literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. ideias e práticas de educadores de...

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Campus Académico de Vila Nova de Gaia Escola Superior de Educação Jean Piaget/Arcozelo Sandra Marina Parente Castelão Ramos LITERACIA EMERGENTE EM CONTEXTOS PRÉ -ESCOLARES INCLUSIVOS: IDEIAS E PRÁTICAS DE EDUCADORES DE INFÂNCIA DO ENSINO REGULAR Mestrado em Educação Especial domínio da Intervenção Precoce na Infância dezembro 2013

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O presente estudo procurou conhecer as ideias e as práticas de educadores de infância do ensino regular relacionadas com a literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Participaram 53 educadores de infância do Grande Porto a desempenhar funções em salas de jardim-de-infância inclusivas (i.e., com crianças a usufruir de serviços de intervenção precoce ou de educação especial). A recolha de dados realizou-se entre maio e junho de 2013 através de um questionário, constituído por questões de natureza fechada e aberta. De um modo geral, os resultados obtidos a nível das ideias dos educadores de infância indicaram que a maioria situa-se numa perspetiva holística de abordagem à linguagem escrita, considerando essencial ou muito importante as crianças possuírem à saída do jardim-de-infância competências ao nível da linguagem expressiva e compreensiva, motivação para a leitura e para a escrita, bem como competências de consciência fonológica. No que concerne as práticas, especificamente, a nível da organização do ambiente educativo, verificou-se que todas as salas possuem biblioteca com uma variedade razoável de livros, bem como diferentes materiais que proporcionam o contacto frequente e assíduo das crianças com o impresso. A nível das práticas de literacia emergente, parece que os educadores de infância privilegiam atividades relacionadas com a linguagem oral em detrimento de atividades relacionadas com o conhecimento das letras, verificando-se diferenças estatisticamente significativas na regularidade de algumas práticas gerais realizadas entre crianças com desenvolvimento típico e crianças com incapacidades ou em risco grave de desenvolvimento. Finalmente, a maioria dos participantes revelou desenvolver um conjunto de estratégias no sentido de promover o envolvimento das famílias no processo de desenvolvimento da literacia emergente dos filhos, quer junto dos pais das crianças com desenvolvimento típico, quer junto dos pais das crianças com incapacidades ou em risco grave de desenvolvimento. No final do presente trabalho são salientadas as limitações do estudo e propostas sugestões para investigação futura no domínio.

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Page 1: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

Campus Académico de Vila Nova de Gaia Escola Superior de Educação Jean Piaget/Arcozelo

Sandra Marina Parente Castelão Ramos

LITERACIA EMERGENTE EM CONTEXTOS

PRÉ -ESCOLARES INCLUSIVOS: IDEIAS

E PRÁTICAS DE EDUCADORES DE

INFÂNCIA DO ENSINO REGULAR

Mestrado em Educação Especial domínio da

Intervenção Precoce na Infância

dezembro 2013

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Campus Académico de Vila Nova de Gaia Escola Superior de Educação Jean Piaget/Arcozelo

Sandra Marina Parente Castelão Ramos

LITERACIA EMERGENTE EM CONTEXTOS

PRÉ -ESCOLARES INCLUSIVOS: IDEIAS

E PRÁTICAS DE EDUCADORES DE

INFÂNCIA DO ENSINO REGULAR

Orientação: Professora Doutora Carla Elisabete Duarte Peixoto

Mestrado em Educação Especial domínio da

Intervenção Precoce na Infância

dezembro 2013

Dissertação apresentada à ESE Jean Piaget de Arcozelo, Vila Nova de Gaia como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Educação Especial

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RESUMO

O presente estudo procurou conhecer as ideias e as práticas de

educadores de infância do ensino regular, em contextos pré-escolares inclusivos,

relacionadas com a literacia emergente.

Participaram 53 educadores de infância do Grande Porto a desempenhar

funções em salas de jardim-de-infância inclusivas (i.e., com crianças a usufruir de

serviços de intervenção precoce ou de educação especial). A recolha de dados

realizou-se entre maio e junho de 2013 através de um questionário, constituído por

questões de natureza fechada e aberta.

De um modo geral, os resultados obtidos a nível das ideias dos educadores

de infância indicaram que a maioria defende uma perspetiva holística de

abordagem à linguagem escrita, considerando essencial ou muito importante as

crianças possuírem à saída do jardim-de-infância competências ao nível da

linguagem expressiva e compreensiva, motivação para a leitura e para a escrita,

bem como competências de consciência fonológica. No que concerne as práticas

de literacia emergente, especificamente, a nível da organização do ambiente

educativo, verificou-se que todas as salas possuem biblioteca com uma variedade

razoável de livros, bem como diferentes materiais que proporcionam o contacto

frequente das crianças com o impresso. Além disso, verificou-se que os

educadores de infância privilegiam atividades relacionadas com a linguagem oral

em detrimento de atividades relacionadas com o conhecimento das letras,

encontrando-se diferenças estatisticamente significativas na regularidade de

algumas práticas gerais realizadas entre crianças com desenvolvimento típico e

crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento.

Finalmente, a maioria dos participantes revelou desenvolver um conjunto de

estratégias no sentido de promover o envolvimento das famílias no processo de

desenvolvimento da literacia emergente dos filhos, quer junto dos pais das

crianças com desenvolvimento típico, quer junto dos pais das crianças com

incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento.

No final do presente trabalho são salientadas as limitações do estudo e

propostas sugestões para investigação futura no domínio.

Palavras-chave: Literacia Emergente; Educação Pré-escolar; Incapacidades.

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ii

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iii

ABSTRACT

This study aimed to understand the ideas and practices of preschool teachers

related to emergent literacy in inclusive preschool settings.

Participated in this study 53 preschool teachers with children who were being

supported by services of early childhood intervention or special education. Data

collection took place between may and june 2013 using a questionnaire with open

and closed questions.

Regarding preschool teachers’ beliefs, the results indicated that, in general,

most of teachers consider an holistic approach to written language, as well as

essential or very important that children have language expression and

comprehensive skills, motivation for reading and writing, and phonological

awareness skills, at the end of preschool education.

In what concerns preschool teachers’ literacy practices, the results indicated

that all activities rooms have a reasonable variety of books and materials that

provide a frequent contact with printed material. The results revealed also that

preschool teachers emphasized activities related to oral language over activities

related to the knowledge of letters, and that there were statistically significant

differences in the frequency of some general practices conducted among children

with typical development and children with disabilities. Finally, most participants

revealed that develop a set of strategies to promote family involvement in the

development of emergent literacy of children with or without disabilities.

At the end of the work are pointed out the limitations of the study and are

offered suggestions for future research in the field.

Keywords: Emerging Literacy; Preschool Education; Disabilities.

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iv

AGRADECIMENTOS

Mais do que um trabalho individual, esta dissertação é o resultado da

colaboração intrínseca e extrínseca de várias pessoas num percurso que foi

tudo, menos solitário. Por esta razão quero expressar os meus sinceros

agradecimentos:

Em primeiro lugar à Doutora Carla Peixoto, por partilhar o seu saber,

pelos seus valiosos conselhos, pela paciência, pela disponibilidade e pela

postura crítica com que orientou este trabalho.

À professora Florinda Maciel pelo apoio sistemático e incentivo.

À Carla pela partilha, pela troca de impressões, pela ajuda preciosa e pelo

ombro amigo.

À Isabel e à Márcia pela amizade, companheirismo e pelas palavras de

estímulo e de valorização em momentos cruciais.

À Sameiro pela doçura, generosidade, amizade e dedicação à profissão.

Sem ela este trabalho seria muito mais pobre.

A todos os colegas educadores de infância, que contribuíram para a

elaboração deste estudo, sem os quais não seria possível realizá-lo.

E, especialmente, aos meus lindos e queridos filhos Cristiana, Beatriz e

João Rafael pelo carinho, apoio incondicional, animo e motivação que me

proporcionaram em todos os momentos. Agradeço-vos por me perdoarem

pelas horas em que estive fisicamente distante, bem como por aquelas (e

foram muitas) em que, mesmo presente fisicamente, estava submersa em

papéis e, por isso, longe de vocês.

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v

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vi

ÍNDICE

Índice geral vi

Índice de quadros vii

Abreviaturas ix

Introdução 11

Capítulo I: ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL E EMPÍRICO 14

1. Literacia emergente: conceito e competências 15

2. A emergência da literacia em contextos pré-escolares inclusivos 21

3. Ideias e práticas de educadores de infância relacionadas com a literacia emergente 37

Capítulo II: APRESENTAÇÃO DO ESTUDO EMPÍRICO 48

1. Enquadramento e objetivos do estudo 49

2. Método 50

2.1. Participantes 50

2.2. Instrumento de recolha de dados 54

2.3. Procedimentos de recolha e análise de dados 56

2.3.1. Recolha de dados 56

2.3.2. Aná lise de dados 57

Capítulo III: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 59

1. Ideias relacionadas com a literacia emergente 60

2.Práticas de literacia emergente 62

2.1.Organização do ambiente educativo 62

2.2. Práticas gerais de literacia emergente 72

2.3.Práticas relacionadas com a atividade de contar histórias 78

2.4. Estratégias de promoção do envolvimento das famílias no desenvolvimento da literacia dos filhos

83

CONSIDERAÇÕES FINAIS 86

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 91

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vii

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1. Investigação desenvolvida em Portugal sobre ideias e práticas de educadores de infância relacionadas com literacia emergente

41

Quadro 2. Caracterização sociodemográfica e profissional dos participantes 51

Quadro 3. Caracterização das salas dos participantes 52

Quadro 4. Motivo de referenciação das crianças abrangidas pelos serviços de intervenção precoce ou de educação especial

53

Quadro 5. Apoios que as crianças, abrangidas pelos serviços de intervenção precoce ou de educação especial, recebem para além do prestado pelo docente de intervenção precoce ou educação especial

53

Quadro 6. Estatísticas descritivas obtidas para as dimensões holísticas e tecnicistas

60

Quadro 7. Ideias relacionadas com as competências que as crianças devem possuir à saída do jardim-de-infância

61

Quadro 8. Tipos de materiais de exploração da leitura existentes na biblioteca da sala

63

Quadro 9. Uso da biblioteca da sala por crianças de desenvolvimento típico 64

Quadro 10. Uso da biblioteca da sala por crianças com incapacidades ou risco grave de atraso de desenvolvimento

64

Quadro 11. Outras áreas da sala que dispõem de materiais de leitura e de escrita

65

Quadro 12. Frequência de utilização da biblioteca da sala por crianças com desenvolvimento típico

66

Quadro 13. Frequência de utilização da biblioteca da sala por crianças com incapacidades ou risco grave de atraso de desenvolvimento

67

Quadro 14. Frequência de utilização do computador da sala por crianças com desenvolvimento típico

68

Quadro 15. Frequência de utilização do computador da sala por crianças com incapacidades ou risco grave de atraso de desenvolvimento

69

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viii

Quadro 16. Exposição do material impresso na sala de atividades 70

Quadro 17. Tipo de etiquetagem dos materiais da sala 70

Quadro 18. Forma de representação do nome da criança no Quadro de presenças ou de tarefas

71

Quadro 19. Práticas gerais de literacia emergente desenvolvidas com crianças com crianças de desenvolvimento típico

72

Quadro 20. Práticas gerais de literacia emergente desenvolvidas com crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento

74

Quadro 21.

Estatísticas descritivas obtidas para as variáveis compósitas práticas gerais de literacia emergente DT e INC

77

Quadro 22. Práticas relacionadas com a leitura de histórias desenvolvidas com crianças com desenvolvimento típico

79

Quadro 23. Práticas relacionadas com a leitura de histórias desenvolvidas com crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento

80

Quadro 24. Estatísticas descritivas obtidas para as variáveis compósitas práticas relacionadas com a leitura de histórias DT e INC

81

Quadro 25. Estratégias de promoção do envolvimento parental no desenvolvimento da literacia de crianças com desenvolvimento típico

83

Quadro 26.

Estratégias de promoção do envolvimento parental no desenvolvimento da literacia de crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento

84

Quadro 27. Estatísticas descritivas obtidas para as variáveis compósitas estratégias de promoção do envolvimento parental no desenvolvimento da literacia DT e INC

85

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ix

AREVIATURAS

CIF. Classificação Internacional de Funcionalidade

DGIDC. Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular

DEB Departamento do Ensino Básico

DT. Desenvolvimento Típico

EPE. Educação Pré-Escolar

INC. Incapacidades

LE. Literacia Emergente.

ME. Ministério da Educação

MEC. Ministério de Educação e Ciência

NEE. Necessidades Educativas Especiais

OCEPE. Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar

OCDE. Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico

PNL. Plano Nacional de Leitura

PISA. Programme for International Student Assessment

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INTRODUÇÃO

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i

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11

Atualmente, sabe-se que as crianças desenvolvem desde cedo um

conjunto de competências, conhecimentos e atitudes precursores do

desenvolvimento da aprendizagem da leitura e da escrita no âmbito dos

contextos informais, como a família, e dos contextos formais, como o jardim-de-

infância (Whitehurst e Lonigan, 1998). Assim, o reconhecimento da importância

da abordagem à escrita na educação pré-escolar tem por base a referência de

que todas as crianças antes de aprenderem a ler ou a escrever formalmente,

contactam de algum modo com o código escrito (ME, 1997).

Em 1997, o Ministério da Educação publicou as Orientações Curriculares

para a Educação Pré-escolar, um dos principais documentos orientadores da

prática dos educadores de infância. Entre outras competências essenciais ao

desenvolvimento da criança, as OCEPE salientam precisamente a necessidade

da educação pré-escolar apoiar as crianças na descoberta das características

do código escrito e das suas funções. As OCEPE vieram, desta feita, ajudar a

valorizar e a ilustrar o papel da educação pré-escolar na promoção do

desenvolvimento da literacia, clarificando a importância de se desenvolverem

atividades lúdicas estruturadas e planificadas que visem a promoção de

competências de leitura e de escrita nas crianças.

Com efeito, nas últimas décadas, temos assistido a um crescente aumento

de trabalhos de investigação na área da literacia emergente, muitos deles com o

interesse em perceber a influência das experiências associadas à linguagem

escrita proporcionadas no jardim-de-infância no desenvolvimento literácito das

crianças. Alguns resultados indicam que o contacto precoce da criança com o

código escrito em ambientes ricos e estimulantes aliados a uma prática

educativa intencional, sistemática e diferenciada é fundamental para um bom

desempenho ao nível da leitura e da escrita (Fernandes, 2005; Mata, 2008).

Por sua vez, os escassos estudos que incluem crianças com incapacidades

evidenciam que estas crianças parecem não beneficiar do mesmo acesso a

materiais e atividades promotores de literacia em comparação com as crianças

com desenvolvimento típico (Justice & Kadaravek, 2004; Katims, 1996;

Koppenhaven, Hendrix, & Williams, 2002; como citados por Rhode, 2011;

Sandall, McLean, & Smith, 2000). Assim, cabe ao educador de infância promover

experiências precoces, com as adaptações curriculares que se julgarem

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adequadas, que favoreçam a emergência da literacia, nomeadamente nos

domínios da compreensão da escrita para que se potenciem as capacidades de

aprender a ler e a escrever em todas as crianças (Sandall, McLean, & Smith,

2000).

Neste sentido, o presente trabalho de investigação visa contribuir para o

estudo da literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos, analisando

especificamente as ideias e as práticas relacionadas com a literacia emergente

de educadores de infância a desempenhar funções nestes contextos.

A presente dissertação encontra-se organizada em três capítulos. Assim,

no primeiro capítulo apresentamos o enquadramento conceptual e empírico de

acordo com a revisão da literatura realizada. Num primeiro momento,

enquadramos a surgimento do conceito de literacia emergente e, numa

segunda fase, contextualizamos a literacia emergente na legislação em vigor

para a educação pré-escolar, bem como no âmbito de um conjunto de

documentos orientadores da prática educativa. Num terceiro momento, e com

vista a finalizar este capítulo, apresentamos uma súmula dos principais estudos

desenvolvidos em Portugal, nos últimos anos, no domínio da literacia

emergente em contextos pré-escolares.

No segundo capítulo, apresentamos o estudo empírico, no que se refere

ao seu enquadramento, objetivo e método.

O terceiro capítulo é dedicado à apresentação e discussão dos resultados

obtidos no estudo. A dissertação termina com as considerações finais,

nomeadamente sobre a pertinência do tema, a referência a algumas limitações

do estudo e algumas pistas para futuras investigações.

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CAPÍTULO I

ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL E EMPÍRICO

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1. Literacia emergente: Conceito e competências

O conceito de iliteracia ou analfabetismo funcional começou a ganhar

dimensão nos anos 90 do século XX, quando se começou a olhar para o ato de

ler não como um mero processo de descodificação, mas reconhecendo ao

leitor um papel ativo na construção da sua narrativa, na medida em que o leitor

interpreta o que lê, conforme o seu próprio nível de entendimento (Prole, 2005).

Assim, o termo literacia abarca e enfatiza a componente compreensiva,

comunicativa e funcional da linguagem escrita (Mata, 1999) e encerra nele

competências específicas como a capacidade de localizar informação implícita,

construir significados, gerir informação, fazer inferências, avaliar e construir

hipóteses interpretativas (Prole, 2005). Este conjunto de competências

perpassa a aprendizagem formal da leitura e da escrita nos processos de

alfabetização e encontra-se intimamente ligado a hábitos de leitura desde a

primeira infância (Prole, 2005).

Assim, reconhecendo a distinção entre níveis de literacia e níveis de

instrução e a importância atribuída aos aspetos significativos e funcionais da

linguagem escrita, importa valorizar desde cedo as experiências precoces da

criança associadas à leitura e à escrita (Mata, 1999).

Na verdade, as competências relacionadas com a leitura e com a escrita

são consideradas, atualmente, como fundamentais para a aquisição de

conceitos promotores de capacidades transversais nos diferentes domínios,

quer do dia-a-dia quer da vida académica, sendo indiciadores do sucesso da

mesma (Cardoso, 2009). Por outro lado, é inegável a importância que o papel

da literacia assume enquanto veículo de participação plena na sociedade em

que vivemos (Peixoto, 2011).

O interesse pelo processo de aquisição da leitura desde idades pré-

escolares começou a merecer atenção especial a partir dos anos vinte, do

século passado, nomeadamente, no que diz respeito aos fatores promotores da

aquisição da leitura (Peixoto, 2011; Silva 2008; Viana, 2002). Procedido deste

interesse surge o termo “prontidão para a leitura” (reading readiness) referido

pela primeira vez, em 1925, no “Report of the National Committee on Reading

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16

(Teale & Sulzby, 1986, como citados em Peixoto, 2011), sendo Arnold Gesel

um grande defensor desta teoria. Segundo este psicólogo americano, a

“prontidão para a leitura” era essencialmente o resultado de uma maturação

biológica e, nessa medida, a criança só poderia usufruir de instrução formal

quando estivesse cognitivamente madura (Fernandes, 2004; Mason & Sinha,

1992; Viana, 2002; Whitehurst & Lonigan, 1998).

Apesar do modelo biológico de aquisição de leitura e escrita proposto por

Gesell, assente na influência da maturação neural, influir em muitas práticas

educativas, Coltheart (1979, como citado em Mason & Sinha, 1992) advoga

que aguardar que a criança atinja determinado desenvolvimento maturacional

para lhe proporcionar oportunidades de leitura e escrita é desprovida de

sentido, na medida em que se é a maturação que influencia a capacidade de

aprender não podemos defender que a leitura é influenciada pela instrução. Por

outro lado a idade em que se inicia a alfabetização das crianças difere de país

para país, num intervalo de 5 a 7 anos, indicando assim, que não é líquido que

a idade maturacional ideal para a aprendizagem da leitura e escrita seja aos 6

anos.

Nos anos cinquenta e sessenta, do século XX, surgem mudanças no

âmbito dos currículos associados à educação pré-escolar que começam a fazer

referência a atividades de literacia, nomeadamente no que concerne às

questões de desenvolvimento da memória, discriminação visual e auditiva,

sensibilidade para os sons e para os nomes das letras, reconhecimento de

palavras e a coordenação motora, considerando-se estas competências como

percursoras da leitura e da escrita. Fruto do desenvolvimento de estudos na

área da psicologia da linguagem, o conceito de prontidão para a leitura foi

gradualmente contextualizado numa perspetiva desenvolvimental, sendo

progressivamente substituído pelo conceito de literacia emergente (Fernandes,

2004; Viana, 2002).

Estando as práticas educativas interligadas com o desenvolvimento das

teorias de desenvolvimento e aprendizagem, importa compreender que o

conceito de literacia emergente encontra-se sustentado na teoria de Piaget,

dado o papel ativo que atribui à criança na construção do seu próprio

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17

conhecimento e linguagem, nas teorias de Bruner, nomeadamente no que

concerne à aprendizagem pelo envolvimento ativo em variadas experiências e

na teoria sociocultural de aprendizagem e desenvolvimento de Vygotsky, na

medida em que a criança realiza, de forma significativa, aprendizagens através

da relação que estabelece com o meio, com os adultos e pares de referência

(Fernandes, 2004; Mason & Sinha, 1992; Viana, 2004).

O termo literacia emergente é introduzido em 1966 por Marie Clay que

rejeita a noção de “prontidão para a leitura”, uma vez que, no seu entender,

este conceito não representa a dinâmica de um processo em desenvolvimento

(Viana, 2002). A investigadora neozelandesa afirma que as crianças

desenvolvem conceitos importantes sobre as formas e funções da escrita muito

antes de aprenderem a ler e a escrever convencionalmente, dado que

evidenciam comportamentos de imitação do adulto na manipulação de

materiais de leitura e escrita (Rohde, 2011). Por outro lado, e fruto do

desenvolvimento da investigação no âmbito da psicologia da linguagem, a

criança passa a ser vista como sujeito ativo e construtor da sua linguagem e

conhecimento, ao invés de ser uma mera recetora passiva de informação

(Viana, 2002).

Também Yetta Goodman, contemporânea de Marie Clay, nos seus

estudos sobre processos de aprendizagem da leitura (1984), percebeu que

mesmo as crianças potencialmente em risco de insucesso na aprendizagem da

leitura eram capazes de adquirir conhecimentos sobre aspetos da leitura e da

escrita, levando-a a constatar que a emergência da literacia inicia-se muito

cedo e que a aprendizagem da leitura é um processo natural (Viana, 2002).

Nesta senda de investigadores pioneiros, no domínio da emergência da

literacia, os estudos de Elizabeth Sulzby, Emilia Ferreiro e Ana Teberosky

apontam para a mesma lógica de aquisição natural de competências,

conhecimentos e atitudes de escrita e leitura em que a criança, sujeito ativo do

seu desenvolvimento é o grande promotor das suas aprendizagens (Ferreiro &

Teberosky, 1997).

Whitehurst e Lonigan (1998) designam literacia emergente como o

conjunto de competências, conhecimentos e atitudes que são percursores do

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desenvolvimento da aprendizagem da leitura e da escrita, bem como o

ambiente promotor desse desenvolvimento, num contínuo que tem início em

idades precoces da criança. Com efeito, vários estudos têm documentado que

o desenvolvimento da literacia inicia-se antes da aprendizagem formal da

leitura e da escrita, sendo importante o contacto com um ambiente literácito

rico e estimulante (Ferreiro & Teberosky, 1997; Mata, 2008; Sylva K. et al

(2007), 2003).

Mason e Sinha (1992), apoiados nos estudos de Bissex (1980), Ferreiro e

Teberosky (1979), Heath (1983) e Soderbergh (1997), sintetizam alguns

pressupostos relativamente à emergência da literacia:

(1) A literacia emergente surge antes do ensino formal da leitura e da

escrita;

(2) A literacia emergente é entendida como todo o processo de leitura e

não apenas a descodificação;

(3) O papel ativo da criança, bem como os seus interesses são

valorizados no desenvolvimento das competências literácitas;

(4) É dado relevo ao contexto social da aprendizagem.

Whitehust e Lonigan (1998) enunciam um conjunto de componentes de

literacia emergente comummente aceites por diferentes autores: a linguagem

oral, as convenções da escrita, o conhecimento das letras, a consciência

fonológica, a leitura emergente e a motivação para a escrita.

A linguagem é um elemento fulcral no desenvolvimento da literacia

emergente, na medida em que, várias competências da linguagem, tais como o

vocabulário, as competências semânticas, a compreensão e a produção de

uma estrutura da narrativa, são essenciais em diferentes fases do

desenvolvimento da literacia (Gamelas, 2010; Whitehurst & Lonigan, 1998).

Sim-Sim (2009) refere que a linguagem oral é uma capacidade que a criança

adquire de forma “natural e espontânea” e que a leitura e a escrita são “usos

secundários” da língua. Entre a aquisição natural e espontânea da língua e a

aprendizagem formal da leitura e da escrita a criança consolida as aquisições

fonológicas bem como o conhecimento das estruturas sintáticas básicas

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19

favorecendo, desta forma, a compreensão e a capacidade de construção de

frases simples mas com alguma complexidade frásica.

As convenções da escrita ou conhecimento do impresso referem-se aos

conhecimentos precoces sobre a linguagem escrita, que a criança conquista

autonomamente, desde que proporcionados pelo ambiente literácito à sua volta

(Sim-Sim, 2009). As convenções de escrita dizem respeito à orientação do

texto da esquerda para a direita e de cima para baixo, à diferença entre capa e

contracapa, à existência de um título, à diferença entre imagens e letras, a

diferença entre palavra, frase, parágrafo e à pontuação (Mason & Sinha, 1992;

Whitehurst & Lonigan, 1998).

Importa, por isso, valorizar a escrita inventada, enquanto primeiras

experiências de escrita, enquanto revelador dos conhecimentos que as

crianças já detêm sobre as convenções da escrita, nomeadamente a função da

escrita, os elementos que compõe a escrita, a correspondência letra-som e

conhecimento das letras e a direccionalidade, espaços entre palavras, frases,

entre outros (Fernandes, 2004).

O conhecimento das letras ou a aquisição do princípio alfabético

pressupõe o contacto frequente e sistemático com material impresso

(Fernandes, 2004). Assim, como ler acarreta uma descodificação, ou seja,

implica a tradução das unidades da escrita em som, também escrever implica

uma codificação, ou seja, o processo de escrita envolve a tradução de

unidades de som em unidades de escrita. Tendo isto em conta, a competência

mais básica que o leitor/escritor deve possuir é o conhecimento das letras, não

só do seu grafema, bem como do seu fonema (Gamelas, 2010; Whitehurst &

Lonigan, 1998).

Whitehurst e Lonigan (1998) consideram a correspondência grafema-

fonema ou consciência fonológica como uma das competências mais

importantes na aquisição da literacia convencional, na medida em que o

conhecimento desta competência pressupõe o conhecimento não só do som de

cada letra individualmente, mas também da combinação de letras ou unidades

de som. Assim, podemos dizer que consciência fonológica refere-se à noção

que as palavras são formadas por sons que podemos manipular e alterar e que

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20

cada componente sonora da palavra é formada por unidades de som distintas e

com diferentes significados, a sílaba (Mata, 2008; Peixoto, 2011).

A leitura emergente ou motivação para a leitura diz respeito às interações

que a criança realiza com o texto escrito tomando consciência da sua

importância, função e utilidade (Mata, 2008). Podemos falar de leitura

emergente quando a criança está a fazer de conta que está ler (Teale &

Sulzby, 1986, como citados em Whitehurst & Lonigan, 1998). Na verdade,

muito antes de a criança ser capaz de ler formalmente já é capaz de realizar

leitura global, lendo placards, nomes de marcas, etiquetas, bem como outros

exemplos de escrita no ambiente que rodeia a criança (Whitehurst & Lonigan,

1998). Esta competência está diretamente relacionada com a importância de se

promoverem atitudes positivas face à leitura, através da introdução de hábitos

de leitura conjunta agradáveis e positivos (Fernandes, 2004; Mata 2008).

Segundo Whitehurst e Lonigan (1998), vários investigadores na área da

literacia, defendem que as crianças mais motivadas para a linguagem escrita

evidenciam maior interesse por atividades de literacia, desenvolvendo, por isso,

um maior esforço para entender o texto escrito. Assim sendo, a motivação para

a escrita é um bom preditor para a aprendizagem da leitura e da escrita na

medida em que as crianças estão mais despertas para que, no ambiente que

as envolve, colocarem questões sobre os textos escritos, para se envolverem

em situações de leitura partilhada, bem como para despenderem mais do seu

tempo a realizarem atividades de leitura logo que sejam capazes de o fazer

autonomamente (Whitehurst & Lonigan, 1998).

Whitehurst e Lonigan (1998) referenciam ainda outros componentes

cognitivos ligados à aquisição de competências da literacia emergente, bem

como da literacia convencional, tais como: memória fonológica e a nomeação

rápida de letras, números, cores, etc. Segundo estes autores, todos estes

componentes de literacia emergente são as competências prévias que as

crianças deverão adquirir antes da aprendizagem formal da leitura e da escrita.

A literacia emergente permite aos educadores e professores olharem para

o ensino da leitura e da escrita, não como uma aprendizagem formal, num

dado momento do tempo, mas como um processo contínuo, que se inicia

Page 27: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

21

desde o nascimento até aos 6 anos, uma vez que as crianças estão desde

sempre perante contextos informais (casa, rua, centros comerciais, etc.) e

formais (creche, jardim de infância), onde a presença da linguagem escrita

impera. Urge assim, dotar estes ambientes, nomeadamente os ambientes

formais, de organização e planeamento de atividades que favoreçam

exponencialmente o desenvolvimento de competências literácitas da criança,

na medida em que os estudos existentes comprovam que o desenvolvimento

de competências de literacia está relacionado com o futuro sucesso na

aprendizagem formal da leitura e da escrita (Sylva K. et al (2007), 2003; Sim-

Sim, 2009).

Com base nesta premissa, importa percebermos de que forma, os

documentos orientadores da educação pré-escolar encaram a promoção do

desenvolvimento de competências de literacia emergente de todas as crianças

em contexto de jardim-de-infância, uma vez que as “experiências de linguagem

e de literacia em contextos de educação pré-escolar podem ser determinantes

no desenvolvimento das crianças” (Gamelas, 2010, p. 83). De facto, a par da

família, o jardim-de-infância representa o espaço de referência propício ao

desenvolvimento da emergência da literacia na criança de forma funcional,

interessante, lúdica e desafiadora (Fernandes, 2004; Mata, 2006).

2. A emergência da literacia em contextos pré-escolares inclusivos

A educação de infância é a primeira etapa no processo de educação ao

longo da vida. É dirigida a crianças dos três anos à idade de ingresso no 1.º ciclo

do ensino básico e é ministrada em jardins-de-infância ou estabelecimentos do

pré-escolar da rede pública, solidária (Instituições particulares de solidariedade

social) ou privada.

A educação pré-escolar está juridicamente enquadrada na Lei de Bases do

Sistema Educativo (Lei 46/86 de 14 de outubro) e na Lei-Quadro da Educação

Pré-Escolar (Lei 5/97 de 10 de fevereiro).

A Lei de Bases do Sistema Educativo estabelece o quadro geral do sistema

educativo e no que diz respeito à educação pré-escolar advoga que “(…) no seu

Page 28: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

22

aspeto formativo, é complementar e ou supletiva da ação educativa da família,

com a qual estabelece estreita cooperação" (Lei 46/86, capítulo II, art.º 4, n.º2).

A Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar consagra o ordenamento jurídico

da educação pré-escolar no seguimento dos princípios definidos na Lei de Bases

do Sistema Educativo e define como princípio geral que:

“a educação pré-escolar é a primeira etapa da educação básica no processo de

educação ao longo da vida, sendo complementar da ação educativa da família, com

a qual deve estabelecer estreita cooperação, favorecendo a formação e o

desenvolvimento equilibrado da criança, tendo em vista a sua plena inserção na

sociedade como ser autónomo, livre e solidário” (Lei n.º 5/97, capítulo II, artigo 2º).

Além destes normativos legislativos, a educação pré-escolar encontra-se

apoiada num conjunto de documentos que explicitam e orientam a prática

educativa do educador de infância.

Assim, e no seguimento da Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar, o

Departamento do Ensino Básico (DEB) do Ministério da Educação (ME) edita e

publica as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (OCEPE), um

documento que surgiu com o intuito de servir de apoio e orientação à prática

pedagógica de todos os educadores de infância.

No capítulo I são definidos: os princípios gerais e objetivos pedagógicos

enunciados na Lei-Quadro da educação pré-escolar; os fundamentos da

organização das orientações curriculares e estabelecidos os orientações globais

para o educador.

As OCEPE são sustentadas por um conjunto de fundamentos, entre os

quais, o da “exigência de resposta a todas as crianças o que pressupõe uma

pedagogia diferenciada, centrada na cooperação em que cada criança beneficia

do processo educativo desenvolvido com o grupo” (ME, 1997, p.14). E por um

conjunto de objetivos pedagógicos:

“a) Promover o desenvolvimento pessoal e social da criança com base em

experiências de vida democrática, numa perspetiva de educação para a cidadania;

b) Fomentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no respeito pela

pluralidade das culturas, favorecendo uma progressiva consciência do seu papel

como membro da sociedade;

c) Contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à escola e para o

sucesso da aprendizagem;

Page 29: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

23

d) Estimular o desenvolvimento global de cada criança, no respeito pelas suas

características individuais, incutindo comportamentos que favoreçam aprendizagens

significativas e diversificadas;

e) Desenvolver a expressão e a comunicação através da utilização de linguagens

múltiplas como meios de relação, de informação, de sensibilização estética e de

compreensão do mundo;

f) Despertar a curiosidade e o pensamento crítico;

g) Proporcionar a cada criança condições de bem-estar e de segurança,

designadamente no âmbito da saúde individual e coletiva;

h) Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências e precocidades,

promovendo a melhor orientação e encaminhamento da criança;

i) Incentivar a participação das famílias no processo educativo e estabelecer

relações de efetiva colaboração com a comunidade.

d) Estimular o desenvolvimento global da criança no respeito pelas suas

características individuais, incutindo comportamentos que favoreçam aprendizagens

significativas e diversificadas;

h) Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências e precocidades,

promovendo a melhor orientação e encaminhamento da criança” (ME, 1997, p.15).

As OCEPE fundamentam-se no reconhecimento de que a educação pré-

escolar é a primeira etapa da educação ao longo da vida; na educação pré-

escolar as crianças aprendem a aprender, sendo elas sujeitos ativos do

processo educativo; é função da educação pré-escolar contribuir para a

dissolução de assimetrias socioculturais, criando igualdade de oportunidades

para todos aprenderem de forma efetiva e que a educação pré-escolar, não

sendo preparatória da educação formal, crie condições para que a criança

obtenha sucesso no 1.º ciclo, e isto só é possível através de uma pedagogia

estruturada onde predomine o lúdico. Outro fundamento, importante, que rege a

educação pré-escolar é o respeito e a inclusão de todas as crianças que

“se afastem dos padrões “normais” de desenvolvimento, devendo o educador

promover uma metodologia diferenciada e adaptada às especificidades de todos,

não descurando a criação de condições estimulantes para o desenvolvimento e

aprendizagem de todos” (ME, 1997, p.19).

No que diz respeito ao papel do educador de infância, e não obstante o

reconhecimento da sua autonomia enquanto gestor do próprio currículo, é

salientado, no documento, a necessidade deste profissional em observar as

crianças para as conhecer e, desta forma, promover uma pedagogia

Page 30: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

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diferenciada que vá ao encontro das especificidades, interesses e necessidades

de cada uma. Assim, cabe ao educador planificar o trabalho pedagógico

consoante aquilo que ele conhece do grupo em geral, mas também de cada

criança e do seu contexto familiar e social, no sentido de proporcionar o

desenvolvimento de atividades diversificadas, diferenciadas e adequadas a

todas as crianças, contribuindo, desta forma, para a igualdade de oportunidades

de todos (ME, 1997).

O capítulo II das OCEPE sistematiza e organiza a intervenção educativa da

seguinte forma: organização do ambiente educativo; áreas de conteúdo;

continuidade educativa e a intencionalidade educativa. No domínio da

organização do ambiente educativo as OCEPE fazem menção à importância da

abordagem ecológica e sistémica do ambiente educativo; da organização do

grupo, do espaço e do tempo; organização do meio institucional e da relação

com os pais e outros parceiros educativos. No domínio das áreas de conteúdo

este documento encontra-se organizado em três áreas de conteúdo: a Área da

Formação Pessoal e Social, a Área do Conhecimento do Mundo e a Área da

Expressão e Comunicação que se subdividem em Domínio das Expressões

Motora, Plástica, Dramática e Musical, Domínio da Linguagem Oral e

Abordagem à Escrita e Domínio da Matemática (ME, 1997).

Apesar de não haver uma referência clara ao conceito de literacia

emergente, as OCEPE, no enquadramento da área de conteúdo linguagem oral

e abordagem à escrita referem-se à literacia como competência global para a

leitura, como interpretação e tratamento de informação, que envolve a “leitura”

da realidade e das “imagens” e de saber para que serve a escrita, mesmo sem

que a criança saiba ler formalmente (ME, 1997, p. 68).

Desta forma, a assunção da importância da abordagem à escrita no jardim-

de-infância é feita com base na referência de que todas as crianças antes de

aprenderem a ler ou a escrever contactam, de algum modo, com o código

escrito, tendo por isso, no âmbito do pré-escolar, ideias sobre a escrita

(Fernandes, 2004; Peixoto, Silva, Leal, & Cadima, 2006; Peixoto, 2011).

Nas OCEPE é privilegiado o livro enquanto instrumento fundamental para o

desenvolvimento de competências de escrita e de leitura, sendo referido que

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25

todos os tipos de livros, desde os livros de histórias, poesias até aos dicionários,

enciclopédias, jornais e revistas contribuem para que a criança compreenda a

função de cada um destes instrumentos de leitura (ME, 1997).

Prole (2005) salienta a preocupação crescente, patente nas OCEPE,

relativa à aquisição de hábitos precoces de leitura, enquanto mecanismos

facilitadores das aprendizagens formais da leitura e também no desenvolvimento

de competências cognitivas e linguísticas e sublinha a importância da educação

estética, da literacia, do caráter lúdico da linguagem, da importância das

bibliotecas e do prazer da leitura.

As OCEPE vieram ajudar a valorizar e a ilustrar o papel da educação de

infância na promoção do desenvolvimento da literacia, clarificando a importância

de se desenvolverem atividades lúdicas estruturadas e planificadas que visem a

promoção de competências de leitura e de escrita nas crianças. Não se trata de

ensinar a ler e a escrever, mas através do jogo, que é a atividade primordial da

criança, organizar um conjunto de tarefas que favoreçam o desenvolvimento

destas competências.

Sendo este um documento gerenciador da ação educativa nas suas

diferentes especificidades, o ME publica, em 2001, o Decreto-Lei 240/2001 (de

30 de Agosto) com o intuito de clarificar melhor o papel do educador de infância.

Este Decreto-Lei define os Perfis Específicos de Desempenho do Educador de

Infância e do Professor do Ensino Básico e Secundário. Entre outros aspetos,

este normativo refere que no domínio da integração do currículo (ponto 2), no

âmbito da área de conteúdo Expressão e Comunicação o educador:

“a) Organiza um ambiente de estimulação comunicativa, proporcionando a cada

criança oportunidades específicas de interação com os adultos e com as outras

crianças;

b) Promove o desenvolvimento da linguagem oral de todas as crianças, atendendo,

de modo particular, às que pertencem a grupos social e linguisticamente minoritários

ou desfavorecidos;

c) Favorece o aparecimento de comportamentos emergentes de leitura e escrita,

através de atividades de exploração de materiais escritos.”

Em 2008 e 2009, a Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento

Curricular (DGIDC) publica as brochuras para o pré-escolar, cujo objetivo

principal era apoiar a operacionalização das Orientações Curriculares, nas

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diferentes áreas de conteúdo. Especificamente, no âmbito do Domínio da

Linguagem Oral e Abordagem à Escrita é publicado, pela mão de Lourdes Mata

(2008) a brochura A Descoberta da Escrita e de Inês Sim-Sim, Ana Silva e

Clarisse Nunes a brochura Linguagem e Comunicação no Jardim de Infância.

Com efeito, estas brochuras foram editadas e publicadas no âmbito do

trabalho desenvolvido pela DGIDC no domínio da educação pré-escolar e têm

como intuito articular a teoria e prática, facilitando aos educadores uma

ferramenta para a sua ação educativa (Mata, 2008; Sim-Sim, Silva, & Nunes,

2008).

Sim-Sim (2008) clarifica que os objetivos específicos que norteiam as

brochuras são “enquadrar e promover práticas intencionais e sistemáticas de

estimulação do desenvolvimento da linguagem e enfatizar a necessidade de

continuidade de aprendizagens no domínio da língua entre a educação de

infância e a sala de aula no 1.º ciclo da educação básica” (Mata, 2008, p.7).

Recentemente, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) sistematizou,

um conjunto de metas de aprendizagem para cada ano e para cada ciclo do

ensino básico, constituindo aquilo que serão as aprendizagens essenciais a

realizar por cada aluno. Pretende-se que as metas de aprendizagem

conjuntamente com os programas de cada disciplina ajudem os professores a

perceberem quais os conhecimentos e capacidades que devem priorizar nos

seus alunos (MEC, 2012).

Apesar da informalidade da educação de infância considerou-se pertinente

estabelecer um conjunto de aprendizagens, que as crianças deverão ter

realizado até ao final do pré-escolar, na medida em que a educação de infância

é reconhecida como a primeira etapa da educação básica e que estas

contribuem para fomentar condições favoráveis para o sucesso escolar (MEC,

2012).

As metas de aprendizagens para a educação pré-escolar estão

organizadas em função das OCEPE, pelo que foram esquematizados um

conjunto de 36 metas para a área da Linguagem Oral e da Abordagem à Escrita,

divididos em quatro domínios. O primeiro domínio é o da Consciência Fonológica

e engloba 7 metas de aprendizagem; o segundo domínio diz respeito ao

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Reconhecimento e Escrita de Palavras e engloba 7 metas; o terceiro domínio é o

Conhecimento das Convenções Gráficas e abarca 11 metas de aprendizagem.

O quarto domínio refere-se à Compreensão de Discursos Orais e Interação

Verbal englobando 11 metas de aprendizagem. Com estas metas de

aprendizagem pretende-se que, no final da educação pré-escolar, as crianças

disponham de um conjunto de conhecimentos linguísticos imprescindíveis para a

aprendizagem da língua escrita e do sucesso escolar (MEC, 2012)

Esta distribuição remete-nos para as competências de literacia emergente

definidos por Whitehurst e Lonigan (1998) ao nível do desenvolvimento da

linguagem oral, da consciência fonológica ou correspondência grafema-fonema,

à emergência da leitura e à emergência da escrita.

Tendo em conta que a literacia emergente é um processo contínuo de

aquisição de competências de leitura e de escrita (Sandall, McLean, & Smith,

2000), as atividades de literacia fazem parte integral do dia-a-dia das crianças

com desenvolvimento típico, contudo muitos profissionais e famílias consideram

desadequadas atividades de literacia para crianças com incapacidades. Assim,

as crianças com incapacidades estão menos expostas ao contacto com o

impresso e as poucas atividades desenvolvidas em conjunto com os adultos,

relacionadas com experiências de literacia emergente, cingem-se à leitura de

histórias (Katims, 1995; Notari-Syverson & Challoner, 2005).

Contudo, e como referido anteriormente, as OCEPE advogam a escola

para todos e, por isso, é essencial que a educação pré-escolar dê resposta a

todas as crianças, no respeito pela diferença em prol de uma educação inclusiva.

Assim, é recomendada uma pedagogia diferenciada, que privilegie a

individualidade de cada um, as suas necessidades e seus interesses, que se

centre na cooperação, que apoie as aprendizagens e responda às necessidades

individuais de cada criança em particular. Para a viabilidade deste novo olhar e

pensar a escola, importa que o educador planifique as suas atividades tendo em

conta todo o grupo, realizando as adaptações que se julguem necessárias à

eliminação de barreiras à participação da criança, “tendo em vista a plena

inserção na sociedade, como ser livre, autónomo e solidário” (ME, 1997).

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Desta feita, cabe ao educador de infância promover experiências precoces,

que favoreçam a emergência da literacia, nomeadamente nos domínios da

compreensão da escrita para que se potenciem as capacidades de aprender a

ler e a escrever em todas as crianças (Sandall, McLean, & Smith, 2000).

Sendo os processos de socialização o veículo de comunicação e interação

entre todos, importa, no decorrer destes processos, privilegiar a promoção do

respeito pelas capacidades e necessidades de cada um. Nesta premissa, cabe à

escola o papel de uma mudança filosófica que defenda a participação ativa de

todas as crianças, o respeito pela individualidade de cada um, a descoberta de

estratégias de aprendizagem e desenvolvimento da socialização em comum com

todas as crianças (Serrano & Afonso, 2010), tal como preconizado na

Declaração de Salamanca. Subscrita por 92 países, incluindo Portugal, a

Declaração de Salamanca veio impulsionar a Educação Inclusiva, definindo os

seus princípios, políticas e práticas no domínio das necessidades educativas

especiais, tendo em vista a escola do ensino regular como o espaço mais eficaz

no combate à discriminação e no fomento de comunidades abertas e solidárias

(UNESCO, 1994).

Importa destacar que na Declaração de Salamanca é realçada a

importância de se intervir o mais precocemente junto das crianças dependendo o

sucesso da escola inclusiva dessa mesma ação:

“O êxito da escola inclusiva depende muito da identificação precoce, da avaliação e

da estimulação das crianças com necessidades educativas especiais, desde as

primeiras idades. Os programas de atendimento e de educação das crianças das

primeiras idades, até aos 6 anos, deve ser desenvolvida e/ou reorientada a fim de

promover o seu desenvolvimento físico, intelectual e social e a preparação para a

escola (UNESCO, 1994, p. 35).

Todas as crianças, incluindo as crianças com incapacidades, desenvolvem-

se e aprendem por via de interações sociais, onde o adulto é o mediador e

orientador dos processos de aprendizagem (Notari-Syverson & Challoner, 2005).

Torna-se, por isso, fundamental que as crianças explorem e interajam o mais

precocemente possível com o impresso, bem como com modelos de literacia no

sentido de desenvolverem as suas competências sociais, bem como

competências académicas (Katims, 1995). Neste sentido, urge, em contexto de

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jardim-de-infância, adotar-se metodologias diferenciadas e adaptadas à

funcionalidade, potencialidades e necessidades de cada criança, garantindo a

sua plena inclusão no grupo (Cadima, 1996; Sanches, 2005). Desta forma, o

educador de infância poderá garantir que as crianças com incapacidades são

incluídas no grupo, ainda que a planificação da sala seja desenvolvida de forma

global, é ajustada às características individuais de cada criança, proporcionando

a cada a cada uma delas a conjuntura mais propícia para o seu desenvolvimento

e aprendizagem (ME, 1997).

Tal como referido anteriormente, no sentido de se promover o

desenvolvimento de competências de literacia emergente, cabe ao educador de

infância planificar de forma sistemática e estruturada atividades, apoiadas em

estratégias diferenciadas, adequadas às particularidades de todas crianças,

assim como ser, ele próprio, um modelo de leitura e de escrita de forma

constante e prazerosa (Fernandes, 2005). Não se pretende que na educação

pré-escolar se ensine a ler ou a escrever de um ponto de vista formal, mas que

os educadores de infância promovam experiências precoces de literacia

emergente, oferecendo oportunidades para que todas as crianças possam

brincar com linguagem e com a escrita, fomentando, desta forma, reflexões

sobre a linguagem, sobre a escrita e sobre as suas convenções, de forma

contextualizada, funcional e logo significativa (Mata, 2008).

Para isso, preconiza-se uma abordagem à leitura e à escrita através da

organização de um ambiente educativo facilitador das competências emergentes

de escrita e de leitura (Sandall, McLean, & Smith, 2000), onde o impresso tenha

um papel determinante, concomitantemente, com o papel do educador que,

através de processos sustentados apoie as aprendizagens das crianças.

Segundo as OCEPE, o ambiente educativo diz respeito a vários aspetos

que interagem entre si e são eles: a organização do grupo, do espaço e do

tempo; a organização do estabelecimento educativo e a relação com os pais e

outros parceiros educativos. Sendo o ambiente educativo suporte do

desenvolvimento curricular do educador, importa que este planeie a sua

organização em função das aprendizagens que pretende promover junto das

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suas crianças, introduzindo para isso os devidos ajustamentos e adequações

necessárias (ME, 1997).

A organização da sala de atividades influencia de forma determinante a

relação das crianças com o impresso, bem como o seu nível de motivação para

as atividades de leitura e de escrita, pelo que é importante que as salas de

atividades possuam algumas das características enunciadas por Fernandes

(2004, p. 86):

“ a) Uma percentagem significativa do espaço pedagógico é explicitamente dedicado

a atividades de desenvolvimento linguístico;

b) As competências linguísticas são exploradas ao longo das diversas atividades de

forma integrada;

c) As rotinas estabelecidas compreendem tempo de exploração linguística (registos,

hora do conto, marcação de presenças, identificação de produções, etc.);

d) Encorajamento de produções individuais;

e) As atividades propostas têm em conta os desempenhos individuais”.

Sandall e Schwartz (2003) referem a importância da existência de centros

de literacia nas salas de atividades. Estes espaços têm como objetivo facilitar o

contacto da criança com a escrita (seu objetivo, funções de escrita e

conhecimento da convenções de escrita) de forma significativa, devendo ser

espaços divertidos, calorosos, convidativos e motivadores. Para isso, aconselha-

se que este espaço disponha de uma variedade de livros (livros com sons, livros

de alfabeto, livros sensoriais, livros de rimas, livros com frases repetidas, livros

que apresentem imagens de crianças com NEE, livros que apresentem imagens

de várias identidades étnicas e culturais), que seja suficientemente grande para

permitir a leitura conjunta com pelo menos um par, bem como espaço suficiente

para o adulto se sentar a ler com uma criança ou um pequeno grupo de crianças.

As autoras salientam, igualmente, a importância de se dispor de uma mesa

adaptada ao tamanho da criança, um gravador e diários para as crianças

escreverem, bem como quadros magnéticos na parede para as crianças

poderem manipular letras e números.

Além destes elementos, Sandall e Schwartz (2003) salientam a existência

dos seguintes indicadores como importante para apoiar a emergência da

literacia: um centro de audição com leitor de cassetes ou CD, auscultadores,

cassetes e CD´S; um centro de escrita com diários individuais e muitos

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instrumentos de escrita; livros feitos pelas crianças da sala; uma caixa para

conserto de livros; tempos programados para as crianças utilizarem os livros de

forma autónoma e para ouvirem histórias; escrita exposta na sala; pais

envolvidos nas atividades de literacia; possibilidade das crianças levarem livros

para casa; conversações significativas entre os adultos e as crianças ao longo

do dia; jogos de letras e de sons (e.g., rimas, bater palmas com sílabas de

nomes).

As atividades de literacia não devem ser circunscritas ao espaço da escrita

ou à biblioteca da sala, mas antes fazer parte de todo o ambiente educativo, bem

como da rotina diária, proporcionando desta forma o contacto significativo da

criança com o impresso (Sandall & Schwartz, 2003).

De forma global, importa que o ambiente educativo de jardim-de-infância

seja um ambiente positivo, facilitador da exploração da escrita e da leitura e que

permita a escolha individual, onde o papel do adulto é o de estimular, encorajar,

apoiar as explorações das crianças, criando oportunidades para que elas leiam e

escrevam, bem como integrem a escrita e a leitura nas vivências de jardim-de-

infância (Mata, 2008).

Justice e Pullen (2003) recomendam que os profissionais de educação

devem ser encorajados a ter uma atitude proactiva relativamente à identificação

de crianças em risco a nível do desenvolvimento de competências de literacia

emergente e ao planeamento de atividades estruturadas que otimizem as

aquisições literácitas de forma eficaz e eficiente. De acordo com estas autoras,

existem três princípios que devem orientar a prevenção e a intervenção no

domínio da literacia emergente: (1) as atividades devem ser orientadas, tanto

para a consciência da linguagem escrita, como para a consciência fonológica; (2)

as atividades devem emergir de todas as oportunidades que fazem parte do dia-

a-dia da criança e por isso devem ocorrer de forma natural, bem como através

de uma planificação cuidada e estruturada; (3) as práticas educativas devem

basear-se em evidências científicas, ou seja, o educador deve fundamentar a

sua intervenção em estratégias e procedimentos que foram estudados e que se

verificou serem eficazes quer com uma população específica, quer com uma

população geral. Assim, partindo de evidência empírica, as autoras sugerem as

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seguintes práticas: (1) leitura conjunta de histórias; (2) brincadeiras enriquecidas

com literacia; (3) atividades de consciência fonológica.

A leitura conjunta de histórias é entendida como uma estratégia efetiva

para a promoção da literacia emergente de crianças em risco, na medida em que

promove o desenvolvimento da linguagem oral e escrita. Contudo, esta

estratégia é tão mais eficiente, quando associada à leitura dialógica, ou seja,

quando o adulto modifica o seu comportamento durante a leitura de histórias no

sentido de proporcionar a participação e envolvimento das crianças, assim como

o adulto representar um modelo de leitura. Além disso, realizar referências ao

impresso no âmbito da leitura conjunta de histórias maximiza as oportunidades

de aprendizagem, na medida em que o adulto incorpora referências verbais e

não-verbais, encorajando a criança a interagir de forma explícita ou implícita com

a linguagem oral e escrita (Justice & Pullen, 2003). Por sua vez, Sandall e

Schwartz (2003) referem as seguintes orientações básicas para a leitura

conjunta com um grupo de crianças: (1) Ler com expressão; (2) Segurar o livro

de modo a que as crianças o possam ver; (3) Apontar elementos nas gravuras e

permitir que as crianças também façam o mesmo; (4) Acompanhar, por vezes, a

leitura com o dedo (para que as crianças comecem a entender que a leitura se

faz da esquerda para direita e de cima para baixo).

Sendo o jogo lúdico a atividade primordial da criança em idade pré-escolar,

importa que as suas brincadeiras sejam enriquecidas com elementos de literacia

e mediadas pelo adulto. Assim, cabe ao educador de infância organizar o

ambiente educativo, nomeadamente, as áreas onde decorre o jogo simbólico

com adereços que fomentem a interação com o impresso (Justice & Pullen,

2003).

Justice e Pullen (2003) referem ainda que a consciência fonológica é uma

competência importante. No entanto, apesar de muitas crianças em idade pré-

escolar começarem, de forma intuitiva, a experienciar a estrutura fonológica da

linguagem oral, uma pequena percentagem de crianças apresentam dificuldades

significativas nesta área em particular. Assim, por forma a promover as bases da

consciência fonológica e circunscrever problemas tardios a este nível, cabe ao

educador de infância planificar atividades de consciência fonológica.

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33

Também Sim-Sim (2009) salienta que, sendo a consciência fonológica um

bom preditor do sucesso da criança no desempenho posterior a nível da leitura,

é fundamental que o educador de infância proporcione um conjunto de

atividades que facilitem o desenvolvimento da consciência fonológica,

nomeadamente atividades de identificação e produção de rimas; segmentação

de sílabas; aglutinação de sílabas em palavras; manipulação e substituição de

sílabas em palavras; supressão e adição de sílabas em palavras; identificação

de sílabas iguais; identificação de sons iniciais iguais e associação de letras e

sons.

O facto de as crianças estarem expostas a um ambiente físico rico em

escrita não é suficiente para que as mesmas interiorizem a informação “abstrata

e generalizável sobre o impresso” e importante para a transição entre a leitura

emergente e a leitura convencional. Assim, para além de enriquecer os espaços

da sala com elementos do impresso, cabe ao educador de infância proporcionar

atividades lúdicas variadas e apelativas onde predomine o impresso, bem como

usar as histórias como veículo de desenvolvimento literácito (Cardoso, 2009).

Azevedo (2011) defende que os livros são ferramentas essenciais, na

medida em que possibilitam o desenvolvimento de um conjunto de competências

fundamentais para o desenvolvimento da literacia, nomeadamente, a linguagem

oral, o conhecimento das convenções de escrita, proporcionando também a

articulação com as vivências da criança.

Desta feita, e sendo o livro e as histórias para a infância o veículo

primordial utilizado para desenvolver competências de literacia, em 2006, o

Ministério da Educação, em articulação com o Ministério da Cultura e com o

Gabinete do Ministro dos Assuntos Parlamentares criou o Plano Nacional de

Leitura (PNL) através da publicação da Resolução do Conselho de Ministros

86/2006. Este programa dirigido aos jardins-de-infância, às escolas, às famílias e

às bibliotecas tem como pressuposto fundamental aumentar os níveis de literacia

dos portugueses, colocando Portugal a par dos restantes países europeus.

A importância deste programa é de tal forma grande que é considerada

prioridade política e um desígnio nacional, na medida em que é fomentado o

envolvimento coletivo de todos a bem do sucesso desta iniciativa. Desta feita,

Page 40: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

34

foram delineadas um conjunto “de estratégias destinadas a promover o

desenvolvimento de competências da leitura e da escrita, bem como o

alargamento e aprofundamento dos hábitos de leitura, designadamente entre a

população escolar” (PLN, 2006).

A conjuntura que propiciou o surgimento do PNL foram os resultados do

Estudo Nacional de Literacia, bem como os resultados do PISA que mostraram a

distância entre os níveis de literacia dos portugueses e os de outros países

europeus. Aliado a estes dados, a Comissão Europeia tinha apresentado um

relatório que indicava a urgência em investir-se em programas de literacia no

nosso país (Silva, 2008).

Assim, no que diz respeito às orientações para a educação pré-escolar, no

geral, e para o trabalho do educador de infância, em particular, o PLN advoga

que:

“No âmbito das atividades de leitura: é solicitado aos educadores para escolherem

obras muito variadas para que as crianças contactem com grande diversidade de

autores, de temas, de estilos, de ilustrações. É igualmente recomendado que não

prolonguem o trabalho com um mesmo livro, para que as crianças não se macem

com aquele livro. É recomendado que promovam feiras de livros nas escolas

possibilitando o contacto com o livro, com as novidades literárias e a preços

acessíveis.”

O PLN também inclui um conjunto de objetivos que visam a promoção do

domínio de competências e da adoção de hábitos de leitura por parte das

crianças com necessidades educativas especiais, evidenciando a sua

preocupação em incluir todos os alunos nesta demanda nacional. Assim, e no

respeito pelas especificidades destas crianças, o PNL, em articulação com a

DGIDC, disponibiliza um conjunto de obras recomendadas pelo PLN em formato

adaptado.

Também o PLN faz referência ao papel determinante do educador de

infância na promoção do desenvolvimento de competências literácitas das

crianças, nomeadamente no que diz respeito à sensibilização das “(...) famílias

para a importância dos livros de histórias e outros”. De acordo com as

recomendações do PNL, esta tarefa de sensibilização pode ser implementada de

diferentes maneiras, entre as quais:

Page 41: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

35

“(...) conversar sobre os benefícios de que os adultos leiam histórias com as crianças, ou

sobre as vantagens de promover o contacto das crianças com livros, mas tentando que

compreendam e adiram sem criticar os que não o fazem; distribuir pequenos textos com

sugestões para leitura em família; distribuir fichas para registo das leituras que as crianças vão

fazendo em casa; distribuir cópias das listas de livros recomendados; organizar empréstimo

domiciliário de livros da sala ou da biblioteca; Incentivar os pais a oferecerem um livro para a sala

ou para a biblioteca; organizar feiras do livro em ocasiões propícias como, por exemplo, as

vésperas de Natal, da Páscoa, do fim do ano letivo, convidar os pais e incentivá-los a

presentearem os filhos com um ou mais livros adequados à idade e aos interesses da criança;

organizar festas em ocasiões propícias e apresentar trabalhos realizados pelas crianças sobre os

livros que foram lidos na sala.”

Face ao exposto podemos afirmar que o desenvolvimento de competências

de literacia emergente das crianças não pode ficar circunscrito ao contexto de

jardim-de-infância sob a responsabilidade exclusiva do educador de infância. A

cooperação entre o contexto de jardim-de-infância e o contexto familiar é

fundamental, partindo do educador de infância o compromisso de encetar

momentos regulares de reuniões com as famílias, no sentido de sensibilizá-las

para a importância de motivar as crianças para o material impresso através do

contacto com a diversidade dos suportes existentes (Azevedo, 2011).

Com efeito, as crianças desenvolvem os seus conhecimentos e

competências literácitas através da exposição e interação direta com os

contextos onde estão inseridas e face às oportunidades proporcionadas pelos

adultos de referência, ou pares mais experientes, que fazem parte dos seus

contextos de vida. Na sociedade atual em que vivemos, as crianças encontram-

se cercadas de material impresso desde muito cedo, sendo na família que

ocorrem muitas vezes as primeiras interações sobre o impresso (Peixoto, 2011).

Cada contexto familiar desenvolve práticas de literacia de forma intuitiva e

não intencional, cabendo ao educador de infância, estreitar relações com as

famílias, no sentido de capacitá-las para a importância das ações que realiza,

bem como ajudá-las na construção de rotinas relacionadas não só com a leitura

do livro, mas também no contacto com materiais escritos em diversos contextos

e nas diferentes situações do quotidiano familiar (Azevedo, 2011).

No que diz respeito ao envolvimento parental na promoção da literacia das

crianças, também Morrow (2000, como citado em Peixoto, 2011) recomenda um

Page 42: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

36

conjunto de estratégias que, de forma estruturada, intensificam os laços entre a

escola e a família e fomentam o desenvolvimento de competências de literacia

emergente nas crianças: (1) no início do ano letivo, os docentes devem enviar

para casa os objetivos a serem alcançados no domínio da literacia para aquele

ano letivo, de forma percetível a todos os pais; (2) a cada nova unidade de

ensino ou conceito a introduzir, os docentes devem enviar para casa informação

sobre o conteúdo que estão a abordar e o que os pais podem fazer para ajudar

em casa; (3) convidar os pais para workshops informativos na escola, para

reuniões onde se tomam decisões sobre o currículo, conferências para pais; (4)

convidar os pais para ajudar em atividades de literacia na sala de aula (e.g., ler

para as crianças, escrever histórias); (5) enviar para casa atividades para os pais

e as crianças desenvolverem em conjunto regularmente e que impliquem algum

feedback, aos pais ou à criança, do trabalho desenvolvido em casa (e.g.,

atividades como leitura conjunta, visita à biblioteca, escrever mensagens,

cozinhar em conjunto a partir de receitas); (6) convidar os pais para ir à escola

partilhar conhecimentos que possam ter ou experiências relacionadas com o seu

património cultural; (7) enviar mensagens para casa acerca do progresso da

criança na escola; (8) fornecer aos pais listagens de livros variados que possam

partilhar com os seus filhos; (9) organizar encontros onde os pais sejam

convidados a desenvolver projetos de literacia com os filhos; (10) incluir os pais

na avaliação do progresso da criança, disponibilizando para o efeito

instrumentos de avaliação que permitam recolher informação acerca das

atividades de literacia dos filhos e do que fazem em casa com os filhos.

Finalmente, importa referir que cabe ao educador de infância valorizar os

diferentes tipos de literacia familiar e sugerir práticas de literacia familiar

ajustadas a cada família (Fernandes, 2004; Notari-Syverson & Challoner, 2005).

Em jeito de síntese, antes de terminar este ponto do enquadramento

teórico relativo à emergência da literacia em contextos pré-escolares inclusivos,

importa destacar as recomendações elencadas no relatório sobre o estado da

literacia na União Europeia (2012), apresentado em Portugal, na VI

Conferência do PNL: (a) criar um ambiente mais alfabetizado; (b) aumentar o

nível de ensino da literacia e dar mais apoio à leitura; (c) aumentar a

Page 43: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

37

participação e a inclusão, colmatando as lacunas socioeconómica, migrante, de

género e digital. No que diz respeito à infância, em particular, o relatório

recomenda: (a) estimular e apoiar a família através da implementação de

programas de literacia familiar, da cooperação com serviços de apoio à família,

bem como habilitar os responsáveis por serviços de apoio à família para ajudar

crianças e pais no desenvolvimento de literacia; (b) melhorar a qualidade da

educação e dos cuidados na primeira infância e providenciar o acesso gratuito

a todas as crianças, através da promoção de um currículo centrado no

desenvolvimento linguístico; (c) assegurar a deteção precoce de problemas a

nível da literacia emergente; e (d) cooperar numa perspetiva centrada na

criança, através da promoção da cooperação entre instituições de educação e

acolhimento de crianças na primeira infância, pais, serviços de saúde,

bibliotecas e outros serviços fundamentais para o desenvolvimento da criança.

3. Ideias e práticas de educadores de infância relacionadas com a

literacia emergente

O ato de educar e/ou ensinar não é apenas o reflexo das aprendizagens

efetuadas na formação académica dos educadores de infância ou dos

professores, ou dos normativos legislativos ou orientadores, mas também o

reflexo daquilo que são as suas ideias (Gamelas, 2010).

Estudos de Spodek e Brown (2002), tal como citados em Gamelas (2010),

salientam que a prática dos educadores de infância não se contextualiza numa

teoria sólida. Além disso, os mesmos autores acrescentam que estes

profissionais tendem a adotar “fórmulas” educativas que aparentemente

funcionam nos seus quotidianos educativos, fruto de um saber prático

acumulado e integrado que resulta em crenças, não só sobre os conteúdos, mas

também sobre a maneira como as crianças realizam aprendizagens e integram

os diferentes saberes (Powell, 1996 como citado em Gamelas, 2010).

Neste sentido, as ideias que os educadores de infância têm sobre a forma

como as crianças se tornam literadas pode limitar ou potenciar as oportunidades

que estes profissionais oferecem às crianças neste domínio, dado que as suas

Page 44: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

38

ideias parecem influenciar a forma como os educadores concebem a

planificação, as estratégias, os materiais, bem como a interação da criança com

o impresso (Ure & Raban, 2001) e, por conseguinte, o desenvolvimento das

competências de literacia de emergente das crianças (Sandvik, Daal, & Adér,

2013).

Atendendo à relevância das ideias dos profissionais para a compreensão

das suas práticas, a investigação neste domínio tem procurado, nos últimos

anos, aprofundar o conhecimento sobre as ideias que os educadores de infância

possuem acerca do desenvolvimento da literacia das crianças, assim como a

sua relação com as experiências de literacia proporcionadas às crianças nos

contextos de educação pré-escolar.

Por exemplo, um estudo realizado por Ure e Raban (2001), com 62

profissionais de educação de infância, sobre as crenças e perceções dos

educadores de infância relacionadas com a literacia emergente revelou que, em

geral, os educadores de infância consideram: (a) a sua formação inicial limitada

no domínio da literacia; (b) os seus conhecimentos sobre literacia insuficientes;

(c) insegurança no papel de sensibilização ou aconselhamento aos pais no que

respeita o desenvolvimento da literacia emergente; (d) temer estar a forçar o

desenvolvimento de competências e conhecimentos desajustados à idade da

criança; (e) o desenvolvimento da literacia emergente de um modo propedêutico,

considerando nas suas planificações atividades de pré-leitura (e.g., atividades de

sequenciação) e atividades de pré-escrita (e.g., coordenação óculo-manual,

lateralidade); (f) importante que as crianças sejam capazes de reconhecer o seu

nome e escrevê-lo no final do ano-letivo; (g) que os professores não concordam

com a abordagem da leitura e da escrita antes da entrada na escola, uma vez

que, quando as crianças chegavam à escola, os professores tinham de “apagar”

tudo o que tinha sido incorretamente ensinado no jardim-de-infância ou no

contexto familiar. De acordo com os autores do estudo, algumas destas ideias

não se coadunam com a perspetiva de literacia emergente, a qual defende o

desenvolvimento da literacia enquanto conhecimento e prática social

profundamente enraizada numa sociedade dependente do impresso, pelo que

Page 45: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

39

deverão ser organizadas estratégias para proporcionar às crianças

oportunidades de experienciar positivamente o impresso (Ure & Raban, 2001).

Rohde (2011) realizou um estudo com 68 educadores de infância a exercer

a sua atividade profissional em contextos pré-escolares inclusivos, que visava

compreender as ideias e as práticas dos educadores de infância sobre literacia

emergente. Os resultados deste estudo indicaram que os participantes indicaram

um alto nível de concordância com a necessidade de proporcionar

oportunidades de aprendizagem a nível da literacia emergente a todas as

crianças, incluindo as crianças com incapacidades. No entanto, apesar de

anuírem que as crianças com incapacidades devem ter as mesmas

oportunidades que as crianças com desenvolvimento típico no acesso à literacia

emergente, os resultados revelaram que, de uma forma global, os participantes

não desenvolviam estratégias nem providenciavam materiais adicionais para

assegurar ou incrementar o acesso das crianças com incapacidades às

aprendizagens relacionadas com a emergência da literacia. Rhode (2011)

conclui que, em geral, os educadores de infância participantes no seu estudo

encontravam-se familiarizados com conceitos e práticas atuais de literacia

emergente, contudo necessitavam de mais apoio e formação para que serem

capazes de desenvolver estratégias diferenciadas de ensino-aprendizagem para

que todas as crianças, incluindo as com incapacidades, consigam aprender.

Por sua vez, Sandvik, Daal e Adér (2013), no âmbito do seu estudo

desenvolvido junto de 90 educadores de infância, verificaram que estes

profissionais apresentavam crenças moderadamente positivas sobre a

importância da emergência da literacia no período pré-escolar, bem como do seu

papel no desenvolvimento de práticas de literacia, e que as práticas relatadas

não eram consistentes com as suas crenças. Com efeito, apesar dos

participantes referirem privilegiar na sua prática a leitura partilhada, seguido de

atividades relacionadas com a emergência da leitura e da escrita, atividades de

conhecimento das letras, de consciência fonológica, conceitos sobre o impresso

e, por fim, a literacia inserida na brincadeira, foi constatado que as crianças eram

envolvidas com pouca regularidade nestas experiências, não sendo evidente

Page 46: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

40

uma abordagem intencional de promoção do desenvolvimento da literacia

emergente.

Também, em Portugal, alguns investigadores têm dedicado alguma

atenção às ideias e práticas de educadores de infância relacionadas com a

literacia emergente. No quadro que se segue encontram-se sintetizadas um

conjunto de trabalhos de investigação desenvolvidos em Portugal nos últimos

anos, sendo que pelo menos um destes trabalhos foi desenvolvido em contextos

pré-escolares inclusivos.

Page 47: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

41

Quadro 1. Investigação desenvolvida em Portugal sobre ideias e práticas de educadores de infância relacionadas com literacia emergente

Autores, ano Objetivos Participantes

Técnica(s) de

recolha de dados

Principais resultados

Marques,

2011

- Caracterizar as conceções de educadores de infância sobre o desenvolvimento da linguagem escrita e analisar de que modo estas se relacionam com as práticas pedagógicas.

- 91 educadores de infância.

- Questionário.

- Conceções mais holísticas, ou seja, mais orientadas para uma perspetiva de literacia emergente do que tecnicistas, ou seja, orientadas numa perspetiva tradicional da aprendizagem da linguagem escrita; - Relação entre as conceções e as práticas de literacia emergente dos participantes: (a) os participantes com conceções mais tradicionais referiram mobilizar mais práticas baseadas nas habilidades de ensino direto, ou seja, mais tecnicistas; (b) os participantes com conceções consistentes com uma abordagem holística mostraram maior preocupação com o ambiente físico e emocional; - Relação entre os anos de experiência profissional e as conceções e práticas dos profissionais: os educadores com menos anos de serviço apresentaram conceções menos holísticas e referiram desenvolver menos atividades de literacia emergente.

Gamelas,

2010

- Descrever o ambiente de literacia e a sua qualidade, descrever a qualidade global e características estruturais de salas inclusivas de jardins-de-infância. Determinar quais as relações entre a qualidade do ambiente de literacia, a qualidade global e as características estruturais; - Descrever as ideias das educadoras acerca do desenvolvimento e práticas de literacia. Determinar quais as

- 60 salas de jardim-de- infância inclusivas, apoiadas pelos Apoios Educativos do Ministério da Educação do Grande Porto; - 19 educadores de infância.

- Observação; - Questionário; - Q-sort.

- Existência de poucos exemplos de práticas de literacia excelentes; - Cerca de 42% das educadoras situaram-se numa perspetiva de cariz mais maturacionista e de prontidão para a escola e 58% das educadoras situaram-se mais numa perspetiva de literacia emergente, valorizando o envolvimento contínuo da criança em situações significativas acerca da leitura e da escrita; - De um modo geral, as educadoras referiram abordagens mais abrangentes, centrando-se na linguagem em geral. Estratégias mais específicas relacionadas com aspetos fonológicos ou na descodificação raramente foram referidas; - Relativamente às crianças com NEE, verificou-se que a educadora da sala tem disponíveis dados da avaliação das crianças e são feitas pequenas modificações para responder às

Page 48: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

42

relações entre essas ideias, a qualidade do ambiente de literacia e a qualidade global; - Interpretar a descrição e as relações obtidas nos objetivos anteriores com vista à obtenção de um quadro compreensivo sobre a qualidade e a adequação das experiências de literacia vividas num contexto inclusivo.

suas necessidades, registando-se algum envolvimento destas crianças nas atividades que decorrem em grande grupo; - Poucas evidências de uma abordagem intencional no apoio ao desenvolvimento da literacia em crianças de idade pré-escolar.

Santos &

Martins, 2009

- Descrever e analisar as práticas pedagógicas de educadores de infância no desenvolvimento de abordagens à linguagem escrita.

- 18 educadoras de

infância (Ilha Terceira). - Observação.

- Práticas pedagógicas dos participantes caracterizadas pela ausência de uma abordagem coerente e coesa no domínio da linguagem escrita; - Evidências da emergência da literacia em situações como a definição de objetivos que procuram o desenvolvimento das conceptualizações infantis sobre leitura e escrita ou a organização e apetrechamento de áreas de trabalho; - Perspetiva de preparação para a leitura e para a escrita fortemente associada a estratégias de intervenção direta junto das crianças onde a aprendizagem da escrita do nome ou a linguagem oral surgem como aspetos a privilegiar na potencialização de aprendizagens no domínio da linguagem escrita; - A aposta na criação de um ambiente educativo rico em linguagem escrita, cuja utilização funcional e significativa constitua o ponto de partida de uma intervenção promotora da literacia, surgiu claramente debilitada na generalidade das práticas observadas.

Moniz, 2009

- Conhecer o perfil dos educadores cooperantes e dos estagiários relativamente às habilitações académicas e à formação recebida sobre leitura e escrita;

- 20 educadores de infância cooperantes de jardins-de-infância da rede pública (Angra do Heroísmo); - 19 estagiários do curso

- Questionário; - Entrevista.

- Ao nível das habilitações académicas, a maioria dos educadores cooperantes possuem apenas o bacharelato, o que sugere ausência de atualização de conhecimentos, podendo, por consequência, estar desfasados das novas metodologias propostas para a abordagem da leitura/escrita no pré-escolar; - O investimento feito no ensino da leitura e da escrita no curso de

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43

- Conhecer as conceções dos educadores cooperantes e dos estagiários sobre a abordagem da leitura e da escrita no pré-escolar; - Caracterizar o papel dos educadores cooperantes em contexto de supervisão como orientador de estágio e como promotor de leitura e de escrita; - Conhecer as atividades de leitura e escrita que os estagiários promovem na sua prática pedagógica; - Averiguar a organização dos espaços, materiais e equipamentos utilizados pelos estagiários nas atividades de leitura e de escrita, relacionando estes aspetos aos modelos curriculares de educação de infância.

de educação de infância da Universidade dos Açores; - 1 docente da Universidade dos Açores, orientador de estágio.

educação de infância da Universidade dos Açores é muito superior ao oferecido pelo antigo Magistério Primário, cumprindo deste modo com o estipulado nas orientações curriculares para o período pré-escolar, dado que o plano de estudos focaliza aspetos relacionados com o desenvolvimento das conceções infantis sobre a leitura e escrita, assim como as estratégias de intervenção para promover competências de leitura em crianças em idade pré-escolar; - Os educadores cooperantes e os estagiários concordavam que a aprendizagem da leitura e da escrita se inicia no período pré-escolar; - Os educadores cooperantes e os estagiários referiram ser importante promoverem o interesse pelos livros, criar momentos de escrita, desenvolver hábitos de leitura e promover a capacidade de compreender as regras básicas do código escrito, ainda que os educadores cooperantes tenham valorizado mais o desenvolvimento linguístico e os estagiários o reconhecimento de palavras e letras; - Os estagiários valorizavam as tentativas de leitura e de escrita por parte das crianças e as atividades mais frequentes eram o registo de letras e de palavras de forma livre, o registo de vivências e a elaboração de livros e registo de histórias; - Foram referidas as seguintes áreas da sala de atividades como propícias ao desenvolvimento da emergência da literacia: escrita, pintura, recorte/colagem, fantoches, garagem, jogos de encaixe, jogos lógicos e casinha das bonecas; - Os livros infanto-juvenis, os jogos, os jornais, as revistas e o abecedário são materiais que foram utilizados pelos estagiários como forma de promover atividades no âmbito da literacia; - O vídeo, o leitor de DVD e o computador foram descritos como equipamentos auxiliares à exploração dos processos linguísticos.

Silva, 2008

- Caracterizar as práticas de literacia observadas; - Caracterizar as ideias das educadoras acerca do

- 15 salas de jardim-de-infância (Distrito do Porto).

- Observação; - Questionário; - Entrevista.

- Qualidade baixa do ambiente de literacia nas salas observadas; - Ideias globais e pouco aprofundadas em relação ao desenvolvimento da literacia nas crianças e à forma como esta pode ser promovida no jardim-de-infância por parte dos

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desenvolvimento da literacia; - Compreender a relação entre as ideias relatadas, as práticas relatadas e as práticas observadas.

participantes; - Evidências de algumas inconsistências entre as práticas observadas, as práticas relatadas e as ideias transmitidas pelos participantes.

Horta, 2006

- Compreender as conceções sobre o processo de transição/articulação da educação pré-escolar para o 1.º ciclo do ensino básico por parte de educadores de infância; - Identificar as principais estratégias de transição desenvolvidas pelos educadores de infância, como sendo facilitadoras da continuidade educativa, bem como conhecer as suas posições relativamente ao papel que atribuem à abordagem da linguagem escrita, realizada na educação pré-escolar, no processo de transição/articulação para o 1.º ciclo.

- 28 educadores de infância cooperantes da Escola Superior de Educação da Universidade do Algarve.

- Entrevista; - Questionário.

- A maioria dos educadores de infância afirmou conhecer as conceções precoces sobre a linguagem escrita das crianças com quem trabalha; - Relativamente ao desenvolvimento de competências no domínio da linguagem oral e abordagem à escrita, a maioria dos educadores de infância afirmou que considera importante o desenvolvimento de competências visuomotoras e visuoperceptivas, tal como de competências metalinguísticas. - Relativamente à atitude do educador perante o desenvolvimento da abordagem à escrita na educação pré-escolar, verificou-se que 55,1% dos educadores de infância apontou a atitude de encorajamento como a mais adequada perante as tentativas de escrita por parte da criança; - A maioria dos educadores de infância considerou a publicação das Orientações Curriculares como importante para a valorização da linguagem escrita na educação pré-escolar, enquanto que outros referiram que os educadores, em geral, continuam a atuar de acordo com as conceções que já possuíam face a este domínio; - Os educadores de infância referiram preocupação com a linguagem escrita no processo de transição, bem como com a segurança sentida na exploração desta área e o gosto a ela associada, revelando a vontade de aprender mais neste âmbito.

Fernandes,

2005

- Perceber a frequência das práticas de educadores de infância no âmbito da literacia emergente; - Analisar as linhas conceptuais que determinam a construção, na prática diária, de propostas

1.º momento: 340 educadores de infância. 2.º momento: 8 educadores de infância (com pelo menos 15 anos de serviço).

- Questionário; - Entrevista.

- Os educadores manifestaram alguma reserva na presença de atividades que eles não identificavam como habituais em jardim-de-infância, nomeadamente as que diziam respeito à vertente impressa, levando a um questionamento sobre as referências teóricas que organizam a prática educativa em jardim-de-infância no âmbito da literacia emergente; - As atividades de desenvolvimento da linguagem não são objeto

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45

de ensino-aprendizagem na área da literacia emergente.

de planificação e intencionalidade educativa; - Tarefas de nomeação de letras, escrita e manipulação de sons e palavras parecem não ser fundamentais para a maioria dos participantes; - As práticas de literacia em educação de infância parecem ainda determinadas por uma forte fundamentação da ação em perspetivas desenvolvimentistas, pela valorização de dimensões globais de aprendizagem (conhecimento vocabular e conceptual) em paralelo com a desvalorização das aprendizagens de caráter mais discreto (conhecimento das letras, conhecimento fonológico).

Page 52: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

Em geral, os resultados obtidos nestes estudos desenvolvidos no contexto

português documentam evidências de uma abordagem pouco intencional ao

desenvolvimento da literacia em crianças de idade pré-escolar. Embora os estudos

de Marques (2011) situem os educadores de infância em conceções mais holísticas

ao nível da literacia emergente, outros estudos têm apontado para ideias e práticas

de promoção da literacia emergente pouco intencionais e estruturadas, revelando

lacunas ao nível da planificação, da organização do ambiente educativo (Gamelas,

2010), bem como da formação inicial dos educadores de infância, conforme referido

nos estudos de Fernandes (2005) e Silva (2008).

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Page 54: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

CAPÍTULO II

APRESENTAÇÃO DO ESTUDO EMPÍRICO

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49

1.Enquadramento geral e objetivos do estudo

Sabendo que as crianças adquirem conhecimentos e competências de leitura e

escrita muito antes da sua aprendizagem formal, e que estas estão associadas ao

posterior desempenho académico (e.g., Rhyner, 2009; Whitehust & Lonigan, 1998,

2001), importa perceber o papel da educação pré-escolar na promoção destas

competências. Com efeito, durante este período já se começam a notar diferenças

entre as crianças a nível dos seus conhecimentos e competências de literacia

emergente (e.g., Cohen & Cowen, 2007; Peixoto, 2011). Daí que nos últimos anos se

tenha registado um interesse crescente em estudar a emergência da literacia em

contextos de educação pré-escolar a nível internacional e nacional.

A investigação desenvolvida junto de crianças com incapacidades, apesar de

escassa, tem revelado que estas crianças podem não estar a beneficiar do mesmo

acesso a materiais e atividades promotores de literacia como as crianças com

desenvolvimento típico (Justice & Kadaravek, 2004; Katims, 1996; Koppenhaven,

Hendrix, & Williams, 2002, como citados em Rohde, 2011; Sandall, McLean, &

Smith, 2000). A falta de oportunidades de interação com materiais impressos e

atividades relacionadas com a linguagem escrita poderá estar associada a inúmeros

fatores que poderão ir desde a falta de interesse da própria criança, desvalorização

por parte dos pais e professores ou também devido a fatores físicos, cognitivos ou

sociais que impedem a criança a aceder a materiais e atividades de literacia

emergente (Rohde, 2011).

Nesta medida, e atendendo que o estudo da promoção da literacia emergente em

contexto de jardim-de-infância tem assumido um papel de destaque nos últimos anos

e que ainda é escassa a investigação desenvolvida em contextos inclusivos, o

presente estudo pretende ser mais um contributo para o estudo da literacia

emergente em contextos pré-escolares inclusivos, particularmente no nosso país.

Especificamente, com a presente investigação, pretende-se conhecer as ideias e as

práticas de educadores de infância do ensino regular relacionadas com a literacia

emergente em contextos pré-escolares inclusivos

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2. Método

Tendo em conta os objetivos delineados, temos como intuito, neste ponto,

elucidar qual o método adotado, nomeadamente os participantes, o instrumento e os

procedimentos de recolha e de análise de utilizados.

2.1.Participantes

A seleção dos participantes do presente estudo seguiu um procedimento de

amostragem não probabilístico, tendo em conta o seguinte critério: educadores de

infância do ensino regular a desempenhar funções em salas de jardim-de-infância

inclusivas (i.e., com crianças apoiadas por serviços de intervenção precoce ou de

educação especial).

Assim, participaram no presente estudo 53 educadores de infância do ensino

regular a desempenhar funções em salas de jardim-de-infância inclusivas no Grande

Porto.

Tal como é possível verificar no Quadro 2, no que concerne o género dos

participantes, 52 eram mulheres (98,1%) e um era homem (1,9%). Em média, os

participantes tinham 39,48 anos (DP = 7,33), variando entre 24 e 54 anos.

Relativamente ao estado civil dos participantes, a maioria era casada ou vivia

em união de facto (66%). No que se refere às habilitações académicas, 84,9% dos

participantes possuíam licenciatura, sendo que mais de metade fez a sua formação

inicial em instituições de ensino privado (60,7%). A maioria dos participantes (84,6%)

não possuía formação complementar específica na área da literacia emergente ou

desenvolvimento da linguagem oral e abordagem à escrita no jardim-de-infância. O

tempo de serviço médio dos participantes era de 14,38 anos (DP = 6,98) e a maioria

dos participantes exercia a sua atividade profissional em Instituições Particulares de

Solidariedade Social (73,6%).

Page 57: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

51

Quadro 2. Caracterização sociodemográfica e profissional dos participantes

M (DP) Min. - Max.

Idade (N = 53) 39,48 (7,33) 24 – 54

n %

Género (N = 53)

Masculino 1 1,9

Feminino 52 98,1

Estado civil (N = 53)

Solteiro 7 13,6

Casado/união de facto 35 66,0

Divorciado/separado de facto 9 16,9

Viúvo 2 3,7

Habilitações académicas (N = 53)

Bacharelato 6 11,3

Licenciatura 45 84,9

Mestrado 2 3,8

Escolas de formação inicial (N = 51)

Escolas Superiores de Educação de

Institutos Politécnicos 15 29,4

Escolas Superiores de Educação de

Institutos Privados 31 60,7

Ensino Universitário 5 9,8

Formação complementar na área da literacia emergente (N = 52)

Sim 8 15,4

Não 44 84,6

Tipo de instituição onde desempenha funções (N = 53)

Pública 7 13,2

Particular com fins lucrativos 7 13,2

Instituição Particular de Solidariedade Social

39 73,6

M (DP) Min. - Max.

Tempo de serviço (N = 53) 14,38 (6,98) 2 – 32

Page 58: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

Aproximadamente 30% dos participantes encontrava-se a exercer a sua

atividade profissional no ano letivo 2012/2013 na sala dos 5 anos, 26,4% na sala dos

4 anos, 24,5% na sala dos 4 anos e 18, 9% na sala dos 3 anos.

A média de crianças por grupo era de 20,35 (DP = 3,57), variando entre 13 e

29. No que diz respeito ao número de crianças atendidas em intervenção precoce ou

educação especial, 69,8% das salas tinha apenas uma criança a beneficiar deste

serviço.

A maioria das salas funcionava diariamente com dois adultos (73,6%).

Quadro 3. Caracterização da sala dos participantes

n %

Sala

3 anos 10 18,9

4 anos 13 24,5

5 anos 16 30,2

Mista 14 26,4

Número total de crianças em IP ou EE no grupo

1 criança 37 69,8

2 crianças 13 24,5

3 crianças 3 5,7

Número total de adultos

1 adulto 2 3,8

2 adultos 39 73,6

3 adultos 12 22,6

M (DP) Min.-Max.

Número total de crianças 20,34 (3,57) 13 – 29

Nota. IP = Intervenção Precoce; EE = Educação Especial

No que diz respeito ao motivo de referenciação aos serviços de intervenção

precoce/educação especial das crianças com incapacidades ou em risco grave de

atraso de desenvolvimento, o atraso de desenvolvimento global verificou-se em

47,8% dos casos (ver Quadro 4).

Page 59: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

53

Quadro 4. Motivos de referenciação das crianças abrangidas pelos serviços de intervenção precoce ou de educação especial (N = 67)

Além do apoio semanal da docente de intervenção precoce ou da educação

especial, 36,6% das crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de

desenvolvimento incluídas nas salas dos participantes recebiam apoio da terapia da

fala, sendo o apoio mais referido.

Quadro 5. Apoios que as crianças abrangidas pelos serviços de intervenção precoce ou de educação especial recebem, além do docente de intervenção precoce ou de educação especial (N = 60)

n %

Terapia da fala 22 36,6

Terapia ocupacional 5 8,3

Fisioterapia 5 8,3

Consulta de desenvolvimento 3 5

Psicologia 3 5

Neurologia 1 1,6

Reabilitação psicomotora 1 1,6

Hidroterapia 1 1,6

Hipoterapia 1 1,6

Não tem 18 30

n %

Atraso de desenvolvimento global 32 47,8

Síndrome espectro autista 10 14,9

Hiperatividade 6 8,9

Atraso na fala /linguagem 4 5,9

Indicação médica 3 4,4

Paralisia cerebral 3 4,4

Atraso psicomotor 2 3,0

Síndrome de down 2 3,0

Atrofia espinal infantil 1 1,4

Fenda do palato e atraso de desenvolvimento global 1 1,4

Distrofia muscular (tipo Duchenne) 1 1,4

Défice visual e atraso global de desenvolvimento 1 1,4

Síndrome de Kabuki 1 1,4

Page 60: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

54

2.2. Instrumento de recolha de dados

Com o intuito de obter resposta para os objetivos delineados para o presente

estudo, foi construído um protocolo de recolha de dados constituído pelas seguintes

secções:

(I) Dados sociodemográficos e profissionais. Na primeira secção incluiu-se um

questionário constituído por questões relativas a dados sociodemográficos e

relacionadas com o exercício da profissão dos participantes (ex., sexo, idade, estado

civil, habilitações académicas, tipo de instituição onde desempenha funções,

caracterização do grupo que leciona, etc.).

(II) Ideias relacionadas com a literacia emergente. Numa segunda secção

incluiu-se a adaptação do questionário Parents’ Perceptions of Literacy Learning

Interview Schedule (PPLLIS; Lynch, Anderson, Anderson, & Shapiro, 2006) para

educadores de infância realizada por Mata e Marques (2010). Este questionário foi

inicialmente usado para analisar as conceções dos pais relativamente à forma como

as crianças aprendem a ler e a escrever e perceber que tipos de atividades de

literacia os pais desenvolvem com os filhos. A adaptação realizada por Mata e

Marques (2010) para educadores de infância tem como objetivo perceber se as

conceções dos educadores, face à aprendizagem da linguagem escrita, se situam

numa conceção de literacia emergente ou em abordagens mais tradicionais. A

medida adaptada é constituída por 15 afirmações sobre as quais os educadores têm

que mostrar o seu acordo ou desacordo, utilizando uma escala do tipo Likert de

cinco pontos (Discordo totalmente, Discordo, Não concordo nem Discordo,

Concordo, Concordo totalmente). Os itens organizam-se em duas dimensões:

conceção holística e conceção tecnicista (Mata & Marques 2010). A análise à

consistência interna (Alfa de Cronbach) dos dados obtidos no presente estudo em

cada uma das dimensões revelou valores considerados adequados (α = 0,85 para a

dimensão conceção holística; α = 0,66 para a dimensão conceção tecnicista).

(III) Ideias sobre competências essenciais à saída do jardim-de-infância. Com o

objetivo de perceber a importância atribuída pelos educadores de infância a um

conjunto de competências relacionadas com a literacia emergente, adaptou-se uma

Page 61: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

55

secção do questionário elaborado por Rohde (2011), Preschool Teachers Beliefs and

Practices - Emergent Literacy in Inclusive Preschools. Foi solicitado aos educadores

de infância que indicassem a sua opinião sobre as competências que o educador

considera importante que as crianças possuam à saída do jardim-de-infância,

utilizando uma escala do tipo Likert de 5 pontos (essencial, muito importante,

importante, pouco importante, irrelevante).

(IV) Práticas de literacia emergente. Esta última secção do protocolo

incluiu um questionário constituído por quatro grupos de questões: (1) organização

da sala de atividades; (2) práticas gerais de literacia emergente; (3) práticas

relacionadas com a leitura de histórias; (4) estratégias de promoção do envolvimento

dos pais no processo de desenvolvimento da literacia dos filhos. Para a elaboração

da parte referente à organização da sala de atividades, adaptaram-se alguns dos

itens da Grelha de Observação de Práticas Pedagógicas no domínio da Leitura e da

Escrita em Contexto de Jardim-de-Infância desenvolvida por Martins e Santos

(2006), nomeadamente, os itens relativos à existência, organização e uso da

biblioteca da sala; existência e uso do computador da sala; etiquetagem dos

materiais e presença do alfabeto na sala. As questões incluídas na parte relativa às

práticas gerais de literacia emergente e na parte das práticas relacionadas com a

leitura de histórias foram construídas tendo por referência o questionário elaborado

por Rohde (2011), referido anteriormente. Este grupo de questões permite fazer um

levantamento da regularidade das práticas de literacia emergente em geral e das

atividades desenvolvidas especificamente em torno da leitura de histórias pelos

educadores de infância junto das crianças com desenvolvimento típico e das

crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento.

Finalmente, para conhecer as estratégias de promoção do envolvimento parental no

desenvolvimento da literacia das crianças utilizadas pelos educadores de infância

adaptou-se uma secção do questionário Preschool Literacy Practices Checklist

(PLPC): Preschool Teachers’ Self-Reported Beliefs and Practices about Literacy

Instruction (Burgess, Lundgren, Lloyd, & Pianta, 2003), traduzido por Gamelas

(2010).

Page 62: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

56

Importa referir que antes da recolha de dados propriamente dita, o protocolo de

recolha de dados foi pilotado junto de três educadoras de infância do ensino regular

que, em anos letivos anteriores, tiveram nas suas salas de jardim-de-infância

crianças atendidas no âmbito da intervenção precoce.

2.3. Procedimentos

2.3.1. Recolha de dados

A recolha de dados decorreu entre maio e junho de 2013, tendo seguindo três

procedimentos distintos:

(1) Contactaram-se os diretores de quatro agrupamentos de escola do

concelho de Vila Nova de Gaia, para autorizarem a participação dos educadores de

infância com crianças com necessidades educativas especiais incluídas nas suas

salas, no presente estudo. Obtivemos três autorizações, mas duas delas apenas em

junho pelo que optamos por não realizar a recolha de dados nestes agrupamentos.

No agrupamento de escola, cuja autorização foi dada em tempo considerado útil, os

questionários foram entregues à coordenadora que, posteriormente, fez chegar aos

educadores de infância. Após o preenchimento dos questionários, a coordenadora

informou, via telefone, que os mesmos já podiam ser levantados.

(2) Contactaram-se duas educadoras de intervenção precoce a exercerem

funções em equipas locais de intervenção precoce, para nos ajudarem a perceber

em que jardins-de-infância estavam crianças atendidas no âmbito do Intervenção

Precoce. Depois da listagem feita, foram contactados todos os diretores dos jardins-

de-infância, a fim de se explicar o estudo e solicitar a colaboração dos educadores

de infância que reunissem os critérios referenciados. Depois de obtidas as

autorizações, os questionários foram deixados, presencialmente, nos jardins-de-

infância e recolhidos em prazo determinado pelos educadores de infância.

(3) O questionário foi distribuído a educadores de infância conhecidos através

de correio eletrónico, em formato Google docs, com o pedido de fazer passar a

Page 63: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

57

outros educadores de infância que reunissem as condições requeridas para

participar no estudo. As respostas foram enviadas pela mesma via.

2.3.2. Análise de dados

Findado o tempo delineado para a recolha dos dados, procedeu-se à

introdução e análise de dados através do programa estatístico SPSS (Statistical

Package for the Social Sciences), versão 20.0. Tendo por referência os objetivos do

estudo, realizaram-se análises de estatística descritiva, nomeadamente medidas de

tendência central e de dispersão, assim como análises de estatística inferencial.

Uma vez que a análise exploratória de dados revelou não estarem cumpridos os

pressupostos subjacentes à utilização de testes paramétricos, recorreu-se à

utilização do teste não-paramétrico Wilcoxon para amostras emparelhadas.

Calculou-se ainda o índice de magnitude dos efeitos através da conversão dos

valores z em valores r (r = z/√N; Rosenthal, 1991 como citado em Field, 2005). Os

resultados obtidos foram interpretados de acordo com as convenções definidas por

Cohen (1992): r de .10 é considerado pequeno revelando uma associação fraca, um

r de .30 é considerado médio e revela uma associação moderada e um r de .50 é

considerado grande e revela uma associação forte.

Page 64: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular
Page 65: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

CAPÍTULO III

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Page 66: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

60

Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos no âmbito do

presente estudo, de acordo com a seguinte estrutura: (1) Ideias relacionadas com a

literacia emergente; e (2) Práticas de literacia emergente. O capítulo finaliza com as

considerações finais.

1. Ideias relacionadas com a literacia emergente

O Quadro 6 apresenta as estatísticas descritivas obtidas para as dimensões

holísticas e tecnicista do questionário utilizado para avaliar as conceções dos

educadores de infância sobre o desenvolvimento da literacia (Mata & Marques,

2010).

Quadro 6. Estatísticas descritivas obtidas para as dimensões holísticas e tecnicista

M (DP) Min. – Max.

Dimensão holística 4,35 (0,53) 2,13 – 5,00

Dimensão tecnicista 2,93 (0,67) 1,14 – 4,14

A análise do Quadro 6 permite constatar que, comparativamente à dimensão

tecnicista, os valores médios obtidos para a dimensão holística são relativamente

elevados (considerando que a escala utilizada é uma escala de 5 pontos). Neste

sentido, estes resultados sugerem uma maior identificação por parte dos

participantes com este tipo de abordagem. Isto é coerente com os valores

significativamente mais baixos na dimensão tecnicista. Com efeito, os resultados

obtidos através do teste de Wilcoxon para amostras emparelhadas revelaram a

existência de diferenças estatisticamente significativas e de magnitude grande entre

os valores obtidos para cada uma das dimensões (Z = -6,08, p = ,000, r = -,59).

Os resultados descritos estão de acordo com os resultados obtidos por Mata e

Marques (2010). No estudo que realizaram com 91 educadores de infância sobre

conceções relacionadas com a forma como as crianças aprendem a ler e a escrever,

as autoras perceberam que os participantes identificavam-se mais com uma

abordagem de natureza holística, tal como o verificado no presente estudo.

Page 67: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

61

Foi também solicitado aos participantes do presente estudo que avaliassem

numa escala tipo Likert de cinco pontos (de essencial a irrelevante) a sua posição

relativamente à importância de um conjunto de competências associadas à literacia

emergente. A maioria dos participantes no estudo consideraram ser essencial ou

muito importante as crianças possuírem à saída do jardim-de-infância motivação

para a leitura e para a escrita (92,3%), competências ao nível da linguagem

expressiva e compreensiva (88,3%), competências de consciência fonológica (76%)

e competências ao nível do conhecimento do impresso (76,5%).

Quadro 7. Ideias relacionadas com as competências que as crianças devem possuir à saída do jardim-de infância

Essencial

Muito

importante

Importante Pouco

importante Irrelevante

n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)

Linguagem expressiva e compreensiva (N = 51)

31 (60,8) 14 (27,5) 5 (9,8) 1 (2) 0 (0)

Consciência fonológica (N = 50) 21 (42) 17 (34) 10 (20) 2 (4) 0 (0)

Conhecimento das letras do alfabeto (N = 50)

3 (6) 10 (20) 26 (52) 10 (20) 1 (2)

Conhecimento do impresso (N = 51)

14 (27,5) 25 (49) 8 (15,7) 4 (7,8) 0 (0)

Motivação para a leitura e para a escrita (N = 52)

27 (51,9) 21 (40,4) 4 (7,7) 0 (0) 0 (0)

Tal como é possível verificar no Quadro 7, existe uma maior variabilidade entre

os participantes no que se refere à importância atribuída ao conhecimento das letras,

sendo referida por metade da amostra como sendo apenas importante. Os

resultados obtidos no estudo de Rohde (2011), onde a investigadora também

questionou os educadores sobre o nível de importância de um conjunto

competências de literacia emergente, indicaram o vocabulário (linguagem expressiva

Page 68: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

62

e compreensiva) como a competência considerada mais importante, seguida da

consciência fonológica, do conhecimento do impresso e, por fim, considerado como

menos importante o conhecimento das letras do alfabeto, tal como se verificou

presente investigação.

Estudos de Fernandes (2005a) e Guimarães e Youngman (1995, como citado

em Gamelas, 2010) também apontaram que os educadores de infância parecem

atribuir menor importância ao conhecimento das letras. Estes resultados podem

estar relacionados com um “preconceito” acerca deste tipo de aprendizagens em

contexto de jardim-de-infância, sendo visto pelos educadores como da

responsabilidade escola (Fernandes, 2005b).

Em suma, e no geral, as ideias dos educadores de infância parecem ser

concordantes com a literatura no domínio, assim como com os princípios patentes

nos normativos orientadores existentes em Portugal, nomeadamente as OCEPE

(ME, 1997) e as brochuras para a educação pré-escolar (Mata, 2008; Sim-Sim et al.,

2008), valorizando desta forma a sua pertinência como guias para a prática

educativa do educador de infância.

2. Práticas de literacia emergente

2.1. Organização da sala de atividades

Todos os participantes referiram que as suas salas de atividades possuem uma

área de leitura. Nesta área prevalecem maioritariamente livros de histórias e de

imagens, sendo que as enciclopédias, os dicionários e a banda desenhada não

parecem ocupar um lugar importante nas bibliotecas das salas dos participantes do

nosso estudo. Da lista de tipos de livros apresentados 67,9% dos participantes

revelou possuir mais de 10 livros de histórias nas suas estantes e 50% declarou não

possuir dicionários (ver Quadro 8).

Page 69: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

63

Quadro 8. Tipos de materiais de exploração de leitura existentes na biblioteca da sala

Verificamos, assim, que as bibliotecas dos participantes apresentam alguma

variedade nos livros disponibilizados às crianças em quantidade razoável. Tal como

referido por Sandall e Schwartz (2003) é importante a seleção criteriosa de livros na

biblioteca da sala, incluindo uma diversidade enorme de livros infantis, no sentido de

auxiliar as crianças a perceberem que a escrita é utilizada de várias maneiras, tais

como: livros de contos, livros informativos, livros temáticos, livros de matemática,

livros de contos tradicionais e de contos de fadas, livros de poesia e cancioneiros.

Outros materiais, existentes na biblioteca da sala, referidos pelos educadores

foram as listas de presenças, registos de adivinhas (escritas e com imagens) e

pesquisas realizadas na internet.

No que concerne ao uso da biblioteca da sala, todos os participantes relataram

que todas as crianças com desenvolvimento típico (DT) acedem autonomamente a

Mais de 10 Entre 4 e 9 Até 3 0

n (%) n (%) n (%) n (%)

Livros de histórias (N = 53) 36 (67,9) 17 (32,1) 0 (0) 0 (0)

Livros de imagens (N = 53) 18 (34) 22 (41,5) 10 (18,9) 3 (5,7)

Livros de poesia (N = 52) 3 (5,8) 8 (15,4) 27 (51,9) 14 (26,9)

Livros de canções (N = 52) 3 (5,7) 9 (17,3) 26 (50) 14 (26,9)

Enciclopédias (N = 49) 2 (4,1) 6 (12,2) 20 (40,8) 21 (42,9)

Dicionários (N = 50) 3 (6) 5 (10) 17 (34) 25 (50)

Livros temáticos (N = 52) 4 (7,7) 24 (46,2) 16 (30,8) 8 (15,4)

Banda desenhada (N = 51) 4 (7,8) 9 (17,6) 16 (31,4) 22 (43,1)

Revistas (N = 53) 11 (20,8) 14 (26,4) 9 (17) 19 (35,8)

Listas de palavras (N = 48) 7 (14,6) 5 (10,4) 15 (31,3) 21 (43,8)

Registos de histórias (N = 48) 9 (18,8) 13 (27,1) 16 (33,3) 10 (20,8)

Fantoches (N = 49) 14 (28,6) 20 (40,8) 8 (16,3) 7 (14,3)

Outros materiais (N = 11) 5 (45,5) 3 (27,3) 1 (9,1) 2 (18,2)

Page 70: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

64

este espaço e que 88,5% das crianças com incapacidades ou em risco grave de

atraso de desenvolvimento (INC) é que têm essa possibilidade.

Quadro 9. Uso da biblioteca da sala de atividades por crianças com desenvolvimento típico

Sim Não

n % n %

Acedem autonomamente aos livros (N = 53) 53 100 0 0

Têm um espaço cómodo para ler ou folhear livros (N = 53) 52 98,1 1 1,9

Conseguem fazer leitura partilhada com pelo menos um colega (N =

52) 51 98,1 1 1,9

Podem levar os materiais de leitura/escrita para qualquer área da sala

de atividades (N = 53) 27 50,9 26 49,1

O espaço da biblioteca da sala é considerado pela maioria dos participantes

como sendo cómodo para as crianças com DT e INC lerem ou folhearem livros e é

referido que nele as crianças conseguem fazer leitura partilhada com pelo menos um

colega. Aproximadamente metade dos educadores referiu permitir que as crianças

com DT (50,9%) e com INC (55,8%) levem os materiais de leitura/escrita para

qualquer área da sala de atividades (ver Quadros 9 e 10).

Quadro 10. Uso da biblioteca da sala de atividades por crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento

Sim Não

n % n %

Acedem autonomamente aos livros (N = 52) 46 88,5 6 11,5

Têm um espaço cómodo para ler ou folhear livros (N = 52) 49 94,2 3 5,8

Conseguem fazer leitura partilhada com pelo menos um colega (N = 52) 40 76,9 12 23,1

Podem levar os materiais de leitura/escrita para qualquer área da sala de

atividades (N = 52) 29 55,8 23 44,2

Katims (1995) refere a importância de uma biblioteca atrativa e bem

apetrechada com livros de literatura infantil clássica, poemas, fábulas, contos, livros

de imagens, livros de alfabeto, livros temáticos, livros de épocas festivas, cujo

Page 71: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

65

espaço esteja acessível a todas as crianças, incluindo as que tem incapacidades

motoras e com livros adaptados a todas as crianças, para que todas consigam

interagir com os mesmos de forma autónoma. Os resultados do presente estudo

indicam-nos que ainda existem educadores de infância que parecem não estar

sensibilizados para esta questão, uma vez que seis participantes revelaram que as

crianças com INC não acedem autonomamente aos livros da biblioteca, três

participantes relataram que o espaço da biblioteca não é cómodo para ler ou folhear

livros e 12 participantes indicaram que as crianças com INC não conseguem fazer

leitura partilhada com pelo menos um colega. Nesta questão em particular não

conseguimos aferir, pela forma como foi colocada a questão, se isto se deve a

dificuldades das crianças em interagir com os pares ou se a organização do espaço

físico da biblioteca da sala é que impede essa interação no caso crianças em

particular. De qualquer modo cabe ao educador mediar as interações entre as

crianças, proporcionando a todas a oportunidade de partilharem leitura uns com os

outros.

No que diz respeito à existência de outras áreas com materiais de leitura e

escrita, apenas 52 participantes responderam a esta questão, sendo que 78,8%

indicou que dispõe de materiais de leitura e de escrita em outras áreas da sala, tal

como indica o Quadro 11.

Quadro 11. Outras áreas que dispõem de materiais de leitura e escrita (N = 41)

n %

Espaço da expressão plástica 13 31,7

Espaço dos jogos 8 19,5

Mesas de trabalho 6 14,6

Lojinha /espaço da casinha 3 7,3

Espaço do computador 3 7,3

Quadro 3 7,3

Placards 2 4,8

Page 72: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

66

Espaço da matemática 1 2,4

Área da expressão livre e área da partilha de ideias e informação 1 2,4

Armário com livros da educadora 1 2,4

A partir da análise do Quadro 11, podemos constatar que 31,7% dos

participantes referiram o espaço da expressão plástica como uma área onde são

disponibilizados materiais da leitura e de escrita. Na verdade, neste espaço, é

habitual estarem disponíveis para as crianças folhas de papel e de outros tipos, lápis

de carvão, lápis de cor, marcadores, ceras, carimbos, escantilhões, revistas, jornais,

tesouras, colas, entre outros. Os instrumentos referidos são altamente potenciadores

da interação da criança com o impresso. Outros espaços referidos pelos

participantes foram o espaço dos jogos (19,5%), o espaço da lojinha/espaço da

casinha (7,3%), o quadro (7,3%), áreas, onde através da atividade lúdico, o

educador pode desenvolver diferentes competências de literacia emergente,

aproveitando as potencialidades específicas de cada espaço.

Em termos de utilização da biblioteca, 82,4% dos participantes referiram que as

crianças com DT usam este espaço, de forma autónoma, todos os dias, 43,8%

indicaram que tem que ser o educador a sugerir às crianças a sua utilização numa

base diária e 34,8% dos participantes revelaram que, pelo menos uma vez por

semana, propõem neste espaço uma atividade específica (ver Quadro 12).

Quadro 12. Frequência de utilização da biblioteca da sala por crianças com desenvolvimento típico

Todos os dias

Pelo menos 3 vezes por semana

Pelo menos 1 uma vez

por semana

2 a 3 vezes por mês

Nunca

n % n % n % n % n %

Escolhida livremente pela criança (N = 51)

42 82,4 6 11,8 2 3,9 1 2 0 0

Sugerida pelo educador (N = 48)

21 43,8 14 29,2 9 18,8 3 6,3 1 2,1

O educador propõe uma atividade específica (N = 46)

8 17,4 13 28,3 16 34,8 8 17,4 1 2,2

Page 73: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

67

Tal como registado no Quadro 13, 62,5% dos participantes referiram que as

crianças com INC escolhem livremente a biblioteca diariamente e dois participantes

indicaram que estas crianças nunca escolhem este espaço. Trinta e sete por cento

dos participantes referiram que diariamente sugerem a estas crianças a utilização

desta área e, tal como acontece no caso das crianças com DT, 34,1% dos

participantes admitem que, pelo menos uma vez por semana, dinamizam neste

espaço uma atividade específica.

Em termos globais, e apesar das contingências relatadas no ponto anterior, no

que se refere à existência de crianças com INC que não acedem autonomamente

aos livros da biblioteca da sala e que não conseguem fazer leitura partilhada com

pelo menos um colega, verificamos que a maioria dos educadores revela que as

crianças com DT e com INC utilizam a biblioteca da sala livremente, possibilitando

desta forma à maioria das crianças o acesso a materiais de leitura.

Quadro 13. Frequência de utilização da biblioteca da sala por crianças com incapacidade ou risco grave de atraso de desenvolvimento

Apesar de verificarmos que apenas dois participantes indicaram que as

crianças com INC das suas salas nunca escolhem livremente a área da biblioteca,

nem o educador propõe uma atividade específica neste espaço, importa recordar

que sendo o jardim-de-infância um espaço inclusivo onde se deve adequar o

contexto educativo às características e necessidades de cada criança (ME, 1997),

Todos os dias

Pelo menos 3 vezes por semana

Pelo menos 1 uma vez

por semana

2 a 3 vezes por mês

Nunca

n % n % n % n % n %

Escolhida livremente pela criança (N = 48)

30 62,5 9 18,8 4 8,3 3 6,3 2 4,2

Sugerida pelo educador (N = 47)

17 37 14 30,4 10 21,7 2 4,3 3 6,5

O educador propõe uma atividade específica (N = 44)

8 18,2 12 27,3 15 34,1 7 15,9 2 4,5

Page 74: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

68

espera-se que a organização do ambiente educativo privilegie as particularidades de

cada criança no sentido de possibilitar a exploração autónoma e livre de todas as

crianças.

É, assim, fundamental que todas as crianças tenham a possibilidade de

interagir com o material escrito, no sentido de compreenderem a sua funcionalidade

e utilidade (Sim-Sim, 2009), sendo por isso desejável que não seja vedado às

crianças com incapacidades o acesso a material impresso. O possível desinteresse

manifestado por algumas crianças face a este tipo de material deverá ser contrariado

pelos educadores através de práticas e de estratégias motivadoras e adaptadas aos

interesses, capacidades e limitações de cada criança, tal como parece acontecer

tendo em conta os resultados descritos nos Quadros 12 e 13.

Atendendo às potencialidades do computador no desenvolvimento de

competências de literacia emergente, procuramos perceber se este é uma

ferramenta presente nas salas de jardim-de-infância e de que forma é usado pelas

crianças. Vinte e cinco participantes revelaram que têm na sua sala de atividades um

computador.

Quadro 14. Frequência de utilização do computador da sala por crianças com desenvolvimento típico

Todos os

dias

Pelo menos 3 vezes por semana

Pelo

menos 1 uma vez

por semana

2 a 3 vezes

por mês

Nunca

n % n % n % N % n %

Escolhida livremente pela criança (N = 24)

9 37,5 7 29,2 5 20,8 1 4,2 2 8,3

Sugerida pelo educador (N = 23) 3 13 9 39,1 9 39,1 1 4,3 1 4,3

O educador propõe uma atividade específica (N = 24)

4 16,7 2 8,3 12 50 5 20,8 1 4,2

Em termos de utilização do computador, metade dos participantes referiu que

as crianças com DT e com INC usam esta área livremente pelo menos uma ou três

vezes por semana. Aproximadamente 38% dos participantes referiram que as

crianças com DT usam livremente o computador todos os dias.

Page 75: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

69

Quadro 15. Frequência de utilização do computador da sala por crianças com incapacidades ou risco

grave de atraso de desenvolvimento

Todos os dias

Pelo menos 3 vezes por semana

Pelo menos 1 uma vez

por semana

2 a 3 vezes por mês

Nunca

n % n % n % n % n %

Escolhida livremente pela criança (N = 22)

6 27,3 5 22,7 6 27,3 2 9,1 3 13,6

Sugerida pelo educador (N = 23)

2 8,7 7 30,4 11 47,8 2 8,7 1 4,3

O educador propõe uma atividade específica (N = 24)

4 7,5 1 4,2 12 50 6 25 1 4,2

No caso das crianças com INC, encontramos uma maior variabilidade das

respostas face à frequência de utilização livre do computador.

A maioria dos participantes (78,2%) indicou que pelo menos uma a três vezes

por semana sugerem a utilização desta ferramenta às crianças com DT e 88,2% faz

a mesma sugestão às crianças com INC.

Pelo menos uma vez por semana, metade dos educadores de infância de

crianças referiu propor uma atividade específica com o computador às crianças com

DT e com INC (ver Quadros 14 e 15).

Estes resultados permitem concluir que embora esta ferramenta ainda não

esteja disponível em todas as salas de jardim-de-infância, nas salas em que está

presente, é dinamizada como um outro espaço pedagógico da sala de atividades.

Para o sucesso da aquisição de competências de literacia emergente é

fundamental a organização de um ambiente educativo onde o impresso tenha um

valor preponderante (Fernandes, 2004), para que as crianças beneficiem de

oportunidades para interagir com esse material, “organizando-o e analisando os seus

significados” (Viana, 2002, p. 28). Neste sentido, além das questões previamente

analisadas, os participantes foram questionados sobre a existência de locais

específicos para a afixação de registos das crianças e do abecedário na sala de

atividades, assim como sobre a etiquetagem dos materiais da sala e a existência de

Quadros de presenças e de tarefas.

Page 76: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

70

A maioria dos participantes (98,1%) referiu que na sua sala de atividades

existem locais próprios para afixar os registos escritos das crianças e 90,2% dos

participantes referiu que estes estão ao nível dos olhos das crianças.

Quadro 16. Exposição do material impresso na sala de atividades (N = 52)

Sim Não

n % n %

Locais próprios para afixar registos escritos das crianças 51 98,1 1 1,9

Abecedário na sala 21 40,4 31 59,6

No que concerne à presença do alfabeto na sala, mais de metade dos

participantes (59,6%) revelou que não tem o abecedário afixado na sala. Dos

participantes que indicaram ter o alfabeto afixado, 84,2% afirmaram que disponibiliza

este material ao nível dos olhos das crianças. Também Gamelas (2010) no estudo

que realizou em 60 salas de jardim-de-infância inclusivos percebeu que a presença

do alfabeto na sala ao nível dos olhos das crianças era um dos itens pouco

valorizado pelos educadores.

Relativamente à etiquetagem dos materiais da sala, 73,1% dos educadores de

infância referiram que os materiais estão etiquetados, sendo que a maioria (83,8%)

combina palavra e imagem para identificar os materiais da sala (ver Quadro 17).

Fernandes (2005b) refere que o contacto frequente com materiais impressos que

agregam textos e imagens instigam a criança a descobrir que o que se lê é o texto,

possibilitando à criança o entendimento de que a leitura se realiza pelas palavras.

Quadro 17. Tipo de etiquetagem dos materiais da sala (N = 37)

n %

Apenas imagens 4 10,8

Apenas palavras 2 5,4

Palavras e imagens 31 83,8

Page 77: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

71

No que diz respeito à existência de quadros de presenças e/ou de tarefas,

94,2% dos participantes mencionaram a sua utilização e mais de metade da amostra

referiu que combina nos mesmos nome e imagem (ver Quadro 18). A presença dos

quadros de presença e/ou de tarefas possibilita a interação mediada pelo educador

com materias escritos, possibilitando à criança a compreensão da funcionalidade da

escrita. Por outro lado, quando a escrita é contextualizada pela imagem é mais

facilmente apreendida (Martins & Mendes, 1986).

Quadro 18. Forma de representação do nome da criança no quadro de presenças e/ou tarefas (N = 49)

n %

Apenas imagens 3 6,1

Apenas o nome 13 26,5

Nome e imagem 32 65,3

Outras. Quais? Fotografia 1 2

Verificamos que a maioria das salas dos participantes está de acordo com o

que defende Mata (2008) relativamente à sala de atividades como um espaço que

deve fomentar a exploração, a reflexão e a interpretação sobre o impresso,

possibilitando que as crianças iniciem tentativas precoces de leitura e de

interpretação da escrita. Os mapas de presenças, os mapas de aniversários, os

quadros de planificação e de seleção de atividades a desenvolver, as tabelas dos

responsáveis, entre outros, são bons exemplos de instrumentos que permitem a

interação com o texto escrito, de forma integrada e funcional, na medida em que

fazem parte do contexto diário da criança.

Em geral, podemos dizer que a maioria das salas dos participantes deste

estudo encontra-se organizada de forma a proporcionar a todas as crianças, quer

com DT quer as com INC, o contacto frequente com o material escrito.

Page 78: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

72

2.2. Práticas gerais de literacia emergente

Para perceber a regularidade das práticas de literacia emergente desenvolvidas

em salas de jardim-de-infância inclusivas, foi solicitado aos participantes que

indicassem qual a frequência com que promoviam um conjunto de atividades que se

enquadram nas componentes de literacia emergente, identificadas na literatura:

linguagem oral; consciência fonológica; conhecimento do impresso, conhecimento

das letras e motivação para a leitura.

Quadro 19. Práticas gerais de literacia emergente desenvolvidas com crianças com desenvolvimento típico

Todos os dias

Pelo menos 3 vezes por

semana

Pelo menos 1 uma vez

por semana

2 a 3 vezes por

mês Nunca

n % n % n % n % n %

1.Ensina e explora canções (N = 53)

26 49,1 16 30,2 10 18,9 1 1,9 0 0

2.Cria oportunidades para as crianças escreverem os seus nomes e/ou outras palavras (N = 52)

37 71,2 8 15,4 4 7,7 1 1,9 2 3,8

3.Incentiva as crianças a procurarem e a recortarem de jornais e revistas letras do seu nome e nomes/palavras familiares (N = 52)

8

15,4 13 25 11 21,2 17 32,7 3 5,8

4.Ensina e explora poemas (N = 53)

6 11,3 14 26,4 16 30,2 17 32,1 0 0

5.Incentiva as crianças a inventar histórias sozinhas, em pequenos grupos e/ou em grande grupo (N = 53)

11 20,8 11 20,8 15 28,3 15 28,3 1 1,9

6.Ensina e explora trava-línguas (N = 53)

9 17 15 28,3 14 26,4 14 26,4 1 1,9

7.Lê histórias (N = 52) 28 53,8 16 30,8 5 9,6 3 5,8 0 0

8.Explora jogos rítmicos de segmentação de sílabas dos nomes próprios das crianças e outras palavras familiares (N = 52)

12 23,1 13 25 17 32,7 8 15,4 2 3,8

Page 79: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

73

Em termos globais, as práticas de literacia emergente desenvolvidas

diariamente com as crianças, por aproximadamente metade dos participantes são: a

promoção de conversas entre as crianças sobre vivências e assuntos de interesse

do grupo (crianças com DT = 79,2%; crianças com INC = 75%); a criação de

oportunidades para as crianças escreverem os seus nomes e/ou palavras familiares

(crianças com DT = 71,2%; crianças com INC = 55,8%); a leitura de histórias

(crianças com DT e crianças com INC = 53,8%) e a exploração de canções (crianças

com DT e crianças com INC = 49,1%).

Por sua vez, experiências de literacia emergente como escrever histórias

ditadas ou inventadas pelas crianças (crianças com DT = 56,%; crianças com INC =

9.Ensina e explora rimas infantis (N = 52)

11 21,2 14 26,9 17 32,7 10 19,2 0 0

10.Permite que as crianças utilizem espontaneamente escantilhões, carimbos e/ou esponjas de letras (N = 53)

9 17 9 17 7 13,2 15 28,3 13 24,5

11.Lê em voz alta histórias ditadas e/ou inventadas pelas crianças (N = 52)

12

23,1 14 26,9 9 17,3 13 25,0 4 7,7

12. Ensina e explora lengalengas (N = 53)

11 20,8 10 18,9 19 35,8 13 24,5 0 0

13. Quando as crianças escrevem (escrita inventada) pede-lhes para lerem e regista de forma convencional, a escrita da criança (N = 53)

17 32,1 12 22,6 6 11,3 11 20,8 7 13,2

14.Escreve histórias ditadas e/ou inventadas pelas crianças (N = 50)

9 18 9 18 9 18 19 38 4 8

15. Ensina e explora o abecedário (N = 52)

9 17,3 8 15,4 8 15,4 14 26,9 13 25

16. Regista por escrito com as crianças e coloca em espaço acessível às crianças canções, lengalengas e rimas (N = 52)

20 38,5 10 19,2 11 21,2 11 21,2 0 0

17. Promove conversas entre as crianças sobre vivências e assuntos de interesse do grupo (N = 53)

42 79,2 8 15,1 1 1,9 2 3,8 0 0

Page 80: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

74

46%), realizar recorte em jornais e revistas de letras dos nomes e outras palavras

familiares (crianças com DT = 53,9%; crianças com INC = 52%), exploração de

trava-línguas (crianças com DT = 52,8%; crianças com INC = 51%) e a exploração

de rimas infantis (crianças com DT = 42,9%; crianças com INC = 55,8%) foram

relatadas como sendo desenvolvidas com menor frequência (entre uma vez por

semana a duas ou três vezes por mês) por aproximadamente metade da amostra, no

que se refere às crianças com DT e às crianças com INC.

Quadro 20. Práticas gerais de literacia emergente desenvolvidas com crianças com incapacidade ou em risco grave de atraso de desenvolvimento

Todos os dias

Pelo menos 3 vezes por

semana

Pelo menos 1 uma vez

por semana

2 a 3 vezes por

mês Nunca

n % n % n % N % n %

1. Ensina e explora canções (N = 53)

26 49,1 14 26,4 11 20,8 2 3,8 0 0

2.Cria oportunidades para as crianças escreverem os seus nomes e/ou outras palavras (N = 52)

29 55,8 9 17,3 6 11,5 3 5,8 5 9,6

3. Incentiva as crianças a procurarem e a recortarem de jornais e revistas letras do seu nome e nomes/palavras familiares (N = 52)

8 15,4 12 23,1 11 21,2 16 30,8 5 9,6

4. Ensina e explora poemas (N = 52)

6 11,5 14 26,9 15 28,8 16 30,8 1 1,9

5. Incentiva as crianças a inventar histórias sozinhas, em pequenos grupos e/ou em grande grupo (N = 53)

11 20,8 10 18,9 12 22,6 16 30,2 4 7,5

6. Ensina e explora trava-línguas (N = 53)

9 17 14 26,4 11 20,8 16 30,2 3 5,7

7. Lê histórias (N = 52) 28 53,8 15 28,8 4 7,7 4 7,7 1 1,9

Page 81: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

75

Menos de metade da amostra indicou que nunca explora o abecedário

(crianças com DT = 25,5%; crianças com INC = 26,9%), nem permite o uso

espontâneo de escantilhões, carimbos e /ou esponjas de letras (crianças com DT =

24,5%; crianças com INC = 28,3%).

8. Explora jogos rítmicos de segmentação de sílabas dos nomes próprios das crianças e outras palavras familiares (N = 52)

13 25 10 19,2 16 30,8 10 19,2 3 5,8

9. Ensina e explora rimas infantis (N = 52)

10 19,2 12 23,1 16 30,8 13 25 1 1,9

10. Permite que as crianças utilizem espontaneamente escantilhões, carimbos e/ou esponjas de letras (N = 53)

9 17 7 13,2 9 17 13 24,5 15 28,3

11. Lê em voz alta histórias ditadas e/ou inventadas pelas crianças (N = 52)

15 28,8 13 25 9 17,3 10 19,2 5 9,6

12. Ensina e explora lengalengas (N = 53)

11 20,8 9 17 17 32,1 14 26,4 2 3,8

13. Quando as crianças escrevem (escrita inventada) pede-lhes para lerem e regista de forma convencional, a escrita da criança (N = 52)

16 30,8 10 19,2 5 9,6 12 23,1 9 17,3

14. Escreve histórias ditadas e/ou inventadas pelas crianças (N = 50)

10 20 9 18 6 12 17 34 8 16

15. Ensina e explora o abecedário (N = 52)

8 15,4 8 15,4 10 19,2 12 23,1 14 26,9

16. Regista por escrito com as crianças e coloca em espaço acessível às crianças canções, lengalengas e rimas (N = 52)

19 36,5 8

15,4 10 19,2 13 25 2 3,8

17. Promove conversas entre as crianças sobre vivências e assuntos de interesse do grupo (N = 52)

39

75 7 13,5 1 1,9 3 5,8 2 3,8

Page 82: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

76

Importa ainda salientar que três participantes deste estudo referiram que leem

histórias apenas duas a três vezes por mês, no caso das crianças com DT, e quatro

participantes no caso das crianças com INC. Um participante refere que nunca lê

histórias no caso das crianças com INC. Apesar de ser uma percentagem reduzida,

estes resultados indicam que ainda existem educadores que não entendem a

importância da leitura de histórias. Tal como Mata (2008) defende, a leitura de

histórias é uma atividade muito rica e completa, para a promoção e desenvolvimento

da linguagem, na aquisição de vocabulário, no desenvolvimento de mecanismos

cognitivos de seleção de informação e acesso à compreensão, no desenvolvimento

de conceções sobre a linguagem escrita e no desenvolvimento da motivação para a

leitura.

Partindo do pressuposto, que aquilo que o educador faz regularmente é o que

tem mais impacto na aprendizagem da criança, podemos considerar que a

componente mais privilegiada pelos participantes parece ser a linguagem oral

(práticas 1, 5, 11, 17), seguida da componente conhecimento do impresso (práticas

2, 3, 13, 16) e da componente motivação para a leitura (práticas 7, 11, 14). De

acordo com os resultados obtidos, os educadores participantes neste estudo

parecem dar menos relevo às atividades de consciência fonológica (atividades 4, 6,

8, 9, 12) e às experiências relacionadas com o conhecimento das letras (práticas 3,

10, 15). Uma investigação realizada por Hawken, Johnston e Mcdonnell (2005) junto

de 273 educadores de infância indicou que a maioria dos educadores promovia mais

atividades sobre leitura de livros e conhecimento do impresso em detrimento de

atividades de consciência fonológica, apesar dos estudos existentes apontarem a

consciência fonológica como um bom indicador no sucesso da leitura e da escrita.

Por sua vez, o estudo de Fernandes (2005b) desenvolvido junto de 340

educadores de infância, revelou que os educadores privilegiam atividades de

conhecimento da linguagem e que as tarefas de nomeação de letras, escrita e

manipulação de sons e palavras não parecem ser fundamentais para a maioria dos

educadores de infância, apesar de serem descritas, pela literatura, como atividades

fundamentais para o desenvolvimento da literacia. Segundo o autor deste estudo,

estas práticas evidenciavam um desconhecimento por parte dos educadores de

Page 83: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

77

infância da evidência científica obtida nos últimos anos relativamente à literacia

emergente.

No que refere ao presente estudo, com vista a verificar a significância das

diferenças entre os dois grupos de crianças a nível da regularidade das práticas

gerais de literacia, calcularam-se duas variáveis compósitas para cada grupo. Para

tal, para cada grupo de crianças, as respostas obtidas nos itens referentes a cada

tipo de prática foram somadas e o total dividido pelo número de itens, tendo sido

assim obtido um valor médio global (quanto mais elevado o valor, maior a frequência

das práticas). Os dados obtidos revelaram valores de consistência interna

adequados (cf. Quadro 21).

Quadro 21. Estatísticas descritivas obtidas para as variáveis compósitas práticas gerais de literacia

emergente DT e INC

M (DP) Min. – Max.

Práticas gerais de literacia emergente – DT (α = ,91) 3,53 (0,73) 2,12 – 5,00

Práticas gerais de literacia emergente – INC (α = ,92) 3,41 (0,81) 1,12 – 5,00

O cálculo do teste de Wilcoxon para amostras emparelhadas revelou a

existência de diferenças estatisticamente significativas e de magnitude moderada

entre a frequência das práticas realizadas com crianças com DT e com INC (Z = -

2,41, p = ,016, r = -,33). Tal como é possível verificar no Quadro 21, em termos

médios, as crianças com desenvolvimento típico são envolvidas com maior

regularidade em experiências relacionadas com a literacia emergente do que as

crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento.

Estas diferenças podem estar associadas a inúmeros fatores, entre os quais, o

tipo de incapacidade das crianças, o número de crianças na sala de atividades,

assim como a possibilidade dos educadores de infância poderem ter menos

expetativas face às capacidades de realização das crianças com INC, o que pode

levá-los a envolver menos estas crianças neste tipo de experiências. Por outro lado,

as crianças com INC poderão demonstrar menor interesse neste nas atividades

propostas pelos educadores de infância, o que poderá originar desalento nos

Page 84: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

78

profissionais e desencorajá-los na promoção de atividades de literacia para estas

crianças (Breit-Smith et al., 2010).

Por outro lado, os educadores de infância poderão temer estar a promover o

desenvolvimento de competências e conhecimentos desajustados ao

desenvolvimento e às capacidades da criança co incapacidade ou em risco de traso

grave de desenvolvimento, bem como poderão preferir priorizar competências

relacionadas com a funcionalidade e participação da criança em detrimento de

fomentar o desenvolvimento de competências de literacia.

Estudos de Ure e Raban (2001), Fernandes (2004) e Silva (2008) referem que

a formação inicial dos educadores de infância é insuficiente no domínio da literacia.

Com base nesta evidência parece-nos que esta deficiente formação, aliada à falta de

apoio regular de outros profissionais da área (educador de intervenção

precoce/educação especial), poderá intricar a prática educativa do educador de

infância no sentido destes profissionais desenvolverem estratégias de diferenciação

de ensino-aprendizagem adequadas às necessidades e potencialidades de todas as

crianças, incluídas as com incapacidades.

Os resultados obtidos no presente estudo não são consistentes com os

resultados obtidos no estudo desenvolvido por Rohde (2011). No seu estudo, Rhode

(2011) verificou a ausência de diferenças estatisticamente relevantes entre a

frequência das práticas realizadas com crianças com DT ou com INC.

Em suma, apesar das diferenças encontradas a nível da regularidade das

práticas de literacia emergente realizadas junto de crianças com desenvolvimento

típico e de crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de

desenvolvimento, em geral, os resultados obtidos a este nível parecem ir ao

encontro das conceções sobre literacia emergente dos participantes, nomeadamente

ao nível das competências que consideram mais importante (linguagem oral) e

menos importante (identificação das letras do alfabeto) serem promovidas em

contexto de jardim-de-infância. Estes resultados não vão ao encontro dos resultados

obtidos em outros estudos desenvolvidos a nível nacional, como por exemplo,

Fernandes (2005), Silva (2008) e Gamelas (2010), os quais encontraram

inconsistências entre as ideias e as práticas relatadas pelos educadores de infância.

Page 85: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

79

2.3. Práticas relacionadas com a leitura de histórias

No que se refere às práticas relacionadas com a leitura de histórias em

particular, verificamos que mais de metade dos participantes do estudo referiu que,

diariamente, explica o significado das palavras não familiares (crianças com DT =

78,8%; crianças com INC = 74%), faz perguntas às crianças sobre a história que leu

(crianças com DT = 71,%; crianças com INC = 73,1%), envolve as crianças em

conversas relacionadas com a história (crianças com DT = 64,2%; crianças com INC

= 64,7%) e explica o sentido direcional da leitura (crianças com DT = 52,9%; crianças

com INC = 51%).

Quadro 22. Práticas relacionadas com a leitura de histórias desenvolvidas com crianças desenvolvimento típico

Todos os dias

Pelo menos 3 vezes por

semana

Pelo menos 1 uma vez

por semana

2 a 3 vezes por

mês Nunca

n % n % n % n % n %

1.Quando está a ler uma história aponta para as letras impressas durante a leitura (N = 52)

18 34,6 13 25 6 11,5 5 9,6 10 19,2

2.Explica o sentido direcional da leitura (N = 51)

27 52,9 9 17,6 5 9,8 7 13,7 3 5,9

3.Faz perguntas sobre a história que leu (N = 53)

38 71,7 9 17 5 9,4 1 1,9 0 0

4.Utiliza outro material, para além do livro, como apoio à leitura de histórias (N = 53)

20 37,7 14 26,4 7 13,2 10 18,9 2 3,8

5.Relê a história noutros momentos, de modo a proporcionar às crianças oportunidades de se familiarizarem com elas (N = 53)

15 28,3 12 22,6 19 35,8 6 11,3 1 1,9

Page 86: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

80

Práticas como reler as histórias noutros momentos, de modo a proporcionar às

crianças oportunidades de se familiarizarem com elas ocorrem todos os dias ou pelo

menos três vezes por semana de acordo com aproximadamente metade dos

participantes (crianças com DT = 50,8%; crianças com INC = 60,8%), bem como a

prática de reler as histórias em pequenos grupos e/ou individualmente (crianças com

DT = 50%; crianças com INC = 53,9%).

Menos de metade dos participantes indicou que diariamente desenvolve

práticas como apontar as letras impressas quando está a ler uma história (crianças

com DT = 34,6%; crianças com INC = 45, 1%). Dez participantes referiram que

nunca desenvolvem essa prática, quer se trate de crianças com DT ou com INC.

6. Relê as histórias em pequenos grupos e/ou individualmente (N = 52)

11 21,2 15 28,8 16 30,8 6 11,5 4 7,7

7.Explica o significado das palavras não familiares (N = 52)

41 78,8 5 9,6 4 7,7 2 3,8 0 0

8. Pede às crianças para efetuarem o registo gráfico (desenho) da história e depois pede à criança para explicar o que desenhou (N = 53)

20 37,7 15 28,3 15 28,3 2 3,8 1 1,9

9. Envolve as crianças em conversas relacionadas com as histórias (N = 53)

34 64,2 12 22,6 6 11,3 0 0 1 1,9

Page 87: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

81

Quadro 23. Práticas relacionadas com a leitura de histórias desenvolvidas com crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento

Com o intuito de verificar a significância das diferenças entre os dois grupos

de crianças a nível da regularidade das práticas relacionadas com a leitura de

Todos os

dias

Pelo menos 3 vezes por semana

Pelo menos 1 uma vez

por semana

2 a 3 vezes

por mês

Nunca

n % n % n % n % n %

1.Quando está a ler uma história aponta para as letras impressas durante a leitura (N

= 51)

23 45,1 8 15,7 4 7,8 6 11,8 10 19,6

2.Explica o sentido direcional da leitura (N =49)

25 51 10 20,4 4 8,2 5 10,2 5 10,2

3.Faz perguntas sobre a história que leu (N = 52)

38 73,1 6 11,5 5 9,6 0 0 3 5,8

4.Utiliza outro material, para além do livro, como apoio à leitura de histórias (N = 51)

20 39,2 12 23,5 5 9,8 9 17,6 5 9,8

5.Relê a história noutros momentos, de modo a proporcionar às crianças oportunidades de se familiarizarem com elas (N = 51)

17 33,3 14 27,5 10 19,6 7 13,7 3 5,7

6.Relê as histórias em pequenos grupos e/ou individualmente (N = 51)

12 23,5 15 29,4 10 19,6 10 19,6 4 7,8

7.Explica o significado das palavras não familiares (N = 50)

37 74 6 12 3 6 2 4 2 4

8.Pede às crianças para efetuarem o registo gráfico (desenho) da história e depois pede à criança para explicar o que desenhou (N = 51)

16 31,4 15 29,4 15 19,4 2 3,9 3 5,9

9.Envolve as crianças em conversas relacionadas com histórias (N = 51)

33 64,7 10 19,6 5 9,8 0 0 3 5,7

Page 88: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

82

histórias, foram calculadas duas variáveis compósitas para cada grupo. À

semelhança das variáveis compósitas relativas às práticas gerais de literacia

emergente, as respostas obtidas nos itens referentes a cada tipo de prática

relacionada com a leitura de histórias foram somadas e o total dividido pelo número

de itens, tendo sido assim obtido um valor médio global (quanto mais elevado o

valor, maior a frequência das práticas). Os dados obtidos revelaram valores de

consistência interna adequados (cf. Quadro 24).

Quadro 24. Estatísticas descritivas obtidas para as variáveis compósitas práticas relacionadas com a

leitura de histórias DT e INC

M (DP) Min. – Max.

Práticas relacionadas com a leitura de histórias – DT (α = ,82) 4,00 (0,70) 2,22 – 5,00

Práticas relacionadas com a leitura de histórias – INC (α = ,87) 3,94 (0,90) 1,33 – 5,00

De acordo com os resultados obtidos através do cálculo do teste de Wilcoxon

para amostras emparelhadas, verificou-se a ausência de diferenças estatisticamente

significativas (Z = -0.23, p = .822) a nível da regularidade de práticas relacionadas

com a leitura de histórias desenvolvidas com as crianças com desenvolvimento

típico e com as crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de

desenvolvimento.

Num estudo desenvolvido com 45 educadores de infância a exercer a sua

atividade profissional em contextos inclusivos, Rohde (2011) verificou que os

participantes referiram que as crianças com incapacidades tinham o mesmo acesso

a experiências de leitura de histórias, de escrita, de atividades de consciência

fonológica, de linguagem e de conhecimento do impresso, que as crianças com o

desenvolvimento típico. De acordo com a investigadora, estes resultados poderiam

estar relacionados com as ideias dos educadores de infância acerca das

competências de literacia que devem ser desenvolvidas nas crianças, incluindo as

crianças com incapacidades, assim como com o fato das crianças com

incapacidades estarem incluídas em salas com crianças com desenvolviemento

típico, beneficiando, por consequência, das mesmas atividades e estratégias.

Page 89: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

83

Cadima (1996) e Sanches (2005) salientam a necessidade de se adotarem

metodologias diferenciadas e adaptadas à funcionalidade, potencialidades e

necessidades de cada criança, garantindo a sua plena inclusão no grupo.

No que se refere ao presente estudo, importa salientar que apenas um

participante refere nunca proporcionar à criança com INC ou em risco grave de

desenvolvimento o contacto com a leitura de histórias. Segundo Mata (2008), a

relação que a criança estabelece com a leitura, não só é diferente de criança para

criança, mas também depende de diversos aspetos, nomeadamente as solicitações

e as oportunidades que lhe são proporcionadas, bem como as atitudes positivas ou

menos positivas que se desenvolvem a partir destas vivências. Com isto, pretende-

se reafirmar que a leitura de histórias é um veículo privilegiado na relação

adulto/criança/impresso e criança/criança/impresso que deve ser promovida através

da utilização de múltiplas estratégias lúdicas na medida em que “ouvir ler uma boa

história, partilhar um bom livro, falar acerca dele, explorar o texto impresso, as

convenções usadas na escrita, o conceito de palavra, a articulação com as

experiências de vida constituem atividades enriquecedoras” (Azevedo, 2010, p. 6) e

fundamentais no desenvolvimento de competências leitoras.

2.4. Estratégias de promoção do envolvimento da família no desenvolvimento

da literacia dos filhos

No que diz respeito às estratégias de promoção do envolvimento da família no

desenvolvimento da literacia dos filhos a maioria dos participantes revelou que

promove um conjunto de estratégias no sentido de envolver os pais, quer das

crianças com DT quer das crianças com INC, nomeadamente ao nível do incentivo

da leitura regular com a criança (crianças com DT = 97,9%; crianças com INC =

93,5%), da sensibilização dos pais para a importância da criança participar nas

rotinas de literacia familiar, no que se refere à leitura de listas de compras,

correspondência, receitas de culinária, jornais, revistas, panfletos publicitários

(crianças com DT = 89,1%; crianças com INC = 89,4%) e a escrever listas de

compras, emails, mensagens de telemóvel, postais (crianças com DT = 86,9%;

Page 90: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

84

crianças com INC = 84,8%), do encorajamento para emprestar livros de casa à

escola (crianças com DT = 83,7; crianças com INC = 81,3%), na possibilidade das

crianças levarem registos de histórias para casa (crianças com DT = 87,8%; crianças

com INC = 85,4%) e da participação dos pais em atividades de leitura e de

dramatização de histórias na escola (crianças com DT = 85,7%; crianças com INC =

83,3%).

Quadro 25. Estratégias de promoção do envolvimento parental no desenvolvimento da literacia de crianças com desenvolvimento típico

A estratégia de promoção de ações de formação/sensibilização para pais sobre

o desenvolvimento da linguagem oral e abordagem à escrita foi relatada por menos

de metade dos participantes relativamente às crianças com DT e às crianças com

Sim Não

n % n %

1.Encorajo os pais, ou outros adultos significativos, a lerem regularmente, para a criança em voz alta (N = 48)

47 97,9 1 2,1

2.Encorajo os pais, ou outros adultos significativos, a emprestarem livros de casa à escola (N = 49)

41 83,7 8 16,3

3.Empresto livros da escola às crianças para lerem com os pais ou outros adultos significativos (N = 49)

30 61,2 19 18,8

4.Permito que as crianças levem registos de atividades e histórias para casa para poderem partilhar com os pais ou com outros adultos significativos (N = 49)

43 87,8 6 12,2

5.Convido os pais, ou outros adultos significativos, a participarem em atividades de leitura de histórias, dramatização de teatros, etc., no jardim-de-infância (N = 49)

42 85,7 7 14,3

6.Sensibilizo os pais para a importância da participação da criança nas rotinas da família: ler a lista de compras; ler a correspondência; ler uma receita de culinária; ler um jornal, revista, panfleto publicitário, etc. (N = 46)

41 89,1 5 10,6

7.Envio para casa informação relativa às atividades de literacia desenvolvidas na sala de atividades, com o intuito de elucidar os pais como podem apoiar, em casa em atividades de literacia (N = 46)

30 65,2 16 30,2

8.Sensibilizo os pais para a importância da participação da criança nas rotinas da família: ajudar a escrever a lista de compras, escrever emails, escrever sms, postais, etc. (N = 45)

39 86,7 6 13,3

9.Promovo ações de formação/sensibilização para pais sobre desenvolvimento da linguagem oral e abordagem à escrita, etc. (N = 47)

16 34 31 66

Page 91: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

85

INC, sendo esta a estratégia mais deficitária ao nível da articulação jardim-de-

infância- família.

Quadro 26. Estratégias de promoção do envolvimento parental no desenvolvimento da literacia de crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento

No sentido de explorar as diferenças entre os grupos de crianças, calcularam-

se duas variáveis compósitas para este conjunto de itens relativos às estratégias

utilizadas pelos participantes para envolver a família no processo de

desenvolvimento da literacia dos filhos. Neste caso, o cálculo das variáveis

procedeu-se através da soma das respostas obtidas em cada um dos itens.

Atendendo às opções de resposta nestes itens (Não e Sim), um valor total mais

Sim Não

n % n %

1.Encorajo os pais, ou outros adultos significativos, a lerem regularmente, para a criança em voz alta (N = 48)

43 93,5 3

6,5

2.Encorajo os pais, ou outros adultos significativos, a emprestarem livros de casa à escola (N = 49)

39 81,3 9

18,8

3.Empresto livros da escola às crianças para lerem com os pais ou outros adultos significativos (N = 49)

31 66 16 34

4.Permito que as crianças levem registos de atividades e histórias para casa para poderem partilhar com os pais ou com outros adultos significativos N = 49)

41 85,4 7 14,6

5.Convido os pais ou outros adultos significativos a participarem em atividades de leitura de histórias, dramatização de teatros, etc., no jardim-de-infância (N = 49)

40 83,3 8 16,7

6.Sensibilizo os pais para a importância da participação da criança nas rotinas da família: ler a lista de compras; ler a correspondência; ler uma receita de culinária; ler um jornal, revista, panfleto publicitário, etc. (N = 46)

42 89,4 5 10,6

7.Envio para casa informação relativa às atividades de literacia desenvolvidas na sala de atividades, com o intuito de elucidar os pais como podem apoiar, em casa em atividades de literacia (N = 46)

31 66 16 34

8.Sensibilizo os pais para a importância da participação da criança nas rotinas da família: ajudar a escrever a lista de comprar, escrever emails, escrever sms, postais, etc. (N = 45)

39 84,8 7 15,2

9.Promovo ações de formação/sensibilização para pais sobre desenvolvimento da linguagem oral e abordagem à escrita, etc. (N = 47)

18 36,7 31 63,3

Page 92: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

86

elevado corresponde a um maior número de estratégias utilizadas pelos

participantes. Os dados obtidos nestas variáveis revelaram valores de consistência

interna aceitáveis (cf. Quadro 27).

Quadro 27. Estatísticas descritivas obtidas para as variáveis compósitas estratégias de envolvimento

parental no desenvolvimento da literacia DT e INC

M (DP) Min. – Max.

Estratégias de envolvimento parental no desenvolvimento da literacia – DT (α = ,70)

6,45 (2,05) 1,00 – 9,00

Estratégias de envolvimento parental no desenvolvimento da literacia – INC (α = ,71)

6,61 (2,13) 1,00 – 9,00

O cálculo do teste de Wilcoxon revelou a ausência de diferenças

estatisticamente significativas (Z = -1,20, p = .230) a nível do número de estratégias

de envolvimento parental no desenvolvimento da literacia dos filhos promovidas

pelos educadores de infância junto das famílias de crianças de desenvolvimento

típico e das famílias de crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de

desenvolvimento.

Tal como no estudo de Gamelas (2010), os resultados do presente estudo

indicaram que a estratégia de promoção do envolvimento das famílias no processo

de desenvolvimento de literacia das criança mais desenvolvida pelos educadores de

infância é o incentivo da leitura regular para a criança em voz alta e a menos

desenvolvida é a realização de ações de formação/sensibilização para os pais.

As OCEPE consideram a família e o jardim-de-infância como os principais

contextos sociais que contribuem para o desenvolvimento e aprendizagem da

criança, sendo por isso fundamental a existência de uma relação próxima entre os

dois contextos. Segundo Peixoto (2011, p. 95), é fundamental o “estabelecimento de

parcerias eficazes entre a família e a escola no sentido de promover o sucesso das

crianças no desempenho académico em geral” e em particular no domínio da

literacia. Tal como podemos constatar pelos resultados obtidos neste estudo, a

maioria dos educadores de infância fomenta um conjunto de estratégias de

promoção do envolvimento da família no domínio da literacia quer com as famílias

das crianças com DT, quer com as famílias das crianças com INC.

Page 93: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

87

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho de investigação aqui apresentado teve como objetivo conhecer as

ideias e as práticas de educadores de infância relacionadas com a literacia

emergente em contextos pré-escolares inclusivos.

As conclusões deste estudo devem ser enquadradas nas limitações do mesmo.

O presente estudo recorreu a uma amostra não probabilística e de dimensão

reduzida, o que impede qualquer generalização dos resultados à população em

análise. Outra limitação importante refere-se à técnica de recolha de dados usada.

No presente estudo recorreu-se a uma medida de auto-relato. Importa considerar o

possível efeito da desejabilidade social nas respostas fornecidas pelos profissionais

no sentido do que é teoricamente desejável. Além disso, a questão relativa às

práticas relacionadas com a leitura de histórias, a escala de resposta utilizada para

avaliar a frequência das práticas deveria ter sido diferente, como por exemplo,

sempre, frequentemente, às vezes, raramente e nunca, dado que as questões

referiam-se a estratégias relacionadas com uma atividade.

Importa ainda referir que não controlamos nas análises o efeito do tipo de

incapacidade das crianças que frequentavam as salas dos participantes do presente

estudo.

De modo a ultrapassar as limitações encontradas no presente estudo,

investigação futura deve preocupar-se em recorrer a amostras do tipo probabilístico

e incluir outro tipo de técnica de recolha de dados, nomeadamente de caráter

qualitativo, como a observação e a entrevista de forma a aprofundar o conhecimento

sobre as práticas educativas em contexto de jardim-de-infância inclusivos.

Pese embora as limitações identificadas, importa destacar os principais

resultados:

(1) A maioria dos participantes no estudo situa-se numa perspectiva holística

de abordagem à linguagem escrita e considerou ser essencial ou muito importante

as crianças possuírem à saída do jardim-de-infância competências ao nível da

linguagem expressiva e compreensiva, motivação para a leitura e para a escrita,

bem como competências de consciência fonológica e conhecimento do impresso.

Page 94: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

88

(2) Ao nível da organização do ambiente educativo verificamos que todas as

salas dos participantes possuem biblioteca com uma variedade razoável de livros,

metade das salas possuem computador, a maioria das salas dispõe de locais

próprios para afixar os registos das crianças e mais de metade não tem o alfabeto

afixado na sala. Mais de metade dos educadores revelou que tem os materiais

etiquetados, na sua maioria com palavras e imagens e a maioria indicou que utiliza

quadros de presenças e ou de tarefas.

(3) No que concerne às práticas gerais de literacia emergente, verificamos a

existência de diferenças estatisticamente significativas a nível da regularidade das

práticas desenvolvidas com crianças de desenvolvimento típico e com crianças com

incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento, sendo as crianças

com desenvolvimento típico aquelas que usufruem com maior regularidade de

experiências de contacto com a linguagem oral e impressa, promovidas pelos

educadores de infância.

(4) No que diz respeito às práticas relacionadas com a leitura de histórias,

verificamos a ausência de diferenças estatisticamente significativas entre a

regularidade das práticas desenvolvidas com crianças com desenvolvimento típico e

com crianças com incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento.

(5) Em termos de estratégias de promoção do envolvimento da família no

desenvolvimento da literacia dos filhos, a maioria dos participantes revelou que

promove um conjunto de estratégias junto das famílias, quer das crianças com

desenvolvimento típico quer das crianças com incapacidades ou em risco grave de

atraso de desenvolvimento, nomeadamente, incentivar a família para ler com a

criança de forma regular, sensibilizar a família para a importância da criança

participar nas rotinas de literacia familiar, bem como encorajar o empréstimo de livros

à escola.

Globalmente, podemos concluir que o estudo demonstrou que a maioria das

crianças de desenvolvimento típico e com incapacidades ou em risco grave de

atraso de desenvolvimento encontra-se a beneficiar de experiências de literacia

emergente no jardim-de-infância, embora existam diferenças estatisticamente

relevantes entre os grupos de crianças a nível da regularidade das práticas

Page 95: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

89

desenvolvidas. No entanto, não podemos aferir se esse contacto é suficiente para

proporcionar às crianças conhecimentos e competências de literacia emergente

essenciais para que se tornem no futuro bons leitores e escritores. Importa, assim,

que investigadores neste domínio apostem em estudos de natureza longitudinal em

contexto de jardim-de-infância, envolvendo crianças com desenvolvimento típico,

assim como com incapacidades ou em risco grave de atraso de desenvolvimento, de

forma a analisar a influência do contexto de jardim-de-infância no desenvolvimento

da literacia de todas as crianças.

Interessante, também, será perceber em investigações futuras qual o papel dos

educadores de intervenção precoce ou dos professores de educação especial no

domínio de desenvolvimento da literacia emergente.

Apesar das limitações já referidas, pensamos que este estudo pode contribuir

para a reflexão em torno das questões relacionadas com o desenvolvimento

profissional do educador de infância a nível da literacia emergente, nomeadamente,

na tomada de consciência da importância da promoção de experiências de literacia

emergente em idades precoces e, consequentemente, do seu papel ao nível da

organização de um ambiente educativo rico e estimulante e da planificação e

desenvolvimento de atividades lúdicas estruturadas e adaptadas que visem a

promoção de competências de leitura e de escrita em todas as crianças.

Além disso, gostaríamos de salientar que, embora a prática educativa dos

educadores de infância se encontrem sustentada em normativos legais e

orientadores suficientes, os educadores necessitam de investir na sua formação

contínua, nomeadamente no âmbito da literacia emergente, dada a transversalidade

dos conhecimentos que lhe são subjacentes e no sentido de poderem refletir,

compreender e estruturar uma prática educativa consciente, coerente e atualizada.

Page 96: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular
Page 97: Literacia emergente em contextos pré-escolares inclusivos. Ideias e práticas de educadores de infância do regular

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