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CENTRO UNIVERSITRIO METODISTA IZABELA HENDRIX FATE-BH

Gustavo Castro de Souza

O CULTO NA IGREJA EMERGENTE SEGUNDO DAN KIMBALL

Belo Horizonte 2010

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Gustavo Castro de Souza

O CULTO NA IGREJA EMERGENTE SEGUNDO DAN KIMBALL

Monografia apresentada como exigncia parcial para obteno do grau de Bacharel em Teologia, no Centro Universitrio Metodista Izabela Hendrix, sob a orientao do professor Dr. Floriano SantAnna.

Belo Horizonte 2010

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Agradeo a Deus por ter me capacitado para esta obra, ao meu orientador Dr. Floriano SantAnna por acompanhar e se empenhar comigo nesta pesquisa, ao Pr. Joo Parreira de Carvalho que me influenciou na escolha do tema a ser pesquisado. Agradeo aos amigos e companheiros da Fate-BH, estou levando um pouquinho de cada um de vocs comigo, em especial Aulo Pereira, Bruna, Rodrigo e Carlos Eduardo.

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Ao longo da ltima dcada, muitos descobriram os limites do intelecto. Um nmero cada vez maior de pessoas percebe que o que necessitam muito mais que sermes e oraes interessantes. Elas querem saber como podem realmente ter experincias com Deus. - Henri Nouwen Uma coisa falar sobre Deus. experiment-lo outra coisa bem diferente. - Leonard Sweet Postmodern Pilgrims [Peregrinos Ps-Modernos]

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RESUMO Esta pesquisa busca analisar o que a denominada Igreja Emergente descreve como culto cristo em sentido de adorao clssica; pois entende-se que a desorganizao no meio evanglico tem aberto portas a ideologias e filosofias que so uma contraposio palavra de Deus. Para tal feito utilizado o mtodo de anlise literria e anlise histrica. Assim, identifica o culto em seu sentido original etimolgico, e tambm sua origem no Antigo Testamento (A.T) e Novo Testamento (N.T) para compreender o culto em diversas pocas bblicas. Em seguida a presente situao do culto na Igreja Emergente que compreende que o culto cristo deve retornar suas origens de adorao clssica que envolve experincia pessoal com Deus, o que leva, ento, com que estas pessoas que tem esta experincia a viver uma vida de entrega em funo do servio ao prximo. A Igreja Emergente no um modelo para ser copiado, mas um pensamento motivacional a mudana de atitudes dos cristos em relao a sociedade. Palavras-chave: Igreja Emergente, culto, adorao, Dan Kimball.

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SUMRIO 1 INTRODUO ............................................................................................................... 07 2 O CULTO ORIGENS BBLICAS E HISTRICAS ................................................... 09 2.1 Suas origens no Antigo Testamento ......................................................................... 10 2.2 Suas origens no Novo Testamento ........................................................................... 13 2.3 Sua evoluo na Histria da Igreja ........................................................................... 16 3 CARACTERIZAO DA IGREJA EMERGENTE ....................................................... 21 3.1 Conceituao da Igreja Emergente ........................................................................ 22 3.1.1 Soluo ou Problema ....................................................................................... 23 3.2 Onde e como surgiu ................................................................................................... 25 3.2.1 A Igreja Emergente frente a ps-modernidade .................................................... 26 3.3 Sua teologia e compreenso de mundo ................................................................... 29 4 UMA ANLISE DO CULTO NA IGREJA EMERGENTE .......................................... 33 4.1 A influncia sociocultural no culto da igreja Emergente ......................................... 39 4.2 Anlise entre o culto da igreja emergente e o culto neopentecostal. .................... 42 4.2.1 A origem neopentecostal no pentecostalismo, o valor da experincia sobrenatural. . .................................................................................................................... 42 4.2.1.1 O surgimento da IURD e IIGD. ........................................................................... 43 4.2.2 O culto neopentecostal ........................................................................................... 44 5 CONSIDERAES FINAIS .......................................................................................... 46 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................ 47

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1 INTRODUO Este trabalho, O culto na Igreja Emergente segundo Dan Kimball, busca compreender o culto na Igreja Emergente, que denominada um movimento de inconformidade com a teologia e a prtica apresentada ao longo da histria. O grande problema para os emergentes a comodidade exposta pelos cristos da atualidade, principalmente nesta presente era onde o individualismo e o interesse prprio tomaram conta do discurso, pensamento e prtica dos cristos. Uma possibilidade para melhor compreender o que seria o ideal para o culto cristo fora feita uma anlise literria e tambm histrica para identificar as modificaes no culto. Pois nota-se que o culto cristo foi sendo moldado, e nos dias atuais o culto se tornou uma busca pelas solues dos problemas pessoais, ao invs de ser um servio prestado a Deus. E por estes motivos esta pesquisa busca entender o culto na Igreja Emergente que pressupe um culto clssico, aonde as pessoas busquem a presena de Deus e o encontre de forma sobrenatural e transformadora. Como referncia para tratar do assunto fora eleita a obra de Dam Kinball 1 Igreja Emergente: Cristianismo Clssico para as Novas Geraes; que aborda as mudanas da Igreja ao longo dos sculos devido s mudanas filosficas e culturais, e tambm a obra de Brian McLaren Ortodoxia Generosa que uma das primeiras obras a tratar da teologia emergente. Ressaltando que apesar de Dan Kimball ser a fonte principal desta pesquisa, ter um peso maior no final da pesquisa, que onde inserido o culto na Igreja Emergente. Para alcanar o objetivo de apresentar o culto na Igreja Emergente a pesquisa foi dividida em trs captulos. No primeiro capitulo abordado o surgimento do culto, e para isso foi necessrio explicar o significado de liturgia que entendido geralmente como a parte formal de um culto. Suas origens no A.T com as influncias dos povos circunvizinhos, o sentido do sacrifcio, o sentido tico e a apresentao do culto de jav como sendo uma compilao de outros cultos. O culto no N.T com o mesmo sentido do A.T, o mesmo sentido litrgico e a grande diferena presente no

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Dan Kimball pastor-fundador das reunies de adorao Graceland na Santa Cruz Bible Church e est implantando uma igreja-irm, a Vintage Faith Church, em Santa Cruz, na California, voltada para a cultura emergente ps-crist. Dan atua na diretoria do Emergente-YS e ministra palestras com grande freqncia por todos os Estados Unidos.

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culto do N.T que a presena de Jesus Cristo, o que transformou literalmente o culto feito antigamente. No segundo capitulo caracterizado o que a Igreja Emergente. Com sua teologia missional, que chamada de cristocentrica pelos telogos emergentes, o seu surgimento, onde e quando, e qual a sua finalidade. O questionamento feito por muitos telogos se a denominada Igreja Emergente soluo ou um grande problema a mais dentro da ps-modernidade, que os emergentes dizem estar dentro, mas no abraar, querem alcanar quem se encontra dentro da psmodernidade e levar de volta a uma era clssica onde a maior preocupao era de simplesmente cumprir o mandamento de ir e pregar o evangelho a todas as pessoas. No terceiro captulo abordado a forma cultual da Igreja Emergente, o ideal do culto defendido por eles, um culto mstico onde as pessoas se sentem parte do ambiente espiritual somente ao entrar. O valor experiencial de todas as formas, pelo tato, pela viso, audio, olfato etc. um culto onde as pessoas consigam literalmente alcanar o transcendente atravs de seus sentidos, por isso eles denominaram o culto como sendo multissensorial. A nova abordagem feita em seus cultos com o retorno ao sentido da igreja primitiva, uma igreja que toque na sociedade em todas as formas possveis, sendo culturais ou scias. E para comparar e tentar visualizar a Igreja Emergente no contexto brasileiro uma breve analise do culto neopentecostal, como surgiu no Brasil, seu foco e liderana. Portanto nesta pesquisa v-se a necessidade de atualizaes no culto cristo, que sempre ser necessrias modificaes segundo a cultura e o fator social, e sendo assim no h um modelo definitivo ou padro para um culto ideal. O que poderia ser feito um estudo antropolgico para que este culto seja uma ponte de ligao entre o ser humano e o Deus criador.

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2 O CULTO - ORIGENS BBLICAS E HISTRICAS Para comear a entender o assunto proposto, a identificao bblica2 e histrica sero necessrias para um delinear correto e sem manipulao de fatos que ocorreram h certo tempo. E tambm a forma que ser usado o termo liturgia. O termo liturgia no tem origem cultual, e sim uma origem histrica etimolgica de encargos pblicos segundo S. Marsili:Liturgia (grego: leitoutga-letourga-leitorga-litourga) palavra grega da raiz leit (de les-las = povo), que significa geralmente pblico pertencente ao povo e rgon (ergzomai = agir operar) no sentido de ao obra. O termo assim composto significa diretamente: obra-ao-empresa para o povo; mas pe em relevo tambm mesmo com significado secundrio o valor publico da ao, pelo que a palavra pode ser traduzida tambm como ao-obra-empresa pblica. Daqui o uso do verbo 3 leitourgein no sentido de suportar encargos pblicos na cidade (Estado) .

Portanto o termo liturgia tem muito mais um uso civil do que um uso cultual, mas com o passar do tempo houve uma evoluo na histria, assim a liturgia passou a ter um sentido novo, diferenciado ao do termo usado inicialmente. O novo sentido para liturgia aparece na poca helenstica, e serve para designar servio que se deve prestar aos deuses por pessoas para isso designadas. H dois pontos que podem ajudar a definir permanentemente o termo liturgia como um ato, ou servio de culto prestado a Deus. 1- Os textos onde aparece o termo liturgia no esto correlacionados com um servio pblico ou oficial, pelo contrrio o verbo presente o verbo leitourgein como o substantivo leitourga tm um significado comum de servio ordenado ou como uma espcie de cerimnia determinada ou com respeito a certa divindade no seu templo. 2- O termo que sempre est presente uma marca do culto mistrico, que era um culto de grupos e no o oficial apresentado pelo estado, portanto liturgia usado muito mais no plano cultual no sentido de servio oneroso-voluntrio, que se tornou o emprego vulgar do termo4. O entendimento deste termo essencial, pois a medida que as coisas vo acontecendo os conceitos de cada palavra ganha um significado a mais. A liturgia uma questo a ser pensada por alguns autores dentro dos cultos evanglicos

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BBLIA. Portugus. Bblia Sagrada Revista e Atualizada. So Paulo: Sociedade Bblica. 1993. Os textos bblicos citados nesta pesquisa foram lidos nesta verso. 3 MARSILI, S. Liturgia. In. NEUNHEUSER. B. A Liturgia, momento histrico da salvao. Paulinas. 1986. p.38. 4 Ibidem.p.42

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brasileiros, que identificam os cultos litrgicos apenas em igrejas histricas5, ou seja luteranas e anglicanas6, essa concepo exclui as outras formas protestantes de culto, e acaba sendo um pensamento ofensivo, mas de certa forma no ofende os brasileiros. Em palavras breves e bem resumidas pode-se dizer que o termo liturgia ligado diretamente com o usual, popular brasileiro, culto.O culto um servio devido a Deus pelo seu povo e se expressa em todos os atos da existncia humana. O vocbulo utilizado para designar esse servio Liturgia, entendido como conjunto de elementos que possibilita a celebrao cltica crist. O culto pblico, promovido pela igreja, uma parcela do servio total do povo de Deus, no qual o Senhor vem ao seu encontro, requer a sua adorao, mostra-lhe o seu pecado, perdoa-lhe quando se arrepende, confia-lhe a sua mensagem e espera a sua resposta em f, gratido, amor e obedincia. Pela sua prpria natureza, o culto deve ser amplamente participativo, onde a comunidade tenha vez e voz; e venha expressar as angustias, lutas, alegrias e esperanas do povo, onde a Igreja esta inserida7.

Ou seja, nesta pesquisa a palavra culto ser equivalente a liturgia, ou todo servio prestado de modo sacramental a Deus, seus instrumentos e formas. 2.1 Suas origens no Antigo Testamento. Quando Deus criou o cu e a terra, e tambm o homem, no havia uma forma pr-estabelecida para que esta criao o cultuasse. Embora o homem j tivesse uma forma relacional com o seu criador; como se o homem j fosse criado com um instinto natural para manter este relacionamento com Deus. O primeiro relato que poderia ser descrito como um ato litrgico a oferta oferecida por Caim e Abel em Gnesis 4.3-5. No se tem relatos que Deus havia ordenado que os homens oferecessem nada a Ele, mas parece muito mais um ato voluntrio do ser humano agradar aos seres que ama. No caso de Caim e Abel, ofertaram a Deus, pois sabiam que Ele os havia criado. E aqui se tem um relato que deve ser definido para que se entenda o culto da antiga Israel, o sacrifcio. Para a autora Ina Willi-Plein o sacrifcio pode ser interpretado de algumas formas, em uma delas pode-se dizer que sacrifcio aquilo que o oferecido divindade ou a uma divindade... bem como a ao de oferecer 8, e esta interpretao5 6

As igrejas citadas como histricas so limitadas pelo autor Prcoto Valasques Filho. VALASQUES FILHO, Prcoro. Caractersticas, nfases e Teologia. O culto Protestante. Estudos de Religio. p. 61-86. 7 VALVERDE, Messias. Liturgia e Pregao. Exodus.1996. p.11. 8 WILLI-PLEIN, Ina. Sacrifcio e culto: No Israel do Antigo Testamento. Loyola. 2001.p.25. apud. Dicionrio Alemo de Jacob e Wilhelm Grimm.

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se encaixa bem na atualidade. Outra forma a metafrica, que usado no sentido de renuncia, que sempre vai beneficiar algum ou um propsito, ou, pessoa ou causa, assim como a primeira forma tambm tem uma idia de ddiva 9. Tambm h algumas expresses que so expressas como sacrifcio:1) Zebah e zebah selamim = abate (de um animal) e imolao em prol da felicidade; minha = oferenda de alimentos; (iss) ol = sacrifcio pelo fogo; holacausto; tambm o sacrifcio de perfumes e a libao, que se expressam pelas razes qtr e nsk. 2) qorban = oferenda. 3) tod = sacrifcio em ao de graas; hattat = sacrifcio pelo pecado; asam = sacrifcio pela culpa.10

Partindo do contexto onde acontecem os sacrifcios surge o direcional que mostra a definio do respectivo culto, ou seja, a ligao de lugares como templo e tabernculo, onde se centralizava os cultos, os sacrifcios11, pode-se dizer que era a centralizao de toda a liturgia; e de algumas oposies como santo e no-santo; repreensvel e irrepreensvel; e uma finalidade importante no A.T que a vida e a morte. Outro passo importante na compreenso deste culto no A.T limitao proposta pelo sexo (gnero), origem e profisso dos lderes, ou em outras palavras, tinha que ser homem da linhagem sacerdotal (tribo de Lev)12. Estes aspectos presentes no texto do A.T levam a percepo de um culto inteiramente ligado prtica, no se tinha um culto estruturado, uma liturgia pensada, mas de certa forma j se sabia o que esperar nos dias presentes no tabernculo ou templo, um formato religioso j era presente no povo de Israel; nas horas em que estavam diante do seu Deus para lhe prestar sacrifcios e lhe render louvor e adorao. Para o autor Georg Fohrer13 este contexto pode ser dividido pelas etapas que so descritas pelo povo de Israel. Inicialmente Fohrer expe que o culto e tambm a religio dos Israelitas na palestina um encontro entre a vida religiosa dos nmades com a religiosidade dos Cananeus.Os grupos israelitas trouxeram para a palestina as suas religies de cl. Pequenos e singelos santurios certamente foram instalados nas cidades9

Idem Ibidem p. 26. 11 Ibidem p.27 12 Idem 13 Georg Fohrer biblista veterotestamentrio de fama internacional. Entre suas maiores obras devem ser recordadas a Histria de Israel, os Estudos sobre a profecia veterotestamentria (19491965), os Estudos sobre a teologia e a histria veterotestamentria (1949-1966) Tradio e histria do xodo, Estruturas teolgicas do Antigo Testamento e Introduo ao Antigo Testamento.10

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ou perto delas. Provavelmente, a lei do altar de Ex 20, 24-26 se aplicasse a tais instalaes. Alm disso, os israelitas tiveram acesso a alguns santurios cananeus. Logo, eles ligaram os deuses do cl a esses santurios, em vez de ao prprio cl (que se estabelece permanentemente agora), e as divindades cultuadas na caminhada tornaram-se divindades de lugares especficos. Conseqentemente, tornou-se necessrio transplantar para o solo palestinense as tradies concernentes aos receptores da revelao, fundadores do culto e lderes inspirados, e adapt-las nova 14 situao .

Nesta circunstncia evidenciada a adaptao do culto prestado a Deus de um modo similar ao dos Cananeus. O que mostra que o desde o principio o culto esta se adaptando ao meio que est, e tornando as coisas ao seu redor propicias para um conforto e sensao de prazer mais satisfatrio. Neste caso o prprio culto, que algo de uso particular dos Israelitas se torna um espelho do povo circunvizinho. Em um segundo momento descrito o culto em um sentido tico, isso com uma interpretao feita atravs do Javismo mosaico.Exatamente como no se menciona nenhum nome prprio para Iahweh assim tambm no pode haver representao dele em forma visvel e tangvel. Exatamente como o conhecimento de um nome podia dar o poder mgico inicial ao seu portador, assim tambm a concentrao controlvel de poder numa imagem de Deus podia servir aos propsitos humanos por meio do culto15.

Tal situao atribuda a falta de imagem proporcionada aos israelitas, o que leva a crer que o ser humano precisa de uma imagem para estabelecer sua f, e como Iahweh no se mostra fisicamente e nem pronuncia seu prprio nome so criadas varias situaes aonde o povo estabelece suas prprias imagens e ritos para expressar sua f em forma ritualstica. Vale ressaltar que em todas estas vezes h uma forte influncia de povos estrangeiros. At mesmo a arca da aliana, que em um ponto de vista vista como um instrumento, no incomum, sagrado, pertencente ao grupo de Moiss, para a qual foi at reservado uma tenda. E era justamente dentro desta tenda que acontecia os encontros com Iahweh, e o motivo era por conter a arca. J a tenda era vista como um santurio porttil. paralelos arbicos sugerem que ela era pequena e vazia. Servia primariamente como lugar de revelao, onde se lanavam sortes ou se procurava uma deciso divina para questes e casos difceis de soluo 16.

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FOHRER, Georg. Histria da Religio de Israel. Paulinas. 1982. p.68 Ibidem. p.93 16 Ibidem. p. 95.

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Ao falar do javismo mosaico Fohrer vai dizer que, o povo hebreu tinha algumas prticas cultuais, que os traos deste lado religioso eram proeminentes, mas faziam uma projeo para um desenvolvimento a religio cultual. No perodo monrquico o culto apresenta a mesma variao dos outros perodos, apesar de agora ser um culto de estado, oficial, que celebrava no somente os eventos cultuais, mas tambm eventos especiais da vida do estado; tudo isto podia ser por motivaes pessoais ou de toda a nao. Nota-se que o culto a Iahweh era um instrumento para cultivar a comunho do prprio Iahweh com Israel como seu povo. Nestas analises de pocas cultuais o autor defini o culto a Iahweh como o meio de promover o reconhecimento da soberania de Deus e fortalecer e aprofundar a comunho com Deus 17 Dentro da perspectiva apresentada por Fohrer, Israel no teve um culto originalmente prprio, mas sempre um prottipo, uma cpia dos povos vizinhos, principalmente dos cananeus, os santurios, as imagens, as vestes, ou seja, tudo parte de algo que j existente. Esse tipo de compilao pode trazer dvida a mentalidade das pessoas, mas o fator f se demonstra subjetivo desde os tempos de Ado e Eva. O fato que desde o A.T os Israelitas usaram fatores culturais que estavam a sua volta para definir padres ticos e morais, inclusive a formalidade do seu culto a Deus.

2.2 Suas origens no Novo Testamento. O culto do Novo Testamento um continusmo do Antigo Testamento, o mesmo termo para a definio de liturgia do A.T o mesmo do N.T18, s que no N.T os termos usados podero ser interpretados de quatro formas diferentes: 1- Liturgia em sentido profano: o que tomado como uma linguagem comum leitourgs (Rm 13.6;15,27; Fl 2,25; Hb 1,7.14;8,2.)Rm 13,6 os magistrados so ministros-leitorgi de Deus; Rm 15,27; os pago-cristos devem prestar servio com auxilio material aos judeucristos, como que em compensao pelo fato de que destes que lhes veio o poder participar no cristianismo; Fl 2,25.30: Epafrodito, trazendo a Paulo as ofertas dos filipenses, levou a terno o ato de servi-lo atencioso (leitourga) dos fieis com respeito ao Apstolo e desta forma revelou-se para ele um auxilio valioso (leitourgs); Hb 1,7.14: embora se fale de Liturgia anglica, est no entendida em sentido cultual, mas de servio que os anjos prestam a Deus a favor dos homens.17

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Ibidem. p.239-240. MARSILI, S. Op.cit. p.46. Leitourgein, leitourgia, leitourgos.

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2- Liturgia em sentido ritual-sacerdotal do AT, leitourga (Lc 1,23; 2Co 9,12; Fl 2,7.30; Hb8,6;9,21)Lc 1,23: fala-se do turno de servio de Zacarias, pai de Joo Batista, no templo de Jerusalm (liturgia levtica); Hb 8,26: Cristo pontfice j est sentado direita da majestade divina, porque Liturgo do verdadeiro santurio e portanto exerce contudo os termos liturgo-Liturgia devem ser entendidos em funo do termo de comparao, que o pontfice hebraico, e consequentemente os prprios termos permanecem na perspectiva veterotestamentria. Hb 9,21: aluso aos objetos litrgicos do culto hebraico; Hb 10,11: comparao entre a repetio diria da liturgia sacerdotal hebraica e a do nico sacrifcio de Cristo.

3- Liturgia em sentido de culto espiritual, leitourgein (At 13,2; Rm 15,27; Hb 10,11)Rm 15,16: Paulo se declara ministro-liturgico de Cristo, que desenvolve o seu sacerdcio (ao litrgico-sacerdotal) com o Evangelho de modo que os pagos, santificados no Esprito Santo, sejam sacrifcio agradvel a Deus. Aqui o termo litrgico colocado como equivalente daquele que reliza uma ao sacerdotal com vistas a um sacrifcio que deve ser oferecido, insiste evidentemente no sentido tcnico-cultual, que Liturgia possui no AT: ao de culto sacerdotal. Por outro lado, a vtima que Paulo deve oferecer em sacrifcio no um animal irracional como fazia o sacerdote hebraico mas os pagos, que se tornam sacrifcio agradvel a Deus, por obra do Esprito Santoatravs do evangelho anunciado pelo Apstolo. Portanto mesmo servindo-se da terminologia tcnica do culto sacerdotal hebraico, Paulo transporta os termos para o plano de um culto espiritual. Fl 2,17: Paulo manifesta estar disposto para ser derramado em libao no sacrifcio e na liturgia da f dos filipenses.

4- Liturgia em sentido de culto ritual cristo.At 13,2: traduo literal: enquanto eles faziam liturgia ao senhor e jejuavam, disse ao Esprito Santo. o nico texto bblico do NT no qual se poderia reconhecer j o nome daquela que ser depois chamada Liturgia Crist, mas um fato que jamais a no ser talvez aqui aparece o nome de Liturgia para indicar o conjunto do culto cristo. natural, portanto que o texto tenha suscitado o interesse dos estudiosos, os quais no entanto oferecem, a este respeito, solues sensivelmente diferentes entre si19.

Os cultos nos textos bblicos apresentam sempre um sentido levtico, mas sendo que o culto Cristo uma continuao do culto sacerdotal hebraico ou como um culto em analogia a este20. Tanto no A.T como no N.T o sentido do culto litrgico buscar no espiritual do culto uma resposta, uma proximidade de Deus. Essa a razo da f crist, esta foi a tradio passada diretamente atravs da vida demonstrada por cada israelita.19 20

Ibidem. p.46-48. Ibidem. p.49.

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No NT, onde a centralidade Jesus Cristo somente nas Cartas Paulinas, no livro de Atos e tambm em Hebreus que apareceu esta preocupao com culto. E para entender de forma perfeita seria preciso fazer uma exegese destes textos, mas esta pesquisa no se ocupar com este aspecto. Para Leonhard Goppelt21, j era presente diferenas no culto prestado, alguns aspectos estavam ate mesmo no repartir do po, pois no judasmo o partir do po era uma prtica usual antes de toda e qualquer refeio; e na nova comunidade surgida esta prtica se tornou um termo tcnico para uma refeio cultual especial 22. No s na comunho da mesa, mas tambm a situao social se torna um diferencial deste culto, pois neste repartir do po as pessoas se expunham com suas condies terrenas, e como prova de tudo isso alguns discpulos abandonam sua estabilidade econmica. Tudo isso atravs de doaes voluntrias23. Outro divisor citado por Goppelt o conflito e o compromisso entre evangelho e lei. O exemplo perfeito para ele o motivo da morte de Estevo, que por anunciar a primazia das boas novas s pessoas que no estavam dispostas a abrir mo de suas tradies, e nem a escutar uma palavra contrria a sua tradio, sendo estas palavras crticas, o suficiente para que Estevo fosse expulso da nao judaica24. Algo muito importante ao falar do culto no N.T a referncia de Jesus Cristo, e sua centralidade no culto cristo, pois, pode-se dizer que Jesus Cristo teve uma vida litrgica, ou em outras palavras sacerdotal 25 que poderia ser percebida apenas como uma leitura superficial do N.T.Pode-se at chegar a dizer que a verdadeira glorificao de Deus na terra que constitui a perfeita adorao foi cumprida por Jesus Cristo no seu ministrio. Se o ttulo de sumo-sacerdote (segundo a ordem de Melquisedeque) clara e supremamente apropriado aps a Sua ascenso, no menos que verdade que toda a Sua vida deve tambm ser encarada nessa perspectiva litrgica26.

A idia desta transformao, vinda tambm aps Jesus, traz uma mudana considervel ao momento cltico, pois como sumo-sacerdote, o sacrificio nico oferecido por Jesus faz com que no seja mais necessrio o sacrifcio de animais para expiao dos pecados do homem, e com isso a fundamentao, a centralidade21 22

GOPPELT, Leonhard. Teologia do Novo Testamento. 3ed. 2002. Ibidem. p.266. 23 Ibidem. p.267. 24 Ibidem. p.268. 25 ALLMEN. Op.cit. p.22. 26 Idem. Cf. O. Cullmann, Christologie Du Nouveau Testament, Neuchtel e Paris, 1958. p.77-94.

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agora cristolgica. Esta definio de oferta nica (EPHAX) exprime uma idia de aperfeioamento a todo aquele que est sendo santificado27. Portanto no N.T no s uma continuidade do culto mostrada, mas tambm a inovao, vinda com a pessoa e vida de Jesus Cristo, uma nova forma cltica, uma nova compreenso do porvir, e tambm da realidade. O caminho havia sido mostrado e o espelho que vinha do estrangeiro no era mais necessrio, pois bastava ao povo somente seguir os passos de Jesus, para uma forma plena de adorar a Deus.

2.3 Sua evoluo na Histria da Igreja. O que define como diferenciao entre A.T e N.T tambm o que vai fazer com que a histria do culto Cristo tenha uma continuidade, ou evolua atravs da histria dos povos. a pessoa de Jesus Cristo, pois embasados no seu ministrio como ato de perfeita adorao, praticado em sua vida, que a Igreja em seu culto, que um memorial efetivo de um culto messinico28. Outra idia muito interessante a respeito desta adorao semelhante a de Jesus Cristo que o culto parece ter duplo sentido: o culto terreno celebrado pela vida, morte e glorificao do Cristo encarnado, e o culto celeste que, na glria, Ele celebra at ao dia do mundo vindouro29. Um aspecto que de fato faz parte do culto Cristo a f na presena da pessoa de Jesus. Antes de sua morte e ressurreio Ele inaugura esta nova fase de adorao da Igreja;E, quando comiam, Jesus tomou o po, e abenoando-o, o partiu, e o deu aos discpulos, e disse: Tomai, comei, isto o meu corpo. E, tomando o clice, e dando graas, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; Porque isto o meu sangue, o sangue do novo testamento, que derramado por muitos, para remisso dos pecados. E digo-vos que, desde agora, no beberei deste fruto da vide, at aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai. (Mateus 26.26-29)

Logo o prprio Cristo promete esta presena, e em seguida ao reunir-se a igreja no est vivendo de iluses, mas ao contrrio, em cada ato de adorao vivida pela Igreja relembrando a experincia do milagre da vinda do Cristo ressurreto para estar com os seus seguidores 30. Para A. D. Mller o culto a forma27

ALLMEN. p.23. Ibidem. p.25. 29 Idem. 30 Ibidem. p.26-27.28

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mais vvida, mais palpvel, mais central e simples de atualizao da presena de Cristo31. Logicamente que no diretamente aparente, mas como s os que tiveram f que O Jesus de Nazar era o Cristo, assim tambm somente aqueles que tiveram f conseguiram ser convencidos da presena de Jesus neste culto32. Aps toda a trajetria no A.T com suas diversidades cultuais, as similaridades com povos vizinhos e plgios dos cultos estrangeiros e tambm aps a vinda de Jesus inaugurando uma nova forma de adorao, o assim chamado Culto Cristo tem novos objetivos e novas formas de realizao, devido a circunstncias de cada contexto relacionado com cada alma vivente. O culto cristo em eras de igreja primitiva tinha uma grande dificuldade a ser superada:Nos primeiros sculos da era crist, houve um intenso intercmbio entre Oriente e Ocidente. O predominante culto a Csar tinha levado ao oriente o evangelho da fora de todo conquistador, e o Oriente trouxe para o Ocidente um reflorescimento do poder dos antigos deuses junto com um clero profissional, cujo principal objetivo era assegurar uma garantia de imortalidade ao individuo33.

Acredita-se que estas prticas, e estes intercmbios poderiam ter influenciado o culto Cristo que j trazia um grande mistrio, e de certa forma poderia proporcionar algumas respostas as pessoas sobre algumas questes como a vida e a morte, e no mundo romano o grande sonho de todos que era a imortalidade 34. Em meio a tudo isso o cristianismo conseguiu superar estas dificuldades:O Cristianismo derrotou os mistrios em seu prprio campo. Ele tinha a vantagem de estar baseado no em um mito, mas numa pessoa histrica. Seu apelo dirigiu-se, na mesma intensidade, tanto ao individuo como toda a humanidade. Ele no conheceu barreiras, e ainda ofereceu a possibilidade de unio com Deus a todos os homens. Sendo incomensuravelmente 35 superior em seus valores morais .

Os mistrios poderiam ter afetado e muito o culto cristo, mas a f em Jesus sua morte e ressurreio deram aos Cristos uma esperana para continuar acreditando na promessa de um novo cu e nova terra. Acreditar que um dia todos os seus seguidores estariam ao lado dEle o cultuando na forma plena da adorao. Uma grande prova desta f a presena clamada de Jesus Cristo, que embora seja31

ALLMEN. p.27 Apud. A.D. Mller, Grundriss der praktischen Theologie, Gttersloh, 1950. p.123158. 32 ALLMEN. p.27. 33 WAND. J. W. D. Histria da Igreja Primitiva: At o ano 500. 2004. p.159. 34 Ibidem. p.160-161. 35 Ibidem. p.161.

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real, no pode ser produzida pela Igreja, e por isso a presena de Jesus Cristo implorada, aclamada pelos fieis. O termo usado para esta aclamao epiklesis 36. A partir do Sec.II a epiklesis comeou a ser dirigida ao Esprito Santo, para uma diferenciao entre o culto oriental e ocidental. Os orientais colocam o termo epiklesis depois das palavras de consagrao, j os cristos do ocidente colocam antes das palavras de consagrao; isto d toda a diferena nas formas de expresso do culto37. Outros termos tambm passam a dar sentidos ao culto cristo, como exemplo anamnesis no sentido de memorial, mas no simplesmente de um ato de lembrana, ou um simples ato de memria, este ato tem que tornar o memorial em uma atualizao da obra feita no passado em compromisso no presente. Desta forma o culto cristo tem um sentido muito mais amplo que de uma lembrana, alm de memorar a morte e ressurreio de Cristo tornando-os atuais, e tendo em si a esperana do reino por vir. No h como esquecer o ato da encarnao do Filho de Deus e sua obra vicria, mas o futuro prometido, a segunda vinda, a antecipao ou antegozo do retorno de Cristo e do reino que Ele a de estabelecer 38. Na evoluo da histria o culto cristo tem o papel fundamental de identificar a igreja, como esposa de Cristo e como seu agente de transformao e atuao no mundo. A Esposa de Cristo o sentido primeiro dado a igreja, pois a esposa que responde, ou corresponde, sua palavra e chamado se comprometendo e se doando porque Cristo assim tambm o fez. A Esposa de Cristo porque ela quem aguarda ansiosamente a sua vinda, o seu retorno, que confia em sua promessa e por ela vive, e por fim a Esposa de Cristo por amar seu libertador e esposo, consagrando-se sempre a Ele, pois o propsito demonstrar que Cristo a quem todo homem deve reconhecer. por isso que a igreja se dedica por inteiro ao seu amado, e assim se manifesta em seus cultos como a comunidade nupcial, a comunidade do amor39, a polmica desta primeira caracterizao da igreja que a Esposa que tanto ama, ento no pode trair, no pode enganar, a que no rejubila com a demora do seu

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ALLMEN. Op.cit. p.28-31. O autor expressa este termo como sendo a prpria manifestao, ou talvez a invocao Maranatha, para o autor talvez o grande problema deste termo esteja na interpretao que pode lhe ser dada, pois Cristo pode estar presente no local mesmo antes de ser feita sua aclamao. 37 Idem. 38 Ibidem. p.34. 39 Ibidem. p.46.

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Senhor. A Esposa aquela que se recusa a viver para si mesma, demonstrando a beleza e glria que lhe foi dada, e nem mesmo se vangloria na sua prpria retido, pois sabe de quem ela corpo, e de quem ela foi encarregada a revelar ao mundo40. A segunda forma de identificao da igreja como igreja Catlica, um dos sentidos mais ricos na identificao da Igreja, que como a igreja funciona como agente de transformao. Tal identificao da igreja demonstra seu poder comunitrio que quebra barreiras sociolgicas e antropolgicas impostas atravs do sculo. Nesta concepo a igreja tambm se demonstra como comunidade batismal. E em outras formas de como a igreja vista, tem-se a igreja diaconal que onde a igreja assume a conscincia da manifestao do corpo de Cristo, e tambm a igreja apostlica ou missional, que pelo seu culto se difere do mundo41. Com o culto anamnesico a igreja foi tomando formas diversificadas de atualizaes. No Sc. IV com um vocbulo diferente o que era chamado de culto passou a ser chamado de missa42 pela igreja Catlica. Esta idia de envio, missa, seria usada por muitos telogos43, principalmente pelo questionamento de onde est a verdadeira igreja, e dentro deste questionamento o surgimento de uma possvel resposta para as chamadas igrejas locais e igreja universal, ou a igreja catlica. Uma afirmao que fortalece esta idia de igreja local e universal a confisso de f do sculo XVI, que identifica a Igreja onde quer que esteja desde que a palavra de Deus seja pregada com pureza ou administrados com legitimidade os sacramentos44. Ao ver esta possibilidade de uma Igreja local, onde a liturgia acontece especificamente para esta igreja local, e a igreja universal, onde a igreja de Cristo se identifica pela pregao do evangelho, cria-se uma via com duas mos45, a

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Ibidem. p.47. Ibidem. p.48-50. 42 O termo se refere ao ato litrgico da igreja catlica ao relembrar o ato salvfico de Jesus Cristo. J.J. von Allmen porem expressa suas duvidas ao surgimento do termo no Sec. IV mas acha certo afirmar que este termo vem do baixo latim missa, missio isto , envio, despedida. 43 Ididem. p.50. apud.A.D. Mller. Grundriss der praktischen Theologie, Gttersloh, 1950. P.149 44 ALLMEN. apud. Esta utem ecclesia congregatio sanctorum, in qua evangelium pur docetur et recte administrantur sacramenta (Confisso de Augsburgo, cp. VII; cp. Die Bekenntnisschriften der evangelisch-lutherschen Kirche, Gttingen, 1930, pp. 59s e 297). 45 Ao falar de questes sociolgicas e antropolgicas, Percebe-se que impossvel praticar a mesma liturgia em dois lugares diferentes no mundo, h uma necessidade da atualizao segundo a cultura predominante do local onde a prxis litrgica esteja acontecendo. Mesmo sabendo que os lderes religiosos tentem impor uma linha a ser seguida, h peculiaridades, particularidades apresentadas de41

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afirmao de um culto voltado ao cristianismo clssico, e a atualizao da histria da salvao do ser humano inicia uma luta entre interpretao do fato ocorrido e a prtica para os dias atuais, pois no h como negar que o modelo ideal para o culto cristo seja o culto ensinado e praticado por Jesus Cristo, mas como faz-lo em cada comunidade, Igreja Local, como no desfigurar a liturgia do culto cristo; esta luta parecia ser uma problemtica que consumiria os Cristos. O nico consenso que como Igreja de Cristo, e praticantes do culto ensinado por Jesus Cristo, por mais que o culto e a mensagem sejam atualizadas a igreja deve continuar sendo identificada pela palavra eficaz do evangelho do Senhor Jesus, o evangelho que liberta os cativos e os oprimidos. Que a igreja possa continuar dando o testemunho vivo daquele que os tem enviado, sendo o seu corpo e assumindo com conscincia a responsabilidade de serem os propagadores do evangelho puro, simples e eficaz da Cruz de Jesus Cristo.

um povo para o outro, impossibilitando ento esta uniformidade, esta padronizao litrgica na igreja universal.

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3 CARACTERIZAO DA IGREJA EMERGENTEPara focar a Igreja emergente alguns pontos precisam ser esclarecidos, e objetivos traados. Alguns destes pontos so se a Igreja Emergente um movimento, ou uma igreja em si mesma, o seu surgimento e sua linha teolgica. O que melhor poderia caracterizar a Igreja Emergente seria sua compreenso de como alcanar o mundo. O pensamento ortodoxo 46, que engessa a igreja, se flexibilizando, tornando o evangelho de Jesus acessvel a todos aqueles que

realmente almejam conhec-lo. Este processo de flexibilidade da ortodoxia estaria dentro do pensamento Emergente que de uma igreja que se reinventa.A nova igreja pode ser de qualquer idade, qualquer denominao. Ela passa por um processo de mudana perifrica semelhante ao das igrejas renovadas e restauradas, um processo de auto-anlise radical, de retorno s razes, fontes e primeiras coisas. Mas a nova igreja no tenta esboar uma cpia. Ao contrrio, ela surge como uma nova filosofia de ministrio que a prepara para se deparar com quaisquer mudanas imprevisveis que possam ocorrer. Usando o jargo contemporneo, ela descobre novos paradigmas. Em termos bblicos, ela busca no somente odres novos (renovao), como tambm vinho novo que inclui uma nova atitude para com os odres em geral. A igreja decide que amar tanto o vinho novo que nunca mais se afeioar a odres de nenhum tipo.47

Quando a igreja entende a necessidade destas mudanas, ela prope o seguimento do modelo de Jesus, da Igreja primitiva, que se doa, se preocupa. A Igreja no precisa de novas estruturas, mas de novas atitudes que realmente faam a diferena na sociedade assim como Jesus modificou a vida das pessoas que estavam a sua volta. A proposta da Igreja Emergente que haja uma quebra do continusmo que foi dado na histria. E isto quer dizer que as igrejas precisam entender que no a estrutura o mais importante, mas o alvo a ser alcanado. como se uma pessoa estivesse em uma jornada a cavalo, e o cavalo no agentasse mais, o ideal que esta pessoa procurasse outro meio para continuar ao invs de forar o cavalo a andar mais alguns quilmetros, compreendendo que o importante no o cavalo que esta o levando e sim a jornada que deve ser concluda48. Por mais que seja polmica a Igreja Emergente s tem uma proposta aos cristos, viver em amor, um amor incondicional, para todas as pessoas de todos os credos e religies, assim como Jesus ensinou em sua estadia aqui na terra.46

MCLAREN, Brian. Uma ortodoxia Generosa. A Igreja em tempos de ps-modernidade. Braslia: Palavra. 2007. p.324,325 47 MCLAREN, Brian. A Igreja do Outro Lado. Braslia: Palavra. 2008. p.44. 48 Idem.

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3.1. Conceituao da Igreja EmergenteA Igreja Emergente um movimento da igreja protestante, iniciado por americanos e ingleses, com a finalidade de alcanar a gerao psmoderna. Refletindo as necessidades e os valores percebidos desta gerao, as igrejas emergentes enfatizam o autntico, a expresso criativa e uma perspectiva sem julgamentos, procurando reavaliar as doutrinas (ecclesia reformata, semper reformanda...). Igreja emergente simplesmente um termo usado para denominar as igrejas que nasceram ou que foram [re] estruturadas para um contexto ps-moderno, ps-cristo de ser igreja no mundo de hoje49.

Mauro Meister define a Igreja Emergente como um movimento dentro da igreja protestante, ou mesmo uma reao ao cristianismo da era moderna; uma igreja dentro do contexto ps-moderno e com objetivo de alcanar esta era e quem se encontra dentro dela. Embora no se tenha uma igreja com uma placa Igreja Emergente possvel identificar algumas igrejas que tem aderido este movimento de no conformidade com o Cristianismo, que muito foi pregado e pouco vivido, segundo os pensadores da Igreja Emergente, ao longo dos sculos. Na definio citada por Mauro Meister a Igreja Emergente tratada como a igreja que repensa e reestrutura a igreja de acordo com o sculo50, isto uma caracterstica da ps-modernidade e que Brian McLaren51 desenvolve de forma brilhosa afirmando ser budista/muulmano/hindu/judeu, no no sentido literal, mas em forma de comprometimento.Assim como a encarnao de Jesus o limitou no somente ao povo Judeu, mas tambm a toda a humanidade, sua encarnao conecta seus seguidores com toda a humanidade. Inclusive...pessoas de outras religies. Quando digo que estamos ligados e limitados pela encarnao de Cristo a todas as pessoas, no estou dizendo que todas as religies so a mesma coisa, no importa aquilo em que voc cr que a verdade relativa, etc. Estou dizendo que, porque seguimos a Jesus, porque cremos que Jesus 49

MEISTER, Mauro Fernando. Igreja Emergente, a Igreja do ps-modernismo? Fides Reformata. So Paulo. Makenzie. 2006. P.100. apud. http://igrejaemergente.blogspot.com/2006_01_01_igrejaemergente_archive.html. (acesso em 20 fev. 2006). 50 MCLAREN, Brian. Op. Cit. p.304. Para exemplificar a Igreja Emergente Brian McLaren usa a figura das rvores emergentes, que dentro da mata parecem no ser rvores to importantes, pois vivem nas sombras das rvores mais velhas e que por toda a vida estiveram as cobrindo, s que um dia estas rvores mais velhas acabam caindo e estas rvores emergentes assumem o lugar destas rvores mais velhas. Outro tipo de rvores citada uma planta semi-aqutica, especificas em alguns pntanos, as razes destas plantas esto no solo sob a gua, mas os brotos crescem atravs da superfcie da gua para absorver por completo o sol no filtrado. Nesse sentido emergente so plantas que vivem simultaneamente em mundos diferentes. 51 Ibidem. Na segunda parte deste livro McLaren comea com a seguinte pergunta Que tipo de Cristo eu sou? e dentro desta pergunta insere vrios tipos de pensamentos e vises que muitos Cristos repudiam ou se opem.

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verdadeiro e porque Jesus vai em direo a todas as pessoas em amor, bondade e graa, ns fazemos o mesmo [...] [...] Porque sigo a Jesus, ento, estou comprometido com judeus, mulumanos, budistas, hindus, agnsticos, ateus, adeptos da Nova Era, todos... No somente estou comprometido com eles em amor, como tambm sou chamado, em certo sentido (por favor, no minimize antes de qualificar) a me tornar um deles a entrar em seu mundo e estar com eles 52 nele.

Este comprometimento com todas as pessoas uma afirmao feita pelos lderes emergentes que este movimento cristocntrico, a encarnao de Jesus, seus ensinamentos e a forma que ele se entregou, se esvaziou de algo que poderia se apegar para ser servo53, portanto este o modelo que a Igreja Emergente procura ensinar e seguir. O exemplo de Jesus se inseriu na cultura do povo, e serviu a todos os que estavam a sua volta, pecadores de todos os tipos e classes, publicanos, prostitutas, mendigos etc. a vida e obra de Jesus fora de servido e assim deve ser da igreja que o segue, somente quando a igreja assumir este compromisso poder dizer que cristocntrica, que realmente igreja54.

3.1.1. Soluo ou Problema? Sendo a proposta da Igreja Emergente de uma nova prtica, o pensamento de melhoria, de crescimento no em quantidade, mas um crescimento verdadeiro e espiritual. Um comprometimento com as pessoas e com Jesus Cristo da mesma forma que as primeiras igrejas viveram55. Com esta filosofia a Igreja Emergente tem um potencial muito grande, pois no vai ditar as regras como sendo sempre certas, pois mesmo que a um determinado tipo de pessoa no seja ideal para uma igreja, h uma igreja ideal para aquela pessoa56. No que a igreja vai se transformar como um camaleo para agradar as pessoas, mas se entende que h ministrios diversificados para todos os tipos de pessoas serem alcanadas. Dentro da cultura52 53

Ibidem. p.275-276. Bblia Sagrada. Verso Revista e Atualizada, Joo Ferreira de Almeida. 1994. Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo,fazendo-se semelhante aos homens Filipenses 2.7 54 FREDERICO. Gustavo. O que a Igreja Emergente?. Disponvel em: . Acesso em 15/04/2010. 55 Na estrutura do culto e na conceituao da Igreja Emergente possvel ver a preocupao da expanso do evangelho que transforma realmente a vida das pessoas, a idia Cristocentrica na igreja apresentando uma forma de servido a Deus e aos prximos. 56 KIMBALL, Dan. A Igreja Emergente: Cristianismo Clssico para as novas geraes. So Paulo: Vida. 2008. p.147. apud: Rick Warren. Uma Vida com Propsito. Nenhuma igreja capaz de alcanar a todos. Precisamos de todos os tipos de igrejas para alcanar todos os tipos de pessoas. Rick Warren, Uma Vida com Propsito.

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brasileira, por exemplo, h uma grande diversidade cultural e este tipo de pensamento seria de grande ajuda para a proclamao do evangelho. Pois a cultural57 espiritualidade mstica do povo brasileiro exerce uma grande influncia sobre sua forma de cultuar, desde os trejeitos do culto espiritualidade em si. Fazse necessrio que os lderes eclesiais entendam que essa espiritualidade uma caracterstica cultural, que embora deva ser orientada pelas escrituras, faz parte do jeito de ser do povo e da sua histria58, no h como negar esta fora cultural atuante nas naes, nos guetos, dentro de cada pessoa. Porm essas mudanas tambm so descritas como problemas sendo trazidos pela igreja emergente, Tim LaHaye descreve a Igreja Emergente como a Laodicia do sculo XXI59, a igreja que no conseguiu se privar da s doutrina e se rendeu aos mestres que sedem a suas prprias cobias60. Este problema que se desenvolveu ao longo de anos, para Tim LaHaye, comea dentro das escolas, com professores e mestres totalmente secularizados e que acabam influenciando as geraes, e a conseqncia desta influncia a prpria ps-modernidade. Para John Piper a Igreja Emergente e seus lderes tm uma viso depreciativa das Sagradas Escrituras, e por este motivo esse movimento no ir durar muito tempo 61. A definio que ele d para a Igreja Emergente a seguinte:... Igreja Emergente um termo genrico para designar uma constelao de pessoas, igrejas e movimentos que esto resistindo e se rebelando contra os excessos das mega-igrejas e contra sua maneira artificial, plstical e impessoal de ser. Eles querem ter relacionamento acima de tudo, e por isso desprezam a doutrina, porque a doutrina separa as pessoas e os relacionamentos as une. Eles tm diversas formas experimentais de se fazer igreja e de espiritualidade62

57

HAHN, Carl Joseph. Histria do culto protestante no Brasil. Traduo de Antnio Gouveia Mendona. So Paulo: Aste, 1989. O autor parte da construo da prpria formao do povo brasileiro, sua diversidade de culturas somadas isto at mesmo nos cultos protestantes presentes no Brasil. Os cultos foram influenciados por varias formas de pensamentos, como da teologia catlica, e diversos imigrantes da Inglaterra, Alemanha, Esccia. Mas o culto brasileiro tambm teve muita influncias sociais j atribudas aos ndios e aos africanos que vieram escravizados pelos portugueses. 58 RAMOS, Ariovaldo. Nossa Igreja Brasileira. Hagnos. So Paulo. 2002. P.18. 59 LAHAYE, Tim. Igreja Emergente, A Laodicia do Sec. XXI. Disponvel em . Acesso em 15 de abril de 2010. 60 2 Timteo 4.3 Porque vir tempo em que no suportaro a s doutrina; mas, tendo comicho nos ouvidos, amontoaro para si doutores conforme as suas prprias concupiscncias. Edio Revista e Atualizada. 61 PIPER, John. Igreja Emergente apostasia da burguesia branca, estar morta em 10 anos. Disponvel em . Acesso em 15 de abril 2010.62

Idem.

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Os prprios seguidores do movimento da Igreja Emergente assumem que as mudanas propostas podem trazer certos desconfortos. Isto tudo porque a idia que a f tem que ser progressista, e neste estado de progresso, de seguir em frente, as pessoas esto sujeitas ao repensar dos seus prprios pensamentos e atitudes. E a partir disso conseqentemente vem as mudanas, e que por sinal afetam diretamente a humanidade principalmente quando se trata de algo to subjetivo como a f 63. O interessante desta idia de emergncia estar no prprio Jesus, na sua estadia enquanto homem aqui na terra:A verdade que o movimento cristo, ou o que agora chamamos de igreja, foi sempre emergente. Jesus e seus seguidores eram agentes de mudana, e foi isto que lhes meteu em encrenca. De acordo com o autor do Evangelho de Marcos, Jesus disse: A lei do Sbado foi feita para a humanidade e no a humanidade para a lei do Sbado, quando ele intencionalmente quebrou a sagrada lei do Sbado de sua religio. difcil para ns entendermos como disputar a respeito disso seria difcil para pessoas de seu tempo. Voc pode ter uma idia, entretanto, se for para Israel hoje e quebrar a lei do Sbado. Jesus curou no Sbado, ele comeu com os chamados impuros, e confrontou os poderes e principados de sua cultura, assim como sua religio. Ele exigia mudana no sistema de crena religiosa de seu povo se este fosse injusto ou opressor queles que eram banidos ou marginalizados.64

Muitos foram mortos por pensar e agir desta forma progressista, mas nem sempre o pensamento que trouxe essa discrdia e aparncia de mudana progressista, talvez esta seja a maior resistncia dos pensadores ortodoxos a respeito da Igreja Emergente.

3.2. Onde e como surgiu O nome Igreja Emergente surgiu nos anos 9065 quando Karen Ward, da Igreja dos Apstolos de Seattle, criou um site denominado EmergingChurch.org66, com o intuito de demonstrar sua inquietude com a igreja daqueles dias. No fim da dcada de 90, Brian McLaren adotou o termo emergente juntamente com Doug Pagitt, os dois eram lideres do Projeto Terranova, um projeto

63

COSTA, Nelson. Uma Encrenca chamada Igreja Emergente. Renovation Caf. Dsiponvel em < http://www.renovatiocafe.com/index2.php?option=com_content&task=view&id=256>. Acesso em 15 de Abril de 2010. O autor deste artigo cita uma frase do telogo Karl Rahner: Teologia significa levar encrenca racional ao mistrio.64 65 66

Idem.MEISTER, Mauro. Op.cit. p.97,98. Este site no se encontra disponvel.

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desenvolvido pela Liderana de Jovem do Leadeship Network (YLN)67. O nome foi adotado por Brian e Doug pela adequao dos novos projetos desenvolvidos, e em 2001 ficou marcado como este nome estava apropriado para os novos projetos do grupo68. O nome adotado e a mentalidade demonstrada pelos lderes s poderia estar refletindo na era presente a qual a Igreja Emergente estava inserida, a psmodernidade, ou pelo menos a transio entre as geraes:Ainda que valores estticos e teolgicos fossem diferentes, havia a possibilidade de identificao pontual dessas diferenas, ou seja, o cerne ainda permanecia o mesmo. Essas diferenas se davam mais por estilo e estrutura teolgica do que por uma abordagem filosfica da vida como um todo. Necessitando adaptar-se ao seu tempo, as igrejas consideradas evanglicas tinham confisses bblicas diferentes e estilos de culto, msica, pregao e eclesiologia que eram destinados a diferentes pblicos, mas mantinham uma base comum. Nesse perodo formou-se a igreja dentro da igreja, para satisfazer anseios de geraes diferentes, mas ainda era a mesma igreja 69.

A necessidade de um novo movimento, para a resposta a uma nova gerao, assim surgia a Igreja Emergente com novos pensamentos e a tentativa de seguir os passos de Jesus nos dias atuais. Evidentemente com as mudanas surgem os preconceitos e as barreiras. 3.2.1. A Igreja Emergente frente a ps-modernidade A Igreja Emergente uma igreja que se encontra na era ps-moderna, mas isto no quer dizer que ela seja ps-modernista; na realidade uma contra resposta a ps-modernidade, uma reposta para aquilo que emergncia 70 para as pessoas na sociedade hoje. Dan Kimball em seu Livro A Igreja Emergente, constri uma linha divisora entre era moderna e ps-moderna que ajuda o leitor identificar a igreja emergente frente a ps-modernidade.Modernismo Uma cosmoviso e uma cultura com nfase na cincia e na tecnologia; a f no conhecimento como bom e incontestvel, num nico padro de moral e verdade absolutas, no valor da individualidade e no67 68

MCLAREN, Brian. Op.cit. p.303. Idem. Os novos projetos deram incio a um novo portal o www.emergentvillage.com. 69 MEISTER, Mauro. P.98. 70 MCLAREN, Brian. Op.cit. P.304-305 (apud: Steven Johnson. Emergncia: a vida conectada das formigas, crebros, cidades e software. 2001) Emergncia aquilo que acontece quando o todo mais astuto que a soma de suas partes. o que acontece quando voc tem um sistema de partes componentes relativamente simples na maioria das vezes h milhares ou milhes delas e elas integram de maneira relativamente simples. E, de algum modo como resultado de toda essa interao, algumas estruturas de nvel ou de inteligncia mais elevados aparecem, usualmente sem planos-mestres, exercendo autoridade. Esses tipos de sistema tendem a evoluir a partir do cho..

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pensamento, no aprendizado e nas crenas como elementos que devem ser determinados de modo lgico e sistemtico. Transforma-se em: Psmodernidade Uma cosmoviso e uma cultura emergentes em desenvolvimento, em busca do que vai alm da modernidade. Defende que no h uma nica cosmoviso universal. Portanto, a verdade no absoluta, e muitas das qualidades adotadas pelo modernismo no detm mais o valor nem a influncia de antes. Pode ser definido segundo nosso 71 gosto, pois ainda est em formao e desenvolvimento .

Nesta descrio de uma era para a outra se percebe uma notvel mudana de como as pessoas enxergam o mundo, e como elas vo reagir diante de suas decises e suas crenas.O mundo ps-moderno um mundo que se auto-compreende por meio de modelos biolgicos e no mecnicos; um mundo onde as pessoas se vem como parte do ambiente e no acima ou separadas dele. Um mundo desconfiado das instituies, das hierarquias, das burocracias centralizadas e das organizaes dominadas pelo sexo masculino. um mundo em que as redes de comunicao e as atividades locais das pessoas comuns tm precedncia sobre estruturas de larga escala e sobre grandes projetos; um mundo em que a era do livro est abrindo caminho para a era da tela; um mundo faminto por espiritualidade, mas indiferente religio sistematizada. um mundo onde a imagem e a realidade se encontram to profundamente e entrelaadas que se torna difcil saber onde uma comea e a outra termina72.

No somente na rea da tecnologia, mas em todos os aspectos a mudana da modernidade para a ps-modernidade pode ser observada, a comear pela perspectiva de muitos historiadores. A era moderna nascida no alvorecer do iluminismo, logo aps a Guerra dos Trinta Anos, mas o cenrio j tinha sido armado anteriormente na Renascena, onde a humanidade estava no centro da realidade. Uma frase que frisa bem esta perspectiva a de Francis Bacon que diz que os homens podiam dominar a natureza se descobrissem os segredos dela73. Ou seja o individuo est no centro do mundo, sua racionalidade e seu conhecimento no podem titubear, o homem com seu intelecto deve descobrir os segredos do universo.O projeto de modernidade formulado no sculo XVIII pelos filsofos do iluminismo consiste num desenvolvimento implacvel das cincias objetivas das bases universalistas da moralidade e da lei e de uma arte autnoma consoante a lgica interna delas, constituindo ao mesmo tempo, porm, uma libertao dos potenciais cognitivos acumulados em decorrncia de suas altas formas esotricas e de sua utilizao na prxis; isto , na organizao racional das condies de vida e das relaes sociais. Os proponentes do iluminismo [...] cultivam ainda a expectativa extravagante de que as artes e as cincias no somente aperfeioariam o controle das71

KIMBALL, Dan. p.66. KIMBALL, Dan. p.71. apud: TOMLINSON, Dave. London: Triangle, 1995. p.75. 73 GRENZ, Stanley J. Ps-Modernismo.Um guia para entender a filosofia de nosso tempo. So Paulo: Vida Nova, 2008. p.13.72

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foras da natureza, como tambm a compreenso do ser e do mundo, o progresso moral, a justia nas instituies sociais e at mesmo a felicidade humana.74

A demanda por um determinado tipo de conhecimento faz com que o pesquisador moderno busque um mtodo que demonstre a correo fundamental das doutrinas filosficas, cientificas, religiosas, morais e polticas 75. um conhecimento axiomtico76 e que coloca o ser em um estado de certeza absoluta. J na ps-modernidade estas certezas so rejeitadas, e isto se baseou na dcada de 70 com uma nova forma de leitura, o desconstrucionismo, este tipo de leitura abriu o entendimento para uma nova filosofia.A desconstruo surgiu como um prolongamento de uma teoria literria chamada estruturalismo. Segundo estruturalistas, a linguagem uma construo social e as pessoas desenvolvem documentos literrios textos na tentativa de prover estruturas de significado que as ajudaro a dar sentido ao vazio de sua experincia. Os estruturalistas argumentam que a literatura nos equipa com categorias que nos auxiliam a organizar e a compreender nossa experincia da realidade. Alm do mais, todas as sociedades e culturas possuem uma estrutura comum e invarivel.77

Os filsofos ps-modernos aplicaram essa teoria do desconstrucionismo literrio em todas as coisas no mundo. A afirmao que eles fazem que assim como um texto ter leitura diferente conforme o leitor, da mesma maneira a realidade ser lida diferentemente por todo ser dotado de conhecimento que com ele depare78. Isto quer dizer que no h um significado nico, no h um centro transcendente para a realidade com um todo. Ento com esta viso de que no h um sentido nico, a mente ps-moderna recusa a dizer que a verdade exata, e no limitam a verdade pura e simplesmente a sua mente racional, acreditam que h outras maneiras, outros caminhos validos para o conhecimento alm da razo, assim a experincia do ser se valida com suas emoes e intuies79.

74

Ibidem. p.15. apud: HEARMAS, Jrgen. Modernity: an unfinished Project, in: The post-modern reader, editado por Charles Jencks. New York, St. Martins Press, 1992, p.162-163. 75 Ibidem. P.15. apud: LUECKE, Richard. The oral the local and the timely, Christian century, 3 de outubro de 1990, p.875. 76 BUENO, Silveira. Mini Dicionrio da lngua Portuguesa. Ed. Revista e Atualizada. So Paulo: FTD. 2001. Axiomtico: adj. Evidente; incontestvel. 77 GRENZ, Stanley J. Op.cit. p.18. 78 Idem. 79 Idem.

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A vantagem deste ponto de vista o sentido de sua cosmoviso, em que o individualismo do ser humano no favorvel, mas uma vida em comunidade valorizada.A cosmoviso ps-moderna opera com um entendimento da verdade embasado na comunidade. Assim o que quer que aceitemos como verdade, e at mesmo o modo como a vemos, depende da comunidade da qual participamos. Alm disso, e de modo ainda mais radical, a cosmoviso psmoderna afirma que esta relatividade se estende para alm de nossas percepes da verdade e atinge sua essncia; no existe verdade absoluta; pelo contrrio, a verdade relativa comunidade da qual participamos. Como base nessa suposio, os pensadores ps-modernos abandonaram a procura iluminista por uma nica verdade universal, supra-cultural e eterna. Em vez disso, concentram-se naquilo que tido por verdadeiro no espao especifico de uma comunidade. Asseveram que a verdade consiste nas regras fundamentais que facilitam o bem estar da comunidade da qual se participa. Em conformidade com essa nfase, a sociedade ps-moderna tende a ser comunitria.80

Um ponto que fica muito claro na era ps-moderna o interesse do transcendente, a busca das questes relacionadas com deus, uma vida de f e religiosidade, em outras palavras uma vida sobrenatural. S que no somente o sentido sobrenatural cristo que apegado a esta gerao, pois o censo divino aparente tem tanto um censo de benevolncia como tambm um censo de cinismo e autogratificao81. Portanto os aspectos apontados pela ps-modernidade demonstram o relevante pensamento da Igreja Emergente acerca da sociedade, sua busca espiritual e centralidade em seus prprios sentimentos. A Igreja Emergente busca entender estas caractersticas ps-modernas e ento fazer uma teologia adequada para tal situao. 3.3. Sua teologia e compreenso de mundo A teologia da Igreja Emergente poderia ser conceituada de vrias maneiras, como teologia liberal82, como heresia, como teologia relativista etc. poderia ser descrita de varias formas por pessoas que no aderiram ao movimento, mas pelos fundadores e telogos da Igreja Emergente poderia ser descrita de uma nica forma, a igreja que no se amoldou aos padres deste mundo e agora quer mud-lo

80 81

GRENZ, Stanley J. Op.cit. p.21. Ibidem. p.23. 82 O termo liberal difcil de ser definido, pois o liberal s liberal a um certo ponto de vista. E para os crticos da Igreja Emergente, a teologia desenvolvida pelo movimento no d o devido valor a bblia, mas os lderes emergentes j atacam a teologia moderna por no viver aquilo que desenvolvem como sua suma teologia.

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atravs de suas atitudes e sua misso, uma teologia bblica comprometida com as pessoas83. O principal foco da Igreja emergente, e que talvez ajude a definir sua teologia, o fato de serem missionais. Dan Kimball diz que o sucesso da Igreja Emergente medido de forma missional 84, enquanto as igrejas modernas medem seu sucesso atravs de seus prdios, planejamentos financeiros e pessoas; a Igreja Emergente mede seu sucesso atravs de suas prticas, atravs da transformao e o exemplo que pode ser para as pessoas.Como devemos medir o sucesso na igreja emergente? Observando o resultado de nossas prticas, o que elas produzem no povo de Deus quando as pessoas so enviadas com a misso de viver como sal e luz em suas comunidades (Mateus 5.13-16), e observando se as pessoas de nossa igreja levam justia social e caridade a srio como parte da misso que Jesus realizou. Devemos medir o sucesso ao olhar para as mesmas caractersticas que o Esprito de Deus recomendou para a igreja emergente e missionria de Tessalnica no primeiro sculo: Assim, tornaram-se modelo para todos os crentes que esto na Macednia e na Acaia. Porque, partindo de vocs, propagou-se a mensagem do Senhor na Macednia e na Acaia. No somente isso, mas tambm por toda parte tornou-se conhecida a f que vocs tm em Deus. O resultado que no temos necessidade de dizer mais nada sobre isso, pois eles mesmos relatam de que maneira vocs nos receberam, e como se voltaram para Deus, deixando os dolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro, e esperar dos cus seu Filho a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livra da ira que h de vir (1 Tessalonicenses 1.7-10).85

Para McLaren no h outra forma de ver um cristo e dizer que ele no missional, e quando ele afirma isso o mesmo que dizer todos so comissionados, todos esto dentro das boas novas, no h quem deva ficar de fora das boas novas, mas isso no quer dizer que a injustia no mundo vai acabar ou coisas parecidas. A f missional que McLaren expe totalmente inclusivista86, ela no condizente com a f que s salva alguns e coordenam outras. Jesus no veio para criar uma religio exclusivista como o Judasmo, que era exclusiva para quem tinha a religio83

Este pensamento fica claro nos Livros de Dan Kimball A Igreja Emergente e tambm no Livro de Brian McLaren Uma Ortodoxia Generosa. Estes pensadores que alavancaram o movimento da Igreja Emergente deixam bem claro que a tentativa deste movimento trazer mudana de mentalidade para que haja mudana de atitude. 84 MCLAREN, Brian. Op.cit. O termo missional surgiu nos anos 90, graas ao evangelho e nossa rede cultural (www.gocn.org). ele foi pluralizado pelo importante livro da rede, chamado Missional Church [Igreja missional] (Darrell L. Guder, entre outros. Eerdmans, 1998). 85 KIMBALL, Dan. Op.cit. p.22. 86 MCLAREN, Brian. Op.cit. O termo usado quer dizer que a obra de Jesus inclui todos os seres humanos, de todas as etnias, credos e raas. Talvez o termo ideal seria o universalismo. Isso universalismo no sentido verdadeiro... o impulso para fora do cristianismo a partir de mim para meu prximo, do estrangeiro ao inimigo e a todas as tribos e naes da terra (Vicent Donovan. Christianity Rediscovered).

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por gentica, j o cristianismo se tornou exclusivo baseando-se em crenas, o que pode ser pior que o exclusivismo gentico87. McLaren no assume nem uma posio liberal e nem conservadora, mas tenta apresentar uma terceira opo, pois o conservadorismo est preocupado somente com a salvao pessoal, e o liberalismo seria o mesmo que dizer que perdeu o respeito pela sociedade, um ser excomungado, excludo, e por este motivo perde a essncia de viver em comunidade, ou seja, assim como os conservadores os liberais se tornam um grupo pequeno e restrito 88. Ento McLaren tenta desenvolver uma nova vertente dentro desta concepo do evangelho missional, onde certas palavras no podem fazer parte do vocabulrio, ou pelo menos elimina distines, como evangelismo e ao social, pois ambas esto integradas em forma de expressar ao mundo um amor que salva. Ministrio e misso, o que eu fao dentro e fora da igreja, e o entendimento de ministrio misso. E tambm os termos missionrios e campo missionrio, uma vez que agora todo cristo um missionrio e todo seu lugar um campo missionrio 89. Alm disso essa teologia faz um ataque no s ao cristianismo tradicional, mas a todas as religies que usam a ttica de beno e maldio; se a pessoa adepta da religio abenoada se no amaldioada. No caminho missional, o evangelho traz beno a todos, adeptos e no adeptos igualmente 90.[...]se Jesus envia pessoas ao mundo para amar e servir seus semelhantes, seus semelhantes so beneficiados, do mesmo modo que as pessoas enviadas por Jesus, uma vez que melhor dar que receber[...]91

Para os emergentes este o sentido real das boas novas, e isto foi o que Jesus ensinou aos seus doze escolhidos, Ele os enviou para que ensinasse a outras pessoas sabendo que alguns creriam e tambm se tornariam praticantes desta nova forma de viver.Os oprimidos seriam libertos. Os pobres seriam retirados da pobreza. Minorias seriam tratadas com respeito. Pecadores seriam amados, e no tratados com ressentimento. Industriais perceberiam que Deus se importa com os pardais e as flores silvestres de modo que suas indstrias respeitariam e no violariam o meio ambiente. Os desabrigados seriam convidados para uma refeio quente. O reino de Deus se estabeleceria no em toda a parte e nem de uma nica vez, no repentinamente, mas8788

Ibidem. p.117-127. Ibidem. p.145. 89 Ibidem. p.117-127. 90 Ibidem. p.124. Brian McLaren deixa bem claro que o evangelho no traz benefcios iguais a todos. E que nem todos os cristos desfrutam igualmente destas bnos. 91 Ibidem. p.125.

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gradualmente, como uma nica semente brotando em um campo, como o trigo se espalhando em massa de po, como luz se espalhando pelo cu no romper da aurora.

Assim se resume a teologia da Igreja Emergente, uma teologia que assume a responsabilidade de interpretar a Bblia com o compromisso com cada ser humano presente nesta terra. Uma teologia que conscientiza os cristo a serem solidrios a cada instante de vida, e que eles no so os usurios finais do evangelho. A teologia da Igreja Emergente um proponente de libertao e justia a todo ser humano, sem preconceito e preferncias, um caminho de beno para todo e qualquer ser humano. E o mundo o lugar onde todos vivem e devem compartilhar em amor uns com os outros as maravilhas da salvao de Deus enviadas atravs de Jesus.

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4 UMA ANLISE DO CULTO NA IGREJA EMERGENTEAssim como as mudanas entre era moderna e era ps-moderna tem uma forte influncia na filosofia e atitudes pessoais, tambm tem uma grande e forte influncia na concepo do culto da Igreja Emergente. Partindo desta mudana de viso, o foco da ministrao da Igreja Emergente ter um pblico alvo bem diferenciado. Na modernidade a organizao do culto, entendia o pblico como sensvel- ao -interessado, e na ps-modernidade pssensvel- ao -interessado92. Para a era moderna os cultos, as mensagens eram pensadas de uma forma que as pessoas que j eram freqentes naquele ambiente se agradassem, estas pessoas j eram as interessadas e j sabiam o que encontrariam na Igreja. Porm, na era da ps-modernidade, onde se encontra a Igreja Emergente, o pensamento no est nestas pessoas e sim nas pessoas em busca de uma espiritualidade ainda no encontrada. Uma forma apresentada foi o retorno da era clssica da Igreja em seus primrdios, um culto bem diferenciado onde o pblico jovem e jovem-adulto se identifique melhor, com centralizao em Jesus Cristo para que seu nome seja louvado. Vejamos algumas definies para sensvel-ao-interessado e ps-sensvel-aointeressado:Sensvel-ao-interessado como estilo de Vida: ser sensvel-ao-interessado como estilo de vida significa que, em tudo o que fazemos, somos sensveis s pessoas que esto buscando verdades espirituais. Isso se aplica s nossas conversas com essas pessoas; aplica-se ao modo pelo qual planejamos nosso culto de adorao. Nesse sentido, no um estilo ou metodologia de adorao; um estilo de vida utilizado em nossa vida crist para nos tornarmos sensveis aos interessados na f. Sensvel-ao-interessado como estilo: Atualmente na cultura norteamericana, quando algum se refere a uma abordagem ou a um culto de adorao sensvel-ao-interessado, muitas vezes est falando de metodologia ou estilo de ministrio uma estratgia de ministrio para atrair aqueles que sentem que a igreja irrelevante ou obtusa. Isso muitas vezes acarreta a remoo de tudo o que considerado bloqueio religioso e demonstraes de espiritualidade (coisas como louvor prolongado, smbolos religiosos, perodos de orao interminveis, liturgia etc.) para que os interessados possam se relacionar com o ambiente e ser transformados pela mensagem de Jesus. Geralmente, o culto sensvel-ao-interessado funciona como porta de entrada para a igreja, mas em outro contexto ou reunio que a igreja oferece adorao e ensinamentos mais profundos93. Ps-sensvel-ao-interessado: retornar a uma forma bsica de cristianismo clssico, que sem fazer apologia, foca a vivncia do Reino pelos discpulos de Jesus. Uma reunio de adorao ps-sensvel-ao-interessado destaca, jamais esconde, demonstraes plenas de espiritualidade (louvor e adorao prolongados, smbolos religiosos, liturgia, muito tempo de orao,9293

KIMBALL, Dan. Op.cit. p.39, 147. Ibidem. p.32.

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uso farto das escrituras e de leituras etc.) para que as pessoas possam ter uma experincia e ser transformadas pela mensagem de Jesus. Essa abordagem, no entanto, se faz com vida renovada, sem deixar de ser sensvel medida que se oferecem aos interessados instrues claras e explicaes regulares para que compreendam termos teolgicos e exerccios espirituais94.

Na identificao do ser como sensvel ou ps-sensvel percebe-se que a grande diferena esta no fator experincia. Esta parece bem ser uma das caractersticas da cultura brasileira citada por Ariovaldo Ramos, uma religiosidade ligada experincia, exuberante e at mesmo exacerbada; e pode ser interpretada de forma correta ou errada95. Quando Dan Kimball descreve que a inteno desta nova gerao voltar ao cristianismo primitivo justamente pelo fato de nos dias atuais no haver mais uma ncora como verdade. Tudo o que acontece no mundo poderia ser dito como influncia da cultura que est presente em cada local do mundo, mas para Kimball isso no surpreende a Jesus, pois sua obra e sua pessoa sempre sero o mesmo ontem, hoje e sempre. Ento esta tentativa de retornar a um cristianismo que no esteja simplesmente preocupado em se defender, mas em demonstrar que Jesus pode ser seguido, de mostrar que a igreja ainda possui uma ncora, uma f fundamentada na mais pura e inteira verdade, por mais que o mundo esteja em tempos de relatividade96 ainda possvel ter Jesus como esta verdade e ncora97. Um fator que ajuda nesta identificao que na era moderna as reunies tinham um formato linear onde tudo caminhava e direcionava para a mensagem a ser pregada; na Igreja Emergente a temtica do experiencial percorre todo o culto, e este o foco central. Assim o culto tem um alcance muito maior a estas pessoas que de certa forma j tem em mente os pensamentos de um mundo ps-moderno98.

94 95

KIMBALL, Dan. Op.cit. p.33. RAMOS, Ariovaldo. Op.cit. 96 O relativismo esta relacionado com o estado de capacidade do ser humano em compreender o que a verdade; ou o que correto. Na serie de Livros OS PENSADORES Toms de Aquino destina em seus pensamentos, uma srie de textos que resultam em oito artigos, tratando do questionamento real sobre esta questo da verdade. 97 KIMBALL, Dan. Op.cit. p.36-37. 98 Ibidem. p.147-154.

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Quadro 1: diferena entre abordagem Moderna linear e Abordagem orgnica de f clssica (Dan Kimball. p.150, 152.).

Momento de adorao

Anncios Pea teatral ou vdeo Abordagem orgnica de f clssica O tema experiencial percorre toda a reunio como foco e elemento central. Mensagem

Abordagem Moderna linear

Tudo gira em torno da mensagem e conduz a ela, pois o foco e o elemento central do culto.

Msica de encerramento Mensagem

Neste quadro perceptvel a mudana no culto de adorao, o foco central desenvolvido na era moderna um culto extremamente racional, o culto projetado com um direcionamento mensagem a ser pregada. Este sentido foi passado a cada sculo. J o culto com abordagem de f clssica tem o foco central na espiritualidade, a experincia da pessoa. Este tipo de culto faz com que todas as pessoas consigam se identificar dentro do culto litrgico, pois por mais que a experincia seja subjetiva e pessoal h um fruto dentro da comunidade, onde o esprito ministra aos que esto oprimidos e convence os que esto em pecados. O objetivo desta mudana para uma abordagem orgnica que as pessoas no mais

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sejam convidadas a sentar e observar o que acontece, mas que elas participem e experimentem o Deus transcendente99. Quadro 2: Valores em transformao na abordagem dos cultos de Adorao (Dan Kimball. p.132.). IGREJA MODERNA (Sensvel-ao-interessado)cultos de adorao nos quais a pregao, a msica, a programao etc. so servidas ao freqentador Cultos projetados para alcanar aqueles que tiveram uma experincia ruim ou enfadonha com a igreja. Cultos projetados para serem contemporneos e acessveis. Necessidade de romper com o esteretipo do que a igreja . Vitrais so retirados e substitudos por telas de vdeo Cruzes e outros smbolos removidos do lugar da reunio para evitar uma aparncia muito religiosa. Local montado para que as pessoas sejam capazes de ver o palco de um assento confortvel enquanto adoram. Santurio bem iluminado e jovial valorizado O ponto central do culto o sermo. O pregador e o lder do louvor dirigem o culto. Utiliza tecnologia moderna para comunicar com aparncia contempornea. Cultos projetados para crescer e acomodar muitas pessoas da igreja.

IGREJA EMERGENTE (ps-sensvel-ao-interessado)Reunies de adorao que incluem pregao, msica etc. Reunies projetadas para aquelas que nunca tiveram experincia com igreja. Reunies projetadas para serem experienciais e mstico-espirituais. Necessidade de romper com o esteretipo de quem o cristo . Vitrais so levados de volta nas telas de vdeo Cruzes e outros smbolos levados de volta para o lugar da reunio para promover uma sensao de reverncia espiritual. Local montado com foco na comunho, para ser mais como uma sala de estar ou uma cafeteria enquanto as pessoas adoram. A escurido valorizada, pois proporciona uma sensao de espiritualidade O ponto central do culto a experincia holstica. O pregador e o lder do louvor dirigem por meio da participao na reunio. A reunio vista como oportunidade para vivenciar o antigo at mstico (e utiliza a tecnologia para obter isso). Reunies projetadas para crescer e acomodar muitas pessoas, mas vista como um momento de encontro de uma igreja que se rene em grupos menores.

O ponto de vista criado pela Igreja Emergente pode ser mais um ponto de vista como diz Leonardo Boff100, pois por mais que grande parte da sociedade mundial se encaixe na era ps-moderna, ainda encontra-se pessoas que esto vivendo em perfeito estado de aceitao a era moderna. O fato que o ponto de vista criado tem um pressuposto aonde os ps da pessoa que v esta cravado. A

99

KIMBALL. Op.cit. p.147-154. BOFF, Leonardo. A guia e a galinha. Petrpolis, Vozes, 1994. 14ed. Disponvel em . Acesso dia 20 de maio de 2010. Todo ponto de vista a vista de um ponto.100

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viso de um culto ideal, ou at mesmo do que a igreja. A viso do mundo sempre estar influenciada pelo fator scio-cultural. Talvez a crtica feita pelos ortodoxos tenha sua validade no quesito da primazia da palavra, pois se esta busca da espiritualidade distorcida para um entendimento simplesmente contemplativo cria-se um novo problema, pois o objetivo ser somente alcanar um estado de paz de esprito.A chamada Nova Espiritualidade Contemplativa, fortalecida atravs da Orao Contemplativa - usada por Teresa Dvila, Incio de Loyola e outros gurus da Idade Mdia - a ressurgida modalidade de vida espiritual, a qual conduz os seus seguidores Luz Interior (que seria o casamento do devoto com o Cristo Csmico). Atravs dessa luz que os adoradores entram em xtase espiritual, rejubilando-se na presena de Jesus... Isto , de outro Jesus! 101

Essa mudana proposta pela Igreja Emergente tende a alcanar todas as pessoas que buscam essa nova espiritualidade, e dentro desta concepo no importa a aparncia, ou classe, o que importa que as pessoas realmente tenham esta experincia com Deus, que cada um alcance o transcendente. Esta experincia propriamente dita pode ser vista de varias formas possveis. Dentro do quadro que os cristos j esto acostumados a ver algumas experincias podem parecer esquizofrnicas, e muitas vezes estas experincias so criticadas por aqueles que no so adeptos ao pentecostalismo, mas o fato que no sculo presente quando uma pessoa fala de experincia com Deus o ouvinte logo j espera uma fala miraculosa, algo paranormal aconteceu para tal testemunho.Quando se fala em experincia com Deus, s vezes se pensa em acontecimentos fora do comum ao alcance somente de poucas pessoas (como curas milagrosas, falar em lnguas, ter vises...), ou que se passam 102 em alguns momentos extraordinrios.

Tais experincias tm acontecido dentro de comunidades em momentos extraordinrios como a autora Ione Buyst103 expe em sua pesquisa sobre Liturgia, e a experincia que as pessoas tm propriamente dentro da liturgia. Ione diz em seu livro que no considera a experincia litrgica uma experincia fora do normal fora do alcance de um participante comum, ou fora de uma celebrao litrgica101

SCHULTZE, Mary. A Igreja Emergente da Nova Espiritualidade. Disponvel em . Acesso em 10 de Abril de 2010. 102 BUYST, Ione. Pesquisa em Liturgia: relato e anlise de uma experincia. So Paulo: Paulos, 1994. p.14. 103 Ione Buyst, beneditina, doutora em teologia com especializao em liturgia. Articulista do conselho de redao da Revista de Liturgia. Professoras e integrante da equipe do Centro de Liturgia da faculdade de Teologia N. Sra. Da Assuno, SP. Assessora treinamentos, encontros e cursos de teologia e pastoral litrgica. Autora de vrios livros entre os quais Como estudar liturgia.

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normal104. Ione vai tratar a experincia como algo mais do que subjetivo, embora seja subjetivo. algo que atrai coloca em total movimento os mecanismos da pessoa.A experincia um conhecer por dentro, partindo da prpria relao com as coisas [...] No educao intelectual. algo vital que se sofre na prpria carne [...] a conscincia vital que prende a pessoa [...], motiva e a pe em funcionamento, mediante a fuga, o desejo, a aproximao, o 105 engano ou a posse .

A experincia que as comunidades expressam dentro da liturgia uma forma de zelar pela experincia das primeiras comunidades, e a partir do momento que cada pessoa assume esta responsabilidade de expressar torna possvel, ento, a possibilidade de tornar a experincia que fora histrica, ou especfica de uma comunidade, uma experincia atual e pessoal. Com isso ento se tem a idia de sempre atualizar a experincia que j foi vivida, principalmente porque ao longo do tempo o fator da dimenso pessoal dentro da liturgia perdeu muito seu valor, ento esta idia de experincia pessoal surge como uma resposta a esta negao do lado subjetivo que cativa e motiva a pessoa. O culto moderno frio, direto e objetivo e por isso no toca nos sentidos mais importantes de cada pessoa, que so existenciais e emotivos106. Para alcanar esta espiritualidade, ou a experincia com Deus, os lderes emergentes utilizam uma estrutura litrgica diferenciada, onde as pessoas se sintam em um ambiente completamente espiritualizado, tanto nas msicas tocadas, como na aparncia do local. Tudo aspira espiritualidade, vus, velas etc. o que for necessrio para tornar o local em um local aparentemente espiritual. Esta estrutura de culto chamada de multissensorial107. O argumento para tal estratgia que Deus criou o ser humano com diversos sentidos e todos devem ser usados para sentir sua presena.Deus nos fez criaturas multissensoriais e escolheu revelar-se a ns atravs de nossos sentidos. Portanto, natural que o adoremos usando todos os nossos sentidos. A adorao no templo em Jerusalm era muito mais do que apenas ouvir as palavras de um sermo. Todos os sentidos eram envolvidos. Os aromas do incenso e dos sacrifcios podiam ser sentidos, os cnticos e as trombetas do templo podiam ser ouvidos, a arquitetura transcendente de pilastras imponentes e grandes jardins podiam ser vistas.

104 105

BUYST, Ione. Op.cit. p.15. Idem. apud: GUERRA, Augusto. Experincia crist, in Stefano FIORES & Tullo GOFFI, Dicionrio de Espiritualidade, Paulos, So Paulo, 1993, pp.388-393. 106 Ibidem. p.16-17. 107 KIMBALL. op.cit. p.155-160.

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At mesmo a textura e as cores do vesturio sacerdotal comunicavam aspectos especficos sobre Deus e sobre sua aliana com Israel.108

Ento nota-se que o culto da Igreja Emergente tem o objetivo de alcanar todas as pessoas em um sentido que elas possam viver na prpria pele uma experincia com Deus, sendo atravs da viso ou escutando, tocando ou sentindo o aroma, o fato que para os Emergentes todos precisam viver esta experincia com Deus.

4.1 A influncia sociocultural no culto da igreja EmergenteNenhuma igreja capaz de alcanar a todos. Precisamos de todos os tipos 109 de igreja para alcanar todos os tipos de pessoas .

A Igreja Emergente tem o objetivo de alcanar todas as pessoas. No h restries para nenhum tipo de pessoas. Segundo sua teologia que compreende que todo cristo deve ser missional, deve cumprir seu papel de evangelizar, de propagar libertao, no pode haver distino de pessoas nem de classes. S que a Igreja Emergente surge em um cenrio de pases desenvolvidos, que so Estados Unidos e Inglaterra110, e isto acaba fazendo com que a viso seja muito mais adequada para seu local de criao, ou pelo menos isso o que parece. Mas a Igreja Emergente compreende o culto de adorao em um molde segundo a necessidade e as conformidades de cada comunidade 111. O que Dan Kimball, McLaren e os demais telogos da Igreja Emergente querem mostrar que a igreja mais que um prdio onde as pessoas se renem. O sentido real de ser igreja dar movimento, estar em movimento na obra de Deus. No basta apenas entender que no h apenas uma forma de adorao, que dentro de cada cultura necessrio uma abordagem diferente, uma postura diferente, pois os fatores ticos, morais e sociais tornam as pessoas especiais em cada lugar do mundo. O que os cristos precisam entender que o culto de adorao tem de ser108 109

Ibidem. P.156. KIMBALL, Dan. Op.cit. apud: Rick Warren. Uma Igreja com propsito. 110 No capitulo 2 desta pesquisa, citado por Mauro Meister e outros autores a origem da Igreja Emergente. 111 KIMBALL, Dan. Op.cit. p. 147-148. O autor conta uma experincia em uma pequena cidade no Mxico, onde a igreja reunia cerca de 200 pessoas, em um local que comportava menos da metade que ali se encontravam. A forma de adorao era bem diferente da qual ele estava acostumado, mas reconhece o trabalho dos lderes que conseguiram desenvolver um culto de adorao que supria, e motivava aquelas pessoas estarem ali adorando a Deus, em um culto feito, segundo ele, sob medida para aquelas pessoas.

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elaborado com Jesus no centro, no pode ter outra nfase. Jesus nunca pode ser colocado de lado112. Ao falar que no h somente uma forma de adorao, fica claro, que todas as pessoas, de todos os estilos, podem adorar a Deus. E o culto emergente tem este objetivo de fazer com que as pessoas se sintam parte do lugar de adorao ao Senhor. A Igreja pode ter cultos com caractersticas para gticos, para roqueiros, para quem gostam de rap etc. basta apenas que os lderes compreendam que um culto de adorao tem que alcanar essas pessoas, se h esse tipo de pessoas para serem alcanadas em sua comunidade. A Igreja Emergente entende que a cultura tem influncia sobre as pessoas sim, mas algo muito importante que as pessoas vo criando novas culturas, e O problema que estamos vivendo numa cultura que forma espectadores... Adorao de espectadores e sempre ser uma contradio de termos 113. E o que os emergentes mais vm combatendo, que se o discurso no condiz com a prtica, no pode continuar assim. A igreja precisa de uma experincia com Deus que faa com que ela entenda e assuma o querer expressar Deus para as outras pessoas em qualquer lugar. Uma coisa falar de Deus. Experiment-lo outra coisa bem diferente114. As pessoas precisam ter esta experincia com Deus, para que possam transformar a realidade de sua cultura. Ao falar de evangelizao o sentimento que os telogos da Igreja Emergente que esta uma misso central, mas para isso o cristo deve estudar a bblia a fundo, e isto sempre sob muita orao para que o manejar das escrituras seja correto; e quando falar de Jesus que ele seja o centro, pois a pessoa que evangeliza no passa apenas informaes sobre Jesus, mas fala como experimentar, como se relacionar com Ele em condies de discpulo; e no importa como se fala, o mtodo que usa o que interessa a transformao a mudana proporcionada na vida dos ouvintes115. Biblicamente exemplificando esta abrangncia que a igreja pode ter Kimball usa o exemplo de Paulo no Livro de Atos 17116, em que Paulo demonstra que para cada cosmoviso apresentada ele usava uma estratgia de pregao diferente.112 113

Ibidem. p.149. KIMBALL, Dan. Op.cit. p.189. apud: Sally Morgenthaler, Whorship Evangelism. 114 Ibidem. p.191. apud: Leonard Sweet. Postmodern Pilgrims. 115 Ibidem. p.214-215. 116 Ibidem. p.217.

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Paulo levava em conta o respeito e o conhecimento que cada um poderia ter ou no das escrituras. E assim deve ser o cristo ao elaborar uma mensagem.Quando formos preparar as mensagens para a cultura emergente devemos pensar como Paulo pensou. Quando pregamos, no devemos jamais pressupor que todos concordam com nossas premissas. Voc pode falar com crentes e incrdulos ao mesmo tempo, contanto que se empenhe um pouco mais e faa algumas redefinies e repense sua abordagem quando for pregar.117

Para explanar melhor o alcance e objetivo do evangelismo Kimball desenvolveu este quadro: Quadro 3 Valores em transformao na abordagem evangelstica (Dan Kimball. p.250) IGREJA MODERNAO evangelismo um evento para qual voc convida as pessoas. O evangelismo est preocupado basicamente em conduzir as pessoas para o cu. O evangelismo focado em pr-cristos. O evangelismo realizado por evangelistas. O evangelismo algo complementar ao discpulo. O evangelismo uma mensagem. O evangelismo usa a razo e provas apologticas. Misses representam um departamento da igreja.

IGREJA EMERGENTEO evangelismo um processo atravs de relacionamentos, confiana e exemplo. O evangelismo se preocupa com as experincias das pessoas dentro da realidade de viver o Reino de Deus agora. O evangelismo focado em ps-cristos O evangelismo realizado por discpulos. O evangelismo faz parte da realidade de ser discpulo. O evangelismo uma conversa. O evangelismo usa o fato de a igreja ser igreja como argumento apologtico. A igreja uma misso.

A pregao na cultura emergente envolve corao, casamento, vida de solteiro, famlia, amigos, criatividade, discurso, atitudes, corpo, aes, brincadeiras, sussurros, gritos, percepes, segredos, pensamentos e, sim, tambm nossos sermes. N