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Legislação Extravagante Prof. Sérgio Bautzer Página1 Lei 4898/65 Direito de Representação (art. 1º): Na verdade o direito de representação é o direito de petição aos Poderes Públicos por abuso de poder (art. 5º, XXXIV, CF). Não é condição de procedibilidade da ação penal. Não é uma autorização da vítima para se instaurar a persecução penal. Espécie de Ação Penal nos Crimes de Abuso de Poder/Autoridade: É ação penal pública incondicionada. A representação poderá ser dirigida ao MP ou para Autoridade competente para punir o autor no âmbito administrativo. Eventual falha da representação não obsta a ação penal, bem como se ela estiver defeituosa, o Delegado de Polícia poderá instaurar inquérito policial ( se o fato for complexo ) ou lavrar termo circunstanciado para apurar o fato. Obs.!!! Cuidado com o art. 12 da lei em estudo. Na verdade, a representação é um exercício do de petição aos Poderes Públicos e não condição de procedibilidade para Ação Penal. Do Arquivamento da Representação (art. 15) Ação Penal Pública Incondicionada Condicionada à Representação à Requisição do Ministro da Justiça Privada Propriamente dita Personalissíma Subsidiária da Pública

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Lei 4898/65

Direito de Representação (art. 1º):

Na verdade o direito de representação é o direito de petição aos Poderes Públicos por

abuso de poder (art. 5º, XXXIV, CF).

Não é condição de procedibilidade da ação penal. Não é uma autorização da vítima

para se instaurar a persecução penal.

Espécie de Ação Penal nos Crimes de Abuso de Poder/Autoridade:

É ação penal pública incondicionada.

A representação poderá ser dirigida ao MP ou para Autoridade competente para punir

o autor no âmbito administrativo.

Eventual falha da representação não obsta a ação penal, bem como se ela estiver

defeituosa, o Delegado de Polícia poderá instaurar inquérito policial ( se o fato for complexo )

ou lavrar termo circunstanciado para apurar o fato.

Obs.!!!

Cuidado com o art. 12 da lei em estudo. Na verdade, a representação é um exercício do

de petição aos Poderes Públicos e não condição de procedibilidade para Ação Penal.

Do Arquivamento da Representação

(art. 15)

Ação Penal

Pública

Incondicionada

Condicionada

à Representação

à Requisição do Ministro da

Justiça

Privada

Propriamente dita

Personalissíma

Subsidiária da Pública

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Prazo para o oferecimento da denúncia segundo a Lei de Abuso de Autoridade – 48 horas.

Outros prazos de oferecimento da denúncia previstos no Processo Penal:

CPP:

Indiciado preso: 5 dias

Indiciado Solto: 15 dias

Lei de Drogas:

Indiciado preso ou solto 10 dias.

Atenção:

Não confundir prazo de conclusão do inquérito com prazo de oferecimento da

denúncia.

Caso o órgão do MP não ofereça a denúncia por desídia ou por inércia, caberá ação

penal privada subsidiária da pública.

Atenção:

Do arquivamento do inquérito policial ou do arquivamento da representação não cabe

ação penal pública subsidiária da pública.

Conceito de Autoridade (art.5º,lei 4898/65):

Considera-se autoridade quem exerce cargo, emprego ou função, civil ou militar em

caráter transitório ou permanente, remunerado ou não.

MP requer o arquivamento da

representação

Juiz discorda do pedido de

arquivamento e encaminha a

representação para o PGJ

Procurador Geral de Justiça

Oferecer a denúncia

Designar outro promotor para

oferecer a denúncia

Insistir no arquivamento da

representação

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O crime de abuso de autoridade é um crime próprio. É aquele que exige uma especial

qualidade do agente.

O particular responderá como coautor ou partícipe no crime de abuso de autoridade.

Sujeito Passivo:

Trata-se de um crime de dupla subjetividade passiva.

São duas vítimas:

1. O Estado

2. Pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira.

Caso a vítima seja menor, a depender da conduta restará configurados um dos crimes

previstos no ECA.

Elemento Subjetivo do Crime de Abuso:

Dolo. Não há forma culposa.

Tentativa

Diz o art. 3º.: “ Constitui crime de abuso de autoridade qualquer atentado (...)” É classificado pela doutrina como crime de atentado ou de empreendimento Não se admite tentativa. O crime do art. 352 do CPP também é classificado como crime de atentado ou de empreendimento. Delito de atentando ou empreendimento: a forma tentada é punida com a mesma pena do crime na forma consumada. Atenção!

No art. 4º da lei 4898/65 é admissível tentativa, salvo nas condutas omissivas. Competência: O crime de Abuso de Autoridade tem de pena de detenção de 10 dias a 6 meses. Portanto, é uma infração penal de menor potencial ofensivo. Súmula 172/STJ: Compete á Justiça Comum julgar o PM que cometer abuso de autoridade em serviço.

Fundamento: O crime de abuso de autoridade não é crime militar. A Justiça Militar julga apenas os crimes militares (art. 124, CF). Por fim, o mesmo raciocínio é aplicado no caso da tortura.

Processo e Julgamento do Crime de Abuso de Autoridade

Art. 7º, §3º - O processo administrativo não se suspende para aguarda a decisão na ação penal.

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Penas (âmbito penal):

1. Detenção de 10 dias a 6 meses. 2. Multa. 3. Art. 6º, §5º, da lei 4898/65; 4. Perda do cargo e interdição por até 3 anos.

Tais penas poderão ser aplicadas isoladamente ou cumulativamente. Súmula Vinculante n. 11, STF (uso indevido de algemas): É lícito o uso de algemas:

1. Para se preservar a integridade física do preso, dos executores da prisão e de terceiros;

Oferecimento da Denúncia

Recebimento da Denúncia

CitaçãoAudiência de Instrução

e JulgamentoSenteça

O mandado de citação

deve estar

acompanhado de

cópia da

representação ou

cópia da denúncia.

Testemunhos Qualificados

Atestam que o delito

deixou vestígios

Não existe defesa preliminar,

prevista no art. 154/CPP (a lei

de abuso de autoridade não

fala nada sobre a chamada

defesa preliminar.)

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2. Se houver resistência da pessoa presa; 3. Se houver receio de fuga.

Se houver descumprimento da súmula vinculante: a) Haverá nulidade do auto de prisão em flagrante; b) Anulação do ato processual.

O uso de algemas é excepcional e deve ser justificado por escrito. A autoridade ou seus agentes poderão responder no âmbito civil, administrativo, penal

(por abuso de autoridade ou tortura). O Estado será acionado por conta da responsabilidade civil. Do descumprimento da súmula vinculante cabe reclamação para o STF.

A questão da revogação do crime de violência arbitrária pelo delito de abuso de autoridade

O crime de Violência Arbitrária foi editado em 1941 e está na parte especial do CP. Já os crimes de Abuso de Autoridade foram criados em 1965. Prevalece na doutrina que o crime de abuso de autoridade revogou a violência arbitrária. Porém o CESPE em duas provas (2008 – 2010) adotou o posicionamento de 1972 do STF (professor Rogério Greco – Curso de Direito Penal Volume IV, editora Impetus), de que o crime de violência arbitrária não foi revogado pelo abuso de autoridade.

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JURISPRUDÊNCIA – ECA

Caros alunos, logo abaixo estão os julgados do STF e do STJ mais

importantes sobre o assunto em questão. O primeiro é dividido em duas

Turmas, a Primeira e a Segunda, sendo que quando 11 Ministros se reunirem

para decidir uma matéria, haverá uma decisão do Plenário. O STJ possui

várias Turmas, sendo que a Quinta e a Sexta julgam matérias criminais. Já a 3ª

Seção julga matéria referente à competência. A compilação dos julgados se

faz necessária, uma vez que o Cespe tem cobrado, ainda que provas de nível

médio, a jurisprudência dos Tribunais Superiores. Sobre o ECA, para a prova

da PF, basta a leitura dos julgados que versam sobre os crimes previstos na

Lei 8069/90. Não há necessidade do estudo dos julgados que tratam de

matéria cível ou sobre os atos infracionais. Bons estudos!

Primeira Turma Art. 28 da Lei de Drogas: ato infracional e restrição da liberdade

Para evitar supressão de instância, a 1ª Turma, por maioria, julgou extinta a ordem de ―habeas corpus‖, vencido o Ministro Marco Aurélio, que admitia a impetração. No entanto, concedeu a ordem, de ofício, ao fundamento de não ser possível a internação ou a restrição parcial da liberdade de adolescentes por ato infracional análogo ao delito do art. 28 da Lei de Drogas (―Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo‖). Na espécie, o menor fora apreendido com dois gramas de maconha, sendo-lhe atribuída a prática de fato análogo ao crime de uso de entorpecentes. Na sequência, a ele fora aplicado medida socioeducativa de semiliberdade por prazo indeterminado até o máximo de três anos. A Turma asseverou que, por se tratar da criminalização do uso de entorpecentes, não se admitiria a imposição ao menor condenado de pena restritiva de liberdade, nem mesmo em caso de reiteração ou de descumprimento de medidas anteriormente aplicadas. HC 119160/SP, rel. Min. Roberto Barroso, 9.4.2014. (HC-119160) SEGUNDA TURMA

Vara especializada e competência

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É constitucional lei estadual que confere poderes ao Conselho da Magistratura

para atribuir aos juizados da infância e juventude competência para processar

e julgar crimes de natureza sexual praticados contra criança e adolescente, nos

exatos limites da atribuição que a Constituição Federal confere aos tribunais.

Com base nesse entendimento, a 2ª Turma denegou habeas corpus em que se

discutia a incompetência absoluta de vara especializada para processar e

julgar o paciente pela suposta prática de delito de atentado violento ao pudor

contra menor (CP, artigos 214 e 224). Reputou-se que não haveria violação

aos princípios constitucionais da legalidade, do juiz natural e do devido

processo legal, visto que a leitura interpretativa do art. 96, I, a, da CF admitiria

a alteração da competência dos órgãos do Poder Judiciário por deliberação dos

tribunais. Consignou-se que a especialização de varas consistiria em alteração

de competência territorial em razão da matéria, e não em alteração de

competência material, regida pelo art. 22 da CF.

HC 113018/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 29.10.2013. (HC-113018)

Terceira Turma

DIREITO CIVIL. INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA NO ÂMBITO DE AÇÃO DE INTERDIÇÃO.

É possível determinar, no âmbito de ação de interdição, a internação compulsória de quem tenha acabado de cumprir medida socioeducativa de internação, desde que comprovado o preenchimento dos requisitos para a aplicação da medida mediante laudo médico circunstanciado, diante da efetiva demonstração da insuficiência dos recursos extra-hospitalares. De fato, admite-se, com fundamento na Lei 10.216/2001, a internação psiquiátrica compulsória no âmbito de ação de interdição, mas apenas se houver laudo médico circunstanciado que comprove a necessidade da medida (art. 6º). Nesse contexto, não há como sustentar que a internação compulsória não possa ser decretada no processo de interdição apenas por conta de sua natureza civil, porquanto o referido art. 6º tem aplicação tanto no processo civil quanto no processo penal indistintamente. Isso porque, se a medida da internação psiquiátrica compulsória pode ser aplicada a qualquer pessoa cujas condições mentais a determinem, inclusive em liberdade, não se vê razão para extrair interpretação no sentido da inaplicabilidade ao infrator em idênticas condições, o que significaria criar um privilégio decorrente da prática de ato infracional e, mais, verdadeiro salvo-conduto contra medida legal adequada a enfermidade constatada por perícia especializada. Além disso, a anterior submissão à medida socioeducativa restritiva da liberdade não obsta a determinação de internação psiquiátrica compulsória, não implicando, por vias indiretas e ilícitas, restabelecimento do sistema do Duplo Binário, já extinto no Direito Penal, uma vez que a referida determinação de internação não representa aplicação de medida de segurança, mas simplesmente de uma ordem de internação expedida com fundamento no art. 6º, parágrafo único, III,

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da Lei 10.216/2001. Ademais, conforme julgamento realizado no mesmo sentido pela Quarta Turma do STJ (HC 169.172-SP, DJe 5/2/2014), além de a internação compulsória somente poder ocorrer quando ―os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes‖ (art. 4º da Lei 10.216/2001), não se pretende, com essa medida, aplicar sanção ao interditado seja na espécie de pena seja na forma de medida de segurança, haja vista que a internação compulsória em sede de ação de interdição não tem caráter penal, não devendo, portanto, ser comparada à medida de segurança ou à medida socioeducativa. HC 135.271-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 17/12/2013.

Sexta Turma

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E PENAL. APLICABILIDADE DE ESCUSA ABSOLUTÓRIA NA HIPÓTESE DE ATO INFRACIONAL.

Nos casos de ato infracional equiparado a crime contra o patrimônio, é possível que o adolescente seja beneficiado pela escusa absolutória prevista no art. 181, II, do CP. De acordo com o referido artigo, é isento de pena, entre outras hipóteses, o descendente que comete crime contra o patrimônio em prejuízo de ascendente, ressalvadas as exceções delineadas no art. 183 do mesmo diploma legal, cujo teor proíbe a aplicação da escusa: a) se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; b) ao estranho que participa do crime; ou c) se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. Efetivamente, por razões de política criminal, com base na existência de laços familiares ou afetivos entre os envolvidos, o legislador optou por afastar a punibilidade de determinadas pessoas. Nessa conjuntura, se cumpre aos ascendentes o dever de lidar com descendentes maiores que lhes causem danos ao patrimônio, sem que haja interesse estatal na aplicação de pena, também não se observa, com maior razão, interesse na aplicação de medida socioeducativa ao adolescente pela prática do mesmo fato. Com efeito, tendo em mente que, nos termos do art. 103 do ECA, ato infracional é a conduta descrita como crime ou contravenção penal, é possível a aplicação de algumas normas penais na omissão do referido diploma legal, sobretudo na hipótese em que se mostrarem mais benéficas ao adolescente. Ademais, não há razoabilidade no contexto em que é prevista imunidade absoluta ao sujeito maior de 18 anos que pratique crime em detrimento do patrimônio de seu ascendente, mas no qual seria permitida a aplicação de medida socioeducativa, diante da mesma situação fática, ao adolescente. De igual modo, a despeito da função reeducativa ou pedagógica da medida socioeducativa que eventualmente vier a ser imposta, não é razoável a ingerência do Estado nessa relação específica entre ascendente e descendente, porque, a teor do disposto no art. 1.634, I, do CC, compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores, dirigir-lhes a criação e educação. Portanto, se na presença da imunidade absoluta aqui tratada não há interesse estatal na aplicação de pena, de idêntico modo, não deve haver interesse na

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aplicação de medida socioeducativa. HC 251.681-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 3/10/2013.

Sexta Turma

DIREITO PROCESSUAL PENAL. DETERMINAÇÃO EM LEI ESTADUAL DE COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE PARA O PROCESSAMENTO DE AÇÃO PENAL DECORRENTE DA PRÁTICA DE CRIME CONTRA CRIANÇA OU ADOLESCENTE.

Devem ser anulados os atos decisórios do processo, desde o recebimento da denúncia, na hipótese em que o réu, maior de 18 anos, acusado da prática do crime de estupro de vulnerável (art. 217-A, caput, do CP), tenha sido, por esse fato, submetido a julgamento perante juízo da infância e da juventude, ainda que lei estadual estabeleça a competência do referido juízo para processar e julgar ação penal decorrente da prática de crime que tenha como vítima criança ou adolescente. De fato, o ECA permitiu que os Estados e o Distrito Federal possam criar, na estrutura do Poder Judiciário, varas especializadas e exclusivas para processar e julgar demandas envolvendo crianças e adolescentes (art. 145). Todavia, o referido diploma restringiu, no seu art. 148, quais matérias podem ser abrangidas por essas varas. Neste dispositivo, não há previsão de competência para julgamento de feitos criminais na hipótese de vítimas crianças ou adolescentes. Dessa forma, não é possível a ampliação do rol de competência do juizado da infância e da juventude por meio de lei estadual, de modo a modificar o juízo natural da causa. Precedentes citados: RHC 30.241-RS, Quinta Turma, DJe 22/8/2012; HC 250.842-RS, Sexta Turma, DJe 21/6/2013. RHC 37.603-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, DJe 16/10/2013.

Informativo nº 518

Sexta Turma

DIREITO PENAL. CONSUMAÇÃO NO CRIME DE CORRUPÇÃO DE MENORES.

A simples participação de menor de dezoito anos em infração penal cometida por agente imputável é suficiente à consumação do crime de corrupção de menores — previsto no art. 1º da revogada Lei n. 2.252/1954 e atualmente tipificado no art. 244-B do ECA —, sendo dispensada, para sua configuração, prova de que o menor tenha sido efetivamente

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corrompido. Isso porque o delito de corrupção de menores é considerado formal, de acordo com a jurisprudência do STJ. HC 159.620-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/3/2013.

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. POSSIBILIDADE DE TRANSFERÊNCIA DE ADOLESCENTE SUBMETIDO À INTERNAÇÃO PARA ESTABELECIMENTO SITUADO EM LOCAL DIVERSO DAQUELE EM QUE RESIDAM SEUS PAIS.

Na hipótese em que a internação inicial de adolescente infrator se dá em estabelecimento superlotado situado em local diverso daquele onde residam seus pais, é possível a transferência do reeducando para outro centro de internação localizado, também, em lugar diverso do da residência de seus pais. Reconhecendo a importância da família no processo de ressocialização do adolescente, o art. 124, VI, do ECA garante ao adolescente infrator sob o regime de internação o direito de ser custodiado no local ou na localidade mais próxima do domicílio de seus pais. Entretanto, esse direito não é absoluto, como nenhum outro o é no Estado Democrático de Direito, podendo ser afastado em casos excepcionais. Na hipótese, o adolescente encontrava-se, inicialmente, internado em estabelecimento localizado em município diverso daquele em que residia, pois neste não havia centro de internação. Posteriormente, em razão da superlotação do estabelecimento em que se encontrava, o adolescente foi transferido para outro centro de internação localizado em município também diverso da residência de seus pais. Nesse contexto, a transferência de adolescente infrator para localidade diversa daquela em que iniciou o cumprimento de sua internação não é ilegal, pois a manutenção de adolescente em unidade de internação superlotada pode gerar problemas de ressocialização do infrator, o qual poderia ficar sem condições mínimas de higiene e habitabilidade, além da ausência de ações socioeducativas adequadas nos moldes preconizados pelo ECA. Ademais, não se mostra razoável a manutenção de adolescente em unidade de internação com instalações em estado calamitoso e incapaz de manter e educar o adolescente submetido à medida socioeducativa de maneira adequada, sob o argumento de mantê-lo próximo a sua família a todo custo. Além disso, é razoável o critério adotado pela Administração para transferir o infrator, uma vez que, não sendo residente naquela localidade, foi transferido para outra comarca para que os outros adolescentes que morassem naquele município pudessem continuar ali internados. Por fim, tão logo seja possível, deve o adolescente ser colocado em uma unidade de internação sem superlotação próxima à residência de sua família, para facilitar o convívio e a ressocialização. HC 287.618-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/5/2014.

Tráfico internacional de crianças e competência jurisdicional

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A 1ª Turma, por maioria, julgou extinto, sem julgamento de mérito, ―habeas

corpus‖ em que se pleiteava a nulidade de decisão de juiz estadual que

declinara da competência para a justiça federal para processar e julgar o crime

previsto no art. 239 da Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente

(―Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou

adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com

o fito de obter lucro: Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa‖). A Turma

considerou que o STJ em momento algum teria se pronunciado sobre a

matéria. Portanto, sua apreciação, de modo originário, pelo STF, configuraria

supressão de instância, o que seria inadmissível. No entanto, não vislumbrou

flagrante ilegalidade ou teratologia que justificasse a superação do aludido

óbice. O Colegiado realçou que a decisão impugnada destacara que, no caso,

estaria envolvido o cumprimento de tratados internacionais dos quais o Brasil

seria signatário, a atrair a incidência do inciso V do art. 109 da CF. Em razão

disso, teria se tornado irrelevante a questão quanto à eventual incompetência

funcional do juízo de piso. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que deferia a

ordem. Assentava a competência da justiça comum estadual para o

processamento e julgamento do crime em comento. Afirmou que, considerado

o que previsto no ECA, não haveria norma específica que direcionasse seu

julgamento à atuação da justiça federal.

HC 121472/PE, rel. Min. Dias Toffoli, 19.8.2014. (HC-121472)

ECA: fotografia de atos libidinosos e causas especiais de aumento de

pena - 3

Por inadequação da via processual, a 1ª Turma, em conclusão de julgamento e

por maioria, declarou a extinção de ―habeas corpus‖, em que discutida a

tipicidade da conduta, à época dos fatos, de fotografar atos libidinosos com

criança e a aplicação concomitante de duas causas especiais de aumento de

pena — v. Informativo 712. A defesa alegava que a conduta teria deixado de

ser prevista no ECA no período posterior à mudança promovida pela Lei

10.764/2003 e anterior à alteração pela Lei 11.829/2008. Além disso, pleiteava

fosse imposta apenas uma causa de aumento dentre aquelas previstas no art.

226 do CP [―Art. 226. A pena é aumentada: I - de quarta parte, se o crime é

cometido com o concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; II - de metade, se o

agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro,

tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título

tem autoridade sobre ela‖], tendo em vista o que disposto no parágrafo único

do art. 68 do CP (―No concurso de causas de aumento ou de diminuição

previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só

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diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua‖). O

Colegiado reputou ausentes os requisitos para a concessão, de ofício, da

ordem. Enfatizou que o tipo legal ―produzir fotografia‖ comportaria, no

vernáculo, o ato de fotografar. Frisou que a assertiva da atipicidade da conduta

careceria de consistência lógica, teleológica e, sobretudo, semântica. Explicitou

que a teleologia da norma do ECA visaria à proteção da menoridade contra

esses comportamentos deletérios para a vida em sociedade e para a própria

formação individual da criança. Em seguida, registrou não vislumbrar

arbitrariedade ou teratologia na dosimetria da pena. Acentuou que a previsão

do art. 68 do CP estabeleceria, sob o ângulo literal, apenas uma possibilidade

de atuação. Vencido o Ministro Marco Aurélio, que deferia parcialmente a

ordem para expungir da pena imposta ao paciente a causa de aumento do art.

226, I, do CPP. Entendia possível observar-se somente uma das hipóteses do

aludido dispositivo legal, ou seja, a que implicasse maior majoração.

HC 110960/DF, rel. Min. Luiz Fux, 19.8.2014. (HC-110960)

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LEI Nº 10.446, DE 8 DE MAIO DE 2002.

A lei em comento dispõe sobre infrações penais de repercussão

interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme, regulamentando

o disposto no inciso I do § 1o do art. 144 da Constituição.

Quando houver repercussão interestadual ou internacional que exija

repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do Ministério da

Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública

arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias

Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre outras, das

seguintes infrações penais:

1) seqüestro, cárcere privado e extorsão mediante seqüestro (arts.

148 e 159 do Código Penal), se o agente foi impelido por motivação política ou

quando praticado em razão da função pública exercida pela vítima;

A questão da motivação política está delineada na Lei 7170/83, a

famigerada Lei de Segurança Nacional.

2) formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4o da Lei no 8.137, de

27 de dezembro de 1990); e

3) relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do

Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais de

que seja parte; e

4) furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores,

transportadas em operação interestadual ou internacional, quando houver

indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um Estado da

Federação.

5) falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a

fins terapêuticos ou medicinais e venda, inclusive pela internet, depósito ou

distribuição do produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado (art. 273

do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal).

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Legislação Extravagante

Prof. Sérgio Bautzer

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A investigação feita pela Polícia Federal não tem o condão de deslocar a

competência para julgamento da Justiça Estadual para a Federal, salvo nas

disposições expressas na Constituição Federal e nas Leis Ordinárias.

Atendidos os pressupostos do caput do artigo 1º da Lei em estudo, o

Departamento de Polícia Federal procederá à apuração de outros casos, desde

que tal providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da

Justiça.