livro ipea - estado e inovação

Upload: mperob

Post on 07-Mar-2016

6 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Estado e governo

TRANSCRIPT

  • 1 INTRODUO

    Mario Sergio Salerno*

    Luis Claudio Kubota*

    ESTADO E INOVAO

    captulo 1

    * Mario Sergio Salerno professor titular da universidade de So paulo, e luis claudio Kubota pesquisador do

    Instituto de pesquisa Econmica aplicada (Ipea).

    Este captulo trata de um aspecto central para o desenvolvimento, ou seja, da transformao da base produtiva brasileira pela inovao, assim como das formas com que o Estado pode induzir tal transformao, e quo bem o Estado brasi-leiro faz isso. O Brasil est implementando polticas mais sistemticas de apoio inovao, e, mais especialmente, vem objetivando engajar as empresas em estra-tgias de inovao de produtos, de processos, de formas de uso, de distribuio, de comercializao, etc., visando a atingir, dessa forma, um patamar superior de desenvolvimento e de gerao de renda. A Poltica Industrial, Tecnolgica e de Comrcio Exterior (PITCE), lanada em novembro de 2003, e o plano de De-senvolvimento da Produo, em maio de 2008, colocam a inovao como fator fundamental para que a indstria brasileira d um salto de qualidade rumo dife-renciao de produtos, transformando, assim, sua prpria estrutura industrial.

    Em 2007, o Brasil voltou a crescer mais vigorosamente, e o investimento na eco-nomia aumentou. Evidentemente, aes que ajudem a sustentar e a aumentar o investimento so fundamentais neste momento. Mas isso apenas uma pequena parte de uma poltica de estmulo produo, de uma poltica industrial, uma vez que se faz necessrio induzir a transformao da base produtiva para segmentos de maior valor agregado, de maior gerao de renda, de maior participao no comrcio internacional, e menos sujeitos s variaes de preos de commodities. Contudo, s ajustes de curto prazo para ajudar no investimento de um ou de ou-

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    14

    tro setor, por mais importantes que sejam, e por mais encadeamentos que gerem, no levam mudana de qualidade da estrutura industrial, no levam mudana da estrutura industrial brasileira. preciso apoio inovao e diferenciao de produto. preciso qualificar o investimento, ainda que todo ele possa ser bem-vindo. A indstria brasileira se ressente de uma baixa taxa de inovao.

    Empresas que inovam e diferenciam produtos tm algo a mais. s pensarmos nas empresas que chamam a nossa ateno: elas tm algo de diferente, seja no produto, na relao de servio ou no canal de comercializao, seja na marca, no design ou em outro aspecto qualquer. Raramente a empresa do nosso imaginrio aquela de produtos comuns ou de servio padronizado, pois so as empresas inovadoras que geram mais renda, alm de a inovao apresentar uma correlao extremamente positiva com melhoria salarial, exportao e crescimento da firma, conforme buscam mostrar as anlises que discutiremos a seguir.

    Assim, inicialmente discutiremos aspectos gerais da chamada sociedade do conhecimento, na qual o conhecimento um aspecto central para a produo de produtos que abocanham boa parte da renda. Na seqncia, apresentaremos um conjunto de pesquisas do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea), as quais mostram a virtuosidade de polticas de apoio inovao na empresa. Com alguns dados sintticos, um diagnstico da situao de Cincia, Tecnologia e Inovao (CT&I) prepara a discusso sobre o Sistema Nacional de Inovao. Discutiremos a constituio histrica desse sistema, assim como seu estado atu-al para dar conta dos desafios do futuro. Advogaremos haver uma inadequao institucional que precisa ser sanada: as instituies bancos de desenvolvimento, agncias, leis, etc. foram pensadas para o tipo de desenvolvimento dos anos 1950/1970, quando o foco era a construo de fbricas.

    Hoje, em sendo o foco a transformao da base produtiva rumo a maior valor agregado, rumo inovao e diferenciao de produto, as instituies esto pouco preparadas para lidar com segmentos e aspectos mais imateriais, como software, marcas, internacionalizao de ativos e influncia na diviso internacio-nal do trabalho das empresas estrangeiras. E, como o Brasil no est sozinho no mundo, uma rpida panormica das polticas de inovao em pases importantes dos Estados Unidos Coria do Sul , mostra que, apesar da direo correta, h muito para fazer por aqui. Por exemplo, em todos os pases pesquisados inova-o assunto tratado diretamente pelo gabinete do maior mandatrio (primei-ro ministro ou presidente), ou seja, em instncias hierarquicamente superiores a ministrios e a agncias. poltica de Estado voltada para o crescimento e para manter, ou aumentar, a hegemonia dos pases em segmentos decisivos da eco-nomia mundial. O jogo esse. pesado e envolve muitos recursos pelos pases centrais, mas precisa ser jogado para que o crescimento brasileiro signifique di-minuio da distncia em relao aos pases mais desenvolvidos, e no o aumento do fosso. Desenvolver conhecimento e inovao chave para isso.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    15

    O Brasil foi construindo, ao longo dos ltimos 25 anos, um sistema mais robusto de inovao. Como veremos no transcorrer deste captulo, as construes iniciais foram associadas implantao da ps-graduao, passando pela criao de fun-dos especiais para o financiamento da pesquisa entre outras aes. Uma mudana de qualidade ocorreu em 2005, com a disponibilizao de um conjunto indito de instrumentos de apoio inovao nas empresas, bem como de algumas insti-tuies para ajudar nesse movimento. O Pas passou a contar, ento, com lei de incentivo fiscal Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) nas empresas, semelhante dos principais pases do mundo, e, em alguns casos, melhor e mais eficiente, pois de adoo automtica, sem exigncias burocrticas, como no caso dos incentivos fiscais previstos na Lei do Bem; com a possibilidade de subveno a projetos de empresas considerados importantes para o desenvolvimento tecnolgico; com subsdio para a fixao de pesquisadores nas empresas; com programas de finan-ciamento inovao; com programas de capital empreendedor; e com arcabouo legal mais propcio para a interao universidade/empresa.

    Todo esse arcabouo, que modernizou o panorama institucional, deriva das Dire-trizes de Poltica Industrial, Tecnolgica e de Comrcio Exterior (Brasil, 2003), anunciadas pelo governo federal em novembro de 2003, e deve ser aprofundado com o lan-amento do Plano de Desenvolvimento da Produo lanado em maio de 2008. O objetivo de longo prazo a transformao da base produtiva brasileira para elev-la a um patamar de maior valor agregado, via inovao e diferenciao de produtos.

    Parte substancial deste captulo se dedicar a analisar a relao inovao/desen-volvimento, discutir a construo do Sistema Nacional de Inovao, com refe-rncia ao movimento de outros pases. Nele se avaliar, tambm, alguns instru-mentos-chave da poltica de inovao, particularmente de incentivos fiscais e de financiamento privilegiado (que se mostraram importantes para elevar o gasto privado em P&D). No final, o captulo trar uma avaliao dos desafios a en-frentar, particularmente o de transformar, e/ou de criar, instituies que deixem o Estado mais gil e flexvel para atuar no estmulo inovao na sociedade, em geral, e nas empresas em particular.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    16

    2 IMPORTNCIA DA INOVAO E PAPEL DO ESTADO:

    AS EMPRESAS BRASILEIRAS PRECISAM

    INOVAR E O ESTADO DEVE INCENTIV-LAS

    2.1 Cincia, Tecnologia, Inovao e Sociedade

    do Conhecimento

    Inovaes vm ajudando a transformar a histria da humanidade desde sempre. Do machado s terapias com clulas-tronco, um conjunto infindvel de produtos e de processos modificou as formas de vida. Antes da inveno da imprensa, o conhecimento era transmitido ou oralmente, ou em manuscritos, o que restringia sobremaneira sua difuso. Na imprensa, passou-se dos tipos de madeira aos de metal (compunha-se o texto letra a letra, como num quebra-cabea), as mquinas iam fundindo os tipos medida que eram digitados (ou datilografados, termo hoje em desuso). Nos anos 1960-1970, as primeiras mquinas, de base eletroe-letrnica, chamadas de composers, possibilitavam a digitao do texto num papel especial que depois era transformado em chapa para impresso em grfica. Nos anos 1980-1990, os computadores passaram a dominar o processo digitava-se o texto num computador, diagramava-o (dando a aparncia final, com ttulos, tipo e tamanho de letras, insero de figuras, etc.), e gerava-se um arquivo que ia para a grfica num suporte fsico (disquete, CD-ROM, etc.) ou via Internet. Profisses foram criadas e extintas como a dos tipgrafos e dos linotipistas, a dos opera-dores de software grfico, bem como a dos gerentes de rede de informtica.

    Entre a segunda metade do sculo XIX e o incio do sculo XX houve inova-es que condicionaram fortemente a vida cotidiana, a produo e as formas de uso de bens. Surgiram o processo para produo de ao; a qumica como uma cincia, uma tecnologia e uma indstria; a eletricidade; o motor de exploso e o automvel; o telgrafo; entre outras inovaes. A cincia possibilitou um melhor conhecimento de certos fenmenos da natureza como o das reaes qumicas, do magnetismo e da eletricidade; a aplicao dos princpios cientficos, conjuga-dos a prticas, ao conhecimento popular, ao engenho, sorte e oportunidade, gerou tecnologias e produtos como o telefone e o motor eltrico; e as empre-sas comearam a produzir mercadorias em escala comercial, com base nessas tecnologias, e, com isso, geraram renda e riqueza por meio de inovaes radicais. Alm disso, houve empresas que modificaram produtos j disponveis, melho-rando o desempenho, o design e/ou a forma de uso deles, e, mesmo sem introdu-zirem um produto radicalmente novo, criaram um mercado o iPod um caso tpico disso1. O mesmo vale para processos produtivos um processo novo, que

    1 J existia produto similar ao ipod, criado por outra empresa, em outro pas, o qual no havia obtido, porm, muito sucesso comercial. a apple redesenhou o produto, melhorando sua interface com o usurio, e obteve o sucesso de mercado hoje conhecido.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    17

    reduza custos e/ou prazos, ou que viabilize a fabricao de determinado item, pode ser um enorme trunfo para a empresa que o detm.

    Ainda que a descrio anterior seja altamente simplificadora e linear, o fato que inovao um conceito que coaduna o novo com o mercado. S existe associada ao fato econmico. No um conceito tecnolgico, e muito menos cientfico. Vejamos alguns exemplos. Oito anos antes de ser incorporado a um computador de grande porte, que at ento era construdo com vlvula, o transistor j exis-tia. Os princpios cientficos da microeletrnica, dos semicondutores, j estavam formulados; a tecnologia de produo de transistores (avs dos atuais chips) j era conhecida, mas no havia produto, no havia gerao de renda, no se configu-rava uma inovao.

    A emergncia das tecnologias de informao e comunicao, associadas s inova-es delas decorrentes computadores em todas as suas variaes, do relgio de pulso ao controle de equipamentos mdicos, Internet, etc. contribuiu para uma acelerao, sem precedentes, da difuso da informao e do conhecimento. Um crculo ascendente parece em curso: conhecimento gerando produtos e proces-sos inovadores, e esses ajudando a aumentar o conhecimento. Parte substancial da economia mundial gira ao redor de atividades baseadas em alto contedo tecnolgico, baseadas em conhecimento. Parte substancial da vida de boa parte das pessoas do planeta ou est imersa em atividades ligadas ao conhecimento, ou viabilizada por alto contedo tecnolgico.

    Ademais, tecnologias emergentes nanotecnologias, biotecnologias, energias re-novveis, tecnologias aeroespaciais e de satlites, entre outras , portadoras de futuro, na linguagem da PITCE (Brasil, 2003) do governo federal, prometem realimentar o ciclo colocando o conhecimento num outro patamar.

    Cunham-se, ento, as expresses economia do conhecimento e sociedade do conhecimento, para caracterizar uma dinmica fortemente apoiada nas ativida-des intensivas em conhecimento, a qual , simultaneamente, econmica, poltica e social. econmica em razo da gerao de riqueza com produtos de alta tecnologia (60% do comrcio internacional dominado por produtos de mdia e de alta e tecnologia, conforme informa De Negri, 2005); social porque esses produtos interferem na vida social crianas usam jogos em computadores, h votao eletrnica, a Internet deve incorporar telefone e transmisses de TV e de rdio, etc.; e poltica porque os governos, de todos os principais pases do mundo, e daqueles aspirantes a tal posto, desenvolvem instrumentos de apoio ao desenvolvimento da cincia, da tecnologia e da inovao pelas empresas

    Segundo a Organizao para Cooperao Econmica e Desenvolvimento (OECD, 2005a), as polticas de inovao constituem um amlgama das polticas de cincia, de tecnologia e industrial. Uma poltica de inovao parte da premissa de que o conhecimento tem, em todas as formas, um papel crucial no progresso econmico, e que a inovao um fenmeno complexo e sistmico.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    18

    complexo porque no basta ter uma boa cincia se no houver uma base pro-dutiva empresas capacitada para utilizar os princpios cientficos descobertos para a gerao de produto; ou seja, polticas de inovao necessariamente envol-vem a relao entre a cincia e sua produo, a tecnologia e sua gerao, assim como a inovao por parte das empresas.

    2.1.1 Virtuosidade da atividade produtiva baseada na inovao

    Assim, a discusso de Estado e inovao ganha peso, pois a segunda apresenta relao direta com o desenvolvimento econmico. Tal relao conhecida j h muito tempo. Joseph Schumpeter, no incio do sculo XX, assim teorizou sobre essa relao:

    O impulso fundamental que inicia e mantm a mquina capitalista em movimento decorre dos novos bens de consumo, dos novos mtodos de produo ou trans-porte, dos novos mercados, das novas formas de organizao industrial que a empresa capitalista cria (...). Esse processo de destruio criativa o fato essencial acerca do capitalismo. nisso que consiste o capitalismo, e a que tm que viver todas as empresas capitalistas.

    Poder-se-ia argumentar: toda essa histria, todos os exemplos normalmente ci-tados iPod, transistor, chips, etc., so produtos de gigantes transnacionais, de empresas dos pases centrais. Ser que isso vale para o Brasil? Para as empresas de capital brasileiro? Para as empresas radicadas no Pas? A resposta sim, e vem de uma ampla pesquisa do Ipea (Salerno e De Negri, 2005). Essa pesquisa foi elaborada a partir de microdados2 da Pesquisa de Inovao Tecnolgica na Indstria (Pintec) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), arti-culadamente com outras bases de dados nacionais3. Normalmente, as pesquisas sobre indstria partem de classificaes bsicas de: setores, tamanho, origem do capital ou regio. A pesquisa do Ipea, no entanto, estrutura a indstria com base em estratgias efetivamente praticadas pelas firmas, e, a partir dessa classificao bsica, efetua as demais anlises. A indstria brasileira foi ento classificada se-gundo trs estratgias competitivas:

    a) Firmas que inovam e diferenciam produtos, ou seja, aquelas cuja estratgia competitiva se baseia na inovao de produtos e na obteno de preos-prmio,

    2 Dados coletados empresa por empresa, e processados de forma que o sigilo das informaes de cada empresa. fosse mantido. 3 pesquisa Industrial anual (pIa) do IBGE, com dados de 72 mil empresas industriais; Relao anual de Informaes Sociais (Rais), do Ministrio do trabalho e Emprego (MtE), com dados de cerca de 6 milhes de trabalhadores na indstria (salrios, qualificao, etc.); banco de dados de comrcio exterior do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e comrcio Exterior (MDIc); censo de capital estrangeiro e registro administrativo de capitais Brasileiros no Exterior do Banco central (cEB/Bacen); entre outros. trata-se do maior conjunto de informaes sobre a indstria brasileira at hoje reunido, e envolve mais de 95% do valor adicionado na indstria. o perodo mximo de abrangncia de 1996 a 2002.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    19

    isto , mediante a venda de seus produtos por preos superiores aos da concor-rncia.

    b) Firmas especializadas em produtos padronizados, as quais concorrem por pre-o e obtm produtividade semelhante das firmas que inovam e diferenciam produto.

    c) Firmas que no diferenciam produto e tm produtividade menor comparativa-mente das demais4.

    Dessa forma, estudou-se basicamente o efeito da inovao e da diferenciao de produtos para as empresas, para os trabalhadores e para a economia como um todo. Os resultados so surpreendentes. Aquelas que inovam e diferenciam produto perfazem 1,7% do total das firmas, 25,9% do faturamento, e 13,3% do emprego na indstria.

    TABELA 1Caractersticas das firmas industriais brasileiras segundo suas estratgias competitivas efetivamente praticadas 2000

    Estratgiascompetitivas

    Inovam e diferenciamprodutos

    Especializadas emprodutos padronizados

    No os diferenciam etm produtividade

    menor

    Produtividade Valor adicionado por trabalhador(R$ 1.000,00)

    74,1 44,3 10,0

    Remunerao mdia do pessoal ocupado(R$/ms) 1.254,64 749,02 431,15

    Total

    N de empresase % participao

    1.199 (1,7%)

    15.311 (21,3%)

    55.495 (77,1%)

    72.005

    Faturamento mdio em R$ milhes (% do faturamento)

    135,5(25,9%)

    25,7(62,6%)

    1,3 (11,5%) (100%)

    Pessoal ocupado (% do emprego)

    545,9 (13,2%)

    158,1 (48,7%)

    34,2 (38,2%) (100%)

    23 11 0

    Prmio salarial resultante da estratgia competitiva da firma (%)

    Fonte: Extrado de De Negri e Salerno (2005).

    4 para detalhes da metodologia empregada, e da classificao das empresas segundo as estratgias competitivas, ver Salerno e De Negri (2005).

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    20

    TABELA 2Nmero de firmas na indstria brasileira, escala mdia de produo, e eficincia de escala segundo estratgias competitivas e padres tecnolgicos 2000

    Categoria de firmas Total Pessoal ocupado

    Faturamento (R$ milhes)

    Inovam e diferenciam produto

    Especializadas em produtos padronizados

    No os diferenciam e tm produtividade menor

    Total

    1.199 (1,7%) 545,9 135,5 0,77

    15.311 (21,3%) 158,1 25,7 0,70

    55.486 (77,1%)

    34,2 1,3 0,48

    71.996 (100%)

    Eficincia de escala(1)

    Fonte: Extrado de De Negri e Salerno (2005).1 A eficincia de escala mede a diferena de produtividade da firma em relao escala mais produtiva da sua indstria (setor); ou seja, em relao ao ponto em que a elasticidade de escala igual unidade. A estimativa deeficincia de escala foi realizada por De Negri (2003), para trinta setores da indstria de transformao brasileira, com tcnicas de envelopamento de dados (Data Envelopment Analysis DEA).

    TABELA 3Caractersticas da mo-de-obra empregada nas firmas industriais por categoria 2000

    Categoria de firma

    Remunerao mdia

    (R$/ms)

    Escolaridade mdia (anos)

    Tempo mdio de emprego

    (meses)

    Prmio salarial

    (%)

    Inovam e diferenciam produto

    Especializadas em produtos padronizados

    No os diferenciam e tm produtividade menor

    1.254,64 9,13 54,09 23

    749,02 7,64 43,90 11

    431,15 6,89 35,41 0

    Fonte: Extrado de De Negri e Salerno (2005).

    Conforme visto anteriormente, as Tabelas 1, 2 e 3 mostram que as firmas que inovam e diferenciam produto so maiores no que se refere a faturamento e a pessoal empregado, tm maior produtividade e maior eficincia de escala, em-pregam trabalhadores com maior nvel de escolaridade (uma aproximao de qualificao), e apresentam maior estabilidade no emprego (pois o tempo mdio de emprego maior), alm de pagarem maiores salrios. O salrio mdio pago em empresas que inovam e diferenciam produto trs vezes maior do que o pago

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    21

    naquelas que no diferenciam produtos e tm produtividade menor, e 66% maior do que o recebido naquelas especializadas em produtos padronizados.

    A relao inovao/salrios absolutamente relevante, uma vez que indica se uma poltica de apoio inovao e diferenciao de produtos condizente ou no com a melhoria dos salrios brasileiros: um objetivo geral de poltica econ-mica e social, de poltica de desenvolvimento. Porm, no metodologicamente correto comparar salrios pagos em firmas de caractersticas muito diferentes, pois evidente que empresas maiores, mais eficientes, com trabalhadores mais escolarizados, paguem salrios maiores. Portanto, para uma melhor anlise da relao entre inovao e diferenciao de produto e salrio os pesquisadores do Ipea realizaram uma anlise estatstica com o objetivo de isolar o efeito da es-tratgica de inovao e diferenciao de produtos sobre os salrios. Isso feito por meio de modelos estatsticos: constroem-se equaes nas quais so inseridas as variveis que podem influir no salrio, para que elas sejam descontadas (ou controladas, no jargo dos economistas).

    Dessa forma, foram controladas quase duzentas variveis, tais como fatura-mento, nmero de trabalhadores, setor de atividade, tipo de produto, escolarida-de e tempo de casa dos empregados, coeficientes de exportao e de importao, municpio (para controlar diferenas de acordos sindicais), etc. Assim, chegou-se ao seguinte resultado: se duas empresas forem parecidas, e uma delas inovar e diferenciar produtos e a outra no diferenci-los e tampouco obter produtividade menor, a primeira tender a pagar salrios 23% maiores do que os pagos pela segunda. Em outras palavras: o efeito lquido da inovao e da diferenciao de produtos sobre os salrios de 23% se comparado ao das empresas que no diferenciam produtos e tm produtividade menor, e de 11% se comparado quele das empresas especializadas em produtos padronizados (Bahia e Anbache, 2005).

    Outros dados arrolados na pesquisa do Ipea foram: as empresas que inovam tm 16% de chance a mais de serem exportadoras, e h fortssima correlao entre inovao tecnolgica e diferenciao de produto (ou seja, a inovao tecnolgica uma fonte fundamental de diferenciao, de obteno de renda diferencial pelas empresas). As empresas que inovam e diferenciam produtos crescem mais; as empresas brasileiras internacionalizadas que utilizam suas unidades no exterior como fonte de informao para a inovao tambm apresentam desempenho superior, crescendo mais no Brasil. Esse resultado afasta a idia de que interna-cionalizar empresas brasileiras significa gerar empregos no exterior em vez de no Brasil; ao contrrio, a internacionalizao de empresas brasileiras um fator fundamental para aumentos de seus ganhos de escala, para ampliao de mer-cados, bem como para contornar barreiras tarifrias e no tarifrias de muitos mercados.

    A referida pesquisa mostra, ainda, que as firmas brasileiras com investimento direto nos mercados dos Estados Unidos e da Europa tm, respectivamente,

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    22

    17,63% e 14,24% a mais de chances de exportar com preo-prmio do que as firmas brasileiras no internacionalizadas de forma geral, ou ento no interna-cinalizadas para aquele mercado (De Negri e Salerno, 2005). Dito de outra for-ma: a exposio das firmas brasileiras em mercados mais exigentes amplia suas possibilidades de diferenciar/melhorar seu produto exportado. H, nesse senti-do, um mecanismo de retroalimentao da internacionalizao e da obteno de preo-prmio. A exposio das firmas brasileiras aos mercados mais exigentes tanto do lado do consumidor quando do lado das firmas competidoras fora mu-danas nos produtos exportados em direo maior diferenciao e qualidade (De Negri e Salerno, 2005). Com base nessas anlises, quantificadas e extensivas, em 2005 o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) passou a ofertar linha de crdito para a internacionalizao de empresas brasi-leiras.

    Um outro resultado de extrema relevncia diz respeito s despesas de P&D das empresas industriais no Brasil. O dado bruto da Pesquisa Industrial de Inovao Tecnolgica (Pintec) mostra que, em termos mdios, a empresa de capital estran-geiro despende mais em P&D do que a empresa de capital brasileiro5. Isso levou muitos analistas a considerarem haver uma grande distncia entre as atividades de inovao tecnolgica realizadas no Brasil pelas empresas multinacionais em rela-o s realizadas pelas nacionais. Aqui, novamente se corre o risco de comparar batata com abacaxi, pois se compara um conjunto muito pequeno de empresas lderes em seu pas de origem as multinacionais com um conjunto imenso de empresas de todo tipo, da Embraer fbrica de bombons da Dona Neusa... Para contornar esse problema, a equipe do Ipea desenvolveu um indicador de esforo para inovar, que o dispndio em atividades de P&D internamente empresa em relao ao faturamento6.

    Arajo (2004), utilizando microdados das bases mencionadas anteriormente, cal-culou, firma por firma, o esforo de inovao (gastos de P&D interno em relao ao faturamento), controlando diversas variveis, como faturamento, nmero de funcionrios, setor, coeficientes de importao e exportao, etc. Descobriu que os dispndios mdios efetuados, internamente, com P&D, em relao ao fatu-ramento das empresas de capital nacional, foram maiores em comparao com os efetuados pelas firmas estrangeiras: 0,75% x 0,62%. Modelagem estatstica mostrou que as estrangeiras tiveram uma probabilidade de esforo de inovao (e tambm de gasto) 4,7% menor em relao ao das firmas domsticas, e tambm

    5 para o ano-base de 2000, mdia de R$ 161.347,00 para as empresas nacionais em seu todo, contra R$ 4.997.478,00 para as estrangeiras. levando em conta apenas as que declararam ter realizado algum tipo de inovao, temos R$ 527.963,61 para as inovadoras nacionais, versus R$ 8.079.478,00 para as inovadoras estrangeiras. 6 os resultados no mudam caso seja considerada a receita lquida de vendas no lugar do faturamento. as estatsticas de p&D da pintec abarcam uma srie de outras categorias: compras externas de p&D, treinamento, etc. o indicador proposto procura dar conta do efetivo engajamento da empresa em p&D, da mobilizao de seus recursos internos para p&D. alm do mais, ele extremamente condizente com a viso baseada em recursos (VBR), que ser discutida mais a diante. Sinteticamente dizendo, a VBR considera que uma fora competitiva fundamental est na capacidade interna de uma empresa de desenvolver, organizar e gerenciar seus recursos internos para a inovao.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    23

    que o esforo das nacionais foi 80,8% maior do que o das multinacionais no perodo 1998-2000.

    Tomando as diferentes estratgias competitivas, temos que, entre as firmas que inovam e diferenciam produto, aquelas de capital nacional despendem, em m-dia, 1,84% da receita lquida de vendas (RVL) em atividades internas de P&D, enquanto as de capital estrangeiro despendem 1,13%. J entre as firmas especia-lizadas em produtos padronizados, nessas a diferena de 0,55% para 0,39%; e nas demais empresas que no diferenciam produto e tm produtividade menor o ndice praticamente o mesmo: 0,29% x 0,29% (Arajo, 2005). Os dados mos-tram, tambm, que as empresas estrangeiras que inovam e diferenciam produto compram externamente P&D e outros conhecimentos em proporo superior das nacionais que seguem a mesma estratgia competitiva: as estrangeiras gas-taram, em aquisio externa, 0,21% da RLV, e 0,80% na aquisio de outros conhecimentos, contra 0,14% e 0,26% gastos pelas nacionais.

    Isso comprova que, no panorama at 2000, os gastos com P&D, feitos pelas fi-liais das empresas transnacionais no Brasil, voltavam-se mais para a adaptao de produtos e de processos provenientes da matriz ou de outras filiais localizadas em pases desenvolvidos, ou com sistemas nacionais de inovao mais evoludos.

    Porm, simulaes realizadas por Arajo mostram que as nacionais reagem ao aumento de participao no mercado e dos dispndios de P&D das estrangeiras: num mesmo setor industrial, um aumento de 1% na participao do mercado das estrangeiras induz um aumento de 9% do gasto total de P&D das nacionais; um aumento de 1% do gasto total de P&D de um setor da indstria induz um aumento de 4% no gasto total das nacionais (Arajo, 2004).

    Esse conjunto de dados e de anlises mostra que inovar e diferenciar produtos faz bem para as empresas, faz bem para as exportaes, e faz bem para os sa-lrios e as condies de trabalho. Mostra, ainda, que as empresas estrangeiras realizam pouco esforo de inovao no Brasil, o que levou o governo federal, por intermdio da Agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a articular projeto para atrair sedes de negcios e centros de P&D dessas empresas. Poroutro lado, revela que h empresas brasileiras muito dinmicas, antenadas com oportunidades, brechas, nichos e possibilidades do mercado internacional; inovando em produtos, processos e servios; engajando-se na internacionaliza-o de suas atividades (Arbix, Salerno e De Negri, 2005).

    H, pois, um enorme espao para que as empresas, brasileiras, ou estrangeiras, engajem-se em atividades de inovao no Brasil. Isso nos leva a dizer que poltica industrial e tecnolgica relevante, de longo prazo, com vistas na transformao da base produtiva brasileira, deve ter como alicerce a inovao, a inovao na empresa.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    24

    2.2 Diagnsticos sobre Cincia, Tecnologia

    e Inovao no Brasil

    H vrios diagnsticos do estado da Cincia, Tecnologia e Inovao (CT&I) no Brasil (Brasil, 2002; Brasil, 2003; Arruda, Vermulm e Hollanda, 2006; e Cruz e Mello, 2006). O Pas conseguiu construir uma infra-estrutura de ps-graduao e de pesquisa cientfica nas universidades e nos institutos de pesquisa pbli-cos, que gera um nmero crescente de pesquisadores e de produo cientfica. A participao da produo cientfica brasileira como proporo da cincia mun-dial vem crescendo sistematicamente (mais de 35% entre 2002 e 2005), e atingiu 1,8% ndice muito acima, por exemplo, da participao do Brasil nas exporta-es internacionais, mesmo com todo o boom exportador recente.

    Entretanto, o avano da cincia brasileira no se refletiu em correspondente au-mento dos indicadores de pesquisa, desenvolvimento e inovao nas empresas. Em 2006, houve um pequeno avano na qualidade das exportaes brasileiras em relao de 2003, com maior peso daquelas mais intensivas em tecnologia (Tabe-la 4), mas ainda h muito a caminhar. Houve O Estado responsvel por cerca de 60% dos gastos de P&D no Brasil, e as empresas por cerca de 40% (Tabela 5). A questo de fundo no exatamente essa repartio h pases com maior participao privada, e h pases com menor participao privada; a questo o resultado da inovao.

    O patenteamento no Brasil est estagnado h tempos, enquanto o de naes como Coria cresceu exponencialmente7. H poucos ps-graduados trabalhando nas empresas brasileiras. Segundo Cruz e Mello (2006), na Coria do Sul e nos Estados Unidos cerca de 80% dos ps-graduados trabalham no setor empresa-rial, contra 26% no Brasil.

    TABELA 4 Exportaes por intensidade tecnolgica dos produtos R$ bilhes

    Categoria

    Valor das exportaes

    2003

    Participao (%)

    Valor das exportaes

    2006

    Participao (%)

    Taxa crescimentoexportaes

    2006/2003 (%) primrias

    Trabalho intensivo e recursos naturais Baixa intensidade

    Mdia intensidade

    Alta intensidade

    No classificada

    Total

    29,43 9,41

    6,10

    13,54

    8,81

    5,81 73,08

    40,3 12,9

    8,3

    18,5

    12,0

    7,9 100,0

    53,57 13,83

    11,54

    26,82

    17,06

    14,66 137,47

    39,0 10,1

    8,4

    19,5

    12,4

    10,7 100,0

    82,0 46,9

    89,2

    98,2

    93,7

    152,5 88,1

    Fonte: Ipea.

    7 a patente um dos indicadores de produo tecnolgica e de inovao, mas no pode ser tomado de forma absoluta. a proteo de propriedade intelectual via patente mais aplicvel a certos setores do que a outros farmacutica e eletrnica, por exemplo, so setores nos quais a patente importante. De qualquer maneira, o nvel de patenteamento no Brasil inexpressivo.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    25

    TABELA 5Origem e destino dos recursos de P&D em 2004: governo, empresas, universidade R$ bilhes

    Fonte: Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT).

    Destino Fonte Total Governo Empresas Universidades

    Total 9,3 6,4 0,4 16,1

    Governo 3,4 ... ... 3,4

    Empresas 0,0 6,4 ... 6,4

    Universidades 5,8 ... 0,4 6,2

    Os dados da Tabela 6, a seguir, permitem comparar diferenas entre as firmas em geral, as firmas que desenvolvem atividades de P&D, e as empresas que, alm de desenvolverem P&D, cooperam com universidades. Pode-se observar que ocorre um crescendo no que diz respeito s cinco primeiras variveis, e ltima. As firmas que desenvolvem P&D autnomo gastam mais nessas atividades em relao receita do que as que cooperam com universidades, mas so as maiores empresas que se relacionam diretamente (contratualmente) com universidades para P&D.

    TABELA 6Perfil da pesquisa e desenvolvimento nas empresas, no Brasil 2003

    Fonte: Extrado de Coelho, Turchi e Baessa (2007).1 DP desvio-padro.2 RLV receita lquida de vendas.

    Variveis

    Todas as firmas

    (n=27.634)

    Firmas com atividades

    de P&D (n=3.136)

    Firmas com acordos de cooperao de P&Dcom universidades

    (n=240)

    Mdia DP(1) Mdia DP(1) Mdia DP(1)

    RLV (R$ 106) (2) 31,75 969,05 177,26 2.081,33 1.089,08 5.714,96

    N de empregados 155,44 1.157,26 529,50 2.227,14 2.008,81 4.506,75

    P&D (R$ 106) 0,20 12,80 1,80 27,72 13,17 75,79

    P&D interno (R$ 106) 0,18 11,24 1,58 24,33 11,28 65,84

    P&D externo (R$ 106) 0,02 2,02 0,22 4,38 1,89 11,43

    P&D/RLV(2) 0,54% 0,37 4,70% 0,80 2,22% 0,04

    P&D interno/RLV(2) 0,51% 0,37 4,50% 0,80 1,90% 0,03

    P&D externo/RLV(2) 0,03% 0,01 0,20% 0,02 0,29% 0,01

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    26

    No que diz respeito inovao, um dos papis do Estado a elaborao de es-tatsticas sobre o tema. No Brasil, dispe-se de apenas trs levantamentos com cobertura nacional para o setor manufatureiro, ou seja, os da Pintec/IBGE, refe-rentes aos perodos de 1998/2000, 2001/2003, e 2004/2005; este ltimo divulga-do, na metade de 2007, incorporando alguns segmentos de servios. A fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados (Seade) realizou a Pesquisa de Atividade Econmica Paulista (Paep), mais detalhada, para o Estado de So Paulo, relativa ao perodo 1999/2001, incluindo servios. fundamental que tais levantamentos particularmente os da Pintec, pesquisa de carter nacional que pode comunicar-se com outras pesquisas oficiais tenham continuidade, para que se possa contar com os dados necessrios para analisar o estado da inovao no Pas.

    No Brasil, o nmero de empresas que desenvolvem inovaes reduzido se comparado quele dos padres de pases desenvolvidos. Considerando empresas manufatureiras aquelas com dez ou mais pessoas ocupadas, a Pintec 2000 con-templa um universo de 72.005 firmas, a Pintec 2003, 84.262, e, a Pintec 2005, 91.055 firmas. A Tabela 7, a seguir, mostra o percentual dessas empresas que implementaram inovaes nos perodos analisados.

    TABELA 7Taxa de inovao das empresas industriais brasileiras, segundo faixas de pessoal ocupado (PO) Brasil, perodos 1998-2000, 2001-2003 e 2005-2005

    Fonte: Pintec 2003 (IBGE, 2005, p. 34); Pintec 2005 (IBGE, 2007).

    Pessoalocupado

    Taxa deinovao

    1998-2000 2001-2003 2003-2005

    Total 31,5 33,3 33,4

    De 10 a 49 26,6 31,1 28,9

    De 50 a 99 43,0 34,9 40,6

    De 100 a 249 49,3 43,8 55,5

    De 250 a 499 56,8 48,0 65,2

    500 ou mais 75,7 72,5 79,2

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    27

    TABELA 8Participao percentual do nmero de empresas que implementaram inovaes, por tipo de inovao e por faixas de pessoal ocupado(PO) Brasil, perodos 1998-2000, 2001-2003 e 2003-2005

    Fonte: Pintec 2005 (IBGE, 2007).

    Pessoal ocupado

    Total

    17,6 14,1 24,5 30,0 34,4 59,4 1998-2000

    20,3 19,3 19,1 25,3 28,4 54,3 2001- 2003

    19,5 17,0 22,8 31,1 35,9 58,1 2003- 2005

    4,1 2,5 6,3 9,0 10,6 35,1 1998-2000

    2,7 2,1 2,3 3,9 5,8 26,7 2001- 2003

    3,2 2,1 3,7 6,5 9,4 33,4 2003- 2005

    25,2 21,0 33,6 41,4 48,6 68,0 1998-2000

    26,9 24,8 28,6 37,7 38,8 64,4 2001- 2003

    26,9 23,1 33,2 44,8 56,0 68,4 2003- 2005

    2,8 1,3 4,4 7,2 9,7 30,7 1998-2000

    1,2 0,7 0,8 1,7 3,4 24,1 2001- 2003

    1,7 0,9 1,2 3,8 6,1 27,1 2003- 2005

    Produto novo, ousignificativamenteaperfeioado paraa empresa, mas jexistente no mercadonacional

    Produto novo, ou Significativamenteaperfeioado parao mercado nacional

    Processo novo para a empresa, mas j existente no setor,no Brasil

    Processo novo, ou Significativamente Aperfeioado para o setor, no Brasil

    De 10 a 49

    De 50 a 99

    De 100 a 249

    De 250 a 499

    500 ou mais

    As Pintecs apresentam informaes que auxiliam na identificao dos gargalos das empresas para ampliar suas atividades de inovao. A Tabela 9 apresenta os principais obstculos apontados pelas empresas

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    28

    TABELA 9Percentual de firmas, da indstria de transformao, que implementou inovao e atribuiu importncia alta aos fatores a seguirdiscriminados como obstculo inovao

    Fonte: Pintecs 2000, 2003 e 2005 (IBGE). Extrado de Luna, Moreira e Gonalves (ver captulo 5 deste livro),

    e atualizado pelos autores. 1 ND no disponvel.

    Fator

    1998-1999 2001-2003 2003-2005

    Riscos econmicos excessivos 26,7 24,1 17,0

    Elevados custos da inovao 32,9 24,9 18,9

    Escassez de fontes apropriadas de financiamento 25,8 21,1 16,1

    Rigidez organizacional 3,3 2,7 3,6

    Falta de pessoal qualificado 11,0 10,8 7,6

    Falta de informao sobre tecnologia 6,6 6,9 4,2

    Falta de informao sobre mercados 5,2 5,8 3,4

    Escassas possibilidades de cooperao com outras empresas/instituies 8,8 7,5 4,8

    Dificuldade para se adequar a padres,normas e regulamentaes 5,2 8,1 6,4 Fraca resposta dos consumidores quantoa novos produtos 4,1 4,5 4,0 Escassez de servios tcnicos externos adequados 5,6 5,2 5,5

    Centralizao da atividade de inovaoem outra empresa do grupo ND() 0,3 0,2

    Pode-se observar que o Estado pode participar de maneira significativa para criar ambiente mais favorvel ao desenvolvimento de inovaes no setor empresarial. A inovao se d na empresa, mas o Estado pode induzir, fortemente, o com-portamento, as estratgias e as decises empresariais relativas inovao. Os trs principais fatores apontados nas diversas verses da Pintec como obstculos inovao riscos econmicos excessivos, elevados custos e escassez de fontes apropriadas de financiamento tm a ver com custos e riscos; mas h vrios ins-trumentos de poltica para auxiliar na reduo de custos e de riscos. Em primeiro lugar, a manuteno de um ambiente macroeconmico mais estvel, com taxas mais robustas de crescimento, pode contribuir para reduzir os riscos econmicos e alavancar financeiramente as empresas. Em segundo lugar, linhas especiais de financiamento, que reconheam as necessidades especiais da atividade inovadora, podem ser criadas ou aperfeioadas para estimular as empresas: uma prtica muito difundida nas economias mais desenvolvidas.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    29

    Morais (captulos 2 e 10 deste livro), Guimares (captulo 4 deste livro), Luna, Moreira e Gonalves (captulo 5 tambm desta obra), exploram as diferentes modalidades de financiamento criadas pelos diferentes rgos estatais, que tm como intuito expandir as taxas de inovao no Brasil. A Lei de Inovao autoriza a administrao pblica a financiar diretamente, e mesmo a subsidiar, em casos especficos, a inovao na empresa isso uma prtica mundial, as empresas podem disputar os recursos de agncias de fomento para seus projetos tecno-lgicos, e normalmente h uma parcela aplicada pelo Estado com recursos no reembolsveis (subsdio). Na Unio, alm da Financiadora de Estudos e Projetos, do Ministrio da Cincia e Tecnologia (Finep/MCT), o BNDES passou a ofertar linhas especiais de financiamento atividade inovadora das empresas brasileiras; nos Estados, fundaes de apoio pesquisa tambm ofertam crdito, em geral mais focado na atividade cientifica e na relao universidade/empresa.

    Em se tratando de financiamento para inovao, fundamental atentar para suas condies de acesso (quem pode fazer jus, e em que condies) e de custo/prazo/cobertura. Vrios pases mesclam financiamento em condies favorecidas com subveno, como o caso, entre os pases que tero sistemas de inovao discuti-dos adiante, da Coria do Sul, da Finlndia, da Frana e do Japo. fato que esses pases utilizam, fortemente, tambm o esquema de compras governamentais, que o instrumento, por excelncia, praticado pelos Estados Unidos, principalmente pelo oramento de agncias como a National Aeronautics and Space Administra-tion (Nasa), Departamento de Defesa (onde foi criada a Internet).

    3 O SISTEMA NACIONAL DE INOVAO

    3.1 Um Pouco de Teoria

    Segundo a OECD (2005b), o modelo linear via a inovao como um processo que se iniciava na pesquisa bsica, passando pela P&D at chegar introduo, no mercado, de um produto ou de uma tecnologia resultante desse processo. De acordo com Price e Behrens (2003), esse modelo tem suas origens no trabalho Science The Endless Frontier, escrito por Vannevar Bush, sob encomenda do pre-sidente Roosevelt, no fim da Segunda Guerra Mundial.

    Nessa obra, Bush defende que a pesquisa bsica deveria ser desenvolvida sem o pensamento em benefcios prticos; o desenvolvimento cientfico se transforma-ria, ento, em desenvolvimento tecnolgico e em produtos (inovao) da a al-cunha de modelo linear. Tal modelo tornou-se um paradigma aceito por dcadas, com forte presena nas polticas pblicas brasileiras, haja vista nossa capacidade cientfica versus nossa capacidade inovadora.

    De qualquer forma, a teoria sobre o assunto avanou, e, a partir dos anos 1980 e 1990, foi substituda pela abordagem sistmica da inovao. Muitos pases aplica-

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    30

    ram diretamente essa nova viso EUA, pases europeus, e Japo estimulando diretamente a inovao nas empresas. No Brasil, apesar de algumas tentativas nos anos 1980 s recentemente, com a PITCE (Brasil, 2003) e os instrumentos legais dela derivados (Lei de Inovao e Lei do Bem), passou-se a contar com um sistema mais integrado e coerente para a induo da inovao nas empresas nacionais.

    Conforme Lundvall (2007), o conceito do Sistema Nacional de Inovao tem suas origens na colaborao entre Christopher Freeman e o grupo Ike na Dina-marca , no incio dos anos 1980. Freeman trabalhava na OECD, em 1982, quan-do escreveu um artigo criticando o que se tornou conhecido como Consenso de Washington, no qual se defendia que um papel ativo de polticas era necessrio para economias em processo de catching-up. O grupo Ike foi estabelecido a partir de uma crtica s polticas econmicas que definiam a competitividade internacio-nal a partir dos custos de salrios relativos. A agenda da poca e a viso de Lund-vall (que no se alterou), vislumbravam a necessidade de uma diferente perspec-tiva de poltica econmica, na qual inovao e aprendizado fossem vistos como importantes processos por trs do crescimento econmico e do bem-estar.

    Lundvall (2007) enfatiza a importncia de uma abordagem nacional para a ques-to da inovao, sem descartar a relevncia de abordagem com outros cortes, como os sistemas regionais de inovao, os sistemas setoriais de inovao, os ar-ranjos produtivos locais (ou, mais, rigorosamente, os clusters industriais) e o Triple Helix. Este ltimo conceito trata da importncia das universidades na produo de conhecimento associado aos problemas do setor empresarial, bem como na comercializao dos resultados dessa produo. Um estudo de caso brasileiro desenvolvido no captulo 14 desta obra, por Mendona, Lima e Souza.

    Segundo Viotti (2003), a abordagem de sistemas nacionais de inovao introduz a perspectiva segundo a qual a anlise dos processos de produo, de difuso e de uso de CT&I deve considerar a influncia simultnea de aspectos organizacio-nais, institucionais e econmicos. Essa abordagem surgiu como resultado de um esforo para desenvolver um referencial terico que explicasse por que alguns pases apresentam processos de desenvolvimento tecnolgico e econmico su-periores aos de outros. A abordagem sistmica est na base dos principais docu-mentos da OECD sobre CT&I (OECD, 2005a; 2005b; 2005c; e 2005d).

    Conforme Price e Behrens (2003), uma crtica ao modelo linear de inovao, de-senvolvido por Stokes em 1997, conhecida como Quadrante de Pasteur. Nesse modelo, Stokes (1997) defende que a dicotomia entre pesquisa bsica e aplicada, e o pensamento linear sobre pesquisa e ao, est fundamentalmente equivocada. Segundo argumenta o autor, o motivo para uma compreenso fundamental e a motivao para aplicao so coisas que no se separam e tampouco devem estar em oposio. Ao contrrio, podem ser combinadas de vrias maneiras.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    31

    Recentemente, com a crescente importncia do setor de servios nas economias, organizaes como a OECD reconheceram a necessidade de ampliar-se o esco-po do estudo da inovao. Assim, a terceira edio do Manual de Oslo, que serve de guia para a elaborao de pesquisas de inovao em todo o mundo, removeu o termo tecnolgico das definies de inovao, e passou a incorporar os con-ceitos de inovao de mercado e organizacional (OECD, 2005a). Entretanto, o foco deste captulo em razo dos dados e dos estudos disponveis a inova-o tecnolgica na indstria. Uma discusso mais detalhada sobre a inovao no setor de servios pode ser encontrada em De Negri e Kubota (2006).

    3.2 Histrico da Construo do Sistema Nacional de Inovao

    O Brasil um pas de industrializao tardia, pois a indstria brasileira s vai ganhar expresso, de fato, na segunda metade do sculo XX. Da mesma maneira, tardia tambm a nossa universidade, uma vez que as instituies universitrias com mais de cem anos so poucas, e nasceram voltadas para o ensino, quando h registro de universidades voltadas tanto para ensino como para pesquisa na Itlia do sculo XV.

    A ps-graduao s ganhou impulso a partir dos anos 1970, quando ento hou-ve poltica de bolsas para mestrados e doutorados, no exterior, para formao de pesquisadores. Assim, o Brasil investiu, tardiamente, seguindo os preceitos do modelo linear: primeiro na cincia criao da ps-graduao com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), da Finep e da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes); e em mecanismos de financiamento competitivo para a pesquisa cient-fica nas universidades e nos institutos de pesquisa (CNPq, Finep, Fundaes de Amparo Pesquisa); mas no criou, simultaneamente, um sistema robusto de financiamento e de induo do desenvolvimento tecnolgico e da inovao na empresa.

    A base produtiva brasileira , por decises tomadas nos anos 1950, fortemente multinacionalizada. Empresas estrangeiras foram atradas para explorar o mer-cado interno brasileiro, e no para que se tornassem bases de exportao, ou para que desenvolvessem, aqui, novos produtos. A pesquisa, o desenvolvimento e par-te substancial da engenharia localizavam-se (e localizam-se) no exterior. Estimu-lar inovao no era poltica pblica no arranque da industrializao posterior Segunda Guerra Mundial. As polticas dos anos 1960/1970 reforaram o quadro com mercados fechados, altas taxas de importao, financiamento facilitado para construo de fbricas, e Lei do Similar Nacional para induzir a fabricao local, mas no necessariamente incentivavam o projeto local do produto.

    A estrutura produtiva atual, que se busca transformar, ainda est baseada nessas condies iniciais. At o fim dos anos 1980, a economia muito fechada inibiu

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    32

    a competio internacional num momento de transformao da base produti-va (Tecnologias de Informao e Comunicao TICs: computadores, softwares e microeletrnica, principalmente, bem como internacionalizao de empresas, acirrando e induzindo a globalizao atual); havia poucas multinacionais de ca-pital brasileiro, as quais atuavam em setores tradicionais siderurgia de aos longos, txtil, carnes, minerao, etc. Aquelas que fugiam a isso, como a Embraer, por exemplo, so excees que confirmam a regra.

    Tudo isso: pesquisa acadmica instalada tardiamente, base produtiva dominada, em setores-chave, por multinacionais, e incapacidade de se inserir no incio da revoluo informtica, leva a um quadro de baixa inovao para o tamanho da economia brasileira.

    Houve, contudo, algumas tentativas de impulsionar o desenvolvimento tecnol-gico e a inovao. No incio dos anos 1980, ainda na vigncia de todo um marco regulatrio de mercado fechado, Lei do Similar Nacional e outras, houve, por exemplo, a infrutfera Lei de Informtica, que, sem foco, reservou o mercado para a produo local de todos os bens de informtica (microcomputadores, m-quinas industriais com controle microeletrnico robs, comandos numricos, etc., automao bancria e outros). No necessrio, aqui, fazer longas consi-deraes tericas, polticas ou conjunturais, mas o fato que tal lei possibilitou antes uma enorme pulverizao inicial de empresas: se anteriormente havia 16 produtores de robs industriais licenciados, hoje no resta nenhum deles; no fo-ram criadas empresas brasileiras de porte; nem houve impulso para a indstria de componentes. A atual Lei de Informtica , antes de tudo, uma compensao s empresas do segmento, instaladas fora da Zona Franca de Manaus, pelos incen-tivos que aqueles instalados nessa zona abocanham. No mais, no surtiu muito resultado do ponto de vista do desenvolvimento tecnolgico e da inovao. Esse tema, contudo, mereceria uma discusso especfica.

    O Governo Collor alterou, substancialmente, o marco, ao revogar a Lei do Simi-lar Nacional, baixar, abruptamente, tarifas de importao, bem como revogar v-rias restries importao ento existentes. A idia era dar um choque de com-petitividade na indstria: o cone que bem ilustra essa poca foi a frase do ento Presidente, que chamou os carros aqui produzidos de carroas. Mas foi apenas aps a edio do regime automotivo, nos governos Itamar e Fernando Henrique, que o perfil da indstria automobilstica comeou a mudar, e, de 2005 para c, os incentivos a P&D, da Lei do Bem, aumentaram substancialmente o investimento em engenharia e em desenvolvimento do produto, e o Brasil passou a ser um dos poucos centros de excelncia em desenvolvimento das principais montadoras, exceo das japonesas, que concentram toda a engenharia nas matrizes.

    Dada a abertura dos mercados, para fazer frente competio internacional o Governo Fernando Henrique lanou o Programa Brasileiro de Qualidade e Pro-dutividade (PBQP), com forte foco na difuso das tcnicas japonesas de gesto

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    33

    da qualidade de fabricao. Apesar de, no Pas, a gesto das principais empresas terem melhorado sensivelmente, isso no levou mudana de patamar da in-dstria brasileira; no ajudou nos processos de inovao, e sim nos processos de racionalizao e de disputa por produtos padronizados.

    Os esforos mais direcionados para incentivo ao desenvolvimento tecnolgico ( poca, no se falava, ou no se usava, nas polticas pblicas, o termo inovao), parte a tentativa da lei de informtica, surgiram mais ao final da dcada de 1980, j no Governo Sarney, quando foram desenvolvidos instrumentos de incentivo fiscal P&D nas empresas. Esses instrumentos vieram a constituir o Programa de Desenvolvimento Tecnolgico Industrial (PDTI) e o Programa de Desenvol-vimento Tecnolgico na Agricultura (PDTA)8. Nos anos 1990, no segundo Go-verno Fernando Henrique Cardoso, uma firme atuao do MCT levou criao dos fundos setoriais para financiamento pesquisa. O instrumento, inovador, teve sua eficcia minimizada em razo da baixa execuo oramentria da poca (ver Grfico 1) e do arcabouo legal e regulatrio ento vigente, o qual impedia a aplicao em projetos empresariais e pulverizava recursos dada a existncia de vrios fundos. Essa situao melhorou no Governo Lus Incio Lula da Silva: o montante de recursos dos fundos setoriais, que efetivamente foi dirigido a proje-tos, aumentou de forma significativa (Grfico 1), e o novo arcabouo legal (Lei de Inovao e Lei do Bem) possibilitou ao Estado financiar P&D diretamente nas empresas9.

    GRFICO 1Fundos setoriais de execuo financeira (Fundo Nacional para o Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico FNDCT) R$ milhes

    Fonte: Secretaria Executiva do Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT). 1 Fundo para o Desenvolvimento Tecnolgico das Telecomunicaes (Funttel).

    90 139333 358,4

    52,6

    565,6

    33,5

    639,5

    60,1

    828,1

    30

    1270

    1999

    Funttel() no reembolsvel FNDCT + Funttel() no reembolsvel

    0

    200

    400

    600

    800

    1.000

    1.200

    1.400

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

    8 o pDtI e o pDta esto hoje revogados pela lei do Bem, a qual ampliou e simplificou os procedimentos, tornando os benefcios automticos, como veremos mais adiante.9 antes, o artifcio utilizado era o de projetos conjuntos entre universidades e empresas: o Estado (via Finep ou assemelhados) financiava (no reembolsvel) a universidade, e a empresa financiava sua prpria parte.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    34

    3.3 Avaliao Crtica de Polticas Brasileiras

    de Apoio ao Desenvolvimento Tecnolgico

    Antes de discutirmos alguns avanos atuais no sistema, procederemos a uma avaliao crtica de algumas polticas, programas e instrumentos relacionados ao pblica de estmulo inovao, focando, para tanto, em incentivos fiscais, em financiamento e na relao entre patentes e produtividade.

    3.3.1 Incentivos fiscais induzem, efetivamente,

    a aumento dos gastos de P&D das empresas

    Em primeiro lugar, uma avaliao sobre programas de incentivo fiscal para P&D nas empresas. A idia desses programas simples: possibilitar um abatimento adicional do Imposto de Renda (IR) das empresas que realizam dispndios in-ternos em atividades de P&D. Avellar (ver captulo 8 deste livro) realizou larga reviso de pesquisas sobre os efeitos de incentivos fiscais, analisou programas de outros pases Canad tem incentivos para P&D desde 1944; EUA desde 1954, e Austrlia desde 1986 e efetuou avaliao do PDTI, estabelecido pela Lei n 8.661/1993 e revogado pela Lei do Bem (Lei n 11.196, de 21/11/2005)10. Ela mostra que havia uma resistncia utilizao do instrumento dada a burocracia que o envolvia. De fato, Salerno e Daher (2006) consideram que o PDTI exigia a submisso, ao MCT, de projeto formal sobre os planos de desenvolvimento da empresa; o qual era analisado pela equipe tcnica do MCT que, se o aprovava, informava Receita Federal que tal empresa fazia jus ao incentivo previsto na lei. Havia, assim, controle da entrada (que pode ser apenas uma declarao de intenes), e quase nenhum controle da execuo ou do resultado. Alm disso, entre 1996 e 2005, perodo de vigncia da lei, houve 196 projetos aprovados, os quais envolveram R$ 5 bilhes, com incentivo mdio de 5,75% o que muito pouco para tanto tempo.

    Em 30 de dezembro de 2002, sancionou-se a Lei n 10.637, que, entre outras coisas, ampliava os incentivos, inclusive de deduo maior para a empresa que depositasse pedido de patente no Brasil. Essa lei foi regulamentada pelo Decreto n 4.928/03 (j no Governo Lula), mas se mostrou incua: entre 2003 e 2005 (ou seja, em trs exerccios fiscais), apenas um projeto foi aprovado!

    10 o pDtI possibilitava deduo de at 8% do IR relativo a dispndios em atividades de p&D tecnolgico, industrial e agropecurio; iseno de Imposto sobre produtos Industrializados (IpI) sobre equipamentos e assemelhados para p&D; depreciao acelerada para equipamentos novos destinados a p&D; amortizao acelerada, mediante deduo como custo ou despesa operacional dos dispndios, na aquisio de intangveis para p&D; deduo, como despesa operacional, dos pagamentos de royalties para empresas de tecnologia de ponta ou de bens de capital no seriados. Na prtica, esses benefcios sofreram obstculos por parte do chamado pacote 51, editado no Governo Fernando Henrique, em 1997, o qual limitou as isenes de IR de pessoa Jurdica (IRpJ) dada a forte crise fiscal e cambial.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    35

    Avellar mostra, contudo, que mesmo com todas essas limitaes o programa induziu, efetivamente, o aumento de 90% dos gastos de P&D das empresas participantes11, tendo sido, portanto, eficiente. Teria sido mais eficaz se pudesse abranger um nmero maior de empresas: isso significaria dispor de procedimen-tos menos burocrticos.

    A Lei n 11.196, de 21/11/2005, conhecida como Lei do Bem por reduzir impostos, introduz uma ruptura conceitual de largas propores: os incentivos fiscais para P&D so de fruio automtica, no exigindo, portanto, que se apre-sente projeto, ou que se pea autorizao prvia para que possam ser usufrudos. Os dispndios de P&D so lanados em contas regulamentadas pela Receita Fe-deral, cujo saldo pode aumentar, automaticamente, 60% (ou seja, possibilitar uma deduo extra do IR, como se houvesse mais a deduzir). Os contratos de P&D realizados com micros e pequenas empresas do Pas, e com institutos de cincia e tecnologia brasileiros, podem ser considerados como despesas internas, e, com isso, ser estendidos a empresas menores que no utilizam o sistema de apurao de lucro real, e estimular a formao de redes de empresas e de cooperao com universidades.

    Para incentivar o aumento do quadro de pessoal de P&D, a lei prev abatimento adicional de 20% em razo do aumento do nmero de pesquisadores contratados. Para incentivar o patenteamento no Brasil, a lei prev outros 20% de abatimento adicional na soma de dispndios ou de pagamentos vinculados P&D objeto de patente ou de cultivar registrada; ou seja, pode-se chegar a abater, em dobro, os dispndios de P&D12. A lei ainda prev subveno para fixao de mestres e de doutores nas empresas, segundo edital Finep (concorrencialmente).

    Ainda cedo para uma avaliao geral e sistemtica da Lei do Bem; contudo, h evidncias de que algumas empresas esto aumentando seus dispndios, em P&D, estimuladas por essa lei. Tm-se notcias de que grandes empresas fize-ram clculos da economia relativa gerada pelos incentivos, e, com base neles, aumentaram suas equipes de engenharia; empresas transnacionais aumentaram as equipes de P&D13.

    11por fim, pode-se concluir, atravs dos resultados da regresso que o fato da firma participar do programa pDtI determinou um aumento de 90% nos gastos com atividades inovativas, demonstrando, segundo os resultados obtidos aps a aplicao dessa metodologia, que o programa pDtI conseguiu atingir o objetivo de aumentar os gastos em atividades inovativas das firmas beneficirias. Mais que isso, os resultados obtidos com o segundo procedimento de modelo de seleo em dois estgios apontam para a inexistncia de vis de seleo que faz com que os resultados obtidos com a metodologia propensity score matching seja a mais adequada para esse estudo (ver captulo 8 deste livro).12 para isso, a lei tem muitos outros mecanismos, tais como: depreciao e amortizao aceleradas; reduo de impostos para aquisio de equipamentos de pesquisa; e crdito do IR na fonte sobre royalties, assistncia tcnica e servios especializados contratados no exterior. 13 Informaes verbais obtidas em conversas informais com dirigentes empresariais.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    36

    importante salientar a diferena conceitual e prtica entre leis de incentivo do estilo da PDTI ou da Lei de Informtica, e da Lei do Bem. Leis que exigem pro-jeto (como o PDTI, ou como a Lei de Informtica atual) implicam:

    a) O deslocamento de parte do corpo tcnico dos ministrios para avaliao dos projetos, para acompanhamento burocrtico (prestao de contas).

    b) Muita ateno a procedimento formais, e pouca ateno aos resultados obtidos (afinal, o projeto ajudou ou no no desenvolvimento tecnolgico? No basta apenas ter as contas em ordem).

    c) Na prtica, a eliminao de conjunto importante de empresas que no possuem estrutura, as quais ou no esto acostumadas, ou no tm experincia em fazer esse tipo de projeto, e tampouco de indicar pessoas para o desempenho das tare-fas burocrticas que o acompanhamento dele exige. Fazendo um paralelo, quan-tas pessoas deixam de recorrer ao Judicirio, ou de fazer queixa em delegacia, em razo da dificuldade, do tempo despendido, etc.

    d) Eventualmente, a obrigao de a empresa fazer algo fora de seu cardpio por exemplo, a Lei de Informtica induz empresas basicamente montadoras a efetuarem P&D, pois, com isso, elas podem obter grande reduo de impostos. Mas tal P&D tende a ser formal, a no trazer os resultados esperados, converte-se, enfim, numa simples forma de reduzir impostos.

    Talvez a Lei de Informtica fosse mais eficiente se possibilitasse, s empresas, ou que executassem, internamente, P&D (h muitas que o fazem, efetivamente); ou, no caso daquelas que, por estratgia corporativa, no tm interesse, que, em vez de arquitetarem planos incuos investissem um porcentual menor num fundo de apoio pesquisa (que poderia ser de capital de risco, capital semente, ou outros) assim, mais recursos iriam para empresas que quisessem fazer P&D, e a discusso sobre desvios diminuiria.

    Tambm o Estado financia pesquisa (pblica) desenvolvida em seus prprios rgos, ou por instituies a eles vinculados, oramentariamente. Tal forma largamente usada em pases como os EUA, a Frana e o Japo, no caso de pro-jetos considerados estratgicos (aeroespacial e militar nos EUA; energia atmica, microeletrnica, aeroespacial e ferrovirio, na Frana; supercomputador; e oce-nica, tecnologias poupadoras de energia, robtica e biotecnologias, no Japo). No Brasil, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Agncia Espacial Bra-sileira e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa) se enqudram nessa categoria, ainda que possam captar recursos no sistema competitivo de pesquisa (editais Finep, CNPq, etc.). Os gastos em pesquisa do setor espacial um dos segmentos de mais futuro do ponto de vista da gerao de renda so absolutamente relevantes e mostram uma relao direta com o resultado: previso climtica fruto de modelagem matemtica (pesquisa) e de computa-

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    37

    dores poderosos (investimento); e domnio de satlites e de veculos lanadores s ocorre com P&D14. Gasques, Bastos e Bacchi (ver captulo 11 deste livro) demonstram que os gastos com pesquisa da Embrapa contriburam mais para os ganhos da produtividade na agricultura brasileira, entre 1975 e 2005, do que o crdito rural do Sistema Nacional do Crdito Rural. O dispndio em pesquisa da Embrapa o fator isolado que melhor explica o crescimento da produtividade na agricultura brasileira, mais do que a mecanizao e o crdito subsidiado (Gasques et al., 2004).

    GRFICO 2Oramento do programa espacial brasileiro R$ milhes

    Fonte: Secretaria Executiva do Ministrio da Cincia e Tecnologia (MCT).

    77 71

    107,7

    5674

    172

    220

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

    3.3.2 Efeitos do financiamento pblico

    para P&D e inovao em geral

    Um dos instrumentos mais universalmente utilizados para a induo do desen-volvimento tecnolgico e da inovao o financiamento atividade em con-dies favorecidas. No mbito internacional, isso se d por meio de agncias especiais ou de bancos de desenvolvimento. O mais comum o financiamento no reembolsvel para pesquisa acadmica, mas h tambm financiamento no reembolsvel para pesquisa privada pr-competitiva (algo pouco desenvolvido no

    14 o setor aeroespacial e de satlites considerado portador de futuro em vrios relatrios internacionais, e prioridade para boa parte dos pases. Est, no entanto, entre aqueles que mais sofrem retaliaes dos Eua, em decorrncia do veto venda de avies militares, por parte da Embraer, para esse pas, que, por sua vez, vetou o fornecimento, Embraer, de componentes de sua fabricao, os quais integrariam avies. alm disso, os Eua limitam a venda de supercomputadores para pases, como o Brasil, com programa de satlite, o que leva ao desenvolvimento nacional de supercomputao paralela (cluster de pcs que fazem as vezes de supercomputador de mdio desempenho).

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    38

    Brasil); financiamento reembolsvel em condies favorecidas (taxas menores, prazos maiores, etc.); esquemas de participao no capital do empreendimento; esquemas de capital empreendedor para desenvolvimento de pequenas empresas de base tecnolgica; e assim por diante. Isso se justifica pelo risco envolvido na atividade de P&D, pelo seu tempo de maturao, pelas fortes assimetrias exis-tentes, etc.

    O financiamento pblico para PD &I e inovao assume importncia vital. Como vimos anteriormente, os trs principais fatores apontados nas diversas verses da Pintec como obstculos inovao riscos econmicos excessivos, elevados custos e escassez de fontes apropriadas de financiamento tm relao direta com a oferta de financiamento. Na Unio, o BNDES e a Finep so os principais agentes para financiamento de projetos de P&D das empresas, e dessas com uni-versidades (ou institutos de cincia e tecnologia, na terminologia da Lei de Ino-vao); e, nos Estados, fundaes de apoio pesquisa algumas vezes cumprem tambm esse papel para nichos especficos, muitas vezes conveniadamente com a Finep. O sistema de bancos estaduais de desenvolvimento praticamente foi extinto, por problemas de m gesto e assemelhados; poucos estados, e poucas regies infra-estaduais, tm agncias de desenvolvimento15.

    No bojo da PITCE, o BNDES revisou, com sucesso, uma linha especial finan-ciamento de software, o Programa para o desenvolvimento da Indstria de Sof-tware e Servios de Tecnologia da Informao (Prosoft), e criou o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Complexo Industrial da Sade (Profarma), linha especial de financiamento para a indstria farmacutica e de equipamentos mdi-cos. Em 2006, revisou as diretrizes operacionais ampliando o conceito de inova-o, que, a partir de ento, deixou de restringir-se a segmentos tecnologicamente sofisticados da indstria. O banco aumentou a previso de recursos (para R$ 153 milhes) do Fundo Tecnolgico (Funtec) fundo de apoio direto na modalidade no reembolsvel , cujos recursos so oriundos do seu lucro. Ademais, criou duas linhas de apoio inovao: Inovao PD&I e Inovao Produo.

    A primeira linha foca em projetos que exigem grandes esforos em PD&I e con-ta com taxa de juros de 6% a.a. acrescida de taxa de risco de crdito; e, a segunda, essa apia projetos que resultam em inovaes incrementais e em expanso de capacidade de produo da inovao. Nesse caso, o banco cobra taxa de juros de longo prazo (TJLP) acrescida de taxa de risco de crdito. H, em ambos os casos, dispensa de garantias reais em operaes abaixo de R$ 10 milhes, e os prazos so de 12 e de 10 anos, respectivamente. Alm desses mecanismos, existem ainda os de renda varivel, como o Criatec, que um fundo de investimento com a finalidade de capitalizar as micros e pequenas empresas inovadoras de capital semente e de prov-las de um adequado apoio gerencial (Luna, Moreira e Gon-alves, captulo 5 deste livro).

    15 agncias locais/regionais de desenvolvimento so algo padro na Europa e nos Eua. Entre os casos brasileiros, destaca-se o do sistema de Minas Gerais (o Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais Indi, e o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais BDMG), bem como a agncia de Desenvolvimento do Grande aBc paulista.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    39

    Estudo de Ottaviano e Sousa (ver captulo 9 deste livro) analisa os efeitos de dois programas do BNDES o BNDES Automtico e o Financiamento a Empre-endimentos (Finem) na produtividade e melhoria tecnolgica de firmas brasi-leiras. Os resultados sugerem que os emprstimos do BNDES Automtico so utilizados para implementar projetos de menor qualidade, ao passo que as linhas do Finem so usadas para implementar projetos que utilizam novas tecnologias. Os resultados s aparecem aps trs anos da concesso dos emprstimos.

    J a Finep, essa opera um grande conjunto de linhas e de instrumentos, talvez grande demais a ponto de confundir o usurio.16 Possivelmente o agrupamento de tais linhas em macroblocos simplificaria o entendimento sem reduzir a oferta conforme a segmentao do universo-alvo.

    Morais (ver captulo 2 desta publicao), de forma extensiva, e Salerno e Daher (2006), de forma sinttica, apresentam as linhas de financiamento da Finep. Re-centemente, com a aprovao das leis de Inovao e do Bem, a Finep passou a ofertar, via disputa competitiva em editais, subsdios para fixao de pesquisa-dores nas empresas17, assim como para apoio a despesas de custeio de desen-volvimento de produtos e de processos inovadores de empresas nacionais18 (ver Quadro 1).

    QUADRO 1Linhas Finep de apoio inovao nas empresas

    Financiamento s empresast1S*OPWBPo1SPHSBNBEF*ODFOUJWP*OPWBPOBT&NQSFTBT#SBTJMFJSBTDPOTUJUVJTFEFmOBODJBNFOUPDPNFODBSHPTSFEV[JEPTQBSBBSFBMJ[BPEFQSPKFUPTEF1%*OBTFNQSFTBTCSBTJMFJSBT/FTTBNPEBMJEBEF BT PQFSBFT EF DSEJUP TP QSBUJDBEBT DPNFODBSHPT mOBODFJSPT RVF EFQFOEFNEBTDBSBDUFSTUJDBTEPTQSPKFUPTt"QHFGPSo'JOBODJBNFOUPDPNFODBSHPTSFEV[JEPTQBSBBSFBMJ[BPEFFTUVEPTFEFQSPKFUPTEFQSJOWFTUJNFOUPPTRVBJTWJTFNJNQMFNFOUBPEFPCSBTEFHFSBPEFFOFSHJBFMUSJDBBQBSUJSEFGPOUFT SFOPWWFJT TFKBN FMBT BMUFSOBUJWBT TFKBN DPOWFODJPOBJT B TFSFN SFBMJ[BEPT QPS FNQSFTBTCSBTJMFJSBTEFFOHFOIBSJBDPOTVMUJWBt+VSP;FSPo'JOBODJBNFOUPHJMTFNFYJHODJBEFHBSBOUJBTSFBJTFDPNCVSPDSBDJBSFEV[JEBQBSBBUJWJEBEFT JOPWBEPSBTEFQSPEVPF DPNFSDJBMJ[BPFNQFRVFOBTFNQSFTBTBUVBOUFTFNTFUPSFTQSJPSJ[BEPTQFMB1*5$&

    (continua)

    16 conversamos com vrios dirigentes de empresas de porte, os quais confessaram confundir-se com as linhas Finep; e h mesmo acadmicos que se confundem com elas, o que leva a muitas idas e vindas. logo, simplificar procedimentos seria muito importante. 17 conforme a lei do Bem. Edital publicado em 2006, e com resultados j disponveis no portal da Finep: .18 conforme a lei de Inovao. Edital publicado pela Finep em 2006, e com resultados j divulgados.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    40

    (continuao)

    Programas de capital de riscot*OPWBS4FNFOUFo1SPHSBNBEF*OWFTUJNFOUPT$SJBPEF&NQSFTBTEF#BTF5FDOPMHJDBPRVBMCVTDBDPOTUJUVJSGVOEPTEFBQPSUFEFDBQJUBMTFNFOUFQBSBJOWFTUJNFOUPFNQFRVFOBTFNQSFTBTEFCBTFUFDOPMHJDBFNFTUHJPOBTDFOUFt*OPWBSo*ODVCBEPSBEF'VOEPT*OPWBSBPBQPJBSBDSJBPEFGVOEPTEFDBQJUBMEFSJTDPRVFBQPTUBNFNFNQSFFOEJNFOUPTJOPWBEPSFTFTTBJODVCBEPSBFYFSDFQBQFMGVOEBNFOUBMOBGPSNBPEBTGVUVSBTHSBOEFTFNQSFTBTCSBTJMFJSBT

    Apoio financeiro no reembolsvel e outras formas de atuaot1BQQFo1SPHSBNBEF"QPJP1FTRVJTBFN&NQSFTBTBQJBQSPKFUPTEF1%EFQSPEVUPTFEFQSPDFTTPTFMBCPSBPEFQMBOPTEFOFHDJPTBTTJNDPNPFTUVEPEFNFSDBEPQSJPSJUBSJBNFOUFFNFNQSFTBT EF CBTF UFDOPMHJDB TPC B SFTQPOTBCJMJEBEF EF QFTRVJTBEPSFT RVF OFMBT BUVFNEJSFUBNFOUFPVRVFUSBCBMIFNFNDPPQFSBPDPNFMBTt*OPWBSo'SVN#SBTJM$BQJUBMEF3JTDPQSPDFTTPEFFTUNVMPDBQJUBMJ[BPEFFNQSFTBTEFCBTFUFDOPMHJDBFNFWFOUPOPRVBMFNQSFFOEFEPSFTBQSFTFOUFNTFVTQSPEVUPTFQMBOPTEFOFHDJPTBJOWFTUJEPSFTEFDBQJUBMEFSJTDPt1/*o1SPHSBNB/BDJPOBMEF*ODVCBEPSBTF1BSRVFT5FDOPMHJDPTBQJBPQMBOFKBNFOUPBDSJBPFBDPOTPMJEBPEFJODVCBEPSBTEFFNQSFTBTFEFQBSRVFTUFDOPMHJDPT

    Fonte: Extrado do Portal Finep. Acesso em: 15/09/2007.

    De Negri, De Negri e Lemos (ver captulo 6 e 7 desta obra) avaliam o impac-to de dois programas pblicos de apoio cincia e tecnologia (C&T) no Pas: o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnolgico da Empresa Nacional (Adten), avaliado no perodo 1997-2005, e o Fundo Nacional para o Desenvolvi-mento Cientfico e Tecnolgico (FNDCT), no perodo 1999-2005. O Adten teve o incio de seus desembolsos em 1973, primeiramente (Ferrari, 2002), entrou em regime a partir de 1976, e tinha como objetivo financiar projetos de desenvolvi-mento tecnolgico de interesse manifesto ou em potencial da empresa nacional, cuja criao, pela sua importncia e pioneirismo e tambm para que fosse poss-vel se beneficiar de recursos do FNDCT (Ferrari, 2002, p. 179). O FNDCT foi criado em 31/07/1969, pelo Decreto-lei n 719, com a finalidade de dar apoio financeiro aos programas e projetos prioritrios de desenvolvimento cientfico e tecnolgico, notadamente para a implantao do Plano Bsico de Desenvolvi-mento Cientfico Tecnolgico PBDCT (Ferrari, 2002, p. 151).

    Utilizando diferentes tcnicas economtricas19, os autores encontram evidncias fortes do impacto positivo desses dois programas tanto sobre o desempenho como sobre os esforos tecnolgicos das empresas por eles beneficiadas, mas inconclusivas do impacto deles sobre os esforos tecnolgicos das empresas por

    19 para detalhes tcnicos sobre os mtodos (PSM e olS), ver De Negri, De Negri e lemos (captulo 6 e 7 deste livro).

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    41

    eles beneficiadas, mas tambm do impacto inconclusivo deles sobre a produti-vidade e o crescimento da firma talvez aqui os efeitos de ambiente macroeco-nmico externo possam explicar o resultado. A Tabela 10, a seguir, resume os resultados.

    Fonte: Extrado de De Negri, De Negri e Lemos (ver captulos 6 e 7 deste livro).1 ns = impactos no significativos; ns* = resultados significativos em apenas uma especificao do teste, e no significativos nas demais; + = impacto positivo e significativo do programa sobre a varivel analisada; e n.a. = no se aplica.2 Propensity score matching (PSM).3 Modelos de seleo e mnimos quadrados ordinrios (OLS).

    Mtodo

    Impactos doAdten sobre

    Impactos doFNDCT sobre

    Crescimento(1)

    Produtividade(1)

    Esforos tecnolgicos(1)

    Crescimento(1)

    Produtividade(1)

    Esforos tecnolgicos(1)

    (2)

    n.a.

    ns*

    +

    n.a.

    +

    +

    Modelos de seleo

    n.a.

    n.a.

    +

    n.a.

    n.a.

    +

    OLS(3)

    n.a.

    ns

    n.a.

    n.a.

    ns

    n.a.

    Diferenas em diferenas

    +

    ns

    n.a.

    ns

    ns

    n.a.

    Se os programas de financiamento facilitado, exemplificados por aqueles anali-sados anteriormente, apresentam eficincia para aumentar o desempenho e os esforos tecnolgicos das firmas beneficiadas, seria desejvel que o acesso a eles fosse fcil para todos os interessados. Mas h problemas nos procedimentos in-ternos de anlise e de aprovao de projetos da Finep, considerados lentos para os desafios que a agncia ter com a expanso dos recursos financeiros e da de-manda para inovao. Um aspecto que precisa ser aprofundado a padronizao de procedimentos para todas as linhas e editais, de forma semelhante ao que foi feito no Programa Juro Zero, o qual dispe de procedimentos simplificados, assim como de prazos predefinidos e pblicos para anlise: mais que a rapidez, o fundamental a previsibilidade para que a empresa possa tomar suas decises20.

    20 Fazendo um paralelo: para decidir uma compra a crdito, fundamental para o interessado conhecer as condies e os prazos de anlise, a deciso sobre o financiamento pelo ente financiador, e os prazos para liberao dos recursos. Imagine uma pessoa envolvida na compra de uma casa, e, para tal, com necessidade de vender um carro sem previso, ela pode vender o carro e no comprar a casa, ou no conseguir comprar a casa por no ter vendido o carro a tempo, etc.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    42

    Analisando, especificamente, os programas Finep voltados para pequenas e m-dias empresas, Morais (ver captulo 2 deste livro) observou que em alguns deles o nmero de pequenas empresas atendidas ainda baixo. Esse resultado deriva da condio de o programa estar em fase inicial de execuo, como o caso da linha de crdito Juro Zero, ou da condio de ele revestir-se de iniciativa pioneira, com pouca cultura de utilizao no Brasil, como so as aes de apoio ao desen-volvimento de fundos de capital empreendedor (capital de risco). Para atingir volume de projetos com condies de produzir impactos na estrutura produtiva, tais como a obteno de taxas de inovao mais elevadas e a insero, no comr-cio exterior, de bens de maior contedo tecnolgico, ser necessrio ampliar o alcance geogrfico dos programas por meio do aumento do nmero de Estados e de municpios parceiros da Finep, pois so as instituies locais que permitem maior descentralizao dos recursos, e, com isso, o alcance de um maior nmero de empresas beneficiadas. importante, ainda, reforar a divulgao dos progra-mas nos Estados, para que um maior nmero de empresas tenha conhecimento dos mecanismos disponveis para inovao tecnolgica.

    3.3.3 Sistema educacional

    evidente que educao um direito bsico dos cidados, independentemente de sua funcionalidade instrumental. Mas evidente, tambm, que h uma relao direta entre escolaridade e desenvolvimento. Segundo Gusso (ver captulo 13 deste livro), um dos principais componentes de um Sistema Nacional de Inova-es o sistema educacional e de pesquisa tecnolgica. Contudo, h no sistema educacional vrias instncias:

    a) Instituies de Educao de Ensino Superior (IES), as quais desenvolvem ati-vidades de pesquisa e oferecem uma ampla gama de programas de bacharelado e de ps-graduao, principalmente curso de doutorado. As universidades de pes-quisa, por sua vez, so fundamentais para incrementar a capacidade tecnolgica e de inovao do sistema de produo de um pas, e so, em sua maioria, institui-es pblicas, embora haja algumas poucas de carter comunitrio, confessional ou filantrpico. Elas formam a elite da pesquisa do pas; a Lei do Bem prev subsdios para fixao de mestres e de doutores nas empresas.

    b) Universidades e/ou faculdades isoladas envolvidas com o bacharelado (graduao), que tm a misso de formar profissionais capacitados os quais podem atuar no projeto de produtos e de processos, por exemplo , ainda que esses no venham a se tornar mestres ou doutores.

    c) Sistema de ensino tcnico de nvel superior, um pouco maltratado no Pas, como , por exemplo, o caso das faculdades de tecnologia de alguns estados.

    d) Sistema de ensino tcnico de nvel mdio, igualmente maltratado apesar de

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    43

    algumas ilhas de excelncia. Aqui, o mais conhecido o chamado sistema S (o Servio Nacional de Aprendizagem dos Industririos Senai, o Servio Social da Indstria Sesi, e o Servio Nacional de Aprendizagem Rural Senar), que manipula recursos pblicos e os gerencia privadamente, ou seja, sem se associar, necessariamente, s polticas pblicas gerais. H poucas escolas tcnicas federais, assim como h poucas estaduais.

    e) Sistema educacional bsico e secundrio de forma geral. um equvoco pensar que a nica componente educacional de um sistema de inovao seja a universi-dade que forma doutores. Sem uma populao com alto nvel educacional mais difcil promover a difuso de inovaes tecnolgicas21.

    No Brasil, o Sistema Nacional de Ps-Graduao (SNPG) est crescendo rapida-mente. Entre 1976 e 2006, o nmero de cursos de ps-graduao passou de 673 para 3.422 (ver Tabela 11). Em 2006, esse sistema era formado por 2.240 cursos de mestrado, e por 1.182 cursos de doutorado, os quais abrigavam mais de 125 mil estudantes (dos quais dois teros compunham-se de mestrandos, e um tero de doutorandos) e 32 mil professores. O SNPG tem se mostrado produtivo, e gradua hoje, por ano, 27 mil mestres e mais de 10 mil doutores. A Capes e o CNPq aumentaram o nmero de bolsas, bem como o custeio para os progra-mas voltados para a PITCE (Brasil, 2003). Foi tambm criada, pela primeira vez, uma linha de ao de bolsas e de fomento denominada poltica industrial (R$ 32 milhes). Em 2005, foram destinadas mais de 1.500 novas bolsas para as reas estratgicas da poltica industrial do governo. Cursos novos e das reas de micro-eletrnica, de software, de frmacos e de bens de capital, prioritrias da PITCE, receberam bolsas especficas.

    TABELA 11Evoluo da graduao de mestres e doutores 1976, 1996 e 2006

    Fonte: Capes/Ministrio da Educao (MEC).1 Ano de incio do processo de avaliao dos cursos de ps-graduao pela Capes.2 Ano-base 1996. Cursos cadastrados pelo Coleta, no incio de 1997.3 Cursos reconhecidos pela Capes em 17/04/2006 (site).

    Nvel 1976 (1) 1996 (2) 2006 (3) 2006/1976 [29 anos, 3,5meses]

    Taxa geomtrica (% ao ano) 1996/1976[20 anos]

    2006/1996 [9 anos, 3,5 meses]

    Mestrado 490 1.083 2.240 5,3 4,0 8,1 Doutorado 183 541 1.182 6,6 5,6 8,8 Total 673 1.624 3.422 5,7 4,5 8,4

    21 s imaginarmos que os sistemas informticos introduzem uma mediao entre o trabalhador e o objeto de trabalho; mediao essa feita por cdigos e signos expostos numa tela de computador. Interpretar cdigos e signos, interpretar tendncias do sistema, requer raciocnio abstrato e raciocnio sobre eventos, desenvolvidos na escola bsica e na secundria, respectivamente, nos cursos de matemtica e de fsica. alm do mais, com sistemas formais de qualidade e de rastreabilidade de produtos h toda uma parte do trabalho concernente a preenchimento de relatrios, a leitura e a interpretao de manuais, etc.; e, para isso, alm do estudo de cincias exatas faz-se necessria uma boa formao em lnguas o estudo de portugus e de ingls fundamental seja para a compreenso e interpretao dos textos, seja para a construo de raciocnio lgico passvel de ser traduzido em linguagem escrita e/ou oral.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    44

    O valor das bolsas de mestrado e de doutorado, da Capes/MEC e do CNPq/MCT, aumentou 10% em 2006, aps aumento de 18% em 2004. A partir de 2002, o nmero de bolsas no Brasil passou de 24.593 para 28.120. As bolsas para o exterior passaram de 1.071, em 2002, para 2.100 em 2005, o que representa um acrscimo de quase 100%.

    Muitos pases tm poltica explcita de brain circulation, como a China, a ndia e os pases europeus (dentro da Unio Europia), que organizam a ida e o retorno de seus pesquisadores. Na Finlndia, projetos de pesquisa tm pareceres de es-trangeiros, assim como h pesquisadores estrangeiros em bancas de doutorado, prtica que comea a espalhar-se pelos pases mais dinmicos da Europa. Os Estados Unidos so um im por si s: h, nesse pas, muitos brasileiros traba-lhando em universidades ou em empresas. O Brasil, porm, ainda no conseguiu articular uma rede com essas pessoas, como o fazem os indianos e os chineses: parte importante dos negcios indianos de software se deve comunidade indiana radicada nos Estados Unidos, por exemplo.

    Na disputa entre unidades de multinacionais, para a localizao de centros de pesquisa, desenvolvimento e engenharia, no por acaso o sistema escolar tem peso importante22. De forma geral, na educao brasileira o gargalo de curto prazo est na formao bsica. O sistema universitrio tem atendido demanda por profissionais da rea tecnolgica, mas precisa expandir-se para dar conta do aumento da demanda. Grosso modo, a formao de engenheiros considerada boa pelas empresas (particularmente pelas estrangeiras). A questo preparar o futuro, pois, relativamente, o Brasil forma poucos engenheiros por nmero de habitantes esse um dos principais indicadores que confere ao Pas posies sem destaque nos rankings internacionais de competitividade.

    3.3.4 Papel das patentes e o desempenho do Inpi

    O Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) o organismo oficial que recebe, e analisa pedidos de patentes e de registros de marcas, atendendo-os ou no (ver Grfico 3). Polticas pblicas relacionadas a marcas e a patentes so de-cisivas para pases que queiram disputar espao na sociedade do conhecimento.

    Analisando o perodo 1971-2004, Luna e Baessa (ver captulo 12 deste livro) mostram que a estrutura do Inpi (tanto de recursos materiais como humanos) apresentou problemas para processar, em tempo hbil, todo o fluxo de pedido de registro de propriedades que nela tramitou (marcas, patentes, desenhos indus-triais, indicaes geogrficas e programas de computador), o que torna impera-tivo o seu aperfeioamento, conforme previsto na PITCE. A Tabela 12, adiante,

    22 Informao obtida, pelos autores, junto a dirigentes de multinacionais e junto agncia Brasileira de Desenvolvimento Industrial (aBDI), que desenvolve, com a associao Nacional de pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (anpei), projeto para atrao de centros de p&D de multinacionais.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    45

    mostra que o problema da falta de agilidade do Inpi no se deve produtividade mdia do avaliador, e sim ao pequeno nmero de avaliadores, bem como falta de infra-estrutura em informtica (essa importante, sobretudo para o registro de marcas). Por isso foi realizado, em 2005, concurso para o aumento do quadro de pessoal desse instituto, assim como iniciado o processo de informatizao voltado para o depsito de pedido de registro de marca pela Internet23.

    GRFICO 3Quantidade de depsitos e de concesses de marcas no Inpi 1971-2004

    Fonte: Extrado de Luna e Baessa (ver captulo 12 desta publicao).

    10.000

    1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 20030

    20.00030.00040.00050.00060.00070.00080.00090.000

    100.000110.000Marcas

    Depsitos Concesses

    TABELA 12Comparao internacional de exame de patentes em 2005

    Fonte: Extrado de Luna e Baessa (ver captulo 12 deste livro).1 European Patent Office (EPO).2 United States Patent and Trademark Office (USPTO). 3 Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). 4 Conselho Nacional de Secretrios Estaduais para Assuntos de CT&I.(Disponvel em: ).

    N de examinadores

    Prazo mdio de concesso (meses)

    Demanda mdia por examinador

    EPO (Europa)(1) 45,3

    USPTO (EUA)(2) 4.400 29,1 68

    Kipo (Coria do Sul)(4) 900 30 56

    Inpi (Brasil)(3) 120 102 167

    23 o Inpi informou que, alm dos concursos j ocorridos, outros sero realizados para ampliar, substantivamente, o atual contingente de examinadores de marcas e de patentes: de 40 para 100 examinadores de marcas, e de 120 para 360 examinadores de patentes. Destaca-se, nesse processo de ampliao, a criao do centro Brasileiro de Materiais Biolgicos, bem como do centro de Educao em propriedade Intelectual/academia do Inpi. Isso s foi possvel pelo aumento oramentrio ocorrido a partir de 2004 (de R$ 82 milhes, em 2003, para R$ 108 milhes, em 2004; R$ 117 milhes, em 2005, e R$ 121 milhes em 2006), que totalizou 47,5% entre 2003 e 2006.

  • polticas de Incentivo Inovao tecnolgica no Brasil

    46

    Utilizando, de forma indita, microdados de marcas e de patentes do Inpi, con-catenados com outras bases de dados que o Ipea utiliza, Luna e Baessa (captulo 12 deste livro) avaliaram se os depsitos de marcas e de patentes efetuados pe-las firmas influenciaram a produtividade do trabalhador. Tais resultados foram obtidos em se considerando as caractersticas das firmas, assim como a hetero-geneidade das variveis no observadas. Os autores concluem24 que as estratgias de propriedade intelectual so significativas na indstria e nos servios, e mais relevantes ainda no setor de servios. Os ganhos de produtividade das firmas com perfil mais inovador que s adotam patentes so de 7,1%, na indstria, e de 49,4% em servios, se comparados aos das firmas que no adotam nenhuma estratgia. Entre as firmas cuja estratgia trabalhar em cima da percepo do consumidor, as quais s depositam marcas, o aumento da produtividade de 6,3%, na indstria, e de 11,3% em servios.

    Se, por um lado, as firmas que depositam marcas e patentes obtm ganhos de produtividade, por outro lado os dados mostram que poucas firmas utilizam o sistema de propriedade intelectual brasileiro. Em 1998, 94% das firmas de servi-os, e 86% das indstrias, no depositaram qualquer marca ou patente no Inpi. Em 2002, esses percentuais sofreram alteraes pouco significativas.