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Lean na Construção Estado atual, Desafios e Técnicas prioritárias a aplicar em Portugal Patrick Pequito Aparício Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientador Professor Doutor António Morais Aguiar da Costa Júri Presidente: Professor Doutor Augusto Martins Gomes Orientador: Professor Doutor António Morais Aguiar da Costa Vogal: Professor Doutor Amílcar José Martins Arantes Outubro 2016

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Page 1: Lean na Construção - Autenticação...Lean na Construção Estado atual, Desafios e Técnicas prioritárias a aplicar em Portugal Patrick Pequito Aparício Dissertação para a obtenção

Lean na Construção

Estado atual, Desafios e Técnicas prioritárias a aplicar em Portugal

Patrick Pequito Aparício

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientador

Professor Doutor António Morais Aguiar da Costa

Júri

Presidente: Professor Doutor Augusto Martins Gomes

Orientador: Professor Doutor António Morais Aguiar da Costa

Vogal: Professor Doutor Amílcar José Martins Arantes

Outubro 2016

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Agradecimentos

Apresento o meu reconhecimento e estima pelo Professor Dr. António Morais Aguiar da Costa,

orientador desta dissertação de mestrado, por todo acompanhamento, disponibilidade e sugestões

durante o desenvolvimento desta dissertação.

Ao engenheiro Rui Campos, coordenador e principal dinamizador do grupo de trabalho Lean na

Construção da Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção (PTPC), pela sua disponibilidade e

ajuda na realização deste trabalho.

Aos engenheiros que fizeram parte do grupo de trabalho, Álvaro Vale e Azevedo (LNEC), Ana Capela

(Elevogroup), Ana Paula Aguiar (Fase), António Cruz (XC Consultores), António Cabaço (LNEC), David

Martins (Infraestruturas de Portugal), Emanuel Costa (EDP Produção), Fernando Frias (Teixeira

Duarte), José Borges (Somague), Maria João Surrécio (PTPC), Paulo Ferreira (Andrade Gutierrez),

Pedro Couto (EDP Produção), Raquel Guedes (Mota-Engil), Rodolfo Borges (COBA) e Rui Lopes

(Sonae Sierra) pelo contributo e colaboração no decorrer desta dissertação.

Ao Diogo Figueira por ter acompanhado todo o processo de execução desta dissertação de mestrado.

A todos os meus amigos, pela amizade, compreensão e ajuda que sempre demonstraram ao longo

deste tempo todo. Em especial à Ana Cláudia Faria um reconhecido obrigado, pela partilha da pressão

académica, companheirismo e pela amizade excecional durante o meu percurso académico.

Por fim deixo o meu agradecimento à minha família, em especial e acima de tudo, à minha mãe Maria

Alice Martins Pequito Aparicio e ao meu pai António da Silva Aparicio a quem dedico esta dissertação.

O seu apoio, sacrifício, esforço, incentivo, compreensão e fé em mim foram essenciais ao longo deste

trabalho, bem como durante todo o meu percurso académico e sem os quais dificilmente teria sido

possível chegar até aqui. Fica aqui expresso a minha profunda admiração e respeito que tenho por

eles.

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iv

Resumo

Num mercado extremamente competitivo torna-se vital para as empresas de construção recorrer a

novos sistemas de gestão e controlo de produção de modo a reduzir desperdícios e conseguir manter

ou até reduzir os seus preços de adjudicação.

A filosofia Lean representa uma oportunidade para fazer face à situação atual. Este tipo de abordagem

tem como foco otimizar processos, aumentar a qualidade do produto final e consequentemente

aumentar a satisfação do cliente final.

Esta dissertação desenvolvida em colaboração com o grupo de trabalho Lean na Construção, inserido

na Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção (PTPC), teve como objetivo entender com maior

detalhe a implementação do Lean em Portugal e desenvolver um lista de técnicas Lean prioritárias

(Value Stream Mapping, Instruções de Trabalho, Reuniões de Revisão de Desempenho, Target Value

Design e Building Information Modelling) que tivesse em especial consideração as reais necessidades

da indústria nacional.

Ao longo do presente trabalho, foi realizada uma revisão sobre o estado de conhecimento da filosofia

Lean, designadamente os seus princípios, conceitos e ferramentas. Posteriormente foi realizado um

questionário e entrevistas semiestruturadas de modo a entender as potenciais aplicações Lean já em

prática dentro das organizações portuguesas.

Para além de uma caracterização do conhecimento existente foi realizado um Workshop com diversos

intervenientes da indústria da construção em Portugal, de modo a identificar potenciais

ineficiências/desperdícios que ocorrem durante a execução de um empreendimento. Com estes

resultados foi possível estabelecer e descrever detalhadamente um conjunto de técnicas Lean

prioritárias que podem vir a colmatar estas ineficiências.

Palavras-chave: Lean na Construção, Ineficiências, Desperdícios, Técnicas Lean, Implementação

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v

Abstract

In a highly competitive environment, where there is a shortage of work due to the crisis in the

construction market, it´s vital for companies to resort to new management and production systems, to

reduce waste and to be able to maintain or even reduce its procurement prices.

The Lean philosophy is an opportunity to tackle the current situation. This type of approach, focuses on

optimizing processes, increasing the quality of the product and consequently enhance the satisfaction

of the final customer.

This dissertation developed in collaboration with the working group entitled Lean Construction, inserted

in the Portuguese Construction Technology Platform, aimed to understand in more detail the

implementation of Lean in Portugal and to develop a list of priority Lean techniques (Value Stream

Mapping, Standardised Work, Briefing Meetings, Target Value Design and Building Information

Modelling) which had mainly account the real needs of the national industry.

Throughout this work, a review of state of the art based on the Lean philosophy was carried out, including

its principles, concepts, and tools. Subsequently, a questionnaire and semi-structured interviews were

conducted to understand the potential Lean applications already in place within the Portuguese

organizations.

In addition to a characterization of existing knowledge, it was possible by holding a Workshop with

various stakeholders of the construction industry, to identify potential inefficiencies/ wastes occurring

during the execution of a construction project. With these results, it was possible to establish and

describe in detail a set of priority Lean techniques that may address these inefficiencies.

Keywords: Lean Construction, Inefficiencies, Waste, Lean techniques, Implementation

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Índice Geral

Agradecimentos ................................................................................................................................... iii

Resumo ................................................................................................................................................ iv

Abstract .................................................................................................................................................v

Índice Geral .......................................................................................................................................... vi

Índice de Figuras ............................................................................................................................... viii

Índice de Quadros .............................................................................................................................. viii

Lista de Acrónimos .............................................................................................................................. ix

1. Introdução ........................................................................................................................................ 1

1.1 Enquadramento .......................................................................................................................... 1

1.2 Objetivos de investigação .......................................................................................................... 2

1.3 Síntese Metodológica ................................................................................................................. 2

1.4 Estrutura da dissertação ............................................................................................................ 3

2. Estado de arte .................................................................................................................................. 5

2.1 Introdução .................................................................................................................................. 5

2.2 Origem e definição do Lean ....................................................................................................... 5

2.2.1 Toyota Production System (TPS) ........................................................................................ 6

2.2.2 Os 7 tipos de desperdício .................................................................................................... 8

2.2.3 Lean Thinking ...................................................................................................................... 9

2.2.4 Ferramentas Lean ............................................................................................................. 10

2.3 Lean na Construção ................................................................................................................. 14

2.3.1 Princípios do Lean Construction........................................................................................ 15

2.3.3 Modelo de produção tradicional vs. Modelo de produção Lean Construction .................. 17

2.3.4 Modelo Lean ao longo do ciclo de vida do empreendimento ............................................ 19

2.4 Lean na Construção em Portugal ............................................................................................ 20

2.5 Síntese de capítulo .................................................................................................................. 20

3. Potencial de aplicação do Lean na Construção Portuguesa ......................................................... 22

3.1 Introdução ................................................................................................................................ 22

3.2 Metodologia de investigação .................................................................................................... 22

3.2.1 Questionário ...................................................................................................................... 22

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vii

3.2.2 Entrevistas semiestruturadas ............................................................................................ 23

3.2.3 Workshop ........................................................................................................................... 25

3.3 Apresentação e discussão de resultados ................................................................................ 27

3.3.1 Resultados do questionário e das entrevistas ................................................................... 27

3.3.2 Resultados do Workshop .................................................................................................. 33

3.4 Síntese de capítulo .................................................................................................................. 34

4. Propostas de técnicas Lean prioritárias ......................................................................................... 36

4.1 Introdução ................................................................................................................................ 36

4.2 Técnicas Lean .......................................................................................................................... 36

4.2.1 Justificação das técnicas selecionadas ............................................................................. 36

4.2.2 Value Stream Mapping ...................................................................................................... 38

4.2.3 Instruções de Trabalho ...................................................................................................... 41

4.2.4 Reuniões de Revisão de Desempenho ............................................................................. 43

4.2.5 Target Value Design .......................................................................................................... 47

4.2.6. Building Information Modelling (BIM) ............................................................................... 50

4.3 Recomendações para a implementação das técnicas Lean ................................................... 53

4.3.1 Pontos críticos ................................................................................................................... 55

4.4 Síntese de capítulo .................................................................................................................. 56

5. Conclusões .................................................................................................................................... 58

5.1 Avaliação dos resultados ................................................................................................... 58

5.2 Contribuição para o conhecimento científico e para a indústria ....................................... 60

5.3 Limitações da investigação ............................................................................................... 61

5.4 Recomendações para trabalhos futuros ........................................................................... 61

Referências bibliográficas .................................................................................................................. 63

Anexos ................................................................................................................................................. 1

Anexo 1 - Questionário GT Lean Construção...................................................................................... 2

Anexo 2 - Entrevista semiestruturada sobre Lean na Construção ...................................................... 4

Anexo 3 - Fichas Técnicas Lean na Construção (PTPC) .................................................................... 5

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Índice de Figuras

Figura 1 - Esquema da metodologia utilizada neste trabalho ................................................................. 3

Figura 2 - Esquema “Casa Lean”. Adaptado de Walters (2012) ............................................................. 7

Figura 3 - Princípios Lean. Adaptado de Koskela (1992) ..................................................................... 10

Figura 4 - Quadro de Gestão Visual (Ncsystems, 2015) ...................................................................... 11

Figura 5 - Cartão Kanban (Arantes, 2008) ............................................................................................ 13

Figura 6 - Evolução do conceito Lean ao longo do tempo. Adaptado de Jørgensen (2006) ................ 14

Figura 7 - Comparação entre melhoria contínua e inovação (XC consultores, 2015) .......................... 17

Figura 8 - Modelo tradicional. Adaptado de Koskela (1992) ................................................................. 18

Figura 9 - Modelo de produção Lean Construction. Adaptado de Koskela (1992) ............................... 18

Figura 10 - Modelo Lean e o ciclo de vida do empreendimento. Adaptado de Koskela et al. (2006) .. 19

Figura 11 - Grupo de trabalho ............................................................................................................... 26

Figura 12 - Discussão e seleção das ineficiências/desperdícios mais críticos ..................................... 26

Figura 13- Apresentação dos resultados .............................................................................................. 27

Figura 14- Discussão em torno dos resultados ..................................................................................... 27

Figura 15 - Exemplo da Análise Fishbone ............................................................................................ 32

Figura 16 - Fluxos de materiais e informação. Adaptado de Nielsen (2008) ........................................ 39

Figura 17 - Efeito da padronização na melhoria continua ..................................................................... 41

Figura 18 - Reunião com subempreiteiros (Clay, 2014) ....................................................................... 45

Figura 19 - Reunião com empreiteiro e dono de obra (Clay, 2014) ...................................................... 45

Figura 20 - BIM ao longo do ciclo de vida do empreendimento. Adaptado de Dave (2015) ................ 50

Figura 21 - Comparação entre o modelo final e a realidade (T.B.C, 2016) .......................................... 52

Índice de Quadros

Quadro 1 - Quadro de trabalho 1 .......................................................................................................... 25

Quadro 2 - Quadro de trabalho 2 .......................................................................................................... 26

Quadro 3 - Resumo das Entrevistas (Organizações A e B) .................................................................. 28

Quadro 4 - Resumo das entrevistas (Organizações C e D) .................................................................. 29

Quadro 5 - Abordagem da resolução estruturada de problemas .......................................................... 31

Quadro 6 - Resumo das ineficiências obtidas pelo Workshop .............................................................. 33

Quadro 7 - Ineficiências que o lean pode resolver ................................................................................ 34

Quadro 8 - Reuniões de revisão de Desempenho ................................................................................ 44

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Lista de Acrónimos

AECOPS - Associação de Empresas de Construção e Obras Publicas e Serviços

BIM - Building Information Modelling

CCP - Código dos Contratos Públicos

IGLC - International Group for Lean Construction

KPI´s - Key Performance Indicators

LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil

LPS - Last Planner© System

LCI - Lean Construction Institute

PDCA – Ciclo de Deming (Plan/Do/Check/Act)

PTPC - Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção

REP - Resolução Estruturada de Problemas

SGQ - Sistemas da Gestão da Qualidade

TVD - Target Value Design

TQM - Total Quality Management

TPS - Toyota Production System

VSM - Value Stream Mapping

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1. Introdução

1.1 Enquadramento

O setor da construção desenvolveu-se de forma heterogénea de país para país, tanto em termos de

tecnologia como a nível de organização (Jørgensen, 2006). No entanto, segundo Meseguer (1991) a

indústria da construção apresenta inúmeras similaridades independentemente da sua localização:

A construção é uma indústria de carácter nómada em que a produção é centralizada em torno

de um produto único e fixo ao contrário do que acontece nas outras indústrias;

É uma indústria com grande inércia às alterações;

A mão-de-obra é pouco qualificada e em muitos casos precária, em que as oportunidades de

promoção são escassas gerando pouca motivação;

Os trabalhos da construção são de uma maneira geral realizados a céu aberto;

As especificações são complexas e muitas vezes confusas;

Dentro das empresas as responsabilidades são dispersas e pouco definidas;

O grau de precisão é menor do que em outras indústrias, por exemplo em parâmetros relativos

a prazos e conformidade;

A construção civil trabalha com produtos caros e com uma vida útil extensa, o que faz com que

o cliente exige um produto de grande qualidade

No período pós-guerra houve diversas tentativas de colmatar estas deficiências, recorrendo a

programas governamentais ou à colaboração conjunta entre governos e os diversos intervenientes

desta indústria. Estas iniciativas tinham como principal dimensão o estabelecimento de políticas de

mudança dentro das organizações, forçando os intervenientes a implementar determinadas medidas

com principal enfoque no produto ou nos processos construtivos sendo que na maior parte dos casos

estas medidas eram aplicadas em ambos (Jørgensen,2006). Na maior parte dos casos, o que se

verificou foi uma adaptação de técnicas e tecnologias a partir de outras indústrias, com o intuito de

melhorar o estado da construção.

A partir do início dos anos 90 vários autores têm vindo a desenvolver estudos científicos sobre o Lean

na Construção tendo como referencia a indústria automóvel. O Toyota Production System, é um bom

exemplo da aplicação do Lean, em que se aumenta a eficiência e se reduz os desperdícios dos

processos. Este sistema aplicado à construção assenta na organização e planeamento industrial dos

processos construtivos dentro das empresas. Para além da cada vez mais utilizada prefabricação, a

organização industrial é encarada como um elemento vital a adicionar a esta equação. O Lean na

Construção representa assim o esforço na investigação e prática destes princípios aplicados na

construção civil. De uma forma expedita, a construção Lean é a eliminação do desperdício durante a

fase de projeto e de construção dos empreendimentos.

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1.2 Objetivos de investigação

O presente trabalho teve como principal objetivo entender com maior detalhe a implementação do Lean

na indústria nacional e identificar potenciais oportunidades de disseminação desta metodologia. Era

intenção do autor desenvolver um lista de técnicas Lean prioritárias para a indústria nacional, que

tivesse em especial consideração as reais necessidades da indústria nacional. Estas deveriam

contribuir para a resolução de problemas como incumprimentos de prazos, redução de desperdícios e

melhoria da produtividade na execução de empreendimentos.

Assim, foi determinado como um dos objetivos do presente trabalho, fazer uma avaliação do

conhecimento dos profissionais envolvidos no processo de execução de empreendimentos e a

respetiva disponibilidade dos intervenientes em aderir ao Lean, assim como perceber quais as

potenciais aplicações Lean já em prática dentro das organizações portuguesas.

Para além de uma caracterização do conhecimento existente, era objetivo da dissertação identificar

potenciais ineficiências da indústria, que pudesses ser colmatadas com uma abordagem Lean. Há que

ressalvar aqui que o presente trabalho não pretendeu fazer um levantamento exaustivo relativamente

as ineficiências no sector, mas antes de mais tentou identificar os principais problemas que afetam a

execução de um empreendimento para posteriormente poder apresentar soluções para as mesmas.

1.3 Síntese Metodológica

A elaboração desta dissertação teve como um dos métodos de investigação a pesquisa bibliográfica

sobre do tema, tendo como objetivo fundamental a bibliografia referente ao Lean e Lean Construction.

Para o efeito foi feita uma revisão bibliográfica de livros e artigos científicos publicados, alguns dos

quais apresentados em congressos e conferencias sobre o tema. O International Group for Lean

Construction (IGLC) e o Lean Construction Institute (LCI), tiveram papel de destaque na pesquisa

efetuada. Não obstante também foi feita pesquisa em dissertações de mestrado e teses de

doutoramento tanto a nível nacional com a nível internacional. A seleção da informação foi feita por

relevância dos artigos e reconhecimento dos respetivos autores.

Para além deste levantamento foi realizado uma pesquisa mais aprofundada sobre algumas técnicas

Lean e respetiva implementação, nos motores de pesquisa científicos Google Académico e Science

Direct. Este estudo exploratório permitiu fazer um levantamento do estado da arte e identificar as

principais técnicas Lean atualmente utilizadas.

Durante a elaboração desta dissertação, o autor participou no grupo de trabalho Lean na Construção,

inserido na Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção (PTPC). Este fórum de trabalho realizou

reuniões mensais ao longo do período de elaboração desta dissertação, o que possibilitou ao autor

deste trabalho participar diversas atividades que possibilitaram entre outras, identificar os desafios que

o setor da construção enfrenta nos dias de hoje e possíveis soluções para os mesmos.

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A participação do autor deste trabalho no grupo de trabalho Lean na Construção da PTPC permitiu ao

mesmo fazer parte da organização de um Workshop do qual resultou um levantamento das principais

ineficiências e desperdícios que ocorrem durante a conceção e construção de empreendimentos.

Para além disso, foi elaborado um questionário e realizadas entrevistas semiestruturadas que

possibilitaram fazer um levantamento de boas práticas ou técnicas que incrementaram a eficiência da

organização, mesmo que estas não resultem de uma abordagem especificamente identificada como

Lean. As entrevistas foram realizadas na maior parte dos casos presencialmente. A metodologia

utilizada encontra-se esquematizada na Figura 1.

FIGURA 1 - ESQUEMA DA METODOLOGIA UTILIZADA NESTE TRABALHO

Por fim há que também referir o contributo de alguns engenheiros de produção e de especialistas da

área no esclarecimento de dúvidas relacionadas com a implementação de algumas técnicas. A

transmissão de conhecimentos por parte destes profissionais foi fundamental na elaboração deste

trabalho.

1.4 Estrutura da dissertação

Esta dissertação encontra-se organizada em cinco capítulos que se encontram ordenados de acordo

com o percurso e método de investigação seguidos. O presente trabalho encontra-se estruturado da

seguinte forma:

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4

Capitulo 1 - O presente capítulo onde se introduz o trabalho e o método de investigação

utilizado;

Capitulo 2 – Enquadramento teórico do tema e o seu estado de conhecimento atual. Neste

capítulo serão apresentados os princípios fundamentais da filosofia Lean;

Capitulo 3 - Caraterização da implementação da filosofia Lean na indústria da construção

portuguesa atual e levantamento das ineficiências do sector. Para proceder a caracterização

da implementação foram realizadas entrevistas aos participantes do processo de produção;

Capitulo 4 - Neste capítulo serão apresentados alguns passos em como fazer a implementação

da filosofia Lean. Foi feita uma descrição detalhada das seguintes ferramentas: Value Stream

Mapping, Instruções de Trabalho, Reuniões de Revisão de Desempenho, Target Value Design

e do Building Information Modelling;

Capitulo 5 - Avaliação do cumprimento dos objetivos traçados inicialmente para este trabalho,

contribuição para a indústria e para o conhecimento científico, avaliação do modelo e descrição

das limitações encontradas para a realização deste trabalho. Pretendeu-se ainda deixar

recomendações para trabalhos futuros.

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5

2. Estado de arte

2.1 Introdução

O presente capitulo teve como principal objetivo abordar o conceito de Lean na Construção através da

introdução de trabalhos anteriores sobre este tópico. Antes de poder começar a desenvolver o conceito

de Lean na Construção foi necessário entender a história e origem do Lean de modo a poder fazer o

paralelismo para o sector da construção. Como tal foi necessário apresentar a origem do sistema de

produção da Toyota (Toyota Production System) e o Lean Thinking, ou em português, pensamento

magro. Foi com base nos princípios e ferramentas Lean, que foram criadas as condições de

aplicabilidade á construção, dando desta maneira origem ao Lean na Construção.

A abordagem Lean na construção surgiu no início da década de 90 e nos subsequentes trabalhos

apresentados na 1ª Conferencia internacional sobre Lean Construction (Koskela,1993) (Ballard, 1993).

Apesar das diferentes definições ou interpretações existem diversos denominadores comuns neste tipo

de filosofia:

Promover a eliminação de desperdício, não só como perdas de material mas também como

atividade que absorve recursos;

Gestão em função do que é considerado para o cliente como desperdício ou valor

acrescentado;

Foco na melhoria na sequência de processos e na criação de valor;

Criação de um fluxo continuo entre as diversas atividades.

O cliente tem um papel central na filosofia Lean, uma vez que a gestão está concentrada na criação de

valor para o mesmo, sendo para isso necessário aumentar o desempenho e eliminar o desperdício

durante a fase de produção.

O presente capítulo inclui um enquadramento teórico da filosofia Lean, no qual se fez uma descrição

da origem e desenvolvimento da mesma ao longo da história e a possibilidade de aplicação á

construção. Dentro deste capítulo foram também abordados conceitos e metodologias utilizados pelo

Lean na Construção. Na última parte deste capítulo foi realizado um levantamento dos trabalhos

realizados em Portugal no âmbito do Lean.

2.2 Origem e definição do Lean

Após a primeira guerra mundial e com a implementação da padronização, aparece pela mão de Henry

Ford a primeira linha de montagem usada no fabrico de automóveis. Ford, apercebendo-se das

debilidades do sistema de produção artesanal, introduziu o sistema de produção em massa, o que

permitiu aumentar a produtividade e qualidade do produto ao mesmo tempo que diminuía o custo do

mesmo. Cada trabalhador estava especializado apenas num processo diminuindo o ciclo de montagem

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e originando aumentos de produtividade. Segundo Wood Jr. (1992) a padronização das tarefas e das

matérias-primas permitiu a utilização de mão-de-obra pouco qualificada ao passo que a produção em

grande escala de produtos iguais possibilitava que estes fossem mais baratos à medida que a produção

dos mesmos aumentava. No entanto, este sistema apresentava uma lacuna, designadamente ao nível

de variedade do produto ou, neste caso, á falta dela. A produção de apenas um modelo de automóvel

não ia ao encontro das expectativas dos consumidores, que desejava ter mais opções de escolha

(Womack et al, 1990).

O conceito Lean na sua verdadeira aceção da palavra apareceu no período pós guerra no Japão, como

resultado do esforço na implementação de conceitos de gestão praticados nos EUA, mais

especificamente nas fábricas Ford (Ohno, 1988). Neste período o Japão encontrava-se devastado e

sem recursos, havendo uma necessidade clara de encontrar soluções para poder relançar a sua

economia. A indústria automóvel teve um papel central neste processo. À época esta indústria vivia

com grandes condicionantes, por exemplo, recursos financeiros modestos, escassez de matérias-

primas e máquinas, bem como uma procura interna para uma grande variedade de tipos de produtos

(camiões, carros e motas) em quantidades reduzidas. Perante estas condicionantes e após uma visita

a uma das fábricas da Ford por parte de Taiichi Ohno, entre outros engenheiros da Toyota,

consideraram imperativo, senão mesmo indispensável, adaptar estas técnicas à realidade japonesa.

Seria necessário eliminar o desperdício causado pelo elevado volume de inventário produzido pelo

modelo americano, sendo necessário para isso um sistema mais flexível e de acordo com as

condicionantes da época que se vivia no Japão.

Da adaptação do sistema de produção Ford a um novo contexto económico e cultural nasce uma nova

filosofia de produção, o Toyota Productio System (TPS), que mais tarde seria designado por Lean

Production. Segundo Cusumano & Nobeoka (1998), livro que se foca nos princípios da gestão de

projeto e desenvolvimento de produto, temos a seguinte definição de Lean Production:

“Lean refers to a general way of thinking and specific practices that emphasize less of everything –

fewer people, less time, lower costs” (page 4)

2.2.1 Toyota Production System (TPS)

O Toyota Production System (TPS) tem como principal característica produzir carros que satisfizessem

os requisitos dos clientes, com fornecimentos instantâneos (Just-in-Time) e mantendo zero inventários

(Howell, 1999). Na figura 2.1 apresenta-se o esquema “ Casa Lean ”, forma usual de representar o

TPS.

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FIGURA 2 - ESQUEMA “CASA LEAN”. ADAPTADO DE WALTERS (2012)

Como se pode observar na Figura 1, o Lean pode estruturar-se sobre a forma de uma casa, assentando

sobre 3 pilares fundamentais: Just in time1, melhoria continua (Kaizen) e Automação (Jidoka). Na sua

base, este sistema tem como principal fundação, à semelhança do que já acontecia no sistema Ford,

a estabilidade e padronização. Processos estáveis e trabalho normalizado dão origem a produtos sem

defeitos.

O Just in time, como o próprio nome já o indica, consiste na produção de produtos na quantidade certa

e na altura certa. Desta forma ocorre uma diminuição drástica de inventário, uma vez que os produtos

são “puxados” pelas atividades posteriores, sendo apenas produzidas as peças necessárias para

realizar as atividades que se encontrem a jusante. Para que este princípio funcione tem de existir um

fluxo contínuo entre as diversas etapas, algo que na maior parte dos casos é difícil de obter. A

minimização do inventário em última analise conduz a um aumento do lucro (Ballard & Howell, 1995).

A melhoria continua no contexto do TPS tem como principal desígnio criar valor e eliminar desperdício

dentro da organização. Isto requer um esforço constante para organizar o trabalho, de modo a

conseguir incrementos sucessivos na produtividade dos diversos processos. É um processo gradual

uma vez que as soluções depois de implementadas são ajustadas.

Por último, a automação que tem como enfoque a produção de produtos de qualidade sem erros ou

defeitos. Caso ocorra algum, esse é detetado previamente, não havendo transferência do mesmo para

a atividade seguinte. A implementação deste princípio reduz a produção de itens que não cumprem os

requisitos estabelecidos pelo cliente.

1 No presente texto, com as devidas exceções, o investigador optou por evitar ao máximo a terminologia japonesa. Um dos prepósitos desta dissertação é ajudar a clarificar alguns conceitos e não contribuir para uma maior mistificação sobre o assunto

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2.2.2 Os 7 tipos de desperdício

O desperdício é definido como um conjunto de atividades que resultam num aumento de custos e tempo

sem acrescentar valor ao produto final. O desperdício tem um papel central em toda a filosofia Lean

segundo Taiichi Ohno:

“ Uma filosofia de produção, que reduz o prazo entre encomenda e a expedição, através da

eliminação sistemática de desperdícios”

Taiichi Ohno identificou sete tipos de desperdícios que ocorrem num processo de produção e que

devem ser reduzidos ou até mesmo eliminados por completo dentro das organizações. As sete formas

de desperdício foram expostas de forma mais pormenorizadas a seguir:

1. Sobreprodução

Ocorre quando a produção é superior ao solicitado dando origem a grandes quantidades de inventário.

É dispendioso uma vez que empata mão-de-obra valiosa que poderia estar a realizar outro tipo de

atividade mais produtiva. A solução para resolver este problema passa por aplicar o Just in Time,

produzindo apenas quando o cliente solicita o produto.

2. Transporte

É um tipo de desperdício que não pode ser completamente eliminado, uma vez que tem de haver

sempre transporte de material entre as diversas atividades, no entanto deve ser minimizado. A solução

passa para uma melhor organização física do espaço físico do local de produção.

3. Processamento inapropriado

O processamento inapropriado resulta em atividades adicionais para corrigir ou reparar defeitos que

possam ocorrer durante a elaboração do produto. Este tipo de desperdício resulta da falta de

padronização de processos. A melhor ferramenta para eliminar este tipo debilidade é o mapeamento

de fluxo de valor.

4. Defeitos

Os erros durante o processo de produção ocorrem sob a forma de materiais consumidos, mão- de-obra

requisitada para corrigir o erro e recursos para responder a reclamações por parte do cliente (Peneirol,

2007). Este tipo de desperdício pode ser colmatado através da melhoria contínua de processos bem

como a utilização de dispositivos de controlo de erro.

5. Excesso de inventário

O excesso de inventário tem um impacto económico negativo na organização, uma vez que existe

capital financeiro impedido de ser utilizado noutros projetos. Para além disso existe também a

necessidade de espaço físico para acondicionar grandes quantidades, o que muitas das vezes leva a

um aumento de custos relacionados com aluguer ou compra de espaço para o efeito.

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9

6. Espera

Este tipo de desperdício ocorre quando uma atividade a montante ainda não está concluída, o que por

sua vez resulta em períodos de espera nas atividades que estão a jusante da mesma. A demora pode

estar relacionada com tempo de espera por material, equipamentos ou ferramentas. Este tipo de

situação causa um corte no fluxo entre as diversas atividades, não adicionando qualquer valor ao

produto final. O tempo de espera pode ser reduzido com a criação de um fluxo contínuo entre as

atividades, de modo a que cada processo esteja ligado ao anterior.

7. Movimento

Define-se o movimento como desperdício a partir do momento em que este está presente de uma

maneira excessiva durante todo o processo construtivo. Está diretamente relacionado com o

planeamento do espaço e organização do trabalho. Pode ser resolvido através da adequação do

espaço de trabalho às pessoas que nele trabalham.

Os desperdícios podem ainda ser classificados como inevitáveis e evitáveis. Os inevitáveis são perdas

em que o esforço económico afeto à sua extinção não são compensatórios, ou seja os custos de

redução são superiores aos proveitos. Os evitáveis são perdas que devem ser eliminadas, em que

existe um benefício económico na sua extinção. A medição do desperdício permite avaliar o

desempenho de sistemas de produção.

2.2.3 Lean Thinking

O Lean Thinking como conceito de liderança e gestão apareceu em 1998 com a publicação “Lean

thinking: Banish waste and create wealth in your corporation” de Womak e Jones. A sistemática

eliminação do desperdício e a criação de valor são as duas principais metas desta filosofia. Como o

próprio termo o diz, Lean, que na tradução para língua portuguesa significa sem gordura, é um modo

de estar na vida, fazendo apenas parte o estritamente essencial. Este modo de vida assenta em 5

princípios que serão expostos de seguida (Figura 2).

Definição do valor do produto

A comunicação com um cliente é vital neste tipo de abordagem uma vez que é o mesmo que define o

valor do produto, que pode estar relacionado com a qualidade, custo e função do mesmo. A finalidade

deste princípio é que o cliente final reconheça valor ao produto para que no futuro o possa adquirir,

uma vez que este irá suprimir as suas necessidades, gerando-se se assim um potencial comprador.

Identificação da cadeia de valor

Fazer um levantamento de todas as atividades, e dentro destas identificar os desperdícios, que não

são mais do que processos na cadeia de produto que não acrescentam valor para o mesmo. Apesar

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de haver sempre atividades que não agregam valor mas que são inevitáveis, existe por seu lado outras

que podem ser eliminadas.

Criação de um fluxo continuo

As interrupções ao longo da cadeia de produção causam tempos de espera tornado o processo lento

e com mais suscetibilidade de haver falhas na qualidade do produto final. Na filosofia Lean a produção

deve ser rápida e com qualidade. Deve existir um fluxo contínuo entre todas as atividades, de modo a

evitar tempos de espera intermédios e que a deteção de erros seja mais fácil de ocorrer.

Produção pull (deixar o cliente “puxar” o produto)

Na produção pull apenas se produz quando o cliente requer. Isto é, o cliente decide quando o produto

deve ser produzido, o que permite evitar grandes acumulações de inventário. Para que isto se consiga

pôr em prática tem de existir uma base de confiança entre fornecedor e consumidor.

Procurar a perfeição

O último princípio é também o principal objetivo desta filosofia e resulta da aplicação dos quatro

princípios enumerados anteriormente. A melhoria contínua do processo produtivo através da redução

de prazos e custos e a eliminação do erro resulta num produto que irá cada vez mais ao encontro das

expectativas e desejos do consumidor final.

FIGURA 3 - PRINCÍPIOS LEAN. ADAPTADO DE KOSKELA (1992)

2.2.4 Ferramentas Lean

A simplificação de processos e a eliminação de atividades que não geram valor são objetivos da filosofia

Lean. Esta utiliza um conjunto de ferramentas ou utensílios que surgem no sentido da sua plena

aplicação. Existem inúmeros instrumentos, no entanto nesta parte apenas são abordados alguns:

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- Key Performance Indicators (KPI´s)

A medição de índices de desempenho das atividades permite obter informação relevante sobre

os processos que estão sobre escrutínio. De acordo com o seu objetivo, uma boa escolha dos

KPI´s permitem identificar possíveis problemas que possam passar despercebidos mas que

tem um impacto considerável durante a produção. A análise destes indicadores leva a que

sejam tomadas medidas no presente para obter melhorias de eficiência e eficácia no futuro.

A eficiência de um determinado processo prende-se com a capacidade de alcançar os objetivos

e as metas programadas com o mínimo de recursos disponíveis e tempo, conseguindo, desta

forma, a sua otimização. Por outro lado, a eficácia é a capacidade de alcançar o efeito esperado

ou desejado através da realização de uma ação.

- Gestão Visual

A gestão visual é um sistema que permite que os elementos da empresa possam ter

conhecimento do estado atual do trabalho de produção. Os dados dos desempenhos das

atividades são apresentados num quadro, permitindo, deste modo, uma melhoria contínua dos

processos, uma vez que os responsáveis e as causas também são expostos neste placard

diariamente (Figura 3). Esta ferramenta focaliza os operários no cumprimento de objetivos

definidos ao revelar informação da percentagem de trabalho concluído.

FIGURA 4 - QUADRO DE GESTÃO VISUAL (NCSYSTEMS, 2015)

A implementação desta ferramenta torna-se importante quando não se encontram

documentados os problemas e as respetivas soluções. Uma comunicação inexistente entre as

diversas partes envolvidas pode resultar na não medição dos indicadores relativos aos custos

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e qualidade. Através da utilização desta ferramenta obtém-se uma melhoria contínua do

sistema de qualidade, tempo, motivação, segurança e custo.

- Prática dos 5´s

Esta ferramenta introduz disciplina e organização no posto de trabalho, uma vez que organiza

e prepara o ambiente de trabalho, conseguindo, desta forma, padronização do espaço de

trabalho. A padronização conduz a um aumento de produtividade pela redução do tempo

dispensado na procura de materiais. Para além disso, também é uma medida preventiva uma

vez que faz com que certos riscos de acidentes sejam eliminados.

A designação desta ferramenta tem origem nos cinco princípios japoneses no qual esta técnica

assenta e que se iniciam pela letra “S”:

1. Seiri (utilização) - Este princípio assenta na classificação dos objetos que rodeiam o

trabalhador no posto de trabalho de acordo com a sua utilização. Os utensílios que não são

necessários para o desenvolvimento da respetiva tarefa são eliminados, permitindo desta

forma a libertação de espaço para a livre circulação de materiais e trabalhadores. A existência

de materiais sem utilidade para o processo em questão pode atrapalhar a execução e introduzir

erros prejudicando a qualidade do produto resultante.

2. Seiton (organização) – Surge no seguimento do Seiri (utilização) e consiste na organização

dos utensílios no espaço de trabalho, onde cada item tem um local definido. Os utensílios

encontram-se ordenados segundo o fluxo do processo evitando desta forma deslocações

desnecessárias. A aplicação deste conceito permite maior rapidez para encontrar materiais ou

ferramentas, facilitando a operação de equipamentos o que resulta na economia de tempo.

3. Seisõ (limpeza) – O conceito de limpeza na atividade de produção tem de ser encarada como

uma tarefa a que todos os objetos devem estar sujeitos. Sujidade no local de trabalho pode ter

como consequência avarias nos equipamentos, aumentando o risco de acidentes de trabalho.

A limpeza, para lá de causar uma melhoria do bem-estar geral dos trabalhadores resulta

também em índices de produtividade mais elevados.

4. Seiketsu (padronização) – A padronização ou sistematização tem como objetivo dar a

conhecer aos colaboradores os procedimentos a executar de forma continua ao longo do

tempo. Processos padronizados levam a aumentos de produtividade e a uma maior satisfação

dos colaboradores pela noção do conhecimento aplicado.

5. Shitsuke (Disciplina) – Todos os conceitos enumerados em cima só serão exequíveis se

houver disciplina por parte dos trabalhadores. A evolução e implementação destas medidas

depende em boa medida da colaboração ativa dos trabalhadores, que ao mesmo tempo

melhoram as suas condições de trabalho também melhoram a produtividade organização como

um todo. A disciplina implica um cumprimento das regras e procedimentos em vigor assim

como uma valorização e desenvolvimento dos próprios trabalhadores.

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Total Quality Management (Gestão total da qualidade)

O intuito desta ferramenta ou conceito de gestão é introduzir ou produzir qualidade em todas as

tarefas do fluxo de produção até á conclusão do produto. Dependendo da indústria em questão o

conceito ou ferramentas aplicadas variam. O processo de produção desenrola-se ao longo de uma

cadeia de valor em que, através de sucessivos incrementos, existe uma evolução contínua do

produto até se chegar ao produto final com “defeito-zero”, ou próximo disso. Existem varias formas

de conseguir atingir este prepósito, mas a verificação do produto por parte dos trabalhadores tem

sido a mais utilizada. Estes intervenientes possuem capacidades únicas para avaliar o produto e

corrigir possíveis anomalias que possam aparecer, interrompendo a sua continuidade ao longo do

processo produtivo. O trabalho de Koskela de 1992 identifica conceitos do TQM aplicados nas

empresas, designadamente:

Desenvolvimento de sistemas de monotorização;

Atribuição de responsabilidades pelo desenvolvimento do processo;

Criação de equipas que consigam identificar e solucionar problema que possam aparecer;

Padronização dos processos de trabalho.

Kanban

Kanban (Figura 4) é um sistema que usa cartões para organizar encomendas viabilizando a

produção just-in-time. A produção é puxada a partir da procura por parte do cliente, que pode ser

interna, sendo que o ritmo de produção é definido pela circulação dos cartões. A concretização

desta técnica tem as seguintes vantagens:

Assegura a entrega da quantidade certa de material no local adequada;

Regularização de flutuações de inventário;

Prazos de entrega mais reduzidos;

Circulação de informação dentro do sistema produtivo.

FIGURA 5 - CARTÃO KANBAN (ARANTES, 2008)

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2.3 Lean na Construção

Diversos setores de atividade aplicaram os conceitos Lean, nomeadamente áreas como a informática,

saúde e como não podia deixar de ser também a construção. O termo Lean na Construção pode ser

definido com a aplicação ou reinterpretação dos princípios do Lean Production no processo construtivo

(Howell, 1999). O objetivo é minimizar o desperdício e aumentar o valor do produto da construção, ao

mesmo tempo que existe um equilíbrio entre qualidade, custo e tempo (Ballard, 2000).

O trabalho de Koskela “Aplication of the New Production Philosophy to Construction” de 1992 veio fazer

a transição do Lean Production para a construção, criando o Lean na Construção. Este trabalho

averiguou as necessidades da indústria e propôs uma nova teoria de produção a aplicar no sector,

definindo para isso como se devia proceder o processo construtivo.

FIGURA 6 - EVOLUÇÃO DO CONCEITO LEAN AO LONGO DO TEMPO. ADAPTADO DE JØRGENSEN (2006)

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A grande aceitação deste trabalho levou á criação do International Group for Lean Construction,

composto por investigadores responsáveis pela aplicação do Lean Construction à gestão da

construção. Na Figura 5 consegue observar-se a evolução do conceito Lean até ao ano de 1992. Desde

então surgiram novas metodologias e conceitos no auxílio das atividades da construção. Uma das

metodologias com origem neste grupo e uma das mais emblemáticas do conceito Lean Construction é

o Last Planner System. Este tipo de sistema permite fazer um planeamento semanal das atividades,

sendo feito à posteriori uma comparação entre atividades planeadas e atividades realmente

executadas, à qual se dá a designação de percentagem de planeamento concluído. Isto permite

prevenir incompatibilidades entre atividades no futuro, aumentando a confiança nos fluxos.

Características singulares desta indústria não permitiram a aplicação direta de métodos do Lean

Production, sendo necessário adaptar as ferramentas existentes e desenvolver novas, muitas das

vezes com um processo de adaptação lento e gradual. Segundo Koskela (1997), os principais

obstáculos a implementação destas técnicas devem-se a falta de competição internacional, as

aplicações existentes foram executadas em ambientes diferentes da construção e por fim a inércia por

parte das instituições académicas.

2.3.1 Princípios do Lean Construction

No trabalho de Koskela (1992), são apresentados onze princípios que tem servido de base ao Lean na

Construção e que foram apresentados de seguida:

1. Reduzir o número de atividades que não geram valor

A atribuição de valor a cada atividade permite identificar todas as atividades que não criam valor. Depois

deste rastreamento, são reunidas todas as atividades com valor nulo e analisa-se as atividades que

podem ser eliminadas sem ter impacto negativa no processo construtivo. Este processo tem de ser

bastante rigoroso, uma vez que existem atividades que podem não gerar valor para o cliente final, mas

que são necessárias durante o processo intermédio.

2. Aumentar o valor do produto final tendo em conta as necessidades do cliente

Este princípio tem em conta as necessidades do cliente final de modo a que as mesmas sejam

consideradas no projeto do produto e na gestão da própria produção. As necessidades do cliente

devem ser aferidas através de estudos de mercado com potenciais compradores.

3. Reduzir a variabilidade

Os processos de construção têm por natureza inúmeras variáveis (ex.: condições meteorológicas,

variações dimensionais do material), o que por sua vez aumenta a quantidade de desperdício. Uma

das formas de reduzir a variabilidade em obra é a padronização e uniformização dos processos

construtivos. Um produto uniforme aumenta a qualidade do mesmo, uma vez que corresponde as

especificações do cliente.

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4. Diminuir o tempo de ciclo (Lead Time)

O ciclo de produção é composto por tempo de transporte, espera, processamento e inspeção. A

redução do tempo de ciclo de uma atividade torna a mais produtiva. Esta redução é conseguida através

da identificação de tempos improdutivos e respetiva eliminação, minimizando as ações de espera e

inspeção. A redução do tempo de ciclo esta relacionada com a metodologia Just-in-Time.

5. Reduzir o número de passos ou partes

Quanto maior o número de passos num processo, maior tende ser o aparecimento de atividades que

não criam valor. Deve haver uma redução de forma racional de atividades que não acrescentam valor.

No sector da construção um bom exemplo é o uso em obra da pré-fabricação, uma vez que elimina

grande parte dos passos para realizar o mesmo tipo de produto.

6. Aumentar a flexibilidade do resultado final

Envolve a capacidade de alteração do produto final sem um aumento significativo dos custos. Isto pode

ser alcançado através de mão-de-obra polivalente que permite responder de uma forma eficiente a

mudanças na procura por parte do cliente. Outra medida pode ser a personalização do produto o mais

tarde possível, havendo desta maneira uma maior margem de manobra face a pedidos de ultima hora

por parte do consumidor final.

7. Aumentar a transparência do processo

Tornar os processos mais transparentes resulta no aumento do controlo e por sua vez na identificação

mais rápida de erros. A informação encontra-se mais acessível a todos os intervenientes. As possíveis

aplicações deste princípio são o uso de dispositivos visuais como cartazes, remoção de obstáculos

visuais e limpeza e organização do espaço de trabalho.

8. Foco no controlo do processo global

O processo deve ser visto como um todo e não como a soma das partes. A melhoria duma parte

específica do projeto não tem que significar uma melhoria no projeto global. Isto é uma situação muito

comum na realização de um empreendimento em que estão envolvidos inúmeros intervenientes, desde

projetistas, fornecedores ou subempreiteiros. A cooperação com os fornecedores e a atribuição de

autonomia às equipas de trabalho são formas de o fazer (Peneirol, 2007).

9. Manter o equilíbrio entre melhoria de fluxo e o processo de transformação

O fluxo e o processo de transformação estão relacionados. Melhores fluxos requerem menor

capacidade de transformação, o que por sua vez se traduz num menor investimento em equipamentos.

O controlo de fluxos através da introdução de novas tecnologias facilita a implementação e resulta em

menor variabilidade do produto logo menos desperdício.

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10. Benchmarking

Fazer Benchmarking consiste essencialmente em aprender com empresas líder do mercado, fazendo

para isso um levantamento das práticas adotadas pelas mesmas. Permite ter um termo de comparação

entre os processos próprios da empresa e as boas práticas praticadas em empresas similares. Esta

comparação permite redefinir atividades em função dos objetivos da empresa, aumentando o

desempenho e qualidade das mesmas. A implementação deste princípio permite atingir maiores

patamares de qualidade do produto final ao mesmo tempo que permite introduz melhorias contínuas

no processo.

11. Introdução de melhorias continuas no processo

A melhoria contínua é o resultado natural da implementação de todos os princípios em cima

mencionados. É conseguida através da implementação de medidas corretivas ao longo do processo,

num esforço constante para reduzir desperdício e aumentar o valor final do produto. Como se pode

observar pela figura 4, a melhoria contínua é atingida na filosofia Lean através de saltos de inovação

aos quais se seguem patamares, onde existe uma adaptação das medidas ao contexto em questão,

com avanços e recuos. No caso se verificar somente inovação estes patamares deixam de existir.

FIGURA 7 - COMPARAÇÃO ENTRE MELHORIA CONTÍNUA E INOVAÇÃO (XC CONSULTORES, 2015)

2.3.3 Modelo de produção tradicional vs. Modelo de produção Lean Construction

O modelo tradicional da construção ou Modelo de Conversão tem, até agora, tentado criar valor através

da otimização da maquinaria, dos processos construtivos e da prefabricação. Os processos de

produção e o fluxo de trabalho na própria obra não representavam um papel muito importante. A direção

de obra é caracterizada por um comportamento reativo, em que se limita o papel do diretor de obra a

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um simples cumpridor de contratos e prazos pré-estabelecidos dentro de um orçamento fixado. A

gestão do projeto fica-se pela calendarização e adjudicação de recursos e da atribuição de

responsabilidades (Gehbauer & Kirsch, 2006).

As principais características deste modelo residem na divisão do processo em subprocessos (Figura

7), em que o esforço de minimização do custo total se foca na minimização do custo de cada

subprocesso. O valor do subprocesso é apenas relativo ao custo das matérias-primas.

FIGURA 8 - MODELO TRADICIONAL. ADAPTADO DE KOSKELA (1992)

Este modelo, contudo, não tem em conta as necessidades e exigências do cliente. Os fluxos de mão-

de-obra entre as atividades não são considerados, sendo que o esforço de melhoria é focado nos

subprocessos individuais em vez de se olhar para o processo como um todo.

O modelo de produção proposto pelo Lean Construction assume que o processo é um fluxo contínuo

de materiais e informação desde a sua origem até ao produto final. Este modelo, ao contrário do método

convencional, junta dois conceitos de produção: a transformação que diz respeito às atividades de

processamento e o fluxo. O fluxo, neste modelo, engloba as atividades de movimento, espera e

inspeção (Figura 8).

A satisfação do cliente final aliada a criação de valor são as bases deste modelo. Um produto só cria

valor quando cumpre os requisitos do cliente e tenha sido requisitado pelo mesmo.

FIGURA 9 - MODELO DE PRODUÇÃO LEAN CONSTRUCTION. ADAPTADO DE KOSKELA (1992)

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2.3.4 Modelo Lean ao longo do ciclo de vida do empreendimento

O desenvolvimento dos empreendimentos ao longo do tempo era descrito por diversas etapas,

nomeadamente projeto, construção e manutenção. Uma das diferenças entre o modelo tradicional e o

modelo Lean reside na relação entre as diversas etapas e os respetivos intervenientes (Koskela et al.

2006). A Figura 9 representa essas etapas em triângulos sobrepostos, sendo que no primeiro surge a

definição do projeto por parte dos donos de obra, onde se esclarece o conceito global do

empreendimento.

FIGURA 10 - MODELO LEAN E O CICLO DE VIDA DO EMPREENDIMENTO. ADAPTADO DE KOSKELA ET AL. (2006)

Tradicionalmente o conceito do empreendimento era estabelecida entre o dono de obra e o arquiteto.

Na filosofia Lean, todos os intervenientes nas diversas etapas têm uma palavra a dizer nesta decisão.

O mesmo acontece durante a fase de projeto onde as equipas trabalham em conjunto para criar mais

valor para o projeto explorando novas alternativas.

Vulgarmente, o que acontece no quadro atual da construção, passa por restringir as opções existentes,

o que muitas das vezes tem um reflexo em incompatibilidades entre projetos de especialidades. O

modelo de gestão ao longo de todo o ciclo de vida do empreendimento desde o fornecimento, fabrico

e utilização do mesmo é marcado por esta interligação entre todos os intervenientes. A estruturação ou

padronização do trabalho e o controlo de produção são outras componentes transversais ao longo do

ciclo de vida do empreendimento. O circuito de aprendizagem é contínuo, permitindo uma introduzir

melhorias contínuas ao longo dos processos.

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2.4 Lean na Construção em Portugal

Na última década foram realizados diversos trabalhos de investigação, nomeadamente dissertações

de mestrado e de doutoramento no âmbito do Lean em Portugal. Uma das temáticas abordadas por

estes trabalhos passou pela caracterização das dificuldades da indústria da construção (Martins,2011;

Silva, 2014). Outra temática abordada foram os atrasos e incumprimentos na construção (André, 2010;

Cruz,2012).

Como qualquer outro setor de atividade, a construção apresenta ineficiência nas diversas fases de

desenvolvimento de um empreendimento. Ao longo dos anos foram realizados alguns trabalhos que se

debruçaram sobre esta temática, tanto a nível internacional como a nível nacional. Em Portugal os

trabalhos realizados nesta área foram Couto (2006), Branco (2007), Cabrita (2008) e André (2008).

Estes trabalhos fizeram um levantamento exaustivo das ineficiências da construção portuguesa.

No entanto a temática com mais trabalhos desenvolvidos ao longo destes anos foi a otimização e

inovação produtiva na construção. Os trabalhos realizados na aplicação dos princípios do Lean a casos

de estudo específicos foram Figueiredo (2009), Ferreira (2010), Fevereiro (2011) e Leitão (2014). Nos

trabalhos de Mendoça (2009), Neves (2010), Nunes (2010), Venâncio (2010), Pinheiro (2011), Pereira

(2012) e Pinto (2012) foi feita a integração da metodologia Lean á construção.

Este levantamento permitiu perceber que nos últimos dez anos houve um número considerado razoável

de trabalhos realizados no âmbito do Lean em Portugal.

2.5 Síntese de capítulo

Com a globalização e a introdução das tecnologias da informação o mundo tem vindo a mudar de forma

acelerada nas últimas décadas. Todos os setores produtivos tiveram de se adaptar as novas exigência

que os mercados lhes impuseram, com consumidores cada vez mais exigentes. A necessidade de

produtos variados e de alta qualidade tem o reverso da medalha ao aumentar a complexidade dos

mesmos e os respetivos custos de produção e de desenvolvimento. A indústria da construção como

um dos setores de atividade mais antigos também não foge a este novo paradigma.

A filosofia Lean, que tem sido aplicada com sucesso na indústria automóvel e da manufatura, tem sido

apontada como uma das possíveis soluções encontradas que possam melhorar o desempenho geral

da construção. A correta implantação destes princípios tem inúmeros benefícios, dos quais se pode

destacar a redução do tempo de projeto, a satisfação do consumidor final e os impactos positivos a que

isto conduz.

No entanto é na implementação destas medidas que surge o principal obstáculo. O grau de

complexidade e especificidade da indústria da construção tem sido os principais obstáculos a sua plena

afirmação no setor da construção. A imprevisibilidade dos processos construtivos, a mão-de-obra

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pouco qualificada e a grande inércia relativamente a possíveis alterações são alguns fatores que

contribuem para esta situação.

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22

3. Potencial de aplicação do Lean na Construção Portuguesa

3.1 Introdução

O presente capitulo teve como principal objetivo fazer um caraterização da implementação da filosofia

Lean na indústria da construção portuguesa atual.

De modo a poder fazer esta caracterização foi feito em primeiro lugar um levantamento exploratório

junto dos representantes das principais empresas do sector da construção em Portugal e que fazem

parte do grupo de trabalho Lean na construção da PTPC.

Este levantamento serviu, numa fase posterior, como elemento de seleção das organizações a serem

entrevistadas, bem como permitiu selecionar as questões mais pertinentes a serem colocadas durante

as entrevistas. O principal objetivo das entrevistas consistiu em recolher alguns exemplos de sucesso

de boas práticas que atualmente são praticadas pelas empresas mas que não são reconhecidas como

Lean pelas mesmas.

Por fim, foram apresentados um conjunto de ineficiências que foram recolhidas durante um Workshop

realizado no âmbito do grupo de trabalho da PTPC. Esta parte teve o seu foco na identificação de

causas de ineficiências e desperdícios a nível operacional no ciclo conceção/construção, eliminando

situações em que as causas se encontram externas ao processo (origem política/económica). As

ineficiências que poderão ser objeto de intervenção através de uma abordagem Lean foram alvo de

apreciação no capítulo 4 do presente texto.

3.2 Metodologia de investigação

3.2.1 Questionário

Numa primeira fase, antes de realizar as entrevistas semiestruturadas, foi realizado um questionário

exploratório junto das organizações representadas no grupo de trabalho da PTPC Lean na construção

(Anexo 1). O público-alvo do questionário foram técnicos ligados à produção, em especial, diretores de

divisão, diretores de obra e adjuntos. Este questionário exploratório foi realizado através da plataforma

Google Forms e era constituído por 12 perguntas, das quais 11 eram de resposta múltipla e uma de

resposta aberta. As questões de resposta fechada têm como vantagens a rapidez e facilidade de

resposta, a maior uniformidade e simplificação de análise de respostas e melhor contextualização da

questão. Para o âmbito deste trabalho apenas foram utilizadas 8 das 12 respostas devido a sua

relevância para o mesmo. As perguntas foram apresentadas de seguida:

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23

Questões do questionário:

1. Tem conhecimento de já ter havido iniciativas Lean, na sua organização?

2. Antes de integrar este grupo de trabalho, tinha alguns conhecimentos em Lean?

3. A sua organização está certificada pela norma ISO 9001?

4. Considera que os sistemas da gestão da Qualidade (SGQ) e a abordagem Lean tem o mesmo

fim? São complementares? Não são relacionáveis?

5. Na sua opinião, qual a predisposição das empresas, no nosso sector, para investirem em

projetos de melhoria dos processos? Nula? Baixa? Razoável? Elevada?

6. Acredita que as nossas lideranças poderão vir a ser seduzidas pelas vantagens do Lean na

Construção?

7. Acredita em poder vir a utilizar práticas Lean, na sua área de responsabilidade, para melhorara

a performance dos seus projetos/processos/equipa?

8. Quais as maiores barreiras a eventuais projetos Lean nas organizações/Projetos de

Construção?

Para ter validade, esta metodologia obedeceu a alguns parâmetros tais como não haver interação direta

entre o investigador e os inquiridos. Cada inquirido foi exposto às mesmas questões e na mesma ordem

que os outros. Este instrumento de investigação permitiu recolher uma amostra dos conhecimentos,

atitudes, valores e comportamentos dos principais intervenientes da indústria da construção

portuguesa. O questionário serviu principalmente como apoio e ponto de partida para as entrevistas

realizadas posteriormente. É de salientar que não foi feita uma análise estatística do questionário uma

vez que este tem uma dimensão reduzida e serviu essencialmente para apoiar o desenvolvimento das

entre vistas semiestruturadas.

3.2.2 Entrevistas semiestruturadas

No seguimento das respostas obtidas pelo questionário e de modo a conseguir compreender melhor o

panorama atual da implementação do Lean na construção em Portugal procedeu-se então á realização

das entrevistas semiestruturadas. Para o efeito, foram selecionadas 4 organizações representativas e

com dimensão no setor da construção em Portugal (um dono de obra, uma empresa de projeto e duas

empresas de construção). O público-alvo, bem como as questões, tiveram como base os resultados

obtidos no questionário anteriormente realizado dentro do grupo de trabalho. Houve a preocupação,

durante este processo, de entrevistar todos os envolvidos no processo de execução de um

empreendimento, isto é, donos de obra, empresas de projeto e de construção. A pedido das mesmas

não foram revelados aqui os nomes destas empresas, no entanto, pode dizer-se que estas têm uma

grande expressão no panorama da indústria da construção nacional.

O objetivo destas entrevistas foi o de fazer um levantamento de boas práticas ou técnicas que

incrementaram a eficiência da empresa, mesmo que não tendo resultado de uma abordagem

especificamente identificada como Lean. No entanto, estas entrevistas também permitiram aferir outro

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24

tipo de resultados, também importantes para caracterizar sector da construção em Portugal. Ao nível

de necessidades imediatas foi possível perceber quais os processos que necessitam de ser melhorados

dentro das organizações. Foi também possível identificar os procedimentos que são usados para

identificar as atividades que não agregam valor.

Outro ponto importante analisado foi o de perceber se as organizações tinham processos padronizados.

A padronização de procedimentos é uma das bases do Lean, sendo por isso importante aferir junto das

organizações se tal já é prática. Também foi alvo de estudo se as organizações faziam Benchmarking

e as respetivas medidas tomadas pelas mesmas para haver uma melhoria contínua de processos.

O guião destas entrevistas (Anexo 2) apresentado de seguida, era flexível e não foi seguido um modelo

rígido, o que permitiu uma recolha de dados mais alargado.

Questões de investigação:

1. Atualmente, considera que existe na sua organização algum processo que poderia ser

melhorado? Quais as situações que considera mais prioritárias?

2. Dentro da sua organização existe algum procedimento específico para identificar e eliminar as

atividades que não criam valor para o cliente, consumindo tempo, material ou mão-de-obra?

3. Tendo em conta as necessidades dos clientes, quais as ferramentas que a sua organização

utiliza durante a fase de projeto, conceção ou gestão do empreendimento para aumentar o

valor do produto final?

4. Quais as ferramentas ou técnicas utilizadas para reduzir o tempo de ciclo, que pode ser definido

como a soma de todos os tempos (processamento, transporte, espera e inspeção)? Existem

casos de estudo específicos ou de referência dentro da sua organização?

5. Existe padronização de processos dentro da sua organização? Se sim, como é implementada?

Quais foram os resultados atingidos?

6. O processo de produção é integrado, contribuindo para eliminar o surgimento de perdas por

qualidade ou é realizado por partes ou atividades isoladas?

7. Quias são as medidas tomadas pela sua organização para haver uma melhoria contínua de

processos que possam promover a redução do desperdício e o incremento de valor? Como

são envolvidos os trabalhadores?

8. Por último, a sua organização faz Benchmarking, interno ou externo, como um incentivo para

manter a contínua melhoria dos processos?

As entrevistas foram realizadas na maior parte dos casos presencialmente, sendo que nos casos em

que isto não foi possível, estas foram feitas através videochamada utilizando a tecnologia Skype. As

respostas foram gravadas em formato áudio para posterior avaliação.

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25

3.2.3 Workshop

O Workshop intitulado “Ineficiências e Desperdícios na Conceção/Construção de Empreendimentos”

realizado no âmbito do grupo de trabalho da PTPC teve como foco a identificação das principais

ineficiências e desperdícios que ocorrem durante a conceção e construção de empreendimentos. As

causas com origem politica/económica não foram alvo de apreciação durante este Workshop, uma vez

que estas não poderão ser objeto de intervenção utilizando uma abordagem Lean.

Este contou com a presença de representantes de entidades científicas (LNEC,IST), de donos de obra

(EDP Produção, Infraestruturas de Portugal, Sonae Sierra), associações (AECOPS, PTPC), empresas

de construção (Teixeira Duarte, Andrade Gutierrez, Somague), empresas de projeto (COBA, FASE) e

de consultoras (XC consultores).

Houve numa primeira fase a necessidade de fazer um enquadramento de modo a que se pudesse

iniciar um processo de identificação por analogia, das ineficiências resultantes das experiencias dos

participantes. Nesta parte do Workshop procedeu-se a apresentação de alguns estudos internacionais

e nacionais sobre o tema.

Uma das justificações para a organização do Workshop, prende-se com o facto de os trabalhos

existentes a nível nacional sobre esta matéria serem anteriores a 2010, logo a atualidade dos mesmos

poder estar comprometida. O intervalo de tempo que mediou a realização do presente texto e dos

trabalhos que serviram de referência é bastante grande. Ao não ter isto em conta, podia-se incorrer em

erro, uma vez que algumas ineficiências podem ter sido resolvidas ou terem surgido novas.

Depois deste enquadramento inicial, todos os participantes foram divididos em 3 grupos. Os elementos

dos mesmos foram dispostos em meio circulo virados para o quadro de trabalho 1 (Quadro 1) e

convidados a escrever em (post-it´s) as ineficiências/desperdícios para cada fase do empreendimento

(Figura 10). Cada elemento justificou as suas opções sendo que depois disso os (post-it´s) eram fixados

na coluna exploração.

QUADRO 1 - QUADRO DE TRABALHO 1

Exploração Top

Gestão de Contrato

(Project Management)

(post-it´s) (post it´s)

Concepção (post-it´s) (post-it´s)

Projecto Construção (post-it´s) (post-it´s)

Contratação (post-it´s) (post-it´s)

Fiscalização (post-it´s) (post-it´s)

Construção (post-it´s) (post-it´s)

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26

Com a coluna exploração preenchida, houve uma discussão e uma seleção das

ineficiências/desperdícios mais críticos (Figura 11). Os post-it escolhidos foram colocados na coluna

Top.

FIGURA 12 - DISCUSSÃO E SELEÇÃO DAS

INEFICIÊNCIAS/DESPERDÍCIOS MAIS CRÍTICOS

Numa segunda fase, passou-se para a identificação (Quadro 2) das causas e opurtunidades de

melhoria das inefeciencias/desperdicios selecionados anteriormente. A metodologia utilizada na

identificação das ineficiências foi repetida aqui.

QUADRO 2 - QUADRO DE TRABALHO 2

Já com o quadro de trabalho 1 e 2 preenchidos por todos os grupos, passou-se à apresentação e

resultados entre todos os partticipantes presentes (Figura 12). A apresentação dos resultados ficou a

cargo de um representante de cada grupo. Este teve como função justificar as

ineficiencias/desperdícios, causas e opurtunidades de melhorias selecionadas dentro de cada grupo.

Durante este periodo, foi feita uma discussão com todos os participantes em torno dos resultados

recolhidos (Figura 13).

Top Causas Oportunidades de Melhoria

(post it´s) (post it´s) (post it´s)

(post it´s) (post it´s) ((post it´s)

(post it´s) (post it´s) (post it´s)

(post it´s) (post it´s) (post it´s)

(post it´s) (post it´s) (post it´s)

(post it´s) (post it´s) (post it´s)

FIGURA 11 - GRUPO DE TRABALHO

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27

FIGURA 14- DISCUSSÃO EM TORNO DOS RESULTADOS

3.3 Apresentação e discussão de resultados

3.3.1 Resultados do questionário e das entrevistas

O questionário realizado, como já foi referido anteriormente, possibilitou conhecer o estado de

conhecimento atual sobre o Lean nas organizações. A análise dos mesmos permitiu aferir que até ao

momento poucas organizações que já tiveram iniciativas Lean. Muitas dessas iniciativas já nem se

encontram em funcionamento, tendo sido abandonadas por parte das administrações.

Dois terços dos inquiridos admitiu já ter tido conhecimento da filosofia Lean e a totalidade acredita que

pode utilizar as práticas Lean na sua área de responsabilidade, para melhorar o desempenho dos seus

processos. Ainda assim são apontadas diversas barreiras para eventuais projetos Lean nas

organizações. Entre as mais referidas estão a resistência à mudança, a não identificação da utilidade

destes projetos e lideranças não comprometidas.

Existe, em geral, uma perceção negativa sobre a predisposição dos líderes das empresas do setor para

investir em processos de melhoria. A maior parte dos inquiridos respondeu que a propensão para vir a

realizar estes investimentos é baixa. No entanto, a totalidade dos inquiridos contrapôs que as lideranças

das organizações poderiam vir a ser seduzidas pelas vantagens do Lean na construção. Apesar das

respostas a estas duas questões poderem parecer contraditórias, pode-se concluir pelas mesmas, que

existe um desconhecimento geral sobre o Lean por parte das chefias.

Por último, também se tem de fazer referencia que a maior parte das organizações que fizeram parte

deste questionário estão certificadas pela norma ISO 9001 e que os sistemas de gestão da qualidade

são considerados complementares á abordagem Lean.

Em relação as entrevistas realizadas, estas tinham como principal objetivo fazer um levantamento das

boas práticas ou técnicas que incrementem a eficiência das empresas, mesmo que estas não fossem

consideradas especificamente como Lean. Os resultados das mesmas foram resumidos nos Quadros

3 e 4.

FIGURA 13- APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

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28

QUADRO 3 - RESUMO DAS ENTREVISTAS (ORGANIZAÇÕES A E B)

Organização A

(Dono de obra)

Organização B

(Empresa de Projeto)

Processos que

podem ser

melhorados

(Situações

prioritários)

A organização encontra-se numa

fase de sustentação da

implementação do Lean. O foco

encontra-se na gestão de

processos

Definir melhor a metodologia de

trabalho ao nível da fiscalização

do empreendimento

Procedimentos

específicos para

identificar atividades

que não agregam

valor

Utilização do Value Stream

Mapping para revisitar e melhorar

procedimentos

Reunião mensal entre o Project

Manager e os engenheiros

especialistas que se encontram

no terreno para identificar

problemas

Ferramentas para

aumentar o valor do

produto

5s´

Analise dos 5-Porquês

Analise Fishbone

Inquérito de satisfação ao cliente

Reuniões internas

PDCA

Padronização de

processos

Portal Lean (guião de consulta

rápida de iniciativas executadas

anteriormente)

Manual de orientação do Lean

(modelo de gestão de processos)

Uniformização dos procedimentos

ao nível de fichas de controlo

Processo de

produção integrado

Lean integrado com a qualidade e

o processo de produção Não

Medidas tomadas

para haver melhoria

contínua de

processos

Estabelecimento de indicadores

de melhoria por parte da direção

Potenciar o Lean integrando-o

melhor com os processos

Avaliação no final de cada

contrato das possíveis melhorias

que podia ser introduzidas e

registo para posterior utilização

em projetos futuros

Benchmarking

Partilha de informação com outras

empresas do grupo.

Visitas a empresas que são

referências na sua atividade

Interno

Externo realizado no âmbito de

empreendimentos executados em

consórcio

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29

QUADRO 4 - RESUMO DAS ENTREVISTAS (ORGANIZAÇÕES C E D)

Organização C

(Empresa de Construção)

Organização D

(Empresa de Construção)

Processos que

podem ser

melhorados

(Situações

prioritários)

Necessidade de reorganizar as

equipas e estaleiros de obra de

forma a se adaptarem à

execução de obras de menor

dimensão

Deficiente planeamento na fase

inicial do empreendimento

Procedimentos

específicos para

identificar atividades

que não agregam

valor

A análise de risco que é efetuada

no início do empreendimento

Procedimento de identificação de

não conformidades de qualidade

do produto

Uso em todos os

empreendimentos do Relatório A3

Ferramentas para

aumentar o valor do

produto

Análise do Projeto

Inquérito de satisfação ao cliente

Reuniões semanais com o cliente

5s´

Analise dos 5-Porq

uês

Gestão Visual

Reuniões de equipa

Padronização de

processos

Não existe uma padronização do

processo

Existem unidades de

conhecimento (base de dados de

iniciativas executadas

anteriormente)

Processo de

produção integrado

O processo é integrado entre as

várias partes interveniente. A

gestão da Produção é efetuada

pelo gestor da obra de forma

integrada

Depende do empreendimento e

dos contratos

Medidas tomadas

para haver melhoria

contínua de

processos

Auditorias de qualidade do

produto

Registo de não conformidades

Reuniões de obra

Definição de objetivos por parte da

direção. Ações de formação a

nível de todos os níveis.

Benchmarking Interno e externo Em Portugal não. No estrangeiro

existe a partilha de conhecimento.

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30

A análise feita às entrevistas possibilitou fazer o levantamento dos processos prioritários a serem

melhorados dentro das organizações. Uma das necessidades identificadas passou pela reorganização

das equipas e estaleiros de obra, de forma a se adaptarem à execução de obras de menor dimensão.

A adaptação das organizações à nova conjuntura económica é um aspeto vital para as mesmas no

contexto atual de crise que o país e o setor da construção atravessam. Outro aspeto identificado foi o

deficiente planeamento na fase inicial do empreendimento e que, segundo os entrevistados, iria ter um

efeito adverso ao longo do período de execução do empreendimento.

Foi também possível perceber pelas entrevistas que a padronização dos processos construtivos tem

pouca expressão em Portugal. Existem unidades de conhecimento, base de dados de iniciativas

diversas, mas, na maior parte dos casos encontram-se obsoletas ou fora de uso. As entrevistas também

permitiram reconhecer a importância do Benchmarking, realizado, principalmente, internamente. A

partilha de informação com organizações exteriores à mesma, é realizada no âmbito de

empreendimentos executados em consórcio. As medidas de melhoria contínua passam,

principalmente, por uma avaliação no final de cada empreendimento das possíveis melhorias que

podem ser introduzidas e registo para posterior utilização em outros projetos ou por auditorias de

qualidade do produto. No entanto, não existem procedimentos específicos para implementar medidas

de melhoria continua dentro das organizações.

Ao nível das técnicas, as entrevistas permitiram identificar três tipos de técnicas Lean e que são comuns

na maior parte das organizações: Prática dos 5´s (organização do espaço de trabalho), Gestão Visual

e Resolução Estruturada de Problemas (REP). Esta ultima não é uma técnica mas sim um conjunto de

técnicas (Relatório A3, Analise dos 5-Porquês, Analise Fishbone, e PDCA) que apresentam a mesma

finalidade.

É importante referir aqui que Sistemas de Gestão de Qualidade (SGQ) e a filosofia Lean não são

mutuamente exclusivos mas sim complementares. Segundo Campos & Costa (2016) apesar de serem

unanimemente reconhecidos os benefícios Sistemas de Gestão da Qualidade (SGQ) certificados pela

norma internacional ISO 9001, a melhoria contínua requerida pelos SGQ vai sendo casuística e

superficial, focando-se, muitas vezes, na melhoria do próprio sistema e não na redução de custos e

incremento de valor para as organizações. Através da implementação do Lean, a Qualidade é

novamente elevada à sua essência e orientada para gerar valor. Os SGQ potenciados pela Filosofia,

Princípios, Abordagem e Técnicas Lean são assim transformados numa eficaz máquina de aumento

de competitividade.

A REP, como o próprio nome o indica é uma abordagem contínua de identificação e resolução de

problemas que possam interferir no desenrolar de uma determinada atividade. Estes problemas

normalmente estão relacionados com a produtividade, segurança, qualidade ou custos. O objetivo é de

encontrar a raiz do problema e encontrar a melhor forma de realizar a respetiva atividade. Este tipo de

abordagem pode ser utilizada em qualquer ponto do processo como resposta a um possível redução

do desempenho. Os passos seguidos por este conjunto de técnicas segundo O’Connor & Swain (2013)

encontram-se esquematizado a seguir no Quadro 5.

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31

QUADRO 5 - ABORDAGEM DA RESOLUÇÃO ESTRUTURADA DE PROBLEMAS

Seguidamente é apresentado o conjunto de técnicas que constituem a REP:

- Relatório A3

Este tipo de técnica assenta em estruturar em sete campos numa folha A3 (297x420 mm) as

etapas de planeamento, execução, verificação e tomada de decisão para atingir os objetivos

definidos e ficar com um registo para a organização. Este tipo de ferramenta (Anexo 3) funciona

como um template de modo a assegurar a resolução de um problema como por exemplo um

atraso do planeamento de um empreendimento ou um desvio orçamental. O relatório A3 pode

ser adaptado em termos de layout, estilo e enfase de acordo com as necessidades (Shook,

2008). Tratando-se de um documento prático de trabalho tem de haver disponibilidade de

dados para identificar a situação atual do processo e respetiva resolução do problema;

- Análise dos 5-Porquês

Também conhecida por “The 5 why´s”, esta é uma técnica de resolução de problemas que tenta

localizar a causa do problema perguntando de forma sucessiva e pelo menos 5 vezes porquê

(“why”), até ser encontrada raiz do problema. Esta ferramenta assegura que seja encontrada a

raiz do problema e que seja efetivamente encontrada uma solução para o problema (Rybkowski

& Ballard, 2008);

Contexto Identificação do problema e respetiva envolvente

Contenção Não permitir que o problema venha a afetar outras atividades

ou ate mesmo parar o processo produtivo por completo

Trabalho de equipa Reunir uma equipa multidisciplinar com elementos que estejam

Investigar

Ir ao terreno e falar com as pessoas envolvidas no processo

produtivo. Fazer uma análise aos dados disponíveis

relativamente a atividade em causa. Utilização da análise

Fishbone

Identificação da raiz do problema Utilização da análise dos 5-Porquês para encontrar a raiz do

problema

Desenvolvimento de soluções Desenvolvimento de medidas que mitiguem ou elimine por

completo o problema

Implementação das soluções Utilização do PDCA para a implementação das medidas

Validação Monotorização e acompanhamento das medidas

implementadas

Evitar a Recorrência do Problema Formação dos colaborados envolvidos no respetivo processo e

registo das melhorias atingidas

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32

- Análise Fishbone

A análise Fishbone (figura 14) é um diagrama visual que se assemelha a espinha de um peixe.

Este tipo de análise, também conhecido como analise causa efeito, é uma abordagem

sistemática de resolução de problemas (Watson, 2004). O objetivo passa por fazer uma análise

em conjunto dos principais fatores que contribuem para o problema. Primeiro é escrito na

cabeça do peixe a frase que descreve o problema sendo que de seguida são escritos no corpo

do peixe dentro das categorias materiais, pessoas, maquinas, método e envolvente os fatores

que contribuem para o problema. Os que tiverem um peso preponderante serão analisados

numa fase posterior através da análise dos 5-Porquês;

FIGURA 15 - EXEMPLO DA ANÁLISE FISHBONE

- PDCA

O PDCA é uma técnica de melhoria continua que assenta no ciclo de Deming da norma ISO 9001.

Este ciclo descreve as várias fases de transição desde o planeamento até a sua execução e tem

como pressuposto uma aplicação e verificação da solução adotada. O Ciclo PDCA está dividido

em quatro fases bem definidas e distintas, e segundo (Andrade, 2003), pode ser descrito da

seguinte forma:

Plan (planear) – Localizar problemas e estabelecer um plano de ação de modo a cumprir com

os objetivos;

Do (executar) – Demonstrar a praticabilidade da solução encontrada através da execução do

plano de ação;

Check (verificar) – Verificar se a execução se encontra de acordo com o planeamento, assim

como se esta realmente produz uma mais-valia;

Act (atuar) – Despoletado uma ação corretiva quando se verifica uma inconformidade. Se as

alterações forem bem-sucedidas passa-se a padronização das mesmas.

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33

3.3.2 Resultados do Workshop

Em relação ao Workshop, que teve como principal objetivo a identificação das principais ineficiências

e desperdícios que ocorrem durante a conceção e construção de empreendimentos, obtiveram-se os

seguintes resultados que serão apresentados de seguida (Quadro 6).

QUADRO 6 - RESUMO DAS INEFICIÊNCIAS OBTIDAS PELO WORKSHOP

Fazendo uma análise aos resultados obtidos do Workshop foi possível perceber que existem

ineficiências que a implementação de determinadas técnicas Lean podem resolver. Estas encontram -

se sintetizadas no Quadro 7 e resultaram da discussão dentro do grupo de trabalho da PTPC. As

técnicas que aqui foram apresentadas serão alvo de uma abordagem mais detalhada no capítulo 4.

Ge

stã

o d

e

em

pre

en

dim

en

tos

Deficiente

coordenação

dos

intervenientes

Falta de

comunicação entre

os intervenientes

Falta de

planeamento

colaborativo

Recurso

excessivo ao

preço como

critério de

adjudicação

Demora

na

decisão

(análise)

Prazos

irrealistas

Co

nc

ão

&

Pro

jeto

Deficiente

definição dos

requisitos

iniciais

(indefinidos

/imprecisos)

Erros de projeto

devido a falta de

acompanhamento/co

ordenação

Projeto

desadequado

às

necessidades

do promotor

Baixa qualidade

das

especificações

técnicas

Falta de

pormenorização

Co

ntr

ata

çã

o

Deficiente

definição dos

requisitos dos

diversos

contratos na

fase de

construção

Conflito por

sobreposição de

responsabilidades

entre intervenientes

Prazos

demorados

para proceder à

contratação

pública

Legislação de

contratação

pública complexa

(CCP)

Contratação com base

nos preços mais baixos

Fis

ca

lizaç

ão

Falta de

atuação

preventiva e

proactiva

Falta de

acompanhamento

permanente à obra

Falta de

capacidade

técnica e de

experiência

Pouca

flexibilização a

"alterações" ao

projeto

Deficiente e insuficiente

acompanhamento

direto das obras

Co

ns

tru

çã

o

Baixa produção

do sector

Desfasamento

temporal entre

projeto e execução

da obra

Falta de

planeamento

Falta de mão-de-

obra qualificada

Pouco tempo dedicado

na definição de métodos

construtivos e espaços

de trabalho

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34

QUADRO 7 - INEFICIÊNCIAS QUE O LEAN PODE RESOLVER

No entanto, é importante referir que existem muitas ineficiências que afligem o panorama da construção

em Portugal e que a aplicação do Lean não consegue resolver. Estas ineficiências estão relacionadas

com a contratação pública, nomeadamente prazos demorados ou legislação muito complexa. Outro

problema que foi levantado na fase de gestão dos empreendimentos é o recurso excessivo ao preço

mais baixo como critério de adjudicação. Este tipo de questões estão mais relacionados com a

mentalidade do dono de obra face ao empreendimento, preferindo muitas vezes a vertente económica

em detrimento da qualidade.

Por fim, foi apresentada como ineficiência a baixa produtividade na construção. Neste caso não foi

apresentada uma técnica específica para solucionar este problema. No entanto a implementação do

conjunto de técnicas Lean pode vir a contribuir para mitigar esta questão.

3.4 Síntese de capítulo

No quadro atual da construção nacional existem poucas organizações que tem iniciativas Lean. As

razões apontadas foram a resistência à mudança, a não identificação da utilidade destes projetos e

Ineficiências Técnicas Lean

Deficiente coordenação e comunicação entre os intervenientes

do empreendimento. Falta de planeamento colaborativo

Target Value Design

Building Information Modelling

(BIM)

Integrated Project Delivery

Erros de projeto devido a falta de acompanhamento/

coordenação e falta de pormenorização. Deficiente definição dos

requisitos iniciais do projeto (indefinidos ou imprecisos)

Target Value Design

BIM

Falta de atuação preventiva e proactiva da fiscalização Reuniões de revisão de

Desempenho

Falta de acompanhamento permanente e direto à obra por parte

da fiscalização Sala de Controlo

Pouca flexibilização a "alterações" ao projeto BIM

Falta de mão-de-obra qualificada Instruções de trabalho

Baixa preparação (tempo dedicado) para definição de métodos

construtivos e espaços de trabalho Value Stream Mapping

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35

lideranças não comprometidas. Aqui foi importante perceber que existe um desconhecimento geral

sobre o Lean por parte das chefias e que as mesmas poderiam vir a ser seduzidas pelo Lean.

Ao nível dos processos a serem melhorados dentro das organizações, foram identificados como

prioridades a reorganização das equipas de trabalho e dos estaleiros de obra. Esta reorganização deve

possibilitar às organizações poderem adaptar-se à execução de obras de menor dimensão. Outro

aspeto identificado foi o deficiente planeamento na fase inicial do empreendimento. Esta debilidade tem

um efeito adverso ao longo do período de execução dos empreendimentos. Ainda nos procedimentos,

foi possível perceber que a padronização dos processos construtivos tem pouca expressão em

Portugal.

Nas medidas de melhoria continua, não foram identificados procedimentos específicos para

implementar ações dentro das organizações. Por outro lado, houve a constatação da importância do

Benchmarking, realizado principalmente internamente. A partilha de informação com organizações

exteriores á mesma, é realizado no âmbito de empreendimentos executados em consórcio.

As ineficiências que foram encontradas ao nível da gestão do empreendimento tiveram como base a

falta de coordenação e comunicação entre todos os intervenientes. Durante a fase de projeto as

ineficiências identificadas passaram por falta de pormenorização, baixa qualidade das especificações

técnicas e erros de projeto. A falta de acompanhamento permanente e direto à obra e a ausência de

uma atuação preventiva e proactiva por parte da fiscalização foram também enunciadas. Já na fase de

construção do empreendimento em si, as ineficiências encontradas prendem-se com a baixa produção

do sector, falta de mão-de-obra qualificada e com o pouco tempo dedicado para definição de métodos

construtivos e espaços de trabalho.

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36

4. Propostas de técnicas Lean prioritárias

4.1 Introdução

O presente capitulo teve o seu foco na implementação da metodologia Lean na construção ou mais

especificamente na execução de um empreendimento. Na primeira parte deste capítulo e no

seguimento das ineficiências identificadas no final do capítulo 3 (Quadro 7), foram descritas

detalhadamente cinco técnicas Lean, capaz de contribuir para a atenuação destas ineficiências. Para

cada técnica foi feita uma descrição contendo os seguintes pontos:

Descrição;

Pré-requisitos para a sua aplicação;

Como aplicar a técnica a nível operacional;

Como medir o nível de aplicação da técnica;

Principais obstáculos/dúvidas que surgem na fase operacional.

O principal desafio que a metodologia Lean enfrenta nos dias de hoje passa por conseguir fazer a

ligação entre os conceitos teóricos e a sua implementação no terreno. De modo a conseguir fazer esta

ponte será necessário, mais do que mudar comportamentos, mudar mentalidades. No final do presente

capítulo foi feito um levantamento dos principais passos a tomar antes de aplicar diretamente as

técnicas Lean. Algumas destas etapas, que serão descritas detalhadamente mais à frente, passam por

obter competências, encontrar um agente da mudança ou consolidar e expandir para outras atividades.

Também serão descritos alguns pontos críticos que poderão interferir na implementação.

4.2 Técnicas Lean

4.2.1 Justificação das técnicas selecionadas

Pela análise realizada no final do capítulo 3 (Quadro 7) foi possível perceber que existem ineficiências

que a implementação de determinadas técnicas Lean podem resolver. As cinco técnicas que foram alvo

de investigação nesta parte do trabalho tiveram como base esta mesma análise. A opção pelas mesmas

e ordem de apresentação neste texto foi justificado de seguida.

O Value Stream Mapping será a primeira técnica a ser apresentada. A razão pela qual isto aconteceu

prende-se com o facto de ser uma ferramenta primordial na filosofia Lean. Esta técnica deve ser

aplicada numa fase inicial uma vez que permite realizar um diagnóstico preventivo identificando as

fragilidades que á partida seriam difíceis de detetar. Associadas ao Value Stream Mapping estão as

técnicas Gemba Walk e Spaguetti Diagrams

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37

A segunda técnica apresentada foi relativa às Instruções de Trabalho. Este tipo de ferramenta permite

estabilizar e estandardizar processos, fundações da filosofia Lean. Só é possível melhorar qualquer

processo se este for estável contínuo ao longo do tempo. É considerada como uma técnica fundamental

na implementação do Lean.

A terceira técnica apresentada foi relativa às Reuniões de Revisão de Desempenho. Não se pode

considerar esta técnica singular uma vez que lhe estão subjacentes ferramentas como a Sala de

Controlo e os Key Performance Indicatores. Com processos estabilizados é aplicado o seguinte

princípio Lean “Se não se consegue medir, não se pode controlar nem melhorar um determinado

processo”. Reverte-se dai a sua importância para o Lean na construção.

“What's measured improves” ― Peter F. Drucker

O Target Value Design é a quarta técnica apresentada neste texto. Saindo um pouco da sequência

das técnicas apresentadas até aqui, a opção recaiu sobre esta ferramenta dado ao seu grande potencial

de aplicação no quadro atual da construção. As ineficiências sentidas pelo sector passam muito pela

falta de planeamento colaborativo entre os intervenientes sendo que a implementação desta técnica

pode vir a solucionar parte deste problema.

Por último será feita uma exposição do Building Information Modelling (BIM). Devido a sua

complexidade, a informação apresentada neste trabalho relativamente a esta técnica é escassa se

considerarmos uma implementação plena. Para desenvolver em toda a sua extensão, todas as

potencialidades que o BIM apresenta seria necessário realizar analise bastante aprofundada, o que iria

sair fora do âmbito deste trabalho. O autor deste trabalho reconhece este facto, no entanto, a médio

longo prazo a implementação deste tipo de ferramenta terá um enorme impacto em todo o sector da

construção. Tendo isto em consideração e apesar das limitações anteriormente enunciadas a sua

presença neste trabalho torna-se indispensável.

Fora deste trabalho encontra-se provavelmente a técnica mais emblemática do Lean, o Last Planner©

System (LPS). A justificação para este facto reside na quantidade de trabalhos publicados relativamente

à implementação desta ferramenta tanto a nível nacional como internacional. A exposição desta técnica

no presente trabalho nunca iria acrescentar nada de relevante ao estado do conhecimento atual.

Outra técnica que fica de fora é o Integrated Project Delivery. A opção prende-se com o facto de, no

quadro atual da construção nacional, a sua aplicação ser de difícil execução. Aspetos culturais

bastantes enraizados na cultura portuguesa tornam esta técnica de difícil aplicação.

Por último há que fazer referencia que se encontram em anexo um conjunto de técnicas descritas

detalhadamente. Estas fichas são da autoria do grupo de trabalho Lean na Construção da PTPC, no

qual o autor colaborou.

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38

4.2.2 Value Stream Mapping

Descrição:

O Value Stream Mapping ou em português Mapeamento de Fluxo de Valor, é uma técnica usada para

analisar e representar o fluxo de materiais e informação necessários para executar um produto, serviço

ou projeto. Esta ferramenta permite entender em pormenor os processos produtivos por detrás de um

determinado produto, medindo, para isso, os tempos de processamento e de operação dos mesmos.

Esta análise também permite calcular outros indicadores relevantes para a compreensão do sistema

em geral. Para além disso há também há uma preocupação a nível dos recursos consumidos

nomeadamente a nível de inventários intermédios.

É de salientar que o principal objetivo desta ferramenta é a identificação do desperdício e respetiva

eliminação ao longo da cadeia produtiva, através do redesenho dos respetivos processos. O foco desta

ferramenta, segundo Rother & Shook (1999), não é o processo individual mas sim o conjunto de

processos que compõem o sistema e as respetivas interligações entre os mesmos. A cooperação entre

todos os intervenientes e o conhecimento dos sete tipos de desperdício são um fator importante a ter

em conta na aplicação do Value Stream Mapping.

Pré-requisitos para a sua aplicação:

Este tipo de ferramenta necessita do envolvimento das equipas de trabalho, dos encarregados, dos

engenheiros e dos diretores de produção. O comprometimento das lideranças é vital na implementação

desta técnica. Outro aspeto a ter em conta será a formação das pessoas na identificação dos 7 tipos

de desperdícios. A otimização do sistema passa sempre pela identificação dos desperdícios que afetam

a produção. Por último há que fazer referencia a utilização de software especializado para fazer o

mapeamento. Apesar de não ser indispensável e se conseguir fazer o mapeamento manualmente este

tipo de software pode ser bastante para processos maiores e com níveis de complexidade elevados.

Como aplicar a técnica a nível operacional:

Depois de realizar uma apresentação do conceito aos responsáveis e colaboradores envolvidos no

processo, a aplicação desta técnica assenta segundo Nielsen (2008) em 6 etapas que serão

enunciadas de seguida:

1. Selecionar um produto ou uma família de produtos representativos da realidade da organização

do sector. Uma família é um conjunto de produtos que tem processos construtivos e tempos

de produção similares. Estes produtos podem apresentar algumas variações mas na sua base

segundo Duggan (2002) partilham mais de 80% do processo produtivo. O mapeamento do fluxo

de valor pode ser feito a uma subempreitada específica, a um conjunto alargado de

subempreitadas ou a atividades repetitivas como é o caso da prefabricação;

2. Decidir qual o objetivo a atingir. Este pode ser redução de custos, produzir a tempo e a horas

ou simplesmente manter o nível atual de produção. O importante é ter este objetivo em mente

e realizar as respetivas alterações para o conseguir atingir no futuro;

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39

3. Formar uma equipa. O motivo reside no facto de poucas pessoas entenderem a totalidade do

fluxo de valor ou do impacto das melhorias introduzidas, sendo por isso necessário reunir um

conjunto de intervenientes que possam contribuir com o know-how necessário;

4. Ir ao terreno e recolher dados. Este costuma ser um processo moroso que pode durar vários

dias mas grande parte do sucesso desta técnica reside na fiabilidade dos dados recolhidos. A

informação recolhida diz respeito a número de pessoas envolvidas numa determinada

atividade, tempo de execução da mesma, trabalhos a mais requeridos, inventário existente e

tempo de espera entre duas atividades consecutivas. Consoante os casos poderão ser

recolhidos outro tipo de parâmetros. Nesta fase de implementação poderá ser utilizada como

técnica auxiliar o Gemba Walk (Anexo 3). O objetivo desta técnica passa pela observação do

fluxo produtivo do produto, na busca de desperdícios, ou seja, atividades que não agregam

valor. Outra técnica utilizada nesta parte são os Spaguetti Diagrams (Anexo 3). Estes

diagramas são uma representação que recorre ao desenho de linhas de fluxo em

representação de caminhos efetuados por pessoas, equipamentos ou produtos durante a

execução de um processo. Esta ferramenta é bastante útil na análise do fluxo de valor uma vez

que permite observar como os recursos e os produtos fluem e como o trabalho é realizado

(Figura 15). Em anexo poderão ser consultadas as fichas mais detalhadas relativamente a

estas ferramentas;

5. Construir o mapa do estado atual. A principal preocupação nesta fase passa por haver um

grande esforço colaborativo entre todos os intervenientes tanto a nível da construção do mapa

como na respetiva análise do mesmo. A análise passa por identificar processos desnecessários

e potenciais ganhos de cada um. Este mapa pode ser feito manualmente ou pode recorrer a

algum tipo de software específico que permita simular o mapa de fluxo de valor. Depois de

FIGURA 1 FIGURA 16 - FLUXOS DE MATERIAIS E INFORMAÇÃO. ADAPTADO DE NIELSEN (2008)

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realizada esta análise e se terem introduzido as respetivas melhorias deve realizar-se o mapa

do estado futuro;

6. Validação do mapa do estado atual. A última etapa na implementação desta técnica é

provavelmente a mais importante e assenta na verificação e credibilidade do mapa. A

verificação do mapa deve eliminar possíveis erros na representação das atividades e as suas

respetivas interligações. A credibilidade deve ser garantida uma vez que serão tomadas

decisões com base neste mapa. Este parâmetro está relacionado com as hipóteses tomadas

até este ponto bem como os valores assumidos para caraterizar os diversos processos. A

validação só ocorre quando existirem melhorias do sistema.

Como medir o nível de aplicação da técnica

Um elevado nível de implementação desta técnica é atingido quando todas as pessoas se encontram

envolvidas e dão o seu contributo para a melhoria do sistema. As poupanças económicas e a redução

dos tempos de produção são expressivas. A organização e limpeza do espaço de trabalho refletem as

melhorias introduzidas no sistema

Principais obstáculos/dúvidas que surgem na fase operacional

O que fazer se o mapa obtido falhar a validação?

O mapeamento do fluxo de valor é um processo interativo e é normal que surjam erros no primeiro

modelo. As hipóteses assumidas podem não ser validas ou os valores estarem longe da realidade.

Estes erros são normalmente detetados quando comparados com o sistema real em funcionamento. A

origem dos mesmos pode estar relacionada com uma deficiente recolha de dados ao nível operacional.

Isto revela a importância do tempo passado no terreno a observar o processo produtivo e a registar os

respetivos parâmetros necessários para realizar a análise.

Qual é a razão de o mapa de fluxo de valor ter de representar com exatidão a realidade?

Para se conseguir introduzir as melhorias e poder realizar o mapa do estado futuro há que partir de

uma base solida que represente a realidade atual. As mudanças necessárias a efetuar terão sempre

como referência o mapa de estado atual e os respetivos valores. Sem um mapa do estado atual exato,

as melhorias introduzidas poderão ter um impacto reduzido ou nulo. Se a base estiver errada, não é

possível ter um termo de comparação e assim qualquer alteração feita poderá redundar até em custos

e tempos de execução maiores do que os atuais.

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4.2.3 Instruções de Trabalho

Descrição:

As Instruções de Trabalho ou Standardised Work em inglês são documentos onde se faz a descrição

ou ilustração de como executar uma determinada tarefa. Este tipo de ferramenta aumenta a

produtividade, qualidade e segurança, uma vez que os procedimentos de trabalho encontram-se

estruturados na sequência mais eficiente. O desperdício é atenuado, obtendo-se desta forma o método

mais eficiente de desempenhar uma determinada tarefa. O processo é clarificado e assegura a

consistência nas operações. As instruções de trabalho são também a fundação da melhoria continua

já que são documentos dinâmicos (Figura 16). Se os procedimentos são sempre alterados e não são

padronizados, não existe um ponto de referência a partir do qual se pode comparar (Liker, 2005)

correndo o risco de as melhorias introduzidas desaparecerem com o tempo. À medida que as instruções

são melhoradas, a nova instrução de trabalho torna-se a base para mais melhorias. Este é aliás um

trabalho que nunca tem fim uma vez que existe sempre algo a melhorar em qualquer processo.

FIGURA 17 - EFEITO DA PADRONIZAÇÃO NA MELHORIA CONTINUA

Este tipo e ferramenta é também vital na formação de novos colaboradores, uma vez que assegura que

todos os passos importantes na realização de uma determinada atividade são transmitidos de forma

correta. Sem este tipo de instrução seria necessários meses ou por vezes anos de experiencias para

adquirir o conhecimento necessários para executar na plenitude uma tarefa.

Este tipo de ferramentas não é escrito por um engenheiro e depois imposto aos restantes

colaboradores, mas sim elaborado por uma equipa e aprovada á posteriori por um engenheiro que

assegura que as instruções estão em conformidade.

Pré-requisitos para a sua aplicação:

Todos os envolvidos devem ter sessões iniciais de formação para entender o funcionamento e como

aplicar este tipo de ferramenta. É importante perceber também que a elaboração deste tipo de

Instruções é um Trabalho moroso e com alguns custos associados. Será portante importante numa

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primeira fase fazer uma seleção das atividades mais críticas para o desenrolar do processo produtivo.

A tarefa em questão deve ter um caráter repetitivo. Outro aspeto importante são os sistemas de

auditoria necessários para manter e melhorar as instruções de trabalho. Para conseguir isto é

necessário o envolvimento e suporte das lideranças (chefes de equipa e engenheiros de produção).

Como aplicar a técnica a nível operacional:

O primeiro passo será sempre a seleção das atividades para as quais é necessário fazer as instruções

de trabalho e definir os objetivos a atingir. Esta seleção é normalmente feita segundo o grau de

dificuldade de execução que uma determinada tarefa apresenta ao longo do tempo. Tendo sido feita

esta seleção, serão enunciados aqui os passos a seguir para implementar esta técnica:

1. Reunir um grupo de trabalho com pessoas ligadas à gestão da qualidade, gestão e execução

do produto e nomear, dentro do mesmo, um chefe de equipa. Em conjunto estes elementos

devem definir um modelo de instrução que servirá de base para as restantes fichas a serem

elaboradas;

2. Ir ao terreno e acompanhar a execução do processo desde o início, de modo a poder registar

os principais pontos críticos ao nível da segurança e qualidade. Estes registos devem ser

acompanhados de fotografias ou outro tipo de ilustrações para uma melhor exposição da tarefa

em causa;

3. Durante a elaboração do primeiro esboço, voltar a reunir o grupo de trabalho e discutir possíveis

melhorias a serem introduzidas para melhorar as instruções de trabalho;

4. Já com um documento em fase de finalização, voltar ao terreno e experimentar executar a

tarefa seguindo as instruções de trabalho e medir o tempo despendido. Nesta fase é importante

ajustar as instruções de trabalho, rejeitando ou adotando novos procedimentos;

5. Verificação da conformidade e aprovação das instruções de trabalho por um engenheiro ligado

as áreas de segurança e qualidade;

6. Treinar os operadores segundo estas instruções ao mesmo tempo que se procura num esforço

de melhoria continua melhorar o documento existente.

Como medir o nível de aplicação da técnica

Um indicador de sucesso desta técnica ocorre quando se utiliza as Instruções de Trabalho no treino

dos colaboradores antes da execução de uma determinada atividade. As principais atividades

encontram-se documentadas e existe assim uma perceção clara dos ganhos de eficiência alcançados.

Outro tipo de indicador é o número de auditorias que são realizadas e respetivos resultados.

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Principais obstáculos/dúvidas que surgem na fase operacional

Deve haver Instruções de Trabalho para todas as tarefas?

Não. As tarefas a serem alvo de Instruções de Trabalho devem ter carácter repetitivo e apresentar um

grau de dificuldade superior à média. Para além dos custos associados à elaboração de uma instrução

de trabalho há que ter em conta que um excesso de fichas pode ter um efeito contrário, isto é, em vez

de simplificar pode até tornar o processo produtivo mais complexo e moroso.

As Instruções de Trabalho devem ter um grande grau de complexidade?

Ao elaborar este tipo de fichas deve ter-se em atenção os profissionais a que as mesmas se destinam,

nomeadamente colaboradores que por vezes tem poucas qualificações. Tendo isto em conta, este tipo

de documentos deve ser simples e de fácil leitura, ao mesmo tempo que se deve garantir o rigor a que

este tipo de instruções deve estar vinculado.

4.2.4 Reuniões de Revisão de Desempenho

Descrição:

Este tipo de reuniões, com uma duração de aproximadamente de 10 a 15 minutos são realizadas

diariamente para discutir e rever os principais indicadores de desempenho ou KPI (Key Performance

Indicatores) (Anexo3) da execução do empreendimento. As reuniões são realizadas em três níveis,

com plateias diferentes: uma ao nível das equipas de trabalho que se encontram diretamente afetas ao

processo de construção, outra reunião com os subempreiteiros e outra reunião com o empreiteiro

principal e o dono de obra.

O princípio que se encontra por trás desta ferramenta é o seguinte: “Se não se consegue medir, não

se pode controlar nem melhorar um determinado processo”. Estas reuniões são uma peça importante

na aplicação da filosofia Lean na construção uma vez que garantem que todos os intervenientes estão

ao corrente da situação e sabem que papel devem desempenhar para melhorar os resultados.

A informação é disposta em painéis e é atualizada á medida que o empreendimento vai sendo

excetuado. O conjunto de dados disponibilizados reflete as principais dimensões do controlo do

projeto/produção do empreendimento. Segundo O’Connor & Swain (2013) são utilizados um número

reduzido de indicadores relativos á qualidade, tempo de entrega, custo e segurança para conseguir

identificar melhor as oportunidades de melhoria.

Pré-requisitos para a sua aplicação:

Apesar do grau de aplicação desta técnica ser baixo, a mesma requer um grande esforço por parte da

organização que a irá aplicar. Antes de mais tem de haver um grande rigor na elaboração e

apresentação dos indicadores, uma vez que só se consegue acrescentar valor se a informação

disponível for fiável. Os dados devem estar disponíveis antes da realização das reuniões de modo a

poder haver uma discussão em torno dos mesmos. A pessoa responsável pelas reuniões deve garantir

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que esta se desenrole num ambiente positivo em cada participante possa exprimir as suas ideias

preocupações livremente. Estas sessões não devem ser utilizadas para responsabilizar ou culpabilizar

ninguém mas sim para introduzir melhorias.

Ao nível material, este tipo de técnica requer poucos recursos, concretamente quadros magnéticos ou

outro tipo de painel onde seja possível afixar a informação e que possam ser colocados no exterior,

marcadores para poder assinalar os indicadores que necessitam de ser revistos. Por fim deve existir

um modelo predefinido e impresso para os KPI, de modo a que a transmissão da sua informação possa

ser feita de forma clara e percetível para todos os intervenientes.

O modelo dos KPI é muito importante e deve cumprir ou possuir as seguintes caraterísticas:

Objetivos mesuráveis e realistas;

Fórmulas de cálculo credíveis;

Ser simples e de fácil acesso;

Periocidade de recolha de informação definida.

Como aplicar a técnica a nível operacional:

Como já foi referido anteriormente existem três reuniões que são realizadas para diferentes plateias e

que aqui estão resumidas no seguinte Quadro 8.

QUADRO 8 - REUNIÕES DE REVISÃO DE DESEMPENHO

Reunião com equipas de

trabalho

Reunião com

subempreiteiros

(Figura 17)

Reunião com empreiteiro e

dono de obra (Figura 18)

Objetivo

Revisão dos KPI´s do dia

anterior e apresentação dos

novos objetivos

Revisão dos KPI´s das

últimas e seguintes 24h,

planeamento a 6 semanas

Fazer um ponto de situação com

auxílio dos KPI´s e desenvolver

soluções para possíveis

problemas

Frequência No início de cada turno Diária Diária

Conteúdo KPI´s individuais de cada

equipa

KPI´s do empreendimento,

Caminho critico

KPI´s do empreendimento,

Análise de risco

Local Empreendimento Empreendimento Sala de Controlo

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FIGURA 18 - REUNIÃO COM SUBEMPREITEIROS (CLAY, 2014)

FIGURA 19 - REUNIÃO COM EMPREITEIRO E DONO DE OBRA (CLAY, 2014)

A sala de controlo ou Big Room (Anexo 3), como se pode constatar na Figura 18, é um espaço utilizado

para as reuniões de coordenação de trabalhos onde a informação vai sendo atualizada a partir dos

dados do terreno.

De seguida serão enunciadas algumas etapas que devem seguir-se para garantir a correta

implementação desta ferramenta:

1. Encontrar um espaço, de preferência uma área comum no empreendimento para as reuniões

com as equipas de trabalho. Este espaço, pode ser um contentor ou um sítio ao ar livre que

permita que todos os intervenientes se reúnam em torno dos painéis informativos. Para as

reuniões com os subempreiteiros e dono de obra este espaço deve ser a sala de controlo onde

seja também possível ter esta configuração;

2. Definir quais os KPI´s mais importantes para a respetiva reunião. A pessoa encarregue desta

tarefa deve reunir e preparar a informação antes da realização da reunião;

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3. Os primeiros KPI´s a serem analisados em cada reunião são os referentes á segurança. A

segurança vem em primeiro lugar;

4. Os KPI´s devem respeitar a regra dos 3 segundos, isto é, deve ser possível para a pessoa que

esteja a olhar para a informação visualizar rapidamente se um indicador está ou não em

conformidade;

5. Só devem ser analisados ou alvo de discussão os KPI´s que não se encontrem em

conformidade. Isto torna as reuniões mais curtas e produtivas. As questões levantadas e as

atualizações dos KPI´s devem ser feitas á mão;

6. As reuniões devem ser realizadas com os intervenientes de pé e a sua duração ideal deve ser

de 10 minutos, sendo que, em alguns casos pontuais, este valor pode chegar aos 15 minutos.

Neste espaço de tempo deve ser feito o levantamento dos problemas mas não a sua resolução;

7. Deve ser estabelecida uma rotina a nível de horários. As reuniões com as equipas de trabalho

devem ser realizadas no início do dia de trabalho e as reuniões com os subempreiteiros a meio

da manhã.

Como medir o nível de aplicação da técnica

Um bom indicador de sucesso da aplicação desta técnica ocorre quando as reuniões são a principal

forma de comunicação dentro do empreendimento. Os sistemas complexos de deteção de problemas

são substituídos pelos KPI´s, sendo a informação atualizada em tempo real. Passa a haver uma

estrutura robusta capaz de resolver os problemas que vão surgindo ao longo do tempo, dando origem

a ganhos de eficiência transversais a todo o empreendimento.

Principais obstáculos/dúvidas que surgem na fase operacional

Porque não se pode fazer a resolução de problemas durante as reuniões?

A resolução de problemas segundo a filosofia Lean requer que os intervenientes realizem visitas ao

terreno para perceber a dimensão do problema. A resolução estruturada de problemas é a técnica mais

adequada para este tipo de situações, mas que para o presente caso sai fora do âmbito desta

ferramenta.

Os KPI´s podem ser alterados ao longo do tempo?

Sim. Existem KPI´s que se tornam obsoletos com o desenrolar da execução do empreendimento ou

que acabam por não refletir com exatidão a realidade. A utilização deste tipo de ferramenta

pressupõem uma adaptação constantes á dinâmica do próprio empreendimento.

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4.2.5 Target Value Design

Descrição:

O Target Value Design (TVD) ou traduzido para a língua portuguesa como projetar para o custo

desejado, é uma técnica onde, como o próprio nome o indica, o preço é um parâmetro central do projeto.

É projetado em função do custo final do projeto e não o contrario. O TVD requer que o custo total do

empreendimento seja estimado à partida, por uma equipa especializada e o dono de obra. Existem

diversas maneiras de estimar este valor, por exemplo recorrendo a dados históricos de outros

empreendimentos e fazendo um ajustamento às condições de mercado atuais.

Independentemente do método aplicado, o mais importante será sempre não exceder o valor

designado. Contudo ao longo do desenvolvimento do empreendimento este valor pode exceder o

montante previsto, sendo que nestes casos a equipa deve estar empenhada em encontrar soluções

inovadoras para voltar a baixar este para o valor inicialmente previsto. Este processo contínuo de

acompanhamento orçamental e respetiva adaptação do projeto em função do valor permite que sejam

evitados trabalhos a mais e derrapagens orçamentais.

Pré-requisitos para a sua aplicação:

Para poder aplicar esta técnica com sucesso devem cumprir-se certos pré-requisitos que são

necessários ter em conta numa fase inicial da implementação. Para isso as equipas envolvidas devem

possuir uma certa experiência na aplicação do TVD, nomeadamente a nível da compreensão do próprio

desenvolvimento do processo. Sendo o custo o parâmetro mais importante nesta abordagem, nunca

se deve colocar a segurança ou a qualidade em causa.

A nível de recursos este tipo de técnica requer apenas uma folha de cálculo tipo Excel acessível e de

clara compreensão para toda a equipa envolvida. Esta deve ser atualizada diariamente ou

semanalmente, de modo a poder refletir o que esta a ser desenvolvido no momento. Para além de ter

de ser aceite por todos, o grau de confiança apresentado a nível da previsão de custos deve ser

bastante elevado sendo este um aspeto chave desta abordagem.

Como aplicar a técnica a nível operacional:

Os seguintes procedimentos que aqui serão enunciados estabelecem a base para implementar esta

técnica com sucesso, sendo que aqui há que referir que não basta escolher um procedimento e excuta-

lo, mas sim aplicar o conjunto procedimentos apresentados de seguida (Macomber & Barberio, 2007):

1. O dono de obra, o gestor de projeto e a sua equipa (orçamentistas e projetistas) concordam à

partida que o TVD irá fazer parte do processo construtivo. Deve haver sintonia plena entre

todas as partes relativamente ao orçamento, prazos e objetivos a atingir;

2. Definição do âmbito do projeto e recolha de toda a informação relativamente a custos ou outro

tipo de valores importantes para a execução do empreendimento (exemplo: prospeções

geotécnicas);

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3. Elaboração por parte da equipa de um plano de ação onde são descritos que peças do projeto

e quando devem ser realizadas, bem como o seu custo de produção;

4. Criar mecanismos que permitam comparar o projeto com o orçamento fixado e com o nível de

execução do mesmo. Este ponto é fulcral uma vez que esta técnica assenta no

acompanhamento e monitorização das peças realizadas versus o seu custo de produção;

5. Definição por parte do gestor de projeto das peças desenhadas necessárias e de quem as irá

executar;

6. Desenhar as peças pormenorizadas apenas á medida que vão ser necessárias na frente de

obra, evitando desta maneira trabalhos a mais ou não conformidades de projeto. Deve dar-se

grande enfoque ao pormenor, dando preferência a peças únicas;

7. Incentivar a aprendizagem e inovação ao longo do projeto sendo que alguns problemas

poderão ser mitigados com soluções inovadoras;

8. Trabalhar em equipas multidisciplinares e de pequena dimensão (máximo 8 pessoas) e num

espaço (Sala de controlo ou Big Room) em que a informação esteja visível a todos

intervenientes. O envolvimento dos subempreiteiros torna-se também fulcral uma vez que

permite obter um ponto de vista diferente perante possíveis novos obstáculos;

9. Realizar sessões de retrospetivas ao longo do desenvolvimento do empreendimento. Esta

devem ser realizadas no final de cada fase do empreendimento e tem como finalidade a

melhoria continua e comparar o orçamento fixado com o nível de execução e cumprimento do

mesmo.

Como medir o nível de aplicação da técnica

O nível de aplicação desta medida assenta na monitorização detalhada e controlo de custos das peças

produzidas e respetiva comparação com o que foi previsto. São realizadas sessões de revisão diárias

ou semanais dependendo do tipo de projeto. Há a salientar aqui a frequência destas reuniões, que

devem ser frequentes de modo a evitar derrapagens. Nestas reuniões são apresentados e analisadas

as peças pormenorizadas e o respetivo custo de produção versus o custo estimado.

A informação deve representar uma fotografia real da situação atualizada do empreendimento, sendo

isto crítico para o desenrolar e cumprimento dos objetivos. A atualização constante desta informação

permite encontrar um equilíbrio entre custos e condicionantes que podem vir a surgir durante o projeto.

À medida que o empreendimento vai avançando as condições também vão mudando, tornando-se por

isso vital que haja flexibilidade de todas as partes na análise de novas propostas de alteração de projeto

sem, no entanto, perder de vista os objetivos iniciais de valor e qualidade. A informação pode também

ser apresentada em gráficos para facilitar a sua leitura.

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Principais obstáculos/dúvidas que surgem na fase operacional

Como se calcula o valor final do empreendimento?

O valor final do empreendimento é valor de referência que não deve ser ultrapassado e é estabelecido

no início do projeto pela equipa de orçamentistas, projetistas e o dono de obra. A base para apresentar

este valor pode ser exposto sobre diversas formas (por exemplo €/m^2), sendo que este valor deve ser

o mais preciso possível.

Com que frequência devem ser realizadas as sessões de revisão?

Aqui não existe uma resposta clara, uma vez que, dependendo do projeto e da sua complexidade, esta

pode variar. No entanto, sessões semanais são a nível operacionais mais apropriadas, uma vez que

permite um acompanhamento adequado da progressão do desenvolvimento dos trabalhos. Também

se pode optar por realizar estas sessões no final de cada milestone do empreendimento.

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4.2.6. Building Information Modelling (BIM)

Descrição:

O Building Information Modeling (BIM) é uma ferramenta para a criação de um modelo digital da

construção e respetiva utilização ao longo de todo o ciclo de vida do empreendimento (Karschbach,

2014). O BIM é uma expansão das capacidades 3D CAD (Computer Aided Design) existentes nas

organizações. Segundo Costa & Grilo (2015), o BIM surge como uma nova tecnologia que promove a

cooperação entre os diversos especialistas durante a fase de execução e do ciclo de vida do

empreendimento, permitindo, desta forma, usar os recursos de forma mais eficiente. Os erros de

comunicação irão diminuir e a gestão dos custos de operação torna-se mais eficiente. O objetivo passa

pela criação e utilização de um modelo virtual que permite a visualização, coordenação e colaboração

entre projetistas, empreiteiros e utilizadores finais ao longo do ciclo de vida do empreendimento. Todo

o ciclo de vida encontra-se integrado neste modelo, desde do desenvolvimento do projeto, passando

pela execução do empreendimento até a manutenção do mesmo (Figura 19).

FIGURA 20 - BIM AO LONGO DO CICLO DE VIDA DO EMPREENDIMENTO. ADAPTADO DE DAVE (2015)

Este modelo passa pela combinação de todos os dados relevantes e respetiva conexão na criação de

soluções inovadoras e consistentes ao longo do tempo. A informação é sistematizada e armazenada

em bases de dados partilháveis por inúmeros Softwares conforme a sua especialidade. Desta maneira

é garantida uma colaboração e compatibilização entre as diversas especialidades, num processo

contínuo garantida pela manipulação de um único modelo virtual.

Atualmente a tecnologia possibilita associar o modelo a um cronograma o que por sua vez permite ver

em tempo real a quantidade de trabalhos realizados. A nível de gestão de matérias esta ferramenta

permite ter um melhor controlo do inventário utilizado. Também é possível ter uma melhor perceção e

fiscalização sobre o orçamento durante a fase de execução do empreendimento. A aplicação desta

ferramenta pode reduzir significativamente os conflitos entre os principais intervenientes, uma vez que

grande parte dos erros de projeto podem ser detetados numa fase prévia á execução.

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Pré-requisitos para a sua aplicação:

Para além de a aplicação do BIM apresentar um grau de dificuldade elevado também é necessário

realizar um investimento significativo a nível das tecnologias de informação (Hardware e Software).

Mas o principal obstáculo é a formação e necessária experiência das pessoas envolvidas. Como

qualquer tecnologia nova, existe sempre um grande período de adaptação para conseguir implementar

este tipo de ferramenta.

Como aplicar a técnica a nível operacional:

A aplicação desta ferramenta pressupõem, segundo Kymmell (2008) a existência de três 3 entidades:

o BIM Manager, os BIM Operators e o BIM Facilitator . O BIM Manager é um gestor do modelo, alguém

que entende todas as possibilidades que o mesmo pode oferecer á organização. Esta pessoa

compreende o sistema como um todo e é capaz de guiar as pessoas à sua volta para atingir os

objetivos, sendo uma peça chave em todo este processo.

Os BIM Operators são as pessoas que constroem o modelo. Entre eles figuram engenheiros,

desenhadores e especialistas em informática. A construção do modelo é uma etapa muito importante

sendo por isso necessário ter especial atenção aos pormenores que definem o modelo.

O BIM Facilitator é uma figura que faz a ligação entre o modelo teórico e o terreno. Esta pessoa trabalha

em colaboração com os subempreiteiros na otimização do uso desta ferramenta, identificando para

isso novas oportunidades de melhoria. As questões levantadas nas reuniões de trabalho são analisadas

pelo BIM Facilitator e posteriormente transmitidas aos BIM Operators e BIM Manager.

Possuindo estas entidades passa-se então para a implementação. Os passos que aqui serão

enunciados estão muito resumidos, sendo necessários para uma implementação plena, instruções

mais detalhadas mas que devido a sua complexidade e extensão, estas saem fora do âmbito deste

trabalho.

1. Treinar uma equipa e escolher as principais ferramentas a serem utilizadas. Todos os

elementos devem perceber o modelo de funcionamento e de que forma que as suas ações

podem interferir em todo este processo. (Dave et al, 2013)

2. Acordar entre todos os envolvidos as bases do modelo. Isto inclui para além da escolha do

Software e Hardware a serem utilizados também a definição das linhas gerais do modelo. Estas

linhas gerais estão relacionadas com a coordenação entre os diversos intervenientes ou com

por exemplo o grau de pormenor que o modelo deve ter.

3. Começar a construir o modelo com base em desenhos. Usar o modelo para acompanhar o

progresso ao nível da colaboração entre todas as partes envolvidas e identificar possíveis

fontes de problemas que possam surgir nesta fase.

4. Dar especial atenção aos pormenores na fase inicial do projeto. Fazer uma avaliação funcional

do projeto e dos requerimentos de desempenho do mesmo. Isto irá refletir-se na qualidade final

do produto e na redução de possíveis alterações durante a fase de execução do

empreendimento. (Eastman et al, 2008)

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52

5. Estabelecer uma rotina diária de verificação do trabalho realizado até ao momento. O modelo

deve ser o centro das atenções da equipa.

6. Incorporar no modelo possíveis alterações vindas das diversas especialidades tais como

modificações do sistema elétrico ou de proteção contra incêndios. O grau de pormenor

implementado neste tipo de alterações é muito importante.

7. Desenvolver um plano de ação que permita fazer a ponte entre o modelo e o terreno. Este

plano deve ter o seu foco na gestão de materiais e planeamento das atividades a serem

realizadas.

8. Todos os aspetos do projeto encontram-se traduzidos no modelo final e são facilmente

entendidos pelo cliente final (Figura 20) (Manning & Messner, 2008).

FIGURA 21 - COMPARAÇÃO ENTRE O MODELO FINAL E A REALIDADE (T.B.C, 2016)

Como medir o nível de aplicação da técnica

Para este tipo de ferramenta é difícil medir o seu grau de aplicação devido á complexidade da mesma.

Contudo existem alguns indicadores positivos que poderão refletir o sucesso na implementação desta

técnica. Uma delas será a abordagem integrada ao empreendimento, em que o modelo teórico

produzido pelos diversos especialistas encontra-se disponível na frente de obra. As peças desenhadas

são produzidas e transmitidas em tempo real á medida que são necessárias na frente de obra. O

acompanhamento da execução das atividades é feito continuadamente e a colaboração ativa entre

todos os intervenientes elimina a maior parte dos conflitos que possam surgir durante esta fase do

empreendimento. O modelo BIM é usado para testar diversas opções a nível técnico e perceber o seu

impacto a nível económico no empreendimento. O modelo BIM é o centro nevrálgico de todo o

empreendimento.

Principais obstáculos/dúvidas que surgem na fase operacional

Quais os desafios da implementação do BIM?

Ao ampliar-se o caráter colaborativo dos processos de trabalho, os diversos agentes da indústria têm,

inevitavelmente, que estreitar relações, partilhar informação de forma mais proactiva e estar preparados

para adaptar os seus processos internos aos processos das outras entidades com quem interagem.

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53

Declaradamente exige-se um conhecimento mais profundo de todo o fluxo de informação, interno e

externo, assim como o conhecimento claro das fragilidades existentes em termos de comunicação. As

organizações devem ser capazes de mapear processos, identificar trocas de informação, adaptar as

suas estruturas organizativas e implementar metodologias e planos de execução BIM integrados.

Como é utilizado o modelo BIM no terreno?

A situação ideal seria cada subempreiteiro através dos encarregados de obra conseguirem apontar os

principais problemas que afligem a execução utilizando para isso o modelo BIM. A gestão dos materiais

necessários na frente de obra são comunicados instantaneamente e o progresso global do

empreendimento é acompanhado a par e passo pela equipa de gestão, permitindo desta maneira uma

atuação preventiva.

4.3 Recomendações para a implementação das técnicas Lean

Um dos principais desafios que atualmente se coloca reside na implementação da filosofia Lean, isto é

conseguir passar da teoria á pratica. Aquilo a que se tem assistido na maior parte dos casos consiste

numa implementação parcial da mesma, particularmente a nível organizacional em empreendimentos

de curta duração e com certo grau de complexidade (Howell & Ballard 1998). Estes são particularmente

suscetíveis a este tipo de soluções uma vez que a abordagem tradicional não é viável neste tipo de

casos.

A implementação parcial é muitas vezes fruto da falta de conhecimento dos conceitos teóricos

subjacentes, resultado isto na aplicação esporádica e sem continuação no tempo de algumas técnicas.

A aplicação das mesmas vem resolver problemas pontuais que surgem durante a execução do

empreendimento mas não vem fazer face ao problema de fundo, o desperdício inerente ao processo

de produção.

Para haver uma alteração do paradigma tem de haver uma mudança na implementação do Lean.

Segundo Senge (1998) existem quatro vetores para existir mudança:

Alteração dos comportamentos dos intervenientes;

Variação das condições inicias;

Transformação de sistemas;

Mudança de mentalidades.

Atualmente as organizações já dão grande importância á alteração dos comportamentos uma vez que

este tipo mudança responde a um sistema binário caracterizado por identificar problemas e encontrar

soluções dentro da própria organização. No entanto são as mudanças de mentalidade que mais

impacto positivo tem dentro das organizações. Estas mudanças graduais que se estendem ao longo

do tempo abrem um vasto leque de oportunidades de melhoria para as organizações. Quanto maior for

o grau da implementação do Lean maior serão estas mudanças.

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54

No livro Lean Thinking (Womack & Jones 1998) explicam como fazer esta implementação seguindo

alguns passos que serão aqui apresentados.

Agente da mudança. A decisão de avançar para a implementação desta filosofia tem de estar alinhada

com os objetivos da organização e o seu posicionamento no mercado. Ao mesmo tempo tem de haver

envolvimento por parte da direção isto é uma liderança forte que consiga mobilizar os colaboradores.

O primeiro passo é encontrar alguém proactivo que permita inspirar as pessoas para a mudança. Esta

pessoa tem de conseguir pôr em prática os princípios Lean ao mesmo tempo que irá ter de enfrentar o

status quo e correntes contrárias existentes na organização. Uma das grandes causas de insucesso da

mudança é o desalinhamento entre as intenções da gestão de topo e as atividades do dia-a-dia, que

se encontram em mundos diferentes.

Obter competências Lean. É fundamental adquirir conhecimento desde o início e expandir esse

mesmo saber de forma continuada ao longo do tempo. Deve haver a constituição de uma equipa

especializada (interna ou mista) e respetiva formação contínua das mesmas sobre os conceitos Lean.

Para o sucesso de todos é fundamental que as pessoas estejam em sintonia com a matriz de princípios

em que estão inseridas.

Encontrar a oportunidade certa para iniciar a implementação. A execução de um empreendimento

é normalmente acompanhado por sucessivas crises, sendo que nestes momentos as pessoas se

encontram mais predispostas a mudar. Neste ponto a literatura difere, por um lado existe a perceção

que o Lean pode ser iniciado com sucesso independentemente dos empreendimentos ou das

organizações se encontrarem situações mais ou menos complexas. Este tipo de abordagem pode

funcionar, mas torna-se difícil extrapolar os resultados positivos para outras áreas de atuação. Muitas

vezes estes resultados são vistos como a correções feitas a erros pessoais e não como correções a

erros do sistema em si, redundando isto em nenhuma aprendizagem para a organização.

Outro tipo de abordagem será começar por empreendimentos com menor risco de algo correr mal e

com equipas de trabalho experientes. Durante a execução dos mesmos torna-se fácil identificar

desperdícios e fraquezas do sistema ao mesmo tempo que é possível demonstrar todo o leque de

possibilidade que o Lean pode vir trazer ao desenvolvimento do empreendimento. Esta é uma opção

válida quando se quer começar de uma forma prudente a aplicação do Lean na Construção

Começar em pequena escala. As organizações do sector da construção encontram-se direcionadas

para a execução de empreendimentos dai se entender começar projetos-piloto de pequena dimensão.

Estes funcionam como projetos inicias de experimentação e tem como objetivo primordial demonstrar

com sucesso a viabilidade da transformação. O capital de confiança ganho permite expandir estas boas

praticas para a restante empresa onde os ganhos sejam maiores. Há que salientar aqui que não se

deve cair na falacia de querer fazer tudo de bem á primeira e de uma vez só. Deve-se privilegiar uma

atitude de pequenos saltos qualitativos e bem sustentados que permitem depois fazer uma

extrapolação para toda a organização.

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55

Value Stream Maping. A fase de planeamento é um ponto fulcral para a para o restante

desenvolvimento do empreendimento. O Value Stream Maping ou mapeamento do fluxo de valor em

português permite analisar o fluxo de materiais e informação necessários para executar um

determinado produto. Apesar de ser um processo moroso e por vezes difícil de realizar, este apresenta

como principal vantagem ter uma visão global de todas as interações entre os diversos processos

dentro do empreendimento e deste modo realizar um diagnóstico preventivo. Para além disso permite

identificar fragilidades que á partida seria difíceis de detetar.

Começar com uma atividade importante e de grande visibilidade e exigir resultados imediatos.

Aqui deve haver alguma cautela e prudência uma vez que fazer exigências erradas podem criar

expectativas demasiado irrealistas e inexequíveis. Devem ser feitas exigências realistas e com prazos

de execução bem definidos. Nesta fase de implementação o foco não deve ser a redução de custos

mas antes de mais a redução ou até da eliminação de atrasos entre atividades.

Consolidar e expandir para outras atividades. Este é o último e provavelmente o principal passo da

implementação da filosofia Lean. Consolidar as mudanças realizadas e mante-las ao longo do tempo é

provavelmente a parte mais difícil de todo este processo. Estas deve atingir o maior número de áreas

dentro de uma organização, sendo a taxa de mudança um dos principais indicadores da implementação

do Lean.

4.3.1 Pontos críticos

A implementação do Lean irá ter um impacto significativo no funcionamento das organizações. Este um

processo em constante evolução. Cada medida tomada irá abrir um novo leque de oportunidades de

melhoria, no entanto poderão surgir algumas barreiras ao longo deste caminho (Abdullah et al.2009):

i. Falta de envolvimento por parte dos Lideres;

ii. Dificuldades em entender os conceitos teóricos do Lean;

iii. Falta de experiencia e de informação na aplicação dos conceitos teóricos;

iv. Falta de formação adequada;

v. Fraca comunicação entre os diversos elementos;

vi. Tendência para continuar com velhos hábitos;

vii. Falta de espirito de equipa;

viii. Períodos de implementação por vezes longos.

Há também a referir a importância de a organização ter competências que permitam selecionar as

técnicas que se melhor adequam à cultura da organização.

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56

4.4 Síntese de capítulo

Existem inúmeras técnicas Lean que tiveram a sua origem no Lean Production ou que foram

especificamente criadas para o setor da construção. No entanto, no quadro atual da construção em

Portugal existem técnicas mais prioritárias do que outras. O levantamento das ineficiências que

preocupam a maior parte das organizações permitiu identificar 5 técnicas consideradas como

prioritárias.

O Value Stream Mapping ou em português mapeamento de fluxo de valor é uma ferramenta primordial

na filosofia Lean e na respetiva implementação. O principal objetivo desta técnica é a identificação do

desperdício e respetiva eliminação do mesmo ao longo da cadeia produtiva através do redesenho dos

respetivos processos. A aplicação da mesma requer no entanto o preenchimento de alguns pré-

requisitos nomeadamente ao nível do envolvimento das equipas de trabalho, dos encarregados, dos

engenheiros e dos diretores de produção. O comprometimento das lideranças é vital na implementação

desta técnica. Outro aspeto a ter em conta será a formação das pessoas na identificação dos 7 tipos

de desperdícios. Existem alguns obstáculos na implementação desta técnica ao nível do seu rigor. Sem

um mapa do estado atual exato, as melhorias introduzidas poderão ter um impacto reduzido ou nulo.

Se a base estiver errada, não é possível ter um termo de comparação e assim qualquer alteração feita

poderá redundar até em custos e tempos de execução maiores do que os atuais. Ao nível dos

resultados esperados, este passarão por poupanças monetárias e redução dos tempos de produção.

A organização e limpeza do espaço de trabalho irão refletir as melhorias introduzidas no sistema.

As Instruções de Trabalho são documentos onde se faz a descrição ou ilustração de como executar

uma determinada tarefa. O processo é clarificado e assegura a consistência nas operações, passando

a haver uma padronização de procedimentos. A padronização dos procedimentos é aliás um dos

fundamentos do Lean, sem ela não é possível a melhoria continua. Estas instruções simples e de fácil

leitura, asseguram que todos os passos importantes na realização de uma determinada atividade são

transmitidos de forma correta. Sem este tipo de instrução seria necessários meses ou por vezes anos

de experiencias para adquirir o conhecimento necessários para executar na plenitude uma tarefa.

Apesar disto não deve haver instruções de trabalho para todas as tarefas, apenas para as que tem um

carater repetitivo. Outro aspeto importante são os sistemas de auditoria necessários para manter e

melhorar as instruções de trabalho.

As Reuniões de Revisão de Desempenho são uma peça importante na aplicação da filosofia Lean

na construção uma vez que garante que todos os intervenientes estão ao corrente da situação e saibam

que papel devem desempenhar para melhorar os resultados. Estas reuniões são realizadas em três

níveis com plateias diferentes: uma ao nível das equipas de trabalho que se encontram diretamente

afetas ao processo de construção, outra reunião com os subempreiteiros e outra reunião com o

empreiteiro principal e o dono de obra. Um dos pilares desta técnica são os modelos utilizados para

representar os KPI´s. Estes devem ser simples, com objetivos mesuráveis e períodos de recolha de

informação bem definidos. Um bom indicador de sucesso da aplicação desta técnica ocorre quando as

reuniões são a principal forma de comunicação dentro do empreendimento.

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57

O Target Value Design (TVD) é uma técnica em que se projeta em função do custo final do projeto e

não o contrario, sendo sempre o mais importante não exceder este valor. Este processo contínuo de

acompanhamento orçamental e respetiva adaptação do projeto em função do valor final do

empreendimento, evita trabalhos a mais e derrapagens orçamentais. Uma das condições para a

implementação desta técnica prende-se com o facto de as equipas envolvidas já deverem possuir uma

certa experiência na aplicação do TVD. O nível de aplicação desta medida assenta na monotorização

detalhada e controlo de custos das peças produzidas e respetiva comparação com o que foi previsto.

São realizadas sessões de revisão diárias ou semanais dependendo do tipo de projeto. As dificuldades

na aplicação desta técnica prendem-se com o cálculo do valor final do empreendimento e com a

flexibilidade dos intervenientes em realizar alterações ao projeto.

O Building Information Modeling (BIM) é a ferramenta que apresenta mais potencialidades no quadro

atual da construção. O BIM como uma nova tecnologia promove a cooperação entre os diversos

especialistas durante a fase de execução e do ciclo de vida do empreendimento, permitindo desta

maneira usar os recursos de forma mais eficiente, diminuindo os erros de comunicação e gerir de forma

mais eficiente os custos de operação. Para além de a sua aplicação apresentar um grau de dificuldade

elevado, também é necessário realizar um significativo investimento a nível das tecnologias de

informação (Hardware e Software). A aplicação desta ferramenta pressupõem também a existência de

três 3 figuras: O BIM Manager, os BIM Operators e o BIM Facilitator. O sucesso do BIM ocorre quando

o acompanhamento da execução das atividades é feito continuadamente e a colaboração ativa entre

todos os intervenientes elimina a maior parte dos conflitos que possam surgir durante esta fase do

empreendimento. O modelo BIM é usado para testar diversas opções a nível técnico e perceber o seu

impacto a nível económico no empreendimento. O modelo BIM é o centro nevrálgico de todo o

empreendimento.

Para conseguir implementar com sucesso estas técnicas tem de haver uma mudança de mentalidades

dentro das organizações. A implementação passa essencialmente por encontrar dentro das

organizações um agente da mudança que desafia o status quo ao mesmo tempo que incentiva a

obtenção de competências Lean por parte de todos os colaboradores. Poderão surgir algumas barreiras

ao longo deste caminho, como por exemplo falta de experiencia na aplicação dos conceitos teóricos ou

períodos de implementação por vezes longos. No entanto as mudanças implementadas irão abrir um

vasto leque de oportunidades de melhoria para as organizações.

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58

5. Conclusões

5.1 Avaliação dos resultados

Os objetivos inicialmente traçados por este trabalho foram integralmente cumpridos ao longo do

processo de desenvolvimento desta dissertação.

O primeiro objetivo deste trabalho era realizar um enquadramento teórico sobre a origem e definição

do Lean Thinking e do Lean na construção. Esta meta foi alcançada no capítulo 2 do estado da arte.

Aqui foi feita uma breve introdução das origens e princípios do Lean, com especial relevância dada ao

Toyota Production System e aos 7 tipos de desperdícios identificados por Taiichi Ohno: Sobreprodução,

Transporte, Processamento inapropriado, Defeitos, Excesso de inventário, Espera e Movimento. Foram

também abordados os princípios do Lean na construção e aprofundado o modelo Lean ao longo do

ciclo de vida de um empreendimento. No final deste capítulo houve também o levantamento dos

trabalhos realizados sobre esta matéria nos últimos anos em Portugal.

É, no entanto, na fase de implementação que surgem os principais obstáculos. As razões apontadas

foram o grau de complexidade e especificada da indústria da construção, a imprevisibilidade dos

processos construtivos, a mão-de-obra pouco qualificada e a grande inércia relativamente a possíveis

alterações nesta setor.

O segundo objetivo proposto foi o de fazer uma avaliação do conhecimento dos profissionais envolvidos

no processo de execução de empreendimentos e a respetiva disponibilidade dos intervenientes em

aderir ao Lean. Pretendeu-se também perceber quais as potenciais aplicações Lean já postas em

prática dentro das organizações portuguesas.

Para o efeito, foi feito, em primeiro lugar, um levantamento exploratório junto dos representantes das

principais empresas do sector da construção em Portugal e que fazem parte do grupo de trabalho Lean

na construção da PTPC. Este levantamento, em forma de questionário, serviu, numa fase posterior,

como elemento de seleção das organizações a serem entrevistadas, bem como permitiu selecionar as

questões mais pertinentes a serem colocadas durante as entrevistas. O principal objetivo das

entrevistas consistiu em recolher alguns exemplos de sucesso de boas práticas que atualmente são

praticadas pelas empresas mas que não são reconhecidas como Lean pelas mesmas.

Pela análise feita aos questionários e entrevistas verificou-se que no quadro atual da construção

existem poucas organizações que tiveram ou ainda tem iniciativas Lean. Muitas das organizações que

tinham estas iniciativas acabaram por abandoná-las ou por integrar as mesmas nos seus sistemas de

gestão de qualidade. As razões apontadas foram a resistência à mudança, a não identificação da

utilidade destes projetos e lideranças não comprometidas. Aqui foi importante perceber que existe um

desconhecimento geral sobre o Lean por parte das chefias e que as mesmas poderiam vir a ser

seduzidas pelo Lean.

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59

Ao nível dos processos a serem melhorados dentro das organizações, foram identificados como

prioridades a reorganização das equipas de trabalho e dos estaleiros de obra. Esta reorganização deve

possibilitar às organizações poderem-se adaptar à execução de obras de menor dimensão. Outro

aspeto identificado foi o deficiente planeamento na fase inicial do empreendimento. Esta debilidade tem

um efeito adverso ao longo do período de execução dos empreendimentos. Ainda nos procedimentos,

foi possível perceber que a padronização dos processos construtivos tem pouca expressão em

Portugal. O que existe são unidades de conhecimento, base de dados de iniciativas executadas

anteriormente. No entanto estas na maior parte dos casos encontram-se obsoletas ou fora de uso.

Nas medidas de melhoria continua, não foram identificados procedimentos específicos para

implementar ações dentro das organizações. Por outro lado houve a constatação da importância do

Benchmarking, realizado principalmente internamente. A partilha de informação com organizações

exteriores á mesma, é realizado no âmbito de empreendimentos executados em consórcio.

As técnicas Lean identificadas e com maior prevalência nas organizações portuguesas, foram a prática

dos 5´s (organização do espaço de trabalho), a Gestão Visual e a Resolução Estruturada de Problemas

(Relatório A3, Analise Fishbone, Analise dos 5-Porquês e PDCA). Estas técnicas na maior parte das

organizações em Portugal, não tem esta denominação, sendo que não são normalmente consideradas

como Lean pelas mesmas.

Outro objetivo deste texto passou por averiguar os principais desperdícios e ineficiências que a

execução de um empreendimento em Portugal acarreta para posteriormente poder apresentar soluções

para as mesmas. Para fazer este levantamento foi realizado um Workshop, que contou com a presença

dos principais intervenientes na fase de execução de um empreendimento.

As ineficiências que foram encontradas ao nível da gestão do empreendimento tiveram como base a

falta de coordenação e comunicação entre todos os intervenientes. Durante a fase de projeto as

ineficiências identificadas passaram por falta de pormenorização, baixa qualidade das especificações

técnicas e erros de projeto. A falta de acompanhamento permanente e direto à obra e a ausência de

uma atuação preventiva e proactiva por parte da fiscalização foram também enunciadas. Já na fase de

construção do empreendimento em si, as ineficiências encontradas prendem-se com a baixa produção

do sector, falta de mão-de-obra qualificada e com o pouco tempo dedicado para definição de métodos

construtivos e espaços de trabalho.

O último objetivo a que esta tese se propôs, foi o de apresentar em detalhe um conjunto de técnicas

Lean que foram consideradas prioritárias no quadro atual da construção. Estas irão contribuir para a

resolução de problemas como incumprimentos de prazos, redução de desperdícios e melhoria da

produtividade na execução de empreendimentos. O levantamento das ineficiências que afligem a maior

parte das organizações permitiu identificar em função das mesmas 5 técnicas consideradas como

prioritárias. Para cada técnica foi feita uma descrição contendo os seguintes pontos:

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60

Descrição;

Pré-requisitos para a sua aplicação;

Como aplicar a técnica a nível operacional;

Como medir o nível de aplicação da técnica;

Principais obstáculos/dúvidas que surgem na fase operacional.

O Value Stream Mapping ou em português mapeamento de fluxo de valor é uma ferramenta primordial

na filosofia Lean e na respetiva implementação. O principal objetivo desta técnica é a identificação do

desperdício e respetiva eliminação do mesmo ao longo da cadeia produtiva através do redesenho dos

respetivos processos.

As Instruções de Trabalho são documentos onde se faz a descrição ou ilustração de como executar

uma determinada tarefa. O processo é clarificado e assegura a consistência nas operações, passando

a haver uma padronização de procedimentos.

As Reuniões de Revisão de Desempenho, são uma peça importante na aplicação da filosofia Lean

na construção uma vez que garante que todos os intervenientes estão ao corrente da situação e saibam

que papel devem desempenhar para melhorar os resultados.

O Target Value Design (TVD) é uma técnica em que se projeta em função do custo final do projeto e

não o contrario, sendo sempre o mais importante não exceder este valor. Este processo contínuo de

acompanhamento orçamental e respetiva adaptação do projeto em função do valor final do

empreendimento, evita trabalhos a mais e derrapagens orçamentais

O Building Information Modeling (BIM) como uma nova tecnologia promove a cooperação entre os

diversos especialistas durante a fase de execução e do ciclo de vida do empreendimento, permitindo

desta maneira usar os recursos de forma mais eficiente, diminuindo os erros de comunicação e gerir

de forma mais eficiente os custos de operação.

Para conseguir implementar com sucesso estas técnicas tem de haver uma mudança de mentalidades

dentro das organizações. A implementação passa essencialmente por encontrar dentro das

organizações um agente da mudança que desafia o status quo ao mesmo tempo que incentiva a

obtenção de competências Lean por parte de todos os colaboradores. Poderão surgir algumas barreiras

ao longo deste caminho, como por exemplo falta de experiencia na aplicação dos conceitos teóricos ou

períodos de implementação por vezes longos. No entanto as mudanças implementadas irão abrir um

vasto leque de oportunidades de melhoria para as organizações

5.2 Contribuição para o conhecimento científico e para a indústria

O presente trabalho contribui para o aprofundamento do conhecimento do Lean na construção em

Portugal. Esta dissertação permitiu fazer uma caracterização do potencial Lean na construção

portuguesa, ao nível do conhecimento existente dentro das organizações e a respetiva disponibilidade

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dos intervenientes em aderir ao Lean. Houve também uma atualização das principais

ineficiências/desperdícios no processo de execução de empreendimentos.

Outro contributo importante prendeu-se com o aprofundamento das técnicas consideradas como

prioritárias. Neste ponto, foi descrito detalhadamente como aplicar a técnica a nível operacional, como

medir o nível de aplicação da mesma, os pré-requisitos para a sua implementação e as principais

dúvidas que surgem na fase operacional. A utilização destas fichas facilitará a aplicação do Lean dentro

das organizações.

Considera-se também que o trabalho desenvolvido nesta dissertação contribui de forma positiva para

a indústria da construção em Portugal, nomeadamente ao nível da divulgação da filosofia Lean e das

suas técnicas. Para além do presente texto, foram realizados no âmbito do grupo de trabalho Lean na

construção da PTPC, do qual o autor deste trabalho fez parte, dois seminários, um no LNEC em e outro

na AICCOPN no Porto. Estes seminários, que contaram com uma centena de participantes, permitiram

expor o trabalho desenvolvido bem como a filosofia Lean aos diversos participantes. Também no âmbito

do grupo de trabalho foi elaborado um guião com 22 técnicas Lean e que se encontra disponível na

página da internet da Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção.

5.3 Limitações da investigação

As limitações encontradas no desenvolvimento desta dissertação prenderam-se com a fraca

implementação do Lean em Portugal. A inexistência de casos de estudo em que são aplicados a

filosofia Lean na construção em Portugal enfraquecerem este trabalho. A demonstração da aplicação

das técnicas Lean com casos de estudo específicos permitiriam dar outra dimensão a este trabalho,

nomeadamente a nível das vantagens que a mesma poderia representar para as organizações.

Também nas entrevistas houve limitações a apresentar, nomeadamente ao nível do número de

entrevistados. Apesar de se ter obtido opiniões de donos de obra, empresas de projeto, empresas

construtoras e das mesmas terem uma grande expressão no panorama atual da construção, a amostra

destas poderia ser alargada a um maior número de entidades.

5.4 Recomendações para trabalhos futuros

Uma das recomendações para trabalhos futuros realizados neste âmbito passa pela realização de

estudos económicos sobre o impacto da implementação das técnicas Lean no custo final de um

empreendimento. No quadro atual de crise económica, o aspeto económico é bastante importante na

sensibilização das lideranças para a implementação da filosofia Lean dentro das organizações.

Outra recomendação passa por avaliar o impacto que a deficiente coordenação e comunicação entre

os diversos intervenientes ao longo da execução do empreendimento tem no custo para o cliente final.

Um estudo mais aprofundado sobre as ineficiências/desperdícios que ocorrem ao longo da execução

de um empreendimento e os seus custos para as organizações poderia representar um importante

argumento para a implementação do Lean em Portugal.

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62

Também seria importante perceber os ganhos de eficiência que a introdução desta metodologia poderia

representar para as organizações. Aqui seria importante estudar e medir os ganhos ao nível de tempo

de produção, de redução de defeitos de produção, de redução de inventários e tempo de transporte

dentro do empreendimento.

Por fim seria importante aplicar o conjunto de técnicas propostas neste trabalho e aplica-las durante a

execução de um empreendimento. A implementação posterior avaliação das mesmas, iria permitir

aprofundar em maior detalhe algumas técnicas.

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63

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Anexos

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2

Anexo 1 - Questionário GT Lean Construção

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3

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4

Anexo 2 - Entrevista semiestruturada sobre Lean na Construção

Entrevista semiestruturadas sobre Lean na Construção

GT LEAN da PTPC e IST

Entrevistador: Patrick Pequito Aparício (IST)

Breve Enquadramento: A indústria da construção nacional tem sofrido nos últimos anos grandes

desafios face a um período de contração de mercado que se tem verificado deste o final da última

década. Este período de grande exigência obrigou as organizações deste sector a adaptarem-se a este

novo contexto, levando a uma alteração estrutural desta indústria.

O pensamento Lean não representa uma solução final para todos os problemas deste sector mas pode

contribuir de forma significativa para fazer face a este novo paradigma. Sendo a eliminação dos

desperdícios a principal motivação da filosofia Lean, esta não se fica apenas pelo seu combate. Ela

envolve todos intervenientes nos processos com o objetivo de melhorar a eficiência através do

incremento de valor para o cliente, procurando entender os seus requisitos e as suas necessidades.

Objetivos da entrevista: A presente entrevista realizada no âmbito da dissertação de mestrado

intitulada “Lean Construction: uma abordagem integrada à construção” encontra-se estruturada em

torno dos 11 princípios Lean enunciados em 1992 por Koskela e que passaram a ser o referencial do

Lean Construction. Pretende-se através da mesma fazer um levantamento de boas práticas ou técnicas

que incrementaram a eficiência da empresa, mesmo que não tendo resultado de uma abordagem

especificamente identificada como Lean. O guião desta entrevista semiestruturada é flexível e não

segue um modelo rígido, o que permite uma recolha de dados mais alargados.

Nota prévia: O entrevistado deve indicar a priori se permite durante a entrevista a recolha de registo

áudio. Também deve ser indicado se o entrevistador prefere manter o anonimato nas suas respostas

relativamente à sua empresa.

Questões de investigação:

1. Atualmente, considera que existe na sua organização algum processo que poderia ser melhorado?

Quais as situações que considera mais prioritárias?

2. Dentro da sua organização existe algum procedimento específico para identificar e eliminar as

atividades que não criam valor para o cliente, consumindo tempo, material ou mão-de-obra?

3.Tendo em conta as necessidades dos clientes, quais as ferramentas que a sua organização utiliza

durante a fase de projeto, conceção ou gestão do empreendimento para aumentar o valor do produto

final?

4.Quais as ferramentas ou técnicas utilizadas para reduzir o tempo de ciclo, que pode ser definido como

a soma de todos os tempos (processamento, transporte, espera e inspeção)? Existem casos de estudo

específicos ou de referência dentro da sua organização?

5.Existe padronização de processos dentro da sua organização? Se sim, como é implementada? Quais

foram os resultados atingidos?

6. O processo de produção é integrado, contribuindo para eliminar o surgimento de perdas por

qualidade ou é realizado por partes ou atividades isoladas?

7.Quias são as medidas tomadas pela sua organização para haver uma melhoria contínua de

processos que possam promover a redução do desperdício e o incremento de valor? Como são

envolvidos os trabalhadores?

8. Por último, a sua organização faz benchmarking, interno ou externo, como um incentivo para manter

a contínua melhoria dos processos?

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5

Anexo 3 - Fichas Técnicas Lean na Construção (PTPC)

Técnica de Lean na Construção

Percurso na Busca de Desperdício [Gemba Walk]

Nº 05

1. OBJETIVO:

O objetivo da técnica Percurso na Busca de Desperdício (Gemba Walk) é a realização de uma observação particularmente atenta ao fluxo produtivo do produto ou serviço, na busca de eventuais desperdícios. Ou seja, na identificação das atividades que não agregam valor, numa perspetiva de melhoria. [ gemba = espaço de trabalho onde é criado valor ]

2. ÂMBITO DE APLICAÇÃO:

Esta técnica aplica-se a qualquer organização que necessite de melhorar os seus processos, ou mesmo serviços, identificando no “terreno” as atividades que não agregam qualquer valor para o resultado final.

No caso específico da construção, podemos aplicar em qualquer atividade construtiva, ou atividades de apoio à execução, incluindo processos de serviços.

3. DESCRIÇÃO Trata-se de uma técnica assente na observação do processo, incluindo materiais, equipamentos, pessoas e ambiente organizacional, no local onde o processo está a ser realizado. Depois de analisadas as possíveis causas são definidos planos de ações para eliminar ou reduzir os desperdícios identificados.

4. IMPLEMENTAÇÃO:

Como implementar?

Programar o Percurso alvo;

Informação e formação aos envolvidos sobre a técnica e os tipos de desperdícios a pesquisar;

Sessão para definição do propósito e dar a conhecer o atual processo;

Ir ao “terreno” (observadores e equipa do processo) observar e registar os desperdícios identificados;

Voltar à sala, listar os desperdícios identificados e identificar os problemas/ causas;

Estabelecer um plano de ações com data e responsáveis;

Implementar as ações estabelecidas;

Ir ao “terreno” verificar novamente o processo e identificar novos desperdícios.

Qual o grau de dificuldade?

As principais dificuldades são:

- O entendimento da oportunidade por parte dos colaboradores que estão na execução do processo;

- Garantir disponibilidade, nomeadamente da alta liderança, para a aplicação desta técnica;

- Criar uma rotina planeada de realização de observações.

Quem é envolvido? Têm de ser envolvidos todos os que pertencem ao processo a ser observado, bem como os

observadores.

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Técnica de Lean na Construção

Percurso na Busca de Desperdício [Gemba Walk]

Nº 05

Tempo de implementação?

Pode variar em função da dimensão do processo a observar. Como referência entre a preparação, formação, observação, análise de causas e plano de ações, uma iniciativa de Percurso necessita de 1 a 2 dias.

Aspetos críticos?

- O entendimento por parte do responsável do processo produtivo que o objetivo é melhorar o processo, não a busca de “culpas”;

- O observador deve-se focar, e estar preparado, para o processo que vai observar e não ir com ideias pré-concebidas;

- Garantir que não é uma técnica de auditoria, mas sim uma técnica participativa, com o envolvimento de quem está a executar;

- Criar uma rotina de realização de Percurso na Busca de Desperdício.

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Técnica de Lean na Construção

Percurso na Busca de Desperdício [Gemba Walk]

Nº 05

5. EXEMPLOS:

Fig.1 e 2 - Planeamento de realização do Percurso na Busca de Desperdício numa obra.

Fig. 3 - Observação no “terreno” - gemba

Fig, 4 - Realização de Workshop de resolução de problemas, após o levantando no terreno.

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Técnica de Lean na Construção

Diagrama de Esparguete

[Spaghetti diagram]

Nº 09

1. OBJETIVO:

Os diagramas de espaguete (spaguetti diagrams) são uma representação visual que recorre ao desenho de linhas de fluxo em representação de caminhos e de circuitos efetuados por produtos, por pessoas, por documentos ou por equipamentos durante a execução de um processo ou de uma atividade. Esta representação permite a identificação de redundâncias, de ineficiências e de desperdícios no fluxo de trabalho, evidenciando oportunidades de melhoria e de otimização nesse processo, em particular, ao nível das distâncias percorridas, em benefício de entregas mais rápidas ou de um menor esforço despendido.

2. ÂMBITO DE APLICAÇÃO:

A técnica dos diagramas de esparguete tem aplicação no estudo e otimização de fluxos e de layouts, podendo ser utilizada na fileira da construção, na análise dos seus processos, atividades e locais de trabalho (ou seja, no âmbito estrito de cada organização), ou num âmbito mais alargado, quando associado a fases e ciclos de empreendimentos de construção. Estes diagramas são úteis para o planeamento e otimização de layouts e de processos, permitindo ainda analisar e observar como os recursos e os produtos fluem ou como o trabalho é realizado. Constituem, assim, uma ferramenta útil na análise do fluxo de valor, podendo ser integrados em ciclos de melhoria das organizações e dos seus processos.

Na construção, é bastante comum o recurso a diagramas de esparguete para o estudo e dimensionamento de estaleiros de obra e dos respetivos caminhos de circulação de pessoas, de materiais e de equipamentos. Apontam-se os exemplos, em obra, da definição otimizada dos caminhos de circulação num estaleiro, dos locais de depósito / armazenagem de materiais e da disposição de equipamentos de apoio, assim como a definição dos processos construtivos associados e locais da sua utilização.

3. DESCRIÇÃO:

Os diagramas de esparguete apresentam um conjunto de benefícios para as equipas de planeamento e controlo de processos ao permitirem:

- a identificação de ineficiências num local ou área de trabalho; - a identificação de oportunidades para uma diminuição de manuseamento de produtos; - a identificação de oportunidades para uma melhoria da comunicação na equipa de trabalho; - a identificação de uma melhor afetação e distribuição de recursos; - a identificação de oportunidades para melhoria das condições de segurança.

Os diagramas de esparguete são elaborados a partir de plantas pormenorizadas, desenhando sobre eles as linhas e sentidos de fluxo dos materiais, equipamentos, documentação e pessoas, às quais poderá ser associada informação complementar de tempos, estados, entre outras. As linhas são normalmente dediferentes cores. Das representações obtidas, é possível depreender conflitos e dispersão de deslocações, permitindo otimizar a organização do trabalho.

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Técnica de Lean na Construção

Diagrama de Esparguete

[Spaghetti diagram]

Nº 09

4. IMPLEMENTAÇÃO:

Como implementar?

Para se dar início ao desenho de um diagrama de esparguete, é necessário essencialmente os seguintes elementos: plantas do local em análise, lápis de cor e envolvimento das equipas.

O desenho do diagrama de esparguete seguirá os seguintes passos:

1. Sobre a planta, são desenhadas linhas para representar cada uma das deslocações que se efetuam de um local para outro, quer sejam correspondentes a materiais, a equipamentos, a documentação ou a pessoas. Podem ser efetuados diagramas distintos para cada uma daquelas entidades, para melhor clareza e compreensão. Deve-se começar pelo início do processo, associando setas para indicação do sentido das movimentações.

2. Proceder a uma análise global e particular das linhas de fluxo e da ineficiência a elas associada. Com esta análise, pretende-se identificar problemas associados a: percursos demasiado longos, percursos confusos, percursos desnecessários, percursos em loop, percursos com regressos desnecessários à origem, percursos descontínuos, percursos cruzados, pontos de colisão, não ser lógico o que fazer a seguir no percurso, ou existirem muitos tempos de espera.

Qual o grau de dificuldade?

A elaboração de diagramas de esparguete é normalmente simples, podendo no entanto aumentar o seu grau de dificuldade com o detalhe da informação complementar que se pretenda associar ao diagrama. A partir de uma planta e conhecendo-se os fluxos a rastrear, é possível com poucos recursos traçar as linhas e os percursos efetuados que constituem estes diagramas.

Quem é envolvido?

A elaboração de um diagrama de esparguete deve ser efetuada por um técnico especializado, mas fazendo envolver os trabalhadores efetivamente impactantes no processo e que realizam as atividades, para que nenhum pormenor e percurso sejam descurados.

No âmbito da fileira da construção, poderão ser envolvidos diferentes atores, quer estejam a ser analisados processos globais associados ao empreendimento, quer de processos internos das organizações.

Tempo de implementação?

O tempo necessário para a elaboração de um diagrama de esparguete é semelhante ao tempo que demora o processo em observação, no pressuposto de que esse diagrama é elaborado seguindo o “tempo real” do processo.

Aspetos Críticos?

O sucesso de um diagrama de esparguete reside na representação completa de todos os fluxos e na possibilidade da sua interpretação e deteção de oportunidades de melhoria, sendo muito importante envolver os trabalhadores que efetivamente trabalham no processo em análise. Num primeiro exercício,

deve haver um levantamento real e rigoroso dos fluxos, podendo seguir-se uma análise de cenários com diferentes diagramas de fluxo. As equipas de apoio ao desenho e interpretação de diagramas de esparguete deverão estar motivadas para a necessidade de deteção e eliminação de desperdícios.

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Técnica de Lean na Construção

Diagrama de Esparguete

[Spaghetti diagram]

Nº 09

5. EXEMPLOS:

Fig. 1 – Estudo de fluxos num estaleiro de obra

Fig. 2 – Observação de fluxos de atividades de construção num piso

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Técnica de Lean na Construção

INDICADORES DE DESEMPENHO [KPI´s]

Nº 11

1. OBJETIVO:

A implementação do sistema de indicadores de desempenho na Construção tem como objetivo medir o desempenho dos processos para a concretização de um empreendimento, a fim de verificar se os objetivos estabelecidos são atingidos e obter informação de apoio às tomadas de decisão. A monitorização permite medir o impacto das medidas tomadas no processo para a concretização de um empreendimento e a sua tomada de ações em caso de necessidade, contribuindo para a melhoria contínua do empreendimento.

“Se não se consegue medir, não se pode controlar”

2. ÂMBITO DE APLICAÇÃO:

Esta técnica pode ser aplicada a toda e qualquer atividade chave para a concretização de um empreendimento de construção, desde que sejam mensuráveis, que agregam valor e estão ligadas aos objetivos traçados, no âmbito, entre outros, do Projeto, Gestão e Coordenação, Planeamento, Custo, Aprovisionamentos, Qualidade, Segurança, Risco e Ambiente.

3. DESCRIÇÃO:

Os indicadores são expressões quantitativas que representam a informação gerada a partir da medição direta do processo produtivo e no âmbito da sua gestão e coordenação. Os indicadores permitem monitorizar os aspetos mais relevantes ligados aos objetivos para um empreendimento e são umapoio às tomadas de decisão. A monitorização permite identificar, analisar e resolver atempadamente situações anómalas e, assim, potenciar o cumprimento dos objetivos traçados.

Cada indicador deve ser devidamente caracterizado, para que seja aceite por todos os intervenientes envolvidos no empreendimento. O sistema de indicadores deve ser claro, transparente, baseado na informação existente ou que pode ser recolhida em tempo disponível e conter as seguintes caraterísticas para cada indicador:

Definição do objetivo – título e indicação do que se pretende medir, devendo ser específico, mensurável e realista.

Medição do objetivo – apresentar fórmula de cálculo, relacionando o real com o previsto, para igual período e produção.

Fiabilidade e credibilidade – identificar a origem dos dados, indicando nome do documento.

Economia – indicar os parâmetros que permitem controlar o cálculo.

Simplicidade e Acessibilidade da informação – critérios específicos de análise, representação, metas e tolerâncias.

Periodicidade – de recolha de informação e publicação dos indicadores.

Designação de um responsável pela obtenção dos dados, pela análise e inserção no sistema, pela verificação e validação dos resultados – Empreiteiro; Fiscalização/Dono de Obra; Outros

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Técnica de Lean na Construção

INDICADORES DE DESEMPENHO [KPI´s]

Nº 11

4. IMPLEMENTAÇÃO:

Como implementar?

Utilizando uma metodologia com os seguintes passos e num processo de melhoria até sintonia com a realidade dos aspetos monitorizados:

a) Decidir o que medir – auscultando os vários intervenientes. b)Recolher Informação – recurso a informação disponível ou que possa facilmente ser obtida ou sistematizada, no

âmbito da normal execução dos trabalhos. c) Calcular os Indicadores – utilização de fórmulas de cálculo simples. d)Visualizar os resultados de forma gráfica e visual – normalmente são utilizados dois tipos de gráficos: tipo radar

ou de linha. Os indicadores estão compreendidos entre 0 e 1, sendo que que o valor 0 corresponde a um desempenho indesejável e o valor 1 ao desempenho previsto no contrato. Pode ainda ser usada a cor verde (para representar bons resultados) ou vermelho (para resultados indesejados).

e)Analisar os resultados – relacionamento entre indicadores e o seu conjunto e verificação da aderência dos resultados com a realidade.

f) Alterar os Indicadores – de acordo com as constatações identificadas no passo 5. g)Repetir os passos 1 a 6 até estabilizar a definição e o procedimento de cálculo de cada um dos indicadores

utilizados. h) Depois definir a periodicidade de apuramento de cada indicador e monitorizar o seu cálculo periódico.

Qual o grau de dificuldade?

A implementação num empreendimento no setor da Construção de um sistema de indicadores de desempenho tem um grau de dificuldade baixo. Os indicadores baseiam-se na informação disponível, ou que seja, facilmente obtida a partir da sistematização de informação existente e a aderência dos seus resultados pode ser verificada com a realidade. A maior dificuldade muitas vezes é na qualidade dos dados que são recolhidos para serem calculados.

Quem é envolvido?

Todos os intervenientes no processo: Empreiteiros, Subempreiteiros, Fornecedores, Fiscalização, Projetistas, Dono de Obra.

Tempo de implementação?

O tempo necessário para implementação e estabilização de um sistema de indicadores de desempenho depende da dimensão do empreendimento, do número de objetivos que se pretendem medir/controlar e da informação existente, sendo no mínimo de 3 meses para um empreendimento de média dimensão.

Aspetos críticos?

- A necessidade de adaptação dos indicadores de acordo com o desenvolvimento da execução do empreendimento e os objetivos a medir/controlar.

- A cada indicador deve necessariamente estar associado um valor objetivo e uma frequência de atualização conforme a sua importância (i.e. indicadores críticos são atualizados com maior frequência).

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Técnica de Lean na Construção

INDICADORES DE DESEMPENHO [KPI´s]

Nº 11

5. EXEMPLOS:

Fig. 1 - Caracterização de um Indicador de Desempenho

Fig. 2, 3 e 4 - Representação Gráfica de Resultados

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Técnica de Lean na Construção

Relatório A3 [A3 Report]

Nº 18

1. OBJETIVO:

O objetivo desta técnica é comunicar, de forma visual, sintética e relacional, a implementação de um processo de melhoria, um novo processo ou a resolução de problemas

2. ÂMBITO DE APLICAÇÃO:

Esta técnica aplica-se em qualquer organização que necessite implementar uma oportunidade de melhoria, um novo processo ou resolver um problema em qualquer área/departamento. No caso específico da construção podemos aplicar, por exemplo, para melhorar as causas de um atraso do planeamento da obra, um custo diferente do esperado, implementar uma nova metodologia de execução de revestimento num edifício, etc.

3. DESCRIÇÃO: Trata-se de uma técnica que assenta em estruturar a informação, numa folha A3 (297x420 mm), por sete campos:

1- Contexto 2- Situação atual 3- Objetivos e metas 4- Análise da situação e identificação das causas 5- Situação futura e contramedidas 6- Plano de implementação 7- Monitorização da implementação do plano de ação

4. IMPLEMENTAÇÃO:

Como implementar? O relatório A3 é um documento vivo (evolutivo) enquanto durar a execução do processo de melhoria, o novo processo ou a resolução do problema, onde devem ser preenchidos os sete campos referidos abaixo, na medida em que o processo for evoluindo. Deve ser revisto ou complementado sempre que se verifiquem alterações, ficando no fim como registo das soluções encontradas para a restante organização. De seguida colocam-se algumas questões que têm de ser contempladas em cada um dos campos:

a) Contexto - Qual é propósito, a necessidade na organização para este novo processo, melhorar o processo ou resolver

este problema? - Que indicadores específicos de um processo pretendem atingir ou melhorar? - O que já aconteceu anteriormente na organização sobre o tema? - Qual o alinhamento com a estratégia da organização? b) Situação atual - Qual e o problema ou a necessidade do novo processo ou de melhorar o processo? - Caso exista qual o desvio em relação à meta? - O que está a acontecer agora? O que deveria ser? - Quais os dados que temos que indicam que há um problema ou a necessidade de melhorar o processo ou

criar um novo processo?

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Técnica de Lean na Construção

Relatório A3 [A3 Report]

Nº 18

c) Objetivos e metas - Qual o objetivo que se pretende? (objetivo SMART) - Quais as metas, com base em KPIs, que pretendemos atingir? d) Análise da situação e identificação das causas - Quais os pontos específicos nos processos que temos desvios ou precisamos melhorar? - O que aconteceu para que não se atinjam objetivos? - Porque existem os desvios ao pretendido? Quais são as causas para esses desvios? e) Situação futura e contramedidas - Que possibilidades há para eliminar ou minimizar os problemas, os desvios ou melhorar o desempenho da

situação atual? - Essas opções eliminam as causas dos problemas ou desvios? - Quais são seus custos e benefícios e tempo? - Qual das possibilidades é mais viável para a organização? f) Plano de implementação - Quais as principais ações e resultados no processo de implementação e em qual sequencia? - Quais recursos serão necessários? - Quem será responsável? E quando? - Temos indicadores para medir a eficácia das ações a implementar? - Temos definido momentos para acompanhar e rever o plano de ações? g) Monitorização da implementação do plano de ação - Como e quando verificamos se os planos têm sido seguidos e as ações tiveram o impacto necessário? - Como sabemos se atingimos as metas? - Como sabemos se estamos a atingir as metas propostas? - É necessário ter contingências planeadas? Quais? - Quais são as lições aprendidas durante todo o processo de melhoria e como se vai partilhar as mesmas com

a restante da organização e intervenientes? Qual o grau de dificuldade? As principais dificuldades são:

- O A3 ser um documento prático de trabalho e não só um documento para mostrar a alguém; - Disponibilidade de dados para identificar a situação atual do processo a melhorar ou para a resolução de um

problema; - Ser objetivo no texto e dados que se pretendem colocar para ficar legível no formato A3 que se pretende.

Quem é envolvido? Tem de ser envolvidos todos os membros da equipa pertencentes ao processo que vai ser melhorado, novo processo ou para a resolução de um problema Tempo de implementação? O relatório A3 é um documento vivo enquanto durar a execução do processo de melhoria, novo processo ou resolução do problema, sendo revisto ou complementado sempre que haja alterações e ficando no fim como registo das soluções encontradas para o restante da organização. Aspetos críticos?

- Os envolvidos devem estar abertos à mudança, livres de paradigmas e não pensar que se está á procura de falhas no seu trabalho;

- Deve-se evitar implementar novas ações ou outras questões sem revisitar e rever o A3 com a equipa; - O A3 deve ser um documento “sempre em cima da mesa de trabalho” e para o qual todos contribuíram

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Técnica de Lean na Construção

Relatório A3 [A3 Report]

Nº 18

5. EXEMPLO

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Técnica de Lean na Construção

Sala de Controlo Visual [Big Room]

Nº 20

1. OBJETIVO:

A Sala de Controlo Visual (Big Room) é um espaço físico onde se encontra disponível a informação de uma organização, empreendimento ou projeto, designadamente sobre o planeamento, o acompanhamento das atividades operacionais - indicadores de segurança e saúde, qualidade, económicos, equipamentos, etc - e os planos de ação. Pretende-se promover, desta forma visual, a responsabilização, o envolvimento e a colaboração dos elementos das equipas.

Nesta sala podem-se realizar algumas das reuniões de equipa dos seus responsáveis.

2. AMBITO DE APLICAÇÃO:

A técnica Sala de Controlo Visual é aplicável na gestão de uma organização ou de um empreendimento. A sua localização deve ser no local mais acessível há maioria dos seus intervenientes.

3. DESCRIÇÃO:

A técnica Sala de Controlo Visual consiste em fixar em painéis ou paredes a informação a ser utilizada pela equipa, sobre as mais diversas e importantes dimensões do controlo da organização ou do empreendimento.

A informação vai sendo atualizada pelos diversos elementos da equipa a partir dos dados do terreno, permitindo acompanhar e (re)programar as atividades seguintes e tomar decisões sobre as ações de recuperação de prazos e de níveis de desempenho.

Este espaço deve ainda ser usado, para “briefings” das equipas.

4. IMPLEMENTAÇÃO:

Como implementar?

- selecionar o espaço, o mais central e acessível pela maioria dos intervenientes;

- identificar as diversas as atividades que devem ocorrer, no espaço, com a equipa;

- identificar a informação a ser utilizada (produtividade, prazos, qualidade, segurança, etc.) , assim como os meios de suporte e de apresentação;

- definir responsabilidades dos vários intervenientes;

- treinar a equipa na utilização do espaço;

- promover a implementação do espaço e monitorizar a opinião de quem o utiliza;

- manter a informação atualizada e reajustar o que for necessário;

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Técnica de Lean na Construção

Sala de Controlo Visual [Big Room]

Nº 20

Qual o grau de dificuldade?

O grau de dificuldade é médio/baixo; é importante saber identificar a informação a divulgar e conseguir promover a utilização do espaço pela equipa; a maior dificuldade é manter a disciplina na atualização dos dados.

Quem é envolvido?

Devem ser envolvidos os responsáveis da informação a monitorizar de todos os intervenientes da organização ou empreendimento.

Tempo de implementação?

Depois de identificado e disponibilizado o espaço, esta técnica pode ser implementada em cinco dias.

Aspetos críticos?

- selecionar adequadamente a informação a disponibilizar;

- identificar os meios gráficos mais adequados para um eficaz controlo visual.

- assegurar a permanente atualização da informação.

- garantir a utilização do espaço pela equipa de trabalho.

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Técnica de Lean na Construção

Sala de Controlo Visual [Big Room]

Nº 20

5. EXEMPLOS:

Fig. 1,2 e 3 – Exemplo de Salas ( espaços ) de controlo de projetos

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