ipea livro ensaios de economia regional e urbana

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  • Ensaios de Economia Regional e Urbana

    Ensaios de Economia Regional e Urbana

    OrganizadoresAlexandre Xavier Ywata Carvalho

    Carlos Wagner de Albuquerque OliveiraJos Aroudo Mota

    Marcelo Piancastelli

  • Ensaios de EconomiaRegional e Urbana

  • Governo Federal

    Ncleo de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica

    Ministro de Estado Extraordinrio de Assuntos Estratgicos Roberto Mangabeira Unger

    Presidente Marcio Pochmann

    Diretoria Cinara Maria Fonseca de LimaJoo SicsJorge Abraho de CastroLiana Maria da Frota CarleialMrcio Wohlers de AlmeidaMrio Lisboa Theodoro

    Chefe de GabinetePersio Marco Antonio Davison

    Assessor-Chefe de ComunicaoEstanislau Maria de Freitas Jnior

    Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoria

    URL: http://www.ipea.gov.br

    Fundao pblica vinculada ao Ncleo de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica, o Ipea fornece suporte tcnico e institucional s aes governamentais possibilitando a formulao de inmeras polticas pblicas e de programas de desenvolvimento brasileiro e disponibiliza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus tcnicos.

  • Ensaios de EconomiaRegional e Urbana

    Organizadores

    Alexandre Xavier Ywata Carvalho

    Carlos Wagner de Albuquerque Oliveira

    Jos Aroudo Mota

    Marcelo Piancastelli

    Autores

    Alexandre Xavier Ywata Carvalho

    Alexandre Manoel Angelo da Silva

    Aristides Monteiro Neto

    Bruno de Oliveira Cruz

    Carlos Wagner de Albuquerque Oliveira

    Constantino Cronemberger Mendes

    Christopher Timmins

    Daniel Cerqueira

    Daniel Da Mata

    Danielle Sandi

    Guilherme Mendes Resende

    Hyoung Gun Wang

    Joo Carlos Magalhes

    Kenneth M. Chomitz

    Mansueto Facundo Almeida Junior

    Maria da Conceio Sampaio de Sousa

    Raul da Mota Silveira Neto

    Roberto Ellery Jr

    Rogrio Boueri Miranda

    Somik V. Lall

    Braslia, 2007

  • As opinies emitidas nesta publicao so de exclusiva e de inteira responsabilidade dos autores, no exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada, ou do Ncleo de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica.

    A impresso desta publicao contou com o apoio financeiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), via Programa Rede de Pesquisa e Desenvolvimento de Polticas Pblicas Rede-Ipea, o qual operacionalizado pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), por meio do Projeto BRA/04/052.

    permitida a reproduo deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reprodues para fins comerciais so proibidas.

    Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ipea 2007

    Ensaios de economia regional e urbana / organizadores:Alexandre Xavier Ywata Carvalho ... [et al.]. - Braslia: Ipea, 2007.464 p. : grfs., tabs.

    Inclui bibliografias. ISBN: 978-85-7811-002-4 1.Economia Regional. 2.Economia Urbana. 3.Urba-nizao. 4.Desigualdade Econmica. 5.Desenvolvimento Regional. 6.Brasil. I.Carvalho, Alexandre Xavier Ywata. II. Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada.

    CDD 338.981

  • SUMRIO

    APRESENTAO 09

    INTRODUO 11

    Parte 1 19

    CAPTULO 1 21 CRESCIMENTO PR-POBRE E DISTRIBUIO DE RENDA DAS CAPITAIS DOS ESTADOS BRASILEIROS

    Guilherme Mendes Resende Daniel Da Mata Alexandre Xavier Ywata Carvalho

    CAPTULO 2 47 FAVELAS E DINMICA DAS CIDADES BRASILEIRAS

    Daniel Da Mata Somik V. Lall Hyoung Gun Wang

    CAPTULO 3 65 ESTIMAO DA PERDA DE PRODUO DEVIDO A MORTES POR CAUSAS EXTERNAS NAS CIDADES BRASILEIRAS

    Alexandre Xavier Ywata Carvalho Daniel Cerqueira

    Parte 2 105

    CAPTULO 4 107 CRESCIMENTO ECONMICO COMPARADO DOS MUNICPIOS ALAGOANOS E MINEIROS: UMA ANLISE ESPACIAL

    Alexandre Manoel Angelo da Silva Guilherme Mendes Resende

    CAPTULO 5 135 EVOLUO DA DESIGUALDADE ECONMICA E SOCIAL NO TERRITRIO BRASILEIRO ENTRE 1970 D 2000

    Joo Carlos Magalhes Rogrio Boueri Miranda

  • CAPTULO 6 177 MIGRAO E DIFERENCIAIS DE RENDA: TEORIA E EVIDNCIAS EMPRICAS

    Carlos Wagner de Albuquerque Oliveira Roberto Ellery Jr Danielle Sndi

    CAPTULO 7 213 CRESCIMENTO E DESEMPENHO DO MERCADO DE TRABALHO NOS MUNICPIOS NO-METROPOLITANOS DO BRASIL

    Kenneth M. Chomitz Daniel Da Mata Alexandre Xavier Ywata Carvalho Joo Carlos Magalhes

    CAPTULO 8 243 ESTIMANDO A DEMANDA POR EDUCAO E SADE EM MUNICPIOS BRASILEIROS

    Constantino Cronemberger Mendes Maria da Conceio Sampaio de Sousa

    Parte 3 283

    CAPTULO 9 285 DECISO LOCACIONAL DE NOVOS ESTABELECIMENTOS E O PAPEL DOS FUNDOS CONSTITUCIONAIS DE FINANCIAMENTO

    Alexandre Xavier Ywata Carvalho Somik V. Lall Christopher Timmins

    CAPTULO 10 313 AVALIAO ECONMICA DO FUNDO CONSTITUCIONAL DE FINANCIAMENTO DO NORDESTE (FNE)

    Alexandre Manoel Angelo da Silva Guilherme Mendes Resende Raul da Mota Silveira Neto Mansueto Facundo Almeida Junior

    CAPTULO 11 337 FUNDOS CONSTITUCINAIS DE FINANCIAMENTO DO NORDESTE, NORTE E CENTRO-OESTE (FNE, FNO E FCO): UMA DESCRIO PARA O PERODO RECENTE

    Alexandre Manoel Angelo da Silva Guilherme Mendes Resende Mansueto Facundo Almeida Junior

  • CAPTULO 12 375 INTERVENO ESTATAL E DESIGUALDADES REGIONAIS NO BRASIL: CONTRIBUIES AO DEBATE CONTEMPORNEO

    Aristides Monteiro Neto

    CAPTULO 13 437 EXTERNALIDADES LOCAIS, GANHOS DE AGLOMERAO E POLTICAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

    Bruno de Oliveira Cruz

  • APRESENTAO

    A dimenso continental do Brasil impe enormes desafios a seus municpios, di-versas regies e reas metropolitanas. Assim, para compreender a dinmica do crescimento econmico brasileiro no h como escapar de um estudo das din-micas das economias de suas regies. Mais que isso, as diversidades cultural, ter-ritorial, social e econmica entre as regies ou mesmo dentro de uma dada regio exigem do pesquisador um conhecimento que ultrapassa os ensinamentos dados na academia. preciso tambm criatividade para propor estratgias e instrumen-tos de desenvolvimento regional capazes de alterar a realidade regional brasileira.

    At recentemente (incio dos anos 1990), os estudos de economia urbana e mais acentuadamente os estudos de economia regional ocupavam um papel secundrio no mainstream das cincias econmicas. Os principais fatores da des-crena ou pouca atratividade desses estudos estavam relacionados necessidade de se abandonar pressupostos dominantes como retornos constantes de escala e competio perfeita, se o propsito fosse gerar resultados interessantes. Alm do mais, os estudos associados economia regional e urbana se caracterizam por uma forte interdisciplinaridade, atravessando diversos escaninhos do conhecimento.

    Esse cenrio mudou. Tal mudana se torna perceptvel nos estudos relacio-nados a teorias urbanas que ressaltam formas de economias de aglomerao em contraposio a deseconomias de aglomerao ou algum tipo de congestionamen-to proveniente da concentrao espacial das atividades; com as novas teorias do crescimento econmico que destacam a importncia dos rendimentos marginais no decrescentes para o capital e retornos constantes (no mbito da firma) para explicar a taxa de crescimento da renda per capita das diversas regies. Existe uma vasta gama de modelos nesta linha de pesquisa. Capital humano, acumulao de capital fsico e infra-estrutura, investimentos em novas tecnologias, pesquisa e desenvolvimento, criao de instituies esto entre as variveis que poderiam explicar o crescimento econmico.

    A mudana aparece tambm com a nova economia geogrfica que tem res-saltado a importncia de retornos crescentes e o comrcio entre regies como variveis chaves para o crescimento de regies; com os modelos de teoria de redes de cidades que tentam explicar no somente a distribuio das atividades, mas como e por que essas regies diversificam ou no sua base industrial e como os trabalhadores qualificados esto distribudos no territrio.

    Ademais, a centralidade dos procedimentos inovativos como varivel expli-cativa importante do desenvolvimento econmico tem tambm contribudo para a retomada da anlise regional recente.

  • No caso brasileiro, est na ordem do dia, pensar o futuro do pas, de suas regies e cidades. O dever de pensar o Brasil que se quer proximamente requer o avano do planejamento das aes pblicas, especialmente no momento em que o Produto Interno Bruto (PIB) cresce a 22 trimestres consecutivos, e a taxa de investimento segue aumentando acima do produto interno nos ltimos 14 trimestres.

    O presente livro busca, nesse contexto, preencher uma lacuna nos estudos aplicados a economia regional e urbana. A organizao do livro buscou ir alm da juno de textos fragmentados. Ao contrrio, os textos aqui apresentados buscam produzir uma viso integrada da economia brasileira encadeando trs pontos para discusso da economia regional e urbana: urbanizao, crescimento e bem-estar; dinmica da renda, mercado de trabalho e demanda por servios pblicos; e an-lise dos instrumentos de interveno pblica nas regies.

    Boa leitura.

    Marcio PochmannPresidente do Ipea.

  • INTRODUO

    O sistema urbano do Brasil marcado pela convivncia de dois grupos distintos. Duas naes, dois Estados organizados de maneira distinta. Nas cidades brasilei-ras, extrema pobreza mora lado a lado da concentrao de riqueza. O crescimento populacional brasileiro dos prximos 50 anos ser em sua totalidade. Isto significa que as trs esferas de governo devem procurar alargar a capacidade de gesto das cidades a fim de melhorar a qualidade de vida dos atuais e futuros moradores. Os captulos a seguir elucidam algumas das medidas a serem adotadas pelos gestores pblicos, a saber: aumentar a qualidade e oportunidade de emprego, aprovisionar condies de moradia mais adequadas, elaborar sistemas de informaes para a eficincia de polticas pblicas de preveno e maior eficcia e amplitude na pro-viso de servios pblicos.

    A gesto das cidades exerce um papel primordial neste cenrio de crescimen-to populacional intenso nas cidades. O aprofundamento dos problemas urbanos seria uma das conseqncias de uma potencial m gesto, em que a maioria da populao continuar vivendo em moradias inadequadas, sem direito de pro-priedade, sem proviso de servios pblicos, sem acesso a amenidades bsicas e expostas marginalidade e a reas de risco de sade pblica. A primeira seo do livro tem como objetivo analisar alguns dos principais problemas urbanos brasileiros: crescimento econmico, favelas e criminalidade. Esses aspectos esto relacionados com a desigualdade de acesso vivida por grande parcela da popula-o das cidades.

    A fim de ilustrar o perfil crescimento das cidades brasileiras e sua relao com a desigualdade de renda, o primeiro captulo apresenta alguns fatos estiliza-dos no que concerne ao crescimento pr-pobre das capitais dos Estados brasilei-ros no perodo 1991-2000. O crescimento econmico tido como pr-pobre se o mesmo vem acompanhado por uma reduo na desigualdade de renda. Inti-tulado Crescimento pr-pobre e distribuio de renda das capitais dos Estados brasileiros, o estudo realiza, da mesma forma, uma anlise da evoluo do cresci-mento econmico, da pobreza e da desigualdade de renda no Brasil. Destaca-se a sobre-representao do nmero de pobres na regio Nordeste do pas.

    Resende, Da Mata e Carvalho argumentam que nenhuma capital estadual apresentou um tipo de crescimento pr-pobre. Por outro lado, quatorze capitais apresentaram um crescimento no pr-pobre, em que o crescimento da renda da parcela mais pobre da populao foi menor do que o crescimento da renda mdia, i.e., houve um crescimento da renda per capita mdia da localidade concomitante

  • a um aumento da desigualdade. Ademais, em cinco capitais o crescimento eco-nmico foi empobrecedor (So Paulo, Belm, Macap, Porto Velho e Macei). Crescimento empobrecedor significa um crescimento econmico positivo, mas com uma reduo na renda per capita mdia dos pobres. Em outras palavras, um crescimento econmico tido como empobrecedor quando empobrece as camadas mais pobres da populao, mesmo com um crescimento econmico po-sitivo do municpio.

    O segundo captulo, intitulado Favelas e dinmica das cidades brasileiras, aborda o crescimento das favelas nas cidades brasileiras entre 1980-2000. Por que algumas cidades possuem uma maior proporo da populao vivendo em favelas do que outras? Da Mata, Lall e Wang argumentam que o crescimento econmico e desigualdade de renda so alguns dos fatores apontados como determinantes da favelizao das cidades brasileiras. O estudo averigua um processo de descentra-lizao das favelas, com um maior crescimento das favelas nas regies perifricas das aglomeraes urbanas do Brasil. Ademais, o captulo apresenta os rankings das cidades com maior taxa de crescimento de favelas entre 1980 e 2000 e das aglomeraes urbanas com maior proporo da populao vivendo em moradias inadequadas em 1980 e em 2000. Macei foi a cidade com maior taxa de faveli-zao, enquanto que Londrina foi a que apresentou o maior decrescimento.

    As cidades da regio Centro-Oeste, de maior dinamismo nas ltimas d-cadas, foram as nicas que apresentaram taxa de crescimento da populao em favelas inferior da populao total. Foram, tambm, as cidades que tiveram o menor crescimento de favelas e favelados. A regio Centro-Oeste possui, ainda, o menor nmero, relativo e absoluto, de favelas e favelados. Das sete cidades de sucesso no que concerne reduo do nmero de habitantes em favelas, trs esto na regio Sudeste (Cuiab, Goinia e Campo Grande).

    Da Mata, Lall e Wang apontam que as maiores cidades (em termos po-pulacionais) e as mais ricas (em termos de nvel de renda per capita) so as que possuem mais favelas. A desigualdade de renda detm um papel relevante, j que aglomeraes urbanas mais desiguais possuem mais favelas.

    O terceiro e ltimo captulo da seo expe o problema da criminalidade e dos acidentes de trnsito das cidades do Brasil. Intitulado Estimao da perda de produo devido a mortes por causas externas nas cidades brasileiras, aborda a drstica evoluo da violncia nas cidades brasileiras. Carvalho e Cerqueira discutem duas questes: i) a necessidade do estabelecimento e da difuso de me-todologias para aferio e anlise dos custos econmicos e sociais da violncia; e ii) a estimao do custo de perda de produo oriunda de mortes violentas (por causas externas) nos grandes centros urbanos do Brasil.

    Carvalho e Cerqueira traam o perfil dos indivduos (idade, sexo etc.) que sofrem bitos por causas externas e computam curvas de rendimento para cada

  • perfil identificado. No que concerne mensurao de perdas de produo, a par-tir das curvas supracitadas, o referido trabalho calculou o valor presente total dos rendimentos que os indivduos deixaram de receber em conseqncia dos bitos ocasionados pela violncia. Estimou-se que o custo total da perda de produo do Brasil gira em torno de R$ 8,5 bilhes por ano (em valores de agosto de 2006). Desse montante, homicdios correspondem a aproximadamente R$ 5,5 bilhes e acidentes de transporte equivalem a cerca de R$ 3 bilhes.

    Os valores mdios de perda de produo diferem para os diferentes casos (R$ 130 mil para acidentes de transporte e R$ 135 mil para homicdios). Os valo-res mdios de homicdios so maiores dado que a maioria das vtimas so homens (que possuem, portanto, maiores salrios no mercado de trabalho). Ademais, os bitos esto concentrados em vtimas de menor faixa etria. Os autores ressaltam, no entanto, que as estimativas geradas so apenas uma parcela da real perda total decorrente do falecimento de indivduos, visto a impossibilidade de mensurao em termos monetrios de alguns custos (psicolgicos etc.) e da impreviso de outros (maiores demandas do sistema de sade, entre outros).

    Os captulos da primeira seo do livro possuem um argumento central: o crescimento e urbanizao das cidades brasileiras nas ltimas dcadas agravaram a situao dos moradores das cidades. As polticas pblicas realizadas at ento no tiveram impactos suficientes para dirimir os conflitos sociais adversos. Existem excees, i.e., casos de sucesso como, por exemplo, Diadema (SP) na reduo da criminalidade e Belo Horizonte (MG) na melhoria de condies de vida dos habitantes em favelas. Sem embargo, ainda resta uma grande lacuna para polticas pblicas com o objetivo central de reduo dos problemas urbanos encontrados em todas as regies do Brasil.

    Entre as vrias implicaes do crescimento econmico no pas esto as alte-raes no padro de desigualdade nacional/regional, no fluxo migratrio de pes-soas de reas estagnadas para outras mais dinmicas, com efeitos sobre o mercado de trabalho e a despesa pblica. Para captar as inter-relaes entre todos esses ele-mentos a segunda seo traz cinco artigos que tratam do crescimento econmico comparado entre municpios dos Estados de Alagoas e Minas Gerais, do padro de desigualdade nacional, do fluxo migratrio, do mercado de trabalho rural e da demanda por servios pblicos locais.

    O quarto captulo, de autoria de Silva e Resende, trata das variveis que determinam as taxas de crescimento da renda do trabalho por habitante dos mu-nicpios alagoanos e mineiros, com at 50 mil habitantes, entre 1991 e 2000. Os principais resultados do estudo mostram que os determinantes do crescimento econmico dos municpios de um estado relativamente rico (Minas Gerais) so distintos daqueles de um estado relativamente pobre (Alagoas), seja por diferen-as nos nveis de produtividade e qualidade de vida seja por distintos fatores idiossincrticos de cada regio.

  • O quinto captulo, de Magalhes e Boueri, avalia os padres de convergncia da renda per capita e de indicadores de educao (taxa de alfabetizao e anos de estudo) e longevidade, no perodo 1970-2000. Os principais resultados revelam convergncia nas variveis ligadas educao, explicada por gastos elevados nesse setor, e clubes de convergncia localizados no espao para as demais variveis.

    O sexto captulo, de Oliveira, Ellery Jr. e Sandi, estuda o processo migra-trio no pas avaliando o uso de polticas de desenvolvimento regional no Brasil como forma de reduzir as disparidades regionais de renda e aumentar o bem-estar da sociedade. A existncia de taxas de crescimento econmico diferenciado nas vrias regies do pas ajuda, naturalmente, a promover fluxos migratrios. Nesse caso, o estudo foca, particularmente, nas questes relacionadas migrao de trabalhadores: quo mvel a fora de trabalho, quais fatores econmicos ou caractersticas individuais motivam a migrao e como o fluxo migratrio afeta o bem-estar da sociedade.

    O stimo captulo, de Carvalho, Da Mata, Magalhes e Chomitz, considera a dinmica espacial do mercado de trabalho rural brasileiro e avalia as alteraes no nvel dos salrios e empregos dos municpios, na dcada de 1990. Note-se que o crescimento econmico, ao influenciar o movimento de pessoas entre regies, promove impactos importantes no mercado de trabalho nas vrias localidades re-ceptoras ou exportadoras de mo-de-obra. Os principais resultados desse estudo revelam a forte influncia do nvel educacional da fora de trabalho na taxa de crescimento dos municpios, os efeitos de transbordamento e a queda no em-prego em atividades rurais, que promovem movimentos migratrios para reas urbanas ou outras regies mais dinmicas.

    O oitavo e ltimo captulo dessa seo, de Constantino Mendes e Maria da Conceio Sousa, avalia o papel da demanda por servios pblicos locais como determinante do nvel da despesa pblica dos municpios brasileiros, bem como o papel do congestionamento e da presena de economias de escala na proviso de servios pblicos municipais. De maneira geral, um aumento no nmero de habitantes em determinada localidade diminui o custo marginal do servio p-blico. Em contraponto, os resultados do estudo revelam que o reduzido tamanho dos municpios brasileiros impede que as pequenas localidades explorem as eco-nomias de escala inerentes proviso de servios pblicos, levando-se, assim, reduo do efeito de congestionamento. Outro resultado surpreendente sugere que o efeito congestionamento deve ser maior para as grandes cidades, pois as indivisibilidades que limitam a proviso de certos servios em pequenas cidades concentram suas provises em grandes centros. Assim, suas maiores despesas to-tais refletem no apenas um custo de congestionamento, mas tambm o fato de que h um conjunto maior de servios disponvel quando comparado com as pequenas cidades.

  • No seu conjunto, os vrios artigos citados podem ser considerados comple-mentares e tm em comum a utilizao de mtodos economtricos que levam em conta aspectos espaciais ou, mais especificamente, a adoo de tcnicas de econo-metria espacial, que do um suporte mais robusto para as anlises. A utilizao de mtodos espaciais permite a identificao de autocorrelao espacial revelando a heterogeneidade existente entre os municpios do pas. Outro fator importante a utilizao, por parte de todos os estudos, de bases municipais; informaes essas pouco tratadas na literatura nacional da economia urbana e regional do pas. Por fim, os estudos, ao demonstrarem a grande diversidade ou heterogeneidade existente entre os municpios brasileiros, sugerem implicaes importantes em termos de polticas pblicas urbanas ou regionais que remetem necessidade de aes governamentais diferenciadas para o tratamento das distintas situaes eco-nmicas e sociais existentes nas vrias localidades ou regies do pas.

    Nesta terceira seo do livro est reunido um conjunto de cinco estudos vol-tados para a reflexo sobre polticas e instrumentos de desenvolvimento regional no Brasil ao longo do perodo (e/ou com nfase) que se iniciou nos anos 1990 e at pelo menos o ano de 2003 e que reflete esta fase de adoo de reformas estru-turais na conduo da poltica macroeconmica visando a ampliao da abertura comercial e liberalizao financeira para o exterior como elementos atratores do investimento externo para o desenvolvimento.

    Os trs primeiros captulos dessa seo (captulos 9, 10 e 11), em sua essn-cia, realizam uma importante avaliao dos impactos dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte, Nordeste e Centro-Oeste sobre a estrutura produti-va das respectivas regies. No estudo intitulado Subsdios regionais e perspecti-vas industriais das regies de baixa renda no Brasil os autores Carvalho, Lall e Timmins examinam efeitos dos subsdios regionais na forma de financiamento de crdito operacionalizado pelos fundos, sobre o tecido industrial de regies brasileiras menos desenvolvidas. Os autores questionam o seguinte: ..ser que os fundos constitucionais conseguiram de fato induzir a entrada de novas em-presas nas regies brasileiras mais atrasadas? (p. 9). Para responder, as bases de dados dos fundos constitucionais e de emprego da Rais (Ministrio do Trabalho e Emprego) so confrontadas e investigadas fornecendo um recorte tanto regional quanto setorial dos resultados, os quais confirmam para o perodo de 1993-2001 que a alocao de recursos realizada pelos fundos constitucionais tem sido exitosa em induzir a entrada de novas firmas nas regies mais atrasadas do pas.

    Por sua vez, no trabalho Uma anlise dos Fundos Constitucionais de Fi-nanciamento do Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste, conduzido por Al-meida, Silva e Resende, a nfase est na investigao do perfil espacializado da distribuio dos recursos dos fundos. O foco avaliar se os recursos tendem a ser destinados para os municpios com estrutura produtiva mais frgil e que, de

  • fato, mais precisam de aportes pblicos. Suas concluses revelaram que isto no o que ocorre: os recursos dos fundos constitucionais no so dirigidos majo-ritariamente em direo aos municpios que apresentam os mais baixos ndices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) ou mesmo para os de baixa renda per capita. Outro achado interessante dos autores foi a da inexistncia de uma relao direta entre acesso mais amplo ao crdito que um dado municpio pode apresentar com o nvel de emprego prevalecente. Na verdade, municpios com elevado nvel de recepo de recursos dos fundos no apresentaram, necessa-riamente, uma tambm elevada taxa de crescimento no emprego formal.

    O terceiro estudo concernente avaliao dos fundos constitucionais, cha-mado de Avaliao econmica dos Fundos Constitucionais de Financiamento do Norte e do Nordeste, desenvolvido por Silva, Resende, Almeida, e Silveira. Aqui a investigao centra seu olhar sobre o universo das empresas recebedoras dos recursos dos fundos entre 1995-2000 e pretende caracterizar o desempenho econmico das firmas beneficiadas, utilizando para tal a taxa de variao do n-mero de empregados das firmas e a taxa de variao do salrio mdio pago por estas empresas. As concluses chegadas pelos autores permitiram-lhes afirmar que os recursos de crdito do FNE e FNO contriburam para a expanso do emprego nas empresas do setor formal nas regies Nordeste e Norte. Alm do mais, foi nos grupos de micro e pequenas empresas analisados que os recursos dos fundos tiveram efeito mais expansivo do nvel de emprego. Tal resultado estimulou que os autores sugerissem, a ttulo de recomendao de poltica, que estes grupos de empresas (as micro e pequenas) devessem ser alvo preferencial dos financia-mentos de investimento produtivo proveniente dos fundos constitucionais. No entanto, pode-se reputar que outra grande contribuio realizada por este estudo est na sofisticada econometria utilizada para realizar a avaliao da poltica de crdito. Foram cinco os mtodos usados para cada um dos fundos constitucionais de modo a se obter um panorama seguro acerca dos resultados: i) experimento social; ii) grupo de controle no-aleatrio; iii) diferena das mdias sem controle; iv) matching em caractersticas observveis; e v) estimadores com matching base-ados no propensity score.

    Retomando o debate do papel do Estado na questo regional brasileira, o estudo de Aristides Monteiro Neto, Interveno estatal e desigualdades regionais no Brasil: contribuies ao debate contemporneo, resgatando os principais fei-tos da poltica regionais desde o incio dos anos 1960 de modo a fazer um contra-ponto com a atuao governamental predominante nos anos 1990. A evidncia mais recorrente a de que a interveno pblica, com sentido precpuo de reduzir desequilbrios regionais, perdeu importncia no perodo mais recente. A constru-o de trajetrias de crescimento para as economias regionais deixou de ser um atributo perseguido pelo Estado as taxas de expanso dos PIBs regionais entre

  • 1990 e 2002 foram inferiores quelas vistas na etapa desenvolvimentista do cresci-mento brasileiro. Concorreu para que isto viesse a ocorrer a acentuada queda nos gastos em investimento (das administraes pblicas e empresas estatais nas trs esferas de governo), bem como a contrao na oferta de crdito do governo ao setor privado (aqui dimensionadas pelo volume de recursos do BNDES, crdito rural, crdito habitacional e pelos instrumentos de polticas regionais (fundos constitucionais e fundos fiscais). Esse trabalho traz uma importante contribuio para o debate sobre avaliao da eficcia e efetividade das aes do Estado brasi-leiro ao estilizar uma macroeconomia do gasto pblico nas grandes regies com dados cobrindo o perodo de 1970 a 2000. Nesta, h uma investigao de trs formas relevantes de atuao governamental denominadas de: a) a ao direta do governo nas regies sob a forma de gastos em consumo e gastos em investimento; b) a ao indireta caracterizada pelo crdito governamental ao investimento pri-vado; e c) a ao total do governo que se refere dimenso assumida pelas aes direta e indireta como proporo dos PIBs regionais.

    Por fim, o ltimo estudo mas no menos importante que compe a seo e corresponde ao captulo treze trata de uma discusso de como a literatura tem tratado as inovaes sobre o crescimento da economia, com nfase no papel das externalidades. Esse estudo serve de referncia para balizar algumas sugestes de poltica no campo da economia regional, cujo principal argumento que duas linhas de pesquisa que explicam o adiamento na adoo de novas tecnologias poderiam ser estendidas de modo a incluir a dimenso espacial. Os argumentos tericos desenvolvidos nesse estudo so contrastados com a realidade brasileira.

  • PARTE 1

  • CAPTULO 1

    CRESCIMENTO PR-POBRE E DISTRIBUIO DE RENDA DAS CAPITAIS DOS ESTADOS BRASILEIROS

    Guilherme Mendes Resende* Daniel Da Mata*

    Alexandre Xavier Ywata Carvalho**

    RESUMO

    O presente trabalho visa a fornecer evidncias sobre o perfil de crescimento do sistema urbano

    do Brasil, representado no presente caso pelas capitais dos estados brasileiros. Por perfil de cres-

    cimento, entende-se o quanto o crescimento econmico favoreceu o crescimento de renda da

    parcela menos abastada da populao. Neste contexto, o conceito de crescimento pr-pobre o

    utilizado. O crescimento econmico tido como pr-pobre se houve um aumento da renda dos

    mais pobres acima da elevao da renda mdia. Um crescimento econmico do tipo pr-pobre

    pode ser visto como um instrumento efetivo de distribuio de renda e de reduo da pobreza.

    Os resultados apontam que nenhuma capital estadual apresentou um crescimento do tipo pr-

    pobre. Isto mostra o padro perverso de crescimento do Brasil, em que regies que englobam a

    maioria da populao esto apresentando um crescimento que aumenta desigualdade de renda

    ou, ainda pior, uma situao de crescimento mdio que muitas vezes empobrece as camadas mais

    pobres da populao.

    1 INTRODUO

    Crescimento econmico o objetivo precpuo de diversas polticas pblicas. No entanto, experincias e evidncias empricas apontam que nem sempre o cres-cimento econmico ocorre concomitantemente a uma melhor distribuio de renda. Ao contrrio, o crescimento de algumas naes vem acompanhado de uma piora da distribuio de ativos e, como resultado, do acesso a oportunidades.

    * Tcnicos de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos Regionais e Urbanos (Dirur) do Ipea.

    ** Coordenador de Estudos Espaciais da Diretoria de Estudos Regionais e Urbanos (Dirur) do Ipea.

  • 22 Ensaios de Economia Regional e Urbana

    O aumento do bem-estar agregado e a gerao de renda e emprego devem atin-gir toda a parcela da populao. Este o argumento central por trs da concepo e melhoramento de polticas, porm nem sempre posto em prtica e/ou alcana-do. Em algumas regies o crescimento acompanhado pela distribuio de renda ainda mais decisivo. A ttulo de ilustrao, a regio Nordeste possui, aproxima-damente, um quarto da populao brasileira e 50% dos pobres do Brasil. Neste cenrio, o crescimento econmico com a reduo da desigualdade de renda acar-retaria benefcios amplificados. A instabilidade social presente em muitas regies do Brasil seria atenuada via um crescimento com qualidade.

    Este trabalho visa a fornecer evidncias sobre o perfil de crescimento do sistema urbano do Brasil, representado no presente caso pelas capitais dos estados brasileiros. Por perfil de crescimento entende-se o quanto o crescimento econ-mico favoreceu o crescimento de renda da parcela menos abastada da populao. Neste contexto, o conceito de crescimento pr-pobre o utilizado. O cresci-mento econmico tido como pr-pobre se houver um aumento da renda dos mais pobres acima da elevao da renda mdia (SON, 2004). Um crescimento econmico do tipo pr-pobre pode ser visto como um instrumento efetivo de distribuio de renda e de reduo da pobreza.

    Divide-se o crescimento pr-pobre em quatro categorias: i) pr-pobre, em que o crescimento da renda domiciliar per capita mdia dos pobres superior ao aumento da renda domiciliar per capita mdia; ii) no pr-pobre, em que o aumento da renda da populao menos abastada d-se a uma taxa inferior ao crescimento da renda mdia; iii) empobrecedor, em que um crescimento eco-nmico positivo acompanhado por uma reduo na renda per capita mdia dos pobres; e iv) inconclusivo, i.e., um padro de crescimento econmico que no se enquadra em nenhuma das trs categorias apresentadas anteriormente. A terceira seo do trabalho proporciona mais pormenores sobre as classificaes e definies adotadas.

    O perodo a ser estudado compreende a dcada de 1990. Para tanto, utiliza-ram-se dados dos Censos Populacionais de 1991 e 2000, assim como tabulaes do Atlas de Desenvolvimento Econmico (IPEA; PNUD; FJP, 2002). No que concerne performance de crescimento subnacional, qual o perfil do crescimento das capitais dos estados do Brasil durante a dcada de 1990?

    Os resultados apontam que nenhuma capital estadual apresentou um cres-cimento do tipo pr-pobre. Isso mostra o padro perverso de crescimento do Brasil, em que regies que englobam a maioria da populao esto apresentando um crescimento que aumenta a desigualdade de renda ou, ainda pior, um cresci-mento mdio que empobrece as camadas mais pobres da populao (isto , um crescimento do tipo empobrecedor).

  • 23Crescimento Pr-Pobre e Distribuio de Renda das Capitais dos Estados Brasileiros

    O trabalho est dividido em cinco sees, incluindo esta introduo. A se-gunda parte apresenta alguns fatos estilizados sobre crescimento e distribuio de renda no Brasil, assim como uma reviso da literatura do tema. A terceira seo explicita a metodologia do clculo do crescimento pr-pobre. A quarta seo ver-sa sobre os resultados obtidos. Por fim, apresentam-se as concluses do trabalho na quinta seo.

    2 DINMICA DO CRESCIMENTO ECONMICO E A EvOLUO DA POBREzA NOS MUNICPIOS BRASILEIROS ENTRE 1991 E 2000

    Nesta seo so discutidas questes referentes evoluo da pobreza, desigual-dade de renda e aos diferenciais nas taxas de crescimento econmico das capitais dos estados brasileiros no perodo 1991-2000. A anlise empreendida tendo como rea de anlise as 27 capitais do Brasil, alm de nmeros agregados para as regies brasileiras.

    Como j salientado na introduo, o foco deste artigo busca captar a relao entre crescimento econmico e seus benefcios para os indivduos em diferentes condies econmicas. Cabe aqui salientar que a anlise a ser desenvolvida pri-vilegia a pobreza do ponto de vista da renda. Embora a pobreza seja, reconheci-damente, uma sndrome multidimensional caracterizada por carncias diversas, a abordagem da renda essencial para caracterizar pobreza no contexto de uma sociedade moderna que apresenta o grau de complexidade urbana como a das ca-pitais estaduais. Na verdade, em sociedades deste tipo, a maioria das necessidades no mbito do consumo privado so atendidas pelo mercado, estando o nvel de bem-estar estreitamente associado ao nvel de renda (ROCHA, 1995). Utilizar a abordagem da renda implica recorrer a um parmetro de valor, a linha de pobreza, para distinguir pobres de no-pobres no conjunto da populao: pobres so aque-les cuja renda domiciliar per capita inferior ao valor da linha de pobreza relevante para determinado tempo e local; no-pobres so os demais.1 A escolha das linhas de pobreza utilizadas nesta seo explica-se pelo objetivo de manter a mesma fon-te de dados em relao quela obtida para o crescimento da renda per capita, qual seja, os Censos Demogrficos de 1991 e 2000. Essa fonte, tambm, permitiu uma desagregao espacial em nvel municipal, que o foco deste artigo.

    Em relao opo de se analisar a pobreza urbana, mais especificamente a das capitais dos estados brasileiros, salienta-se a grande concentrao de pessoas nessas reas urbanas e um grande crescimento populacional na ltima dcada. Em 2000, a populao das 27 capitais estaduais2 estava em torno de 40,5 milhes

    1. A definio de uma linha de pobreza foi utilizada apenas para as anlises empreendidas nesta seo. J na seo 3, o resultado de crescimento pr-pobre vlido para toda a classe de medidas de pobreza e todas as linhas de pobreza.

    2. Em 2000, o Brasil tinha 5.507 municpios.

  • 24 Ensaios de Economia Regional e Urbana

    de pessoas, cerca de 24% da populao brasileira. Atualmente, cerca de 80% da populao brasileira vivem em reas urbanas, contra 56% em 1970. De acordo com estimativas das Naes Unidas, apresentadas na figura 1, a totalidade do crescimento populacional que ocorrer nas prximas trs dcadas ser nas cidades, quando a taxa de urbanizao esperada do pas exceder 90%. Esse fenmeno adicionar aproximadamente 63 milhes de pessoas s cidades brasileiras e a po-pulao total do pas ser de 200 milhes (DA MATA et al., 2005).

    FIGURA 1Populao brasileira e projees

    Fonte: United Nations (2003).

    Ademais, a dcada de 1990 apresentou um expressivo crescimento popula-cional na maioria das capitais dos estados brasileiros. Na tabela 1 evidenciada a taxa anual de crescimento populacional das 27 capitais estaduais e do Brasil entre 1991 e 2000. Pode-se apreender que as seis capitais com maior crescimento populacional no perodo em anlise pertencem regio Norte. Das 27 capitais, 21 apresentaram um crescimento populacional superior ao crescimento popula-cional do Brasil, que foi de 1,62% ao ano.

    No que concerne pobreza, do ponto de vista da renda, o incio da dcada de 1990 d continuidade estagnao verificada no final da de 1980 (ROCHA, 2005). No final do ano de 1993, apesar da inflao alta, j havia indcios inequ-vocos de retomada do nvel de atividade. No entanto, foi o Plano Real que esta-beleceu uma fronteira clara quando se trata de analisar a evoluo da pobreza ao longo da dcada. Seus efeitos marcaram profundamente a sociedade e a economia brasileira nos seus mltiplos aspectos de imediato, uma significativa queda na incidncia de pobreza. possvel, portanto, destacar dois fatos bsicos de acordo

  • 25Crescimento Pr-Pobre e Distribuio de Renda das Capitais dos Estados Brasileiros

    com Rocha (2005): o primeiro desempenhado pela estabilizao como fronteira entre dois patamares distintos de incidncia de pobreza no Brasil; o segundo tem relao com a reduo da pobreza rural no pas, seja devido queda sustentada da incidncia de pobreza nessa rea, seja devido aos avanos da urbanizao.3

    TABELA 1Crescimento populacional das capitais estaduais entre 1991 e 2000

    Municpio Regio Taxa anual de crescimento populacional entre 1991 e 2000

    Palmas Norte 14,25%Macap Norte 5,78%Boa Vista Norte 4,10%Manaus Norte 3,66%Porto Velho Norte 3,62%Rio Branco Norte 3,51%So Lus Nordeste 2,96%Braslia Centro-Oeste 2,75%Macei Nordeste 2,64%Campo Grande Centro-Oeste 2,58%Fortaleza Nordeste 2,13%Curitiba Sul 2,09%Joo Pessoa Nordeste 2,04%Cuiab Centro-Oeste 2,03%Teresina Nordeste 1,99%Goinia Centro-Oeste 1,92%Belm Norte 1,84%Salvador Nordeste 1,80%Natal Nordeste 1,77%Aracaju Nordeste 1,53%Vitria Sudeste 1,35%Belo Horizonte Sudeste 1,14%Porto Alegre Sul 0,93%Recife Nordeste 0,92%Rio de Janeiro Sudeste 0,74%Brasil - 1,62%

    Fonte: Censos 1991 e 2000 (IBGE).

    Com o intuito de analisar questes relativas pobreza, crescimento econ-mico e desigualdade de renda entre as regies e capitais estaduais so evidenciadas algumas estatsticas relevantes. Inicialmente, no mapa 1, evidenciam-se as capi-tais dos estados brasileiros e seus respectivos contingentes populacionais em 2000. Ano em que, a populao que vivia nas capitais estaduais estava em torno de 40,5 milhes de pessoas, cerca de 24% da populao brasileira. Como se pode verificar, a cidade de So Paulo a mais populosa, com cerca de 10 milhes e 434 mil habi-tantes. J a capital de Tocantins, Palmas, tem a menor populao entre as capitais, cerca de 137 mil habitantes.

    3. Para uma anlise mais detalhada da pobreza no Brasil na dcada de 1990, ver Rocha (2005, cap. 5).

  • 26 Ensaios de Economia Regional e Urbana

    Em 2000, o Brasil tinha cerca de 32,9% de sua populao em estado de pobreza. A regio Sudeste apresenta o menor percentual de pobres (19,7%) e a regio Nordeste o maior (56,7%). Em nmeros absolutos, a regio Sudeste teve o segundo maior nmero de pobres do pas, cerca de 14 milhes e 265 mil pobres. J a regio Nordeste teve em torno de 27 milhes e 70 mil pobres.

    MAPA 1Populao das capitais estaduais em 2000

  • 27Crescimento Pr-Pobre e Distribuio de Renda das Capitais dos Estados Brasileiros

    Capital Populao em 2000

    Nor

    teBelm (PA) 1.280.614

    Boa Vista (RR) 200.568

    Macap (AP) 283.308

    Manaus (AM) 1.405.835

    Palmas (TO) 137.355

    Porto Velho (RO) 334.661

    Rio Branco (AC) 253.059

    Nor

    dest

    e

    Aracaju (SE) 461.534

    Fortaleza (CE) 2.141.402

    Joo Pessoa (PB) 597.934

    Macei (AL) 797.759

    Natal (RN) 712.317

    Recife (PE) 1.422.905

    Salvador (BA) 2.443.107

    So Lus (MA) 870.028

    Teresina (PI) 715.360

    Sude

    ste

    Belo Horizonte (MG) 2.238.526

    Rio de Janeiro (RJ) 5.857.904

    So Paulo (SP) 10.434.252

    Vitria (ES) 292.304

    Sul

    Curitiba (PR) 1.587.315

    Florianpolis (SC) 342.315

    Porto Alegre (RS) 1.360.590

    Cent

    ro-O

    este Braslia (DF) 2.051.146

    Campo Grande (MS) 663.621

    Cuiab (MT) 483.346

    Goinia (GO) 1.093.007

    Elaborao dos autores a partir de dados do Censo Demogrfico de 2000.

    Em relao s capitais estaduais possvel verificar situaes bastante diver-sas. Em 2000, a pobreza atingia cerca de 40% da populao de So Lus e apenas 7,5% das pessoas em Florianpolis. Se for analisada a relao entre crescimento da renda per capita e reduo da pobreza, tambm identificam-se situaes bem distintas. Existem capitais (Manaus e Boa Vista, por exemplo) em que, no perodo 1991-2000, houve decrescimento ou baixo crescimento da renda per capita. Nesses casos, os percentuais de pobreza permaneceram praticamente estveis ou tive-ram uma elevao. Outra situao verificada foi aquela que, mesmo com uma taxa de crescimento positiva da renda per capita, verificou-se uma elevao da pobreza (Macei e So Paulo). Outro caso digno de nota a intensidade da po-breza nordestina, visto que, para uma mesma taxa de crescimento econmico, o Nordeste apresentou uma menor reduo no percentual de pobres.4 Silveira Neto (2005) salienta que essa rigidez da regio nordestina com respeito reduo da 4. Para uma taxa anual de crescimento da renda per capita de 3,4% para o Nordeste e de 3,8% para o Sul, essas regies apresentaram uma taxa anual de reduo do percentual de pobres de cerca de -1,9% (reduo de 67,1% para 56,7%) e -4,5% (reduo de 30,8% para 20,5%), respectivamente.

  • 28 Ensaios de Economia Regional e Urbana

    pobreza pode ser explicada, ao menos em parte, pelos nveis bastante intensos da pobreza (pobres distantes da renda correspondente quela da linha de pobreza) verificados, o que exigiria taxas bastante elevadas de crescimento para diminuio dos nveis de pobreza.

    Na tabela 2, so apresentados alguns indicadores de pobreza, desigualdade de renda e crescimento econmico para as capitais e regies do Brasil. Ainda que possa sobrestimar os nveis de pobreza de alguma regio brasileira, onde a pobreza predominantemente rural (por exemplo, o Nordeste brasileiro) em virtude da utilizao de linhas de pobreza e indigncia comuns, os valores permitem verificar os maiores percentuais de indigentes5 e pobres6 presentes nas regies Norte e Nor-deste se comparado com as outras regies da federao.7 Os maiores percentuais de indigentes e pobres, tambm, so verificados nas capitais dessas duas regies.

    Outro fato para se analisar a evoluo da desigualdade de renda no perodo 1991-2000. Barros, Henriques e Mendona (2000) afirmam que a desigualda-de, em particular a desigualdade de renda, to parte da histria brasileira que adquire frum de coisa natural. Alm disso, argumentam que o extremo grau de desigualdade distributiva representa o principal determinante da pobreza no Brasil e que, apesar das diversas transformaes e flutuaes macroeconmicas ocorridas no perodo, a desigualdade exibiu uma estabilidade surpreendente. No grfico 1 apresenta-se um indicador de desigualdade de renda para as capitais estaduais e para o Brasil como um todo, o ndice de Gini.8 Em relao ao Brasil, a desigualdade de renda aumentou entre 1991 e 2000, visto que o ndice de Gini aumentou de 0,634 para 0,645.

    Se for analisada a evoluo da desigualdade de renda nas capitais estaduais, observa-se que em todas as 27 capitais houve elevaes na desigualdade de ren-da. Entretanto, esses incrementos na desigualdade de renda vieram acompanha-dos de diferentes performances das taxas de crescimento da renda per capita. Por exemplo, em Belo Horizonte e em So Lus, onde se verificam taxas anuais de crescimento da renda per capita de cerca de 3,3% entre 1991-2000, acompanha-ram-se elevaes bem distintas do ndice de Gini, de 0,61 para 0,62 para Belo Horizonte e de 0,61 para 0,65 para So Lus. J Manaus, onde a taxa de cresci-mento da renda per capita foi negativa, apresentou a maior elevao do ndice de

    5. Linha de indigncia: percentual de pessoas com renda domiciliar per capita abaixo de R$ 37,75 (equivalente a do salrio mnimo de agosto de 2000).

    6. Linha de pobreza: percentual de pessoas com renda domiciliar per capita abaixo de R$ 75,50 (equivalente a salrio mnimo de agosto de 2000).

    7. Rocha (2005), utilizando linhas de pobreza derivadas da Pesquisa de Oramentos Familiares (POF) para as cinco regies brasileiras em 2001 (dados Pnad/IBGE), chega aos seguintes resultados: Brasil (35% de pobres), Norte (40,5%), Nordeste (50,8%), Sudeste (29,5%), Sul (17,9%) e Centro-Oeste (37,8%).

    8. Mede o grau de desigualdade existente na distribuio de indivduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando no h desigualdade (a renda de todos os indivduos tm o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade mxima (apenas um indivduo detm toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivduos nula).

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    1.36

    0.59

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    2,0

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    03,

    84%

    12,1

    7,9

    30,8

    20,5

    22.1

    29.3

    7725

    .107

    .616

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    260

    5,4

    2,8%

    5,1

    6,1

    16,7

    16,1

    1.60

    1.09

    42.

    051.

    146

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    72,

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    6.12

    666

    3.62

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    044

    2,1

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    7,1

    6,61

    23,3

    18,8

    402.

    813

    483.

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    359,

    250

    8,3

    3,9%

    4,1

    4,06

    16,0

    12,3

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    823

    1.09

    3.00

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    29Crescimento Pr-Pobre e Distribuio de Renda das Capitais dos Estados Brasileiros

  • 30 Ensaios de Economia Regional e Urbana

    Gini, que passou de 0,57, em 1991, para 0,64, em 2000. Enquanto que em Boa Vista, onde o crescimento da renda per capita ficou prximo de zero, houve o menor aumento da desigualdade de renda, que passou de 0,57 para 0,58. Assim, a anlise descritiva das capitais dos estados brasileiros aponta que a relao entre crescimento econmico e desigualdade de renda no clara.9

    GRFICO 1ndice de Gini (indicador de desigualdade de renda) das capitais (1991 e 2000)

    Elaborao dos autores a partir de dados estaduais do Atlas de Desenvolvimento Humano.

    Como pode ser percebido nas tabelas 2 e 3, embora o crescimento da renda per capita da regio Nordeste (taxa anual de crescimento da renda per capita de 3,36% no perodo 1991-2000) ter sido mais vigoroso que aquele apresentado pelo Brasil como um todo (2,83%), no foi suficiente para eliminar sua sobre-representao no total de pobres do Brasil, obtida do clculo entre a participao da populao da regio na populao do Brasil e a participao dos pobres da regio no total de pobres do Brasil. Duas regies, Nordeste e Norte, apresentaram sobre-representa-es no total de pobres do Brasil. Por exemplo, em 2000, a regio Nordeste tinha 28,1% da populao brasileira e cerca de 48,5% dos pobres do Brasil. Entre 1991 e 2000, tal sobre-representao se manteve praticamente estvel.

    No grfico 2 pode-se observar a participao das capitais estaduais no n-mero de pobres e na populao total das capitais. Vale ressaltar que, em 2000, a populao das capitais somava cerca de 40,5 milhes de habitantes e 8 milhes desses eram pobres. Enfatizam-se, novamente, as sobre-representaes no total de

    9. Uma evidncia emprica comum na literatura recente que alteraes na desigualdade dos pases tm praticamente correlao zero com as taxas de crescimento econmico. Ver, por exemplo, Ravallion e Chen (1997), Ravallion (2001) e Dollar e Kraay (2002).

  • 31Crescimento Pr-Pobre e Distribuio de Renda das Capitais dos Estados Brasileiros

    pobres das capitais do Norte e do Nordeste. Por sua vez, as capitais do Sudeste, Sul e Centro-Oeste esto sub-representados no total de pobres das capitais.

    TABELA 3 Participao das regies do Brasil no nmero de pobres e na populao do pas (%)

    Regio1991 2000

    Participao no nmero de pobres

    Participao na populao

    Participao no nmero de pobres

    Participao na populao

    Norte 9,0% 6,8% 11,4% 7,6%

    Nordeste 48,4% 28,9% 48,5% 28,1%

    Sudeste 25,8% 42,7% 25,6% 42,6%

    Sul 11,6% 15,1% 9,2% 14,8%

    Centro-Oeste 5,2% 6,4% 5,3% 6,9%

    Total 100,0% 100,0% 100% 100%

    Elaborao dos autores a partir de dados dos Censos Demogrficos de 1991 e 2000.

    GRFICO 2 Participao das capitais do Brasil na populao e no nmero de pobres das capitais (%)

    Elaborao dos autores a partir de dados do Censo Demogrfico de 2000.

    A partir dessas evidncias podem-se fazer ao menos duas consideraes sobre a relao crescimento econmico e pobreza no Brasil. Seguindo o argumento de Silveira Neto (2005), a rigidez em relao reduo da pobreza pode ser explicada, em parte, pelos nveis bastante intensos da pobreza (pobres distantes da renda cor-respondente quela da linha de pobreza) verificados em algumas regies (por exem-plo, determinadas capitais nordestinas), o que exigiria taxas bastante elevadas de crescimento para diminuio dos nveis de pobreza. Entretanto, importante con-siderar outra possibilidade: o relativo menor impacto do crescimento econmico

  • 32 Ensaios de Economia Regional e Urbana

    na renda dos mais pobres. Assim, a estratgia de reduo da pobreza solicita o crescimento da renda per capita ou a distribuio mais igualitria da renda. Uma combinao de polticas que estimulem o crescimento econmico e diminuam a desigualdade, em princpio, aparenta conceder maior eficcia e velocidade ao pro-cesso de combate pobreza (BARROS; HENRIQUES; MENDONA, 2000). As sees seguintes do trabalho investigam em que medida os pobres se beneficiam em relao ao crescimento da renda per capita, em outras palavras, se o crescimen-to econmico tem sido ou no pr-pobre.

    3 METODOLOGIA

    Aps a descrio, na seo anterior, das condies de pobreza, desigualdade de renda e crescimento econmico no perodo 1991-2000, empreende-se nesta se-o a descrio da metodologia para caracterizar o crescimento pr-pobre. En-tretanto, quando o crescimento considerado pr-pobre? Para o crescimento econmico ser considerado pr-pobre necessrio que a poro da renda da po-pulao menos abastada aumente em um determinado padro de crescimento. Mais especificamente, para o crescimento ser considerado pr-pobre, a taxa de crescimento da renda dos pobres tem de ser maior que a taxa de crescimento da renda da populao como um todo (WHITE; ANDERSON, 2000; KAKWANI; PERNIA, 2000).10 Nessa definio, o crescimento pr-pobre est diretamente associado a uma diminuio na desigualdade de renda.11 Ressalta-se a impor-tncia dessa definio, visto que a ltima leva em conta, diretamente, a questo da desigualdade de renda em busca da reduo da pobreza. Em um pas onde a desigualdade de renda uma das maiores do mundo,12 necessariamente, qualquer processo de crescimento econmico deve ser pensado de uma maneira que venha acompanhado de uma reduo na desigualdade de renda.13

    A metodologia usada neste artigo analisa o crescimento econmico do ponto de vista qualitativo (qualidade do crescimento da renda per capita), em outras pala-vras, verifica-se quanto os pobres se beneficiam em relao ao crescimento da ren-da per capita. Com essa anlise ser possvel observar em que medida o crescimen-to econmico dos estados e municpios brasileiros tem se revelado um mecanismo 10. Existem duas definies diferentes de crescimento pr-pobre na literatura recente e nas discusses de polticas pblicas (RAVALLION, 2004). Uma segunda definio considera crescimento pr-pobre aquele crescimento que reduz a pobreza (RAVALLION; CHEN, 2003). Essa definio no considera a questo da distribuio de renda diretamente. Neste artigo no abordada a ltima definio.

    11. Para uma discusso mais detalhada ver Ravallion (2004) e Lopez (2004).

    12. Por exemplo, em 2003, o Brasil foi o oitavo (pior) pas em desigualdade de renda (ndice de Gini foi de 0,6), atrs apenas da latino-americana Guatemala e dos africanos Suazilndia, Repblica Centro-Africana, Serra Leoa, Botsuana, Lesoto e Nambia, segundo o coeficiente de Gini, parmetro internacionalmente usado para medir a concentrao de renda.

    13. De fato, as evidncias mostram que, para pases com uma alta desigualdade de renda, o crescimento econmico um instru-mento fraco contra a pobreza, a menos que esse crescimento venha acompanhado de uma diminuio da desigualdade de renda (RAVALLION, 2004).

  • 33Crescimento Pr-Pobre e Distribuio de Renda das Capitais dos Estados Brasileiros

    relativamente eficaz de combate pobreza dessas regies. Uma maneira de se es-tudar essa questo avaliar o crescimento da renda domiciliar per capita dos mais pobres em relao ao crescimento da renda mdia de toda populao. Caso o cres-cimento da renda per capita dos pobres for maior que o da renda per capita mdia, tem-se um crescimento econmico pr-pobre, ou seja, um tipo de crescimento que est relacionado diminuio da desigualdade (KAKWANI; PERNIA, 2000; SON, 2004). Assim, para o perodo 1991-2000, uma das questes deste trabalho : o crescimento econmico das capitais dos estados brasileiros tem sido pr-po-bre? Para responder a essa pergunta traou-se a curva de crescimento-pobreza de Son (SON, 2004) para cada uma das 27 capitais estaduais. Essa curva mostra como o crescimento da renda per capita dos mais pobres tem se comportado em relao ao crescimento da renda mdia per capita.

    Como bem salienta Son (2004), a performance de crescimento econmico difere entre regies. Algumas regies tm experimentado uma taxa de crescimen-to maior que outras. Do mesmo modo, as evidncias mostram que, entre regies, pode existir uma grande variao na reduo da pobreza dada uma mesma taxa de crescimento econmico. Isso sugere que o crescimento em algumas regies mais pr-pobre do que em outras. Adota-se, assim, a metodologia proposta por Son (2004), que vincula os diferentes possveis impactos do crescimento econmico sobre os pobres a diferentes comportamentos da Curva de Lorenz, necessria, por exemplo, para a determinao do ndice de desigualdade de Gini.

    Suponha que L(p) a Curva de Lorenz, que descreve a participao na renda dos indivduos situados entre os p%, definida como:

    (1)

    em que

    , (2)

    y a renda domiciliar per capita, f(y) sua funo densidade e a renda mdia dessa distribuio.14

    Segundo Kakwani e Pernia (2000), o crescimento econmico pode ser chamado de pr-pobre se os pobres se beneficiam do crescimento proporcional-mente mais do que os no-pobres. Nesse cenrio, a desigualdade de renda simulta- neamente declinante durante o processo de crescimento. Uma mudana na Curva de Lorenz indica se a desigualdade crescente ou decrescente com o crescimento econmico. Assim, o crescimento claramente pr-pobre se toda a Curva de Lorenz se desloca para cima, para todo p.

    14. A Curva de Lorenz satisfaz as seguintes propriedades (KAKWANI, 1980): i) L(p) = 0 quando p = 0; ii) L(p) =100 quando p =100; iii) dL(p)/dp = y/ > 0 e d2L(p)/dp2=1/ f(y) > 0; e iv) L(p) < p para todo o intervalo 0 < p < 100. Quando L(p) =p, tem-se uma perfeita distribuio de renda.

  • 34 Ensaios de Economia Regional e Urbana

    Assim, a partir do teorema de Atkinson (1987), que permite associar des-locamentos para cima da Curva de Lorenz (elevaes de L(p) para todo p), a diminuio de pobreza (SON, 2004) prope a elaborao de uma curva de crescimento-pobreza que permite determinar a qualidade do crescimento (pr-pobre, no pr-pobre ou empobrecedor) a partir da avaliao do crescimento da renda de cada p por cento mais pobres da populao, em que p = 0, ......, 100.

    Segundo Son (2004), quando toda a Curva de Lorenz se desloca para cima (baixo) pode-se afirmar, sem ambigidade, que a pobreza diminuiu (aumentou). Esse resultado vlido para toda a classe de medidas de pobreza e todas as linhas de pobreza. Essa concluso servir de base para a curva de crescimento-pobreza.

    Da definio da Curva de Lorenz, pode-se escrever:

    (3)

    que expressa a participao na renda dos p% mais pobres, em que p a mdia da renda dos indivduos p% mais pobres da populao. Operando-se com os logaritmos de ambos os lados, a equao (3) torna-se:

    (4)

    A partir da diferena entre dois pontos no tempo da equao (4), tem-se:

    (5)

    em que a taxa de crescimento da renda mdia dos p% mais pobres da populao quando os indivduos so ordenados em ordem crescente de renda per capita. g(p) varia com p indo de 0 a 100 e pode ser chamado de curva de crescimento-pobreza. importante notar que g(p) no mede o crescimento da renda mdia do decil p, mas o crescimento da renda mdia at o decil p.15 A par-tir do teorema de Atkinson e da equao (5), pode-se afirmar que se g(p) > 0 (g(p) < 0) para todo p, ento a pobreza diminuiu (aumentou), sem ambigidade, entre dois perodos.

    A equao (5) pode tambm ser escrita como sendo:

    (6)

    e

    em que g a taxa de crescimento da renda mdia per capita de toda a sociedade. Observe que quando p = 100, g(p)= g, visto que L(p ) = 0 em p = 100.

    15. Por exemplo, a renda mdia at o segundo decil a mdia das rendas do primeiro e segundo decis. Seguindo o raciocnio, a renda mdia at o dcimo decil a renda mdia da populao.

  • 35Crescimento Pr-Pobre e Distribuio de Renda das Capitais dos Estados Brasileiros

    A partir da equao (6), segue que:

    1) Se g(p) > g para todo p < 100, ento o crescimento pr-pobre visto que toda a Curva de Lorenz desloca-se para cima (L(p) > 0 para todo p).

    2) Se 0 < g(p) < g para todo p < 100, ento o crescimento reduz a pobreza, mas acompanhado por um aumento da desigualdade (L(p) < 0 para todo p). Em outras palavras, o crescimento reduz a pobreza mas os pobres recebem proporcionalmente menos benefcios do que os no-pobres, situao esta em que o crescimento seria no pr-pobre.

    3) Se g(p) < 0 para todo p < 100 e g > 0, ento tem-se um crescimento empo-brecedor, em que um crescimento econmico positivo aumenta a pobreza.

    4) Os demais casos so considerados inconclusivos.

    Para os resultados discutidos na prxima seo importante destacar que os casos inconclusivos incluem trs situaes distintas (SILVEIRA NETO, 2005) e sero classificados da seguinte maneira:

    a) A primeira situao engloba ocasies em que o crescimento da renda dos p% mais pobres, com p = 1,....., 40, maior que aquele verificado para renda mdia de toda a populao (em que p = 100), mas para ao menos algum p intervalo 40 < p < 100 o crescimento da renda mdia menor que aquele observado para renda mdia de toda a populao. Os municpios com esse padro de crescimento econmico tambm sero considerados como apre-sentando um crescimento pr-pobre e viro assinalados com *.

    b) A segunda situao engloba situaes em que o crescimento da renda dos p% mais pobres, com p = 1,....., 40, menor que aquele verificado para renda mdia para p = 100, mas para ao menos algum p intervalo 40 < p < 100 o crescimento da renda mdia maior que aquele observado para renda mdia de toda a populao. Os municpios com esse padro de crescimento econmico tambm sero considerados como apresentando um crescimen-to no pr-pobre e viro assinalados com *.

    c) Uma terceira possibilidade verificada neste artigo mostra um crescimento negativo da renda dos p% mais pobres, com p = 1,....., 40, mas um cres-cimento positivo da renda mdia da populao. Caso este que se chamar crescimento empobrecedor, assinalado com*, visto que um crescimento positivo da renda per capita mdia aumenta a pobreza de pelo menos uma parcela da populao (at os 40% mais pobres).

    A curva de crescimento-pobreza pode ser estimada a partir dos dados de renda mdia por decil (ou quintil) de renda para quaisquer dois perodos. Assim, basta calcular a taxa de variao da renda de cada decil entre dois perodos base e

  • 36 Ensaios de Economia Regional e Urbana

    plotar contra os decis de renda, como feito para a Curva de Lorenz. Nesse caso, a taxa de variao do ltimo decil equivale taxa de crescimento da renda mdia no perodo. Se a linha tem inclinao negativa, isso significa que os decis de renda menores cresceram acima da renda mdia e, conseqentemente, os pobres cres-ceram as suas rendas a taxas maiores do que os ricos ou do que os decis de renda mais elevados. Isso significa que se pode concluir, nesses casos, que a pobreza tem diminudo no perodo analisado.

    4 EvIDNCIAS DO CRESCIMENTO PR-POBRE PARA OS MUNICPIOS BRASILEIROS

    Na tabela 4 so apresentados os resultados para as 26 capitais dos estados do Brasil e para o Distrito Federal (denotado por Braslia). Em seguida, os resulta-dos so traados em diversos grficos (grfico 3 at grfico 7) a fim de ilustrar e analisar com mais pormenores a classe de crescimento das unidades. O objetivo precpuo desta seo fornecer evidncias em relao qualidade do crescimento econmico do sistema urbano do Brasil, representado no presente trabalho pelas capitais do Brasil.

    TABELA 4Taxa de crescimento anual da renda per capita dos p% mais pobres e classificao das capitais estaduais de acordo com a qualidade do crescimento econmico (1991-2000)

    Capitais estaduais

    Taxa de crescimento da renda per capita dos p% mais pobres (ao ano) Qualidade de crescimento

    20% 40% 60% 80% 100%

    Nor

    te

    Belm -1,69% -0,42% -0,03% 0,26% 1,63% Empobrecedor*Boa Vista 0,76% 0,17% 0,00% 0,10% 0,30% InconclusivoMacap -4,73% -2,64% -1,61% -0,72% 0,92% EmpobrecedorManaus -7,45% -4,49% -3,51% -2,68% -0,60% InconclusivoPalmas 1,15% 3,39% 4,24% 4,65% 4,77% No pr-pobre Porto Velho -2,09% -0,43% 0,37% 1,24% 2,36% Empobrecedor*Rio Branco -0,16% 0,88% 1,26% 1,40% 2,07% Inconclusivo

    Nor

    dest

    e

    Aracaju 0,08% 1,47% 2,07% 2,61% 3,26% No pr-pobreFortaleza 0,65% 2,03% 2,38% 2,62% 2,92% No pr-pobreJoo Pessoa 2,14% 2,78% 3,07% 3,34% 3,35% No pr-pobreMacei -3,15% -0,85% -0,12% 0,42% 2,22% Empobrecedor*Natal -0,09% 1,15% 1,64% 1,95% 3,14% InconclusivoRecife 1,35% 2,32% 2,39% 2,50% 2,87% No pr-pobreSalvador -0,04% 1,31% 1,55% 1,61% 1,84% InconclusivoSo Lus 0,32% 1,04% 1,27% 1,68% 3,18% No pr-pobreTeresina 2,08% 2,94% 3,19% 3,18% 3,85% No pr-pobre

    Sude

    ste Belo Horizonte 1,94% 2,53% 2,72% 2,89% 3,28% No pr-pobre

    Rio de Janeiro 1,24% 2,14% 2,48% 2,75% 3,01% No pr-pobreSo Paulo -2,91% -1,52% -0,83% -0,10% 1,43% EmpobrecedorVitria 1,52% 2,43% 3,12% 3,76% 4,36% No pr-pobre

    Sul Curitiba 0,48% 1,30% 1,86% 2,40% 3,53% No pr-pobre

    Florianpolis 2,88% 3,29% 3,46% 3,79% 4,24% No pr-pobrePorto Alegre -0,01% 1,00% 1,59% 2,26% 3,35% Inconclusivo

    Cent

    ro-

    Oes

    te

    Braslia -0,26% 0,72% 1,46% 2,01% 2,76% InconclusivoCampo Grande -0,60% 0,52% 1,02% 1,44% 2,22% InconclusivoCuiab 1,20% 1,92% 2,23% 2,49% 3,91% No pr-pobreGoinia 1,55% 2,22% 2,52% 2,84% 3,86% No pr-pobreElaborao dos autores a partir de dados dos Censos Demogrficos de 1991 e 2000.Obs.: * Ver conceito na seo 3.

  • 37Crescimento Pr-Pobre e Distribuio de Renda das Capitais dos Estados Brasileiros

    No que concerne tabela 4, possvel observar que nenhuma capital esta-dual apresentou crescimento pr-pobre pela definio de Son (2004). Em outras palavras, nenhuma capital apresentou taxa de crescimento da renda per capita mdia de todos os p% mais pobre, com p < 100 (ou p < 40, segundo um conceito menos estrito), maior que aquela verificada para a renda per capita mdia de toda a populao (p = 100). A mesma tabela mostra a distribuio espacial, por ma-crorregio, de acordo com a qualidade do crescimento econmico. A regio Nor-te a regio que apresenta o maior nmero (tanto em termos relativos quanto em termos absolutos) de capitais estaduais com crescimento do tipo empobrecedor. Por outro lado, a regio Sudeste apresentou o maior nmero (em termos relativos) de capitais estaduais classificadas como crescimento no pr-pobre.

    O grfico 3 apresenta as curvas de crescimento-pobreza para as sete capitais dos estados da regio Norte. Averigua-se que trs capitais (Belm, Macap e Porto Velho) apresentaram um crescimento do tipo empobrecedor, i.e., houve um cres-cimento negativo da renda per capita das camadas menos abastadas da populao, ao mesmo tempo em que houve um crescimento positivo da renda per capita mdia das localidades. Palmas (TO) apresentou um crescimento classificado com no pr-pobre: a taxa de crescimento de todos os quintis foi positiva e a taxa de crescimento da renda dos p% mais pobres, p < 100, foi sempre menor que aquela de toda a populao. A tabela 4 explicita os valores observados no grfico 3. Por exemplo, em relao Palmas, a taxa de crescimento anual da renda per capita dos 20%, 40%, 60% e 80% mais pobres foi de 1,15%, 3,39%, 4,24% e 4,65%, respectivamente, sempre abaixo da taxa de crescimento da renda per capita de toda populao, que foi de 4,77%. Conclui-se, portanto, que os mais pobres se beneficiaram relativamente menos em relao ao crescimento econmico. J as outras trs capitais da regio Norte (Boa Vista, Manaus e Rio Branco) apresenta-ram resultados inconclusivos.

    O grfico 4 mostra o perfil de crescimento das capitais dos estados que compem a regio Nordeste. A maioria das capitais (seis das nove) apresentou um tipo de crescimento no pr-pobre. Em outras palavras, na regio que inclui 50% dos pobres do pas, grande parte das capitais apresentou um tipo de crescimento em que o aumento renda per capita mdia ocorreu em maior magnitude vis--vis o crescimento da renda per capita dos mais pobres. Tal tipo de crescimento caracterizado por uma elevao da desigualdade de renda. As capitais que obtive-ram um crescimento no pr-pobre foram Aracaju, Fortaleza, Joo Pessoa, Recife, So Lus e Teresina. Macei foi a nica capital estadual da regio a apresentar crescimento do tipo empobrecedor. As outras trs capitais da regio apresentaram crescimento considerado como inconclusivo.

  • 38 Ensaios de Economia Regional e Urbana

    GRFICO 3Taxa de crescimento anual da renda per capita por quintis de pobres (1991-2000) capitais dos estados da regio Norte

    Elaborao dos autores a partir de dados dos Censos Demogrficos de 1991 e 2000.

    GRFICO 4Taxa de crescimento anual da renda per capita por quintis de pobres (1991-2000) capitais dos estados da regio Nordeste

    Elaborao dos autores a partir de dados dos Censos Demogrficos de 1991 e 2000.

    Das quatro capitais da regio Sudeste, trs apresentaram um crescimento econmico do tipo no pr-pobre (Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Vitria), em que o crescimento econmico acontece concomitantemente a um aumento da desigualdade de renda. O grfico 5 ilustra a assertiva anterior. So Paulo apresen-ta, de acordo com os critrios e classificaes adotadas no artigo, um crescimento

  • 39Crescimento Pr-Pobre e Distribuio de Renda das Capitais dos Estados Brasileiros

    considerado empobrecedor. Na referida capital, o crescimento da renda per capita domiciliar at o percentil 80 foi negativo. Ademais, vale frisar que o crescimento da renda per capita mdia da capital foi positivo, em uma magnitude de cerca de 1,5%. Os dados apontados pela tabela 4 mostram que, em So Paulo, a dis-tribuio do crescimento por camada da populao deu-se da seguinte forma: a taxa de crescimento anual da renda per capita dos 20%, 40%, 60% e 80% mais pobres foi de -2,91%, -1,52%, -0,83 e -0,10%, respectivamente, sempre abaixo do crescimento positivo da renda per capita de toda populao, que foi de cerca 1,5%. Em So Paulo, houve, da mesma forma, um crescimento econmico com uma piora na distribuio de renda. A diferena vis--vis s outras capitais da regio Sudeste reside no fato de o crescimento dos p% mais pobres (at 80%) ter sido de valor negativo.

    GRFICO 5Taxa de crescimento anual da renda per capita por quintis de pobres (1991-2000) capitais dos estados da regio Sudeste

    Elaborao dos autores a partir de dados dos Censos Demogrficos de 1991 e 2000.

    No grfico 6, a regio Sul apresenta duas capitais com crescimento no pr-pobre (Curitiba e Florianpolis). Em tais localidades, o crescimento da renda per capita das p% parcelas mais pobres da populao foi sempre menor do que o crescimento da renda domiciliar per capita mdia. Em outras palavras, nessas duas capitais estaduais o crescimento econmico foi acompanhado por um aumento da desigualdade de renda. O crescimento da renda per capita mdia de Curitiba e Florianpolis foi 3,5% e 4,3%, respectivamente. Porto Alegre apresentou um crescimento do tipo inconclusivo. Isso aconteceu graas ao crescimento negativo dos 20% mais pobres da ltima capital (-0,01%). Caso esse crescimento fosse po-sitivo e menor que o crescimento mdio da renda per capita (cujo valor foi 3,35%), o crescimento econmico de Porto Alegre seria considerado no pr-pobre.

  • 40 Ensaios de Economia Regional e Urbana

    GRFICO 6Taxa de crescimento anual da renda per capita por quintis de pobres (1991-2000) capitais dos estados da regio Sul

    Elaborao dos autores a partir de dados dos Censos Demogrficos de 1991 e 2000.

    Por fim, apresentam-se os perfis de crescimento da renda per capita das capi-tais dos estados da regio Centro-Oeste, no grfico 7. Cuiab e Goinia tiveram um crescimento do tipo no pr-pobre. Como frisado anteriormente, o cresci-mento da categoria no pr-pobre caracterizado por um crescimento econ-mico em todas as faixas de renda, ao mesmo tempo em que h um aumento na desigualdade de renda. Braslia e Campo Grande apresentaram um crescimento classificado como inconclusivo. Novamente, caso o crescimento dos 20% mais pobres de Braslia e de Campo Grande fosse positivo e menor que o crescimento mdio da renda per capita (cujos valores foram 2,8% e 2,2%, respectivamente), o crescimento econmico das duas capitais seria considerado no pr-pobre.

    Como j observado em sees anteriores, a evoluo da pobreza apresenta variaes em diferentes regies. Da mesma forma, a qualidade do crescimento econmico pode variar dentro de uma determinada regio. No intuito de eviden-ciar essas diferenas para o universo de anlise do trabalho, as capitais estaduais do Brasil, a tabela 5 apresenta tabulaes dos resultados quanto qualidade do crescimento da renda per capita para as capitais dos estados. Precisamente, a tabe-la 5 uma releitura da tabela 4, apresentada no incio da seo, adicionada com novas informaes.

    Primeiramente, de acordo com a tabela 5, pode-se perceber que catorze mu-nicpios apresentaram crescimento no pr-pobre, ou cerca de 52% das capitais estaduais do Brasil. Em cinco capitais o crescimento foi empobrecedor (7,4% do total) e em oito o crescimento foi inconclusivo (aproximadamente 30% do total).

  • 41Crescimento Pr-Pobre e Distribuio de Renda das Capitais dos Estados Brasileiros

    No que concerne proporo de pobres, os resultados apontam que grande parte dos pobres e da populao das capitais do Brasil est localizada em regies com crescimento econmico do tipo no pr-pobre. Os resultados mostram que 45,8% dos pobres e 45,1% da populao total das capitais estaduais esto locali-zados em regies com crescimento no pr-pobre. As capitais com crescimento econmico empobrecedor concentram 26,9% dos pobres e 32,5% da populao das capitais estaduais. Por fim, as capitais dos estados com crescimento classifica-do como inconclusivo detm 27,4% dos pobres e 22,5% da populao.

    GRFICO 7Taxa de crescimento anual da renda per capita por quintis de pobres (1991-2000) capitais dos estados da regio Centro-Oeste

    Elaborao dos autores a partir de dados dos Censos Demogrficos de 1991 e 2000.

    TABELA 5Proporo de capitais, de pobres e da populao de acordo com a qualidade do crescimento econmico (1991-2000)

    Qualidade de crescimento Nmero de capitais Proporo de capitais Proporo de pobres Proporo da populao

    Pr-pobre 0 - - -No pr-pobre 14 51,85% 45,76% 45,08%Empobrecedor 5 7,41% 26,87% 32,45%Inconclusivo 8 29,63% 27,37% 22,47%Total 27 100% 100% 100%

    Elaborao dos autores a partir de dados dos Censos Demogrficos de 1991 e 2000.

    Vistos em conjunto, os resultados apresentados nessa seo indicam a exis-tncia de diferentes padres de crescimento ao longo do territrio brasileiro. Sem embargo, o crescimento econmico com aumento da desigualdade de renda, ocorrido nas capitais estaduais que tiveram tanto o crescimento do tipo no pr-pobre quanto do tipo empobrecedor (19 das 27), foi fator preponderante.

  • 42 Ensaios de Economia Regional e Urbana

    5 CONCLUSES

    Este trabalho estudou o perfil de crescimento econmico do sistema urbano bra-sileiro, representado nesse caso pelas capitais do Brasil. Por perfil de crescimento, entende-se o quanto o crescimento econmico favoreceu o crescimento de renda da parcela menos abastada da populao. Nesse sentido, no perodo de 1991 a 2000, analisou-se a relao entre crescimento econmico, desigualdade de renda e pobreza do ponto de vista qualitativo (qualidade do crescimento da renda per capita). Em outras palavras, buscou-se analisar em que medida o crescimento econmico das capitais estaduais tem beneficiado os mais pobres.

    Inicialmente, este estudo mostrou os diferenciais nas taxas de crescimento econmico, a desigualdade de renda e a evoluo da pobreza das regies brasileiras e das capitais estaduais no perodo 1991-2000. Os resultados mostraram a diver-sidade do territrio brasileiro. Pode-se verificar, por exemplo, a sobre-represen-tao da regio Nordeste (de suas capitais estaduais) no total de pobres do Brasil. Regio essa que, em 2000, tinha 28,1% da populao brasileira e cerca de 48,5% dos pobres do Brasil. Outro fato digno de nota a evoluo da desigualdade de renda nas capitais estaduais em que se pode observar, em todas as capitais, eleva-es na desigualdade de renda entre 1991 e 2000.

    Em seguida, foi analisada a qualidade do crescimento econmico das 27 capitais dos estados brasileiros. Verificou-se que catorze municpios apresenta-ram crescimento no pr-pobre, ou cerca de 52% das capitais estaduais do Brasil. O crescimento no pr-pobre caracterizado por uma taxa de crescimento da renda per capita dos mais pobres sempre abaixo da taxa de crescimento da ren-da per capita de toda populao. Conclui-se, nesse caso, que os mais pobres se beneficiaram relativamente menos em relao ao crescimento econmico, visto que nessas capitais estaduais o crescimento econmico foi acompanhado por um aumento da desigualdade de renda. Em cinco capitais o crescimento foi empo-brecedor (7,4% do total), isto , a renda per capita dos mais pobres decresceu no perodo analisado enquanto que a renda mdia da populao cresceu. Dessa maneira, o crescimento econmico positivo aumentou a pobreza. Por sua vez, em oito capitais o crescimento foi inconclusivo (aproximadamente 30% do total).

    Por fim, os resultados apontam que grande parte dos pobres e da popula-o das capitais do Brasil est localizada em regies com crescimento econmico do tipo no pr-pobre. Os resultados mostram que 45,8% dos pobres e 45,1% da populao total das capitais estaduais esto localizados em regies com cres-cimento no pr-pobre. As capitais com crescimento econmico empobrecedor concentram 26,9% dos pobres e 32,5% da populao das capitais estaduais. J as capitais estaduais com crescimento classificado como inconclusivo detm 27,4% dos pobres e 22,5% da populao. De maneira geral, os resultados apresentados

  • 43Crescimento Pr-Pobre e Distribuio de Renda das Capitais dos Estados Brasileiros

    neste trabalho indicam a existncia de diferentes padres de crescimento ao longo do territrio brasileiro. Entretanto, entre 1991 e 2000, observou-se, de maneira preponderante, um crescimento econmico com aumento da desigualdade de ren-da nas capitais estaduais que tiveram tanto o crescimento do tipo no pr-pobre quanto do tipo empobrecedor. vlido frisar que nenhuma capital estadual apre-sentou um padro de crescimento pr-pobre, em que o crescimento da renda per capita acontece concomitantemente a uma diminuio da desigualdade de renda.

  • 44 Ensaios de Economia Regional e Urbana

    REfERNCIAS

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    UNITED NATIONS. World urbanization prospect. New York: United Nations, 2003.

  • CAPTULO 2

    fAvELAS E DINMICA DAS CIDADES BRASILEIRAS*

    Daniel Da Mata**Somik V. Lall***

    Hyoung Gun Wang****

    RESUMO

    O objetivo precpuo deste captulo o estudo do processo de favelizao das cidades brasileiras

    no perodo entre 1980 e 2000. Busca-se averiguar os padres e alguns dos principais fatos esti-

    lizados no que concerne ao surgimento, manuteno e crescimento das favelas dentro da hierar-

    quia urbana do Brasil. Verificou-se que, em 2000, as aglomeraes urbanas possuam seis milhes

    de habitantes em favelas. O crescimento da populao em favelas no Brasil foi mais intenso, no

    perodo em anlise, do que o crescimento populacional. Assim como no crescimento populacional

    das cidades brasileiras, o crescimento da populao que vive em favelas foi mais elevado nas peri-

    ferias das aglomeraes urbanas vis--vis zonas centrais (ncleos). Cidades maiores (em termos de tamanho populacional) possuem mais favelas, assim como cidades mais ricas (em termos de nvel

    de renda per capita). A desigualdade de renda tem um papel importante: quanto mais desigual for a cidade, mais favelas possui. Crescimento populacional e crescimento do nmero de favelas no

    apresentaram uma relao significante em termos estatsticos.

    1 INTRODUO

    Favelas so partes integrais do sistema urbano do Brasil. O crescimento das cidades no Brasil nas ltimas dcadas foi acompanhado pelo surgimento e aumento da populao favelada. Em algumas cidades, a parcela da populao que vive em fa-velas passa dos 20%. Polticas pblicas remoo de favelas e/ou melhoramento

    * Este artigo produto de um trabalho em conjunto do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (Ipea) com o Banco Mundial. Os autores agradecem os comentrios de Alexandre Carvalho, Mila Freire e Marcelo Piancastelli. Os resultados, concluses e interpretaes deste trabalho so integralmente dos autores e no representam necessariamente as vises do Ipea ou as do Banco Mundial, do seu Con