kathrin buhl e claudia korol - criminalizacao dos protestos e mov sociais

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Kathrin Buhl e Claudia Korol - Criminalizacao Dos Protestos e Mov Sociais

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Criminalizaço dos

protestos e

moimentos sociais

 

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1ª ediço: outubro de 2008 – So Paulo

Kathrin Buhl e Claudia Korol Orgs.

Criminalizaço dos

protestos e

moimentos sociais

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Copyright 2008, por IRL e Rede Social Coordenaço Editorial: Natália Codo

Organizadoras: Kathrin Buhl e Claudia Korol 

Reiso: Matrix Idiomas

Projeto gráco, diagramaço e capa: Estação das Artes Produções Gráfcas Ltda

odos os direitos reserados.Nenhuma parte deste liro pode ser utilizada ou reproduzida sem préiaautorizaço do Instituto Rosa Luxemburg.

1ª ediço: outubro de 2008 – So Paulo

INSIUO ROSA LUXEMBURG SIFUNGRUA FERREIRA DE ARAÚJO, 36 - ALO DE PINHEIROS

CEP 05428-000 - SãO PAULO - SP - BRASILEL.: +55 (11) 3796-9901www.RLS.ORG.BR

REDE SOCIAL DE JUSIÇA E DIREIOS HUMANOSRUA CASRO ALvES, 945 - ACLIMAÇãO

CEP: 01532-001 - SãO PAULO - SP - BRASILELS.: +55(11) 3271-1237/3275-4789 E FAX.: 011 3271 4878

www.SOCIAL.ORG.BR

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ÍNDICE

Apresentaço Claudia Korol e Kathrin Buhl. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .09

Estudos de casosArgentina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

 Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

 Chile. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

 México. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .137

 Paraguai. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .183

 Alemanha. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198

estemunhos da criminalizaço

Frente Popular Darío Santillán . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .231Buenos Aires Argentina

Coordenadora de Mulheres de Oaxaca Primero de Agosto. . . . . 239Oaxaca México

Frente de Poos em Deesa da erra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243San Salador Atenco México

O Crime de ser MS Leandro Gaspar Scalabrin. . . . . . . . . . . .247Porto Alegre Brasil

La Legua York – Gustao “Lulo” Arias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .253Santiago – Chile

Estas so as digitais de ErnestoGueara de LaSerna, maisconhecido comoChe Gueara ouEl Che.

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ApresentAção

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CriminAlizAção dos movimentos soCiAis 

O que é um assalto a um banco,comparado com a undação de um banco? 

Bertold Brecht 

Quais so as modalidades atuais de criminalizaço dos moimentos sociais?Que relaço existe entre esta e outras ormas repressias tradicionais? De que modoos moimentos populares enrentam as políticas que tendem a estigmatizálos, inisibilizar ou deslegitimar suas demandas, de maneira que, ante a sociedade e perante a

“justiça”, as lutas sociais sejam tratadas como delitos? Que relaço existe entre o níelde implementaço do modelo neoliberal e as noas ormas de criminalizaço? Qual éo impacto da políticamodelo de criminalizaço do protesto no desenolimento dosmoimentos sociais?

Estes e outros problemas oram compartilhados no Seminário conocadopela Fundaço Rosa Luxemburgo, em junho de 2008, na Escola Nacional FlorestanFernandes do Moimento Sem erra do Brasil. Ali realizamos uma experiência desaante sobre a lógica de ragmentaço promoida pelo neoliberalismo com a intenço de isolar nossas lutas, nossos moimentos e priatizar os conhecimentos orjados nas resistências. Partilhamos e debatemos as análises que os dierentes coletios,integrados por militantes de moimentos populares, intelectuais e grupos de direitoshumanos realizaram em nossos países, para olhar em conjunto esta problemática.

Assim, a partir do México, Chile, Brasil, Paraguai, Argentina, omos reconhecendo quanto há de comum nas realidades que chamamos de “nacionais”na América Latina Aançamos um pouco mais no diálogo com coletios que naAlemanha êm desenolendo luta sistemática em deesa dos direitos humanos epudemos constatar o quanto se “globalizou” a represso e seus argumentos, justica

tios das modalidades de “ordem” do capitalismo transnacionalizado do século 21.vamos compartilhar nesta publicaço nossos trabalhos locais. Contudo, noo azemos como uma soma de ragmentos, mas sim como diálogo de experiênciasque se enriqueceram no encontro.

Quiséramos transmitir àqueles que se aproximam destes textos o sentidocoletio que oi sendo criado durante o seminário, o qual no tee apenas momentos de análise e intercâmbio dos textos e contextos de nossos estudos. Esteemarcado também por uma cálida e raternal coniência que permitiu que os

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duros e comoentes testemunhos apresentados pudessem ser recebidos a partirdo lugar do aeto reparador para aqueles que, mesmo sorendo as conseqüênciasbrutais da represso, no aceitam o lugar de ítimas, mas buscam caminhos paracontinuar as lutas populares: a única maneira de derrotar o terror com que o

poder pretende nos isolar.Desse modo eitamos dois lugarescomuns que nos estigmatizam: tanto

o de “criminosos” como o de ítimas. O seminário oi um encontro de militantes, como nós, que anseiam transormar o mundo desumano em que iemos, que questionamos suas proundas injustiças, que queremos criar ínculos solidários em nossa caminhada pela ida, orjando identidade em nossossonhos e em nossas dierenças.

A Escola Nacional Florestan Fernandes ENFF do Moimento Sem errado Brasil MS oi um marco adequado para nossos diálogos. Erguida com o

trabalho oluntário de militantes e amigos do MS – um dos moimentos duramente criminalizados neste momento da América Latina –, é precisamenteum signo das possibilidades de construir, tijolo a tijolo, um espaço comum quecontenha nossos mundos diersos.

Das paredes da ENFF nos saudaam a cada manh o Che e Rosa Luxemburgo, Paulo Freire e Olga Benário, entre muitas lutadoras e lutadores que emseu tempo e no nosso desraldaram projetos reolucionários e os encarnaramem suas idas. A história dos encidos que continuam orçando os limites dopossíel para abrir no apenas as “grandes alamedas”, mas também antigos enoos territórios de liberdade.

O objetio do seminário era traçar um panorama dos mecanismos de represso e de resistência por parte das comunidades locais e criar um espaço para ointercâmbio de inormações sobre instrumentos de incidência, ormaço, mobilizaço e articulaço entre organizações e moimentos em diersos países, com intuitode construir ações conjuntas de resistência e solidariedade. Iniciouse com uma análise de conjuntura, que situou alguns elementos undamentais para contextualizaros estudos nacionais. Em seguida, oram apresentados os estudos particulares e, a

partir daí, se começou a analisar o comum e o dierente que encontráamos neles,para abrir passo à elaboraço de sugestões que permitissem ortalecer nossas açõeslocais e acordar iniciatias para ampliar o trabalho comum.

Da apresentaço dos trabalhos de pesquisa, na primeira jornada, surgiramalguns temas de debate e a necessidade do seu aproundamento, como aqueles assinalados no começo deste comentário, e outros como:

•Quaisosefeitosproduzidosnaspráticascotidianasdosmovimentospela judicializaço das organizações e de seus integrantes?

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•Comoincideofechamentodosespaçospúblicosedosgrandesmeiosdecomunicaço nas ormas de expresso das demandas dos moimentos?

•Querelaçãoexisteentreessefechamentodepossibilidadesdeintervençãosocial, a reduço de espaços de negociações legais e a realizaço dos protestos?

•Dequemaneiraselegitimamanteasociedadeasdiversaspráticaspopulares de desobediência ciil?

•Comoelucidamosa relaçãodas políticas decriminalizaçãodosmovimentos sociais com o caráter “progressista” de alguns goernos?

•Comodistinguimosasrelaçõesentreaspolíticaslocaisenacionaisesua inculaço ou contradições com as políticas estatais de controle social?

Durante o debate cou eidente a existência de um “estado de segurançapreentia” em nossos países e oram mencionadas dierentes modalidades de represso. Além das mais conhecidas, destacamse outras como a represso simbólica

ou a priatizaço de alguns aparelhos de represso. Examinouse o papel crescentedos seriços de inteligência, de controle e uso de noas tecnologias, bem como osaanços na coordenaço internacional da represso e, comparatiamente, oi possíel estabelecer que esta no atinge o níel alcançado entre os Estados da UnioEuropéia. Foi analisada a relaço entre as políticas e as legislações repressias queesto sendo implementadas, e as pressões em tal direço realizadas pelo goernodos EUA e seus planos de militarizaço do continente, destinados a reproduzir eortalecer sua hegemonia mundial.

Sustentouse que a criminalizaço no é indiidual, é sempre coletia. Ocastigo de um militante no é pessoal e indiidual, mas é parte de uma criminalizaço geral dos moimentos que lutam pela emancipaço social. Foi consideradoo lugar dos grandes meios de comunicaço como parte do poder e como instrumentos priilegiados na manipulaço do consenso.

Analisouse a ampliaço dos “protagonistas do conito social”. Por umlado, se encontram os Estados nacionais, proinciais ou estaduais, municipais, asempresas transnacionais, os interesses econômicos do poder. De outro lado, entreos aetados é maior o impacto ou a isibilidade das lutas e, como conseqüência, a

criminalizaço dos moimentos de joens, mulheres, indígenas, camponeses, trabalhadores desempregados ou precarizados, populações aetadas pelos empreendimentos do noo modelo de “desenolimento” do capitalismo neoliberal.

Constatouse que nas uniersidades geralmente no se inclui o estudodos direitos humanos, tampouco se transmite uma iso social. Os direitos pri

 ados so tratados como absolutos. Foi sugerida, em conseqüência, a promoçode campanhas para que sejam exigidas matérias de cunho social e a ormaçoem direitos humanos nos concursos públicos para a Magistratura e Ministérios.

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ambém oi proposta a necessidade do domínio de todos os ramos do Direito por parte de quem adoga para os moimentos populares, destacandoseque a boa ormaço técnica em todos os setores jurídicos é undamental parao desempenho dos adogados que atuam na luta social. Nesse sentido, iuse a

possibilidade de manter intercâmbios sistemáticos entre as redes de adogadosdeensores de direitos humanos e a necessidade de criaço de redes e de ormaço de adogados com essa orientaço nos lugares onde estes so escassos paraas demandas crescentes dos moimentos.

Outra análise deu conta de que, apesar de haer experiências importantes,ainda existe uma debilidade muito grande na articulaço entre os moimentossociais e os meios de comunicaço alternatios. Seu alcance, em muitos casos,é o dos especialistas e no chega a todos os militantes. Em muitos casos, essamídia enrenta conitos legais para sua atuaço. ambém so racas as políticas

dos moimentos para inuir nos grandes meios de comunicaço e no diálogocom os trabalhadores da imprensa e jornalistas que ali atuam.

Um momento especialmente impactante, mesmo para aqueles que permanentemente coniem com as denúncias de setores aetados pela represso, oi opainel em que se partilharam dierentes testemunhos de criminalizaço dos moimentos sociais em nossos países, os quais oram transcritos para este liro.

Na última jornada oram trabalhadas idéias e propostas, concernentes àsquestões jurídicas e da comunicaço, e se analisaram possibilidades de aço comum nos moimentos urbanos, estudantis, de camponeses, de indígenas, de lutacontra os megaempreendimentos. Entre outros temas, oram propostos comosugestões e necessidades:

•Ummaiorintercâmbiosobreostemasjurídicos.Elaborarumestudocomparatio das legislações repressias dos dierentes países e das ormas comoso utilizadas.

•Desenvolver iniciativas (comunicacionais, pedagógicas e jurídicas), nosentido de deslegitimar as leis antiterroristas e as legislações repressias.

•Analisaraorganizaçãodasforçaspoliciaisedesegurança.Apartirdisso,

traçar uma estratégia comum para agir diante da represso.•Compartilharasmodalidadesderespostaederesistênciadosmovimentos populares ante a criminalizaço.

•Compartilharrecursosefortalecerasredesdemeiosalternativos,eentreeles e os moimentos populares.

•Desenvolveruma estratégiaa partir dosmovimentos para incidirnosmeios de comunicaço do sistema.

•Apartir dosmovimentos populares,dosmeios decomunicaçãoalter

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natios e em todos os espaços em que seja possíel atuar, é necessário: diulgarde orma permanente os conitos sociais, permitindo que sejam isibilizados doponto de ista dos protagonistas, discutir os discursos de criminalizaço dos protestos, ressignicando os termos com que somos estigmatizados. er sempre uma

grande preocupaço com a linguagem utilizada em nossos materiais.•Promoveriniciativasquepermitamvisibilizarasestratégiasdecrimi

nalizaço dos moimentos sociais, aproeitando ormas alternatias de comunicaço, tais como: murais, mensagens pelos celulares, teatro de rua, atiidadesem praças públicas, tribunais populares. Foi sugerida a elaboraço de panetosexplicatios, acessíeis a possíeis aetados por estas políticas.

•Debateu-seapossibilidadedecriarumobservatóriodecriminalizaçãodos moimentos sociais latinoamericanos, ou outro tipo de publicaço na Internet, que diulgue esses atos e as pesquisas e denúncias sobre eles.

•Foipropostoodesenvolvimentodeocinasdeeducaçãopopularnosmo imentos para enrentar as políticas de criminalizaço estudo de seus mecanismos, como trabalhar com o discurso, como atuar diante da represso, dos meiosde comunicaço, etc.. Insistiuse na necessidade de ormaço de militantes compreparaço teórica e técnica, com capacidade para enrentar lutas que requeremcada ez mais preparaço e conhecimento em todos os planos.

•Promover ações como ocupações de terras, manifestações, marchas,recorrendo na medida do possíel a ormas criatias, para chamar a atenço dapopulaço sobre as iolações aos direitos humanos.

•Foisustentadaanecessidadededesenvolverasolidariedadeativacomtodos os presos políticos, independentemente dos atos de que so acusados pelopoder. A batalha pela liberdade é um objetio irrenunciáel do moimento dedireitos humanos.

•Levandoemconsideraçãooavançonacriminalizaçãodospobres,foicolocada a necessidade de sustentar políticas solidárias com os presos comuns e anecessária deesa do conjunto de seus direitos.

O encerramento do encontro oi muito emotio. Uma companheira ez um

canto a Oxalá… e nele sentimos as ozes de todas as pessoas que oram negadasnestas terras, em mais de 500 anos de genocídio, escraido, desaparições, ocultações, silencioso extermínio.

No abraço inal, sentimos io o grito que alentou a liberdade nosquilombos brasileiros, nas maniestações chilenas, nos piquetes da Argentina, nas comunidades guaraníticas do Paraguai, Brasil, Argentina, Bolíia,nos territórios mapuche da Patagônia, nas comunidades em luta no México, nas batalhas de rua da Europa, contra uma globalizaço que echa as

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1 Kathrin Buhl Kthrn Bhl é retor Ocn Regonl Fnção Ros Lxembrg no Cone Sl.CLaudia KOROL é ntegrnte o Centro e Pesqs e Formção os Movmentos Socs Ltno (CiFMSL) e Eqpe e Ecção Poplr Pñelos em Rebel.

ronteiras para os seres humanos “outros”, e as deixa abertas para o “lire”trânsito dos capitais.

Denunciar a criminalizaço dos moimentos populares é o caminho paradeender coletiamente a legitimidade de cada um de nossos direitos. Para tor

nar isíel o que dizia uma publicaço de um coletio mexicano: o erdadeirocrime é reprimir.

O que se pretende com esta publicaço é contribuir para um esorço aparentemente simples: sustentar o direito a deender os direitos. E se espera que sejaum estímulo a todos aqueles moimentos populares que, aprendendo coletiamente uns de outros, sintam ortalecer sua capacidade de aço transormadora,baseada na criaço de noos ínculos, opostos aos que promoem a dominaço.vínculos que promoam relações de solidariedade, de conança, de cooperaço,nos quais nos reconheçamos em um mesmo caminho eito de muitas sendas aber

tas na história. Que permitam também identicar no horizonte os sonhos iosdos lutadores e lutadoras do passado, do presente e do uturo. E olhar de renteaqueles que os criminalizam, com palaras erdadeiras, brotadas de corpos insubmissos, de resistências milenares, de gritos da terra e dos bosques que pronunciamdesejos, esperanças e ações que humanizam a ida.

Kathrin Buhl e Claudia Korol 1

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estudos de CAsos

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ArGentinA

CriminAlizAção dos movimentos soCiAisnA ArGentinA2

Roxana Longo – Claudia Korol 3 

As batalhas populares em deesa dos direitos legítimos – ou pela possibilidade de conquistar noos direitos –, uns e outros ameaçados pelo aanço do capitalismo transnacional, têm que enrentar ormas repressias insucientementeconhecidas pelas pessoas que delas so ítimas.

A criminalizaço dos moimentos populares é um aspecto orgânico dapolítica de “controle social” do neoliberalismo. Articula dierentes planos das estratégias de dominaço, que o desde a criminalizaço da pobreza e a judicializaço do protesto social, até a represso política aberta e a militarizaço. So dierentes mecanismos tendentes a subordinar os poos às lógicas políticas do grandecapital, para assegurar o controle dos territórios, das populações que os habitam,dos bens da natureza, e para reduzir ou domesticar as dissidências.

Este estudo obsera algumas modicações produzidas no capitalismo nasúltimas décadas e a orma como interagem com as mudanças no Estado, que per

mitem reproduzilas e aançálas; partindo do ato de que as noas modalidadesrepressias – entre as quais é central a criminalizaço da pobreza e do protesto social – no so “estígios do passado ditatorial no desmantelado”, mas simmecanismos uncionais de controle de acordo com os padrões de acumulaço docapitalismo do século 21.

O trabalho analisa algumas iniciatias ensaiadas para reorçar o disciplinamento do malestar social, lista uma seleço signicatia de casos concretos4, comas idéias que oram construídas a partir do poder e a partir dos setores populares sobrea legitimidade ou no da luta social, e sobre a pertinência e inclusie o desejo de sua

2 Este trblho, cooreno por Cl Korol e Roxn Longo, é prte e m pesqs relz pelo Centro einvestgção e Formção os Movmentos Socs Ltno-mercnos (CiFMSL), com o poo Fnção RosLxembrgo, alemnh, cjo texto completo será pblco n argentn. Fo relz em conslt com oscoletvos Ree Eco alterntvo, FiSYP, Mopssol, Fel, Frente Poplr drío Sntllán e Eqpe e EcçãoPoplr “Pñelos en Rebel”.3 CLaudia KOROL e roxana longo integrntes o Centro e investgção e Formção os MovmentosSocs Ltno-amercnos (CiFMSL) e Eqpe e Ecção Poplr “Pñelos en Rebelí”.4 Estes csos, qe grm no esto completo como anexo i (Esto e csos) são: i.1. a respost o governo e

 Neqén nte o protesto socl; i.2. a persstênc mpne: stção em Generl Moscon; i.3. avssl-mento o Movmento Nconl Cmpesno e inígen; i.4. O msscre Ponte Peyrreón – avellne; i.

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represso. vincula aquilo que se tem promoido no plano cultural e comunicacionalpara possibilitar a maior criminalizaço social, com as demandas cidads que reclamam “maior segurança”, e a pretendida homogeneizaço cultural que estigmatiza “osdierentes” como perigosos. Obsera a maneira de agir das orças repressias e algu

mas das mudanças realizadas nas legislações, em unço das políticas estadunidensesde “guerra ao terrorismo”5. Discute os discursos e as políticas de direitos humanos,que separam a análise dos crimes de terrorismo de Estado das atuais iolações aosdireitos humanos dos pobres e excluídos, daqueles que exercem seu direito ao protesto; socializa buscas populares que ortalecem sua capacidade de resistência, e inclusiede existência, em um mundo que as nega de muitas maneiras.

1. d â “a ba” a a ba“ â”

O trânsito do chamado “estado de bemestar” ao “estado neoliberal” produziu modicações nas pautas de integraço e de incluso social, de controle dapopulaço, de “ordenamento” cultural e de represso às possíeis ameaças à hegemonia. Na Argentina, este processo iniciado com a ditadura militar 19761983continuou no goerno de Raul Alonsín 19831989, atingiu seu maior apogeudurante o goerno de Carlos Menen 19891999 – aorecido pela incorporaçodo peronismo ao ideário consagrado do “m da história” – e seguiu seu curso no

goerno da Aliança De La RúaChacho Alarez, 199920016 

.A rebelio popular de 19 e 20 de dezembro de 2001 expressou uma criseprounda nessa modalidade de exercício da dominaço. As conseqüências da aplicaço das políticas deastadoras, que consideraam aixas inteiras da sociedadecomo “descartáeis”, encontraram um limite na úria popular. O cansaço socialproocou a crise de legitimidade das orças políticas do sistema, obrigando a mudança das regras de jogo das diersas rações do poder, que tieram que readequaro modelo de gesto das políticas neoliberais, introduzindo mediações estatais, quetendem a combinar o neoliberalismo com políticas neodesenolimentistas.

É necessário analisar de que orma inuíram neste contexto os aconteci

5 No esto completo poem ser profns ests nálses nos trblhos presentos como anexo ii: dscrso mí e crmnlzção o protesto. Elboro pel Ree Eco alterntv. anexo iii: algms conserçõessobre o ppel Políc Feerl argentn nte s verss forms e protesto socl. Elboro por GerroEtcheverry (FiSYP). anexo iV: O contexto “lt ntterrorst” proposto pelos EE.uu. Elboro por RnBertccn (Mopssol). (Estão pblcos em www.cfmsl.org).6 um gr smbólc este contnísmo é e domngo Cvllo, presente o Bnco Centrl, rnte -tr, e Mnstro e Econom e Crlos Menem e e Fernno de l R. Em ezembro e 2001, domngoCvllo er Mnstro e Econom, e tnh promovo s mes nncers qe estrm rebelão poplr oss 19 e 20, qe lqo com o governo e Fernno de L Rú.

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7 atento contr s Torres Gêmes, e s nterpretção no scrso hegemônco norte-mercno.8 Trblhmos n nálse e csos té jnho e 2008.9 “Neolberlsmo e gerr”, crcterzção fet por Pblo González Csnov.

mentos do 11 de setembro de 2001 nos EUA7 , e no níel local a rebelio popularde 19 e 20 de dezembro. Nesta análise caracterizamos duas etapas: a que ai desdeo m da ditadura até 2001; e a que ai dessa data até os dias de hoje8.

Enquanto 2001, no plano internacional, oi o momento de aanço da im

posiço das pautas culturais do “neoliberalismo de guerra”9, paradoxalmente naArgentina a resistência popular ultrapassou os limites desse modelo de acumulaço conhecido como “neoliberalismo”. O Estado neoliberal começou a transitar nadireço de um outro Estado, cujos alcances e contornos ainda no esto sucientemente reconhecidos.

O “neoliberalismo de guerra” cultiou as noções de “guerra innita”, do enrentamento em todo o planeta entre o “Eixo do Mal” e o “Eixo do Bem” – em uma

 erso undamentalista da cultura, da história e da política –, dando um noogiro à antiga “Doutrina de Segurança Nacional” – com as dierentes ersões da

“Segurança Democrática” – que têm como base comum os interesses de conserare reorçar a hegemonia “política, econômica, social, alimentária, energética, etc.”estadunidense e dos centros do capitalismo mundial.

A apropriaço de territórios, de bens da natureza, alimentos, biodiersidade, e a destruiço dos poos que pudessem constituir obstáculos para talobjetio, oram justicadas com o argumento da “segurança”, pretendendo legitimar do mesmo modo inasões, massacres de populações, autênticos genocídios.A “guerra dos ricos contra os pobres” assumiu uma dimenso mundial, azendocrescer de maneira brutal as assimetrias de orças e de oportunidades. Funcionaispara o enoque de estigmatizaço “dos pobres”, “dos dierentes” e daqueles quedesaam o poder, oram postas em prática diersas expressões de “criminalizaçoda pobreza” e de “criminalizaço dos moimentos sociais”.

Os meios de comunicaço desempenharam um papel central na construçode uma subjetiidade que destrói os laços de solidariedade, identicando os mais

 ulneráeis como ameaça para aquela parcela da sociedade que continua com suasnecessidades básicas satiseitas. O discurso da mídia se ê reorçado pelas políticaspúblicas que ragmentam o campo social, e inclusie o territorial, com propostas

dierenciadas de educaço, saúde, moradia, construindo geograas que acentuama distância entre incluídos e excluídos, até dentro dos próprios setores populares.Muitas uniersidades, centros de pesquisa, undações e outros âmbitos

de produço intelectual que respondem às agendas de interesses apontadas peloBanco Mundial e pelos grandes centros do poder produzem um amplo espectrode interpretações que tendem à dissociaço dos saberes, à uncionalidade com os

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interesses do poder mundial, à apropriaço dos saberes populares e à assimilaçoinclusie dos discursos progressistas, para undamentar propostas de desarticulaço das possíeis alternatias populares.

O discurso pósmoderno age como um poderoso mecanismo de re

troalimentaço das isões ragmentadas da realidade, esaziando os espaços deproduço de sentidos dos aportes do pensamento crítico e desqualicandoos emunço do pragmatismo que tudo transorma em mercadoria, desde a água até aciência; desde o alimento imprescindíel para a ida até os saberes populares queesto sendo patenteados e apropriados pelas corporações transnacionais.

Coincidente no tempo, porém com um sentido e uma direcionalidadedierentes, o “basta!” popular, expressado na rebelio de 19 e 20 de dezembro de2001, oi um momento de desnaturalizaço e de desorganizaço de alguns núcleosbásicos da cultura capitalista da globalizaço como: a supremacia da propriedade

priada sobre o direito à ida, a mercantilizaço de todas as dimensões humanas,o conceito positiista de “desenolimento”, a alienaço do protagonismo popularna representaço parlamentar, a colonizaço do saber, o triuno de um modo de

 ida que sepulta a existência humana nos conns da sobreiência, bem como alegitimaço de um modo hierárquico de organizaço das relações sociais capitalistas, patriarcais e neocoloniais.

As tendências contraditórias se expressam, entre outros modos, em discursos que – a partir do poder local – em alguns trechos se “engancham” com a lógicahegemônica, e em outros trechos a problematizam. Assim, embora constitua um aan

ço signicatio na ida cotidiana um conjunto de medidas que os goernos pósrebelio êm desenolendo com intuito de desarticular as políticas de impunidade doscrimes de Estado e mitigar com políticas assistenciais as arestas mais agudas da desproteço social, esses “alíios” so utilizados, ao mesmo tempo, para obturar qualquercrítica às atuais iolações dos direitos sociais e políticos, congurando um status quoque multiplica territórios de desigualdade e excluso, tornandoos estruturais.

Dessa maneira, acentuase uma ratura no discurso dos direitos humanos,que tem dois recortes claramente obseráeis: 1 a reiindicaço dos direitos humanos em relaço às demandas contra os responsáeis da última ditadura militar

encontrase dissociada das demandas pela igência atual dos direitos humanos“para todos”; e 2 um recorte classista: esse “para todos” que no é reconhecido,está sobredeterminado pela criminalizaço da pobreza, uncional às lógicas de excluso estrutural do capitalismo.

Se os direitos sociais e os direitos humanos oram arrasados no trânsito aoEstado neoliberal, a crítica realizada a esse modelo de acumulaço capitalista pelos setores populares desaparecidos socialmente requer o questionamento de uma

 erso dos direitos humanos que reproduz em seu interior as lógicas de excluso.

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É altamente desmoralizante para as noas ítimas das iolações dos direitos humanos o ato de alguns organismos históricos desconhecerem, na atualidade, oscrimes que so cometidos cotidianamente: as mortes de joens por “tiros acidentais”, os regimes de torturas e connamento em delegacias e prisões – que so

 erdadeiros depósitos de pobres –, as sistemáticas inasões policiais às populações mais ulneráeis, o incremento das guras legais para castigar aqueles queprotestam pela perda de direitos, ou a priso política de lutadores e lutadoras.

É por isso que, com o registro de ormas concretas de criminalizaço social,discutimos o discurso hegemônico de uma raço do moimento de direitos humanos que, ao se echarem às demandas diante das iolações atuais desses direitos,terminam por contribuir para a ormaço de um consenso hegemônico que isolaas noas ítimas do capital.

2.1. Aga: 1983-2001 

A ditadura militar 19761983 utilizou o terrorismo de Estado para criaras condições objetias e subjetias de reconguraço do capitalismo que tornarampossíel a ascenso do capital especulatio ao posto de comando da economia, e umininterrupto processo de concentraço e centralizaço da riqueza, estrangeirizaçoda economia por meio das priatizações e do endiidamento externo, destruiço danatureza, desindustrializaço, incremento da exploraço e precarizaço da orça detrabalho, e excluso de extensas aixas da populaço dos direitos sociais básicos.

No se trata apenas da destruiço de conquistas históricas dos trabalhadores.Era necessário remodelar a subjetiidade orjada nas batalhas populares por aquelas conquistas, deslegitimando o horizonte utópico que propunham as geraçõesde lutadores e lutadoras dos anos 1970, que imaginaam como projeto possíel edesejáel a libertaço nacional e o socialismo10.

Os mecanismos de destruiço daquele imaginário de transormaço social,tanto o dos setores mais radicalizados da populaço como o da maioria dos setorespopulares, oram, primeiro, o uso maciço e intensio do terror e, na pósditadura, a

impunidade dos responsáeis pelo genocídio – o que reorçaa a internalizaço domedo11 –, assentados em componentes ideológicos ortemente diundidos a partirdos grandes meios de comunicaço, como a “teoria dos demônios”. Por esse dispositio buscaase equiparar os responsáeis das iolações massias dos direitos huma

10 Por sso, fo smmente fvorável à omnção, à crse e à esestrtrção o mno qe se conhec como“soclsmo rel”.11 isto co mto evente qno, em setembro e 2006, contece o esprecmento e Jorge Jlo López,testemnh o jlgmento o repressor Mgel Etchecoltz. Reprecerm então os “fntsms” lojos no “n-conscente coletvo”. a nternlzção o meo contn se reprozr por ocsão s etenções e tvsts, onos ts seqüestros e mltntes, ns meçs qe m e otr vez se referem os tempos tr.

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nos, com as correntes que desaaram a ordem capitalista, para responsabilizar tantouns como outros pela iolência, reorçando a chantagem onipresente do abulosocastigo que recebem aqueles que se atreem a questionar a dominaço.

Colocaramse em um mesmo plano o terrorismo de Estado e a luta reolu

cionária, tentando explicitar a dierença entre esses atores históricos e um campode supostos “inocentes” que cariam “à margem” enrentandose a ambos. Aosuprimir da análise o diícil tema da cumplicidade ciil com a ditadura, o quese pretendeu oi romper qualquer identicaço entre os setores populares organizados e os moimentos reolucionários, de modo a perpetuar um “status quodemocrático”, que no questionasse os limites do sistema de dominaço.

Mas era necessário aassalar ainda mais a consciência social, desorganizando inclusie o ideário populista, nacionalista, estatizante, que se galanizou emtorno do peronismo. Para esse trabalho, oi undamental a contribuiço do “menemismo”* que “de dentro” do peronismo promoeu a perda da identidade e dos a

lores da experiência popular, tornando possíel, assim, aançar mais claramente naaplicaço das políticas neoliberais. O goerno Menen oi a expresso mais acabadado projeto sistematizado pelo Consenso de washington12. Conseguiu aançar nadesarticulaço das resistências que no haiam sido disciplinadas pela ditadura.Mas oi também nessa etapa que começaram a se expressar as lutas populares quedesaaram as conseqüências das políticas neoliberais; e surgiram moimentos quedesenoleram suas estratégias e propostas nos limites da sobreiência. Dianteda perda dos direitos à alimentaço, à moradia, à terra, à identidade, desenol

 eramse noas maneiras de protestar, caracterizadas pela aço direta, por ormas

de organizaço em assembléias, pela identicaço e a conrontaço aberta com osatores do poder responsáeis por estas políticas.

 2.1.1. A ca c ba: a 1989-2001

Citaremos aqui alguns marcos da mobilizaço social, desenolida entre1989 e 2001, que do conta do crescimento das resistências.

Saques em maio/julho de 1989 motiados pela ome13. Puseram m ao go

* Refere-se os prtáros o eáro o presente Crlos Menen (N. T.).12 Em novembro e 1989, o insttte for internconl Economcs relzo em Wshngton dC m semnáro noql fo sstemtzo o “ctecsmo neolberl”, em torno e m conjnto e mes: jste econômco, reçãoo Esto, polítc ntnconár bse n recessão, esnstrlzção, exblzção s relções e tr-

 blho, scpln scl, txs e câmbo “compettvs”, lberlzção o comérco, nvestmentos estrngeros, prvtzções e esreglmentção . O ebte fo pblco no lvro O consenso e Wshngton (J. Wllmson,Ltn merc jstment: how mch hs hppene? Wshngton d.C. 1990).13 Embor stção e escontentmento socl tenh so lre por “nformntes” o Prto Jstclstnteressos em esestblzr o governo rcl, mensão os ftos qe se estrm está retmente relconcom cmlção e cnsço e enojo nte e stções-lmte, como fome, msér, flt e trblho.

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 erno de Alonsín14. Embora no representassem um níel de consciência crítica organizada, sua massicaço expressou o cansaço popular diante da excluso.

Década de 1990 – Mobilizações multitudinárias contra a impunidade em Catamarca, pelo esclarecimento do crime contra María Soledad Morales, joem de 17 anos

estuprada e assassinada por criminosos ligados ao poder político. As “Marchas do Silêncio” reelaram a impunidade existente na proíncia. Durante sete anos oram realizadas83 marchas, que mobilizaram, em algumas ocasiões, mais de 40.000 pessoas. Derrubouse o goerno proincial e oram conseguidas algumas condenações de responsáeis, maso julgamento no chegou ao m pelo encobrimento político e policial do crime.

16 e 17 de dezembro de 1993 – O “Santiagazo”. Maniestaço popular em Santiagodel Estero, iniciada por trabalhadores estatais que eram demitidos ou tinham os salários reduzidos e caam ários meses sem receber. A maniestaço popular assaltou e incendiouos ediícios dos Poderes Executio, Legislatio e Judiciário, e as casas de dirigentes políticose sindicais do goerno e da oposiço. Na noite do dia 16, o Goernador Juárez oi destituídoe o Congresso Nacional decretou a interenço nos três poderes proinciais, aproandoum projeto do Poder Executio que, simultaneamente, eniou agentes e policiais ederais àproíncia. O “Santiagazo” oi um momento de inexo, a partir do qual começaram a serdesenolidos noos níeis de mobilizaço e aço direta.

19941995 – Grandes mobilizações de trabalhadores municipais e estataisem La Rioja, Jujuy, Salta, Chaco, ucumán e Entre Ríos.

Jujuy oi centro de importantes lutas dos trabalhadores municipais e estatais,com apoio popular e eleado níel de organizaço para enrentar a represso policial.No dia 29 de março os trabalhadores estatais atacaram a Casa de Goerno e a casa do

goernador. Alguns dias depois, em 4 de abril, tentaram entrar na Legislatura. Em Salta no dia 8 de abril uma marcha de protesto dos proessores terminou

com o saque e incêndio de móeis e papéis de dois escritórios da Legislatura. Em julho oi realizada a primeira Marcha Federal, com colunas que parti

ram de dierentes pontos do país e conergiram para a Capital Federal, conocadapela Central de rabalhadores Argentinos CA, pelo Moimento dos rabalhadores Argentinos MA, integrante da CG e pela Corrente Classista e Combatia CCC. Estas organizações conocam uma gree geral em agosto de 1994.

Em 1995 multiplicaramse as mobilizações por todo o país. No dia 12 deabril oi assassinado, durante uma mobilizaço, o operário da construço ciil víctorChoque 37 anos. Foi o primeiro morto durante protestos sociais desde o retorno à

14 É nteressnte nálse qe fz Ncolás iñgo Crrer estes sqes. Em m entrevst pblc no áro Clrín estc:“– Já tnhm ocorro sqes ntes e 1989? – Clro qe sm. do ns pocos exemplos: hove sqes em Jjy, em torno osftos e 17 e otbro e 1945; no “Rosrzo” em 1969; nos nos 1930 e 1931, qno os esempregos e Vll Espernze Vll aceptcón chegm té Correntes e Cnnng e sqem lojs. – O qe é, então, qe stnge os velhos sqes osnovos? – Qe em 1989 e 1990 os sqes não são m elemento mrgnl o protesto, ms o protesto em s mesmo... algo sm-lr poe-se zer os bloqeos e estr: sempre hove – nos nos 1970, s lgs grárs –, ms por lgm motvo – tlvez

 porqe não estejm nseros entro e otro fto omnnte, ms porqe são o fto em s mesmo – os os últmos nos sãoms sgnctvos”. Ncolás iñgo Crrer. Clrín. 18 jn. 1998. O protesto socl qe nsce com o jste.

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democracia. Nessa represso, realizada pela Polícia da erra do Fogo, houe outros26 eridos. O Goernador era José Estabillo, o Ministro do Interior, Carlos v. Corache o Presidente, Carlos S. Menen. A polícia proincial recebeu o apoio do goernonacional, que eniou 300 agentes de reorço.

19951996 – Importantes mobilizações docentes e estudantis em oposiçoà Reorma Educatia.

Junho de 1996 – Maniestações populares em Cutral Có e na Praça Huincul Neuquén. No dia 20 de junho, 1.000 pessoas bloquearam a estrada contra odespejo. Em 26 de junho, diante da chegada de 400 agentes com ordens de liberara estrada, 20 mil pessoas – quase a metade dos habitantes dessas localidades – seautoconocaram para o bloqueio.

26 de setembro – Mobilizaço no âmbito da gree geral de 36 horas declarada pela CG com o apoio da CA, que reuniu mais de 70.000 pessoas.

1997 – Maniestações populares em Cutral Có Neuquén, artagal eGeneral Mosconi Salta, em Cruz del Eje Córdoba e em dierentes localidadesde Jujuy 15. Em 1997 houe 104 bloqueios de estrada em todo o país16.

Em abril a maniestaço popular em Cutral Có começa com uma mobilizaço docente. Em 12 de abril de 1997, oi assassinada eresa Rodríguez empregada doméstica, 24 anos17.

Maio de 1997 – Maniestaço popular em Libertador General San MartínJujuy, estendida a 21 bloqueios de estrada em dierentes localidades. Multiplicaramse as “cozinhas comunitárias” e as “Multissetoriais”* A luta orçou a renúnciade três goernadores de Jujuy.

De 7 a 14 de maio – Primeiro bloqueio de estrada em Mosconi e artagalSalta. Foi iniciado pelos comerciantes de artagal, pelos deedores do Banco daNaço, do Banco da Proíncia, pelos madeireiros e pelos extrabalhadores da YPFempresa petrolíera. Participaram 15.000 pessoas.

Os bloqueios de estrada em massa – piquetes de Cutral Có, Jujuy eMosconi, marcam o nascimento do moimento “piqueteiro”, integrado principalmente por trabalhadores desempregados, ou por trabalhadores que êem que os

15 “Os governores e Neqén e e Jjy tverm qe sentr pr esctr os mnfestntes – o própro povo – enegocr com eles. Fo nteressnte: o povo estv reno nte s tores, sem meores. Ness relçãoret já há forms concrets e orgnzção qe tlvez epos não se nsttconlzem. Ms se forem ssolvs

 poem reconsttr-se rpmente. E esss orgnzções mostrm qe já têm mets, objetvos precsos e ver-sos.” Ncolás iñgo Crrer. Ob. ct.16 Entre 1989 e 1996, mprens escrt nformo relzção e 1.734 mnfestções e protesto. Entreels, pens 50 form e bloqeo e estrs, o sej, menos e 10 por no. Feerco Schster. Protestssocles en argentn 1989-1996. informe sobre l stcón e los derechos Hmnos en argentn 1997,Benos ares: CELS-EudEBa, p. 362, 1998.17 Se ssssnto contn mpne: o nqérto por homcío está rqvo, com os mptos bsolvos. Os qtro pol-cs conenos por bso e rms receberm m sentenç qe fo sspens, o qe evto qe fossem presos e já voltrmà tv. do governo nconl, o Mnstro o interor Crlos Corch vert sobre “rebrote sbversvo” pr jstcr re-

 pressão. O governo provncl e Felpe Spg reg rgmentno qe o tro poe ter so o por frnco-trores, mss perícs ncrm qe s e m rm 9 mlímetros, o clbre so pel políc. O presente er Crlos Menem.

* Mltsetorl: agrpmento e várs orgnzções poplres e sncs com m nle comm (N. T.).

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seus postos de trabalho esto ameaçados diante do aanço das políticas de priatizaço e suas conseqüências.

Entre os dias 8 e 11 de julho realizouse a Segunda Marcha Federal, sob adenominaço de “Marcha por rabalho para odos”.

1999 – Junhodezembro – Acampamento de autoconocados e bloqueio da ponte Corrientes – Chaco. No dia 17 de dezembro houe orte represso policial uma semana depois da posse do goerno de Fernando De LaRúa. Foram assassinados Mauro Ojeda 18 anos, desempregado e FranciscoEscobar 25 anos, papeleiro e houe 28 eridos18. O goerno de Fernando DeLa Rúa decretou Interenço Federal.

De 11 a 21 de dezembro de 1999 – Bloqueio de estrada pela Unio de rabalhadores Desempregados de General Mosconi, em Renor. Começa a ser bloqueada a entrada a centros de produço, principalmente o petroleiro; produzem

se o choque e as negociações diretamente com as transnacionais. 20002001 – Maniestações Populares em General Mosconi e arta

gal Salta. No dia 9 de maio de 2000 oram assassinados Orlando Justiniano21 anos, pedreiro e Matías Gómez 18 anos. Em 10 de noembro oi assassinado Aníbal verón 37 anos, uncionário da empresa de transportesAtahualpa. Começa a reolta popular. Em artagal oi incendiada a sededa polícia, o diário El ribuno, a empresa de transportes Atahualpa, e a Empresa Distribuidora de Energia S.A. Edesa; houe saques ao comércio. EmMosconi puseram ogo na Preeitura, na Secretaria de Finanças, na políciae na casa do intendente. Junho de 2001: bloqueio de estrada. Foram assassinados Oscar Barrios 17 anos, desempregado e Carlos Santillán 27 anos,desempregado. Houe oito eridos à bala.

anto em La Matanza como no sul da grande Buenos Aires a açocoordenada entre setores sindicais, de desempregados e de organizações locais, ortaleceu a presença pública dos piquetes no principal conjunto industrial do país. A Federaço de erra e Habitaço Fv organizou, em 2001,o “Matanzazo”. Durante cinco dias um piquete mantee bloqueada a Rota n.º

3 e ez com que o protesto se localizasse muito perto do poder central. Cincomil moradores se instalaram na estrada e outros 20 mil se mobilizaram até olocal para solidarizarse.

19 e 20 de dezembro de 2001 – Rebelio generalizada em diersas cidades do país, com epicentro na Capital Federal, o que proocou uma prounda

18 a repressão fo relz pel Políc Nconl, sob s orens e Rcro alberto Chppe, ex- repressor noscmpos e concentrção e L Perl e Cmpo e Myo. O Mnstro o interor er Feerco Storn, e o Pres-ente, Fernno de L Rú.

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crise institucional. Com a represso, 37 oram assassinados19 e houe centenasde eridos. Segundo inorme do Centro de Estudos Legais e Sociais CELS20,durante esses dias oram detidas 4.500 pessoas em todo o país. A rebelio proocou a caída de Fernando De La Rúa.

Em 28 de dezembro de 2001 produziuse um noo “panelaço” na Plaza deMayo e em distintos bairros portenhos. Doze policiais caram eridos e mais de 30pessoas oram presas nos arredores da Plaza de Mayo e do Congresso.

No dia 30 de dezembro de 2001 o Presidente Adolo Rodríguez Sáa apresentou sua renúncia irreogáel perante a Assembléia Legislatia. No dia 1.º de janeiro de 2002 a Assembléia Legislatia elegeu como presidente da Naço EduardoDuhalde. O acordo político que leou Eduardo Duhalde à Casa Rosada integrou aUnio Cíica Radial UCR e parte da Frente País Solidário Frepaso. Diante dacrise de representaço o poder cerrou las.

2.1.2. Ag a ga

Na década de 1990 aconteceram noe grees gerais nacionais21. Um estudo realizado pelo Grupo de Estudos sobre Protesto Social e Aço Coletia, doInstituto Gino Germani da Uniersidade de Buenos Aires, considerando o total

19 O nome os compnheros/s ssssnos/s são: Grcel acost, 35 nos, Snt Fe; Crlos “Petete” almrón,23 nos, Benos ares; Rcro alvrez Vlllb, 23 nos, Rosro; Rmón arp, 22 nos, Correntes; Rbenarees, 24 nos, C Oclt; Elvr avc, 46 nos, Cpollett, Ro Negro; dego avl, 24 nos, Vll Forto,

Benos ares; Gstvo arel Beneetto, 23 nos, Plz e Myo; Gstón Rv, 30 nos, motoqero, Benos a-res; Wlter Cmpos, 17 nos, Rosro; Jorge Cárens, 52 nos, fero perto o Congresso, flece város mesesepos; Jn delgo, 28 nos, Rosro; Víctor arel Enríqez, 21 nos, almrnte Brown, Benos ares; Lsalberto Fernánez, 27 nos, Tcmán; Sergo Mgel Ferrer, 20 nos, Córob; Jlo Hernán Flores, 15 nos,Merlo, Benos ares; Ynn Grcí, 18 nos, Rosro; Roberto agstín Grmjo, 19 nos, almrnte Brown, Be-nos ares; Pblo Mrcelo Gís, 23 nos, Sn Frncsco Solno, Benos ares; Romn itrn, 15 nos, Prná,Entre Ríos; dego Lmgn, 26 nos; Crstn Legembre, 20 nos, Cstelr, Provnc e Benos ares; Clo“Pocho” Leprtt, 35 nos, Rosro; alberto Márqez, 57 nos, Benos ares; dv Ernesto Moreno, 13 nos,Córob; Mgel Pcn, 15 nos, Snt Fe; Ros Elos Png, 13 nos, Entre Ríos; Sergo Peerner, 16 nos,Córob; Rbén Pereyr, 20 nos, Rosro; dmán Vcente Rmírez, 14 nos, Gregoro e Lferrere, Benosares; Snr Ríos, 19 nos, avellne, Benos ares; José dnel Rorígez, Prná; Mrel Rosles, 28 nos,Loms e Zmor, Benos ares; arel Mxmlno Sls, 30 nos, Gregoro e Lferrere, Benos ares; CrlosMnel Spnell, 25 nos, Pblo Nogés, Benos ares; Jn alberto Torres, 21 nos, Correntes; José Veg, 19nos, Moreno, Benos ares. Fonte: arqvo e Csos elboro pel Coorenor contr Repressão Polcle insttconl Polcl e insttconl (CORREPi) e otros nformes provncs.20 O protesto e dezembro e 2001 n argentn – CELS.21 Em 9.11.1992, convoc pel Confeerção Gerl o Trblho (CGT) por 24 hors; em 2.8.1994, convoc

 pelo Congresso (epos Centrl) os Trblhores argentnos (CTa) e pelo Movmento e Trblhores argen-tnos (MTa) por 24 hors; em 21.4.1995, convoc pel CTa e pelo MTa por 24 hors; em 6.9.1995 convoc

 pel CGT com esão CTa e o MTa por 12 hors, com moblzção CTa e coznhs solárs o MTa.Em 26 e 27.9.1996 convoc pel CGT, nclío o MTa, com esão CTa por 36 hors com moblzção

 pr Prç e Mo; em 26.12.1996, convoc pel CGT (com exceção e lgns rgentes menemsts) comesão CTa e o MTa por 24 hors sem moblzção; em 14.8.1997, por 24 hors com moblzções no nteror o pís, convoc pel CTa, pelo MTa, pel Corrente Clssst e Combtv (CCC), e pel unão OperárMetlúrgc (uOM) (pesr e fzer prte CGT, qe não ere à greve) e s 62 Orgnzções Peronsts; em6.7.1999, convoc pel CTa por 24 hors com moblzção (Jorn e Protesto Nconl).

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do período 1989200322, destaca:Entre o nal de 1999 e o nal de 2002 é mais diícil identicar

um ciclo de protestos. No entanto, apesar do ritmo mais descontinuado, a partir do segundo trimestre de 2000 até o primeiro trimestre de

2002, cada uma das ases de intensicaço dos enrentamentos é maisimportante que a anterior, em termos de quantidade de protestos. Osdados leantados mostram que as crises políticas no se produzemnecessariamente como conseqüência de um incremento na quantidade de protestos. Em outros termos: a quantidade – ou o olume– de protestos no mantém uma relaço direta com o seu impactopolítico. Em 1997 houe 56% a mais de protestos que ao longo de2001; entretanto, as conseqüências estratégicoinstitucionais daquelasoram signicatiamente menores que as destas. Considerando todo o

período, 2001 é um dos três anos com menor quantidade de protestos.Inclusie, durante esse ano registraramse mais protestos no segundotrimestre que durante o quarto, quando terminou abruptamente ogoerno de Fernando de La Rua.

[...]No obstante, o impacto político dos protestos de 2001 em geral,

e os do último trimestre em particular, oi notáel, tanto no que se reere a sua perormance política como a suas conseqüências estratégicoinstitucionais. As maniestações de 2001 – e talez também as do anoseguinte – oram massias e enoleram maior quantidade de medidasde aço direta, embora no tenha crescido o número total de protestos.Por outro lado, um processo crescente de organizaço dos atores ou ummaior níel de articulaço podem explicar também uma menor quantidade global de protestos. Esse argumento também pode ser consideradode outro ponto de ista: enquanto em 1997 apenas uma de cada quatromaniestações de desempregados tinha uma organizaço de piquetescomo motor da aço, em 2001 essa proporço se elea a quase metade

do total, para chegar aos 61% em 2002. É necessário considerar também, que em 2002 as organizações “piqueteiras” protestaram em umaproporço similar à dos sindicatos.

Um relatório do CELS sublinha:

22 Trnsformções os protestos socs n argentn 1989-2003 – Feerco L. Schster – Germán J. Pérez – Sebstán Pereyr – Melchor armesto – Mrtín argelno – anlí Grcí – an Ntlcc – Meln Vázqez

 – Ptrc Zpcogl GEPSaC (Grpo e Estos sobre Protestos Socs e ação Coletv) Mo e 2006 – in-sttto e Pesqs Gno Germn – Fcle e Cêncs Socs – unverse e Benos ares – argentn.dsponível em: http://www.gg.fsoc.b.r 

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Em 1997 houe 104 bloqueios de estrada em todo o país e estaprática oi se incrementando durante os anos seguintes. Em 1998, umarodoia oi bloqueada por semana, em 1999, uma a cada dia e meio,e em 2000 houe pelo menos um bloqueio diário. Em 2001, a média

oi de quatro a cinco bloqueios por dia... Muitas ações das pessoas queparticiparam em maniestações durante a segunda metade da décadade 1990 oram consideradas ilegais pela justiça criminal, impedindoque pudessem encontrar amparo no exercício legítimo do direito àliberdade de expresso. Foi registrada a imposiço de condenações amaniestantes e atiistas, mas o enômeno de maior transcendênciaoi o ato de os participantes terem sido processados. Além disso, emmuitas outras ocasiões as maniestações populares oram reprimidasilegalmente por orças de segurança da Naço ou das proíncias. Estes

casos se caracterizaram por um uso abusio da iolência, o que produziu árias mortes e uma grande quantidade de eridos em todo o país,durante toda a década.

2.2. o a 19 20 b 2001

No é objetio deste trabalho analisar proundamente o conjunto de sentidosdiscutidos pela rebelio popular de 19 e 20 de dezembro de 2001. Mas é imprescindíel apontar esse momento como o ponto de irada nas possibilidades de as classes

dominantes aplicarem o modelo neoliberal com o desenho de goernabilidade que inha sendo sustentado até ento. O conito social se alastraa pelo país. A capacidade de destituir intendentes, goernadores, ministros e inclusie presidentes daaconta de uma orte crise de legitimidade da direço política do país que tinha emergido do Pacto de Olios23. A palara de ordem central dessas jornadas – “que se otodos” – assinalaa os alcances e também os limites do momento.

A energia desatada naquelas jornadas prolongouse por ários meses. Noespaço liberado na subjetiidade popular, multiplicaramse assembléias populares,moimentos “piqueteiros”, ábricas sem patrões, moimentos culturais, meios de comunicaço alternatios. Entre as características principais destes moimentos está adesconança do poder e do Estado, dos partidos políticos tradicionais, das hierarquias; o desenolimento de ormas assembleísticas de organizaço e de democraciade base, métodos de luta de aço direta, propostas de construço de poder popular,centradas no trabalho territorial. Desenoleramse respostas autônomas à excluso,

23 O Pcto e Olvos fo m conjnto e coros estnos mnter governble, rmos em 1993 entreo ex-presente Rúl alfonsín e o então presente Crlos Menem. Este pcto possblto Reform Const-tção argentn em 1994.

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dirigidas a reinentar o trabalho, a resoler coletiamente o problema da comida, dasaúde, do lazer, a compartilhar a poesia, as apresentações musicais, a multiplicar asmensagens radiais e nos meios alternatios de comunicaço…

Expressouse a deciso de recuperar o perdido e de reinentar o necessário.

Nenhum dos projetos políticos existentes conseguia canalizar toda essaenergia, e nenhum deles era sucientemente conáel para os setores mobilizados. A Argentina plebéia tornouse um gigantesco laboratório de ensaios dealternatias. Multiplicaramse ormas de resistência. Nos dias 19 e 20 de dezembro se generalizaram as maniestações populares, com epicentro na Capital Federal. O espaço público oi recuperado. A memória oi honrada com a ocupaçosimbólica da Plaza de Mayo. Para aqueles que haiam reescrito a arquitetura dasrelações sociais, colocando o protagonismo nas repartições ociais e circunscreendo a participaço à representaço parlamentar, essas jornadas sacudiram

a rotina das práticas políticas e de suas interpretações acadêmicas.Diante do priado emergiu o público; diante do indiidual, o social; diante

da imploso, a exploso. Os saques generalizados daqueles dias oram – no terrenosimbólico – operações coletias de recuperaço do que haia sido expropriadode orma selagem pelo grande capital. O incêndio dos grandes bancos e das nanceiras oi uma maneira de “marcar a erro e ogo” os símbolos da noa ordemmundial: as catedrais do dinheiro. Foi uma insurreiço da dignidade, de poosleantandose de décadas de esmagamento. A rebelio oi um ato de saúde socialque ameaçou a impunidade dos poderosos.

Os escrachos que aconteciam em qualquer lugar em que se identicasseum símbolo do poder learam seus representantes a se sentir ulneráeis, o quelogo se traduziu na exigência do restabelecimento da “ordem” perdida. Essessetores logo se constituíram em atios demandantes de políticas de “segurançacidad”, que pretendiam desalojar o espaço público, connar os excluídos nosterritórios de miséria, exigindo “mo dura” para quem saísse deles. A rebeliocolocou em eidência a ausência de alternatias populares que dessem rumo àenergia desatada a partir do coraço indignado dos pobres, mas atuou como a

tor reconstituinte de energias, de subjetiidade, de consciência, de memória, decultura de rebeldia e de noas ormas de organizaço popular. 

2.3. A caa a ca ca

O bloco de poder compreendeu que no poderia continuar aplicando asmesmas receitas que proocaram a rebelio e percebeu que estaa esgotada a equaço de neoliberalismo e goernabilidade. Suspeitou que já no haia condições

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para uma política undada no autoritarismo, quando o poo na rua derrogou, em19 de dezembro, o Estado de Sítio decretado por De La Rúa.

Desde os dias 19 e 20 de dezembro de 2001 até o dia 26 de junho de 2002,o moimento popular continuou a dinâmica de mobilizaço social. Um relatório

da Secretaria de Segurança Interior do Ministério de Justiça publicado em 2002no diário Clarín, intitulado “Conituosidade social na República Argentina” , quecompreende os meses de janeiro a maio desse ano, reerese ao leantamento deum total de 11.000 maniestações no período. Surgiram noas ormas de protesto,como ações diretas contra os centros produtios das transnacionais e mobilizações contra as políticas destruidoras da natureza. O goerno de Eduardo Duhaldeeludiu a crise com base em um conjunto de medidas destinadas a restabelecer “aordem”: a multiplicaço das políticas assistenciais nas zonas de maior conito24,a criminalizaço do moimento “piqueteiro” e a antecipaço das eleições. Nesse

contexto ocorreu um duro embate entre os setores populares que tentaam manter os espaços ganhos e as lógicas do poder que combinaram medidas judiciais epoliciais dirigidas à “normalizaço” do país.

Destacamse nessa etapa alguns atos repressios destinados a orçar o recuo dos moimentos populares:

Em 6 de eereiro de 2002 um eículo “Ford Falcón” inadiu um bloqueiode estrada realizado pelo Moimento de rabalhadores Desempregados MDsobre a Rota 205 na cidade de Jagüel, no marco de um plano de luta reclamandoemprego e alimentos para os comedores populares. Seu condutor era Jorge “Batata” Bogado, um conhecido “inormante” inculado ao intendente de Ezeiza, Ale

 jandro Granados – ontem duhaldista, anteontem menemista e hoje kirchnerista –,que desceu do eículo atirando e eriu mortalmente um dos maniestantes, JaierBarrionueo 31 anos, peo, militante do MD local. A presso da mobilizaçopopular colocou Bogado atrás das grades, acusado de homicídio simples, emborauma sentença da Câmara tenha permitido que aguardasse o julgamento em liberdade, com certas restrições.

2.4. Ca a g KchO goerno de Néstor Kirchner 25 de maio de 2003 – 10 de dezembro de

2007, resultado da noa correlaço de orças, terminou sendo o instrumento maiscapaz das rações das classes dominantes para conter e disciplinar a energia popular, a partir de uma política cultural ancorada em dados básicos da identidade edas lógicas políticas do peronismo: a resoluço a partir do Estado–goerno das

24 No no e 2002 proz-se o ge pobrez, qe lcnço 56,8% poplção.

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demandas oi oerecida como mecanismo quase único de aço política “iáel”.A disjuntia proposta oi: “integrarse” ao goerno e seus mecanismos de clientelismo e de cooptaço política, ou car connados a lugares de excluso. Assim,conseguiuse reerter o crescente desao ao modelo, aançandose em um pro

cesso de domesticaço das rebeldias, tendente à institucionalizaço das organizações populares, ao echamento do espaço público e à reorganizaço de núcleosideológicos substanciais à dominaço.

Segundo Maristella Sampa:

[...] o goerno nacional no tee dúidas em alimentar a estigmatizaço do protesto – contrapondo a mobilizaço de rua à exigência da“normalidade institucional” –, impulsionando atiamente a diuso deuma imagem da democracia supostamente “acossada” pelos grupos de

piquete. Pouco importaa que as decisões goernamentais dessem contade um aiém perigoso que ia da ameaça de tratar judicialmente o reconhecimento das necessidades dos desempregados, do questionamento darepresentatiidade das organizações, à armaço do direito legítimo deprotestar, da proposta de criar uma brigada “antipiquete” ou impedir oacesso dos piqueteiros à Plaza de Mayo, à declaraço – uma e mil ezesrepetida – de que o goerno nacional no reprimiria. O cenário principaldesta desigual contenda política entre o goerno nacional e as organizações opositoras de desempregados oi à cidade de Buenos Aires. Foi emsuas ruas, em suas praças, em seus ediícios públicos, que chegou à suamáxima expresso e corolário essa pugna desigual entre os que clamaampela institucionalizaço e exigiam o recuo das orças mobilizadas a demanda do instituído e os dierentes atores mobilizados, especialmente asorganizações de desempregados a demanda dos excluídos. O resultadooi o aanço do tratamento judicial e da criminalizaço dos conitos sociais e a instalaço de um orte consenso antipiquete, sustentado e apoiadopor amplos setores da opinio pública25.

A ascenso de Néstor Kirchner gerou nos setores populares, cansados de excluso, uma esperança de mudança de rumo, a partir de um discurso ocial que setornou orte com um conjunto de símbolos signicatios em relaço aos reclamoshistóricos dos moimentos, e o incremento – que já estaa sendo eetiado desdeque assumiu Eduardo Duhalde – dos planos assistenciais. A sensaço de melho

25 as fronters o governo e Krchner: entre consolção o velho s sprções o novo. 24 jl. 2006. d-sponível em: <www.mrstellsvmp.net>.

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ria oi reorçada por certa reatiaço econômica, conseqüência da passagem a ummodelo produtio orientado para a substituiço de importações, aorecido pelarentabilidade das exportações de milho, soja transgênica, minérios, petróleo, entreoutras, beneciadas pela desalorizaço e pelos altíssimos preços internacionais.

Em um curto resumo do rumo econômico assumido pelo goerno deKirchner, escree Claudio Katz26:

A conjuntura internacional aoráel, o barateamento de atiose a irada da política econômica induzem a gestaço de um modeloneodesenolimentista. O esquema atual recolhe a centralidade agráriado regime agroexportador, a prioridade industrial da substituiço deimportações e a regresso social do caminho neoliberal. O goernotransere subsídios aos empresários porque priilegia a reitalizaço

da indústria. Com a troca da díida e o pagamento antecipado ao FMIprocurou reduzir o eto dos credores a essas subenções e ao seu corolário cambial. ambém so regulamentados os seriços priatizadospara reduzir os custos industriais e incrementar o resguardo scalante uturas crises. Ao propiciar o agrocapitalismo concentrado, háum crescimento de renda que os ruralistas no querem compartilhar.O aumento dos beneícios e da produtiidade no se transere aos salários. O esquema atual conalida a inormalidade, estimula as altastaxas de exploraço e transere aos trabalhadores precarizados a pobreza que inicialmente golpeou os desempregados. ambém aançaa desigualdade e posterga os aposentados. Apesar do incremento daarrecadaço, no é modicado o sistema tributário regressio.

As primeiras medidas assumidas por Kirchner, no marco de uma crise derepresentaço to orte, isaram restabelecer a legitimidade das instituições questionadas pela rebelio: mudanças na Corte Suprema de Justiça para acabar com ahegemonia menemista, troca da cúpula militar, presso sobre o Parlamento para

conseguir “superpoderes”. A política de direitos humanos, de soluço de díidashistóricas ligadas à ditadura, oi o timo de proa do discurso ocial para chegara um consenso que permitisse restabelecer níeis básicos de credibilidade. Paradoxalmente, essas conquistas aoreceram a prédica que deslegitimaa qualquerreclamaço nesse campo. A desqualicaço de reconhecidos lutadores quandono acompanhaam o rumo goernista oi realizada por representantes principaisdo goerno e também por certas lideranças históricas na deesa dos direitos huma

26 a vr econom rgentn. Clo Ktz. L Hne, 3 fev. 2007.

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nos. Foi sendo gerado um imaginário com ítimas de “dierentes status”. Se paraos excluídos e as excluídas as chaes do consenso ao goerno oram as políticas assistencialistas, para os setores médios a chae oi a política de direitos humanos.

2.4.1. exc a caa a a

Uma pesquisa coordenada por Claudio Lozano27 demonstra que, considerando todo o período de crescimento de 2003 a 2007, 20% da populaço de maiores recursos apropriouse de 50% da renda gerada pelo processo de crescimento econômico; 30% da populaço de maiores recursos capturou 62,5% das rendas geradas nesseperíodo. O reerso desta brutal apropriaço de renda é a constataço de que os 70%restantes só caram com 37,5% dos noos rendimentos. E para 40% da populaçode mais baixa renda só restaram 12,8% de toda a renda gerada.

Por sua ez, Claudio Katz28 assinala:A política social regressia constitui o ponto de maior continui

dade entre o rumo econômico atual e seu precedente neoliberalnanceiro. O PIB já se situa em um níel superior ao do começo da crise1998, mas nenhum indicador social recuperou esse patamar... Em2005, 77% das companhias com ações na bolsa declararam incrementosmuito signicatios, e o lucro das 500 principais empresas do país duplicaram os obtidos dois anos antes. As ciras da produtiidade so maiscontundentes e se situam no níel mais alto dos últimos 15 anos. Atualmente so abricados mais produtos com menos trabalhadores, porqueos custos oram de 16% a 30% mais baixos que em 2001. O modelo bloqueia a transerência dessas melhorias para os salários que, em média,esto 20% mais baixos que os que prealeciam antes do início da crise...O esquema regressio dos salários aeta duramente os trabalhadores inormais. Existe um terríel abismo entre a renda média dos precarizados391 pesos e dos ormalizados 1.072 pesos. No primeiro segmentoestá situado 44% da orça de trabalho, 60% dos empregados que no

ganham o suciente para comprar uma cesta básica e 30% dos que sorem a indigência. O emprego sem registro no é uma atiidade marginal. Encontrase amplamente diundido em ramos de alta rentabilidade como a agricultura e a construço ciil e inclui o próprio setorpúblico, que mantém 11,7% de seus uncionários sem ormalizaço...

27 Crescmento e strbção: nots sobre o conteco 2003-2007, pblc pelo insttto e Estos eFormção CTa.28 Clo Ktz. Op.ct

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O esquema neodesenolimentista sustenta os capitalistas industriais àcusta da maioria popular. Este modelo inclui um estratégico alicerce nosetor agrário que relembra o esquema agroexportador. Dierentementeda indústria, o PIB desta área cresceu de orma ininterrupta nos últimos

quinze anos a uma eleada taxa de 5,7%, sem enrentar nenhum reiosignicatio. Mas este impulso consolida um esquema baseado na proeminência da soja, na destruiço dos cultios regionais, no deslocamento dos camponeses e na concentraço da terra. Aprounda a modernizaço capitalista que gerou um grande salto de produço, com lucros parapoucos e tecnologias que ameaçam a ertilidade da terra”.

 

2.4.2. A ca caa a

A íntima relaço entre as características atuais do modelo neoliberal ea política de criminalizaço da pobreza e dos moimentos de resistência no éadertida – ou é ocultada – por aqueles que tratam cada caso de “gatilho ácil”29,de represso institucional ou de estigmatizaço pela mídia de um moimentopopular, como “excessos” cometidos por determinadas orças policiais, ou pordeterminados goernos locais.

Nesta etapa, as mobilizações sociais continuaram, mas com organizações ragmentadas pela orte incidência das políticas ociais, agraandose os processos de ruptura e inclusie de enrentamento entre dierentes rações do campo popular, estimulados pela beligerância goernamental tendente à cooptaço de alguns e à estigmatizaçodaqueles que no entraram no jogo. Em seguida mencionamos alguns dos conitosque expressam um salto nas políticas de criminalizaço dos moimentos sociais, desua judicializaço, no echamento de espaços públicos, ou na militarizaço de algumasregiões do país, bem como a continuidade das resistências30. 

29 Gtlho fácl é o nome tlzo n argentn pr ftos e bso e poer no so e rms e fogo por prte  políc. Em gerl, s vítms o gtlho fácl são, sobreto, jovens pobres s perfers, vítms e processos escplnmento complsóro relzo pels forçs polcs. a Correp (Coorenor contr Repressão Polcl einsttconl) tpc este métoo como execções smríssms plcs pel políc e qe, gerlmente, costmmser encoberts como “enfrentmentos”. Est “pen e morte extrlegl” se stnge por s etps: o fzlmentoe o encobrmento.30 Estes os form seleconos s cronologs o conto socl, relzs por OSaL (Observtóro Socl amérc Ltn), CLaCSO. dsponível em: <http://www.clcso.org.r/fson/seccones/osl/>.

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36 

2003

18 de julho – Piqueteiros marcham até a casa de Goerno do Chacoreclamando o subsídio de desemprego, o enio de comida para os bairros

pobres, assistência para os aborígines e a “cessaço da criminalizaço do protesto social”. A casa de goerno é inadida.

25 de setembro – Piqueteiros bloqueiam as bilheterias do metrô emdemanda de 500 postos de trabalho. A polícia reprime com um saldo de dezdetidos e dois eridos.

Piqueteiros se instalam diante do Ministério de Desenolimento Humano e rabalho, em La Plata, em demanda de assistência social e alimentar. Apolícia reprime, três pessoas so detidas e 50 retidas para aeriguaço.

26 de setembro – rês mil pessoas marcham por Mendoza para expressarseu rechaço à anunciada presença de eetios das orças armadas norteamericanas, no marco do operatio Águia III. Conseguem que o operatio seja suspenso.

9 de outubro – Maniestaço popular em Libertador General SanMartín, Jujuy, pelo assassinato de Cristian Ibáñez 24 anos, que apareceumorto em uma delegacia. O protesto culminou com saques ao comércio edestruições na delegacia e no centro da localidade. Durante esses enrentamentos, Luis Marcelo Cuellar 19 anos morreu baleado. Os joens erammilitantes da Corrente Classista e Combatia CCC31.

4 de noembro – 30 mil pessoas marcharam até a Plaza de Mayo com a palara de ordem “Por trabalho e salário, romper com o FMI. No à criminalizaçodo protesto”. Repudiaram as ersões da criaço de uma brigada antipiqueteira.

20 de noembro – A polícia de Salta desalojou os piqueteiros que desde o dia4 de noembro mantinham bloqueada a entrada à destilaria de Campo Durán. Osmoradores de Mosconi saíram de suas casas ao ouir a notícia da represso em umarádio local. Ocuparam uma petroleira e incendiaram um tanque de combustíel.Entraram nos escritórios das empresas Renor e ecpetrol, sacaram computadorese os queimaram na Rota 34. entaram ocupar outros locais onde estaam as orças

policiais. Oito maniestantes oram detidos. À noite bloquearam a entrada da cidadepara pedir a liberdade dos presos. A UD denunciou que a destruiço das máquinasoi proocada por eetios policiais inltrados na maniestaço.

25 de noembro – 200 desempregados realizaram uma assembléia nobairro San Lorenzo, em Neuquén, para protestar contra a deciso do goerno lo

31 Nl e ibáñez, mãe o jovem qe prece morto no clboço, recoro qe “em Jjy há város jovensqe precerm mortos ns elegcs como vítms e scío, ms o me lho fo morto pelos efetvos, e osgolpes são eventes em tos s prtes o corpo”.

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cal de utilizar cartões bancários para o pagamento de planos sociais municipais eproinciais. Foram reprimidos pela polícia. Durante todo o dia os moradores sesomaram ao protesto que se estendeu às zonas próximas. Os maniestantes responderam com pedras e barricadas para impedir o aanço policial com motos,

carros ortes e outros eículos. A represso deixou 22 pessoas eridas, sendo cincocom balas de chumbo.

2004

27 de janeiro – Rosario. Assassinato de Sandra Cabrera, dirigente da AMMAR trabalhadoras sexuais de Rosario. Suas companheiras asseguram que oautor material está ligado à polícia proincial. Sandra haia denunciado nos ribunais da Proíncia de Santa Fé os Chees da Diiso de Moralidade Pública daPolícia por “receber dinheiro dos bares para impedir o trabalho das mulheres narua e tirar do mercado as competidoras; por amparar locais de exploraço sexualinantil e por cobrar propinas das prostitutas para no leálas presas” olante daCA de Rosario. Sandra e sua lha de oito anos haiam sido ameaçadas árias

 ezes. No dia 9 de janeiro, por ordem do subsecretário de Segurança, AlejandroRossi, oi retirada a proteço policial da casa de Sandra. Rossi argumentou: “Nopodemos dar proteço pessoal para uma prostituta de rua”.

26 de março – Mulheres piqueteiras ocuparam o depósito de tanques de

petróleo cru da empresa ermap, em Caleta Olia, demandando postos de trabalho. 28 de março – Em Santiago del Estero 10 mil pessoas conocadas poramiliares e amigos das joens assassinadas no duplo crime de La Dársena, LeylaBshier Nazar e Patricia villalba, marcharam para apoiar o anúncio de interençoederal na proíncia. A goernadora e seu marido oram presos.

30 de março – Ocupaço da sede comercial da RepsolYPF na Capital Federal. No expediente aparecem ilmes, otograias e outras ações deinteligência desenolidas sobre as organizações que participaram do ato.O exjuiz ederal Juan José Galeano autorizou, a pedido do promotor Car

los Stornelli, que ossem realizadas tareas de inteligência sobre o Moimento eresa Rodríguez.

12 de abril – O goernador de San Luis ordenou que ossem reprimidos osproessores que ocupaam a Legislatura. rinta mil pessoas marcharam exigindoa interenço na proíncia.

29 de abril – Em uma megaoperaço, na qual interieram mais de quinzeeetios da 6.ª Delegacia de La Plata, o Comando Patrulha e o Grupo de PreençoUrbana detee em casa a Gabriel Roser, militante do MUP que é parte da Frente

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Darío Santillán, destruindo parte das instalações do “copo de leite” que uncionaa ali. Acusado de roubo ao supermercado de um exagente dessa delegacia – oque oi uma armaço, como cou demonstrado no processo judicial –, GabrielRoser oi libertado depois de um ano e sete meses de detenço.

30 de abril – Duas mil pessoas da Multisetorial de San Luis cercaram o ediíciodo Poder Executio com piquetes em demanda da renúncia do goernador. Foramreprimidos iolentamente pela polícia, com um saldo de 15 eridos e 55 detidos.

5 de maio – Foi aproada a Lei 25.892, que endureceu os procedimentospara solicitar e outorgar a liberdade condicional.

4 de junho – Piqueteiros marcharam por La Plata, armados com bastõese com os rostos cobertos, para reclamar que osse inestigada a morte de um militante em um caso de gatilho ácil. Assim, desaaram a disposiço pedida por umpromotor para que ossem lmados os maniestantes que se negassem a deixar

seus bastões e a descobrir os rostos para protestar. 25 de junho – Foi assassinado com sete tiros, em sua casa, Martín “Oso”

Cisneros, dirigente do Comedor Los Pibes de La Boca. Militantes da Federaço deerra e Moradia ocuparam a delegacia 24 da Boca para exigir justiça.

16 de julho – A Casa Legislatia portenha aproou um projeto de lei parareormar o Código de Coniência. Piqueteiros, endedores ambulantes, prostitutas, traestis e militantes de partidos de esquerda se concentraram para rechaçaro tratamento dado aos artigos. A polícia reprimiu e, além de 23 detidos, oito policiais saíram eridos.

26 de julho – Desempregados ocupam a renaria da empresa ermaperminais Marítimos Patagônios por tempo indeterminado para exigir postosde trabalho às empresas RepsolYPF, vintage e Panamerican Energy.

29 de julho – Os 700 trabalhadores da Altos Hornos Zapla ocuparam aempresa em Palpalá Jujuy, reclamando o pagamento correspondente ao Programa de Propriedade Participada PPP, que deeriam ter recebido por ocasio desua priatizaço em 1992.

18 de agosto – Sancionada a Lei 25.928, que modicou o artigo 55 do Có

digo Penal, permitindo a imposiço de penas de 50 anos de priso ou recluso. 19 de agosto – Cerca de 200 pessoas ocuparam o pátio dos tanques da rma ermap reclamando trabalho eetio. Depois de 48 horas do m do protesto, o

 juiz criminal Marcelo Bailaque baixou uma ordem de detenço contra 24 pessoase abriu inquérito a quase 60. Seis pessoas oram presas preentiamente duranteseis meses, acusadas dos delitos de priaço ilegal da liberdade agraada, ameaças,danos, usurpaço, resistência à autoridade e entorpecimento da atiidade do exercício de direitos no espaço público.

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31 de agosto – Reprimido um protesto na porta do Ministério de Economia, para repudiar a presença ali do diretor do FMI, Rodrigo de Rato. Foram detidas 102 pessoas. O juiz ederal Juan José Galeano incorporou à causa um relatórioelaborado pela Diiso de Operações do Departamento de Segurança de Estado

da Polícia Federal Argentina, detalhando a inestigaço realizada sobre os adogados de deesa.

10 de setembro – Mobilizaço na Plaza de los dos Congresos para exigir aretirada dos lutadores sociais dos processos.

28 de setembro – Mais de 3.000 habitantes de Neuquén se mobilizaram contraa criminalizaço do protesto social nas audiências dos seis dirigentes da CA Zapala eCutral Có, leados a julgamento pelos incidentes de 9 de junho do ano de 2000.

30 de setembro – Desempregados da Caleta Oliia ocuparam o local daermap em demanda de postos de trabalho eetios no setor petroleiro. Os ee

tios da empresa de segurança impediram a passagem de maniestantes que semobilizaram bloqueando a Rota Nacional 3.

2 de outubro – O Corpo Nacional de Gendarmes e a polícia de Santa Cruzprenderam 15 desempregados que realizaam um bloqueio na Rota 3 da CaletaOliia e 21 piqueteiros que ocupaam os tanques da ermap.

27 de noembro – A Central de rabalhadores Argentinos CA denunciouque um militante dessa organizaço, Esteban “Chirolita” Armella, integrante da Organizaço de Bairro upac Amaru e coordenador de um comedor comunitário, morreuao receber duríssimos golpes na Brigada de Inestigações da polícia de Jujuy 32.

1.º de dezembro – 70 desempregados que ocupaam um local da empresapetroleira Oil ONS, empreiteira da Repsol YPF, na localidade de Las Heras, SantaCruz, oram desalojados por gendarmes e pela polícia proincial. vinte e cincopessoas oram detidas.

28 de dezembro – Forças especiais antimotim Uespo de Neuquén desalojaram sem ordem judicial as amílias mapuche que bloqueaam estradas utilizadas pelaempresa Pioneer Natural Resources. Carlos Maril oi erido por bala de chumbo.

30 de dezembro – Massacre do Cromagnon – Como conseqüência da cor

rupço, da alta de cuidado e de controles, produziuse um incêndio em um salode baile da Capital Federal, onde morreram 190 joens. A partir de ento oraminiciadas mobilizações por justiça, contra a corrupço e a impunidade.

32 armell flece no Hosptl Pblo Sor e Jjy pós permnecer três s em terp ntensv, como con-seqüênc e fortes pncs e tortrs sofrs n Brg. Tnh so eto no 22 e novembro pr ve-rgção e nteceentes e esteve por 24 hors no lgr enomno “chncho” (cel e cstgo), e one scom pocs possbles e sobrevver. a CTa ennco qe armell sofre “prvção legítm lbere,tortrs (físcs e pscológcs) segs e morte sem qe os clpos o fto tenhm recebo cstgo”.

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2005

6 de janeiro – Mais de dez mil pessoas marcharam em direço à Plaza deMayo reclamando justiça para as ítimas do Cromagnon. Quando começaram a se

desconcentrar, a Polícia Federal as reprimiu com jatos de água e detee 42 pessoas,muitas delas joens sobreientes do Cromagnon e parentes das ítimas.

15 de janeiro – O promotor geral Germán Garaano armou que aplicariao Código de Contraenções para punir os dirigentes de organizações sociais queencabeçassem protestos.

4 de março – A Multisetorial de Neuquén marchou até a casa de goernoem repúdio à escalada de ameaças aos trabalhadores de Zanon, do sindicato ceramista, à deensora dos Direitos da Criança e sua adjunta. Em Centenário, seqüestraram a mulher de um operário de Zanon que oi surrada e ameaçada.

1.º de abril – No marco da paralisaço docente, algumas proessoras zeram um protesto sentandose na Plaza 9 de Julio de Salta. A polícia impediu amaniestaço a golpes, atirando balas de borracha e gases lacrimogêneos. vinte eoito pessoas oram detidas e árias eridas, entre as quais uma menina de seis anos,erida na perna por perdigões de borracha.

21 de abril – Em villa La Angostura, a Comunidad Paichil Antrito oi despejada iolentamente de suas terras no cerro Beledere por ordem do juiz Rolando Lima.

30 de abril – Sob as palaras de ordem “no à contaminaço”, “no às ábri

cas de papel”, 40 mil pessoas do Uruguai e da Argentina marcharam em direço àponte internacional que une Gualeguaychú, na Argentina, a Fray Bentos, no Uruguai, interrompendo o trânsito durante seis horas em repúdio à instalaço de duasábricas de celulose às margens do Rio Uruguai.

20 de junho – Os desempregados que ocupaam um local da RepsolYPF nalocalidade de Cañadón Seco, Santa Cruz, oram reprimidos pela polícia com gaseslacrimogêneos e pauladas, sendo detidas 60 pessoas, entre elas mulheres e crianças.

28 de julho – No marco da multiplicaço da luta dos trabalhadores dasaúde, o ministro de Saúde, Ginés González García, qualicou de “terroristas sani

tários” os trabalhadores noprossionais do Hospital Garrahan. 25 de agosto – Em Santa Cruz, desempregados bloquearam o acesso a um local

da petroleira RepsolYPF, em Pico runcado, para exigir postos de trabalho. Foram reprimidos pela polícia. Mais de dez maniestantes caram eridos e 12 oram detidos.

12 de outubro – Quatro delegados do Hospital Garrahan oram citadospela justiça, acusados de delito de coaço.

15 de outubro – Rebelio na priso de Magdalena, proíncia de BuenosAires, que culminou com 32 internos mortos por asxia.

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1.º de noembro – Passageiros destruíram a estaço Haedo da exestradade erro Sarmiento, queimando 15 agões em protesto pelo cancelamento de uma

 iagem e o mau seriço prestado pela empresa rens de Buenos Aires. A políciadesatou uma orte represso que deixou um saldo de 87 detidos e 21 eridos.

4 de noembro – Cúpula das Américas em Mar del Plata, à qual compareceu o Presidente Bush. Foi realizada simultaneamente a III Cúpula dos Poos. Acidade oi militarizada. Foi reprimida uma maniestaço contra a presença deBush, com um saldo de 80 detidos. Em Buenos Aires, organizações populares realizaram uma marcha. Foram detidas oito pessoas e oito policiais saíram eridos.

2006

8 de janeiro – Um grupo de camponeses de Campo Gallo, Santiago del Es

tero, tentou impedir o desmatamento de um terreno em litígio judicial, produzindoseenrentamentos com a polícia que deixaram três policiais e um camponês eridos.

26 de janeiro – Em Neuquén, 150 mapuches se concentraram diante doConselho Deliberante, onde eram celebradas as sessões para a reorma da Constituiço. Ao car sabendo que no seriam incluídos os direitos das comunidades indígenas, tentaram entrar no ediício para protestar, sendo reprimidos pela polícia.

7 de eereiro – Em Las Heras, Santa Cruz, mais de mil pessoas, entre trabalhadores e seus amiliares, concentraramse diante da delegacia para exigir a liberdade deMario Naarro, representante de um setor dissidente do sindicato petroleiro. A políciareprimiu, produzindose enrentamentos que deixaram um policial morto, seis eridosà bala e maniestantes eridos. O goerno nacional eniou mais de 300 gendarmes.

13 de eereiro – O corpo de delegados do sindicato de petroleiros de SantaCruz conocou assembléias de base em cada local de trabalho em protesto pela deciso das empresas de no pagar 100% dos dias no trabalhados na gree e paraexigir a retirada da Gendarmería de Las Heras. Os gendarmes controlaram os acessos às baterias de desidrataço do óleo cru, ao mesmo tempo em que o Grupo deOperações Especiais GOE da polícia realizaa reistas na entrada das renarias.

10 de março – Os trabalhadores da Federaço Argentina Sindical doPetróleo e do Gás Priados FASP/GP e da Unio Operária da Construço daRepública Argentina UOCRA realizaram uma paralisaço total em Las Heras,Caleta Oliia, Pico runcado e Río Gallegos, Santa Cruz, para denunciar a militarizaço da proíncia, as demissões e os descontos dos dias parados.

5 de maio – Moradores do bairro Cuadro Estación, em Mendoza, lançaramse sobre um trem para apoderarse do caro mineral que era transportado, para ter com que se aquecer e cozinhar. A polícia disparou balas de borracha

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e de chumbo. Mauricio Morán de 14 anos morreu com um tiro no peito. Outroadolescente oi erido à bala.

22 de maio – Em Mendoza, estudantes secundários marcharam em direçoà Casa de Goerno protestando pela alta de gás em 255 escolas da proíncia. A polí

cia detee 60 pessoas, acusandoas de danicar automóeis e um carro de polícia. 26 de maio – Um juiz inocentou cinco enermeiros do hospital Garrahan,

acusados de abandono de pessoa no marco de um conito sindical, porque oi ericado que nenhum dos pacientes piorou de saúde por alta concreta de atendimento.

Em Ensenada concentraramse 500 trabalhadores do Estaleiro Rio Santiago agrupados na Associaço de rabalhadores do Estado AE, para reclamar ao goernador a aceleraço do acordo com a venezuela para a construçode naios. Produziramse choques entre os maniestantes e o pessoal de segurança da empresa, cando eridos dois trabalhadores.

5 de junho – Integrantes do Moimento Independente de Aposentados eDesempregados MIJD concentraramse diante dos tribunais em Buenos Aires paraapoiar seu dirigente Raúl Castells, durante o juízo oral pela acusaço de extorso àraizde uma reclamaço de alimentos à empresa Mc Donald’s em 2004. O promotor pediuuma pena de quatro anos e oito meses de cárcere; armou que a polícia tem medo deatuar contra os piquetes, os quais dene como um cenário de coaço permanente.

7 de junho – Processo contra as autoridades da comunidade Lonko Purán,Martín velásquez Maliqueo e Fidel Pintos, e da Coordenadoria de OrganizaçõesMapuche COM, Florentino Nahuel e Roberto Ñancucheo, acusados de “perturbaço da propriedade” pela empresa estadunidense Pioneer Natural Resources em2001 atualmente Apache Corporation. Como protesto, representantes de comunidades da regio paralisaram poços de gás e petróleo da empresa.

9 de junho – Organizações de direitos humanos de Mendoza protestaramcontra a “mo dura” da polícia do goerno proincial e reclamaram o esclarecimento de três casos de gatilho ácil, que deixaram como resultado dois joensmortos e outro graemente erido. ambém protestaram pela detenço de 43 estudantes secundários que reclamaam do goerno a caleaço para suas escolas.

11 de junho – Um juiz ederal processou 13 trabalhadores da empresa desegurança AS por um piquete que no dia 2 de noembro do ano anterior haiainterrompido a entrada e saída de passageiros ao aeroporto de Ezeiza.

16 de junho – Militantes do MRCUBa Coordenadoria de Unidade deBairro – Moimento ereza Rodriguez se concentraram diante dos tribunais paraexigir a liberdade do dirigente Ricardo Berrozpe, detido pelos incidentes em MarDel Plata, em noembro de 2005, acusado de “incitaço pública à iolência coletia e de abricaço de arteatos explosios perigosos”.

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18 de setembro – Desaparecimento de Jorge Julio López, expreso e testemunha no julgamento do genocida Miguel Etchecolatz, Diretor Geral de Inestigações da Polícia Bonaerense durante a última ditadura militar. Continua desaparecido até hoje.

27 de setembro – Em Orán, Salta, a populaço marchou para repudiar amorte por espancamento de um joem indígena, pobre e desnutrido, nas mos de16 guardas da segurança priada do engenho abacal Agroindústria, quando, comoutros rapazes, roubaa laranjas para sobreier.

2 de outubro – Estendida a gree de ome de 14.000 presosas nos cárceresde Buenos Aires e em três prisões ederais, que pediam a aceleraço de suas causascriminais, a derrogaço da lei de solturas, a sanço de uma lei processual que respeitasse os tratados internacionais de direitos humanos e a Constituiço Nacional.

9 de outubro – Por ocasio de uma assembléia realizada pelo pessoal

no médico e liados do Hospital Francês, reclamando o pagamento de saláriose em deesa da onte de trabalho, um grupo de “barrabraas”* com apoio policialgolpeou os participantes, deixando seis eridos.

12 de outubro – Em Jujuy, no marco do Encontro Nacional de Mulheres,dois mil participantes marcharam até a Unidade Penal 3, onde se encontra presaa joem Romina ejerina, condenada a 14 anos de priso por matar, no momentodo nascimento, seu lho, produto de um estupro. Pediram a liberdade da joem ea priso do estuprador.

27 de dezembro – Em Escobar, Buenos Aires, desapareceu Luis Gerez,pedreiro e militante peronista de 51 anos. No dia 19 de abril testemunhou contra oexpolicial Luis Patti, denunciando a participaço dele nas torturas que soreu emuma delegacia de Escobar, em 1972. Gerez reapareceu no dia seguinte.

2007

13 de eereiro – A multinacional Meridian Gold processou moradores deEsquel que se opuseram à sua prática de contaminaço.

1.º de março – O militante do Moimento dos rabalhadores Desempregados de Lanús MDLanús e da Frente Popular Darío Santillán, Carlos Leia,oi seqüestrado e submetido a um simulacro de uzilamento.

29 de março – Em Santa Cruz, à paralisaço docente que se haia iniciado há quatro semanas, somouse uma gree de trabalhadores estatais; em RíoGallegos marcharam cinco mil trabalhadores gritando “que se o todos”. Houemarchas em 16 cidades da proíncia. Em Neuquén, docentes da Associaço de

* Brrbrvs – dz-se s torcs orgnzs mto volents (N. T.).

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rabalhadores da Educaço de Neuquén AEN, em gree por aumento salarial,interromperam o trânsito em duas pontes de comunicaço com as cidades de Cipolletti e Cinco Saltos, em Rio Negro e na Rota nacional 22 de Zapala. ambémpararam e se mobilizaram os trabalhadores proinciais liados à AE por aumen

to salarial. Estaam em conito os docentes de Santa Cruz, Salta, La Rioja, ierradel Fuego, Corrientes, Neuquén, La Pampa e Jujuy.

31 de março – Na Caleta Oliia, Santa Cruz, docentes da Associaço deDocentes de Santa Cruz Adosac decretaram uma gree de 72 horas e marcharampela cidade para repudiar a deciso do goerno proincial de eniar custódia policial, militar e da Gendarmería às escolas e outros ediícios públicos, com a desculpa de eitar uma eentual inaso dos estabelecimentos por parte dos docentes.

4 de abril – Em Neuquén docentes em gree desde o dia 5 de março, lutandopor aumento salarial, tentaram bloquear a Rota 22 para impedir o acesso aos centros

turísticos. A polícia impediu o bloqueio disparando balas de borracha e gases lacrimogêneos. O proessor Carlos Alberto Fuentealba 40 anos oi assassinado quandouma bomba de gás disparada à curta distância por um policial atingiu sua cabeça.

5 de abril – Militantes de dierentes agrupações marcharam em direço à Casa daProíncia de Neuquén em Buenos Aires, para repudiar a represso aos docentes. Como apolícia impediu que passassem, dirigiramse para um imóel do goernador Sobisch, e oincendiaram com bombas moloto. Dezesseis maniestantes oram presos.

9 de abril – Em repúdio à represso ocorrida em Neuquén aconteceu, comalta adeso, a gree geral nacional de 24 horas conocada pela CA Central dos

rabalhadores Argentinos e pelos sindicatos docentes. Foram realizadas marchasmultitudinárias: 30 mil maniestantes em Neuquén, igual número em Buenos Aires,9 mil em Rosario; 6 mil em Mar de Plata, 10 mil em Jujuy, 13 mil em Salta, 2 milem ucumán, 3.500 em Córdoba, 9 mil em Mendoza, 2 mil em San Luis, 2.500 emBariloche, 5 mil em Río Gallegos, 400 em Ushuaia.

17 de abril – Em Buenos Aires, militantes de dierentes organizações participaramde um ato pelo Dia do Preso Político. Foram detidos três militantes de Quebracho.

5 de junho – Em Buenos Aires, 400 trabalhadores do Cassino Flutuantese concentraram diante do Ministério de rabalho para reclamar o pagamento de

seus salários e a reabertura do estabelecimento, echado desde o dia 3 de maio;houe choques com a polícia com um saldo de quatro maniestantes e cinco policiais eridos, e cinco detidos.

6 de junho – Em apenas uma hora e meia oi aproada no Senado a LeiAntiterrorista, com 51 otos a aor e 1 contra. No dia 13 de junho, na Câmara deDeputados a situaço atingiu o quorum e o projeto do Poder Executio Nacional n. 449/2006, que reorma o Código Penal, oi rmado pelo presidente NéstorKichner, e se conerteu em lei.

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7 de junho – Militantes de Quebracho realizaram um escracho a um juizederal em demanda da liberdade de ários companheiros que se encontraampresos; houe choque com a polícia e oito maniestantes oram detidos.

14 de julho – Em Buenos Aires, a polícia expulsou endedores ambulantes

da Plaza Cortazar; produziramse incidentes, tendo sido eridos dois endedores;quatro oram detidos.

8 de agosto – À raiz da morte por desnutriço desde o mês de julho de11 indígenas do El Impenetrable, no Chaco, dirigentes indígenas marcharam emdireço à Casa de Goerno em Resistência, para pedir a renúncia do Ministro Pro

 incial de Saúde e que osse declarada emergência sanitária e alimentar. 17 de agosto – Enquanto o Presidente Kirchner e sua mulher aziam

proselitismo em Río Gallegos, Santa Cruz, três mil trabalhadores estatais e docentes participaram de uma marcha de protesto conocada pela Mesa de UnidadeSindical. Rodeado por maniestantes, o exministro de Goerno, Daniel varizat,

atropelouos com sua caminhonete, deixando 17 eridos. 18 de agosto – Em Concordia, Entre Ríos, a Gendarmería impediu o blo

queio da estrada por ambientalistas assembleístas, por ordem de um juiz ederal,por causa de uma denúncia dos comerciantes da zona.

21 de agosto – Em Buenos Aires, os trabalhadores do Hotel Bauen realizaramum ato e um estial para rechaçar a sentença judicial que implicaria seu despejo.

Militantes de organizações de esquerda realizaram um ato em homenagemaos guerrilheiros uzilados no Massacre de rele. Após o ato, integrantes de Quebracho dirigiramse para a Casa da Proíncia de Santa Cruz para repudiar a re

presso e a militarizaço dessa proíncia. Após conuírem com militantes das Organizações Lires do Poo OLP, protagonizaram choques com a polícia diante daChea do Goerno portenho. Foram detidos 44 militantes.

27 de setembro – No porto de Mar del Plata, trabalhadores que azemlés de merluza, concentraramse diante da empresa El Dorado para exigir seuregistro como assalariados. Dispararam de dentro da ábrica erindo um joem.Os maniestantes, juntamente com militantes da CA e de partidos de esquerda,romperam janelas de automóeis e de ábricas e enrentaram a polícia, que os reprimiu com gases lacrimogêneos e balas de borracha. rês policiais caram eridose houe três detenções.

31 de outubro – Em Mar del Plata, os trabalhadores que elaboram os lésde pescado para as processadoras e que estaam em gree tentaram realizar umamaniestaço no porto, que oi impedida pelo grupo especial Albatroz da PolíciaNaal, que a dispersou disparando balas de borracha e gases lacrimogêneos.

4 de noembro – rinta e sete internos do presídio masculino n.º 1, pertencenteao Seriço Penitenciário Proincial de Santiago del Estero, aleceram em um incêndio,cujas causas ainda no oram esclarecidas. Em um presídio com capacidade declaradapara 200 pessoas, haia no momento do incêndio 267 processados e 215 condenados.

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13 de noembro – O Moimento Camponês de Santiago del Estero Mocase, denunciou ataques de guardas armados a seriço de empresários da soja,amparados por juízes e pelo goerno proincial, para despojar os camponesesde suas terras.

Aga caõ aa aá

Embora o relato desses atos repressios no abarque o conjunto deles, masapenas alguns dos mais releantes, é possíel apresentar algumas idéias que surgem ao estudálos:

1. A criminalizaço dos moimentos populares az parte de umrepertório mundial de ações e práticas de controle social, com as quais opoder organiza sua goernabilidade, a m de continuar o processo de reproduço ampliada do capital.

2. Este processo – mesmo sendo parte de uma política global – assume modalidades concretas em cada país. No caso da Argentina, ai tomando as características especícas requeridas para responder ao níel queatingiu a resistência popular.

3. No núcleo do processo de criminalizaço dos moimentospopulares encontrase a aço cultural destinada a apresentar as lutas pelosdireitos sociais como delitos, e os sujeitos sociais que as promoem comodelinqüentes. Isto acilmente se obsera na maneira como os meios de comunicaço inormam ou desinormam sobre as maniestações sociais,

ocultando suas motiações, a legitimidade das demandas, e pondo ênasenas ormas mais ou menos iolentas de expresso do descontentamentosocial. Por sua ez, ao inisibilizar ou deslegitimar as lutas, os meios de comunicaço de massa azem com que elas, para adquirir maior impacto, ousimplesmente para serem conhecidas pela sociedade, recorram crescentemente a ormas de “aço direta”, que reorçam a idéia de que o que está emcurso no é uma reiindicaço de direitos, e sim um delito.

4. Esta transmutaço é possíel pela mesma lógica que criou, subjetiamente, o medo ao outro, a desconança daquilo que é dierente, estimu

lando a ragmentaço da sociedade até o ponto em que os dierentes grupossociais se tornam alheios e irreconhecíeis entre si.

5. A aço repressia do Estado tende a transormar a questo socialem questo criminal. ornamse mecanismos principais de criminalizaço doprotesto social a legislaço – que ai incrementando as modalidades de criminalizaço do “delito” – e a interpretaço que dela se az nos âmbitos judiciais.

6. As dierentes modalidades de criminalizaço dos moimentos sociais so aorecidas pela impunidade que permite que numerosos

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eetios policiais ormados na ditadura continuem sendo parte das orçaspoliciais e de “segurança”, e que a “ecácia” dos seus métodos de tortura erepresso seja transmitida aos noos eetios.

7. O papel dos meios de comunicaço é central na criaço de um

“sentido comum” que estigmatiza os moimentos de resistência. Constróiuma demanda de “normalidade” e sob a bandeira de “segurança cidad”organiza culturalmente as bases de um noo “partido da ordem”.

8. A consideraço ragmentada de cada ato repressio como exceço, reorça a legitimaço das políticas neoliberais e oculta a modalidadegeral assumida pela dominaço, e também o conhecimento do padro deacumulaço do capital nesta etapa.

9. Faz parte da resistência dos moimentos populares aançar nareelaço desses mecanismos, e na aço políticoideológica tendente a

questionar seus núcleos undamentais, no só no plano discursio, mastambém naquilo em que aetaram a subjetiidade popular.

10. O reconhecimento de que as demandas de normalidade e de segurança constituem uma chantagem que permeia o imaginário popular desentidos conseradores e reacionários obriga a repensar as modalidades dedenúncia, de aço, de solidariedade, de recriaço dos laços sociais.

11. É imprescindíel contribuir com a solidariedade às ítimas imediatas desses processos de criminalizaço. A ragmentaço tem conduzido aatitudes em que cada organizaço tende a tomar distância dos aetados, res

guardando sua própria “segurança” e estabilidade; e inclusie até tem acontecido de alguns setores populares estigmatizarem os moimentos em luta.

12. O dispositio de criminalizaço dos moimentos sociais articuladiersos eixos: a a criminalizaço da pobreza; b a criminalizaço dos mo

 imentos populares, de seus integrantes e a judicializaço do protesto social; e c a militarizaço de regiões e territórios em caso de necessidade.

a. A caa a ba

Como conseqüência das políticas neoliberais de excluso social e de precarizaço de todos os aspectos da ida, produzemse noos enômenos nas relações sociais. O medo ao “outro” é um dos dados signicatios que “organizam”estas relações de desigualdade, desconança e diluiço das solidariedades. Aragmentaço social unciona como estímulo daqueles medos que expressama insegurança generalizada diante do horizonte de excluso. Aqueles que nohabitam o “mundo” da negaço social preerem no reconhecêlo como parte deseu próprio espaço possíel. Os noos “desaparecidos sociais” representam um

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antasma aterrorizante, em um corpo social árias ezes erido e ulnerado poruma continuidade de perdas materiais e simbólicas.

A excluso social lea a satisazer as carênciasurgências de modo imediatopara garantir a sobreiência, tanto em termos indiiduais como coletios, ge

rando no imaginário construído a partir da hegemonia cultural a identicaçodas zonas de pobreza como territórios de crime. Por sua ez, estes sentidos queestimulam respostas conseradoras so alimentados pelos grandes meios de comunicaço que atiam deliberadamente os mecanismos do terror, para leantar asexigências de “segurança”, entendidas, em última instância, como garantias para osdireitos do capital, e especialmente da propriedade priada.

Ao azer parecer a excluso como algo “natural” ulneramse no só os diretamente aetados por essas políticas. Aqueles que sentem a presso e a ameaça decar “de ora” aumentam o medo, o que estimula a ruptura de solidariedades entre

esses mundos, cujas ronteiras se tornam alas cada ez mais proundas, tanto paraimpedir que sejam atraessadas sicamente como para eitar que aqueles que habitam de um lado e do outro possam “erse” mutuamente salo pela v. Se parasetores signicatios da populaço o único caminho de acesso ao consumo é pormeio da v – o que por sua ez incrementa o malestar diante das carências –, paraaqueles que gozam de uma precária incluso o lugar de encontro com os excluídosso as notícias policiais, ou quando uma mobilizaço social ou piquete “interrompe”o circuito de sua ida cotidiana. No entanto, há um outro mundo, o daqueles que gozam das “antagens” e do “bemestar” oerecidos pelo sistema e por sua maquinaria

de consumo, que dicilmente se encontram com aqueles que habitam os setores dapobreza e da miséria; porque seus habitantes construíram muros e guetos de “segurança” em suas casas, bairros, clubes, locais de estudo, de trabalho e de lazer.

O desencontro entre esses mundos rompe as possibilidades de identicaçosocial. O “outro” negado, como no é reconhecido, no existe, e se “aparece” comsuas lutas, ou seja, quando existe, interere no “bemestar” das camadas sociaisbeneciárias desse modo de organizaço da ida. A ruptura de identidades leaa perceber a pobreza, a marginalidade, a miséria do outro como ameaça, e a impregnar esse sentimento de conteúdos racistas, xenóobos, iolentos, repressios

e autoritários. Estes mecanismos de alienaço social so reorçados pela perda desentido e pela despolitizaço da luta social, que aorecem que ela entre para oindex da criminalizaço como “causa penal”. Dessa maneira, se as ruas ou as estradas so ocupadas por setores marginalizados, isso aparece como uma ameaça,enquanto o mesmo ato, com outros protagonistas, é saudado eusiamente pelosmeios de comunicaço do poder.

Foi paradigmática a mobilizaço promoida por Juan C. Blumberg pai deAxel Blumberg, um joem assassinado. O espaço público oi ocupado maciçamente

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em árias oportunidades por setores sociais que reorçaram diante desse assassinatode um joem branco, de classe média alta sua sensaço de terror ante o deslocamento das ronteiras da morte, que chegaa a seu próprio campo. O tratamento damídia oi o estímulo à mobilizaço, quando no diretamente o seu artíce.

Algo similar produziuse diante das maniestações de apoio às demandasda Sociedade Rural e dos grupos que protagonizaram o lockout “do campo” empresarial. Nesses casos, o suposto “conito de direitos” que se apresenta quandoos grupos excluídos se mobilizam por suas demandas diluiuse rapidamente emaor do direito à propriedade priada e aos lucros do capital, à “segurança cidad”,e na exigência de resguardála, endurecendo ainda mais as respostas repressias,

 já no para quem protesta em geral, mas sim diante dos reclamos daqueles queprotestam a partir das zonas de excluso.

Analisando este enômeno, Susana Murillo33 interpreta:

[…] o pobre, o joem e o nobranco emergem como os possíeis causadores de todos os males, e os pedidos de justiça so acompanhados pelas demandas de reduço da idade penal e de diersasmedidas que tendam ao endurecimento da represso. As diatribescontra organismos de direitos humanos, o pedido de oto qualicado, o mais escancarado racismo, so maniestados por alguns líderes dessas marchas “apolíticas” promoidas, em alguns casos, porguras inculadas a repressores da década de 1970. Entretanto, emmuitos cidados, o terror bloqueia as mediações reexias e a almapede a gritos “tolerância zero” mediada por uma lei que, estabelecidasem deliberações – só baseada na exigência das “pessoas” –, causepara os outros a morte própria que se deseja outra ez denegar. Aangústia que reela tal iolência erbal ou ísica – que reclama a legalizaço da represso e que no acila em denunciar anonimamente os sujeitos nos quais tal tenso se personaliza – está sustentada,ademais, na aboliço de algumas normas uniersais e sua substitui

ço por uma legalidade baseada na urgência e no pragmatismo. Boaparte da populaço se enole também em operações de igilância edenúncia dos possíeis delinqüentes que geram insegurança. E estaé retroalimentada a partir dos meios de comunicaço que ieramocupar, em boa medida, o lugar dos dispositios disciplinares em seupapel de interenço moral na ida doméstica.

33 El Nevo Pcto Socl, l crmnlzcón e los movmentos socles y l “eologí e l segr”. SsnMrllo. OSaL 14. 2004

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Um aspecto essencial para reorçar a dominaço é a criaço de dispositiosde controle da pobreza. Escree Esteban Rodríguez34:

Neste contexto, caracterizado pela irrupço da excluso, o

Estado redeniu sua interenço. Porque o Estado continuará inter indo, embora desta ez já no tenda à integraço social. Sua inter enço será exclusia. Interém para reassegurar essa exclusiidade,para manter a excluso, ou o que dá no mesmo, para eitar a irrupço. A interenço estatal se torna diruptia, isto é, ragmentadora. A dirupço é a orma assumida pelo controle social quando setrata de manter a excluso, quando o iniáel se torna insustentáele, portanto, já no cabe incluso alguma. Essas tecnologias de controle esto relacionadas com: a as agências políticas que, baseandose no clientelismo, organizam a cooptaço; b as agências sociaisque, baseandose na cooptaço, organizam o subsistencialismo; c asagências repressias que articulam dierentes práticas gatilho ácil,antitumulto, esquadrões da morte, que so ormas de gerir o crimee o crescimento do protesto social; e d as agências judiciais que organizaro a criminalizaço da pobreza e depois a criminalizaço doprotesto. [...] Quando as multidões irrompem, é preciso interir, ea interenço será brutal, embora ocalizada, contundente, emboraimperceptíel, se a multido no se resignar. Da “doutrina de segurança nacional” passamos à “tolerância zero”, da mesma maneira que

a “mo inisíel” se torna a “mo dura”. Uma mo que se az punho,mas permanecerá inisíel, intermitente, diusa e errante. Por issoé que no pode ser percebida como tal. O terror de que alamos éum terror espectral, que já no tem sua base real em um ponto determinado, em uma instituiço, mas que permanecerá disseminadoentre dierentes práticas que organizam e gerenciam a dirupço. Issoserá o terrorismo de Estado nesta noa época marcada pela crise derepresentaço: um punho sem braço.

O inorme da Coordenadoria contra a Represso Policial e InstitucionalCorrepi assinala na apresentaço do arquio de casos 19832007:

Desde dezembro de 1983 os goernos “democráticos” mataram,desapareceram, torturaram até a morte ou massacraram em cárceres emobilizações 2.334 pessoas. Mais da metade tinha menos de 25 anos.

34 un pño sn brzo. ¿Segr cn o crmnlzcón e l mltt? L crmnlzcón e l protestsocl. HiJOS L Plt y Econes Grpo L Gret, nov. 2003.

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A esmagadora maioria era de pobres. Quase 60% uzilados pelo gatilho ácil. 30% morreram nos cárceres e delegacias. Desde 1995 até2007, cinqüenta e um companheiros caíram sob as balas de orças pro

 inciais ou ederais em marchas e mobilizações populares35.

Reerindose ao goerno de Néstor Kirchner o inorme agrega:

O Estado argentino, durante o goerno kirchnerista, exerceuo controle e o disciplinamento social mediante o gatilho ácil, astorturas em cárceres e delegacias, as batidas e as detenções arbitrárias, entre outras medidas como a saturaço policial e o uso dosgendarmes e de agentes de segurança para militarizar os bairros.ambém desenoleu a represso política mediante a perseguiço

das organizações populares, as ameaças, as perseguições, a represso em mobilizações, o uso de quadrilhas goernamentaise patronais, os processos criminais e o encarceramento por motios políticos. É necessário destacar a persistência, como políticade Estado, da sistemática aplicaço de tormentos a pessoas legal ouilegalmente detidas, o que, em muitos casos, ocasiona a morte do torturado. Uma parte signicatia das mortes em cárceres e delegaciascorresponde a torturas seguidas de morte, apesar de que no chegama uma dúzia em todo o país as condenações por esse delito. Paralelae complementarmente ao uso habitual de métodos de tortura comoo espancamento, o submarino seco saco plástico ou o choque elétrico, o Judiciário resiste a qualicar atos óbios de tortura como tal,porque essa gura legal mostra com mais clareza que qualquer outraa responsabilidade institucional. Em relaço às mortes nas delegacias,cabe destacar também que a maior parte das pessoas que morreramno estaa detida por delitos e à disposiço da justiça, mas tinha sido

 ítima de seqüestros policiais para estabelecer identidade aerigua

ço de antecedentes ou contraenções e altas, proando assim queestas aculdades das orças de segurança para deter pessoas arbitrariamente so cruciais para dar ensejo à tortura. O Estado azuma deesa irrestrita das normas que permitem às polícias deterindiscriminadamente “suspeitos”, cujo perl sempre coincide como que eles mesmos descreem como “moreno, joem e de bairrosonde há conitos.

35 Ver: apresentção o rqvo e csos 2007, sponível em: <http://correp.lhne.org>.

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A pesquisa eetuada pela Correpi aponta que:

Em 2003 houe 1.508 casos de torturas, com uma médiade 12 pessoas mortas por mês; em 2004, 1.684 casos, mantendo

a média de 12 pessoas mortas por mês; em 2005, 1.888 casos,com uma média de 15 casos de morte por mês; em 2006, 2.114casos, mantendose a média de 15 pessoas mortas por mês eno im de 2007 oram registrados 2.334, com uma média de16 pessoas mortas por mês. Nos últimos meses so estimadas192 mortes.

A seletiidade do sistema penal se maniesta no ato de que so ospobres que enchem as prisões. O inorme assinala que durante esse goer

no oram assassinados mais joens e pobres: um leantamento nos arquiosreela 847 mortos durante os 54 meses de gesto. Isso signiica mais de 16

 joens e pobres assassinados por mês por policiais, militares, gendarmes ouagentes do seriço penitenciário. “Um joem a cada 40 horas, em quatroanos e meio de goerno.”

O “gatilho ácil” – da mesma orma que as batidas nos bairros pobres – atuacomo dispositios de disciplinamento, sem outro critério que no o castigo à pobreza, e o de azer com que se acostumem à iolência como a única ace da lei. Asinasões às comunidades, justicadas pela perseguiço ao narcotráco ou à “delin

qüência”, so moeda corrente nos setores marginalizados. Produzem erdadeirosassaltos à populaço mais ulneráel, tendentes a estabelecer a ordem armada diante dos mais racos. A militarizaço dos bairros carentes institucionalizouse pormeio de dispositios como o Plano de Proteço Integral dos Bairros – iniciado emnoembro de 2001 – com a ocupaço de três grandes “ilas de emergência” emBuenos Aires pelas orças policiais.

Esta noa escalada da criminalizaço, isíel na militarizaçodos bairros carentes, torna natural a associaço entre “pobreza” e “deli

to” atraés da categorizaço das populações pobres como “classes perigosas”, distinguindoas do resto da sociedade e rotulando seus núcleoshabitacionais como mera onte de delito. No entanto, esta correlaçoque se estabelece entre “insegurança”, “delito” e “pobreza” põe emeidência a emergência de noas ronteiras políticas e jurídicas. Osurgimento dessas noas ronteiras abre as portas à possibilidadede que, em nome da conseraço da ordem social, sejam instituídaszonas despojadas de direito – zonas de no direito ou “estados de ex

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ceço”, segundo a conceituaço de Agamben36 – onde a autoestimae o respeito coletio no contam, e onde torna a primar uma puralógica de aço policial37.

Nos últimos anos também se aançou na militarizaço de estradas eredes erroiárias, com a presença de postos da Gendarmería nas estações detrem. Isto tem sido enquadrado em atos que proocaram iolenta represso,como os que aconteceram na estaço de Haedo, no dia 1.º de noembro de200538. Em 2006, o goerno nacional anunciou o início de operações do projeto rem Alerta, que consiste na instalaço de câmeras de teleiso nas estaçõesda exerroia Mitre, operada pela rens de Buenos Aires BA. As câmeraseniam imagens em tempo real ao Departamento Central da Polícia Federal ea uma página da Internet de acesso público. Em 2007, o projeto oi estendido

à exerroia Sarmiento, reorçandose a igilância nas estações do metrô comcâmeras e policiais.

Um caso emblemático destas modalidades de criminalizaço da pobreza,que se entrelaçam com a judicializaço do protesto social, oi a represso desatadana Casa Legislatia no ano de 2004, quando era discutida a modicaço do Códigode Contraenço Penal, com um conjunto de medidas que prejudicaam precisamente os setores mais ulneráeis39. A represso brutal – amplicada pelos meiosde comunicaço – mostrou a deciso de aançar na “limpeza das ruas” de pessoas

36 G. agmben, El Esto e excepcón, Benos ares, arn Hlgo, 2004.37 R. Grgrell. M. Svmp. Ls fronters el erecho, p. 12, 1.º fev. 2003. Cto no nforme e alert argen-tn, 2005.38 Ness ocsão, qno os sáros e trem se qexvm os ms servços, proz-se m tenttv Polí-c Bonerense e eslojr volentmente os mlhres e sáros s pltforms com bls e borrch e gseslcrmogêneos (lgms testemnhs zem qe tmbém trrm com bls e chmbo). a reção s pessos fovolent. Form ncenos qnze vgões, prte estção e Heo, lgms lojs form sqes e vtrnesform qebrs. To sso ro ms e cnco hors, e, com cheg o locl e ms e 40 crros s polícsfeerl e e Benos ares e Genrmerí Nconl, esto-se m cç hmn nscrmn em bscos “clpos”. Verm s etenções, ms e otent, epos tortrs e prsão. dnte esses ftos, pesr e nãoterem so esclrecos, sete jovens entre 19 e 30 nos crm etos ns prsões feers e Ezez e MrcosPz e m menor e e fo nterno “em resgro” no insttto Roc. Exstem ms e 60 pessos seno

 processs pelos mesmos ftos, css pelos eltos e lesões leves com grvnte contr efetvos s forçse segrnç, tento e resstênc à tore, obstrção o trnsporte públco, ncêno grvo pelo pergocomm pr os bens e pr tore e pergo e morte pr lgm pesso, no grvo por ser exectoem prejízo e bens e so públco.39 Entre esss mes estão: r ms poer à políc permtno qe te e ofíco como enncnte, testem-nh e tore, poeno rmr provs, css e plcr propns e extorsões pr s “cxnh”; pens e

 prsão e mlts mpgáves n qse totle s contrvenções; crmnlzção o protesto socl, s mnfes-tções e o vnlsmo: cstgo com rresto s ções pr mper lelões públcos, prátc qe tem so s

 pr mper qe os bncos se proprem e resêncs úncs e fmlres pr cobrr crétos hpotecáros.Crmnlzção ven mblnte com mlt, per mercor e té o nhero, conenno 20.000 tr-

 blhores mblntes e prqes e prçs, ctores e ppel e qnte não etermn e rtesão, rtstse r, mengos, lvores e crros; crmnlzção ofert e sexo em v públc e conenção mlheres etrvests em esto e prosttção ns zons controls pelo proxenetsmo polcl e moso.

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pobres. Dessa represso resultaram 15 presos: endedores ambulantes, mulheresem situaço de prostituiço, com poucas possibilidades de se deenderem e poucoapoio de suas também precárias organizações. Essa priso oi “um exemplo” dadeciso de aplicar a mo dura. ambém oi um salto no tipo de guras às quais se

imputaram delitos como “priaço ilegítima da liberdade, resistência à autoridade,e coaço agraada”.

A esse respeito sublinha Roberto Gargarella40:

Essas condenações, depois reertidas pela instância reisora,testemunham o incríel grau de leiandade com que se administramas penas priatias de liberdade de certos setores sociais neste caso,com total ausência de proas; e a arbitrariedade com que so selecionadas as guras criminais a serem utilizadas em cada caso. Ao mesmo

tempo, as absolições que podem chegar depois – como neste caso– so incapazes de reparar as injustiças já cometidas atraés do encarceramento dos imputados e que implicaram, no exemplo citado, emrupturas amiliares, ou grae prejuízo da saúde e do desempenho dasatiidades de trabalho e educatias de algumas das partes, de seus lhos e parentes, ao mesmo tempo em que testemunham o modo corporatio da aço judicial, incapaz de chamar a atenço ou sancionarde algum modo a atuaço irresponsáel das instâncias ineriores. Amensagem que se expressa é ento muito clara: se alguém tem razões

de queixa diante do poder, que no as expresse, porque pode ser ítima de um “erro” que implique em ários meses de priso; enquantoque aquele que ocupa o papel de juiz pode seguir lendo as normas deaplicaço do modo que bem entender, porque nenhum uncionário

 judicial estará disposto a repreendêlo por aquilo que se ê, em todocaso, como uma “desaortunada” interpretaço do direito [...]

E diz também:

As políticas criminais parecem desenhadas ao calor das de

mandas conjunturais dos grupos melhor situados. Eles têm mostradoreiteradamente, nestes anos, sua capacidade para inuir no redesenhodo Código Penal argentino, e do mesmo modo em que bloquearamreormas mais racionais embora no obiamente justicáeis sobreo mesmo, conerteram o reerido Código em um catálogo disorme depenas seeras para os delitos que mais temem, que no so necessariamente os delitos mais graes que se cometem no país.

40 Roberto Grgrell. Expresones e volenc en n contexto e frgmentcón socl.

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a.1. Fa a ba caa a h

A dimenso de gênero na análise da pobreza implica assumir que a posiçosocial da mulher é desigual, e que a sua experiência de pobreza pode ser dierente e

mais aguda que a dos homens, em irtude das ormas de excluso e discriminaçoque as mulheres iem cotidianamente.

As organizações de mulheres êm denunciando diersos casos de eminicídios, entre os quais um dos mais aberrantes é o dos assassinatos de mais de 20mulheres que exerciam a prostituiço em Mar del Plata, que no oram resolidos,embora se saiba que a responsabilidade é da polícia proincial. ambém oramdenunciados assassinatos de mulheres em Santiago del Estero e Cipolletti. Emgrande parte desses casos, cou demonstrada a conexo dos crimes com as redesde tráco de pessoas ou de prostituiço.

O moimento de mulheres assinala que mais de 500 mulheres oram “desaparecidas na democracia”, pelas redes de tráco de pessoas. Uma declaraço daCampanha diz:

Nem mais uma mulher ítima das redes de prostituiço:A resposta estatal é a represso às ítimas nos bordéis ou na rua,como sucede com a aplicaço dos códigos de contraenço e dealtas, que em sua redaço e aplicaço cada ez mais repressia, soherdeiros dos elhos editos policiais. A polícia utiliza o seqüestro,os maustratos, a ameaça e a propina, conertendose em sócia doproxenetismo, quando no diretamente em proxeneta. Nunca sechega aos grandes responsáeis da exploraço sexual das mulherese crianças, aos chees das redes de prostituiço, aos uncionários,legisladores, empresários, promotores, delegados e juízes que participam do negócio... O Estado, os goernos, os poderes legislatioe judicial so responsáeis pelo que azem, mas também pelo queno azem. No perseguem os exploradores, no respeitam nem

protegem os direitos humanos das ítimas, no destinam leis, programas e orçamento para a criaço de abrigos, para a assistênciamédica, jurídica e psicológica, para a capacitaço para o trabalho,para a criaço de empregos.

vale a pena chamar a atenço para o tratamento desse tema por parte dogoerno nacional e de determinadas ONGs, respondendo às imposições da políticanorteamericana, que coloca o tráco de pessoas no como um problema de direi

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tos das ítimas – undamentalmente as mulheres –, mas como um a mais entre osmúltiplos problemas que integram sua agenda de “segurança” junto com migrações, narcotráco, laagem de dinheiro, terrorismo, pobreza. Em consonânciacom esses critérios, aproouse na Argentina a Lei contra o ráco de Pessoas,

na qual se estabelece que, para que se constitua o delito, no caso de maiores de 18anos, o Estado ou as aetadas deem “proar” que houe recrutamento medianteengano, raude, iolência, ameaça, coerço ou abuso de autoridade. Esta lei torna

 ulneráeis as mulheres maiores de 18 anos e cria a idéia de que existe um trácoilegítimo que se penaliza, e outro legítimo no qual as ítimas dariam seu consentimento para ser prostituídas. As ítimas deem “proar” que seus exploradores as

 iolentaram, o que supõe a pretenso de que as ítimas so as responsáeis por suaprópria deesa, mecanismo pelo qual so reitimadas.

Outro caminho para penalizar as mulheres pobres é a criminalizaço do

aborto. Na Argentina, o aborto é a primeira causa de morte materna. A internaço por aborto no país aumentou em 57% entre 1995 e 2000. Quarenta porcento dessas hospitalizações correspondem a menores de 20 anos. Calculaseque morre uma mulher por dia em razo de abortos clandestinos so realizados em torno de 500.000 abortos por ano. Houe, nestes anos, ários casosde mulheres processadas por realizar um aborto, e de médicas por praticálo.Mesmo que constem do Código Penal as causas de aborto nopuníeis, a altade um protocolo claro que permita o atendimento nesses casos az com que osabortos no sejam realizados nos hospitais públicos. ampouco se cumpre oprotocolo de assistência humanitária pósaborto, com a Lei de Saúde Sexual eProcriaço Responsáel, nem com o Programa de Saúde Sexual e Procriaçoresponsáel. Estes atos põem em risco as mulheres pobres – que so as queno têm acesso aos abortos clandestinos por alta de meios. So modalidadesde criminalizaço e judicializaço das mulheres pobres, e de controle de seuscorpos a partir do Estado41.

b. A caa a

a jcaa caHá uma linha de continuidade entre as políticas de criminalizaço da pobre

za e de judicializaço do protesto social, que oi se produzindo simultaneamente

41 um cso exemplr é o e an Mrí aceveo, m jovem e 20 nos, e Snt Fé, com câncer no mxlr, qem se nego lgr tbár – contempl em le nconl. an Mr tnh três lhos nscos por cesr-n. Form-lhe etectos m câncer e m grvez e três meses. dnte o peo fmíl pr qe fosse

 prtco m borto terpêtco, contemplo no rtgo 86, ncso 1, o Cógo Penl, fo-lhe nego esse reto e postergo-se o trtmento e qmoterp qe necesstv com rgênc. após 24 hors morre o recém-nsco,e el flece no segnte.

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à criminalizaço dos moimentos populares. O ato de situar os excluídos comoameaça e suas ações como delito interere na simbologia que consideraa o lutadorou a lutadora social como militantes solidários, justiceiros. Quando esses ou essasmilitantes eram reprimidos ou encarcerados, ninguém duidaa em solidarizar

se. No entanto, hoje, aqueles que lutam so apresentados como delinqüentes, e suapriso é mostrada como castigo exemplar. ornase a escreer, assim, uma históriade heróis e ilões, em que as ítimas de hoje, uma e outra ez, so obrigadas ademonstrar a legitimidade dos seus clamores.

A represso, a priso, a tortura, em um país em que ainda doem as eridasda ditadura so apresentadas como “necessárias” para serem justicadas pelo sentido comum, manipulado intensamente pelo poder. Para isso esto sendo eitoscomplexos esorços que tentam azer retroceder a consciência democrática criadana batalha contra a ditadura e contra a impunidade. Assim, nas dierentes ases da

implementaço do modelo neoliberal, oram diundidos dierentes argumentoslegitimadores dessas políticas. Se nos anos 1990 atacaase o Estado para justicaras priatizações e tornálas quase “desejáeis”, na atualidade a deesa das políticasem curso – a multiplicaço de indústrias extratiistas, contaminadoras, depredadoras da natureza, etc. – se realiza em nome do “desenolimento”, do “progresso”.Aqueles que se opõem a elas so desqualicados, recongurandose o paradigma“ciilizaço ou barbárie” com que o capitalismo da “Geraço de 1880” undou a“República”, sobre a base do extermínio dos poos indígenas, e de uma pretendida“homogeneizaço cultural” realizada a partir de uma concepço eurocêntrica dainserço argentina no capitalismo mundial.

A colonizaço tende a ortalecer a subordinaço argentina – como a daAmérica Latina – ao capitalismo transnacionalizado, e esta se constrói a partir dedierentes mecanismos de ormaço de opinio pública, mas também de transmisso e de alorizaço e desalorizaço de saberes, como o sistema educatio e ocomunicacional. Se para as corporações transnacionais é essencial – por exemplo– despojar de suas terras os poos originários, ou as populações camponesas, parapoder estabelecer aí seus negócios e aumentar seus superlucros, a possibilidade

de cumprir com essa meta está diretamente ligada ao papel dos goernos locaisnacional, proinciais, municipais, que pregam as supostas bondades dos inestimentos naqueles projetos de mineraço, represas, petróleo, desmatamento parao cultio de soja, eucaliptos, pinho, etc., complexos turísticos, construções ligadasà Iniciatia de Integraço Regional Sulamericana IIRSA; e também ao papeldaqueles que desde um suposto “saber cientíco” constroem o consenso a essaspolíticas. Quem se opuser a esta inserço global será imediatamente desautorizado, e, caso se rebele, será processado.

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A partir do goerno têm sido utilizados intensamente os grandes meios decomunicaço para produzir uma orte desqualicaço do protesto social. As conclusões da pesquisa realizada pela Rede Eco Alternatio42 assinalam que

os meios apostam na omisso ou inisibilidade dos protagonistas, ações e reclamos que organizações sociais e políticas empreendem.Esta lógica da mídia se modica quando os sujeitos sociais decidemcoletia e organizadamente empreender ações que compreendem aocupaço do espaço público mobilizações, bloqueio de ruas ou estradas, ocupaço de ediícios, etc.. Nesses casos, a cobertura é quaseimediata e a desqualicaço do protesto social adquire nos meios examinados uma orça maior: pela ocupaço do espaço coletio, das “instituições do sistema” ou de empresas priadas. Dissimuladamente, os

meios adotam um discurso que conoca à judicializaço do protesto,  justicando, além disso, a represso. O tratamento assumido pelosmeios analisados é: o desaparecimento discursio do reclamo que dáorigem a tais medidas como também o contexto em que se desenolee as circunstâncias políticoeconômicas que o originam e a estigmatizaço tanto das ações, catalogadas como delitias e, portanto, ilegais,como dos protagonistas por pertencerem a agrupações, organizaçõespolíticas e sociais. Esta caracterizaço se modica em alguns casosquando, como conseqüência da represso com que se pretende deter oprotesto social, as “orças da ordem” matam um maniestante.

É nesse tipo de caso que os meios mudam temporariamente o eixo inormatio.Deixam de lado a desalorizaço das ações por uma cobertura centrada na preocupaço “humanitária” “pela ida”. Mas essa cobertura isola o maniestante assassinado dequalquer relaço que o crime possa ter com a organizaço sindical, piqueteira, etc.;com o reclamo inicial que motia a aço e com a necessidade que tem este sistema desustentar e recorrer às orças repressias. … As ozes que se diundem para explicar

os acontecimentos so as de uncionários públicos, nacionais e proinciais, políticosde organizações que representam os interesses do sistema, e da própria mídia. Nesteúltimo caso, os meios, por meio dos seus editoriais ou de jornalistas muito próximos àlinha editorial, questionam as ações “antidemocráticas” desalorizando e tergiersando o clamor. Pelo contrário, a palara dos protagonistas do conito é desprezada e emalguns dos atos analisados nem aparece, ou aparece apenas como reorço do cenário“iolento” criado pelas imagens e palaras diundidas por esses meios. Os jornais an

42 S versón complet está pblc en l ecón rgentn e est nvestgcón.

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43 Est pesqs está pblc e form complet no lvro qe contém o conjnto o trblho relzo peloscoletvos qe ntergrm pr elborr esss conclsões qe q presentmos.44 Pnol Svmp. Ls vís e l crmnlzcón e l protest en argentn.dsponível em: <www.mrstellsvmp.net>.

lisados e sua reproduço discursia pelos meios que integram o grupo constroempadrões de sentido para que “as pessoas” associem o protesto social ao caos. A reiteraço de certos qualicatios dados aos protagonistas, às ações e à reclamaço ortalecea ormaço de paradigmas de sentido, para que, to logo seja mencionado um desses

termos, a ilaço mental se dê imediata e diretamente e, portanto, a alorizaço socialdo reclamo seja de desaproaço e condenaço. Esta construço de padrões de sentidocria consenso social para justicar a represso ao clamor e instala no sentido comumuma matriz de pensamento que incula a reiindicaço dos setores sociais com a ilegalidade e o delito e, portanto, propende à sua “ilegitimidade social”43.

Foi intensamente utilizada nos grandes meios de comunicaço a idéia de queo protesto social ulnera os direitos de determinados setores da sociedade. A hierarquizaço de direitos realizada pelo capitalismo coloca no alto da pirâmide o direito àpropriedade priada, e os que esto associados a ela, como a “liberdade de empresa”,a liberdade para a reproduço e circulaço do capital. Para deslegitimar o moimento

piqueteiro, o bloqueio de estradas oi apresentado como um conito entre o direito apleitear e o direito a circular. Assinalam Maristella Sampa e Claudio Pandol:

Desde o começo, o poder judicial haeria de dar mostra cabal deum rechaço a estas noas ormas de protesto, ao estabelecer julgamentos muito questionáeis, pronunciandose sem maior reexo a aordo direito de lire circulaço. Os bloqueios de estrada começaram aser tratados prioritariamente como um assunto criminal, atraés daaplicaço das guras preistas pelo código penal, particularmente em

seu artigo 194, relatio à obstruço das ias públicas44.

Neste noo cenário de criminalizaço da pobreza e do protesto, um mecanismo undamental é a mudança nas guras penais empregadas nos processos, utilizada pelo sistema judicial para eitar as solturas. Assim, o castigo se produz nopróprio processo. A passagem pelas torturas nas delegacias, nas prisões, os mesesde encarceramento, ormam parte do dispositio de criminalizaço da pobreza edo protesto. O Dr. Antonio Cortina, assessor letrado da Federaço Judicial Argentina, ilustra com clareza essa situaço:

o erdadeiro perigo dos processos criminais no está nacondenaço, mas no próprio processo, que signiica toda umasérie de restrições e ameaças encobertas ou silenciosas. As causas so atiadas, desatiadas, no mantêm um ritmo constante...às ezes icam meio esquecidas ou relegadas nos trâmites, pe

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didos de inormações ou perícias, e de repente reaparecem nomomento oportuno. Essas causas têm uma periculosidade e potencialidade repressia constante, e por isso mesmo é que soiniciadas. Muitas ezes o denunciante sabe pereitamente que

o ato no é suiciente para uma denúncia, mas a az do mesmo jeito, porque dessa maneira cria um risco. E uma denúncia nomuito sustentada, somada a outra com as mesmas características, a outra mais e a outra mais, termina armando um pacote,uma rede de contenço que no é isíel, salo para a pessoa quea tem sobre sua cabeça45.

A criminalizaço dos moimentos sociais em luta e a judicializaço doprotesto tornaramse uma enorme chantagem sobre as organizações sociais.

Milhares de lutadores têm pendentes processos judiciais que podem comprometer sua liberdade, o que constitui uma maneira de eitar ou conter noosconlitos. É por isso que, quando Néstor Kirchner assumiu o goerno, no ano de2004, no marco da enorme mobilizaço dos setores populares que prosseguiadepois dos dias 19 e 20 de dezembro de 2001, alguns organismos de direitoshumanos apresentaram projetos para descriminalizar os militantes populares.No entanto, nenhum desses projetos oi aproado. Em entreista coletia realizada em setembro de 2004, a Central de rabalhadores Argentinos diulgouum documento que assinalaa:

A CA maniesta sua prounda preocupaço pelo aanço dacriminalizaço, uma ez que a presso dos grupos econômicos queno querem perder seus priilégios, acompanhada por um discursoque sustenta a mo dura e a represso em deesa de uma suposta segurança, leou no apenas a que se mantenha o processo a mais decinco mil compatriotas que enrentaram as injustiças do modelo, mastambém que, nos últimos tempos, temse aproundado a perseguiço

e represso a dirigentes sindicais e sociais em todo o país.

So apresentados exemplos tais como:

a proíncia de Neuquén onde desde o ano de 1998 até hojeoram processadas 1.550 pessoas. Existem entre elas alguns casos emblemáticos, como o do companheiro Julio Fuentes, dirigente da AE

45 Revst En Mrch, Feercón Jcl argentn, n. 31, br. 2003.

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e da CA, que responde a 50 processos criminais e Horacio Fernández, atual secretário general da CA, que responde a 20 processos,[e agrega que] também na proíncia de Jujuy, o companheiro NandoAcosta, titular da CA, enrenta 50 processos judiciais e na cidade de

Bahia Blanca so 115 os processados. As respostas institucionais aosprotestos sociais que enrentaram o modelo de ome e entrega se caracterizaram pela represso direta, incluído o assassinato de 47 pessoas desde o ano de 1995 até hoje, e pela perseguiço de milhares dedelegados sindicais, trabalhadores desempregados, dirigentes sociais,religiosos, produtores rurais, pequenos e médios empresários, etc.

Outro caso exemplar é o de José “Pepino” Fernández, dirigente da Uniode rabalhadores Desempregados UD de General Mosconi, contra quem há

mais de 80 processos abertos. Um inorme do Centro de Estudos Legais e SociaisCELS sobre Direitos Humanos em 2008 diz que:

O enômeno da criminalizaço do protesto social consiste eminiciar milhares de processos judiciais à margem da lei, com a únicanalidade de controlar ilicitamente os reclamos sociais. O que sebusca com esta atiidade é desestimular a participaço em maniestações públicas mediante a apresentaço de grande poder coercitioque um processo judicial implica para quem é imputado, independentemente do resultado nal que esse processo tenha…46 

Ento, algumas das ormas em que se maniesta a criminalizaço dos moimentos populares é o aanço do processo de judicializaço dos conitos, isíel namultiplicaço e no agraamento das guras criminais, na maneira como elas so aplicadas por juízes e promotores, no número de processos a militantes populares, na estigmatizaço das populações e grupos mobilizados, no incremento das orças repressi

 as e na criaço especial de corpos de elite, orientados para a represso e militarizaço

das zonas de conito. Por todos esses caminhos, os problemas sociais e políticos setransormam em processos judiciais, nos quais o poo no tem como interir, a noser como espectador ou como “acusado”. De possíeis atores sociais, os sujeitos emconito cam reduzidos a excluídos, a ítimas, ou a potenciais criminosos.

O moimento popular encontrouse ento diante da dupla exigência deexpressar seus direitos e de legitimar as modalidades dessa expresso. ee que

 justicar as ormas populares de “irrupço” na história e no presente cotidiano.

46 informe 2008 – Centro e Estos Legs e Socs.

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E essa maneira de “existir”, em alguns casos, está associada diretamente à oportunidade de “sobreier”. Por isso, coincidimos com a ormulaço de Roberto Gargarella sobre a necessidade de reiindicar o direito ao protesto, considerado como“o primeiro direito”, como “o direito a ter direitos” 47.

O endurecimento do contexto repressio tornouse isíel também apartir dos anos 1990 quando a resistência popular começou a se incrementar, quando se começou a se munir mais intensamente as dierentes orças:polícia ederal, proincial, Gendarmería Nacional e Preectura Naal Argentina Polícia Marítima. No que se reere às ormas repressias que interêmna represso, o inorme da Coordenadoria contra a Represso Policial e Institucional Correpi aponta:

[...] obserase, nos anos mais recentes, que integrantes de

outras orças de segurança, como a Preectura Naal ou a Gendarmería, aparecem com maior reqüência como os que itimam. Issoresponde linearmente à crescente presença dessas ormas, outroralimitadas às ronteiras ou aos cursos uiais, no patrulhamentourbano, participando atiamente no controle territorial. A Gendarmería Nacional tem sido desde meados dos anos 1990 a orçaaorita na hora de reprimir conitos sociais, e a preerida nos crescentes processos de militarizaço como em Santa Cruz ou no Hospital Francês. Igual caminho parece trilhar a Preectura Naal, cujogrupo de elite Albatroz oi selecionado para ocupar o porto de Mardel Plata diante do persistente clamor dos trabalhadores pesqueirosde terra. Um parágrao à parte merecem as estruturas de segurança,custódia ou igilância priada, geralmente dirigidas por membrosde alto posto do aparelho repressio ocial, retirados ou em atiidade. Seus integrantes, na maioria dos casos, so membros dessasorças, incluindo exonerados, em disponibilidade ou suspensos pordelitos diersos. A isso se soma o acionamento cada ez mais i

síel de bandos paraestatais, em geral dirigidos ou compostos porelementos de choque inculados à estrutura do partido do goerno,que tomam em suas mos, aparentemente “priadas”, a represso aostrabalhadores organizados, por ora das burocracias.

Outro tema importante é o das possibilidades que essas orças têm de realizar ações de inteligência nas organizações populares. Aponta o inorme do

47 Roberto Grgrell. El erecho l protest. El prmer erecho. Bs. as., a-Hoc, 2005, p. 142 e 31.

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CELS já mencionado:

Em nosso país, a inteligência nacional se encontra regulamentada pela Lei 25.520 que, em seu artigo 4.º, inciso 2.º, estabelece: “nenhum

organismo de inteligência poderá obter inormaço, produzir ações deinteligência ou armazenar dados sobre pessoas apenas por atos de suaraça, é religiosa, ações priadas ou opinio política, ou da adeso oupermanência em organismos partidários, sociais, sindicais, comunitários, cooperatios, assistenciais, culturais ou trabalhistas, assim comoa atiidade lícita que desenolam em qualquer esera de aço”. Dessaorma, a própria lei eda a possibilidade de desenoler tareas de inteligência sobre pessoas apenas por seu pertencimento a organizaçõessociais – moimentos de desempregados, assembléias de bairros, orga

nizações de base, sindicatos, etc. O que a lei impede so os comportamentos persecutórios contra maniestantes, aqueles que esto dirigidos,antes que à descoberta de ilícitos, à criminalizaço dos maniestantessociais. Apesar da norma parecer clara quanto ao que proíbe expressamente – a realizaço de tareas de inteligência sobre maniestantes eorganizações sociais –, a orma como tem sido interpretada no esteelire de conitos. Assim, em diersas oportunidades oi o próprio PoderExecutio quem ordenou a realizaço de ações de inteligência ilegaissobre organizações sociais, enquanto que, em outras ocasiões, oram ar

ranjadas por iniciatia das instituições de segurança, e inclusie oramordenadas por juízes e promotores... Deste modo, obserase de quemaneira no contexto das maniestações públicas as tareas que se apresentam como de “inteligência criminal”, conundemse com as edadaspelo artigo 4.º, inciso 2.º, da Lei de Inteligência.

Na pesquisa realizada por Gerardo Etcheerry para este trabalho48, estásublinhado que

[...] az muito tempo que o acionar policial diante das mobilizações populares se caracteriza pela intensa participaço deeetios policiais sem arda, que icam nos arredores da mobilizaço, ou inclusie se introduzem entre os maniestantes, com insque indubitaelmente so incompatíeis com os objetios declarados da Polícia Federal Argentina PFA. Este acionar do pessoalda PFA com trajes ciis, que proaelmente tee o seu momento

48 Pblc n form complet n versão rgentn esse esto.

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mais trágico nos dias 19 e 20 de dezembro de 2001, quando seupessoal, ardado ou no, assassinou e eriu dezenas de maniestantes na nossa cidade, tinha depois diminuído de intensidadesem desaparecer em nenhum momento, mas, a partir do ano de

2004, recobrou noa orça e periculosidade.

Mais adiante assinala Etcheerry que:

Depois da dissoluço da Direço Geral de Inteligência no ano2000, seu pessoal continuou em unções, embora com um papel ainda mais obscuro pelas diculdades de documentálo. Um dos casosnos quais oi possíel detectar a presença desses agentes no marco deações de represso ao moimento popular oi o massacre de Puente

Pueyrredón49, ocorrido em 26 de junho de 2002. […] Durante oprimeiro ano do período presidencial de Néstor Kirchner, o Ministério de Justiça, Segurança e Direitos Humanos iuse obrigado aemitir a Resoluço 38/2003 que, no substancial, recordaa às orçasde segurança e à PFA a igência das proibições contidas na noa Leide Inteligência. Se oi necessário que as autoridades insistissem na

 igência de uma lei e recordassem que as normas que se lhe contrapunham haiam sido derrogadas, é possíel presumir que algumadas orças ou a totalidade delas desconhecia, em suas ações, a normatia igente. Hoje em dia, no há motios para supor que a PFAtenha diminuído suas ações de inteligência dirigidas contra aquelesque protestam por seus direitos, e a utilizaço do pessoal ciil continua amplamente estendida, depois de um bree período durante oqual o pessoal no ardado identicaase com amplos jalecos coma sigla “PFA”. Isso aconteceu imediatamente depois da interposiçoem 22 de setembro de 2004 de uma denúncia criminal contraessa prática, que tramitou primeiramente sob os números 13967/04

B8449/04 ante o Juizado Nacional Criminal e Correcional n.º 1,Secretaria n.º 2 da Capital Federal, depois passando para o Juizadon.º 7, Secretaria n.º 13, cujo processo oi concluído este ano – depoisde ter tido três apelações.

Essa querela oi impulsionada por diersas organizações sociais: a Liga Argentina pelos Direitos do Homem, o MRCUBA, o

49 Ver o testemnho o msscre e Pente Peyrreón nest mesm pblcção.

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Moimento erritorial de Libertaço Martín Fierro, às quais se somou um “ahorrista”* com o patrocínio de letrados da Liga Argentina pelos Direitos Humanos LADH, do Moimento erritorial deLiberaço ML. e de Fundaço de Inestigaço e Deesa Legal Ar

gentina – Fidela. É coneniente destacar que, embora a citada Leide Inteligência Nacional separe claramente as tareas de inteligênciacriminal encomendadas à Direço Nacional de Inteligência Criminal DINIC, durante o goerno de Néstor Kirchner, a Secretaria deInteligência SI, pouco mais que a elha Secretaria de Inteligênciado Estado SIDE com noo nome, oi empregada para tareas inculadas a delitos comuns seqüestros com extorso e na atualidadeexiste pelo menos um caso no qual uma promotoria contraencionalrequereu a essa secretaria uma inormaço absolutamente proibida:

os dados relatios a uma organizaço piqueteira o Moimento erritorial de Libertaço e um de seus dirigentes, por sua participaçoem uma atiidade a aor dos trabalhadores contratados que oramdeixados sem emprego pelo goerno da Cidade de Buenos Aires encabeçado por Mauricio Macri.

Em outro trecho da pesquisa, Etcheerry dá conta da criaço do Departamento de Segurança do Estado DSE:

Esta repartiço oi criada mediante uma Ordem do Dia Reser ada cujo conteúdo a Polícia Federal Argentina PFA se iu obrigadaa acompanhar em uma causa judicial pelo seguimento a duas organizações políticas, Quebracho e Patria Libre, durante a presidênciade Carlos Saúl Menem. Podemos destacar neste sentido as ações doDepartamento de Segurança do Estado sucessor do Departamentode Proteço da Ordem Constitucional que oi, por sua ez, a erso reciclada em dezembro de 1983 da Coordenaço Federal, teoricamente

destinado “à perseguiço e inestigaço da atiidade de grupos quepossam pôr em perigo o sistema democrático e a ordem institucional com independência das atiidades ou inculações internacionais”;no caso de inculações internacionais a tarea corresponde ao Departamento Unidade de Inestigaço Antiterrorista DUIA, meninamimada dos EUA, dentro da PFA, com uma subunidade na ríplice

* São ssm enomns s pessos qe tverm ss popnçs e nvestmentos bloqeos pelos bncos n crsenncer e 2001 (N. T.).

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Fronteira. O DSE depende da Superintendência do Interior e DelitosFederais Complexos antes chamada simplesmente de Superintendência do Interior e, nos tempos da última ditadura, de CoordenaçoFederal da PFA; sua subunidade operatia se chama precisamente

Diiso de Operações e tem sido empregada em reiteradas oportunidades contra aqueles que protestam ou reclamam seus direitos.

vale assinalar também que o goerno de Néstor Kirchner, apesar de autoproclamarse como “o goerno dos direitos humanos”, é o goerno que tee maispresos políticos desde 1983. Atualmente continuam presos seis camponeses paraguaios, com trâmite de extradiço, aos quais o goerno argentino no concedeu oreúgio que ieram solicitar a nosso país; seis presos detidos durante os protestos dopooado de Las Heras, na proíncia de Santa Cruz er as cronologias anteriores; a

militante de Filhos e Filhas pela Identidade e Justiça e contra o Esquecimento Hi jos por sua sigla em espanhol Karina Germano que oi presa no Brasil e extraditada para a Argentina; dois militantes chilenos requeridos pelo goerno do Chile;e 23 integrantes da Assembléia de San elmo, desalojados de um hotel. O caso dosmilitantes camponeses paraguaios é especialmente expressio das mudanças que le

 aram a que a Argentina, um tradicional país de asilo, tenha respondido ao pedidode reúgio político com a detenço desses militantes perseguidos em seu país.

Quando se ala de judicializaço do protesto social, é necessário denunciartambém o papel dos juízes e promotores. Como se aponta no trabalho realizado

por Gerardo Etcheerry:

[...] os agentes policiais ou de inteligência no atuaram contraos lutadores populares por deciso própria, mas sim por expressasordens judiciais ou de promotorias. É necessário destacar ento queo Poder Judicial no só desempenha o papel de garantir a impunidade do pessoal dos aparelhos repressios e de inteligência excetocasos excepcionais nos quais o custo dessa impunidade seja maiorpara o Estado que o dano ocasionado pela condenaço de seus seri

dores mas, além disso, promoe, em muitos casos, de orma atia aatiidade repressia ou as inestigações ilegais em prejuízo daquelesque se maniestam atiamente contra o goerno ou contra outrosrepresentantes da ordem estabelecida. O papel do aparato judicialpara garantir o pleno poder dos órgos repressios e de inteligênciano dee ser subestimado embora, por ser menos espetacular, desperte menos atenço que os operatios policiais.

 

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b.1. A baaha a úbc

O protesto social emerge quando setores da sociedade perdem a esperança detornar isíeis suas demandas. Diante da desconança sobre a possibilidade de resoler

as demandas urgentes pela ia da representaço parlamentar e sobre a possibilidade deque possam ser escutadas por meios de comunicaço – ortemente monopolizados –,o único caminho para azer com que o protesto osse isíel oi a ocupaço do espaçopúblico. A tendência do moimento dos excluídos oi progressiamente ir encontrandoa orma de existir politicamente na ocupaço de praças, ruas, no bloqueio de estradas,no “escracho”. Esta modalidade de resistência oi inentada por Hijos50 para denunciara impunidade dos genocidas, realizando esse ato de condenaço social no território da

 ida cotidiana, ali onde o genocida ie com sua amília, onde esto seus izinhos. Estaorma de denúncia, que identica responsabilidades indiiduais, quando a justiça deixa

de azêlo, estendeuse a outros moimentos sociais, colocando em debate a legitimidade do sistema judicial, por um lado, e por outro a tranqüilidade que a impunidadeoerecia àqueles que eram e so os responsáeis pelos crimes aberrantes. Os “escrachos”atualmente se realizam tanto a um genocida da ditadura como a um dirigente políticoresponsáel por habilitar as políticas de contaminaço e saque. No escracho, a ida pri

 ada se torna pública. A izinhança ca sabendo das responsabilidades sociais daquelescom quem compartilha o espaço territorial. Isso prooca no apenas inquietaço, masnoas exigências de ortalecimento das medidas que aastem “os indesejáeis” dos locaishabitados pelos setores sociais ligados ao poder por múltiplos laços. Nesta disputa seinscree a batalha que em sendo traada a partir de 2001, quando as orças sociais ocuparam o espaço público com iniciatias que desaaam a negaço social que o modela

 inha criando para inisibilizar as zonas de excluso.A reorganizaço territorial realizada pela ditadura deixou a cidade de Bue

nos Aires como “itrine” de uma Argentina “branca, moderna, européia…”, lugar preparado para o turismo e para a iluso dos setores médios portenhos dehaer obtido o isto para o primeiro mundo. Essa concepço se reproduziu namaior parte das grandes cidades argentinas Rosario, Córdoba, Mendoza, entre

outras, dando lugar a políticas de “limpeza social” que impedem os setores empobrecidos de entrar na cidade. O impedimento só é aplicado a mobilizações econcentrações conocadas por organizações de desempregados que se opõem aogoerno nacional. Quando alguns organismos de direitos humanos denunciarama arbitrariedade e a ilegalidade dessa disposiço, o Goerno mudou de estratégia,pondo condicionamentos direcionais a algumas marchas. Desde ento, tem sido

50 HiJOS (Hjos por l ient y l Jstc contr el Olvo y el Slenco). Movmento ntegro por lhos e lhs eesprecos polítcos.

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uma constante a guerra contra os catadores51 – reeditada nos primeiros temposdo goerno de Mauricio Macri na Capital Federal –, a proposta de criaço de “zonas ermelhas” para a prostituiço, o que conna as mulheres postas na rua pelamiséria a erdadeiros guetos controlados pela autoridade policial, a perseguiço

aos endedores ambulantes. Esta batalha pelo controle do espaço público também se estende ao echamento das praças com grades “para que os mendigos nodurmam ali”, às grades com que so bloqueados os ediícios públicos e a Plazade Mayo em momentos de conito, à presença policial ou de segurança priadaem lugares públicos, como as Uniersidades, iolando abertamente a autonomiauniersitária. E também aos mecanismos de igilância que transormam bairrosinteiros em “bairros priados”.

Assinala o CELS:

As relações inormais e ilegais entre as agências de segurança pri ada, pessoas inculadas ao terrorismo de Estado durante a última ditadura militar e uncionários da polícia de Buenos Aires, oram denunciadas por ocasio do assassinato do repórter gráco José Luis Cabezasno dia 25 de janeiro de 1997. No julgamento que tee lugar entre 14 dedezembro de 1999 e 2 de eereiro de 2000, cou demonstrado que ohomicídio tinha sido cometido em irtude da instigaço que GregorioRíos, chee da custódia priada do alecido empresário Alredo Yabrán,exerceu sobre o expolicial bonaerense Gustao Prellezo. Por sua ez, apolícia tinha recrutado para concretizar o seqüestro e o homicídio deCabezas a um grupo de pessoas do bairro Los Hornos, na cidade de LaPlata. ambém oi determinado que os expoliciais Sergio Rubén Cammaratta e Aníbal Luna deram apoio substancial para o homicídio, já queoram o nexo entre os imputados de Los Hornos e o expolicial Prellezo.Segundo a Lei 12.297, art. 8.º, modicada pelas Leis 12.381 e 12.874, queregulam as atiidades das pessoas jurídicas prestadoras de seriços desegurança priada, no podem atuar no âmbito da segurança priada

quem tier sido excluído das Forças Armadas, das orças de segurança,das polícias, do Seriço Penitenciário ou de organismos de inteligência,por delitos ou altas, nem quem tier antecedentes criminais ou processos judiciais em trâmite por delitos dolosos ou culposos relacionados com o exercício da unço de segurança. Segundo o presidente daCâmara Argentina de Empresas de Segurança e Inestigaço CAESI,

51 Os exérctos e homens e mlheres, mennos e menns, revolveno o lxo à note er m vsão emso “fnts-mgórc” pr os meos toleráves pelo “sento comm”.

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existem em todo o país aproximadamente 200.000 igilantes priados,dos quais 50.000 trabalham sem contrato ormal.

Em algumas zonas do país, a presença de seguranças priados de grandes

empreendimentos inculados à exploraço de recursos naturais e propriedade daterra adquire características de grupos parapoliciais. Na proíncia de Santiagodel Estero oi denunciada a existência de grupos de segurança contratados porgrandes proprietários que, além de guardarem suas terras, têm também a unçode amedrontar os camponeses com os quais seus patrões têm disputas. Esses grupos atuariam encapuzados e ortemente armados.

 

b.2. A baaha ó a a aõ caa

Nos espaços rurais esto sendo traadas batalhas decisias pelo território,em torno das quais se estruturam elementos undamentais da identidade e da cultura dos poos. A criminalizaço que é eita nessas ações reconhece práticas especiais, tanto nas políticas de terror que se aplicam nas comunidades como pelotratamento que a mídia dá a elas. Assinalam Patricia Agosto e Claudia Briones emuma análise sobre a orma como se criminaliza o poo mapuche na Argentina52:

O protagonismo do poo mapuche na luta em deesa da naturezaestá ancorada em sua cosmoiso, em sua concepço de território e no lugarocupado pela espiritualidade em sua cultura. […] Esta cosmoiso é incompatíel com os interesses das poderosas corporações transnacionais e nacionais, que utilizam recursos também poderosos para apropriarse dos bensda natureza em território ancestral mapuche, e buscam a cumplicidade dospoderes políticos locais, proinciais e nacionais para enrentar as resistênciasque as comunidades leantam diante da pilhagem. Assim, a militarizaço

das zonas de disputa, a aproaço de leis terroristas, tentando aplicálas aosque resistem, e a judicializaço e criminalizaço das lutas, acusando muitas

 ezes seus protagonistas de “usurpadores” das terras em disputa, ormamparte do quadro da situaço. A represso policial e de outras orças de segurança; as ordens de despejo e a abertura de processos criminais por parteda justiça; a enda ilegal de terras supostamente públicas; as permanentes

52 Lchs y resstencs mpche por los benes e l ntrlez. Ptrc agosto e Cl Brones. OSaL 22.

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intimidações de empresários e orças públicas completam o quadro. Soormas reqüentemente aplicadas pelos poderes priados e públicos contraos poos natios, em seu a de azer desaparecer os obstáculos para a concretizaço de grandes negociatas. Estas práticas ignoram os direitos territo

riais, culturais e de identidade indígenas, sancionados pelo Conênio 169 daOI raticado pelo país em 2001, e pela Constituiço Nacional reormadaem 1994, que reconhece a preexistência étnica e cultural dos poos natiosà ormaço dos próprios Estados, bem como seu direito de propriedade eposse sobre as terras tradicionalmente ocupadas.

Esta situaço se multiplica em todo o território do país onde existem comunidades que reiindicam seu pertencimento e identidade como poos. Acriminalizaço dos poos natios inscreese na tradiço cultural com a qual oi

constituído o capitalismo na América Latina, que justicou o genocídio dos habitantes natios da terra. O despojo atual das comunidades, a represso a que sosubmetidas quando deendem os últimos rincões aos quais oram connados, é acontinuidade das políticas de colonizaço cultural com as quais oram alienadosde seu lugar no mundo os poos natios.

b.3. A aa gõ a

O Inorme do Alerta Argentina 2005 assinala:

Outro cenário de ortes conitos é o que abrange as regiõesde exploraço petrolíera, ali onde a relaço entre um modelo puramente extratiista enclaes de exportaço, sustentado por poderosos atores econômicos empresas multinacionais, e a crescentedeterioraço de direitos se reela com maior dramatismo. O processo de priatizações resultou na destruiço das capacidades estatais,bem como na construço de mercados monopólicos, paradoxalmente aorecidos pela própria proteço estatal, que terminaram porassegurar, atraés de condições antajosas de exploraço, a obtençode uma “rentabilidade dierencial”. Este processo aparece paradigmaticamente ilustrado pelas áreas de exploraço petrolíera onde seaderte a estreita relaço entre o modelo econômico e a crescente deterioraço dos direitos. Isto se expressa na territorializaço crescentedos conitos, a partir dos quais estes cam entregues à interençoda justiça e dos entes municipais e/ou proinciais, cujo grau de ulnerabilidade é maior que o de seus homólogos nacionais.

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A resposta do goerno apontou a militarizaço das áreas em conito, a partirde uma grande moimentaço de tropas da Gendarmería Nacional, polícias proinciais e grupos especiais. O incipiente processo de militarizaço oi acompanhado pelodesenolimento de noas ormas de territorializaço das empresas multinacionais.

Por exemplo, na localidade de Caleta Oliia, a ermap leantou um paredo de maisde três metros de altura, coroado com dupla cerca de arame arpado, custodiado poragentes encapuzados53. Essa oi a soluço que as empresas da ermap – associaçoentre Repsol, YPF, Pan American Energy, vintage Oil e Shell – encontraram parapôr m às reclamações dos habitantes do lugar. O mencionado muro antipiquete éa ilustraço incontestáel de um modelo de apartheid próprio de uma economia deenclae, hoje rebatizada como “enclae de exportaço”.

A localidade de General Mosconi Salta estee praticamente sitiada pelasorças da Gendarmería entre maio de 2000 e dezembro de 2001. Durante os anos

de 2000 e 2001 oram realizados na proíncia de Salta, especicamente em Mosconi, os Operatios Cabanas, com a participaço de 1.500 ociais do Chile, Bolíia,Equador, Paraguai, Peru e Uruguai, dirigidos pelo Comando Sul do Pentágono,sem a deida autorizaço do Congresso Nacional. Segundo documentos do goerno argentino, o objetio desse treinamento seria criar um “comando militar unicado” para combater o “terrorismo na Colômbia, além de um campo de batalhacomposto por ciis, organizações no goernamentais e potenciais agressores”.

c. da da a sgaa naca àda a sgaa Ca

Os Estados Unidos empreendem múltiplas estratégias repressias e de controle social sobre nosso continente em nome da “luta contra o terrorismo”. A partirdaquele país so tramadas linhas de legislaço que tentam incluir a ampliaço depoderes para reistar as casas de possíeis suspeitos, interceptar suas comunicações, igiar seu uso da Internet. Nesse marco se aança na imposiço de acordos elegislações que tendem a assegurar seu controle na regio.

Rina Bertaccini, no inorme para esta pesquisa, assinala que

[...] a primeira Reunio de Ministros de Deesa das Américasem williamsburg, virginia, EUA, de 24 a 26 de julho de 1995 é o ponto de partida da aplicaço na América Latina da política de segurançado goerno Clinton. Ali toma corpo a Doutrina da Cooperaço para aSegurança Hemisérica DCSH, pela qual os EUA se reseram o co

53 L Ncón. 19/6/2005.

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mando geral, as atiidades de ormaço e treinamento, e a superiso,enquanto que as tareas práticas so realizadas pelas orças armadas e desegurança de cada um dos países. A DCSH está igente e ale recordaruma ez mais que “o que eles chamam de segurança é, em essência, re

presso das lutas e rebeliões populares que se estendem na regio comoresultado do crescimento da consciência dos poos diante das tremendas conseqüências sociais da política do neoliberalismo”54.

Em um trabalho de Albert R. Coll, exprimeiro icesecretário de Deesapara Operações Especiais e Conitos de Baixa Intensidade, datado de 1997 e intitulado “Interesses estratégicos dos EEUU na América Latina”, o autor enatiza otema do narcotráco

distorcendo intencionalmente o conceito para associáloaos moimentos insurgentes e às rebeliões populares em palarascomo “narcoguerrilha”, “narcosuberso” e “narcoterrorismo”. Esseé também o transundo dos Acordos da ríplice Fronteira assinados este ano 1998 por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai coma mira posta nas ações heróicas dos camponeses sem terra e outraslutas da regio [da declaraço citada do Mopassol]. vale agregarque esse é também o transundo da legislaço “antiterrorista” queproliera no continente e no mundo.

Desde 1999 oram produzidas iniciatias legislatias em consonânciacom essa presso internacional, como a aproaço pela Lei 25.762 da Conenço Internacional para a Represso dos Atentados erroristas Cometidos comBombas e a Lei 26.023, que aproou a Conenço para Combater o Financiamento ao errorismo. No dia 30 de março de 2005, oram conertidos em lei,na Argentina, os conênios internacionais reerentes à suposta “guerra contra

o terrorismo” impulsionada pelos EUA: a Conenço Interamericana contra oerrorismo CICE e o Conênio Internacional para a Represso do Financiamento de errorismo.

Após o atentado às orres Gêmeas, o goerno de Bush propôs, entre outrascoisas, a interenço armada unilateral e preentia em qualquer lugar a partir

54 Ver declrção o Mopssol – Movmento pel Pz, Sobern e Solree entre os Povos – unrnos pr resstr l estrteg mperl, 26 e brl e 1998. Sobre dCSH tmbém se poe ver Coopercón pr lSegr Hemsférc – constryeno l segr coopertv, e Frncsco Rojs arven, FLaCSO / Chle.FaSOC, v. 7, n. 2.

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de onde se considerasse que podia ser colocada em perigo a segurança dos EUA.Posteriormente indicou a ríplice Fronteira como um oco de perigo terroristapotencial. Em eereiro de 2003, o Presidente Bush emitiu uma diretriz segundo aqual o tráco de pessoas era uma prioridade para o seu goerno. A Embaixada dos

EUA oereceu subsídios à Organizaço Internacional de Migrações OIM. Comorelata um inorme do embaixador norteamericano na Argentina publicado em 9de junho de 2008 pelo diário Clarín:

Desde 2001 o goerno dos Estados Unidos comprometeu maisde 528 milhões de dólares em assistência nanceira internacionalpara a luta contra o tráco de pessoas. Nos últimos anos proimosem torno de 700 mil dólares à OIM para desenoler campanhasde conscientizaço e programas de capacitaço na Argentina e nos

seus izinhos do Cone Sul. Doamos camas, computadores e outrosartigos para equipar o centro de assistência às ítimas dirigido porSusana rimarco na Fundaço María de los Angeles.

Cabe mencionar também como parte das políticas de militarizaço impulsionadas pelos EUA a presença de manobras militares conjuntas, realizadas entreas tropas estadunidenses e as orças armadas de países da América Latina, quetêm o propósito de preparar a participaço das orças armadas da regio em orças multilaterais. Os Operatios Cabanas, realizados em General Mosconi, Salta,

zeram parte dessas políticas. A este objetio se soma a possibilidade das orçasestrangeiras, presentes nas missões e exercícios conjuntos, de conhecer o terrenono qual se moem, obtendo inormaço em relaço aos recursos, biodiersidadee características das populações; e também para exercitarse na represso comosucede com as tropas da Minustah no Haiti.

Foi nesse contexto que se aproou a “Lei Antiterrorista”, otada e promulgada sob o número 26.268. Foi Cristina Fernández de Kirchner a encarregadade tramitar sua otaço no Senado, conseguindo uma semana depois que osseaproada pelos Deputados. Essa pressa deeuse ao ato de os Estados Unidos e o

Grupo de Aço Financeira Internacional Ga exigirem a sanço da lei antes de23 de junho de 2007, sob ameaças de aplicar sanções econômicas, as quais consistiam na noconcesso de créditos por parte do Banco Mundial, FMI e outrasentidades internacionais.

A Lei Antiterrorista se situa dentro da doutrina jurídica mais retrógrada,

que reproduz a doutrina do “Direito Criminal do Inimigo” e do “Direito Criminal

de Autor”. em como objetio estender o poder de represso por meio de uma

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erramenta legal que aumenta enormemente as atribuições das orças policiais, de

inteligência, juízes, promotores e que é sucientemente seera para com os que

lutam, e o mais aberta possíel quanto às ações que possam car enquadradas

como “terroristas”. Reprime com priso de 5 a 15 anos todo aquele que colabo

rar, da maneira que or, com qualquer integrante de uma organizaço “terrorista”independentemente de essa pessoa ou de a organizaço eetuar algum ato ou atonenhum. Esta legislaço é sumamente antiquada em matéria de reúgio e asilopolítico, pois nega tais beneícios políticos às pessoas acusadas de “terrorismo”.Ampliamse aculdades já por si amplíssimas da Unidade de Inormaço Financeira, dependente do Ministério de Justiça da Naço um organismo de inteligênciaeconômica do Estado para recolher todo tipo de inormaço nanceira, mesmosecreta, de qualquer tipo e sobre qualquer pessoa, em poder de quem quer que sejaAFIP, rendas das proíncias, entidades bancárias, nanceiras, contadores, etc.Inestigar e atacar as ontes de nanciamento das organizações sociais e políticaspopulares arts. 4 a 8 da lei, podendo dispor dos seriços de todas as agênciasde inteligência do Estado. Está acultada para solicitar a suspenso de qualqueroperaço ou ato mesmo antes de sua realizaço quando existam, a seu critério,indícios de que se trata de dinheiro proeniente ou destinado a um “integrante”ou arresto de bens das organizações populares ou de qualquer pessoa ísica. Comessa erramenta repressia que se complementa, entre outras, com as Leis 25.241,25.246 e os dierentes tratados internacionais sobre terrorismo, aproundase a

institucionalizaço dos inltrados e proocadores nas organizações populares,bem como a incorporaço da gura do arrependido art. 9 que torna aplicáel aLei 25.241. Uma norma to ambígua na tipicaço do que é um ato de terrorismoabre as portas para considerar terrorista qualquer um que se oponha às políticas goernamentais e decida militar atiamente contra elas. Em poucas palaras,tornase uma desculpa pereita para a perseguiço política.

Junto a estas medidas, os EUA decidiram reatiar sua Iv Frota de Guerra,que oltou ao seriço atio no dia 1.º de julho de 2008, para “combater o terrorismo e atiidades ilícitas como o narcotráco”, inormou o Pentágono. “Serirá para

mandar uma mensagem a toda a regio e no apenas à venezuela”, disse o contraalmirante James Steenson, comandante das Forças Naais do Comando Sul.

 

Aga caa a

Os temas abordados na pesquisa so de enorme amplitude. No entanto,quanto mais analisamos quem so “os sujeitos da ordem” que êm trabalhando naimplementaço das políticas de criminalizaço dos moimentos populares, cons

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tatamos as estreitas relações entre eles e aqueles que legislam as políticas antiterroristas, ou aqueles que respondem às demandas de segurança construídas e alentadas a partir dos meios de comunicaço de massa. ambém podemos identicara ideologia que nutre cada aspecto dessas políticas disciplinadoras que têm como

objetio garantir a goernabilidade, assegurar os interesses das elites locais e domesticar as rebeldias populares, criando as condições subjetias para a reproduçodo capitalismo real.

Os moimentos populares têm reagido diante desses processos de maneira criatia, em muitos casos, e de maneira deensia em outros; e nessa experiência oramidenticando algumas maneiras de diminuir o impacto que as políticas de criminalizaço têm na subjetiidade popular. Alguns dos objetios denidos tendem a suturara ragmentaço entre o mundo dos excluídos/as e os setores de trabalhadores/as, assim como dos setores médios. É undamental, nesse sentido, conceber como parte das

ações políticas e organizatias a batalha cultural, tendente a isibilizar o direito negado,pelo qual se está lutando, e os esorços realizados para aceder a esses direitos.

Um aspecto essencial, nesta perspectia, é o papel dos meios de comunicaço alternatios, como um lugar signicatio para a elaboraço de outro discursoque possa resultar audíel. Ao mesmo tempo, é imprescindíel articular aliançascom jornalistas que trabalhem nos meios de comunicaço do sistema, elaborandoestratégias para romper o cerco de desinormaço leantado pelos goernos pro

 inciais e pelo nacional, respondendo aos interesses das transnacionais. ambémtem sido sistemática a busca de alguns moimentos sociais de entrelaçar suas demandas, para eitar o isolamento um exemplo é a inculaço entre a luta do mo

 imento camponês pela soberania alimentar e a Campanha contra a Fome, queso impulsionadas por dierentes organizações populares. Outro grande esorço,neste processo, é aquele que tende a rearticular os setores do moimento de direitos humanos que possam assumir as demandas atuais.

Diante da multiplicaço de situações de criminalizaço, e constatando a debilidade existente em relaço à quantidade de adogados para a deesa de setorespopulares com direitos ulnerados, é necessário, por um lado, contribuir para a

ormaço de equipes de adogados joens, especialmente nas proíncias do interior do país, que possam multiplicar as experiências de deesa dos direitos dasorganizações populares, contribuindo para a modicaço dos planos de estudodas Uniersidades, de maneira que se inclua a ormaço em direitos humanos; poroutro lado, é importante dotar os moimentos populares de saberes básicos para adeesa de direitos, educando neles seus próprios militantes.

ambém é necessário pensar e propor iniciatias nos campos legislatio e judicial, que possam rear as ações repressias marcadas pela impunidade policial,

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ou as interpretações judiciais carregadas de ressentimento contra os setores maisaetados. A interaço entre o mundo dos moimentos sociais e o mundo parlamentar, requer que se criem condições para que o debate desses temas chegue atéaqueles que possam se sensibilizar, e isso possa se traduzir em políticas de con

trole, de monitoramento e em legislações mais aançadas.Alguns temas necessitam respostas concretas no plano internacional: a pre

sença da Minustah no Haiti, as leis antiterroristas, a Quarta Frota, no podemser tomadas apenas no plano nacional. É imprescindíel concertar ações daquelesque estejam dispostos a denunciar essas políticas; mas isso requer que elas sejamconhecidas de maneira mais clara pela militância dos moimentos populares. Arelaço entre as operações militares conjuntas e as políticas repressias internasé um dos argumentos; o outro é a necessidade de dar uma batalha comum pelasoberania dos poos ante as políticas imperialistas.

Embora estejam sendo realizadas algumas experiências de educaço popular que põem em debate os mecanismos de criminalizaço da pobreza e do protesto, e seu ínculo com a militarizaço do continente, é imperatio criar umaautêntica rede de educadores/as e comunicadores/as populares que, como partede dierentes organizações, ou em diálogo com elas, multipliquem as experiênciasde deesa de cada um dos direitos arrebatados, e a ormaço de militantes comcapacidade de comunicar essas batalhas de maneira que possam ganhar consensoem outros setores da sociedade.

A legitimaço do protesto social requer o diálogo plural com a sociedade. Asistematizaço de experiências de luta é outro caminho para que possam ser transmitidas as aprendizagens das organizações populares. Mas o ator undamentalpara desorganizar as iniciatias do poder tem sido, em todos os casos, a possibilidade que tieram os moimentos populares de sustentar níeis de mobilizaço quepossam dar batalha diante de cada iolaço de direitos. As iniciatias para anularos processos dos lutadores têm sido ecazes quando se desenoleram nas ruas aomesmo tempo em que nos tribunais.

A solidariedade com os presos políticos é uma exigência ética e tambémuma necessidade política diante de um sistema que no tem limites na capacidadede destruiço do ser humano. ratase de no deixar sozinho ou sozinha a ninguém,por solidariedade e também como uma maneira concreta de recriar os laços sociaisnecessários para a constituiço de sujeitos históricos com horizontes emancipatórios.

A caa a

A descriminalizaço dos moimentos populares é uma aço dirigida à relegitimaço do direito ao protesto e também do direito à rebelio, diante de um mun

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do que nos nega um espaço e um tempo para nele existir. É aprender a politizaras demandas sociais, eitando que sejam capturadas nas redes clientelistas que asamordaçam. É desestatizar as organizações de excluídos para recuperar a dimensode autonomia que possibilitem que suas energias no sejam alienadas por políticas

de manipulaço traçadas a partir do poder.ornar a luta social no só legítima, mas também desejáel, exige que ex

ploremos ao máximo as dimensões lúdicas, criatias, de uma prática política queno tenha uma lógica de sacriício, mas que seja capaz de cultiar e apaixonar oimaginário coletio, com o conite para reazer um mundo habitáel. ratase, emdenitio, de recuperar a memória que oi seqüestrada nos museus, para que nostraga no apenas os nomes das ítimas, mas a memória de suas lutas, de seus sonhos,seus desejos, suas ânsias de transormar a ida. Descriminalizar será uma experiência de luta contra a pior das alienações: a que transormou os símbolos de resistência,

as palaras de combate, as imagens sonhadas, em estandartes do poder. Será contribuir para a constituiço de sujeitos com projetos políticos solidários, que possamreconhecerse na aço necessária de romper o muro, de cortar a cerca, de derrotara incomunicaço, de crer na solidariedade, de julgar os erdadeiros criminosos e deir sanando as cicatrizes lacerantes da represso e da impunidade, nos corpos e nasubjetiidade de moimentos que assumam os sonhos como projeto, e a liberdadecomo uma meta possíel de ser iida.

Tradução: Beatriz Cannabrava

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BrAsil

CriminAlizAção dos movimentos soCiAis:demoCrACiA e repressão dos direitos HumAnos

 Aton Fon Filho 55 

introdução

Já desde os gregos se louaa a participaço dos cidados na política, nademanda e na ormulaço e implementaço de seus direitos sociais.

Na sociedade contemporânea brasileira, a irrupço da cidadania em dierentes espaços de articulaço e participaço – conselhos, óruns, conerência – notirou importância dos moimentos sociais, mas, ao contrário, acresceua.

Ainda que ormalmente enunciados como “direitos e garantias undamentais”, osdireitos sociais inscritos nos artigos 6.º a 9.º da Constituiço Federal, quer para sua implementaço, quer para sua obserância, demandam a participaço massia da populaço.

Em contrapartida, o interesse na manutenço do status quo se ê ante anecessidade de impor reios a essa participaço.

A entrada do Brasil no processo de globalizaço e as políticas estatais de

senolidas ao longo de meio lustro redundaram em orte renagem do processoeconômico e expropriaço de riquezas nacionais e sociais. Em paralelo com asações de priatizaço de bens e seriços públicos, a reduço de garantias e suportes sociais, com a seguridade e preidência sociais em destaque, aproundaram oabismo social e a marginalizaço.

A queda ertiginosa da indústria de transormaço durante a década de 9056  implicou orte eleaço das taxas de desemprego e semelhante piora da qualidadedos empregos ainda disponíeis. Como eeito mais imediato, a amplitude e proundidade das lutas sindicais do nal da década de 70 até meados de 80 transormaram

se num temor dos trabalhadores urbanos pela perda das ocupações, repercutindoortemente em reduço da atiidade reiindicatia.

Os atuais moimentos sociais urbanos, no inculados diretamente aomundo do trabalho, mas estruturados a partir de organizações territoriais e de

55 aTON FON FiLHO é vogo o Movmento os Trblhores Rrs sem Terr - MST, membro Ree Nco-nl e avogos e avogs poplres (RENaP) e dretor Ree Socl e Jstç e dretos Hmnos (Brsl).56 de coro com s Conts Ncons o iBGE, prtcpção nústr e trnsformção c e 23% em 1990

 pr 18% em 1998.

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mandas que no os colocam diretamente em oposiço ao capital, mas em conronto com o Estado e seus imperatios de denir e implementar políticas públicas, moimentamse numa aixa cidad que, se no lhes rouba participaço noespectro da luta de classes, permite a busca de atendimento de necessidades que

redundam, por m, em incrementar por ia indireta, os salários rebaixados mercêda exploso da modeobra disponíel em decorrência de seguidos donsizing,echamento de ábricas e reduzido crescimento industrial.

Quanto aos moimentos sociais rurais, lires inicialmente desse temordo capital, ieram um crescimento de sua importância e mobilizações que eioparalelo e oi, de certa orma, incrementado pela expulso de trabalhadores urbanos desempregados, num moimento de retorno.

Quer por seus métodos e especicidades organizatias, quer pelas demandas que ocalizam, os moimentos sociais, em particular aqueles do mundo rural,

de algum modo lograram manter e exercer ao longo de quase um quarto de séculoum potencial de mobilizações que têm serido para sinalizar as possibilidadescombatias e de itórias na luta de classes, mesmo num cenário de orte crise deemprego, desarticulaço dos trabalhadores e conuso de lideranças sindicais.

Nesse particular, sua aço tem adquirido importância destacada, em irtude desseprolongado período de descenso das lutas sindicais e em razo dos sinais que apontamuma retomada da atiidade industrial e do emprego de modeobra operária, a partir de200357 . Essa reduço das alentadas taxas de desemprego anteriores permitiu um crescimento do grau de ormalizaço no mercado de trabalho que atingiu um patamar recordede 49%, enquanto os inormais alcançam 19% e os empregadores, 5%.

No dispomos para este estudo, é erdade, de indicadores que permitamaaliar a incidência dessa transormaço sobre a disposiço de luta dos trabalhadores. Mas, assim como a restriço da disponibilidade de emprego constrange amodeobra à submisso às exigências do capital, os momentos de orte crescimento da necessidade de orça de trabalho aumentam a capacidade de negociaçodos trabalhadores e sua conança nos moimentos reiindicatórios.

De outra parte, uma como outra repercusso sobre a consciência e dis

posiço de luta no decorrem automaticamente das inexões da cura de emprego, o que, se no permite ainda assegurar se e quando as maniestações podemse tornar perceptíeis, no exclui, porém, a possibilidade de armar a tendência.

Luzes de crise brilham no horizonte internacional e seus raios ainda bruxuleantes já anunciam a possibilidade de iluminar decisiamente o cenário econômico brasileiro. No podemos dizer se esses impactos sero sentidos antes que sermem na consciência dos trabalhadores as possibilidades e os desejos de luta, ou

57 dos o iPEa mostrm m reção tx e esemprego, e 11,7% em ezembro e 2002, pr 8,5%em brl e 7,8% em jnho e 2008.

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antes que comecem eles a se maniestar e acumular em ações concretas.Mas no cabe dúida de que também as preocupações dos capitalistas se deem

 oltar para essas hipóteses, e, por isso, às necessidades de reprimir as atiidades domoimento sindical se o somando, imperatias e urgentes, as de conrontar ações

dos moimentos sociais rurais e urbanos, já que so elas, anal, no apenas perigosoexemplo a atuar nas ranjas da aço consciente, como a inuir nesse espírito social disseminado que az tantas ezes com que situações aparentemente calmas se ejam desúbito transtornadas por processos subjacentes em tempestades e tornados.

Posto o oco da represso nos moimentos sociais, em a lume a exigênciade conhecêla.

No se conhece discrepância quanto ao caráter repressio de ações empregadas para estabelecer limites à aço dos moimentos sociais, pondose a di

 ergência quando se reere a suas legalidade e legitimidade.

So esses moimentos expresso de demandas legítimas da sociedadebrasileira? So os métodos e as ações utilizadas para maniestar tais demandasadequadas? Legítimas? Legais?

Fincam os agentes estatais mais diretamente ligados às lides repressias –policiais, promotores de justiça e magistrados – atenço e releo à necessidadede estabelecer limites às ações desses grupos sociais, sob o entendimento de quepõem elas em risco o estado de direito ao conrontarem o direito positiado.

De outra parte, põese a questo de que, alegadamente, tratase de repressoa organizações, ações e demandas econômicas, culturais e sociais, pelo que seriade têlas como representatias e expressias de pleitos na esera dos direitos humanos. E, ainda, de que os pleitos de direitos humanos em geral constituem noapenas uma subsunço da realidade à legalidade igorante, mas esorço de construço de uma noa legalidade, adequada à deesa e concretizaço desses direitosque se o gerando no diaadia e que buscam um respeito ainda inexistente. Porisso, a legalidade igente é em si, muitas ezes, contraditória com aqueles direitosque, por merecerem prealecer sobre elas, no a admitem.

A dissonância entre legitimidade e legalidade ganha importância quando

se encara a questo da aço dos moimentos sociais e sua represso, dando ezo aum noo conronto, o do estabelecimento de limites à aço reiindicatia ou o depeias melhor estabelecidas perante as próprias ações repressias.

A Constituiço Federal estabeleceu compromissos com a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os alores sociais do trabalho e da lireiniciatia e o pluralismo político.

raçou, ainda, objetios undamentais a serem atingidos, enumerados estesno art. 3.º – construir uma sociedade lire, justa e solidária, garantir o desenoli

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mento nacional, erradicar a pobreza e a marginalizaço e reduzir as desigualdadessociais e regionais, e promoer o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,sexo, cor, idade e quaisquer outras ormas de discriminaço.

Compromissos e objetios apontam igualmente para a necessidade de ouir

a oz da sociedade, e os modos de ela se expressar so tornados ilimitados quandose garante, no art. 5.º, a liberdade de expresso do pensamento.

ornamse cada ez mais reqüentes as inocações de aço repressia e derestrições à atuaço dos moimentos sociais, na mídia e no aparelho de Estado.

Ressuscitamse mecanismos que o passado esquecera nas gaetas – como a Leide Segurança Nacional –, e o exercício da tortura é considerado justicado por seremos itimizados integrantes de moimentos reiindicatórios tidos por exacerbados.

Cresce o inconormismo ante a ausência de meios ecazes para direcionar edar tratamento às demandas, ante o ressurgimento da tese de que “a questo social

é um caso de polícia”.Os níeis de radicalizaço em ascenso impõem uma iso sobre essas deman

das e seus meios de demandar, bem como suas limitações e seus meios de limitar.A postergaço do atendimento das demandas econômicas sociais e cul

turais dos dierentes grupos marginalizados da sociedade brasileira gera situaçõeslimítroes e exacerba os ânimos.

O processo de globalizaço e existência de um estado de direito põe na ordem do dia para os moimentos sociais no Brasil demandas que o além daquelasque imediatamente lhes do origem.

Comandado pela mídia, assumindo esta o papel de mecanismo de expresso das ontades das classes dominantes, em oposiço à dos demais setores dasociedade, o Estado brasileiro em assumindo cada ez mais às claras o múnus degendarme em oposiço ao de árbitro.

Somamse e se articulam diersas atiidades estigmatizadoras do ideáriodas organizações e das lutas dos moimentos sociais; restritias da eiculaço desuas demandas e de sua existência organizada e repressia de suas ações.

Essas atiidades, articuladas, apontam para negar a possibilidade de exercício da democracia, tisnando de descabidas e ilegais as demandas e terroristas as

ações para sua consecuço.Essa articulaço se az em desaor da sociedade e da realizaço dos direi

tos humanos e põe o Estado a seriço de interesses priados, chegando a pontomesmo de priatizar o monopólio da iolência.

Dizer dessa orma no implica desconhecer que será cabíel ao Estado,também, as ormas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas, religiosas etc.

A própria consciência dos direitos humanos oi concorde com o desenol imento da sociedade humana, resultando de condições que permitiram a com

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preenso de que todos os homens so dotados de inerente dignidade.Por isso, a expanso e a concretizaço dos direitos humanos pressupõem

sempre a existência desses conitos que opõem a sociedade a seus dominadores,que opõem sempre a aço desses dominadores para conter as demandas sociais e

supõem alguma aço articulada do Estado com os dominadores para garantir aestabilidade das relações de produço.

Com Gramsci, entendemos que a preseraço da dominaço no a buscamos dominantes consagrar apenas pelo exercício direto da iolência, sendo esta, aoreés, secundarizada e inocada apenas em derradeira instância, álidos primordialmente os recursos ideológicos e culturais, no estabelecimento da hegemoniaque torne aceitáel a dominaço exercida.

E é nesse sentido que o enrentamento à demanda por direitos humanosdee se azer no sentido de negar tais direitos, como de reprimir sua inocaço.

 

os movimentos soCiAis

De que moimentos sociais alamos?Inexiste todaia acordo sobre uma deniço uniersalizante do que sejam

moimentos sociais.Já se têm englobado sob o termo acepções mais amplas e abstratas, que

incluem todas as maniestações sociais populares, como os leantes e insurreiçõesanteriores e da primeira metade do Império, ainda que desproidos muitas ezesde plataormas políticoideológicas claras 58. Nesse sentido, o termo az reerênciaa processos e grupos noinstitucionalizados e suas lutas dadas com o objetio derealizar transormações sociais, em particular no que tange à produço e apropriaço das riquezas.

Mas, como diz o Moimento Nacional de Direitos Humanos ele próprioum moimento social resultado da articulaço de outros,

Os Moimentos Sociais Brasileiros se apresentam em dieren

tes congurações, um setor está articulado atraés de grupos organizados de base, em redes em níel regional e nacional, outros organizam pessoas e segmentos os mais dierenciados e sejam aqueles quese estruturam como redes ou juntando pessoas organizam os setoresmais rágeis e explorados da sociedade brasileira, como: sem terra, assentados, pequenos agricultores, mulheres, quilombolas, indígenas,

58 GOHN, MaRia da GLÓRia, Mr Glór Gohn. Hstór os movmentos e lts socs: constrção cn os brsleros. São Plo: Loyol, 1995.

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pessoas sem casa em áreas urbanas, aelados, pessoas presidiárias,adolescentes e joens pobres e negros, homossexuais, traestis, entreoutros. odos estes grupos representam no apenas os MoimentosSociais organizados, mas também sua própria existência reela o teor

dos principais problemas sociais presentes no Brasil quando se realizauma análise da conjuntura sociopolítica do país59.

Isso permite ter por adequadas e cumulatias isões de que moimentosocial é SCHERERwARREN 1987, p.12 “um grupo mais ou menos organizado,sob uma liderança determinada ou no, possuindo um programa, objetio ou plano comum, isando a um m ou mudança social”, como de que60 “Os moimentossociais apresentam pers organizatios próprios, uma inserço especíca na tessitura social e articulações particulares com o arcabouço políticoinstitucional”.

No se pode descartar, porém, que so aqueles moimentos sociais que alcançam maior grau de organizaço, às ezes expandindose nacionalmente desenolendo e institucionalizando plataormas programáticas, métodos e ormasde consciência particulares que têm logrado mais eetiidade em sua aço, assimcomo a atenço e a represso. É o que se dá, particularmente, com os moimentossociais rurais, organizados na esteira da experiência do MS – Moimento dosrabalhadores Rurais Semerra, o Moimento dos Atingidos por Barragens, oMoimento das Mulheres Camponesas, o Moimento dos Pequenos Agricultorese outros, mas também com articulações do Moimento de Moradia e a Central deMoimentos Populares.

Esses moimentos têm origem recente no Brasil, datando os primeiros doperíodo liberaldesenolimentista, quando o Partido Comunista Brasileiro az umesorço para articular moimentos localizados na 1.ª e 2.ª Conerência Nacional dosrabalhadores Agrícolas realizadas em 1953 e 1954 e no I Congresso Nacional dosLaradores e rabalhadores Rurais, que ocorreu em Belo Horizonte, em 1961.

Embora sem encer a característica de moimento local, ganham orça asLigas Camponesas, que apresentaam uma proposta de reorma agrária radical e

lograram organizar, com certa rapidez, camponeses de Pernambuco e Paraíba; e opequeno, mas signicatio, Master – Moimento dos Agricultores Semerra, doRio Grande do Sul, que, impulsionado pelo apoio do goerno de Leonel Brizola,ganhou alguma notoriedade e a represso promoida por Ildo Meneghetti.

O golpe militar de 1964 esmagou os moimentos existentes, em especial asLigas Camponesas, que tieram ários de seus dirigentes presos, assassinados e

59 MOViMENTO NaCiONaL dE diREiTOS HuMaNOS. a Crmnlzção os Movmentos Socs noBrsl: Reltóro e Csos Exemplres. Brsíl. 2006.60 T. Evers, T. iente – fce oclt e movmentos socs. Novos Estos Cebrp, 10, , p. 10, 1989.

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pelo menos um deles desaparecido.Moimentos sociais de destaque somente oltaram a aparecer já no período

de ocaso do regime ditatorial, alendo mencionar o Moimento contra a Carestia,que contaa com o apoio da igreja católica e cresceu graças à adeso das comuni

dades eclesiais de base.Dos moimentos sociais atualmente em atiidade no Brasil, o é, de longe, o

mais organizado e o que mais impacto causa na cena política.Como já oi apontado anteriormente, a condiço de moimento social o

põe diretamente em oposiço ao Estado, de quem busca arrancar o atendimentode sua demanda constitutia – a reorma agrária – e em ace de quem se politizou,no sentido de que sua luta, reiindicatia na origem, por sua própria dinâmica se

 ê em seguida posta diante da necessidade de transormações sociais mais radicais, dado que seu interlocutor é exatamente aquele que, em nome dos dominan

tes, exerce a dominaço.É essa característica, aliás, que az com que qualquer noo moimento social

se eja, logo em seu nascimento, às portas das preeituras, dos palácios dos goernos ou tentado a marchar a Brasília, já que no buscam eles estabelecer pressosobre agentes priados, o que possibilitaria o recurso ao Estado como negociadore conciliador, sendo a presso exercida diretamente sobre as autoridades estatais,ainda que intermediadas, algumas ezes, por ações em ace de particulares.

Com eeito, no desnatura o ato de que a presso dos moimentos sociaisé exercida diretamente em ace do Estado, realizando eles ocupações de imóeisque descumprem a unço social. Neste caso, a aço realizada no isa a arrancarconcessões do capitalista, mas, ainda uma ez, obrigar a administraço pública aocumprimento de sua unço de garantir a obserância da unço social da propriedade ou de sancionar seu desatendimento61. Daí se ê quanto há de arisaísmo naacusaço de que os moimentos sociais estariam deixando de ser reiindicatios

61 Vle q menção o córão profero pelo Speror Trbnl e Jstç no jlgmento o Hbes Corps4399/96, em qe se ec pel concessão orem, constno o voto o Mn. Lz Vcente Cerncchro: “in-voqe-se Consttção Repúblc, notmente o Títlo Vii – d Orem Econômc e Fnncer – cjo Cpít-lo ii regstr como progrm ser cmpro – Reform agrár (rts. 184 sqe 191). Eventemente est norm

tem estntáro. E como estntáro, ttlr o reto (pelo menos – nteresse) à concretzção mencon re-form. a emor (jstc o njstc) mplntção ger reções, nem sempre ctvs à extensão norm jríc. a cont o gente o esblho possessóro é sbstnclmente stnt cont pesso nteress nreform grár. atlmente, clpble é c vez ms nvoc n Teor Gerl o delto. a s ntense

 poe, nclsve, mper crcterzção ção penl. No esblho possessóro, o gente olosmente nveste contr propree lhe, m e sfrr m e ses trbtos (so). O lterr os lmtes o omíno pr enrqec-mento sem jst cs. No cso os tos, o contráro, vso pressão socl pr concretzção e m reto (pelomenos – nteresse). No prmero cso, contrste e legle compreene spectos mterl e forml. No segno,sbstnclmente, não há lícto lgm”.Em otr ecsão, o mesmo STJ, no jlgmento o Hbes Corps 5574, fez constr: “Movmento poplr vsno mplntr reform grár não crcterz crme contr o ptrmôno. Congr reto coletvo, expressão cn, vsno mplntr progrm constnte Consttção Repúblc. a pressão poplr é própr oEsto e dreto democrátco”.

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para se tornarem moimentos políticos.No que respeita ao MS, outra peculiaridade está a nos parecer merecedora

de atenço. Sendo, embora, um moimento de camponeses, este Moimento estálonge de conormar um moimento camponês.

Ressoam as palaras candentes de Marx no Dezoito Brumário de LuizBonaparte para desenhar a imagem do conseradorismo camponês:

Os pequenos camponeses constituem uma imensa massa,cujos membros iem em condições semelhantes mas sem estabelecerem relações multiormes entre si. Seu modo de produçoos isola uns dos outros, em ez de criar entre eles um intercâmbio mútuo. Esse isolamento é agraado pelo mau sistema de comunicações existente na França e pela pobreza dos camponeses.Seu campo de produço, a pequena propriedade, no permite

qualquer diiso do trabalho para o cultio, nenhuma aplicaçode métodos cientíicos e, portanto, nenhuma diersidade de desenolimento, nenhuma ariedade de talento, nenhuma riquezade relações sociais. Cada amília camponesa é quase autosuiciente; ela própria produz inteiramente a maior parte do queconsome, adquirindo assim os meios de subsistência mais atraésde trocas com a natureza do que do intercâmbio com a sociedade. Uma pequena propriedade, um camponês e sua amília; aolado deles outra pequena propriedade, outro camponês e outraamília. Algumas dezenas delas constituem uma aldeia, e algumas dezenas de aldeias constituem um Departamento. A grandemassa da naço rancesa é, assim, ormada pela simples adiçode grandezas homólogas, da mesma maneira que batatas em umsaco constituem um saco de batatas62.

Do MS, porém, é preciso que se tenha atenço para o ato de que a integraço, dierentemente de outros moimentos sociais, demanda uma incorpora

ço permanente que se aprounda ou exclui nos duros tempos da ida em acampamento, à beira de uma estrada interiorana, sem água nas cercanias, muitas ezes;sem comida suciente, quase sempre.

Sob o constante acicate de pistoleiros, proocações da polícia e a suspeita e o medo dos moradores das izinhanças para quem tanta gente despossuída é sempre um perigo de apossamento indeido, o acampamento

62 MaRX, KaRL, O dezoto Brmáro e Lz Bonprte. in: Krl Mrx e Frerch Engels. Textos. São Plo: EçõesSocs, 1982. p. 277.

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dierenciase da “simples adiço de grandezas homólogas” pela ia do estabelecimento de uma ordem de ida, primeiro, que já é em si o brote deuma estrutura complexa, em que se o relacionando inicialmente comissões dierenciadas de negociaço, organizaço, alimentaço e segurança e às

quais o sendo acrescentadas outras paulatinamente destinadas a cuidar eresoler os problemas de educaço, saúde, transporte, comunicaço e quantos outros assuntos demandarem uma resposta coletia.

Ao surgimento dessa estrutura se soma o estabelecer de regras de moradia

e participaço destinadas a reduzir os conitos e regular a produtiidade da ida

em comum. E assim, pouco a pouco, o que estaria destinado a no ser mais que

“um saco de batatas” se mostra como uma organizaço com relações complexas

de componentes igualados, mais próxima, no ier, da solidariedade do trabalho

proletário, mas com um ingrediente a mais resultante da adeso consciente, que

compreende o papel que joga a atiidade realizada, seu objetio e seu conteúdo de

construço do esorço e resultado comuns.

Já se apontou que os proletários, por si sós, alcançam apenas o estágio da

consciência reiindicatória, sendo necessário o aporte externo para que dêem o salto

para a consciência política. Pois a esses camponeses o aporte externo cria uma rela

ço solidária essencial para a ida e para os objetios que esto propostos, de sorte

que no é de estranhar que se disponham às maniestações, às marchas e à solidarie

dade. Uma relaço e uma consciência que carregam muito de proletárias.

Ainda na área rural, o Moimento dos rabalhadores Semerra MS, undado em 1984, com base na linha das mobilizações promoidas pela Comisso Pastoral da erra, desde o naldos anos 70, no Rio Grande do Sul, constituise um dos grandesenômenos políticos contemporâneos, com uma pauta inicialmentecentrada sobre a questo da terra, mobilizando hoje cerca de 300mil amílias assentadas e 80 mil acampadas. Sem a quantidade dealiações de uma central sindical, o MS tem, nos dias atuais, umapresença política, uma estrutura organizacional e operacional to

mobilizada quanto à da Contag, com presença em todos os estadose uma rede de militância orientada e disciplinada na lógica do centralismo democrático. Montado em bases losócas e ideológicascom orientaço explicitamente socialista, o MS potencializou assuas itórias nas lutas contra o latiúndio e no seu poder de pressionar o goerno, dando uma orientaço mais política às suasmobilizações, que extrapolam os limites estritos da pauta dos trabalhadores rurais em campanhas contra a Alca, contra os alimen

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tos transgênicos, pela libertaço da Palestina, participando publicamente em todas as mobilizações pelas liberdades democráticas,por justiça social e pela cidadania63.

 

A essa organizaço da atiidade do moimento social têm promotores de justiça, delegados e agentes de polícia, latiundiários e portaozes do agronegócio

atribuído uma característica militar, de costas para a realidade de que é o trabalho

do operário que assume tantas ezes características militares, presentes numa como

noutra atiidade a continuidade, subordinaço e uma contraprestaço, caracterís

ticas essenciais da ida militar e que permitiro ter por congurada a relaço de

emprego nos termos de nossa legislaço trabalhista.

Dierentemente, porém, de uma ou de outra, a adeso ao moimento socialno se az à conta de contraprestaço, mas de esperança de direitos serem concre

tizados e de consciência da necessidade da organizaço e de certeza da possibilidade de dela adirem os desejados rutos.

O MS no é, certamente, o único dos moimentos sociais a aançar naconstruço de uma institucionalizaço e organicidade. Mas algumas de suas características esto por merecer ainda um aproundamento, motio pelo qual nospermitimos aqui apenas um bree rascunho de algumas delas, na medida donecessário e suciente para nossas preocupações.

Obsera com justeza Arim Soares do Bem queSe nas décadas anteriores os moimentos sociais eram

deinidos por uma enorme capacidade de presso e reiindicaço,a partir da década de 90 estes passaram a institucionalizarse pormeio das organizações nogoernamentais. ais organizações assumiram o papel no apenas de azer oposiço ao Estado, mas departicipar da elaboraço de políticas públicas, contribuindo, assim, para ampliar a esera pública para além da esera estatal64.

O MS, porém, numa atitude que até hoje ainda lhe rende diculdades de

compreenso, recusou a seduço da institucionalidade pela ia da conerso emONG. E marcou essa dierenciaço com a recusa do registro cartorial e da buscada armaço como moimento de massas, no qual, em lugar da atuaço isoladados especialistas, é o agir organizado do coletio, orientado por uma elaboraço

63 GOMES dE MaTOS, aÉCiO. Orgnzção socl e bse: reexões sobre sgncos e métoos. Brsíl: Núcleo e Estos agráros e desenvolvmento Rrl – NEad/Conselho Nconl e desenvolvmento RrlSstentável/Mnstéro o desenvolvmento agráro, Etorl abré, 2003.64 arm Sores o Bem. a centrle os movmentos socs n rtclção entre o Esto e socee

 brsler nos séclos XiX e XX. Ecção & Socee, Cmpns, v. 27, n. 97, p. 1153, set.-ez. 2006.

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teórica, que constitui o método e o undamento.

 repressão Aos movimentos soCiAis

Ainda que comumente seja mais utilizada a expresso criminalização dos

moimentos sociais e sindical, estamos em ace de um processo de combate à demanda, organizaço e luta populares, que se maniesta por dierentes ormas deenrentamento: estigmatizaço, restriço, represso e criminalização, um conjunto que chamaremos de represso – no sentido empregado tradicionalmente – dosatos dos agentes e moimentos sociais.

Já o Presidente washington Luiz dizia na década de 20 que a questo social eraum caso de polícia, expressandose de modo rude, talez, mas apenas explicitando o quea tradiço marxista já apontara como o papel do Estado – garantir, em última análise,a dominaço de classe. Na seqüência da conhecida rase de Carl on Clauseitz para

quem “a guerra é a continuaço da política por outros meios”, os militares que regeramo Brasil durante 20 anos, a partir de 1964, zeram da questo social um crime militar,dandolhe o enquadramento que julgaram deido nas leis de segurança nacional65.

A constitucionalizaço da sociedade brasileira, com o m da ditadura militar,gerou, num primeiro momento, inúmeros e extensos aanços na organizaço e maniestaço sociais, repercutindo em conquistas jurídicas como os princípios undamentaisestipulados no art. 1.º da Constituiço Federal a soberania, a cidadania, a dignidade dapessoa humana, os alores sociais do trabalho e da lire iniciatia e o pluralismo político;os objetios undamentais enumerados no art. 3.º construir uma sociedade lire, justae solidária, garantir o desenolimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalizaçoe reduzir as desigualdades sociais e regionais, e promoer o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras ormas de discriminaço, e osdireitos e garantias undamentais expressos no art. 5.º e outras partes, e os direitos sociaisconstantes do Capítulo II. Essas conquistas jurídicas, por sua ez, abriram espaço paranoos aanços organizacionais e de luta dos moimentos e agentes sociais.

No estranha, por isso, que tiesse início, desde logo, um moimento em sentidocontrário, isando a restringir o espaço da luta social, com intuito de impedir a concretizaço dos direitos inscritos na Constituiço Federal e possibilitar a construço doretorno ao exercício, pelo Estado, de seu papel de garantidor de dominaço.

Esse moimento retrógrado incorporouse à tendência mundial decorrente daglobalizaço econômica e política e às modicações econômicas adindas da submissoàs orientações do chamado Consenso de washington, logrado acasalar no mesmo leitocorpos aparentemente to díspares quanto a deesa do chamado liberalismo e a represso

65 Os mltres etrm qtro les e segrnç nconl: os decretos-Les 314, e 13.3.1967 e 898, e 29.9.1969,e s Les 6.620, 17.2.1978, e 7.170, e 14.12.1983.

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das demandas sociais.A deesa da legalidade, mesmo quando essa legalidade mantinha incorpo

rada à última lei de segurança nacional, em igor até os dias de hoje, pareceuuma proposta natural, diante da necessidade de reconstruço de um arcabouço

que guardasse um mínimo de semelhança com a democracia, depois de anos deexercício ditatorial.

estiGmAtizAção

Por seu papel na luta contra a ditadura e sua derrota, os moimentos sindical e popular, moimentos de mulheres, homossexuais, indígenas, quilombolas, ambientalistas, negro, camponês e outros ganharam destaque e acumularam respeitabilidade, azendo comque suas demandas, plataormas de aço e métodos se diundissem e obtiessem apoio.

Por isso, o esorço para limitar a aço desses moimentos e agentes, e reprimilos,no se pode dissociar do conteúdo mesmo de suas reiindicações, tendo seus adersáriosgerado um esorço em diersos âmbitos, em particular acadêmico e de mídia, no sentidode descaracterizar, ridicularizar e estigmatizar suas teses, demandas e práticas66 .

Como regra geral, a estigmatizaço dos moimentos sociais e de suas açõesse dá pela ia da caracterizaço de suas demandas como antipopulares e de suasações como oltadas contra os grupos sociais que deendem.

Exemplo desse esorço encontrase, por exemplo, em documento entreguepor 113 representantes da posiço contrária às ações armatias antidiscriminatórias aos negros, expressas na adoço de cotas para ingresso nas uniersidades,

em que, numa inerso de alores, apontase como racista a deesa que se aça doemprego dessas ações armatias exatamente para superaço do racismo.

No que respeita às iolações dos direitos das comunidades indígenas, tem a imprensa se dedicado a desmerecer e ridicularizar aqueles direitos, alendose, em geral,de armações incabíeis, como a de que os indígenas constituiriam empecilho ao progresso e ao desenolimento, e pretendessem tornarse latiundiários, ao passo que asorganizações que lhes do apoio pretendem se apossar do território nacional67 .

Joênia wapichana Joênia Batista de Caralho acusandoa

66 Teno lt os trblhores rrs em fvor relzção reform grár se torno m s emns ms v-síves e e mor cetção n socee, verss vozes qe nterormente sstentvm n cem necesse qel

 polítc bnerm-se pr o cmpo os efensores s grnes proprees ltfnárs e o gronegóco, o tempoo Presente Fernno Henrqe Croso. Entre s ms notáves els poemos ctr o socólogo José e Soz Mrtns,ntes ssessor Comssão Pstorl Terr e epos se oponente cerbo, e o grônomo Frncsco Grzno.67 Nos momentos ns reção este trblho, vmos o generl-e-brg Lz Ero Roch Pv, ex-comnnte Escol e Comno e Esto-Mor o Exércto, referenr s plvrs e se coleg agsto Heleno, o ComnoMltr amzôn, rmno: “Se o brslero não-íno não poe entrr nesss reservs, q lgms écs

 poplção v ser e nígens qe, pr mm, são brsleros, ms pr s ONGs não são. Eles poem pleter nclsve sobern”. Pv rm qe o Esto “não se fz presente”. “a amzôn não está ocp. É m vzo. algém v vr e v ocpr. Se o governo não está jnto com s poplções nígens, tem m ONG qe ocp. as ONGs procrmlevr s poplções nígens negr cn brsler”. a Fronter não poe cr “ reboqe” e ínos, z generl.dsponível em:<http://www1.folh.ol.com.br/folh/brsl/lt96417412.shtml>. acesso em: 30 jn. 2008.

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de indígena alsa, que recebe dinheiro utilizando os índios, questionam até como ela conseguiu se ormar adogada perguntando deonde eio dinheiro para esse eito e, além disso, acusamna de causar

 iolência contra brancos68.

As denúncias de exploraço de trabalho escrao, ou de trabalho indigno,em deesa dos trabalhadores escraizados e submetidos so apresentadas, pela mídia deensora dos azendeiros escraistas, como prejudiciais aos trabalhadores eseu direito a um emprego.

A exploraço do trabalho inantil é justicada com o argumento de queas denúncias ormuladas por seus oponentes objetiam tornar crianças e adolescentes modeobra do tráco de drogas.

Outro exemplo marcante da criminalizaço é a estigmatizaço promoida pela grande imprensa das crianças e dos adolescentesem situaço de rua, reqüentemente tratados como “delinqüentes” e“marginais”. A reportagem “Meninos se drogam e roubam no centro”7 mostra meninos de rua cometendo delitos, enocando o risco queestes representam para os pedestres. Na reportagem no se abordama situaço de risco e os problemas para sobreier que as crianças eos adolescentes que iem nas ruas da cidade enrentam, ítimas demúltiplos atores entre os quais a alta de alternatias educacionaise de assistência e promoço, a pobreza, miséria e excluso das amílias, sem atendimento prioritário do Estado69.

alez seja, porém, na atualidade, o MS que mais seja alejado por essacampanha de negatiizaço da imagem, apresentado diariamente na mídia como

 iolento, inculado à corrupço e ao banditismo70.A criminalizaço maior do MS, porém, partiu noamente da

mídia burguesa. Jornais, reistas, rádios e telejornais destilaram ene

68 Rosn Perer Qeroz; Jln abrão Slv Cstlho; dego Ecker (Org.). a crmnlzção os movmentossocs no Brsl – reltóro e csos exemplres. dsponível em: <http://www.hnet.org.br/os/reltoros/nco-ns/nex.html>. acesso em: 18 jn. 2008.69 Fórm Centro Vvo, Volções os retos hmnos no centro e São Plo. dsponível em: <http://osse.centrovvo.org/Mn/HomePge>.70 “drnte os meses e jnho e jlho o no e 2006, mltplcrm-se no Esto e Pernmbco otoors, crtzes e nots

 públcs com os segntes zeres: ‘Sem-Terr: sem le, sem respeto e sem qlqer lmte. Como to sso v prr?’. as-snv o mterl mátco assocção e Ocs Sbtenentes e Srgentos Políc e Bombero Mltres e Pernmbco(aOSS). a mensgem lsv os movmentos socs e trblhores(s) rrs em lt pel terr, notmente o Mov-mento os(s) Trblhores(s) Rrs Sem-Terr (MST), consttí pens m fce estrtég ssocção. algnsmeses ntes, el hv pblco em jorns e grne crclção em Pernmbco nots e repúo às entes e efesos dretos Hmnos, csno-s e ‘efensors e bnos’ e propgno tese segno ql os dretos Hmnoseverm servr os ‘hmnos retos’”. Roberto Corovlle Efrem e Lm Flho. dreto hmno à comncção: m r-mção contr crmnlzção os movmentos socs. dsponível em: <http://209.85.215.104/serch?q=cche:Tn_lcTi-MJ:www.retocomncco.org.br/novo/nex.php%3Fopton%3dcom_ocmn%26tsk%3doc_ownlo%26g%3d218+Roberto+Corovlle+Efrem+e+Lm+Flho&hl=pt-BR&ct=clnk&c=2&gl=br>. acesso em: 18 jn. 2008.

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no contra a “jornada de luta pela reorma agrária”. O “abril ermelho”ocupou os principais noticiários sempre com abordagens negatias. Osmaniestantes oram execrados como arruaceiros, iolentos e inimigosda sagrada propriedade priada. Como registrou Marcelo Salles, editor

do Fazendo Média, o ataque mais irulento coube à v Globo.Numa das árias “reportagens” do Jornal Nacional, nos dois

minutos e inte quatro segundos da matéria buscase a criminalizaço

do MS. Para tanto, as imagens e palaras so articuladas para trans

mitir ao telespectador a idéia de que seus militantes so responsáeis

por todo o medo que ronda o Pará. Logo na abertura, o undo es

curecido por trás do apresentador exibe a sombra de três camponeses

portando erramentas de trabalho em posições ameaçadoras, como

a destruir a cerca cuidadosamente iluminada pelo departamento de

arte da emissora... Em nenhum momento os dirigentes do MS so

ouidos, o que contraria o próprio manual de jornalismo da Globo.

Obsesso editorial da reista vejaQuanto à asquerosa reista veja, desta ez ela no deu capa

para demonizar o MS – como uma em que Joo Pedro Stedileaparece como o próprio molock. Mas nem precisaa. O seu ódio àluta pela reorma agrária já é notório. Um excelente estudo de Cás

sio Guilherme, intitulado “Reista veja e o MS durante o goernoLula”, comproa que a publicaço da amíglia Ciita tem como obsesso editorial atacar os semterra. Ele acompanhou a coberturada reista desde a criaço do moimento, em janeiro de 1984. Numprimeiro momento, ela até tentou cooptar o MS, tratando seus militantes como “coitadinhos, pésdescalços, analabetos, que lutampor um simples pedaço de cho. al atitude por parte da reista teea deliberada intenço de neutralizar as suas orças”.

Como no conseguiu o seu intento, ela passou a atacar

sistematicamente o moimento. “Como o MS sobreieu e continuou crescendo, a alternatia oi satanizar o moimento. Passousea dar destaque para toda e qualquer conseqüência negatia das suasações. A reista usou de diersos clichês preconceituosos, azendoo julgamento social de seus integrantes. ermos como inaso, baderna e arcaico passaram a ser correntes nas reportagens. visaamestereotipar o moimento como atrasado e antidemocrático, inclusie associandoa a gura de Lula, o principal adersário nas cor

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ridas presidenciais.” A detalhada pesquisa, de quem tee estômagopara acompanhar suas edições, conrma que a criminalizaço doMS é um dos principais objetios da direita ascista.

Conorme constatou Cássio Guilherme, para a reista veja “o

MS no quer apenas terras, mas principalmente a tomada do poder; os semterra so massa de manobra de seus líderes; as guras deChe, Fidel e Mao se ung sempre so ligadas de orma pejoratia;conrontos com mortos so culpa única e exclusia do MS que promoe inasões; a reorma agrária é uma utopia do século passado; eno existem mais latiúndios improdutios no Brasil. Enm, o MSinade, seqüestra, saqueia, andaliza, tortura, mata”. No há nada de

 jornalismo imparcial, mas sim pura ideologizaço isando criminalizar um dos principais moimentos sociais do país71.

Até mesmo a diulgaço de pesquisas sobre o modo como a populaço ê oMS pode ser e é utilizada para diundir mensagem de estigmatizaço da imagemdo Moimento.

Ao noticiar a realizaço de pesquisa sobre o MS encomendada pela Companhia vale do Rio Doce, adersária do Moimento porque este encabeça campanha nacional pela anulaço do momentoso leilo que a transormou de empresapública em priada, as Organizações Globo anunciaram com estrépito: “MS é

 isto como sinônimo de iolência”72.

A manchete poderia ser ista, assim, como apenas um resultado de umacampanha anterior. Pior que isso, porém, é que destoaa do próprio conteúdo dadiulgaço. Com eeito, no corpo da matéria se noticiaa que, se, “para 45% dosentreistados, a palara que melhor descree o MS é iolência, para 27%, é coragem; e, para 24%, é a expresso ‘reorma agrária”73.

vêse, portanto, que a pesquisa relataa uma predominância de isões positias quando se tratou de indicar uma palara que expressasse o MS. Pese a tanto,a manchete estigmatizadora ajudaa a reproduzir e ortalecer a imagem do Moimento como iolento.

QuAliFiCAção Como terrorismo

Assim como, em especial, após o ataque às torres gêmeas, em 2001, a políti

71 aLTaMiRO BORGES. Nov on e crmnlzção o MST. dsponível em: <http://www.correocn.com.br/nex2.php?opton=com_content&o_pf=1&=1800>. acesso em: 17 jn. 2008.72 SORaYa aGGEGE. ibope: MST é vsto como snônmo e volênc. O Globo, 15 jn. 2008, smrem O Globo Onlne. dsponível em: <http://oglobo.globo.com/ps/mt/2008/06/14/bope_mst_vsto_como_s-nonmo_e_volenc-546806512.sp>. acesso em: 18 jn. 2008.73 iem.

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ca dos Estados Unidos oltouse para carimbar como terroristas todas as organizações, moimentos, atiidades e pessoas que se oponham a seus interesses, noBrasil uma corrente na mídia, na política e nos órgos de Estado deuse a qualicar de terrorismo as ações do moimento social em aor de suas reiindicações.

Esse trabalho de acoimar de terroristas os moimentos e organizações sociais,bem como seus integrantes, tem origem como resposta da extremadireita militar aodispositio que, na Constituiço da República, excluiu a prescriço do crime de tortura. Naquele ento, sem condiço de oporse à proposta normatia, em decorrênciado repúdio social que se estabelecera em ace da tortura empregada como método peloregime militar, a extremadireita buscou e obtee, considerando a correlaço de orçasdo momento, que igual determinaço se aplicasse também ao “crime de terrorismo”.

Ainda que inexista tipicaço legal dessa gura delitia, as orças conser adoras desde logo passaram a utilizar o substantio terrorismo e o adjetio dele

deriado para reerirse às demandas e ações sociais.As atiidades do MS, mas no apenas elas, so reqüentemente assim desig

nadas, indo a designaço sempre inculada à inocaço de aço repressia estatal.Em um editorial do jornal O Globo, no dia 21 de março, po

demos ler o seguinte sobre o Moimento dos rabalhadores RuraisSem erra: “Faz tempo que o MS se descolou da questo da reorma agrária e se conerteu em uma organizaço política radical,semiclandestina, [...] com uma ace operacional, patrocinadora deações que começam a ganhar roupagem de terrorismo”74.

Aparentemente o diálogo termina nessas duas cenas, maseis que irrompe, na mesma ediço da reista [veja], uma terceirareportagem que prolonga os sentidos até aqui expostos de terrorismo e medo, relacionandoos com o Moimento dos rabalhadoresRurais Semerra. Curioso perceber que Beslan, Laden e o MSaparecem como ícones interligados pelo ódio que lhes corre nas

 eias emendadas75.

Ao trabalho dos grandes órgos da mídia se soma a aço dos parlamentares hidróobos da direita, no mesmo sentido, demonstrando a clara orquestraçode métodos e objetios.

Já em abril, a cada ocupaço de terra ou protesto diante doIncra ou Banco do Brasil, um senador se reezaa no plenário para

74 PEdRO CaRRaNO. Brsl e Fto, 21 mo 2008.75 LuCLia MaRia SOuSa ROMO. Vej vs. MST. Memór e tlzção e sentos em três tos o s-crso jornlístco. dsponível em: <http://observtoro.ltmosegno.g.com.br/rtgos.sp?co=294iMQ007>.acesso em: 17 jn. 2008.

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deserir ataques hidróobos ao MS. Artur virgilio PSDBAM eGerson Camata PMDBES oram os mais histéricos, acusandoos maniestantes de “bandidos” e “terroristas”. Na seqüência, onoo presidente do Supremo ribunal Federal, Gilmar Mendes,

aproeitou a sua posse para, segundo leitura da mídia, atacar ossemterra. O ministro elogiou a democracia natia, “ainda quealguns moimentos sociais de caráter ortemente reiindicatórioatuem, às ezes, na ronteira da legalidade... Nesses casos, é precisoque haja rmeza por parte das autoridades”, aconselhou, quase quenum recado ao presidente Lula, presente na solenidade76 .

Nessa mesma linha, a Comisso Parlamentar Mista de Inquérito do Congresso Nacional, conhecida como CPI da erra, aproou relatório do deputado

Abelardo Lupion PFLPR em que pede a tipicaço do ato de ocupaço deterra como crime de terrorismo, qualicado como hediondo.

ambém empresas priadas se têm somado a essa política de indicarcomo terrorismo a aço social:

No mesmo sentido, até pouco tempo, a página na internet davale exibia o ídeo de uma coletia de imprensa, com seu diretorexecutio, ito Martins, à época das maniestações da via Campesina do dia 8 de março. O posicionamento dos próprios jornalistas,ao longo da entreista, era de condenaço à postura dos moimentos sociais. Uma jornalista presente na coletia reorçaa a questodo terrorismo. A vale, que até ento haia se mantido em silêncioquanto à aço dos moimentos, passou a pedir puniço77 .

Mas no só ao MS está reserado esse tratamento. ambém outros moimentos sociais o recebem, dependendo sempre do interesse de seus adersários.

Mais recentemente, ao Moimento dos Atingidos por Barragens se dedicoua pecha:

Para a relatoria da ONU, o MAB e outros moimentos sociais “desenoleram modos de aço social e participaço e estodesenolendo regras de combate que diminuem a possibilidadedo uso de iolência em ações sociais”. E por isso recomenda aogoerno brasileiro que esse aspecto dee ser “projetado pelo Estado, assim como pela mídia” – o que inelizmente no em aconte

76 aLTaMiRO BORGES. Nov on e crmnlzção o MST. dsponível em: <http://www.correocn.com.br/content/vew/1800/47/>. acesso em: 17 jn. 2008.77 Pero Crrno. Brsl e Fto, 21 mo 2008.

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cendo. A maioria dos meios de comunicaço projeta o MAB e seusmilitantes como uma quadrilha, como um caso de polícia, destacandose em 2006 a parcialidade da cobertura do jornal Estadode Minas. Em matérias publicadas no mês de julho o moimento

é chamado de “grupo radical”, “suspeito de alojar os mentores deum plano de sabotagem” e que “recebe treinamento no exterior”.As ontes do jornal no seriam ninguém menos que os seriçossecretos brasileiros ABIN, P2.... Ora, quem recebe treinamentoé militar; treinamento no exterior é tática terrorista; sabotagem;inestigaço da ABIN; a caracterizaço dada pelo jornal ao moimento transmite a idéia de que tratase de uma organizaço “terrorista” para o leitor78.

Inertido o sentido de sua aço em deesa dos interesses do poo e estabelecida contra eles a acusaço de práticas terroristas, os moimentos sociais deemse er rustrados de possibilidades de deesa de seu ideário, métodos e atiidades.Fazse necessário estabelecer uma limitaço a seu direito de diundir idéias, maniestar pensamentos e diulgar inormações.

restriçÕes À liBerdAde deinFormAção e opinião

Estando em mos dos grandes grupos econômicos o poder de determinar alinha editorial dos grandes órgos de imprensa, no é de estranhar que se alinhemeles na oposiço aos moimentos sociais, nem que neguem a estes a possibilidade dediulgar seus pontos de ista.

Mesmo nos pontos mais remotos, os órgos de diuso e de imprensa se alinham automaticamente aos adersários das demandas populares:

Pouco antes de conceder uma entreista a uma rádio local, emMarabá Pará, para diulgar a situaço dos conitos no campo no

Brasil, o coordenador da Comisso Pastoral da erra CP, José Batista Aonso, deparouse com a adertência do radialista: o entreistado no podia mencionar o nome da vale exvale do Rio Doce,mineradora que opera na regio79.

No dispondo de meios de inormaço de massa, ou os tendo apenas parcos,

78 Lenro Gspr Sclbrn. ONu confrm enúncs o MaB – Moelo energétco contn ssnh mpne.79 PEdRO CaRRaNO. Brsl e Fto, 21 mo 2008.

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as maniestações de grupo constituem o meio por excelência para diulgaço doideário e reiindicações dos moimentos sociais, que por intermédio delas exercempresso sobre as autoridades e realizam proselitismo.

Mesmo tais meios, porém, êm cada ez mais sendo objeto de restrições, que

se quer justicar atribuindo às demonstrações massias a condiço de perturbadoras da ordem social e causadoras de prejuízo aos cidados.

As maniestações públicas das dierentes categorias de trabalhadores urbanos têmencontrado, contra si, dois tipos de argumentos reiteradamente utilizados. Por primeiro,

 isando a incompatibilizar a populaço com o direito de maniestaço, apontamse asmaniestações como constrangedoras do direito de ireir, causadoras de empecilhosà ida social e mesmo como ameaçadoras à ida e à saúde, com o argumento de queimpediriam o deslocamento de ambulâncias e carros de socorro a enermos.

De outra parte, tais maniestações têm se tornado reqüentemente uma con

tabilizaço de supostos prejuízos à economia, alendose de cálculos que partem daresponsabilizaço dos maniestantes pelas diculdades do tráego, passam por estimatias de tempo parado e de número de eículos, para desembocar na armatiade que os trabalhadores é que seriam as ítimas e alo dos maniestantes.

O jornal Folha de S.Paulo, de 26 de setembro de 2007, diulgou que a Companhia de Engenharia de ráego de So Paulo estaria realizando cálculos desse teorpara embasar ações do Ministério Público contra maniestantes e suas entidades.Como alternatia, a Companhia sugeriria para as maniestações a xaço de locaisto insólitos como distantes, como o sambódromo paulistano80.

Segundo os relatórios da CE, nos últimos três anos, o prejuízonanceiro oi de mais de R$ 3 milhões e o congestionamento somadoé de mais de 227 quilômetros. Para chegar a estes números, oi leadoem conta o custo das horas paradas no trânsito81.

Por causarem tais transtornos à ida social, justicarseiam limitações administratias e policiais, que se o tornando cada ez mais comuns e que contam já,muitas ezes, com apoio do Ministério Público e do Poder Judiciário.

Depois de parar a Aenida Paulista, na regio central de SoPaulo, por três sextaseiras seguidas, o Sindicato dos Proessores doEnsino Ocial do Estado Apeoesp enrentará um inquérito ciil paraapurar excesso em suas maniestações. A promotora de Habitaço eUrbanismo do Ministério Público de So Paulo MPSP, Stela inone Kuba, abriu nesta sexta 27 o processo de inestigaço. O MP ai

80 LuCiaNa CaNdidO. Prefetr e São Plo qer restrngr protestos em locs públcos. dsponível em: <http://www.pst.org.br/tor_mter.sp?=7445&=4081 iem

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apurar se houe excessos e prejuízos à mobilidade dos moradores dacapital paulista nos protestos de hoje e dos dias 13 e 20 deste mês.

O inquérito inestigará ainda se o sindicato atendeu às exigências legais para azer maniestações. É preciso aisar preiamente a

Polícia Militar PM e a Companhia de Engenharia de ráego CE,para que monitorem o protesto e orientem as pessoas que esto no local. Nos dias das maniestações, bloqueios na aenida – normalmente

 já congestionada – causaram até 2,2 quilômetros de lentido.Um oício do promotor de Justiça da Cidadania Luís Fernando

Pinto Júnior reorçou o pedido de apuraço. Ele encaminhou a petiçoà Promotoria de Habitaço e Urbanismo e ela dee ser juntada ao inquérito de Stela inone. Ontem, a PM entrou com representaço coma mesma solicitaço ao Ministério Público82.

Na cidade de So Paulo, a administraço municipal tem exigido comunicaço com antecedência para a realizaço de passeatas e maniestações.

No Ceará, o goerno do Estado já proibiu em anos passados marchas decamponeses. No Rio Grande do Sul oi o Poder Judiciário que ordenou à orçapolicial que impedisse marchas de trabalhadores, no sendo de esquecer que noParaná, ao tempo do goernador Jaime Lerner, policiais militares assassinaramum trabalhador semterra quando uma marcha de camponeses oi impedida dese dirigir a Curitiba.

E, no Pará, o célebre Massacre de Eldorado de Carajás decorreu exatamente deaço que isaa a cercear maniestaço de camponeses em marcha rumo a Belém.Com o mesmo sentido, e agindo como braço das orças do atraso, o Poder Ju

diciário já se lançou em outras oportunidades contra o MS, alendo aqui reerir decisões proeridas na comarca de eodoro Sampaio que, copiando institutos igentesnos Estados Unidos, pretendeu proibir trabalhadores semterra de se aproximarema menos de 10 km de determinada propriedade, o que, iolando o direito de ireir,transormaaos em prisioneiros de campos de concentraço, dado que impedidosde usar as estradas da regio, que se encontraam dentro do perímetro proibido.

ambém cabe reerência à recente deciso de magistrada do Rio de Janeiroque pretendeu determinar a dirigente do MS que se abstiesse de maniestar opinio a respeito da Companhia vale do Rio Doce, responsabilizandoo por qualquermaniestaço de inconormismo com esta que ocorresse no território nacional.

A iolaço do direito de maniestaço se estende igualmente aos direitos deorganizaço sindical e de gree, inocadas cada ez mais limitações a eles.

82 dsponível em: <http://ecco.ol.com.br/ltnot/2008/06/27/lt4528396.jhtm>. acesso em: 30 jn. 2008.

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Somado ao trabalho de incriminaço realizado pela mídia, cada ez mais categorias de trabalhadores so itimadas por ações do Ministério Público e decisõesdo Poder Judiciário que, arontando a Constituiço e os Direitos Humanos, buscam,na prática, proibir o exercício do direito de gree.

A Constituiço da República estabelece peremptoriamente que:“Art. 9.º É assegurado o direito de gree, competindo aos trabalhadores de

cidir sobre a oportunidade de exercêlo e sobre os interesses que deam por meiodele deender”.

Apesar disso, cada ez mais categorias so impedidas de exercer esse direitoem irtude de decisões judiciais que estabelecem obrigatoriedade de garantirem ossindicatos a atiidade de trabalhadores em números tais que, na prática, iniabilizamo direito que a Constituiço assegura.

Sob o argumento de que realizariam atiidades essenciais, categorias de tra

balhadores inculados aos transportes, seriço público, energia, etc. já oram obrigados a, por seus sindicatos, garantir o comparecimento de pessoal ao trabalho.

ais decisões, contudo, arontam o texto constitucional, eis que somente se estabelece, ali, restriço nas hipóteses em que a lei conra a uma atiidade esse caráteressencial, e que a mesma lei estabeleça os limites mínimos de atiidade.

Isso é o que decorre, sem dúida, do § 1.º do art. 9.º da Constituiço daRepública, em que se dispõe que:

A lei denirá os seriços ou atiidades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáeis da comunidade.

vítimas releantes dessa política restritia e repressia oram,por exemplo, os petroleiros – que quase tieram sua Federaço iniabilizada por multas impostas pelo Judiciário – e metroiários, que acada gree tornamse alo da úria da magistratura. Como o so, nestemomento, os proessores:

“O MP pediu hoje à Justiça ainda a execuço de uma díidade R$ 156,4 mil da Apeoesp. A multa é resultado de uma aço ciilpública contra o sindicato por causa de uma maniestaço ocorrida

em 1999. Na ocasio, os docentes interditaram a Aenida Paulista semantes ter aisado as autoridades, o que trouxe transtornos a quem estaa na regio. Com a intimaço, a Apeoesp terá 15 dias para depositaro dinheiro no Fundo Estadual de Reparaço dos Interesses DiusosLesados. O alor será reajustado até ser pago”83.

O Sindicato dos Proessores do Ensino Ocial do Estado de SoPaulo Apeoesp é o mais isado. No só a entidade responde a pro

83 dsponível em: <http://ecco.ol.com.br/ltnot/2008/06/27/lt4528396.jhtm>. acesso em: 30 jn. 2008.

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cessos, mas alguns de seus diretores, indiidualmente, também.O presidente da Apeoesp, Carlos Ramiro, oi condenado a pa

gar R$ 3.350 milhões de reais por danos materiais e morais. Seus bensesto bloqueados pela Justiça e, obiamente, no tem como pagar esse

 alor. Esta sentença, porém, apesar de ter recaído sobre Ramiro, é umataque à categoria. O Ministério Público, representando os interessesdo goerno, isa, com a medida, desorganizar os proessores.

Para Ramiro, tratase de “um jogo político do Ministério Público,pois em ez de acionar o goerno para atender às reiindicações, é maisácil impedir que os sindicatos açam maniestações”. Ele disse, ainda,que o goerno chegou a propor que os proessores zessem maniestações no sambódromo de So Paulo, que ca na marginal ietê.

Joo Zaalo, membro da Diretoria Executia da Apeoesp e da

Oposiço Alternatia, também responde a inquérito policial por contada maniestaço do dia 23 de maio passado, em rente à AssembléiaLegislatia. O ato terminou em enrentamento com a polícia. “Estasações so parte da tentatia de criminalizar a Apeoesp, todas as maniestações que a Apeoesp ez oram parar no Ministério Público emações indenizatórias, eles querem intimidar o moimento”, disse 84.

So, portanto, as restrições ao direito de maniestaço e de diulgaço dopensamento de responsabilidade, hoje, quer de agentes priados, quer de agentesestatais, agindo estes em unço de poder administratio, policial ou judicial.

restriçÕes À liBerdAde de orGAnizAção

Ainda que a Constituiço Federal no estabeleça limite à liberdade deassociaço para ins lícitos restringida apenas àquela de caráter paramilitar,

 êm se tornando cada ez mais reqüentes exigências que isam a impedir,na prática, o direito associatio.

Nesse particular, no que respeita aos poos indígenas, embora a Constituiço Federal assegure, nos arts. 231 e 232, que so reconhecidas suas organizações sociais, sendo elas partes legítimas para ingressar em juízo emdeesa de seus direitos e interesses, tanto o Poder Judiciário como o Executio têm se negado a alidar o dispositio, estabelecendo exigências de que

84 Lcn Cno. Prefetr e São Plo qer restrngr protestos em locs públcos. dsponível em:<http://www.pst.org.br/tor_mter.sp?=7445&=40>.

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tais organizações sejam cartorialmente registradas.Essas exigências de registro cartorial têm sido eitas também em ace

das organizações quilombolas, ainda que a Conenço 169 da OI estabeleça, no art. 5.º, b, que deerá ser respeitada a integridade das instituições

representatias desses poos. 

repressão Aos movimentos soCiAis e sindiCAl

Postos já no apenas em termos de criminalizaço, mas de represso aosmoimentos sociais, elementos do conta de que essa tarea é cometida tanto aagentes priados como a agentes estatais, quer ajam estes no exercício da unçoou ora dele.

Parece eidente que a aço de pistoleiros a seriço do latiúndio tem se

reduzido em termos nacionais, ainda que em regiões e Estados determinados – alendo mencionar o Pará, Paraná, Minas Gerais e Pernambuco – se mantenha.

Essa situaço, porém, no tem implicado, de modo algum, o m ou mesmo adiminuiço da represso aos moimentos, organizações e agentes sociais, em cursouma legalizaço da iolência priada e uma estatizaço dessas ações, incrementadoao extremo o crescimento das prisões, detenções e intimidações85.

A legalizaço da iolência priada tee origem já há anos, eoluindo aospoucos no rumo do estabelecimento de empresas de segurança diretamente inculadas ao latiúndio e grande empresa. No Pontal do ParanapanemaSP e noMato Grosso do Sul, há anos ocorreram os primeiros intentos de legalizaço dasorganizações da iolência rural.

ais tentatias originaram, naqueles Estados, maus resultados, dado o exercício extemporâneo da iolência, com tiroteios em So Paulo e emboscadas, sequestros e assassinatos no Mato Grosso do Sul.

No Paraná, a relaço estreita com a Polícia Militar ao tempo do exgoernador Jaime Lerner garantiu à pisolagem legalizada do latiúndio uma proteço que se

85 N Regão Sl e Mns Gers, entre gressões, meçs e morte, etenções e prsões, ntmções e m- pementos e r-e-vr, Comssão Pstorl Terr, em se Reltóro anl sobre Volênc no Cmpo, pont2.212 vítms.86 a Comssão intermercn e dretos Hmnos, precno enúnc forml pel Ree Nconl e a-vogs e avogos Poplres, colhe o peo formlo, em fce o Esto brslero, por ter jíz ereto comrc e Lon, PR, Elzbeth Kther, volo o sglo e comncções e ssentmento e tr-

 blhores rrs vnclos o MST, vlgno se conteúo pel Ree Globo. (dsponível em: <http://www.ch.org/nnlrep/2006sp/Brsl12353sp.htm>. acesso em: 18 jn. 2008). O Governor o Prná Jme Lerner levo o Brsl ser ennco pernte Corte intermercn e dretos Hmnos tmbém como reslto morte e Sétmo Grbl, em novembro e 1998, qno grpos rmos espejrm fmíls e sem-terr fzen São Frncsco, e mesm jíz, Elzbeth Kther, rqvo o nqérto. a CidH entene qe o Estonão tnh envo esforços pr prener os crmnosos e ec, neste como no prmero cso, levr o Brsl àCorte (dsponível em: <http://www.nexo10.com.br/news_et.php?co=1405>. acesso em: 18 jn. 2008).

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rmou ainda mais com a omisso e mesmo, em certas áreas, respaldo judicial86 .Uma etapa seguinte iniciou com a adoço do emprego das empresas de se

gurança pelas grandes empresas do agronegócio e da produço de transgênicos.No Estado do Espírito Santo, a empresa Aracruz Celulose adota a contrata

ço de empresa de segurança para o enrentamento a indígenas e quilombolas queoram expulsos de suas terras para a expanso da produço de eucalipto87 .

No Paraná, a Syngenta organiza a iolência também nesses moldes, produzindo pelo menos um homicídio constatado88.

Em Pernambuco, empresas de segurança a seriço de usinas usurpam doEstado o monopólio da iolência; na Paraíba, policiais agindo como particularespriatizam a exclusiidade.

No Brasil todo, a priatizaço da orça ai cada ez mais a passo com aautorizaço estatal para seu emprego sob a máscara de empresas de igilância,

com a priatizaço da aço estatal e com a expanso da represso do Estado.O Ministério Público e o Poder Judiciário aam suas naalhas e cortam

undo na carne dos moimentos sociais, naquilo que mais especicamente setem chamado de criminalizaço.

É assim que dirigentes e dirigentes de moimentos sociais e sindicais, rurais e urbanos, o conhecendo as barras dos tribunais.

Nos mais recentes episódios, o Ministério Público do Estado do RioGrande do Sul deixou azar ata de reunio do Conselho Superior em que diersos promotores se articulam para usar o poder estatal contra o Moimento dosrabalhadores Rurais semerra, acoimando este de iolar a segurança naol. OMPRS traçou estratégia para enrentar o moimento social camponês, em irtude de terem os promotores Luciano de Faria Brasil e Fábio Roque Sbardelottorealizado um “notáel trabalho de inteligência”:

O relatório que segue az jus a esse conceito, apresentando oMS como uma ameaça à sociedade e à própria segurança nacional. Oresultado do trabalho de inteligência inspirado nos métodos da ABINé composto, na sua maioria, por inúmeras matérias de jornais, relatórios do seriço secreto da Brigada Militar e materiais, incluindo lirose cartilhas, apreendidas em acampamentos do MS. extos de autorescomo Florestan Fernandes, Paulo Freire, Chico Mendes, José Marti e

87 Fláv Bernres. Empres qe meç ínos e negros v vgr escols. Séclo dáro. dsponível em:<http://www.secloro.com/rqvo/2005/novembro/16/notcro/meo_mbente/16_11_06.sp>. acesso em:18 jn. 2008.88 Vlmr Mot e Olver, o Keno, morto por pstoleros contrtos pel Syngent como vglntes prvos.Keno tnh 34 nos, exo espos rs e três lhos, mennos com 13, 9 e 7, respectvmente. No epsóo, osmlcnos Syngent ferrm grvemente Coto Ver, Jons Gomes e Qeroz, domngos Brretos, HsonCrn e izbel Nscmento e Soz, qe pere vsão e m olho.

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Che Gueara so apresentados como exemplos da “estratégia conrontacional” adotada pelo MS. Na mesma categoria, so incluídas expressões como “construço de uma noa sociedade”, “poder popular”e “suocando com orça nossos opressores”. ambém é “denunciada”

a presença de um liro do pedagogo soiético Anton Makarenko nomaterial encontrado nos acampamentos”89.

Já o Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul resoleu ir maislonge e, sem pejos, inocou a Lei de Segurança Nacional para denunciar oitomilitantes do MS por crimes contra a segurança nacional.

Dirigentes do Sindicato dos Metroiários oram, na última gree, enquadrados por crime contra a organizaço do trabalho.

Dirigentes do MAB, do MS e da CP também o so continuamente.

Indígenas e quilombolas e estudantes o, também, encontrando enquadramento penal quando demandam reconhecimento de direitos.

 ConClusão

O que se ê, por um lado, como criminalizaço dos moimentos é considerado, por outro, como expanso da democracia e da submisso à lei.

No se discute, é eidente, que a reduço da represso a parâmetros legaisconstitua um aanço diante do exercício da iolência desmedida dos particulares.

O que se tem explicado, muitas ezes, como criminalizaço dos moimentos sociais, e que neste trabalho enxergamos como uma combinaço dediersos métodos repressios, no se conorma à constituiço de um EstadoDemocrático de Direito, dado que este no pode ser reduzido à mera enunciaço de direitos ormais.

De nada ale a armaço da constância da legalidade, se esta é apenas, aom, uma ormalidade a que se ausenta qualquer resultado prático.

No se pode pretender garantido o exercício do direito de maniestaço e

de expresso do pensamento, se por medidas administratias ou judiciais se pretende connar o exercício desse direito a locais distantes e inacessíeis; no sepode pretender ter por garantido o exercício do direito de gree, se se pretendeestabelecer que oitenta ou mais por cento dos trabalhadores deam estar aprisionados ao labor; no se pode pretender ter por garantido o direito de acesso aoconhecimento, se a leitura de um educador ou um sociólogo longe do agrado daGoernadora que lhes paga o salário impele promotores a armar que so crimi

89 agênc Crt Mor, ação o MP gúcho contr MST repete scrso nt-comnst pré-1964. dsponível em<http://www.crtmor.com.br/templtes/mterMostrr.cfm?mter_=15058>.

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nosos os trabalhadores que os lêem.Fazêlo seria negar alor ao direito e armálo às manobras dos leguleios.Admitir que o Estado seja um instrumento a seriço da dominaço de classe

no implica admitir que assim dea ser. O reconhecimento da dignidade humana

como onte de direitos, a constituiço da doutrina e da normatia dos direitoshumanos no permite mais conormarse com tal admisso, pondo no campo daexigibilidade a possibilidade de um Estado materializador desses direitos.

A condiço de iraser da sociedade no se ajusta à idéia de moimentossociais criminalizados, porquanto a expresso da ontade social se dá por sua expresso, antes de tudo.

AneXo 1

estrAtÉGiAs de CriminAlizAção soCiAl ouo AssAssinAto de vlAdimir HerzoG em

CArAzinHo -rs

 Aton Fon Filho e Suzana Angélica Paim Figueiredo90

A sociedade brasileira tomou conhecimento recentemente de que, no extremoSul do País uma noa experiência se articulaa para permitir desenoler noosmecanismos repressios e instituir noa coordenaço de organismos autoritários.

O azamento do concerto de ações contra o Moimento dos rabalhadoresRurais semerra, engendrado pelo Ministério Público do Estado do Rio Grandedo Sul e a seço local do Ministério Público Federal, demonstram cabalmente, deuma ez por todas, que, mais do que do exercício de unções legais, estáse em ista de utilizaço de unções e artiícios legais para atingir objetios ilegais e realizar,sob a cobertura do regime democrático, a iolaço dos direitos da cidadania.

As tentatias no so recentes, mas, assim como eram quase sempre decorrentes de decisões e atitudes indiidualizadas – quadro que oi radicalmente modicado agora –, no se tinha notícia anterior de tais graus de elaboraço, articula

ço, deciso e subordinaço a uma estratégia predenida.Se no se pode dizer que açam parte do jogo democrático – na medida

em que impedir as maniestações e demandas sociais constitui a própria negaçoda democracia –, as atitudes de combate aos anseios de transormaço so parteda realidade. O próprio priilégio de acesso aos quadros da magistratura e do

90 aTON FON FiLHO é de e SuZaNa aNGÉLiCa PaiM FiGuEiREdO é conslher Ree Socl eJstç e dretos Hmnos (Brsl).

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Ministério Público, decorrente da desigualdade material imperante na sociedade,estabelece uma torre de igia a partir do qual as classes dominantes obseram econtrolam as tentatias de ascenso e disputa.

Somente em situações em que se sente ameaçada pelo crescimento do ad

 ersário ou, pelo contrário, quando o sente enraquecido e com capacidade de reaçodiminuída, uma orça social se lança ao ataque rontal a outra. Por isso mesmo, buscarreduzir as possibilidades de reaço do oponente constitui necessidade to ital quantogarantir as próprias energias para o ataque, pois, se or dada aquela primeira hipótese,será necessário reduzir as orças do outro lado para diminuirlhe o ímpeto; e se a hipótese enrentada or a segunda, necessário será mantêlo na diculdade de resistir.

O conronto entre duas orças no se resole apenas em unço dos recursos que cada uma tenha a sua disposiço, mas das possibilidades concretas desua utilizaço. Isso que é álido nos âmbitos militar e político encontra respaldo

também no terreno jurídico, no qual as partes têm, por deniço legal, acesso adadas alternatias, segundo situações predeterminadas. No basta, por exemplo,que se tenham determinados elementos que possam constituir proas, porque énecessário que esses elementos tenham sido obtidos de modo lícito; no basta quese tenha a preiso legal genérica de interposiço de um recurso, se no se deremas condições especícas que admitem sua interposiço; no basta que se tenha odireito, se no existirem mais – pela perempço, por exemplo – as possibilidadesde seu pleito em juízo.

Exatamente por isso, a garantia do direito de deesa – de ampla deesa, nos

termos constitucionais – é elemento regulador básico no regime democrático, jáque é ela que garante os cidados contra os arbítrios do Estado. O direito de deesa– amplo – no pode ser traduzido em mera ormalidade que se possa aastar pela

 ia de circunlóquios ou tergiersações.O elemento básico de qualquer deesa é, eidentemente, a ciência do ataque,

de suas condições e circunstâncias, e de sua importância no processo no se aloumelhor do que Franz Kaa com a experiência de Joseph K. Sem saber do que lheacusam, nem K, nem ninguém pode se deender. Sem saber de que lhe oi abertoprazo para contestar ou recorrer, o réu deixa escoar a possibilidade de deesa.

O MS é réu num processo político.No, no se esto elaborando rases de eeito, mas simplesmente armando

o que é uma erdade cabal. A denúncia oerecida contra os oito militantes do MSna Justiça Federal na comarca de Carazinho é base de uma aço política, porqueos réus so, ali, acusados de iolaço aos artigos 16, 17, caput 20, caput, e 23, I, daLei de Segurança Nacional:

Art. 16. Integrar ou manter associaço, partido, comitê, entidade de classeou grupamento que tenha por objetio a mudança do regime igente ou do Estado

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de Direito, por meios iolentos ou com o emprego de grae ameaça.Pena: recluso, de 1 a 5 anos.

Art. 17. entar mudar, com emprego de iolência ou grae

ameaça, a ordem, o regime igente ou o Estado de Direito.Pena: recluso, de 3 a 15 anos.

Art. 20. Deastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar,manter em cárcere priado, incendiar, depredar, proocar exploso,praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconormismopolítico ou para obtenço de undos destinados à manutenço deorganizações políticas clandestinas ou subersias.

Pena: recluso, de 3 a 10 anos.

Art. 23. Incitar:

I – à suberso da ordem política ou social.

Percebase que, de quatro dispositios penais utilizados, o primeiro criminaliza a pertinência a uma organizaço política; o segundo criminaliza a açodessa organizaço política; o quarto criminaliza a diulgaço de seu ideário, e oterceiro é aquele cujo objetio é apenas intitular de terrorista a associaço políticaque se quer destruir.

No plano jurídico a eleiço da Lei de Segurança Nacional tem o condode proibir o exercício da ampla deesa, uma ez que obriga cada um dos réus a

  justicar todas as ações de qualquer integrante da organizaço a que pertença,podendo – em tese – irem a ser condenados no Rio Grande do Sul por algum atoque tenha sido praticado por outro integrante da mesma associaço – mesmo semseu conhecimento – num remoto ilarejo do Amazonas.

Mas, e é o que nos parece mais importante destacar, sendo os réus acusadosde pertinência a uma organizaço de que se diz ser criminosa, é a própria organizaço que está, na erdade, sendo acusada – criminalizada – sem que lhe sejadada a possibilidade de deenderse. Quanto aos réus, so eles na erdade merospeões eleitos aleatoriamente, eis que qualquer um dos milhares de integrantes doMS poderia ser igualmente adequado para gurar na denúncia, dado que, aindaque pessoalmente nada se possa proar contra eles, o simples ato de admitirem ouser proada sua liaço já justicaria a ojeriza do MPF no Rio Grande do Sul.

anto assim é que, admitase a hipótese, ainda que todos à exceço de umnegassem sua adeso ao MS e esta no casse proada, o ato de um único a ad

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mitir e por isso ser condenado já implicaria a existência de uma deciso judicialestabelecendo que teria ele participado de “associaço, partido, comitê, entidadede classe ou grupamento que tenha por objetio a mudança do regime igente oudo Estado de Direito, por meios iolentos ou com o emprego de grae ameaça”.

O que implicaria dizer que o MS seria uma tal “associaço, partido, comitê, entidade de classe ou grupamento que tenha por objetio a mudança doregime igente ou do Estado de Direito, por meios iolentos ou com o empregode grae ameaça”.

Resulta, assim, eidente que, ademais de se estar criminalizando o MS comoentidade, como moimento social, estáse procedendo judicialmente de modo a impedir que esse moimento se deenda nos autos do processo, permitindose o MPFe a Justiça Federal eleger os oito cordeiros para o sacriício da democracia.

Objetiando um ataque de extermínio de um moimento social e da

  ocalizaço das demandas camponesas, cuidou o Ministério Público Federal,em conluio com seu equialente gaúcho, de impedir, desde logo, a deesa quepudesse seu oponente realizar. Se no plano jurídico se buscou a Lei de SegurançaNacional para impedir ampla deesa, tratandose de um processo político que

 isa a criminalizar as demandas e as atiidades de uma organizaço, pareceulógico obstar, desde logo, essas demandas e essas atiidades, reduzindo, no planopolítico, as opções de aço do MS.

O meio escolhido como adequado para isso, e para garantir as iolações dosdireitos dos réus no processo e as possibilidades de êxito na aço que isa à crimi

nalizaço de toda a atiidade dos semterra, oi o segredo de justiça.A Constituiço Federal estabelece art. 93, IX que “todos os julgamentos

dos órgos do Poder Judiciário sero públicos [...], sob pena de nulidade”. Autorizaà lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus adogados, ou somente a estes, quando “a preseraço do direito à intimidade do interessado no sigilo no prejudique o interesse público à inormaço”.

ratase, no caso, de processo de caráter político – o primeiro após a ditadura militar – que tem tudo para se tornar paradigmático. Esto em jogo ali osdireitos de todos os cidados de se maniestar e de como se maniestar; de demandar e de como demandar; de se organizar e de como se organizar.

Os réus so acusados de pertencer a organizaço que se diz ser terrorista.E se pretende que uma tal acusaço no interesse à Naço, motio pelo qual sedecreta segredo de justiça. No oram os réus que pleitearam, em deesa de suaintimidade, esse segredo. Pleiteouo a Promotora de Justiça ociante e o deeriu omagistrado presidente do eito, alegadamente em deesa do interesse público.

visaram, na erdade, um e outro, a que no pudessem os cidados se aperceberde que seus destinos esto ali em jogo; que no pudesse rir do ridículo que se contém

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naqueles autos, e que no pudesse o MS denunciálos como cabíel e merecido.êm os moimentos sociais – e o tem em especial o MS – como única

arma diante das necessidades de se opor às desigualdades e realizar os compromissos constitucionais, a orça de sua maniestaço e erbalizaço de seus pleitos.

Ao impedir, pela ia do segredo de justiça, o conhecimento de quanto sepassa naqueles autos do processo de Carazinho, quiseram e alcançaram, até agora,o Ministério Público e a injustiça do Estado brasileiro restabelecer o segredo quecercou as masmorras da ditadura e permitir que, inatingidos pela luz da publicidade dos atos judiciais, possam ser imolados os direitos democráticos, como ooram antes atrás das grades dos DOICODI.

Mas, assim como o assassinato de vladimir Herzog se denunciou pelo enorcamento em que as pernas estaam dobradas, a tentatia política de extermíniodo MS, a criminalizaço do moimento social se denuncia pelas armas utilizadas

para tanto, a Lei de Segurança Nacional e o segredo de justiça.

BiBlioGrAFiA

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CHile

AlGuns eiXos interpretAtivos soBre osmovimentos soCiAis e A repressão do

protesto soCiAl no CHile

Raúl Zarzuri Cortés91 

introdução

A represso, que na deniço da Real Academia da Língua Espanhola consiste no “ato, ou conjunto de atos, ordinariamente a partir do poder, para conter,deter ou castigar com iolência atuações políticas ou sociais” RAE, 2002, tem

sido um ato recorrente na análise do desenolimento das mobilizações e lutasdas organizações populares na América Latina.

No caso particular do Chile, os atos repressios a que têm sido submetidos os moimentos populares êm de longa data. alez a máxima expresso dessasituaço sejam os atos acontecidos a partir do golpe militar do ano de 1973 que dáorigem à ditadura militar que goernará o Chile autoritariamente durante 17 anos.Desde os primeiros tempos da ditadura a represso oi caracterizada pelas detençõesrealizadas tanto pela polícia ciil como militar. Em 1977 sore um orte aumentoaetando mais de um milho de pessoas ROJAS, s..92. Cira que tende a decairdepois desse ano, mas se mantém superior aos quinhentos mil detidos por ano. Essenúmero aumenta nos anos 80, particularmente a partir de 1983, quando têm inícioos protestos nacionais que learo ao surgimento de um orte moimento popularantiditadura que minará, de alguma maneira, o poder político do general Pinochet eda Junta Militar e conduzirá ao plebiscito de 1988 e às eleições de 1989, perdidas porPinochet, dando passo à “recuperaço da democracia” no Chile.

O período, chamado inicialmente de “transiço para a democracia”, pode sercaracterizado como uma ase de orte desmobilizaço social e de alta de protagonismo por parte dos moimentos sociais no país. Mas é preciso assinalar também quese assistia – particularmente desde o início do noo século – a uma construço incipiente de noas ormas de aço coletia, as quais começam a apresentar caracterís

91 RaÚL ZaRZuRi CORTÉS Socólogo, Mestre em antropolog e desenvolvmento (uCHiLE). Professor  Escol e Socolog unverse acem e Hmnsmo Crstão (uaHC) e pesqsor o Centro eEstos Sococltrs (CESC) n áre e estos cltrs e cltrs jvens. drg versos projetos e pes-qs e pblco versos rtgos e lvros sobre cltrs jvens rbns, televsão e mí.92 incl pens etenções relzs pels polícs, exclno s relzs pelos orgnsmos e ntelgênc ecráter polítco o s nvsões e omcílo efets pels forçs rms.

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ticas noas que, necessariamente, no constituem o que classicamente se denominacomo moimentos sociais. Portanto, podemos armar que houe um deslocamentodas ormas orgânicas coletias tradicionais no sentido daquilo que alguns autoreschamam de redes ou coletios, expressões mais de acordo com as realidades de par

ticipaço em nosso país, onde os joens aparecem como um ator releante.Cabe assinalar que, quando alamos de deslocamento, reerimonos a uma

série de atos no âmbito mundial que emergem durante o século XIX e possibilitaa emergência do moimento social mais característico ou clássico. Estamos nosreerindo ao “moimento operário”, o qual, no bojo das mudanças ocorridas nosanos 1960, oi deslocado pelo que se conhece como “Noos Moimentos Sociais”,que no m dos anos 1980 e princípio dos anos 1990 abre passagem aos “Noíssimos Moimentos Sociais” FEIXA; SAURA Y COSA, 2002. Esse deslocamentose maniesta também no motor que os moimenta. Dessa orma, para alguns,

passamos de reiindicações situadas no aspecto econômico e em transormaçõesmacrossocietárias típicas do moimento operário às reiindicações de carátercultural, que alguns chamam de lutas pela identidade LARAÑA, 1994. Paraoutros, estamos em presença de uma olta às questões estruturais matizadas dequestões culturais FEIXA; SAURA Y COSA, 2002.

Por outra parte, atualmente e para o caso particular do Chile, a represso no sereeste necessariamente de aspectos to opressios, com as características que se maniestaram durante a ditadura93, mas nos emos diante de um noo tipo de repressoque amos denominar “represso simbólica”. Leada a cabo pelos meios de comunicaço, principalmente a teleiso e a imprensa escrita, ela tem contribuído para que certos sujeitos e suas ações reiindicatias sejam istos como noos “bárbaros ou monstros sociais”. E contribui também para que a iolência, ou certo tipo dela – utilizadapelos moimentos para se azerem isíeis, dados os processos de inisibilizaço quese instalaram, ou melhor, se perpetuaram desde a ditadura –, apareça ou seja lida comouma “iolência sem sentido”, construindo uma alteridade marcada pelo estigma.

Estes elementos que assinalamos sero trabalhados com maior proundidade a seguir.

i. AlGuns elementos do ConteXto pArAentender os movimentos soCiAis no CHile

É preciso mencionar que os moimentos sociais têm se maniestado nasociedade chilena desde meados do século XIX, até o seu pleno desenoli

93 a exceção é consttí pel persegção qe se tem vsto sbmeto o povo mpche, prtclrmente sesrgentes, os qs têm so fstgos, persegos e csos e terrorsts. isso levo o Esto chleno plcr  le ntterrorst, tte qe tem so crtc pelos orgnsmos nterncons e retos hmnos.

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mento com o moimento operário no século XX. Mas é só nos anos 1960 quese conigura um tipo de aço coletia, que está de acordo com as deiniçõesmais modernas de moimento social e que ai adquirindo orça partir dosanos 1970 como orma de enrentar e resistir aos embates da ditadura que se

instala. Uma das características relatias aos moimentos sociais é a sua reconiguraço, particularmente na liderança, o que produz algumas mudanças, aoserem substituídos os atores mais políticopartidários por outros atores maissociais, em um quadro de desarticulaço das estruturas políticopartidáriasque daam embasamento à aço coletia dessa época.

É preciso assinalar que o orte moimento social popular que se organiza timidamente a partir de 1973 atinge a “maturidade” no início da décadade 1980 e se torna ortemente isíel ao se iniciarem os protestos em 1983 94,gerando um espaço de participaço inédita durante a ditadura militar, sendo

rapidamente cooptado pelos partidos políticos95, que êem a possibilidade deiniciar negociações políticas com a ditadura militar, do mesmo modo em quese tenta integrar outros setores sociais, como os estratos médios, aastando osmoimentos sociais da conduço política. Essa questo se ará mais maniestae pode ser interpretada como retirada e inisibilizaço, a partir da chegada dademocracia com os goernos da concertaço. Instalase ento um discursocentrado no pacto, no simulacro democrático que requer a desmobilizaço domoimento popular, questo que é aceita para resguardar a incipiente democracia que começaa a ser construída sob a tutela militar, e que é consagradana Constituiço de 1980.

O período de pósditadura oi, comparatia e paradoxalmente, de uma notáel ausência de protagonismo dos MoimentosSociais. Em parte porque, como explicita o próprio tom sociológicoda pretendida transiço à democracia, uma condiço undamentalda noa etapa oi o traspasso do protagonismo a atores institucionais,depositários de uma racionalidade prudente e realista que garantissetanto a estabilidade política como a goernabilidade dos processos

sociais. A política chegou a ser ento um subsistema autoreerenteCousiñovalenzuela que se echa restritiamente em torno ao aspecto representatioparlamentar villalobos 1997; vicuña URRUIA, GANER Y ZARZURI, 2000, p. 8.

94 Há qe recorr qe os protestos ncons qe começm em 1983 não são orgnzos por prtos polítcos,ms por orgnzções sncs, prtclrmente s pertencentes os trblhores n mnerção o cobre, qeform e são os trblhores melhor remneros o Chle.95 a exceção est lógc tlvez sej o prto Comnst qe esenvolve m estrtég e enfrentmento

 polítco, ms o mesmo tempo mltr, com ntenção e combnr negocção polítc com cmlção e forçse expressões e lt rm.

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É preciso anotar, no tocante a este ponto, que os moimentos oram in isibilizados pela ditadura militar, e com a chegada dos goernos da concertaço tampouco houe espaço para eles. Em muitos casos primaram as isões maisuncionalistas, que iam esse tipo de aço com uma orte carga anômica, como

no caso das análises de ironi y valenzuela 1987 nos anos 198096 . Assim, osmoimentos sociais oram considerados disuncionais para a construço da incipiente democracia e deem recuar, dando passagem aos partidos políticos paraa administraço e conduço da democracia. Como apontam Urrutia, Ganter y Zarzuri 2000, este tipo de postura encontrou resistência em setores com discursos políticos radicalizados, os quais o apelar para o caráter de conrontaço quecaracteriza precisamente os moimentos sociais.

Os anos 1990 o se caracterizar pela orte desmobilizaço social, ruto daretirada dos moimentos sociais. No obstante, começa a se instalar um espaço de

mobilizaço em relaço a determinadas “datas emblemáticas”, as quais resgatamem categorias de memória atos e situações particulares. So exemplos: o 11 desetembro, dia do golpe militar de 1973, ou o dia do joem combatente, que recordaa morte dos irmos vergara oledo, ou o 12 de outubro, dia do Descobrimento daAmérica, que se lê como data recordatória da dominaço dos poos indígenas pelos colonizadores europeus. Instalase, ento, um espaço de ritualismo combatio,no qual os joens o ser os principais protagonistas, seja nas uniersidades ou emdeterminados setores populares de Santiago e de outras regiões.

Destacamse também, no início dos anos 1990, ações que sero protagonizadas por organizações políticomilitares que haiam nascido na época da ditadura e mantêm atiidades de luta armada, tratando de mesclálas com açõespolíticosociais, o que no encontra acolhida na populaço, mas sim em alguns

 joens. Esses reerenciais oram: a Frente Patriótica Manuel Rodríguez AutônomaFPMRA, o Moimento de Esquerda Reolucionária Exército Guerrilheiro doPoo MIREGP e especialmente o MAPU Lautaro por meio de seu grupo mili

96 Pr o cso o fnconlsmo, o srgmento os movmentos socs se relz prtr s “tensões orgnsno esenvolvmento esgl os város sbsstems e ção qe consttem m sstem socl o m socee

moern ferenc” (RiECHMaNN Y FERNÁNdEZ BuEY, 1994, p. 17). Portnto, nz-se qe há esor-gnzção socl no sstem socl, o qe lev o esenvolvmento e resposts nvs nte esss tensõesestrtrs. Por sso é qe lgns tores conserm o movmento socl como m espéce e terp nte nsee s mnçs prozs por esss stções e trnsformção. dess form, os movmentos socsprecem conformos por msss ntegrs por tores rrcons, cegos e selvgens (TuRNER Y KiLLiaN,1986. in: LaRaÑa, ENRiQuE, 1998), esenvolveno forms e comportmento esvo, qe se prtm norm, qestonno-, trnsformno-se em fenômenos vergentes esss norms. a ênfse esse enfoqe está,então, em conserr s norms como frto orgnzção socl e, portnto, s conts socs evem se jstr  esss norms, e, n me em qe se prozem ssrs, como s qe poerm ser provocs pelos MS, estssão ctlogs como conts esvs. Est é precsmente letr qe Tron e Vlenzel relzm os mo-vmentos socs no Chle os nos 1980 e lhes restm vle, prncplmente por se cráter “esorgnzo”,

 pr ser conseros protgonsts constrção emocrc, qno precsmente hvm so eles os qetnhm consego constrr, por meo s lts mplements, possble e cesso à emocrc.

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ciano, o Moimento Juenil Lautaro MJL, os quais se maniestam especialmentenas datas comemoratias.

A historiadora amara Conteras aponta, a respeito desse período, a mortede pelo menos 26 militantes desses grupos e o encarceramento de aproximada

mente outros 45 que se autodenominam “presos políticos em democracia”, no queoi denominado o “Cárcere de Alta Segurança” CAS.

Assim é que desde a chegada à Democracia até o ano 1994registraramse 26 caídos em diersas circunstâncias. Estes 25 homense uma mulher eram militantes atios das organizações FPMR, MIR,ML, MIREGPPL97 . Nesse mesmo contexto, em 20 de eereiro de1994 é inaugurado o Cárcere de Alta Segurança CAS, com 45 presospolíticos que so transeridos para lá. A Anistia Internacional conrmaque durante o traslado os prisioneiros so torturados e maltratados.

 Assim, embora os anos 1990 possam ser caracterizados como de uma “rela

tia passiidade” da aço social, a chegada do noo século traz com ela um processo que tende a reerter essa situaço. E sero precisamente os joens que daroo sinal para a mobilizaço, ao se iniciarem a partir de 2001 as primeiras mobilizações estudantis com o chamado “mochilaço”. Foi quando ários milhares deestudantes secundaristas saíram às ruas para protestar contra o abusio custo dopasse escolar, questo que estará na antesala das grandes mobilizações de 2006 eque daro origem a uma série de mobilizações sociais no país.

Por outra parte, é preciso assinalar que a desmobilizaço dos moimentos sociais prooca a emergência de noos tipos de aço coletia, as quais secaracterizaro por estarem estreitamente ligadas a objetos reiindicatios, oque se obsera particularmente na noa conjuntura a partir do ano 2000. Embora hoje em dia se assista ao que se poderia chamar de “situaço de eer

  escência social”, o que leou à prolieraço de mobilizações e de conlitossociais, é preciso considerar que so episódicos, apesar da grande orça comque se desenoleram em alguns casos. Podem ser citadas, por exemplo, as

mobilizações dos inadimplentes agrupados na Associaço Nacional de Deedores Habitacionais ANDHA, os quais se tornaram isíeis nos últimos anosgraças a suas ações espetaculares contra as autoridades goernamentais; omoimento dos trabalhadores terceirizados, particularmente da empresa nacional do cobre Codelco, que puderam mobilizar milhares de trabalhadoresconseguindo incluir temas centrais como “salário digno ou ético” e renegociar

97 Nomes completos e o etlhmento s ts em qe se prozrm esss mortes estão emhttp://www.noo50.org/kmnlbre/extrmros/cos.htm.

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seus contratos incorporandose às unidades de trabalhadores contratados; os trabalhadores da saúde, por melhorias salariais e de inraestrutura de atendimento;a reconguraço do moimento estudantil uniersitário, desaparecido em meadosdos anos 1990, que tem se somado atualmente às mobilizações dos estudantes se

cundaristas na interpelaço da noa Lei Geral de Educaço Lege, que pretendesubstituir a Loce, agregando pontos particulares mais reiindicatios, questo quese maniesta nos dierentes objetios perseguidos pelos estudantes de uniersidades públicas e priadas, por exemplo.

Uma menço à parte é a mobilizaço dos estudantes secundaristas queem 2006 “inauguram” as mobilizações sociais, embora seja preciso dizer que elascomeçaram timidamente já no início do noo século. Paradoxalmente, esse é umator pouco alorizado pela sociedade chilena. Um ator secundário que, em termos estritos, ainda no é um cidado pleno, que em termos biológicos está en

trando na juentude para outros, adolescência ou já está nessa etapa, ou seja, ameio caminho para a idade adulta, mas que executa uma série de mobilizaçõescom sentido de país, criticando duramente o sistema educacional imperante sobuma lógica de lire mercado. Uma das particularidades dessas mobilizações é quesupôs a conergência com outros atores: proessores, procuradores, trabalhadores,conertendo as mobilizações em uma questo transersal à sociedade chilena.

No entanto, no início dessas mobilizações, no altaram autoridades degoerno e meios de comunicaço que tentaram minimizálas, tratando de construir uma imagem de criancinhas, inantilizandoos e tratandoos como pouco

maduros e, portanto, considerados como no atores, no sujeitos, e pouco dignosde ser leados em consideraço nas conersações sobre os problemas nacionais.

ii. - movimentos soCiAis, repressãoe CriminAlizAção

Ninguém ignora que hoje em dia se assiste, cada ez com maior orça, à implementaço de medidas de caráter punitio com a nalidade de criminalizar umasérie de problemas sociais que, por óbios, so deixados de lado ou inisibilizados,

para apoiar um certo discurso que se instalou na sociedade associado à insegurança cidad. Isso leou certos setores a solicitar – e paradoxalmente esta é umasolicitaço transersal – cada ez mais “mo dura” com a delinqüência, por exemplo,ou com qualquer maniestaço que rompa os marcos normatios da sociedade chilena, com o discurso de que isso põe em perigo a “saúde da sociedade” ou o uncionamento normal do sistema social BAUMAN, 2005. Dessa orma, emos emergirum discurso com um orte conteúdo higienista, de pureza e controle social que noslea diretamente ao tema da desordem.

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Aqueles que aparecem como objeto predileto e causa dessa desordem e, porque no dizer, da contaminaço ou da sujeira que começa a se instalar em nossasociedade, so particularmente os pobres, os joens e as ações reiindicatias. Somaniestações causadas pela precariedade das situações políticas, econômicas, cul

turais ou sociais que os sujeitos que participam desse tipo de aço têm que enrentar. Assim, aparecem aos olhos dos “higienistas e buscadores da pureza” comotransgressores de qualquer ordem, incontroláeis. Conseqüentemente, so sujeitosque podem ser classicados como “sujos”, “agentes contaminadores” enquanto seestruturam como sujeitos ilógicos – transgressores –, já que no se encontram noslugares em que se supõe que deeriam estar, segundo os buscadores da pureza e daordem. Isso az com que prooquem e deixem a descoberto a ragilidade normatiaexistente, uma ez que ultrapassaram as ronteiras estabelecidas, com conite ousem ele, conertendose em agentes perigosos para a ordem social.

Portanto, assistese à construço de um sujeito que pode ser rotulado como“descartáel”, ou, melhor dizendo, como um “sujeito residual”, e de um Estado esociedade – ou certa parte dela – que tenta se proteger desse sujeito instalando maispolíticas de controle e mais prisões. Isso supõe uma análise de parte de certos estamentos do país, que entendem que a única orma de contenço desses segmentossociais transgressores joens, pobres, trabalhadores precarizados, entre outros é aconstruço de um Estado cada ez mais orte em suas políticas de controle social.Um Estado penal, policial, de segurança que, de alguma orma, tenta isolar sicamente a esses “reugos da sociedade” wACQUAN, 2001.

Um dado no menos importante nesse processo é que, atualmente, o Estadotem que enrentar, no âmbito do resguardo da ordem – uma de suas unções principais –, um discurso no qual aparece com essa capacidade reduzida. Aparece tambémcomo incapaz de dar proteço contra as inseguranças que se apresentam, questoque possibilita a construço de um discurso relacionado com a perda de autoridadepor parte do Estado.

Uma pergunta surge de tudo isso: Qual é a orma que o Estado, ou melhor,certo tipo de Estado, tem para recuperar sua legitimidade, sua autoridade? A resposta mais simples é apelar para a proteço, instalando um discurso protetor, que anda

de mos dadas com políticas repressias mais duras. É o que lea à criminalizaçode certos setores da populaço. Para isso é preciso implementar grandes campanhascontra a delinqüência e a iolência e aplicar medidas que, em outro momento, seriam consideradas excepcionais, mas que agora passam a ser istas como normais,como é o caso da reduço da maioridade penal.

Cabe reiterar que esta implementaço em precedida de um discurso de modura, que pode ser isto como uma rogatia de certos setores da sociedade – especialmente de direita, mas também de pobres que oram impregnados pelo discurso

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da segurança cidad – para que o Estado atue com mais represso. Um paradoxo, poisso precisamente esses setores de direita que querem um Estado menor, menos intrusio, mas parece – e aqui concordamos com wacquant 2001 – que o objetio deenoler o Estado em políticas mais agressias é a tentatia de ocultar, com esse tipo de

medidas, a deterioraço social trazida pela implementaço de ortes políticas econômicas de tipo neoliberal, que deixaram ao desamparo astos setores da populaço.

2.1. Ag ac ga

Há que assinalar que a represso dirigida aos “moimentos sociais” no Chiletem estado ocada principalmente em detenções nos protestos de massa, comodemonstram os quadros seguintes, e que, em termos de olume, corresponde adetenções na rua sob a acusaço de “desordem na ia pública” ou “destruiço na

 ia pública”. Os mais aetados têm sido sempre os joens e no outros atores sociais. Podese armar que, no que se reere à maioria das detenções realizadas,os detidos so libertados após algumas horas e, no caso de menores, os pais soaisados e os deolem às suas casas.

No quadro a seguir podese apreciar o que mencionamos anteriormenterelatiamente a outros dois atores que se mobilizaram durante os últimos trêsanos: reerimonos aos trabalhadores terceirizados da Codelco e aos trabalhadoresda saúde, onde há menos detenções.

tabaha a Cc

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mba tabaha a saú

No que diz respeito aos trabalhadores terceirizados da Codelco, resulta interessante analisar as poucas detenções em relaço ao outro sujeito que se mobilizounestes últimos anos: os estudantes secundaristas. Nas mobilizações realizadas pelostrabalhadores, em muitos casos eles usaram iolência como mecanismo para se azerem ouir, realizando bloqueios de estradas e incendiando eículos, como a queimade ônibus de transporte de pessoal, ou o descarrilamento de um trem. No entanto, a“represso” a este setor, entendida como detenções, no tee a orça que se maniestou contra os estudantes secundaristas.

É preciso obserar que as mobilizações dos estudantes so altamente massias, ao contrário do que ocorre com outros atores mobilizados, em que há maispresença de adultos.

 mba ea

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Por outro lado, é preciso assinalarque as mobilizações estudantis oram maisprolongadas no tempo. Isso oi obseradoem 2006 e também se constata atualmente.

Às mobilizações estudantis pouco a poucooram se somando outras organizaçõescomo o Colégio de Proessores, que estoparticipando há mais de um mês e pareceque o continuar por mais algum tempo.

So dois os casos que sero analisados nesta parte. O primeiro tem relaçocom a situaço do poo mapuche, que temreiindicado com maior orça uma série de

exigências associadas a seu reconhecimentocomo poo e demandas sobre terras originárias, o que acarretou sobre eles uma orterepresso e iolações aos direitos humanos,constatadas por organismos internacionais.O segundo corresponde às mobilizações realizadas pelos joens secundaristas do Chile e a construço, por parte da imprensa, do que se denomina “represso simbólica”, que se acentuou – e isso é apenasuma hipótese – com a entrada em igor da noa lei de responsabilidade juenil,que reduz a idade penal dos joens para 14 anos, precisamente a idade em que elesse encontram na educaço secundária.

2.2. o ca ach

Como aponta a Federaço Internacional de Direitos Humanos FIDH,em sua misso internacional sobre a represso ao poo mapuche, este tem sidosistematicamente ulnerado em seus direitos e se encontra à margem do processodemocrático que está iendo a sociedade chilena.

Em geral, podese dizer que o poo mapuche tem iido uma sorte de excluso permanente em relaço ao resto da sociedade chilena, acentuada por umaaberta discriminaço que az com que ia à margem da sociedade, do país. Isso éreorçado pela orte idéia de eles se considerarem dierentes dos chilenos, isto quecomo dizem: “so outro poo” “outra naço”, porque têm uma história, um idioma.Apesar disso, o Estado chileno tem tentado integrálos, ao longo dos últimos doisséculos, por meio de políticas “genocidas”, “de extermínio” e “de represso”, queperseguiam a perda de identidade como etnia.

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Diante dessa situaço oram sendo geradas ormas de resistência que semaniestam, preerentemente, na olta às raízes, alorizando a sua cultura, especialmente para os mapuche que nasceram na cidade; na realizaço de trabalhocomunitário, nas ocupações de terras, etc. Dessa orma, para os mapuche a política

– “sua política” – é a reconstruço de seu poo, de sua naço, a recuperaço daterra, do idioma, da religio, de sua cultura, etc., e por isso esses so aspectos centrais em sua prática política.

A resposta do Estado chileno tem sido principalmente repressia, criando uma política criminal que tenta desmantelar o protesto social gerado poreste poo, desrespeitando, dessa maneira, direitos básicos dos indiíduos. Comomostra o reerido inorme:

 

A iolaço dos direitos indiiduais de pessoas mapuche,

como resultado da política criminal orquestrada em resposta àsituaço de conito social que experimenta o Sul do Chile, torna

particularmente patentes essas margens. A perseguiço crimi

nal de comportamentos, tipicados como delitos, cometidos no

marco do protesto social mapuche, proocou um número incon

táel de processos contra indiíduos mapuche sob a legislaço

penal ordinária. ambém tem leado a uma interenço gene

ralizada das orças policiais na ida cotidiana das comunidades,

deixando para trás graes conseqüências sociais e contribuindopara reorçar pautas históricas de discriminaço e estigmatiza

ço das pessoas que pertencem a esse poo. Durante os últimos

anos, com a radicalizaço do protesto, essa política repressia

intensicouse com a aplicaço de regimes penais especiais

para a perseguiço e sanço dos supostos responsáeis de atos

de protesto sociais iolentos, incluindo a aplicaço da legisla

ço especial antiterrorista. Líderes tradicionais e atiistas ma

puche oram condenados a graes penas de priso por ameaçasou atentados contra a propriedade, associados a reiindicações

de terras indígenas, sob regimes processuais de exceço regula

mentados na Lei Antiterrorista. Outros casos similares têm sido

  julgados conorme outros regimes penais especiais, como os

da Lei de Segurança do Estado, ou sob a jurisdiço militar. En

quanto isso, os deensores e deensoras dos direitos humanos,

 inculados aos acusados em casos relatios ao protesto social

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mapuche, ou comprometidos com a deesa dos ns legítimos

desse protesto, têm iido um clima de crescente perseguiço

por parte das instituições chilenas FIDH, 2006, p. 4.

Sendo assim, assistese a uma série de situações de arbitrariedade jurídica que prejudica ortemente o poo mapuche, particularmente pela aplicaçoda lei antiterrorista, o que eremos a seguir.

Seria preciso assinalar que, no que se reere ao tema de detenções emsituações de protesto, o número “no é signicatio estatisticamente”, no tocante, por exemplo, às detenções praticadas na represso aos joens estudantessecundaristas, como se pode er no quadro seguinte, mas é signicatio noníel simbólico.

mba Caa mach

2.2.1. A aca a aa

Outro ponto a ser analisado, reerente ao poo mapuche, é o uso da lei antiterrorista que, desde os anos 1990 até hoje, tinha sido utilizada particularmente

para reprimir grupos que optaram pela luta armada, cujo caso paradigmático éo do Moimento Juenil Lautaro. Posteriormente, a lei oi empregada no iníciodo noo século na represso à luta do moimento mapuche, sendo aplicada adirigentes e nodirigentes. Na opinio de organismos de direitos humanos internacionais, a lei no pode ser adotada nesse caso por transgredir conêniosinternacionais de direitos humanos, pois precisamente iola as garantias processuais undamentais. É preciso anotar que essa lei oi aplicada principalmente adelitos contra a propriedade ou suspeitas de associaço ilícita, questões que no

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constituem um perigo direto para a ida, para a liberdade, nem para a integridade ísica, ou de iolência extrema, objeto dessa lei.

Isto tem leado a longas detenções préias aos julgamentos, à utilizaço de“testemunhas sem rosto”, o que iola o deido processo e as ortes condenações

com priaço da liberdade, o que se pode er no seguinte quadro.Qa: la aa ach ca a aa al 18.319 q a ca a xa a aa: n ca; caa; a; a , ja.

As mais emblemáticas, entre as arbitrariedades cometidas pela aplicaço dalei antiterrorista, so exemplicadas nos casos dos longko Aniceto Norín e PascualPichún, autoridades tradicionais das comunidades de Norín Lorenzo Norín eemulemu Antonio Ñirripil, respectiamente. Eles oram condenados a cincoanos e um dia de priso por suposta responsabilidade em um delito de “ameaçaterrorista” relacionada com o incêndio da Fazenda Nancahue e de sua casa de moradia, que pertencia a um exministro dos goernos da concertaço, na comuna deraiguén IX Regio em dezembro de 2001.

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É preciso mencionar que no nal desse ano iiase um orte protesto mapuche na vIII e na IX regiões, o que, como assinala o inorme do FIDH 2006,gerou atos contra a propriedade de empresários agrícolas e orestais, tendo suamáxima expresso nesse incêndio. A Fazenda Nancahue está localizada em “ter

ras antigas” que pertenceram tradicionalmente ao poo mapuche, mas oramarrebatadas juridicamente em ns do século XIX, cando nas mos de latiundiários chilenos. Esses longkos, juntamente com a atiista da causa mapuchePatricia roncoso, oram absolidos em 2004 dos delitos terroristas. No entanto,essa medida oi reertida pela Corte Suprema e eles oram noamente submetidos a processos, sendo posteriormente condenados.

Outro caso é o denominado Poluco Pidenco, que aetou construções depropriedade da empresa orestal Mininco S.A., como relata o inorme da FIDH:

[...] o processo judicial seguido contra osimputados no caso Poluco Pidenco reestiusede características similares ao caso dos longkona aplicaço da legislaço antiterrorista chilena:priso preentia prolongada; segredo durante aetapa de inestigaço; e uso extensio da guradas testemunhas protegidas ou “sem rosto”. Nocurso do processo, a deesa denunciou uma sériede irregularidades que, em sua opinio, limitaram

substantiamente a capacidade processual deseus deendidos. Particularmente denunciouseque as proas apresentadas durante o julgamentodierem substancialmente daquelas apresentadasdurante a inestigaço; a omisso da aloraçoda proa apresentada pela deesa durante o julgamento sem que osse desestimada; os pagamentosrealizados a algumas das testemunhas protegidasque participaram no julgamento; a alta de impar

cialidade do tribunal julgador, que copiou um dosconsiderandos da sentença de um caso julgadoanteriormente pelo mesmo tribunal; e a alta deum recurso adequado de reiso da sentença condenatória 132, entre outros FIDH, 2006, p. 41.

Estes casos learam a comunidade internacional a se pronunciar, deixando de maniesto os níeis de perseguiço que soreram as comunidades mapuche e seus dirigentes:

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  Esta perseguiço penal conduziu a processos e condenaçõesque, por seu eleado número, por suas releantes conseqüências sociaise por aetar quase exclusiamente a indiíduos mapuche, deixam dúidas razoáeis sobre a compatibilidade da política penal existente com os

objetios de proteço dos direitos humanos e de resoluço de conitossociais no marco de uma sociedade democrática FIDH, 2006, p. 42.

Juntamente com o que já oi descrito, é preciso agregar outro elemento: a iolência exercida pelas orças policiais que so denunciadas. Entretanto, depois deidenticadas as pessoas que atuaram nessas ocasiões, o julgamento é eito em tribunais militares e no cíeis como corresponderia, cando impunes os denunciados.

iii. - A repressão simBÓliCA. A Construção deumA “AlteridAde monstruosA” e de

umA “violÊnCiA sem sentido”

Embora a deiniço de represso se reira geralmente a situações em que

as orças policiais ou repressias – que podem ser militares ou ciis – exercem

uma aço persecutória a sujeitos que se “maniestam contra”, e que conduzem

a ações repressias de tipo ísico, como as detenções, também há outro tipo

de represso que pode ser ainda mais perigosa, que se instala na orma deimaginário ou representaço social, construindo as percepções e opiniões dos

cidados comuns e correntes. Isto é possíel em razo da orte penetraço que

têm os atuais meios de comunicaço, especialmente a teleiso.

No caso do Chile, quase 80% da populaço se inorma a partir dos no

ticiários da teleiso que é, portanto, um meio muito releante na construço

de imaginários. Da mesma orma que a imprensa escrita, é claro, ainda que

em menor medida para um setor signiicatio para o qual o custo de com

prar diários e reistas é muito alto. Ento a imprensa começa a elaborar um

tipo de discurso que constrói certos sujeitos e demandas, que se apresentamcomo perigosos para a ordem social ou para as políticas de consenso instala

das. Assim, passam a denominar certos sujeitos e suas ações como “perigosos”,

“anárquicos”, “contrários à ordem social”, “subersios”, entre outros termos.

ais rotulagens atuam como estigma sobre os sujeitos que, em muitos casos,

so construídos como indesejáeis socialmente. Por outro lado, as ações em

que há “iolência” so istas como ações sem sentido, construindose a idéia

de que toda iolência é uma “iolência sem sentido”.

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3.1. sb a êca a baõ : ca a caa j a a

A respeito deste ponto, é preciso dizer que, no caso da teleiso, estudos realizados

pelo Conselho Nacional de eleiso mostram que o tema da iolência, a partir do conceito de segurança cidad associado à delinqüência, ocupa o segundo lugar nas notíciasdos telejornais no Chile. Destacase, além disso, a “existência de uma tendência geral deincluir o tema de segurança cidad dentro das ‘primeiras notícias’, estruturando assim aagenda inormatia dos canais” CNv, 2006. Este é um indicador interessante na horade analisar o que se ê na teleiso, ainda mais considerando que as pessoas se inormam mais nesse meio que nos meios escritos, como já haíamos mencionado. Ento, éeidente que há uma orte presença da iolência na teleiso. Por outro lado, a imprensaescrita tem desenolido um estranho interesse pelos joens, particularmente a partir desua relaço com a iolência, o que no condiz com a quantidade de atos iolentos que os

 joens cometem, descontando, é claro, os atos catalogados como delituosos.Por outra parte, obserandose o trabalho realizado pelo Centro de Estudos

Socioculturais Cesc, no que concerne ao acompanhamento de notícias escritas, paramonitorar a orma como a imprensa aborda o tema dos joens, podese assinalar que,no ano de 2006, de um total de 3.37798 notícias analisadas, constatouse que apenas5% remetiam a situações de iolência, o que é uma porcentagem sucientemente baixapara atribuir aos joens ou catalogálos de iolentos, como tem eito a imprensa.

Assim, no tocante às mobilizações protagonizadas pelos estudantes secundaristas no ano de 2006,dando origem ao que se chamou de“reoluço pingüim”, a coberturamidiática das primeiras semanas estee marcada por uma apresentaçodo caráter iolento, eludindo o undodo assunto: as demandas por melhoreducaço. Essa imagem tee que sermodicada quando as maniestaçõesoram ganhando a simpatia da populaço. Inicialmente, oi enatizado onúmero de detidos nos incidentes“iolentos” que se produziram nas

98 O CESC vem relzno m compnhmento mprens ese 2005, qe é vlgo por meo o boletme nálse mensl Jóvenesro, qe poe ser cesso pel internet em www.cesc.cl. Ess nálse não é exs-tv, m vez qe só concerne às notícs pblcs n Regão Metropoltn, corresponente toos os árose revsts qe í crclm. Não obstnte, é bstnte representtv no nível nconl.

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primeiras marchas de secundaristas. O protesto estudantil oi construído pela imprensa como um conito de rua e “andálico“, como espaço de iolência e de desordem; no como expresso álida contra um sistema educacional que legitimaa segmentaço de classe e que distribui dierencialmente a qualidade da educaço

de acordo com a renda, no permitindo a mobilidade social, questo promoida e alidada pelo goerno e certos setores da sociedade.

A imprensa, tanto escrita como teleisia, tratou de subtrair alidade ao mo imento publicando rases como “a grande maioria dos escolares desconhecia aspropostas que seriam apresentadas ao ministério” ou concentrandose – como jádissemos – na iolência que se conerteu no o condutor das inormações publicadas sobre os joens. No entanto, com o passar dos dias e semanas, a iso da imprensa tee que começar a ariar, questo que chama a atenço para entender como,em um curto lapso de tempo, um protesto, catalogado como um ato andálico, pas

sou a ser considerado uma expresso álida, quase de eneraço, por esses joensque conseguiram instalar o debate sobre a educaço no Chile, apresentar demandasconcretas e mudar a agenda da presidenta Bachelet.

Estes exemplos indicam algumas coisas interessantes no momento de analisar a relaço entre mídia, joens e iolência. Como assinala Juris 2006, a iolênciaé um extraordinário ícone simbólico, utilizado tanto pelos joens como pelos meiosde comunicaço. Estes últimos, diz o autor, usam a iolência para captar audiênciaou, como aponta Júris lendo Glitin 1980 e Hall 1974, as imagens de conronto

 iolento empregadas pelos meios serem para descontextualizar as perormances

 iolentas e inserilas noamente em certas narratias hegemônicas, que a única coisaque azem é marginalizar, neste caso os joens, mas também outros atores, comocriminosos e desiados. Dessa orma, possibilitam a realizaço de um exercício reinterpretatio da iolência, no qual ela é lida como uma “iolência sem sentido”,pelo que, seguindo Juris, os meios atuam de certa orma como ltros ideológicos aseriço da hegemonia dominante. Por outro lado, a diminuiço das notícias sobrea iolência demanda atos mais iolentos e espetaculares, constituindose assim umcírculo icioso que no tem m, com os meios demandando cada ez mais iolênciapara poder ender e atingir altos índices de audiência.

Portanto, a isibilizaço da iolência e seus associados delito, delinqüência, crime, etc. por parte dos meios nada mais azem seno objetiar o medo nasociedade, o qual “se projeta em uma minoria, a dos portadores do medo e dasuspeita” BONILLA Y AMAYO, 2007. Assistimos ento à construço de umaalteridade que é ista primeiro como estranha e depois como monstruosa, desatando uma onda de “pânico moral”, particularmente porque o medo a esse outroos joens iolentos é o medo de no poder controlar uma alteridade. Ou seja,temese aquilo que no se pode controlar, o que de acordo com Baumann 2001 –

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que segue Léi Strauss – implica a adoço de três possíeis estratégias: a primeiraé a assimilaço, ou seja, o aniquilamento do outro como alteridade; a segunda éa expulso, omitar as alteridades rebeldes, e portanto isolálas e excluílas e, porúltimo, simplesmente a eliminaço. udo isso nos lea, como Bonilla y amayo

2007 nos indicam, a uma “criminalizaço midiática” de certo tipo de sujeitos.

 3.2. paa c a êca j:a chamada violência perormativa

Jeey S. Juris 2006 tem interessante artigo baseado em suas experiências

de trabalho de campo realizado em Gênoa, no marco das maniestações antiglo

balizaço. Acompanhando os militantes do Black Block Bloco Negro, que se ca

racterizaam pelas táticas de aço direta, que esse autor denomina iolência per

ormatia, aponta, relatiamente à iolência – citando Antón Block –, que esta nodeeria ser denida a priori como algo irracional ou sem sentido, mas que haeria

que “considerála como uma orma mutante de interaço e comunicaço, como um

padro cultural de aço signicatia historicamente desenolida” BLOCK, 2000,p.

24, in JURIS 2006, p. 188. Assim, Juris ê a iolência como uma orma de interaço

social mediante a qual se ai construindo realidade com os modelos culturais dis

poníeis; e segundo outro autor como Riches 1986, in JURIS, 2006, a iolência se

caracteriza por possuir componentes práticoinstrumentais que tentam modicar o

entorno social e componentes simbólicoexpressios que “enatizam a comunicaçoe a dramatizaço de importantes idéias e alores sociais”, mesmo sendo a dierença

entre esses dois componentes apenas de grau JURIS, 2006, p. 188.

Portanto, a iolência perormatia é ista por Juris como uma representaço

de rituais simbólicos que se maniestam de orma iolenta, como um mecanismo

de comunicaço e de expressiidade cultural, mediante o qual os participantes

nesses rituais tentam azer eetia a transormaço social mediante um conronto

de tipo simbólico. Conronto que se dá no que se denomina de perormances i

olentas, em que a iolência adquire dimensões de espetaculosidade icônica com

a utilizaço de uma linguagem noerbal. Assim, a iolência perormatia é umrecurso com que contam esses grupos de limitados recursos materiais, que se

reere a uma economia de recursos no níel simbólico a iolência, que é utilizada

dentro de uma luta simbólica. alez por isso a iolência contra certos “ícones

do sistema capitalistas” bancos, transnacionais, etc. seja a orma mais atraente e

econômica de conseguir uma itória no níel simbólico contra o poder hegemôni

co, e de se azer isíel na mídia. Encontramonos diante do que o autor chama de

“guerras midiáticas de interpretaço simbólica”, nas quais os joens,

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leam a cabo perormances iolentas espetaculares, em partepara ganhar acesso aos meios de comunicaço comerciais que buscam constantemente histórias e imagens sensacionais. As ormascotidianas e rotineiras de protesto no so notícia, enquanto que as

imagens icônicas de carros em chamas e batalhas de rua entre maniestantes mascarados e corpos policiais militarizados so retransmitidas na mesma hora atraés das redes globais de comunicaçoJURIS, 2006, p. 190.

Desse modo, a iolência pode ser ista como uma orma de isibilidade e de

presença, no marco de certo ritualismo expressio no qual a perormance adquire

releância. Segundo Rodrigo Díaz 2002 – que acompanha o antropólogo Max

Gluckman –, a ritualizaço pode ser entendida como comportamentos conencio

nais e estilizados que segregam e/ou se distinguem em um sistema hierárquico de

posições e relações, particularmente nas sociedades simples, e também nas com

plexas, que ajudam a compreender as ações sociais. No entanto, Díaz assinala que

Gluckman, inuenciado por Durkheim, colocou demasiada ênase na estrutura de

status, posições e papéis para um desempenho “correto” na sociedade os aspectos

normatios e a ritualizaço domesticada em prejuízo de outros usos, que têm as

características de ser situacionais e que no esto apegados às normas e regras

ritualizaço selagem, como seria, neste caso, o uso da iolência ou talez em um

exemplo menos complexo, a tatuagem – como indica Diaz –, que segrega mas aomesmo tempo identica e integra, pelo qual essa prática emite muitas mensagens

além do simples ato de tatuarse. Essa questo dee ser considerada quando nos

 emos diante de recurso da iolência por parte de certos joens. Assim, podese

armar que o ato de ritualizaço está “congurado por ações simbólicas que se

gregam e integram, que expressam algo e que as interpretações possíeis desse

algo geram tensões, esto em conito [...]” 2002, p. 26.Dessa maneira, como assinala Díaz, a ritualizaço pode ser situada no âm

bito da perormance como um de seus casos singulares. Isto porque os rituais

no so apenas redes de ações simbólicas que emitem mensagens, mas so também uma construço social da realidade que nos remete a hábitos e técnicas corporais. Ambos, perormance e ritualizaço, articulamse pela criaço da presençarecriaço e um ato de azer presentes situações já iidas que podem reorçar ealterar disposições. A perormance pode ser entendida ento como um “ato quedescree certas ações que esto transcorrendo, executada em lugares especícos,testemunhada por outros ou pelos mesmos celebrantes: é uma aço que ocalizaessa presença enquanto ato de criaço […]” DÍAZ, 2002, p. 27, mas é um ato

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que também traz campos discursios preexistentes como as conenções de gênero,tradições, tensões políticas e sociais, etc. Ento no é apenas um “repetir”, mas éum repetir em um “presente perormatio” que no está echado, mas aberto e,portanto, possibilita a interpelaço desses campos discursios existentes.

Portanto, os grupos o se azendo isíeis por meio da perormance, praticando e criando um ato de presença que pode ser entendido também como uma“cerimônia denitória”, assinala Díaz. Assim,

a qualidade distintia das cerimônias denitórias é que se de

senrolam ali onde um grupo, por exemplo, um bando, sore de crise

de inisibilidade, de inexistência, de marginalidade, de inerioridade

estrutural, de domínio e de desconhecimento por uma sociedade ou

por outro grupo mais poderoso. Por isso constituem estas cerimônias

“dramas simbólicos”: no so meras representações de condições e

ormas de ida, mas aludem a agentes criatios autoperormatios,

que elaboram, organizam e recriam práticas, discursos, crenças, a

lores e atitudes, memórias e projetos políticos e culturais para se a

zerem isíeis e existentes 2002, p. 36.

Ento, a partir desses atos perormatios ritualizados que recriam dramas

simbólicos, os joens so capazes de transtornar a ordem normatia no plano cul

turalsimbólico, mais que no políticosocial, constituindose estes atos perormatios em um tipo de poder: como atos de “reinocaço e resistência”, que apelam

à criaço e à imaginaço de um uturo desejado. Portanto, dramatizam as identi

dades dos grupos, pelo que no é possíel, ou no se pode concluir que, ao realizar

estas perormances, os grupos sejam eetiamente assim. No undo, instalam a

necessidade de reconhecimento e do direito à dierença.

ConClusão

Para nalizar, cabe assinalar que atualmente instalouse um discurso quedomina o que poderíamos chamar de cultura pública. Reerimonos à “políticado medo cotidiano” que lea à instauraço de uma política repressia e de controle social, seja na represso das maniestações ou na construço de mais presídios e no aumento das penas, ou, como estamos assistindo nestes momentos, àreduço da idade de discernimento para os delitos cometidos por certo tipo de

 joens. Dizemos certo tipo porque no so todos os joens, pois “casualmente”so joens de setores populares e pobres, por exemplo.

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Resumidamente, poderseia dizer que o tema da insegurança é um problema complexo, no qual a mídia desempenha um papel releante, pois insisteem tratar dierentes problemas, em particular aqueles associados à perda da segurança, os quais passam a azer parte da agenda pública. Dessa orma, podemos

dizer que os meios irromperam agressiamente na nossa cotidianidade comosujeitos, incidindo em nossa iso de mundo, conormando assim uma culturamidiática, pela qual se inuencia o pensamento da cidadania e sua concepçoda realidade. Dessa maneira, a consciência coletia ai se nutrindo de notíciasque mostram parcial e seletiamente os atos sociais, políticos e econômicos queocorrem na realidade nacional e internacional, constituindose os meios nosaparelhos de representaço que constroem o discurso social da insegurança.

Um exemplo disso so as construções que se azem dos joens, dos pobres, dos mapuche, ou das mobilizações originadas em reiindicações econômi

cas, políticas ou culturais, o que denota uma alta discriminaço e baixa tolerância dos meios para com certos segmentos de nossa sociedade. Portanto, o olhar apartir dos espaços de poder oi construindo certos imaginários que em nada ajudam a entender este tipo de situaço, mas pelo contrário, a partir da construçode certos estereótipos diulgados pela mídia, e, porque no dizer, por certosestamentos da sociedade, nada mais azem seno estigmatizar esses setores, que

 o se conertendo em pereitos estranhos para segmentos releantes de nossasociedade. Isso no proocaria problemas, já que todos podemos ser e somosestranhos em algum sentido, mais ainda em nossas grandes cidades. O problemaocorre quando esses estranhos so adjetiados como perigosos, iolentos, delinqüentes, terroristas, entre outras coisas. Dessa maneira, so enquadrados sobo eixo do desio ou da inadaptaço social e, portanto, situamse esses sujeitose certas práticas como questionáeis para a ordem social imperante por seremsubersias e onte de perigo e risco.

Isso tem proocado a instalaço de uma série de “barreiras de contenço”para alcançar níeis de segurança, entre elas: tentatias de criminalizar o grate,a detenço por suspeita, que embora esteja derrogada ainda se aplica especialmente aos joens de setores populares, agora sob denominaço de “controle de

identidade”. E também a instauraço da noa lei de responsabilidade, que reduza idade dos adolescentes como sujeitos que têm discernimento para 14 anos,questões que nos leam a perguntar se no estamos assistindo à construço deum Estado penal.

Por outra parte, há que assinalar que em nosso país no podemos dizer quehaja moimentos sociais no sentido clássico do conceito. O mais parecido à concepço clássica é o moimento ou organizaço que têm os mapuche embora eles talezreneguem o conceito. Ento, o que é que temos? O que existe so organizações dedi

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cadas a temáticas especícas que no chegam a se constituir em moimentos sociais.Esta tem sido uma característica dos atuais processos de mobilizaço no país. Portanto,para analisar os moimentos sociais, é preciso oltar ao conceito ou categoria que estásendo utilizada, já que existe a impresso de que, pelo menos para o caso do Chile, a

deniço mais tradicional no dá conta das noas ormas de maniestaço que ocorrem na sociedade ciil nestes momentos. O caso emblemático é a mobilizaço dosestudantes secundaristas em 2006 ou a atual mobilizaço de pessoas por causa da deciso do ribunal Constitucional que proibiu a distribuiço da pílula do dia seguinte.

Da mesma maneira, temos assistido nos últimos anos a uma série de mobilizações, algumas com certas características nacionais, mas que esto restritasa espaços mais localizados de luta, sem nenhuma coordenaço com outros espaços. alez o único caso reiindicatio destacado – que paradoxalmente oileado a cabo por joens – oi a mobilizaço dos estudantes secundaristas que

ressaltaram o tema da qualidade da educaço e também chamaram a atençosobre certos encraes deixados pela ditadura militar nessa área, tal como a LeiOrgânica Constitucional de Educaço Loce.

Por outra parte, ale mencionar que as últimas mobilizações de características sindicais estieram restritas a espaços reiindicatios próprios. É erdade queleantaram demandas de caráter nacional, como o caso da renda mínima, que oiadotada pela igreja e leada ao plano ético para demandar e discutir um “salárioético”. ambém as reiindicações por uma melhor educaço de qualidade, que somou outras organizações ao tema pais e procuradores, colégio de proessores, mas

que se diluíram quando oram “capturadas” pela institucionalidade – como aconteceu também com o “salário ético” – sem gerar noas mobilizações ou demandassobre estes aspectos há alguns islumbres. Ento, o que se assiste so lutas reiindicatias mais particulares, como o caso dos trabalhadores terceirizados do cobre,o das “salmoneiras” ou os inadimplentes, os quais, uma ez que suas demandas soaceitas ou entram em processo de negociaço, recuam, constituindose em uma modalidade de mobilizaço que submerge e emerge em determinados momentos.

Estas mobilizações so to particulares que no têm comunicaço com outros espaços de demandas sociais; no há nenhum grau de coordenaço ou apoio. Isso pode ser

 isto, por exemplo, na luta dos trabalhadores terceirizados do cobre, dos trabalhadoresnas empresas de produço de salmo, ou na própria luta dos mapuche no Sul, que nose conectam com outros processos reiindicatios. Agora, haeria que assinalar que nomomento atual no se conta com um grande espaço de agrupamento sindical, como oia Central Unitária dos rabalhadores CU em outras épocas, pois esta se diluiu empequenas orças sindicais com reiindicações particulares. Isso é bom ou ruim? Nemsim, nem no, mas põe de maniesto as noas ormas de organizaço e de construço departicipaço política e de agenciar moimentos.

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Isso debilita os processos de constituiço de organizações de moimentomais duradouras. Parece que isso é uma constante que começa a acontecer; portanto, um dado a ser considerado, pois já no se pode esperar que se estruturemortes moimentos à usança clássica, mas sim lutas mais de caráter micropolítico.

No entanto, essa situaço que poderia ser lida como uma perda de capacidade da sociedade ciil de maniestarse, a partir do que se conheceu comomoimentos sociais no Chile, pode e dee ser lida em outro registro, pois precisamente as expressões de moimentos sociais de caráter mais sustentado jáno se articulam necessariamente com conteúdos chamados de “classicamentepolíticos” como ocorreu no nosso país até o m dos anos 1980.

De ato, estamos diante de um cenário em que emergem temáticas antesinisibilizadas, como os direitos étnicos e das minorias sexuais, as tentatias aomesmo tempo integradoras e contraculturais dos joens, as lutas contra a dis

criminaço de gênero e a destruiço do meio ambiente, entre outras práticasdiscursias que representam exercícios micropolíticos de produço da realidadesocial com alto grau de mobilizaço, ainda que seja preciso mencionar que soesporádicas ou episódicas99.

No tocante ao tema da represso no Chile, embora já no tenhamos iolações agrantes aos direitos humanos, salo no caso do poo mapuche, quesistematicamente tem sido perseguido mediante leis repressias herdadas da ditadura, ainda há muito que aançar no resguardo dos temas das liberdades deexpresso, especialmente pelo alto número de detenções em maniestações de ruaque aetam principalmente os joens, mas que no imobilizam as ações coletias.

Por outro lado, a maior preocupaço teria que ser ocada no que se denominou de “represso simbólica”, que emana de discursos de goerno e dos meios de comunicaço, construindo imagens de certos tipos de atores sociais e ações reiindicatias como simples rupturas de grupos minoritários, desorganizados, inciilizados einclinados à iolência. A uma iolência sem sentido, negando espaço ao protesto derua, erramenta de luta ou de isibilizaço dos setores mais postergados.

A respeito deste ponto, Zarzuri y Contreras 2005 dizem que a tradiço de pro

testo de rua se remonta bem atrás na história social do Chile com as passeatas e explosõessociais que expressam sua orça eruptioulcânica de maneira periódica ao longo doséculo XX. ratase de uma tradiço de um setor da sociedade. Recorrer à iolênciapara se maniestar reela uma relaço conituosa entre o Estado, as elites dominantese os setores populares. Sua expresso mais radical de resistência cultural oi o leante

99 Em 23 e brl, como proto ecsão o trbnl consttconl qe eclro como legl s-trbção por orgnsmos públcos píll o segnte, prozrm-se mrchs qe consegrm, nocso e Sntgo, congregr 15.000 pessos, cos qe não é possível fzer com convoctórs no regstro polítc ms trconl.

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social composto pelos três enômenos clássicos de iolência: o motim urbano, o leantemineiro e o bandoleirismo rural. Portanto, se zéssemos um percurso cronológico nahistória social do Chile, identicaríamos uma seqüência de protestos sociais com diersas intensidades no uso da iolência por parte dos maniestantes e também por parte da

polícia, na maioria dos goernos republicanos do século XX100. Nas palaras de Salazar 1990, “[...] as passeatas da classe popular chilena tieram, desde o século XvIII, amesma reqüência tectônica que as insurreições e malocas inasões mapuche diante dadominaço hispânica” ZARZURI & CONRERAS, 2005, p. 34.

Por último, o atual cenário de “eerescência social” – recorrendo ao elho cientista político argentino, José Nun – pode ser isto como a “rebelio docoro”, ainda incipiente, mas que começa a demonstrar que o priilégio de tercontato com os deuses, tal como sucedia na tragédia grega aos que estaam naparte central do palco, hoje em dia começam a ser questionados. Aparece o coro,

que na tragédia grega estaa relegado a ser um ator secundário, a ser inisíel, jáque seus integrantes eram meros acompanhantes dos heróis. Desta orma, o corocomeça a querer desempenhar papéis centrais. Por isso, parece que atualmenteassistimos à rebelio do coro.

 BiBlioGrAFiA

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Tradução: Beatriz Cannabrava

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mÉXiCo

A CriminAlizAçãodo protesto soCiAl no mÉXiCo

Pablo Romo Cedano 101 

introdução

O presente documento é resultado do trabalho de uma joem equipe de colaboradores e colaboradoras da área de pesquisa de Seriços e Assessoria para a Paz Serapaz agrupados no Obseratório da Conituosidade Social no México102 OCSM.

Graças ao seu trabalho e às obserações que recebemos de diersos atores sociais emconito e de instâncias da sociedade ciil e a partir da publicaço do Reporte sobre laCriminalización de la Protesta em abril passado, oi possíel chegar a este documentopara o seminário “Criminalizaço da pobreza, represso aos moimentos e lutas soci

101 PaBLO ROMO CEdaNO, Observtóro o Conto Socl no Méxco. Servços e assessor pr Pz, a. C.Mo 2008.102 Cf. <www.serpz.org.mx>; P. Romo, El Observtoro e l Conctv Socl en Méxco como nstrmento

 pr l trnsformcón postv e conctos, n:, M. atlno urrte, Los retos el Méxco ctl. Centro e Promo-cón y Eccón Profesonl “Vsco e Qrog”, a. C. Méxco, jl. 2007.

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ais na América Latina”, realizado de 18 a 20 de junho de 2008 em So Paulo: Criminalizaço do Protesto Social no México.

A criminalizaço do protesto social é um enômeno que se estende no país eque está sendo documentado e denunciado por muitas organizações sociais e ciis,

chamando a atenço do resto da sociedade. Nos últimos meses incrementaramseas ações para pôr em eidência essa política de atuaço por parte das autoridadesdos poderes da República em seus dierentes níeis de goerno. A Rede Nacionalde Organismos Ciis de Direitos Humanos “odos os direitos para todas e todos”iniciou uma campanha nacional intitulada “Protestar é um direito, reprimir é umdelito”, que tem como objetio ressaltar o incremento de iolações aos direitos humanos contra líderes sociais, homens e mulheres que exercem os seus direitos dereiindicar e protestar103. Por outra parte, dezenas de organizações sociais se reuniram ormando uma rente social ampla, a Frente Nacional contra a Represso

FNCR, para denunciar a prática constante das autoridades de deter, encarcerare torturar dirigentes sociais. A FNCR trabalha com muito anco pela liberdadede todos os presos políticos do país que somam árias centenas104. Nesse mesmosentido a Liga Mexicana de Direitos Humanos LIMEDH elaborou um documento de denúncia muito importante que registra a represso como política deEstado que, particularmente nos últimos anos, em se incrementando105.

O conjunto das denúncias põe em releo no a noidade da criminalizaçodo protesto social, que já nos tempos do priismo* era iida cotidianamente, masparticularmente as condições de deterioraço dos direitos humanos que tieramos sexênios denominados de “transiço”, a partir do ano 2000. A criminalizaçodo protesto nos últimos anos se desenole em um contexto de militarizaço dopaís em nome do combate ao narcotráco, erso mexicana da luta contra o terrorismo em muitos países do mundo106 .

A criminalizaço do protesto está contida também no desenolimentodas reormas estruturais que se iniciaram no nal dos anos 1980, a partir dosgoernos neoliberais, e que esto sendo implementadas nesta segunda ase. Essas reormas estruturais de segunda geraço107  esto modicando as leis tra

balhistas; as de aposentadoria e pensões; as que normatizam o rádio e a teleiso,103 Os ferentes grpos membros estão regno nformes respeto. Cf. Centro e derechos Hmnos e l Mon-tñ, Tlchnolln. Gerrero: one se cstg l pobrez y se crmnlz l protest, Tlp, jn. 2008.104 Exstem várs lsts os presos qe estão em cárceres mexcnos. Cf. <http://espor.org/comtecerezo/spp.

 php?rtcle24>, e <http://comteverjstcylbert.blogspot.com/2006/09/lst-e-presos-poltcos-y.html>.105 dsponível em: <http://espor.org/lmeh/>.

* Époc em qe o pís er governo pelo Prto Revolconáro insttconl – PRi (N. T.).106 Cf. SERaPaZ, informe nl 2006. Observtoro e l Conctv Socl en Méxco, Méxco, 2007.107 a prmer gerção s reforms contece nos nos 1980 e 1990; consstrm n prvtzção mor sempress prestts, no controle o gsto públco, n reção o orçmento socl, n plcção e mentostrbtáros e otrs ções ms.

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particularmente com o desenolimento da digitalizaço; as leis que regulama produço petroleira e as possibilidades de priatizaço de certos espaços daextraço do petróleo; as leis que normatizam a produço de energia elétrica.ambém as leis que se adéquam aos tratados internacionais de segurança108 e

luta antiterrorista, por meio das reormas judiciais.Em nome do “combate ao narcotráco” e da “luta antiterrorista”, o país se

conerte em um campo de batalha onde os erdadeiros criminosos permanecemimpunes e os líderes sociais so perseguidos, criminalizados, encarcerados respondendo a processos judiciais reqüentemente absurdos109.

Para elaborar esta apresentaço oi examinada a documentaço que o Obseratório da Conituosidade Social no México elabora diaadia há dois anose meio, com uma recopilaço de cerca de dois mil conitos sociais no país. Damesma orma, obteese inormaço de árias instâncias da sociedade ciil e de

organizações sociais.Agradecemos à Fundaço Rosa de Luxemburgo Stifung por sua con

tribuiço a esta pesquisa. 

p aa

A criminalizaço do protesto social está contida undamentalmente em umâmbito econômico cada ez mais complexo e diícil para aqueles de menos posses. Ogoerno ederal dá continuidade a política econômica neoliberal impulsionando re

ormas estruturais muito importantes, tais como a priatizaço parcial da indústriaenergética; a abertura comercial do setor agropecuário de gros básicos; a entradade sementes e produtos transgênicos; a priatizaço da preidência social; a exibilizaço das leis trabalhistas precarizaço; a mercantilizaço de recursos naturais e ainstalaço de megaprojetos em comunidades indígenas e rurais pobres do país. Poroutra parte, implementou uma reorma scal que implicou uma série de aumentos nos preços de bens e seriços, bem como em árias tarias públicas e orçou asclasses médias a pagar um noo imposto que as grandes companhias sonegam.

Como conseqüência das políticas econômicas, mantémse a tendência deaproundamento dos graes problemas de iniqüidade e pobreza que o país está

 iendo, castigando mais os pobres, as mulheres e os poos indígenas. De acordo

108 Os coros contos n aspn (alnç pr Segrnç e Prospere n amérc o Norte), e noPlno Mér.109 Tl como os csos e ignco el Vlle sentenco 67 nos e prsão por crmes qe notormente nãocomete, no contexto os ftos repressvos e Sn Slvor atenco, Esto o Méxco. Otro cso é o eFlvo Sos e Horco Sos, etos por crmes, os qs m no e meo epos m jz feerl qlcocomo nexstentes. No tempo em qe permnecerm n prsão, form sbmetos tortrs, trnsferos em presío otro, pssno pelo e segrnç máxm o pís.

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com as Nações Unidas, o México registra uma das maiores desigualdades no mundo, ao situarse em 103.º lugar entre 126 nações estudadas, onde 10% da populaçoconcentra 40% da renda. Contando, além disso, com o nada honroso ato de queum mexicano seja o homem mais rico do mundo110. Sessenta por cento dos mexi

canos iem em situaço de pobreza sem poder satisazer as mínimas necessidadesbásicas; e nesse grupo as mulheres representam mais de 60%. Muitos mexicanossaíram do país para sobreier. De ato, 24 milhões de pessoas que iem nos Estados Unidos so de origem mexicana. As remessas do estrangeiro eniadas pelosmexicanos so a segunda onte de recursos do país mais de 23 bilhões de dólaresanuais, apenas ineriores aos recursos do petróleo e maiores que os do turismo.Nos últimos meses as ciras decresceram em razo da crise econômica nos EstadosUnidos. Os pobres nanciam os mais pobres e do suporte à economia: 80% dasremessas se destinam à manutenço das amílias, 6%, à educaço e 3%, à moradia.

No entanto, a migraço tem sido a principal causa de ruptura do tecido social comunitário em pooados e comunidades indígenas. Muito recentemente, algumasse conerteram em ornecedoras de modeobra, como é o caso das comunidadestzotziles e tzeltales de Chiapas.

Houe uma queda nas expectatias de crescimento econômico. Os pilaresda estabilidade macroeconômica mexicana nos últimos anos têm sido basicamente o crescimento dos EUA, o alto preço do petróleo e as remessas de trabalhadores nos EUA.

Os Estados Unidos esto iendo uma orte desaceleraço econômica queaeta as economias mundiais. Essa crise é conseqüência, segundo especialistas, deuma crise na indústria da construço causada pela especulaço nanceira no ramohipotecário. A esta crise se agregam a crise energética e a especulaço no mercado deuturos dos energéticos. México é um dos primeiros países a se ressentir dessas crisesdesencadeadas pela dependência econômica dos Estados Unidos. Durante o primeirotrimestre de 2007, perderamse no México 180 mil empregos, enquanto a inaço,nos cinco primeiros meses de 2007, atingiu os 4,1%, diante dos 2,2% registrados nomesmo período de 2006. Da mesma orma, a Comisso Econômica para a América

Latina Cepal registra este ano para o México uma queda de 16 posições em competitiidade internacional111. Passados 15 anos da rma do ratado de Lire Comércio LCAN, os beneícios no chegaram à maioria da populaço. Sobre os danosproocados por esse acordo, podemos dizer que cresceu a dependência comercial,

110 Refere-se Crlos Slm, ono e empress e telefon e versos meos e comncção em város píses amérc Ltn (N. T.).111 CEPaL. L inversón Extrnjer en amérc Ltn y el Crbe. 2007.

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nanceira, tecnológica, alimentar, energética, política e militar do México para comos Estados Unidos. Da mesma orma, aproundouse nosso subdesenolimento deacordo com índices nutricionais, educatios e de desigualdade socioeconômica e regional. Dado que o crescimento estadunidense será muito baixo em 2008, entre 1.5%

e 2%, esperase que o crescimento do México no passe de 2,7%, cira insuciente paracriar emprego, segundo os especialistas.

O México registra uma deterioraço muito grae dos recursos naturais edos sistemas ambientais. Multiplicamse os problemas de acesso, abastecimento, potabilidade e distribuiço de água. Os desastres “naturais”, cada ez maisreqüentes, produzem situações de retrocesso econômico muito seero em astas regiões do país, como no ano passado em abasco, onde as perdas materiaischegaram a ários bilhões de pesos112.

Nesse contexto, os conitos sociais se multiplicaram e, segundo o inorme

do Obseratório, existe uma tendência ao seu crescimento tanto em númerocomo em intensidade113.

Ao analisar os conitos sociais que esto acontecendo no México nos últimosanos, encontramos três momentos no processo do conito que, embora no sejamcompartimentos estanques, podem nos ajudar a classicálos metodologicamente.

1. A primeira ase pode ser caracterizada por uma tendência à negaço dainterlocuço e à inisibilizaço dos conitos sociais por parte das autoridades edos meios de comunicaço respectiamente, bem como pelo noreconhecimentoda legitimidade dos atores sociais em conito. Nesta ase têm início as mobilizações sociais pela outra parte em conito, agrupamse os elementos que compõemo ator social, anase a demanda e começam a ser estabelecidas as bases estratégicas para alcançar o objetio.

2. A segunda ase se caracteriza pelo escalonamento social da conituosidade no qual se geram ormas de enrentamento mais radicais. Isso se dá comoconseqüência da negaço da interlocuço e da inisibilizaço do conito.

3. O terceiro momento se dá a partir do echamento dos canais de diálogoe o escalonamento no enrentamento. Aí gerase uma tendência de resposta porparte do Estado com represso e judicializaço, que tem por objetio o desgastedos moimentos.

112 Nos últmos meses, elbormos m ocmento e gnóstco ms mplo com o grpo Pz com democrc,nttlo “chmo à nção”, em qe nlsmos e mner ms profn o contexto nconl. Cf. <http://www.serpz.org.mx/pgns/Llmmento%20%20l%20ncon%20mexcn.pf>.113 Observtoro e l Conctv Socl en Méxco. Op. ct., 2007.

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Esta aço espiral negaço – inisibilizaço – noreconhecimento – escalada do enrentamento – represso está reorçada por uma estrutura de leis queaorecem a aço da represso praticada pelas autoridades, que se transormaem uma política sistemática exercida pelo Estado e por uma estrutura de cons

truço de opinio pública que justica a política repressia.É preciso dizer que ao longo do documento entendemos como conito

social, no marco teórico que adotamos no Obseratório da Conituosidade Social no México é :

“um processo de interaço contenciosa entre atores sociais que partilhamorientações cognitias, mobilizados com diersos graus de organizaço e queatuam coletiamente de acordo com expectatias de melhoria, de deesa da situaço preexistente ou propondo um contraprojeto social”.

o sj A Caa

O protesto social está protagonizado, na maior parte dos casos, por setores pobres ou empobrecidos que enrentam o Estado como contraparte. Na maioria dos casos que o Obseratório pode obter como amostra, os atores sociais em conito so oscamponeses e camponesas, os trabalhadores e trabalhadoras no comércio inormal, osoperários e operárias e os setores dos bairros pobres urbanos114. De tal maneira que acriminalizaço do protesto tem um rosto claro denido basicamente na classe pobre115.Dentro deles, os poos indígenas têm um protagonismo releante com cerca de 12%

dos casos de conito no país, como mostra o seguinte gráco gráco 1:

114 O Centro e Reexón y accón Lborl, a. C., ocment em ses nformes como está se no femn-zção explorção no âmbto o trblho, prtclrmente mql (lnh e montgem) e como ger grvesvolções os retos trblhsts Cf. <http://www.sjsocl.org/fomento/ocmentos/cerel_m.html>.115 O pesqsor Roberto Hernánez o CidE rm qe “70% os presos ns pentencárs o pís cometermfrtos menores sem volênc [...] investmos vlosos recrsos públcos pr cstgr pobrez, e ssm grvr  stção e ss fmíls, enqnto qe mor os elnqüentes pergosos está em lbere”. Cf. R. Hernán-ez. Memorno. El objetvo e l reform e los jcos orles. CidE, 30 br. 2006.

gráco 1

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O gráco 2 mostra os atores que se enrentam com o goerno segundo osdados do Obseratório da Conituosidade Social. vale dizer que 67% dos casos deconito registrados em 2007 so contra o Estado.

É importante mencionar que 70% dos casos apontados tendo por contrapartida o Estado no têm com ele uma interlocuço real. Ou seja, o conito no éprocessado com a sua contraparte.

Neste processo de conituosidade que chega à represso, as mulheres e os indiíduos dos poos indígenas so ocalizados de maneira prioritária, por seu signicado simbólico e de reproduço da luta ou da exemplaridade da aço. O caso de SanSalador Atenco, localidade mexicana onde as mulheres detidas em 2002 e algunshomens soreram abusos sexuais por parte de elementos da polícia no transporte atéo local de detenço, mostra como o corpo humano, particularmente o das mulheres,é “objeto de disputa” e “espaço de represso”. O inorme da Relatora Especial YakinErtürk, do sistema das Nações Unidas, sustenta que os altos níeis de iolência contra

gráco 2

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a mulher no México so, ao mesmo tempo, conseqüência e sintoma da generalizaçoda discriminaço e da desigualdade por motios de gênero. A isso se unem outrostipos de discriminaço, por origem nacional, etnia ou condiço socioeconômica que

 o associados a uma alta de acesso eqüitatio à proteço do Estado. Por isso alguns

grupos de mulheres – sobretudo as migrantes, as pobres e as indígenas – so particularmente ulneráeis à iolência116 . O caso da jornalista Lydia Cacho exemplicaclaramente como a represso tem um componente patriarcal quando se trata de mulheres adersárias ou em conito, castigando no apenas a dissidência, mas tambémo ato de ser mulher117 . Ernestina Ascencio, Adelaida Amayo e Susana Xocohua, emZongolica, veracruz, so outros exemplos, neste caso sendo itimadas por militares.

Os casos em que militares so estupradores, assassinos, proocadores têm semultiplicado nos últimos meses, como detalharemos mais adiante. Alguns exemplosconhecidos so as iolações ocorridas durante tumultos na localidade de Castaños, em

Coahuila; o estupro de valentina Rosendo Cantú e Inés Fernández Ortega de Acatepecem Ayutla de los Libres, em Guerrero, e os ataques à populaço ciil indeesa de Nocupétaro, em Michoacán. A própria Comisso Nacional de Direitos Humanos CNDHemitiu nas últimas semanas árias recomendações à Secretaria da Deesa NacionalSedena para os casos de abusos e iolações aos direitos humanos118.

Consideramos que é importante deixar registrado que reqüentemente osujeito criminalizado é o que mostra mais ulnerabilidade e que é acilmente in

 isibilizado119. Abordemos esta espiral do enrentamento e ejamos alguns casosexemplares de conitos que, de alguma maneira, iro sustentando a reexo.

1. n j c

Quando, pela primeira ez na história da longa presidência do PRI120, umgrupo de deputados atreeuse a interromper com gritos e cartazes o InormePresidencial para o Congresso, o Presidente Carlos Salinas de Gortari armou ementreista que “no os ejo nem os escuto”. O discurso presidencial seguiu sem interrupções e oi transmitido pelos meios como se nada tiesse acontecido. Muito

116 Cf. Ykn Ertürk. integrcón e los erechos hmnos e l mjer y l perspectv e género: l volenccontr l mjer. Msón Méxco. informe E/CN.4/2006/61/a.4 el 13 e enero e 2006. Vle pen con-serr qe os Estos ms mrgnlzos o pís (Gerrero, Chps, Oxc, Vercrz e Hlgo) são os qecontm com mores recrsos ntrs e têm ltos ínces e mgrção e contose socl.117 O pesqsor Roberto Hernánez o CidE rm qe “70% os presos ns pentencárs o pís cometermfrtos menores sem volênc [...] investmos vlosos recrsos públcos pr cstgr pobrez, e ssm grvr  stção e ss fmíls, enqnto qe mor os elnqüentes pergosos está em lbere”. Cf. R. Hernán-ez. Memorno. El objetvo e l reform e los jcos orles. CidE, 30 br. 2006.118 Ver nte.119 Cf. <www.cnh.org.mx>.120 Nos nformes o Observtóro profnmos mto ms esse specto. Cf. informe 2006 e informe 2007.

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pouca gente no país tee conhecimento de que existiu esse grupo de deputadosque interrompeu o Inorme do Goerno na Câmara. Foram ignorados e inisibilizados pelos meios e pela autoridade.

Da mesma maneira, durante anos, a guerra suja no país oi ignorada e “no

existiu”121. A mesma coisa aconteceu com o massacre de estudantes em latelolco,Cidade do México, de indígenas em wolonchán, Chiapas ou de atiistas em Madero, Chihuahua, e tantos outros: oram negados, inisibilizados e desconhecidos.

Falar de inisibilizaço é alar da aço decidida, consciente e autoritária que oEstado, ou uma de suas partes, gera diante de certos atores sociais que lhe so incômodos ou rancamente antagônicos. O Estado ignoranega deliberadamente o atorou suas demandas, deslegitimando sua interlocuço ou aquilo que pedeexige.

A negaço pela ia da inisibilizaço na mídia ou pela nointerlocuço da autoridade é um modo de azer política, em que tanto os concessionários dos meios de

comunicaço como as autoridades atuam de comum acordo com o m de eliminar osadersários. Essa negaço é o primeiro degrau do processo de criminalizaço.

Em muitas ocasiões esta prática política unciona. É uma política dissuasória, que inibe as ações e busca incidir undamentalmente no ânimo das pessoas: “ocê no existe e sua oz no ale”. Ou ainda, “a luta está terminada mesmoantes que ocê a inicie”, “suas demandas so absurdas” e “de pouco interesse parao conjunto social”. E o que é pior: ortalecendo a discriminaço, o racismo, omachismo e enaltecendo o status social: “no ouem porque ocê é pobre”, “ocêno tem alor porque é mulher”, “ocê é índio, por isso sua palara no conta”;ninguém os ê ou escuta.

O Obseratório da Conituosidade Social no México documentou que 70%dos casos de conito no país têm como contraparte seridores públicos do Estado.A negaço como prática é um dos instrumentos mais reqüentemente usados porautoridades de qualquer tipo para “resoler” conitos. O caso dos assassinatosde mulheres é eloqüente, pois as autoridades, ante sua incompetência ou cumplicidade para resoler esses crimes, inisibilizamnos, negamnos e proclamamque “so solucionados”. No primeiro semestre de 2008 já oi registrado o mesmo

número de mulheres mortas que em todo o 2007122

.Segundo o constatado pelo Obseratório, a negaço política termina pordesintegrar uma grande parte dos protestos sociais, maniestados com ormas

121 a “tr perfet”, períoo e 72 nos em qe o Prto Revolconáro insttconl governo, e mnernnterrpt, té o no 2000.122 Há qe gregr, neste sento, qe no Méxco 50% s mlheres, sto é, m e c s, form o são vít-ms e gressões físcs, pscológcs, sexs o e otro tpo, e 30% esses csos contecem ese o novo.Cf. informe inmjeres. dnámc e ls relcones en el novzgo en mjeres estntes e bchllerto, Méxco,2008. dsponível em: <http://www.nmjeres.gob.mx/gpe/vsnvolenc/reto/nex.htm>.

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pacícas de conronto com baixo perl denúncia pública, marcha, comício. Osprotagonistas destas expressões, reqüentemente dissolidas, no esto consolidados como atores sociais ortes e seguros. Internamente, os atores sociais se êmrustrados diante da incapacidade de encontrar canais de interlocuço, em que

sua palara tenha alguma incidência em relaço a suas necessidades ou interessesaetados, e acaba por se desmobilizar, gerando rustraço ou apatia. Em outroscasos, os atores ou moimentos, continuam buscando outras ormas mais eetiasde enrentamento que, estas sim, permitam que reiindiquem suas demandas. Aesses casos nos reerimos na próxima parte do documento.

A negaço política, assim entendida, inclui no só a negaço da interlocuçocom a autoridade, o noreconhecimento do ator em conito, mas também a in

 isibilizaço que os meios de comunicaço realizam ao no mostrarem certo tipode notícias relacionadas com a mobilizaço social ou com o conito.

Muitos já documentaram essa prática de inisibilizaço adotada pelosmeios de comunicaço123. É ácil saber quando o telejornal e seu controladore sua posiço em relaço à autoridade esto a aor da maniestaço: aumentam o número dos participantes, exaltam os líderes e sua probidade, enumeramponto por ponto as reiindicações pretendidas pelos peticionários, assinalam o extraordinário comportamento dos maniestantes pela limpeza e, é claro, a ciilidadeno exercício do direito de reiindicar. Quando o telejornal – o dono da concessoe sua correlaço com a autoridade – é contra uma determinada maniestaço:ala dela ressaltando o caos no trânsito que proocou, e no a agenda que estásendo exigida; ala da corrupço dos líderes, dos desmandos que se produziram, dasujeira deixada pelos “reoltosos” e pelos “baderneiros”, e de como é triste a “utilizaço” de pessoas “ingênuas” ou “ignorantes”. Os meios de comunicaço constroempara sua audiência um imaginário que acilita ou impede a corrente de solidariedadepara com os atores sociais. O exemplo clássico é o desastre natural, quando o meiode comunicaço constrói rapidamente um imaginário para a audiência, mostrandouma ítima, em geral uma criança ou uma mulher sozinha ou abandonada. Esseimaginário é aproeitado pelo controlador do meio que o apresenta com expressões

de solidariedade da audiência. Faz a mesma coisa com atores sociais em conito,apoiando ou injuriando, mostrando solidariedade ou repúdio.Os casos de San Salador Atenco e Oaxaca so muito claros nesse sentido.

No primeiro, as vs próociais repetiram insistentemente, até cansar, a imagemde alguns joens moradores batendo em um policial, com isso generalizando a

123 O especlst em meos e comncção, Jenro Vllml, tem relzo mtos trblhos esse respeto, omesmo moo qe o ex-legslor Jver Corrl.

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conduta de toda a populaço. A reaço oi um contundente repúdio contra osmoradores de San Salador Atenco, um “linchamento midiático contra o moimento de protesto”. No caso da rebelio de Oaxaca em 2006, grupos de mulherestomaram árias emissoras de rádio e a partir daí mudaram a opinio dos ouintes:

inormaram e animaram o moimento rebelde. As conseqüências oram claras,milhares de pessoas saíram às ruas para apoiar e expressar sua solidariedade comaqueles que tinham eito barricadas e mobilizações nas ruas124.

Por isso, armamos que os meios de comunicaço de massa desempenhamum importante papel catalisador, precipitando ou inibindo processos, legitimandoos ou no, e como criador de solidariedade na dinâmica dos conitos sociais.As autoridades sabem disso e os utilizam.

Certamente existem outros atores de conjuntura que permitem que osconitos sejam isíeis, e por isso é que os atores sociais têm que estar atentos para

encontrar a pertinência da isibilidade, saber situarse. Por exemplo, em 2006, nocontexto do Fórum Mundial da Água realizado na Cidade do México125, centenasde pequenos conitos relatios a problemas em torno da questo de água oram

 isibilizados pela mídia e puderam ter outro níel de interlocuço com as autoridades que em outros momentos no haiam tido.

Por outro lado, so interessantes as ciras reeladas pelo Obseratório no quese reere aos protagonistas em conitos e sua maneira de transormálos. Mostramque em 2007 menos de 20% dos casos de conitos sociais tendo como contraparteo Estado entrou em algum processo de negociaço ou transormaço positia. Istoé, apenas um de cada cinco conitos que têm como contraparte alguma instânciade goerno, ou algum uncionário público, encontra um caminho institucional.Na maioria dos casos que puderam ser documentados pelo Obseratório, o Estadointerém de maneira impositia, ou seja, com mecanismos legais, mas sem diálogo com a contraparte. O uso da política como instrumento de goerno é aastado edá lugar à judicializaço dos processos conituosos ou o dierimento de respostas.A represso mediante as orças da ordem pública tem sido usada de maneira consideráel, representando a terceira orma mais recorrente de interenço diante de

conitos de caráter social, como eremos mais adiante.Dierentemente dos sindicatos que contam com uma orte estrutura institucional para a negociaço com o Estado e para ter isibilidade na mídia, os mo

 imentos sociais noorgânicos e os atores emergentes – como os coletios, os

124 informes completos sobre os os csos são: os elboros pel Comssão Cvl internconl e Observção pelosdretos Hmnos (http://ccoh.pnge.org/nex_4tenco.html ) e o informe elboro por Roberto Grretón, spco

 pel Obr dkónc lemã, pblco por SERaPaZ, 2008. Cf. <www.serpz.org.mx>. Revsr tmbém os nformes anst internconl.125 O portl ocl n internet é: <http://www.worlwterform4.org.mx/home/home.sp>.

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grupos no tradicionais ou pouco articulados – so mais acilmente inisibilizadospelos meios de comunicaço e negados pelas autoridades. Os atores sociais quecontam com uma estrutura orgânica mais sólida, tais como as organizações trabalhistas ou sindicatos, so, com reqüência, mais acilmente reconhecidos como

interlocutores álidos pelo Estado e pela sociedade em geral126 .Particularmente, os sindicatos tradicionais, proenientes do corporatiis

mo da segunda metade do século XX, e alguns sindicatos independentes contamcom mecanismos institucionais para exercer presso ante a contraparte empresarial, como a gree, e ademais possuem signicatia capacidade de mobilizaçoe organizaço para pressionar as autoridades127 . Da mesma orma, estas estruturas operárias contam com recursos próprios que podem sustentar lutas com maisôlego, do que aquelas que no têm recursos de emergência para contingências deluta. É por isso que essas instâncias sociais têm maior interlocuço com as autori

dades e é menos ácil sua inisibilizaço. No entanto, muitas grees de mineiros,de proessores e de construtores em 2006 e 2007 oram negadas pelas autoridades einisíeis para a mídia. Outro ator importante dessas estruturas corporatias soa corrupço e o paternalismo reqüentes em seu uncionamento.

Um conito muito signicatio nesse sentido é o protagonizado pelas iú as de Pasta de Conchos, em Coahuila, onde um grupo de mulheres alentes demanda à companhia e ao seu dono o resgate de seus esposos presos na mina ondetrabalhaam. Esta luta é muito signicatia por muitos motios. Um deles é queas estruturas sindicais patriarcais zeram muito pouca coisa para deender comatos concretos o direito das mulheres de resgatar seus maridos da mina. Em segundo lugar, o ato de as mulheres exigirem o resgate ao dono da companhia, umdos maiores milionários do mundo, o Sr. Germán Larrea. Este conito é inisíelpara os meios, talez porque so mulheres as protagonistas da demanda. É preciso ter presente que 31,3% dos trabalhadores esto sindicalizados, dos quais 8,2%so mulheres e 23,1%, homens, enquanto dos 68,7% restantes, a maior parte nosindicalizada, so compostos por mulheres.

Outra orma de negaço do ator social é a alta de canais orgânicos ou ins

titucionais entre autoridades e a sociedade, bem como a alta de conança nas existentes. As estruturas autoritárias do passado no oram reormadas e permanecem uncionando na atual administraço ederal e nas estatais. As instâncias deadministraço e procuraço de justiça no país têm, em geral, pouco ou nenhum

126 a exceção é o sncto mnero, one exste m lt frontl esenvolv prtr própr empres e Secretr o Trblho contr os líeres o sncto.127 Vle pen profnr-se no tem com os nformes o Centro e Reexão Lborl (Cerel). /Cf. <http://www.rett.org.mx/wwwf/nformes/2008/informe%20cerel%2008.pf>.

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crédito128. No entanto, cabe assinalar que a criaço do Instituto Federal de Acessoà Inormaço Pública IFAI e seus similares nos Estados pode ser considerado umaanço no que se reere à possibilidade de acesso à inormaço129.

Os espaços de participaço cidad so pobres, escassos e, em muitos casos,

cooptados pelas autoridades. Existe uma cultura de corrupço e de cumplicidadeque impede ou reia a crítica construtia e a criaço de espaços para a reexo eelaboraço de Políticas Públicas130. É muito ilustratio o ato de, no ero de 2006,o Centro de Direitos Humanos Frei Francisco de vitória CDHFv ter organizadocom centenas de organizações ciis uma série de reuniões para as quais oramconidados os ento candidatos à Presidência da República, com o propósito dediscutir a participaço da sociedade ciil na criaço de Políticas Públicas do Estado mexicano. O objetio era os candidatos reconhecerem publicamente que asociedade ciil também tem o direito de gerar políticas públicas. O atual chee do

Executio ederal cancelou sua participaço, negando com atos o direito de asinstâncias da sociedade ciil gerarem políticas públicas. vale agregar, para ilustrarmelhor, que poucos meses depois de assumir a Presidência da República cancelouo espaço de participaço de organizações de direitos humanos que elaboraam oPlano Nacional de Direitos Humanos131. Para concluir, no m de maio deste anode 2008, o encarregado do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidaspara os Direitos Humanos retirouse do cargo, supostamente por gerar espaçosde participaço nos quais organizações ciis e sociais auxiliaam na elaboraço depolíticas de direitos humanos132.

Um exemplo ainda mais claro da alta de uma relaço inclusia, dereconhecimento de atores sociedadegoerno, pode ser encontrado naimplementaço dos mecanismos de consulta estabelecidos pelo Conênio169 da Organizaço Internacional do rabalho e na última Declaraço dosPoos Indígenas, que se reerem à consulta aos poos indígenas sobre suasterras, territórios e bens naturais aí contidos. As leis mexicanas obrigam a lear em consideraço, mediante uma consulta pública, a popula

128 Estos recentes mostrm qe são mto pocos os cãos qe recorrem o Mnstéro Públco pr presentr m enúnc. Só 23% formlm m qex nte o Mnstéro Públco e m porcentgem mto rez consegeconsgná-l pernte m jz. Cf. Roberto Hernánez. L Reform Jcl, CidE, 2006. Segno o nforme rgo

 por Ls e l Brre, Méxco: atls elctvo el foro común 1997 – 2006, o insttto Cno e Estossobre insegr, a. C. 2008, rm qe pens m e c cnco vítms e lgm elto o ennc.129 No entnto, o Esto e Qerétro, em brl e 2008, reco em se processo e bertr e trnsprênc, reznose insttto Esttl m nstânc qe, em vez e exgr nformção, smplesmente recomen qe sej otorg.130 Cf. OaCNudH. dgnóstco sobre l stcón e los derechos Hmnos en Méxco, Méxco, 2006131 an qe o espço exst, fo cncel rel prtcpção e nstâncs reconhecs pr propor lgo sobreo tem o governo feerl.132 amergo inclcterr jms reconhece pblcmente qe o governo mexcno tenh solcto s sí,nem o governo mexcno ceto pblcmente o fto e ter peo s sí por solctção s Nções uns.O fto é qe ele fo embor sem motvo prente, exno nconclso o trblho e rtclção entre lgmstores e nstâncs socee cvl e socl.

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ço indígenacamponesa, da qual querem expropriar terras, normalmenteno interesse da construço de macroprojetos industriais nessa regio. Noentanto, realizase todo tipo de artimanha para enganar a populaço emprocessos jurídicos, como a mudança de uso do solo, priandoa do mais

elementar direito à inormaço. Buscase estabelecer, a todo custo, umasubmissa relaço clientelista com a populaço, por meio de mecanismoscomo a compra de otos e a simulaço de assembléias agrárias . Em muitasocasiões a necessidade econômica e as carências da maior parte da populaço obrigam os atores a trocar bens por subsistência, otos por cestas básicas, água potáel por concessões, etc. É preciso recordar que atualmente noMéxico existem 25,9 milhões de amílias, das quais 2,4 milhões de amíliasmonoparentais so encabeçadas por mulheres. A partir do Obseratório daConlituosidade Social no México podemos inerir que as mulheres par

ticipam de modo signiicatio nos conlitos relacionados à demanda denecessidades básicas, à deesa dos recursos naturais e do território, e à lutacontra a impunidade 45,37%.

Assim é o caso do conito gerado pelo projeto hidrelétrico “La Parota” emGuerrero. Aí, com base na compra de otos e simulaço de assembléias agrárias,pretendeuse realizar a mudança de uso do solo ejidal133, que é requerida para aexpropriaço das terras em que se planeja construir a represa. Até a presente dataso três os processos que cancelam as resoluções de supostas assembléias agrárias,nas quais nem sequer se haia inormado a populaço sobre as questões mais bási

cas do projeto. Há ários anos oi constituído na regio um moimento social aaor da deesa da terra, denominado “Conselho de Ejidos e Comunidades Opositoras a La Parota” Cecop, que enrentou esses mecanismos e planos do GoernoFederal e do Estadual reiindicando seu direito à consulta, à inormaço e emdeesa dos recursos naturais dessa zona134.

Em uma situaço similar em Zimapán, Hidalgo, mentiuse aos “ejidatarios” da zona em que se pretende realizar um depósito connado de lixo tóxico,dizendolhes que se trataa de uma usina de reciclagem que traria empregos paraa regio. Apenas depois da construço da maior parte da inraestrutura da obraé que se descobriu do que realmente se trataa. Isso gerou o “Moimento Cíicoodos Somos Zimapán”, que tem lutado para eitar uma obra que atenta contraseu já reduzido direito à saúde135.

133 artgo 6.º o Convêno 169 OiT.134 O ejo é m form e propree terr estbelec n Consttção e 1917, qe estbelece o reto esfrto mesm, ms propree é Nção.135 Neste movmento lero por homens, mor prte s pessos qe prtcpm são mlheres.

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Situações similares ocorreram em dierentes partes do país, como no pro jeto eólico de La venta, em Oaxaca; em Paso de la Reina, em Oaxaca; no Cajón,Nayarit e outros tantos, nos quais o Estado, por intermédio de seus uncionários,costuma estar mancomunado com interesses econômicos de grandes empresas

transnacionais, sem considerar a ontade dos moradores da zona onde se realiza oprojeto. As autoridades negam a existência dos atores que lutam contra os megaprojetos e a imprensa os inisibiliza conseguindo sua “inexistência midiática”136 .

O caso é o mesmo para leis ederais e estaduais. Nunca se consulta preiamente a populaço, ou pelo menos com os interessados, salo quando se trata degrandes empresas. As conhecidas Reormas Estruturais oram sendo aproadasuma a uma sem consultas e em clara contradiço com a ontade da maioria dapopulaço. No México no se reconhece o direito do poo de plebiscitar uma leiou um projeto

137 . No existe o reerendo como mecanismo popular de controle

dos acordos de cúpula. Em 2007, as reormas realizadas à Lei do Instituto deSeguridade e Seriços Sociais aos rabalhadores do Estado ISSSE no oramobjeto de consulta, nem sequer aos da reerida instituiço, que eram os implicadosdiretos. Geraramse em todo o país, como resposta, moimentos de repúdio ecentenas de milhares de “amparos”

138contra a modicaço legal

139. A modi

caço constitucional do status da empresa Pemex é um caso atípico, pois há algumas semanas oi iniciado um moimento ciil muito amplo que culminou com aocupaço simbólica das câmaras de legisladores resultando em um pacto com os

partidos para iniciar um processo de debates com especialistas por 71 dias

140

.Antes de chegar ao m deste primeiro passo do processo de criminalizaço, ale a pena dizer que os poos indígenas com maior protagonismo ou isibilidade emconitos sociais, segundo as ciras do Obseratório em 2007, oram: Choles, Zoques,lapanecos, Nahuas, Purépechas, Mixtecos, Zapotecos, ojolabales, Mixes, rikis,zeltales y zotziles. O seguinte gráco gráco 3 mostra esse protagonismo.

136 Há mt nformção sponível sobre o prtclr. Vle pen ver m víeo e s própr perspectv qeestá sponível em: <http://yotbe.com/wtch?v=-v70TW6QtH8&fetre=relte>. Tmbém elborrm mmterl fílmco gnhor e m “arel” chmo Zmpn, hstór e m connmento, elboro por JnMnel Sepúlve em 2007.137 Somente no dstrto Feerl exste est possble mente le e prtcpção cã pblc em 17e mo e 2004.138 O mpro é m recrso legl semelhnte o hbes corps e lgns píses amérc Ltn.139 Em 22 e mrço e 2007, mor ntegr por eptos o PaN, PRi, PVEM, Pnl e alterntv (313votos) provo nov le o iSSSTE, qe contempl crção e m novo sstem e pensões, ment e

 pr posentor, constt m Cx e popnç públc (Pensonssste) com vgênc e pens três nos,e promete sner s nnçs nsttção. até ezembro e 2007 hv so nterposto cerc e m mlhão empros (hbes corps) contr le.140 O fórm se chm “análse Consttconl s inctvs e Reform Energétc” qe está seno sctono Seno.

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vejamos alguns casos menos conhecidos que podem exemplicar o queoi exposto até agora no que se reere à criminalizaço do protesto social e comose abricam delitos sempre que se quer, como nos casos apresentados, dos quaisparticipam elementos do exército.

F da a Ága Caa

A Frente em Deesa da Água de Morelos FDAM tem traado nos últimosanos uma orte luta em deesa da água, particularmente em Cuautla nesse Estado.Ao longo de 2007 essa luta intensicouse contra a construço de um posto degasolina. O posto da companhia Milenium 3000 apresentaa mais de 50 anomaliase irregularidades detectadas pelos próprios moradores, que as denunciaram às autoridades, enatizando que causaria grande dano ao manto aqüíero que abastece80% da populaço de Cuautla. O posto oi construído a 350 metros do poço deágua “El Calario” e no início de janeiro de 2007 os atiistas Jonathan GonzálezSuárez, Noe Neri e Silia Espinosa de Jesús denunciaram os riscos de contaminaço da água que poderiam ser causados pelos tanques subterrâneos da empresa.

A primeira resposta das autoridades municipais e do Estado oi negar a alidade das demandas dos moradores, acusandoos de ignorantes, que “noconhecem regras ambientais”. Diante da insistência dos moradores em reisar alicença de construço do local ou de localizar o posto em outro lugar, o conitocresceu: as autoridades negaram interlocuço com os moradores, enquanto trataam com a empresa construtora e com seu dono, Raael Anguiano Aranda. Aimprensa local, próxima dos interesses da empresa, ou comprada por ela, qualicou os moradores nos mesmos termos, negandolhes o direito de réplica a suas

gráco 3

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acusações. No dia 4 de maio de 2007 policiais municipais e estaduais irromperam em uma maniestaço, dissolendoa. Nesse mesmo dia, correu o rumor deque existiam ordens de detenço contra os líderes do protesto.

A estratégia de diundir rumores de “ordens de detenço”, que por

princípio so secretas para que possam ser cumpridas141, é utilizada comomecanismo para amedrontar e dissuadir os participantes das maniestações decontinuar a exercer o seu direito de protestar ou reiindicar.

anto a imprensa como as autoridades iniciaram uma campanha de desprestígio contra o moimento e a aor da empresa de combustíeis. A emissora de rádio local disse, durante semanas, que os atiistas eram agitadores quepouco estaam interessados na ecologia e que seu interesse era desestabilizaro goerno estadual. Acusaramnos de estar relacionados com outros grupossociais “perigosos” ou “subersios”.

Em 10 de outubro de 2007, de regresso de um órum realizado emGuadalajara, o ribunal Latinoamericano da Água

142, em que denuncia

ram os atropelos soridos pelo seu moimento em deesa da água, os atiistasJonathan González Suárez, Silia Espinosa de Jesús e Noe Neri soreram umacidente no qual o motorista do eículo que chocou com o deles ugiu. Naocasio perderam a ida os dois primeiros. No dia 30 de outubro, elementos da polícia preentia municipal detieram com iolência Margarito NeriGutiérrez e Gualberto Noé Neri Hernández, pai e lho, acusados de ameaçaruma ocial de justiça.

O conito oi reprimido e a partir de ento o posto está uncionando.No undo, o conito permanece, pois as autoridades no atacaram de maneiraalguma as raízes do problema.

o m p mha Ag Gaaja

O Moimento em Prol do Melhoramento do Agro Guanajuatense MPMAGdata do ano de 1999. Desde esse período os camponeses integrantes da agrupaçoempreenderam ações buscando apoio goernamental, sobretudo para o subsídio

às altas tarias elétricas. Esse moimento tem ortes articulações com outras organizações camponesas, particularmente no Estado de Chihuahua.

141 Qno etenção é oren pel tore jcl, o sej, m vez qe o Mnstéro Públco já exerce ção penl, o jz poe orenr etenção o provável responsável e m elto. a orem e etenção eveser por escrto por m jz crmnl, fzeno especíc referênc à pesso à ql se refere: nome completo,elto. O jz só poe tr m orem e etenção qno o elto e qe é cs m pesso for qeles osqs correspone m pen prvtv lbere e qe exstm os qe cretem o corpo o elto e qetornem provável responsble o sjeto contr o ql se exerce ção crmnl. a orem e etenção everáser secret té ser cmpr.142 dsponível em: <http://www.trg.com/es/>.

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Em 2007 o moimento adquiriu noo realce pelo ato de ter demandado tarias mais justas para a energia elétrica e nos subsídios para os camponeses usuários do seriço. No entanto, os uncionários do Estado no interieramporque, presumielmente, se trataa de um assunto de particulares com a em

presa, a Comisso Federal de Eletricidade CFE. Cabe dizer que a empresa éparaestatal ederal.

Os camponeses, ao no se sentirem ouidos pelas autoridades, iniciaram oconronto e realizaram marchas, comícios e outras ormas de presso para serematendidos e para que a imprensa tornasse isíel sua agenda. A resposta das autoridades do Estado de Guanajuato oi a detenço do líder local do moimento, Rubénvázquez, acusado de delitos políticos.

Diante da detenço de seu líder, os camponeses organizados trocaram suaprincipal demanda, de subsídios por sua liberdade. Rubén vázquez oi libertado

poucos dias depois, mas no se cumpriram as demandas dos camponeses no tocante a sua agenda.

Em 14 de março do presente ano, oi assassinado o dirigente da organizaço Agrodinâmica Nacional, Armando villareal Martha, principal promotor dosprotestos contra o ratado de Lire Comércio da América do Norte LCAN, earticulado com o MPMAG.

O terror, a ameaça de priso e a troca de presos so atores importantes dedesmobilizaço de grupos camponeses em muitos Estados do país.

 

Ca a c aa a

Há poucas semanas a Comisso Nacional de Direitos Humanos emitiu oitodocumentos Recomendações que se reerem justamente à orma como atuam elementos do exército no presumido “combate ao narcotráco”. So oito casos exemplares de muitos que certamente deem existir e que ninguém se atree a denunciar.

Copio boa parte da síntese que a própria CNDH realiza de suas recomendações. O leitor atento perceberá o modus operandi repetitio, sem importar se esto

tratando com criminosos ou no. Já de saída criminalizamse e culpamse os ciis.Nas narrações aparece a orma em que operam no apenas os maus elementos doexército, mas todo um mecanismo que aceita com normalidade a tortura, as detençõesarbitrárias, os maustratos, etc., sem nada azer, nem leantar denúncias judiciais.

 

saag Caba

O processo de militarizaço do país está azendo com que se criminalize apopulaço sem motio nenhum. Esta situaço está gerando tensões, medo e uma

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situaço de sentimento de perseguiço. Há que recordar que a presença do Exércitonas ruas do país responde a um estado de extrema exceço, que nada tem a er coma legalidade ou com a Constituiço.

Em 26 de março de 2008, aproximadamente às 21 horas, na comunidade de

“Santiago de los Caballeros”, município de Badiraguato, Estado de Sinaloa, elementos militares dispararam suas armas de ogo contra o eículo Hummer H2, onde seencontraram Zenón Alberto Medina López 30 anos, Manuel Medina Araujo 29anos, Edgar Geoanny Araujo Alarcón 28 anos, Irineo Medina Díaz 53 anos,Miguel Ángel Medina Medina 31 anos e wilredo Ernesto Madrid Medina 22anos. Foram mortos os quatro primeiros e erido o último. O motio alegado oique eles no reduziram a elocidade em um bloqueio militar. A CNDH emitiu arecomendaço 036/08 por esse caso

143.

Os senhores Celso Eleazar Pérez Peña e Jaime Olias Rodríguez oram detidos arbitrariamente por elementos do exército no dia 26 de março de 2008 quan

do circulaam em um quadrimotor na estrada de terra a caminho de “Santiago delos Caballeros”, município de Badiraguato, Sinaloa. Eles oram retidos deitados debruços no cho por aproximadamente sete horas depois da detenço sem que osseestabelecida sua causa legal

144.

rya, taaa

Em 17 de eereiro de 2008, atendendo a uma inormaço jornalística, aCNDH iniciou uma inestigaço que concluiu com a ericaço de iolações aosdireitos humanos por parte de elementos do exército. Os atos ioladores dessesdireitos se reerem: ao uso excessio da orça pública e das armas de ogo; iolaço do direito à ida e à integridade e segurança pessoal; à legalidade e segurança

 jurídica; e ao exercício indeido da unço pública por parte de elementos da Secretaria da Deesa Nacional, em agrao dos senhores Sergio Meza varela e JoséAntonio Barbosa Ramírez.

A síntese da Recomendaço assinala que os seridores públicos agregadosà Secretaria da Deesa Nacional excederamse no uso da orça pública e das armasde ogo, no dia 16 de eereiro de 2008, “quando, no momento em que tentaramdeter a marcha do eículo marca Chrysler Dodge Sebring, duas portas, conersíel, de cor erde, capota cor bege, modelo 1998, placas 884 GGS, do exas, Estados Unidos da América, acionaram suas armas disciplinares em direço ao automóel citado, o que priou da ida o senhor Sergio Meza varela. De acordo comos relatórios médicos de autópsia da Procuradoria Geral de Justiça de amaulipas,

143 CNdH. Recomenção 036/2008, jlho 2008.144 iem

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156 

a mencionada pessoa aleceu em conseqüência de disparo de projétil de arma deogo. Além do mais, o senhor José Antonio Barbosa Ramírez oi erido por projétilde arma de ogo, como oi declarado no relatório médico préio de lesões eitopara o senhor José Antonio Barbosa Ramírez, datado de 16 de eereiro de 2008,

emitido por um perito médico orense da Procuradoria Geral de Justiça do Estadode amaulipas, sem que existisse justicatia alguma, pois os passageiros do citado

 eículo no portaam armas de ogo, o que constituiu um abuso de poder contraos goernados e se traduziu em uma clara iolaço de seus direitos humanos”

145.

Ha, mchacá

Elementos do exército assassinaram o menor víctor Alonso de la Paz Ortega quando realizaam um operatio no contexto do “combate ao narcotráco”.

Segundo a CNDH, os elementos do Exército mexicano “transgrediram o direito à ida e iolaram o que estabelecem os Artigos: 14, parágrao segundo, da Constituiço Política dos Estados Unidos Mexicanos, 6.1 do Pacto Internacional de Direitos Ciis e Políticos, 4.1 da Conenço Americana sobre Direitos Humanos, 6.1 e6.2 da Conenço sobre os Direitos da Criança, e 3.o da Declaraço Uniersal deDireitos Humanos, e os números 4, 9 e 20 dos Princípios Básicos sobre o Empregoda Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Encarregados de Fazer Cumprira Lei, relacionados com o direito à ida, em agrao do menor víctor Alonso de laPaz Ortega, que aleceu no lugar dos acontecimentos, bem como de Juan CarlosPeñaloza García, que no apenas oi erido a golpes por pessoal militar, mas colocado em grae risco de também perder a ida, por encontrarse acompanhando omenor morto iolentamente

146 .

Estes atos aconteceram apesar das medidas cautelares solicitadas pelaprópria Comisso para a proteço das idas e direitos dos moradores da regio.

taha, mchacá

Em 7 de outubro de 2007, o senhor Antonio Paniagua Esquiel oi ata

cado por elementos do exército mexicano em atentado contra a sua propriedadeinaso de domicílio, danos e roubo, sendo ítima de tortura, tratamento cruele/ou degradante, detenço arbitrária, iolaço ao direito à integridade e segurança pessoal, e à legalidade e segurança jurídica. Os atos ocorreram aproximadamente às cinco horas, no município de anhuato, no Estado de Michoacán. Segundo relata a CNDH em sua Recomendaço 033, elementos do 37.º

145 CNdH. Recomenção 035/2008, Méxco, jlho 2008.146 CNdH. Recomenção 034/2008, Méxco, jlho 2008.

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157 

Batalho de Inantaria do Exército MEXICANO, lotados na Base de OperaçõesMistas de Zamora, Michoacán, introduziramse em seu domicílio sem ordem

 judicial, danicaram seu imóel, subtraíram objetos de alor, detieramno arbitrariamente e lhe causaram lesões mediante procedimentos de torturas, entre

os quais colocaram uma toalha em seu rosto, jogaram água, sentindo que seaogaa; e que houe um momento em que colocaram em seus genitais um tubo,sentindo choques elétricos, para posteriormente colocálo à disposiço do agentedo Ministério Público da Federaço, onde oi iniciada a aeriguaço préia AP/PGR/MICH/LP/214/2007, sob o argumento de posse de armas

147 .

Cha, c a Hacaa, mchacá

No dia 21 de agosto de 2007, às 22 horas, segundo a Recomendaço 032/2008,

“o senhor Jesús Picazo Gómez se encontraa ora da casa de sua tia, localizada emUruapan, Michoacán, quando cinco elementos do Exército mexicano, comandados por um tenente, perguntaram seu nome e endereço. Além disso, solicitaramlhe seu título de eleitor e, ao constatarem que era morador da localidade de Chauz,município de La Huacana, Michoacán, detieramno, subtraíramlhe uma pulseira tipo escraa, um relógio, três anéis, uma corrente, uma medalha e a quantiade $3,000.00 três mil pesos. Em seguida o jogaram no cho dandolhe pontapéspor todo o corpo, endaramlhe os olhos e, posteriormente, transeriramno paraa Zona Militar de Uruapan, Michoacán, onde o despiram e lhe puseram uma bolsade tecido na cabeça, jogaramno no cho e lhe amarraram mos e pés, atirandoágua em sua cara, enquanto o golpeaam no abdome. Permaneceu despido durante toda a noite em um pequeno quarto”. A narraço prossegue e agrega que,“aproximadamente, às oito horas de 22 de agosto de 2007, o senhor Jesús PicazoGómez oi leado a um quartel militar, na cidade de México, e nesse lugar oi examinado por um médico. Depois disso, alguns elementos militares continuaram agolpeálo e a jogálo contra a parede, enquanto lhe mostraam umas otograase lhe perguntaam por algumas pessoas. Entretanto, ao responder que no as

conhecia, começaram a meterlhe a cabeça num tonel cheio de água e, ao mesmotempo, lhe daam choques elétricos no estômago. Algum tempo depois o transeriram para a agência do Ministério Público da Federaço em Morelia, Michoacán,com o argumento de que presumidamente portaa duas armas de ogo, três quilosde maconha, 30 gramas de perinol e ários cartuchos”. A Recomendaço agregaque, aproximadamente às três horas de 25 de agosto de 2007, diersos elementosdo Exército mexicano se apresentaram no domicílio do senhor Santos Picazo Car

147 CNdH. Recomencón 033/2008, Méxco, jlho 2008.

 

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ranza, localizado no Rancho El Chauz, município de La Huacana, Michoacán, epresumidamente seis deles entraram de orma iolenta na sua moradia, reistandotoda a casa. Além disso, atiraram no cho sua lha menor DOPG, apesar de estargráida, e apontaram suas armas à esposa, chamada María Delia Gómez Parra, por

ter deendido sua descendente. Ademais, no dia seguinte os mencionados militares otograaram e graaram ídeos de toda a casa, automóeis e amília

148.

nac, sa

A Comisso Nacional de Direitos Humanos em sua Recomendaço 031/2008relata que, no dia 3 de agosto de 2007, elementos militares que se encontraam percorrendo as imediações do município de Naco, no Estado de Sonora, detieram trêspessoas que estaam indo trabalhar em um rancho: Mario Alberto Sotelo Estrada,

Filomeno Guerra Flores e Fausto Ernesto Murillo Flores. Este último desapareceu apartir dessa detenço e as outras duas pessoas oram transeridas para o MinistérioPúblico da Federaço na cidade de Agua Prieta, Sonora. Agrega a Recomendaçoque, em 4 de agosto de 2007, oi encontrado o cadáer do senhor Fausto ErnestoMurillo Flores em um local denominado “La Morita”, à altura do km 28 da rodoiaCananeaAgua Prieta, Sonora, cujo corpo se encontraa golpeado e com lesões queproaelmente lhe proocaram a morte

149.

Ca Jé maa m paó ma, mchacá

No dia 13 de junho de 2007, segundo a Recomendaço 031/2008 da CNDH,o senhor Óscar Cornejo ello “encontraase em uma casa situada no bairro JoséMaría Morelos y Paón em Morelia, Michoacán, acompanhado de dois menores,assistindo a um lme. Nesse momento, perceberam que elementos do Exércitomexicano estaam rompendo os idros da porta que diide a cozinha e os quartos e em seguida gritaram: ‘abre a porta, lho da puta’. endo o oendido abertoimediatamente, 15 elementos militares ingressaram no domicílio, jogandoo ao

cho e começaram a lhe bater e perguntar se ele era o tal ‘chino güenses’. O oendido respondeu que no e ante tal negatia os elementos do instituto armado lhetaparam a cara com uma peça de roupa, a molharam e lhe deram choques elétricos nos testículos; inclusie lhe puseram a mesma peça de roupa no pescoçopara cortarlhe a respiraço. Os reeridos golpes duraram aproximadamente30 minutos, durantes os quais recebeu pontapés, tapas e socos e utilizaram um

148 CNdH. Recomenção 032/2008, Méxco, jlho 2008.149 CNdH. Recomenção 031/2008, Méxco, jlho 2008.

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quadro que estaa no imóel para erilo. Que deido ao oendido no ter declarado o que queriam, os elementos militares optaram por leálo a uma espéciede ronda por dierentes partes da cidade para, posteriormente, transerilo à 21.ªZona Militar; que o anterior pode ser identicado pelo oendido, pois, ao chegar

à reerida guarniço, descobriramlhe a cara; que nesse traslado algemaram suasmos proocandolhe eridas no pulso e imobilidade na mo direita; que duranteo tempo que estee na citada Zona Militar pôde escutar a conersa entre doiselementos militares, na qual um deles armaa ‘já zemos cagada’ e outro mencionaa ‘é preciso atirarlhe a bomba’. Posteriormente transeriramno às instalaçõesda Procuradoria Geral da República, pondoo à disposiço da Agência erceirado Ministério Público Federal, os quais ao er a graidade dos erimentos queapresentaa learamno a um médico. Só no dia 15 de junho de 2007, quandotee a oportunidade de depor diante do representante social da Federaço, pôde

conhecer a declaraço da base de operações mistas, onde constaa que oi detidoem um eículo branco, de marca Seat, por olta de uma hora da manh comarmamento, um distintio com as insígnias da Agência Federal de Inestigaço,umas algemas, coldres para pistolas, uma calça preta tipo comando, um par debotas e um uniorme tipo militar camuado. Ele declarou que isso era contrárioà erdade, mas, apesar disso, oi leado para o Centro de Readaptaço Social‘Lic. Daid Franco Rodríguez’.

Da mesma orma, da inestigaço realizada se inere que, posterior ao arbitrário e conseqüentemente ingresso ilegal ao domicílio onde se encontraa o oendido por elementos do Exército mexicano, este oi ítima de sorimentos ísicos,consistentes em golpes, pontapés, tapas, socos e choques elétricos nos testículos,em taparlhe a cara com uma peça de roupa molhada com a intenço de impedirque respirasse normalmente, e inclusie amarrálo pelo pescoço com a mesmapeça, tudo isso com a intenço de que conessasse se era o ‘chino güences’, o que,sem dúida, traduzse em atos de tortura”

150.

sya, sa

Em sua Recomendaço 029/2008 a CNDH relata que, “em 7 de junho de 2007,aproximadamente às 19h30min, o senhor José Fausto Gález Munguía se encontraacom outras pessoas na base do cerro de ‘La Lesna’, localizado na ronteira com os Estados Unidos da América. Nesse momento, chegaram dois eículos do Exército mexicano com pessoal que gritaa que era da 40.ª Zona Militar e lhes apontara as armasperguntando quem era seu chee e onde se encontraa a maconha e que ‘iam odêlo’

150 CNdH. Recomenção 030/2008, Méxco, jlho 2008.

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e inclusie ‘matálo’. Eles explicaam aos elementos militares que a razo de estar nesselugar era porque estaam esperando um ‘pollero’

151que os passaria para a cidade de

Phoenix, o que motiou que um dos soldados lhe desse um pontapé nas costelas egritasse ‘ocê está mentindo cornudo’. ‘Está esperando droga para passar, diga quem é

seu patro e onde está ou eu ou te oder.’ Foi ento que outro dos elementos militaresagarrouo pelos cabelos e ordenou a um a que chamaa de cabo: ‘lea ele pro carro queeste cornudo aí ai cantar’. Nesse momento, os elementos militares dispararam suasarmas ao lado das cabeças das pessoas que o acompanhaam. rataram de sacarlheinormaço, mas por ignorála no pôde responder a suas perguntas, motio pelo qualum militar, de nome SP1, deulhe um soco na boca; que o desceram da caminhoneta,lhe endaram os olhos, o arrastaram pelo cho. Foi quando lhe meteram um tubo naboca e o obrigaram a beber um líquido com sabor a álcool com o propósito de aogálo; que, por causa da quantidade, estee omitando; lhe meteram nas unhas das mos

e pés uns pedaços de madeira que mexiam para azêlo sorer, até que lhe arrancaramas unhas. Mesmo assim, sangrando pelo nariz e erido, os militares o abandonaraminconsciente e que despertou entre às 11 e 12 da noite moribundo, e oi auxiliado poruma pessoa que o leou ao hospital”

152.

2. o cf caa

Poucas semanas depois de seu leante em armas, os zapatistas enrentaram

seeras críticas por parte de alguns meios de comunicaço em irtude do usode “passamontanha”.153 A resposta que deram oi muito simples: “tiemos quecolocar passamontanhas para ser alguém, pois quando no o usáamos éramossimplesmente os índios de sempre e ninguém prestaa atenço em nós”.

Como já mencionado, os atores sociais que se encontram em uma situaço deconito recorrem a dierentes ormas de maniestaço para tornar isíeis suas demandas. ais ormas de maniestaço, inicialmente, so normalmente apegadas aomarco normatio contemplado pela lei como ormas de liberdade de expresso – aestas nos reerimos como ormas institucionais de enrentamento social. No entanto,

a maioria dessas ormas so estratégias de conrontaço de perl muito baixo queno exercem presso suciente, a no ser em caso de grupos muito numerosos. Osmeios de comunicaço no as considera releantes e so inisíeis, e as autoridadesreqüentemente no consideram seus participantes como interlocutores signicati

 os e portanto os negam. As ormas de enrentamento mais usadas so a denúncia

151 Tmbém chmos e “cootes” o “gtos”, são trcntes e pessos e gencores e mão-e-obr legln fronter o Méxco com os Estos unos (N. T.).152 CNdH. Recomenção 029/2008, Méxco, jlho 2008.153 Gorro e lã qe ex e for pens os olhos (N. T.).

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pública, em algum meio de comunicaço ou diretamente perante a sociedade ciil,com cartazes ou panetos; as marchas, os comícios e as demandas legais.

Diante da negaço das autoridades e a inisibilizaço dos meios, os moimentos sociais mudam sua dinâmica recorrendo a ormas de expresso de suas

demandas que se localizam na ronteira do marco normatio. A estas ormas deconrontaço mais diretas com o Estado denominaremos de ormas noinstitucionais de enrentamento social.

O uso de algumas delas, como os bloqueios a certas estradas, tornouse maisrecorrente pelos atores sociais em conito. Outras, como o enrentamento ísico, aretenço ísica de autoridades, a inaso de instalações ou o protesto armado, sonormalmente separadas da legitimidade do contexto social que as acompanha edo que se trata de reiindicar, sendo catalogadas pelo Estado como delitos graesque so castigados. Neste sentido, os dirigentes sociais que encabeçam os moi

mentos deixam de ser considerados interlocutores álidos e so perseguidos comodelinqüentes. Por exemplo, o caso dos dirigentes da Assembléia Popular dos Po os de Oaxaca, que um dia dialogaam de orma ciilizada com a mais alta autoridade política do país e no dia seguinte oram detidos como criminosos e presosem presídios de segurança máxima.

Compreendendo que o conito social é na erdade um processo e noum eento que surge de repente, é eidente que um ator social buscando reiindicar suas demandas utiliza árias estratégias de enrentamento ao Estado, dependendo da dinâmica com a qual o conito se ai desenolendo. A utilizaçodessas dierentes estratégias, por sua ez, muda os dierentes momentos e ritmos

de conrontaço que se do com o Estado e inui, de alguma maneira, no tipode resposta que ele dá. Portanto, o conito pode chegar a níeis de enrentamento mais direto, em unço da interaço que existiu entre os atores ao longodo processo, gerando, assim, aquilo que entendemos como escalonamento deum conito. Esse é o caso dos estudantes da Escola Normal de Ayotzinapan, emGuerrero. Eles iniciaram o moimento com comícios e uma marcha e, poucoa pouco, escalonaram o conronto para se azerem isíeis e gerarem uma correlaço de orças com seus interlocutores, realizando um planto diante do Congresso do Estado e depois tomando o posto de cobrança de pedágio da rodoia

Cuernaaca – Acapulco.Normalmente, ao ir se escalonando, um conito ai se tornando mais com

plexo, deixando no percurso do seu processo presumíeis delitos, demandas legaise acusações. Em certos casos de conronto o Estado toma prisioneiros como reénspara negociar sua libertaço em troca da desmobilizaço do processo social deprotesto. Freqüentemente se ê que, quando um moimento social em conitoescalona seu enrentamento, o Estado ai tomando reéns e ameaça com prisões eencarceramentos para “baixar o tom do moimento”.

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Segundo dados do Obseratório da Conituosidade, a maior parte dosatores sociais recorre, em um primeiro momento, para exigir suas demandas, aormas de enrentamento institucional noiolentas. Mais de 60% das estratégiasde conronto utilizadas por atores sociais so institucionais.

No entanto, excepcionalmente também existem certos grupos de atores sociais que tendem mais ao enrentamento ísico, principalmente diante de conitosinternos ou com outras agrupações da mesma tendência. Esse é o caso das disputasterritoriais dos concessionários de transporte, entre simpatizantes ou militantes departidos políticos e alguns grupos camponeses e sindicais.

O seguinte gráco gráco 4 mostra quais so as estratégias de enrentamento que os atores sociais adotam em seus conitos.

 A política de negaço do ator por parte de autoridades e a inisibilidade so

elementos undamentais para que os atores sociais em conito sintam a necessidadede escalonar sua expresso de conronto. Ou seja, os moimentos sociais que estomobilizados por alguma demanda e no se sentem atendidos mudam suas estratégias de enrentamento para colocarse em um níel dierente em relaço à autoridade. Ao elear o “tom”, o enrentamento se torna mais isíel e mais ulneráel àcrítica dos meios e do uso da mídia para criminalizar seu protesto.

gráco 4

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Assim, no processo de conrontaço com o Estado, a maior parte dos conitos sociais no país recorre, em primeira instância, à denúncia pública para exigirsuas demandas. Posteriormente, organizam uma marcha ou comício para exigir interlocuço e, apenas quando no so ouidos, acorrem aos bloqueios como método

de presso. Até esse momento costumam ter alguma resposta por parte do goerno,ainda que reqüentemente no seja aoráel, tanto no conteúdo como na orma.Desse modo, o moimento necessita demonstrar sua orça com ormas de enrentamento ainda mais diretas, que o legitimem pelo menos como interlocutor representatio e álido diante do Estado, e seja contemplado.

A radicalizaço é parte do processo de uma errática ou nula interlocuço comos representantes do Estado, e as expressões mais combatias do moimento ganhamespaço ao er que no as atendem e as diamam. No interior do moimento socialacontecem com certa reqüência ssuras entre a liderança moderada e propensa ao

diálogo, e a liderança radical e combatia. Esta ase do conito é usada pelas autoridades e aguçada pela mídia para qualicar os radicalizados de “ultras”, “intransigentes”,“membros de organizações armadas”, “terroristas”, “desestabilizadores”, etc. Enquantoisso, a autoridade busca corromper, comprar ou chantagear o grupo moderado.

Do mesmo modo, é nessa etapa que em alguns conitos aparecem os que pro ocam pancadaria, os “porros” grupos de arruaceiros, os inltrados, que iniciam otrabalho de intimidaço, espionagem e desestabilizaço das lideranças, aguçando ascontradições internas e proocando o enrentamento ísico. As acusações internas de“traiço” e de “endido” so utilizadas para quebrar a luta. As ameaças so reqüentes,sobretudo contra as mulheres, e os “incidentes de segurança” se multiplicam. As mulheres, com maior reqüência que os homens, so seguidas até em casa. As portas dascasas de alguns atiistas so pichadas com inscrições ameaçadoras. As “mensagens”que êm das autoridades, mais que de busca de diálogo, so de ameaça.

Nessa ase aparecem com reqüência as dissidências, as expressões de outrosparceiros que pedem o contrário. Por exemplo, em Zimapán, Hidalgo, onde apareceu um pequeno grupo impulsionado por autoridades do Estado e nanciado pelaempresa que constrói o local para o despejo de resíduos tóxicos. Esse grupo de mo

radores de Zimapán, camponeses e pessoas pobres, apóia decididamente as ações daempresa e se enrenta, primeiro erbalmente, e depois a golpes contra seus pares quelutam pela saúde da comunidade e pela noconstruço do lixo tóxico

154. Outro

exemplo é o conito pela deesa da terra contra a construço da grande represa “LaParota”. A empresa elétrica CFE e o goerno do Estado de Guerrero apóiam osector de camponeses que so a aor do megaprojeto e os nanciam para enren

154 No 1.º e mo nltros em m mrch bterm em Crescenco Morles, m os rgentes o mov-mento “Toos somos Zmpán”, ,té prozr nele m frtr e crâno.

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tar os opositores. Nas escolas e uniersidades se êem, com muita reqüência, grupos de arruaceiros nanciados e apoiados pelas autoridades educatias batem nosestudantes que se maniestam. ambém so apoiados pelas mesmas autoridades ossetores “ultras” que “radicalizam o moimento” e acilitam a criminalizaço midiáti

ca e real dos atores peticionários.vamos ilustrar com um caso de conito o que dissemos nesta segunda parte.

Ca saa Aa Xac, pba,ca a a ecéca o

Durante o mês de abril de 2007, moradores da comunidade Santa AnaXalmimilulco, município de Huejotzingo, Puebla, exigiram o echamento de

initio da empresa Ecotérmica de Oriente dedicada ao manejo de resíduosbiológicoinecciosos, em irtude dos danos que produz ao meio ambiente e àsaúde dos habitantes.

Graças aos protestos, o orno da indústria oi echado. Entretanto, no dia26 de abril o presidente auxiliar de Santa Ana Xalmimilulco, Óscar Juárez Macuitl,denunciou que, embora o orno já no uncionasse, a empresa continuaa operando sem a licença ambiental correspondente, o que constitui uma iolaço à Lei deProteço ao Ambiente e ao Equilíbrio Ecológico do Estado de Puebla. Apesar dadenúncia, as autoridades estaduais e as ambientais ederais ignoraram a situaço.

Em 8 de maio de 2007, cerca de 500 habitantes da comunidade se reunirampara realizar um bloqueio na rodoia México–Puebla com a nalidade de pressionaro Goerno Estadual e a Procuradoria Federal de Proteço do Meio Ambiente Proepa para que a empresa osse echada. Inclusie as aulas oram suspensas em SantaAna para que todos os estudantes comparecessem ao echamento da estrada.

Ao tentar realizar o bloqueio, houe um enrentamento entre elementos dapolícia estadual e os maniestantes. Os primeiros empregaram gases lacrimogêneos para dispersar o grupo e cassetete para golpear os líderes. Como conseqüência da represso seis maniestantes caram eridos e uma pessoa idosa oi detida,

da qual oi pedida, juntamente com os demais detidos, uma aeriguaço préiapor sua proáel responsabilidade nos delitos de ataque a uncionário público edepredaço de ias públicas.

No dia seguinte, como protesto pela agresso sorida, os moradores deSanta Ana decidiram suspender as aulas em todas as instituições da comunidade.Sobre isso, o secretário de Educaço Pública, Darío Carmona García, declarouque oi oerecida uma denúncia ministerial contra “quem or responsáel” pelaobstruço do seriço educatio.

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Por sua parte, o delegado da Procuradoria Federal de Proteço ao Ambienteem Puebla, Rubén Pedro Rodríguez orres, declarou aos meios de comunicaçolocais que já haia sido echado o orno da indústria Ecotérmica de Oriente, masque o restante das instalações podiam continuar em uncionamento, pois no oi

constatado que produzissem dano ambiental. Conrmou que existiam “algumasirregularidades” dentro da empresa, uma das quais consistia em no contar coma licença correspondente para operar o incinerador, mas esclareceu que isso noimplicaa o echamento denitio da empresa.

Até hoje se mantém o estigma público, estimulado pelos meios de comunicaço locais, de que os habitantes de Santa Ana so “agitadores” e que “há criminosos inltrados em seus protestos”.

3. A ga c

wilrido Robledo, um dos responsáeis pela represso em Atenco, Estadodo México, declarou aos meios de comunicaço, poucos dias depois dos atos, queos maniestantes de Atenco no tinham dado alternatia para solucionar o conito. Por isso é que a polícia “oi obrigada a interir”.

Diante do escalonamento do conito, o Estado costuma obter a legitimaçorequerida ante a sociedade em seu conjunto, para eitar os altos custos políticos douso da Força Pública. Utiliza a perspectia, geralmente negatia, dada pelos meiosde comunicaço à isibilidade que nalmente “conseguiram” os moimentos e, emmaior ou menor tempo, dependendo dos ritmos da oportunidade política, reprime os moimentos com um menor custo, eitando um impacto mais orte nasurnas das eleições seguintes.

Com muita reqüência existe um “timing”, ou cálculo político, da pertinência da represso que é realizada pelo Estado em dierentes momentos, dependendodo custo político que implique termos da legitimaço da aço. Em 2006, por exemplo, houe duas repressões com isibilidade na mídia. Uma delas, a represso emAtenco, que durou um dia só, oi baseada no ato de que o moimento continuaa

articulado e muito atio, apesar de ser um moimento triunante. A outra, emOaxaca, demorou meses para ser realizada diante de um cenário nacional em queo goerno necessitaa urgentemente de legitimidade, em razo dos questionamentos às recémrealizadas eleições, e com uma importante representaço de proessores pertencentes à seço 22 da CNE.

Se a represso ainda no é oportuna, isto é, politicamente rentáel, a apostaé em processos de conrontaço mais longos e de menor intensidade, sob a premissa de diidir e enrentar. Nesses casos, ignoramse os moimentos ou comu

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nidades com lideranças empoderadas e com dirigentes com plena capacidade deenrentamento, ao mesmo tempo em que se busca cooptar uma parte deles comdierentes oertas de poder político ou econômico. Dessa orma, tratase de que osmoimentos se desgastem lentamente e diminuam a atenço no conito que têm

com o Estado, para terminar em um enrentamento entre seus membros.Isso deixa os moimentos sumamente ulneráeis diante de ataque de gru

pos proocadores ligados ao goerno ou, em casos mais extremos, a grupos paramilitares Nesses casos, no nal da conrontaço, os acontecimentos sempre seroqualicados pelo Estado como rutos de um conito intercomunitário, alheio àresponsabilidade goernamental. Isso tem cobrado muita orça nos últimos anos.

Dependendo do custo político que esteja disposto a pagar pela represso,em unço da eetiidade dos ns de desmobilizaço que se propõe, o Estado utiliza dierentes tipos de represso. O gráco 5 mostra quais so os atores goerna

mentais aos quais se enrentam os atores sociais.

A represso massia é aplicada a numerosos grupos de pessoas. em umamaior isibilidade e isso elea o custo político. Geralmente é mais diícil de con

gráco 5

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trolar, pois conronta liremente as orças policiais com os moimentos sociais. Isso permite atos de maior brutalidade que costumam gerar iolações aosdireitos humanos, cuja responsabilidade indiidual se oculta no conronto entregrupos. Assim oram os casos de Atenco e Oaxaca em 2006. Normalmente no

há distinço das pessoas que so reprimidas e representa um altíssimo custohumano para os moimentos.

Por outro lado, a represso seletia é dirigida contra líderes ou indiíduosestrategicamente selecionados de um moimento ou organizaço. A repressoseletia pode operar ainda com mais sigilo por meio do desaparecimento demembros de moimentos ou organizações e cuja responsabilidade oculta no éreconhecida pelo Estado. É o caso dos desaparecidos do Exército Popular Reolucionário EPR, Gabriel Alberto Cruz Sánchez e Edmundo Reyes Amaya, noano passado. Para exigir sua apresentaço com ida, o conito oi escalonadocom estratégias de enrentamento mais radicais, que conseguiram um importante espaço na mídia, antes nunca isto no país. A represso seletia pode atingir seu objetio ao descabeçar ou desarticular completamente um moimento,mas pode também encrespar os ânimos, proocando reações mais duras de dierentes grupos da populaço, chegando a ser contraproducente para o Estado.

O undamental a ser considerado é que a orma de represso exercida

pelo Estado sempre obedecerá a sua necessidade de legitimidade por parte da

opinio pública e da populaço em geral. E essa legitimidade está diretamente

relacionada com a imagem abricada de “criminosos” dos atores que protestam.

Os moimentos com estruturas sólidas como os sindicais, que reiindicam, sobretudo, demandas trabalhistas, têm sido reprimidos nos últimos anos,

porém com menor energia que outros setores mais débeis. Organizações ar

madas como o EPR ou inclusie o Exército Zapatista de Libertaço Nacional

EZLN tieram necessidade de gerar uma estrutura sumamente orte a partir

da sua linha militar para eitar essas ações.Por outro lado, os moimentos mais inorgânicos so reprimidos com

mais acilidade e deslegitimados ante a opinio pública, como grupos iolentosque atentam contra a segurança e a ordem pública. Como no têm uma estrutura

capaz de responder embates dessa classe, gerase uma paralisaço da solidariedade e reduzemse os custos políticos do goerno.

No é triial que a maior parte dos casos de conituosidade social no

país reiindique demandas trabalhistas; segundo nossos dados, representam em

torno de 30% dos conitos no país. Isso mostra, por um lado, a ausência da par

ticipaço democrática mais importante existente no México, a trabalhista, mas

também o espaço que é mais legitimado socialmente como álido em seu en

rentamento com o Estado. No entanto, a maior parte dos conitos trabalhistas

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em que o Estado interém no é encabeçada por organismos de estruturas ortes

e reconhecidas, como sindicatos, e dicilmente chegam a algum tipo de acordo.

Existem dierentes mecanismos pelos quais a orça pública reprime, a

zendo este jogo de manter a imagem de maior legitimidade possíel diante da

sociedade ciil, quando precisa. Por ordem da isibilidade que lhes é dada comomais ou menos legítimos, citamos aqui alguns deles:

As estratégias de conrontaço mais reprimidas em 2007, segundo os dados do Obseratório da Conituosidade Social no México, so aquelas em quehá algum tipo de enrentamento ísico. O gráco 6 mostra claramente as estratégias mais reprimidas. O leitor atento descobrirá que esto organizadas em doisgrupos: um conjunto de estratégias que no têm contato ísico e um segundo emque a expresso ísica é maior.

 

A O ator social se maniesta com ormas institucionais ou noinstitucionais. A polícia é eniada para conter. O ator enrenta isicamente a polícia.A polícia reprime.

gráco 6

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Esse tipo de represso é comum diante de muitas marchas que se deseja im

pedir ou desiar e costuma ser apresentado como uma alta de controle do moi

mento sobre seus integrantes. Por isso, tem um baixo custo político para o Estado e

é utilizado com certa reqüência. Noamente se apresentam os membros do moi

mento como pessoas iolentas, diante das quais o comando policial interém com

o pretexto de no permitir agressões contra a autoridade que representam. Esse

tipo de estratégia de contenço restringe os objetios da maniestaço dos moi

mentos e normalmente é utilizada como uma proocaço que lea à represso e ao

desprestígio, no caso de os moimentos morderem a isca.Chega um operatio com a unço de desalojar um grupo que atenta con

tra a propriedade priada ou alguma orma de interesse público, como ias decirculaço. O ator social conronta o operatio; a polícia reprime. Esse tipo de re

presso se mostra para a sociedade ciil como mais legítimo em comparaço comas outras e, por isso mesmo, o custo político que gera é mais ácil de ser manejadopelo Estado, porque é apresentada supercialmente em unço da deesa de umbem ou direito público. Nesses casos, podem ser apresentadas acilmente imagensque contribuam para deslegitimar o ator social, por seu modo de operaço emdeterminado momento, sem nada considerar, é claro, do processo anterior.

Por exemplo, a represso realizada contra a populaço de San SaladorAtenco em 2006 oi desse tipo, na qual os meios de comunicaço desempenharam um papel importante apresentando repetidamente as agressões préias

aos policiais do município e do Estado. Depois disso, o Estado sentiuse coma capacidade plena de introduzir a orça pública com ordem de realizar umarepresso brutal, o que oi eito.

B O ator social se maniesta com ormas no institucionais, tais comobloqueios, ocupaço de instalações ou detenço de autoridades. A polícia chega imediatamente para reprimir.

Neste outro tipo de represso o Estado pode pagar um custo políticomaior por sua interenço e se apresentar como incapaz de negociar, ineicaz

e inclusie inepto diante de um maior número de grupos da sociedade ciil.Apesar disso, ao escudarse em sua unço undamental de manter a ordempública e a segurança social da populaço, adogando por terceiros prejudicados, pode desprestigiar graemente as dinâmicas de aço do moimento quereprime, apresentandoo como um grupo que atenta contra a segurança e o interesse público. Costuma ser apresentado como negatio para os moimentossociais que so caracterizados como delinqüentes.

O ator social se maniesta institucionalmente. A polícia chega imediatamente para reprimir. É o modelo de represso de mais baixa legitimidade por

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parte do Estado. Mostra um goerno intolerante, incapaz de azer acordos e deter respostas sumamente iolentas contra a liberdade de expresso da populaço. É um goerno que iola os direitos humanos e isso chega a gerar pressotanto interna como internacional. Muitas ezes é inisibilizado pelos meios de

comunicaço de massa, a partir de critérios de interesse político, mas, no casode um alto níel de agressiidade, termina por aparecer acilmente.

C Outra estratégia do Estado para conrontar os moimentos, em combinaço ouno com a represso, é a que tem sido chamada de judicializaço. Consiste em colocar osmoimentos sociais em longos processos legais, com intuito de um desgaste interno dosmoimentos e que deixam os atores sociais em uma situaço de prounda desantagemem termos de recursos, tanto econômicos como prossionais, para enrentar seu conito.E, mesmo quando têm a capacidade de lear o processo a bom termo, o resultado pode ser

claramente inclinado a aor do Estado, em irtude da corrupço de autoridades.Esse é o caso do processo contra a jornalista Lydia Cacho, que denunciou

em seu liro Los demonios del Edén uma rede de prostituiço e pornograa inantil, na qual se encontram implicados poderosos empresários e autoridades dogoerno que oram expostos à luz pública com proas claras de corrupço e trácode inuências. No entanto, Lydia Cacho obtee uma sentença negatia por parteda Suprema Corte de Justiça que oi baseada na suposiço de que a populaço nopode compreender as sosticadas decisões do poder judicial, em que se é incapazde azer justiça sobre algo que a qualquer um resultaria eidente.

A judicializaço também é muito utilizada pelo Estado como um método derepresso mais sutil, de aparência legal. É utilizado para paralisar os moimentosem processos criminais, abricando presos políticos, azendo com que o moimentotenha que mudar a prioridade de seus esorços para a libertaço de seus membrosencarcerados, perdendo assim grande parte da capacidade de manobra que tinhamno princípio. É esse o caso dos detidos em San Salador Atenco a raiz da inaso dapolícia em maio de 2006, cujos processos judiciais paralisaram o moimento, queagora tem que enrentar uma luta diante de sentenças de 67 anos contra seus líderes.O Centro de Direitos Humanos da Montanha lachinollan CDHM documentouem seu último Inorme 73 processos legais contra líderes sociais, 75 ordens de de

tenço e 44 inquéritos abertos. Isso signica mais de duzentas ações penais contralíderes sociais, apenas no que oi documentado pelo CDHM em Guerrero.

O Centro de Direitos Humanos “Fray Bartolomé de Las Casas”, em seu recente Inorme sobre a situaço dos Direitos Humanos em Chiapas, dedica seucapítulo 2.º ao tema da criminalizaço, enocandoa partir dos mecanismos decontrole, particularmente o processo de judicializaço

155.

155 Centro e dretos Hmnos “Fry Brtolomé e Ls Css”. informe sobre stção os dretos Hmnosem Chps, Méxco, jl. 2008, Cp. 2. Em se anexo ii ocment m sére e csos qe conser como prte crmnlzção o protesto em Chps (p. 139-145).

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O restante do desgaste dos moimentos é gerado a partir das próprias condiçõesprecárias em que se encontram as populações lá onde eles mais surgem. Assim, o Estado os margina a um processo no qual no podem manter uma luta de longo ôlego, sobcondições to ortes de necessidade social que so as que geram a maior parte dos conitos.A corrente se rompe, denitiamente, no elo mais raco, aquele em que as pessoas so maiscapazes de leantar a oz no conronto a partir dos moimentos, porque têm pouca coisaa perder. Mas é também por meio dessa necessidade que o Estado atua para cooptar seus

membros e os isola em um processo de desgaste mais acelerado que, ao longo do tempo esem um processo de desenolimento alternatio, é incapaz de manter.

Isso pode ser isto acilmente no ato de que os Estados nos quais nossos dadosregistram mais conitos Gráco 7 so precisamente aqueles em que existe um maioríndice de marginaço social e pobreza. So também Estados com alto índice de presençaindígena, grupo social historicamente excluído e marginalizado em nosso país. Os cincoEstados que apresentam esse maior níel de marginaço – Chiapas, Guerrero, Oaxaca, Hidalgo e veracruz – so precisamente os de maior índice de conituosidade, salo o Estadodo México e o Distrito Federal. No norte do país, Chihuahua, único Estado de eleada

populaço indígena, se destaca pelo número de conitos.De um total de 151 conitos com pelo menos uma contraparte indígenaregistrados pelo Obseratório da Conituosidade Social no México, cerca dametade se localiza em Chiapas 47%, 21% em Oaxaca e 6% em Guerrero.

Igualmente, é nesses territórios que há, coincidentemente, uma maiorpresença de recursos naturais estratégicos, de que o Estado pretende se apropriarpara a utilizaço em seu interesse e das empresas transacionais, o que relacionaesta orma de interir nos conitos a outros processos de interesse econômico detendência principalmente neoliberal.

gráco 7

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Quando nos perguntamos quais so as demandas mais reprimidas, e consultamos os dados do Obseratório, constatamos que os conitos trabalhistas e osque pedem inraestrutura e seriços so os mais reprimidos. vale a pena assinalarque a luta contra a impunidade é uma demanda muito notada e que é reqüentemente reprimida pelas autoridades. A seguir, apresentamos no Gráco 10 os conitos mais recorrentemente reprimidos.

gráco 8

gráco 9

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173

gráco10

gráco11

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Da mesma orma, o Gráco 11 mostra claramente os atores mais reprimidos. A maneira de abordar os setores no permite er o conjunto de atores indígenas que protesta e é reprimido, mas as ciras obtidas pelo Obseratório nospermitem armar que constitui 12% do total, ou seja, um pouco mais do que a

porcentagem representada pelo conjunto dos Poos Indígenas.vejamos alguns casos de represso ocorridos em 2007. Obiamente os ca

sos mais conhecidos e dos quais se alará com mais proundidade neste órum soos de Oaxaca e o de San Salador Atenco, de 2006. 

m ea Ac

Um grupo de estudantes no admitidos no Instituto Politécnico Nacional,reunidos no Moimento de Estudantes no Aceitos MENA

156 , demandaam

perante as autoridades da Secretaria de Educaço Pública e do próprio Instituto areconsideraço de seus casos e mais agas nos cursos. Em uma de suas maniestações, no dia 7 de agosto de 2007, oram desalojados pela polícia preentia, comum saldo de noe detidos.

Este caso é um pouco dierente dos outros, pois as autoridades educatias atuaram com muito mais rapidez no processo de represso. Passaram da negaço de interlocuço e da inisibilizaço à represso direta em um prazo muito curto. Os detidosoram acusados dos delitos de seqüestro, dano em propriedade alheia, motim e iolaço da Lei Federal de Armas de Fogo e Explosios. Posteriormente, oram acrescentadas outras acusações, tais como obstruço ao acesso a instalações e roubo.

Essas imputações oram negociadas quando os estudantes se reagruparame continuaram com suas demandas, acrescentando agora a liberdade dos detidos.A negociaço consistiu em que os noe detidos seriam libertados sem acusações,sempre e quando os estudantes desistissem das mobilizações e de suas petições dematrícula no Instituto Politécnico Nacional. A negociaço oi eita, os estudantesse desmobilizaram e caram sem escola para continuar seus estudos. Ou seja, a

 judicializaço ez parte do processo de desmobilizaço.

eca na Ayaa G

O conito dos proessores da Escola Normal rural de Ayotzinapa, em Guerrero,é outro dos casos que consideramos emblemático, pois reiindica demandas historicamente negadas pelas autoridades do Estado de Guerrero e oi inisibilizado pelosmeios de comunicaço. Esse conito, iniciado a 11 de noembro de 2007, repete o

156 Pr ms nformção sobre este movmento cf. <http://www.oseo.com.mx/lectores/2005/08/nete-l-mov-mento-e-estntes-no.htm>.

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caminho dos demais moimentos, desde a negatia de interlocuço até a negociaço,passando pela consabida represso. Nessa ocasio, a represso no oi realizada apenaspor elementos da polícia local ou estadual, mas também por corpos policiais ederais,insinuando a presença de grupos radicais e acilitando a criminalizaço do processo.

O moimento de estudantes agrupados na Federaço de Estudantes Camponeses Socialistas do México FECSM reiindicaa em sua agenda três pontos:a permanência do sistema de internato, a licenciatura em educaço primária e acriaço de 75 noas agas para proessores de educaço primária. O conito oisendo escalonado na medida em que os peticionários no eram atendidos pelasautoridades. Soreu uma brutal represso, no dia 29 de noembro, quando umcontingente de policiais estaduais e ederais PFP agrediu uma maniestaço que

 joens proessores realizaam no posto de pedágio, nos arredores da cidade deAcapulco, sendo detidas 56 pessoas. várias caram eridas, uma delas graemente.No dia 18 de dezembro oram aceitas as primeiras demandas citadas acima, menos

a criaço das 75 noas agas para proessores. Na negociaço que pôs m pelo menos a esta etapa do conito, um dos pontos da minuta oi a deoluço dos eículosapreendidos pelos estudantes, e se estabelecia que o goerno impulsionaria a “desistência da aço penal” contra os maniestantes detidos.

Aya lb, G

No dia 17 de abril, em Ayutla de los Libres, estado de Guerrero, Manuel Cruzvictoriano, Orlando Manzanarez Lorenzo, Natalio Ortega Cruz, Raúl Hernández

Abundio e Romualdo Santiago Enedina, integrantes da Organizaço do Poo Indígena Me´phaa OPIM, deensores de direitos humanos, oram detidos em um bloqueio policialmilitar em cumprimento de uma ordem de detenço contra eles pelohomicídio de Alejandro Feliciano García no dia 1.º de janeiro de 2008. Até poucoantes dessa detenço, a inestigaço desse homicídio, que de acordo com denúnciasanteriores da OPIM oi obra de um grupo paramilitar ao que a ítima pertencia,estaa completamente parada. Foram expedidas as ordens de detenço contra oscinco integrantes da OPIM poucas horas depois da exumaço do corpo da ítimae no contexto da oensia do goerno do Estado de Guerrero contra a organizaçoindígena. O Processo pode lear ários anos para ser concluído e, enquanto isso,os deensores de direitos humanos permanecem na priso, apesar das modicaçõeslegais que asseguram a presunço de inocência até proa em contrário.

Aaa, Chaa

Mais de quatro mil militantes e simpatizantes dos partidos do rabalho,Conergência, verde Ecologista e Aço Nacional, em sua maioria indígenas, mar

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charam na cabeceira do Altamirano, Chiapas, no dia 30 de dezembro de 2007,para exigir a anulaço das eleições municipais. A ganhadora do pleito, segundoa contagem do Instituto Estatal Eleitoral oi Heidy Pino Escobar, do PRI. Os inconormados exigiram a ormaço de um Conselho Municipal, pois asseguraam

que durante o processo eleitoral houe compra de otos a aor dessa candidata.No transcurso da marcha oram registrados enrentamentos com integrantes doPvEM e do PRI em Altamirano, Chiapas. No nal do protesto, policiais estaduaisdetieram umas inte pessoas e dispersaram a maniestaço com gases. Os maniestantes oram libertados poucas horas depois.

maaá va F, oaxaca

A associaço ciil Mie Nillu Mazateca, que opera a emissora comunitária Ra

dio Nandia no pooado de Mazatlán villa de Flores, em Oaxaca, soreu ários atosde proocaço e represso por sua posiço política. Já no dia 24 de agosto de 2006um grupo de pessoas, liadas ao PRI, supostamente eniadas pelo goernador de Oaxaca, Ulises Ruiz, apoderouse do equipamento de transmisso e agrediu sicamenteos operadores. Nesse mesmo dia, a energia elétrica oi cortada pelas mesmas pessoasque os haiam agredido anteriormente. Ao chegar à central de energia, essas pessoasameaçaram o pessoal da rádio Nandia, que tee que se retirar. No dia seguinte, no oipossíel entrar na rádio, pois a echadura haia sido iolada. Dois dias depois, 26 deagosto, integrantes da rádio tentaram entrar nas instalações, mas no tieram sucesso,pois as mesmas pessoas que os proocaram anteriormente, com armas em mos eameaçando atirar, impediram a entrada dos integrantes à rádio. Por tudo isso, a rádiocomunitária Nandía tee que suspender suas transmissões. Nos últimos meses reiniciaramse as proocações, e por diersos meios, tanto intimidatios como judiciaistemse tentado azer com que a rádio comunitária Nandía seja echada.

4. Ccõ

  No enrentamento moimentosEstado, so cada ez mais reduzidas ascondições para as saídas negociadas. Por um lado, o Estado está cada ez menos disposto a azer concessões substantias aos moimentos sociais e trata de justicar seuendurecimento qualicandoos de extralegais e ilegítimos, de no ser interlocutores

 álidos que mereçam ser incorporados por meio da presso a qualquer que seja otipo de negociaçoacordo.

Por outro lado, um número signicatio de moimentos sociais está cada ezmenos disposto a ceder diante da deciso ertical ou diante do prejuízo e despojoque sorem. É reqüente que as mobilizações sociais resultem insucientes e atécontraproducentes para pressionar a classe política e os goernos em aor de uma

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soluço negociada. Nessas circunstâncias, este número signicatio de moimentossociais promoe cada ez menos uma política de aproximaço, de diálogo e de negociaço estratégica com o goerno.

Ao mesmo tempo, a disputa e as reacomodações no seio da classe política no

deixam claro quem é o interlocutor álido para os acordos. E, dentro dos moimentos, a multiplicidade de lideranças ou a presso das bases radicalizadas relatiiza opapel das direções políticas como interlocutores para a negociaço.

Constatase que cada ez há maior participaço das mulheres nos moimentos sociais. Muitas ezes em séria tenso com os homens, seus companheiros. Damesma orma, a presença indígena nos moimentos sociais e o protagonismo dasorganizações indígenas é um ato muito releante e representa 12% do total de atoresque esto mudando, com toda a clareza, a agenda social em seu conjunto.

O espaço de negociaço é utilizado pelo Estado para iniabilizar os conitos

estratégicos, e pelos moimentos como um recurso tático para ganhar orça. Porisso, a margem de negociaço está se tornando rágil e estreita. As mesas de diálogoesto tendendo a se conerter em mesas táticas, nem de undo nem estratégicas,ou em espaços para resoler transitoriamente conitos trabalhistas, organizacionaisou muito locais. Ainda é prematuro qualicar o caso concreto do Exército PopularReolucionárioGoerno Federal.

Existe todo um processo de enrentamento, por parte do goerno, contra os mo imentos sociais, que aposta no desgaste paulatino destes últimos e que se inicia com ainisibilizaço e termina com a represso ou judicializaço dos conitos. Esse processoestá baseado na mesma estrutura de relaço sociedade ciilgoerno mantida historicamente com partidos de Estado e mecanismos clientelistas e corporatiistas, que o situaem uma política de Estado independentemente do partido que estier no goerno.

Para poder responder à criminalizaço que existe atualmente no Estado mexicano é preciso, entre outras coisas:

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•Impulsionar uma abertura de co-responsabilidade participativa para asociedade ciil, com intuito de transormar esses mecanismos. Isso implica, entreoutras coisas, explorar noos mecanismos para transormar conitos, acudindo ainstâncias especializadas da sociedade ciil; acudir a organizações de direitos hu

manos ciis e públicas; documentar com maior preciso as iolações aos direitoshumanos; dar maior protagonismo a setores inisibilizados no interior dos própriosmoimentos, como as mulheres e os indígenas.

•Osmovimentossociaisdevemseprepararparaestratégiasmaiscomplexasde aço, que incluam medidas de segurança para eitar e preenir a represso.

•Osmovimentossociaisdevemassumiremsuasagendasasreivindicaçõesde gênero no como assuntos táticos, mas como elementos substantios de constituiço. Da mesma orma, deem assumir a incluso em sua iso de país a todos ossetores sociais, um dos quais o constituído pelos poos indígenas, reconhecendo sua

própria especicidade e agenda.•Manteraarticulaçãoentreosdiversossetoresemovimentossociaiscomo

parte da estratégia de deesa diante da criminalizaço promoida pelo Estado.•Gerarprocessosdesensibilizaçãoeaproximaçãocomosmeiosdecomuni

caço, bem como criar e enriquecer mecanismos alternatios de comunicaço.* * *

Acô

AI Anistia Internacional,

ASPAN Acordo para a Segurança e prosperidade da América do Norte

CECOP Conselho de Ejidos e Comunidades Opositoras à Parota

CEPAL Comisso Econômica para a América Latina e o Caribe

CEREAL Centro de Reexo Laboral, A. C.

CDHFv Centro de Direitos Humanos “Fray Francisco de vitoria”, A. C.

CDHFBLC Centro de Direitos Humanos “Fray Bartolomé de Las Casas”, A. C.

CDHM Centro de Direitos Humanos da Montanha lachinollan

CFE Comisso Federal de Eletricidade

CIDE Centro de Inestigaço e Docência Econômicas, A. C.,CNE Coordenadoria Nacional de rabalhadores da Educaço

EPR Exército Popular Reolucionário

EZLN Exército Zapatista de Libertaço Nacional

FECSM Federaço de Estudantes Camponeses Socialistas do México

FNCR Frente Nacional Contra a Represso

FDAM Frente em Deesa da Água de Morelos

IFAI Instituto Federal de Acesso à Inormaço Pública

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ISSSE Instituto de Seriços e Segurança Social para os rabalhadores do Estado

LIMEDH Liga Mexicana pelos Direitos Humanos

MPMAG Moimento Pró Melhoramento do Agro Guanajuatense

MENA Moimento de Estudantes No Aceitos

OACNUDH Ocina do Alto Comissariado das Nações para os Direitos HumanosOI Organizaço Internacional do rabalho

OCSM Obseratório da Conituosidade Social no México

OPIM Organizaço do Poo Indígena Me´phaa

PAN Partido Aço Nacional

PEMEX Petróleos Mexicanos

PGR Procuradoria Geral da República

PRI Partido Reolucionário Institucional

PRD Partido da Reoluço Democrática

PROFEPA Procuradoria Federal de Proteço do Meio Ambiente

PvEM Partido verde Ecologista do México

SERAPAZ Seriços e Assessoria para a Paz A. C.

SEDENA Secretaria da Deesa Nacional

SNE Sindicato Nacional de rabalhadores a Educaço

LCAN ratado de Lire Comércio da América do Norte

Bbgaa

l ag

CACHO, Lydia. Los Demonios del Edén. México. Grijalbo. 2004

CARDARSO LORENZO, Luis Pedro. Fundamentos teóricos del conicto social.S XXI de España. 2001.

ROMO, P. “El Obseratorio de la Conictiidad Social en México como instrumento para la transormación positia de conictos”, en AILANO URIARE, M. Los retos del México actual. Centro de Promoción y Ecuación Proesional “vasco de Quiroga”, A. C. México.Julio, 2007.

pága a i caa

http://.tlachinollan.org/inicio.htm

http://espora.org/comitecerezo/spip.php?article24 ,

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http://espora.org/limeddh/

http://.orldaterorum4.org.mx/home/home.asp

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Centro de Derechos Humanos “Fray Bartolomé de Las Casas” en su recienteInorme sobre la situación de los Derechos Humanos en Chiapas. México. Julio 2008.

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Comisión Nacional de Derechos Humanos. Recomendación 036/2008.México. Julio 2008.

Comisión Nacional de Derechos Humanos. Recomendación 035/2008

México. Julio 2008.

Comisión Nacional de Derechos Humanos. Recomendación 034/2008México. Julio 2008.

Comisión Nacional de Derechos Humanos Comisión Nacional de DerechosHumanos. Recomendación 033/2008 México. Julio 2008.

Comisión Nacional de Derechos Humanos. Recomendación 032/2008México. Julio 2008.

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Comisión Nacional de Derechos Humanos. Recomendación 031/2008México. Julio 2008.

Comisión Nacional de Derechos Humanos. Recomendación 030/2008

México. Julio 2008.

Comisión Nacional de Derechos Humanos. Recomendación 029/2008México. Julio 2008.

Ertürk, Yakin. Integración de los derechos humanos de la mujer y la perspectiade género: la iolencia contra la mujer. Misión a México. Inorme E/CN.4/2006/61/Add.4 del 13 de enero de 2006.

Garretón, Roberto. Inorme de la visita de la Comisión Internacional de Juristas y la Obra Diacónica Alemana a Oaxaca, México. SERAPAZ, 2007.

Hernández, Roberto. La Reorma Judicial. CIDE.2006.

Hernández, R. “Memorando. El objetio de la reorma de los juicios orales”.CIDE. 30 de abril de 2006.

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SERAPAZ, Inorme anual 2006. Obseratorio de la Conictiidad Social enMéxico. México. 2007

OACNUDH. Diagnóstico sobre la situación de los Derechos Humanos enMéxico. México. 2006.

OI, Conenio 169.

Paz Con Democracia. Llamamiento a la Nación. Octubre 2007.c. http://.serapaz.org.mx/paginas/Llamamiento%20a%20la%20nacion%20mexicana.pd 

Tradução: Beatriz Cannabrava

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pArAGuAi

CriminAlizAção de movimentos soCiAis no

pArAGuAi: AlGuns elementos pArACompreender suA mAGnitude157 

 Marielle Palau e Ramón Corvalán 158

¿o a aa c a?

Entre as 6h30 e as 9h30, aproximadamente, da terçaeira 1.º de julho de 2008,

na Rua 6, distrito de Horqueta, Concepción, Paraguai, mais de 300 eetios policiais,sem mostrar em nenhum momento a ordem de busca, realizaram uma “reista” em umacampamento de camponeses e moradores da mencionada rua. O procedimento tee asseguintes características: entrada da polícia nos domicílios dos moradores de maneira

 iolenta pegando as pessoas pelo pescoço, sem explicar o motio da apreenso; disparos contra o pessoal do acampamento, obrigandoos a deitarse na terra. Estando nessa posiço, os policiais começaram a pisar nas suas costas, caminhando sobre eles; outrosgolpeaam os camponeses na cabeça com as culatras dos uzis; ários policiais urinaramem cima das pessoas que se encontraam no cho. Ao mesmo tempo, os policiais proe

riam ameaças de queimálos ios, dizendo que antes da chegada à promotoria estariamtodos mortos com a desculpa de que houe enrentamento, mas antes de serem mortosseriam iolados, porque todos eram guerrilheiros e delinqüentes.

Alguns camponeses oram obrigados a comer terra. Os policiais explicaam queessa era a maneira mais rápida de conseguir a terra própria. Uma mulher que protestou, por ser maltratada, oi ameaçada de ser queimada ia se continuasse insistindo.Disseramlhe que casse tranqüila porque, na realidade, ela estaa preocupada pelomotio de car sem “machos” que pudessem satisazêla sexualmente. A tudo isso seagrega o ato de que os policiais roubaram dos moradores celulares, dinheiro, acões,

lanternas, mochilas, sapatos, desodorantes, calças, camisetas, luas, carteiras, carregadores de celular, alicates, rádios portáteis, colchões, entre outras cosas. Os policiaisnalizaram o procedimento esquartejando porcos de propriedade dos moradores, e

157 Este ocmento q presento não é o reslto e m esto em prtclr, ms síntese e várs proções e BaSE.iS e Serpj, com o poo e nformção fornec pel Coorenor e dretos Hmnoso Prg. assm, mts s nformções tlzs já form pblcs em ferentes trblhos.158 MaRiELLE PaLau E RaMÓN CORVaLÁN ntegrntes BaSE. investgções Socs e Servço e Pze Jstç – Prg.159 a escrção o procemento está bse no texto enúnc o fto, elboro e presento pel eqpe

 jríc Coorenor e dretos Hmnos o Prg (COdEHuPY) o Promotor, com cóp pr o Co-mno Políc Nconl e pr Comssão e dretos Hmnos Câmr e deptos e o Seno.

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em seguida os comeram em orma de churrasco 159.Este particular procedimento de “busca” na erdade está mais próximo dos

princípios da estratégia conhecida como “impacto e paor”. O criador dessa doutrinadizia que “o impacto e paor busca, mediante o uso de todo o nosso poder ísico e

psíquico, que o inimigo se sinta to ulneráel e intimidado por nossa capacidade que eja a inutilidade de qualquer resistência. Os objetios so a ontade, a percepço e ocomportamento do adersário”. Isto coincide com uma das conclusões do InormeChokokue quando aponta que “muitas dessas execuções arbitrárias pretendiam causarterror nas comunidades camponesas, deter espirais de resistência e protesto social oudescabeçar organizações de base” CODEHUPY, 200.

Neste documento so apresentados alguns elementos de análise para tentarcompreender, situar e explicar a prática da criminalizaço dos moimentos sociaisno Paraguai. As respostas do Estado às demandas, particularmente das organizações

camponesas, combinam árias estratégias que o desde procedimentos aparentemente legais até deixar que sicários contratados por particulares se ocupem de realizardesaparições e/ou execuções.

u ca aégc

O ato de estar situado no “coraço da América do Sul”, como dizem, outorga aoParaguai uma alta importância geopolítica, pois praticamente todos os países da regio

se encontram eqüidistantes do território paraguaio. Esse é um dos tantos motios queexplicam o interesse dos Estados Unidos da América do Norte em incrementar sua presença militar, no apenas ísica, mas quase como um “antasma” onipresente. Isso emacontecendo de maneira sistemática desde a época da ditadura de Stroessner e tem tidoum aumento signicatio nos últimos anos CADA, 2006, com a justicatia da supostaexistência de células inculadas ao terrorismo na zona da chamada tríplice ronteira.

Grande parte da Regio Oriental do país – a mais pooada e értil – encontraselocalizada sobre o Aqüíero Guarani. Isto é, sobre uma das maiores reseras de águapotáel do planeta que poderia satisazer indenidamente as necessidades diárias de

360 milhões de pessoas160

CANDIOI, 2007. Além disso, é no território paraguaioque se produz a maior recarga do aqüíero e a prospecço de mais ácil acesso.Como ocorre no nosso continente, a biodiersidade existente em solo para

160 Se volme está estmo em 55.000 qlômetros cúbcos. C qlômetro cúbco eqvle m mlhão emlhões (oze zeros) e ltros e ág. Explorno nlmente 40 qlômetros cúbcos poerm ser bstecsproxmmente 360 mlhões e pessos, c m com m consmo áro e 300 ltros e ág. a recrgestá estm entre 160 e 250 qlômetros cúbcos por no. a áre ms mportnte e fnmentl e recrg eescrg é o correor trnsfronterço entre Prg, Brsl e argentn, loclzo n zon Tríplce Fronter.dsponível em: <http://www.rel-t.org/rorel/texto/23.htm>.

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guaio é outra de suas importantes riquezas, e sobre ela já puseram os olhos asempresas transnacionais. A Mata Atlântica é um dos ecossistemas undamentais,tanto por sua auna como por sua ora. Alo ideal do ponto de ista dos interessesdo capital, para o patenteamento genético e cultural, em especial dos conhecimen

tos medicinais ancestrais, cuja riqueza é bem conhecida e altamente utilizada ediundida entre o poo paraguaio. Por meio da política de substituiço de díidapor natureza, está sendo perdida a soberania sobre as regiões mais importantes.Muitas dessas reseras já se encontram administradas por organizações conser

 acionistas apoiadas pela Agência dos Estados Unidos para o DesenolimentoInternacional USAID e pelo Fundo Mundial para a Natureza wwF.

A riqueza energética é outro dos recursos naturais do país. Por um lado, aque é ornecida pelas hidrelétricas: Itaipu compartilhada com o Brasil e Yacyretácompartilhada com a Argentina, e que é aproeitada principalmente por ambos“sócios”, e outras de menor energadura, de propriedade do Estado paraguaio. Soesses rios que esto incluídos nos projetos da Iniciatia para a Integraço da Inraestrutura Regional Sulamericana IIRSA que proaelmente se conertero noscorredores do agronegócio. Por outro lado, cada ez mais se menciona a existênciade reseras de gás e petróleo na asta e despooada Regio Ocidental ou Chaco, cujaexploraço já oi cedida a empresas estadunidenses e canadenses.

Finalmente, e no por isso menos importante, está o alto rendimento agrícolado solo. Desde a época colonial até o presente – como já oi mencionado –, o Paraguaitem desempenhado na economia regional e mundial o papel de agroexportador dematériasprimas. Neste momento, a edete é a soja principal gerador de diisas do

país. vinte e quatro por cento das terras cultiáeis oram ocupadas por esse gro,destinado principalmente a satisazer a demanda de orragem do mercado europeu.Sessenta por cento da exportaço da oleaginosa está controlada por três transnacionais: Cargill, ADM Archer Daniels Midland Company e Bunge. Esperase que nospróximos anos a soja esteja competindo com a canadeaçúcar e outros cultios queesto sendo promoidos para a abricaço de agrocombustíeis biodiesel e etanol.

É assim que o capital, para garantir a penetraço e implementaço de suaspolíticas, impulsiona uma série de mecanismos que azem parte de uma estratégia que, em geral, tende a ser ista de maneira isolada e no como parte de umaengrenagem na qual se undem interesses internacionais com a cotidianidade daslutas sociais, isto é, com a sua perseguiço e criminalizaço.

exa pa Côba Poucos anos depois do início da abertura política, começaram de maneira

161 as prmers csções form fets pelo epto Celso Velázqez, o Prto Lberl Rcl atêntco,entre os nos e 1991 e 1993.

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sistemática as acusações161 de que setores camponeses realizaam treinamento militarpara a ormaço de um moimento guerrilheiro. Nunca se sustentou esse tipo de acusaço com proas concretas. No entanto, oi se tornando mais e mais reqüente, chegando aseu ponto alto no ano de 2001, quando uma organizaço política de esquerda oi acusada

de enolimento em um seqüestro, com o assessoramento das Forças Armadas Reolucionárias da Colômbia Farc. Posteriormente, a Promotoria oi azendo aparecer cada

 ez mais proas que inculam as organizações camponesas com a posse de “propagandaideológica” liros de Marx ou Fidel Castro, pôster de Che Gueara, manuais de treinamento militar, desencadeandose assim uma orte perseguiço às organizações sociais.

A partir desse ato, aproundaramse as relações entre os goernos paraguaio e colombiano para o assessoramento antiseqüestro e o intercâmbio de inormaço. Iniciouse um diálogo sustentado em supostas semelhanças entre ambos os países: no Paraguai,cultio de maconha, na Colômbia, coca e papoula; seqüestros em ambos; laagem de

dinheiro no Paraguai, inculada no só ao narcotráco, mas também a supostas célulasterroristas nanciadas pela Al Qaeda na ríplice Fronteira. Nesse marco, muitos juízes epromotores esto sendo treinados diretamente por pessoal colombiano.

O Plano Colômbia surgiu com a escusa do combate ao narcotráco, mas temutilizado o território desse país irmo para resguardar o controle políticomilitarno norte da América Latina. Dali oi aançando com orça para todo o continentecom o real propósito de calar qualquer oz que pretenda questionar ou pôr em riscoos interesses do capital. No se pode deixar de mencionar que o Plano Colômbia écomplementado com a Iniciatia Mérida, que nada mais é seno o Plano Colômbiapara o México e América Central, pois também com o pretexto de combater o narcotráco e o crime organizado justicase a interenço direta nessa regio.

A implementaço do Plano Colômbia no Paraguai estaria orientada undamentalmente a consolidar, a partir deste país priilegiado geopoliticamente, a dominaço do sul do Continente, treinando, neste caso, no as orças militares, mas oaparelho judicial encarregado de legalizar, proteger e deender as atiidades e açõesque aoreçam o processo de controle interno da populaço, de maneira que estano se constitua em ameaça para os interesses do goerno de George Bush.

o c ca

Em 2003, o presidente Nicanor Duarte Frutos promulgou o Decreto 167, que autoriza as Forças Armadas a atuar em ações de segurança interna, ou seja, sair às ruas para tudo quanto se considere necessário, desdeperseguiço à delinqüência comum, até, e principalmente, para interir –agora legalmente – nas repressões ao moimento popular. Deese recordarque isto acontece um ano depois de ter sido detido o processo de priatiza

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ço e a aproaço da lei antiterrorista, com uma mobilizaço de 16 dias naqual se alcançou unidade de aço das principais orças do campo popular,lideradas pelo moimento camponês.

A partir desse momento, os despejos das ocupações camponesas e a

 igilância das plantações de soja têm sido realizados pela polícia, conjuntamente com orças militares, num marco de recrudescimento da criminalizaço das lutas sociais, de acusações de inculaço com as Farc e de acusaçõesem massa a dirigentes camponeses. Como se pode obserar no seguintequadro, construído considerando somente inormaço jornalística, a iolência contra as organizações camponesas se deu majoritariamente durante osprimeiros anos do goerno de Nicanor Duarte Frutos, com o objetio noapenas de controlálas, mas buscando sua desmobilizaço. 

Qaa aja a  No ano de 2003, por meio de um decreto do Ministério do Interior, ogoerno criou ocialmente as Comissões de Segurança Cidad CSC162 com opretexto de incentiar a participaço da cidadania na soluço dos problemas de insegurança, embora aponte indiretamente à legalizaço de orças parapoliciais que

 êm uncionando há algum tempo em áreas rurais. Dos 93 casos de assassinatos

de camponeses a partir de 1989, 38% oram cometidos por autores ciis armados

162 deve-se conserr, tmbém, constnte presenç e grpos rmos esse tpo n hstór polítc prg. N éc e 1940, rnte o governo lberl e José Félx Estgrrb, conform-se o movmento os “GonesRojos” (Gs Vermelhos) “m estco grpo e mltntes o Prto Coloro, entre os qe grvm nver-stáros, estntes e operáros qe ecrm crr m orgnzção clnestn contr rbtrree mperntee pr bscr s lberes públcs qebrs e form tão prepotente” (Benítez Rckmnn, 1989). Ess org-nzção teve m ppel tenebroso rnte chm Revolção e 47, n ql se enfrentrm, por m lo, setoresmltres e o Prto Coloro e, por otro, m segno setor mltr com o poo o Prto Lberl, o PrtoFebrerst e o Prto Comnst. drnte cnco meses se esenrol m crent gerr cvl, com Vtór oPrto Coloro, o qe pocos nos epos permtr scensão e Stroessner o poer (Yore, 1992).

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e nenhum deles oi processado judicialmente .cde.org.py.

Ca aaa ac a a a a g aA conormaço das CSC – também conhecidas como “comissões garrote” – no

gerou muita surpresa, pois é “habitual” que setores inculados ao Partido Colorado se

encontrem habilitados para exercer o poder em todas as suas dimensões, inclusie opoder das armas. Enquanto isso – sobretudo nos setores organizados –, a desconança e o temor inicial oram se conrmando diante da cada ez maior quantidade dedenúncias de assassinatos, torturas e atropelos de todo tipo que esses grupos armados

 êm cometendo, undamentalmente contra militantes de organizações camponesas.Até esta data, a Coordenadoria de Direitos Humanos do Paraguai CODEHUPYconta com uma série de denúncias de assassinatos e atropelos cometidos. O quadro

163 O qro fo elboro com bse nos os consgnos nos informes áre jríc COdEHuPY pre-sentos ns renões plenárs menss ess orgnzção.

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abaixo apresenta alguns dos casos atendidos pela CODEHUPY163.

Esta segunda maneira de implementar as políticas de segurança apontaundamentalmente ao controle interno, isto é, à represso do moimento popular,prioritariamente camponês, de maneira a eitar que siga aançando em suas ormas organizatias e, por outro lado, para garantir uma zona segura para a instalaço do agronegócio inculado à soja.

As denúncias apresentadas pelas organizações sociais, principalmente camponesas – como se pode obserar no quadro seguinte –, oram orientadas a reelaros impactos do modelo do agronegócio contaminaço, intoxicações e desmatamento e ao mesmo tempo denunciar a iolência que em junto com este modeloe a alta de aço do goerno diante do seu aanço.

 

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t úca a

A caa a a ca

Assim como as lutas populares oram uma constante ao longo da história,também o oi a resposta repressia do Estado. Ambas o mudando em cada momento histórico, dependendo da conjuntura política e da correlaço de orçasexistente. Durante a ditadura, a represso se realizaa abertamente. Militantes edirigentes eram detidos, torturados, assassinados e muitos se encontram desaparecidos até hoje; as maniestações sociais eram reprimidas brutalmente. Reunirse,organizarse, maniestarse eram escusas para ser acusado de subersio ou comunista, pretendendo assim desqualicar a luta por direitos. Durante essa época, osdireitos humanos, inclusie os mais elementares, eram pisoteados pelo Estado.

Com a abertura política de 1989, a represso às lutas se mantee, mas mudou de orma. O noo cenário político – produto, em parte, das lutas que oramto duramente reprimidas – obrigou o Estado a um maior respeito aos direitos humanos e às liberdades básicas amparadas pela Declaraço Uniersal. Osórgos repressios já no podiam atuar to abertamente como inham azendo.Agora deiam reprimir guardando as aparências, isto é, escudandose em marcos legais. As maniestações, por exemplo, continuaram sendo reprimidas, masagora amparadas no resguardo do “direito de terceiros” ou do “lire trânsito” ou

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na conhecida “lei do marchódromo”. Iniciouse um período em que a represso em de mos dadas com a lei.

Assim, a grande maioria das repressões se produz na presença de promotores, cumprindo com os requisitos legalmente estabelecidos, que em muitos casos

estimulam a iolência, quando o que deeriam azer seria justamente o contrário.O Ministério Público só se conerte em um órgo eciente quando trata de reprimir e perseguir organizações populares. O quadro seguinte mostra como, duranteo ano de 2004, o goerno de Nicanor Duarte desatou contra o moimento camponês uma orte política repressia. A criminalizaço está eidente nas detençõesde camponeses e na judicializaço da maioria deles.

Qaa a

Embora a detenço de dirigentes populares tenha sido outra constante dentro do padro repressio, a ariante importante que se incorpora é a abertura deprocessos a dirigentes sociais, seja por participar de mobilizações, ou por haerparticipado de bloqueio de estrada, ou por haer realizado uma ocupaço. Atualmente existem mais de dois mil militantes sociais processados, segundo denunciam organizações camponesas, acusados, na maior parte dos casos, por inasode propriedade, exposiço a perigo no tráego terrestre ou coaço.

A judicializaço coloca a luta social em um terreno desconhecido e quesempre lhe oi hostil: o legal. Nesse terreno pouco serem a combatiidade e alonga experiência de luta das organizações, pois tudo está orientado a proteger osinteresses das minorias, priilegiar primeiramente os direitos indiiduais, depoisos coletios. A propriedade priada está acima do direito à própria ida.

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Mas a represso e a perseguiço, muitas ezes, em lugar de cumprirem seuobjetio – rear ou extinguir as lutas –, despertam a solidariedade de outros setorese geram ondas de mobilizaço diante das quais a resposta é mais represso, commaior intensidade e orça, aetando mais setores sociais. Diante desta realidade, é

necessário – dentro da lógica da dominaço – isolar os sujeitos em luta, conseguirque a cidadania os perceba negatiamente, que os eja como perigosos, isto é,como delinqüentes e criminosos. Os meios comerciais de comunicaço realizamesta tarea, a de desqualicar e deslegitimar a luta pelos direitos.

Desse modo, para justicar as perseguições e repressões, alguns meios decomunicaço utilizam todos os seus recursos para apresentar os lutadores e aslutadoras sociais como se ossem delinqüentes que atentam contra os direitosindiiduais, contra a propriedade priada, criando as condições para legitimar arepresso e a perseguiço legal. Poucos mostram ou se reerem, mesmo esporadi

camente, ao ato de que o conito social é produto da alta de políticas sociais edo nouncionamento dos canais institucionais que deem dar resposta aos reclamos dos setores sociais. êm o poder, tal como disse uma dirigente camponesa,de “azer aparecer como erdade a mentira”.

Este processo repressio, no qual se conjugam a orça bruta e a aplicaçoda lei, legitimado pela imprensa, é denominado “criminalizaço das lutas” e deseus militantes. A criminalizaço é uma estratégia pensada e montada a partirdo Estado para enrentar as lutas sociais e colocar no plano judicial delitio osproblemas sociais, de maneira a deslegitimar as lutas pelos direitos. Aponta à desmobilizaço social, seja por meio da represso direta ou atemorizando os setoressociais com a perda da liberdade. Ao criminalizar, o Estado seleciona um ato deprotesto que está amparado legalmente e o transorma em delito, e sobre os su

 jeitos que o realizam cai todo o poder coercitio estatal, o qual se ai agraandocom a intenço de endurecer ainda mais os marcos legais.

Como parte desse endurecimento da represso e do estreitamento das liberdades democráticas, o Parlamento Nacional inicia as modicações do Código deProcesso Penal, incluindo nele um capítulo sobre antiterrorismo. Durante o ano de

2007, noamente se consegue deter a aproaço da “lei antiterrorista” a partir daunidade de aço de dierentes setores, embora no tenha ocorrido o mesmo comoutros artigos que penalizam com maior rigor a “inaso à propriedade priada”.Isso signica que esses artigos sero utilizados para rear o moimento camponêse garantir que as plantações de soja continuem aançando.

A aa ea sca d

O componentechae na estratégia para outorgar um discurso legal à es

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tratégia de criminalizaço dos moimentos sociais consiste na reestruturaço doEstado em direço a um Estado policial e militar. Essa reestruturaço é coerentecom a tendência à abertura ilimitada ao capital nanceiro e à circulaço de diisase mercadorias. A institucionalidade própria do Estado Social de Direito se dissole

para dar lugar a um Estado presente particularmente em sua dimenso punitiadirigida a determinados setores.

Nesta perspectia é que pode ser abordada a tentatia de modicaço do Código Penal do Paraguai, que se conseguiu deter em 2007, como mencionado. Na realidade, esse processo se inicia em 2004 quando a Lei 2.403 cria a Comisso Nacionalpara o Estudo da reorma do Sistema Penal e Penitenciário. Dessa Comisso o que seesperaa era que elaborasse propostas de modicaço para a Lei 1.169, “Código Penal”,a Lei 1.286, “Código de Processo Penal”, e a Lei 210, “Do Regime Penitenciário”. Em2005, a CODEHUPY lea propostas à Comisso, mas, apesar dos reiterados pedidos,

a sociedade no participou do processo de elaboraço. Só em ns de julho de 2007 éque a Comisso de Direitos Humanos do Senado, cinco dias úteis antes da discussoda proposta de Lei que modicaria o Código Penal, conoca uma Audiência Pública.

No obstante tudo isso, no oram modicados os artigos relacionados aosdesaparecimentos orçados e à tortura conorme os princípios da Conenço Interamericana sobre Desapariço Forçada de Pessoas Lei 933/96, a Conenço Interamericana para Preenir e Sancionar a ortura Lei 56/90 e a Conenço contra a ortura e outros ratamentos e Penas Cruéis, Desumanas e Degradantes Lei69/90. A Corte Interamericana de Direitos Humanos também haia ordenado ao

Estado paraguaio a adequaço das normas internas dos artigos sobre desapariçoorçada e tortura aos padrões internacionais de proteço dos direitos humanos. AComisso Nacional, na elaboraço de suas propostas, ostensiamente ez caso omisso de todas as normas indicadas. Dessa maneira, até hoje no Paraguai no existe atortura; o Código Penal tipica leso, leso corporal no exercício de unções públicasou priaço da liberdade, e a desapariço orçada dee ser comproada.

O ponto que gerou toda uma campanha contra um Código Penal que norespeitaa os direitos das pessoas centrouse especialmente na seço denominada“Fatos Puníeis contra os Poos”, em que oram incluídos três ilícitos penais: errorismo, Associaço errorista e Financiamento do errorismo, que eram denidos como crimes imprescritíeis. A proposta oi sancionada pela metade na Câmara de Deputados em maio de 2007.

A redaço dos ilícitos penais mencionados desconhecia técnicas elementares do discurso jurídico. Por exemplo, em nenhum momento se dene “terrorismo”, simplesmente se recorre ao procedimento de mencionar ilícitos penais jáexistentes no Código Penal que podiam ser adaptados à gura do terrorismo. Assim, inte condutas delitias díspares e autônomas oram redenidas mediante os

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três noos ilícitos penais, cando ao arbítrio do juiz a determinaço das condutasno marco do “terrorismo”.

A proposta oi recusada no Senado em agosto de 2007, no marco de uma intensa mobilizaço social. A recusa impede a incluso da seço “Fatos puníeis contra

os poos”, mas, de qualquer maneira, ainda persistem no Código Penal critérios que,por exemplo, azem com que delitos e crimes contra bens das pessoas tenham penasmais graes que os que erem a integridade ísica e a autonomia sexual. ambémoram aumentadas as penas dos delitos para reprimir organizações sociais em suasreiindicações de direitos undamentais. Esse é o caso do ilícito penal “inaso deimóeis”, cuja pena chega até cinco anos de priaço da liberdade.

A xcõ aaõ c a ea

De qualquer maneira, apesar da noincluso do “terrorismo” como ilícitopenal na proposta de modicaço do Código Penal, o comportamento do Estadoparaguaio diante das demandas e das lutas das organizações camponesas se caracteriza por empregar estratégias que têm por objetio, como já oi assinalado noinício do documento, gerar terror nas comunidades rurais como orma de controle dos protestos sociais.

O Inorme Chokokué, precisamente, dá conta dos pers dessa estratégia.Apresentado em junho de 2007 ao Relator Especial de execuções extrajudiciais,sumárias ou arbitrárias do Conselho de Direitos da Organizaço das NaçõesUnidas e elaborado por uma equipe da Coordenadoria de Direitos Humanos doParaguai CODEHUPY, o documento analisa 75 execuções arbitrárias e duas desaparições orçosas que incluem uma mulher gráida de oito meses que se ericaram no âmbito da luta pela terra. O estudo abrange o período de 1989 a 2005.

Da quantidade mencionada, 84% dos casos se concentram nos eixos NorteConcepción/So Pedro e Leste Caaguazú, Alto Paraná Canindeyú da RegioOriental, zonas de maior conito camponês pelo acesso à terra. Além do mais,oram abertos 62 inquéritos para inestigações dos atos e só três chegaram a ser

 julgados e as penas cumpridas. Na prática, isto signica que oi condenado apenasum sicário como único autor, sem que ossem inestigadas a coautoria, a instiga

ço ou a cumplicidade. Em todos os outros casos a impunidade oi absoluta.O Inorme assinala que “os atentados se dirigiram undamentalmente

contra trabalhadores rurais pobres, homens, adultos joens, inculados a organizações camponesas ou à luta pelo direito à terra no contexto da reormaagrária, e pertencentes ao grupo lingüístico dos monolíngües guarani”164. Sessenta e três por cento das ítimas eram de níeis de base das organizações, sejacomo associados, militantes ou colaboradores e dirigentes de base, e em 53 casos

164 informe Chokoke, cto nterormente.

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so apontados guardas, parapoliciais ou sicários como causadores, enquanto 22execuções arbitrárias esto atribuídas a agentes da Polícia Nacional. Em todos oscasos oi constatado que o Estado no cumpriu seu deer de preenço e garantia, ou seu deer de inestigar e sancionar, e inclusie ambos os deeres relatios

a um mesmo caso.Finalmente, a estratégia para criminalizar se dá da mesma maneira – certa

mente com muito poucas ariantes – em grande parte do nosso continente, o queindica que responde a uma tática que nossos Estados obedecem para garantir esalaguardar os interesses do capital.

Bbgaa

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Tradução Beatriz Cannabrava

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AlemAnHA

“A caa ca

a Aaha – ”Corinna Genschel 165 e Peter Stolle 166 

i. preFÁCio

No dia 9 de maio de 2007 houe buscas e apreensões simultâneas em40 projetos residenciais e em algumas instituições da esquerda em dierentescidades da República Federal da Alemanha. No país inteiro 900 policiais participaram da operaço. A aplicaço maciça do poder goernamental no mêsantes da cúpula dos G8 em Heiligendamm no norte da Alemanha estaarelacionada a dois processos de inestigaço contra 20 pessoas pela sua “participaço em uma associaço terrorista”. Nesse caso, o processo de inestigaço oi conduzido contra 17 pessoas acusadas de undar/participar de umaassociaço terrorista denominada “Campanha Militante contra a Cúpula doGrupo dos Oito em Heiligendamm”. Outros três oram acusados de ser membros da “associaço terrorista Grupo Militante MG”, responsáeis por diersos atentados de incêndio desde 2001. Foi apreendida uma grande quantidade

de material como listas de mailing, computadores, projetos de internet, caixaspostais eletrônicas. O processo oi iniciado em abril de 2006 mediante recomendaço do Bundeserassungsschutz um seriço de inteligência que atuainternamente. Assim, a Agência Federal contra o Crime Bundeskriminalamt, uma das autoridades superiores da polícia na Alemanha, aplicou “todoo arsenal de medidas de monitoramento do processo penal” BECK, 2007, p.27 que a polícia alem tem à sua disposiço nesses processos: grampo de teleone, monitoramento da comunicaço de email e do comportamento online,uso de GPS, monitoramento de ídeo em entradas de casas, monitoramento

do correio etc. Isso colocou centenas de outras pessoas no oco, 1.000 nomesapareceram nos dossiês de inestigaço.

Os processos de inestigaço, do monitoramento imenso e completo, assim como a enorme busca e apreenso ocorridos em 9 de maio, estaam baseadosem uma disposiço legal do Código Penal alemo: o § 129a. O § 129a oi apro

165 CORiNNa GENSCHEL (Centro e conttos e movmentos socs frção diE LiNKE no Prlmentoalemão e no Comtê pr os dretos Cvs e democrc)166 PEER STOLLE (assocção e avogs e avogos Repblcnos, RaV)

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 ado em 1976 no âmbito da histeria e da perseguiço dos “grupos de resistênciaarmados”, de pouca importância política e pouco numerosos, que eram proenientes da dissoluço do moimento estudantil em 1970. Essa lei penal pode serconsiderada o núcleo do Código Penal Especial Político na República Federal da

Alemanha. Com essa lei a constituiço, liaço, participaço e propaganda parauma “associaço terrorista” ca sujeita a puniço. O ponto de partida para umainestigaço e perseguiço conorme o § 129a no so os crimes propriamenteditos, mas a acusaço de terrorismo permite extensas medidas de inestigaço ea aplicaço de penas antes da realizaço de qualquer ato.

A criminalizaço de moimentos críticos à globalizaço e ao capitalismomuitas ezes também denominados de esquerda radical ou esquerdistas radicais na República Federal da Alemanha, nesse caso, no obtee sucesso. Na noitedas buscas e apreensões oram realizadas em muitas cidades alems maniestações

espontâneas com alguns milhares de participantes, todo o espectro dos moimentos, os partidos de oposiço da esquerda e organizações de direitos ciis se solidarizaram com os acusados e a repercusso na imprensa oi ampla e crítica. Issoé bastante incomum para os processos realizados nos termos do § 129a. A posteriori podese dizer que a tentatia aberta de criminalizar esse moimento ou aspartes radicais desse moimento incentiou a mobilizaço da campanha antiG8,gerando uma tematizaço noa e mais ampla de represso e criminalizaço. Meioano mais tarde, em outubro de 2007, a justiça penal superior Superior ribunal deJustiça decidiu que no estaa proado o ato de terrorismo. odaia, os processosno oram arquiados. Isso no é incomum quando se trata de processos nos termos dessa disposiço § 129a, pois em até 95% de todos os processos de inestigaço no há condenaço. Mesmo assim, isso causa danos e uma meta oi alcançada:a inestigaço “legal” de todos os moimentos, seus pers de moimentos, ormasde comunicaço e os ínculos entre estes.

maa cá

Um mês após as buscas e apreensões, iniciouse a reunio de cúpula dos G8em Heiligendamm. A cúpula dos G8 é um dos mais simbólicos encontros de Cheesde Estado das oito nações mais ricas e líderes mundiais. Os encontros dos G8 somomentos nos quais as relações de domínio se tornam mais densas e palpáeis. Isso“conida” no só à resistência, mas também ao protesto dos moimentos sociais. Assim, imagens das grandes maniestações e da represso e iolência maciça e brutalda polícia por ocasio da cúpula G8 em Genoa em junho de 2001 oram exibidasno mundo inteiro. As preparações dos goernantes para a cúpula também orammaciças: oi encontrado um local pouco habitado, mas logisticamente ácil de pro

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teger. Foi ento construída uma cerca de segurança em torno da área e em tornodesta oi criada mais uma “zona de direitos especiais”, permitindo que os direitosde liberdade de reunio e a liberdade de circulaço pudessem ser limitados “legalmente”. Uma unidade especial ou uma espécie de autoridade especial Kaala da

polícia oi criada, na qual todas as autoridades goernamentais em um intercâmbio internacional intensio cooperam, tendo recebido todas as tareas da polícia. A“Kaala” se transormou em uma autoridade superior com atuaço autônoma, naqual a separaço entre a polícia ciil e a militar, entre as unidades ederais e estaduaise entre o seriço secreto e a polícia desapareceu. “odas as exigências de separaçoe princípio de separaço de poderes que constitucionalmente, segundo a Lei Fundamental [Constituiço], deeriam eitar medidas excessias do poder executio e dapolícia oram eitadas” DONA, 2007, p. 45. odaia, estas oram registradas naLei Fundamental em irtude das experiências do ascismo, justamente para eitar a

ormaço de um aparato policial descontrolado. A Kaala assumiu a liderança, nosomente no planejamento, mas também nas “medidas operacionais”. Portanto, ela

também se tornou destinatário para qualquer direito de reunio, e sempre atuou con

orme a sua própria “preiso de risco antiterrorista”. Quem quisesse permanecer na

área denida como zona de risco ou quisesse azer uso do seu direito de reunio167  

intereriria de orma geral na concepço de segurança, tornandose terrorista e ini

migo em potencial. A posteriori, oi constatado que em nenhum momento houe

nenhum risco concreto de ataques terroristas. Mesmo assim, essa “preiso de risco”

também se tornou uma diretriz para a justiça a qual, segundo os princípios do Estado de Direito é/deeria ser independente: essas noas autoridades no só suspen

deram a separaço entre a polícia e a jurisdiço, mas a Kaala também oi a instância

competente a descreer em seus “relatórios de situaço” a erdade aos juízes/juízas

– com todas as conseqüências que isso acarretaria para a liberdade de reunio, a

proteço legal de medidas da polícia e ações do processo penal. Outra noidade oi

o ato de a polícia ou a Kaala preparar e publicar autonomamente comunicados de

imprensa oensios. Estes eram caracterizados por mensagens incorretas e preisões

de risco enganosas, o que por sua ez esquentou muito o clima público.

No total haia 20.000 policiais em seriço, 350 soldados oram chamados paraa proteço do espaço aéreo com sobreôos dos campos dos maniestantes contra acúpula, 1.100 soldados estaam de prontido para ajudar. Ocorreram 1.112 prisões,850.000 pessoas oram controladas nas ronteiras do Espaço Schengen, para 155 a entrada oi etada. Foram barradas 401 pessoas nas ronteiras externas do Espaço Schen

167 O reto lbere e renão const no rtgo 8.º Le Fnmentl como reto cvl e será menconoms nte.

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gen. Foram controladas 890.000 pessoas. Nos casos em que houe processos penaisoram sancionadas especialmente as iolações da proibiço do uso de disarces e doarmamento passio, assim como inaso de propriedade RAv, 2007; S. 49.

Mesmo assim, haia 100.000 atiistas no local entre 1.º a 9 de junho: por

exemplo, na cidade de Rostock 80.000 pessoas protestaram em 2 de junho; apesardas ortes limitações e restrições 10.000 a 15.000 pessoas se alojaram nos três acampamentos da cúpula; apesar da presença maciça da polícia oram realizadas todos osdias maniestações grandes e pequenas; e, apesar da disposiço generalizada apro

 ada pelo Supremo ribunal Federal Bundeserassungsgericht da proibiço dereunio na área da zona de direitos especiais de 40 km2, oram bloqueados durantetrês dias os acessos terrestres ao local da cúpula.

Esse é um dos resultados mais importantes, tanto da perspectia dos moimentos sociais como no aspecto prático da democracia. No obstante todas essas

restrições da polícia, políticas e da mídia e legais, os atiistas dos moimentoscríticos à globalizaço colocaram em igor e praticaram o direito to alorizadoe estabelecido na Lei Fundamental da Alemanha Supremo ribunal Federal daliberdade de reunio.

Essas duas “histórias” serem para introduzir a nossa contribuiço sobre a

“Criminalizaço de Moimentos Sociais e do Protesto Social na República Federal da Alemanha”, no por acreditarmos que esse grande eento pode ser aplicadoanalogamente ao “diaadia” da criminalizaço, nem por acreditarmos que seria

uma descriço suciente. No entanto, a cúpula dos G8, assim como a mobilizaçocontra essa cúpula por diersos moimentos – críticos da globalizaço, antimilitaristas, da migraço, dos ugitios e da política de desenolimento –, oi um grandeeento para os moimentos na República Federal da Alemanha. Noos ínculosoram criados, e especialmente joens criaram uma consciência política a partir dacampanha e das atiidades concretas, noas medidas oram experimentadas e especialmente os bloqueios dos acessos ao local da cúpula mostraram que existe apossibilidade de outras ormas mais amplas de resistência e militância. O direito derealizar maniestações pôde ser reiindicado nos locais e nos momentos, nos quais

parece politicamente iáel.E exatamente esse era o “medo” das autoridades de segurança goernamen

tais, o que leou a essa reaço maciça. No entanto, os acontecimentos em torno dacúpula dos G8 recolocaram o interesse dos moimentos nas discussões sobre represso, “segurança interna” e as autoridades goernamentais no palco político. Pormuito tempo, essa questo só oi tratada pelos “prossionais antirepresso dos mo

  imentos”, por exemplo, as organizações de direitos ciis, adogados da esquerdae suas associações por exemplo, a RAv e as organizações de autoajuda, como as

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comissões de inestigações e a Ajuda vermelha Rote Hile. No âmbito da repressocou claro noamente que esta no está oltada somente contra as partes radicais domoimento, mas contra o moimento em si. Estes se sentiram alos e nesse sentidose comportaram de orma radical: os direitos ciis e humanos podem ser protegidos

simplesmente sendo praticados e quando so praticados.odaia, a criminalizaço/represso desses moimentos noos e radicais

com um objetio amplo oi somente um “alo” da maior aço policial na históriada RFA. Sob o argumento da “preiso de risco de terrorismo”, mostraramse antese durante a cúpula os aspectos de um Estado modernizado de segurança preentia. Isso cou eidente em diersos planos e é acompanhado pela dissoluço dosprincípios do Estado de Direito da Alemanha separaço de polícia militar e ciil,separaço de polícia e seriços secretos, alocaço descentralizada de poderes dapolícia e por medidas técnicas.

Acreditamos, portanto, que tanto no exemplo das medidas de busca e apreenso como também concretamente na cúpula dos G8 os elementos da criminalizaçode moimentos sociais ou da noa esquerda desde 1968 na RFA podem ser eidenciados de orma atual e explícita:

•Opapeldosserviçossecretosedodireitopenalespecialpolítico(especialmente, mas no somente na “Legislaço antiterrorista” do § 129a do Código Penal,que sere principalmente para criminalizar e inestigar os moimentos e as ormasde protesto potencialmente radicais e segregar estes dos demais moimentos sociais e da populaço. Mostramos acima que aqui medidas de inestigaço especiaisso permitidas, que no seriam possíeis no Estado de Direito liberaldemocráticoda República Federal da Alemanha uso do seriço secreto, a suspenso do princípioda inocência presumida, direitos de acusados e dos adogados de deesa.

•NaprópriacúpuladosG8tambémcaramevidentesmecanismosda“criminalizaço” ou da atitude do goerno em relaço ao protesto e à resistênciaque o além do direito penal especial político em relaço aos moimentos sociais radicais. Uma prática rígida policial concernente às “reuniões a céu aberto”políticas e ao amplo registro de dados é indício dos protestos usuais e das atii

dades de resistência.•Noentanto,amedidadarepressão/criminalizaçãonacúpulaG8juntocoma ontade prática dos goernantes em desatiar princípios centrais do Estado deDireito alemo na legitimaço do combate antiterrorista mostra a transormaçodo Estado de Direito liberal para algo que chamamos de Estado de Segurança Pre

 entio com o seu oco na estratégia policial preentia esta, além disso, tem umadimenso cada ez mais européia.

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Nas preparações para essa conerência pensamos sobre como poderíamoscontribuir para uma discusso conjunta em ace do pouco tempo de preparo eda suposta nocomparabilidade da criminalizaço de moimentos sociais naAmérica Latina e na RFA ou do Oeste europeu . Moimentos sociais na Alemanha

so bastante racos e raramente organizados como moimentos de massa. Isso signica que também a criminalizaço dos moimentos sociais atinge relatiamentepoucas pessoas comparandose com a populaço total. Isso ca ainda mais eidentese usarmos a quantidade de detenções, lesões, mortos como índice de comparaço.O controle e o monitoramento de pessoas, espaços, mobilidade, comunicaço atingemuito mais pessoas e toda a sociedade.

Nesse aspecto decidimos nem tentar retratar sistematicamente a criminalizaço dos moimentos sociais e protestos sociais na RFA. Com essa contribuiço queremos primeiramente proporcionar uma pequena idéia da relaço entre a cultura

de protesto e o poder do Estado em um país que, por um lado, arma deender osprincípios do Estado de Direito, inclusie em sua constituiço e que é um Estado deDireito, e, por outro, no apresenta ortes agitações sociais. Queremos mostrar como conceito do “Estado de Segurança preentia” e da “estratégia policial preentia”até que ponto sob a argumentaço de um combate do terrorismo ou da proteçocontra terrorismo e com ajuda das possibilidades técnicoburocráticas o registrocompleto de moimentos sociais e dos cidados pode ser controlado, “criminalizado” preiamente e connado. Como também em outros países, a senha “errorismo” e isso já ocorreu antes de 2001 pode transormar em realidade os sonhos delonga data dos soberanos/goernantes.

A acaa “ea d” a

Antes de retratarmos exatamente a história da criminalizaço e as medidas concretas para o controle, monitoramento e criminalizaço em determinadospontos, queremos destacar algumas particularidades na consideraço da crimina

lizaço de moimentos sociais e protestos sociais na Alemanha.1. A República Federal da Alemanha hoje abrange as histórias de dois Estados: a história de represso da antiga RFA e a história de represso da RDA.Ambas se distinguem consideraelmente. A RDA era conhecida especialmentepela igilância e controle bastante amplo de toda a sua populaço por uma polícia que atuaa como seriço de inteligência – a denominada SASI ou Segurançade Estado. Os órgos da RDA que atuaam de orma repressia aplicaam umconceito abrangente de suberso e atiidades inimigas/perigosas para o Estado,

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proibindo, criminalizando e sancionando ortemente quase todas as atiidades eorganizações políticas independentes e críticas, oerecendo muito poucas possibilidades de deesa de estado de direito. Essas instituições, as bases normatiase legais e os sistemas oram dissolidos após 1989, a noa RFA oi criada exata

mente como a antiga em sua orma jurídica, política e normatia. Para aaliara situaço atual, portanto, a criminalizaço na RDA praticamente no tem importância. Assim, em nossa apresentaço no detalharemos mais a história dacriminalizaço na RDA.

Claro que também a RFA tem seriços de inteligência. Estes já oram mencionados no primeiro exemplo, uma ez que representam um papel predominantena criminalizaço dos protestos contra a cúpula dos G8 e na inestigaço e conseqüente criminalizaço dos moimentos sociais em geral. O verassungsschutzé uma autoridade que trabalha como um seriço de inteligência interno e quase

no é controlado controláel. Sua tarea ormal é proteger o Estado contra os“inimigos da constituiço” ou da “ordem básica liberaldemocrática” FDGO, obserando, documentando e analisando atiidades subersias e reolucionárias edisponibilizando estes “dados aaliados” às autoridades políticas e à polícia para aabertura de inestigações policiais públicas ou atuando nesse sentido.

Apresentamos resumidamente alguns pontos básicos dos princípios de

Democracia e Estado de Direito na Alemanha e no a realidade jurídica. Es

ses princípios básicos esto sendo “trabalhados” maciçamente ou dissolidos há

alguns anos por orças políticas e pela polícia. A cúpula dos G8 eidenciou comona prática princípios do Estado de Direito so dissolidos, os quais também esto

sendo abalados no plano legislatio:

•Serviçosdeinteligêncianãopodeminvestigarousancionar.Apartirdas

experiências do ascismo está denida constitucionalmente – ou seja, na constitui

ço da RFA – a separaço entre seriços secretos e a polícia para eitar a ormaço

de um aparelho policial amplo e todo poderoso.•Alémdisso,estádenidaaIndependênciadaJustiçaouocontroleda

polícia e do Poder Legislatio pela Justiça. Ou seja, juízes ormalmente indepen

dentes deero autorizar medidas policiais solicitadas pelo Ministério Públicoque intererirem proundamente nos direitos ciis, podendo também indeeriressas solicitações quando no orem justicadas. Com base nessas leis, medidaspoliciais e decisões judiciais podem ser impugnadas em outras instâncias até oSupremo ribunal Federal ou ribunal Federal Administratio.

•ComoaRFAtemumaorganizaçãofederal,existeumadivisãoexatadecompetências entre a Unio e os Estados. ambém a polícia e a justiça so organizadas de orma descentralizada. Isso também tem a sua explicaço nas ex

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periências do ascismo. Deese impedir a ormaço de aparatos de poderesortes e centralizados. Assim, existe uma Polícia Federal no há orças policiaisparamilitares, mas que só podem ser usadas em tareas especícas proteço dasronteiras, transporte erroiário e na segurança do espaço aéreo. Autoridades de

inestigaço policiais ederais como o Bundeskriminalamt só podem atuar emcasos bastante especícos criminalidade grae e deesa do estado e deero azerisso em comum acordo com os Estados.

•Nãoestáprevistanaleivigenteaaçãodeforçasmilitaresdentrodopaíspara conter perigos somente em casos de solicitações ociais de ajuda, por exemplo, em caso de catástroes e para auxiliar a logística policial

•Odireitodeumadvogadodesuaprópriaescolhaéumdireitoconstitu cional comunicaço priilegiada, pode entrar com recursos; além disso, é álidoo princípio in dubio pro reu.

•Existemnaconstituiçãodireitoscentraisqueprotegemaarticulaçãoeaassociaço política e que so condições básicas para moimentos sociais. Entre estes podemos mencionar o direito de liberdade de reunio tanto em salas echadascomo “a céu aberto” artigo 8 da Lei Fundamental, a liberdade de expresso emrelaço à palara, a expresso e diulgaço pública artigo 5 da Lei Fundamental, assim como o direito de associarse artigo 9 da Lei Fundamental. Comodireitos ciis, estes so interesses legalmente protegidos. Ademais, so normatiamente considerados direitos passíeis de proteço, ou seja, deero ser protegidosde restrições, por exemplo, pela polícia. Claro que essa no é a nossa realidade

 jurídica, o que certamente no deixará ninguém admirado. Como imos no exemplo da cúpula dos G8, estes direitos so diretamente limitados, o que por sua ezacarreta a criminalizaço de moimentos sociais. Indiretamente, estes direitos solimitados por outras leis execuções. Estas sero detalhadas mais adiante, uma

 ez que so determinantes para o diaadia da articulaço pública dos moimentos. Mesmo assim, esses direitos básicos ormam um padro normatio e legal queos moimentos e seus representantes legais usam para colocar em prática as suasliberdades e limitar a criminalizaço.

2. O título do orkshop az reerência à criminalizaço dos moimentos

sociais e do protesto social. Na presente apresentaço queremos nos limitar àcriminalizaço dos moimentos sociais, sabendo que aqui estamos excluindo umcampo extenso de dierentes protestos sociais e muitas ezes indiiduais e suasormas. Acreditamos, todaia, que a criminalizaço e o controle, assim como asegregaço e a connaço repressias do protesto social é digna de um tratamento àparte, azendose necessário o esclarecimento do conceito do protesto social. O quesignica “protesto social”: tratase de toda a gama de protesto social desde o urto dealimentos, pela resistência indiidual contra policiais, até a dissidência social e

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as reoltas sociais sem metas políticas explícitas? As ormas de protesto sociais epolíticas podem ser colocadas no mesmo patamar ou, ento, podem ser separadassimplesmente, como nós o azemos? Gostaríamos de discutir essa questo maisadiante, pois acreditamos que especialmente a expanso do “Estado preentio

de segurança” az com que essas ormas de protesto sociais e dissidências entremainda mais no oco do controle estadual, de sancionamento e monitoramento, eque, por outro lado, nas condições sociais mais diíceis do capitalismo globalizadoexatamente estas ormas de protesto enham a aumentar. Essa questo, todaia,no pode ser tratada neste artigo.

Os moimentos sociais e/ou a oposiço extraparlamentária so uma orma

especial de organizar a crítica, o protesto e a resistência política que se deende

contra a orma tradicional de se “azer política” em partidos etc., tentando inu

enciar os acontecimentos políticos de um país de orma dierente. Ento, quan

do alamos da criminalizaço dos moimentos sociais, estamos nos reerindo à

criminalizaço daqueles moimentos e daquelas pessoas que organizam protestos e

resistências sociais e políticas. O objetio do recurso da desobediência ciil, ou seja,

a transgresso consciente de regras legais e estatais por exemplo, em bloqueios, in

centio à deserço, iolaço das proibições policiais e espaciais para reuniões, etc.,

mas também por meio de “brigas militantes” por exemplo, arriscando a conronta

ço com a polícia ou colocando em prática o direito e a proteço da “propriedade”,

muitas ezes no é deender os seus direitos, mas também democratizar os limites

políticos deslocando estes de orma a “alterar o sistema”. Assim, esses moimentostransgridem necessariamente e com reqüência os limites da liberdade permitida e

da articulaço política. Sabemos que também os moimentos da direita agem para

“mudar o sistema”, mas em nossa apresentaço nos reerimos a moimentos sociais

que agem na perspectia democrática e emancipatória168.3. Em nossa apresentaço nos limitaremos à criminalizaço, ao monitora

mento e controle pelo Estado ou pela máquina do Estado. É importante mencionar isso especialmente na área de conitos empresariais e sindicais, uma ez queestes no ocorrem “lires de repressões”: Assim, as constituições de conselhos de

ábrica so muitas ezes proibidas e sindicalistas so inestigados, pressionados,às ezes perdem o emprego. Há pouco soubemos que em muitas holdings os colaboradores so espionados sistematicamente e que os dados de teleone dos colaboradores oram registrados sistematicamente. Isso, todaia, ocorre no plano da

168 Os “movmentos ret” qrrm, especlmente nos nos 90, m relevânc bem mor, m vezqe tmbém os prtos e s orgnzções ret plcm ess form e orgnzção ms o qe ntgmente(Grnke, 2008, S. 475 f). Estão, portnto, tmbém sjetos à crmnlzção, o montormento pelo Verfssngss-chtz e o so e espões.

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economia priada e em sua extenso certamente no se compara à criminalizaçode sindicalistas na América Latina. Aqui no é o Estado propriamente o agente,mas podemos acusálo da alta de leis proteço de dados ou da alta de reiindicaço penal dos direitos de colaboradores.

O ato de os sindicatos na RFA no serem ou serem muito raramente objetode monitoramento estatal e criminalizaço tem a er com um modelo especícoalemo corporatio de parceria social, negociado e desenolido na RFA em 1949:o Estado Social e de Direito da RFA. Nesse modelo os sindicatos ou a uniodos sindicatos Deutscher Geerkschafsbund com os seus respectios sindicatos indiiduais oram incluídos como parceiros legítimos de negociaço nasquestões dos trabalhadores, incluindo os processos especícos de grees, legalizando as grees “organizadas” por aumentos salariais. A liaço em sindicatosé legalmente protegida, assim os empregadores, por exemplo, por ocasio da

contrataço, no têm o direito de perguntar sobre a liaço; conselhos de ábricaou representantes de uncionários em empresas so regulamentados legalmentenos termos da Lei das Constituições Empresariais Betriebserassungsgesetz epodem ser reiindicados em juízo.

A proteço do direito de gree social e a posiço importante dos sindicatosna estrutura soberana na RFA, todaia, eliminara por sua ez o direito político deazer grees, abolindo algo como um mandato político os sindicatos, por exemplo, so suprapartidários. Na RFA, ao contrário do que ocorre em outros países,no é permitido azer grees contra guerras, reormas de aposentadoria ou contra

leis de estado de emergência. Claro que também os sindicatos às ezes iniciammaniestações políticas, realizam atiidades políticas e esto sujeitos, como outroscidados políticos, a ser ítimas de criminalizaço. ambém houe na história daRFA “grees selagens” e ocupações de ábricas por uncionários. Mas nesse casotambém so aplicadas mais as sanções da economia priada do que as sançõesestatais. Uma descriço mais detalhada desses mecanismos de sancionamentoprecisaria ser eita em um trabalho à parte.

A incluso dos sindicatos nos negócios da representaço de interesses e omodelo do Estado Social na RFA caracterizaram ortemente a orma das disputas

sociais, assim como a relaço entre os sindicatos e os moimentos sociais desde1949. Os sindicatos assim como as associações de benecência pública eramos principais responsáeis para a realizaço de conitos sociais. Organizaram anegociaço de salários, jornadas de trabalho e algumas questões políticosociaismais amplas com as suas ormas de combate gree e sua cadeira na “mesa dogoerno”. Para as questões mais amplas da sociedade os responsáeis continuamsendo os moimentos sociais e outras organizações políticas, e estas se desenoleram dessa constelaço, muitas ezes a uma grande distância dos sindicatos e suas

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máquinas. Somente depois dos maciços ataques neoliberais dos últimos anos queos moimentos sociais se ormaram em maior escala no campo dos conitos sociopolíticos por exemplo, o moimento dos desempregados que questionam odireito de representaço adocatícia dos sindicatos na área da política social. Da

mesma orma, os próprios sindicatos soreram presso com a reorma maciça doEstado Social Democrático, de orma que noas opções de coligações, além do“mandato propriamente dito”, so desejadas e experimentadas.

4. Distinguir no ponto acima mencionado entre a represso/criminalizaço estatale o monitoramento/controle e represso por atores “particulares” tem um signicado especial para o moimento social: o moimento Antia. Um moimento que organiza tantoa resistência e o protesto contra o nazismo organizado, bem como combate a expanso daideologia da direita no diaadia e nos municípios muitas ezes rurais. A Antia cresceuna medida em que os moimentos da direita nos anos 90 expandiram especialmente nas

regiões rurais. Os atiistas desse moimento esto sujeitos, além dos mecanismos usuais dacriminalizaço dos moimentos sociais, à agresso pelos seus oponentes. Grupos/partidos/moimentos da direita possuem listas especícas de Antias com todos os dados pessoais,colocando em prática as suas ameaças de iolências com grupos de guerreiros contra aAntia organizada e também contra pessoas que possam parecer Antias ou esquerdistas.Outras ítimas da iolência ísica dos nazistas so, obiamente, mais ainda, os ugitiose migrantes. A questo releante para a Antia seria, portanto, em relaço ao Estado nosomente a medida e a orma da criminalizaço estatal, mas até que ponto o Estado garantea sua integridade ísica sancionando iolências contra ela169, permitindo ou impedindo osprotestos contra nazistas por exemplo, contra a suas maniestações.

5. E, por m, temos que enatizar uma particularidade na criminalizaçode grandes grupos de populações antes da ormaço de moimentos. Isso se reere à represso contra ugitios e migrantes. Uma grande parte da criminalizaçoe represso de ugitios e migrantes sem isto de permanência ocorre antes daormaço de moimentos sociais, impedindo praticamente a ormaço de mo

 imentos. Em irtude do armamento nas ronteiras externas da UE e da políticamaciça de isolamento, só poucos ugitios conseguem ultrapassar as ronteiras da

UE. Muitos se aogam no Mar Mediterrâneo, so mandados de olta quando conseguem ou ento so segurados ora das ronteiras da UE em “campos extraterritoriais”. Os ugitios que conseguirem entrar na RFA sem serem imediatamenteextraditados se escondem ou se tornam “ilegais” sem documentos e direitos esem a possibilidade de reiindicar os seus direitos humanos. Esto sujeitos nodiaadia às intrigas racistas e agressões, assim como a um tratamento injusto por

169 O qe não está seno relzo e form conseqüente em tos s nstâncs: meçs não são levs séro,s nvestgções polcs não são relzs com o evo co e já contece e políc ter forneco nomese tores antf os rés nzsts.

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parte da polícia. Aqueles que conseguem submeter um pedido de asilo político sotodos registrados e internados nos denominados centros de emigraço. Lá, elesesto sujeitos legalmente a uma “legislaço especial”, que só ale para eles, como a“obrigaço de residência”. Essa obrigaço de residência proíbe a mobilidade “no

autorizada”, além dos limites restritos, e impede que os ugitios possam se encontrar e se reunir “legalmente”. Com essas leis, para os ugitios cam suspensos osdireitos básicos da liberdade de reunio, da associaço e o direito de mobilidade.Os ugitios so criminalizados pela mera iolaço da obrigaço de residência.Posteriormente, iremos descreer a aplicaço de outra “lei especial” que ale especialmente para pessoas sem passaporte alemo, que sanciona a liaço e o apoiode uma organizaço criminosa/terrorista estrangeira.

6. E como último aspecto gostaríamos ainda de esclarecer os conceitos

de “militância”, assim como a “resistência armada”, que é recorrente na descriço

da história dos moimentos sociais e sua criminalizaço na RFA, mas que podecausar malentendidos, pois sugere outra coisa. Em 1970 undouse a “Facço

Exército vermelho” RAF, assim como o “Moimento 2 de Junho” como uma

resposta à decomposiço do moimento estudantil e a crescente polarizaço da

sociedade. Ela se autodenominou com sua presunço típica de guerrilha urba

na, promoendo a “resistência armada”. E de ato, dierente dos demais grupos de

esquerda, estes atuaam “subersiamente” seu objetio no era a “base das mas

sas”, andaam armados e deendiam a iolência contra bens e pessoas e também

colocaam em prática esses ideais oram responsáeis por diersos atentados quelearam à morte. A concepço da “resistência armada” nunca oi deendida pe

los demais grupos da esquerda, muito menos pela populaço. E ambos os grupos

permaneceram isolados, a maioria de seus membros oi presa nos anos 70. Sem

dúida, existiu nos anos 70 um orte moimento de solidariedade com os mem

bros presos. Mas essa solidariedade no se baseaa nas ações, e sim nas condições

especiais da detenço “priso isolada”, e se alimentaa também das ortes tenta

tias do Estado em criminalizar, intimidar e monitorar toda a esquerda radical

no âmbito da perseguiço da “resistência armada” SEMMLER, 2007. Portanto,

mesmo que a “resistência armada” por si só no tenha sido releante, ela se tornouimportante com a resposta do goerno. Isso deerá explicar por que uma grande

parte da história da criminalizaço a seguir se baseia nestes grupos.Do mesmo modo, o conceito da militância, como é usado na Alemanha, no

pode acilmente ser utilizado analogamente. É outro conceito criado no âmbito domoimento estudantil e de suas disputas sobre a “iolência como meio legítimo”permanecendo em uso nesse sentido na Alemanha. Até 1967, até o alecimentodo estudante Benno Ohnesorg em uma maniestaço contra o Xá em Berlim, o

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moimento estudantil agia nos termos da “desobediência ciil”: transgressões denormas calculadas para deender um direito maior grees sentadas, ocupações,bloqueios, maniestações no autorizadas, cartazes ilegais, danicações de propriedades com bolas de tinta, etc.. Após a morte de Benno Ohnesorg, o clima

mudou. Além do desejo de deesa, cresceu a necessidade de causar estragos ao“inimigo” ao prédio Amerikahaus etc.. Com a escalaço da iolência da políciatambém aumentou a deesa e com esta um conceito de militância que se originana resistência contra a iolência da polícia. Militância signica no aceitar asurra ou a priso sem protesto, realizar maniestações de orma oensia ouseja, mesmo com ataques à polícia e mais tarde aumentar “as despesas” dessasormas de conitos e criar “imagens negatias” para o Estado. Quando a seguiralamos de maniestações e moimentos “militantes”, tratase em primeiro lugarde uma autodenominaço desses moimentos e no necessariamente uma clas

sicaço nossa. Signica que o conronto com a polícia no está sendo eitadoou que este é até mesmo procurado. Uma separaço clara de alguns moimentosou uma separaço do caráter pouco estratégico e às ezes ritualizado da “militância” sempre estee presente no denominado debate de iolência nos moimentos sociais, esgotando estes.

ii: situAção nA rFA ApÓs 1945

A história dos moimentos sociais e sua criminalizaço na RFA deero serapresentadas a seguir grosso modo em alguns pontoschae:

1. 1. o a 50 c a 60: b a c-a ac c g

Após a libertaço do ascismo, oi constituída em 1949 a RFA e a RDA.O ascismo haia destruído toda a oposiço, acabando com as suas estruturas culturais, sociais e políticas partidos, associações, estruturas solidárias, etc.. Umgrande número dos poucos sobreientes da esquerda optou por morar na RDA eparticipar da construço de um Estado socialista. Em parte por esses motios, osanos 50 oram na RFA uma época “de poucos moimentos”.

A primeira resistência mais ampla na ainda joem RFA oi contra o armamento das Forças Armadas alems Bundesehr e contra a remilitarizaçoda RFA. A mobilizaço obtee boa resposta pública. Em um plebiscito que maistarde oi proibido, oram obtidos noe milhões de otos contra o armamento.Nas épocas da Guerra Fria e da integraço da RFA no pacto ocidental adeso

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à OAN em 1955, constituiço das orças armadas em 1956, todas as disputaspolíticas mais básicas soreram intererência do posicionamento contra o comunismo e as respectias repressões. O Partido Comunista KPD, até 1956 umpartido legal com cadeiras nos parlamentos estaduais e no Parlamento alemo,

participou ortemente da mobilizaço contra o armamento. Além disso, também haia contatos com a RDA DDR e também com o partido socialistaSED. Isso na época da guerra ria era considerado alta traiço. Deendia aidéia de uma Alemanha uniicada que o goerno de Adenauer respondeu coma integraço ocidental westintegration.

Em 1956 oi proibido: o partido oi dissolido, os mandados oramretirados, a constituiço de organizações sucessoras também oi proibida emilhares de processos oram iniciados contra determinados membros. Já em1950 o goerno alemo haia deliberado o denominado Decreto Adenau

er [AdenauerErlass], que exigia a lealdade à constituiço dos uncionáriospúblicos, proibindo a iliaço em organizações anticonstitucionais. Depoisdisso, muitos comunistas oram expulsos dos seriços públicos. Em 1951,o goerno alemo solicitou que osse constatada a inconstitucionalidade dopartido comunista pelo Supremo ribunal Federal, o que oi aproado em1956 pelo Supremo ribunal Federal alemo. A base da deciso oi a acusaço de alta traiço, assim como a constataço de que os objetios do PCseriam incompatíeis com a ordem undamental liberaldemocrata, uma ezque ela atua como “partido de luta marxistaleninista”, “rejeitando princípios e instituições cuja alidade e existência seriam uma condiço para ouncionamento da ordem liberal e democrática”, uma ez que o objetio seriaproocar uma situaço reolucionária.

Para os membros do PC e os moimentos sociais que estaam surgindo naépoca, essa proibiço tee conseqüências graes. O partido tee que partir para a ilegalidade Illegalität pela terceira ez em sua história. Isso proocou milhares de processos e condenações170. O número dos processos de inestigaço iniciados de 1956a 1968 oi estimado em 125.000 e mais – muito mais do que o número de membrosdo PC. Esse processo de inestigaço poderia gerar conseqüências, pois somente asuspeita já poderia ser motio para demisso, mesmo que o processo osse arquiado. Além disso, a mera atiidade política no local de trabalho também seria motiopara a demisso. Sabemos ainda de casos nos quais o seriço de inteligência interno,quando era contratada uma pessoa comunista, inormaa o seu passado comunista,

170 an no ecsão, políc fecho escrtóros o prto, preene mprenss e prene 33 fn-conáros. Prte lernç o prto trnsfer-se pr Rda já ntes o jlgmento. O ptrmôno o prto,entre otros móves, mprenss e 17 jorns com m trgem e m totl e 150.000 exemplres, fo conscoe entrege ns benecentes.

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o que já poderia lear a uma noa demisso. O número de condenações transitadasem julgado por iolaço desta proibiço está em torno de 7.000 a 10.000171.

Contra a proibiço do PC no houe protestos releantes, nem mesmo dostrabalhadores. A mídia nos anos 50 no deu atenço à justiça política, nem aos im

portantes processos políticos. Isso proaelmente ocorreu em razo da denominada ase de reconstruço, do trabalho no “milagre econômico”. ambém se acreditaque o anticomunismo produzido durante a “Guerra Fria” pelo Estado e pelos soberanos, especialmente em um país diidido e de ronteira como a RFA, que até osanos 70 sempre impediu moimentos sociais e a oposiço, tee a sua contribuiço.O grande número de processos de inestigações também mostrou que a proibiçodo PC ainda tee eeito repressio para os moimentos sociais inculados ao PC,o que proaelmente oi proposital. Mesmo que a proibiço no possa ser comparada à agitaço de McCarthy nos EUA, no pode também ser considerada uma

mera proibiço de um partido, mas é um mecanismo para a criminalizaço e imobilizaço de moimentos sociais e do protesto social nos anos 50 e 60.

2. o a a 60 a 70: a ca a na eqa a cc a “gaa a” – ha a-a “o A”

 Apenas em meados dos anos 60 começou a constituiço de noos moimentos parlamentares e ormas de protesto no âmbito da Noa Esquerda172. Parao desenolimento dos anos 60 e o início do moimento estudantil, o problemaem processar e reprimir o passado oi signicante. Somente depois de 1963 osprocessos de Ausschitz iniciouse um debate público sobre o papel das personalidades nazistas em postos importantes da economia, justiça e do Estado. Alémdisso, oi constatado o ortalecimento do partido nacionalista NPD. Outros atoresque caracterizaram o desenolimento político no nal dos anos 60 oi a primeiragrande crise econômica, o arranjo entre os “partidos populares” Unio Democrática CDU e os socialdemocratas SPD em uma grande coalizo o que impossibilitou

uma oposiço parlamentar, o anúncio das leis emergenciais, o apoio à guerra do

171 a mor por lção orgnzções nconsttcons (§ 90 o Cógo Penl lemão, prmero ssoc-ção sob sspet e ncosnttconle e epos volção probção o prto), eltos contr orgnzções(§§ 128-129, nclí entre otros prtcpção em pctos secretos [Gehembünele] e ssocções crmnoss[Krmnelle Verengng)] sbversão (§§ 88-98 o Cógo Penl lemão) e trção [Lnesverrt] (§§ 99-101 oCógo Penl lemão). até 1958 hove, em nível estl, 80 probções contr orgnzções consers re-cons pelo PC e qe, com sso, estvm sjets à ecsão jcl. O número e ssocções e orgnzções

 probs fo estmo em ms e 200.172 Ess presentção os movmentos socs e constrção máqn polcl e estl os nos 60 osnos 80 bse-se no lvro Sttsgewlt. Poltsche unterrückng n innere Scherhet n er Bnesrepblk,e Enno Brn (Göttngen, 1988).

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vietn dos EUA, assim como a cooperaço com goernos reacionários nos paísesdo Hemisério Sul. Uma grande parte dos joens e dos estudantes no conseguiuidenticar ou aceitar esse goerno sentindo a separaço entre aqueles que reprimiam e/ou toleraam o passado. Os primeiros protestos estudantis em massa ao poder

estadual proocaram uma reaço clássica: represso, iolência por parte da polícia edemagogia. No dia 2 de junho de 1967 o estudante Benno Ohnesorg oi morto pelapolícia em uma maniestaço contra o regime do Xá e mais tarde houe o atentadoao líder estudantil Rudi Dutschke pelo qual os moimentos culparam a agitaço doEstado e da mídia.

As ormas de protesto se radicalizaram e o arsenal de protestos aumentoudesde a deesa de maniestações até atentados direcionados contra bens e nocontra pessoas, como o prédio Amerikahaus, lojas de departamentos etc.. Alémdisso, os protestos estudantis acabaram incluindo alunos, aprendizes e sindica

tos. Em ace dessa situaço, explicamse as extensas “discussões de reormas”dos grandes partidos sobre um “combate decidido de todas as ações extraparlamentares inconstitucionais”, assim como a aproaço das “Leis emergenciais” noano de 1968 planejadas desde 1956. Essas leis dispõem que em caso de deesa,conitos e catástroes, assim como em situaço de emergência interna, pode serproclamada a situaço de emergência proporcionando ao Primeiro Ministro opoder de ordem e comando centralizaço do monopólio de poderes e suspenso da separaço de poderes.

O período até os anos 70 é caracterizado por um momento duplo na relaçode aumento do poder estatal/criminalizaço e moimentos sociais. Enquanto essas ormas de protesto se radicalizam cada ez mais ao menos em grande partedos moimentos, as maniestações se tornaram ainda mais militantes, proocando prisões em massa, leando à constituiço das denominadas guerrilhas urbanasda Facço Exército vermelho RAF e do “Moimento 2 de junho” em 1970 como conceito da resistência armada, o goerno SPD a partir de 1969 apresenta eaproa uma sugesto para a “modernizaço e intensicaço do combate ao crime”.Isso signica especialmente a constituiço de uma polícia centralizada responsáel pela inestigaço de delitos contra a segurança do Estado reorganizada emcolaboraço com os seriços secretos. Essa polícia é liderada por sonhadores deuma segurança interna apereiçoada e totalizada. Além desse elemento, há ainda oda segregaço. Para aliiar a situaço política interna é aproada uma lei de anistiaem 1969 que preê a isenço de penas no contexto das maniestações dos anosanteriores. Isso aeta aproximadamente 10.000 pessoas. No so leados em contaos delitos considerados crimes.

A noa autoridade de polícia ederal para a “Segurança do Estado” trata daperseguiço dos moimentos/grupos militantes nos anos seguintes a todo apor.

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Certamente no é exagero armar que exatamente essa perseguiço caracterizouo clima político, assim como as experiências concretas da criminalizaço muitoalém dos grupos marginais “armados” nos anos 70. Em 1972 é aproado o “Decreto sobre extremistas” com a proibiço de trabalhar em cargos públicos em caso

de suspeita de anticonstitucionalismo, o que é consultado até os anos 80 regularmente no seriço secreto. Até a suspenso da consulta regular, oi inestigado emtoda a Alemanha um total de 1,4 milho de pessoas. Destas, aproximadamente1.100 oram proibidas de entrar ou permanecer no seriço público, 130 oramdemitidas. Seguiram também diersos programas de expanso para as autoridadesederais e o seriço de inteligência no programa da “Segurança Interna”.

Grandes e trabalhosas ações de procura com busca detalhada, bloqueios deruas, buscas em massa e detenções oram realizados durante os anos 70, e aindahoue, de tempo em tempo, pessoas assassinadas pela polícia, das quais ao menos

para algumas o contato com os “grupos armados” era incerto. O objetio das procuras no era somente a detenço de acusados, mas o registro de dados e a intimidaço e a ragmentaço dos grupos. Como as procuras policiais sempre eramacompanhadas por propagandas, podemos supor que o “Estado” queria demonstrar poder. Os anos 70 oram determinados pelo aumento do poder do Estadoem orma de polícia, seriços secretos e a justiça, publicamente legitimado pelocombate “do terrorismo” e dos “grupos armados”. De ato, os planos de armamento para a polícia continuaram. Aqui oram enocados cada ez mais a “Proteçodo Estado”, assim como as “Medidas preentias” ou seja, no a perseguiço de

crimes cometidos, mas uma antecipaço da aço policial nas atiidades estaduais.No podemos nos estender a ponto de mencionar todas as etapas da expanso damáquina de represso e das possibilidades de criminalizaço do Estado. É importante, todaia, constatar que, no decorrer dos anos 70, a autoridade da políciaederal o Bundeskriminalamt tornouse a principal autoridade de registro dedados da Europa, que oram criados comandos e unidades especiais da Polícia Federal que também estariam disponíeis para posteriores maniestações e que coma aproaço do § 129a no ano de 1976 e a instituiço da ProcuradoriaGeral Federal oi criado um aparato de segurança com uma organizaço rígida e centralizada.

Essa polícia podia exercer poderes executios no controlados, ao menos proisoriamente, sem aproaço dos parlamentos e da soberania policial dos Estados.

Os desenolimentos descritos culminaram em 1977 na situaço mais tardedescrita na história como “Outono Alemo”. A resposta às escalações das ações daFacço Exército vermelho em 1976/77 seqüestro e assassinato do procuradorgeral Buback, do banqueiro Ponto, do presidente da associaço dos empregadoresSchleyer, assim como a tentatia de um atentado com oguete à ProcuradoriaGeral em Karlsruhe oi um estado de emergência durante quase seis semanas com

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bloqueio geral de notícias, batidas em todo o país, bloqueio de comunicaço para70 presos, limitaço ou suspenso dos direitos de deesa e da liberdade da imprensa. Haia ainda uma orte agitaço contra os “apoiadores morais do terrorismo”,que incluiu até mesmo pessoas conhecidas do setor liberaldemocrático e jornalis

tas críticos. Em outubro morreram sob condições ainda no esclarecidas os trêslíderes iniciais da “Facço Exército vermelho” no setor de segurança máxima dapenitenciária de Stammheim Enslin, Baader, Raspe. No entanto, ninguém ousouum posicionamento público ou até mesmo questionar a tese ocial de suicídiopara os mortos em Stammheim.

3. Cf a a 80: a gaa cba“a ” § 129a a caa a a ca aaõ

anto os conitos sociais e políticos como a expanso do “Estado deSegurança” nos anos 70 no podem ser reduzidos meramente ao conito entreo poder do Estado e os grupos da “luta armada”. Os anos 70 oram “épocasagitadas”, moimentos sociais organizaram ocupações de casas, deendendoestas e lutando por centros para joens autonomamente administrados. Organizaram campanhas contra aumentos das tarias de transportes públicos,conitos trabalhistas mais radicais e as primeiras maniestações contra usinasnucleares, que mais tarde se transormariam em um ponto de cristalizaçodos moimentos sociais radicais. Esses moimentos críticos do sistema determinaram os “conitos e moimentos militantes” dos anos 80. E estes mo

 imentos, além daqueles que lutaam contra as condições de detenço especiais dos “prisioneiros políticos”, oram alos especiais da criminalizaço dosmoimentos sociais e que sentiram as conseqüências da máquina policial e dasegurança do Estado construída nos anos 70. Até o nal dos anos 80 houe300.000 processos em delitos contra a “Segurança de Estado”173. rataase deprocessos contra “alta traiço”, desde o “incentio público ao cometimento decrimes”, “inaso de propriedade”, “distribuiço no autorizada de cartazes” atéa “liaço, propaganda e apoio em uma associaço terrorista”. De ato, somente

uma quantidade bem menor chegou a ser condenada legalmente. O númerobaixo certamente no é indício para um trabalho insuciente da polícia e da

 justiça, mas para o ato que o objetio na Alemanha oi e é assustar, intimidar,ragmentar e controlar.

Já em meados dos anos 70 o goerno exigiu um combate ao crime maisamplo – além dos grupos da Facço Exército vermelho e do Moimento 2 de

173 Conforme nformções Políc Feerl, hove entre 1974 e 1986 128.605 csos nvestgos por “eltos polítcos”.

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  junho –, com oco em uma “erdadeira preenço do crime”. Deeriam sersegregados e criminalizados o “ambiente político” e a ormaço de grupos militantes também ou especialmente de outros moimentos por meio de “medidaspoliciais preentias” e “operações do seriço secreto”. O objetio era intimidar,

perturbar e igiar os moimentos internamente. Essa expanso dos poderes oisem dúida undamentada no ato de que estaam se ormando cada ez maismoimentos de caráter de massa e expresso militante. Moimentos que opera

  am de orma muito dierente da Facço Exército vermelho, marginalizada eclandestina que nunca tee importância para os moimentos políticos e para asociedade, constituindo, portanto, outro “perigo para o Estado”.

Por isso, os seguintes conitos e a criminalizaço de moimentos sociaisera por um lado caracterizada pela perseguiço por medidas do seriço secretoe por outro pela Justiça Ética política conorme § 129a. Além disso, os anos

subseqüentes so caracterizados por uma proibiço maciça e brutal do direitode “reunio a céu aberto” pela polícia.

1. O aumento da máquina policial com unidades especiais e proteçodas ronteiras nos anos 70 proocou – para isso, só temos que olhar as imagens– uma atuaço em nossa percepço quase que “militar” da polícia. Em conseqüência, oram eridas centenas pessoas em muitas maniestações de grandeporte entre 1975 e 1985 especialmente na área da luta contra usinas nucleares,as ocupações, a resistência contra a ampliaço do aeroporto de Frankurt coma noa pista de decolagem e mais tarde nos conitos antimilitaristas e orampresas muitas pessoas, em parte recebendo penas altas – certamente com oobjetio de assustar – de priso e multas. Dois anos de detenço sem condicional para os casos de inaso de propriedade no eram nada raros e, alémdisso, houe sempre a tentatia de repassar o prejuízo dos danos e as despesasda polícia aos maniestantes. Outra noidade é que os amplos bloqueios e oslocais maniestaço registram no somente sistematicamente os dados, comotambém conseguem impedir grande parte dos maniestantes indo de ora,como ocorreu na usina nuclear planejada de Kalkar em 1977174. Em outras

oportunidades, parte ou mesmo grandes maniestações tinham que se reunircercadas, em outras ocasiões parte supostamente radical das maniestações oiseparada preiamente KREFELD, 1983.

Essa atitude da polícia em maniestações e antes das maniestaçõestornouse, na década seguinte, padro para reuniões e maniestações de“caráter crítico” ao sistema. Ademais, é aplicada cada ez mais a tática de“separar e dominar” entre os atiistas supostamente pacíicos e manies

174 de m totl e 70.000, 20.000 pessos form mpes; s ems 50.000 form controls por 10.000 polcs.

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tantes legais e os que so estigmatizados já antecipadamente como caóticos, iolentos e terroristas. Com a desculpa de eitar “transgressões iolentas”,as maniestações so proibidas ou sujeitas a tantas limitações que o sentidoda maniestaço é questionado.

Em 1985 o Supremo ribunal Federal reage a essa situaço de ortesrestrições da liberdade de reunio com a denominada sentença de Brokdor.Motio para essa sentença oram as limitações ilegais uma deciso generalizada, ou seja, a proibiço da maniestaço no local desejado por parte dapolícia e dos tribunais locais em uma maniestaço ederal contra a construçode uma usina nuclear em Brokdor em 1981. Desde ento, a denominada sentença Brokdor é considerada um padro normatio e jurídico embora raramente obserado. Nesta oi constatado:

Maniestações oerecem a oportunidade de inuenciarpublicamente o processo político, o desenolimento de iniciatias ou alternatias pluralistas ou ainda críticas e protestos. Elascontêm um pouco de democracia original, indomada e direta, apropriada para proteger a ida pública da rigidez da rotina.

Por isso, é uma tarea do Estado de Direito Democrático permitir asreuniões a céu aberto de orma que o local, o momento e a orma sejam adequados a articular o protesto de orma sensata e audíel. Uma proibiço oua dissoluço de uma maniestaço existente, portanto, só é possíel nos casosem que outros bens passíeis de proteço tenham que ser protegidos. As di

 ersas limitações do direito ciil com proibições generalizadas, como ocorreuna cúpula dos G8 por meio de uma disposiço generalizada ou exigências dapolícia que impedem as reuniões, sero mencionadas mais tarde.

O Comitê para Direitos Fundamentais e Democracia, uma das organizações de direitos ciis constituída em 1980 em conseqüência do OutonoAlemo, conclui, portanto:

O direito undamental de liberdade de reunio constantedo artigo 8 da Lei Fundamental diere da maioria dos demaisdireitos undamentais e humanos mencionados na Constituiço,por dois elementos adicionais. ratase de um direito ciil indiidual, mas permite também uma ponte a outros cidados apolítica começa, conorme Hannah Arendt, com uma maioria depessoas. Nesse sentido, é também um direito ciil coletio. Nessacaracterística está inculado o segundo elemento adicional. Com

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o direito de liberdade de reunio sempre e em todos os lugaresoi implantado um espinho de democracia radical na carne dademocracia representatia175.

A sentença de Brokdor obiamente no signica grandes mudanças naprática da proibiço da liberdade de reunio eja exemplo inicial na cúpula dos G8, parece até que as autoridades e os aparatos executios arriscamconscientemente sentenças posteriores que lhe atestam que sua atitude noocorreu “nos termos da lei”. Além disso, e eremos isso ainda mais adiante,há meios melhores para limitar e impedir o direito de reunio sem ter queproibir as maniestações. So limitados no somente os direitos da liberdadede reunio, mas também os moimentos “aprendem” que cada ez mais pessoas so presas e cam em priso preentia por muito tempo e, além disso,

os processos e as sentenças so encenados pelo goerno por exemplo, após amaniestaço contra a isita do Presidente Reagan em Berlim em 1981.

2. O segundo elemento básico da criminalizaço de moimentos sociaisnesse período está na ampliaço ou generalizaço da “Justiça Ética” com o §129a muito além dos argumentos o pequeno campo da “resistência armada”,que learam à sua aproaço.

Contra aqueles acusados no somente do “apoio”, mas também da participaço direta no “terrorismo”, atuase com toda a iolência, até mesmo comtiros letais só em 1978/79 so mortos três acusados, um soreu lesões graes.Quem sobreie à priso precisa contar com as mais duras penas italíciasem condições especiais de justiça e priso. Mesmo os adogados no estoprotegidos, três so condenados em 1981 por apoio. As ações contra o denominado ambiente so rigorosas, e isso se mostra especialmente nos anos 80na criminalizaço dos que apóiam as reiindicações da Facço Exército vermelho em grees de ome para condições melhores na priso e que queremdiulgar inormações sobre isso publicamente. A criminalizaço dos denominados “simpatizantes” um conceito juridicamente bastante inexato adquire

175 “a Le Fnmentl RFa é – explc o Comtê teor emocrc –, no ms, cr em form e‘absoltsmo representtvo’ (vej artgo 20 ncso 2 Le Fnmentl). Esse ‘absoltsmo’, o sej, m repre-sentção contín pr ‘o povo’ e não ção e ecsão o ‘povo’, o ms extmente e consttconlmente correto‘ poplção’, é qestonável, mesmo n emocrc representtv. assm, emocrc representtv cr sem nqete ‘poplst’ grnt consttconlmente. Por sso, n teor prátc emocrc especlmente nocontexto e m consttção lberl-emocrt o reto lmto e mnfestção é tão mportnte. E é por sso qeé tão polêmco. O bsoltsmo representtvo torn v ms fácl o qe s preocpções e glhs emon-strtvs poplção. Só qe consttconlmente nos termos o artgo 8 Le Fnmentl como norm qe regetos s les exstentes (norme normtes) ess v fácl não é jstcável. Esse entenmento tvmente rcl,lmto, constt perspectv e observção e vlção o Comtê (em Gewltberete Poltk n er G8 Gpfel.demonstrtonsbeobchtngen es Komtee für Grnrechte n demokrte, 2007, págn 18ff)” (op. ct.).

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uma extenso que no pode ser subestimada em seu eeito “psicológico” O §129a é o instrumento adequado para tal, pois no somente penaliza a liaçoe delitos concretos, mas também o auxílio e a propaganda. So realizadas buscas e apreensões em editoras e imprensas, acusadas de propaganda/apoio, e os

colaboradores so presos.Enquanto isso, o § 129a tornase um recurso contra os moimentos mili

tantes e autônomos, que no têm nada a er com a “luta armada da Facço Exército vermelho”. O moimento contra energia nuclear é transormado em “associaço terrorista”, ou seja, so iniciados cada ez mais processos inestigatios contragrupos destes e outros moimentos. O argumento é obiamente o aumento deatiidades “militantes” dos moimentos ia de regra, danos em propriedades:além da “deesa militante” do direito de maniestações, so organizadas nos anos80 ainda outras atiidades, por exemplo, so derrubados postes de luz, sabotados

trilhos erroiários e outros. Para saber mais detalhes sobre estes grupos e moimentos organizados de orma descentralizada os denominados autônomos, sointroduzidos espiões do seriço de inteligência e da polícia, os moimentos reagemem parte com um cuidado adequado, em parte com isolamento e paranóia. A expanso dos moimentos é também impedida pelo seu próprio comportamento. Acensura e a criminalizaço de reistas e jornais da esquerda radical transormamse em uma situaço normal por exemplo, contra os editores da reista AntiAtomé iniciada uma aço inestigatória nos termos do § 129a. O campo de “assuntospassíeis de atentados”, como diz o ProcuradorGeral, a “Segurança do Estado”

a Bundesanaltschaf oi ampliada de tal orma que nos anos 80, em princípio,qualquer moimento está em oco. Por isso, em 1987 a lista de crimes no §129a éampliada para as “ormas típicas de terrorismo da atualidade”.

Desde 1976 houe mais de mil processos inestigatórios nos termos do§ 129, 129a e desde 2002 nos termos do § 129b. odaia, 80% a 97% destesprocessos oram arquiados. No período entre 2000 e 2004 houe um totalde 404 processos contra 509 acusados, tendo sido julgados apenas 37 processos. Na maioria dos processos oram realizadas somente medidas de monitoramento de telecomunicaço; aqui obiamente oi registrada uma grande

quantidade de pessoas completamente alheias.

4. “A aa” a aa a a

No nal dos anos 80 e com a irada em 1989, essa época de glória dapolítica especial de moimentos sociais caracterizada pela massa e militânciatermina. Com a presso dos moimentos ciis na RDA e a imploso da estruturaeconômicopolítica na RDA, esta se dissole aderindo à antiga RFA em orma de

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noos Estados. A máquina e as instituições sociais da RDA so dissolidas, todoo patrimônio do Estado e da sociedade é endido, representantes das instituiçõesde polícia e seriços de inteligência esto sujeitos a processos penais. Segue uma

 ericaço sistemática das atiidades do SASI o abrangente seriço de segu

rança do Estado da RDA e de seus colaboradores especialmente os inúmeros“colaboradores inormais” que estaam presentes em toda a RDA. Esse processo éincentiado pelo Estado alemo, bem como pelos moimentos ciis da RDA.

Por isso, os anos 90 se destacam das décadas anteriores, mesmo que asmáquinas estatais na Alemanha permaneçam as mesmas. Enquanto os primeirosanos após a irada representam uma ase rutíera para os moimentos ciis pacistas da exRDA, uma parte da esquerda da Alemanha Ocidental a esquerdaradical quase se dissole, ou seja, precisa dos anos 90 para se realinhar, em partenos moimentos da crítica de globalizaço. Isso certamente no signica que os

moimentos sociais pararam de agir especialmente nos conitos contra a energianuclear, que ainda esto muito constantes, e no signica de orma alguma que acriminalizaço dos moimentos sociais e seus atores sejam coisa do passado. E assim nos anos 90 também aparecem noos atores no palco dos moimentos políticos, bem como noos objetos no radar da máquina do Estado, que esto desde osanos 90 sujeitos ao monitoramento, controle e criminalizaço do Estado.

emos que mencionar aqui, por um lado, o moimento Antia. O seu sig

nicado aumentou consideraelmente no âmbito da irada, uma ez que os mo

 imentos de direita/extremadireita esto em expanso. Especialmente a primeira

metade da década de 90 é caracterizada por agitações racistas e pogrom contra

alojamentos de ugitios. Em 1993, a política ocial reagiu suspendendo o direito

de asilo aos ugitios políticos, o que até o momento ora um direito undamen

tal. Os moimentos da esquerda conseguem instalar em alguns locais da RFA as

“No Go Áreas” para ugitios e migrantes, mas também para joens isielmente

esquerdistas, pois os da direita atuam de maneira cada ez mais oensia em es

paços públicos e em orma de reuniões políticas. Aqui a Antia reage, deendendo

os “seus espaços”, protesta contra os grupos da direita nas ruas e oensiamente

contra mobilizações de direita maniestações, discursos, concertos etc.. Isso atransorma em um objeto de atenço do goerno, tornando a Antia ítima no sódos grupos de direita, como também de repressões goernamentais. Outro gruporelatiamente noo no radar da represso estatal é o das organizações de migrantes do partido da esquerda, que ugiram da perseguiço em seu país e constitueme conduzem as suas organizações também na RFA especialmente de grupos deesquerda turcos e curdos que ugiram para a Alemanha em 1980 após o golpe militar na urquia. Associações e organizações so proibidas, se iolarem a “ordem

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constitucional” da RFA ou seja, concerne estritamente a “crimes” realizados naRFA. Em 2002, além disso, o § 129 é ampliado pelo §129b, conorme exigido peloConselho da UE desde 1998. Agora supostos membros e apoiadores de uma organizaço que opera no exterior podem ser perseguidos. Isso se reere especialmente

aos denominados “terroristas dormentes”, mas também atinge outras organizaçõesque se consideram esquerdistas como a PKK. Em 2006, já haiam sido iniciadosmais de 60 processos de inestigaço. E como sabemos do § 129a, desde 2002 epossielmente também antes uma rede de espiões e agentes secretos inestigamigrantes políticos e organizações de ugitios. Desde o nal dos anos 90 e maisexplicitamente no início do século XXI, os moimentos críticos da globalizaço setornam mais conhecidos. Características de seus moimentos so a rede internacional, o grande número de atores e o extenso repertório de ormas de protesto. Acriminalizaço, todaia, ocorre cada ez mais nos padrões europeus.

Os elementos principais que elaboramos nessa parte e as linhas de criminalizaço, começando pela proibiço da KPD e o anticomunismo da Guerra Fria

que a acompanha, a construço do “Estado de Segurança”, a histeria da Facço

Exército vermelho e a “agitaço contra terroristas” dos anos 70, assim como a ge

neralizaço e expanso da “luta antiterrorismo” para quase todos os moimentos

sociais críticos de sistema e a respectia ampliaço do aparato policial “proatio”

continuam de orma mais undamental no desenolimento do “Estado de Segu

rança preentia”. No próximo capítulo detalharemos esse assunto e as respectias

“medidas policiais preentias”, explicando especialmente o caráter “europeu”destas políticas.

iii. estrAtÉGiA de políCiA preventivA

O elemento central da represso de moimentos sociais é uma estratégia depolícia preentia, que se expressa em diersos planos, especialmente realizadoscom medidas técnicas. O objetio desta estratégia policial é eitar a escalaço deconitos sociais já de antemo e obstar, especialmente nos protestos de rua, situa

ções incontroláeis. Foi desenolida – ao menos no setor do controle de protestosde rua – como resposta aos conitos militantes nas maniestações dos anos 80, queem parte eram grandes. Aqui é apresentada uma série de possibilidades de monitoramento e controle, com a concepço policial proatia para o controle de multidõescrod control e o direito penal que já pode ser aplicado antes de ocorrerem situações concretas de risco.

1. A g aEstá disponíel às autoridades estatais na Alemanha uma ariedade de

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medidas técnicas, com as quais podero ser leantados os dados no somentede atiistas políticos, como de todos os cidados. O primeiro é a obrigaço doregistro de residência, que az com que todos os cidados sejam registrados emum banco de dados central com o seu endereço. Cada cidado também pre

cisa ter uma carteira de identidade ou um passaporte, no qual desde 2007 estáregistrada a impresso digital de orma eletrônica. Além disso, desde o iníciode 2008 todos os proedores de telecomunicações deero registrar os dadosde seus clientes. Aqui azem parte nos emails os dados sobre as caixas postais, quando e por quanto tempo oi mantido o contato com a internet, quemteleonou para quem, quando e por quanto tempo. Na teleonia móel aindaprecisam ser armazenados os dados do local, de orma que se pode elaborarum peril de mobilidade completo para a respectia pessoa.

Além disso, a polícia possui amplos bancos de dados sobre pessoas que

tieram contato com a polícia no passado. Assim, a polícia ederal possui maisde 340.000 amostras de identiicaço de DNA e respectiamente mais de trêsmilhões de impressões digitais e otos para o total aproximadamente de 80milhões de habitantes. Além destes bancos de dados gerais, há ainda umaquantidade de bancos de dados políticos, por exemplo, sobre críticos de globalizaço, criminosos esquerdistas etc. Nesses bancos de dados so armazenadostodos os atos relacionados à polícia, por exemplo, processos de inestigaço,condenações e também expulsões. A polícia tem a possibilidade de acessar osbancos de dados no local e podem prender preentiamente pessoas registradas nos bancos de dados políticos ou excluir estas da participaço do eento.

2. páca aõ ca ga õEssa prática preentia e proatia é bastante clara nas maniestações e ou

tras reuniões. Na Alemanha no é usual e no é mais possíel se reunir sem a participaço da polícia em um determinado local ou realizar uma maniestaço. Reuniões precisam ser inormadas sempre 48 horas antes de seu início. Legalmenteproibido – e também sujeito a penas – é o porte de armas ou objetos perigosos, quenos poderiam proteger da iolência da polícia, por exemplo, capacetes, máscarasde gás, joelheiras e cotoeleiras. ambém é proibido o porte de objetos que possamimpedir a constataço da identidade. Aqui azem parte, por exemplo, óculos desol, lenços, bonés e casacos com capuz. É até mesmo proibido portar esses objetosno caminho de uma reunio.

Nesses casos, a polícia tem a possibilidade de estabelecer exigências, porexemplo, alterar as rotas, de orma que a maniestaço possa ocorrer longe dodestinatário da reunio. Ademais, pode ser proibido o uso de calçados pesados ouo transporte de banners com mais de 1,50 m.

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Antes de uma maniestaço – especialmente da esquerda radical –, somuitas ezes instalados pontos de controle, nos quais os participantes da maniestaço so reistados por policiais e checados nos bancos de dados políticos. Antesde grandes eentos, atiistas so às ezes procurados por policiais em suas casas

que lhes recomendam no participar da reunio. Em alguns casos há também exigências de comunicaço e priso preentia.

No caso das maniestações radicais da esquerda, há muitas ezes tropas dechoque diretamente ao lado da maniestaço que acompanham, às ezes em la.Assim, para o público no ca mais eidente quem está protestando e por quemotio. oda a maniestaço é lmada, cada unidade de polícia possui um policial equipado com uma câmera de ídeo. Algumas unidades de polícia possuemcâmeras de ídeo integradas nos capacetes.

A polícia alem tem bastante experiência na administraço de multidões

crod management. Sabem cercar e separar rapidamente grandes quantidadesde pessoas. Dispõem ainda de unidades especiais BFE – unidades de proteçode proas e de detenço, as quais entram rapidamente com pequenos grupos nasmaniestações, agredindo as pessoas, ou prendendo alguém e saindo com a mesma rapidez da maniestaço. Uma orientaço oensia da maniestaço é eitadadesde o início, maiores colisões so impedidas.

Há ainda os crimes especiais, assim como a grae inaso de propriedade.Aqui os participantes de uma maniestaço incorrem em penas se participaremde atos de iolência. Muitas ezes já é suciente jogar uma pedra, sem machucarninguém, para ser punido com uma pena de detenço de um ano.

3. pb acaõNa Alemanha ocorrem periodicamente proibições de organiza

ções políticas. Mesmo que nos últimos anos a prática de proibições tenhaatingido especialmente associações islamitas e da extremadireita, às ezesso também proibidas organizações dos moimentos sociais. Isso atingeespecialmente associações/organizações de grupos políticos estrangeiros,como a organizaço turca marxistaleninista DHKPC ou o partido dostrabalhadores curdo PKK. No somente as organizações esto sujeitas àproibiço, mas também à apresentaço de seus símbolos, à deesa dos objetios da organizaço e à constituiço de organizações “sucessoras”. Assim,no somente uma organizaço é criminalizada, mas também a deesa deseus objetios políticos. De ato, isso pode gerar uma proibiço de atiidade política para os líderes desta organizaço.

4. §§ 129, 129a, 129bAs normas penais especiais para a criminalizaço de moimentos sociais so

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os §§ 129, 129a e 129b. Estas normas penalizam a liaço, a propaganda e o apoio deuma associaço criminal/terrorista estrangeira. O § 129a do Código Penal alemooi criado especialmente para combater os grupos armados nos anos 70 e 80 na RFA.O objetio desses parágraos no é em primeiro lugar prender atiistas da esquerda,

mas sim monitorar e espionar os moimentos sociais e os contextos políticos daesquerda. Os §§ 129 e seguintes do Código Penal alemo permitem amplas medidasde inestigaço até o monitoramento do contato dos presos com os seus adogados,o isolamento dentro da penitenciária e também a acilitaço da priso preentia.No ano passado, tornouse público que atiistas da esquerda estaam sendo completamente igiados há quase oito anos com câmeras de ídeo na rente das casas e doslocais de trabalho, grampo de teleone e monitoramento da internet, localizaçõesde celulares para a elaboraço de pers de mobilidade, GPS no eículo e em parteseram grampeados também os apartamentos e os carros. Nenhuma dessas medidas

até o momento acarretou um processo judicial, todaia há nos arquios inormaçõessobre aproximadamente 2.000 pessoas.

No âmbito da colaboraço européia na luta contra o terrorismo, o §129a oimodicado em 2002 e, além disso, a aplicaço desse parágrao oi ampliada paraorganizações estrangeiras. Até o momento oram iniciados processos contra asorganizações islamitas Ansar al Islam e Al Quaida, que em parte acarretaram altaspenas. No momento, há um processo contra a organizaço turca marxistaleninista DHKPC. A Procuradoria Geral também tentou perseguir a Farc e a ELN, o queoi, no entanto, proibido pelo Ministério da Justiça. Com o § 129b dee ser possíel

perseguir também os membros de organizações que esto no país, mas cujas organizações atuam no exterior. Acreditamos que isso no uturo se reerirá especialmente às organizações dos países com os quais a Alemanha está em guerra.

iv. europA

No início dos anos 90 oram abolidos na Europa os controles nas ronteiras naEuropa. Isso signica que os controles de passaportes e pessoas so mais realizados apenas nos limites externos da UE. Essa aboliço dos controles nas ronteiras entre paísesda UE gerou uma expanso da colaboraço além das ronteiras e uma troca de dados dasautoridades nacionais de segurança e para a construço das instituições de segurança européias. Especialmente na proteço contra a migraço ilegal so experimentados noossistemas de segurança. Assim, so armazenadas as impressões digitais e as otos de todosos ugitios de países ora da Europa em um banco de dados central europeu, que podeser acessado também pelas autoridades nacionais de segurança sistema vIS e SIS.

Desse modo, já existem a polícia européia Europol e a procuradoria geraleuropéia Eurojust, cujas competências esto sendo ampliadas constantemente e

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que no uturo proaelmente também sero usadas para a perseguiço de atiistassociais e políticos em toda a Europa.

Além disso, também so usadas unidades de polícia nacionais em toda a

Europa, por exemplo, em caso de protestos contra cúpulas, mas também para jo

gos de utebol, etc. Está sendo planejada ainda a construço de uma associaço depolícia paramilitar em toda a Europa. Associações de polícia paramilitares existem

na França, Itália e Espanha, na Holanda, em Portugal, entre outros. Está sendo

planejada a constituiço de uma tropa de polícia ormada por partes destas as

sociações, que pode ser solicitada especialmente em casos de agitações, reoltas e

rebeliões olume de 3.000 policiais; European Gendarmerie Force.

Na luta internacional contra o terrorismo, todos os padrões de segurança do

Estado de Direito oram suspensos. Os limites entre guerra, atiidades de seriços de

inteligência e da execuço criminal esto cada ez menos nítidos; o controle públicoe parlamentar no existe mais. Somente alguns exemplos. Muitas organizações e pes

soas priadas constam na lista de terroristas da EU Unio Européia, entre outros,

a PKK e suas organizações sucessoras, a DHKPC e também uma série de organiza

ções do moimento esquerdo de libertaço basca. As pessoas, uma ez registradas,

esto sujeitas a uma ampla “proibiço de atiidades ciis”: ninguém pode rmar

contratos com essas pessoas, ender objetos, alugar apartamentos, pagar beneícios

estatais. ratase de um “suicídio ciil”. O processo de como as pessoas so listadas

ou retiradas da lista no é transparente e é bastante incompreensíel.

Especialmente após a inaso no Aeganisto e mais tarde no Iraque, houemuitos casos nos quais a CIA seqüestrou na Europa pessoas sob suspeita de terrorismo, leadas a campos secretos e ilegais, que torturaram ou mandaram torturar,em parte, com ajuda e apoio ou, ao menos, com o conhecimento dos goernoseuropeus. As ítimas estaam ora do sistema jurídico; no somente perderamalguns direitos, mas se encontraa em uma situaço completamente sem direitos.

No momento, essas medidas atingem especialmente grupos e pessoas islamitas, mas a história nos mostrou que essas medidas podem ser ampliadas rapidamente para outros moimentos ou grupos sociais e políticos. A perseguiço do

moimento esquerdista de libertaço no País Basco é um exemplo bastante claro.

v. respostAs do movimento

No nal de nossa apresentaço, ainda queremos expor algumas respostasdos moimentos sociais às tentatias de criminalizaço.

Segundo o lema, que a melhor proteço contra a intererência nos direitosciis e humanos é praticálos, os moimentos sociais tentaram sempre colocar em

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prática o seu direito de liberdade de reunio e opinio, assim como de integridadee disposiço dos próprios dados e mais na rua e na justiça. Para isso, as correntesmais radicais dos moimentos muitas ezes também selecionaram táticas de conrontaço e militantes, o que causou especialmente nos anos 80 e também a

exemplo da RAF intensios “Debates sobre iolência” da esquerda. No orampoucos os participantes dos moimentos sociais que se distanciaram das partes“militantes” e se aastaram das reuniões de orma que também poderiam proporcionar menos “proteço”, em parte oram até mesmo organizadas maniestaçõesdierentes com os mesmos objetios, para que no tiessem que agir em conjunto. Outras correntes desenoleram concepções muito mais ortes da desobediência ciil bloqueios “pacícos”, ocupações etc., para expressar as suas ontades;outras desenoleram concepções inoadoras para colocar em prática os direitosna rua sem ter que encarar conrontações com a máquina armada da polícia e

especialmente na campanha G8 essa concepço também oi bemsucedida com osbloqueios e a denominada tática dos cinco dedos.

Paralelamente ao desenolimento da cultura de moimentos sociais e suacriminalizaço ou seja, a expanso do “Estado de Segurança”, desenoleusetambém um ambiente heterogêneo de organizações de direitos ciis Liga paraDireitos Humanos Internacionais, Comitê para Direitos Ciis e Democracia, Unio Humanista, Adogadas Republicanas e Associaço dos Adogados, Sociedade Gusta Heinemann, Pro Asyl, Associaço de Juristas Democráticos, NoaAssociaço de Juízes. Aqui temos desde os princípios liberais e democráticos até

esquerdistasliberais da deesa de direitos indiiduais e coletios ciis e de direitos humanos com um trabalho prossional de Inormaço e Publicidade inclusie, uma criminalizaço concreta, com ações undamentais e com o apoio situacional das pessoas/moimentos ameaçados de criminalizaço. As organizações dedireitos ciis na Alemanha no têm o poder de mobilizaço como os moimentossociais. O seu papel especial está mais no trabalho político prossional, de publicidade e apoio. Especialmente o RAv, assim como o comitê para direitos ciis e democracia que so aqui representados por nós, também trabalham intimamentecom os moimentos que realizam a maniestaço. Enquanto o RAv com os seus

adogados apóia os maniestantes, deendendo os seus direitos imediatamente ea longo prazo em processos penais na cúpula dos G8, por exemplo, como Legaleam, o Comitê para Direitos Ciis e Democracia desenoleu a concepço da“Obseraço da maniestaço”, com a qual uma maniestaço é documentada doinício ao m, transgressões so aaliadas e disponibilizadas como relatórios demaniestaço para o público e a mídia, assim como à polícia e às autoridades.Freqüentemente, aqui é gerada uma imagem muito dierente daquela retratadapela polícia e pela mídia.

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A partir dos moimentos sociais propriamente ditos, desenoleramse nas últimas quatro décadas as estruturas antirepresso, que uncionam em parte identicadas como autoajuda, em parte como tentatias políticas de desenoler perspectiasque o além do eento propriamente dito. Aqui podemos mencionar especialmente

os comitês de inestigaço, a Rote Hile e o seriço de emergência de adogados.Os comitês de inestigaço EA existem desde a década de 80 em die

rentes cidades e podem ser acionados em maniestações. Os números de teleone

so distribuídos durante as maniestações e os maniestantes so solicitados a

inormar transgressões e detenções de outras pessoas com nome. Os comitês

coletam, além das inormações gerais sobre transgressões, detenções e prisões, es

pecialmente os nomes e as datas de nascimentos de eridos, presos e detentos. Eles

mantêm contato com os adogados e garantem assim que os detentos recebam em

tempo a ajuda de um adogado. Além disso, o comitê tenta localizar as delegacias

e campos de detentos, aos quais as pessoas oram leadas, para agilizar o processo.

Oerece ainda um apoio psicológico, mostrando às ítimas e à polícia que existe

um público que cuida dos detentos.

Os comitês de inestigaço trabalham em conjunto com os Seriços de

Emergência dos Adogados. Estes so ormados especialmente por representantes da

RAv. Os adogados deero cobrir diersas áreas no seriço de emergência. Durante

as maniestações e outras ações, esto presentes no local para ajudar os atios a exigir e

reclamar os seus direitos, deendendo estes da polícia. ambém tentam estar presentes

nos campos de detentos representando estes, especialmente em audiências com o juiz.O contato é realizado pelo respectio comitê de inestigaço. Na cúpula dos G8, a RAv

também organizou um seriço de emergência europeu, o denominado Legal eam,

que estaa no local com um escritório próprio com 100 adogados oluntários.A Rote Hile é uma organizaço solidária que apóia, conorme seu entendi

mento, os perseguidos políticos da esquerda. O apoio é para todos os que perderem o emprego, orem processados ou condenados como esquerdistas em irtudede suas atiidades políticas, por exemplo, pela responsabilidade nos termos daLei de Imprensa por textos subersios, pela participaço em grees espontâneas,

pela resistência contra ataques da polícia ou por apoiar exigências de melhoria dascondições de presos políticos. A Rote Hile no é uma organizaço caritatia; elaoerece ajuda material e política, prepara e acompanha processos. Dierentementedo comitê de inestigaço, ela trabalha no país inteiro, a longo prazo e politicamente. Existe desde 1986, nesse ormato haia outras ormas, em parte inculadas ao partido comunista, e possui 4.300 membros.

Apesar do bom trabalho antirepresso dos moimentos e do trabalhopolítico das organizações de direitos ciis, é importante registrar que, muito rara

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mente, houe momentos em que oi possíel intererir com sucesso proocandouma mudança na criminalizaço prática e no discurso da “Segurança Interna”que a acompanha, além dos moimentos em questo. Certamente, muitos processos de inestigaço no resultam em um processo jurídico ou em uma condena

ço. Mas isso no se dee tanto à presso pública do que ao ato de que nem estáplanejado concluir todos os processos de inestigaço. Além disso, a criminalizaço maciça dos moimentos radicais militantes sociais, o seu monitoramentosistemático e a inltraço de agentes zeram com que os grupos se isolassem. Osdebates sobre a iolência dos anos 80 assim como as maniestações ritualizadasdispostas à iolência contribuíram para que estes – que estaam mais ameaçadosda criminalizaço – estejam ainda mais marginalizados.

Ademais, o assunto da “Segurança Interna” oi discutido mesmo antes de

11 de setembro de 2001, quase sempre por um público amplo e pelos grandes

partidos representados no parlamento o CDU/CSU, SPD, por exemplo, o FDP

com a sua tradiço liberal assumiu um papel ambialente. Em geral, oi possíel

apresentar a expanso da polícia e de seus poderes como praticamente única res

posta à “militância” dos moimentos e como proteço contra os grandes danos

proocados ao Estado. Isso mudou somente um pouco com a constituiço do

partido inicialmente pacista e orientado nos direitos dos cidados dos verdes

no nal dos anos 70 e a entrada deste no Parlamento alemo em 1982. Eram pro

 enientes dos mesmos moimentos, oram testemunhas de como muitas partes

oram criminalizadas e oram reqüentemente ítimas da iolência da polícia e dasuspenso dos direitos undamentais nas mesmas maniestações. Assim, os verdes

oram o primeiro partido que lutou no parlamento contra os respectios projetos

de lei, que auxiliaram as ítimas da criminalizaço e que tentaram realizar mani

estações. A partir de 1991, o partido de oposiço dos verdes oi complementado

pelo PDS mais tarde A Esquerda nessas questões. Até hoje so estes os partidos

que se empenham no processo parlamentar contra as leis mais rígidas exigindo asuspenso do § 129a até a aboliço dos seriços secretos com limitações. Eles eos partidos inteiros acreditam que o Estado de Direito Democrático pode ser or

talecido com o enraquecimento dos órgos executios, a aboliço ou o controledos seriços de inteligência, assim como uma disputa sobre a “Segurança Interna”.No entanto, no consideram esta a sua questo principal. Obrigados por diretrizesda eu, os verdes conseguiram, no goerno em coalizo com o SPD, desatiar o §129a e agraálo em 2002. ambém no plano eles conseguem colocar em práticauma ou outra reorma insignicante, por exemplo, a obrigaço de identicaçoda polícia, a reorma de controle do seriço de inteligência interno de Berlim, etc.Isso talez se dea também a motios táticos, pois especialmente após 2001 uma

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crítica undamental da “Segurança Interna” no discurso público no gera ibope. Eassim acontece que ambos os partidos, quando se encontram em um goerno decoalizo, pratiquem uma política muito real concordando com os respectios planos de agraamento e expanso por exemplo, nas respectias Leis de Segurança e

Ordem dos países. No somente por esses partidos serem “olúeis” e se encontrarem geralmente em uma posiço de minoria, a esquerda extraparlamentar osmoimentos sociais e as organizações de direitos ciis conou muito raramenteapenas em processos parlamentares e inuências parlamentares.

Tradução: Susanna Berhorn de Pinho

Frente populAr dArío sAntillÁn ArGentinA

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testemunHos de CriminAlizAção

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O Massacre de Avellaneda

“ O poder mundial ainda não encontrou aarma para matar os sonhos,

enquanto não a encontrar seguiremos sonhando,

quer dizer, triunando.” 

Subcomandante Insurgente Marcos

É necessário, em primeiro lugar, apresentar um bree panorama histórico parasituar o contexto político e social em que acontece o conhecido massacre de Aellaneda.

Muitas ezes no se entende por que esse caso tee tanta repercusso, noporque no seja importante o assassinato de dois companheiros, mas porque,lamentaelmente, na história de luta do poo latinoamericano, tiemos nume

rosos massacres em que muitas companheiras e muitos companheiros oram assassinados. Podemos citar, como exemplos, os casos de Oaxaca, no México, e doMoimento Semerra, no Brasil.

1 o cx a a aac Aaa

Desde 1996 e 1997, ocorre uma recomposiço do campo popular na Argentina. Nesses anos, surgem as primeiras organizações de desempregados quecomeçam a exigir trabalho, a partir de uma metodologia de protesto baseada nobloqueio de estradas. É também nessa época, em um contexto de orte desem

prego em irtude da implementaço das políticas neoliberais, que surgem asorganizações piqueteiras.

O ciclo de protestos populares que se abrem nesta época atinge seu pontomais alto nas jornadas dos dias 19 e 20 de dezembro de 2001, que leam ao término do goerno do Presidente Fernando De la Rúa.

Após um bree período, e diante da ausência de uma alternatia popularcapaz de capitalizar essa situaço de crise política e econômica, Eduardo Duhalde, o homem orte do Partido Justicialista, que haia sido derrotado nas últimas

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eleições democráticas, termina ocupando a presidência com o objetio de pôrum ponto nal ao protesto social.

Neste marco, a conituosidade social continua em ascenso e o moimento piqueteiro se encontra no centro da disputa e do enrentamento.

2 B côca q c a 26 jh 2002

No mês de junho de 2002, um conjunto de organizações piqueteiras lançaum plano de luta que tinha um componente ortemente reiindicatio: o pagamento dos subsídios de desemprego, aumento dos planos de 150 pesos para 300pesos, implementaço de um plano alimentar sob gesto dos próprios desempregados, insumos para as escolas e centros de saúde dos bairros, anulaço dosprocessos aos lutadores e o m da represso. Nesse momento, as organizações sepropõem a bloquear os acessos à Capital Federal. Por parte do goerno, com o

objetio de restabelecer a ordem e terminar com o protesto, ai sendo gerado, coma cumplicidade da mídia, um clima propício para a represso.

Na segundaeira, 17 de junho, o presidente adertiu que “as tentatias deisolar a capital” com bloqueio de estradas e piquetes “no podem mais acontecer”,“temos que estabelecer a ordem”…176  

Durante os dias anteriores ao protesto, dierentes uncionários do goernose reerem aos planos supostamente “desestabilizadores” dos piqueteiros e à deciso de no permitir o bloqueio às pontes.

No liro Darío y Maxi Dignidad piquetera. El gobierno de Duhalde y la

planicación criminal de la masacre del 26 de junio en Aellaneda, mostrase deque orma, desde os mais altos estamentos do poder executio do goerno nacional, oi armado todo o plano para a represso.

O rionegrino Carlos Soria, secretário de Inteligência […] no mês de eereiro de 2002, haia diundido uns supostos inormes produzidos pelo general Carlos Mugnolo e o Estado Maior, conjunto das Forças Armadas, sobre a presumida

176 Extrío e drío y Mx gn pqeter, p. 81.

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inltraço das Farc da Colômbia entre as assembléias populares e piqueteiros 177 .Durante os dias 17, 18 e 19 de junho, uma semana antes do 26, o Presidente

Duhalde promoeu a realizaço de cinco reuniões com a participaço de membrosdo gabinete, das Forças Armadas e de Segurança, dos seriços da Inteligência do

Estado, de homenschae da justiça e do goernador da Proíncia de Buenos Aires.Nessas reuniões, o goerno instruiu todos os organismos e uncionários enolidos relatiamente à deciso política adotada a respeito da represso ao conitosocial. Foram estabelecidas as bases para o planejamento, justicatia, e postas emprática, do plano integral em torno do massacre de Aellaneda178.

Entre os uncionários que criaram o clima de iolência institucional eaqueles que apertaram o gatilho, houe muito mais que coincidências discursias.Houe um planejamento geral que englobou cada declaraço e cada atitude com oobjetio de justicar a represso sistemática contra a luta popular. A responsabilidade operatia do massacre recaiu sobre Fanchiotti e seus homens. O delegado

major vega, um protegido político do presidente do PJ Partido Justicialista daproíncia de Buenos Aires, oi quem lhe encarregou a misso.

O subsecretário de Inteligência e amigo pessoal do Presidente, Oscar Rodríguez,oi o elo entre a Casa Rosada e a maldita polícia. O ento secretário de SegurançaÁlarez garantiu o brutal operatio conjunto das orças de represso interna sobre oqual montaram os uzilamentos. Portaozes do poder econômico, por intermédiodos meios de comunicaço, agitaram e justicaram a represso e as mortes. O Presidente Duhalde encabeçou a deciso de lear a cabo uma represso “exemplar” que omostrasse orte perante sua estrutura política e os organismos internacionais179.

udo isso se dá no contexto de uma aguda crise econômica na qual o go erno de Duhalde buscaa demonstrar aos organismos internacionais de créditosua capacidade para controlar o protesto. Com esse objetio, oi organizado, desdeos mais altos níeis do Estado, um plano criminoso que desembocou na morte dedois joens piqueteiros: Darío Santillán e Maximiliano Kosteki. Cabe ressaltar queo saldo da represso oi de 160 companheiras e companheiros detidos, a maioriaeridos por balas de borracha; 32 eridos por balas de chumbo e 2 mortos.

Paralela e imediatamente após a represso, o goerno, com a colaboraçodos principais meios de imprensa, tentou ocultar os atos, argumentando que tudohaia sido conseqüência de um enrentamento entre os próprios piqueteiros.

O diário de maior tiragem nacional anunciaa na ediço matutina de27 de junho: “a crise causou duas noas mortes”, “no se sabe ainda quemdisparou contra os piqueteiros”.

A manchete no reela quem oi o assassino. Será que oi o goerno?Será que oi a polícia? Para o diário oi a crise, assim secamente.

Por outro lado, a oto de capa pertence a uma série de instantâneos que

177 iem, p. 118.178 iem, p. 81.179 iem, p. 109.

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mostra como Darío é assassinadopor dois policiais. Essas otos daediço oram ocultadas e, posteriormente, como ruto da presso popu

lar, tieram que ser publicadas.Como segundo passo, o goerno começou a acionar os mecanismos para judicializar o protesto social e processar os lutadores sociais.O Presidente Duhalde, por meio deseu ministro de Justiça, Jorge vanossi,apresentou no dia seguinte do Massacre de Aellaneta uma denúncia antea justiça ederal pelo cometimento de

delitos que iolaam a Lei de Deesada Democracia: associaço ilícita ouormaço de quadrilha, intimidaçopública, apologia do crime, alteraçoda ordem, alteraço do lire exercíciode suas aculdades ou deposiço dealguns dos poderes públicos, sediço,atribuirse direitos do poo e impedir

a execuço das leis, usurpaço com clandestinidade, entre outras acusações meno

res, se comparadas com estas. A denúncia judicial enquadraa a suposta comisso emtodos esses delitos, na teoria de que existia um “complô” para derrocar o goerno deDuhalde e “atentar contra os poderes constituídos da República”180.

3 A a a

A resposta popular aos assassinatos oi imediata. No dia seguinte ao “massacre de Aellaneda” – apesar de a grande mídia nacional ter ocultado durante

 árias horas as otograas e ídeos que demonstraam que oram as orças de seguranças as responsáeis pelos dois assassinatos –, uma multido saiu à rua para

repudiar a represso do goerno. E uma semana mais tarde, no dia 3 de julho,realizouse uma grande marcha desde a Estaço Aellaneda até a Plaza de Mayo,no centro de Buenos Aires.

Esta marcha oi a resposta do conjunto do moimento popular, no qual ossetores de desempregados, trabalhadores assalariados e estudantis mostraram queno se permitiria nunca mais uma represso com essas características na Argentina. Com as eridas da ditadura militar ainda no echadas, e depois de seis meses

180 iem, p. 97.

 

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dos acontecimentos de dezembrode 2001, o poo argentino em seuconjunto saiu de noo à rua: 40.000pessoas chegaram à Plaza de Mayo.

ambém era notório como as pessoas que no participaam damarcha aplaudiam, na medida emque a coluna aançaa, ao mesmotempo em que das sacadas dos ediícios chegaam gritos de estímuloe repúdio à represso.

A palara de ordem que começou a ser acolhida oi: “Darío y Maxi noesto sós”, com o objetio de azer oposiço à intenço do goerno de isolar o mo

 imento piqueteiro da sociedade.

Essa reaço popular tee um eeito político muito importante e obrigou oexPresidente Eduardo Duhalde a desistir de sua candidatura presidencial e antecipar a conocaço às eleições.

Embora muitos piqueteiros tenham sido assassinados durante os bloqueiosde estrada entre 1997 e 2002, a maioria dos casos haia acontecido no interiordo país, em proíncias aastadas do centro do poder político. Nesse sentido, omassacre de Aellaneda, ocorrido no limite entre a proíncia de Buenos Aires e aCapital Federal, tee um impacto político muito orte e condicionou as estratégiasdos setores dominantes.

Depois da insurreiço popular de dezembro de 2001, que deixou um saldode mais de 30 mortos em todo o país, e do “massacre de Aellaneda”, tanto ossetores dominantes como uma parte da classe política perceberam que já no seriapossíel apelar para a represso aberta sem pagar altos custos políticos.

4 o ja aó 26 jh

Depois do 26 de junho de 2002, o reclamo de  justiça para os responsáeis políticos e materiais do“massacre de Aellaneda” constituiu um dos eixos de

luta mais importantes para nossas organizações que integram a Frente Popular Darío Santillán.Uma de nossas ações oi escreer o liro Darío y 

Maxi dignidad piquetera, para que nós mesmos contássemos os atos desse dia porque, do contrário, a história termina sendo contada por outros em beneício das classesdominantes. Outro objetio oi o de que o liro serissecomo insumo para a busca de justiça e luta contra a impunidade. Um dos seus principais eixos é deixar clara a

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 inculaço política do goerno de planto com o massacre de Aellaneda e de queorma o Presidente Duhalde tee ingerência na deciso de reprimir e assassinar.

Ao longo de mais de quarenta meses após o massacre, todo dia 26 de cadamês oram realizados bloqueios na Ponte Pueyrredón, reclamando o esclarecimentodos assassinatos. Como conseqüência desse processo sustentado de mobilizaço social também estiemos acampados durante 45 dias diante dos tribunais de Lomas

de Zamora, no início de 2006 conseguiuse a condenaço à recluso perpétua dedois policiais da proíncia de Buenos Aires, responsáeis materiais dos assassinatos.É importante assinalar que se trata de um ato inédito, isto que praticamente todosos assassinatos de lutadores populares na Argentina nos últimos dez caram impunes eresa Rodríguez, Aníbal verón, etc..

 5 o g Kch ca

Como dissemos anteriormente, em um contexto de ratura do paradigma neo

liberal imperante até esse momento, o goerno de Néstor Kirchner adotou uma política que tinha por objetio undamental recompor o uncionamento do sistema políticoe das instituições após a crise de dezembro de 2001. Como o próprio Kirchner disseem árias ocasiões, o que se buscaa era construir um “capitalismo a sério”.

Muitos setores das classes dominantes também perceberam que já nohaia margem para a aplicaço das políticas de ajuste que inham sendo aplicadasaté esse momento e que o kirchnerismo oerecia uma saída possíel diante de umacrise de hegemonia sem precedentes.

Sem aetar substancialmente os interesses dos setores mais concentradores

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da economia, o goerno aançou em uma estratégia tendente a desmobilizar eragmentar os setores populares, eitando a represso aberta. Como exemplodisso, podese mencionar a reunio a que nos conocou o Presidente Kirchner,ocasio em que anunciou a intenço de aançar no esclarecimento do processo

por meio de uma comisso independente. Mas, para que isso osse possíel, nósdeeríamos abandonar a rua e o bloqueio da ponte Pueyrredón. No aceitamostal proposta porque entendemos que a única garantia de que sejam cumpridosos interesses do poo é a manutenço da mobilizaço e a luta.

Nesse sentido, as políticas adotadas objetiaram a ragmentaço de algumas organizações, cooptaço de outras e uma política muito dura em termos de concordância com as reiindicações das organizações piqueteiras que,paulatinamente, oram icando isoladas e perderam consenso, ao compasso dareatiaço da economia em um contexto internacional muito aoráel.

O duplo discurso do goerno de Kirchner cou eidente em quase todos

os terrenos, mas no há dúida de que um dos mais importantes oi o dos direitoshumanos. Embora no se tenha apelado para a represso aberta, oise aançandoem dierentes ormas de criminalizaço do protesto social, a ponto de que somilhares os atiistas e militantes sociais processados pela justiça por participaremdos protestos populares.

Nos últimos anos, o desaparecimento de Julio López, testemunhachae no julgamento de um dos chees policiais que comandou a represso ilegal nos anos1970, e o assassinato de Carlos Fuentealba, docente da proíncia de Neuquén queparticipou de um bloqueio de estrada, mostram com toda a clareza que o aparelho

repressio do Estado no oi desmantelado e seus integrantes ainda gozam de impunidade. Os relatórios de organismos de direitos humanos, como a CoordenadoriaContra a Represso Policial e Institucional Correpi do conta da permanência decertas práticas contra militantes políticos e sociais assédios, seqüestros e ameaças,bem como da continuidade de torturas e maustratos nas prisões e nas delegacias.

6 Cc

•OmassacredeAvellanedadeixoucomosaldodoismilitantesmuito aliosos assassinados pelo poder político, mas também demonstrou que a re

presso e o assassinato aberto so coisas que a sociedade argentina no estádisposta a tolerar, entre outras coisas, em razo da ditadura genocida que ezdesaparecer 30.000 pessoas entre 1976 e 1983.

• Remarcarcomoagiramosmeiosdecomunicaçãodemassa,emtotalcumplicidade com o poder político e as classes dominantes. É nesse sentido quese reestem de undamental importância os meios de comunicaço alternatios,pois se nós, como poo, no contamos nossa própria história, outros se encarregaro de contála em unço de seus próprios interesses e coneniência.

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•Éprecisoconstruirumaalternativapopularreal,quedisputeopodercom os setores hegemônicos capitalistas; no apenas no plano eleitoral, massobretudo no território, nas ruas, nos locais de trabalho e também no planocultural, na ida cotidiana, no imaginário coletio.

Nós, da Frente Popular Darío Santillán, dizemos que a transormaço social, ou o socialismo, é nosso horizonte estratégico e que, ao mesmo tempo, temosque ir construindo dia a dia em cada um desses espaços antes mencionados.

Por último e concluindo, queremos citar uma rase que icou registradana porta do ribunal de Lomas de Zamora onde oi realizado o julgamento dosautores materiais do assassinato:

“o ag aa a, a, gca.”Darío e Maxi Presentes!!! / Onde nos vemos? / Na luta!!! / Piqueteiros Caralho!!! 

Tradução: Beatriz Cannabrava

F pa da saá

CoordenAdorA de mulHeres de oAXACAprimeiro de AGosto (mÉXiCo)

 A luta social em Oaxaca 

O Estado de Oaxaca é uma das regiões mais ricas do México por sua di

 ersidade cultural e ambiental, onde todos os ecossistemas esto presentes. Noentanto, no existem políticas que reconheçam a interrelaço entre poos indígenas e recursos naturais para contribuir com o desenolimento. Os programasrealizados deterioram a produço no campo, danicam o ambiente e excluem apopulaço que, diante desse panorama, se ê obrigada a emigrar. Recursos itaiscomo a água so dados em concesso para beneício de empresas transnacionais.

Oaxaca é uma entidade exportadora de modeobra barata para os centrosde maior crescimento econômico do país e do exterior. A iolaço aos direitos humanos tem sido constante. So reprimidos aqueles que se maniestam no uso de

seus direitos constitucionais, restringese a liberdade de expresso e, no interiordo Estado, se ortalecem os caciquismos. So criados grupos de paramilitares nasdierentes regiões. A justiça é aplicada de orma dirigida e as instituições encarregadas de azer cumprir as leis se conerteram em erramentas do poder, com asquais se reprimem líderes e opositores políticos.

No há transparência nem prestaço de contas nas ações de goerno. Priilegiamse a simulaço e a manipulaço na destinaço da obra pública, para aorecer empresas de amiliares e pessoas próximas ao goernador. Inclusie os progra

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mas sociais – ederais e estaduais – so utilizados pelo goerno com propósitospolíticopartidários. O goerno atenta contra nossas tradições. Comercializa nossa cultura em uma orma tosca e insultante para a populaço.

No mês de maio de 2006, o moimento do magistério, ao no encontrar

resposta para suas reiindicações trabalhistas e sociais, inicia uma igília. Suasprincipais demandas eram a reclassicaço econômica de Oaxaca como um Estado de alto custo de ida e o apoio comunitário às zonas de maior marginalizaço.A resposta do goerno oi a desqualicaço do moimento magisterial por intermédio dos meios de comunicaço e, no dia 14 de junho, a represso desalojou osproessores com gases lacrimogêneos. Esse ato gerou a solidariedade do poo, querepeliu essa orma de exercício despótico do poder goernamental.

A partir desse momento, o moimento magisterial conerteuse em popular, assumindo como principal demanda a destituiço do goernador. Em junho,

poo e proessores conormamos a Assembléia Popular dos Poos de OaxacaAPPO, um acontecimento sem precedentes na história local.

A partir de ento, tem início uma série de mobilizações jamais istas noEstado. Conormamse as representações da APPO, as comunidades indígenasrealizam óruns para deender seus direitos, seus recursos naturais e contra a discriminaço. Diante do injusto cerco midiático encabeçado por Ulises Ruiz, nós,mulheres de Oaxaca, em agosto de 2006, marchamos pelas ruas exigindo justiçae nos dirigimos à corporaço de rádio e teleiso controlada pelo goernante assassino. Ao ser negado um espaço para que pudéssemos passar uma mensagem

à comunidade, decidimos tomar essa corporaço para dar oz ao poo. A partirdesse momento, a teleiso do ascista, assassino, estaa controlada por nós.

Isso permitiu que, entre diersas mulheres que no nos conheciam, pudéssemos intercambiar pontos de ista sobre a luta, sobre nossas idas, sobrenossas experiências, sobre o uturo que queríamos para nós mesmas e para nossos lhos e lhas. Nesse espaço imos a dor dos que nada têm, de crianças descalças que chegaam para apoiar seus proessores e proessoras, de donas de casaque denunciaam que o dinheiro no daa para comer, de mulheres indígenasque rechaçaam essa política do goerno neoliberal que estaa saqueando seus

recursos naturais.O medo nos dominaa quando chegaam os paramilitares disparando suas

balas para nos intimidar, ou quando nos eniaam mensagens aos celulares, ameaçandonos com iolaço, seqüestro e assassinato de nossos lhos. Dia e noite, durante 21 dias, cuidamos desse espaço do poo, até que, posteriormente, as antenasoram baleadas e o transmissor destruído pelos esbirros do goerno.

Na madrugada desse mesmo dia, decidimos tomar as rádios comerciaispara diundir o moimento. Nessa ocasio, corpos policiais assassinaram impie

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dosamente um companheiro. No dia seguinte, instalamos barricadas em toda acidade como um mecanismo de autodeesa para enrentar os grupos militares denominados “caraanas da morte”.

Em agosto, constituímos a Coordenadoria de Mulheres Oaxaquenhas

Primeiro de Agosto, um esorço plural ao que se somam mulheres de dierentesidades, de diersas organizações sociais e coletias: donas de casa, prossionais,trabalhadoras de todos os setores e uniersitárias, mulheres de comunidades indígenas. Os eixos dessa luta so: a saída de Ulises Ruiz Ortiz, a liberdade dos presospolíticos, a luta contra a discriminaço das mulheres, contra a iolência em todasas suas ormas e pela transormaço prounda do Estado de Oaxaca, onde os direitos das mulheres sejam uma prioridade.

Em noembro, quando realizamos o Congresso da APPO, elaboramos aDeclaraço dos Poos de Oaxaca, na qual se aponta a necessidade de um goerno

que represente o poo em toda a sua diersidade: poos indígenas, populaço urbana, camponesa, trabalhadores, empresários, mulheres, homens, crianças, joense as comunidades lésbicogays. Um goerno cuja aço prioritária seja estabeleceras pontes de diálogo em que se incluam todas as ozes; que sejam implantadasinstituições, leis e políticas acordes com as culturas e a autonomia dos poos ecomunidades de Oaxaca.

Dias mais tarde, os empresários e os partidos políticos, inclusie o PDRque se diz de esquerda, pedem a entrada da Polícia Federal Preentia, que chegadepois de membros do partido do goerno terem assassinado o jornalista esta

dunidense Brad will. O goerno de direita, representado pelo Presidente vicenteFox, enia suas tropas, semeando o terror e a morte, porque, ao tratar de impedira entrada da Polícia Federal Preentia, outro companheiro é assassinado quandoestala em seu peito um petardo lançado pela polícia.

Em 2007, o Estado reatiou os grupos paramilitares com a intenço de gerarum clima propenso a uma interenço militar. A iolência, a seduço mercantil eo conito de identidade com a proocaço de enrentamentos entre indígenas soalgumas das erramentas utilizadas pelos lá de cima para liquidálos. O objetioencoberto é a recuperaço do território indígena: petróleo, gás, energia elétrica,

biodiersidade, água doce, madeiras, urânio e a possibilidade de instrumentarmegaprojetos depredadores a seriço do grande capital nacional e estrangeiro.

No âmbito indígena, lamentamos que as mulheres da regio triqui continuassem sendo um objetio de ataque, pois as irms Daniela y virginia OrtizRamírez de 20 e 14 anos, respectiamente, originárias do pooado El Rastrojo,oram seqüestradas e desaparecidas em 5 de julho de 2007. Dessa mesma orma,grupos paramilitares assassinaram no dia 7 de abril passado, em uma emboscada,eresa Bautista e Felícitas Martínez, locutoras da rádio comunitária de San Juan

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Copala, “a oz que rompe o silêncio”. Edmundo Reyes Amaya e Gabriel Cruz Sánchez oram desaparecidos em 25 de maio de 2007 e Lauro Juárez, indígena chatino, oi isto pela última ez no dia 30 de dezembro de 2007. Em nenhum dessescasos os goernos ederal e estadual adotaram medidas de reparaço e justiça, ou

mecanismos para que os atos no se repetissem. O irano de Oaxaca mantémmilitarizado o território oaxaquenho e continua reprimindo os lutadores sociais.Por isso, as mulheres da COMO Coordenadoria de Mulheres Oaxaque

nhas hoje leantamos a oz para seguir exigindo a liberdade incondicional dosprisioneiros políticos deste goerno e dos anteriores, como: Isabel Almaraz e ospresos de Loxicha e de Xanica, entre outros. Em todos os dias que or preciso sairemos à rua para gritar ao mundo que aqui em Oaxaca ESÁ ACONECENDOALGO! Queremos er lires nossas presas e presos políticos; ios as desaparecidas e desaparecidos; queremos uma ida digna para todas e todos os oaxaquenhos,porque estamos artas de tanta impunidade. Que os responsáeis pelos custos de

 idas humanas durante a represso de 2006, que oi brutal, selagem, com maisde trezentos detidos e desaparecidos, no quem impunes.

Nós, mulheres, sabemos que nossa participaço é um ator undamental nahistória pela libertaço de nossos poos. Entretanto, somos excluídas dos espaçosde direço e deciso dos moimentos reolucionários por causa de uma ontadeou princípio. Na nossa APPO, nós, mulheres, também temos batalhado para sermos parte da tomada de decisões.

E dizemos: basta de opresso e misoginia, que nossos companheiros também participem do processo de reeducaço, condiço básica para o aanço reolu

cionário, porque a luta para transormar este mundo é de ambos os sexos.Hoje, a COMO se irmana às causas de nossa América Latina erida pelos

goernos imperialistas e declara: “no amos deixar de lutar porque, assim comoparimos os lhos da pátria, também seremos capazes, se or necessário, de pegarum uzil para deendêla”. Em Oaxaca dizemos: nós, mulheres, já deixamos o aental e, se or necessário, tomaremos o uzil.

Por tudo isso, amos construir em unio o princípio de Simón Bolíar denos irmanarmos e unirmos a todos os poos da América Latina, para, juntandotodos os nossos esorços, dar uma leitura clara aos goernos e ao mundo de queseguimos em pé de luta por uma ida melhor para todas e todos. Obrigada.

o ph a h aa ca !CoordenAdoriA de mulHeres oAXAQuenHAs

primeiro de AGosto

Tradução: Beatriz Cannabrava

Frente de povos em deFesA dA terrA (mÉXiCo)San Salador Atenco, 18 de junho de 2008.

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Recebam uma raternal e combatia saudaço da FRENE DE POvOS EMDEFESA DA ERRA FPD.

Existem em Atenco antecedentes históricos da luta pela terra dos nossos antepassados: Nezahualcoyotl e seus guerreiros, Zapata e os reolucionários.

Atualmente, existe a Frente de Poos em Deesa da erra FPD, na qual a mulher no é alheia à luta e a ela se soma pela necessidade de sobreier e deendersua terra, seu lar, sua história, etc.

Em San Salador Atenco e pooados circunizinhos, a luta da mulher temsido constante, histórica. emos aançado juntas, mesmo sem nos conhecer. emos lutado por nossos direitos, azendo aler nossa palara, nossa deciso. E contra o machismo, sim, porque a luta no é unicamente contra os goernos, mastambém no lar, nas escolas, no âmbito social e de trabalho. No tem sido ácil; temos ainda muito por azer. “É todo um processo de transormaço ao qual temosque dar continuidade”, como nos dizia o companheiro Ignácio del valle detido no

presídio de segurança máxima, antes denominado La Palma, no altiplano.No dia 22 de outubro de 2001, os goernos estadual e o ederal expropriaram

nossas terras de cultio, aetando 5.200 hectares dos pooados de Atenco e excoco,oerecendonos $7,20 por metro quadrado. ratamos de conseguir entreistas comos goernos ederal, estadual e municipal. Como no houe resposta, imos a necessidade de nos unir; e nos organizamos, tomando o machete, que é uma das erramentas de trabalho no campo. Isso para ter identidade como camponeses e parasermos isíeis para os meios de comunicaço e os goernos, que diziam que éramos80 pessoas iolentas da cidade de Netzahualcóyotl, Estado do México.

Uma das primeiras marchas para o Distrito Federal oi no dia 14 de noembro de 2001. O companheiro Ignacio del valle Nacho comentou: as mulheres mais elhas, as crianças e os idosos no iro à marcha. Uma mulher de idade aançadarespondeu: ocê é que no ai, Nacho, porque eu ou, sim. Essa é uma das ormascomo nós, as mulheres de Atenco e de pooados circunizinhos, decidimos participar da luta social. No tem sido ácil nos desprender do nosso lar e participar.

Geramos uma mudança com a solidariedade de todos. Assim o decidimospela necessidade de que nossos poos no sejam exterminados. Participamos daorganizaço nas áreas de administraço, saúde, educaço, na tomada de decisões,na cozinha, etc., explorando cada uma das nossas habilidades. E aqui cabe men

cionar o lema: “quando uma mulher aança, no há homem que retroceda”. Foi assim que derrogamos um decreto expropriatório no dia 1.º de agosto de 2002. Claroque sem menosprezar a participaço dos alentes companheiros e de todas aquelas organizações nacionais e internacionais que se solidarizaram com a FPD.

As companheiras que nem sequer sabiam que existiam direitos da mulheragora sabem e os azem aler. Muitas companheiras dizem: já no sou a mulherque abaixa a cabeça e obedece, agora tomo decisões. O goerno, longe de nos espantar, nos abriu os olhos porque querem azer com que a gente desapareça. Issonos ez reagir e agora nos unimos e nos organizamos. Já no pedimos licença para

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sair, agora aisamos que amos sair para realizar alguma atiidade.De participar em peregrinações e procissões da religio católica passamos

a participar de marchas, comícios, azer cartazes, participar de óruns, entreistascoletias, atos políticoculturais, pesquisar nossa história, etc. Para os goernos,

estadual e ederal, no oi muito grato ter que derrogar um decreto expropriatórioe o ato de no termos permitido que se instalasse o grande negócio do capitalismo.E os goernos, estadual e ederal do México, alegando que se trataa do “aeroportointernacional”, usaram os meios de comunicaço de massa para undamentar queisso era de utilidade pública.

Posteriormente, e depois de haer derrogado o decreto expropriatório, oobjetio da Frente de Poos em Deesa da erra FPD oi começar a azer projetos produtios no campo, projetos de educaço e reiindicar beneícios para as escolas. Além disso, brindar solidariedade às organizações sociais do México, entreas quais os oristas de excoco, que lutaam por ter um espaço para uma banca e

poder ender suas ores nos eriados, como 3 e 10 de maio, 12 de dezembro, entreoutras datas.

Sobre isso existe um ídeo em que o goerno e os oristas azem um con ênio de orma erbal, que o goerno no respeita e reprime. Mas isso oi realmente só um pretexto, pois o que houe oi ingança por no haer permitidoque construíssem o aeroporto. Essa represso oi nos dias 3 e 4 de maio de 2006.Inadiram nossas casas, destruindo tudo, roubando artigos de alor e dinheiro,torturando ísica e psicologicamente nosso poo, realizando exações e iolaçõessexuais a nossos companheiros.

Por causa da nossa cultura, os homens no denunciaram isso publicamente.Nossas companheiras, sim, tieram coragem e raia para denunciar. Sabemos que essaé a orma de querer calar as mulheres. ambém sabemos que há mais de 500 anos soessas as estratégias que os goernos têm utilizado para que a mulher se ajoelhe e peçaperdo por leantar a cabeça, a oz e exigir que seus direitos sejam respeitados.

E agora esses goernos justicam as ordens que deram a seus cachorros policiais e dizem: eles exageraram. ambém dizem que as mulheres que oram ioladasazem questo de contar o ato, pois isso é o que as lutadoras sociais têm que dizerpara se deender, entre outras bobagens declaradas pelos autores intelectuais.

Eu ui detida, no dia 4 de maio em San Salador Atenco, ao ir azer umas

compras no armazém, unicamente por passar pela praça principal. Esse oi o meudelito. Detieram todas as pessoas que encontraram no caminho. Fui encarceradano presídio de Santiaguito, Estado do México, junto com 45 companheiros. Aochegar a esse lugar estáamos com o olhar perdido, no conseguíamos assimilar oque tinha acontecido. Nesse momento quei sabendo como árias companheirasoram humilhadas e ioladas sexualmente. Perguntamos qual era o delito de queéramos acusadas e ninguém sabia responder a essa pergunta. Os policiais nos responderam: “só recebemos instruções”.

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Aortunadamente, estie detida apenas 15 dias. Durante esse tempo, estiemos incomunicáeis, sem atendimento médico, torturadas psicologicamente. Assim que pude dar um teleonema, comuniqueime com meu esposo e lho e lhesdisse que tinham que sair de casa, pois quei sabendo que os granadeiros estaam

inadindo as casas. Meu lho respondeu: “No amos nos abrir” no recuaremos.Nesse momento quei com um nó na garganta e lhe disse que só zéssemos umapausa dentro da luta e que continuaríamos juntos quando eu saísse da priso.

Ao sair da priso, meu esposo me esperaa na porta, assim como árioscompanheiros solidários. Em casa estaa meu lho; minha lha estaa cuidandode uns parentes. Meu esposo pensou que ao sair eu deixaria de participar da lutasocial, que regressaria espantada e me ocuparia dos seriços de casa e do meutrabalho, como azia antes, mas no oi assim. Já que agora até me tornei “grossa” respondi que já no encontraa outra orma de expressar minha coragem,minha impotência, minha indignaço, que era uma mulher que no tinha nas

cido só para parir lhos e ser dona de casa. Agora tinha aprendido algo noo, abuscar mais ormas de deesa; que, se ele queria se separar de mim em razo dasdierenças de orma de pensar, eu estaa disposta, mas no me retiraria da luta,que agora era por deender nossos direitos e azêlos respeitar. Que sozinha noconseguiria e que tinha que continuar com a organizaço. Basta a mulher sersubmetida, humilhada, pisoteada, iolada! etc. Além do mais, temos companheiros presos, e eu disse que no descansaríamos até conseguir a liberdade detodos. Ele cou surpreso e calado ante minha resposta. Mas, sobretudo, agradeçoo apoio que até agora continua me proporcionando.

Companheiros, esta é uma parte do que iemos e a resistência que con

tinuamos dando como mulheres da FPD. Esta é a orma com que acreditamosestar contribuindo com a luta nacional e internacional.

Com dois anos da represso, atualmente temos três companheiros detidosem uma priso de segurança máxima, sentenciados a 67 anos e meio de priso,13 companheiros no presídio Molino de Flores excoco, assim como ários companheiros exilados. A Comisso Nacional de Direitos Humanos, em suas recomendações, no exigiu castigo aos culpados materiais e intelectuais; unicamentemencionou que houe iolações aos direitos humanos.

No entanto, o goerno do México, por intermédio dos meios de comunicaço de massa, criminaliza nossa luta social, acusandonos de delitos como:delinqüência organizada, seqüestro equiparado e ataques a ias de comunicaço.Em algum momento também nos acusaram de terroristas, mas, como FPD, dizemos que somos deensores da terra, da história, da cultura e das tradições, deensores de Direitos Humanos como ocês. O “3 de maio” utilizou essas ormas decriminalizar a Frente, repetindo por teleiso as cenas em que pessoas de Atencogolpeaam nos genitais a um policial, mas nunca exibiram as imagens das companheiras que oram torturadas ísica e psicologicamente, ioladas sexualmente,ameaçadas de morte.

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Exortamos a todas as companheiras a que participem em suas dierentesormas e atiidades, além de propormos alternatias para aançar na luta social,articulandonos, moendonos em uma mesma direço para denunciar que nossos direitos no so reconhecidos nem respeitados.

Atualmente, como FPD, continuamos nos reorganizando e trabalhandocom projetos no campo – para desmentir o goerno que diz que essas so terrasinérteis –, projetos de comunicaço e educaço, entre outros, para nossas comunidades, retomando o trabalho que já ínhamos azendo antes da represso, bemcomo realizando atiidades para arrecadar undos e dar continuidade à luta social.

Algumas das propostas que temos como FPD para resistir à criminalizaço dos moimentos sociais so:

•Realizarenlacesearticularaslutas,nacionaiseinternacionais,paraqueassim continue sendo denunciado publicamente, de todas as maneiras possíeis, oque sucede em nossos países e comunidades.

•Criarmaismeiosdecomunicaçãoalternativos,comprometidoscomaluta social.

Nossa prioridade neste momento é a liberdade dos presos políticos no apenas de Atenco, mas de todo o país e do mundo inteiro, pois também estamos participando da Frente Nacional contra a Represso FNCR.

No mais iolações aos direitos da mulher, nem às garantias indiiduais!No mais iolações aos Direitos Humanos!Nem um passo atrás, companheiros!Presos políticos em liberdade!

Zapata ie… a luta continua!

Frente de povos em deFesA dA terrA 

Tradução: Beatriz Cannabrava

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o Crime de ser mst BrAsilLeandro Gaspar Scalabrin 181 

Há 500 anos caçamos índios e operários

Há 500 anos ...no somos nada iolentos

Há 500 anos...

sonhamos a paz da Suéciacom suíças militares,

Há 500 anosa polícia nos dispersa

Que país é esse? AFFONSO ROMANO DE SANT’ANNA

Criminalizar signica considerar como crime. Considerar como crime atose protestos ou os integrantes e líderes de moimentos sociais no é nenhuma noidade no Brasil ou na América Latina, onde assassinatos, ameaças, diamaço pelaimprensa, prisões e espionagem de deensores de direitos humanos so atos comuns que acontecem todos os dias.

Agora criminalizar a existência de um moimento social sob a acusaçode “deender o socialismo”, “desenoler a consciência reolucionária”, possuir uma“opço leninista” ou cultuar personalidades do comunismo como Karl Marx e CheGueara eram atos que no aconteciam no Brasil há mais de 20 anos, quando acampanha pelas “diretas já” anteciparam a derrocada da ditadura militar.

O Estado do Rio Grande do Sul, conhecido no mundo todo por ter sediadoos primeiros Fóruns Sociais Mundiais em Porto Alegre, passou a ter sobre si o oco deatenço dos democratas de todo o País por ser o palco de um conjunto de ações obscurantistas, dignas do auge da Guerra Fria e das ditaduras militares na América Latina.

Em 11 de março de 2008, o Ministério Público Federal de Carazinho ingressou com aço criminal, aceita pela justiça ederal, contra oito supostos integrantes do MS pelo cometimento de delitos contra a “Segurança Nacional”, com

base na Lei de Segurança Nacional LSN promulgada em 1983, no nal da ditadura militar. Segundo a denúncia, nos anos de 2004, 2005 e 2006, os grupamentosdos quais aziam parte os acusados “constituíram um ‘Estado paralelo’, com organizaço e leis próprias”, teriam resistido ao cumprimento de ordens judiciais, “ignoraram a legitimidade da Brigada Militar”182, teriam utilizado táticas de “guer

181 LEaNdRO GaSPaR SCaLaBRiN avogo o Movmento os Trblhores Rrs Sem-Terr (MST) emembro Ree Nconl e avogos e avogs Poplres (Renp).182 denomnção Políc Mltr o RS.

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rilha rural” e estariam recebendo apoio de organizações “estrangeiras”, tais comoa via Campesina e as Forças Armadas Reolucionárias da Colômbia Farc183.“Eles os semterra arontaram o Estado de direito de orma sistemática”, declaroua procuradora que ingressou com a aço em entreista à imprensa. Estes atos so

enquadrados nos artigos 16, 17 e 20 da LSN, cujas penas máximas somadas so de30 anos de recluso e tratam dos “integrantes de grupamentos” que tenham porobjetio a mudança do Estado de Direito com uso de iolência e de atos de terrorismo por inconormismo político.

Se todo mal traz um bem consigo, o mérito desta aço penal oi diulgara existência de três documentos “secretos” que a procuradora usa como “proas”contra os acusados. O primeiro deles intitulado “Situaço do MS na regio nortedo RS”, de maio de 2006, elaborado pelo Coronel waldir Joo Reis Cerutti, comandante do Comando Regional do Planalto da Brigada Militar do RS. Neste relatóriodo seriço secreto da BM PM2, de caráter “Reserado”, demonstra que órgos

públicos ederais como o Incra e a Conab, um deputado estadual e moimentossociais MS, MAB e MPA so alos de inestigações dos seriços secretos daPolícia. Nas conclusões so apresentadas árias “teses”: inculaço do goerno ederal ao MS; do MS com o PCC; do MS com as Farc; presença de estrangeirosnos acampamentos para dar treinamento militar; e a mais espetacular de todas, ade que o moimento objetia criar uma “zona de domínio” territorial no Sul doBrasil, na regio compreendida entre a Fazenda Anoni onde 400 amílias estoassentadas e a Fazenda Guerra área cuja desapropriaço para reorma agrária éreiindicada, por ser uma regio “estratégica” do ponto de ista geopolítico por

sua localizaço que permitiria acesso às ronteiras com a Argentina e por ser umadas mais ricas e produtias regiões do Estado. O Coronel184, que é a principaltestemunha na aço por crime contra a segurança nacional, qualica a maioria dossemterra como “massa de manobra” de líderes da ia campesina.

O segundo deles, o Relatório de Inteligência “Reserado” 11241002007,elaborado pelo seriço secreto da BM a PM2, a pedido do Subcomandante Geraldo Estado Maior, Cel. Paulo Roberto Mendes Rodrigues, conclui que a atuaço davia Campesina – em especial o MS – aronta a ordem pública e a ordem constituída, caracterizandoos como moimentos que deixaram de realizar atos típicos

183 Cbe estcr qe, peo procror, Políc Feerl e Psso Fno nvestgo o MST o RSrnte o no e 2007 e não conseg encontrr provs exstênc e vínclos o movmento com s Frc o presenç e estrngeros relzno trenmento e gerrlh nos cmpmentos o movmento, conclno pelnexstênc e crmes contr segrnç o Esto, não ncno nenhm cso e reqereno o rqvmentoo nqérto polcl.184 Qno e s pssgem pr reserv em 2007, em entrevst o jornl Peróco Centrl e Psso Fno, oCoronel eclro qe rnte tr mltr brsler, nos nos 80, permnece cerc e três nos nltro noMST, no acmpmento Encrzlh Ntlno. Com o conome Tonnho, represento m fnconáro brboe cbelo o incr, qe conqsto smpt e prte os cmpos e exo 34 los e btsmo e cs-mento: “Fqe cerc e três nos no Servço e intelgênc. Morv ns brrcs jnto com os sem-terr. Qnotnh oportne, pssv nformções pr o comno trvés e m ráo escono nm borrchr s

 proxmes. Me objetvo er convencer s pessos rem pr os ssentmentos oferecos pelo governo. as-sente mt gente no Mto Grosso”.

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de reiindicaço social para realizar ações criminosas, taticamente organizadascomo se ossem operações paramilitares.

O Coronel Mendes é o principal articulador desta iso sobre os moimentossociais do RS dentro do Estado Maior da Policia Militar e do atual goerno estadual,

tendo sido promoido ao cargo de comandante geral da corporaço em 11 de junhode 2008, mesma data em que comandou o maior episódio de represso isto no Estado nos últimos dez anos. Uma passeata com 400 pessoas pelas ruas de Porto Alegrecontra a corrupço no goerno estadual oi iolentamente dissolida com gás lacrimogêneo, bombas de eeito moral, disparos de balas de borracha e caalaria, deixando 12maniestantes eridos um graemente, com hemorragia interna e outros 12 presos.“No podemos aceitar baderna” e “no amos abrir mo do uso de energia”, oram asdeclarações do Coronel à imprensa ao se reerir aos moimentos sociais.

O conhecimento do Relatório 1124100 permitiu aos moimentos sociaisdo RS compreender o motio da atuaço da Polícia Militar, que passou a ser abusia,

desproporcional, iolenta e militarizada, como se estiesse agindo numa guerra contra um “inimigo interno”, nos últimos dois anos 2007 e 2008. Neste período oramdescobertos inúmeros grampos teleônicos clandestinos, ocorreram apreensões ilegais de documentos e agendas de maniestantes, inltraço de agentes da PM2 comoagitadores em protestos, monitoramento de pessoas e sedes de entidades e identicaço criminal “massia” dos participantes de atos públicos, sejam de estudantes,sindicalistas ou integrantes de moimentos sociais185. Na maioria dos despejos eprotestos ocorreu a mobilizaço de grandes contingentes de policiais de 100 e 800policiais do Batalho de Operações Especiais BOE, com uso de ardamento ca

muado semelhante ao do exército, aquartelamento das tropas, mobilizaço dabanda marcial e ormaço de pelotões com caalaria e matilhas de ces.Alguns atos so ilustratios desse “noo jeito de goernar” protestos po

pulares: em 23 de março de 2007, 600 policiais militares oram mobilizados paradespejar 36 amílias semteto que ocupaam um prédio em Porto Alegre; em 24de abril de 2007, três comerciários caram eridos ao serem expulsos da rente deuma loja onde realizaam ato da campanha salarial; em 28 de noembro de 2007,300 integrantes do MD oram orçados a marchar “em passeata” até a delegacia;em 14 de março de 2008, estudantes e proessores oram impedidos de protestarem rente à Secretaria Estadual de Educaço, uma proessora é retirada algemadado local; em 4 de abril de 2008, 50 mulheres camponesas duas gráidas carameridas num protesto contra o “deserto erde” e a multinacional Stora Enzo, umaoi presa e as trezentas participantes caram detidas e sem comida por quase dezhoras; em 4 de junho de 2008, 100 PMs e um helicóptero sob o comando do Cel.Mendes oram mobilizados para impedir que 27 semterra quatro crianças ossem impedidos de montar um acampamento na beira de uma rodoia estadual;todos receberam oz de priso e depois de “chados” oram liberados.185 Estm-se qe ms e 2.000 mnfestntes e lernçs form “chos” pel PM2 nestes os nos; pelomenos 200 responerm processos jcs.

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No entanto, o ato mais signicatio de todos talez tenha sido a atuaçoconjunta da Polícia Ciil 60 agentes, Polícia Militar 800 policiais, Polícia Federal, Corpo de Bombeiros e Polícia Rodoiária Estadual, para empastelar, desbaratar, dissoler, 40 anos depois de a ditadura militar brasileira ter dissolido o

Congresso da UNE em Ibiúna – SP, o XXIv Congresso Estadual do MS. O álibipara a dissoluço oi o cumprimento do mandado de busca e apreenso de R$200,uma máquina otográca e um anel. Esse exército de mil homens e aproximadamente cem iaturas, helicópteros, caalaria, cercou todos acessos à comunidadeda Coanol, no assentamento da Fazenda Annoni berço do MS no Brasil. Aárea cou “congelada” o dia inteiro. Desde as seis horas da manh nenhum dosmil e quinhentos participantes do congresso pôde entrar ou sair do local. odas asatiidades programadas para o último dia, quando seriam tomadas as principaisdeliberações, oram suspensas. Os presentes queriam azer aler seu direito de reunio; a PM queria ingressar e identicar criminalmente todos os participantes.

No nal da tarde, cerca de 200 policiais ingressaram no local e reistaram os ônibus e alojamentos: nada oi encontrado. O congresso estaa encerrado. No quente17 de janeiro de 2008, lá estaa o Cel. Mendes comandando a operaço de guerrano “quartelgeneral” de seu “inimigo”.

O terceiro documento reela que o Conselho Superior do Ministério Públi

co do RS, órgo independente dos outros três Poderes da república, cuja misso

é deender a Constituiço Federal, instaurou um procedimento administratio e

designou dois promotores para realizar um leantamento de dados sobre as ati

 idades do MS. Os inestigadores enocaram em sua tarea a “atiidade de in

teligência”, “undamental para [...] planejamento estratégico”, ormulando relatório

com os seguintes tópicos “1. Compreenso do enômeno MS, 2. Identicaço de

seus ocos de atuaço, 3. Esclarecimento de seu modus operandi, 4. Leantamento

das conseqüências de sua atuaço, áticas e jurídicas; 5. Propositura de linhas de

enrentamento do problema”. As conclusões da inestigaço, muito mais políticas

do que jurídicas, so semelhantes as do seriço secreto da PM. O MS é carac

terizado como “organizaço criminosa”, de “caráter paramilitar”, que estaria bus

cando a estruturaço de um “Estado paralelo”. Ao apresentar o relatório conclusio

das inestigações ao CSMP, o conselheirorelator, Procurador Gilberto Tums,deendeu a necessidade de “desmascarar o MS”, por se tratar, segundo ele, de

uma organizaço criminosa, com nítida inspiraço “leninista”, que se utiliza de

“táticas de guerrilha rural”. O procurador criticou a complacência do poder públi

co, notadamente dos “goernos de esquerda” que se limitariam a “ornecer cestas

básicas, lonas para as barracas, cachaça, treinamento em escolas para conhecer a

cartilha de Lenin, etc.”. O procurador chama de “agabundos” e “inasores moi

dos a cachaça” os semterra e propõe que sejam ingressadas ações judiciais para a

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“dissoluço do MS e a declaraço de sua ilegalidade”; “suspender marchas colu

nas, ou outros deslocamentos em massa de semterra”; “inestigar os integrantes

de acampamentos e a direço do MS pela prática de crime organizado”; interir

“nas três ‘escolas’ [...] de inuência externa do MS”; desatiar os acampamentos

“que estejam sendo utilizados como ‘base de operações’ para inaso de propriedades”; inestigar os “assentamentos promoidos pelo Incra ou pelo Estado do Rio

Grande do Sul”. Por m, sugere a “ormulaço de uma política ocial do Ministé

rio Público [...] com a nalidade de proteço da legalidade no campo”.

Na reunio de 3 de dezembro de 2007, o oto e os encaminhamentos pro

postos pelo procurador oram submetidos e aproados por unanimidade pelo

CSMP. O conselho decidiu ainda “que o reerido expediente [o Processo Adminis

tratio 1631509.00/079] tem caráter condencial...”.

Após ter sido denunciado publicamente o teor dessa deliberaço, o CSMPesclareceu que em 7 de abril de 2008 se reuniu em noa sesso, solicitou inorma

ções sobre o cumprimento das medidas aproadas, quando seus membros mani

estaram “total apoio aos Promotores de Justiça designados por tratar de tema de

segurança pública” e, ao nal, decidiram por desclassicar o processo adminis

tratio quanto a seu caráter sigiloso e reticar a ata de 3 de dezembro de 2007,

para suprimir a determinaço anterior de ajuizamento de aço ciil pública para

dissoluço do MS e a declaraço sua ilegalidade. amanhas oram a repercusso

e a reaço dos setores democráticos da sociedade brasileira, inclusie do próprio

Ministério Público do RS, que em 30 de junho de 2008, em noa reunio do CSMP,houe noa reticaço da amosa ata, em que constou q0 de junho de 2008, e no

 amente reticou a ata de 3 de dezembro, armando que tudo no passou de um

equíoco, tudo que estaa contido na ata no oi aproado, azendo constar que a

deliberaço do conselho teria sido somente a de designar “Promotores de Justiça

para conhecer do expediente e lear a eeito as medidas legais cabíeis”, e no os

encaminhamentos propostos pelo Procurador Tums.

Equíocos à parte, cabe questionar por que o CSMP decidiu inestigar o MS.

Ou melhor, por que no decidiu inestigar outros “moimentos” que também poderiam ser considerados “ações criminosas” e “ormaço de quadrilha”, com peculiar

modus operandi, como a atuaço de empresas transnacionais e de latiundiários

no contrabando de sementes transgênicas, na implantaço do “deserto erde” ou na

construço de hidrelétricas. Cabe questionar também se compete ao CSMP, órgo

administratio da instituiço, tomar denições inculantes para seus membros, ato

que a Constituiço Federal eda, e ainda questionar por que o scal da lei no pro

cessou os comandantes da PM por terem inadido a esera de competência de outras

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polícias e por ter realizado procedimentos ilegais, similares aos da época da ditaduramilitar. Por que no inestiga as terras públicas apropriadas ilegalmente pelo latiúndio? Por que no inestiga os integrantes da Farsul que esto ameaçando de morteproprietários que se dispõem a ender terras para reorma agrária?

Questionamentos de lado, o ato é que árias decisões propostas pelo relator do processo oram executadas por integrantes do MP em todo o Estado do RS.várias ações isando impedimento de marchas, proibindo marchas de ingressarna Comarca de Carazinho, isando o cancelamento de títulos eleitorais, retirandocrianças de marchas, solicitando despejos de acampamentos, já haiam sido ingressadas. No dia 11 de junho de 2008, mesmo dia em que o Cel. Mendes dispersaa uma maniestaço nas ruas da capital gaúcha, ários promotores ingressaramcom uma aço judicial e obtieram liminar para o despejo de dois acampamentosdo MS existentes sobre áreas particulares, propriedade priada legalmente ce

dida pelos seus proprietários para os acampados, e, no dia 17 de junho de 2008,os mesmos Promotores de Justiça ingressaram com outras três ações nas Comarcas de So Gabriel, Canoas e Pedro Osório, criando zonas de restriço de direitosao redor de três azendas que so reiindicadas para ns de reorma agrária peloMS. Isso demonstra que essas ações so resultado da deciso aproada pela instância máxima do Ministério Público do Rio Grande do Sul e compõem uma estratégia institucional que tem por nalidade “desmontar” o MS. A lógica de todasas ações parte de um argumento central: o MS é uma organizaço criminosa,paramilitar, é preciso “desmontar bases” no por acaso as quatro ações ciis se

dirigem contra os quatro principais pólos de acampamento do MS atualmenteexistentes no Estado. Na prática, as ações criaram zonas especiais, onde o direitode ireir, direito de reunio e maniestaço esto suspensos e colocam em riscoa integridade ísica de cerca de 800 amílias que esto à mercê da iolência e abusode poder da PM, que agora tem respaldo judicial para “combater” seu “inimigo”.

Os atos que esto acontecendo no RS, materializados em três “ronts deluta” simultâneos contra o MS, mostram que historicamente os moimentos sociais so combatidos de três maneiras: ignorandoos, cooptandoos ou criminalizandoos. Quando no se consegue cooptálos, depois de terem sido ignorados e

continuarem existindo, o remédio é considerálos crime. E ao considerálos crimeno é porque se é contra o “moimento” em si, este ser abstrato, mas é por seremcontra aquilo que ele propõe de concreto.

No RS a reaço a que se assiste é contra a reorma agrária, essa minguadareorma agrária que o MS pouco tem conseguido ajudar a azer, a contagotas,contagros. Esse é o crime do MS. E, se é erdade que a melhor orma de deender um direito é exercendoo, no há jeito; para se “descriminalizar” o MS, aiter que continuar azendo reorma agrária, ai ter que continuar sendo MS.

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lA leGuA YorK (CHile)

repressão dos poBres e dos movimentos soCiAisnA perspeCtivA dA Juventude

Gustavo Arias186  

Geralmente, no pensamos muito sobre este tema to particular, que é aorma como a represso é iida no nosso país, que empunha bandeiras de umachamada democracia participatia. A partir do conite para o encontro latinoamericano que seria realizado no Brasil, juntamos olhares sobre esse assunto, tra

 amos uma árdua conersaço sobre o que eu, do meu ponto de ista de moradorde um bairro popular, de joem e de dirigente social, posso aportar.

Neste país chamado Chile, a cada dia a primeira represso é a da mídia, jáque por meio dessas itrines de massa so acusados, sentenciados e estigmatizadossetores da populaço, moimentos sociais, seus dirigentes e mesmo pessoas ísicas.

A situaço é to grae que a chamaremos de homicídio midiático, pois muitas ezes, ao ocorrer esse julgamento, a busca de expectatias ou de sobreiência se êtruncada de orma quase absoluta. O níel de questionamento em relaço ao que éapresentado pelos meios massios é quase nulo por parte da cidadania, o que proocaum estado de total credibilidade ao que é expresso por esses meios de desinormaço.

É assim que podemos alar dessa represso como a mais atual e eidente,mas que no é a única, pois sicamente a represso é iida nas populações maisemblemáticas do nosso país. As mesmas que ainda ontem eram chamadas de po

pulações combatias hoje so acusadas como ocos de droga e delinqüência, o quepretende justicar um estado de sítio por parte da polícia, e onde em cada esquinaé eito o controle de identidade, e no precisamente da melhor orma.

Existem depoimentos sobre esse tema que constatam os atropelos aos direitos humanos básicos nestas práticas policiais, que chegam a ponto de desnudaras pessoas em plena ia pública, reistar roupas, bolsas, e, o que é pior, azer umareista inclusie anal ou aginal às mulheres, para constatar se leam drogas.

Esse é o níel do que hoje o Estado chama interenço nos lugares de altorisco. No nal do texto, agrego alguns depoimentos. Além de territorialmente reconhecermos como bairros populares, com uma dinâmica ligada ao mundo cul

tural e político, emos como a populaço inantojuenil em seu conjunto é hojesujeito de represso e perseguiço constante por parte do Estado. Como exemplo,temos a reduço da idade penal, as perseguições em razo da orma de estir, aalta de oportunidades de educaço e trabalho.

Mostra do descontentamento desses grupos oi, sem dúida, a chamadareoluço pingüim, em que o conjunto de necessidades da juentude atual, en

186 GuSTaVO aRiaS, ms conheco como “Llo” bn e Hp Hop e coletvo cltrl Leg York (Sn-tgo-Chle), é mltnte Jvente Comnst, ele é o encrrego nconl e cltr e s tção se nsereno pcto “Jntos poemos ms”.

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cabeçada, é claro, por algo to básico como a educaço, ez com que os joensleantassem a oz para exigir direitos e necessidades. Essa iniciatia oi ortementereprimida pelo estado policial encabeçado pelo Ministério do Interior, como umaresposta aos moimentos sociais em nosso país.

Depoimentos de habitantes de La LeguaFonte: .lalegua.cl

Eu tinha deixado meu lho no colégio e regressaa para minha casa quandona rua Cabildo uma patrulha de carabineiros me parou e pediu meu documento deidentidade. Como no o tinha comigo, lhes dei o número e me perguntaram o que euazia por ali. Eu lhes disse que moraa aqui em La Légua. Haia um carabineiro muitoantipático e outro que era mais amáel e, depois de um monto de perguntas, um delesqueria me reistar ali na rua. Eu disse que para isso iam ter que me lear para a delega

cia, porque eu no ia deixar que nenhum dos dois me tocasse. Ento um disse para ooutro: amos deixar que ela á embora, seu único pecado é morar em La Legua. Eu lherespondi que “como podia dizer isso?” e sua resposta oi: “pode ir”.

enho 27 anos e sou nascido e criado em La Legua

Na quintaeira, 6 de abril, eu ia andando para deixar uma garota na esquina da rua oro y Zambrano, lá pelas 17 horas, quando me exigiram o carnê deidentidade, que eu no tenho. Eu tampouco quis parar, o que proocou que metomassem por delinqüente. À orça, com palarões, me algemaram e me atiraramno urgo policial leandome para a 50.ª Delegacia. Lá me bateram e me maltrataram, perguntando: Quem tinha a droga? Depois me despiram e um deles me deuuma paulada no joelho. Eu leaa dois papelotes de pasta básica para consumopessoal, já que sou iciado. Disseramme que tinha que esperar que chegassem osda pesagem e depois de três horas me soltaram.

Caminhando pela rua Pedro Alarcón, quase chegando na esquina de oro y Zambrano, às 22h30 aproximadamente do dia 22 de noembro, uma patrulha me detém junto a meu companheiro, exigindonos o carnê de identidade. Como estáamos

 oltando depois de deixar um amigo no ponto de ônibus a dois quarteirões da casaonde moráamos, no leáamos nossos carnês. Fizeramnos subir no urgo policial e nos despiram, porque, como dizia um dos carabineiros: “se tiessem o carnê otratamento seria dierente... Assim, pois, senhores, se no querem arriscar 6 horas dedetenço – poderíamos leálos por 3 a 6 horas – deem andar com o carnê”.

E por causa de izinhos, transeuntes e amigos que começaram a se aproximar para saber o que acontecia e do grito de um menino de no máximo uns cincoanos dizendo “tiras odidos”, o carabineiro disse: “90% das pessoas de La Legua soassim, é preciso ter cuidado com elas porque até para as crianças de dois anos ensinam, antes de dizer papai, a dizer ‘tiras odidos’... pensam que estamos aqui porque

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queremos? Porque o goerno nos manda, porque o goerno tem um programa, seosse por mim eu deixaria que se matem sozinhos, que os mate a droga...”.

Nós tiemos sentimentos ambialentes, misturados. Desde impotência pelaorma como se daam as coisas, até indignaço por entender que se trata de uma

injustiça permanente. vontade de acabar logo com tudo, tanto assim que elhose solidários izinhos caram discutindo com os carabineiros por causa do tratamento que nos deram e seu eidente desprezo para com os seres humanos que osrodeaam. Enquanto isso, nós decidimos ir embora... sair de uma situaço quenos competia diretamente, mas na qual nos sentíamos proundamente indeesos,injuriados, ulneráeis e desatendidos, impotentes e amargos.

Em menos de duas semanas ui detido três ezes por carabineiros que trabalhamno bairro onde moro. Em duas delas me obrigaram a tirar a roupa. O que oi constantenas três ezes oi a agresso erbal e psíquica que ii. Palaras que denotaam um ortedesprezo, raia e desdém tanto por seu trabalho como pelas pessoas do nosso bairro.

Obrigado a mostrar a bunda, obrigado a tirar a roupa, baixar as calças e a cabeça, a consciência e a compreenso. Dá ganas de dizer: de que se trata? Dizer que no e car na celaaté quando eles queiram, por no andar com carnê de identidade!!! Por no lear o papelpelo qual o Estado nos reconhece, nos dá ida, nos az existir, ser? Passar.

Isto ocorreu entre as 11h30 e as 12 horas do dia 15 de eereiro na esquina darua Santa Elisa com Alcalde Pedro Alarcón. Íamos no urgo com meu pai e meus doissobrinhos, Martín e Antonia, que têm 3 e 2 anos respectiamente, em direço à GrandeAenida esquina de Carlos valdoinos, onde compramos quase todos os dias a mercadoria que meu pai ende na barraca que tem na eira. Eu guiaa tranqüilamente e na

 elocidade que a lei exige, quando aparece um carabineiro indicando que eu encoste nomeioo. Paro, desligo o motor, puxo o reio de mo e o meganha pede minha carteirade motorista que eu entrego sem nenhum problema. Depois me pede os documentosdo urgo licenciamento, seguro, reiso técnica, reiso de poluentes, etc.; eu os doue tudo está bem, todos em dia e nenhum papel com data encida. O meganha perguntameu endereço e lhe respondo Cabildo 3831, que é o endereço dos meus pais, e me dizque ai me multar porque na minha carteira aparece outro endereço Progresso 386, endereço da casa da minha irm, e no o que eu disse. Depois ca me olhando e diz: “outramulta por dirigir sem cinto de segurança”, ou seja, já eram duas. Uma por no ter mudado o endereço da carta de motorista atualizaço de endereço e outra por alta de cinto

de segurança. Falo com ele explicando que para nós era diícil pagar uma multa porqueo trabalho estaa raco e que realmente no tinha, nem tenho, como pagar a multa. Omeganha nem se interessa, eu peço para alar com o chee da patrulha ou da unidadepolicial que tinha detido a gente e contamos a mesma coisa: que era impossíel para nóspagar essa multa. E o meganha nos diz que ai larar a multa do mesmo jeito. Quandome disse isso, eu lasco um xingamento e meu pai me acompanha na raia. Na discussome lembro das crianças que estaam no urgo e a essa altura muito assustados.

O meganha agarra meu pai para leálo preso e eu bato no seu braço paraque o solte. A discusso era cada ez mais orte e digo ao meganha que me deixe ir

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lear as crianças em casa porque estaam muito nerosas e ele me diz que tudo bem.Subo ao urgo no rumo da casa de meus pais que ca a três quadras de onde noshaiam detido. Damos a olta por Cabildo e uns cinqüenta metros adiante atraessam no caminho um carro das orças especiais e dois carros de carabineiros. Elesdescem com ímpeto, abrem a porta do urgo e um me agarra pelos cabelos e outrosme apontam suas armas de ogo. Enquanto me descem do urgo, um deles me batenas costas com a culatra de sua metralhadora; me atiram no cho e me algemam,me azendo subir no carro patrulha. Entre tanto nerosismo e preocupado com ascrianças – já aterrorizadas –, dizia aos tiras que deixassem as crianças em casa.

Learamme para a 50.ª Delegacia com as crianças, meu pai e o urgo. Depoisme transeriram para o Barros Luco para exame de corpo de delito. Encontraram umhematoma e me deram duas doses de antitetânica. A denúncia que eles zeram oi pordesacato aos carabineiros e nos deixaram citados para a promotoria militar.

Eu cheguei ao bairro há um ano e alguns meses. Estaa procurando casa juntocom um amigo, ínhamos desde Legua Noa até Legua Emergéncia para isitar algunsamigos e amílias, descendo pela rua Carlos Fau em direço a Canin. Era noite, dia 25de eereiro, quando uma patrulha de carabineiros nos detee e perguntou: de onde éramos? O que estáamos azendo? Por que to tarde? Onde moráamos? Que tanto olha?Eu no respondi, pois pensaa para mim mesmo: “O que é que há com esse meganha?”.Podia azer mais perguntas, ou pior, que as perguntas se acabassem. A única coisa quepude dizer oi que ele me intimidaa, e ele continuou: Está neroso? Carrega droga?...é melhor que no, moleque, passe aqui pra dentro logo. Em seguida, respondi que no

carregaa droga e que só estaa indo er alguns amigos… Ah, sim… o carnê… eu operdi anteontem, respondi. Outro abriu a porta do carro patrulha e pediu meus dados.Enquanto eu dizia, o outro me pegaa pelo braço para que eu subisse na caminhoneta.Ali começaram a reistar minhas coisas pessoais, a bolsa, os cadernos, os lápis. Depois ostênis: eu os mostrei e ele respondeu: Ah, sim? tire as meias; e depois echou mais a portae a tapou com o corpo. Eu já no podia er meu amigo, já era pânico o que eu sentia.Ele me disse: “abaixe as calças”. Eu no reagi e só me saiu um: O quê? O meganha mediz: “Mira panaca eu ou dizer só mais uma ez, porque sou noo por aqui, este bairroestá sob interenço do Estado, assim que aça só o que eu digo se no quiser que eu telee pra delegacia e aí no amos estar explicando porra nenhuma, no me aça perdertempo”. Eu abaixei as calças e ele logo me indicou que a cueca também, e ao azer issoriu burlescamente e me disse, rindo: “enha cuidado, panaca, que aqui ocê no está nasua casa, aqui as coisas so dierentes”. Eu desci da patrulha, pálido e i a impotência domeu amigo que haia passado pela mesma coisa. Os dois sem saber o que azer ou comopoder seguir com dignidade depois dessa ergonha. Seguimos caminhando, acendemosum cigarro para tranqüilizarnos, enquanto nos aproximáamos da esquina de San Gregorio onde estaa a mesma patrulha reistando e energonhando outro.