trÊs ensaios sobre a estrutura espacial urbana em cidades do brasil contemporÂneo: economia urbana...
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Tese apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, como requisito para obtenção do título de Doutor em Administração Pública e Governo.TRANSCRIPT
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FUNDAO GETLIO VARGAS
ESCOLA DE ADMINISTRAO DE EMPRESAS DE SO PAULO
FREDERICO ROMAN RAMOS
TRS ENSAIOS SOBRE A ESTRUTURA ESPACIAL URBANA EM
CIDADES DO BRASIL CONTEMPORNEO:
economia urbana e geoinformao na construo de novos olhares
SO PAULO
2014
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FREDERICO ROMAN RAMOS
TRS ENSAIOS SOBRE A ESTRUTURA ESPACIAL URBANA EM
CIDADES DO BRASIL CONTEMPORNEO:
economia urbana e geoinformao na construo de novos olhares
Tese apresentada Escola de
Administrao de Empresas de So
Paulo da Fundao Getlio Vargas,
como requisito para obteno do ttulo
de Doutor em Administrao Pblica e
Governo.
Campo do conhecimento:
Economia Urbana e Urbanismo
Orientador: Prof. Dr. Ciro Biderman
SO PAULO
2014
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Ramos, Frederico Roman. Trs ensaios sobre a estrutura espacial urbana em cidades do Brasil contemporneo: economia urbana e geoinformao na construo de novos olhares / Frederico Roman Ramos 2014. 177 f. Orientador: Ciro Biderman Tese (CDAPG) - Escola de Administrao de Empresas de So Paulo. 1. Economia urbana. 2. Segregao urbana. 3. Expanso territorial. 4. Concentrao urbana. I. Biderman, Ciro. II. Tese (CDAPG) - Escola de Administrao de Empresas de So Paulo. III. Ttulo.
CDU 711
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FREDERICO ROMAN RAMOS
TRS ENSAIOS SOBRE A ESTRUTURA ESPACIAL URBANA EM
CIDADES DO BRASIL CONTEMPORNEO:
economia urbana e geoinformao na construo de novos olhares
Tese apresentada Escola de
Administrao de Empresas de So
Paulo da Fundao Getlio Vargas,
como requisito para obteno do ttulo
de Doutor em Administrao Pblica e
Governo.
Campo do conhecimento:
Economia Urbana e Urbanismo
Data de aprovao:
21/02/2014
Banca Examinadora
____________________________________
Prof. Dr. Ciro Biderman (Orientador)
FGV-EAESP
____________________________________
Prof. Dr. George Avelino Filho
FGV-EAESP
____________________________________
Prof. Dr. Srgio Pinheiro Firpo
FGV-EESP
____________________________________
Prof. Dr. Antnio Miguel Vieira Monteiro
INPE
____________________________________
Profa. Dra. Ana Paula Vidal Bastos
UFPA
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Este trabalho dedicado minha querida
esposa, Femke, aos meus amados filhos,
Xavier e Frida, e aos meus pais, Mari e
Edson.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo a minha famlia pelo apoio incondicional durante o perodo em que estive
envolvido com esta pesquisa. Saber que estavam ao meu lado, mesmo nos momentos mais
solitrios, me deu foras para seguir adiante. Em vocs, encontrei a maior das inspiraes.
Agradeo ao meu orientador, Professor Ciro Biderman, que sempre acreditou no meu
potencial e me apoiou em todos os momentos desta caminhada. Obrigado pela confiana e
amizade.
Agradeo ao Professor Antnio Miguel, incentivador e amigo de todas as horas que no
deixou de acreditar em mim em nenhum momento desta caminhada, e antes dela at, e por
sempre me lembrar de que podemos fazer a diferena para nossas cidades. Nunca esquecerei o
que fez por mim.
Agradeo a todos os colegas do CEPESP, em especial ao Lo e ao Marcos Lopes, sempre
dispostos a ajudar. Agradeo tambm ao Professor George Avelino pelo apoio e respeito que
sempre demonstrou ao meu trabalho.
Agradeo s brilhantes amigas do INPE, Flvia, Carol e Ana Paula por terem me recebido
diversas vezes para compartilhar generosamente seus conhecimentos e inteligncia. Agradeo
especialmente Isabel que, alm da constante disposio em ajudar e orientar meu trabalho,
ajudou a coordenar o trabalho com os dados das cidades Amaznicas junto ao CRA-INPE.
Agradeo tambm equipe do CRA-INPE, em especial ao Rafael Terra e a Alessandra, que
ajudaram na recomposio dos dados TerraClass utilizados nesta pesquisa.
Agradeo s professoras Ana Cludia e Paula Bastos da UFPA que me ajudaram na leitura
dos processos nas cidades paraenses de Marab e Santarm. Agradeo tambm ao professor
Jos Benatti, a Luly e ao Conduru por dividirem comigo seus conhecimentos sobre o mercado
de terras no Par e pelos comentrios construtivos que fizeram ao meu trabalho.
Por fim, no posso deixar de agradecer o apoio recebido pelas agncias financiadoras
GVPesquisa e Capes que cobriram os custos com as mensalidades escolares durante minha
permanncia na Escola de Administrao de Empresas de So Paulo da FGV. Agradecer ao
Instituto Tecnolgico da Vale e a Fundao Vale, financiadores do projeto UrbisAmaznia e a
FUNCATE que o administra, pelo fundamental apoio financeiro ao desenvolvimento desta
pesquisa. Agradeo ainda ao Lincoln Institute of Land Police pelo apoio financeiro concedido
para a finalizao deste trabalho.
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indispensvel porque, seja qual for a especulao do conhecimento, no h
outro objeto final, para ele, do que constituir a tranquilidade e a mais clara e
monumental realizao da habitabilidade do planeta, que envolve as suas
circunstncias todas enquanto cidade: escolas, hospitais, transporte pblico, etc.
Para no falar s de necessidades, s a, na cidade enquanto cenrio, lugar,
que podemos exibir maravilhas do conhecimento. Podemos exibir uma situao
absolutamente humana, onde o xito da tcnica adquire um imenso valor
esttico. isso que nos interessa fundamentalmente, fazer brilhar a nossa
engenhosidade. Viver, assim, j de uma forma densa, como desejvel no que
chamado cidade, por exemplo, torna indispensvel para a existncia de edifcios
verticais essa singela mquina que o elevador, de trens e transporte pblico, e
coisas extraordinrias que fazem com que ns possamos nos ver com certa
dignidade absoluta no sentido de que s vivemos para tornarmo-nos cada vez
mais possivelmente viventes; portanto gua, geomorfologia, so as formas que
fundamentalmente caracterizam o objeto de arquitetura.
Paulo Mendes da Rocha no Programa de Ps-graduao em Arquitetura da
UFRGS em 27 de setembro de 2006.
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RESUMO
Esta tese apresenta novas possibilidades metodolgicas no campo do urbanismo atravs da
aplicao de tcnicas derivadas da cincia da geoinformao a luz das teorias de economia
urbana. O trabalho est organizado em torno de trs ensaios. Cada ensaio se dedica a
apresentao e anlise de uma questo especfica identificada como relevante dentro das
teorias da economia urbana no contexto de cidades brasileiras. O primeiro ensaio tem como
objetivo investigar as relaes que possam existir entre os processos de expanso urbana e a
segregao socioespacial na cidade de So Paulo. Situando a discusso dentro de uma
perspectiva de economia urbana, o ensaio parte do pressuposto de que ambos os processos
esto relacionados s foras de mercado habitacional, incluindo suas falhas inerentes, que
acabam por definir a distribuio dos grupos populacionais de acordo com suas caractersticas
socioeconmicas. O estudo se debrua sobre uma questo central ao debate urbanstico atual
que a ocupao contnua das reas de fronteira urbana e na forma como este processo
impacta a estrutura urbana. O segundo captulo traz o ensaio onde tratamos de analisar as
questes relativas distribuio dos empregos na cidade de So Paulo e suas consequncias
para os modelos de economia urbana baseados em gradientes de renda e valor da terra. O
terceiro captulo traz o ensaio no qual retomamos a discusso sobre os processos de expanso
urbana, porm situando a discusso a partir de uma perspectiva dinmica em cidades mdias
em rpido crescimento demogrfico. Neste contexto, h o reconhecimento de que a
composio dos preos da terra nas reas limtrofes da mancha urbana sofre uma forte
influncia de expectativas de retornos levando a uma sobrevalorizao do preo gerada por
processos de reteno de terras. Em uma anlise aplicada s cidades amaznicas de Marab e
Santarm, buscamos caracterizar em uma perspectiva comparativa os processos de converso
da terra em usos urbanos nas ltimas trs dcadas. Incorporando a informao sobre os usos
do solo anteriores a converso para uso urbano, criamos uma escala de potencial de converso
relativo a cada uso. Partindo do pressuposto de que possvel estabelecer representaes
matemtico-computacionais da estrutura urbana em sistemas de informao geogrfica, o
trabalho espera contribuir para a constituio dos territrios digitais como expresses
quantitativas de conceitos sobre os diferentes processos ambientais e socioeconmicos que
acabam por definir o ambiente urbano. Atravs destas representaes, buscar inserir o
territrio no centro das decises polticas e econmicas que seguem continuamente
conformando essas cidades e as condies objetivas de vida que elas propiciam.
Palavras-chave: Economia urbana, disperso urbana, segregao socioespacial,
policentralidade.
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ABSTRACT
This thesis presents new methodological possibilities within the field of urbanism through the
application of techniques derived from the Geoinformation Science within the urban
economics theories framework. The work is organized in three essays. Each of them presents
and analyses one relevant question of the urban economics theories for the specific context of
the Brazilian contemporary cities. The objective of the first essay is to investigate the relation
between the processes of urban sprawl and spatial segregation in the city of So Paulo.
Establishing the discussion in the theories of urban economics, the essay is based on the
assumption that both processes result from the operation of housing market, including its
inherent failures that drives the distribution of the population groups according to the different
social characteristics. The work focuses on the central issue of the continuous occupation of
the fringes of the city and the consequences for the spatial urban structure. The second essay
is dedicated to the investigation of the distribution of employment subcenters in the city of
So Paulo and their relation with the land rent gradients. In the third essay, we are again
interested in the process of urban sprawl, but here we introduce a dynamic perspective having
the Amazonian fast growing medium size cities as examples. The objective is to investigate
the impact of the expectations for the future enhancement of land values among the
landholders and the impact in conversion for different land use in the urban fringes. Using
remote sensing data, we compare the uses and land covers previously to the urban conversion
identifying a scale of urban land use potential. The thesis is based on the assumption that is
possible to establish mathematical-computational representation of the spatial urban structure
with the use of geographical information systems, and aims to contribute to the constitution of
digital territories as quantitative expressions of environmental and social concepts that define
the urban structure. Through these representations, this thesis aims to contribute to the
insertion of the territorial dimension on the political and economic decision making processes
that continuously interfere in our cities and in the life conditions that they propitiate.
Keywords: Urban economics, urban sprawl, spatial segregation, polycentric urban structures.
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LISTA DE ILUSTRAES
Figura 2.1 - Gradiente de renda da terra em funo da distncia ao centro principal para uma
cidade com dois grupos populacionais com rendas diferentes. ...............................................25
Figura 2.2 - Esquema de macrossegregao da Regio Metropolitana de So Paulo..............39
Figura 2.3 - Resultado espacializado da percentagem de pixels de classe urbano na vizinhana
definida a partir de um raio de 500 metros de cada pixel da classe urbana na imagem
LANDSAT (Junho/2000)..........................................................................................................43
Figura 2.4 - Distribuio da populao da RMSP em grupo de escolaridade e rendimento dos
responsveis pelos domiclios...................................................................................................45
Figura 2.5 - ndices de dissimilaridade local para grupos de renda (acima) e grupos de
escolaridade (abaixo) por setor censitrio da RMSP................................................................48
Figura 2.6 - ndices de isolamento local para grupos de baixa renda (acima) e grupos de baixa
escolaridade (abaixo) por setor censitrio da RMSP................................................................49
Figura 2.7 - ndices de isolamento local para grupos de alta renda (acima) e grupos de alta
escolaridade (abaixo) por setor censitrio da RMSP................................................................50
Figura 2.8 - Perspectiva em vista de pssaro sobre o modelo numrico de terreno da RMSP
gerado a partir dos dados da SRTM/NASA e sobreposio a mancha urbana........................51
Figura 2.9 - Conjunto de setores selecionados para compor as amostras utilizadas no modelo
economtrico.............................................................................................................................52
Figura 3.1 - Esquema de gradientes de renda da terra urbana com influncia de dois centros
competidores.............................................................................................................................63
Figura 3.2 - Esquema de gradientes de renda da terra urbana com influncia um centro
principal e um subcentro complementar...................................................................................63
Figura 3.3 - Esquema do diagrama de espalhamento de Moran..............................................74
Figura 3.4. Grfico de espalhamento entre a densidade de empregos e a proporo de
empregos em cada zona OD em relao ao total da RMSP......................................................79
Figura 3.5 - Mapas temticos construdos com as variveis densidade de empregos (a), razo
entre emprego e populao (b) e densidade populacional (c) por zonas OD 2007...........................................................................................................................................82
Figura 3.6 - Mapas de espalhamento de Moran para a varivel densidade de empregos por
hectare (demp). Nvel de significncia estatstica por pseudo-distribuio aleatria (9999
permutaes): a)95%; b)99%; c)99,9%....................................................................................83
Figura 3.7 - Mapas de espalhamento de Moran para a varivel total de empregos (emp). Nvel
de significncia estatstica por pseudo-distribuio aleatria (9999 permutaes): a)95%;
b)99%; c)99,9%........................................................................................................................84
Figura 3.8 - Mapas de espalhamento de Moran para a varivel emprego por populao
(emp/pop). Nvel de significncia estatstica por pseudo-distribuio aleatria (9999
permutaes): a)95%; b)99%; c)99,9%....................................................................................85
Figura 3.9 - Semivariograma experimental calculado para a varivel densidade de
empregos...................................................................................................................................87
Figura 3.10 - Superfcie tridimensional de densidade de empregos gerada por regresso
localmente ponderada...............................................................................................................89
Figura 3.11 - Potenciais subcentros identificados a partir da replicao do primeiro estgio da
metodologia proposta em McMillen (2001).............................................................................90
Figura 3.12 - Potenciais subcentros identificados a partir da metodologia proposta em nico
estgio com varivel de perturbao includa no modelo.........................................................92
Figura 4.1 - Renda da terra interna e externa a rea urbana....................................................100
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Figura 4.2 - Preos da terra interna e externa a rea urbana em perspectiva dinmica..........101
Figura 4.3 - Taxa mdia geomtrica de crescimento demogrfico anual entre 2000 e
2010.........................................................................................................................................104
Figura 4.4. Ilustrao sobre os contextos de classificao de pixels do tipo construdo (cinza
escuro).....................................................................................................................................111
Figura 4.5. Grade regular em espao cartesiano com origem no centro da aglomerao
urbana......................................................................................................................................112
Figura 4.6 - Distribuio das classes de pixels "urbano" para Santarm................................119
Figura 4.7 - Distribuio das classes de expanso urbana para Santarm..............................119
Figura 4.8 - Distribuio das classes de pixels "urbano" para Marab...................................121
Figura 4.9 - Distribuio das classes de expanso urbana para Marab.................................121
Figura 4.10 - Usos em reas de expanso de Santarm..........................................................123
Figura 4.11 - Usos em reas de expanso de Marab.............................................................124
Figura 4.12 - Gradientes por rea de classe calculados por usos e coberturas no espao
celular......................................................................................................................................125
Figura 4.13 - Gradientes por rea de classe calculados por usos e coberturas no espao
celular......................................................................................................................................126
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LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 Resultados obtidos para regresso por OLS para os diferentes conjuntos amostrais...................................................................................................................................54
Tabela 2.2 Resultados obtidos no primeiro estgio da regresso 2SLS................................55 Tabela 2.3 Resultados obtidos para regresso por 2SLS para os diferentes conjuntos amostrais ..................................................................................................................................56
Tabela 2.4 Resultados obtidos para regresso por 2SLS para os diferentes conjuntos amostrais com introduo de covariveis.................................................................................57
Tabela 3.1 - Quadro geral da Pesquisa OD de 2007 por Zonas Origem-Destino (ZOD) para a
RMSP........................................................................................................................................78
Tabela 3.2 - Resultados obtidos na anlise exploratria atravs dos indicadores de
autocorrelao espacial global e local.......................................................................................87
Tabela 4.1 - Taxa mdia geomtrica de crescimento demogrfico anual de Marab e
Santarm..................................................................................................................................106
Tabela 4.2 - Descrio das imagens de satlite utilizadas no estudo de caso.........................115
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SUMRIO
APRESENTAO ................................................................................................................... 13
1 INTRODUO ..................................................................................................................... 16
2 DISPERSO URBANA E SEGREGAO SOCIOESPACIAL NA METRPOLE
PAULISTANA ......................................................................................................................... 23
2.1 Disperso urbana e segregao socioespacial: a estrutura urbana e seus processos
constituintes .............................................................................................................................. 23
2.2 Medidas de disperso urbana e segregao socioespacial .................................................. 32
2.3 Disperso urbana e segregao socioespacial na metrpole paulistana: uma abordagem
emprica .................................................................................................................................... 37
2.3.1 Estratgia emprica .......................................................................................................... 40
2.3.2 Materiais e mtodos ......................................................................................................... 40
2.3.3 Resultados obtidos ........................................................................................................... 51
2.4 Concluso ........................................................................................................................... 58
3 A ESTRUTURA ESPACIAL URBANA: IDENTIFICANDO SUBCENTROS DE
EMPREGO NA RMSP ............................................................................................................. 61
3.1 Subcentros de emprego: potenciais locacionais e consequncias para a estrutura urbana. 61
3.2 Estratgia emprica ............................................................................................................. 72
3.2.1. Bases de dados utilizadas ............................................................................................... 77
3.2.2. Resultados ....................................................................................................................... 80
3.3. Concluso .......................................................................................................................... 93
4 PERSPECTIVA DINMICA NA ANLISE DA ESTRUTURA ESPACIAL URBANA
EM CIDADES DE RPIDO CRESCIMENTO ...................................................................... 96
4.1 Crescimento urbano e valorizao fundiria: uma perspectiva dinmica .......................... 96
4.2 Estudo de caso: cidades mdias em rpida expanso na Amaznia ................................. 103
4.2.1 Contextualizao ........................................................................................................... 103
4.2.2 Metodologia ................................................................................................................... 108
4.2.3 Dados utilizados e procedimentos ................................................................................. 114
4.2.4 Resultados ...................................................................................................................... 118
4.3. Concluso ........................................................................................................................ 126
5 CONCLUSO ..................................................................................................................... 128
REFERNCIAS ..................................................................................................................... 132
APNDICE A Imagens de satlite, espaos celulares e gradientes de paisagem processados
para o estudo em Santarm e Marab. .................................................................................... 141
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13
APRESENTAO
Este trabalho nasce de uma inquietao que me acompanha desde os tempos em que eu
frequentava as aulas de histria do urbanismo e de planejamento urbano durante minha
graduao em arquitetura e urbanismo na FAU. Reconheci naquele momento a importncia
das cidades como a mais relevante das invenes humanas. Passei a olh-las com uma
curiosidade constante. Buscava ultrapassar a viso que me acompanhava desde a infncia,
como urbanita nato, da cidade como uma mera paisagem megalogrfica para a cidade como
experincia vivenciada. Intrigava-me a enorme diversidade de tipos humanos habitando e
interagindo na cidade e a maneira como o espao natural havia sido transformado para dar
abrigo a estas interaes. Nas aulas de histria, apresentavam-nos imagens de cidades antigas
e tentava imaginar os tipos humanos que nelas viviam e como interagiam. Ocorriam-me
questes como: quem eram aquelas pessoas e por que estavam reunidas naquelas cidades? Por
que elas se localizavam naquele determinado local e no em outro qualquer? Por que as
cidades foram construdas daquela maneira?
Nas aulas de planejamento urbano, aprendia a reconhecer as funes urbanas e suas
espacialidades. Talvez partindo ainda de um referencial demasiadamente vinculado a Carta de
Atenas1, decompnhamos a cidade em subsistemas de habitao, trabalho, lazer e circulao.
Ensinavam-nos a "ler" o espao. Debruvamo-nos sobre cartas e mapas buscando
compreender a estrutura espacial de cidades e bairros atravs de uma interminvel sequncia
de esquemas traados em papel translcido sobreposto ao material cartogrfico. Com isso
desenvolvemos uma sensibilidade espacial. Da mesma forma como aprendemos a linguagem
do desenho para expressar nossas ideias, aprendemos que o espao era nosso campo de
atuao, nossa matria-prima. Apesar de todos os conhecimentos adquiridos naqueles anos, as
mesmas perguntas seguiam sem respostas para mim.
Durante os primeiros anos de atuao profissional, no atuei no campo de urbanismo e
planejamento urbano. Entretanto, meu interesse no campo permanecia inalterado. Queria
contribuir profissionalmente na compreenso e melhoria do habitat urbano em que vivia,
porm no tinha claro quais os canais e possibilidades me levariam a consecuo deste
1A Carta de Atenas um manifesto assinado por arquitetos e urbanistas no incio do sc. XX como concluso do
CIAM - Congresso Internacional de Arquitetos de 1931 e que influenciou a arquitetura e urbanismo modernista.
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objetivo. Esta situao me levou a buscar outras possibilidades quando decidi cursar uma
especializao em urbanismo de grande escala na Universidade Politcnica da Catalunha, na
icnica cidade de Barcelona. A vivncia cotidiana naquela cidade e o aprendizado obtido
durante o curso levaram-me a concluso de que seriam necessrios outros instrumentos na
atuao do urbanista para alm daqueles apresentados e adquiridos durante minha graduao.
Quando retornei ao Brasil, a inquietude se intensificava na medida em que reconhecia mais
claramente a crise urbana por aqui instalada. O cenrio era de grandes cidades
ambientalmente degradadas, profundamente cindidas entre territrios de excluso e incluso
social. Complexas estruturas ambientais que se colocavam diante de ns desafiando nossa
capacidade de anlise. Seduzido pelas imagens de satlites que apresentavam estas fascinantes
estruturas sob uma perspectiva indita para mim, decidi me aprofundar no conhecimento
tcnico especfico do sensoriamento remoto. Tinha a intuio de que ao olhar as cidades a
partir destas imagens poderia entender melhor suas partes e seu todo transitando de uma
perspectiva prxima a uma distante em um mesmo ambiente analtico.
Ingressei ento no mestrado em sensoriamento remoto no INPE2. Minha intuio era vlida,
porm imprecisa. Durante minha formao em sensoriamento remoto, aprendi que aquelas
imagens que me seduziam eram apenas um produto acabado de um processo analtico muito
mais abrangente e poderoso. Tratava-se de um amplo conjunto de conhecimento que nos
apresentavam como a Cincia da Geoinformao. Incluam-se reunidas sob esta definio
diversas disciplinas que estruturavam os conhecimentos necessrios para estabelecer
representaes computacionais do espao geogrfico. Profissionais de diversos campos
disciplinares integravam nossa turma de ps-graduao. Tive o privilgio de interagir com
gelogos, eclogos, gegrafos, fsicos, oceangrafos, engenheiros agrnomos, engenheiros
cartgrafos, engenheiros de computao, todos reunidos em torno do objetivo comum de
representar o espao em sistemas informatizados atravs de tcnicas matemticas e
computacionais. O espao geogrfico tinha para cada um seu significado especfico ao mesmo
tempo em que era nosso denominador comum.
A formao adquirida neste perodo alterou profundamente minha forma de estabelecer
estratgias analticas sobre meu objeto de interesse: as cidades. Tinha agora um repertrio de
2Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
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15
tcnicas de anlise espacial que ampliava as possibilidades de utilizao das informaes
geogrficas para alm do exerccio baseado em interpretaes de conjunto de materiais
cartogrficos no sentido mais tradicional como havamos sido formados na graduao. A
conscincia da natureza matemtica das representaes computacionais do espao permitia
que modelssemos e operssemos as diversas camadas de informao geogrfica gerando
novos conjuntos de informao impossveis de serem produzidos de outra forma.
O trabalho que ora apresento situa-se neste contexto que brevemente expus. Entretanto, este
conhecimento instrumental adquirido, para ser vantajoso, deve necessariamente ser aplicado
luz de teorias e conceitos pertinentes ao objeto de anlise em questo. Neste ponto, retomo
minhas antigas e ainda vlidas interrogaes sobre as cidades. Se o papel do urbanista visa
fundamentalmente interveno no espao urbano, preciso que ele reconhea os processos
constituintes deste espao. Entendo como necessrio um exame aplicado sobre as teorias
econmicas que fundamentam o debate sobre o mercado de terras urbanas dentro do campo
do urbanismo.
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1 INTRODUO
Este trabalho apresenta novas possibilidades metodolgicas no campo do urbanismo atravs
da aplicao de tcnicas derivadas da cincia da geoinformao a luz das teorias de economia
urbana. Tem, neste sentido, um carter instrumental, na medida em que prope e aplica
mtodos inovadores de investigao emprica de estruturas urbanas desenvolvidos na forma
de trs ensaios. Os estudos buscam apontar as atuais possibilidades de tratamento de
informao espacial em sistemas de informao geogrfica em aplicaes desta natureza.
Cada ensaio se dedica a apresentao e anlise de uma questo especfica identificada como
relevante dentro das teorias da economia urbana no contexto de cidades brasileiras.
Na ltima dcada, observou-se no Brasil um forte movimento de valorizao de terra urbana.
Isto tem aprofundado a disputa por localizaes no espao urbano, e por consequncia,
promovido alteraes nas estruturas espaciais intraurbanas nas cidades em diversas regies do
pas. O entendimento de como estes movimentos se processam passa pela capacidade de
formulao de hipteses derivadas de um referencial conceitual que, sob meu ponto de vista,
merece ser aprofundado na produo acadmica brasileira.
O que se reconhece como padro socialmente excludente de nossas cidades tem sua origem
no modelo de mercado que no foi capaz de articular as lgicas da regulao urbanstica e a
lgica da necessidade que motivaram a organizao e instrumentalizao social que
resultaram em formas de coordenao individual/coletiva de ocupao do solo urbano
(ABRAMO, 2007). O mercado imobilirio frequentemente tido como instrumento na
conformao de vizinhanas e comunidades com significativo grau de homogeneidade
interna, atuando diretamente nos processos de substituio de moradores atravs de transaes
atomizadas de imveis usados ou na converso de usos de solo em novas incorporaes.
Ainda que por justificativas diversas, tal reconhecimento se d tanto nas abordagens
econmicas neoclssicas quanto nas clssico-marxistas operando, por um lado, atravs da
"soberania do consumidor" e, por outro, pela "lgica do capital" (SMOLKA, 1992).
Observado sob uma perspectiva dinmica, este processo de substituies, permanncias e
assentamentos implica em transformaes na estrutura espacial das cidades que podem ser
gradativas ou abruptas em funo das condies macroeconmicas combinadas com
circunstncias locais. Qualquer que seja o modo, interferem nas regularidades e
irregularidades das estruturas urbanas no que se refere especificamente ao grau de
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concentrao espacial da populao urbana e seus empregos (ANAS; ARNOTT;
SMALL,1998). Estas irregularidades esto relacionadas forma como a cidade se expande no
processo de converso de novos terrenos em usos urbanos com o desenvolvimento de
edificaes e infraestruturas. Alm disso, internamente, est relacionada tambm ao padro de
segregao socioespacial resultante do processo de ocupao contnua, ou melhor, da forma
como diferentes grupos sociais se assentam no espao construdo relativamente uns aos
outros.
O modelo monocntrico inicialmente formulado por Alonso (1964) e suas variaes
sequenciais introduzidas por Mills (1967) e Muth (1969) prevalece por dcadas como a mais
influente representao da estrutura espacial urbana dentro da literatura sobre economia
urbana. O modelo se baseia em uma cidade hipottica, onde todos os empregos localizam-se
em um ponto central da cidade, para o qual todos os moradores devem se deslocar
cotidianamente. Assumindo que todos os moradores so racionais e buscam maximizar suas
funes de utilidades face sua restrio oramentria, decidiro suas localizaes frente s
despesas que tero com o custo do deslocamento ao trabalho e aos gastos com o consumo do
imvel. Esta relao pode ser esquematicamente representada atravs de uma funo
decrescente com origem no ponto central da cidade, na qual sua inclinao depende
basicamente do custo marginal de deslocamento (transporte) e do tamanho do lote. Esta
relao usualmente apresentada na forma de um gradiente de renda da terra. A intuio
fundamental contida nesta construo que consumidores vivendo longe do centro tero
maiores custos com transporte e devem ser compensados de alguma forma, pois do contrrio
todos viveriam prximo ao centro. Esta compensao se d na forma de um preo menor por
metro quadrado.
O arcabouo analtico propiciado por este modelo permite que sejam relacionados diversos
aspectos da estrutura espacial intraurbana em uma perspectiva sistmica, e no isolada como
so comumente analisados os processos de expanso e disperso urbana, segregao
socioespacial, valorizao do preo da terra e variaes nas densidades populacionais. Este
modelo o fato estilizado mais simples e operacional da estrutura espacial urbana. Entretanto,
a concepo baseada em um nico centro de negcios pode ser rompida sem que haja prejuzo
das relaes estabelecidas entre renda da terra e custos de transporte como j demonstrado em
diversos trabalhos (FUJITA; OGAWA, 1982).
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Ainda que o modelo permanea atual at os dias de hoje como um referencial de grande
influncia, trata-se basicamente de um modelo de equilbrio geral, e como tal assume
condies que simplesmente no aderem aos contextos espaciais que dominam a anlise das
cidades. Tal desacoplamento no chega a invalidar sua aplicabilidade na medida em que se
podem atribuir razes distintas para seu mrito, entretanto, impe queles que nele se apoiam,
a necessidade de estabelecer claramente os limites e alcances das concluses dele derivadas.
Segundo Arnott (2012, p.67), as principais virtudes do modelo so: primeiro, ele propicia uma
concepo geral integrada da estrutura urbana, incorporando e relacionando efeitos de
polticas de uso do solo, transporte e habitao de forma sistmica; segundo, o modelo tem
derivado resultados extremamente ricos e diversificados na medida em que se situa no limite
preciso entre a trivialidade e a intratabilidade, qualidade necessria aos bons modelos;
terceiro, como um modelo de equilbrio geral, permite simular efeitos de polticas sobre
diferentes grupos populacionais considerando os canais sobre os quais cada iniciativa afeta as
diferentes utilidades; e quarto, tem alcanado relativo sucesso em anlises empricas
explicando diversos padres observados em cidades reais.
Em relao s crticas e limitaes do modelo, muitas derivam das condies altamente
restritivas que ele assume. Porm, nas cidades reais, invariavelmente nos confrontamos com
estas condies nada excepcionais. Entre as mais problemticas esto a ausncia de retornos
incrementais de escala na produo, o que de certa forma coloca em xeque a prpria noo
derivada das foras de aglomerao que regem a concentrao das atividades em cidades; a
desconsiderao do efeito de externalidades, porm no h como negar que em aglomeraes
urbanas no incidam externalidades negativas como congestionamentos e poluio; a
incapacidade de tratamento dos bens pblicos coletivos, presente em uma srie de atributos
que compe o espao urbano como servios pblicos e infraestrutura de comunicaes.
(ARNOTT, 2012, p.53). Para Richardson (1978), a falta de capacidade de superar estas
condicionantes restritivas foi um dos motivos pelo qual a economia seguiu por dcadas
negligenciando este campo de estudo. Para ele, dificilmente a anlise econmica convencional
capaz de revelar a complexidade da grande cidade, crivada de externalidades e
excrescncias que inviabilizam a abordagem a partir do marginalismo neoclssico. Tal
viso compartilhada por Krugman (1998) para o qual, a tardia introduo da dimenso
espacial no mainstream da anlise econmica consequncia da evoluo de modelos hoje
capazes de lidar com cenrios de competio imperfeita tornando possvel, portanto, analisar
processos marcados pela presena de economias de escala com retornos crescentes. Nesta
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perspectiva, a estrutura espacial intraurbana pode ser analisada como resultado da atuao de
foras centrfugas e centrpetas, ou de atrao e repulso que acabam por definir a disputa
por localizaes de firmas e das residncias atravs do espao intraurbano (KRUGMAN,
1998; FUJITA; KRUGMAN; VENABLES, 1999).
No que se refere aplicabilidade destes modelos para contextos urbanos nos chamados pases
em desenvolvimento, os modelos cannicos de economia urbana neoclssica assumem
condies ainda mais restritivas. Dentre as mais problemticas esto aquelas em que todos os
proprietrios observam as normas e regulaes urbansticas, requerem autorizaes legal para
alteraes no uso da terra, pagam os encargos fiscais da propriedade e onde as transaes so
todas realizadas sob regimes contratuais formais. Ademais, esses modelos assumem que a
terra urbana totalmente servida de infraestrutura no momento em que so ocupadas e as
construes esto finalizadas (SMOLKA; BIDERMAN, 2012). A questo ento que se coloca
a aplicabilidade deste arcabouo terico em contextos como o brasileiro. Neste sentido,
apoio-me na viso preconizada por Smolka e Biderman (2012) na qual a massiva
informalidade presente nas cidades destes pases deve ser encarada no como um mero
problema de pobreza urbana, os assentamentos informais coexistem lado a lado a
assentamentos formais e h uma interdependncia estrutural no funcionamento do mercado de
terras que regem as transaes em ambos os casos. Ao colocarmo-nos nesta perspectiva,
entendemos como vlida a aplicabilidade destes modelos. Eles contribuem para a
compreenso das inter-relaes existentes nos processos de ocupao e uso do solo com
determinantes derivados de polticas pblicas que ultrapassam o escopo tradicional da atuao
do planejamento urbano de regulao de usos e coeficientes de aproveitamento. Nveis de
acessibilidade, custos de transporte pblico e polticas de taxao de uso da terra so
exemplos de variveis que devem ser consideradas de forma sistmica quando da definio de
estratgias de planejamento urbano e que podem ser incorporadas a estes modelos.
A discusso que se coloca no quanto aplicao ou no deste arcabouo terico, mas em
como us-lo na construo das representaes das estruturas urbanas e no processo analtico.
Da mesma forma que a utilizao das tcnicas e metodologias derivadas do campo da
Geoinformao, a delimitao criteriosa da aplicao no campo da economia regional e
urbana requisito fundamental para o sucesso ou fracasso do processo e das possveis
proposies dele derivadas na perspectiva do planejamento urbano. Se a atuao do urbanista
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visa fundamentalmente a interveno no espao urbano, saber reconhecer estas possibilidades
representa, a meu ver, um ganho significativo no repertrio do urbanista.
Parte-se do pressuposto que possvel estabelecer representaes matemtico-computacionais
destes conceitos atravs de estratgias de representao capazes de relacionar a parte e o todo
urbano em sistemas de informao geogrfica. Neste sentido, o trabalho espera contribuir para
a constituio dos territrios digitais (RAMOS; CMARA; MONTEIRO, 2007), expresses
quantitativas de conceitos sobre os diferentes processos ambientais e socioeconmicos que
acabam por definir o ambiente urbano. Atravs destas representaes, buscar inserir o
territrio no centro das decises polticas e econmicas que seguem continuamente
conformando essas cidades e as condies objetivas de vida que elas propiciam.
A utilizao de modelos quantitativos vem crescendo na mesma intensidade em que cresce a
disponibilidade de dados georreferenciados em nveis cada vez mais prximos a escala do
indivduo. Acredito, como preconiza Michael Batty (2011), que estamos diante do desafio de
construo de uma nova Cincia das Cidades, um novo campo de conhecimento onde
convergiro diferentes campos disciplinares que sero operados a partir de teorias de sistemas
complexos baseados em grandes conjuntos de dados e metodologias computacionalmente
intensivas hoje acessveis para seu tratamento. Assim, as teorias derivadas da economia
urbana, planejamento de transportes, sociologia, entre outras sero as bases para a
constituio desta nova abordagem verdadeiramente transdisciplinar. "Neste contexto, os
modelos sero aplicados cada vez mais para 'informar' do que 'predizer' orientando as decises
no campo das polticas pblicas" (BATTY, 2011 p.13).
O trabalho est organizado em torno de trs ensaios apresentados em cada um dos prximos
captulos. Cada ensaio contm uma reviso sobre as referncias mais relevantes identificadas
na literatura para cada um dos temas abordados. Aps situar cada proposta metodolgica em
relao aos objetivos especficos, cada ensaio apresenta uma proposta metodolgica seguida
de uma anlise emprica aplicada em cidades brasileiras. Na medida do possvel, apesar de
centrados em torno de estudos de caso aplicados a cidades em particular, todos os ensaios
buscam estabelecer propostas metodolgicas de aplicabilidade ampla, baseando-se em dados e
instrumentos possveis de serem obtidos para outras cidades.
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O prximo captulo traz o primeiro ensaio que tem como objetivo investigar as relaes que
possam existir entre os processos de expanso urbana e a segregao socioespacial na cidade
de So Paulo. Situando a discusso dentro de uma perspectiva de economia urbana, o ensaio
parte do pressuposto de que ambos os processos esto relacionados s foras de mercado
habitacional, incluindo suas falhas inerentes, que acabam por definir a distribuio dos grupos
populacionais de acordo com suas caractersticas socioeconmicas. O estudo se debrua sobre
uma questo central ao debate urbanstico atual que a ocupao contnua das reas de
fronteira urbana e na forma como este processo impacta a estrutura urbana. Ao estabelecer
uma abordagem emprica integrada que seja capaz de analisar atravs de representaes
quantitativas os processos de expanso e segregao, o estudo traz evidncias de que existe
uma relao direta entre os processos de expanso na segregao espacial. A metodologia
possibilita tambm compreender que o impacto na segregao se d maneira diferenciada para
diferentes grupos sociais na cidade. Utilizando-se de tcnicas de regresso com variveis
instrumentais obtidas atravs de sensoriamento remoto e processamento de imagens, os
resultados podem informar o debate sobre o funcionamento do mercado de terras nas franjas
das cidades e no papel que a deciso de poltica habitacional tem no padro de segregao que
domina nossas cidades.
O segundo captulo traz o ensaio onde tratamos de analisar as questes relativas distribuio
dos empregos na cidade de So Paulo e suas consequncias para os modelos de economia
urbana baseados em gradientes de renda e valor da terra. No debate urbanstico, a cidade de
So Paulo frequentemente reconhecida por sua estrutura excessivamente monocntrica e a
esta caracterstica associam-se os graves problemas de trfego e circulao que a cidade
apresenta. Essa percepo disseminada raramente associada a estudos empricos capazes de
revelar o nvel de concentrao das atividades ou a identificao de seus subcentros. Inserindo
este debate na perspectiva da economia urbana, o ensaio revisita algumas das metodologias
aplicadas na literatura e prope um mtodo de identificao de subcentros baseado em
regresso espacialmente ponderada e procedimentos de anlise exploratria de dados
espaciais. A metodologia incorpora a informao estrutural da densidade populacional como
varivel de perturbao no modelo em nico estgio. Tal estratgia permitiu revelar as reas
onde havia as maiores presses por ocupaes residenciais do solo urbano em funo das
proximidades com as reas de concentrao de atividades. O que se conclu que o
zoneamento restritivo e discricionrio, muitas vezes justificados por argumentos estticos e de
sade pblica, acaba muitas vezes atuando como instrumento de excluso social reforando os
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processos de informalidade urbana e segregao socioespacial pela presso que exerce nos
preos do solo urbano.
O terceiro captulo traz o ensaio no qual retomamos a discusso sobre os processos de
expanso urbana, porm situando a discusso a partir de uma perspectiva dinmica em
cidades mdias em rpido crescimento demogrfico. Neste contexto, h o reconhecimento de
que a composio dos preos da terra nas reas limtrofes da mancha urbana sofre uma forte
influncia de expectativas de retornos levando a uma sobrevalorizao do preo gerada por
processos de reteno de terras. Neste ensaio propomos uma metodologia indita de
representao das caractersticas de expanso urbana atravs da utilizao de imagens de
sensoriamento remoto no desenvolvimento de mtricas de expanso urbana. Em uma anlise
aplicada s cidades amaznicas de Marab e Santarm, buscamos caracterizar em uma
perspectiva comparada os processos de converso da terra em usos urbanos nas ltimas trs
dcadas. Incorporando a informao sobre os usos do solo anteriores a converso para uso
urbano, criamos uma escala de potencial de converso relativo a cada uso. A partir da
aplicao das mtricas de paisagem extradas por processamento digital de imagens, geramos
gradientes de potencial de converso para cada cidade nos perodos analisados. Os resultados
apontam diferenas nos padres observados em cada cidade que experimentam atualmente
surtos econmicos de natureza semelhante, porm em fases distintas de desenvolvimento.
O ltimo captulo apresenta uma concluso geral do trabalho, retomando as premissas
estabelecidas em cada ensaio frente aos resultados obtidos. Ademais, trata de indicar os
pontos de articulao entre cada ensaio frente ao referencial terico e instrumental comum
adotado. Por fim, estabelece as limitaes e perspectivas identificadas para desenvolvimento
de trabalhos futuros.
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2 DISPERSO URBANA E SEGREGAO SOCIOESPACIAL NA
METRPOLE PAULISTANA
2.1 Disperso urbana e segregao socioespacial: a estrutura urbana e seus processos
constituintes
A forma como se d expanso das reas urbanas e a segregao socioespacial so pontos
centrais do debate sobre economia urbana e seguem pautando a agenda atual de pesquisa.
comum na literatura ver estes tpicos analisados como processos isolados, tomados em
perspectivas que extrapolam fronteiras disciplinares. No campo da nova economia urbana, as
anlises se apoiam no referencial terico da economia neoclssica que embasa os modelos de
uso do solo derivados das funes de renda da terra. Ainda que este referencial terico
apresente limitaes relacionadas ao alcance do modelo no tratamento das chamadas falhas de
mercado que povoam a economia espacial (ARNOTT, 2012), ele nos permite avaliar de
forma integrada estes dois processos a partir de estratgias analticas como aquelas baseadas
em esttica comparativa3.
Aps a publicao do modelo de Alonso (1964) e as variaes sequenciais introduzidas por
Mills (1967) e Muth (1969), passaram-se alguns anos at que se aplicasse esttica
comparativa na anlise da estrutura espacial urbana. O precursor desta abordagem foi
Wheaton (1974) verificando a influncia qualitativa dos diferentes parmetros atravs da
simulao de "choques" no sistema em equilbrio. Ele demonstra os efeitos que alteraes no
tamanho da populao, na renda e nos custos de transporte acarretam s estruturas urbanas no
que se refere aos gradientes de renda da terra, nas densidades populacionais e na extenso
territorial da cidade. As concluses gerais, ainda que necessariamente analisadas dentro do
alcance relativo do modelo simplificado, apontam para importantes inter-relaes como o
efeito direto do aumento dos custos marginais de transporte no encolhimento do limite urbano
e no aumento da densidade nas reas centrais, ou ainda, o efeito que o aumento generalizado
de renda per capita exerce na tendncia a expanso do limite da cidade e diminuio das
densidades nas reas centrais.
3 Esttica comparativa o estudo de como o preo de equilbrio e a quantidade variam quando se alteram as
condies bsicas. Varian (2003) apresenta uma boa descrio do tema.
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Logo aps a publicao de seu trabalho precursor, Wheaton (1976) introduz uma variao ao
exerccio inaugural de esttica comparativa atravs da segmentao da populao em dois
grupos de rendimento per capita. Pode-se dizer que este o primeiro trabalho a aplicar esta
abordagem na anlise da distribuio espacial de grupos com diferentes perfis
socioeconmicos. O objetivo do trabalho era avaliar se a existncia de grupos heterogneos
dentro de uma mesma cidade aumentaria ou diminuiria o nvel de bem-estar geral se
comparada a cidades mais homogneas. Naquele momento, como concluso geral, o trabalho
demonstrava que a maior heterogeneidade era preferida por ambos os grupos e tanto ricos
como pobres se beneficiavam de uma cidade diversificada. Entretanto, logo aps sua
publicao, Arnott et al. (1978) publicam uma extenso daquele trabalho justificando que as
condies assumidas naquele exerccio eram muito generalistas. Entre elas estava a condio
de que os custos de transporte no dependiam dos nveis de rendimento e eram iguais para os
dois grupos. Ademais, as preferncias do consumidor eram tambm iguais entre os grupos.
Como resultado, foi demonstrado que a relao direta entre diversidade e maior nvel de bem-
estar para todos, nem sempre era verdadeira e dependia do padro de localizao (ricos no
centro e pobres na periferia ou vice-versa) e da proporo de variao que o custo de
transporte apresentava em funo da renda.
O modelo simplificado construdo para dois grupos de rendimentos se apoia na diferena
potencial que possa existir entre as funes de bem-estar de cada grupo, ou em outras
palavras, das preferncias agregadas de seus indivduos. Assim, haver para cada grupo uma
funo de utilidade definida em termos de seu consumo de terra e o consumo de todos os
outros bens agregados. A renda do imvel obtida para cada grupo depender de suas
respectivas restries oramentrias determinadas pelos custos do transporte em funo de sua
localizao na cidade e pelo respectivo nvel de rendimento de cada grupo.
Imaginando-se que, como no exerccio desenvolvido por Wheaton (1976), a cidade
composta por dois grupos, teremos para cada grupo um gradiente de renda semelhante ao
apresentado em Biderman (2001, p.63) (Figura 2.1). Onde, cada grupo populacional estar
diferenciado no espao urbano em relao proximidade ao centro da cidade. No exemplo
empregado no grfico, o grupo populacional 1 (p1) tem maior disponibilidade de renda para o
consumo do imvel do que o grupo 2 (p2). Alm disso, tem maior averso ao deslocamento
relativo ao tamanho do lote. Estas caractersticas implicam em uma inclinao negativa maior
no gradiente de preos para o grupo 1 do que para o grupo 2. Tomado em seu nvel de
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simplificao, esta representao coerente com os padres de macrossegregao que
usualmente encontramos nas cidades brasileiras. Entretanto, como o prprio autor aponta,
seria perfeitamente possvel um equilbrio inverso onde os mais pobres se concentrariam nas
reas centrais da cidade, padro recorrente em cidades norte-americanas.
Figura 2.1 - Gradiente de renda da terra em funo da distncia ao centro principal para
uma cidade com dois grupos populacionais com rendas diferentes.
Fonte: Biderman (2001) onde rArepresenta o valor da renda da terra agrcola, m a distncia em
relao ao centro onde h o ponto de interseco entre os gradientes de renda dos dois grupos e d*
o limite da mancha urbana.
Dentro do arcabouo representacional propiciado pelo modelo, a distribuio espacial dos
grupos e o decorrente padro de segregao socioespacial funo das diferentes funes de
bem-estar de cada grupo e do custo proporcional do transporte (incluindo-se a o tempo gasto
no deslocamento) para cada grupo. LeRoy e Sonstelie (1983) estudaram a interferncia que a
utilizao de diferentes modais de transporte por diferentes grupos de rendimento exercem
nas escolhas de localizao dos grupos de mais alta renda na estrutura urbana. A anlise
baseia-se na forma como a relao entre a quantidade demandada por habitao e
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deslocamentos cotidianos reage variao de rendimento dos indivduos, ou seja, na relao
entre a elasticidade-renda da demanda por habitao e a elasticidade-renda do custo marginal
do transporte. No caso da primeira exceder a segunda, a localizao dos grupos de maiores
rendimentos per capita apresentariam o padro suburbano (modelo norte-americano). Uma
relao inversa entre as elasticidade-renda para habitao e transporte levaria o grupo de
maior rendimento a procurar habitaes em reas mais centrais (modelo cidades brasileiras).
Novamente aqui, apesar de simples, o modelo nos propicia um ambiente de reflexo que
coloca de maneira no absoluta, mas relacional, as situaes de equilbrio possveis nos
processos de segregao decorrente da competio entre os diferentes grupos por localizaes
na cidade. Na medida em que parte importante dos custos relacionados ao transporte deriva da
medida do tempo gasto no deslocamento em relao aos nveis de rendimento dos diferentes
grupos populacionais, a prpria medida de desigualdade entre os nveis de rendimento entre
os diferentes grupos interfere nos padres de segregao resultante.
Seguiram-se outros trabalhos que aplicaram estratgias similares para a anlise da distribuio
de diferentes grupos socioeconmicos nas cidades (SASAKI, 1990; GLAESER; KHAN;
RAPPORT, 2000). Em todos estes trabalhos, h, ainda que no explicitamente, uma
perspectiva simultnea de que os arranjos e rearranjos espaciais dos grupos sociais nas
cidades tambm estavam relacionados aos processos de expanso das cidades. No horizonte
destes estudos, estava em curso um intenso processo de suburbanizao e descentralizao de
atividades que as cidades, sobretudo as norte-americanas, vinham experimentando desde o
fim da segunda guerra mundial. O deslocamento massivo dos grupos de maior poder
aquisitivo para os subrbios, ao mesmo tempo em que ocupavam novas e extensas reas
residenciais de baixa densidade, exacerbavam os efeitos do isolamento de grupos de menor
renda nas reas mais centrais e antigas dos centros urbanos. Este movimento chegou a ser
denominando de white flight (BOUSTAN, 2010) e associado dentro da literatura a
problemas de fundo social e fiscal alm dos analisados no referencial de evoluo natural das
cidades nos modelos ortodoxos de economia urbana (MIESZKOWSKI; MILLS, 1993).
Ainda que a anlise dos processos de crescimento e expanso urbana tenha entrado na agenda
de pesquisa na segunda metade do sculo passado, o tema j suscitava discusses no incio do
sculo quando se constituam as primeiras grandes cidades modernas na Europa e Amrica do
Norte. Em 1915, o escocs Patrick Geddes publica seu livro Cities in Evolution cujo
contedo o mais coerente apanhado de suas vises sobre as cidades e as regies. Geddes foi
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um visionrio pouco compreendido em seu tempo, mas que inaugurou a noo de
planejamento regional e cunhou termos como conurbao e megalpole at hoje
aplicados na caracterizao de processos urbanos contemporneos. Naquele momento,
Geddes antecipava os efeitos da revoluo tecnolgica e chamava a ateno para o fato de que
as novas tecnologias luz eltrica e o motor a combusto interna causavam efeitos de
disperso e conglomerao nas grandes cidades. (HALL, 2002, p.153).
Em meados dos anos 1950, encontram-se os primeiros estudos que tratam do tema da
expanso e disperso de reas urbanas. Havia ento o reconhecimento de que as reas urbanas
apresentavam um crescimento intenso e desordenado frequentemente associado a ocupaes
suburbanas descontnuas e de baixa densidade populacional. Naquele momento, j se atribua
ao processo de expanso urbana excessiva impactos estticos e econmicos negativos. No
comeo da dcada de sessenta, o urbanista William H. Whyte [1958] escreve o artigo
intitulado Urban Sprawl onde cunha o termo e inaugura a discusso sobre o processo de
suburbanizao apontando de maneira enftica as consequncias do que ele mesmo define
como:
The problem of the pattern of growth - or rather, the lack of one. Because of the leapfrog
nature of urban growth, even within the limits of most big cities there is to this day a
surprising amount of empty land. But is scattered; a vacant lot here, a dump there - no one
parcel big enough to be much of use. And it is with the same kind of sprawl that we are
ruining the whole metropolitan area of the future. In townships just beyond today's suburbia
there is little planning, and development is being left almost entirely in the hands of the
speculative builder.(WHYTE, 1958, p.124-125). 4
No plano urbanstico, a difuso do automvel juntamente com a soluo das vias expressas
urbanas alterou definitivamente a evoluo da estrutura espacial urbana no sculo XX e
introduziu um novo paradigma no planejamento e desenho urbano que orientou o
desenvolvimento em todas as grandes cidades do mundo. Um cone sempre lembrado o
plano de Parkways desenvolvido na dcada de 1920 por Robert Moses. Este plano modificou
irreversivelmente a configurao espacial da cidade de Nova York abrindo os caminhos para
4O problema do padro de crescimento ou melhor, da falta de um padro. Devido natureza descontnua do
crescimento urbano, mesmo dentro dos limites da maioria das grandes cidades, h hoje em dia uma
surpreendente quantidade de terra vaga. De forma pulverizada, um lote vazio aqui, um terreno baldio acol -
nenhuma parcela suficientemente grande para que se destine um uso. o mesmo padro de disperso que est
arruinando nossas futuras regies metropolitanas. Nos municpios para alm dos subrbios atuais h pouco
planejamento, e o desenvolvimento est sendo deixado totalmente na mo de incorporadores especulativos.
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novas frentes de expanso suburbana baseada no automvel. (HALL, 2002, p.298). Aps a
segunda guerra, em regio ento acessvel pelo sistema de Parkways, mais de trezentos acres
de terra agrria em Long Island fora convertido em subrbios dando origem a emblemtica
Levittown, cujo nome recebeu em referncia aos seus construtores Levitt e Sons. Surgia um
dos primeiros empreendimentos urbanos produzido em massa nos EUA e que no tardou a ser
replicado em diversas outras partes do pas (GOTTDIENER, 2010). Este novo ciclo
marcado pelo desenvolvimento intenso de reas de baixa densidade, polinucleao e disperso
de atividades comerciais. Na Europa, tambm estava em plena marcha o processo de
reconstruo das cidades e, apesar das diferenas significativas na economia e no papel do
estado no planejamento urbano, tambm se observava um decrscimo nas densidades
populacionais urbanas na medida em que as habitaes sociais eram construdas em reas
perifricas, extenses urbanas planejadas ou ainda em novas cidades. A demanda por
habitaes vinha de famlias proprietrias de automveis que se dispunham morar a distncias
cada vez maiores dos centros de suas cidades histricas (COUCH; LEONTIDOU;
PETSCHEL-HELD, 2007).
As evidncias de que as mudanas nas tecnologias e infraestruturas de transporte so uma
condio necessria expanso das reas urbanas raramente so desconsideradas nos estudos
sobre expanso e disperso urbana. Alguns estudos buscaram demonstrar empiricamente esta
associao atravs de mtodos economtricos (BAUM-SNOW, 2007; HANDY, 2005). As
concluses em geral mostram que de fato h esta associao, mas que inmeros outros fatores
incidem nesta relao e que estes no podem ser desprezados quando se buscam estabelecer
relaes causais. Esta associao tambm estabelecida quando se analisam a distribuio
espacial dos grupos sociais na estrutura urbana, entretanto geralmente se estabelecem
hipteses sobre as diferentes capacidades de utilizao das tecnologias e modos de transporte
a partir dos custos associados a cada uma delas (entendendo que o fator tempo tambm
componente deste clculo do custo). O prprio trabalho de LeRoy e Sonstelie (1983), citado
anteriormente, estabelece seus cenrios de segregao e expanso urbana a partir da evoluo
decrescente dos custos associados ao transporte individual na simulao dos processos de
suburbanizao e regentrificao. Hipteses semelhantes foram estabelecidas em outros
trabalhos. (KAIN, 1968; GOBILLON; SELOD; ZENOU, 2007).
A influncia das tecnologias de transporte (e seus custos associados) que embasam o modelo
cannico da economia urbana, apesar de preponderante, no o nico fator associado aos
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processos de expanso e segregao socioespacial nas cidades. Vrios outros aspectos so
relacionados na literatura como potencializadores da expanso urbana excessiva e indutores
de segregao. Destacam-se nesta discusso os problemas derivados dos processos
especulativos no mercado de terras. Este comportamento opera sobre as expectativas de
valorizao da terra. Neste ponto h certo consenso entre os estudos de que a especulao,
assim como as melhorias nas condies de acessibilidade, sempre est presente nos processos
de expanso urbana (CLAWSON, 1962; HARVEY; CLARK, 1965; BAHL, 1968). Segundo
Archer (1973), a especulao de terras e o consequente desenvolvimento descontnuo e
extensivo da cidade em suas franjas so vistas como falhas de mercado provocadas,
sobretudo, pelas polticas de preos das empresas pblicas e privadas na especificao dos
custos de servios de infraestrutura urbana, pela aparente incapacidade dos compradores de
estimar os custos diferenciais de deslocamento entre as diferentes localizaes e as prprias
incertezas inerentes ao mercado de terras. H autores, entretanto, que no associam
especulao um efeito negativo nos processos econmicos das cidades entendendo que faltam
comprovaes empricas e que, em teoria, podem existir benefcios associados reteno de
terras. (MUTH, 1975; MILLS; HAMILTON, 1993).
O referencial adotado pelos estudos at aqui citados so as cidades norte-americanas que
exibem padres especficos no que se refere suburbanizao e segregao socioespacial. No
caso latino-americano, a grande expanso das reas urbanas na segunda metade do sculo XX
se deu de forma distinta, com processos sociais e econmicos subjacentes que em diversos
aspectos se diferenciam daqueles observados nas cidades norte-americanas ou da Europa
Ocidental. Na realidade, em muitos casos evita-se a utilizao do termo urban sprawl, ou de
sua traduo literal urbanizao dispersa, na caracterizao dos processos de expanso urbana
de metrpoles latino-americanas pela associao direta ao padro suburbano de segregao de
alta renda e baixa densidade (OJIMA, 2007a). Aqui, associam-se aos processos de expanso
urbana o que se convencionou chamar de periferizao, expanses urbanas tambm
segregadas, porm de baixa renda e nem sempre de baixa densidade. Muito da agenda de
pesquisa sobre a urbanizao latino-americana e, especificamente, a brasileira dedicada a
compreender este padro de macrossegregao (VILLAA, 1998; MARICATO, 1996;
KOWARICK, 1979; SANTOS, 1996). Em sua anlise, comum o reconhecimento dos
mesmos processos indutores de segregao e expanso encontrado na literatura norte-
americana e europeia. Predomina aqui tambm a viso de que os dois processos esto inter-
relacionados e derivam de mudanas nas infraestruturas de transportes e nos comportamentos
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especulativos do mercado. Um bom exemplo pode ser observado na descrio sinttica que o
gegrafo Milton Santos faz da organizao interna das metrpoles brasileiras:
As cidades, e sobretudo as grandes, ocupam, de modo geral, vastas superfcies, entremeadas
de vazios. Nessas cidades espraiadas, caracterstica de uma urbanizao coorporativa, h
interdependncia do que chamo de categoriais espaciais relevantes desta poca: tamanho
urbano, modelo rodovirio, carncia de infraestruturas, especulao fundiria e imobiliria,
problemas de transporte, extroverso e periferizao da populao, gerando, graas s
dimenses da pobreza e seu componente geogrfico, um modelo especfico de centro-
periferia. Cada qual destas realidades sustenta e alimenta as demais e o crescimento urbano, ,
tambm, o crescimento sistmico dessas caractersticas. As cidades so grandes porque h
especulao e vice-versa; h especulao porque h vazios e vice-versa; porque h vazios as
cidades so grandes. O modelo rodovirio urbano fator de crescimento disperso e do
espraiamento da cidade. Havendo especulao, h criao mercantil da escassez e o problema
do acesso terra se acentua. Mas o dficit de residncias leva especulao e os dois juntos
conduzem periferizao da populao mais pobre e, de novo, ao aumento do tamanho
urbano. As carncias em servios alimentam a especulao, pela valorizao diferencial das
diversas fraes do territrio urbano. A organizao dos transportes obedece a essa lgica e
torna ainda mais pobres os que devem viver longe dos centros, no apenas porque devem
pagar caro seus deslocamentos como porque os servios e bens so mais dispendiosos nas
periferias. E isso fortalece os centros em detrimento das periferias, num verdadeiro ciclo
vicioso. (SANTOS, 1996, p.95-96)
A perspectiva dicotmica ainda predomina na anlise das metrpoles brasileiras at porque
no h suficientes evidncias de que o padro de macrossegregao centro-periferia no
represente a realidade atual destas metrpoles. Entretanto, h um crescente reconhecimento de
que no interior destes espaos de pobreza e riqueza, bem como nas suas interseces
espaciais, observam-se crescentes nveis de heterogeneidade (TORRES ET AL, 2002;
CALDEIRA, 2000). Diferenciaes internas introduzem maiores nveis de complexidade
atravs do processo de segregao observada em escalas mais prximas. Estas transformaes
podem ser ilustradas pela narrativa que Tereza Caldeira faz sobre a evoluo dos padres de
segregao da cidade de So Paulo:
Ao longo do sculo XX, a segregao social teve pelo menos trs formas diferentes de
expresso no espao urbano de So Paulo. A primeira estendeu-se do final do sculo XIX at
os anos 1940 e produziu uma cidade concentrada em que diferentes grupos sociais se
comprimiam numa rea urbana pequena e estavam segregados por tipos de moradia. A
segunda forma urbana, a centro-periferia, dominou o desenvolvimento da cidade dos anos 40
at os anos 80. Nela, diferentes grupos sociais esto separados por grandes distncias: as
classes mdia e alta concentravam-se nos bairros centrais, com boa infraestrutura, e os pobres
viviam nas precrias e distantes periferias. Embora os moradores e cientistas sociais ainda
concebam e discutam a cidade em termos do segundo padro, uma terceira forma de vem se
configurando desde os anos 80 e mudando consideravelmente a cidade e sua regio
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metropolitana. Sobrepostas ao padro centro-periferia, as transformaes recentes esto
gerando espaos nos quais diferentes grupos sociais esto muitas vezes mais prximos, mas
esto separados por muros e tecnologias se segurana, e tendem a no circular e interagir em
reas comuns. (CALDEIRA, 2000, p.211).
De modo geral, a tradio da sociologia urbana marxista que predomina na anlise urbanstica
que tem dominado a discusso sobre os estudos das decises de localizao intraurbana no
Brasil no concebe a possibilidade de abordagens microeconmicas. As principais crticas
referem-se excessiva simplificao espacial dos modelos adotados e perspectiva do agente
individual como protagonista da estruturao do espao pela simples maximizao de suas
utilidades, sem considerar os processos dominao e estruturas de poder que determinam os
desequilbrios de oportunidades de acesso terra urbana. A falta de uma explicao
microeconmica das decises de localizao residencial e da coordenao que produzem
levou a proposio de abordagens heterodoxas dentro do campo da economia. O trabalho de
Pedro Abramo (2007) contribui nesta perspectiva baseando-se no conceito de externalidade de
vizinhana. Dele, deriva uma abordagem direta sobre o processo de segregao socioespacial
como resultado de um comportamento intencional de famlias cuja deciso de localizao
residencial parte do desejo de estabelecer relaes de vizinhana de famlias do mesmo perfil
socioeconmico. Tal argumento j havia sido defendido pelo economista Thomas Schelling
(1969) quando desenvolveu seu clssico trabalho onde prope a utilizao de modelos para
descrever os processos de segregao derivados do que ele chamou de comportamentos
individuais discriminatrios. O trabalho de Schelling foi pioneiro na proposio de modelos
dinmicos de segregao socioespacial e, a partir de seus experimentos, definiu estratgias
metodolgicas para tratar de aspectos como a escala de anlise na definio e extenso da
vizinhana, o tratamento de minorias populacionais nas configuraes espaciais das reas
segregadas, as diferentes regras de preferncia que determinam os movimentos espaciais dos
diferentes grupos, e o papel da configurao inicial da distribuio espacial nos padres
espaciais que emergem em processos dinmicos de segregao.
Ao que parece, os fatores at aqui considerados de natureza econmica, tecnolgica e social
so indutores de transformao da estrutura urbana e atuam conjuntamente nas tendncias de
expanso urbana e segregao socioespacial. Nos diversos campos disciplinares que dedicam
estudos sobre a questo urbana, tanto altos nveis de segregao socioespacial quanto de
disperso urbana so entendidos como aspectos negativos com consequncias perversas nos
custos de implantao de infraestruturas urbanas, na oferta de servios e equipamentos e nos
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nveis de desigualdade social. Apesar de haver considervel acmulo de estudos sobre o
padro disperso de crescimento urbano e segregao socioespacial, a perspectiva econmica
que domina a discusso sobre o tema enfrenta o desafio de estabelecer representaes
empricas e operacionalizveis destes conceitos. Alguns trabalhos tm dedicado esforos na
proposio de diferentes mtricas de disperso urbana e tambm de segregao socioespacial.
Em geral, estes estudos enfocam apenas um destes processos e limitam-se a uma perspectiva
descritiva das estruturas espaciais urbanas.
2.2 Medidas de disperso urbana e segregao socioespacial
No que se refere representao da disperso e forma urbana, pode-se dizer que foi Colin
Clark (1951) o precursor na abordagem da anlise da estrutura urbana atravs de gradientes de
densidade em seu clssico artigo sobre "densidades de populaes urbanas". Nele, estabeleceu
que a densidade populacional decresce de forma exponencial em funo da distncia em
relao ao centro de negcios principal da cidade. Esta relao pode ser representada
seguindo uma funo na forma de () = onde D(x) a densidade populacional em
unidades de populao por unidade de rea e x a distncia ao centro de negcios. Clark se
apoia em duas generalizaes que para ele so tomadas como vlidas e universalmente
aceitas. A primeira afirma que para qualquer grande cidade, com exceo do distrito central
de negcios, o qual possui poucos habitantes, encontram-se distritos mais densos no interior
da estrutura urbana e que a densidade decresce progressivamente na medida em que nos
afastamos para os distritos mais externos da cidade. A segunda generalizao afirma que na
maioria das cidades, na medida em que o tempo passa, a densidade diminui em todos os
distritos internos mais populosos e aumenta nos distritos mais afastados. Assim, a cidade
como um todo tende a se espalhar em distncias cada vez maiores ao centro original neste
movimento. Estas generalizaes esto ilustradas no artigo com dados estimados para um
conjunto de cidades europeias e americanas que parecem confirmar a teoria. Entretanto, alm
da riqueza de dados reunida sobre as cidades na primeira metade do sculo XX, o artigo
pouco explora as causas para a ocorrncia destes padres. Esta mesma abordagem foi
replicada em um trabalho recente desenvolvido por Cotelo e Rodrigues (2011) que estimaram
com dados censitrios georreferenciados os gradientes de densidade populacional e de renda
para 12 regies metropolitanas no Brasil. Com exceo de Braslia, todas as estruturas
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intraurbanas apresentam empiricamente gradientes de densidade populacional decrescentes
reafirmando a validade do modelo de Clark.
O trabalho de Galster et all. (2001) desenvolve a definio conceitual e operacional de oito
dimenses de disperso urbana. A primeira dimenso a densidade populacional e
densidadede empregos sendo esta a mais difundida medida de disperso na literatura. A
segunda a continuidade da mancha urbana procurando medir a existncia de vazios urbanos
e sua extenso. A terceira uma medida de concentrao relacionada ao grau em que as
unidades habitacionais ou empregos esto desproporcionalmente localizados em algumas
poucas reas ou espalhados de forma uniformemente atravs do espao. A quarta medida
uma medida de agrupamento (Clustering) e tem relao direta com a medida anterior
diferenciando-se na forma como espacialmente se organiza as reas desenvolvidas. A quinta
dimenso esta relacionada ao nvel de centralidade da estrutura urbana medida em funo
das distncias mdias das reas desenvolvidas ao Centro de Negcios identificado onde se
localiza a Sede da Prefeitura do Municpio. A sexta dimenso a nuclearidade que envolve a
identificao de ns ou ncleos na estrutura urbana. A stima e oitava dimenso, usos mistos
e proximidade, esto basicamente relacionados ao arranjo espacial de diferentes usos na rea
urbana. O fato mais interessante dentro desta proposta de operacionalizao das mtricas de
disperso a utilizao de um suporte espacial nico para todas as mtricas baseado em uma
grade regular de clulas de igual tamanho. A utilizao deste espao celular abre perspectivas
interessantes no que se refere possibilidade de integrao de outras bases de dados.
Outra estratgia para a construo de mtrica de disperso urbana tem sido proposta em
alguns estudos recentes e est baseada na utilizao de imagens de satlites como fonte de
dados primrios. Tanto os trabalhos de Burchfield et al (2006) como o Angel et al (2011) se
apoiam nesta fonte de informao na busca por representar a dimenso do arranjo espacial da
estrutura urbana. O primeiro utiliza uma medida de disperso urbana construda a partir dos
dados do National Land Cover Data (NLCD) de 1992. O NLCD uma base de dados
construda a partir de imagens Landsat TM classificada em 21 classes de uso da terra em
resoluo espacial de 30X30 metros com recobrimento de toda a extenso territorial dos
EUA. O trabalho tambm integrou as bases do Land Use and Land Cover Digital Data que
derivado em grande parte de imagens areas obtidas em torno do ano de 1976 e disponvel no
U.S. Geological Survey. A partir desta base de dados, os autores selecionaram as classes de
uso residencial para construir uma medida simples na forma de percentual da terra no
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desenvolvida (ou ocupada) no entorno imediato cobrindo 1Km2 de cada clula de uso
residencial. A partir desta medida local de disperso urbana, os autores criaram uma medida
global para cada regio metropolitana calculando o percentual mdio deste nvel de
desenvolvimento em torno das clulas de uso residencial. Esta medida global de disperso
urbana calculada para cada regio metropolitana utilizada pelos autores como varivel
dependente testando num modelo de regresso sua relao com uma srie de outras variveis
que poderiam determinar maiores nveis de disperso urbana. As variveis independentes
includas no modelo so de natureza demogrfica, ambiental e econmica. A grande
contribuio deste trabalho foi, alm de propor um ndice de disperso urbana construdo a
partir das imagens de sensoriamento remoto, utilizar as variveis fsico-ambientais geralmente
desconsideradas em anlises similares.
O uso de imagens de satlite classificadas como as utilizadas no indicador de disperso
urbana proposto em Burchfield et al (2006) pode apresentar limitaes especialmente quando
se trata da identificao das reas ocupadas de baixa densidade bem como da diferenciao
dos usos urbanos. Em Irwing e Bockstael (2007) foram realizadas comparaes entre os dados
do NLCD com bases derivadas de levantamentos planimtricos para algumas das metrpoles
estudadas em Burchfield et al (2006). Baseados nas matrizes de confuso encontradas, os
autores refutam as concluses de Burchfield et al (2006) que indicam que a extenso da
disperso urbana permaneceu praticamente inalterada no perodo entre 1976 e 1992 uma vez
que os dados do NLCD tendem a subestimar a disperso. Isso porque os dados do NLCD no
identificam bem as reas ocupadas de baixa densidade populacional. Segundo os autores,
apenas 8% das reas com estas caractersticas foram corretamente classificadas na base do
NLCD. Alternativamente, o estudo de Irwing e Bockstael (2007) prope a utilizao de
medidas de fragmentao derivadas das abordagens tpicas da Ecologia da Paisagem5 como
forma a capturar padres espaciais de desenvolvimento urbano.
5O termo Ecologia da Paisagem foi inicialmente proposto pelo gegrafo alemo Carl Troll no ano de 1939 e
nasceu de uma perspectiva interdisciplinar interessada no estudo das interaes complexas entre as comunidades
biolgicas e o ambiente. Esta perspectiva analtica se colocava a partir do desenvolvimento dos estudos
cientficos que utilizavam as primeiras imagens areas ento disponveis (TROLL, 1971). Recentemente a
ecologia da paisagem tem se renovado dentro da emergncia de conceitos como sustentabilidade e tambm
apoiada nos avanos das tcnicas geocomputacionais. Muito desse movimento deve-se em grande parte aos
desafios metodolgicos que o estudo das mudanas climticas induzidas por fatores antropognicos fomentou e a
um crescente reconhecimento de que so necessrias abordagens sensveis aos padres espaciais definidores das
estruturas de paisagem (HOBBS, 1997).
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O trabalho desenvolvido em Angel et al (2011) tambm deriva da tradio analtica da
Ecologia da Paisagem quando prope a utilizao de imagens de satlite para construir
mtricas das cinco dimenses, que para os autores so necessrias compreenso dos
processos de disperso urbana. A primeira a prpria medida da extenso da terra
urbanizada, usualmente derivada da quantificao dos pixels classificados como superfcie
impermeabilizada (impervious surface), os autores propem formas para diferenciao das
reas centrais, intermedirias e franjas da mancha urbana bem como a identificao das reas
abertas capturadas dentro das manchas urbanizadas contnuas. A segunda dimenso a
densidade medida como a relao mdia entre a populao e a rea urbanizada. A terceira
dimenso a fragmentao medida como a proporo de reas abertas existentes entre as
reas j desenvolvidas e entre as novas reas de expanso urbana. Nesta dimenso se
diferenciam os padres espaciais de expanso urbana em trs tipos: desenvolvimentos
internos a mancha urbana j consolidada (infill), novos desenvolvimentos contguos mancha
urbana nas franjas da cidade (extension) e novos desenvolvimentos no contguos mancha
urbana (leapfrog). A quarta dimenso a centralidade calculada como a proporo da
populao que vive prxima ao centro de negcios. Por fim, a quinta dimenso a
compacidade, relacionada diretamente com a forma da mancha urbana e o grau em que ela se
aproxima a uma forma circular ou a um padro tentacular menos compacto. Para cada uma
destas dimenses foi proposto uma srie de mtricas e indicadores com o objetivo especfico
de operacionalizao destas dimenses para que se pudessem estabelecer estratgias analticas
capazes de estabelecer um quadro comparativo das 120 grandes aglomeraes urbanas
existentes ao redor do mundo.
No Brasil, poucos so os trabalhos que se dedicaram a construo de representaes
quantitativas de disperso urbana. Entre estes, destaca-se o trabalho desenvolvido por Ojima
(2007b) que em sua tese de doutorado prope um indicador de disperso urbana dentro de
uma abordagem comparativa entre as metrpoles do pas. O indicador inclui quatro
dimenses: densidade, fragmentao, orientao e centralidade. As trs primeiras
dimenses seguem a lgica dos indicadores propostos na literatura internacional, com a
diferena de utilizar exclusivamente as bases geogrficas do censo demogrfico. A quarta
dimenso bastante inovadora e utiliza dados de movimentos pendulares para identificar os
padres de mobilidade intra-metropolitano atravs das propores de movimentos pendulares
com destino ao centro principal ponderado pela intensidade do total de movimentos
pendulares em relao populao total. Por fim, o autor aplica uma normalizao nos
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ndices e calcula a posio relativa de cada aglomerado no contexto metropolitano nacional
atravs no que se refere ao grau de disperso urbana.
No que se refere representao da segregao socioespacial, os primeiros estudos derivam
da tradio norte-americana de enfocar o aspecto racial nos estudos de segregao que
ganham fora a partir dos anos 50 com os movimentos por direitos civis contra as leis
segregacionistas (MASSEY; DENTON, 1987). Neste perodo, surgem alguns estudos
propondo mtricas de segregao socioespacial, sendo que o mais difundido neste tipo de
anlise o ndice de dissimilaridade proposto por Duncan e Duncan (1955). O tema da
segregao seguiu na agenda de pesquisa incorporando outros aspectos relacionados no
apenas com a questo tnica e racial, mas tambm a dimenso da segregao de natureza
socioeconmica. Diferentemente das medidas de disperso e expanso urbana que apenas
recentemente se diversificaram dentro da agenda de pesquisa, diversas mtricas de segregao
socioespacial foram propostas na literatura. A dissertao de mestrado da arquiteta Flvia
Feitosa (2005) faz uma ampla reviso do conjunto de iniciativas que tinham por finalidade a
quantificao da estrutura de segregao socioespacial das cidades. Alm do esforo de
catalogao realizado pela pesquisadora, ela apresenta uma organizao destas propostas
dentro de trs perodos: a primeira fase rene as primeiras iniciativas com a proposio dos
ndices dicotmicos, onde apenas dois grupos populacionais eram considerados na medida,
em geral dois grupos raciais. A segunda fase inclui as medidas de segregao para vrios
grupos. Este segundo conjunto de iniciativas decorria da constatao de que em muitos casos,
para alm da questo racial, havia tambm a segregao por critrios socioeconmicos para os
quais a classificao em apenas dois grupos era insuficiente na descrio dos padres de
segregao. Por fim, em meados da dcada de 80, a terceira fase nascia do reconhecimento da
falta de sensibilidade espacial dos ndice