lacan cotidiano nº 318

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  • 7/28/2019 Lacan Cotidiano N 318

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    Lacan Cotidiano N 318

    Jacques Lacan

    O Seminrio 6

    O desejo e sua interpretao

    O que nos mostra Lacan? Que o desejo no uma funo biolgica; que no est articulado a umobjeto natural; que seu objeto fantasstico. Por isso, o desejo extravagante. Ele fugidio aquem se prope a assenhore-lo. Ele os engana. Mas tambm, se no reconhecido, fabrica osintoma. Em uma anlise, trata-se de interpretar, quer dizer ler no sintoma a mensagem dedesejo que ele contm.

    Se o desejo desbarata, em contrapartida, ele suscita a inveno de artifcios que fazem o papel debssola. Uma espcie animal tem sua bssola natural, que nica. Na espcie humana, as

    bssolas so mltiplas, so montagens significantes, discursos. Dizem o que preciso fazer: comopensar, como gozar, como se reproduzir. Porm a fantasia de cada um permanece irredutvel aosideais coletivos.

  • 7/28/2019 Lacan Cotidiano N 318

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    At uma poca recente, nossas bssolas, diversas como so entre si, indicavam um mesmo norte:o Pai. Acreditava-se em um patriarcado antropolgico e invariante. Seu declnio foi acelerado coma igualdade de condies, a ascenso do poder do capitalismo, o domnio da tecnologia.

    Estamos na fase de sada da era do Pai.

    Outro discurso est em vias de suplantar o anterior. A inovao no lugar da tradio. Mais do quea hierarquia, a rede. O atrativo do advir substitui o peso do passado. O feminino sobrepe o viril.Ali onde tnhamos uma ordem imutvel, os fluxos transformacionais franqueiamincessantemente os limites.

    Freud da era do Pai. Ele trabalhou muito para salv-lo. A Igreja acabou se dando conta. Lacanseguiu a via aberta por Freud, mas ela o levou a formalizar que o Pai um sintoma. Ele o mostraaqui a partir do exemplo de Hamlet.

    O que se guardou de Lacan a formalizao do dipo, o foco colocado no Nome-do-Pai foisomente seu ponto de partida. O Seminrio 6 j o reformula: o dipo no mais a nica soluodo desejo, apenas sua forma padronizada; esta aqui patognica, no esgota o destino do desejo.

    De onde vem o elogio da perverso que termina o volume. Lacan lhe confere o valor de umarebelio contra as identificaes que garantem a manuteno da rotina social.

    Este Seminrio anuncia os rearranjos dos conformismos anteriormente instaurados, at suaruptura. Ns estamos nisso. Lacan fala de ns .

    Jacques-Allain Miller

    Campo Freudiano

    Coleo fundada por Jacques Lacan

    Capa:Alegoria com Vnus e Cupido, Bronzino (v.1545), leo sobre madeira.

    Londres, National Gallery.Getty Images.