jornal sem terra - 318

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www.mst.org.br ANO XXX– Nº 318 – MAR/ABR/MAI 2012 Movimentos constroem unidade para fazer lutas conjuntas Páginas 10 e 11 CAMPONESES Agroecologia garante maior retorno econômico ao assentado Página 3 AGRICULTURA Adalberto Martins: “Só a Reforma Agrária pode diversificar a produção” Páginas 4 e 5 ENTREVISTA Camponeses lutam por Reforma Agrária e contra o agronegócio

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Jornal Sem Terra - 318

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Page 1: Jornal Sem Terra - 318

www.ms t . o rg . b r ANO XXX– Nº 318 – MAR/ABR/MAI 2012

Movimentos constroem

unidade para

fazer lutas conjuntas

Páginas 10 e 11

CAMPONESES

Agroecologia garante

maior retorno

econômico ao assentado

Página 3

AGRICULTURA

Adalberto Martins: “Só a

Reforma Agrária pode

diversificar a produção”

Páginas 4 e 5

ENTREVISTA

Camponeses lutam por Reforma Agrária e contra o agronegócio

Page 2: Jornal Sem Terra - 318

2 JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012

EDITORIAL Enquanto nossas pautas têm dificuldade de avançar, interesses do agronegócio vão de vento em poupa

Palavra do leitor FRASE DO MÊS

DIREÇÃO NACIONAL DO MST

Edição: Igor Felippe Santos. Revisão: Jade Percassi e Luiz FelipeAlbuquerque. Projeto gráfico e diagramação: Eliel Almeida.Assinaturas: Elaine Silva. Tiragem: 10 mil exemplares. Endereço:Al. Barão de Limeira, 1232 – CEP 01202-002 – São Paulo/SP –Tel/fax: (11) 2131-0850. Correio eletrônico: [email protected]ágina na internet: www.mst.org.br. Todos os textos do Jornal SemTerra podem ser reproduzidas por qualquer veículo de comunicação,desde que citada a fonte e mantida a íntegra do material.

Mande sua mensagempara o Jornal Sem Terra

Sua participação é muito importante. Ascorrespondências podem ser enviadas [email protected] ou para a Alameda Barão de Limeira,1232, Campos Elíseos, São Paulo/SP, CEP 01202-002. Asopiniões expressas na seção “Palavra do leitor” nãorefletem, necessariamente, as opiniões do Jornal sobreos temas abordados. A equipe do JST pode,eventualmente, ter de editar as cartas recebidas.Mulheres marcham em jornada no estado do Pará

MUITAS MOBILIZAÇÕES de diversasforças sociais que lutam pela ReformaAgrária no Brasil estão marcando oano de 2012. Dentre elas, nós do MSTfizemos duas grandes jornadas na-cionais que contribuíram para mantera Reforma Agrária na agenda políticado governo e na sociedade.

Em março, as mulheres mostraram aforça, a coragem e a clareza política numaarticulação e construção conjunta com aVia Campesina. Já nossa Jornada de Abrilfoi uma das maiores dos últimos anos peloseu caráter nacional, quantidade de açõese pessoas envolvidas, além da peladiversidade de formas de lutas.Procuramos combinar um conjunto deelementos, que perpassa desde asdenúncias da paralisia da ReformaAgrária, até a afirmação da necessidadee importância que tal política tem para a

Precisamos reafirmarque o conflito organizadoé o caminho para pautara Reforma Agrária

O momento exige querepensemos nossasformas de luta parapróximo período

Atos de justiçaSinto orgulho e admiraçãopelo Movimento. Não existeoutra saída para que os latifundiários ea burguesia ouçam o povo, a não seros atos de justiça que vocês têm feito.Gostaria de passar um dia em umacampamento e levar meus filhos praque conheçam o MST.

JAIRO SALES DE BARROS

“O aprofun-damento dademocraciaparticipativae redistributiva paraassegurar o direito humanoà alimentação adequadarequer a concretização dodireito à terra, conforme aConstituição Federal, atravésde amplo programa deReforma Agrária”

MARIA EMÍLIA LISBOA PACHECO, anova presidenta do ConselhoNacional de Segurança Alimentare Nutricional (Consea)

Valorização do servidorReforma Agrária não se fazsó com dinheiro. É precisopessoal, com salários atrativos.Há informação de que 60% dosnovos concursados não estãoassumindo os cargos devido abaixa remuneração. Não resolvefazer concurso sem antesreestruturar as carreiras. Falta

equipamentos no Incra.Falta a criação de uma escola degoverno para a formação etreinamento de servidores. Tudoisso deveria entrar na pauta dosmovimentos sociais

DANIEL DE OLIVEIRA,engenheiro agrônomo, Perito

Federal Agrário do Incra

O bloqueio da Reforma Agráriae a necessidade de lutar

produção de alimentos saudáveis,desenvolvimento econômico e social epara o equilíbrio ambiental.

Além da pressão e negociação comos governos federal e estaduais, ambasas jornadas foram importantes parareforçar nossas articulações com as forçasorganizadas de esquerdas, movimentospopulares, igrejas, etc.

Além de tudo, as lutas que estamosrealizando também têm a fundamentalimportância ao cumprir o papel de revelaro potencial de luta que existe no campobrasileiro e de deixar em evidência otema da Reforma Agrária. Precisamosreafirmar que a luta organizada é ocaminho para pautar a Reforma Agrária.

As últimas negociações que fizemoscom vários ministros, principalmente doMinistério do Desenvolvimento Agrário(MDA) e a Secretaria Geral daPresidência, nos deixou claro que ogoverno não tem projeto, vontade e nemdecisão política para discutir essa questão.Reuniões e discussões com o governo atéacontecem, mas está evidente que o quequerem é ganhar tempo, enrolar e nãoresolver, pois não se consegue avançarem relação às pautas estruturais.

As últimas negociações foram marca-das pelo tencionamento, já que o governo

não apresenta medidas para resolver aquestão relacionada ao acesso a terra, oassentamento das famílias acampadas, asdívidas dos assentados e um novo créditoespecífico para Reforma Agrária e odesenvolvimento dos assentamentos.Pontos considerados fundamentais pararealização da Reforma Agrária.

Por outro lado, o governo cede àagenda de interesses dos latifundiários edo agronegócio, o que nos mostra o ver-dadeiro projeto e prioridade das políticasgovernamentais. Nas negociações, esta-mos dizendo que nossa paciência acaboue que não aceitamos mais enrolação.

Não basta nos posicionarmos nas me-sas de negociações. Nossa respostaprecisa, sobretudo, ser dada nas lutas.Precisamos ter claro que se tudo quefizemos foi importante, não foi, noentanto, suficiente para desbloquear a

Reforma Agrária. O momento exige querepensemos nossas formas de luta parapróximo o período. Lutar mais e commais qualidade. Se apenas o MST sozinhonão é o suficiente, precisamos juntar comoutras forças que fazem a luta. Essa é aúnica possibilidade que temos pararetomar as ações da Reforma Agrária.

Por isso, nossa próxima jornada estásendo construída conjuntamente com aCONTAG, FRETAF, Indígenas,Quilombolas, pescadores e ViaCampesina, além de outros movimentoslocalizados que tenham força e disposiçãopara lutar. A unidade da diversidade deforças é fundamental neste momento.

Precisamos construir um processo euma estratégia de luta para o próximoperíodo. O início deste processo está mar-cado para a segunda quinzena de agostode 2012, em Brasília, onde aglutinaremoso maior número de representações dasorganizações que atuam em escala na-cional e local. O objetivo é reunir lideran-ças e militantes para unificar nossa leiturado momento, construir unidade, pres-sionar o governo e planejar 2013, paraque este seja o ano de grandes ações emdefesa da Reforma Agrária.

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3JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012

ESTUDO Biodiversidade é ferramenta para o controle de pragas e proteção de plantas agrícolas, pastagens e florestas

PAULO KAGEYAMA E JOÃO D. SANTOS

PESQUISADORES DA ESALQ (ESCOLA

SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ),

DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

MUITOS PESQUISADORES de regiõestropicais têm apontado que a presença daalta biodiversidade e das condições naturaisimpõe outra forma de trabalhar a terra, oque pode ser bem exemplificado pela altaocorrência de pragas e doenças nas culturas.

É importante conhecer a base cien-tífica da necessidade de outras tecnolo-gias nos trópicos, voltadas para umaconvivência com esses insetos e micror-ganismos, que são traduzidas na agri-cultura com base na Agroecologia.

Os estudos dos ecossistemas de flo-restas tropicais naturais, com toda a suabiodiversidade e complexidade, apon-tam os pontos chaves e as direções paraa sustentabilidade na agricultura, prin-cipalmente familiar.

Essa biodiversidade é responsávelpelo seu equilíbrio ecológico, já que bio-diversidade e equilíbrio estão juntos nes-ses nossos ecossistemas tropicais extre-mamente ricos em espécies. São cercade 150 espécies por hectare, só de árvo-res, nessas matas tropicais. Essas flores-tas tropicais têm ainda uma proporçãomuitíssimo maior de espécies de insetose microrganismos, ou 100 vezes mais

desses organismos em comparação atodas as outras espécies de plantas.

Nesses ecossistemas, os insetos e mi-crorganismos convivem em equilíbriocom as espécies de plantas, muito em-bora sejam potencialmente suas pragase doenças. Isso ocorre quando desequi-libramos esses ecossistemas naturais,transformando em extensos monoculti-vos, como na agricultura dita moderna,certamente com alto uso de agrotóxicose insumos industriais.

Alternativa aoagronegócio

Um outro modelo para a agricultu-ra familiar vem sendo proposto, de-nominado de agroecológico. O uso dabiodiversidade como ferramenta parao controle de suas pragas e doenças,imitando os ecossistemas naturais, estádentro dessa categoria, e vem sendoutilizado com sucesso.

Em grande escala, tem sido possível noBrasil o plantio misto de 100 ou maisespécies de árvores nativas diferentes porhectare, nos modelos de recuperação dasmatas ciliares, com tecnologia desenvolvidapor universidades e instituições de pesquisasnessas duas últimas décadas.

O mais importante é que nessesnovos ecossistemas não se tem consta-

tado ataque de pragas e/ou doenças emnenhuma dessas 100 espécies, o queparece surpreendente a julgar pelo quese observa em experiências com planta-ções de outras culturas. Certamente, onão ataque de pragas e doenças nessasplantações mistas de proteção se deve àalta diversidade de espécies, semelhanteao que ocorre nas florestas naturais.

Tabus quebrados

Assim, muitos conceitos e tabus temsido quebrados nas últimas décadas,comrelação às tecnologias adotadas para o meiorural, baseadas no uso cada vez maior deagrotóxicos e insumos industriais. Autilização dos sistemas agroflorestais combiodiversidade, do mosaico de culturas ede variedades crioulas são técnicas que vêmsendo aplicadas com vantagens, princi-palmente pela agricultura familiar.

As plantações de banana no Vale doRibeira, em São Paulo, que foram objetosde estudos científicos na Esalq,comprovaram a viabilidade econômicadessas técnicas para a agricultura familiar.Apesar de ter menor produtividade porhectare (4 vezes menos), esse sistema teveum retorno econômico (lucro) por hectaremaior ao produtor, comparado ao doagricultor convencional utilizado comocomparação no experimento. (R$ 2.572,10

As vantagens econômicas da agroecologiax R$1.858,60). O agricultor agroecológicoteve um custo de produção muito menorcomparado ao produtor convencional (R$205,00 x 7.812,00), o que fez a diferença.

Essa proposta possibilitou que o pro-dutor agroecológico com poucos recursosnão se endividasse, além de produziralimento saudável e não se envenenar comos agrotóxicos. Deve-se enfatizar que nãofoi computada a produção das outras 40espécies usadas com a banana, a culturacarro chefe. Além disso, a tecnologia usadaatualmente não é ainda a mais desenvolvi-da, podendo melhorar muito.

Em Apiaí, no Vale do Ribeira (SP), ocentro de produção do tomate, esta culturafoi o motivo de trabalho científico daEsalq. Os três cultivos de tomate orgânico,rodeados de biodiversidade da Mata

Atlântica natural, apresentaram menoresprodutividades por 1000 pés da cultura (4vezes menor). Porém, os retornoseconômicos (lucros) aos produtores agroe-cológicos foram iguais, comparados aosconvencionais no experimento (R$ 1.000,00x 1.000,00). De novo, os agricultores agro-ecológicos tiveram custos de produçãomuito menores comparados aos produtoresconvencionais (R$848,00 x R$ 4.262,00),gastando muito menos e novamentefazendo a diferença. Deve-se destacar queos três produtores convencionais de tomatefizeram, em média, 36 aplicações de agro-tóxicos, em 2,5 meses da cultura, o quejustifica o alto custo de produção da culturae o alto nível de contaminação dos agri-cultores e do ambiente.

Infelizmente, as pesquisas sobre sis-temas de produção com agrobiodiversi-dade, mais apropriados aos agricultoresfamiliares, assim como as políticas pú-blicas em prol dessas comunidades,sempre foram negligenciadas pelasuniversidades, instituições de pesquisae governo, colocando este segmento,que é a grande maioria do meio rural,na exclusão social e tecnológica. Co-loquemo-na em seu devido lugar!Bananas produzidas no Vale do Ribeira garantiram lucro maior em comparação ao produtor convencional

Com o modelo daagroecologia, agricultortem um custo deprodução muito menor

Arqu

ivo M

ST

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4 JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012

Para dirigente do MST, a cooperação agrícola é um instrumento fundamental para organização dos assentamentosENTREVISTA

de alto valor nutritivo. Outro exem-plo é a produção de leite nas áreas deassentamentos. São mais de 50 mi-lhões de litros de leite que saem dosassentamentos do estado. Uma partedesse leite é processado por coopera-tivas, que atendem o mercado do va-rejo, mas sobretudo o mercado insti-tucional, por meio da doação simultâ-nea da Companhia Nacional de Abas-tecimento (Conab) e do programa damerenda escolar. Para se ter umaideia, uma cooperativa na região cen-tro atende 240 escolas em 13 muni-cípios com leite e derivados de produ-tos lácteos. Temos exemplos de horta-liças e verduras, que são operados por

agronegócio é altamente concentradordo ponto de vista da comercializaçãodos produtos. O comércio agrícola éconcentrado na mão de meia dúzia deempresas transnacionais. Para acessaro mercado, o agricultor acaba refémde preços oligopolizados. O segundoproblema é a modalidade de crédito.O Programa Nacional de Fortaleci-mento da Agricultura Familiar (Pronaf)não corresponde às necessidades daReforma Agrária. É um crédito caro,não ajuda o desenvolvimento econô-mico das famílias, tem uma perspec-tiva burocratizada de acesso aosrecursos e de uma projeção de rendapara o próprio programa.Outro ponto é a ausência de um segu-ro que garanta a renda do assentado -e não necessariamente que garanta oretorno financeiro ao banco. Precisa-mos ter um seguro que é de renda,desligado do financiamento bancário.Há outros bloqueios que dificultamnossos avanços, como a política ma-croeconômica, que está lastreada pelanecessidade de um grande esforço deexportação para fazer caixa em moe-da estrangeira e sustentar essa espe-culação financeira dentro do país.

JST- Quais os problemasdo modelo econômico?

AM - Nosso modelo macroeconômi-co é dirigido pelo capital financeiro,que exige que o Brasil seja uma gran-de plataforma de exportação decommodities, sobretudo soja e miné-

meio desses programas institucionais.Uma cooperativa na região metro-politana atende mais de 2.000 famíliasno município de São Leopoldo. Acooperativa central atende no Progra-ma de Aquisição de Alimentos (PAA)mais de 3.000 famílias em Porto Ale-gre, beneficiando mais de 38 associa-ções de moradores. Esses exemplosrevelam a presença e a potencialidadeda agricultura familiar e camponesa.

JST - Quais são os principaisobstáculos para que assentadosconsigam alavancar sua produção?

AM - O grande problema é o mono-pólio do comércio. Esse modelo do

POR LUIZ FELIPE ALBUQUERQUE

SETOR DE COMUNICAÇÃO

Jornal Sem Terra - Por que aReforma Agrária é o caminho paraa produção de alimentos?

Adalberto Martins - Somente coma Reforma Agrária é possível desenvol-ver a diversificação da produção, pelasua natureza, quadro fundiário e tra-balho familiar. Essa produção é geral-mente destinada a canais curtos de co-mercialização, sobretudo, o mercadolocal e o mercado regional.É a partir desses pequenos lotes, deforma cooperada, que a ReformaAgrária e os assentados, beneficiadosdesse processo de luta e de conquista,possibilitarão a produção de alimentospara esses locais. Essa é a base com aqual trabalhamos.

JST- Até agora, o que foi conquistadaa partir da luta pela Reforma Agráriana produção de alimentos?

AM - Darei alguns exemplos con-cretos para sair das generalizações. NoRio Grande do Sul, um exemplo con-creto dos benefícios da ReformaAgrária, é a produção do arroz ecoló-gico. No estado, o conjunto dos as-sentados da Reforma Agrária é omaior produtor de arroz ecológico.Trabalhamos com quase 4.000hectares de área plantada e, nestasafra, estamos colhendo aproximada-mente 300 mil sacas de arroz orgâni-co, livre de agrotóxicos, um produto

Hugo

Kitan

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ST-P

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A realização da Reforma agrária, o fortalecimento da pequenaagricultura e a organização das famílias camponesas em coope-rativas garantirão a diversificação da produção de alimentospara o povo brasileiro e formarão um pilar do desenvolvimentodo Brasil. Essa é a avaliação do integrante do setor de Produ-ção do MST, Adalberto Martins, conhecido como Pardal.Em entrevista ao Jornal Sem Terra, ele apresenta os obstácu-los para o desenvolvimento dos assentamentos, os limitesdas políticas públicas e a necessidade de mudar o modelomacroeconômico para viabilizar a agricultura que está voltadapara o mercado interno. “O grande problema é o monopóliodo comércio. Esse modelo do agronegócio é altamente con-centrador do ponto de vista da comercialização dos produtos.O comércio agrícola é concentrado na mão de meia dúzia deempresas transnacionais”, avalia. A seguir, leia a entrevista.

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rio de ferro, para que possa ter umsaldo comercial ou uma poupança emdólar de reservas cambiais, que tran-quilizem os especuladores ao aplica-rem seus recursos no país. Se não mu-dar esse modelo macroeconômico,teremos dificuldades de avançar comas políticas econômicas voltadas parao mercado interno, sobretudo, naagricultura familiar e camponesa.

JST - Com a superaçãodesses entraves, qual o potencialda Reforma Agrária?

AM - O potencial da ReformaAgrária se coloca sobretudo comoum dos pilares de um desenvolvi-mento nacional autônomo, dentrode um modelo econômico voltadopara o mercado interno e com o for-talecimento das iniciativas locais eregionais. A Reforma Agrária se en-quadra nesse ponto de vista, sendoum dos pilares de um desenvolvi-mento voltado para o mercadointerno, nacional, em que os traba-lhadores do campo e assentadospossam gerar produção, renda,alimento, condições dignas de vidapara aqueles que vivem no país.

JST - A democratização da terrapode contribuir comodesenvolvimento?

AM - A Reforma Agrária tem umelemento essencial por ser um motordo desenvolvimento regional e, comisso, é um pilar no desenvolvimentoeconômico brasileiro.A Reforma Agrária é um dos instrumentosde desconcentração de renda e de riquezano país. Na medida em que se desconcen-tra a riqueza – em que algumas famíliasdetêm 70% da renda nacional – se con-segue gerar trabalho, renda, desenvolveresse potencial de força produtiva, quehoje estão à margem desse processo deprodução. Além disso, possibilita colocarde uma forma mais harmônica, a serviçoda sociedade, os recursos naturais queestão bloqueados pelo latifúndio.

JST – Mesmo com oagronegócio, por que a ReformaAgrária ainda é atual?

AM - Existe um problema fundiário noBrasil, que a classe dominante tentaesconder por meio de seu braço nocampo, o agronegócio. Para a elite bra-sileira, não há um problema social nocampo. Com a nossa luta, insistimos emrevelar que há problemas profundos nocampo brasileiro. Uma parcela dasociedade brasileira quer viver no campoe não na cidade, quer fazer sua própriaprodução, com seu trabalho, de maneiraque atenda as populações locais, em umaperspectiva de que as populações quevivam nele tenham uma boa vida.

JST – Querem escondertambém a exploração dos nossosrecursos naturais...

AM - O que está em disputa na so-

ciedade brasileira é uma visão sobre oque se pretende para o futuro do campobrasileiro e dos recursos naturais. Osrecursos naturais gestados pelas fa-mílias assentadas e camponesas gerammais prosperidade do que os geren-ciados pelo agronegócio, que são exau-ridos por essa produção intensiva, commuitos insumos e poupadora de mãode obra. Toda e qualquer força políticaque defenda um programa democráticotem que mexer na estrutura fundiáriaaltamente concentrada, que inviabilizacentenas de milhares de famílias deterem as condições básicas para a sobre-vivência no campo. É um instrumentode justiça social, que busca corrigiressas distorções históricas. A nossaproposta tem uma perspectiva de natu-reza econômica, que busca desenvolvero mercado interno e as condições deprodução da sua população.

JST - No atual momentohistórico, qual deve ser o caráterdessa Reforma Agrária?

AM - A primeira característica dessaReforma Agrária é ser massiva. Porisso, chamamos de Reforma AgráriaPopular. Tem que ser feita pelo povo.Evidentemente que vai ser legalizadapelo Estado, mas tem que ser ampla eenvolver o maior número de famíliasque desejam a terra. Tem que ser rápi-da, desburocratizada, que facilite oacesso das populações a esses meiosde trabalho e de produção. Tem queter uma preocupação de buscarprodução vinculada ao equilíbrio am-biental, portanto, uma produção agro-ecológica, casada com a agroindústria,que é um estágio elevado de interaçãoentre os trabalhadores.

JST – Qual a papel dacooperação?

AM- A cooperação agrícola é uminstrumento fundamental dessa novaReforma Agrária, dentro das suasvárias dimensões, desde a forma sim-ples e históricas que os camponesesdesenvolveram ao longo dos anos,como também a cooperação maiscomplexa, na qual se envolve traba-lho, terra, parte do capital gestadocoletivamente, até o nível das agro-indústrias, que permite agregar valore incidir mais fortemente nos mer-cados locais e regionais.

JST - Quais são os maioresdesafios que temos paraavançarmos na produção?

AM - Os desafios são vários. Umdeles é justamente ter políticas públi-cas que sejam ajustadas à realidadedo agricultor assentado. É preciso de-senvolver mecanismos que garantama renda do agricultor, por meio deum seguro de renda ou por políticaspúblicas como o PAA e o PNAE. Es-sas políticas têm que ser estendidaspara facilitar a comercialização dosassentados para que facilite a infra-estrutura produtiva que chamamos deagroindústria. Para agregar renda,essa infraestrutura requer apoio ins-titucional e recursos subsidiados pa-ra que o conjunto de famílias desen-volva um estágio do desenvolvi-mento econômico, que é o proces-samento da sua produção de formacooperada. Há também outros desa-fios que são colocados do ponto devista da preparação das pessoas,para os manejos agroecológicos epara a gestão desses empreendi-mentos econômicos que vão serorganizados e que precisam de ciên-cia, de conhecimento de admi-nistração, contabilidade e de mer-cado, para se ter uma boa eficiênciaem sua gestão.Acampamentos pelo país revelam os problemas profundos no meio rural, como a concentração fundiária e a pobreza

“Reforma Agrária deveser massiva e rápida, dar

os meios de produçãopara os trabalhadores e

ter um vínculo com oequilíbrio ambiental”

“Qualquer força políticaque defenda umprograma democráticotem que mexer naestrutura fundiáriaaltamente concentrada”

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6 JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012

ESTADOS Agroindústria beneficia a produção de 428 famílias de 16 assentamentos, em 11 municípios

HUGO KITANISHI

SETOR DE COMUNICAÇÃO

A 9ª ABERTURA DA Co-lheita do Arroz Ecológicoreuniu 1.000 agricultores

assentados da região de Nova Santa Rita,no Rio Grande do Sul, em 2 de abril, noassentamento Capela, fruto da luta dasfamílias que integram o MST.

Participaram prefeitos, vereadores dediversos municípios, o governador TarsoGenro, o ministro do DesenvolvimentoAgrário Pepe Vargas, o ministro daIntegração Nacional Fernando Bezerra, opresidente do Instituto Nacional deColonização e Reforma Agrária (Incra)Celso Lisboa de Lacerda.

Em uma colheitadeira, Tarso Genro,juntamente com outras autoridades, deu iní-cio à colheita do Arroz Agroecológico. Aestimativa para a safra desse ano é de 300mil sacas. O número representa cerca de70% do arroz orgânico certificado no estado.

No total, são 428 famílias envolvidas,situadas em 16 assentamentos em 11 mu-nicípios, numa área de produção que chegaa quase 3.900 hectares. De acordo comEmerson Giacomelli, membro dacoordenação estadual do Movimento, aprodução é vendida para o Programa eAquisição de Alimentos (PAA) e para amerenda escolar, por meio do ProgramaNacional de Alimentação Escolar(PNAE), além do mercado regional.

A agroindustrialização do arroz éfeita no assentamento em Nova SantaRita. A safra nos anos de 2010 e 2011somaram cerca 345 mil sacas. No total

são 28 campos de sementes, em umaárea de aproximadamente 245 hectarese numa estimativa de 42 sacas.

João Paulo Rodrigues, da CoordenaçãoNacional do MST, destacou a necessidadede desenvolver outra matriz tecnológicafrente à hegemonia dos agrotóxicos. “Oque estamos comemorando aqui é umacolheita, mas não qualquer colheita, é umacolheita de arroz orgânico. O que estamosmostrando é que a produção por meio deuma matriz agroecológica é possível, e omais importante, levando alimento maissaudável para a população”.

Autoridades

Tarso Genro destacou a importânciada organização dos movimentos sociaisno Brasil. “Vocês não são um problemapara esse país: vocês são a solução”, afir-mou o governador gaúcho.

O ministro Pepe Vargas elencou assimbologias comemoradas pela 9ª Aberturada Colheita do Arroz Ecológico. “O pri-meiro símbolo é o de que a ReformaAgrária dá certo. O segundo é o da susten-tabilidade ambiental, feita pela agriculturafamiliar. O terceiro símbolo é o conjuntode programas governamentais e políticaspúblicas que contribuem para o avanço epara o salto de qualidade da agriculturafamiliar”, pontuou o ministro.

Técnicas de produção

O agricultor Jeferson da Silva, 27 anos,conhecido como Cabelo, contou que osegredo do arroz agroecológico está nomanejo feito pelo controle da água,com o período de alagamento em quea área fica submetida. “A estrutura dearroz é feita na área de várzea e de for-ma coletiva. Participo de um coletivoformado por 12 famílias, que juntassomam um total de 90 hectares. Já sãoseis anos de trabalho conjunto”.

Cabelo mora com a esposa e duas filhas(uma de um ano e meio e outra de seteanos) na unidade produtiva – o chamadolote. “A unidade produtiva é dividida emduas áreas. Uma com quatro hectares,voltada para a moradia e subsistência. Eoutra de oito hectares, voltada para aprodução”, descreve o assentado.

A experiência do Arroz Agroecológicotem início em 1999, pelos assentados dareforma agrária nos municípios de NovaSanta Rita, Tapes e Viamão. O Grupo Ges-

Colheita do arroz agroecológicomostra força da Reforma Agrária

tor envolve a Cooperativa Central dos As-sentamentos do Rio Grande do Sul(Coceargs), que fornece CertificaçãoParticipativa do Arroz “Terra Livre” – mar-

ca que dá nome ao arroz comercializadopelos agricultores, e mais três cooperativas.A área total de certificação orgânica é decerca de 6.700 hectares.

Termo de Empenho

Durante o evento, Tarso Genro e oministro da Integração Nacional assina-ram protocolo de implementação doprograma “Água para Todos”, que visaatender 47 assentamentos de 18 municí-pios do Rio Grande do Sul, conformeprojetos elaborados pelo Incra.

O termo de empenho é de R$ 38 mi-lhões, sendo R$ 2 milhões provenientesdo governo do estado. “Hoje nós esta-mos inaugurando o programa. O Águapara Todos vai beneficiar as famílias deagricultores por meio do fornecimentode infraestrutura hídrica para as áreasde assentamento”, garantiu Bezerra.Assentados apresentam a agroindústria a Tarso Genro (3º) e Fernando Bezerra (2º)

Agricultor conta queo segredo está nomanejo feito pelo

controle da água noperíodo de alagamento

Estimativa de produção de 300 mil sacas de arroz nesta safra

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7JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012

ESTADOS MST e entidades de direitos humanos denunciam recrudescimento da violência

SETOR DE COMUNICAÇÃO MST-PE

DOIS TRABALHADORESrurais Sem Terra foram assas-sinados em Pernambuco,

desde o final de março, nas regiões da zonada mata sul e no agreste.

O primeiro foi o agricultor PedroBruno, assassinado a tiros próximo aoengenho Pereira Grande, no municípiode Gameleira, na Zona da Mata Sul,no dia 2 de abril. Ele vivia no Assenta-mento Dona Margarida Alves e se des-locava para outro assentamento.

O outro foi Antônio Tiningo, co-ordenador do MST, assassinado em umaemboscada quando se dirigia a umacampamento na fazenda Açucena, nomunicípio de Jataúba, agreste de Per-nambuco, no dia 23 de março .

O MST acredita que o assassinatode Pedro Bruno tenha sido uma reta-liação à reocupação do engenho PereiraGrande, pertencente à Usina Estre-liana, uma das áreas mais emblemáticasde conflitos de terra no estado.

A área foi declarada de interessesocial para fins de Reforma Agrária em2003, mas depois de uma série derecursos impetrados, a Usina conseguiubarrar o processo de desapropriação.O caso está pendente na justiça.

No agreste, pistoleiros atiraramcontra famílias Sem Terra acam-padas próximas à fazenda SerroAzul, no município de Altinho, nofinal de março. Em outubro, o SemTerra José Amaro da Silva desa-pareceu na zona da mata quando saíade um acampamento no municípiode Joaquim Nabuco.

O MST e entidades de direitos hu-manos, como a Terra de Direitos, já de-nunciaram formalmente os episódios deviolência do latifúndio. “Há um recrudes-

Dois trabalhadores rurais sãoassassinados em Pernambuco

Sem Terra protestam contra violência no agreste pernambucano

POR MIGUEL STEDILE

COORDENAÇÃO DO ITERRA

O TRABALHO como princí-pio educativo e formador paraa emancipação do ser humano

foi o centro das discussões do seminário“Agricultura camponesa e educaçãopolitécnica”, realizado no Instituto deEducação Josué de Castro (Iterra), emVeranópolis (RS), em março.

A atividade reuniu educadores dasáreas de Reforma Agrária da região sul,centros de formação e estudiosos da edu-cação, como Luiz Carlos Freitas (Uni-camp), Maria Ciavatta e Isabel Brasil(Escola Politécnica Joaquim Venâncio).

“O seminário contribuiu para a com-preensão do conceito de educação politéc-nica, resgatando sua concepção e práticasoriginais, que estão vinculadas com a lutasocialista”, disse Roseli Caldar, do Setorde Educação do MST. Nessa concepção,o objetivo da educação é a emancipaçãodo ser humano, que vai além do domíniode técnicas a serviço do capital.

Para Falcinelo Toná, do Setor deProdução do MST do Paraná, a ativi-dade fortaleceu os conceitos de educaçãodo campo e de agricultura camponesa,diferenciando a educação dos campo-neses em movimento da transformaçãoda sociedade do ensino técnico paraatender demandas do agronegócio.

Educadores de assentamento ajudam na alfabetização de 1888 turmas

cimento da violência no campo em Per-nambuco. Pistoleiros recebem R$ 50,00por dia para atirar contra trabalhadoresrurais, enquanto fazendeiros andamarmados ameaçando acampados”, relataCristiane Albuquerque, da CoordenaçãoNacional do MST em Pernambuco.

Segundo ela, o governo do estado,o Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária (Incra) e demaisórgãos responsáveis continuam de bra-ços cruzados sem tomar uma atitudediante dos casos de violência.

Educação para

a emancipação

humana

POR GUILHERME ALMEIDA

O MÉTODO cubano de alfa-betização “Sim, Eu Posso”(Yo si puedo) começou a ser

disponibilizado neste ano àpopulação de Fortaleza, no Ceará, emparceria da prefeitura com oseducadores que atuam em assenta-mentos da Reforma Agrária.

O Programa Fortaleza Alfabetizada,que deve formar 1888 turmas noEnsino de Jovens e Adultos (EJA),pretende manter o acompanhamentodas turmas, além de alfabetizar.Segundo Ana Edite, da prefeitura deFortaleza e da coordenação geral do

Experiências da Reforma Agrária contribuem na superação do analfabetismo em Fortaleza

totalizam 32,5 horas de gravação.“Educadores que atuaram em áreas

da Reforma Agrária fazem parte de umcoletivo que acompanha o programaem Fortaleza, composto por assenta-dos, que atuam juntamente com asecretaria de educação do município”,explica Maria de Jesus, coordenadorado Setor de Educação do MST.

Ao todo, o processo em Fortalezadeve levar oito meses. Depois das 65vídeos-aulas de alfabetização, sãoorganizados ciclos de cultura parafortalecer a compreensão de palavrase textos. “Essa atividade é importantepara dar continuidade no processo dealfabetização”, afirma Maria.

programa, a meta é tornar a região umterritório livre do analfabetismo.

O sistema usado nessa empreitadafoi desenvolvido por uma equipecoordenada pela pedagoga cubana

Inés Relys Diaz e pelo institutoPedagógico Latino Américo eCaribenho (IPLAC), entre 1997 e1998. Trata-se de uma série de vídeo-aula, no formato de telenovela, que

Arqu

ivo M

ST -P

EAr

quivo

MST

-CE

Page 8: Jornal Sem Terra - 318

ESPECIAL Logo após a jornada, o TJ do Pará expediu o mandado de prisão contra o Coronel Mario Pantoja e o major José Maria de Oliveira, condenados pelo envolvimento no Massacre de Carajás

98 JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012

PARÁ – Em Eldorado dos Carajás,a Juventude do MST montou o 7°Acampamento Pedagógico “OzielAlves”, entre os dias 8 a 17 de abril.Desde 2006, a juventude SemTerra do estado se reúne em tornodesse acampamento em memóriaàs vítimas.Na curva do “S”, onde aconteceuo Massacre, 3 mil Sem Terrafizeram um ato político emmemória aos mortos. Outras trêsrodovias federais também foramfechadas por cerca de 2 milpessoas. A prefeitura do municípiode Curionópolis foi ocupada por500 Sem Terra que cobravam aconstrução de novas escolas.

ALAGOAS – Foram interditadas 17rodovias em todo o estado por 3mil trabalhadores e trabalhadorasrurais. Os prédios do Incra, do Mi-nistério de Desenvolvimento Agrá-rio, da Receita Federal, da Secreta-ria de Agricultura e do Instituto deTerras e Reforma Agrária tambémforam ocupados em Maceió. Nascidades de Messias e Murici, os SemTerra fizeram duas retiradas mas-sivas de cana-de-açúcar plantadasilegalmente pelas usinas.

BRASÍLIA – Cerca de 1500 trabalha-dores rurais do MST ocuparam oMinistério do DesenvolvimentoAgrária (MDA) para denunciar aestagnação da Reforma Agrária e adiminuição de investimentos emdesapropriações de terras no país porparte do governo federal.

PERNAMBUCO – Oito latifúndiosimprodutivos foram ocupados emPernambuco. Além disso, 15 pontosdas principais rodovias de acesso aoestado foram fechados por mais de2.500 camponeses.

SERGIPE – Foram realizadas trêsocupações de latifúndios, nosmunicípios de Santo Amaro, deItaporanga da D’Ajuda e em Caria eNossa Senhora da Glória. Cerca de300 famílias ocuparam a sede do Incraem Aracaju. Ainda foram bloqueadas14 rodovias em todo o estado.

RIO GRANDE DO SUL – 300famílias Sem Terra fizeram duasocupações nos municípios deSarandi e Santa Margarida do Sul.16 rodovias federais e estaduaisforam trancadas simultaneamente.

As mobilizações aconteceram nosmunicípios de São Luiz Gonzaga,Sarandi, Trindade do Sul, El-dorado do Sul, Piratini, Candiotae Hulha Negra. Em Livramento,foi realizada uma audiência públicacom participação de governo, pre-feitura e Incra.

SÃO PAULO – No Pontal doParanapanema, 600 Sem Terraocuparam a Fazenda São Domingos,no município de Sandovalina. Ostrabalhadores também protestaramcontra o projeto do governadorGeraldo Alckmin que visa legalizarterras griladas no extremo oestepaulista. Foram sete paralisações detrechos de rodovias no estado. ARodovia Anhanguera foi paralisadaem quatro diferentes trechos,mobilizando cerca de 600 pessoasligadas ao MST e outrosmovimentos e organizações sociais.Em Andradina, a paralisaçãomobilizou 300 pessoas e aconteceuna Rodovia Marechal Rondon. Nomunicípio de Sandovalina, regiãodo Pontal do Paranapanema, 150pessoas fecharam a Rodovia GeneralEuclides Figueiredo. Em Itaberá, aparalisação aconteceu na RodoviaAlves de Negrão (SP 258),mobilizando cerca de 100 pessoasdos assentamentos da região.

RIO DE JANEIRO – O prédio doIncra na cidade do Rio de Janeiro foiocupado por cerca de 300 Sem Terra,que também bloquearam a Av.Presidente Vargas, próximo ao Incra.Na sequência, os manifestantes

partiram para o Tribunal de Justiçado Estado do Rio de Janeiro, onderealizaram ato cobrando açõesefetivas do Judiciário.

SANTA CATARINA – Mais de 400trabalhadores rurais ocuparam o Incra,em Florianópolis. Além disso,fizeram um protesto em frente aoTribunal de Justiça, para relembrar oMassacre e depois se juntaram à outras10 mil pessoas na 3ª Marcha dosCatarinenses, organizada pela Centraldos Movimentos Sociais (CMS).

CEARÁ – O Palácio da Abolição, sededo governo do estado, e o Incraforam ocupados por cerca de 1.500trabalhadores e trabalhadoras docampo e da cidade, em Fortaleza.A BR 116 também foi trancada comapoio de uma comunidade que lutapela construção de uma passarela epara denunciar o número deacidentes na rodovia.

MATO GROSSO – Em Cuiabá, asede da Receita Federal foi ocupada

Mobilizações de 60 mil Sem Terra demonstramimpaciência com o governo na Jornada de Abril

Envolvidos noMassacre são presos

Foram mais de 60 mil trabalhadores rurais do MST que se

mobilizaram em torno da Jornada Nacional de Luta pela Reforma

Agrária, em todo o país. Na pauta, as principais reivindicações

estavam em torno justamente da punição dos responsáveis pelo

Massacre de Eldorado dos Carajás e por uma maior eficiência

no processo da Reforma Agrária, exigindo o assentamento das

186 mil famílias acampadas em todo o país. Ao todo, foram

realizados protestos em 20 estados e no Distrito Federal. Houve

105 bloqueios de rodovias, estradas, avenidas e ferrovias. 45

latifúndios e onze superintendências do Incra foram ocupadas.

por cerca de 200 trabalhadores doMST. Um acampamento tambémfoi montado na Praça UlissesGuimarães. Além disso, oscamponeses bloquearam a BR-163,no município de Sorriso, e a Av.Historiador Rubens de Mendonça,em Cuiabá. Após o trancamento, ostrabalhadores rurais fizeram umamarcha que passou na Secretaria deSaúde e no Tribunal da Justiça.

MATO GROSSO DO SUL – 250famílias do MST ocuparam a FazendaBoa Esperança, localizada às margensda rodovia MS-134, há cerca de 10quilômetros da sede do município deBatayporã. Cerca de outros 300lavradores do MST ocuparam oprédio do Incra em Campo Grande.Em Itaquirai, por volta de 800 pessoastrancaram a rodovia 163.

TOCANTINS – Cerca de mil famíliasrealizaram um ato político noTribunal de Justiça contra o despejodo acampamento Sebastião Ribeiro,no município de Palmas, onde cerca

de 300 famílias do MST e MABocupavam a fazenda Dom Augusto eestavam para ser despejadas.Foram fechadas cinco rodoviasfederais, mobilizando 2 mil pessoas.Mais de mil famílias do MST e MAB,ao lado de estudantes, professores epastorais, trancaram a TO 050,próxima à capital Palmas. Depois, osintegrantes realizaram um ato políticoe fizeram uma vigília durante toda anoite com diversas atividades deprotestos e denúncias.

PIAUÍ – Por volta de 600 pessoasfecharam a principal rodovia que dáacesso à capital Teresina.

MARANHÃO – Em Imperatriz,sudeste do estado, cerca de 400camponeses ocuparam a sede doIncra. O protesto cobra oassentamento das 3.500 famíliasacampadas no estado. As rodoviasBR 316 e a Belém Brasília foramtrancadas por cerca de 600 militantes.

Foram necessários 16 anos consecutivosde mobilização, com milhares de famílias doMST se mobilizando todo o mês de abril emtorno das Jornadas Nacionais, para que osSem Terra visem finalmente os responsáveispelo assassinato dos 21 trabalhadores ruraisno Massacre de Eldorado dos Carajás, noPará, em 1996, serem punidos.

A vitória veio quando, no último dia 7 demaio, o Tribunal de Justiça do Pará expediuo mandado de prisão contra o Coronel MarioColares Pantoja e o major José Maria Pereirade Oliveira, condenados pelo envolvimentono Massacre de Carajás. O major Oliveira foicondenado a 158 anos e 4 meses pelos crimes,e o coronel Pantoja a 228 anos.

RONDÔNIA – No município de Ji-Paraná, 700 pessoas participaram daocupação da sede do Incra. Após ofechamento da BR 364, ostrabalhadores rurais seguiram emmarcha de volta a Ji-Paraná. 400pessoas também realizaram um atopúblico no Fórum de Justiça.

RIO GRANDE DO NORTE – 700pessoas fecharam a BR 304, próximoa Natal. Depois do ato, os Sem Terrafizeram protesto na capital noTribunal de Justiça junto a outrosmovimentos sociais. Em seguida,fizeram manifestação em frente aoIncra.

PARAÍBA – Em João Pessoa, a sededo Incra foi ocupada por cerca de 500famílias camponesas, onde tambémocorreram protestos na AvenidaEpitácio Pessoa e manifestaçãono Tribunal de Justiça. Mais de100 famílias ocuparam duas áreasdo sertão da Paraíba.

BAHIA – Em todo estado baiano, cerca de 5 mil famílias do MST ocuparam28 latifúndios. Outras 3 mil famílias do MST junto com outras organizaçõestambém ocuparam o Incra e o Denocs. 4 mil pessoas fecharam sete rodoviasfederais e duas ferrovias.

PARANÁ – Em Curitiba, mais de 500camponeses montaram acampamen-to e ocuparam parte das ruas dacidade. Quatro rodovias foramtrancadas no estado. Na BR-116, emCuritiba, cerca de mil trabalhadoresfecharam a rodovia. No municípiode Cascavel, a BR-277 também foitrancada por aproximadamente 300

integrantes do MST. Já na BR-158,em Rio Bonito do Iguaçu, 60 pessoastambém pararam a rodovia. Outros70 Sem Terra de 15 assentamentosdo MST da região norte e noroestedo Paraná fecharam a Rodovia PR317, junto com moradores da EscolaMilton Santos de Agroecologia, naaltura de Maringá.

MINAS GERAIS – Cerca de 40famílias do MST ocuparam afazenda Palmeiras no municípiode Carmo do Paranaíba. EmUberaba, outras 43 famíliasocuparam a Fazenda Inhumas.Em Belo Horizonte, cerca de 100pessoas do MST ocuparam a se-de do Incra, ao cobrarem oassentamento das 2.700 famílias

acampadas no estado e por polí-ticas de melhorias para os assenta-mentos. Outros 900 trabalhadoresliberaram o pedágio da rodoviafederal Fernão Dias, nomunicípio de Perdões. A BR 365,em Jequitaí, no norte de Minasfoi trancada por 200 pessoas,assim como a BR 050, bloqueadapor outras de 500 pessoas.

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10 JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012

ESPECIAL Mulheres também denunciaram a violência do capital e do patriarcado, especialmente a violência doméstica

Camponesas lutam em 21 estadosFoi enviada uma carta à presidenta Dilma Rousseff exigindo o veto integral das mudanças

DA PÁGINA DO MST

AS MULHERES da ViaCampesina realizaramocupações, protestos enegociações em 21 estados eno Distrito Federal, em tornodo Dia Internacional de Lutadas Mulheres, no 8 de março.

As camponesas cobraramda presidenta Dilma Rousseffa realização da ReformaAgrária e um novo modeloagrícola, baseado empequenas propriedades.

Por todo o país, mulheresenviaram cartas à presidentaDilma exigindo o veto total daproposta de mudanças donovo Código Florestal. Ajornada denunciou o capitalestrangeiro na agricultura e asempresas transnacionais.

No enfrentamento aomodelo de morte doagronegócio, a Via Campesinapropõe como alternativa umprojeto de agriculturabaseado na agroecologia, coma produção de alimentos

saudáveis, defesa dasoberania ambiental e orespeito aos direitos dascamponesas e camponeses.

Durante a mobilizaçãoforam realizadas marchas(Brasília e Tocantins),ocupações (da Embrapa emGoiás, do Ministério daFazenda em Porto Alegre, doIncra e do Itesp no interior deSão Paulo, do Incra em Marabáe Curitiba, no reservatório daCompanhia Hidroelétrica doSão Francisco (Chesf) emPetrolândia/PE e da fazenda daSuzano em Alcobaça/BA), alémde encontros de mulheres.

As mulheres tambémdenunciaram a violência docapital e do patriarcado,especialmente a violênciadoméstica, uma das principaisformas de violação dosdireitos humanos dasmulheres, que afeta a saúde,integridade física, emocionale patrimonial. Vejaum panorama das açõesnos estados.

MATO GROSSODO SUL

Em Dourados, cerca de 200mulheres saíram às ruas emprotesto contra o uso deagrotóxicos. A marcha quepassou pela avenida MarcelinoPires contou com faixas,cartazes e batuques. Muitasmulheres utilizavam máscarasde proteção e desenhos emforma de caveira,demonstrando a preocupaçãocom a saúde no campo.

PERNAMBUCO

Em Gameleira, mata sul doestado, 300 mulheres Sem terraocuparam o Engenho PereiraGrande, que pertence a UsinaEstreliana, em protesto contra omonocultivo da cana de açúcar eo trabalho escravo no estado.

Em Petrolina, 500 campo-nesas ocuparam a fazenda daempresa Copa Fruit. Parale-lamente, outras 300 mulheres daVia Campesina ocuparam a sededo Instituto Nacional de Coloni-zação e Reforma Agrária (Incra),em Recife.

Arqu

ivo M

ST -M

S

DISTRITO FEDERAL

Em Planaltina, 600 camponesas ocuparam a fazenda Toca daRaposa, reivindicando a destinação da área para assentamento e aaceleração do processo de Reforma Agrária. Parte das terras da fazendapertence à União e foi grilada pelo produtor de soja Mário Zanatta. Emnovembro de 2004, o Ibama apreendeu mais de meia tonelada deagrotóxicos contrabandeados no local.

Arqu

ivo M

ST -G

OEm Santo Antônio de Goiás

(GO), 500 agricultoras ocuparam aEmpresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (Embrapa) Arroz eFeijão, para exigir a manutenção daEmbrapa 100% pública e a retiradado Projeto de Lei 222/08, que

propõe transformar a Embrapa emempresa de economia mista comações negociadas na bolsa. Emaudiência, o presidente da empresa,Pedro Arraes, assegurou aostrabalhadores que o governo nãopermitirá a privatização.

GOIÁS

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11JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012

PARANÁ

Em Curitiba, mais de duas milpessoas participaram da Marcha dasMulheres do Campo e da Cidade: PorJustiça Social e Ambiental. As campo-nesas denunciaram os malefícios doagronegócio, a violência do capital e dopatriarcado contra a mulher e pro-testaram contra a aprovação do novoCódigo Florestal. No dia 06/03, cercade 1.000 trabalhadoras Sem Terra ocu-param a sede do Incra para cobrar agili-dade na desapropriação das áreas parao assentamento de 6 mil famílias quepermanecem acampadas no estado.

MARANHÃO

No município de Bom Jesus dasSelvas, cerca de 800 trabalhadorasrurais do MST e da cidade realizarammanifestação para cobrar dos governosmunicipal, estadual e federal umapolítica para a Reforma Agrária eReforma Urbana. A manifestaçãoencerrou o Encontro de Mulheres sobreSoberania Alimentar e contra asmudanças no Código Florestal.

BAHIA

Em Alcobaça, Sul da Bahia, no dia01/03, mais de 1.100 mulheres cam-ponesas ocuparam a fazenda Espe-rança, de propriedade da empresapaulista Suzano Papel Celulose, paracobrar do Incra agilidade nos proces-sos de desapropriação dos latifúndiosem áreas do monocultivo de eucalipto.

RIO DE JANEIRO

Mulheres do campo e da cidade realizaram protestos como parte da jornadanacional de Luta das Mulheres da Via Campesina, em denúncia ao novoCódigo Florestal, o modelo do agronegócio e para exigir soberania ambiental.

ALAGOASEm Maceió, 1.200 trabalhadoras

rurais do MST ocuparam a sede doInstituto Brasileiro do Meio Am-biente e dos Recursos Naturais Re-nováveis (Ibama), para denunciar osriscos da aprovação das alteraçõesno Código Florestal e cobrarReforma Agrária. As mulherescamponesas também realizaramuma marcha em Maceió e nomunicípio de Delmiro Gouveia.

MINAS GERAISEm Belo Horizonte, 500 mulheres

da Via Campesina e da MarchaMundial das Mulheres ocuparam asede do Incra, para cobrar o assenta-mento de 3.700 famílias que vivem emcondições precárias no estado, àespera da Reforma Agrária. Há seisanos nenhuma área é desapropriadapara assentamento em Minas Gerais.

RIO GRANDE DO SUL

600 mulheres ocuparam o prédio dasecretaria do Ministério da Fazenda eliberaram o pedágio do município deGuaíba. As trabalhadoras exigiram aliberação de recursos para a desapro-priação de terras para assentar asfamílias acampadas no estado, ecobraram programas para resolver osproblemas causados pela seca para asfamílias camponesas. Ar

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MST

-RJ

por Reforma Agráriano novo Código Florestal, aprovadas na Câmara e no Senado.

TOCANTINS

Cerca de 300 mulheres da Via Cam-pesina, movimento estudantil,movimento de defesa dos direitos hu-manos e da Marcha Mundial de Mulhe-res (MMM), marcharam mais de 8km

na cidade de Palmas e acamparam emfrente à Assembleia Legislativa, onderealizaram vigília. As Mulheresreivindicaram o veto da presidenta Dil-ma Rousseff ao novo Código Florestal.

SÃO PAULO

Em São Paulo, cerca de 500 mulheres do MST e diversas entidades parcei-ras realizaram mobilização em frente ao Tribunal de Justiça de São Paulo,em denuncia a setores do Poder Judiciário que impedem a desapropriaçãode áreas para a criação de assentamentos de Reforma Agrária.

Arqu

ivo M

ST-S

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PARÁ

Em Marabá, 600 trabalhadoras ruraisocuparam a superintendência do Incrae do Ibama, para exigir o as-sentamento das famílias acampadase políticas públicas para os assenta-mentos já existentes na região.

SERGIPE

Cerca de 1.200 mulheres realizaram uma marcha do assentamentoQuissamã, em São Cristóvão (SE), localizado a 17 km da capital, até Aracaju,onde realizaram manifestação na sede do Incra, cobrando medidas concretaspara a efetivação da Reforma Agrária no estado.

PARAÍBA

Em Sousa, região de Patos, cercade 500 mulheres do MST ocuparama fazenda Santana, para denunciar autilização exagerada de agrotóxicosna produção de algodão, na Mesor-região do Sertão Paraibano, o quetem causado problemas de saúdepara os trabalhadores e a comu-nidade que vive na região.

SANTA CATARINA

No município de Passos Maia,cerca de 200 mulheres da Via Cam-pesina participaram de um Encontrode Mulheres Camponesas, paradebater o uso abusivo dos agrotóxi-cos e seus males e reafirmar a neces-sidade do veto integral da presidentaDilma Rousseff às mudanças noCódigo Florestal.

CEARÁ

Em Fortaleza, no dia Internacionalda Mulher, 600 mulheres do MSTbloquearam a Avenida WashingtonSoares, no Bairro Edson Queiroz. Oprotesto exigia o veto integral dapresidenta Dilma Rousseff àsmudanças no Código Florestal.

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12 JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012

No norte do país, trabalhadores rurais dos movimentos camponeses são mortos pelo latifúndioINTERNACIONAL

SÍLVIA ALVAREZ

JORNALISTA, VIVEU EM HONDURAS EM 2011

NESTE MÊS DE ABRIL, fomos àsruas exigir nosso direito à memória eà verdade. Por meio dos “esculachos”aos ex-ditadores e torturadores que,durante mais de 20 anos, interrompe-ram um período democrático e de as-censo popular no Brasil, denunciamosa impunidade. Não que os dias de hojeestejam assim muito fáceis, mas foramtempos difíceis aqueles em que nãopodíamos exercer nem sequer nossodireito à organização, à reunião.

Quando quase ninguém imaginavaque seriam possíveis golpes de Estadocivil militares na América Latina, opresidente hondurenho Manuel ZelayaRosales, eleito pelo voto popular,acordou em 29 de junho de 2009, combarulhos de tiros na madrugada do diaanterior. Foi até a sacada do seu quartoe viu seu segurança rendido em frenteao portão. Teve sua casa invadida efoi levado, ainda de pijama, à basemilitar estadunidense de Palmerola,localizada a uma hora de Tegucigalpa.Dali foi expulso do país e enviado àCosta Rica. A população foi imediata-mente às ruas protestar contra o golpee foi duramente reprimida. Estamosfalando do ano 2009, século 21.

De lá pra cá, eleições fraudulen-tas foram organizadas pelo Estadogolpista e Porfírio Lobo Sosa, her-deiro do golpe, governa o país atéhoje. Zelaya, que passou dois anosexilado na República Dominicana, apósuma intensa luta da Frente Nacional deResistência Popular (FNRP), organiza-ção da qual é coordenador nacional,conseguiu retornar à sua pátria. En-quanto aqui nós lutamos pelo direitoà verdade, lá eles lutam pela refun-

dação do país e pela restituição dosprincípios básicos da democracia.

Organização dostrabalhadores

A FNRP (Frente Nacional de Re-sistência Popular), entidade que aglo-mera diversos movimentos contráriosao golpe - manteve-se meses ininter-ruptos nas ruas e quase três anos emresistência, em um país que foi sempreconsiderado “pacífico” e submisso aosEstados Unidos. Nos anos 80, porexemplo, Honduras era base dos Con-tras – exército contrarrevolucionário,apoiado pelos Estados Unidos, quepretendia minar a revolução sandinis-ta na Nicarágua. Por essas lutas osgolpistas não esperavam.

No marco dos dois anos do golpede Estado, a população em resistên-cia, após intensos debates sobre quala melhor forma de chegar ao “po-der”, decidiu criar um novo partido,o Partido Liberdade e Refundação(Libre). Esse novo instrumento foiconsiderado uma alternativa ao bi-partidarismo vigente no país e pos-sibilitará a participação eleitoral em

2013. Na época de sua criação, Ze-laya defendeu que esse deve ser umpartido político que “combata a oligar-quia; que se oponha à exploração dohomem pelo homem e que não deixeque uma elite sequestre o poder doEstado para manter seus privilégios”.

Fruto da diversidade ideológicaque compõe a resistência hondurenha,o Partido Libre já nasceu com cincocorrentes internas, sendo a principaldelas a Força de Refundação Popular(FRP), liderada pela coordenação daFNRP. Como a atual Constituição deHonduras não permite a reeleição, acorrente FRP escolheu XiomaraCastro, esposa de Zelaya, comocandidata à presidência pelo PartidoLibre. As correntes concorrerão nesteano a cargos de condução do partidonas eleições internas.

Luta no campo

A mídia internacional insiste emtentar passar a mensagem de que estátudo bem e estável por lá. A aparentecalmaria da situação política de Hon-duras, porém, é abalada toda vez queos movimentos camponeses anunciam:

Resistência enfrenta repressão na lutapor democracia em Honduras

mais um trabalhador rural foi assas-sinado. É na região do Aguán, nortede Honduras, onde estão enterrados amaioria desses mártires que lutarampor recuperar suas terras, pela soberaniaalimentar de seu país e por uma melhorqualidade de vida no campo. Tambémé nessa região onde se encontra a maiorquantidade de terras férteis do país. Amaioria delas concentradas nas mãosde poucos latifundiários.

Foi no Aguán que aconteceu, emfevereiro, o Encontro Internacionalde Direitos Humanos em Solidarie-dade com Honduras, com a presençade movimentos e organizações popu-lares de várias partes do mundo, in-clusive o MST. Esse importante en-contro tornou evidente a continuida-de do golpe de Estado em Hondurase sua expressão em todo o aparatoinstitucional responsável pela impu-nidade e pela agudização da violên-cia. Só no Aguán foram contabili-zados 45 assassinatos em dois anos.

O desafio da resistência hondurenha,que tanto nos deu exemplos de lutanesses quase três anos desde o golpe, éa unidade. As diversas forças que inte-gram o movimento de resistência hondu-renho precisam focar na bandeira co-mum – a da refundação de Honduras –para reverter o processo em curso derepressão, impunidade e aprofundamen-to do modelo neoliberal no país.

Desafio da frente émanter unidade paraenfrentar a repressão

Frente luta pela refundação do país e restituição de direitos democráticos

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Zelaya, líder do FNRP, defendecombate à oligarquia

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13JORNAL SEM TERRA • MAR/ABR/MAI 2012

Cinco mil pessoas participaram de inauguração de memorial e homenagem a João Pedro TeixeiraLUTADORES DO POVO

DO SETOR DE COMUNICAÇÃO*

O MEMORIAL DAS Ligas Camponesasfoi inaugurado em 2 de abril, em um atocom 5.000 pessoas, no município de Sapé,na Paraíba, que celebrou também a vidade luta de João Pedro Teixeira, líder cam-ponês, ao completar 50 anos da sua morte.

João Pedro Teixeira, assassinado pelolatifúndio no dia 2 de abril 1962, foi umdos fundadores das Ligas Camponesas deSapé, em 1958, juntamente com BiuPacatuba, João Alfredo, Pedro Fazendeiroe Ivan Figueiredo.

O memorial fica no povoado de Barrade Antas, na casa onde moraram JoãoPedro Teixeira, sua esposa ElizabethTeixeira e seus 11 filhos. A inauguraçãocontou com a presença do governadorRicardo Coutinho, o arcebispo Dom JoséMaria Pires, parlamentares, representantesde entidades de classe e órgãos de defesados direitos humanos.

Coutinho destacou a presença históricade Elizabeth Teixeira, Agassiz Almeida,Assis Lemos e Francisco Julião(representado pelo seu filho AnacletoJulião) nas lutas camponesas do Nordeste.“O memorial resgata a história das lutascamponesas e, ao mesmo tempo, dizer ao

Um memorial para as lutas camponesas

JOSÉ VALENTIM ALVES DOS SANTOS

MILITANTE DO MST DE PERNAMBUCO

As Ligas Camponesas surgiram porvolta de 1955, tendo como suaprimeira experiência o Engenho Ga-lileia, no município de Vitória de San-to Antão, na região Metropolitana dePernambuco. Com a desapropriaçãodesse engenho, o Movimento se ex-pandiu por diversos estados bra-sileiros, sendo que na região Nor-deste foi mais atuante.As Ligas desempenharam nos anos50 e 60 o papel de organizar oscamponeses para que pudessemreivindicar seus direitos trabalhistase deixam de ser explorados pelasgrandes oligarquias agrárias. Aorganização era formada porassociações compostas porhomens e mulheres camponeses,que não reivindicavam apenas osdireitos trabalhistas, mas tinhamcomo objetivo a Reforma Agrária.O seu surgimento foi no contextogeral da crise cíclica do modelo deindustrialização dependente, entre1954 e 1964. Por volta de 64,aconteceu uma desarticulação des-sas associações, por meio de umprocesso imposto pela DitaduraMilitar marcado por violência e

O surgimento das Ligas

Camponesas em Pernambuco

“Eu sei que vou mematar. Eu sei que aReforma Agrária vaidemorar. Haverátempos de derrota. Nãodesanimem. Mas nossaluta vai ficar comobrasa, escondida nascinzas. Até que um diarenascerá, com todaforça, e como fogo, seráinvencível. E um dia, opovo brasileiro teráReforma Agrária.”

Frase impressa em umcartaz, retirada de um discurso

de João Pedro Teixeira

mortes. O Engenho Galileia era umapropriedade rural com exploraçãopelo sistema de arrendamento. Em1954, o valor do aluguel das parce-las de terra era muito superior àspossibilidades de pagamento dosarrendatários. As tentativas no senti-do de rediscutir o valor das rendase de evitar a expulsão de campo-neses em débito foram fracassadas.As oligarquias temiam que iniciasseno campo um processo de “comu-nização” que se expandiria por todoo território nacional, e tentaramconstruir a imagem de que as Ligaseram um movimento ilegítimo.A desapropriação do EngenhoGalileia, em 1959, foi antecedidapor mobilizações na cidade doRecife, que reuniram centenas deagricultores nas proximidades daAssembleia Legislat iva e dopalácio do governo.A luta pela desapropriação foi mui-to acirrada, mas ficou marcadacomo exemplo de que aqueles quenão desistem dos seus objetivossaem vitoriosos. Essa vitória ren-deu bons frutos para o movimentocamponês e serviu como estimulopara expansão de outras Ligas emdiversos estados brasileiros, comona Paraíba.

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Museu resgata as lutas das Ligas Camponesas no nordeste

Elizabeth Teixeira em frenteao túmulo de João Pedro

ainda não foi realizada”, disse. “Há 50anos, tiros do latifúndio abateram JoãoPedro Teixeira. Ele tombou no chãoda história como um valente que nãose curvou ante forças poderosas”,comentou o ex-deputado constituinteAgassiz Almeida.

“O MST teve como embrião as Li-gas Camponesas e a história de lutade homens como João Pedro Teixeira,Francisco Julião, Pedro Fazendeiro etantos outros companheiros”, disseJoão Pedro Stedile, do MST.

*Com informações do Centrode Referências em Direitos

Humanos do Agreste da Paraíba

povo paraibano que estamos bem próximosdos trabalhadores rurais, a fim de trazerdias melhores e recuperar uma parte daslutas agrárias deste país, que não podemser esquecidas”, disse o governador.

“A maior dificuldade para instalar omemorial foi o ódio daqueles que im-plantaram a ditadura no país, que alémde matarem muita gente, quiseramapagar da memória do povo documentosda época”, revelou Coutinho.

As homenagens começaram comuma caravana, que visitou o túmulo deJoão Pedro Teixeira no Cemitério Ve-lho de Sapé. Participaram da atividademilitantes e ativistas de movimentossociais e antigos militantes daquela épo-ca. Depois foi realizada uma caminhadapelas ruas do município - assim comoos camponeses faziam na década de 1960- que terminou na sede do memorial.

Na Praça João Pessoa - onde as Li-gas faziam suas reuniões - discursarampersonagens históricos das lutas cam-ponesas. Com palavras carregadas deemoção, Elizabeth Teixeira relatou oseu calvário após a morte de João Pedro.“Mesmo carregando o peso dos meusquase 90 anos, estarei sempre lutandopela Reforma Agrária no Brasil, que

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Escritor recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971, destacado como o poeta da humanidade violentadaLITERATURA

GABRIELA DIAS

COLETIVO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

PABLO NERUDA nasceu RicardoEliecer Neftalí Reyes Basoalto, em 12de julho de 1904, em Parral, no Chile. Éconsiderado um dos mais importantesliteratos do século 20. Ainda adolescente,adotou o nome de pena Pablo Neruda(inspirado no escritor checo Jan Neruda).

Um dos maiores poetas da literaturacontemporânea, foi um militante comunis-ta, engajado na luta da classe trabalhadorae por uma América livre. Sua obra é plenade emoção e marcada por humanismo. Aos20 anos, contou o amor e a ausência damulher amada no livro “Vinte poemas deamor e uma canção desesperada” (1924),que está entre os livros mais conhecidosda literatura mundial.

Neruda foi cônsul na Espanha quan-do estourou a Guerra Civil Espanhola,

51 obras traduzidas

em todo o mundo

Na obra de Pablo Neruda, destacam-se Residência na Terra (1933),España en el corazón (1937, inspir-ado na Guerra Civil Espanhola),Canto Geral (1950), Cem sonetosde amor (1959), Memorial de IslaNegra (1964), A espada incendiada(1970) e a autobiografia póstuma,Confesso que vivi (1974). No total,são 51 obras, traduzidas para maisde 35 idiomas.

Posso escrever os versosmais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: “A noiteestá estrelada,e tiritam, azuis,os astros, ao longe”.

O vento da noite girano céu e canta.

Posso escrever os versosmais tristes esta noite.Eu a quis, e às vezes elatambém me quis...

Em noites como esta eu

É a tua paz o que amamos,não a tua máscara.Não é formoso o teurosto de guerreiro.

És formosa e vasta,América do Norte.

Vens de humilde berçocomo uma lavadeira

junto dos teus rios, branca.Edificada no desconhecido,

é a tua paz…Amamos o teu homem

com as mãos vermelhasdo barro do Óregon,o teu menino negro

que te trouxe a música nascidana tua comarca de marfim; amamos

a tua cidade, a tua substância,a tua luz, os teus mecanismos,a energia do Oeste, o pacífico

mel, de colmeia e povoado,o homem robusto no trator,

a aveia que herdastede Jefferson, a roda murmurante

que mede os teus oceanos terrestreso fumo da fábrica e o milésimo

beijo de uma colónia nova:o teu sangue lavrador

é o que amamos,a tua mão popular

coberta de óleo (…)

Que desperte o lenhador (trecho),em Canto Geral

Perguntareis: e onde estão as lilas?E a metafísica coberta de amapolas?

E a chuva que comfrequência golpeava

suas palavras as enchendode buracos e pássaros?

(…)Perguntareis por que sua poesia

não nos fala do sonho, das folhas,dos grandes vulcõesde seu país natal?

Venham a ver o sanguepelas ruas, venham a ver

o sangue pelas ruas,venham a ver o sangue pelas ruas!

Espanha no coração

Neruda: o poeta do amor e da Revolução

em 1934. Identificou-se com o exércitopopular, ainda que devesse ser neutropor prestar serviços diplomáticos. De-posto de seu cargo com a guerra, voltouao Chile. A partir desse momento, ini-ciou uma nova fase, de poesia comuni-

tária, combativa e a vida militante. Em1945, saiu candidato ao Senado chilenopelo Partido Comunista, na amplacoalizão para apoiar José Antonio RíosMorales à presidência, e se elegeu. RíosMorales, que havia sido eleito presidente,faleceu no ano seguinte. GabrielGonzález Videla passou a ocupar apresidência, instaurou a censura naimprensa e deu início a uma onda derepressão. Neruda escreveu o poema“Canto Geral” como uma respostapoética à traição de Videla e às injustiçashistóricas na América Latina.

Em 1970, Neruda foi indicado acandidato à presidência do Chile peloPartido Comunista, mas abdicou em fa-vor de Salvador Allende, como candidatoúnico da Unidade Popular. Já doente, emtratamento de um câncer de próstata,recebeu o Prêmio Nobel de Literaturaem 1971, destacado como “O poeta da

humanidade violentada”. Em 23 desetembro de 1973, após 12 dias do golpede Estado no Chile, liderados pelosmilitares apoiados pelo imperialismosestadunidense contra Allende, Nerudamorreu por consequência do câncer.

a tive entre os meus braços.A beijei tantas vezes debaixoo céu infinito.

Ela me quis, às vezeseu também a queria.Como não ter amado os seusgrandes olhos fixos.

Posso escrever os versosmais tristes esta noite.Pensar que não a tenho.Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa,mais imensa sem ela.

E o verso cai na alma comono pasto o orvalho.

Que importa que o meu amornão pudesse guardá-la.A noite está estrelada e elanão está comigo.

Isso é tudo. Ao longealguém canta. Ao longe.Minha alma não se contentacom tê-la perdido.

Poema 20 (trecho),em “Vinte Poemas de Amor e

uma Canção Desesperada”

Inter

net

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Para não esquecerJunho

www.radioagencianp.com.br

02 Criação da Organização paraLibertação da Palestina, OLP, 1964

04 Nascimento de Pancho Villa, 1878

13 5° Congresso Nacionaldo MST, 2007

14 Nascimento de Ernesto“Che” Guevara, 1928

14 Nascimento de José CarlosMariátegui, 1894

18 Golpe militar na Guatemala, 1954

20 Morre Clara Zetkin,revolucionária alemã, 1933

21 Nascimento de Luís Gama,líder abolicionista, 1830

21 Nascimento de Machadode Assis, 1839

25 Independência de Moçambique, 1975

Após 10 anos de guerra deresistência e independência, aFrente de Libertação deMoçambique e Portugal assinamos acordos que reconhecem aindependência do país africano,dominado pelos portugueses desdeo século 16. Após a independência,Moçambique se declarou umaRepública Socialista.

26 Nascimento de Salvador Allende, 1908

O documentário “Luiz Poeta, umahistória de 103 anos” retrata a vidado Seu Luiz, que mora em umassentamento do MST emPromissão (SP). Baiano deParamirim, agricultor e poeta, paide oito filhos e avô de 47 netos,tem ainda 75 bisnetos e 20tataranetos. Com as idéias emordem, fala sobre o tempo, osfilhos, a terra, o Brasil e não seesquiva quando o assunto épolítica. Luiz Beltrame de Castrovive no interior de São Paulo há

muitos anos. Lutou pela reformaagrária e conseguiu um pedaço deterra em Promissão, a pouco menosde 500 quilômetros da capitalpaulista. É o fruto de muitacaminhada. Ele marchou com o MST

diversas vezes pelo país, como doRio de Janeiro a Brasília a pé,quando tinha “apenas” 95 anos.Direção: Bruno Benedetti, FábioEitelberg, Patrick Torres, PedroBiava e Rafael Stedile.

Um século

de luta

Agroecologia: bases científicaspara uma agricultura sustentável

O livro de Miguel Altieri, que temforte influência na disseminação daagroecologia no Brasil, é referência paraprofissionais e instituições oficiais deensino, de pesquisa e de extensão rural.Diante da evolução teórica, prática epolítica da Agroecologia, a terceiraedição do livro chega para dar umacontribuição distinta das anteriores. Osetor do agronegócio não consegue maisocultar os efeitos maléficos de sua lógicacriminosa de apropriação da natureza ede expropriação de direitos sociais. Olivro pretende contribuir no processo deinternalização do modelo agroecológico nas instituições queincidem sobre os rumos do desenvolvimento rural.

Campanha lança cartilhapara trabalho debase com agricultores

A cartilha Plantando o Amanhã, voltadapara o trabalho de base com camponeses,agricultores, assentados e trabalhadores rurais, éum instrumento para organizar a sua luta local eavançar na construção dos comitês dacampanha. O material apresenta elementos parao trabalho de base, como um conjunto demétodos para animar e organizar acompanheirada na busca de soluções para nossosproblemas. Cada capítulo apresenta sugestões deoficinas para cada tema, que devem seradaptadas para a realidade local, dialogandocom os elementos e materiais disponíveis. Baixea cartilha na página do MST e na página dacampanha www.contraosagrotoxicos.org/

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