livro_josé joaquim gomes canotilho_direito constitucional

Upload: davidbarrosprado

Post on 04-Apr-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    1/1250

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    2/1250

    JOS JOAQUIM GOMES CANOTILHOProfessor da Faculdade de Direito de Coimbra

    DIREITO

    CONSTITUCIONAL6." edio revistaLIVRARIA ALMEDINA COIMBRA 1993

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    3/1250

    O livro e o ambienteA defesa do ambiente , hoje, uma tarefa de todos os cidados. Os pequenos gestos, os pequenos passos,as iniciativas modestas podem ser importantes para a consciencializao dos problemas ecolgicos eambientais. O Autor, a Editora Almedina e a Grfica de Coimbra assumem aqui a sua cumplicidade ODireito Constitucionalpassa a ser impresso em papel ecolgico "amigo do ambiente" totalmente livre decloro.

    Execuo Grfica: G.C. - Grfica de Coimbra, Lda.Tiragem: 3000 ex.Novembro, 1993Depsito Legal N. 72675/93Toda a reproduo desta obra, por fotocpia ou por outro qualquer processo,sem prvia autorizao escrita dos Autores e do Editor, ilcita e passvelde procedimento judicial contra os infractores.Reservados todos os direitos para a Lngua Portuguesa LIVRARIA ALMEDINA COIMBRA PORTUGAL

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    4/1250

    memria de meus paisA memria de meu irmo Mrio

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    5/1250

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    6/1250

    NOTA PRVIA 6." EDIOO Autor prepara uma nova edio com substanciais alteraes de forma e de contedo.Todavia, em virtude de a 5." edio (j com duas reimpresses) se encontrar esgotada, vimo-nos obrigado a recorrer a uma "edio intercalar". Embora no represente uma refundio

    substancial relativamente ao texto precedente, ela introduz algumas inovaes. Indicaremos, a

    titulo de exemplo, os desenvolvimentos consagrados ao conceito funcional de norma paraefeitos de controlo e ao processo de controlo de normas em desconformidade com regras dedireito internacional. Aproveitamos a oportunidade para aditar um ndice ideogrfico e paraeliminar algumas gralhas mais rotundas.

    Freiburg i.Br. Agosto de 1993

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    7/1250

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    8/1250

    SIGLAS DE REVISTAS E OBRAS COLECTIVASACPArchivfiir die Zivilistische Praxis AnDC e PAnurio de Derecho Constitucional e Parlamentario AnDP eEst. Pol.Anurio de Derecho Publico e Estdios PolticosAIJCAnnuaire internationale de Justice Constitutionnelle Ac. Doutr.Acrdos Doutrinais do SupremoTribunal AdministrativoARArchiv des ffentlichen Rechts Ac TCAcrdos do Tribunal Constitucional APSRAmerican PoliticalScience Review ARSPArchivfiir Rechts-und Sozialphilosophie BFDCBoletim da Faculdade de Direito de

    Coimbra BMJBoletim do Ministrio da Justia CCConstitutional Commentary DDDemocrazia e dirittoDoe. Adm.Documentacin AdministrativaDirO DireitoDVDie ffentliche Venvaltung DURDemokratie und Recht DVBLDeutsches Verwaltungsblatt EDEstado e Direito EdDEnciclopdia dei Diritto EuGRZZeitschrift Europische GrundrechteFo ItForo italiano G. Cost.Giurisprudenza CostituzionaleJiaRJahrbuch fur internationales und auslandisches ffentliches Recht JRJahrbuch des ffentlichen Rechtsder Gegenwart JUSJuristische SchulungJZJuristenzeitung NDINovssimo Digesto italiano NJWNeue Juristische Wochenschrift NVwZNeueZeitschrift fur Verwaltungsrecht ZRsterreichische Zeitschrift fur ffentliches RechtPS Political Studies PVSPolitische Vierteljahresschrift QCQuaderni costituzionali PD Poltica dei DirittoRARevue Administratif RaDPRassegna di Diritto Pubblico

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    9/1250

    Direito ConstitucionalRAERevista de Assuntos Europeus RAPRevista de Administracin Publica RDARevista de DireitoAdministrativo RD PublicoRevista de Direito PblicoRbrDPRevista brasileira de Direito Pblico RbrEPRevista brasileira de Estudos Polticos RCPRevista deCincia Poltica RDERevista de Direito e Economia RDESRevista de Direito e Estudos Sociais RFDLRevista da Faculdade de Direito de LisboaRDPRevista de Derecho Poltico RDPSPRevue du Droit Public et de Ia Science Politique REDARevista

    espnola de derecho administrativo REDCRevista Espahola de Derecho ConstitucionalREPRevista de Estdios Polticos RFSPRevue Franaise de Science Politique RIDCRevue Internationale deDroit CompareRJRevista Jurdica RHIRevista de Histria das IdeiasRJRevista Jurdica AFDL RLJRevista de Legislao e Jurisprudncia RMPRevista do Ministrio PblicoROARevista da Ordem dos Advogados RIFDRivista Internazionale di Filosofia delDiritto RTDC RivistaTrimestrale de Diritto Civile RTDP Rivista Trimestrale di Diritto Pubblico RTDPCRivista Trimestrale diDiritto e Procedura Civile RthRechtstheorie TJTribuna da Justia WDStRLVerffentlichungen derVereinigung der deutschen Staatsrechts-lehrerZOARsterreichische Zeitschrift flir auslndisches Recht und Volkerrecht ZSRZeitschrift fiir schweizerischesRechtSIGLAS DE DIPLOMAS NORMATIVOSCEDH Conveno Europeia dos Direitos do Homem DUDH Declarao Universal dos Direitos do Homem

    DP L 43/90, de 10/8 (Direito de Petio)ECE L 31/84, de 6/9 (Estatuto dos membros do Conselho de Estado) EEL L 29/87, de 30/6 (Estatuto doseleitos locais) ED L 3/85, de 13/3 (Estatuto dos deputados)

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    10/1250

    Direito Constitucional XIEDO L 59/77, de 9/8 (Estatuto do Direito de Oposio) EOM L l/76,de 17/2 (Estatuto Orgnico de Macau)EPJ Lei 9/91, de 94 (Estatuto do Provedor de Justia) ER A. L 9/87, de 26/3 (Estatuto Poltico-Administrativoda RegioAutnoma dos Aores) ERM L 13/91, de 5/7 (Estatuto Poltico-Administrativo da RegioAutnomo da Madeira) ETAF DL 129/84, de 27/4 (Estatuto dos Tribunais Administrativos eFiscais) LAL DL n. 100/84, de 29/3 (Lei das atribuies e competncias das

    autarquias locais)LC 1/ 82 Lei da 1.' Reviso da Constituio LC 1/89 Lei da 2} Reviso da ConstituioLCResp. Lei 34/87, de 16/7 (Lei dos crimes de responsabilidade dos titulares dos cargos polticos) LDNFA L29/82, de 11/12 (Lei de Defesa Nacional e das Foras Armadas)LEA DL 701-B/76, de 29/9 (Lei eleitoral das autarquias locais) LEAR L 14/79, de 16/5 (Lei Eleitoral da AR)LEPR DL 319-A/76 de 3/5 (Eleio do PR) LN L 37/81, de 3/10 (Lei da Nacionalidade) LPP DL 595/74, de7/11 (Lei dos Partidos Polticos) LRESE Lei 44/86, de 30/9 (Lei do regime do estado de stio e do estadode emergncia) LTC L n. 28/82, de 15/11 (Lei de Organizao, Funcionamento eProcesso do Tribunal Constitucional) PD L 6/83, de 29/7, e L 1/91, de 2/1 (Publicao, identificao eformulrio dos diplomas normativos) PIDCP Pacto Internacional dos Direitos Civis e Polticos PIDESC Pactointernacional dos direitos econmicos, sociais e culturais Reg. CE Regimento do Conselho de Estado (inDR, 1,10-11-84) Reg. AR Regimento da Assembleia da RepblicaOUTRAS SIGLASAc Acrdo

    Air Assembleia legislativa regionalAR Assembleia da RepblicaCC Comisso Constitucional CRP Constituio da Repblica Portuguesa de 1976DL Decreto-lei DLR Decreto legislativo regionalDR Dirio da Repblica

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    11/1250

    XIIDireito ConstitucionalDRre Decreto regulamentar regionalL aut. Lei de autorizao LO Lei orgnica LR Lei reforada MR Ministro da Repblica PR Presidenteda Repblica Ref. Referendo TC Tribunal Constitucional

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    12/1250

    VISO GLOBAL DA LITERATURA SOBRE DIREITO CONSTITUCIONAL*A.Direito Constitucional PortugusI COMENTRIOSCANOTILHO, J. J. G. / MOREIRA, V. Constituio da Repblica Portuguesa,Anotada, 3a ed., Coimbra, 1993.MAGALHES, J. Dicionrio da Reviso Constitucional, Lisboa, 1989. MORAIS, I. / FERREIRADE ALMEIDA, J. M. / LEITEPINTO, R. Constituio daRepblica Portuguesa, anotada e comentada, Lisboa, 1983. NADAIS, A. / VITORINO, A. / CANAS, V. Constituio daRepblica Portuguesa.Texto e Comentrios Lei n." 1/82, Lisboa, 1982.II LIVROS DE ESTUDO, MANUAIS, TRATADOSCANOTILHO, J. J. G. Direito Constitucional, 6.'ed., Coimbra, 1993.MIRANDA, J. Manual de Direito Constitucional, 4 vols.: Vol. 1, 4a ed., Coimbra,1990; Vol. II, 3a ed., Coimbra, 1991; Vol. III, 2a ed., Coimbra, 1987; Vol. IV, 2a

    ed., Coimbra, 1993. SOUSA, M. R. Direito Constitucional. Introduo Teoria da Constituio, Braga,1979. CANOTILHO J. J./MOREIRA, V. Fundamentos da Constituio, 2- ed., Coimbra, 1993.III MONOGRAFIASMIRANDA, J. A Constituio de 1976. Formao, estrutura, princpios fundamentais, Lisboa, 1978. PIRES, F. L. ATeoria da Constituio de 1976. A transio dualista, Coimbra, 1988.* A literatura que aqui se refere uma literatura seleccionada de acordo com os seguintes critrios: (1)globalidade de tratamentodos problemas constitucionais, motivo pelo qual apenas so indicados tratados, manuais e livros de estudo; (2) actualidade e

    actualizao das obras, razo que aponta para a referncia a literatura que essencialmente diz respeito ao direito constitucionalvigente nos respectivos pases ou, pelo menos, foca problemas considerados actuais; (3)proximidade problemtica e influnciadoutrinaldas obras, o que obrigou a uma limitao das referncias bibliogrficas aos autores e praxis de pases que, directa ouindirectamente, tm tido influncia no direito constitucional portugus.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    13/1250

    XIVDireito ConstitucionalIV OBRAS COLECTIVASEstudos sobre a Constituio, coord. de JORGE MIRANDA, 3 vols., Lisboa, 1977,1978e 1979.Nos dez anos da Constituio, org. de JORGE MIRANDA, Lisboa, 1987.Portugal. O Sistema Poltico e Constitucional,org. de M. BAPTISTA COELHO, Lisboa,

    1989.La Justice Constitutionnelle au Portugal, org. de P. LE BON, Paris, 1989.tudes de Droit Constitutionnel Franco-Portugais, org. de P. LE BON, Paris, 1992.Estudos sobre a Jurisprudncia do Tribunal Constitucional,pref. de J. M.CARDOSODA COSTA, Lisboa, 1993.V JURISPRUDNCIA CONSTITUCIONALPareceres da Comisso Constitucional, 21 vols., Lisboa, 1976-1982.Acrdos da Comisso Constitucional,publicados em apndices ao Dirio da Repblica.Acrdos de Tribunais superiores e Pareceres da Procuradoria Ceral da Repblicapublicados no Boletim doMinistrio da Justia.Pareceres da Comisso de Assuntos Constitucionais da Assembleia da Repblica, 2 vols.Acrdos do Tribunal Constitucional,publicados, at ao momento, 12 volumes (1983--1988).Acrdos do Tribunal Constitucional,publicados na Ia e 2a sries do Dirio da Repblica.VI COLECTNEAS DE DIPLOMAS DENSIFICADORES DA CONSTITUIO

    GOUVEIA, J. B. Legislao de Direitos Fundamentais, Coimbra, 1991. SEARA, F. R. / BASTOS, F. L. / CORREIA, J. M. /ROCEIRO, N. / PINTO, R. L.Legislao de Direito Constitucional, Lisboa, 1990. MARTINEZ, P. R. Textos de DireitoInternacional Pblico, Coimbra, 1991.B.Direito Constitucional AlemoI COMENTRIOSGIESE, F. / SCHUNCK, E. Grundgesetz fur die Bundesrepublik Deutschland vom 23.Mai 1949, 9a ed., Frankfurt/ M., 1976. HAMANN, A. / LENZ, H. Grundgesetz fur die Bundesrepublik Deutschland, 3-ed.,Neuwied/Berlin, 1970. JARASS / PIEROTH Grundgesetz fur die Bundesrepublik Deutschland, Munchen, 2S

    ed., 1992.

    i

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    14/1250

    Direito Constitucional XVLEIBHOLZ, G. / RINCK, H. J. HESSELBERGERGrundgesetz fiir die BundesrepublikDeutschland, Kommentar an Hand der Rechtsprechung des Bundesverfassungs-gerichts, 6Sed., Kln, 1978. MANGOLDT / KLEIN / STARCKDas Bonner Kommentar, Kommentar zum BonnerGrundgesetz, Vol. I, 2a ed., Frankfurt/Berlin, 1966; Vol. II, 2a ed., Frankfurt//Berlin, 1964; Vol. III, 2a ed., Mnchen, 1974; Vol. I (Starck), 3S ed., Mnchen,1985; Vol. 14 (Campenhausen), 3a ed., Mnchen, 1981. MAUNZ, T. / DRIG, G. / HERZOG, R. / SCHOLZ, R. / LERCHE, P. /

    PAPIER, H. / RAN-DELZHOFER, A. / SCHMIDT-ASSMANN, E. Grundgesetz, Kommentar, Miinchen,1958 (com actualizaes). MODEL, O. / MULLER, K. Grundgesetz fur die Bundesrepublik Deutschland, 9a ed.,Kln / Berlin / Bonn / Mnchen, 1981. MUNCH, J. V. (org.) Grundgesetz Kommentar, 3 vols., Frankfurt/M, Vol. I,3 ed.,1985; Vol. II, 2a ed., 1982; Vol. III, Ia ed., 1983. SCHMID-BLEIBTREU, B. / KLEIN, F. Grundgesetz fiir dieBundesrepublik, 7a ed.,Neuwied, 1990. WASSERMANN (org.) Kommentar zum Grundgesetz fiir die BundesrepublikDeutschland, Reihe Alternativ Kommentar, 2 vols., Luchterhand, 2a ed., 1989.II LIVROS DE ESTUDO, MANUAIS, TRATADOSARNIM, H. H. Staatslehre der Bundesrepublik, 1984.ARNDT, H. W. / RUDOLF, W. ffentliches Recht, Mnchen, 1977.BADURA, P. Staatsrecht, Miinchen, 1986.BATTIS/GUSY,Einfiihrung in das Staatsrecht, 2a ed., Heidelberg, 1986.

    BENDA, E. / MAIHOFER, W. / VOGEL, H. J. Handbuch des Verfassungsrechts derBundesrepublik Deutschland, Berlin/New York, 2S ed., 2 vols., 1993. BLECKMANN, A. Staatsrecht, II,DieGrundrechte, Kln, 38 ed., 1989. DEGENHART, CH Staatsrecht, 8a ed., Heidelberg, 1992. DENNINGER, E.Staatsrecht,Vol. I, Reinbeck, 1973; Vol. II, 1979. DOEHRING, K.Staatsrecht der Bundesrepublik Deutschland, 3a ed.,Frankfurt/M., 1984. ERICHSEN, H. U. Staatsrecht und Verfassungsgerichtsbarkeit, Vol. I, 3a ed., Mnchen, 1982;Vol. II, Bochum, 1979.HAMEL, W.Deutsches Staatsrecht, Vol. I, Berlin, 1971; Vol. II, Berlin, 1974. HESSE, K. Grundzuge desVerfassungsrechts der Bundesrepublik Deutschland, 188

    ed., Karlsruhe/Heidelberg, 1991. ISENSEE / KIRCHHOF (coord.),Handbuch des Staatsrechts, vols. I, II, III, IV, V, VI eVIII, Heidelberg, a partir de 1987. KRIELE, M. Einfiihrung in die Staatslehre, 4a ed., 1990.MAUNZ, TH. / ZIPPELLIUS R.Deutsches Staatsrecht, 28a ed., Mtinchen/Berlin, 1991. MUCK, J. (org.) Verfassungsrecht, Opladen, 1975. MUNCH, I. v. Grundbegriffe des Saatsrechts, Stutggart / Berlin / Kln / Mainz,Vol. I,4a ed., Stuttgart, 1986, Vol. II, 4a ed., Stuttgart, 1987. PETERS, H. Geschichtliche Entwicklung und Grundfragen derVerfassung, Berlin,1969.PIEROTH/SCHLINK, Staatsrecht, II, 8a ed., Heidelberg, 1992. SCHRAMM, Th. Staatsrecht, 3 vols., Vol. I, 2a ed., Kln,1977; Vol. II, 2a ed., 1979;Vol. III, 2a ed., 1980.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    15/1250

    XVIDireito ConstitucionalSCHUNCKC. / CLERK, H. Allgemeines Staatsrecht und Staatsrecht des Bundes undderLnder, 14a ed., 1993.STAFF, J. Verfassungsrecht, Baden-Baden, 1976. STEIN, E.Lehrbuch des Staatsrechts, 13a ed., Tiibingen, 1991.STERN, K. Das Staatsrecht der Bundesrepublik Deutschland, Vol. I, 2a ed., Miin-chen, 1982; Vol. II, Ia ed., 1980; Vol. III/l, 1989. WEBER-FAS, R. Das Grundgesetz, Berlin, 1983. ZIPPELIUS, R.

    Allgemeine Staatslehre, 11a ed., Mnchen, 1991.C)Direito Constitucional ArgentinoI LIVROS DE ESTUDO, MANUAIS, TRATADOSBIDART CAMPOS, G. Derecho Constitucional, Buenos Aires, 1964.Manual de Derecho Constitucional Argentino, Buenos Aires, 1979. GONZALES CALDERON, J. Curso de DerechoConstitucional, Buenos Aires, 6a ed.,1978. LINARES QUINTANA, A. Tratado de Ia Cincia dei Derecho Constitucional, BuenosAires, 1953.QUIROGA LAVIE, H. Derecho Constitucional, Buenos Aires, 1984. RAMELLA, P. Derecho Constitucional, 3a ed.,Buenos Aires, 1986. REINALDO VANOSSI, J. Teoria Constitucional, Buenos Aires, 1975.D)Direito Constitucional AustracoI COMENTRIOSERMACORA, F. Die sterreichischen Bundesverfassungsgesetze, 9a ed., 1980. KELSEN, H. / FRELICH, H. / MERKL, A.Die Bundesverfassung vom 1. Oktober

    1920, 1922.KLECATSKY, H. / MORSCHERDie sterreischische Bundesverfassung, 1981. RINGHOFERDie sterreischischeBundesverfassung, 1977. SCHFFER(org.) sterreischische Verfassungs-und Verwaltungsgesetze, 1981.II LIVROS DE ESTUDO, MANUAIS, TRATADOSADAMOVICH / FUNK sterreichisches Verfassungsrecht, 2a ed., Wien/New York,1984. ADAMOVICH, L. / SPANNER, H. Handbuch des sterreichischen Verfassungsrechts,6a ed, Wien/New York, 1971.ERMACORA, F. sterreichische Verfassungslehre, Wien, 1970. KLECATSKY, H. Das sterreichischeBundesverfassungsrecht, 2a ed., 1973. KLECATSKY / MORSCHER,Das sterreischische Bundesverfassungsrecht, 3a ed.1982. KOJA, F. Das Verfassungsrecht der sterreichischen Bundeslnder, Wien, 1967. WALTER, R. sterreichisches Bundesverfassungsrecht, Wien, 1972. WALTER / MAYERGrundriss des sterreischischenBundesverfassungsrechts,4a ed, Wien, 1982.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    16/1250

    Direito Constitucional XVIIE)Direito Constitucional BrasileiroI COMENTRIOSBASTOS, C. R. / MARTINS, I. G. Comentrio Constituio do Brasil de 1988,6 vols., em curso de publicao, S. Paulo. CRETELLA JNIOR, J. Comentrios Constituio Brasileira de 1988, emcurso depublicao, Rio de Janeiro. FERREIRA FILHO, M. G. Comentrios Constituio Brasileira, em curso de

    publicao, S. Paulo.II LIVROS DE ESTUDO, MANUAIS, TRATADOSACCIOLI, W. Instituies de Direito Constitucional, 3a ed., Rio de Janeiro, 1984. ANDRADE, A. Lies de DireitoConstitucional, Rio de Janeiro, 1973. BASTOS, C. R. Elementos de Direito Constitucional, S. Paulo, 1975.Curso de Direito Constitucional, 12a ed., 1990. BONAVIDES, P. Curso de Direito Constitucional, 6a ed., S. Paulo,1983.Direito Constitucional, Rio de Janeiro, 3a ed., 1988.FERREIRA FILHO, M. G. Curso de Direito Constitucional, S. Paulo, 9a ed., 1985.Direito Constitucional Comparado - Poder Constituinte, S. Paulo, 1974. FRANCO, A. A. de M. Curso de DireitoConstitucional, 2 vols., Rio de Janeiro,1958.JACQUES, P. Curso de Direito Constitucional, 9a ed., Rio de Janeiro, 1974. NETO, S. Direito Constitucional, S.Paulo, 1970. RUSSOMANO, R. Curso de Direito Constitucional, 2a ed., S. Paulo, 1972. SILVA, J. A. Curso deDireito Constitucional Positivo, & ed., S. Paulo, 1990.

    III OBRAS CLSSICAS DE DIREITO CONSTITUCIONAL BRASILEIROBARBOSA, R. Comentrios Constituio Federal Brasileira, 6 vols., So Paulo,1932-34. PIMENTA BUENO, J. A. Direito Pblico Brasileiro e Anlise da Constituio doImprio, 2 vols., Rio de Janeiro, 1857. PONTESDE MIRANDA Comentrios Constituio de 1946, 2- ed., 1953.F)Direito Constitucional EspanholI COMENTRIOS CONSTITUIO DE 1978ANUA J. / AULESTIA E. / CASTELLS, M. La Constitucin espahola, S. Sebastian,1978.FALLA, G. F. Comentrios a Ia Constitucin, Madrid, 1980. GOYANES, S. E. Constitucin espahola comentada,Madrid, 1979. PREDIERI, A. / ENTERRIA, G. E. (org.)La Constitucin espahola de 1978, Madrid,1980.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    17/1250

    XVIIIDireito ConstitucionalRODRIGUES, F. T. Lecturas sobre Ia Constitucin Espahola, 2 vols., Madrid, 1978.VILLAAMIL ALZAGA, . La Constitucin espanola de 1978 (Comentrio Sistemtico) Madrid, 1978.VILLAAMIL, A. (org.) Comentrios a Ias Leys Polticas, Constitucin Espanola de 1978,12 vols., Madrid, 1988.II LIVROS DE ESTUDO, MANUAIS, TRATADOSAGUILERADE PRAT / P. VILANOVA Temas de Cincia Poltica, Barcelona, 1987. ALZAGA, O. / TORRESDEL MORAL

    Derecho Constitucional, Madrid, 1983. ACOSTA SANCHEZ, J. Teoria del Estado y Fuentes de Ia Constitucin,Cordoba,1989.LVAREZ CONDE, E. Curso de Derecho Constitucional, 2 Vols., Madrid, 1993. APARICIO, M. A. Introduccin aisistema poltico y constitucional espanol, 1980. CLIVILLS, F. M. Introducin ai Derecho Constitucional espanol,Madrid, 1975. ESTEBAN, J. Curso de Derecho Constitucional Espanol, 3 vols., Madrid, 1992 e 1993. GONZALEZCASANOVA, J. Teoria del Estado y Derecho Constitucional, Barcelona,3a ed., 1987. OTTO J. Lecciones de Derecho Constitucional, Oviedo, 1980.Derecho Constitucional I Sistema de Fuentes, Barcelona, 1987.PEREIRA MENAUT, A. C. Lecciones de Teoria Constitucional, Madrid, 25 ed., 1987. SERRANO, P. N. Tratado deDerecho Poltico, Madrid, 1976. SOSPEDRA M. Lecciones de Derecho Constitucional Espanol, I La Constitucin,Valncia, 1981.Aproximacin ai Derecho Constitucional Espanol. La Constitucin de 1978, Valncia, 1981.TORRESDEL MORAL, A. Princpios de Derecho Constitucional, Madrid, 1992. VERDU, L. P. Curso de Derecho

    Poltico, Vol. I, 2a

    ed., Madrid, Vol. II, 3a

    ed., Madrid, Vol. IV, Madrid.G)Direito Constitucional dos Estados UnidosI COMENTRIOSCORWIN, E. The Constitution of the U.S.A. Analysis and Interpretation, Washington, 1959.SCHWARTZ, B. A Commentary on the Constitution of the U.S., 5 vols., New York, 1963/68.II LIVROS DE ESTUDO, MANUAIS, TRATADOSLOCKMART / KAMISAR / CHOPER / SHIFIN Constitutional Law, 6a ed., 1986. NOVAK, J. E. / ROTTUNA, R. / J. YOUNG Constitucional Law, 1978. PRITCHETT, C. H. The American Constitution, 3a ed., New York, 1977. SCHWARTZ, B. American Constitutional Law, Cambridge, 1955.Constitucional Law. A Textbook,New York, 1978. TRIBE, L. American Constitutional Law,New York, 1978.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    18/1250

    Direito Constitucional XIXIII JURISPRUDNCIAFORRESTER, M. R. Cases on Constitutional Law, S. Paul, 1959.FREUD, P. / SUTHERLAND, A. / HOWE, M. / BROWN, E. Constitutional Law. Casesand other Problems, 3a ed., Boston/Toronto, 1967. GUNTHER, G. Cases and Materials on Constitutional Law, 9a ed.,Brooklyn, 1979.H)Direito Constitutional Francs

    I COMENTRIOSLUCHAIRE, F. / CONAC, G. La Constitution de Ia Republique Franaise, 2- ed. Paris, 1987.II LIVROS DE ESTUDO, MANUAIS, TRATADOSAMSON, D. Droit Constitutionnel, Les Cours de Droit, 1990.-ARDAND, Ph. Institutions Politiques et Droit Constitutionnel, Paris, 1991.BOURDON, J. / DEBBASCH, C. / PONTIER, J. M. / Rica, J. C. Droit Constitutionnel etInstitutions Politiques, 2a ed., Paris, 1986. BURDEAU, G. Trait de Science Politique, 2- ed., Paris, 1978.Droit Constitutionnel et Institutions Politiques, 17a ed., Paris, 1987. BURDEAU, G./HAMON, F./TROPER, M. DroitConstitutionnel, 22a ed., Paris, 1991. CABANNE, J. C. Introduction Vtude du Droit Constitutionnel et de IaSciencePolitique, Toulouse, 1981. CADART, J. Institutions Politiques et Droit Constitutionnel, 2 vols., 2a ed., Paris,1990.CADOUX, CH.Droit Constitutionnel et Institutions Politiques, 2 vols., Paris, 1982-88 CHANTEBOUT, B. DroitConstitutionnel et Science Politique, Paris, 1991. DUVERGER, M. Institutions Politiques et Droit Constitutionnel, 2

    vols. 16

    a

    ed.,Paris, 1982.FABRE, M. H. Prncipes rpublicains de droit constitutionnel, Paris, 4a ed., 1984. GABORIT, P. / GAXIE, D. DroitConstitutionnel et Institutions Politiques, Paris,1978.GICQUEL Droit Constitutionnel et Institutions Politiques, Ted., 1987. GUCHET, Y. Elements de DroitConstitutionnel, Paris, 1981. HAURIOU, A. (com a colaborao de J. GICQUEL e P. GLARD) Droit Constitutionnelet Institutions Politiques, 11a ed., Paris, 1991.JEANNEAU, B. Droit Constitutionnel et Institutions Politiques, 7a ed., Paris, 1987. LECLERCQ, C. DroitConstitutionnel, Institutions Politiques, 5S ed., Paris, 1987. PACTET, P. Institutions Politiques, DroitConstitutionnel, 10a ed., Paris, 1991. PRLOT M. / BOULOUIS, J. Institutions Politiques et Droit Constitutionnel, 11a

    ed.,Paris, 1990.TURPIN, D. Droit Constitutionnel, Paris, 1992. VIALLE P. Droit Constitutionnel et Institutions Politiques, Lyon,1984.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    19/1250

    XXDireito ConstitucionalIII JURISPRUDNCIAFAVOREU, L. / PHILIP, L. Les grandes dcisions du Conseil Constitutionnel, 3a ed., Paris, 1983.I)Direito Constitucional HolandsI COMENTRIOSHASSELT, W. J. C. Verzameling van Nederlandse Staatsregelingen en Grondwetten.

    II LIVROS DE ESTUDO, MANUAIS, TRATADOSBELINFANTE, A. D. / REEDE, J. L. Beginselen van Nederlands Staatsrecht, 10a ed.,1987.HAERSOLTE, R. A. V. Inleiding tot het Nederlandse Staatsrecht, 8a ed., 1983. KOOPMANS, T. Compendium van hetStaatsrecht, 4a ed., 1983. KORTMANN, C. A.J.De Grondwetsherzieningen 1983 en 1987, 2a ed., 1987. POT, C. W.VAN Handboek van het Nederlandse Staatsrecht, 11a ed., 1983.J)Direito Constitucional InglsI HISTRIA CONSTITUCIONALGOUG, J. W. Fundamental Law inEnglish Constitutional History, London, 1958. MAITLAND, F. W. TheConstitutional History ofEngland, London, 1908, (Reimp., Cambrdge, 1961).II LIVROS DE ESTUDO, MANUAIS, TRATADOSDICEY, A. V. Introduction to the study of the Law of the Constitution, 10a ed.,London, 1959.JENNINGS, J. The Law and the Constitution, 5a ed., London, 1959. LEWENSTEIN, K. Staatsrecht und Staatspraxis

    von Grossbritain, 2 vols., Berlin // HEIDELBERG / New York, 1967. MARSHALL, G. Constitutional Theory, Oxford, 1980. MITCHELL, J. D. B. Constitutional Law, 2a ed., Edinburgh, 1968. PHILLIPS, O. H. Constitutional and Administrative Law, 5a ed., 1973.YARDLEY, D. C. M. introduction to British Constitutional Law, 6b ed., London,1984. WADE, E. C. S. / PHILLIPS, G. S. Constitutional Law, Ted., London, 1965.III JURISPRUDNCIAKEIR, D. / LAWSON, F. H. Casei Constitutional Law, 6a ed., Oxford, 1979. WILSON, G. Cases and Materials onthe Constitutional and Administrative Law,Cambridge, 1966. PHILLIPS, O. M. Leading on Constitutional Law, 2a ed., London, 1957.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    20/1250

    Direito Constitucional XXIL)Direito Constitucional ItalianoI COMENTRIOSAGRO, A. S. / LAVAGNA, C. / SCOCA, F. / VITUCCI, P. La Costituzione Italiana, Torino,1979.AMORTH La Costituzione italiana. Commento sistemtico, Milano, 1948. BRANCA, G. (org.) Commentario deliaCostituzione, 11 vols., Bologna, 1975/1982. CALAMANDREI, P. / LEVI, A. Commentario sistemtico alia costituzione

    italiana,Firenze, 1950.CRISAFULLI V. / PALADIN, L. Commentario breve alia Costituzione, Padova, 1990. FALZONE, W. / PALERMO, F. /COSENTINO, F. La Costituzione delia RepubblicaItaliana, Milano, 1980.II LIVROS DE ESTUDO, MANUAIS, TRATADOSAMATO / BARBERA (org.) Manuale di diritto pubblico, Bologna, 1986. BARILE, P. Istituzioni di diritto pubblico, I,5a ed., Padova, 1987. Bozzi, A. Istituzioni di diritto pubblico, Milano, 1977. CUOCOLO, F. Istituzioni di dirittopubblico, 7a ed., Milano, 1992. CRISAFULLI, V. Lezioni do diritto costituzionale, 6a ed., 3 vols., Padova, 1993.FALCON, G. Lineamenti di Diritto Pubblico, 2, Padova, 1989. MAZZIOTI, M. Lezioni di Diritto Costituzionale, 2vols., 2a ed., Milano, 1993. LAVAGNA, C. Istituzioni di diritto pubblico, 6S ed., Torino, 1988. MARTINES, T. DirittoCostituzionale, Ted., Milano, 1992. GHETTI/VIGNOCCHI, Corso di Diritto Pubblico, 4a ed., Milano, 1991. MAZZIOTI, M.Lezioni di diritto costituzionale, 2 vols., 2a ed., Milano, 1993. MORTATI, C. Istituzioni di diritto pubblico, 2 vols.,9a ed., Padova, 1975. Musso, E. S. Diritto Costituzionale, Padova, 1986. PALADIN, L. Lezioni di Diritto

    Costituzionale, Padova, 1988. PERGOLESI, F. Diritto Costituzionale, 2 vols., 16a

    ed., Padova, 1962/68. PIZZORUSSO, A.Lezioni di diritto costituzionale, Roma, 1978.Sistema istituzionali di diritto pubblico italiano,Napoli, 1988. RESCIGNO, G. Corso di Diritto Pubblico, 2- ed.,Bologna, 1984. RUFFIA, P. B. Diritto Costituzionale - Istituzioni di diritto publico, 15a ed., Napoli,1989.VIRGA, P. Diritto Costituzionale, 9a ed., Milano, 1979. ZAGREBELSKY, G. Manuale di Diritto Costituzionale,Torino, 1987.M)Direito Constitucional SuoI COMENTRIOSBURCKHARDT, W. Kommentar der schweizerischen Bundesverfassung vom 29 Mai 1874, 3ed., Bem, 1931.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    21/1250

    XXIIDireito ConstitucionalII LIVROS DE ESTUDO, MANUAIS, TRATADOSAUBERT, J. Trait de droit constitutionnel suisse,Neuchtel, 1967. BRIDEL, M. Prcis de droit constitutionnel etpublic suisse, Lausanne, 1965. FLEINER, F. / GIACOMETI, Z. Schweizerischen Bundesstaatsrecht, Zurich, 1949, 2a

    ed., 1965.HFELIN / HALLER Schweizerisches Bundesstaatsrecht, 2a ed, 1988. HANGARTNER, Y. Grundzuge des

    schweizerischen Staatsrechts, Vol. I, Zurich,1980; Vol. II, Zurich, 1982.

    RECOLHA DE TEXTOS DE DIREITO CONSTITUCIONALI Em lngua portuguesa:MIRANDA, J. Textos constitucionais estrangeiros, Lisboa, 1974.Constituies polticas de diversos pases, 3a ed., Lisboa, 1986/87.Constituies Portuguesas, 3a ed., Lisboa, 1991. GOUVEIA, J. B. Constituies de Estados Lusfonos, Lisboa,1993.II Em lngua francesa:BERLIA, G. / BASTID, P. Corpus Constitutionnel, Leyde, 1970. Recolha mundial das constituies em vigor, 2 tomos,5 fascculos. Obra importantssima, mas ainda incompleta, contendo a publicao dos textos constitucionais na lnguaoriginria e em lngua francesa.DUVERGER, M. Constitutions et documents politiques, 10a ed.. Paris, 1986.GODECHOT, J. Les constitutions de Ia France depuis 1789, Paris, 1977.

    Les constitutions du Proche et du Moyen Orient, Paris, 1957. GONIDEC, P. F. Les constitutions des tats de IaCommunaut, Paris, 1959. LAVROFF, D. G. / PEISER, G. Les Constitutions Africaines, Paris, 1961. PUGET, H. LesConstitutions d'Asie et d'Australie, Paris, 1965. REYNTJENS, F. (org.) Constitutiones Africae, Bruxelles / Paris, 1988.III Em lngua espanhola:ESTEBAN, J. Constituciones Espaiolas y Estrangeras, 2 vols., Madrid, 1977. CASCAJO CASTRO, J. L. / GARCIAALVAREZ, M. Constituciones extranjeras contemporneas, 2a ed., Madrid, 1991.IV Em lngua inglesa:BLAUSTEIN, P. / FLANZ, G. Constitutions ofthe Countries ofthe World,New York. PEASLEE, A. ConstitutionsofNations, 3a ed., 6 vols., L'Aja, 1965/70.V Em lngua italianaRUFFIA, P. B. di Constituzioni Stranieri Contemporanee, 4a ed., Milano, 1985.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    22/1250

    CAPITULO 0

    COMO LER E COMPREENDERESTE LIVRO1. Orientao profissional e orientao acadmicaO "Direito Constitucional", agora submetido em nova edio publicidade crtica, mantm a

    sua concepo originria. No nem um tratado nem um manual. Debalde se procurar nele umtratamento exaustivo e global da "imensido" de matrias hoje includas nos tratados de direitoconstitucional ou de direito poltico. Por outro lado, no possui a conciso e a estruturadiscursiva de um manual universitrio. A obra foi pensada com a finalidade de fornecer umaabordagem terica e dogmtica dos principais padres estruturantes do direito constitucionalvigente.Sucede, porm, que a sua utilizao pelos alunos como livro de texto nem sempre fcil. Aexperincia pedaggica de largos anos alertou-nos para as principais dificuldades: (1) - estilo delinguagem concentrado e conotativo; (2) - constante articulao de problemas da teoria daconstituio (memrias, histrias e teorias) com questes de direito constitucional positivo(interpretao e aplicao de normas, dogmtica jurdico-positiva); (3) - excesso de informaocom a consequente falta de "reduo da complexidade".

    No obstante estas deficincias, sobretudo pedaggicas, o livro continua igual nos seusobjectivos. Ensinar direito constitucional um acto de cultura e de humanismo e mau seriaprivar os alunos de sugestes e insinuaes incentivadoras de um melhor e mais profundoconhecimento dos problemas. Acresce que, num contexto jurdico--cultural onde escasseiamobras especializadas e o pblico crtico se estende para alm dos muros universitrios, mais valefornecer elementos de discusso, informao e comunicao, favorecedores da ideia deconstituio comoprocesso pblico, do que encerrar os esquemas discursivos no universorepetitivo dos anos escolares. Esta

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    23/1250

    Direito Constitucionalopo est, de resto, intimamente ligada ao paradigma formativo da Faculdade de Direito deCoimbra. A cincia jurdica ensinada nas "Escolas de Direito" oscila entre duas orientaesfundamentais: a "orientao profissional" e a "orientao acadmica". A primeira procurafornecer um saber colocado directamente ao servio do jurista prtico e das suas necessidades.A segunda, sem perder a dimenso praxeolgica (irrenuncivel ao direito), visa proporcionar um

    discurso com um nvel teortico-cientfico (no plano dos conceitos, da construo, daargumentao) que compense a "cegueira" do mero prati-cismo e evite a unidimensionalizaopragmtico-positivista do saber jurdico.2. "Leitura dogmtica" e "leitura teortica"O modo como se estruturam os captulos permite fazer a articulao entre a teoria e adogmtica, ou seja, entre a teoria da constituio e o direito constitucionalvigente. Ailuminao de muitos problemas jurdico-constitucionais carece de um backgroundexplicativo ejustificativo que s pode ser fornecido por uma reflexo terica sobre o prprio direitoconstitucional. Eis aqui um ponto importante concebida como teoria (e no como prtica) e,simultaneamente, como meta-teoria (reflexo sistemtica sobre a prpria teoria do direitoconstitucional), a teoria da constituio possibilita a clarificao dos problemas do direitoconstitucional. Vrios exemplos poderiam ser aqui trazidos colao. No possvel, porexemplo, discutir o conceito de constituio sem se falar em "teorias da constituio". Seriametodologicamente empobrecedora uma anlise dos direitos fundamentais sem uma prviaexposio das "teorias dos direitos fundamentais". No mesmo sentido, abordar o princpiodemocrtico sem o suporte terico das "teorias da democracia" implicaria o esquecimento dafora sinergtica das "ideias sobre a democracia".Nem sempre os dois planos o terico e o dogmtico, o da teoria da constituio e o do direitoconstitucional so facilmente isolveis. Assim, e para nos limitarmos a um exemplo, adiscusso das funes ou multifunes dos direitos fundamentais (cfr. infra, Parte IV, Cap. 5) indissocivel da discusso terica sobre as dimenses subjectiva e objectiva destes mesmosdireitos.As limitaes de tempo e a necessidade de fornecer os padres estruturais do direito

    constitucional vigente (em virtude do seu interesse prtico) obriga, muitas vezes, a deixar nasombra ("matria no

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    24/1250

    Como ler e compreender este livropreleccionada", "matria no sumariada") a "metateoria" da teoria da constituio. Todavia, amensagem do texto outra. Sem as teorias de Newton no se teria chegado Lua assim o dize demonstra Sagan; sem o hmus terico, o direito constitucional dificilmente passar devegetao rasteira, ao sabor dos "ventos", dos "muros" e do praticismo. Mas o inverso tambmtem os seus perigos: a hipertrofia teortica (e filosfica) pode insinuar a transformao de

    modelos teortico-consti-tucionais e filosficos em normas superconstitucionais, esvaziando ouminando a fora normativa da constituio.3. Normatividade e FundamentalismoAs consideraes antecedentes permitem j adiantar o fio condutor oLeitmotiv dopresente curso. Procura-se compreender a normatividade de uma constituio positiva que aquise pressupe (cfr. infra, Parte I, Cap. 4S, D) como integradora dos princpios fundamentais dejustia, ou seja, como "reserva" e "garantia" da justia. O direito constitucional no se esgota napositividade das normas da constituio; deve ser um direito justo. A funo de "reserva dejustia" do direito constitucional, se fornece o impulso para uma vigilncia crtica relativamenteaos contedos do direito "posto" e "imposto", tambm um limite para quaisquertranscendncias ("fundamentos ltimos", "essncias", "naturezas") clara ou encapuadamenteconducentes afun-damentalismos ideolgicos, filosficos ou religiosos.4. "Leitura estruturante" e discurso "historicista" e "compara-tstico"O direito constitucional um intertexto aberto. Deve muito a experincias constitucionais,nacionais e estrangeiras; no seu "esprito" transporta ideias de filsofos, pensadores e polticos;os seus "mitos" pressupem as profundidades dos arqutipos enraizados dos povos; a sua"gravitao" , agora, no um singular movimento de rotao em torno de si prprio, mas umamplo gesto de translao perante outras galxias do saber humano. No entanto, o direito consti-tucional no se dissolve na "histria", na "comparatstica", nos "arqutipos"; um direitovigente e vivo e como tal deve ser ensinado.A compreenso acabada de referir explica o recurso apadres estruturais expositivos,ordenadores dos principais mdulos proble-

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    25/1250

    Direito Constitucionalmticos. A captao dos padres bsicos procura superar um modelo expositivo histrico-poltico e poltico-constitucional, demasiado onerado com factores genticos e nem sempreimune dissoluo em fragmentrios "factos polticos".5. Estruturas tericas e dogmtica jurdicaComo em qualquer cincia (seja cincia da "natureza" seja cincia "social"), a Cincia do

    Direito Constitucional utiliza conceitos que, no raras vezes, obrigaro a suspenses na leitura e procura desesperada do seu significado nos dicionrios. Este ponto sistematicamentesalientado pelos alunos: dificuldade de compreenso de conceitos, obstculos frequentes noentendimento do "dito" textual.O problema, como bvio, prende-se com a questo mais geral de saber quais so as"memrias" culturais que os alunos devem "armazenar" para frequentar cursos universitrios.No raro acontece que se d por ensinado aquilo que nunca se ensinou e se consideramaprendidas coisas nunca explicadas. Por ltimo h que reconhecer existem sriasdificuldades de articulao (e comunicao!) entre os encarregados de vrias disciplinas,criando-se sistemas de "reen-vios" formais: considera-se o ensino de certas matrias dacompetncia de outros colegas que, por sua vez, do como pressuposto elas serem ensinadasnoutras cadeiras.Independentemente destes obstculos e desentendimentos, h certos pontos de partidacategoriais e conceituais que os alunos devem conhecer. Fornecer uma "gramtica" ou um"dicionrio" do discurso no se coaduna com o tipo de ensino universitrio, alm de no serrazovel que um texto-base de direito constitucional se transforme em "dicionrio de termos epalavras jurdicas". De qualquer modo, a descodificao de alguns conceitos estruturantes podeconstituir um alerta feito aos alunos contra a interpretao naifde enunciados conceituais. Nestesentido, revelar-se- o "segredo" (hoje dir-se-ia "fornecer o cdigo" ou fazer a "descodificao")das estruturas tericas subjacentes economia narrativa deste texto e que se pretendem comovocabulrio ntersubjectivamente vlido para tentar estruturar uma "cincia".I. Teoria: sistema de definies, leis, axiomas, com a ajuda dos quais se tentam compreenderdeterminados fenmenos (ex.: o fenmeno do Estado atravs de teorias do Estado;

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    26/1250

    Como ler e compreender este livroo fenmeno partidrio atravs de teorias sobre partidos e sistemas eleitorais)x.II.Metateoria: designa um conjunto de reflexes ou de proposies teorticas sobreconhecimentos tericos (ex.: as "teorias de constituio" so um conjunto de proposies denatureza terica sobre o conceito de constituio).III. Dogmtica: complexo de conceitos e proposies (particularmente lgicos) que permite

    organizar e captar determinados "factos jurdicos" (ex.: a dogmtica dos direitos fundamentaispermite-nos captar as dimenses objectiva e subjectiva dos direitos fundamentais na ordemjurdica positiva portuguesa). Neste sentido, a dogmtica jurdica deve afastar-se quer dos"dogmas religiosos" ("sentido da verdade revelada por Deus") quer do dogmatismo jurdico (sis-tema de normas, princpios e conceitos que estabelecem e fixam irrefutavelmente decises devalores, existentes independentemente dos factos: o dogma da plenitude lgica do ordenamentojurdico, o dogma da unidade da ordem jurdica).IV. Estrutura: conjuntos pr-relacionantes e conformativos da realidade (captados, muitasvezes, intuitivamente). Ao referirmos as "estruturas organizatrias", por ex., pretende-se pr-seleccionar os dados da realidade juridico-poltica referentes organizao do poder poltico; aoaludir-se a "estruturas subjectivas" procuram-se captar as "grandezas" englo-badoras dosdireitos, deveres, situaes e interesses do homem e do cidado 2.V.Modelo: uma estrutura terica que procura "representar" domnios ou mbitos objectivosno teorticos (ex.: no Cap. 2 da Parte I, falar-se- em "modelos geo-econmicos" e em"modelos geo-polticos" para explicar o fenmeno do "desenvolvimento poltico").1 Algumas vezes, estas teorias podem ser objecto de formalizao matemtica. Assim, por ex., a regra do sistemaproporcional a cada um o que lhe devido , assenta no seguinte axioma: a percentagem de mandatos deve seridntica percentagem de votos ou M = V ou (M/V) = 1 (M = mandatos e V = votos).2 Note-se que a moderna "teoria da cincia" de cariz estruturalista concebe mesmo as teorias cientficas como"estruturas". Cfr. W. STEGMULLER,Hauptstr-mungen der Gegenwartsphilosophie, II, 1979, p. 480.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    27/1250

    Direito ConstitucionalVI.Paradigma: "consenso cientfico" enraizado quanto s teorias, modelos e mtodos decompreenso do mundo (ex.: neste sentido nos vamos referir, logo no Cap. I, aos paradigmas da"modernidade" e da "ps-modernidade").

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    28/1250

    PARTE ITEORIA DA CONSTITUIO:A CONSTITUIO COMO ESTATUTOJURDICO DO POLTICO

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    29/1250

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    30/1250

    CAPITULO 1

    MODOS TRANSITIVOS:OS PARADIGMAS DA MODERNIDADEE DA PS-MODERNIDADE

    NO MBITO DO DIREITO CONSTITUCIONALE DA CINCIA POLTICASumarioINovos "paradigmas", novos "saberes", novos "direitos"II As palavras viajantes1. Constituio2. Estado3. Lei4. Inveno do "territrio" e do "Estado-Nao"5. Direitos individuais6. Os pactos fundadoresIIIO paradigma do informal O Estado Constitucional informal1. Refluxo poltico e refluxo jurdico2. As regras constitucionais informaisEste captulo introdutrio um apontamento tpico sobre algumas refraces do movimento do ps-modernismo no Direito

    Constitucional. O seu estudo pressupe a leitura dos intertextos fundamentais:J. F. LYOTARD,La Condition Postmoderne, Paris, Minuit, 1979 (existe trad.portuguesa,A Condio Ps-modern). G. VATTIMO,La Fine delia Moderni, Garzani, 1985 (existe trad. portuguesa: Ofim da modernidade, Presena, 1987). KOSLOWSKI,Die postmoderne Modern, Munchen, 1988. J. HABERMAS,Der PhilosophischeDiskurs der Moderne, Suhrkamp, Frankfurt,1986.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    31/1250

    10Direito ConstitucionalNa literatura nacional podem ver-se:BOAVENTURA SOUSA SANTOS,Introduo a uma Cincia Ps-Moderna, Afrontamento, Lisboa, 1989. "Ps-Modernismo e Teoria Crtica", inRevista Crtica de Cincias Sociais,Maro, 1988. "Modemo/Ps-Moderno", inRevista de Comunicao e Linguagem, n. 6/7. "Os direitos humanos na ps-modernidade", inDireito e Sociedade, 4/1989, p.3ss.MANUEL MARIA CARRILHO,Elogio da Modernidade, Lisboa, 1989. MIGUEL BATISTA PEREIRA,Modernidade e Tempo. Para uma Leiturado DiscursoModerno, Coimbra, 1990.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    32/1250

    I Novos "paradigmas", novos "saberes", novos "direitos"Ao iniciar-se um Curso de Direito Constitucional e Cincia Poltica nos finais da dcada de 80 ecomeos da dcada de 90, poder-se--ia repetir, ponto por ponto, aquilo que um autor portugusescreveu h vinte anos: " nossa volta tudo mudou".Fazendo a mise au pointda situao do Direito Pblico no fim da dcada de 60, escreveu ROGRIO SOARES,DireitoPblico e Sociedade Tcnica, Coimbra, 1969: "se fosse possvel a um jurista particularmente interessado pelas coisas

    do direito pblico entrar no sono da princesa da fbula, no precisaria de deixar correr os cem anos para descobriratnito que sua volta tudo mudou. Bastava-lhe ter esperado pelo desencanto dos ltimos vinte anos e verificaria queo seu castelo de construes e os seus servidores estavam irremediavelmente submersos no silvado de uma novarealidade perante a qual se encontram indefesos. E o dramtico, quase trgico, que no h foras benfazejas querasguem novas clareiras e tracem novas sendas para um regresso ao velho mundo, como numa readmisso do parasoe, apesar de tudo, de muitos lados se nota um esforo para mergulhar na realidade com um arsenal obsoleto, e, piorainda, com umpathos dissonante com os tempos".Passada uma vintena de anos, os problemas que hoje se pem ao estudioso do direitoconstitucional e da cincia poltica so semelhantes, mas num contexto e espao discursivoscompletamente outros. Em termos interrogativos: qual o instrumentarium, o corpus terico e odiscurso dos juspublicistas para captarem as transformaes e deslocaes do "espao poltico"nestes ltimos vinte anos? E com que "esprito", com que "alma", com que "f", com que "pr-com-preenso", eles enfrentam os desafios de uma poca que se pretende no j moderna,

    mas.simps-moderna? Tero chegado tambm ao campo do direito pblico, e, sobretudo, aodireito constitucional, novos "paradigmas", novas "modas" e novos "saberes"? Adiantandoalgumas indicaes que, ao longo do curso, tero outros desenvolvimentos, salientar-se- que asinquietaes de um jurista constitucional obrigam a uma abertura aos novos motes do direito eda poltica e disputabilidade intersubjectiva desses novos motes. Em crise esto muitos dos"vocbulos designantes"-"Constituio", "Estado", "Lei", "Democracia", "Direitos Humanos","Soberania",

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    33/1250

    12Direito Constitucional"Nao"-que acompanharam, desde o incio, a viagem do constitucionalismo. Comear o Cursopor algumas dessaspalavras viajantes significa no s apresentar aos alunos alguns dos coreterms ("conceitos centrais") da nossa disciplina, mas, tambm, confront-los com os novos"arqutipos", os novos "discursos" e os novos "mitos" do universo poltico.

    Ultrapassaria as possibilidades de um Curso de Direito Constitucional e de Cincia Poltica embrenharmo-nos nacomplexa questo da caracterizao do "ps-moderno" e da "ps-modernidade". A utilizao do termo "ps--moderno" comea nas querelas literrias da dcada de 30, nos Estados Unidos, transita para a histria (A. TOYNBEE),prossegue na arquitectura (Ch. JENCKS), absorvido pelos socilogos da "ps-histria" (A. GEHLEN) e da sociedadeps--industrial (H. FREYER, DANIEL BELL), e culmina num poderoso movimento filosfico-cultural em quedesempenham papel fundamental autores franceses como MICHEL FOUCAULT, GILLES DELEUZE, JEAN BAUDRILLARD,JACQUES DERRIDA, JEAN-FRANOIS LYOTARD, MICHEL SERRES. Para os alunos que desejarem ir mais longe aconselha-se aleitura de J. F. LYOTARD,La Condition postmoderne, 1979 (trad. port.A Condio ps-moderna); GIANNI VATTIMO,LaFine delia Modernit, 1985 (existe trad. portuguesa); W. WELSCH, Unsere Postmodern Modern, 1987; P. KOSLOWSKI,Die postmoderne Kultur, Miinchen, 1988.Na doutrina portuguesa consultem-se sobretudo os trabalhos de BOA-VENTURADE SOUSA SANTOS: O Social e o polticona transio Ps-Moderna (1988);Introduo a uma Cincia Ps-Moderna (1989). Cfr. tambm a til colectnea emlngua espanhola de J. Pico,Modernidad y Postmodernidad, Madrid, 1988, e o nmero da revista de filosofiaespanholaDOXA '6, (1989).

    II As "palavras viajantes"1. ConstituioNo centro do nosso estudo vai estar a "palavra" Constituio. Independentemente de saber qualfoi a "arqueologia" deste conceito (cfr. infra, cap. 3.), pode avanar-se com uma noo habituale tendencialmente rigorosa de Constituio:"Constituio uma ordenao sistemtica e racional da comunidade poltica, plasmada numdocumento escrito, mediante o qual se garantem os direitos fundamentais e se organiza, deacordo com o princpio da diviso de poderes, o poder poltico".

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    34/1250

    O Direito Constitucional entre o moderno e o ps-moderno 13No se discutir aqui o processo gentico de tal conceito1. Salientar-se- a sua consonncia coma ambitio saeculi, isto , com as pretenses da modernidade e dosujeito moderno: os homensso capazes de construir um projecto racional, condensando as ideias bsicas desse projectonumpacto fundador a constituio. Em termos mais filosficos, dir-se-ia que a ideia deconstituio indissocivel da ideia desubjectividade projectante, ou, se se preferir, da ideia de

    razo iluminante ou/e iluminista2. Subjectividade, racionali-dade, cientificidade, eis obackgroundfilosfico-poltico da gnese das constituies modernas3. Atravs de umdocumento escrito concebido como produto da razo que organiza o mundo, iluminando-o eiluminando-se a si mesma, pretendia-se tambm converter a lei escrita (= lei constitucional) eminstrumento jurdico de constituio da sociedade.As coisas colocam-se, para os juristas ps-modernos, em termos substancialmente diferentes. Aideia de constituio como "centro" de um conjunto normativo "activo" e "finalstico",regulador e directivo da sociedade, posta em causa de vrias formas. Em primeiro lugar,assinalam-se os limites da regulao dos problemas sociais, econmicos e polticos atravs dodireito. O "direito s regula a sociedade, organizando-se a si mesmo" (TEUBNER). Isto significaque o direito desde logo, o direito constitucional , no um direito activo, dirigente eprojectante, mas um direito reflexivo auto--limitado ao estabelecimento de processos deinformao e de mecanismos redutores de interferncias entre vriossistemas autnomos dasociedade (jurdico, econmico, social e cultural). Por isso se diz que o direito, hoje, odireito constitucional ps-moderno um direito ps-intervencionista (= processualizado","dessubstantivdo", "neo--corporativo", "ecolgico", "medial")4.1 Cfr., entre ns, per todos, ROGRIO SOARES, "Constituio", inDicionrio Jurdico da Administrao; idem, "Oconceito ocidental de Constituio", in RLJ, 119 (1986), p. 36 ss.; JORGE MIRANDA,Manual de Direito Constitucional,Tomo II, p. 20 ss..2 Uma exposio magistral das categorias da modernidade ver-se- em MIGUEL BATISTA PEREIRA,Modernidade eTempo, para uma leitura do discurso moderno, Coimbra, 1990, pgs. 39 ss.; P. KOSLOWSKI,Diepostmoderne Kultur,cit., pp. 32 ss.3 Cfr. BRUNO ROMANO, Soggettivit, diritto e postmoderno, Una interpreta-zione con Heidegger e Lacan, Bulzoni,1981, p. 104 ss.; P. KOSLOWSKI/R. SPAEMANN/ /R. Low (org.),Moderne oder Postmoderne?, Heidelberg, 1986, p. XII.4 Cfr., por todos, G. TEUBNER,Recht ais autopoietisches System, Frankfurt/M, 1989, p. 82.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    35/1250

    14Direito ConstitucionalEm segundo lugar, e em conexo com o que se acaba de dizer, a constituio deixa de serpossvel conceber-se com um pacto fundador e legitimador de uma aco prtica racionalmentetransformadora. Por outras palavras: a constituio deixa de inserir-se no processo histrico deemancipao da sociedade (quer como "texto" de garantias individuais e arranjos organizatrios

    de tipo liberal, quer como "programa dirigente" de cariz marxizante). Como se concebe, ento, aconstituio na poca ps-moderna? Em termos tendenciais, adiantar-se- a seguintecaracterizao:A Constituio um estatuto reflexivo que, atravs de certos procedimentos, do apelo a auto-regulaes, de sugestes no sentido da evoluo poltico-social, permite a existncia de uma

    pluralidade de opes polticas, a compatibilizao dos dissen-sos, a possibilidade de vriosjogos polticos, a garantia da mudana atravs da construo de rupturas (TEUBNER, LADEUR).A posio que se vai adoptar neste Curso ainda a da modernidade. Acredita-se na conscinciaprojectante dos homens e na fora conformadora do direito, mas relativiza-se "aconstitucionalizao da programao da verdade "(cfr. infra, Parte I, Caps. 2Q/B, 3fi e 4Q/C e D).Eis aqui uma premissa importante de muitos dos desenvolvimentos subsequentes: constituiode um Estado de direito democrtico ter de continuar a solicitar-se uma melhor organizao da

    relao homem-mundo e das relaes intersubjectivas (entre e com os homens) segundo umprojecto-quadro de "estruturas bsicas da justia" (J. RAWLS), moldado em termos de umaracionalidade comunicativa selectiva (HABERMAS).2. EstadoDesde o sculo passado (cfr. infra, cap. 2) que o conceito de Estado assumido como umaforma histrica (a ltima para os modernos, porventura a penltima para os ps-modernos) deum ordenamento jurdico geral(GIANNINI) cujas caractersticas ou elementos constitutivos eramos seguintes: (1)- territorialidade, isto , a existncia de um territrio concebido como "espaoda soberania estadual"; (2)-populao, ou seja, a existncia de um "povo" ou comunidadehistoricamente definida; (3)-politicidade:prossecuo de fins definidos e individualizados emtermos polticos. A organiza-

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    36/1250

    O Direito Constitucional entre o moderno e o ps-moderno 15o poltica do Estado era, por sua vez, uma parte fundamental ("parte orgnica") daConstituio. Esta articulao do "Estado" com o "texto"-da a tradicional designao de"Constituio do Estado" - tambm questionada nos esquemas de representao da ps-modernidade. Vejamos como.A organizao poltica no tem centro: (1) umsistema de sistemas autnomos, auto-

    organizados e reciprocamente interferentes; (2) multipolar e multiorganizativa. Com efeito,ao lado do "Estado", existem, difusos pela comunidade, entes autnomos institucionais (ordensprofissionais, associaes) e territoriais (municpios, regies). Da a referncia perda docentro (do Estado concebido como organizao unitria e centralizada) e a existncia de umdireito sem Estado, isto , de modos de regulao (contratos, concertao social, negociaes)constitutivos daquilo a que se poder chamarreserva normativa da sociedade civil.Encontra-se o "eco" das ideias acabadas de referir nos trabalhos de JOS LAMEGO: "A sociedade sem 'centro':instituies e governabilidade em NIKLAS LUHMANN", inRisco 5/1987, p. 29 ss.; "Racionalizao Social e AcoComunicativa: o Balano da 'Modernidade' na Teoria Crtica", inRisco 4/1986, p. 17 ss..Como se ir ver no prximo captulo, o Estado no desaparecer totalmente do discursopoltico-constitucional: ele constitui a forma de racionalizao e generalizao do poltico nassociedade modernas, sendo nesta perspectiva que se devem interpretar muitas das referncias

    deste Curso categoria poltica do Estado (cfr. infra, cap. 2.).3. LeiUm outro conceito nuclear para a compreenso do direito constitucional da modernidade oconceito de lei que, numa primeira aproximao (cfr. infra, Parte IV, Padro IV), se poderiadefinir da seguinte forma."Lei um acto normativo geral e abstracto editado pelo Parlamento, cuja finalidade essencial a defesa da liberdade e propriedade dos cidados".No quadro de referncias do Estado Constitucional moderno, a lei era a "forma" de actuao doEstado que fixava duradoura, geral e abstractamente, as "decises" fundamentais do poderpoltico, estabelecia o mbito e limites da actuao normativa do poder executivo ematerializava as ideias de justia da maioria parlamentar.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    37/1250

    16Direito ConstitucionalAlgumas destas dimenses continuam a ser vlidas no contexto do Estado constitucionaldemocrtico actual (cfr. infra, Parte IV, Padro IV). Todavia, assiste-se tambm a umarelativizao do papel da lei e proclama-se sem rebuos a "crise" da lei. Porqu?Assinala-se, desde logo, o facto de a lei transportar, semelhana da ideia de Constituio, a

    ambio iluminista-racionalista do "sujeito" moderno: "codificar"a ordem jurdica e"armazenar" duradouramente as bases gerais dos regimes jurdicos. Posteriormente, acentua-seainda mais o carcter instrumental da lei como meio da "razo planificante". Os impulsosiluminista e planificante para a lei acabam por gerar uma espcia dejuridicizao do mundo, a

    parlamentarizao legiferante da vida, a regulamentaoperfeccionista (= detalhada,pormenorizada) dos problemas sociais, com a consequente perda ou declnio do seu valornormativo.Por outro lado, a lei carrega as sequelas do "centralismo e direc-cionismo" jurdico dosmodernos, esquecendo a existncia de equivalentes funcionais reguladores, alternativos dodireito, como, por ex., o mercado, no plano econmico, a autonomia contratual, no planointerprivado, os negcios ou agreements informais no plano da barganha poltica, as soluescomunitrias de conflitos, como, por ex., os "tribunais de bairro".

    Tambm neste aspecto, o presente Curso de Direito Constitucional no far tbua rasa do papelda lei perante as presses deslegaliza-doras dos ps-modernos. Alguns princpios estruturantescomo o princpio da prevalncia da lei, o princpio da reserva de lei e o princpio da legalidadeda administrao (cfr. infra, Parte IV, Padro IV) continuaro a merecer um relevo significativona arquitectnica constitucional democrtica. Mas alguma coisa fica das crticas e sugestes dosps-modernos, designadamente a ideia da necessidade de tomar em considerao osmecanismos de auto-regulao da sociedade, conducentes: (1) libertao de determinadosdomnios da vida de uma regulamentao racionalmente finalstica atravs do direito (des-

    juridificao atravs da deslegalizao); (2) acolhimento de regras extralegais e deequivalentes funcionais do direito, como, por ex., a "concertao de interesses", a governaoatravs de "persuases" e de "consultas", a recepo de "cdigos de tica", a adeso a "reco-

    mendaes" e "normas tcnicas"; (3) direco ou autodireco situa-tiva atravs de um direitoreflexivo que fixe as regras do jogo aos "actores"sociais, sem impor autoritariamente soluessubstantivas.Repare-se, porm: esta abertura aosprocessos de polarizao regultica de uma sociedadepluralista no significa que a orientao

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    38/1250

    O Direito Constitucional entre o moderno e o ps-moderno 17dominante deste Curso esteja em consonncia com os ideologemas de uma sociedade semdireito (constitucional ou legal) ou com os modelos espontnea e emocionalmente regulativos(BLANKENBURG).A folie de uma "sociedade sem direito" alerta-nos e sensibiliza-nos para acontingncia histrica, na forma e no contedo, dos instrumentos legais regulativos. Asalternativas "extrajurdicas" ou "extralegais" no substituem, por enquanto, a funo formal e

    material das regulaes normativas dos poderes pblicos legtimos.4. A inveno do "territrio" e do "Estado-Nao"Como j foi referido, as constituies ligam-se quer ao "nascimento do Estado" (State-building,na terminologia da moderna sociologia e cincia poltica americana) quer "construo ousedimentao de uma comunidade nacional (Nation-building). Da a "representao"constitucional do Estado-Nao: um centro poltico oEstado, conformado por normas as normas da Constituio exerce a "coaco fsica legtima" poder dentro de umterritrio nacional.O problema, hoje, o de saber se o processo de institucionalizao da modernidadesucessivamente desenvolvido Estado NacionalEstado de direitoEstado democrticoEstado social no teria chegado ao fim. Deixaremos de lado, e por agora, as querelasrelacionadas com o "Estado-providncia" e concentremo-nos em mais um mote da ps-modernidade poltico-constitucional a perda do lugar e da inrcia geogrfica e territorial(B. GUGGENBERG). Assim, os fenmenos daglobalizao, com os inerentes problemas deinterdependncia e modificaes nas formas de direco e controlo dos regimes e sistemaspolticos, levam necessariamente questo de saber como se devem estruturar deveres eobrigaes para l dos "confins do Estado territorial" (S. HOFFMAN alude aqui, de formasugestiva, a "Duties beyond Borders"). Como se podero regular deveres e obrigaes na"ausncia" de um centro poltico estadual?Os fenmenos de "transnacionalizao" e de regresso aos "nacio-nalismos", a "inveno" denovos espaos pblicos (ex.: espaos comunitrios), o alargamento dos actores nogovernamentais, coloca novos desafios ao direito constitucional e "teoria das normas" que lheest subjacente. Esse desafio da ps-modernidade poderia sintetizar-se atravs da seguinte

    caracterizao de constituies:

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    39/1250

    18Direito ConstitucionalAs constituies, embora continuem a ser pontos de legitimao, legitimidade e consensoautocentradas numa comunidade estadualmente organizada, devem abrir-se progressivamentea uma rede cooperativa de metanormas ("estratgias internacionais ", "presses concertadas")e de normas oriundas de outros "centros" transnacionais e infranacionais (regionais e locais)

    ou de ordens institucionais intermdias ("associaes internacionais", "programasinternacionais").

    A globalizao internacional dos problemas ("direitos humanos", "proteco de recursos","ambiente") a est a demonstrar que, se a "constituio jurdica do centro estadual",territorialmente delimitado, continua a ser uma carta de identidade poltica e culturale umamediao normativa necessria de estruturas bsicas de justia de um Estado-Nao, cada vezmais ela se deve articular com outros direitos, mais ou menos vinculantes e preceptivos (hardlaw), ou mais ou menos flexveis (soft law),progressivamente forjados por novas "unidadespolticas" ("cidade-mundo", "europa comunitria", "casa europeia", "unidade africana").5. Direitos individuaisUm topos caracterizador da modernidade e do constitucionalismo foi sempre o da consideraodos "direitos do homem" como ratio essendi do Estado Constitucional (cfr. infra, Parte IV, Cap.

    lfi, e Cap. 5a). Quer fossem considerados como "direitos naturais", "direitos inalienveis" ou"direitos racionais" do indivduo, os direitos do homem, constitucionalmente reconhecidos,possuam uma dimenso projectiva de comensurao universal. Alm de apontarem para arealizaoprogressiva do homem num mundoprogressivamente melhor (tenso escatolgica),os direitos do homem forneciam um "critrio", um "fundamento", uma "verdade", um "valor"universal para se distinguir entre "Estado constitucional" e "Estado no constitucional" (cfr.infra, Parte I, Cap. 3Q).Alguma coisa mudou no ps-modernismo. Aparentemente, assiste-se ao revigorar do

    subjectivismo nos direitos fundamentais, em sintonia com o "subjectivismo radical" que sedetecta na poesia, na msica, na nova "religiosidade", nos movimentos polticos e at nas teoriascientficas. O mundo ps-moderno ser mesmo um mundo

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    40/1250

    O Direito Constitucional entre o moderno e o ps-moderno 19plural(dos "discursos", das "histrias", das "ideias", dos "progressos") onde existe apenas umsingular: o indivduo.Todavia, este indivduo singular assume-se comops-sujeito: renuncia a "verdades universais"e, em vez de projectar mundos, encontra os "fenmenos" e os "sistemas". Neste sentido se dizque um indivduo topolgico, um "espectador de aconteceres" soberanamente "indiferente".

    A posio expressa em desenvolvimentos subsequentes deste Curso (cfr. Parte IV, Padro I,referente ao Estado de direito, e Padro II, referente aos direitos fundamentais) assentar ainda:(1) na ideia de os direitos fundamentais continuarem a constituir a raiz antropolgica essencialda legitimidade da constituio e do poder poltico; (2) no pressuposto de que se no h, hoje,"universalidades", "dogmatismos morais", "metafsicas humanistas", "verdades apodcticas","valores ticos indiscutveis", pode, pelo menos, estabelecer-se uma aco comunicativa 5, ou,se se preferir, intersubjectiva, entre os homens, em torno de certas dimenses de princpio queimplicam sempre um mnimo de comensurao universal e de intersubjectividade; (3) estadimenso de universalidade e de intersubjectividade reconduz-nos sempre a uma referncia os direitos do homem.6. Os pactos fundadores: razo moderna ou mitopoitica ps--moderna?Como explicar a emergncia de novos "pactos fundadores"? Em termos de narratividademoderna a resposta racional:pretende--se um esquema poltico de regras que definam umesquema de actividades e uma justa configurao das instituies sociais-"estruturas bsicas"-,de forma a permitir aos homens a organizao e funcionamento de uma "sociedade bemordenada".Em termos ps-modernos, a criao de um "pacto fundador", como a constituio, procura-se,antes, em estruturas simblicas, mticas ou arquetpicas. Em vez de "pacto fundador" fala-se em"mito" ou "mitos fundadores".Uma mitopotica narrativa, oracularmente captadora de "densos agregados significantes","nsitos na profundeza da alma popular",5 Cfr., sobretudo, J. HABERMAS, Vorstudien und Ergnzungen zur Theorie des Kommunikativen Handelns, Frankfurt,1984. Salientando que o relativismo cultural no incompatvel com o universalismo dos direitos do homem, cfr.KOSLOWSKI,Die postmoderne Kultur, cit., p. 157 ss.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    41/1250

    20Direito Constitucionalapela aos "mitos fundamentais" como operadores interpretativos (ex.: "mito do eterno retorno","mito da idade do ouro") em vez de se alicerar na argumentao, no raciocnio, na ordemlgica da demonstrao, na razo constitucional.Que dizer desta tentativa de conceber as constituies como "conjunto de mitos"? O "regresso

    do mito" (G. DURAND) pode significar, positivamente, o dinamismo da vida sempre recomeada(MAFE-SOLI), mas pode tambm, negativamente, transformar a explicao mitopoitica numaforma de manipulao do real, num modo de transcendncia da "conexo dos acontecimentos",numa proposta alternativa da constituio "para trs", em direco aos mitos ednicos e aosarqutipos profundos da alma", sem qualquer ligao com os contratos que os homens, aqui eagora, estabelecem como regras bsicas da vida comunitria6.

    III O paradigma do informal O Estado Constitucional informal1. Refluxo poltico e refluxo jurdicoO "informal que est a dar", assim dizem os jovens a pretexto das mais variadas coisas e

    pessoas. De um modo idntico, poderamos transferir o "dito" para o mbito do direitoconstitucional e afirmar: "o Estado Constitucional informal o que est a dar". Em linguagem

    comum insinua-se a emergncia, no mbito do direito constitucional, de um novo paradigma: oparadigma do Estado Constitucional informal.Para um cultor do direito pblico, educado e formado dentro dos paradigmas cientficos damodernidade, falar de um "Estado Constitucional informal" quase utilizar o pontoarquimediano contra si mesmo. No significou a criao de uma constituio uma tentativa deordenao sistemtica e racional da comunidade poltica atravs de um documento escrito? Obinmio "razo/experincia"do ilumi-nismo no postulava necessariamente um documentoescrito como receptor/codificador dos esquemas racionais aplicados prtica? Que6 Para o estudo destes problemas veja-se, entre ns, PAULO FERREIRADA CUNHA,Mito e Constitucionalismo, Coimbra,1990; idem, "A Constituio como mito" e "Mito e ideologias (Em torno ao prembulo da Constituio)", ambos emPensar o Direito, Coimbra, 1990.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    42/1250

    O Direito Constitucional entre o moderno e o ps-moderno 21se pretende, no fundo, com a "informalizao" e "aformalizao" do Estado Constitucional?O paradigma do informal no se pode desligar do debate em torno do refluxo poltico e dorefluxo jurdico.No mbito poltico assiste-se ao refluxo da poltica formal(do Estado, dosparlamentos, dos governos, das burocracias, das formaes sociais rigidifiadas); no domniojurdico, o espectculo o refluxo jurdico (deslocao da produo normativa do centro para a

    periferia, da lei para o contrato, do Estado para a sociedade).A interpretao ou imbricao destes dois fenmenos tem sido posta em relevo, considerando-seque o "refluxo poltico", articulado com o "refluxo jurdico", encontra refraces concretas nosfenmenos: (1) da des-oficializao, traduzida no amolecimento da supremacia hierrquica dasfontes do direito formal, sobretudo do Estado; (2) da des-codificao, expressa na progressivadissoluo da ideia de "cdigo" como corpus coerente e homogneo, cultural e superior dodireito legal; (3) da des-legalizao, isto , retirada do direito legal e at de todo o direito formalestadual (des-regulamentao) e restituio das reas por ele ocupadas autonomia dos sujeitose dos grupos.O trnsito para a ideia de Estado Constitucional informal ganha, neste contexto, transparncia:se a regulamentao jurdica formal deve ser substituda por outros mecanismos (ex.:econmicos) ou por estruturas informais (ex.: tribunais de leigos), ento tambm o direitoconstitucional formal se deve retirar da vida e da poltica para, num dinmicoprocesso pblicoaberto, incorporar, preferencialmente, regras no cristalizadas na constituio escrita ou emquaisquer outros textos jurdicos.2. As regras constitucionais informaisO acolhimento de regras constitucionais informais, no mbito do Direito Constitucional, no significa a dissoluo daconstituio formal na velha "constituio real", nos "factos polticos". As regras informais constitucional-menterelevantes tm de obedecer a certos requisitos, nem sempre explicitados ou at desconhecidos pela euforiainformalista, como ps em relevo M. SCHULTZ FIELITZDer informale Verfassungsstaat, Berlim, pg. 20 segs. Asinformalidades "normativas" ou "regulativas" obedecem a certos requisitos: 1) devem constituirexpectativasregulares de comportamentos que ganharam profundidade institucional, de forma a serem consideradas comoverdadeiras regras de comportamento e deciso; 2) devem terconexo imediata com as normas jurdico-

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    43/1250

    Direito Constitucional-constitucionais, a ttulo de regras complementares ou de instrumentos de praticabilidade e de exequibilidade (ex.:uma conversa a alto nvel dos lideres partidrios no , certamente, uma regra constitucional informal); 3) devem terum fundamento de validade jurdica, tendendo os autores a procur-lo num consenso processual e material,possibilitador da formao de vontade poltica, dentro dos limites das normas e princpios do direito constitucionalformal(H. SCHULTZ-FlELITZ).

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    44/1250

    CAPITULO 2

    O MUNDO AMBIENTECIRCUNDANTE/ESTRUTURANTEDO POLTICO E DA CONSTITUIOSumrioA) O POLTICO COMO OBJECTO DO DIREITO CONSTITUCIONALI Poltica e usos de linguagem1. Poltica/gesto2. Poltica/estratgia3. Poltica/factos relevantes do domnio polticoIIObjectos polticos1. Objectos polticos e vocbulos designantes2. Objectos polticos e ncleo emprico do polticoIIITeorias do poltico1. Teorias do poltico2. Efeito de filtro do poltico3. Estatuto jurdico do polticoB) O POLTICO E O ESTADOI Estado e desenvolvimento poltico1. Estado e desenvolvimento poltico2. Estado e semntica da modernidade

    3. A diferenciao do EstadoIIModelos e TeoriasIII Estado Constitucional DemocrticoIV Poltico e Sistema poltico1. Os conceitos operacionais ou gramtica da sistemacidade2. Normas, sistema jurdico e estruturas de domnioV Poltico e jogo poltico1. Regras do jogo e espao de criatividade poltica2. Forma da prtica poltica: plural, relativa e circular

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    45/1250

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    46/1250

    A | O POLTICO COMO OBJECTO DO DIREITOCONSTITUCIONALIPoltica e usos de linguagemNeste Curso deDireito Constitucionalpartir-se- do seguinte "objecto" convencional da nossadisciplina:

    (1) o objecto da Cincia Poltica o estudo do poltico;(2) o objecto doDireito Constitucional o estudo do estatutojurdico do poltico.Compreende-se, assim, a necessidade de uma aproximao pro-blematizante ao conceito de

    poltico. O poltico vai ser este o fio condutor no uma essncia invarivel, antes seconexiona com prticas humanas cambiantes e multiformes. Uma das formas de captar ofenmeno do poltico , precisamente, a anlise dos usos do vocbulopoltica. Dito de outromodo: para se ganhar algum conhecimento sobre as realidades extralingusticas designadas por"polticas" cientificamente aceitvel comear pelos usos dos vocbulos tal como estes serevelam nas mensagens comunicativas dos falantes de uma determinada comunidade.Subjacente a este ponto de partida esto os seguintes pressupostos metodolgicos e cientficos: (1) o uso(s) da palavrapoltica(o) no um a priori arbitrrio; (2) a palavra poltico(a) tem referentes extralingusticos (mesmo quando as

    realidades no so entidades exteriores mas estados de conscincia); (3) os objectos polticos so "constructas"humanas, isto , so convencionalmente constitudas ("pr-constitudas" ou "auto-constitudas"); (4) a consideraocomo convencionalaponta para a excluso tendencial de objectos polticos decantados como "essncias" ou reveladoscomo "trans-cendncias" ("objectos essencialmente polticos", "objectos transcendental-mente polticos").Para um aprofundamento da intertextualidade informadora destes pressupostos metodolgicos aconselha-se a leitura,difcil mas estimulante, de WITTGENSTEIN,Investigaes Filosficas, Lisboa, 1987; RICHARD RORTY,A Filosofia e oEspelho da Natureza, Lisboa, 1988.De sublinhar, porm, que a tentativa de abordar o poltico atravs dos usos da linguagem comum no significaqualquer resignao sobre a possibilidade de reconstruo de um conceito de poltico bem radicado na poltica e

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    47/1250

    24Direito ConstitucionalIndicaes bibliogrficasA) SOBRE O POLTICO1.PolticoDENQUIN, Science Politique, Puf, Paris, 1985, p. 15 ss.GONZALEZ CASANOVA, Teoria dei Estado y Derecho Constitucional, 3.' ed., Barcelona, 1987, p. 3 ss. SARTORI,Elementi di Teoria

    Poltica, II Mulino, Bologna, 1987, p. 241 ss.2.Teorias do PolticoSCHLOSSER/H. MAIER/Th. STAMMEN,Einfuhrung in die Politikwissenschaft, Beck,2."ed., Miinchen, 1977, p. 23. K. VON BEYME,Politische Theorien der Gegenwart, Eine Einfuhrung, 2." ed.,Miinchen, 1974 (Existe trad. espanhola: Teorias Polticas Contemporneas.Una Introduccin, Instituto de Estdios Polticos, Madrid, 1977. J. J. GOMES CANOTILHO, Tpicos de Cincia Poltica, 1984/85(policopiados).B) SOBRE O POLTICO E O ESTADO1. O poltico e o EstadoM. GRAWITZ/J. LECA, Trait de Science Politique, Puf, Paris, 1985, Vol. I,p. 389.2. Sobre a problemtica do desenvolvimento polticoPIE,Aspects of Political Development, Boston, Little-Brown, 1967, (existe traduo brasileira)LA PALOMBARA,Bureaucracy and Political Development, Princeton, Princeton University Press, 1963 (h traduo espanhola).3. Relativamente edificao do Estado-NaoP. ANDERSON,Lineages of the Absolutist State,New Left Books, 1974 (h traduo portuguesa).S. ROKKAN, "Dimensions of State Formation and Nation-Building: a Possible Paradigm for Research on Variation Within Europe", in

    C. TILLY

    (Org.) The Formation of National States in Westens Europe, Princeton, Prince-ton University Press, 1975.I. WALLERSTEIN , The Modern World System,New York, Academic Press, 1974 (Existe traduo portuguesa).The Capitalist World Economy, London, Cambridge University Press, 1979.4. Trabalho global sobre as teorias do desenvolvimento polticoB. BADI,Le Dveloppementpolitique, Paris, Econmica, 3."ed., 1984.5. Literatura em lngua portuguesaP. ANDERSON,Linhagens do Estado Absolutista, Ed. Afrontamento, Porto, 1984.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    48/1250

    O Mundo Ambiente CircundantelEstruturante do Poltico e da Constituio 25T. SKOCPOL,Estados e Revolues, Ed., Presena, Porto, 1985.J. STRAYER,ASorigens medievais do estado moderno, s.d., Ed., Gradiva.I. WALLERSTEIN , O Sistema Mundial Moderno, Lisboa, vol. I, 1990.6.Poltico e sistemaMAURICE DUVERGER, Sociologia da Poltica, Coimbra, 1983, p. 257 ss. MADELEINE GRAWITZ/JEAN LECA, Trait de Science Politique,Paris, 1985, Vol. I,p. 335 ss.7.Poltico e jogo poltico

    MAURICE DUVERGER,Xeque-Mate, Lisboa, 1978.PIERRE BOURDIEU, O Poder Simblico, Lisboa, 1989, p. 163 ss.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    49/1250

    28Direito Constitucionalque usado pelos investigadores com um alto grau de acordo intersubjectivo. Uma defesa vigorosa da necessidade dereconstruo de conceitos polticos explicativos (no meramente declarativos ou marcadamente estipulativos)encontrar-se- em FELIX OPPENHEIM,Political Concepts. A Reconstruction, Chicago, University Press, 1981 (utilizmosa ed. italiana, II Mulino, Bologna, 1985, p. 235 ss). Como iremos ver em seguida, a propsito do ncleo emprico dopoltico, uma perspectiva empirista tambm no dispensa a utilizao de conceitos com um "uso bem radicado na

    cincia" (e no apenas na linguagem comum). Cfr., por todos, a obra fundamental de G. G. HEMPEL, "The Meaning ofTheoretical Terms: A Critique of The Standard Empiricist Construa", inLogic, Methodology and Philosophy ofScience, Vol. IV, Amsterdam, North--Publishing, 1973, p. 372. Uma viso global quanto aos problemas da determi-nao do objecto na moderna teoria da cincia ver-se- na excelente tese de J. M. AROSO LINHARES,Regras daExperincia e Liberdade Objectiva dos Juzos de Prova, Coimbra, 1988, p. 164 ss.

    1. Poltica/gestoO quotidiano da comunicao alerta-nos frequentes vezes para o uso da palavra poltica nosentido de complexo de objectivos,previamente definidos, conexionados com os meiosracionalmente possveis e adequados para os atingir.Quando se fala, por exemplo, de "poltica da agricultura", de "poltica da energia", de "polticados transportes", de "poltica do emprego", de "poltica da universidade", tem-se sempre emvista a existncia objectiva de um problemaposto aos homens pela realidade natural e social,bem como as escolhaspossveis e racionais em face dos meios existentespara os solucionar.A poltica assume aqui uma dimenso objectiva: os problemas existem, a comunidade ter de osenfrentar, a poltica visa resolv-los, pelo menos tendencialmente. Esta constatao aponta jpara o facto de a poltica pressupor a definio de objectivos, a escolha de solues e a obtenode meios. Ela liga-se, como vai ver-se em seguida, ideia de estratgia.2. Poltica/estratgiaAo implicar a definio de objectivos, a escolha de solues, a obteno de meios e a tomada dedecises, a poltica semprepoltica de homens ou degrupos humanos (exs: a "poltica dogovernoX", a "poltica do partido / ", a poltica fiscal do ministroX", a "poltica do primeiro-ministro").

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    50/1250

    O Mundo Ambiente CircundantelEstruturante do Poltico e da Constituio 29Aqui, o acento tnico incide no tanto na existncia objectiva de problemas, mas nas escolhas,nos fins e nos meios subjectivamente definidos ou individualizados por um governo, por umpartido, por um grupo social ou econmico. A poltica aproxima-se da ideia de estratgiaadoptada por determinados sujeitos (ministros, partidos, governos, grupos) para resolverdeterminados problemas da comunidade.

    3. Poltica/factos especficos relevantes do domnio do polticoOs usos anteriores podem considerar-se usos comuns da palavra poltica. Poderamos tambmfalar aqui, como faz DENQUIN1, de usos externos, susceptveis de serem expressos por outrosvocbulos. Assim, em vez de "poltica partidria" possvel aludir a uma "estratgia partidria";em substituio da "poltica da universidade" habitual usar o termo "questo ou problema dauniversidade".Todavia, deparamos tambm com usos que no dispensam o prprio qualificativo de poltico.Quando se discorre sobre um "discurso poltico" ou sobre um "conflito poltico", o qualificativo"poltico" insinua ou sugere a existncia de "factos" dotados de certas caractersticas, isto ,factos que relevam do mundo ou universo do poltico. A captao do sentido atravs do seu usoparecer ser, neste caso, insuficiente, impondo-se a compreenso da construo convencionaldos objectos polticos.

    II Objectos polticosA dificuldade de acesso aos chamados "objectos polticos" resulta j de algumas consideraesanteriores. Por um lado, no existem objectos polticos "essenciais" ou "transcendentais". Poroutro lado, no h um "objecto poltico" teoricamente constitudo.1. Objectos polticos e vocbulos designantesUma possibilidade para resolver o problema da caracterizao dos objectos polticos encontra-sena delimitao do universo do pol-1 Cfr. Jean-Marie DENQUIN, Science Politique, Puf. Paris, 1985, p. 31 ss. Cfr. tambm J. A. GONZALEZ CASANOVA,Teoria dei Estado y Derecho Constitucional, 3.a ed., Barcelona, 1987, p. 3 ss.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    51/1250

    30Direito Constitucionaltico atravs de termos centrais. FRED FROHOCK2 alude a core termspara exprimir a ideia de que oobjecto do poltico, convencionalmente constitudo, designadopelos termos centrais dedirectividade e agregao, dado que a aco poltica visa dirigir comportamentos num espaocolectivo e estabelecer as agregaes de interesses de indivduos e grupos. Os vocbulos

    designadores "centrais" ou "vocbulos designantes" no so "propriedades" ou "essncias" dopoltico nem o podem delimitar em termos rgidos para todos os mundos possveis. De qualquerforma, atravs deles, delimita-se, de modo aproximado, um universo o universo poltico,que poderemos definir como o espao socialmente constitutivo de contradies e agregao deinteresses, regulado por titulares do poder poltico que dispem do monoplio da coaco fsicalegtima3. Nesta concepo do poltico esto implcitas (mas no na sua forma pura) algumasdas dimenses que vrias teorias do poltico (a que, em seguida, se far referncia)consideraram, ao longo dos sculos, como elementos constitutivos do poltico.2. Objectos polticos e ncleo emprico do polticoA perspectiva aqui sugerida afasta-se de uma concepo puramente teortica ou ontolgica dopoltico, ao salientar que o poltico no um "dado" mas uma "conveno social"insinuadorade referentes, globalmente constitutivos do ncleo emprico do poltico. A articulao de

    vocbulos centrais designantes com objectos polticos empricos evita o perigo das "definiesprescritivas" que fixam ou descrevemsignificados impostos por determinadas normas de usos,e, consequentemente, veiculadoras do discurso dos grupos dominantes. Alm disso, podem nose encontrar palavras ou existirem vocbulos muito diferentes para designar ou denotar omesmo conjunto de objectos polticos. Pode, por exemplo, no ser conhecido o vocbulo"Estado", mas existirem autoridades, poderes e foras que desenvolvem actividades "estaduais"ou "polticas". a partir do ncleo emprico do poltico, espacial e temporal-mente varivel, que se poderfalar de "actividades polticas"por excelncia como: (1) actividade poltica e legislativa, atravsda qual: FRED FROHOCK, "The Structure of Politics'". in APSR, vol. 72 (1978), p. 859 ss. 3 Cfr. MADELEINE GRAWITZ/JEAN LECA,Trait de Science Politique, Puf, Paris,

    985, vol. I, p. 389.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    52/1250

    O Mundo Ambiente CircundantelEstruturante do Poltico e da Constituio 31se estabelecem regras de comportamentos e se determinam os fins, tarefas e princpios do"governo" comunitrio; (2) actividade executiva e/ou administrativa mediante a qual seexecutam as regras de comportamento, se organizam servios e estruturas e se obtm recursos;(3) actividade jurisdicionalque visa essencialmente a aplicao dos modelos normativos decomportamento a casos concretos.No obstante o que se acaba de afirmar sobre a "no essencialidade" dos objectos polticos, reconhece-se que odiscurso desenvolvido no texto em torno dos "usos da poltica" e dos "objectos polticos" supe duas formas depredicao diferentes. No primeiro caso estamos perante uma predicao ntralingustica {legetai tinos, naterminologia de Aristteles) incidente sobre vocbulos ou palavras (ex: "esta a poltica do primeiro-ministro"). Nosegundo caso o dos objectos polticos (ex: este "discurso poltico", "este homem poltico", esta "tarefa poltica") dizemos alguma coisa sobre a realidade, afirmamos algo sobre "coisas" (o "discurso", o "homem", a"tarefa"). Trata-se de uma predicao extralingustica (einai en tini, na terminologia aristotlica). Sobre estes pontos,leia-se o importantssimo livro de REN THOM,Parbolas e Catstrofes, Lisboa, 1985, p. 180. Sobre o problema do"ncleo emprico" vide G. CANGUILHEM,tudes d'Histoire de Ia Philo-sophie des Sciences, Paris, Vrin, 1975, p. 16.

    III Teorias do poltico 1. Teorias do polticoAs observaes finais do nmero anterior servem para uma outra aproximao aos objectospolticos. Se, como se disse, ao afirmar-se que "um discurso poltico" ou este "homem poltico" se recorre a predicaes extralingusticas, pois a uma substncia ("discurso",

    "homem") acrescentamos um acidente ("poltico"), isso significa que atravs do predicado"comunicamos" com algumas "coisas" polticas. E aqui surge o problema: se o poltico no uma essncia ou um dado mas uma conveno, como o distinguir de outros domnios como amoral, a economia e a religio? E se o poltico uma constructa humana por que que falar deum "gato poltico" ou de uma "rvore poltica" um verdadeiro non sense, mas j o no sealudirmos a "conflito poltico", a "preos polticos", a "discurso poltico"?A resposta s perguntas anteriores explica a proliferao de doutrinas ou teorias do poltico.Ligado filosofia prtica clssica, surge-nos o conceito normativo-ontolgico de poltico:poltica o campo das decises obrigatrias, dotadas de autoritas e depotestas,

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    53/1250

    32Direito Constitucionalque tm como escopo o estabelecimento e conservao da ordem, paz, segurana e justia dacomunidade. Trata-se de um conceito: (i) normativo,porque no tem como referente umarealidade emprica, existente e determinada, antes acentua a ideia de aco poltica, orientadapara a realizao de certos actos e fins, atravs da qual o homem consegue uma existncia

    humana, verdadeira e justa; (ii) ontolgica,porque reconhece os valores e os princpios quedevem nortear a aco poltica como princpios reais pertencentes rea do ser (ontologiaespecial)4.Reclamando-se da tradio sofstica, da "arte poltica" de N. Maquiavel, do pensamento polticode Hobbes, e, em geral, das correntes naturalistas e voluntaristas, o conceito realista do polticoprocura captar as dimenses do poltico, no a partir da "justia", da "boa ordem", da "vidavirtuosa", mas tendo em conta o fenmeno dopoder. O poder converte-se, assim, na frmulachave para a compreenso do poltico: o poltico toda a relao de domnio de homens sobrehomens suportado por meio da violncia legtima (MAX WEBER) OU, para utilizarmos umaformulao mais recente, a trama persistente de relaes humanas que implica, em medidasignificativa, poder, domnio ou autoridade (R. DAHL). Ainda por outras palavras colhidas numoutro autor contemporneo: o poltico reconduz-se a decises "colectivizadas" soberanas,

    coercitivamente sancionveis (G. SARTORI).Aproximando-se, em alguns aspectos, da teoria realista do poltico, mas integrando as decises eo poder poltico numa teoria globalmente materialista da histria e da sociedade, surge-nos oconceito marxista de poltico. Poltico o campo das relaes entre as diversas prticas polticase o Estado. Importante, nesta concepo, a referncia do poltico aoEstado, concebido comonvel especfico de uma formao social no interior do qual se condensam as contradies entreos vrios nveis sociais (econmico, poltico, cultural). Considerar o Estado como referente dopoltico s tem sentido, por conseguinte, quando ele concebido como "resumo da sociedade",como instncia que mantm a unidade e coeso dos vrios nveis de uma formao social(POULANTZAS, FOSSAERT).Ope-se quer a perspectivas normativas quer a orientaes uni-lateralmente voltadas para o

    Estado a antropologia poltica. Esta con-4 Cfr. D. SCHLOSSER/H. MAIER/TH. STAMMEN,Einfuhrung in die Politiwis-senschaft, 2.a ed., Miinchen, 1977, p. 23.

  • 7/29/2019 Livro_Jos Joaquim Gomes Canotilho_Direito Constitucional

    54/1250

    O Mundo Ambiente CircundantelEstruturante do Poltico e da Constituio 33sidera o poltico inerente ao poder, mas o poder no necessariamente o "poder do Estado",pois ele aparece em todas as sociedades como resultante da necessidade de luta contra a entropiapositiva ameaadora de desordem (BALANDIER). Consequentemente, mesmo nas chamadassociedadesfragmentrias ou acfalas, emerge o poltico, a partir do momento em que asrelaes sociais ultrapassam simples relaes de parentesco e surge a competio entre os

    indivduos e os grupos.Como se poder intuir das consideraes do texto, a maior parte das aproximaes ao conceito de poltico insinuamsempre, como seu referente, posies de estadualidade institucionalizada aliceradas em competncias dotadas depoder de deciso vinculativo. A referncia ao "Estado" no implica necessariamente uma concepo "estatal" depoltico. Uma poltica de "no deciso", isto , a no tomada de decises pelo Estado uma atitude to "poltica"como a tomada de decises (cfr. P. BACHRACH/N. S. BARATZ,Power and Poverty ). De igual modo, a opo pormodelos de "desestatizao" (privatiza-o) de inspirao liberal, catlica ou ecolgica uma expresso deestratgia poltica do Estado.O aprofundamento das crticas antropolgicas aos conceitos estatizados do poltico pode ver-se N. ROULAND,Anthropologie Juridique, Paris, 1988, p. 78 ss.2. Efeito de "filtro" do polticoAs teorias anteriores (e muitas outras poderiam ter sido referidas) sugerem fundamentalmenteduas coisas: (1) que ao conceito de poltico se associa uma funo defiltro ou uma funo

    selectiva no sentido de possibilitar a captao de vrios aspectos da realidade social complexacom "distintividade poltica"; (2) que o conceito de poltico no se pode nem deve divo