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LOGÍSTICA REVERSA DE POLIPROPILENO: IDENTIFICAÇÃO DOS CANAIS REVERSOS PÓS- CONSUMO E DO CICLO DE REAPROVEITAMENTO DOS GARRAFÕES DE ÁGUA RETORNÁVEIS. Fabiano Nogueira Cordeiro (UFSC ) [email protected] Guilherme Xavier Bannach (UFSC ) [email protected] Alexandre Pessin Benvenutti (UFSC ) [email protected] A logística reversa tem sido encarada como um desafio a ser superado por muitas empresas que buscam um fluxo reverso mais eficaz e eficiente. Nesse cenário, se destaca a logística reversa de materiais que serão reaproveitados através do reuso e reciclagem. Diante do limitante de que ao fim do seu ciclo de uso boa parte dos produtos perdem consideravelmente seu valor agregado, é necessário que os processos e atividades ao longo da cadeia reversa sejam de baixo custo, tornando viável o ciclo sustentável. Acredita-se que alcançado este status será mais fácil obter um ciclo fechado de aproveitamento de materiais, promovendo continuamente o reaproveitamento nas suas diversas formas, reduzindo ou até mesmo eliminado a utilização de materiais virgens no ciclo. Este estudo tem como principal objetivo identificar o caminho reverso que os garrafões de água mineral de 20 litros fabricados em polipropileno deve percorrer do consumidor final até a indústria que fará a sua reutilização, definir os elos participantes da cadeia reversa do polipropileno e desenhar o possível ciclo fechado de reaproveitamento deste material. Palavras-chaves: logística reversa, ciclo de vida do produto, canais reversos, cadeia de suprimentos, polipropileno XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10 Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

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LOGÍSTICA REVERSA DE

POLIPROPILENO: IDENTIFICAÇÃO

DOS CANAIS REVERSOS PÓS-

CONSUMO E DO CICLO DE

REAPROVEITAMENTO DOS

GARRAFÕES DE ÁGUA RETORNÁVEIS.

Fabiano Nogueira Cordeiro (UFSC )

[email protected]

Guilherme Xavier Bannach (UFSC )

[email protected]

Alexandre Pessin Benvenutti (UFSC )

[email protected]

A logística reversa tem sido encarada como um desafio a ser superado

por muitas empresas que buscam um fluxo reverso mais eficaz e eficiente.

Nesse cenário, se destaca a logística reversa de materiais que serão

reaproveitados através do reuso e reciclagem. Diante do limitante de que ao

fim do seu ciclo de uso boa parte dos produtos perdem consideravelmente seu

valor agregado, é necessário que os processos e atividades ao longo da

cadeia reversa sejam de baixo custo, tornando viável o ciclo sustentável.

Acredita-se que alcançado este status será mais fácil obter um ciclo fechado

de aproveitamento de materiais, promovendo continuamente o

reaproveitamento nas suas diversas formas, reduzindo ou até mesmo

eliminado a utilização de materiais virgens no ciclo. Este estudo tem como

principal objetivo identificar o caminho reverso que os garrafões de água

mineral de 20 litros fabricados em polipropileno deve percorrer do

consumidor final até a indústria que fará a sua reutilização, definir os elos

participantes da cadeia reversa do polipropileno e desenhar o possível ciclo

fechado de reaproveitamento deste material.

Palavras-chaves: logística reversa, ciclo de vida do produto, canais

reversos, cadeia de suprimentos, polipropileno

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1. Introdução

A logística reversa tem sido encarada como um desafio a ser superado por muitas empresas

que buscam um fluxo reverso mais eficaz e eficiente. Nesse cenário, se destaca a logística

reversa de materiais que serão reaproveitados através do reuso e reciclagem. Esse tema tem

ganhado notoriedade nos últimos tempos tanto pelo aumento da consciência ambiental por

parte dos consumidores, quanto pela legislação ambiental, que através da Lei nº 12.305/10,

institui uma nova Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Esta Lei, dentre outras

coisas, contém instrumentos para a redução na geração de resíduos sólidos e institui a

responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: fabricantes, importadores,

distribuidores, comerciantes e consumidor final; incorporando também os responsáveis no

manejo do resíduo na cadeia reversa.

Desse modo, percebe-se que a cadeia de suprimentos que antes se preocupava com ganhos

apenas em seu fluxo direto, passa a se preocupar cada vez mais com o fluxo reverso.

(GOVINDAN et al., 2014) Diante do limitante de que ao fim do seu ciclo de uso boa parte

dos produtos perdem consideravelmente seu valor agregado, é necessário que os processos e

atividades ao longo da cadeia reversa sejam de baixo custo, tornando viável o ciclo

sustentável. Para alcançar tal viabilidade, é necessário que os canais reversos de uma cadeia

estejam mapeados, permitindo assim que os elos desta cadeia reversa trabalhem em conjunto,

de forma integrada, gerando assim menor custo e otimização dos processos.

A relevância na identificação dos canais reversos do polipropileno, vêm devido ao aumento

da produção mundial de plástico e a falta de gestão adequada de resíduos deste material, que

resultam no descarte inadequado causando inúmeros danos ambientais e impossibilitando seu

reaproveitamento. Por suas características físicas e sua composição, o plástico sendo

devidamente descartado, deve ser tratado como matéria-prima pós-consumo e não como lixo

(OLIVEIRA, 2012). Diante disso é importante analisar as atividades logísticas que permitem

a este material percorrer o caminho reverso do consumidor final, até a indústria que o

reutilizará como matéria-prima.

Este trabalho visa a análise dos canais reversos pós-consumo dos garrafões de água

retornáveis de 20 litros, a partir do cenário encontrado através do estudado de uma empresa

localizada no estado de Santa Catarina. O estudo tem como principal objetivo identificar o

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caminho reverso que o material deve percorrer do consumidor final até a indústria que fará a

reutilização, definir os elos participantes do ciclo fechado de reaproveitamento do

polipropileno utilizado como matéria-prima este produto e desenhar o possível ciclo fechado

de reaproveitamento deste material.

2. Logística reversa, canais reversos e ciclo de vida do produto

Quando se aborda o tema sustentabilidade em uma cadeia produtiva, se destaca dentre outros

conceitos o de logística reversa que pode ser entendida como a área da logística empresarial

que visa equacionar os aspectos logísticos do retorno dos bens ao ciclo produtivo ou de

negócios através da multiplicidade de canais de distribuição reversos de pós–venda e de pós–

consumo, agregando-lhes valor econômico, ecológico, legal e de localização (CLM, 2009;

GARCÍA-RODRÍGUEZ et al. 2013; LEITE, 2009). Bowersox, Cooper e Closs (2007)

defendem a ideia de que a logística reversa serve de apoio ao ciclo de vida do produto,

ajudando a prolongá-la.

Lacerda (2009) afirma que as empresas tem sido estimuladas cada vez mais a novas

iniciativas de logística reversa devido aos ganhos consideráveis com utilização de embalagens

retornáveis e reaproveitamento de materiais. Já para Leite (2009), além da redução de custos,

existem outros fatores de motivação como legislações ecológicas, preocupação com a imagem

coorporativa e novos padrões de competitividade empresarial.

Em sua análise, Gonçalvez e Marins (2006) defenfem que antes de se conceituar logística

reversa, deve-se atentar para três fatores:

Do ponto de vista logístico, o ciclo de vida de um produto não se encerra com a

sua entrega ao cliente. Estes se tornam obsoletos ou danificados , devendo

retornar ao seu ponto de origem para serem adequadamente descartados,

reparados ou reaproveitados;

Do ponto de vista financeiro, há o custo relacionado ao gerenciamento do fluxo

reverso, que deve se somar aos custos de compra de matéria-prima, de

armazenagem, transporte e estocagem e de produção, já tradicionalmente

considerados na logística;

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Do ponto de vista ambiental, devem ser considerados e avaliados, os impactos

do produto sobre o meio ambiente durante toda sua vida. Este tipo de visão

sistêmica é importante para que o planejamento da rede logística envolva

todas as etapas do ciclo do produto.

Dessa forma, a logística reversa operacionaliza o canal reverso por onde passam os produtos

pós-consumo ou pós-venda, que por algum motivo não representam mais o produto com

potencial de uso para o cliente que o descartou; e deve retornar seja para reaproveitamento ou

para o descarte. E cada dia mais os produtos vem sendo projetados para uma cadeia de

suprimentos que valorize o ciclo de vida do produto; não se tratando apenas de procurar uma

destinação de menor impacto ambiental, mas sim projetar a destinação dos materiais

constituintes no futuro, tornando-os novamente matéria-prima.

Gontijo e Dias (2012) analisam os Programas de Retornos, também conhecidos como Take

Back Program, onde afirmam que estes programas podem ser motivados tanto pelo

compromisso com o impacto ambiental e responsabilidade social, quanto pelo fato de criar

um canal de valorização de material de pós-consumo para benefício próprio. Esses programas

tem por objetivo o aproveitamento máximo dos produtos através do reuso, e ao final,

aproveita-se os materiais através da reciclagem. Percebe-se assim, que a finalidade é obter um

ciclo fechado de aproveitamento de materiais, promovendo continuamente o

reaproveitamento nas duas diversas formas, reduzindo ou até mesmo eliminado a utilização de

materiais virgens no ciclo.

3. Metodologia

O quadro teórico do presente trabalho foi construído com base na literatura sobre os temas

logística reversa, cadeias produtivas, canais reversos e ciclo de vida do produto. Com base no

referencial teórico, e a partir do caso real de uma empresa localizada em Santa Catarina,

procurou-se desenhar a cadeia a ser analisada, ou seja, identificar as organizações que fazem

parte desta.

A representação de uma cadeia produtiva não constitui tarefa simples e deve atender aos

propósitos da análise. No estudo em questão, o objetivo da definição da cadeia é,

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principalmente, a identificação dos canais reversos e o quanto eles contribuem para o aumento

do ciclo de vida do produto.

Tendo em vista a importância da relação entre a fabricação de produtos da 3ª geração da

indústria do petróleo, a produção de petróleo e a reciclagem, optou-se por incluir no estudo

esta cadeia como parte de uma cadeia mais ampla que vai da extração do petróleo, passando

pela produção de embalagens, até a chegada da água mineral até o cliente final nos garrafões

de 20 litros. Feito isso, foi possível representar onde ocorre o corte para criação de um ciclo

sustentável, ou seja, quais agentes da cadeia são mais importantes para a reutilização do

produto e quais deles participam apenas do processo produtivo.

3.1 Identificação do produto

O produto a ser analisado é o garrafão de água retornável de 20 litros. Este produto é

produzido em polipropileno (PP), um polímero termoplástico, derivado do propeno ou

propileno que pode ser reciclado. Ele pode ser identificado em materiais através do símbolo

triangular de reciclável, com o número “5” por dentro e as letras “PP” por baixo. A Figura 1

mostra como o símbolo é apresentado em uma embalagem.

Figura 1 - Símbolo de reciclagem do Polipropileno (PP)

Fonte: ABNT NBR 14222:2011

No caso estudado, a indústria responsável pela fabricação está localizada no estado de Santa

Catarina. Fundada em 2003, fabrica 17 tipos de embalagens, além de tampas e lacres. O

garrafão de 20 litros é fabricado atualmente em polipropileno em sua forma primária de grão,

podendo ser homopolímero (polímero constituído por apenas um tipo de monômero) ou

copolímero (polímero formado por diferentes monômeros). Conforme os fabricantes existem

variações na formulação, que implica nas quantidades de materiais utilizados. Pigmentos

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também podem ser utilizados, sendo que eles devem possuir certificado de atoxidade, bem

como as matérias primas.

3.1.1 Processo de fabricação

A primeira etapa de fabricação é a formulação, que é feita através de um misturador rotativo.

Uma vez formulado, o material é levado para ser moldado em um equipamento de extrusão e

sopro. Na segunda etapa, chamada de extrusão, o material é extrusado através de um cilindro

aquecido a uma temperatura média de 200 graus Celsius, resultando em um tubo de material

chamado de parizon.

Na terceira etapa, esse tubou ou parizon é levado para dentro de um molde bipartido e inflado

com ar comprimido tomando a forma do molde, ou seja, de garrafão de 20 litros. Logo após o

molde é aberto liberando o garrafão. Depois, ele passa por um processo de acabamento onde

são retiradas as rebarbas e inspecionado por um rigoroso controle de qualidade, seguindo para

a embalagem e expedição.

3.1.2 Cuidados na manipulação

Não são necessários cuidados especiais na manipulação do garrafão vazio, já que se trata de

um produto robusto. As especificações são para evitar a exposição prolongada ao sol e a

atritos mecânicos em superfícies que permitirão arranhá-lo. Além disso, deve-se dar especial

atenção ao prazo de validade da embalagem marcado no próprio garrafão. Outro detalhe

importante é a indicação para que o engarrafador de água mineral utilize tampas com semi-

cortes para que o consumidor final não utilize facas ou qualquer outro artefato para retirar a

tampa evitando o corte da boca do garrafão. Caso isso venha a acontecer, ele sofre uma

redução do tempo de vida útil.

4. Cadeia de suprimentos da indústria de garrafões de plástico

A matéria-prima básica para a fabricação de embalagens plásticas é o petróleo. Inicialmente

ele passa por um refino, para em seguida passar pelo processo de craqueamento do qual se

obtém o propeno (derivado de 1ª geração). Após, segue para a etapa de polimerização onde se

obtém dentre outros polímeros o polipropileno, derivado de 2ª geração. Esta resina é matéria

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prima direta para o processo de transformação, onde são fabricados os garrafões de água,

produtos da 3ª geração. Nos derivados de 3ª geração, encontram-se outros tipos de

embalagens e demais produtos desta cadeia utilizados pelo consumidor final como filmes,

chapas, utilidades domésticas, aplicações médicas e para construção civil . As diferentes

etapas desta cadeia podem ser vistas na Figura 2.

Figura 2 - Cadeia petroquímica e plástico.

Fonte: ABIPLAST (2012)

A Figura 3 apresenta a Cadeia de Suprimentos do garrafão de água. A empresa focal é a

Indústria de 3ª Geração (fabricante de galão). A seguir serão detalhados os elos a montante e a

jusante desta cadeia, tendo como ponto de referência a indústria 3ª geração.

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Figura 3 - Cadeia de suprimentos do garrafão de água

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para a venda dos garrafões fabricados, o fabricante conta com o auxílio de Representantes

Comerciais. Eles tem como função atender a pedidos, relatar sobre o andamento das

negociações, obter informações a respeito de potenciais clientes, promover os produtos e

saber sobre a satisfação dos seus clientes. A empresa conta com três representantes

comerciais, estando localizados em São Paulo (SP), Cuiabá (MT) e Urussanga (SC).

Para a aquisição dos garrafões, o Atacadista entra em contato com o representantes. A

aquisição normalmente é feita em grandes quantidades, com o intuito de se obter preços mais

vantajosos e também de acordo com o nível de serviço de cada negócio. Em certos modelos

de negócios, a própria Engarrafadora faz o papel de atacadista, possuindo sua própria carteira

de clientes.

O atacadista recebe o seus garrafões vazios e os transporta até a Engarrafadora. Esta faz o

engarrafamento da água mineral e para isso os seguintes processos são realizados:

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1) Lavagem e Higienização;

2) Captação (bombeamento);

3) Filtragem;

4) Envase;

5) Lacre (tampagem);

6) Rotulagem;

7) Inspeção Final;

8) Expedição.

Uma observação importante é que ao final são devolvidos cheios os mesmos garrafões que

foram entregues no começo. Isso acontece para que cada atacadista mantenha seus galões e

não sejam prejudicados quanto a conservação e a data de validade dos mesmo. Após esta

etapa o produto é distribuído para Varejistas, mercado corporativo, compradores públicos,

bares, restaurantes, hotéis e similares. O restante é estocado pelo atacadista e vendido de

acordo com a demanda. Alguns atacadistas realizam a venda para o consumidor final através

de programas como disk-água ou semelhantes.

5. Legislação e orientações sobre o descarte e logística reversa

O garrafão de água mineral de 20 litros possui um prazo de validade de 3 anos. Este prazo de

validade foi estabelecido pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) em

2008. As informações referentes ao seu prazo de validade tem que estar presentes no garrafão,

normalmente na sua base.

De acordo com o DNPM, um garrafão de água mineral que circula durante três anos passa,

em média, 156 vezes pelo processo de higienização e envasamento para retornar ao mercado.

Depois desse período a embalagem deixa de ter as condições originais de impermeabilidade.

Com relação ao prazo de validade, o Departamento de Proteção de Defesa do Consumidor,

com base na Portaria 387/2008, do Ministério da Justiça esclareceu que o consumidor deve

adquirir o garrafão uma única vez para ele entrar no sistema de venda de água mineral

potável. No ato da troca, o que o consumidor adquire é a água e não o garrafão em si, que é

apenas a embalagem do produto. Os consumidores já pagaram pelo garrafão ao adentrar na

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sistemática de venda de água mineral e não caberia a eles arcar com novos custos de entrada

ao substituírem seus garrafões vencidos.

O garrafão de água também está sujeito às seguintes normas regulamentadoras:

ABNT NBR 14222:2011 – Embalagem plástica para água mineral e potável de

mesa Garrafão retornável — Requisitos e métodos de ensaio;

ABNT NBR 14637:2011 – Embalagem plástica para água mineral e potável de

mesa — Garrafão retornável — Requisitos para lavagem, enchimento e

fechamento;

ABNT NBR 14638:2011 – Embalagem plástica para água mineral e potável de

mesa — Garrafão retornável — Requisitos para distribuição.

6. Identificação dos canais reversos pós-consumo

Considera-se que o garrafão de água foi utilizado quando a água mineral que ele armazenava

foi consumida. A partir deste ponto, ele possui dois possíveis caminhos reversos: o primeiro é

engarrafadora, para que ele seja utilizado mais uma vez, passando assim pelo processo de

reuso. Um segundo é a reciclagem, caso o recipiente já estava com prazo de validade expirado

ou em condições não satisfatórias.

O consumidor final no momento da compra de um novo garrafão cheio devolve o recipiente

vazio para o varejista, independentemente de estar vencido ou não. Isso se deve, como já foi

citado à anteriormente, à Portaria do Ministério da Justiça que define que o consumidor só

tem a obrigação de adquirir o garrafão uma vez para entrar no sistema. O varejista por sua vez

repassa os garrafões para o atacadista. Para o reuso, o recolhimento ocorre no momento da

reposição do estoque ou quando o caminhão do atacadista está indo à engarrafadora. No

segundo caso, ele passa pelos pontos de venda dos varejistas e recolhe os garrafões vazios

dentro do prazo de validade que eles possuem. Os que estão vencidos são enviados ao estoque

do atacadista no momento da entrega.

A etapa detalhada no parágrafo acima ocorre de formar similar quando a engarrafadora

também faz o papel de atacadista. Estando carregado, o caminhão segue à engarrafadora para

encher os garrafões vazios. Esse é o fim de um canal reverso, onde ocorre o reuso dos

garrafões.

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O outro canal reverso se dá para os garrafões vencidos. O atacadista ou a engarrafadora

(dependendo do modelo) reúne esses garrafões e entra em contato com o representante. Este

recebe os garrafões vencidos e em troca devolve garrafões novos. Em seguida, o representante

envia os garrafões vencidos a uma estação de reciclagem. É importante salientar que por

norma os garrafões não podem ser feitos com material reciclado, apenas com matéria virgem.

Isso implica que o PP será utilizado na fabricação de outros produtos, voltando a indústria de

3ª geração.

A figura abaixo ilustra os dois ciclos reversos para este produto quando há a presença de um

atacadista.

Figura 4 - Ciclos reversos para o garrafão de água mineral com presença de um atacadista

Fonte: Elaboração do autor

Já a próxima figura ilustra os ciclos reversos para o cenário no qual a engarrafadora também

faz o papel de atacadista.

Figura 5 – Ciclos reversos para o garrafão de água mineral quando a engarrafadora faz o papel

de atacadista

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Fonte: Elaboração do autor

7. Considerações finais

Ao longo do estudo foi possível observar que para a fabricação do garrafão, toda a cadeia do

petróleo é importante; no entanto para o ciclo fechado de aproveitamento do material, a

importância está na cadeia produtiva de água mineral, onde tal produto representa uma

embalagem, podendo ser reutilizada diversas vezes e ao final da sua vida útil, após processo

de reciclagem, servir de matéria prima para as indústrias da 3ª geração dos derivados de

petróleo, único elo da cadeia de produção de petróleo essencial no aumento do ciclo de vida

deste produto.

Constata-se que o garrafão de 20 litros de água produzido pela empresa analisada é um

produto que possui seu canal reverso bem desenvolvido. Isso se deve ao fato de ao longo da

comercialização de água entre os elos, a devolução do garrafão ser visto como um benefício

financeiro, uma vez que ao realizar a devolução, não é necessário pagar a embalagem,

somente o valor da água que está adquirindo. Isso contribui para que o reuso estimado em 156

vezes em 3 anos seja possível, e ao fim da data de validade estas embalagens sejam enviadas

para uma usina de reciclagem de polipropileno.

É possível com algumas ações criar um ciclo de reaproveitamento muito vantajoso para este

material, visto que o polipropileno é um material cujo o processo de reciclagem é considerado

simples. No entanto deve-se observar que não é possível criar um ciclo fechado, uma vez que

pela legislação, os garrafões reutilizáveis de 20 litros só podem ser produzidos a partir de

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matéria virgem, nunca de polipropileno reciclado. Dessa forma, o polipropileno reciclado irá

servir de matéria-prima para outras indústrias da 3ª geração petroquímica.

Por fim, confirma-se que os programas de retornos tendem a aumentar o ciclo de vida de um

produto, podendo reduzir a utilização de matéria-prima virgem. Para isso, é necessário o

mapeamento dos canais reversos e o envolvimento de vários elos da cadeia produtiva, para

que assim os processos de logística reversa sejam financeiramente viáveis. Sugere-se que

outras pesquisam sejam feitas com o objetivo de analisar para quais indústrias o polipropileno

reciclado a partir dessa cadeia serve de matéria-prima. Interessante também novas pesquisas

estudando a possibilidade de ocorrência do ciclo fechado de aproveitamento de materiais em

outros produtos.

REFERÊNCIAS

ABIPLAST; Perfil 2012: indústria brasileira de transformação de material plástico. Abiplast, 2012. São

Paulo - SP.

BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J.; COOPER, M. B. Gestão da Cadeia de Suprimentos e Logística. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2007.

CLM – COUNCIL OF LOGISTICS MANAGEMENT. Disponível em: <http://www.rlec.org/>. Acesso em

10 de abr 2014.

DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral. Disponível em: <http://www.dnpm.gov.br/>. Acesso

em 14 abr 2014.

GARCÍA-RODRÍGUEZ, F. J.; et al. Implementation of reverse logistics as a sustainable tool for raw

material purchasing in developing countries: The case of Venezuela. International Journal of Production

Economics, 141, 2013. 582-592.

GONÇALVES, M. E.; MARINS, F. A. S. Logística Reversa numa Empresa de Laminação de Vidros: Um

Estudo de Caso. Revista Gestão & Produção, v13, n3, set-dez 2006.

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