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Nascimento da Linguagem Plástica Primeira parte

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Page 1: LIVRO_A Criança e seu Desenho -Philippe Greig cap_01

Nascimento daLinguagem Plástica

Primeira parte

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Da criança ocupada com seus rabiscos, vemos inicialmente apenas o gestooscilante do braço. Esse movimento, modulado pelo da mão e animado pelaforça subjacente das pulsões, termina ou em uma forma circular cada vezmelhor-definida ou em uma acumulação em fusos ou varreduras de traçosou arcos paralelos.

O movimento circular e o movimento de vaivém constituem, assim, osdois rabiscos de base: constata-se sua presença em todos os trabalhos sobreas produções precoces das crianças, mas poucos autores fazem dessas suasformas gráficas essenciais um verdadeiro princípio organizador.1

Para compreender esse impulso gráfico primordial, é preciso situá-lo emseu devido lugar dentro do conjunto de interações precoces da criança. E astrês séries de comportamentos identificados por Montagner nos três primeirosanos de vida prestam-se a esse confronto. Isolamento e choro dominam osnove primeiros meses; a linguagem limita-se então ao balbucio, a marcha estáausente e os gestos ainda não têm tradução gráfica. Os comportamentos deconflito (ameaças, atos de apropriação e de agressão) assumem o primeiro pla-no, com um domínio da motricidade que permite às crianças uma ocupaçãomais ativa de seu espaço; as primeiras palavras acompanham os primeirospassos, e os rabiscos mais primitivos começam a deixar sua marca, depois asprimeiras frases encerram o segundo ano junto com os dois desenhos de base.Os comportamentos de relacionamento e de apaziguamento (solicitações epresentes) ganham importância ao longo do terceiro ano, com uma explosãoda linguagem acompanhando esse desenvolvimento da sociabilidade; é tam-bém o ano do apogeu dos dois rabiscos de base, depois de seu desenvolvimen-to até a realização do traço, do círculo e, às vezes, das primeiras formas com-postas. Aos 3 anos, a criança diz “eu” e domina toda a linguagem corrente, aomesmo tempo em que consegue traçar o “círculo” (cf. Quadro 1).

A passagem aoato de rabiscar

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2020202020 Philippe Greig

Quadro 1 A atividade gráfica e os comportamentos segundo Montagner

Nasci-mento

Choroe

isolamento

Compor-tamento

de conflito

Comporta-mento derelaciona-

mento

Início do balbucio

As primeiras palavras

As primeiras frases

Explosão da linguagem

O medo do estranho: “Angústia dooitavo mês”, de Spitz

Período dos rabiscos primitivos

“O olho segue a mão sem guiá-la”Jogo do carretel, de S. Freud

Os dois rabiscos de base

Controle visual do traçadoIntenção representativa e atribuiçãode nomes

O domínio dos traços

Desenvolvimento dos rabiscosDo domínio do traço à busca do círculo.Acesso possível aos “rabiscos compostos”

3 m.

6 m.

9 m.

12 m.

18 m.

2 anos

3 anos

40% 33% 27%

26% 43% 31%

24% 50% 26%

23% 44% 33%

O círculo em TermanA idade do “eu” e de “dar de presente”

Traço circular e figuras primárias

A figura-girino

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A criança e seu desenho 2121212121

Os comportamentos de conflito ou de relacionamento desenvolvem-seassim como a própria pulsação da vida, enquanto as condutas de isolamentodiminuem quase pela metade, e o gesto gráfico aparece como um verdadeiroprolongamento desses comportamentos, ora violento como o “golpe” de lá-pis, que é a marca de impulsividade do gesto a ponto de rasgar o papel, oradoce como uma carícia que deixa sua marca, com o grafite roçando a folhaem um princípio de arabesco.

Essa passagem do gesto ao traçado se faz primeiramente sem nenhumcontrole visual. A intenção ainda não está na forma, mas apenas no ato, e oolhar, no início, não apenas não orienta ainda o traço, mas freqüentementedirige-se para outro lugar. Por volta do 18o mês, o olho da criança começa aseguir o movimento da mão, mesmo que ainda não a oriente. Aos 2 anos, co-meça o controle visual do traçado, primeiro o “controle simples”, o do pontode partida, que permite a acoplagem de um novo traçado a um traçado exis-tente. A escola de educação infantil mobiliza essa capacidade, levando a acres-centar raios ao disco do sol ou o rabo ao corpo do rato. E as primeiras figuras-girino, com alguns membros separados do corpo, às vezes ilustram os últimosmomentos em que o domínio do controle simples ainda permanece inconsis-tente (Figuras 19 a 22 e 182). Seis meses depois, constata-se o domínio dostraços. O procedimento intencional não deixa mais dúvida, mesmo que o re-sultado ainda careça de legibilidade: as primeiras designações, ou identifica-ções, deixam clara a tentativa de uma representação.

A integração completa do olhar com os movimentos da mão e dos de-dos conduz ao “duplo controle”, que se refere ao mesmo tempo ao ponto departida e ao ponto de chegada, permitindo a realização do “círculo”, porvolta dos 3 anos.2

Enquanto o olho não segue a mão, o procedimento gráfico não tem iní-cio verdadeiramente. A criança que arrasta um bastão deixa no caminho orastro de sua passagem. Ela também deixa sua marca, bem diferente, quandosapateia no lugar, de raiva ou de cólera. Quando sua mão apodera-se de umacaneta hidrográfica, o processo não é muito diferente: se o gesto é displicen-te, ela dá a relativa suavidade das linhas intricadas de tipo informal, sem sepreocupar com sua forma, ligadas ao mero fato de seguir seu curso, ao sim-ples acaso dos movimentos ainda mal controlados do ombro e do braço; se ogesto é impulsivo, o resultado são “traços arremessados” ou a obstinação nopontilhado. A palavra “marca” corresponde bem a esse período de rabiscosprimitivos: marcas-contato e marcas-penetração. O encontro do lápis e dopapel, essa banalidade de nossa época, continua sendo, de resto, um aconte-cimento bastante surpreendente e imprevisível da história da humanidade.Esse período é, antes de tudo, a idade em que a criança gosta de brincar com

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os objetos e com as matérias – a água, a areia ou a argila, mais até do que como lápis. É a idade de se respingar e de sujar, de demolir e de rasgar, ao mesmotempo em que se empreendem os primeiros esforços educativos no sentidoda precisão. Os rabiscos primitivos, os quais a criança costuma chamar de“crabouillis”, estão no centro dessa problemática de um ato que suja, mas quetambém se socializa, e pode começar a suscitar um certo interesse.

Chega o momento em que a criança começa a prestar atenção à marcaque deixa... Voluntariamente, então, passa a empurrar uma cadeira nos pas-seios de um jardim, desenhando “uma estrada” ou “os trilhos de um trem”,e “o olho segue a mão” enquanto ela rabisca. Constata-se, depois de algumtempo, uma inflexão muito sensível. Desde que a mão se afirma para supe-rar o entrelaçado rápido e informal, ou desde que se dedica a um gestomenos unívoco ou primário que um traço arremessado ou um pontilhado,ela desvia seu curso em um movimento circular, no qual opera mudançasbruscas de direção que constituem “pontos de reversão”, com angulaçõesmuito agudas. Essas duas modalidades de inflexão do traçado sistemati-zam-se em esquemas motores e gráficos, com um evidente prazer do gestomarcado pela auto-aceleração e pela necessidade de repetição. Oarredondamento é conseguido nas primeiras pequenas espirais dos“rolinhos” que às vezes observamos em páginas inteiras. A reversão permi-te o movimento de varredura, com os primeiros pequenos fusos, que tam-bém se repetem em longas séries. Impondo um movimento de vaivém damão, com o choque do papel servindo de ponto de reversão, o pontilhadorevela seu parentesco muito próximo à varredura e aparece como o maisagressivo dos rabiscos em vaivém. São esses dois gestos cuja sistematiza-ção permite situar dois rabiscos de base.

Quando o controle visual assume a direção da mão, o movimento de-sencadeado pelos rolinhos amplifica-se em argolas superpostas e forma otípico rabisco circular. A disposição ovalada e mesmo as formas ciclóides maisou menos correntes são meras variantes do rabisco circular (ver Figuras 3 e8). Os fusos tornam-se consistentes, adquirem amplitude e produzem o típi-co rabisco em vaivém. Todas as variantes ainda são possíveis ali, desde var-reduras mais amplas em fusos até os pequenos movimentos alongados emdentes de serrote (ver Figuras 5 e 9). Pode-se falar de rabiscos mistos paratodas as formas intermediárias entre os dois rabiscos de base típicos:arredondamentos e angulações intrincam-se, então, como no fuso-argola, noqual a varredura se organiza, de um lado, por um ponto de reversão e, deoutro, pelo retorno em argola (Figura 4).

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Figura 3 Os rabiscos circulares.

Figura 5 Os rabiscos em vaivém.

Figura 4 Os rabiscos mistos.

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A falta de interesse dos adultos e até mesmo de inúmeros profissionaispelos rabiscos faz com que se prossigam e se sobrecarreguem os traços até setornarem ilegíveis. A paixão de certas crianças de enegrecer a página faz oresto. É importante, em vez disto, estar sempre oferecendo uma nova folha àcriança que rabisca, para que seu traçado fique suficientemente claro pararevelar sem dificuldade a trajetória da mão e os caracteres3 do traçado. Issose torna mais evidente na medida em que o rabisco adquire seu desenvolvi-mento mais evoluído.

A elaboração gráfica de Laure, a partir de traçados clássicos, permiteentrever esse desenvolvimento. Aos 17 e 18 meses (Figuras 6 e 7), ela nosoferece linhas informes, pontilhados, mas também traçados com a angulaçãode uma reversão que marca a passagem dos rabiscos primitivos ao estabele-cimento do vaivém em fusos. Por volta dos 2 anos, há a maturação para osdois rabiscos de base (Figuras 8 e 9) cuja distribuição equilibrada testemunhauma mistura correta de segurança e de afirmação. Esses dois rabiscos essen-ciais ocupam a maior parte das folhas, ganhando amplitude e número, masos primeiros traços verticais não tardam a surgir, assim como algumas gran-des formas circulares. Já por volta dos 2 anos e meio, a repetição de séries detraços verticais (Figura 11) ou de grandes figuras circulares (Figura 10) já nãodeixa dúvida sobre o caráter deliberado dessas buscas: a Figura 10a, realiza-da por Laure aos 2 anos e 5 meses, é acompanhada do anúncio de uma repre-sentação: “ondas”. Dois meses mais tarde, aparecem as primeiras efetivasfiguras fechadas, mas nessas figuras ou nos rabiscos circulares mais clássicosnota-se um evidente jogo duplo, de “pôr dentro” ou de “dar toda a volta”(Figura 12). Outras figuras não chamariam a atenção sem os comentários dacriança anunciando aqui “a tempestade e as flores” e depois “pirulitos” (Fi-gura 13). Em todos esses casos, é possível falar de “rabiscos compostos”, des-tacando o intrincado de elementos-círculo e de elementos-traço na maior partedas composições desse tipo.

Embora isto exija muita prudência, observa-se nas séries de dossiês clí-nicos, já na época dos rabiscos, que a precocidade ou o atraso em relação ànorma é o reflexo fiel do potencial de êxito ou de fracasso de uma criança. Aforte predominância dos círculos em geral associa-se a traços psicológicosregressivos, enquanto a predominância dos vaivéns normalmente associa-seà afirmação e à oposição. A evolução harmônica passa, portanto, pelos rabis-cos de base aos 2 anos, com um relativo equilíbrio do círculo e do vaivém,que, de resto, é o caso mais freqüente. Quando essa evolução é rica, graças aopotencial da criança e a um clima familiar favorável, encontra-se toda aamostragem descrita na trajetória de Laure, dos rabiscos primitivos aos ra-biscos compostos. Mas, quando as condições são muito menos favoráveis,

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– 1 ano e meio (Figuras 6 e 7): Rabiscos primitivos.– 2 anos (Figuras 8 e 9): Os dois rabiscos de base.– 2 anos e meio (Figuras 10 e 11): Evolução para o circular, domínio do traço.– 2 anos e 7 meses (Figuras 12 e 13): “Rabiscos compostos”.

6 7

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não apenas se manifesta o atraso, como também a etapa de rabiscos primiti-vos não aparece, a de rabiscos compostos é ausente, e tudo se apaga em pro-veito unicamente dos rabiscos de base tardios.4 Quando uma criança conti-nua fixada desse modo nos rabiscos de base até os 3 anos ou mais, sem dúvi-da há um certo atraso.

Evolução geral e variações individuais encadeiam-se em uma dialéticaque nos ajuda a discernir melhor os processos essenciais ou acessórios dodesenvolvimento gráfico. No caminho necessário que conduz da simplesdescarga motora do gesto ao desenho ou à escrita legível, há uma relaçãocom nosso corpo, que foi claramente explicitada nas observações de LilianeLurçat. O eixo do corpo aparece como o eixo de referência na organização domovimento. Conduzida pela rotação do conjunto do braço no nível do om-bro, a mão da criança evolui na parte da folha que está diante da metadecorrespondente do corpo. Cada mão encontra espontaneamente o eixo media-no, e os traços partem desse eixo de forma simétrica, de direção direita paraa mão direita e esquerda para a mão esquerda: o eixo do corpo projeta-se,então, no espaço gráfico como eixo vertical mediano, eixo de referência comsimetria possível de uma parte e de outra. Passagem exemplar da experiên-cia concreta à forma simbólica, toda referência posterior à verticalidade ou àsimetria poderá apoiar-se na vivência precoce de cinestesia e de expressão. Oeixo mediano e a disposição simétrica atribuídos intuitivamente por Rorschachàs manchas de tinta de seu teste aparecem assim como uma grande ajudapara nossa capacidade de projeção. As duas ilustrações propostas (Figura14), realizadas por crianças não lateralizadas de 2 anos, são constituídas deum duplo rabisco em vaivém para a primeira, de um rabisco circular da mãodireita e de um rabisco misto da mão esquerda para a segunda.

A mesma transformação da experiência concreta do gesto, com a passa-gem para uma expressão mais simbólica, caracteriza todo o processo descri-to neste capítulo. A força ou a “pressão” do traço, que opõe a leveza dasprimeiras linhas informais à violência dos pontilhados ou dos traços arre-messados, encontra-se em toda a evolução posterior do desenho e da escrita,sempre marcada por esse caráter “declarado” ou não do grafismo. A formamais ou menos circular ou angulada dos traçados inaugura todo o desenvol-vimento de estilos, partilhados pela escolha do arabesco ou da angulação:por um lado, Ingres e Matisse; por outro, o cubismo de Picasso e Braque. Adimensão e a ordem podem ser levadas em conta posteriormente, ao longoda maturação, visto que a criança, durante seu segundo ano, dá mais ampli-tude às suas produções e as organiza de forma cada vez mais nítida no cen-tro ou no espaço global da folha.5 Outros tipos ainda mais específicos dodesenvolvimento da escrita ultrapassam nossos propósitos, mas a confronta-

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ção grafologia/rabiscos, que historicamente abriu a pesquisa nesse campo,opera hoje uma verdadeira classificação de gêneros gráficos, dos mais arcai-cos aos mais recentes, ao mesmo tempo em que valida a leitura clínica dosrabiscos: “O bem-estar arredonda, expande, harmoniza os movimentos”, cons-tata Marthe Bernson, “o mal-estar os encolhe, prende, diminui, a cólera oscrispa, agudiza ou comprime, faz com que explodam”...

Mão esquerda

Figura 14 O eixo do corpo projeta-se no espaço gráfico como eixo vertical mediano.

Mão esquerda

Mão direita

Mão direita

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O acesso à figuração e à escrita não leva ao desaparecimento dos rabis-cos. Não apenas a criança começa por alternar suas figuras cada vez maisexplícitas, com retornos à descarga mais fácil do rabisco, como o próprioadulto pode voltar a eles, seja na margem de uma lista telefônica, ou quandoum psicólogo lhe solicita, como teste de exploração regressiva da personali-dade, dando livre curso ao rabisco. O parentesco dessas produções com as dacriança pequena não deixa de ter interesse: o arredondado das formas asso-cia-se ao caráter suave e conciliador, e a predominância do traço às descargasagressivas.6 Esses velhos gestos continuam sendo um recurso sempre possí-vel para rasurar ou anular. Enfim, essa vertente destrutiva pode persistir pormuito tempo e servir para figurar algumas formas de violência pura, como ofogo ou a tempestade; é isto que permite que um menino de 5 anos desenheum “papai” muito bonito, com seus óculos, e, ao mesmo tempo, a “tempesta-de” reencontra a forma do rabisco7...

Figura 15 “Meu papai” e “a tempestade”, menino, 5 anos.

Notas

1. Nisto minha experiência converge inteiramente com a de Arno Stern. Os traba-lhos citados, de outra parte, são os de Marthe Bernson, Françoise Dolto, LilianeLurçat, Jacqueline Boesch, Anne Cambier, Annie Anzieu, Geneviève Haag, SergeTisseron, Varenka e Oliveir Marc, Louis Corman, Rhoda Kellog, entre outros.

2. O mesmo processo é ainda mais exigente para o quadrado, pois deve efetuar-sequatro vezes consecutivas, além de respeitar os ângulos e as proporções. O êxi-to do quadrado, por outro lado, só virá de 6 a 12 meses mais tarde.

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3. Uma palavra que, curiosamente, remete tanto à psicologia como à tipografia.4. Pode ocorrer que a fixação tardia se faça sob a forma de rabiscos primitivos, por

exemplo, com uma produção exclusiva de pontilhados ou de pequenos traçosarremessados aos 2 anos e meio, e mesmo mais tarde. Essa situação, que encon-trei raras vezes, estava sempre associada a um contexto global particularmentedegradado.

5. As produções muito pequenas e muito descentradas há algum tempo chama-ram a atenção dos clínicos, do mesmo modo que os desbordamentos muitoimpulsivos. Pode-se constatar, portanto, que esses traços começam a se mani-festar desde os 2 anos. Evidentemente, outros elementos poderiam ser levadosem conta, e Geneviève Haag discutiu bastante, por exemplo, o sentido doenrolamento das espirais. Meu esforço pessoal busca privilegiar os fatos domi-nantes e mostrar aqui seu lugar na evolução para a figuração.

6. A técnica de Corman, que adaptou a do grafólogo R. Meurisse, consiste em pri-meiro escrever seu nome no meio da página, depois rabiscar livremente, ao saborda própria fantasia. O leitor que desejar aprofundar-se nesse desenvolvimentopode partir, como Corman, de dois desenhos de crianças pequenas (Corman, 1966,p. 20 e 21), prolongando o primeiro “em flechas”, para aqueles que designa sádi-co-anal, de recalque ou de inibição (Corman, 1966, p. 26, 39 e 69), e aproximandoo segundo “em círculos” daqueles que designa como sublimações, de isolamentoou de formação reacional (Corman, 1966, p. 34, 61 e 160).

7. De forma igualmente muito forte, um rabisco em vaivém figura a “faca” de umboneco-girino lutando com animais, na Figura 44, ou o fogo na casa, na Figura103. Já o problema de composições deliberadamente abstratas aparece muitomais tarde (Figuras 194 e 195).