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Colégio Dinâmico – R.T37, 2693 – Setor Bueno – Goiânia – Goiás – (62) 4009-7828 – www.colegiodinamico.com.br 1 ATUALIDADES Janeiro/2011 1. Entre o ''fervor socialista'' e os atropelos de Chávez Governo aprofunda ocupação do espaço público e político; democracia e economia balançam 23 de janeiro de 2011 | 0h 00 Quente, quente, a primavera será quente. Os franceses costumam gritar isso quando começam uma nova fase de lutas. Na Venezuela, em 2011, esqueçam as estações: todo o ano será quente. De um lado, Hugo Chávez e seu partido querem aprofundar a revolução socialista; de outro, a oposição promete ir às ruas para reconstruir a democracia. A solução desse drama está nas eleições de 2012, mas tanto o desfecho eleitoral quanto o desenrolar do processo são um enigma. O Instituto de Investigação de Conflitos Internacionais de Heildberg deu nota 3 para a Venezuela, que, em 2010, só perdeu para a guerra do narcotráfico no México. Mas o dado novo, desde o dia 5, é a presença da oposição na Assembleia e as medidas que o partido do governo tomou para evitar que ela tenha poder. Foram 25 leis em dezembro e, se considerarmos Chávez como um cavaleiro andante, podemos entendê-las melhor. Vinte e quatro delas formam seu escudo porque se destinam a neutralizar a oposição, a imprensa, os partidos e universidade. Uma delas é a lança: a chamada Lei Habilitante que permite a Chávez governar 18 meses por decreto, sem dar satisfação aos deputados. É tão autoritária que já foi criticada numa só semana pela OEA (Organização dos Estados Americanos), por meio de seu secretário-geral, José Miguel Insulza, e pela Conferência Episcopal Venezuelana, que considera a medida "um passo para o comunismo". O que pode incendiar os conflitos políticos, com a força de muitos barris de gasolina barata, é a economia. A Venezuela decresceu em 2010 e a inflação no país foi uma das maiores do mundo: 27%. Entre os 32 países da América do Sul e Caribe, é o único que não tem perspectiva de crescimento em 2011. Sua produção de petróleo caiu a um nível mais baixo do que 2003 e, segundo os cálculos internos, só pode cobrir 12% das exportações, o que equivale a um déficit de US$ 41 bilhões. Por isso, no ranking internacional dos que, potencialmente, não poderão honrar sua dívida, a Venezuela é a segunda entre dez: na frente apenas da Grécia. Quando os números saltam do debate técnico para o estômago, o potencial de inquietação é grande. A Venezuela produz apenas 70% do alimento que consome. A facilidade da renda do petróleo inibiu o desenvolvimento agrícola. Além disso, as chuvas do ano passado arruinaram 5 mil hectares semeados. Só a cebola subiu 100% num mês. Antes de sair do Brasil, li nos jornais do Estado de Bolívar que estava faltando farinha. No tempo em que passei em Caracas, não só a farinha, mas também o açúcar e a margarina estavam em falta em Bolívar. Os produtores antecipam uma alta, pois, com a unificação cambial, caiu o dólar especial, que era comprado por 2,3 bolívares. O dólar agora vale 4,3 bolívares, mas, ainda assim, é uma cotação romântica, porque no mercado paralelo custa o dobro. Fui abordado por muitas pessoas querendo comprar dólar no paralelo. Quando você diz que fez a operação no banco, olham desolados, como se fosse um lunático. Andei por algumas feiras livres e consultei Daniel Gómez, de 54 anos, da classe média. Ele revelou que gasta o equivalente de cerca de R$ 300 por semana com comida para ele e dois filhos. Falei também com Juana, empregada doméstica. Ela me disse que, para sua família, gasta muito menos nos mercados especiais criados pelo governo. Uma das razões de sua simpatia por Chávez. Até quando o esquema é sustentável? Produtores de carne anunciaram nesta semana uma redução do consumo e um aumento de preço. A carne vem do Brasil, que exportou 42 mil toneladas do produto congelado, além de vender para a Venezuela 420 mil cabeças de gado. O único produto barato que não parece ameaçado é a gasolina. As ruas de Caracas estão repletas de imensos e antigos carros de oito cilindros. O New York Times viu nelas um pouco da antiga Detroit rodando pelas ruas da capital. Os que visitam Cuba, lembram-se dos velhos carros de Havana. Mas o fato singular aqui é que você consegue encher um tanque com 100 litros de gasolina por menos de US$ 1 no paralelo. Daí a persistência de uma frota nostálgica.

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Colégio Dinâmico – R.T37, 2693 – Setor Bueno – Goiânia – Goiás – (62) 4009-7828 – www.colegiodinamico.com.br 1

ATUALIDADES – Janeiro/2011

1. Entre o ''fervor socialista'' e os atropelos de ChávezGoverno aprofunda ocupação do espaço público e político; democracia e economia balançam23 de janeiro de 2011 | 0h 00

Quente, quente, a primavera será quente. Os franceses costumam gritar isso quando começam uma nova fase de lutas. NaVenezuela, em 2011, esqueçam as estações: todo o ano será quente. De um lado, Hugo Chávez e seu partido queremaprofundar a revolução socialista; de outro, a oposição promete ir às ruas para reconstruir a democracia. A solução dessedrama está nas eleições de 2012, mas tanto o desfecho eleitoral quanto o desenrolar do processo são um enigma. OInstituto de Investigação de Conflitos Internacionais de Heildberg deu nota 3 para a Venezuela, que, em 2010, só perdeupara a guerra do narcotráfico no México. Mas o dado novo, desde o dia 5, é a presença da oposição na Assembleia e asmedidas que o partido do governo tomou para evitar que ela tenha poder.

Foram 25 leis em dezembro e, se considerarmos Chávez como um cavaleiro andante, podemos entendê-las melhor. Vintee quatro delas formam seu escudo porque se destinam a neutralizar a oposição, a imprensa, os partidos e universidade.Uma delas é a lança: a chamada Lei Habilitante que permite a Chávez governar 18 meses por decreto, sem dar satisfaçãoaos deputados. É tão autoritária que já foi criticada numa só semana pela OEA (Organização dos Estados Americanos),por meio de seu secretário-geral, José Miguel Insulza, e pela Conferência Episcopal Venezuelana, que considera a medida"um passo para o comunismo".

O que pode incendiar os conflitos políticos, com a força de muitos barris de gasolina barata, é a economia. A Venezueladecresceu em 2010 e a inflação no país foi uma das maiores do mundo: 27%. Entre os 32 países da América do Sul eCaribe, é o único que não tem perspectiva de crescimento em 2011. Sua produção de petróleo caiu a um nível mais baixodo que 2003 e, segundo os cálculos internos, só pode cobrir 12% das exportações, o que equivale a um déficit de US$ 41bilhões. Por isso, no ranking internacional dos que, potencialmente, não poderão honrar sua dívida, a Venezuela é asegunda entre dez: na frente apenas da Grécia.

Quando os números saltam do debate técnico para o estômago, o potencial de inquietação é grande. A Venezuela produzapenas 70% do alimento que consome. A facilidade da renda do petróleo inibiu o desenvolvimento agrícola. Além disso,as chuvas do ano passado arruinaram 5 mil hectares semeados. Só a cebola subiu 100% num mês.

Antes de sair do Brasil, li nos jornais do Estado de Bolívar que estava faltando farinha. No tempo em que passei emCaracas, não só a farinha, mas também o açúcar e a margarina estavam em falta em Bolívar. Os produtores antecipamuma alta, pois, com a unificação cambial, caiu o dólar especial, que era comprado por 2,3 bolívares. O dólar agora vale4,3 bolívares, mas, ainda assim, é uma cotação romântica, porque no mercado paralelo custa o dobro. Fui abordado pormuitas pessoas querendo comprar dólar no paralelo. Quando você diz que fez a operação no banco, olham desolados,como se fosse um lunático.

Andei por algumas feiras livres e consultei Daniel Gómez, de 54 anos, da classe média. Ele revelou que gasta oequivalente de cerca de R$ 300 por semana com comida para ele e dois filhos. Falei também com Juana, empregadadoméstica. Ela me disse que, para sua família, gasta muito menos nos mercados especiais criados pelo governo. Uma dasrazões de sua simpatia por Chávez.

Até quando o esquema é sustentável? Produtores de carne anunciaram nesta semana uma redução do consumo e umaumento de preço. A carne vem do Brasil, que exportou 42 mil toneladas do produto congelado, além de vender para aVenezuela 420 mil cabeças de gado.

O único produto barato que não parece ameaçado é a gasolina. As ruas de Caracas estão repletas de imensos e antigoscarros de oito cilindros. O New York Times viu nelas um pouco da antiga Detroit rodando pelas ruas da capital. Os quevisitam Cuba, lembram-se dos velhos carros de Havana. Mas o fato singular aqui é que você consegue encher um tanquecom 100 litros de gasolina por menos de US$ 1 no paralelo. Daí a persistência de uma frota nostálgica.

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Sem uma saída para os alimentos no horizonte próximo - a previsão de aumentos de preço no setor é de 40% -, Chávezdeve deslocar o debate para o campo da habitação. Ele já havia confessado seu fracasso no objetivo de dotar milhares depessoas de uma casa digna. Aí vieram as grandes chuvas que desabrigaram 130 mil.

Ele foi ativo durante o desastre, frequentou os lugares atingidos, comandou pessoalmente a resposta do governo. Maspercebeu que, no clima de comoção nacional, havia uma chance de empurrar o socialismo. Umas das razões da lei que lhedá carta branca é a possibilidade de desapropriar e impulsionar a tomada de prédios. Há poucos dias, anunciou queacabará com a desocupação judicial em caso de não pagamento de aluguel. Os proprietários, por meio do dirigente de suaassociação, Roberto Orta Martínez, anunciaram que será o caos, pois muitos donos de imóveis são pobres e ficarão sem oúnico bem.

Por baixo da crise de habitação está a falta de planejamento do governo. A produção do país, depois da nacionalização detrês fábricas de cimento, apenas dá conta de alguma obras de infraestrutura. Não há material para a construção de casas.Foi anunciada uma doação cubana de 6.900 toneladas de cimento. Feitas as contas, constatou-se que dava para construirapenas 500 casas.

Mas Chávez e seu partido pretendem manter a tensão nessa área. E isso ficou claro quando uma dezena de famílias dedanificados - as vítimas da chuva - foi alojada num campo de golfe no Estado de Vargas, perto de Caracas. Fui visitá-los epercebi que estão discretamente alojados, sem interferir no próprio campo. Mas a notícia teve impacto psicológico. Parteporque se fala muito na ocupação do Country, um clube tradicional de Caracas. O tema é visto como ideal para questionara propriedade privada.

Na segunda-feira, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), que já ocupa alguns prédios com osdesalojados, informou que fecharia o Museu Alejandro Otero para que famílias fossem instaladas lá. Criticado por fecharum museu, o ministro da Educação, Francisco Sesto, afirmou que a presença das famílias no museu configurava umaoriginal obra de arte.

A oposição, que pela primeira vez está unida, recebeu 52,7% dos votos. Maioria. No entanto, tem apenas 64 deputados e éminoria na Assembleia. Sua tática é levar o Parlamento para as ruas, discutindo as leis nas esquinas e favelas. Isso já foifeito, com êxito eleitoral, pelos chavistas. Mas grande parte do avanço da oposição deve-se, além dos tropeços dogoverno, à boa performance nas prefeituras. Tanto que um dos candidatos à presidência em 2012 deve ser AntonioLedezma, prefeito da região metropolitana de Caracas.

Mas, para ser fiel a seu eleitorado, a oposição centraliza sua tática na questão da segurança pública. O próprio Ledezma,depois que Chávez afirmou que os deputados do governo triturariam a oposição, respondeu: "Chávez precisava triturar ainsegurança".

A Venezuela, com 27 milhões de habitantes, registrou 18 mil assassinatos, dos quais apenas 3% foram resolvidos. Aquestão da segurança aqui é mais sensível do que no Rio. Não só há portas e trancas por toda parte, como muito medo.Quando resolvi usar uma câmera grande, porque me deslocava de táxi, o motorista ficou assustado com os motociclistasque se aproximavam. Nos primeiros metros, ele fechou o vidro e jogou um jornal no meu colo, para cobrir a câmera. Aocaminhar pelo Capitólio com a compacta, algumas pessoas me olhavam como se fosse um toureiro entrando na arena. Emque momento viria o primeiro golpe?

Há muitas interpretações para o descaso do governo Chávez com a segurança. Uma delas é a clássica definição daesquerda de que se trata de um problema social. Outros mais sofisticados, como um técnico em geologia com quemconversei, aponta o desprezo como uma deliberada política de Estado. Chávez, argumenta ele, quer manter as pessoas emcasa: quanto menos circulação da classe média, menos chance de a oposição se articular.

Mas a verdade é que a insegurança fortaleceu, eleitoralmente, a oposição. Outros fatores impulsionaram seu crescimento.Os grandes erros do passado recente parecem ter ficado para trás. Foram decisivos para o crescimento de Chávez.Primeiro, a condenável tentativa de golpe, em 2002. Em seguida, a desastrada decisão de boicotar as eleições em 2005.

Em outro campo, Chávez se aproveitou da falta de conexão dos oposicionistas com os mais pobres. Foi quando tentoulevar médicos para as favelas. Mas houve uma recusa, sob o argumento de que era muito perigoso. Então, ele importoumédicos cubanos que não só foram às favelas, como decidiram morar lá. Ainda hoje, esse movimento repercute nas

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populações mais pobres. Juana, a empregada doméstica, acha que as coisas melhoraram e, agora, sempre que precisa deuma vacina grátis vai "donde los cubanos".

Chávez joga com outras armas. Ao contrário do que parece, lê muito e conhece a história de seu país. Além de uminterminável programa de TV dominical, escreve artigos intitulados As Linhas de Chávez. Ele mergulha na históriasempre com o objetivo de fortalecer sua imagem. Segundo oposicionistas, suas digressões históricas são uma fábrica demitos.

O caso evidente é sua apropriação de Simón Bolívar. Antes, alguns governos militares também buscaram essaidentificação. Mas a Venezuela caminhava para considerar os símbolos nacionais como acima dos partidos, rejeitando seuuso sectário. Chávez voltou-se para Bolívar e tornou-se, segundo o jornalista de oposição Teodoro Petkoff, uma espéciede vizinho ou amigo íntimo de Bolívar. O próximo passo era se identificar com ele: querem me matar como fizeram como Libertador, afirma Chávez.

Essa alusão envolve os adversários de rotina: os americanos. Chávez, segundo alguns diplomatas que conversam com ele,acha que tem um papel messiânico e seu afastamento do poder trará de volta a influência americana. Combina a sensaçãode que é perseguido, com alguns ataques e ironias. Na ONU, referiu-se a George W. Bush como se fosse o diabo, aoafirmar que ainda sentia o cheiro de enxofre na tribuna. Agora, numa nova etapa conflituosa, rejeitou as credenciais donovo embaixador americano Larry Palmer. Sugeriu aos EUA que mandassem como embaixador Oliver Stone ou NoamChomsky. Os americanos devem escrever muitos telegramas, mas sua resposta tem sido discreta: decidiram apenas negaro novo visto ao embaixador da Venezuela. Não respondem às tiradas de Chávez. Depois que ele perguntou a HillaryClinton como vai sua mulher, abstiveram-se de perguntar a Chávez como vai seu marido.

A entrada do ano foi marcada por declarações pesadas dos líderes chavistas. O novo presidente da Assembleiavenezuelana, Fernando Soto Rojas, afirmou que a missão central era derrotar o capitalismo e o imperialismo. Duas vezesMinistro da Justiça, Ramón Rodríguez Chacín, um ex-capitão de navio, afirmou que não descartava o uso da luta armadacomo uma das formas de sacudir o capitalismo. Na mesma entrevista, elogiou as Forças Armadas Revolucionárias daColômbia (Farc) como um exército emergente. Rojas, em janeiro, descerrou o busto de Manuel Marulanda, Tirofijo, líderdas Farc morto em março de 2008.

Todas essas declarações de líderes do PSUV são recados para o futuro. O próprio partido reunido nesta semana resolveupunir qualquer infidelidade com um tribunal especial. Os movimentos de preparação para o confronto estão sedesenhando. Alguns articulistas pedem mais atenção e combatividade da oposição, sob o argumento de que é umademanda da sociedade. Um deles lembrou um dito popular: guerra avisada não mata soldado, exceto por descuido.

Brasileiros que vivem aqui há alguns anos, e falam com chavistas e militares, acham que a maioria dos venezuelanosrejeita soluções extremas. Somos muito parecidos, dizem eles. Fisicamente, não há dúvida. Darcy Ribeiro, quando morouaqui, afirmou que se tirássemos todas as pessoas da Praça do Silêncio, em Caracas, e levássemos para a Praça Mauá, doRio, ninguém notaria a diferença.

O Brasil se beneficiou comercialmente do afastamento de Chávez da Colômbia e dos Estados Unidos. Em cinco anos, astransações cresceram 500%. Empresas como a Odebrecht construíram pontes, a última sobre o Rio Orinoco, de 11 km deextensão. Afirmam que abriram 3 mil novos empregos. A Magnesita estava para inaugurar uma siderúrgica. Taxistasdizem ser "brameiros" e nos restaurantes a água mineral é "minalva".

A cooperação entre os dois países permitiu que o Oi puxasse a banda larga da Venezuela até Manaus, passando porRoraima. As relações de Roraima com a Venezuela são intensas. A estrada está sempre cheia de gente de Boa Vista quevai comprar gasolina barata em Santa Helena. Por outro lado, a própria estrada permitiu que o turismo para os nortistasfosse mais atraente no Caribe do que no litoral brasileiro.

É uma ilusão pensar que esse crescimento nas transações foi somente fruto da empatia entre Luiz Inácio Lula da Silva eChávez. No governo Itamar Franco foram preparadas as premissas; no governo Fernando Henrique Cardoso, fortalecida acooperação energética por meio da usina venezuelana de Guri.

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Na década de 90, participei de um grupo parlamentar Brasil-Venezuela que foi para os ares com a chegada ao poder dosbolivarianos. Naquela época, discutíamos a situação dos ianomâmis, que transitam pelos dois países, e também dosgarimpeiros brasileiros, que estavam envenenando alguns rios com mercúrio.

A posição brasileira, mesmo a do governo do PT, coincide com a maioria na Venezuela: a preservação da paz. Mas, pormais que as empresas estejam se sentindo em casa, a questão da sustentabilidade econômica do governo Chávez torna-seum nó estratégico. Até onde um governo autoritário e desorganizado significa parceria segura?

Apesar do enfoque populista, da ineficiência do aparato estatal, da retórica incendiária e romântica de seus dirigentes,Chávez e o PSUV ainda não adotaram um novo modelo econômico. O socialismo ainda não chegou integralmente aqui.Sob certos aspectos, nem o século 21.

2. Turquia condena relatório israelense sobre ação contra barco humanitário para GazaDA BBC BRASIL

A Turquia condenou o inquérito israelense publicado neste domingo que concluiu ter sido "legal" o ataque de Israel aobarco que tentava levar ajuda humanitária à faixa de Gaza, em maio passado.

O premiê turco, Recep Tayyip Erdogan disse que o inquérito não teria valor ou credibilidade. "Este relatório foi preparadosob ordens diretas. Como pode ter qualquer valor ou credibilidade um inquérito feito pelo próprio país (acusado)?", disseErdogan.

Outro inquérito sobre o incidente, preparado pela ONU, concluiu que a marinha israelense agiu com "níveis inaceitáveisde brutalidade".

Suspeitas

Segundo as conclusões publicadas neste domingo pela Marinha israelense, as forças israelenses agiram dentro das "regrasda legislação internacional".

O ataque, em que morreram nove ativistas turcos, foi amplamente criticado na época.

Os resultados da investigação interna de Israel apenas confirmaram as suspeitas de observadores e analistasinternacionais, que esperavam uma corroboração das ações das forças do país.

O enfrentamento ocorreu em 31 de maio do ano passado, quando mais de 600 ativistas tentavam romper o bloqueioisraelense à Gaza e levar 10 toneladas de alimentos para as áreas isoladas. Eles viajam em seis barcos sob articulação daorganização Free Gaza.

Todas as mortes ocorreram no navio Mavi Marmara, de propriedade turca.

Crise

Israel diz que agiu porque os ativistas estavam determinados a atacar os seus soldados. Mas os resultados de examespóstumos feitos na Turquia encontraram 30 balas no corpo dos nove ativistas. Um deles levou quatro tiros na cabeça.

O episódio gerou uma crise diplomática entre Israel e a Turquia. As autoridades turcas descreveram a ação como"terrorismo de Estado" e submeteram à ONU a sua própria investigação, que culpou Israel pelas nove mortes. A entidadeinternacional levará em conta ambos os inquéritos para elaborar seu próprio relatório.

Após o incidente, em meio a pressões, o governo israelense aliviou o bloqueio à faixa de Gaza, permitindo a entrada demais alimentos e outros produtos.

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Na visão do inquérito publicado neste domingo, o bloqueio naval a Gaza também é legal.

3. Países ricos fazem oferta de mão de obra para o BrasilSHEILA D'AMORIM

Com a falta de mão de obra no Brasil e a crise no mundo rico, governos e entidades de classe do exterior têm contatadoempresários e associações brasileiros para oferecer trabalhadores.

O Ministério do Desenvolvimento faz a intermediação de alguns desses encontros, e a fila de espera para entrar no país,sobretudo no setor de construção, inclui americanos, espanhóis, italianos, portugueses e ingleses. "Há interesse brutal emvir para cá", diz Marcos Túlio de Melo, presidente do Confea (conselho federal de engenharia e arquitetura).

Validar diplomas e obter autorização para trabalhar no Brasil, porém, é demorado e caro: pode chegar a oito meses epassar de R$ 15 mil.

Para entidades do setor, o processo seria mais curto se os países ricos oferecessem contrapartidas para os brasileiros noexterior.

4. Do multiculturalismo à deportação – Por Demétrio Magnoli23/8/2010 “O crápula da República”, estampou na capa a revista francesa Marianne de 7 de agosto, sobre uma foto dopresidente Nicolas Sarkozy. Dias antes, em Grenoble, Sarkozy pronunciara um discurso odiento: “A nacionalidadefrancesa deve poder ser retirada de todas as pessoas de origem estrangeira que deliberadamente atentaram contra a vida deum policial, de um militar ou de qualquer outro agente da autoridade pública. (...) Eu sustento ainda que a aquisição danacionalidade francesa por um menor delinquente no momento da maioridade não seja mais automática.”

A pretexto de combater a violência urbana, Sarkozy pressiona pela introdução de uma fronteira de sangue entre oscidadãos. Os “franceses de casta” acusados de delitos contra as autoridades conservariam seus direitos nacionais. Osfranceses “de origem estrangeira” – isto é, para iluminar o que está implícito, os cidadãos de outra “etnia” – perderiam taisdireitos, sujeitando-se à deportação. A mudança não pressupõe que ninguém seja acusado de um ato de delinquência.Antes disso, todas as pessoas de origem estrangeira teriam sido rebaixadas a cidadãos de segunda classe, pois possuiriamapenas uma nacionalidade precária, condicional.

Grenoble representou a conclusão coerente de uma trajetória, não um raio no céu limpo. O ponto de partida foi omulticulturalismo. O ponto de chegada é a deportação. Se há um paradoxo nisso, ele é apenas aparente.

Há três anos, Sarkozy criou um Ministério da Imigração e da Identidade Nacional. No nome, há uma tese: aimigração constituiria ameaça à identidade nacional, definida segundo critérios étnicos. A tese condensa uma reaçãocontra a história republicana francesa. Desde a Constituição de 1793, que consagrou o princípio do direito da terra, acidadania é definida como um contrato entre iguais: os habitantes da França. No lugar disso, o “crápula da República”recupera o mito monarquista da “França de mil anos”: o fruto do encontro entre os francos e a religião católica.

A Frente Nacional de Jean-Marie Le Pen tenta restaurar o mito anacrônico por meio da celebração romântica dopassado, que assoma na imagem santificada de Joana D’Arc. Sarkozy almeja um fim idêntico, mas pelo recurso aomulticulturalismo contemporâneo. Em 2008, o “crápula da República” encomendou um plano de ação em favor da“diversidade” e da “igualdade” entre as etnias. Tudo começaria com a reformulação do censo, para a produção deestatísticas étnicas da população. Na França, em nome do contrato republicano da igualdade, os censos não indagam sobreorigem ou religião. Mas o projeto multiculturalista não pode viver sem isso, pois precisa colar rótulos étnicos em cadapessoa. Evidentemente, tais rótulos também são indispensáveis para identificar cidadãos de segunda classe e promover adeportação dos “indesejáveis”.

Tanto quanto no Brasil, o governo francês ganhou aplausos entusiasmados da rede de ONGs sustentadas pelaFundação Ford para a política de classificação racial dos cidadãos. Contudo, uma onda de resistência partiu de defensoresde direitos humanos e de movimentos antirracistas. A escritora Caroline Fourest observou que “as estatísticas étnicasreforçarão o racismo”. Samuel Thomas, da organização SOS Racismo, conectou o discurso multiculturalista aos

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“nostálgicos da época colonial”. A feminista Fadela Amara qualificou as “estatísticas étnicas, a discriminação positiva, ascotas” como “uma caricatura”. E foi ao ponto: “Nossa república não deve se tornar um mosaico de comunidades.Nenhuma pessoa deve, uma vez mais, portar a estrela amarela”.

O “mosaico de comunidades” é o ideal do multiculturalismo. Na França, o recurso à “estrela amarela” propiciariao delineamento de uma “nação gaulesa” circundada por uma miríade de “etnias minoritárias”. No Brasil , propicia afabricação de um Estado binacional composto por uma “nação branca” (ou “eurodescedente”) e uma “nação negra” (ou“afrodescendente”). Lá, as minorias ganham a pecha de “estrangeiros”; aqui, todos seriam “estrangeiros” numa terra deexílio. Há mais uma diferença. A esquerda francesa, que acredita na democracia e enxerga-se como herdeira daConstituição de 1793, rejeita a rotulagem étnica. A esquerda brasileira, com honrosas exceções, cultua tiranias e desprezao princípio da igualdade política. Por isso, alinha-se com os arautos da política de raças.

Todos devem portar a estrela amarela – eis o programa do multiculturalismo. Também é a plataforma de CharlesWilson, líder de um partido neonazista americano que almeja enviar os negros e latinos “de volta a seus países”. Eleemprega uma linguagem paralela à dos nossos racialistas e reivindica algo que define como seus direitos raciais: “Eutenho orgulho de ser branco. Estou falando de minha herança, e consideram isso um crime de ódio. Podemos dizer podernegro, poder latino, mas se você disser poder branco cai todo mundo em cima.”

Nos idos de 2006, o chefe da Frente Nacional reclamou do “excesso de negros” na seleção francesa de futebol. Ozagueiro Thuram, nascido em Guadalupe, replicou oferecendo-lhe uma aula de história: “Não sou negro, sou francês. LePen deveria saber que assim como existem negros franceses, existem loiros e morenos. Viva a França! Mas não a Françaque Le Pen quer, e sim a França verdadeira.” É a “França verdadeira” que está em perigo quando o “crápula daRepública” tenta dividi-la segundo linhas oficiais de cor. Um “Brasil verdadeiro”, que vive na consciência das pessoascomuns de todas as cores, também está ameaçado pela maré montante das políticas raciais implantadas sob a cínicaalegação do combate ao racismo.

“Como os militantes antirracistas poderiam apoiar o estabelecimento de categorias etno-raciais?”, pergunta,indignado, Samuel Thomas. Eis uma boa questão para os racialistas brasileiros que se travestem como militantesantirracistas.

ESPECIAIS

1. CENSO DEMOGRÁFICO 2010

População cresceu 12% nos últimos dez anos, segundo o IBGE.Número de mulheres aumentou para 97.342.162.

Somos 190.732.694 pessoas em todo o Brasil. Esse é o resultado do Censo 2010 divulgado nesta segunda-feira(29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em dez anos, o aumento da população foi de12,3%, em números absolutos isso significa 20.933.524 pessoas. O crescimento foi inferior ao observado nadécada anterior. Entre 1991 e 2000, a população brasileira aumentou 15,6%.

A Região Sudeste ainda é a mais populosa do Brasil, com 80.353.724 pessoas. São Paulo é o estado maispopuloso, com 41.252.160 pessoas. Já Roraima é o estado menos populoso, com 451.227 pessoas. Veja quadrosno final desta reportagem com o número da população por estados e por municípios.

A população está mais feminina. São 97.342.162 mulheres e 93.390.532 homens. As mulheres superam emmais 3,9 milhões o número de homens. Existem 95,9 homens para cada 100 mulheres. Em 2000, para cada 100mulheres, havia 96,9 homens. Entre os municípios, o que tinha maior percentual de homens era Balbinos (SP),com 82,2%. Já o que tinha maior percentual de mulheres era Santos (SP), com 54,25%.

O IBGE divulgou a população de todas as 5.565 cidades, com a variação verificada entre 2000 e 2010. O G1preparou um infográfico com todos esses dados (no mapa ao lado, cidades em verde tiveram o maiorcrescimento na década, e cidades em vermelhor, o menor;

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De acordo com o IBGE, o Censo 2010 apurou que existiam 23.760 brasileiros com mais de 100 anos. A data dereferência da pesquisa é 1º de agosto. Bahia é o estado com mais centenários (3.525), seguido por São Paulo(3.146) e Minas Gerais (2.597).

Mudança no ranking

Houve mudanças no ranking dos dez municípios mais populosos do país, com Brasília, que pulou do 6º para 4ºlugar e Manaus, que saiu do 9º para 7º, ganhando posições. De acordo com o IBGE, Brasília tem hoje 2.562.963habitantes e Manaus, 1.802.525.

Belo Horizonte, Curitiba e Recife perderam posições na comparação com o censo realizado em 2000. Nolevantamento antigo, essas capitais ocupavam as posições de número 4, 7 e 8, respectivamente. Em 2010,passaram para as posições 6, 8 e 9.

Dezenove municípios mais que dobraram a população, desde 2000. O município que apresentou maiorcrescimento foi Balbinos (199,47%), em São Paulo . Há dez anos, eram 1.313 habitantes. Em 2010, o númeropassou para 3.932.

Na relação dos municípios que tiveram maior crescimento no número de habitantes, aparecem ainda Rio dasOstras (190,39%) , no Rio de Janeiro; e Pedra Branca do Amapari (168,72%), no Amapá .

Outros 1.520 municípios apresentaram queda no número de habitantes. Os cinco que tiveram maior reduçãoforam: Maetinga (BA), Itaúba (MT), Severiano Melo (RN), Ribeirão do Largo (BA) e Esmeralda (RS).

Urbana e ruralA população está mais urbanizada que há 10anos. Em 2000, 81% dos brasileiros, ou137.953.959, viviam em áreas urbanas, agorasão 84%, que representam 160.879.708.

Em 2010, entre os municípios, 67 tinham100% de sua população vivendo em situaçãourbana e 775 com mais de 90% nessasituação. Por outro lado, apenas nove tinhammais de 90% de sua população vivendo emsituação rural. Em 2000, entre os municípios,56 tinham 100% de sua população vivendoem situação urbana e 523 com mais de 90%nessa situação. Por outro lado, 38 tinhammais de 90% vivendo em situação rural e oúnico município do país a ter 100% de suapopulação em situação rural era NovaRamada (RS).

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2. Tragédia na região Serrana do Rio de Janeiro

Fenômeno raro e ocupação agravam tragédia no RioTragédia foi agravada por um fenômeno chamado de corrida de lama e detritos, de acordo com especialistas

Vladimir Platonow/AGÊNCIA BRASIL

Rio de Janeiro - A catástrofe na região serrana do Rio de Janeiro foi causada por um tipo de deslizamento consideradoraro e avassalador por geólogos. Além do escorregamento de terra, a tragédia foi agravada por um fenômeno chamado decorrida de lama e detritos. É quando uma série de deslizamentos acontece ao mesmo tempo, no mesmo lugar, e tão rápidoque praticamente impede que as pessoas se protejam. Trata-se da maior magnitude de escorregamento de terra possível.

“É uma avalanche de poder destrutivo estúpido”, explica o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor dePlanejamento e Gestão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). “A massa de terra e detritos acaba com o que estápela frente.”

Essa avalanche fez com que corpos das vítimas fossem carregados morro abaixo por até 15 quilômetros de distância. “Naverdade, o deslizamento é a massa de solo que desloca. Chove, encharca e desloca”, diz Kátia Canil, do Laboratório deRiscos Ambientais do IPT. “A corrida ocorre quando vários deslizamentos se juntam, formam uma massa maior comárvores, terra, água e detritos e destrói o que vem pela frente. É muita velocidade”. Esse tipo de fenômeno é consideradoincomum porque é necessário uma somatória de fatores, como uma grande quantidade de chuva, um solo já encharcado einstável e declives muito acentuados.

Ainda que tenha um grande poder de destruição, a “corrida” no Rio só causou tantas mortes porque, a exemplo de outrascidades brasileiras, Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis sofrem com a ocupação desordenada de encostas - por favelase por loteamentos de classe média e de luxo. Ainda de acordo com especialistas, o poder público também tem sua parcelade culpa pela tragédia, por não fiscalizar a ocupação do solo.

“É bom sempre frisar que a responsabilidade não deve ser creditada a fenômenos como o aquecimento global ou aimprevistos geológicos e pluviométricos. Tudo que tem acontecido está associado à desordenada ocupação urbana deáreas geologicamente inadequadas” diz Santos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Especialista explica as causas da tragédia que castigou Região Serrana

A combinação de uma sequência de desmoronamentos e uma cabeça d’água castigou bairros de Teresópolis, Petrópolis eFriburgo.

O especialista em situações de emergência Moacyr Duarte falou com o Bom Dia Brasil ao vivo de Teresópolis.

Bom Dia Brasil: A gente viu trechos da reportagem da Ana Luiza, muitas imagens repetidas, tragédias no Rio deJaneiro que nós já vimos, e que saberíamos ou deveríamos saber, em tese, como evitar.

Moacyr Duarte: Existe uma repetição dessa situação ao longo do tempo. E eu faço um paralelo com o que aconteceucom a segurança pública, porque nós vivemos à mercê de uma situação que se julgava inatacável e insolúvel durante maisde 20 anos, até que nos unimos com força máxima e competência e o problema foi vencido. Acho que na questão dasenchentes, da enxurrada e das mortes, já convivemos com isso há mais de 50 anos. Não somos um país tão pobre assim,temos recursos humanos e tecnologia para resolver os problemas. Falta um governante de coragem que decida que é horade investir na prevenção, ao invés de investir em resgate e chorar as vítimas que nem fizemos ontem aqui no CampoGrande.

Na cidade, existem muitas ocupações irregulares, sim. Mas muitas ocupações com permissão da prefeitura,condomínios imensos construídos. É preciso mudar, repensar a relação com o meio ambiente?

Sim, eu acho que isso é urgente. Até hoje, todos os nossos estudos dão conta de medir o impacto que a construção fará noambiente, isso é justo e é necessário. Mas com o ritmo do ecoturismo e o avanço na ocupação das cidades comoTeresópolis, Petrópolis, Friburgo, nós temos que ficar atentos aos impactos que a natureza pode trazer sobre as ocupações.Nós deveríamos estar dando para as áreas como Campo Grande e o outro bairro da Posse, aqui em Teresópolis, atestadosde habitabilidade, ou seja, inspeções prévias caracterizando as instabilidades e os fenômenos que eventualmente possamatingir essa área.

O que aconteceu em Teresópolis exatamente? Pode-se dizer que o fenômeno foi parecido com o que aconteceu emAngra, na Pousada Sankay e com o Morro do Bumba, em Niterói? O Fenômeno foi o mesmo?

Existe uma mistura de tudo isso, mas o cenário em Teresópolis é bem pior: enquanto a chuva caia e desestabilizava asencostas, aquelas cortadas irregularmente pelas ocupações, em função dos rios desta região, tanto de Friburgo eTeresópolis quanto Petrópolis, correrem encaixados em falha geológica, ou seja, em vales de paredes muito inclinadas,quando chove, a água chega rapidamente ao leito. No bairro de Campo Grande, a combinação de fenômenos foi umasequência de desmoronamentos na periferia do vale e uma cabeça d’água que se seguiu com a rápida chegada da água ao

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leito, que elevou em cinco, seis metros a altura da água, com velocidade seguramente acima de 80 km/h. Essa duplacombinação deu à região um aspecto de terremoto, de área devastada.

O que deve ser feito a partir de agora, na atual situação?

Primeiro, a velha rotina: tratar dos desabrigados, cuidar das ações de saúde pública e aumentar os esforços para chegar aobairro de Campo Grande, porque ainda existe um grande número de corpos soterrados e nós vamos levar seguramente ummês para ter a dimensão exata desta tragédia.