de caso proposto; na terceira, descreveu-se a situação atual do processo de logística reversa; na quarta, procurou-se vincular os conceitos apresentados da logística reversa ao modelo de processo logístico proposto para os resíduos papel e papelão, definindo-se os dados a serem utilizados na aplicação dos modelos, fazendo-se as devidas análises, tirando-se conclusões a respeito dos resultados obtidos e indicando-se possíveis desenvolvimentos futuros para o trabalho. O estudo de caso busca trazer a logística reversa dos bens de pós-consumo na Metoform S/A, que tem como foco a fabricação de telhas, 1steel deck e acessórios, com ou sem pintura, e que, devido a exigências de órgãos federais e municipais, teve que iniciar atividades voltadas para a logística reversa. Concluiu-se que a Metform S/A realiza métodos de logística reversa, mesmo ainda que primária. Logo, a implementação do modelo para coleta, seleção, desmontagem, armazenagem e disposição dos resíduos papel e papelão poderia apresentar benefícios para a Metform S/A, dentre os quais se destacam: o mapeamento dos processos produtivos geradores dos resíduos; a quantificação dos resíduos gerados durante o período analisado; a identificação do valor aplicado para venda dos resíduos no mercado de reciclagem; e proposição dos métodos que possibilitem a previsão de geração dos resíduos, visando a um processo eficiente de logística reversa que possa ser um importante diferencial para a empresa, proporcionando-lhe uma vantagem competitiva traduzida em custos menores ou melhoria no serviço e em mudanças no comportamento dos seus funcionários. Palavra-chave: logística reversa; previsão de demanda; pós-consumo.
1 Steel Deck é um produto fabricado em aço galvanizado que possui dupla função: como fôrma para concreto durante a construção e como armadura positiva de lajes para as cargas de serviço.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1: Logística reversa – área de atuação e etapas reversas. ................................................. 17
FIGURA 2: O processo da logística verde. ............................................................................................. 18
FIGURA 3: Fatores de influência na organização dos canais reversos de pós-consumo. ............. 21
FIGURA 4: Canais de distribuição diretos e reversos. ......................................................................... 24
FIGURA 5: Estrutura simbólica da cadeia produtiva reversa de pós-consumo. ............................... 26
FIGURA 6: Recuperação de bens de pós-consumo ............................................................................. 26
FIGURA 7: Canais de distribuição de pós-consumo: diretos e reversos. .......................................... 29
FIGURA 8: Ciclo de produção de consumo. .......................................................................................... 34
FIGURA 9: Subsistemas de recuperação dos bens. ............................................................................. 35
FIGURA 10: Exemplos de canais reversos de ciclo aberto. ................................................................ 37
FIGURA 11: Canais de distribuição de pós-consumo: diretos e reversos. ........................................ 38
FIGURA 12: Relação entre precisão e custo da previsão. ................................................................... 42
FIGURA 13: Fluxo de Geração de Resíduo Papelão dentro do Processo Produtivo. ..................... 55
FIGURA 14: Fluxo Reverso dos Resíduos Sólidos Industriais na Metform S/A Atual ..................... 56
FIGURA 15: Fluxograma geral do processo compartilhado................................................................. 63
FIGURA 16: Modelo de gestão de resíduos sólidos. ............................................................................ 66
FIGURA 17: Fluxograma do processo de logística reversa dos resíduos papel e papelão. ........... 67
FIGURA 18: Caracterização dos resíduos sólidos gerados. ................................................................ 68
FIGURA 19: Classificação e Separação. ................................................................................................ 68
FIGURA 20: Destinação final dos resíduos. ........................................................................................... 69
FIGURA 21: Fluxo de Geração de Resíduo Papelão dentro do Processo Produtivo. ..................... 71
FIGURA 22: Fluxo Reverso dos Resíduos Papel e Papelão na Metform S/A Proposto. ................ 72
GRÁFICO 1: Geração do resíduo papelão. ............................................................................................ 58
GRÁFICO 2: Geração do resíduo papel branco. ................................................................................... 58
GRÁFICO 3: Geração do resíduo papel diverso .................................................................................... 59
GRÁFICO 4: Receita com Modelo Atual de Processo Logístico. ........................................................ 78
GRÁFICO 5: Receita com Modelo Proposto de Processo Logístico. ................................................. 78
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Estrutura da monografia .............................................................................................. 14
TABELA 2: Caracterização dos itens no fluxo reverso, por tipo e origem .................................... 19
TABELA 3: Atividades comuns da logística reversa ...................................................................... 31
TABELA 4: Exemplos de canais reversos de ciclo fechado .......................................................... 37
TABELA 5: Resumo de aplicabilidade dos modelos de previsão .................................................. 50
TABELA 6: Custos médios de mão-de-obra com gerenciamento de resíduos ............................. 57
TABELA 7: Resíduos gerados / ano 2007 ..................................................................................... 57
TABELA 8: Custo médio dos resíduos vendidos ........................................................................... 59
TABELA 9: Previsão de demanda do resíduo papelão ................................................................. 74
TABELA 10: Previsão de demanda do resíduo papel diverso ...................................................... 74
TABELA 11: Previsão de demanda do resíduo papel branco ....................................................... 75
TABELA 12: Custos médios de mão-de-obra com gerenciamento de resíduos ........................... 76
TABELA 13: Custo médio dos resíduos dos materiais vendidos no processo ............................. 77
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 8
1.1 Tema e Problema................................................................................................................. 8
1.2 Objetivos .............................................................................................................................. 9
1.2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 9
1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................. 9
1.3 Justificativa e Relevância ................................................................................................... 10
1.4 Metodologia ........................................................................................................................ 11
1.4.1 Coleta de Dados ........................................................................................................ 13
1.4.2 Análise dos Dados ..................................................................................................... 13
1.5 Estrutura da Pesquisa ........................................................................................................ 14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................... ........................................................................ 16
2.1 Logística Reversa .............................................................................................................. 16
2.2 Logística Reversa no Brasil ............................................................................................... 17
2.3 Fatores de Influência na Organização das Cadeias Reversas ......................................... 19
2.4 Canais de Distribuição Reversos ....................................................................................... 23
2.5 Logística Reversa de Pós-Consumo ................................................................................. 25
2.6 Classificação dos Bens de Pós-Consumo ......................................................................... 28
2.7 Logística Reversa de Pós-venda ....................................................................................... 29
2.8 Devolução de Produtos ...................................................................................................... 31
2.9 Armazenagem e Separação dos Resíduos ....................................................................... 32
2.10 Disposição Final dos Bens ............................................................................................ 34
2.11 Reciclagem .................................................................................................................... 36
3 SISTEMA DE PREVISÃO DE DEMANDA .................. ........................................................... 41
3.1 Previsão de Demanda ....................................................................................................... 41
3.2 Definição do Problema ....................................................................................................... 42
3.3 Coleta de Informações ....................................................................................................... 43
3.3.1 Montagem do Banco de Dados ................................................................................. 43
3.3.2 Classificação dos Produtos ....................................................................................... 44
3.3.3 Definição dos Níveis de Agregação .......................................................................... 44
3.4 Seleção do Pacote Computacional .................................................................................... 44
3.5 Escolha e Validação dos Modelos ..................................................................................... 45
3.6 Características da Série Temporal .................................................................................... 46
4 ESTUDO DE CASO ................................................................................................................ 52
4.1 Apresentação da Empresa ................................................................................................ 52
4.2 Descrição do Processo Atual ............................................................................................. 54
5 MODELO PROPOSTO ........................................................................................................... 61
5.1 Apresentação do Modelo ................................................................................................... 61
5.2 Etapas do Modelo .............................................................................................................. 64
5.2.1 Descrição da Aplicação do Modelo ........................................................................... 70
5.2.2 Previsão de Demanda ............................................................................................... 73
5.2.3 Discussão sobre a Utilização do Modelo .................................................................. 78
6 CONCLUSÃO........................................ .................................................................................. 80
6.1 Literatura Específica sobre Logística Reversa .................................................................. 80
6.2 Conclusão sobre o Estudo de Caso .................................................................................. 81
6.3 Recomendações para Empresa ........................................................................................ 85
6.4 Pesquisas Futuras ............................................................................................................. 86
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................ ..................................................................... 88
8
1 INTRODUÇÃO
1.1 Tema e Problema
A crescente competitividade entre as organizações tem se constituído
como o principal desafio à sobrevivência das empresas, as quais, em um ambiente
desfavorável, buscam aumento da produtividade, melhoria dos resultados, inovação
em processos, estratégias em tecnologia, crescimento e desenvolvimento do
negócio. O aprimoramento dos métodos de trabalho já conhecidos e dominados
possibilita o surgimento de opções mais vantajosas às organizações, gerando algum
tipo de benefício, ganho ou melhoria nos resultados da empresa. Nesse contexto,
uma área que ganha importância a cada dia é a de logística reversa, que pode ser
assim definida:
Logística reversa se refere ao papel da logística no retorno de produtos, redução na fonte, reciclagem, substituição de materiais, disposição de resíduos, forma, reparação e remanufatura (STOCK, 1998, p. 20).
A logística reversa possibilita que os produtos e materiais já descartados
(i.e., partindo do consumidor final) façam o caminho inverso para que possam ser
reutilizados dentro do mercado. Essa prática possibilita o reaproveitamento e a
reciclagem dos materiais, além de minimizar os impactos ao meio ambiente. Cabe
às empresas elaborar estratégias diferentes na busca de preservação de suas
imagens corporativas, de modo tal que consigam ser proativas no aproveitamento de
oportunidades que, por meio da introdução de novos métodos de trabalho, gerem
valor aos clientes.
Empresas que incorporam o aspecto ambiental dentro de uma visão
estratégica de recuperação de seus produtos tendem a ter uma vantagem distinta
frente à concorrência. Os processos de logística reversa têm trazido ganhos para as
9
empresas que estimulam os esforços em desenvolvimento e melhorias dos
processos, além do reaproveitamento de materiais. Certamente, o objetivo
estratégico econômico, ou de agregação de valor monetário, é ainda hoje o mais
evidente na implementação da logística reversa nas empresas.
Diante do exposto, este trabalho busca demonstrar, a partir de um estudo
de caso com a empresa Metform S/A, canais de distribuição reversos dos resíduos
papel e papelão no pós-consumo, a partir do processo de fabricação de telhas, steel
deck e acessórios, com ou sem pintura. Mais especificamente, pretende-se
apresentar um modelo de processo logístico que possibilite algum tipo de benefício,
ganho ou melhoria nos resultados da Metform S/A a partir de um planejamento para
reutilização desses resíduos e preservação do meio ambiente. Trata-se de uma
abordagem que vem merecendo destaque nos programas de gestão de resíduos, os
quais enfatizam as questões associadas ao desenvolvimento sustentável do meio
ambiente, como canais reversos de reciclagem, reuso e desmanche.
1.2 Objetivos
Os objetivos da pesquisa são classificados em geral e específicos.
1.2.1 Objetivo Geral
O objetivo geral desta pesquisa consiste em propor um modelo de
processo logístico para coleta, seleção, desmontagem, armazenagem e disposição
dos resíduos papel e papelão para a empresa Metform S/A.
1.2.2 Objetivos Específicos
Constituem objetivos específicos deste trabalho:
10
– Descrever o processo produtivo da empresa Metform S/A;
– Identificar e descrever a maneira como os resíduos papel e papelão
são gerados dentro do processo de fabricação de telhas, steel deck
e acessórios;
– Levantar as quantidades dos resíduos papel e papelão gerados
durante o período correspondente ao ano de 2007;
– Levantar os preços de venda no mercado ofertados para os
resíduos papel e papelão;
– Desenvolver um modelo de processo logístico dos resíduos papel e
papelão; e
– Realizar uma simulação da aplicação do modelo de processo
logístico proposto para a Metform S/A.
1.3 Justificativa e Relevância
A sociedade, de maneira geral, mostra-se cada vez mais preocupada com
os recursos naturais utilizados nos processos de produção e com a realização de
ações que minimizem os impactos ambientais deles provenientes. A logística
reversa torna-se, então, um importante caminho a ser seguido, viabilizando a
implementação de processos eficientes que possibilitem a competitividade das
empresas no mercado. Essa logística é responsável pelo retorno dos bens de pós-
venda e pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, agregando-lhes
valor.
Planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em processo, produtos acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar apropriada disposição (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1999, p. 2).
11
Nesse contexto, esta pesquisa se justifica devido às novas necessidades
de operações logísticas que surgem para o atendimento dos canais de distribuição
reversos, além de favorecer a redução dos custos globais e constituir um diferencial
competitivo para a Metform S/A dentro do mercado que está exigindo
responsabilidade após a venda dos produtos por parte dos fabricantes a partir das
dificuldades da sociedade em equacionar o desembaraço dos bens produzidos em
larga escala, com ciclos de vida cada vez mais curtos e com valores residuais que
não apresentam interesse. Tais operações também favorecem uma redução no uso
de insumos da natureza a partir da utilização de fontes de energia alternativas
(biodiesel, biomassa, energia eólica etc.) e de uma postura ecologicamente correta
quanto aos materiais que seriam descartados.
1.4 Metodologia
Existem vários conceitos sobre pesquisa, uma vez que os estudiosos
ainda não chegaram a um consenso sobre o assunto, como afirmam Marconi e
Lakatos (1999). Ander-Egg (1978) define pesquisa como um “processo que permite
descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do
conhecimento”. A pesquisa, portanto, é um procedimento formal que requer um
tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para
se descobrirem verdades parciais.
Foi elaborado um estudo de caso para a proposição de um modelo de
processo logístico dos resíduos papel e papelão originados no processo de
fabricação de telhas, steel deck e acessórios, com ou sem pintura, na empresa
Metform S/A. Esse estudo foi proposto buscando identificar práticas que auxiliem a
empresa na implementação de ações que aumentem sua produtividade e
12
competitividade e, ao mesmo tempo, reduzam os impactos ambientais gerados pelo
acúmulo de resíduos no meio ambiente.
De acordo com Marconi e Lakatos (1999), os critérios para classificação
dos tipos de pesquisa variam de acordo com o enfoque de cada autor. Ander-Egg
(1978), por exemplo, apresenta dois tipos de pesquisa:
a) Pesquisa básica pura ou fundamental: é aquela que procura o
progresso científico e a ampliação de conhecimentos teóricos,
tendo por meta o conhecimento pelo conhecimento.
b) Pesquisa aplicada: como o próprio nome indica, caracteriza-se por
seu interesse prático, isto é, pelo uso imediato de seus resultados,
para a resolução de problemas que ocorrem na realidade.
Já Rummel (1972) define ainda quatro tipos de pesquisas distintas das
citadas anteriormente, quais sejam:
a) Pesquisa bibliográfica: quando são utilizados materiais escritos.
b) Pesquisa de ciência da vida e ciência físico-experimental: quando
se tem como campo de atividade o laboratório.
c) Pesquisa social: quando o objetivo é melhorar a compreensão de
ordem de grupos e de instituições sociais e éticas.
d) Pesquisa tecnológica ou aplicada-prática: quando se busca a
aplicação dos tipos de pesquisa relacionados às necessidades
imediatas dos diferentes campos da atividade humana.
Quanto à abordagem, este estudo de caso realizou uma pesquisa aplicada
por meio de uma observação não-participante e uma entrevista não-estruturada
acerca do processo de fabricação de telhas, steel deck e acessórios da empresa
13
Metform S/A. Foi também realizada uma pesquisa bibliográfica para levantamento
dos dados históricos presentes nos arquivos da Metform S/A.
1.4.1 Coleta de Dados
A coleta de dados para elaboração do estudo de caso foi realizada por
meio de observação não-participante no processo de fabricação da Metform S/A, no
período de janeiro a junho de 2007, de maneira a viabilizar um mapeamento do atual
processo gerador dos resíduos papel e papelão. A partir desse mapeamento, foi
possível identificar qual tipo de resíduo e as respectivas quantidades geradas
nesses processos.
Foi realizada ainda uma entrevista não-estruturada com o responsável
pelo gerenciamento e pela destinação dos resíduos da Metform S/A, com vistas a
compreender como são realizadas as atividades de coleta, seleção, armazenamento
e disposição final dos resíduos papel e papelão. Essa entrevista também se
estendeu aos funcionários dos processos geradores dos resíduos, com o objetivo de
identificar como estes são gerados durante o processo de fabricação de telhas, steel
deck e acessórios.
Como forma de complementar a coleta de dados, foi realizada uma busca
em arquivos e uma pesquisa documental nos relatórios de automonitoramento
(referentes aos meses de janeiro a dezembro de 2007) feitos pela Metform S/A em
atendimento às exigências da Fundação Estadual do Meio Ambiente.
1.4.2 Análise dos Dados
Com base na observação não-participante e nas entrevistas não-
estruturadas, elaborou-se um desenho do processo de fabricação de telhas, steel
14
deck e acessórios, no qual foram incluídas as áreas administrativas e identificados
os tipos de resíduos gerados nesses processos. A partir dessa identificação, foi
realizado, junto aos relatórios de automonitoramento elaborados pela Metform S/A,
um levantamento das quantidades geradas de cada tipo de resíduos em função dos
processos geradores. Com isso, foi possível realizar a estratificação dos resíduos
papel branco, papel diverso e papelão, pois, até então, os resíduos papel branco e
papel diverso eram destinados ao mercado sem essa separação. Embora colete
esses resíduos nos processos geradores de forma separada, levantando as
respectivas quantidades, a Metform S/A realiza sua destinação de maneira única.
Todos esses dados coletados ao longo do ano de 2007 foram dispostos
em tabelas e apresentados em forma gráfica para possibilitar um melhor
entendimento e análise da aplicação da metodologia de previsão de demanda para
os períodos futuros apresentados neste estudo de caso.
1.5 Estrutura da Pesquisa
A TAB. 1 mostra, incluindo esta introdução, a organização desta
dissertação acerca do modelo de processo logístico dos resíduos papel e papelão.
Apresenta-se cada capítulo, além do respectivo título e conteúdo.
TABELA 1: Estrutura da monografia
Capítulo Título Conteúdo
1 Introdução Tema e problema da pesquisa; justificativa e relevância; objetivos da pesquisa; metodologia e organização da monografia
2 Logística Reversa
Revisão da literatura, englobando os aspectos relacionados à logística reversa, tais como: conceitos, origem, atividades, processos, importância, fatores motivadores, barreiras à execução
3 Sistema de Previsão de Demanda
Conceituação do sistema de previsão de demanda, englobando os aspectos relacionados a decisão, planejamento e características dos modelos de séries temporais
15
4 Estudo de caso
Caracterização da empresa estudada e descrição do processo logístico de bens de pós-consumo
5 Modelo Proposto
Apresentação do modelo de processo de logística reversa; confronto do modelo com a prática tendo como base a empresa escolhida; avaliação dos resultados obtidos
6 Conclusão Considerações finais e recomendações
16
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Este capítulo trata da evolução dos conceitos de logística reversa, além de
apresentar a sua área de atuação e as fontes que geram os fluxos de retorno.
2.1 Logística Reversa
Para Chaves e Martins (2005), abordagens sobre logística reversa
emergem nos anos 1990 com a preocupação com perdas por parte das empresas e
com as exigências da legislação dos órgãos do governo estadual e federal que
buscam atender às necessidades de recolhimento de materiais provenientes do pós-
consumo e pós-venda. O Council of Logistics Management (CLM)2 (1993, p. 323)
define logística reversa como:
Um amplo termo relacionado às habilidades e atividades envolvidas no gerenciamento de redução, movimentação e disposição de resíduos de produtos e embalagens [...].
Já em Dornier et al. (2000, p. 39), encontra-se a definição:
Logística é a gestão de fluxos entre as funções do negócio. A definição atual de logística engloba maior amplitude de fluxos do que no passado. Tradicionalmente, as empresas incluíam a simples entrada de matérias-primas ou o fluxo de saída de produtos acabados em sua definição de logística. Hoje, no entanto, essa definição expandiu e inclui todas as formas de movimentos de produtos e informações [...].
A logística reversa busca tornar possível o retorno dos bens e/ou de seus
materiais constituintes ao ciclo produtivo, agregando-lhes valor em um fluxo que vai
desde a coleta, consolidação, separação e seleção até a reintegração ao ciclo
(LEITE, 2003; CLM, 1993; FULLER, ALLEN, 1995). A FIG. 1 mostra as áreas de
atuação e as etapas reversas.
2 O Council of Logistics Management é uma organização de gestores, educadores e profissionais da
área de gestão e logística, criada em 1962 para incentivar o ensino e o intercâmbio de idéias nesse campo (BALLOU, 2006).
17
FIGURA 1: Logística reversa – área de atuação e etapas reversas. Fonte: Leite (2003, p. 17).
Logo, verifica-se que a logística reversa pode ser entendida como a área
da logística empresarial que visa equacionar o retorno dos bens ao ciclo produtivo
ou de negócios através de canais de distribuição reversos de pós-venda e de pós-
consumo, agregando-lhes valor.
2.2 Logística Reversa no Brasil
A logística reversa no Brasil ainda não possui um canal logístico
estruturado que permita um caminho de retorno eficiente de todos os resíduos,
embalagens e produtos gerados pelo mercado (VIEIRA, 2001). Em contrapartida,
tem-se a logística direta, que possui uma estrutura consolidada, com um importante
processo de fornecimento, armazenagem, estocagem, produção e distribuição de
produtos aos consumidores.
Ainda segundo Vieira (2001), essa falta de estrutura cria dificuldades de
se implementar um processo de logística reversa que chegue a influenciar na
decisão das empresas quanto a implementá-las e buscar eficiência nos processos
ou deixar de fazê-lo para não desviar o foco da atividade principal. Entretanto,
verifica-se que existem oportunidades de se iniciarem novos empreendimentos
focados na logística reversa (MOURA, 2000). A FIG. 2 mostra um exemplo de
18
processo de logística verde estruturado de maneira a buscar a preservação do meio
ambiente e, conseqüentemente, a geração de benefícios para sociedade, como a
prestação de serviços especializados.
FIGURA 2: O processo da logística verde. Fonte: Moura (2000).
Consoante Moura (2000), o ciclo reverso tem um importante papel dentro
da sociedade, pois a empresa que possui a matéria-prima (que é o resíduo) passa a
transformá-la através de processos de reciclagem, compostagem ou outro processo
gerador de energia e tem como produto final a matéria-prima para outras empresas
realizarem suas atividades. RevLog (1999) aponta algumas razões para
implementação da logística reversa nas empresas, a saber:
a) a Legislação Ambiental, que cobra maior responsabilidade dos
fornecedores sobre seus produtos e subprodutos;
b) a redução de custos com o retorno dos produtos/matérias ao centro
de produção, evitando maiores gastos com o descarte correto do
lixo; e
c) a crescente conscientização ambiental dos consumidores.
19
Rogers e Tibben-Lembke (1999) apontam outros motivos para essa
implementação:
a) razões competitivas e diferenciação do serviço;
b) limpeza do canal de distribuição;
c) proteção da margem de lucro; e
d) recaptura de valor e recuperação de ativos.
Ainda segundo Rogers e Tibben-Lembke (1999), a TAB. 2 mostra
algumas razões de um produto entrar no fluxo reverso. Caso o produto seja oriundo
do cliente, pode ser que a razão consista em um defeito do produto ou no fato de
que este não alcançou o final do ciclo de vida. Se o produto já alcançou o final de
vida útil, o cliente, em alguns casos, pode devolvê-lo ao fabricante.
TABELA 2: Caracterização dos itens no fluxo reverso, por tipo e origem
Parceiros da Cadeia de Suprimentos Final de Uso
Pro
duto
s
Estoque balanceado de devolução Devolução de Marketing Final de vida / estação Danos no transporte
Defeituosos / não procurados Retorno em garantia Recalls Disposição ambiental
Em
bala
gens
Paletes reutilizáveis Embalagens desmontáveis Condições de disposição
Reutilização Reciclagem Restrições para disposição
Fonte: Rogers e Tibben-Lembke (1998b).
Assim sendo, se um cliente retorna um produto, é porque a empresa produziu
em excesso ou porque esse produto pode ter sido danificado em trânsito ou está
próximo do vencimento (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1998).
2.3 Fatores de Influência na Organização das Cadeia s Reversas
Para Fuller e Allen (1995), na coletânea Environmental Marketing, de
Polonky, muitos são os fatores que influenciam as organizações na implementação
20
da logística reversa. Os autores destacam alguns fatores-chave para o
desenvolvimento dos produtos reciclados no mercado:
– um consumidor comprometido com o denominado produto ‘verde’;
– o aumento dos custos ecológicos nos negócios;
– um suporte legal e político;
– o avanço em tecnologia de reciclagem e o projeto de produtos
visando à sua utilização após descarte pela sociedade;
– a localização dos utilizadores de reciclados perto das fontes de pós-
consumo.
Esses fatores fazem com que estratégias institucionais sejam valorizadas
e os negócios repensados, pois a compatibilização dos interesses econômicos com
a proteção do meio ambiente permite uma utilização mais racional dos recursos e
evitando que a sociedade se vulnerabilize econômica e ecologicamente diante de
futuros danos ambientais (BURSZIYN, 1994).
Empresas com esse posicionamento estratégico exigem comportamentos
éticos e de responsabilidade ambiental de seus parceiros de negócio, rede de
fornecedores e clientes, buscando sempre o desenvolvimento sustentável de
maneira que o processo de transformação de recursos, a direção de investimentos,
a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se
harmonizem para atender às necessidades e aspirações humanas (LEITE, 2003).
Em ambientes de crescente percepção dos possíveis danos que produtos e
processos produzem ao meio ambiente, é fundamental converter suas imagens
corporativas, mesmo quando o impacto ambiental não for de extrema gravidade.
O Council of Logistc Management (1993) salienta também que os fatores
como legislações reguladoras e reivindicações da sociedade de maneira geral
21
também podem influenciar nessas atividades. No esquema apresentado na FIG. 3,
identificam-se outros fatores que podem influenciar a organização dos fluxos
reversos.
FIGURA 3: Fatores de influência na organização dos canais reversos de pós-consumo. Fonte: Leite (2003, p. 90).
Logo, a diferença entre o fluxo direto e o fluxo reverso, que não é
reaproveitada, constitui o excesso, o qual é enviado à destinação final correta ou se
transforma em poluição (LEITE, 2000). De acordo com Krikke (1998, p.154) e Muller
(2005), existem algumas diferenças entre os fluxos diretos e reversos, dentre as
quais se destaca:
– Na logística direta, os produtos são puxados pelo sistema, enquanto,
na logística reversa, existe uma combinação entre puxar e empurrar
os produtos.
– O processo de fluxo reverso ultrapassa os limites das unidades de
produção, saindo das dependências da empresa.
22
– Ao contrário da logística direta, o processo reverso possui um nível
de incerteza bastante alto, de modo que é difícil controlar questões
como qualidade e demanda.
Kim (2001) destaca que, como a logística direta foca suas atividades na
eficiência de distribuição dos produtos, a logística reversa aparece como uma
alternativa para as atividades em retornos de crédito, substituição de garantia,
trocas, reparos e perdas, haja vista que os sistemas tradicionais da logística direta
têm se mostrado ineficientes para lidar com essas novas condições e para avaliar o
valor do retorno. Para Penmam e Stock (1995), os canais reversos buscam uma
relação eficiente e equilibrada entre o fluxo reverso de materiais e produtos e a
disponibilidade de bens de pós-consumo correspondentes, buscando encontrar, nas
diversas etapas, resultados financeiros compatíveis com as necessidades do
mercado. Contudo, para que isso aconteça, é necessário que haja mercado para os
produtos fabricados com materiais reciclados, o que refletirá nas demandas de
reciclados.
Segundo Leite (2003), a falta de algum tipo de ganho nos elos do fluxo
reverso resulta em desequilíbrio entre a oferta e a demanda dos produtos. Para o
IPEA/CEMPRE (1995, p. 1), essa visão econômica enfoca uma estruturação da
cadeia reversa e busca melhores resultados financeiros, o que estabelece uma
verdadeira concorrência entre os diferentes materiais de pós-consumo. Esses
interesses econômicos possivelmente identificarão melhores oportunidades em
certos produtos por terem extração mais vantajosa, pelas quantidades disponíveis
serem melhores ou pelo valor intrínseco comercial do material. O Council of Logistics
Management (1993, p. 92) ressalta ainda que a condição natural do mercado deve
permitir o estabelecimento de ganhos adequados aos diversos agentes reversos.
23
2.4 Canais de Distribuição Reversos
Consoante Ballou (2001), o ciclo de vida de um produto não termina com
sua entrega ao cliente. Existem outras etapas pelas quais os produtos passam após
essa fase, como: os produtos tornam-se obsoletos, danificam-se ou estragam e são
levados aos seus pontos de origem para conserto ou descarte. Segundo Fuller e
Allen (1995:243) e CLM (1993:284), como um produto ainda em condições de uso é
constituinte de vários materiais, existem algumas formas de comercialização destes,
as quais acontecem desde a captação dos bens de pós-consumo ou dos resíduos
industriais até a sua reutilização pelo mercado. O fluxograma da FIG. 4 procura
mostrar a amplitude e a inter-relação dessas etapas logísticas.
24
FIGURA 4: Canais de distribuição diretos e reversos. Fonte: Leite (2003, p. 5).
Com base na FIG. 4, observa-se que, depois de finalizada a utilidade dos
bens de pós-consumo originados, estes retornam ao ciclo produtivo ou, na
impossibilidade dessas revalorizações, são incinerados ou direcionados para a
disposição final em aterros sanitários3. Já os bens de pós-venda, como afirma Leite
(2003), fluem no sentido inverso. O autor ainda aponta que a redução do ciclo de
vida dos produtos e materiais ocorre devido à inclusão de novos materiais, à
obsolescência planejada e à busca de redução de custos no processo, as quais têm
gerado excessos de bens e materiais descartados pela sociedade e aumentado,
dessa forma, as disposições inseguras desses produtos.
3 “Técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à saúde pública e à segurança, minimizando
os impactos ambientais. Esse método utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário” (NBR 8419).
25
Segundo Leite (1999), as quantidades movimentadas nos fluxos reversos
são, de modo geral, inferiores às quantidades dos canais diretos devido ao seu
baixo valor. Para o autor, o retorno de produtos pós-venda ainda é considerado, em
alguns casos, um verdadeiro “problema” empresarial a ser equacionado. Assim,
verifica-se a necessidade de uma melhor estruturação desse mercado de maneira a
viabilizar a implementação dessas atividades.
2.5 Logística Reversa de Pós-Consumo
Para falar em pós-consumo, é preciso falar em ciclo de vida ou vida útil de
um produto. Consoante Leite (2003, p. 34), “[a] vida útil de um bem é entendida
como o tempo decorrido desde a sua produção original até o momento em que o
primeiro possuidor se desembaraça dele”.
A logística reversa de pós-consumo é a área que busca agregar valor a
um produto que foi descartado. Esse produto, reutilizado, pode gerar outros bens a
partir da reciclagem e/ou do desmanche (LEITE, 2003, p.18). Esse retorno ao
mercado é um dos objetivos dos fluxos reversos de pós-consumo (LEITE, 2003, p.
33). Para Fuller e Allen (1995:244), CLM (1993:19) e Leite (1999), quando esses
produtos não retornam ao mercado em quantidades adequadas, ocorrem acúmulos
que excederão, em alguns casos, a capacidade de estocagem, o que dá origem a
problemas ambientais. A FIG. 5 apresenta uma estrutura simbólica para uma cadeia
reversa produtiva de pós-consumo.
26
FIGURA 5: Estrutura simbólica da cadeia produtiva reversa de pós-consumo. Fonte: Leite (2003, p. 84).
A consolidação que se inicia no varejo e estende aos distribuidores são
realizados por empresas que apresentam maiores recursos tecnológicos e
especializados na natureza do material constituinte, reunindo quantidade e
qualidade de separações suficientes para a comercialização com as indústrias de
reciclagem (LEITE, 2003). A reintegração do produto ao mercado deve permitir
rendimentos compatíveis com os processos, pois, geralmente, as condições do tipo
de coleta e processamento influem na qualidade da matéria-prima secundária,
chegando a inviabilizar a utilização do produto reciclado. A FIG. 6 mostra as
possíveis aplicações dos produtos de pós-consumo.
FIGURA 6: Recuperação de bens de pós-consumo. Fonte: Leite (2003, p. 42).
27
Arima e Battaglia (2003) ressaltam os possíveis destinos para os produtos
de pós-consumo que chegaram ao final de sua vida útil, a saber:
– os mercados de segunda mão, onde produtos semi-novos são
remetidos a áreas mais carentes de recursos ou oportunidades de
compra;
– a retirada de componentes em perfeito estado de um produto para a
sua utilização na produção de um novo ou no recondicionamento de
outro similar, porém usado;
– a reciclagem;
– a remanufatura, em que o produto é revisado e volta ao mercado com
custo menor;
– os aterros sanitários públicos, onde a disposição em geral é feita de
forma segura, nos quais os resíduos sólidos de diversas naturezas
são ‘estocados’ entre camadas de terra, para que ocorra sua
absorção natural, ou são incinerados, obtendo-se a revalorização
pela queima e pela extração de sua energia residual; e
– a disposição final não controlada, constituída pela deposição desses
resíduos em lixões não controlados e pelo despejo em córregos, rios,
terrenos etc., prática comum que degrada o meio ambiente e é fruto
da ausência de fiscalização adequada.
Verifica-se que há viabilidade de especialização das operações reversas
das empresas, já que, hoje, não existem, no mercado, muitas empresas
especializadas nesse seguimento de atividade.
28
2.6 Classificação dos Bens de Pós-Consumo
A classificação dos bens de utilidades, segundo Leite (2003, p. 33),
refere-se:
À duração de sua vida útil, por ser mais adequada, na medida em que a preocupação principal da logística reversa é o equacionamento dos processos e caminhos percorridos por esses bens ou por seus materiais constituintes após o término de sua vida útil.
Leite (2003, p. 34) considera três grandes categorias de bens produzidos:
bens descartáveis, bens semiduráveis e bens duráveis. Os bens descartáveis
possuem uma vida útil média de algumas semanas, raramente superior a seis
meses, sendo constituídos de produtos de embalagens, materiais de escritório,
artigos cirúrgicos, pilhas de equipamentos eletrônicos, fraldas, jornais e revistas,
dentre outros. Já os bens semiduráveis apresentam uma vida útil de alguns meses,
sendo representados por baterias de veículos, óleos lubrificantes, baterias de
celulares, computadores e periféricos, revistas especializadas, dentre outros. Os
bens duráveis têm uma vida útil de alguns anos e correspondem a automóveis,
eletrodomésticos, eletro-eletrônicos, máquinas e equipamentos industriais, edifícios
de diversas naturezas, aviões, construções civis, navios, dentre outros. A FIG. 7
apresenta algumas das possibilidades de comercialização desses bens de pós-
consumo.
29
FIGURA 7: Canais de distribuição de pós-consumo: diretos e reversos. Fonte: Leite (2003, p. 47).
Observa-se que os diversos tipos de materiais tornam-se as principais
fontes de matéria-prima de produtos de pós-consumo e iniciam os canais de
distribuição reversos.
2.7 Logística Reversa de Pós-venda
Segundo Rodrigues et al. (2002), a logística reversa de pós-venda
geralmente está relacionada à qualidade de algum produto e à substituição de seus
componentes. O destino dos bens de pós-venda pode ser a reciclagem, a
remanufatura, o ciclo de negócios partindo do mercado secundário ou um destino
30
final quando não houver possibilidade de reaproveitamento. Para Leite (2003, p.
206), a logística reversa de pós-venda pode ser conceituada como:
[...] a área específica da logística que se ocupa do equacionamento e da operacionalização do fluxo físico e das informações logísticas correspondentes aos bens de pós-venda sem uso ou com pouco uso, que por diferentes motivos retornam aos diversos elos da cadeia de distribuição direta [...].
De maneira estratégica, a logística reversa busca inserir um produto na
cadeia produtiva agregando-lhe valor (LEITE, 2003). Já para Zimermann e Graeml
(2003), os bens de pós-venda “são aqueles produtos com pouco ou nenhum uso
devolvidos pelo consumidor final por diversos motivos e que retornam à cadeia de
suprimentos”. Esses autores relatam alguns motivos para a realização do fluxo do
retorno dos bens de pós-venda:
– retorno por falta de qualidade ou por utilização do serviço de garantia:
recall e devolução;
– redistribuição de produtos em virtude do prazo de validade próximo
ao vencimento e da sazonalidade de venda;
– retorno de materiais obsoletos, “canibalizados” pelo lançamento de
novos produtos; e
– limpeza (retorno) de estoques nos canais de distribuição para liberar
espaços na empresa .
Resende (2004) ressalta ainda que o fluxo reverso de pós-venda origina-
se em diferentes momentos da distribuição direta. Isso implica que a empresa
necessita acabar com os retornos, eliminando, assim, a necessidade da logística
reversa de pós-venda, pois se preparar para ela é o mesmo que reconhecer falhas
no processo.
31
2.8 Devolução de Produtos
De acordo com Rogers e Tibben-Lembke (1998), é importante conhecer
as atividades mais comuns que compõem o mercado de logística reversa, pois são
as limitações desse mercado que definirão o destino dos bens devolvidos. A TAB. 3
mostra algumas das atividades que fazem parte desse processo logístico.
TABELA 3: Atividades comuns da logística reversa
At ividades Comuns da Logística Reversa Material Atividades da Logística Reversa
Produtos
. Retorno ao fornecedor
. Revenda
. Recondicionado
. Renovado
. Remanufaturado
. Recuperação de materiais
. Reciclado
. Aterro sanitário
Embalagem
. Reutilização
. Renovada
. Recuperação de materiais
. Reciclagem Fonte: Rogers e Tibben-Lembke (1998).
Lacerda (2002) lista alguns fatores de sucesso nos casos de logística
reversa: bons controles de entrada, processos padronizados e mapeados, tempo de
ciclo reduzido, sistemas de informação, rede logística planejada e relações
colaborativas entre clientes e fornecedores.
Os bons controles de entrada consistem na identificação do estado dos
materiais a serem retornados e a decisão de se o material pode ou não ser
reutilizado. Dessa forma, a padronização e o mapeamento do processo seriam de
grande importância, uma vez que têm como objetivo tornar um processo esporádico
e de contingência em um processo regular, utilizando-se de documentação
adequada para a formalização de procedimentos e estabelecendo-se controles para
implementação de oportunidades de melhorias.
32
O tempo considerado entre a identificação da necessidade de reciclagem,
disposição ou retorno de produtos e o seu efetivo processamento torna-se um
importante diferencial para a execução dessa atividade. Logo, a utilização de um
sistema de informação aparece como uma importante ferramenta que viabiliza o
atendimento de requerimentos necessários para a operação, permitindo a
centralização da informação, confiabilidade e rastreabilidade.
Já para o planejamento de uma rede logística, há a necessidade de uma
infra-estrutura adequada para lidar com os fluxos de entrada de materiais usados e
os fluxos de saída de materiais processados envolvendo instalações, sistemas,
recursos (financeiros, humanos e máquinas), dentre outros. Assim, uma boa relação
entre clientes, fornecedores e outras partes interessadas permite também uma maior
confiabilidade das informações que serão discutidas entre os envolvidos do
processo, tornando-o mais eficiente.
Para Kim (2001), gerenciar os produtos e entender os motivos do seu
retorno é mais do que decidir o que fazer com ele. Porém, atuar sobre as causas da
insatisfação dos clientes e implementar um processo rápido e eficiente para estes
pode, de alguma como forma, fidelizá-los e, até mesmo, criar novas oportunidades
de negócios (FIGUEIREDO, 2002).
2.9 Armazenagem e Separação dos Resíduos
As diversas etapas dos processos podem gerar rejeitos. Cada tipo de
resíduo deve receber uma disposição correspondente à sua classificação.
Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e
33
economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. (NBR 10.004, 2004)
Conforme orienta a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT
10.004, 2004), os resíduos sólidos industriais podem ser classificados em três
grupos em função de suas particularidades: classe I, classe II A e classe II B. Os
resíduos da classe I são considerados perigosos por apresentarem risco à saúde
pública e ao meio ambiente, provocando mortalidade, incidência de doenças ou
acentuando seus índices. Os resíduos da classe II são considerados não perigosos
e dividem-se em:
� resíduos classe II A (não inertes): aqueles que não se
enquadram nas classificações de resíduos classe I (perigosos)
ou de resíduos classe II B (inertes), nos termos da Norma
10.004 (ABNT, 2004). Os resíduos classe II A (não inertes)
podem ter propriedades, tais como: biodegradabilidade,
combustibilidade ou solubilidade em água.
� resíduos classe II B (inertes): quaisquer resíduos que, quando
amostrados de uma forma representativa, segundo a ABNT
NBR 10007 (2004), e submetidos a um contato dinâmico e
estático com água destilada ou deionizada, à temperatura
ambiente, conforme ABNT NBR 10006 (2004), não tiverem
nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações
superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se
aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.
Após a classificação, procede-se à coleta dos resíduos gerados nos
processos, sendo necessário armazená-los separadamente em local definido, para
que se providencie a destinação final (NBR 11174, 1990). No caso especial dos
34
resíduos papel e papelão que saem das empresas, estes podem ir para o processo
de reciclagem ou para um aterro sanitário.
2.10 Disposição Final dos Bens
Para Leite (2003, p. 41), disposição final segura “é o desembaraço dos
bens usando-se um meio controlado que não danifique, de alguma maneira, o meio
ambiente e que não atinja, direta ou indiretamente, a sociedade”. Em oposição a
ela, tem-se a disposição não-segura, que corresponde ao “desembaraço dos bens
de maneira não controlada, tal como em locais impróprios (terrenos baldios, riachos,
rios, mares, lixões etc.) em quantidades indevidas”. Fuller e Allen (1995:244)
destacam em seu modelo apresentado na FIG. 8 as fontes dos resíduos e as
alternativas de disposição.
FIGURA 8: Ciclo de produção de consumo. Fonte: Fuller e Allen (1995, p. 244).
Conforme aponta Leite (2003), quando o descarte de bens e materiais
residuais realizado de maneira não controlada pode gerar impactos ambientais,
causando acúmulo desses resíduos e poluição. Por outro lado, bens de pós-
35
consumo, às vezes considerados inofensivos à saúde humana, podem provocar a
saturação dos meios tradicionais de disposição final dos resíduos, gerando poluição
de maneira indireta (porém, tão nociva quanto a primeira). Apresenta-se na FIG. 9
algumas das possibilidades de recuperação desses resíduos, os quais alimentarão
as vias de disposição final em aterros sanitários seguros ou serão reintegrados ao
ciclo produtivo.
FIGURA 9: Subsistemas de recuperação dos bens. Fonte: Fuller e Allen (1995, p. 44). Tradução livre do autor
Para Leite (2003, p. 42), o sistema de reciclagem agrega valor
econômico, ecológico e logístico aos bens de pós-consumo, criando condições para
que o material seja reintegrado ao ciclo produtivo, substituindo as matérias-primas
novas e gerando uma economia reversa. Já o sistema de reuso agrega valor de
reutilização ao bem de pós-consumo; e o sistema de incineração agrega valor
econômico, pela transformação dos resíduos em energia elétrica.
36
2.11 Reciclagem
Como afirma Leite (2003, p. 7), a reciclagem tornou-se uma importante
atividade econômica devido ao seu baixo impacto ambiental. Ela pode ser definida
como:
[...] o canal reverso de revalorização, em que os materiais constituintes dos produtos descartados são extraídos industrialmente, transformando-se em matérias-primas secundárias ou recicladas que serão reincorporadas à fabricação de novos produtos.
Ainda segundo o autor, para que a reciclagem possa ser aplicada de
forma eficiente, é necessário que existam certas condições, quais sejam:
– facilidade de transporte para que os custos não sejam muito
elevados;
– facilidade de desmontar, sem necessidade de equipamentos ou
ferramentas especiais;
– facilidade para a remanufatura;
– facilidade de separação das partes importantes após sua coleta;
– facilidade de extração do material constituinte dos produtos;
– manutenção de suas propriedades originais quando reciclados;
– manutenção de suas características originais mesmo quando
reciclados várias vezes; e
– possibilidade de substituição total ou parcial de matérias-primas
virgens.
Segundo Carlini (2002), o processo de reciclagem de produtos de pós-
consumo divide-se em “ciclos fechados” e “ciclos abertos”. O autor destaca que, nos
ciclos fechados, os produtos de pós-consumo retornam ao mesmo ciclo produtivo
para serem utilizados como matéria-prima na fabricação do mesmo produto. A TAB.
37
4 apresenta exemplos em que os materiais constituintes, após serem descartados,
são reintegrados, retornando ao processo de fabricação.
TABELA 4: Exemplos de canais reversos de ciclo fechado
Produto -origem de pós -consumo
Principais materiais extraídos Novo produto
Óleos lubrificantes usados Eliminação de impurezas e acréscimo de aditivos
Óleos lubrificantes
Baterias de veículos descartadas Extração de chumbo e plástico
Baterias de veículos novas
Latas de alumínio de embalagens descartadas
Extração da liga de alumínio Latas novas de alumínio
Fonte: Leite (2003, p. 53).
De acordo com Leite (2003), no ciclo aberto, os produtos de pós-consumo
não voltam ao ciclo produtivo do fabricante do produto inicial, mas os fabricantes
assumem a responsabilidade de coletar e encontrar um mercado para aqueles. A
FIG. 10 apresenta exemplos de produtos que participam do ciclo aberto.
FIGURA 10: Exemplos de canais reversos de ciclo aberto. Fonte: Leite (2003, p. 52).
Carlini (2002) aponta que existem diferenças entre os ciclos abertos e
fechados. Uma delas é que, no mercado de produtos dos ciclos fechados, o valor do
material reciclado não sofre muitas flutuações de preços, pois esse material volta ao
38
fabricante original. Em contrapartida, os ciclos abertos sofrem oscilações
significativas nos preços dos materiais reciclados.
Leite (2003, p. 55) apresenta algumas das possibilidades de retorno ao
ciclo produtivo, o qual que se inicia na fase de fabricação dos produtos até sua
colocação no mercado, conforme se pode observar no fluxograma da FIG. 11.
FIGURA 11: Canais de distribuição de pós-consumo: diretos e reversos. Fonte: Leite (2003, p. 55).
Segundo Lacerda (2002, p.4), para que o processo logístico reverso
referente a devoluções de produtos, retorno de embalagens, reutilizações, dentre
outros aspectos, atinja a sua eficiência, é necessário levar em consideração alguns
fatores crítico, a saber:
39
– Bons controles de entrada: no início do processo, é preciso identificar
corretamente o produto que será manuseado;
– Processos padronizados e mapeados: ter processos corretamente
mapeados e procedimentos formalizados é condição fundamental
para se obter controle e conseguir melhorias;
– Tempo de ciclo reduzido: refere-se ao tempo entre a identificação da
necessidade de reciclagem, disposição ou retorno do resíduo e seu
efetivo processamento;
– Sistemas de informação: a capacidade de rastreamento do caminho
seguido pelo resíduo, a medição dos tempos de ciclo e a mensuração
do desempenho dos serviços permitem obter informações cruciais
para negociações e melhoria de desempenho;
– Relações de parceria entre clientes e fornecedores: é importante que
as organizações envolvidas na logística reversa desenvolvam
relações mais colaborativas.
Lacerda (2002) também aponta que existem algumas restrições legais
que influenciam a logística reversa de pós-consumo e podem provocar mudanças de
comportamentos no mercado devido às novas regulamentações. Segue abaixo
alguns exemplos de legislações existentes:
– Legislações sobre proibições ou impedimentos quanto à criação de
aterros sanitários e incineradores;
– Legislações sobre implantação de coletas seletivas para redução das
quantidades que vão para os aterros e incineradores, possibilitando a
criação de outras atividades;
40
– Legislações sobre a obrigação dos fabricantes recolherem seus
produtos após o término de sua vida útil; e
– Legislações sobre a proibição da entrada de alguns produtos nos
aterros sanitários devido ao grande volume e à presença de
substâncias perigosas.
Dessa forma, pode-se perceber que, para que se possa planejar uma
rede reversa de pós-consumo que proporcione algum tipo de ganho à empresa e
para que essa atividade seja bem-estruturada e corretamente implementada, é
necessário levar vários aspectos em consideração. Observa-se que algumas das
aplicações da logística reversa se apresentam mais desenvolvidas, sendo possível
inclusive encontrar alguns movimentos em busca de uma maior conscientização da
sociedade para os problemas dos produtos de pós-consumo. Para outras
aplicações, contudo, ainda há a necessidade de uma melhor estruturação para que
as atividades sejam realizadas de maneira correta nos diversos elos da cadeia
reversa.
41
3 SISTEMA DE PREVISÃO DE DEMANDA
3.1 Previsão de Demanda
Para Chopra e Meindl (2003, p. 68), previsões de demanda são a base
para todas as decisões estratégicas e de planejamento, podendo ser aplicadas em
diversas áreas na gestão de organizações. Segundo Mentzer e Cox (1984), as
previsões de demanda são elaboradas utilizando métodos quantitativos, que utilizam
a análise de séries temporais (dados que descrevem a variação da demanda ao
longo do tempo), e métodos qualitativos, que se baseiam em opiniões de
especialistas, sendo vulneráveis a tendências que podem comprometer a
confiabilidade de seus resultados ou ambos. Sanders e Manrodt (1994) salientam
que, apesar de apresentarem um baixo grau de precisão, os métodos qualitativos
continuam sendo amplamente utilizados nas empresas. Para Dias (1999), a
utilização desses métodos pode estar relacionada ao fato de as previsões por eles
geradas corresponderem às metas de demanda estabelecidas pelas empresas.
Segundo Makridakis et al. (1998), a aplicabilidade de um sistema de
previsão depende de três condições:
– Disponibilidade de informações históricas;
– Possibilidade da transformação das informações históricas em dados
numéricos; e
– Suposição da repetição de padrões observados em dados passados
no tempo futuro. Essa consideração é conhecida como suposição de
continuidade, a qual é uma premissa básica para a utilização de
métodos de previsão, bem como de diversos métodos qualitativos.
42
3.2 Definição do Problema
Em consonância com Collopy, Adya e Armstrong (2001), em algumas
aplicações de previsão de demanda, a definição do problema pode ser a etapa mais
complexa, pois devem ser analisados diversos fatores: como a previsão será usada,
onde será usada e como ela se encaixa dentro da organização. Uma análise
adequada desses fatores é fundamental para se desenvolver uma técnica de
previsão apropriada e evitar resultados tendenciosos.
Segundo Chopra e Meindl (2003, p. 74), o custo da análise está
diretamente ligado à precisão requerida, pois as decisões serão tomadas tendo essa
análise com base. A FIG. 12 apresenta a relação de 4trade-off entre o custo da
previsão e as perdas causadas pela incerteza: assim, após determinado ponto, os
recursos investidos não implicam mais aumentos expressivos na previsão da
demanda e passam a ser toleráveis.
FIGURA 12: Relação entre precisão e custo da previsão. Fonte: adaptado de Montgomery et al. (1990).
O horizonte como comenta Chopra e Meindl (2003. p. 73), é um
importante fator a ser levado em consideração durante a análise da previsão de
demanda, pois terá como base o ponto em que o evento previsto ocorrerá. O
horizonte está relacionado com a capacidade de resposta da organização; logo, 4 Trade-off é a relação de compensação entre o custo da previsão e as perdas causadas pela incerteza.
43
quanto menos flexível for à organização, maior será o horizonte; quanto mais ágil,
menor o horizonte. A organização deve estimar o horizonte de previsão desejado.
Para Montgomery et al. (1990), o intervalo também pode auxiliar na
determinação do modelo a ser utilizado, pois é através dele que será definida a
freqüência com que as novas previsões serão preparadas. Logo, cabe ao
responsável pela elaboração do sistema de previsão consultar, durante a fase de
definição do problema, todos aqueles envolvidos na coleta de dados, na
manutenção do banco de dados e no uso das previsões para o planejamento futuro
ou que venham a influenciar a demanda.
3.3 Coleta de Informações
De acordo com Makridakis et al. (1998), dois tipos de informações devem
estar disponíveis na elaboração de um sistema de previsão: dados estatísticos
(geralmente numéricos) e dados subjetivos oriundos de julgamento e perícia de
especialistas (empregado, principalmente, na avaliação da qualidade dos dados a
serem utilizados no sistema).
3.3.1 Montagem do Banco de Dados
Collopy, Adya e Armstrong (2001) apontam que o banco de dados deve
ser realizado de maneira a possibilitar o armazenamento de dados estatísticos que
serão utilizados na previsão de demanda. De acordo com o autor, esse banco deve
conter informações que permitam filtros, os quais devem permitir o agrupamento de
dados para a realização da previsão de demanda e permitir atualização das
informações.
44
3.3.2 Classificação dos Produtos
Segundo Chopra e Meindl (2003, p. 74), para se identificarem os produtos
de maneira a tomar decisões e compreender os segmentos dos produtos, pode ser
necessário agrupá-los por similaridade. Dessa forma, pode-se estratificá-los por
exigências de serviços, volume de demanda, freqüência de pedidos, volatilidade da
demanda e sazonalidade, dentre outros aspectos.
3.3.3 Definição dos Níveis de Agregação
A agregação permite a homogeneização dos dados, menor horizonte de
previsão e variabilidade na demanda, possibilitando uma maior precisão na previsão
de demanda e maior confiabilidade dos dados de entrada do método escolhido
(MAKRIDAKIS, 1998; COLLOPY; ARMSTRONG, 1992; COLLOPY; ADYA;
ARMSTRONG, 2001).
Montgomery et al. (1990) apresentam algumas das forma de realização
das agregações temporais: produtos, preferências gerenciais e disponibilidade dos
dados de demanda. Mesmo assim, após várias agregações temporais, nenhuma
característica no comportamento da série pode ser encontrada, de modo que os
dados da demanda podem apresentar um comportamento exclusivamente aleatório,
o que poderia comprometer a precisão de previsões futuras.
3.4 Seleção do Pacote Computacional
Segundo Makridakis et al. (1998), a escolha adequada de um pacote
computacional para realização da previsão de demanda não é fácil, mesmo com a
grande variedade de produtos disponíveis no mercado. A definição de um pacote
computacional deve ser determinada de acordo com a complexidade do estudo a ser
45
realizado para elaborar a previsão de demanda. Além disso, esse pacote deve
permitir o gerenciamento das informações, bem como a apresentação gráfica e
relatórios dos resultados obtidos na análise.
É recomendável que o pacote seja de fácil utilização e aprendizado, além
de possuir ferramentas que permitam geração de previsão individual de um conjunto
de dados envolvendo milhares de séries temporais e dispor de capacidade de
processamento bastante extensa (MAKRIDAKIS et al. 1998). Esta última
característica é de grande importância quando se necessita analisar muitas séries.
3.5 Escolha e Validação dos Modelos
Chopra e Meindl (20003, p. 70) afirmam que, ao selecionar uma técnica
de previsão adequada, a empresa deve compreender as dimensões que serão
relevantes para a previsão. Sendo assim, antes de a empresa selecionar um modelo
de previsão, é necessário estar certa sobre qual o tempo de resposta do seu
processo. Para isso, ela deve analisar os seguintes fatores:
– demanda passada: os dados históricos da demanda auxiliam na
realização da previsão de demanda para os períodos futuros;
– conjuntura econômica: devido a alguns aspectos da economia, a
demanda pode ser influenciada de maneira a não traduzir a
realidade;
– oscilação na produção: demandas podem ser afetadas por
sazonalidades decorrentes de oscilações de produção, devendo ser
analisadas ; e
– planejamento de campanhas promocionais ou de marketing.
46
Compreendidos esses fatores a empresa pode escolher o modelo
requerido de previsão, como comentam os referidos autores.
3.6 Características da Série Temporal
Segundo Chopra e Meindl (2003, p. 71), o modelo de séries temporais
utiliza dados históricos da demanda para fazer a previsão, a qual pode ser realizada
a partir de seus componentes (ex: sazonalidade e tendência). Uma vez tendo os
modelos e dispondo seus parâmetros estimados apropriadamente, sua utilização na
predição da demanda futura pode ser testada, pois se considera que ele está
concluído. Nesse momento, tem início o seu processo de manutenção.
Chopra e Meindl (2003, p. 72) afirmam que uma das técnicas mais
comuns e eficazes é o modelo de previsão de séries temporais, que pode ser
dividido em duas categorias básicas:
– Estático: as organizações fazem estimativas para diversas partes (ex:
nível, tendência e sazonalidade) do componente sistemático da
demanda uma vez e, posteriormente, não atualizam essas
estimativas mesmo que percebam novas demandas. Esse tipo de
modelo lida com todo o erro de previsão futura como parte do
componente aleatório.
– Adaptável: as organizações atualizam suas estimativas para diversas
partes (ex: nível, tendência e sazonalidade) do componente
sistemático da demanda após terem feito a observação de cada
demanda. Uma parte do erro é atribuída à estimativa incorreta do
componente sistemático, sendo que o restante é atribuído ao
47
componente aleatório. Dessa maneira, esses modelos atualizam o
componente sistemático após cada observação da demanda.
Além disso, Chopra e Meindl (2003) apontam que os modelos de previsão
estáticos incluem a descoberta dos valores médios (ou a obtenção de estimativas de
regressão) de tendência e sazonalidade. Em contrapartida, os métodos adaptáveis
incluem médias móveis, suavização exponencial simples e suavização exponencial
de séries com tendências e com variação de estação. Apresenta-se, a seguir, a
explicação dos diversos métodos de previsão de séries temporais de modelos
adaptáveis, quais sejam:
– Suavização exponencial simples;
– Suavização exponencial de séries com tendência (modelo de Holt); e
– Suavização exponencial de séries com tendências e com variações
de estação (modelo de Winter).
O modelo de suavização exponencial simples é adequado quando a
demanda não apresenta tendência ou sazonalidade, de modo que o componente
sistemático de demanda é igual ao nível. A estimativa inicial de nível L0 é realizada
com a média de todos os dados históricos. De posse das informações sobre o
período 1 da demanda, apresenta-se o seguinte:
L0 =
Dessa forma, a previsão atual para todos os períodos futuros é igual à
estimativa atual do nível e é dada por:
Ft +1= Lt e Ft +n= Lt
A partir da demanda Dt +1, para o período t + 1, atualiza-se a estimativa do
nível:
Lt +1= Dt+1 + (1 - )Lt
48
A letra grega (alfa) identifica uma constante de suavização para o nível,
0 < < 1. Logo, o valor revisado do nível é a média ponderada entre o valor
observado do nível (Dt+1) no período t + 1 e a antiga estimativa do nível (Lt) no
período t. Utilizando-se a equação descrita a seguir, pode-se expressar o nível em
um determinado período como uma função entre a demanda atual e o nível no
período anterior.
Lt +1= nDt +1-n
Logo, a estimativa atual do nível é a média ponderada de todas as
observações anteriores de demanda, com observações recentes com peso maior
que as antigas observações. Um valor mais alto de corresponde a uma previsão
mais responsiva a observações recentes, ao passo que um valor mais baixo de
representa uma previsão mais estável e menos responsiva a observações recentes
(CHOPRA; MEINDL, 2003).
O modelo de suavização exponencial de séries com tendência (modelo de
Holt), por sua vez, é adequado quando a demanda possui um nível de tendência no
componente sistemático, mas não apresenta sazonalidades. Estabelece-se uma
estimativa inicial de nível e tendência executando a regressão linear entre a
demanda D e o período t do seguinte modo:
Dt = at + b
A constante b mede a estimativa de demanda no período t = 0 e é uma
estimativa do nível inicial L0, sendo que a inclinação a mede a taxa de mudança na
demanda por período e é a estimativa inicial de tendência T0. Desse modo, no
período t, dadas as estimativas de nível L e de tendência T, a previsão para os
períodos futuros é assim expressa:
Ft+1 = Lt + Tt e Ft+n = Lt + nTt
49
Após a observação da demanda para o período t, revisam-se as
estimativas de nível e de tendência da seguinte forma:
Lt+1 = Dt+1 + (1- )(Lt + Tt)
Tt+1 = (Lt+1 - Lt) + (1- )Tt
Conforme Chopra e Meindl (2003) destacam, neste caso, a letra grega
(alfa) caracteriza-se como a constante de suavização para o nível, 0 < < 1, e é a
constante de suavização para a tendência, 0 < < 1. Observe-se que, em cada uma
das atualizações, a estimativa revisada (de nível e de tendência) é a média
ponderada entre o valor observado e a antiga estimativa.
Já o modelo de suavização exponencial de séries com tendências e com
variações de estação (modelo de Winter) é aplicado quando o componente
sistemático da demanda possui nível, tendência e fator de sazonalidade. Adota-se a
periodicidade da demanda como p. No período t, dadas as estimativas do nível Lt,
tendências Tt e fatores de sazonalidades S1.........St-p+1, a previsão para os períodos
futuros é expressa do seguinte modo:
Ft+1 = (Lt + Tt)St+1 e Ft+n = (Lt + nTt)St+1
A partir dessa observação da demanda para o período t + 1, revisam-se
as estimativas para nível, tendência e fatores de sazonalidade
Lt+1 = (Dt+1/St+1 + (1- )(Lt + Tt)
Tt+1 = (Lt+1 - Lt) + (1- )Tt
St+p+1 = y(Dt+1/Lt+1)+ (1-y) St+1
Assim, observa-se que a letra grega (alfa) é a constante de suavização
para o nível, 0 < < 1, é a constante de suavização para a tendência, 0 < < 1,
e y é a constante de suavização para o fator de sazonalidade, 0 < Y < 1, sendo que,
após cada uma das atualizações (nível, tendência ou fator de sazonalidade), a
50
estimativa revisada é a média ponderada entre o valor observado e a antiga
estimativa. A TAB. 5 apresenta uma síntese desses modelos de previsão.
TABELA 5: Resumo de aplicabilidade dos modelos de previsão
Modelo de Previ são Aplicabilidade Média Móvel Demanda não apresenta tendência nem sazonalidade
Suavização Exponencial Simples Demanda não apresenta tendência nem sazonalidade Modelo Holt Demanda apresenta tendência, mas não sazonalidade
Modelo de Winter Demanda apresenta tendência e sazonalidade Fonte: Chopra e Meindl (2003, p. 86).
A medida de erro da previsão é importante porque estima o componente
aleatório da demanda e também ajuda a identificar os casos em que o modelo de
previsão adotado não é adequado (CHOPRA; MEINDL, 2003).
Em consonância com Chopra e Meindl (2003), dependendo do
comportamento da série temporal que se deseja analisar, vários modelos podem ser
empregados na previsão de seus valores futuros. A escolha do modelo mais
apropriado é feita a partir do somatório dos erros gerados pelo modelo (Et = Ft - Dt).
Uma vez que o cálculo dos erros pode resultar em valores positivos e negativos,
zerando assim o seu somatório, diferentes formas de cálculo para o somatório dos
erros podem ser empregadas. Uma das medidas de erro de previsão é o erro
quadrático médio (EQM), que estima a variação do erro de previsão:
EQM= t
t
Já o desvio absoluto no período t, At, pode ser entendido como o valor
absoluto do erro no período t, ou seja:
At = I Et I
Por sua vez, o desvio absoluto médio (DAM) apresenta-se como sendo a
média do desvio absoluto em todos os períodos.
DAMn= t
51
O DAM pode ser usado para estimar o desvio-padrão do componente
aleatório, supondo que o componente aleatório seja distribuído normalmente. Nesse
caso, o desvio padrão do componente aleatório é: α= 1,25 DAM. Estima-se a partir
daí que a média do componente aleatório é o 0 e que o desvio-padrão do
componente aleatório da demanda é o α.
O erro absoluto médio percentual (EAMP) é o erro absoluto médio como
percentual de demanda e se expressa da seguinte forma:
I 100
EAMP= ________________ n
A consistência de um modelo de previsão pode ser verificada por meio da
soma dos erros de previsão. Desse modo, verifica-se se os resultados da previsão
superestimam ou subestimam a demanda. O viés da previsão (VP) é uma
ferramenta que auxilia o responsável pela previsão em sua análise, oscilando em
torno de 0 se o erro for verdadeiramente aleatório e não enviesado de uma forma ou
de outra. O ideal é que se demonstrados todos os erros, a inclinação da reta seja 0.
Viesn= t
A razão de viés (TS) apresenta-se como a razão entre o viés da previsão
e o DAM. Caso o TS em qualquer período esteja fora da faixa +6, isso significa que
a previsão está enviesada e pode estar subestimada (razão de viés abaixo de -6) ou
superestimada (razão de viés acima de +6). Logo, com base em um dos critérios de
cálculo, o modelo adequado será aquele que apresentar o menor erro associado
(CHOPRA; MEINDL, 2003, p. 86).
TSt=__viést__ DAMt
52
4 ESTUDO DE CASO
Conforme assinalado no início desse trabalho o seu objetivo é propor um
modelo de processo logístico para o gerenciamento dos resíduos papel e papelão
dentro das instalações da Metform S/A. O referido modelo busca a redução dos
custos de administração dos resíduos e poderá, por meio de plano de ação
específico, maximizar o lucro da empresa.
4.1 Apresentação da Empresa
Instalada em uma área de 11.200 m2, em Betim/MG, a empresa sob
escrutínio foi fundada em 1990 com o nome de Spray Pinturas Especiais Ltda.,
prestando serviços de pintura por processo eletrostático a pó para terceiros em um
galpão industrial de 1.500 m2. Naquele mesmo ano, alterou sua razão social,
passando a chamar-se Spray Pintura Eletrostática Ltda.
Em 1996, após adquirir uma perfiladeira e ampliar suas instalações
industriais e administrativas para 4.400 m², passou a prestar a terceiros serviços de
perfilação em telhas metálicas e steel deck, produto inovador, até então pouco
utilizado no Brasil. A utilização do Steel Deck permite a execução de lajes sem
escoramentos e elimina a necessidade de armaduras, proporcionando economia no
peso e rapidez de montagem das estruturas metálicas e possibilitando a
alavancagem da construção de edifícios de múltiplos andares em estruturas
metálicas.
Em 1999, após alteração no controle acionário, passou a chamar-se
Codeme Produtos de Aço S/A. A partir de então, se reestruturou, profissionalizando
sua direção, criando um Departamento Comercial e passando a operar com estoque
53
próprio, comercializando os produtos: telhas, steel deck e acessórios galvanizados,
com ou sem pintura. Em novembro de 1999, alterou sua razão social, passando a
chamar-se Metform S/A.
Em setembro de 2000, foi inaugurada uma filial em Taubaté/SP, instalada
em uma área de 51.200 m2, contando com 4.720 m2 de instalações industriais e
administrativas, com o objetivo de produzir perfis formados a frio, fruto de um
contrato de transferência de tecnologia firmado com a Metsec, grupo inglês líder
nesse segmento na Europa. Esse produto, altamente inovador, é fabricado em
equipamentos CNC5 de alta precisão, possibilitando que sejam entregues nas
medidas solicitadas e furados. A partir do fim de 2002, com instalação de duas
perfiladeiras, a Metform S/A passa também a produzir Telhas Metálicas.
Em abril de 2001, devido a uma exigência da Fundação Estadual do Meio
Ambiente do Estado de Minas Gerais, foi construída uma Estação de Tratamento de
Efluentes Sanitária e Industrial, além de um Depósito Temporário de Resíduos. A
empresa está habilitada a gerenciar resíduos sólidos Classes I e II através de
Licença de Operação.
Com base no mapeamento do processo de fabricação de telhas, steel
deck e acessórios, com ou sem pintura, as operações podem envolver atividades
que vão desde a coleta, classificação e separação até a descaracterização ou
destruição, armazenagem, transporte e destinação (que pode ser a reutilização, a
reciclagem e a disposição final).
5 CNC são as iniciais de Computer Numeric Control ou, em português, Controle Numérico Computadorizado.
54
4.2 Descrição do Processo Atual
O processo origina-se com o recebimento e o armazenamento da
matéria-prima, que são as bobinas e chapas de aço utilizado para a fabricação das
peças citadas anteriormente. Após o recebimento, inicia-se o processo de perfilação,
que é responsável por dar forma à matéria-prima de acordo com a solicitação do
cliente, podendo resultar em uma telha, steel deck ou acessórios (calhas, rufos e
cumeeiras).
O processo de fabricação de telhas, steel deck e acessórios caracteriza-
se pela utilização de perfiladeiras, que são automatizadas e, portanto, demandam
pouca mão-de-obra para realização desses produtos. O steel deck é um produto
utilizado para o escoramento de laje de um empreendimento de construção civil,
possibilitando um melhor acabamento, redução no tempo de execução do
empreendimento, limpeza e custo. Já os acessórios (calhas, rufos e cumeeiras) são
complementos dos produtos telhas e steel deck.
Em seguida, o processo continua por dois caminhos, sendo que as peças
podem ser expedidas para o cliente ou seguir para o processo de pintura
eletrostática. Verificada a necessidade de realização do processo de pintura, as
peças são encaminhadas para o tratamento de superfície aonde serão preparadas
para receber a pintura.
O processo de pintura eletrostática é caracterizado pela aplicação de tinta
a pó na superfície das peças galvanizadas que são encaminhadas para uma estufa
de polimerização aonde a tinta seja aquecida a uma temperatura de
aproximadamente de 200ºC para acabamento. A temperatura à qual a tinta é
aquecida varia em função da cor e do tipo de resina utilizada pelo fornecedor
durante a fabricação da tinta (poliéster, epóxi e hibrida). Após o processo de pintura,
55
as peças são embaladas e expedidas para os clientes. A partir da FIG. 13, é
possível observar como é realizado o processo de fabricação de telhas, steel deck e
acessórios, com ou sem pintura da Metform S/A.
Depósito Temporário de Resíduos
Administrativo
Recebimento de
matéria-prima
(bobina e chapa
de aço)
Fabricação
de telhas,
steel deck e
acessórios
Tratamento
de SuperfíciePintura Expedição
Legenda
Fontes geradoras dos resíduos papel e papelão
FIGURA 13: Fluxo de geração de resíduo papelão dentro do processo produtivo. Fonte: Próprio autor.
Como observado na FIG. 13, em todo o processo de fabricação de telhas,
steel deck e acessórios, com ou sem pintura, são gerados os resíduos papel e
papelão. O processo de pintura corresponde ao momento em que é gerado o maior
volume de resíduo papelão, oriundo das caixas de tinta utilizadas para pintura das
peças. Já a área administrativa, composta pelos setores Comercial,
Administrativo/Financeiro e a Diretoria Superintendente, é responsável por gerenciar
as atividades que darão suporte à produção, gerando uma quantidade significativa
do resíduo papel.
Todavia, devido à falta de um modelo de processo logístico dos resíduos
sólidos, estes são recolhidos sem levar em consideração alguns dos custos
logísticos.
A FIG. 14 ilustra como é realizado o fluxo reverso dos resíduos papel e
papelão. Nela, pode-se observar que não existe uma preocupação da Metform S/A
em realizar o processo de seleção específico antes do seu envio ao depósito
56
temporário de resíduos, separando-os pelos diferentes tipos, como: papel branco e
papel diverso (colorido, jornais) e papelão. Esses resíduos são recolhidos na área
administrativa e no interior da fábrica, sendo armazenados de forma misturada no
depósito temporário de resíduos. O único tipo de seleção que ocorre é a separação
entre os resíduos papel ou papelão, não havendo estratificação em resíduos papel
branco e papel diverso, os quais, por sua vez, geram receitas diferentes devido à
sua composição.
FIGURA 14: Fluxo reverso atual dos resíduos sólidos industriais na Metform S/A. Fonte: Próprio autor.
Com base nas informações da descrição do processo atual, foram
estimados alguns custos para a mão-de-obra que está diretamente envolvida no
processo do gerenciamento dos resíduos papel e papelão da Metform S/A, uma vez
que ele consiste em uma atividade diária, conforme TAB. 6. Atualmente, não se tem
uma previsão adequada da demanda sobre a geração dos resíduos papel e papelão
para disponibilização da mão-de-obra com vistas à realização do recolhimento do
resíduo, o que proporcionaria à empresa uma redução no custo dessa atividade.
Dessa forma, o custo/hora da mão-de-obra tomado como base foi o salário desses
57
funcionários que realizam as atividades de coleta dos resíduos papel e papelão no
mês de janeiro de 2007.
TABELA 6: Custos médios de mão-de-obra com gerenciamento de resíduos
Setor Tarefa Tempo (horas/dia) Homem/hora Total Custo mensal
(R$24 dias)
Administração Recolhimento de papel
1,0 2,34 2,34 56,16
Produção Recolhimento de papel e papelão
1,0 2,64 2,64 63,36
Total 119,52 Fonte: Próprio autor.
A TAB. 7, produzida a partir dos relatórios de automonitoramento feitos
mensalmente para atender às exigências da Fundação Estadual do Meio Ambiente
(FEAM), mostra os dados históricos com as quantidades dos resíduos papel e
papelão que foram gerados em cada mês do ano de 2007. As quantidades
aparecem estratificadas por tipo de resíduo em função do estudo proposto. Não
obstante, a destinação dada a esse material atualmente ocorre de forma agrupada,
ou seja, dividida em dois grupos: papel (jornais, revistas, presentes, impressos em
geral) e papelão.
TABELA 7: Resíduos gerados / ano 2007
Mês Quantidade de Resíduo Gerado (kg)
Total (kg) Papelão Papel Branco Papel Diverso
Janeiro 645,21 19,10 33,47 697,78 Fevereiro 571,58 18,50 27,86 617,94
Março 672,20 20,48 30,30 722,98 Abril 718,94 23,59 33,95 776,48 Maio 563,48 22,38 30,58 616,44 Junho 604,90 17,47 31,46 653,83 Julho 563,58 18,82 26,53 608,93
Agosto 736,84 17,91 33,82 788,57 Setembro 550,47 21,64 28,66 600,77 Outubro 645,32 25,75 27,94 699,01
Novembro 662,57 23,86 29,81 716,24 Dezembro 766,52 25,08 33,20 824,80 Total (kg) 7701,61 254,58 367,58 8323,77
Fonte: Próprio autor.
58
São apresentados também os Gráficos 01, 02 e 03, que permitem avaliar
o padrão da demanda como visto no Capítulo 3 deste trabalho. É possível visualizar,
a partir dos resultados apresentados nos gráficos, a ausência de tendência ou
sazonalidades em função das características dos processos geradores. Isso se
explica pelo fato de o resíduo papel e o resíduo papelão serem gerados, em função
do consumo decorrente, respectivamente, de atividades administrativas e de pintura
de telhas, steel deck e acessórios.
GRÁFICO 1: Geração do resíduo papelão. Fonte: Próprio autor.
GRÁFICO 2: Geração do resíduo papel branco. Fonte: Próprio autor.
59
GRÁFICO 3: Geração do resíduo papel diverso. Fonte: Próprio autor.
Na TAB. 8, apresentam-se as quantidades e os respectivos preços
aplicados pelo mercado para os resíduos papel e papelão gerados durante os
processos de fabricação de telhas, steel deck e acessórios. Estes são valores
médios mensais de resíduos gerados no período de janeiro a dezembro de 2007 e
ora utilizados para exemplificação do presente estudo de caso.
TABELA 8: Custo médio dos resíduos vendidos
Tipo de resíduo Quantidade Mensal (kg) Preço (R$) Total (R$)
Papelão 640 0,18 115,20 Papel diverso (jornais, revistas, presentes, impressos em geral)
50 0,03 1,50
Total 116,70 Fonte: Próprio autor.
A partir de uma análise da média mensal dos resíduos papel e papelão
gerados com relação aos valores que se recebe do mercado e às despesas que são
pagas para realização dessas atividades, tem-se um resultado mensal negativo.
Recebe-se a importância de R$ 116,70 (TAB. 8), referente à venda dos resíduos
papel e papelão, e se tem uma despesa no valor de R$ 119,52 (TAB. 6), referente à
mão-de-obra despendida no gerenciamento dos resíduos.
60
Observa-se que, apesar de os resíduos papel e papelão inicialmente
gerarem certo ganho para a Metform S/A, está ocorrendo um prejuízo durante a
destinação deles para o mercado de reciclagem devido aos custos dessa atividade
(os quais são, também, inerentes ao ciclo reverso). Ademais, existem também outros
custos relacionados com a logística reversa dos resíduos que são pouco visíveis e
que, neste trabalho, não estão sendo quantificados, porque não são exclusivos do
processo analisado. Dentre eles, pode-se citar os custos referentes às áreas
ocupadas com o armazenamento dos resíduos e equipamentos de transporte e
movimentação dos resíduos. Quando esses custos são quantificados, melhora-se a
eficiência do processo.
61
5 MODELO PROPOSTO
5.1 Apresentação do Modelo
Para funcionar de maneira eficaz, uma organização tem que identificar e
gerenciar diversas atividades interligadas. Uma atividade que usa recursos e que é
gerenciada de forma a possibilitar a transformação de entradas em saídas pode ser
considerada um processo. Freqüentemente, a saída de um processo é a entrada
para o processo seguinte (ABNT NBR ISO 9001, 2000, p. 2).
Para Werkema (1995, p.6), processo é:
uma combinação dos elementos equipamentos, insumos, métodos ou procedimentos, condições ambientais, pessoas e informações do processo ou medidas, tendo como objetivo a fabricação de um bem ou fornecimento de um serviço.
Ainda segundo a ABNT NBR ISO 9001 (2000), a aplicação de um sistema
de processos em uma organização, junto com a identificação, interações desses
processos e sua gestão, pode ser considerada uma “abordagem de processo”. Uma
vantagem da abordagem de processo é o controle contínuo sobre a ligação entre os
processos individuais dentro do sistema de processos, bem como sua combinação e
interação. Quando usada em um sistema de gestão da qualidade, essa abordagem
enfatiza a importância de:
– entendimento e atendimento dos requisitos;
– necessidade de se considerarem os processos em termos de valor
agregado;
– obtenção de resultados de desempenho e eficácia de processo; e
– melhoria contínua de processos baseada em medições objetivas.
62
Essa abordagem pode ser aplicada a partir da metodologia conhecida
como "Plan-Do-Check-Act" (PDCA) para todos os processos. O modelo PDCA pode
ser descrito resumidamente como segue6:
– Plan (planejar): estabelecer os objetivos e processos necessários
para fornecer resultados de acordo com os requisitos do cliente e as
políticas da organização;
– Do (fazer): implementar os processos;
– Check (checar): monitorar e medir processos e produtos em relação
às políticas, aos objetivos e aos requisitos para o produto e relatar os
resultados;
– Act (agir): executar ações para promover continuamente a melhoria
do desempenho do processo.
Campos (1992, p. 31) define PDCA como:
O ciclo PDCA de controle pode ser utilizado para manutenção do nível de controle (ou cumprimento das “diretrizes de controle”), quando o processo é repetitivo e o plano (P) consta de uma meta que é uma faixa aceitável de valores e de um método que corresponde os “Procedimentos Padrão de Operação”. [...] Também utilizado nas melhorias do nível de controle (ou melhoria da “diretriz controle”). Neste caso, o processo não é repetitivo e o plano consta de uma meta que é um valor definido (por exemplo: reduzir o índice de peças defeituosas em 50%) e de um método, que compreende aqueles procedimentos próprios necessários para se atingir uma meta. Esta meta é o novo “nível de controle” pretendido.
É com base na abordagem de processos apresentada pela NBR ISO e na
complementação da metodologia PDCA que será estruturado o modelo de processo
logístico dos resíduos papel e papelão da Metform S/A. O planejamento do modelo
de processo logístico dos resíduos papel e papelão pode ser evidenciado na FIG.
6 Cumpre apontar que “método” é uma palavra de origem grega composta pela palavra meta (que significa
“alem de”) e pela palavra hodos (que significa “caminho”). Portanto, método significa “caminho para se chegar a um ponto além do caminho” (CAMPOS, 1992, p. 29).
63
15, em que são detalhados os principais subprocessos da Metform S/A para
realização dessa atividade.
FIGURA 15: Fluxograma geral do processo compartilhado. Fonte: Próprio autor.
Esse processo produtivo de fabricação de telhas, steel deck e acessórios
tem importância na formação do modelo do processo logístico, uma vez que está
diretamente relacionado com a geração dos resíduos papel e papelão. Ele
compreende:
– As entradas: são as matérias-primas, produtos auxiliares e recursos
humanos, físicos e financeiros;
– As saídas: constituem os produtos acabados e semi-acabados;
– Outras saídas: são os resíduos gerados no processo e que não
podem ser reutilizados neste.
Recebimento de matéria-prima
Fabricação de telhas, steel deck acessórios
Pintura Embalagem, armazenamento e expedição
Entrega ao cliente
Geração de Resíduos
Classificação e separação
Destinação do resíduo
Reciclagem Reutilização Aterro sanitário
Tratamento de superfície
64
A análise das saídas e de suas fontes geradoras permite a identificação
dos resíduos e seu impacto junto ao ambiente, além de auxiliar na identificação de
eventuais perdas no processo.
Nas próximas etapas, serão abordados com maior detalhamento os
passos para o planejamento, execução, verificação e ações propostas de controle
do processo com base na metodologia PDCA.
5.2 Etapas do Modelo
A aplicação do modelo de processo logístico deve passar por fases
distintas, que compõem todo o planejamento para implantação do ciclo reverso dos
resíduos. Seis são as fases distintas e dependentes que devem ser seguidas para
que o modelo seja praticável, a saber:
– Mapeamento do processo gerador dos resíduos papel e papelão;
– Diagnóstico da situação atual dos resíduos papel e papelão;
– Desenvolvimento do modelo de processo logístico dos resíduos papel
e papelão;
– Destinação dos resíduos papel e papelão;
– Implantação do modelo de processo logístico dos resíduos papel e
papelão; e
– Proposição de indicadores para avaliação do modelo de processo
logístico papel e papelão.
O mapeamento do processo gerador de resíduos durante a fabricação de
telhas, steel deck e acessório, com ou sem pintura, será realizado a partir da
identificação dos tipos de resíduos que são gerados por essa atividade, de forma a
quantificar e relacionar o tipo de resíduo com a fonte geradora. Será elaborada uma
65
planta do processo produtivo da Metform S/A de maneira a possibilitar um melhor
entendimento e visualização das interações do modelo de processo logístico. A
partir de então, será possível a proposição de ações para melhorar esse processo.
Para a realização do diagnóstico da situação atual dos resíduos papel e
papelão, será analisado o modo como funciona atualmente a gestão do processo de
resíduos de papel e papelão na Metform S/A. Esse processo existe desde o ano de
2001, devido a uma exigência da Fundação Estadual do Meio Ambiente, prevista na
Resolução Normativa 074/2004, que define que toda empresa que realiza atividades
potencialmente poluidoras deve monitorar a geração e destinação dos resíduos
gerados. Esse monitoramento é realizado pela Metform S/A periodicamente, sendo
enviados mensalmente à Fundação Estadual do Meio Ambiente os resultados dos
resíduos no período anterior, os quais seguem orientação das condicionantes da
Licença de Operação. A empresa deve também, anualmente, realizar Inventário de
Resíduos Sólidos Industriais, no qual consta, de acordo com a Conama 90/2005, a
quantidade de resíduos gerados no ano.
Para um maior embasamento do trabalho, será realizado um
levantamento dos dados históricos dos resíduos papel e papelão gerados nos doze
meses do ano de 2007, de maneira a possibilitar simulações de previsão de geração
de resíduos que possam minimizar os custos logísticos decorrentes das oscilações
de geração desses materiais. A coleta dessas informações consistirá na leitura do
relatório de automonitoramento enviado mensalmente à Fundação Estadual do Meio
Ambiente e do Inventário de Resíduos Sólidos Industriais realizado anualmente.
Buscar-se-á complementar a análise dessas informações com dados
secundários relevantes, tais como: paradas planejadas de fabricação de telhas, steel
66
deck e acessórios; oscilação na produção; e diminuição de turnos de trabalho. Essas
atividades darão suporte à implementação do modelo de processo logístico.
Para o desenvolvimento do modelo de processo logístico de resíduos,
deverão ser seguidas as diretrizes já estabelecidas pela Metform S/A para
realização das atividades do gerenciamento desses materiais, buscando-se, assim,
melhorá-lo. A FIG. 16 mostra o modelo proposto de processo logístico dos resíduos
papel e papelão.
FIGURA 16: Modelo de gestão de resíduos sólidos. Fonte: Próprio autor.
O modelo de processo logístico de resíduos sugere:
– Realizar diagnóstico: a partir do mapeamento do processo, será
possível identificar as fontes geradoras dos resíduos papel e papelão.
– Definição do fluxo e freqüência de recolhimento dos resíduos: essa
definição se faz necessária uma vez que os resíduos papel e papelão
gerados deverão ser encaminhados para o Depósito Temporário de
Resíduos para serem armazenados aguardar destinação final.
– Definição da forma de escoamento dos resíduos: o resíduo papel
será armazenado em coletores específicos com volume de 5 litros
distribuídos dentro de toda a empresa. O resíduo papelão chega à
produção em formato de caixa, a qual deverá ser desmanchada e
armazenada em paletes de madeira, de forma a diminuir o volume.
Realizar diagnóstico
Definição do fluxo e freqüência do recolhimento dos resíduos
Destinação dos resíduos
Definição da forma de escoamento dos resíduos
67
– Destinação dos resíduos: todos os resíduos serão encaminhados ao
Depósito Temporário de Resíduos para consolidação e posterior
destinação final.
A implantação do modelo de processo logístico dos resíduos papel e
papelão gerados no processo será gerenciada pela Metform S/A. A FIG. 17
apresenta um fluxograma do processo logístico para os resíduos da origem até o
destino final.
FIGURA 17: Fluxograma do processo de logística reversa dos resíduos papel e papelão. Fonte: Próprio autor.
Em cada etapa desse processo logístico, tem-se o envolvimento de
pessoas, transporte e controles pertinentes. A identificação do resíduo gerado no
processo será realizada a partir do levantamento dos resíduos gerados em
decorrência do processo de produção. Cada resíduo será relacionado no formulário
“Caracterização dos Resíduos Sólidos Gerados”, conforme mostra FIG. 18, e
Geração de Resíduos
Separação
Armazenagem em coletores
Coleta
Armazenagem no depósito temporário
Separação
Reciclagem
Aterro sanitário
68
classificado de acordo com Norma NBR 10.004 (2004). A FIG. 18 informa a
identificação dos resíduos, a fonte geradora, a classificação, as gerações, a
armazenagem, o transportador e o destino final.
FIGURA 18: Caracterização dos resíduos sólidos gerados. Fonte: Próprio autor.
Já a atividade de classificação e separação, como mostra a FIG. 19,
compreenderá a logística interna dos resíduos, identificando os trabalhos de coleta e
movimentação até o depósito temporário.
FIGURA 19: Classificação e separação. Fonte: Próprio autor.
Processo produtivo
Separação Armazenagem interna
Coleta
69
O resíduo limpo é separado em função de cada tipo, podendo ser cortado,
triturado e prensado. Esse material é enviado às recicladoras específicas, que tanto
podem fabricar um novo produto utilizando o material reciclado quanto vendê-lo
como matéria-prima. Dessa forma, têm-se os custos de controle e transporte até as
recicladoras. Caso haja algum tipo de resíduo contaminado cuja recuperação não
seja possível, ele deverá ser enviado ao aterro sanitário para tratamento. Observa-
se, neste ponto, custos de movimentação e mão-de-obra. Assim sendo, verifica-se
que os resíduos seguirão para reciclagem, reaproveitamento ou aterro sanitário,
como mostrado na FIG. 20.
FIGURA 20: Destinação final dos resíduos. Fonte: Próprio autor.
Cumpre lembrar que, durante todo o ciclo reverso, a empresa geradora,
de acordo com a legislação vigente, é co-responsável pelo manuseio, transporte,
destinação incorreta dos resíduos e danos causados ao meio ambiente. Além disso,
verifica-se que, em todo o ciclo logístico reverso aplicado aos resíduos papel e
papelão, existem custos a serem considerados, tais como: custos de mão-de-obra e
custos dos resíduos. Essa análise pode ser realizada com objetivo de possibilitar um
gerenciamento efetivo, auxiliando na redução desses custos. Isso aconteceria por
meio da implantação de ações diretas no processo à medida que se trabalhasse em
função da diminuição dos resíduos gerados.
Forma de Destinação
Aterro sanitário
Reaproveitamento
Reciclagem
70
Com o objetivo de maximizar os resultados (essenciais à sobrevivência de
organização), propõe-se, neste trabalho, a realização mensal de uma previsão de
geração dos resíduos papel e papelão de maneira a flexibilizar a mão-de-obra em
função da fabricação de telhas, steel deck e acessórios. Logo, esse será um
importante indicador e direcionador do processo logístico da Metform S/A, uma vez
que a geração de resíduos está intimamente ligada à fabricação de telhas, steel e
acessórios. A aplicação do método de previsão de demanda terá como base a
metodologia vista no Capítulo 3 deste trabalho.
Uma visualização clara do modelo mostra como a Metform S/A poderá
gerenciar os resíduos sólidos papel e papelão e buscar reduzir seus custos desde a
geração até a destinação dos resíduos, à medida que direciona seu foco para meios
que possibilitam um maior controle dos resíduos sólidos gerados durante o processo
de produção e para uma destinação final adequada desses materiais. Então, todos
os esforços e estruturas relacionadas anteriormente com o modelo de processo
logístico dos resíduos passam a fazer parte de uma Logística Reversa definida e
com gerenciamento próprio.
5.2.1 Descrição da Aplicação do Modelo
Com base na descrição do processo atual apresentado no Capítulo 4, foi
sugerido um mapeamento do processo gerador de resíduos papel e papelão, o qual
pode ser visualizado na FIG. 21.
71
FIGURA 21: Fluxo de Geração de Resíduo Papelão dentro do Processo Produtivo. Fonte: Próprio autor.
Observa-se que, apesar do resíduo papel aparecer na maior parte dos
processos de fabricação de telhas, steel deck e acessórios, o seu volume é inferior
ao do resíduo papelão. Isso é explicado pelo fato de o resíduo papelão ser oriundo
das caixas de tinta utilizada para pintura das telhas, steel deck e acessórios, o que
acarreta um maior volume.
Levando-se em consideração as quantidades geradas em cada processo
e os valores que elas representam para o modelo de processo logístico apresentado
no Capítulo 4, foi elaborado um fluxo para gerenciamento desse processo. A FIG. 22
apresenta que cada processo gerador realiza a seleção do resíduo em função de
sua característica. Neste caso, a seleção pode ser realizada da seguinte forma:
– Papel branco;
– Papel diverso; e
– Papelão.
72
FIGURA 22: Fluxo reverso proposto para os resíduos papel e papelão na Metform S/A. Fonte: Próprio autor.
De acordo com o fluxo reverso proposto para os resíduos papel e
papelão, cada processo gerador é responsável por selecionar os diversos tipos de
resíduos e destiná-los aos locais de pré-armazenagem antes de serem destinados
ao depósito temporário de resíduos. No depósito temporário de resíduos, esses
materiais ficam armazenados por períodos determinados em função da quantidade
de resíduos gerados, de maneira a somar quantidades que justifiquem sua
destinação para o mercado de reciclagem e que sejam economicamente rentáveis
para a Metform S/A. Desse modo, com base no levantamento dos dados históricos
de janeiro a dezembro de 2007 e em entrevistas com os funcionários que executam
essas atividades de coleta dos resíduos papel e papelão, sugere-se a seguinte
freqüência de recolhimento:
– Papel: duas vezes ao dia (manhã e tarde); e
– Papelão: uma vez ao dia (tarde).
O resíduo papelão oriundo das caixas de tinta pode ser desmanchado e
armazenado sobre paletes, não podendo estar contaminado com ácidos, óleos e
graxas. Já o resíduo papel pode ser acondicionado em coletores com volume
73
aproximado de 5 litros. Após esse pré-acondicionamento, esses materiais podem ser
enviados ao depósito temporário de resíduos para aguardar a destinação final.
5.2.2 Previsão de Demanda
Diferentes níveis de previsão requerem diferentes métodos de previsão.
Com base no levantamento dos dados históricos da geração dos resíduos papel e
papelão, realizou-se uma simulação de cenário para os próximos períodos, levando
em consideração a análise mensal do período de janeiro a dezembro/2007
apresentada no Capítulo 4.
Tal qual apontado no Capítulo 3, todos os dados e informações
importantes para previsão foram coletados e organizados em um banco de dados
que permite a atualização com a aplicação de informações mais recentes e
utilização de filtros de pesquisa. Como a coleta das informações é realizada
diariamente, houve a necessidade de agregação de seus elementos de forma a
visualizar com facilidade um padrão de comportamento da série que se manifeste
em uma base mensal. Devido à baixa complexidade e ao volume das informações
analisadas, foi empregado um software que é de fácil utilização, aprendizado, baixo
custo e compatível com sistema operacional utilizado pela empresa e que atende à
capacidade de processamento das informações.
O modelo de série temporal aplicado para simulação do cenário foi
suavização exponencial simples, uma vez que a geração dos resíduos papel e
papelão não apresenta tendência ou sazonalidade. Esse modelo é mais adequado
quando a situação é estável e o padrão básico da demanda não sofre variações
significativas de um ano para outro. A implementação dele é mais simples e já serve
74
como ponto de partida para uma previsão de demanda. As Tabelas 9, 10 e 11, a
seguir, apresentam os resultados da previsão para os três tipos de resíduos:
TABELA 9: Previsão de demanda do resíduo papelão
Período (t) Demanda (Dt) Nível (Lt) Previsão (Ft) Erro (Et)Erro
Absoluto
Erro
Quadrático
Medio (EQMt)
DAM(t)
Erro
Percentual
(%)
EAMP TS(t)
0 646,19
1 645,21 646,09 646,19 0,97 0,97 0,95 0,97 0,15 0,15 1,0
2 649,58 646,44 646,09 -3,49 3,49 6,57 2,23 0,54 0,34 -1,1
3 644,81 646,27 646,44 1,63 1,63 5,26 2,03 0,25 0,31 -0,4
4 640,28 645,67 646,27 5,99 5,99 12,93 3,02 0,94 0,47 1,7
5 644,54 645,56 645,67 1,13 1,13 10,60 2,64 0,18 0,41 2,4
6 642,84 645,29 645,56 2,72 2,72 10,07 2,66 0,42 0,41 3,4
7 653,25 646,09 645,29 -7,96 7,96 17,68 3,42 1,22 0,53 0,3
8 648,48 646,32 646,09 -2,39 2,39 16,19 3,29 0,37 0,51 -0,4
9 650,35 646,73 646,32 -4,03 4,03 16,19 3,37 0,62 0,52 -1,6
10 645,32 646,59 646,73 1,41 1,41 14,77 3,17 0,22 0,49 -1,3
11 643,74 646,30 646,59 2,85 2,85 14,16 3,14 0,44 0,49 -0,4
12 645,82 646,25 646,30 0,48 0,48 13,00 2,92 0,07 0,45 -0,2
alpha 0,1
Papelão
Fonte: Próprio autor.
Como indicado na Tabela 9 a razão de viés que varia -1,6 a 3,4, a
previsão utilizando suavização exponencial simples com α=0,1 não apresenta
nenhum viés significativo. Observa-se que o DAM12 é 2,92 e o EAMP12 1,12 são
significativamente baixos. Logo a estimativa de desvio-padrão de erro de previsão
utilizando a suavização exponencial simples é 1,25 x 2,92= 3,65.
TABELA 10: Previsão de demanda do resíduo papel diverso
Período (t) Demanda (Dt) Nível (Lt) Previsão (Ft) Erro (Et)Erro
Absoluto
Erro
Quadrático
Medio (EQMt)
DAM(t)
Erro
Percentual
(%)
EAMP TS(t)
0 31,05
1 31,47 31,09 31,05 -0,42 0,42 0,18 0,42 1,34 1,34 -1,0
2 30,86 31,07 31,09 0,23 0,23 0,12 0,33 0,75 1,04 -0,6
3 31,3 31,09 31,07 -0,23 0,23 0,10 0,29 0,74 0,94 -1,4
4 31,95 31,18 31,09 -0,86 0,86 0,26 0,44 2,69 1,38 -2,9
5 30,58 31,12 31,18 0,60 0,60 0,28 0,47 1,95 1,49 -1,5
6 31,46 31,15 31,12 -0,34 0,34 0,25 0,45 1,09 1,43 -2,3
7 30,53 31,09 31,15 0,62 0,62 0,27 0,47 2,03 1,51 -0,9
8 31,82 31,16 31,09 -0,73 0,73 0,30 0,50 2,30 1,61 -2,3
9 30,66 31,11 31,16 0,50 0,50 0,30 0,50 1,64 1,61 -1,3
10 29,94 30,99 31,11 1,17 1,17 0,40 0,57 3,91 1,84 0,9
11 31,81 31,08 30,99 -0,82 0,82 0,43 0,59 2,56 1,91 -0,5
12 30,2 30,99 31,08 0,88 0,88 0,46 0,62 2,90 1,99 1,0
alpha 0,1
Papel Diverso
Fonte: Próprio autor.
75
Como indicado na Tabela 11 a razão de viés que varia -2,9 a 1,0, a
previsão utilizando suavização exponencial simples com α=0,1 não apresenta
nenhum viés significativo. Observa-se que o DAM12 é 0,62 e o EAMP12 1,99 são
significativamente baixos. Logo a estimativa de desvio-padrão de erro de previsão
utilizando a suavização exponencial simples é 1,25 x 0,62= 0,78.
TABELA 11: Previsão de demanda do resíduo papel branco
Período (t) Demanda (Dt) Nível (Lt) Previsão (Ft) Erro (Et)Erro
Absoluto
Erro
Quadrático
Medio (EQMt)
DAM(t)
Erro
Percentual
(%)
EAMP TS(t)
0 19,43
1 19,45 19,43 19,43 -0,02 0,02 0,00 0,02 0,11 0,11 -1,0
2 19,13 19,40 19,43 0,30 0,30 0,05 0,16 1,57 0,84 1,7
3 20,48 19,51 19,40 -1,08 1,08 0,42 0,47 5,27 2,32 -1,7
4 19,54 19,51 19,51 -0,03 0,03 0,31 0,36 0,16 1,78 -2,3
5 19,56 19,52 19,51 -0,05 0,05 0,25 0,30 0,25 1,47 -3,0
6 19,47 19,51 19,52 0,05 0,05 0,21 0,25 0,24 1,27 -3,3
7 18,82 19,44 19,51 0,69 0,69 0,25 0,32 3,68 1,61 -0,4
8 19,78 19,48 19,44 -0,34 0,34 0,23 0,32 1,71 1,62 -1,5
9 19,23 19,45 19,48 0,25 0,25 0,21 0,31 1,28 1,58 -0,8
10 18,47 19,35 19,45 0,98 0,98 0,29 0,38 5,32 1,96 2,0
11 19,52 19,37 19,35 -0,17 0,17 0,26 0,36 0,85 1,86 1,6
12 19,69 19,40 19,37 -0,32 0,32 0,25 0,36 1,62 1,84 0,7
alpha 0,1
Papel Branco
Fonte: Próprio autor.
Como indicado na Tabela 11 a razão de viés que varia -3,3 a 2,0, a
previsão utilizando suavização exponencial simples com α=0,1 não apresenta
nenhum viés significativo. Observa-se que o DAM12 é 0,36 e o EAMP12 1,84 são
significativamente baixos. Logo a estimativa de desvio-padrão de erro de previsão
utilizando a suavização exponencial simples é 1,25 x 0,36= 0,45.
Os resultados encontrados nas Tabelas 9, 10 e 11 foram baseados nas
fórmulas de cálculos apresentados no Capítulo 3. Dessa forma, têm-se as seguintes
previsões para os próximos quatro períodos:
– Papelão:
F13 = F14 = F15 = F16 = Lt 12 = 646,25 kg;
76
– Papel Diverso:
F13 = F14 = F15 = F16 = Lt 12 = 30,99 kg; e
– Papel Branco:
F13 = F14 = F15 = F16 = Lt 12 = 19,40 kg.
De acordo com o critério de avaliação do modelo de séries temporais, é o
cálculo dos erros que valida a aplicação correta do modelo de previsão de demanda,
sendo que, nesse caso, toma-se como base a razão de viés (TS). Se o TS em
qualquer período estiver fora da faixa +6 em qualquer ponto das tabelas analisadas,
isso significa que a previsão está enviesada e que pode estar subestimada ou
superestimada. Nesse caso, a organização deve optar pela escolha de um novo
modelo de previsão. Observa-se, nos 12 períodos apresentados nas Tabelas 9, 10 e
11, que todos os resultados de TS estão dentro do critério estabelecido, validando,
assim, o modelo escolhido.
De posse dos resultados apresentados na previsão de demanda para a
geração dos resíduos papel e papelão e dos custos logísticos apresentados nas
Tabelas 12 e 13, sugere-se uma destinação final realizada bimestralmente, de
maneira a minimizar os custos logísticos e buscar algum ganho durante a realização
dessa atividade.
TABELA 12: Custos médios de mão-de-obra com gerenciamento de resíduos
Setor Tarefa Tempo (horas/dia) Homem/hora Preço Valor mensal
(R$48 dias) Administração Recolhimento de papel 1,0 2,20 2,20 105,60
Produção Recolhimento de papel e papelão
1,0 2,64 2,64 126,72
Total 232,32 Fonte: Próprio autor.
77
Na TAB. 13, em que se estratifica o resíduo papel branco e papel diverso,
o modelo apresenta a quantidade e o preço de venda bimestral dos resíduos
gerados pelos materiais usados durante os processos.
TABELA 13: Custo médio dos resíduos dos materiais vendidos no processo
Tipo de resíduo Quantidade Bimestral (kg) Preço (R$) Total (R$)
Papel branco (impressora blocos, cadernos) 40 0,20 8,00 Papelão (embalagens não plastificadas) 1280 0,18 230,40 Papel diverso ((jornais, revistas, presentes, impressos em geral)
60 0,03 1,80
Total 240,20 Fonte: Próprio autor.
Os custos e valores apresentados mostram a situação proposta e
fornecem informações importantes para que os responsáveis pela gestão atuem
com o objetivo de mudar o quadro apresentado no Capítulo 4. Observa-se que o
processo de destinação dos resíduos papel e papelão será realizado
bimestralmente, o que diferencia da maneira atual que trabalha com a freqüência
mensal.
Desse modo, a partir da relação entre os valores recebidos e pagos no
modelo proposto, verifica-se um resultado positivo. Conforme demonstrado na
TAB. 13, a venda mensal dos resíduos dos resíduos soma R$ 120,10; porém, com o
envio bimestral, obtém-se o resultado de R$ 240,20. Já os valores gastos com a
mão-de-obra e outros custos somam, bimestralmente, um total de R$ 232,32
(TAB. 12) no modelo de processo logístico dos resíduos, de modo que se obtém um
saldo positivo de R$ 7,88.
Observa-se que a proposta de modelo de processo logístico auxiliaria a
Metform S/A a deixar de ter um resultado negativo mensal de R$ 2,82 (GRAF. 4) e
78
passar a ter um lucro bimestral no valor R$ 7,88 (GRAF. 5), mesmo que mínimo em
função do porte da empresa.
GRÁFICO 4: Receita com Modelo Atual de Processo Logístico. Fonte: Próprio autor.
GRÁFICO 5: Receita com Modelo Proposto de Processo Logístico. Fonte: Próprio autor.
5.2.3 Discussão sobre a Utilização do Modelo
Como comentado anteriormente, a empresa possui, ainda que primário,
um modelo de gerenciamento dos resíduos papel e papelão. A visão de um modelo
79
de processo logístico de resíduo mais eficiente poderia trazer resultados positivos
referentes à logística reversa, possibilitando à própria empresa reinvestir os recursos
até então não mensurados.
A forma de escolha do método de previsão de demanda com séries
temporais de suavização exponencial simples levou em consideração os dados
obtidos no Capítulo 4. Os dados coletados foram agrupados e auxiliaram na
especificação dos diversos fatores temporais (período, intervalo e horizonte) que
direcionam para obtenção dos resultados do sistema de previsão.
Todos os dados históricos apresentados pela empresa foram analisados
antes de se considerar a praticidade do método de suavização exponencial simples.
Os resultados obtidos por esse método permitem uma fácil compreensão dos
usuários em relação às previsões, o que garante informações que auxiliam os
responsáveis pela previsão a tomar decisões a partir da avaliação da incerteza que
cerca as estimativas das previsões em outras situações.
A partir da simulação do sistema de previsão de demanda de geração dos
resíduos papel e papelão para os próximos períodos, tem-se a necessidade de
realização de um acompanhamento eficaz visando identificar a precisão dos
resultados simulados e propor ações que corrijam os erros encontrados. A precisão
da previsão dependerá dos dados obtidos e da estabilidade do processo; logo,
sugere-se a comparação dos valores previstos com os valores realizados de forma a
validar o método de suavização exponencial simples.
80
6 CONCLUSÃO
6.1 Literatura Específica sobre Logística Reversa
O presente estudo visou desenvolver um modelo para logística reversa no
atual ambiente de negócios fortemente marcado pela presença de fluxos de retorno
dos chamados “bens de pós-consumo”. Como visto, os bens de pós-consumo
caracterizam-se, em um primeiro momento, como materiais oriundos de descarte,
por terem chegado ao final de sua vida útil, não possuírem mais utilidade ao
proprietário original ou constituírem-se em resíduos. Esses materiais, contudo,
podem ser, de alguma forma, reaproveitados, em uma extensão de sua vida útil, e,
somente em último caso, eliminados do ciclo produtivo, sendo enviados a destinos
finais tradicionais, como a incineração ou os aterros sanitários.
Buscou-se contextualizar o tema por meio de uma ampla revisão da
literatura, englobando os aspectos relacionados à logística reversa, tais como
conceitos, origem, atividades, processos, importância, fatores motivadores,
sustentabilidade, barreiras à execução e uma série de outros fatores de igual
relevância. Sobre a revisão da literatura, foram ressaltados fatores críticos que
afetam a eficácia da implementação integrada dos fluxos reversos, os aspectos
relevantes que interferem na decisão da sua implantação e estrutura pode ser
utilizada pela empresa. Concluiu-se que há muita carência de estudos acadêmicos
devido ao fato de este tema ainda ser pouco explorado, principalmente no Brasil.
Buscou-se estruturar uma seqüência das idéias sobre a logística reversa de forma a
facilitar ao leitor o seu entendimento e diminuir um pouco essa limitação sobre o
81
tema, a qual faz com que fatores críticos de sucesso dessa abordagem acabem
sendo questionados diante da utilização inadequada dos seus princípios.
A literatura apresenta vantagens sob o ponto de vista teórico e prático
para a logística reversa. Na perspectiva teórica, ressalta-se que o tema foi analisado
seguindo um embasamento metodológico extremamente cuidadoso, constituindo,
pois, um material relevante para compor a literatura sobre o tema pesquisado. Como
visto na literatura, destaca-se que não foi encontrado qualquer modelo de processo
de logística reversa que se baseie no processo logístico dos resíduos papel e
papelão com foco no fluxo reverso de pós-consumo de indústria metalúrgica. Sob o
ponto de vista prático, é importante ressaltar algumas características, tais como: a
utilização adequada da força de mão-de-obra de maneira a reduzir seu custo, o
aumento considerável da descartabilidade dos produtos, a crescente
conscientização da sociedade sobre a sustentabilidade e a necessidade de redução
da utilização de matéria-prima virgem. Todos esses fatores exigem uma nova
postura estratégica das organizações, o que justificou a relevância prática do
presente estudo.
6.2 Conclusão sobre o Estudo de Caso
Em síntese, a partir da análise e da reflexão acerca dos resultados, foram
alcançados os objetivos específicos propostos:
– Descrição do processo produtivo da empresa Metform S/A. Em
relação ao primeiro objetivo específico, foi mapeado e descrito o
processo que compreende desde a fabricação de telhas, steel deck e
acessórios, com ou sem pintura, até o gerenciamento dos resíduos
papel e papelão que são fortemente impactados pelo processo
82
produtivo da empresa Metform S/A. O Capítulo 4 apresentou a
descrição atual do processo, permitindo a visualização de como é
estruturado o processo de logística reversa dos resíduos papel e
papelão na Metform S/A. Observou-se que não é realizada uma
separação dos resíduos papel branco e papel diverso durante a sua
destinação final, sendo ambos comercializados como papel diverso a
custo menor em função da qualidade do material para o mercado.
– Identificação e descrição dos resíduos papel e papelão gerados no
processo. A partir do mapeamento do processo de fabricação de
telhas, steel deck e acessórios, com ou sem pintura, foram
identificados e descritos os tipos de resíduos gerados em cada
processo de maneira que pudessem ser mensuradas as quantidades
geradas. Verificou-se que os resíduos papel e papelão oriundos das
caixas de tinta representam a maior receita obtida com a destinação
desses resíduos para o mercado em função do processo produtivo.
Logo, o resíduo papelão torna-se um importante indicador para o
estudo de caso, pois a sua geração está ligada diretamente à pintura
das telhas, steel deck e acessórios, o que implica que o
gerenciamento reverso desse resíduo tem como base a programação
de produção da empresa.
– Levantar as quantidades dos resíduos papel e papelão gerados nos
meses do ano de 2007. A partir da análise dos relatórios de
automonitoramento elaborados pela Metform S/A para atender às
exigências da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), foi
possível levantar as quantidades de resíduos gerados no período
83
descrito, como apresentado também no Capítulo 4. Esses dados
foram agrupados em tabelas e posteriormente apresentados em
forma gráfica de maneira a verificar o comportamento e, então,
selecionar o modelo mais adequado de previsão de demanda,
conforme apresentado no estudo de caso no Capítulo 3.
– Identificar os preços de venda de mercado para os resíduos papel e
papelão. No capítulo 4, foram identificados, por meio de entrevista
com o responsável pelo gerenciamento dos resíduos, os preços de
venda aplicados pelo mercado de reciclagem. A partir da
identificação dos valores ofertados pelo mercado de reciclagem,
observou-se que a Metform S/A tem a oportunidade de melhorar seu
ganho financeiro com a atividade de logística reversa dos resíduos
papel e papelão. Caso opte por realizar a estratificação do resíduo
papel em papel branco e papel diverso, será possível ter receitas
diferenciadas (R$ 0,20/kg e R$ 0,03/kg, respectivamente), sendo
que, atualmente, todo o resíduo papel é vendido como papel diverso
a R$ 0,03/kg devido à falta de separação desses materiais.
– Desenvolver um modelo de processo logístico dos resíduos papel e
papelão. No Capítulo 5, foi apresentado o modelo proposto de
processo logístico dos resíduos papel e papelão, descrevendo-se as
diversas etapas a serem seguidas para a sua implementação. O
modelo proposto utilizou a metodologia PDCA, estabelecendo as
etapas a serem seguidas para a implementação de um processo
logístico reverso. Essa metodologia é bastante conceituada, sendo a
base para implantação do sistema de gestão da qualidade através da
84
ABNT NBR ISO 9001 (2000) nas empresas. Ela tem como foco
planejamento, execução, verificação e ação para se obter melhoria
contínua do processo. É essa melhoria contínua que permite à
empresa realizar um serviço de qualidade a baixo custo,
assegurando, assim, sua competitividade no mercado.
– Fazer uma simulação da aplicação do modelo de processo logístico
dos resíduos papel e papelão. No capítulo 5, foi apresentada a
simulação da aplicação do modelo proposto tendo como base a
metodologia apresentada no Capítulo 3 para previsão de demanda. A
partir da simulação pelo método de suavização exponencial simples,
observou-se a possibilidade da promoção de ganhos para Metform
S/A e assegurando a sustentabilidade, bem como a destinação dos
seus resíduos de forma não agressiva ao meio ambiente. De acordo
com os critérios para aplicação do método apresentados no Capítulo
3, verificou-se a viabilidade de execução do projeto proposto neste
trabalho para a empresa através de uma boa gestão dos seus
recursos que é de fundamental importância para o sucesso dessa
atividade.
A partir das conclusões apresentadas, pode-se afirmar que o objetivo
geral deste estudo, que consiste em “propor um modelo de processo logístico para
coleta, seleção, desmontagem, armazenagem e disposição dos resíduos papel e
papelão”, foi plenamente alcançado e recebeu especial atenção e detalhada
explicação no Capítulo 4.
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6.3 Recomendações para Empresa
Nesta seção, realizam-se recomendações de caráter mais geral, com a
finalidade de se refletir sobre alguns aspectos desenvolvidos para fortalecer o
modelo de processo logístico da Metform S/A. Sugere-se o seguinte.
– Refinamento no monitoramento de geração das quantidades dos
resíduos papel e papelão gerado, de maneira a possibilitar a
identificação de cada embalagem e determinar aquelas que não
foram reinseridas no fluxo reverso, o seu destino e o braço do canal
de distribuição que responde por seu retorno. Isso constituiria
informação fundamental para melhoria das ações de comunicação
buscando corrigir comportamentos não colaborativos e incentivar a
maior integração entre os processos de produção.
– Dado que o lucro com a implementação do processo logístico é
baixo, acredita-se que a implantação permitiria a empresa assegurar
também o seu comprometimento com as questões de preservação
ambiental a partir do aparecimento de uma nova cultura que pode
sintetizada “reduza - reuse - recicle”, que privilegia uma maior
responsabilidade ao observar os impactos de seus produtos no meio
ambiente.
Nele a empresa deixa uma fase reativa onde desembaraça seus
resíduos através de uma simples retirada evitando custos de
disposição final, com motivação principal de retorno de investimento e
soluções de curto prazo e passa para uma fase pró-ativa com o
objetivo de agregar valor. Integra-se à sua reflexão estratégica o
diferencial competitivo tendo em vista os impactos causados ao meio
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ambiente, projetando produtos para serem facilmente desmontados
ou reciclados, criando assim uma rede de comprometimento com o
meio ambiente em suas redes de suprimentos e distribuição.
Esse comprometimento ao longo de todos os níveis hierárquicos
garante elevado grau de satisfação e orgulho dos funcionários que se
traduzirá em maior criatividade em suas funções e processos de
melhorias constantes. Logo a empresa obtém além da redução de
custos operacionais, ganho de competitividade e reforço a imagem
corporativa.
As conclusões são úteis no direcionamento de ações a serem tomadas
pelas pessoas envolvidas de maneira a possibilitar uma gestão adequada dos
recursos e evitar uma perda de qualidade no controle dos resíduos papel e papelão
que podem vir a causar sérios danos ao meio ambiente e assegurando a
sustentabilidade do negócio.
6.4 Pesquisas Futuras
Ao final deste estudo de caso, recomendam-se alguns caminhos para
futuras pesquisas, com a finalidade de expandir os resultados sobre o assunto
tratado. Como essa pesquisa abordou um tema ainda não muito explorado no meio
acadêmico brasileiro, há um campo amplo de pesquisa a ser investigado.
O estudo teve como limitação a falta de uma maior diversidade de revisão
da literatura no que diz respeito à logística reversa de papel e papelão de indústria
metalúrgica. Dessa forma, a partir das conclusões e visando a um maior
desenvolvimento na área e do tema do presente estudo, sugere-se a condução de
outros estudos, tais como:
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– Estender o modelo de processo logístico para outros tipos de
resíduos gerados no processo de fabricação de telhas, steel deck e
acessórios da Metform S/A.
– Estender a pesquisa a outras empresas que são classificadas,
conforme Resolução Normativa 074/2004, como potencialmente
poluidoras do distrito industrial no qual se localiza a Metform S/A,
visto que os impactos ambientais também são semelhantes entre
essas empresas.
Acredita-se que o desenvolvimento dessas linhas de pesquisa virá a
contribuir para o crescimento integrado da logística, especialmente dos fluxos
reversos, consolidando-os como atividade essencial às exigências do mercado
moderno, caracterizado por uma crescente consciência ambiental.
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