livro didÁtico na paraÍba e no brasil impÉrio · limites para a pesquisa social como um todo,...
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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 4044
LIVRO DIDÁTICO NA PARAÍBA E NO BRASIL IMPÉRIO
Hélcia Macedo de Carvalho Diniz e Silva1
Introdução
Este trabalho parte da proposta teórico-metodológica de Michel de Certeau (2011) em
A escrita da história com o fim de traçar a metodologia da pesquisa social nessa linha de
pesquisa. Assim, o objetivo geral é dialogar com o autor e traçar os caminhos específicos da
investigação de um corpus. Em realce, para alcançar este intento analisa-se o primeiro
capítulo do livro As aventuras de Telêmaco: filho de Ulisses.
Para Certeau, nos últimos quatro séculos, aproximadamente, os métodos de
investigação científica não dão conta da espessura nem da grandeza do real pesquisado, isto
é, após o pesquisador fazer a coleta do material para estudo era feita a triagem, que
condenava boa parte dos dados. Com isso, era comum o descarte do excedente, aquilo que
extrapolava os limites teóricos da pesquisa.
Na maioria das vezes o material coletado continha “resíduos”, para Certeau (2011, p.
67), “De resíduos, de papéis, de legumes, até mesmo das geleiras e das ‘neves eternas’, o
historiador faz outra coisa: faz deles a história”. Isso porque o seu trabalho é o de, entre
outras coisas, estabelecer conexões entre o social e o natural.
Mas o historiador não se contenta em traduzir de uma linguagem cultural para outra, quer dizer, em transformar produções sociais em objetos de história. Ele pode transformar em cultura os elementos que extrai de campos naturais. Desde a sua documentação (na qual ele introduz pedras, sons etc.) até o seu livro (em que plantas, micróbios, geleiras adquirem o estatuto de objetos simbólicos), ele procede a um deslocamento da articulação natureza/cultura.
Para os conteúdos descartados pelo positivismo, sob a justificativa de que havia
informações excedentes, a historiografia reservou lugar de destaque. Com efeito, muitos dos
conteúdos descartados eram preciosidades sobre o assunto pesquisado. Atualmente, os
procedimentos da narrativa historiográfica atribuem destaque ao que antes foi considerado
residual. O trabalho de contar, interrogar e relatar os acontecimentos realizado pelo
1 Doutoranda PPGE/UFPB. Professora do Centro Universitário de João Pessoa. [email protected].
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pesquisador torna-se mais livre quando da sua narrativa, isso dignifica o morto, ou os
documentos pesquisados. Com outras palavras, proporciona dignidade às memórias do
corpus eleito.
Esse procedimento exige que a pesquisa se limite à capacidade de análise do objeto.
Nessa operação historiográfica deve-se perceber as relações entre um lugar e a elaboração
argumentativa, implicando em diálogos com a literatura vigente. No segundo capítulo do
livro A escrita da história, Certeau delimita a proposta teórico-metodológica da operação
historiográfica. Isso justifica o recorte feito nessa produção, além de ser suficiente para o
intentamos nessa discussão.
Sendo assim, a presente pesquisa divide-se da seguinte forma: Apresentação dos
aspectos teórico-metodológicos da pesquisa em Histórica da Educação e a Análise do texto
literário As aventuras de Telêmaco: filho de Ulisses. Esta produção é parte de um trabalho
mais amplo, o que implica em desenvolvimento recente da pesquisa, que questiona o
seguinte: quais são os papéis sociais exercidos por Mentor?
Lembrando que Mentor é uma personagem da obra aqui analisada, As aventuras de
Telêmaco: filho de Ulisses, cujo objetivo é educador o jovem filho de um guerreiro que, antes
de partir para a guerra faz essa recomendação, mesmo sem saber que o seu retorno para casa
seria algo praticamente impossível, Ulisses, da Odisseia enfrenta a fúria dos deuses e mesmo
com o fim da guerra passa dez anos lutando para voltar para Ítaca.
Aspectos Teórico-Metodológicos do Trabalho do Historiador
Inicialmente, a produção de conhecimento em caráter científico requer algumas
delimitações, as quais configuram a pesquisa em sua natureza. Não poderia ser diferente nas
produções referentes ao campo da História da Educação, assim o lugar social agrega a
perspectiva do pesquisador, ao mesmo tempo em que define a escolha teórica e o aspecto
metodológico.
Essa caracterização é importante porque legitima cientifica, social e politicamente a
produção do historiador. O lugar social daquele que fala se fortalece na medida em que ao
dizer estabelece a posição de quem fala. Segundo Certeau (2011, p. 45), “Compreender, para
ele [o historiador], é analisar em termos de produções localizáveis o material que cada
método instaurou inicialmente segundo seus métodos de pertinência”.
Desse modo, a natureza da pesquisa em História da Educação transforma-se em
cultura e produção com indícios de originalidade. A prática historiográfica consiste em
transformar as fontes (documento, dado, vestígio, entre outros) em objetos de estudos
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singulares. Certeau rechaça a ideia de que a prática e a técnica, isoladamente, são fatores de
história. Para o autor, é a capacidade de interpretar as fontes que torna a pesquisa científica e
essencialmente parte das Ciências Humanas e Sociais.
Nesse sentido, o trabalho do historiador está centrado na transformação do dado, que
é a natureza pesquisam em cultura, que é o dito sobre o que foi investigado, isso exige
formação específica, competências que permitem leituras possíveis do objeto, assegurando a
cientificidade da pesquisa social.
Com isso, o dado (matéria-prima) se torna para o historiador o material de trabalho, o
objeto de estudo, a fonte de pesquisa, o que não pode ser manuseado de qualquer jeito. As
informações coletadas tornam-se informação que ocupam algum status social e científico.
Segundo o autor, é o historiador que atribui o status do objeto de pesquisa. São fontes
primárias do campo da cultura para o campo da história: coleções, arquivos, acervos,
monumentos, etc.
Essa dinâmica resulta em produções de documentos que não são meros textos em
uma nova linguagem, se constituem em diálogos constantes do presente com o passado.
Assim, objetos de estudo naturais tornam-se cultura e são incorporados à história da
humanidade, da civilização de um povo. A metodologia de trabalho pode ser fotografar,
transcrever, microfilmar e, se possível, transportar as fontes de um lugar para outro, a fim de
ajustar ao objetivo pretendido pelo pesquisador.
O aspecto teórico-metodológico da pesquisa positivista que busca o cientificismo, ao
contrário do trabalho do historiador, põe em realce fontes que são deslocadas e para entendê-
las e passar à elaboração da pesquisa com objetivos claros era preciso coletar um material
direcionado para tal pesquisa. Este, devia ser observado como proposto a priori, uma vez que
a tarefa nesse processo de investigação, implica em extrair o dado do conjunto em que foi
originalmente construído, separar, recortar e isolar este objeto e fazer os procedimentos
necessários para dissecar o máximo de informações. Certeau (2011, p. 47) afirma:
Há quarenta anos, uma primeira crítica do ‘cientificismo’ desvendou na história ‘objetiva’ a sua relação com o lugar, o do sujeito. Analisando uma ‘dissolução do objeto’ (R. Aron), tirou da história o privilégio do qual se vangloriava, quando pretendia reconstruir a ‘verdade’ daquilo que havia acontecido. A história ‘objetiva’, aliás, perpetuava com essa ideia de uma ‘verdade’ um modelo tirado da filosofia de ontem ou da teologia de anteontem; contentava-se com traduzi-la em termos de “fatos” históricos... Os bons desse positivismo estão definitivamente acabados.
No processo de operação técnica, o estudo tinha como objetivo satisfazer a um
resultado esperado. Quando a seleção do corpus facilitava os resultados e para isso, eram
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descartadas informações importantes, provocando perdas irreparáveis a pesquisa
historiográfica.
Nessa produção não temos a pretensão de nos estender nos aspectos teórico-
metodológicos positivistas ou de natureza seletiva. Faz-se mister, portanto, estabelecer
limites para a pesquisa social como um todo, para nortear a pesquisa e o historiador.
Nesse caso, a historiografia é uma história prática, uma disciplina, cujo resultado é
dado pelo discurso e sua relação com o social, enquanto prática. Para Certeau (2011, p. 47):
a operação histórica se refere à combinação de um lugar social, de práticas “científicas” e de uma escrita. Essa análise das premissas, das quais o discurso não fala, permitirá dos contornos precisos às leis silenciosas que organizam o espaço produzido como texto. A escrita histórica se constrói em função de uma instituição cuja organização parece inverter: com efeito, obedece a regras próprias que exigem ser examinadas por elas mesmas.
No caso da pesquisa são inúmeros os métodos investigativos que podem fundamentar
o trabalho científico. Contudo, na perspectiva contemporânea de pesquisa a lógica positivista
tem sido relegada ao esquecimento por pesquisadores das Ciências Sociais, da Educação, e
das Ciências Humanas como um todo. Isso ocorre, justamente, por conta da valorização do
lugar social, conceito importante para a pesquisa em História da Educação.
Atualmente, o olhar do pesquisador está centrado no que antes era visto como
residual ou mesmo algo descartável para a lógica positivista. Os “restos” antes descartados, os
temas considerados marginais, ganham espaço na preocupação científica.
Ao focalizar a literatura popular, o ensino de personagens apagados ao longo do
tempo e outras temáticas relegadas ao esquecimento põe-se em evidência o que era
descartado, isso porque não mais é exigido do pesquisador uma abordagem universal.
Deixando claro que a pesquisa com objetos caracteristicamente particulares, não está
desvinculada com a totalidade da questão abordada. Na realidade, o particular estabelece
conexões com as estruturas socioeconômicas em geral. As questões historicamente marginais
pela Ciência, que interessam ao historiador contemporâneo, ampliam os horizontes da
pesquisa. Isso ocorre por conta do acesso ao computador conectado à Internet (a tecnologia,
quando usada com objetivo de pesquisa, tem sido um fator determinante quando do arquivo
digital de documentos) e da possibilidade de digitalizar, fotografar e gravar dados de
naturezas diversas.
A tecnologia a serviço da pesquisa social tem sido aliada, por exemplo, quando é
necessário resgatar fontes extraviadas ou por impedimento oficial ou particulares de acesso
aos dados. O historiador usualmente recorre a gravação de entrevistas, quando possível,
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quando ocorre alguns desses entraves na pesquisa. A fonte oral proporciona um tipo de
evidência bastante peculiar. Quando esta fonte é explorada corretamente, o historiador
alcança resultados bem fundamentos ao término de sua pesquisa.
O recurso da entrevista, quando possível, supre diversas lacunas, funciona como
esclarecedora de dúvidas a partir do relato de alguém que presenciou o fato pesquisado, e
assim a pesquisa põe em foco o modo como essa pessoa percebeu o evento; preenche a lacuna
documental (no caso de extravio de documentos); e provoca inquietações no pesquisador que
a partir disso toma caminhos nunca dantes pensado.
Não obstante, o pesquisador deve manusear cuidadosamente o documento produzido
com a entrevista, Thompson (1992) explica que as reminiscências são formas de
recomposição da história, a partir de uma narrativa feita por personagens da história, cuja
base do registro é “subjetiva”. Isso inspira cuidado porque demonstra o passado a partir de
representações feitas por aquele que relata o fato.
O que o historiador deve fazer é buscar amenizar as influências dos paradigmas
contemporâneos em suas pesquisas, isso só é possível a partir do distanciamento. A
consciência histórica contribui para a leitura do passado com influências mínimas, haja vista
a possibilidade de redimensionar a percepção do problema investigado. Não obstante, as
vozes coletadas em entrevistas devem ser escutadas com atenção, uma vez que na maioria das
vezes são narrativas historiográficas que não receberam a devida atenção e valorização, isso
porque a pesquisa positivista descartava grande parte do material recolhido para a pesquisa
sob a justificativa de que não atendiam o objetivo da pesquisa.
Não obstante, põe-se em realce a inversão escriturária proposta por Certeau,
segundo a qual o caminho seguido é inverso ao da investigação (momento de recolher e
sistematizar as fontes de pesquisa). Para tanto, a escrita segue a ordem inversa ao tempo
cronológico do trabalho de campo e de organização do que foi percebido durante a recolha
dos dados, o que propicia ao pesquisador abrir outros horizontes sobre objetos de estudos
“antigos”.
Assim, uma realidade investigada por um pesquisador pode, perfeitamente, ser
investigada novamente, desde que haja a reorganização do passado e a exploração de outros
significados a respeito daquele fato do qual alguém já havia tecido algumas considerações. A
possibilidade de reelaboração de textos diversos sobre uma mesma matriz é a prova cabal de
que um fato pode ser visto por vários ângulos. Sendo exigido do historiador o ponto de vista
metodológico, a teoria e a delimitação do objeto de pesquisa.
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Nesse ponto, portanto, destaca-se a operação historiográfica, que dá subsídios para o
historiador buscar compreender as possíveis relações entre a teoria metodológica e o objeto
de estudo eleito. Certeau (2011, p. 57) destaca:
Mais genericamente um texto histórico (quer dizer, uma nova interpretação, o exercício de métodos novos, a elaboração de outras pertinências, um deslocamento da definição e do uso do documento, um modo de organização característico etc.) enuncia uma operação que situa num conjunto de práticas. Esse aspecto é o primeiro. É o essencial numa pesquisa científica.
A pertinência do campo epistemológico e os procedimentos de análises da pesquisa
devem nortear a escrita a partir da compreensão do passado e dependendo do espaço-tempo2
de onde “falo”, isso porque o distanciamento temporal favorece a diversidade de
compreensões do objetivo de pesquisa e as possíveis relações elaboradas pelo pesquisador.
Assim, a escrita da história possibilita interrogar o objeto de pesquisa e, por
conseguinte, revelar elementos inerentes a este em relação ao lugar social, político,
econômico e cultural. Para tanto, as regras do meio, segundo as quais são revelados os
sistema ético e técnico que operam na pesquisa, definem o olhar do pesquisador. São as
regras que determinam o que é permitido no saber científico. Certeau (2011, p. 65) afirma
que “É nessa fronteira mutável, entre o dado e o criado e finalmente entre a natureza e a
cultura, que ocorre a pesquisa”.
O sistema ampara os procedimentos investigativos e permite a fabricação do discurso
de autoridade, validada cientificamente sob o estatuto do sujeito e seu lugar social. Este
permite e proíbe a produção, sua função é dupla, afirma Certeau (2011, p. 63) “Ele torna
possíveis certas pesquisas em função de conjunturas e problemáticas comuns. Mas torna
outras impossíveis; exclui do discurso aquilo que é sua condição num momento dado;
representa o papel de uma censura com relação aos postulados presentes na análise”. O autor
refere-se às variáveis sociais, econômica e políticas, entre outras.
Toda pesquisa está circunscrita pelo lugar do pesquisador, que define a possibilidade
de conexões, cuja construção textual ocorre devido à polissemia da escrita, como define a
Linguística. Esta, fundamenta o discurso sobre o material e/ou fonte da pesquisa. Cada
discurso insere-se, conforme Bakhtin, em gêneros de discurso. É a linguagem relativamente
estável que enforma aquilo que foi expressado, comunicado, dito.
A “história se define inteira por uma relação da linguagem com o corpo (social) e,
portanto, também pela sua relação com os limites que o corpo impõe, seja à maneira do lugar
2 Lugar e época, “De toda maneira, a pesquisa está circunscrita pelo lugar que define uma conexão do possível e do impossível” (CERTEAU, 2011, p. 63).
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particular de onde se fala, seja à maneira do objeto outro (passado, morto) do qual se fala”
(CERTEAU, 2011, p. 63).
Por mais que seja, aparentemente, sem nexo o material recolhido, a organização e o
modo como as ausências e silêncios presentes nas fontes são organizados preenchem as
lacunas e preenchem os significados, favorecendo a construção de sentido da pesquisa em
Ciências Humanas.
Esse é o ponto que permite avanços no trabalho do pesquisador, haja vista que amplia
o olhar sobre o objeto de estudo. Certeau valoriza a prática investigativa que dá atenção aos
desvios, isto é, os dados que aparentemente não se encaixam no quadro teórico-
metodológico. O problema está, justamente, na análise do particular e/ou individual, que
precisa responder a perguntas essenciais, para quem trabalha, o que produz e o que fabrica o
historiador.
O Literário como Objeto de Estudo
Entre os textos analisados por Abreu (2003) em Os caminhos dos livros está
destacado livro de instrução escrito pelo francês François Salignac de La Mothe Fénelon, As
aventuras de Telêmaco, como uma das obras mais impressas e reimpressas de uma época.
Em realce, a atenção de muitos comentadores, no mundo inteiro, foi bastante relevante, a
ponto de ser uma narrativa imitada e traduzida entre os séculos XVIII e XIX, tanto na Europa
como fora dela, tendo chegado ao Brasil e servido de livro didático adotado em Lyceos e no
Atheneus.
Esse fato coloca a referida obra, que caiu no esquecimento ao longo do tempo, em
posição de destaque nesta pesquisa. Aqui, a pretensão é de desenvolver estudos na
perspectiva da História da Educação, tendo em vista o momento histórico em que o referido
livro foi adotado na educação brasileira.
De acordo com Sena (2008, p. 11), dar visibilidade aos livros didáticos que circularam
no Brasil Império
estão relacionados aos estudos sobre a leitura, o livro e o leitor na contemporaneidade que aproximaram os pesquisadores da recuperação da história da leitura no Brasil e na Paraíba. Esse interesse somente ocorreu no final do século XX, sendo possível identificar livros e outros objetos culturais que circularam no Brasil no Setecentos e no Oitocentos. No movimento da restituição das práticas de leitura dessa época, os livros e a leitura ganham centralidade, ocupando um lugar de destaque entre os pesquisadores da História da Leitura e da História da Educação interessados em saber o que se liam e como eram encaminhadas as situações de leituras no cotidiano escolar e em outros espaços no passado.
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Não obstante, as pesquisas que utilizam o livro didático como corpus tem se
intensificado a partir da década de 1990 do século XX, representando o crescente interesse de
pesquisadores pela problemática que toma o livro didático como fonte de pesquisa. Esse
crescimento é fruto do movimento École dos Annales3, liderado por Lucen Febvre e Marc
Bloch (1929), quando houve transformações metodológicas pelas quais os conhecimentos em
história se aproximam das ciências sociais. Esta perspectiva edificou o ofício do historiador,
que passa a considerar o fato de que toda vivência é portadora de uma história e apresenta
aspectos a serem investigados.
Faz-se mister buscar entender a exploração do texto pelo educador, cujo objetivo
deste profissional da educação, de modo mais amplo no Brasil Império, era trabalhar a
tradução do francês para o português e o mais estrito, abordar questões relativas à moral,
virtude e prudência. Cândido (1972, p. 6) classificou esse texto como romance escolar por ser
uma narrativa, um tipo textual, por excelência, que permite esse tipo de trabalho. É
justamente o lugar social em que esta pesquisa se encontra que justifica a escolha dessa obra
como corpus.
De modo geral, há algum tempo que o livro didático tem contribuído
significativamente para as discussões sobre a construção de componentes curriculares.
Basicamente, os pesquisadores procuram inter-relacionar os aspectos sociais com os saberes
construídos nos processos educacionais. Valdermarin e Sousa (2000) afirmam que muitas
pesquisas voltadas para o livro didático contribuem, entre outros aspectos, para as
peculiaridades da instituição escolar, o que tem possibilitado resultados capazes de explicar,
pelo menos em parte, as complexidades e subjetividades do processo de escolarização.
Esse objeto pode ser estudado de formas diferentes, citamos, pelo menos três grupos
que se dividem quando se fala em investigações do livro didático, a saber, os estudos de
Batista, Rojo e Mink (2005) com as análises de conteúdo ideológico nos manuais escolares.
As pesquisas de Chartier (1991) e Certeau (1982, 2011) com investigações do livro didático a
partir de práticas escolares e representação social e suas relações com a formação do Estado
nacional. Ainda na França os estudos se destacam a partir das pesquisas de Choppin (2002),
todos como pesquisadores com base no livro didático.
Por último, o Brasil tem como destaques Bittencourt (1993, 2004, 2008), que enfatiza
a preocupação de compreender problemas acerca dos constituintes ou o processo de
constituição de componentes curriculares, escolarização de saberes, práticas educativas e
3 “Escola historiográfica francesa fundada por Marc Bloch e Lucien Febvre, que encontrou seu veículo máximo de expressão na Revista dos Annales editada a partir de 1929” (BARROS, 2013, p. 198).
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construção de cultura e saber escolares. Além deste, se destacam Munakata (1997), Corrêa
(2006), Peres e Tambara (2003), Frade; Marciel (2006), Texeira (2008), Gatti Jr. (2005) e
Albuquerque (2010).
A presença da Literatura no Brasil no Setecentos e Oitocentos estava pautado no
modelo francês e clássico de ensino. A partir do Segundo Reinado, as primeiras histórias
literárias brasileiras estão organizadas basicamente conforme critério cronológico e político,
ligadas a projetos de afirmação de nossa identidade nacional. Segundo Lajolo (1982, p. 15):
“[...] a literatura converte-se em instrumento pedagógico” [...] “Sua identidade se oblitera e o
texto literário torna-se privilegiado, não pela sua natureza estética, mas pela sua dimensão
retórica e persuasiva, de veículo convincente de certos valores que cumpre à escola
transmitir, fortalecer, gerar”.
Nessa perspectiva, no período entre 1769 e 1864, esse livro de Literatura foi tomado
como didático se prestando aos estudos escolares junto com compêndios e cartilhas,
consequentemente, o livro que estava servindo de base para o estudo em sala de aula era a
base para o trabalho de tradução, cujo conteúdo propiciava aos estudantes um
desdobramento dessa aprendizagem da língua, a saber, reflexões sobre a virtude, a moral e a
ética.
As investigações apresentam para a leitura possível do trabalho do educador uma
metodologia bastante pontual, a aplicação do estudo de tradução do francês para o português
era perpassada, principalmente, pelas mensagens do texto em que Mentor transmitia ao seu
pupilo, Telêmaco, ensinamentos filosóficos. Entre outros assuntos, a prudência e o bom
senso. Não obstante, cabia ao estudante ler a obra como um todo.
Para além dos ensinamentos para a vida, identificamos que a narrativa apresenta
outros aspectos, a exemplos de questões mitológicas e acontecimentos historicamente
grandiosos e dramáticos, implicando em mudanças históricas e ações heroicas.
O passado pode ser investigado por meio dos livros didáticos adotados por
educadores. Ao longo do tempo esse reconhecimento implica em forjar o material
instrucional como uma “poderosa fonte de conhecimento da história de uma nação que, por
intermédio de sua trajetória de publicações e leituras, dá a entender que rumos seus
governantes escolheram para a educação [...]” (LAJOLO e ZILBERMAN, 1998, p. 121), bem
como ordenar o mundo da leitura na Parahyba.
Não apenas por essa razão, mas principalmente a partir dessa concepção é que se
toma, nesta pesquisa, que é parte de um trabalho mais amplo, o qual visa analisar a referida
obra apoiados na teoria Certeau (2011), a partir do conceito de lugar social.
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Faz-se necessário aplicar aos estudos da história, das relações, da cultura e da
percepção que os humanos fazem a respeito do Universo em que vivem. Foucault (2000) é
citado, por meio da análise do discurso, já que “em toda a sociedade a produção do discurso é
ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de
procedimentos” (FOUCAULT, 2000, p. 08 e 09).
A maneira como a Literatura era trabalhada no período em destaque é essencial para
o desenvolvimento desta pesquisa. Esse recorte permite constatar os registros históricos de
um determinado tempo. Nesse sentido, concordamos com os estudos desenvolvidos por
Chartier (1991, p. 178):
O meu [espaço de trabalho] organiza-se em três polos, geralmente separados pelas tradições acadêmicas: de um lado, o estudo crítico dos textos, literários ou não, canônicos ou esquecidos, decifrados nos seus agenciamentos e estratégias; de outro lado, a história dos livros e, para além, de todos os objetos que contém a comunicação do escrito; por fim, a análise das práticas que, diversamente, se apreendem dos bens simbólicos, produzindo assim usos e significações diferençadas [grifos nossos].
Nesse sentido, ao procurar compreender como nas sociedades do Antigo Regime se
dava a circulação dos escritos impressos, que modificou as formas de sociabilidade, o
trabalho de Chartier (1991) abre o pensamento para novas perspectivas e transformam as
formas possíveis de se ver as relações de poder de uma época situada entre os séculos XVI e
XVIII.
Chartier (1999, p. 18) retoma as expressões de Michel de Certeau sobre as variações
da relação entre ‘espaço legível’ e ‘efetuação’, como “um texto estável, dado a ler em formas
expressas que, estas sim, sofrem mudanças”. Para Certeau (1982, p. 66) “A escrita da história
se constrói em função de uma instituição”, uma vez que é do interesse da instituição que
surge a História enquanto disciplina.
Assim, a prática do historiador está centrada em transformar um objeto em histórico,
em historicizar um elemento, tal como um operário que trabalha sobre um material a fim de
transformá-lo em história. Devemos considerar, portanto, que o “próprio recorte da
documentação está sujeito às ações do lugar social onde o indivíduo está inserido”
(CERTEAU, 1982, p. 81-82), pensamento que este autor ratifica afirmando que para:
“Moscovici, a história seria mediatizada pela técnica”.
Com efeito, a história deve ser encarada como uma operação, afirma Certeau (2011, p.
46), “Encarar a história como uma operação será tentar, de maneira necessariamente
limitada, compreendê-la como a relação entre um lugar (um recrutamento, um meio, uma
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profissão etc.) procedimentos de análise (uma disciplina) e a construção de um texto (uma
literatura)”.
Disso se conclui que é possível abrir algumas alternativas de estudos, cujo processo de
ensino-aprendizagem, mediado por textos é embasado na prática. No tocante à área de
conhecimento Literatura, esta exerce, desde sempre, a função de meio para o fim último da
prática escolar, tal como nos ensina Sena (2008, p. 174): “Assim, tornar visíveis os conteúdos
e as estratégias de aprendizagem dos livros de leitura que foram utilizados pelos professores e
alunos no passado nos faz perceber onde repousam as práticas atuais de ensino e
aprendizagem”.
Assim, na história do ensino, a formação por meio de textos literários é bem aceita,
uma vez que o ato de escrever sobre um determinado objeto culmina por fazer a história,
como também por contar histórias, sendo assim de interesse ao caráter de ensinamento,
para a sociedade. Com isso, História e Literatura se fundem em nome do profícuo processo
de ensino-aprendizagem, uma vez que este não pode ser visto separado daquele. Certeau
(2011, p. 111) explica:
A historiografia se serve da morte para articular uma lei (do presente). Ela não descreve as práticas silenciosas que a constroem, mas efetua uma nova distribuição de práticas já semantizadas. Operação de uma outra ordem que a da pesquisa. Pela sua narratividade, ela fornece à morte uma representação que, instalando a fala na linguagem, fora da existência, tem valor de exorcismo contra a angustia. Mas, por sua performatividade, preenche a lacuna que ela representa, utiliza esse lugar para impor um querer, um saber e uma lição ao destinatário.
Tomamos como referência a presença do livro As aventuras de Telêmaco: filho de
Ulisses na Parahyba segundo o Relatório Apresentado a Assembléa Legislativa Provincial
(1852) e o anúncio do jornal Publicador em 1864, como base para o estudo de Francês no
Lyceo Parahybano. Essas fontes possibilitam compreender o processo de circulação dessa
obra, bem como de identificar o ensino de Francês e da Literatura na província.
Do ponto de vista teórico e metodológico, busca-se contribuir com os estudos na
Parahyba que se debruçaram sobre o tema do livro didático, principalmente, com a discussão
no campo da História da Educação. Aprofundando-se nesse campo de pesquisa para analisar
a complexidade dos conceitos. Por fim, essa pesquisa tem sua relevância no campo social e
histórico, uma vez que visa contribuir, entre outras perspectivas, para a compreensão
circulação do livro didático como instrumento de formação da ética e da moral no século
XVII.
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Considerações Finais
O estudo sobre livros didáticos aqui apresentado ainda é embrionário, está em
processo e pretende promover uma reconstrução da circulação da obra As aventuras de
Telêmaco: filho de Ulisses (1699) de autoria do francês François de Salignac de La Mothe
Fénelon, no processo histórico da Parahyba, já que essa obra se consolidou no Brasil como
livro didático de Literatura, e foi utilizado no Lyceo Parahybano, na disciplina de Francês.
Tomamos o recorte de 1769 a 1864 como período histórico por apresentar algumas
evidências que justificam a presente pesquisa. Uma delas se baseia no fato de que o referido
livro ocupava o primeiro lugar da lista para “importação à Mesa do Desembargo do Paço
tanto no período anterior à chegada da família real (1769-1807) quanto no imediatamente
posterior (1808-1826)”, conforme assegura Abreu (2003, p. 212). Essa obra foi bastante
adaptada no mundo, desde a sua primeira publicação em 1699, na França, se mantendo no
topo da lista de best-sellers por cerca de um século, assegura a autora.
Esta pesquisa de caráter histórico sobre o livro didático supracitado tem o interesse
nas orientações pedagógicas que a personagem Mentor transmite ao Telêmaco. O termo
“Mentor” passou a constar nos dicionários de francês e de inglês a partir de 1750 significando
“protetor” e “conselheiro sábio”, usado para indicar a personagem literária de grande
significado no livro, que aqui é o nosso objeto de estudo, uma vez que assume em relação a
Telêmaco a função de pai, professor, orientador e guia.
Inicialmente da França para Portugal, o corpus desta investigação chegou ao Brasil,
então colônia portuguesa, servindo em Lyceos e Atheneus como base de estudo, inclusive o
Lyceo Paraibano consta na relação dos colégios que trabalhou os estudos de Francês4 a partir
dessa Literatura, o que justifica o recorrente registro de solicitação de exemplares.
De modo geral, os ensinamentos franceses a partir das orientações de Mentor foram
estudados como propostas que trabalhavam as virtudes que tornam o ser humano mais
prudente, isso porque Mentor é uma personagem que representa a figura de um homem que
associava a seriedade com a alegria e fazia isso com ponderação, sendo capaz de ensinar com
humildade e nunca demonstrava superioridade por que tinha conhecimento abrangente
sobre os temas mais difíceis.
4 “No Lyceo são ensinadas as seguintes disciplinas em 6 cadeiras: Latim, Francêz, Inglês-Geographia, Chronologia e História, Retórica e Poetica, Arithmetica, Geometria, e Philosophia racional e moral” (PARAHYBA DO NORTE, Relatório, 1852, p. 11).
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Basicamente, en passent, buscou-se compreender a importância dessa obra no Brasil
e na Parahyba, por isso algumas questões se estabelecem: qual a representação de
professor/orientador apresentada no livro As aventuras de Telêmaco? Quais são as
orientações dadas a Telêmaco pelo personagem “Mentor”? Como está estruturada a obra?
Em que medida essas orientações influenciam a formação do caráter do ser humano daquela
época? Como se ensinava por meio da Literatura no Brasil e na Parahyba na época de
circulação da obra? O que se entendia por Literatura nessa época? Qual a importância dessa
obra na Parahyba? Como foi que se deu o seu processo de circulação no Brasil e na Parahyba?
Estas questões são norteadoras para o desfecho da escrita da história do livro didático em
relevo.
O “estado da arte”, até o momento, apresentou pesquisas envolvendo análise de livro
didático, e, consequentemente, a prática de leitura no âmbito da História da Educação.
Constitui-se no campo de estudos prioritários de professores(as) e pesquisadores(as) como
Magda Soares, Marisa Lajolo, Regina Zilberman, Ana Maria Galvão, Antônio Augusto Gomes
Batista, Márcia de Paula Gregório Razzini e Karina Klinke, Choppin, Bittencourt, Sena, entre
outros.
Nessa perspectiva, não se focalizou as datas e os grandes nomes dos acontecimentos,
ao invés disso o ponto de partida para as abordagens da história pode ser interdisciplinar, a
história voltada para problematizações dos vários aspectos e diferenças humanas (homem ou
mulher) e sociais (ricos ou pobres).
As discussões promovidas por essa tendência, denominada de “Nova História”,
proporcionaram mudanças profundas nos estudos em História da Educação e, desde então,
tem (re)construído e ampliado a produção intelectual da historiografia, tanto no tocante aos
temas como no que se refere à discussão teórica.
Isso diferencia e fertiliza os debates, propiciando aos historiadores ampliar as
perspectivas com novos olhares e novos contornos, conforme afirma Burke (1992).
Investigações dessa linha, portanto, buscam identificar em diferentes momentos históricos as
transformações e permanências no processo de escolarização (VIDAL, 1993).
Nessa esteira, consideramos As aventuras de Telêmaco: filho de Ulisses um objeto
cultural com o objetivo de disseminar os valores filosóficos (ética e moral), razões suficientes
para tomarmos a referida obra como nosso objeto de estudo. Considerarmos que esse livro
contribuiu didaticamente para a disseminação de valores para uma sociedade em formação,
no período da Colônia e do Império brasileiro, a partir de ideais político e moral da educação.
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Há algum tempo optamos pelo estudo dessa obra, uma vez que desenvolvemos
pesquisa na área de Letras, enquanto estudante de mestrado, tendo como temática: Análise
de Livro Didático de Língua Inglesa, esta em uma perspectiva histórico-linguística. Naquela
oportunidade despertamos para a discussão sobre o ensino de Literatura e as escolhas do
livro didático para tal fim. Destacamos como peso maior para esta escolha, a relevância das
pesquisas em História da Educação, tendo em vista que os estudos desenvolvidos nessa área
podem contribuir para entendermos dos fatores determinantes na escolha do livro didático e
suas relações com os discursos social, econômico, cultural, político, entre outros.
Quanto ao objeto de estudo, este se apresenta como inédito e original se mostra por
não termos, até o momento, encontrado estudos que abordem o corpus numa perspectiva
histórico-educacional, uma vez que encontramos o trabalho de Mônica Yumi Jizenjo, que
apresentou sua tese na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, em
2008 e de Tarsilla Couto de Brito, defendida na Universidade Estadual de Campinas no
Instituto de Estudos da Linguagem, pela UNICAMP, em 2013. Contudo, ambas trabalham
perspectivas distintas das que pretendemos empreender aqui. Além disso, acerca do nosso
objeto, investigaremos sobre a personagem Mentor enquanto professor/orientador, a fim de
compreender como se deu o processo de educação por meio de um preceptor e como essa
proposta motivou a educação brasileira. Dessa forma, o papel do historiador não pode relegar
ao esquecimento aspectos inerentes à pesquisa social, haja vista que as variáveis de uma
pesquisa historiográfica parte do lugar social do historiador e de seu distanciamento, isto é,
ele não pode se apaixonar pelo objeto de estudo.
No materialismo dialético, o historiador deve enxergar as diversas nuances do objeto
investigado, qual a contribuição e limitação deste. Pode-se pensar, ainda, que no
distanciamento o historiador estar no tempo presente, restando apenas os indícios e vestígios
encontrados. No entanto, não se pode esquecer o contexto da época. No caso do corpus dessa
pesquisa alguns aspectos do século 19 e do ensino-aprendizagem são considerados a partir do
lugar social que se ocupa enquanto historiador.
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Referências
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