k horney, sullivan, adler

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Karen Horney A médica psicanalista Karen Horney (1885-1952) enfatizou a preeminência de influências sociais e culturais sobre o desenvolvimento psicossexual, focalizou sua atenção sobre as psicologias divergentes de homens e mulheres e explorou as vicissitudes dos relacionamentos maritais. Sua visão de que a repressão e a sublimação de impulsos biológicos não são os determinantes primários do desenvolvimento da personalidade levaram à sua remoção como instrutora no New York Psychoanalytic Institute e a que ela fundasse, em 1941, o American Psychoanalytic Institute. TEORIA DA PERSONALIDADE. Horney sustentou que o desenvolvimento da personalidade resulta da interação de forças biológicas e psicossociais que são singulares para cada pessoa. Na medida em que o cerne de cada personalidade é um self real duradouro equivalente parcialmente ao ego freudiano e parcialmente ao estado de ego infantil de Eric Berne, o self real combina escolha, vontade, responsabilidade, identidade, espontaneidade e vivacidade. Um processo natural em desenvolvimento de auto-realização conduz ao desenvolvimento do potencial humano em três direções básicas: em direção aos outros, a expressão de amor e confiança; contra os outros, para a expressão de oposição saudável; e para longe dos outros em direção à auto-suficiência. Embora as condições, durante a infância, possam bloquear o desenvolvimento psicológico, o crescimento saudável é sempre possível se os bloqueios internos são removidos. As crianças cujas situações familiares as levaram a sentir-se sob perigo concentram em sobrevivência psicológica e podem fazer isso desenvolvendo mecanismos de enfrentamento esterotipados. Horney pensou que os atributos de passividade e sofrimento não eram biologicamente específicos às mulheres conforme ensinados pelos analistas da sua época e que personalidades masculina e feminina são, em realidade, culturalmente determinadas.

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Karen Horney

A médica psicanalista Karen Horney (1885-1952) enfatizou a preeminência de influências sociais e culturais sobre o desenvolvimento psicossexual, focalizou sua atenção sobre as psicologias divergentes de homens e mulheres e explorou as vicissitudes dos relacionamentos maritais.

Sua visão de que a repressão e a sublimação de impulsos biológicos não são os determinantes primários do desenvolvimento da personalidade levaram à sua remoção como instrutora no New York Psychoanalytic Institute e a que ela fundasse, em 1941, o American Psychoanalytic Institute.

TEORIA DA PERSONALIDADE.

Horney sustentou que o desenvolvimento da personalidade resulta da interação de forças biológicas e psicossociais que são singulares para cada pessoa. Na medida em que o cerne de cada personalidade é um self real duradouro equivalente parcialmente ao ego freudiano e parcialmente ao estado de ego infantil de Eric Berne, o self real combina escolha, vontade, responsabilidade, identidade, espontaneidade e vivacidade. Um processo natural em desenvolvimento de auto-realização conduz ao desenvolvimento do potencial humano em três direções básicas: em direção aos outros, a expressão de amor e confiança; contra os outros, para a expressão de oposição saudável; e para longe dos outros em direção à auto-suficiência.

Embora as condições, durante a infância, possam bloquear o desenvolvimento psicológico, o crescimento saudável é sempre possível se os bloqueios internos são removidos. As crianças cujas situações familiares as levaram a sentir-se sob perigo concentram em sobrevivência psicológica e podem fazer isso desenvolvendo mecanismos de enfrentamento esterotipados.

Horney pensou que os atributos de passividade e sofrimento não eram biologicamente específicos às mulheres conforme ensinados pelos analistas da sua época e que personalidades masculina e feminina são, em realidade, culturalmente determinadas.

TEORIA DA NEUROSE.

Horney definiu neurose tanto em termos intrapsíquicos como interpessoais. Ela observou que seus pacientes queixavam-se não das neuroses sintomáticas como fobias e compulsões, mas de infelicidade, bloqueio e falta de preenchimento no trabalho e inabilidade de estabelecer ou manter relacionamentos. Ela viu estes pacientes como apresentando complexos sistemas de padrões defensivos autoperpetuantes contra a ansiedade básica que iniciou na primeira infância - neuroses de caráter. Busca de segurança. As crianças movem-se psicologicamente em três direções para aliviar sua ansiedade, para tornar a vida segura e previsível e para obter satisfação. Elas buscam afeto e aprovação ou elas se tornam hostis ou elas se retraem. As crianças por fim usam a estratégia de enfrentamento que melhor satisfaz suas necessidades, mas se apenas uma estratégia básica é usada, as crianças tornam-se limitadas em seu repertório de enfrentamento em sua experiência de si mesmas e do seu mundo. Seu senso de

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segurança é tênue porque elas têm perigo vindo de dentro de sentimentos e impulsos suprimidos ou reprimidos. Se as condições ambientais desfavoráveis continuam, seus sentimentos conflitantes são dirigidos para o inconsciente e tais crianças são deixadas com um senso de desconforto, ansiedade e apreensão e com um senso de self inseguro. Nesta junção, seu ponto de referência é externalizado, padrões de comportamento enrijecem e crescentes bloqueios ao crescimento se desenvolvem. Horney designou estas atitudes complexas, relativamente fixas em direção ao eu e aos outros como tendências neuróticas.

TIPOS DE CARÁTER.

Os três principais tipos de caráter de Horney são embasados no modo predominante de relacionar-se com outros. O tipo self-apagado, anuente resulta da operação defensiva de agarrar-se a outros. Tais pessoas tentam obter o favor dos outros através de lisonja, subordinam-se aos outros e são relutantes em discordar por medo de perder favor. O tipo expansivo, agressivo resulta de manobrar contra outros e colocar forte confiança em poder e domínio como um meio de obter segurança. O tipo desapegado, resignado resulta de afastar-se de outros para evitar tanto dependência como conflito. Eles são pessoas muito privadas que, embora se recusando a competir abertamente, vêem-se como se elevando acima dos outros.

MEIOS COMPLEMENTARES PARA ALIVIAR A TENSÃO INTERNA.

O superdesenvolvimento de um dos três estilos interpessoais básicos suprime os outros dois. De um modo análogo aos complexos de Jung, os impulsos reprimidos continuam ativos e produzindo conflitos. Uma harmonia artificial é obtida pelo uso de mecanismos mentais como pontos cegos, comportamentalização, racionalização e técnicas de enfrentamento como autocontrole excessivo, arbitrariedade, elusividade, cinismo e externalização.

Imagem idealizada.

Durante seus anos de adolescência, os futuros pacientes neuróticos criam uma imagem ideal fantasiada que, caso atingida, promete terminar com seus sentimentos dolorosos e supre o autopreenchimento. A imagem idealizada contrabalança a alienação dos eus centrais pela qual as pessoas neuróticas passam porque as técnicas de sobrevivência que elas adotaram anteriormente as forçam a anular seus desejos, sentimentos e pensamentos genuínos. A imagem idealizada cobre todas as contradições, oculta a natureza defensiva do seu comportamento e restaura um senso de integridade. A energia anteriormente disponível para a auto-realização é usada em esforços para tornar-se como a imagem idealizada. Por exemplo, uma pessoa que adotou a estratégia de mover-se em direção aos outros e é conseqüentemente dependente de outros para obter afeto e aprovação experimenta o medo de auto-asserção razoável como humildade imaculada e a consideração pelos outros.

Porque o eu ideal é imaginário, as pessoas neuróticas são prontamente machucadas por confrontos com a realidade e elas trabalharam demasiado arduamente para provar que elas são, de fato, os seus eus ideais. Fazer isso resulta em um tipo de perfeccionismo que insiste em excelência imaculada na qual "eu deveria" substituir "eu quero" ou "eu preciso". Isso também

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resulta na ambição neurótica de ser o primeiro e em um forte impulso de vingança sobre os percebidos como tendo interferido em que eles se tornassem seus eus ideais.

Reivindicações, deveres e auto-ódio. Apesar da sua freqüente autodepreciação, as pessoas neuróticas esperam ser tratadas como se fossem seus eus ideais. Estas reivindicações a tratamento especial, quando frustradas, produzem raiva, indignação e ressentimento os "Deveres", demandas auto-impostas de que eles devem viver à altura dos seus eus idealizados são irracionais e não relacionados às realidades da vida cotidiana. Os "Deveres" são projetados e experimentados como demandas feitas por outros e são também exigidos dos outros. Fazer isso resulta em que a pessoa neurótica seja crítica dos outros e sensível ao criticismo.

O auto-ódio resulta quando surge a ameaça que as pessoas neuróticas podem ser incapazes de atingir seus eus idealizados. Se o apoio não fosse necessário para o self idealizado, as alegações, "os deveres" e o auto-ódio não seriam partes tão importantes do aparelho psíquico.

Orgulho neurótico e o mecanismo do orgulho. Aspectos glorificantes do self idealizado, orgulho neurótico substitui autoconfiança saudável. Deste modo, quando seu orgulho é ferido por outros, as pessoas neuróticas tornam-se enfurecidas e buscam vingar sua mágoa e ocultar sua autodecepção obtendo uma vitória vingativa sobre a pessoa ofensiva. Junto com apoiar alegações e deveres, o orgulho neurótico e o auto-ódio formam uma rede defensiva ou mecanismo do orgulho que protege o self idealizado. Qualquer tentativa de reduzir elementos do mecanismo do orgulho é experimentada como um ataque sobre a pessoa. Apesar da couraça da sua rede defensiva, as pessoas neuróticas não estão em paz porque elas estão em conflito interno com as forças que as protegem. O conflito entre o mecanismo do orgulho e as forças impulsionando em direção à auto-realização saudável é o conflito interno central.

Conflito também existe dentro do próprio mecanismo do orgulho. O orgulho neurótico e as reivindicações estão associados à imagem idealizada glorificada; auto-ódio e "deveres" estão associados aos aspectos inaceitáveis do self. Quando tentativas são feitas para satisfazer ambas as forças simultaneamente, o conflito surge. Tentativas de evitar estes conflitos envolvem alienação adicional do self.

Alienação.

A alienação do self é uma das conseqüências mais sérias do desenvolvimento neurótico. A alienação resulta da combinação entre negação repetida da realidade externa e a repressão de pensamentos, sentimentos e impulsos genuínos. À medida que o processo de alienação continua, as pessoas neuróticas perdem contato com o cerne do seu ser e não mais podem determinar ou agir sobre o que é certo para elas. Seus sentimentos podem variar de incerteza e confusão à morte e vazio internos.

TRATAMENTO ANALÍTICO.

Horney não considerou as pessoas neuróticas adultas como recapitulando experiências infantis, portanto, não focalizou na recuperação de memórias da infância. Ela lidou, ao invés disso, com o processo neurótico autoperpetuante. Ela enfatizou a importância dos sonhos em análise e, posteriormente, a exploração do relacionamento paciente-analista. Ela foi uma das

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primeiras analistas a reconhecer e fazer uso construtivo de seus próprios sentimentos em relação aos pacientes. Para Horney, a psicanálise é um empreendimento cooperativo que capacita os pacientes a liberarem-se de suas estruturas neuróticas e a mobilizarem-se em direção à auto-realização. A responsabilidade do analista é auxiliar a liberar os pacientes de bloqueios, forças que impedem o crescimento saudável.

Cedo na terapia, durante o processo de desilusão, os dois tipos de bloqueio são identificados e examinados. O primeiro grupo de bloqueios orientados à segurança, os bloqueios protelares, ajudam a evitar a ansiedade causada pela autopercepção. Os bloqueios protetores incluem silêncio, atraso, depreciar o analista, o uso de drogas e até mesmo o uso de auto-acusação para evitar exploração adicional.

Os bloqueios de valor positivo reforçam a satisfação dos pacientes consigo mesmos e apóiam seus eus idealizados. No processo de desilusão, o analista identifica ambos os tipos de bloqueio, expondo os bloqueios protetores antes de expor os bloqueios que defendem a imagem idealizada. Analisar os bloqueios de valor positivo primeiro despertaria medo excessivo.

Qualidades do analista.

As qualidades do analista, posteriormente descritas por Cari Rogers como condições oferecidas pelo terapeuta, incluem maturidade, crença construtiva em resolução de conflito e a habilidade de comunicar esperança e respeito. O analista escuta, esclarece, provê direções e sugere resoluções alternativas para conflitos. Horney enfatizou a necessidade do analista ajudar a tirar os pacientes de sua alienação e sugeriu que os terapeutas sejam flexíveis, talhando suas intervenções às necessidades dos pacientes no momento. Ela não enfatizou usar o divã ou um número preestabelecido de sessões por semana.

Processo terapêutico.

Homey acreditou que mudanças fundamentais são o melhor meio para mudar comportamentos autoderrotadores, auto-alienantes. Ela criou um cenário no qual os pacientes eram capazes de avaliar a si mesmos como pessoas livres para descobrir e escolher valores pessoais que se encaixam com seus eus reais. Este tipo de reorientação inicia após a fase de desilusão do tratamento. À medida que os pacientes começam a questionar seus valores presentes e seu processo idealizador diminui, eles são capacitados a revisar seus valores e desenvolver valores mais flexíveis consoantes com seus eus interiores. Os sonhos são usados em todas as fases do tratamento para levar os pacientes em melhor contato com seus eus reais. Como tentativas inconscientes para resolver conflitos, os sonhos podem mostrar forças construtivas em funcionamento que não estão ainda discerníveis nos pensamentos conscientes e no comportamento do paciente.

À medida que os pacientes mobilizam suas forças construtivas, eles experimentam a luta entre o sistema de orgulho e o eu real, No processo, eles experimentam incerteza, dor psíquica e auto-ódio. À medida que o conflito central é resolvido exitosamente, os pacientes passam para a fase final do tratamento, a descoberta e o uso dos seus eus internos reais.

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Harry Stack Sullivan

Harry Stack Sullivan (1892-1949) é geralmente reconhecido como o mais original e distinto teórico americano nato em psiquiatria dinâmica. A maioria dos psiquiatras americanos faz uso significativo de conceitos e abordagens que ele desenvolveu. Durante muitos anos, a disputa teórica primária dentro dos círculos de psiquiatria dinâmica foi entre os freudianos clássicos e os sullivanianos ou psicanalistas interpessoais. Quando os psiquiatras usam o termo "distorção paratáxica", aplicam o conceito de auto-estima, consideram a importância de grupos de pares pré-adolescentes no desenvolvimento ou vêem o comportamento de um paciente como uma manipulação interpessoal, eles estão aplicando conhecimento que as idéias e observações de Sullivan forneceram.

Sullivan graduou-se em medicina em Chicago em 1917. De 1921 a 1936, ele permaneceu na área de Washington, D.C., trabalhando com pacientes esquizofrênicos no hospital St. Elizabeth e então no Sheppard and Enoch Pratt. Ele desenvolveu uma reputação como um notável clínico com uma fantástica habilidade de comunicar-se com pacientes psicóticos e ele iniciou a primeira das que são agora denominadas comunidades terapêuticas.

Posteriormente, entrou numa clínica privada em Nova Iorque e por fim retornou à área de Washington, onde estava envolvido em atividades clínicas, de consultoria e ensino. Nas décadas de 20 e 30, ele escreveu diversos ensaios sobre esquizofrenia, posteriormente coletados em Schizophrenia as a Human Process. Seus outros livros foram compilados por seus alunos a partir de suas palestras; a maioria foi publicada postumamente. Este processo explica um pouco da densidade e aparente desorganização de sua obra escrita.

TEORIA DA PERSONALIDADE. Sullivan rejeitou o dogma kraepeliano da sua época que dominava o pensamento psiquiátrico sobre esquizofrenia. Ele lia passagens da fala do paciente que Emil Kraepelin apresentara como exemplo de como a fala esquizofrênica não fazia sentido e Sullivan esclarecia seu sentido. Ele se voltou inicialmente para Freud, mas reagiu a ele como reagira a Kraepelin, rejeitando uma estrutura crescentemente rígida e dogmática. Sullivan desenvolveu sua própria teoria funcional da personalidade, psicopatologia e terapia.

Sullivan estava preocupado que a linguagem pode ser desencaminhadora. Ele era precavido em relação a conceituações autoconcretizadoras que levavam a teorias rígidas. Ele tentou enfatizar os psiquiatras como participantes-observadores na situação clínica. Enfatizando este aspecto do papel do psiquiatra, ele buscou manter observações tão objetivas quanto possível, embora reconhecesse a dificuldade que isso apresentava em lidar com experiências emocionais privadas. O que pode ser observado é a interação social dos pacientes; portanto, Sullivan definiu personalidade como "o padrão relativamente duradouro de relações interpessoais que caracterizam uma vida humana." Seu foco no início foi bastante distante da ênfase intrapsíquica da psicanálise. Abordando a psicopatologia deste modo, ele necessariamente criou uma teoria de campo ao invés de uma teoria estrutural. Processos temporais e interativos tornaram-se a marca registrada. Sullivan definiu um dinamismo como

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"o padrão relativamente duradouro de transformações de energia" - ou seja, padrões de comportamento interpessoal recorrentes.

A teoria de Sullivan é fundamentalmente uma teoria de necessidades e ansiedade. As necessidades são as necessidades por satisfação e as necessidades por segurança. A ansiedade ocorre quando necessidades fundamentais estão em perigo de não ser satisfeitas; a ansiedade é o motivador primário do comportamento humano. Necessidades por satisfação incluem necessidades físicas - como ar, água, comida e calor - e necessidades emocionais, especialmente por contato humano e por expressar os próprios talentos e capacidades.

Porque o bebê é absolutamente incapaz de satisfazer suas próprias necessidades os relacionamentos interpessoais tornam-se a preocupação central desde o início. Décadas antes de Margaret Mahier descrever um estágio simbiótico no desenvolvimento infantil, Sullivan falou sobre a "ligação empática" entre cuidador e bebê e descreveu a complicada interação dos bebês comunicando tensão e ansiedade, provocando ansiedade no cuidador e levando a respostas-temas as necessidades do bebê. Falha em satisfazer estas necessidades resulta em solidão e ansiedade.

Sullivan definiu segurança como a ausência de ansiedade. Necessidades por segurança incluem a necessidade de evitar, prevenir ou reduzir ansiedade. Já que nenhuma mãe é perfeita, a ansiedade é inevitável e torna-se o motor primário no desenvolvimento da personalidade. O auto-sistema ou autodinamismo foi definido por Sullivan como o dinamismo que é responsável por evitar ou reduzir ansiedade. Sullivan igualou o self-identidade-ego com os padrões desenvolvidos da pessoa para evitar os desconfortos que surgem a partir da falha dos outros de satisfazer as necessidades fundamentais da pessoa. O auto-sistema existe, como tudo mais puramente dentro de uma estrutura interpessoal. O auto-sistema desenvolve um conjunto de mecanismos, denominado operações de segurança que reduz a ansiedade.

Operações de segurança funcionam dentro da teoria de Sullivan de modo bastante semelhante aos mecanismos de defesa dentro da teoria psicanalítica. No entanto, as operações de segurança específicas foram definidas interpessoalmente, e Sullivan ligou-as de perto a observações ou experiências reais.

Algumas das operações de segurança trazem os mesmos rótulos e definições que os mecanismos de defesa de Anna Freud, porém Sullivan é mais conhecido por três contribuições que carregam seu selo distinto: apatia, desapego sonolento e desatenção seletiva. Estas operações de segurança foram extraídas da observação de como os bebês e crianças novas reagem a interações dolorosas, como repreensão dos seus pais.

O auto-sistema advém de experiências interpessoais sempre em desenvolvimento - por exemplo, preenchimento de necessidades para satisfação em decorrência da ligação empática com a mãe. As experiências mais difíceis não são necessariamente aquelas que envolvem falha em satisfazer as necessidades da criança, mas a criança sentir a ansiedade do cuidador no processo de responder a estas necessidades. A ansiedade do cuidador provoca ansiedade na criança, promove a necessidade de estabelecer um senso de segurança e conduz a evolução do auto-sistema e ao desenvolvimento de operações de segurança. O auto-sistema é dividido em três partes - eu bom, eu mau e não eu. O eu bom é um conjunto de imagens, experiências e

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comportamentos associados a respostas não ansiosas, temas, empáticas e aprovadoras e aceitadoras do ambiente. O eu mau vem a tornar-se associado a idéias, ações e percepções que provocam ansiedade e desaprovação de cuidadores. Algumas situações, no entanto, provocam ansiedade tão intensa que elas são inteiramente desautorizadas e desapropriadas; elas se tornam parte do não eu. Por fim, a ligação empática torna-se desnecessária e o auto-sistema opera de forma autônoma dentro da pessoa, desenvolvendo meios cada vez mais complexos e sutis de manejar a ansiedade da pessoa.

TEORIAS DESENVOLVIMENTAIS

Desenvolvimento cognitivo. Sullivan postulou três modos cognitivos desenvolvimentais de experiência cujo grau de persistência na fase adulta é importante para entender a psicopatologia. (1) O modo prototáxico, característico da primeira infância e da infância, envolve uma série de estados breves desconectados experimentados como totalidades sem qualquer relacionamento temporal. Na vida posterior, experiências místicas e fusão esquizofrênica representam experiências prototáxicas persistentes. (2) A experiência paratáxica começa cedo na infância à medida que o auto-sistema inicia seu funcionamento independente. Ela também envolve uma série de experiências momentâneas; no entanto, elas são registradas em seqüência com conexão aparente uma a outra. Elas podem receber sentidos simbólicos, porém regras de lógica estão ausentes e a coincidência desempenha um papel importante em como o mundo é percebido. O auto-sistema utiliza experiência paratáxica para buscar comportamentos redutores de ansiedade eficazes e repeti-los, buscando igualdade e previsibilidade. Sullivan usou o modo para explicar transferência, lapsos de língua e ideação paranóide. (3) O modo sintático de experimentar baseia-se no desenvolvimento da linguagem e na validação consensual. Validação consensual é a aceitação das percepções partilhadas dos outros como uma base para definir a realidade objetiva. O mundo e o self são percebidos dentro de regras de lógica, seqüenciamento temporal, validade externa e consistência interna. Pensar sobre si mesmo e sobre os outros se torna testável e modificável com base na análise rigorosa de experiências em uma variedade de situações diferentes. Maturidade pode ser definida como o predomínio extensivo do modo sintático de experimentar.

Desenvolvimento social. O desenvolvimento social baseia-se de algum modo nestes modos cognitivos em desenvolvimento. No entanto, relacionamentos interpessoais perturbados podem fazer com que os modos primitivos de experimentar o mundo persistam. O desenvolvimento social caracteriza-se pela satisfação de necessidades que predominam e a esfera interpessoal na qual as necessidades de satisfação e suas necessidades de segurança resultantes são preenchidas. Cada estágio é também caracterizado pela zona primária de interação - áreas corporais através das quais a pessoa canaliza necessidades, ansiedade e alívio. A teoria de Sullivan apresenta um paralelo superficial com a teoria genética de Freud; no entanto, para Sullivan, o papel das zonas é muito menos importante do que na teoria da libido psicanalítica.

A primeira infância, do nascimento ao início da linguagem, caracteriza-se pela necessidade primária de contato corporal e ternura. O modo prototáxico predomina e as zonas

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primárias de interação são orais e, de algum modo, anais. No momento em que necessidades são preenchidas com um mínimo de ansiedade, o bebê experimenta euforia e um sentimento de bem-estar. No momento que alguma ansiedade está comumente presente nos cuidadores, apatia e desapego sonolento são operações de segurança regularmente usadas, persistindo na vida adulta como uma posição básica desapegada e passiva. Se ansiedade e inconsistência são severas, experiências intensas de pavor persistem na vida posterior apresentando-se como estados internos sinistros bizarramente disruptivos observados nos pacientes esquizofrênicos.

A fase da infância, que começa com o início de linguagem utilizável e continua até o início da escola, caracteriza-se pelo foco da criança sobre os pais como o outro de quem louvor e aceitação são buscados. O modo primário de experiência muda para o paratáxico e a zona de interação mais comum é a anal. A criança precisa de um público adulto aprovador. Esta necessidade conduz a uma variedade de áreas de aprendizagem - linguagem, comportamento e autocontrole. Ela pode também ser observada em uma variedade de esforços, tentativa e erro, pela criança para encontrar o que agrada. A gratificação, conduz a um auto-sistema expansivo com muitas facetas da vida associadas ao bom eu e a auto-estima positiva. Ansiedade moderada conduz à ansiedade crônica, incerteza e insegurança. Ansiedade extrema resulta em desistir de comportamento exitoso conhecido em favor de padrões autodestrutivos que preencherão o que veio a ser esperado pelos outros.

A era juvenil cobre as idades de 5 a 8 anos. O desvio do modo cognitivo sintático inicia e o foco interpessoal espalha-se para grupos de pares e para figuras de autoridade externas. Existe a oportunidade para pares e os professores aprovarem e aceitarem comportamentos previamente inibidos dentro da famíla - por exemplo, falar "sujo" com os amigos. Cooperação interpessoal, competição, brinquedo e acordos tornam-se experiências gratificantes. Os jovens aprendem a negociar suas próprias necessidades com um interesse social legítimo sem sacrificar a auto-estima no processo. Os riscos de ansiedade excessiva são uma necessidade demasiado grande para controlar e dominar as situações sociais ou internalização de atitudes sociais prejudiciais e restritivas.

A pré-adolescência, idades de 8 a 12, marca o movimento da criança da cooperação e da competição dos grupos de pares embasada em regras para intimidade genuína com um camarada. Sullivan viu a fase como um estágio particularmente importante no qual o dar e receber com um amigo especial pode reparar e desfazer distorções causadas por ansiedade excessiva em estágios anteriores. A criança dirige-se verdadeiramente para fora da família pela primeira vez e se engaja em um dar e receber livre com uma outra pessoa não afetada pela dinâmica da mesma família. A grande mudança em direção ao pensamento sintático ocorre, embora algumas distorções possam persistir até a adolescência. Uma capacidade para apego, amor e colaboração emerge ou falha em desenvolver-se em face da ansiedade excessiva. Embora exploração sexual possa ser uma parte do relacionamento de camaradagem, Sullivan não viu a sexualidade como um elemento central na pré-adolescência.

A adolescência, iniciando na puberdade, tem em seu estágio inicial preocupações semelhantes as da pré-adolescência, com a importante exceção de que sensualidade é acrescentada a equação interpessoal. As mesmas necessidades de um relacionamento de partilha especial persistem, mas mudam para o sexo oposto como um escape conduzindo a

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uma importante oportunidade para aprendizagem ou ansiedade severa. À medida que a pessoa enfrenta a estereotipia culturalmente definida, muitas oportunidades novas para experimentação social podem levar à consolidação da auto-estima ou a auto-ridicularização. A luta para integrar sensualidade com intimidade é realizada por dolorosa tentativa e erro. Se a integração é concluída com o auto-sistema relativamente intacto, os anos posteriores da adolescência tornam-se uma oportunidade para expandir o modo sintático para áreas como visão consensual de relações interpessoais, valores e idéias, decisões de carreira e interesses sociais.

TEORIA DA PSICOPATOLOGIA.

Sullivan abominava o rótulo diagnóstico como não útil, abertamente restritivo, desumanizante e usado principalmente para impressionar pacientes ou colegas. Talvez sua citação mais famosa tenha sido ao discutir pessoas com esquizofrenia: que "Nós somos simplesmente humanos do que qualquer outra coisa." Ele buscou entender o processo humano fundamental que ocorre dentro dos seus pacientes, especialmente os mais doentes. Ele viu a psicopatologia como resultante de ansiedade excessiva que detém o desenvolvimento do auto-sistema e, por meio disso, limita tanto oportunidades para satisfação interpessoal como operações de segurança disponíveis. Ele viu os pacientes psiquiátricos como lutando para manter sua auto-estima por meios limitados. Para entendê-los, tem se que estimar por a fase desenvolvimental na qual eles estão operando e captar as necessidades interpessoais que eles estão expressando.

Sullivan pensou que diversos fatores afetam a forma que os distúrbios assumem. O nível de ansiedade em um estágio desenvolvimental particular pode lançar a fundação para uma parte do desenvolvimento. A capacidade cognitiva básica pode desempenhar um papel na escola de operações de segurança confiadas ou retidas. O grau de sucesso obtido interpessoalmente, combinado com quaisquer capacidades usadas, afetam o sucesso posterior. A ocorrência casual de estresses encontrados durante a vida é também um fator. Sullivan pensou que, pelo menos em teoria, qualquer um pode tornar-se esquizofrênico, mesmo pessoas com histórias do desenvolvimento relativamente exitosas, caso as defesas escolhidas falhem dramaticamente e seus estressores de vida acumulem em extremo. No entanto, os pacientes esquizofrênicos tendem a ser altamente vulneráveis ao longo de todas as quatro dimensões: nível desenvolvimental, capacidade cognitiva, realização interpessoal e exposição a estresse; outros, com maiores pontos fortes desenvolvimentais, podem tornar-se obsessivos, histriônicos, esquizóides ou paranóides.

PSICOTERAPIA INTERPESSOAL.

Sullivan enfatizou que o psiquiatra é um participante-observador em todas as interações com os pacientes. Ele observou as nuances e as oportunidades envolvidas nesta situação singular. Quando o psiquiatra interage ativamente com os pacientes, expressões verbais e não-verbais de padrões interpessoais recorrentes tornam-se aparentes. Estas observações então informam o comportamento posterior do terapeuta, deste modo criando uma oportunidade para mudança. O processo ocorre ao longo de segundos e ao longo de meses e anos à medida que a psicoterapia se desenrola. Sullivan viu esta perspectiva como um antídoto para o que ele percebeu como a ênfase obstinada sobre neutralidade objetiva incorporada pelo modelo tela

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em branco do comportamento do psicoteapeuta. Ele alegou que distorções paratáxicas emergem em todas as interações, não apenas na situação analítica clássica.

Sullivan viu a terapia como elucidando os padrões interpessoais do paciente, explorando sua utilidade a serviço das necessidades do paciente e considerando as possibilidades alternativas e mais favoráveis.

Ele enfatizou a experiência do paciente das distorções, as necessidades, os padrões e as mudanças potenciais dentro da interação em andamento com o terapeuta. Ele viu maior poder em cada obstáculo do terapeuta com o paciente e reconheceu a habilidade de um terapeuta hábil de manejar o processo interpessoal para revelar padrões e moldar a experiência emocional do paciente. Ainda assim, ele constantemente enfatizou e respeitou a autonomia final dos seus pacientes, que poderiam ainda, no final, escolher não remoldar sua abordagem ao mundo.

Sullivan dividiu a terapia em quatro estágios distintos: incepção, reconhecimento, levantamento detalhado e término. A incepção envolve o comecinho, freqüentemente apenas uma parte da primeira entrevista, durante a qual o contrato e os papéis são estipulados. Reconhecimento pode prosseguir por tantas quantas 15 sessões, durante as quais o terapeuta identifica os padrões recorrentes dos pacientes e avalia suas qualidades adaptativas e mal-adaptativas. O levantamento detalhado é um processo prolongado de explorar os pensamentos, sentimentos e memórias do paciente e de avaliar e reavaliar dados de estágios anteriores, buscando reconhecer, esclarecer e mudar distorções paratáxicas persistentes. Os padrões recorrentes são discutidos dentro do contexto da história desenvolvimental do paciente, necessidades, ansiedades, fracassos e sucessos. Há freqüentemente muito intercâmbio em andamento entre paciente e psiquiatra à medida que sentimentos e percepções são validados ou questionados dentro do contexto de intercâmbio emocional mútuo em cada sessão. O término é um produto do contrato em evolução e entendimento entre o paciente e o terapeuta e pode refletir metas extensivas ou limitadas. Sullivan enfatizou a constante reavaliação de metas pelo terapeuta e o poder de negociação e renegociação continuada do contrato terapêutico para revelar e mudar distorções paraléxicas. As metas finais da psicoterapia são obter tanta experimentação dentro do modo sintáxico quanto possível e ampliar o repertório do auto-sistema. No momento que estas metas são atingidas, os pacientes são capazes de tornar-se responsáveis por seu crescimento em andamento através de interações interpessoais subseqüentes.

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Alfred Adler

Alfred Adler (1870-1937) nasceu em Viena e passou lá grande parte de sua vida. Um clínico geral, ele tornou-se um dos quatro membros originais do círculo de Freud em 1902. Adler jamais aceitou a primazia da teoria da libido, a origem sexual da neurose ou a importância dos desejos infantis. Em 1911, ele renunciou como presidente da Sociedade Psicanalítica de Viena e continuou o desenvolvimento de sua própria teoria do desenvolvimento socialmente consciente. Sua teoria da personalidade postulou um empenho por auto-estima e tentativa de superar um sentimento de inferioridade.

Ele igualava saúde psicológica à consciência social construtiva. Ele desenvolveu um sistema que chamou de psicologia individual, o qual está ainda em vigor em muitos países. Sua principal contribuição social foi o estabelecimento de centros de orientação infantil em Viena que serviram como modelo para o resto do mundo.

TEORIA DA PERSONALIDADE.

Se o sistema de Adolf Meyer fosse captado em uma só expressão, esta expressão seria "experiência". O sistema de Adler pode ser descrito em uma palavra como Mens chenkenntnis. O conhecimento prático concreto da humanidade. Em contraste com Freud e sua ênfase sobre conflito intrapsíquico inconsciente, Adler via as pessoas como entidades biológicas unificadas e singulares, todas cujos processos psicológicos encaixam-se e justificam um estilo de vida individual (Lebensstil). Além deste princípio de unidade, Adler postulou um princípio de dinamismo - que cada pessoa está direcionada ao futuro e que se move em direção a uma meta. Uma vez que a meta é estabelecida, o aparelho psíquico molda-se em direção à obtenção desta meta. As metas de vida são escolhidas e são, portanto, sujeitas à mudança; tais mudanças requerem a modificação das memórias, sonhos e percepções para encaixar-se à realização desta meta. Adler também enfatizou a relação entre a pessoa e seu ambiente social e enfatizou ação no mundo real sobre fantasia. A tendência de se viver em comunidades, aceitação da necessidade de adaptar-se a demandas legítimas da sociedade, é um preceito importante, mas Adler também indicou que uma dialética ocorre entre as pessoas e seu ambiente interpessoal, cada qual constantemente reagindo e moldando o outro.

Personalidade normal e adaptação.

A pedra fundamental da teoria da personalidade de Adler é o conceito de passar de um sentimento de inferioridade para um sentimento de domínio. Cedo na vida, todos têm um sentimento de inferioridade resultante da comparação realista com o tamanho e as habilidades dos adultos. Passar deste sentimento de inferioridade para um sentimento de adequação é o tema principal motivacional importante na vida. Deste modo, a pessoa ideal empenha-se por superioridade e o faz através de alto interesse social e da atividade; a pessoa emocionalmente incapacitada continua a sentir-se inferior e reforça esta posição através de falta de empenho e interesse social.

Muitos obstáculos podem bloquear o desenvolvimento da auto-estima e interesse social. Proeminentes entre eles estão órgãos ou sistemas mal desenvolvidos ou inferiores (como visão

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defeituosa e problemas de coordenação olho-mão), doenças infantis, excesso de cuidados e negligência. Desvantagens físicas e doenças de infância podem promover auto centralização e perda de interesse social. Outro fator contribuindo para o desenvolvimento da personalidade é a ordem de nascimento. Crianças primogênitas, após ter perdido sua posição de filho único, tendem a não partilhar. Elas se tornam conservadoras. Filhos segundos favorecem mudança e tornam-se ativistas sociais.

Filhos mais novos sentem-se seguros porque eles nunca foram substituídos.

TEORIA DA PSICOPATOLOGIA.

Transtornos emocionais resultam de estilos de vida errôneos, que são sujeitos à mudança pela vontade e por auto-entendimento. Pessoas sujeitas a transtornos emocionais têm falsas idéias sobre si mesmas e o mundo e metas inapropriadas que as afastam de interesses sociais construtivos. Aquelas com um estilo de vida mimado, por exemplo, esperam e exigem de outros, evitam responsabilidade e incriminam os outros por seus fracassos, mas porque seu bem-estar depende de pressionar outros a servir, sentem-se incompetentes e inseguras. Se a vida não impõe nenhum desafio, um estilo de vida errôneo pode não ter conseqüências. Quando um estilo de vida errôneo é ineficaz, sintomas se desenvolvem. Estes sintomas protegem a auto-estima enquanto ajudam a pessoa a evitar lidar de forma realista com o problema a ser confrontado. A diferença entre transtornos mentais menores e maiores é que aqueles com transtornos menores mantêm interesse social, mas são bloqueados das metas de vida pelos sintomas, porém os com transtornos mentais maiores perdem interesse social e voltam-se para seus próprios mundos.

PSICOTERAPIA.

Porque Adler enfatizou a harmonia do aparelho psíquico e a desarmonia de estilos de vida errôneos com as demandas do mundo real, ele focalizou sobre blocos para viver produtivamente no mundo real e não sobre explorar conflitos inconscientes. Sua meta foi apontar visões errôneas de si e visões errôneas do mundo e então, mobilizando a vontade, fazer as mudanças necessárias, incluindo uma mudança na meta de vida.

Processo terapêutico. Iniciando com três sessões por semana e diminuindo para uma vez por semana, o terapeuta estabelece um relacionamento positivo com os pacientes e, no contexto deste relacionamento, conduz os pacientes a uma percepção dos seus estilos de vida e os reorienta e reeduca. Ao invés de empenhar-se por metas sem nenhum valor social que falsamente elevam a auto-estima, os pacientes são empurrados a trabalhar em direção a melhorar suas situações reais. Tendo se tornado cientes dos obstáculos que eles colocaram sobre seus próprios caminhos e do desencorajamento causado por aqueles comportamentos autodestrutivos, os pacientes são auxiliados a desenvolver interesses construtivos sobre si mesmos e sobre os outros. À medida que eles se tornam menos voltados para si, eles se encontram mais bem aceitos pelos outros, o que reforça seus esforços construtivos. Pessoas que se dedicaram a, simbolicamente, derrotar os outros (ele tem um emprego melhor do que o meu, mas eu sou melhor do que ele porque eu não me prostituo para o sistema trabalhando longas horas) aprendem a cooperar e avançar em direção a metas úteis (eu estou agora disposto a trabalhar pelo que eu quero e arriscar-me ao fracasso). Qualquer esforço no qual os

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pacientes podem desenvolver competência real é encorajado, seja social, de trabalho, artístico ou musical.

Os pacientes são encorajados a remover os obstáculos concretos ao seu desenvolvimento de um estilo de vida útil; leitores lentos são encorajados a obter instrução de como aprimorar a leitura e pessoas que usam óculos, mas não gostam de sua aparência são encorajadas a obter lentes de contato. Recordações antigas, ordem de nascimento, sonhos, devaneios e interações atuais são todos usados para ajudar o paciente a ver a inadequação ou falsidade de suas idéias e metas de vida. Eventos de vida reais ou memórias de eventos são menos importantes do que as reações dos pacientes a estes eventos ou memórias. Porque as memórias tendem a ser falsificações retrospectivas que justificam um estilo de vida errôneo, o terapeuta não precisa apurar sua verdade ou falsidade. Nem o terapeuta precisa procurar conteúdo latente em sonhos; eles são meramente expressões de preocupações atuais. Nem precisam as interpretações do terapeuta ser corretas. Elas precisam apenas ajudar os pacientes a construir um conceito útil de si mesmos e do mundo.

Diversas das técnicas de Adler agora desfrutam de ampla popularidade. Elas incluem a reconstrução e comunicação paradoxal. A reconstrução é ver os dados de um ponto de vista diferente. Indecisão, por exemplo, é reconstruída a partir de sentimentos mistos para um desejo de manter o status quo. Falha em agir mantém tudo igual, o que é a profecia autopreenchedora da pessoa desencorajada. Após a declaração de reconstrução, o terapeuta estimula os pacientes a agir construtivamente. A comunicação paradoxal é instruir pacientes a fazer o oposto do que o terapeuta deseja que eles façam. Ao lidar com uma pessoa indecisa por exemplo, o terapeuta pode advertir contra fazer alguma coisa precipitada. Adler também prestou atenção aos efeitos dos seus pacientes sobre o seu ambiente e reconheceu que as pessoas fazem muito para criar seus próprios mundos interpessoais. Em resposta a queixas sobre ser tratado injustamente por outros, Adler perguntava aos pacientes como eles lidavam com as pessoas sobre quem se queixavam.

Acima de tudo, Adler tratava seus pacientes como racionais e como capazes de aprender modos de vida produtivos.

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Erich Fromm

Erich Fromm formou-se em Psicologia e Sociologia na Universidade de Heidelberg, onde também se doutorou, completando sua formação na Universidade de Munique – Doutorado em Filosofia - e no Instituto Psicanalítico de Berlim, se especializando em Psicanálise. Nascido em Frankfurt, em 1900, emigrou para os Estados Unidos quando Hitler subiu ao poder, instituindo o Nazismo.

Na América, Fromm desenvolveu amplamente sua carreira, sempre provocando polêmicas com sua linha de pensamento e sua terapêutica, que unia a Psicanálise com a teoria marxista, integrando fatores sócio-econômicos aos tradicionais mecanismos de tratamento das neuroses. Segundo o psicanalista, o homem é o produto de princípios culturais e biológicos. Assim, ele desafia os preceitos freudianos, que destacam somente a esfera do inconsciente.

Além de clinicar, ele também atuava como professor universitário nos EUA e no México. Suas obras abordam continuamente as questões ligadas à violência, aos regimes totalitários, à alienação social, ao humanismo. Seu ponto de vista humanista cativou profissionais do campo da Sociologia, da Filosofia e da Teologia.

Erich Fromm sempre se insurgiu contra o mecanicismo que impregna as relações sociais e econômicas do mundo contemporâneo, regido por um capitalismo desumano e cruel. Influenciado profundamente pela obra de Karl Marx, ele faz uma analogia entre os conceitos marxistas e os freudianos, tentando estabelecer entre ambos uma relação dialética, à procura de uma síntese destas idéias. Ele privilegia, porém, a teoria de Marx, valendo-se de Freud apenas para completar alguns pontos não explicados pelo marxismo. Este pensador gera, assim, uma espécie de humanismo espiritual, social e também dialético.

Segundo Erich Fromm, o indivíduo cultivou interiormente sentimentos de desamparo e solidão, pois perdeu o contato com sua dimensão mais humana, deixou de ampliar suas virtudes, e assim tornou-se incapaz de interagir com os mesmos aspectos essenciais das outras pessoas. É a este processo que ele chama de alienação social, oculta por trás das personas de cada um, mas mesmo assim capaz de exercer um impacto sinistro sobre a Humanidade.

Ao mesmo tempo em que o homem avança materialmente, ele se aparta cada vez mais dos outros seres, é o que Erich Fromm expõe em sua obra Medo da Liberdade. Desta forma, a liberdade tão almejada torna-se uma armadilha assustadora da qual ele tenta fugir através da conquista de recursos financeiros e da guerra pelo poder, por meio de uma passividade absoluta diante do autoritarismo, ou ainda pelas vias do conformismo social. Assim, o homem pode fingir que possui alguma coisa, ou que é propriedade de alguém, pois desta maneira sente que não está sozinho. O psicanalista acredita que a aceitação do outro e de seu tesouro interior, a prática da solidariedade e do trabalho em conjunto, o exercício da fraternidade e a instituição do conforto social podem oferecer à Humanidade uma saída viável para esta trágica situação criada pelo próprio Homem.

Erich Fromm morre em Muralto, na Suíça, a 18 de março de 1980.

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Erich Fromm

Nascido em 1900, em Frankfurt, Alemanha, Erich Fromm estudou Psicologia e Sociolgoia em Heidelberg, Frankfurt e Munich. Dotorou-se em Filosofia em Munich e recebeu sólida formação psicanalítica no Instituto Psicanalítico de Berlim. A partir de 1933, ano da ascenção de Hitler ao poder, passa a exercer o cargo de professor nos EUA, em Chicago, e, posteriormente, a exercer a clínica em Nova York. Foi professor em várias universidades, inclusive no México. E seus livros passaram a se ater em questões humanistas que atraíram a atenção de profissionais de vários campos, como Sociologia, Filosofia e Teologia. De certa forma, muitas de suas idéias foram contemporâneas das de várias abordagens humanistas, especialmente, em Psicologia, das formuladas por Carl Rogers.

Fromm sempre se mostou profudamente impressionado pelo que ele via como uma poda da liberdade humana, pelo modo como as pessoas se submetiam, inconscientemente, a desempenhar papeis mecânicos dentro da sociedade exclusivista estruturada na ideologia da capitalismo. Ele sempre se mostou particularmente impressionado pela obra de Karl Marx, particularmente, assim como ocorreu com Karl Popper, com seus primeiros trabalhos, como Os Manuscritos Econômicos e Filosóficos, de 1844. Fromm, então, magistralmetne faz uma comparação entre Freud e Marx, estudando suas idéias, e propondo uma síntese entre ambas. Em sua ótica, Fromm chega mesmo a considerar Marx mais profundo que Freud, e, portanto, usa a psicanálise como um complemento das lacunas deixadas pelo pensamento de Marx. Ao mesmo tempo, Fromm aponta algumas das limitações de Marx, e tentar propor um humanismo espiritual, um humanismo social e, como ponte, um humanismo dialético, todos altamente congruentes e adjacentes entre si, como forma de desenvolver as potencialidades humanas naquilo Maslow chamaria mais tarde de Metavalores.

O tema central da obra de Fromm é profundamente humanista, ou eco-ético-humanista: o homem se sente desamparado e só (tese que os atuais psicanalistas de ponta acreditam ser a alternativa mais propícia à ênfase na sexualidade) porque se separou ou deixou de desenvolver suas qualidades, potencialidades ou natureza mais propriamente humanas e deixou, por isso mesmo, de ter contato com as mesmas potencialidades e natureza das demais pessoas. Esta situação de alienação social, mesmo que maquiada - e principalmente enquanto tal - é uma característica trágica e que se encontra apenas entre os seres humanos, especialmente quando as condições materiais criam uma hierarquia de dominação.

Em um de seus livros mais famosos, Medo da Liberdade, Fromm propõe a tese de que o homem, paralelamente à liberdade material que tem conquistado através da história, tem se isolado cada vez mais de seus semelhantes, na busca por espaço e sucesso material. E, em paradoxo, a mesma liberdade material torna-se uma condição que assusta, e do qual tende a escapar, maquiando-a em situações de posse e de poder, ou de submissão passiva às autoridades e/ou de conformação à sociedade, o que lhe daria a ilusão de "TER" algo, ou de "PERTENCER" a algo que lhe permita sentir-se menos só. Como opção mais saudável, haveria o reconhecimento da riqueza do "outro" e da importância da cooperação e da solidariedade, num espírito de fraternidade onde o bem-estar social deveria ter a primazia, garantindo o bem-estar individual. Neste caso, a criatividade e as potencialidades humanas seriam usadas para sedimentar a liberdade co-responsável dentro de uma sociedade equilibrada; no primeiro

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caso, o homem construiria um novo tipo de servidão, aliás, bem conforme aos ideias do neoliberalismo e da globalização, extremamente selvagem em sua ganância e anulação do homem, enquanto indivíduo criativo.

Como base disto, Fromm aponta para o fato de que somos, ao mesmo tempo, animais e humanos, com necessidades fisiológicas importantes e imprescindíveis que precisam ser satisfeitas, assim como temos consciência, razão e compaixão, quer precisam ser exercitadas. Assim, no reconhecimento do humano dentro e ao lado das necessidades básicas, levaria a sociedade madura a perceber que a solução de seus conflitos está no reconhecimento de que nossas necessidades todas, inclusive as humanas, exige a participação de todas as demais pessoas. Além disso, existe também a necessidade de transcendência, como seria depois confirmado por Abraham Maslow, Carl Rogers e pela Psicologia Transpessoal, e que já foi utilizada por Jung, que se refere à necessidade humana de superar sua natureza animal, de tornar-se uma pessoa criativa e criadora. Se seus impulsos transcendentes forem bloqueados, o homem se torna neurótico, e sua criatividade acaba canalizada para a destruição. Estes mesmos conceitos básicos encontrei na linguagem incisiva e lúcida de Paulo Freire. Através de estradas aparentemente diversas, a Pedagogia e a Psicologia, Fromm, Freire e Rogers atingem, todos, o mesmo ponto focal: a causa da miséria ética e moral do homem pós-moderno está em sua renúncia, semi-inconsciente, aos seus próprios potenciais de desenvolvimento e integração sinérgica fraterna. Esta renúncia se expressa à perfeição ao nível de egoísmo homicida e de extrema ganância individual contra o delicado equilíbrio biossocial que o envolve, e que, hoje, pode ser enquadrada perfeitamente na ideologia neoliberal, ideologia que mostra a sua crueza por não possuir, para refreá-la, o contrapeso de valores, idéias e ideais que lhe façam frente. O Socialismo, enquanto desempenho de tal freio, parece ter sido definitivamente vencido pelo capitalismo, pelo menos enquanto ideologia. E com eles, parecem terem-se ido também à crença no humano. Esta aceitação de tal idéia condiciona toda uma forma atual de ver o mundo. Só aproveitando a saudade do paraíso perdido, enquanto humanismo, podermos resgatar a ética e, com ela, os conceitos aparentemente vencidos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Resgatar o sonho e a utopia de que o mundo não é, como algo definitivo, mas torna-se aquilo que esperamos que ele seja, sempre e sempre...