limites constitucionais de jornada
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Monografia que trata de forma profunda dos limites constitucionais de jornada. Trabalho aprovado com louvor. Útil para todos aqueles que são estudiosos do Direito do Trabalho ou que militam na área.TRANSCRIPT
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
GLEIDES OLIVEIRA FREITAS
EFEITOS DO DESCUMPRIMENTO DOS LIMITES CONSTITUCIONAIS DA
JORNADA DE TRABALHO
PALMAS
2013
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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Biblioteca da Universidade Federal do Tocantins
Campus Universitrio de Palmas
F866e Freitas, Gleides Oliveira
Efeitos do descumprimento dos limites constitucionais da jornada de trabalho / Gleides Oliveira Freitas Palmas, 2013.
83f.
Monografia (TCC) Universidade Federal do Tocantins, Curso de Direito, 2013.
Orientadora: Prof. Naima Worm
1. Jornada. 2. Limitao. 3. Constituio. I. Ttulo.
CDD 340
Bibliotecria: Atilena Oliveira CRB 932
Todos os Direitos Reservados A reproduo total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio deste documento autorizado desde que citada a fonte. A violao dos direitos do autor (Lei n 9.610/98) crime estabelecido pelo artigo 184 do cdigo penal.
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GLEIDES OLIVEIRA FREITAS
EFEITOS DO DESCUMPRIMENTO DOS LIMITES CONSTITUCIONAIS DA
JORNADA DE TRABALHO
Monografia de Direito apresentada ao
Curso de Direito da Universidade Federal
do Tocantins, como exigncia parcial para
obteno do grau de Bacharel em Direito,
sob a orientao da Professora Naima
Worm.
PALMAS
2013
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GLEIDES OLIVEIRA FREITAS
EFEITOS DO DESCUMPRIMENTO DOS LIMITES CONSTITUCIONAIS DA
JORNADA DE TRABALHO
Monografia de Direito apresentada ao
Curso de Direito da Universidade Federal
do Tocantins, como exigncia parcial para
obteno do grau de Bacharel em Direito,
sob a orientao da Professora Naima
Worm
Aprovada em ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
Prof. Naima Worm (Orientadora)
Professor(a)
Professor(a)
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Dedico este trabalho a Deus, aos meus
amados pais Alan-Kardec Oliveira
Guimares (in memorian) e Maria Cabral
Guimares e ao meu querido amigo
Ricardo Adriano Fujita.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo sobretudo a Deus por atender a meus pedidos, direcionando meus
pensamentos na produo de um trabalho til sociedade.
Agradeo ao funcionrio da Fundao Jorge Duprat Figueiredo
(FUNDACENTRO), Renivaldo Ferreira dos Santos do Servio de Documentao e
Biblioteca quem disponibilizou artigos essenciais para comprovar hiptese suscitada.
Ao meu amigo Ricardo Fujita, agradeo pela sugesto do tema, pela releitura
dos textos, pelos elogios e crticas.
Por fim agradeo a minha orientadora, Naima Worm que tem a habilidade de
sorrir para os obstculos, deixando-os para trs.
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O prazer no trabalho aperfeioa a obra. Aristteles
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RESUMO
Este trabalho foi motivado pelas dvidas suscitadas em torno dos limites jornada de trabalho impostos pela Constituio Federal de 1988. Verifica-se na prtica que tais limites no so respeitados em diversos setores econmicos do pas. As horas extras habituais faz parte do cotidiano do trabalhador, desvirtuando desta forma o mandamento constitucional. Trabalhadores de setores econmicos como a sade so afetados por jornadas que em tese os beneficiariam, mas que se mostram altamente prejudiciais a sua sade e sua vida social. Buscaram-se neste trabalho os fundamentos da limitao da jornada de trabalho. Ficou demonstrado que a limitao da jornada conquista histrica advinda de lutas de trabalhadores da poca da Revoluo Industrial que refletiu nos textos legais de diversos pases. No Brasil esta limitao ganhou status constitucional, porm nem por isso obedecida em sua integralidade. Por isso, as consequncias para a sade e vida social do trabalhador foram investigadas, ficando evidenciado o stress ocupacional, as DORT e a sndrome de Burnout, como principais danos sade. Socialmente, o excesso de trabalho impede a qualificao, o lazer e o convvio familiar. Por fim, foram apresentadas as instituies de vigilncia do Direito do Trabalho, as suas competncias e os instrumentos de que podem se utilizar para fazer valer a Lei Maior brasileira quanto aos limites jornada de trabalho.
Palavras-chave: JORNADA, LIMITAO, CONSTITUIO.
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ABSTRACT
This work was motivated by the doubts raised about the limits to working hours
imposed by the Constitution of 1988. It is found in practice that such limits are not
respected in various economic sectors of the country. Overtime became a regular
part of daily work, thus distorting the constitutional mandate. Workers of economic
sectors such as health are affected by shifts that, in theory, would benefit them, but it
is highly detrimental to their health and social life. We sought in this study the
fundamentals of the limitation of the working day. It was demonstrated that limitations
of the journey were winning historical struggles of workers at the time of the Industrial
Revolution that reflected in the legislation of many countries. In Brazil this limitation
gained constitutional status, but by no means is obeyed in its entirety. Therefore, the
consequences for health and social life of the workers were investigated, with
occupational stress, the DORT and burnout as major health damage. Socially,
overwork prevents qualification, leisure and family life. Finally, institutions were
presented the surveillance of Labour Law, skills and tools that can be used to enforce
the law as Brazilian highest limits to working hours.
Keywords: WORKING DAY, OVERTIME, CONSTITUTION.
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SUMRIO
INTRODUO ...................................................................................................................... 9
I FUNDAMENTOS DA DELIMITAO DA JORNADA DE TRABALHO ............................ 13
1.1 ORIGEM HISTRICA DA JORNADA DE TRABALHO ............................................... 13
1.2 MOTIVOS DA LIMITAO DO TEMPO DE TRABALHO ........................................... 18
1.3 NATUREZA JURDICA DA JORNADA DE TRABALHO ............................................. 19
1.4 DISTINES ENTRE DURAO, JORNADA E HORRIO DE TRABALHO ............ 21
1.5 PRINCIPAIS FORMAS DE EXCEO JORNADA NORMAL CONSTITUCIONAL . 24
1.5 1 TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO .............................................. 25
1.5.2 TRABALHO NOTURNO ....................................................................................... 26
1.5.3 O TRABALHO EXTRAORDINRIO ..................................................................... 27
1.5.4 COMPENSAO DE HORRIO DE TRABALHO ............................................... 29
1.5.5 O REGIME ESPECIAL DE COMPENSAO 12 X 36 HORAS ........................... 32
II CONSEQUNCIAS DO EXCESSO DE TRABALHO ....................................................... 35
2.1 O ESTRESSE OCUPACIONAL .................................................................................. 36
2.2 FATORES PSICOSSOCIAIS NO AMBIENTE DE TRABALHO E CONDIES DE
TRABALHO POTENCIALMENTE ESTRESSORAS ................................................... 41
2.2.1 A SNDROME DE BURNOUT .............................................................................. 42
2.2.2 KAROSHI - MORTE POR EXCESSO DE TRABALHO ........................................ 45
2.2.3 DORT - DISTRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS COM O
TRABALHO .................................................................................................................. 46
2.3 CONSEQUNCIAS SOCIAIS DO EXCESSO DE TRABALHO .................................. 48
III TRATAMENTO DADO EXTRAPOLAO DA JORNADA DE TRABALHO PELAS
INSTITUIES DE VIGILNCIA DO DIREITO DO TRABALHO E PELOS SINDICATOS
........................................................................................................................................ 53
3.1 ATUAO DA JUSTIA DO TRABALHO NO CUMPRIMENTO DOS LIMITES
CONSTITUCIONAIS DA JORNADA DE TRABALHO ................................................. 54
3.2 ATUAO DO MINISTRIO PBLICO DO TRABALHO NO CUMPRIMENTO DOS
LIMITES CONSTITUCIONAIS DA JORNADA DE TRABALHO .................................. 60
3.3 ATUAO MINISTRIO DO TRABALHO NO CUMPRIMENTO DOS LIMITES
CONSTITUCIONAIS DA JORNADA DE TRABALHO ................................................. 64
3.4 ATUAO DOS SINDICATOS NO CUMPRIMENTO DOS LIMITES
CONSTITUCIONAIS DA JORNADA DE TRABALHO ................................................. 70
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CONCLUSO...................................................................................................................... 76
REFERNCIAS ................................................................................................................... 80
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INTRODUO
A histria demonstra que o trabalho na indstria txtil no fim do sculo XVIII,
propiciou a surgimento de sentimentos de indignao e solidariedade entre aqueles
que partilhavam de situaes semelhantes. Dentre os fatores que mobilizaram os
trabalhadores por melhores condies de trabalho est o excesso de jornada, em
que os limites dirios eram determinados exclusivamente pelos interesses dos
empregadores.
Baseado na economia liberal, o Estado no intervinha nas relaes de
trabalho. No havia distino: homens, mulheres e crianas, a todos eram impostos
exaustivas jornadas em detrimento da sade, segurana e vida social dos
trabalhadores.
As primeiras leis limitadoras da jornada de trabalho surgiram na Inglaterra,
Frana, Itlia e Alemanha. Porm, os moldes atuais, adotado por diversos pases
foram delimitados pelo Tratado de Versalhes, norteando a jornada ideal de trabalho
como sendo a de 8 horas dirias.
No Brasil o Decreto n. 21.186, de 1932, regulamentado pelo Decreto n.
21.364, do mesmo ano, fixou a jornada diria em 8 horas, surgindo aps diversas
legislaes esparsas regulando a limitao de jornadas especiais para diferentes
categorias.
A limitao da jornada no Brasil tem seu pice com a promulgao da
Constituio Federal de 1988, a qual limitou em seu artigo 7, inciso XIII a jornada de
trabalho em 8 horas dirias e 44 horas semanais.
Esta monografia se prope analisar a indagao: Quais so os efeitos do
descumprimento dos limites constitucionais da jornada de trabalho?
Sero consideradas duas hipteses como consequncias dos efeitos do
descumprimento da limitao da jornada de trabalho prevista na Constituio
Federal. Na primeira os efeitos sero apenas remuneratrios, atingindo apenas as
partes contraentes do pacto laboral. Na segunda, somadas aos aspectos financeiros
sero considerados os efeitos a sade, produtividade do trabalhador e vida social do
trabalhador.
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Esta pesquisa possui como objetivo geral buscar o verdadeiro sentido da
limitao da jornada prevista constitucionalmente, haja vista o desrespeito aos
mesmos fazerem parte do cotidiano laboral brasileiro. Os objetivos especficos
sero: fundamentar a limitao da jornada de trabalho prevista na Constituio
Federal Brasileira de 1988, expor as consequncias do desrespeito dos limites
constitucionais da jornada de trabalho na sade do trabalhador e apresentar as
instituies de vigilncia do direito do trabalho responsveis pela aplicao dos
direitos previstos constitucionalmente pertinentes jornada de trabalho.
Observa-se no Brasil que a pratica de horas extraordinrias consubstancia-se
em rotina nos mais diversos setores da economia. Tornou-se para o trabalhador
meio de aumentar sua remunerao mensal e para o empregador garantia de maior
produtividade a menores custos.
Sero apresentadas neste trabalho as consequncias do descumprimento
dos limites constitucionais da jornada de trabalho. A prtica cotidiana de horas
extraordinrias, alm daquelas expressamente previstas como necessidades
imperiosas produz efeitos que necessitam ser conhecidos e analisados sob o foco
protetor dado pela Constituio Federal de 1988.
Apesar da gravidade jurdica e social da afronta s normas constitucionais
limitadoras da jornada de trabalho, tal fato rotineiramente cometido, ganhando,
indevidamente, caractersticas de normalidade. Dessa forma, o tema deve ser
analisado com maior profundidade, buscando-se compreender todos os aspectos
que o envolvem.
A extenso da jornada alm do previsto constitucionalmente gera reflexos,
para as partes pactuantes do contrato de labor e para a sociedade. O trabalhador
poder ter sua vida laboral diminuda, devido aos efeitos no seu organismo
ocasionados pelo desgaste fsico e psicolgico ou aos to comuns acidentes de
trabalho, gerando problemas em sua vida financeira, familiar e social.
O desrespeito s normas limitadoras da jornada de trabalho uma afronta
no somente legislao, mas tambm a tudo o que ela representa: a sociedade e
os indivduos.
Ao empregador caber o pagamento de indenizaes quando comprovado a
sua responsabilidade em sinistros de acidentes de trabalho originados no ambiente
laboral, somando-se perdas de credibilidade do empreendimento e falta confiana
de investidores.
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Por ltimo a sociedade ser onerada por ter de suportar o pagamento de
benefcios sociais da previdncia social auxilio doena e auxilio acidente - aos
trabalhadores prejudicados pela desobedincia aos explcitos limites previstos na
constituio federal.
Para o saneamento dessas consequncias danosas ao trabalhador torna-se
necessrio implementao da limitao da jornada prevista na constituio
brasileira, devendo o excesso de jornada, quando permitida, ser compensada. A
jornada de trabalho aps a constituio de1988 foi limitada em 8 horas dirias e 44h
semanais, sendo possvel sua prorrogao em algumas situaes, porm a
realidade revela a prtica indiscriminada de horas extras, visando a interesses
imediatos pelas partes contraentes. H prejuzos no contabilizados pelos
empregadores e trabalhadores que uma vez conhecidos e quantificados
possibilitaria uma melhor escolha pelos pactuantes a alternativas que trariam melhor
produtividade e qualidade de vida aos empregados, atingindo dessa forma o objetivo
primeiro daquela norma da constituio federal brasileira.
A auditoria trabalhista do Ministrio do Trabalho defronta com esta questo
cotidianamente; anlises de acidentes de trabalho realizadas por este rgo revelam
que no incomum a sobrejornada praticada em dias anteriores como no dia do
acidente, ou seja, a sobrejornada exerce uma influncia significativa para a
ocorrncia de sinistros laborais.
Os cartes de ponto, que registram a jornada laborada, denunciam a prtica
excessiva dessa reserva constitucional para ocasies especiais. Inspees no local
de trabalho denunciam horas extraordinrias no contabilizadas na folha de
pagamento consubstanciando fraudes a folha de pagamento, lesando ao trabalhador
por impedir a repercusso dessa parcela salarial em seus direitos rescisrios e
previdencirios.
Estes exemplos dentre outros convidam a um estudo pormenorizado de to
esquecido tema pelos rgos protetores do labor, pois ao consultar decises de
rgos superiores verifica-se que a proteo dada por estes rgos est circunscrita
ao pagamento das horas extraordinrias realizadas e pouco ou nada se encontra no
sentido de suprimir essas horas, garantindo-as somente para o fim que a lei as
permitiu.
Para isso ser realizada pesquisa bibliogrfica, buscando amparo em autores
jurdicos tradicionais, para a interpretao dos artigos constitucionais que versem
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sobre a limitao da jornada de trabalho, tendo como objetivo explicar que o seu
desrespeito provocar problemas de sade e segurana para os trabalhadores.
Sero utilizados como objetos de estudo artigos cientficos sobre os efeitos do
excesso de trabalho realizada em diversos setores laborais e diferentes regies do
pas bem como bibliografia de outros ramos como sociologia e psicologia, os quais
demonstraro o resultado esperado pelo mtodo indutivo.
Assim, espera-se, atravs do estudo, contribuir na busca de solues sociais,
administrativas e judiciais para a proteo plena aos trabalhadores, garantindo-lhes
uma jornada de trabalho digna e saudvel, sem prejuzos dos demais aspectos
envolvidos no mundo do trabalho. Espera-se ainda, definir e compreender os
mecanismos disponveis no ordenamento jurdico para a punio adequada aos
responsveis pela infrao a normas to relevantes.
Assim, o primeiro captulo ser dedicado a buscar fundamentos histricos que
subsidiaro a pesquisa. Ser pesquisada a composio e classificao da jornada,
haja vista o termo jornada abranger noes de tempo que precisam ser bem
definidos para no gerar interpretao dbia.
O segundo captulo apontar as consequncias do excesso de trabalho para
o organismo humano e para a vida social do trabalhador. Sero apresentados os
principais problemas de sade decorrentes do excesso de trabalho. Sendo
subsidiado por artigos sobre ao tema, pela psicologia do trabalho e sociologia do
trabalho.
Finalmente o terceiro captulo apresentar os instrumentos das instituies de
vigilncia do Direito do Trabalho responsveis no combate ao desrespeito aos
limites constitucionais da jornada de trabalho.
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I FUNDAMENTOS DA DELIMITAO DA JORNADA DE TRABALHO
1.1 ORIGEM HISTRICA DA JORNADA DE TRABALHO
A jornada de trabalho entendida juridicamente resultado de conquistas dos
trabalhadores que remonta a Revoluo Industrial. O seu estudo demanda
entendimento da origem do prprio direito do trabalho, conquanto esse deriva em
grande parte da luta dos trabalhadores por limitao da jornada de trabalho, que no
inicio da revoluo industrial se arrastava alm do que podia suportar as foras
humanas.
O surgimento das mquinas que alavancaram produo industrial da poca,
como os teares mecnicos e mquinas a vapor trouxeram conseqncias
inesperadas no campo das relaes trabalhistas. Sussekind relata tais
acontecimentos:
A utilizao cada vez maior da mquina, que poderia ter acarretado a diminuio das jornadas de trabalho e elevao dos salrios, como consequncias do maior rendimento do trabalho produtivo, teve, paradoxalmente, efeitos diametralmente opostos. Num processo que afrontava a dignidade humana, a durao normal do trabalho, totalizava, comumente, 16 horas dirias; o desemprego atingiu nveis alarmantes e o valor dos salrios decresceu.(2010, p.15).
A poltica liberal da Revoluo Francesa, apoiada nos princpios da liberdade,
igualdade e fraternidade, adotou a fisiocracia como princpio. O Estado, neste
modelo, no interfere nas relaes contratuais privadas, isso favoreceu a opresso
dos donos dos meios de produo sobre os trabalhadores, que impunham a estes
condies de trabalho que atendiam somente seus interesses econmicos. o que
se infere de Sussekind:
E a contratao de operrios livres foi utilizada num sistema econmico onde predominava a fisiocracia. Pregava-se, por conseguinte, a no interveno do Estado nas relaes contratuais- principio que acabou sendo consagrado pela Revoluo Francesa. (2010, p.11).
Os trabalhadores dessa poca foram descritos por Arnaldo Sssekind, Dlio
Maranho e Segadas Viana como:
[...] uma ral fatigada, srdida, andrajosa, esgotada pelo trabalho e pela subalimentao; inteiramente afastada das magistraturas do
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Estado; vivendo em mansardas escuras, carecida dos recursos mais elementares de higiene individual e coletiva; oprimida pela deficincia dos salrios; angustiada pela instabilidade do emprego; atormentada pela insegurana do futuro, prprio e da prole; estropiada pelos acidentes sem reparao; abatida pela misria sem socorro; torturada na desesperana da invalidez e da velhice sem po, sem abrigo, sem amparo. (1987, p.31).
O resultado da excessiva explorao propiciou o surgimento de grupos
laborais que se organizavam em prol de melhores condies de trabalho. Para evitar
o crescimento desses grupos foi editada a Lei Chapelier em 1791, a qual foi adotada
por diversos pases. Sussekind que confirma tais fatos:
Decorrncia dessa filosofia foi a Lei Chapelier(1791), a qual, objetivando evitar a presso de grupos organizados em detrimento da liberdade individual, proibiu a coalizo de cidados, inclusive de operrios e oficiais de qualquer arte. Essa Proibio originria da Frana foi sucessivamente adotada em diversos pases, conceituando-se como delitos penais e os movimentos grevistas e
at as tentativas de sindicalizao. (1987, p. 39).
Porm, essas ms condies impostas aos trabalhadores acabaram por
sensibilizar parlamentares e empresrios como Robert Owen. Em 1802, na
Inglaterra, foi editada a primeira lei de proteo ao trabalhador. Essa lei visou o
trabalho das crianas, que no poca no possua qualquer limitao temporal de
jornada ou proteo quanto a sua fragilidade fsica; a jornada para crianas foi
limitada em 12 horas. Mas as primeiras conquistas reais vieram com a atitude do
empresrio Robert Owen, que implantou diversas medidas em sua fbrica de
tecidos, fazendo ele grande empenho na criao das trade unions, que era unies
de trabalhadores e funcionava como representante dos trabalhadores frente aos
empresrios na defesa dos interesses do proletariado. Esses fatos podem ser
conferidos em Sussekind:
Coube ao moleiro ROBERT PEEL obter, em 1802, na Inglaterra, a primeira lei de proteo ao trabalhador, na fase contempornea da historia. Ela visou criana, limitando a jornada em 12 horas, dispondo sobre sua aprendizagem e estabelecendo regras de higiene nas fabricas. Essa lei, entretanto, no teve eficcia pratica. Foi o empresrio ROBERT OWEN quem, realmente, lanou as sementes que frutificaram, sendo, por isso, considerado, mui justamente, o pai da legislao do trabalho: ele implantou diversas medidas de proteo ao trabalho na sua fabrica de tecidos em New Lamark, na Esccia; difundiu ideias inovadoras no seu livro A New View of Society (1813); props no Congresso de Aixla-Chapelle a celebrao de um contrato internacional limitando a jornada de trabalho(1818); colaborou com PEEL na aprovao de nova lei sobre o trabalho do menor(1819); incentivou enfim, a agremiao dos
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operrios em sindicatos(trade unions), os quais se tornaram, a partir de ento, o mais poderoso instrumento de conquista dos direitos social-trabalhistas.(2010, p.16).
Os interesses antagnicos entre o liberalismo, que se alimentava
economicamente da explorao do trabalho de uma massa insatisfeita, e o
inconformismo destas propiciaram o surgimento de revoltas. Esse palco de conflitos
sociais trouxe tona a discusso em torno da importncia da sociedade. Esta fase
histrica explorada por Vianna:
Mesmos os adeptos do liberalismo j se apercebiam de que o Estado se afastava de sua misso de fazer inseparveis o bem individual e o bem coletivo; que ele no podia servir somente para as finalidades individuais, porque isso estaria em conflito com os interesses da sociedade, que no poderia ser reduzida a uma simples consequncia da reunio dos bens individuais. (1987, p.32).
Esse novo modelo de sociedade, construdo a partir das reivindicaes
daqueles que viviam sob a opresso que a liberdade individual impunha, formando a
partir de ento um Estado intervencionista foi descrito por Vianna:
Fortalece-se a nova concepo da sociedade e surge, com delineamentos precisos, o Estado polcia ou o Estado providencia. Verificando que a liberdade econmica, pois a livre concorrncia, no conseguem harmonizar os interesses individuais e que, ao contrario dessa harmonia, a diversidade econmica criada entre os indivduos pela liberdade causa da existncia de classes sociais que se opem e ameaam a existncia do prprio Estado, ele para corrigir a desigualdade, amplia suas atribuies.(1987, p.35).
Dessa forma entre os perodos de 1806 e 1844 surgiram em vrios pases leis
protetoras do trabalho, dando nfase jornada e ao trabalho de menores, que eram
os aspectos mais reivindicados pelo proletariado. Esses marcos histricos foram
previstos por Sussekind:
A luta contra a mquina, que se exasperou na Inglaterra, foi substituda, a pouco e pouco, por campanhas, s vezes violentas, para a conquista de leis imperativas de proteo ao trabalho: a) na Frana, onde desde 1806 j funcionavam os Conseils de prudhomme, constitudos de empregadores e empregados, com atribuies para conciliar e decidir questes oriundas do trabalho, foi proibido o trabalho de crianas em minas de subsolo (1813) e o trabalho em domingos e feriados (1814); b) na Inglaterra, em 1833, foi proibido o trabalho do menor de 9 anos, limitada a 9 horas a jornada de trabalho do menor de 13 anos e 12 horas a do menor de 18 anos, com a instituio dos inspetores de fbricas; c) na Alemanha, em 1839, foi vetado o trabalho do menor de 9 anos e fixada em 10 horas a jornada de trabalho do menor de 16 anos; d) ainda na Frana, em 1814, foi proibido o trabalho do menor de 8 anos, limitada a 8 horas a jornada de trabalho dos menores de 8 a 12
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anos e fixada a jornada em 12 horas a dos menores de 12 a 16 anos; e) a Inglaterra volta a legislar, em 1844, para limitar a prestao do trabalho feminino a 10 horas dirias. (2010,p.10).
preciso frisar que a internacionalizao das normas trabalhistas foi
motivada por interesses econmicos, havia interesse no nivelamento dos custos de
produo aumentados em virtude dos novos direitos. Mas foi a igreja, com o Papa
Leo XIII, a grande propagadora das ideias de proteo laborais.
Sussekind pontua que a encclica Rerum Novarum, ao defender os valores
dos homens e de seu trabalho, exerceu notvel influencia nas normas trabalhistas
de diversos pases:
Mas inquestionvel que a divulgao da encclica Rerum Novarum do PAPA LEO XIII, em 15 de maio de 1891, acelerou a multiplicao dessas leis. Essa famosa encclica pleiteou a mudana na diretriz ento predominante no trato das questes pertinentes ao trabalho, a fim de preservar a dignidade humana do trabalhador e implantar a justia social; criticou tanto o liberal-individualismo, como o socialismo; e, em virtude da sua alta procedncia, exerceu remarcada influencia entre muitos governantes e parlamentares, dos quais dependia a decretao de inadiveis normas de proteo social ao trabalhador. (2010, p. 22).
As jornadas excessivas foram combatidas por essa encclica, sendo
defensora da jornada de 8 horas dirias.No sitio do Vaticano pode ser encontrada a
encclica com to famosa passagem:
A actividade do homem, restrita como a sua natureza, tem limites que se no podem ultrapassar. O exerccio e o uso aperfeioam-na, mas preciso que de quando em quando se suspenda para dar lugar ao repouso. No deve, portanto, o trabalho prolongar-se por mais tempo do que as foras permitem. Assim, o nmero de horas de trabalho dirio no deve exceder a fora dos trabalhadores, e a quantidade de repouso deve ser proporcionada qualidade do trabalho, s circunstncias do tempo e do lugar, compleio e sade dos operrios (on line).
Sussekind confirma o impacto que essa encclica juntamente com as aes
da Associao Internacional para a Proteo Legal aos Trabalhadores, criada em
Paris no ano 1900, tiveram na internacionalizao de direitos trabalhistas.
Mas foi a conferencia da Paz em 1919, instalada no Palcio de Versailles,
aps a Primeira Guerra Mundial, a responsvel pela enunciao, dentre vrios
outros princpios e normas protetivos do labor, da adoo da jornada de 8 horas e a
durao semanal de 48 horas.
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Revela o autor, porm, que o pas pioneiro em legislar a jornada em 8 horas
foi a Austrlia em 1901 e que a primeira constituio a prever essa jornada foi a do
Mxico em 1917 (2010, p.23/27).
No Brasil a jornada de 8 horas foi introduzida como reflexo da
internacionalizao das normas protetivas do trabalho. Sussekind (2010, p.31)
destaca que no perodo entre a independncia e proclamao da Republica 1882
e 1889- no houve revoltas decorrentes de associao de trabalhadores em prol de
melhorias trabalhistas. Nesse perodo predominou o trabalho escravo dedicado a
monoculturas, havendo pouca aglutinao de trabalhadores livres em centros
urbanos que motivassem a associao sindical e consequentes reivindicaes por
melhorias sociais.
No perodo de 1889 a 1930, ainda prevaleceram os ideais liberais
individualistas da Declarao dos Direitos do Homem da Revoluo Francesa. A
primeira interferncia do Estado quanto jornada de trabalho no Brasil se deu com o
Decreto 1.313/1891 que fixou em 7 horas a jornada de trabalho dos menores de 12
anos a 15 anos de do sexo feminino e 12 a 14 anos se do sexo masculino.
A jornada de 8 horas foi conquistada primeiramente pelos trabalhadores do
comercio pelo Decreto 21.186/32 no governo de Getulio Vargas. Em 1933 o Decreto
23.322 concedeu aos bancrios jornada especial de 6 horas. (2010 p. 31/49).
Godinho descreve a trajetria da jornada de 8 horas at a Constituio de
1988:
No Brasil, o Decreto n. 21.186, de 1932, regulamentado pelo Decreto n. 21.364, do mesmo ano, fixou a jornada diria em 8 horas. Surgiu legislao esparsa para categorias profissionais especficas, unificada em 1940 pelo Decreto-lei n. 2.308, reproduzido, em grande parte, pela CLT (1943). A Constituio de 1934 (art. 121) fixou, tambm, a jornada diria em 8 horas, mantida da por diante, inclusive pela Constituio de 1988 (art. 7, XIII), que, no entanto, reduziu a jornada semanal para 44 horas. (on line)
Assim, a evoluo das lutas para a reduo da jornada de trabalho, iniciada
na poca da revoluo industrial, redundou no patamar de 8 horas dirias. No Brasil
essa conquista no foi fruto de lutas de classes, por ser fruto de integrao na
legislao ptria a partir de uma conquista mundial. Ocorre que embora tenha
entrado pacificamente na legislao brasileira, no foi do mesmo modo aplicada na
prtica. Os interesses econmicos precisam ser equalizados com as prescries
legais quanto jornada. Para isso existem instituies nomeadas
constitucionalmente.
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Esse trabalho permitir averiguar o tratamento dado pelas instituies de
vigilncia do Direito do Trabalho ao prescrito na Constituio Federal de 1988
quanto limitao da jornada de trabalho. Para melhor compreenso ser
necessrio entender os motivos que levaram tais direitos ao patamar constitucional,
por isso os prximos tpicos sero dedicados a esta pesquisa.
1.2 MOTIVOS DA LIMITAO DO TEMPO DE TRABALHO
Como pode ser visto as extenuantes jornadas impostas aos operrios do
sculo XVIII os levaram ao limite de suas foras fsicas. Essas condies adversas
oriundas principalmente das longas jornadas motivaram lutas por melhores
condies de trabalho, dentre elas a limitao da jornada. A repercusso do excesso
de trabalho no se limita ao desgaste fsico, atingindo tambm sua vida social. No
pode esquecer-se de mencionar os aspectos relacionados economia do trabalho.
Sussekind quem melhor define os motivos da limitao da jornada de trabalho:
A limitao do tempo de trabalho possui, portanto, fundamentos: a) De natureza biolgica, uma vez que visa a combater os problemas psicofisiolgicos oriundos da fadiga e da excessiva racionalizao do servio; b) De carter social, por isto que possibilita ao trabalhador viver, como ser humano, na coletividade a que pertence, gozando os prazeres materiais e espirituais criados pela civilizao, entregando-se pratica de atividades recreativas, culturais ou fsica, aprimorando seus conhecimentos e convivendo, enfim, com sua famlia; c) De ndole econmica, porquanto restringe o desemprego e acarreta, pelo combate fadiga, um rendimento superior na execuo do trabalho. (2000, p. 791).
O direito do trabalho decorreu das lutas dos trabalhadores por melhores
salrios e reduo da jornada Cueva apud Almeida afirma que:
A limitao da jornada de trabalho foi, inquestionavelmente, uma das mais significativas reivindicaes dos trabalhadores, ao longo do tempo, o que levou Mario de La Cueva a afirmar que o direito do trabalho surgiu com duas aspiraes dos trabalhadores: a reduo da jornada de trabalho e o aumento dos salrios; so as medidas fundamentais para melhorar as condies dos trabalhadores (2011, p.34).
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Nascimento refora a importncia do descanso como meio de
desenvolvimento das capacidades humanas:
Outro direito fundamental do trabalhador o direito ao descanso. O tempo livre permite ao homem o desenvolvimento integral da sua personalidade quando se dedica a outras atividades diferentes do trabalho profissional e que lhe facilitem o convvio familiar, com amigos, horas de entretenimento, estudos, convivncia religiosa, prtica desportiva, leitura de jornais e revistas, passeios, frias e tudo o que possa contribuir para a melhoria da sua condio social. (2011, p.767).
Determinados ambientes profissionais colocam a sade do trabalhador em
risco de doenas ocupacionais, perigos e acidentes de trabalho. Para evitar esses
sinistros ocupacionais, estudos sobre os efeitos que o ambiente laboral pode infligir
sobre a sade do trabalhador subsidiam legislaes e medidas administrativas
impositivas a aqueles que contratam a fora produtiva. Delgado colabora com o
assunto:
Efetivamente, os avanos dos estudos e pesquisas sobre a sade e segurana laborais tm ensinado que a extenso do contato do indivduo com certas atividades ou ambientes elemento decisivo configurao do potencial efeito insalubre de tais ambientes ou atividades. Essas reflexes tm levado noo de que a reduo da jornada e da durao semanal do trabalho em certas atividades ou ambientes constitui medida profiltica importante no contexto da moderna medicina laboral. Noutras palavras, as normas jurdicas concernentes durao do trabalho, j no so mais- necessariamente normas estritamente econmicas, uma vez que podem alcanar, em certos casos, a funo determinante de normas de sade e segurana laborais, assumindo, portanto, o carter de normas de sade publica.(2009, p. 775).
Parece haver consenso de que extensas jornadas influem sobre a sade, vida
social e economia de um pas. Setores como a sade onde so comuns as jornadas
12 x 36 exemplificam o problema. No incomum trabalhadores desse setor, por
motivos financeiros, laborarem em seu horrio de descanso para outras instituies.
Com tal cultura laboral, postos de trabalho deixam de ser preenchidos por novos
profissionais, causando desemprego; a sade do trabalhador fica exposta por
sobrecarga e consequentemente a sua vida social gira em torno apenas do trabalho.
1.3 NATUREZA JURDICA DA JORNADA DE TRABALHO
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A Constituio de 1988 concedeu aos sindicatos a possibilidade de negociar
direitos trabalhistas relativos jornada de trabalho. Ampliando dessa forma o rol de
entes habilitados a regular esse instituto.
Dessa forma torna-se necessrio o entendimento da natureza jurdica das
normas concernentes jornada de trabalho, o que permitir a possibilidade de
averiguao da validade das normas editadas pelos entes habilitados em faz-lo.
Delgado esclarece essa natureza:
As normas jurdicas estatais que regem a estrutura e dinmica da jornada e durao do trabalho so, de maneira geral, no Direito brasileiro, normas imperativas. O carter de obrigatoriedade que tanto qualifica e distingue o Direito do Trabalho afirma-se, portanto, enfaticamente, neste campo juslaboral. Em consequncia dessa afirmao, todos os princpios e regras associados ou decorrentes de tal imperatividade incidem, soberanamente, nesta seara. Por essa razo, a renncia, pelo trabalhador, no mbito da relao de emprego, a alguma vantagem ou situao resultante de normas jornada absolutamente invlida. (2009, p. 790),
Abud distingue as trs formas de produo de normas jurdicas relativas ao
tempo de trabalho:
a) Pelo Estado Nesse caso, por meio de normas jurdicas heternomas, emanadas do poder publico e especificadas dentro de um padro geral normativo. Alm do padro geral, o sistema jurdico heternomo estabelece, ainda, regras incidentes sobre categorias especficas de trabalhadores, que, em decorrncia de especificidades de algumas funes e profisses, recebem do Estado tratamento especial. b) Pelos particulares Nesse caso, por meio de contrato individual do trabalho, empregado e empregador podem livremente pactuar jornadas de trabalho inferiores s fixadas por lei ou norma coletiva. c) Por negociao coletiva A atual Constituio Federal outorga aos sindicatos poderes para tratar da durao do trabalho, autorizando a compensao de horrios e reduo de jornadas (art. 7,XIII), assim como tem regras especiais de trabalho para os turnos ininterruptos de revezamento (art. 7, XIV).(2008, p.30)
Observa-se que a produo de normas relativas jornada de trabalho por
particulares e por negociao coletiva deve obedecer aos princpios basilares de
proteo ao trabalhador, sendo invalidadas se houver transao de normas que
gerem prejuzos ao trabalhador. Delgado leciona que:
Abud possui concluso semelhante:
Portanto, so nulas as clausulas pactuadas por acordo individual, ou por meio de instrumentos coletivos, que renunciem ao direito a uma
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durao mxima diria fixada por lei, quer quanto jornada ordinria, quer quanto suplementar, ou, mesmo que seja para fins de compensao. (2008, p. 38).
No artigo 7 da Constituio Federal em seus incisos VI, XIII e XIV h
autorizao para a reduo da jornada e salrio, para a compensao de horrios,
bem como para jornadas de trabalho em turnos ininterruptos de revezamento.
Essa autorizao dever ser bem compreendida, pois o seu implemento em
desacordo com o pretendido pela estatuto maior poder ocasionar danos aos
direitos garantidos pela prpria Constituio Federal. Abud acrescenta:
Porm, embora o legislador constitucional no tenha tratado especificamente dos limites a serem observados pelos sindicatos na negociao coletiva, certo que a autonomia coletiva nesse aspecto no absoluta, pois as regras concernentes jornada e durao do trabalho dizem respeito sade e segurana do trabalhador. (2008, p.39).
Do exposto deduz-se que o entendimento da natureza jurdica da jornada de
trabalho, como norma imperativa, fundamental para a concreo dos objetivos
traados pela Constituio Federal quanto aos direitos trabalhistas. De nada valeria
elev-los ao patamar constitucional se os agentes envolvidos no se prendessem
sua imperatividade.
1.4 DISTINES ENTRE DURAO, JORNADA E HORRIO DE TRABALHO
As definies dos termos jornada, durao e horrio de trabalho bem como
horas extraordinrias so fundamentais para o entendimento do tema proposto, haja
vista serem amplamente utilizados na legislao que regula a matria, na doutrina,
nos tribunais, nas convenes coletivas e no cotidiano laborativo do trabalhador
brasileiro, tornando propicio buscar suas definies perante a doutrina majoritria,
clarificando dessa forma o seu real alcance, haja vista haver correlao entre elas.
Faz se necessrio o entendimento do termo durao do trabalho, pois a CLT
dedica o seu captulo II especificamente para regular o tema.
Delgado (2009, p. 778) considera que o termo pode abranger o lapso
temporal de labor ou disponibilidade do empregado perante seu empregador em
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virtude de contrato, podendo designar dia, semana ou ano. Abud d maiores
explicaes sobre a abrangncia do termo:
A Constituio Federal, no art. 7, inciso XIII, adota a expresso durao do trabalho para tratar do trabalho dirio e semanal, o que nos deixa convencidos de que a expresso durao do trabalho reflete a ideia de tempo utilizado pelo empregado em razo do contrato de trabalho, e jornada diz respeito a uma parte desse tempo, o dia. (2008, p.12).
O termo jornada pode apresentar-se ora denominando tempo dirio ora
durao semanal conforme podem ser encontrados no art.59 da CLT. Delgado
(2009, p. 778) define jornada como [...] o tempo dirio em que o empregado tem de
se colocar em disponibilidade perante seu empregador, em decorrncia do contrato.
Refora seu entendimento pelo significado etimolgico do termo:
O perodo considerado no conceito de jornada corresponde ao lapso temporal dirio, em face de o verbete, em sua origem, referir-se noo de dia ( por exemplo, no italiano: giorno- giornata; e no francs: jour- journe). Jornada, portanto, traduz, no sentido original ( e rigoroso, tecnicamente), o lapso temporal dirio em que o obreiro tem de se colocar disposio do empregador em virtude do contrato laboral. (2009, p. 778).
O horrio de trabalho materializa-se na sua marcao em registro de ponto,
dessa forma possibilita-se a contagem do tempo efetivo a disposio do
empregador. A sua importncia de tal grandeza que constitui infrao
administrativa, sujeitando o empregador multa caso haja ausncia de marcao de
ponto em empresas com mais de 10 empregados.
Dlio Maranho apud Delgado (2009, p. 779) afirma que horrio de trabalho
traduz o lapso temporal entre o incio e o fim de certa jornada laborativa.
atravs da contagem do tempo marcado pelo empregado quando do incio
da jornada, dos intervalos intrajornada e fim da mesma que o empregador
contabiliza o tempo que o empregado ficou a sua disposio, fazendo o clculo de
quanto dever pagar pelas horas trabalhadas.
Para facilitar a quantificao monetria da fora de trabalho necessrio o
conhecimento da composio e classificao da jornada de trabalho. Portanto, a
extenso da jornada de trabalho laborada depende da contagem do tempo de
trabalho, tornando-se imperativo o entendimento de quando se d seu incio, como
so tratadas as interrupes para descanso ou por pausas obrigatrias pela lei e
quando a jornada dada por finalizada.
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Nascimento adota critrios para o melhor esclarecimento do tema:
O critrio do tempo efetivamente trabalhado est sendo afastado. Nele o trabalho contraprestativo com o salrio. S remunervel e de trabalho o perodo no qual o empregado prestou a sua atividade. Levado s ltimas consequncias, toda vez que o empregado, mesmo no local de trabalho, deixasse de produzir, no estaria correndo a jornada de trabalho. O critrio do tempo disposio do empregador no sentido restrito fundamenta-se na natureza do trabalho do empregado, isto , na subordinao contratual, de modo que o empregado remunerado por estar sob a dependncia jurdica do empregador e no apenas porque e quando est trabalhando. O ltimo critrio, do tempo disposio do empregador no sentido amplo, inclui como de jornada de trabalho o perodo in itinere, isto , aquele em que o empregado est em percurso de casa para o trabalho e de volta do servio. (2011, p. 769).
Explica o autor que no Brasil adotado o tempo disposio no sentido
restrito. Isto porque dever ser computado como de efetivo servio aquele em que o
obreiro ficar a disposio do empregador mesmo sem trabalhar. A restrio se deve
ao fato de que em alguns casos mesmo no estando disposio dever o
empregador considerar como se de efetivo servio estivesse. o caso das
chamadas horas in itinere prevista no art.58 2 que devero ser computadas na
jornada de trabalho e o que exceder os limites normais previstos em legislao
devero ser consideradas extraordinrias, sendo sobre elas aplicado o adicional de
horas extraordinrias. (2011, p. 770).
Delgado compe a jornada em tronco bsico e de alguns componentes
suplementares, o tronco bsico composto por elementos naturais do contrato de
trabalho e os componentes suplementares decorrem da prestao de servios sob
circunstncias ou normas especiais:
A) Tronco Bsico- Integra o tronco bsico da jornada de trabalho, no Direito brasileiro, o lapso temporal situado nos limites do horrio de trabalho pactuado entre as partes. Como dificilmente um empresrio ir contratar algum seno com o objetivo de retirar o mximo proveito econmico do labor por este prestado, o horrio de trabalho contratado tende a englobar efetivo tempo laborado. [...] B) Componentes Suplementares- So componentes suplementares da jornada de trabalho todos os demais perodos trabalhados ou apenas disposio plena ou mesmo parcial do empregador reconhecidos pelos critrios de composio de jornada que caracterizam o Direito do Trabalho do pas e que no se situam dentro das fronteiras do horrio de trabalho primitivo obreiro. [...] Desse modo, constituem componentes suplementares da jornada as horas extraordinrias (arts. 59 e 61, CLT), que se integram, com plenos efeitos, jornada. (2009, p.789).
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O tronco bsico se refere durao normal do trabalho previsto na
Constituio Federal em ser artigo 7, inciso XIII:
Art. 7[...] XIII durao do trabalho normal no superior a oito horas dirias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensao e a reduo da jornada, mediante acordo ou conveno coletiva de trabalho. (on line).
O foco desta monografia est no componente suplementar relativo s horas
extraordinrias praticadas habitualmente. Pois a extrapolao dos limites
constitucionais das 44horas semanais ferem os direitos fundamentais protegidos
pela Carta Magna.
Dentre as diversas formas de classificao da jornada, Abud adota a mais
utilizada pelos jurislaboristas, ou seja, quanto durao, ao perodo e profisso:
Quanto durao, a jornada de trabalho pode ser ordinria ou extraordinria. Ordinria a jornada normal, de 8 horas dirias e 44 semanais, determinada pela Constituio Federal em seu art. 7, inciso XIII, assim como a jornada contratual pactuada entre empregado e empregador, ou por intermdio de negociao coletiva, que pode fixar tempo inferior norma constitucional. Extraordinria a jornada suplementar que excede o limite fixado por lei ou pelo contrato. No que concerne ao perodo, a jornada de trabalho pode ser diurna, noturna ou mista. [...] No tocante profisso, a jornada de trabalho pode ser geral de 8 horas dirias ou especial, conforme a atividade desenvolvida pelo empregado.(2008, p.36/37).
Os clculos do valor da remunerao do trabalhador podero ser realizados a
partir da classificao da jornada do trabalhador. A Constituio Federal determina
que o valor da hora noturna seja superior diurna, adicional remuneratrio quando
praticada hora extra e jornada reduzida para turnos ininterruptos de revezamento.
1.5 PRINCIPAIS FORMAS DE EXCEO JORNADA NORMAL
CONSTITUCIONAL
Os prximos tpicos sero dedicados busca dos conceitos de espcies de
jornadas que se no manejadas adequadamente podero ocasionar efeitos
negativos na sade e vida social dos trabalhadores.
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O desvirtuamento de algumas permisses legais para um alongamento da
jornada ganhou tamanhas repercusses na prtica laboral a tal ponto de o
constituinte regul-las em nvel constitucional, que o caso dos turnos ininterruptos
de revezamento.
O constituinte com o intuito de preservar seu mandamento quanto jornada
de 8 horas dirias e 44 semanais, desestimulando a sua extenso para alm destes
limites, sobretaxou em no mnimo 50 por cento a mais aquelas horas laboradas no
regime extraordinrio. O mesmo ocorre com o trabalho noturno que possui um
adicional de 20 por cento a mais na remunerao do empregado e hora reduzida
para amenizar os malefcios decorrentes do labor noturno.
1.5 1 TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO
Esse tipo de jornada especial est prevista na Constituio Federal no art. 7.
Os abusos gerados pela ampliao da interpretao da lei 5.811 de 1972 levou a
discusso ao patamar constitucional. Sussekind escreve:
Foi a lei 5.811, de 1972, que instituiu regime especial para permitir a prestao ininterrupta de servios em turnos de revezamento, nas atividades de explorao, perfurao, produo e refinao de petrleo, na industrializao do xisto, na indstria petroqumica e no transporte de petrleo e seus derivados por meio de dutos. (2000, p.811).
O autor assevera que essa lei abriu exceo legal e influenciou empresas no
abrangidas por ela a utilizar da jornada de turnos ininterruptos, tais jornadas
variavam de oito horas a 12 horas.
Esse fato motivou parlamentares a denunciar tais ocorrncias nos debates da
constituinte, redundando no atual inciso XIV do art. 7 da Constituio. Martins apud
Abud relata os efeitos ao organismo do trabalhador sujeito ao efeito dos turnos
ininterruptos de revezamento:
Ele explica que o ritmo circadiano, correspondente ao relgio biolgico do ser humano, que controla variaes de temperatura, segregao de hormnios, digesto, sono, alternado constantemente, tratando-se, portanto, de um trabalho penoso. (2008, p. 50).
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Tais efeitos podem ser entendidos a partir da prpria definio desse tipo de
jornada, que por impor ao trabalhador o labor em diferentes turnos, fragiliza o
organismo que tem de se adaptar a sucessivas mudanas. Zenni explica o
funcionamento desses turnos:
Os turnos de revezamento se arregimentam segundo o crivo do empregador em grupos de trabalhadores que revezam, sucedendo-se uns aos outros, nos mesmos postos de trabalho, havendo, portanto, uma escala de horrios adredemente fixados para ser obedecida. Enfim, os turnos ininterruptos de revezamento organizam a distribuio da mo-de-obra em turnos matutino, vespertino e noturno, abarcando as 24 horas de atividade empresarial ininterruptamente.(2009, p.155)
Faz-se prudente compreender que a ininterrupo refere-se atividade
empresarial e no jornada de trabalho. Portanto, o obreiro neste tipo de jornada
ter direito de gozar dos intervalos intrajornada previstos legalmente para
alimentao, para pausas de recomposio fsica em atividades que a exigem como
quelas exercidas em ambientes muito frios ou muito quentes. Mesmo se a
conveno coletiva permitir turnos ininterruptos de 8 horas dever ser garantido os
adicionais de hora extra para a 7 e 8 horas laboradas, bem como o intervalo de
pelo menos 1 hora intrajornada para alimentao.
1.5.2 TRABALHO NOTURNO
A constituio confere ao trabalho noturno remunerao superior ao diurno.
Com isso visou o constituinte desmotivar a contratao no turno da noite, ou seja,
ampliou os direitos remuneratrios do trabalho noturno paralelamente a reduo da
jornada noturna em relao diurna.
Delgado demonstra os malefcios ocasionados sade e a vida social do
trabalhador:
De fato, o trabalho noturno provoca no indivduo agresso fsica e psicolgica intensas, por supor o mximo de dedicao de suas foras fsicas e mentais em perodo em que o ambiente fsico externo induz ao repouso. Somado a isso, ele tambm tende a agredir, com substantiva intensidade, a insero pessoal, familiar e social do indivduo nas micro e macrocomunidades em que vive, tornando especialmente penosa para o obreiro a transferncia de energia que procede em beneficio do empregador. (2009, p.846).
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Por ser prejudicial sade e a convivncia social a Constituio Federal
proibiu o trabalho noturno a menor de 18 anos. A jornada mxima noturna possui
durao de sete horas conforme dispe o Decreto n 5.005/04 que ratificou a
Conveno n 171 da OIT, portanto inferior jornada diurna. Uma hora noturna
corresponde a 52 minutos e trinta segundos, essa reduo visa mitigar os efeitos
danosos sade do trabalhador que necessita vender sua fora de trabalho em
jornada que o desfavorece fsica e socialmente.
1.5.3 O TRABALHO EXTRAORDINRIO
Esta monografia abordar as horas extraordinrias entendidas como aquelas
no consequentes de fora maior, caso fortuito ou para realizao de servios
inadiveis. Pois, estas so ocasionais, no influenciando negativamente na sade e
vida social do trabalhador.
As horas extraordinrias praticadas habitualmente so as predadoras da vida
social e da higidez do trabalhador, por isso ser dedicado esforo no sentido de se
procurar as origens normativas que favorecem a interpretao extensiva da jornada
de trabalho alm do padro ditado pela Constituio Federal.
Para melhor compreenso do trabalho extraordinrio faz-se necessrio fazer
a leitura do art. 59 da CLT e do artigo 7 inciso XIII da Constituio de 1988.
Art. 59 A durao normal do trabalho poder ser acrescida de horas suplementares, em nmero no excedente de duas, mediante acordo escrito entre empregador e empregado, ou mediante contrato coletivo de trabalho. XIII - durao do trabalho normal no superior a oito horas dirias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensao de horrios e a reduo da jornada, mediante acordo ou conveno coletiva de
trabalho; (on line).
Verifica-se que a Consolidao das Leis do Trabalho (CLT) autorizava o
acrscimo de duas horas extraordinrias na jornada do trabalhador por acordo
escrito ou contrato coletivo. Essa extrapolao extraordinria era conhecida como
jornada meramente suplementar. Portanto, a CLT autorizava o acrscimo de horas
jornada padro, bastando para isso haver pacto laboral escrito com a autorizao do
obreiro. Dito por Sussekind:
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A extrapolao meramente suplementar da jornada padro da CLT (jornada meramente suplementar) equivaleria quela prorrogao caracterizada como acrscimo regular, comum, rotineiro, normal, pactuado no contexto do contrato. Tal sobrejornada poderia ocorrer sempre, isto , em inmeros dias do contrato, ao longo de meses e anos, indefinidamente sem qualquer irregularidade. No modelo celetista, a jornada meramente suplementar corresponderia a duas modalidades de prorrogaes: a sobrejornada por acordo bilateral escrito de prorrogao ou instrumento coletivo ( art. 59, caput) e a sobrejornada por acordo compensatrio (art. 59, 2, CLT). (2009, p.827).
Porm, a leitura do art. 7, inciso XIII da Constituio Federa de 1988 induz o
entendimento de que a jornada padro ali sedimentada somente poder ser
reduzida ou compensada, ou seja, os limites de 44 horas semanais e 220 horas
mensais devero prevalecer. Assim, se for ultrapassada em duas horas determinada
jornada, essa dever ser compensada, de modo que o somatrio mensal no
ultrapasse 220 horas. Vejamos o entendimento de Delgado:
A Constituio da Republica, ao normatizar o tema, referiu-se apenas a dois tipos de sobrejornada: a suplementar por acordo de compensao (art.7, XIII) e a sobrejornada extraordinria (art. 7, XVI). No mencionou a Constituio a jornada meramente suplementar por acordo bilateral ou coletivo. Esta omisso constitucional tem conduzido ponderao de que a nova Carta Magna pretendeu restringir a situaes estritamente excepcionais, no pas, a prtica lcita de prestao de efetivas horas extras (j que o regime de compensao no enseja reais horas extras, considerada a durao padro semanal ou mensal do labor). Noutras palavras, as horas meramente suplementares que no sejam resultantes de acordo de compensao e nem se confundam com as horas suplementares decorrentes de circunstancias excepcionais mencionadas pela ordem jurdica configurariam irregularidade trabalhista, luz de tal leitura da Carta de 1988. (2009, p. 828).
Carvalho corrobora com o entendimento acima engrossando a plateia
daqueles que entendem no ter sido recepcionado o art. 59 da CLT com o advento
da Carta Magna de 1988:
A primeira das observaes, acima destacadas, , no entanto, alusiva inexistncia de norma constitucional que autorize a contratao de horas suplementares, ou seja, de horas de trabalho excedentes da carga horria constitucional. Nessa medida, autores de nomeada sustentam que no teria sido recepcionada, pela atual Constituio, a regra do artigo 59, caput, da CLT, que permitia a contratao de at duas horas suplementares por dia. Assim se posicionam, por exemplo, Jos Augusto Rodrigues Pinto e Mrcio Tlio Viana, que afirma secundar Vantuil Abdala e lamenta, no particular, a divergncia de Arnaldo Sssekind (2011, p. 251).
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Essa limitao contrariou os interesses de diversos setores econmicos, e
devido hipossuficincia jurdica de sindicatos de empregados, h autorizao em
inmeras convenes coletivas para a realizao de duas horas suplementares
dirias sem a predita compensao. Possibilitando, dessa forma, ao empregador
diminuir gastos com folha de pagamentos e encargos sociais com elevao da sua
produo. Ao empregado resta o adicional de horas extras em contrapartida ao
desgaste fsico, familiar e social provocado por nsia de melhores ganhos ou por
imposio do empregador.
Delgado assevera que parte da doutrina e jurisprudncia se rendeu a esse
entendimento sinuoso da Carta Magna:
De todo modo, preciso reconhecer-se, no contexto dessa controvrsia, que parte expressiva da jurisprudncia e doutrina tem considerado compatvel com a Constituio a prorrogao meramente suplementar aventada pelo caput do art. 59 da CLT. (2009, P. 828).
O captulo segundo deste trabalho ir mostrar resultados de pesquisas sobre
o excesso de trabalho e seus efeitos na sade do trabalhador. Os resultados
propiciaro a constatao de quais vertentes de pensamentos acima expostos esto
concatenados com a preservao da sade do trabalhador.
1.5.4 COMPENSAO DE HORRIO DE TRABALHO
A Constituio Federal de 1988 em seu art. 7, inciso XIII permitiu a
compensao de horrios como forma de ajustar os interesses de setores
econmicos que em determinadas temporadas demandam a extrapolao do horrio
padro. Abud sobre o tema leciona:
A compensao de horrio de trabalho, objeto da analise desta pesquisa, , sem duvida, eficiente instrumento flexibilizatrio, pois permite equalizar o sistema de horas trabalhadas de forma que, em momentos de baixa produo, a empresa possa diminuir o tempo de trabalho de seus empregados, e exigir, em outro perodo, a prorrogao das horas de trabalho em tempos do aumento da demanda produtiva. O regime de compensao, assim, possibilita a reduo de custos da empresa, que estar desobrigada a pagar horas extras e arcar com as despesas por conta de provveis demisses em pocas de baixa produtividade e, para o trabalhador, a segurana de manter seu emprego. (2008, p. 96)
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Assim o excesso de horas laboradas em determinado perodo poder ser
compensado de forma que no ultrapasse o limite mensal. O tema reveste-se de
grande importncia no estudo proposto, haja vista manter relao direta com a
durao do trabalho. Faz-se necessrio averiguar os efeitos que esse instituto pode
ocasionar sobre o obreiro.
Apesar de a compensao de horrio ser um instrumento flexibilizatrio
contido na Carta Maior, sua consumao dever ser revestida por cautela, pois o
exagero na sua utilizao poder desequilibrar relao empregatcia, trazendo
prejuzos para a parte hipossuficiente, o obreiro.
A Constituio garantista fortaleceu o poder sindical, possibilitando aos
mesmos realizar acordo ou conveno coletiva que verse sobre compensao de
horrios. At o advento da constituio essa possibilidade era reservada somente
lei.
Infelizmente os limites temporais para a realizao da compensao no
foram definidos pela constituio, fato que gerou discusses na doutrina e
jurisprudncia, alegando uns que a compensao deveria ser realizada dentro da
semana na qual houve a extrapolao da jornada, outros afirmando que o limite
deveria ser o mensal, haja vista ser 220 horas um padro determinado pela prpria
constituio.
Ocorre que a lei 9.601/98 que alterou o art. 59 da CLT veio acabar com a
discusso delimitando o prazo para a compensao em um ano. Abud, contudo,
mostra que tais mudanas originaram divergncias doutrinarias, por entender alguns
que o excessivo espao de tempo para a compensao fere outras normas
constitucionais que versam sobre a sade e segurana:
Permanecem, contudo, ainda hoje na doutrina e jurisprudncia importantes discusses a respeito do tratamento que a norma constitucional impeliu ao sistema. Embora o legislador constituinte no tenha tratado dos limites compensao da jornada, com exceo da obrigatoriedade de acordo ou conveno coletiva de trabalho, certo que a autonomia individual e coletiva no so absolutas, pois as regras concernentes durao do trabalho dizem respeito sade e segurana do trabalhador. (2008, p.102).
A discusso aumenta quando se tratar de compensao em atividades
insalubres. O artigo 60 da CLT assim diz:
Nas atividades insalubres, assim consideradas as constantes dos quadros mencionados no capitulo Da Segurana e Medicina do Trabalho, ou que neles venham a serem includas por ato do Ministro do Trabalho, quaisquer prorrogaes s podero ser
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acordadas mediante licena previa das autoridades competentes em matria de higiene do trabalho, as quais, para esse efeito, procedero aos necessrios exames locais e verificao dos mtodos e processos de trabalho, quer diretamente, quer por intermdio de autoridades sanitrias federais, estaduais e municipais, com quem entraro em entendimento para tal fim.( on line).
Assim, prorrogaes de trabalho em atividades insalubres mereceram um
artigo na CLT para regular atividades que exponham o trabalhador em situaes de
risco a sua sade. Ocorre que no sistema de compensao o obreiro fica exposto ao
ente causador da insalubridade por maior tempo nos dias em que houver a
extrapolao da jornada. Assim, conclui-se que em atividades insalubres esses
fatores precisam ser avaliados caso a caso por autoridade competente, que
averiguar a possibilidade da extrapolao da jornada e consequente compensao
de jornada.
Porm a smula 349 do TST no entendia desse modo: A validade de
acordo coletivo ou conveno coletiva de compensao de jornada de trabalho em
atividade insalubre prescinde da inspeo previa da autoridade competente em
matria de higiene do trabalho.
Saad possua entendimento divergente:
Divergimos e deploramos essa linha jurisprudencial. O trabalho suplementar pode acarretar desrespeito ao limite de tolerncia do trabalhador a este ou aquele agente agressivo, caso em que sua sade fica em risco. Em razo dessa circunstncia e a fim de evitar danos sade do trabalhador, afirmamos que, na hiptese, preciso cumprir o art. 60 desta Consolidao. Entendemos, ainda, que a autoridade trabalhista no est impedida de proibir, a posteriori, o trabalho adicional na atividade insalubre se ficar comprovado o risco vida ou sade do trabalhador. O direito natural vida justifica esse comportamento da autoridade. (2004, p.100).
Felizmente, a Smula 349 foi cancelada revalidando o art. 60 da CLT. A nota
tcnica n 251/2012/DSST/SIT referente consulta sobre o cancelamento da
Smula 349 do TST assim disps:
Dessa maneira, torna-se evidente que as medidas destinadas a preservar a vida, a sade e a integridade fsica e mental desses trabalhadores so matria de ordem publica, ou seja, que envolvem interesses mais elevados do que a autonomia das negociaes coletivas. Trata-se de direitos indisponveis, resguardados pela Constituio da Republica, tambm no Art. 7, no inciso XXII reduo dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas, de sade, higiene e segurana. No h a possibilidade, portanto, e nem mesmo os trabalhadores ou seus representantes sindicais negociarem, de maneira totalmente independente, a disponibilidade
das medidas de proteo a eles oferecida.
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Dessa forma as instituies de vigilncia dos direitos trabalhistas
reconquistaram um importante instrumento de defesa da sade e integridade fsica
garantido constitucionalmente a todos os trabalhadores.
1.5.5 O REGIME ESPECIAL DE COMPENSAO 12 X 36 HORAS
Merece destaque a chamada jornada 12 x 36. Embora no amparada
legalmente o seu uso disseminado amparado pelo argumento de ser mais
favorvel ao trabalhador por poder descansar por 36 horas. Possui adeptos como
Martins (2007, p.512) que sustenta: licito o regime 12 x 36, por ser superior a 10
horas dirias, pois a Constituio no fixa qualquer limite para a compensao. Ora,
a Constituio no fixa limite para a compensao, mas fixa limite mximo dirio de
10 horas, o que enfraquece esse entendimento.
Praticada em setores como a sade, hotelaria, vigilncia, altos fornos dentre
outros que mantm funcionamento por 24 horas, possibilita ao empregador diminuir
gastos com a contratao de maior nmero de funcionrios. Em anlise puramente
terica poder-se-ia concluir que o obreiro teria maior tempo para descanso e
atividades sociais. Ocorre que devido baixa remunerao oferecida a estes
trabalhadores, talvez, pela impresso que causa de se trabalhar pouco, estes se
vem obrigados a laborar no horrio que seria destinado ao seu descanso,
agregando em seu desfavor a fadiga, o estresse, os acidentes de trabalho dentre
outros sinistros laborais.
Vale destacar entendimentos jurisprudenciais que Abud buscou para
engrossar o entendimento de que a jornada 12 x 36 fere os direitos constitucionais
dos trabalhadores:
HORAS EXTRAS. JORNADA 12 X 36. APLICAO DO ART. 59, 2 DA CLT. O 2 do art. 59 da CLT, conquanto autorize a compensao de horrio mediante acordo ou conveno coletiva de trabalho, veda a jornada superior a 10 horas. Essa particularidade j existia antes da atual Carta e por ela foi recepcionada, sucedendo-se legislao ordinria posterior no mesmo sentido. [...] DECISO: Por unanimidade, conhecer do Recurso de Revista quanto s horas extras regime 12 x 36 e dar-lhe provimento parcial para que se mantenha na condenao o adicional de hora extra relativo s 11 e 12 horas trabalhadas no regime 132 x 36. RR 555472/1999 4 REGIO 2 TURMA DO TST - DJ 27/2/2004.
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JORNADA DE TRABALHO DE 12 X 36. REGIME DE COMPENSAO. ADICIONAL SOBRE HORAS EXCEDENTES DA 10 DIARIA. No h dispositivo legal a autorizar jornada laboral superior a dez horas dirias; muito pelo contrrio, o que a legislao prev que a durao de trabalho dirio jamais poder ultrapassar esse limite. A estipulao de dez horas como jornada mxima diria no foi estabelecida por acaso, mas sim em nome do interesse publico de proteger a higidez e a incolumidade da classe trabalhadora, bem como a sua sade psicofisiolgica, objetivando a preveno contra acidentes de trabalho. Isso porque certo, e cientificamente comprovado, que a fadiga e o cansao decorrentes de longas jornadas laborais so a causa da maioria dos acidentes de trabalho que ocorrem atualmente, alm de serem fatores conducentes queda de produo. Nesse contexto, deve o recurso de revista ser provido parcialmente, a fim de que seja mantido o pagamento como extras da 11 e 12, condenando a reclamada ao pagamento to somente do adicional sobre a 9 e 10 horas. ISTO POSTO ACORDAM os Ministros da Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do recurso de revista por contrariedade Smula n 85 do TST e, no mrito, dar-lhe provimento parcial para que seja mantido o pagamento como extras da 11 e 12 horas, condenando a reclamada ao pagamento to somente do adicional sobre a 9 e 10 horas. Braslia, 25 de abril de 2007. LELIO BENTES CORRA Relator Recurso de revista conhecido e provido parcialmente. PROC: RR 45887/2002-900-09 PUBLICAO: DJ 29/6/2007. (2008, p.137/138).
Vale ainda destacar o entendimento de Jorge Luiz Souto Maior apud Abud
(2008, p. 138):
O revezamento 12 x 36 fere, frontalmente, a Constituio e a lei. A lei no permite trabalho em horas extras de forma ordinria. E, se houver trabalho em hora extra, a jornada no pode ultrapassar a 10 horas. No regime de 12 x 36 h trabalho frequente alm de oito horas dirias, portanto, horas extras (o fato de ser remunerado como tal, ou no, no afeta a realidade, pois hora extra a hora que ultrapassa o limite mximo da jornada normal) e h trabalho com jornada superior a 10 horas. O descanso a mais se d, com folga no dia seguinte, primeiro no retira a ilegalidade e segundo, sob o aspecto fisiolgico, no repe a perda sofrida pelo organismo, ainda mais sabendo-se, como se sabe, que no dia seguinte o trabalhador no descansa, ocupando-se de outras atividades e mesmo vinculando-se a outro emprego. Uma jornada de 12 horas vai contra todos os preceitos internacionais de direitos humanos.
Foi verificada neste captulo a origem histrica da jornada de trabalho; das
conquistas realizadas pelos trabalhadores europeus pela limitao da jornada sua
adoo de forma pacfica no Brasil.
Foi buscado entendimento de termos jurdicos relacionados jornada de
trabalho, isso para melhor entendimento das normas legais que tratam do tema.
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Procurou-se o entendimento na doutrina dos motivos da limitao da jornada
de trabalho.
E ainda foram pesquisados os tipos de jornada que causam divergncias
doutrinrias quanto a sua permisso pela Constituio Federal, por extrapolarem o
permissivo constitucional.
O prximo captulo ser dedicado verificao das consequncias que a
extrapolao da jornada de trabalho ocasiona na sade e vida social do trabalhador.
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II CONSEQUNCIAS DO EXCESSO DE TRABALHO
A anlise puramente econmica induz a concluses de que extensas jornadas
favorecem ambas as partes no contrato laboral. O empregador reduziria os gastos
com folha de pagamento e encargos sociais, pois o pagamento de horas extras so
menos onerosas do que a contratao de novos funcionrios. O empregado lucraria
financeiramente com o acrscimo salarial das horas a mais prestadas, somadas ao
adicional de horas extras.
Ocorre que essa anlise torna-se extremamente simplista ao agregar a esta
equao fatores sociais e de sade, que se no inseridas no contexto laborativo
induz a concluses falaciosas. Delgado para a revista TST alerta sobre o tema:
A extenso do tempo de disponibilidade humana em decorrncia do contrato laboral implica repercusses no plano da sade do (a) trabalhador (a), no plano de sua educao e tambm no contexto de suas relaes com a famlia e correspondentes crianas e adolescentes envolvidos. Implica ainda repercusses no tocante candente equao social do emprego/desemprego, alm de ter importante impacto no mercado econmico interno. (on line).
A constituio Federal de 1988 em seu art. 7, inciso XXII escuda esse
interesse social to esquecido, at mesmo por decises judiciais, que por vezes,
amparam apenas aspectos imediatos financeiros do trabalhador em detrimento de
causa maior que envolve toda a sociedade: A sade do trabalhador. Delgado
ampara tal entendimento:
No plano da sade do (a) trabalhador (a), sabe-se, hoje, que a extenso do contato do indivduo com certas atividades ou ambientes elemento decisivo configurao do potencial efeito insalubre de tais ambientes ou atividades. Nesse cenrio, a reduo da jornada ou da durao semanal do trabalho em certas atividades ou ambientes constitui medida profiltica importante no contexto da moderna medicina laboral. Por essa razo que as regras jurdicas reguladoras da jornada laborativa obreira no so mais apenas regras jurdicas de estrito fundo econmico, sendo tambm, principalmente, regras de sade pblica. (2009, vol.75, p.25).
Branco revelou em pesquisa realizada pela agencia Unb as principais causas
de afastamento ao trabalho no Brasil em 2008:
Pesquisa indita da Universidade de Braslia mapeou as principais doenas que causam afastamento do trabalho no Brasil. Em 2008, 4% dos 32,5 milhes de trabalhadores brasileiros receberam o auxlio-doena benefcio concedido pelo Ministrio da Previdncia Social a quem recebe atestado mdico por mais de 15 dias
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consecutivos. Os principais motivos esto ligados a leses, como fraturas de pernas, punhos e braos; doenas oesteomusculares, como dores na coluna; e doenas mentais, como depresso, alcoolismo e esquizofrenia. O custo aos cofres pblicos foi de R$ 669 milhes.( on line).
A Associao Brasileira de Psiquiatria revelou os ndices de afastamento por transtornos mentais em 2011.
O INSS registrou em 2011 mais de 12 mil afastamentos por depresso, transtorno ansioso e estresse. Entre os problemas est a sndrome de Burnout, marcada por desnimo grave, vazio interior e sintomas fsicos.O afastamento de trabalhadores por transtornos mentais no Brasil subiu 2% no ano passado, atingindo a marca de 12.337 casos, segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). No universo desses problemas, as doenas que mais se destacaram em 2011 foram episdios depressivos, transtornos ansiosos, reaes
ao estresse grave e transtornos de adaptao. (on line).
Os prximos tpicos sero dedicados pesquisa dos principais infortnios
laborais advindos do desrespeito aos limites constitucionais de jornada do trabalho.
Somados s consequncias familiares e sociais para o trabalhador.
2.1 O ESTRESSE OCUPACIONAL
Faz-se necessrio o entendimento do estresse ocupacional, haja vista o
mesmo implicar importantes doenas ocupacionais. O excesso de trabalho est
dentre os causadores desse acontecimento no ambiente laboral.
Trabalho realizado pelos estudantes Leandro Manuel dias Bicho e Susete
Rodrigues Pereira do Instituto Politcnico de Coimbra em 2007 revelou que:
O Stress pode ter consequncias organizacionais e pessoais, e estas revelam-se tanto ao nvel intelectual como nas relaes sociais e no respectivo comportamento organizacional, provocando desta forma elevadssimos e avultados custos para as prprias organizaes. Segundo dados de 2000, s na Unio Europeia o fenmeno do stress ocupacional est no segundo lugar entre os problemas de sade mais frequentes, no contexto da sade ocupacional, afectando um colossal e assustador nmero de 28% dos colaboradores existentes no mercado de trabalho da Unio Europeia. Os custos, numa ptica quantitativa, vo desde quebras de ritmos de produo, causados pelo desgaste da capacidade produtiva dos colaboradores, custos relacionados com a sade e medicina ocupacional, para a reparao e reabilitao dos recursos humanos e seguros, gastos com a formao para a reposio e integrao de novos colaboradores, greves e absentismo. Neste
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ltimo caso, o stress ocupacional responsvel por cerca de 25% da taxa de absentismo, na UE, durante duas ou mais semanas, implicando, juntamente com as outras consequncias do stress ocupacional e segundo as estatsticas de 1999, custos anuais aos Estados-membros de 20 mil milhes de euros, pelo menos.(on line).
O conceito de stress Organizacional pode ser buscado na Revista Sade &
Trabalho rgo Oficial da Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho. Os
autores do artigo E. Sacadura-Leite e A. S assim definiram:
O stress relacionado com o trabalho (Work-related stress) que tambm designado como stress profissional ou stress ocupacional (Job stress ou Stress at Work) definido pelo NIOSH como ... harmful physical and emotional responses that occur when the requirements of the job do not match the capabilities, resources, or needs of the worker (NIOSH, 2006), isto e, uma consequncia da desarmonia (ou desequilbrio) entre as exigncias do trabalho e as capacidades (e recursos ou necessidades) do trabalhador.(on line).
Frana (2008, p.19) descreve o estresse ocupacional como reaes
emocionais, cognitivas, comportamentais e fisiolgicas decorrentes de atividades
fsicas ou intelectuais originadas no ambiente de trabalho. Ensina que estresse,
ocupacional, se refere ao desgaste do corpo, e que foi estudado primeiramente por
Hans Selye em 1965, significando a adaptao do corpo devido aos esforos aos
quais se submete em seu cotidiano.
A autora (2008, p.25) explica que esse termo para a medicina significa
processo geral de adaptao do corpo, devido a mudanas e esforos aos quais
uma pessoa esta submetida no seu dia-a-dia. Frana (2008, p.20) utilizou a figura
abaixo para mostrar os efeitos dos tipos de estresse.
O eixo y representa a capacidade de adaptao ao estress e o eixo x
representa os efeitos do stress na performace e sade. A regio delimitada pelo
Distress caracterizada pela monotonia e depresso, o Eustress representa um
estado timo, onde h maior produtividade e criatividade, finalmente na regio do
Distress ocorrer sintomas de ansiedade, depresso e burnout.
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Figura 1 - Tipos de Stresse.
Fonte: Adaptado de Rodrigues, 1998b (apud FRANA, 2008, p.20).
Frana afirma que o eustress no desencadear doenas, j o distress
poder ocasionar reaes psicofisiolgicas que podero levar a situaes de
doenas.
Colocando o trabalhador no foco de estudo, localizaremos, a partir dessa
definio, os efeitos do excesso de trabalho e horas extras como sendo fatores
causadores de estresse ocupacional. Frana busca nos estudos de Hans Selye o
significado da Sndrome Geral de Adaptao, a qual caracterizada por pelas fases
de alarme, resistncia e exausto, as quais podero ser identificadas no grfico
acima:
A primeira fase corresponde reao de alarme, em que os mecanismos so mobilizados para manter a vida, a fim de que a reao no se dissemine. uma posio geral de alerta do organismo. A segunda atua como resistncia, em que a adaptao obtida por meio de desenvolvimento adequado dos canais especficos de defesa, podendo surtir sintomas somticos no especficos. A terceira, a exausto ou esgotamento, caracterizada por reaes de sobrecarga dos canais fisiolgicos, falhas dos mecanismos adaptativos, presena de estmulos permanentes e excessivos, levando o organismo morte. (2008, p. 20)
Pafaro em Estudo do estresse do enfermeiro com dupla jornada de trabalho
em um hospital de oncologia peditrica de Campinas revela os motivos da dupla
jornada de trabalho nesta profisso:
A dupla jornada de trabalho faz-se necessria aos trabalhadores de enfermagem devido situao econmica da rea da sade, aos baixos salrios insuficientes para o sustento da famlia, o que os leva a procurar novas fontes de renda. Na realidade, necessitam enfrentar
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dupla atividade, o que pode interferir em alguns aspectos referentes qualidade de vida do trabalhador. (on line).
Utilizou a seguinte amostragem:
A amostra foi, portanto, composta de 33 sujeitos sendo que 24 faziam dupla jornada de trabalho e 9 trabalhavam sem dupla jornada. Os turnos eram fixos com os seguintes horrios: perodo da manh das 8 s 14 horas; vespertino, das 14 s 20 horas e noturno, das 20 s 8 horas. ( on line).
Pafaro conclui o estudo revelando que:
Entretanto, podemos verificar que ao somarmos 62,50% dos sujeitos que se encontravam na fase de resistncia aos 8,34% dos sujeitos que estavam na fase de exausto ou quase exausto, totatiza-se (sic) um percentual de 70,84% de nveis de estresse para a populao do grupo com dupla jornada, enquanto que 55,56% de nveis de estresse para o grupo sem dupla jornada. ( on line).
So diversos os fatores determinantes do estresse no ambiente laboral.
Existem estudos realizados por especialistas e pesquisadores de ergonomia
sintetizados no quadro abaixo:
Figura 2 Fatores Determinantes do Stresse Laboral
Estresse Qumico Corrosivos Por exemplo, cido sulfrico. Txicos Gases lquidos ou slidos que, aspirados, engolidos ou em contato com o indivduo, so perigosos. Inflamveis Lquidos com ponto de fulgor (flash point) abaixo de 38C. Oxidantes Que se decompem, dando
reaes violentas.
Estresse Fsico Barulho Desagradvel, chegando a irritar a audio. Calor e frio Incmodo ou enfermidade, por exemplo, convulso trmica ou gangrena ou congelamento. Radiaes ionizantes Radioativas Radiaes no ionizantes Raios laser, ultravioleta, infravermelhos, visveis, microondas.
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Estresse Ergonmico Relacionamento inapropriado nas capacidades mentais e fsicas do empregado e de seu trabalho. Vibraes mecnicas circulao do sangue. Levantar ou carregar peso excessivo
Estresse Biolgico Doenas ocupacionais por exemplo:Antrax, tuberculoses (de mdicos) e alergias.
Fonte: Hemingway, Ronald (apud FRANA, 2008, p.25).
Peir (1986) apud Silva explicita como estressores do ambiente fsico:
rudo, iluminao, temperatura, higiene, intoxicao, clima, e disposio do espao
fsico para o trabalho (ergonomia); e como principais demandas estressantes:
trabalho por turnos, trabalho noturno, sobrecarga de trabalho, exposio a riscos e
perigos.
Dentre as sndromes associadas ao estresse, chamadas respostas
psicossomticas, que so manifestaes fsicas de problemas com origem
emocional/psicolgico, so citadas por Frana (2008, p.21) as somatizaes, a
fadiga e as depresses, segundo a autora, estes sintomas so muito comuns nos
ambientes de trabalho.
Define a autora, as somatizaes como sensaes e distrbios fsicos com
forte carga emocional e afetiva. So dores afetivas. A fadiga descrita como
desgaste fsico ou mental, que pode ser recuperado por meio de repouso,
alimentao ou orientao clnica especfica, j a depresso seria combinao de
sintomas em que prevalece a falta de nimo, a descrena pela vida e uma profunda
sensao de abandono e solido.
A fadiga, sintoma muito comum no estresse, definido por Couto apud
Frana como:
Fadiga, no sentido biolgico, a diminuio reversvel da funo de um rgo de um sistema ou de todo um organismo provocada por uma sobrecarga na utilizao daquele rgo, sistema ou organismo. (2008, p.21)
Brando em artigo para a Revista TST destaca o trabalho de Rodrigo Filus e
Maria Lcia Okimoto, em estudos realizados na Universidade do Paran sobre a
fadiga e aduz que:
[...]dentro de certo limite, o esforo fsico conduz o indivduo a uma fadiga recupervel por meio do repouso. Contudo, quando esse
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estado de fadiga ultrapassado frequentemente, ir acumulando um desgaste residual que o levar a uma fadiga crnica, que ocorre quando o indivduo exaurido e desrespeitando os seus prprios limites, continua executando o seu labor normalmente ou at mantido na situao de laborar em regime de horas extras, agredindo seu corpo e aumentando o problema, que se tornar insuportvel e poder evoluir drasticamente. (on line). (grifos nossos)
As depresses citadas como sndrome associado ao estresse por Frana so
definidas pelo manual de procedimentos para servios de sade como:
Os episdios depressivos caracterizam-se por humor triste, perda do interesse e prazer nas atividades cotidianas, sendo comum uma sensao de fadiga aumentada. O paciente pode se queixar de dificuldades de concentrao, pode apresentar baixa auto-estima e autoconfiana, desesperana, ideias de culpa e inutilidade; vises desoladas e pessimistas do futuro, ideias ou atos suicidas. O sono encontra-se frequentemente perturbado, geralmente por insnia terminal. O paciente se queixa de diminuio de apetite, geralmente com perda de peso sensvel. [...] (2001, p.178).
Comprova-se, portanto, por estudos que o labor em horas extras habituais
contribui para o desencadeamento da fadiga crnica. Justificando faticamente, a
limitao da jornada inserida no bojo da Constituio Federal de 1988.
2.2 FATORES PSICOSSOCIAIS NO AMBIENTE DE TRABALHO E CONDIES
DE TRABALHO POTENCIALMENTE ESTRESSORAS
Cox e Griffiths apud Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho (on line)
definiram os fatores de risco de natureza psicossocial como: os aspectos
da.organizao, da gesto, do contexto social, do ambiente de trabalho ou da
prpria atividade que tem potencial para causar efeitos adversos fsicos ou
psicolgicos na sade dos trabalhadores, atravs da experincia de stress..
Kasl (1991) apud Soc. Portuguesa de Medicina do Trabalho sistematiza as
condies de trabalho potencialmente stressoras da seguinte forma:
aspectos relativos ao tempo de trabalho (trabalho por turnos; horas extraordinrias; dois empregos; pagamento a peca; pressao do tempo para resposta; );
contedo do trabalho (fragmentado; monotono; repetitivo; grau de autonomia; solicitaes pouco precisas; insuficientes recursos para a realizao das tarefas; );
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relaes interpessoais no grupo (suporte social; assedio; interaccao entre trabalhadores; );
Relaes interpessoais com a superviso (participao no processo de decisao; reconhecimento pelo trabalho; suporte social; );
condies organizacionais (dimenso da empresa; estrutura organizacional;).( on line).( grifos nossos)
A norma regulamentadora N. 17 da portaria 3.214 de 8.6.1978( on line) a
norma brasileira que regula a organizao do trabalho. Visa estabelecer parmetros
que permitam a adaptao das condies de trabalho s condies psicofisiolgicas
dos trabalhadores, de modo a proporcionar um mximo de conforto, segurana e
desempenho eficiente.
Ocorre que para o implemento desta norma torna-se necessrio a contratao
de profissional especializado para realizar as avaliaes do ambiente laboral e da
organizao do trabalho. Aps isso, a implantao de mudanas que certamente
envolvero investimentos financeiros. Fatos que certamente no fazem parte da
cultura do empresariado brasileiro.
2.2.1 A SNDROME DE BURNOUT
A sndrome de burnout considerada, pelo decreto 6042/07 que altera o
regulamento da Previdncia Social brasileira, como transtorno mental e do
comportamento relacionado ao trabalho. Est localizada no anexo: dos Agentes
Patognicos causadores de Doenas Profissionais ou do Trabalho item: transtornos
mentais e do comportamento relacionados com o trabalho (Grupo V da CID-10),
possuindo como causa o Ritmo de trabalho penoso (Z56. 31). Portanto, oficialmente
aceito no Brasil como agente capaz de afastar o indivduo do trabalho, estando o
trabalhador protegido pelo Estado durante sua recuperao com beneficio da
Previdncia Social.
A sndrome de Burnout considerada, por Silva (on line), mais grave que o
stress, explica a autora que a doena foi citada pela primeira vez na dcada de 70
nos Estados Unidos, estando relacionada a atividades em que havia de contatos
diretos na prestao de servios associadas com longas jornadas de trabalho.
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Freudenberger (1974) apud Silva (on line) explica que esgotamento nervoso e
a despersonalizao so caractersticas marcantes dessa sndrome, em que o
esgotamento se manifesta com a perda dos recursos emocionais provocados pelo
contato direto com as pessoas que atendem diariamente, j a despersonalizao se
refere atitude e sentimentos negativos, at mesmo cinismo, em relao s
pessoas objeto de seu trabalho.
Conclui que a pessoa acometida por essa sndrome assume comportamento
de distanciamento e frieza com aqueles com quem possui relacionamento
profissional, passando a os tratar por objetos, no se interessando pelos resu