nova lei de recuperação e falências (comentada) 3ª ed - manoel justino bezerra filho

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NOVA LEI DE RECUPERAÇÃO

E FALÊNCIAS Comentada

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EDITORA AFILIADA

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OBRAS DO AUTOR

Aspectos controvertidos do novo Código Civil (obra coletiva). São Paulo: RT, 2003.

Súmulas do STJ comentadas. São Paulo: RT, 2003.

Títulos de crédito: teoria geral e títulos atípicos em face do novo Código Civil (obra coletiva). São Paulo: Walmar, 2004.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Bezerra Filho, Manoel Justino Nova Lei de Recuperação e Falências comentada I Lei 11.101, de 9 de fevereiro de

2005, comentário artigo por artigo I Manoel Justino Bezerra Filho. - 3. ed., 2. tir. - São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2005.

Título anterior: Lei de Falências comentada. Bibliografia. ISBN 85-203-2733-8

1. Falências - Leis e legislação - 2. Falências - Leis e legislação - Brasil 3. Recuperação Judicial (Direito) - Leis e legislação - Brasil L Título.

05-1490 CDU-347. 736(81) (094.56)

Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil Leis comentadas : Falência : Direito Comercial 347.736(81) (094.56)

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MANOEL JUSTINO BEZERRA FILHO

NOVA LEI --DE RECUPE~AÇAO EFALENCIAS

Comentada

Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005

Comentário artigo por artigo

3.a edição, 2.a tiragem, da obra Lei de Falências Comentada

EDITORA riil REVISTA DOS TRIBUNAIS

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NOVA LEI DE RECUPERAÇÃO E FALÊNCIAS Comentada

Lei 11.1 O 1, de 9 de fevereiro de 2005 - Comentário artigo por artigo

3.3 edição, 2.3 tiragem, da obra Lei de Falências Comentada

MANOEL JUSTINO BEZERRA FILHO 003032

1. a edição: 2001 - 2." edição: 2003- 3." edição: março de 2005; 2." tiragem: maio de 2005.

Editoração eletrônica: Art & Estilo Ltda., CNPJ 06.143.777/0001-91. Impressão e acabamento: Editora Parma Ltda., CNPJ 62.722.103/0001-12.

© desta edição: 2005

EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA.

Diretor Responsável: CARLOS HENRIQUE DE CARVALHO FILHO

Visite o nosso site: www.rt.com.br

Serviço de Atendimento ao Consumidor: Tel. 0800-702-2433 (ligação gratuita, de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas)

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TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográ­ficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreen&ão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).

Impresso no Brasil (05- 2005)

ISBN 85-203-2733-8

Page 6: Nova lei de recuperação e falências (comentada)   3ª ed - manoel justino bezerra filho

Para ADRIANO,

ALEXANDRE e MAÍRA,

filhos e razão maior.

Para LucÍLIA,

parte da razão maior.

E para todos os meus queridos alunos.

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NOTA DO AUTOR À 2a TIRAGEM

Em acréscimo à nota publicada na 1 a tiragem, observe-se que o protesto, no caso do inciso li do art. 94, não é obrigatório - é opcional. Assim, esta nota deve ser considerada na leitura dos comentários n. 5, 19 e 37 ao art. 94, nas p. 233, 236/237 e 241.

Maio de 2005.

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NOTA DO AUTOR À 3a EDIÇÃO

A experiência acumulada em 18 anos de atividade como estagiá­rio de direito e advogado de empresas, somada aos outros 18 anos (que estão se completando neste ano) do exercício da Magistratura, permitiu que surgisse este livro. Mas, como já anotado nas edições anteriores- e a afirmação deve ser repetida-, a mais instigante de todas as experiên­cias intelectuais, e que me levou a decidir por escrever este e outros livros, foi a experiência do magistério. Esta foi a experiência funda­mental; ministrar aulas é não só a mais gratificante, como a mais criati­va atividade intelectual possível. Repito o que sempre disse: só o pro­fessor sabe da capacidade que os alunos possuem de, a cada momento, apresentar uma importante questão sobre a qual talvez nunca se tenha pensado, irrespondível a um primeiro momento, tornando indispensá­vel a constante pesquisa, o estudo continuado.

O sistema adotado para as edições anteriores sobre o Dec.-lei 7.661/45, a antiga Lei de Falências, foi mantido, ou seja: uma apresentação ini­cial sobre o tema, com análise rápida e abrangente do direito compara­do e do direito nacional, bem como das condições nas quais a nova Lei foi elaborada e promulgada. Houve também a preocupação de fixar al­guns dados históricos, ainda bem vivos na memória de todos nós que acompanhamos e participamos, de uma maneira ou de outra, deste pro­cesso de formação da nova Lei.

Apesar da semelhança de um grande número de artigos trazidos da lei revogada, deu-se preferência ao estudo da Lei sem colacionar a jurisprudência, que, pela semelhança anotada, vai se prestar como guia e orientação no estudo e na aplicação da nova Lei, pelo menos parcial­mente. É que, como a Lei parte de uma nova visão, afirmando que pre­tende propiciar condições de recuperação à sociedade empresária em crise, optou-se pela não transcrição da jurisprudência anterior, pelo menos nesta edição.

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Nota do autor à 3a edição 8

Faço agora um emocionado agradecimento a dois jovens que fo­ram meus alunos e que, de repente, surpreenderam-me com o grau de conhecimento que denotaram ter sobre a matéria falimentar. E a emo­ção se justifica, pois foram meus alunos nesta matéria, na Universidade Mackenzie, e qualquer ser humano fica tocado quando verifica que a árvore que plantou começou rapidamente a dar bons frutos. Falo de Ronaldo Vasconcelos, advogado formado há pouco tempo, em dezem­bro de 2003, turma na qual fui distinguido como "professor homenage­ado". Agora já cursa o mestrado na USP, apontando a carreira luminosa da qual será protagonista; demonstra um grau de compreensão, análise e discussão da intrincada legislação falimentar, não encontrado muitas vezes em velhos estudiosos. Falo também de Jaime Magalhães Macha­do Júnior, recém-graduado pela turma de dezembro de 2004 do Mackenzie, da qual tive a honra de ser "Patrono", portador de uma es­pantosa capacidade de estudo e compreensão dos mais complexos me­andros da Lei, capacidade que efetivamente surpreende em um recém­formado. O auxílio que me prestaram na organização do livro foi ines­timável. A estes queridos alunos, meu fraternal abraço e meu admirado agradecimento.

Um especial agradecimento a meu velho amigo, Nuncio Theophilo Neto, querido colega na gloriosa Magistratura Paulista, com quem tive o privilégio de trabalhar bastante próximo, em Barueri e em São Paulo, brilhante juiz e professor, com quem me aconselho há mais de uma década e pelas mãos de quem fui conduzido ao magistério superior. Hoje somos colegas também nesta área, no Mackenzie. Prestou-me qua­lificado auxílio; mais que isto, segura orientação, no exame da parte penal da Lei.

Finalmente, um afetuoso abraço de agradecimento a todos os meus queridos alunos, cujas imagens continuo guardando carinhosamente na memória e no coração. Do contato com eles, nasceu a idéia inicial de escrever este livro, agora já na terceira edição, a primeira sobre a nova Lei.

São Paulo (que descortino quase inteira do "Aquário" do 22° an­dar do Fórum Central), em março de 2005.

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NOTA DO AUTOR À la EDIÇÃO

Este livro surgiu da experiência acumulada no magistério superior e da necessidade de ordenamento das anotações usadas para ministrar as aulas. Fundamentalmente, este foi o meu aprendizado, permanecen­do em segundo plano a experiência de longos anos como advogado e a também longa experiência como juiz de direito. Digo fundamentalmente, porque ministrar aulas é talvez a mais instigante das atividades; quem é professor, sabe a capacidade dos alunos de formulação de questões irrespondíveis a um primeiro momento, exigindo sempre a constante pesquisa, o contínuo estudo. Daí, surgiu este livro.

Pensei, em um primeiro momento, em trazer, além dos comentários, alguns poucos acórdãos que pudessem facilitar ao aluno a compreensão daquele determinado artigo. No entanto, a matéria falimentar é julgada de forma tão diversa pelos Tribunais, que senti necessidade de ampliar a pes­quisa jurisprudencial e, aos poucos, aquilo que pretendia ser apenas um pequeno texto para guia nas aulas acabou transformando-se em guia de orientação jurisprudencial, que poderá também ser útil para o trabalho pro­fissional do dia-a-dia, como fonte de consulta fácil e rápida.

No que toca à jurisprudência colacionada, consigno aqui meu es­pecial agradecimento pela deferência de LAIR DA SILVA LOUREIRO FILHO e CLÁUDIA REGINA MAGALHÃES LOUREIRO, que auto­rizaram a transcrição de todos os acórdãos colacionados em sua ótima Lei de Falências -A Lei nos Tribunais, Editora Juarez de Oliveira, São Paulo, 1999. Juntei também jurisprudência atualizada, além daquela transcrita dessa obra do Professor Lair.

Especial agradecimento a meu caríssimo colega, Professor Oswaldo Fróes, que me prestou grande auxílio na parte de composição.

Finalmente, o agradecimento a todos os meus queridos alunos, cujas imagens guardo carinhosamente na memória e no coração; do contato com eles, nasceu a idéia inicial de escrever este livro.

São Paulo, julho de 2001.

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PREFÁCIO À la EDIÇÃO

A Lei de Falências costuma ser vista, a não ser por uns poucos praticantes, quase como um fruto de conhecimento esotérico. Não é um campo aberto a todos: sua complexidade- que, no entanto, é só aparen­te- afasta o não-iniciado. Com isso, são poucos os que efetivamente conhecem a matéria. Manoel Justino Bezerra Filho é um deles.

Esse conhecimento do autor formou-se ao longo de uma vivência cotidiana. Manoel Justino foi advogado militante, tendo integrado os quadros do Banco do Brasil e, mais tarde, trouxe essa experiência pro­fissional para a magistratura de São Paulo. É hoje titular da 29.3 Vara Cível da Comarca da Capital e, na qualidade de juiz de direito, tem sentido, na prática, os defeitos e as virtudes da Lei de Falências.

Bastaria isso para habilitá-lo a escrever um livro a respeito, no qual, impulsionado pelo dia-a-dia da atividade forense, mostrasse ao leitor como as previsões legais vêm sendo aplicadas. Mas Manoel Justino não fica nisso. É, também, um estudioso do assunto. Mestrando em Di­reito Comercial pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, está no momento terminando de elaborar, sob minha orientação, sua dissertação.

Manoel Jus tino ainda soma à praxis especializada e ao estudo sis­tematizado a docência na disciplina, sendo há longos anos professor da Universidade Mackenzie. Sabe, por isso, difundir o conhecimento.

Todas essas qualidades se refletem nestes comentários à Lei de Falências. O livro é prático, atualizado, tem substrato doutrinário e, para atender mais ainda às necessidades do profissional do Direito, traz um ementário jurisprudencial, artigo por artigo, que permitirá, a quem pre­cisar se socorrer desta obra, prontamente encontrar as soluções.

O livro, de início, trata de demonstrar ao leitor as vias de acesso ao Direito Falimentar. Começa revelando um raio x da Lei de Falências,

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Prefácio à 1 • edição 12

propiciando uma "visão sistemática da lei", que serve não apenas para situar o usuário desse diploma diante dos problemas que se apresenta­rem, mas também para tornar visível o que poucos perceberam: o fio lógico invisível na trama aparentemente complexa. A leitura desse ca­pítulo inicial convence o leitor comum a prosseguir, na certeza de que o Direito Falimentar reserva boas surpresas a quem o vai conhecendo.

Essa visão sistemática da Lei é completada com a sistematização do processo falimentar, fornecendo esquemas para simplificar o seu exame. Para tanto, fala dos "três grandes rios que se formam durante o processo de falência", e dos "três grandes relatórios" que marcam seus momentos processuais mais relevantes.

Mais adiante, antes de ingressar no exame de cada artigo da Lei de Falências, Manoel Justino traça, rapidamente, delineamentos históri­cos da disciplina, e, a seguir, enuncia a posição de alguns doutrinadores a respeito (Rubens Requião, Nelson Abrão e Jorge Lobo, acrescentando também o deste prefaciador), e dá, em vôo panorâmico, uma visão do Direito das Empresas em Crise em Portugal, Espanha, Itália, França e Estados Unidos, fazendo, por fim, algumas referências ao projeto brasi­leiro de Lei de Recuperação de Empresas.

Feita essa introdução, Manoel Justino passa a analisar, com sim­plicidade, concisão e substância, os diversos dispositivos da Lei de Fa­lências. E sempre, em cada artigo, cita julgados recentes. Ou seja: for­nece ao usuário, juiz, promotor ou advogado, os instrumentos de traba­lho de que necessita para que o Direito Falimentar seja bem aplicado.

PAULO FERNANDO CAMPOS SALLES DE TOLEDO

Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo e Professor de Direito Comercial da Faculdade de Direito

da Universidade de São Paulo.

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SUMÁRIO

NOTA DO AUTOR À 2.• TIRAGEM ......................................................... 6

NOTA DO AUTOR À 3.• EDIÇÃO ............................................................ 7

NOTA DO AUTOR À 1.• EDIÇÃO ......................... ;.................................. 9

PREFÁCIO À 1." EDIÇÃO- PAULO FERNANDO CAMPOS SALLES DE TOLEDO .. 11

INTRODUÇÃO AOS COMENTÁRIOS

1. MÉTODO PARA O ESTUDO DA LEI DE RECUPERAÇÃO E FA-LÊNCIAS.............................................................................................. 21

1.1 Método para o estudo da Lei de Recuperação e Falências ............. 21

1.2 O exame do índice da Lei de Recuperação e Falências .......... ....... 22

1.3 O exame dos diversos autos no processo de falência .. ..... ........ ...... 25

1.4 O exame dos três grandes marcos . . . . . . . . . ... . ... .. ............................ .... 27

1.5 Conclusão ................................................................... .................. .. 28

2. ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO FALIMENTAR BRASI­LEIRO. VISÃO CRÍTICA DA LEI DE RECUPERAÇÃO E FALÊN-CIAS...................................................................................................... 31

2.1 Primeiros delineamentos históricos ............................................ .... 31

2.2 Idade Média.................................................................................... 32

2.3 O Código Napoleônico e o direito brasileiro.................................. 33

2.4 A posição de Rubens Requião .......... ......... ................ .......... ....... ... . 34

2.5 A posição de Nelson Abrão ........................................................ .... 37

2.6 A posição de Jorge Lobo ............................................................ .... 39

2.7 A posição de Paulo Fernando Campos Salles de Toledo ............... 42

2.8 A nova Lei de Recuperação e Falências......................................... 42

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Sumário 14

COMENTÁRIOS

LEI 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005

Capítulo I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1.0 ........................................ 49 Art. 3.0

........................................ 52

Art. 2.0 ........................................ 51 Art. 4.0

.......... :............................. 55

Capítulo 11

DISPOSIÇÕES COMUNS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL E À FALÊNCIA

Seção I -Disposições gerais ...... .. ............................ .................... ................. 57

Art. 5.0 ........................................ 57 Art. 6.0

........................................ 59

Seção 11- Da verificação e da habilitação de créditos .. .... .............. ...... .... .. .. . 67

Art. 7.0........................................ 68 Art. 14 ........................................ 76

Art. 8.0 ........................................ 70 Art. 15 ........................................ 77

Art. 9.0 ........................................ 70 Art. 16 ........................................ 78

Art. 10 ........................................ 72 Art. 17 ........................................ 78

Art.ll ........................................ 75 Art. 18 ........................................ 79

Art. 12 ........................................ 75 Art. 19 ........................................ 80

Art. 13 ........................................ 76 Art. 20 ........................................ 81

Seção III- Do administrador judicial e do Comitê de Credores ............ ........ 83

Art. 21 ........................................ 84 Art. 28 ........................................ 104

Art. 22........................................ 85 Art. 29 ........................................ 105

Art. 23 ........................................ 97 Art. 30 ........................................ 105

Art. 24 ........................................ 98 Art. 31 ........................................ 107

Art. 25 ........................................ 100 Art. 32 ........................................ 107

Art. 26 ......................................... 100 Art. 33 ........................................ 108

Art. 27 ........................................ 102 Art. 34 ........................................ 109

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15 Sumário

Seção IV- Da assembléia-geral de credores ..................... ............................ 110

Art. 35 ........................................ 111 Art. 41 ........................................ 122

Art. 36 ........................................ 114 Art. 42 ........................................ 123

Art.37 ........................................ 116 Art. 43 ........................................ 124

Art. 38 ........................................ 118 Art. 44 ........................................ 125

Art.39 ........................................ 119 Art. 45 ........................................ 125

Art. 40 ........................................ 121 Art. 46 ........................................ 126

Capítulo III

DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Seção I- Disposições gerais ......................................................................... 127

Art. 47 ........................................ 130 Art. 49 ........................................ 133

Art. 48 ........................................ 131 Art. 50........................................ 138

Seção 11- Do pedido e do processamento da recuperação judicial................ 146

Art. 51........................................ 146 Art. 52........................................ 152

Seção III- Do plano de recuperação judicial ................................................ 159

Art. 53........................................ 159 Art. 54........................................ 161

Seção IV - Do procedimento de recuperação judicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 163

Art. 55 ........................................ 163

Art. 56········································ 165 Art. 57........................................ 167

Art. 63 ........................................ 173

Art. 64 ........................................ 174

Art. 65 ........................................ 176

Art. 58........................................ 168 Art. 66 ........................................ 177

Art. 59........................................ 169 Art. 67 ........................................ 178

Art.60 ........................................ 171 Art.68 ........................................ 178

Art. 61 ........................................ 172 Art. 69 ········································ 179

Art. 62 ........................................ 173

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Sumário 16

Seção V -Do plano de recuperação judicial para microempresas e empresas de pequeno porte.......................................................................... 180

Art. 70 ........................................ 181 Art. 72 ........................................ 185

Art. 71 ........................................ 182

Capítulo IV

DA CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA

Art. 73 ........................................ 186 Art. 74 ........................................ 188

Capítulo V

DA FALÊNCIA

Seção I- Disposições gerais .............. ... . . ........................ .......... ... . ................ 189

Art. 75 ........................................ 189 Art. 79 ........................................ 196

Art. 76 ........................................ 192 Art. 80 ........................................ 196

Art. 77 ........................................ 194 Art. 81 ........................................ 196

Art. 78 ........................................ 195 Art. 82 ........................................ 198

Seção 11- Da classificação dos créditos . . . ................... ....................... ... ........ 202

Art. 83 ........................................ 202 Art. 84 ........................................ 211

Seção 111- Do pedido de restituição............................................................... 213

Art. 85 ········································ 213 Art. 90 ........................................ 226

Art. 86 ........................................ 217 Art. 91 ........................................ 227

Art. 87 ........................................ 222 Art. 92 ........................................ 228

Art. 88 ........................................ 225 Art. 93 ........................................ 228

Art. 89 ........................................ 225

Seção IV- Do procedimento para a decretação da falência .......................... 232

Art. 94 ........................................ 232 Art. 96 ........................................ 242

Art. 95 ............... .... ................. .... 242 Art. 97 ........ .... ........................ .... 244

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17 Sumário

Art. 98 ........................................ 247 Art. 100 ...................................... 256

Art. 99 ........................................ 250 Art. 101 ...................................... 257

Seção V- Da inabilitação empresarial, dos direitos e deveres do falido ........ 260

Art. 1 02 . . .. . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..... ... 260 Art. 104 . ..................................... 262

Art. 103 ...................................... 261

Seção VI- Da falência requerida pelo próprio devedor ............................ ..... 266

Art. 105 .................... ······....... .. . . . 266 Art. 107 . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 268

Art. 106 ...................................... 267

Seção VII - Da arrecadação e da custódia dos bens . . . ........ .. .. .................... .... 269

Art. 108 ...................................... 269 Art.112 ...................................... 274

Art. 109 ...................................... 271 Art. 113 ······································ 274 Art. 110 ...................................... 272 Art. 114 ...................................... 275

Art. 111...................................... 274

Seção VIII- Dos efeitos da decretação da falência sobre as obrigações do de-vedor ........................................................................................ 277

Art. 115 ...................................... 277 Art. 122 ...................................... 288

Art. 116 ...................................... 277 Art. 123 ...................................... 289

Art. 117 ...................................... 278 Art. 124 ...................................... 291

Art. 118 ······································ 280 Art. 125 ...................................... 292 Art. 119 ...................................... 281 Art. 126 ...................................... 292

Art. 120 ...................................... 285 Art. 127 ...................................... 293

Art. 121 ...................................... 287 Art. 128 ...................................... 295

Seção IX - Da ineficácia e da revogação de atos praticados antes da falência 296

Art. 129 ...................................... 297 Art. 134 ...................................... 310

Art. 130 ...................................... 303 Art. 135 ······································ 311 Art. 131 ............ .. . ... .................. .. 305 Art. 136 ..... ................. .. .. . ... ........ 311

Art. 132 ...................................... 307 Art. 137 ······································ 312

Art. 133 ...................................... 308 Art. 138 ······································ 313

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Sumário 18

Seção X -Da realização do ativo .. .. ......... ... . . . . . .......... .. ... .. . .. ..... ................ .... 314

Art. 139 ...................................... 314 Art. 144 ...................................... 323

Art. 140 ...................................... 314 Art. 145 ............ ...... ........ ............ 324

Art. 141 ...................................... 317 Art. 146 ...................................... 325

Art. 142 ...................................... 320 Art. 147 ...................................... 325

Art. 143 ...................................... 323 Art. 148 ...................................... 325

Seção XI- Do pagamento aos credores ........................................................ 326

Art. 149 ...................................... 327 Art. 152 ...................................... 333

Art. 150 ...................................... 329 Art. 153 ...................................... 333

Art.151 ...................................... 331

Seção XII -Do encerramento da falência e da extinção das obrigações do falido ........................................................................................ 335

Art. 154 ...................................... 335 Art. 158 ...................................... 340

Art. 155 ....................................... 337 Art. 159 ...................................... 343

Art. 156 ...................................... 338 Art. 160 ...................................... 345

Art. 157 ...................................... 339

Capítulo VI

DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

Art. 161 ...................................... 348 Art. 165 ...................................... 362

Art. 162 ...................................... 353 Art. 166 ...................................... 363

Art. 163 ...................................... 354 Art. 167 ...................................... 363

Art. 164 ...................................... 359

Capítulo VII

DISPOSIÇÕES PENAIS

Seção I- Dos crimes em espécie ............ .... .. .... .. .. .. .... .......... .... ................ .... . 365

Art. 168 ...................................... 367 Art. 170 ...................................... 371

Art.l69 ...................................... 370 Art.l71 ...................................... 371

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19 Sumário

Art. 172 ...................................... 372 Art. 176 ...................................... 376

Art. 173 ...................................... 374 Art. 177 ...................................... 377

Art. 174 ...................................... 374 Art. 178 ...................................... 378

Art. 175 ...................................... 375

Seção li- Disposições comuns ..................................................................... 379

Art.179 ...................................... 379 Art.181 ...................................... 380

Art. 180 ...................................... 380 Art. 182 ...................................... 383

Seção III- Do procedimento penal ............................................................... 386

Art. 183 . ..... ..................... ........... 386 Art. 186 ................................... ... 391

Art. 184 ...................................... 387 Art. 187 ...................................... 391

Art. 185 ...................................... 389 Art. 188 ...................................... 394

Capítulo VIII

DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 189 ...................................... 395 Art. 196 ...................................... 402

Art. 190 . . ... . .. . . . ............ .... ........... 396 Art. 197 . . ... . . . . . . ... . . ..... ...... ...... ..... 403

Art. 191 ...................................... 397 Art. 198 ...................................... 404

Art. 192 . . . . . . .. .. . ..... ......... ... . .. . . ..... 397 Art. 199 ....... ....... ... . . . . . . . ...... ........ 405

Art. 193 . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 401 Art. 200 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 406

Art. 194 ...................................... 401 Art. 201 ...................................... 406

Art. 195 ...................................... 402

BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 407

ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO........................................................ 411

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INTRODUÇÃO AOS COMENTÁRIOS

1 MÉTODO PARA O ESTUDO

DA LEI DE RECUPERAÇÃO E FALÊNCIAS

SUMÁRIO: 1.1 Método para o estudo da Lei de Recuperação e Falên­cias - 1.2 O exame do índice da Lei de Recuperação e Falências - 1.3 O exame dos diversos autos no processo de falência - 1.4 O exame dos três grandes marcos - 1.5 Conclusão.

1.1 Método para o estudo da Lei de Recuperação e Falências

1.1.1 Como aconselhava Montesquieu, no prefácio de seu O espí­rito das leis (p. 73), é necessário observar os casos particulares subor­dinando-os aos princípios formulados, e perceber cada lei particular ligada uma à outra. No exame, tanto da anterior Lei de Falências (Dec.­lei 7.661, de 21 de junho de 1945), quanto da Lei de Recuperação e Falências (Lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005), a recomendação vale até para o plano mais restrito, porém didaticamente complexo, de en­contrar e transmitir o princípio geral que rege a lei e que faz com que os diversos artigos a ele (princípio) se subordinem.

1.1.2 Dahrendorf (p. 25) relembra que a sociedade que revelasse to­dos os casos de desvio arruinaria de vez a validade das normas, pois estas não suportariam luz excessiva, necessitando sempre de uma certa obscu­ridade para preservação da própria sobrevivência. A própria tentativa de interpretação da norma, muitas vezes, ao contrário do que se pode imagi­nar, colabora para que se mantenha a obscuridade. Esta contribuição às vezes é consciente, às vezes inconsciente. Na Lei de Recuperação e Falên­cias, temos exemplo disso no exame do inciso XII do art. 50, que fala em "equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer na­tureza", o que significa absolutamente nada (vide comentários ao art. 50).

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Método para o estudo 22

1.1.3 Deixando de lado tais divagações e voltando ao plano linear, é necessário tentar encontrar um sistema que facilite o entendimento da Lei de Recuperação e Falências, e que possibilite um método para seu estudo. A prática do dia-a-dia, tanto no magistério, quanto na magistra­tura e no anterior exercício da advocacia, indicaram alguns caminhos que podiam levar a tais resultados, e que podem ser aproveitados tam­bém para o exame da nova Lei. A legislação falimentar, mesmo para os iniciados, é um intrincado de idas e vindas, com constantes remissões a outros capítulos e artigos, que não permite a visão metódica e seqüen­cial que outras leis admitem. Mais necessária, portanto, toma-se uma primeira tentativa de visão sistemática da Lei.

1.1.4 Primeiramente, é necessário observar-se que a Lei de Recu­peração e Falências tem natureza tanto adjetiva quanto substantiva. Embora se aplique o Código de Processo Civil (vide art. 189), o Código Penal (vide art. 182) e o Código de Processo Penal (vide art. 185), traz ela uma série de determinações de natureza processual. Por outro lado, traz também diversas normas de natureza substantiva, de direito mate­rial. Trata-se assim de lei de natureza mista, processual e material ao mesmo tempo.

1.2 O exame do índice da Lei de Recuperação e Falências

1.2.1 A Lei de Falências revogada, em muitos aspectos tida como obsoleta- e apesar de ter entrado em vigor há quase sessenta anos-, sem­pre foi reconhecida, invariavelmente, como um exemplo de ordem, no que tange à distribuição metódica e sistemática dos assuntos nela contidos. Esta ordem quase perfeita não foi repetida no novo diploma. Sem embar­go de tal constatação, o primeiro exame acurado- e que deve ser repetido a todo momento - é o exame do índice da Lei, cuidado que muitas vezes não é observado. Este exame atento do índice da Lei trará condições de facilidade para a localização do assunto procurado, uma das grandes difi­culdades de qualquer lei de espectro mais amplo, como ocorria com a an­terior e ocorre com a atual. O método de exame a seguir proposto demons­trará que é possível encontrar um sistema racional e metódico para o es­tudo, apreendendo-se a ordenada seqüência da matéria.

1.2.2 A Lei é dividida em 8 Capítulos; os Capítulos 11, III, V, e VII são divididos em Seções, cada seção com um título diferente e com diversos artigos. Os quatro Capítulos restantes (Capítulos I, IV, VI e

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23 Método para o estudo

VIII) não são divididos em Seções, o que realmente não se justificaria, tendo em vista o pequeno número de artigos e a especificidade da maté­ria examinada nestes quatro Capítulos. Com isto, completam-se 201 artigos de lei, número próximo dos 217 artigos da lei revogada.

1.2.3 O Capítulo I, com apenas três artigos, determina a quem se aplica a Lei (empresário e sociedade empresária), listando as exceções e relacionando a quem a Lei não se aplica, e fixando regra geral de competência para os três institutos contemplados na Lei: recuperação judicial, recuperação extrajudicial e falência.

1.2.4 O Capítulo 11, dividido em quatro Seções, dos arts. 5° a 46, cuida das disposições comuns à recuperação judicial e à falência. Na Seção I (arts. 5° e 6°), relaciona as dívidas não exigíveis, cuida da sus­pensão da prescrição e das ações, complementando regras de compe­tência. Na Seção 11 (arts. 7° a 20), trata da verificação e habilitação de créditos. Nas Seções III e IV (arts. 21/34 e 35/46), cuida dos três res­ponsáveis pela administração: administrador judicial, Comitê de Cre­dores e assembléia-geral de credores, o primeiro de existência obriga­tória, os outros dois de existência eventual.

1.2.5 O Capítulo III (arts. 47 a 72) cuida do instituto da recupera­ção judicial, tratando das sociedades empresárias em geral nas Seções I a IV, e, na Seção V, cuidando da recuperação das microempresas e das empresas de pequeno porte.

1.2.6 O Capítulo IV (arts. 73174), traz as estipulações sobre a con­volação da recuperação em falência, e o Capítulo V (arts. 75 a 160) trata da falência.

1.2.7 No Capítulo VI (arts. 161 a 167) está a melhor novidade trazida pela Lei, ou seja, a recuperação extrajudicial.

1.2.8 No Capítulo VII (arts. 168 a 188) estão as disposições pe­nais, tendo a Lei, de forma correta, reunido em um único capítulo tanto o inquérito (policial ou judicial), quanto os tipos penais e o processo­crime.

1.2.9 Finalmente, o Capítulo VIII (arts. 189 a 201) cuida das dis­posições finais e transitórias.

1.2.10 Como é possível verificar, a matéria está regularmente bem distribuída por todo o diploma, o que, de certa forma, leva a uma me-

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Método para o estudo 24

lhor possibilidade de estudo e compreensão desta complexa Lei, como aliás são complexas todas as legislações falimentares do mundo, exata­mente pela abrangência dos temas que é obrigada a tratar, com estipula­ções do campo do direito comercial, civil, penal, tributário, processual civil e penal, administrativo, econômico, entre outros.

1.2.11 Apenas como sugestão para método de estudo, observe-se que os Capítulos I e 11 trazem disposições gerais que se aplicam a dois dos institutos criados pela Lei, ou seja, a falência e a recuperação judi­cial, deixando de contemplar a recuperação extrajudicial. Poderíamos dizer que estes dois Capítulos seriam a parte geral comum a ambos os institutos.

1.2.12 Os próximos quatro Capítulos (III a VI), poderíamos dizer que são "específicos", ou seja, cada um trata de um assunto diferente do tratado no outro capítulo (recuperação judicial, convolação da recupe­ração judicial em falência, falência e recuperação extrajudicial). É evi­dente que vários artigos de um instituto que estão em um capítulo po­dem aplicar-se a outros. Como mero exemplo, observe-se que a forma de venda dos bens na falência está prevista no art. 142, ou seja, no capí­tulo relativo à falência; no entanto, a venda de bens na recuperação judicial será feita na forma prevista neste art. 142, por força do art. 60. No entanto, a observação de que são artigos "específicos", embora não "estanques", facilitará o estudo sistemático da Lei.

1.2.13 O Capítulo VII cuida de toda a parte penal e, neste ponto, a Lei andou bem. Sem embargos da admirável ordem de distribuição dos assuntos na lei revogada, uma das críticas feitas era no sentido de que não se encontrava explicação para o fato de tão ordeiro legislador ter previsto o processamento do inquérito judicial no Capítulo (ou Título) Sétimo da lei e ter remetido os tipos penais e o procedimento criminal para o Título Décimo Primeiro. Efetivamente, não se encontrava razão lógica para tal tipo de "desordem" e, neste ponto, a Lei nova aproveitou bem a lição e juntou, em um único capítulo, toda a matéria penal, neste ponto facilitando bastante o estudo e a compreensão da Lei.

1. 2.14 Teríamos assim, a partir do atento exame do índice da Lei, uma primeira visão esquemática do que contém ela, o que será instru­mento de extrema valia para mais rápida e segura localização do assun­to que está sendo procurado e também, por óbvio, para a própria visão sistemática que estamos procurando ter. A este método para visão siste-

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25 Método para o estudo

mática da Lei, acrescentaria agora um método para visão sistemática dos autos do processo de falência. Observe-se ainda que a visão siste­mática abaixo proposta diz respeito apenas ao processamento da falên­cia. No entanto, no início de cada capítulo relativo aos dois tipos de recuperação que foram criados pela Lei há também um gráfico visando facilitar a visão sistemática necessária ao estudo da matéria.

1.3 O exame dos diversos autos no processo de falência

1.3.1 Além das- e talvez sobre as- idas e vindas da extensa Lei de Recuperação e Falências, outra dificuldade que se apresenta para seu entendimento é o verdadeiro "tumulto de autos" que se pode formar na falência. Para quem não consiga a visão metódica que se está preten­dendo ter, os diversos autos do processo de falência configuram outra fonte de absoluta dificuldade para o entendimento do que estaria ocor­rendo em termos de procedimento. Por isso, propomos abaixo um posi­cionamento em face dos autos, para que possam ser examinados, enten­didos e conduzidos da forma mais objetiva e correta possível.

1.3.2 No sistema da lei anterior, havia autores que falavam cons­tantemente nos "três grandes rios" que se formam durante o processo de falência, imagem já usada em nosso livro anterior sobre a lei revoga­da e que continuaremos a usar, por efetivamente poder facilitar a com­preensão do procedimento falimentar. Cada um destes "rios" forma uma corrente de procedimentos, com nascente comum e que podem desa­guar, mais adiante, em um mesmo final.

1.3.3 O "rio" principal e que dá início a todos os demais é repre­sentado pelos autos da própria falência, que se formam a partir da sen­tença que decreta a falência. Estes autos seguirão seu caminho princi­pal, objetivando arrecadar os bens, verificar e determinar os créditos, vender os bens de forma pública e distribuir o dinheiro recebido entre os credores habilitados e ordenados. Não é incomum, ao contrário, com extrema freqüência encontravam-se autos principais de andamento de falência com dezenas ou centenas de volumes. A nova Lei pretende evi­tar qualquer demora maior no andamento; no entanto, aguardemos o que a prática demonstrará, pois, conforme já afirmado em vários mo­mentos deste livro, o procedimento falimentar envolve um tão grande número de interesses, interesses que dizem respeito também a um tão grande número de pessoas diversas, que parece difícil imaginar-se que

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Método para o estudo 26

se possa dar celeridade ao procedimento falimentar. De qualquer for­ma, não há qualquer dúvida de que a tentativa deve ser feita e, sem prejuízo dos inúmeros defeitos desta nova Lei, há que se louvar esta tentativa e tentar encontrar, na aplicação prática, o caminho da celerida­de, aliás, expressamente consagrado no parágrafo único do art. 75, que estipula que "o processo de falência atenderá aos princípios da celeri­dade e da economia processual".

1.3.4 Vejamos agora o "segundo grande rio". O Capítulo li, em sua Seção li, arts. 7° a 20, determina como se processam os pedidos de habili­tação. Estes autos de habilitação formam o segundo grande "rio", e, na lei revogada, envolviam as habilitações tempestivas, que eram colecionadas muitas vezes em vários volumes.Além desta grande corrente principal dos autos de habilitações, iam se formando outros autos, com habilitações impugnadas, habilitações retardatárias e outros incidentes das mais diver­sas naturezas. Este outro grande "rio" caminhava quase que de forma in­dependente do processo principal. No sistema da nova Lei, também de forma louvável, pretendeu-se "desjudicializar" (este é o neologismo) o processamento das habilitações. De qualquer forma, sempre poderá ha­ver impugnações ao quadro-geral de credores que se pretende seja formado apenas pela atividade do administrador judicial. Também como não po­deria deixar de ser, a nova Lei faz a previsão de, em determinado momen­to, ser elaborado um quadro, que se prestará como ordenamento dos cre­dores, para rateio dos valores arrecadados na falência.

1.3.5 O terceiro grande "rio" surge em conseqüência do Capítulo VII, arts. 168 a 188, com o inquérito judicial (ou inquérito policial), que colecionará peças extraídas dos autos do processo principal da fa­lência e destinado a perquirir se houve ou não crime falimentar. For­mam-se autos independentes para os procedimentos previstos para o inquérito e para o eventual futuro processo crime.

1.3.6 Apenas para visualização do que foi dito acima, observe-se o esquema gráfico no final deste capítulo. No esquema, estão já aponta­dos os chamados "três grandes rios", acima examinados, bem como os "três grandes marcos", examinados no item 1.4, a seguir.

1.3.7 Esta visão bastante esquemática facilita o exame dos autos da falência, normalmente de grande volume e complexidade. Estes "três rios", porém, são apenas as três grandes vigas mestras do procedimen­to. É necessário lembrar que diversos outros autos vão se formando

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27 Método para o estudo

também, correndo todos, ao mesmo tempo, sob a presidência do juiz da falência, tais como: autos de pedido de restituição (art. 85), autos de embargos de terceiros (art. 93), autos de procedimento ordinário para retificação do quadro-geral de credores (art. 19), autos de habilitações retardatárias (art. 10), autos de ação revocatória (art. 130), autos de pres­tação de contas do administrador judicial (art. 154, § 1 °), autos de im­pugnação de crédito (art. 11), ações ajuizadas contra a massa (art. 76) etc. Esta relação é exemplificativa e não exaustiva. Além disso, pode também o juiz (o que é feito de forma bastante freqüente) determinar que se forme incidente em autos apartados, para resolver aspectos cuja discussão no interior dos autos da falência seria causa certa de tumulto. O juiz deve tomar o necessário cuidado para que a existência de todos estes autos seja anotada nos autos principais, para manutenção de pleno conhecimento do que está ocorrendo.

I.3.8 Dessa forma, vimos inicialmente a visão metódica que se pode extrair do índice da Lei, para sua mais fácil compreensão; acaba­mos de ver o método para exame dos inúmeros autos que correm em torno da falência. Finalmente, vamos examinar agora um último méto­do, para facilitar a percepção da situação processual na qual os autos se encontram naquele momento em que estão sendo examinados. É co­mum ao juiz promovido para nova Vara, ao Promotor de Justiça no momento em que deve intervir nos autos, ao advogado que é contratado pelo cliente para defender seus interesses em uma falência que já se encontra com dezenas ou centenas de volumes, repito, é comum a per­plexidade ante tal situação e a dificuldade para se situar no momento processual no qual se encontram os autos, vendo-se todos obrigados a ler as dezenas ou centenas de volumes existentes. O método que tenta­mos formar, para solucionar isto, é o que examinaremos em seguida.

1.4 O exame dos três grandes marcos

I .4. I Para o fim explicitado acima, os doutrinadores propunham que se marcasse o momento processual, a partir dos chamados "três grandes relatórios", sistema que entendemos útil manter no sistema da nova Lei, apenas substituindo a expressão para "três grandes marcos". O primeiro grande marco é o relatório do art. 22, inciso III, alínea e; o segundo marco é o aviso sobre a alienação dos bens, do § 1 o do art. 142; o terceiro marco é o relatório final previsto no art. 155.

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Método para o estudo 28

1.4.2 Como demonstra o gráfico adiante, há três "rios" que cami­nham concomitantemente, todos eles com começo, meio e fim, cada fase marcada por determinado artigo da Lei, abrangendo todos os atos previstos, desde o requerimento inicial da falência até o ponto final do processamento, com o trânsito em julgado da sentença de extinção das obrigações do falido.

1.5 Conclusão

1.5.1 Reitere-se aqui que se trata de simples método encontrado empiricamente, resultado do manuseio contínuo de processos falimen­tares, com o auxílio de sistemas já lembrados por outros estudiosos do assunto e com acréscimo daqueles obtidos na própria experiência do dia-a-dia.

1.5.2 No próximo capítulo, antes de iniciarmos efetivamente o es­tudo da Lei de Recuperação e Falências atualmente em vigor, faremos ligeira análise histórica do direito falimentar, dos primórdios até nos­sos dias; examinaremos a situação atual do direito falimentar brasilei­ro, o direito comparado e os aspectos de interesse na processo de for­mação desta nova Lei, até para tentar fixar alguns fatos históricos, as­sistidos por todos os estudiosos que nos últimos onze anos acompanha­ram as idas e vindas que desaguaram na promulgação desta nova Lei de Recuperação e Falências.

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I Restituições (art. 85), solução de contratos (art. 117),

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inquérito policial;. ou aguarda relatório do art. 22, lii, e

Art. 187, § l' Denúncia ou inquérito Pedido de arquivamento

policial, ou inquérito r~==art:::::::.:2:8:-=C=P=P=e=n=al===--judicial . _ _ _

Art. 183- Juiz remete denúncia recebida ao juiz l---­

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2 ASPECTOS HISTÓRICOS DO DIREITO

FALIMENTAR BRASILEIRO. VISÃO CRÍTICA DA LEI

DE RECUPERAÇÃO E FALÊNCIAS

SUMÁRIO: 2.1 Primeiros delineamentos históricos - 2.2 Idade Média -2.3 O Código Napoleônico e o direito brasileiro- 2.4 A posição de Rubens Requião- 2.5 A posição de Nelson Abrão- 2.6 A posição de Jorge Lobo - 2.7 A posição de Paulo Fernando Campos Salles de Toledo- 2.8 A nova Lei de Recuperação e Falências.

2.1 Primeiros delineamentos históricos

2.1.1 Com a manus iniectio, uma das 5 (cinco) ações previstas no direito romano da época das legis actiones, surge o processo de exe­cução, em sua primeira fase. A execução inicialmente era feita sobre o próprio corpo do devedor, permitindo a lei que se repartissem tantos pedaços do corpo do devedor quantos fossem os credores. Sem embar­go da previsão legal em tal sentido, nunca teria, porém, sido efetiva­mente aplicada tal pena por ser repudiada pelos costumes públicos. A execução seria feita mesmo sobre o corpo do devedor, porém venden­do-o como escravo e repartindo o preço apurado entre os diversos cre­dores. De qualquer forma, a Lei das XII Tábuas, de 451 a. C., no n. 9 da Tábua Terceira, estabelecia: "Se são muitos os credores, é permitido, depois do terceiro dia de feira, dividir o corpo do devedor em tantos pedaços quantos sejam os credores, não importando cortar mais ou menos; se os credores preferirem, poderão vender o devedor a um es­trangeiro, além do Tibre". Ainda no campo da execução pessoal, for­mou-se entre os romanos o contrato denominado nexum, mediante o qual o devedor poderia evitar o início da execução contra ele, obrigan­do-se a prestar serviços como escravo ao credor, até a satisfação de toda

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Aspectos históricos 32

a dívida. Verifica-se assim a execução sobre a pessoa do devedor, evo­luindo-se gradativamente no sentido de tomar proibido tal tipo de exe­cução, permitindo-se apenas que a execução se faça sobre o patrimônio do devedor. Neste rumo surge a famosa Lex Poetelia Papiria, marco histórico do sistema de execução judicial, em 428 a.C., proibindo ex­pressamente a morte ou a venda para escravização, estabelecendo que a garantia do credor é o patrimônio do devedor.

2.1.2 Este longo caminho histórico, partindo-se da execução pes­soal para a execução patrimonial, encontra-se em linhas gerais em to­dos os sistemas de direito. O art. 200 do Código de Hamurabi estipula­va que, "se um homem arrancou um dente de outro homem livre igual a ele, arrancarão o seu dente". No Código de Manu, da Índia, o credor poderia submeter o devedor ao trabalho escravo, proibindo a lei qual­quer excesso. Admitiu-se também no Egito antigo a escravidão para pagamento de dívidas. No antigo direito helênico o devedor vendia sua própria pessoa ao credor, para pagamento. Inúmeros são os exemplos deste tipo de execução, seguindo-se sempre na história o caminho em direção ao afastamento da execução sobre o corpo do devedor, para se passar à execução exclusiva sobre seu patrimônio.

2.1.3 A execução seria singular (credor único) ou coletiva (di­versos credores), neste segundo caso sendo necessário que se estabele­cesse entre eles um concurso de credores, para que fosse possível fazer a correta divisão do patrimônio do devedor entre os diversos credores, na ordem ou na proporção que coubesse a cada qual. Dessa necessidade de execução coletiva surge o embrião do direito falimentar, nada mais sendo a falência do que uma execução coletiva, na qual, em linhas bas­tante gerais, arrecadam-se todos os bens do devedor para venda judicial e apuração de dinheiro, o qual será em seguida dividido entre os credo­res, na proporção e segundo a ordem legal referente a cada um deles.

2.2 Idade Média

2.2.1 A par da evolução no sentido de a execução passar a incidir exclusivamente sobre o patrimônio do devedor, ocorre também o deslo­camento da iniciativa da execução, que, em um momento histórico re­gresso, era do próprio credor, para, na seqüência, passar às mãos do Estado, de tal forma que só pode ser efetuada sob a tutela estatal, proi­bida qualquer execução de mão própria. Aquele anterior concursum

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33 Aspectos históricos

creditorum, dirigido pelos próprios credores, passa a ser feito sob a rígida disciplina judiciária do Estado; já na Idade Média, a partir do século XIII, está em formação um direito comercial informal e cosmo­polita, decorrente dos usos e costumes comerciais das corporações de ofício. Estabelecem-se aí os primeiros delineamentos do direito fali­mentar, estendendo-se a falência tanto ao devedor comercial quanto ao devedor civil, sendo o falido coberto de infâmia, tido como fraudador, réprobo social, sujeito a severas medidas penais, além da perda total de seu patrimônio.

2.2.2 O processo coletivo de execuçãõ, precursor do processo de falência, apresenta-se com maior nitidez e de forma bem definida nas cidades italianas do norte (Florença, Veneza, Milão, Gênova), exer­cendo influência preponderante sobre o direito francês, por força do intenso comércio que cidades francesas mantinham com estes pólos italianos de comércio.

2.3 O Código Napoleônico e o direito brasileiro

2.3.1 Após a Revolução Francesa, com a promulgação, em 1808, do Código Comercial francês, sob a influência direta de Napoleão Bonaparte, aquelas idéias espalham-se daí para todo o mundo ociden­tal, influindo diretamente no direito português e, por via de conseqüên­cia, no direito brasileiro.

2.3.2 De forma bastante resumida, o exame do histórico do direi­to brasileiro inicia-se com as Ordenações Afonsinas que, promulgadas em 1446, estavam vigendo quando da descoberta do Brasil, em 1500; as Afonsinas foram substituídas pelas Ordenações Manuelinas, em 1521, e, posteriormente, pelas Filipinas, em 1603. No entanto, o primeiro diplo­ma que cuidou de matéria falimentar foi a Lei de 08.03.1595, promulga­da por Filipe Il, que veio a influenciar as Ordenações Filipinas, promul­gadas oito anos depois, em 1603. Em 1756, o Marquês de Pombal outor­ga o Alvará de 13 de dezembro, tratando do processo de falência. Após 7 de setembro de 1822, com a proclamação da independência do Brasil, continuaram vigendo as leis portuguesas, como sempre ocorre em qual­quer ruptura institucional. Apesar de estabelecida nova situação política, há uma fase de "vazio" legislativo, durante o qual permanecem as leis do sistema anterior, que aos poucos vão sendo adaptadas à nova ordem. As­sim é que, em 25.06.1850, a Parte III do Código Comercial, arts. 797 a

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Aspectos históricos 34

913, passa a cuidar "Das Quebras", com o regulamento processual do Decreto 738, de25.11.1850. Vão surgindo alterações pelos Decretos 3.308 e 3.309, de 1864, revogados pelo Decreto 3.516, de 30.09.1865. Com a proclamação da República, em 15.11.1889, advém o Decreto 917, de 24.10.1890, seguindo-se a Lei 859, de 16.08.1902, e a Lei 2.024, de 17.12.1908, revista pelo Decreto 5.746, de 09.12.1929. Finalmente, nos últimos meses da ditadura de Getúlio Vargas, em 21.06.1945, foi promul­gado o Decreto-lei 7.661, que era a nossa Lei de Falências, substituída agora pela Lei 11.1 O 1, de 9 de fevereiro de 2005. A exposição de motivos do diploma legal de 1945 é de Alexandre Marcondes Filho, Ministro da Justiça, que contou com comissão composta pelos Professores Philadelpho Azevedo, Hahnemann Guimarães, Noé Azevedo, Canuto Mendes de Almeida, Sílvio Marcondes e Luis Lopes Coelho. Em 09.02.2005, foi finalmente promulgada a Lei 11.101, originária do Pro­jeto de Lei 4.376/93, que tramitou durante 12 anos até sua promulgação e que sofreu uma série de desvios de rumos ou correções de rota, como se queira, até chegar ao diploma ora examinado.

2.4 A posição de Rubens Requião

2.4.1 A falência e também a concordata, na forma como se encon­travam estruturadas no Dec.-lei 7.661145, não ofereciam possibilidade de solução no sentido de propiciarem ao então comerciante, hoje empresá­rio ou sociedade empresárl.a, em situação de crise, a possibilidade de se recuperarem. O falido nunca foi bem visto pelos demais circunstantes, seja pelos credores, seja pelo próprio Judiciário. Não teria ainda desapa­recido o substrato que deu origem à expressão falliti sunt fraudatores, permanecendo vivo o espírito do verbo latino fallere, significando inganare, mancare alia promessa, alia parola, alia fede, cadere, ou seja, enganar, faltar com a promessa, com a palavra, com a fé, cair. Urgia assim procurar o que seria um "pronto-socorro" para empresas em situação pré­falimentar, para que se lhes oferecesse possibilidade de recuperação. A manutenção da atividade empresarial guarda interesse social acentuado, como pólo produtivo da economia. Era fundamental que fosse entranha­da no pensamento jurídico a idéia de "personalização" da empresa, no sentido de sua institucionalização. Frederico Simionato (p. 143) adverte que a norma que diz respeito a aspectos societários deveria sempre con­sagrar, em primeiro lugar, o interesse da empresa em si, colocando em segundo plano as relações infra ou inter-societárias, vendo a empresa como verdadeira instituição social.

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2.4.2 Rubens Requião é um dos precursores de tal pensamento entre nós. Embora sua obra tenha sido escrita ainda sob o regime da lei anterior, suas lições merecem atenção, até porque preconizavam a ne­cessidade de institutos que tentaremos verificar se foram efetivamente criados com a nova lei. Diz (p. 248 da 7. ed., vol. 2) que "a falência e a concordata, como institutos jurídicos afins, na denúncia de empresá­rios e de juristas, se transformaram em nosso País, pela obsolescência de seus sistemas legais, mais do que nunca, em instrumentos de perfí­dia e de fraude dos inescrupulosos. As autoridades permanecem, infe­lizmente, insensíveis a esse clamor, como se o País, em esplêndida ex­plosão de sua atividade comercial e capacidade empresarial, não neces­sitasse de modernos e funcionais instrumentos e mecanismos legais e técnicos adequados à tutela do crédito, fator essencial para o seguro desenvolvimento econômico nacional. Não se capacitaram os tecnocratas e os juristas burocráticos, por outro lado, de que a falência não se cons­titui apenas um meio de cobrança de interesses fiscais e privados. Nes­tes últimos anos suas preocupações foram as de acrescer, com privilé­gios excepcionais e absolutos, os créditos da Fazenda Pública, compre­ceitos não mais admissíveis no direito moderno". O grande mestre Requião certamente não se sentiria realizado se visse que, na nova Lei, os créditos da Fazenda Pública continuam com privilégios excepcio­nais, só não absolutos porque aos da Fazenda Pública ficaram sobre­postos os interesses do sistema financeiro como um todo.

2.4.3 Com relação à concordata, existente na lei revogada, era lembrada a advertência de Trajano de Miranda Valverde (p. 267) para que só se concedesse o benefício da concordata ao devedor comercian­te infeliz e de boa-fé. No entanto, sem embargo da correção do posicio­namento adotado pelo eminente mestre, o que se verificava era que a concordata não mais atendia às necessidades sociais que a manutenção da empresa provê. Já em 1974, Requião (p. 249) lembrava a lição dos clássicos, para alertar sobre a necessidade de introduzir modificações que, mais do que garantir aos credores a par condictio creditorum, de­veriam procurar mecanismos de sobrevivência da empresa, com o que se garantiria o interesse social e o interesse dos próprios credores da empresa. Desta forma, o enfoque seria mudado para, antes de se perqui-

- rir as causas da falência ou de se procurar arrecadar bens para liquidar o passivo, verificar-se a possibilidade de recuperação da empresa. Reite­rava o saudoso mestre (p. 249) que havia firmado "na admiração de

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Jaeger, a convicção de que o escopo final do instituto falimentar não é outorgar ao Estado a função de assegurar a realização da par condictio creditorum entre os credores, como sustentava o pensamento clássico. Mais do que a igualdade entre os credores na liquidação falimentar do patrimônio do devedor, muito mais do que a segurança do crédito -pontos de vista respeitáveis na doutrina antiga -, é o saneamento da atividade empresarial que constitui a finalidade primeira do instituto da falência, nas concepções modernas de atuação judicial do Estado".

2.4.4 Nesta sua obra, Requião prosseguia trazendo sugestões so­bre quais medidas deveriam ser tomadas para que se adequasse melhor a legislação falimentar às necessidades do País. No entanto, o que acima foi transcrito é suficiente para demonstrar sua preocupação com a mudança de foco do direito falimentar brasileiro, afastando a antiga preocupação primordial de liquidação e pagamento de credores, para partir -se para uma busca de mecanismos que viessem a privilegiar a manutenção da empre­sa e a preservação do emprego e dos inúmeros benefícios sociais que a empresa propicia. Remem orava ainda que, já em Alvará de 1756, a preo­cupação com a recuperação do comerciante honesto era presente no pen­samento do Marquês de Pombal, que, em sua Regra VIII, determinava que "os que caírem em pobreza sem culpa sua ... não incorrerão em crime al­gum ... serão os atos remetidos ao Prior e Cônsules do Consulado, que os procurarão concertar e compor com seus credores ... ".

2.4.5 A título de sugestão e lembrando alguns postulados legais de outros países em situação de legislação mais avançada, Requião pro­punha discussão no sentido de se caminhar para a personalização da empresa, afastando-se a confusão que atualmente se faz entre a figura do empresário (pessoa física) e da empresa (pessoa jurídica). Como ponto inicial, sugeria que, mesmo havendo causas delituosas para a falência, a empresa não seria sacrificada só por isto, até porque a "empresa" não comete crimes, em tal caso afastando-se imediatamente seus dirigentes e mantendo-se íntegra a empresa. Relembrava o art. 111 da Lei de Fa­lências então vigente, segundo o qual "o recebimento da denúncia ou da queixa obstará, até sentença penal definitiva, a concordata suspensi­va da falência (art. 177)", dizendo-o iníquo, uma vez que penalizava os outros sócios não denunciados e toda a comunidade de credores, bem como impedia a possibilidade de recuperação da empresa, isto porque um dos sócios teria cometido um crime. Muito mais consentâneo com o interesse do País como um todo seria castigar-se (se fosse o caso) o

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sócio que tivesse praticado o crime, sem deixar que seu crime, em ver­dadeira extrapolação do princípio de que a pena não pode ultrapassar a pessoa do criminoso, viesse a prejudicar os outros sócios, a empresa, os credores, os empregados, enfim, todos que gravitam em tomo dos be­nefícios que a empresa em funcionamento pode propiciar. Sugeria ain­da a nomeação, a exemplo do que ocorre no sistema norte-americano e n.o francês, pelo Judiciário, de um administrador, um gerente profissio­nal, para a sociedade comercial, o qual faria auditoria e emitiria parecer sobre a viabilidade da recuperação da empresa, com pagamento dos credores. Os sócios seriam então chamados para manifestação sobre o plano apresentado e, caso o aprovassem, elegeriam novos administra­dores para colocá-lo em prática. A falência apenas seria declarada aber­ta depois que todos esses meios estivessem esgotados e depois que se viesse a demonstrar a inviabilidade da manutenção da empresa em fun­cionamento. Fundamentalmente, reiterava a necessidade de deixar-se rigorosamente separada a figura do empresário da figura da empresa, sendo este o substrato intelectual necessário, a nova posição intelectual ante tal problema; entendia necessário firmar-se o princípio da "perso­nificação da empresa", tendência do pensamento jurídico atual, expos­

. to nas legislações mais-desenvolvidas, como veremos abaixo. Preconi­.zava Requião a extinção do instituto da concordata, como ocorre no .sistema americano com a corporate reorganization. Adentrava, em suas sugestões, nos aspectos processuais, dizendo que para o decreto de fa­lência, quando necessário, seria competente a Câmara do Tribunal de Justiça, que, em processo de extrema rapidez, nomearia um juiz instru­tor (de primeira instância), ao qual o processo de falência seria remeti­do, sendo possível a elisão, com depósito.

2.5 A posição de Nelson Abrão

2.5.1 Esta preocupação de mudança do espírito que norteia a . legislação fálimentar, no sentido de deixar de fazer da lei um instru­. mento de liquidação da sociedade empresária, tomando-a um instru­. mento de sua manutenção, de sua recuperação, mereceu a preocupada reflexão dos outros eminentes mestres da atualidade, tendo Nelson Abrão também se debruçado sobre este estudo. Lembrava inicialmente que a atual Lei de Falências, promulgada em 21.06.1945 (estava escrevendo sob o regime da lei ora revogada), veio à luz quando mal tinha findado a Segunda Guerra Mundial, razão por que o legislador não poderia ter

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tido ainda tempo para refletir e avaliar as profundas modificações so­cioeconômicas que se estabeleceriam na esteira e em conseqüência do conflito que envolvera todo o mundo por 6 (seis) anos, abalando e mo­dificando as velhas estruturas de poder e a forma de funcionamento da sociedade. Nelson Abrão trazia excerto de Caio Prado Jr. (História eco­nômica do Brasil) e de Nelson Werneck Sodré (Radiografia de um mo­delo), para reafirmar que, "no curso da guerra, sobretudo em sua última fase e prolongando-se nos anos subseqüentes, assistimos a um revigoramento esporádico do tradicional sistema do passado, abrindo­se para tal sistema (isto é, uma economia exportadora de produtos pri­mários e voltada essencialmente para o exterior), nova e brilhante opor-­tunidade. A economia brasileira encontrava assim, graças às circuns­tâncias excepcionais da guerra, um novo equilíbrio provisório e, apesar dos grandes sacrifícios suportados pelo país, os anos de duração do conflito representam uma fase de !J.Ítido progresso" (p. 161), no dizer de Caio Prado Jr. Assim, o que ocorria então é que, além do longo tem­po decorrido desde a promulgação da Lei de FalênCias, acrescentava-se ainda o fato de ter ela surgido exatamente em um momento no qual a sociedade brasileira passava por uma série de transformações decorren­tes do maior conflito armado já ocorrido no mundo, não tendo podido assim refletir e ordenar soluções para os problemas econômico-sociais que passaram a se apresentar. Sem embargo de tudo isto, ainda assim, já à época da promulgação da anterior Lei de Falências, havia surgido e estava presente a preocupação com a preservação da empresa, por já se ter a visão de seu valor social; àquela época, constatavam os estudiosos a progressiva separação da figura do sócio e da sociedade, com a personalização e institucionalização da sociedade empresária, a que já nos referimos acima. E mesmo para este ponto, não teve o legislador a sensibilidade suficiente, colocando-se em uma posição já superada, mesmo ao tempo da promulgação da Lei, em 1945. Diz Nelson Abrão, sobre este ponto, que, abstraindo de toda essa problemática da empresa, já emergente à época de seu surgimento, dispôs a lei concursal brasilei­ra em relação ao comerciante individual, dentro do espírito da legisla­ção francesa de 1807, refundida em 1838: "Pensava-se, então, na falên­cia do boutiquier (vendeiro). Com efeito, refere-se o diploma legal bra­sileiro, de maneira sistemática, ao comerciante individual. As socieda­des mercantis, não só as chamadas de pessoas, como as sociedades por ações, são mencionadas em plano secundário. Ora, legislando-se para o

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indivíduo, evidentemente não se tem a visão da importância do orga­nismo economicamente organizado, e que se sobrepõe à pessoa física de seu titular ou titulares, que é a empresa" (p. 163). Apontava assim Abrão aqueles mesmos problemas que já examinamos acima e que tam­bém estavam sendo apontados por Requião.

2.5.2 Percebe-se assim que o problema estava, ao que parece, bem delimitado; no entanto, embora delimitado, ainda assim sua solu­ção teria que superar sérias dificuldades, até porque ocorria o que Fábio Konder Comparato, citado por Nelson Abrão, chama de "dualismo pendular" do sistema legal brasileiro. Ressalta que o processo de falên­cia, como tradicionalmente existia, tinha por objetivo proteger os inte­resses dos credores ou os interesses dos devedores, sendo muito difícil que pudesse proteger a ambos, criticando mais profundamente o siste­ma brasileiro, dizendo que persistia ele "na orientação marcadamente processualista que tem prevalecido no Direito italiano e também, dire­mos nós, por via de servil imitação, no Direito brasileiro" (p. 166). Esta dificuldade de defesa dos verdadeiros interesses que merecem ser pre­servados no procedimento de recuperação e falência da sociedade em­presária efetivamente interferiu de forma profundamente acentuada na elaboração da nova lei, que a seguir vamos examinar, tendo causado um desvio de rumo que exigirá muito tempo para correção, se é que haverá vontade política para tal correção.

2.6 A posição de Jorge Lobo

2.6.1 Em 1991, em artigo publicado na RT (vol. 668, p. 35-46), Jorge Lobo constatava a situação de crise econômica mundial, cujos reflexos no Brasil levariam ao adiamento do crescimento e à permanên­cia da crise da economia nacional. Ante tal constatação, perguntava o autor o que poderia o jurista fazer para a preservação da empresa, fonte geradora de empregos, impostos, divisas etc. Constatava que o cami­nho a ser perseguido seria aquele que evitasse a falência, apontando que tal preocupação é antiga, tendo, aliás, sido uma das molas a fazer com que as legislações instituíssem a concordata, dizendo que "de há muito observara Boneli que uma falência sempre se constitui em um acontecimento de gravíssimas conseqüências, mesmo para o comerciante honesto e desafortunado, que, desapossado dos seus bens, destruída sua reputação, decaído de alguns direitos de ordem política e civil, muitas vezes se verá exposto a um procedimento penal pelo só fato da falência.

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Por isso a lei, com o fim de atenuar o rigor no caso da falência, se preo­cupa, desde logo, em fazer com que em determinadas circunstâncias, a falência seja substituída ou evitada, não com o intuito de apenas salvar o devedor desafortunado, mas antes no interesse de todos os credores, assim como no propósito de permitir a conservação de seu patrimônio e o soerguimento da própria empresa comercial, razão pela qual a con­cordata é um benefício concedido exclusivamente ao devedor de boa­fé" (p. 36).

2.6.2 Sem embargo desta lembrança, constatava-se que, na reali­dade, a concordata havia passado a funcionar mais como instrumento do empresário mal-intencionado, que em grande parte das vezes estava pre­parando sua falência, protelando apenas a declaração da quebra, para ter tempo de melhor desviar bens e fraudar seus credores de forma impune. E, efetivamente, o autor estava com a razão, como se pode constatar do exame do que ocorria quando escreveu o artigo e do que ocorre nos dias atuais; houve este desvirtuamento do instituto da concordata, concedida na maioria das vezes sem maiores perquirições por parte do desaparelhado Judiciário, sempre com carga insuportável de trabalho excessivo; concor­data acompanhada por um comissário ausente e manietado pela própria legislação, que lhe dá pouquíssimas oportunidades de efetiva interven­ção na situação do processo e nenhuma oportunidade de intervenção na empresa. Desta forma, requerida a concordata e deferido seu processa­mento, restava apenas aos credores inermes acompanhar o depauperamento da empresa, a diminuição de suas atividades, o paulati­no desaparecimento de seus bens, até que, algum tempo depois do venci­mento da primeira parcela não paga, viesse a ser decretada a falência.

2.6.3 O que se verificava é que o sistema do Dec.-lei 7.661145 não conseguia proteger os credores da empresa concordatária ou falida e não conseguia também, por outro lado, preservar a atividade empresá­ria, apresentando-se como sistema incapaz de preservar qualquer tipo de interesse, atendendo apenas, na grande maioria das vezes, ao empre­sário oportunista e desonesto.

2.6.4 Jorge Lobo lembrava então meios práticos para que se pu­desse obter a recuperação de uma empresa em crise, dizendo que "quando uma empresa está precisando de 'socorro' devido a problemas financei­ros ou passa por dificuldades gerenciais em virtude da sucessão de con­trolador ou de incompatibilidade entre os sócios, as técnicas de aquisi-

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ção e fusão, respectivamente acquisition e merger em inglês, e, ainda, a de joint venture, em inglês literalmente 'união de risco', podem ser a saída para a 'crise'. ( ... )Quando uma empresa não mais tem condições de se autofinanciar, quer pelo aporte de recursos dos próprios sócios, quer pela capitalização através de novas ações ou debêntures; quando uma empresa não mais consegue financiamento bancário, por represen­tar um grande risco, somente o auxílio estatal pode salvá-la".

2.6.5 Eram usadas já, e continuam sendo, extrajudicialmente, as aquisições ou fusões e as joint ventures, para socorro a empresas em dificuldades. Após complexas relações e processos de verificação, as empresas formalizam um negócio mediante contrato que serve de b_ase para a negociação final; faz-se um plano de transição, ao fim do qual a empresa em dificuldades passa, na condição de adquirida ou fu,sionada, a fazer parte do novo grupo econômico. No entanto, como se vê, é um aspecto mais de ordem econômica e empresarial do que propriamente jurídica. Relata também Jorge Lobo a recente experiên­c~a da Alemanha, Holanda e Inglaterra, na concessão de linhas de crédito oficiais, relembrando a existência no Brasil do BNDES. O autor lembra ainda o socorro oficial, exemplificando com as linhas de cré­ditos concedidos por instituições públicas na Alemanha, Holanda e Inglaterra, acima citados. Os órgãos públicos criados para a recupe­ração de empresas, tais como o Instituto per la Ricostruzione Industriale, na Itália; o National Enterprise Board, da Inglaterra; o Société Nationale d'Investissimente, da Bélgica etc., são, no ver do Professor Lobo, meios a serem usados em caso de dificuldade passa­geira em empresas. No entanto, reitere-se, são todos meios extrajudi­ciais de socorro, os quais já são possíveis independentemente de qualquer alteração da legislação falimentar.

2.6.6 No entanto, relativamente a tais aspectos, entendia neces­sário ressaltar o perigo que pode advir destas concessões de dinheiro público, que aqui no Brasil, nos últimos tempos, têm sido motivo de constantes acusações de malversação do patrimônio público, com favo­recimento pessoal de pessoas próximas aos órgãos com poder decisó­rio. Lembrava finalmente que a mais eficaz forma de reorganização e recuperação das empresas tem sido, extrajudicialmente, sua realização por órgãos públicos especialmente criados para isto. Na seqüência, o Professor Lobo relatava as experiências legislativas de diversos países atualmente, detendo-se especialmente sobre o Direito americano e so-

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bre o Direito português. Alinhava-se assim aos autores já examinados anteriormente, aderindo à idéia de que efetivamente é necessário criar mecanismos que possam salvar a empresa em crise, reconhecendo ser "a empresa, mola propulsora do progresso econômico e social" (Da recuperação da empresa no direito comparado, Jorge Lobo, Lumen Juris).

2.7 A posição de Paulo Fernando Campos Salles de Toledo

2.7.1 O eminente professor da Universidade de São Paulo, De­sembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo e profun­do estudioso da matéria, falando sobre a esperada reforma da legislação falimentar, reiterava que a preocupação principal que deveria nortear o legislador deveria ser aquela no sentido da preservação da empresa, tra­zendo igualmente o exemplo das legislações comparadas mais moder­nas e que se pautam por esta orientação. Fazia então advertência, no sentido de que "precisamos ver com muita cautela, mas também com muita atenção, essas soluções do direito estrangeiro. Todas se centram numa idéia nuclear, uma diretriz que as norteia e que é a da preservação da empresa. É uma idéia na qual hoje, na nossa realidade positiva, ou seja, na lei em vigor no Brasil, não se pensa, mas há de se pensar em que a empresa, como unidade econômica, deve ser preservada, sempre que se manifestar viável e, portanto, econômica e socialmente útil. A solução não está em fechar empresas, fechando toda uma porta que pode ser importante para um determinado setor da economia. As empresas, portanto, dentro da concepção mais atual, devem ser, sempre que possí­vel e sempre que viáveis, preservadas" (RA 82, p. 83).

2. 7.2 Havia, portanto, o que se poderia entender como um con­senso geral, no sentido de que a preservação da empresa era meta que deveria ser atendida pela legislação, não especificamente para que se afastasse aquele caráter de verdadeira perseguição que se estabelecia contra o devedor em geral, mas fundamentalmente ante o reconheci­mento do valor social que a empresa representa no mundo atual.

2.8 A Nova Lei de Recuperação e Falências

2.8.1 A transcrição do pensamento dos grandes mestres estudi­osos do direito falimentar, que, aliás, já constava da edição anterior des­te livro, é necessária para que se demonstre a existência de respeitável

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corrente de pensamento que, em resumo, poder-se-ia definir como cen­tralizada na preocupação de possibilitar a recuperação da sociedade empresária, de tal forma que, havendo sinais de que determinada em­presa não estaria caminhando da melhor forma, propiciasse a Lei um modo de intervenção que, logo aos primeiros sinais de crise, aplicasse remédios que pudessem evitar o agravamento da situação. Desta forma, seria possível tentar sanear sua situação econômica, preservando-se a empresa como organismo vivo, com o que se preservaria a produção, mantendo-se os empregos e, com o giro empresarial voltando à norma­lidade, propiciando-se o pagamento de todos os credores.

2.8.2 Aliás, no campo da recuperação, é exatamente isto o que diz o art. 47 da nova Lei, que merece ser transcrito, como verdadeira declaração de princípios: "A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenÇão da fonte produtora, do empre­go dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica". Esta declaração de princípios está de acordo exatamente com a preocupação de todos os mestres cujos pensamentos foram aci­ma lembrados. Necessário agora, antes do início do exame da lei já promulgada, é tentar verificar se as recomendações foram levadas em conta, se houve efetivamente preocupação com a recuperação da em­presa e se os instrumentos criados são hábeis para tal fim.

2.8.3 Como já apontado acima por Jorge Lobo, apesar de a lei revogada não contemplar especificamente a recuperação de empresas, ainda assim esta ocorria, mais como fenômeno econômico do que jurí­dico. Esta observação traz à baila um outro aspecto, de fundamental importância, para o qual há necessidade de atenção, sob pena de qual­quer esforço levar a nada. Também no sistema da nova Lei, a recupera­ção, apesar de se tratar de um procedimento judicial, ainda assim tem um substrato de caráter marcadamente econômico, mais que jurídico. Tanto é assim que a própria OAB está se preparando para rever suas recomendações e passar a permitir que escritórios de ad_vocacia tenham, entre seus componentes, economistas e administradores, sem o que não haverá condições de se conduzir um procedimento de recuperação. Por isto mesmo, há urgente necessidade de que o juiz que vier a cuidar des­tes procedimentos tenha uma assessoria técnica por parte de adminis­tradores e economistas, preferencialmente corpo técnico de carreira do

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próprio Judiciário, para que todos estes aspectos econômicos determi­nantes possam ser corretamente avaliados pelo magistrado que, à seme­lhança dos advogados, não tem formação econômica, contábil, empre­sarial, o que será suprido pelo corpo técnico profissional.

2.8.4 Admitindo-se- para argumentar- que a Lei crie condi­ções que permitam a recuperação, seria recomendável que houvesse, pelos menos nos centros maiores, este corpo técnico especializado, da carreira do Judiciário, à disposição do juízo. Aliás, o ideal talvez fosse a criação de varas especializadas em falências e recuperações, nos gran­des centros, sendo que o corpo técnico especializado à disposição des­tes juízes prestaria também assessoria, quando necessário, aos juízes das comarcas menores, relembrando-se que é comum encontrar gran­des sociedades empresárias com sede em pequenas cidades do interior.

2.8.5 Comparato, um dos maiores comercialistas vivos da atua­lidade, lembrado por Nelson Abrão, como anotado acima, fala no "dualismo pendular" do direito brasileiro, que não se decide se deve apoiar o devedor, ou, ao contrário, deve prestigiar o credor. Este dualismo efetivamente está presente em todo o pensamento jurídico e, sendo a Lei resultado do sentimento médio da população em determinado mo­mento, submetida, portanto, às pressões que se formam ao sabor dos interesses em jogo, permanece mantendo o "dualismo". Embora a Lei seja o resultado do sentimento médio acima referido, evidentemente há determinados setores da população que fazem com que suas vozes se­jam ouvidas de maneira mais audível e determinante. Foi o que aconte­ceu na elaboração desta nova Lei de Recuperação e Falências, que ini­cialmente preocupou-se seriamente com a recuperação das empresas e que a partir de determinado momento (em torno dos anos 2000/2001), começou a sentir a pressão de um dos setores mais organizados - e certamente o mais forte - nos dias atuais, ou seja, dos banqueiros, na­cionais e internacionais, se é que se pode admitir nacionalidade em tais setores. E a Lei, que até aquele momento caminhava no sentido de ten­tar propiciar condições de recuperação às empresas em dificuldade, passou a se preocupar com a criação de condições para que o capital financeiro investido retornasse rapidamente às origens. Em outras pala­vras, antes de qualquer preocupação com recuperação da empresa, a Lei se preocupa em "salvar" o dinheiro investido pelo capital financei­ro, inviabilizando - ou ao menos tornando bastante problemática - a possibilidade de recuperação (sobre este ponto vide RT 8221128).

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2.8.6 De 1993 até mais ou menos o ano 2000, o projeto trazia uma série de proposições que demonstravam preocupação efetiva com a situação da sociedade empresária, com institutos que teriam, talvez, condições de propiciar recuperação. A partir de 2000/2001, as pressões que passaram a se fazer cada vez mais presentes na elaboração da lei trouxeram a correção de rumo que levou a uma verdadeira mudança do ponto de vista filosófico, de tal forma que o texto foi cada vez mais se distanciando das metas originais. Tanto que no meio jurídico passou-se a comentar, de forma jocosa certamente, que a Lei não seria mais "Lei de Recuperação de Empresas" e sim "Lei de Recuperação de crédito bancário", ou ainda "Lei Febraban". Ocorreu que, nesta ocasião, o The World Bank encarregou diversos funcionários seus, de alta graduação, de distribuir nos meios acadêmicos nacionais o livreto Principies and guidelines for effective insolvency and creditar rights systems, no qual trazia exatamente 35 (trinta e cinco) "princípios e diretrizes para a efi­cácia dos procedimentos falimentares e de cobrança de dívidas". A par­tir de tal momento, fins do ano 2000, início do ano 2001, foram patroci­nados diversos encontros e discussões, principalmente em universida­des, para que se transmitisse a necessidade de seguir tais princípios, tentando criar uma corrente de pensamento independente.

2.8. 7 O principal argumento desta "corrente" era extremamente curioso, para dizer o mínimo. Argumentava, a princípio corretamente, que a recuperação de qualquer empresa, em qualquer lugar do mundo capitalista, depende fundamentalmente de financiamento e que o único setor capaz de fornecê-lo em quantidade suficiente é o setor bancário. No entanto- continuava dizendo-, não basta apenas o fornecimento de financiamento, sendo necessário que tal financiamento seja fornecido a juros não extorsivos, seja fornecido a juros que a atividade empresarial tenha condições de pagar. Prosseguia afirmando, ainda corretamente, que um dos elementos que influem na formação dos juros é a avaliação do risco; quanto menor o risco, menores os juros. A partir deste pensa­mento, até aqui corretamente formulado, esta corrente conseguiu tomar verdade a afirmação de que a lei de recuperação, para propiciar efetiva­mente recuperação, deveria propiciar condições privilegiadas de retor­no do capital investido na sociedade empresária em recuperação ou em falência, de tal forma que a diminuição do risco propiciaria a baixa dos juros. Este foi o núcleo central do pensamento imperante. E a partir deste pensamento, a Lei deixou de ser "lei de recuperação de empresa"

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Aspectos históricos 46

e passou a ser "lei de recuperação do capital financeiro". A idéia foi encampada - como não poderia deixar de ser - pelas instituições ban­cárias sediadas no País, bem como pelo Banco Central do Brasil, que conseguiu, desta forma, introduzir no projeto as diversas reformas que o afastaram da filosofia original que o norteava.

2. 8. 8 O resultado prático de tal atividade redundou em artigos es­palhados pela Lei, sendo exemplo máximo o art. 49, que estabelece que "todos os créditos existentes na data do pedido" de recuperação, estão sujeitos aos seus efeitos. Logo em seguida, o § 3° estabelece que "não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial" o credor por alienação fi­duciária, o credor por arrendamento mercantil, o credor por contrato com reserva de domínio, entre outros, completando o§ 4° o privilégio, ao ex­cluir da recuperação o valor devido a título de adiantamento de contrato de câmbio. Os bens alienados fiduciariamente, arrendados ou objeto de reserva de domínio, serão retirados em 180 dias, e o pagamento do adian­tamento do contrato de câmbio também será exigido após tal prazo, pra­zo que se afigura claramente insuficiente para propiciar condições de re­cuperação. Aliás, a pressão do capital financeiro foi tão acentuada que conseguiu superar até os privilégios fiscais; a última mudança feita no projeto, relativamente ao quadro-geral de credores na falência, tirou o crédito tributário do segundo lugar na lista e passou-o para terceiro; em sua frente, ficaram os créditos com garantia real. Na mesma linha de pri­vilégio ao capital financeiro, o art. 161 exclui também estes mesmos cré­ditos do plano de recuperação extrajudicial.

2.8.9 Compare-se tal situação com a última lei promulgada no mundo ocidental sobre recuperação de empresas, a Ley Orgánica 81 2003, de 9 de Julio (de 2003), para la Reforma Concursal, lei espanhola que entrou em vigor em 1 o de setembro de 2004 e que, em seu art. 56, concede ao magistrado o poder de suspender a execução de qualquer garantia, desde que isto seja necessário para a recuperação da empresa em crise.

2.8.10 Se de um lado o capital financeiro não abriu mão de seus privilégios, de outro o fisco se posicionou da mesma forma. Tanto que, segundo o art. 57, a recuperação judicial apenas poderá ser concedida se o devedor apresentar certidão negativa de tributos. Segundo o § 1 o do art. 161, o crédito tributário não é abrangido pelo plano de recuperação extrajudicial. Enfim, examinando-se detalhadamente a Lei, constata-se

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47 Aspectos históricos

que as possibilidades de recuperação, quer judicial, quer extrajudicial, são praticamente inexistentes ou, pelo menos, extremamente dificulta­das. Ao contrário, a nova Lei até agravou a situação do devedor, ao tirar dele uma das únicas vantagens que lhe eram concedidas, ou seja, a limi­tação dos juros contratuais ao limite máximo de 12% (doze por cento) ao ano, benefício que estava previsto no § 1 o do art. 163 da lei revogada e que desapareceu de vez com o § 2° do art. 49 da nova Lei, que estabe­lece que as condições originais de todos os contratos permanecem inal­teradas, sem embargo da ressalva de poder haver concordância dos cre­dores com redução, o que, no entanto, é altamente improvável.

2.8.11 Enfim, a Lei está plena de demonstrações de que veio para favorecer o capital financeiro e manter o privilégio fiscal, este último tendo perdido a batalha de pressões com o primeiro. E se do capital financeiro não se exige qualquer sacrifício, do crédito trabalhista exi­ge-se o limite de pagamento com privilégio até o valor de 150 salários mínimos (art. 83) na falência, enquanto na recuperação concede-se um ano de prazo para pagamento dos salários em atraso (art. 54), prevendo­se o pagamento imediato, ou melhor, em 30 dias, para o valor limitado a cinco salários mínimos, desde que relativos aos últimos três meses. Aliás, para que se possa constatar de vez o tratamento privilegiado ao capital financeiro e o tratamento discriminatório ao crédito salarial, examine-se o art. 50 que diz constituírem meios de recuperação judicial a "redução salarial" (inciso VIII) e a "equalização dos encargos finan­ceiros" (inciso XII); redução salarial é termo unívoco; equalização é termo equívoco, sem qualquer significado jurídico.

2.8.12 Outra crítica severa que se pode fazer à Lei é a de ter rele­gado a microempresa e a empresa de pequeno porte a um plano secun­dário, embora representem 99,2% do total das sociedades empresárias e dos empresários hoje existentes. No entanto, para se evitar repetição, remete-se o leitor aos comentários feitos aos arts. 70 a 72, no corpo do texto que examina os artigos da Lei.

2.8.13 Não se pode ter o temor de se receber a pecha de "fracassomaníaco" e é necessário que se critique o que deve ser criticado, sempre, evidentemente, respeitadas as posições divergentes devidamen­te fundamentadas. De qualquer forma, em benefício da Lei, não se pode esquecer que acena ela com princípios gerais extremamente saudáveis (vide art. 47), que poderão eventualmente propiciar interpretação favo-

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Aspectos históricos 48

rável a uma verdadeira e sadia recuperação empresarial. Por outro lado, a observação das coisas do dia-a-dia no campo do direito demonstra que mesmo a lei mal formulada serve de indicador de direção, observando-se também que a atividade jurídica em geral mantém a tendência de criar os elementos necessários para sua (da lei) boa aplicação, com vistas ao atingimento do fim desejado.

2.8.14 A Lei, evidentemente, tem uma série de boas disposições, todas elas tendo merecido destaque no exame do texto que logo adiante se inicia. Especialmente a recuperação extrajudicial, com possibilidade de ser homologada judicialmente, poderá trazer bons resultados. Neste ponto, a nova Lei foi claramente positiva, eliminando, aliás, a descabi­da disposição do inciso III do art. 2° da lei anterior, que considerava "ato de falência" a simples tentativa de acordo.

2.8.15 Finalmente, não há qualquer dúvida de que a lei anterior deveria ser reformulada, pois não se prestava às necessidades do mo­mento atual da vida empresarial. No entanto, o lamentável é que tenha se discutido durante onze anos para se chegar a pouquíssimo resultado positivo. De qualquer forma, é necessário agora examinar com espírito científico a Lei, despido de qualquer preconceito, para, mesmo após estas críticas, tirar de seus artigos aquilo que de melhor neles exista para o fim pretendido de recuperação das empresas em crise, de um lado, e, de outro, para a falência da empresa cuja situação econômico­financeira demonstre ser este o caminho a seguir, para que não se man­tenha no meio empresarial, contaminando-o e colocando em risco sua eficiência e seu crescimento, qualidades por todos nós desejadas. Este incremento da atividade empresarial no País é o melhor, senão o único meio de tentar encaminhar solução para o mais dramático problema social de nossos dias, a praga terrível do desemprego.

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COMENTÁRIOS

LEI 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005

Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e ã falência do empresário e da sociedade empresátia.

O Presidente da República:

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a se­guinte Lei:

Capítulo I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1 o Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recupe­ração extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade em­presária, doravante referidos simplesmente como devedor.

1. Ao contrário do que ocorria nos primórdios da história do di­reito falimentar, nos dias atuais apenas "o empresário", quer sociedade empresária, quer empresário individual, está submetido ao instituto da falência - e agora, da recuperação judicial e extrajudicial. Sociedades civis (que deixaram de existir a partir do Código Civil de 2002), socie­dades simples (arts. 997 e seguintes do Código Civil em vigor), pessoas físicas, enfim, não empresários, não podem ter sua falência decretada ou sua recuperação deferida. Evoluindo do conceito de ato do comér­cio, atualmente a determinação da figura do empresário se concentra, como diz Waldírio Bulgarelli (p. 16), na "atividade", critério decorrente da organização, tendo como base a empresa, ou seja, a organização dos fatores da produção para um escopo lucrativo. Neste ponto, relembre­se que o novo Código Civil, ao definir empresário no art. 966, e socie­dade empresária no art. 982, consagra de forma positiva o conceito de atividade empresária como base legal da fixação da qualidade do em­presário e da sociedade empresária. João Eunápio Borges (p. 322) lem-

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Art. t•- Capítulo I 50

bra que a sociedade em conta de participação, por não possuir persona­lidade jurídica, não pode falir, sendo possível o decreto de falência ape­nas contra o sócio ostensivo, por ser este empresário regular (arts. 325 e seguintes do CCo, atualmente arts. 991 e ss. do Código Civil).

2. Este art. 1 o estabelece sua aplicação ao "empresário" e à "so­ciedade empresária". Versões anteriores do projeto estabeleciam a apli­cação também para "sociedade simples" e tal discussão desapareceu por ora, com a opção final do legislador por afastar desta lei a "socie­dade simples", mantendo-a aplicável apenas à sociedade empresária e ao empresário individual.

3. Os arts. 967 e 985 do Código Civil estabelecem que o empre­sário e a sociedade empresária devem registrar-se no Registro Público de Empresas Mercantis, ou seja, na Junta Comercial. Já a sociedade simples deve ser registrada no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, co­nhecido como "Cartório de Registro de Títulos e Documentos".

4. Por outro lado, sem embargo da acentuada dificuldade que o Có­digo Civil de 2002 trouxe, ao pretender unificar o direito comercial e o direito civil, sem considerar que a inserção da matéria comercial no Có­digo Civil quebraria o sistema do direito empresarial, sem embargo de tudo isto, é necessário tentar ainda assim uma análise sistemática do di­reito positivo. O art. 1.033 do Código Civil, que fala sobre sociedade sim­ples, diz que esta se dissolve quando ocorrer quaisquer das cinco hipóte­ses previstas em seus incisos (entre os quais não se encontra a falência). Já o art. 1.044 (falando sobre sociedade em nome coletivo) diz que "a sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumera­das no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração de falência".

5. Portanto, este art. 1.044 do Código Civil claramente afasta a pos­sibilidade de decreto de falência da sociedade simples que tenha se cons­tituído como sociedade em nome coletivo (o que é possível na forma do que prevê o art. 983). Por extensão, afasta também a possibilidade de fa­lência de sociedades simples que tenham se constituído como sociedade em comandita simples (art. 1.051) e como sociedade limitada (art. 1.087). E se o Código Civil afasta da falência todas as sociedades que tenham se constituído sob a forma de sociedade simples, o exame do art. 1.044, em conjunto com o art. 1.033, leva também à conclusão de que não há possibi­lidade de falência para a sociedade simples. Neste ponto, o Código Civil e a Lei de Recuperação e Falências estão caminhando uniformemente.

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51 Capítulo I - Art. 2•

6. Anote-se ainda que as sociedades civis, que existiam no regi­me do Código Civil anterior, sujeitam-se às disposições desta lei, se apresentarem o elemento de empresa. Imagine-se, por exemplo, a típi­ca sociedade civil anterior, ou seja, a prestação de serviços de tintura­ria, o popular tintureiro, de todos conhecido. No regime do Código Civil anterior, tratava-se de sociedade civil, não passível de falência. Já no regime do Código Civil atual, e por portar os elementos de empresa (art. 966), é sociedade empresária, submetendo-se, em conse­qüência, ao regime da presente Lei.

Art. 2° Esta Lei não se aplica a:

I - empresa pública e sociedade de economia mista;

11 - instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, socieda­de seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.

1. O legislador utiliza a expressão "empresas públicas". Observe­se que empresa é atividade econômica, em que pese na prática, ser a ex­pressão utilizada para designar o empresário, ou seja, aquele que exer­ce a atividade econômica. Temos como "empresas públicas" empresá­rios cujo único sócio é ente da federação (União, Estados, Distrito Federal ou Município). Com fundamento no interesse público, resol­veu o legislador deixar à legislação especial a recuperação e a insolvên­cia de sociedades de economia mista e empresas públicas. Anote-se, porém, que o art. 195 prevê a falência de concessionária de serviços públicos, desde que, evidentemente, não se trate de empresa pública e sociedade de economia mista.

2. A Lei retira também de seu âmbito de incidência as sociedades de economia mista. A Constituição Federal determina que o Estado so­mente deve intervir diretamente na exploração direta de atividade eco­nômica quando necessário "aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo" (art. 173 da Constituição Federal). As so­ciedades de economia mista são caracterizadas pelo aporte de capital do Poder Público, que em regra possui a maior parte do capital social votante, controlando, portanto a sociedade, contando ainda com a parti­cipação de particulares na composição da sociedade. O comentário abai-

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Art. 3• - Capítulo I 52

xo é ilustrativo das idas e vindas do legislador no que diz respeito à sociedade de economia mista.

3. ALei 10.303/01revogouoart.242daLeidasS.A.(Lei6.404/76), que dispunha que "as companhias de economia mista não estão sujeitas a falências, mas os seus bens são penhoráveis e executáveis, e a pessoa jurí­dica que a controle responde, subsidiariamente, pelas obrigações." Como apontam CarvalhosaeEizirik(p. 365), "o art. 242daLei n. 6.404/76 esta­belecia o princípio da imunidade das sociedades de economia mista ao processo de falência, justificado, na Exposição de Motivos da lei, pelo fato de o interesse público que enseja a criação, por lei, de uma sociedade de economia mista não permitir que sua administração possa ser transferida a terceiros, credores, por meio do síndico, como ocorre na falência". O le­gislador entendeu por bem excluir as sociedades de economia mista que, de2001,comarevogaçãodo art. 242daLeidas S.A., até a vigência da nova lei falimentar, estavam sujeitas à falência.

4. As instituições financeiras (públicas ou privadas), cooperati­vas de crédito, administradoras de consórcio, sociedades seguradoras, de capitalização e entidades equiparadas não se sujeitam também à Lei. Entende o legislador que as atividades desenvolvidas por estes empre­sários são específicas e merecem tratamento em legislação especial, cabendo, no âmbito da atividade financeira, ao Conselho Monetário Nacional e ao Banco Central do Brasil, responsáveis pelo Sistema Fi­nanceiro Nacional, intervir diretamente quando apresentam dificulda­des econômico-financeiras, tendo em vista que a falta de confiabilidade em tais instituições pode resultar em crise de todo o sistema.

5. As instituições financeiras e os consórcios estão sob a égide da Lei 6.024, de 13.03.1974, que dispõe sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial de instituições financeiras. Qualquer sociedade cooperati­va é sociedade simples, por força do parágrafo único do art. 982 do Códi­go Civil, regida pela Lei 5.764, de 16.12.1971, que define a política na­cional de cooperativismo. Para as seguradoras, aplica-se o Dec.-lei 73, de 21.11.1966, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Seguros Privados; para entidade de previdência complementar, a Lei Complementar 109/01; para plano de saúde, a Lei 9.656/98; para sociedade de capitalização, o Dec.-lei 261/67.

Art. 3° É competente para homologar o plano de recupera­ção extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a

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53 Capítulo I - Art. 3"

falência o juízo do local do principal estabelecimento do deve­dor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.

1. Este artigo fixa a competência para os três institutos que a Lei oferece aos empresários, ou seja, para a homologação da recuperação extrajudicial (homologação que é optativa, na forma do que determi­nam os arts. 162 e 163), para o deferimento da recuperação judicial e para o decreto de falência. A lei anterior dividia esta matéria, prevendo no art. 7o a competência para o decreto de falência, e, no art. 156, a competência para a concessão da concordata. Neste aspecto, andou bem o legislador ao agrupar, em um único dispositivo legal, a fixação da competência para todos os três institutos contemplados na Lei.

2. Com pequenas alterações no texto, o art. 3° repete o que dizia o art. 7° do diploma revogado, de tal forma que, pelo menos até novo posicionamento jurisprudencial - o que parece improvável, ante a se­melhança dos textos -, os comentários feitos ao texto anterior prestam­se ao texto atual. Muito se discutiu sobre a possibilidade de se encon­trar uma nova forma de fixação da competência, ante os problemas que a lei anterior trazia, dando oportunidade a manobras protelatórias por parte dos que pretendiam tumultuar o requerimento de falência, logo de início; no entanto, não se encontrou forma melhor de expressão. É que, para fixação de competência, esta forma é mesmo a melhor, sendo ne­cessário que a explicitação seja deixada à jurisprudência e ao prudente exame do juiz, para cada caso.

3. O artigo, aparentemente claro, determina que o pedido de ho­mologação da recuperação extrajudicial, do deferimento da recupera­ção judicial ou do decreto de falência deve ser apresentado ao juiz da comarca no qual o empresário tem o seu principal estabelecimento. "Es­tabelecimento" é o local onde o empresário exerce o seu mister, não havendo qualquer dúvida para a fixação da competência quando a em­presa tem um único estabelecimento. Ou seja, a empresa denominada "Rodrigues, Ferreira e Irmãos Ltda." tem um único estabelecimento, situado em determinado local, com o nome fantasia "Lanchonete Flor do Centro"; em tal caso, não haverá qualquer dificuldade para se deter­minar o juiz competente, que será o da comarca na qual esteja situado este estabelecimento único.

4. No entanto, a determinação do foro competente passa a oferecer dificuldade, no caso de a empresa possuir vários estabelecimentos e, em

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Art. 3" - Capítulo I 54

cada um deles, exercer grande número de atividades ou concentrar admi­nistradores, em cada um deles, com poder amplo de decisão. Um exem­plo facilitará o estudo e a compreensão do problema: imagine-se uma grande metalúrgica, com toda sua produção industrial situada em uma cidade do interior; no entanto, toda a alta diretoria da empresa reúne-se na Capital, local onde são tomadas todas as decisões administrativas de peso, onde se determina o verdadeiro rumo que a empresa deve trilhar. Neste caso, qual seria o principal estabelecimento?

5. A propósito, tal aspecto tem se prestado a possibilitar inúme­ras tentativas de chicanas jurídicas e medidas protelatórias. Ou seja, já preparando uma futura falência fraudulenta, o empresário abre diversos estabelecimentos e em todos eles exerce atividades determinantes e de peso, de tal forma que, não importa em qual juízo seja requerida sua falência, sempre argumentará que seu principal estabelecimento não é aquele e sim, outro. Portanto, pode-se perceber desde já a importância de se determinar o principal estabelecimento. Sem embargo, se o juiz experimentado percebe que se trata de medida protelatória, a melhor opção é desde logo reconhecer tal fato e declarar a falência no processo que tem em mãos, como correta medida de política judiciária, sem em­bargo de a competência do juízo do principal estabelecimento, embora territorial, ser de natureza absoluta (Valverde, vol. 1, p. 143).

6. Também não parece recomendável admitir-se que principal es­tabelecimento seria aquele assim declarado no contrato social (ou esta­tuto) arquivado na Junta Comercial, pois isso permitiria ao empresário desonesto fixar sede contratual em local de difícil acesso a seus credo­res. Imagine-se, por exemplo, o caso de uma sociedade empresária com todos os seus estabelecimentos em determinada unidade da Federação e que abrisse um pequeno escritório em unidade federativa distante, apenas para dificultar qualquer pedido de falência contra ela.

7. Segundo Valverde (vol. 1, p. 138), o principal estabelecimento é aquele no qual o comerciante tem a sede administrativa de seus negó­cios, no qual é feita a contabilidade geral, onde estão os livros exigidos pela lei, local de onde partem as ordens que mantêm a empresa em ordem e funcionamento, mesmo que o documento de registro da em­presa indique que a sede fica em outro local. Barreto F' (p. 145/6) anota que a questão da fixação do principal estabelecimento carece de inte­resse jurídico, a não ser para a fixação da competência do juízo da fa-

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55 Capítulo I - Art. 4•

lência; propõe que, na conceituação de principal estabelecimento, deve sempre preponderar o critério quantitativo econômico, ou seja, é "aquele em que o comerciante exerce maior atividade mercantil, e que, portan­to, é mais expressivo em termos patrimoniais", relembrando ainda que Sylvio Marcondes diz ser aquele no qual melhor se atendam os fins da falência, possibilitando a melhor forma de liquidação do ativo e do pas­sivo. E agora, com a nova lei, poder-se-ia acrescentar também: aquele que possibilita a melhor forma de recuperação.

8. Se o principal estabelecimento da empresa estiver em território estrangeiro, aplica-se a parte final do artigo, na forma, aliás, do que determina o§ 2° do art. 75 do Código Civil, que, falando sobre o domi­cílio das pessoas jurídicas, diz que "se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma de suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder", dis­positivo este que corresponde ao que estava previsto no § 4° do art. 35 do Código Civil de 1916 (Valverde, vol. 1, p. 138).

9. Como visto, a parte final do artigo ora sob exame repete a dis­posição constante da lei anterior (art. 7°), ao fixar a competência do juiz da comarca na qual esteja operando a filial de empresa estrangeira, com sede fora do Brasil e, evidentemente, sem sede no País.

Art. 4° (Vetado.)

1. O art. 4° foi vetado pela Presidência da República e, em seu tex­to, dizia: "Art. 4° O representante do Ministério Público intervirá nos pro­cessos de recuperação judicial e de falência. Parágrafo único. Além das disposições previstas nesta Lei, o representante do Ministério Público intervirá em toda ação proposta pela massa falida ou contra esta."

2. Mesmo aqueles que não trabalham especificamente no campo do direito, têm verificado, pela simples leitura dos jornais, a pretensão de hipertrofia do poder executivo, que tem tentado submeter o poder legislativo, no que é facilitado pelo uso absoluto e até agora impune do instituto das "medidas provisórias".

3. O veto a este artigo ora sob exame nada mais é que o reflexo deste momento político que se vive, sendo mais uma pedra que se pre­tende tirar da construção das instituições necessárias à preservação do

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Art. 4" - Capítulo I 56

funcionamento independente dos poderes. O Ministério Público tem sido um dos grandes auxiliares na aplicação da lei aos casos de falência fraudulenta, órgão bem aparelhado, com componentes de alto nível in­telectual e que, por força do art. 21 O da lei ora revogada, intervinha em todos os atos processuais da falência.

4. Enfim, o melhor entendimento, que trará maiores garantias à sociedade, é no sentido de que os três procedimentos previstos nesta Lei (recuperação extrajudicial com pedido de homologação judicial, recuperação judicial e falência) envolvem sempre o interesse público e, por isto, até por se tratar de situação de crise da empresa, poderá haver ameaça de lesão a esse interesse. Em conseqüência, sempre que neces­sário, o Ministério Público deve ser ouvido, zelando o juiz do processo para que os autos lhe sejam remetidos quando a situação, a critério ju­dicial, assim recomendar.

5. É verdade que o veto concede ao juiz um poder de direção maior no processamento das ações, não sendo obrigado a necessariamente re­meter os autos ao Ministério Público. Até porque- e neste ponto a crí­tica era procedente -'-, a constante remessa dos autos ao MP era motivo de maior atraso no andamento do feito. De qualquer forma, deve o juiz atentar para os artigos que remanescem e que determinam a interven­ção do MP; são os arts. 52, V; 99, XIII; 142, § 7°; 154, § 3°, além das disposições gerais contidas nos arts. 82, 83 e 84 do CPC.

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Capítulo 11

DISPOSIÇÕES COMUNS À RECUPERAÇÃO JUDICIAL E À FALÊNCIA

Seção I

Disposições gerais

Art. 5° Não são exigíveis do devedor, na recuperação judi­cial ou na falência:

I - as obrigações a título gratuito;

1. Este dispositivo repete parte do inciso I do parágrafo único do art. 23 da lei anterior, que dizia que não podiam ser reclamados na fa­lência "as obrigações a título gratuito e as prestações alimentícias".

2. O dispositivo legal não oferece maiores dificuldades, estipulan­do de forma direta e objetiva que doações, atos de benemerência, favores prometidos, não podem ser cobrados na falência. Poderá também ser con­siderado ato a título gratuito o aval prestado sem interesse econômico direto da empresa, fiança, cessão, comodato etc. É necessário especial atenção para que não se permita a reclamação de crédito decorrente de atos que, embora aparentemente possam revestir a forma de onerosos, no fundo são efetivamente gratuitos, v.g., uma promessa de venda simulada que, na realidade, seria uma doação; de qualquer forma, este exemplo adentra já o campo do negócio simulado, da fraude.

3. A alteração que a nova lei trouxe é no sentido de permitir (ou melhor, de não excluir) a exigibilidade das prestações alimentícias, o que virá a atingir diretamente o empresário individual e o empresário com responsabilidade ilimitada. Indiretamente, poderá atingir também qualquer empresa, na medida em que, no momento do decreto da falên­cia ou durante o andamento de recuperação judicial poderá haver atra­sos em pagamento de salários, sobre os quais haveria desconto de pres­tação alimentícia. Em tal caso, nada impediria que o beneficiário da pensão viesse a exigir o pagamento deste valor, diretamente nos autos do procedimento falimentar.

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Art. s• - Capítulo 11 - Seção I 58

4. No regime da lei anterior, havia divergência relativamente às indenizações decorrentes de ato ilícito (v.g., indenização consistente em pensões mensais devidas à viúva ou filhos daquele que faleceu atro­pelado por veículo de propriedade da empresa ora falida). Alguns auto­res entendiam ser possível a habilitação, outros entendendo o contrário. Com a nova estipulação, esta dúvida desaparece, pois deixou de existir o óbice que estava presente na lei anterior, podendo assim tais valores ser exigidos na falência ou na recuperação judicial.

11 - as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judi­ciais decorrentes de litígio com o devedor.

S. As despesas feitas pelos credores para habilitação de seus cré­ditos não podem ser exigidas na recuperação judicial ou falência. Ob­serve-se que a Lei afasta a exigibilidade apenas das despesas feitas para participação na recuperação judicial ou na falência, estabelecendo que as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor são exigíveis. Necessário também notar que a parte final do inciso faz menção exclu­sivamente a custas judiciais, expressão que não abrange honorários de advogado, que não estão sendo tratados aqui.

6. Portanto, se uma parte entrar em litígio com a massa falida ou com a empresa em recuperação judicial, esta também responderá pelas custas. No caso da falência, há a previsão de habilitação do valor devi­do a título de custas (inciso IV do art. 84), na categoria de crédito extraconcursal.

7. Com relação ao pagamento de honorários advocatícios, por parte da massa, há diversas especificidades a serem examinadas. Silva Pacheco (p. 70), analisando o texto de lei do Dec.-Lei 7.661/45, tentava esquematizar este ponto, em estudo que deve ser examinado critica­mente neste novo contexto, afirmando que: a) não são devidos honorá­rios ao requerente da falência, aos credores e ao próprio devedor em disputa com a massa; b) são devidos honorários em favor do requerido, em caso de improcedência do pedido de falência; c) são devidos hono­rários pelo requerido sucumbente que fez o depósito elisivo, dizendo a Súmula 29 do STJ que "no pagamento em juízo para elidir falência, são devidos correção monetária, juros e honorários de advogado" (nesse sentido corroborado pela disposição do parágrafo único do art. 98 desta

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59 Capítulo 11 - Seção I - Art. 6°

Lei); d) há julgados admitindo honorários de advogado nos pedidos de restituição e nos embargos de terceiros.

Art. 6° A decretação da falência ou o deferimento do pro­cessamento da recuperação judicial suspende o curso da pres­

. crição e de todas as ações e execuções em face do devedor, in­clusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário.

1. Vide comentários ao art. 99, V.

2. Esta disposição existia no art. 47 da lei anterior, sendo que o art. 134 daquela lei determinava ainda que a prescrição recomeçaria a correr no dia em que passasse em julgado a sentença de encerramento da falência. Da mesma forma, o art. 157 da lei atual estipula o recomeço do andamento do prazo prescricional quando ocorrer o trânsito em jul­gado da sentença de encerramento. A suspensão das ações e execuções, que era estabelecida em artigo diferente da lei anterior (art. 24) aqui foi incluída no mesmo art. 6° ora sob exame.

3. Em consonância com este art. 6°, o inciso V do art. 99 estabele­ce que a sentença que decretar a falência ordenará a suspensão das ações e execuções contra o falido. O legislador, portanto, preferiu juntar neste art. 6° a previsão de suspensão tanto do prazo prescricional quanto do andamento das ações e execuções contra o falido.

4. Quanto à prescrição, o artigo é claro, observando-se que a Lei fala em suspensão, razão pela qual o prazo continua a correr pelo rema­nescente, pelo prazo que faltava para o reconhecimento da prescrição (vide arts. 180 do CPC e 202 do Código Civil, sobre diferença entre suspensão e interrupção de prazo). No entanto, este artigo parece não ter grande interesse para o credor, pois, se a dívida não foi paga depois de liquidados todos os bens do devedor, não há interesse em controle de prescrição, repita-se, para o credor. No entanto, o controle do lapso pres­cricional é importante para o exame da ocorrência da extinção das obri­gações, na forma do art. 160, adiante examinado.

5. Anote-se que, apesar da literalidade da lei, havia autores que, em interpretação sistemática do texto do Dec.-lei 7.661, de 21.06.1945, entendiam que aqui ocorria interrupção e não suspensão. No entanto, tendo em vista a clareza do texto legal, parece não ser defensável tal entendimento nessa oportunidade. Relembre-se ainda que a decadência

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Art. 6" - Capítulo 11 - Seção I 60

não se interrompe nem se suspende, operando o artigo apenas no que tange à prescrição.

6. No que diz respeito às ações e execuções em face do devedor, esta determinação é regra geral decorrente do princípio da universalidade do juízo falimentar, presente no art. 76 da Lei. Há várias exceções a essa re­gra geral, que iremos examinando à medida que forem surgindo. No en­tanto, em princípio, qualquer ação contra a massa falida ficará suspensa e os credores deverão todos comparecer à falência ou recuperação judicial, habilitando seus créditos, habilitação na qual será possível decidir aque­les aspectos que eventualmente seriam discutidos em tais ações ou exe­cuções individuais, conforme se verifica da disposição do art. 99, V.

§ 1 o Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se pro­cessando a ação que demandar quantia ilíquida.

7. Este parágrafo tem acentuada aplicação na prática, pois há ne­cessidade de prosseguimento do processo, para que a sentença determine qual o valor, ou a coisa, ou a prestação, ou a abstenção, a que o autor tem direito, contra o devedor falido ou em recuperação. A lei repete aqui parte da disposição contida no inciso li do art. 24 da lei anterior. Este tipo de ação continuará correndo normalmente na Vara na qual estiver, anotan­do-se apenas que se o processo estiver correndo contra a massa falida, deve o administrador judicial ser chamado a participar do processo (arts. 22, III, c, e 103). No que diz respeito à intervenção do representante do Mi­nistério Público, sua participação estará limitada à verificação da ocor­rência de alguma das hipóteses comentadas no art. 4°, sem embargo do veto presidencial (vide comentários ao art. 4°, vetado).

8. Declarado por sentença o direito que o autor tem contra o deve­dor falido ou em recuperação, bastará apenas comunicar o fato ao juízo da recuperação ou falência, comprovando o alegado, para que o crédito seja automaticamente incluído no quadro geral de credores, indepen­dentemente de habilitação. Aliás, o valor suficiente para atendimento do crédito poderá até já estar reservado, na forma do art. 6°, § 3°. O pedi­do de reserva é feito por simples petição, acompanhada dos documen­tos comprobatórios do alegado; como o valor ainda não está definido, dependendo de sentença, deverá o peticionário estimar o valor a ser re­servado, o que será examinado pelo juiz, que poderá, se for o caso, redu­zir o valor da reserva.

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61 Capítulo 11 - Seção I -Art. 6"

§ 2° É permitido pleitear, perante o administrador judi­cial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos deriva­dos da relação de trabalho, mas as ações de natureza traba­lhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8° desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro­geral de credores pelo valor determinado em sentença.

9. Surge aqui uma significativa modificação em relação ao Dec.­lei 7.661145, na medida em que objetiva "desprocessualizar" ou "desjudicializar" (são estes os neologismos) os incidentes de verifica­ção de créditos e, talvez, atribuir maior celeridade nos seus julgamen­tos, principalmente aqueles derivados da relação de trabalho. Confor­me se verá nos comentários ao art. 7°, as habilitações e impugnações deverão ser apresentadas diretamente ao administrador judicial, tal como ocorre no sistema de intervenção e liquidação extrajudicial das institui­ções financeiras regulado pela Lei 6.024, de 13.03.1974. No entanto, tal como ocorria na legislação anterior, por se tratar de justiça especia­lizada, os créditos decorrentes da relação de trabalho hão de ser apura­dos, inicialmente, perante as Varas do Trabalho.

10. Ulteriormente, com base na sentença proferida na Justiça Tra­balhista, deverão os respectivos créditos ser incluídos no quadro geral de credores, sendo facultado aos interessados legitimados para tanto requerer a habilitação (caso não tenham sido devidamente incluídos), exclusão ou modificação desses créditos.

11. O valor devido a título de salários a empregados com deman­da na justiça especializada era matéria ainda não pacificada no sistema da lei anterior. Havia entendimento no sentido de que a coisa julgada trabalhista não poderia ser modificada e o crédito deveria ser incluído pelo valor a que se chegou naquela justiça especializada; outros julga­dos entendiam que as limitações da Lei de Falências (v.g., multas e juros após o decreto falimentar) aplicavam-se plenamente, estando o juiz da falência autorizado a efetuar os abatimentos permitidos pela lei. O texto da atual lei pretendeu solucionar este ponto, ao estabelecer, em sua parte final, que o crédito será incluído "pelo valor determinado em sentença", evidentemente, a sentença homologatória da justiça especia­lizada do trabalho.

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Art. 6• - Capítulo 11 - Seção I 62

§ 3° O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1 o e 2° deste artigo poderá determinar a reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou na falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria.

12. Trata-se de situação que ocorre com extrema freqüência nas fa­lências, especialmente no que diz respeito a créditos trabalhistas, maté­ria que estava prevista no art. 130 da lei anterior. O devedor, quando esta­va em situação precária, provavelmente terá deixado de pagar débitos tra­balhistas e assim, quando do decreto de falência ou do pedido de recupe­ração, poderão estar em andamento inúmeras ações na Justiça do Traba­lho. Esses empregados só poderão habilitar-se depois que for fixado o valor a eles devido, na ação trabalhista. Em tal situação, o interessado informa o fato por petição ao próprio juiz trabalhista e requer reserva do valor, para pagamento futuro, o que deverá ser deferido pelo juiz da falência ante o ofício encaminhado pela justiça especializada. Sem embargo, o próprio interessado pode instruir petição com documentos suficientes e requerer, diretamente ao juiz da falência, que determine a reserva.

13. O caso do crédito trabalhista está sendo tomado como exem­plo, por ser o de ocorrência mais comum. No entanto, evidentemente, a mencionada reserva aplica-se a todo e qualquer crédito cujo valor ainda não foi decidido. Imagine-se, apenas como exemplo, uma ação na qual alguém esteja a cobrar indenização por danos causados pela empresa · falida, valor que só poderá ser definido após o trânsito em julgado da sentença a ser prolatada na ação civil em andamento.

14. Se ocorrer de, na falência, dar-se início ao pagamento dos cre­dores, antes de solucionada a questão na Justiça do Trabalho, Justiça Cível etc., os pagamentos são normalmente feitos, reservando-se po­rém aquele valor pedido, no caso dos exemplos, pelo empregado ou pelo prejudicado civilmente. Ulteriormente, conforme será verificado nos comentários ao art. 149, § 1 o, os valores reservados e não utilizados para pagamento dessas reservas (no caso de não serem os créditos efe­tivamente reconhecidos), serão objeto de rateio suplementar entre os credores remanescentes.

§ 4° Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em hipótese nenhuma excederá o prazo im-

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63 Capítulo 11 - Seção I - Art. 6•

prorrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferi­mento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial.

15. Esta regra visa aproveitar os atos processuais já praticados nas ações e execuções em curso, em prejuízo da empresa em recupera­ção. Com efeito, mostra-se mais interessante ao credor que se aprovei­tem os atos processuais já praticados nas ações e execuções individuais, em função do não recebimento nos autos da recuperação judicial no prazo estipulado de 180 (cento e oitenta) dias.

16. Na forma do caput do art. 6°, a suspensão se inicia com o deferimento do processamento da recuperação judicial, despacho pre­visto no art. 52. Este despacho do art. 52 não se confunde com o mo­mento no qual o juiz concede a recuperação judicial, previsto no art. 58. Desta forma, concedida ou não a recuperação em 180 dias, todas as ações e execuções contra o devedor que pediu a recuperação voltarão a correr normalmente, pois o prazo máximo de suspensão é este ora esta­belecido no § 4° do art. 6°.

17. O parágrafo entende que o credor tem o direito de receber o que lhe é devido. Entendeu a lei que, neste caso, já estaria formado em favor do autor da ação o direito ao recebimento e que, portanto, diante do não recebimento dos créditos no prazo estipulado, a empre­sa em recuperação deve ser penalizada com a continuidade de referi­das ações.

§ 5° Aplica-se o disposto no § 2° deste artigo à recuperação judicial durante o período de suspensão de que trata o § 4° deste artigo, mas, após o fim da suspensão, as execuções tra­balhistas poderão ser normalmente concluídas, ainda que o crédito já esteja inscrito no quadro-geral de credores.

18. Com vistas à agilização do andamento dos feitos, a lei permi­te que, durante os 180 dias de suspensão, o administrador judicial, no campo meramente administrativo, fixe o valor que entende ter sido pro­vado como devido a título de débito trabalhista. No entanto, esta inclu­são admitida administrativamente não impede, por óbvio, o regular pros-

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Art. 6" - Capítulo 11 - Seção I 64

seguimento da ação na Justiça especializada do Trabalho, se isto for de interesse do empregado credor ou do empregador.

19. A inclusão deste parágrafo no texto da lei decorreu da influên­cia exercida tanto pelo direito concursal francês, quanto pelo norte­americano, no que se convencionou chamar de "suspensão provisória de demandas" ou stop-actions. É medida que se insere entre uma séria de providências judiciais relativas às empresas em dificuldade, proce­dimento necessário para o aumento da probabilidade de recuperação. Sobre este ponto, confira-se Abrão (p. 78-159).

§ 6° Independentemente da verificação periódica perante os cartórios de distribuição, as ações que venham a ser pro­postas contra o devedor deverão ser comunicadas ao juízo da falência ou da recuperação judicial:

I - pelo juiz competente, quando do recebimento da peti­ção inicial;

11 - pelo devedor, imediatamente após a citação.

20. O número de ações que correm contra o falido, nos mais dis­tantes foros, toma difícil o necessário controle que deve existir, nos autos da falência e da recuperação judicial, razão pela qual a Lei estabe­lece a necessidade de verificações periódicas, que o juiz da falência ou recuperação deve determinar, sendo obrigação do administrador provo­car o juízo para tal fim. Sem prejuízo, qualquer ação ajuizada contra massa falida ou empresa em recuperação deve ser comunicada nos au­tos pelo juiz que conhecer desta outra ação. Da mesma forma, o deve­dor, ao ser citado, tem a obrigação do comunicar o fato ao juiz da falên­cia ou da recuperação.

§ 7° As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica.

21. Afasta-se aqui, parcialmente, o chamado princípio da univer­salidade do juízo falimentar, princípio da força atrativa da falência (vis attractiva), processo ao qual devem acorrer todos os credores (comer­ciais ou civis) do devedor, porém apenas com relação à recuperação,

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65 Capítulo 11 - Seção I - Art. 6"

não se aplicando este artigo aos processos da falência. Estabelece-se também exceção do art. 6°, que determina a suspensão das execuções.

22. Assim, tratando-se de execução de natureza fiscal, não haverá suspensão e o feito correrá normalmente, desde que não seja objeto de parcelamento (CTN, art. 151, VI) ou plano de refinanciamento dos dé­bitos tributários, os quais suspendem a exigibilidade do crédito tributá­rio.

23. No que diz respeito à falência, muito embora o dispositivo não tenha mencionado nada a respeito, cumpre mencionar que os mes­mos independem de habilitação, na forma do art. 187 do CTN e do art. 29 da Lei 6.830/80. Estes créditos fiscais e previdenciários devem ser apenas comunicados ao juízo da falência, para pagamento na ordem que a lei estabelece.

24. No regime da lei anterior, as multas fiscais não podiam ser cobradas na falência. A Súmula 191 do STF havia firmado o entendi­mento de que "inclui-se no crédito habilitado em falência a multa fiscal simplesm~nte moratória", e a Súmula 192 fixava que "não se inclui no crédito habilitado em falência a multa fiscal com efeito de pena admi­nistrativa". O entendimento do STF evoluiu no sentido de entender in­devida a cobrança de qualquer multa fiscal, sendo editada então a Súmula 565, segundo a qual "a multa fiscal moratória constitui pena adminis­trativa, não se incluindo no crédito habilitado em falência". A nova Lei, alterando este ponto, fixa no inciso VII do art. 83 que as multas contra­tuais e as penas pecuniárias, inclusive as multas tributárias, podem ser cobradas, sendo classificadas logo após os créditos quirografários.

25. Especificamente com relação à multa fiscal, vide comentá­rios ao inciso VII do art. 83, que admite a habilitação de multas e penas, classificados na falência logo após o crédito quirografário e antes dos créditos subordinados.

§ 8° A distribuição do pedido de falência ou de recupera­ção judicial previne a jurisdição para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência, relativo ao mesmo de­vedor.

26. O § 1 o do art. 202 da lei anterior trazia a mesma determinação aqui exarada. É princípio de organização judiciária, transplantado inte-

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Art. 6• - Capítulo 11 - Seção I 66

gralmente para a nova lei de forma correta, pois o ajuizamento de ações de falências ou de recuperação ante juízes diversos seria causa de acen­tuado tumulto processual.

27. O controle da distribuição de autos, nos dias atuais, ante o avanço da informática, é feito de forma rigorosa, de tal forma que, ajui­zado um pedido de falência contra determinada empresa, qualquer outro pedido que se lhe siga será remetido à mesma Vara, ante a prevenção estabelecida neste artigo. Observe-se que esta regra de prevenção é es­pecial, pois toma prevento o juízo pelo mero ato da distribuição. No sistema do Código de Processo, a prevenção estabelece-se a partir da citação válida (art. 219 do CPC- competência de foro) ou a partir do primeiro despacho lançado nos autos (art. 106 do CPC- competência do juízo).

28. A distribuição do pedido de falência previne a jurisdição para pedido de recuperação e vice-versa. No caso, se a recuperação estiver em andamento normal, já deferida, opera-se também a prevenção. Esta prevenção de jurisdição tem dado causa, às vezes, a manobras protela­tórias adrede preparadas. Já preparando uma falência fraudulenta, há empresas que tomam medidas para deixar em dúvida a exata fixação do juízo competente, abrindo filial em um lugar no qual centralizam seus negócios comerciais e deixando parte da diretoria em outra filial, de tal forma que sempre poderá ser discutida a competência. Há casos de evi­dente má-fé, consistentes na argüição de ser o juiz da comarca "A" in­competente, porque a sede ficaria na comarca "B"; no entanto, se outro credor requer a falência na comarca "B", o argumento é que "A" é que seria competente, pois a primeira distribuição teria prevenido a jurisdi­ção. Neste caso, cabe a qualquer dos juízes, conhecendo da manobra claramente protelatória, decretar desde logo a falência, se for o caso, conforme já comentado ánteriormente.

29. A competência para a recuperação extrajudicial, recuperação judicial e falência é do juízo do local do principal estabelecimento do devedor, conforme estipulado no art. 3°. Também sobre competência, agora das ações e execuções movidas contra o devedor, examine-se o § 1° do art. 6°.

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Seção 11

Da verificação e da habilitação de créditos

1. A lei anterior tratava, em seu Título VI, artigos 80 a 102, da verificação e da classificação dos créditos. A lei atual dividiu esta maté­ria em duas partes. Nesta Seção li do Capítulo li, nos arts. 7° a 20, trata da verificação e habilitação dos créditos, deixando para a Seção li do Capítulo V (arts. 83 e 84) a classificação dos créditos.

2. Atuou aqui o legislador de forma correta, com o chamado espí­rito de "desjudicialização" de matérias que podem ser solucionadas in­dependentemente de atividade jurisdicional. Embora seja criticável o pensamento que se está instalando, segundo o qual a incerteza da solu­ção jurisdicional aconselha as soluções extrajudiciais, a crítica aqui não tem razão de ser. Evidentemente, na medida em que a chamada "teoria da eficiência", da Escola de Chicago, afirma que a incerteza da jurisdi­ção "atrapalha" o desenvolvimento econômico, na realidade o que se está pretendendo é subordinar o pensamento jurídico ao econômico, o que seria inadmissível. Ate porque, subordinado o pensamento jurídico ao econômico, sempre o mais forte economicamente fará prevalecer seu interesse, o que redundaria, em último caso, até na afirmação de desnecessidade do próprio Judiciário.

3. No entanto, aqui, agiu corretamente o legislador, pois, para a simples formação de um quadro de credores, não há mesmo necessida­de da jurisdição. Se o administrador, no exercício de seu trabalho, ela­bora o quadro-geral e todos estão de acordo, tal quadro deve apenas ser apresentado em juízo para os fins de direito, não havendo qualquer ne­cessidade de decisões do juiz, tendo em vista que todas as partes estão de acordo com a classificação feita e com os valores apontados.

4. Observe-se que as habilitações são apresentadas ao próprio administrador(§ 1 o do art. 7°), o qual elabora de imediato o quadro­geral(§ 2° do art. 7°), fazendo publicar edital. Se não houver qualquer impugnação, este será o quadro-geral de credores (art. 14). A ativida­de jurisdicional apenas será solicitada se e quando houver impugna­ção de qualquer interessado (art. 8°), impugnação que será autuada

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Art. 7o- Capítulo 11 - Seção 11 68

em separado e que será processada na forma da lei, o que veremos a seguir.

S. Enfim, entre os diversos equívocos desta Lei, este sistema de habilitação dos créditos na falência é digno de louvor, por dispensar o Judiciário de atividades que podem chegar a final perfeito apenas com atividades administrativas, mantendo sempre porém a possibilidade, até em homenagem ao princípio constitucional da indeclinabilidade da ju­risdição (inciso XXXV do art. 5° da Constituição), de ida ao Judiciário para resolver de forma definitiva as questões que não podem prescindir da solução a ser dada pelo juiz natural.

6. Há algumas arestas de natureza processual, que, no entanto, se­rão aparadas na eventual necessidade de pronunciamento jurisdicional, aspectos processuais que serão examinados no momento oportuno, adiante.

Art. 7° A verificação dos créditos será realizada pelo admi­nistrador judicial, com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe fo­rem apresentados pelos credores, podendo contar com o auxí­lio de profissionais ou empresas especializadas.

1. O administrador, à semelhança do que ocorria com o síndico da lei anterior, às vezes, assume poderes que independem até da autori­zação judicial, como no presente caso. O artigo diz que o administrador pode solicitar o auxílio de profissionais ou empresas especializadas para analisar os documentos comerciais e fiscais do devedor, notadamente peritos contadores de sua confiança. Evidentemente, se o juiz tiver qual­quer motivo para recusar a designação do administrador, ele o fará; no entanto, enquanto não recusada, a designação surte todos os seus efei­tos de direito.

2. Como se verá quando do estudo das atribuições do administra­dor, o art. 22, I, c, carreia ao administrador a obrigação de fornecer extratos dos livros do devedor, que servirão de fundamentação aos cre­dores para habilitação ou para impugnação da lista que será elaborada (§ 2° do art. 7°).

§ 1 o Publicado o edital previsto no art. 52, § 1 o, ou no pará­grafo único do art. 99 desta Lei, os credores terão o prazo de

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69 Capítulo 11 - Seção 11 - Art. 7•

15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacio­nados.

3. No prazo de quinze dias estipulado, os credores devem apre­sentar não só a petição declarando qual é o valor do crédito, como tam­bém juntar os documentos que demonstrem a efetiva existência do cré­dito que se pretende habilitar. O credor que não se habilitar neste prazo poderá fazê-lo fora do prazo, como habilitação retardatária (art. 10). Observe-se que o art. 52 diz respeito ao processo de recuperação judi­cial, enquanto o art. 99 remete para o processo de falência.

4. A habilitação é um mero incidente processual, não configuran­do tecnicamente um "processo", não sendo por isso devidas quaisquer cus­tas, seja para a distribuição, seja para interposição de recursos, o que mais se reforça ante o fato de que o próprio administrador judicial será o res­ponsável por seu recebimento. No entanto, especificamente no Estado de São Paulo, o § go do art. 4° da Lei Estadual 11.608/03 (Lei de Custas do Estado) prevê ser devida a taxa judiciária em caso de habilitação retarda­tária de crédito em processo de concordata, agora substituída pela recu­peração judicial. O§ 3° do art. 1 O desta Lei também prevê o pagamento de custas para aquele que se habilita retardatariamente.

§ 2° O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na forma do caput e do § r deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1 o deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8° desta Lei terão acesso aos do­cumentos que fundamentaram a elaboração dessa relação.

5. Decretada a falência, o juiz mandará publicar edital (parágrafo único do art. 99); também determinará a publicação de edital, se deferir o processamento da recuperação judicial(§ 1° do art. 52), a partir dos quais correrá o prazo de 15 dias para habilitações administrativas ou impugnação, na forma do parágrafo anterior.

6. Findo o prazo deste parágrafo anterior, o administrador tem o prazo de 45 dias para apresentar a relação de credores que servirá de base para o quadro-geral de credores.

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Art. S• - Capítulo 11 - Seção 11 70

Art. 8° No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7°, § 2°, desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público po­dem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credo­res, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestan­do-se contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado.

Parágrafo único. Autuada em separado, a impugnação será processada nos termos dos arts. 13 a 15 desta Lei.

1. A partir da publicação deste edital com a relação dos credores, os créditos podem ser impugnados pelas pessoas relacionadas no caput do artigo ora sob exame; somente neste momento é que há acionamento da jurisdição, pois até este momento, os atos todos são praticados ante o administrador. Impugnado o crédito, será a petição de impugnação autuada em apartado, processando-se a impugnação da mesma forma, seja para a recuperação judicial, seja para a falência (art. 13).

2. Se o administrador omitir o nome ou o crédito de algum credor devidamente habilitado, deverá este habilitar-se, processando-se tam­bém a habilitação em autos apartados. Mesmo procedimento devem adotar os credores ou interessados que foram incluídos na lista mas que, por qualquer motivo tenham discordância, acerca da importância, classificação do crédito ou legitimidade do crédito.

3. No entanto- e também nisto a Lei foi sábia-, mesmo antes do acionamento da jurisdição, o credor já teve oportunidade de solucionar a questão administrativamente(§ 1 o do art. 7°), solução que deverá ser a preferida por todos os interessados, ante sua simplicidade e rapidez.

Art. 9° A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7°, § 1°, desta Lei deverá conter:

I - o nome, o endereço do credor e o endereço em que rece­berá comunicação de qualquer ato do processo;

11 - o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação judicial, sua origem e classificação;

111 - os documentos comprobatórios do crédito e a indica­ção das demais provas a serem produzidas;

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71 Capítulo 11 - Seção 11 - Art. 9"

IV - a indicação da garantia prestada pelo devedor, se hou­ver, e o respectivo instrumento;

V - a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do credor. ·

Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão ser exibidos no original ou por cópias auten­ticadas se estiverem juntados em outro processo.

1. A habilitação é obrigatória para os credores comerciais e civis da empresa em recuperação, também para os trabalhistas em caso de falência, o que exclui desde logo a obrigatoriedade da Fazenda Pública habilitar-se, na medida em que os créditos fiscais hão de ter sido quita­dos ou parcelados quando da aprovação do plano de recuperação (art. 57). Da mesma forma, a execução desses créditos não é suspensa pelo deferimento da recuperação judicial (art. 6°, § 7°).

2. No sistema da lei anterior, e a partir do exame conjunto dos arts. 31 e 82 daquela lei, a jurisprudência pacificou-se no sentido de ser desne­cessária a contratação de advogado, para habilitação de crédito. No siste­ma da nova Lei, não há necessidade de que o credor se valha de advogado para habilitar-se, podendo ele mesmo, credor, assinar a petição e indicar o melhor meio de ser mantido informado do andamento do processo, até porque a habilitação se inicia extrajudicialmente. No entanto, sempre é recomendável que a habilitação, se vier para o campo judicial, seja feita por meio de advogado, tendo em vista o acompanhamento futuro do pro­cesso e tendo em vista ~inda que as intimações são geralmente feitas pelo Diário Oficial do Estado, que menciona o nome do cdvogado; dessa for­ma, aquele que se habilita por conta própria, deverá seguir o andamento do processo por deslocamento pessoal ao fórum, o que certamente causa­rá excessivo trabalho a quem não esteja habituado, por profissão, a com­parecer normalmente ao local onde está a vara na qual corre o feito.

3. Embora não seja necessário declarar a origem do crédito para requerer a falência (art. 94), para a habilitação esta declaração é exigida expressamente pelo inciso II ora em exame, sob pena de o pedido do habilitante ser julgado improcedente, mantendo-se aqui o mesmo siste­ma que existia na lei anterior.

4. O credor deve anexar os títulos comprobatórios de s·eu crédito, podendo incluir diversos créditos (do mesmo credor), em uma só decla-

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Art. 10- Capítulo 11- Seção 11 72

ração. Não será possível, porém, incluir diversos credores em uma só declaração, o que seria causa de tumulto processual em caso de impugna­ção, possibilidade a ser evitada tendo em vista a grande dificuldade de processar tais pedidos, normalmente com diversos volumes já em seu início, além do grande número de interessados em seu andamento.

5. Muito embora a Lei não disponha expressamente, um dos ca­sos excepcionais, em que se vislumbra a possibilidade de habilitação de diversos credores em um só pedido, seria o caso de crédito relativo a debêntures, que são papéis emitidos na forma do art. 52 da Lei das S.A. (Lei 6.404176), conferindo a seus titulares direito de crédito contra a sociedade. Nestes casos, caberia a declaração coletiva do crédito, pelo representante nomeado pelos debenturistas.

6. O art. 175 estabelece punição com reclusão de 2 (dois) a 4 (qua­tro) anos, e multa, para quem apresentar declaração falsa na falência ou apresentar documentos falsos ou simulados. Dessa forma, o habilitante será processado criminalmente, se proceder de tal forma.

Art. 10. Não observado o prazo estipulado no art. 7°, § r, desta Lei, as habilitações de crédito serão recebidas como retardatárias.

1. O interesse da Lei é que o processo caminhe de forma segura e rápida, em direção a seu final e, por isto, traz estímulos às partes para que cumpram os prazos. No entanto, supondo que, como ocorre até de forma comum, os prazos de habilitação não sejam respeitados, a Lei admite a habilitação retardatária, trazendo porém uma série de limita­ções a estes credores, exatamente para estimulá-los à observação rigo­rosa dos prazos.

2. Não há estabelecimento expresso de prazo após o qual a habi­litação retardatária não mais poderá ser aceita. No entanto, o§ 5° do art. 10 estabelece que serão regularmente processadas as habilitações retar­datárias apresentadas até o momento da homologação do quadro-geral de credores. Já o§ 6° do mesmo art. 10 estabelece que, após tal homo­logação, deve a parte interessada valer-se de ação ordinária. A rigor, este é o prazo para habilitação do credor retardatário sem necessidade de ajuizamento de ação de rito ordinário, ou seja, até o momento da homologação do quadro-geral de credores.

3. Vide abaixo, comentários aos§§ 5° e 6° do art. 10.

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73 Capítulo 11- Seção 11- Art. 10

4. Sem embargo, a rigor, a Lei não estabelece limite temporal para a habilitação retardatária, de tal forma que, em tese, até o momento da extinção da recuperação ou falência, é possível receber habilitações (como habilitação ou como resultado de julgamento em ação de rito ordinário), as quais serão normalmente processadas, para fins de inclu­são no quadro-geral de credores, na categoria que a lei reserva para aquele crédito. Tanto isso é verdade, que o próprio § 6° menciona a possibilidade de ajuizamento de ação ordinária para tal fim.

§ r Na recuperação judicial, os titulares de créditos retar­datários, excetuados os titulares de créditos derivados aa rela­ção de trabalho, não terií9 direitoJLYoío_nas_~~-liberações da assemb_Iéia~ger.al duredores. ------~--~··

5. Os credores retardatários, na recuperação judicial e na falência, exceto o trabalhista, não têm direito a voto nas deliberações da assem­bléia-geral de credores. O credor retardatário também perde o numerá­rio que lhe caberia nos rateios acaso já feitos anteriormente, além da impossibilidade de exigir os acessórios compreendidos entre o término do prazo e a data do pedido de habilitação(§ 3°, abaixo).

§ zo Aplica-se o disposto no § r deste artigo ao processo de falência, salvo se, na data da realização da assembléia-geral, já houver sido homologado o quadro-geral de credores con­tendo o crédito retardatário.

6. O direito de voto fica restabelecido para os credores retardatá­rios se, na data da realização da assembléia, o respectivo crédito já esti­ver incluído no quadro-geral de credores. Nem seria correto que fosse de forma diferente, pois a homologação com a inclusão faz com que desapareça a condição de retardatário, devendo ser assim equiparado ao credor não retardatário.

§ 3° Na falência, os créditos retardatários perderão o direito a rateios eventualmente realizados e ficarão sujeitos ao paga­mentode custas, não se computando os acessórios compreendidos entre o término do prazo e a data do pedido de habilitação.

7. Aqui também apresenta-se forte estímulo para que o credor não se coloque em posição de retardatário. Além das limitações já

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Art. 10 - Capítulo 11 - Seção 11 74

acima examinadas, os retardatários pagam custas judiciais; aliás, contrario sensu, o habilitante tempestivo não estará sujeito ao paga­mento das custas.

8. Outra limitação ainda ocorre ao retardatário, que não terá aces­sórios Guros e correção monetária, normalmente) computados, durante o período compreendido entre o fim do prazo para habilitação e a efeti­va habilitação retardatária.

§ 4° Na hipótese prevista no§ 3° deste artigo, o credor pode­rá requerer a reserva de valor para satisfação de seu crédito.

9. Por outro lado, a Lei abre a possibilidade de o credor retardatário requerer a reserva de numerário para o pagamento de seu eventual crédito (art. 10, § 4°), de forma semelhante àquela estipulada no art. 6°, § 3°.

§ 5° As habilitações de crédito retardatárias, se apresenta­das antes da homologação do quadro-geral de credores, serão recebidas como impugnação e processadas na forma dos arts. 13 a 15 desta Lei.

10. O exame deste parágrafo, em conjunto com o parágrafo se­guinte, estabelece que o prazo máximo dentro do qual podem ser admi­tidas habilitações retardatárias vai até a homologação do quadro-geral de credores, por sentença. Após a homologação do quadro-geral, não mais será admitida habilitação retardatária e o credor deverá valer-se do disposto no § 6°, abaixo examinado.

§ 6° Após a homologação do quadro-geral de credores, aque­les que não habilitaram seu crédito poderão, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil, requerer ao juízo da falência ou da recuperação judicial a retificação do quadro-geral para inclusão do respectivo crédito.

11. Vencido o prazo, o credor que ainda não se habilitou somente poderá valer-se do ajuizamento de regular ação de rito ordinário, obje­tivando corrigir o quadro-geral, com a inclusão de seu crédito. De for­ma menos clara, este dispositivo também existia na lei anterior, no art.

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75 Capítulo 11 - Seção 11 - Art. 12

99. No entanto, na nova Lei, a estipulação ficou melhor elaborada e de mais fácil intelecção.

Art. 11. Os credores cujos créditos forem impugnados se­rão intimados para contestar a impugnação, no prazo de 5 ( cin­co) dias, juntando os documentos que tiverem e indicando ou­tras provas que reputem necessárias.

1. A lei aqui fala apenas em "credores" cujos créditos forem im­pugnados; no entanto, o art. 8° prevê que o próprio credor pode apre­sentar impugnação; mais, pode apresentar impugnação não só contra o credito de outro habilitado, como também pode impugnar o próprio crédito que foi a ele atribuído. Portanto, se a impugnação for do próprio credor, o administrador, o devedor e os demais credores é que devem ser intimados para contestação.

Art. 12. Transcorrido o prazo do art. 11 desta Lei, o deve­dor e o Comitê, se houver, serão intimados pelo juiz para se manifestar sobre ela no prazo comum de 5 (cinco) dias.

1. Este artigo aplica-se de forma integral, caso o credor tenha tido seu crédito impugnado, conforme acabamos de examinar no art. 11, acima.

Parágrafo único. Findo o prazo a que se refere o caput deste artigo, o administrador judicial será intimado pelo juiz para emitir parecer no prazo de 5 (cinco) dias, devendo juntar à sua manifestação o laudo elaborado pelo profissional ou empresa especializada, se for o caso, e todas as informações existentes nos livros fiscais e demais documentos do devedor acerca do crédito, constante ou não da relação de credores, objeto da impugnação.

2. O exame do parágrafo não oferece maior dificuldade à com­preensão; estipula o procedimento a ser adotado pelo administrador, que deverá instruir sua manifestação com o laudo elaborado, trazendo também todas as informações das quais tenha conhecimento, instruin­do o feito de tal forma que possibilite a futura sentença que será prolatada (inciso I do art. 15).

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Art. 13 - Capítulo 11 - Seção 11 76

3. Observe-se, porém, que a Lei fala em "laudo", "se for o caso". Portanto, não há qualquer necessidade de, automaticamente, elaborar­se laudo confeccionado por profissional especializado, o que sempre é demorado e dispendioso. O laudo apenas deverá ser confeccionado se necessário para o esclarecimento de dúvida ocorrente no processamen­to da habilitação.

Art. 13. A impugnação será dirigida ao juiz por meio de petição, instruída com os documentos que tiver o impugnante, o qual indicará as provas consideradas necessárias.

Parágrafo único. Cada impugnação será autuada em sepa­rado, com os documentos a ela relativos, mas terão uma só autuação as diversas impugnações versando sobre o mesmo crédito.

1. Na seqüência, cada impugnação formará uma autuação, um "processo", que correrá de forma bastante semelhante ao rito ordinário, inclusive com a indicação das provas que as partes entenderem conve­nientes, até ser decidido pelo magistrado nos termos do art. 15, II. Nessa decisão, da qual cabe agravo (art. 17), o juiz mandará excluir ou incluir o crédito no valor e na classificação que entender correta, para a elaboração do quadro-geral de credores pelo administrador.

Art. 14. Caso não haja impugnações, o juiz homologará, como quadro-geral de credores, a relação dos credores cons­tante do edital de que trata o art. 7°, § 2°, desta Lei, dispensada a publicação de que trata o art. 18 desta Lei.

1. Se não houver impugnação à relação de credores que o admi­nistrador apresentou inicialmente, e se nenhum credor foi deixado fora da lista, o juiz simplesmente homologará a relação apresentada, pas­sando esta a funcionar como quadro-geral de credores.

2. Por isto, o mais recomendável é que todas as partes se va­lham, na medida do possível, do previsto no § 1 o do art. 7°, tentado resolver todas as pendências ante o administrador, que também terá interesse em solucionar da forma mais justa possível as pendências, para evitar impugnações e necessidade de sentença, o que sempre atrasa o andamento do feito.

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77 Capítulo 11 - Seção 11 - Art. 15

Art. 15. Transcorridos os prazos previstos nos arts. 11 e 12 desta Lei, os autos de impugnação serão conclusos ao juiz, que:

I- determinará a inclusão no quadro-geral de credores das habilitações de créditos não impugnadas, no valor constante da relação referida no § 2° do art. 7° desta Lei;

11 -julgará as impugnações que entender suficientemente esclarecidas pelas alegações e provas apresentadas pelas par­tes, mencionando, de cada crédito, o valor e a classificação;

1. A relação feita pelo administrador (§ 2° do art. 7°), bem como todas as impugnações, serão encaminhadas ao juiz. Verificando haver créditos que não sofreram qualquer impugnação, determinará a inclu­são destes no quadro-geral de credores, que virá a ser elaborado oportu­namente. Quanto aos créditos impugnados, se verificar que já há nos autos elementos suficientes, julgará o feito e determinará o que enten­der correto, indicando, em caso de inclusão, o valor que deverá constar, bem como a respectiva classificação, esta em caso de falência.

::.··

Ill - fixará, em cada uma das restantes impugnações, os aspectos controvertidos e decidirá as questões processuais pendentes;

IV - determinará as provas a serem produzidas, designan­do audiência de instrução e julgamento, se necessário.

2. A designação de audiência e a fixação dos pontos controverti­dos, por sua vez, apenas serão necessárias se houver necessidade para a produção de provas e colheita de depoimentos. Ademais, todos estes incisos prevêem detalhadamente como será o processamento dos crédi­tos impugnados, até se chegar à decisão judicial, a qual é passível de recurso de agravo. Verifique-se novamente que, na realidade, a Lei pre­vê aqui um procedimento ordinário, semelhante ao previsto nos arts. 282 e seguintes do CPC.

3. No entanto, o que se observa na prática é que, na quase absolu­ta maioria dos casos, o julgamento das impugnações é possível apenas com o exame dos documentos apresentados pelas partes. Eventualmen­te, tem sido útil a perícia contábil, para aclarar pontos necessários ao julgamento. Excepcionalmente é que haverá necessidade de colheita de provas em audiência.

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Art. 16- Capítulo 11- Seção 11 78

Art. 16. O juiz determinará, para fins de rateio, a reserva de valor para satisfação do crédito impugnado.

1. Sobre a reserva de numerário, vide comentários ao art. 6°. Ob­serve-se, porém, que aqui a norma impõe ao juiz a reserva do valor, independentemente de qualquer pedido neste sentido. Sem prejuízo, sempre é recomendável que o credor, primeiro interessado na reserva, alerte o juiz, fazendo pedido neste sentido.

Parágrafo único. Sendo parcial, a impugnação não impe­dirá o pagamento da parte incontroversa.

2. Ressalte-se a valiosa inclusão do texto disposto no parágrafo único, na medida em que, assim como ocorre nos embargos à execução, a impugnação parcial do crédito não obsta a inclusão da parte incontrover­sa no quadro-geral de credores, para fins de ulterior pagamento. Tal é a regracontidanoart. 739, § 2°doCódigodeProcessoCivil, verbis: "Quan­do os embargos forem parciais, a execução prosseguirá quanto à parte não embargada". É mais um saudável dispositivo tendente a agilizar o anda­mento processual e propiciar a efetividade da tutela jurisdicional.

3. Para que a técnica instituída possa atuar corretamente no siste­ma, sem prejuízo para o credor, é imperioso exigir do impugnante, em caso de impugnação parcial, a indicação do valor que reputa indevido ou insuscetível da execução concursal e, correlativamente, o que aceita como justo. Essa é uma aplicação da exigência de formular na petição inicial "o pedido, com as suas especificações" (art. 282, IV, CPC), de­vendo ser considerada inepta a "petição inicial" da impugnação quando não contiver essa precisa indicação. Admitir alegações vagas e impreci­sas quanto ao excesso de execução ou ao valor da dívida seria deixar portas abertas a artimanhas e chicanas do devedor malicioso, porque, sendo processada impugnação assim mal deduzida, seria acrescida difi­culdade desnecessária no momento de se fixar qual seria o valor da parte incontroversa.

Art. 17. Da decisão judicial sobre a impugnação caberá agravo.

Parágrafo único. Recebido o agravo, o relator poderá con­ceder efeito suspensivo à decisão que reconhece o crédito ou

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79 Capítulo 11 - Seção 11 -Art. 18

determinar a inscrição ou modificação do seu valor ou clas­sificação no quadro-geral de credores, para fins de exercício de direito de voto em assembléia-geral.

1. Também neste ponto, a Lei atual é superior à lei anterior. O art. 97 da anterior estabelecida um sistema confuso, pois fixava o cabimen­to de apelação contra a sentença que julgava o crédito impugnado, man­dando, porém, que o prazo para o recurso fosse contado do dia em que viesse a ser publicado o quadro-geral de credores, o que poderia ocor­rer anos depois da prolação da sentença. O art. 17, de forma objetiva, estabelece o cabimento de agravo, sendo que o prazo será contado da forma normal estabelecida no art. 522 do CPC.

2. Nesse sentido, a disposição do parágrafo único não poderia ser diferente, na medida em que, depois de alguma vacilação dos tribunais sobre o assunto, tomou-se largamente dominante a jurisprudência no sentido de que o relator tem não só o poder de suspender os efeitos da decisão agravada, como ainda o de conceder, ele próprio, medida que considerar urgente, muito embora isso não tivesse sido positivado na letra do dispositivo que ampliou os poderes dos relatores nos agravos, nos termos da Reforma do CPC ocorrida em 1995 (art. 527, III, red. Lei 9.139, de 30.11.1995).

3. Agora, na Reforma da Reforma do CPC, sugerida pelos Minis­tros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Athos Gusmão Carneiro, optou-se por positivar em lei o que já estava pretorianamente consagrado, dispon­do que o relator "poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão" (CPC, art. 527, III, red. Lei 10.352, de 26.12.2001). No caso em análise, poderá ocorrer a inscrição ou modificação do seu valor ou classificação no quadro-geral de credo­res, para fins de exercício de direito de voto em assembléia-geral.

4. Ressalte-se, porém, que as disposições que outorgam esses po­deres bastante amplos ao relator vêm expressas com o constante cuida­do de empregar o verbo poder, não o verbo dever, o que equivaleria a criar arbitrariedades, como diz Cândido Rangel Dinamarco (p. 191).

Art. 18. O administrador judicial será responsável pela con­solidação do quadro-geral de credores, a ser homologado pelo

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Art. 19 - Capítulo 11 - Seção 11 80

juiz, com base na relação dos credores a que se refere o art. 7°, § 2°, desta Lei e nas decisões proferidas nas impugnações ofe­recidas.

1. A Lei fala em "consolidação" do quadro-geral de credores, o que deve ser entendido como elaboração do quadro, a partir da relação feita pelo próprio administrador (§ zo do art. 7°), incluindo também todas as decisões proferidas nas impugnações oferecidas, desde que a sentença tenha transitado em julgado ou haja determina­ção do Tribunal (parágrafo único do art. 17). A responsabilidade, neste artigo, deve ser entendida como obrigação funcional de, mate­rialmente, elaborar o quadro.

Parágrafo único. O quadro-geral, assinado pelo juiz e pelo administrador judicial, mencionará a importância e a classifi­cação de cada crédito na data do requerimento da recuperação

· judicial ou da decretação da falência, será juntado aos autos e publicado no órgão oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, contado da data da sentença que houver julgado as impugnações.

2. O quadro-geral de credores incluirá todos os créditos habilita­dos, mencionando o valor de cada um, bem como a respectiva classifi­cação, que deverá ser feita na ordem estabelecida no art. 83, para o caso de falência. O quadro-geral é o espelho do que foi decidido em cada uma das habilitações e impugnações, mais a parte não impugnada da lista do administrador judicial; se houver divergência entre o quadro e os outros dados, prevalecerão estes.

Art. 19. O administrador judicial, o Comitê, qualquer cre­dor ou o representante do Ministério Público poderá, até o en­cerramento da recuperação judicial ou da falência, observa­do, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Códi­go de Processo Civil, pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos casos de descoberta de falsi­dade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, docu­mentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro-geral de credores.

1. Até o encerramento da recuperação judicial (art. 63) ou da fa­lência (art. 156), os interessados podem pedir a retificação do quadro-

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81 Capítulo 11 - Seção 11 - Art. 20

geral, se houver descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou novos documentos. O pedido será feito em ação própria, que será processada pelo rito ordinário.

2. Caso algum credor haja recebido valor, e posteriormente o qua­dro venha a ser corrigido, excluindo-o, por dolo ou má fé, deverá devol­ver em dobro o que tenha recebido (art. 152), pedido que já deve cons­tar da inicial da ação.

§ 1 o A ação prevista neste artigo será proposta exclusivamente perante o juízo da recuperação judicial ou da falência ou, nas hipóteses previstas no art. 6°, §§ 1 o e 2°, desta Lei, perante o juízo que tenha originariamente reconhecido o crédito.

3. A ação de rito ordinário a ser proposta correrá, em autos aparta­dos, no juízo da falência, ante o princípio da força atrativa, cabendo ape­lação da sentença que a julgar. Se a inclusão no quadro-geral de credores deu-se por força de decisão prolatada por outro juiz (casos dos § 1 o e 2° do art. 6°), fica excepcionada a universalidade do juízo falimentar e o feito deverá ser proposto perante o juiz sob a direção de quem formou-se o tí­tulo que permitiu a inclusão no quadro-geral de credores.

§ 2° Proposta a ação de que trata este artigo, o pagamento ao titular do crédito por ela atingido somente poderá ser reali­zado mediante a prestação de caução no mesmo valor do cré­dito questionado.

4. No caso, havendo risco de dano de difícil ou impossível repara­ção, ao juiz impõe-se o dever de exigir caução que, para Calamandrei, trata­se de uma "prestação ordenada ao interessado como condição para obter um ulterior provimento jurisdicional" (p. 190), enquanto para Chiovenda "constitui a cautela da cautela ou simplesmente contracautela" (p. 334). No caso, a caução é específica determinação da lei.

Art. 20. As habilitações dos credores particulares do sócio ilimitadamente responsável processar-se-ão de acordo com as disposições desta Seção.

1. Hoje praticamente não há mais empresas com sócios solidária e ilimitadamente responsáveis, tendo em vista que a maioria das empresas

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Art. 20 - Capítulo 11 - Seção 11 82

é estruturada sob a forma de sociedade anônima ou por cotas de respon­sabilidade limitada. Lembre-se que, no que se refere às sociedades em nome coletivo, previstas originariamente nos arts. 315 e 316 do CCo, hoje arts. 1.039 e ss. do novo Código Civil, há responsabilidade solidária e ili­mitada de todos os sócios; às sociedades em comandita simples, previs­tas também originalmente nos arts. 311 e 314 do eco, hoje arts. 1.045 e ss. do novo Código Civil, com responsabilidade ilimitada dos sócios comanditados e responsabilidade limitada dos sócios comanditários; às sociedades de capital e indústria, previstas nos arts. 317 a 324 do CCo, inexistentes no novo Código Civil, com responsabilidade ilimitada do sócio capitalista e sem qualquer responsabilidade do sócio de indústria. Teria também aplicação às sociedades em comandita por ações, previstas nos arts. 280 a284 da Lei das S.A. (Lei 6.404, de 15.12.1976), bem como nos arts. 1.090 a 1.092 do novo Código Civil, nas quais há responsabili­dade ilimitada dos sócios que têm seus nomes figurando na firma ou ra­zão social. O artigo não teria qualquer aplicação à sociedade em conta de participação, prevista nos arts. 325 a 328 do CCo- arts. 991 a 996 do novo Código Civil-, pois esta não tem personalidade jurídica, existindo ape­nas entre os próprios sócios. No novo Código Civil, são classificadas como sociedades não personificadas.

2. Diante disso, ressalte-se somente que este artigo, de difícil apli­cação, diz que aos sócios com responsabilidade ilimitada estende-se a aplicação dos arts. 7o a 20. Mesmo porque, tratando-se de empresário em nome individual, sem separação do patrimônio pessoal e do patri­mônio social, todos os bens (sociais e particulares) respondem ante a falência decretada. Observe-se que o novo Código Civil, ao tratar deste assunto (arts. 966 e ss.), igualmente abandonou os termos "comercian­te" e "sociedade comercial", passando a usar "empresário" e "socieda­de empresária".

3. No caso, vale lembrar apenas que tal disposição é conseqüên­cia lógica e necessária da opção do legislador manifestada no art. 190, quando afirma que "todas as vezes que esta Lei se referir a devedor ou falido, compreender-se á que a disposição também se aplica aos sócios ilimitadamente responsáveis"; ou ainda no art. 77, ao dispor que "a de­cretação da falência determina o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis", confor­me será analisado no comentário a estes dispositivos.

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Seção 111

Do administrador judicial e do Comitê de Credores

1. A lei anterior contemplava a falência e a concordata preventi­va, que, de forma bastante esquemática, pode-se dizer que foram subs­tituídas, respectivamente, pela falência e pela recuperação judicial. Evi­dentemente, esta afirmação tem por fim apenas tentar facilitar a com­preensão desta nova legislação, afirmação, portanto, com intuito mera­mente metodológico. Na lei anterior, para administração da falência, era nomeado um síndico (art. 59 da lei anterior), que exercia seu traba­lho sob a imediata direção e superintendência do juiz. Na concordata, o devedor conservava a administração de seu negócio (art. 167 da lei an­terior), fiscalizado pelo comissário, que também era nomeado pelo juiz, a quem prestava contas.

2. A Lei atual optou por sistema diferente, prevendo a nomeação do administrador judicial que, mutatis mutandis, exercerá o trabalho do antigo síndico ou do antigo comissário, respectivamente na falência (fa­lência) ou na recuperação judicial (concordata preventiva). No entanto, a Lei ampliou os órgãos de administração, criando também a figura do comitê de credores (art. 26) e da assembléia-geral de credores (art. 35).

3. Como se verá, o administrador judicial é figura imprescindí­vel, cuja nomeação deverá ocorrer obrigatoriamente na sentença que decretar a falência (art. 99, IX) ou no despacho que deferir o processa­mento da recuperação judicial (art. 52, I). O Comitê de Credores pode ou não ser constituído, dependendo do que ocorrer durante o processa­mento; da mesma forma, a assembléia-geral poderá ou.não ser convo­cada, dependendo também de uma série de aspectos do andamento pro­cessual. De qualquer forma, por suas estruturas e formas de funciona­mento, verifica-se que tanto o Comitê quanto a assembléia deverão ser formados apenas em processos que envolvam grandes devedores.

4. Esta visão geral é necessária para o auxílio na condução do estu­do deste código do direito falimentar. Um outro aspecto, quanto ao méto­do da Lei, também é recomendável ressaltar. A Lei fala no administrador (art. 21) e logo a seguir relaciona quais são seus deveres, tanto na recupe-

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Art. 21 - Capítulo 11 - Seção III 84

ração judicial e na falência (art. 22, I, a até i); no inciso 11, prevê os deve­res na recuperação judicial (letras a até d); e, finalmente, no inciso III, os deveres na falência (letras a até r). É um bom método, que facilita o estu­do e que foi também observado para fixar os deveres da assembléia-geral de credores (vide nota 3 ao art. 34 do Capítulo 11, Seção IV).

Art. 21. O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de em­presas ou contador, ou pessoa jurídica especializada.

1. O administrador judicial, de conformidade com o que dispõe a Lei, é nomeado pelo juiz, na sentença declaratória da falência (art. 99, IX) ou no despacho que defere o processamento da recuperação judi­cial (art. 52, 1), figura que não existe na recuperação extrajudicial. É ele escolhido pelo juiz, independentemente de quaisquer propostas e de oitiva do representante do Ministério Público.

2. A Lei atual deu ao juiz um poder maior para a nomeação do administrador do que havia na lei anterior para a nomeação do síndico, que era cercada de diversas exigências, que a prática do dia-a-dia de­monstrou inexeqüíveis. Aproveitando a lição da prática, observando que a nomeação do administrador deve ser feita de imediato e sem maiores delongas, a lei trouxe este aumento do poder do juiz, apenas exigindo a idoneidade profissional do nomeado, que pode ser qualquer pessoa fí­sica (sem embargo das preferências indicadas no texto) ou pessoa jurí­dica especializada. Observe-se ainda (art. 31) que o juiz pode, de ofício, destituir o administrador judicial ou qualquer membro do Comitê.

3. Do administrador depende, em grande parte, o bom ou mau re­sultado da falência ou da recuperação. Um administrador diligente irá trazer para a massa bens e recursos que um negligente sequer pensará que possam existir. Segundo Paulo Fernando Campos Salles de Toledo, "sa­berá fazer ilações, descobrir fatos que se supunham ficar ignorados, ga­nhar causas que a omissão poderia conduzir ao fracasso" (Toledo, p. 171).

4. O processo de recuperação e de falência é bastante complexo, por envolver inúmeras questões que só o técnico, com conhecimento espe­cializado da matéria, poderá resolver a contento, prestando real auxílio ao bom andamento do feito. Mesmo tratando-se de advogados, economis­tas, administradores, contadores e outros profissionais especializados, não serão necessariamente capacitados para o pleno exercício deste trabalho,

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85 Capítulo 11 - Seção 111 - Art. 22

que sempre será mais bem resolvido por aqueles que se especializam em Direito Comercial e, particularmente, em Direito Falimentar. Portanto, deve o juiz do feito tomar cuidado especial no momento em que nomear o administrador, atento a todos estes aspectos.

Parágrafo único. Se o administrador judicial nomeado for pessoa jurídica, declarar-se-á, no termo de que trata o art. 33 desta Lei, o nome de profissional responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz.

5. Havia disposição semelhante a esta no § 5o do art. 60 da lei anterior. Como o administrador assume uma série de obrigações e res­ponsabilidades, é necessária a identificação pessoal daquele que deve responder ante o juiz por seu cumprimento. Desta forma, a Lei estabe­lece a obrigatoriedade de a pessoa jurídica nomeada identificar a pes­soa física responsável pela condução do trabalho, a qual não poderá ser substituída a menos que haja expressa autorização judicial.

Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscali­zação do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe:

1. A administração da falência é exercida pelo administrador, "sob a fiscalização do juiz e do Comitê". Nessa fiscalização o juiz não age diretamente, isto é, não pratica o ato, mas examina os praticados pelo administrador e demais pessoas interessadas na falência ou na recupe­ração judicial, para, depois, aprová-los ou não. Há várias situações nas quais o administrador judicial, antes de tomar a medida pretendida, deve colher antecipadamente a autorização judicial.

2. Muitas foram as teorias desenvolvidas no sentido de caracteri­zar a natureza jurídica da administração concursal. Para uns, o adminis­trador era o representante dos credores, entrando na posse e administra­ção dos bens, atuando ativa ou passivamente em todos os negócios e interesses relativos à massa falida (Ferrara, p. 239). Para outros, diante da pluralidade de atribuições que podem ser simultaneamente desem­penhadas pelo administrador, afirmou-se que seria representante do de­vedor e dos credores (Pajardi, p. 207). Pode-se admitir que o adminis­trador é órgão do procedimento concursal ou do juízo. Sob o aspecto

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Art. 22 - Capítulo 11 - Seção III 86

exclusivamente processual, o conceito de órgão é contraposto ao de parte; partes são os sujeitos ou pessoas interessadas no feito (na falên­cia, o devedor e os credores), enquanto que os órgãos (pessoas físicas para isso predeterminadas) constituem os instrumentos mediante os quais o processo opera e se desenvolve (Provinciali, p. 192).

3. Os atos de administração da falência são dirigidos pelo juiz, que tem diversos colaboradores, o principal deles o administrador, que assume função específica, pois lhe cabe a administração efetiva pro­priamente dita, a partir do momento em que é decretada a falência (art. 103). Seu trabalho na recuperação judicial é diferente, pois, em princí­pio, o devedor e os seus administradores serão mantidos na condução da atividade empresarial (art. 64).

I - na recuperação judicial e na falência: a) enviar correspondência aos credores constantes na rela­

ção de que trata o inciso 111 do caput do art. 51, o inciso 111 do caput do art. 99 ou o inciso 11 do caput do art. 105 desta Lei, comunicando a data do pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito;

b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados;

4. O administrador deve assumir de imediato e de forma completa a administração do devedor falido e fiscalizar aquele em recuperação. Além de fiscalizar o imediato cumprimento das formalidades dos editais men­cionados nos arts. 52, § 1 o e 99, parágrafo único, deve o administrador informar por carta em que local se encontra à disposição dos credores e demais interessados, bem como as informações que dispõe acerca de seus créditos. Evidentemente, enviará correspondência aos credores já conhe­cidos nos autos, pois muitas vezes, no momento da decretação da falên­cia, principalmente, ainda não são conhecidos todos os credores.

c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de fundamento nas habilitações e im­pugnações de créditos;

5. O art. 104, V, determina que, ao ser decretada sua falência, o devedor deve entregar, sem demora, todos os livros, papéis e documen-

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87 Capítulo 11 - Seção III -Art. 22

tos ao administrador judicial, sob pena de caracterização de crime de desobediência (parágrafo único do art. 104). Por outro lado, o parágra­fo único do art. 12, que se aplica tanto à falência quanto à recuperação judicial, prevê a intimação do administrador para que apresente em juízo as informações existentes nos livros do devedor, em caso de impugna­ção em habilitação de crédito.

d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações;

6. Comparando-se os poderes outorgados ao administrador judi­cial com aqueles reservados ao síndico, pelo art. 63 da lei anterior, pode-se constatar que houve uma diminuição deles. No entanto, ainda assim, o administrador dispõe na lei nova de poderes que, muitas vezes, independem do provimento jurisdicional, como ocorre aqui. Observe-se que o artigo não diz que o administrador deve requerer ao juiz que o devedor preste informações; a Lei diz que o próprio administrador pode "exigir" as informações. À semelhança desta alínea d, verifica-se que há várias situações idênticas á presente, no que tange à desnecessidade de autorização judicial e à possibilidade de ato de ofício do administrador.

7. Tais informações são necessárias para que possa o administra­dor se inteirar de todas as causas e situações anteriores e concomitantes à recuperação judicial ou à falência. Trata-se de medida de boa prática, impondo ao administrador agir com relação ao devedor e suas obriga­ções, diligenciando com prontidão sempre que necessário.

8. Especificamente para esta situação, o § 2°, adiante, prevê como proceder em caso de recusa à exigência feita pelo administrador. Ade­mais, se a recusa se der em autos de recuperação judicial, o devedor e seus administradores serão afastados da administração da empresa (in­ciso V do art. 64).

e) elaborar a relação de credores de que trata o § zo do art. 7o desta Lei;

9. O§ 2° do art. 7o determina ao administrador, tanto na recupera­ção quanto na falência; que providencie a publicação de edital conten­do a relação de credores, disposição que vem aqui repetida, no que a

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Art. 22 - Capítulo 11 - Seção III 88

Lei andou bem, pois a listagem das obrigações do administrador sob um único artigo, mesmo que repetindo disposições já constantes em outros pontos, é uma forma correta de melhor ordenamento da Lei para facilidade de interpretação e aplicação.

f) consolidar o quadro-geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei;

10. A lei usa aqui o verbo "consolidar" com o mesmo sentido de "elaborar" ou "organizar", este, aliás, o verbo usado no art. 96 da lei anterior, e que melhor representava a obrigação a ser cumprida no que tange ao quadro-geral de credores.

g) requerer ao juiz convocação da assembléia-geral de cre­dores nos casos previstos nesta Lei ou quando entender neces­sária sua ouvida para a tomada de decisões;

11. Sobre convocação da assembléia-geral, vide comentários aos arts. 35 e 36.

h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais · ou empresas especializadas para, quando necessário, auxiliá­

lo no exercício de suas funções;

12. Esta disposição é bastante ilustrativa da diminuição de pode­res do administrador comparativamente ao síndico da lei anterior. O art. 63 da lei anterior, em seus incisos VI e VII, autorizavam o síndico a chamar avaliadores de sua confiança e escolher auxiliares para a admi­nistração, "mediante aprovação do juiz", enquanto a lei atual fala em "autorização judicial".

13. De qualquer forma, em falências e recuperações de maior volume, certamente o administrador necessitará de pessoas ou empre­sas especializadas para auxiliá-lo, o que será feito, pessoas que serão contratadas após a autorização do juiz. Aliás, esta concentração de poderes nas mãos do juiz, muitas vezes por cláusulas abertas, é tendência que se estabelece no direito atual, do que é demonstração o Código Civil de 2002.

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89 Capítulo 11 - Seção III - Art. 22

i) manifestar-se nos casos previstos nesta Lei;

14. O administrador tem o direito e o dever de manifestação nos autos, não só nos casos especialmente previstos nesta Lei, como tam­bém a todo momento em que sua manifestação se fizer necessária para o correto andamento do feito.

15. Esta disposição encerra as letras que se referem às atribuições do administrador, a serem exercidas tanto na recuperação judicial quanto na falência. Ante o método adotado pela lei, a seguir estão relacionadas as atribuições que dizem respeito exclusivamente à recuperação judicial.

11 - na recuperação judicial: a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do

plano de recuperação judicial; b) requerer a falência no caso de descumprimento de obri­

gação assumida no plano de recuperação;

16. Como auxiliar do juiz na recuperação, tem o administrador o dever geral de fiscalização das atividades do devedor, do cumprimento do plano de recuperação e de todo e qualquer que interesse ao normal andamento da recuperação, o que vem explicitado na norma de caráter geral inserida nesta letra a.

17. O§ 1° do art. 61 estipula que, se houver descumprimento de qualquer obrigação assumida pelo devedor nos autos da recuperação judicial, no período de dois anos contados a partir do despacho que concede a recuperação, haverá a convolação em falência, disposição reiterada no inciso IV do art. 73. Constitui obrigação do administrador, em tal caso, requerer a falência.

c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor;

d) apresentar o relatório sobre a execução do plano de re­cuperação, de que trata o inciso 111 do caput do art. 63 desta Lei;

18. O devedor tem a obrigação de apresentar contas demonstrati­vas mensais sob pena de destituição de seus administradores (inciso IV

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Art. 22 - Capítulo 11 - Seção III 90

do art. 52), o que não dispensa a juntada, por parte do administrador, de relatório mensal das atividades do devedor, pois são dois tipos de infor­mações diversas a serem juntadas aos autos a cada mês.

19. Se o devedor cumprir todas as obrigações assumidas no plano de recuperação durante o prazo de dois anos, o juiz lançará sentença nos autos decretando o encerramento da recuperação (art. 63) e, nesta mesma sentença, determinará que o administrador judi­cial apresente relatório circunstanciado sobre a execução do plano (art. 63, UI). Eventualmente, o relatório poderá ser útil para perfeita delimitação das obrigações que foram assumidas, para cumprimento após o prazo de dois anos.

111 - na falência:

a) avisar, pelo órgão oficial, o lugar e hora em que, diaria­mente, os credores terão à sua disposição os livros e documen­tos do falido;

20. Já examinadas, nos dois incisos anteriores, as obrigações do administrador na recuperação e na falência, (I) e exclusivamente na re­cuperação (II), a Lei agora relaciona as obrigações ocorrentes exclusi­vamente na falência, iniciando com a obrigação de informar onde e em que horário poderão ser consultados os livros e documentos do falido. Como em todo processo que não esteja sob sigilo legal, a transparência e a publicidade são regras a serem observadas, até para possibilidade de auxílio dos interessados ao administrador, na sua tarefa de administra­ção da massa.

b) examinar a escrituração do devedor;

21. Para que possa desincumbir-se de suas inúmeras atribuições, o administrador deve conhecer a situação do devedor, da forma a mais completa possível e, para tanto, a Lei estipula expressamente, como sua obrigação, o exame da escrituração do devedor, de tal forma que não poderá escusar-se futuramente, sob a alegação de que não conhecia de­terminado fato, se este consta dos livros que foram arrecadados. Para tal exame, relembre-se sempre, poderá valer-se de auxiliares (letra h do inciso I, retro).

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c) relacionar os processos e assumir a representação judi­cial da massa falida;

d) receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor, entregando a ele o que não for assunto de interesse da massa;

22. Além do processo de falência que se inicia com o decreto de quebra, vários outros processos podem estar - e normalmente estão -em andamento, envolvendo interesse que era do devedor e que agora passa a ser da massa falida. Tais feitos podem ser de natureza fiscal, cível, trabalhista, etc., sendo muito comum a existência de grande nú­mero de ações fiscais e trabalhistas, tendo em vista a situação de insol­vência na qual o devedor certamente já se achava há algum tempo.

23. Sobre representação judicial, vide letra n, abaixo.

24. O administrador deve fazer os levantamentos necessários no sentido de identificar tais processos e assumir a representação judicial da massa falida, seja no pólo ativo, seja no passivo. Para tanto, como a representação constitui-se ex vi legis, não necessitará juntar qualquer procuração a estes outros feitos em andamento, bastando juntar a certi­dão comprovando que foi nomeado administrador.

25. O administrador deve ser especialmente diligente quando in­timado da existência destas outras ações, pois sua inércia poderá acar­retar o perecimento de direitos da massa ou sua condenação em valores que eventualmente não seriam devidos, ou seriam devidos em menor extensão.

26. Como administrador dos interesses da massa, é garantido ao administrador judicial o direito de abrir a correspondência, desde que não seja de natureza pessoal, do empresário falido ou seus representantes.

e) apresentar, no prazo de 40 (quarenta) dias, contado da assinatura do termo de compromisso, prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e circunstâncias que condu­ziram à situação de falência, no qual apontará a responsabili­dade civil e penal dos envolvidos, observado o disposto no art. 186 desta Lei;

27. Na lei anterior, todos os doutrinadores e professores, para fa­cilidade de compreensão da extensa lei falimentar, usavam o didático

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Art. 22 - Capítulo 11 - Seção III 92

método de dividir o processamento da falência, em três fases, divididas pelo que se convencionou chamar de "três grandes relatórios". Era nada mais que um método didático que se mostrou bastante eficiente para o estudo da complexa lei e que, por certo, com as devidas adaptações, será mantido também aqui, no que for possível.

28. Este corresponderia ao "primeiro grande relatório", que a Lei determina que seja apresentado no prazo de 40 dias, prorrogável por igual período, contado a partir da assinatura do termo de compromisso como administrador. Quem conhece a prática do processamento fali­mentar no dia-a-dia dos foros, certamente afirmará que este exíguo pra­zo não terá condições de ser observado; com efeito, 40 ou 80 dias não parece tempo suficiente para que se possa ter informações para relatar as causas que conduziram à situação de falência e, principalmente, para que se aponte responsabilidade civil ou penal dos envolvidos.

29. Não obstante, sendo esta a determinação legal, anote-se que o final do dispositivo faz menção ao art. 186. Do exame deste art. 186, constata-se que, no momento da apresentação do relatório, pode even­tualmente já haver ação penal em andamento (art. 187, caput), o que, porém, é improvável, tendo em vista exatamente a exigüidade do tem­po decorrido desde o decreto de falência.

30. Não havendo ainda ação penal em andamento - o que, como dito, é o mais provável -, o Ministério Público tomará ciência de even­tual indicação de responsabilidade penal e apresentará denúncia, se já houver elementos para tanto, ou colherá dados faltantes, para cumprir o prazo do oferecimento da denúncia em quinze dias a partir do momento em que tomar ciência do relatório ora referido.

31. Este, portanto, seria o chamado "primeiro grande relatório", que na lei anterior estava previsto no art. 103.

32. Sobre inquérito policial e denúncia por crime falimentar, vide comentários aos arts. 183 e ss.

f) arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadação, nos termos dos arts. 108 e 110 desta Lei;

33. Como já anotado anteriormente, a falência pode ser conside­rada uma grande execução, na qual se pretende arrecadar todos os bens do devedor para pagar todos os credores. Nesta Lei, agregou-se também

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93 Capítulo 11 - Seção 111 - Art. 22

a preocupação de, se possível, manter a unidade dos bens do devedor, de tal forma a se tentar a possibilidade de venda de bens em bloco, para manutenção da atividade empresarial. Dessa forma, a preocupação logo após o decreto de falência é com a arrecadação dos bens existentes para sua transformação em numerário ou para venda em bloco, bem como com a arrecadação dos livros, para exame da situação da empresa.

34. Dando continuidade aos seus deveres e atribuições, deverá o administrador proceder à imediata arrecadação dos bens, livros e pa­péis do devedor, fazendo as necessárias averiguações. Isso porque a execução na falência, assim como ocorre com toda execução coletiva, só resta satisfeita se o devedor possuir patrimônio. Fora dessa hipótese, o procedimento é frustrante (Lucon, p. 2.117). Daí a importância da arrecadação, quanto ao aspecto patrimonial.

35. Sobre a arrecadação, vide comentários aos arts. 85 e 108-11 O.

g) avaliar os bens arrecadados;

h) contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização judicial, para a avaliação dos bens caso entenda não ter condições técnicas para a tarefa;

i) praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores;

36. Ao próprio administrador compete arrecadar os bens e efe­tuar a imediata avaliação, nos termos do art. 108. No entanto, na maio­ria das vezes, o administrador não terá condições de efetuar tal avalia­ção, devendo valer-se eventualmente até de especialistas em determina­das áreas. Se não for possível a avaliação nos termos do art. 108, o administrador deverá pedir autorização judicial e contratar avaliadores. De qualquer forma, ante o princípio da celeridade que norteia a Lei de Recuperação e Falências, tais providências devem ser tomadas de for­ma expedita, tanto quanto possível.

37. Atento ao espírito de que, decretada a falência, os bens de­vem ser vendidos também da forma mais rápida possível, deve em se­guida o administrador dar início à realização do ativo (art. 139 e ss.), objetivando transformar a massa em dinheiro para satisfação dos credo­res, sem perder de vista a possibilidade de venda em bloco dos bens, para tentativa de restabelecimento da atividade produtiva.

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Art. 22 - Capítulo 11 - Seção III 94

j) requerer ao juiz a venda antecipada de bens perecíveis, deterioráveis ou sujeitos a considerável desvalorização ou de conservação arriscada ou dispendiosa, nos termos do art. 113 desta Lei;

38. Para venda antecipada de bens de fácil deterioração ou de guarda dispendiosa, é necessária específica autorização judicial. En­tende a Lei que, por se tratar de disposição de bem do ativo em benefício da massa, é ato que só poderá ser executado com específica autorização do juiz da falência. De qualquer forma, esta é também uma providência que o administrador deve tomar com extrema urgên­cia, para evitar prejuízo à massa, providenciando a venda na forma do que estipula o art. 113.

1) praticar todos os atos conservatórios de direitos e ações, diligenciar a cobrança de dívidas e dar a respectiva quitação;

m) remir, em benefício da massa e mediante autorização judicial, bens apenhados, penhorados ou legalmente retidos;

n) representar a massa falida em juízo, contratando, se ne­cessário, advogado, cujos honorários serão previamente ajus­tados e aprovados pelo Comitê de Credores;

39. Estas três estipulações dizem respeito mais diretamente à re­presentação processual que o administrador judicial tem da massa, de­vendo tomar, nas ações em andamento ou a serem ajuizadas, não só as medidas aqui relacionadas como também toda e qualquer medida em defesa dos interesses da massa.

40. A letra c, acima, já estabelecia a representação processual da massa pelo administrador judicial. Aqui, novamente é fixada a repre­sentação, acrescendo a Lei a observação (letra n) de que o administra­dor pode contratar advogados para tal trabalho, com honorários previa­mente ajustados e aprovados.

o) requerer todas as medidas e diligências que forem ne­cessárias para o cumprimento desta Lei, a proteção da massa ou a eficiência da administração;

p) apresentar ao juiz para juntada aos autos, até o 10° (décimo) dia do mês seguinte ao vencido, conta demonstrati-

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95 Capítulo 11 - Seção 111 - Art. 22

va da administração, que especifique com clareza a receita e a despesa;

41. O administrador está obrigado a usar de todo o zelo e dedica­ção na preservação dos interesses da massa, de forma a mais abrangente possível, corno se vê da ampla previsão inserida na letra o, acima. Todo mês, até o décimo dia, deve apresentar conta demonstrativa especifi­cando receita e despesa ou, se não houver qualquer tipo de movimenta­ção de dinheiro, informar tal fato em substituição ao relatório.

q) entregar ao seu substituto todos os bens e documentos da massa em seu poder, sob pena de responsabilidade;

r) prestar contas ao final do processo, quando for substi­tuído, destituído ou renunciar ao cargo.

42. O administrador pode ser substituído por quaisquer das cir­cunstâncias que obriguem o juiz a tornar esta decisão, tais corno faleci­mento, doença grave ou incapacitante, pedido do administrador por as­pectos de natureza pessoal, enfim, qualquer situação fática que possa ocorrer. Em tal caso, deverá cumprir estritamente a determinação da letra q, sob pena de responsabilidade (art. 32). Deverá também prestar contas, na forma da letra r seguinte.

43. Desincurnbindo-se do trabalho até o final, deverá apresentar prestação de contas de sua administração ao juiz, na forma do que prevê o art. 154. Se for destituído (art. 23), da mesma forma fará a devida prestação de contas. Renúncia importa substituição, aplicando-se a pre­visão legal para tal caso.

§ 1 o As remunerações dos auxiliares do administrador ju­dicial serão fixadas pelo juiz, que considerará a complexidade dos trabalhos a serem executados e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes.

44. Na prática forense se tem observado o hábito de o perito re­querer seja arbitrado o valor que entende correto, a partir do trabalho efetivamente exercido. Ante tal pedido, o juiz manda ouvir o adminis­trador, o MP e os interessados, fixando a seguir o valor a ser pago, com o poder de direção que mantém no processo.

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Art. 22 - Capítulo 11 - Seção III 96

§ 2° Na hipótese da alínea d do inciso I do caput deste arti­go, se houver recusa, o juiz, a requerimento do administrador judicial, intimará aquelas pessoas para que compareçam à sede do juízo, sob pena de desobediência, oportunidade em que as interrogará na presença do administrador judicial, tomando seus depoimentos por escrito.

45. Vide comentário 8, acima.

46. A Súmula 280 do STJ, publicada em 17.12.2003, entendeu que a prisão administrativa prevista na antiga Lei de Falências não ha­via sido recepcionada pela Constituição de 1988; esta Lei estava em fase final de elaboração quando da publicação de tal súmula, tendo en­tão sido substituída, no projeto, a prisão administrativa pela estipula­ção segundo a qual caracteriza-se aqui crime de desobediência.

47. No dia-a-dia dos procedimentos judiciais, ocorre com freqüên­cia o fato de o responsável pela sociedade falida tentar protelar o anda­mento da falência, por vários motivos, entre eles, principalmente, para conseguir a prescrição dos crimes falimentares. Evidentemente, a recu­sa a prestação de informações nos autos da falência é fato que deverá ser sopesado em eventual processo criminal.

§ 3° Na falência, o administrador judicial não poderá, sem autorização judicial, após ouvidos o Comitê e o devedor no prazo comum de 2 (dois) dias, transigir sobre obrigações e di­reitos da massa falida e conceder abatimento de dívidas, ainda que sejam consideradas de difícil recebimento.

48. O parágrafo estipula, contrario sensu, que o administrador pode transigir sobre obrigações e direitos da massa falida, bem como conceder abatimento no pagamento de dívidas, desde que esteja autorizado pelo juiz, autorização que será decidida após ouvidos o Comitê e o devedor.

§ 4° Se o relatório de que trata a alínea e do inciso 111 do caput deste artigo apontar responsabilidade penal de qualquer dos envolvidos, o Ministério Público será intimado para tomar conhecimento de seu teor.

49. Trata-se do "primeiro grande relatório", já examinado acima. Vide notas 27/33, acima.

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97 Capítulo 11 - Seção 111 - Art. 23

50. Embora vetado pelo Executivo Federal o art. 4°, que estabele­cia que o representante do Ministério Público estaria sempre presente nos processos de recuperação judicial e de falência, no presente caso há específica menção no sentido de que haja intimação do MP, logo após a juntada do relatório aos autos, o que se justifica.

51. Como titular da ação penal pública (art. 184), de forma priva­tiva, compete ao MP examinar os autos e requerer tudo o que entender necessário à sua instrução, tenha ou não sido requerida a instauração de inquérito. Observe-se ainda que, até esse momento, não haverá ainda inquérito instaurado, o que poderá ocorrer caso o representante do Mi­nistério Público assim entenda. E mais, caso existam elementos consi­derados suficientes pelo promotor de justiça, poderá ser promovida, de plano, ação penal.

52. No exame do Capítulo VII, Seção III, arts. 183 a 188, o proce­dimento penal é examinado com detalhes.

Art. 23. O administrador judicial que não apresentar, no prazo estabelecido, suas contas ou qualquer dos relatórios pre­vistos nesta Lei será intimado pessoalmente a fazê-lo no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de desobediência.

Parágrafo único. Decorrido o prazo do caput deste artigo, o juiz destituirá o administrador judicial e nomeará substituto para elaborar relatórios ou organizar as contas, explicitando as responsabilidades de seu antecessor.

1. Outra vez, aqui fica claro que, ao poder que a Lei atribuiu ao administrador, corresponde uma severa responsabilização, prevendo o artigo a caracterização do crime de desobediência, com destituição, se, mesmo intimado, não prestar as contas de sua administração. A presta­ção de contas é um dever moral e uma imposição legal a que está sub­metido todo aquele que administra coisa alheia. O administrador judi­cial, na condição de administrador de bens de terceiros, como qualquer outro, tem obrigação de prestar contas pelas movimentações realizadas ao longo do processo.

2. A lei anterior (arts. 65 e 66) estabelecia uma diferenciação entre o ato de substituir e o de destituir o síndico, de tal forma que a substitui­ção se dava por simples decisão interlocutória nos autos e a destituição,

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Art. 24 - Capítulo 11 - Seção III 98

embora também por decisão interlocutória, deveria ser precedida de co­leta de manifestação do próprio síndico e do Ministério Público.

3. No artigo ora sob exame, a formalidade das ouvidas, para só depois ser possível a destituição, foi corretamente afastada. Com efei­to, se o administrador deixou de apresentar a prestação de contas no prazo legal, foi pessoalmente intimado para fazê-lo sob pena de crime de desobediência e persiste na abstenção do cumprimento, não há moti­vo para outras formalidades, devendo ser destituído de imediato, por despacho fundamentado.

4. Evidentemente, se o administrador judicial não apresentar as contas, mas apresentar, de forma fundamentada, as razões justas do im­pedimento, não deverá o juiz destituí-lo, concedendo-lhe então novo prazo razoável para a apresentação.

Art. 24. O juiz fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial, observados a capaci­dade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para o desempe­nho de atividades semelhantes.

§ 1 o Em qualquer hipótese, o total pago ao administrador judicial não excederá 5% (cinco por cento) do valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial ou do valor de venda dos bens na falência.

§ 2° Será reservado 40% (quarenta por cento) do montan­te devido ao administrador judicial para pagamento após aten­dimento do previsto nos arts. 154 e 155 desta Lei.

§ 3° O administrador judicial substituído será remunerado proporcionalmente ao trabalho realizado, salvo se renunciar sem relevante razão ou for destituído de suas funções por desídia, culpa, dolo ou descumprimento das obrigações fixadas nesta Lei, hipóteses em que não terá direito à remuneração.

§ 4° Também não terá direito a remuneração o administra­dor que tiver suas contas desaprovadas.

1. O administrador muitas vezes desenvolve árduo trabalho, po­dendo sofrer sanções judiciais, culminando até com a sua responsabi­lização penal e civil, caso não se desincumba dele. Por outro lado, no

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99 Capítulo 11 - Seção III - Art. 24

serviço de administração da falência ou da recuperação, desempenha trabalho constante e, por isso, deve ser remunerado. O art. 24, em seus §§ 1 o e 2°, prevê em que base será fixada tal remuneração.

2. No entanto, na aplicação da lei anterior, os juízes em geral, a partir da prática na fixação da remuneração de auxiliares judiciais, não observavam rigorosamente as porcentagens e a forma de estipulação fixadas na lei. Ao contrário, examinam o trabalho desenvolvido pelo administrador e, fundamentadamente, fixam o valor que entendem cor­reto, o que evidentemente sempre poderá ser impugnado por qualquer interessado, por meio do recurso de agravo. Tal forma de fixação, usan­do o juiz de certo poder discricionário, tem sido aceita pela jurispru­dência em geral.

3. Aliás, ocorre com extrema freqüência, principalmente em pro­cessos de grande porte, com arrecadação acentuada e número expressi­vo de credores habilitados, que o trabalho absorva grande parte do tem­po do administrador, exigindo às vezes dedicação exclusiva, com pre­juízo de suas outras atividades. Nestes casos, é possível o administra­dor pedir ao juiz que fixe em seu favor uma remuneração mensal, a ser paga enquanto o trabalho vai sendo efetuado. Em tais casos, o juiz ou­virá o devedor, o Ministério Público, se entender necessário, e os de­mais interessados, entendendo-se que tal remuneração pode ser fixada, evidentemente de forma módica e dentro da força econômica da massa ou da sociedade empresária, sempre em consonância com o trabalho exigido do administrador.

4. Atento a este aspecto da remuneração do administrador, o § 2° estabeleceu critério novo, determinando a reserva de 40% do devido ao administrador, para pagamento após a realização do ativo e o julgamen­to de sua contas. Ocorre que, no momento em que o juiz fixa a remune­ração devida, pode não haver ainda condições para o pagamento e, por isto, estabelece a Lei esta possibilidade de reserva.

5. Finalmente, o § 3° estabelece forma de pagamento proporcio­nal para o administrador que não acompanha o feito até o final, a menos que tenha deixado o processo por renúncia sem relevante ra­zão de direito ou tenha sido destituído em conseqüência de descum­primento culposo ou doloso de suas obrigações. Também fica sem direito a qualquer remuneração o administrador cujas contas não fo­rem aprovadas.

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Art. 25 - Capítulo 11 - Seção III 100

Art. 25. Caberá ao devedor ou à massa falida arcar com as despesas relativas à remuneração do administrador judicial e das pessoas eventualmente contratadas para auxiliá-lo.

1. Quando o artigo fala em devedor, está prevendo o caso de se tratar de processo de recuperação judicial. Em tal caso, a responsabili­dade pelo pagamento é do próprio devedor, como, aliás, ocorria na lei anterior, para os casos de concordata preventiva.

2. Nos casos de falência, em função da regra do art. 103, perden­do o empresário a administração dos bens da empresa, que se transfor­mam em massa falida, esta é que passa a responder pelas despesas, que serão pagas como créditos extraconcursais, na forma do art. 84.

3. Nesta Seção III deste Capítulo 11, os arts. 21 a 25 cuidaram da figura do administrador judicial. A partir do art. 26 e até o art. 29, a Lei cuida do Comitê de Credores. Finalmente, do art. 30 até o art. 34, a Lei cuida de ambos, administrador judicial e Comitê de Credores.

Art. 26. O Comitê de Credores será constituído por delibe­ração de qualquer das classes de credores na assembléia-geral e terá a seguinte composição:

1. O Comitê de Credores não é figura nova em nosso diploma falimentar, pois existe na lei anterior, desde 1945, como se pode ver dos arts. 122 e 123 daquele diploma, que previam exatamente a formação de comitê de credores para liquidar ou administrar a massa falida, da forma que viessem a propor ao juiz. No entanto - e a observação é válida também para a presente Lei -, não houve interesse em usar tal prerrogativa legal, porque a recuperação da empresa por meio de comitês é um fenômeno de natureza econômica e não jurídica. Ou seja, embora já houvesse a previsão legal, não houve interesse econômico e, por isto mesmo, o sistema de comitês não funcionou na legislação anterior.

2. Anote-se desde logo que, enquanto o administrador judicial é figura que obrigatoriamente existirá na recuperação judicial e na falên­cia, o Comitê de Credores não é de constituição obrigatória, podendo ambos os feitos (recuperação e falência) chegarem a seu final sem que exista esta figura (art. 28).

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101 Capítulo 11 - Seção III - Art. 26

3. Especificamente sobre a convocação da assembléia de credo­res, examine-se o comentário 1 ao art. 36. Corno se verifica de tais co­mentários, a própria assembléia-geral não será obrigatoriamente con­vocada, pois tanto a recuperação judicial quanto a falência podem che­gar a seu final sem necessidade de tal convocação.

I - 1 (um) representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com 2 (dois) suplentes;

11-1 (um) representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou privilégios especiais, com 2 (dois) suplentes;

Ill- 1 (um) representante indicado pela classe de credores quirografários e com privilégios gerais, com 2 (dois) suplentes.

4. As classes estão previstas no art. 41, sendo em número de três, compostas respectivamente por: a) créditos trabalhistas e de acidentes do trabalho; b) créditos com garantia real; c) créditos quirografários, com privilégio especial e geral e créditos subordinados.

5. Sobre "classes", vide comentários 1 a 6 ao art. 41.

§ 1 o A falta de indicação de representante por quaisquer das classes não prejudicará a constituição do Comitê, que po­derá funcionar com número inferior ao previsto no caput deste artigo.

§ 2° O juiz determinará, mediante requerimento subscrito por credores que representem a maioria dos créditos de uma classe, independentemente da realização de assembléia:

I - a nomeação do representante e dos suplentes da respec­tiva classe ainda não representada no Comitê; ou

11 - a substituição do representante ou dos suplentes da respectiva classe.

§ 3° Caberá aos próprios membros do Comitê indicar, en­tre eles, quem irá presidi-lo.

6. Se alguma das três classes não tiver interesse de indicar repre­sentante, o Comitê de Credores entrará em funcionamento normal, com

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Art. 27 - Capítulo 11 - Seção III 102

o número de classes que estiver representada, mesmo que uma única classe tenha se interessado em indicar representante.

7. Se posteriormente a classe que não indicou representante vier a ter interesse em tal representação, não haverá necessidade de convo­cação de nova assembléia-geral, pois o juiz pode nomear representante e suplentes atendendo a pedido escrito formulado por credores que re­presentem a maioria dos créditos daquela classe. A mesma possibilida­de existe para a substituição do representante, que pode ser deferida pelo juiz mediante pedido escrito da maioria dos créditos da classe.

8. Formado o Comitê de Credores, os representantes indicarão ao juiz quem irá exercer a presidência. A Lei estabelece que o presidente, necessariamente, seja um dos membros do comitê. Consi­derando que o Comitê de Credores constitui-se, em princípio, de três membros, e que cada membro possui liberdade para escolher quem irá presidi-lo, podendo votar em si mesmo, existe a possibilidade de ocorrência de empate na eleição do presidente, e, em tal caso, será aplicado o § 2° do art. 27, que prevê a solução de qualquer impasse pelo administrador judicial e, em caso de incompatibilidade deste, pelo juiz da causa. O juiz, porém, sempre deverá levar em conta o conflito de interesses existentes, tendo em vista que o Comitê tem, entre suas atribuições, a de fiscalizar as atividades do administrador judicial (alínea a do inciso I do art. 27).

Art. 27. O Comitê de Credores terá as seguintes atribui­ções, além de outras previstas nesta Lei:

I - na recuperação judicial e na falência:

a) fiscalizar as atividades e examinar as contas do admi­nistrador judicial;

b) zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumpri­mento da lei;

c) comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou prejuízo aos interesses dos credores;

d) apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos interessados;

e) requerer ao juiz a convocação da assembléia-geral de credores;

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103 Capítulo 11 - Seção III - Art. 27

fJ manifestar-se nas hipóteses previstas nesta Lei;

1. Este inciso I estabelece quais são as atribuições do Comitê de Credores na recuperação judicial e na falência. O inciso II diz as atri­buições exclusivamente na recuperação judicial, não havendo previsão específica apenas para a falência, conforme método adotado pela Lei para tal tipo de análise.

2. Do exame das seis alíneas deste inciso, verifica-se que a ativi­dade do Comitê é, fundamentalmente, fiscalizar o regular andamento do processo, devendo comunicar ao juiz qualquer irregularidade que venha a constatar, apurando e emitindo parecer sobre qualquer recla­mação apresentada nos autos, tendo legitimidade ainda pra convocar assembléia de credores.

3. Pelas formalidades que cercam a formação do Comitê de Credores e pelo tipo de atribuição a ele fixado, constata-se que sua existência apenas deverá se dar em recuperações ou falências de grande porte. Em processos nos quais os valores em discussão sejam mais modestos, certamente não haverá interesse em formação de Comitê de Credores, que, aliás, pressupõe a existência anterior de assembléia-geral convocada.

4. Distribuídas pela Lei, há previsões tópicas de intimação do Co­mitê para manifestação (v.g., art. 12).

11 - na recuperação judicial:

a) fiscalizar a administração das atividades do devedor, apresentando, a cada 30 (trinta) dias, relatório de sua situa­ção;

b) fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial;

c) submeter à autorização do juiz, quando ocorrer o afas­tamento do devedor nas hipóteses previstas nesta Lei, a aliena­ção de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e outras garantias, bem como atos de endividamento necessá­rios à continuação da atividade empresarial durante o período que antecede a aprovação do plano de recuperação judicial.

§ 1 o As decisões do Comitê, tomadas por maioria, serão consignadas em livro de atas, rubricado pelo juízo, que ficará

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Art. 28 - Capítulo 11 - Seção III 104

à disposição do administrador judicial, dos credores e do de­vedor.

§ 2° Caso não seja possível a obtenção de maioria em deli­beração do Comitê, o impasse será resolvido pelo administra­dor judicial ou, na incompatibilidade deste, pelo juiz.

5. Da mesma forma como previsto no inciso I para a recuperação judicial e falência, este inciso II, que se refere exclusivamente à recupe­ração judicial, prevê a atividade de fiscalização por parte do Comitê, acrescentando ainda a exigência de apresentação da situação do deve­dor, a cada 30 dias.

6. Em princípio, os administradores da empresa em recuperação são mantidos na administração, havendo porém casos nos quais serão afasta­dos (art. 64), sendo nomeado gestor para a administração (art. 65). Neste ínterim, enquanto não nomeado o gestor, o Comitê de Credores assume especificamente as atribuições previstas na alínea c, acima.

7. As decisões tomadas pelo Comitê podem trazer profundas con­seqüências para a recuperação judicial em andamento, estabelecendo, assim, a Lei, de forma prudente, que seja lavrada ata em livro rubricado pelo juiz, e que permanecerá à disposição dos interessados para consul­ta e certidão.

8. Este § 2° diz respeito à solução de impasse em caso de não obtenção de maioria em deliberação do Comitê, estabelecendo-se que a pendência será resolvida pelo administrador judicial ou, em caso de incompatibilidade, pelo juiz. Embora o inciso II ora sob exame diga respeito exclusivamente a autos de recuperação judicial, este critério de solução de impasse pode ser aplicado também para os casos de falência.

Art. 28. Não havendo Comitê de Credores, caberá ao ad­ministrador judicial ou, na incompatibilidade deste, ao juiz exercer suas atribuições.

1. Conforme já anotado anteriormente, o Comitê de Credores é órgão de criação facultativa e que, certamente, apenas será criado - se o for - em recuperações e falências de grande espectro, pois as formali­dades que cercam tanto a convocação da assembléia-geral quanto o fun-

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105 Capítulo 11 - Seção III - Art. 30

cionamento do Comitê mostram que a Lei não pretendeu destiná-lo para feitos de pequena expressão econômica.

2. Inexistente o Comitê, todas as suas atribuições serão exercidas pelo administrador judicial, nomeado para auxiliar o juiz na fiscaliza­ção da recuperação judicial e na administração da massa falida, e tam­bém, eventualmente, pelo próprio juiz.

Art. 29. Os membros do Comitê não terão sua remunera­ção custeada pelo devedor ou pela massa falida, mas as despe­sas realizadas para a realização de ato previsto nesta Lei, se devidamente comprovadas e com a autorização do juiz, serão ressarcidas atendendo às disponibilidades de caixa.

1. Ao contrário do que ocorre com o administrador judicial, cujo trabalho é remunerado pelo devedor ou pela massa falida (arts. 24 e 25), para os membros do Comitê não há previsão de qualquer remuneração deste tipo, ocorrendo apenas ressarcimento das despesas comprovadas, após autorização judicial, desde que haja disponibilidade em caixa.

Art. 30. Não ~~-~rá integrar o Comitê ou~_t:rcer as fun­ções de administrador judicial quem, nos últimos 5 (cinco) anos, no exercício do cargo de administrador judicial ou de membro do Comitê em falência ou recuperação judicial anterior, foi des­tituído, deixou de prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestação de contas desaprovada.

§ 1 o Ficará também impedido de integrar o Comitê ou exer­cer a função de administrador judicial quem tiver relação de parentesco ou afinidade até o 3° (terceiro) gl"~u com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais ou deles -for allligo, inimigo ou dependente.

1. Para melhor método no estudo, observe-se mais uma vez que, a partir deste art. 30, a Lei volta a cuidar tanto do Comitê quanto do ad­ministrador judicial, com exceção do art. 34, que cuida apenas do admi­nistrador; nos arts. 21 a 25, cuidou do administrador judicial, e nos arts. 26 a 29 cuidou do Comitê de Credores.

2. Há um costume bastante arraigado nos foros judiciais, no sen­tido de se nomear o chamado "síndico dativo", ora administrador judi-

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Art. 30 - Capítulo 11 - Seção III 106

cial, normalmente advogado especializado em falências e concordatas e que se dispõe a prestar esse tipo de auxílio nos processos de falência. Embora houvesse explícita determinação no sentido de que, já tendo o síndico sido nomeado há menos de um ano em outra falência, não po­deria ser nomeado novamente (inciso IV do art. 60 da lei anterior), na prática esse tipo de nomeação ocorria com bastante freqüência.

3. Este tipo de nomeação ao arrepio da lei tornou-se comum, ante a ausência de pessoas habilitadas, em número suficiente para que pu­desse o juiz exercer a seleção. A lei atual, de forma correta, atenta à correção do procedimento costumeiro, afastou esta proibição para o ad­ministrador judicial, mantendo impedimentos que decorrem de desídia, culpa ou dolo em má administração anterior ocorrida nos últimos cinco anos ou de relações próximas de parentesco, amizade, inimizade ou dependência, com pessoas próximas à administração do devedor.

4. Os impedimentos dizem respeito tanto à figura do administra­dor judicial quanto a qualquer membro do Comitê de Credores.

§ 2° O devedor, qualquer credor ou o Ministério Público poderá requerer ao juiz a substituição do administrador judi­cial ou dos membros do Comitê nomeados em desobediência aos preceitos desta Lei.

§ 3° O juiz decidirá, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, sobre o requerimento do § 2° deste artigo.

5. O juiz normalmente desconhece a existência destes impedimen­tos, de tal forma que a Lei possibilita ao devedor, credor ou Ministério Público pedir a substituição do administrador que foi nomeado sem a observância do que a Lei determina. Aliás, ao próprio administrador nomeado cabe informar o juiz de eventual impedimento seu.

6. O juiz deve examinar com bastante cuidado o pedido de subs­tituição do administrador judicial, pois pode ocorrer de haver reclama­ção do devedor ou de credor conluiado, exatamente por conhecer o ad­ministrador judicial como pessoa correta e rigorosa e temer pelas con­seqüências da fiscalização que será feita.

7. Sem prejuízo da boa intenção certamente insuflada pelo saudável princípio da celeridade, a Lei aqui traz uma determinação de impossível cumprimento, ao estabelecer que o juiz decidirá em 24

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107 Capítulo 11 - Seção III - Art. 32

horas sobre o requerimento. Antes de tomar a grave decisão de substituir o administrador, deverá no mínimo abrir vista para a manifestação deste, não sendo recomendável tal tipo de decisão sem a ouvida dos interessados, a não ser em casos especiais e graves, nos quais a comprovação do alegado já venha documentalmente compro­vada, de forma suficiente.

~O juiz, de ofício ou a requerimento fundamentado de qualquer interessado, poderá determinar a destituição do administrador_judicial ou de quaisquer dos membros do Co­mitê de Credores quando verificar desobediência aos precei­tos desta_Lej,_flescumprimento de deveres, omissão, negligên­cia ou prática de ato lesivo às atividades do devedor ou a ter­ceiros. ~ § 1 o No ato de destituição, o juiz nomeará novo adminis­trador judicial ou convocará os suplentes para recompor o Comitê.

§ 2° Na falência, o administrador judicial substituído pres­tará contas no prazo de 10 (dez) dias, nos termos dos§§ 1° a 6° do art. 154 desta Lei.

1. O art. 30 prevê a substituição do administrador ou de membro do Comitê de Credores; este artigo 31 prevê a destituição, medida que traz graves conseqüências para o destituído, que não poderá mais ser nomeado durante os próximos cinco anos para atividade semelhante (art. 30, caput).

2. Por qualquer forma de substituição ou destituição, deverá o administrador, de imediato, entregar ao seu substituto os bens, livros e documentos da empresa que ficaram sob sua responsabilidade (art. 22, III, q).

3. Na hipótese da destituição acima mencionada, o prazo para a apresentação da prestação finda em dez dias, sendo que o termo "subs­tituição" foi inserido de forma equivocada neste dispositivo.

Art. 32. O administrador judicial e os membros do Comitê responderão pelos prejuízos causados à massa falida, ao deve­dor ou aos credores por dolo ou culpa, devendo o dissidente

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Art. 33 - Capítulo 11 - Seção III 108

em deliberação do Comitê consignar sua discordância em ata para eximir-se da responsabilidade.

1. Muito embora esta Lei tenha diminuído os poderes do admi­nistrador judicial relativamente ao síndico da lei anterior, ainda assim ele continua dispondo de grande liberdade de ação, como já examina­do. A esse grande poder de direção e impulso, corresponde a obrigação de responder pelos prejuízos causados à massa, até com seus bens pes­soais (art. 154, §5°), e, em vários casos, podendo ser incurso em crime de desobediência ou ser réu de processo por crimes falimentares passí­veis de reclusão (art. 177).

2. É correto que assim seja. O administrador é aquele que sai a campo, para administrar a empresa e salvaguardar os interesses dos credores; o juiz permanece cuidando de todos os seus demais afazeres e é municiado com informações pelo administrador. Em caso de o administrador ou Comitê, quando formado, pedir autorização para determinado ato (v.g., vender um bem da massa), o juiz partirá do princípio de que as condições do negócio apresentadas pelo adminis­trador ou Comitê são favoráveis à massa; evidentemente, se se verificar posteriormente que o bem foi vendido por preço vil, serão eles responsabilizados e não poderão escapar dessa responsabilização, sob a alegação de que o negócio havia sido precedido de autorização do próprio juiz da falência.

3. Ante a possibilidade de responsabilização pessoal daquele que levou prejuízo à massa, por dolo ou mesmo por simples culpa, sempre que houver dissidência em deliberação do Comitê, o dissiden­te deve fazer constar em ata sua discordância, para ressalva de futura responsabilidade.

Art. 33. O administrador judicial e os membros do Comitê de Credores, logo que nomeados, serão intimados pessoalmen­te para, em 48 (quarenta e oito) horas, assinar, na sede do juízo, o termo de compromisso de bem e fielmente desempenhar o cargo e assumir todas as responsabilidades a ele inerentes.

1. Como já observado anteriormente, o exercício do cargo de ad­ministrador é de natureza pessoal, embora pessoa jurídica possa ser no­meada. Por isso mesmo, a intimação é pessoal para assumir o cargo e o

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109 Capítulo 11 - Seção 111 -Art. 34

termo de assunção do cargo deve ser assinado pessoalmente pelo res­ponsável, não podendo ser assinado por advogado ou representante. É extremamente recomendável que o juiz determine que, em tais casos, a intimação seja feita por telefone, e a resposta seja dada por telefone mesmo, certificando-se nos autos, tudo em prol da celeridade e efetivi­dade do processo.

Art. 34. Não assinado o termo de compromisso no prazo previsto no art. 33 desta Lei, o juiz nomeará outro administra­dor judicial.

1. A nomeação feita pelo juiz não obriga o nomeado, que pode recusar-se a assumir o encargo pelos mais diversos motivos, podendo recusar-se também até sem motivo. Aliás, o simples não compareci­mento a juízo para assumir o encargo depois de intimado leva ao entendimento de não aceitação. Neste caso, cabe ao juiz nomear outro administrador.

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Seção IV

Da assembléia-geral de credores

1. Esta tentativa de introdução da assembléia de credores na Lei de Recuperação e Falências não traz, em verdade, uma novidade, pois a lei anterior já previa, desde sua promulgação em 1945, a formação de assembléia-geral de credores, como se pode verificar dos arts. 122 e 123 daquele diploma. No entanto, o desinteresse dos credores sempre foi tão acentuado em formação de assembléias, que estes artigos caíram no esquecimento, sendo desconhecidos até por muitos daqueles que atuam neste campo do direito.

2. Não é possível saber ainda se, com o novo diploma, será des­pertado o interesse das partes pela assembléia de credores ou se, como ocorreu no antigo diploma, esta assembléia também cairá no esqueci­mento. São aspectos que, como em toda lei com características de codi­ficação - esta Lei seria o código das recuperações e falências -, apenas o tempo esclarecerá.

3. Como acabamos de ver ao examinar a seção anterior que cui­da do administrador e do Comitê de Credores, a Lei adotou o método de enumerar em primeiro lugar as atribuições (arts. 22 e ss.) do admi­nistrador na recuperação e na falência; a seguir, apenas na recupera­ção e por último, apenas na falência, fazendo assim um tipo de sepa­ração que pode facilitar o exame da Lei. Adota método semelhante para o Comitê de Credores (art. 27), estabelecendo suas atribuições em primeiro lugar na recuperação e na falência; a seguir, apenas na recuperação.

4. Na presente seção, fiel ao método, o inciso I do art. 35 estabe­lece quais são as atribuições da assembléia-geral na recuperação judi­cial; no inciso II, diz quais são as atribuições na falência. Se se pudes­se falar aqui em hierarquia, seria possível dizer que a assembléia-ge­ral seria o órgão superior em relação ao Comitê de Credores, que por sua vez estaria em posição de superioridade relativamente ao admi­nistrador judicial.

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111 Capítulo 11- Seção IV - Art. 35

5. Dada esta visão geral destes três órgãos, no sentido de tentar estabelecer um grande esquema, que normalmente facilita a compreen­são de leis mais extensas - como é o caso desta -, inicia-se o exame de cada um dos artigos que dizem respeito à assembléia-geral dos credores.

Art. 35. A assembléia-geral de credores terá por atribui­ções deliberar sobre:

1. Observe-se ·desde logo que o poder de assembléia-geral não é decisório, não se substituindo ou sobrepondo ao poder jurisdicional. Evidentemente a assembléia, constituída por credores diretamente inte­ressados no bom andamento da recuperação, deverá levar sempre ao juiz as melhores deliberações, que atendam de forma mais eficiente ao interesse das partes envolvidas na recuperação, tanto devedor quanto credores. No entanto, até pelo constante surgimento de interesses em conflito neste tipo de feito, sempre competirá ao poder jurisdicional o poder decisório, permanecendo com a assembléia o poder deliberativo.

I - na recuperação judicial:

2. Nas letras de a até f, este art. 35 relaciona as atribuições da assembléia-geral exclusivamente na recuperação judicial; o inciso li, logo abaixo, em quatro letras, relaciona suas atribuições exclusivamen­te na falência.

a) aprovação, rejeição ou modificação do plano de recupe­ração judicial apresentado pelo devedor;

3. O juiz, ao deferir o processamento do pedido de recuperação judicial (art. 52), nomeia no mesmo ato o administrador judicial e conce­de prazo para que o devedor apresente o plano de recuperação (art. 53), ao qual pode se opor qualquer credor (art. 55). Neste momento, ao tomar conhecimento da objeção de qualquer credor, o juiz convoca a assem­bléia-geral dos credores (art. 56), que poderá aprovar o plano(§ 2° do art. 56), modificá-lo (§ 3° do art. 56) ou rejeitá-lo (§ 4° do art. 56).

4. Anote-se, portanto que, nesta fase da recuperação judicial, se não houver objeção de qualquer credor ao plano apresentado, o juiz

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Art. 35 - Capítulo 11 - Seção IV 112

concederá a recuperação judicial sem a convocação de qualquer assem­bléia (art. 57).

b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição;

5. Conforme estabelecido no art. 26, já examinado, cabe à assem­bléia-geral deliberar a constituição do Comitê de Credores, comitê que pode eventualmente não existir (art. 28), se desnecessário. Havendo Comitê, este terá se constituído por deliberação da assembléia-geral, que também tem o poder de escolher seus membros, bem como de subs­tituir qualquer um deles, dependendo sempre de decisão nos autos.

c) (Vetado.)

6. A redação do texto vetado era: "a substituição do administra­dor judicial e a indicação do substituto; [ ... ]".

7. O exame das razões do veto demonstra que se pretendeu deixar nas mãos do juiz o poder de substituir o administrador judicial, por pessoa de sua confiança, lembrando ainda que o inciso I do art. 52 esta­belece que a nomeação do administrador é feita pelo juiz. Já o parágra­fo único do art. 23 prevê que o juiz destituirá o administrador e nomea­rá seu substituto. Desta forma, este veto reforçou o poder de direção do juiz, na condução do processo.

d) o pedido de desistência do devedor, nos termos do § 4° do art. 52 desta Lei;

8. Nesta letra d, fica bem clara a diferença entre o caráter delibe­rativo da assembléia-geral e o caráter decisório da jurisdição. A desis­tência do pedido de recuperação judicial, para surtir todos os efeitos de direito, depende de sentença homologatória, com trânsito em julgado. Na forma do§ 4° do art. 52, recebendo o pedido de desistência, deve o juiz abrir oportunidade, entre outras providências, para manifestação da assembléia-geral, pois a Lei é clara no sentido de determinar que a desistência deve ser aprovada em assembléia. Portanto, se não houver aprovação na assembléia, não pode o juiz homologar a desistência. No entanto, mesmo havendo aprovação, compete ao juiz verificar se o pe-

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113 Capítulo 11 - Seção IV -Art. 35

dido preenche as demais condições exigidas por lei, e só após tal verifi­cação é que homologará a desistência.

e) o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor;

9. O art. 65 estabelece que o juiz poderá tirar a administração da empresa em recuperação das mãos do devedor, entregando sua administra­ção a um gestor judicial, estabelecendo ainda que, enquanto não nomeado este, a gestão ficará nas mãos do administrador. Indicado o nome pela assembléia-geral, se nomeado pelo juiz, assumirá o encargo da gestão.

j) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores;

10. O legislador deixa à assembléia-geral, ainda, a possibilidade de deliberar sobre demais matérias que possam afetar o interesse dos credores. Tais deliberações, como as anteriores, não são aplicáveis de imediato, dependendo da análise do juiz. Em que pese determine a Lei a participação dos credores na maioria dos casos, o juiz, pelo poder que lhe é conferido, pode deixar de acatar decisões da assembléia-geral se atentarem contra as disposições e princípios da Lei ou se tiver qualquer outro motivo para entender de forma diversa, sempre evidentemente fundamentando sua disposição, conforme determina o art. 165 do CPC, com específico fundamento constitucional no inciso IX do art. 93 da Constituição Federal.

11 - na falência:

11. Inicia-se aqui a lista das matérias que deverão ser objeto de deli­beração pela assembléia, no que tange especificamente à falência. Aplica­se aqui o comentário feito sob o n. 1 ao art. 35, quanto à diferenciação entre poder deliberativo da assembléia e poder jurisdicional do juiz.

a) (Vetado.)

12. O texto vetado tinha a seguinte redação: "a) a substituição do administrador judicial e a indicação do substituto; [ ... ]".Vide comentá­rio 7, acima.

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Art. 36 - Capítulo 11 - Seção IV 114

b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição;

13. Vide comentário 4, acima.

c) a adoção de outras modalidades de realização do ativo, na forma do art. 145 desta Lei;

14. O art. 145 prevê que, além das formas de realização do ativo estabelecidas especificamente na lei, qualquer outra modalidade pode ser homologada, desde que aprovada pela assembléia-geral. Assim, sugerida qualquer outra forma de liquidação, deve o juiz ouvir a assem­bléia, após o que decidirá fundamentadamente o caminho a ser seguido.

d) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores.

15. Vide comentário 10, acima.

16. No Foro Central de São Paulo, ocorreram na vigência da le­gislação anterior diversos casos de falência de empresas construtoras de imóveis em incorporação, nos quais os adquirentes dos apartamen­tos no prédio em construção formavam comissões e decidiam em assem­bléias terminar a construção do prédio, com fundamento no art. 122 do Dec.-lei 7.661145, c/c. art. 43, III, da Lei 4.591164, experiência que trouxe resultados positivos, permitindo aos interessados a finalização da cons­trução, com a conseqüente diminuição de prejuízos. Atualmente, este sistema tornou-se muito comum na falência da Encol, construtora cuja quebra trouxe profunda repercussão nacional.

Art. 36. A assembléia-geral de credores será convocada pelo juiz por edital publicado no órgão oficial e em jornais de gran­de circulação nas localidades da sede e filiais, com antecedên­cia mínima de 15 (quinze) dias, o qual conterá:

I -local, data e hora da assembléia em la (primeira) e em 2a (segunda) convocação, não podendo esta ser realizada me­nos de 5 (cinco) dias depois da e (primeira);

11 - a ordem do dia;

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115 Capítulo 11 - Seção IV -Art. 36

111 - local onde os credores poderão, se for o caso, obter cópia do plano de recuperação judicial a ser submetido à de­liberação da assembléia.

§ 1 o Cópia do aviso de convocação da assembléia deverá ser afixada de forma ostensiva na sede e filiais do devedor.

§ 2° Além dos casos expressamente previstos nesta Lei, cre­dores que representem no mínimo 25% (vinte e cinco por cen­to) do valor total dos créditos de uma determinada classe po­derão requerer ao juiz a convocação de assembléia-geral.

§ 3° As despesas com a convocação e a realização da assem­bléia-geral correm por conta do devedor ou da massa falida, salvo se convocada em virtude de requerimento do Comitê de Credores ou na hipótese do § 2° deste artigo.

1. O art. 26 prevê que o Comitê de Credores será constituído por deliberação de qualquer das classes de credores, na assembléia-geral. O § 2° do art. 52 estabelece que os credores poderão requerer a convoca­ção da assembléia-geral para a constituição do Comitê de Credores ou para a substituição de seus membros. Para que o devedor possa desistir do pedido de recuperação judicial depois de deferido o seu processa­mento, deverá ser convocada assembléia-geral para aprovação, na for­ma do § 4° do art. 52. Na forma do art. 56, o juiz convocará a assem­bléia-geral se houver objeção de qualquer credor ao plano de recupera­ção. O art. 65 estipula que o juiz convocará a assembléia-geral, quando afastar o devedor da administração da empresa em recuperação e no­mear gestor para prosseguir na administração, prevendo o § 2° do artigo uma possibilidade de nova convocação de assembléia. O art. 72, con­trario sensu, estabelece a necessidade de convocação de assembléia­geral. O inciso XII do art. 99 estabelece que, na sentença em que for decretada a falência, o juiz, se entender conveniente, determinará a con­vocação da assembléia-geral. O art. 145 fala sobre a aprovação, pela assembléia-geral de credores, de qualquer outra modalidade de realiza­ção do ativo, além das três mencionadas no art. 142.

2. Portanto, estes são os casos nos quais o juiz convocará a assem­bléia-geral de credores. Além destes, o § 2° ora sob exame diz que cre­dores que representem 25% do valor total dos créditos de uma determi­nada classe podem requerer ao juiz a convocação de assembléia-geral, mesmo que não se trate dos casos expressamente previstos na lei.

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Art. 37 - Capítulo 11 - Seção IV 116

3. A convocação da assembléia-geral será publicada no Diário Oficial e em jornais de grande circulação, no local da sede e das filiais, com pelo menos quinze dias de antecedência, observando as exigências listadas nos três incisos do artigo.

4. O devedor sempre responderá pelas despesas de convocação e realização da assembléia-geral em caso de recuperação e, em caso de falência, por conta da massa, a menos que seja convocada pelo Comitê de Credores ou por 25% do total dos créditos, caso em que as despesas serão de responsabilidade de quem tomou a iniciativa da convocação.

Art. 37. A assembléia será presidida pelo administrador judicial, que designará 1 (um) secretário dentre os credores presentes.

§ 1 o Nas deliberações sobre o afastamento do administra­dor judicial ou em outras em que haja incompatibilidade des­te, a assembléia será presidida pelo credor presente que seja titular do maior crédito.

1. Ao administrador judicial, além das demais atribuições conferidas pela Lei, cabe a presidência da assembléia-geral de credores.

§ 2° A assembléia instalar-se-á, em 18 (primeira) convoca­ção, com a presença de credores titulares de mais da metade dos créditos de cada classe, computados pelo valor, e, em 28

(segunda) convocação, com qualquer número.

2. A previsão é a que comumente existe para assembléias, obser­vando-se apenas que a contagem da presença se faz pelo valor dos cré­ditos dos quais os presentes são titulares.

§ 3° Para participar da assembléia, cada credor deverá as­sinar a lista de presença, que será encerrada no momento da instalação.

§ 4° O credor poderá ser representado na assembléia-geral por mandatário ou representante legal, desde que entregue ao administrador judicial, até 24 (vinte e quatro) horas antes da data prevista no aviso de convocação, documento hábil que

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117 Capítulo 11 - Seção IV - Art. 37

comprove seus poderes ou a indicação das folhas dos autos do processo em que se encontre o documento.

3. Os credores deverão assinar lista de presença até o momento da instalação da assembléia-geral. Se esta for instalada sem a presença de credor que não assinou a lista, para todos os fins não poderá partici­par das deliberações. Para tanto, a Lei estabelece que, no momento em que se instala a assembléia, encerra-se o livro de presença, de tal forma que eventuais retardatários não serão considerados presentes para quais­quer fins.

4. Os credores, pessoas naturais ou jurídicas, podem ser repre­sentados por procuradores, desde que entreguem o documento de re­presentação ao administrador, com pelo menos 24 horas de antecedên­cia. Se acaso já houver procuração nos autos, não há necessidade de apresentar documento de representação, bastando enviar informação esclarecendo a que folha dos autos encontra-se a representação, para que o administrador possa conferir o documento e certificar-se da vali­dade da representação.

5. O § 1 o do art. 661 do Código Civil estabelece a necessidade de poderes especiais para alienar, hipotecar, transigir ou praticar atos que exorbitem da administração ordinária. Como, em tese, alguns destes atos podem ser decididos em assembléia, é de todo recomendável a outorga da procuração com poderes específicos para representação em assembléia, discriminando também os poderes especiais.

§ so Os sindicatos de trabalhadores poderão representar seus associados titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho que não comparecerem, pessoalmente ou por procurador, à assembléia.

§ 6° Para exercer a prerrogativa prevista no § 5° deste arti­go, o sindicato deverá:

I- apresentar ao administrador judicial, até 10 (dez) dias antes da assembléia, a relação dos associados que pretende re­presentar, e o trabalhador que conste da relação de mais de um sindicato deverá esclarecer, até 24 (vinte e quatro) horas antes da assembléia, qual sindicato o representa, sob pena de não ser representado em assembléia por nenhum deles; e

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Art. 38 - Capítulo 11 - Seção IV 118

6. Tomando as providências mencionadas nestes dois parágrafos, pode o sindicato representar seus associados titulares de créditos traba­lhistas.

7. Evidentemente, se o próprio trabalhador comparecer pessoal­mente à assembléia-geral, ou através de mandatário especialmente cons­tituído por ele, participará da assembléia individualmente, afastando a representação extraordinária pelo sindicato.

11- (Vetado.)

8. O inciso vetado dizia: "comunicar aos associados por carta que pretende exercer a prerrogativa do § 5° deste artigo".

§ 7o Do ocorrido na assembléia, lavrar-se-á ata que conte­rá o nome dos presentes e as assinaturas do presidente, do de­vedor e de 2 (dois) membros de cada uma das classes votantes, e que será entregue ao juiz, juntamente com a lista de presen­ça, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.

9. As deliberações da assembléia-geral serão reduzidas a termo em ata, que será juntada aos autos no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas do encerramento dos trabalhos, procedimento comum em toda assembléia, para que se formalize o que ocorreu e o que foi deliberado.

Art. 38. O voto do credor será proporcional ao valor de seu crédito, ressalvado, nas deliberações sobre o plano de recupe­ração judicial, o disposto no § 2° do art. 45 desta Lei.

Parágrafo único. Na recuperação judicial, para fins exclu­sivos de votação em assembléia-geral, o crédito em moeda es­trangeira será convertido para moeda nacional pelo câmbio da véspera da data de realização da assembléia.

1. O§ 2° do art. 45, falando sobre a deliberação a ser tomada pela assembléia relativamente ao plano de recuperação judicial, estabelece que a contagem dos votos dos titulares de créditos derivados da legisla­ção do trabalho ou decorrentes de acidentes do trabalho deverá levar em conta a maioria simples dos credores presentes, independentemente

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119 Capítulo 11 - Seção IV - Art. 39

do valor do crédito de cada um. Portanto, a contagem é pessoal, entre os presentes à assembléia.

2. Este tipo de votação é, portanto, uma exceção à regra geral do art. 38, que manda que os votos sejam contados na proporção do crédi­to de cada votante. As pessoas com direito a voto são aquelas relaciona­das no art. 39, examinado em seguida.

3. Com freqüência há créditos que foram contratados tendo como indexador a moeda estrangeira. Houve uma discussão jurisprudencial inicial sobre a impossibilidade de aceitação de contratos em moeda es­trangeira, mas o entendimento prevalecente é no sentido de não haver óbice a que se tome a moeda estrangeira como indexador. O parágrafo único determina como será feita a conversão para fins de contagem de voto, ou seja, conversão pelo câmbio da véspera da data da realização da assembléia.

4. Na falência a conversão dos créditos em moeda estrangeira dá-se na data da decisão (art. 77), não havendo alterações na qualida­de e percentual do voto por variação cambial. Na recuperação judicial, o § 2° do art. 50 determina que os créditos em moeda estrangeira terão como indexador a variação cambial, a menos que o credor concorde com outro tipo de referência.

Art. 39. Terão direito a voto na assembléia-geral as pes­soas arroladas no quadro-geral de credores ou, na sua falta, na relação de credores apresentada pelo administrador judi­cial na forma do art. 7°, § 2°, desta Lei, ou, ainda, na falta desta, na relação apresentada pelo próprio devedor nos ter­mos dos arts. 51, incisos 111 e IV do caput, 99, inciso 111 do caput, ou 105, inciso 11 do caput, desta Lei, acrescidas, em qualquer caso, das que estejam habilitadas na data da reali­zação da assembléia ou que tenham créditos admitidos ou alterados por decisão judicial, inclusive as que tenham obti­do reserva de importâncias, observado o disposto nos§§ r e 2° do art. 10 desta Lei.

1. Após estabelecer no artigo anterior a forma de contagem dos votos, a Lei passa a estabelecer quais são as pessoas que têm direito a voto na assembléia-geral e, a primeira regra geral é no sentido de que

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Art. 39 - Capítulo 11 - Seção IV 120

podem votar as pessoas arroladas no quadro-geral de credores, elabora­do na forma prevista no parágrafo único do art. 18.

2. Pode ocorrer o fato de instalar-se assembléia-geral para delibe­ração sobre questão pendente e, no momento da instalação, ainda não ter sido elaborado o quadro-geral de credores. Em tal caso, prevê a Lei que os habilitados a votar serão aqueles relacionados no edital que o administrador houver publicado (§ 2° do art. 7°), contendo os nomes dos credores que apresentaram suas habilitações. Existe aí um risco muito grande, pois eventualmente pode ser decisivo o voto de alguém que se apresentou como credor e que, posteriormente, vem a se verifi­car não ter qualquer crédito. De qualquer forma, parece que é um risco que a Lei resolveu correr, para viabilizar a realização da assembléia.

3. No entanto, pode ocorrer que ainda não se tenha chegado ao momento previsto no § 2° do art. 7° e, em tal caso, os votantes serão aqueles constantes d.a relação apresentada pelo próprio devedor na re­cuperação judicial (incisos III e IV do art. 51) ou pelo falido em cum­primento ao determinado na sentença que decretou a falência (inciso III do art. 99) ou no pedido de autofalência (inciso II do art. 105).

4. Neste último caso, além dos constantes das relações referidas, poderão votar também os créditos que acaso já estiverem formalmente habilitados, bem como aqueles que, embora ainda não habilitados, te­nham obtido determinação de reserva de importâncias, a menos que sejam retardatários. Credores trabalhistas, mesmo retardatários, podem votar (art. 10, §§ 1° e 2°).

§ 1 o Não terão direito a voto e não serão considerados para fins de verificação do quorum de instalação e de deliberação os titulares de créditos excetuados na forma dos §§ 3° e 4° do art. 49 desta Lei.

5. Estes §§ 3° e 4°, como já visto, são resultado da pressão do capital financeiro, no sentido de exclusão de seus créditos da recupera­ção judicial. Este tipo de credor (proprietário fiduciário de bens móveis e imóveis, credor por arrendamento mercantil, alienante de imóvel, cre­dor por contrato com reserva de domínio e banqueiro credor por adian­tamento de contrato de câmbio) estão excluídos do direito de votar na assembléia-geral.

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121 Capítulo 11 - Seção IV -Art. 40

§ 2° As deliberações da assembléia-geral não serão invali­dadas em razão de posterior decisão judicial acerca da exis­tência, quantificação ou classificação de créditos.

6. O exame detalhado do sistema de formação do colégio eleito­ral da assembléia-geral demonstra a grande possibilidade de prática de fraudes, com credores "fabricados" (vide comentário 2 ao art. 39), leva­dos à assembléia apenas para alterar o resultado da deliberação em de­terminado favor. A Lei, de forma condenável, ao invés de solucionar esta questão, preferiu estabelecer uma fórmula que, se aplicada, conva­lidará qualquer fraude.

7. Evidentemente, à luz dos princípios gerais de direito, principal­mente ante o princípio da boa-fé, a este artigo será dada a correta aplica­ção pela jurisprudência, pois nem a própria lei positiva tem poderes para convalidar o ato fraudulento e prejudicial à comunidade dos credores.

§ 3° No caso de posterior invalidação de deliberação da assembléia, ficam resguardados os direitos de terceiros de boa­fé, respondendo os credores que aprovarem a deliberação pe­los prejuízos comprovados causados por dolo ou culpa.

8. A própria Lei, certamente percebendo a insustentabilidade do dis­posto no§ 2°, acima, traz aqui disposição que se choca frontalmente com aquela, admitindo a invalidação de deliberações de assembléia tomadas por votos dados por quem não poderia ter votado, responsabilizando ain­da pelos prejuízos aqueles que tenham agido com dolo ou culpa.

Art. 40. Não será deferido provimento liminar, de caráter cautelar ou antecipatório dos efeitos da tutela, para a suspen­são ou adiamento da assembléia-geral de credores em razão de pendência de discussão acerca da existência, da quantifica­ção ou da classificação de créditos.

1. O inciso XXXV do art. 5° da Constituição Federal, consagran­do o princípio da indeclinabilidade da jurisdição, estabelece que "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direi­to", de tal forma que este art. 40 padece de inconstitucionalidade, de­vendo ser objeto do devido trato jurisprudencial.

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Art. 41- Capítulo 11- Seção IV 122

2. Aliás, a insustentabilidade deste artigo guarda relação com os claros vícios dos §§ 2° e 3° do art. 39, acima examinados.

Art. 41. A assembléia-geral será composta pelas seguintes classes de credores:

I - titulares de créditos derivados da legislação do traba­lho ou decorrentes de acidentes de trabalho;

11 - titulares de créditos com garantia real;

Ill - titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados.

§ 1 o Os titulares de créditos derivados da legislação do tra­balho votam com a classe prevista no inciso I do caput deste artigo com o total de seu crédito, independentemente do valor.

§ 2° Os titulares de créditos com garantia real votam com a classe prevista no inciso 11 do caput deste artigo até o limite do valor do bem gravado e com a classe prevista no inciso Ill do caput deste artigo pelo restante do valor de seu crédito.

1. A Lei divide os credores, para fins de composição de assem­bléia-geral, em três tipos diferentes que chama de "classes de credo­res". Uma das classes é composta, em linhas gerais, pelos créditos tra­balhistas, incluindo-se os titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho. A outra classe abran­ge os créditos com garantia e a última abrange os restantes, ou seja, os créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados.

2. Anote-se que a Emenda Constitucional n. 45, promulgada em 08.12.2004 (conhecida como "emenda da Reforma do Judiciário"), am­pliou de forma acentuada a competência da Justiça do Trabalho, dimi­nuindo a das Justiças Estáduais (a chamada "Justiça Comum"), fixando que a primeira é competente para as questões relativas a relações de trabalho, quando anteriormente a competência era apenas para relações de emprego. Desta forma, em tese, se um paciente deixa de pagar as despesas do médico ou do hospital, esta matéria eventualmente poderá ser discutida na Justiça do Trabalho, pois decorre de relação de traba­lho. Este ponto é levantado aqui apenas incidentalmente, pois a perfeita interpretação da reforma constitucional ainda demandará tempo; ape-

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123 Capítulo 11 - Seção IV -Art. 42

nas se está chamando a atenção para este problema, que poderá trazer profundas interferências na distribuição dos credores por classes.

3. Aquele que pertence à classe dos créditos trabalhistas vota com o total do crédito do qual é titular. A Lei fez este esclarecimento, tendo em vista que para o pagamento dos credores trabalhistas há limitações em diversos pontos do texto (parágrafo único do art. 54, inciso I do art. 83), limitações que não influem na valoração do voto.

4. Para os titulares de créditos com garantias reais há uma pecu­liaridade a ser ressaltada, ou seja: imagine-se que se trata de um credor por título no valor de R$ 100.000,00, havendo uma garantia hipotecária no valor de R$ 60.000,00. Este credor vota com R$ 60.000,00 na classe de credores com garantia e vota com R$ 40.000,00 na classe seguinte, dos credores quirografários. O componente da classe que vem em ter­ceiro lugar vota também com o total de seu crédito.

S. Relembre-se aqui que o art. 38, acima, estabelece que o voto do credor será proporcional ao valor de seu crédito.

6. O legislador parte do pressuposto de que titulares de créditos de mesma natureza possuem interesses convergentes, e, por isso, esta­belece classes de credores para deliberações, especialmente para apro­vação, modificação ou rejeição do plano de recuperação apresentado pelo credor na recuperação judicial (art. 45, art. 58 etc.).

Art. 42. Considerar-se-á aprovada a proposta que obtiver votos favoráveis de credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembléia-geral, exce­to nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial nos termos da alínea a do inciso I do caput do art. 35 desta Lei, a composição do Comitê de Credores ou forma alternativa de realização do ativo nos termos do art. 145 desta Lei.

1. Este artigo estabelece como princípio geral que qualquer deli­beração será aprovada desde que obtenha a metade, mais um, dos votos dos créditos presentes, ou seja, maioria simples dos presentes. Esta é a regra geral que não se aplica à deliberação prevista no art. 35, I, alínea a.

2. A letra a do inciso I do art. 35 fala em "aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo deve-

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Art. 43 - Capítulo 11 - Seção IV 124

dor". Aqui não se aplica o princípio de aprovação por maioria simples. O art. 45, abaixo, estabelece quorum diferente para deliberações sobre o plano de recuperação (vide comentários ao art. 45).

3. Na forma do art. 26, o Comitê de Credores pode ser constituí­do por deliberação de qualquer das classes de credores na assembléia­geral, estabelecendo o art. 44, abaixo, que cada representante será esco­lhido por voto apenas daqueles que compõem a própria classe.

4. O art. 145 prevê a homologação, por parte do juiz, de qualquer outra modalidade de realização do ativo, diferente das três formas pre­vistas no art. 142, quais sejam: leilão por lances orais, propostas fecha­das ou pregão. A aprovação desta deliberação exige o voto favorável de dois terços dos presentes à assembléia, na forma do art. 46.

Art. 43. Os sócios do devedor, bem como as sociedades co­ligadas, controladoras, controladas ou as que tenham sócio ou acionista com participação superior a 10% (dez por cento) do capital social do devedor ou em que o devedor ou algum de seus sócios detenham participação superior a 10% (dez por cento) do capital social, poderão participar da assembléia-geral de credores, sem ter direito a voto e não serão considerados para fins de verificação do quorum de instalação e de deliberação.

Parágrafo único. O disposto neste artigo também se aplica ao cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, colateral até o 2° (segundo) grau, ascendente ou descendente do devedor, de administrador, do sócio controlador, de membro dos conselhos consultivo, fiscal ou semelhantes da sociedade devedora e à so­ciedade em que quaisquer dessas pessoas exerçam essas funções.

1. Neste dispositivo, pretendeu o legislador vedar a participa­ção de credores com conflito de interesses. Pessoas jurídicas de mes­mo grupo econômico, ou cujos sócios ou administradores possuem relação de parentesco com o devedor (sócio ou administrador do em­presário devedor), têm o direito de voto tolhido pelos critérios objeti­vos acima descritos.

2. Sem embargo da proibição de voto, poderá o credor ou o sócio enquadrado em tais situações participar da assembléia-geral como ou­vinte, fiscalizando eventuais irregularidades que poderão ser levadas ao

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125 Capítulo 11 - Seção IV -Art. 45

juiz. A Lei não dá o direito de voto e nada fala sobre o direito de voz; no entanto, como o artigo garante não simplesmente a "presença" e sim a "participação", terão tais pessoas o direito de manifestação, evidente­mente submetidos às regras da assembléia.

Art. 44. Na escolha dos representantes de cada classe no Comitê de Credores, somente os respectivos membros poderão votar.

1. O art. 26, ao estabelecer regras para a constituição do Comitê de Credores, estipula, em seus incisos, que cada uma das três classes previstas no art. 41 terá um representante seu no Comitê. Como aqui está estabelecido, para a escolha do representante de determinada clas­se apenas votam os representantes da própria classe, o que, aliás, é na­tural. Esta disposição está em consonância com o disposto na parte fi­nal do art. 42.

Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação ju­dicial, todas as classes de credores referidas no art. 41 desta Lei deverão aprovar a proposta.

§ 1 o Em cada uma das classes referidas nos incisos 11 e 111 do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada por cre­dores que representem mais da metade do valor total dos cré­ditos presentes à assembléia e, cumulativamente, pela maioria simples dos credores presentes.

§ 2° Na classe prevista no inciso I do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada pela maioria simples dos credo­res presentes, independentemente do valor de seu crédito.

§ 3° O credor não terá direito a voto e não será considera­do para fins de verificação de quorum de deliberação se o pla­no de recuperação judicial não alterar o valor ou as condições originais de pagamento de seu crédito.

1. Em consonância com a parte final do art. 42, este art. 45 esta­belece que, para deliberação relativamente ao plano de recuperação (art. 35, I, a), a proposta deve necessariamente ser aprovada pelas três clas­ses previstas no art. 41. Na classe dos credores com garantia real e na outra dos quirografários e demais (incisos II e III do art. 41 ), a proposta

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Art. 46 - Capítulo 11 - Seção IV 126

deverá ser aprovada cumulativamente pela metade mais um dos crédi­tos presentes, e pela maioria simples dos credores presentes. Já na clas­se dos trabalhistas (inciso I do art. 41) a proposta deve ser aprovada pela maioria simples dos presentes, sem qualquer consideração ao va­lor dos créditos.

2. O § 3° estipula, ainda, que apenas tem direito a voto nas delibe­rações sobre o plano de recuperação o credor cujo crédito vier a ser alterado em seu valor ou nas condições do pagamento. Se o crédito não sofre qualquer alteração, o respectivo credor não tem direito a voto, além de não poder ser computada sua presença para fins de verificação de quorum.

3. O legislador, com vistas a evitar a manipulação por credores majoritários, preferiu condicionar a aprovação do plano às diferentes classes de credores. Cada classe possui, presumivelmente, interesses convergentes e, neste sentido, exerceriam controle sobre as demais clas­ses, obrigando os credores ao consenso para a efetiva recuperação do empresário, sem comprometer demasiadamente credores titulares de determinada classe.

Art. 46. A aprovação de forma alternativa de realização do ativo na falência, prevista no art. 145 desta Lei, dependerá do voto favorável de credores que representem 2/3 (dois terços) dos créditos presentes à assembléia.

1. Esta exigência está em consonância com a parte final do art. 42, e é de clara intelecção. Observe-se apenas que, no art. 123 da lei anterior, havia disposição semelhante à presente e que, conforme já ano­tado acima, não foi utilizada durante todo o tempo de vigência daquela lei, tendo caído em absoluto desuso.

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Capítulo 111

DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Seção I

Disposições gerais

1. Por se tratar de instituto novo, não conhecido na lei positiva an­terior, é recomendável um pequeno resumo do que contém este Capítulo III, como introdução ao estudo da recuperação judicial, o que facilitará a compreensão do instituto como um todo. Embora se trate de instituto novo, como se verá abaixo (vide item 7, abaixo), há uma certa semelhan­ça procedimental, em alguns pontos, entre a recuperação desta Lei e a concordata preventiva da lei anterior. Observe-se, a propósito, que a con­cordata suspensiva da lei anterior não foi contemplada na presente Lei; por certo, não fará falta, pois havia caído em desuso quase absoluto.

2. O Capítulo III da Lei, dividido em 5 seções, do art. 47 ao art. 72, cuida do processo de recuperação judicial. Esta Seção I, com quatro artigos, estipula qual o objetivo do processo de recuperação, estabelece os requisitos para que o devedor possa ajuizar o pedido, relaciona quais créditos estão sujeitos à recuperação, estabelecendo finalmente quais são os meios de recuperação dos quais poderá se valer o devedor.

3. A Seção li, com dois artigos, estabelece os requisitos para a confecção da petição inicial, a qual, se estiver em termos, receberá des­pacho que defere o processamento da recuperação, estipulando ainda o que deve conter tal despacho. A Lei optou por abandonar o sistema que estava mantendo até as últimas versões do projeto, que previa que, se não deferido o processamento, seria decretada a falência do devedor. Havia nas redações anteriores, um inciso V no art. 73 que estipulava que "se o juiz julgar improcedente o pedido inicial, por qualquer moti­vo, decretará a falência". Este inciso foi suprimido, de tal forma que o pedido inicial, se não estiver em termos, será indeferido, sem que haja o decreto de falência, ao contrário do que ocorria na lei anterior. O art. 161 da lei revogada previa que, se o pedido inicial de concordata pre­ventiva não estivesse em termos, o juiz decretaria a falência.

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Capítulo III - Seção I 128

4. A Seção III, também com dois artigos, fala sobre o plano de recuperação, que deve ser apresentado no prazo de 60 dias a partir do despacho que deferiu o processamento da recuperação, estabelecendo o que deve conter o plano, no que tange à documentação, oferta aos cre­dores, editais e prazos.

5. A Seção IV, com quinze artigos, detalha o procedimento a ser observado. Pode ocorrer que o plano venha a ser rejeitado, na forma do § 4° do art. 56 e, neste caso, o juiz decretará a falência, como prevê o inciso III do art. 73. Ou seja, resumindo: o juiz pode indeferir o pedido inicial de processamento da recuperação, sem decretar a falência. No entanto, se deferir o processamento e o plano de recuperação apresenta­do vier a ser rejeitado, então será decretada a falência.

6. Esta Seção IV prevê também que, se o plano estiver em termos e não for rejeitado, o juiz, por despacho agravável, concederá a recupe­ração judicial, na qual o devedor permanecerá por dois anos, fiscalizan­do-se o cumprimento no que diz respeito às obrigações vencidas neste prazo de dois anos. Em caso de descumprimento, será decretada a fa­lência do devedor; em caso de cumprimento (das obrigações vencidas nos dois anos), o juiz, por sentença, decreta o encerramento do proces­so de recuperação. Os créditos cujos pagamentos foram oferecidos no plano de recuperação, para serem satisfeitos em prazo superior a dois anos, serão pagos normalmente, em atividade empresarial comum e sem interferência jurisdicional. Como se transformaram em créditos líqui­dos e certos, se não forem pagos, darão oportunidade ao credor de exe­cução ou requerimento de falência, ações que serão distribuídas livre­mente, pois o processo de recuperação já estará encerrado.

7. Finalmente, a Seção V, com três artigos, estabelece as regras atinentes ao plano especial de recuperação para microempresas e em­presas de pequeno porte. Como se verá no exame destes artigos, o pro­cedimento da recuperação destas pequenas empresas assemelha-se bas­tante à concordata preventiva da lei anterior. Observe-se ainda que a pequena empresa, querendo, pode valer-se também da recuperação pre­vista nas demais seções da Lei.

8. Como observado no item 1, acima, o procedimento a ser obser­vado guarda semelhança com o estabelecido na lei anterior, para a con­cordata preventiva, em alguns pontos, e especialmente no sistema de existir uma decisão inicial que defere o processamento e uma segunda,

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129 Capítulo III - Seção I

que defere o próprio pedido. Naquela lei, o art. 161 previa que, se o pedido estivesse em termos, o juiz lançaria despacho ordenatório, defe­rindo o processamento do pedido de concordata, após o que seriam se­guidos os trâmites previstos e, caso houvesse descumprimento das obri­gações assumidas, seria decretada a falência (arts. 150 e 151). Se todas as obrigações fossem cumpridas, seria prolatada sentença que julgaria a concordata cumprida e encerraria o feito (art. 174). Não obstante al­gumas semelhanças, não há dúvida que, em termos de meta a ser atingi­da, são sistemas bastante diversos.

9. Esta Lei pretende trazer para o instituto da falência e da recu­peração judicial uma nova visão, que leva em conta não mais o direito dos credores, de forma primordial, como ocorria na lei anterior. A lei anterior, de 1945, privilegiava sempre o interesse dos credores, de tal forma que um exame sistemático daqueles artigos demonstra a ausên­cia de preocupação com a manutenção da empresa como unidade pro­dutiva, criadora de empregos e produtora de bens e serviços, enfim, como atividade de profundo interesse social, cuja manutenção deve ser procurada sempre que possível.

10. Pretendeu-se introduzir no Brasil, com esta nova legislação falimentar, a moderna visão que impera no direito americano, com o Bankruptcy Code, que constitui o Título I do Bankruptcy Reform Act, de 1978; no direito francês desde 1984, com a Lei 84-148 (Lei 148/84), com a substituição do próprio nome da disciplina de droit des faillites por droit des enterprises en dif.ficultés; no direito alemão, unificado a partir de 01.01.1999, a Insolvenzordjung (InsO); no direito português com o Código dos Processos Especiais de Recuperação da Empresa e de Falência, conhecido como CPEREF, introduzido pela Lei 132/93, de 23.04.1993, com a redação dada pela Declaração de Retificação 141, de 31.07.1993 e posteriores alterações pelos Decs.-leis 157, de 24.06.1997; 315, de 20.10.1998; e 323, de 17.12.2001; a última legislação editada no mundo, a excelente lei da Espanha, Ley Orgánica 8/2003, de 9 de Julio, para la reforma concursal, por la que se modifica la Ley Orgánica 6/1985, de 1 de Julio, dei Poder Judicial, de 09.07.2003, e que entrou em vigor em 01.09.2004; a Nuova disciplina deWamministrazione straordinaria delle grandi imprese in stato di insvolvenza, D. L. 270, de 08.07.1999, sobre o antigo Real Decreto de 16.03.1942, Disciplina dei fallimento, dei concordata preventivo, dell' amministrazione controllata e della liquidazione coatta amministrativa; na Argentina, a

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Art. 47 - Capítulo III - Seção I 130

Ley de Concursos y Quiebras, de 20.07.1995, entre outras. Estas legis­lações mais modernas partem do princípio de que a manutenção do fun­cionamento da empresa é de interesse social acentuado, de tal forma que o projeto permite o afastamento dos sócios (pessoas físicas) e a manutenção da empresa funcionando, se necessário, com outros admi­nistradores, e sob a fiscalização do Judiciário.

11. Há autores que entendem que esta nova Lei atingirá seus ob­jetivos anunciados, ou seja, propiciará mesmo condições para a recupe­ração judicial de empresas em crise; outros entendem que a Lei sofreu tantas e tamanhas interferências, especialmente do capital financeiro e do fisco nacional, que não conseguiu formular um sistema que dê pos­sibilidade de qualquer tipo de recuperação à empresa. Aliás, as opi­niões ficaram tão divididas que Jorge Lobo, reconhecido mestre, escre­veu um oportuno e curioso artigo dividindo os estudiosos da Lei no que ele chamou de "dois C", de um lado os "crentes", de outro os "céticos". (A opinião do autor deste livro está exposta de forma abrangente no capítulo de introdução.)

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do de­vedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, pro­movendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

1. A recuperação judicial destina-se às empresas que estejam em situação de crise econômico-financeira, com possibilidade, porém, de superação, pois aquelas em tal estado, porém em crise de natureza insu­perável, devem ter sua falência decretada, até para que não se tornem elemento de perturbação do bom andamento das relações econômicas do mercado. Tal tentativa de recuperação prende-se, como já lembrado acima, ao valor social da empresa em funcionamento, que deve ser pre­servado não só pelo incremento da produção, como, principalmente, pela manutenção do emprego, elemento de paz social.

2. Por isto mesmo, a Lei, não por acaso, estabelece uma ordem de prioridade nas finalidades que diz perseguir, colocando como primeiro objetivo a "manutenção da fonte produtora", ou seja, a manutenção da atividade empresarial em sua plenitude tanto quanto possível, com o

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131 Capítulo III - Seção I - Art. 48

que haverá possibilidade de manter também o "emprego dos trabalha­dores". Mantida a atividade empresarial e o trabalho dos empregados, será possível então satisfazer os "interesses dos credores". Esta é a ordem de prioridades que a Lei estabeleceu; o exame abrangente da Lei poderá indicar se o objetivo terá condições de ser alcançado. No entanto, a eficiência da Lei para o fim pretendido só se conhecerá com a prática no tempo, pois a avaliação final é feita pelos resultados efe­tivamente obtidos.

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas ativi­dades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requi­sitos, cumulativamente:

1. À semelhança do que exigia a lei anterior (art. 158, I), este art. 48 inicia a listagem dos impedimentos ao pedido de recuperação, ex­cluindo de seu âmbito o empresário com menos de dois anos de ativida­de regular, entendendo que não seria razoável que, em prazo inferior a este, viesse o devedor a colocar-se em situação na qual necessitasse de socorro judicial para recuperação. Tal fato denotaria uma inabilidade tão acentuada para a atividade empresarial, que a Lei prefere que, em casos assim, seja negada a possibilidade de recuperação.

2. A prova de tal exigência é de extrema simplicidade, bastando juntar certidão da Junta Comercial, comprovando a regularidade da empresa. Caso não esteja regularmente registrada na Junta Comercial, não poderá pleitear a recuperação e, se pleiteá-la, o juiz deve conceder o prazo do art. 284 do CPC para sanar a irregularidade em dez dias, sob pena de indeferimento da inicial.

3. A lei anterior não previa a possibilidade de indeferimento do pedido de concordata, pois se a inicial não estivesse regularmente ins­truída, seria decretada a falência. No entanto, a Lei atual optou por outro caminho, pois não prevê o decreto de falência em caso de instrução documental insuficiente. Não há dúvida de que esta foi a opção do le­gislador, tanto que, até as últimas versões do projeto, havia um inciso V no art. 73, estabelecendo que, se o juiz julgasse improcedente o pedido inicial, deveria decretar a falência. Este inciso foi suprimido e não há qualquer previsão de falência para o caso de instrução deficiente.

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Art. 48 - Capítulo III - Seção I 132

I - não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;

4. Quando a Lei diz não ser "falido", na realidade está se referin­do aos sócios de responsabilidade ilimitada que tiveram a falência de sua empresa anterior decretada; pelos arts. 81 e 190, estes sócios são considerados também falidos. Aplica-se também esta restrição àquele que, como empresário individual, teve sua falência decretada.

5. Em caso de aplicação da teoria de desconsideração da persona­lidade jurídica, a pessoa física que tiver seu patrimônio atingido estará na mesma situação do sócio de responsabilidade ilimitada e, portanto, também será considerado "falido" para os fins deste inciso.

6. O óbice não existirá se, apesar de falido, as obrigações foram declaradas extintas por sentença transitada em julgado (art. 160). No entanto, a possibilidade de serem declaradas extintas as obrigações é extremamente problemática (ou impossível), tendo em vista que o art. 191-A do Código Tributário Nacional, com a redação dada pela Lei Complementar 118, que foi promulgada em 09.02.2005, no mesmo dia desta nova Lei de Recuperação e Falência, estabelece que "a extinção das obrigações do falido requer prova da quitação de todos os tributos".

7. Embora o § 2° do art. 81 estipule que os administradores ou liquidantes ficarão sujeitos às obrigações que cabem ao falido, sob as mesmas penas, não podem ser considerados "falidos", para os fins des­te inciso I, a menos que tenham sido condenados por crime falimentar (vide inciso IV, abaixo). Aliás, neste último caso, estariam tais pessoas impedidas do exercício até de administração de sociedade empresária em situação normal, na forma do§ lo do art. 1.011 do Código Civil.

11 - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;

111 - não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;

8. A recuperação judicial a que se refere a Lei é aquela concedida na forma do art. 58, não devendo ser confundida com o despacho que defere o processamento da recuperação, na forma do art. 52.

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133 Capítulo 111 - Seção I - Art. 49

9. O prazo de 8 anos refere-se às microempresas e empresas de pequeno porte, cuja recuperação está prevista nos arts. 70 a 72.

10. Havia dispositivo semelhante na lei anterior (inc. IV do art. 140), que estabelecia também a vedação para o devedor que, há menos de cinco anos, houvesse impetrado concordata. No regime daquela lei estabeleceu-se a possibilidade de tal período mínimo-ser desconsiderado se tivesse havido desistência da concordata. Assim, imaginando-se a eventual possibilidade de desistência do pedido de recuperação(§ 4° do art. 52), deve-se avaliar a corrente jurisprudencial formada no regime da lei anterior.

IV - não ter sido condenado ou não ter, como administra­dor ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

11. Este inciso IV repete parte do que vinha estipulado no inci­so III do art. 140 da lei anterior, e que mereceu sempre severas críti­cas, pelo que se convencionou chamar de "pessoalidade" da lei fali­mentar. Ou seja, dizia-se que a lei anterior, além de não privilegiar a manutenção da empresa em funcionamento, ainda impedia que a so­ciedade empresarial, mesmo que saneada e em boas condições, porém em crise passageira, pudesse se valer então da concordata, ante os problemas pessoas que atingiam determinado administrador ou sócio controlador.

12. No entanto, a nova Lei manteve tal tipo de restrição, mere­cendo as mesmas críticas que eram dirigidas à lei anterior.

Parágrafo único. A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do deve­dor, inventariante ou sócio remanescente.

13. Trata-se aqui de recuperação do espólio do devedor comer­ciante, passível também de falência (§ 1 o do art. 96, inciso II do art. 97 e art. 125).

Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os cré­ditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.

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Art. 49 - Capítulo III - Seção I 134

1. Este artigo, se efetivamente encontrasse correspondência na Lei, talvez trouxesse possibilidade de permitir a recuperação judicial. No entanto, à semelhança do art. 47, acima- que permaneceu no texto como declaração de princípios, sem respaldo no conjunto da Lei -, o art. 49 é contraditado por inúmeros outros artigos, de tal forma que deixa de ficar sujeita à recuperação uma série de créditos, aliás, os mais importantes e determinantes em qualquer tentativa de recuperação.

2. Os créditos que foram mais diretamente ressalvados são os de origem financeira, de tal forma que, quando da elaboração final da Lei, dizia-se que esta não seria a lei de "recuperação das empresas" e sim, a lei de "recuperação do crédito bancário". E, efetivamente, a Lei não propicia grande possibilidade de recuperação, principalmente por não corresponder à realidade o que vem estabelecido no art. 49.

3. Assim é que, ao contrário do que estabelece este artigo, estão fora da recuperação judicial os bens dados em garantia real (§ 1 o do art. 50); ações que demandem quantia ilíquida, ações trabalhistas e execu­ções fiscais (inciso III do art. 52, c/c. art. 6°); créditos com garantia fiduciária de móveis ou imóveis, arrendamento mercantil, imóvel compromissado à venda em incorporações imobiliárias, com reserva de

. domínio (art. 52, III, c/c. art. 49), com a dilação de modestos 180 dias, previstos no § 4° do art. 6°; o adiantamento a contrato de câmbio para exportação (§ 4° do art. 49). Por outro lado, as obrigações assumidas não sofrem qualquer alteração (§ 2° do art. 49); os débitos tributários igual­mente estão excluídos (art. 57), bem como as obrigações assumidas no âmbito das câmaras de compensação e liquidação financeira (art. 193).

§ r Os credores do devedor em recuperação judicial con­servam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fia­dores e obrigados de regresso.

4. O credor com garantia de terceiro (v.g., aval, fiança etc.), mes­mo sujeitando-se aos efeitos da recuperação, pode executar o garanti­dor. Um exemplo facilitará o entendimento: suponha-se uma limitada que emitiu uma promissória em favor de qualquer credor, tendo o sócio dessa limitada (ou qualquer terceiro) avalizado o título. Mesmo que o crédito esteja sujeito aos efeitos da recuperação, o credor pode executar o avalista. Deverá cuidar para, recebendo qualquer valor em qualquer das ações, comunicar nos autos da outra, tal recebimento. Neste caso

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135 Capítulo III - Seção I - Art. 49

(aval pleno), não há, por óbvio, qualquer limite ao valor em execução, ante a autonomia das relações cambiais.

S. Contra estes terceiros coobrigados, a ação só pode ser ajuizada após o vencimento normal, pois o vencimento não sofre qualquer alte­ração relativamente a estes terceiros, exatamente porque são conserva­dos íntegros todos os direitos, não afetados, portanto, pela recuperação nem com relação ao vencimento.

6. Havia previsão semelhante a esta para os casos de concordata, na lei anterior, no art. 148.

§ 2° As obrigações anteriores à recuperação judicial obser­varão as condições originalmente contratadas ou definidas em lei, inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se de modo diverso ficar estabelecido no plano de recuperação judicial.

7. Este parágrafo denota mais uma vez que esta Lei não traz ele­mentos que permitam supor a possibilidade de recuperação da empre­sa, ao contrário do que estava ocorrendo no regime da lei anterior, que, mesmo sem previsão específica, propiciou condições de inúmeras re­cuperações.

8. Com os juros altíssimos cobrados dos empresários em geral, um dos mais elevados do mundo, a concordata da lei anterior muitas vezes era a única possibilidade de salvação da empresa, pois o art. 163 daquela lei estabelecia que os juros das dívidas da empresa ficavam limitados a 12% ao ano. Era comum a concessão de juros inferiores a este patamar, pois a lei dizia que os juros seriam de até 12% ao ano e grande número de decisões entendia que seria correto fixar juros de 6% ao ano ou, no máximo, juros iguais aos da poupança (em tomo de 8% ao ano no momento da promulgação desta nova Lei).

9. No entanto, este § 2° conserva inalteradas todas as obrigações, afastand? aquele caminho aberto pelo art. 163 da lei anterior.

10. Pode, entretanto, o plano de recuperação dispor de forma con­trária, alterando as condições originalmente contratadas, conforme pre­vê a parte final deste § 2°.

§ 3° Tratando-se de credor titular da posição de proprietá­rio fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mer-

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Art. 49 - Capítulo III - Seção I 136

cantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domí­nio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4° do art. 6° desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.

§ 4° Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que se refere o inciso 11 do art. 86 desta Lei.

11. Esta disposição foi o ponto que mais diretamente contribuiu para que a Lei deixasse de ser conhecida como "lei de recuperação de empresas" e passasse a ser conhecida como "lei de recuperação do crédito bancário", ou "crédito financeiro", ao estabelecer que tais bens não são atingidos pelos efeitos da recuperação judicial. Ou seja, prati­camente todos os bens da empresa que forem objeto de alienação fi­duciária, arrendamento ou reserva de domínio, não estarão engloba­dos pela recuperação. Ficará extremamente dificultada qualquer recu­peração, se os maquinários, veículos, ferramentas etc., com os quais a empresa trabalha e dos quais depende para seu funcionamento, forem retirados.

12. O§ 4° do art. 6° estabelece que não poderão ser vendidos ou retirados do estabelecimento do devedor tais bens, durante o prazo de 180 dias, estabelecido no§ 4° do art. 6°. Este prazo é contado a partir do despacho que defere o processamento da recuperação (art. 52), tratan­do-se, porém, de prazo extremamente exíguo, insuficiente para qual­quer superação de crise que tenha exigido o pedido de recuperação.

13. O § 4° também será um sério óbice à possibilidade de se con­seguir uma efetiva recuperação. Com a inserção do País no processo de globalização, que pelo menos por ora parece irreversível, houve um esforço e um incentivo muito grandes no sentido de produção para ex­portação. E, em contrato de exportação, a grande possibilidade de capi­talização da empresa nacional surge da concessão, por parte dos ban­cos, do adiantamento por conta do contrato de câmbio.

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137 Capítulo 111 - Seção I - Art. 49

14. Ou seja, o exportador nacional promete vender mercadorias ao importador estrangeiro por meio de contrato de venda internacional, de tal forma que adquire um crédito a ser pago, dentro de determinado prazo, pelo importador estrangeiro, ou seja, o preço da mercadoria pro­metida à venda. Ao fechar o contrato de câmbio com o banco nacional para a viabilização da entrada do dinheiro estrangeiro no País, o expor­tador brasileiro consegue do banco este tipo de financiamento por adian­tamento de contrato de câmbio. Desta forma, o banco adianta ao expor­tador brasileiro os reais relativos à moeda estrangeira que deverá ser entregue no prazo estabelecido no contrato de compra e venda firmado entre exportador brasileiro e importador estrangeiro.

15. Como determina o parágrafo ora sob exame, também tal valor não estará sob os efeitos da recuperação judicial. Observe-se, porém, que mesmo estando o adiantamento de contrato de câmbio fora do al­cance da recuperação, ainda assim não será possível o pedido de resti­tuição, por ausência de previsão legal; a possibilidade de pedido de restituição para tal tipo de crédito apenas existe para o caso de falência (inciso li do art. 86).

16. Sem embargo dos malefícios que defluem de tal disposição, ainda assim é necessário ressaltar que a Lei, ao dizer que tais créditos não se submetem à recuperação judicial, mesmo assim não proibiu a inclusão deles no plano. Se houver - embora extremamente imprová­vel- anuência do credor, estes valores podem ser incluídos na decisão que concede a recuperação na forma do art. 58, se houver concordância do credor.

§ 5° Tratando-se de crédito garantido por penhor sobre tí­tulos de crédito, direitos creditórios, aplicações financeiras ou valores mobiliários, poderão ser substituídas ou renovadas as garantias liquidadas ou vencidas durante a recuperação judi­cial e, enquanto não renovadas ou substituídas, o valor even­tualmente recebido em pagamento das garantias permanecerá em conta vinculada durante o período de suspensão de que trata o § 4° do art. 6° desta Lei.

17. Este parágrafo estabelece que, em caso de haver débitos ga­rantidos pignoraticiamente por títulos de crédito, direitos creditórios, aplicações financeiras ou valores mobiliários, todos papéis que ao me-

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Art. 50 - Capítulo III - Seção I 138

nos teoricamente se transformam em dinheiro no momento do venci­mento, em tais casos as garantias podem ser substituídas ou renovadas.

18. Um exemplo demonstra a extensão exata deste artigo. Se o devedor tem um débito com um banco e entregou a este banco notas promissórias de terceiro, este terceiro, não sujeito a qualquer efeito da recuperação, deverá fazer normahnente o pagamento quando do venci­mento. Em uma situação normal, o banco abateria o valor recebido da dívida e ficaria com o dinheiro. Este parágrafo prevê que aquela garan­tia pode ser substituída e, portanto, o dinheiro recebido viria direta­mente para a empresa em recuperação.

19. No entanto, o benefício à empresa em recuperação é apenas aparente, porque este tipo de substituição depende de aprovação expressa do credor titular da garantia(§ 1 o do art. 50), aprovação altamente duvi­dosa.

20. Se renovada ou substituída a garantia, o valor recebido do ter­ceiro devedor do título empenhado poderá ser levantado pela empresa em recuperação. Se houver concordância do credor titular da garantia e não tiver sido feita a substituição da garantia, o dinheiro recebido ficará em conta vinculada durante o prazo de 180 dias previsto no§ 4° do art. 6°.

Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, obser­vada a legislação pertinente a cada caso, dentre outros:

I - concessão de prazos e condições especiais para paga­mento das obrigações vencidas ou vincendas;

1. A Lei pretendeu deixar às partes interessadas, ou seja, devedor e credores, a possibilidade de viabilização do plano de recuperação, sendo possível a concessão da recuperação na forma que estas partes acordarem, desde que não ocorra impedimento legal de outra ordem. O que se verifica é que a Lei estabeleceu que as partes devem informar qual tipo de recuperação pretendem. Tanto que este art. 50, ao relacio­nar, em seus 16 incisos, formas possíveis de recuperação, termina a expressão dizendo "dentre outros", deixando assim a cláusula em aber­to, a ser preenchida pela vontade das partes levada ao juiz.

2. A rigor, estes 16 incisos seriam até desnecessários. No entanto, a Lei, de forma louvável, optou por trazer indicações de meios a serem utilizados, repita-se, como meros indicativos.

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139 Capítulo III - Seção I - Art. 50

3. Pode o devedor, mediante a concordância dos credores que, reitera-se, aprovam o plano de recuperação por ele proposto, ser be­neficiado pela concessão de prazos maiores para pagamento de suas dívidas ou de condições especiais, podendo até mesmo abater parte da dívida.

11 - cisão, incorporação, fusão ou transfonnação de socie­dade, constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação vigente;

4. Estas figuras estão previstas nos arts. 1.113 e ss. do Código Civil, aplicáveis às sociedades em geral, e arts. 220 e seguintes da Lei 6.404176, para as sociedades anônimas. São formas lembradas pela Lei para recuperação, que acena também para a constituição de subsidiária integral, prevista no art. 251 e ss. da Lei das S.A. A cessão de quotas (a presente Lei fala em "cotas", o Código Civil fala em "quotas") na socie­dade limitada está prevista no art. 1.057 do Código Civil, enquanto a cessão de ações deve submeter-se às estipulações da Lei 6.404/76.

5. Cisão é a operação na qual a sociedade transfere parte de seu patrimônio para uma ou mais sociedades, extinguindo-se a so­ciedade original se houver transferência integral do patrimônio e permanecendo existente, se a transferência for parcial. Na incorpo­ração, uma ou mais sociedades são absorvidas por uma terceira, que sucede as incorporadas de forma completa. Na fusão, duas ou mais sociedades se unem, formando uma terceira sociedade, uma socie­dade nova. Transformação é o gênero, operação pela qual a socie­dade passa de um tipo para outro, sem que haja necessidade de dis­solução ou liquidação.

6. A subsidiária integral é o único caso no qual a sociedade anô­nima pode ser constituída com um único acionista, que deve ser neces­sariamente uma sociedade brasileira, para um determinado fim de inte­resse da sociedade brasileira original (art. 251 da Lei 6.404176).

111 - alteração do controle societário;

IV - substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus órgãos administrativos;

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Art. 50 - Capítulo III - Seção I 140

V- concessão aos credores de direito de eleição em separa­do de administradores e de poder de veto em relação às maté­rias que o plano especificar;

7. No regime da lei antiga, houve vários casos em que se verifica­va que a sociedade empresária estava sendo conduzida por seus contro­ladores ou administradores para a falência certa. Inúmeros exemplos poderiam ser relatados, lembrando-se também que em todos aqueles casos não havia meios legais que permitissem o afastamento destas pes­soas da direção das empresas.

8. Por isto, estes dois incisos, ao trazerem a previsão de alteração dos órgãos diretivos da sociedade empresária, acenaram no sentido cer­to. No entanto, como em vários momentos, aqui a Lei também ficou a meio caminho. O ideal seria, como constou do projeto em determinado momento e como ocorre em várias legislações estrangeiras, possibilitar o afastamento dos órgãos diretivos por iniciativa de grupos de credores ou mesmo por iniciativa do Ministério Público. No entanto, a previsão saiu do projeto e não trouxe a melhor diretiva para tais casos.

9. De qualquer forma, novamente lembrando-se que estes incisos são todos meros indicativos, pode haver casos nos quais a mudança do controle da empresa, ou a possibilidade de intervenção na administra­ção, propiciada pelo inciso V, possam vir a ser caminho indicado para a recuperação. Esta idéia de participação mais efetiva na administração de companhias é tendência surgida a partir de 1997, com a mini-re­forma da Lei das S.A. (Lei 6.404176), pela Lei 9.457/97, segundo anota Toledo (p. 420).

VI - aumento de capital social;

VII - trespasse ou arrendamento de estabelecimento, in­clusive à sociedade constituída pelos próprios empregados;

10. O aumento e redução do capital social, para as sociedades limitadas, estão previstos nos arts. 1.081 e ss. do Código Civil; para as sociedades anônimas, o aumento está estipulado nos arts. 166 e ss., e a redução, nos arts. 1731174 da Lei 6.404176.

11. O trepasse é negócio jurídico diverso da cessão de quotas na limitada e de alienação de controle na sociedade anônima; implica na

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141 Capítulo 111 - Seção I - Art. 50

venda do complexo de bens corpóreos e incorpóreos destinados à ativi­dade comercial (Coelho, p. 117). Ou seja, é o negócio que envolve o complexo unitário dos bens que possibilitam a atividade empresarial, com existência de aviamento objetivo, podendo envolver até a marca ou outro sinal distintivo (Barreto F", p. 213).

12. O arrendamento é o negócio mediante o qual o proprietário assegura a outro o uso e gozo de seu bem (no caso, do estabelecimen­to) a outrem, mediante remuneração fixada, o qual deverá ser registra­do na Junta Comercial para produzir efeitos ante terceiros (Negrão, p. 77). Esta condição de eficácia, prevista no art. 1.144 do Código Civil, evidentemente deve sofrer temperanças tendo em vista a publicidade dos atos praticados nos autos, permanecendo, porém, obrigatório o registro público.

VIII - redução salarial, compensação de horários e redu­ção da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva;

13. Este inciso, referindo-se a salário, faz expressa indicação no sentido de haver redução salarial, compensação de horários e redução da jornada de trabalho, indicando que, como era de se esperar, há neces­sidade da colaboração de todos os segmentos envolvidos. Portanto, si­naliza no sentido de exigir a dose de sacrifício necessária dos emprega­dos, o que, em tese, está correto.

14. No entanto, se se comparar este inciso com o inciso XII, abai­xo, mais uma vez fica patente a pressão que o capital financeiro exerceu para que os sacrifícios fossem exigidos de todos os outros interessados, menos do próprio capital financeiro. (Vide comentário ao inciso XII, abaixo.)

IX- dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição de garantia própria ou de terceiro;

15. É possível a dação para pagamento de dívida, desde que os credores concordem em receber determinados bens em substituição ao pagamento. A novação de dívidas (art. 360 e ss. do Código Civil de 2002), ou seja, a substituição de nova dívida pela anterior, pode ser meio eficaz para recuperar o empresário. Pelo dispositivo, pode interes-

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Art. 50 - Capítulo III - Seção I 142

sar ao credor reduzir o valor da dívida se forem reforçadas as garantias, pelo devedor ou terceiros.

16. Próxima da dação em pagamento está a cessão de créditos, que pode ser efetuada para fins de pagamento, de lastro para títulos mobiliários em operação de securitização para captação de recursos etc.

X - constituição de sociedade de credores;

17. A indicação é no sentido das mais amplas possibilidades de constituição de sociedades de credores reunidos, deixando a Lei aberta aos interessados a forma e a finalidade de tais sociedades.

XI - venda parcial dos bens;

18. Os bens da empresa constituem seu patrimônio, garantia das obrigações assumidas ante os credores. A rigor, a venda de bens da empresa é livre, desde que sempre tenha condições de responder por suas obrigações. Estando a empresa em recuperação, presume­se que não estará com suas obrigações em dia e, desta forma, a alie­nação de seus bens poderia ser vista até como forma de fraude a credores.

19. No entanto, dentro do plano de recuperação, esta venda é possível, desde que deferida a recuperação. Certamente, esta venda terá contado com a anuência dos credores ou terá ocorrido situação na qual houve condições de deferir a recuperação com autorização da venda.

20. O termo "parcial" também é genérico, não esclarecendo a Lei o que se deve entender por isto. A rigor, a empresa que vende 99% de seu patrimônio terá feito uma venda parcial de bens, não uma venda integral. No entanto, reitera-se a observação, esta Lei, na forma do sis­tema adotado, aliás, também pelo Código Civil, traz uma série de cláu­sulas abertas, a serem preenchidas pelo acordo das partes ou pela ativi­dade jurisdicional.

XII- equalização de encargos -financeiros relativos a débi­tos de qualquer natureza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial, aplicando-se

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143 Capítulo III - Seção I - Art. 50

inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do dis­posto em legislação específica;

21. Compare-se este inciso com o inciso VIII, acima. Lá, quanto a salários, fala~se expressamente em "redução de salários"; aqui, quan­to a "encargos financeiros", fala-se em "equalização", palavra equívoca que, em termos jurídicos, nada significa. Em termos meramente grama­ticais, equalizar significa "igualar, tomar uniforme" (Houaiss, verbete). Aliás, lendo-se o inciso não é possível afirmar-se com certeza o que pretendeu a Lei afirmar, ao contrário da clareza do inciso VIII; mais ainda, parece que a Lei efetivamente quis deixar a matéria na penum­bra, pois o dispositivo é de difícil, senão impossível intelecção.

XIII - usufruto da empresa;

XIV - administração compartilhada;

22. A expressão "usufruto da empresa" pode ser compreendida de diversas formas. É possível o usufruto do empresário (art. 1.225, IV do Código Civil de 2002), ou seja, em que pese a propriedade das quotas ou ações permaneça com os sócios do devedor, os credores receberão os dividendos sociais. Pode o usufruto incluir a possibili­dade dos credores elegerem administrador, ou administrarem os bens em lugar do devedor. Podem ainda os credores assumir a posição de usufrutuários de estabelecimento do devedor (arts. 1.144 e ss. do Código Civil), desta forma gerando recursos suficientes para a recu­peração.

23. A administração compartilhada entre os administradores (no­meados pelos sócios do devedor - não sócios - ou sócios do devedor) com administradores nomeados pelos credores ou por estes pessoal­mente permite acompanhamento direto dos atos realizados pelo empre­sário para sua recuperação.

XV - emissão de valores mobiliários;

XVI- constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento dos créditos, os ativos do devedor.

24. São várias as espécies de valores mobiliários que podem ser emitidos pela sociedade por ações ou por comandita por ações, pres-

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Art. 50 - Capítulo III - Seção I 144

tando-se especialmente a tal atividade as sociedades de propósito es­pecífico, cada vez mais comuns, com origem na SPC- special purpose company, destinadas a aumentar o respaldo patrimonial de tomadores de crédito (Gaggini, p. 51), com separação dos ativos da sociedade captadora e emissão de títulos mobiliários com lastro em tais ativos.

25. O valor mobiliário tradicional e mais conhecido é a ação so­cial, cuja emissão pode gerar aumento de capital, com entrada de di­nheiro na empresa, o que pode facilitar a recuperação pretendida. Tam­bém a emissão de debêntures, títulos comercializados no mercado ou conferidos aos devedores, cujo resgate prevê remuneração do capital empregado, prestam-se a tanto.

§ 1 o Na alienação de bem objeto de garantia real, a supres­são da garantia ou sua substituição somente serão admitidas mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia.

26. Já no§ 5° do art. 49, a Lei mencionou expressamente a possi­bilidade de substituição ou renovação de garantias pignoratícias. Aqui a Lei fala sobre alienação, supressão ou substituição de garantias reais, todas dependendo da expressa aprovação do credor titular da garantia.

27. Embora, como já anotado, seja problemático conseguir a anuência de tal credor, ainda assim a possibilidade existe em tese. Teria que se contar com um certo espírito de colaboração do credor, o qual normalmente não se faz presente na atividade comercial em geral.

§ 2° Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cam­bial será conservada como parâmetro de indexação da corres­pondente obrigação e só poderá ser afastada se o credor titu­lar do respectivo crédito aprovar expressamente previsão di­versa no plano de recuperação judicial.

28. A observação feita ao § 1 o, acima, adapta-se também a este § 2°. A Lei, para efetivamente permitir possibilidade de recuperação, te­ria que talvez ter sido mais incisiva, possibilitando uma interferência mais direta nas relações estabelecidas entre devedor e credores na recu­peração.

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145 Capítulo III - Seção I - Art. 50

29. Perdeu a possibilidade de ser incisiva, não trouxe qualquer artigo com a força determinante, por exemplo, do art. 163 da antiga lei (vide comentários ao § 2° do art. 49, acima), ficou a meio caminho, favoreceu o capital financeiro de forma acentuada e desigual, não se apresentando com efetividade para o fim que alardeava perseguir, nos termos do art. 47.

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Seção 11

Do pedido e do processamento da recuperação judicial

Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será ins­truída com:

I - a exposição das causas concretas da situação patrimo­nial do devedor e das razões da crise econômico-financeira;

1. O art. 159 da lei anterior trazia estipulação semelhante à pre­sente; no entanto, na prática, estabeleceu-se o sistema de ser feita uma exposição estereotipada, normalmente dizendo, de forma bastante ge­nérica, que a situação de crise que o País atravessa, os problemas decor­rentes da inflação (ou da globalização, ou do aumento do petróleo, ou da diminuição do poder aquisitivo da população como um todo, etc.) é que haviam levado o devedor à situação que o obrigou a pedir o favor legal. Sem embargo, sempre será recomendável que o devedor preste, de forma efetiva e clara, as informações que a Lei exige.

2. O art. 282 do CPC determina o que deve conter a petição ini­cial. Como se observa da boa prática processual, normalmente a inicial relata, resumidamente, quais fatos levaram o empresário à situação que tornou obrigatório o pedido de recuperação judicial. Tendo em vista que a situação econômico-financeira da empresa será examinada a par­tir dos documentos apresentados, este relato previsto no inciso 111 do art. 282 (o fato e os fundamentos jurídicos do pedido) deve ser mesmo resumido, limitando-se a indicar, em linhas gerais, quais ocorrências aconselharam o pedido de recuperação.

11- as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últi­mos exercícios sociais e as levantadas especialmente para ins­truir o pedido, confeccionadas com estrita observância da le­gislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:

a) balanço patrimonial;

b) demonstração de resultados acumulados;

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147 Capítulo III - Seção 11 -Art. 51

c) demonstração do resultado desde o último exercício so­cial;

d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;

3. O inciso II prevê a apresentação de demonstrações financeiras dos últimos três exercícios, confeccionadas de acordo com a legislação societária aplicável. Além destas três demonstrações, o devedor deverá providenciar uma demonstração feita especialmente para o pedido de recuperação, de tal forma que venha para os autos a informação exata da situação, no momento em que está sendo ajuizado o pedido.

4. Este inciso II acrescentou exigência que não constava da lei anterior, ao estabelecer a obrigatoriedade de apresentação do relatório gerencial do fluxo de caixa, bem como de sua projeção, o que trará condições de exame da situação do devedor no momento do pedido, bem como as perspectivas de movimentação futura.

5. Este é um dos pontos nos quais a fiscalização judicial acaba sendo falha, por falta de infra-estrutura. O juiz não é um técnico em contabilidade e não conta com a necessária assessoria técnica que lhe permita uma eficaz análise dos documentos contábeis apresentados. Algumas promotorias, embora raras, contam com assistência que lhes permite exame acurado do balancete apresentado para a prova deste ponto. No entanto, o veto presidencial ao art. 4° dificultou este auxílio das promotorias.

6. É necessário que se propicie esta efetiva assessoria ao juiz, que, repita-se, não é técnico em contabilidade, administração e finanças. Como há intenção, em diversas unidades da federação, de criar varas especializadas para recuperação e falência, seria necessária a criação também desta assessoria de natureza contábil em tais varas.

111 - a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atua­lizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos res­pectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente;

7. A lista nominativa prevista no inciso 111 deve conter o nome de todos os credores e não apenas aqueles sujeitos aos efeitos da recupera-

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Art. 51 - Capítulo III - Seção 11 148

ção, até porque qualquer credor, sujeito ou não ao plano, pode apresen­tar objeção (art. 55). Deve tal lista apresentar os credores separados por suas categorias, com todos os dados dos respectivos créditos. Estes cre­dores, se sujeitos aos efeitos da recuperação, serão considerados habili­tados, desde que não haja impugnação ao nome ou valor ali listados, conforme previsto no art. 14.

8. Os credores que estiverem sujeitos aos efeitos da recuperação, devem ser relacionados em tópico especial, pois esta relação será a base para o administrador judicial efetuar a publicação determinada no § 2° do art. 7°, para que sejam apresentadas eventuais impugnações; se ine­xistente qualquer impugnação, esta lista será homologada como qua­dro-geral de credores, na forma do já referido art. 14.

IV - a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;

9. A situação dos empregados é fundamental para que o juiz e os credores possam avaliar a situação do devedor, como, aliás, ocorre em qualquer sociedade empresária. Além de informar o valor do salário e eventuais indenizações, esta lista deve trazer também a discriminação dos valores em atraso, ou seja, valores pendentes de pagamento.

10. Todos os valores em atraso dos salários devem ser pagos, na recuperação, no prazo máximo de um ano (art. 54); o valor dos créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos três últimos meses anterio­res ao pedido de recuperação devem ser pagos em 30 dias a contar do ajuizamento do pedido. Por isto, o devedor terá que apresentar lista des­critiva separada de tais créditos e, caso não a apresente já com a inicial, deve o juiz expedir determinação neste sentido, sob pena de indeferimen­to da inicial, na forma do art. 284 e parágrafo único, do CPC.

V - certidão de regularidade do devedor no Registro Pú­blico de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;

11. Com a juntada de tais documentos, além de virem aos autos os esclarecimentos necessários para que se conheça quem são os adrni-

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nistradores, estará ainda o devedor demonstrando que preenche a con­dição exigida pelo art. 48, ou seja, exercício regular de suas atividades por prazo superior a dois anos.

12. Se o devedor estiver registrado há menos de dois anos na Jun­ta Comercial, deve o juiz indeferir a inicial, na forma do art. 267 do CPC, por falta de interesse processual.

VI - a relação dos bens particulares dos sócios controlado­res e dos administradores do devedor;

13. É importante que tal informação venha para os autos, já com o pedido inicial, não só para conhecimento da situação patrimonial de sócios controladores e administradores, como também para eventual futura aplicação do art. 82 que, em seu § 2°, prevê que o juiz pode, de ofício ou mediante requerimento, ordenar a indisponibilidade de seus bens particulares em quantidade compatível com eventual dano cujo valor se esteja perquirindo.

14. Outro aspecto ainda recomenda especial rigor na conferência desta relação, tendo em vista a ocorrência, às vezes freqüente, de au­mento substancial do patrimônio pessoal de sócios controladores e ad­ministradores, em proporção inversa ao empobrecimento da empresa. Este também é um dado de extrema relevância para o exame dos autos e até para eventual aplicação eficiente, se for o caso, da teoria da descon­sideração da personalidade jurídica.

15. A informação deverá ser prestada com absoluta correção, até porque a informação falsa, além de outras conseqüências, poderá sub­meter sócios controladores e administradores à pena de reclusão de 2 a 4 anos e multa, conforme previsto no art. 171 desta Lei, que tipifica o crime de "indução a erro". Aliás, todas as informações devem ser pres­tadas com rigorosa precisão, sob as penas deste mesmo artigo.

VII - os extratos atualizados das contas bancárias do de­vedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;

16. A apresentação desses documentos serve para a apuração da disponibilidade em dinheiro da empresa em recuperação. Ulteriormen-

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Art. 51 - Capítulo III - Seção 11 150

te, em caso de convolação da recuperação judicial em falência, as quan­tias pertencentes à empresa e, porventura, ainda existentes nessas con­tas, deverão ser recolhidas em favor da massa falida.

17. Ademais, o administrador judicial poderá solicitar regular­mente vista destes extratos bancários, a fim de acompanhar a saúde financeira da empresa. A Lei foi específica neste ponto, deixando claro que o sigilo bancário daquele que pede recuperação está rompido, evi­dentemente não como penalidade, mas sim como necessidade de pres­tação de informações precisas a todos os interessados no andamento da recuperação.

VIII - certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde pos­sui filial;

18. A apresentação desses documentos já era obrigatória por oca­sião da impetração de concordata preventiva, nos termos do art. 158, da lei anterior, e se presta para constatação da saúde econômico-financeira da empresa, e, em caso de decretação de falência, fixar o termo legal da quebra, nos moldes do art. 99, Il.

19. O dispositivo não exige a apresentação de certidão negativa de protesto, satisfazendo-se com a apresentação das certidões, mesmo que haja indicação de protestos efetuados.

20. A Lei foi correta ao afastar a exigência constante do art. 158, IV, da lei anterior, que exigia do devedor a prova de inexistência de títulos protestados. No regime da lei anterior, esta exigência sempre foi causa de grandes problemas, pois os credores, exatamente para recebe­rem sob pressão, encaminhavam todos os títulos vencidos a protesto quando imaginavam que o devedor estaria se preparando para pedir concordata. Aliás, isto aconteceu com tanta freqüência que a jurispru­dência já havia se pacificado no sentido de que protestos efetuados nos dias imediatamente anteriores ao ajuizamento do pedido de concordata não eram óbice ao deferimento. Entendia-se como "dias imediatamente anteriores" o prazo em torno de trinta dias.

IX - a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de nature-

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za trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores deman­dados.

21. Tal obrigação mostra-se comum em qualquer organização empresarial, tendo em vista o procedimento adotado por empresas de auditoria. Geralmente, além da anotação da estimativa dos valores de­mandados, são utilizados critérios para caracterização de êxito prová­vel ou remoto na ação judicial, a fim de determinar o modo como tais valores serão incluídos na contabilidade da empresa. Aqui, a Lei exige apenas a estimativa dos valores demandados.

§ r Os documentos de escrituração contábil e demais rela­tórios auxiliares, na forma e no suporte previstos em lei, per­manecerão à disposição do juízo, do administrador judicial e, mediante autorização judicial, de qualquer interessado.

§ 2° Com relação à exigência prevista no inciso 11 do caput deste artigo, as microempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar livros e escrituração contábil simplifica­dos nos termos da legislação específica.

§ 3° O juiz poderá determinar o depósito em cartório dos documentos a que se referem os §§ 1 o e 2° deste artigo ou de cópia destes.

22. O art. 160 da lei anterior determinava a entrega dos livros obrigatórios em juízo no momento em que era requerida a concordata, livros que eram encerrados pelo escrivão, sob rubrica do juiz. Tais li­vros apenas seriam devolvidos ao autor do pedido de concordata, quan­do fosse deferida a concordata (o que nunca ocorria, porque a concor­data normalmente terminava ou pelo decreto de falência ou pela homo­logação da desistência).

23. O § 1 o ora sob análise, embora não reproduza os termos expres­sos da lei anterior, ainda assim obriga que o devedor entregue em juízo os livros, que deverão também ser encerrados pelo escrivão, sob rubrica do juiz, para evitar lançamentos que depois venham a alterar a situação con­tábil da empresa. Ou seja, há necessidade de que fique demonstrado qual era a exata situação do devedor, no momento em que apresentou o pedido de recuperação. Ademais, tais livros são indispensáveis para que se co­nheça a real situação da empresa, em seus detalhes.

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Art. 52 - Capítulo III - Seção 11 152

24. Esta documentação fica à disposição do juízo e do adminis­trador judicial; no entanto, outros interessados, mesmo credores, terão que pedir autorização ao juiz para consulta aos livros. Sem prejuízo, se requeridos extratos, o administrador judicial tem a obrigação de fornecê­los (art. 22, I, c).

25. Em caso de recuperação, a empresa requerente prossegue nor­malmente em suas atividades e, por isto mesmo, necessita ter consigo os livros contábeis, não podendo aguardar a devolução por parte do juízo. Assim, o devedor deverá providenciar a abertura de novos livros para os lançamentos normais e, em caso de fiscalização, informará, com­provando, que os livros anteriores estão à disposição do juízo, não po­dendo, por óbvio, vir a sofrer qualquer tipo de autuação pelo fato de ter iniciado novos livros antes que os anteriores estivessem terminados.

Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato:

1. Da mesma forma que, no sistema da lei anterior, o juiz deferia o processamento da concordata (art. 161, § 1°), a Lei atual prevê, neste art. 52, que, se a documentação estiver em termos, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial. Será objeto de exame posterior, mas desde já ressalte-se que aqui está se falando em despacho que "de­fere o processamento da recuperação", o qual não deve ser confundido com o despacho que "concede a recuperação" e que está previsto no art. 58, que será examinado adiante. Relembre-se também o terceiro mo­mento, ou seja, o do art. 63, momento em que o juiz, por sentença, decreta o encerramento da recuperação.

2. A Lei, aqui, não prevê a colheita de manifestação obrigatória do Ministério Público, de tal forma que, se o juiz verificar que a docu­mentação está em termos, deverá desde logo prolatar despacho deferin­do o processamento da recuperação.

I - nomeará o administrador judicial, observado o dispos­to no art. 21 desta Lei;

3. No despacho que defere o processamento da recuperação, o juiz desde logo nomeia o administrador judicial, observando o que de-

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153 Capítulo 111 - Seção 11 - Art. 52

termina o art. 21. De forma bastante livre, poder-se-ia dizer que a fun­ção do administrador na recuperação judicial corresponderia basica­mente às existentes no processo de falência. No entanto, há diferenças fundamentais entre essas duas figuras, bastando lembrar que o admi­nistrador judicial assume a administração da falida (art. 103), vez que o devedor é imediatamente afastado dela. No caso da recuperação judi­cial, os devedores, em regra, permanecem com a plena administração da sociedade empresária, sob a fiscalização do administrador (art. 64), podendo ocorrer a eventualidade do afastamento do devedor. Só neste momento é que o administrador judicial assume a empresa em recupe­ração (§ 1 o do art. 65), e, mesmo assim, de forma temporária.

11 - determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, observando o disposto no art. 69 desta Lei;

4. O inciso dispõe que o juiz determinará a dispensa da apresen­tação de certidões negativas para que o devedor exerça suas atividades. A Lei não usou de boa técnica aqui, pois, se pretendeu dispensar as certidões, não haveria qualquer necessidade de estabelecer que o juiz "determinará"; bastava que a determinação já viesse inserida no pró­prio inciso, para operar ex vi legis e para evitar trabalho jurisdicional que poderia ser evitado.

5. No entanto, dependendo do tipo de empresa, este inciso pode determinar a inviabilidade da continuação das atividades. Com efeito, imagine-se uma empresa que tem grandes contratos com o Poder Públi­co e que, no momento em que pede sua recuperação, fica proibida de continuar tais contratos, a menos que apresente certidões negativas.

6. Quanto ao aspecto fiscal - como, aliás, também com relação aos créditos de instituições financeiras - a Lei deixou bastante a dese­jar. Observe-se, a propósito, que embora neste momento sejam dispen­sadas as certidões negativas fiscais, elas terão que ser apresentadas logo adiante, sem o que não poderá o juiz conceder a recuperação judicial (art. 57). Mesmo a apresentação de certidão na forma do art. 206 do CTN, possível no caso, poderá ser óbice, ante o tempo que tais provi­dências consomem.

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Art. 52 - Capítulo III - Seção 11 154

7. Enfim, no afã de salvaguardar o crédito fiscal e o crédito ban­cário, a Lei estabeleceu regras que terão alto poder de inviabilização da recuperação pretendida.

111 - ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o devedor, na forma do art. 6° desta Lei, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1°, 2° e 7o do art. 6° desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma dos §§ 3° e 4° do art. 49 desta Lei;

8. Este inciso resolve inicialmente um aspecto relativo à compe­tência, que trazia alguns desentendimentos no sistema da lei anterior. Ou seja, ao determinar a suspensão das ações e execuções, deixa desde logo claramente fixado que os autos permanecerão na Vara na qual já estão. Portanto, neste aspecto, ficam superadas as antigas discussões relativas à competência em tais casos e, se tais ações vierem a prosse­guir futuramente, terão seu andamento ante o mesmo juiz perante o qual já se encontravam.

9. Relembre-se que estas ações voltarão a correr normalmente den­tro de 180 dias, de tal maneira que os bens financiados e que estão na empresa do devedor poderão ser retirados após findo tal prazo (vide art. 49, § 3°, parte final). Observe-se que as ações relativas a tais bens conti­nuam correndo normalmente, por força da exceção constante da parte final do inciso III ora sob exame; no entanto, mesmo que na ação se esteja na fase de expedição de mandado para reintegração de posse ou busca e apreensão de algum bem, a diligência ficará suspensa por 180 dias.

10. As exceções dos §§ 1°, 2° e 7° do art. 6° dizem respeito, respec­tivamente, a ação que demanda quantia ilíquida, ação trabalhista até a fixação do valor devido, e execução fiscal, feitos que não são atingidos pela suspensão ora examinada e que terão normal prosseguimento.

IV - determinará ao devedor a apresentação de contas de­monstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação judi­cial, sob pena de destituição de seus administradores;

11. O inciso fala em "enquanto durar a recuperação judicial" e, por isto, é necessário relembrar que a recuperação ainda não foi conce-

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155 Capítulo III - Seção 11 - Art. 52

dida, tendo apenas sido deferido o seu processamento, como já anotado acima. De qualquer forma, está claro que, a partir do presente momen­to, o devedor deve apresentar contas demonstrativas mensais, embora haja o risco de eventualmente não ser concedida a recuperação.

V -ordenará a intimação do Ministério Público e a comu­nicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento.

12. A determinação é clara, tratando-se de providências a serem tomadas sem maiores dificuldades de entendimento.

13. Anote-se ainda que o juiz deverá também determinar que se expeça ofício à Junta Comercial, para que seja feita a anotação determi­nada pelo parágrafo único do art. 69.

§ 1 o O juiz ordenará a expedição de edital, para publica­ção no órgão oficial, que conterá:

I - o resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento da recuperação judicial;

11 - a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e a classificação de cada crédito;

111 - a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma do art. 7°, §r, desta Lei, e para que os cre­dores apresentem objeção ao plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor nos termos do art. 55 desta Lei.

14. Havia determinação semelhante a esta no§ 1° do art. 161 da lei anterior e, especificamente com relação à providência a ser tomada, não surgem também maiores dificuldades de entendimento. No entan­to, havia uma severa e ainda não pacificada discussão jurisprudencial sobre o pagamento das despesas de edital, que a Lei teria feito bem se a tivesse solucionado.

15. Normalmente, estes editais são longos, especialmente porque deles devem constar os nomes dos credores, com os valores dos respec­tivos créditos; como as despesas de publicação são grandes, argumen­tava o antigo concordatário que deveria ficar isento do pagamento das despesas; contra tal argumentação, opunha-se o entendimento de que

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Art. 52 - Capítulo III - Seção 11 156

não haveria qualquer razão para que o órgão oficial fizesse a publicação gratuitamente, o que, em último exame, transferiria para a população, que paga impostos, o financiamento das despesas de andamento do pe­dido de recuperação.

16. Como se disse, não havia entendimento jurisprudencial paci­ficado. Sem embargo dos fortes argumentos de ambas as correntes, o mais correto seria exigir do devedor o pagamento do devido pelos editais, pois efetivamente não se lhe pode conceder gratuidade indireta. Ade­mais, se a empresa está em tão grande dificuldade que não pode supor­tar as despesas de edital, com grande probabilidade não estará também em condições de conseguir o deferimento da recuperação.

§ 2° Deferido o processamento da recuperação judicial, os credores poderão, a qualquer tempo, requerer a convocação de assembléia-geral para a constituição do Comitê de Credo­res ou substituição de seus membros, observado o disposto no § 2° do art. 36 desta Lei.

17. Se houver credores que representem no mínimo 25% (§ 2° do art. 36) de uma das três classes previstas nos incisos do art. 26, a partir do presente momento processual já é possível requerer ao juiz a convo­cação de assembléia-geral de credores para a formação do Comitê de Credores (art. 26). Após formado o Comitê e eleitos seus membros (art. 35, I, b), poderá também ser requerida convocação para substituição dos membros eleitos.

§ 3° No caso do inciso 111 do caput deste artigo, caberá ao devedor comunicar a suspensão aos juízos competentes.

18. Trata-se de diligência simples, porém importante, a ser cum­prida pelo devedor, devendo comprovar ao juiz da recuperação que fez as devidas comunicações.

§ 4° O devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial após o deferimento de seu processamento, salvo se obti­ver aprovação da desistência na assembléia-geral de credores.

19. No sistema da lei anterior, após o choque de entendimentos divergentes, a jurisprudência majoritariamente afirmou ser possível a

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157 Capítulo III - Seção 11 -Art. 52

desistência do pedido de concordata. Aqui a lei estabelece de forma expressa ser possível a desistência, com aprovação da assembléia-geral dos credores.

20. O parágrafo ora sob exame estabelece que este tipo de desis­tência é possível após o deferimento do processamento (art. 52), nada falando sobre desistência após a concessão da recuperação (art. 58). No entanto, como a concessão da recuperação sempre será "após o deferi­mento do processamento", conclui-se que em qualquer momento é pos­sível a desistência.

21. Finalmente, como o § 4° condicionao pedido de desistência à aprovação da assembléia-geral "após o deferimento de seu processa­mento", contrario sensu o pedido de desistência pode ser feito inde­pendentemente de qualquer aprovação da assembléia, desde que apre­sentado antes da decisão que defere o processamento.

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Capítulo III - Seção 11 158

Processamento da Recuperação Judicial arts. 51169 e 73

Art. 51 -Ajuizamento do pedido I de recuperação, instrufdo cf.

1 incisos e parágrafos deste artigo

Art. 52 -Juiz defere o processamento, ~ Art.52,§4"-Devedorpode I I Art. 73 -Pedido pode ser I nomeia administrador, suspende ações e desistir do pedido, se houver indeferidoi falência não

execuções por 180 dias, expede edital para aprovação da assembléia-geral pode ser decretada conhecimento de todos

I I

I I I Art. 52,§ 2"-Após Art. 52,§ l',III- Art. 53- Em 60 dias

deferido o Credores podem contados do deferimento Art. 73, li-Se devedor processamento da apresentar objeção ao (art. 52), devedor 1--- não apresenta plano no

recuperação, credores plano, cf. art. 55, no apresenta plano de prazo, juiz decreta a podem convocar AO prazo do § 2" do art. 7' recuperação falência

para formar Comitê de

I

Credores (art. 36)

I Art. 53, parágrafo único- Recebido o plano,· I juiz manda publicar edital para manifestação,

no prazo do art. 55

I

I. Arts. 55 e 56- Se houver objeção, juiz I convoca AG, no prazo máximo de 150 dias contados do deferimento do art. 52

I

I Arts. 73, III, e 56,§ 4'- Se AGI rt. 58, § 1' -Juiz pode concede1 rejeita plano de recuperação, recuperação, mesmo contra

juiz decreta falência decisão da AO

I Arts. 73, 1,42e35,1,a-Se I assembléia deliberar pela falência, juiz a decretará

Art. 57 -AO aprova plano, ou não há objeção, ou juiz aprova mesmo com

objeção; após devedor apresentar certidão negativa de tributos, juiz concede a

recuperação, cf. art. 58

I Art. 61 -Devedor permanece em recuperação por 2 anos i cumpridas as obrigações vencidas neste H Art. 73, IV- Se descumprida a

prazo, juiz decreta o encerramento (art. 63 ). obrigação do plano no prazo de 2 anos Credores remanescentes podem executar ou pedir (art. 61),juizdecretaa falência

falência (art. 62) em caso de descumprimento

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Seção 111 Do plano de recuperação judicial

Art. 53. O plano de recuperação será apresentado pelo de­vedor em juízo no prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recu­peração judicial, sob pena de convolação em falência, e deverá conter:

1. Apresentada a petição inicial de recuperação (art. 51), poderá o juiz indeferir a inicial ou julgar, em tese, improcedente o pedido; não prevendo a Lei a possibilidade de decreto de falência. Se o pedido esti­ver em termos, o juiz poderá, em tese, no próprio despacho inicial, de­ferir o processamento da recuperação judicial (art. 52), mandando pu­blicar a decisão para intimação das partes, na forma do art. 236 do CPC.

2. A partir da publicação da decisão, e não a partir da publicação do edital (§ 1 o do art. 52), começa a correr o prazo de 60 dias previsto no artigo sob exame, para que o devedor apresente em juízo o plano de recuperação. A Lei estabelece que este prazo é improrrogável, peremp­tório, portanto, e não dilatório (arts. 181 e 182 do CPC).

3. Se o plano de recuperação não for apresentado neste prazo, os autos irão conclusos ao juiz para o decreto de falência. Sem embargo do princípio da celeridade buscado .pela Lei, quem atua no dia-a-dia das falências sabe que este prazo é extremamente exíguo, tendo em vista que o plano a ser apresentado configurará praticamente uma reestrutu­ração da vida econômico-financeira da empresa. De qualquer forma, neste caso a Lei é expressa no sentido de ser decretada a falência.

4. Evidentemente, os advogados e técnicos que vierem a traba­lhar com este novo diploma tentarão encontrar a melhor forma de levar a bom termo seus pedidos. No entanto, desde já é possível perceber que será de boa cautela já ter o plano projetado inteiramente (ou quase in­teiramente), no momento em que for ajuizado o pedido, para que não se corra o risco de se tornar impossível cumprir o prazo de 60 dias aqui estabelecido.

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Art. 53 - Capítulo III - Seção III 160

I - discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, conforme o art. 50 desta Lei, e seu resumo;

5. O art. 50, em seus 16 incisos, traz indicações de meios a serem utilizados para o plano de recuperação. Esta relação de 16 incisos é meramente exemplificativa, pois o artigo 50, no caput, diz que estes constituem meios de recuperação "dentre outros". Portanto, o espírito criativo das partes e de seus advogados, certamente assistidos por téc­nicos em economia e administração, propiciará a criação dos melhores caminhos a trilhar para o plano a ser apresentado.

6. O inciso estabelece que deve haver discriminação pormenori­zada dos meios que serão empregados, estabelecendo ainda que deve ser apresentado um resumo. Esta disposição é salutar e deve ser obser­vada pelo devedor, vez que, dependendo do volume de negócios do devedor, este plano pode se estender por um grande número de folhas, daí a necessidade de um resumo, que facilite o exame esquemático do que está sendo proposto.

11 - demonstração de sua viabilidade econômica; e

7. Este plano destina-se a ser examinado pelos credores, tendo o devedor, por óbvio, a pretensão de que não haja objeções (art. 55) por parte dos credores. Por outro lado, o plano deverá ser examinado pelo juiz, preferencialmente com infra-estrutura técnica oficial, para que seja conhecido e sopesado.

8. Por tudo isto, além dos elementos acima exigidos, deve ainda o devedor trazer a demonstração da viabilidade econômica do plano, for­necendo elementos de análise que tragam indicações fundadas de que o projeto está corretamente elaborado e que, se deferido, levará a empresa à recuperação, com a geração de riqueza suficiente para o cumprimento de todas as obrigações assumidas. Trata-se também de peça técnica, a ser examinada com a devida assistência de pessoas habilitadas a tanto.

111 - laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habi­litado ou empresa especializada.

9. Como já anotado acima, da mesma forma que ao juiz tem de ser fornecida estrutura técnica oficial para o correto exame do que vier

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161 Capítulo III - Seção III - Art. 54

a ser apresentado nos autos, da mesma forma o devedor também terá que cercar-se de técnicos experientes e legalmente habilitados para as diversas fases da recuperação.

10. Este inciso, ao exigir laudo econômico-financeiro da situação da empresa e laudo de avaliação dos bens e ativos, exige que seja subs­crito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.

Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano de recuperação e fixando o prazo para a manifestação de even­tuais objeções, observado o art. 55 desta Lei.

11. Recebendo o plano de recuperação, o juiz determina a publi­cação de edital, a partir do qual conta-se o prazo de 30 dias previsto no art. 55, para que os credores apresentem as objeções que acaso tenham contra o plano, prosseguindo-se então, na forma do que estabelecem os arts. 56 e ss., abaixo examinados.

Art. 54. O plano de recuperação judicial não poderá pre­ver prazo superior a 1 (um) ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de aciden­tes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação judicial.

Parágrafo único. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dhts para o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de na­tureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses ante­riores ao pedido de recuperação judicial.

1. Conforme ressaltado acima (comentário 5 ao art. 53), a Lei dei­xou ao espírito criativo das partes e seus advogados, assessorados por técnicos em administração e economia, a possibilidade de criar os me­canismos que entendam melhor para a recuperação da empresa, dentro da infinitude de situações que podem surgir para o caso de cada deve­dor, na atividade do dia-a-dia.

2. Sem embargo, estabeleceu alguns parâmetros mínimos, a se­rem obrigatoriamente observados, estipulando neste art. 54 que os cré­ditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes

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Art. 54 - Capítulo III - Seção III 162

do trabalho, já vencidos até a data do pedido, deverão ser pagos no prazo máximo de um ano, prazo este contado a partir do dia do ajuiza­mento do pedido de recuperação.

3. Há aqui um complicador que não foi devidamente sopesado pela Lei, até porque surgiu em período de tempo no qual a presente Lei já estava praticamente aprovada. É que a Emenda Constitucional n. 45, de 08.12.2004, alterou profundamente a distribuição de competência, aumentando a da Justiça do Trabalho, de uma forma tão acentuada que neste primeiro momento ainda não está sendo possível avaliar todas as conseqüências práticas dela decorrentes.

4. Como o art. 54 ora sob exame fala em "legislação do trabalho", e como a mudança de competência teve por base exatamente a determi­nação da competência daquela justiça especializada, não mais pela re­lação "de emprego" e sim pela relação de "trabalho", é possível que estes valores se ampliem de forma acentuada.

5. Já o parágrafo único também estabelece, agora falando especi­ficamente em verba de natureza estritamente salarial, o prazo mínimo de 30 dias para o pagamento dos valores vencidos nos últimos três me­ses anteriores ao pedido de recuperação judicial, no limite máximo de cinco salários mínimos.

6. Ante a natureza alimentar de tal verba e a necessidade de ur­gência daí decorrente, o depósito deverá ser feito no prazo de até 30 dias a partir da juntada do plano de recuperação, independentemente de qualquer outra providência, sob pena de· falência.

7. Evidentemente, se vier a se verificar posteriormente que os valores informados eram incorretos, tal fato poderá ser tido como ca­racterizador de descumprimento das obrigações assumidas nos autos, podendo ser decretada a falência (inciso IV do art. 73, por analogia), sem prejuízo da responsabilização pelo crime de "indução a erro", pre­visto no art. 171 das Disposições Penais desta Lei.

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Seção IV

Do procedimento de recuperação judicial

Art. 55. Qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de recuperação judicial no prazo de 30 (trin­ta) dias contado da publicação da relação de credores de que trata o § 2° do art. 7° desta Lei.

Parágrafo único. Caso, na data da publicação da relação de que trata o caput deste artigo, não tenha sido publicado o aviso previsto no art. 53, parágrafo único, desta Lei, contar-se­á da publicação deste o prazo para as objeções.

1. O§ 2° do art. 7° estabelece que o administrador judicial exami­nará os livros contábeis e documentos comerciais e fiscais, bem como os documentos apresentados pelos credores, com o objetivo de verifi­car os créditos existentes. Tratando-se de pedido de recuperação, o de­vedor já terá apresentado em juízo os livros e documentos contábeis necessários, na forma do § 1 o do art. 51. Por outro lado, se o pedido de recuperação estiver em termos (art. 52), o juiz terá ordenado a expedi­ção de edital para publicação na imprensa oficial (§ 1 o do art. 52), o qual já conterá a relação nominal dos credores (§ 1°, II, do art. 52).

2. Este edital do § 1 o do art. 52 já deverá conter a advertência com relação aos prazos para apresentação de objeção ao plano, embora o plano ainda não tenha sido apresentado, o que só ocorrerá com o art. 55 ora sob exame; marcará também o início do prazo de 15 dias para habi­litações ou divergências relativamente aos créditos constantes da lista publicada (art. 52,§ 1°, III, c/c. art. 7°, § 1°), embora ainda não tenha sido publicado o edital do § 2° do mesmo art. 7°, que poderá tornar desnecessária a habilitação, pois poderá já incluir aquele crédito que teria faltado no edital anterior.

3. Terminadas todas as diligências acima referidas, o administra­dor judicial mandará publicar outro edital, ou seja, o previsto no § 2° do art. 7°, e aí abre-se novo prazo para impugnar os créditos. Ou seja, há um primeiro prazo para impugnar os créditos constantes do edital do §

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Art. 55 - Capítulo III - Seção IV 164

1 o do art. 52; posteriormente, abre-se novo prazo a partir do novo edital do § 2° do mesmo art. 7°.

4. Quando se abre o segundo prazo para impugnação dos créditos (§ 2° do art. 7°), abre-se também o prazo para apresentação de objeções ao plano que, neste momento, já deverá estar nos autos (art. 55). Como o prazo para apresentação do plano de recuperação é extremamente exí­guo, 60 dias (art. 53), o parágrafo único do art. 55 já prevê a possibili­dade (muito provável, aliás) de não ter sido publicado o aviso previsto no parágrafo único do art. 53, estabelecendo então que, em tal caso, o prazo para as objeções se contará a partir de quando a publicação for efetuada.

5. Como se vê, ao determinar a contagem de prazos diferentes, para providências diferentes, a partir de momentos diferentes, bem como mais de um prazo para a mesma providência, tudo ao mesmo tempo, a Lei criou uma fonte certa de tumulto processual. Caberá ao intérprete tentar encontrar na Lei a forma correta de aplicação, sob pena de se chegar a um impasse processual e frustrar-se até o simples andamento do pedido de recuperação.

6. Certamente a jurisprudência aplainará o impasse; no entanto, ao juiz, obviamente, caberá dar andamento ao feito de imediato e, como sugestão para evitar qualquer impasse e para aplicar a determinação legal, até que a jurisprudência se forme, um caminho possível seria o seguinte:

a) deferido o processamento da recuperação judicial (art. 52), e apresentado o plano de recuperação no prazo de 60 dias a contar da publicação desta decisão (art. 53), o juiz deverá despachar esclarecendo que o prazo para objeções ao plano (art. 55) apenas se iniciará a partir da publicação do edital do § 2° do art. 7°;

b) para afastar o impasse processual que se formaria, o juiz deve esclarecer também que torna sem efeito o prazo concedido no inciso III do § 1 o do art. 52, no que diz respeito ao prazo para habilitação de créditos, e que fica reaberto o prazo geral para todas as habilitações, a partir da publicação do edital do § 2° do art. 7°;

c) desta forma, a partir da publicação do edital do § 2° do art. 7°, começam a correr os prazos para objeção ao plano (art. 55) e para impug­nação à relação de credores (art. 8°);

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165 Capítulo 111 - Seção IV - Art. 56

d) haverá sempre o risco de estar sendo dado andamento a uma objeção apresentada por alguém que, eventualmente, depois se verifi­cará que não é credor, pois estão correndo concomitantemente as obje­ções e as habilitações; no entanto, se se aguardar a decisão de todos os créditos para só após se dar início ao andamento das objeções, segura­mente o feito se arrastará por muito tempo sem solução;

e) finalmente, todas as arestas de natureza processual que forem surgindo serão aparadas pela atividade jurisdicional, para que se evite qualquer impasse e para que o processamento não sofra solução de con­tinuidade, sempre com vistas aos princípios da celeridade e da econo­mia processual. Sem embargo, teria sido recomendável que o legislador atentasse para o fato de que a busca da celeridade a qualquer custo pode levar a impasses que provocam exatamente o efeito contrário.

Art. 56. Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz convocará a assembléia-geral de credores para deliberar sobre o plano de recuperação.

1. O problema vislumbrado acima (letra d do comentário 6 ao art. 55) já se corporifica aqui; diz este artigo que, se houver objeção de "qualquer credor", será convocada assembléia-geral. No entanto, pode ocorrer de haver objeção por alguém que está tendo a sua condição de credor sob discussão. Assim, a princípio esta objeção não poderia ser processada. Por outro lado, se a Lei proibisse, simplesmente, o pro­cessamento da objeção enquanto não tivesse sido decidido o crédito, estaria aberta a porta para o uso de má-fé por parte do devedor, que contestaria o crédito apresentado, apenas para evitar que aquele deter­minado credor pudesse valer-se de objeção.

2. Terá o juiz que se valer de seu poder de direção do processo e examinar, para formação de conhecimento provisório sobre a viabili­dade (ou não) de existência do crédito e, a partir da convicção, tam­bém provisória, que formar, decidir se deve ou não convocar a assem­bléia-geral.

§ 1 o A data designada para a realização da assembléia-ge­ral não excederá 150 (cento e cinqüenta) dias contados do de­ferimento do processamento da recuperação judicial.

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Art. 56 - Capítulo III - Seção IV 166

§ 2° A assembléia-geral que aprovar o plano de recupera­ção judicial poderá indicar os membros do Comitê de Credo­res, na forma do art. 26 desta Lei, se já não estiver constituído.

§ 3° O plano de recuperação judicial poderá sofrer altera­ções na assembléia-geral, desde que haja expressa concordân­cia do devedor e em termos que não impliquem diminuição dos direitos exclusivamente dos credores ausentes.

§ 4° Rejeitado o plano de recuperação pela assembléia-ge­ral de credores, o juiz decretará a falência do devedor.

3. Sobre a formação da assembléia-geral de credores e do Comitê de Credores, vide, respectivamente, arts. 35 e ss. e 26 e ss.

4. Novamente, a Lei demonstra seu louvável intuito de dar celeri­dade ao andamento do feito, estabelecendo que a data designada para a realização da assembléia-geral não poderá exceder o prazo de 150 dias a partir do despacho que deferiu o processamento da recuperação (art. 52). No entanto, entre o despacho que deferiu o processamento da recu­peração (art. 52) e a apresentação do plano de recuperação (art. 53) já se passaram 60 dias; entre a apresentação do plano de recuperação e o prazo final para objeções passaram-se mais 30 dias (art. 55), prazo que eventualmente pode ser bastante superior a 30 dias (parágrafo único do art. 55). Ante a acentuada quantidade de providências processuais que devem ser tomadas, mesmo que sejam feitas com a maior rapidez possí­vel, pode-se admitir um decurso mínimo de pelo menos, outros 30 dias, completando-se assim 120 dias. Tudo isto supondo-se que as providên­cias cartorárias sejam tomadas com absoluta prontidão, o que se sabe que não ocorre, tendo em vista a realidade do excesso de trabalho nos desaparelhados cartórios judiciais.

5. Portanto, na realidade, o juiz deverá designar a data de realiza­ção da assembléia para dentro dos próximos 30 dias, o que, pode-se afirmar, é de impossível cumprimento. Observe-se ainda que se está imaginando um sistema absolutamente ideal, com número de proces­sos razoável por juiz, com infra-estrutura suficiente e com inexistência de qualquer imprevisto, situação que quem atua no dia-a-dia forense sabe inexistente.

6. A assembléia-geral, que no caso sob exame apenas será convo­cada se houver objeção, tem poderes para aprovar, alterar ou rejeitar o

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167 Capítulo III - Seção IV - Art. 57

plano de recuperação. O juiz não está vinculado a tais decisões, man­tendo evidentemente. o exercício do poder jurisdicional; de qualquer forma, tratando-se de decisão tomada pela assembléia-geral de credo­res, deverá ser seguida pelo juiz, que, caso decida de forma contrária, deverá fundamentar suficientemente sua decisão.

7. O§ 4° estabelece a severa conseqüência de decreto de falência, caso o plano seja rejeitado pela assembléia-geral. No entanto -o que demonstra que efetivamente o juiz mantém o poder de decisão nos autos -, o § 1 o do art. 58, abaixo, prevê situação na qual, mesmo rejeitado o plano, ainda assim o juiz poderá conceder a recuperação pretendida pelo devedor.

Art. 57. Após a juntada aos autos do plano aprovado pela assembléia-geral de credores ou decorrido o prazo previsto no art. 55 desta Lei sem objeção de credores, o devedor apresen­tará certidões negativas de débitos tributários nos termos dos arts. 151, 205, 206 da Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966 -Código Tributário Nacional.

1. Os arts. 151, 205 e 206 do CTN, referidos, dizem respeito às hipóteses de suspensão do crédito tributário e o modo de comprovação de quitação ou suspensão de sua exigibilidade. Na realidade, verifica­se que o objetivo do legislador nesse dispositivo é o de obrigar o deve­dor a quitar suas dívidas fiscais antes do ajuizamento da recuperação judicial, ou, ao menos, providenciar o seu parcelamento, nos termos da legislação tributária aplicável. Note-se, no entanto, que isso pode inviabilizar a recuperação de inúmeras empresas em situação de crise econômico-financeira, na medida em que, na maioria das vezes, os en­cargos fiscais, ao lado das dívidas com financiamento bancário, são os maiores responsáveis pela própria crise em que a empresa se encontra.

2. Ademais, a observação da realidade demonstra que qualquer pessoa, física ou jurídica, que adentre um estado de crise econômico­financeira, suspende, em primeiro lugar, o pagamento dos tributos em geral para, só por último, suspender o pagamento dos fornecedores. Este procedimento é normal, pois a conseqüência da suspensão do pagamento de fornecedores é causa de inviabilização imediata da ati­vidade empresarial, ou mesmo do normal funcionamento de uma sim­ples família.

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Art. 58 - Capítulo III - Seção IV 168

3. Portanto, se a empresa precisou pedir recuperação porque não está conseguindo pagar seus fornecedores, credores quirografários, cer­tamente estará com passivo fiscal avantajado. Sendo obrigada a regulari­zar sua situação fiscal, perdendo, após 180 dias, máquinas e veículos fi­nanciados (art. 49, § 3°) e tendo que pagar os adiantamentos por contrato de câmbio (art. 49, § 4°), haverá extremada dificuldade, se não certa im­possibilidade, de se conseguir levar a empresa à recuperação pleiteada.

4. Aliás, neste ponto, a Lei não aproveitou o ensinamento que os 60 anos de vigência do Dec.-lei 7.661/45 trouxeram, a partir do exame do art. 17 4 daquela lei. Este artigo exigia que, para que a concordata fosse julgada cumprida, o devedor apresentasse comprovação de que havia pago todos os impostos, sob pena de falência. Tal disposição, de praticamente impossível cumprimento, redundou na criação jurispru­dencial que admitia o pedido de desistência da concordata, embora sem expressa previsão legal. E a jurisprudência assim se firmou, porque exi­gir o cumprimento daquele art. 174 seria levar a empresa, certamente, à falência. Sem embargo de tudo isto, este art. 57, acoplado ao art. 49, repete o erro de trazer obrigações de impossível cumprimento para so­ciedades empresárias em crise. Uma possível solução será apresentar certidões na forma do art. 206 do CTN, ou pleitear parcelamento, na forma do art. 68 desta Lei.

Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concede­rá a recuperação judicial do devedor cujo plano não tenha so­frido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou te­nha sido aprovado pela assembléia-geral de credores na forma do art. 45 desta Lei.

1. Superados os aspectos acima examinados, os autos irão con­clusos ao juiz, que concederá a recuperação, por despacho do qual cabe agravo(§ 2° do art. 59). O juiz concederá a recuperação na ausência de objeção, ou mesmo com objeção, caso o plano tenha sido aprovado pela assembléia-geral. O presente artigo não diz, mas o juiz também conce­derá a recuperação, caso o plano tenha sido alterado com concordância do devedor(§ 3° do art. 56).

§ 1 o O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve aprovação na forma do art. 45

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169 Capítulo III - Seção IV -Art. 59

desta Lei, desde que, na mesma assembléia, tenha obtido, de forma cumulativa:

I - o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos presentes à assembléia, independentemente de classes;

11- a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso haja somente 2 (duas) clas­ses com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma) delas;

111 - na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos credores, computados na forma dos §§ r e 2° do art. 45 desta Lei.

2. Os votos na assembléia serão contados de forma proporcional ao valor do crédito do votante (art. 38), dividido por classes (art. 41); para as deliberações sobre o plano de recuperação, os votos da classe "1", credores trabalhistas (art. 41, 1), serão contados por maioria sim­ples, independentemente do valor do crédito.

3. Com o exame destes artigos relacionados, deve ser feita a con­ferência do resultado da assembléia-geral, para que se verifique se fo­ram preenchidos, de forma cumulativa, os três incisos deste § 1 o ora sob exame e, em caso positivo, o juiz pode conceder a recuperação judicial, mesmo que o plano tenha sido rejeitado na assembléia.

§ 2° A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no § 1 o deste artigo se o plano não implicar trata­mento diferenciado entre os credores da classe que o houver rejeitado.

4. O plano que está sendo objeto da discussão, neste momento, é aquele plano que foi apresentada pelo devedor (art. 53) e que foi rejeitado pela assembléia. Se este plano prevê um tratamento "dife­renciado" aos credores da classe que o rejeitou, não se aplicará o § 1 o

acima.

Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos anteriores ao pedido, e obriga o devedor e todos

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Art. 59 - Capítulo III - Seção IV 170

os credores a ele sujeitos, sem prejuízo das garantias, observa­do o disposto no § 1 o do art. 50 desta Lei.

1. O artigo prevê que a aprovação do plano de recuperação impli­ca novação dos créditos anteriores ao pedido, novação que ocorre con­forme previsto no art. 360 do Código Civil. Todos os credores sujeitos ao plano estão obrigados a ele, mantendo-se, porém, intocadas as ga­rantias reais anteriormente existentes sobre bens, bens estes que so­mente poderão ser liberados ou substituídos com expressa anuência do titular da garantia (§ 1 o do art. 50).

§ 1 o A decisão judicial que conceder a recuperação judicial constituirá título executivo judicial, nos termos do art. 584, inciso 111, do caput da Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973 -Código de Processo Civil.

2. Concedida a recuperação judicial, o devedor permanecerá em observação judicial por dois anos, em processo de recuperação (art. 61) e, se descumprir qualquer obrigação vencida neste prazo, terá sua fa­lência decretada (inciso IV do art. 73).

3. Após este prazo de dois anos, o juiz decretará o encerramento da recuperação, por sentença (art. 63). Todos aqueles credores cujas obrigações tinham vencimento previsto para período superior aos dois anos referidos, terão título executivo judicial pelo valor constante da recuperação e, em conseqüência, poderão executar a dívida, ou, se qui­serem, ajuizar requerimento de falência, com fundamento no inciso I do art. 94.

4. Neste caso, tanto a execução quanto o requerimento de falên­cia serão distribuídos livremente, por ter desaparecido qualquer pre­venção, a partir da sentença prolatada na forma do art. 63.

§ 2° Contra a decisão que conceder a recuperação judicial caberá agravo, que poderá ser interposto por qualquer credor e pelo Ministério Público.

5. A decisão que concede a recuperação judicial não põe fim ao processo e, portanto, é uma decisão interlocutória(§ 2° do art. 162 do CPC), contra a qual cabe o recurso de agravo, no prazo de 10 dias (art.

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171 Capítulo III - Seção IV - Art. 60

522 do CPC), tendo legitimidade para agravar qualquer credor ou o Ministério Público. A lei não prevê legitimidade para o administrador judicial.

Art. 60. Se o plano de recuperação judicial aprovado en­volver alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua realização, observa­do o disposto no art. 142 desta Lei.

1. O art. 66 estabelece que, após a distribuição do pedido de recu­peração, o devedor fica proibido de alienar ou onerar bens ou direitos de seu ativo permanente, a menos que haja evidente utilidade, reconhe­cida pelo juiz após ouvir o Comitê de Credores. O art. 66 excepciona, porém, os bens previamente relacionados no plano de recuperação ju­dicial para alienação, o que está em consonância com o artigo ora sob análise.

2. Relembre-se ainda, a propósito, a disposição do § 1 o do art. 50, que veda a alienação de bem dado em garantia real a credor, a menos que haja expressa autorização do credor garantido.

3. A venda decidida será feita na forma do art. 142, ou seja, por leilão com lances orais, propostas fechadas ou pregão.

Parágrafo único. O objeto da alienação estará livre de qual­quer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obriga­ções do devedor, inclusive as de natureza tributária, observa­do o disposto no§ r do art. 141 desta Lei.

4. Um dos grandes temores de quem arremata um bem em juízo é tornar-se sub-rogado nos ônus que pesam sobre o bem. Assim, aquele que arremata um apartamento, teme ser obrigado a pagar as despesas de condomínio em atraso; aquele que arremata um parque industrial teme responder pelas obrigações trabalhistas; todos temem responder pelas obrigações tributárias.

5. Como incentivo à existência de interessados na compra, este parágrafo afasta o bem de quaisquer ônus ou sucessão, criando o que o jargão jurídico-econômico convencionou chamar de "blindagem", ou seja, cercar o bem de todas as garantias de que não será atingido por

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Art. 61 - Capítulo III - Seção IV 172

qualquer outro tipo de ônus, incluindo expressamente os de natureza tributária.

6. O § 1 o do art. 141, de forma correta, afasta esta "blindagem" quando a aquisição tenha sido feita por pessoas próximas ao devedor, todas relacionadas nos três incisos do citado§ 1° do art. 141.

7. A propósito deste ponto, examine-se a Lei Complementar 118, de 09.02.2005, que alterou diversos artigos do Código Tributário Na­cional, para possibilitar a efetivação desta "blindagem" (vide comentá­rios 3 a 7 ao art. 141, adiante).

Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o devedor permanecerá em recuperação judicial até que se cum­pram todas as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial.

§ 1 o Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano acarretará a convolação da recuperação em falência, nos ter­mos do art. 73 desta Lei.

§ 2° Decretada a falência, os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente contrata­das, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente praticados no âmbito da recuperação judicial.

1. O plano de recuperação, como toda projeção econômico-finan­ceira para as empresas em geral, pode trazer diversos tipos de previ­sões, com planejamento de pagamentos escalonados em vencimentos diversos. Desta forma, o devedor pode propor que os pagamentos aos credores sujeitos à recuperação sejam feitos em prazos que, para o exa­me agora feito, podem ser inferiores ou superiores a dois anos. Eviden­temente, além de pagamentos, pode comprometer-se à utilização de di­versos outros meios neste prazo (v.g., comprometer-se a praticar algum dos atos listados nos incisos do art. 50).

2. Prevê este artigo que, durante dois anos, o devedor permanece­rá em recuperação e, caso descumpra qualquer das obrigações, sua fa­lência será decretada, caso em que os credores voltam à situação na qual se encontravam anteriormente, com os necessários acertos por pa­gamentos eventualmente feitos.

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173 Capítulo III - Seção IV -Art. 63

Art. 62. Após o período previsto no art. 61 desta Lei, no caso de descumprimento de qualquer obrigação prevista no plano de recuperação judicial, qualquer credor poderá reque­rer a execução específica ou a falência com base no art. 94 des­ta Lei.

1. Conforme estipulado no art. 63 abaixo, se as obrigações venci­das nos dois anos tiverem sido cumpridas, a recuperação será encerrada por sentença. Permanece, porém, o devedor com todas as obrigações com vencimento posterior a dois anos, e, caso deixe de efetuar paga­mentos prometidos, o credor poderá executar a obrigação ou requerer a falência, anotando-se que em tal caso o feito terá livre distribuição, de­saparecida qualquer causa determinante da prevenção, com a sentença prolatada na forma do art. 63.

2. O § 1 o do art. 59 estipula que a decisão que conceder a recupe­ração constitui título executivo, e por isto toma-se possível a execução específica ou o requerimento de falência previstos neste art. 62.

Art. 63. Cumpridas as obrigações vencidas no prazo pre­visto no caput do art. 61 desta Lei, o juiz decretará por senten­ça o encerramento da recuperação judicial e determinará:

1. Como se pode verificar, este artigo não ficou na melhor ordem possível. Seria mais recomendável que viesse antes do art. 62; no entan­to, não chega a prejudicar a compreensão. Apenas para esquematizar e facilitar o entendimento, relembre-se aqui: o juiz defere o processamento da recuperação por decisão interlocutória (art. 52); no regular prossegui­mento, concede a recuperação por outra decisão interlocutória (art. 58); e, agora, cumpridas as obrigações vencidas no prazo de dois anos a con­tar da concessão, prolata sentença encerrando a recuperação (art. 63).

I - o pagamento do saldo de honorários ao administrador judicial, somente podendo efetuar a quitação dessas obriga­ções mediante prestação de contas, no prazo de 30 (trinta) dias, e aprovação do relatório previsto no inciso 111 do caput deste artigo;

11 - a apuração do saldo das custas judiciais a serem reco­lhidas;

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Art. 64 - Capítulo III - Seção IV 174

111- a apresentação de relatório circunstanciado do admi­nistrador judicial, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, ver­sando sobre a execução do plano dê recuperação pelo devedor;

2. Na própria sentença, o juiz determinará o pagamento do saldo dos honorários do administrador judicial, que já terão sido fixados (art. 24). Se algum valor já houver sido pago por conta dos honorários, será determinado o pagamento do saldo e, caso contrário, o pagamento do total fixado. Determinará também que sejam recolhidas as custas judi­ciais ainda em aberto.

3. O inciso III determina ainda que o administrador judicial apresente relatório circunstanciado sobre a execução do plano pelo de­vedor; no entanto, à primeira vista, tal relatório parece desnecessário, pois, se já foi prolatada sentença encerrando a recuperação judicial, é porque o juiz já se assegurou que as obrigações foram todas cumpridas.

4. A propósito, observe-se também que, por este motivo, se acaso o devedor não pagar o saldo de honorários do administrador, o juiz não poderá decretar sua falência e apenas caberá ao administrador cobrar o valor devido, pelas vias ordinárias, em feito distribuído livremente.

IV- a dissolução do Comitê de Credores e a exoneração do administrador judicial;

V - a comunicação ao Registro Público de Empresas para as providências cabíveis.

5. As providências do inciso IV decorrem exatamente do fato de estar encerrada a recuperação. Pelo mesmo motivo, expede-se comuni­cação à Junta Comercial, tendo em vista a anotação anterior feita por este órgão de registro do comércio (parágrafo único do art. 69).

Art. 64. Durante o procedimento de recuperação judicial, o devedor ou seus administradores serão mantidos na condu­ção da atividade empresarial, sob fiscalização do Comitê, se houver, e do administrador judicial, salvo se qualquer deles:

1. Como já anotado anteriormente, nos primórdios de 1993, quan­do se começou a pensar efetivamente em recuperação de empresa, o

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175 Capítulo III - Seção IV - Art. 64

projeto da nova lei previa que determinado grupo de credores poderia ir a juízo, pedir a destituição dos administradores da empresa, quando verificassem que estaria havendo atos que estariam levando a empresa rumo à crise. Imagine-se credores que tivessem ciência de atos fraudu­lentos dos administradores ou dos controladores, para esvaziar a em­presa e preparar uma falência fraudulenta; as primeiras versões do pro­jeto previam a destituição destes administradores e a nomeação de ou­tros para salvar a empresa.

2. No entanto, esta previsão foi abandonada à medida que os su­cessivos projetos mais e mais se distanciavam do espírito que inicial­mente norteara a idéia de mudança da lei e, com o art. 64, ora sob exa­me, passou-se a prever a manutenção dos administradores, a menos que ocorra qualquer das situações previstas nos seis incisos do artigo.

I - houver sido condenado em sentença penal transitada em julgado por crime cometido em recuperação judicial ou falência anteriores ou por crime contra o patrimônio, a econo­mia popular ou a ordem econômica previstos na legislação vi­gente;

11 - houver indícios veementes de ter cometido crime pre­visto nesta Lei;

III - houver agido com dolo, simulação ou fraude contra os interesses de seus credores;

IV - houver praticado qualquer das seguintes condutas:

a) efetuar gastos pessoais manifestamente excessivos em relação a sua situação patrimonial;

b) efetuar despesas injustificáveis por sua natureza ou vul­to, em relação ao capital ou gênero do negócio, ao movimento das operações e a outras circunstâncias análogas;

c) descapitalizar injustificadamente a empresa ou realizar operações prejudiciais ao seu funcionamento regular;

d) simular ou omitir créditos ao apresentar a relação de que trata o inciso Ill do caput do art. 51 desta Lei, sem rele­vante razão de direito ou amparo de decisão judicial;

V - negar-se a prestar informações solicitadas pelo admi­nistrador judicial ou pelos demais membros do Comitê;

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Art. 65 - Capítulo III - Seção IV 176

VI - tiver seu afastamento previsto no plano de recupera­ção judicial.

3. Qualquer destas situações resultará no afastamento dos admi­nistradores do devedor sob recuperação e nomeação de substituto, nos termos estipulados no art. 65. O caput do artigo traz a expressão "du­rante o procedimento da recuperação judicial", o que denota que logo na decisão do art. 52, já será possível a substituição. Nem seria de se imaginar o que houvesse necessidade de se esperar a fase do art. 58, pois, se já houver comprovação desta situação prevista nos incisos, im­põe-se o imediato afastamento da direção da empresa devedora, até para que não se conceda tempo para a produção de maiores prejuízos.

4. No entanto, se o juiz afastar a direção logo na decisão do art. 52, ou em qualquer momento antes de decidir na forma do art. 58, deve­rá ter o cuidado de, no mesmo ato, nomear administrador judicial, para que a empresa não permaneça acéfala.

Parágrafo único. Verificada qualquer das hipóteses do caput deste artigo, o juiz destituirá o administrador, que será substi­tuído na forma prevista nos atos constitutivos do devedor ou do plano de recuperação judicial.

5. Em caso de destituição, a primeira opção para substituição é esta prevista no parágrafo único. Se acaso não houver previsão nos atos constitutivos do devedor ou ainda não houver plano de recuperação aprovado, o juiz nomeará administrador judicial mesmo que pro tempore (vide comentário anterior, de n. 4).

Art. 65. Quando do afastamento do devedor, nas hipóte­ses previstas no art. 64 desta Lei, o juiz convocará a assem· bléia-geral de credores para deliberar sobre o nome do gestor judicial que assumirá a administração das atividades do de­vedor, aplicando-se-lhe, no que couber, todas as normas so­bre deveres, impedimentos e remuneração do administrador judicial.

§ 1 o O administrador judicial exercerá as funções de gestor enquanto a assembléia-geral não deliberar sobre a escolha deste.

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177 Capítulo 111 - Seção IV - Art. 66

§ 2° Na hipótese de o gestor indicado pela assembléia-geral de credores recusar ou estar impedido de aceitar o encargo para gerir os negócios do devedor, o juiz convocará, no prazo de 72 (setenta e duas) horas, contado da recusa ou da declara­ção do impedimento nos autos, nova assembléia-geral, aplica­do o disposto no § r deste artigo.

1. Como já comentado anteriormente, a recuperação de um de­vedor é mais um fenômeno econômico do que jurídico. Por isto mes­mo, a recuperação apenas será possível se houver credores economi­camente interessados em tal recuperação e se houver, também, inte­resse do devedor.

2. Na presente situação, com a diretoria anterior da empresa já afastada, é de se esperar que haja interesse dos credores na assunção da administração, para que a empresa continue em funcionamento, visando sua recuperação. Se houver recusa constante e nenhum cre­dor se interessar, o caminho para o decreto de falência estará indica­do. Na prática, tem sido visto, em empresas de maior porte, o grande interesse dos empregados, organizados em cooperativas, em assumir a administração.

3. De qualquer forma, em situação normal de andamento da recu­peração, se já nomeado o administrador judicial, o caminho processual a seguir será o previsto neste artigo.

Art. 66. Após a distribuição do pedido de recuperação judi­cial, o devedor não poderá alienar ou onerar bens ou direitos de seu ativo permanente, salvo evidente utilidade reconhecida pelo juiz, depois de ouvido o Comitê, com exceção daqueles previamente relacionados no plano de recuperação judicial.

1. À semelhança do que ocorria na concordata da lei anterior, na recuperação o devedor mantém a administração de sua empresa, porém com algumas limitações. Uma das limitações consiste na proibição de alienar ou onerar bens do ativo permanente, salvo se houver autoriza­ção judicial ou se constar do plano de recuperação judicial devidamen­te aprovado e em execução.

2. Vide comentários ao art. 60, acima.

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Art. 67 - Capítulo III - Seção IV 178

Art. 67. Os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a recuperação judicial, inclusive aqueles relativos a despesas com fornecedores de bens ou serviços e contratos de mútuo, serão considerados extraconcursais, em caso de decretação de falência, respeitada, no que couber, a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.

Parágrafo único. Os créditos quirografários sujeitos à re­cuperação judicial pertencentes a fornecedores de bens ou ser­viços que continuarem a provê-los normalmente após o pedido de recuperação judicial terão privilégio geral de recebimento em caso de decretação de falência, no limite do valor dos bens ou serviços fornecidos durante o período da recuperação.

1. Esta é uma disposição sábia da Lei, pois atua como incentivo para que aqueles que negociam com a empresa continuem a fazê-lo durante o período de recuperação judicial. Pretende a Lei que esta dis­posição atue como incentivo para que o terceiro continue fornecendo normalmente bens e serviços para a empresa que pediu recuperação, desde que se trate de venda a prazo.

2. Se o fornecimento for a prazo e se houver decreto de falência, o crédito relativo a tal fornecimento será considerado crédito extraconcursal, a ser pago com precedência sobre os demais (inciso V do art. 84).

3. Para os créditos quirografários deste fornecedor, existentes no momento do pedido de recuperação, e, portanto, sujeitos à recuperação (art. 49), prevê-se a reclassificação, em caso de decreto de falência, como crédito com privilégio geral até o limite do valor fornecido durante a recuperação (alínea b do inciso V do art. 83).

Art. 68. As Fazendas Públicas e o Instituto Nacional do Se­guro Social - INSS poderão deferir, nos termos da legislação específica, parcelamento de seus créditos, em sede de recupera­ção judicial, de acordo com os parâmetros estabelecidos na Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional.

1. A expressão "poderão deferir ... parcelamento" mostra a preo­cupação da Lei com a situação do empresário que, ao pedir recupera­ção, certamente estará com um passivo fiscal acentuado e que, na forma

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179 Capítulo III - Seção IV - Art. 69

do art. 57, ficará impossibilitado até mesmo de ter deferido o pedido de recuperação.

2. A Lei Complementar 118, de 09.02.2005, incluiu o§ 3° no art. 155-A do Código Tributário Nacional, dizendo que "lei específica dis­porá sobre as condições de parcelamento dos créditos tributários do devedor em recuperação judicial".

3. Vide comentário ao art. 57.

Art. 69. Em todos os atos, contratos e documentos firma­dos pelo devedor sujeito ao procedimento de recuperação ju­dicial deverá ser acrescida, após o nome empresarial, a expres­são "em Recuperação Judicial".

Parágrafo único. O juiz determinará ao Registro Público de Empresas a anotação da recuperação judicial no registro correspondente.

1. À semelhança do que determina o art. 191, este artigo também determina que o devedor faça constar, após o nome empresarial, a expres­são que esclarece o fato de estar em recuperação judicial. Esta provi­dência é de boa cautela, pois visa dar conhecimento imediato ao tercei­ro, que está negociando com o devedor, da situação na qual este se acha naquele momento.

2. Para o fim previsto no parágrafo único, o juiz deve determinar a expedição de ofício à Junta Comercial, quando prolatar a decisão pre­vista no art. 52.

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Seção V

Do plano de recuperação judicial para microempresas e empresas de pequeno porte

1. Uma das críticas que se faz à presente Lei é no sentido de que teria descurado das microempresas e empresas de pequeno porte, que, segundo dados coletados pelo IBGE (www.sebrae.org.br) respondem por 99,2% do total de empresas em atividade no País; as médias repre­sentam 0,5% e as grandes, 0,3%, de tal forma que são aquelas quere­presentam, em termos numéricos, o contingente determinante em maté­ria de geração de empregos. E, com efeito, a complexidade do processo de recuperação judicial e extrajudicial demonstra que, efetivamente, tais tipos de procedimentos serão aproveitados apenas para empresas de grande porte. Durante a longa tramitação do projeto, por onze anos, houve várias versões que não contemplavam a pequena empresa de for­ma específica. Ao final, optou-se por dedicar uma seção especial a tais empresas, inserida dentro do capítulo destinado à recuperação judicial das demais empresas. Desta forma, o Capítulo 111, em suas quatro pri­meiras seções (arts. 47 a 69), trata da recuperação judicial para as em­presas em geral e, na Seção V (arts. 70 a 72) trata especificamente das pequenas empresas.

2. O conceito legal destes tipos de empresas está na Lei 9.841, de 05.10.99 (Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte), cujo art. 2°, em seu inciso I, estabelece como "microempresa, a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que tiver receita bruta anual igual ou inferior a R$ 433.755,14" e, no inciso 11, como "empresa de peque­no porte, a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que, não en­quadrada como microempresa, tiver receita bruta anual superior a R$ 433.755,14 e igual ou inferior a R$ 2.133.222,00", observando-se que os valores em reais foram fixados pelo Decreto 5.028, de 31.03.2004. Esta legislação preenche a exigência constitucional do art. 146, III, d, que previa a "definição de tratamento diferenciado e favorecido" para as pequenas empresas.

3. Esta Seção V do Capítulo III dirige-se especificamente às pe­quenas empresas, e a primeira pergunta que surge é saber se este tipo de

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181 Capítulo III - Seção V - Art. 70

empresa pode optar pela recuperação judicial dos arts. 51 a 69 ou pela recuperação extrajudicial dos arts. 161 a 167; ou se, ao contrário, esta­riam limitadas apenas ao procedimento previsto nestes arts. 70 a 72. Conforme já afirmado acima, a complexidade do procedimento previs­to para a recuperação judicial, em princípio, desaconselha seu uso pela pequena empresa. No entanto, não há qualquer impedimento legal e, se quiser, pode se valer dos demais tipos de recuperação.

4. O sistema de recuperação instituído para a pequena empresa aproxima-se bastante da forma estabelecida para a concordata preventi­va, prevista nos arts. 139 e ss. da lei antiga. Assim é que obriga exclusi­vamente os credores quirografários (art. 147 da lei antiga); prevê oferta de pagamento parcelado (art. 156 da lei anterior); o débito sujeito à recuperação será corrigido e os juros serão de 12% ao ano (art. 163 da lei anterior); há prazo máximo para pagamento (art. 156), sob pena de falência (art. 175, § 8°).

S. A Lei, neste aspecto, em uma análise mais abrangente, chega a ser contraditória. Se a afirmação era de que a lei de 1945 precisaria ser mudada, porque a concordata não propiciava qualquer condição de re­cuperação à empresa, parece não haver justificativa para que se conceda à pequena empresa um sistema tão semelhante à concordata anterior.

6. Sem embargo de tudo isto, este tipo de recuperação pode efeti­vamente trazer algum desafogo para a pequena empresa, especialmente pela redução dos juros das dívidas, à semelhança da concordata da lei anterior.

Art. 70. As pessoas de que trata o art. 1 o desta Lei e que se incluam nos conceitos de microempresa ou empresa de peque­no porte, nos termos da legislação vigente, sujeitam-se às nor­mas deste Capítulo.

1. O conceito de microempresa e de empresa de pequeno porte -que aqui serão chamadas simplesmente de pequena empresa-, estabe­lecido na Lei 9.841, de 05.10.1999 (Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte), já foi acima examinado (vide comentário 2, acima). O art. 70, ao afirmar que as pequenas empresas sujeitam-se às normas deste Capítulo, exclui de seu âmbito as empresas de médio porte (0,5% do total) e as de grande porte (0,3% do total). No entanto,

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Art. 71 - Capítulo III - Seção V 182

não há na Lei qualquer impedimento específico a que a pequena empre­sa se valha também da recuperação judicial e extrajudicial prevista nas demais seções deste Capítulo III e no Capítulo VI, embora, como já observado, a complexidade daqueles procedimentos certamente desestimulará tal opção.

2. Mais ainda se afirma tal entendimento, quando se verifica que o § 1 o abaixo estipula que a pequena empresa deve "afirmar" sua inten­ção de fazer o "plano especial" aqui previsto. Em conseqüência, se não houver esta afirmação na petição inicial, a recuperação será não a do plano especial, e sim a do plano previsto nos arts. 51 e ss.

3. E qualquer dúvida desaparece, finalmente, com a leitura do art. 72, que estabelece como se procederá, "caso o devedor ... opte pelo pedido de recuperação judicial com base no plano especial disciplinado nesta Seção", dando-lhe portanto a possibilidade de fazer opção contrá­ria, ou seja, optar pelo plano comum de recuperação.

§ 1 o As microempresas e as empresas de pequeno porte, conforme definidas em lei, poderão apresentar plano especial de recuperação judicial, desde que afirmem sua intenção de fazê-lo na petição inicial de que trata o art. 51 desta Lei.

§ 2° Os credores não atingidos pelo plano especial não te­rão seus créditos habilitados na recuperação judicial.

4. O inciso I do art. 71 abaixo estabelece quais são os credores que se sujeitam a este tipo de recuperação.

Art. 71. O plano especial de recuperação judicial será apre­sentado no prazo previsto no art. 53 desta Lei e limitar-se á às seguintes condições:

1. A petição inicial deve ser apresentada na forma do que estabele­ce o art. 51, expressamente nominado no § 1 o do art. 70, acima. O § 2° do art. 51 exime a pequena empresa de cumprir todo o estabelecido no inci­so II do mesmo art. 51, podendo apresentar os livros e a escrituração con­tábil simplificados, pertinentes à sua condição (art. 7° da Lei 9.317 /96).

2. O juiz poderá deferir ou indeferir o pedido de recuperação (vide comentário 1 ao art. 53). Se deferir, o devedor tem o prazo de 60 dias para

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183 Capítulo III - Seção V -Art. 71

apresentar o plano especial de recuperação, sob pena de falência, nos ter­mos do art. 53, caput. Se indeferir, extinguirá o feito por sentença.

I - abrangerá exclusivamente os créditos quirografários, excetuados os decorrentes de repasse de recursos oficiais e os previstos nos §§ 3° e 4° do art. 49 desta Lei;

3. À semelhança da concordata preventiva da lei anterior, o plano especial de recuperação abrange apenas os créditos quirografários e, mesmo entre os quirografários, ficam excluídos aqueles decorrentes de repasse de recursos oficiais. Os parágrafos citados do art. 49 são aque­les que favorecem o capital financeiro de uma forma geral, excluindo da recuperação os débitos relativos a alienação fiduciária, arrendamen­to e outros, bem como os valores devidos a títulos de adiantamento de contrato de câmbio (vide comentários 12 a 17 ao art. 49).

11- preverá parcelamento em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais, iguais e sucessivas, corrigidas monetariamente e acres­cidas de juros de 12% a.a. (doze por cento ao ano);

111- preverá o pagamento da e (primeira) parcela no pra­zo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da distribui­ção do pedido de recuperação judicial;

4. A previsão de pagamento em até 36 parcelas assemelha-se ao sistema previsto para a concordata preventiva da antiga lei, embora na­quela os prazos e parcelas fossem diferentes. Também de forma seme­lhante, estabelece a Lei que os valores serão regularmente corrigidos e os juros ficam limitados a 12% ao ano.

S. Neste específico aspecto haveria um desafogo ao pequeno em­presário em crise, tendo em vista que os juros de financiamentos conce­didos normalmente excedem, em muito, esta taxa de 12% ao ano. Aliás, esta era exatamente a mesma modalidade de benefício que a concordata da lei anterior propiciava ao empresário, de forma mais benevolente, pois o § 1 o do art. 163 da lei anterior estabelecia juros de "até 12% ao ano".

6. Na lei anterior, estabeleceu-se profunda discussão sobre qual seria o prazo a partir do qual deveria ser feito o pagamento da primeira parcela prometida pelo concordatário aos credores, matéria que exigiu

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Art. 71 - Capítulo III - Seção V 184

a promulgação da Lei 7.274/84, que alterou a redação do art. 175 da­quela lei. Aproveitando a experiência anterior e não permitindo qual­quer tipo de interpretação dúbia, aqui a Lei foi clara, ao estabelecer que o pagamento da primeira parcela deverá ser feito no prazo de 180 dias a contar da distribuição do pedido de recuperação, não importando em que situação processual esteja.

IV- estabelecerá a necessidade de autorização do juiz, após ouvido o administrador judicial e o Comitê de Credores, para o devedor aumentar despesas ou contratar empregados.

7. Como ocorre normalmente para a empresa que está em recupe­ração, o devedor mantém a administração normal de sua empresa, so­frendo, porém, esta limitação em seu poder de decisão, de tal forma que não poderá aumentar despesas ou contratar novos empregados, a não ser com autorização judicial.

8. Parece extremamente problemática tal limitação, especialmen­te no que diz respeito à contratação de novos empregados, pois, se a empresa conseguir efetivamente recuperar-se, normalmente tenderá a aumentar sua produção e, para isto, também normalmente tenderá a con­tratar empregados. Por outro lado, a Lei não ressalva a proibição para novos empregados, de tal forma que se algum empregado deixar de trabalhar na empresa por qualquer motivo, sua substituição dependerá de autorização judicial, o que às vezes torna-se inviável, tendo em vista a eventual necessidade de substituição imediata.

Parágrafo único. O pedido de recuperação judicial com base em plano especial não acarreta a suspensão do curso da pres­crição nem das ações e execuções por créditos não abrangidos pelo plano.

9. Neste plano especial de recuperação judicial, não há suspensão da prescrição ou das ações e execuções por créditos não abrangidos pelo plano, ao contrário do que prevê o art. 6° para os casos de falência ou de recuperação judicial.

10. Em conseqüência, também não se concede ao pequeno em­presário a manutenção em suas mãos, pelo prazo de 180 dias, de máqui­nas, equipamentos e veículos que estejam alienados fiduciariamente ou

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185 Capítulo III - Seção V -Art. 72

arrendados, enfim, quaisquer bens que estejam nas situações previstas no § 3° do art. 49.

Art. 72. Caso o devedor de que trata o art. 70 desta Lei opte pelo pedido de recuperação judicial com base no plano especial disciplinado nesta Seção, não será convocada assem­bléia-geral de credores para deliberar sobre o plano, e o juiz concederá a recuperação judicial se atendidas as demais exi­gências desta Lei.

Parágrafo único. O juiz também julgará improcedente o pedido de recuperação judicial e decretará a falência do deve­dor se houver objeções, nos termos do art. 55 desta Lei, de cre­dores titulares de mais da metade dos créditos descritos no in­ciso I do caput do art. 71 desta Lei.

1. Na recuperação da pequena empresa, aplica-se o art. 55, que estabelece prazo para que os credores apresentem objeção ao plano es­pecial apresentado pelo devedor (vide comentários ao art. 55). Se hou­ver objeções de credores titulares de mais da metade dos créditos quiro­grafários sujeitos aos efeitos da recuperação, o juiz decretará a falência da empresa.

2. Neste aspecto, há desvantagens para o pequeno empresário, pois, para os outros casos de recuperação judicial normal, se houver objeção dos credores, esta sempre poderá ser afastada pela assembléia geral (art. 56) que, no presente caso, não será convocada. Por outro lado, o procedimento torna-se mais simples, na medida em que não se prevê a convocação da assembléia, medida sempre demorada e dispendiosa.

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Capítulo IV

DA CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA

Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial:

1. Convolar, do latim convolo-as-are-avi-atum, com o sentido ori­ginal de "vir depressa juntamente" (Faria, p. 226), tem, entre outros, o significado de "transformar", ou seja, algo que "vem junto com outra coisa", e é neste sentido que deve ser entendida, ou seja, a transformação da recuperação judicial em falência; a falência que "vem juntamente" com a recuperação. A lei anterior falava também em "rescindir a concordata", com o mesmo significado de convolar a concordata em falência.

2. Trata-se aqui de caso no qual foi ajuizado o pedido de recupe­ração judicial e, durante o transcurso do feito, ocorrendo alguma das situações abaixo previstas, deve o juiz decretar a falência. Em tal caso, decretada a falência, dá-se imediato prosseguimento ao feito nos pró­prios autos, normalmente fazendo correção na autuação, ou seja, na capa dos autos, para que conste que se trata então de falência.

I- por deliberação da assembléia-geral de credores, na for­ma do art. 42 desta Lei;

3. O art. 42 estabelece a possibilidade de aprovação de proposta por votos dos credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembléia-geral.

11- pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recu­peração no prazo do art. 53 desta Lei;

4. O art. 53 estabelece que o devedor terá o prazo de 60 dias, contados a partir da decisão que deferir o processamento da recupera­ção judicial (art. 52), para apresentar o plano de recuperação em juízo.

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187 Capítulo IV -Art. 73

Vencido este sem a apresentação do plano, será decretada a falência do devedor.

111- quando houver sido rejeitado o plano de recuperação, nos termos do § 4° do art. 56 desta Lei;

5. Embora o § 4° do art. 56 estabeleça expressamente que o juiz decretará a falência se o plano de recuperação for rejeitado pela assem­bléia-geral de credores, é necessário levar em conta o § 1 o do art. 58, que possibilita a concessão da recuperação judicial, mesmo em caso de rejeição da proposta.

IV - por descumprimento de qualquer obrigação assumi­da no plano de recuperação, na forma do § 1 o do art. 61 desta Lei.

6. O art. 61 estabelece que concedida a recuperação judicial, o devedor permanece neste estado durante dois anos, devendo cumprir todas as obrigações que se vençam dentro deste prazo, sob pena de de­cretação da falência. Após tal período, verificado o cumprimento das obrigações que foram se vencendo, aplica-se o art. 63, mediante o qual o juiz decreta, por sentença, o encerramento da recuperação judicial. Se após esta sentença, houver descumprimento de outras obrigações assu­midas, o credor poderá requerer execução ou falência, evidentemente em pedido que será distribuído livremente.

7. Se, durante este prazo de observação de dois anos, que se inicia a partir da decisão que deferiu a recuperação judicial (art. 58), o deve­dor deixar de cumprir obrigação assumida no plano apresentado, será decretada sua falência.

8. O § 8° do art. 175 da lei anterior trazia previsão semelhante, para o caso de o concordatário deixar de depositar nos autos o valor da parcela prometida na petição inicial, determinando que, em tal caso, o juiz "decretará a falência". Há juízes que atuam de maneira mais formal e que, em tal caso, de ofício, decretavam a falência. No entanto, consi­derando-se que, sem embargo do interesse póblico da recuperação (como ocorria na concordata), o que se discute na realidade são relações parti­culares de negócio, é mais recomendável que, em tal caso, o juiz aguar-

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Art. 74- Capítulo IV 188

de a manifestação da parte interessada, não agindo de ofício para o de­creto falimentar.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não impede a de­cretação da falência por inadimplemento de obrigação não sujeita à recuperação judicial, nos termos dos incisos I ou 11 do caput do art. 94 desta Lei, ou por prática de ato previsto no inciso 111 do caput do art. 94 desta Lei.

9. Como já visto, há obrigações que não estão sujeitas à recupera­ção e, para estas, continua incidindo normalmente o art. 94, em seus três incisos, de tal forma que o credor pode requerer normalmente a falência.

10. Observe-se, porém, que, para os casos previstos nos quatro incisos do art. 73, a falência será decretada por sentença prolatada nos próprios autos nos quais está sendo processada a recuperação. Já no caso deste parágrafo único, o credor deverá ajuizar pedido regularmen­te instruído, distribuindo-o normalmente, sendo os autos remetidos para o juiz da recuperação, já prevento na forma do § 8° do art. 6°.

11. Observe-se ainda que, enquanto os autos do requerimento de falência, feito com fundamento neste parágrafo único, estiverem em andamento, os. autos da recuperação judicial também estarão em anda­mento normal. Quando - e se - vier a ser a decretada a falência nestes autos em apartado, a sentença deverá ser juntada por cópia aos autos da recuperação e por lá se prosseguirá no andamento da falência. Os autos originais nos quais foi decretada a falência poderão ser remetidos ao arquivo, pois nada mais haverá ser feito neles.

Art. 74. Na convolação da recuperação em falência, os atos de administração, endividamento, oneração ou alienação pra­ticados durante a recuperação judicial presumem-se válidos, desde que realizados na forma desta Lei.

1. Pretende-se, com tal artigo, incentivar terceiros a participarem dos autos da recuperação judicial, estabelecendo-se presunção de vali­dade para os atos praticados antes da convolação em falência, o que encontra respaldo também no disposto no art. 131, o qual traz estipula­ção que, em princípio, pretende afastar a possibilidade de ajuizamento de ação revocatória para alguns outros atos.

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Capítulo V

DA FALÊNCIA

Seção I

Disposições gerais

Art. 75.A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização pro­dutiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os in­tangíveis, da empresa.

1. Como primeira anotação neste Capítulo que trata da falência, pode-se dizer, em linhas bem gerais, que a falência destina-se ao em­presário ou à sociedade empresária, que a lei chama de "devedor" (art. 1 °), em estado de crise econômico-financeira. Ou seja, o devedor está em crise financeira, porque não tem dinheiro suficiente para pagar as dívidas que estão vencidas. Em tal situação de crise financeira, terá tí­tulo seu levado a protesto, protesto que será efetivado ante a ausência de dinheiro para pagamento da dívida vencida e que está sendo exigida. No entanto, além da crise financeira, está também em situação de crise econômica insolúvel, ou seja, o giro de seu negócio não é suficiente para que possa atender a todas as obrigações que estão vencidas ou estão para se vencer, e não está também em condições de reverter tal situação. Desta forma, mesmo que conseguisse dinheiro para pagar aque­le título enviado a protesto, ainda assim, logo em seguida, outros títulos seriam encaminhados a protesto e, sem atividade lucrativa em seu ne­gócio, iria falir um pouco mais adiante.

2. Portanto, em situação de crise financeira (ausência de dinhei­ro) e de crise econômica insolúvel (impossibilidade de manter um giro empresarial lucrativo), o devedor vai para a falência. Ao contrário, se estiver em situação de crise financeira e não estiver em situação de crise econômica insolúvel, não irá para a falência e sim, para a recuperação judicial ou extrajudicial. Estando em situação de crise financeira, não tendo dinheiro para pagar as dívidas vencidas e que vão se vencendo, poderá ir para a falência, nos mesmos termos do exemplo acima. No

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Art. 75 - Capítulo V - Seção I 190

entanto (e aí surge a diferença que deflui da crise econômica insolúvel), se chegou a esta situação por outras razões que não a ausência de movi­mento lucrativo, poderá recuperar-se. Imagine-se, por exemplo, que te­nha chegado a situação de crise financeira urna indústria, exatamente porque está em processo de pesquisa para um aumento extraordinário na qualidade do produto que fabrica.

3. Desta forma, embora em crise financeira, pode-se dizer que não está em crise econômica ou, melhor, está em crise econômica de caráter passageiro. Se lhe for dada urna oportunidade, terá condições de, no exemplo acima lembrado para ilustração, passar a fabricar produto de altíssima qualidade, com o que pagará todos os seus credores, incrementará sua produção, gerará novos empregos etc. Pois bem, nesta situação, o devedor vale-se da recuperação judicial ou extrajudicial, suspende o pagamento das obrigações imediatamente exigíveis, ganha um tempo previsto em lei para regularizar sua situação, propõe formas de pagamento que os credores aceitam, leva sua situação financeira e econômica a saneamento e prossegue com sua atividade.

4. Em linhas bem rápidas, esquematizadas simplesmente para que se possa entender a situação de falência (crise financeira + crise econô­mica insolúvel) em oposição à situação de recuperação (crise financei­ra + crise econômica passageira), esta é a linha que separa as situações às quais o devedor empresário pode ser conduzido.

5. Com certa liberdade, pode-se dizer que a falência é urna "grande execução", processo no qual são arrecadados todos os bens do devedor para formar a "massa falida", de um lado; de outro lado, faz-se a ordena­ção de todos os débitos do falido, encontrando-se o valor devido, para formação do "quadro-geral de credores", que é elaborado classificando os créditos para serem pagos na ordem que a lei determina. Na seqüência, transforma-se a "massa falida" em dinheiro e rateia-se o resultado aos com­ponentes do "quadro-geral de credores", na ordem legal.

6. Consagra-se assim o chamado princípio da universalidade do juízo falimentar, princípio da força atrativa da falência (vis attractiva), processo ao qual devem acorrer todos os credores (comerciais ou civis) do devedor e no qual devem ser arrecadados e vendidos todos os bens do falido. Não estão incluídos aqui os credores de direito público, tais corno credores fiscais ou previdenciários, cujos créditos independem de habi­litação, na forma do art. 187 do CTN e do art. 29 da Lei 6.830/80. Estes

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191 Capítulo V- Seção I- Art. 75

créditos fiscais e previdenciários devem ser apenas comunicados ao juízo da falência, para pagamento na ordem que a lei estabelece. Enfim, se fixa aqui, mais uma vez, a universalidade do juízo falimentar, ao qual devem concorrer todos os credores, não sendo permitido, em princípio, qualquer pagamento a qualquer credor, fora deste juízo falimentar.

7. Assim é que todos os bens do devedor são imediatamente arre­cadados, na forma dos arts. 108 e ss., e passam a formar a massa falida, a qual será oportunamente vendida em leilão por lances orais, ou por propostas fechadas, ou em pregão (art. 142), para que o numerário arre­cadado seja destinado ao pagamento dos débitos existentes.

8. Sem embargo da "grande execução" mencionada no item 5 acima, o legislador, pelo menos formalmente, pretendeu trazer com esta Lei uma nova forma de abordagem da falência, de tal maneira que, logo no primeiro artigo do Capítulo destinado à falência, declara sua pretensão de preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens da empresa cuja falência foi declarada. Para tanto, o legislador lançou mão de alguns métodos, que serão examinados à medida que forem sendo vistos os respectivos artigos. De qualquer forma, desde logo observe-se (art. 140, I) a previsão para que a empresa seja vendida em bloco, de tal forma que se mantenha íntegra a unidade produtiva, com o que será preservada a possibilidade de continuação da atividade produtiva.

9. A prática do dia-a-dia dirá se houve acerto do legislador. No entanto, desde logo já se pode afirmar sem grande temor de erro, que a venda em bloco da empresa, dependerá muito mais de interesses eco­nômicos do momento, do que de qualquer pretensão legislativa. Assim é que, mesmo no regime da lei antiga, diversas empresas falidas foram preservadas, tornando-se produtivas sob nova administração após o de­creto de falência. Isto ocorreu sem que houvesse necessidade de qual­quer lei especial; ocorreu porque houve interesses econômicos fortes em jogo, que permitiram tal recuperação (vide RT 822/128).

Parágrafo único. O processo de falência atenderá aos prin­cípios da celeridade e da economia processual.

10. Sendo o processo instrumento, não pode exigir um dispêndio exagerado com relação aos valores e bens que estão em disputa. E, mes­mo quando não se trata de bens materiais, deve haver uma necessária

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Art. 76 - Capítulo V - Seção I 192

proporção entre os fins e meios, para equilíbrio do binômio custo-bene­fício. É o que recomendam os denominados princípios da celeridade e economia processual. Com relação a este último, verifica-se que preco­niza o máximo resultado na atuação do direito com o mínimo emprego possível de atividades processuais. Nesse sentido, importante corolário da economia é o princípio do aproveitamento dos atos processuais (CPC, art. 250), de aplicação geral tanto ao processo civil, quanto ao processo penal (Dinamarco, p. 73).

11. Trata-se aqui de uma declaração de princípios, que embora possa não ter efetiva objetividade, como deve ser a lei, de qualquer for­ma é princípio a ser sempre observado. Exatamente à luz de tal princí­pio, é que deve a lei ser analisada como um todo, sendo, aliás, possível localizar os outros artigos que tendem a propiciar a celeridade e a eco­nomia, como, por exemplo, o§ 2° do art. 140, que permite a venda dos bens independentemente do quadro-geral de credores. A disposição aten­de à celeridade, pois a venda, em tese, pode ser feita no dia seguinte ao decreto da falência; atende também à economia processual, pois se pro­cura chegar ao melhor resultado no menor espaço de tempo.

12. No entanto, como é sabido, a falência normalmente é proces­so que consome muito tempo, tendo em vista a quantidade de partes interessadas no andamento do feito, cada credor pretendendo que seu crédito seja preservado da melhor forma possível. Por outro lado, exa­tamente por ter que atender às pretensões de um grande número de inte­ressados, com a administração de um grande número de bens, o proce­dimento falimentar é naturalmente complexo.

Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou li­tisconsorte ativo.

1. Este art. 76 consagra a chamada "universalidade do juízo fali­mentar", em decorrência da qual o juiz que preside a falência é compe­tente, em princípio, para todas as ações sobre as quais haja interesse da massa, disposição esta que repete em parte o que dizia o art. 7° da lei anterior. Em princípio, qualquer ação contra a massa falida ficará sus­pensa e os credores deverão todos comparecer à falência (art. 6°), habi-

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193 Capítulo V- Seção I- Art. 76

litando seus créditos, habilitação na qual serão decididos aqueles as­pectos que eventualmente seriam discutidos em tais ações ou execu­ções individuais.

2. Como regra geral, anote-se o princípio da universalidade do juízo da falência, com a vis attractiva falimentar, no sentido de que exerce força de atração sobre os demais processos de interesse da mas­sa. Observe-se, porém, desde já, a primeira exceção que ressalva as cau­sas trabalhistas, que deverão ser decididas pelo próprio juiz especializado do trabalho, devendo ser habilitada na falência a importância que aque­la justiça especializada entender como correta.

3. A segunda exceção diz respeito às causas fiscais. Bottesini (p. 145) anota que a Fazenda Pública não se sujeita ao concurso universal na falência, o que eventualmente redundará em prejuízo para o próprio Fisco, que pode prosseguir com a execução e levar o bem à hasta públi­ca, devendo, porém, o produto ser encaminhado para a massa, para o pagamento preferencial dos credores que, na ordem legal, estão adiante do Fisco.

4. A terceira exceção diz respeito às ações não reguladas nesta Lei, em que o falido figure como autor ou litisconsorte ativo. Ou seja, a Lei está falando exclusivamente de ações propostas pelo falido. O exem­plo que sempre auxilia a compreensão pode ser lembrado no caso de a massa falida ter valores a receber por mercadorias vendidas a pessoa domiciliada em outra praça. Em tal caso, a ação de cobrança ou execu­ção será ajuizada ante o juízo do domicílio do devedor e não perante o juízo da falência. Já no caso, por exemplo, de ação revocatória (art. 132), será ajuizada ação ante o juízo da falência, pois trata-se de ação regulada nesta própria Lei de Recuperação e Falências.

Parágrafo único. Todas as ações, inclusive as excetuadas no caput deste artigo, terão prosseguimento com o administra­dor judicial, que deverá ser intimado para representar a mas­sa falida, sob pena de nulidade do processo.

5. Não só os bens, mas também os direitos da empresa falida são arrecadados, sendo que as ações judiciais em andamento passam a ter a massa falida no pólo ativo ou passivo, representada pelo administrador nomeado. Qualquer resultado econômico que advier das ações judiciais

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Art. 77 - Capítulo V - Seção I 194

em andamento reverterá em benefício da massa. Aliás, se durante a admi­nistração da massa falida, esta vier a adquirir qualquer bem ou obtiver qualquer lucro, serão eles também arrecadados.

6. Observe-se que, se a massa falida for acionada, a ação deverá correr ante o próprio juízo da falência, por força da força atrativa da falência. Se for a massa falida, a autora, aplica-se a parte final do caput do art. 76, de tal forma que não há atração do juízo falimentar. No en­tanto, se já houver ação ajuizada contra o devedor antes do decreto de falência, esta ação continuará correndo normalmente ante o juízo no qual já está, não só por interpretação deste parágrafo único, como tam­bém por expressa disposição do § 1 o do art. 6°.

7. Em tal caso, embora a ação continue correndo normalmente ante aquele outro juízo, a massa falida é que passará a ocupar o pólo no qual estiver o devedor, providenciando-se a intimação formal do admi­nistrador judicial, sem o que qualquer ato praticado será nulo.

Art. 77. A decretação da falência determina o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e soli­dariamente responsáveis, com o abatimento proporcional dos juros, e converte todos os créditos em moeda estrangeira para a moeda do País, pelo câmbio do dia da decisão judicial, para todos os efeitos desta Lei.

1. Este art. 77 traz estipulação semelhante à que existia no art. 25 da lei anterior. Vencem-se todas as dívidas e os juros contratuais ou legais são contados até o momento da decretação da quebra. Quando a lei fala em "abatimento proporcional dos juros", está determinando que os juros que seriam devidos até o vencimento do contrato (vencimento posterior ao decreto de falência), não serão incluídos. Exemplificando: tenho um contrato que vai se vencer em 1 (um) ano, com juros mensais de 1 %; seis meses antes do vencimento do contrato, ocorre o decreto de falência e, portanto, o contrato vence-se antecipadamente; neste caso, os juros de 1% a.m. são contados até o dia da quebra, não sendo incluí­dos (abatendo-se, portanto) os juros que seriam contados pelos próxi­mos seis meses, até o vencimento normal do contrato.

2. Observe-se, a propósito, que os créditos em moeda estrangeira são convertidos em moeda nacional pelo câmbio do dia em que for de-

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195 Capítulo V - Seção I - Art. 78

cretada a falência, descontando-se também os juros que seriam conta­dos até o vencimento.

Art. 78. Os pedidos de falência estão sujeitos a distribuição obrigatória, respeitada a ordem de apresentação.

1. Como ação que é, qualquer pedido de falência deve ser obri­gatoriamente distribuído, com o que se pode fixar a ordem na qual foram ajuizados os pedidos, bem como se toma público o requeri­mento, de tal forma que passa automaticamente a constar de qualquer certidão emitida pelo cartório do distribuidor, o que é necessário para o conhecimento público que se deve dar acerca da existência de ações em andamento. Os controles de distribuição hoje estão informatiza­dos, permitindo rigoroso controle.

2. Embora a distribuição seja obrigatória para fins de registro, a única distribuição livre é a do primeiro pedido de falência, o qual será "sorteado" normalmente entre as diversas varas acaso existentes na comarca. A partir desta primeira distribuição obrigatória e livre, os pró­ximos pedidos serão encaminhados necessariamente, pelo distribuidor, para o juiz ao qual já foi endereçado o primeiro pedido, ante a preven­ção estabelecida no § go do art. 6°.

Parágrafo único. As ações que devam ser propostas no juízo da falência estão sujeitas a distribuição por dependência.

3. Como se verá do exame dos demais artigos, durante o anda­mento da falência, diversas outras ações podem ser propostas no pró­prio juízo da falência. Apenas para lembrar como exemplo, poderão ser ajuizados pedido de restituição (art. 85), embargos de terceiro (art. 93), ação revocatória (arts. 130/132), ação de rito ordinário para retificação do quadro-geral de credores (§ 6° do art. 10) etc. Conforme estipula o texto ora sob exame, todas estas ações devem ser distribuídas normal­mente por dependência, tratando-se da mesma forma acima, de distri­buição obrigatória, porém não livre.

4. Estas ações, embora distribuídas por dependência, correrão em autos apartados, pois o procedimento falimentar tem que continuar cor­rendo normalmente, não sendo possível assim encartar outros "proces­sos" no interior dos autos da falência.

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Art. 79 - Capítulo V - Seção I 196

Art. 79. Os processos de falência e os seus incidentes pre­ferem a todos os outros na ordem dos feitos, em qualquer instância.

1. Com o conhecido excesso de trabalho existente em nossos Tri­bunais, esta preferência estabelecida em lei não está em condições de ser observada com rigor absoluto. No entanto, é regra que tem por funda­mento o princípio da celeridade, previsto no parágrafo único do art. 75.

Art. 80. Considerar-se-ão habilitados os créditos remanes­centes da recuperação judicial, quando definitivamente incluí­dos no quadro-geral de credores, tendo prosseguimento as ha­bilitações que estejam em curso.

1. O artigo estabelece que aquele que já estava habilitado na recu­peração judicial será considerado habilitado na falência superveniente, caso a recuperação venha a ser convolada em falência (art. 73). O art. 153 da lei anterior trazia também esta previsão.

2. Bastará deduzir-se do valor já admitido no quadro-geral de cre­dores da recuperação judicial o que eventualmente houver sido pago antes da convolação em falência, o que será feito por simples calculo aritmético, sem maiores complicações. Esse saldo será o valor pelo qual o credor já estará habilitado na falência e pelo qua1 constará no quadro­geral de credores que será elaborado para esta nova fase.

3. Esta estipulação é válida apenas para os créditos definitivamen­te incluídos no quadro-geral da recuperação, pois a habilitação cujo processamento esteja em curso terá prosseguimento normal.

Art. 81. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis também acarreta a falên­cia destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos pro­duzidos em relação à sociedade falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se assim o desejarem.

1. Hoje praticamente não há mais empresas com sócios solidária e ilimitadamente responsáveis, tendo em vista que a absoluta maioria das empresas é constituída sob a forma de sociedade anônima ou de cotas de responsabilidade limitada. Este artigo vem resolver a discussão que

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197 Capítulo V - Seção I -Art. 81

se estabeleceu a partir do ininteligível art. 5° da lei anterior; aqui optou o legislador, de forma clara e definitiva, por afirmar que o sócio com responsabilidade ilimitada (pessoa física) também é falido, sem embar­go do entendimento de que quem fale é a sociedade empresária e não a pessoa física do sócio.

2. Anote-se que está estabelecida aqui regra de procedimento, de tal forma que o requerente da falência deve observar se há sócios ilimitada­mente responsáveis, pois a citação destes passa a ser obrigatória, sob pena de nulidade de todos os atos processuais praticados sem a citação.

3. A doutrina mais recente, com base no Código de Defesa do Consumidor e na teoria da desconsideração da personalidade jurídica, está permitindo, cada vez mais, a arrecadação de bens particulares de sócios de empresas falidas, desde que presentes as condições fáticas e jurídicas suficientes para a responsabilização do patrimônio pessoal. O art. 28 do Código de Defesa do Consumidor e o art. 50 do Código Civil tratam da desconsideração da personalidade jurídica. Este é aspecto a ser considerado no que tange especificamente aos efeitos patrimoniais, pois a aplicação da teoria da desconsideração não seria hábil a determi­nar a falência de qualquer sócio, mesmo que possa redundar na arreca­dação de todos os seus bens particulares.

4. Claro que, tratando-se de empresário em nome individual, sem separação do patrimônio pessoal e do patrimônio social, todos os bens (sociais e particulares) respondem ante a falência decretada. Observe­se que o novo Código Civil, ao tratar deste assunto (arts. 966 e ss.), abandonou os termos "comerciante" e "sociedade comercial", passando a usar "empresário" e "sociedade empresária". No entanto, o uso do termo "comerciante" e "sociedade comercial", embora não especifica­mente constante da Lei, pode continuar a ser usado, pois é forma de expressão consagrada.

§ 1 o O disposto no caput deste artigo aplica-se ao sócio que tenha se retirado voluntariamente ou que tenha sido excluído da sociedade, há menos de 2 (dois) anos, quanto às dívidas existen­tes na data do arquivamento da alteração do contrato, no caso de não terem sido solvidas até a data da decretação da falência.

5. Este§ 1°, ao repetir o parágrafo único do art. 5° da lei anterior, criou um grande problema de aspecto processual. Como visto, o art. 81

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Art. 82 - Capítulo V - Seção I 198

determina ser obrigatória a citação do sócio ilimitadamente responsá­vel; este § 1 o coloca na mesma situação, o sócio que tenha se retirado há menos de dois anos, desde que haja dívidas existentes na data do ar­quivamento da alteração mediante a qual deixou de ser sócio.

6. No entanto, deve ocorrer que a constatação deste fato- ou seja, existência ou não de dívidas contemporâneas à data do arquivamento e ainda não solvidas- certamente não terá sido feita no momento dope­dido de falência; é fato que, se existir, apenas será conhecido após o decreto da falência. No entanto, o sócio não poderia ser considerado falido, porque não foi citado para o pedido inicial, conforme determina o art. 81. Como já anotado, ante a raridade (ou praticamente inexistên­cia) de sócios com responsabilidade ilimitada, é difícil imaginar o sur­gimento deste problema que, no entanto, surgindo, deverá ser solucio­nado jurisprudencialmente.

§ 2° As sociedades falidas serão representadas na falência por seus administradores ou liquidantes, os quais terão os mesmos direitos e, sob as mesmas penas, ficarão sujeitos às obrigações que cabem ao falido.

7. Aqueles que eram administradores ou liquidantes da empresa antes do decreto de falência perdem a administração dos bens a partir do decreto de falência (art. 103); mantém, no entanto, evidente interes­se no andamento da falência. A Lei, reconhecendo tal interesse, prevê uma série de direitos de fiscalização e intervenção no processo, como se verá mais adiante.

8. Se fixa aqui a responsabilidade das pessoas mencionadas no artigo, as quais devem atender às obrigações decorrentes do decreto de falência (art. 104). Evidentemente, este direito de representação não abrange a possibilidade de ajuizar ações em nome da sociedade falida, pois tais pessoas ficam proibidas de praticar qualquer ato que se refira aos bens, interesses, direitos e obrigações da falida, passando a admi­nistração para o administrador nomeado pelo juiz.

Art. 82. A responsabilidade pessoal dos sócios de responsa­bilidade limitada, dos controladores e dos administradores da sociedade falida, estabelecida nas respectivas leis, será apura-

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199 Capítulo V - Seção I -Art. 82

da no próprio juízo da falência, independentemente da reali­zação do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir. o passivo, observado o procedimento ordinário previsto no Códi­go de Processo Civil.

1. Este artigo prevê a ação cabível em caso de responsabilidade tanto dos sócios de responsabilidade ilimitada (situação prevista no art. 81, acima), bem como dos controladores e administradores da sociedade falida, notando-se que o administrador não será necessaria­mente sócio.

2. A responsabilidade pessoal dos relacionados neste art. 82 pode advir a partir das mais diferentes situações fáticas, o que será examina­do pelos interessados, em cada processo de falência. O artigo esclarece que, havendo responsabilidade destas pessoas, não importa por quais razões, a ação poderá ser ajuizada, independentemente de já terem sido vendidos os bens arrecadados, e independentemente da prova de insufi­ciência para pagamento dos credores habilitados.

3. Conforme prevê este artigo, a responsabilização se faz por ação ordinária (art. 282 e ss. do CPC), por meio de inicial distribuída, por dependência, ao próprio juiz que cuida da falência (art. 78, parágrafo único), estabelecendo, portanto, regra que diz respeito ao momento do ajuizamento, como também regra de competência.

4. Interessante é examinar este artigo em comparação com o art. 130, o qual estabelece a necessidade de prova do efetivo prejuízo para a ação revocatória. Mais uma vez se verifica que aquele "efetivo prejuí­zo" mencionado no art. 130 deve ser examinado com extremado rigor, pois se para a ação de responsabilização aqui prevista não há necessida­de de tal prova, não haveria necessidade também no art. 130, que, aliás, trata de ato muito mais grave, ou seja, ato praticado com fraude (vide comentários ao art. 130).

5. Portanto, apurando-se que os diretores, controladores, adminis­tradores, praticaram atos lesivos ao interesse dos credores, será propos­ta ação de responsabilidade pelo rito ordinário, estando legitimados tam­bém para o pólo passivo as pessoas mencionadas, sejam ou não sócias do falido.

6. A propósito, relembre-se que há casos de responsabilização nos quais o juiz poderá optar pela aplicação da teoria da desconside-

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Art. 82 - Capítulo V - Seção I 200

ração da personalidade jurídica, para mandar arrecadar o patrimônio das pessoas que seriam legitimadas para a ação. No entanto, embora a desconsideração esteja já bastante disseminada em nosso meio ju­rídico, sua aplicação ainda está engatinhando em termos processuais, não havendo pacificação sobre como aplicá-la, matéria que com o decorrer do tempo encontrará o devido tratamento por nossos Tribu­nais. No entanto, é intuitivo que a possibilidade de aplicação desta teoria, ao invés de ajuizamento de ação de responsabilidade, é mais que possível, é bastante provável.

7. Quanto a esta possibilidade de aplicação da desconsideração, relembre-se que Comparato (p. 362) aponta a confusão patrimonial en­tre controlador e sociedade controlada como critério fundamental para aplicação da teoria da desconsideração, explicando que, sendo a pessoa nada mais do que uma técnica de separação patrimonial, se o controla­dor deixa de observar tal separação, não se vê por que os juízes teriam que manter a ficção de que o patrimônio está separado.

§ 1° Prescreverá em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência, a ação de responsabilização prevista no caput deste artigo.

8. A prescrição da ação de responsabilização está fixada em dois anos, contados do trânsito em julgado da sentença de encerramento, sentença esta prevista no art. 156. Trata-se de prazo razoável, estabele­cido com bom critério, o que toma ainda criticável a determinação do art. 132, que, para a ação revocatória, normalmente muito mais comum e importante do que esta, estabelece prazo exíguo (três anos), contados não da sentença de encerramento, e sim da decretação da falência (vide comentários ao art. 132).

§ 2° O juiz poderá, de ofício ou mediante requerimento das partes interessadas, ordenar a indisponibilidade de bens par­ticulares dos réus, em quantidade compatível com o dano pro­vocado, até o julgamento da ação de responsabilização.

9. Trata-se de medida acautelatória do interesse dos credores da massa, que pode ser tomada de ofício pelo juiz da falência, ditada pelo interesse da efetividade da jurisdição, para que se evite que, se

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201 Capítulo V - Seção I -Art. 82

houver responsabilização, a execução venha a se frustrar por inexis­tência de bens.

10. Relembre-se sempre que é medida a ser tomada com cautela pelo juiz da falência, pois o falido não pode ser considerado, em princí­pio, um fraudador. Por outro lado, não deve também o juiz proceder com leniência excessiva no exame dos fatos, pois também não são raros os casos de desaparecimento fraudulento dos bens no momento do pa­gamento do devido em decorrência da condenação judicial.

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Seção 11

Da classificação dos créditos

1. Nesta matéria, a lei anterior era melhor ordenada, o que deve­ria ser sempre recomendável, especialmente em leis tipo "codificação" como esta, com mais de duas centenas de artigos, configurando um ver­dadeiro "Código de Falências". Aliás, a lei anterior, embora com mais de meio século de existência, sempre foi reconhecida, mesmo por seus críticos mais severos, como exemplo de ordenamento e disposição cor­reta das diversas matérias tratadas em seus 217 artigos.

2. Na lei anterior, com perfeita ordem, os arts. 80 a I 02 cuidavam da "verificação dos créditos" (arts. 80 a 101) e, em seguida, da "classi­ficação dos créditos" (art. 102). Já no diploma atual, a "verificação" e a "habilitação de créditos" estão sendo tratadas nos arts. 7° a 20, enquan­to a "classificação" é tratada nos arts. 83 e 84. Também neste aspecto de ordem, a lei atual tem qualidade bastante inferior à lei antiga.

3. Assim, observados todos os procedimentos previstos nos arts. 7° a 20, estará o feito em condições para que se elabore o quadro-geral de credores, previsto nos arts. 14 e 15, devendo ser então observada a ordem de classificação estabelecida nos artigos a seguir examinados.

4. Os créditos extraconcursais (arts. 67 e 84) e o valor objeto do pedido de restituição (art. 85 e ss.) não serão classificados no quadro geral de credores e deverão ser pagos pela massa antes dos demais cre­dores (art. 149, caput).

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

I - os créditos derivados da legislação do trabalho, limita­dos a 150 (cento e cinqüenta) salários mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;

1. Houve muita discussão sobre a limitação do crédito trabalhis­ta ao teto correspondente a 150 salários mínimos. Dizia-se que esse

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203 Capítulo V - Seção 11 - Art. 83

limite era necessário para que fossem evitados os créditos "maquiados", normalmente criados às vésperas da falência, em favorecimento a pes­soas que nunca haviam trabalhado ou a pessoas que teriam, na realida­de, um crédito muito menor. O argumento parece não ser o mais cor­reto, pois não se pode entender como justo castigar-se o trabalhador que efetivamente tem valores altos a receber em decorrência de dedi­cação à empresa por longo tempo, porque o cumprimento desta obri­gação poderia vir a favorecer terceiros fraudadores. É claro que muito mais correto, intuitivo até, seria criar mecanismos para evitar a fraude, ao invés de punir indiscriminadamente todos os empregados. De qual­quer forma, embora de forma injusta, o legislador acabou optando por esta alternativa.

2. A propósito, o projeto enviado pelo Senado à Câmara dos Depu­tados, em seu art. 11, estabelecia como prioridade o pagamento integral dos salários, de forma preferencial, ante o caráter alimentar da verba salarial. No entanto, em seu relatório, o Senado afastou este direito, estabelecendo o limite de 150 salários mínimos, transformando em qui­rografário o que exceder tal limite (alínea c do inciso VI abaixo).

3. A Lei 8.212/91, que dispõe sobre a organização de seguridade social, e a Lei 8.213/91, que dispõe sobre os planos de benefícios da previdência, estabelecem o seguro de acidentes do trabalho, de tal for­ma que o pagamento de indenização devida a tal título é de responsabi­lidade da Previdência Social, do INSS. Esta é a indenização por aciden­te do trabalho, de natureza previdenciária, e não é a esta verba que se refere o inciso I ora sob exame, exatamente por se tratar de responsabi­lidade não do falido e sim, da Previdência Social.

4. O inciso I refere-se às indenizações devidas ao empregado por conta dos danos que lhe foram causados no acidente do trabalho e que decorram do dolo ou culpa do empregador, responsabilidade prevista no inciso XXVIII do art. 7° da Constituição Federal, que estabelece a obrigatoriedade de "seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa". Assim, a primeira parte do dispositivo constitucional refere-se à indenização previdenciária contratada com o INSS; a segunda parte refere-se à responsabilidade do empregador. Para a indenização devida a título de responsabilidade civil, não incide o limite de 150 salários mínimos, como se vê dos termos do inciso I ora sob exame.

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Art. 83 - Capítulo V - Seção 11 204

11- créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;

S. A seguir, atendendo à pressão do sistema bancário nacional e internacional, já extremamente privilegiado em diversas passagens da Lei, em segundo lugar estão classificados os créditos garantidos, limi­tados ao valor do bem gravado. Como a prática dos negócios demons­tra, o empresário, para conseguir crédito no sistema financeiro, tem que oferecer bens em garantia real e, normalmente, estas garantias são em valor bastante superior ao crédito fornecido. Embora esta classificação, agregada de última hora à lei, tenha vindo por pressão do setor bancá­rio, evidentemente favorecerá a qualquer credor com garantia real.

6. Segundo o art. I .225 do Código Civil, são direitos reais, a pro­priedade, a superfície, as servidões, o usufruto, o uso, a habitação, o direito do promitente comprador do imóvel, o penhor, a hipoteca e a anticrese. O art. 1.419 do mesmo Código estabelece a possibilidade das garantias reais na forma de penhor, anticrese ou hipoteca, estipulando que o bem dado em garantia fica sujeito, por vínculo real, ao cumpri­mento da obrigação.

7. Assim, os créditos com garantia real receberão logo após as duas verbas acima alinhadas, limitados ao valor do bem gravado. Pro­blema de difícil solução certamente se apresentará quando for necessá­rio fixar o valor do bem gravado, pois é necessário que se observe que o bem gravado não será entregue ao credor; o bem gravado apenas servirá como parâmetro para o limite da classificação do crédito, ficando o res­tante (do crédito) classificado como crédito quirografário.

8. O § 1 o estabelece o que deve ser considerado como "valor do bem gravado", estipulando corresponder ele à importância efetivamente arre­cadada com sua venda individual; se ocorrer venda em bloco, será consi­derado o valor da avaliação do bem individualmente considerado.

9. O saldo devedor será classificado como crédito quirografário, na forma da alínea b do inciso VI abaixo.

111 - créditos tributários, independentemente da sua natu­reza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias;

10. O art. 186 do Código Tributário Nacional, com a redação que lhe foi dada pela Lei Complementar 118, de 09.02.2005, estabelece que

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205 Capítulo V - Seção 11 - Art. 83

"o crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente do trabalho". Já o parágrafo único deste artigo passou a ter a seguinte redação: "Na falência: I- o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcursais ou às importâncias passíveis de restituição, nos termos da lei falimentar, nem aos créditos com garantia real, no limite do valor do bem gravado; li - a lei poderá estabelecer limites e condições para a preferência dos créditos decor­rentes da legislação do trabalho; e III - a multa tributária prefere apenas aos créditos subordinados".

11. Portanto, com a alteração do Código Tributário Nacional, o crédito tributário estará na terceira posição, excetuando-se neste caso a multa, agora classificada logo abaixo dos créditos quirografários (inci­so VII do art. 83). Esta última alteração foi resultado também da pres­são do sistema financeiro, que teve atendido seu pedido de serem colo­cadas as garantias reais adiante do crédito fiscal.

12. Observe-se que os créditos tributários relativos a fatos gera­dores ocorridos após a decretação da falência são considerados extra­concursais e serão pagos com precedência sobre estes do art. 83, con­forme previsto no inciso V do art. 84.

IV - créditos com privilégio especial, a saber:

13. O inciso II acima classificou em segundo lugar os créditos com garantia real; agora, em quarto lugar, alinham-se os créditos com privilégio especial, a serem examinados na forma das alíneas a a c se­guintes.

a) os previstos no art. 964 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002;

14. O art. 964 do Código Civil, enumera, em oito incisos, os cré­ditos com privilégio especial estabelecendo que "têm privilégio espe­cial:

"I - sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e des­pesas judiciais feitas com a arrecadação e liquidação;

"II - sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento;

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Art. 83 - Capítulo V - Seção 11 206

"III- sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessá­rias ou úteis;

"IV - sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas ou quaisquer outras construções, o credor de materiais, dinheiro, ou servi­ços para sua edificação, reconstrução, ou melhoramento;

"V - sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumen­tos e serviços à cultura, ou à colheita;

"VI - sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às prestações do ano corrente e do anterior;

"VII - sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela, ou seus legítimos representantes, pelo crédito fundado con­tra aquele no contrato da edição;

"VIII- sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, e precipuamente a quaisquer outros créditos, ainda que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários".

b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, sal­vo disposição contrária desta Lei;

15. É o tipo de disposição genérica, que deve ser evitada pela técnica legislativa mais apurada; exatamente porque sua generalidade pode causar surpresas ao aplicador da lei, o que sempre deve ser evita­do pelo legislador cuidadoso. Aliás, no caso a generalidade é absoluta não só por incluir coisas indefinidas (previstas em leis em geral) como por excluir, também, situações indefinidas (salvo eventual disposição em contrário).

16. Assim, frente a cada situação, deve o estudioso pesquisar e ver se aquele crédito que tem em mãos goza ou não de privilégio especial.

c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de reten­ção sobre a coisa dada em garantia;

17. As observações sob n. 15 e 16 acima aplicam-se também ao presente dispositivo. Observe-se, porém, que, no Código Civil, há pre­visão de direito de retenção no art. 571, parágrafo único (em favor do

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207 Capítulo V - Seção 11 - Art. 83

locatário, em caso de tomada da coisa locada); no art. 578 (retenção pelo locatário, em caso de determinadas benfeitorias); no art. 644, caput (retenção da coisa depositada até o pagamento das despesas do depósi­to); no art. 664 (retenção pelo mandatário, por despesas do mandato); no art. 1.219 (pelas benfeitorias necessárias e úteis, em favor do possui­dor de boa fé); nos arts. 1.423 e 1.507, § 2° (em favor do credor anticrético); no art. 1.433, li (retenção do bem dado em penhor, em determinadas condições) etc.

V - créditos com privilégio geral, a saber:

18. Mantendo o mesmo método adotado para o inciso anterior, a Lei estabelece em que classificação devem ficar os créditos com privi­légio geral e, a seguir, passa a enumerar quais devem ser considerados em tal situação.

a) os previstos no art. 965 da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002;

19. Também em oito incisos, o art. 965 do Código Civil lista os créditos com privilégio geral:

i. O crédito por despesa do funeral do devedor, feito segundo a condição do morto e o costume do lugar;

ii. O crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arreca­dação e liquidação da massa;

iii. O crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor falecido, se foram moderadas;

i v. O crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior à sua morte;

v. O crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor fale­cido e sua família, no trimestre anterior ao falecimento;

vi. O crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente e no ano anterior;

vii. O crédito pelos salários dos empregados do serviço domésti­co do devedor, nos seus derradeiros seis meses de vida;

viii. Os demais créditos de privilégio geral.

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Art. 83 - Capítulo V - Seção 11 208

b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;

20. Pretende a Lei fornecer condições para que a empresa possa recuperar-se e, para tanto, tenta criar incentivos em tal sentido. Desta forma, se a empresa está em recuperação judicial, deve contar com a colaboração daqueles que antes lhe forneciam bens ou serviços, espe­rando que tais fornecedores continuem a provê-la normalmente após o pedido de recuperação. Na forma do parágrafo único do art. 67, o forne­cedor que estiver em tal condição, tem a classificação de seu crédito alterada de quirografário para crédito com privilégio geral em caso de decretação da falência.

c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;

21. Vide notas 15 e 16 acima.

VI - créditos quirografários, a saber:

22. O crédito quirografário é aquele que não goza de qualquer tipo de privilégio, o que se depreende pela própria etimologia da palavra, pois quirógrafo significa manuscrito, do grego "cheirographos", ou seja, "escrito do próprio punho ou autógrafo". Assim, credor quirografário é aquele que tem seu crédito representado unicamente por papéis, sem qualquer garantia especial. No sistema da lei anterior, era o último crédito classificado na falência; no sistema da Lei atual, como veremos, há outros créditos que serão colocados em posições inferiores a ele.

a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;

23. Lança mão o legislador, novamente, aqui, do sistema de ex­clusão geral, de tal forma que qualquer outro crédito que não esteja previsto nos demais incisos deve ser considerado quirografário.

b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alie­nação dos bens vinculados ao seu pagamento;

24. Vide comentário n. 9 acima.

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209 Capítulo V - Seção 11 -Art. 83

c) os saldos dos créditos derivados da legislação do traba­lho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;

25. Conforme estabelece o referido inciso I do art. 83, a preferên­cia absoluta dos créditos trabalhistas está limitada ao valor correspon­dente a 150 salários mínimos; o que ultrapassar, será classificado como crédito quirografário.

VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;

26. O inciso III do parágrafo único do art. 23 da lei anterior esta­belecia que não poderiam ser reclamadas na falência "as penas pecu­niárias por infração das leis penais e administrativas". O STF expediu a Súmula 565, abrangendo também a multa fiscal, dizendo que "a multa fiscal moratória constitui pena administrativa, não se incluindo no cré­dito habilitado em falência".

27. A Lei atual optou por permitir a cobrança destes valores, in­cluindo expressamente as multas tributárias, classificando todos estes valores como créditos quirografários.

VIII - créditos subordinados, a saber: a) os assim previstos em lei ou em contrato;

b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.

28. Criou a Lei uma figura inexistente na legislação anterior, clas­sificando os chamados "créditos subordinados" em último lugar. O úl­timo dos créditos a ser pago é aquele representado por valores devidos a sócios e administradores sem vínculo empregatício, cortando de vez qualquer possibilidade de fraude no sentido de criar valores que vies­sem a favorecer os próprios titulares da empresa falida.

§ 1 o Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do bem objeto de garantia real a

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Art. 83 - Capítulo V - Seção 11 210

importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente considerado.

29. Os credores com garantia real receberão somente o valor ar­recadado com a venda do bem, sendo que a diferença será classificada como crédito quirografário. Há possibilidade de venda em bloco (art. 140, I, li e III) e, em tal caso, não se conheceria o valor da venda daque­le determinado bem. Prevê a Lei, neste caso, a avaliação do bem indivi­dualmente considerado, para os fins deste § 1°.

§ 2° Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade.

30. O capital social é a garantia dos credores, de tal forma que o sócio apenas tem direito a ele após o pagamento de todos os credores. Em conseqüência, apenas se poderia imaginar a possibilidade de paga­mento de parcela do capital ao sócio se houvesse o pagamento integral de todos os credores e, ainda assim, houvesse sobra de dinheiro.

§ 3° As cláusulas penais dos contratos unilaterais não se­rão atendidas se as obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência.

§ 4° Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão con­siderados quirografários.

31. Na forma do art. 286 do Código Civil, o credor pode ceder seu crédito, desde que não haja oposição legal. O crédito trabalhista na falência também pode ser cedido, não se configurando este§ 4° como proibição à cessão. No entanto, o cessionário não terá os mesmos direi­tos do cedente, ante a massa falida. É que os créditos trabalhistas go­zam de determinados privilégios, desde que os direitos deles decorren­tes sejam exercidos pelo próprio empregado credor. Cedido o direito a terceiro, o crédito torna-se quirografário. Com isto, evitou o legislador o eventual surgimento de mercado paralelo ou mercado negro, de crédi­tos trabalhistas, embora se admita que tal tipo de negócio normalmente não seria de molde a despertar o interesse de especuladores.

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211 Capítulo V - Seção 11 -Art. 84

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e se­rão pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a:

1. Esta figura de crédito extraconcursal inexistia na lei anterior, sem embargo de criação pretoriana que permitia o reembolso imediato das despesas necessárias à administração da massa falida. Do exame de cada um dos incisos abaixo, verifica-se que a Lei preocupou-se em de­terminar o pagamento preferencial dos valores despendidos com a admi­nistração prestada após o decreto de falência, por serviços prestados à massa ou por despesas decorrentes destes serviços.

I - remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços pres­tados após a decretação da falência;

11 - quantias fornecidas à massa pelos credores;

Ill - despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência;

IV - custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida;

V - obrigações resultantes de atos jurídicos válidos prati­cados durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, res­peitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.

2. Ressalte-se que o art. 83 estabelece uma precedência de paga­mentos, determinando que serão feitos "na ordem a seguir". Portanto, entre estes créditos extraconcursais não se promove rateio, pois o paga­mento é feito na ordem estabelecida.

3. Em conseqüência de tudo acima, e como sugestão para estudo do quadro-geral de credores, propõe-se a ordem abaixo, para os crédi­tos que entram no concurso, no rateio, lembrando-se, porém, que antes de qualquer um deles, serão pagos os chamados créditos extraconcur­sais, previstos no art. 84:

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Art. 84 - Capítulo V - Seção 11 212

i. Créditos derivados da legislação do trabalho, limitados ao teto de 150 salários mínimos.

Também em primeiro lugar, verbas devidas por acidentes do tra­balho, decorrentes de condenação em ação de responsabilidade civil (valores, portanto, não cobertos pela previdência social, o INSS), estes sem qualquer limite;

ii. Créditos com garantia real, até o limite do valor do bem grava­do, tomando-se como valor aquele que vier a ser arrecadado na venda judicial do bem dado em garantia; o saldo será crédito quirografário (alínea b do inciso VI do art. 8.3).

iii. Créditos tributários de qualquer natureza, excetuadas as mul-tas tributárias.

iv. Créditos com privilégio especial, a saber:

a) Os relacionados no art. 964 do Código Civil;

b) Quaisquer outros definidos como privilégio especial em quais­quer leis civis e comerciais, desde que não excepcionados nesta Lei de Recuperação e Falências;

c) Aqueles com direito de retenção.

v. Créditos com privilégio geral, a saber:

a) Os relacionados no art. 965 do Código Civil;

b) Os previstos no art. 67 desta Lei de Recuperação e Falências;

c) Quaisquer outros definidos em leis civis e comerciais como com privilégio geral, desde que não excepcionados nesta Lei de Recu­peração e Falências.

vi. Créditos quirografários.

vii. Multas contratuais e penas pecuniárias, bem como multas tri­butárias.

viii. Créditos subordinados.

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Seção m Do pedido de restituição

Art. 85. O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir sua restituição.

1. Quando a falência é decretada, a arrecadação deve ser feita imediatamente (art. 108, caput), o que é justificável, tendo em vista a defesa do interesse dos credores, evitando-se a dilapidação do patrimô­nio e o desaparecimento dos bens do devedor. Mesmo bens indicados como de terceiros devem ser arrecadados, mencionando-se tal dado no auto de arrecadação (inciso IV do § 2° do art. 110). Dessa forma, ao arrecadar tudo que encontrar no estabelecimento do devedor, pode o administrador arrecadar bens que não são do devedor e que por isso devem ser devolvidos ao legítimo proprietário ou titular de direitos. Daí, a possibilidade do pedido de restituição de bens e de embargos de terceiro (art. 93), medidas processuais que, finalisticamente, prestam­se a retirar de entre os bens arrecadados aqueles bens que não são do devedor, em princípio.

2. Observe-se sempre, porém, que, na forma deste artigo, o pedi­do de restituição só é possível se se tratar de bem "arrecadado no pro­cesso de falência". Se não tiver sido arrecadado, pode até o credor va­ler-se da ação revocatória contra o devedor e/ou contra quem esteja na posse da coisa, se for o caso; com a procedência desta ação, o bem reverterá à situação anterior, será arrecadado e, então, poderá ser objeto de pedido de restituição. Ressalve-se ainda que o bem não arrecadado poderá ser objeto de pedido de restituição se, mesmo não tendo sido arrecadado" ... se encontre em poder do devedor na data da decretação da falência ... ".

3. O art. 99, inciso IX, determina que o juiz, ao decretar a falên­cia, na mesma sentença nomeará o administrador judicial, que deverá se compromissar nos autos (art. 33) e assumir o encargo, para cumpri­lo na forma do que determinam os arts. 21 a 25. Em seguida à assinatura

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Art 85 - Capítulo V - Seção III 214

do compromisso, o administrador efetuará a arrecadação e avaliação dos bens. Mesmo que o bem encontrado seja indicado como proprieda­de de terceiros ou reclamados por estes, ainda assim será arrecadado, devendo ser anotado no auto de arrecadação tal fato (art. 110, § 2°, IV). Esta determinação é salutar e já constava da lei anterior (inciso IV do § 6° do art. 70), para que se evitasse o desaparecimento de bens, ou mes­mo a fraude, com a não arrecadação de bens que deveriam ter sido arre­cadados. Enfim, preferiu o legislador manter a forma de arrecadação já existente na lei anterior, arrecadando-se mesmo bens que terceiros ale­guem não ser de propriedade do falido.

4. Portanto, ao proceder à arrecadação desta forma, há uma gran­de probabilidade de que bens de propriedade de terceiros venham tam­bém a ser arrecadados, os quais devem ser devolvidos a seus legítimos proprietários, que é exatamente o que prevê este art. 85 ora sob análise. Ressalte-se desde logo, o que terá conseqüências para o exame das for­mas de restituição, que este terceiro não é credor da massa falida; pode, aliás, tratar-se de pessoa que nunca teve qualquer negócio com o falido e que, apenas por coincidência, teria algum bem nas dependências do falido. Imagine-se, por exemplo, alguém que tenha deixado um veículo de sua propriedade, em consignação para venda, em uma empresa que comercia veículos. Embora arrecadado seu veículo, nem por isto é ele credor (ou devedor) do falido e, portanto, não irá disputar com os de­mais credores. Apenas irá providenciar a restituição do bem de sua pro­priedade, tirando assim da massa falida aquele bem que não deveria ter sido arrecadado.

5. O art. 85 estabelece a possibilidade de restituição do bem ape­nas para o proprietário, ou seja, apenas com fundamento em direito real de propriedade, limitando a disposição constante do art. 76 da lei ante­rior, que previa também a restituição para bem devido em virtude de contrato. É que no sistema da Lei atual, embora seja prevista a restitui­ção de outros bens, além daqueles devidos em razão do direito de pro­priedade, estas outras restituições estão previstas em outros artigos da legislação, como, por exemplo, no art. 86 abaixo.

6. Para que a restituição possa ser pedida, o bem deve ter sido arrecadado ou encontrar-se na posse do devedor na data da decretação da falência. Neste ponto, estabeleceu-se profunda diferença em relação à lei anterior, que apenas admitia o pedido de restituição desde que o bem tivesse sido arrecadado. No sistema da Lei atual, o bem arrecada-

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215 Capítulo V - Seção III -Art. 85

do, como já ocorria, pode ser objeto de restituição; no entanto, a Lei criou uma nova situação, autorizando o pedido de restituição mesmo para bem não arrecadado desde que se demonstre que tal bem se encon­trava em poder do devedor na data da decretação da falência. Ou seja, se entre o momento em que houve o decreto da falência e o momento da arrecadação, este bem tenha sido subtraído da arrecadação, ainda assim a restituição poderá ser pedida, mesmo que esteja em mãos de terceiros.

7. Por extensão, se o bem foi arrecadado e vendido pela massa (ou seja, vendido pelo administrador, depois da falência decretada), ainda assim poderá ser pedida a restituição, na esteira, aliás, do que estabele­cia o § 1 o do art. 76 da lei anterior; em tal hipótese, a restituição será feita em dinheiro (art. 86, I). Como se verá, a tal entendimento pode-se chegar até por interpretação contrario sensu ante o parágrafo único que examinaremos a seguir, o qual permite a restituição apenas no caso de o bem não ter sido ainda vendido pela massa.

8. Há casos, porém, nos quais o bem de propriedade do terceiro não foi arrecadado e não se encontrava em poder do devedor na data da decretação da falência. Isto porque, eventualmente, a sociedade empre­sária, antes de ter sua falência decretada, havia alienado fraudulenta­mente o bem. Caberia ao terceiro pedir a declaração de ineficácia do ato (art. 129) ou propor ação revocatória para que, na seqüência, o bem viesse a ser arrecadado, propiciando assim o pedido de restituição. A eventual alegação de ilegitimidade ativa do terceiro (art. 132) ficaria superada, pois, a rigor, na impossibilidade de recuperação, caberia ao terceiro ajuizar ação contra a massa falida para fixar o valor de seu cré­dito, decorrente do ato fraudulento praticado pelo devedor, de tal forma que esta condição de credor pode ser discutida nos próprios autos da revocatória ajuizada ou nos embargos de terceiro que o adquirente do bem viesse a apresentar ante a declaração de ineficácia e conseqüente arrecadação.

9. Especificamente com relação aos contratos de alienação fidu­ciária, o art. 7° do Dec.-lei 911169 prevê que, em caso de falência do devedor fiduciante, fica assegurado ao credor fiduciário o direito de pedir a restituição do bem, não sendo possível a ação de busca e apreen­são. Há entendimento jurisprudencial de acordo com a interpretação efetuada a partir do antigo§ 2° do art. 78, do Dec.-lei 7.661145, dispon­do não ser possível a restituição em dinheiro nessa hipótese, devendo exclusivamente ser feita em espécie, ou seja, pela restituição do próprio

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Art. 85 - Capítulo V - Seção III 216

bem. Tornando-se inviável a restituição do próprio bem, resta ao credor fiduciário o caminho da habilitação de crédito (Carlos Henrique Abrão, p. 114). No entanto, relembre-se que a alienação fiduciária é contrato bilateral que não se resolve pela falência (art. 117, caput) e que poderá, portanto, ser cumprido pelo administrador.

Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda não alienada.

10. Segundo este parágrafo se se tratar de coisa vendida a crédito e entregue nos quinze dias anteriores ao requerimento da falência, a restituição só pode ser pedida se a mercadoria ainda não foi vendida pela massa; se, ao contrário, já foi vendida, não cabe mais a restituição. Observe-se ainda que o parágrafo refere-se a "coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores". Portanto, há uma limitação temporal para a possibilidade do pedido de restituição, ou seja, a mercadoria deverá ter sido entregue nos quinze dias anteriores ao requerimento de falência, entendendo-se como requerimento de fa­lência o dia no qual o pedido deu entrada no protocolo judicial.

11. Nessa hipótese a possibilidade de restituição de mercadorias fica, às vezes, muito dificultada, uma vez que a mercadoria deverá ter sido entregue nos quinze dias anteriores ao requerimento da falência; porém, a restituição só pode ser pedida depois de decretada a falência. Como entre o requerimento de falência e o decreto de falência pode decorrer tempo muito dilatado, acaba dificultando-se o direito à resti­tuição em espécie, pela possibilidade de o devedor já ter vendido o bem antes de ser decretada a falência.

12. O art. 76 da lei anterior previa a possibilidade de restituição de coisa vendida nestas condições em caso de falência e, o art. 166 previa também tal possibilidade para os casos de concordata. A Lei atual traz tal previsão de recuperação apenas para a falência, não havendo previsão de restituição de mercadoria para o caso de recuperação judi­cial ou extrajudicial; evidentemente, para o caso de arrecadação (caput do artigo), a previsão apenas cabe em caso de falência, vez que na anti­ga concordata e na atual recuperação não há arrecadação. Abstraída esta diferença, o parágrafo único ora sob análise é repetição quase literal do

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217 Capítulo V - Seção 111 - Art. 86

§ 2° do art. 76 da lei anterior, com alteração de algumas palavras, que em nada mudam o sentido.

13. Como vimos, no caso do caput do art. 85, a coisa pode ser objeto de pedido de restituição desde que arrecadada; no entanto, pode ser vendida antes da sentença de restituição e, em tal situação, a resti­tuição será feita em dinheiro (art. 86, I). No caso do parágrafo único do art. 85, por se tratar de coisa vendida a crédito e entregue nos quinze dias anteriores ao requerimento da falência, a restituição só pode ser pedida se a mercadoria ainda não tiver sido vendida; se já foi vendida, não cabe mais a restituição. É evidente que esta venda pode ter sido efetuada tanto pela massa falida (no caso de a mercadoria ter sido arre­cadada) ou pelo próprio devedor, entre o momento do recebimento da mercadoria e o momento do decreto de falência; em tal caso (mercado­ria já vendida antes de decretada a falência), não cabe o pedido de resti­tuição e, ao credor, restará apenas a possibilidade de habilitação, na classificação que lhe couber na forma do art. 83.

14. A possibilidade de restituição prevista neste parágrafo único fica às vezes muito dificultada, vez que a coisa vendida deverá ter sido entregue ao devedor nos quinze dias anteriores ao requerimento de fa­lência; porém, a restituição só pode ser pedida depois de decretada a falência. Entre o momento do requerimento e o momento da decretação pode haver o decurso de dilatado espaço de tempo, tornando-se assim grande a probabilidade de o falido já ter vendido o bem antes de ter sido decretada sua falência.

Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro:

1. Esta possibilidade de recebimento em dinheiro se tornará efetiva desde que, é claro, exista dinheiro em valor suficiente para o pagamento do valor da restituição. Em tal caso, o autor do pedido de restituição deveria receber imediatamente, independentemente da confecção do quadro-geral de credores, pois ele não está se habili­tando e sim, retirando da massa um bem que não deveria ter sido arrecadado. Na prática, o pagamento acaba sendo feito logo que for­mado o quadro-geral de credores, em primeiro lugar, antes de qual­quer outro por mais privilegiado, com exceção de crédito trabalhista com valor limite de cinco salários mínimos previsto no art. 151 (pa­rágrafo único do art. 86).

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Art. 86 - Capítulo V - Seção 111 218

2. Nada impede que a restituição em dinheiro seja feita antes do quadro-geral de credores, sempre respeitado o pagamento preferencial do art. 151 e o rateio previsto no parágrafo único do art. 91. Relembre­se que aquele que pede a restituição não é credor, vez que está apenas retirando da massa aquele bem que não deveria ter sido arrecadado, não havendo assim qualquer razão para que dispute com outros credores o pagamento do valor a que tem direito.

I- se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de resti­tuição, hipótese em que o requerente receberá o valor da ava­liação do bem, ou, no caso de ter ocorrido sua venda, o respec­tivo preço, em ambos os casos no valor atualizado;

3. Poderá ocorrer que antes de ser decretada a falência o devedor já tenha vendido a mercadoria que seria objeto de pedido de restituição e, em tal caso restará ao credor a possibilidade de simples habilitação. De acordo com a interpretação efetuada do antigo art. 76 da lei anterior, a melhor doutrina nacional era uníssona no sentido da necessidade de o credor habi­litar-se na classificação que lhe coubesse, para disputar seu crédito com os demais habilitantes. Isso porque, se a mercadoria não houvesse sido arre­cadada (v.g., porque vendida pelo devedor antes do decreto de falência), não poderia ser pedida a restituição, pois era requisito absolutamente necessário "que a coisa tenha sido arrecadada em poder do devedor" (Trajano, vol. 2, p. 33); no mesmo sentido, via-se Silva Pacheco (p. 424), bem como a observação de Sampaio de Lacerda (p. 166), no sentido de que a possibilidade de restituição é medida excepcional, "não sendo per­mitido estendê-la além dos limites legais". Como visto, o art. 85 manteve a obrigatoriedade de se tratar de "bem arrecadado", sem o que a restituição não pode ser pedida. Só poderá ser objeto de pedido de restituição mesmo sem ter sido arrecadado no caso comentado no item 2 do art. 85, in fine.

4. A Lei aqui prevê duas hipóteses, ou seja: a inexistência do bem quando do ajuizamento do pedido de restituição, o que pode ocorrer, tendo em vista o tipo de realização previsto no art. 139, que estabelece o imediato início da realização do ativo logo após a arrecadação ou tendo em vista ainda qualquer outra situação de desaparecimento do bem. A segunda hipótese prevista neste artigo diz respeito ao bem exis­tente no momento do pedido de restituição, porém vendido posterior­mente, ou seja, vendido entre o momento do pedido de restituição e o momento posterior da efetiva restituição.

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219 Capítulo V - Seção 111 - Art. 86

5. No primeiro caso (bem inexistente no momento da restituição), será entregue ao requerente o valor da avaliação do bem; no segundo caso (venda posterior do bem), será entregue ao requerente o respectivo preço. Percebe-se que a Lei aqui se valeu de dois critérios diferentes para situações idênticas, ou seja, bem já vendido no momento do ajui­zamento do pedido e bem já vendido no momento da efetiva restitui­ção, no primeiro caso estabelecendo avaliação do bem, no segundo so­correndo-se do valor da venda. No entanto, nada impede que o juiz estabeleça, em qualquer caso, que seja entregue ao credor o valor da avaliação do bem, se possível, mesmo que por avaliação indireta, ava­liação a ser feita judicialmente, nos autos do próprio pedido de restitui­ção e com as cautelas normais a tal tipo de providência.

6. Observe-se ainda que este exame acima feito aplica-se inte­gralmente apenas ao caput do art. 85, pois para o caso previsto no pará­grafo único (restituição de mercadoria vendida a crédito), é necessário que tenha havido arrecadação. Portanto, tratando-se de mercadoria, se esta foi vendida antes do decreto de falência, não há possibilidade de pedido de restituição.

7. Se o bem não mais existir porque foi vendido, o autor receberá o respectivo preço, valor que será atualizado a partir do momento da venda. Evidentemente, esta venda terá sido feita nos autos da falência, sob a fiscalização do administrador e do juiz da falência; por isto, ao autor do pedido de restituição é necessário que fique atento ao andamento da fa­lência desde a decretação para que, se for caso, intervenha na venda, na qualidade de interessado, até para evitar a alienação por preço vil, que virá a trazer-lhe prejuízo no momento do recebimento do preço.

8. A lei, ao incluir na redação deste inciso a necessidade de atua­lização do valor do bem objeto do pedido de restituição, optou por dei­xar de incluir no cálculo, eventuais juros devidos. Mesmo porque, se a lei o quisesse, teria tomado o cuidado de acrescentar o termo "juros" em sua redação, excepcionando o art. 124, segundo o qual, contra a massa não são exigíveis juros se ·o ativo não bastar para o pagamento dos credores subordinados. Sobre este ponto, vide Jorge Lobo, Corre­ção Monetária ... , p. 55.

11 - da importância entregue ao devedor, em moeda cor­rente nacional, decorrente de adiantamento a contrato de câm-

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Art. 86 - Capítulo V - Seção III 220

bio para exportação, na forma do art. 75, §§ 3° e 4°, da Lei 4. 728, de 14 de julho de 1965, desde que o prazo total da opera­ção, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o previsto nas normas específicas da autoridade competente;

9. Pode também ser pedida a restituição das quantias adiantadas por instituição financeira, por conta do contrato de câmbio, na forma do que prevê o art. 75, §§ 3° e4°, da Lei 4.728, de 14.07.1965, a chamada Lei do Mercado de Capitais. Sobre este ponto, examine-se artigo de Manoel Justino Bezerra Filho, RT 7651115 e Jurisprudência do Superior Tribu­nal de Justiça e Tribunais Regionais Federais, Lex, vol. 129, p. 9.

10. Trata-se aqui do pedido de restituição de adiantamento feito a partir de contrato de câmbio de exportação. O exportador brasileiro ce­lebra contrato com o importador estrangeiro e promete vender a ele um determinado lote de mercadorias, por determinado valor, a ser entregue e pago em determinado prazo. Acertados os detalhes, deve o exportador brasileiro "fechar" o contrato de câmbio com os bancos autorizados, contrato que nada mais é do que a promessa do exportador brasileiro de venda dos dólares que receberá do importador estrangeiro ao banco com o qual está contratando. Trata-se de um simples contrato de compra e venda de divisas, para entrega futura, tudo isto porque ao exportador brasileiro não é permitido receber a moeda estrangeira diretamente do importador estrangeiro, que deverá fazer a remessa por meio de um banco autorizado de seu país ao banco com quem o exportador brasileiro "fe­chou" o contrato de câmbio.

11. Este banco que contrata com o exportador brasileiro tem as­sim uma promessa de que receberá, em determinado prazo, um lote de moedas estrangeiras, preço pago pelo importador estrangeiro pela mer­cadoria recebida. Por conta deste valor futuro a receber, o banco brasi­leiro adianta ao exportador valores correspondentes em reais, na reali­dade um financiamento da exportação, conforme previsto no art. 75 da Lei 4.728/65, Lei do Mercado de Capitais.

12. O valor deste adiantamento, desde que esteja contratado, quan­to ao prazo e prorrogações, rigorosamente de acordo com as normas do Banco Central, também poderá ser objeto de pedido de restituição. Desta forma, o autor do pedido de restituição deverá provar, já com o seu pedido inicial, sob as penas dos arts. 267, 283 e 284 do CPC, que o adiantamento está rigorosamente de acordo com as normas incidentes

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221 Capítulo V - Seção 111 - Art. 86

na matéria, sob pena de perder o direito ao pedido de restituição, trans­formando-se em mero credor quirografário.

13. Anote-se que o adiantamento de contrato de câmbio pode ser objeto de pedido de restituição no caso de falência (como aqui previs­to), estando ainda tal valor excluído da recuperação judicial ( § 4 o do art. 49) e da recuperação extrajudicial(§ lo do art. 161), o que demonstra a absoluta preponderância da Lei na defesa do capital financeiro, em pre­juízo de todos os demais créditos e em prejuízo da própria possibilida­de de recuperação da empresa, recuperação que fica extremamente difi­cultada. Evidentemente, na recuperação judicial não será possível o pedido de restituição, sendo apenas possível a execução, na forma do art. 75 da Lei 4.728/65.

111 - dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na hipótese de revogação ou ineficácia do contrato, con­forme disposto no art. 136 desta Lei.

14. O art. 136 prevê casos nos quais determinado negócio é de­clarado ineficaz por decisão interlocutória ou é revogado por sentença em regular ação revocatória, casos nos quais o terceiro que contratou com o falido pode ser pessoa que tenha agido com boa-fé. Nestes casos, pelos valores que este terceiro de boa-fé entregou ao devedor, terá ga­rantido o direito de restituição.

15. Este inciso III solucionou antiga discussão jurisprudencial, sobre qual seria a exata posição do terceiro de boa-fé para receber os valores que houvesse passado ao falido em decorrência do negócio que foi revogado.

Parágrafo único. As restituições de que trata este artigo somente serão efetuadas após o pagamento previsto no art. 151 desta Lei.

16. Referido parágrafo, de forma cristalina, dispõe que muito embora o autor do pedido de restituição não é credor, pois está apenas retirando da massa aquele bem que é de sua propriedade, mesmo assim deve se sujeitar a uma disputa com os credores trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos três meses anteriores à decretação da falência, até o limite de cinco salários mínimos por credor.

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Art. 87 - Capítulo V - Seção III 222

17. O primeiro pagamento a ser feito na falência é o devido a título de crédito trabalhista, desde que vencido nos três meses anterio­res à decretação da falência, limitado o valor a cinco salários mínimos, conforme estipulado no art. 151. Portanto, embora aquele que pede a restituição não seja considerado credor do falido (e sim, retirando da massa falida o que não deveria ter sido arrecadado), ainda assim terá que aguardar a solução e o pagamento de créditos salariais acaso exis­tentes, na forma do art. 151.

18. E certamente sempre haverá créditos salariais nesta condição, pois o falido, nos meses que precedem o decreto de sua falência, normal­mente deixa de cumprir o pagamento integral das dívidas trabalhistas, como demonstra a observação das coisas do dia-a-dia em tais situações.

19. Prevê-se desde logo que poderá ocorrer a eventualidade de algum grande credor ter valores a receber em restituição e, no entanto, esta permanecer obstada enquanto se decide se determinado empre­gado (ou grupo de empregados) tem ou não direito ao recebimento do valor previsto no art. 151. Nada impedirá, porém, que o juiz autorize a restituição, determinando a retenção de valor suficiente para o paga­mento dos valores devidos eventualmente a empregados naquelas con­dições.

Art. 87. O pedido de restituição deverá ser fundamentado e descreverá a coisa reclamada.

1. O art. 77, caput, da lei anterior trazia exatamente a mesma pre­visão, embora com duas palavras diferentes, dizendo que o pedido de­veria ser "cumpridamente" fundamentado e usando o verbo "individuará" ao invés de "descreverá". Por isto, as observações que cabiam relativamente à lei anterior, também se aplicam ao presente caso.

2. O pedido de restituição exige confecção de petição inicial me­diante a qual se dá início ao procedimento. Dessa forma, deve ser ela­borado com todos os cuidados de uma inicial (art. 282 do CPC), juntan­do-se todos os documentos necessários à prova do alegado, bem como expondo detalhadamente o fato sobre o qual repousa o direito que está sendo pleiteado. Eventualmente, diversos documentos (v.g., auto de ar­recadação, prova da propriedade ou de outro direito alegado etc.) po­dem estar nos próprios autos da falência. No entanto, a inicial deve

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223 Capítulo V - Seção 111 - Art. 87

trazer xerox de tais documentos e estar instruída de forma completa, como qualquer petição inicial.

3. A inicial deve ser apresentada à distribuição normal para regis­tro e será distribuída por dependência, para a vara pela qual corre a falência (art. 76). A autuação é feita em separado e o pedido de restitui­ção corre como um processo autônomo. Isso é necessário, pois, se tal pedido fosse processado dentro dos autos da falência, seria extrema­mente difícil seu andamento, tendo em vista as inúmeras providências que devem ser tomadas ao mesmo tempo nos autos da falência. Aliás, o juiz da falência, de forma geral, determina muitas vezes a autuação em apartado de diversos incidentes, mesmo que não haja específica previ­são legal para isso. Esse poder de direção do juiz é exercido mandando autuar em apartado, exatamente porque se tais incidentes estiverem nos autos da própria falência, terão seu andamento extremamente dificulta­do, dificultando igualmente o andamento da própria falência.

§ 1 o O juiz mandará autuar em separado o requerimento com os documentos que o instruírem e determinará a intima­ção do falido, do Comitê, dos credores e do administrador ju­dicial para que, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, se mani­festem, valendo como contestação a manifestação contrária à restituição.

4. Feita a autuação da forma acima examinada, procede-se a inti­mação (não a citação) de todas as pessoas previstas no § 1°, com prazo sucessivo de cinco dias para que se manifestem. Esta disposição de pra­zos sucessivos, embora certamente tenha sido inserida para que se con­siga maior celeridade no feito, será certamente causa de atraso, pois para que qualquer interessado possa se manifestar, terá que consultar os autos, o que poderá se tomar impossível, se os autos forem retirados para manifestação. A rigor, deveria o juiz impedir a retirada, determi­nando que o prazo corresse em cartório, o que, porém, poderá trazer grande dificuldade para a manifestação, impedindo até tal manifesta­ção, ante a eventual complexidade da matéria em discussão.

5. Na realidade, trata-se de prazo para contestação, pois está pre­visto que a manifestação contrária vale como contestação. Por isto, de­verá o juiz ter extrema prudência no exame de eventuais pedidos de dilação de prazo para manifestação, para não cercear a apresentação de

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Art. 87 - Capítulo V - Seção III 224

defesa por parte daqueles que não tiveram oportunidade de consulta aos autos, ante a sucessividade na contagem dos prazos. Melhor mesmo é que conceda a cada parte a possibilidade de retirar os autos por prazo que já estipule no despacho inicial do pedido de restituição, prevenindo desde logo o surgimento de qualquer possibilidade de alegação futura de nulidade por cerceamento de defesa.

§ 2° Contestado o pedido e deferidas as provas porventura requeridas, o juiz designará audiência de instrução e julga­mento, se necessária.

§ 3° Não havendo provas a realizar, os autos serão conclu­sos para sentença.

6. Apresentada contestação formal ou tomada qualquer mani­festação contrária à restituição como contestação na forma do pará­grafo antecedente, o juiz deferirá eventuais provas e designará audiên­cia, se necessária. O juiz pode deferir provas e, ainda assim, deixar de designar audiência, como ocorrerá, por exemplo, se a única prova ne­cessária for a pericial, como, aliás, é comum em questões incidentes na falência.

7. Mesmo que não contestado o pedido, ainda assim o juiz pode­rá determinar a produção de provas que entender necessárias, para seu convencimento para fins de julgamento. Enfim, o procedimento se "ordinariza", passando a seguir o rito previsto no art. 282 e ss. do CPC, cuja aplicação subsidiária é prevista no art. 189 desta Lei.

8. Embora o entendimento geral seja no sentido de que a tentativa de conciliação (art. 331 do CPC) é inaplicável aos procedimentos que envolvam falência, ainda assim, em casos especialíssimos, pode-se ima­ginar a possibilidade de tal tentativa, em pedido de restituição. De um lado da conciliação, estaria aquele que pretende a restituição, de outro lado, a massa falida, representada pelo administrador. No entanto, in­sista-se, a tentativa de conciliação apenas seria imaginável em casos especialíssimos, sendo obrigação do juiz justificar detalhadamente a conveniência de tal designação.

9. Se não houver provas a realizar, os autos serão conclusos para sentença, dispensadas as alegações finais, apenas recomendáveis se ti­vesse havido instrução, na forma do art. 450 e ss. do CPC.

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225 Capítulo V - Seção III -Art. 89

Art. 88. A sentença que reconhecer o direito do requerente determinará a entrega da coisa no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.

1. Julgando procedente o pedido, será determinada a entrega da coisa a ser restituída no prazo de 48 horas e, se a coisa não mais existir a este tempo, proceder-se-á à restituição em dinheiro, na forma do art. 86.

2. Contra esta sentença cabe apelação, que, porém, é recebida no efeito meramente devolutivo, conforme previsto no art. 90 abaixo.

Parágrafo único. Caso não haja contestação, a massa não será condenada ao pagamento de honorários advocatícios.

3. O dispositivo é aparentemente claro, ao determinar que a mas­sa não será condenada em honorários, caso não haja contestação, esta­belecendo assim, contrario sensu que se houver contestação, a massa será condenada em honorários. No entanto, a clareza é apenas aparente, pois o dispositivo na realidade estabelece que a massa será condenada em honorários, se houver contestação apresentada pela massa.

4. Isto porque, o § 1 o do art. 87 prevê a possibilidade de contesta­ção não só pela massa, como também pelo próprio falido, por qualquer credor e pelo administrador judicial, este evidentemente em nome da massa.

5. Não seria assim razoável que a massa respondesse por honorá­rios em caso de contestação apresentada por outro que não ela. Portan­to, o correto entendimento deste parágrafo é no sentido de que havendo contestação, e sendo ela afastada, aquele que contestou responderá por honorários e a massa responderá por honorários caso a contestação te­nha sido apresentada pelo administrador judicial.

Art. 89. A sentença que negar a restituição, quando for o caso, incluirá o requerente no quadro-geral de credores, na clas­sificação que lhe couber, na forma desta Lei.

1. O pedido de restituição, como qualquer pleito judicial, pode vir a ser julgado improcedente e, em tal caso, a sentença deverá mandar incluir o crédito na classificação que lhe couber, entre aquelas previstas

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Art. 90 - Capítulo V - Seção III 226

no art. 83. O artigo estabelece que esta inclusão será feita, "quando for o caso", pois a sentença que julga improcedente o pedido pode, por exemplo, deixar de reconhecer a existência de qualquer crédito, ou even­tualmente poderá não haver elementos nos autos para que se possa di­zer se há ou não crédito a habilitar. No entanto, havendo elementos suficientes, a sentença obrigatoriamente mandará incluir no quadro-geral de credores.

2. Esta disposição é salutar, pois dispensará o interessado de ajui­zar novo pedido judicial, desta vez de habilitação de crédito. Neste ponto, a lei atual é mais cuidadosa que a lei anterior que, no § 5° do art. 77, dizia que "a sentença que negar a restituição, pode mandar incluir o reclamante", agora, a sentença deve mandar incluir o crédito.

3. De qualquer forma, por cautela, é melhor que na inicial seja feito também o pedido alternativo de inclusão no quadro, em caso de improcedência do pedido de restituição. O pedido de inclusão no qua­dro-geral de credores é "pedido em ordem sucessiva" (ou eventual) pre­visto no art. 289 do CPC. Trata-se, na realidade, da hipótese de cúmulo eventual, no qual ocorre a reunião de dois ou mais pedidos em uma só iniciativa processual, com a manifestação de preferência por um deles. É uma alternatividade qualificada pela eventualidade do segundo pedi­do que se deduz, de modo que só será apreciado em caso de o primeiro não ser acolhido (Dinamarco, Instituições, vol. 2, p. 171 ).

4. Por isso, se a sentença julga improcedente o pedido de restitui­ção e acolhe o pedido de inclusão no quadro-geral de credores, o autor pode apelar visando o acolhimento do pedido de restituição, conforme Mancuso (p. 21). Se não houver recurso, ocorrerá o trânsito em julgado relativamente ao pedido de restituição.

Art. 90. Da sentença que julgar o pedido de restituição ca­berá apelação sem efeito suspensivo.

Parágrafo único. O autor do pedido de restituição que pre­tender receber o bem ou a quantia reclamada antes do trânsito em julgado da sentença prestará caução.

1. A disposição é clara ao estabelecer o efeito meramente devolu­tivo à apelação, ao contrário da lei anterior, sob a qual o recurso de apelação era recebido em ambos os efeitos. É também disposição lou-

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227 Capítulo V - Seção III - Art. 91

vável, que agilizao andamento processual e caminha no sentido da efe­tividade da jurisdição.

2. A execução é provisória (art. 587 do CPC) e a caução parare­cebimento do bem ou da quantia reclamada será feita na forma do inci­so li do art. 588 do CPC.

Art. 91. O pedido de restituição suspende a disponibilida­de da coisa até o trânsito em julgado.

1. Ajuizado o pedido de restituição, a coisa objeto do pedido não poderá mais ser vendida, pois sua disponibilidade fica suspensa, aguar­dando a prolatação da sentença. O bem fica indisponível apenas até o trânsito em julgado da sentença que julga improcedente o pedido de res­tituição, pois, se a sentença for julgada procedente, o bem continuará indisponível até ser devolvido ao autor vencedor da ação da restituição.

2. Exceção à indisponibilidade prevista, encontra-se no art. 113 da Lei, que estabelece que os bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos a considerável desvalorização ou de conservação arriscada ou dispendiosa podem ser vendidos antecipadamente, após manifestação dos interes­sados, a ser colhida no prazo de 48 horas. Neste caso, vendido o bem, o credor receberá o valor correspondente em dinheiro (art. 86, I).

Parágrafo único. Quando diversos requerentes houverem de ser satisfeitos em dinheiro e não existir saldo suficiente para o pagamento integral, far-se-á rateio proporcional entre eles.

3. Como já acima anotado, aquele que pede a restituição não é credor e, em conseqüência, não disputa seu crédito com os demais cre­dores e, antes dele, o único pagamento possível é o previsto no art. 151, ou seja, créditos trabalhistas vencidos nos três meses anteriores à de­cretação da falência, limitado o valor ao máximo correspondente a cinco salários mínimos, como, aliás, já examinado acima (parágrafo único do art. 86).

4. No entanto, antes de determinar o pagamento, deve o juiz tam­bém atentar para a eventualidade de existência de outros pedidos de restituição já julgados ou em andamento. Se houver pedidos em anda­mento, o juiz mandará aguardar o julgamento de todos e só após deter-

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Art. 92 - Capítulo V - Seção III 228

minará o pagamento das restituições. Então, se acaso o valor não for suficiente para o pagamento de todos, será feito o rateio proporcional.

5. Após o rateio, os autores dos pedidos de restituição continuam na mesma posição processual e se houver aporte de novos valores, no­vamente serão pagos, mediante rateio, até que o valor total seja quitado.

Art. 92. O requerente que tiver obtido êxito no seu pedido ressarcirá a massa falida ou a quem tiver suportado as despe­sas de conservação da coisa reclamada.

1. Este dispositivo dirige-se especificamente aos casos nos quais haja necessidade de pagamento das despesas de con.servação (v.g., res­tituição de gado, com pagamento do valor despendido com a manuten­ção dos animais durante o tempo em que estiveram sob os cuidados da massa falida). Em tal caso, recebendo de volta as cabeças de gado, de­verá o vencedor da ação de restituição ressarcir a massa ou terceiro que houver suportado as despesas com a alimentação e cuidados dispensa­dos durante todo o tempo até a restituição.

2. A lei anterior previa especificamente (art. 78, § 1°) a restitui­ção da coisa sub-rogada, com pagamento das despesas para a sub-rogação (art. 78, § 4°). A lei atual não prevê especificamente o caso de sub­rogação, mas a aplicação do art. 92 ora sob exame permite tal tipo de entendimento. O exemplo tradicional é aquele do credor que entregou um quilo de ouro, que foi transformado em um quilo de anéis e brincos, jóias que, como é intuitivo, têm um valor agregado, ou uma mais-valia, que corresponde ao trabalho de manufatura do metal. Em tal caso, o bem sub-rogado poderá ser objeto de restituição, sendo o credor obri­gado a pagar à massa o valor agregado, que será encontrado pela dife­rença entre o valor das jóias e o valor do ouro bruto.

Art. 93. Nos casos em que não couber pedido de restitui­ção, fica resguardado o direito dos credores de propor embar­gos de terceiros, observada a legislação processual civil.

1. A lei anterior era bem mais clara e técnica neste ponto, pois o art. 79, caput, estabelecia que em caso de turbação ou esbulho, o inte­ressado poderia valer-se dos embargos de terceiro. A Lei atual estabele-

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229 Capítulo V - Seção 111 - Art. 93

ce que nos casos em que não couber pedido de restituição, poderá o credor ajuizar embargos de terceiros.

2. No entanto, ao mandar observar a legislação processual civil, este artig_2. reme.t!Ulº-;!I:_t_l.046;e ss. do CPC, cujo caput estabelece: "Quem não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na pos­se de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de pe­nhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação, ar­rolamento, inventário, partilha, poderá requerer lhes sejam manutenidos ou restituídos por meio de embargos".

3. Da forma como está redigido o artigo, pode parecer que, sem­pre que couber o pedido de restituição, a parte não poderá optar pelos embargos, o que, porém, não é a melhor interpretação. Há casos nos quais cabe o pedido de restituição e, no entanto, a parte certamente deverá optar pelos embargos, como, por exemplo, no caso de ter sido arrecadado um veículo de um particular que se encontrava na garagem de uma grande transportadora. Entre os diversos veículos arrecadados, arrecadou-se também o veículo do terceiro que, neste caso, deverá ajui­zar não pedido de restituição (embora este caiba) e sim, embargos de terceiro, que lhe propiciará restituição liminar, na forma do que prevê o art 1.051 do CPC.

4. Portanto, para a escolha entre valer-se do pedido de restituição da Lei de Falências ou dos embargos de terceiro do CPC, o primeiro critério é ser ou não processualmente possível um e/ou outro e, em se­gundo lugar, . o critério da conveniência, no sentido de se escolher o caminho que mais prontamente possa satisfazer o direito perseguido pela parte interessada.

5. Com a ressalva acima, dentro do critério de conveniência do interessado, optará ele pelo pedido de restituição ou pelos embargos de terceiro, desde que cabível um ou outro ao caso específico. Como lem­bra José Horácio Cintra G. Pereira (p. 26), o sujeito passivo dos embar­gos é aquele que deu causa à apreensão judicial (ou à turbação), ou seja, no caso, a massa falida.

6. Da mesma forma que o pedido de restituição, os embargos de terceiro serão autuados em apartado, devendo por isso a inicial ser ins­truída com todos os documentos necessários à prova dos autos. Obser­ve-se que os embargos podem propiciar ao credor a imediata restituição do bem, uma vez que o art. 1.051 do CPC estabelece que o juiz, julgan-

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Art. 93 - Capítulo V - Seção III 230

do suficientemente provada a posse, deferirá liminarmente os embar­gos e ordenará a expedição de mandado de restituição; essa possibilida­de de restituição liminar não está prevista no caso de pedido com fun­damento no art. 85 da Lei de Falências, razão pela qual cabe ao interes­sado examinar qual medida processual lhe é mais interessante em cada caso. Evidentemente, sempre se poderia pedir tutela antecipada para entrega do bem, na forma do art. 273 do CPC, o que substituiria a limi­nar dos embargos de terceiro.

7. O recurso cabível é o de apelação que seria recebida em ambos os efeitos, na forma do art. 520 do CPC. No entanto, o art. 90 da Lei ora em exame estabelece que da sentença que julgar o pedido de restituição cabe apelação com efeito meramente devolutivo. Assim, a jurisprudên­cia certamente ajustará o entendimento, para que o recurso contra a sentença dos embargos de terceiro, do qual a parte se vale em caso de falência, também seja recebida sem efeito suspensivo. Não haveria qual­quer razão de direito, ou mesmo de simples lógica, para que a apelação nos embargos de terceiro, nestes casos, viesse a ser recebida em efeitos diferentes daqueles efeitos existentes no caso de pedido de restituição.

8. O bem objeto do embargo pode ser devolvido ou manutenido liminarmente ao autor do pedido, na forma do que dispõe o art. 1.051 do CPC. Não se aplica, porém, o art. 1.052 do CPC, que prevê a suspen­são do processo enquanto não decididos os embargos, uma vez que o processo de falência não deve parar. Não obstante, aplica-se aqui o art. 91 da Lei de Falências, que suspende a disponibilidade da coisa durante o trâmite do processo.

9. Para determinação exata das semelhanças e diferenças entre o pedido de restituição e os embargos de terceiro, o que facilitará o enten­dimento de um e outro instituto, observem-se os pontos abaixo:

a) Nos embargos pode ser concedida liminar para a entrega do bem (art. 1.051 do CPC); no pedido de restituição não há tal possibili­dade;

b) Sendo julgada improcedente a restituição, a sentença mandará incluir o requerente no quadro-geral de credores, na classificação que lhe couber (art. 89). Nos embargos não há tal possibilidade processual­mente prevista, embora haja autores que afirmam que o juiz pode deter­minar tal inclusão, mesmo nos embargos; aliás, em homenagem ao prin-

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231 Capítulo V - Seção 111 - Art. 93

cípio da economia processual e da instrumentalidade da forma, é reco­mendável que o juiz sempre mande incluir o crédito, não importando se o pedido é de restituição ou de embargos;

c) Na restituição, se não existir o bem, o autor poderá receber a coisa sub-rogada (vide comentário n. 2 ao art. 92 acima); nos embar­gos, não há tal previsão e uma aplicação analógica sempre seria proble­mática, uma vez que os embargos dizem respeito especificamente a um bem determinado, sem consideração a seu valor ou a eventual sub­rogação;

d) Na restituição, caso não exista mais o bem, o autor pode receber o valor correspondente em dinheiro (art. 86, I); nos embargos não há tal previsão;

e) Em caso de simples turbação de posse ou de direito, não cabe restituição, só cabendo embargos;

f) Da mesma forma, para garantia de direito de retenção não cabe restituição, apenas embargos;J

g) O pedido de restituição só cabe em caso de coisa arrecadada. Os embargos cabem mesmo para coisa não arrecadada, como, por exem­plo, no caso de simples turbação;

h) Para mercadoria vendida a crédito e entregue nos quinze dias anteriores ao requerimento da falência, não cabem embargos, pois não houve turbação ou esbulho, cabe apenas o pedido de restituição;

i) Da mesma forma e pelos mesmos fundamentos, para o pedido de devolução de adiantamento a contrato de câmbio (art. 86, 11), não cabem embargos, cabendo apenas pedido de restituição;

j) Finalmente, havendo dúvida sobre a efetiva existência (ou per­feita individuação) do bem, não é conveniente ajuizar embargos de ter­ceiro, pois esta é medida que incide diretamente sobre o próprio bem.

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Seção IV

Do procedimento para a decretação da falência

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:

1. A antiga Lei de Falências estabelecia duas "espécies" de crédi­to que permitiam o requerimento de falência, ou seja, o pedido com fundamento em título líquido e certo (art. 1 o da lei anterior); e o pedido com fundamento em atos de falência (art. 2°), sendo que, para cada es­pécie, havia um tipo de procedimento diferente, previsto respectiva­mente nos arts. 11 e 12. Este sistema foi alterado pela Lei atual, que criou três espécies, previstas respectivamente nos incisos I, li e lii.

2. O inciso I corresponde ao art. 1 o da lei anterior, ou seja, reque­rimento de falência com fundamento em título líquido e certo; o inciso li destaca a segunda espécie, ou seja, a situação na qual o executado não paga, não deposita e não nomeia bens à penhora; e finalmente, o inciso m prevê a terceira espécie, os chamados atos de falência. Ou seja, o legislador optou por dividir os chamados "atos de falência" em duas subespécies, ao invés de mantê-las em uma única, como ocorria na lei anterior. Veremos adiante as conseqüências processuais de tal opção.

I - sem relevante razão de direito, não paga, no vencimen­to, obrigação líquida materializada em título ou títulos execu­tivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (qua­renta) salários mínimos na data do pedido de falência;

3. Trata-se aqui da determinação do "fato" da falência e não da falência de "direito", a qual só ocorrerá se a falência for decretada, na forma dos arts. 99 e seguintes da Lei. Evidentemente, o empresário pode manter-se indefinidamente em situação de "falência de fato", não pas­sando desta para a situação de "falência de direito", bastando, para tan­to, que nenhum dos credores se interesse por pedir a falência. Aliás, trata-se de situação bastante comum, sendo grande o número de empre­sários que simplesmente "fecham as portas" com dívidas e, mesmo as­sim, sua falência nunca vem a ser requerida.

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233 Capítulo V - Seção IV -Art. 94

4. Este inciso, ao fazer menção a título executivo, abrange os títu­los executivos judiciais e extrajudiciais protestados. Portanto, resolve­se aqui a espinhosa e não pacificada discussão anterior, sobre se era ou não obrigatório o protesto de título judicial, optando o legislador por tornar obrigatório o protesto de qualquer dos dois tipos de títulos.

S. Ocorre aqui uma situação curiosa. Imagine-se que alguém teve ganho de causa em uma ação de rito ordinário e, em seguida, inicie a execução do título judicial então formado. Evidentemente, se o paga­mento for feito na execução, não surgirá qualquer discussão, e a divida estará quitada. No entanto, se não houver pagamento, o credor poderá tirar uma certidão deste título judicial, levá-lo a protesto e instruir o requerimento de falência com tal comprovante, requerimento que será então feito com fundamento no inciso I. No entanto, se quiser, poderá requerer a falência nos próprios autos nos quais formou-se o título exe­cutivo, dispensando-se, assim, o protesto (vide comentário 18 ao inciso 11, abaixo).

6. Este inciso excepciona a situação do devedor que deixa de pa­gar "com relevante razão de direito" para não pagar. Portanto, se o em­presário não paga e comprova a ocorrência de quaisquer das situações previstas no art. 96 da própria Lei, não poderá ser considerado devedor para efeitos desta Lei, pois então estará demonstrando que havia rele­vante razão de direito para não pagar. A relação do art. 96 não deve ser considerada exaustiva e sim exemplificativa. Qualquer razão de direito suficiente para desconstituir a dívida pode ser oposta em defesa do de­vedor, a qual (razão), se demonstrada, impedirá que a falência venha a ser decretada.

7. O inciso I refere-se ao devedor que "não paga, no vencimen­to". Assim, em princípio, a dívida deve estar vencida, para que se carac­terize este estado falimentar. No entanto, o portador de título ainda não vencido estará legitimado para apresentar o requerimento de falência, com fundamento no inciso Ill, abaixo.

8. A obrigação deve ser "líquida", conforme estabelece o inciso ora sob exame. Considera-se líquida a obrigação certa quanto à sua exis­tência, e determinada quanto ao seu objeto. Líquido é aquilo que é ma­nifesto, claro e evidente, não se duvidando de sua existência. Um che­que regularmente emitido é uma dívida líquida, provando-se sua exis­tência pela simples inspeção ocular do próprio cheque. Deve também

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Art. 94 - Capítulo V - Seção IV 234

ser uma obrigação certa quanto ao valor devido, quanto à coisa devida (normalmente, em falência, a dívida é em dinheiro) e quanto à quanti­dade devida. Portanto, pode-se dizer que líquida é a obrigação certa quanto à sua quantidade, qualidade e objeto.

9. O inciso prossegue dizendo que a obrigação deve ser "materia­lizada em título ou títulos executivos protestados". O art. 586 do CPC estabelece que "a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sem­pre em título líquido, certo e exigível". Como visto acima, a exigibili­dade diz respeito ao fato de o título já poder ser cobrado, ou seja, estar já vencido, pois, em princípio, só é exigível o título vencido. Os títulos que legitimam a ação de execução (antes de 1973, ação executiva) e o pedido de falência estão relacionados no art. 585 do CPC, sendo a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque con­forme o inciso I. Embora se estabeleça discussão sobre a possibilidade de requerimento de falência fundamentada em debêntures, Modesto Carvalhosa (vol. 1, p. 574) diz que, no caso de debêntures quirografárias, cabe ao agente fiduciário requerer a falência da companhia emissora.

10. Outrossim, quando foi promulgada, em 1968, a Lei 5.474 (Lei de Duplicatas), estabeleceu-se profunda discussão, com respeitáveis cor­rentes contrárias, entendendo uma que a duplicata sem aceite, mesmo que acompanhada da nota fiscal, do comprovante de entrega de mercado­ria assinado e do instrumento de protesto, embora fosse título executivo, não era documento hábil para instruir requerimento de falência. No en­tanto, toda a discussão perdeu interesse prático, pois a Lei 6.458, de O 1.11.1977, ao adaptar a Lei de Duplicatas ao Código de Processo Civil de 1973, determinou a inclusão desta modalidade de duplicata.

11. Ressalte-se aqui que o art. 15 da Lei 5.474/68 (Lei de Dupli­catas) refere-se a duplicatas de compra e venda de mercadorias. O art. 20 dessa lei é que se refere a duplicatas de prestação de serviços e, embora o § 3° do art. 20 equipare essa duplicata de prestação de servi­ços à duplicata de compra e venda de mercadoria, há divergência de entendimento sobre poder ou não a duplicata de prestação de serviços fundamentar pedido de falência. Neste sentido, alinha-se Fazzio Jr. (p. 36). No entanto, o entendimento de que mesmo a duplicata de presta­ção de serviços pode instruir requerimento de falência encontra funda­mento no § 3° do art. 20 da Lei 5.474/68, Lei de Duplicatas, o qual estipula que a essa duplicata de prestação de serviços aplicam-se as disposições referentes à duplicata mercantil. Por isso, a duplicata de

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235 Capítulo V - Seção IV -Art. 94

prestação de serviços também estaria entre os títulos abrangidos pelo inciso I do art. 94 da Lei de Falências, permitindo, assim, o requerimen­to de falência.

12. Ademais, importante se faz destacar que esta norma exige que, tratando-se de pedido de falência com fundamento neste inciso I do art. 94, o título ou os títulos representativos do crédito devem estar neces­sariamente protestados, eliminando qualquer dúvida sobre a questão.

13. No regime da lei anterior, estava em formação entendimento correto, no sentido de se indeferir a petição inicial de falência, quando se tratasse de débito de pequeno valor e quando não se demonstrasse haver outros credores. Isso porque, sendo a falência a abertura do con­curso de credores, apenas se justificaria se houvesse efetivamente plu­ralidade de credores, o que pode ser demonstrado, por exemplo, pela existência de outros pedidos de falência, de diversos protestos tirados etc. Como o requerimento de falência não é meio de cobrança, e sim forma de permitir ao Judiciário que afaste do meio comercial aquele empresário que já. está falido de fato, era razoável o entendimento então em formação.

14. E é nesse sentido que foi incluída a disposição no sentido de que a soma dos títulos "ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salá­rios-mínimos na data do pedido de falência". Como se vê, a tendência mais moderna, que pretendia evitar a falência quando desnecessária, firmou-se com a promulgação da nova Lei, ao estabelecer valor míni­mo, abaixo do qual o requerimento não é permitido. Sobre este ponto, examine-se estudo na RT 793/103-113.

15. Nesta mesma linha de pensamento, estava em formação o en­tendimento de que, se o requerente da falência informasse que não pre­tendia assumir a administração judicial, a inicial deveria ser indeferida, tendo em vista o desinteresse demonstrado pelo credor. Em tal caso, entendia-se que não seria razoável instaurar-se o processo de falência, com ônus para o Judiciário, com trabalho para o então síndico, que nor­malmente nada recebia, com procedimentos dispendiosos e demorados, se o próprio requerente não se dispunha a assumir os ônus da administra­ção. O legislador, sensível a este ponto, fixou, de forma correta, um valor mínimo, abaixo do qual a falência não pode ser requerida.

16. O pedido de falência apenas é possível se o valor do título executivo ultrapassa o correspondente a quarenta salários mínimos, o

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Art. 94 - Capítulo V - Seção IV 236

que é medida salutar, pois evita o aviltamento do instituto da falência, que passou a ser utilizado como simples ação de cobrança, havendo casos de requerimento de falência nos quais o valor era inferior a um único salário mínimo. Atendeu a nova Lei ao clamor que já se fazia sentir, especialmente na primeira instância do Judiciário, que vinha ne­gando seguimento a requerimentos de falência, de valor insignificante, sob diversos argumentos, especialmente de que a grandeza do instituto falimentar não se prestava a permitir seu acionamento para valores in­significantes, o que, aliás, por outro lado, encontraria também respaldo na preservação do Judiciário para que possa operar em causas de verda­deiro interesse para a sociedade, entendimento consagrado no brocardo de minimus non curat praetor.

11- executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal; (vide Nota do Autor à p. 6).

17. Como visto no exame do inciso I, o requerimento de falência naquele caso é instruído por título executivo, ou seja, por documento representativo de dívida pré-constituída, cabendo ao requerido, se qui­ser, desconstituir a presunção de liquidez e certeza que emana de tal tipo de título. Deve ser bem fixado o fato de que o pedido de falência pode ser efetuado com fundamento ou no inciso I, ou no inciso II, ou no III, para que seja possível apreender as diferenças que daí decorrem e que serão examinadas a seu tempo.

18. Completando aqui o pensamento iniciado no comentário 5, acima, poderá o credor, se quiser, requerer a citação para fins falimenta­res, nos próprios autos da execução, desde que este seja o juiz compe­tente para tanto. Não há qualquer óbice legal a tal forma de procedi­mento, que, aliás, é aconselhada pelos princípios da celeridade e da economia processual, princípios gerais de procedimento, expressamen­te consagrados no parágrafo único do art. 75 desta Lei. Provavelmente, o credor sempre preferirá valer-se desta forma de requerimento, por ser meio mais expedito; no entanto, terá que recolher as custas devidas pelo novo tipo de ação que se inicia nos autos já em andamento.

19. Se o juiz da execução não for competente (imagine-se, por exemplo, que existam já outros requerimentos de falência perante juiz de outra vara, o qual estará prevento na forma do § 8° do art. 6°), o

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credor terá que extrair certidão do valor em execução, levar a dívida a protesto e distribuir regular requerimento de falência com fundamento no inciso L Em tal caso, não há qualquer necessidade de se desistir da execução original, bastando pedir a suspensão da execução, informan­do ao juiz que está providenciando o requerimento de falência, esclare­cendo ainda que informará ao juiz da execução o que ocorrer de interes­se no requerimento de falência. O pedido de suspensão da execução encontra amparo legal no inciso III do art. 791 do CPC, que prevê tal suspensão "quando o devedor não possuir bens penhoráveis".

20. Como estabelece este inciso, tem aplicação apenas em caso de execução por quantia líquida, não se aplicando, portanto, aos ou­tros tipos de execução, previstos nos arts. 621 e ss. do CPC.

111 - pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial:

21. Cada uma das alíneas deste inciso prevê uma situação fática diferente, a ser demonstrada pelo requerente da falência durante a ins­trução do processo, para que, provada a situação, seja decretada a falên­cia. A inicial, neste caso, deverá estar instruída com todos os documen­tos necessários para a comprovação do fato que está sendo alegado e que deverá ser demonstrado.

22. Da análise que se faz das alíneas do inciso III, verifica-se a possibilidade de um requerimento de falência ser apresentado por cre­dor, mesmo que o título representativo da dívida ainda não esteja ven­cido. Um exemplo facilitará o entendimento. Imagine-se um credor por promissória que irá se vencer apenas dentro de 90 dias, credor este que verifica que o devedor está procedendo à liquidação precipi­tada de seus bens ou lançando mão de meios ruinosos ou fraudulentos para realizar pagamento (alínea a do inciso III do art. 94). Esse cre­dor, valendo-se dessa disposição, poderá requerer a falência do deve­dor, mesnio que seu título não esteja vencido e, obviamente, sem pro­testar seu título.

23. Como já examinado, o requerimento de falência com funda­mento nos incisos I e 11 acima prende-se à existência de uma dívida líquida, passível de comprovação meramente documental, cabendo ao requerido, se quiser, desconstituir a presunção de liquidez e certeza que

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Art. 94 - Capítulo V - Seção IV 238

emana de tal situação. Neste caso do inciso III, a situação modifica-se profundamente, pois o pedido de falência é apresentado relatando fatos que dependem de dilação probatória regular. Em conseqüência, as si­tuações processuais são diversas, dependendo de qual foi o fundamento do requerimento de falência.

24. Ante a necessidade de comprovação dos fatos alegados na inicial, neste caso do inciso III ora sob exame, a inicial deverá estar instruída com todos os documentos necessários para a comprovação do fato que está sendo alegado e que deverá ser provado.

25. A parte final do caput do inciso III diz não haver caracterização de ato de falência, se aquele ato praticado fizer parte do plano de recupe­ração. No entanto, aqui houve um lapso do legislador, pois as situações previstas nas letras a a g não podem fazer parte do plano de recuperação, pois são atos "ruinosos e fraudulentos" (letra a), com "objetivo de ... frau­dar credores" (letra b ), atos simulados e/ou para prejudicar terceiros (le­tras c a e), abandono de estabelecimento (letraj) ou o próprio descumpri­mento do plano de recuperação (letra g). Portanto, a expressão "exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial" do caput do inciso III não terá qualquer aplicação, e poderia ser eliminada sem prejuízo.

a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamen­tos;

b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;

c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens sufi­cientes para solver seu passivo;

d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;

26. Nesta alínea d, a opção do legislador não foi aqui das mais precisas, pois, contrario sensu, se o devedor simular a transferência de todos os seus inúmeros estabelecimentos com o intuito de burlar a le-

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gislação ou fiscalização, ou prejudicar credores, mas mantiver no mes­mo local o principal estabelecimento, não poderia haver decreto de fa­lência, o que seria absurdo. O trato jurisprudencial resolverá esta ques­tão, entendendo-se que simulação de transferência de qualquer estabe­lecimento caracterizará ato de falência.

27. No dias de hoje, é muito comum que o principal estabeleci­mento seja meramente de natureza administrativa, de tal forma que as principais unidades produtivas estejam situadas em estabelecimentos espalhados por extensão territorial diversa. Também aqui o entendimento deve ser no sentido de que, mesmo que o estabelecimento não seja o principal, ainda assim se a transferência de "qualquer estabelecimento" for simulada, com o intuito de burlar a legislação ou a fiscalização ou com o intuito de prejudicar credores, estará se caracterizando também ato de falência.

e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo;

f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona estabe­lecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;

g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação as­sumida no plano de recuperação judicial.

28. As situações previstas nestas alíneas do inciso III, como se percebe, visam a evitar que o devedor pratique atos que possam vir em prejuízo de seus credores, de credores por dívidas ainda por vencer e sem título executivo, pois, se tivessem esta última condição, requereri­am a falência com fundamento no inciso I.

29. Para que se possa apreender bem a situação prevista no inciso III, imagine-se o credor por nota promissória que vai se vencer em 60 dias, e que vê o devedor praticando atos simulados de transferência do estabelecimento, com o intuito de prejudicar credores. Se este credor tivesse que esperar o vencimento do título, certamente o devedor já te­ria esvaziado seu patrimônio e, por isto, mesmo sem esperar o venci­mento do título, está desde logo habilitado ao requerimento de falência.

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Art. 94 - Capítulo V - Seção IV 240

30. A lei anterior, entre os atos de falência, incluía (art. 2°, III) a situação do devedor que "convoca credores e lhes propõe dilação, re­missão de créditos ou cessão de bens", disposição que não foi repetida na lei ora promulgada, sob pena de inviabilizar-se o pedido de recupe­ração extrajudicial, que é, em linhas gerais, um chamamento dos credo­res para acerto que pode envolver dilação, remissão e cessão.

31. Anote-se, para fixação histórica, que embora a lei revogada proibisse tal tipo de procedimento, ainda assim os devedores chama­vam seus credores, de forma discreta, porém conhecida da praça, para acertos tendendo a sair de sua situação de crise, o que era conhecido no jargão jurídico como "concordata branca".

§ 1 o Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer o limite mínimo para o pedido de falência com base no inciso I do caput deste artigo.

32. O limite de quarenta salários mínimos diz respeito apenas aos requerimentos com base no inciso I e, para este caso, diversos credores podem reunir-se em litisconsórcio, para que se complete o valor mínimo.

33. No entanto, este eventual litisconsórcio, se efetuado, poderá trazer problemas graves de natureza processual. Imagine-se, por exem­plo, que três credores diversos, cada um com créditos no valor corres­pondente a um terço do valor mínimo, reúnam-se em litisconsórcio e ajuízem pedido de falência; imagine-se ainda que o devedor venha a demonstrar que pagou dois credores e que apenas um deles é efetiva­mente credor. Neste caso, embora haja credor, a falência não poderá ser decretada, pois o pedido então terá sido feito com base em crédito exis­tente, porém de valor inferior ao mínimo previsto legalmente.

34. Enfim, em linhas gerais, parece improvável ocorrer o tipo de litisconsórcio previsto neste § 1°, pela natural dificuldade de juntarem­se credores diversos em um único pólo ativo, como também pelos pro­fundos riscos processuais que se apresentam.

§ 2° Ainda que líquidos, não legitimam o pedido de falência os créditos que nela não se possam reclamar.

35. O art. 5°, em seus incisos I e II, estabelece quais obriga­ções não podem ser exigidas na falência; estas obrigações, mesmo

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241 Capítulo V - Seção IV -Art. 94

que tenham um valor líquido, não podem fundamentar pedido de falência.

36. O inciso I do referido art. 5° diz serem inexigíveis as obriga­ções a título gratuito. Isso porque doações, atos de benemerência e fa­vores prometidos não podem ser cobrados na falência. Poderá também ser considerado ato a título gratuito o aval prestado sem interesse eco­nômico direto da empresa devedora, fiança, cessão, comodato etc.

§ 3° Na hipótese do inciso I do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com os títulos executivos na forma do parágrafo único do art. 9° desta Lei, acompanhados, em qualquer caso, dos respectivos instrumentos de protesto para fim falimentar nos termos da legislação específica.

§ 4° Na hipótese do inciso 11 do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução.

37. Se o pedido for feito em outra ação (vide comentário 18 ao art. 94), será necessária a certidão expedida pelo juízo da execução, devidamente protestada. Se o credor optar por fazer o pedido nos mes­mos autos da execução, não se aplicará, evidentemente, esta disposi­ção do§ 4°.

§5° Na hipótese do inciso 111 do caput deste artigo, o pedi­do de falência descreverá os fatos que a caracterizam, juntan­do-se as provas que houver e especificando-se as que serão pro­duzidas.

38. Como já anteriormente observado, dependendo do fundamento sobre o qual repousa o requerimento da falência, caminhos processuais diversos são tomados. Aqui torna-se norma processual específica a ob­servação já anteriormente feita, no sentido de que, no caso dos dois primeiros incisos, a prova documental é determinante, pois a situação narrada na inicial parte de fatos cujas provas já são pré-constituídas, bastando juntar os documentos comprobatórios do alegado. No caso do inciso III, o pedido inicial assemelha-se, na prática, a um pedido inicial feito em ação de rito ordinário, na forma do que prevê o art. 282 do CPC, cujos termos, aliás, estão próximos do § 5° ora sob exame.

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Art. 95 - Capítulo V - Seção IV 242

Art. 95. Dentro do prazo de contestação, o devedor poderá pleitear sua recuperação judicial.

1. A recuperação judicial está prevista nos arts. 47 a 72, propi­ciando o legislador àquele que tem sua falência requerida a oportunida­de de apresentar plano de recuperação. Como a Lei não fez qualquer restrição, tal possibilidade estende-se a qualquer um dos três tipos de requerimento previstos no artigo antecedente.

2. O inciso VII do art. 96 delimita melhor a presente disposição, estabelecendo que o pedido de recuperação judicial obsta o decreto de falência, desde, porém, que apresentado com a observância dos requisi­tos do art. 51.

Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não será decretada se o requerido provar:

I - falsidade de título;

11 - prescrição;

III - nulidade de obrigação ou de título;

IV - pagamento da dívida;

V - qualquer outro fato que extinga ou suspenda obriga­ção ou não legitime a cobrança de título;

VI - vício em protesto ou em seu instrumento;

VII- apresentação de pedido de recuperação judicial no pra­zo da contestação, observados os requisitos do art. 51 desta Lei;

VIII- cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado.

1. Como já visto no inciso I do art. 94, o devedor terá sua falência decretada se não pagar no vencimento sua obrigação "sem relevante razão de direito". Contrario sensu, se houver relevante razão de direito para a recusa ao pagamento, não será decretada a falência. Este art. 96 é bastante claro, relacionando diversos motivos que impediriam o decre­to de falência. Essa relação não é exaustiva, é apenas exemplificativa, e esse caráter fica mais evidente quando se constata que o inciso V fala em "qualquer outro fato" que extinga ou suspenda a obrigação. Para

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243 Capítulo V - Seção IV -Art. 96

demonstrar a existência de "qualquer outro fato", o requerido pode pro­duzir qualquer tipo de prova, na forma do art. 332 do CPC, desde que moralmente legítima, mesmo que não indicada especificamente. Segundo Burgarelli (p. 69), o valor moral deve ser confrontado no limite da acei­tação e da reprovação social.

2. Título falso ou nulo, dívida prescrita e obrigação nula são inexigíveis, sendo clara a disposição legal dos incisos I, 11 e III acima, no sentido de que, provadas tais situações, não será decretada a falência.

3. O inciso IV prevê que o pagamento da dívida impede o decreto de falência, afastando a obrigação que existia na lei anterior (art. 4°, IV), de que o pagamento fosse feito dentro de determinado prazo. As­sim é que, mesmo se o pagamento for feito depois de ajuizado o reque­rimento, a falência não deverá ser decretada. Com razão, se a dívida foi paga (não importa se depois do requerimento), se as partes estão satis­feitas, não haveria qualquer razão lógica ou prática para que se decre­tasse a falência. O juiz, em tal caso, reconhecerá o pagamento e julgará extinto o feito, por perda de objeto, condenando, porém, o requerido nos consectários, ante o reconhecimento da correção do pedido inicial.

4. O inciso V, como já acima anotado, demonstra que a relação do art. 96 é exemplificativa e não exaustiva. Observe-se que o pedido do credor de suspensão do requerimento de falência para tentativa de even­tual acordo tem sido entendido pela jurisprudência como ato que desnatura a impontualidade, inviabilizando o prosseguimento do reque­rimento de falência. Da mesma forma, a concordância do requerente com a designação de audiência para tentativa de conciliação pode ser entendida no mesmo sentido.

5. Merece especial atenção, por suas conseqüências práticas, a previsão do inciso VII, segundo a qual "a apresentação do pedido de recuperação judicial no prazo da contestação" impede a falência. No dia-a-dia forense e dos escritórios que trabalham neste ramo, estabele­cia-se verdadeira correria para que aquele que tivesse contra si um re­querimento de falência tentasse evitar a citação, ajuizando antes da ci­tação um pedido de concordata. No entanto, tal como o pedido de con­cordata, embora em momento processual mais dilatado, um pedido de recuperação requerido às pressas pode redundar em decreto de falência, na forma do que prevê o art. 73, III desta Lei.

6. Na forma do inciso VIII, não será decretada a falência se tiver havido cessação das atividades empresariais há mais de dois anos. Essa

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Art. 97 - Capítulo V - Seção IV 244

cessação deve ser regular, ou seja, comprovada por meio de "baixa" na Junta Comercial. Se mesmo depois dessa "baixa" o devedor persistir na prática de seu comércio, a falência poderá ser decretada.

7. Conforme se verá no exame do art. 98, a falência também não poderá ser decretada se houver depósito elisivo no prazo da contestação.

§ 1 o Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e partilhado seu ativo nem do espólio após 1 (um) ano da morte do devedor.

8. Por sua clareza e facilidade de intelecção, esta disposição dis­pensa maiores comentários, devendo apenas ser anotado existir tal de­terminação. Relembre-se ainda, a propósito, que é raríssimo (ou talvez inexistente na prática) o requerimento de falência contra espólio.

§ 2° As defesas previstas nos incisos I a VI do caput deste artigo não obstam a decretação de falência se, ao final, resta­rem obrigações não atingidas pelas defesas em montante que supere o limite previsto naquele dispositivo.

9. Esta disposição é extremamente clara e objetiva. Mesmo que o requerido prove que algum título que instruiu a inicial é falso, está pres­crito, é nulo ou já foi pago, ainda assim a falência poderá ser decretada se houver outros títulos também instruindo o pedido inicial, desde que estes títulos que remanesçam íntegros sejam de valor superior aos qua­renta salários mínimos estabelecidos como piso, pelo inciso I do art. 94. Ao contrário, se os títulos que forem reconhecidos como válidos forem de valor inferior a 40 salários mínimos, a falência não poderá ser decretada, e o pedido será julgado improcedente.

10. Finalmente, atente-se para o fato de que o art. 96 diz respeito unicamente aos requerimentos feitos com fundamento no inciso I do art. 94, não abrangendo os incisos 11 e III.

Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:

1. Segundo determina o art. 3° do CPC, para propor qualquer ação é necessário ter interesse e legitimidade; este art. 97 estabelece quais

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245 Capítulo V - Seção IV -Art. 97

são as pessoas que podem apresentar requerimento de falência contra o devedor.

I- o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;

2. O próprio devedor pode requerer sua falência, sem embargo de se tratar de providência não muito comum. É a comumente conhecida no jargão forense como "autofalência", que será examinada com maio­res detalhes nos comentários aos arts. 105 e ss.

11 - o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;

3. O inciso II ora sob análise prevê que o cônjuge sobrevivente, o herdeiro ou o inventariante têm legitimidade para o requerimento da falência. No entanto, como já lembrado, são raríssimos, se não inexis­tentes, requerimentos de falência contra espólio.

Ill - o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade;

4. Mesmo o sócio comanditário (art. 1.045 do novo Código Civil), que não participa de qualquer ato de gestão e que apenas responde pelos fundos que destinou à sociedade, pode requerer a falência da sociedade. Da mesma forma, qualquer acionista de S.A. ou cotista de sociedade li­mitada tem também legitimidade para o requerimento. Evidentemente, nestes casos está se prevendo a legitimidade para requerimento, mesmo que não seja o requerente credor, pois, se o fosse, teria a legitimidade normal prevista para qualquer credor, conforme inciso IV abaixo.

IV - qualquer credor.

§ 1 o O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas que comprove a regularidade de suas ati­vidades.

S. Este é o caso mais comum de requerimento de falência, ou seja, aquele apresentado pelo credor. Tanto o credor empresário quanto o

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Art. 97 - Capítulo V - Seção IV 246

credor pessoa física estão legitimados para o requerimento de falência. Estabelecia-se durante a vigência do Dec.-lei 7.661/45 alguma confu­são no exame de disposição similar, pretendendo dar a ela urna exten­são inexistente, para dizer que apenas o credor comerciante é que pode­ria requerer a falência. No entanto, a jurisprudência pacificou-se no sen­tido de afirmar que qualquer deles pode requerer a falência.

6. Certamente atento a esta discussão jurisprudencial, o legisla­dor aqui foi cuidadoso, deixando claro que tanto a pessoa jurídica quanto a pessoa física credora podem ajuizar requerimento de falência. Corno a Lei tem interesse em que todos os comerciantes estejam com sua si­tuação jurídica regularizada, estabelece que, se o credor for empresário (empresário individual ou sociedade empresária), terá que comprovar estar com seus atos constitutivos regularmente arquivados na Junta Comercial, sob pena de indeferimento da inicial, por ilegitimidade de parte, com fundamento no inciso VI do art. 267 do CPC.

§ 2° O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá pres­tar caução relativa às custas e ao pagamento da indenização de que trata o art. 101 desta Lei.

7. A caução deverá ser prestada por depósito em dinheiro nos pró­prios autos, se vier a ser oferecida em dinheiro. Se a caução oferecida for representada por bens, deverá também ser formalizada por termo nos autos. Finalmente, a caução pode ser prestada por apresentação de carta de fian­ça normalmente por parte de banco sólido, neste caso com a juntada aos autos da carta de fiança bancária. Essa caução funciona corno garantia de que o requerente suportará as despesas de sucumbência se vier a perder a ação ou que suportará a indenização prevista no caso do art. 101, o que será examinado adiante, quando do estudo deste artigo.

8. Note-se, no entanto, a omissão do legislador, que mais urna vez não estipulou parâmetros para a prestação da mencionada caução. De acordo com o que se verifica em casos análogos, seria prudente que tal caução fosse fixada entre o mínimo de dez por cento e o máximo de vinte por cento sobre o valor do crédito, em consonância com os crité­rios estipulados nas regras de sucumbência do art. 20, § 3°, do Código de Processo Civil, bem corno medida salutar em respeito ao direito de acesso à justiça e à necessidade de garantia da instância, na busca da verdadeira ordem jurídica justa (Watanabe, p. 161 ).

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247 Capítulo V - Seção IV - Art. 98

Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 (dez) dias.

1. O inciso VI do art. 12 do CPC, segundo o qual "serão represen­tadas em juízo ( ... ) as pessoas jurídicas por quem os respectivos estatu­tos designarem, ou, não os designando, por seus diretores", é claro no sentido de que a citação da pessoa jurídica será feita na pessoa de seus representantes legais. Alguns autores lembram, a propósito deste arti­go, a discussão sobre representação e apresentação (esta última tam­bém chamada por Pontes de Miranda de "presentação"), para fixar que representante legal seria aquele que mantém tal condição, por força de lei, tal como o pai em relação ao filho, o curador em relação ao interdito etc. Toledo (p. 67) fala que, na S.A., o administrador "presenta a socie­dade". No caso de "representante legal da sociedade", tratar-se-ia não de representação e sim de apresentação ou presentação, pois este não fala em lugar da sociedade (como o pai fala pelo filho), mas sim fala pela sociedade; ou seja, é a própria sociedade que está falando pela voz de seu presentante.

2. A propósito deste artigo, lembre-se que os Tribunais estão acei­tando, com certa tranqüilidade e freqüência, a teoria da aparência, vali­dando citações feitas em pessoas que, embora não sendo representantes legais da sociedade, apresentaram-se em condições tais e procedendo de tal forma, que tudo levava a crer fossem mesmo representantes (ou presentantes) da sociedade.

3. A intenção do legislador de tornar célere o andamento dos pro­cessos de recuperação e falência fica clara na Lei, sendo o princípio da celeridade expressamente lembrado no parágrafo único do art. 75. Sem embargo, o prazo de contestação, que na lei anterior era de 24 horas, foi estendido para dez dias na nova Lei, em função da necessidade de con­ceder tempo hábil ao devedor de formular e reunir elementos para a sua defesa, devendo ser ressaltada ainda a possibilidade de apresentação de pedido de recuperação nesta oportunidade. Andou bem a lei neste sen­tido, pois o prazo de 24 horas era claramente insuficiente.

4. Depois da defesa apresentada pelo devedor, o processo se "ordinariza", a menos que o juiz entenda que a defesa é infundada e julgue o feito no estado em que se encontra, decretando em seguida a falência; ou entenda que o argumento da defesa é suficiente para julgar improcedente o pedido desde logo. Essa "ordinarização" tem permitido

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Art. 98 - Capítulo V - Seção IV 248

que diversos juízes designem até audiência de tentativa de conciliação, na forma do art. 331 do CPC, o que é providência salutar, tendo em vista a busca constante de conciliação que tem norteado o Código de Processo Civil atualmente. Sempre é necessário lembrar que, se houver acordo, não será possível prosseguir-se no requerimento de falência, em caso de descumprimento, cabendo apenas executar o acordo des­cumprido nos próprios autos. Defensor da audiência de tentativa de conciliação, Paes de Almeida (p. 111) entende como forma de humanização do direito falimentar. Mello e Souza Netto (p. 21) vê, na tentativa de conciliação, a possibilidade de melhor desempenho dos profissionais do direito, com vistas ao objetivo primário do processo, que é fazer justiça.

5. De acordo com as tendências conciliatórias buscadas pelo di­reito processual moderno, mais uma vez cumpre destacar a disposição do art. 331 do CPC, na forma da redação dada pela Lei 8.952/94, que determina ao juiz que designe audiência de tentativa de conciliação, quando a causa versar sobre direitos que admitam transação. Sem em­bargo de o procedimento de falência estar previsto em lei especial, sem embargo de o requerimento de falência não ser ação de cobrança e sim meio de tirar do mercado aquele empresário já devedor de fato, ainda assim vários juízes têm entendido como recomendável a designação de audiência de tentativa de conciliação. Em alguns casos, tal providência tem se mostrado produtiva, evitando que a falência seja decretada e preservando uma empresa que continua trazendo os normais benefícios decorrentes de sua existência, à luz do espírito desta Lei. Em outros casos, a providência apenas tem protelado o decreto de falência, conce­dendo ao devedor inadimplente prazo ainda mais dilatado para dilapidação e desvio dos bens sociais.

6. Se acaso houver audiência de tentativa de conciliação e se acaso houver conciliação homologada, a falência não poderá mais ser decreta­da naquele feito. Isso porque, como visto, a falência não é meio de co­brança e, no momento em que o processo se transforma em meio de co­brança, entende-se como elidida a falência. Homologado o acordo para pagamento parcelado e não cumprido o acordo pelo devedor, o credor (inicialmente, requerente da falência) poderá executar naqueles próprios autos o seu crédito, já elidida a falência. Poderá sempre extrair documen­tos destes autos de execução e, se for o caso, ajuizar outro requerimento de falência, agora na forma do inciso ill do art. 94 da Lei de Falências.

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249 Capítulo V - Seção IV -Art. 98

7. Embora pedido de falência não seja meio de cobrança, nada impede que tal audiência seja designada, até porque o juiz pode ordenar o comparecimento das partes em juízo no momento em que entender necessário (arts. 342 e 599, I, do CPC). Os que criticam a designação de tal audiência entendem que, por não ser o pedido de falência meio de cobrança, não se justifica tal designação. Sem embargo, se o juiz verifi­car pelo que vê dos autos que tal audiência poderá ser frutífera, nada o impede de designá-la. De qualquer forma, se o credor informar nos autos que concorda com a audiência de tentativa de conciliação, corre tam­bém o risco de não poder prosseguir posteriormente no requerimento de falência, pois a simples concordância com a designação da audiên­cia poderia ser interpretada como moratória, que descaracterizao pedi­do de falência.

Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e 11 do caput do art. 94 desta Lei, o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor correspondente ao total do crédi­to, acrescido de correção monetária, juros e honorários advo­catícios, hipótese em que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido de falência, o juiz ordenará o levantamento do valor pelo autor.

8. Observe-se aqui que a Lei trata apenas do requerimento da fa­lência com fundamento nos incisos I e II do art. 94, afastando a possibi­lidade de depósito elisivo para os casos previstos no inciso III do art. 94, ou seja, os atos de falência. No entanto, a jurisprudência, embora não pacificada, admitia o depósito elisivo em casos de requerimentos fundados em "atos de falência", tal qual ocorre neste caso do inciso III do art. 94, como noticia Trajano de Miranda Valverde (p. 75) (RTJ 941 362, RT 550/216 e RSTJ 81/236). Aliás, seria mesmo o caminho mais correto, pois se o requerido deposita, demonstra que tem ativos sufi­cientes para suportar aquele passivo que instrui a inicial e, assim, não está em estado falimentar.

9. A lei anterior também previa o depósito elisivo e estabeleceu­se discussão, não pacificada mesmo após a expedição da Súmula 29 do STJ, sobre a obrigatoriedade de, em tal depósito, incluir-se também o valor devido a título de correção e juros. O legislador, certamente aten­to a esta discussão jurisprudencial não pacificada, optou por estabele-

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Art. 99 - Capítulo V - Seção IV 250

cer a obrigatoriedade do depósito acrescido de correção e juros, bem como honorários. Deverá assim o juiz, ao despachar a inicial mandando citar o requerido, fixar desde logo o valor dos honorários para o caso de depósito elisivo.

10. O devedor, citado, poderá simplesmente depositar o valor reclamado acrescido das demais cominações impostas em lei e deixar até de se manifestar nos autos; em tais casos, o juiz entenderá que o depósito foi feito para pagamento e determinará o levantamento do valor em favor do requerente, declarando elidida a falência e extinto o feito.

11. Por ser um ônus do devedor, na medida em que caracteriza um verdadeiro imperativo do seu próprio interesse (James Goldschmidt, p. 120), poderá ele também se defender, depositando ou não depositan­do o valor. Ressalte-se que o depósito não é condição para a apresen­tação da defesa, pois esta pode ser apresentada sem qualquer depósito. No entanto, é sempre de muito boa cautela fazer o depósito, pois em tal caso a falência estará elidida e, mesmo que a defesa do devedor venha a ser julgada improcedente, ainda assim não será decretada sua falência; o juiz determinará o levantamento do valor em favor do credor e prolatará sentença, prosseguindo-se então para execução de eventuais consectá­rios ainda devidos.

12. Ao contrário - e este é um grande risco que não se deve cor­rer-, se o devedor apresentar defesa sem depósito, correrá o risco de ter sua falência decretada. Se o juiz entender que a defesa é infundada, não dará oportunidade ao devedor para depósito e decretará a falência na sentença em que afastar os argumentos da defesa.

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, den­tre outras determinações:

1. Este artigo prevê providências quase que de caráter adminis­trativo, para cujo cumprimento não surgem maiores dúvidas. Em caso de decretação da quebra, a observação das cautelas a seguir enunciadas, nos treze incisos seguintes, dará maior segurança ao prosseguimento do feito e delimitará, de forma mais precisa, as responsabilidades futu­ras. Por isso, mostra-se indispensável a transcrição de todos esses ele­mentos na sentença.

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251 Capítulo V - Seção IV -Art. 99

I - conterá a síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes dos que forem a esse tempo seus administradores;

2. Exatamente a partir do momento em que é decretada a falência, o empresário perde a administração da sociedade empresária (art. 103). A partir desse exato momento, qualquer ato praticado pelo devedor não poderá ser considerado com eficácia para criar obrigações para a massa falida. Por isso a publicidade disposta neste inciso mostra-se salutar, em face da necessidade de fixação da nova situação jurídica do devedor e de seus administradores, inclusive responsabilidades decorrentes do decreto de quebra.

3. Relembre-se que, se se tratar de sócio solidário, de responsabi­lidade ilimitada, os bens pessoais deste sócio também deverão ser arre­cadados, para formação da massa, conforme dispõe o art. 81 desta Lei. O mesmo ocorre com o empresário em nome individual, arrecadando­se seus bens pessoais, tendo em vista a confusão do patrimônio social e do patrimônio pessoal, neste caso.

11-fix~-e~al da falência, sem poder retrotraí-lo por mais d 90 (n~~ dias conta do ~de falên~ do pedido de recuperação judie" ou r (primeiro) protesto por falta de pagamento, excluiu o-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados;

4. O art. 129, em seus incisos I a III, trata dos atos praticados dentro do termo legal da falência. Em resumo bastante rápido, pode­se dizer que termo legal é aquele período dentro do qual determinados atos que oneram os bens do devedor são tidos como ineficazes, por se entender que foram praticados em prejuízo da- massa. O termo legal da falência será fixado pelo juiz na própria sentença declaratória da falência, não podendo abranger período anterior a_2_0 (noventa) dias antes do pedido de recuperação judicial..Q_u do primeiro protesto por falta de pagamento.

III - ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, relação nominal dos credores, indicando en­dereço, importância, natureza e classificação dos respectivos

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Art. 99 - Capítulo V - Seção IV 252

créditos, se esta já não se encontrar nos autos, sob pena de desobediência;

S. A lista nominativa prevista neste inciso III configura mais uma das obrigações do devedor, sob pena de ser responsabilizado pela práti­ca do crime de desobediência (CP, art. 330). Verifica-se aí a opção do legislador de criminalizar condutas, a fim de proporcionar uma melhor tutela jurisdicional em âmbito cível.

6. Tal lista deve conter o nome de todos os credores do devedor, mas separados por suas categorias e se presta para que o administrador judicial consiga dar maior publicidade à sentença do decreto de quebra, evitando que os credores não habilitem ou habilitem tardiamente seus créditos, em prejuízo ao andamento ágil e eficaz da falência.

IV - explicitará o prazo para as habilitações de crédito, observado o disposto no § 1 o do art. 7° desta Lei;

7. Tendo em vista que a falência se destina a arrecadar os bens que comporão a massa, para transformá-los posteriormente em dinhei­ro para pagamento dos credores, é necessário que desde logo se dê iní­cio ao chamamento dos credores, para que habilitem seus créditos na falência. Este prazo para habilitação é aquele previsto no art. 7°, § 1°, ou seja, 15 (quinze) dias após a publicação do edital previsto no parágrafo único do art. 99, atendendo à necessidade de tempo para que os credo­res preparem seus documentos de habilitação.

8. Observe-se, desde já, o que foi detalhadamente examinado quan­do do estudo da Seção II do Capítulo II, arts. 7° a 20 (da verificação e habilitação de créditos), que o credor que não se habilitar neste prazo nem por isso ficará impossibilitado de tomar tal medida, pois o art. 10 prevê as chamadas "habilitações retardatárias", para aqueles que, por qualquer motivo, não puderam habilitar-se no prazo (vide comentário 10 ao art. 10).

V - ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1 o e 2° do art. 6° desta Lei;

9. Vide comentários ao art. 6°.

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253 Capítulo V - Seção IV -Art. 99

10. O que se suspende é a ação ou execução em andamento contra a pessoa jurídica do devedor, relativa a dívida sujeita aos efeitos da falên­cia. Mesmo nestes casos, a ação ou execução continua normalmente con­tra eventuais coobrigados. Imagine-se, por exemplo, uma execução de nota promissória emitida pelo empresário ora devedor e avalizada por terceiras pessoas; neste caso, a execução prossegue contra estes avalistas.

11. Esta determinação é regra geral decorrente do princípio da uni­versalidade do juízo falimentar. Há várias exceções a essa regra geral, que foram analisadas por ocasião dos comentários ao art. 6° desta Lei. No entanto, em princípio, qualquer ação contra a massa falida ficará suspen­sa e os credores deverão todos comparecer à falência, habilitando seus créditos, habilitação na qual se poderá decidir aqueles aspectos que even­tualmente seriam discutidos em tais ações ou execuções individuais.

VI - proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido, submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se houver, ressalvados os bens cuja venda faça parte das atividades normais do devedor se autorizada a continuação provisória nos termos do inciso XI do caput deste artigo;

12. Mais uma vez, compare-se este artigo com o art. 22, que de­termina que a administração da falência é exercida pelo administrador. Assim é que medidas de disposição ou oneração de ativos deverão ser necessariamente tomadas à luz da análise do administrador ou do Co­mitê, este último se existente. Por outro lado, os bens que são objeto da atividade fim do devedor poderão ser alienados normalmente, desde que seu produto seja revertido em proveito da massa falida.

VII - determinará as diligências necessárias para salva­guardar os interesses das partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus administradores quan­do requerida com fundamento em provas da prática de crime definido nesta Lei;

13. Para que a prisão preventiva possa ser decretada, devem con­correr os elementos previstos no art. 312 do CPP, ou seja: terá como fundamento a garantia da ordem pública ou da ordem econômica, a conveniência da instrução criminal ou o asseguramento de que a lei

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Art. 99 - Capítulo V - Seção IV 254

penal será aplicada; deve ainda haver prova da existência do crime e indícios suficientes de autoria. Estabeleceu-se discussão, após a Cons­tituição de 1988, alguns afirmando que a possibilidade de prisão esta­belecida na Lei Falimentar teria sido banida do sistema. Observe-se ainda que, neste inciso, essa é a única hipótese na qual se possibilita ao juiz civil a decretação da prisão preventiva.

14. O decreto de prisão pode atingir não somente o devedor como também quaisquer das pessoas envolvidas nas práticas supostamente delituosas.

VIII- ordenará ao Registro Público de Empresas que pro­ceda à anotação da falência no registro do devedor, para que conste a expressão "Falido", a data da decretação da falência e a inabilitação de que trata o art. 102 desta Lei;

15. O "registro público" mencionado é a Junta Comercial do Es­tado. No entanto, deverá determinar também a remessa de ofício à Bol­sa de Valores, no caso de sociedade anônima de capital aberto, que te­nha suas ações lá negociadas.

IX - nomeará o administrador judicial, que desempenha­rá suas funções na forma do inciso III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuízo do disposto na alínea a do inciso 11 do caput do art. 35 desta Lei;

16. O administrador judicial é aquele auxiliar do juiz que assumi­rá a administração da massa, assumindo diversos poderes e obrigações, conforme previsto nos arts. 21 e ss. Ao contrário da lei anterior, que determinava a escolha do síndico entre os maiores credores do falido (art. 60 da lei anterior), hoje a escolha é feita na forma do art. 21, caput, ou seja, o juiz nomeará profissional idôneo, preferencialmente advoga­do, economista, administrador de empresas ou contador, podendo tam­bém ser pessoa jurídica especializada.

X -determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repar­tições públicas e outras entidades para que informem a exis­tência de bens e direitos do falido;

17. Este inciso determina a expedição de ofícios às entidades pú­blicas ou mesmo privadas, que possam informar a existência de bens e

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255 Capítulo V - Seção IV -Art. 99

direitos do devedor, sempre com o intuito de propiciar a rápida identifica­ção, para imediata arrecadação dos bens que comporão a massa falida.

XI - pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do falido com o administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos, observado o disposto no art. 109 desta Lei;

18. Quando é declarada a sentença de quebra, nesse mesmo ato serão tomadas todas as medidas para a arrecadação e custódia dos bens da empresa falida (art. 108). No entanto, se houver indícios de riscos para a execução da arrecadação ou preservação dos bens, é feita a !aeração do estabelecimento, além das filiais ou sucursais, os quais não poderão ser abertos sem ordem expressa do juiz da falência (art. 109). Este siste­ma de !aeração imediata já era observado na lei anterior, embora sem qualquer disposição legal específica, tendo o legislador aproveitado a experiência prática anterior, para incluir tal disposição na Lei.

19. A lei anterior trazia normas sobre como proceder para a con­tinuação do negócio, no art. 74. Sem embargo de não ocorrer com ex­trema freqüência, a continuação do negócio existiu, sob a égide dos dispositivos do Dec.-lei 7.661145. Normalmente, a nomeação para a administração recaía sobre o síndico, que tinha a necessidade de mon­tar uma equipe de sua confiança, para a continuação dos trabalhos nor­mais da empresa.

20. Anote-se ainda que o próprio juiz da falência, independente­mente de recurso ao Tribunal, pode, a qualquer momento, cassar a auto­rização dada para a continuação do negócio e determinar a !aeração da empresa. Evidentemente, como toda decisão interlocutória, este, com profunda carga decisória, deverá ser devidamente fundamentado, como fundamentada terá sido também a determinação que autorizou a conti­nuação do negócio.

XII - determinará, quando entender conveniente, a convo­cação da assembléia-geral de credores para a constituição de Comitê de Credores, podendo ainda autorizar a manutenção do Comitê eventualmente em funcionamento na recuperação judicial quando da decretação da falência;

21. Se a falência foi decretada por convolação da recuperação ju­dicial (arts. 73/74), o juiz, se entender conveniente, poderá determinar

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Art.lOO- Capítulo V- Seção IV 256

que seja mantido o Comitê, que eventualmente terá sido constituído na forma do art. 26.

22. Se entender necessário, o juiz determinará a convocação de assembléia-geral (art. 22, I, g), para a constituição do Comitê. O crité­rio estabelecido neste inciso XII é de conveniência e, portanto, a convo­cação dependerá do exame de cada caso específico.

XIII - ordenará a intimação do Ministério Público e a co­municação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabeleci­mento, para que tomem conhecimento da falência.

Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo a íntegra da decisão que decreta a falência e a rela­ção de credores.

23. Este inciso relaciona outra série de providências que devem ser tomadas logo depois de decretada a falência. Preocupa-se aqui a Lei em dar a maior publicidade possível ao decreto de falência, para que o maior número de interessados tome conhecimento e tenha possibilidade de to­mar as medidas necessárias para a defesa de seus respectivos interesses.

24. Embora o art. 4°, que previa a intervenção obrigatória do Mi­nistério Público em toda e qualquer ação de interesse da massa, tenha sido vetado, aqui existe específica determinação no sentido de que haja a intimação do Ministério Público.

Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência do pedido cabe apelação.

1. O recurso cabível contra a decisão que decreta a falência é o agravo de instrumento, na forma do art. 522 e seguintes do CPC, o que está em consonância com nosso sistema processual, pois a decisão que decreta a falência não põe termo ao processo(§ 1 o do art. 162 do CPC.); ao contrário, dá início ao processo de falência e, por isto mesmo, não seria cabível recurso de apelação. Por outro lado, os autos da falência devem continuar na vara de origem, para que sejam tomadas todas as medidas urgentes que a Lei prevê, ou seja: arrecadação dos bens, início do preparo do quadro-geral de credores etc. Se houvesse apelação e os

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257 Capítulo V- Seção IV- Art. 101

autos subissem ao Tribunal para decisão, o procedimento da falência sofreria parada que prejudicaria todo o andamento do feito, ante o dis­pêndio de tempo que haveria com a formação de carta de sentença para permanência na instância de origem.

2. Na forma do sistema atualmente existente para o processamen­to do agravo (arts. 522 e ss. do CPC), pode ser concedido efeito suspen­sivo ao agravo (art. 527, UI, do CPC) e, em tal situação, a execução das medidas determinadas na sentença que decretou a falência fica suspen­sa, até que se julgue o recurso ou até que o efeito suspensivo seja cassa­do. Sendo interposto recurso de agravo e não sendo dado efeito suspen­sivo, o processo de falência passa a correr normalmente, praticando-se todos os atos necessários e previstos em lei.

3. Por outro lado, a sentença que não decreta a falência põe fim ao processo, cabendo o recurso de apelação ao sucumbente (art. 513 e ss. do CPC). Também, ao contrário do que ocorre em caso de decreto de falência, não haveria qualquer razão de ordem prática para que os autos permanecessem na instância inferior.

4. A Lei não dispôs quais são os legitimados para a interposição de tais recursos, mas, de acordo com o princípio da sucumbência, pode ser interposto pelo devedor, credor e terceiro interessado.

5. Ressalte-se que a sentença que não decreta a falência não está coberta pelos efeitos da coisa julgada, no sentido de que, em qualquer outro requerimento, a falência pode ser decretada, sem que o requerido possa levantar a existência de coisa julgada em seu favor. Aliás, o pró­prio sucumbente poderá ajuizar novo requerimento de falência, instruí­do até com o mesmo título. Imagine-se, por exemplo, que a falência não tenha sido decretada porque o requerente não havia protestado o título; bastará o desentranhamento do título que, protestado, habilitará o mes­mo requerente a novo pedido de falência.

Art. 101. Quem por dolo requerer a falência de outrem será condenado, na sentença que julgar improcedente o pedido, a indenizar o devedor, apurando-se as perdas e danos em liqui­dação de sentença.

§ 1° Havendo mais de 1 (um) autor do pedido de falência, serão solidariamente responsáveis aqueles que se conduziram na forma prevista no caput deste artigo.

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Art. 101 - Capítulo V- Seção IV 258

§ 2° Por ação própria, o terceiro prejudicado também pode reclamar indenização dos responsáveis.

1. O art. 101, caput, e seu § 1°, embora não com as mesmas palavras, repetem a determinação que vinha exarada no art. 20 da lei revogada. Aquele que dolosamente requerer a falência de terceiro será condenado, na própria sentença que julgar improcedente o pedido, a indenizar o prejuízo que veio a causar ao devedor. Embora o caput do artigo estipule que as perdas e danos serão determinados em liquida­ção de sentença (arts. 603 e ss. do CPC), sempre que for possível, deve o juiz fixar desde logo o valor, na própria sentença. Dessa forma, estará evitando a instauração de novo processo (de liquidação) depois que a sentença transitar em julgado, o que alongará o processo por mais tempo.

2. Havendo mais de um requerente da falência nos mesmos autos, serão eles solidariamente responsáveis pela indenização. Reitere-se que, neste caso, a indenização deve ser fixada na própria sentença ou acór­dão que denegar o pedido de falência.

3. O parágrafo único do art. 20 da lei revogada previa indeniza­ção, a ser pedida em ação própria, caso o requerente da falência houves­se procedido com culpa. A nova Lei afastou esta possibilidade, conce­dendo indenização apenas em caso de requerimento feito com dolo.

4. Na Lei ora sob exame, a ação própria está prevista neste § 2° para o terceiro prejudicado. O exame sistemático deste parágrafo pode levar a uma certa perplexidade, pois conclui-se que em caso de culpa não haverá indenização para o requerido, pois para este apenas há pos­sibilidade de indenização em caso de dolo. Como o§ 2° permite indeni­zação em ação própria apenas para terceiros (e não para o próprio re­querido), esta é a conclusão a que se chega.

5. Ou seja, terceiro prejudicado, por culpa ou dolo do requerente, pode pedir indenização em ação própria. O próprio requerido, se preju­dicado por culpa do requerente, não pode pedir indenização, previsão que não pode ser considerada logicamente correta. O trato jurispruden­cial deverá permitir também ao requerido da falência, o ajuizamento desta ação prevista neste § 2°, como, aliás, ocorria na forma do parágra­fo único do art. 20 da lei anterior.

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259 Capítulo V- Seção IV -Art. 101

6. Tal ação deverá ser ajuizada autonomamente com a observân­cia dos requisitos impostos no art. 282 do CPC e distribuída nos ter­mos do art. 76 desta Lei, com distribuição livre por inexistência de prevenção do juiz da falência, por se tratar de ação não regulada nesta Lei.

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Seção V

Da inabilitação empresarial, dos direitos e deveres do falido

Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas obrigações, respeitado o disposto no § 1 o do art. 181 desta Lei.

Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz da falência que proceda à respectiva anotação em seu registro.

1. O art. 1 o prevê a falência do empresário individual e da socie­dade empresária, de tal forma que na expressão "falido" deste art. 102, inclui-se primeiramente a figura da pessoa física do empresário indivi­dual. Por seu turno, o art. 81, caput, estipula que a decisão que decreta a falência de sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis, tam­bém acarreta a falência destas pessoas, aplicando-se, portanto, também a eles a inabilitação aqui prevista. Assim, em princípio, a inabilitação não atinge os sócios de responsabilidade limitada, a menos que estes sejam administradores da sociedade, por força do § 2° do art. 81.

2. O referido § 2° do art. 81 inclui ainda como representante da sociedade falida, sujeito às obrigações que cabem ao falido, a pessoa do liquidante. No entanto, em casos de instituições financeiras, por exem­plo, o liquidante normalmente é pessoa com experiência no ramo de intervenções e liquidações extrajudiciais e que, autorizada pelo Banco Central, requer a falência do devedor. Ao estabelecer ao liquidante a sujeição às obrigações e penas cabíveis ao falido, a Lei cria extrema dificuldade para que alguém aceite atuar como liquidante, na fase ex­trajudicial.

3. O art. 181, em seu inciso I, estabelece como efeito da condena­ção penal, a inabilitação para o exercício de atividade empresarial, des­de que seja motivadamente declarado na sentença, na forma do que es­tabelece seu § 1°. Portanto, a ressalva do final do art. 102 estabelece

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261 Capítulo V- Seção V- Art. 103

que, se a inabilitação decorrente da sentença penal atingir período que ultrapasse a sentença que extingue as obrigações, prevalecerá a estipu­lação penal.

4. O art. 176 prevê pena de reclusão de 1 a 4 anos para aquele que exercer atividade para a qual foi inabilitado ou incapacitado por deci­são judicial, nos termos desta Lei.

Art. 103. Desde a decretação da falência ou do seqüestro, o devedor perde o direito de administrar os seus bens ou deles dispor.

Parágrafo único. O falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da falência, requerer as providências necessá­rias para a conservação de seus direitos ou dos bens arrecada­dos e intervir nos processos em que a massa falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e interpondo os recursos cabíveis.

1. Este art. 103 repete a determinação contida no art. 40 da lei anterior. O empresário individual ou o administrador de sociedade em­presária perde a administração da empresa; os sócios perdem o poder de nomear administradores (sócios ou não sócios) no momento em que é decretada a falência ou o seqüestro, passando a administração ao ad­ministrador judicial, que é nomeado na forma do art. 99, inciso IX, na mesma sentença que decreta a falência. Qualquer ato de administração praticado pelo devedor após o momento em que foi decretada a falên­cia, é nulo, nulidade que será declarada de ofício pelo juiz da falência, independentemente de prova de prejuízo.

2. A Lei deixou de repetir a salutar determinação contida no inci­so II do parágrafo único do art. 14 da lei anterior, que impunha ao juiz a obrigação de fazer constar da sentença a hora em que estava sendo prolatada; tão cuidadosa era a lei anterior neste sentido, que ainda esta­belecia que se o juiz não declarasse a hora, presumia-se que a sentença havia sido prolatada ao meio dia. Tal disposição deveria ter sido manti­da, exatamente para que se pudesse fixar se determinado ato, praticado no dia em que a falência foi decretada, teria sido praticado antes ou depois da sentença, para fins de aplicação do art. 103. Embora sem expressa previsão legal, é de muito boa cautela que o juiz faça constar o

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Art. 104 - Capítulo V - Seção V 262

horário da quebra, horário a partir do qual os atos de administração praticados pelo devedor são nulos.

3. Conforme visto no art. 64, a recuperação judicial não tira ne­cessariamente do representante da empresa a administração dos bens do devedor ou a possibilidade dos sócios nomearem administrador, sendo que o empresário continuará normalmente seus negócios, sob a fiscali­zação do administrador judicial e do Comitê de Credores, se houver. Na falência, a administração da empresa passa para as mãos do administra­dor judicial; na recuperação judicial, o administrador judicial fiscaliza os atos de administração, que continuam a ser praticados pelo próprio empresário, com algumas limitações, como, por exemplo, as previstas nos incisos do art. 64. Já na falência, não se pratica mais qualquer ato de administração, a qual passa imediatamente às mãos do administra­dor judicial.

Art. 104. A decretação da falência impõe ao falido os se­guintes deveres:

I - assinar nos autos, desde que intimado da decisão, ter­mo de comparecimento, com a indicação do nome, nacionali­dade, estado civil, endereço completo do domicílio, devendo ainda declarar, para constar do dito termo:

a) as causas determinantes da sua falência, quando reque­rida pelos credores;

b) tratando-se de sociedade, os nomes e endereços de todos os sócios, acionistas controladores, diretores ou administrado­res, apresentando o contrato ou estatuto social e a prova do respectivo registro, bem como suas alterações;

c) o nome do contador encarregado da escrituração dos livros obrigatórios;

d) os mandatos que porventura tenha outorgado, indican­do seu objeto, nome e endereço do mandatário;

1. Devem comparecer para tais declarações, as pessoas mencio­nadas nos comentários de n. 1 e 2 acima, ao art. 102. No entanto, se o juiz entender necessário poderá determinar o comparecimento de só­cios não administradores, como, aliás, comumente tem sido feito no período de vigência da lei anterior. Em que pese o representante dever

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263 Capítulo V- Seção V- Art. 104

possuir todas as informações requisitadas pelo dispositivo, sobretudo as causas determinantes da falência, os sócios muitas vezes podem ser responsabilizados por seus atos, por dirigirem e determinarem a ativi­dade do administrador, tendo por obrigação exercer a fiscalização ne­cessária sobre a sociedade e seus administradores (arts. 1.020 e 1.021 do Código Civil).

2. Aliás, é mesmo recomendável que o juiz determine o compare­cimento dos sócios -em caso de sociedade limitada-, ou dos controla­dores, em caso de sociedade anônima, para os fins de conhecimento de patrimônio (vide comentário n. 6 abaixo).

3. Existindo mais de um administrador, com os mesmos poderes de gestão da sociedade, ambos deverão se apresentar, de acordo com o art. 1.016 do Código Civil.

4. Eventualmente, durante o andamento da falência, poderá tor­nar-se necessário colher esclarecimentos de natureza contábil para que se possa examinar a situação do falido, daí a necessidade de se ter nos autos o nome e o endereço da pessoa ou empresa encarregada da conta­bilidade.

5. A alínea d estipula que o mandato conferido pelo devedor para negócios que interessem à massa continua em vigor, sendo assim ne­cessário saber-se da existência ou não de tais mandatos. Por outro lado, a informação poderá interessar para o exame de atos praticados por tais mandatários.

e) seus bens imóveis e os móveis que não se encontram no estabelecimento;

6. Ante o que ficou anotado acima, constata-se que o "falido", ao prestar estas declarações da letra e, deve obrigatoriamente informar quais são os bens imóveis e móveis, tanto de propriedade da pessoa jurídica falida, quanto de sua propriedade pessoal, como pessoa física. Não é de boa técnica limitar-se à colheita de informações sobre os bens da socie­dade empresária, devendo ser declarados os bens de ambos (sociedade e pessoa física: administradores e sócios). Mais ainda é recomendável este tipo de esclarecimento, para que se possa eventualmente verificar o crescimento desmesurado do patrimônio pessoal em comparação à queda do patrimônio social, principalmente ante a aplicação cada vez mais

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Art. 104 - Capítulo V - Seção V 264

comum da doutrina da desconsideração da personalidade jurídica no sentido de se evitarem fraudes contra os credores da falência.

[) se faz parte de outras sociedades, exibindo respectivo contrato;

g) suas contas bancárias, aplicações, títulos em cobrança e processos em andamento em que for autor ou réu;

11 - depositar em cartório, no ato de assinatura do termo de comparecimento, os seus livros obrigatórios, a fim de serem entregues ao administrador judicial, depois de encerrados por termos assinados pelo juiz;

Ill - não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem motivo justo e comunicação expressa ao juiz, e sem deixar .--._/ procurador bastante, sob as penas cominadas na lei;

7. No dia-a-dia dos procedimentos judiciais, ocorre com freqüên­cia o fato de o responsável pela sociedade falida tentar protelar o anda­mento da falência por vários motivos, entre eles principalmente para conseguir a prescrição dos crimes falimentares. Um dos momentos dos quais o falido mais se vale para a protelação é este. No entanto, ao juiz seria extremamente simples neutralizar tais medidas protelatórias com a aplicação do previsto neste inciso III. É obrigação do falido estar à disposição do juiz e, se acaso afastar-se do lugar da falência, deverá antes pedir autorização expressa do juiz. Portanto, se não encontrado o falido no local informado nos autos, estará praticando crime de desobe­diência, na forma do previsto no parágrafo único abaixo.

IV - comparecer a todos os atos da falência, podendo ser representado por procurador, quando não for indispensável sua presença;

V - entregar, sem demora, todos os bens, livros, papéis e documentos ao administrador judicial, indicando-lhe, para serem arrecadados, os bens que porventura tenha em poder de terceiros;

VI - prestar as informações reclamadas pelo juiz, adminis­trador judicial, credor ou Ministério Público sobre circuns­tâncias e fatos que interessem à falência;

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265 Capítulo V - Seção V -Art. 104

VII - auxiliar o administrador judicial com zelo e presteza;

VIII - examinar as habilitações de crédito apresentadas;

IX - assistir ao levantamento, à verificação do balanço e ao exame dos livros;

X - manifestar-se sempre que for determinado pelo juiz;

XI- apresentar, no prazo fixado pelo juiz, a relação de seus credores;

XII - examinar e dar parecer sobre as contas do adminis­trador judicial.

8. O entendimento deste artigo não apresenta dificuldades espe­ciais. Anote-se apenas que, normalmente, o falido apenas se preocupa, especialmente, em vir aos autos para as declarações a serem prestadas previstas nas letras a até g do inciso I, preocupando-se também em fa­zer a entrega dos livros obrigatórios. Quanto às demais obrigações pre­vistas nos incisos li a XII, normalmente o falido não as cumpre, sem qualquer conseqüência especial. O que também ocorre normalmente é o falido contratar advogado, que acompanha, por ele, o andamento pro­cessual, prestando os esclarecimentos necessários.

9. A previsão do inciso V, de entrega dos livros, deve ser observa­da com rigor, pois por meio do exame dos livros e papéis é que se pode­rá reconstituir a situação pela qual a empresa passou, é que será possí­vel determinar se houve ou não desvio de bens, enfim, são os documen­tos que permitirão uma radiografia da vida da empresa até o momento do decreto de falência. Como veremos no estudo dos crimes falimenta­res (arts. 168 a 178), a não observância perfeita da escrituração e a não apresentação dos livros configuram crime falimentar.

Parágrafo único. Faltando ao cumprimento de quaisquer dos deveres que esta Lei lhe impõe, após intimado pelo juiz a fazê-lo, responderá o falido por crime de desobediência.

10. Há súmula do STJ, (Súmula 280, de 17.12.2003), segundo a qual "o artigo 35 do Decreto-lei 7 .661, de 1945, que estabelece a prisão administrativa, foi revogado pelos incisos LXI e LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988". A Lei agora estabelece, ao invés da pri­são prevista no art. 35 da lei anterior, a figura do crime de desobediência.

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Seção VI

Da falência requerida pelo próprio devedor

Art. 105. O devedor em crise econômico-fmanceira que jul­gue não atender aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência, expondo as ra­zões da impossibilidade de prosseguimento da atividade em­presarial, acompanhadas dos seguintes documentos:

1. Como regra geral, e como vem inicialmente à lembrança sem­pre que se fala em requerimento de falência, imagina-se a falência re­querida pelo credor. Este art. 105, no entanto, carreia ao empresário a obrigação de requerer sua própria falência caso verifique a impossibili­dade de prosseguimento de sua atividade empresarial. É a chamada co­mumente "autofalência". Na prática, tal fato não ocorre, ou melhor, ocor­re raramente, como é intuitivo, no entanto, existe a obrigação legal esta­belecida neste sentido.

2. A prática do dia-a-dia no exame de processos leva a que se recomende ao juiz especial cuidado no exame de tal tipo de pedido, pois sem embargo de ser obrigação legal do devedor em crise econômi­co-financeira ("deverá requerer"), ainda assim sempre existe a possibi­lidade de estar sendo tentada alguma forma de fraude contra credores, ou eventualmente, contra os próprios sócios, mantidos às vezes na ig­norância do pedido feito por aquele que detém a representação da so­ciedade.

I- demonstrações contábeis referentes aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legisla­ção societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:

a) balanço patrimonial;

b) demonstração de resultados acumulados;

c) demonstração do resultado desde o último exercício so­cial;

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267 Capítulo V- Seção VI- Art. 106

d) relatório do fluxo de caixa;

11 - relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classificação dos respectivos créditos;

111 - relação dos bens e direitos que compõem o ativo, com a respectiva estimativa de valor e documentos comprobatórios de propriedade;

IV - prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a relação de seus bens pessoais;

V - os livros obrigatórios e documentos contábeis que lhe forem exigidos por lei;

VI - relação de seus administradores nos últimos 5 (cinco) anos, com os respectivos endereços, suas funções e participa­ção societária.

3. Do inciso I ao VI, o artigo prevê quais os documentos que o empresário deve juntar quando apresentar o requerimento de autofalência. Apesar de se tratar de uma confissão de estado falimentar, ainda assim o requerente deve apresentar pedido inicial formalmente em ordem, sob pena de ser negado seguimento ao pedido.

Art. 106. Não estando o pedido regularmente instruído, o juiz determinará que seja emendado.

1. Embora norma de ordem pública e cogente, o descumprimento de quaisquer dos requisitos do art. 105 não significa o indeferimento puro e simples da petição inicial. A Lei determina ao juiz que, verifi­cando a existência de qualquer irregularidade ou qualquer defeito na petição, determine sua emenda, visando o saneamento dos vícios apon­tados pelo magistrado.

2. Isso porque o juiz desenvolve cognição ao receber a petição inicial, não sendo o despacho inicial de mero expediente. Toda e qual­quer petição inicial será examinada pelo juiz para constatação do preen­chimento, ou não, dos requisitos do art. 105. O despacho esclarecerá desde logo o que deve ser atendido para que a inicial fique em termos, esclarecendo também que, se não atendida a determinação, a inicial será indeferida, na forma do art. 284 e seu parágrafo único do CPC, aplicável ao caso.

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Art. 107 - Capítulo V- Seção VI 268

Art. 107. A sentença que decretar a falência do devedor observará a forma do art. 99 desta Lei.

Parágrafo único. Decretada a falência, aplicam-se integral­mente os dispositivos relativos à falência requerida pelas pes­soas referidas nos incisos 11 a IV do caput do art. 97 desta Lei.

1. O art. 99, em seus treze incisos e parágrafo único, relaciona o que deve estar contido na sentença que decreta a falência, seja por convolação da recuperação judicial, seja por requerimento de credores. Portanto, a sentença a ser prolatada no pedido de autofalência deverá guardar os mesmos parâmetros das demais sentenças, com o que se verifica que, após o decreto de falência, o procedimento a ser adotado será idêntico aos demais casos de falência.

2. Esta é exatamente a determinação exarada no caput, dispositi­vo claro e de imediata intelecção.

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Seção VII

Da arrecadação e da custódia dos bens

Art. 108. Ato contínuo à assinatura do termo de compro­misso, o administrador judicial efetuará a arrecadação dos bens e documentos e a avaliação dos bens, separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem, requerendo ao juiz, para esses fins, as medidas necessárias.

1. A arrecadação dos bens é um momento determinante da falên­cia ante o perigo de desvio físico daqueles existentes nos estabeleci­mentos do falido ou mesmo daqueles a serem arrecadados em outros locais. O perigo de desvio destes bens é muito acentuado, a tal ponto que, embora a lei anterior não mencionasse uma única vez a palavra "lacração", consagrou-se o hábito de, no mesmo momento em que os autos baixavam a cartório com a sentença declaratória da falência, nes­te mesmo momento expedir-se mandado de lacração, cumprido imedia­tamente por dois oficiais de justiça. Ressalte-se que não havia qualquer determinação na lei anterior neste sentido, que, em seu art. 70, § 1°, estabelecia a arrecadação com a presença do síndico e do Ministério Público, arrecadação que era feita após a lacração do estabelecimento.

2. Nesta lacração da lei anterior, seria de extremo interesse a pre­sença pelo menos do Ministério Público, pois o síndico, embora já no­meado, ainda deveria ser intimado e assumir formalmente, assinando o devido compromisso. Naquela diligência de lacração, era feito um rela­tório "geral" dos bens existentes no local; se a massa permitisse, era também designado corpo de segurança para evitar saques, roubos e fur­tos, que ocorriam com freqüência em São Paulo na decretação de falên­cia de grandes lojas.

3. A Lei mostrou-se sensível a este problema, tanto que embora exija a presença do administrador para a arrecadação e imediata avalia­ção, prevê a possibilidade de lacração (art. 109, abaixo), que, como vis­to, pode ser feita por meio de mandado expedido no mesmo momento em que os autos baixam a cartório com a sentença de falência.

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Art. 108- Capítulo V- Seção VII 270

4. Portanto, já lacrado o estabelecimento e determinada a presen­ça de seguranças no local, se o vulto do negócio assim o permitir, terá o administrador judicial a possibilidade de dirigir-se ao local para a arre­cadação e, se necessário, já com os avaliadores que o auxiliarão para que se faça de imediato, também, a avaliação do que for arrecadado. Tais tipos de providências encontram-se ao abrigo dos princípios da celeridade e da economia processual, estabelecidos expressamente no parágrafo único do art. 75.

§ 1 o Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do adminis­trador judicial ou de pessoa por ele escolhida, sob responsabi­lidade daquele, podendo o falido ou qualquer de seus repre­sentantes ser nomeado depositário dos bens.

5. O administrador judicial é responsável pela guarda e conserva­ção dos bens, podendo escolher pessoa que, sob sua responsabilidade, assuma este encargo. O próprio falido ou qualquer de seus representan­tes pode ser nomeado depositário dos bens, ressaltando-se, porém, mais uma vez, que a responsabilidade permanece com o administrador.

6. Deve, assim, o administrador tomar todos os cuidados para que a pessoa a quem atribuir o encargo de guarda e conservação seja pessoa idônea e de sua confiança, ante a possibilidade de poder vir a responder por eventuais prejuízos que possam ser causados à massa, em caso de dano aos bens ou desaparecimento de algum deles.

§ 2° O falido poderá acompanhar a arrecadação e a avalia­ção.

7. Ao contrário do que às vezes se possa imaginar, o falido em princípio não cometeu qualquer deslize ou qualquer crime; ante o prin­cípio da presunção de inocência, o falido deve ser visto como pessoa que, pelos azares da atividade empresarial, que é atividade que busca o lucro e que por isto é eminentemente de risco, chegou a uma situação de falência. Por isto mesmo, o próprio falido tem interesse em que o andamento da falência se dê da forma mais produtiva possível, sendo a ele deferidas diversas prerrogativas, entre elas, a possibilidade de poder acompanhar- e evidentemente fiscalizar- tanto a arrecadação quanto a avaliação.

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271 Capítulo V- Seção VII- Art. 109

§ 3° O produto dos bens penhorados ou por outra forma apreendidos entrará para a massa, cumprindo ao juiz depre­car, a requerimento do administrador judicial, às autoridades competentes, determinando sua entrega.

§ 4° Não serão arrecadados os bens absolutamente impe­nhoráveis.

8. Se forem arrecadados bens que, por qualquer motivo estejam penhorados ou apreendidos em outras ações, e se estes bens forem trans­formados em dinheiro nestas outras ações, o resultado em princípio entrará para a massa. Para tanto, o juiz da falência requisitará o envio do dinheiro correspondente para que passem a compor a massa falida.

9. Os bens absolutamente impenhoráveis, relacionados de forma exaustiva (e não exemplificativa) no art. 649 do CPC, não serão arreca­dados na falência. No entanto, também não serão arrecadados os bens gravados com cláusula contratual de inalienabilidade em doações, dis­posições testamentárias (art. 1.676 do Código Civil de 1916, atual art. 1.911, caput, do Código Civil), bem de família do art. 1.711 do Código Civil, bem de família da Lei 8.009/90, enfim, todos os bens que por qualquer motivo não possam sofrer constrição judicial.

§ 5° Ainda que haja avaliação em bloco, o bem objeto de garantia real será também avaliado separadamente, para os fins do § 1 o do art. 83 desta Lei.

10. O bem dado em garantia real deve ser vendido judicialmente e o valor da venda deve ser entregue ao credor garantido, na forma do inciso li do artigo 83. De acordo com o§ 1 o do art. 83, no caso de o bem ter sido vendido em bloco, deve ser considerado o valor da avaliação individual do bem.

11. Exatamente para tornar possível tal pagamento, é que este § 5° estabelece a necessidade de avaliação separada em caso de venda em bloco dos bens.

Art. 109. O estabelecimento será lacrado sempre que hou­ver risco para a execução da etapa de arrecadação ou para a preservação dos bens da massa falida ou dos interesses dos cre­dores.

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Art. 110- Capítulo V- Seção VII 272

1. Conforme observado acima (comentários ao art. 108), neste ponto o legislador foi sábio, pois aproveitou a experiência consagrada no dia-a-dia forense e tomou lei positiva a possibilidade de lacração. Aliás, não só pela lacração, mas por todos os meios possíveis, deve o administrador criar condições ideais para a guarda dos bens do falido.

Art. 110. O auto de arrecadação, composto pelo inventário e pelo respectivo laudo de avaliação dos bens, será assinado pelo administrador judicial, pelo falido ou seus representantes e por outras pessoas que auxiliarem ou presenciarem o ato.

1. Trata-se aqui do auto de arrecadação e, conforme visto nos co­mentários acima, pode ocorrer com muita freqüência- aliás, será a ocor­rência mais comum -, que o auto de arrecadação seja elaborado pelos oficiais de justiça designados para a diligência, únicos participantes do ato, tendo em vista a urgência com a qual deve ser expedido o auto de arrecadação. A propósito, relembre-se que sempre houve a cautela por partes dos juízes de determinar a ida de dois oficiais para tal tipo de diligência.

2. De qualquer forma, se estiverem presentes o administrador, o falido, o próprio representante do Ministério Público ou pessoas auxi­liando ou presenciando o ato, devem ser colhidas as respectivas assina­turas. Em tal tipo de diligência, que envolve às vezes bens de valores avantajados, sempre é recomendável que se colha assinatura de outras pessoas eventualmente presentes.

§ 1 o Não sendo possível a avaliação dos bens no ato da ar­recadação, o administrador judicial requererá ao juiz a con­cessão de prazo para apresentação do laudo de avaliação, que não poderá exceder 30 (trinta) dias, contados da apresentação do auto de arrecadação.

3. A experiência dirá, mas a previsão é de que, em geral, no mo­mento da arrecadação não haverá condições de avaliação dos bens. Evi­dentemente, em benefício da celeridade e da economia, melhor seria que em uma única diligência fossem praticados os dois atos. No entan­to, a Lei, já prevendo a dificuldade de tal ato duplo, desde logo possibi­lita que sejam praticados em momentos distintos.

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273 Capítulo V - Seção VII -Art. 110

§ 2° Serão referidos no inventário:

I - os livros obrigatórios e os auxiliares ou facultativos do devedor, designando-se o estado em que se acham, número e denominação de cada um, páginas escrituradas, data do início da escrituração e do último lançamento, e se os livros obriga­tórios estão revestidos das formalidades legais;

11 - dinheiro, papéis, títulos de crédito, documentos e ou­tros bens da massa falida;

Ill - os bens da massa falida em poder de terceiro, a título de guarda, depósito, penhor ou retenção;

IV - os bens indicados como propriedade de terceiros ou reclamados por estes, mencionando-se essa circunstância.

4. Esse inventário referido pelo parágrafo ora examinados é o documento que será juntado ao feito como auto de arrecadação. Mesmo os bens indicados como propriedade de terceiros devem ser arrecada­dos pelo oficial de justiça e descritos no respectivo inventário, não po­dendo o meirinho tomar a iniciativa de entregar qualquer bem a qual­quer pessoa, mesmo que esta comprove ser o bem de sua propriedade. A determinação legal é clara no sentido de ser arrecadado tal bem, de­vendo o oficial relatar no inventário o que verificar a respeito de even­tualmente tratar-se de bem de terceiro.

S. Arrecadado o bem, a este terceiro competirá valer-se do dis­posto no art. 85 para pedir a restituição ou, alternativamente, do dispos­to no art. 93, para propor embargos de terceiro.

§ 3° Quando possível, os bens referidos no § 2° deste artigo serão individualizados.

§ 4° Em relação aos bens imóveis, o administrador judicial, no prazo de 15 (quinze) dias após a sua arrecadação, exibirá as certidões de registro, extraídas posteriormente à decretação da falência, com todas as indicações que nele constarem.

6. Quanto aos bens imóveis, o administrador tem o prazo de quinze dias para providenciar as certidões imobiliárias e juntá-las aos autos. Tendo em vista o interesse público existente na falência, o próprio juiz, a pedido do administrador, requisitará por ofício tais certidões ao regis­tro imobiliário da circunscrição do imóvel.

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Art. 111- Capítulo V- Seção VII 274

Art. 111. O juiz poderá autorizar os credores, de forma individual ou coletiva, em razão dos custos e no interesse da massa falida, a adquirir ou adjudicar, de imediato, os bens ar­recadados, pelo valor da avaliação, atendida a regra de classi­ficação e preferência entre eles, ouvido o Comitê.

1. À primeira vista, parece extremamente difícil viabilizar-se a previsão legal de aquisição ou adjudicação de imediato dos bens arre­cadados. A menos que haja concordância entre todos os credores - o que também não se afigura viável em autos de falência, ante o amplo espectro de interesses conflitantes em jogo - a adjudicação por conta do crédito beneficiará apenas o adjudicatário, o que toma aparentemen­te inviável sua realização.

2. A Lei prevê que a compra ou a adjudicação coletiva será feita pelo valor da avaliação, respeitando-se, porém, a ordem de classifica­ção e preferência entre os credores, o que, como já dito, dependerá da concordância, sempre problemática e altamente improvável, de todos os credores.

Art. 112. Os bens arrecadados poderão ser removidos, des­de que haja necessidade de sua melhor guarda e conservação, hipótese em que permanecerão em depósito sob responsabili­dade do administrador judicial, mediante compromisso.

1. Sempre que necessário, o administrador deverá tomar as medi­das no sentido de conservar os bens, o que encontra ressonância na determinação constante da alínea l do inciso III do art. 22, que carreia ao administrador, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, a obrigação de praticar todos os atos conservatórios dos direitos da massa.

Art. 113. Os bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos à con­siderável desvalorização ou que sejam de conservação arris­cada ou dispendiosa, poderão ser vendidos antecipadamente, após a arrecadação e a avaliação, mediante autorização judi­cial, ouvidos o Comitê e o falido no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.

1. O art. 73 da lei anterior trazia estipulação semelhante. A rigor, os bens arrecadados devem ser depositados em local seguro, sob a res-

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275 Capítulo V - Seção VII- Art. 114

ponsabilidade do administrador judicial, aguardando o momento no qual serão vendidos, para arrecadar-se o dinheiro suficiente para pagar os credores. No entanto, se houver bens de fácil deterioração, o adminis­trador judicial deve pedir, ao próprio juiz da falência, em autos aparta­dos, autorização judicial para a venda imediata de tais bens.

2. O pedido deve ser autuado em apartado para que não se preju­dique o regular andamento da falência, autos nos quais inúmeras medi­das devem ser tomadas. No entanto, este aspecto fica dentro do poder de direção que o juiz detém nos autos, o qual determinará a forma que entender mais correta, sempre contando com o auxílio do administra­dor e do próprio falido.

3. Aliás, é extremamente comum que o juiz se valha dessa possi­bilidade de formação de autos em apartado para solução de quaisquer tipos de problemas incidentes, exatamente para evitar que o procedi­mento da falência, já de si extremamente complexo, venha a sofrer in­terrupções a todo momento.

4. O art. 22, inciso III, alínea j relaciona, entre as obrigações do administrador, aquela de requerer ao juiz a venda antecipada de bens, quando necessário. No entanto, qualquer credor individualmente ou em conjunto, pode requerer a providência de venda antecipada, se não hou­ver iniciativa do administrador neste sentido. Certamente, em tal pedi­do, o juiz mandará ouvir o administrador, que justificará a posição que vier a adotar.

Art. 114. O administrador judicial poderá alugar ou cele­brar outro contrato referente aos bens da massa falida, com o objetivo de produzir renda para a massa falida, mediante auto­rização do Comitê.

1. O art. 7 4 da lei anterior previa a possibilidade de continuação do negócio após o decreto de falência. O inciso XI do art. 99 da Lei atual determina que o juiz, se entender o caso, pronuncie-se na sentença que decreta a falência sobre a continuação provisória das atividades do falido com o administrador judicial.

2. Ao contrário do que ocorria na lei anterior, não há qualquer forma de procedimento previsto para esta continuação, o que, porém, não será óbice a tal providência, que muitas vezes se afigura como a

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Art. 114- Capítulo V- Seção VII 276

grande possibilidade de manter a empresa funcionando. Aliás, no regi­me da lei anterior, havia diversos processos em andamento, nos quais havia sido concedida a possibilidade de continuação do negócio, tendo várias tentativas chegado a muito bom termo.

3. Este art. 114 prevê, na realidade, uma forma de continuação do negócio, embora não faça menção expressa a isto. Ante a amplitude deste art. 114, poderá o administrador, com autorização do Comitê, se existente, e autorização prévia do juízo, celebrar contratos que poderão propiciar a continuação do negócio, além, é claro, de outros tipos de contrato que possam ter interesse para a massa.

§ 1 o O contrato disposto no caput deste artigo não gera di­reito de preferência na compra e não pode importar disposi­ção total ou parcial dos bens.

§ 2° O bem objeto da contratação poderá ser alienado a qualquer tempo, independentemente do prazo contratado, res­cindindo-se, sem direito a multa, o contrato realizado, salvo se houver anuência do adquirente.

4. Estes parágrafos estabelecem regras a serem seguidas para a celebração do contrato previsto no caput. No entanto, ao prever que o bem objeto da contratação poderá ser alienado a qualquer momento, mesmo desrespeitando o prazo contratado, cria óbice extremamente acentuado à sua celebração. Com efeito, dificilmente algum empresário ou particular se abalançará a firmar um contrato, sabendo que pode ser descumprido a qualquer momento, sem qualquer multa ou indenização.

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Seção VIII

Dos efeitos da decretação da falência sobre as obrigações do devedor

Art. 115. A decretação da falência sujeita todos os credo­res, que somente poderão exercer os seus direitos sobre os bens do falido e do sócio ilimitadamente responsável na forma que esta Lei prescrever.

1. Ante o princípio da universalidade do juízo falimentar consa­grado no art. 76, todos os credores ficam sujeitos a ele; perante o juízo falimentar é que devem exercer seus direitos, respondendo pelas dívi­das os bens do falido e do sócio ilimitadamente responsável. O tipo de sociedade empresária mais comum nos dias de hoje é a sociedade anô­nima ou a sociedade limitada e nestas os bens pessoais dos acionistas e cotistas não respondem pelas dívidas da sociedade.

2. Os casos clássicos de responsabilidade abrangendo os bens pessoais ocorrem naquelas sociedades nas quais há sócios com respon­sabilidade ilimitada (sociedade em nome coletivo, art. 1.039 do Código Civil; sócio comanditado, na comandita simples, art. 1.045 do Código Civil; diretor com nome na firma ou razão social, na comandita por ações, art. 281 da Lei 6.404176). Também respondem de forma ilimita­da os componentes da sociedade em comum, antiga sociedade irregular ou de fato, nos termos do art. 990 do Código Civil.

Art. 116. A decretação da falência suspende:

I - o exercício do direito de retenção sobre os bens sujeitos à arrecadação, os quais deverão ser entregues ao administra­dor judicial;

li - o exercício do direito de retirada ou de recebimento do valor de suas quotas ou ações, por parte dos sócios da socie­dade falida.

1. O art. 76 da lei anterior estabelecia a possibilidade de pedido de restituição se a coisa fosse devida em virtude de contrato. O art. 85

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Art. 117 - Capítulo V - Seção VIII 278

da Lei atual afastou a possibilidade de pedido de restituição em caso de direito decorrente de contrato, mantendo a possibilidade de restituição apenas para o caso de relação de propriedade.

2. Os bens sujeitos a direito de retenção devem ser restituídos desde que se trate de bem sujeito à arrecadação, de tal forma que a retenção não cria em favor do contratante a possibilidade de manter a coisa consigo. Eventual direito creditório do contratante deverá ser plei­teado pelas vias normais, por meio da habilitação se possível.

3. O direito de retirada (ou de recesso) e o recebimento do valor correspondente à participação dos sócios ficam suspensos. Examine-se também o § 2° do art. 83, que traz estipulação consentânea com este inciso II ora analisado.

Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela fa­lência e podem ser cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da mas­sa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê.

1. Este artigo repete a disposição inserida no art. 43 da lei antiga e, embora de forma não literal, transplanta o espírito que norteou aque­le artigo.

2. O contrato continuará a ser executado ou será dado por rescin­dido ou resolvido, dentro de um critério de conveniência para a massa a ser avaliado pelo administrador judicial, mediante autorização do Co­mitê de Credores, se houver, escapando assim da força obrigatória que, nas palavras de Succar (p. 18), significa a irreversibilidade da palavra empenhada.

3. O critério é de conveniência e a Lei prevê que o cumprimento do contrato pode ser decidido mediante autorização do Comitê. Evi­dentemente, o administrador deverá ser de confiança do juiz e, em prin­cípio, o Comitê existe para defender os interesses da massa, de tal for­ma que aquilo que for decidido relativamente ao contrato deverá ser seguido. No entanto, por óbvio, todos estes atos estão sendo praticados sob a jurisdição do juízo da falência que determinará sempre o que en­tender correto ao cumprimento da lei e à defesa do interesses da massa. Por isto, se houver, no entendimento do juiz, óbice ou qualquer tipo de

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279 Capítulo V - Seção VIII -Art. 117

impedimento ao cumprimento do contrato, tal fato será fixado em regu­lar determinação de natureza jurisdicional.

§ 1 o O contratante pode interpelar o administrador judi­cial, no prazo de até 90 (noventa) dias, contado da assinatura do termo de sua nomeação, para que, dentro de 10 (dez) dias, declare se cumpre ou não o contrato.

4. Aquele que estabeleceu um contrato bilateral com a massa não pode ficar indefinidamente esperando que o administrador judicial cum­pra ou deixe de cumprir o contrato. Prevê então a Lei que o administra­dor judicial será obrigado a declarar, em dez dias, depois de interpelado pelo contratante, se pretende ou não cumprir o contrato.

§ 2° A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário, constituirá crédito quirografário.

5. Caso o administrador judicial responda negativamente ou per­maneça em silêncio, o outro contratante pode dar por resolvido o con­trato e apurar em processo ordinário seu prejuízo, habilitando-se como credor quirografário na falência após fixado o valor da indenização. O valor da indenização deverá abranger apenas os danos emergentes efe­tivamente experimentados e não os lucros cessantes; estes não são de­vidos, porque a rescisão pela qual optou o administrador judicial tem expressa previsão legal, não sendo decorrente de dolo, culpa ou mora, não havendo portanto direito do credor de exigir lucros cessantes.

6. Observe-se, no entanto, que é comum as partes fixarem em con­trato, cuja execução se estende pelo tempo, que estará ele automatica­mente rescindido, ou resolvido, ou vencido em caso de decreto de fa­lência. Esta cláusula não será considerada, porém, se o administrador judicial pretender dar cumprimento ao contrato, na forma do caput des­te artigo, tendo em vista as características também públicas da falência, embora situado o Direito Comercial ou Empresarial no campo do direi­to privado. A falência, por se tratar de instituto colocado à disposição dos interessados para afastar do meio comercial aquele empresário que já está falido de fato, assume características que extrapolam o mero interesse privado.

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Art. 118 - Capítulo V - Seção VIII 280

7. O adágio segundo o qual jus publicum privatorum pactis mutare non potest aplica-se aqui para impedir que o pacto entre os particulares, feito quando ainda não havia falência, venha a prejudicar o interesse público a ser resguardado no processo falimentar. Não se perde de vista que o Direito Falimentar, como parte do Direito Comercial ou Empre­sarial, está dentro do campo do direito privado. No entanto, o caráter público de vários aspectos do Direito Falimentar não pode ser negado.

8. Rubens Requião (vol. 1, p. 162), curiosamente, não declina qual é seu entendimento, relacionando, porém, os diversos autores que enten­dem que é lícita tal cláusula resolutória (Spencer Vampré, Tratado ele­mentar de direito comercial, vol. 3, p. 394 e Carvalho de Mendonça, Tra­tado, vol. 7, n. 461). No entanto, preferimos ficar com o entendimento jurisprudencial noticiado na RT 629/148, segundo o qual é nula a cláusu­la que, em contrato de arrendamento, prevê a rescisão automática em caso de concordata. Da mesma forma, Trajano (vol. 1, p. 298) também não firma seu entendimento, limitando-se a anotar que a doutrina e a jurisprudência têm aceito a validade da cláusula resolutória, afirmando no entanto que "a possibilidade ou a impossibilidade da execução da pres­tação, já agora a cargo do síndico, é que determinará, segundo a conve­niência da massa, a manutenção ou resolução do contrato". O síndico a que se refere o autor é o administrador judicial desta nova Lei.

9. Silva Pacheco e Sampaio de Lacerda não enfrentam diretamente a questão, afirmando, porém, o primeiro (Processo de falência e con­cordata, p. 319) que com a falência o contrato bilateral não se resolve e que "não se há de invocar a falência como causa de rescisão do contrato bilateral, seja ele qual for". Sampaio de Lacerda (p. 179) afirma igual­mente que o administrador judicial pode executar o contrato, que não se resolve com a falência. A jurisprudência não está pacificada.

Art. 118. O administrador judicial, mediante autorização do Comitê, poderá dar cumprimento a contrato unilateral se esse fato reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos, realizando o pagamento da prestação pela qual está obrigada.

1. Ao contrário do que ocorria na lei anterior, a presente traz expressa disposição relativamente ao contrato unilateral. Segundo Orlando Gomes (p. 171), a resolução tem como causa a inexecução da

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281 Capítulo V - Seção VIII -Art. 119

obrigação, por um dos contratantes, rompendo-se por isto o vínculo contratual. Diz Requião (Curso de direito falimentar, 17. ed., p. 195), citando Spencer Vampré, que para contratos unilaterais, em princípio, nenhuma alteração ocorre em seus efeitos, lembrando a situação na qual o falido é credor (não se altera o contrato) e na qual o falido é devedor (o contrato resolve-se com a falência). Esta afirmação do festejado mestre deve ser examinada à luz da realidade dos negócios do dia-a-dia. É ne­cessário examinar o caso do contrato unilateral puro, ou seja, doação, depósito gratuito, comodato (sempre gratuito) ou mútuo gratuito. A doação não é passível de resolução, pois aperfeiçoa-se com o ato único, o ato da própria doação. Os demais contratos (depósito, comodato e mútuo) resolvem-se, pois não há como executar atos gratuitos. Assim, não sendo o ato gratuito passível de execução, conclui-se que os con­tratos unilaterais puros resolvem-se pela falência. Os contratos unilate­rais impróprios (depósito oneroso e mótuo feneratício) não se resolvem com a falência, podendo ser executados pelo administrador judicial, se achar de conveniência para a massa.

2. Todas estas discussões, que eram cabíveis no regime da lei an­terior, desaparecem agora ante a expressa determinação legal no sen­tido de que, se for conveniente aos interesses da massa, será dado regu­lar cumprimento ao contrato unilateral.

Art. 119. Nas relações contratuais a seguir mencionadas prevalecerão as seguintes regras:

I - o vendedor não pode obstar a entrega das coisas expe­didas ao devedor e ainda em trânsito, se o comprador, antes do requerimento da falência, as tiver revendido, sem fraude, à vista das faturas e conhecimentos de transporte, entregues ou reme­tidos pelo vendedor;

1. Trata-se aqui de mercadoria adquirida pelo devedor e ainda em trânsito, no entanto já vendida pelo devedor a terceiro. Em tal caso, o falido ainda não recebeu a mercadoria, mas já a revendeu a terceiro, por ter em suas mãos a fatura e o conhecimento de transporte. Evidentemen­te, se houver fraude (por exemplo, se este comprador da mercadoria já tivesse conhecimento da falência), o negócio será nulo; caso inexista má­fé do falido e do terceiro, o negócio é válido. Consagra este artigo o cha­mado right of stoppage in transitu, dando ao vendedor o direito de obstar

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Art. 119 - Capítulo V - Seção VIII 282

a entrega da mercadoria, direito que só não o assiste se a mercadoria já foi vendida, sem fraude, a terceiro e desde que o vendedor falido já estivesse de posse da fatura e do conhecimento de transporte.

11 - se o devedor vendeu coisas compostas e o administra­dor judicial resolver não continuar a execução do contrato, poderá o comprador pôr à disposição da massa falida as coi­sas já recebidas, pedindo perdas e danos;

2. O entendimento desta disposição não oferece dificuldade es­pecial; de qualquer forma, um exemplo poderá aclarar eventual dúvida. Imagine-se o devedor como um fabricante de máquinas complexas que entregou apenas uma parte da máquina, sobrevindo então a falência. Para o comprador pode não haver qualquer interesse em manter tal ne­gócio, a menos que o administrador judicial resolva cumprir o contrato se entender possível e de interesse para a massa. Não havendo cumpri­mento do contrato pelo administrador judicial, pode o comprador de­volver a parte que haja recebido, cobrando do falido perdas e danos que devem ser fixados em ação ordinária.

111 - não tendo o devedor entregue coisa móvel ou presta­do serviço que vendera ou contratara a prestações, e resolven­do o administrador judicial não executar o contrato, o crédito relativo ao valor pago será habilitado na classe própria;

3. Neste caso, a massa fica obrigada a devolver ao comprador que ainda não recebeu a coisa móvel comprada o valor que já recebeu deste. Opcionalmente, se o administrador judicial resolver cumprir o contrato e entregar a coisa vendida, o negócio permanece válido. A lei anterior (in­ciso III do art. 44) falava em restituição, o que sempre trouxe dificuldade de interpretação; a Lei atual resolveu a discussão, estabelecendo que, neste caso, o terceiro contratante deve habilitar-se na classe própria.

4. Observe-se aqui que novamente a decisão está dentro do cam­po de conveniência, a ser decidida pelo administrador judicial. Desta forma, mesmo que a coisa móvel exista e tenha sido arrecadada, mesmo que o comprador da coisa queira pagar o valor estipulado e receber a coisa, ainda assim o administrador judicial poderá recusar-se a executar o contrato.

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283 Capítulo V - Seção VIII -Art. 119

IV - o administrador judicial, ouvido o Comitê, restitui­rá a coisa móvel comprada pelo devedor com reserva de do­mínio do vendedor se resolver não continuar a execução do contrato, exigindo a devolução, nos termos do contrato, dos valores pagos;

S. O Código de Processo Civil trata da compra e venda com re­serva de domínio em seus arts. 1.070 e 1.071. Novamente aqui ocorre o poder de decisão do administrador judicial (e do Comitê de Credo­res) ante a conveniência do negócio para a massa. Se o administrador judicial decidir poderá obstar a restituição, continuando a cumprir o contrato.

V - tratando-se de coisas vendidas a termo, que tenham cotação em bolsa ou mercado, e não se executando o contrato pela efetiva entrega daquelas e pagamento do preço, prestar­se-á a diferença entre a cotação do dia do contrato e a da época da liquidação em bolsa ou mercado;

6. A venda a termo é aquela normalmente feita com prazo estipu­lado para a entrega da coisa pelo vendedor e o pagamento do preço pelo comprador. Tratando-se a compra e venda de contrato consensual, que se aperfeiçoa e torna-se obrigatório apenas com a manifestação da von­tade das partes, é também contrato bilateral que não se resolve pela falência, na forma do art. 117, podendo ser cumprido pelo administra­dor judicial se tal for do interesse da massa.

VI - na promessa de compra e venda de imóveis, aplicar­se-á a legislação respectiva;

7. A promessa de compra e venda de imóvel é contrato prelimi­nar, podendo incidir sobre imóveis financiados, imóveis loteados, apar­tamentos construídos ou em incorporação, prédios em geral etc., negó­cio regulado pelo Direito Civil, devendo buscar-se nele as soluções para cada caso. Como se vê, aqui há remessa da Lei ao Direito Civil. Relembre-se, a propósito, que a regra geral é no sentido de que à falên­cia aplica-se a lei falimentar e, na inexistência de regras falimentares, aplica-se a legislação respectiva.

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Art. 119 - Capítulo V - Seção VIII 284

VII - a falência do locador não resolve o contrato de loca­ção e, na falência do locatário, o administrador judicial pode, a qualquer tempo, denunciar o contrato;

8. Se o falido for o locador, deverão ser respeitadas as disposições da legislação especial sobre locação (Lei 8.245, de 18.10.1991), espe­cialmente se o locatário propuser ação renovatória.

9. Já se o locatário for o devedor falido, poderá o administrador judicial resilir o contrato, podendo o locador habilitar-se na falência pelos valores devidos, conforme previsto no contrato.

VIII - caso haja acordo para compensação e liquidação de obrigações no âmbito do sistema financeiro nacional, nos ter­mos da legislação vigente, a parte não falida poderá conside­rar o contrato vencido antecipadamente, hipótese em que será liquidado na forma estabelecida em regulamento, admitindo­se a compensação de eventual crédito que venha a ser apurado em favor do falido com créditos detidos pelo contratante;

10. A forma vaga como está redigido o inciso acima demons­tra o que ocorreu durante o processo parlamentar para mudança da Lei de Falências. De forma absolutamente abrangente, sem maiores detalhamentos, a Lei simplesmente estabelece a possibilidade de li­quidação do contrato "na forma estabelecida em regulamento", não sendo possível saber sequer a que regulamento a Lei está se referin­do exatamente, embora possa supor-se que a referência é ao regula­mento que o Conselho Monetário Nacional baixa para negócios fi­nanceiros.

11. Estabelece ainda a possibilidade de compensação com crédi­tos detidos pelo contratante, o que será porta aberta para negócios no "âmbito do sistema financeiro nacional" (outra expressão também ex­tremamente vaga). Enfim, este inciso parece uma porta aberta para que instituições financeiras se coloquem em posição de privilégio em qual­quer falência. Certamente, tal norma deverá encontrar severa análise dos Tribunais, pois tal tipo de favorecimento, em termos vagos e indefi­nidos, não poderá ser oposto ao direito estabelecido em favor dos de­mais credores.

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285 Capítulo V - Seção VIII - Art. 120

IX - os patrimônios de afetação, constituídos para cum­primento de destinação específica, obedecerão ao disposto na legislação respectiva, permanecendo seus bens, direitos e obri­gações separados dos do falido até o advento do respectivo ter­mo ou até o cumprimento de sua finalidade, ocasião em que o administrador judicial arrecadará o saldo a favor da massa falida ou inscreverá na classe própria o crédito que contra ela remanescer.

12. O patrimônio responde pelas obrigações de seu titular, confi­gurando a chamada "massa de responsabilidade", sendo uma universa­lidade de direito. Sem embargo da existência de um titular do patrimô­nio, pode-se caracterizá-lo também pela sua finalidade, surgindo assim a figura dos patrimônios especiais ou separados porque ligados a deter­minados fins específicos. Messineo (citado por Barreto F', Teoria do Estabelecimento Comercial, São Paulo, Max Limonad, 1969, p. 57), faz a distinção entre patrimônio separado e patrimônio autônomo, de­signados pelo gênero "patrimônio de afetação". Ou seja, o patrimônio de afetação é aquele destinado a um fim determinado, vinculando-se assim àquele fim específico, embora permanecendo no patrimônio da mesma pessoa.

13. A mais recente disposição legal relativa a patrimônio de afe­tação e que por certo terá grande campo de aplicação por dizer respeito ao sistema habitacional de construção de imóveis está no art. 2° e ou­tros da Lei 10.931, de. 02.08.2004, que permite a afetação do imóvel e da construção que sobre ele está sendo erigida à consecução do em­preendimento. Esta lei completa outra que também trará extrema reper­cussão em caso de falência de construtoras de imóveis, a Lei 9 .514, de 20.11.1997, que em seu art. 17, IV, cria a alienação fiduciária sobre bens imóveis e, em seu art. 6°, autoriza a emissão de "CRI", certificados de recebíveis imobiliários, por companhias securitizadoras especialmen­te constituídas para tal fim que emitirão valores mobiliários (art. 6° da Lei 9.514/97) a serem lançados na praça, valores com lastro nos recebí­veis que, por sua vez, estão garantidos pelo patrimônio afetado, ou seja, o terreno e o prédio que sobre ele está sendo erigido.

Art. 120. O mandato conferido pelo devedor, antes da fa­lência, para a realização de negócios, cessará seus efeitos com

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Art. 120 - Capítulo V - Seção VIII 286

a decretação da falência, cabendo ao mandatário prestar con­tas de sua gestão.

1. Trata-se aqui do mandato, previsto nos arts. 653 a 692 do Có­digo Civil. Este artigo estabelece previsão absolutamente confrontante com a que existia no art. 49 da lei anterior, segundo o qual o mandato continuava em vigor, até que fosse revogado expressamente pelo síndi­co. Era natural que fosse de tal forma, pois sempre pode haver negócios em andamento e se o mandato cessasse de imediato, poderia haver pre­juízos de monta para a massa.

2. De forma inexplicável, a Lei optou por abrigar estipulação ab­solutamente confrontante que, repita-se, poderá trazer prejuízos de monta à massa ao evitar o término de negócios que estariam em fase final ante o mandatário. Mais lógico seria que se mantivesse a estipulação exis­tente na lei revogada, carreando ao mandatário a obrigação de presta­ção de contas do que tivesse feito.

3. O artigo fala em mandato conferido antes da falência, tendo aí a Lei feito previsão aparentemente desnecessária uma vez que após a falência não pode o devedor conferir qualquer mandato ou comissão, pois, na forma do art. 103, o devedor perde a administração dos negó­cios e bens no momento em que a falência é declarada.

§ 1 o O mandato conferido para representação judicial do devedor continua em vigor até que seja expressamente revoga­do pelo administrador judicial.

4. Já em caso de representação judicial, corretamente, o mandato continua em vigor, com o que se estará também evitando eventuais pre­juízos aos interesses da massa.

§ 2° Para o falido, cessa o mandato ou comissão que hou­ver recebido antes da falência, salvo os que versem sobre ma­téria estranha à atividade empresarial.

5. Para o mandato que tenha sido conferido ao devedor ocorre a cessação, conseqüência da perda da administração dos negócios na for­ma do art. 103 acima mencionado. Se o mandato disser respeito a matéria estranha à atividade empresarial, mantém-se intacto e em pleno vigor.

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287 Capítulo V - Seção VIII -Art. 121

Art. 121. As contas correntes com o devedor consideram-se encerradas no momento de decretação da falência, verifican­do-se o respectivo saldo.

1. Existe discussão doutrinária para se conceituar exatamente o que seria conta corrente. O contrato de conta corrente é aquele no qual as partes prometem lançar os créditos de cada um dos participantes, para que no momento em que se encerre a conta, fique determinado qual o crédito de um e o débito de outro, não se confundindo com o contrato de conta corrente bancária. O contrato de conta corrente é ori­ginário do direito costumeiro antigo, não havendo aí contrato de conta corrente bancária (Pontes de Miranda, p. 133); o contrato de conta cor­rente bancária é contrato de depósito ou assemelhado (Covello, p. 104), utilizado pelo sistema bancário. Aqui, o termo pode ser tomado da for­ma mais ampla e abrangente possível, englobando desde a troca de mercadorias com controle de débito e crédito até a conhecida conta corrente bancária. Tais contas devem ser encerradas no momento da declaração da falência, não se podendo fazer qualquer outro lançamen­to em tais contas, após a declaração da falência

2. Assim, eventual prática de instituições bancárias no sentido de acertarem os débitos remanescentes dos falidos, efetuando movi­mentação interna de tais contas, com transferência de valores para a quitação da dívida, configura ofensa ao princípio do par condicio credito rum. O argumento no sentido de se entender que tal compensa­ção é lícita e correta seria no sentido de que, como praticamente todos os débitos bancários se vencem com a falência, sempre será permitido aos bancos tal compensação, na forma do art. 122, que examinaremos a seguir.

3. Mesmo o cheque emitido pelo devedor antes da falência não deve ser pago se apresentado depois do decreto falimentar. O art. 33 da Lei Uniforme do Cheque, repetido no art. 37 da Lei do Cheque (Lei 7.357/85), diz que a morte do emitente ou sua incapacidade superve­niente à emissão não invalidam o cheque. Diz Rosa Jr. (p. 569) que, embora não haja na lei menção específica para o caso de falência, o cheque não deve ser pago porque consubstancia ordem de pagamento e não verdadeiro pagamento, não havendo privilégio na lei em favor da­quele que foi pago por cheque, de tal forma que o pagamento iria contra o princípio da par condicio credito rum.

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Art. 122 - Capítulo V - Seção VIII 288

Art. 122. Compensam-se, com preferência sobre todos os demais credores, as dívidas do devedor vencidas até o dia da decretação da falência, provenha o vencimento da sentença de falência ou não, obedecidos os requisitos da legislação civil.

1. A sentença que decreta a falência determina o vencimento an­tecipado de todas as obrigações do devedor (art. 77), de tal forma que os valores objeto de compensação podem referir-se a obrigações já ven­cidas ou a obrigações que estão se vencendo por força do decreto de falência.

2. Sem embargo do acima, tal compensação pretendida pelas ins­tituições bancárias não encontra respaldo legal, pois a compensação permitida refere-se a créditos oponíveis à massa. Em outras palavras: se o falido tem um crédito contra o banco e o banco tem um crédito contra o falido, a dívida pode compensar-se. No entanto, o saldo em conta corrente não é crédito que o banco tem contra a massa, ao contrário, o saldo em conta corrente é dinheiro do devedor, sendo tal conta corrente uma extensão do próprio caixa do devedor, não podendo portanto haver tal compensação. Cabe ao Banco, em tais casos, transferir o saldo da conta corrente para o juízo da falência e habilitar seu crédito, para dis­putar em igualdade de condições com os demais credores.

3. Aliás, deve a instituição bancária tomar especial cuidado e co­locar imediatamente o dinheiro à disposição da massa falida, com ime­diata comunicação ao juízo da falência, sob pena de a tentativa de com­pensação caracterizar o crime falimentar previsto no art. 173.

4. Observe-se ainda que não se compensam as obrigações que não se vencem com a falência, como, por exemplo, as decorrentes de contratos bilaterais que o administrador opte por cumprir (art. 117).

Parágrafo único. Não se compensam:

I - os créditos transferidos após a decretação da falência, salvo em caso de sucessão por fusão, incorporação, cisão ou morte; ou

5. O legislador visou cortar a possibilidade de fraude com conluio entre o falido e algum devedor da falência. Se não houvesse esta dispo­sição, o empresário, ao perceber que a falência seria decretada, faria

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289 Capítulo V - Seção VIII -Art. 123

acertos com seus devedores, entregando a eles títulos emitidos pela empresa para compensação, de tal forma que estes devedores nada pa­gariam à massa, pois fariam a compensação.

6. O texto legal excepciona e permite a compensação de transfe­rências decorrentes de sucessão, fusão, incorporação, cisão ou morte. A transferência em decorrência de morte estaria já englobada nos casos de sucessão.

11 - os créditos, ainda que vencidos anteriormente, trans­feridos quando já conhecido o estado de crise econômico-fi­nanceira do devedor ou cuja transferência se operou com fraude ou dolo.

7. Este inciso é de claro entendimento também quanto à sua mo­tivação. Se não houvesse tal proibição, o devedor do empresário falido poderia compensar, fora da falência, o valor que devesse pagar à massa com o valor que um terceiro devesse receber da massa. O credor da massa sabe da dificuldade que terá para receber; o devedor da massa sabe que terá que pagar certamente. Assim, em conluio, o devedor da massa compraria do terceiro o crédito contra a massa por preço acerta­do entre eles, compensando este valor com aquilo que deveria recolher à massa.

Art. 123. Se o falido fizer parte de alguma sociedade como sócio comanditário ou cotista, para a massa falida entrarão somente os haveres que na sociedade ele possuir e forem apu­rados na forma estabelecida no contrato ou estatuto social.

§ 1 o Se o contrato ou o estatuto social nada disciplinar a respeito, a apuração far-se-á judicialmente, salvo se, por lei, pelo contrato ou estatuto, a sociedade tiver de liquidar-se, caso em que os haveres do falido, somente após o pagamento de todo o passivo da sociedade, entrarão para a massa falida.

1. Na falência arrecadam-se todos os bens e, em conseqüência, arrecadam-se também os haveres que o devedor possua em outra em­presa. No caso específico deste artigo, a previsão diz respeito aos casos nos quais o empresário seja também sócio de sociedade empresária.

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Art. 123 - Capítulo V - Seção VIII 290

2. A cada dia torna-se mais comum a extensão dos efeitos da fa­lência de um empresário ou sociedade às sociedades empresárias do mesmo grupo econômico, desde que se verifique a confusão de patri­mônios ou o controle absoluto desta última pela que teve primeiramen­te a falência decretada. No entanto, o presente artigo continua tendo plena aplicação, pois (no caso de cotista de limitada) está dirigido à circunstância de a falida ser mera cotista, sem controle sobre a outra, caso em que apenas ocorrerá a arrecadação das cotas.

§ 2° Nos casos de condomínio indivisível de que participe o falido, o bem será vendido e deduzir-se-á do valor arrecadado o que for devido aos demais condôminos, facultada a estes a compra da quota-parte do falido nos termos da melhor pro­posta obtida.

3. Arrecada-se também a parte do condomínio que couber ao de­vedor, com a ressalva de que as despesas de condomínio serão pagas aos demais condôminos, indo para a massa o que restar.

4. Em conseqüência, o condomínio não precisará habilitar-se na falência, pois, quando o imóvel for vendido, do preço será descontado aquilo que é devido a título de despesas de condomínio. Se acaso o valor da venda não for suficiente para o pagamento, só restará ao con­domínio habilitar-se, pelo saldo restante. Poderá também o condomí­nio fazer lançe na praça, por conta do que lhe é devido, adquirindo assim o bem.

5. Tem-se observado boa cautela de juízes que, para evitar dis­cussões futuras, deixam expressamente esclarecido este ponto já quan­do deferem a venda judicial do bem, tomando ainda o cuidado de deter­minar a intimação do condomínio para que exerça eventual direito que possua.

6. É que embora a dívida de condomínio seja propter rem, ainda assim se o imóvel é adquirido na hasta pública ocorre sub-rogação so­bre o preço e não sobre a pessoa do arrematante. Aliás, imaginar o con­trário seria inviabilizar qualquer venda judicial de imóvel com condo­mínio em atraso, no caso do valor do débito, por exemplo, ultrapassar o valor da arrematação. Evidentemente, em tal situação, ninguém teria interesse na arrematação.

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291 Capítulo V - Seção VIII -Art. 124

Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros ven­cidos após a decretação da falência, previstos em lei ou em con­trato, se o ativo apurado não bastar para o pagamento dos credores subordinados.

Parágrafo único. Excetuam-se desta disposição os juros das debêntures e dos créditos com garantia real, mas por eles res­ponde, exclusivamente, o produto dos bens que constituem a garantia.

1. O principal e os juros serão pagos, se a massa comportar. Por­tanto, no sistema do processo falimentar, são pagos os créditos habilita­dos com valores atualizados e juros calculados até o momento do de­creto falimentar. Se houver saldo, serão pagos correção e juros conta­dos da data do decreto falimentar até o momento do efetivo pagamento desta nova parcela, devolvendo-se ao falido o que sobrar. Como se per­cebe, tal situação dificilmente acontecerá, pois a falência ocorre quan­do o ativo não é suficiente para pagar o passivo. Se a massa fosse sufi­ciente para o pagamento de todo o débito, com correção e juros e, ainda assim, sobrasse numerário para devolver ao devedor, não haveria razão para ter sido decretada a falência. De qualquer forma, durante o proce­dimento da falência, em tese pode vir a ser arrecadado algum bem que retorne à massa durante o próprio processo, de valor suficiente para tal pagamento; embora raramente, tais fatos ocorrem.

2. Como já observado, esses juros dizem respeito aos juros que seriam devidos após o decreto de quebra (juros contra a massa), pois, os juros devidos até o momento da quebra são objeto de habilitação junta­mente com o principal. Portanto, na falência paga-se o principal de cada dívida mais os juros vencidos até a quebra e, se houver numerário sufi­ciente, pagam-se os juros calculados até o momento do efetivo paga­mento e até o limite do dinheiro que houver na massa.

3. O legislador resolveu privilegiar o crédito relativo a debêntu­res e aquele com garantia real, estipulando no parágrafo único que, em tais casos, os juros correm contra a massa. Portanto, se correm contra a massa, estes credores receberão o principal, com todos os juros devidos até o momento do pagamento. No entanto, os pagamentos destes valo­res com garantia real estão limitados ao valor efetivo dos bens que cons­tituem a garantia; o excedente será crédito quirografário, conforme alí­nea b do inciso VI do art. 83.

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Art. 125 - Capítulo V - Seção VIII 292

Art.125. Na falência do espólio, ficará suspenso o processo de inventário, cabendo ao administrador judicial a realização de atos pendentes em relação aos direitos e obrigações da mas­sa falida.

1. Aspecto curioso a ser examinado diz respeito ao fato de haver outros bens constantes do espólio, que não eram bens que (em vida do empresário individual) faziam parte do patrimônio da empresa, por se­rem bens particulares e por serem impenhoráveis, como, por exemplo, patrimônio de afetação ou bem de família. Tais bens não poderão ser atingidos pelo decreto de falência do espólio do empresário, pois, se não eram passíveis de constrição antes da morte do empresário indivi­dual, não poderão ser atingidos após sua morte.

2. Este artigo talvez seria até desnecessário, pois a suspensão do processo de inventário seria decorrência natural do decreto de falência, por terem ambos os processos finalidades diferentes e incompatíveis. Com efeito, o processo do inventário destina-se a dividir os bens do empresário falecido entre seus herdeiros civis; já o processo de falência destina-se a transformar estes bens em dinheiro e dividir o dinheiro entre os credores habilitados.

3. Observe-se, no entanto, que o processo do inventário se sus­pende apenas relativamente aos bens que formarão a massa falida, ou seja, aqueles bens que eram bens sociais do empresário falecido e que devem responder pelas dívidas da empresa falida; quanto aos bens pes­soais (se houver), que não serão arrecadados, o inventário prosseguirá normalmente.

4. Observe-se finalmente que falência de espólio é processo extre­mamente raro, se é que existe atualmente algum em andamento no País.

Art. 126. Nas relações patrimoniais não reguladas expres­samente nesta Lei, o juiz decidirá o caso atendendo à unidade, à universalidade do concurso e à igualdade de tratamento dos credores, observado o disposto no art. 75 desta Lei.

1. Esta é disposição nova, que não havia na lei anterior. Indica ao juiz como deve proceder caso não haja regulação expressa de determi­nada relação patrimonial. É uma cláusula aberta do tipo das que exis-

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293 Capítulo V - Seção VIII -Art. 127

tem em grande quantidade no Código Civil e que deixam uma margem de discricionariedade bastante grande à atividade jurisdicional.

2. O juiz deverá, quando da apreciação do caso, verificar a possi­bilidade e conveniência de manter a unidade da empresa, como forma de permitir que os ativos do devedor falido sejam utilizados por outro empresário, voltando a produzir as riquezas, empregos e tributos de que tanto a sociedade necessita, conforme previsto no art. 75.

3. A afirmação acima está de acordo com o art. 140, que dá prefe­rência à alienação dos bens do devedor falido "em bloco", desta forma facilitando a continuação da atividade econômica.

4. Outro princípio presente neste dispositivo trata da igualdade de tratamento dos credores. Certamente a igualdade de tratamento não afasta as preferências na classificação ou no recebimento da realização do ativo do devedor, mas determina que os credores não podem, se dis­puserem das mesmas prerrogativas legais, serem beneficiados em detri­mento dos outros, já que a falência rege-se também pelo princípio do tratamento igualitário aos credores, sendo possível apenas as diferen­ças legalmente estabelecidas (v.g., classificação dos créditos).

Art. 127. O credor de coobrigados solidários cujas falên­cias sejam decretadas tem o direito de concorrer, em cada uma delas, pela totalidade do seu crédito, até recebê-lo por inteiro, quando então comunicará ao juízo.

1. Este artigo contempla a situação do credor por título no qual haja devedores solidários, todos falidos. Imagine-se uma promissória emitida por um falido, com aval de duas empresas diferentes, ambas também falidas. O credor deste título pode habilitar-se pela totalidade do valor, nas três falências e, recebendo qualquer valor em qualquer falência, deverá comunicar o fato nos outros dois processos de falência. Se acaso o credor receber algum valor e não comunicar, fica obrigado a restituir em dobro o que houver recebido, acrescido de juros legais (art. 152), desde que fique evidenciado dolo ou má-fé.

2. Imagine-se que, além daqueles dois empresários avalistas fali­dos, haja ainda um terceiro aval, de um empresário não falido. O credor poderá, além de habilitar-se na falência das três empresas, executar o terceiro avalista não falido, sempre pela totalidade do débito. Da mes-

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Art. 127 - Capítulo V - Seção VIII 294

ma forma, se receber na execução contra o não falido, deverá comunicar tal recebimento nos três processos de falência nos quais se habilitou. Anote­se finalmente que, contra este terceiro avalista solvente, a execução ape­nas poderá ser aparelhada após o vencimento normal da dívida, pois, para ele, a dívida não se vence com o decreto de falência, pois o vencimento extraordinário do art. 77 diz respeito apenas ao falido.

§ 1 o O disposto no caput deste artigo não se aplica ao falido cujas obrigações tenham sido extintas por sentença, na forma do art. 159 desta Lei.

3. Se extintas as obrigações do devedor falido, o devedor está libera­do dos débitos relativos à falência e, desta forma, não se aplicará o art. 127.

§ 2° Se o credor ficar integralmente pago por uma ou por diversas massas coobrigadas, as que pagaram terão direito regressivo contra as demais, em proporção à parte que paga­ram e àquela que cada uma tinha a seu cargo.

4. Este parágrafo prevê o exercício do regular direito de regresso daquele que paga e tem o direito de se ressarcir (no caso, por parte do valor) ante outro co-devedor. Observe-se novamente que se trata de caso bastante raro, pois normalmente nunca se chega ao pagamento integral do credor, sendo raro também a habilitação do mesmo credor em diver­sas falências.

§ 3° Se a soma dos valores pagos ao credor em todas as massas coobrigadas exceder o total do crédito, o valor será devolvido às massas na proporção estabelecida no § 2° deste artigo.

§ 4° Se os coobrigados eram garantes uns dos outros, o ex­cesso de que trata o § 3° deste artigo pertencerá, conforme a ordem das obrigações, às massas dos coobrigados que tiverem o direito de ser garantidas.

5. Prosseguem estes parágrafos estabelecendo forma de acerto em caso de pagamento excessivo ou, em casos de obrigações, com garantia de natureza sucessiva. (caso de aval sucessivo, de aval do emitente etc.).

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295 Capítulo V - Seção VIII -Art. 128

Art. 128. Os coobrigados solventes e os garantes do deve­dor ou dos sócios ilimitadamente responsáveis podem habili­tar o crédito correspondente às quantias pagas ou devidas, se o credor não se habilitar no prazo legal.

1. É comum que haja obrigações assumidas pelo devedor antes da falência, obrigações garantidas por terceiros, que permanecem sol­ventes e que terão que pagar a dívida garantida. Em tal caso, poderão se habilitar pelo valor que efetivamente vierem a pagar.

2. Curiosamente, a Lei permite que estes coobrigados venham a se habilitar no processo falimentar, mesmo que o credor principal não o faça e mesmo que não tenham (os coobrigados) feito qualquer paga­mento. A determinação é correta, pois, em tese, pode haver dinheiro suficiente para solver a obrigação e, desta forma, com o pagamento do valor habilitado, os coobrigados estariam liberados do pagamento.

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Seção IX Da ineficácia e da revogação

de atos praticados antes da falência

1. O legislador optou por incluir neste Capítulo, desde seu título, duas situações distintas, ou seja: em primeiro lugar contemplou a inefi­cácia (art. 129), que diz respeito aos efeitos do ato; de outro lado, esta­beleceu a revogação (art. 130), que diz respeito à validade do ato. Evi­dentemente, pode-se discutir - e isto certamente virá a ser examinado no campo jurisprudencial - que os casos aqui são todos de ineficácia, segundo os princípios doutrinários, não se tratando em qualquer cáso, de invalidade. No entanto, a opção do legislador ficou clara neste pon-to, ao dividir os atos em ineficazes e nulos. '

2. Eficácia é a capacidade de um ato produzir resultados na esfera jurídica das pessoas, concedendo-lhes vantagens ou impondo-lhes des­vantagens (Liebman, p. 232). O ato ineficaz não é ato nulo, pois pode vincular os agentes, sendo válido perante estes agentes, porém sendo ineficazes em relação a terceiros (Dinamarco, Instituições, vol. 4, p. 376). Enfim, a teoria da ineficácia conduz ao reconhecimento de que o negócio fraudulento sem defeitos internos (vício da vontade, incapaci­dade do agente etc.), produz seus efeitos em relação ao devedor alie­nante e ao terceiro que com ele contratou, sem atingir, porém, os direi­tos da massa falida; já o ato nulo é inválido e não produz efeitos.

3. Tome-se um exemplo, que pode esclarecer bem a questão. O negócio de venda de tim bem imóvel feito por um menor com 10 anos de idade é nulo, por incapacidade absoluta do agente (o vendedor). Já a venda de um imóvel, feita por uma pessoa maior e capaz, que está sen­do executada, é ineficaz se feita em fraude de execução (inciso V do art. 592 do CPC); no entanto, se o executado paga a dívida, a venda perma­nece válida.

4. Os atos ineficazes seriam aqueles listados no art. 129; por isto mesmo, os bens envolvidos podem ter seu retomo à massa determinados por simples decisão interlocutória, prolatada até de ofício, conforme pre­vê o artigo, em seu parágrafo único. Já os atos nulos seriam aqueles pre-

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297 Capítulo V - Seção IX -Art. 129

vistos no art. 130, ou seja, atos praticados com fraude e que sempre exigi­riam o ajuizamento de ação revocatória, conforme estabelece o art. 132.

Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado de crise econô­mico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste frau­dar credores:

1. Observe-se que, na previsão deste artigo, o ato deixa de produzir efeito relativamente à massa falida, independentemente de boa ou má-fé das partes; a propósito, examine-se o art. 130, infra, que prevê casos em que o ato pode ser revogado, desde que fique provada a fraude (incidente, portanto, a tradicional teoria da nulidade dos negócios jurídicos).

I - o pagamento de dívidas n_ã_o_vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio título;

2. O termo legal é aquele previsto no inciso II do art. 99 e que deve ser declarado pelo juiz, no momento em que decreta a falência. Dentro do termo legal, é ineficaz ante a massa o pagamento de dívidas não vencidas. Evidentemente, visa proteger a massa contra o conluio do devedor que, antes de falir, paga credores de seu círculo, mesmo que a dívida não esteja vencida. Tal pagamento é ineficaz para a massa. O pagamento de dívidas vencidas, mesmo feito dentro do termo legal, é válido, com as limitações do inciso li examinado a seguir.

/~11 t d d' 'd 'd ' ' . I' d ( 11 - y.-pagamen o e IVI as venci as e exigiveis rea 1za o d'entrõdo termo legal, por qualquer forma que não seja a pre­vista pelo contrato; ><

3. Aqui se trata de dívida já vencida (pois a não vencida está pre­vista no inciso I acima) e exigível, cujo pagamento é feito por outra forma, que não a prevista no contrato. Evita-se desta forma um favore­cimento que é comum e que, se fosse permitido, esvaziaria a massa. Ou seja, o devedor, novamente para favorecer credor~s de seu círculo, en­trega bens em dação em pagamento, por-exemplo, de proniTssófías. Por­tanto, esse pagamento apenas é válido desde que feito exatamente da forma prevista no contrato.

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Art. 129 - Capítulo V - Seção IX 298

4. Entende também a Lei que o pagamento feito de qualquer ou­tra forma, na realidade, resulta da vontade do devedor de favorecer aquele credor específico, com o que a massa fica desfalcada do bem que foi entregue em pagamento de uma dívida em dinheiro. Como a vontade legislativa é impedir qualquer tipo de favorecimento pessoal, prevê-se a ineficácia do ato, de tal forma que o beneficiado pelo ato do devedor falido deverá repor à massa a coisa ou o valor recebido de forma dife­rente da prevista no contrato.

111 - a constituição de direito real de gª-:ranti.a,Jnclusive a retenção, dentro do termo legal, tratandÓ:se de dívida contraí­daàllt:eriormente; se os bens dados em hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que de­via caber ao credor da hipoteca revogada;

5. Prevê este inciso que a dívida contraída antes do termo legal não pode ser garantida por penhor, hipoteca ou anticrese (art. 755 do CC de 1916, arts. 1.419 e ss. do Código Civil de 2002), se a garantia vem a ser constituída dentro do termo legal. Ao contrário, se a dívida é contraída dentro do termo legal, pode ser garantida desta forma. Visa igualmente impedir o favorecimento de credores que o falido pretenda privilegiar em detrimento dos demais credores.

6. Observe-se que, no caso deste inciso, o direito real constituído não produz efeito relativamente à massa, independentemente de ter ou não havido fraude, seja ou não do conhecimento do contratante o esta­do falimentar do comerciante, na forma do art. 129. Se, porém, trata-se de direito real constituído dentro do termo legal da falência, a garantia é válida e apenas será revogada se houver prova de fraude, na forma do art. 130. Tal fato ocorre porque, durante o termo legal da falência, o empresário mantinha a normal administração de seus bens e sua empre­sa estava em funcionamento normal.

7. A parte final do inciso III pode oferecer certa dificuldade à compreensão, razão pela qual é recomendável um exame mais detido. Se a hipoteca é constituída dentro do termo legal para garantir dívida contraída antes do termo, não produz efeito para a massa, sendo, portanto, ineficaz. No entanto, mesmo declarada a ineficácia desta hipoteca, pode haver outras hipotecas regularmente constituídas após o momento em que foi instituída a que foi revogada; neste caso, o

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299 Capítulo V - Seção IX -Art. 129

bem responderá pela hipotecas posteriores, porém só depois que vier para a massa o valor relativo à hipoteca ineficaz. Em outras palavras, o credor da hipoteca eficaz apenas receberá o que sobrar após a massa receber o valor correspondente à hipoteca ineficaz. Está corre­to o legislador, pois este credor hipotecário posterior sabia que apenas receberia depois que o credor hipotecário anterior (cuja hipoteca foi agora declarada ineficaz) recebesse sua parte; ora, se por iniciativa da massa houve a revogação, ainda assim permanece o credor hipotecário posterior na mesma posição, de só receber depois de satisfeito aquele que agora se sub-rogou na hipoteca ineficaz (ou seja, a massa falida).

8. O art. 823 do CC de 1916 estipulava que eram nulas, em benefí­cio da massa, as hipotecas celebradas em garantia de débitos anteriores, desde que instituídas nos quarenta dias anteriores ao decreto de quebra. No entanto, como normalmente a sentença que decreta a falência estabe­lece prazo superior a 40 (quarenta) dias para o termo legal (inciso li do art. 99), o prazo estabelecido no Código Civil anterior era irrelevante. No novo Código Civil não há determinação que corresponda a esta, a qual seria mesmo desnecessária, ante a exigüidade dos quarenta dias referi­dos, sendo interessante, porém, o registro histórico deste ponto.

'tica de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da ecretação da falência;

9. Em princípio, qualquer ato a título gratuito é ineficaz relativa­mente à massa. No caso de ato gratuito, o prazo dentro do qual sua prática o toma ineficaz estende-se por dois anos anteriores ao dia em que a falência foi decretada. Este artigo consagra no direito falimentar o princípio geral lembrado por Venosa (p. 91), segundo o qual o patri­mônio do devedor é garantia geral do credor, que por isto mesmo não pode dele dispor gratuitamente, a menos que fique com bens suficien­tes no ativo para plena satisfação do passivo.

V- a r;~ciá·à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da de..,.\ação da falência;

10. Esta renúncia está prevista no art. 1.806 do Código Civil. No­vamente visa a Lei evitar que o empresário venha a fraudar a massa,

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Art. 129 - Capítulo V - Seção IX 300

renunciando a direitos nos dois anos que antecedem o decreto de falên­cia, renúncia que teria sido motivada pelo desejo de afastar o bem da arrecadação da falência, que já era passível de previsão. Se a renúncia for anterior a 2 (dois) anos, permanecerá válida e eficaz.

VI - a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos os credo­res, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do re­gistro de títulos e documentos;

11. Trata-se aqui da venda do estabelecimento, feita quando ain­da não havia ocorrido a falência. Em tal caso, a venda é ineficaz relati­vamente à massa, e o estabelecimento será arrecadado. A arrecadação apenas não ocorrerá se a venda tiver contado com o expresso consenti­mento ou pagamento de todos os credores existentes então; também não ocorrerá se o agora falido ou o comprador do estabelecimento, na­quele momento anterior da venda, notificou o fato aos credores e ne­nhum deles manifestou qualquer oposição, no prazo de trinta dias.

12. Como se vê, este inciso tem importância fundamental na com­pra e venda do estabelecimento empresarial, obrigando o comprador a cercar-se de todos os cuidados e assegurar-se de que não ocorre a situa­ção aqui prevista, sob pena de correr o risco de perder o estabelecimen­to, com sua arrecadação.

13. A propósito, o art. 1.144 do Código Civil, tratando da aliena­ção do estabelecimento, estipula que o contrato de venda somente pro­duzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado na Junta Comer­cial. O art. 1.145 estipula que, se ao alienante não restarem bens sufi­cientes para solução dos débitos, a eficácia da venda depende do con­sentimento expresso dos credores, ou do consentimento tácito; este úl­timo é tido como aperfeiçoado em caso de silêncio, por trinta dias, dos credores notificados.

VII - os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, por título oneroso ou gratuito, ou a

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301 Capítulo V - Seção IX -Art. 129

averbação relativa a imóveis realizados após a decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação anterior.

14. Examine-se este artigo à luz também do art. 215 da Lei de Registros Públicos, Lei 6.015/73, o qual diz: "São nulos os registros efetuados após sentença de abertura da falência, ou do termo legal n~le fixado, salvo se a apresentação tiver sido feita anteriormente". No jul­gamento do REsp 36.121-4-SP, o Ministro Relator Barros Monteiro diz: "Além de tudo, há clara deficiência técnica do art. 215, ao fixar dois marcos para a incidência da nulidade do registro(. .. ) sem que fossem determinadas em que condições seriam adotados um ou outro limite. ( ... ).Logo a locução intercalada 'ou do termo legal nele fixado' somen­te é conciliável com a hipótese prevista no inciso III do art. 52, a deter­minar a ineficácia da garantia real constituída dentro do termo legal da falência, não obstante a impropriedade da nulidade criada na lei registra!". Ressalte-se que o artigo correspondente ao mencionado art. 52, III, do Dec.-lei 7.661145 é o inciso III, do art. 129 desta Lei.

15. Nesse sentido, cumpre mencionar que, mesmo que exista es­critura pública regular antiga, esta não terá eficácia se não estiver regis­trada ou averbada na matrícula correspondente, segundo a letra da Lei. Lembre-se, a propósito, o entendimento jurisprudencial, segundo o qual o título de venda ou de promessa de venda, mesmo não registrado, pode levar os embargos de terceiro à procedência, se houver prova de boa-fé. Tal entendimento pode ser aplicado também nestes casos, embora sem previsão legal específica.

16. O art. 535 do CC de 1916 trazia regra que se conjugava com esta da lei falimentar, estabelecendo que, em caso de " ... falência ( ... ) entre a prenotação do título e a sua transcrição [hoje, registro] ( ... ) far­se-á, não obstante, a transcrição exigida, que retroage, nesse caso, à data da prenotação". O Código Civil de 2002 não traz correspondente para esta estipulação.

Parágrafo único. A ineficácia poderá ser declarada de ofí­cio pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo.

17. Este art. 129 praticamente repete o art. 52 da anterior Lei de Falências, apenas substituindo a palavra "não produzem efeito" por "são

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Art. 129 - Capítulo V - Seção IX 302

ineficazes", também substituindo "estado econômico" por "estado de crise econômico-financeira". No entanto, embora repita praticamente todo o art. 52, ainda assim, como se verá abaixo, trouxe mudança bas­tante acentuada no sistema da ação revocatória e resolveu, de forma correta, antiga discussão jurisprudencial que ainda não estava pacifica­da. E esta mudança acentuada, ora referida, surge exatamente dos ter­mos do parágrafo único ora examinado.

18. Para que se possa examinar a mudança acentuada, é necessá­rio verificar desde já o sistema da antiga Lei de Falências, que estabele­cia duas situações diversas, nas quais era possível a revocatória, como se vê do exame dos arts. 52 e 53 daquele diploma. Ou seja, no art. 52, a lei previa a ineficácia, ante a massa, de atos praticados independente­mente de ter ou não havido fraude, e independentemente de ter o con­tratante ciência do estado econômico daquele que posteriormente veio a falir.

19. Os atos referidos no art. 52 eram aqueles relacionados, em numerus clausus, nos incisos I a VIII seguintes, como agora ocorre nos incisos I a VII do art. 129; anote-se ainda que os atos referidos nos incisos I a III deveriam ter sido praticados dentro do termo legal; os demais, relacionados nos incisos, seguintes são ineficazes, independen­temente da data em que tenham sido praticados, isto tanto para a lei anterior quanto para a nova Lei.

20. Em posição diversa destes atos ao abrigo dos arts. 52 ou 129, estavam aqueles previstos no art. 53, ora previstos no art. 130, revogá­veis desde que tenham sido praticados com a intenção de prejudicar credores, sendo necessário provar a fraude do devedor e do terceiro que com ele contratou.

21. A estrutura do art. 129, com 7 incisos, mantém-se próxima da estrutura do art. 52 da Lei de Falências revogada; os três primeiros inci­sos referem-se a atos praticados dentro do termo legal, os outros quatro incisos repetem (mais ou menos) as previsões dos incisos da Lei atual; houve eliminação do inciso VI da lei anterior, que falava em restituição antecipada do dote, por inexistência atual do instituto do dote.

22. O parágrafo único do art. 129 porém traz uma modificação sensível relativamente ao sistema anterior, pois estabelece que a inefi­cácia pode ser declarada de ofício pelo juiz. Esta era uma discussão jurisprudencial não pacificada no sistema da antiga Lei de Falências,

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303 Capítulo V - Seção IX -Art. 130

pois havia julgados em ambos os sentidos, ou seja: alguns (minoria) admitiam a declaração de ofício da ineficácia de ato infringente do art. 52; outros julgados (a maioria) estabeleciam que em qualquer caso sem­pre seria necessário o ajuizamento de ação revocatória. Por fim, embora a maioria (dominante) entendesse que havia necessidade de ação revocatória, ainda assim o entendimento veio a sofrer interferência a partir de uma outra circunstância; ou seja, a desconsideração da perso­nalidade jurídica, declarada por simples despacho interlocutório, atra­vessou toda aquela discussão, chegando ao mesmo resultado prático, só que por outro caminho.

23. Concluindo o raciocínio, tratando-se de ineficácia prevista nos sete incisos do art. 129, a ineficácia pode ser declarada de ofício pelo juiz, por simples decisão interlocutória prolatada nos autos da falência.

Art. 130. São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar credores, provando-se o conluio fraudulento en­tre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida.

1. Fixada sempre a diferença entre ineficácia e nulidade do ato (vide os comentários 1 a 4 acima, logo após o título desta Seção), fique desde logo bem estabelecida a diferença entre o art. 129, que fala em atos "ineficazes", e este artigo que fala em atos "revogáveis". O legislador examinou - e aqui resolveu, de forma correta - o proble­ma jurisprudencial que ainda não estava pacificado, ou seja, clara­mente optou por diferenciar as duas situações, declarando ineficaz o ato que pode ser revertido independentemente de perquirição sobre fraude (art. 129) e declarando revogável o ato que, para ser revertido, exige a prova da fraude.

2. Apenas esta diferenciação traria a profunda conseqüência pro­cessual que se quer apontar, ou seja, reversão, no caso do art. 129, por simples despacho interlocutório; reversão, no caso do art. 130, por ação revocatória.

3. Se ainda assim se quisesse opor algum óbice a tal conclusão, esta desapareceria de vez com a leitura do art. 132, logo em seguida, que fala em "ação revocatória de que trata o art. 130", deixando claro, portanto, que, para o art. 129, não há previsão de ação revocatória.

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Art. 130 - Capítulo V - Seção IX 304

4. Se por um lado pode-se imaginar, por este ponto, que o legisla­dor teria pretendido tornar mais simples e fácil o retorno dos bens à massa falida, esta impressão começa a desaparecer com o aprofunda­mento da leitura deste mesmo artigo, sensação que vai se firmando mais e mais com o exame dos demais artigos.

5. Compare-se o art. 130 da Lei atual com o art. 53 da lei anterior; é praticamente uma repetição, embora com algumas palavras diversas, porém, com a inclusão de uma expressão que merece exame detalhado, ou seja, a expressão, ao final do art. 130, que diz ser necessário provar o "efetivo prejuízo sofrido pela massa falida". Embora se possa admitir, em tese, que sem prejuízo não há nulidade, ainda assim esta expressão pode vir a se constituir uma porta aberta para a fraude e um elemento de absoluto impedimento de êxito para a revocatória, por vários motivos.

6. Primeiramente, porque sempre se poderia dizer que apenas se­ria possível afirmar que houve prejuízo para a massa no momento do encerramento da falência, pois até aquele momento poderiam ser loca­lizados bens a arrecadar, passíveis de suportar todo o débito. Em segun­do lugar, esta pode ser uma prova diabólica, pois o terceiro (mesmo provada a fraude ou, mais ainda, mesmo confessando a fraude) sempre poderá alegar que não foi provado o prejuízo, pois o pagamento foi regularmente feito e o valor teria adentrado os cofres da empresa, agora falida. Outros inúmeros óbices surgem a partir desta expressão, relembrando-se, bem a propósito, a exigüidade do prazo para o ajuiza­mento da ação, que foi drasticamente reduzido pelo art. 132 da nova Lei, se comparado com o art. 55 da lei anterior.

7. O legislador aparentemente pretendeu dizer que, se o réu da ação revocatória provar que não houve prejuízo para a massa, a ação revocatória deverá ser julgada improcedente. Desta forma, a ação revo­catória deve ser normalmente ajuizada, desde que presente o conluio fraudulento, que será provado durante o andamento do feito. Também durante o andamento, como defesa, o réu poderá alegar- e a ele compe­tirá provar - a inexistência de qualquer prejuízo para a massa.

8. Sistematicamente, é este o melhor entendimento, pois, exami­nando-se o art. 82, vê-se que lá não se exige a prova do prejuízo, para ação de responsabilidade pessoal contra os sócios de responsabilidade limitada, controladores e administradores. Esta ação do art. 82 é admi-

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305 Capítulo V - Seção IX -Art. 131

tida independentemente da realização do ativo e da prova da insuficiên­cia deste para cobrir o passivo.

9. No mais, o artigo quase repete o art. 53 da lei anterior. Tanto o devedor quanto o terceiro devem ter agido com fraude ao praticar o ato, do que se verifica que, se o terceiro não agiu fraudulentamente, o negó­cio é válido.

10. O art. 185 do CTN estabelece que a fraude é presumida, quando o vendedor é devedor de tributos já regularmente inscritos como dívida ativa. Esta presunção é juris et de jure, não admitindo prova em contrá­rio, segundo Vladimir Passos de Freitas (p. 704) anota em seus comen­tários ao Código Tributário Nacional, com temperança em favor do ter­ceiro de boa-fé, após sucessivas transferências.

11. No caso, a prova da fraude é indispensável e, no campo da pro­va, todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos são hábeis, na forma do que estipula o art. 332 do CPC. Sempre é necessário lembrar que, para os participantes do conflito, devem ser oferecidas as garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório, indispensáveis para que se possa encontrar na sentença o resultado justo. Bedaque (p. 165) adverte que a ânsia da efetividade do acesso à justiça, tendente a consti­tuir "procedimentos modernos e eficientes", traz sempre o perigo de que as demais garantias processuais sejam abandonadas.

Art. 131. Nenhum dos atos referidos nos incisos I a III e VI do art. 129 desta Lei que tenham sido previstos e realizados na forma definida no plano de recuperação judicial será declarado ineficaz ou revogado.

1. O inciso li do art. 99 estabelece que a sentença que decretar a falência fixará o termo legal, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 dias anteriores ao pedido de falência, ao pedido de recuperação judi­cial ou a contar do primeiro protesto por falta de pagamento. A de­terminação do período abrangido pelo termo legal é de fundamental importância, vez que os atos previstos nos incisos I a III do art. 129 são ineficazes, independentemente de qualquer outra perquirição, se tiverem sido praticados dentro do termo legal. Relembre-se, pois isto é importante para a análise, que tais atos são ineficazes, haja ou não fraude dos participantes do ato.

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Art.131- Capítulo V- Seção IX 306

2. Este art. 131 veda a declaração de ineficácia destes atos, se previstos e realizados na forma definida no plano de recuperação judi­cial ou extrajudicial, este último se homologado. Esta é perigosa porta aberta para a fraude, convalidando atos que tenham sido praticados mesmo com fraude absoluta e mesmo que tenham causado o mais pro­fundo prejuízo à massa falida. Pode-se prever, desde já, que este artigo não encontrará abrigo na consciência jurídica do País, e será objeto de regularização pela interpretação jurisprudencial.

3. Um exemplo talvez esclareça bem as conseqüências deste arti­go e, para tanto, tome-se para exemplificar, o inciso I do art. 129. Ima­gine-se (o que não é difícil de ocorrer) que, em claro favorecimento a um parente próximo, o empresário pagou uma dívida antes de seu ven­cimento, pagamento feito em dinheiro, dentro de um plano de recupera­ção judicial ou mesmo em plano extrajudicial homologado. Com o vo­lume de questões que normalmente envolvem as grandes empresas em recuperação, este pagamento teria passado despercebido. Posteriormente, decretada a falência (eventualmente, para radicalizar o exemplo, a fa­lência teria decorrido exatamente deste pagamento indevido), passa-se ao exame da possibilidade de ação revocatória para que o parente pró­ximo beneficiado devolva o valor recebido.

4. Tal ação estaria fadada ao insucesso, pois o art. 131 estabe­lece que tal ato não poderá ser declarado "ineficaz" ou "revogado". Ora, a ineficácia (art. 129) não exige a prova da fraude; a revogação (art. 130) exige a prova da fraude. Veja-se, portanto, que, neste exem­plo (e sempre radicalizando o exemplo para torná-lo mais claro), mesmo que o falido e o parente próximo declarem ante o juízo que agiram de forma fraudulenta e mesmo que se comprove que a falência foi decretada exatamente por causa deste desvio de dinheiro, ainda assim o ato não poderá ser revertido. Evidentemente, este desvio da lei deverá ser corrigido por alteração legislativa ou, certamente, pela atividade jurisprudencial.

5. No caso do inciso VI (venda do estabelecimento sem o consenti­mento de todos os credores), parece que se configura uma contradição em termos. Com efeito, não se pode sequer imaginar a venda do estabeleci­mento sem o consentimento de todos os credores, seja em recuperação judicial, seja em extrajudicial homologada, até porque a homologação (art. 164) apenas poderá ser efetuada se não houver ofensa ao art. 130.

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307 Capítulo V - Seção IX -Art. 132

6. De qualquer forma, o que se constata a partir da leitura deste dispositivo é que, se os fraudadores conseguirem esconder do juiz o ato fraudulento, este ficará convalidado, pois não será mais passível de re­vogação, aspecto que certamente será regularizado pela atuação juris­prudencial necessária à adaptação da Lei à realidade fluida dos negó­cios empresariais, como já acima anotado.

7. Abstraídos tais aspectos, sempre se poderia argumentar que tal artigo teria, em tese, a importante função de não punir aquele empresá­rio que, muitas vezes, por motivos alheios à sua vontade, viu-se impe­dido de cumprir o plano de recuperação homologado, punindo não só a ele, mas principalmente àqueles terceiros que com ele negociaram por ocasião da proposta de recuperação da empresa. Tal disposição teria o condão de conferir o princípio da segurança jurídica aos negócios rea­lizados pela empresa em recuperação judicial, fato este que se mostra desejável para a participação de terceiros na capitalização da empresa. De qualquer forma, se esse foi o pensamento do legislador, o que se vê é que os prejuízos superam as vantagens.

8. Levantados todos estes aspectos, a melhor aplicação que se pode dar ao artigo deve ser no sentido de se ter como não passíveis de revo­gação os atos referidos, os três primeiros (incisos I a III do art. 129) relativos a pagamento ou garantia a credores, o último (inciso VI) rela­tivo a venda do estabelecimento, desde que tenham sido formal e corre­tamente autorizados no plano de recuperação e desde que inexistente qualquer fraude. Bem a propósito deste ponto, examine-se o art. 74, que trata da mesma matéria e condiciona a validade dos atos "desde que realizados na forma desta Lei", relembrando-se que nenhuma lei pode permitir a convalidação da fraude.

Art. 132. A ação revocatória, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá ser proposta pelo administrador judicial, por qual­quer credor ou pelo Ministério Público no prazo de 3 (três) anos contado da decretação da falência.

1. O art. 132 acresce outra dificuldade acentuada para que se possa imaginar o êxito (ou mesmo a simples possibilidade de ajuiza­mento) da ação revocatória. Quem atua no dia-a-dia do direito fali­mentar sabe que o prazo de três anos a contar o decreto de falência é por demais exíguo, especialmente se, como para a revocatória, está

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Art. 133 - Capítulo V - Seção IX 308

se pesquisando a possibilidade de fraude. Aquele que frauda normal­mente encobre seus atos com o manto da credibilidade, exatamente para dificultar a constatação da existência do intuito fraudulento, o que leva, normalmente, à necessidade de anos de pesquisas, para que se possam coletar elementos que possibilitem o ajuizamento de re­vocatória com possibilidade de êxito.

2. Este prazo de três anos é decadencial e, portanto, não passível de interrupção. Relembre-se que a jurisprudência já se pacificou no sen­tido de que o prazo correspondente na lei anterior (art. 55 e § 1 o do art. 56), é decadencial. Um entendimento com grande probabilidade de prevalecimento na atividade jurisprudencial é no sentido de que o pra­zo de três anos conta-se não da decretação da falência e sim do momen­to em que se tem conhecimento do ato fraudulento. O prazo apenas seria contado a partir da decretação da falência se já houvesse, no mo­mento do decreto, conhecimento sobre o ato fraudulento.

3. O art. 132 prevê legitimidade especial para o Ministério Públi­co, previsão louvável, ante o inegável interesse público que existe em todo procedimento falimentar. Lamentavelmente, a tendência que per­passa toda a lei (vide comentários ao art. 4°) é no sentido de afastar do processamento o representante do Ministério Público. Esta tentativa de afastamento do Ministério Público parece inserir-se dentro da tendência de evitar "incômodos que atrasam o andamento do feito", pensamento que não pode ser prestigiado, pois o Judiciário e o MP existem exata­mente para "incomodar" aquele que não cumpre a lei, "incomodá-lo" a ponto de fazer com que impere a lei, até pelo didatismo da repressão ao ato fraudulento.

4. O prazo de três anos também parece fora do sistema da Lei, tanto que o § 1 o do art. 82, para a ação de responsabilização contra sócios e administradores estabelece prazo prescricional de 2 anos, que, no entanto são contados a partir da sentença de encerramento da falência, o que propicia uma lapso temporal bem maior do que este fixado no art. 132.

Art. 133. A ação revocatória pode ser promovida:

I - contra todos os que figuraram no ato ou que por efeito dele foram pagos, garantidos ou beneficiados;

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309 Capítulo V - Seção IX -Art. 133

11 - contra os terceiros adquirentes, se tiveram conheci­mento, ao se criar o direito, da intenção do devedor de prejudi­car os credores;

111 - contra os herdeiros ou legatários das pessoas indica­das nos incisos I e 11 do caput deste artigo.

1. Este artigo da Lei atual repete o parágrafo único do art. 55 da lei anterior e relaciona aqueles que são legitimados passivamente para o feito. Sintomaticamente, deixa de repetir a idéia contida na previsão da letra b do inciso III do art. 55, demonstrando mais uma vez a diferen­ça entre a situação prevista no art. 129 (reversão por decisão interlocu­tória, até de ofício) e a do art. 130 (reversão por sentença em ação revo­catória). No regime da lei anterior, um dos grandes argumentos da cor­rente que exigia o ajuizamento da ação revocatória, em qualquer caso, centrava-se exatamente nesta letra b, ora referida.

2. Aqui também fica esclarecido que há necessidade de provar a fraude do terceiro adquirente (terceiro em relação à massa e à empresa falida).

3. A legitimidade passiva determinada neste dispositivo é de­corrente da própria relação de direito material objeto da ação revoca­tória. Na realidade, deve-se ter em conta que a complexidade nas relações jurídicas de direito material acabam produzindo reflexos no processo. A pretensão processual só tem sentido em função da preten­são fundada no direito material. Trata-se de tomar consciência de que os institutos processuais (especialmente esse da legitimidade passiva em análise) são concebidos à luz do direito material (Bedaque, Direi­to e Processo, p. 36).

4. Por outro lado, o terceiro adquirente, se tiver agido de má-fé (conhecimento da intenção de prejudicar credores), será também réu da ação, o que se aplica ao art. 130. Observe-se assim a porta aberta que aparentemente a Lei deixa à impunidade, bastando que o devedor se conluie com qualquer pessoa para vender, por exemplo, bem imóvel; esta pessoa providencia para vender imediatamente esse bem imóvel para terceiro de boa-fé e, desta forma, o bem não será arrecadado pela massa. Ou seja, o devedor conluiado com um terceiro de má-fé vale-se da boa-fé de outro terceiro para convalidar o ato fraudulento. Evidente­mente, estamos quase entrando no campo da prova, o que é matéria fática de cada processo.

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Art. 134 - Capítulo V - Seção IX 310

5. Cumpre mencionar ainda que os tribunais são também particu­larmente cautelosos em relação às conseqüências a serem suportadas por terceiro que recebe o bem de quem o recebera do devedor fraudu­lento. Com essas ou com outras palavras, o Superior Tribunal de Justiça vem dizendo freqüentemente que é necessário "amparar aquele que, não tendo adquirido o bem do devedor, não agiu de má-fé" (apud Negrão). A boa-fé do adquirente sucessivo deve realmente ser resguar­dada, tanto quanto a de quem adquire diretamente do próprio devedor, mas isso não implica fechar portas à demonstração de que ele tenha atuado sem ela, o que será feito caso a caso, com todos os ônus probató­rios a cargo do credor.

6. O adquirente sucessivo também tem necessidade de tomar to­das as cautelas razoáveis antes de fazer o negócio, informando-se sobre a situação do bem, quando já penhorado, ou sobre a possível pendência do processo ao tempo em que este foi alienado a quem lhe faz a trans­missão. Também não se pode liberalizar em excesso, até porque às ve­zes formam-se verdadeiras quadrilhas, que tomam o cuidado de reali­zar sucessivas alienações com o objetivo de diluir os riscos daquele a quem afinal o bem é transferido.

7. Se, porém, tratar-se de ato previsto no art. 129, mesmo o tercei­ro adquirente de boa-fé será alcançado e o bem será arrecadado pela massa, pois, neste caso, o negócio não produz efeitos para a massa, independentemente da boa ou má-fé dos intervenientes.

8. Esta disposição aplica-se também aos herdeiros e legatários destes terceiros adquirentes, consoante denota a disposição do inciso III deste artigo.

Art. 134. A ação revocatória correrá perante o juízo da fa­lência e obedecerá ao procedimento ordinário previsto na Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

1. Trata-se de regra procedimental clara, sem maiores complica­ções, com fixação do juiz competente e do rito processual, repetindo (embora não de forma literal) o que determina o art. 56 da lei anterior sobre competência.

2. A ação é de rito ordinário, corre ante o juízo da falência em autos apartados, e o prazo decadencial é de 3 anos da decretação da

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311 Capítulo V - Seção IX -Art. 136

falência (vide comentários ao art. 132, acima). A petição inicial da ação revocatória, assim como toda petição inicial, é peça de fundamental importância para o processo civil, porque a jurisdição é inerte e depen­de, em nosso sistema, de provocação específica do interessado (CPC, arts. 2° e 262). A inicial, como a de qualquer ação, deve atentar aos requisitos de aptidão dispostos no art. 282 e seguintes do CPC.

Art. 135. A sentença que julgar procedente a ação revoca­tória determinará o retorno dos bens à massa falida em espé­cie, com todos os acessórios, ou o valor de mercado, acrescidos das perdas e danos.

Parágrafo único. Da sentença cabe apelação.

1. Sobrevindo uma medida judicial que reconheça a ineficácia ou fraude, o efeito dessa sentença de procedência é o de restabelecer a possibilidade executiva sobre o bem que fora objeto do negócio, bem que passa a ser suscetível de arrecadação. Acaso inexistente o bem, ou por qualquer motivo impossível sua arrecadação, o réu da ação respon­derá com todos os seus bens particulares pelo valor correspondente.

2. A apelação será recebida em ambos os efeitos, na forma do art. 520 do CPC; além da devolução do bem ou do pagamento do valor de mercado, o requerido responderá também pelas perdas e danos que seu ato fraudulento causou.

Art. 136. Reconhecida a ineficácia ou julgada procedente a ação revocatória, as partes retornarão ao estado anterior, e o contratante de boa-fé terá direito à restituição dos bens ou va­lores entregues ao devedor.

1. Este artigo, no que diz respeito ao terceiro de boa-fé, repete a disposição que constava do§ 3° do art. 54 da lei anterior. No entanto, lá esta previsão se justificava, pois a ação revocatória poderia ser interposta contra terceiros de boa-fé, no caso do art. 52; como, na Lei atual, a ação revocatória apenas será proposta contra terceiros de má-fé (art. 130) pa­rece que este artigo cai no vazio, quando fala em contratante de boa-fé. No entanto, este vazio é apenas parcial, pois o artigo, em seu início, faz menção também ao reconhecimento de "ineficácia" e a parte final, ao fa­lar do contratante de boa-fé, refere-se assim aos atos ineficazes do art. 129.

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Art. 137 - Capítulo V - Seção IX 312

§ 1° Na hipótese de securitização de créditos do devedor, não será declarada a ineficácia ou revogado o ato de cessão em prejuízo dos direitos dos portadores de valores mobiliários emitidos pelo securitizador.

2. Trata-se de disposição de admirável engenhosidade jurídica, que impede ataque ao ato de cessão em prejuízo dos portadores de valo­res mobiliários emitidos pelo securitizador. Desta forma, a blindagem do bem imóvel é absoluta, o que estimularia os investimentos no mer­cado imobiliário de imóveis em construção, pois haveria garantia mes­mo em caso de falência da construtora. No entanto, tal sistema de nego­ciação é também porta aberta para a fraude, bastando ao devedor conluiar-se com o securitizador e celebrar com ele uma simulação de cessão, transferindo o crédito e nada recebendo na realidade, para futu­ro acerto por fora. Mais fácil ainda seria tal fraude, quando se sabe que as securitizadoras normalmente são próximas (ou mesmo dependentes) das construtoras.

3. A análise refere-se mais especificamente a imóveis, porque este artigo veio à Lei após o famoso caso "Encol", construtora que faliu deixando ao desamparo milhares de compromissários compradores de imóveis em construção. No entanto, o artigo aplica-se a qualquer caso de securitização de créditos.

§ 2° É garantido ao terceiro de boa-fé, a qualquer tempo, propor ação por perdas e danos contra o devedor ou seus ga­rantes.

4. Reiterando, este terceiro de boa-fé apenas existirá no caso dos atos ineficazes do art. 129, pois, no caso do art. 130, o ato apenas será revogado se ficar provada a má-fé.

5. Além da restituição do que houver sido prestado, o terceiro de boa-fé sempre poderá acionar o devedor, por perdas e danos. Anota Valverde, comentando o dispositivo semelhante da lei anterior (p. 408), que esta ação é contra o devedor, pessoalmente, e que a execução pode­rá recair sobre seus bens pessoais.

Art. 137. O juiz poderá, a requerimento do autor da ação revocatória, ordenar, como medida preventiva, na forma da lei

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313 Capítulo V - Seção IX -Art. 138

processual civil, o seqüestro dos bens retirados do patrimônio do devedor que estejam em poder de terceiros.

1. O seqüestro está previsto nos arts. 822 e ss. do CPC e visa a apreender o bem e deixá-lo sob a guarda do depositário judicial, para evitar seu perecimento, e garantir o resultado final do que vier a ser determinado judicialmente.

Art. 138. O ato pode ser declarado ineficaz ou revogado, ainda que praticado com base em decisão judicial, observado o disposto no art. 131 desta Lei.

Parágrafo único. Revogado o ato ou declarada sua ineficá­cia, ficará rescindida a sentença que o motivou.

1. Mesmo que o ato tenha sido praticado em decorrência de deci­são judicial, ainda assim poderá ser declarado ineficaz ou revogado. Imagine-se a situação do falido que, acionado judicialmente dentro do termo legal (art. 129, 11), entrega máquinas penhoradas para pagamento da dívida contraída em dinheiro, celebrando acordo. Ainda assim, tais máquinas deverão voltar para a massa, mesmo que haja sentença homo­logatória do acordo, com trânsito em julgado. A propósito, o art. 850 do Código Civil estabelece ser nula a transação a respeito de litígio decidi­do por sentença passada em julgado, se dela não tinha ciência algum dos transatores, ou quando se verificar posteriormente que nenhum de­les tinha direito sob o objeto da transação.

2. Esta previsão já existia, em termos semelhantes, no art. 58 da lei anterior.

3. Vide comentários ao art. 131, supra.

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Seção X

Da realização do ativo

Art.139. Logo após a arrecadação dos bens, com ajuntada do respectivo auto ao processo de falência, será iniciada a rea­lização do ativo.

1. Sem embargo de inúmeros outros aspectos que são discutidos e decididos durante a falência, não se pode perder de vista que, com certa liberdade, se pode dizer que a falência é "uma grande execução" e, por­tanto, nos moldes de qualquer execução, há um determinado momento no qual há necessidade de se transformar em dinheiro os bens e direitos arrecadados. Este dinheiro deverá ser aplicado no pagamento das obriga­ções da falência e seus credores, na ordem que a própria Lei estabelece.

2. Assim, realizar o ativo é dar início à venda dos bens para propi­ciar o pagamento aos credores. Este artigo, ao estabelecer o início da realização do ativo logo após a arrecadação dos bens, na verdade está partindo do pressuposto de que os bens foram avaliados no mesmo momento em que foram arrecadados, na forma do art. 108. Se os bens foram arrecadados e ainda pendem de avaliação(§ 1° do art. 110), não se poderá dar início à realização do ativo, sendo necessário então aguar­dar que, além do auto de arrecadação, seja juntado ao feito o laudo de avaliação.

Art. 140. A alienação dos bens será realizada de uma das seguintes formas, observada a seguinte ordem de preferência:

1. A Lei estabelece formas e modalidades para a venda dos bens. As formas pelas quais os bens podem ser vendidos estão previstas nos quatro incisos seguintes, consistindo em: alienação da empresa em blo­co, alienação da empresa por estabelecimentos, alienação de bens em bloco de cada estabelecimento e alienação individual dos bens. Qual­quer uma destas quatro formas pode ser utilizada individualmente ou, como estabelece o § 1°, podem ser adotadas diversas formas, se houver conveniência para a massa.

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315 Capítulo V- Seção X -Art.140

2. Independentemente das formas, que podem ser utilizadas separa­damente ou em conjunto, o art. 142 estabelece três tipos de procedimento para a venda, quais sejam: leilão oral, propostas fechadas ou pregão.

3. Apenas para fixação, a sociedade empresarial falida, aqui cha­mada simplesmente de "falida", era uma pessoa jurídica regularmente constituída, com personalidade jurídica, e, portanto, sujeito de direito. Esta sociedade empresária poderia ter um único estabelecimento ou, ao contrário, ter diversos estabelecimentos, caso em que um deles seria a sede e, os demais, seriam as filiais. Estes estabelecimentos não pos­suem personalidade jurídica, constituem uma universalidade e são ape­nas objeto de direito, não sendo sujeitos de direito. Esta lembrança é necessária, porque como se pode ver (p. ex., logo no próximo inciso I), a lei usa o termo "empresa", referindo-se ao sujeito de direito, e usa o termo "estabelecimento", referindo-se ao objeto de direito.

4. O conceito de empresário e sociedade empresária está respecti­vamente nos arts. 966 e 982 do Código Civil; o conceito de estabeleci­mento, nos arts. 1.142 e ss. do mesmo Código.

I - alienação da empresa, com a venda de seus estabeleci­mentos em bloco;

5. A Lei estabelece como forma preferencial para realização do ativo a venda em bloco de todos os estabelecimentos (art. 1.142 a 1.149 do Código Civil), objetivando garantir o maior valor de venda e tam­bém para propiciar condições de eventual continuação do negócio pelo adquirente, preservando-se assim o valor social da atividade.

11 - alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas isoladamente;

6. Não havendo interessado na compra da empresa, o próximo passo que a Lei estabelece é a tentativa de venda por filiais ou unidades pro­dutivas. A filial é o estabelecimento não sede; unidade produtiva não é conceito jurídico e sim econômico. De qualquer forma, é possível apreen­der-se a vontade da Lei, no sentido de que se tente a alienação das filiais como um todo. Novamente faz-se aqui presente, de forma clara, a inten­ção de permitir que a filial, a unidade produtiva, adquirida como um todo, propicie um melhor valor de venda, ao mesmo tempo em que pos­sibilita, em tese, a continuação da atividade.

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Art. 140- Capítulo V- Seção X 316

111 - alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do devedor;

IV - alienação dos bens individualmente considerados.

7. Frustradas as formas anteriores, passa-se a estas próximas pre­visões. A venda dos bens individualmente considerados é, certamente, a que menos vantagens trará, como é intuitivo.

§ 1 o Se convier à realização do ativo, ou em razão de opor­tunidade, podem ser adotadas mais de uma forma de aliena­ção.

8. Este parágrafo talvez poderia ser dispensado, pois também é intuitivo que mais de uma forma pode ser adotada, a menos que se faça a venda na forma do inciso I, pois, em tal caso, nada mais restaria a vender. No entanto, o espírito que o artigo traz é o de que, na venda dos bens sempre se precisa buscar o que mais convém à realização do ativo ou o que for mais oportuno.

§ 2° A realização do ativo terá início independentemente da formação do quadro-geral de credores.

9. A Lei, neste parágrafo, trouxe providência de grande valia para a celeridade do andamento da falência. A formação do quadro-geral de cre­dores pode estar cercada de inúmeros incidentes processuais, de tal for­ma que demandará tempo dilatado. Não há mesmo qualquer razão para que se aguarde a formação deste quadro, evitando-se a desvalorização dos bens, com a venda mais rápida possível. O dinheiro auferido com a venda ficará depositado nos autos, à disposição do juízo da falência, para pagamento quando estiver formado o quadro-geral de credores.

§ 3° A alienação da empresa terá por objeto o conjunto de determinados bens necessários à operação rentável da unida­de de produção, que poderá compreender a transferência de contratos específicos.

10. Neste caso, é necessário que se atente ao que dispõe o art. 117, que estabelece que os contratos bilaterais não se resolvem com a falência e podem ser cumpridos pelo administrador, podendo também

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317 Capítulo V - Seção X -Art. 141

ser dado cumprimento a qualquer contrato unilateral (art. 118). Assim, se mantidos os contratos por iniciativa do administrador, é salutar esta disposição que permite a transferência, a qual dependerá também da vontade e do interesse daquele que contratou inicialmente com o agora falido.

§ 4° Nas transmissões de bens alienados na forma deste artigo que dependam de registro público, a este servirá como título aquisitivo suficiente o mandado judicial respectivo.

11. Mais uma vez se verifica aqui a intenção da Lei de prestar todo o auxílio necessário para que os negócios sejam feitos da forma mais rápida e simples possível, dispensando-se as formalidades que normalmente são necessárias para transferência de bens que dependem de registro. Além de todas as diversas situações às quais pode ser apli­cada esta determinação legal, constata-se ainda que criou uma nova for­ma de substituição de escritura pública de compra e venda de imóvel.

Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos, in­clusive da empresa ou de suas filiais, promovida sob qualquer das modalidades de que trata este artigo:

I - todos os credores, observada a ordem de preferência definida no art. 83 desta Lei, sub-rogam-se no produto da rea­lização do ativo;

1. Este artigo é um dos pontos fundamentais para o espírito que em parte norteou esta Lei, no sentido de possibilitar que haja interesse na aquisição da empresa falida. O grande e fundado temor de qualquer adquirente em tal situação é ser tido como sucessor do falido e ser obri­gado a suportar outras dívidas deste. O presente artigo, examinado em conjunto com outros, denota claramente a firme intenção do legislador de evitar qualquer perigo de sucessão, na medida em que todos os cre­dores se sub-rogam no produto da realização do ativo, de tal forma que o bem adquirido está isento de responder por dívidas do falido.

2. Este artigo, embora não tenha sido esta a intenção do legislador, acabou por resolver também um problema que ainda não havia encon­trado pacificação jurisprudencial e que diz respeito ao pagamento de despesas de condomínio do imóvel de propriedade do falido (§ 2° do

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Art. 141- Capítulo V- Seção X 318

art. 123). Ao estabelecer que o credor se sub-roga no preço da coisa, fica estabelecido que o condomínio receberá as despesas devidas até o valor do preço pelo qual o imóvel foi alienado, não podendo cobrar qualquer valor em aberto do adquirente do imóvel, excepcionando-se assim o princípio que deflui da dívida propter rem e que sempre permi­te que o credor execute o devido sobre o próprio bem, independente­mente de quem seja seu proprietário.

11 - o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do deve­dor, inclusive as de natureza tributária, as derivadas da legis­lação do trabalho e as decorrentes de acidentes de trabalho.

3. Este dispositivo, de forma específica, isenta o adquirente dos bens das chamadas sucessões trabalhista e tributária. Mesmo que haja dívidas de natureza tributária ou trabalhista, ainda assim não incidirão sobre o objeto da alienação.

4. Este dispositivo, no âmbito tributário, tomou-se possível diante da alteração do art. 133 do Código Tributário Nacional, pela Lei Com­plementar 118, de 09.02.2005, que acrescentou um§ 1° ao artigo, di­zendo: "§ 1 o O disposto no caput deste artigo não se aplica na hipótese de alienação judicial: I - em processo de falência; II - de filial ou uni­dade produtiva isolada, em processo de recuperação judicial". Portan­to, a determinação do art. 133 do CTN, no sentido de que a pessoa que adquire o fundo de comércio ou o estabelecimento comercial, conti­nuando a respectiva exploração, responde pelos tributos relativos, não se aplica à alienação judicial em processo falimentar.

5. Foi incluído também um§ 2° ao art. 133, dizendo que esta isen­ção do § 1 o não se aplica quando o adquirente for sócio da sociedade falida ou em recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo deve­dor falido em recuperação judicial, ou ainda parente em linha reta ou colateral até o 4° grau, consangüíneo ou afim, do devedor ou qualquer de seus sócios, ou ainda para aquele identificado como agente do falido ou devedor em recuperação judicial, com o objetivo de fraudar a suces­são tributária.

6. Ainda foi incluído um § 3°, que diz: "Em processo da falência, o produto da alienação judicial de empresa, filial ou unidade produtiva

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319 Capítulo V- Seção X -Art.l41

isolada permanecerá em conta de depósito à disposição do juízo da fa­lência pelo prazo de 1 (um) ano, contado da data de alienação, somente podendo ser utilizado para o pagamento de créditos extraconcursais ou de créditos que preferem ao tributário".

7. Quanto à chamada "sucessão trabalhista", certamente encontra­rá severa resistência da justiça especializada do trabalho, ante a nature­za alimentar do crédito trabalhista. O art. 448 da CLT estabelece que "a mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afeta­rá os contratos de trabalho dos respectivos empregados", e o art. 449 estipula que "os direitos oriundos da existência do contrato de trabalho subsistirão em caso de falência, concordata ou dissolução da empresa".

§ 1 o O disposto no inciso 11 do caput deste artigo não se aplica quando o arrematante for:

I - sócio da sociedade falida, ou sociedade controlada pelo falido;

11- parente, em linha reta ou colateral até o 4° (quarto) grau, consangüíneo ou afim, do falido ou de sócio da sociedade falida; ou

8. Se a aquisição do bem se deu pelas pessoas mencionadas nes­tes dois incisos, não incide a isenção prevista no inciso 11 do art. 141, de tal maneira que o bem poderá ser executado para satisfação de dívidas fiscais e trabalhistas. Parte a Lei da correta presunção de que negócios feitos com tais pessoas, próximas ao falido, devem ser vistos com reser­vas, de tal forma que a isenção desaparece, dificultando-se com isto a fraude contra tais credores. Como visto acima, este § 1 o repete o que diz o§ 2° do art. 133 do CTN, acima comentado.

111 - identificado como agente do falido com o objetivo de fraudar a sucessão.

9. Aqui, ao contrário do que ocorre no inciso anterior, há necessi­dade de prova de tentativa de fraudar a sucessão. No inciso anterior, dispensa-se a prova da fraude.

10. Observe-se ainda que, nestes dois casos, os negócios conti­nuam válidos e eficazes, apenas não gozando dos benefícios do inciso 11 do art. 141.

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Art. 142 - Capítulo V - Seção X 320

§ r Empregados do devedor contratados pelo arrematan­te serão admitidos mediante novos contratos de trabalho e o arrematante não responde por obrigações decorrentes do con­trato anterior.

11. Trata-se de caso no qual um terceiro adquire, por arremata­ção, uma empresa. Para continuar funcionando normalmente, o arrema­tante contrata os mesmos empregados que, no entanto, para o recebi­mento dos valores devidos pelo falido, apenas podem sub-rogar-se no preço depositado pelo arrematante.

12. Como se vê, este dispositivo legal contraria uma jurisprudên­cia trabalhista já pacificada na interpretação dos arts. 448 e 449 da CLT, no sentido de que, em tais casos, há sucessão.

Art. 142. O juiz, ouvido o administrador judicial e aten­dendo à orientação do Comitê, se houver, ordenará que se pro­ceda à alienação do ativo em uma das seguintes modalidades:

I - leilão, por lances orais;

11 - propostas fechadas;

111 - pregão.

1. A escolha da modalidade de venda do ativo do devedor falido é prerrogativa do juiz, como presidente do processo; ouvirá o Comitê, caso existente, e determinará, em despacho fundamentado, se houver divergência, por qual modalidade será feita a alienação, entre as três que a Lei prevê.

2. O leilão por lances orais é o previsto nos artigos 686 a 707 do CPC. A venda por propostas fechadas era a modalidade já prevista na lei anterior, no art. 118, tendo sido a forma preferida de venda. A única modalidade nova de venda de ativo em relação à lei revogada é o pre­gão, que possui procedimento simplificado, sendo introduzido no Bra­sil como modalidade de compra pelo Poder Público, pela Lei 10.520, de 17.07.2002.

§ 1 o A realização da alienação em quaisquer das modalida­des de que trata este artigo será antecedida por publicação de anúncio em jornal de ampla circulação, com 15 (quinze) dias

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321 Capítulo V- Seção X- Art. 142

de antecedência, em se tratando de bens móveis, e com 30 (trin­ta) dias na alienação da empresa ou de bens imóveis, facultada a divulgação por outros meios que contribuam para o amplo conhecimento da venda.

3. A disposição não oferece qualquer dificuldade ao entendimen­to. No entanto, há que se considerar que, às vezes, os bens a serem arrematados são de valor tão pequeno, que não compensariam a despe­sa que haveria para publicação em jornal de grande circulação. E não só isto: pode ocorrer, e não é incomum, haver, por exemplo, um bem imó­vel de acentuado valor e, mesmo assim, não haver dinheiro da massa suficiente para publicação em jornal de grande circulação, despesa sa­bidamente alta.

4. Neste ponto, não andou bem a lei, pois melhor seria que tivesse previsto a publicação apenas por meio de editais no Diário Oficial, em caso de inexistência de interesse ou possibilidade econômica de publi­cação em jornal de grande circulação. Evidentemente, sempre se pode aplicar, em interpretação sistemática, o disposto no art. 191 desta Lei.

§ 2° A alienação dar-se-á pelo maior valor oferecido, ainda que seja inferior ao valor de avaliação.

5. A Lei estabelece que a venda se fará pelo maior valor oferecido, o que é princípio geral de qualquer forma de venda por lances. Estabe­lece ainda que o preço será aceito, mesmo que seja inferior ao valor da avaliação. Sem embargo desta autorização legal, evidentemente o juiz examinará a proposta e, com seu poder de direção do feito, poderá recu­sar o preço, se entender ser este vil e se entender possível ou recomen­aável nova tentativa de venda.

§ 3° No leilão por lances orais, aplicam-se, no que couber, as regras da Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

6. Conforme já anotado acima, a venda por lances orais nada mais é que o tradicional leilão público efetuado nas execuções individuais, regrado pelos arts. 686 e ss. do CPC.

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Art. 142- Capítulo V- Seção X 322

§ 4° A alienação por propostas fechadas ocorrerá median­te a entrega, em cartório e sob recibo, de envelopes lacrados, a serem abertos pelo juiz, no dia, hora e local designados no edital, lavrando o escrivão o auto respectivo, assinado pelos presen­tes, e juntando as propostas aos autos da falência.

7. A venda por propostas fechadas já estava prevista também no art. 118 da lei anterior e tomou-se a modalidade mais comum de venda dos bens arrecadados na falência. O procedimento é simples; a coleta de en­velopes é fiscalizada diretamente pelo juiz em sua própria sala de audiên­cias e mediante a lavratura de termo simples, assinado pelos presentes.

§ so A venda por pregão constitui modalidade híbrida das anteriores, comportando 2 (duas) fases:

I- recebimento de propostas, na forma do § 3° deste artigo;

11 - leilão por lances orais, de que participarão somente aqueles que apresentarem propostas não inferiores a 90% (no­venta por cento) da maior proposta ofertada, na forma do § 2° deste artigo.

§ 6° A venda por pregão respeitará as seguintes regras:

I - recebidas e abertas as propostas na forma do § so deste artigo, o juiz ordenará a notificação dos ofertantes, cujas pro­postas atendam ao requisito de seu inciso 11, para comparecer ao leilão;

11- o valor de abertura do leilão será o da proposta recebi­da do maior ofertante presente, considerando-se esse valor como lance, ao qual ele fica obrigado;

111 - caso não compareça ao leilão o ofertante da maior proposta e não seja dado lance igual ou superior ao valor por ele ofertado, fica obrigado a prestar a diferença verificada, constituindo a respectiva certidão do juízo título executivo para a cobrança dos valores pelo administrador judicial.

8. Nesta modalidade nova de venda, há uma primeira fase, de apre­sentação das propostas, selecionando-se as melhores, não inferiores a 90% (noventa por cento) da melhor proposta. Os ofertantes seleciona­dos participarão do leilão por lances orais, sendo o bem vendido ao que

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323 Capítulo V- Seção X -Art. 144

fizer o maior lance. O pregão é sistema novo, devendo sofrer a natural reserva que se dedica às novidades; por outro lado, é tentativa de venda que se estende por dois momentos diferentes, de tal forma que talvez não venha a ser bem recebido na atividade forense em geral.

9. De qualquer forma, repita-se, como nova modalidade, deverá ser testada na prática para que se possa conhecer seus resultados prá­ticos.

§ 7o Em qualquer modalidade de alienação, o Ministério Público será intimado pessoalmente, sob pena de nulidade.

10. O Ministério Público atuará na venda dos ativos como fiscal da lei, apurando irregularidades. Embora tenha sido vetado o art. 4°, que estabelecia a obrigatoriedade da presença do Ministério Público em todas as ações que envolvessem o interesse da massa, no presente caso a intimação é indispensável, sob pena de nulidade.

Art. 143. Em qualquer das modalidades de alienação refe­ridas no art. 142 desta Lei, poderão ser apresentadas impug­nações por quaisquer credores, pelo devedor ou pelo Ministé­rio Público, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas da arrema­tação, hipótese em que os autos serão conclusos ao juiz, que, no prazo de 5 (cinco) dias, decidirá sobre as impugnações e, julgando-as improcedentes, ordenará a entrega dos bens ao arrematante, respeitadas as condições estabelecidas no edital.

1. Estabelece a Lei mais uma possibilidade de fiscalização, a posteriori; no prazo de 48 horas da arrematação, qualquer credor, o falido ou o representante do Ministério Público poderá apresentar impugnação, devendo o juiz decidir em cinco dias. Embora não haja previsão, evi­dentemente o juiz deverá colher a manifestação dos interessados e participantes da falência, especialmente concedendo oportunidade ao arrematante para se manifestar, na qualidade de principal interessado na validade do ato.

Art. 144. Havendo motivos justificados, o juiz poderá auto­rizar, mediante requerimento fundamentado do administra-

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Art. 145- Capítulo V- Seção X 324

dor judicial ou do Comitê, modalidades de alienação judicial diversas das previstas no art. 142 desta Lei.

1. À semelhança do novo Código Civil, esta Lei traz uma certa quantidade de estipulações contendo o que se convencionou chamar de "cláusula aberta", ou seja, disposição legal que concede ao juiz uma grande dose de discricionariedade para agir, desde que haja motivos justificados, expressão, como se vê, de extrema amplitude.

Art. 145. O juiz homologará qualquer outra modalidade de realização do ativo, desde que aprovada pela assembléia­geral de credores, inclusive com a constituição de sociedade de credores ou dos empregados do próprio devedor, com a parti­cipação, se necessária, dos atuais sócios ou de terceiros.

§ 1 o Aplica-se à sociedade mencionada neste artigo o dis­posto no art. 141 desta Lei.

§ 2° No caso de constituição de sociedade formada por em­pregados do próprio devedor, estes poderão utilizar créditos derivados da legislação do trabalho para a aquisição ou arren­damento da empresa.

§ 3° Não sendo aprovada pela assembléia-geral a proposta alternativa para a realização do ativo, caberá ao juiz decidir a forma que será adotada, levando em conta a manifestação do administrador judicial e do Comitê.

1. Se os credores decidirem, em assembléia-geral, por modalidade de venda do ativo alternativa às previstas no art. 142, o juiz apenas a homologará, ou seja, deverá verificar apenas aspectos formais, como o quorum de aprovação, que é de 2/3 (dois terços) dos credores presentes à assembléia (arts. 39 e 46), desde, evidentemente, que não haja oposi­ção fundamentada à modalidade apresentada, caso em que decidirá sem­pre em favor do interesse da massa e dos credores.

2. Os arts. 122 e 123 da lei revogada traziam disposição semelhan­te a esta do art. 145; porém, não se tem notícia de credores terem se valido das possibilidades lá previstas para realização do ativo, nos quase 60 anos de vigência daquela lei.

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325 Capítulo V- Seção X -Art.148

3. A possibilidade de formação de sociedade de empregados deve ser prestigiada, pois, mesmo no regime da lei anterior, diversos casos ocorreram nos quais os próprios empregados, normalmente agregados em cooperativa, passaram a cuidar da empresa, propiciando o regular prosseguimento das atividades.

Art. 146. Em qualquer modalidade de realização do ativo adotada, fica a massa falida dispensada da apresentação de certidões negativas.

1. Como forma de facilitar e agilizar a alienação dos ativos, a mas­sa será dispensada da apresentação das certidões negativas, exigência que poderia inviabilizar qualquer tentativa, pois normalmente o falido tem um débito tributário de alto valor.

Art. 147. As quantias recebidas a qualquer título serão imediatamente depositadas em conta remunerada de institui­ção financeira, atendidos os requisitos da lei ou das normas de organização judiciária.

1. Os depósitos dos valores ficam à disposição do juízo da falên­cia, para serem utilizados para o pagamento do devido e dos credores constantes do quadro-geral de credores, oportunamente.

Art. 148. O administrador judicial fará constar do relató­rio de que trata a alínea p do inciso 111 do art. 22 os valores eventualmente recebidos no mês vencido, explicitando a forma de distribuição dos recursos entre os credores, observado o dis­posto no art. 149 desta Lei.

1. O art. 22, em seu inciso III, na alínea p, carreia ao administrador judicial a obrigação de apresentar relatórios mensais de sua administra­ção, especificando receita e despesa, disposição aqui repetida de forma aliás desnecessária, sem embargo de tornar mais clara a interpretação do texto legal.

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Seção XI

Do pagamento aos credores

1. O Capítulo VIII da legislação revogada estava dividido em três seções, denominadas "Da realização do ativo" (arts. 114 a 123), "Do pagamento aos credores da massa" (art. 124) e "Do pagamento aos cre­dores da falência" (arts. 125 a 133); junto com os Títulos I, 11, III, IV, V e IX, cuidavam dos aspectos relativos à falência, excluindo-se apenas a concordata e a parte penal.

2. A nova Lei preferiu agrupar todos os artigos relativos à falência em um único capítulo, o Capítulo V. Neste Capítulo V da Lei temos a Seção XI, que fala "do pagamento aos credores", matéria que na lei antiga era dividida em duas seções (seção 11 e seção III do Capítulo VIII), sob os títulos "Do pagamento aos credores da massa" e "Do pa­gamento aos credores da falência".

3. Apenas para que se possa comparar, observe-se abaixo uma das ordens de classificação de créditos na falência, entre as sugeridas nas diversas obras que examinavam a lei anterior:

a) Créditos trabalhistas- art. 102 do Dec.-lei 7.661145 e 449 da CLT; créditos decorrentes de serviços prestados à massa falida (vide Súmula 219 do STJ, abaixo); honorários advocatícios (art. 24 da Lei 8.906/94).

b) Créditos tributários- art. 187 do CTN e art. 29 da Lei 6.830/80, que dispõe sobre as execuções fiscais em geral.

c) Créditos por encargos da massa - art. 124, § 1°, do Dec.-lei 7.661145.

d) Créditos por dívidas da massa- art. 124, § 2°, do Dec.-lei 7.661/45.

e) Créditos com direitos reais de garantia- art. 102, I, do Dec.-lei 7.661145.

f) Créditos com privilégio especial- art. 102,11, do Dec.-lei 7.661145.

g) Créditos com privilégio geral- art. 102, III, do Dec.-lei 7.661/45.

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327 Capítulo V -Seção XI -Art. 149

h) Créditos quirografários- art. 102, IV, do Dec.-lei 7.661145.

4. Esta ordem no quadro geral, sugerida por autores relativamente ao sistema anterior, é de oportuna transcrição, para que se possa com­parar com o quadro que está elaborado nos comentários ao art. 84. Des­de já se deixe anotado que este é um ponto sensível da Lei e, por isto mesmo, de difícil definição. Como se sabe, a lei costuma ser o resultado do sentimento médio da população em determinado momento; no en­tanto, há vozes que se fazem ouvir com maior volume, de tal forma que seus interesses acabam por prevalecer, como se fosse o sentimento mé­dio. Nesta Lei atual, como já examinado no prefácio, a voz que se ouviu de forma mais forte, foi a do capital financeiro, tanto que esta Lei aca­bou sendo conhecida mais como "Lei Febraban", do que como "Lei de Recuperação de Empresas".

5. E, no caso da ordem de preferência para o pagamento, os inte­resses se chocaram de frente, cada um pretendendo que o seu crédito, de uma forma ou de outra, viesse a ser privilegiado. De um lado, o capital financeiro, representado pelos bancos;. de outro, os interesses fiscais, representados pela União, Estados e Municípios; e, finalmente, nos blocos mais fracos, os empresários e os trabalhadores em geral. Por isto mesmo, ao embate de tantos interesses contraditórios, acabou acon­tecendo como sempre ocorre: o prevalecimento dos blocos com maior poder de pressão.

6. Vide comentários ao art. 84, bem como sugestão para ordem do quadro-geral de credores.

Art. 149. Realizadas as restituições, pagos os créditos extraconcursais, na forma do art. 84 desta Lei, e consolidado o quadro-geral de credores, as importâncias recebidas com a realização do ativo serão destinadas ao pagamento dos credo­res, atendendo à classificação prevista no art. 83 desta Lei, res­peitados os demais dispositivos desta Lei e as decisões judi­ciais que determinam reserva de importâncias.

1. Após as restituições, alinham-se os créditos que gozam de pre­ferência sobre todos os demais, classificados como "extraconcursais", nova categoria que não era contemplada na lei anterior. Estes extraconcursais estão relacionados no art. 84 e, do exame de seus 5

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Art. 149 - Capítulo V - Seção XI 328

incisos, verifica-se que se referem aos débitos que se originam após o decreto da falência e/ou o início da recuperação judicial. A Lei prevê como extraconcursais as remunerações devidas ao administrador judi­cial e, nesta parte, ter-se-á o legislador inspirado na Súmula 219 do STJ, que fixou o entendimento de que "os créditos decorrentes de ser­viços prestados à massa falida, inclusive a remuneração do síndico, gozam dos privilégios próprios dos trabalhistas".

2. O art. 84 prossegue dizendo que, além da remuneração devida ao administrador judicial, enquadram-se também na categoria de extraconcursais o devido aos auxiliares do administrador e respectivas obrigações trabalhistas, bem como aquelas decorrentes de acidentes do trabalho, desde que relativas a serviços prestados após a decretação da falência. Enfim, examinando-se todos os demais incisos do art. 84, cons­tata-se que são débitos gerados após a declaração da falência ou duran­te a recuperação judicial.

3. V árias situações ocorrerão, nas quais os créditos extraconcursais serão pagos antes de qualquer outro valor, mesmo o valor relativo às restituições. É que ocorrerá certamente a necessidade de despesas, sem as quais o processo de falência não terá condições de prosseguimento e, desta forma, estes valores terão absoluta precedência.

4. Logo após os extraconcursais, serão pagos os credores, na for­ma da preferência prevista nos oito incisos do art. 83.

5. O artigo prossegue estabelecendo que devem ser respeitadas as decisões judiciais que determinam reservas das importâncias e o pará­grafo seguinte também cuida deste ponto.

§ 1 o Havendo reserva de importâncias, os valores a ela re­lativos ficarão depositados até o julgamento definitivo do cré­dito e, no caso de não ser este finalmente reconhecido, no todo ou em parte, os recursos depositados serão objeto de rateio suplementar entre os credores remanescentes.

6. Este § 1 o permite compreender que a reserva é aquele valor des­tinado a aguardar o julgamento definitivo de ação em andamento contra a massa, de tal forma que, fixado o valor na ação, seja o crédito do autor satisfeito pelo valor reservado, respeitado evidentemente o rateio a ser aplicado. Há previsão de reserva no § 3° do art. 6°.

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329 Capítulo V - Seção XI -Art. 150

7. Trata-se de situação que sempre ocorreu com extrema freqüên­cia nas falências, especialmente no que diz respeito a créditos traba­lhistas. Mais uma vez o crédito trabalhista está sendo tomado como exemplo, por ser o de ocorrência mais comum. No entanto, repita-se que a reserva prevista nesta Lei aplica-se a todo e qualquer crédito cujo valor ainda não foi decidido (v.g., § 3° do art. 6°). Quando for fixado o valor do crédito ainda pendente, os valores reservados serão utilizados para rateio e não para pagamento integral do que veio a ser fixado.

8. O texto legal prossegue determinando que, caso o crédito não seja reconhecido na ação em andamento, o valor reservado será objeto de rateio suplementar. Aplica-se aqui também o que está pre­visto no próximo parágrafo para todos os credores, ou seja, se o cre­dor tiver seu crédito reconhecido, será intimado pelo juiz da falên­cia para levantamento no prazo de 60 dias e, não fazendo este levan­tamento, perderá o direito ao valor, que será então rateado entre os demais credores.

§ 2° Os credores que não procederem, no prazo fixado pelo juiz, ao levantamento dos valores que lhes couberam em ra­teio serão intimados a fazê-lo no prazo de 60 (sessenta) dias, após o qual os recursos serão objeto de rateio suplementar entre os credores remanescentes.

9. Como já anotado acima, esta determinação é válida tanto para os credores regularmente habilitados no prazo (ou mesmo fora dele), como para aqueles credores que pediram reserva; é determinação salu­tar, que na legislação anterior (parágrafo único do art. 130) existia ape­nas para o credor que pedia a reserva.

10. Muito embora seja difícil a ocorrência prática dessa hipótese, tal disposição foi criada em função da necessidade de prover um desti­no a valores que estejam, eventualmente, à disposição da massa quando da liquidação dos créditos.

Art. 150. As despesas cujo pagamento antecipado seja indis­pensável à administração da falência, inclusive na hipótese de continuação provisória das atividades previstas no inciso XI

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Art. 150 - Capítulo V - Seção XI 330

do caput do art. 99 desta Lei, serão pagas pelo administrador judicial com os recursos disponíveis em caixa.

1. Na lei anterior, não havia qualquer disposição explícita nomes­mo sentido do art. 150 que, neste ponto, andou bem. No regime da lei anterior, embora sem previsão explícita, e valendo-se do poder de di­reção que exerce sobre o processo, os juízes invariavelmente autori­zavam o levantamento de valores para adiantamento de despesas ne­cessárias ao andamento do feito, com posterior prestação de contas pelo síndico.

2. A Lei atual liberaliza bastante este aspecto, ao autorizar que as despesas sejam pagas pelo administrador com os recursos disponíveis em caixa, sem condicionar tais pagamentos à autorização judicial. Con­siderando-se que o administrador judicial será pessoa de confiança do juiz, talvez esta liberalização possa caminhar no sentido de agilizar o andamento do feito. No entanto, como é claro, não perde o juiz o poder de direção do processo, e sempre o administrador terá que prestar con­tas nos autos das despesas feitas.

3. Há aqui um problema de ordem, pois a Seção está cuidando do pagamento aos credores, como se vê do art. 149. No entanto, o art. 150 refere-se a outras pessoas, que não os credores, que devem ser pagos na conformidade do quadro-geral de credores. Com prejuízo do ordena­mento da matéria, o legislador do projeto insere aqui uma matéria que melhor estaria se fosse regrada na Seção I, que fala das disposições gerais sobre a falência.

4. Examinando-se a Lei, não se encontra artigo que repita a salutar disposição do art. 208 da lei revogada, segundo a qual a massa falida não era obrigada a pagar custas para o andamento de qualquer processo judicial; no regime da lei anterior, o feito caminhava normalmente, in­dependentemente de recolhimento de custas, e estas, se devidas, seriam pagas a final, quando do pagamento dos demais credores e na classifi­cação devida.

5. O entendimento possível, a ser objeto de trato jurisprudencial, é que as custas judiciais não se configuram como pagamento antecipado indispensável à administração da falência e, por isto, deverão ser reco­lhidas a final, como ocorria no regime da lei revogada. Este art. 150, ao estabelecer que o administrador judicial efetue os pagamentos anteci-

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331 Capítulo V - Seção XI -Art. 151

pados indispensáveis à administração da falência, possibilita o entendi­mento de que, por não ser indispensável o pagamento das custas (que pode ser dispensado pelo juiz), tornará possível o pagamento ao final, quando devidas.

6. Fugiria à razoabilidade pretender obrigar o administrador a cus­tear as despesas judiciais de processos de interesse da massa; por outro lado, a ausência de isenção impediria qualquer ajuizamento e prejudi­caria a universalidade dos credores. Certamente a jurisprudência fixará que as custas judiciais, em tais casos, serão recolhidas ao final, relembrando-se que já havia manifestação jurisprudencial no sentido de conceder o benefício de recolhimento ao final até para empresas em concordata, o que encontraria fundamento maior em casos de falência. Ademais, o art. 191 determina que as publicações sejam feitas, prefe­rencialmente, na Imprensa Oficial. Como sabemos, os editais são pagos para veiculação no Diário Oficial. O art. 191 estabelece que, se a massa comportar (em outras palavras, se tiver dinheiro para pagar e, também, se compensar economicamente), haverá publicações em jornais e revis­tas. Logo, a publicação do edital no Diário Oficial será gratuita ou para pagamento ao final, benefício que será estendido para toda e qualquer ação de interesse da massa.

7. No que diz respeito à possibilidade de continuação provisória das atividades da empresa falida, normalmente a administração e a gerência da empresa recaem sobre o administrador judicial, que certa­mente terá necessidade de montar uma equipe de sua confiança e ad­quirir matéria prima para a continuação da fabricação de produtos (se for o caso), a par de todas as despesas normalmente ocorrentes. Para isso, o administrador necessitará rapidamente de acesso aos recursos da massa.

Art. 151. Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 (cinco) salários mínimos por traba­lhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa.

1. Este artigo deve ser examinado mais sob seu aspecto político do que jurídico. Como se sabe, o pagamento da verba salarial é ponto nevrálgico em qualquer legislação, por razões óbvias, ante sua natureza

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Art. 151 - Capítulo V - Seção XI 332

alimentar e, por isto mesmo, é assunto que se presta sobremaneira para atendimento de manobras políticas que, a um primeiro momento, não ficam claras.

2. Em determinado momento da tramitação do projeto do qual re­dundou esta Lei, não havia qualquer determinação neste sentido, ha­vendo disposição que determinava que, no quadro-geral de credores, o crédito trabalhista ficava em primeiro lugar, sem qualquer limitação. O projeto "Tebet", que alterou o projeto "Biolchi", recebido da Câmara, manteve esta ordem mas limitou o pagamento dos salários ao valor máximo de cento e cinqüenta salários mínimos como prioritário. Para que se pudesse barganhar a limitação em prejuízo do salário, inseriu-se este art. 151, aparentemente em favor do salário (sobre o pagamento dos salários, vide incisos I e VI do art. 83).

3. No entanto, o alcance deste pagamento é bastante limitado, pois se refere apenas a verbas salariais vencidas nos três meses anteriores à decretação da falência; aparentemente, o legislador estará se referindo a trabalhos que foram prestados nestes últimos três meses e que não foram pagos. No entanto, o artigo não é claro e serão objeto de discus­sões outras verbas de natureza diversa como, por exemplo, acordos ex­trajudiciais (ou judiciais) com empregados, cujo pagamento se vença nestes três meses.

4. O valor para cada empregado é bastante limitado, ou seja, máxi­mo de cinco salários mínimos. Este valor será pago tão logo haja dispo­nibilidade em caixa, o que significa que estes pagamentos serão feitos antes de qualquer outro, preferindo a despesas para movimentação do processo, valores devidos a título de restituição etc. Ou seja, qualquer outro pagamento apenas poderá ser feito depois que estes pagamentos estiverem definitivamente solucionados.

5. Um outro aspecto político também foi ponderável para a intro­dução deste artigo. É que a consciência jurídica não encontra conformi­dade com o fato de haver restituição de adiantamento de contrato de câmbio em favor dos bancos, antes de qualquer pagamento, antes mes­mo do pagamento dos salários. Este artigo ora sob exame, ao determi­nar que o pagamento destes salários será feito tão logo haja dinheiro em caixa, faz com que fique suplantado qualquer outro crédito, inclusive valores a restituir, entre os quais acham-se os vultosos valores dos adi­antamentos em contratos de câmbio.

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333 Capítulo V - Seção XI -Art. 153

) Art. 152. Os credores restituirão em dobro as quantias re­

cebidas, acrescidas dos juros legais, se ficar evidenciado dolo ou má-fé na constituição do crédito ou da garantia.

1. Em princípio, trata-se de estipulação moralizadora, visando ainda a dissuadir da prática de atos fraudulentos aquele que pretendesse locu­pletar-se à custa da massa. Efetivamente, a ameaça de ser obrigado a devolver em dobro o valor constituído indevidamente funciona como forte estímulo para que não se pratique o ato fraudulento.

2. No entanto, o artigo está mal redigido quando menciona, em sua parte final, a palavra "garantia", pois não há possibilidade de cons­tituição de garantia durante o procedimento da falência. O único en­tendimento possível é aquele segundo o qual a restituição também seria em dobro se o credor tivesse agido com dolo ou má-fé, para que uma garantia tivesse sido instituída em favor de seu crédito que viesse a ser pago.

Art. 153. Pagos todos os credores, o saldo, se houver, será entregue ao falido.

1. Este artigo, para sua exata compreensão, exige um exame abran­gente do sistema instituído no projeto. Para introdução a este exame, relembre-se que o art. 129 da lei anterior estabelecia que, se a massa comportasse o pagamento do principal e dos juros, seria restituída ao falido a sobra que houvesse. O art. 129 devia ser examinado em con­junto com o art. 26, que estabelecia que contra a massa não corriam juros "se o ativo apurado não bastar para o pagamento do principal". Contrario sensu, o art. 26 estabelecia que, se houvesse sobra depois do principal, passariam a correr juros contra a massa. Este era o sistema da lei anterior.

2. O sistema instituído na Lei atual faz com que, na prática, sejam feitas as habilitações dos créditos corrigidos e com juros calculados até o momento da decretação da falência, pois, a partir deste momento, já existente a massa, não há mais possibilidade de cobrança de juros. Este valor habilitado será pago (se for) anos depois; em tese, pode ocorrer que todos os créditos habilitados sejam satisfeitos e então poder-se-ia chegar à falsa impressão de que o que sobrasse seria devolvido ao fali­do, o que não é verdade.

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Art. 153 - Capítulo V - Seção XI 334

3. Isto porque, neste momento em que houvesse o pagamento de todos os credores habilitados, aplicar-se-ia o art. 26 combinado com o art. 129, para então calcular a correção monetária e os juros devidos entre o marco anterior (momento da decretação da falência) até o mo­mento do efetivo pagamento; em seguida, sobre este débito encontrado, seria feita a correção e aplicados os juros até o momento do efetivo pagamento, a ser feito com o que tivesse sobrado do primeiro paga­mento. Só então, depois de satisfeitos todos estes créditos, é que seria devolvido ao falido o que sobrasse.

4. À semelhança do que ocorria no sistema da lei anterior, ocorre também na nova Lei. O art. 153, ao falar e:rruobras.__pre.ssup_õ~a­mento de_tp_dQ~ os credores habilitados pelo valor encontrado na forma dp _i~~iso II ~<? art. 9~;- 9u sej4l_,_crédito atl}~liz~cio até a ·data da decret~­ção da falência, prevendo o art. 124 do projeto que contra a massa não seriam exigíveis juros vencidos após a decretação da falência, estabele­cendo, porém, que, se houver dinheiro suficient~ para o pagamento do principal, os ]üros posteriores também serão pagos. . ~--· - --~-- -

5. Evidentemente, o momento processual do artigo 153 é bastante distante, em termos de tempo, do momento processual do art. 9°, de tal forma que a sobra de que a lei fala é a que haverá depois da completa satisfação do crédito, ou seja, depois que houver o pagamento do valor corrigido e com juros, até o momento do pagamento, desde que exis­tente numerário para tal fim.

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Seção XII

Do encerramento da falência e da extinção das obrigações do falido

1. A lei anterior tratava da sentença de encerramento da falência no art. 132, Título VIII, e tratava da sentença de extinção no art. 136 que, embora próximo numericamente, estava no Título IX. Esta Lei pre­feriu tratar o encerramento e a extinção em Seção única, o que pode ser tido como providência correta, com melhor ordenamento e encadea­mento da matéria. Já que a sentença de encerramento é o marco proces­sual que deflagra o caminho que leva à sentença de extinção, melhor mesmo é que fiquem ambas na mesma seção.

Art. 154. Concluída a realização de todo o ativo, e distri­buído o produto entre os credores, o administrador judicial apresentará suas contas ao juiz no prazo de 30 (trinta) dias.

§ 1 o As contas, acompanhadas dos documentos comproba­tórios, serão prestadas em autos apartados que, ao final, serão apensados aos autos da falência.

§ 2° O juiz ordenará a publicação de aviso de que as contas foram entregues e se encontram à disposição dos interessados, que poderão impugná-las no prazo de 10 (dez) dias.

§ 3° Decorrido o prazo do aviso e realizadas as diligências necessárias à apuração dos fatos, o juiz intimará o Ministério Público para manifestar-se no prazo de 5 (cinco) dias, findo o qual o administrador judicial será ouvido se houver impugna­ção ou parecer contrário do Ministério Público.

1. Também neste ponto, a Lei está bem ordenada, centralizando aqui o procedimento para a prestação e julgamento das contas do admi­nistrador judicial e da sentença de encerramento e extinção. Na lei ante­rior, a prestação de contas estava prevista no art. 69, o julgamento no art. 131 e a sentença de extinção no art. 136, cada artigo em Capítulo diferente. Bem andou o legislador com a aproximação tópica destas matérias, que tratam de assuntos também próximos.

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Art. 154 - Capítulo V - Seção XII 336

2. O art. 154 e seus§§ 1° e 2° não apresentam dificuldade ao en­tendimento, ressaltando-se apenas que esta prestação será feita em autos apartados, o que é medida salutar, pois o volume de material e a quanti­dade de matérias a serem solucionadas nos autos principais da falência sempre aconselham o cuidado de diversos outros problemas em autos apartados.

3. A prestação de contas é indispensável (art. 22, III, r), até por­que o administrador age muitas vezes com poderes próprios, fiscali­zado à distância pelo juiz e pelo Comitê (arts. 21 e 22), sem embargo de ter que apresentar relatórios mensais de sua atividade (art. 148). Formam-se autos apartados e qualquer interessado pode se manifes­tar, caminhando o feito até final julgamento, no qual as contas serão aceitas e consideradas boas por sentença ou, alternativamente, serão recusadas, caso em que o juiz deverá destituir o administrador, para que outro seja nomeado, sem prejuízo das eventuais sanções, até de natureza penal.

4. Anote-se também que esta prestação de contas não tem qual­quer forma especial de apresentação. Evidentemente, cabe ao adminis­trador apresentá-las de forma a mais clara e inteligível, trazendo todos os detalhes das movimentações financeiras que ocorreram durante o processamento da falência. No regime da lei anterior, em casos mais simples, sempre foi admitida a prestação de contas nos próprios autos da falência, resolvendo-se este aspecto de forma mais rápida, desde que as contas não tivessem sido impugnadas. Em caso de impugnação, se­riam desentranhados os documentos pertinentes, para então formar-se a autuação à parte, exigida pela lei.

5. Causa estranheza a previsão do§ 3°, no sentido de prever reali­zação de diligências "necessárias à apuração dos fatos". Não esclarece a Lei e não é possível saber a quais fatos está se referindo; imagina-se que o legislador quis se referir a fatos que teriam sido levantados em eventual impugnação que teria sido apresentada na forma do parágrafo anterior.

6. De qualquer forma, deve-se entender que estas diligências se­rão realizadas, desde que sejam necessárias e para o fim específico que vier a ser determinado pelo juiz do feito. No entanto, o Ministério Pú­blico apenas será intimado depois destas diligências, o que não parece lógico, sendo mais recomendável sua intimação antes do início das even­tuais diligências.

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337 Capítulo V - Seção XII -Art. 155

§ 4° Cumpridas as providências previstas nos §§ 2° e 3° deste artigo, o juiz julgará as contas por sentença.

7. Na realidade, o incidente de prestação de contas se "ordinariza", no sentido de, se necessário, ser aberta dilação probatória, com ampla manifestação dos interessados, após o que o juiz julgará as contas.

§ 5° A sentença que rejeitar as contas do administrador judicial fixará suas responsabilidades, poderá determinar a indisponibilidade ou o seqüestro de bens e servirá como título executivo para indenização da massa.

8. A sentença julgará boas as contas prestadas e o incidente esta­rá encerrado; alternativamente, se as contas não estiverem boas, serão rejeitadas. Em caso de rejeição, a própria sentença fixará as responsabi­lidades do administrador. O juiz poderá determinar o seqüestro dos bens pessoais do administrador, na forma dos arts. 822 e ss. do CPC, ou mes­mo com fundamento no poder geral de cautela de todo juiz em qualquer fase de qualquer processo.

9. Neste ponto, a Lei teve um recuo em matéria de rigor, pois a lei anterior (art. 69) previa a formação de título executivo e o seqüestro dos bens do síndico, estabelecendo ainda que se, em 48 horas, não houves­se o depósito de eventual valor desviado, o síndico poderia ser preso por até 60 dias. Sem embargo da Súmula 280, do STJ, que entendeu incabível a prisão administrativa prevista no art. 35 daquela lei, ainda assim a previsão inserida no § 5° do art. 69 era moralizadora e deveria ter sido preservada nesta Lei.

§ 6° Da sentença cabe apelação.

10. Mesmo sendo esta disposição uma repetição do que determi­na o art. 513 do CPC, ainda assim é recomendável este tipo de previsão, tendo em vista que por ser a lei falimentar de natureza substantiva e adjetiva, o que nela se inserir no sentido de aclarar o aspecto processual normalmente é bem-vindo.

Art. 155. Julgadas as contas do administrador judicial, ele apresentará o relatório final da falência no prazo de 10 (dez)

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Art. 156 - Capítulo V - Seção XII 338

dias, indicando o valor do ativo e o do produto de sua realiza­ção, o valor do passivo e o dos pagamentos feitos aos credores, e especificará justificadamente as responsabilidades com que continuará o falido.

1. Embora a Lei não diga, evidentemente o administrador apre­sentará o relatório, se as contas tiverem sido aprovadas, pois, se tiverem sido recusadas, o administrador será destituído. Não haveria qualquer razão lógica que permitisse a continuidade da administração por uma pessoa cuja prestação de contas foi recusada por sentença.

2. No estudo da lei anterior, os doutrinadores costumavam dividir a falência, meramente para efeitos didáticos, em três fases, separadas pelos chamados "três grandes relatórios", previstos no art. 103, inciso XIX do art. 63 e art. 131 do Dec.-lei 7.661/45. Este relatório do art. 155 seria o correspondente ao relatório final do art. 131 da lei anterior.

3. Este artigo estabelece, de forma objetiva e didática, como deve ser elaborado o relatório final. Determina ainda que o relatório especi­ficará as responsabilidades com que continuará o falido. Observe-se -como se verá mais detalhadamente adiante - que esta responsabilidade perdurará apenas até serem julgadas extintas as obrigações, na forma do art. 159.

Art. 156. Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência por sentença.

1. A sentença de encerramento da falência tem caráter meramen­te processual, permanecendo o devedor falido com todas as obrigações em aberto. A sentença de encerramento tem natureza processual, homo­logatória, continuando o devedor falido com a responsabilidade pelos débitos em aberto, de tal forma que, se forem encontrados novos bens, o processo de falência será reaberto para arrecadação e venda desses bens, para novo rateio entre os credores ainda não satisfeitos (vide n. 5, abaixo).

2. O que vai liberar efetivamente o devedor falido do pagamento dos débitos ainda em aberto será a sentença de extinção das obrigações, de natureza substantiva, e que examinaremos adiante, quando do exa­me do art. 159.

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339 Capítulo V - Seção XII -Art. 157

Parágrafo único. A sentença de encerramento será publi­cada por edital e dela caberá apelação.

3. Este artigo e seu parágrafo único repetem quase com as mes­mas palavras o art. 132 e seu§ 2° da lei anterior. A sentença de encerra­mento, normalmente prolatada em duas ou três linhas, resume-se a fi­xar que, observadas que foram as formalidades legais, julga-se encerra­da a falência. Trata-se de sentença sem qualquer carga decisória, de natureza meramente homologatória, prestando-se apenas a fixar mo­mento processual que aponta para o final do processo de falência.

4. A apelação será recebida nos efeitos devolutivo e suspensivo, até porque o art. 157 faz menção a efeitos que ocorrem a partir do trân­sito em julgado da sentença.

5. Como observado acima, a sentença de encerramento presta-se a permitir o início dos procedimentos necessários à extinção do feito, por sentença de extinção, esta, sim, plena de carga decisória. Tanto a sentença de encerramento é meramente homologatória, é simples mar­co processual, que, se após seu trânsito em julgado, for encontrado qual­quer outro bem que deveria ter sido arrecadado, será reaberto o proces­so, o bem será arrecadado, vendido, seu valor rateado, até caminhar-se a nova sentença de encerramento; e assim sucessivamente, se novamen­te outro bem for encontrado para arrecadação. Sem embargo de respei­táveis posições divergentes, esta é a melhor interpretação, até porque não há qualquer razão que impeça a continuação do feito, para a mais plena satisfação de todos os credores ainda não pagos.

Art. 157. O prazo prescricional relativo às obrigações do falido recomeça a correr a partir do dia em que transitar em julgado a sentença do encerramento da falência.

1. Este art. 157, que repete o art. 134 da lei anterior, deve ser exa­minado em conjunto com o art. 6°, que estabelece que a decretação da falência suspende o curso da prescrição das obrigações do falido. Ou seja, o prazo prescricional das obrigações, que foi suspenso no momen­to do decreto de falência, volta a correr a partir do trânsito em julgado da sentença que encerra a falência. Por se tratar de suspensão e não de interrupção, o prazo volta a correr, pelo tempo que faltava para a pres­crição, no momento em que houve o decreto falimentar.

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Art. 158 - Capítulo V - Seção XII 340

2. Observe-se aqui outra razão para se afirmar que a sentença de encerramento é apenas homologatória, de natureza processual, sem carga decisória substantiva, prestando-se apenas a servir de marco para reinício da contagem da prescrição, que estava suspensa desde o decreto fali­mentar. Enfim, a sentença de encerramento é o marco inicial que indica o início do caminho para se chegar à sentença de extinção.

3. Pode haver período longo de tempo entre a sentença de encer­ramento (art. 156) e a sentença de extinção (art. 159), como, por exem­plo, nos casos previstos nos incisos III e IV do art. 158, que será abaixo examinado.

Art. 158. Extingue as obrigações do falido:

I - o pagamento de todos os créditos;

1. A forma de extinção por excelência das obrigações é o paga­mento, como estabelecido no art. 304 do Código Civil. Se o falido, ou terceiro por ele, efetuar o pagamento de todos os créditos, estarão ex­tintas as obrigações.

li - o pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% (cinqüenta por cento) dos créditos quirografáclos, sen­do facultado ao falido o depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem se para tanto não bastou a integral liquidação do ativo;

2. Este inciso repete o inciso II do art. 135 da lei anterior, aumen­tando, porém, a porcentagem de pagamento de quarenta para cinqüenta por cento. No entanto, ao repetir a lei anterior, esta Lei comete um lap­so, pois precisaria ter considerado que, enquanto na lei revogada, o quirografário era o crédito que recebia por último (inciso IV do art. 102), nesta Lei, após o quirografário ainda estão classificados os credo­res por multa contratual, penal ou administrativa (inciso VII do art. 83) e os créditos subordinados (inciso VIII do art. 83).

3. Como se sabe, esta forma de extinção era possível na lei ante­rior, desde que se fizesse o pagamento de todos os credores de forma integral, com exceção dos credores quirografários, que poderiam ser pagos apenas no valor correspondente a quarenta por cento. O paga-

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341 Capítulo V - Seção XII -Art. 158

menta era feito desta forma, por força do que dispunha o§ 3° do art. 124, que determinava que o pagamento seria efetuado "fazendo-se rateio, em cada classe". Isto significava que o pagamento da classe seguinte apenas seria iniciado após satisfeita integralmente a classe anterior. Como, no sistema atual, o rateio será feito na forma do que estabelecem os arts. 83 e 149, mantém-se o entendimento anteriormente existente.

4. O legislador atual expressamente citou a percentagem calcula­da em relação aos créditos quirografários, o que está de acordo com a melhor doutrina elaborada na vigência da lei anterior: Silva Pacheco ( 11. ed., p. 57 6) anota que este rateio referia-se exclusivamente ao pas­sivo quirografário, após ser feito o pagamento integral do devido aos credores anteriores. Valverde (p. 223) anota também que o pagamento refere-se aos "créditos quirografários habilitados". Sampaio de Lacerda (p. 239), embora sem maior explicitação, entendia também desta for­ma, pois falava que tal pagamento correspondia "a uma concordata for­çada", que apenas obrigava os quirografários.

5. De qualquer forma, na expressão "mais de 50% dos créditos qui­rografários" devem ser incluídos também os créditos relativos a multas (inciso VII do art. 83) e os créditos subordinados (inciso VIII do art. 83).

6. Como já anotado, a sentença de encerramento da falência tem caráter meramente processual, permanecendo o devedor falido com to­das as obrigações em aberto. O que libera efetivamente o devedor falido do pagamento dos débitos ainda em aberto será a sentença de extinção das obrigações, de natureza substantiva, e que examinaremos adiante.

111- o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do en­cerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei;

7. Os dois incisos anteriores conduzem à extinção das obrigações, em decorrência de iniciativa de natureza econômica a ser tomada pelo falido, que poderá fazer o pagamento de todos os credores ou comple­tar, sempre com numerário próprio, aquilo que faltar para atingir o pa­gamento do valor correspondente a cinqüenta por cento dos créditos quirografários (art. 158, II). Este inciso III e o próximo inciso levam à possibilidade de extinção não mais por iniciativas econômicas e sim, pelo decurso do tempo, atento ao princípio de que tempus omnia solvit.

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Art. 158 - Capítulo V - Seção XII 342

Efetivamente, os sistemas de direito estabelecem prazos prescricionais para todas as obrigações, tanto de natureza civil quanto de natureza penal, porque o tempo tudo solve, não se entendendo como jurídico manter-se indefinidamente alguém jungido a uma obrigação ou ao cum­primento de uma pena.

8. Este inciso III prevê a extinção das obrigações pelo decurso do prazo de cinco anos a partir do encerramento da falência, caso não te­nha havido condenação por crime falimentar. Observe-se que, no caso presente, a extinção das obrigações, de uma forma geral, pode ocorrer mesmo antes da prescrição de determinadas obrigações tomadas em cada caso. Imagine-se, por exemplo, uma obrigação cuja prescrição ocorra em dez anos e que tenha sido suspensa pelo decreto de falência, em seu primeiro ano, restando portanto nove anos para findar-se o lap­so prescricional. Em tal caso, embora ainda não prescrita a obrigação daquele caso particular, ainda assim ocorreria a extinção das obriga­ções na falência.

9. A lei anterior, nos incisos III e IV do art. 135, que correspon­dem aos incisos ora sob exame, fazia uma distinção entre falido não condenado (extinção em cinco anos) e falido condenado a pena de de­tenção (extinção em dez anos), deixando de fora o condenado por pena de reclusão, cuja extinção apenas ocorreria pela prescrição de cada uma das obrigações. Já no sistema da nova Lei, ocorre a extinção em dez anos, desde que haja condenação criminal, independentemente de ser a pena de detenção ou reclusão.

10. Esta diferenciação teve que deixar de existir, pois cairia no vazio, com a entrada em vigor do novo Código Civil, que, em seu art. 205, reduziu o prazo máximo de prescrição para dez anos, metade do prazo máximo anteriormente previsto no art. 177 do Código Civil ante­rior, que era de vinte anos.

IV- o decurso do prazo de 10 (dez) anos, contado do en­cerramento da falência, se o falido tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei.

11. O inciso é claro e de pronta intelecção, até porque os comen­tários feitos no n. 9 acima prestam-se a seu exame. No entanto, até como exercício intelectual, é curioso observar que apenas uma improvável

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343 Capítulo V - Seção XII -Art. 159

coincidência é que permitiria a aplicação deste inciso em toda sua ple­nitude. Como o art. 205 do Código Civil prevê prazo prescricional má­ximo de dez anos, e como o art. 160, abaixo, prevê que a prescrição é causa de extinção, este inciso IV apenas teria aplicação no caso em que o vencimento da obrigação do falido coincidisse exatamente com o dia do decreto falimentar; neste caso, nenhum dia do lapso prescricional teria se escoado e assim, a prescrição ocorreria exatamente dez anos após o encerramento da falência.

12. Há uma certa imprecisão neste inciso IV, ao dizer que o prazo de dez anos deve ser contado a partir do encerramento da falência. Na realidade, este inciso deve ser examinado em consonância com o art. 157, para que se entenda que o prazo deve ser contado a partir do trân­sito em julgado da sentença, elemento a ser considerado também para a análise do inciso III acima examinado.

Art. 159. Configurada qualquer das hipóteses do art. 158 desta Lei, o falido poderá requerer ao juízo da falência que suas obrigações sejam declaradas extintas por sentença.

1. Chega-se aqui ao fim da caminhada processual que se iniciou com a sentença de encerramento, a partir da qual se estabelecem alguns dos parâmetros para que se possa requerer a sentença de extinção. Preenchidas quaisquer das condições exigidas nos quatro incisos do art. 158, poderá o falido pedir a declaração de extinção das obrigações por sentença.

2. No entanto, além destes quatro incisos, a prescrição das obriga­ções também permite ao falido o pedido de sentença de extinção. Neste ponto, a lei revogada tinha melhor ordenamento das matérias, pois, logo após os incisos do art. 135, o início do próximo artigo, o 136, dizia que o pedido de extinção poderia ser feito se "verificada a prescrição ou extin­tas as obrigações". Ao contrário, na nova Lei, o art. 159 estabelece que pode ser requerida a sentença de extinção, determina como se deve pro­ceder para tal pedido e, depois de tudo isto, no art. 160, prevê uma outra situação que permite o pedido de extinção, ou seja, a prescrição.

§ 1 o O requerimento será autuado em apartado com os res­pectivos documentos e publicado por edital no órgão oficial e em jornal de grande circulação.

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Art. 159 - Capítulo V - Seção XII 344

§ 2° No prazo de 30 (trinta) dias contado da publicação do edital, qualquer credor pode opor-se ao pedido do falido.

3. Estes dois parágrafos limitam-se a ordenar o procedimento do pedido de extinção, de forma clara e linear. Observe-se apenas que será feita autuação a parte, sempre dentro daquele espírito de que in­cidentes na falência devem ser objeto de autuação à parte, sob pena de dificultar-se ou impossibilitar-se sua solução, exatamente pela quan­tidade de dados e problemas que normalmente estão no interior dos autos falimentares.

4. Aflora aqui novamente um aspecto que permeia todo o anda­mento do processo falimentar. O § 2° prevê apenas a manifestação de qualquer credor, ao contrário do art. 137 da lei revogada, que concedia oportunidade para falar a qualquer credor ou prejudicado, e especifica­mente ao Ministério Público. Este § 2° parece caminhar no sentido da opinião que se forma, principalmente entre os membros do Poder Exe­cutivo e Legislativo, no sentido de coarctar as atividades do Ministério Público, o que não é bom para a sociedade e para a cidadania, por difi­cultar a investigação de irregularidades, em prejuízo da transparência que se exige em tais situações.

§ 3° Findo o prazo, o juiz, em 5 (cinco) dias, proferirá sen­tença e, se o requerimento for anterior ao encerramento da falência, declarará extintas as obrigações na sentença de en­cerramento.

§ 4° A sentença que declarar extintas as obrigações será comunicada a todas as pessoas e entidades informadas da de­cretação da falência.

5. O texto diz que, findo o prazo sem oposição, será proferida a sentença. Se houver oposição, o procedimento se "ordinarizará", com as diligências processuais necessárias para que venham aos autos os elementos suficientes para o julgamento.

6. O requerimento de extinção pode ser feito independentemente de anterior sentença de encerramento, o que ocorreria se o falido se valesse do inciso I do art. 158 e pagasse todos os credores, ou do inciso II, e completasse o pagamento depois da liquidação e antes da sentença de encerramento. No entanto, esta previsão é um desnecessário purismo

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345 Capítulo V - Seção XII -Art. 160

processual, que se justificaria em tempos anteriores e não no presente momento, no qual mais e mais se pretende a desconsideração de firulas processuais que nada significam e a nada levam, a não ser ao atravancamento processual. Isto porque a sentença que reconhece a ex­tinção das obrigações é plus em relação à sentença, que, portanto, aqui seria totalmente dispensável.

§ 5° Da sentença cabe apelação.

§ 6° Após o trânsito em julgado, os autos serão apensados aos da falência.

7. A apelação será recebida em ambos os efeitos.

Art. 160. Verificada a prescrição ou extintas as obrigações nos termos desta Lei, o sócio de responsabilidade ilimitada tam­bém poderá requerer que seja declarada por sentença a extin­ção de suas obrigações na falência.

1. Como já lembrado acima, o art. 136 da lei revogada estabele­cia, especificamente, que a prescrição das obrigações dava ao falido a possibilidade de pedir a sentença de extinção. A Lei 11.101/2005 não faz esta previsão específica, como seria recomendável; no entanto, o exame deste art. 160 leva à mesma conclusão, pois se o sócio deres­ponsabilidade ilimitada pode pedir a declaração de extinção por pres­crição, evidentemente qualquer falido, com muito maior razão, também pode. Neste ponto, a lei revogada é mais clara e ordenada do que a presente Lei.

2. Por outro lado, a prescrição é uma das formas normais de libe­ração de qualquer devedor da obrigação anteriormente existente, e não seria lógico que na Lei de Falências se estabelecesse entendimento con­trário.

3. Anote-se finalmente que, de forma. contraditória, a nova reda­ção do art. 191 do Código Tributário Nacional estabeleceu que "a extin­ção das obrigações do falido requer prova da quitação de todos os tribu­tos". No entanto, ante o princípio de que a prescrição libera das obriga­ções, se o crédito tributário já tiver sido alcançado pela prescrição, não haverá óbice para a prolação da sentença de extinção.

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Capítulo VI

DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

1. Como se trata de instituto novo em nosso sistema de direito, é recomendável um comentário bastante geral de suas linhas mestras, antes de entrar no exame de cada um dos artigos. Este é sistema que facilita a compreensão do estudo de artigos novos; também com o intuito de fa­cilitar a compreensão da recuperação extrajudicial, tanto em seu pro­cessamento, quanto em suas conseqüências, consulte-se o pequeno es­quema gráfico reproduzido retro.

2. O acordo aqui previsto é extrajudicial e, como tal, pode ser cumprido pelas partes, independentemente de qualquer interferência do Judiciário. Funcionarão então as forças do mercado e, por isto mesmo, grande parte dos estudiosos duvida da viabilidade de tais acor­dos, tendo em vista que, sem o crivo do Judiciário, provavelmente os credores com maior poder de influência é que tentarão ditar as regras do acordo, sob pena de não participarem dele e poderem levar a em­presa à falência. O grande credor apenas concordará com o acordo se este atender a seus interesses, conforme a regra normal que impele as decisões do mundo capitalista. Sem embargo, não há dúvida de que o legislador agiu corretamente, pelo menos no que tange a afastar a ca­racterização destas providências como atos de falência, na forma do que ocorria com o inciso III do art. 2° da lei antiga; no mínimo, aque­las anteriores "concordatas brancas" poderão ser tentadas de forma clara e objetiva, sem o temor do decreto de falência que poderia advir no regime da lei anterior.

3. O inciso III do art. 2° da lei anterior estabelecia ser ato de fa­lência aquele do devedor que "III - convoca credores e lhes propõe dilação, remissão de créditos ou cessão de bens". O art. 161, que será examinado a seguir, afasta de vez esta proibição e estabelece a possibi­lidade de o devedor convocar seus credores para apresentar proposta de negociação. O tipo de proposta a ser apresentado é o mais aberto possí­vel, com algumas pequenas, mínimas limitações, que iremos exami­nando abaixo, à medida que surgirem.

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347 Capítulo VI

4. Esta convocação de credores para apresentação de proposta, embora proibida pela lei anterior, era feita de forma bastante comum pe­los empresários em situação de crise; era a chamada "concordata bran­ca", por meio da qual se tentava acordo com os credores, para os mais diversos tipos de acerto. Se houvesse êxito, a empresa em crise teria con­dições de se recuperar e retomar ao andamento normal de seus trabalhos; no entanto, se não houvesse acordo, sempre haveria o risco de ser reque­rida a falência por qualquer dos credores procurados para acordo, sob a alegação, formalmente correta, de que o devedor estaria praticando o ato de falência previsto no referido inciso III do art. 2° da lei anterior.

5. Esta possibilidade que se oferece ao devedor para tentar o acor­do extrajudicial, por meio da "recuperação extrajudicial" é um aspecto benéfico da Lei. No entanto, não justificaria, por si só, a alteração da Lei. É que, como normalmente ocorre em direito comercial- ao contrário do que sucede no direito civil -, os costumes impõem-se no dia-a-dia, e só após, quando já consolidado o procedimento do empresário, vem a lei trazer regras positivas. É o que ocorreu, por exemplo, com a franquia, que durante muitos anos funcionou de forma plena no País e que só posterior­mente é que veio a ser regrada por lei positiva; é o que acontece, por exemplo, com o arrendamento mercantil, o leasing, que até hoje não tem qualquer regramento de natureza positiva, conduzindo-se apenas pelo costume e pela importação dos costumes consagrados em outros países e de regras tiradas da lei fiscal. No caso sob exame, já existente a "concor­data branca", não haveria justificativa para se regrar tão detalhadamente, como se pretendeu fazer, a "recuperação extrajudicial". Bastaria, sim­plesmente, derrogar o inciso III do art. 2° da lei antiga e deixar que o criativo gênio empresarial preenchesse, desde logo, todas as lacunas exis­tentes, aproveitando-se, no que fosse possível, a estrutura da lei anterior, reconhecidamente de boa qualidade apesar de sua senectude.

6. Como se verá do estudo deste Capítulo, pode-se dizer desde já, em linhas bastante gerais, que a recuperação extrajudicial consiste na possibilidade, concedida ao devedor em situação de crise, de convocar seus credores para oferecer-lhes forma de composição para pagamento dos valores devidos. Evidentemente, como toda proposta de composi­ção, pode ou não contar com a anuência dos credores.

7. Se houver acordo entre devedor e credores, nada impede que estas tratativas permaneçam no campo estritamente extrajudicial. De­vedor e credores se compõem, por meio de todo e qualquer meio, doeu-

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Art. 161- Capítulo VI 348

mento, promessa, contrato, concessão de prazo, abatimento, dação em pagamento etc., enfim, por todo e qualquer meio não proibido por lei e passam a guiar-se pelo que foi combinado. Será nada mais que um acordo extrajudicial entre devedor e credores que, se cumprido corretamente, propiciará a continuação da atividade da sociedade empresária que an­tes estava em crise.

8. Pode ser pedida a homologação judicial do acordo e, a partir do protocolo de tal pedido, nenhum daqueles que aderiu ao plano pode desistir, a menos que haja concordância de todos os demais aderentes. A recuperação é feita por "espécies" de credores; se mais de 3/5 dos credores de determinada espécie aderirem, a homologação judicial terá como conseqüência obrigar também todos os demais credores daquela mesma espécie.

9. Com as tramitações que a Lei exige, o juiz homologará o plano por sentença que constituirá título executivo judicial; se houver óbice à homologação, o juiz indefere o pedido e extingue o feito, voltando to­das as partes ao estado anterior ao pedido de homologação. O plano de recuperação não abrange créditos tributários, trabalhistas, decorrentes de acidentes do trabalho, dívidas com garantia fiduciária de móveis ou imóveis, arrendamento mercantil, compra e venda de imóveis com de­terminadas características, compra e venda com reserva de domínio e adiantamento de contrato de câmbio.

10. Entenda-se, porém, de forma correta e abrangente esta afir­mativa. A Lei não proíbe que os credores relacionados no n. 9, acima, participem da recuperação extrajudicial e celebrem as tratativas que entenderem interessantes com o devedor. A Lei apenas estabelece que este tipo de credor nunca será "obrigatoriamente" incluído na recupera­ção extrajudicial; poderá porém, "voluntariamente", ser incluído. Evi­dentemente, haverá sempre limitações aos créditos que não admitem transação, especialmente o crédito trabalhista que, por seu caráter ali­mentar, não poderá ser objeto de abatimento ou dilação.

Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar com credores plano de re­cuperação extrajudicial.

1. Este artigo configura certa contradição em termos, ao exigir que o devedor preencha as condições do art. 48 para que possa propor a

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349 Capítulo VI -Art. 161

seus credores um plano de recuperação judicial. Na realidade, faltou ao artigo uma expressão que o tomaria correto, ou seja, o final do artigo deveria estar expresso da seguinte forma: " ... plano de recuperação ex­trajudicial, passível de homologação judicial". Isto porque o devedor pode propor qualquer plano de recuperação judicial, em qualquer con­dição, a qualquer credor, desde que não haja óbice legal. Se o credor aceitar, firmam os documentos que entenderem necessários e passam a cumprir suas obrigações a partir do que estipula o plano. Portanto, o devedor não está obrigado a preencher os requisitos do art. 48 para pro­por plano de recuperação extrajudicial; apenas deverá estar ciente de que, se não houver o preenchimento destes requisitos, o plano não será passível de homologação judicial.

2. Com a ressalva acima (esta ressalva deve ser mantida na lem­brança durante toda a leitura do Capítulo, para perfeita compreensão da matéria), e a partir do exame do art. 48, observa-se que o primeiro re­quisito estabelece que o devedor deverá estar regularmente registrado na Junta Comercial há mais de dois anos, em exercício regular de suas atividades empresariais.Se houver pedido de homologação judicial sem a comprovação de tal requisito, o juiz deverá conceder ao requerente o prazo de dez dias para suprimento, na forma do artigo 284 do CPC; não sanada a falha no prazo, deve o juiz indeferir a inicial, com fundamento no § único do referido art. 284.

3. Na lei anterior, havia também a exigência do preenchimento deste requisito para o deferimento do processamento da concordata pre­ventiva (inciso I do art. 158 da lei anterior). A lei apenas permitia o pedido de concordata ao comerciante regularmente matriculado na Junta Comercial há mais de dois anos, entendendo que não seria razoável que, em prazo inferior, viesse o comerciante a colocar-se em situação na qual necessitasse deste favor legal. Ou seja, o comerciante que, neste exíguo prazo, foi capaz de levar sua empresa a esta situação de crise, demonstra tamanha inabilitação para o exercício do comércio, que não pode ser beneficiado com prerrogativa que a lei apenas oferece ao em­presário bem preparado para o exercício de seu mister.

4. O preenchimento de tal requisito é de extrema simplicidade, bastando juntar com a inicial a certidão da Junta Comercial, compro­vando a regularidade da situação do devedor.

5. Quanto aos demais pontos, vide comentários ao art. 48.

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Art. 161 - Capítulo VI 350

§ 1 o Não se aplica o disposto neste Capítulo a titulares de créditos de natureza tributária, derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho, assim como àqueles previstos nos arts. 49, § 3°, e 86, inciso 11 do caput, desta Lei.

6. Conforme já anotado acima, o plano de recuperação não abrange créditos tributários, trabalhistas, decorrentes de acidentes do trabalho, dívidas com garantia fiduciária de móveis ou imóveis, arrendamento mercantil, compra e venda de imóveis com determinadas característi­cas, compra e venda com reserva de domínio (art. 49, § 3°) e adianta­mento de contrato de câmbio (art. 86, Il).

7. Voltando-se à observação anteriormente feita, o devedor pode estabelecer plano de recuperação com qualquer tipo de credor, desde que haja concordância do credor e não ocorra outro óbice legal. Este § 1°, na realidade, não proíbe a proposta de recuperação extrajudicial para tais tipos de credores e sim, deixa tais credores fora da "inclusão obriga­tória" prevista no art. 163. Em resumo, se tal tipo de credor concordar com o plano de recuperação, poderá ser incluído; se não concordar, não será atingido pela obrigatoriedade do art. 163, conforme já observado acima. Objetivou-se, dentro do espírito de defesa do capital financeiro e do fisco, mesmo que à custa da recuperação da empresa, criar uma "blindagem" em favor de tais credores. Aliás, este espírito que permeia toda esta legislação é que será a causa certa de dificuldade - ou até de óbice - para a recuperação das empresas.

8. A propósito, relembre-se aqui que, no mesmo dia 09.02.2005, dia em que foi promulgada esta Lei de Recuperação e Falências, foi promulgada também a Lei Complementar 118, que alterou diversos dis­positivos do Código Tributário Nacional, para adaptá-los à esta Lei. Desta forma, o art. 187 passou a ter a seguinte redação: "Art. 187. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de cre­dores ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, in­ventário ou arrolamento". O§ 3° do art. 155-A do CTN passou a ter a seguinte redação: "Lei específica disporá sobre as condições de parce­lamento dos créditos tributários do devedor em recuperação judicial". Como se vê, a recuperação extrajudicial não foi contemplada com qual­quer das alterações do CTN, as quais incidiram especificamente sobre situações previstas apenas na recuperação judicial e na falência.

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351 Capítulo VI -Art. 161

§ 2° O plano não poderá contemplar o pagamento anteci­pado de dívidas nem tratamento desfavorável aos credores que a ele não estejam sujeitos.

9. A estipulação é clara, no sentido de proibir qualquer tentativa de favorecimento a algum credor, não sendo admitido pagamento ante­cipado de dívidas. A segunda parte do parágrafo visa a preservar o di­reito dos credores que não tenham aderido voluntariamente ao plano mas que se vejam obrigatoriamente sob seus efeitos, por força da parte final do§ 1° do art. 163.

§ 3° O devedor não poderá requerer a homologação de pla­no extrajudicial, se estiver pendente pedido de recuperação judicial ou se houver obtido recuperação judicial ou homolo­gação de outro plano de recuperação extrajudicial há menos de 2 (dois) anos.

10. Na lei anterior, o inciso IV do art. 139 estipulava, como regra geral, o prazo de cinco anos entre uma concordata preventiva e outra, prazo do qual o devedor interessado escapava, sob o entendimento ju­risprudencial de que, se tivesse havido desistência de concordata ante­rior, nada obstaria o imediato ajuizamento de um novo pedido de con­cordata.

11. De forma semelhante, este § 3° estabelece que, na pendência de recuperação judicial, o devedor não poderá requerer homologação de plano extrajudicial. Observe-se que a Lei, pelo menos em sua expres­são gramatical, não proíbe a recuperação extrajudicial, proibindo ape­nas sua homologação. Assim, em princípio, nada impede que o devedor tente formalizar plano de recuperação extrajudicial com seus credores, mesmo estando em andamento plano de recuperação judicial; apenas deverá cuidar para que seja homologada desistência nos autos da recu­peração judicial em andamento, se quiser que o plano extrajudicial seja homologado judicialmente.

12. Observe-se ainda que o eventual indeferimento da homologa­ção de um plano de recuperação extrajudicial não impede a apresentação de outro plano para homologação. O impedimento existe apenas se tiver havido homologação do anterior plano de recuperação extrajudicial há menos de dois anos. Neste sentido, examine-se o§ 8° do art. 164.

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Art. 161 - Capitulo VI 352

§ 4o O pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial não acarretará suspensão de direitos, ações ou execuções, nem a impossibilidade do pedido de decretação de falência pelos credores não sujeitos ao plano de recuperação extrajudicial.

13. Como já visto, o devedor pode formalizar plano de recupera­ção extrajudicial com seus credores, por meio de qualquer tipo de con­trato ou instrumento e cumprir regularmente o plano, sem qualquer in­tervenção jurisdicional. No entanto, pode também optar por pedir a homologação judicial e, a partir do pedido, há algumas conseqüências de ordem legal.

14. Uma das conseqüências está presente neste§ 4°, que admite o regular prosseguimento de ações e execuções, bem como pedido de decretação de falência, reservando, porém, tal direito apenas àqueles que não estejam sujeitos ao plano de recuperação extrajudicial. Con­trario sensu, e até por uma questão de lógica dos negócios, aqueles credores que estão sujeitos ao plano terão suspensas as ações e execu­ções em andamento, não podendo também requerer a falência do deve­dor pelos créditos constantes do plano de recuperação extrajudicial.

15. Imagine-se a situação do credor que não aderiu ao plano de recuperação e que, no entanto, posteriormente vem a ser incluído obri­gatoriamente, na forma do§ 1° do art. 163. Enquanto não se der sua inclusão obrigatória, poderá exercer os direitos previstos neste § 4°; após a inclusão obrigatória, todas as ações, execuções, requerimentos de falências, dos quais seja autor, ficarão suspensas.

§ so Após a distribuição do pedido de homologação, os cre­dores não poderão desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais signatários.

16. Esta é outra das importantes conseqüências da distribuição do pedido de homologação judicial do plano. Após a distribuição, não haverá mais possibilidade de desistência de qualquer dos aderentes, a menos que haja expressa anuência dos demais signatários do plano, o que deixa claro, mais uma vez, o elemento contratual subjacente ao plano de recuperação extrajudicial. Observe-se que não se trata de anuên­cia de maioria dos demais signatários, exigindo-se anuência unânime.

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353 Capítulo VI -Art. 162

§ 6° A sentença de homologação do plano de recuperação extrajudicial constituirá título executivo judicial, nos termos do art. 584, inciso 111 do caput, da Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

17. O plano de recuperação judicial pode permanecer apenas na esfera extrajudicial. Por outro lado, pode ser apresentado à homologação judicial e ter sua homologação indeferida, por existência de irregularida­des que recomendem sua rejeição ( § 5° do art. 164) ou por existência de simulação de créditos ou vício de representação(§ 6° do art. 164).

18. Alternativamente, pode ser homologado e, em tal caso, como prevê este§ 6°, os créditos deles constantes passarão a constituir título executivo judicial. Em conseqüência, caso o devedor deixe de cumprir determinado pagamento, o credor, querendo, poderá providenciar as certidões que formalizem seu crédito, protestar o valor devido e ajuizar requerimento de falência.

19. Há aqui um aspecto de natureza processual, relativo à compe­tência, que deve ser examinado. O § 8° do art. 6° estabelece que a distri­buição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a juris­dição; portanto, o pedido de homologação da recuperação extrajudicial não traz prevenção, pelo menos ex vi legis, devendo ser distribuído li-

. vremente eventual requerimento de falência.

Art. 162. O devedor poderá requerer a homologação em juízo do plano de recuperação extrajudicial, juntando sua jus­tificativa e o documento que contenha seus termos e condições, com as assinaturas dos credores que a ele aderiram.

1. Este instrumento próprio a que se refere a Lei é o documento firmado pelas partes, para cuja validade são requisitos o agente capaz, o objeto lícito e a forma não defesa em lei, como determina o art. 104 do Código Civil. Da leitura do Capítulo VI verifica-se que a Lei deixa que atue, de forma ampla, a vontade das partes que celebram o acordo de recuperação, como aliás já ocorria, de fato, na antiga chamada "concor­data branca", de tal forma que, se não houver proibição específica na lei falimentar, tudo pode ser objeto de acordo, a ser firmado por documen­to particular, independentemente de maiores formalidades, no que tan­ge à elaboração do termo de acordo.

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Art. 163 ... Capítulo VI 354

2. Como já visto acima, o crédito trabalhista e o tributário (§ 1 o

do art. 161), bem como aqueles previstos no§ 3° do art. 49 e inciso 11 do art. 86, não podem ser incluídos na proposta de recuperação extrajudi­cial a ser apresentada para homologação, sendo inválida qualquer esti­pulação abrangendo tais créditos para inclusão obrigatória. No entanto, se houver expressa anuência dos credores financeiros, não há óbice na presente Lei para que participem também da recuperação extrajudicial. Também como anotado acima, sempre haveria óbice para a adesão dos credores trabalhistas, ante a natureza alimentar da dívida, a caracterizar direito indisponível em favor do empregado.

3. O art. 159 da lei anterior determinava ao devedor que fundamen­tasse a petição inicial, "explicando, minuciosamente, o seu estado econô­mico e as razões que justificam" o pedido de concordata. Este art. 162 ora sob análise também exige que o devedor apresente a justificativa para o pedido. Esta justificativa será especialmente necessária para a eventual inclusão obrigatória de terceiros não aderentes, na forma do previsto no art. 163. Para o caso de plano sem possibilidade de obrigar terceiros não aderentes, a justificativa exigida por este art. 162 perde importância.

4. Este art. 162, vazado em termos semelhantes ao art. 159 de lei anterior, talvez traga o mesmo resultado daquele dispositivo, ou seja, a justificação meramente pro forma e em termos genéricos. No regime da lei anterior, as iniciais de pedido de concordata preventiva alegavam que a crise econômica, a retração do mercado, a queda da atividade etc. tinham desencadeado uma situação de crise financeira para a empresa, de tal forma que o remédio da concordata fazia-se necessário. Sem em­bargo de a lei não trazer palavras inúteis, o que se verifica é que, se o pretendente preenche todas as demais exigências da lei, dificilmente algum juiz deixará de homologar o pedido, por ausência de justificativa fundamentada.

Art. 163. O devedor poderá, também, requerer a homolo­gação de plano de recuperação extrajudicial que obriga a to­dos os credores por ele abrangidos, desde que assinado por credores que representem mais de 3/5 (três quintos) de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos.

1. Diversas vezes acima já foi mencionada a possibilidade pre­vista neste artigo, ou seja, a obrigatória inclusão de outros credores que

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355 Capítulo VI -Art. 163

não acataram a proposta de recuperação extrajudicial feita pelo deve­dor. Esta é talvez a conseqüência mais importante do pedido de homo­logação do plano de recuperação extrajudicial. Há algumas especifici­dades que precisam ser examinadas mais a fundo, para que se determi­ne exatamente em quais condições estes terceiros serão obrigatoriamente submetidos às condições do plano.

2. Este artigo usa a expressão "cada espécie", referindo-se aos créditos passíveis de inclusão no plano de recuperação. O § 1 o fala em "espécies", previstas nos incisos do art. 83 que menciona; fala também em "grupo de credores da mesma natureza".

3. Portanto, pela letra da Lei, a abrangência obrigatória de "todos os credores" diz respeito apenas ao plano que seja oferecido para "es­pécie" e não para "natureza".

§ 1 o O plano poderá abranger a totalidade de uma ou mais espécies de créditos previstos no art. 83, incisos 11, IV, V, VI e VIII do caput, desta Lei, ou grupo de credores de mesma natu­reza e sujeito a semelhantes condições de pagamento, e, uma vez homologado, obriga a todos os credores das espécies por ele abrangidas, exclusivamente em relação aos créditos consti­tuídos até a data do pedido de homologação.

4. O art. 83 tem 8 incisos e, nos termos deste parágrafo, cada um destes incisos corresponde a uma "espécie". Em coerência com o§ 1° do art. 161, ficam excluídas aqui as espécies constantes dos incisos I (crédito trabalhista), III (crédito tributário) VII (multas, incluindo as tributárias); todos os demais incisos do art. 83 são espécies que podem ser abrangidas pelo plano de recuperação e, caso mais de três quintos dos credores de cada uma das espécies manifeste sua adesão ao plano, os demais credores da mesma espécie estão obrigatoriamente sujeitos ao plano de recuperação. Esta, portanto, é a divisão dos credores por "espécie", ressaltando-se que o art. 163 apenas estabelece a obrigato­riedade para "espécies" e não para "grupos de credores".

5. Este § 1 o inclui uma outra forma de classificação, que não por espécies, falando em "grupo de credores de mesma natureza e sujeito a semelhantes condições de pagamento". Imagine-se - sem embargo da dificuldade da aplicação prática - nove fornecedores de matéria-prima,

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Art. 163 - Capítulo VI 356

portanto credores da "mesma natureza", ambos com valores a serem recebidos a prazo, ou seja, natureza idêntica e semelhança de condição de pagamento (sem prejuízo do caráter extremamente vago de tais ex­pressões). Imagine-se ainda que parte deles tem garantia real (espécie do inciso II do art. 83) e outra parte é composta por quirógrafos (espé­cie do inc. VI do art. 83). A rigor, neste exemplo, não incidiria a inclu­são obrigatória, que apenas se aplica a créditos da mesma espécie e não a créditos da mesma natureza.

6. No entanto, até por uma questão lógica, certamente o legisla­dor pretendeu abranger na inclusão obrigatória todos os credores sujei­tos à recuperação, sejam da mesma espécie, sejam da mesma natureza, e para este entendimento certamente tenderá a interpretação jurispru­dencial. No entanto, a Lei usou palavra equívoca ao mencionar "mesma natureza" e "semelhantes condições de pagamento", dificultando a de­terminação de quais créditos estariam em tal situação. Provavelmente, ante tal imprecisão, certamente será dada preferência às recuperações por espécie, para cuja determinação a Lei é bastante clara.

7. Quem acompanhou as discussões sobre as alterações que o texto da Lei foi sofrendo ao longo de 11 anos, de 1993 (data do primeiro projeto) até 2004 (data da aprovação da Lei), teve oportunidade de cons­tatar alguns aspectos curiosos. Com relação especificamente a "crédi­tos da mesma espécie" e "créditos da mesma natureza", os termos fo­ram deixados de forma vaga na Lei, esperando que a prática do dia-a­dia e a jurisprudência fizessem as adaptações necessárias e encontras­sem o melhor caminho.

§ 2° Não serão considerados para fins de apuração do per­centual previsto no caput deste artigo os créditos não incluídos no plano de recuperação extrajudicial, os quais não poderão ter seu valor ou condições originais de pagamento alteradas.

8. Para a apuração dos três quintos previstos no caput do artigo, só podem ser considerados os créditos incluídos, seja por espécie, seja por natureza. Surge aqui novamente a dificuldade já acima apontada, ou seja, determinar exatamente quais seriam os créditos da mesma natureza.

9. Para perfeito entendimento desta disposição, relembre-se que o § 1 o acima, estabelece que o plano poderá (não deverá) abranger a totalidade de uma espécie. Um exemplo deixará este ponto bem claro. Imagine-se haver 22 credores quirografários; no entanto, o devedor ape-

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357 Capítulo VI -Art. 163

nas inclui no plano de recuperação extrajudicial 1 O credores, dos quais 7 (ou seja, mais de 3/5) concordam. Este devedor pedirá a homologação judicial que,se deferida, obrigará os três que não concordaram e, para o cálculo de 3/5, são contados apenas os 10 credores constantes do plano e não a totalidade dos 20 credores quirografários.

10. Por outro lado, os outros 12 credores quirografários que não foram incluídos no plano não poderão sofrer qualquer alteração nas obrigações firmadas com o devedor.

§ 3° Para fins exclusivos de apuração do percentual previs­to no caput deste artigo:

I - o crédito em moeda estrangeira será convertido para moeda nacional pelo câmbio da véspera da data de assinatura do plano; e

11 - não serão computados os créditos detidos pelas pes­soas relacionadas no art. 43 deste artigo. [Redação constante da versão publicada no DO de 09/02/2005.]

11. A determinação legal é clara no que tange à conversão da moeda estrangeira. Quanto ao inciso 11, exclui-se do cálculo de 3/5 os créditos dos quais sejam titulares pessoas próximas do devedor, ou seja, sócios, sociedades coligadas e outras, parentes próximos do devedor consangüíneos ou afins etc. Evidentemente, se se permitisse a inclusão de credores próximos do devedor por tais tipos de laços, estaria aberta a porta para os mais diversos tipos de fraudes e manipulações.

§ 4° Na alienação de bem objeto de garantia real, a supres­são da garantia ou sua substituição somente serão admitidas mediante a aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia.

§ 5° Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cam­bial só poderá ser afastada se o credor titular do respectivo crédito aprovar expressamente previsão diversa no plano de recuperação extrajudicial.

12. Há disposição idêntica a esta do§ 4° para a recuperação judi­cial, conforme § 1 o do art. 50; no § 2° do art. 50, há disposição seme­lhante à do § 5°, ora examinado.

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Art. 163 - Capítulo VI 358

13. Estes parágrafos estabelecem garantias em favor, respectiva­mente, do credor com garantia real, assegurando a tal credor que o bem não será alienado, nem suprimida ou substituída sua garantia, sem sua expressa aprovação, e em favor do credor com variação estabelecida em moeda estrangeira, a quem se garante a manutenção deste tipo de corre­ção, só alterável também com sua aprovação.

§ 6° Para a homologação do plano de que trata este artigo, além dos documentos previstos no caput do art. 162 desta Lei, o devedor deverá juntar:

I - exposição da situação patrimonial do devedor;

14. O art. 162 exige a justificativa do devedor e o plano apresen­tado, com assinaturas dos credores que aderiram a ele. Deve também o devedor expor sua situação patrimonial, elemento importante para o conhecimento de sua situação por parte de todos os interessados.

11- as demonstrações contábeis relativas ao último exercí­cio social e as levantadas especialmente para instruir o pedido, na forma do inciso 11 do caput do art. 51 desta Lei; e

15. O referido inciso li exige demonstrações contábeis dos últi­mos três exercícios sociais e outras especialmente levantadas para o pedido, como balanço patrimonial, demonstração de resultados acumu­lados, demonstração do resultado desde o último exercício e relatório de fluxo de caixa e de sua projeção.

111 - os documentos que comprovem os poderes dos subs­critores para novar ou transigir, relação nominal completa dos credores, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indica­ção dos registros contábeis de cada transação pendente.

16. A comprovação dos poderes de representação é necessária para que a parte esteja em juízo, devendo constar especificamente do instru­mento a outorga de poderes para novar ou transigir, até porque a transi­gência é da própria essência do plano de recuperação.

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359 Capítulo VI- Art. 164

17. A relação nominal é de todos os credores e não só daqueles sujeitos ao plano; quando a Lei quer particularizar os credores sujeitos ao plano, diz expressamente, como se pode ver do§ 1° do art. 164, abaixo.

Art. 164. Recebido o pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial previsto nos arts. 162 e 163 desta Lei, o juiz ordenará a publicação de edital no órgão oficial e em jornal de grande circulação nacional ou das localidades da sede e das filiais do devedor, convocando todos os credores do devedor para apresentação de suas impugnações ao plano de recuperação extrajudicial, observado o § 3° deste artigo.

1. Aqui são previstas movimentações de ordem processual. Será pu­blicado edital na Imprensa Oficial e em jornal de grande circulação nacio­nal; se o devedor tiver um único estabelecimento, a publicação poderá ser feita em jornal de circulação local. Se a empresa tem um único estabeleci­mento, não haverá qualquer dúvida de que o jornal deverá ser o do local do estabelecimento; no entanto, se houver vários estabelecimentos, as publi­cações devem ser feitas em jornais que circulem em todos estes vários lo­cais ou em um jornal de grande circulação nacional, medida especialmente necessária em País de grandes dimensões, como o nosso.

2. O edital de convocação pode ser bastante sucinto, expondo apenas o necessário à compreensão dos interessados, até por medida de economia, especialmente necessária para a empresa que precisa se socorrer desta me­dida de recuperação. No edital, porém, além dos demais dados identifica­dores de qualquer publicação, deverá constar necessariamente que, a partir da publicação no Diário Oficial, começa a ser contado o prazo de trinta dias para impugnações ao plano, por parte dos interessados.

§ 1° No prazo do edital, deverá o devedor comprovar o en­vio de carta a todos os credores sujeitos ao plano, domiciliados ou sediados no país, informando a distribuição do pedido, as condições do plano e prazo para impugnação.

§ 2° Os credores terão prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicação do edital, para impugnarem o plano, juntando a prova de seu crédito.

3. O edital destina-se à convocação de todos os credores, para fins de apresentação de impugnação ao plano. Além deste edital, o de-

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Art. 164 - Capítulo VI 360

vedor deve enviar carta a cada um dos credores sujeitos ao plano, com­provando em juízo tal envio. Evidentemente, petição devidamente for­malizada do credor em juízo, dando-se por ciente, dispensará o envio desta correspondência.

4. O prazo é de 30 dias e o credor deverá comprovar seu interesse processual para o pedido, juntando prova de seu crédito. O § 2° refere­se aos credores em geral, que por isto mesmo devem juntar a prova de seu crédito. Para os créditos sujeitos ao plano, o prazo de 30 dias conta­se da data da postagem da carta, de tal forma que, se não for provado o envio, o prazo não se inicia, com a observação de parte final do comen­tário 3, acima.

5. A Lei não prevê especificamente, mas é de todo recomendável que se mande processar a impugnação em autos apartados e, por isto, deve o impugnante instruir seu pedido com os documentos necessários ao julgamento. Tendo em vista os passos processuais seguintes, haveria tumulto processual incontrolável se todas as impugnações viessem a ser encartadas nos próprios autos do pedido de homologação.

§ 3° Para opor-se, em sua manifestação, à homologação do plano, os credores somente poderão alegar:

I - não preenchimento do percentual mínimo previsto no caput do art. 163 desta Lei;

6. Evidentemente, quem tem interesse processual para impugnação sobre este específico fundamento é apenas aquele que poderá vir a ser obri­gatoriamente incluído no plano de recuperação, na forma do art. 163.

11 - prática de qualquer dos atos previstos no inciso 111 do art. 94 ou do art. 130 desta Lei, ou descumprimento de requisi­to previsto nesta Lei;

111 - descumprimento de qualquer outra exigência legal.

7. O inciso III do art. 94 relaciona os chamados "atos de falên­cia". O termo "descumprimento de requisito previsto nesta Lei" é vago e abrangente, dificultando a aplicação do texto; no entanto, em princí­pio, aquele que pede a homologação do plano, deve preencher, por ób­vio, os requisitos da lei. Muito mais vago e abrangente é o termo constan­te do inciso III, especialmente em País no qual as leis são editadas às

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361 Capítulo VI -Art. 164

carradas, com tal rapidez que qualquer estudioso sempre tem dúvida em afirmar que tal lei está em vigor, pois pode ter sido revogada já.

8. Para impugnação com fundamento neste inciso II, qualquer cre­dor tem legitimidade, ao contrário do que ocorre com o inciso I acima.

§ 4° Sendo apresentada impugnação, será aberto prazo de 5 (cinco) dias para que o devedor sobre ela se manifeste.

§ 5° Decorrido o prazo do § 4° deste artigo, os autos serão conclusos imediatamente ao juiz para apreciação de eventuais impugnações e decidirá, no prazo de 5 (cinco) dias, acerca do plano de recuperação extrajudicial, homologando-o por sen­tença se entender que não implica prática de atos previstos no art. 130 desta Lei e que não há outras irregularidades que re­comendem sua rejeição.

9. Atento aos princípios da celeridade e economia processual, que, embora constantes do capítulo dedicado às falências (parágrafo único do art. 75), devem ser aplicados a todos os procedimentos desta Lei; decorrido o prazo de 5 dias da impugnação, será colhida manifestação do devedor, seguindo os autos conclusos para decisão em cinco dias. No entanto- e isto ocorre com extrema freqüência -, pode haver necessidade de outras providências e esclarecimentos para que o juiz tenha condições de julgar.

10. Ao afastar todas as impugnações, o juiz homologará o plano, se não houver outras irregularidades que recomendem sua rejeição. Ao acatar qualquer impugnação, o juiz indeferirá a homologação pretendi­da. Esta homologação será por sentença (§ 7°, abaixo), da qual cabe apelação com efeito apenas devolutivo.

11. Por isto mesmo, da decisão que resolve a impugnação não cabe qualquer tipo de recurso. A Lei não está tirando do impugnante o princípio da ampla defesa; apenas postergou o recurso para após a sen­tença que deferirá ou não a homologação do plano.

§ 6° Havendo prova de simulação de créditos ou vício de representação dos credores que subscreverem o plano, a sua homologação será indeferida.

12. Não há hipótese de decreto de falência no pedido de homolo­gação do plano de recuperação extrajudicial, ao contrário do que ocorre

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Art. 165 - Capítulo VI 362

com o plano de recuperação judicial. O juiz indeferirá a homologação se acatar alguma impugnação, se encontrar irregularidades que recomen­dem sua rejeição ou se houver provas dos fatos mencionados neste § 6°.

§ 7° Da sentença cabe apelação sem efeito suspensivo.

13. Como já examinado acima, a homologação ou seu indeferi­mento será por meio de sentença, da qual cabe recurso com efeito mera­mente devolutivo.

§ 8° Na hipótese de não homologação do plano o devedor poderá, cumpridas as formalidades, apresentar novo pedido de homologação de plano de recuperação extrajudicial.

14. A Lei não estabelece qualquer interstício temporal mínimo, de tal forma que o devedor pode apresentar novo plano de recuperação a qualquer tempo. Poderá ocorrer concordância do devedor com a sen­tença que rejeitou o plano, aprestando-se então para novo plano; no entanto, algum credor poderá ter apelado da sentença, o que também não obstará o novo plano, tendo em vista o efeito meramente devoluti­vo da apelação.

Art. 165. O plano de recuperação extrajudicial produz efei­tos após sua homologação judicial.

§ 1 o É lícito, contudo, que o plano estabeleça a produção de efeitos anteriores à homologação, desde que exclusivamente em relação à modificação do valor ou da forma de pagamento dos credores signatários.

§ zo Na hipótese do § 1 o deste artigo, caso o plano seja pos­teriormente rejeitado pelo juiz, devolve-se aos credores signa­tários o direito de exigir seus créditos nas condições originais, deduzidos os valores efetivamente pagos.

1. Este artigo estabelece que, para os credores que são obrigato­riamente incluídos no plano (art. 163), os efeitos apenas passam a exis­tir após a homologação judicial, o que é intuitivo. A única possibilidade de efeitos antes da homologação diz respeito apenas aos credores que, antes da homologação judicial, já estavam de acordo com o plano. De

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363 Capítulo VI -Art. 167

qualquer forma, se houver posterior rejeição, a estes últimos credores são devolvidos os direitos de exigir seus créditos na forma original.

Art. 166. Se o plano de recuperação extrajudicial homolo­gado envolver alienação judicial de filiais ou de unidades pro­dutivas isoladas do devedor, o juiz ordenará a sua realização, observado, no que couber, o disposto no art. 142 desta Lei.

1. O plano de recuperação, até por sua natureza contratual entre devedor e credores, pode prever as mais diversas possibilidades de re­cuperação e de atos tendentes a tanto. Aliás, uma das formas de recupe­ração que se tem visto com freqüência é exatamente por meio do enxugamento da empresa, com a venda de filiais, outros estabelecimen­tos, que a Lei prevê será feita por leilão, propostas fechadas ou pregão, nos termos do art. 142.

Art. 167. O disposto neste Capítulo não implica impossibi­lidade de realização de outras modalidades de acordo privado entre o devedor e seus credores.

1. Este artigo apenas confirma que embora seja possível o plano de recuperação extrajudicial, homologado ou não, ainda assim o deve­dor mantém a direção plena de sua empresa, podendo celebrar outras modalidades de acordo com qualquer credor, privadamente.

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Capítulo VI 364

Processamento da recuperação extrajudicial -arts. 161 a 167

Art. 161 -autoriza o devedor a propor recuperação extrajudicial, que pode ou não ser submetida à

homologação judicial

Art. 161, §5°-Após o pedido de homologação judicial, os que aderiram

só podem desistir com anuência dos demais

Art. 162- Pode requerer homologa­ção judicial apenas para os que

aderiram ao plano independentemen­te do número de aderentes

Art. 163 - Pode requerer homologa­ção para obrigar todos, desde que haja aderentes de mais de 3/5 de todos os créditos de cada espécie

Art. 164, §§ 3°,4°e 6°­Juiz indefere a homologação

por sentença

Art. 164- Juiz manda publicar editais, com prazo de 30 dias

para impugnação pelos credores

Art. 164, §5° -Juiz afasta·eventuais impugna­ções e homologa o plano, se não houver fraude

do art. 130 ou outras irregularidades A sentença homologatória constitui título

executivo judicial (art. 161, § 6°)

Art. 164, § 7°- Da sentença que homologar ou indeferir a

homologação, cabe apelação, sem efeito suspensivo

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Capítulo VII

DISPOSIÇÕES PENAIS

Seção I

Dos crimes em espécie

1. No regime da lei anterior, consagrou-se o termo "crime fali­mentar", pois o decreto de falência era condição de procedibilidade da ação penal. Mesmo preenchido qualquer dos tipos penais previstos nos arts. 186 a 191 da lei anterior, ainda assim não haveria crime se não tivesse havido decreto de falência. Por isto mesmo, falando sobre o ele­mento subjetivo daquele crime falimentar, Valverde (vol. 3, p. 29) dizia tratar-se de crimes de "dolo de perigo", representando "conduta incriminável, pelo risco de, vindo a ocorrer a falência, serem manifesta­mente danosos aos credores". Com efeito, partia a lei do pressuposto de que, todo comerciante sabia que corria o risco de vir a falir, até porque a atividade comercial é essencialmente atividade de risco; assim, ao praticar ato previsto como tipo penal na lei de falências, estava assu­mindo o risco de ser processado criminalmente por aquele ato, se sua falência viesse a ser decretada.

2. A Lei atual manteve o sistema de condição objetiva de punibi­lidade a partir de decisão nos autos cíveis, ampliando porém o campo para considerar também existentes os crimes, não apenas a partir do decreto de falência, mas também a partir do despacho que concede a recuperação judicial (art. 58) ou da sentença que homologa a recupera­ção extrajudicial(§ 5° do art. 164), tudo conforme previsto no art. 180.

3. Por isto mesmo, a rigor não se justificaria a manutenção do termo "crimes falimentares", pois mesmo sem decreto de falência o cri­me pode existir. No entanto, este termo já está consagrado pelo uso e sua manutenção justifica-se, não só por delimitar exatamente o tipo de delito sobre o qual se está falando, como também porque a lei ora sob exame continua a ser a lei de falências, sem embargo de ser também a lei de recuperação judicial e extrajudicial.

4. Pelos tipos penais ora previstos nos arts. 168 a 178, pode-se verificar que a catalogação de Valverde (vide comentário n. 1 acima)

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Capítulo VII - Seção I 366

relativamente ao elemento subjetivo, não mais se aplica, pois há diver­sos outros tipos de elemento subjetivo nos crimes previstos.

5. O exame mais abrangente da Lei, nesta parte penal, demonstra que houve um maior rigor no que diz respeito às penas, tanto que todos os delitos (com exceção apenas do art. 178), são apenados com reclu­são, cuja extensão varia de 2 a 6 anos. Na lei anterior, havia dois crimes apenados com detenção e aqueles apenados com reclusão previam pe­nas entre o mínimo de 1 ano e o máximo de 4 anos. Portanto, no que tange à pena a ser aplicada, a Lei atual optou por um rigor maior.

6. No que tange à prescrição do crime falimentar, a lei também es­tabeleceu um sistema que propicia um período maior para sua caracteri­zação, afastando o sistema da lei anterior, que trazia prazo tão exíguo que levava, salvo raríssimas exceções, à ocorrência certa da prescrição.

7. Sobre prescrição, vide comentários ao art. 182, adiante.

8. Embora a Lei tenha previsto penas mais rigorosas para os crimes falimentares e embora tenha estendido o prazo da prescrição, trouxe po­rém um elemento complicador, que se verifica existir nos crimes previs­tos nos arts. 170, 171 e 172, cujo elemento subjetivo é o dolo específico, exigindo portanto a dificílima prova de que, ao praticar determinado ato, o agente visava aquele fim específico previsto no tipo penal.

9. Quanto ao agente, a Lei manteve a previsão que já existia na lei anterior, equiparando à figura do devedor, as pessoas responsáveis pela administração (art. 179), mantendo igualmente, como efeito da conde­nação, a inabilitação para o exercício de atividade empresarial, acres­centando a previsão de mais dois efeitos, quais sejam, o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, di­retoria ou gerência de sociedade sujeita à atual Lei e a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio (art. 181). Vale lembrar que a decisão condenatória, bem como a aplicação dos citados efeitos à pessoa, deverá obedecer aos princípios da motivação dos atos judiciais e da publicidade (art. 93, IX, da Constituição Federal).

10. De forma inesperada, a Lei optou, em seu art. 185, por determinar que o rito a ser seguido seria o sumário (arts. 531 a 540 do CPP), que destina­se unicamente a crimes apenados com detenção (art. 539 do CPP), afastando o inquérito judicial antes existente e, em seu lugar, prevendo o inquérito po­licial (art. 187). Deixou porém a lei, felizmente, a possibilidade de dispen-

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367 Capítulo VII - Seção I -Art. 168

sar-se o inquérito policial e colher-se dados nos próprios autos da falência, para o oferecimento da denúncia. (vide comentários n. 3, 4 e 5 ao art. 187).

11. A Lei 9.099/95, que dispõe sobre os juizados especiais cíveis e criminais, em seu art. 61 estabelece que infrações penais de menor potencial ofensivo são aquelas às quais a lei comina pena máxima não superior a um ano. Posteriormente, foi promulgada a Lei 10.259/01, que dispõe sobre os juizados especiais no âmbito da Justiça Federal, aumentando o limite de aplicação para pena máxima não superior a dois anos. Os crimes previstos nos arts. 168 a 177 são todos apenados, no limite máximo, com penas superiores a dois anos e, portanto, a eles não se aplica a Lei 9.099/95, pelo art. 61. A pena prevista para o crime do art. 178 prevê pena máxima de dois anos de detenção e portanto, este delito está dentro do âmbito da dosagem da pena estabelecida na Lei sobre Juizados Especiais Criminais.

12. Já o art. 89 da Lei 9.099/95, que trata da suspensão condicional do processo, prevê outro limite de aplicação, estipulando que a lei se aplica nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a I ano. Pelas penas previstas, verifica-se que estariam enquadrados na Lei 9.099/ 95 os delitos previstos nos arts. 176 e 178, únicos com pena mínima igual a um ano, prevendo todos os demais artigos, pena mínima superior.

13. No regime da lei anterior, o rito processual do crime falimentar era especial, previsto nos arts. 503 a 512 do Código de Processo Penal, revogados pelo art. 200 desta Lei. O art. 185 prevê que o rito agora passa a ser o dos arts. 531 a540doCPP, ou seja, rito sumário. Como o art. 61 da Lei 9.099/95 excluía de seu âmbito de aplicação "os casos em que a lei preveja procedimento especial", formou-se discussão sobre a aplicabili­dade em caso de crimes falimentares, ante o procedimento especial que existia no sistema da lei antiga. Com a alteração no rito do processo crime falimentar para o sumário, esta discussão desaparece.

Fraude a credores

Art. 168. Praticar, antes ou depois da sentença que decre­tar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento de que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurar vantagem indevida para si ou para outrem:

Pena- reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

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Art. 168 - Capítulo VII - Seção I 368

1. Sujeito Ativo: sujeito ativo é o devedor ou quem o represente; portanto, cuida-se de crime próprio.

2. Sujeito Passivo: o sujeito passivo imediato é a administração da Justiça, mediatamente são os credores, a quem o ato fraudulento possa causar prejuízo.

3. Tipo Objetivo: a conduta típica consiste na realização de qual­quer conduta fraudulenta, de que resulte ou possa prejuízo aos credores; o núcleo do tipo é representado pelo verbo praticar; é, portanto, crime de forma livre, de modo que qualquer ato do agente, de que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, amolda-se ao tipo em epígrafe.

4. Tipo Subjetivo: é o dolo direto, além do elemento· subjetivo especial do tipo, consistente no fim especial de obter ou assegurar van­tagem indevida para si ou para outrem.

S. Consumação e Tentativa: a consumação se dá com a prática do ato fraudulento; tratando-se de delito formal, não admite tentativa; quan­to à obtenção da vantagem indevida para si ou para outrem é mero exau­rimento do delito.

6. Classificação: crime próprio, formal, de perigo, doloso, comissivo.

7. Tipos Análogos: CP, arts. 171, 175, 177, 179; Lei 7.492/86, art. 11 e Lei 8.137/90.

8. Tipos Complementares: CP, arts. 29, 69, 70 e 71.

Aumento da pena §r A pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço),

se o agente: I - elabora escrituração contábil ou balanço com dados

inexatos; 11 - omite, na escrituração contábil ou no balanço, lança­

mento que deles deveria constar, ou altera escrituração ou ba­lanço verdadeiros;

Ill - destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou nego­ciais armazenados em computador ou sistema informatizado;

IV- simula a composição do capital social; V - destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os

documentos de escrituração contábil obrigatórios.

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369 Capítulo VII - Seção I -Art. 168

Contabilidade paralela § 2° A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até metade se o

devedor manteve ou movimentou recursos ou valores parale­lamente à contabilidade exigida pela legislação.

9. As causas de aumento de pena foram fixadas em razão do maior potencial ofensivo da conduta praticada pelas formas especificadas no parágrafo.

Concurso de pessoas

§ 3° Nas mesmas penas incidem os contadores, técnicos con­tábeis, auditores e outros profissionais que, de qualquer modo, concorrerem para as condutas criminosas descritas neste arti­go, na medida de sua culpabilidade.

10. São requisitos do concurso de agentes a pluralidade de con­dutas e de pessoas, a relevância causal de cada uma das condutas, o liame subjetivo ou p!!>icológico entre as pessoas e a identidade do ilícito penal para todas elas.

11. A co-autoria se revela pela prática do núcleo do tipo pelos agentes. Todavia, admite-se o concurso por conta da participação, seja sob a forma de instigação, como também pela cumplicidade.

12. Vide arts. 29 a 31 do Código Penal.

Redução ou substituição da pena

§ 4° Tratando-se de falência de microempresa ou de em­presa de pequeno porte, e não se constatando prática habitual de condutas fraudulentas por parte do falido, poderá o juiz reduzir a pena de reclusão de 113 (um terço) a 2/3 (dois terços) ou substituí-la pelas penas restritivas de direitos, pelas de per­da de bens e valores ou pelas de prestação de serviços à comu­nidade ou a entidades públicas.

13. As microempresas e empresas de pequeno porte movimen­tam pequenas quantias, tendo faturamento anual restrito. Entendeu o legislador que tais empresários deveriam gozar de penas mais brandas, facultando ao juiz, na análise do caso concreto, a redução da pena ou a substituição da pena de reclusão por penas restritivas de direitos, perda de bens e valores ou de prestação de serviços.

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Art. 169 - Capítulo VII - Seção I 370

Violação de sigilo empresarial

Art. 169. Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, si­gilo empresarial ou dados confidenciais sobre operações ou serviços, contribuindo para a condução do devedor a estado de inviabilidade econômica ou financeira:

Pena- reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

1. Sujeito Ativo: sujeito ativo é qualquer pessoa que viola, explo­ra ou divulga segredo sobre operações ou serviços, sem necessidade de que dele tenha tomado conhecimento em razão de função, ministério, ofício ou profissão.

2. Sujeito Passivo: o sujeito passivo imediato é o detentor do si­gilo empresarial ou dos dados confidenciais sobre operações ou servi­ços, desde que esteja submetido à falência ou à recuperação judicial ou extrajudicial.

3. Tipo Objetivo: a conduta típica consiste em violar, explorar ou divulgar sigilo empresarial ou dados confidenciais; violar significa trans­gredir ou infringir o segredo; explorar significa tirar partido ou pro­veito do segredo; divulgar significa dar a conhecimento de terceiros o segredo. Sigilo empresarial ou dados confidenciais são ativos intangí­veis, tais como marcas, patentes, know-how, segredos industriais, en­fim, bens que garantem ao empresário uma vantagem sobre os demais agentes econômicos, conferindo-lhe a eficiência necessária para per­manecer e competir no mercado. É necessário que os núcleos sejam realizados sem justa causa, elemento normativo que compete ao juiz verificar em cada caso concreto.

4. Tipo Subjetivo: é o dolo direto ou, também, o eventual, con­sistentes na prática delituosa com a ciência de que contribuiu, ou pode contribuir, para o estado de inviabilidade econômica ou financeira.

5. Consumação e Tentativa: consuma-se com a violação, explora­ção ou divulgação do sigilo; tratando-se de delito formal, em princípio não admite tentativa.

6. Classificação: crime comum, formal, de perigo, doloso, comissivo.

7. Tipos Análogos: CP, arts. 151,152, 153,154eLei 9.279/96, art. 195.

8. Tipos Complementares: CP, arts. 29, 69, 70 e 71.

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371 Capítulo VII - Seção I - Art. 171

Divulgação de informações falsas Art. 170. Divulgar ou propalar, por qualquer meio, infor­

mação falsa sobre devedor em recuperação judicial, com o fim de levá-lo à falência ou de obter vantagem:

Pena- reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

1. Sujeito Ativo: sujeito ativo é qualquer pessoa que divulga ou propala informação falsa sobre devedor em recuperação judicial. Trata­se, portanto, de crime comum quanto ao sujeito ativo.

2. Sujeito Passivo: o sujeito passivo imediato é o devedor em re­cuperação judicial; logo, tratando-se de falência ou de recuperação ex­trajudicial, inexiste a figura típica em questão.

3. Tipo Objetivo: a conduta típica consiste em divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação falsa sobre devedor em recuperação ju­dicial. Divulgar significa tomar público a informação falsa; propalar tem o significado dar curso a informação falsa já divulgada por outrem. Trata-se de crime de forma livre, podendo ser executado por meio da palavra falada ou escrita e por quaisquer meios, entre eles internet, é­mails. Informação falsa é aquela que sabidamente não corresponde à verdade. A finalidade da conduta é levar o devedor em recuperação ju­dicial à falência ou a obtenção de vantagem, que normalmente é econô­mica, mas que pode também ser moral.

4. Tipo Subjetivo: é o dolo direto, consistente na inequívoca ciên­cia de que a informação é falsa; exige-se, ademais, elemento subjetivo especial do tipo, ou seja, a finalidade de levar o devedor em recupera­ção judicial à falência ou obter vantagem.

5. Consumação e Tentativa: consuma-se com a divulgação ou re­petição da informação falsa; tratando-se de delito de formal, em princí­pio não admite tentativa.

6. Classificação: crime comum, formal, de perigo, doloso, comissivo.

7. Tipos Análogos: CP, arts. 139, Lei 7.492/86, art. 3° e Lei 9.279/ 96, art. 195.

8. 'Tipos Complementares: CP, arts. 29, 69, 70 e 71.

Indução a erro

Art. 171. Sonegar ou omitir informações ou prestar infor­mações falsas no processo de falência, de recuperação judicial

Page 373: Nova lei de recuperação e falências (comentada)   3ª ed - manoel justino bezerra filho

Art. 172 - Capítulo VII - Seção I 372

ou de recuperação extrajudicial, com o fim de induzir a erro o juiz, o Ministério Público, os credores, a assembléia-geral de credores, o Comitê ou o administrador judicial:

Pena- reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

1. Sujeito Ativo: sujeito ativo é qualquer pessoa que sonega, omi­te ou presta informações falsas em processo de falência, de recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial.

2. Sujeito Passivo: o sujeito passivo imediato é a Administração da Justiça, a quem competem os processos de falência, de recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial.

3. Tipo Objetivo: São três os núcleos do tipo. Sonegar tem o signi­ficado de esconder, ocultar ou encobrir informação de deva ser prestada, de ofício ou mediante requisição, em processo de falência ou de recupe­ração extrajudicial ou judicial. Omitir tem o sentido de deixar de infor­mar, tanto nos casos em que a obrigação de prestar a informação decorra de imposição legal ou contratual ou mesmo quando é requisitada. Prestar informação falsa significa fazer afirmação ideologicamente falsa.

4. Tipo Subjetivo: é o dolo direto, consistente na inequívoca ciên­cia de que o agente sonega, omite ou presta informações falsas; exige­se, ademais, elemento subjetivo especial do tipo, ou seja, a finalidade induzir em erro o juiz, o Ministério Público, os credores, a assembléia geral de credores, o Comitê ou o administrador judicial.

5. Consumação e Tentativa: consuma-se com a sonegação ou omissão (na forma omissiva própria) ou com a prestação de informa­ções falsas (na forma comissiva); tratando-se de delito formal, em prin­cípio não admite tentativa.

6. Classificação: crime comum, formal, de perigo, doloso, omissivo (nas duas primeiras formas) e comissivo (na última forma).

7. Tipos Análogos: CP, art. 299 e Lei 7.492/86, arts. 4° e 9°.

8. Tipos Complementares: CP, arts. 29, 69, 70 e 71.

Favorecimento de credores

Art. 172. Praticar, antes ou depois da sentença que decre­tar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar plano de recuperação extrajudicial, ato de disposição ou one-

Page 374: Nova lei de recuperação e falências (comentada)   3ª ed - manoel justino bezerra filho

373 Capítulo VII - Seção I - Art. 172

ração patrimonial ou gerador de obrigação, destinado a favo­recer um ou mais credores em prejuízo dos demais:

Pena- reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o credor que, em conluio, possa beneficiar-se de ato previsto no caput deste artigo.

1. Sujeito Ativo: sujeito ativo é aquele que pratica, antes ou de­pois da sentença que decreta a falência, concede a recuperação judi­cial ou homologa plano de recuperação extrajudicial, ato de transfe­rência patrimonial ou de oneração de patrimônio; é, nesse sentido, crime próprio, porque exige-se que o agente possa praticar os atos incriminados; também é sujeito ativo do crime o credor ou credores que, em conluio com o devedor, possam beneficiar-se do ato de dispo­sição ou oneração.

2. Sujeito Passivo: os sujeitos passivos imediatos são os credores prejudicados.

3. Tipo Objetivo: O núcleo da conduta consiste na prática de quaisquer atos de disposição ou oneração patrimonial ou gerador de obrigação; ato de disposição é, por exemplo, a venda; ato de onera­ção é, por exemplo, a constituição de ônus real; ato gerador de obri­gação é, por exemplo, o contrato fictício ou mesmo aquele que não possa assim ser considerado mas que, de alguma forma, tem como conseqüência, privilegiar determinado(s) credor(es) em detrimento dos demais.

4. Tipo Subjetivo: é o dolo direto, consistente na prática do ato, com a inequívoca ciência de que favorecerá determinado(s) credor(es). Todavia, admite-se também o dolo eventual, consistente na aceitação da probabilidade ou possibilidade de favorecimento de determinado(s) credor(es). Exige-se a finalidade específica no sentido de favorecer, com o ato, determinado(s) credor(es).

5. Consumação e Tentativa: consuma-se com a prática do ato que importe em disposição ou oneração, ou gerador de obrigação destinada a favorecer certo( s) credor( es ). Tratando-se de delito de formal, em prin­cípio não admite tentativa.

6. Classificação: crime próprio, formal, de perigo, doloso, comissivo.

7. Tipos Complementares: CP, arts. 29, 69, 70 e 71.

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Art. 173 - Capítulo VII - Seção I 374

Desvio, ocultação ou apropriação de bens Art. 173. Apropriar-se, desviar ou ocultar bens pertencen­

tes ao devedor sob recuperação judicial ou à massa falida, in­clusive por meio da aquisição por interposta pessoa:

Pena- reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

1. Sujeito Ativo: sujeito ativo é aquele que se apropria, desvia ou oculta bens do devedor sujeito à recuperação judicial ou da massa fali-da. Trata-se de crime comum. ·

2. Sujeito Passivo: imediatamente a Administração da Justiça e mediatamente os credores prejudicados.

3. Tipo Objetivo: O núcleo da conduta consiste em apropriar-se, isto é, tomar como seu bem do devedor sujeito à recuperação judicial ou da mas­sa falida, de que o agente tem posse indireta lícita; desviar, que tem o signi­ficado de dar emprego diverso do que foi determinado ao agente ou ocultar os mesmos bens, que consiste em encobrir ou esconder os mesmos bens.

4. Tipo Subjetivo: é o dolo direto, consistente na apropriação, desvio ou ocultação de bens; admite-se o dolo eventual, consistente na aceitação da probabilidade ou possibilidade da ocultação, desvio ou apropriação.

5. Consumação e Tentativa: consuma-se com a pratica do ato; não se admite tentativa, em razão de ser crime de mera conduta.

6. Classificação: crime comum, de mera conduta, de perigo, do­loso, comissivo ou omissivo, quando o agente tem a obrigação de apre­sentar o bem, sem que assim o faça.

7. Tipos Análogos: CP, arts. 168, 312 e Lei 7.492/86, art. 5°.

8. Tipos Complementares: CP, arts. 29, 69, 70 e 71.

Aquisição, recebimento ou uso ilegal de bens Art. 17 4. Adquirir, receber, usar, ilicitamente, bem que sabe

pertencer à massa falida ou influir para que terceiro, de boa­fé, o adquira, receba ou use:

Pena- reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

1. Sujeito Ativo: é aquele que, sabendo que o bem pertence à massa, o adquire, recebe ou usa ou mesmo aquele que influencia tercei­ro a fazê-lo; portanto, trata-se de crime comum.

2. Sujeito Passivo: a Administração da Justiça.

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375 Capítulo VII - Seção I - Art. 17 5

3. Tipo Objetivo: O núcleo da conduta consiste na aquisição, gra­tuita ou onerosa, de bem que sabe pertencer à massa e também no rece­bimento ou uso de bem que saiba, de forma inequívoca, ser de falido ou, ainda, influir para que terceiro de boa-fé assim o faça.

4. Tipo Subjetivo: é o dolo direto, consistente na prática do ato, com a inequívoca ciência de que o bem seja pertencente à massa.

5. Consumação e Tentativa: consuma-se com a aquisição, recebi­mento ou uso dos bens a que se refere a disposição ou com a prática da influência para que terceiro de boa-fé assim o faça; tratando-se de deli­to de mera conduta não admite tentativa.

6. Classificação: crime comum, de mera conduta, de perigo, do­loso, comissivo.

7. Tipos Complementares: CP, arts. 29, 69, 70 e 71.

Habilitação ilegal de crédito

Art. 175. Apresentar, em falência, recuperação judicial ou recuperação extrajudicial, relação de créditos, habilitação de créditos ou reclamação falsas, ou juntar a elas título falso ou si­mulado:

Pena- reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

1. Sujeito Ativo: sujeito ativo é aquele que se apresenta em falência ou na recuperação judicial ou extrajudicial relação de créditos, habilita­ção de crédito ou reclamação falsos. Essa falsidade, em princípio, é ideo­lógica, podendo, todavia, em razão da última parte do dispositivo, impor­tar na falsificação de documentos ou no uso de documentos falsificados.

2. Sujeito Passivo: a Administração da Justiça.

3. Tipo Objetivo: O núcleo da conduta consiste na apresentação, no processo de falência, ou na recuperação judicial ou extrajudicial, relação de créditos, habilitação de crédito ou reclamação que sabida­mente são falsos ou instruir quaisquer desses com título falso, no sen­tido material da expressão, ou produto de simulação, hipótese d~ falsi­dade ideológica.

4. Tipo Subjetivo: é o dolo direto, consistente na prática do ato, com a inequívoca ciência da falsidade.

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Art. 176- Capítulo VII- Seção I 376

5. Consumação e Tentativa: consuma-se com a apresentação da relação de créditos, habilitação de crédito ou reclamação que sabida­mente são falsos ou com o uso do título falso ou simulado; tratando-se de crime de mera conduta não é admissível a tentativa.

6. Classificação: crime comum, de mera conduta, de perigo, do­loso, comissivo.

7. Tipos Análogos: Lei 7.492/86, art. 14.

8. Tipos Complementares: CP, arts. 29, 69, 70 e 71.

Art. 176. Exercer atividade para a qual foi inabilitado ou incapacitado por decisão judicial, nos termos desta Lei:

Pena- reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

1. Sujeito Ativo: sujeito ativo é aquele que, tendo sido declarado inabilitado ou incapacitado nos termos da Lei (arts. 102 e ss.), passa a exercer ou continua exercendo a atividade para o qual foi inabilitado ou incapacitado. Trata-se, portanto, de crime próprio.

2. Sujeito Passivo: A Administração da Justiça.

3. Tipo Objetivo: O núcleo da conduta consiste no exercício da atividade para o qual o agente foi dado como inabilitado ou incapacita­do judicialmente. Haverá, certamente, dificuldades práticas quanto à prova do delito naquelas hipóteses em que o sujeito ativo se vale de terceiros, para exercer ou continuar exercendo a atividade, sugerindo a hipótese de concurso de agentes.

4. Tipo Subjetivo: é o dolo direto, consistente no exercício de ativi­dade para a qual o agente está incapacitado ou inabilitado judicialmente.

5. Consumação e Tentativa: consuma-se com o exercício ou com a continuação do exercício da atividade. Tratando-se de delito de mera conduta formal, não admite tentativa.

6. Classificação: crime próprio, de mera conduta, de perigo, do­loso, comissivo.

7. Tipos Análogos: CP, arts. 282 e Dec.-lei 3.688/41, art. 47.

8. Tipos Complementares: CP, arts. 29, 69, 70 e 71.

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377 Capítulo VII - Seção I - Art. 177

Violação de impedimento

Art. 177. Adquirir o juiz, o representante do Ministério Pú­blico, o administrador judicial, o gestor judicial, o perito, o ava­liador, o escrivão, o oficial de justiça ou o leiloeiro, por si ou por interposta pessoa, bens de massa falida ou de devedor em recupe­ração judicial, ou, em relação a estes, entrar em alguma especula­ção de lucro, quando tenham atuado nos respectivos processos:

Pena- reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

1. Sujeito Ativo: sujeito ativo é o juiz, o representante do Ministé­rio Público, o administrador judicial, o gestor judicial, o perito, o ava­liador, o escrivão, o oficial de justiça ou o leiloeiro e também a inter­posta pessoa, que adquire bens da massa ou da empresa em recuperação judicial. Trata-se de crime próprio. Também praticam o delito o juiz, o representante do Ministério Público, o administrador judicial, o gestor judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o oficial de justiça ou o leiloeiro e também a interposta pessoa que entrem em alguma especulação de lucro com o devedor em recuperação judicial, acerca de seus bens.

2. Sujeito Passivo: a Administração da Justiça.

3. Tipo Objetivo: O núcleo da conduta consiste na aquisição de bens da massa falida ou da empresa em recuperação judicial ou, ainda, nas situações em que o sujeito ativo, ainda que não adquira por si ou por interposta pessoa os bens, entre em especulação de lucro com o devedor em recuperação judicial. Observe-se que a lei pretende evitar que pessoas próximas da falência adquiram bens, ante a possível facili­tação de fraude; no entanto, da mesma forma que na lei anterior, dei­xou-se de incluir entre os sujeitos ativos, a pessoa do advogado que tenha atuado nos autos como advogado do falido, do administrador ju­dicial ou de qualquer dos demais sujeitos ativos.

4. Tipo Subjetivo: é o dolo direto, consistente na aquisição ou na especulação de lucro.

5. Consumação e Tentativa: consuma-se com a prática do ato aqui­sitivo ou com o ato de entrar com o devedor em recuperação judicial em especulação de lucro. Tratando-se de delito de mera conduta, não admi­te tentativa.

6. Classificação: crime próprio, de mera conduta, de perigo, do­loso, comissivo.

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Art. 178 - Capítulo VII - Seção I 378

prio.

7. Tipos Análogos: CP, arts. 312, 316, 317.

8. Tipos Complementares: CP, arts. 29, 69, 70 e 71.

Omissão dos documentos contábeis obrigatórios

Art. 178. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, an­tes ou depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos de escrituração contábil obriga­tórios:

Pena- detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.

1. Sujeito Ativo: sujeito ativo é o devedor. Trata-se de crime pró-

2. Sujeito Passivo: a Administração da Justiça.

3. Tipo Objetivo: O núcleo da conduta consiste em deixar de ela­borar, escriturar ou autenticar os documentos de escrituração contábil obrigatória. Observe-se que além dos documentos mercantis, também os fiscais ensejam a prática delituosa. Trata-se de crime omissivo próprio.

4. Tipo Subjetivo: é o dolo direto, consistente na omissão quanto à elaboração, escrituração ou autenticação de documentos de escritura­ção contábil obrigatória. Admite-se o dolo eventual.

5. Consumação e Tentativa: consuma-se com a omissão; tratan­do-se de delito omissivo e de mera conduta, não admite tentativa.

6. Classificação: crime próprio, de mera conduta, de perigo, do­loso, omissivo próprio.

7. Tipos Complementares: CP, arts. 29, 69, 70 e 71.

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Seção 11

Disposições comuns

Art. 179. Na falência, na recuperação judicial e na recupe­ração extrajudicial de sociedades, os seus sócios, diretores, ge­rentes, administradores e conselheiros, de fato ou de direito, bem como o administrador judicial, equiparam-se ao devedor ou falido para todos os efeitos penais decorrentes desta Lei, na medida de sua culpabilidade.

1. Observe-se inicialmente que o termo "crimes falimentares", nome que era usado especificamente pela lei anterior (o "Título XI" da lei anterior falava "Dos Crimes Falimentares") a rigor não mais se jus­tificaria, tendo em vista que no regime da nova lei, pode ocorrer o crime mesmo antes do decreto de falência, como será abaixo examinado. No entanto, o termo continuará a ser usado, para que se fixe que se trata de crime previsto na específica legislação falimentar.

2. Os crimes falimentares são estes cujos tipos vêm descritos nos arts. 168 a 178. Pelo princípio da reserva legal, estabelecido no inciso XXXIX do art. 5° da Constituição de 1988, segundo o qual "não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal", apenas se caracterizará crime falimentar se for preenchido qual­quer dos tipos desses artigos acima examinados. Os próximos artigos não se referem mais aos tipos, discorrendo sobre condição de punibili­dade objetiva, efeitos da condenação e prescrição.

3. Ante o princípio constitucional da reserva legal acima lembra­do, a lei foi extremamente cuidadosa ao equiparar estas pessoas rela­cionadas no art. 179 ao devedor ou falido, para evitar que qualquer di­retor, gerente, administrador e conselheiro mesmo que de fato, bem como o próprio administrador judicial viessem a praticar atos criminosos, colocando-se a salvo de qualquer repressão penal, sob a alegação de não ser, pessoalmente, devedor. O exame da responsabilidade penal deve ser feito caso a caso; apesar de sócio, alguém com participação mera­mente simbólica, sem qualquer poder de administração, não será res­ponsabilizado; já um membro do conselho de administração da socie-

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Art. 180 - Capítulo VII - Seção 11 380

dade anônima pode eventualmente ser responsabilizado, como diz Amaral (p. 92), ainda que seja dono de uma única ação.

4. Da leitura dos art. 168 a 178, verifica-se também que não só as pessoas nominadas neste art. 179 podem ser agentes dos crimes, pois os tipos penais prevêem não só crimes de mão própria que só podem ser praticados por aquela pessoa especificada na lei (art. 177; v.g., o juiz que preside o processo), contemplando também crimes próprios, que só podem ser praticados por determinada categoria de pessoas (art. 176) como também crimes comuns, que podem ser praticados por qualquer pessoa (art. 169), além, evidentemente, da possibilidade de concurso de pessoas, na forma do art. 29 do Código Penal, havendo concurso espe­cificamente previsto no § 2° do art. 168.

Art. 180. A sentença que decreta a falência, concede a recu­peração judicial ou concede a recuperação extrajudicial de que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei.

1. Conforme observado nos comentários ao art. 183 adiante (co­mentário n. 4), no regime da lei anterior apenas ocorreria o crime fali­mentar se houvesse anteriormente decreto de falência. Durante a con­cordata da lei anterior, não haveria possibilidade de ajuizamento da ação penal por crime falimentar pois, como se afirmava corretamente, o de­creto falimentar era condição de procedibilidade da ação penal ou con­dição de punibilidade do agente.

2. A Lei atual estendeu o campo para prever também a possibili­dade de ação penal por crimes previstos nesta Lei, não só em caso de decreto de falência, como também após o despacho que concede a recu­peração judicial (art. 58) ou a sentença que homologa o plano de recu­peração extrajudicial(§ 5° do 164). Observe-se apenas que o artigo fala em "sentença" que concede a recuperação, quando na realidade trata-se de "decisão interlocutória" (art. 58), aliás, passível de agravo (§ 2° do art. 59).

Art. 181. São efeitos da condenação por crime previsto nesta Lei:

I - a inabilitação para o exercício de atividade empresa­rial;

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381 Capítulo VII - Seção 11 - Art. 181

11- o impedimento para o exercício de cargo ou função em conselho de administração, diretoria ou gerência das socieda­des sujeitas a esta Lei;

111 - a impossibilidade de gerir empresa por mandato ou por gestão de negócio.

§ 1 o Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo sr motivadamente declarados na sentença, e perdura­rão até 5 (cinco) anos após a extinção da punibilidade, poden­do, contudo, cessar antes pela reabilitação penal.

1. A condenação criminal sujeita o réu a seus efeitos, que po­dem ser genéricos e específicos. O art. 91 do Código Penal diz que são efeitos da condenação: tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, e a perda dos instrumentos e do produto do crime. O art. 92 alinha outra série de efeitos da condenação e, entre eles, no inciso III, fala em inabilitação para dirigir veículo. O parágra­fo único do art. 92 estabelece finalmente que os efeitos deste art. 92 não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sen­tença; já os efeitos alinhados no art. 91 são automáticos, independendo de menção na sentença.

2. Na sentença criminal no campo falimentar, os efeitos também não são automáticos, estabelecendo o § 1 o que devem ser motivada­mente declarados na sentença. Portanto, não basta que a sentença de­clare que está aplicando determinado efeito, sendo necessário que fun­damente suficientemente a decisão, motivação que deve também existir para o período de duração destes efeitos, tendo como limite máximo o prazo de 5 anos a contar da extinção da punibilidade.

3. Na forma do que prevê o art. 107 do Código Penal, a extinção da punibilidade ocorre pela morte do agente; por anistia, graça ou in­dulto; pela retroatividade da lei que não mais considera o fato crimino­so; pela prescrição, decadência ou perempção, nos incisos que podem guardar interesse para o crime falimentar.

4. O inciso I prevê a possibilidade de inabilitação para o exercí­cio da atividade empresarial, limitação à qual aliás já se encontrava sub­metido desde o momento em que foi decretada a falência (art. 102). No entanto, o inciso I ora examinado não é mera repetição do art. 102, pois aquele diz respeito apenas ao caso de falência, enquanto aqui pode ser

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Art. 181 - Capítulo VII - Seção 11 382

aplicada a inabilitação mesmo em caso de recuperação judicial ou ex­trajudicial.

5. Ademais, o art. 102 prevê que a inabilitação se estenderá até a sentença de extinção das obrigações, e aqui a Lei prevê que perdurará por cinco anos após a extinção da punibilidade; porém, poderá cessar antes, caso haja reabilitação penal.

6. Ao contrário da lei anterior, que não previa pena específica para o descumprimento das limitações impostas, o art. 176 da Lei atual pre­vê como "exercício ilegal de atividade" tal ato, estabelecendo pena de reclusão de 1 a 4 anos.

7. Os incisos li e III estabelecem outros tipos de restrição, às quais aplicam-se as observações acima. Ressalte-se apenas que para que se conheça a duração da inabilitação para exercer atividade empresarial é necessário o exame tanto do presente artigo, quanto do art. 102 já acima referido.

8. O § 1 o deste artigo diz que estes efeitos perduram por até cinco anos após a extinção da punibilidade, podendo cessar antes pela reabi­litação penal. A reabilitação está prevista no art. 93 do Código Penal, alcançando quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva e assegu­rando ao condenado o sigilo dos registros sobre seu processo e conde­nação, nos exatos termos do artigo, prevendo seu § 1 o que pode também atingir os efeitos da condenação, previstos no art. 92.

9. Na forma do art. 94 do Código Penal, a reabilitação poderá ser pedida decorridos 2 anos do dia em que for extinta a pena ou terminar sua execução, desde que preenchidas também as demais condições do artigo. O pedido correrá em autos apartados, ante o juiz criminal (em São Paulo, ante o juiz da falência- vide comentário n. 3 ao art. 183).

§ 2° Transitada em julgado a sentença penal condenatória, será notificado o Registro Público de Empresas para que tome as medidas necessárias para impedir novo registro em nome dos inabilitados.

10. Para o exercício regular da atividade empresarial, é obrigató­ria a inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis (art. 967 do Código Civil), ou seja, é necessário o arquivamento dos atos constituti-

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383 Capítulo VII - Seção 11 - Art. 182

vos na Junta Comercial da unidade da federação na qual está situada a sociedade empresária, nos termos da Lei 8.934, de 18.11.1994, que "dis­põe sobre o registro público de empresas mercantis e atividades afins e dá outras providências" e do Decreto 1.800, de 30.01.1996, que "regu­lamenta a Lei 8.934".

11. Para que se dê maior efetividade à inabilitação, determina a Lei que se oficie à Junta Comercial, responsável pelo registro do comércio, de tal forma que seja vedado o registro de contrato ou estatuto que preve­ja exercício de atividade empresarial para condenados em tal situação.

Art. 182. A prescrição dos crimes previstos nesta Lei reger­se-á pelas disposições do Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, começando a correr do dia da decre­tação da falência, da concessão da recuperação judicial ou da homologação do plano de recuperação extrajudicial.

Parágrafo único. A decretação da falência do devedor in­terrompe a prescrição cuja contagem tenha iniciado com a con­cessão da recuperação judicial ou com a homologação do pla­no de recuperação extrajudicial.

1. O diploma falimentar, como visto, envolve diversas áreas do direito, tocando em pontos de direito empresarial, de direito civil e pro­cessual civil, de direito penal e processual penal, administrativo, traba­lhista, previdenciário, fiscal etc. Por isto mesmo, às vez~s é necessário uma advertência para que se evitem confusões que ocorrem de forma bastante freqüente, o que é possível perceber especialmente com o exer­cício do magistério em cursos de graduação. Este art. 182 é um dos que certamente se prestará a propiciar um certo tipo de "contaminação da análise" e, por isto, justifica-se a advertência.

2. Este artigo trata da prescrição dos crimes e não da prescrição das obrigações civis. A prescrição criminal, antes de transitar em julga­do a sentença condenatória está prevista no art. 109 do Código Penal, e é a prescrição da pretensão punitiva. Já o art. 110 cuida da prescrição após transitar em julgado a sentença condenatória, ou seja, prescrição da pretensão executória. O primeiro tipo de prescrição (art. 109) impe­de a continuação do andamento do processo crime; o segundo tipo (art. 11 O) impede a aplicação da pena ao réu já condenado por sentença tran­sitada em julgado.

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Art. 182 - Capítulo VII - Seção 11 384

3. A confusão se estabelece, especialmente na mente dos estu­dantes, porque a prescrição é uma forma de extinção da punibilidade (art. 107, IV, Código Penal), que faz cessar os efeitos da condenação. Na forma do § 1° do art. 181, os efeitos da condenação podem cessar pela reabilitação penal; na forma do art. 102, a inabilitação pode cessar pela extinção das obrigações e esta extinção das obrigações pode ocor­rer pela prescrição ( art.160) das obrigações comerciais do falido (art. 157). Portanto, no estudo desta matéria, deve-se ficar extremamente aten­to para não se confundir prescrição de natureza penal com prescrição de natureza civil.

4. No sistema da lei anterior, criticava-se profundamente a exi­güidade do prazo prescricional, cujo prazo de 2 anos (art. 199 da lei anterior) contava-se a partir do prazo no qual a falência deveria estar encerrada (o art. 132 estabelecia o prazo de 2 anos a partir da declara­ção da falência), tudo na forma da interpretação trazida pela Súmula 147 do STF, segundo a qual "a prescrição do crime falimentar começa a correr da data em que deveria estar encerrada a falência, ou do trânsito em julgado da sentença que a encerrar ou que julgar cumprida a concor­data". Portanto, com as devidas ressalvas e como regra geral, na lei anterior a prescrição do crime falimentar ocorria no prazo de quatro anos a partir do momento em que era decretada a falência.

5. Com a extrema complexidade que normalmente envolve pro­cessos de falência, com o desaparelhamento crônico do Judiciário, com a quantidade de recursos e expedientes que a lei propicia às partes e a seus advogados, mesmo com a interrupção do lapso prescricional, era extremamente comum a ocorrência de prescrição do crime falimentar, elemento de profunda repercussão negativa, por induzir à idéia de im­punidade, que efetivamente acaba por ocorrer.

6. A lei agora mudou o sistema, determinando que a prescrição dos crimes rege-se pelo Código Penal, aplicando-se portanto o art. 109 do CP, que estabelece a prescrição a partir da pena máxima in abstrato, cominada ao crime. Assim, para todos os crimes falimentares previstos nos arts. 168 a 177, com penas máximas fixadas entre 4 e 6 anos, a prescrição é de 8 e 12 anos, respectivamente, a partir do decreto de falência (incisos III e IV do art. 109 do CP). Para o crime falimentar do art. 178, cuja pena máxima é de 2 anos, a prescrição é de 4 anos (inciso V do art. 109 do CP).

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385 Capítulo VII - Seção 11 -Art. 182

7. O art. 117 do Código Penal estabelece que o curso da prescri­ção interrompe-se pelo recebimento da denúncia ou queixa, pela sen­tença condenatória recorrível, pelo início ou continuação do cumpri­mento da pena e pela reincidência, nos pontos em que interessa para os crimes falimentares. Por seu turno, a Súmula 592 do STF firmou o entendimento de que "nos crimes falimentares aplicam-se as causas in­terruptivas da prescrição, previstas no Código Penal".

8. Portanto, segundo o texto desta nova Lei, o início da contagem do prazo prescricional se dá na data de decretação da quebra ou da con­cessão da recuperação judicial ou da homologação da extrajudicial, re­metendo à disciplina do Código Penal a fixação dos prazos prescricio­nais. Também salutar é a disposição que estabelece a interrupção da prescrição pela decretação da falência, mesmo no caso de contagem que teria se iniciado a partir da recuperação.

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Seção 111

Do procedimento penal

Art. 183. Compete ao juiz criminal da jurisdição onde te­nha sido decretada a falência, concedida a recuperação judi­cial ou homologado o plano de recuperação extrajudicial, co­nhecer da ação penal pelos crimes previstos nesta Lei.

1. Este artigo comete deslize gramatical, ao se valer do advérbio de lugar "onde" para se referir a "jurisdição", que não é um lugar. O artigo fixa a competência do juiz criminal com jurisdição no território no qual tenha sido decretada a falência, concedida a recuperação judi­cial ou homologado o plano de recuperação extrajudicial, para a ação penal por crime falimentar.

2. O § 2° do art. 109 da lei revogada era explícito ao determinar que a denúncia ou queixa crime subsidiária seria recebida pelo juiz da falência, após o que os autos seriam enviados ao juízo criminal compe­tente. O art. 183, embora não com a explicitude desejada, manteve tal forma de procedimento, ao estabelecer que o juiz criminal conhecerá da ação penal. Portanto, os autos serão enviados ao juízo criminal após a existência de ação penal, o que apenas se caracteriza depois do recebi­mento da denúncia ou queixa. Desta forma, os autos relativos ao inqué­rito permanecerão sob a direção do juiz do processo de recuperação ou falência e do respectivo promotor, devendo ser enviados ao juízo crimi­nal, se e quando for recebida a denúncia.

3. Especificamente no Estado de São Paulo, a Lei estadual 3.947/ 83 (Código Judiciário do Estado), em seu art. 15, prevê que o processo crime falimentar correrá até final sentença ante o próprio juiz da falên­cia, providência aliás extremamente salutar. Se o juiz da falência já co­nhece todo o processo (às vezes com dezenas e dezenas de volumes), é mesmo mais racional e produtivo que este continue correndo sob o mesmo juiz, com melhores condições para exame e sentença. A consti­tucionalidade do referido art. 15 já foi reconhecida pelo STF (vide RT 611/449.Acórdão do STF,julgando o Recurso de habeas corpus 63.787-

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387 Capítulo VII - Seção 111 - Art. 184

6-SP, em 27.6.1986, relator Min. Rafael Mayer; no mesmo sentido, RT 629/418, também do STF, no julgamento do RE. 108.42217-SP, em jul­gado em 05.02.1988, relator Min. Carlos Madeira).

4. O art. 180 da Lei estabelece que a sentença que decreta a falên­cia, concede a recuperação judicial ou a extrajudicial é condição objeti­va de punibilidade das infrações penais previstas. No sistema da lei anterior, apenas existiria o crime falimentar, depois que houvesse o de­creto de falência. Tanto que Valverde (vol. 3, p. 29) dizia que eram to­dos crimes de "dolo de perigo", representando "conduta incriminável, pelo risco de, vindo a ocorrer a falência, serem manifestamente dano­sos aos credores". A lição pode ser aproveitada para o estudo dos cri­mes previstos nos arts. 168 a 178, anotando-se apenas que a Lei optou por caracterizar crimes não só após o decreto de falência, como também após a concessão da recuperação judicial ou a homologação do plano de recuperação.

5. Na lei anterior, durante o processamento da concordata preven­tiva, não havia crime falimentar; a lei resolveu ampliar o lapso temporal dentro do qual os atos podem se caracterizados como crimes, abrangen­do, como visto, período anterior ao decreto de falência.

Art. 184. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.

1. Nos termos do art. 24 do Código de Processo Penal, a ação pe­nal pode ser pública ou privada. Exemplo de ação penal privada acha-se na injúria simples irrogada contra particular, prevista no art. 140 do Código Penal, para cujo processo há necessidade de queixa apresenta­da pela pessoa ofendida, conforme previsto no art. 145 do próprio Có­digo Penal. Idêntica situação ocorre para os crimes de estupro, atentado violento ao pudor e outros crimes contra os costumes, conforme arts. 213 e ss. e 225 do Código Penal, salvo se a vítima e seus pais são hipossuficientes ou se o crime é cometido com abuso do pátrio poder ou da qualidade de padastro, tutor ou curador. A lei optou por tal posi­ção, porque a objetividade jurídica do crime relaciona-se a interesse ligado de forma exclusiva ao próprio ofendido, em conseqüência do que o Estado entrega a ele, particular, a opção de acionar ou não a juris­dição penal (Jesus, p. 16).

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Art. 184 - Capítulo VII - Seção III 388

2. A ação penal pública pode ser condicionada ou incondiciona­da. A ação penal pública condicionada depende de representação do ofendido ou de requisição do Ministério Público, conforme previsto no § 1 o do art. 100 do Código Penal. Exemplo de ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça encontra-se no pará­grafo único do art. 145, que prevê requisição do Ministro da Justiça no caso de crime contra a honra do Presidente da República ou de chefe de governo estrangeiro. O próprio parágrafo único do art. 145, em sua parte final, traz exemplo de ação penal condicionada à representação, que é o caso de crime contra a honra de funcionário público, em razão de suas funções.

3. Este artigo 184 ora sob exame deixa expresso que os crimes previstos nesta lei são de ação penal pública incondicionada. A rigor, esta previsão seria dispensável, pois em regra, a ação penal é sempre pública incondicionada, pois quando se trata de ação pública condicio­nada ou privada, há expressa previsão na parte especial do Código Pe­nal (Franco, p. 297). De qualquer forma, a lei preferiu deixar expresso que é pública incondicionada, o que afasta qualquer tipo de discussão relativamente a este ponto.

Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, §r, sem que o representante do Ministério Público ofere­ça denúncia, qualquer credor habilitado ou o administrador judicial poderá oferecer ação penal privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses.

4. O parágrafo único do art. 184 trata da chamada "queixa subsi­diária". O inciso I do art. 129 da Constituição Federal diz que compete ao Ministério Público "promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei", artigo este cujos termos poderiam levar ao entendi­mento de que teria sido derrogada a possibilidade de queixa subsidiária prevista aqui na nova Lei de Falências. No entanto, o art. 5° da Consti­tuição Federal, em seu inciso LIX, diz que "será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal". A contradição entre os arts. 129 e 5° da Constituição Federal é apenas aparente, como se verá em seguida.

5. O entendimento dominante e pacificado é no sentido de que sub­siste a queixa subsidiária; no entanto, tal queixa subsidiária apenas pode-

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389 Capítulo VII - Seção III -Art. 185

rá ser intentada se houver inércia do Ministério Público. Ao contrário, se o MP atua normalmente e, dentro do prazo, encaminha os autos ao juiz, com sua manifestação no sentido de que não vê motivos para oferecer de­núncia e, por isso, pede o arquivamento, em tal caso não cabe queixa sub­sidiária.

6. Este parágrafo único do art. 184, que se refere especificamente aos crimes falimentares, encontra correspondente no art. 29 do CPP, o qual diz respeito aos crimes comuns, previstos naquele Código. Tal art. 29 prevê que será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal.

7. O prazo para o Ministério Público apresentar a denúncia (ou requerer o arquivamento) está previsto no art. 187 adiante e regula-se pelo art. 46 do CPP, ou seja, contados a partir do momento em que o Ministério Público receber os autos, prazo de cinco dias se o réu estiver preso e de quinze dias se estiver solto ou afiançado.

8. Sobre o prazo, vide comentários ao art. 187, adiante.

9. O direito à apresentação de queixa crime subsidiária deve ser exercido no prazo de seis meses a contar do momento em que poderia ter sido exercido, sob pena de decadência.

Art. 185. Recebida a denúncia ou a queixa, observar-se-á o rito previsto nos arts. 531 a 540 do Decreto-lei 3.689, de 3 de outubro de 1941- Código de Processo Penal.

1. Sobre a aplicação da Lei 9.099/95, que dispõe sobre os juizados especiais cíveis e criminais, vide comentários n. 11 a 13, no início do Capítulo VII, Seção I, antes do art. 168.

2. Os arts. 503 a 512 do Código de Processo Penal, sob o título "Do processo e do julgamento dos crimes de falência", previam rito especial para o julgamento dos crimes falimentares. No entanto, já ha­via se estabelecido o costume de dar ao processo por crime falimentar o rito comum, ou ordinário, previsto no art. 394 do CPP, não decorrendo daí qualquer causa de nulidade por alteração do rito. É que a jurispru­dência já se pacificou, tanto para os crimes falimentares como para qual­quer outro tipo de crime, no sentido de que a substituição de qualquer outro rito pelo ordinário não é causa de nulidade, exatamente porque o ordinário é o leito comum para o andamento de qualquer processo e

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Art. 185 - Capítulo VII - Seção III 390

porque é o que oferece a mais ampla possibilidade de defesa. Evidente­mente, este entendimento jurisprudencial continua válido, mesmo com a alteração do rito do crime falimentar, por este art. 185.

3. Observe-se, a propósito, que o art. 200 da presente Lei revoga expressamente a lei de falências de 1945, fazendo também expressa menção aos arts. 503 a 512 do Código de Processo Penal.

4. É causa de dificuldade de entendimento a opção do legislador pelo rito dos arts. 531 a 540, destinados ao processo das contravenções (art. 531) ou aos crimes nos quais não há aplicação da pena de reclusão (art. 539). Isto porque, na falência trata-se de crime (e não de contravenção) e a todos os crimes previstos nos arts. 168 a 177, a nova Lei de Falências prevê penas de reclusão, sendo prevista pena de detenção apenas para o crime do art. 178. Novamente se aplica aqui a crítica que várias vezes tem sido lembrada nos comentários feitos a propósito de outros artigos (v.g., comentário n. 6 ao art. 55), ou seja: em nome da celeridade, a lei confunde institutos processuais e faz surgir o risco de tumulto que terá efeito con­trário, ou seja, prejudicará a rapidez almejada.

S. De qualquer forma, ante a pacificação do entendimento juris­prudencial, que admite para qualquer caso o rito ordinário do art. 394, sempre será possível ao juiz optar por tal rito, se entender que o proces­so caminhará de forma mais segura.

6. Se as peças de informação foram remetidas sem qualquer de­núncia ou mesmo com expresso pedido de arquivamento pelo represen­tante do Ministério Público, eventualmente poderá o juiz discordar de tal posicionamento e entender que há fortes indícios de existência de crime. Em tal caso, caberá ao juiz valer-se do disposto no art. 28 do CPP, segundo o qual "fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arqui­vamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender". Se acaso ainda assim não for oferecida denúncia, nenhuma outra atitude poderá tomar o juiz, a não ser determinar o apensamento dos autos e dar o inquérito judicial por encerrado, determinando seu apensamento aos autos da falência, apensamento que equivale a arquivamento.

7. Sendo recebida, seja a denúncia do Ministério Público, seja a queixa subsidiária de qualquer credor, seja a denúncia do procurador­geral de justiça (art. 28 do CPP), o juiz dará início ao processo penal. A

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391 Capítulo VII - Seção III -Art. 187

lei anterior falava em "despacho fundamentado"(§ 2° do art. 109), dis­positivo cuja interpretação mereceu a expedição da Súmula 564 pelo STF, segundo a qual "a ausência de fundamentação do despacho de recebimento de denúncia por crime falimentar enseja nulidade proces­sual, salvo se já houver sentença condenatória". No entanto, a nova Lei, de forma correta, suprimiu tal exigência.

Art. 186. No relatório previsto na alínea e do inciso 111 do caput do art. 22 desta Lei, o administrador judicial apresenta­rá ao juiz da falência exposição circunstanciada, consideran­do as causas da falência, o procedimento do devedor, antes e depois da sentença, e outras informações detalhadas a respeito da conduta do devedor e de outros responsáveis, se houver, por atos que possam constituir crime relacionado com a recupera­ção judicial ou com a falência, ou outro delito conexo a estes.

Parágrafo único. A exposição circunstanciada será instruí­da com laudo do contador encarregado do exame da escritu­ração do devedor.

1. A alínea e do inciso III do art. 22 determina que, na falência, o administrador judicial deverá apresentar relatório sobre as causas e cir­cunstâncias que levaram à falência, apontando ainda responsabilidades dos envolvidos, tanto de natureza civil quanto penal. Tal relatório deve­rá ser apresentado no prazo de 40 dias a contar da assinatura do termo de compromisso de administrador judicial, prorrogável por igual perío­do. Este relatório corresponde ao chamado "2° grande relatório" da lei anterior, o qual era previsto no inciso XIX do art. 63.

2. Na lei anterior, este segundo relatório é que dava início ao in­quérito judicial, pois a primeira via era autuada em apartado, exatamen­te para tal fim. A nova Lei não manteve tal previsão, tanto que o Mi­nistério Público poderá oferecer denúncia a partir do momento em que a falência é decretada ou da concessão da recuperação judicial, como prevê o art. 187 seguinte.

3. No entanto, este relatório tem implicações no prazo para apre­sentação da denúncia, conforme se verá no exame do art. 187.

Art. 187. Intimado da sentença que decreta a falência ou concede a recuperação judicial, o Ministério Público, verifi-

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Art. 187 - Capítulo VII - Seção III 392

cando a ocorrência de qualquer crime previsto nesta Lei, pro­moverá imediatamente a competente ação penal ou, se enten­der necessário, requisitará a abertura de inquérito policial.

§ 1 o O prazo para oferecimento da denúncia regula-se pelo art. 46 do Decreto-lei 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, salvo se o Ministério Público, estando o réu solto ou afiançado, decidir aguardar a apresentação da expo­sição circunstanciada de que trata o art. 186 desta Lei, deven­do, em seguida, oferecer a denúncia em 15 (quinze) dias.

§ 2° Em qualquer fase processual, surgindo indícios da prá­tica dos crimes previstos nesta Lei, o juiz da falência ou da recuperação judicial ou da recuperação extrajudicial cientifi­cará o Ministério Público.

1. Como prevê o art. 185 acima, o rito a ser observado para o pro­cessamento da ação penal é aquele dos arts. 531 a 540 do CPP, ou seja, o chamado "rito sumário". Por outro lado, o art. 187 ora sob exame estabelece que o Ministério Público poderá apresentar denúncia tão logo seja intimado da sentença que decretou a falência ou da concessão da recuperação, independentemente da instauração de qualquer inquérito; alternativamente, poderá requerer a instauração de inquérito policial.

2. Desaparece portanto, formalmente, a figura do inquérito judi­cial, que era conduzido pelo juiz da falência, auxiliado pelo Ministério Público e pelo antigo síndico, pois a Lei fala em inquérito policial. No entanto, embora formalmente desaparecido o inquérito judicial, ainda assim não haverá obrigatoriedade de requisição de inquérito policial.

3. Isto porque, o art. 187 dá ao Ministério Público a opção de apre­sentação imediata de denúncia ou então, segundo o § 1°, a opção de aguardar a apresentação da exposição do art. 22, III, e (art. 186). Esta exposição, como visto, trará elementos de indicação da eventual exis­tência de crime, com o necessário detalhamento, de tal sorte que poderá trazer os elementos que acaso ainda faltavam para que o Ministério Público pudesse optar por oferecer denúncia ou pedir o arquivamento. Assim, mais recomendável do que pedir a instauração de inquérito po­licial, melhor é que o Ministério Público opte por aguardar o relatório e até, se entender o caso, no entretempo, requerer providências para es­clarecimento de alguns pontos, o que certamente será deferido pelo juiz.

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393 Capítulo Vll - Seção III -Art. 187

4. Com isto, evita-se a remessa dos papéis para abertura de inqué­rito policial, o que deve mesmo ser evitado, por várias razões. Em pri­meiro lugar, teria que haver delegacias especializadas em crimes fali­mentares, o que a precariedade do serviço público na atualidade, não parece em condições de oferecer. Por outro lado, conforme já visto ante­riormente (comentário n. 3 ao art. 183), a complexidade da matéria fali­mentar é tão grande, as vezes envolvendo várias dezenas de volumes de autos, que a remessa de papéis para abertura de inquérito por delegacia de polícia não especializada, tomaria quase certa a prescrição, o que se deve tentar evitar a todo custo.

5. Ademais, o próprio alargamento do prazo para oferecimento de denúncia especificado no§ 1°, denota que a Lei pretende que o repre­sentante do Ministério Público analise o relatório do administrador, antes de optar por requerer a abertura de inquérito policial.

6. Portanto, nada impede que se formem autos nos quais sejam coletados dados, à semelhança do que ocorria com o inquérito judicial da lei anterior. Caso oferecida e aceita a denúncia ou queixa subsidiá­ria, o inquérito transforma-se em processo; não sendo aceita a denún­cia, o inquérito poderá ser arquivado. Observe-se que, no presente caso (inquérito judicial para crime falimentar), embora se trate de inquérito, é ele conduzido sob a direção do juiz da falência, com a atuação do Ministério Público e do administrador judicial. Assim, embora inquéri­to, não há qualquer interferência da autoridade policial.

7. No regime da lei anterior, que previa especificamente o inquéri­to judicial (arts. 103 a 113), forte corrente de advogados falencistas defendia o entendimento de que o inquérito judicial tinha natureza con­traditória, de tal forma que, se fosse negada a produção de alguma "pro­va" requerida pelo devedor, o processo futuro poderia ser anulado por cerceamento de defesa. Esta corrente trazia argumentos bem concatenados, como, por exemplo, a existência da expressão "poderá o falido contestar as argüições", inserida no art. 106 da lei anterior, argu­mentando que só se contesta aquilo que é contraditório.

8. No entanto, o entendimento jurisprudencial e doutrinário domi­nante já estava pacificado no sentido de que o inquérito judicial era inquisitório, sendo recomendável porém que o juiz sempre examinasse com cautela os pedidos de provas e, se entendesse que tais pedidos eram pertinentes e podiam efetivamente trazer melhores dados ao inquérito,

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Art. 188 - Capítulo VII - Seção III 394

deferisse as diligências requeridas. Tal orientação será mantida pelo juiz que optar por coleta de dados no âmbito da vara, com dispensa de in­quérito policial.

Art. 188. Aplicam-se subsidiariamente as disposições do Có­digo de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.

1. Da mesma forma que o art. 189 prevê a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil aos procedimentos cíveis previstos nesta Lei, também este art. 188 prevê a aplicação subsidiária das disposições do Código de Processo Penal, no que diz respeito aos processos relativos a crimes falimentares.

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Capítulo VIII

DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 189. Aplica-se a Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973 -Código de Processo Civil, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei.

1. No regime da lei anterior, o CPC aplicava-se subsidiariamente no procedimento falimentar; o art. 207 estabelecia que os prazos da apelação e do agravo de instrumento eram os do CPC; o art. 206, que estabelecia a intimação pessoal das partes e de seus representantes foi corretamente objeto da interpretação que redundou na expedição da Súmula 25 do STJ, segundo a qual "nas açoes da Lei de Falências o prazo para interposição de recurso conta-se da intimação da parte".

2. Este art. 189, ao estabelecer a aplicação ao procedimento falimen­tar do CPC deixou de fazer a necessária ressalva existente no anterior art. 207, que previa, em seu § 1 o, a possibilidade de sustentação oral no agra­vo de instrumento, entendimento já consagrado jurisprudencialmente (REsp 246.587-PR). No entanto, no regime da nova Lei, inexistente qual­quer ressalva, optou o legislador por impedir a sustentação oral em agra­vo de instrumento contra a decisão que decreta a falência, aplicando-se a regra geral do art. 554 do CPC, que impede sustentação oral em embar­gos declaratórios e em agravo de instrumento.

3. O Estatuto da OAB, Lei 8.906/94, em seu art. 7°, inciso IX, prevê ao advogado o direito de "sustentar oralmente as razões de qual­quer recurso ou processo, nas sessões de julgamento, após o voto do relator, em instância judicial ou administrativa, pelo prazo de quinze minutos, salvo se prazo maior for concedido", regra que amplia a deter­minação existente no CPC, ao possibilitar a sustentação oral em qual­quer tipo de recurso. No entanto, este artigo da lei está suspenso pelo STF, até final julgamento da ADin 1.105.7-DF (RTJ 1771102). Obser­ve-se ainda que no Regimento Interno do Tribunal de Justiça de São Paulo, consta no art. 465, I, a expressa possibilidade de sustentação oral em agravo de instrumento em processo falimentar; aliás, é mesmo medi-

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Art. 190 - Capítulo VIII 396

da de extremo bom-senso tal possibilidade, tendo em vista o amplo espectro da decisão que decreta a falência e contra a qual cabe agravo, conforme prevê o art. 100, repetindo em parte o art. 17 da legislação revogada.

4. De qualquer forma, reitere-se a observação já feita anterior­mente, no sentido de que esta lei, da mesma forma que a lei anterior, tem natureza mista, trazendo tanto normas de direito material quanto normas de direito processual. O artigo estabelece que, se não houver normas de direito processual na lei, ocorre a aplicação, em caráter sub­sidiário, do Código de Processo Civil. Portanto, a solução processual, em primeiro lugar, deve ser procurada nesta Lei, apenas dirigindo-se ao CPC se aqui não for encontrada a disposição pertinente.

Art. 190. Todas as vezes que esta Lei se referir a devedor ou falido, compreender-se-á que a disposição também se apli­ca aos sócios ilimitadamente responsáveis.

1. A grande maioria das sociedades hoje existentes são ou limita­da (arts. 1.052 a 1.087 do Código Civil), ou sociedade anônima (Lei 6.404176, mantida sua regência integral pelo art. 1.089 do Código Ci­vil). No entanto, o Código Civil prevê a formação de sociedades com responsabilidade ilimitada dos sócios, na prática quase inexistentes ou melhor, existentes em pequeno número: sociedade em nome coletivo, com responsabilidade solidária e ilimitada de todos os sócios (art. 1.039); sociedade em comandita simples, também com tal tipo de responsabili­dade para os sócios comanditados (art. 1.045), para cujas pessoas físi­cas aplica-se o disposto neste artigo.

2. Relembre-se sempre que o empresário individual (art. 966 do Código Civil) sempre terá responsabilidade ilimitada. Também na so­ciedade simples (arts. 997 e ss. do Código Civil) a responsabilidade é ilimitada (proporcional ou solidária - art. 1.023 do Código Civil), o que porém não tem maior relevância aqui, pois a tal tipo de sociedade não se aplica a lei de falências (vide comentários ao art. 1 °).

3. Vide comentários ao art. 81, que estabelece que o sócio de res­ponsabilidade ilimitada também é falido; também comentários ao art. 160, que prevê a este sócio a possibilidade de pedir a extinção de suas obrigações.

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397 Capítulo VIII -Art. 192

Art. 191. Ressalvadas as disposições específicas desta Lei, as publicações ordenadas serão feitas preferencialmente na imprensa oficial e, se o devedor ou a massa falida comportar, em jornal ou revista de circulação regional ou nacional, bem como em quaisquer outros periódicos que circulem em todo o país.

Parágrafo único. As publicações ordenadas nesta Lei con­terão a epígrafe "recuperação judicial de", "recuperação ex­trajudicial de" ou "falência de".

1. Como regra geral, as publicações são feitas pela imprensa ofi­cial, na forma aliás do que estabelecem os arts. 234 e 237 do Código de Processo Civil. O art. 237 prevê a intimação pelo escrivão da vara, pes­soalmente ou por carta registrada, apenas nas comarcas nas quais não houver órgão de publicação de atos oficiais.

2. A parte final do caput prevê a publicação também em jornal ou revista de maior circulação, disposição salutar no sentido de divulgar da forma mais ampla possível, eventuais providências, tais como a ven­da dos bens da massa, na medida em que a amplitude da divulgação sempre será elemento a permitir um valor maior para a venda. Sempre que se trata de vendas de grande valor, especialmente imóveis de gran­de porte, sempre tem sido efetuado tal tipo de divulgação, com publica­ções em diversos órgãos da imprensa.

3. O parágrafo único traz regra de simples intelecção, a ser obser­vada sempre que houver publicações em órgão oficial ou na imprensa em geral, exatamente para que se alerte o leitor sobre a situação na qual está a empresa naquele momento.

Art. 192. Esta Lei não se aplica aos processos de falência ou de concordata ajuizados anteriormente ao início de sua vi­gência, que serão concluídos nos termos do Decreto-lei 7 .661, de 21 de junho de 1945.

1. Na forma do art. 201, o período de vacatio legis é de 120 dias após a publicação da lei. Para qualquer processo de falência ou con­cordata cuja inicial haja sido protocolada no distribuidor antes do início da vigência, continuará o feito sob o regime da lei anterior. Esta é a

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Art. 192 - Capítulo VIII 398

regra geral, que comporta as exceções previstas nos parágrafos a se­guir examinados.

2. Esta disposição cria uma situação curiosa, pois haverá proces­sos de falência que terão seu andamento pela lei anterior, se a falência já tiver sido decretada. No entanto, se o processo já estava em anda­mento mas a falência vem a ser decretada após a vigência da Lei nova, o andamento será pela lei nova, conforme prevê o§ 4° abaixo.

§ 1 o Fica vedada a concessão de concordata suspensiva nos processos de falência em curso, podendo ser promovida a alie­nação dos bens da massa falida assim que concluída sua arre­cadação, independentemente da formação do quadro-geral de credores e da conclusão do inquérito judicial.

3. A lei anterior esteve em vigor por quase 60 anos, de 1945 a 2005; são raríssimos, se é que existem, pedidos de concordata suspen­siva. Isto encontrava explicação no fato de a falência interferir direta­mente em toda a administração da empresa, de tal forma que, depois de certo tempo, tomava-se praticamente impossível reativar a empresa.

4. Embora o processamento se dê na forma da lei anterior, ainda assim a venda dos bens arrecadados pode ser feita na forma prevista parcialmente na nova Lei, ou seja, venda dos bens imediatamente após a arrecadação, não havendo necessidade de se aguardar a forma­ção do quadro-geral de credores ou a conclusão do inquérito judicial. Este dispositivo é salutar, pois a protelação na venda dos bens arre­cadados, sempre é causa de desvalorização, quando não de perda total do valor.

5. Observe-se aqui o hibridismo processual, ante a permissão da lei para vender imediatamente os bens arrecadados, previsão que existe na nova Lei e que se aplicará também ao processo falimentar correndo sob a égide da lei anterior.

§ 2° A existência de pedido de concordata anterior à vigên­cia desta Lei não obsta o pedido de recuperação judicial pelo devedor que não houver descumprido obrigação no âmbito da concordata, vedado, contudo, o pedido baseado no plano espe­cial de recuperação judicial para microempresas e empresas

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399 Capítulo VIII - Art. 192

de pequeno porte a que se refere a Seção V do Capítulo III desta Lei.

6. Como visto, a presente Lei prevê, em seus arts. 47 a 72, o pro­cesso de recuperação judicial da empresa. Este § 2° é uma exceção ao que determina o caput do artigo, pois se as obrigações contraídas no âmbito da concordata em andamento estiverem em dia quanto a seu cumprimento, poderá ser pedida a recuperação judicial.

7. Evidentemente, para que possa ser deferido o processamento da recuperação judicial, o concordatário deverá comprovar que preen­che todas as condições legais exigidas para aquele tipo de processo.

8. Os arts. 70 a 72 estabelecem a forma pela qual se dará a recu­peração judicial de microempresas e empresas de pequeno porte. Para este tipo de empresa que esteja em concordata, não será permitido o pedido recuperação judicial, devendo ser dado normal prosseguimento à concordata, na forma do Dec.-lei 7.661145, como estipula o art. 192, em regra geral.

§ 3° No caso do § 2° deste artigo, se deferido o processa­mento da recuperação judicial, o processo de concordata será extinto e os créditos submetidos à concordata serão inscritos por seu valor original na recuperação judicial, deduzidas as parcelas pagas pelo concordatário.

9. Este parágrafo estabelece regra de procedimento para a passa­gem da concordata para a recuperação. Nos mesmos autos da concorda­ta, e considerando-se a situação processual na qual esta se encontra, o concordatário deve requerer ao juiz, comprovando que preenche as exi­gências legais, que lhe seja deferido o processamento da recuperação, na forma do art. 52.

10. Embora a Lei não traga previsão especial, deverá o juiz deter­minar que o pedido seja autuado em apartado, pois ocorreria tumulto processual incontrolável se houvesse o processamento nos mesmos au­tos da concordata. Até porque pode ocorrer de o juiz entender que deve indeferir o processamento do pedido de recuperação e, em tal situação, a concordata não terá sofrido qualquer solução de continuidade.

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Art. 192 - Capítulo VIII 400

11. Quanto ao processamento do pedido de recuperação, vide co­mentários aos arts. 51 e ss.

§ 4o Esta Lei aplica-se às falências decretadas em sua vi­gência resultantes de convolação de concordatas ou de pedidos de falência anteriores, às quais se aplica, até a decretação, o Decreto-lei 7.661, de 21 de junho de 1945, observado, na deci­são que decretar a falência, o disposto no art. 99 desta Lei.

12. O parágrafo prevê a situação daquele que em seu requerimen­to de falência (ou concordata), iniciado antes da vigência da Lei nova, teve decretada a falência; ou seja, falência decretada após a vigência da nova Lei, porém em autos que já estavam em andamento anteriormente. Em tais casos, até o decreto de falência aplica-se a lei antiga, conforme prevê o art. 192, como regra geral.

13. Portanto, até o momento da decretação, o processamento será feito na forma da lei anterior; após o decreto de falência, o processa­mento passará a ser feito na forma da nova Lei, devendo a própria sen­tença ser já prolatada com a observância do art. 99 da nova Lei.

14. Embora o correto entendimento doutrinário seja no sentido de que as normas processuais aplicam-se de imediato aos processos pendentes, ainda assim aqui há exceção decorrente dos próprios termos da lei positiva.

15. Tentando resumir as disposições do art. 192 e parágrafos, ob­serva-se que ocorrem as seguintes situações:

a) como regra geral, processos ajuizados anteriormente, terão se­guimento normal na forma da lei anterior;

b) em nenhum caso será deferido o pedido de concordata suspen­siva, que deixa de existir na nova legislação;

c) embora o procedimento, no caso da letra a, seja o da lei antiga, ainda assim os bens podem ser vendidos imediatamente após a sua ar­recadação;

d) tanto na concordata cujo processamento já tenha sido deferido na forma do § 1 o do art. 161 da lei anterior, como na concordata com processamento ainda não deferido, pode ser feito, em autos apartados, pedido de recuperação judicial;

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401 Capítulo VIII - Art. 194

e) a letra d acima não se aplica para microempresas e empresas de pequeno porte;

f) se em processos já em andamento, vier a ser decretada a falência após a entrada em vigência da nova Lei, a sentença será prolatada de acordo com as previsões da nova Lei e o processo, a partir do decreto da falência, será o da nova Lei.

Art. 193. O disposto nesta Lei não afeta as obrigações as­sumidas no âmbito das câmaras ou prestadoras de serviços de compensação e de liquidação financeira, que serão ultimadas e liquidadas pela câmara ou prestador de serviços, na forma de seus regulamentos.

1. Como já visto no exame de diversos artigos anteriores, o capi­tal financeiro, especialmente os bancos, trabalharam duramente para que seus créditos, de uma forma geral, ficassem fora desta Lei. Este art. 193 é mais um resultado desta pressão exercida, e que foi quase que totalmente acatada.

2. As obrigações assumidas no âmbito das câmaras de compensa­ção e assemelhados não estão submetidas às regras da presente Lei. A Lei 10.214, de 27.03.2001, portanto contemporânea à lei de falências anterior, que "dispõe sobre a atuação das câmaras ... de compensação", em seu art. 7°, já dispunha que a concordata, falência, liquidação etc., do banco, ou seja "de qualquer participante, não afetarão o adimple­mento de suas obrigações, assumidas no âmbito das câmaras ou presta­dores de serviços de compensação e de liquidação, que serão ultimadas e liquidadas pela câmara ou prestador de serviços".

Art. 194. O produto da realização das garantias prestadas pelo participante das câmaras ou prestadores de serviços de com­pensação e de liquidação financeira submetidos aos regimes de que trata esta Lei, assim como os títulos, valores mobiliários e quaisquer outros de seus ativos objetos de compensação ou liqui­dação serão destinados à liquidação das obrigações assumidas no âmbito das câmaras ou prestadoras de serviços.

1. Em complemento ao artigo anterior, aqui se trata de realiza­ção das garantias prestadas pelo participante das câmaras de com-

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Art. 195 - Capítulo VIII 402

pensação. No entanto, a garantia aqui prestada na realidade é uma garantia real, subsumindo-se assim à classificação determinada no art. 83, ou seja, valor que deverá ser pago logo após os créditos derivados da legislação do trabalho.

2. Tais créditos derivados da legislação do trabalho, por seu caráter alimentar, conservam absoluta preponderância sobre quaisquer outros tipos de credores, entendimento que já estava pacificado no sistema da lei anterior. O art. 83, consoante tal entendimento, manteve o crédito tra­balhista em primeiro lugar no quadro geral de credores na falência, limi­tando-o porém ao máximo de 150 salários por trabalhador.

3. Para alguns, aquela limitação era criticável; para outros, a limi­tação é moralizadora, na medida em que impede a formação de créditos trabalhistas vultosos e fictícios. Não importa qual corrente esteja melhor situada, o que se constata é que a preferência absoluta do crédito traba­lhista, até o limite de 150 salários, foi mantida e, desta forma, o produto das garantias será destinado à liquidação das obrigações assumidas nas câmaras de compensação, após serem pagos estes créditos trabalhistas.

Art. 195. A decretação da falência das concessionárias de serviços públicos implica extinção da concessão, na forma da lei.

1. O art. 35 da Lei 8.987/95, que "dispõe sobre o regime de con­cessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal, e dá outras providências" estabelece, em seu art. 35, VI, que a concessão fica extinta, em caso de falência da empresa concessionária.

Art. 196. Os Registros Públicos de Empresas manterão banco de dados público e gratuito, disponível na rede mundial de computadores, contendo a relação de todos os devedores falidos ou em recuperação judicial.

1. Trata-se de comando dirigido às Juntas Comerciais, que são regradas pela Lei 8.934, de 18.11.1994, e pelo decreto regulamentador, Decreto 1.800, de 30.01.1996. Logo em seu art. 1°, a referida lei estabe­lece que às Juntas compete dar publicidade aos atos jurídicos das em­presas, mantendo atualizadas as informações pertinentes.

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403 Capítulo VIII - Art. 197

2. Este art. 196 estabelece especificamente tal obrigação, para o caso de devedores falidos e em recuperação judicial. Seria recomendável que a lei estabelecesse esta obrigatoriedade também para os casos de recupe­ração extrajudicial, quando houver homologação judicial (art. 162).

3. O inciso VIII do art. 97 da presente Lei também estabelece que o juiz ordenará a anotação da falência no registro da empresa.

Parágrafo único. Os Registros Públicos de Empresas deve­rão promover a integração de seus bancos de dados em âmbito nacional.

4. Sem embargo da necessidade de integração dos bancos de da­dos das Juntas Comerciais, em âmbito nacional, trata-se de matéria que deveria ser cuidada em outra lei, que não a de falências. Trata-se na realidade de matéria afeta à organização das Juntas, o que deve ser cui­dado pelo Departamento Nacional de Registro do Comércio- DNRC­(art. 4° da Lei 8.934/94 e art. 20 da Lei 4.048, de 29.12.1961).

Art.197. Enquanto não forem aprovadas as respectivas leis específicas, esta Lei aplica-se subsidiariamente, no que cou­ber, aos regimes previstos no Decreto-lei 73, de 21 de novem­bro de 1966, na Lei 6.024, de 13 de março de 1974, no Decreto­lei 2.321, de 25 de fevereiro de 1987, e na Lei 9.514, de 20 de novembro de 1997.

1. O Dec.-lei 73, de 21.11.1966, cuida do sistema de operações de seguros privados e, em seu art. 26, com a redação dada pela Lei 10.190, de 14.02.2001, estabelece que "as sociedades seguradoras não poderão requerer concordata e não estão sujeitas à falência, salvo, neste último caso, se decretada a liquidação extrajudicial, o ativo não for su­ficiente para o pagamento de pelo menos a metade dos credores quiro­grafários, ou quando houver fundados indícios da ocorrência de crime falimentar". Caso venha a ser decretada a falência, o processo correrá na forma estabelecida na presente Lei.

2. A Lei 6.024, de 13.03.1974 "dispõe sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial de instituições financeiras". Para os empresá­rios deste campo de atividade, em caso de situação de crise, pode ser

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Art. 198 - Capítulo VIII 404

decretada intervenção ou liquidação extrajudicial, pelo Banco Central do Brasil, procedimentos de natureza administrativa, sem qualquer in­tervenção judicial. Durante o transcurso destas medidas e à vista das conclusões a que possa chegar, o Banco Central poderá autorizar o in­terventor a requerer a falência da entidade, conforme previsto na letra d do art. 12 da referida Lei 6.024/74. Às instituições financeiras não era dado pedir concordata, não sendo também possível o pedido de recupe­ração judicial ou extrajudicial da presente Lei.

3. O Dec.-lei 2.321, de 25.02.1997, instituiu o chamado "RAET", ou seja, "Regime Especial de Administração Temporária" para as insti­tuições financeiras privadas e públicas não federais. Na esteira de expe­riências hauridas com a aplicação da intervenção da Lei 6.024/74, esta­beleceu-se novo sistema de intervenção pelo Banco Central do Brasil. Em seu art. 19, este decreto-lei prevê a aplicação subsidiária da Lei 6.024/7 4, de tal forma que se a intervenção não surtir o efeito desejado, pode tam­bém o Banco Central autorizar o interventor a pedir a falência da entidade, que se processará na forma normal prevista nesta Lei de Falências.

4. A Lei 9.514, de 20.11.1997, alteradajá parcialmente pela Lei 10.190, de 14.02.2001, trouxe para o nosso sistema de direito, a aliena­ção fiduciária sobre imóveis, estabelecendo sistema de securitização com lastro nos créditos dos adquirentes dos imóveis, securitização a ser efetuada por sociedade de propósito específico, criada para este fim. Esta sociedade de propósito específico é a chamada "companhia secu­ritizadora". Em seu art. 15, a Lei 9.514/97 estabelece que "no caso de insolvência da companhia securitizadora, o agente fiduciário assumirá imediatamente a custódia e administração dos créditos imobiliários inte­grantes do patrimônio separado e convocará a assembléia geral dos be­neficiários para deliberar sobre a forma de administração, observados os requisitos estabelecidos no § 2° do art. 14".

Art. 198. Os devedores proibidos de requerer concordata nos termos da legislação específica em vigor na data da publi­cação desta Lei ficam proibidos de requerer recuperação judi­cial ou extrajudicial nos termos desta Lei.

1. Todas as empresas proibidas de requerer concordata (vide comen­tários acima), estão também proibidas de requerer recuperação judicial ou extrajudicial, por entender o legislador, neste caso, que as limitações

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405 Capítulo VIII -Art. 199

que se apresentavam no caso da antiga concordata devem ser mantidos para os novos institutos da recuperação (judicial e extrajudicial).

Art. 199. Não se aplica o disposto no art. 198 desta Lei às sociedades a que se refere o art. 187 da Lei 7.565, de 19 de dezembro de 1986.

1. A Lei 7.565/86, Código Brasileiro de Aeronáutica, em seu art. 187, vedava a possibilidade de concordata para as empresas que "ti­nham por objeto a exploração de serviços aéreos de qualquer natureza ou de infra estrutura aeronáutica". Há certas empresas (v.g., atividade bancária, seguros etc.) que dependem da credibilidade que inspiram ao mercado, para sua própria sobrevivência e, entre estas, encontram-se as empresas de aviação.

2. O medo que o imaginário popular cultiva em relação a "via­gem de avião" é algo com peso econômico, pois se acaso houver qual­quer risco quanto à segurança, o eventual cliente vai buscar outra em­presa. Por isto mesmo é que se proibia às companhias de aviação o benefício da concordata, que ao semear a desconfiança entre os possí­veis usuários, certamente traria mais prejuízos do que vantagens.

3. No entanto, o legislador optou por estabelecer a possibilidade de recuperação judicial e extrajudicial para tais empresas de aviação. Relembre-se que durante a tramitação final desta lei, havia sido decre­tada a falência da empresa aérea Transbrasil, pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, tendo sido concedido efeito suspensivo a agravo interposto perante o STJ. Outras duas empresas aéreas de expressão (Vasp e Varig) encontram-se em situação de crise financeira, tendo sido esta a razão da alteração prevista no art. 199, mais uma vez com a infeliz marca do legislador brasileiro, que historicamente tenta resolver situações emergenciais por meio de leis que deveriam trazer previsões com proje­ções de longo prazo.

Parágrafo único. Na recuperação judicial e na falência das sociedades de que trata o caput deste artigo, em nenhuma hipó­tese ficará suspenso o exercício de direitos derivados de contra­tos de arrendamento mercantil de aeronaves ou de suas partes.

4. De qualquer forma, embora estendendo às companhias de avia­ção o benefício da recuperação, tirou delas o benefício da suspensão

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Art. 200 - Capítulo VIII 406

por 180 dias, das ações de reintegração em contrato de arrendamento (leasing), mantendo-se porém a suspensão para as ações de busca e apreensão derivadas de contratos de alienação fiduciária.

5. As empresas de aviação, nos dias atuais (como aliás todas as grandes empresas de transporte) não adquirem aeronaves no sistema tradicional de compra e venda e as respectivas frotas são integralmente compostas por bens alienados fiduciariamente ou, mais comumente, objeto de arrendamento mercantil, de tal forma que retiradas da empre­sa, fatalmente ocorrerá a falência.

Art. 200. Ressalvado o disposto no art. 192 desta Lei, ficam revogados o Decreto-lei 7.661, de 21 de junho de 1945, e os arts. 503 a 512 do Decreto-lei 3.689, de 3 de outubro de 1941-Código de Processo Penal.

1. A anterior lei de falências terá ainda uma sobrevida, para cui­dar da conclusão dos casos previstos no art. 192 acima, ficando para o demais, revogada. Os arts. 503 a 512 do Código de Processo Penal, que cuidavam do procedimento a ser observado para os crimes falimenta­res, também ficam revogados. Aliás, estes artigos já não eram sequer observados no regime da lei anterior, pois os processos por crimes fali­mentares eram processados na forma do rito ordinário do CPC, que sempre traz a mais ampla possibilidade de defesa ao réu.

Art. 201. Esta Lei entra em vigor 120 (cento e vinte) dias após sua publicação.

1. A Lei de Falências, que entra em vigor no dia 09.06.2005, apre­senta-se, em todos os países, com a estrutura de um verdadeiro código, interferindo profundamente nas relações comerciais como um todo e, por isto, esta vacatio de apenas 120 dias é por demais exígua. Apenas para comparação, observe-se que a lei espanhola (Ley orgánica 8/2003, de 9 de julio, para la Reforma Concursal) foi promulgada em 09.07.2003 para entrar em vigor em 01.09.2004, ou seja, prazo de quase um ano e dois meses (3Y e última das disposiciones finales da lei). A lei alemã, a Insolvenzordnung ou InsO, como abreviadamente é chamada, foi publi­cada em 05.10.1994 para entrar em vigor em 01.01.1999, mais de 4 anos de vacatio (Berger, p. 18), a demonstrar o tempo necessário para a com­preensão de uma lei tipo codificação, cuidado que aqui não foi tomado.

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Page 412: Nova lei de recuperação e falências (comentada)   3ª ed - manoel justino bezerra filho

ÍNDICE ALFABÉTICO-REMISSIVO

A

ABANDONO

• de estabelecimento ; pelo devedor; ca­racterização da falência: art. 94, III,J

AÇÃO(ÕES)

• contra o falido; suspensão pela senten­ça que decretar a falência: art. 99, V

• de responsabilização: art. 82 • de responsabilização; prescrição: art.

82, § 1° • de responsabilização; indisponibilida­

de dos bens particulares: art. 82, § 2° • distribuição por dependência: art. 78,

parágrafo único • prosseguimento com o administrador

judicial: art. 76, parágrafo único

AÇÃO REVOCATÓRIA

• atos prejudiciais aos credores: art. 130 • da sentença cabe apelação: art. 135,

parágrafo único • juízo competente: art.134 • legitimidade ativa: art.l32 • legitimidade passiva: art. 133 • procedimento ordinário: art. 134 • sentença; retorno dos bens à massa

falisa; perdas e danos: art. 135 • status quo ante: art. 136

ACIONISTA

• do devedor; pode requerer falência: art. 97,III

ADJUDICAÇÃO

• dos bens arrecadados; credores: art. 111

ADMINISTRADOR(ES)

• qualificação deve constar do termo de comparecimento: art. 104, I, b

• representação da sociedade na falência: art. 81, § 2°

• representação da sociedade na falência; direitos e obrigações: art. 81, § 2°

ADMINISTRADOR JUDICIAL

• afastamento: art. 37 § 1 o • compromisso; remoção dos bens arre-

cadados: art. 112 • destituição: art. 23, parágrafo único • deveres: art. 18 • guarda dos bens arrecadados: art. 108, § 1 o • nomeação: art. 21 • nomeação feita na sentença que decre­

ta a falência: art. 99, IX • nomeação de substituto: art. 23, pará­

grafo único • perda do direito à remuneração: art. 24,

§§ 3°e4° • prosseguimento nas ações: art. 76, pa­

rágrafo único • qualificação profissional preferencial:

art. 21 • relatório conterá valores eventualmente

recebidos no mês vencido: art. 148 • remuneração proporcional: art. 24, § 3o • tempestividade do pedido de alteração

da relação de credores: art. 19 • valor da remuneração: art. 24

AERONAVES

• não suspensão do exercício de direitos derivados de contratos de arrendamento mercantil: art. 199, parágrafo único

Page 413: Nova lei de recuperação e falências (comentada)   3ª ed - manoel justino bezerra filho

Índice Alfabético-Remissivo

• podem requerer recuperação judicial ou extrajudicial nos termos desta Lei: art. 199

AFASTAMENTO • do devedor de suas atividades: art. 75,

caput

AGRAVO • cabimento em caso de decisão judicial

sobre impugnação: art. 17 • contra a decisão que conceder a recu­

peração judicial: art. 59,§ 2° • da decisão que decreta a falência: art.

100 • efeito suspensivo: art. 17, parágrafo

único • recebimento: art. 17, parágrafo único

ALIENAÇÃO

• em bloco; valor de avaliação do bem individualmente considerado: art. 83, § lo

• de parte ou da totalidade do ativo: art. 94, II, b

ALIENAÇÃO DOS BENS

• individualmente considerados: art. 140, IV

• ordem de preferência: art. 140, caput • venda de estabelecimentos em bloco:

art. 140,I • venda de filiais ou unidades isoladas:

art. 140, 11 • determinados bens; operação rentável

da unidade de produção; transferência de contratos específicos: art. 140, § 3°

ALIENAÇÃO JUDICIAL DO ATIVO • impugnações: art. 143 • impugnações- decisão: art. 143 • impugnações; legitimados: art. 143 • impugnações; prazo: art. 143 • intimação do Ministério Público: art.

142, § 7° • leilão: art. 142, I • modalidades: art. 142 • outras modalidades: art. 142, 11 e 111 • outras modalidades - homologação -

412

aprovação da assembléia - necessida- · de: art. 145

• pregão: art. 142, III • propostas fechadas: art. 142, 11 • publicação: art. 142, § 1°

ALUGUEL

• de bens da massa falida: art. 114

ANOTAÇÃO

• da falência no registro do devedor: art. 99, VIII

• no registro do falido do fim do período de inabilitação: art. 102, parágrafo único

APELAÇÃO

• pedido de restituição: art. 90, caput • sem efeito suspensivo; pedido de resti­

tuição: art. 90, caput • sentença que julga improcedente o pe-

dido de falência: art. 100

APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA

• do CPC: art. 189 • de outras leis: art. 197

AQUISIÇÃO

• dos bens arrecadados; credores: art. 111

ARRECADAÇÃO DOS BENS

• acompanhamento pelo falido: art. 108, § 20

• auto de arrecadação: art. 22, III,f; art. 110

• na falência: art. 22, III,f

ARREMATANTE

• inexistência de sucessão nas obrigações do devedor - objeto de alienação -massa- bens livres de ônus: art. 141, 11

• inexistência de sucessão nas obrigações do devedor -não responde por obriga­ções trabalhistas decorrentes de contra­to anterior à arrematação: art. 141, § 2°

ASSEMBLÉIA-GERAL DE CRE­DORES

• convocação: art.36 • convocação; para a constituição de

Comitê de Credores: art. 99, XII

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413

• conteúdo da ata: art. 37, § 7° • direito a voto nas deliberações art. 10,

§lo

• presidida pelo administrador judicial: art.37

• quórum para a convocação: art. 36, § 2° • quórum para instalação: art. 37, § 2o • lavratura da ata: art. 37, § 7o • lista de__presença: art. 37, § 3° • manutenção das deliberações da assem­

bléia-geral após exclusão, retificação ou reclassificação dos créditos por de­cisão judicial posterior: art. 39, § 2o

ATIVO • alienação de parte ou da totalidade: art.

94, Il, b • relação dos bens e direitos que o com­

põem; falência requerida pelo devedor: art. 105, III

AVALIAÇÃO • acompanhamento pelo falido: art. 108,

§ 20 • de bem objeto de garantia real: art. 108,

§50

• valor; bem individualmente considera­do; alienação em bloco: art. 83, § 1°

B

BALANÇO • patrimonial: art. 105, I, a

BENS • Vide também ALIENAÇÃO • alienação do ativo permanente: 27, Il, c • arrecadados; guarda; administrador

judicial: art. 108, § 1 o

• arrecadados; compromisso; adminis­trador judicial; remoção: art. 112

• de conservação arriscada ou dispendio-sa: art. 113

• deterioráveis: art. 113 • entrega; dever do falido: art. 104, V • imóveis; exibição das certidões de re­

gistro: art. 110, § 4° • impenhoráveis: art. 108, § 4°

Índice Alfabético-Remissivo

• individualmente considerado; valor de avaliação; alienação em bloco: art. 83, §lo

• insuficientes para solver o passivo: art. 94,III,c

• massa falida; aluguel ou celebração de outro contrato: art. 114

• móveis e imóveis fora do estabeleci­mento; declaração no termo de compa­recimento: art. 104, I, e

• objeto de garantia real; avaliação: art. 108, §5°

• particulares; indisponibilidade; ação de responsabilização; art. 82, § 2°

• perda do direito de administrar ou dis­por: art. 103, caput

• perecíveis: art. 113 • sujeitos à considerável desvalorização:

art. 113 • utilização produtiva: art. 75, caput

c CÁMBIO • contrato; para exportação; restituição

em dinheiro: art. 86, Il • do dia da decisão judicial; conversão:

art. 77

CITAÇÃO • do devedor faz surgir a obrigação de

comunicação ao juízo da falência ou da recuperação judicial: art. 6°, § 6°, Il

CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS • com garantia real até o valor do bem

gravado: art. 83, Il • derivados da legislação do trabalho: art.

83, I

CLÁUSULA PENAL • contratos unilaterais: art. 83, § 3°

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL • procedimento ordinário: art. 82, caput

CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL • parcelamento do débito: art. 6°, § 7°

Page 415: Nova lei de recuperação e falências (comentada)   3ª ed - manoel justino bezerra filho

Índice Alfabético· Remissivo

COISA • vendida a crédito; restituição: art. 85,

parágrafo único • que não existe; restituição em dinhei-

ro: art. 86, I

COMITÊ DE CREDORES • atribuições: art. 27 • constituição: art. 26 • constituição; convocação da assem­

bléia-geral de credores: art. 99, XII • composição: art. 26 • decisões em caso de impasse: art. 27, §

20

• fiscalização do administrador judicial: art.22

• impugnação contra a relação de credo­res: art. 8°

• número de integrantes: art. 26, § 1 o • oitiva em caso de transação de obriga­

ções e direitos da massa falida: art. 22, § 30

• presidente: art. 26, § 3° • quórum das decisões: art. 27, § 1° • tempestividade do pedido de alteração

da relação de credores: art. 19

COMPETÊNCIA • para decretar a falência: art. 3° • para deferir a recuperação judicial: art.

30

• para homologar a recuperação extraju­dicial: art. 3°

CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS

• decretação da falência; extinção da con­cessão: art. 195

CONCORDATA • pedido anterior à Lei não obsta pedido

de recuperação: art. 192, § 2° • proibidos estão obstados a pedir recu­

peração judicial ou extrajudicial: arts. 198 e 199

• será extinta pela concessão de pedido de recuperação: art. 192, § 3°

CONDOMÍNIO • indivisível: art. 123, § 2°

CÔNJUGE

414

• sobrevivente; pode requerer falência: art. 97, 11

CONLUIO FRAUDULENTO: art. 130

CONSENTIMENTO • dos credores; necessário para a trans­

ferência de estabelecimento: art. 94,111, c

CONSÓRCIOS • esta Lei não se aplica: art. 2°, 11

CONTESTAÇÃO • da impugnação do crédito: art. 11 • falência dos sócios ilimitadamente res-

ponsáveis: art. 81

COOBRIGADOS • garantes: art. 127, § 4° • solidários: art. 127 • sol ventes: art. 128

COOPERATIVA DE CRÉDITO • esta Lei não se aplica: art. 2o

CONTRATO(S) • aluguel ou celebração de outro contra­

to; bens da massa falida: art. 114 • bilaterais; não se resolvem pela falên­

cia: art. 117 • de câmbio para exportação; restituição

em dinheiro: art. 86, 11 • interpelação do administrador judicial

sobre o cumprimento art. 117, § 1 o • não pode importar disposição total ou

parcial dos bens: art. 114, § 1 o • de locação; falência do locador não o

resolve: art. 119, VII • possibilidade de sua denúncia; falência

do locatário: art. 119, VII • referente a bens da massa falida; resci­

são: art. 114, § 2° • revogação ou ineficácia; restituição em

dinheiro: art. 86, III • unilaterais; cláusulas penais: art. 83, § 3°

Page 416: Nova lei de recuperação e falências (comentada)   3ª ed - manoel justino bezerra filho

415

• unilateral; cumprimento; art. 118

COTISTA

• do devedor; pode requerer falência: art. 97,III

CRÉDITO

• acordo para compensação e liquidação; art. 119, VIII

• apuração: art. 6°, § 2° • atualização do valor: art. 9°, II • ausência: art. 8° • classificação: arts. 7°; 9, II; 83; 84 • conversão em moeda estrangeira para

a moeda do País: art. 77 • derivados da relação de trabalho; valor

de recebimento preferencial limitado: art. 83, I

• divergência: art. 7°, § 1 o

• exclusão: art. 6°, § 2° • habilitação: arts. 6°, § 2°; 7°, § 2°; 9° • habilitação retardatária: art. 1 O • importância: art. 7° • impugnação: art. 8° • inclusão: art. 10, § 6° • legitimidade: art. 7° • modificação: art. 6°, § 2° • origem: art. 9°, II • verificação: art. 7°

CREDORES

• apresentação ao administrador judicial das habilitações ou divergências quan­to aos créditos relacionados: art. 7°, § 1 o

• aquisição ou adjudicação dos bens ar­recadados: art. 111

• assembléia-geral: arts. 35 a 46 • consentimento; necessário para a

transferência de estabelecimento: art. 94,III,c

• de coobrigados solidários; direito de concorrer pela totalidade do crédito: art. 127, caput

• endereço para comunicação de qual­quer ato processual: art. 9°, I

• intimação após impugnação dos res­pectivos créditos: art. 10

Índice Alfabético-Remissivo

• litisconsórcio; possibilidade: art. 94, § lo

• nome: art. 9°, I • particulares de sócio solidário: art. 6° • que não tiver domicílio no Brasil; cau­

ção - art. 97, § 2° • representação por procuração: art. 37,

§40

• sujeição de todos à falência: art. 115

CUSTAS JUDICIAIS

• créditos retardatários estão sujeitos ao pagamento: art. 10, § 3°

• decorrentes de litígio com o devedor: art. 5°

D

DEB:ÊNTURES

• juros: art. 124, parágrafo único

DÉBITO FISCAL

• parcelamento: art. 6°, § 7°

DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA

• interrupção da prescrição: art. 182, pa­rágrafo único

DEPÓSITO

• do valor correspondente ao total do cré­dito; não será decretada falência: art. 98, parágrafo único

• dos livros obrigatórios em cartório; dever: art. 104, II

DESOBEDIÊNCIA

• intimação sob pena de: art. 22, § 2°

DESPESAS

• com a convocação: art. 36 § 3° • que os credores fizerem para tomar

parte na recuperação judicial ou na fa­lência: art. 5°

DEVEDOR

• abandono de estabelecimento; caracte­rização da falência: art. 94, III,f

• afastamento de suas atividades: art. 75, caput

• coobrigados solventes: art. 128

Page 417: Nova lei de recuperação e falências (comentada)   3ª ed - manoel justino bezerra filho

Índice Alfabético-Remissivo

• empresário e sociedade empresária: art. lo

• extensão do conceito aos sócios ilimi-tadamente responsáveis: art. 190

• garantes: art. 128 • pode requerer falência: art. 97, I • prova da condição de empresário; pe­

dido de falência pelo devedor: art. 105, IV

• que não nomeia bens à penhora: art. 94, 11

• que realiza negócio simulado: art. 94, III,b

• que se ausenta sem deixar representante habilitado: art. 94, III,f

• que tenta ocultar-se: art. 94, III,f • que transfere estabelecimento a tercei­

ro: art. 94, 111, c • vencimento antecipado das dívidas: art.

77

DEVERES • descumprimento pelo falido; crime de

desobediência: art. 104, parágrafo úni­co

• do falido: art. 104

DIREITO(S)

• de administrar ou dispor dos bens; per­da: art. 103, caput

• de preferência na compra: art. 114, § 1 o

• de retenção; créditos com privilégio especial: art. 83, IV, c

• de retenção; suspensão: art. 116, I • de retirada ou de recebimento do valor

das quotas ou ações: art. 116, 11 • de sócio; valores não oponíveis à mas­

sa: art. 83, § 2° • do falido: art. 103, parágrafo único • dos administradores; representação da

sociedade na falência: art. 81, § 2° • regressivo; massas coobrigadas: art.

127, § 2°

DIREITO DE ELEIÇÃO • concessão aos credores na recuperação

judicial: art. 50, V

416

DISPOSIÇÕES PENAIS • aquisição, recebimento ou uso ilegal de

bens: art. 174 • contabilidade paralela: art. 168, § 2° • contabilidade paralela: concurso de

pessoas: art. 168, § 3° • contabilidade paralela: redução ou

substituição da pena: art. 168, § 4° • desvio, ocultação ou apropriação de

bens: art. 173 • divulgação de informações falsas: art.

170 • exercício ilegal de atividade: art. 176 • favorecimento de credores: art. 172 • fraude a credores: art. 168 • fraude a credores: aumento de pena: art.

168, § 1° • habilitação ilegal de crédito: art. 174 • indução a erro: art. 171 • omissão dos documentos contábeis

obrigatórios: art. 178 • prescrição dos crimes: regência do

Código Penal: art. 182 • violação de impedimento: art. 177 • violação de sigilo empresarial: art. 169

DÍVIDAS • compensação: art. 122,caput • vencimento antecipado: art. 77

DOCUMENTOS • comerciais para a verificação dos cré-

ditos: art. 7° • fiscais: art. 7° • juntada: arts. 22, 11, c; 22, III, p; 57 • originais ou cópias autenticadas: art. 9°,

parágrafo único

DOLO • no requerimento da falência; indeniza­

ção do devedor: art. 101, caput • no requerimento da falência; indeniza­

ção do terceiro prejudicado; ação pró­pria: art. 101, § 2°

DOMICÍLIO • devedor que tenta ocultar-se; caracte­

rização da falência: art. 94, III,f

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417

• endereço completo; termo de compa­recimento: art. 104, I

E

EDITAL

• convocação da Assembléia-geral de credores: art. 36

• informações que deve conter o edital do art.36:art.36

• publicação após pedido de recuperação judicial: art. 7°

• homologação de plano da recuperação extrajudicial: art. 164

EMBARGOS

• de terceiro: art. 93

EMPRESA FILIAL

• com sede fora do Brasil: art. 3°

EMPRESA PÚBLICA

• esta Lei não se aplica: art. 2°, I

EMPRESÁRIO

• condição; prova para o pedido de falên-cia pelo devedor: art. 105, IV

• devedor: art. 1 o

ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA

• extinção das obrigações do falido: art. 154

• prestação de contas: art. 155 • relatório final: art. 156

ENTIDADE DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR

• esta Lei não se aplica: art. 2°, 11

ENTIDADES EQUIPARADAS

• esta Lei não se aplica: art. 2°, II

EQUIPARAÇÃO

• dos sócios, diretores, gerentes, admi­nistradores e conselheiros ao devedor: art. 179

ESPÓLIO

• falência; suspensão do inventário: art. 125

• quando não será decretada a falência: art. 96, § 1°

Índice Alfabético-Remissivo

ESTABELECIMENTO

• abandono do devedor: art. 94, III, f • principal; simular a transferência: art.

94,III,d • quando será lacrado: art. 109

ESTABELECIMENTO PRINCIPAL

• critério espacial de fixação de compe­tência: art. 3°

EXECUÇÃO(ÕES)

• contra o falido; suspensão por senten­ça: art. 99, V

EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DO FALIDO

• declaração por sentença; apensamento dos autos: art. 159, § 6°

• declaração por sentença: autuação; publicação: art. 159, § 1°

• declaração por sentença; recurso: art. 159, §5°

• declaração por sentença; sócio de res­ponsabilidade ilimitada: art. 160

• oposição: art. 159, § 2° • requerimento: declaração por sentença:

art. 159 • sentença: art. 159, § 3° • sentença; comunicação: art. 159, § 4°

F

FALÊNCIA

• ação de responsabilização: art. 82 • ação de responsabilização; prescrição:

art. 82, § 1° • ação de responsabilização; indisponi­

bilidade dos bens particulares: art. 82, § 20

• acionistas, sócios, controladores, dire­tores, administradores; qualificação deve constar do termo de compareci­mento: art. 104, I, b

• ações ou execuções contra o falido; suspensão por sentença: art. 99, V

• ações; distribuição por dependência: art. 78, parágrafo único

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Índice Alfabético-Remissivo

• ações; prosseguimento com o adminis­trador judicial: art. 76, parágrafo úni­co

• acordo para compensação e liquidação de créditos: art. 119, VIII

• administrador judicial; guarda dos bens arrecadados: art. 108, § 1 o

• administrador judicial; nomeação na sentença que decreta a falência: art. 99, IX

• administradores; representação da so­ciedade na falência: art. 81, § 2°

• administradores; representação da so­ciedade na falência; direitos e obriga­ções: art. 81, § 2°

• afastamento do devedor de suas ativi­dades: art. 75,caput

• agravo; decisão que decreta a falência: art.100

• alienação em bloco; valor de avaliação do bem individualmente considerado: art. 83, § 1°

• alienação de parte ou da totalidade do ativo: art. 94, 11, b

• aluguel ou celebração de outro contra­to; bens da massa falida: art. 114

• anotação da falência no registro do de­vedor: art. 99, VIII

• anotação no registro do falido do fim do período de inabilitação: art. 102, pará­grafo único

• apelação; sem efeito suspensivo; pedi­do de restituição: art. 90, caput

• apelação; sentença que julga improce­dente o pedido de falência: art. 100

• apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação: art. 96, VII

• apuração judicial dos haveres do fali­do: art. 123, § 1 o

• arrecadação e avaliação; acompanha­mento pelo falido: art. 108, § 2°

• auto de arrecadação: art. 110 • avaliação de bem objeto de garantia

real: art. 108, § 5° • balanço patrimonial: art. 105, I, a

418

• bens de conservação arriscada ou dis­pendiosa: art. 113

• bens deterioráveis: art. 113 • bens imóveis; exibição das certidões de

registro: art. 110, § 4° • bens impenhoráveis: art. 108, § 4° • bens insuficientes para solver o passi­

vo:art.94,III,c • bens, livros, papéis, documentos; entre­

ga; dever do falido: art. 104, V • bens móveis e imóveis fora do estabe­

lecimento; declaração no termo de comparecimento: art. 104, I, e

• bens particulares; indisponibilidade: art. 82, § 2°

• bens perecíveis: art. 113 • bens sujeitos à considerável desvalori­

zação: art. 113 • bens; utilização produtiva: art. 75,

caput • caracterização: art. 94 • caução; credor que não tiver domicílio

no Brasil: art. 97, § 2° • causas determinantes; constar do termo

de comparecimento: art. 104, I, a • citação dos sócios ilimitadamente res­

ponsáveis: art. 81 • classificação dos créditos: arts. 83 e 84 • cláusulas penais; contratos unilaterais:

art. 83, § 3° • Código de Processo Civil; procedimen­

to ordinário: art. 82, caput • coisa móvel comprada com reserva de

domínio: art. 119, IV • coisa que não existe; restituição em

dinheiro: art. 86, I • coisa vendida a crédito; restituição: art.

85, parágrafo único • coisas vendidas a termo: art. 119, V • competente para decretar: art. 3° • comprador de coisas compostas; perdas

e danos: art. 119, 11 • compromisso; administrador judicial;

remoção dos bens arrecadados: art. 112

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419

• condição de empresário; prova para o pedido de falência pelo devedor: art. 105, IV

• condomínio indivisível: art. 123, § 2° • cônjuge sobrevivente; pode requerer

falência: art. 97, 11 • consentimento dos credores; necessá­

rio para a transferência de estabeleci~ mento: art. 94, III, c

• contas bancárias, aplicações, títulos de cobrança; devem constar do termo de comparecimento: art. 104, I, g

• contas correntes; encerramento: art. 121

• contestação; prazo: art. 98, caput • conteúdo da sentença que decreta a fa­

lência: art. 99, I • continuação provisória das atividades

do falido; sentença: art. 99, XI • contraente; direito à indenização: art.

117, § 2° • contratante de boa-fé; restituição em

dinheiro: art. 86, III • contrato de câmbio para exportação;

restituição em dinheiro: art. 86, 11 • contrato; interpelação do administra­

dor judicial sobre o cumprimento art. 117, § 1°

• contrato não pode importar disposição total ou parcial dos bens: art. 114, § 1°

• contrato referente a bens da massa fa­lida; rescisão: art. 114, § 2°

• contrato unilateral; cumprimento: art. 118

• contratos bilaterais; não se resolvem pela falência: art. 117

• contratos unilaterais; cláusulas penais: art. 83, § 3°

• conversão dos créditos em moeda es­trangeira para a moeda do País: art. 77

• conversão; câmbio do dia da decisão judicial: art. 77

• convocação da assembléia-geral de cre­dores para a constituição de Comitê de Credores: art. 99, XII

• coobrigados garantes: art. 127, § 4°

Índice Alfabético-Remissivo

• coobrigados solidários: art. 127 • coobrigados solventes: art. 128 • cotista ou acionista do devedor; pode

requerer falência: art. 97, III • créditos com garantia real; classifica­

ção na falência: art. 83, 11 • créditos com garantia real; juros: art.

124, parágrafo único • créditos com privilégio especial: art.

83,IV • créditos com privilégio geral: art.

83, v • créditos derivados da legislação do tra­

balho acima de 150 salários mínimos: art. 83, VI, c

• créditos derivados da legislação do tra­balho; limite de 150 salários mínimos: art. 83, I

• créditos em moeda estrangeira: art. 77 • créditos extraconcursais: art. 84 • créditos extraconcursais; atos jurídicos

praticados após a decretação da falên­cia: art. 84, V

• créditos extraconcursais; atos jurídicos praticados durante a recuperação judi­cial: art. 84, V

• créditos extraconcursais; custas judi­ciais: art. 84, IV

• créditos extraconcursais; despesas e custas do processo de falência: art. 84,III

• créditos extraconcursais; quantias for­necidas pelos credores: art. 84, 11

• créditos extraconcursais; serviços prestado após a decretação da falência: art. 84, I

• créditos extraconcursais; tributos rela­tivos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência: art. 84, V

• créditos; ordem: art. 83 • créditos que não possam ser reclama­

dos; não legitimam o pedido: art. 94, § 20

• créditos que não se compensam: art. 122, parágrafo único

• créditos quirografários: art. 83, VI

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Índice Alfabético-Remissivo

• créditos quirografários; derivados da legislação do trabalho: art. 83, VI, c

• créditos quirografários; legislação do trabalho: art. 83, VI, c

• créditos remanescentes da recuperação judicial: art. 80

• créditos subordinados: art. 83, VIII • créditos subordinados; sócios e admi­

nistradores sem vínculo empregatício: art. 83, VIII, b

• créditos trabalhistas cedidos a tercei­ros: art. 83, § 4°

• créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários: art. 83, § 4°

• créditos tributários; classificação na falência: art. 83, III

• credor de coobrigados solidários; direi­to de concorrer pela totalidade do cré­dito: art. 127, caput

• credores; aquisição ou adjudicação dos bens arrecadados: art. 111

• credores; litisconsórcio; possibilidade: art. 94, § 1°

• da decisão que decreta a falência cabe agravo: art. 100

• dar ou reforçar garantia a credor sem ficar com bem livres e desembaraçados: art.94,III,e

• da sentença que julga improcedente o pedido de falência cabe apelação: art. 100

• debêntures; juros: art. 124, parágrafo único

• decretação; vencimento antecipado das dívidas: art. 77

• demonstração de resultados acumula­dos: art. 105, I, b

• demonstração do resultado desde o úl­timo exercício: art. 105, I, c

• depósito dos livros obrigatórios em cartório; dever: art. 104, II

• depósito do valor correspondente ao total do crédito; não será decretada fa­lência: art. 98, parágrafo único

420

• descumprimento dos deveres pelo fa­lido; crime de desobediência: art. 104, parágrafo único

• devedor; afastamento de suas ativida­des: art. 75, caput

• devedor; coobrigados solventes: art. 128

• devedor; garantes: art. 128 • devedor; pode requerer falência: art. 97,

I • devedor que abandona estabelecimen­

to: art. 94, III,f • devedor que não nomeia bens à penho­

ra: art. 94, II • devedor que realiza negócio simulado:

art.94,III,b • devedor que se ausenta sem deixar re­

presentante habilitado: art. 94, III,f • devedor que tenta ocultar-se: art. 94,

III,f • devedor que transfere estabelecimento

a terceiro: art. 94, III, c • devedor; vencimento antecipado das

dívidas: art. 77 • deveres do administrador judicial: art.

22 • deveres do falido: art. 104 • direito de retenção; créditos com privi­

légio especial: art. 83, IV, c • direito de preferência na compra: art.

114, § 1° • direito de retenção; suspensão: art.

116, I direito de retirada ou de recebimento do valor das quotas ou ações: art. 116, II

• direito de sócio; valores não oponíveis à massa: art. 83, § 2°

• direitos do falido: art. 103, parágrafo único

• direito regressivo; massas coobrigadas: art. 127, § 2°

• disposições gerais: arts. 75 a 82 • distribuição do pedido: art. 6°, § 8° • distribuição obrigatória dos pedidos de

falência: art. 78, caput

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421

• distribuição por dependência: art. 78, · parágrafo único

• dívidas; compensação: art. 122, caput • dívidas; vencimento antecipado: art. 77 • do espólio; suspensão do inventário:

art. 125 • do locador não resolve o contrato: art.

119, VII • do locatário; possibilidade de denúncia

do contrato: art. 119, VII • domicílio; endereço completo; termo

de comparecimento: art. 104, I • domicílio; local da sede; estabeleci­

mento principal: art. 94, III, f • economia processual; princípio: art. 75,

parágrafo único • efeitos sobre as obrigações do devedor:

arts. 115 a 128 • embargos de terceiro: art. 93 • emenda do pedido: art. 106 • empresa; bens, ativos e recursos produ­

tivos; preservar e otimizar: art. 75, caput

• estabelecimento; abandono do deve­dor: art. 94, III,f

• espólio; não será decretada a falência: art. 96, § 1°

• expedição de ofícios; determinação por sentença: art. 99, X

• edital; publicação contendo a íntegra da decisão que decretou a falência: art. 99, parágrafo único

• estado civil do devedor; termo de com­parecimento: art. 104, I

• examinar e dar parecer sobre as contas do administrador judicial; dever do fa­lido: art. 104, XII

• entrega das coisas expedidas ao deve­dor e ainda em trânsito: art. 119, I

• falido deve assistir ao levantamento, à verificação do balanço e ao exame dos livros: art. 104, IX

• falido deve auxiliar o administrador judicial: art. 104, VII

• falido deve comparecer a todos os atos da falência: art. 104, IV

Índice Alfabético-Remissivo

• falido; dever de manifestar-se: art. 104,X

• falido pode ser nomeado depositário dos bens arrecadados: art. 108, § 1 o

• falido; sócio comanditário ou cotista: art. 123, caput

• falsidade de título: art. 96, I • fato que extinga ou suspenda obrigação

ou não legitime cobrança de título: art. 96, v

• Fazendas Públicas Federal, dos Estados e dos Municípios; comunicação para tomar conhecimento da falência: art. 99, XIII

• garantia real; valor do bem: art. 83, § 1 o

• guarda dos bens arrecadados: art. 108, § 1°

• habilitações de crédito; exame pelo fa­lido; dever: art. 104, VIII

• habilitações de crédito; prazo: art. 99, IV

• herdeiro; pode requerer falência: art. 97, II

• impossibilidade da avaliação dos bens no ato da arrecadação: art. 11 O, § 1 o

• inabilitação empresarial: art. 102 • indenização; cumprimento do contra­

to negado; crédito quirografário: art. 117, § 2°

• indicação dos bens em poder de tercei­ros; dever do falido: art. 104, V

• indisponibilidade dos bens particula­res: art. 82, § 2°

• infração das leis penais ou administra­tivas: art. 83, VII

• inventariante; pode requerer falência: art. 97, II

• inventário do auto de arrecadação: art. 110, § 2°

• juízo: art. 76, caput • juízo; competência; exceção: art. 76,

caput • juros; abatimento proporcional: art. 77 • juros das debêntures e dos créditos com

garantia real: art. 124, parágrafo único

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Índice Alfabético-Remissivo

• juros vencidos; inexigibilidade: art. 124, caput

• lacração dos estabelecimentos do fali­do; sentença: art. 99, XI

• liquidação da sociedade; valores não oponíveis à massa: art. 83, § 2°

• liquidação de sentença; perdas e danos; indenização; requerimento da falência por dolo: art. 101, caput

• liquidação precipitada de ativos: art. 94, III,a

• liquidantes; representação da socie­dade na falência: art. 81, § 2°

• liquidantes; representação da socie­dade na falência; direitos e obrigações: art. 81, § 2°

• litisconsórcio de credores; possibilida­de: art. 94, § 1 o

• livros obrigatórios e documentos contá­beis exigidos por lei; acompanham pe­dido de falência do devedor: art. 105, V

• mandato conferido pelo devedor antes da falência: art. 120, caput

• mandato conferido para representação judicial do devedor: art. 120, § 1°

• mandato ou comissão recebida pelo falido: art. 120, § 2°

• mandatos que devem constar do termo de comparecimento: art. 104, I, d

• massas coobrigadas; coobrigados ga­rantes: art. 127, § 4°

• massas coobrigadas; devolução do va­lor pago acima do total do crédito: art. 127,§3°

• massas coobrigadas; direito regressivo: art. 127, § 2°

• meio ruinoso ou fraudulento para rea­lizar pagamentos: art. 94, III, a

• Ministério Público; intimação para to­mar conhecimento da falência: art. 99, XIII

• multas contratuais: art. 83, VII • multas contratuais; classificação dos

créditos: art. 83, VII • multas tributárias; classificação dos

créditos: art. 83, VII

422

• nacionalidade do devedor; termo de comparecimento: art. 104, I

• não se ausentar do lugar onde se proces­sa a falência: art. 104, III

• não será decretada: art. 96 • nome do contador deve constar do ter­

mo de comparecimento: art. 104, I, c • nome do devedor; termo de compare­

cimento: art. 104, I • nulidade de obrigação ou de título: art.

96,III • obrigações assumidas no plano de re­

cuperação judicial: art. 94, III, g

• ordem de apresentação dos pedidos de falência: art. 78, caput

• ordem dos créditos: art. 83 • órgãos e repartições públicas; expedi­

ção de ofícios: art. 99, X • outras sociedades de que o falido faça

parte; declaração no termo de compa­recimento: art. 104, l,f

• pagamento da dívida; prova; não será decretada a falência: art. 96, IV

• patrimônios de afetação: art. 119, IX • pedido de falência pelo devedor instruí­

do irregularmente: art. 106 • pedido de restituição: arts. 85 a 93 • pedido de restituição; fundamentação:

art. 87, caput

• pedido de restituição negado: art. 89 • pedidos de falência; distribuição

obrigatória: art. 78, caput

• penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas: art. 83, VII

• penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, classificação dos créditos: art. 83, VII

• perda do direito de administrar ou dis­por dos bens: art. 103, caput

• prática de ato de disposição ou onera­ção de bens; proibição por sentença: art. 99, VI

• prazo para pleitear recuperação judicial dentro no processo: art. 95

• prestar informações: art. 104, VI

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423

• princípios da celeridade e da economia processual: art. 75, parágrafo único

• prisão preventiva do falido; fundamen­to em provas de prática de crime fali­mentar: art. 99, VII

• procedimento: arts. 94 a 101 • processos de falência e seus incidentes

têm preferência a todos os outros: art. 79 • processos em andamento em que o fa­

lido for autor ou réu; termo de compa­recimento: art. 104, I, g

• procurador pode representar o devedor nos atos da falência: art. 104, IV

• produto dos bens penhorados entrará para a massa falida: art. 108, § 3°

• promessa de compra e venda de imó­veis: art. 119, VI

• protestos cancelados; termo legal: art. 99, li

• qualquer credor; pode requerer falên­cia: art. 97, IV

• quando o estabelecimento será lacrado: art. 109

• quem pode ser nomeado depositário dos bens arrecadados: art. 108, § 1°

• quem pode requerer a falência: art. 97 • quirografários; créditos trabalhistas

cedidos a terceiros: art. 83, § 4° • rateio proporcional entre os requeren­

tes; restituição; hipótese: art. 91, pará­grafo único

• razões da impossibilidade de prosse­guimento da atividade empresarial: art. 105, caput

• Registro Público de Empresas; certidão para comprovar regularidade das ativi­dades do credor empresário: art. 97, § 1 o

• Registro Público de Empresas; docu­mento para provar cessação das ativi­dades: art. 96, VIII

• relação de credores; apresentação pelo falido; dever: art. 104, XI

• relação nominal dos credores; conteú­do: art.99,III

• relação nominal dos credores; prazo: art.99,III

Índice Alfabético-Remissivo

• relações contratuais; regras: art. 119 • relações patrimoniais não reguladas

pela Lei; critérios de decisão: art. 126 • relação dos credores e respectivos cré­

ditos; falência requerida pelo devedor: art. 105, li

• relação dos bens e direitos que com­põem o ativo; falência requerida pelo devedor, art. 105, III

• relação dos administradores; pedido de falência pelo devedor: art. 105, VI

• relatório do fluxo de caixa: art. 105, I, d

• remoção dos bens arrecadados: art. 112 • requerida pelo devedor: arts. 105 a 107 • requerida pelo devedor; demonstrações

contábeis; composição: art. 105, I • requerida pelo devedor; requisitos para

o pedido: art. 105, caput • requerimento por dolo; indenização do

devedor: art. 101, caput • requerimento por dolo; indenização do

terceiro prejudicado; ação própria: art. 101, § 2°

• responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada; apuração: art. 82, caput

• representação das sociedades falidas: art. 81, § 2°

• restituição: arts. 85 a 93 • restituição; audiência de instrução e

julgamento: art. 87, § 2° • restituição; cabe apelação da sentença

que julga o pedido: art. 90, caput • restituição de coisa vendida a crédito:

art. 85, parágrafo único • restituição; despesas de conservação da

coisa; ressarcimento: art. 92 • restituição; embargos de terceiro:

art. 93 • restituição em dinheiro: art. 86 • restituição; exigência de caução; hipó­

tese: art. 90, parágrafo único • restituição; manifestação do falido, do

Comitê, dos credores e do administra­dor; prazo: art. 87, § lo

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Índice Alfabético-Remissivo

• restituição; não condenação da massa em honorários advocatícios; hipótese: art. 88, parágrafo único

• restituição; pedido negado: art. 89 • restituição; prazo para entrega da coisa:

art. 88, caput • restituição; quem pode pedir o bem que

está em poder do devedor: art. 85, caput • restituição; rateio proporcional entre os

requerentes; hipótese: art. 91, parágrafo único

• restituição; suspensão da disponibilida­de da coisa: art. 91, caput

• resultados acumulados; demonstração: art. 105, I, b

• revogação ou ineficácia do contrato; restituição em dinheiro: art. 86, III

• sentença que analisa pedido de falên­cia pelo devedor; forma: art. 107, caput

• sentença que decreta a falência: art. 99 • sentença que nega pedido de restitui­

ção:art.89 • serviço contratado a prestações; crédi­

to; habilitação art. 119, III • simular a transferência do estabeleci­

mento principal: art. 94, III, d • sociedade anônima; não será decreta­

da a falência: art. 96, § 1 o

• sociedade de responsabilidade ilimita­da; falência: art. 81, caput

• sociedades falidas; representação: art. 81, § 2°

• sócio excluído da sociedade há menos de 2 anos: art. 81, § 1°

• sócio que tenha se retirado da sociedade há menos de 2 anos; efeitos da falência: art. 81, § 1°

• sócios; efeitos jurídicos da falência; sujeição: art. 81, caput

• sócios ilimitadamente responsáveis; coobrigados solventes: art. 128

• sócios ilimitadamente responsáveis; falência: art. 81, caput

• sócios ilimitadamente responsáveis; garantes: art. 128

424

• sujeição de todos os credores à falên­cia: art. 115

• termo de comparecimento; conteúdo: art. 104, I

• termo de comparecimento; dever cons­tar a qualificação de todos os sócios: 104, I, b

• termo legal da falência; critérios para a fixação: art. 99, II

• termo legal da falência; fixado na sen­tença: art. 99, II

• título ou título executivos protestados: art. 94, I

• último exercício; demonstração do re­sultado: art. 105, I, c

• unidade, universalidade do concurso e igualdade de tratamento dos credores: art. 126

•. valor do bemobjetodegarantiareal: art. 83, § 1°

• valores decorrentes de direito de sócio não são oponíveis à massa: art. 83, § 2°

• vencimento antecipado das dívidas: art. 77

• venda antecipada dos bens; hipóteses: art. 113

• venda a prestações de coisa móvel; cré­dito; habilitação: art. 119, III

• vendedor não pode obstar a entrega das coisas: art. 119, I

• vício em protesto: art. 96, VI

FALIDO

• deve auxiliar o administrador judicial: art. 104, VII

• deve comparecer a todos os atos da fa­lência: art. 104, IV

• dever de manifestar-se: art. 104, X • pode ser nomeado depositário dos bens

arrecadados: art. 108, § 1 o

• sócio comanditário ou cotista: art. 123, caput

FAZENDA(S) PÚBLICA(S)

• Federal, dos Estados e dos Municípios; comunicação para tomar conhecimen­to da falência: art. 99, XIII

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425

G

GARANTIA • avaliação de bem objeto de garantia

real: art. 108, § 5° • do crédito: art. 9°, IV • real; valor do bem: art. 83, § 1°

H

HABILITAÇÃO DE CRÉDITO • derivado da relação de trabalho após a

apuração do crédito por sentença: art. 60, § 20

• exame pelo falido; dever: art. 104, VIII • prazo: art. 99, IV

HERDEIRO • pode requerer falência: art. 97, 11

I

IGUALDADE • de tratamento dos credores: art. 126

IMPUGNAÇÃO • fase instrutória: arts. 11 e 12 • habilitação de crédito: art. 10, § 5° • julgamento: art. 15 • processamento do créditos retardatários

apresentados antes da homologação do quadro-geral de credores: art. 10, §5°

• recurso de agravo contra a decisão de impugnação: art. 17

INEFICÁCIA • declarada de ofício: art. 129, parágra­

fo único • reconhecimento; direito de restituição:

art. 136, caput • revogação; ato praticado com base em

decisão judicial: art. 138

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA • privada: art. 2° • pública: art. 2°

INVENTÁRIO • auto de arrecadação: art. 110, § 2° • falência do espólio; suspensão: art. 125

Índice Alfabético-Remissivo

IRRETROATIVIDADE • aplicação às falências resultantes de

pedidos de convolação de concordata: art. 192, § 4°

• da Nova Lei de Falências: art. 192

J

JUÍZO DA FALÊNCIA • competência: art. 3° • comunicação das demais ações que

venham a ser propostas: art. 6°, § 6°

JUROS • abatimento proporcional: art. 77 • das debêntures e dos créditos com ga­

rantia real: art. 124, parágrafo único • vencidos; inexigibilidade: art. 124,

caput

JUSTIÇA ESPECIALIZADA • ações trabalhistas: art. 6°, § 2° • execução fiscal: art. 6°, § 7o • execuções trabalhistas: art. 6°, § 5°

L

LITISCONSÓRCIO • de credores; possibilidade: art. 94, § 1 o

LITISCONSORTE • ativo; falido;juízo da falência; exceção:

art. 76, caput

LIVROS CONTÁBEIS • demonstrações contábeis: art. 51, 11;

105,1 • documentos contábeis: art. 105, V • registros contábeis: art. 51, III • verificação dos créditos pelo adminis­

trador judicial: art. 7°

M

MANDATO • conferido pelo devedor antes da falên­

cia: art. 120, caput • conferido para representação judicial

do devedor: art. 120, § 1°

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Índice Alfabético-Remissivo

• recebido pelo falido: art. 120, § 2°

MASSA FALIDA • bens e documentos entregues ao subs­

tituto do administrador judicial: art. 22, III,q

• contratação de advogado: art. 22, III, n • custas judiciais nas ações em que tenha

sido vencida: art. 84, IV • quantias fornecidas pelos credores

como créditos extraconcursais pagos com precedência: art. 84, II

• representação judicial: art. 22, III, c e n • coobrigadas; coobrigados garantes: art.

127, § 4° • coobrigadas; devolução do valor pago

acima do total do crédito: art. 127, § 3o • coobrigadas; direito regressivo: art.

127, § 2° • bens; aluguel ou celebração de outro

contrato: art. 114

MEIOS DE RECUPERAÇÃO JUDI­CIAL

• acordo ou convenção coletiva de traba­lho: art. 50, VIII

• administração compartilhada: art. 50, XIV

• alteração do controle societário: art. 50, III

• aumento do capital social: art. 50, VI • cisão, fusão, incorporação ou transfor­

mação da sociedade: art. 50, II • concessão de prazo para pagamento:

art. 50, I • constituição de sociedade de credores:

art. 50, X • constituição de sociedade específica de

adjudicação dos ativos do devedor: art. 50, XVI

• dação em pagamento ou novação de dívidas com ou sem constituição de garantia: art. 50, IX

• direito de eleição e poder de veto dos credores: art. 50, V

• emissão de valores mobiliários: art. 50, XV

426

• equalização de encargos financeiros: art. 50, XII

• substituição total ou parcial dos admi­nistradores do devedor: art. 50, IV

• trespasse ou arrendamento de estabe-lecimento: art. 50, VII

• usufruto da empresa: art. 50, XIII

• venda parcial dos bens: art. 50, XI

MINISTÉRIO PÚBLICO

• ação penal privada subsidiária da públi-ca: art. 184, parágrafo único

• ação revocatória: art. 132 • apresentação de impugnação: art. 8°

• aquisição de bens da massa falida ou do devedor: art. 177

• ciência da responsabilidade penal dos envolvidos: art. 22, § 4°

• ciência em caso de indícios de crime durante a fase processual: art. 187, § 2° indução a erro: art. 171

• interposição de agravo contra a decisão que conceder a recuperação judicial: legitimidade: art. 59, § 2°

• intimação após o deferimento do pro­cessamento da recuperação judicial: art. 52, v

• intimação para ciência da falência: art. 99, XIII

• intimação pessoal, sob pena de nulida­de em caso de alienação do ativo: art. 142, § 7°

• pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro-geral de credores: art. 19

• prazo de impugnação à alienação: legi­timidade: art. 143

• reclamação de informações a serem prestadas pelo falido sobre fatos e cir­cunstâncias que interessem à falência: art. 104, VI

Page 428: Nova lei de recuperação e falências (comentada)   3ª ed - manoel justino bezerra filho

427

• prazo para o oferecimento da denúncia: art. 187, § 1°

• requisição de abertura de inquérito po­licial ou oferecimento da denúncia após intimação da decisão que decretou a falência ou concedeu a recuperação judicial: art. 187

• substituição do administrador judicial ou dos membros do Comitê: art. 30, § 2°

• apresentado pelo administrador judicial sobre a realização do ativo: art. 154, § 3°

MOEDA ESTRANGEIRA

• câmbio da véspera da data da realiza­ção da assembléia: art. 38, parágrafo único

• câmbio do dia da decretação da falên­cia: art. 77

• conservação do câmbio como parâmetro de indexação da obrigação: art. 50,§ 2°

• o crédito será convertido para moeda nacional pelo câmbio da véspera da data de assinatura do plano: art. 163, § 3°, I

MULTAS

• contratuais e tributárias; classificação dos créditos: art. 83, VII

o OBRIGAÇÃO (ÕES) • assumidas no plano de recuperação ju­

dicial: art. 94, III, g

• do devedor; efeitos da decretação da falência: arts. 115 a 128

• dos administradores; representação da sociedade na falência: art. 81, § 2°

• nulidade: art.96,III

OPERADORADEPLANODESAÚDE

• esta Lei não se aplica: art. 2°, II

p

PAGAMENTO

• aos credores: art. 149 • créditos extraconcursais: art. 149; 183

Índice Alfabético-Remissivo

• da dívida; prova; não será decretada a falência: art. 96, IV

• entrega do saldo ao devedor: art. 153 • créditos trabalhistas: art. 151 • reserva de importâncias: art. 149, § lo • levantamento de valores no prazo; ra-

teio suplementar: art. 149, § 2° • despesas indispensáveis: art. 150 • dolo ou má-fé do credor: art. 152

PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDI-CIAL

• apresentação pelo devedor em juízo: art. 53

• conteúdo do plano: art. 53, I, II e III • microempresas e empresas de peque-

no porte: art. 70 • prazo para apresentação: art. 53

PRAZO

• apresentação de habilitação: art. 7° • concessão para a recuperação judicial:

art. 50, I • contestação: art. 98, caput • impugnação dos créditos: art. 10 • para pleitear recuperação judicial den-

tro do processo: art. 95 • suspensão da prescrição: art. 6°

PRESCRIÇÃO

• ação de responsabilização: art. 82, § 1 o • suspensão do prazo prescricional: art. 6°

PRESTADORAS DE SERVIÇOS

• Lei não afeta as obrigações assumidas em seu âmbito: art. 194

PRINCÍPIOS

• da celeridade e da economia proces­sual: art. 75, parágrafo único

PRISÃO • preventiva do falido; fundamento em

provas de prática de crime falimentar: art. 99, VII

PROCEDIMENTO

• decretação da falência: arts. 94 a 101

Page 429: Nova lei de recuperação e falências (comentada)   3ª ed - manoel justino bezerra filho

Índice Alfabético-Remissivo

• ordinário; Código de Processo Civil: art. 82, caput

PROCED~ENTOPENAL

• ação penal privada subsidiária da públi­ca: art. 184, parágrafo único

• ação penal pública incondicionada: art. 184

• aplicação do rito do art. 531 e ss. do Código de Processo Penal: art. 185

• competência: art. 183 • Indícios da prática de crime: notifi­

cação ao Ministério Público: art. 187, §20

• Ministério Público: denúncia: obediên­cia aos prazos do CPP: art. 187, § 1 o

• Ministério Público: denúncia: obediên­cia aos prazos do CPP: exceções: art. 187, § 1°, segunda parte

• relatório do administrador judicial: exposição de atos que possam consti­tuir crime: art. 186

• relatório do administrador judicial: acompanhado por laudo do contador: art. 186, parágrafo único

PROCESSO(S)

• de falência e seus incidentes têm pre­ferência a todos os outros: art. 79

• em andamento em que o falido for au­tor ou réu; termo de comparecimento: art. 104, I, g

• princípios da celeridade e da economia processual: art. 75, parágrafo único

PROTESTO

• cancelados; termo legal: art. 99, II • título ou título executivos protestados:

art. 94, I • vício: art. 96, VI

PROVAS

• documentos comprobatórios: art. 9°, III

Q

QUADRO-GERAL DE CREDORES

• classificação: art. 18, parágrafo único • homologação: arts. 10; 14

428

• inclusão do requerente de restituição de bem pela sentença que a negar: art. 89

• inclusão dos créditos remanescentes da recuperação judicial; habilitação: art. 80

• retificação: art. 1 O

QUALIFICAÇÃO

• termo de comparecimento; acionistas, sócios, controladores, diretores, admi­nistradores: art. 104, I, b

R

RATEIO

• perda do direito: art. 10, § 3°

RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

• a sentença de homologação do plano constitui título executivo judicial: art. 161, § 6°

• alienação de bem objeto de garantia real; supressão da garantia; aprovação do credor titular da garantia: art. 163, § 40

• apuração de percentuais: art. 163, § 3° • apuração de percentuais; conversão de

crédito em moeda estrangeira: art. 163, § 3°, I

• apuração de percentuais não deve con­siderar créditos não incluídos no plano de recuperação: art. 163, § 2°

• competência: art. 3° • créditos detidos: art. 163, § 3°, II • desistência da adesão após homologa­

ção do plano; somente com anuência dos signatários: art. 161, § 5°

• devedor deve comprovar o envio de cartas aos credores sujeitos ao plano: art. 164, § 1°

• do devedor: art. 1 o

• documentos necessários para a ho­mologação do plano: art. 163, § 6°

• homologação judicial: art. 162 • homologação de plano quando assina­

do por mais de 3/5 (três quintos) dos credores: art. 163

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429

• impossibilidade: art. 161, § 1 o

• não acarreta a suspensão de direitos, ações ou execuções: art. 161, § 4°

• não obsta a efetivação de outras moda­lidades de acordo privado: art. 167

• o devedor não pode requerer se estiver pendente pedido de recuperação judi­cial, ou se houver obtido pedido de re­cuperação judicial ou outra homologa­ção de outro plano extrajudicial há menos de 2 (dois) anos: art. 161, § 3°

• pagamento antecipado: art. 161, § 2° • pedido de falência pelos credores ex­

cluídos do plano; possibilidade: art. 161, § 4°

• pedido de homologação de plano: im­pugnações; decisão por sentença: art. 164, §5°

• pedido de homologação de plano: im­pugnações; descumprimento de outra exigência legal: art. 164, § 2°, III

• pedido de homologação de plano: im­pugnações; matérias que podem ser suscitadas: art. 164, § 3°

• pedido de homologação de plano: im­pugnações; não preenchimento de per­centual mínimo: art. 164, § 2°, I

• pedido de homologação de plano: im­pugnações; necessária comprovação do crédito: art. 164, § 2°

• pedido de homologação de plano: im­pugnações; prática de atos ou descum­primento de requisito desta Lei: art. 164, § 2°, 11

• pedido de homologação de plano: im­pugnações; prazo para manifestação do devedor: art. 164, § 4°

• pedido de homologação de plano que abrange a totalidade de uma das espé­cies de créditos, grupos de credores: art. 163,§1°

• pedido de homologação de plano: inde­ferimento; novo pedido: art. 164, § 8°

• pedido de homologação de plano: pu­blicação do edital; prazo de 30 (trinta) dias para impugnações: art. 164, § 2°

Índice Alfabético-Remissivo

• pedido de homologação de plano: sen­tença; recurso: art. 164, § 7°

• pedidodehomologaçãodeplano: simu­lação: art. 164, § 6°

• plano de recuperação somente produz efeito após homologação judicial: efei­to ex nunc: art. 165

• plano de recuperação pode prever a re­cuperação de efeitos anteriores à homo­logação somente quanto à modificação do valor e forma de pagamento dos cre­dores signatários: caso de rejeição da homologação de plano: art. 165, § 2°

• plano de recuperação pode prever a re­cuperação de efeitos anteriores à homo­logação somente quanto à modificação do valor e forma de pagamento dos cre­dores signatários: efeito ex tunc por exceção: art. 165, § 1°

• possibilidade: art. 161, caput • publicação de edital após o recebimen­

to do pedido de homologação do plano: art. 164

• requisitos da proposta: art. 161 • tratamento desfavorável: art. 161, § 2°

RECUPERAÇÃO JUDICIAL • apresentação de pedido de recuperação

judicial no prazo da contestação: art. 96, VII

• convolação em falência pela não-obser­vância do prazo legal: art. 53

• deferimento; competência: art. 3° • deveres do administrador judicial na

recuperação: art. 22 • do pedido: art. 51 • do processamento: art. 52 • fiscalização pelo Comitê de Credores:

art. 27, 11, a • não são exigíveis do devedor: art. 5° • obrigações assumidas no plano de re-

cuperação judicial: art. 94, III, g • requisitos para requisição: art. 48

REGISTRO • do devedor; anotação da falência: art.

99, VIII

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Índice Alfabético, Remissivo

• do falido; anotação do fim do período de inabilitação: art. 102, parágrafo único

• Público de Empresas; certidão para comprovar regularidade das atividades do credor empresário: art. 97, § 1°

• Público de Empresas; documento para provar cessação das atividades: art. 96, VIII

REGISTROS PÚBLICOS DE EMPRESAS

• banco dedados públicos; integração em âmbito nacional: art. 196, parágrafo único

• banco de dados públicos; relação de devedores falidos ou em recuperação: art. 196

RELAÇÃO DE TRABALHO • créditos retardatários com direito de

voto: art. 1 O, § 1 o

• habilitação, exclusão ou modificação dos créditos derivados: art. 6°, § 2°

REPRESENTAÇÃO • administradores; representação da so­

ciedade na falência: art. 81, § 2° • administradores; representação da so­

ciedade na falência; direitos e obriga­ções: art. 81, § 2°

• por procurador; representar o devedor nos atos da falência: art. 104, IV

RESCISÃO DA SENTENÇA • que motivou o ato: art. 138, parágrafo

único

RESERVA DE VALOR • créditos retardatários: art. 1 O, § 4° • para fins de rateio: art. 16

RESPONSABILIZAÇÃO • ação: art. 82 • ação; indisponibilidade dos bens parti-

culares: art. 82, § 2° • ação; prescrição: art. 82, § 1 o

RESTITUIÇÃO • art. 136, caput • art. 152

430

• arts. 85 a 93 • audiência de instrução e julgamento:

art. 87, § 2° • cabe apelação da sentença que julga o

pedido: art. 90, caput • coisa vendida a crédito; restituição: art.

85, parágrafo único • coisa que não existe; restituição em

dinheiro: art. 86, I • de coisa vendida a crédito: art. 85, pa­

rágrafo único • despesas de conservação da coisa; res-

sarcimento: art. 92 • embargos de terceiro: art. 93 • em dinheiro: art. 86 • exigência de caução; hipótese: art. 90,

parágrafo único • manifestação do falido, do Comitê, dos

credores e do administrador; prazo: art. 87, § 1°

• não condenação da massa em honorá­rios advocatícios; hipótese: art. 88, pa­rágrafo único

• pedido negado: art. 89 • prazo para entrega da coisa: art. 88,

caput • quem pode pedir o bem que está em

poder do devedor: art. 85, caput • rateio proporcional entre os requeren­

tes; hipótese: art. 91, parágrafo único • suspensão da disponibilidade da coisa:

art. 91, caput

REVOGAÇÃO EXPRESSA • art. 200

s SECRETÁRIO • designação durante a assembléia: art.

37

SECURITIZAÇÃO • obsta a ineficácia; revogação: art. 136,

§lo

SEDE NO EXTERIOR • filial de empresa que tenha sede fora do

Brasil; competência: art. 3°

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431

SENTENÇA • condição objetiva de punibilidade: art.

180 • ações ou execuções contra o falido;

suspensão: art. 99, V • continuação provisória das atividades

do falido: art. 99, XI • proibição de prática de ato de disposi­

ção ou oneração de bens: art. 99, VI • que analisa pedido de falência pelo de­

vedor; forma: art. 107, caput • que decreta a falência; conteúdo: art.

99,1 • que julga improcedente o pedido de

falência; apelação: art. 100 • que nega pedido de restituição: art. 89

SINDICATO DOS TRABALHADO­RES

• exercício da prerrogativa de represen­tação: art. 37, § 6°, I

• representação dos associados: art. 37, §50

SOCIEDADE(S) • administradores; representação da so­

ciedade na falência: art. 81, § 2° • administradores; representação da so­

ciedade na falência; direitos e obriga­ções: art. 81, § 2°

• anônima; não será decretada a falência: art. 96, § 1°

• de responsabilidade ilimitada; falência: art. 81, caput

• falidas; representação: art. 81, § 2° • sociedade de economia mista: art. 2° I • sociedade empresária: art. 1 o

• sociedade de capitalização: art. zo • sociedade de credores; constituição:

art. 50, X • sociedade seguradora: art. 2° 11

SÓCIOS • efeitos jurídicos da falência; sujeição:

art. 81, caput • excluído da sociedade há menos de 2

anos: art. 81, § 1°

Índice Alfabético-Remissivo

• ilimitadamente responsáveis; coobri­gados solventes: art. 128

• ilimitadamente responsáveis; falência: art. 81, caput

• ilimitadamente responsáveis; garantes: art. 128

• que tenha se retirado da sociedade há menos de 2 anos; efeitos da falência: art. 81, § 1°

• responsabilidade ilimitada: art. 81 • solidários: art. 6° • valores decorrentes de direito que não

são oponíveis à massa: art. 83, § 2°

SUSPENSÃO • ações ou execuções contra o falido; por

sentença: art. 99, V

T

TERMO LEGAL • constituição de direito real de garantia:

art. 129,III • fixado na sentença que decretar a falên­

cia: art. 99, 11 • pagamento de dívidas não vencidas: art.

129,1 • pagamento de dívidas vencidas de for­

ma diversa da estipulada no contrato: art. 129, 11

• de comparecimento; conteúdo: art. 104, I

• de comparecimento; declaração das outras sociedades de que o falido faça parte; no termo: art. 104, I, f

• de comparecimento; deve constar a qualificação; acionistas, sócios, contro­ladores, diretores, administradores: art. 104, I, b

• de comparecimento; dever constar a qualificação de todos os sócios: art. 104, I, b

• legal da falência; critérios para a fixa­ção: art. 99, 11

• legal da falência; fixado na sentença: art. 99, 11

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Índice Alfabético-Remissivo

TÍTULO(S) • de cobrança, contas bancárias, aplica­

ções; devem constar do termo de com­parecimento: art. 104, I, g

• executivos protestados: art. 94, I • falsidade: art. 96, I • nulidade: art. 96, III

u UNIVERSALIDADE • do concurso de credores: art. 126

v

VACATIO LEGIS • Em vigor 120 (cento e vinte) dias após

sua publicação: art. 201

VENCIMENTO • antecipado das dívidas: art. 77

VENDA • antecipada dos bens; hipóteses: art. 113

432

• a prestações de coisa móvel; crédito; habilitação: art. 119, III

VENDEDOR • não pode obstar a entrega das coisas:

art. 119, I

VÍCIO • em protesto: art. 96, VI

VIS ATTRACTIVA • não-ocorrência na ação que demandar

quantia ilíquida: art. 6°, § 1 o

• não-ocorrência nas ações trabalhistas até a apuração do respectivo crédito: art. 60, § 20

VOTO • credores retardatários não terão direi-

to de: art. 10, § 1 o

• não terão direito de: art. 39, §lo • terão direito de: art. 39 • valor do voto do credor na assembléia­

geral: art. 38

A.S. L4556-02

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