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Legislação Extravagante
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Lei 4898/65
Direito de Representação (art. 1º):
Na verdade o direito de representação é o direito de petição aos Poderes Públicos por
abuso de poder (art. 5º, XXXIV, CF).
Não é condição de procedibilidade da ação penal. Não é uma autorização da vítima
para se instaurar a persecução penal.
Espécie de Ação Penal nos Crimes de Abuso de Poder/Autoridade:
É ação penal pública incondicionada.
A representação poderá ser dirigida ao MP ou para Autoridade competente para punir
o autor no âmbito administrativo.
Eventual falha da representação não obsta a ação penal, bem como se ela estiver
defeituosa, o Delegado de Polícia poderá instaurar inquérito policial ( se o fato for complexo )
ou lavrar termo circunstanciado para apurar o fato.
Obs.!!!
Cuidado com o art. 12 da lei em estudo. Na verdade, a representação é um exercício do
de petição aos Poderes Públicos e não condição de procedibilidade para Ação Penal.
Do Arquivamento da Representação
(art. 15)
Ação Penal
Pública
Incondicionada
Condicionada
à Representação
à Requisição do Ministro da
Justiça
Privada
Propriamente dita
Personalissíma
Subsidiária da Pública
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Prazo para o oferecimento da denúncia segundo a Lei de Abuso de Autoridade – 48 horas.
Outros prazos de oferecimento da denúncia previstos no Processo Penal:
CPP:
Indiciado preso: 5 dias
Indiciado Solto: 15 dias
Lei de Drogas:
Indiciado preso ou solto 10 dias.
Atenção:
Não confundir prazo de conclusão do inquérito com prazo de oferecimento da
denúncia.
Caso o órgão do MP não ofereça a denúncia por desídia ou por inércia, caberá ação
penal privada subsidiária da pública.
Atenção:
Do arquivamento do inquérito policial ou do arquivamento da representação não cabe
ação penal pública subsidiária da pública.
Conceito de Autoridade (art.5º,lei 4898/65):
Considera-se autoridade quem exerce cargo, emprego ou função, civil ou militar em
caráter transitório ou permanente, remunerado ou não.
MP requer o arquivamento da
representação
Juiz discorda do pedido de
arquivamento e encaminha a
representação para o PGJ
Procurador Geral de Justiça
Oferecer a denúncia
Designar outro promotor para
oferecer a denúncia
Insistir no arquivamento da
representação
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O crime de abuso de autoridade é um crime próprio. É aquele que exige uma especial
qualidade do agente.
O particular responderá como coautor ou partícipe no crime de abuso de autoridade.
Sujeito Passivo:
Trata-se de um crime de dupla subjetividade passiva.
São duas vítimas:
1. O Estado
2. Pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira.
Caso a vítima seja menor, a depender da conduta restará configurados um dos crimes
previstos no ECA.
Elemento Subjetivo do Crime de Abuso:
Dolo. Não há forma culposa.
Tentativa
Diz o art. 3º.: “ Constitui crime de abuso de autoridade qualquer atentado (...)” É classificado pela doutrina como crime de atentado ou de empreendimento Não se admite tentativa. O crime do art. 352 do CPP também é classificado como crime de atentado ou de empreendimento. Delito de atentando ou empreendimento: a forma tentada é punida com a mesma pena do crime na forma consumada. Atenção!
No art. 4º da lei 4898/65 é admissível tentativa, salvo nas condutas omissivas. Competência: O crime de Abuso de Autoridade tem de pena de detenção de 10 dias a 6 meses. Portanto, é uma infração penal de menor potencial ofensivo. Súmula 172/STJ: Compete á Justiça Comum julgar o PM que cometer abuso de autoridade em serviço.
Fundamento: O crime de abuso de autoridade não é crime militar. A Justiça Militar julga apenas os crimes militares (art. 124, CF). Por fim, o mesmo raciocínio é aplicado no caso da tortura.
Processo e Julgamento do Crime de Abuso de Autoridade
Art. 7º, §3º - O processo administrativo não se suspende para aguarda a decisão na ação penal.
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Penas (âmbito penal):
1. Detenção de 10 dias a 6 meses. 2. Multa. 3. Art. 6º, §5º, da lei 4898/65; 4. Perda do cargo e interdição por até 3 anos.
Tais penas poderão ser aplicadas isoladamente ou cumulativamente. Súmula Vinculante n. 11, STF (uso indevido de algemas): É lícito o uso de algemas:
1. Para se preservar a integridade física do preso, dos executores da prisão e de terceiros;
Oferecimento da Denúncia
Recebimento da Denúncia
CitaçãoAudiência de Instrução
e JulgamentoSenteça
O mandado de citação
deve estar
acompanhado de
cópia da
representação ou
cópia da denúncia.
Testemunhos Qualificados
Atestam que o delito
deixou vestígios
Não existe defesa preliminar,
prevista no art. 154/CPP (a lei
de abuso de autoridade não
fala nada sobre a chamada
defesa preliminar.)
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2. Se houver resistência da pessoa presa; 3. Se houver receio de fuga.
Se houver descumprimento da súmula vinculante: a) Haverá nulidade do auto de prisão em flagrante; b) Anulação do ato processual.
O uso de algemas é excepcional e deve ser justificado por escrito. A autoridade ou seus agentes poderão responder no âmbito civil, administrativo, penal
(por abuso de autoridade ou tortura). O Estado será acionado por conta da responsabilidade civil. Do descumprimento da súmula vinculante cabe reclamação para o STF.
A questão da revogação do crime de violência arbitrária pelo delito de abuso de autoridade
O crime de Violência Arbitrária foi editado em 1941 e está na parte especial do CP. Já os crimes de Abuso de Autoridade foram criados em 1965. Prevalece na doutrina que o crime de abuso de autoridade revogou a violência arbitrária. Porém o CESPE em duas provas (2008 – 2010) adotou o posicionamento de 1972 do STF (professor Rogério Greco – Curso de Direito Penal Volume IV, editora Impetus), de que o crime de violência arbitrária não foi revogado pelo abuso de autoridade.
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JURISPRUDÊNCIA – ECA
Caros alunos, logo abaixo estão os julgados do STF e do STJ mais
importantes sobre o assunto em questão. O primeiro é dividido em duas
Turmas, a Primeira e a Segunda, sendo que quando 11 Ministros se reunirem
para decidir uma matéria, haverá uma decisão do Plenário. O STJ possui
várias Turmas, sendo que a Quinta e a Sexta julgam matérias criminais. Já a 3ª
Seção julga matéria referente à competência. A compilação dos julgados se
faz necessária, uma vez que o Cespe tem cobrado, ainda que provas de nível
médio, a jurisprudência dos Tribunais Superiores. Sobre o ECA, para a prova
da PF, basta a leitura dos julgados que versam sobre os crimes previstos na
Lei 8069/90. Não há necessidade do estudo dos julgados que tratam de
matéria cível ou sobre os atos infracionais. Bons estudos!
Primeira Turma Art. 28 da Lei de Drogas: ato infracional e restrição da liberdade
Para evitar supressão de instância, a 1ª Turma, por maioria, julgou extinta a ordem de ―habeas corpus‖, vencido o Ministro Marco Aurélio, que admitia a impetração. No entanto, concedeu a ordem, de ofício, ao fundamento de não ser possível a internação ou a restrição parcial da liberdade de adolescentes por ato infracional análogo ao delito do art. 28 da Lei de Drogas (―Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo‖). Na espécie, o menor fora apreendido com dois gramas de maconha, sendo-lhe atribuída a prática de fato análogo ao crime de uso de entorpecentes. Na sequência, a ele fora aplicado medida socioeducativa de semiliberdade por prazo indeterminado até o máximo de três anos. A Turma asseverou que, por se tratar da criminalização do uso de entorpecentes, não se admitiria a imposição ao menor condenado de pena restritiva de liberdade, nem mesmo em caso de reiteração ou de descumprimento de medidas anteriormente aplicadas. HC 119160/SP, rel. Min. Roberto Barroso, 9.4.2014. (HC-119160) SEGUNDA TURMA
Vara especializada e competência
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É constitucional lei estadual que confere poderes ao Conselho da Magistratura
para atribuir aos juizados da infância e juventude competência para processar
e julgar crimes de natureza sexual praticados contra criança e adolescente, nos
exatos limites da atribuição que a Constituição Federal confere aos tribunais.
Com base nesse entendimento, a 2ª Turma denegou habeas corpus em que se
discutia a incompetência absoluta de vara especializada para processar e
julgar o paciente pela suposta prática de delito de atentado violento ao pudor
contra menor (CP, artigos 214 e 224). Reputou-se que não haveria violação
aos princípios constitucionais da legalidade, do juiz natural e do devido
processo legal, visto que a leitura interpretativa do art. 96, I, a, da CF admitiria
a alteração da competência dos órgãos do Poder Judiciário por deliberação dos
tribunais. Consignou-se que a especialização de varas consistiria em alteração
de competência territorial em razão da matéria, e não em alteração de
competência material, regida pelo art. 22 da CF.
HC 113018/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 29.10.2013. (HC-113018)
Terceira Turma
DIREITO CIVIL. INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA NO ÂMBITO DE AÇÃO DE INTERDIÇÃO.
É possível determinar, no âmbito de ação de interdição, a internação compulsória de quem tenha acabado de cumprir medida socioeducativa de internação, desde que comprovado o preenchimento dos requisitos para a aplicação da medida mediante laudo médico circunstanciado, diante da efetiva demonstração da insuficiência dos recursos extra-hospitalares. De fato, admite-se, com fundamento na Lei 10.216/2001, a internação psiquiátrica compulsória no âmbito de ação de interdição, mas apenas se houver laudo médico circunstanciado que comprove a necessidade da medida (art. 6º). Nesse contexto, não há como sustentar que a internação compulsória não possa ser decretada no processo de interdição apenas por conta de sua natureza civil, porquanto o referido art. 6º tem aplicação tanto no processo civil quanto no processo penal indistintamente. Isso porque, se a medida da internação psiquiátrica compulsória pode ser aplicada a qualquer pessoa cujas condições mentais a determinem, inclusive em liberdade, não se vê razão para extrair interpretação no sentido da inaplicabilidade ao infrator em idênticas condições, o que significaria criar um privilégio decorrente da prática de ato infracional e, mais, verdadeiro salvo-conduto contra medida legal adequada a enfermidade constatada por perícia especializada. Além disso, a anterior submissão à medida socioeducativa restritiva da liberdade não obsta a determinação de internação psiquiátrica compulsória, não implicando, por vias indiretas e ilícitas, restabelecimento do sistema do Duplo Binário, já extinto no Direito Penal, uma vez que a referida determinação de internação não representa aplicação de medida de segurança, mas simplesmente de uma ordem de internação expedida com fundamento no art. 6º, parágrafo único, III,
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da Lei 10.216/2001. Ademais, conforme julgamento realizado no mesmo sentido pela Quarta Turma do STJ (HC 169.172-SP, DJe 5/2/2014), além de a internação compulsória somente poder ocorrer quando ―os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes‖ (art. 4º da Lei 10.216/2001), não se pretende, com essa medida, aplicar sanção ao interditado seja na espécie de pena seja na forma de medida de segurança, haja vista que a internação compulsória em sede de ação de interdição não tem caráter penal, não devendo, portanto, ser comparada à medida de segurança ou à medida socioeducativa. HC 135.271-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 17/12/2013.
Sexta Turma
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E PENAL. APLICABILIDADE DE ESCUSA ABSOLUTÓRIA NA HIPÓTESE DE ATO INFRACIONAL.
Nos casos de ato infracional equiparado a crime contra o patrimônio, é possível que o adolescente seja beneficiado pela escusa absolutória prevista no art. 181, II, do CP. De acordo com o referido artigo, é isento de pena, entre outras hipóteses, o descendente que comete crime contra o patrimônio em prejuízo de ascendente, ressalvadas as exceções delineadas no art. 183 do mesmo diploma legal, cujo teor proíbe a aplicação da escusa: a) se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; b) ao estranho que participa do crime; ou c) se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. Efetivamente, por razões de política criminal, com base na existência de laços familiares ou afetivos entre os envolvidos, o legislador optou por afastar a punibilidade de determinadas pessoas. Nessa conjuntura, se cumpre aos ascendentes o dever de lidar com descendentes maiores que lhes causem danos ao patrimônio, sem que haja interesse estatal na aplicação de pena, também não se observa, com maior razão, interesse na aplicação de medida socioeducativa ao adolescente pela prática do mesmo fato. Com efeito, tendo em mente que, nos termos do art. 103 do ECA, ato infracional é a conduta descrita como crime ou contravenção penal, é possível a aplicação de algumas normas penais na omissão do referido diploma legal, sobretudo na hipótese em que se mostrarem mais benéficas ao adolescente. Ademais, não há razoabilidade no contexto em que é prevista imunidade absoluta ao sujeito maior de 18 anos que pratique crime em detrimento do patrimônio de seu ascendente, mas no qual seria permitida a aplicação de medida socioeducativa, diante da mesma situação fática, ao adolescente. De igual modo, a despeito da função reeducativa ou pedagógica da medida socioeducativa que eventualmente vier a ser imposta, não é razoável a ingerência do Estado nessa relação específica entre ascendente e descendente, porque, a teor do disposto no art. 1.634, I, do CC, compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores, dirigir-lhes a criação e educação. Portanto, se na presença da imunidade absoluta aqui tratada não há interesse estatal na aplicação de pena, de idêntico modo, não deve haver interesse na
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aplicação de medida socioeducativa. HC 251.681-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 3/10/2013.
Sexta Turma
DIREITO PROCESSUAL PENAL. DETERMINAÇÃO EM LEI ESTADUAL DE COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE PARA O PROCESSAMENTO DE AÇÃO PENAL DECORRENTE DA PRÁTICA DE CRIME CONTRA CRIANÇA OU ADOLESCENTE.
Devem ser anulados os atos decisórios do processo, desde o recebimento da denúncia, na hipótese em que o réu, maior de 18 anos, acusado da prática do crime de estupro de vulnerável (art. 217-A, caput, do CP), tenha sido, por esse fato, submetido a julgamento perante juízo da infância e da juventude, ainda que lei estadual estabeleça a competência do referido juízo para processar e julgar ação penal decorrente da prática de crime que tenha como vítima criança ou adolescente. De fato, o ECA permitiu que os Estados e o Distrito Federal possam criar, na estrutura do Poder Judiciário, varas especializadas e exclusivas para processar e julgar demandas envolvendo crianças e adolescentes (art. 145). Todavia, o referido diploma restringiu, no seu art. 148, quais matérias podem ser abrangidas por essas varas. Neste dispositivo, não há previsão de competência para julgamento de feitos criminais na hipótese de vítimas crianças ou adolescentes. Dessa forma, não é possível a ampliação do rol de competência do juizado da infância e da juventude por meio de lei estadual, de modo a modificar o juízo natural da causa. Precedentes citados: RHC 30.241-RS, Quinta Turma, DJe 22/8/2012; HC 250.842-RS, Sexta Turma, DJe 21/6/2013. RHC 37.603-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, DJe 16/10/2013.
Informativo nº 518
Sexta Turma
DIREITO PENAL. CONSUMAÇÃO NO CRIME DE CORRUPÇÃO DE MENORES.
A simples participação de menor de dezoito anos em infração penal cometida por agente imputável é suficiente à consumação do crime de corrupção de menores — previsto no art. 1º da revogada Lei n. 2.252/1954 e atualmente tipificado no art. 244-B do ECA —, sendo dispensada, para sua configuração, prova de que o menor tenha sido efetivamente
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corrompido. Isso porque o delito de corrupção de menores é considerado formal, de acordo com a jurisprudência do STJ. HC 159.620-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/3/2013.
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. POSSIBILIDADE DE TRANSFERÊNCIA DE ADOLESCENTE SUBMETIDO À INTERNAÇÃO PARA ESTABELECIMENTO SITUADO EM LOCAL DIVERSO DAQUELE EM QUE RESIDAM SEUS PAIS.
Na hipótese em que a internação inicial de adolescente infrator se dá em estabelecimento superlotado situado em local diverso daquele onde residam seus pais, é possível a transferência do reeducando para outro centro de internação localizado, também, em lugar diverso do da residência de seus pais. Reconhecendo a importância da família no processo de ressocialização do adolescente, o art. 124, VI, do ECA garante ao adolescente infrator sob o regime de internação o direito de ser custodiado no local ou na localidade mais próxima do domicílio de seus pais. Entretanto, esse direito não é absoluto, como nenhum outro o é no Estado Democrático de Direito, podendo ser afastado em casos excepcionais. Na hipótese, o adolescente encontrava-se, inicialmente, internado em estabelecimento localizado em município diverso daquele em que residia, pois neste não havia centro de internação. Posteriormente, em razão da superlotação do estabelecimento em que se encontrava, o adolescente foi transferido para outro centro de internação localizado em município também diverso da residência de seus pais. Nesse contexto, a transferência de adolescente infrator para localidade diversa daquela em que iniciou o cumprimento de sua internação não é ilegal, pois a manutenção de adolescente em unidade de internação superlotada pode gerar problemas de ressocialização do infrator, o qual poderia ficar sem condições mínimas de higiene e habitabilidade, além da ausência de ações socioeducativas adequadas nos moldes preconizados pelo ECA. Ademais, não se mostra razoável a manutenção de adolescente em unidade de internação com instalações em estado calamitoso e incapaz de manter e educar o adolescente submetido à medida socioeducativa de maneira adequada, sob o argumento de mantê-lo próximo a sua família a todo custo. Além disso, é razoável o critério adotado pela Administração para transferir o infrator, uma vez que, não sendo residente naquela localidade, foi transferido para outra comarca para que os outros adolescentes que morassem naquele município pudessem continuar ali internados. Por fim, tão logo seja possível, deve o adolescente ser colocado em uma unidade de internação sem superlotação próxima à residência de sua família, para facilitar o convívio e a ressocialização. HC 287.618-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/5/2014.
Tráfico internacional de crianças e competência jurisdicional
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A 1ª Turma, por maioria, julgou extinto, sem julgamento de mérito, ―habeas
corpus‖ em que se pleiteava a nulidade de decisão de juiz estadual que
declinara da competência para a justiça federal para processar e julgar o crime
previsto no art. 239 da Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente
(―Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou
adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com
o fito de obter lucro: Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa‖). A Turma
considerou que o STJ em momento algum teria se pronunciado sobre a
matéria. Portanto, sua apreciação, de modo originário, pelo STF, configuraria
supressão de instância, o que seria inadmissível. No entanto, não vislumbrou
flagrante ilegalidade ou teratologia que justificasse a superação do aludido
óbice. O Colegiado realçou que a decisão impugnada destacara que, no caso,
estaria envolvido o cumprimento de tratados internacionais dos quais o Brasil
seria signatário, a atrair a incidência do inciso V do art. 109 da CF. Em razão
disso, teria se tornado irrelevante a questão quanto à eventual incompetência
funcional do juízo de piso. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que deferia a
ordem. Assentava a competência da justiça comum estadual para o
processamento e julgamento do crime em comento. Afirmou que, considerado
o que previsto no ECA, não haveria norma específica que direcionasse seu
julgamento à atuação da justiça federal.
HC 121472/PE, rel. Min. Dias Toffoli, 19.8.2014. (HC-121472)
ECA: fotografia de atos libidinosos e causas especiais de aumento de
pena - 3
Por inadequação da via processual, a 1ª Turma, em conclusão de julgamento e
por maioria, declarou a extinção de ―habeas corpus‖, em que discutida a
tipicidade da conduta, à época dos fatos, de fotografar atos libidinosos com
criança e a aplicação concomitante de duas causas especiais de aumento de
pena — v. Informativo 712. A defesa alegava que a conduta teria deixado de
ser prevista no ECA no período posterior à mudança promovida pela Lei
10.764/2003 e anterior à alteração pela Lei 11.829/2008. Além disso, pleiteava
fosse imposta apenas uma causa de aumento dentre aquelas previstas no art.
226 do CP [―Art. 226. A pena é aumentada: I - de quarta parte, se o crime é
cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; II - de metade, se o
agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,
tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título
tem autoridade sobre ela‖], tendo em vista o que disposto no parágrafo único
do art. 68 do CP (―No concurso de causas de aumento ou de diminuição
previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só
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diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua‖). O
Colegiado reputou ausentes os requisitos para a concessão, de ofício, da
ordem. Enfatizou que o tipo legal ―produzir fotografia‖ comportaria, no
vernáculo, o ato de fotografar. Frisou que a assertiva da atipicidade da conduta
careceria de consistência lógica, teleológica e, sobretudo, semântica. Explicitou
que a teleologia da norma do ECA visaria à proteção da menoridade contra
esses comportamentos deletérios para a vida em sociedade e para a própria
formação individual da criança. Em seguida, registrou não vislumbrar
arbitrariedade ou teratologia na dosimetria da pena. Acentuou que a previsão
do art. 68 do CP estabeleceria, sob o ângulo literal, apenas uma possibilidade
de atuação. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que deferia parcialmente a
ordem para expungir da pena imposta ao paciente a causa de aumento do art.
226, I, do CPP. Entendia possível observar-se somente uma das hipóteses do
aludido dispositivo legal, ou seja, a que implicasse maior majoração.
HC 110960/DF, rel. Min. Luiz Fux, 19.8.2014. (HC-110960)
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LEI Nº 10.446, DE 8 DE MAIO DE 2002.
A lei em comento dispõe sobre infrações penais de repercussão
interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme, regulamentando
o disposto no inciso I do § 1o do art. 144 da Constituição.
Quando houver repercussão interestadual ou internacional que exija
repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do Ministério da
Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública
arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias
Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre outras, das
seguintes infrações penais:
1) seqüestro, cárcere privado e extorsão mediante seqüestro (arts.
148 e 159 do Código Penal), se o agente foi impelido por motivação política ou
quando praticado em razão da função pública exercida pela vítima;
A questão da motivação política está delineada na Lei 7170/83, a
famigerada Lei de Segurança Nacional.
2) formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4o da Lei no 8.137, de
27 de dezembro de 1990); e
3) relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do
Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais de
que seja parte; e
4) furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores,
transportadas em operação interestadual ou internacional, quando houver
indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um Estado da
Federação.
5) falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a
fins terapêuticos ou medicinais e venda, inclusive pela internet, depósito ou
distribuição do produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado (art. 273
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal).
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A investigação feita pela Polícia Federal não tem o condão de deslocar a
competência para julgamento da Justiça Estadual para a Federal, salvo nas
disposições expressas na Constituição Federal e nas Leis Ordinárias.
Atendidos os pressupostos do caput do artigo 1º da Lei em estudo, o
Departamento de Polícia Federal procederá à apuração de outros casos, desde
que tal providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da
Justiça.