lei de falÊncias e de recuperaÇÃo de empresas€¦ · recuperação judicial. por fim, descabido...
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LEI DE FALÊNCIAS E DE
RECUPERAÇÃO DE
EMPRESAS
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LEI 11.101/2005
e
LEI COMPLEMENTAR 118/05
► Prof. Wagner Moreira
RECUPERAÇÃO
FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA – EMPRESAVIÁVEL (ART.47)
ESPÉCIES:
1.JUDICIAL ORDINÁRIA
2.JUDICIAL ESPECIAL
3.EXTRAJUDICIAL
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JUDICIAL ORDINÁRIA
Legitimidade:
Empresário devedor – individual ou
sociedade
(art.48 p. 1º.)
Cônjuge sobrevivente;
Herdeiros do devedor;
inventariante ou sócio remanescente.
(incluído Lei n.12.873/2013)3
JUDICIAL ORDINÁRIARequisitos – art.48 – cumulativos
1. Exerça regularmente suas atividades há
mais de 2 (dois) anos;
2. Não ser falido e, se o foi, esteja extinta;
3. Não ter, há menos de 5 (cinco) anos,
obtido concessão de recuperação judicial
(antes era 8 (oito) anos da recuperação
especial) – LC 147/2014
4. Não ter sido condenado por crime
falimentar 4
REQUISITOS
APELAÇÃO SEM REVISÃO N° 501.317.4/4-00
"Apelação. Recuperação Judicial. Decisão que indefere oprocessamento diante da prova de que a empresa não exerceregularmente a atividade empresarial, pressuposto exigido peloartigo 48 da Lei n° 11.101/2005. Simples registro na JuntaComercial não é suficiente para o reconhecimento de exercícioregular da atividade empresarial, quando há elementos robustosde práticas de graves irregularidades, inclusive com instauração deinquérito policial para apuração de infrações penais de grandepotencial de lesividade. A recuperação judicial é instituto criadopara ensejar a preservação de empresas dirigidas sob os princípiosda boa-fé e da moral. Sentença de indeferimento mantida. Apelodesprovido."
JUDICIAL ORDINÁRIACréditos Incluídos:
Todos os créditos existentes na data do pedido
Ainda que não vencidos (art.49)
Características:
•Cria novação
•Os credores conservam seus direitos e privilégios
•Mantidas as mesmas condições (inclusive osencargos) salvo decisão diverso no plano.
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DIREITO EMPRESARIAL.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. NOVAÇÃO DE DÍVIDA
TRABALHISTA ILÍQUIDA.
O crédito trabalhista só estará sujeito à novação
imposta pelo plano de recuperação judicial
quando já estiver consolidado ao tempo da
propositura do pedido de recuperação. Conforme
art. 59 da Lei n. 11.101/2005, o plano de recuperação
judicial implica novação dos créditos anteriores ao
pedido. De acordo com o art. 6º, § 1º, da referida lei,
estão excluídas da vis atractiva do juízo falimentar e
do efeito suspensivo dos pedidos de falência e
recuperação as ações nas quais se demandem
quantias ilíquidas (não consolidadas).
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O § 2º desse mesmo artigo acrescenta que as ações
de natureza trabalhista serão processadas perante a
justiça especializada até a apuração do respectivo
crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores
pelo valor determinado em sentença.
Dessa forma, na sistemática introduzida pela Lei de
Falências, se ao tempo do pedido de recuperação
o valor ainda estiver sendo apurado em ação
trabalhista, esta seguirá o seu curso normal e o
valor que nela se apurar será incluído
nominalmente no quadro-geral de credores, não
havendo novação. REsp 1.321.288-MT, Rel. Min.
Sidnei Beneti, julgado em 27/11/2012.
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JUDICIAL ORDINÁRIANão entram e prevalecerão os direitos de propriedadesobre a coisa e as condições contratuais, observada alegislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante oprazo de suspensão a que se refere o § 4o do art. 6o destaLei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedordos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial:
•Credor de proprietário fiduciário;
•Arrendador mercantil;
•Proprietário ou promitente vendedor de imóvel com cláusulade irrevogabilidade ou irretratabilidade (inclusive emincorporações imobiliárias ou de proprietário em contrato devenda com reserva de domínio)
•E também a Contrato de adiantamento a contrato de câmbiopara exportação; 9
JUDICIAL ORDINÁRIADIREITO EMPRESARIAL. NÃO SUJEIÇÃO DO
CRÉDITO GARANTIDO POR CESSÃO FIDUCIÁRIA
DE DIREITO CREDITÓRIO AO PROCESSO
DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
O crédito garantido por cessão fiduciária de direito
creditório não se sujeita aos efeitos da
recuperação judicial, nos termos do art. 49, § 3º,
da Lei n. 11.101/2005. Conforme o referido dispositivo
legal, os créditos decorrentes da propriedade
fiduciária de bens móveis e imóveis não se submetem
aos efeitos da recuperação judicial.
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A cessão fiduciária de títulos de crédito é definida
como “o negócio jurídico em que uma das partes
(cedente fiduciante) cede à outra (cessionária
fiduciária) seus direitos de crédito perante terceiros
em garantia do cumprimento de obrigações”.
Assim, o crédito garantido por cessão fiduciária de
direito creditório, espécie do gênero propriedade
fiduciária, não se submete aos efeitos da recuperação
judicial. Como consequência, os direitos do
proprietário fiduciário não podem ser suspensos na
hipótese de recuperação judicial, já que a posse
direta e indireta do bem e a conservação da garantia
são direitos assegurados ao credor fiduciário pela lei
e pelo contrato.REsp 1.202.918-SP, Rel. Min. Villas
Bôas Cueva, julgado em 7/3/2013. 11
Terceira Turma DIREITO EMPRESARIAL. NÃO SUJEIÇÃO A
RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE DIREITOS DE CRÉDITO
CEDIDOS FIDUCIARIAMENTE. Não se submetem aos
efeitos da recuperação judicial do devedor os direitos de
crédito cedidos fiduciariamente por ele em garantia de
obrigação representada por Cédula de Crédito Bancário
existentes na data do pedido de recuperação,
independentemente de a cessão ter ou não sido registrada
no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do
devedor. É a partir da contratação da cessão fiduciária, e não
do registro, que há a imediata transferência, sob condição
resolutiva, da titularidade dos direitos creditícios dados em
garantia ao credor fiduciário. Efetivamente, o CC limitou-se a
disciplinar a propriedade fiduciária sobre bens móveis
infungíveis, esclarecendo que “as demais espécies de
propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-se
à disciplina específica das respectivas leis especiais, 12
…. Note-se que o credor titular da posição de proprietário
fiduciário sobre direitos creditícios não opõe essa garantia real
aos credores do recuperando, mas sim aos devedores do
recuperando (contra quem, efetivamente, far-se-á valer o
direito ao crédito, objeto da garantia), o que robustece a
compreensão de que a garantia sob comento não diz respeito
à recuperação judicial. O direito de crédito cedido não compõe
o patrimônio da devedora fiduciante (que sequer detém sobre
ele qualquer ingerência), sendo, pois, inacessível aos seus
demais credores e, por conseguinte, sem qualquer
repercussão na esfera jurídica destes. Não se antevê, desse
modo, qualquer frustração dos demais credores do
recuperando que, sobre o bem dado em garantia (fora dos
efeitos da recuperação judicial), não guardam legítima
expectativa.
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Aliás, sob o aspecto da boa-fé objetiva que deve permear as
relações negociais, tem-se que compreensão diversa permitiria
que o empresário devedor, naturalmente ciente da sua
situação de dificuldade financeira, ao eleger o momento de
requerer sua recuperação judicial, escolha, também, ao seu
alvedrio, quais dívidas contraídas seriam ou não submetidas à
recuperação judicial. Por fim, descabido seria reputar
constituída a obrigação principal (mútuo bancário representado
por Cédula de Crédito Bancário emitida em favor de instituição
financeira) e, ao mesmo tempo, considerar pendente de
formalização a indissociável garantia àquela, condicionando a
existência desta última ao posterior registro.
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Assim, e nos termos do art. 49, § 3º, da Lei n. 11.101/2005,
uma vez caracterizada a condição de credor titular da posição
de proprietário do bem dado em garantia, o correlato crédito
não se sujeita aos efeitos da recuperação judicial,
remanescendo incólumes os direitos de propriedade sobre a
coisa e as condições contratuais, conforme dispõe a lei
especial regente. REsp 1.412.529-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze,
julgado em 17/12/2015, DJe 2/3/2016 (Informativo n. 578).
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JUDICIAL ESPECIAL
• ME E EPP (ART.70 E 72)
ANTES ABRANGIA SOMENTE OSCREDORES QUIROGRAFÁRIOS
• Abrangerá todos os créditos existentesna data do pedido, ainda que nãovencidos,
• Excetuados:
1.os que não entram na recuperaçãoordinária (previstos§§ 3o e 4o do art. 49)
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JUDICIAL ESPECIAL
2. Os decorrentes de repasse de recursosoficiais;
3. Os fiscais
Art. 68 – As Fazendas Públicas e o INSSpoderão deferir, nos termos da legislaçãoespecífica, parcelamento e as ME e EPPfarão jus a prazos 20% (vinte por cento)superiores àqueles regularmente concedidosàs demais empresas.
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PROCEDIMENTO RECUPERAÇÃO
COMPETÊNCIA: A competência para o processamento e julgamento do pedido de
recuperação judicial será do juízo do principal estabelecimento do devedor, na
forma do artigo 3º da Lei 11.101/2005.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E EMPRESARIAL.
COMPETÊNCIA. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
A competência para apreciar pedido de recuperação judicial de
grupo de empresas com sedes em comarcas distintas, caso
existente pedido anterior de falência ajuizado em face de
uma delas, é a do local em que se encontra o principal
estabelecimento da empresa contra a qual foi ajuizada a
falência, ainda que esse pedido tenha sido apresentado em
local diverso. CC 116.743-MG, Rel. Min. Raul Araújo, Rel.
para acórdão Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
10/10/2012. 18
SÚMULA n. 480
•juízo da recuperação judicial não é competente para decidir
sobre a constrição de bens não abrangidos pelo plano de
recuperação da empresa. Rel. Min. Raul Araújo, em
27/6/2012.
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COMPETÊNCIA. EMPRESA. RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
A Seção negou provimento ao agravo regimental, reiterando
o entendimento de que não há conflito de competência
quando a execução promovida pela Justiça trabalhista
recai sobre o patrimônio dos sócios da empresa em
recuperação judicial.
Salientou-se, contudo, ser exceção a essa regra a
hipótese de o juízo da recuperação igualmente decretar a
desconsideração da personalidade jurídica para atingir os
mesmos bens e pessoas, ainda que posteriormente – o
que limitaria a aplicação, pelo juízo laboral, caso em que
prevalece a competência do juízo da recuperação. AgRg
no CC 113.280-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
em 27/10/2010.
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PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. APROVAÇÃO
PELA AGC. CONTROLE JUDICIAL.
A Turma firmou entendimento que a assembleia geral de
credores (AGC) é soberana em suas decisões quanto ao
conteúdo do plano de recuperação judicial. Contudo, as
suas deliberações – como qualquer outro ato de
manifestação de vontade – estão submetidas ao controle
judicial quanto aos requisitos legais de validade dos atos
jurídicos em geral.
Nesses termos, negou-se provimento ao recurso no qual se
sustentava a impossibilidade da alteração substancial do
plano de recuperação judicial durante a votação da AGC,
supostamente realizado com o fim de favorecer
determinados credores em prejuízo de integrantes da
mesma classe. REsp 1.314.209-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 22/5/2012.21
EFEITOS DA DECISÃO QUE DEFERE O PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL
NOMEAÇÃO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL: É neste momento que o juiz deverá indicar o AJ. Na
capital funcionam os liquidantes.
SUSPENSÃO DAS AÇÕES E EXECUÇÕES PELO PRAZO DE 180 DIAS: O deferimento não irá
impedir o prosseguimento das ações que demandem quantia ilíquida, reclamações
trabalhistas e as execuções fiscais. As ações dos credores indicados no art. 49,§§ 3º e
4º, da LF, também não são atingidas (mas eles não podem retirar bem essencial para a
manutenção daquela atividade, no prazo de 180 dias).
PRESTAÇÃO MENSAL DE CONTAS DO ADMINISTRADOR JUDICIAL: A penalidade para o
descumprimento desta obrigação será a destituição do administrador.
INTIMAÇÃO DAS FAZENDAS E DO MPRJ.
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COMUNICAÇÃO AO REGISTRO PÚBLICO PARA ACRESCENTAR A EXPRESSÃO
“EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL).
COMITÊ DE CREDORES: Os credores poderão solicitar ao juízo falimentar a
convocação de uma assembléia para a constituição de seus membros.
A homologação do plano de recuperação judicial
autoriza a retirada do nome da recuperanda e dos seus
respectivos sócios dos cadastros de inadimplentes,
bem como a baixa de eventuais protestos existentes
em nome destes... implica novação dos créditos
anteriores ao pedido.REsp 1.260.301-DF, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 14/8/2012.
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Quarta Turma DIREITO EMPRESARIAL. DEFERIMENTO DO
PROCESSAMENTO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL E
CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO E
TABELIONATOS DE PROTESTOS. O deferimento do
processamento de recuperação judicial, por si só, não
enseja a suspensão ou o cancelamento da negativação
do nome do devedor nos cadastros de restrição ao
crédito e nos tabelionatos de protestos. O deferimento do
processamento de recuperação judicial suspende o
curso das ações e execuções propostas em face do
devedor, nos termos do art. 6º, caput e § 4º, da Lei
11.101/2005. Contudo, isso não significa que ele atinge o
direito creditório propriamente dito, o qual permanece
materialmente indene. Este é o motivo pelo qual o
mencionado deferimento não é capaz de ensejar a
suspensão ou o cancelamento da negativação do nome do
devedor nos cadastros de restrição ao crédito e tabelionatos
de protestos. 24
Nessa linha, o Enunciado 54 da I Jornada de Direito Comercial do
CJF estabelece que: “O deferimento do processamento da
recuperação judicial não enseja o cancelamento da negativação do
nome do devedor nos órgãos de proteção ao crédito e nos
tabelionatos de protestos”. Ademais, destaca-se que essa também
foi a conclusão acolhida pela Terceira Turma do STJ, que, apesar
de não ter analisado a questão à luz da decisão de processamento
(arts. 6° e 52), estabeleceu que somente após a concessão da
recuperação judicial, com a homologação do plano e a novação
dos créditos (arts. 58 e 59), é que pode haver a retirada do nome
da recuperanda dos cadastros de inadimplentes (REsp 1.260.301-
DF, DJe 21/8/2012)... Precedentes citados: CC 88.661-SP, Segunda
Seção, DJe 3/6/2008; EDcl no Ag 1.329.097-RS, Quarta Turma, DJe
03/02/2014; e AgRg no CC 125.697-SP, Segunda Seção, DJe
15/2/2013. REsp 1.272.697-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 2/6/2015, DJe 18/6/2015 (Informativo 564).
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RETIFICAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO
Terceira Turma DIREITO EMPRESARIAL. RETIFICAÇÃO DO
QUADRO GERAL DE CREDORES APÓS HOMOLOGAÇÃO DO
PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. Ainda que o plano de
recuperação judicial já tenha sido homologado, é possível a
retificação do quadro geral de credores fundada em julgamento
de impugnação. No âmbito da recuperação judicial, existem duas
fases distintas e paralelas, quais sejam: (a) a verificação e a
habilitação de créditos, previstas na Seção II da Lei 11.101/2005, arts.
7º ao 20; e (b) a fase de apresentação e deliberação do plano de
recuperação judicial, com assento nas Seções III e IV, arts. 53 ao 69.
Assim, uma vez deferido o processamento da recuperação judicial (art.
52), o juiz determina a expedição de edital com a relação nominal de
credores e respectivos créditos e, a partir de então, a um só tempo,
iniciam-se a fase de verificação e habilitação de créditos (art. 52,§ 1º)
e o prazo improrrogável de 60 dias para a apresentação do plano de
recuperação judicial, sob pena de convolação em falência (art. 53).
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Por serem fases que ocorrem de maneira paralela, é
possível que a aprovação do plano de recuperação
judicial ocorra antes da pacificação dos créditos, ou seja,
é possível que o plano de recuperação judicial seja
aprovado antes do julgamento de impugnação de crédito
e, consequentemente, antes da consolidação do quadro
geral de credores. Dessa maneira, a existência do plano
de recuperação judicial já homologado não pode ser um
entrave à consolidação do quadro geral de credores. De
fato, a retificação do quadro geral de credores após o
julgamento da impugnação é consequência lógica e
previsível, própria da fase de verificação e habilitação dos
créditos. Salienta-se, inclusive, que esse julgamento é
requisito indispensável para a consolidação do quadro
geral de credores, sendo completamente desinfluente
para a higidez do plano de recuperação judicial já
aprovado o fato de o julgamento se concretizar após sua
homologação. 27
Com efeito, tal circunstância coaduna-se com a
sistemática prevista na Lei de Recuperação Judicial, pois
as questões passíveis de serem objeto de impugnação
judicial contra a relação de credores, que são
expressamente previstas no art. 8º, somente se
consolidam (art. 18) após o julgamento da citada
impugnação, de modo que se admite a retificação do
quadro geral de credores no tocante à ausência,
legitimidade, importância ou classificação de crédito,
mesmo após a aprovação do plano de recuperação
judicial.
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Ademais, interpretação em sentido contrário tornaria
praticamente inócuas as impugnações judiciais contra a
relação de credores, pois, no 194 plano fático, muitas
vezes não é possível harmonizar as demandas de uma
empresa em recuperação judicial, cujo plano de
reestruturação é, sem dúvida, a principal peça para a
viabilização da atividade econômica, com a tramitação
judicial do procedimento de verificação e habilitação de
créditos. Além disso, o fator "tempo" ou a duração do
processo não pode prejudicar o credor que, na forma da
lei, busca a declaração do seu crédito. REsp 1.371.427-
RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
6/8/2015, DJe 24/8/2015 (Informativo 567).
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DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. REPERCUSSÃO DA
HOMOLOGAÇÃO DE PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
A homologação do plano de recuperação judicial da devedora
principal não implica extinção de execução de título extrajudicial
ajuizada em face de sócio coobrigado.
Com efeito, a novação disciplinada na Lei 11.101/2005 é muito diversa da
novação prevista na lei civil.
Se a novação civil faz, como regra, extinguir as garantias da dívida,
inclusive as reais prestadas por terceiros estranhos ao pacto (art. 364 do
CC), a novação decorrente do plano de recuperação judicial traz, como
regra, a manutenção das garantias (art. 59, caput, da Lei 11.101/2005),
sobretudo as reais, que só serão suprimidas ou substituídas “mediante
aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia” por ocasião da
alienação do bem gravado (art. 50, § 1º, da Lei 11.101/2005).
REsp 1.326.888-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
8/4/2014.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL E EMPRESARIAL.
SOCIEDADE AVALIZADA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
PROSSEGUIMENTO DE EXECUÇÃO CONTRA AVALISTA.
Não se suspendem as execuções individuais
direcionadas aos avalistas de título cujo devedor
principal (avalizado) é sociedade em recuperação
judicial. Dispõe o caput do art. 6º da Lei n. 11.101/2005 que
“a decretação da falência ou o deferimento do processamento
da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de
todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive
aquelas dos credores particulares do sócio solidário”. A
suspensão alcança apenas os sócios solidários presentes
naqueles tipos societários em que a responsabilidade pessoal
dos consorciados não é limitada às suas respectivas
quotas/ações, como é o caso, por exemplo, da sociedade em
nome coletivo (art. 1.039 do CC) e da sociedade em
comandita simples, no que concerne aos sócios
comanditados (art. 1.045 do CC). 31
A razão de ser da norma que determina a suspensão das
ações, ainda que de credores particulares dos sócios
solidários, é simples, pois, na eventualidade de decretação
da falência da sociedade os efeitos da quebra estendem-se
àqueles, conforme dispõe o art. 81 da Lei n. 11.101/2005.
Situação diversa, por outro lado, ocupam os devedores
solidários ou coobrigados. Para eles, a disciplina é
exatamente inversa, considerando que o art. 49, § 1º, da Lei
n. 11.101/2005 estabelece que “os credores do devedor em
recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios
contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso”.
Nesse sentido, na recente I Jornada de Direito Comercial
realizada pelo CJF/STJ foi aprovado o Enunciado n. 43,
segundo o qual "[a] suspensão das ações e execuções
previstas no art. 6º da Lei n. 11.101/2005 não se estende aos
coobrigados do devedor". REsp 1.269.703-MG, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 13/11/2012. 32
RECURSO DOS CREDORES
Terceira Turma DIREITO EMPRESARIAL E PROCESSUAL
CIVIL. INAPLICABILIDADE DO PRAZO EM DOBRO PARA
RECORRER AOS CREDORES NA RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. No processo de recuperação judicial, é
inaplicável aos credores da sociedade recuperanda o
prazo em dobro para recorrer previsto no art. 191 do
CPC. Inicialmente, consigne-se que pode ser aplicada ao
processo de recuperação judicial, mas apenas em relação ao
litisconsórcio ativo, a norma prevista no art. 191 do CPC que
dispõe que “quando os litisconsortes tiverem diferentes
procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os prazos para
contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos
autos”.
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Todavia, não se pode olvidar que a recuperação judicial
configura processo sui generis, em que o empresário atua
como requerente, não havendo polo passivo. Assim, não se
mostra possível o reconhecimento de litisconsórcio passivo
em favor dos credores da sociedade recuperanda, uma vez
que não há réus na recuperação judicial, mas credores
interessados, que, embora participando do processo e
atuando diretamente na aprovação do plano, não figuram
como parte adversa – já que não há nem mesmo litígio
propriamente dito. Com efeito, a sociedade recuperanda e os
credores buscam, todos, um objetivo comum: a preservação
da atividade econômica da empresa em dificuldades
financeiras a fim de que os interesses de todos sejam
satisfeitos.
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Dessa forma, é inaplicável o prazo em dobro para recorrer
aos credores da sociedade recuperanda. Ressalte-se, por
oportuno, que, conforme jurisprudência do STJ, o prazo em
dobro para recorrer, previsto no art. 191 do CPC, não se
aplica a terceiros interessados. REsp 1.324.399-SP, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 3/3/2015, DJe
10/3/2015 (Informativo 557).
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