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IDENTIFICAÇÃO DOS FATORES CRÍTICOS PARA
O SUCESSO DA ADOÇÃO DA PRÁTICA DE
LOGÍSTICA REVERSA NA CONSTRUÇÃO CIVIL
EM CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ: UMA
ANÁLISE SOBRE A ETAPA DE GERAÇÃO E
TRIAGEM DE RESÍDUOS.
Josinaldo de Oliveira Dias (UENF)
gudelia g. morales de arica (UENF)
Atualmente, a exigência e vigor dos clientes e das legislações ambientais em
relação às práticas de tratamento adequado aos resíduos provenientes das
indústrias, tem se tornado crescente, porém ainda incipientes. Com base
nesse contexto, a logística reversa apresenta-se com o objetivo de gerir os
fluxos reversos, garantindo que os produtos, que ainda apresentam vida útil
ou não, após a venda e uso, se tornem insumos novamente para o ciclo
produtivo, recebendo e agregando valor em outros mercados. O presente
trabalho busca, por meio da revisão da literatura, analisar o desenvolvimento
da fase inicial (geração e triagem) das operações de logística reversa no setor
da construção civil, no município de Campos dos Goytacazes-RJ. Com o
auxílio das ferramentas da qualidade tornou-se possível evidenciar os
principais fatores críticos ao sucesso da adoção da fase inicial da logística
reversa no setor. Para definir as principais e possíveis causas deste efeito,
buscou-se trabalhar com a aplicação de questionários e processo de
brainstorm junto às empresas de construção civil localizadas no município em
estudo, e entrevista semi - estruturada realizada na secretaria municipal de
limpeza pública, evidenciando por meio de um diagrama de correlação as
causas raízes, tais como: Falta de conscientização dos impactos ambientais e
a percepção de ausência de legislação vigorosa. A avaliação da pesquisa
ocorre de forma qualitativa onde através das informações e panorama
obtidos, foi possível o delineamento de um plano de ação voltado para as
causas raízes do efeito estudado, bem como o contra ponto entre a
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Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
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percepção de ausência de legislação vigorosa e o desconhecimento das leis
de ações em prol da gestão de tais resíduos.
Palavras-chave: Logística Reversa, Ferramentas da qualidade, Campos dos
Goytacazes.
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1 - Introdução
Diante dos problemas ambientais enfrentados atualmente, o que mais atinge a população
refere-se ao gerenciamento dos resíduos sólidos. Pode-se afirmar que os principais fatores que
contribuem de forma significativa para este problema são representados pelo crescimento
exponencial da população mundial, urbanização e a mudança do estilo de vida do homem
(MACÊDO et al. 2001).
A construção civil apresenta-se como responsável por uma fatia significativa dos impactos
negativos causados ao meio ambiente, interferindo no meio físico, biótico e antrópico
(MARCONDES et al. ,2005).Contudo a construção civil e sua cadeia produtiva encontram-se
na base do desenvolvimento, influenciando e estimulando fortemente a evolução do espaço
urbano (CBIC, 2012).
Segundo estudos da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC, 2012), é primordial
que o setor busque superar a visão ultrapassada de que “construção sustentável” ocasiona
aumento de custos e reduz a capacidade produtiva da construção, uma vez que aplicada de
forma efetiva, a sustentabilidade garante qualidade de produtos, diminuindo os custos
envolvidos no ciclo de vida e o setor financeiro tem a oportunidade de investir de forma
transparente e com riscos mínimos.
Devido ao aumento do descarte de produtos e a falta de canais de distribuição reversos de
pós-consumo, surge o desequilíbrio entre as quantidades reaproveitadas e as descartadas, o
que eleva o nível de produtos pós-consumo e deixa visível um dos mais graves problemas
urbanos ambientais vividos atualmente, a dificuldade de alocação do lixo urbano (LEITE,
2003).
Com base nesse contexto, a logística reversa apresenta-se com o objetivo de gerir os fluxos
reversos, garantindo que os produtos, que ainda apresentam vida útil ou não, após a venda e
uso, se tornem insumos novamente para o ciclo produtivo, recebendo e agregando valor em
outros mercados.
2 – Revisão da literatura
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2.1 - Logística Reversa
De acordo com Meade e Sarkis (2007), a logística reversa representa um mecanismo no qual
o fabricante pode utilizar-se para recolher produtos no final do ciclo de vida útil, onde o ponto
de origem é o consumidor, e tais produtos possivelmente serão destinados aos canais de
reciclagem e re-fabricação.
Algumas definições de logística reversa são apresentadas no quadro 1, abaixo:
Quadro 1 – Definições de logística reversa
Perspectiva Autores e Ano Definição
Ambiental BALLOU (1995)
“A preocupação com a ecologia
e o meio ambiente cresceu junto
com a população e a
industrialização o que
proporcionará novas
oportunidades para a área da
logística”. Como exemplo a LR.
Genérica
INDERFURTH et al. apud
LIMA & CAIXETA
(2001)
“Conjunto de ações que visam à
reutilização de produtos e
materiais.”
Genérica FLEISCHMANN et al.
(1997)
“Logística reversa é o processo
de planejamento, implementação
e controle eficiente e eficaz do
fluxo de entrada e armazenagem
de materiais secundários e
informações relacionadas
opostas à direção tradicional da
cadeia de suprimentos, com o
propósito de recuperar valor ou
descartar corretamente
materiais.”
Logística de
Negócios STOCK (1998)
“O papel da logística em termos
de retorno de produtos, redução
de recursos, reciclagem,
substituição de materiais,
reutilização, disposição de
resíduos, reforma, reparo e
manufatura.”
Objetivo de
suas
Operações
Glossário da Logística
apud LIMA & CAIXETA
(2001)
“Conjunto de atividades e
habilidades gerenciais logísticas
relacionadas à redução,
administração e disposição de
detritos perigosos ou não,
derivados de produtos ou
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embalagens.”
Logística
Empresarial LEITE (2003)
“Entendemos a LR como a área
da logística empresarial que
planeja, opera e controla o fluxo
das informações logísticas
correspondentes ao retorno de
bens de pós-venda e de pós-
consumo, ao ciclo de negócios
ou ao ciclo produtivo, por meio
dos canais de distribuição
reversos.”
Fonte: adaptado de Costa e Valle (2006)
Wang e Bai, (2010) acreditam que a mais importante tarefa da logística reversa seja a coleta
de produtos usados, baseada no balanceamento entre os efeitos ambientais e os custos. Os
produtos que são coletados por meio de logística reversa podem ser direcionados a quatro
canais: a reutilização direta, reparação, reciclagem e remanufatura (SRIVASTAVA, 2007).
A logística reversa pode ser realizada através do canal convencional (conhecido como
logística para frente), através do canal reverso, ou através de uma combinação que usa ambos
os canais, para frente e reverso. (THIERRY et al 1995).
A prática da logística reversa se subdivide em duas grandes áreas de atuação, que por sua vez
são identificadas como logística reversa de pós-consumo e logística reversa de pós-venda.
Essa segmentação ocorre devido à diferenciação entre os objetivos estratégicos e as técnicas
operacionais aplicadas a cada área, ainda que existam muitas interdependências entre elas, o
que é evidenciado na figura 1 (LEITE, 2003).
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Figura 1 - Foco de atuação da Logística Reversa.
Fonte: Leite (2003).
Os canais de distribuição direcionados a logística reversa de pós-consumo são responsáveis
pelo fluxo reverso de materiais componentes e produtos oriundos do descarte depois de
esgotada a sua utilidade original. Esse sistema reverso possui dois subsistemas denominados
canais reverso de reuso e canais reversos de reciclagem. Uma vez atingido seu fim de vida útil
efetivamente, o produto conta com dois importantes canais reversos de revalorização: o canal
de “reciclagem” e o canal de “desmanche”. Quando nenhum dos canais se apresenta viável, os
bens pós-consumo são destinados a “disposição final” (LEITE, 2003).
Segundo Leite (2003), a logística reversa pós-venda se caracteriza por possuir diferentes
formas e possibilidades para retornar o produto no sentido inverso da logística empresarial.
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Retorno esse ocasionado por problemas relacionados a processos comerciais ou a qualidade
como um todo. O canal de distribuição reverso de pós-venda possui como foco estratégico
agregar valor ao produto que é retornado por razões comerciais, processamento de pedidos
feito incorretamente, defeitos, avarias decorrentes do transporte, entre outros.
2.2 - Importâncias da logística reversa
A má gestão dos produtos descartados pelos consumidores trás o que podemos definir como
poluição para o meio ambiente, que por sua vez, se apresenta como fator gerador de custos
para a sociedade em termos de gastos para destinação final e, para as empresas como custo da
repercussão negativa em sua imagem corporativa. Contudo, LEITE (2003), demonstra outro
custo que se projeta além dessas duas dimensões: os custos ecológicos, gerados pelo impacto
dos produtos no meio ambiente.
De acordo com Costa e Valle (2006), as atividades da LR apresentam diversos ganhos, entre
eles: agregam valor ao produto no mercado, imagem corporativa associada ao respeito ao
meio ambiente, captação de oportunidades econômicas para o processo produtivo e reduz
significativamente a aquisição de matéria- prima virgem. Outros aspectos a serem lembrados
e que podem impulsionar a aplicação da Logística Reversa são:
Os custos de descarte em aterros sanitários têm aumentado;
Considerações econômicas e ambientais estão forçando as empresas a utilizarem
embalagens retornáveis;
Maior consciência das empresas com relação a todo o ciclo de vida de seus produtos, ou
seja, ser legalmente responsável pelo seu destino após a entrega dos produtos ao cliente,
evitando a geração de impacto negativo ao meio ambiente;
A matéria-prima nova está se tornando menos abundante, e consequentemente, mais
caro.
Economias geradas para a empresa devido ao reaproveitamento de materiais e
componentes secundários. Além de apresentar diferenciação em serviço ao cliente a
medida que o fabricante tem políticas mais liberais de retorno de produtos, apresentando
uma vantagem em relação a concorrência;
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Eliminação de produtos que se tornam obsoletos devido ao alto grau de
desenvolvimento tecnológico.
Face às regulamentações, muitas empresas são obrigadas a recolherem seus produtos
quando os mesmos atingem o final da vida útil;
As empresas devem desenvolver produtos “amigáveis ao meio ambiente”;
Técnicas para recuperação de produtos e gerenciamento do desperdício devem ser
desenvolvidas.
Assim, Fuller e Allen (1995), sintetizaram os principais fatores que levam à aplicação da
logística reversa em cinco pontos:
Econômicos: relacionam-se com o custo da produção, por necessidade de adaptação dos
produtos e processos para evitar ou diminuir o impacto ao meio ambiente;
Governamentais: relacionam-se à legislação e à política de meio ambiente;
Responsabilidade Corporativa: relacionam-se ao comprometimento das empresas
fabricantes com a coleta de seus produtos ao final da vida útil;
Tecnológicos: ligam-se aos avanços tecnológicos da reciclagem e projetos de produtos
com finalidade de reaproveitamento após descarte pela sociedade;
Logísticos: relacionam-se aos aspectos logísticos da cadeia reversa, como por exemplo,
a coleta de produtos.
2.3 - A logística reversa no Brasil
Diversas indústrias brasileiras estão desenvolvendo suas atividades de logística reversa, com o
intuito de obter grande economia de custos de produção, principalmente em relação a insumos
como energia elétrica, matéria-prima e mão-de-obra. Temos em nosso país um exemplo
evidente dos ganhos proporcionados pela logística reversa na indústria de alumínio, mais
específico, o da lata de alumínio que, é 100% reciclável e podem ser recicladas inúmeras
vezes. O Brasil, em 2005, reciclou 96% das latas de alumínio produzidas, superando os
Estados Unidos, que as reciclam há mais de 30 anos. (ABAL, 2012).
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O meio empresarial, por força da lei e pela preocupação da sociedade com os aspectos
ambientais, vem buscando alternativas para a destinação adequada de resíduos. Atualmente, a
gestão de resíduos, conta com duas principais regulamentações: A Lei nº. 12.305 (Política
Nacional de Resíduos Sólidos e a Resolução nº. 307 do CONAMA (Conselho Nacional do
Meio Ambiente) de 5 de julho de 2002. Ambas visão a disposição de forma adequada de tais
resíduos, não vigorando de forma intensa na reutilização dos mesmos.
O CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente) visa estabelecer diretrizes, critérios e
procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, disciplinando as ações
necessárias de forma a minimizar os impactos ambientais. (CONAMA, 2002)
A Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne o conjunto de princípios, objetivos,
instrumentos, diretrizes, metas e ações adotadas pelo Governo Federal, isoladamente ou em
regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à
gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.
2.4 - Logística reversa na construção civil
Marcondes e Cardoso (2005), afirmam que, de forma generalizada, a cadeia da construção
civil deve prover o desenvolvimento sustentável, ou seja, deve desenvolver-se de forma a não
comprometer a capacidade das gerações futuras em fazê-lo também. Salientam ainda a
relevância do estudo da logística reversa aplicado à construção civil em virtude de “os
processos industriais da cadeia produtiva da Construção Civil gerar resíduos industriais de
característica diversas e em alto volume e massa, os quais causam expressivos impactos
ambientais”.
Reciclagem de resíduos de construção e demolição contribui decisivamente para a economia
de recursos minerais naturais. Na Alemanha, a construção com minerais processados e
resíduos de demolição de engenharia estrutural são usados quase que exclusivamente na
engenharia civil pesada (setor de terraplanagem e construção de estradas) como reciclagem
em circuito aberto. Devido aos valores-limite mais rigorosos previstos para a protecção do
solo e da água, no entanto, este caminho de reciclagem na construção civil pode não ser mais
aplicável no futuro. De acordo com algumas diretrizes e normas adotadas recentemente,
agregados reciclados também podem ser utilizados para a produção de concreto no sector da
engenharia estrutural (reciclagem em circuito fechado). Resíduos do sector engenharias
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estrutural pode assim ser mantida em um ciclo fechado, e seu escoamento para o aterro pode
ser evitada (Weil et al, 2006).
Basicamente, segundo Steven (2004), os sistemas Logísticos Reversos da construção civil são
correspondentes aos fluxos de Resíduos de Construção e Demolição – RCD, por meio dos
canais reversos. Grande parte dos RCD passa por processo de reciclagem, já que a maior parte
dos resíduos desses materiais não possui forma, nem funcionalidades mantidas.
2.5 - Ciclo de vida dos RCD
Lima (2013) infere que o ciclo de vida de um produto, em esfera legal, está associado à
responsabilidade da cadeia da construção civil pelos produtos desde o pré-uso até a fase final
de disposição ou reciclagem. Tais estudos, denominados avaliação do ciclo de vida tornaram-
se ferramentas de apoio a decisões ambientais na Europa e também nos EUA. A figura 2
esquematiza o ciclo de vida dos produtos na cadeia da construção civil.
Figura 2 – Ciclo de vida dos RCD.
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Fonte: Lima apud Amélia Craighill e Jane C. Powel, (1999)
2.6 - Logística reversa na construção civil em Campos dos Goytacazes
De acordo com estudos do SEBRAE (2013), a estimativa de empresas no setor da construção
civil, de médio e grande porte, localizadas no munícipio é de aproximadamente 35 empresas.
Segundo Dias et al (2013), apenas 22% das empresas de médio e grande porte, que
desenvolvem empreendimentos na região, utilizam algum dos canais reversos em seu
processo produtivo, restando assim 78% das empresas que não praticam a logística reversa.
De acordo com o Secretario de Serviços Públicos da cidade Campos dos Goytacazes, em
exercício no ano de 2013, os resíduos da construção civil não se enquadram no rol dos
produtos da logística reversa, conforme se verifica no artigo 33 da Lei Federal n°
12.305/2010. O município desenvolve a prática da logística reversa em outros setores já
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previsto por legislação, como é o caso de pneus e pilhas. Contudo, existe o desenvolvimento
de ações parciais com objetivo maior de sensibilizar a comunidade com relação ao tema.
Tendo em vista que a responsabilidade maior é dos produtores, fabricantes, importadores,
entre outros, estando atualmente em construção pelo Ministério do Meio Ambiente para
implantação dos acordos setoriais.
3 – Ferramentas da qualidade
Para Miguel (2006) as ferramentas da Qualidade usualmente representam suporte ao
desenvolvimento da qualidade ou ao apoio à decisão na análise de determinado problema.
Este pensamento pode ser completado por Mata-Lima (1999) que afirma que o grande
potencial de tais ferramentas, está quando são utilizadas para a identificação das causas raízes
dos problemas e para a solução destes.
Contudo, é imprescindível que as partes interessadas realizem discussões em torno do tema,
proporcionando condições necessárias para a aplicação das ferramentas da qualidade, que
quando aplicadas de forma correta, proporcionará a identificação das causas. É de suma
importância que a decisão se fundamente em resultados da análise dos registros de informação
relevante visitas de estudo, reuniões técnicas, inquéritos e entrevistas, entre outros. Mata-
Lima (2007)
As Sete Ferramentas Tradicionais da Qualidade, de acordo com Miguel (2006) e Vieira
(1999), são: diagrama de causa-efeito, histograma, gráfico de Pareto, diagrama de correlação,
gráfico de controle e folha de verificação.
4 – Metodologia
A metodologia aplicada caracteriza-se como exploratória. Segundo Gil (1987), o estudo
exploratório aprimora as ideais ou descobre intuições. Geralmente, o estudo é exploratório
quando a literatura sobre o tema ainda apresenta-se de forma escassa. (AAKER et al., 2004)
O presente artigo também se caracteriza como uma pesquisa descritiva, pois fundamenta seu
objetivo em descrever um determinado fenômeno (GIL, 1987).
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Sendo uma pesquisa exploratória e descritiva, a metodologia utilizada foi à pesquisa
qualitativa, que, de acordo com Levy (2005), é uma metodologia que vem sendo adotada
crescentemente por diversos autores.
A pesquisa bibliográfica consistiu na obtenção de dados através de análise de materiais
disponíveis em livros, artigos, teses e dissertações, além de consultar dados disponíveis na
mídia eletrônica, com o intuito de obter embasamento conceitual sobre logística reversa,
logística reversa na construção civil e ferramentas da qualidade.
Buscou-se alcançar mais informações sobre a problemática através da aplicação de
questionários junto às empresas de construção civil, realizada no ano 2013, que versou sobre
as dificuldades de aplicação, conhecimento sobre a prática da logística reversa e falta de
iniciativa pública e privada, e a realização de entrevista semi – estruturada junto à secretaria
municipal de limpeza pública.
Por meio deste, foi possível identificar os principais fatores críticos que atuam como barreiras
a adoção da logística reversa no setor da construção civil. Em posse dessas informações,
buscou-se estruturar por meio do diagrama de Ishikawa as causas e efeitos referentes à
problemática, e posteriormente lançou-se mão da ferramenta diagrama de correlação para
evidenciar as causas raízes, e possibilitar o delineamento do plano de ação.
5 - Resultados
As principais causas evidenciadas em todo o processo metodológico, referentes à
problemática da não prática da logística reversa no setor da construção civil foram alocadas
de forma sistemática, com o intuito de representar a relação de causa e efeito. Para isso,
contou-se com a utilização do diagrama de causa e efeito (Ishikawa). A figura 4 representa as
principais causas evidencias no presente estudo.
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Figura 4 – Diagrama de causa e efeito aplicado a não pratica da logística reversa
Mediante as causas apontadas pelo diagrama de causa e efeito, buscou-se identificar qual ou
quais são as causas raízes de tal efeito. Para isso, utilizou-se o auxílio da ferramenta da
qualidade identificada como diagrama de correlação, que compara o relacionamento de
influência, de uma causa com as demais. Assim temos a figura 5 representando a aplicação da
ferramenta.
Mão de obra Profissionais não
capacitados
Meio
Falta de
conscientização
do
cliente/empresa
Legislação
Ausência de
legislação rigorosa
Métodos
Não detém
conhecimento
sobre a prática
Competitividade
Ausência de visão
competitiva Falta de
Responsabilidade
corporativa
Não prática da
logística reversa na
construção civil
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Figura 5 - Correlação entre as causas evidenciadas
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De acordo com o diagrama de correlação a causa raiz se refere principalmente à ausência de
legislações vigorosas, ou seja, ainda faltam iniciativas, principalmente da parte pública, em
promover a prática da logística reversa no setor de construção civil a rigor. Mediante a análise
desta causa, podemos realizar uma breve discussão: A percepção das empresas aponta para a
não existência de legislação efetiva para a implantação da logística reversa, contudo no ano de
2010 houve a promulgação da Lei 12504 denominada Política Nacional dos Resíduos Sólidos
(PNRS), que prevê a prática da logística reversa em sua resolução, conferindo as
caracterizações necessárias para a adoção no ambiente empresarial, além do mais, o setor da
construção civil conta especialmente com o direcionamento da resolução CONAMA 307 de
2002, para a gestão adequada dos resíduos. A falta de conscientização tanto do cliente quanto
da empresa também se apresenta como um fator importante a ser melhorado para que as
barreiras à adoção da logística reversa sejam minimizadas. Temos como item resultado-chave
a falta de conhecimento sobre a prática. Isso nos permite inferir que havendo a promoção de
melhorais nas causas raízes, o item resultado-chave será consequentemente melhorado, pois
ele se apresenta como o “produto” de algumas outras causas.
Perante esses fatores críticos, buscou-se desenvolver um plano de ação, visando ambas as
causas que se apresentam de forma mais crítica dentro do contexto do trabalho.
Para o desenvolvimento do plano de ação de forma organizada, utilizou-se a ferramenta
5W2H, permitindo uma maior ordenação na proposição deste plano. O quadro 4 apresenta o
plano de ação formulado.
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Quadro 4 – Plano de ação para as causas identificadas
6 - Discussões
O presente artigo buscou destacar a importância da adoção de práticas reversas em todos os
setores produtivos, principalmente o setor da construção civil. A iniciativa de adotar tais
práticas trará diversos ganhos, não só na esfera empresarial, mas também na ambiental e
social. Tais ganhos podem ser estratificados como:
Empresarial: Diferencial competitivo, redução da aquisição de matéria prima oriunda
de recursos naturais, economias no processo produtivo, aumento da fatia de mercado
atuante (atendendo também a clientes que visam à conservação ambiental), aquisição
de certificações internacionais, entre outras.
Ambiental: Preservação da fauna e flora, manutenção dos recursos naturais,
diminuição nos impactos ambientais causados pela atividade construtiva, entre outras.
Social: Garantir as condições de sobrevivência no planeta para as gerações futuras,
redução de custos tanto para a aquisição quanto para a manutenção, geração de
emprego formal e informal (o trabalho dos catadores), entre outros.
Assim, com o intuito de prover os passos iniciais rumo ao estabelecimento da cadeia reversa
no setor, o plano de ação sugere o foco inicial, propiciando um maior conhecimento sobre a
prática da logística reversa e disseminando seus ganhos sociais, ambientais e empresariais.
De acordo com Costa e Valle (2006), a logística reversa, quando bem aplicada, resulta na
contribuição de forma significativa para a reutilização dos bens em fim de vida útil, através de
uma estruturação adequada dos canais reversos. “É notório que a evolução desta prática
necessita do apoio do governo, das empresas - públicas e privadas - e da comunidade para que
a preservação do meio ambiente, visando o desenvolvimento sustentável, seja alcançada com
o auxílio do planejamento e aplicação eficientes da logística reversa.”
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