fotografia: multiplos olhares

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1234Elaborada por: Terezinha Batista de SouzaEditores de texto:Fabiana Aline AlvesPaulo Csar BoniEditor de fotografia:Paulo Csar BoniReviso:Ayoub Hanna AyoubFabiana Aline AlvesNormalizao:Laudicena de Ftima Ribeiro / CRB 9 / 108Programao visual:Heliane Miyuki MiazakiCapa:Criao e arte de Heliane Miazaki com imagensgentilmente cedidas pelo fotgrafo Mrio BockF759 FotograIia: multiplos olhares / Paulo Cesar Boni (Org.).Londrina: MidiograI, 2011.330 p.: il. ; 21cm.ISSN 978-85-60591-59-61. FotograIia. 2. ProIissionais da InIormao - FotograIia. 3.FotograIia - Comunicao. I. Boni, Paulo Cesar.CDU: 77.01Catalogao elaborada pela Diviso de Processos Tcnicos do Sistema de Bibliotecasda Universidade Estadual de Londrina (UEL)Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)5Prof. Ms. Ayoub Hanna Ayoub(Universidade Estadual de Londrina)Prof. Dr. Isaac Antonio Camargo(Universidade Federal de Santa Catarina)Profa.Ms.Dda.MariaZaclisVeigaFerreira(UniversidadePositivo)Prof. Dr. Milton Guran(Universidade Federal Fluminense)Profa. Dra. Simonetta Persichetti(Faculdade Csper Lbero)Conselho Editorial67A todos os professores e estudantes do Curso de Especializao em Fotografia:Prxis e Discurso FotogrficodaUniversidadeEstadualdeLondrina;A todos os estudantes, professores, pesquisadores e colaboradoresque participam desta publicao;Aos membros do Conselho Editorial que, com ateno, pacincia ecompromisso,leram e deliberaram sobre as propostas de publicao; Laudicena de Ftima Ribeiro, a Lau,profissionalcomprometidacomotrabalho,pela reviso e normalizao dos textos; Katiusa Stumpf, pela sugesto do ttulo do livroFotografia: mltiplos olhares;Ao fotgrafo Mrio Bock, pela cesso de imagens de suacoleo particular de cmeras fotogrficas clssicas e antigas; Heliane Miazaki, pelo carinho e capricho na programao visual.Agradecimentos89 memria do fotgrafo Joo Bittar (1951-2011),falecido dia 18 de dezembro de 2011,por sua seriedade e dedicao tica ao fotojornalismo brasileiro.1011Sumrio15anosdetrabalhoeresultados .......................................................................... 13Aintencionalidadedecomunicaonofotojornalismo:anlisedasimagensdolatrocniodeIsabellaGarciaLopes ........................... 27Fernanda Grosse Bressan e Paulo Csar BoniFoto-choqueetragdiasnofotojornalismo:anlisefotogrficados terremotos no Haiti e no Japo pelo blog Big Picture .................................. 51Anderson Jos da Costa Coelho e Anna Letcia Pereira de CarvalhoMaratona Fotogrfica Clic o Seu Amor por Londrina:elementosformadoresdaimagemdacidade .................................................... 75Natalia Nakadomari Bula e Milena KanashiroAfotografiacomomaterializaodarelaoentresujeitoeespao:aexperinciadeoficinasdefotografiaeleituradeespaosno Colgio Estadual Ana Molina Garcia, em Londrina (PR) ................................ 89Mariana Ferreira Lopes e Michelli Mahnic de VasconcellosArepresentaofotogrficadosoutros:mltiplaspossibilidadesdeconstruoedeleituras ................................................................................... 111Jlia Mariano Ferreira e Paulo Csar BoniRetratoscriminosos:ofotojornalismoeasdiferentesnarrativasdecriminalidade ................................................................................. 131Juliana Daibert e Ana Lcia Rodrigues12Onovofotojornalismoeoscoletivosfotogrficos ........................................... 151Rodolpho Cavalheiro NetoOfotojornalismonaconstruodoconhecimentohistrico:a cobertura de VejasobreaimplantaodoAI-5.............................................. 169Fabiana A. AlvesAfotografiaaliadahistriaoralparaarecuperaoepreservaodamemria ...................................................................................... 201Maria Luisa HoffmannAimportnciadaimagemnarecuperaohistricadosdesfilesde aniversrio de Santa Mercedes (SP) ............................................................... 231Letcia Bortoloti Pinheiro e Paulo Csar Bonilbunsdefamliaelbunsdigitais:apropsitodesemelhanasediferenas ................................................................................ 265Anderson Timteo Ferreira e Katharine Nbrega da SilvaImagenssilenciosas:afotografianocemitriosobumaabordagemfotoetnogrfica ........................................................................ 285Letcia Silva de Jesus e Alamir Aquino CorraImagemfotogrfica:processodeleituraeanlisedocumental ................................................................................................ 309Maria del Carmen Agustn Lacruz e Katiusa Stumpf1315 anos de trabalho e resultadosO Curso de Especializao em Fotografia: Prxis e DiscursoFotogrfico da Universidade Estadual de Londrina Ioi criado em meadosde 1996 e comeou suas atividades no inicio de 1997. Foi o primeirocurso de pos-graduao Lato sensu em IotograIia do Brasil. Hoje, somais de 40, mas o da UEL, com atividades ininterruptas nesses 15 anos,alem de pioneiro, tambem e reconhecido como o mais tradicional econsistente do pais.Em 1996, por ocasio da preparao de seu projeto de criao,deixavamos claro que pretendiamos ampliar os horizontes do ensino emIotograIia e criar um Iorum avanado de discusso sobre imagem emLondrina. Para tanto, alem da qualidade do ensino e da gerao deconhecimentos (pesquisa), procuramos estreitar os laos da academia como mercado de trabalho, promovendo a vinda de IotograIos renomadospara ministrar aulas, oIicinas e workshops no curso.A equipe que pensou o projeto da Especializao em FotograIia(pos-graduao Lato sensu) era Iormada pelos proIessores doutores IsaacAntonio Camargo, Miguel Luiz Contani e Paulo Cesar Boni. No porcoincidncia, dez anos mais tarde, com mais experincia e maturidade,essamesmaequipecapitaneouaimplantaodoMestradoemComunicao (pos-graduao Stricto sensu) na Universidade Estadualde Londrina.Em 1999, com apenas dois anos de atividades, o curso lanou seuprimeirolivroOdiscursofotogrfico,quereuniaostrabalhosdeconcluso de curso (TCCs) de estudantes de suas duas primeiras turmas,14ou seja, as de 1997 e 1998. Nesse momento, era permitido que atividadespraticas, como ensaios IotograIicos, Iossem apresentadas como TCC.Esse primeiro livro reIlete bem aquela Iase, pois traz muito mais ensaiosIotograIicos que materiais teoricos.No ano 2000, deIendi, na Escola de Comunicao e Artes daUniversidadedeSoPaulo(ECA/USP),minhatesededoutorado.Intitulada O discurso fotogrfico: a intencionalidade de comunicaono fotojornalismo, ela trazia uma nova proposta metodologica de analiseIotograIica. Hoje, essa proposta parece bastante simples e logica, mas,quando apresentada, Ioi considerada uma inovao perigosa. Todas asmetodologias de analise, ate ento, pressupunham que o processo analiticoIosse realizado do produto Iinal (IotograIia) para Irente, ou seja, alguemolhava para uma IotograIia e comeava Iazer a analise. A da intencionalidadede comunicao propunha que a analise Iosse Ieita do produto Iinal paratras, ou seja, da IotograIia para o IotograIo, para tentar aIerir qual era suainteno no momento do registro IotograIico.Esta metodologia pressupe que o IotograIo utiliza os recursostecnicos e os elementos de linguagem da IotograIia para maniIestar suaintencionalidade de comunicao na mensagem IotograIica. Assim, ao tomaruma imagem, se ele utilizar uma lente grande-angular, por exemplo, saberaos resultados visuais que ela produzira. Se lanar mo de um elemento dalinguagem IotograIica, como o plano medio, por exemplo, sabera queesse plano interage o sujeito ao ambiente; tambem sabera antecipadamenteque se Iizer a tomada em ngulo plongee podera desvalorizar o sujeito ouobjeto IotograIado. Com o conhecimento dos eIeitos visuais dos recursostecnicos e dos conceitos dos elementos da linguagem IotograIica, ele teramais probabilidades de maniIestar, na mensagem IotograIica, seu pensar,sua opinio, sua intencionalidade de comunicao.Emtese,oprocessoesimples.BastapegaraIotograIiaedesconstrui-la analiticamente, ou seja, identiIicar os recursos tecnicosutilizados para obt-la e os elementos da linguagem IotograIica utilizados15para sua composio. Com base nessa desconstruo analitica e nosconceitos dos recursos e linguagem utilizados, e possivel inIerir ou seaproximar da intencionalidade de mensagem do IotograIo. E uma especiede percurso gerativo do criador a criatura.De 2000 aos dias atuais, esta proposta metodologica Ioi utilizadaem diversos trabalhos de concluso de curso de graduao, em muitasmonograIias de pos-graduao Lato sensu e em algumas dissertaes demestrado. Varios artigos utilizando-a Ioram publicados em periodicoscientiIicosdetodoopais.Nestelivro,elaeutilizadanostextos Aintencionalidadedecomunicaonofotojornalismo:anlisedasimagens do latrocinio de Isabella Carcia Lopes (p.27-49), que dividoa autoria com Fernanda Grosse Bressan, ex-aluna da especializao emIotograIia e atual estudante do mestrado em comunicao, e Foto-choquee tragdias no fotojornalismo: anlise fotogrfica dos terremotosno Haiti e no 1apo pelo blog Big Picture (p.51-74), de AndersonJose da Costa Coelho, estudante do mestrado em comunicao da UEL,e Anna Leticia Pereira de Carvalho, ex-aluna da especializao emIotograIia e atual estudante do mestrado em comunicao da FaculdadeCasper Libero, de So Paulo.O primeiro texto traa um comparativo de como dois jornais deLondrina, a Folha de Londrina e o Jornal de Londrina, cobriram umcaso de latrocinio ocorrido em um sinal de trnsito no centro da cidade. Osegundo tambem traa um comparativo, desta Ieita com a cobertura queo blog Big Picture deu as tragedias (terremotos) do Haiti, em 2010, e doJapo, em 2011. Em ambos os casos, o objetivo dos autores Ioi, pormeio da proposta metodologica da intencionalidade de comunicao,identiIicar ou se aproximar da mensagem dos IotograIos e editores dosjornais e do blog.Em2001,ocursoiniciouumdeseusprincipaisprojetosdedocumentao IotograIica, intitulado A Histria de Londrina contada16porimagens(2001-2019).EsteprojetoestadocumentandoastransIormaes paisagisticas urbanas e rurais do municipio de Londrinadesde 2001 e pretende continuar documentando-as ate 2019, ou seja,durante duas decadas.Para coletar IotograIias e constituir um banco de imagens com esseintuito, em 2001 Ioi lanada a I Maratona Fotogrfica Clic o Seu Amorpor Londrina, um concurso IotograIico no qual os participantes soconvidados a IotograIar as belezas e as relevantes transIormaes domunicipio. As maratonas acontecem a cada dois anos, sempre nos anosimpares. De cada uma delas, 100 IotograIias so selecionadas para umaexposioIotograIicaepassamacomporobancodeimagensquedocumentaastransIormaespaisagisticasdeLondrina.Decadamaratona tambem so selecionadas 26 IotograIias para a conIeco dedois calendarios de mesa, com 13 IotograIias cada um, que so distribuidosgratuitamente para autoridades representativas do municipio, segmentosorganizados da sociedade londrinense, alem de estudantes, proIessores epesquisadores da Universidade Estadual de Londrina.Oobjetivoe,em2019,realizarumagrandeexposiocomIotograIias que documentaram as transIormaes historicas de Londrinade 2001 a 2019, ou seja, com imagens tomadas ao longo de vinte anos.Durante esse periodo, devero ser realizadas dez maratonas IotograIicas(ainda Ialtam realizar as de 2013, 2015, 2017 e 2019). Assim, a sociedadepodera, por meio dessa documentao IotograIica, exposta em Iorma de'linha do tempo, acompanhar e entender como as paisagens urbanas erurais Ioram transIormadas durante duas decadas. E 'a historia de Londrinacontada por imagens.O acervo IotograIicobanco de imagensdas maratonas e umarica Ionte de pesquisa para diversas areas do conhecimento. Neste livro,por exemplo, ele Ioi a materia prima para a pesquisa de duas proIissionaisdaarquitetura:NataliaNakadomariBula,quetambemcursouaespecializao em IotograIia, e Milena Kanashiro, proIessora de arquitetura17e urbanismo da UEL. Juntas, produziram o texto Maratona FotogrficaClic o Seu Amor por Londrina: elementos formadores da imagemna cidade (p.75-88), que traz importantes contribuies da arquiteturapara a sociedade, como um todo, e para os estudos de comunicaovisual, em particular. Elas analisaram, com reIerenciais teoricos dapercepo ambiental, as IotograIias das quatro primeiras maratonasIotograIicas (2001, 2003, 2005 e 2007) para apurar sua insero noselementos Iormadores da imagem da cidade, propostos por Kevin Lynch.De acordo com esse autor, os elementos so: limites, setores, marcos,vias e nos.Desdeoinicio,umdosobjetivoseumadasmaiorespreocupaesdo curso Ioi preparar pessoas para o exercicio dacarreira docente, especialmente para o ensino da IotograIia. DuasdisciplinasMetodos e tecnicas aplicadas ao ensino da fotografia eDesenvolvimento de habilidades docentes no ensino da fotografia so especialmente voltadas para este objetivo. Em uma delas, osestudantessoincentivadosaprepararemprojetosdeensinodeIotograIia para serem aplicados em escolas, associaes de bairros oude classes, organizaes no governamentais, comunidades carentes eoutras. Um desses projetos Ioi aplicado pelas estudantes Michelli Mahnicde Vasconcellos, da especializao em IotograIia, e Mariana FerreiraLopes, do mestrado em comunicao da UEL, em um colegio em umaarea de vulnerabilidade social em Londrina. Da aplicao do projeto eda observao criteriosa de sua aplicao e resultados obtidos, as autorasproduziram o texto A fotografia como materializao da relaoentre sujeito e espao: a experincia de oficinas de fotografia eleituradeespaosnoColgioEstadual AnaMolinaCarcia,emLondrina (PR) (p.89-110) que, alem da experincia didatica, mostracomo o projeto, gerado em uma das disciplinas do curso, contribuiupara o despertar do sentimento de cidadania dos estudantes do colegioque, por meio das oIicinas, descobriram seu papel e responsabilidadena preservao dos espaos onde vivem e estudam.18A toda engajada Julia Mariano Ferreira, que veio de Goinia (GO)para cursar a especializao em IotograIia na UEL e agora cursa o mestradoem arte e cultura visual na Universidade Federal de Goias (UFG), noapenasaplicouseuprojetoemumacomunidadecarentecomoseentusiasmou com o assunto e continuou a estuda-lo. Tenho o prazer civicoe acadmico de dividir com ela a autoria do texto A representaofotogrfica dos outros: mltiplas possibilidades de construo ede leituras (p.111-129), no qual estudamos o processo de inclusosocial, por meio da IotograIia, das Iavelas do Rio de Janeiro. Algumasexperincias, principalmente a vivenciada pelo Projeto Viva Favela, estomudandoderepresentao(produzidaporatoresexternos)paraapresentao ou autorrepresentao (produzida por membros da propriacomunidade) a imagem IotograIica de comunidades cariocas.O Jiva Favela e um movimento no governamental que objetivaaproduodeumaidentidadepropria,constituidaapartirdacomunidade, em detrimento do conhecimento oIertado pelos meiosdecomunicaoconvencionais,queconstroemumimaginarioexterior sobre a Iavela. Nesse movimento, os moradores produzemnarrativas endogenas poliInicas sobre o cotidiano, oIerecendoaoleitordasimagensaoportunidadededesvencilhar-sedequaisquerideiaspre-concebidaspelosmoradoresdoasIaltoarespeito da Iavela. Trata-se de uma representao crescente nasIavelas. Denominada de autorrepresentao IotograIica`, e umamontoado narrativo que permite conhecer a historia de um povo,suas tradies religiosas, culturais, politicas, enIim um conjuntode traos e lembranas, assim como experincias que conIiguramsua identidade coletiva. (FERREIRA; BONI, 2011, p.121).Em 2005, o curso lanou a revista Discursos Fotogrficos, nascidapara, em um primeiro momento, ser um espao no qual pesquisadores,proIessores e estudantes da especializaoe tambem da graduao pudessemdarvazoaoresultadodesuaspesquisasegeraodeconhecimentos. O primeiro numero Ioi absolutamente endogeno, trouxe19artigos apenas dos proIessores e estudantes da especializao e de algumasparceriasentreosproIessoresdapos-graduaoeestudantesdegraduao. E nem poderia ser diIerente, aIinal a revista no existia e, claro,Iicaria diIicil convidar colaboradores externos para nela publicarem. Elesso costumam aceitar convites de revistas que ja estejam circulando comperiodicidade garantida, indexada (de preIerncias em varios e importantesindexadores internacionais) e ranqueada no sistema de avaliao conhecidocomo Qualis Capes.A partir do segundo numero, a revista tornou-se exogena, ou sejacomeouapublicarcontribuiesexternas,massuaperiodicidadecontinuava anual. Ela nasceu anual por questo de recursos (Ialta derecursos, claro!), pois todas as despesas com produo, impresso edistribuio corriam por conta da especializao em IotograIia. Circulavasempre no dia 19 de agosto, o Dia Mundial da FotograIia. E assim Ioi ate2007. Em 2008, com o inicio das atividades do mestrado, ela passou aser semestral. Alem de 19 de agosto, comeou a circular tambem no dia19 de maro, Dia de So Jose.Hoje, com onze edies publicadas e a decima segunda na Iorma(ira circular dia 19 de maro de 2012), ela e considerada a mais importanterevista do pais na area de visualidade. Possui as verses impressa eeletrnica1, nunca atrasa a circulao e esta ranqueada como B-3 peloQualis Capes. Entre 75 e 90 dos artigos publicados so contribuiesexternas, inclusive do exterior. Desde 2008, todos os numeros trazempelo menos uma contribuio internacional. E, claro, desde seu inicio,muitos artigos sobre Iotojornalismo Ioram publicados. No sem justa causa:o Iotojornalismo Ioie continua sendoum dos impulsionadores docurso de especializao em IotograIia.1Disponivelparaconsultaedowloadem:www.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos20Este livro tambem traz textos sobre Iotojornalismo. Alem do quetraa um comparativo da cobertura IotograIica de um caso de latrocinioem Londrina, a jornalista maringaense Juliana Daibert, do curso deespecializao em IotograIia, em parceria com Ana Lucia Rodrigues,proIessora da pos-graduao em cincias sociais da Universidade EstadualdeMaringa,produziuotrabalhointitulado Retratoscriminosos:ofotojornalismo e as diferentes narrativas de criminalidade (p.131-149), no qual demonstram a parcialidade da imprensa maringaense(parcialidade, alias, que pode ser estendida para toda a imprensa brasileira)na cobertura de crimes. Quando o suspeito e de classe menos Iavorecida,ja e tratado como culpado, com linguagem chula e jarges preconceituosos,expostos em IotograIias Irontais, com pouca roupa; quando o suspeito erico, politico ou personalidade e considerado apenas comosuspeito,IotograIado em circunstncias adequadas a um acusado e tratado comrespeito nos textos.OutrotextosobreIotojornalismoedoIotograIoRodolphoCavalheiro Neto, paulistano que veio cursar a especializao em IotograIiana UEL. Ele aborda uma nova tendncia no Iotojornalismo, a dos coletivosIotograIicos, na qual os autores abdicam dos creditos individuais pelocredito coletivo em suas IotograIias. O texto O novo fotojornalismo eos coletivos fotogrficos (p.151-168) trata dessa nova proposta, mostracomo os coletivos tm inovado no, segundo o autor, 'Iotojornalismoconservador praticado no Brasil. Mais que isso, pontua a tendncia deatuaoesteticadoscoletivosCia.deFotoeGarapa,comsuasparticularidades e individualidades enquanto sujeitos e coletivos.Em 2007, ao comemorar dez anos de atividades, o curso deespecializao estava consolidado e a revista Discursos Fotogrficoscirculava com regularidade e sem atrasos. Com isso, julgamos ser omomento de dar entrada, nas instncias Iormais, ao processo de criaodoMestradoemComunicao Visual,aprovadosemquaisquer21restries ou diligncias pela CapesCoordenao de AperIeioamentodePessoaldeNivelSuperior.Foioprimeiromestradovoltadoexclusivamente para a visualidade no pais. E claro que gostariamos depedir o credenciamento de um mestrado em IotograIia, mas sabiamosque a Capes no iria aprovar um recorte to especiIico. Ento, solicitamosautorizao para o mestrado em comunicao, com area de concentraoem comunicao visual. Sabiamose isso se conIirmou com a oIertadasprimeirasturmasqueagrandevedetedomestradoseriaaIotograIia.Com o inicio das atividades do mestrado, em 2008, abrimos umalinha de pesquisa e projetos voltados para IotograIia e memoria. Variasdissertaes ja Ioram deIendidas com reIerenciais teoricos especiIicosdessaarea,algumas,inclusive,comapropostametodologicadaintencionalidade de comunicao. Tanto investimento de tempo e,principalmente, em recursos humanos nesta linha de pesquisa surtirambons Irutos. Fabiana Aline Alves, ex-aluna da especializao em IotograIiae do mestrado em comunicao da UEL, hoje proIessora colaboradorada Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), de Guarapuava(PR), contribui neste livro com o texto O fotojornalismo na construodoconhecimentohistrico:acoberturadeVejasobreaimplantao do AI-5 (p.169-199), no qual demonstra a importnciado jornalismo e do Iotojornalismo na recuperao e preservao damemoria. Neste sentido, a Universidade Estadual de Londrina e umexpoente no pais.A UEL, modestia inclusa, esta sempre um passo a Irente. Criou oprimeiro curso de pos-graduao Lato sensu em IotograIia do pais,mantem em circulao a mais importante revista especializada em imagem,e criou o primeiro mestrado em visualidade do Brasil. Apresentou umaproposta metodologica, a da intencionalidade de comunicao e, desde2009, esta trabalhando para consolidar uma nova tecnica metodologica,a do uso da IotograIia como disparadora do gatilho da memoria.22Essaperceposurgiuduranteoprocessodeorientaodemestrado de Maria Luisa HoIImann que, em um primeiro momento, tinhaplanejado pesquisar a estetica IotograIica de Sebastio Salgado em doisde seus documentarios (xodos e Gnesis), mas acabou se rendendoaos encantos do uso da IotograIia para a recuperao e preservao damemoriaemudouseuprojetodepesquisa.SuadissertaoIoiemIotograIia e memoria e hoje, doutoranda na Escola de Comunicao eArtes da Universidade de So Paulo (ECA/USP), continua pesquisandoIotograIia e memoria, sob orientao do ProI. Dr. Boris Kossoy. Maisque isso: a Malu, como e carinhosamente chamada por todos, tornou-seproIessora do curso de especializao. Para este livro, ela contribui comotextoAfotografiaaliadahistriaoralparaarecuperaoepreservao da memria (p.201-229), que elucida como a IotograIia ea historia oral tm sido utilizadas, de maneira associada, para a recuperaoe preservao da memoria.O texto da Maria Luisa HoIImann mostra os caminhos para ouso da IotograIia como gatilho disparador da memoria. Por sua vez, otextoAimportnciadaimagemnarecuperaohistricadosdesfiles de aniversrio de Santa Mercedes (SP) (p.231-264)quetenhooprazerdedividiraautoriacomminhaorientandadaespecializao em IotograIia, Leticia Bortoloti Pinheiro , retrata umaexperincia em que, utilizando esses caminhos metodologicos, mostrao resultado obtido em uma pesquisa realizada em Santa Mercedes,pequena cidade do interior de So Paulo, sobre o uso da IotograIiaparaarecuperaodamemoriadeseusIamososdesIilesdeaniversarios realizados na decada de 1960.Outras experincias neste sentido esto sendo realizadas em diversascidades dos estados do Parana e So Paulo. A pretenso e, ate o Iinal de2013, publicarmos um livro para oIicializar o neologismo, atribuir-lheconceitos, indicar os procedimentos metodologicos para seu uso em23pesquisa, mostrar os resultados obtidos e descrever percepes veriIicadasao longo do processo, ou seja, das experincias de pesquisa ja encerradasou ainda em desenvolvimento.Em 2010, o curso lanou seu segundo livro: O papel do ParanAorte na construo da Santa Casa e o esporte nas ondas do rdio:duas experincias histricas da imprensa londrinense. Este livro, narealidade, tem uma proposta bastante simples: mostrar que teorias emetodologias consagradas mundialmente podem ser aplicadas em eventose/ou situaes locais, com resultados bastante positivos para a sociedaderegional, seja na quantidade e qualidade de pesquisa, seja na recuperaoepreservaodamemoria.Emsuma,oqueolivropropeequeproIessores e estudantes prestem uma especie de servio a sociedade emque trabalham, residam ou estejam inseridos, aplicando conhecimentosuniversais em estudos locais.Para tanto, o livro juntou dois trabalhos de concluso de curso. Oprimeiro adotou uma teoria universal do jornalismoo fornalismo dedesenvolvimentoeaaplicounumcasolondrinense:opapeleaimportncia do jornal Parana Norte na construo da Santa Casa deLondrina,nasdecadasde1930e1940.Osegundoadotouumametodologia de pesquisa universala historia orale a aplicou narecuperao da historia do radio esportivo londrinense. Mais que isso.Os dois trabalhos usaram IotograIias como Ionte de pesquisa, comodisparadora do gatilho da memoria dos entrevistados, para dirimir duvidase para corrigir erros historicos que constavam na literatura disponivel sobrea historia de Londrina. Ou seja, a IotograIia, alem de seus usos tradicionaiseconhecidos,serviuparaativarnovaslembranas,somarnovosconhecimentos aos ja existentes, e ate para corrigir erros historicos.Nestes 15 anos de atividades ininterruptas, o curso de especializaoem IotograIia trouxe muita gente boa da academia e do mercado de trabalhoa Londrina. Da academia vieram Boris Kossoy, Pedro Vasquez e Simonetta24Persichetti. Do mercado de trabalho, Adair Felizardo, Alexandre Mazzo,Claudio Feijo, Clicio Barroso, Emidio Luisi, Haroldo Palo Junior, IvanLima, Miguel Chikaoka, Sergio Sade e Walter Firmo, dentre outros. Ouseja, o curso esta cumprindo seu proposito de estreitar as relaes daescola com o mercado de trabalho e vice-versa.A vinda dessas pessoas, de Iorma positiva, acabou inIluenciandoos estudantes a se enveredarem por novos objetos de pesquisa, ou seja,contribuiu para os multiplos olhares sobre a IotograIia. Todos os anos soapresentados diversos TCCs inovadores e contributivos. Em 2011, claro,no Ioi diIerente. Selecionamos trs textos que trazem reIerenciais teoricoscomplementares aos normalmente utilizados na grade curricular do curso.O primeiro deles, Albuns de familia e lbuns digitais: a propsito desemelhanas e diferenas (p.265-284), de Anderson Timoteo Ferreirae Katharine Nobrega da Silva, ele paulistano e ela paraibana, traa umcomparativo entre os tradicionais albuns de Iamilia e as novas propostaseletrnicas de albuns virtuais. Os autores apuraram que as novas tecnologiastm Iacilitado e diversiIicado as Iormas de exposio de IotograIias pessoais,mas constataram que alguns velhos habitos utilizados nos antigos albunsIisicos de IotograIia continuam norteando os novos albuns virtuais. Densono conteudo e leve na Iorma, o texto comea de Iorma provocativa, comuma brincadeira que esta ganhando corpo na internet: 'Ninguem e to Ieiocomo na carteira de identidade, to bonito como no Orkut, to Ieliz comono Facebook, to simpatico como no Twitter, to ausente como no Skvpe,to ocupado como no MSN e to bom como no Curriculum vitae.OutrotextocomreIerenciaisteoricoscomplementares,principalmente da antropologia e que, ressalte-se, muito contribuem comos estudos de comunicao e visualidade, e o da estudante e proIessoraLeticia Silva de Jesus, hoje moradora no Rio Grande do Sul, mas que,com justia, se autodenomina 'cidad do mundo, em parceria com oProI. Dr. Alamir Aquino Corra, com longa experincia no ensino epesquisador da tematica 'representaes da morte. O texto, claro, no25poderia ter um titulo mais identiIicador da area de pesquisa de ambos:Imagens silenciosas: a fotografia no cemitrio sob uma abordagemfotoetnogrfica (p.285-307). Resultado de um trabalho de observaoe tomadas IotograIicas no cemiterio municipal So Pedro, de Londrina, otrabalho analisa o papel da IotograIia como mediadora de representaesimportantes para a preservao da imagem de pessoas Ialecidas. Nestecaso, assim como Ioi veriIicado no texto sobre os albuns de Iamilia, Ioramconstatadas algumas mudanas na Iorma como os vivos preservam amemoria de seus entes Ialecidos. Por uma questo de educao e etica,as Iamilias dos mortos Ioram contatadas (algumas no Ioram encontradas)para autorizarem a publicao da(s) IotograIia(s) de seus entes queridos.Amaioriaconsiderouapublicaoumaespeciedehomenagemeprontamente autorizou a publicao; apenas uma Iamilia no autorizouque a IotograIia tumular de seu Iilho Iosse publicada neste livro. A vontadeda Iamilia, apesar de no haver implicaes legais contrarias a publicao,Ioi respeitada.Por Iim, uma contribuio interdisciplinar da cincia da inIormaopara a IotograIia: Imagem fotogrfica: processo de leitura e anlisedocumental (p.309-330). Para a produo deste texto, Katiusa StumpI,estudantedaespecializaoemIotograIia,queebacharelembiblioteconomia e mestranda em cincia da inIormao na UniversidadeFederal de Santa Catarina (UFSC), associou-se a pesquisadora Mariadel Carmen Agustin Lacruz, da Universidade de Zaragoza (Espanha),proIessora convidada do mestrado da UFSC. E no sem justa causa.Katiusa decidiu estudar IotograIia para aplica-la como nova tematica elinha de pesquisa curricular, aperIeioando sua carreira acadmica e vidaproIissional. A ProIa. Dra. Maria del Carmen e pesquisadora, autora eimportante reIerencial teorico no processo de leitura de imagens para analisedocumental. Com interesses convergentes, aIinidades proIissionais edominio de conteudo de ambas, o resultado no poderia ser outro: uma26Iantastica contribuio da cincia da inIormao para o arquivo adequadode IotograIias e a Iacilidade de acesso desses arquivos para pesquisadorese curiosos de planto.Paraseterumaideiadaabrangnciaecomplexidadedessacontribuio, ja no inicio do texto as autoras deixam claro que: 'A IotograIiae passivel de inumeros signiIicados. Por isso, para ser utilizada, necessitaser tecnicamente e intelectualmente tratada, o que implica leitura e analisede seu conteudo, indexao e armazenamento, para, por Iim, possibilitarsua rapida e eIiciente recuperao. (AGUSTIN LACRUZ; STUMPF,2011, p.310). Ha de chegar um dia em que nos, pesquisadores, quandoquisermos localizar uma IotograIia para consulta, acionaremos apenas algunscomandos e a IotograIia e todos os seus dados tecnicos, historicos econceituais aparecero rapidamente na tela de um computador ou outroequipamento das novas tecnologias digitais. Que seja o mais breve possivel.Espero que este livro some a seus leitores novos conhecimentos,usos, aplicaes e procedimentos metodologicos sobre IotograIia. AIinal,oCursodeEspecializaoemFotografia:PrxiseDiscursoFotogrfico da Universidade Estadual de Londrina ha 15 anos trabalhacom esta perspectiva: gerao e democratizao de conhecimentos. Evamos continuar trabalhando neste sentido, pois o trabalho Ioi, e e sempresera a melhor resposta para tudo e para todos. O trabalho, alias, deve tersido a musa inspiradora de um velhoe sempre atualditado: 'Os cesladram e a caravana passa.Boa leitura.ProI. Dr. Paulo Cesar BoniAutor e organizador27Aintencionalidadedecomunicaonofotojornalismo: anlisedas imagens dolatrocnio de Isabella Garcia LopesFernanda Grosse BressanPaulo Csar Boni28Resumo: Este trabalho adota a metodologia da intencionalidade decomunicao do IotograIo, dos editores e dos veiculos de comunicaopara analisar as imagens publicadas na Folha de Londrina e no JornaldeLondrinasobreolatrocinioquevitimouaempresariaIsabellaTiberyGarciaLopes,ocorridoemmaiode2011,emLondrina.Partindo da premissa de que imagens no so isentas de sentidoaocontrario, so tomadas para transmitir uma mensagem , este artigobusca nos recursos tecnicos e nos elementos da linguagem IotograIicao caminho para se aproximar da mensagem de comunicao que osreporteres IotograIicos Olga Leiria e Roberto Custodio construirammentalmente antes de produzirem suas IotograIias para a Folha deLondrina e para o Jornal de Londrina, respectivamente.Palavras-chave: Fotojornalismo. Intencionalidade de comunicao.Latrocinio de Isabella Garcia Lopes. Folha de Londrina. Jornal deLondrina.A intencionalidade de comunicao no fotojornalismo:anlise das imagens do latrocnio de Isabella Garcia LopesFernanda Grosse Bressan *Paulo Csar Boni ***GraduadaemComunicaoSocialHabilitaoJornalismopelaUniversidadeEstadualdeLondrina(UEL).EspecialistaemComunicaoJornalisticapelaFaculdadeCasperLibero,deSoPaulo.EspecialistaemFotograIiapelaUniversidadeEstadualdeLondrina(UEL).MestrandaemComunicaopelamesmainstituio.E-mail:Igbressanyahoo.com.br** Doutor em Cincias da Comunicao pela Universidade de So Paulo (ECA/USP). CoordenadordoCursodeEspecializaoemFotograIia:PraxiseDiscursoFotograIicodaUniversidadeEstadualdeLondrina(UEL).EditordarevistaDiscursosFotograIicos.E-mail:discursosIotouel.br29IntroduoFotograIias no so isentas de sentido, inIormao ou valor. Aocontrarioe no Iotojornalismo, especialmente , so produzidas e existempara transmitir algo para alguem, uma mensagem, um sentimento, umasensao. Elas 'Ialam, ou, como a propria etimologia da palavra diz,'escrevem com a luz. Assim, partindo da premissa de que so 'escritas,subtende-se que podem ser 'lidas.Como podemos ler uma imagem? Em que 'idioma ela Ioi escrita?Essa e uma pergunta de multiplas respostas. AIinal, a mensagem IotograIicaecompostaporcodigosabertosecontinuos,enoporumidiomaespeciIico como portugus, ingls ou Irancs, com seus codigos pre-determinados. Mesmo no caso de palavras, ressalte-se, ha um despertarde diIerentes leituras. A palavra 'hospital vai sempre se reIerir a um'hospital, mas a mensagem podera ser diIerente dependendo de cadapessoa e do que um hospital signiIica para ela. Local de trabalho? Espaode tristeza? Perda de pessoas queridas? Busca por socorro?Se as palavras, compostas por codigos deIinidos e aprendidas nob-a-ba das escolas, despertam diIerenas, o que poderiamos aIirmar arespeito das imagens? Elas so um convite a imaginao, a um despertarde emoes, a uma magia; uma Ionte rica de inIormao.Toda Ioto tem multiplos signiIicados; de Iato, ver algo na IormadeumaIotoeenIrentarumobjetopotencialdeIascinio.AsabedoriasupremadaimagemIotograIicaedizer:AiestaasuperIicie. Agora, imagineou, antes, sinta, intuao que estaalem, o que deve ser a realidade, se ela tem este aspecto`. Fotosque em si mesmas nada podem explicar, so convites inesgotaveisa deduo, a especulao e a Iantasia. (SONTAG, 2004, p.33).Seria, ento, possivel aIirmar que no ha como ler uma imagem?Ponderamosqueno.Pensandonarelaoimagem-receptor,apossibilidade de leituras de uma IotograIia e inIinita. Sua leitura, noentanto, e idiossincratica, esta ligada ao repertorio cultural e uma serie30de outras variaveis que interIerem diretamente na Iorma como a pessoaira 'ler a IotograIia. Isso ocorre porque a mensagem que a IotograIiatransmite no depende apenas do objetivo do IotograIo, mesmo queele tenha uma inteno quando da tomada da imagem, e do editor.Alem do convite a Iantasia, descrito por Sontag (2004), a IotograIia eum conjunto de simbolos que podem ser deciIrados de diIerentesmaneiras pelo receptor.OsigniIicadodaimagemencontra-senasuperIicieepodesercaptadoporumgolpedevista.Noentanto,talmetododedeciIramento produzira apenas o signiIicado superIicial da imagem.Quem quiser aproIundar` o signiIicado e restituir as dimensesabstraidas, deve permitir a vista vaguear pela superIicie da imagem.Tal vaguear pela superIicie e chamado de scanning.O traado do scanning segue a estrutura da imagem, mas tambemos impulsos no intimo do observador. O signiIicado do decriIradoporestemetodosera,pois,resultadodesinteseentreduasintencionalidades`: a do emissor e a do receptor. Imagens noso conjuntos de simbolos com signiIicados inequivocos, comoo so as ciIras: no so denotativas`. Imagens oIerecem aos seusreceptoresumespaointerpretativo:simbolosconotativos`.(FLUSSER, 2002, p.7-8, griIos do autor).O IilosoIo Vilem Flusser chama a ateno para um ponto interessanteda IotograIia, de que seu signiIicado sera resultado da unio de duasintencionalidadesa do emissor e a do receptor. Quando da tomada daimagem, o IotograIo, conhecedor dos recursos tecnicos e dos elementosda linguagem IotograIica, Iaz uso desses recursos para tentar transmitir aoleitor a leitura que ele Iez da realidade IotograIada. A 'intencionalidade decomunicao no processo gerativo da IotograIia, ou seja, no ato datomada da imagem, e uma proposta metodologica deIendida por Boni(2000)comoIormadeleituraeanalisedeimagens,ouseja,umapossibilidade de leitura Iocada no desejo do IotograIo no momento emque ele 'pensou a imagem. Utilizando determinados recursos tecnicos eelementosdalinguagemIotograIica,quemensagemoIotograIointencionava transmitir ao leitor?31Uma mesma IotograIia pode ser lida por pessoas de diIerentesculturas, com resultados diIerentes, e claro. A IotograIia pode serconsideradaumaIormademocraticadecomunicao,masessa'democracia no se traduz, necessariamente, em iseno de sentido,de inteno, de objetivo do IotograIo ou de seus superiores. Na mesmamedida, tambem no signiIica que a mensagem intencionada peloIotograIo sera interpretada pelo receptor como ele arquitetou.Existem Iormas de o IotograIo maniIestar sua intencionalidadede comunicao em IotograIia, ou seja, existem Iormas de seescrever em IotograIia, mesmo sabendo que os codigos abertosecontinuosquecompemamensagemnodirecionamcompletamente a leitura. Em outras palavras, equivale dizer queo Iato de o IotograIo intencionar dizer alguma coisa ao leitor pormeio de uma IotograIia, no signiIica, por parte deste, o mesmoentendimento daquele. (BONI, 2000, p.14).Adotando a proposta da intencionalidade de comunicao doIotograIo, este artigo se prope a 'ler as imagens produzidas no dia12 de maio de 2011 e publicadas nos jornais Folha de Londrina eJornal de Londrina do dia seguinte. So IotograIias que inIormamsobre o latrocinio que vitimou a empresaria londrinense Isabella PrataTibery Garcia Lopes que, em um sinal de trnsito no centro de Londrina,levou um tiro na cabea, vindo a Ialecer dias apos o assalto.Analisando os elementos constitutivos da linguagem IotograIica ngulos, cortes, perspectivas, planos de tomada e de Ioco, nuancese contrastes, texturase os elementos de signiIicao utilizados naconstruo da mensagem IotograIica, pretende-se, com a aplicaodapropostametodologicadadesconstruoanalitica,aIerirouaproximar-se da intencionalidade de comunicao do IotograIo noinstante do registro.32Construindo a mensagem fotogrficaBoni (2000, p.49) deIine que os recursos IotograIicos mostram ou pelo menos sinalizama Iorma como o IotograIo maniIesta o seupensar. Ele classiIica seu uso como 'uma especie de vocabularioutilizado para traduzir` para o leitor o signiIicado que o IotograIo haviaconstruidoantesdeapertarodisparadordeseuequipamentoIotograIico.No jornalismo, essa intencionalidade e ainda mais intensa eexplicita. AIinal,nosentidoStrictosensudoIotojornalismo,asIotograIias publicadas em jornais tm a Iuno de 'noticiar. Em maiorou menor grau, elas tm um objetivo. E isso no e novidade, postoqueasprimeirasIotograIiastomadascomcunhojornalisticojamaniIestavam a intencionalidade do IotograIoou da publicao como aIirma Fabris (1998, p.24, griIo da autora):TransIormada em instrumento de propaganda militar, a IotograIiacomea a ser usada nas reportagens militares. A crena em suaIidelidade e to grande que Mathew Brady chega a aIirmar: acmera IotograIica e o olho da historia`. Mas, a questo e bemmais complexa, como comprova a analise da documentao daGuerra da Crimeia, realizada por Roger Fenton. Embora suas cartasretratemoshorroresdoconIlito,suasimagensestaticasetranqilasplanosgeraisposados,mesmoquandopareceminstantneosdeumaaodocontadeumaguerralimpa,incruenta.Esse direcionamento de leitura, utilizado propositadamente emquase todos os momentos da historia do jornalismo, e um exemplo dopoder da imagem e um sinal de que o IotograIo realmente 'intencionapassar uma mensagem quando Iaz a tomada. Ele chega a cena, v, analisae depois Iaz o registro. Na maioria das vezes, ja sai pautado da redao,sabe que assunto vai IotograIar e pode pensar a imagem antes mesmode chegar ao local. Em outros casos, e chamado as pressas para uma33cobertura instantnea, de um Iato que acaba de acontecer, e parteimediatamente para o local. O caso do latrocinio da empresaria IsabellaGarcia Lopes Ioi um desses momentos.O crime aconteceu em plena luz do dia, em uma rua movimentada ecentral de Londrina. A empresaria Ioi atingida por volta das 13 horas, nocruzamento da rua Pernambuco com a avenida Juscelino Kubitscheck. Omotorista da Iamilia parou o carro no sinal vermelho. Nesse momento,dois menores teriam abordado o veiculo, exigindo que a empresaria lhesentregasse o relogio que usava. Um dos menores assaltantes atirou naempresaria. A violncia, cada vez mais, e tema recorrente nos jornais e assustaa populao. A morte de uma pessoa proxima, moradora da cidade, porsi so, ja choca. Isabella era Iilha do medico Ascncio Garcia Lopes, primeiroreitor da Universidade Estadual de Londrina. Uma pessoa conhecida erespeitada.No livro Diante da dor dos outros, Susan Sontag aponta que quantomaior a distncia do Iato, maior a chance de ver a tragedia estampada emprimeiro plano. Quando o Iato e no nosso 'quintal, ha um respeito maiorcom o soIrimento alheio. Em ambos os casos, os sentimentos podem serdiIerentes:DeIato,hamuitosusosparaasinumerasoportunidadesoIerecidas pela vida moderna de vera distncia, por meio daIotograIiaa dor de outras pessoas. Fotos de uma atrocidadepodem suscitar reaes opostas. Uma em Iavor da paz. Um clamorde vingana. Ou apenas a atordoada conscincia, continuamentereabastecidaporinIormaesIotograIicas,dequecoisasterriveis acontecem. (SONTAG, 2003, p.16).No caso do latrocinio, cujas imagens so o objeto de estudo destetexto, o desenrolar dos Iatos Ioi pleno de revolta, de clamor por paz.Um sinal de alerta de que 'coisas terriveis realmente acontecemepodem acontecer com qualquer um. O crime aconteceu em um semaIorocentral, local onde milhares de moradores transitam diariamente. Ou34seja, poderia ser qualquer um naquele momento, dentro de um carro.As sees de cartas dos dois principais jornais da cidade receberaminumeras maniIestaes de leitores. No dia 18 de maio, Ioi publicada naFolha de Londrina a carta da psicopedagoga Eliane Cristina Scheuer(2011, p.2) que dizia:Se andar nas ruas depois do sol se pr era diIicil, agora impossiveleandaraluzdodia,pararnossinaiscomosvidrosdocarroabertos ou arriscar-se a estacionar nas ruas centrais. O momentoe de solidariedade sim, mas tambem de organizao, de mobilizaopublica,deexigirseguranaparaumapopulaoquetrabalhapara o desenvolvimento de uma cidade que paga seus impostospara ter, pelo menos, o direito de ir e vir sem ser tolhido pelo medo.E tempo de Iazer um Levante-se Londrina`.Dois dias depois, no mesmo jornal, a engenheira civil CristianaVeronesi Fraga (2011, p.2) aIirmou que Londrina 'estava de luto:InIelizmente, uma cidade to luminosa no dia 12 de maio tevesua luz apagada. No somente porque uma pessoa to queridaIoi vitima de tamanha violncia, mas porque mostrou um ladoquetodosnostemosmedodever:aimpunidadequerondaLondrina e o Pais. ... Como um Iato to brutal e de tamanhacovardia pode passar impune? Alguma maniIestao e algumamedida deveria ser tomada para mostrar tamanha indignao eevitarmos que mais situaes dolorosas como essa aconteamcom outros inocentes.As cartas ilustram a repercusso do Iato. Texto e IotograIia andaramjuntos e comoveram a cidade. Sera que essa era a intencionalidade dosreporteres IotograIos Olga Leiria, da Folha de Londrina, e RobertoCustodio, do Jornal de Londrina?35Folha de LondrinaA primeira imagem analisada (Figura 3) e da reporter IotograIicaOlga Leiria e Ioi publicada na seo Geral da Folha de Londrina (Figura1) do dia 13 de maio de 2011. O jornal optou por no utilizar a IotograIiana capa, mas o assunto Ioi manchete, como mostra a Iigura 2.Figura 1 - Pagina 7 da Folha de LondrinaFonte. Jornal Folha de LondrinaData. 13 de maio de 2011, p.736Figura 2 - Capa da Folha de LondrinaFigura 3 - Jiatura da policia e ambulancia do SAMU no local do crimeFotografia. Olga LeiriaFonte. Jornal Folha de Londrina, edio de 13 de maio de 2011Fonte. Jornal Folha de LondrinaData. 13 de maio de 2011, capa37A IotograIia (Figura 3) mostra o local onde o crime ocorreu e oscarros da Policia Militar e do Servio de Atendimento Movel deUrgncia (SAMU). O plano escolhido e o geral, que privilegia oambiente em detrimento dos detalhes. Em uma primeira leitura, pode-se dizer que a reporter IotograIica no quis chamar a ateno para umpontoespeciIicodacena,comoocarroondeavitimaestava,omotorista que dirigia o veiculo ou mesmo as pessoas que passavam.Nenhum sujeito do evento Ioi mais importante que outro em suaavaliao, mas o conjunto de varios elementos Ioi sua Iorma escolhidapara passar a inIormao do latrocinio.Na IotograIia o que se destacam so os elementos de signiIicao.Quatro deles so extremamente inIormativos: a ambulncia do SAMU(Servio de Atendimento Movel de Urgncia), a viatura da PoliciaMilitar, a aglomerao de pessoas no local e a placa indicando queaquelaearuaPernambuco.Juntos,ostrsprimeiroselementosmostram a gravidade da situao; o quarto inIorma ao leitor o local daocorrncia.Desmembrandooselementos,temosaprovavelleitura:aambulncia do SAMU e acionada em caso de Ieridos; a Policia Militaresta presente em acidentes de trnsito, de menor ou maior gravidade,mas a imagem da viatura combinada a da ambulncia reIora a leiturade que algo grave ocorreu. Por sua vez, a aglomerao de popularese mais indicio que potencializa a leitura de que no se trata de mais umacidente de trnsito. Todos esses elementos vistos a uma so vez, emuma so imagem, geram no leitor a sensao de Ierido grave ou morte,mesmo que ele ainda no tenha lido o texto ou mesmo o titulo damateria.Pela metodologia da intencionalidade da comunicao, e possivelimaginar que a reporter IotograIica Olga Leiria quis mostrar a cena docrime e a gravidade do caso, sem, contudo, personiIicar a tragedia.Como ja descrito, as vitimas do assaltoa empresaria Isabella GarciaLopes e o motorista da Iamiliano aparecem na cena. O carro em queambos estavam no se destaca na imagem. As pessoas no primeiro plano38esto de costas, compem a imagem sem se tornarem personagensprincipais.Oque,pressupe-se,chamouaatenodareporterIotograIica Ioi a composio do cenario, a combinao dos elementos ecomo eles estavam dispostos quando ela chegou ao local. Uma imagemaltamente inIormativa.Essa possibilidade se reIora porque Olga Leiria optou por IotograIarcom proIundidade de campo. Todos os elementos da imagem esto nitidos.Todos so importantes para compor a IotograIia que Ioi escolhida epublicada pela Folha de Londrina. Outra caracteristica e que a imagemIoi tomada em ngulo linear, na altura dos olhos, sem a inteno de valorizarou desvalorizar qualquer elemento da IotograIia em um plongee ou contra-plongee. A imagem e proxima do real. 'O ngulo linear e o que retratacom maior Iidedignidade de Iorma e proporo o elemento IotograIado.(BONI, 2003, p.179).Olhando mais atentamentecom o olhar scanning descrito porVilem Flussernotamos que dois elementos esto em destaque nacomposio da IotograIia: a viatura policial e a ambulncia. Utilizando orecurso da regra dos teros, a reporter IotograIica colocou-as em pontosaureos. Elas 'cercam a imagem a esquerda e a direita, respectivamente.'Desviar o elemento principal do centro do Iotograma para as interseese uma Iorma de convidar o leitor a passear os olhos pela imagem. (BONI,2003, p.176).Alem isso, a viatura esta na diagonal, criando uma perspectiva naimagem, o que conduz o olhar para dentro da IotograIia, olhar que chegaa ambulncia do SAMU. O andar das pessoas na 'direo da ambulnciada movimento a imagem e e mais um convite para que o leitor 'entre e'circule na cena. De Iato, ao olhar a IotograIia, os olhos automaticamenteIazem um passeio que comea pela viatura da policia, passa pelos homensde camiseta preta ate chegar a ambulncia. A IotograIia de Olga Leiriamostra o crime sem puxar para o lado da emoo, do sentimento, dasIiguras humanas.39Jornal de LondrinaO reporter IotograIico Roberto Custodio buscou um pouco maisde emoo para noticiar o crime. No Jornal de Londrina, a imagem Ioicolocada em destaque na primeira pagina (Figura 4). A IotograIia publicada(Figura 5) Ioi Ieita em plano medio, que, normalmente, interage o sujeitoaoambiente.Nestecaso,alemdainterao,oreporterIotograIicodestacou o elemento humano, valorizando-o no plano de tomada. Trata-se do motorista que dirigia o veiculo em que a vitima estava.Figura 4 - Capa do Jornal de LondrinaFonte. Jornal de LondrinaData. 13 de maio de 2011, capa40A escolha do plano e um primeiro indicativo de que o reporterIotograIico buscou humanizar a cena. O motorista Ioi IotograIado emum momento de Iragilidade. Estava sendo amparado, sentado em umbanco improvisado, ao lado do carro, com a cabea baixa. A cenatransmite Iorte emoo.Buscando as reIerncias que carregamos em nosso imaginario,temos na imagem das mos amparando o rosto uma ao que passa asensao de tristeza, um gesto que transmite certa incredulidade e ateIraqueza. E como se a pessoa buscasse se sair daquela situao, daquelemomento, como se no acreditasse no que aconteceu. A cabea voltadapara baixo reIora essas mensagens.A imagem revela que no se trata de um transeunte qualquer, masde alguem que tem alguma ligao com o ocorrido. Podemos supor queRoberto Custodio chegou ao local, viu o que se passava, se emocionoue Iez uma tomada IotograIica que pudesse justamente passar aos leitoresa emoo que o caso lhe despertou. A IotograIia sensibiliza.A imagem do motorista e to Iorte que os olhos instintivamente seprendem nele, e preciso um pouco de tempo e certo esIoro para olharo que ha em volta. As outras pessoas presentes a cena so Iigurantes,como se estivessem ali por acaso. Entretanto, se o IotograIo quisesseFigura 5 - Motorista da familia Garcia Lopes amparado por conhecidos e transeuntesFotografia. Roberto CustodioFonte. Jornal de Londrina, 13 de maio de 201141mostrar so o motorista, poderia ter optado por IotograIa-lo em primeiroplanoouplanodedetalhe.Maseleescolheuoplanomedio,provavelmente porque queria mostrar onde se passava a cena e o carroonde a empresaria estava quando Ioi alvejada. As duas pessoas queaparecem logo atras do motorista tambem so elementos que reIoramsua Iragilidade. A moa parece querer Ialar com o motorista, que, decabeabaixa,parecechorar.EochoroeoutroIorteelementodesigniIicao.Em menor intensidade, ao olhar mais detalhadamente a IotograIia,vemos a Iita amarela e preta usada pela policia para isolar locais. Elatambem indicia tratar-se de um crime. A Iorma como a IotograIia Ioipublicada, com elementos que remetem a tiros na manchete, reIora aideia de que o Jornal de Londrina intencionou 'mexer com os leitores.A diagramao completa a mensagem de morte, de tragedia.Jornais e revistas, ao publicarem IotograIias, tambem podem lanarmo dos elementos de signiIicao para Iacilitar, aproximar ouinduzirem o leitor a determinada leitura. A simples publicao deuma Ioto com maior ou menor nitidez, por exemplo, pode indiciar autilizao de elementos de signiIicao para induzir o leitor a umaaceitabilidademaioroumenordaideiaexpressapelaIotopublicada. (BONI, 2000, p.26).A IotograIia de Roberto Custodio e nitida em todos os elementos.O Ioco esta no motorista, mas todos os outros elementos presentes acena, inclusive a imagem de um cinegraIista que esta ao Iundo, soperIeitamente visiveis. Ao Iundo vemos as cores branco e laranja, masno e possivel precisar do que se trata.Ao contrario da IotograIia de Olga Leiria, esta no traz a ambulnciae a viatura da policia em destaque. Quem vir esta IotograIia, isoladamente,provavelmente no se atentara para a presena do SAMU ou da policia.Neste caso, o reporter IotograIico Iez a opo por Iechar mais o plano eregistrar o motorista.42Existesempreumamotivaointeriorouexterior,pessoalouproIissional, para a criao de uma IotograIia e ai reside a primeiraopo do IotograIo, quando este seleciona o assunto em Iunode uma determinada Iinalidade/intencionalidade. Essa motivaoinIluira decisivamente na concepo e construo da imagem Iinal.(KOSSO, 1999, p.27).A IotograIia publicada no Jornal de Londrina carrega, em suamensagem, a emoo da noticia. Carro e motorista, elementos que remetemas vitimas do crime, so intencionalmente destacados da cena paratransmitir essa sensao.A edio, os veculos e suaslinhas editoriaisNo jornalismo ha Iatores que inIluenciam diretamente na escolhadas palavras e imagens que iro compor o impresso que circulara no diaseguinte, so os chamados criterios de noticiabilidade. No Iotojornalismo,especiIicamente, alem da intencionalidade do IotograIo que tomou asimagens, ha a intencionalidade do veiculo e dos editores responsaveis.Noobjetodeestudodestetrabalho,opesodoscriteriosdenoticiabilidade e a diIerena editorial de posicionamento so percebidos naobservao da primeira pagina de cada veiculo de comunicao. A Folhade Londrina optou por anunciar o crime em uma chamada seca, semIotograIias, sem o apelo visual. A imagem em destaque na primeira dobrado jornal remete ao esporte e traz a palavra 'esperana em destaque.Somado as outras manchetes, o titulo principal divide a ateno. Os editoresescolheram dividir a noticia do latrocinio com outros Iatos. Ha trs IotograIiasgrandes na capa, nenhuma se reIere ao crime.No Jornal de Londrina o caminho escolhido pela edio Ioi ooposto: grande parte da primeira pagina e dedicada a tragedia. A IotograIiada cena e usada em grande destaque e, no bastasse o sentimento de43emoo que ela provoca, os editores inseriram elementos graIicos paraintensiIicar a mensagem de tristeza, da insegurana, da violncia. Marcasde tiroobtidas por recursos graIicos'Iuram a pagina e a mancheteIaz meno de que no apenas Isabella Garcia Lopes, mas toda a cidadeIoi Ierida com aquele tiro. A substituio da letra 'o na palavra 'coraoporumamarcadetiroeumelementovisualimportante,usadointencionalmente para ressaltar o crime e potencializar a mensagem deperigo e insegurana.OIormatoberlinerdoJornaldeLondrinapropiciaumadiagramao diIerenciada na capa, ao contrario da Folha de Londrinacom o Iormato standard. O primeiro da a possibilidade de utilizar umaunica chamada no espao abaixo do cabealho do jornal e, com isso,abre o leque para a insero de uma unica imagem. Na Folha de Londrinaisso Iica limitado pelo espao ampliado do Iormato.Entretanto, esta diIerena no impede a Folha de Londrina deexplorar uma imagem com destaque na primeira dobra. Por isso, a Iormacomo cada veiculo inIormou o crime ocorrido e um sinal da linha editorialadotada: mais Iria na Folha; mais emotiva e trabalhada no Jornal deLondrina, que adotou, inclusive, tamanhos diIerenciados de Iontes parachamar a ateno na manchete. Na Folha de Londrina, o padro doprojeto graIico provavelmente seja um limitador para esse tipo de criao.Com a palavra, os reprteres fotogrficosAmetodologiadadesconstruoanaliticaparaaIeriodaintencionalidade de comunicao do reporter IotograIico pressupe umestudo do percurso gerativo da IotograIia, ou seja, do IotograIo a IotograIia,e no sua analise do produto Iinal para Irente, da IotograIia ao leitor, comonormalmente ocorre nas possibilidades de analise.Por este metodo, o estudioso decompe a IotograIia para estudara especiIicidade dos recursos tecnicos e dos elementos da linguagemIotograIica utilizados em sua composio. Assim, o uso de uma lente44grande angular (recurso tecnico) pode indiciar que o IotograIo quisessevalorizar o primeiro plano ou obter maior proIundidade de campo naimagem. Da mesma Iorma, o uso do plano medio (elemento da linguagemIotograIica) pode sinalizar que ele desejasse interagir o sujeito aoambiente. E assim sucessivamente, respeitando e adotando os conceitos,deIinies e resultados visuais de cada elemento da linguagem IotograIicaou possibilidade dos recursos tecnicos.Contudo, e importante Irisar, a desconstruo analitica oIereceapenas possibilidades dedutivas para se aproximar da intencionalidadede comunicao do reporter IotograIico no ato da tomada da IotograIia.Por mais que se respeite os resultados visuais dos recursos tecnicos eos conceitos de cada elemento constitutivo da linguagem IotograIicausadosparaaobtenodaimagemeconstruodamensagemIotograIica, so quem Iez a IotograIia e que pode, com certeza, dizer quemensagem pretendia passar ao leitor quando Iez a IotograIia.Portanto,depoisdaanalise,decidimosouvirosreporteresIotograIicos dos dois jornais para que eles, os verdadeiros construtoresdas mensagens IotograIicas, corroborassemou noa intencionalidadede comunicao que nos, pesquisadores, haviamos pretensamente'deduzido de suas imagens. Roberto Custodio e Olga Leiria gentilmenteresponderam aos e-mails enviados. Neles, a pergunta era simples, diretae objetiva: 'O que, de Iato, voc pretendia transmitir ao leitor quandoIez esse registro IotograIico?Roberto Custodio, do Jornal de Londrina, descreveu como oocorreu o Iato, do momento em que recebeu a pauta ate sua chegadaao local do crime. Segundo ele, quando recebeu a inIormao, estavadistante do local. Fato que no pode ser 'lido na IotograIia, mas interIerena imagem Iinal, no trabalho, como ele relata abaixo:MinhapreocupaoIoitentarchegaratemposuIicientepararegistrar o Iato com o maximo possivel de inIormaes, como apresena da vitima ainda recebendo os primeiros socorros, porexemplo, a movimentao policial etc. Nessa situao, cheguei45um pouco atrasado, com a adrenalina um pouco acelerada, entovoctemqueolharasuavoltaeapuraroquesobroudeinIormaes. A vitima ja tinha sido encaminhada ao hospital, entoja no tinha ambulncia. Essa imagem me salta aos olhos, era oque eu tinha de mais Iorte para trabalhar, o que passou pela minhacabea e que a pessoa chorando talvez Iosse um parente proximosendo consolado, a explorao de emoes em casos como esses,as vezes, e mais Iorte do que imagens da propria vitima, nessecaso o homem chorando era o motorista da vitima e estava bastantechocado.1Sobre o aspecto tecnico, Custodio recorda que a cmera estavaequipada com uma lente 24-70 mm o que, segundo ele, limitava o trabalho,pois o local estava tumultuado. 'Eu poderia ter explorado o homemchorando em planos mais Iechados, mas perderia inIormao, ento opteipela lente 16-35mm, ela me proporcionou maiorliberdade.O reporter IotograIico revela que realmente quis intensiIicar o ladoemocional. 'Decidi pelo plano baixo (plongee), no sei se e o caso, paraexpor melhor a expresso do homem e evitar que elementos indesejaveisao Iundo poluissem ou tirassem a ateno do personagem da cena.Custodio diz no se lembrar da abertura do diaIragma, mas conIirma queem imagens como essa costuma trabalhar com aberturas que propiciemboa proIundidade de campo e permitam uma velocidade segura deobturador. E claro que a IotograIia publicada Ioi apenas uma das dezenasque ele registrou da ocorrncia. Ele explica como costuma trabalhar.DepoisdegarantidaaimagemmaisIorte,exploreibastanteamovimentao policial em planos gerais, as vezes com policiaisempunhando armas em primeiro plano, e curiosos em segundoplano;outras com Iocosomente nas armas e o plano de IundodesIocado. s vezes somente o detalhe de uma Ioto passa algumainIormao, ento, acredito que o IotograIo tem que pensaremuitonosrecursoseconhecimentosquetemparapassaromaximo de inIormaes em uma IotograIia. 21Entrevistaconcedidapore-mailaFernandaGrosseBressanem01/07/2011,as12h08m.2Ibidem.46Reporter IotograIico experiente, Roberto Custodio lembra que epreciso estar sempre atento para no ser pego de surpresa.Quando estou em servio, procuro andar com a cmera semprecom um ISO de acordo, se estou no sol, na sombra, nublado. Se olugar no tem luz alguma, deixo o Ilash de prontido e sempredeixo a cmera em modulo semiautomatico. Comparo o reporterIotograIico a um soldado, tem que estar sempre alerta.3A reporter IotograIica da Folha de Londrina, Olga Leiria, Ioi maissucinta em seu relato, no qual revelou que realmente quis mostrar o Iatocontextualizado em aspectos mais amplos:Pelo que me lembro dessa Ioto, Ioi uma geral do acontecido. Fizessa opo de tomada geral para mostrar o local deste Iato, pois euma regio Irequentada por todas as classes e que qualquer umesta sujeito a uma ao deste tipo, mesmo durante o horario doalmoo,equenodevemostercuidadosomentequandoanoitecer.4Consideraes finaisO jornalismo e uma atividade em que a intencionalidade se maniIestaem maior ou menor grau. No Iotojornalismo, em razo de a mensagemser escrita pela subjetividade das imagens e no pela objetividade daspalavras, a intencionalidade do produtor da IotograIia pode, as vezes,passar despercebida ao leitor, por seu no preparo Iormal para a leituraimagetica. Mas, quase sempre, as IotograIias procuram transmitir umamensagem ao leitor.Para ler IotograIias e extrair delas a essncia de sua mensagem decomunicao torna-se importante conhecer os recursos tecnicos e oselementos da linguagem IotograIica com os quais ela, a mensagem, Ioi3Ibidem.4Relatoenviadopore-mailaFernandaGrosseBressanem10/07/2011,as15h32m.47composta. Esses conhecimentos permitem uma analise, pelo processode desconstruo analitica, capaz de se aproximar da intencionalidadede comunicao do reporter IotograIico no ato do registro. 'Trata-sede um sistema que deve ser desmontado para compreendermos comose da essa elaborao, como, enIim, seus elementos constituintes searticulam. (KOSSO, 2007, p.32).O plano em que a IotograIia Ioi tomada, por exemplo, diz muitosobre a intencionalidade do IotograIo. No caso das imagens do latrociniodeIsabellaGarciaLopes,aescolhadoplanopelosreporteresIotograIicos que cobriram o episodio resultou em duas IotograIiascompletamente distintas. O plano aberto usado por Olga Leiria, da Folhade Londrina, propiciou o registro do contexto, integrando a viatura dapolicia, a ambulncia do SAMU e pessoas na rua, proximas ao local. Aimagem mostra ao leitor como estava o local logo apos o crime. Ela temcarater mais inIormativo. InIormao comprovada pela propria reporterIotograIica por e-mail.A IotograIia de Roberto Custodio, do Jornal de Londrina, emplano mais Iechado, Ioca a emoo da tragedia. No importa se o socorroestava ali ou se a policia ja havia chegado, a imagem do motorista abaladoestava no centro das atenes do IotograIo. A escolha do plano medioindiciou que ele 'pretendia passar para o leitor um sentimento, comoele proprio conIirmou posteriormente. Ele escolheu o homemchocadoe sendo consoladocomo elemento principal de sua mensagem. Essaera, segundo ele, a 'imagem Iorte do episodio.No raro, os reporteres IotograIicos lanam mo de elementosde signiIicao para compor suas mensagens. Ricos em inIormao,esses elementos trazem um pouco da denotao para a IotograIia, midiaaltamente conotativa. A ambulncia, por exemplo, e um elemento queinvariavelmente vai transmitir a mensagem de socorro a alguem Ierido.Inserida na IotograIia, reIora essa inIormao. Sabedor disso, o reporterIotograIico do Jornal de Londrina revelou em seu e-mail que, a caminhoda cena do crime, pensava em chegar o mais rapido possivel para tentarregistrar o atendimento da vitima. Ou seja, ele queria elementos de48signiIicao em seu registro, Iato que no Ioi possivel por haver chegadodepois da saida da ambulncia do local, mas seu nivel de ateno lhepropiciou o registro do que chamou de uma 'imagem Iorte, emotiva.O reporter IotograIico sabe da importncia dos elementos designiIicao e os usa para Iazer com que sua mensagem chegue commenos ruidos ao leitor. A IotograIia de Olga Leiria apresenta a soma daIora de alguns elementos substantivos de signiIicao. Com isso, elaatinge seu objetivo de comunicao e a IotograIia por si so, independentedo textoou mesmo da legenda , passa a inIormao de acidente oucrime. Ja a imagem de Roberto Custodio tem a Iora de elementossubjetivos de signiIicao que induzem ao sentimento, como o choro domotorista. E um elemento menos exato, consequentemente, gerador demais interpretaes e emoes. So, portanto, dois caminhos, duaspossibilidades diIerentes para noticiar um mesmo evento.Essa salutar diversidade so e possivel porque a comunicao noe uma cincia exata. Ela e um processo no qual entram sensaes,conhecimentos,cultura,educao,codigosesigniIicantesquenormalmente resulta em diversos e inimaginaveis signiIicados. Talvezesteja ai a sua maior riqueza. Trata-se de um processo que sempre serenova e se multiplica. E a midia IotograIia Iaz parte da 'cincia dacomunicao, ainda insipiente e a espera de teoricos e estudiosos queaproIundem seus signiIicados e processos.RefernciasBONI, Paulo Cesar. O discurso fotogrfico: a intencionalidade dacomunicao no Iotojornalismo. 2000. Tese (Doutorado em Cinciasda Comunicao)Universidade de So Paulo, So Paulo.. Linguagem IotograIica: objetividade e subjetividade namensagem IotograIica. Formas e Linguagens, Ijui, ano 2, n.5,p.165-187, jan./jun. 2003.49DUBOIS, Philippe. O ato fotogrfico. Campinas: Papirus, 1994.FABRIS, Annateresa (Org.). Fotografia: uso e Iunes no seculo I.So Paulo: EDUSP, 1998.FLUSSER, Vilem. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma IuturaIilosoIia da IotograIia. Rio de Janeiro: Relume Dumara, 2002.FRAGA, Cristiana Veroensi. Rindo do qu? Folha de Londrina,Londrina, 20 maio 2011. Cartas, p.2.KOSSO, Boris. Os tempos da fotografia: o eImero e o perpetuo.Cotia: Ateli Editorial, 2007.SCHEUER, Eliana Cristina. Segurana em Londrina. Folha deLondrina, Londrina, 18 maio 2011. Cartas, p.2.SONTAG,Susan. Diante da dor dos outros. So Paulo: Companhiadas Letras, 2003.. Sobre fotografia. So Paulo: Companhia das Letras, 2004.5051Foto-choque e tragdias no fotojornalismo:anlise fotogrficados terremotos no Haitie no Japo pelo blog Big PictureAnderson Jos da Costa CoelhoAnna Letcia Pereira de Carvalho52*GraduadoemLetrasLinguaPortuguesapelaUniversidadeFederaldoPara(UFPA).MestrandoemComunicaopelaUniversidadeEstadualdeLondrina(UEL).ReporterIotograIicodojornalFolhadeLondrina.E-mail:andersoncoegmail.com**GraduadaemMidialogiapelaUniversidadeEstadualdeCampinas(Unicamp).EspecialistaemFotograIiapelaUniversidadeEstadualdeLondrina(UEL).MestrandaemComunicaopelaFaculdadeCasperLibero,deSoPaulo.E-mail:annaleticiagmail.comResumo:Esteartigoanalisa,pelapropostametodologicadadesconstruoanalitica,aintencionalidadedecomunicaodoIotograIo e do editor de IotograIia nas reportagens IotograIicas deduas grandes catastroIes naturais ocorridas recentemente: o terremotoque atingiu a cidade de Port-au-prince, no Haiti, em janeiro de 2010,e o terremoto seguido de tsunmi, na regio nordeste do Japo, emmaro de 2011. A partir das analises, traa um estudo comparativodos dois ensaios IotograIicos publicados no blog de IotojornalismoBig Picture, nos dias 13 de janeiro de 2010 e 11 de maro de 2011,buscando veriIicar os impactos do choque nas IotograIias.Palavras-chave:BigPicture.Foto-choque.Fotojornalismo.Terremoto no Haiti. Terremoto no Japo.Foto-choque e tragdias no fotojornalismo:anlisefotogrficadosterremotosnoHaitie no Japo pelo blog Big PictureAnderson Jos da Costa Coelho1Anna Letcia Pereira de Carvalho253IntroduoA comunicao atual no esta sendo mediada somente pela escrita,mas tambem pela virtualidade. Os individuos que acessam as inIormaesvirtuais reconstroem o modo de visualizar um acontecimento por meiode suas subjetividades e das milhares de conexes que provem doprocesso de navegar pela internet. Ela possibilita uma interao maiorque os outros meios de comunicao, alem de ser um sistema de relaoglobal, considerando-se os contextos sociais e como os sujeitos serelacionam.Dentro desse mundo de produo comunicacional e cultural, noqual no existem territorios pre-deIinidos, a disperso de inIormaespassa a ser caotica e no linear, permitindo diversas possibilidades, taisquais as imagens jornalisticas, que ganharam na internet um papel singularna representao de noticias.As novas tecnologias da comunicao, como a internet, trouxerampara o publico acostumado ao Iazer jornalistico impresso uma novaperspectiva. A possibilidade de criar um jornal proprio, para deIesa desuas ideologias e opinies, evidencia o desenvolvimento democraticono modo de produzir o webfornalismo. Dentro desse contexto midiatico,as imagens ilustrativas de reportagens jornalisticas tambem trouxeramum diIerencial. Elas no esto mais atadas ao tamanho e a quantidadeimposta pela editorao impressa, agora Iazem parte da noticia, sonumerosas, provem de diversos produtores de imagens e carregam umasigniIicao com olhares de Iotojornalistas proIissionais e amadores.O Iotojornalismo surgiu com a necessidade de se documentar umacontecimento, em muitos casos, imediatos. A imagem era a prova danoticia, a testemunha ocular, muitas vezes sem ser considerado o pontode vista do IotograIo ou a manipulao da imagem. Na era digital, ela setornoumaisdemocraticaeacessivel,provandoqueessemeiodecomunicao pode ser mais Iorte ate do que a televiso no uso intenso,quase abusivo, de imagens e noticias. Agora, tudo e calcado em imagens,que, muitas vezes, impressionam.54Porem, sempre prestigiamos a IotograIia como um complementoda noticia escrita e a ateno dada ao webfotofornalismo so se baseavaem pequenas imagens no lavout dos sites, algumas com a possibilidadede serem um hiperlink para a mesma imagem em tamanho maior. Aimagem no deixa de ter o seu passado impresso, ela ainda precisa decontextualizao,umaregradoIotojornalismoquenolevaemconsiderao o suporte, como aIirma a pesquisadora Dulcilia Buitoni(2009):Aoanalisarmosjornaisnaweb,temosaimpressodequeopanoramapos-tecnologiadigitalaindanoIoisuIicientementeassumido pelos Iormatos jornalisticos presentes na rede. Os modosde ver e de ler esto ainda muito proximos do que acontece nojornalismo impresso convencional.A partir dai, podemos citar o diIerencial do site boston.com/bigpicture, cujo nome'Ioto granderesume basicamente o objetivoa que se presta. As imagens, neste site, no so apenas ilustraes oucomplementos de noticias; elas so as noticias. So imagens digitais emalta resoluo, mostradas ja em tamanho grande, prontas para seremvistas e, muitas vezes, apreciadas. So imagens provenientes de varioslocais da internet, como as da agncia internacional de noticias ReuterseasdositeGettyImages.Todososdiashaumaseleodeaproximadamente 30 IotograIias que Iizeram noticias. Guerras urbanas,eventos naturais, Iestas e Iiguras populares, todas com senso estetico eplasticidade incomparaveis.Asimagenssoacompanhadasporpequenaslegendas,quedescrevemasituaoeoacontecimentodeIormasucinta.OaproIundamento da noticia e provocado pelas imagens. So IotograIiasque signiIicam olhares, que nos Iaz desconIiar de uma possivel encenaoe que possuem simbologias a respeito da representao social propiciadapela IotograIia.Levando-seemcontaaintencionalidadedecomunicaodoIotograIo ao registrar o Iato, e do editor ao selecionar e organizar asIotograIias para publicao, analisaremos como so compostos os impactos55das IotograIias chocantes (Ioto-choque)1 num site que tem a pretensoexclusiva de noticiar por meio de imagens. Trata-se de uma publicaoIotojornalistica que respeita os padres no so relacionados ao gneroIotograIico, mas tambem atende a diagramao do seu veiculo. No BigPicture, as imagens digitais, na maioria dos casos, possuem qualidadesuperior, pois devem ocupar a centralidade e o espao quase que exclusivoda tela do computador. Isso, claro, traz novas signiIicaes, posto queprivilegia a imagem em detrimento da legenda e ate mesmo da noticia.Apesar de a leitura ser condicionada pela edio das imagens, percebe-se claramente que existe a inteno de construir uma representao domundo para aqueles que veem as IotograIias longe de seus contextosgeradores. Uma saturao primordialmente imagetica.Sendo assim, com todas as transIormaes que ocorreram com oIotojornalismo, este estudo analisa quatro IotograIias do terremoto queatingiu a cidade de Port-au-prince, no Haiti, dia 12 de janeiro de 2010, equatro imagens do tremor seguido de tsunmi, que atingiu o nordeste doJapo, no dia 11 de maro de 2011, todas postadas no Big Picture, oblog de Iotojornalismo do jornal The Boston Globe.Big Picture: uma nova possibilidade de fotojornalismoNo contexto de inovaes dos suportes das midias surgiu o blogBig Picture2. Criado e administrado pelos editores de IotograIia do jornalThe Boston Globe3, tem por objetivo publicar IotograIias de modo acontar noticias mundiais.AsreportagensIotograIicassopostadasassegundas-Ieiras,quartas-Ieirasesextas-Ieiras,sempreacompanhadasdelegendasexplicativas. Cada ensaio, atualmente, tem cerca de 40 a 50 IotograIias,1Nesteestudo,adotamosoconceitodeIoto-choquedapesquisadoraMargaritaLedoAndion.EladeIineaIoto-choquecomo'laimagenquesuspendeellinguajeybloquealasigniIicacion`,laimagenque,desdepuntodevistaantropologico,nosconducealasleyesdeproximidadpsico-aIetiva,emrelacionalaideadelamuerteycomocreenciadeterministadesumisionalasIuerzasdelanaturaleza.(ANDIN,1998,p.99-100,griIosdaautora).2Disponivelem:http://www.boston.com/bigpicture.3SediadonositedeinIormaeswww.boston.com.56provenientes de varias agncias de noticias4, que reunem diversos pontosde vista sobre o Iato publicado ou, em alguns casos, somente com umponto de vista.O aspecto que chama a ateno para este fotoblog e que ele Ioi opioneiro a publicar imagens em alta resoluo, que, ha dois anos, eraimpensavel na web. No entanto, em tempos de aumento e expanso dabanda larga e variedades e Iormas de se conectar a rede, essa convergnciadigital e uma alternativa para o uso desses novos servios. O Big Picturereune e organiza IotograIias de varias pautas e, com a edio IotograIica,geranovasIormasdeconteudo,pormeiodeIotorreportagens,remidiatizando-as para um tema em comum, com o objetivo de alcanarnovos eixos de audincia e visibilidade.O Big Picture usa a edio IotograIica para compor seus ensaios.As IotograIias so editadas de Iorma a transmitir um sentido narrativo, ouseja, alem da intencionalidade de comunicao do IotograIo que cobriu oIato, ocorre tambem a intencionalidade do editor, que compem variosolhares de um mesmo Iato e cria uma narrativa noticiosa. Fernanda Catanho(2007,p.94)deixaclaroessaconstruodediscurso,pormeiodaIotograIia, ao ressaltar que 'o editor, ao criar a narrativa a partir dasIotograIias, praticamente induz o leitor a cumprir um determinado trajetoque o leve a compreender sua intencionalidade no ato da construo damensagem.AsnoticiasdoBigPictureseaproximamdeumensaioIotojornalistico. Essa Iorma intencional e subjetiva de compor imagens,por meio da seleo e organizao das IotograIias, mostra que os editoresdo blog buscam passar um sentido para seus leitores, ja que a Iormacomo so dispostas as imagens no e aleatoria. Para alem do caraterinIormativo, elas constroem um olhar objetivo, uma viso narrativa dosIatos. No e somente a inteno de noticiar que norteia o Iotojornalismo,mas tambem a busca de um equilibrio entre elementos dessa linguagem, oestetico, o inIormativo e o ideologico.4AsIontesdasIotograIiassoasgrandesagnciasdeinIormaocomoAP(AssociatedPress),ReuterseGettyImagesealgumasdedominiopublico,comoasgovernamentais.57Todos os discursos so intencionais, tm uma carga ideologica econstituem Iormas simbolicas. A ideia de jornalismo isento, neutro, quebusca noticiar os Iatos como eles so realmente, e uma condio utopica.Os orgos de comunicao sempre trabalham com uma linha editorial. E,obviamente,oquenocorrespondeaospadreseditoriais,noepublicado. Logo, a editoria, alem de dar coeso na organizao dasIotograIias publicadas pelo blog, tambem pode inIerir intencionalidadesem suas selees.Isso porque as Iormas simbolicas possuem uma caracteristica muitoimportante: elas so acessiveis a receptores de diIerentes partes do mundoproduzindo um novo tipo de visibilidade, principalmente com o surgimentodainternet.Omundosetornoutestemunhadetodosostiposdeacontecimentos e as Iormas simbolicas acabam atingindo pessoas quepossuem poucas caracteristicas em comum, mas que compartilham aacessibilidade global. Pensando nisso, achamos necessario discutir apublicao de IotograIias chocantes e ate que ponto sua utilizao contribuipara o ato de noticiar. Sera que elas apenas noticiam ou ultrapassam aesIera do conIorto e exaltam a violncia?Sontag (2003) mostra como essas imagens Iortes e chocantesorientam a produo e edio de noticias, em uma sociedade na qual oque mais chama ateno e o que vende. Esse tipo de orientao torna-seuma tendncia nas midias e criam um ciclo que, repetidamente, se alimentade imagens chocantes para uma demanda de consumo.IssosedeveaoIatodequearepresentaoIotojornalisticaparticipa de uma esIera de legitimao, posto que este gnero IotograIicoesta encarregado de transmitir elementos que se organizam sob umaideologia construida de Iorma hierarquica e metodica. Essa cadeia deorganizao provem do Iato de que a imagem IotograIica deve se ater auma dimenso aproximativa do real, de modo a Iuncionar como umaespecie de sintese de um acontecimento, sem cair num reducionismo,mas de Iorma a transmitir inIormaes explicitas e, tambem, implicitas.O jornal, por sua vez, ou o webfornal como no caso do Big Picture,esta inserido num contexto cultural particular e isso intervem na Iorma como58a mensagem jornalistica e transmitida. Esse cenario, aliado a um conjuntode proIissionais, que encaram na unidade jornalistica uma maneira de atenderas regras impostas pela instituio, e ao publico, ao qual o jornal se destina,cria o discurso caracteristico do veiculo.Um Iato pode ganhar varias dimensionalidades de discurso. AsIotograIias de impacto ou Iotos-choque trazem alguns questionamentos:Temos que divulga-las? Com que parmetro? Ate que ponto essas imagens,ou o excesso delas, nos Iazem esquecer o horror que representam?Sontag (2003) diz que no e na IotograIia que esta o horror, mas noato de v-las. Para justiIicar seu pensar, destaca que uma imagem deimpacto e Iacilmente transIormada em clich. A partir disso, se torna ineIicaz,perde o sentido de choque e se transIorma em 'mais uma. A sociedadecontempornea acaba condicionada a contemplar a dor dos outros pelaimprensa, e as imagens surgem com tamanha celeridade sob seus olhos,que as pessoas no conseguem ter impresses mais aproIundadas sobreelas, somente veem imagens 'Iantasticas. Este tema sempre se repete eentorpece as mentes, que se tornam alheias a dor dos outros.As Iotos-choque alcanam uma notavel visibilidade com a internet.Neste contexto, o blog Big Picture se transIorma em numa especie derepresentao social que possui Iorte carga ideologica, na qual e possivelpercebernuancesderepresentaonaspublicaes,comoasaquianalisadas.Impacto e foto-choque nas tragdiasdo Haiti e do JapoSe revisada a historia do Iotojornalismo percebe-se que com otempo e a pratica de varios IotograIos e editores Ioi-se Iundamentandouma rotina valorativa para a cobertura de guerras e catastroIes. Para essaexplorao da dor alheia buscou-se a Ioto-choque, atualmente um elementoconstante na mass media, ja que a partir de exigncias no mercado das59noticias, tornou-se parte dos criterios de noticiabilidade, pois seu universobusca toda a 'iconograIia do anormal (ANDIN, 1988), seja da violnciaexplicita de tragedias naturais ou conIlitos.O 'valor da noticia, neste estudo, e a exposio da dor e dochoque dos terremotos que atingiram diIerentes propores no Haiti eno Japo. No Haiti, a explorao da dor Ioi mais explicita, buscada emIotograIias de Ilagrantes, Ieitas 'ao vivo durante o tremor, com pessoassoterradas, carregadas, Ieridas e mortas. No terremoto do Japo, aexposio da dor Ioi mais contida, editada. Nas tomadas IotograIicasno ha Ieridos, muito menos mortos; apenas pessoas preocupadas emchegarassuascasas,comoseotremorIosseuminconvenientecongestionamento na hora do rush.Com 7,0 graus de magnitude na Escala Richter, um terremotoassolou o Haiti, proximo a capital Port-au-prince, no dia 12 de janeirode 2010. Foi o pior terremoto em 200 anos. Quase toda estruturaIisica da cidade Ioi levada abaixo; o governo do pais, que ja era Iragil,Ioi Iragmentado. Segundo dados oIiciais, estima-se que cerca de220.000 mil pessoas perderam a vida na hecatombe. No Japo, nodia 11 de maro de 2011, tremores de 8,9 graus de magnitude atingirama costa leste, seguidos por um tsunmi de 23 metros, que destruiuvarias cidades japonesas e deixou centenas de mortos e milhares dedesabrigados. Alem disso, se instaurou uma crise nuclear, deIlagradaem razo dos danos causados na usina de Fukushima, regio norte dopais.Em tragedias de tal magnitude e inevitavel que no se veicule Iotos-choque. No entanto, documentar e editar as IotograIias de uma tragedia,ressaltando valores morais com o uso da linguagem IotograIica, e umcaminho para uma cobertura sensata. Nas postagens do Big Picture Iorammostradas imagens tomadas imediatamente aposou mesmo durante cada tragedia. Sobre o terremoto do Haiti, Ioram postadas 48 primeirasimagens, mas seis Ioram retiradas do ar, devido problemas de direitosautorais com o IotograIo. Dos tremores do Japo, 47 IotograIias Iorampostadas.60Por serem tantas, torna-se impraticavel para este estudo analisartodasasimagenspostadas.Realizadoorecortedepesquisaporamostragem Ioram escolhidas quatro IotograIias do terremoto do Haiti eoutras quatro do Japo. Com uma analise comparativa entre as imagensdas duas tragedias, tentaremos veriIicar como se deram os impactos dasIotos chocantes.Usaremosapropostametodologicadaintencionalidadedecomunicao para as analises. Este procedimento metodologico, propostopelo pesquisador Paulo Boni (2000), ressalta que quando o IotograIo Iazuma tomada IotograIica ele tem uma viso intencional e busca, usando osrecursos tecnicos e os elementos da linguagem IotograIica, explicitar essainteno para que ela seja decodiIicada pelo leitor.Normalmente, a IotograIia e reIlexiva, intencional. No entanto, emdeterminados momentos, ocorre o 'Ilagrante no Iotojornalismo. E aquelemomentoemqueoIotograIoesqueceoselementosesteticosesepreocupa apenas em obter a inIormao em primeiro lugar. MuitasIotograIias se tornaram antologicas pelo Iato de o IotograIo estar no lugarcerto, na hora certa.No caso da analise das tragedias do Haiti e Japo, muitas imagensselecionadas pelas agncias e postadas nos dias 12 de janeiro de 2010 e11 de maro de 2011, respectivamente, carregam tanto a intencionalidadedo IotograIo, que esteve no local e registrou o Iato, quanto a do editor,que escolheu varios olhares para Iazer uma sintese do evento noticiado.Emmbitogeral,naspostagenssobreoterremotodoHaiti5percebemos que grande parte das imagens Ioi tomada em ngulos Iechadose medios, dando preIerncia a dor dos haitianos. Nestas imagens, Iicameminentes o desespero e o desnorteamento perante uma situao inusitada.So Iortes as imagens de pessoas ja mortas e muitas Ieridas em situaoprecaria.MuitasIotograIiasIoramtomadascomcmerasdebaixaresoluo. Ha intencionalidade evidente em algumas imagens, mas em outraspredominou o Ilagrante, o registro imediato.5Disponivelem:http://www.boston.com/bigpicture/2010/01/earthquakeinhaiti.html61No Japo6, mesmo com a intensidade do terremoto seguido detsunmi, houve o registro mais intenso da catastroIe com maior numero deimagens em otima deIinio. Para tanto, e preciso considerar que o Japoe um pais que possui grandes metropoles, nas quais esto concentradasas sucursais das grandes agncias de noticias, como Reuters e a AP. Acobertura da catastroIe do Japo Ioi maior que a do Haiti, pois, neste, elapegou de surpresa no so os habitantes do pais, mas tambem o governo eimprensa.Grande parte das IotograIias postadas sobre o Japo Ioi tomadaem grande plano geral7, inclusive tomadas panormicas, mostrando oimenso impacto da catastroIe, em especial do tsunmi que devastou variascidades na regio nordeste. Em menor intensidade aparecem imagens emplanos mais Iechados, mas em nenhuma delas aparecem pessoas Ieridasou mortas. E clara a diIerena entre as IotograIias do Haiti, nas quais haimagens Iortes de mortos e Ieridos, e do Japo, que apenas mostrampessoas em abrigos, esperando a situao se estabilizar.Na primeira lmina temos duas IotograIias (Figuras 1 e 2), ambasso imagens Iortes, que mostram o desespero de haitianos e japonesesdiante do terremoto. Na imagem superior, de Carel Pedre/AP, pessoascorrem entre os escombros de um ediIicio daniIicado logo apos a catastroIe,no Haiti. Tomada em plano medio, muito comum no Iotojornalismo, buscamostrar de Iorma imediata os impactos do terremoto. E a IotograIia queabre a materia no Big Picture, deixando claro ao leitor a Iorma abruptacomo se deu a catastroIe, criando um equilibrio entre pessoas, nos planosinIerior e lateral, e a destruio, no plano superior da imagem.6Disponivelem:http://www.boston.com/bigpicture/2011/03/massiveearthquakehitsjapan.html7PauloCesarBonireuneemseuartigoLinguagemfotografica.obfetividadeesubfetividadenacomposiodamensagemfotograficaosprincipaiselementosconstitutivosdalinguagemIotograIica:planosdetomada,planosdeIoco,composio,regradosteros,perspectiva,Ioco,proIundidadedecampo,Iocoseletivo,ngulos,movimento,cavalgadura,textura,contrastes,tonalidades,cor,iluminao,Iormatos,elementosdesigniIicaoeequilibrio.Segundoele,ecomagamadessescomponentesqueoIotograIotransmitesuamensagem,trata-sede'uminstrumentodeescritaetraduo.(BONI,2003,p.186).62E evidente que a primeira imagem Ioi tomada com uma cmera debaixa resoluo ou Irame extraido de uma gravao. Seu elementoprimordial e o desespero mostrado pelas trs pessoas em primeiro plano.Os rostos que se desIazem na correria mostram, de Iorma subjetiva,desorientao, surpresa e dor. Pode no ter sido a inteno do IotograIo,Figuras 1 e 2 - Imagens de desespero63mas podemos supor que o editor selecionou essa imagem para abrir areportagem devido a esses aspectos.A segunda imagemsem o credito ao IotograIo e somente com aindicao da agncia a quem pertence os direitos autorais, a Reuters deixa claro o que acontece: pessoas se abrigam enquanto o teto desabanuma livraria na cidade de Sendai (Figura 2). A imagem Ioi tomada navertical e em plano medio. Com isso, pode-se ver o que esta acontecendono local e os momentos de tenso a que as pessoas esto submetidas. Oelemento de impacto e o teto se despedaando, em razo das Iortestrepidaes.E uma das primeiras imagens em que vemos maior carga de 'ao.Ela e um Ilagrante, e Iala por si so. Mostra o desespero das pessoas, quese encostam a coluna da livraria para se proteger. No rosto da mulher queolha o teto desabando vemos medo. Por isso ela esta se protegendo nosbraosdorapaz,quetambempareceestartenso,masdaamulhersegurana e proteo. A legenda oIerece somente inIormaes acessorias,como local e data do acontecimento.A incerteza da tragedia e o medo de morrer Iazem com que essasimagens sejam pungentes, Iortes, ja que passam de imediato a ideia domartirio que pessoas passaram diante da Iuria da natureza.Nas Iiguras 3 e 4 vemos a mesma situao, mas que nos permiteIazer inIerncias diIerentes: ambas as imagens so de pessoas que estoimpossibilitadas de retornar para suas residncias por conta do terremoto.A primeira (Figura 3) Ioi Ieita com uma lente grande angular, tentandocompor o maximo de elementos na imagem. Mostra a populao quedorme na rua na primeira noite apos o terremoto em Port-au-Prince, noHaiti. As pessoas se acomodam a ceu aberto e tentam conseguir um espaopara se recuperar e descansar e, talvez ate, tentar esquecer a catastroIeque assolou o pais. Podemos perceber que ha uma organizao precarianesse abrigo improvisado.Em termos de intencionalidade, Iica evidente que o IotograIoescolheu a lente grande angular para incluir o maior numero possivel deelementos no cenario. O enquadramento passa a sensao de aperto,conIuso, caos.64Ao eleger um recorte espao temporal para tentar traduzir o todo,usa os recursos tecnicos como suporte de narrativa e os elementosda linguagem IotograIica como instrumentos enunciativos do seumodo de pensar. Na somatoria da narrativa com a enunciao, eletambem cria um discurso. (BONI, 2000, p.51).Figuras 3 e 4 - Pessoas desabrigadas65O editor entende essa mensagem e a transmite na publicao. Trata-se de uma IotograIia necessaria para compor a narrativa IotograIica, sendo,portanto, um 'ensaio Iotojornalistico. Este e o momento em que no semostra a tragedia, mas suas consequncias: Quantas pessoas IicaramIeridas? Quantas morreram? Como essas pessoas reconstituiro suasvidas?Essas so algumas das mensagens que o editor busca passar napublicao. E nesse momento que se insere o carater subjetivo da imagem,sugerir em vez de mostrar explicitamente. 'Mostrar ou sugerir? ... sugerirtambem e mostrar a verdade. (COL; BONI, 2008, p.47). Atingimos oreceptor da mesma maneiraou ate mais intensamentequando sugerimosa dor do outro. As imagens explicitas de morte, segundo Sontag (2003),nos deixam entorpecidos, alheios.A segunda imagem (Figura 4), do IotograIo Haruyoshi amaguchi,mostra o que seria, em tese, uma cena parecida com a primeira, pois,ambos os casos mostram pessoas que Ioram desterradas de suas casaspara locais mais seguros. No entanto, vemos que no Japo as pessoasesto mais bem instaladas e vestidas, alem de no serem vistos a tenso ecaos das imagens do Haiti. Diante do que Ioi retratado, e como se noJapo houvesse uma rotina de situaes desse tipo.A condio Iinanceira e social do Japo e muito mais estavel que adoHaiti.IssopossibilitaaestruturaodeabrigosespeciIicoseotreinamento de pessoas para esse tipo de situao. De certa Iorma, o paisestava mais preparado para uma catastroIe como essa, dado o seu longohistorico de abalos sismicos. No entanto, essa Ioi uma das maiores detoda sua historia.Em termos de tecnica, no contamos com os dados de EIF8 parainIormaes precisas, mas podemos supor que a IotograIia tenha sidotomada com uma lente de 50 a 70 mm. Tem-se um enquadramento8Soosmetadadostecnicosregistradosnascmerasdigitaisnomomentoqueaimagemetomada:Iotometragem,tipodelenteusada,modelodecmeraebalanodebranco.ParamaisinIormaes,consultar:http://www.tecmundo.com.br/4144-IotograIia-voce-ja-ouviu-Ialar-em-dados-exiI-.htm.66equilibrado com as pessoas que compem a cena. Em grande parte,pessoas jovens, aparentemente aguardando o terremoto cessar, com certatranquilidade, para poderem voltar as suas rotinas de vida e trabalho.No sentimos a incerteza e o desespero dos haitianos. Isso suscitariaadentrar em questes culturais, para avaliar a reao do povo oriental emrelao ao povo latino em situaes extremas, mas esse no e o Ioco deinteresse do estudo em questo.Nas Iiguras 5 e 6, temos plano aberto em ambas as tomadas. Asimagens tentam passar de Iorma macro, o grande impacto que as tragediasdeixaram: o homem e sua inIima posio diante da dimenso das Iorasda natureza.A imagem tomada no Haiti (Figura 5) mostra como Iicou arrasadoo bairro de Canape-Vert. Em um primeiro plano, vemos casas simplesdestruidas pelo abalo sismico. Ja ao Iundo, o restante da cidade destruida.E diIicil acreditar que uma cidade nessas condies sera reconstruida. Empoucos minutos, muitas vid