labelling approach

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE NACIONAL DE DIREITO CRIMINOLOGIA CRÍTICA SÓCIO-INDIVIDUAL: A Teoria do Etiquetamento Amanda Rostum Camila Costa Rodrigues Gabriela Castro Maria Clara Gama Madureira Mariana Moxotó Falcão Nathália Guimarães Fernandes Sofia Lima Thaís Horowicz Gavião

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CRIMINOLOGIA CRÍTICA SÓCIO-INDIVIDUAL: A Teoria do Etiquetamento

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE NACIONAL DE DIREITO

CRIMINOLOGIA CRTICA SCIO-INDIVIDUAL: A Teoria do Etiquetamento

Amanda Rostum

Camila Costa Rodrigues

Gabriela Castro

Maria Clara Gama Madureira

Mariana Moxot Falco

Nathlia Guimares Fernandes

Sofia Lima

Thas Horowicz Gavio

Rio de Janeiro

2015

1 INTRODUO

Com o trmino daSegunda Guerra Mundial, osEstados Unidosingressaram em um perodo de prosperidade social e econmica, com destaque evidente ao denominado american way of life, em contrapartida aos padres de vida existentes naUnio Sovitica. Entretanto, na dcada de 1960, no contexto da guerra fria, surgiram nos EUA diversos movimentos sociais, que questionavam o modelo poltico e social do pas. Podemos citar, por exemplo, o movimento hippie, que surgiu em repudio a guerra do Vietn, e os esforos de Martin Luther King Jr. e Betty Friedan, em busca da garantia de direitos civis s minorias, com a luta contra o racismo e o machismo, respectivamente. Essa agitao social no estava presente no Brasil, onde o estabelecimento doRegime Militarno ano de 1968 foi seguido por revoltas estudantis e de outros setores da sociedade. Foi em meio a esse ambiente conflituoso, composto de questionamentos polticos e social, que a teoria do Labelling Approach ou Teoria do Etiquetamento Social surgiu. A teoria do etiquetamento social, tambm denominada de labelling approach, uma teoria criminolgica que afirma que as noes de criminoso e crime so construdas socialmente, a partir das aes de instncias oficiais de controles social e da definio legal do que seria um ato, um comportamento criminoso. Dentro desse contexto, entende-se que a criminalidade no uma propriedade inerente ao indivduo, e sim uma etiqueta atribuda a certos indivduos, entendidos pela sociedade como delinquentes. Ou seja, o comportamento desviante aquele rotulado como tal.

O nascimento desta teoria foi um grande marco para a teoria da criminalidade, pois se encontrava em um momento de transio entre a criminologia de cunho tradicional, de Cesare Lombroso, e a criminologia crtica, aonde abandonava-se a ideia de pr disposio realizao de crimes e analisa aspectos psicolgicos do agente, buscando uma anlise profunda do sistema penal, buscando-se compreender o status social do delinquente. Com essa nova concepo, a teoria do etiquetamento da enfoque no estudo da ao de penitenciarias, rgo do Poder Judicirio, foras polticas, dentre outras formas de controle social. Busca- se compreender como essas etiquetas ou rtulos convencionados e aplicados por tais instituies influenciam para o surgimento de um estigma de criminoso, especialmente para certos grupos sociais, alterando a prpria percepo individual daqueles rotulados.

A teoria doLabeling Approachcomeou a se desenvolver com base em duas vertentes dasociologianorte-americanas: o Interacionismo Simblico e Etnometodologia.

( Interacionismo Simblico: Essa corrente sociolgica sustenta que a realidade humana no tanto feita de fatos, mas da interpretao que as pessoas coletivamente atribuem a esses fatos. Uma conduta s ser tida como criminosa se os mecanismos de controle social estiverem dispostos a assim classific-la. Os crimes so apenas condutas que os rgos punitivos e membros da sociedade decidiram perseguir como tal.

(Etnometodologia: Essa corrente entende que a sociedade no uma realidade que se possa conhecer sobre o plano objetivo, mas produto de uma construo social e cotidiana, obtida atravs de um processo de definio e de tipificao por parte de indivduos e de grupos diversos.Essas vertentes sociolgicas influenciaram os Trabalhos de George Mead e Hebert Blumer, que afirmavam que indivduos determinam e so determinados pelo seu meio social e as relaes que ali esto presentes. Foram, estes estudos, pontos de partida para o surgimento de uma sociologia crtica, focada na anlise dodesvio.

Em 1963, Howard Becker publicou seu livro, Outsiders, onde desenvolveu a teoria do etiquetamento. No livro, ele lanou as bases do estudo do comportamento desviante como sendo consequncia da rotulao dos atos de certa parcela da sociedade como sendo criminosos, passiveis de punio.Howard Saul Becker nasceu em 18 de abril de 1928, a cidade de Chicago, nos Estados Unidos. Formado como Ph.D na Universidade de Chicago, trabalhou grande parte de sua carreira como professor na universidade de Northwesterns, se tornando mundialmente conhecido por seus estudos sobre educao, sociologia do desvio, na arte e na msica.Suas reflexes sobre metodologia e trabalho de campo so cada vez mais difundidas nas cincias humanas como um todo. Sua experincia como pianista de jazz profissional durante a juventude marcou-o de forma indelvel, fazendo com que, nos seus prprios termos, estabelecesse uma relao muito singular com a vida acadmica.2. OUTSIDERS E A TEORIA DA ROTULAO

A teoria da rotulao, ou labbeling approach, desenvolvida por Howard Becker no livro Outsiders, preconiza a ideia de que algumas pessoas que infringem as regras estipuladas por um grupo so encaradas como outsiders, que seriam aqueles que se desviam do grupo. O desvio pode ser visto de forma estatstica, pela qual desviante seria tudo aquilo que varia excessivamente com a mdia ou aquilo que se distancia do comum, como ser ruivo ou muito alto. Pode ser visto tambm a partir da concepo patolgica, pela qual o desvio indicaria a presena de uma doena.

A metfora mdica limita o que podemos ver tanto quanto a concepo estatstica. Ela aceita o julgamento leigo de algo como desviante e, pelo uso da analogia, situa sua fonte dentro do indivduo, impedindo-nos assim de ver o prprio julgamento como parte decisiva do fenmeno. (BECKER, 1963)

De acordo com Becker, a sociedade cria regras a pessoas particulares e as rotula como outsiders, de forma que o desvio no seria qualidade do ato que a pessoa comete, mas consequncia dessa criao de regras pelo grupo com mais poder poltico. Por causa disso, o enfoque de Becker no no indivduo, uma vez que no este o responsvel por seu rtulo. Ainda, as mesmas regras criadas seriam aplicadas de forma diferente a cada indivduo. O autor exemplifica dizendo que um menino da classe mdia no chegar to longe no processo legal quanto um menino pobre e negro. Ele ressalta que o desvio , acima de tudo, resultado das reaes das pessoas a um comportamento, que poder ser considerado uma infrao em certo tempo e no em outro, ou quando cometido por uma pessoa, mas no por outra. Becker diz que desvio no uma qualidade que reside no prprio comportamento, mas na interao entre a pessoa que comete um ato e aquelas que reagem a ele. Desta forma, o desvio no est no ato cometido e nem em quem o comete, mas na consequncia visvel da reao social a um comportamento.

Dessa forma, desviante seria aquele que quebra as regras de um grupo, mas no necessariamente de outro. Por exemplo, judeus ortodoxos que quebram as regras da kashrut so desviantes para outros judeus ortodoxos, mas no so considerados desviantes pelos catlicos. O grupo com mais poder poltico e econmico aquele que consegue ser bem sucedido em impor suas regras aos outros grupos: os brancos para os negros; os nacionais para os imigrantes; a classe mdia para a classe pobre.

Em um aspecto mais individual, Becker prope que a diferena entre os desviantes e os no desviantes das normas convencionais que, apesar de tambm possurem o impulso de cometer atos desviantes, os no desviantes se comprometem com instituies convencionais. Por exemplo, o jovem da classe mdia no abandona a escola porque seu futuro profissional depender disto. J o desviante pode no ter alianas com a sociedade convencional, e por isso ser livre dela. Pode tambm, ao invs disso, lidar com justificaes para seus atos, que aos seus olhos podem no ser desvios. O processo que gera isso se inicia com o aprendizado do indivduo sobre a subcultura organizada em torno de tal atividade desviante.

A partir do momento que algum rotulado como desviante, pelo fato de seu desvio ter sido descoberto, e no apenas cometido, esta pessoa ser muito mais propensa a receber rtulos auxiliares caractersticos de qualquer um que faa isso. Um homem que seja condenado por arrombamento ser dito pela sociedade como algum propenso a assaltar outras casas ou cometer outros tipos de crime, uma vez que ele no tem respeito pela lei. O status de desviante ir se sobrepujar a qualquer outro rtulo. Dessa forma, se o assaltante tambm um estudante, e alm disso um pai, ele ser, em primeiro lugar, um criminoso.

Com isso, o sujeito ser cada vez mais isolado da sociedade, pois seu rtulo o definir como aquilo nico, independentemente de a caracterstica rotulada interferir ou no no processo social. Por exemplo, mesmo que um usurio de drogas possa realizar perfeitamente determinado trabalho, quando descoberto certamente perder seu emprego. Esse processo ir impelir o sujeito a cada vez mais se tornar um desviante, por lhe faltar alternativas numa sociedade totalmente entrelaada e interdependente. Contudo, nem todos rotulados se encaminham inevitavelmente para um desvio maior. Em alguns casos, h linhas alternativas de ao, ele pode tentar sair de ciclo em seu comeo e ser bem sucedido. Entretanto, se entrar para um grupo desviante organizado, se distanciar cada vez mais dessa possibilidade, pois tais grupos solidificam o comportamento que proporciona o desvio. Eles possuem uma fundamentao autojustificadora e fornecem pessoa razes aparentemente slidas para levar adiante a linha que se iniciou. Alm disso, fornecem meios que minimizam os riscos que o desviante encontra para praticar seus atos.

Para conter os desvios, h o fenmeno do controle social:

Quando um comportamento desviante ocorre numa sociedade comportamento que zomba de suas normas e de seus valores bsicos -, um elemento de sua emergncia o colapso dos controles sociais que usualmente operam para manter a forma valorizada de comportamento. (BECKER, 1963)O controle social age por meio de sanes e pelo controle de comportamento, que funciona atravs de influncias s pessoas sobre a atividade a ser controlada. Para escapar deste controle social, Becker relata sobre os usurios de maconha. O usurio iniciante, que tem como principal controle social o obstculo do acesso droga, quando em contato com algum outro usurio, cria laos pelos quais poder obter a droga com mais facilidade. O usurio ocasional tem como obstculo o controle pela necessidade de evitar que no usurios descubram que ele um usurio, que pode ser superado com a experincia do uso, pois o indivduo aprende a se aprimorar de forma que consegue disfarar sua embriaguez na presena de outras pessoas. O usurio regular enfrenta a questo da moralidade de seu ato, se questiona se um outsider ou um insider, o que normalmente superado quando convencidos de que a maconha uma droga diferenciada e alternativa ao lcool, por exemplo. A criao de regras dada com as cruzadas morais, e a regra se institucionaliza com o estabelecimento de organizaes de impositores de regras.

O que comeou como uma campanha para convencer o mundo da necessidade moral de uma regra torna-se finalmente uma organizao dedicada sua imposio. [...] O resultado final da cruzada moral uma fora policial. (BECKER, 1963)Becker ainda diz que o desvio fruto de ao coletiva, pondo em questo as teorias que procuram a origem de atos desviantes na psicologia individual. De forma geral, a criminalidade resultado de um processo de estigmatizao de determinada conduta e de quem a praticou, uma vez que o indivduo sofreu um etiquetamento geralmente pertence a uma classe padro, selecionada por praticarem os crimes tipificados na lei penal, ao contrrio dos crimes cometidos pela classe social dominante, que geralmente pratica crimes mais complexos como o crime organizado, que sequer definido na lei do crime organizado. Esta uma consequncia da no conformidade dos marginalizados em se submeterem cultura e interesses dos que tm capacidade de deciso. Portanto, podemos dizer que a criminalidade um mero etiquetamento aplicado pela polcia, pelo Ministrio Pblico, pelos tribunais, e resulta na segregao de grupos economicamente inferiores, que tampouco possuem poder ou influncia, ficando de lado nas decises de definies de desvios comumente aceitas. Dessa forma, garante-se uma proteo aos interesses da elite e perpetua-se uma poltica criminal seletiva, onde a justia no essencial, onde os outsiders tm poucas chances de sarem do ciclo do preconceito e da excluso. 3. PROCESSO DE CRIMINALIZAO

Sendo a criminalizao o resultado de processos de definio e seleo que escolhem determinados indivduos aos quais se atribui o status "criminoso", tem-se que ela pode se dar por trs processos distintos, denominados Criminalizao Primria, Criminalizao Secundria e Criminalizao Terciria.

A chamada Criminalizao Primria a definio de standards de comportamentos e tipificaes de crimes pelo Poder Legislativo. Por ser realizada atravs da sano de uma lei penal, que tem o poder de selecionar os bens jurdicos relevantes que merecem a proteo do Direito Penal e, consequentemente, de individualizar as condutas humanas penalmente relevantes, considerada a forma mais purista de criminalizao.

J a Criminalizao Secundria um fenmeno que ocorre com a atribuio de uma etiqueta queles que a sociedade entende como desviantes, especialmente a partir da ao de instituies oficiais de controle social.

Se caracteriza por ser o mecanismo de aplicao das normas, a ao punitiva exercida pelas agncias estatais, tais como a Polcia, o Ministrio Pblico, o Poder Judicirio, o Sistema Penitencirio, etc.Segundo Zaffaroni, a atuao da criminalizao primria mais mitigada, tendo em vista que se d no processo da criao de condutas tipificadas, no tendo, assim, poder para agir em sociedade. A criminalizao secundria, por sua vez, consegue ter uma atuao mais efetiva na sociedade e por isso que as agncias reguladoras so consideradas o verdadeiro instrumento de controle social, seno vejamos:

"Apesar da criminalizao primria implicar um primeiro passo seletivo, este permanece sempre em certo nvel de abstrao porque, na verdade, as agncias polticas que elaboram as normas nunca sabem a quem caber de fato, individualmente, a seleo que habilitam. Esta se efetua concretamente com a criminalizao secundria".

Por fim, a Criminalizao Terciria deve ser entendida como sendo a manuteno do estigma de criminoso atribudo queles rotulados como tal, passando pela internalizao desse rtulo pelo prprio indivduo, principalmente no contexto do Sistema Penitencirio. nessa fase onde ocorre o mecanismo de execuo da pena ou de medidas de segurana. Esse ltimo tipo de criminalizao representaria a ponta de um sistema funil: o sistema carcerrio tem uma clientela padro, composta por membros das classes mais baixas, que cometeram crimes contra o patrimnio. A questo que deve ser abordada o poderoso efeito dessa forma de punio na identidade do desviante. Como preceitua Baratta:

A aplicao seletiva das sanes penais estigmatizantes, e especialmente o crcere, um momento superestrutural essencial para a manuteno da escala vertical da sociedade. Incidindo negativamente sobretudo no status social dos indivduos pertencentes aos estratos sociais mais baixos, ele age de modo a impedir sua ascenso social. Em segundo lugar, e esta uma das funes simblicas da pena, a punio de certos comportamentos ilegais serve para cobrir um nmero mais amplo de comportamentos ilegais, que permanecem imunes ao processo de criminalizao.

E, ainda, conforme entende Zaffaroni, em seu livro Em busca das penas perdidas:

A tese central desta corrente pode ser definida, em termos muito gerais, pela afirmao de que cada um de ns se torna aquilo que os outros vem em ns e, de acordo com esta mecnica, a priso cumpre uma funo reprodutora: a pessoa rotulada como delinquente assume, finalmente, o papel que lhe consignado, comportando-se de acordo com o mesmo. Todo o aparato do sistema penal est preparado para essa rotulao e para o reforo desses papis. 3.1 O Direito Penal e o processo de marginalizao e represso seletiva

Sob o vis doutrinrio da teoria labeling approach (teoria de processo social), qualquer indivduo possui a mesma potencialidade intrnseca de vir a cometer condutas pr-determinadas como criminosas pelas instituies de controle social.

No entanto, h fatores sociais que aumentam a possibilidade de cometimento dessas condutas tipificadas como crimes, presentes especialmente nas classes sociais marginalizadas, marcadas pela pobreza, carncia e baixa escolaridade. Ainda que nas classes sociais economicamente mais abastas tambm sejam verificadas condutas desviantes, essas ocorrncias no so submetidas da mesma forma ao processo de estigmatizao e seleo punitiva do Sistema penal.

Enquanto a igualdade formal defendida abstratamente, a produo legislativa, atua seletivamente para aplicao do direito material, cuja maior ou menor reprimenda pauta-se na posio social ocupada pelo indivduo. Ou seja, enquanto os privilegiados impem ao sistema a total impunidade de seus crimes, os pobres so constantemente reprimidos, e no porque delinquem mais, mas porque tm maiores chances de serem criminalizados.

por isso que se diz que o que ocorre no sistema penal brasileiro a punio de determinados grupos de pessoas, e no a punio de condutas, independente de quem as execute.

De acordo com Juarez Cirino dos Santos isso visibilssimo quando analisamos que:

No Brasil, um dos efeitos reais da ao do poder poltico sobre a imagem da realidade atravs dos meios de comunicao de massa a legislao penal de emergncia dos anos 90, que introduziu os conceitos de crime organizado, de delao premiada, de agente infiltrado, alm de suprimir ou reduzir garantias democrticas do processo penal. Por essa razo, Baratta considera odireito penal igualitrioum mito, tendo em vista que a ordem social assegurada pela seletividade do sistema de justia criminal nos nveis de definio legal, de aplicao judicial e de execuo penal, e se estrutura mediante os processos de criminalizao j citados: i) h uma definio legal seletiva de bens jurdicos prprios das relaes de propriedade e de poder das elites econmicas e polticas dominantes (lei penal); ii) h uma estigmatizao judicial seletiva de indivduos das classes sociais subalternas, em especial dos marginalizados do mercado de trabalho (justia penal); e, por fim, iii) ocorre a represso penal seletiva de indivduos sem utilidade no processo de produo de mais-valia e de reproduo ampliada do capital (priso).

Assim sendo, notrio que a funcionalidade do sistema penal se encontra deturpada, j que no consegue combater as condutas delinquentes, servindo apenas como um mecanismo de reproduo das desigualdades e assimetrias sociais, por meio da construo do conceito de criminalidade atravs de processos discricionrios e estigmatizantes, os quais no teriam em mente as peculiaridades do indivduo, mas sim as circunstncias sociais em que se insere.

O sistema penal figura, ento, como aparelho repressivo do Estado e , por isso, tido tambm como um dos responsveis pelas mazelas sociais, j que a aplicao em concreto da norma penal protege menos os bens de maior relevncia, e mais os interesses das classes detentoras do poder poltico e econmico.

4. CIFRA NEGRA E CIFRA DOURADA DO SISTEMA PENAL Quando se analisam as estatsticas de crimes sob a perspectiva da criminologia radical, possvel defender que existe uma relao entre a chamada cifra negra do sistema penal e a criminalidade das classes dominantes da sociedade.

Primeiramente, deve-se conceituar cifra negra, que todo crime que, apesar de ter ocorrido, no chegou ao conhecimento do Estado. Juarez Cirino dos Santos enuncia o conceito desta forma:...a cifra negra representa a diferena entre a aparncia (conhecimento oficial) e a realidade (volume total) da criminalidade convencional, constituda por fatos criminosos no identificados, no denunciados ou no investigados [...] (SANTOS, 2006, p. 13) Entendendo que o direito penal um instrumento para privilegiar os interesses das classes dominantes, e a imunizar do processo de criminalizao comportamentos socialmente danosos tpicos de indivduos a elas pertencentes, e ligados funcionalmente existncia da acumulao capitalista, e tende a dirigir o processo de criminalizao, principalmente, para formas de desvio tpicas das classes subalternas (BARATTA, 1999, p. 165), possvel formular a hiptese de que grande parte desses crimes desconhecidos sejam crimes cometidos pelas classes dominantes da sociedade, pois elas no seriam to visadas pelo sistema penal quanto as classes menos privilegiadas. possvel defender que essa hiptese esteja correta utilizando estatsticas sobre a populao carcerria brasileira. Os autores MOREIRA e CARDOSO pesquisaram dados da INFOPEN referentes a 2010 sobre a populao carcerria e escreveram:Do total de presos, 77% no haviam passado do ensino fundamental. Podemos afirmar que a maioria das pessoas encarceradas de baixssima escolaridade. (MOREIRA e CARDOSO, 2013, p.105)

Os autores no vo se limitar a comentar a escolaridade dos presos, mas tambm diro que o sistema penal vai absorver muitos dos trabalhadores que no conseguiram qualificao para se inserir em um mercado de trabalho que cada vez exige mais especializao, sendo, portanto, o crcere uma opo de tirar os pobres e excludos do convvio social.

Tambm importante frisar que o trabalho de MOREIRA e CARDOSO apresenta duas relevantes estatsticas: apenas 1% da populao carcerria, segundo a INFOPEN, possui ensino superior; ao passo que no chega nem a 1% o nmero de detentos com ps-graduao. Tal estatstica certamente corrobora para sustentar a tese de que as classes subalternas so mais selecionadas pelo sistema penal, pois alta instruo uma caracterstica mais presente nas classes mdia e alta. Outra situao relevante que os autores vo comentar a disparidade que existe entre negros (pretos e partos) e brancos dentro do sistema carcerrio brasileiro, o que tambm um argumento favorvel hiptese de que o Estado visa a encarcerar menos as classes sociais superiores (o que no exclui o racismo cultural que existe na sociedade brasileira, que tambm deve ser um fator relevante):Os dados demonstram maior gravidade quando se leva em conta a cor das pessoas encarceradas e reforam a discusso j desenvolvida na literatura. 60% so negros enquanto 37% so brancos. Indicadores de vulnerabilidade analisados comparativamente entre a populao evidenciam a diferena marcante entre os negros e os brancos no Brasil. O ndice de desenvolvimento humano (IDH - 2000) entre os brancos era de 0,814 enquanto que o dos negros de 0,703. O IDH dos negros no ano 2000 era inferior ao dos brancos em 1991 (0,745). Outros indicadores, como a intensidade da pobreza, tambm ressaltavam essa discrepncia: enquanto para os brancos as taxas indicavam 47,43, entre os negros esta taxa apontava 49,29. (MOREIRA e CARDOSO, 2013, p.106)Apesar de todos esses argumentos serem relevantes, nenhum to forte quanto a evidente existncia da chamada cifra dourada do sistema penal. A cifra dourada uma espcie de cifra negra, mas que analisa crimes que s podem ser cometidos pelas classes dominantes (pois requerem que a pessoa que o v cometer possua poder, seja ele poltico ou econmico). Quando se olha para a cifra dourada, percebe-se que os crimes que so prprios das classes dominantes so muito subrepresentados dentro das estatsticas.Essa "cifra dourada", como uma espcie distinta de "cifra negra", destaca-se amplamente, pois que se a criminalidade das classes baixas j subrepresentada nas estatsticas, ocorrendo, na realidade, muito mais infraes do que aquelas absorvidas pelo sistema penal, o que dizer a respeito dos crimes relacionados a atividades de pessoas cuja posio social de maior relevo? Os chamados "crimes de colarinho branco" representam uma parcela nfima nas estatsticas criminais, que se apegam aos registros policiais ou processuais, retratando, na verdade, o efeito diferencial da "criminalizao secundria" sobre as condutas ilegais, de acordo com a sua afinidade com determinados seguimentos sociais. (CABETTE, 2015)MONTEIRO e CARDOSO (p. 103) vo apresentar os seguintes dados do INFOPEN: 52% das prises, no Brasil, em 2010, foram por crimes contra o patrimnio; mas no houve 1% de prises por crimes contra a administrao pblica. Quando se compara esse dado pontuao do Brasil no ndice de Percepo da Corrupo da Transparncia Internacional, percebe-se uma contradio: o Brasil pontua apenas 42 e ocupa a modesta 72 posio no ndice (que vai do menos corrupto ao mais corrupto). Para o 72 pas menos corrupto do mundo, menos de 1% da populao carcerria ser por crimes de colarinho branco uma incoerncia. Essa incoerncia um fortssimo argumento favorvel tese de que boa parte dos crimes desconhecidos so os cometidos pelas classes dominantes.Chamamos ateno para o aspirador social que se tornou o sistema prisional brasileiro, no qual o aumento de sua populao deve-se mais a uma poltica de represso e de criminalizao pobreza, do que a uma poltica capaz de diminuir as ocorrncias criminais (MOREIRA e CARDOSO, 2013, p.101)5. DIFERENA EM RELAO S OUTRAS TEORIAS CRIMINOLOGICAS

5.1 Criminologia Etiolgica Individual (ou positivismo biolgico): Cesare Lombroso, nascido na Itlia em 1835, relacionava certos aspectos fsicos com a prtica de delitos; mais tarde, denominaria de Antropologia Criminal. Determinou que a hereditariedade deveria ser levada em considerao. A pessoa no seria influenciada pelo meio, as influncias externas em pouco iriam contribuir, pois a patologia criminosa j se encontrava no individuo, era questo de tempo at desencadear. Apontava as seguintes caractersticas corporais do homem delinqente: protuberncia occipital (formato do crnio), rbitas grandes, testa fugida, arcos superciliares excessivos, zigomas salientes, prognatismo inferior, nariz torcido, lbios grossos, arcada dentria defeituosa, braos excessivamente longos, mos grandes, anomalias dos rgos sexuais, orelhas grandes e separadas, polidactilia (mais do que cinco dedos nas mos e/ou nos ps). No entanto, essas caractersticas encontradas por Lombroso eram basicamente do negro, imigrante na Itlia. A tal face criada pelo autor se confundia com a figura afro, fato que taxou sua tese como racista e prejudicava as classes menos favorecidas. 5.2 Criminologia Etiolgica Scio-estrutural (ou positivismo sociolgico): Em 1938, nos Estados Unidos, outro socilogo, Robert King Merton, retomar com grande nfase a idia da teoria da anomia. O local de sua moradia, suas vestimentas, a forma de andar, os aspectos fsicos determinados por Lombroso foram substitudos por aspectos sociais. Seu objetivo principal foi demonstrar como algumas estruturas sociais exercem uma presso definida sobre certas pessoas da sociedade, para que sigam condutas no conformistas. O cometimento do crime decorre da presso da estrutura cultural e das contradies desta com a estrutura social. Logo, quando a maioria da populao partilha os mesmos objetivos, mas os meios esto desproporcionalmente distribudos, h mais viabilidade de ocorrer o crime. Com base nesta ideia, fcil perceber que h maior pretenso para o crime por parte de quem no detm recursos e/ou so escassos e limitados. 5.3 Criminologia Crtica Scio-estrutural: Nas lies de Alessandro Baratta, a Criminologia contempornea, dos anos 1930 em diante, se caracteriza por superar as teorias patolgicas da criminalidade de cunho biolgico e psicolgico que diferenciam os sujeitos "criminosos" dos indivduos "normais". A crtica de Baratta recai sobre as escolas positivistas por estas no apresentarem como objeto propriamente o delito, considerado como conceito jurdico, mas "o homem delinqente. H a constituio de um paradigma alternativo ao paradigma etiolgico: o paradigma da reao social ou controle (social reaction approach) . Sua tese central: a de que o desvio e a criminalidade no so qualidades intrnsecas da conduta ou uma entidade ontolgica preconstituda reao social e penal, mas uma qualidade atribuda a determinados sujeitos atravs de complexos processos de interao social; isto , de processos formais e informais de definio e seleo. A criminalidade se revela, principalmente, como um status atribudo a determinados indivduos mediante um duplo processo: a "definio" legal de crime, que atribui conduta o carter criminal e a "seleo" que etiqueta e estigmatiza um autor como criminoso entre todos aqueles que praticam tais condutas. Ou seja, mais apropriado que falar da criminalidade falar da criminalizao; sobre o criminoso e o criminalizado. 5.4 Criminologia Crtica Individual (labelling approach): Surgida nos EUA da dcada de 1960, a teoria do labelling approach, ou teoria do etiquetamento, em que uma conduta s ser tida como criminosa se os mecanismos de controle social estiverem dispostos a assim classific-la. Ressalta a problemtica do que seria, de fato, um crime. Segundo a teoria, crimes so apenas as condutas que a sociedade e seus rgos punitivos decidem perseguir como tal. Sem certo consenso de que determinada conduta suspeita deve ser averiguada, que determinados fatos e indcios devem ser convertidos em um processo penal, no haver, em seus efeitos prticos, crime. Tambm possvel, como bem sabemos, infringir as normas penais sem que se seja criminalizado. Uma das questes que norteiam essa corrente a problematizao sobre o preconceito. Este, segundo o socilogo Michael Lwy, no formulado explicitamente, fica oculto nas profundezas do pensamento, que nem mesmo o prprio investigador se d conta da sua existncia. Ento, diferenciando-se da teoria positivista e etiolgica, que atribui culpabilidade ao indivduo por questes biolgicas ou sociais, a teoria do etiquetamento possui uma postura antagnica quanto a esses pr-julgamentos. Atribuindo a prpria sociedade e os seus rgos punitivos o entendimento do que uma conduta criminosa, de modo a categorizar o ato mais baseado no perfil e/ou status da pessoa por meio de suposies. Muito mais gente mereceria ser chamada de criminosa em relao quelas que realmente o so. O sistema penal, no podendo perseguir a todos, persegue prioritariamente os mais pobres. Criminoso aquele a quem a sociedade conseguiu atribuir com sucesso o rtulo de criminoso; j que, alm da prtica de conduta contrria ao Direito Penal deve haver um algo mais para ser efetivamente rotulado como criminoso; esse o ndice de marginalizao atribudo.6. CRTICAS TEORIA DO LABELLING APPROACH QUANTO AO SEU ALCANCE No que diz respeito s crticas teoria do etiquetamento, podemos citar, como principal delas, o fato de ser uma teoria de mdio alcance; conforme defendido por Alessandro Baratta. Para inicio de debate, o que seria uma teoria de mdio alcance?

Para Robert Menton, teorias de mdio alcance seriam um intermdio dentro da polarizao extrema do cenrio da sociologia norte-americana dos anos 30 entre o empirismo tradicional e o funcionalismo estrutural parsoniano; seria, portanto, o que existe na interseco entre teoria e empiria sociolgica.

Para alm, de acordo com Merton, em seu escrito Sobre as teorias sociolgicas de mdio alcance, a teorizao deve implicar em nveis desejveis de abstrao de modo a poder ser aplicada a fenmenos sociais diferentes, devendo tambm ser especfica o suficiente para permitir testes luz de dados empricos (MERTON, 1967). Para ele, as Teorias de Mdio Alcance so constitudas de conjuntos limitados de afirmaes a partir das quais hipteses especficas podem ser logicamente derivadas e submetidas investigao emprica (p. 68).

No entanto, para os estudos de Alessandro Baratta e Zaffaroni essa caracterstica relativa ao alcance da teoria, seria um de seus principais pontos frgeis. Segundo a anlise feita por Baratta, a tentativa de etiquetar em esteretipos sociais estigmatizados as condutas previamente tipificadas pelo cdigo penal faz com que se parta, destarte, do ponto criminalizador. Portanto, ao invs de questionar a metodologia criminalizadora de condutas humanas que uma sociedade adota, a qual , em sua totalidade, composta de tipos penais classificados como tais pelo grupo social economicamente dominante e seus interesses, parte-se, logo, de uma viso social de conduta delituosa j eivada de vcio.

Tendo vista o supracitado, muito foi criticado o mtodo de alcance mdio utilizado na teoria do labelling approach. Na tentativa de no se constituir uma teoria demasiadamente generalista e para conseguir unir o empirismo ao funcionalismo de Parsons, foi deixada de lado, na construo dessa teoria, uma das principais questes do Direito Penal: Quais so as condutas passveis de tipificao e, principalmente, o grupo social que as define ou deixa de definir em prol de sua condio de privilegiado. Como bem destaca Baratta (2002, p. 98-99):

[...] reduzindo, como se viu, a criminalidade definio legal e ao efetivo etiquetamento, exaltam o momento da criminalizao, e deixam fora da anlise a realidade de comportamentos lesivos de interesses merecedores de tutela, ou seja, aqueles comportamentos (criminalizados ou no) que aqui denominamos comportamentos socialmente negativos, em relao s mais relevantes necessidades individuais e coletivas*. A qualidade de desvio efetivo que tais comportamentos problemticos tm em face do funcionamento do sistema scio-econmico, ou a sua natureza expressiva de reais contradies daquele sistema, permanece inteiramente obscurecida, reduzindo-se o seu significado ao efeito das definies legais e dos mecanismos de estigmatizao e de controle social: a anlise das relaes sociais e econmicas, que deveria fornecer a chave das diversas dimenses da questo criminal, desenvolvida em um nvel insuficiente, tpico das teorias de mdio alcance, ou seja, das teorias que fazem parte do setor da realidade social examinada no s o ponto de chegada, mas, tambm, o ponto de partida da anlise.

8 CONCLUSO

Em sntese, podemos concluir que a Teoria do Etiquetamento representou a quebra do modelo tradicional de criminologia vigente, apresentando-se como um paradigma inovador, vez que foi o primeiro a interromper o entendimento de que o crime seria algo inerente e pr-existente ao prprio indivduo e suas aes, afirmando que o ser criminoso, e o crime propriamente dito, so, mais que tudo, construes sociais imputadas ao indivduo.

Fica claro que pela teoria estudada, a ao que infringe a lei, o ato criminal em si, no se mostra suficiente para a estigmatizao e subsequente criminalizao e sano dos indivduos, necessrio, tambm, o desencadeamento de uma reao social negativa ao individuo infrator. um paradigma criminolgico que foca na reao e na construo social, as quais seriam os fatores mais importantes para definio do criminoso. Tal reao social deveria ser negativa ao indivduo, no s ao delito cometido, e se basearia na quebra do que as instituies de controle social, como a polcia, ministrio pblico, o prprio legislativo e judicirio, alm dos detentores de poder poltico, miditico e econmico ditariam como comum e socialmente aceito.Portanto, o criminoso seria rotulado de acordo com o que representa, e pela forma que a coletividade reagiria a esse "ser.

Alm do entendimento da criminalizao ser, na realidade, um grande processo de rotulao, a Teoria do Etiquetamento tambm traz, pela primeira vez no campo da criminologia, a noo de que o Direito Penal promove a perpetuao da desigualdade, sendo, ento, a delinqncia fruto de um sistema penal heterogneo e manipulado pelas agncias oficiais.Apesar de j superada, por ser considerada uma teoria de mdio alcance, a mesma foi de importncia fundamental no estudo da criminologia, tendo parte de seus fundamentos como imprescindveis para a elaborao do paradigma criminolgico que a sucede, sendo, por isso, possvel relacionar muitos de seus conceitos em nossa realidade criminal at os dias atuais.

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