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JUSTIÇA FEDERAL: primeira instância MILTON LUIZ PEREIRA* Juiz Federal Substituto PREFÁCIO Li com a melhor atenção sua monografia sôbre a "Justiça Federal – Primeira Instância – Origens, Jurisdição e Competência Constitucional" – e sinto-me honrado por haver o distinto colega pedido meu prévio pronunciamento sobre a obra, à guisa de prefácio. Com o seu restabelecimento, nos têrmos do Ato Institucional n° 2 e da Lei 5.010 de 30 de maio de 1966, veio a Justiça Federal de 1ª Instância preencher um grave claro constitucional na estrutura de nosso Estado federativo. Já dissera Campos Salles – o emérito autor do Decreto 848 de 1890 – "que não há govêrno federal nem Poder Judiciário independentes dos Estados, para manter os direitos da União, guardar a Constituição e as leis federais". E a nova fase da vida judiciária federal que se inicia está a merecer a atenção dos estudiosos das letras jurídicas, tanto mais quanto escassa á a bibliografia que nos vem da antiga Justiça Federal. É mesmo estranho o desinterêsse de tantos e tão eminentes processualistas, sôbre tão relevante assunto, a ponto de só encontrarmos uma obra de fôlego sôbre essa justiça, a Consolidação das Leis da Justiça Federal, da autoria de Tavares Bastos, êle próprio Juiz Federal da Seção do Estado do Espírito Santo, além das referências que à Justiça Federal constam das obras clássicas de Pedro Lessa – O Poder Judiciário – e Castro Nunes – Teoria e Prática do Poder Judiciário. Por isso, sua monografia servirá, sem dúvida, não só para a ilustração de todos quantos, por oficio ou por interêsse, se devam dedicar aos estudos sôbre a Justiça Federal, mas ainda contribuirá para o esclarecimento de assunto pouco trilhado em nossa literatura judiciária, e A12 * Ministro do Superior Tribunal de Justiça, a partir de 23/4/92 e aposentado a partir de 10/12/2002.

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JUSTIÇA FEDERAL: primeira instância

MILTON LUIZ PEREIRA* Juiz Federal Substituto

PREFÁCIO

Li com a melhor atenção sua monografia sôbre a "Justiça

Federal – Primeira Instância – Origens, Jurisdição e Competência

Constitucional" – e sinto-me honrado por haver o distinto colega pedido

meu prévio pronunciamento sobre a obra, à guisa de prefácio.

Com o seu restabelecimento, nos têrmos do Ato Institucional

n° 2 e da Lei 5.010 de 30 de maio de 1966, veio a Justiça Federal de 1ª

Instância preencher um grave claro constitucional na estrutura de nosso

Estado federativo. Já dissera Campos Salles – o emérito autor do Decreto

848 de 1890 – "que não há govêrno federal nem Poder Judiciário

independentes dos Estados, para manter os direitos da União, guardar a

Constituição e as leis federais". E a nova fase da vida judiciária federal

que se inicia está a merecer a atenção dos estudiosos das letras jurídicas,

tanto mais quanto escassa á a bibliografia que nos vem da antiga Justiça

Federal. É mesmo estranho o desinterêsse de tantos e tão eminentes

processualistas, sôbre tão relevante assunto, a ponto de só encontrarmos

uma obra de fôlego sôbre essa justiça, a Consolidação das Leis da Justiça

Federal, da autoria de Tavares Bastos, êle próprio Juiz Federal da Seção

do Estado do Espírito Santo, além das referências que à Justiça Federal

constam das obras clássicas de Pedro Lessa – O Poder Judiciário – e

Castro Nunes – Teoria e Prática do Poder Judiciário.

Por isso, sua monografia servirá, sem dúvida, não só para a

ilustração de todos quantos, por oficio ou por interêsse, se devam dedicar

aos estudos sôbre a Justiça Federal, mas ainda contribuirá para o

esclarecimento de assunto pouco trilhado em nossa literatura judiciária, e

A12 * Ministro do Superior Tribunal de Justiça, a partir de 23/4/92 e aposentado a partir de 10/12/2002.

Justiça Federal: primeira instância

de flagrante atualidade, na ocasião em que iniciam seu funcionamento os

novos órgãos da justiça Federal de Primeira Instância, em boa hora

restaurada.

Com os meus cumprimentos, e os melhores votos pelo

merecido sucesso de seu esforçado e valioso trabalho, subscrevo-me com

atenção e estima.

Brasília, 2 de maio de 1968

OSCAR SARAIVA

INTRODUÇÃO

É sempre delicado, exigindo muita disposição, assumir o

encargo, mesmo voluntário, de escrever, com a idéia de publicação,

interpretando textos, coletando fatos e datas. Corre-se o risco calculado

da reação, da incompreensão e de críticas contundentes.

Entretanto, sempre ansiei pelo trabalho e pela pesquisa. Aqui

fui, também, estimulado pela vontade de colaborar, ensaiando, porque

antes jamais me atrevi a dar passos de escrevinhador.

Sou juiz pelo gôsto de julgar. De decidir, sem a marca de fazê-

lo por imperativo ou dever funcional, mas com o desejo de fazer justiça.

Em primeira instância, coberta de esperanças e expectativas, exerço meu

cargo. Estou consciente de minhas responsabilidades. Delas nunca corri.

O homem sempre sonhou com a justiça. Sempre procurou a

justiça. Não raro, por não a encontrar, a fêz, ou pensou fazê-la, com as

próprias mãos.

Como advogado, por muitos anos, militando no fôro,

adquirindo uma experiência grata e útil, sempre almejei a justiça. Nada

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Justiça Federal: primeira instância

mais que a justiça. Às vêzes êsse comportamento, por incrível, causa

espécie e escárnio. Mas, em nome dela, sem receio ou tibieza, para não

traí-la, sofri e me amargurei; porém, dela não me divorciei. Acredito-a

possível. Possível na sua amplitude e fins, como instrumento indeclinável

da perfeição humana e de aproximação do homem com a perfeição divina.

O homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Êste é bondade,

amor e JUSTIÇA.

Com devotamento e pensando em prestar serviço à divulgação

da Justiça Federal, desejando a sua publicidade, o seu conhecimento, as

suas origens, jurisdição, competência e fins constitucionais, aventuro-me

na empreitada.

Trata-se de simples monografia, despida da veleidade de

mostrar erudição ou deitar cátedra. Do princípio ao fim, não foram usadas

palavras rebuscadas e não se procurou sustentar conceitos complexos.

Seguiu-se a trilha da simplicidade nas palavras, na exposição, com a

intenção de legar, pelo menos, uma anotação cronológica de datas, de

fatos e de observações que permitam e sirvam, para outros, mestres mais

experimentados e capazes, de ponto de partida e iniciação da

conceituação definitiva sôbre a Justiça Federal.

Por muitos será recebida com reservas e por outros como

contraditória. Se assim acontecer, dou-me por satisfeito: foi recebida e

despertou interêsse. Ninguém escreve para ninguém. Escreve-se

esperando que alguém leia, discuta, concorde ou discorde. Mas leia. É a

paga e retribuição.

Foi escrita, esta monografia, dentro dessas limitações,

esperando ser útil aos estudantes, advogados, magistrados e

interessados. Pretende fazer sentir a presença da Justiça Federal.

Quer servir de apoiamento e início a indagações mais precisas.

Procura dar uma visão histórica, dentro da nossa evolução constitucional,

A12

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Justiça Federal: primeira instância

do seu surgimento e perspectivas. Tem como suportes os textos

constitucionais e leis afins, acompanhados, quando julgado oportuno, de

apontamentos doutrinários, de apreciações sôbre os assuntos abordados.

Nesse sentido, com dimensões modestas e sem ambição,

dentro de propósitos simplistas, deve ser lida e compreendida. Não se

trata de prova de capacidade literária ou de versatilidade na linguagem.

Não quer e não pretende evidenciar erudição. Procura ser assimilável, sem

a preocupação de apresentar-se erudita ou em trabalho de alentadas

páginas.

Procura criar para ficar. Deseja, na singeleza de suas

pretensões, que se converta em construtivo e eficiente manual iniciático

das origens, jurisdição e competência constitucional da JUSTIÇA FEDERAL

DE PRIMEIRA INSTÂNCIA.

Curitiba, em novembro de 1967

Milton Luiz Pereira JUIZ FEDERAL, substituto.

Dai-me um juiz independente, íntegro, capaz e pouco me importará, depois, o como andar o resto da Constituição, ou o partido que ocupa o Govêrno.

O que sei eu é que êsse govêrno será liberal.

RUFUS CHOATE

Capítulo I

DAS ORIGENS CONSTITUCIONAIS

$ 1°

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Justiça Federal: primeira instância

O nosso federalismo surgiu de uma subdivisão do Estado

Monárquico – unitário – onde os podêres eram concentrados por um

govêrno central. No Império, como decorrência dessa centralização, o

Poder Judiciário era uno, em correspondência à estrutura política do

Estado, com o destaque de ser independente como poder, firmando uma

conseqüente unidade da justiça. Constituição do Império – art. 151:

"O Poder Judicial é independente, e será composto de juízes e

jurados, os quais terão lugar, assim no cível como no crime, nos casos e

pelo modo que os códigos determinarem".

Contrasta, efetivamente, com a conceituação do regime

monárquico a independência assegurada, na Constituição do Império, ao

Poder Judiciário. Mas, a distribuição da justiça sempre foi uma

necessidade à estabilidade dos regimes.

Configurou-se, em todas as quadras históricas, como um

"Poder" sôbre os podêres. Sobreviveu a tôdas as tormentas e evoluiu, em

técnica e métodos, como síntese, pelos tempos, com a aplicação da

justiça refletindo o estágio de desenvolvimento da civilização.

O Poder Judiciário – os juízes –, em relação aos demais

podêres, é o "Juiz das atribuições dos demais poderes..." (1). Na lição

aristotélica de que "não sendo bem distribuída a justiça, sobreviveriam

dissensões e graves desordens no Estado"(2); também, aparece o realce e

a necessidade dos órgãos aplicadores das leis serem podêres autônomos,

em benefício da ordem estatal.

Em nosso país, segundo anotação de CARLOS MAXIMILIANO –

Comentários à Constituição Brasileira (pág. 16). "Granjeáramos certa

autonomia judiciária em 1609, quando se instituía, para o Brasil, o

5

(1) — FRANCISCO CAMPOS, em discurso que pronunciou perante o Supremo Tribunal Federal, em 1941. Citado por Cláudio Pacheco, em Tratado das Constituições Brasileiras, vol. VII, pág. 14. (2) — A Política, Livro 6°.

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Justiça Federal: primeira instância

primeiro Tribunal da Relação, da Bahia. Suprimiram-no os espanhóis em

1626. Foi restaurado pelo govêrno de Lisboa em 1652".

Portanto, no regime imperial brasileiro, a justiça era una, ou

conceituando-a modernamente se poderá dizer: justiça nacional. Porém,

na evolução da nossa história, o território brasileiro, foi dividido em

capitanias hereditárias, solução administrativa fracassada do govêrno

colonialista de Portugal; mas com o sôpro de novas e liberais idéias, o

Brasil alcançou sua independência, para atingir, depois de vencidas as

formas imperiais, em regime federativo, a forma de governo republicano.

O regime federativo, com uma subdivisão do Estado unitário,

saindo-se da concentração de podêres para uma divisão dos mesmos em

favor dos Estados-membros, ampliando-se-lhes a soberania, trouxe, como

conseqüência, uma nova organização do Poder Judiciário: justiça federal e

justiça estadual.

Essa subdivisão, estabelecendo um sistema de dualidade do

Poder Judiciário, teve, de imediato, logo que proclamada a República,

corporificação legal, com a criação da justiça federal, pelo Decreto n° 848,

de 11 de outubro de 1890; portanto, menos de um ano depois da

mudança da forma de govêrno – 15 de novembro de 1899 – e

anteriormente à Constituição de 1891, promulgada em 24 de fevereiro

daquele ano. Dispunha o Decreto n° 848, em seu art. 1°:

A Justiça Federal será exercida por um Supremo Tribunal Federal e por juízes inferiores intitulados Juízes de Secção.

A Constituição de 1891, fundando o sistema federativo de

govêrno, resguardando e aceitando a instituição da justiça federal,

corporificada como instituição pelo referido Decreto n° 848, editado pelo

Govêrno Republicano e Provisório, a consagrou em seu art. 55:

O Poder Judiciário da União terá por órgão um Supremo Tribunal Federal, com sede na Capital da República, e tantos

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Justiça Federal: primeira instância

juízes e tribunais federais, distribuídos pelo país, quantos o Congresso criar.

Torna-se obrigatório salientar, pelas notáveis divergências que

ensejou, as disposições do aludido artigo 55: "... e tantos juízes e

tribunais federais distribuídos pelo país, quantos o Congresso criar",

porque para uns, essa expressão, significava "juízes singulares de

primeira instância e tribunais coletivos de segunda instância", enquanto

que outros a interpretavam como eqüivalente a "tribunais singulares e

coletivos de primeira instância". Apresentava-se o Supremo Tribunal

Federal como a segunda e última instância judiciária federal, tornando-se

"o símbolo da autoridade niveladora de todos os habitantes do território

sob o mesmo regime de igualdade", e prestigiar ao mesmo tempo "a

tendência universal para uniformizar a jurisprudência como uma das

fontes primordiais do Direito não incorporado nas leis do país, em lição de

PAULO LABAND, Direito Público do Império Alemão"(3).

É, contudo, para fixação histórica, relevante salientar que essa

Constituição, a exemplo das principais constituições da América Latina,

moldou-se nas linhas mestras da Constituição norte-americana. A

dualidade da justiça, como meio eficaz da ação pronta, com conhecimento

das peculiaridades locais. Aqui a justiça estadual. No campo espacial da

federação, ao lado e harmônicamente com um poder central, como fiel da

república federativa e presidencial, a justiça federal. Entretanto, segundo

CARLOS MAXIMILIANO(4), "O autor do Decreto n° 848, de 1890, que

organizou a Justiça Federal, preferiu o sistema argentino vigente naquele

tempo; e logo os projetos de Constituição se inclinaram para o sistema

norte-americano. Tanto que o texto expresso pelo art. 55 da Constituição

de 1891 seguiu a conceituação da Constituição americana que dispõe no

seu art. III – Seção I: “O poder judiciário dos Estados Unidos será

7

(3) — CARLOS MAXIMILIANO, ob. cit., pág. 587. (4) — Ob. cit, pág. 590.

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Justiça Federal: primeira instância

exercido por uma Côrte Suprema, e pelos tribunais inferiores que o

Congresso periòdicamente criar e estabelecer”.

Essa inclinação à Constituição norte-americana, fugindo ao

tradicionalismo que, anteriormente, por estar presente na constituição

então vigorante naquele país, influíra na redação do Decreto n° 848, está

presentemente estabelecida na atual Constituição Argentina, art. 89: "El

Poder Judicial de la Nación será ejercido por una Corte Suprema de

Justicia, y por los demás tribunales inferiores que el Congreso estableciese

en el território de la Nación”.

Seguindo os mesmos princípios, dando guarida a uma justiça

federal, a Constituição do México dispõe em seu art. 94:

Se deposita el ejercicio del Poder Judicial de la Federación en una Suprema Corte de Justicia, en Tribunales de Circuito y en Juzgados de Distrito, cuyo número y atribuciones fijará la ley. ...

Todavia, essa discussão exegética foi dirimida pela Lei n°

4.381, de 5 de dezembro de 1921, estabelecendo que haveria juízes

singulares de primeira instância e tribunais federais de segunda instância,

na Capital Federal, em Recife e em São Paulo. Publicada essa lei, tôda a

divergência se diluíra, fortificando-se, também, sem os óbices das dúvidas

ou receios de ordem constitucional, a Justiça Federal de Primeira

Instância, com os seus juízes singulares – Juízes Federais – conforme

estatuíram os arts. 54 e 67, do Decreto n° 3.084, de 5 de novembro de

1898; tal decreto era a consolidação das leis referentes à Justiça Federal,

trazida ao cenário judiciário brasileiro, pelo Decreto n° 848, de 1890, que

foi seguido pelo de n° 221, de 1894.

Verificou-se, pois, com a promulgação da Constituição de

1891, seguida dos decretos mencionados, a sistematização da dualidade

das justiças no Brasil, com os Estados federados organizando as suas

respectivas justiças, com competência definida (art. 62 c/c 65). A

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Justiça Federal: primeira instância

verdade, porém, é que a Justiça Federal não adquiriu a dinâmica desejada

aos seus fins.

Sob êsse prisma é evidente o alcance, então, de artigo escrito

por AMARO CAVALCANTI e lembrada por TAVARES BASTOS(5), quando

transcreve:

Num país em que a forma de govêrno monárquico é substituída bruscamente pela democrática, profundas devem ser as alterações nas leis judiciárias, para serem adaptadas ao nôvo regime, ficando à margem quase tôdas as que vigoravam até então.

Proposições não são precisas para isso corroborar.

É mais que intuitivo.

Entretanto, com a instituição da Justiça Federal no nosso país, isso não se deu.

Múltiplas leis do regime decaído ainda vigoram na integridade de seus textos.

Em poucos artigos legislou-se para a mais importante das justiças da República – a justiça federal, distribuída por juízes exclusivos da União.

E isto, logo após a mudança do regime de govêrno da nação.

Apesar dos reclamos por uma estrutura mais atualizada, salvo

pequenas alterações que não modificaram o todo, a Justiça Federal

atravessou os anos, vindo encontrá-la, ressalvadas as emendas de 1926,

que melhor definiram sua competência, com as linhas mestras

estabelecidas em 1891, a Constituição de 1934. Esta Carta, sem alterar as

garantias atribuídas aos seus membros, sustentou a dualidade da justiça,

acrescentando, como inovação na esfera federal, a Justiça Eleitoral (art.

63, letra "d").

9

(5) Consolidação das Leis da Justiça Federal, tomo I, págs. 3 e 4.

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Justiça Federal: primeira instância

Quanto à competência, sem alterar a essência, simplificando,

para melhor, a redação do art. 62 da Constituição de 1891, dispôs em seu

art. 70:

A Justiça da União e a dos Estados não podem recìprocamente intervir em questões submetidas aos tribunais e juízes respectivos, nem lhes mudar, alterar ou suspender as decisões, ou ordens, salvo os casos expressos na Constituição.

Sem alterações fundamentais continuava jurisdicionando a

Justiça Federal, quando veio a outorgada Constituição Federal de 1937,

introduzindo, não só no sistema judiciário brasileiro, como na ordem

econômica, organização política, e nos direitos e garantias individuais,

profundas alterações.

Especìficamente, quanto à Justiça Federal, sem maiores

razões, face à dualidade que permanecia, suprimiu "os juízes e tribunais

federais", "os juízes e tribunais eleitorais", mantendo os "juízes e tribunais

militares" (art. 90); sendo emendada, posteriormente, para poder

agasalhar o Tribunal de Segurança Nacional (Lei Constitucional n° 7, de

30/9/42).

Por seu turno, a Constituição Federal de 1946, reorganizando

o Poder Judiciário, restabeleceu a Justiça Eleitoral, criando a do Trabalho,

sem, contudo, restaurar os cargos dos juízes federais de primeira

instância, para fixar, como tribunal federal, o Tribunal Federal de Recursos

(art. 94). Êste Tribunal, em segunda instância, julgaria tôdas as causas de

interêsse direto ou indireto, da União, tendo o Supremo Tribunal Federal

como última instância. Mas não restabeleceu, paradoxalmente, a Justiça

Federal de Primeira Instância, com juízes singulares. A competência dessa

primeira instância era exercida pela Justiça Estadual.

Essa orientação dos constituintes de 1946 (arts. 103 e 105) foi

seqüência dos chamados "tribunais federais de circuito", referido pela

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Justiça Federal: primeira instância

Constituição de 1891, que expressava em seu art. 55: "... tantos juízes e

tribunais federais distribuídos pelo país quantos o Congresso criar".

Resolvendo, como se verificou atrás, a divergência de

interpretação sobre a expressão "juízes e tribunais federais", a Lei n°

4.381, de 5/12/1921, em seu art. 22, deixava definida a criação de três

Tribunais Regionais, sediados na Capital Federal, Recife e São Paulo.

Anote-se que essa mesma orientação não passara despercebida na Carta

de 1934 (art. 78).

Segundo os comentadores, como PONTES DE MIRANDA,

EDUARDO ESPÍNOLA, e outros, a concretização dessa providência surgia

da urgente necessidade de descongestionamento e desacumulação das

atribuições do Supremo Tribunal Federal. Sôbre êsse particular, lavrados

por CARLOS MAXIMILIANO(6), cabem êstes comentários:

Os Estados Unidos instituíram Tribunais Distritais (pelo menos um em cada Estado), Tribunais de Circuito (um com jurisdição em dois Estados ou mais), e, no alto, coroando o sistema de organização judiciária, a Côrte Suprema. Oberada de trabalho, não julgava esta senão parte dos feitos que recebia. Pensaram em dividir a tarefa. Como no Brasil, surgiu logo a objeção constitucional. O código básico estatuiu: "O Poder Judiciário dos Estados Unidos será conferido a uma Corte Suprema e tantos tribunais inferiores quantos o Congresso de tempos em tempos ordenar e estabelecer (art. 3°, seção 1ª, n° 1)". Concluía-se, como no Brasil, que era possível criar sòmente os tribunais inferiores, isto é, de primeira instância. O mal perdurou, agravando-se; eternizavam-se as demandas. Afinal, o senso prático daquele povo triunfou contra as objeções dos casuístas. Não se deteve ante filigranas doutrinárias, nem se perdeu nos meandros de um formalismo exagerado. Afirmou ser apenas preciso que o nôvo pretório fôsse inferior ao Supremo. Estabeleceu, em 1891, nove Tribunais de Apelação de Circuito, e suprimiu em 1911 os simples Tribunais de Circuito antigos; de sorte que dos Tribunais Distritais se recorre logo para o de Apelação, ou diretamente para a Corte Suprema.

§ 2°

11

(6) — Ob. cit, pág. 594.

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Justiça Federal: primeira instância

Transcritos êsses comentários, quanto à fórmula referida e

adotada pela Constituição de 1946, em verdade, ficava solucionado o

problema de interpretação do art. 55 da Constituição de 1891,

resolvendo-se a polêmica doutrinária sôbre os "juízes e tribunais

federais", mas, também considerando o restabelecimento dos "juízes e

tribunais eleitorais" e criando "os juízes e tribunais do trabalho",

mantendo "os juízes e tribunais militares" (incs. III, IV e V, art. 94), sem

justificação razoável ou explicação lógica, no sistema da organização

judiciária que, constitucionalmente adotada, fixou a exclusão dos juízes de

primeira instância do Tribunal Federal de Recursos.

Êsse critério significava flagrante afastamento da tradição e

das formas de organizações onde se inspirava o organismo judiciário

brasileiro. Inclusive, deixando de lado o princípio corrente da seqüência

das ações, sem quebra nos degraus do corpo judiciário, na tramitação do

seu processamento, julgamento e apelações, em têrmos de autonomia

conjunta.

A fórmula escolhida, sob outro ângulo, quebrava, dentro do

critério administrativo, a hierarquia. Pois, o Tribunal Federal de Recursos,

decidindo em grau de recurso os julgados de juízes inferiores, dos quadros

das justiças estaduais, em primeira instância, não deixava de ser um

tribunal alheio aos sistemas judiciários estaduais e diretamente sem ação,

lato sensu, administrativa sôbre êles.

A forma admitida pela Constituição de 1946, atribuindo aos

juízes estaduais competência para o processamento e julgamento de

causas federais, criava uma situação híbrida: exercício de jurisdição

federal por juízes investidos em funções da magistratura estadual.

Exerciam jurisdição federal, embora ungidos e subordinados à Justiça

Estadual.

Em muitos Estados, as organizações judiciárias não têm varas

privativas para os feitos federais. Existem Varas da Fazenda Pública, com

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Justiça Federal: primeira instância

competência, por distribuição, para atender as Fazendas Municipal,

Estadual e Federal.

Enfim, era uma situação estridente à razão e ao sistema de

organização judiciária tradicionalmente aceito na dualidade da justiça.

Essa configuração, face às atribuições compulsórias (art. 201 e §§ 1° e

2°), deferidas aos juízes estaduais, embora próprias a uma primeira

instância da justiça federal, se constituía em anomalia e exceção à própria

sistemática constitucional, agasalhada na Carta de 1946.

Nesse sentido, com a pujança que lhe é peculiar, leciona Rui

BARBOSA(7):

Na dualidade judiciária da nossa organização constitucional, não pode haver senão duas idéias: a de uma justiça criada pelo Estado, e a de uma justiça ligada à União; a justiça local e a justiça federal. À justiça local incumbe, como competência que lhe é nativa, o domínio das relações civis de caráter comum; à justiça federal pertence privativamente o domínio dos fatos e das relações de natureza política, daquelas que entendem com o regime constitucional, ou que tocam fundamentalmente às instituições constitucionais.

.....................................................................................Criou, é certo, quanto à justiça, para estas relações, um fôro especial; mas quem diz fôro diz justiça, quem dia justiça neste regime, ou diz justiça local, justiça dos Estados, ou federal da União.

Essa situação constitucionalmente adotada, excluindo a

primeira instância da magistratura federal, como uma exceção ao sistema

erigido, dentro das contingências históricas de nossa conturbada vida

político-administrativa, chegou atè à transição política ocorrida com a

chamada "Revolução de 31 de março de 1964".

Com efeito, o Diário Oficial da União, de 27/10/1965, com as

correções anotadas pelo mesmo Diário em 5/11, do mesmo ano, publicou

o Ato Institucional n° 2.

13

(7) — RUI BARBOSA, Comentários à Constituição Federal Brasileira, vol. IV, págs. 61 e 62.

A12

Justiça Federal: primeira instância

O Ato referido, em seu preâmbulo, entre outras considerações,

assinala, discorrendo sôbre a revolução, que:

a) ela se distingue de outros movimentos armados pelo fato de que traduz, não o interêsse e a vontade de um grupo, mas o interêsse e a vontade da Nação; b) edita normas jurídicas sem que nisto seja limitada pela normatividade anterior à sua vitória, pois graças à ação das Fôrças Armadas e ao apoio inequívoco da Nação, representa o povo e em seu nome exerce o Poder Constituinte de que o povo é o único titular.

Dentro dessa ordem de princípios e idéias, defendendo como

legítimo o Poder Constituinte que a ensejou, voltando-se à tradição de

nosso direito constitucional, pelo art. 6° dêsse Ato, foi restabelecida a

Justiça Federal de Primeira Instância, constitucionalmente agasalhada,

pela Carta de 1946, nos precisos têrmos do seu artigo 94; com a nova

redação dada pelo supracitado artigo:

O Poder Judiciário é exercido pelos seguintes órgãos:

I – Supremo Tribunal Federal;

II – Tribunal Federal de Recursos e juízes federais;

§ 3°

Os juízes federais são juízes singulares de primeira instância e

o Tribunal Federal de Recursos a segunda instância. Pelo art. 104, dentro

das alterações impostas pelo Ato, com o número de ministros aumentado

de 9 para 13 (art. 103), continuou íntegra a competência dêsse Tribunal.

O art. 105 ficou com sua redação totalmente alterada, desde que foi

suprimida aquela dada inicialmente pela Carta de 1946:

A lei poderá criar, em diferentes regiões do país, outros Tribunais Federais de Recursos, mediante proposta do próprio Tribunal, e aprovação do Supremo Tribunal Federal, fixando-lhes sede e jurisdição territorial e observados os preceitos dos arts. 103 e 104, que passou à seguinte: art. 105 – Os juízes federais serão nomeados pelo Presidente da

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Justiça Federal: primeira instância

República entre cinco cidadãos indicados na forma da lei pelo Supremo Tribunal Federal.

Com as alterações ditadas pelo mesmo Ato, substituiu-se a

faculdade de criação de outros Tribunais Federais de Recursos, pela

criação, em cada Estado ou Território, de seções judiciárias, com sede na

respectiva Capital. Nesse sentido, foi incluído, no citado art. 105, o § 1°

com esta redação: "Cada Estado ou Território e bem assim o Distrito

Federal constituirão de per si uma seção judicial, que terá por sede a

capital respectiva".

Foi também incluído, pelo aludido art. 6° do Ato n° 2, § 2° do

art. 105, estabelecendo que: "A lei fixará o número de juízes de cada

seção bem como regulará o provimento dos cargos de juízes substitutos,

serventuários e funcionários da Justiça".

As disposições do art. 104 da Constituição de 1946 definiam a

competência do Tribunal Federal de Recursos e o § 3°, a ela incorporado,

pelo Ato n° 2, estabeleceu as limitações constitucionais da competência,

em primeira instância, dos juízes federais, dispondo:

Aos juízes federais compete processar e julgar em primeira instância:

a) as causas em que a União ou entidade autárquica federal fôr interessada como autora, ré, assistente ou opoente, exceto as de falência e acidentes de trabalho;

b) as causas entre Estados estrangeiros e pessoa domiciliada no Brasil;

c) as causas fundadas em tratado ou em contrato da União com Estado estrangeiro ou com organismo internacional;

d) as questões de direito marítimo e de navegação, inclusive a aérea;

e) os crimes políticos e os praticados em detrimento de bens, serviços ou interêsse da União ou de suas entidades autárquicas, ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

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Justiça Federal: primeira instância

f) os crimes que constituem objeto de tratado ou de convenção internacional e os praticados a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;

g) os crimes contra a organização do trabalho e o exercício do direito de greve;

h) os habeas corpus em matéria criminal de sua competência ou quando a coação provier de autoridade federal não subordinada a órgão superior da Justiça da União;

i) os mandados de segurança contra ato de autoridade federal, excetuados os casos do art. 101, I, i, e do art. 104, I, b.

Restaurada, assim, a Justiça Federal de Primeira Instância, na

forma atrás enunciada, ficava estabelecida, também, sua competência.

Por conseqüência, o Tribunal Federal de Recursos, até então, com

competência mais limitada, tinha-a ampliada jurisdicionalmente.

Essa ampliação de competência, com maior destaque, bem

assinalada pelas novas redações dadas aos artigos 103, 104 e 105 da

Constituição de 1946, que se evidenciaram pela Emenda Constitucional n°

16, de 26/11/1965, em seus arts. 6°, 7°, 8° e 9°, fluía para conhecer dos

crimes políticos, dos crimes contra a organização do trabalho e contra o

direito de greve. Também, era renovada a possibilidade de criação de

outros Tribunais Federais de Recurso, em diferentes regiões do país.

§ 4°

Na tentativa da fusão de experiência do passado com a

realidade do presente e das esperanças do futuro, nasceu a Constituição

de 1967, elaborada na vertente de profundas e graves modificações na

vida político-administrativa do país, com a justificativa de que:

A técnica constitucional, nesta segunda metade do século XX, não é e não pode ser a de outros tempos; ela deve

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16

Justiça Federal: primeira instância

traduzir, no texto fundamental, a experiência do passado, a realidade do presente e as aspirações do futuro.(8)

O projeto oficial da Constituição de 1967 sofreu, em verdade,

na sua estrutura global, assinaladas modificações. No capítulo do Poder

Judiciário, quanto à Justiça Federal, essas alterações introduziram várias

modificações, como, por exemplo, incluindo no § 1° do art. 118

disposições autorizando a criação de novas seções judiciárias: "Lei

complementar poderá criar novas seções".

Quanto à competência proposta no projeto inicial, anotava-se

que o inciso I, do art. 117, não excetuava, daquela competência, causas

hoje afetas à Justiça Eleitoral e à Militar, o que ocorreu no texto aprovado

do inc. I do art. 119.

Outrossim, o texto original – art. 117 – não incluía as

questões de direito marítimo e as matérias constantes dos itens IX e X,

incorporadas pelo art. 119 do estatuto aprovado.

Assinale-se que, entre o período vago da Emenda

Constitucional n° 16, de 26/11/1965, à Constituição promulgada em 24 de

janeiro de 1967, surgiu, como Lei Orgânica da Justiça Federal de Primeira

Instância, a Lei n° 5.010, de 30/5/1966. Esta lei obedeceu aos

mandamentos ordenativos da Emenda n° 16 e, organizando a citada

Primeira Instância, em seu art. 1° estabeleceu que:

A administração da Justiça Federal de primeira instância nos Estados, no Distrito Federal e nos Territórios compete a Juízes Federais e Juízes Federais Substitutos, com a colaboração dos órgãos auxiliares instituídos em lei e pela forma nela estabelecida.

No corpo dessa lei estão definidas as regras normativas de sua

organização. Entrementes, foi alterada pelo Decreto-lei n° 30, de

17

(8) — Justificativa do Ministro da Justiça, Carlos Medeiros Silva, encaminhando o projeto da Constituição, ao Pres. da República.

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Justiça Federal: primeira instância

17/11/1966, pelo Decreto-lei n° 253, de 28/2/1967, e, recentemente,

pela Lei n° 5.345, de 3/11/1967.

Anotadas essas circunstâncias, pode-se concluir dizendo que a

Carta de 1967, consagrando o ressurgimento feito pelo Ato Institucional

n° 2, com as disposições conseqüentes da Emenda Constitucional n° 16,

finalmente deu cânones constitucionais – Seção IV, Capítulo VIII – Do

Poder Judiciário – com as disposições que sustenta, dispondo em seu art.

107:

O Poder Judiciário da União é exercido pelos seguintes órgãos:

I – Supremo Tribunal Federal;

II – Tribunais Federais de Recursos e juízes federais;

III –

IV –

V –

Especificadamente, versando sobre os juízes federais, dispõe a

Constituição de 1967:

Seção IV – Dos Juízes Federais

Art. 118 – Os juízes federais serão nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros maiores de trinta anos, de cultura e idoneidade moral, mediante concurso de títulos e provas, organizado pelo Tribunal Federal de Recursos, conforme a respectiva jurisdição.

§ 1° – Cada Estado ou Território, assim como o Distrito Federal, constituirá uma seção judiciária, que terá por sede a respectiva Capital. Lei complementar poderá criar novas seções.

§ 2° – A lei fixará o número de juízes de cada seção e regulará o provimento dos cargos de juízes substitutos, serventuários e funcionários da Justiça.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 119 – Aos juízes federais compete processar e julgar, em primeira instância:

I – as causas em que a União, entidade autárquica ou emprêsa pública federal fôr interessada na condição de autora, ré, assistente ou opoente, exceto as de falências e as sujeitas à Justiça Eleitoral, à Militar ou à do Trabalho, conforme determinação legal;

II – as causas entre Estado estrangeiro, ou organismo internacional, e pessoa domiciliada ou residente no Brasil;

III – as causas fundadas em tratado ou em contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional;

IV – os crimes políticos e os praticados em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou suas entidades autárquicas ou empresas públicas, ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional e os cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;

VI – os crimes contra a organização do trabalho, ou decorrentes de greve;

VII – os habeas corpus em matéria criminal de competência ou quando o constrangimento provier de autoridade, cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;

VIII – os mandados de segurança contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal ou dos Tribunais Federais de Recursos;

IX – as questões de direito marítimo e de navegação, inclusive a aérea;

X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de cartas rogatórias, após o exequatur, e das sentenças estrangeiras, após a homologação; as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização.

Dessa forma, constitucionalmente está restabelecida, com

jurisdição e competência limitadas, a Justiça Federal de Primeira

Instância. Nasceu, por fundamentação histórica e circunstancial, no Brasil,

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19

Justiça Federal: primeira instância

sob o fluxo de idéias liberais, pregadas desde os primórdios de nossa

independência política, solenizando-se na primeira Constituição

Republicana, como fruto de pregações, cujas raízes antecedentes foram os

publicistas, os panfletários, os polemistas que tornaram públicos os

anseios nacionais de liberdade. Nasceu com a função de interpretar,

consolidar e limitar o regime republicano que se instalava na história da

nossa emancipação política. Controlando os seus atos, fazendo cumprir

suas leis e limitando o seu poder. Para essa competência bem aplicáveis

são êstes conceitos:

Desde que decidis matéria constitucional, estais decidindo sobre os poderes do Govêrno. Sois o juiz dos limites do poder do Govêrno, e, decidindo sôbre os seus limites, o que estais decidindo, em última análise, é sôbre a substância do poder. O poder de limitar envolve, evidentemente, o de reduzir ou de anular. E eis, assim, aberto ou franquiado à vossa competência todo o domínio da política: a política tributária, a política do trabalho, a política econômica, a política da produção e da distribuição, a política social em suma, a mais política das políticas, a Polis na sua totalidade – a sua estrutura, os seus fundamentos, a dinâmica das suas instituições e do seu govêrno....(9)

§ 7°

Com êsse roteiro cronológico e dentro dêsses conceitos,

ressurgiram os juízes federais, vindos de experiência antiga, como

convenientes à nova ordem constitucional surgida. Solenizados

constitucionalmente, como solenizados pela Constituição de 1891 foram

os primeiros juízes federais, sem perderem, e não devendo perder, sua

formação liberal.

Vieram da eclosão de significativo movimento político.

Decorre-lhes, além de outras assinaláveis, a responsabilidade de

interpretar, controlando, reduzindo ou anulando, efeitos dentro da

dinâmica das instituições vigentes, firmando a conceituação filosófica e

20

(9) — Discurso de FRANCISCO CAMPOS, pronunciado perante o STF. Ob. cit. de Cláudio Pacheco, vol. VII, pág. 14.

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Justiça Federal: primeira instância

verdadeira da nova quadra histórica que se instalou no Brasil, como o

sôpro de novas idéias, resultando em impactos notáveis nas normas

jurídicas tradicionalmente aceitas entre nós.

Essa primeira instância está composta, e sempre será

renovada, por magistrados saídos e formados dentro do liberalismo de

nossas Faculdades de Direito, norteados por uma tradição de sensibilidade

jurídica, lastreada em pensamento político-progressista, destinados à

implantação de uma nova filosofia de ação, sem trair o espírito jurídico e

democrático dominante na magistratura brasileira.

A circunstância de ser restaurada, a magistratura federal de

primeira instância, em época de transição política, com influxos e refluxos

recebidos de forças exteriores, com a institucionalização de normas

excepcionais e revolucionárias, não afetam os seus fundamentos

históricos e constitucionais.

Os fatos políticos devem ser recebidos, analisados e

compreendidos com honestidade perante a história.

O seu renascimento saiu de um Poder Constituinte. O "Ato

Institucional" é da tradição brasileira. Essa forma de ordenamento jurídico

existe desde os antigos triunviratos. São soluções que surgem sempre em

momentos de crises, onde as instituições não se solidificaram, não se

alicerçaram. São próprias de civilizações em evolução política. Em

desenvolvimento econômico. O Ato Adicional de 1834, de 12/8/1834,

resultou da abdicação de D. Pedro I. O de 1961 veio da renúncia do

Presidente Jânio Quadros, como o Ato Institucional n° 2 apareceu da

deposição do Presidente João Goulart. São instrumentos que

restabelecem, como soluções prontas, as normas jurídico-constitucionais

ofendidas ou lesadas. São instrumentos adequados para o

restabelecimento da legalidade, de afirmação da soberania do Poder

Constituinte, seja emanado do povo ou de afirmação revolucionária,

nascida e inspirada em suas mais legítimas aspirações. Entroniza, dentro

A12

21

Justiça Federal: primeira instância

dos quadros constitucionais, uma situação de fato, legitimando-a,

evitando que a estrutura constitucional, sem a qual desaparecerá a ordem

jurídica do Estado, seja diluída pelo processo revolucionário instaurado.

A institucionalização da Justiça Federal de Primeira Instância

não se instalou de inspirações precipitadas, resultou, antes, de um natural

e legítimo Poder Constituinte, que a reviveu, trazendo-a atualizada de

uma experiência anterior e historicamente feliz. Sua responsabilidade com

o presente é de justificar-se. Com o passado, de atualizar experiência

feliz, para em ascendente atualização, com o pensamento jurídico

moderno e atuante, fixar-se como verdadeiramente necessária. Com o

futuro, de firmar o lastro necessário na vida jurídica brasileira, como

legítimo e irreversível instrumento de interpretação e aplicação da lei,

favorecendo a compreensão e o alcance das grandes e necessárias

reformas estruturais da sociedade brasileira.

Capítulo II

DA JURISDIÇÃO

§ 1°

Cumpre, outra vez, face à dualidade de justiça existente no

Brasil, destacar que a mesma surgiu da materialização, entre nós, da idéia

da federação. Houve, com o advento da República, uma partilha, entre o

Governo Federal e os governos estaduais, na competência das atribuições

legislativas e administração da justiça.

A respeito, fazendo um retrospecto histórico, vêm com

oportunidade as anotações da lavra de CAMPOS SALLES, como Ministro da

Justiça do Govêrno Provisório, falando na Constituinte de 1891:

Em 1831, isto é, em conseqüência da revolução dessa época, outorgou-se às províncias do Império e estas começaram a organizar a sua justiça de primeira instância; mas esta faculdade vinha acompanhada também da de organizar o respectivo processo.

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22

Justiça Federal: primeira instância

Foi em virtude dêste princípio consagrado no Ato Adicional(10) que as províncias do Império começaram a organizar a sua justiça de primeira instância, estabelecendo a respectiva jurisdição, assim como a divisão territorial. Em muitos pontos tornou-se sensível a tendência de alargar quanto possível o preceito constitucional, tão profundo era o sentimento da independência local.

Na Câmara de 1836 tratava-se, entre outros atos, que já faziam pressentir um movimento reacionário, de decretar a inconstitucionalidade da lei de 16 de agôsto do mesmo ano, votada pela Assembléia Provincial de Pernambuco, lei que tinha estabelecido a sua organização judiciária. Da Comissão respectiva, encarregada de interpor o seu parecer, destacou-se o ilustre Deputado Luís Cavalcanti para dar o seu parecer em separado. O Congresso lucrará em conhecer a elevação de vistas, a firmeza democrática e o brilhantismo com que o ilustre pernambucano antecipava naquela época os fundamentos da política experimental, ensinada em nossos dias por um emérito publicista.

Continua CAMPOS SALLES:

Baqueando o Império, dividiram-se as opiniões na Constituinte Republicana: uns pleiteavam para os Estados a prerrogativa de legislar até sobre o direito substantivo; outros (entre êles os maiores juristas daquela assembléia) preferiam a unidade do direito e da magistratura.

Triunfou o meio-têrmo: coube à União a lei material, e a formal da sua justiça, de competência restrita; aos Estados a sua organização judiciária e o respectivo processo civil, comercial e criminal.

Realizou-se, portanto, a velha aspiração quase vitoriosa com o Ato Adicional de 1834. Caiu a doutrina do fracionamento do direito substantivo, inspirada pela escola histórica, da qual SAVIGNY foi o pontífice. Revigora-se dia a dia a tendência oposta – a da universalização do Direito. A Alemanha, constituída por vários países confederados, promulgou, para todos êles, um Código Comercial e um Penal, em 1870, e um Código Civil, em 1896.

A república federativa da Suíça elaborou, a princípio, o Código Federal das Obrigações; depois foi mais longe. A de 10 de dezembro de 1907 decretou um Código Civil para todos os cantões.

23

(10) — Ato Adicional de 12-8-1834.

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Justiça Federal: primeira instância

Em vários congressos internacionais se há adiantado o trabalho para conseguir uma lei universal sôbre as letras de câmbio e um Código de Direito Internacional Privado, vigorante em um grupo de países. A unidade do Direito constitui um elo da cadeia que prende os povos federados, confederados ou simplesmente amigos.

Por outro lado, é lógico ter cada Estado autônomo os três podêres constitucionais: Executivo, Legislativo e Judiciário. O Governo local conhece melhor as necessidades da região e sabe como distribuir os juízes, como fixar as comarcas e têrmos, os prazos e dilações, atendendo às distâncias, aos meios de comunicação e publicidade, à diferença de cultura entre os povos, e a tantos outros requisitos que variam de uma zona para a outra, de um país colossal como é o Brasil.

Finaliza CAMPOS SALLES:

A dualidade de justiça, pregada no Manifesto Republicano de 1870, existe nas demais repúblicas federativas, como apanágio do regime vigente. Encontra-se nos Estados Unidos da América do Norte, na Suíça, no México, na Colômbia, na Venezuela e na Argentina.(11)

Com a dualidade, cuja conceituação foi aceita e definida pela

Constituição de 1891, depois de vencidas as resistências opostas,

considerados os aspectos históricos referidos por CAMPOS SALLES, os

princípios não foram mais alterados pelas constituições brasileiras.

Portanto daí é, entretanto, real que a competência para a elaboração do

direito substantivo e do direito adjetivo, em têrmos constitucionais

vigentes, é privativo da União. É una a jurisdição federal para sua

legislação.

§ 2°

Vencida a demonstração do caminho mencionado pelo

parágrafo anterior, sob outro ângulo, pode-se dizer que a jurisdição da

Justiça Federal de Primeira Instância, sem fugir às conceituações

tradicionais, nivela, dentro da competência para o processo e julgamento,

todos os habitantes do território jurisdicionado. Esta restaurada, a

24

(11) — CARLOS MAXIMILIANO, ob. cit, págs. 454 a 456.

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Justiça Federal: primeira instância

jurisdição do Tribunal Federal de Recursos reencontrou nela, sem aquela

inexplicável amputação decorrente da Carta de 1937, que a eliminara,

deixando, defeituosamente, uma instância superior sem juízes de

instância a quo, o veículo lógico que lhe faltava para a administração da

justiça federal, com juízes hieràrquicamente subordinados, em todo o

território nacional.

Corrigiu-se uma anomalia, vencendo-se uma experiência,

junto à Justiça Estadual com seus juízes inferiores, que não correspondeu.

A êste respeito, MANUEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, citado por PAULO

SARAZATE(12), sustentou que:

A supressão dos juízes seccionais, em 1937, buscara simplificar a máquina judiciária, eliminando-se o inconveniente da multiplicidade de órgãos judiciários". Criaram-se então, espalhadas pelo país, as chamadas varas da fazenda federal, mas a experiência – consoante afirma, agora com acêrto, o mesmo autor – "não deu bons resultados, ressentindo-se com isto a administração da justiça e os cofres estaduais. Viram-se os Estados forçados a manter juízes e cartórios, em número sempre crescente, para atender a casos de interesse exclusivo da União, como as questões referentes a seus tributos, o que pesava bastante....

Porém, com a restauração da primeira instância, ficou

restabelecido o degrau que faltava à Justiça Federal e idêntica à que têm

todos os regimes federados. Firmou-se e completou-se uma jurisdição

nacional, desde que a Constituição Federal de 1967, art. 107, ao enunciar

os seus órgãos dispõe que: "O Poder Judiciário da União é exercido pelos

seguintes órgãos: II – Tribunais Federais de Recursos e juízes federais;...”

A jurisdição dos juízes federais de primeira instância, cobrindo

todo o território nacional, é exercida em "Cada Estado ou Território, assim

como, o Distrito Federal..." (§ 1°, art. 118, Const. Fed.), que constituem

seções judiciárias, com sede na respectiva capital.

25

(12) — A Constituição do Brasil, pág. 446.

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Justiça Federal: primeira instância

Nesse sentido, com definição ampliada, a Lei n° 5.010, de

30/5/1966, estabelece em seu art. 1°:

A administração da Justiça Federal de primeira instância nos Estados, no Distrito Federal e nos Territórios, compete a Juízes Federais e Juízes Federais Substitutos, com a colaboração de órgãos auxiliares instituídos em lei e pela forma nela estabelecida.

Essa unidade jurisdicional permite, dentro de competência

constitucionalmente estabelecida, o exame e solução das relações

submetidas ao seu julgamento; sendo exercida, em todo o território

nacional, subdividido para os efeitos de administração dessa primeira

instância, com seções, em regiões judiciárias (art. 2°, lei cit.). Essa

unidade é conforme os princípios constitucionais da unidade de jurisdição.

É jurisdição, quanto ao espaço físico, exercida em todo o Brasil.

Enquanto as justiças locais têm jurisdição dentro dos limites

estaduais, a justiça federal de primeira instância tem jurisdição nacional.

Entretanto, os juízes federais têm a sua jurisdição limitada ao território de

sua seção. É jurisdição rei sitae.

Tôdas as seções, com os seus juízes e órgãos auxiliares, estão

integradas em um único sistema, cuja instância superior é o Tribunal

Federal de Recursos.

§ 3°

A unidade de jurisdição referida também se caracteriza,

considerando-se que os seus atos, afastando-se a interferência de outros

podêres, são julgados pelo mesmo Tribunal, que, ainda, dentro de um

controle legal, a administra através do Conselho da Justiça Federal,

formado pelo Presidente e Vice-Presidente e por mais três de seus

Ministros.

Estabelecido o norte dessa jurisdição, resta dizer que ela

emerge em ato concreto, sòmente, quando, dentro de competência fixada

A12

26

Justiça Federal: primeira instância

em lei, aparecerem os motivos catalisadores que venham quebrar sua

inércia. Não é a justiça federal, na forma em que foi organizada e

assentada, um instrumento indevido de intervenção nas soberanias

estaduais. Ela veio trazer apenas a restauração, com a primeira instância,

da unidade que estava quebrada. Pois, embora o sistema sacramente a

dualidade, em verdade, diante da realidade dos juízes estaduais, com

exercício nas Varas da Fazenda Pública, sob o custeio dos cofres

estaduais, estarem decidindo questões sujeitas ao crivo, em matéria de

recurso, de instância superior federal – Tribunal Federal de Recursos –

existia, sem qualquer precedente histórico, entre nós, uma composição

híbrida de justiça: – estadual e federal concomitante.

Fugia-se, assim, do princípio constitucional: uma justiça criada

pelo Estado e de outra ligada à União. Embora versasse sôbre feitos afins

aos interêsses da União e terceiros, os Estados arcavam com o ônus de

manter uma estrutura, para aquêles fins, com recursos de seus próprios

cofres. A restauração, em menção, restabeleceu as coisas nos seus

devidos lugares.

§ 4°

Contudo, em destaque especial, afastando compreensões

erradas e proclamadas, os juízes federais exercem a sua jurisdição sem

intenções, embora com jurisdição no território de sua seção,

representativas de órgão intervencionista.

O seu exercício jurisdicional sòmente toma corpo quando

atividades jurisdicionadas lhe reclamem ação. Essa jurisdição, ainda que

se dinamize só quando solicitada, justifica-se permanentemente, porque,

como atividade pública, suas atribuições têm alcances e fins atuantes.

Nesse tocante, JOSÉ FREDERICO MARQUES(13) ensina que:

27

(13) — Instituições de Direito Processual Civil, vol. I, pág. 263.

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Justiça Federal: primeira instância

O escopo da jurisdição é o de tornar efetiva a ordem jurídica e impor, através dos órgãos estatais do Poder Judiciário, a regra jurídica completa que, por fôrça do direito vigente, deve regular determinada situação jurídica.

A Justiça Federal tem jurisdição e se arrima em mandamentos

legais que lhe regulam, por atividade processual, de forma tácita ou

expressamente, motivada, em campo imparcial, no rigorismo de sua

competência, para ser exercida, com o mesmo espírito e intenção, nos

quadrantes de suas seções ou regiões judiciárias, para resolver os

interêsses em conflito, harmonizando relações jurídicas afetadas por

normas de conduta de seus jurisdicionados.

§ 5°

Resumindo, pode-se dizer que essa jurisdição é o retorno ao

quadro próprio, exercida que era em varas públicas estaduais, de

competência delegada. Restaurou-se, em órgão necessário, dentro do

Poder Judiciário da União. Restabeleceu-se um princípio, restabeleceram-

se os juízes singulares que a sistemática da Constituição consagra. Isso se

compadece, tanto que ela estabelece Tribunais e Juízes Militares,

Tribunais e Juízes Eleitorais, Juízes e Tribunais do Trabalho. Não seria,

portanto, consentâneo que somente o Tribunal Federal de Recursos,

dentro dessa sistemática, ficasse subtraído do exercício jurisdicional de

juízes singulares.

Criados os cargos para os juízes singulares, completaram-se

os órgãos do Poder Judiciário da União, em jurisdição constitucionalmente

prevista. Seu poder de julgar é exercido, sem usurpação, nos atos

jurisdicionais que processem dentro da soberania dessa instância inferior.

Servem-se dessa jurisdição aplicando a lei e recompondo, no

campo dos direitos que lhes cumpre resguardar, a norma legal violada. A

mesma jurisdição não foi restabelecida para impor direitos da União sôbre

as unidades federativas ou municipais. Foi deslocada, em benefício da

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Justiça Federal: primeira instância

razão e do princípio da sua unicidade, com os estritos limites da

competência de seus juízes, como uma espécie de longa manus de uma

instância superior preexistente: Tribunal Federal de Recursos.

§ 6°

As imunidades a essa jurisdição, tanto civil como criminal, são

expressamente conhecidas, fundadas em princípios constitucionais

estabelecidos; bem como, conhecido é o seu alcance às questões sujeitas

ao seu processamento e julgamento, dentro dos limites físicos das

respectivas seções e regiões judiciárias.

A jurisdição, dentro dessas seções, sofre, em sua

continuidade, exceções, para ceder lugar à dos juízes estaduais, nas

comarcas do interior, quando se tratar de processo e julgamento de

"executivos fiscais da União e de suas autarquias, ajuizados contra

devedores domiciliados nas respectivas Comarcas"; "vistorias e

justificações destinadas a fazer prova perante a administração federal,

centralizada ou autárquica, quando o requerente fôr domiciliado na

Comarca"; "os feitos ajuizados contra instituições previdenciárias por

segurados ou beneficiários residentes na Comarca, que se referirem a

benefícios de natureza pecuniária"; "as ações de qualquer natureza,

inclusive os processos acessórios e incidentes a elas relativos, propostas

por sociedades de economia mista, com participação majoritária federal

contra pessoas domiciliadas na Comarca, ou que versem sôbre bens nelas

situados". (Art. 15 da Lei n° 5.010, de 30/5/1966 e Decreto-lei n° 30, de

17/11/1966, com fulcro constitucional assentado no § 3° do art. 119).

Também, essa jurisdição, pode ser estendida, quando em

causas propostas perante outros juízes, a União nelas intervir, como

assistente ou opoente (art. 119, § 2°, da Constituição Federal).

Capítulo III

DA COMPETÊNCIA

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Justiça Federal: primeira instância

ratione personae e ratione materiae

§ 1°

Atualmente é grande a tendência para as atribuições de

natureza policial a um órgão federal. No mesmo sentido, em tutela de

legítimos direitos, segue-se essa tendência no Poder Judiciário da União,

atribuindo-se-lhe, cada vez mais, uma competência maior. Conferindo-lhe

podêres caracterìsticamente privativos e que estavam repartidos com os

Estados membros. É o surgimento, com a introdução de novos conceitos à

soberania do Estado Federal, com um conteúdo que se altera, em relação

à figura tradicional, de uma posição jurídica, que marca com nova face a

autonomia das unidades federativas. Essa tendência é hoje flagrante nos

Estados Unidos da América do Norte, que têm uma organização política e

administrativa semelhante à nossa. Na América do Sul, por êsse

caminhamento, destaca-se a Argentina.

Muitos vêem nisso uma crise do federalismo em todo o

mundo, causada por "absorvente tendência unitarista". Porém, sacudidos

os conceitos tradicionais de soberania, quando as armas modernas,

superando as divisas entre países, vencem distâncias continentais, essa

tendência é o reflexo de urgente reformulação, gradualmente introduzida,

na medida das necessidades da segurança nacional.

Dentro dessa conceituação, sem objeto ficaria a competência

da União em poder legislar sôbre crimes e contravenções, com perigo da

manutenção de suas próprias instituições, senão tiver a sustentação de

ação direta na prevenção e combate a êsses crimes, muitos dos quais,

atentatórios à sua existência.

Perderia o significado prático o seu direito privativo de legislar

sôbre o direito processual, agrário, marítimo, do trabalho (art. 8°, XVII,

letra "b", da Const. Fed.), se obstada fôsse sua ação concreta e objetiva.

Nada significaria legislar sôbre a defesa e proteção da saúde, estabelecer

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Justiça Federal: primeira instância

normas gerais de direito financeiro, senão tiver a competência de

administrá-las, exigi-las, sem que ordinàriamente pudesse dispor de uma

organização judiciária ìntimamente afim, dentro de uma mecânica global e

competente para examinar as questões que interessam, de perto, à

segurança de suas instituições e garantia do seu povo.

Dessa forma, os juízes federais, integrantes de um corpo

judiciário de instância inferior, são instrumentos para o exercício dessa

competência judicial, com distribuição de atribuições, determinada pela

Constituição e regulada por leis de organização judiciária.

§ 2°

Portanto, no Govêrno Federal, importante é essa competência.

Faz parte integrante de um de seus podêres, agindo na respectiva esfera

de atribuições, como ramo do poder público, de órgão atuante da

soberania nacional.

Agindo, dentro de um direito substantivo e adjetivo que é uno,

no Brasil, por conclusão, com um só sistema de processo, com

organização judiciária definida, sem alterar a unicidade do Poder Judiciário

à que pertence, com hierarquia estabelecida, exerce a competência

constitucionalmente fixada. Verificada esta, cabe aos juízes administrar a

justiça, consoante suas limitações, desde a instrução da ação até o

julgamento e execução da sentença.

Todavia, como instância inicial, os juízes federais não julgam

recursos. Sua competência está delimitada pelas disposições do art. 119

da Constituição.

Ao estabelecer essa competência, o legislador constituinte,

orientado pelos princípios do direito público, sem desatender às modernas

tendências dos conceitos de soberania e federalismo, confiou aos juízes

federais de primeira instância o processamento, julgamento e execução de

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Justiça Federal: primeira instância

ações judiciárias. Nos casos não abrangidos, como competentes, pelas

disposições constitucionais, competentes são as justiças estaduais.

§ 3°

A constituição estabelece competência ratione materiae –

nullus major defectus quam defectus potestatis – e competência ratione

personae.

Partindo, para fins de rápidas análises, e tendo como caminho

a enumeração expressada na Constituição, art. 119, de início, far-se-á a

transcrição do inc. I:

– as causas em que a União, entidade autárquica ou emprêsa pública federal for interessada na condição de autora, ré, assistente ou opoente, exceto as de falência e as sujeitas à Justiça Eleitoral, à Militar ou à do Trabalho, conforme determinação legal.

Trata-se de competência ratione personae. Para a fixação

dessa competência, embora verse sôbre a competência do Tribunal

Federal de Recursos, considerando que os juízes federais formam sua

instância inferior, oportuna é a lição do festejado JOSÉ FREDERICO

MARQUES(14), ensinando que: “A regra constitucional qualifica os crimes

da competência do Tribunal Federal de Recursos, não em função do

interesse penalmente tutelado e sim do titular desse interesse”.

Êsse interêsse tem que ser manifestado, não basta ser a União

interessada e bem assim a entidade autárquica ou emprêsa pública

federal. É preciso que seja parte como autora, ré, assistente ou opoente;

pois "causa" supõe a existência de ação, com autor e réu, ou, ainda,

assistente e opoente. Sendo parte, em qualquer dessas figuras, a

competência está determinada. Enquanto não surgir essa participação, o

feito pode correr na justiça local. Existindo a intervenção, surge a

competência (§ 2°, art. 119).

32

(14) — Elementos de Direito Processual Penal, vol. I, pág. 250, ed. 1961.

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Justiça Federal: primeira instância

Segundo os preceitos do inciso transcrito, a competência é

qualificada e fixada, em razão dos titulares do direito em causa: União,

entidade autárquica ou emprêsa pública federal. Êsses titulares não

precisam aparecer sòmente como autores ou réus para fixação da

competência, bastando que, de forma inequívoca, apresentem-se como

assistentes ou opoentes. Como assistente, recebendo a causa como

estiver e se como opoente, intervindo para excluir as pretensões do autor

ou do réu, ou do assistente.

A expressão "as causas", com um sentido lato, abrange tôdas

as espécies de questões que possam ser levadas a Juízo, uma vez que

versem sôbre interêsses da União, entidade autárquica ou emprêsa

pública federal. Não há aqui partilha de competência.

Êsse interêsse deve indicar a via processual, tanto nas causas

cíveis, como criminais, dependendo da posição em que se coloque no

direito judiciário.

No cível, manifestando-se um interêsse concreto e definido.

Nas causas criminais quando os crimes sejam praticados em detrimento

de bens, serviços ou interêsses da União, ou de entidades federais.

As entidades autárquicas ou emprêsas públicas são alcançadas

por essa competência, em razão dos seus fins, que são os mesmos do

Estado. Agem indiretamente em nome da União, ficando

administrativamente sob a sua tutela e contrôle, como sob controle e

tutela fica a sua organização, administração e fiscalização, na execução de

serviço público. Daí, a submissão à competência da Justiça Federal nas

causas onde os seus "bens, serviços e interêsses" reclamem a atenção

judicial.

Excetuam-se, porém, da competência dos juízes federais,

segundo as mesmas disposições transcritas, as causas referentes a

falência, as sujeitas à Justiça Eleitoral, à Militar ou à do Trabalho. Pois, a

A12

33

Justiça Federal: primeira instância

própria Constituição, com competências privativas, estatui sôbre os

"Tribunais e Juízes Militares", "Tribunais e Juízes Eleitorais", "Juízes e

Tribunais do Trabalho" (seções V, VI, VII, Cap. VIII).

Com razão surgem as exceções, pois, enquanto os juízes

federais formam uma instância inferior, agindo dentro de um direito

substantivo e adjetivo, resulta num só sistema de processo comum, com

as suas instâncias superiores e as Justiças dos Estados. Contudo, a Justiça

Militar tem uma organização judiciária e fins peculiares. É própria às

fôrças armadas, é indicada às suas finalidades e especìficamente dirigida

por uma legislação especial.

Também, a Justiça Eleitoral, fundamenta-se em legislação e

fins especiais, com direção diversa do sistema processual e da aplicação

de leis comuns. O seu direito nasce da Constituição ou de leis ordinárias

especiais. Portanto, também seria temerário que repartisse essa

competência, com os juízes federais de primeira instância, formados para

outros fins. No mesmo tirante se conceitua a Justiça do Trabalho. Seu

campo de ação se restringe às relações empregatícias, procurando dirimir

controvérsias entre empregadores e empregados, com fundamentação

sociológica diferente às demais relações jurídicas.

Justifica-se, dessa forma, a propriedade da exclusão da

competência dos juízes federais, mesmo que apareçam a União, entidades

autárquicas ou emprêsas públicas federais, como partes interessadas em

matérias pertinentes àquelas justiças. Por outro lado, as exclusões ditadas

pelo item I, em exame, servem, evitando uma superposição de juízes

competentes, para afastar dúvidas e conseqüentes conflitos de jurisdição.

Os quais se ocorrentes, viriam, com retardamento, em prejuízo das

partes. É uma restrição aos juízes federais, na esfera jurisdicional de suas

atribuições, afastando-se uma saturação que implicaria em prejuízo à

conveniência e organicidade judiciária.

A12

34

Justiça Federal: primeira instância

Nessa mesma ordem de idéias, também se justifica a exclusão

da falência. Esta exclusão é da tradição republicana. Os juízes das Varas

da Fazenda Pública nunca processaram a falência, mesmo tivesse a União

manifesto interêsse. Nem assim, se estabelecia fôro privativo.

A falência tem processo especial e rege-se por disposições

especiais, fazendo ceder, em benefício das justiças dos Estados, tôdas as

regras comuns de competência. Esta conclusão vem da exclusão expressa

feita, à competência dos juízes federais, pela Constituição. Restando a

conclusão que, efetivamente, competentes são os juízes estaduais; cuja

competência se determina pelo fôro onde o falido tem a sede principal de

seus negócios (art. 7°, Decreto-lei n° 7.661, de 21/6/1945).

§ 4°

Inciso II – as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional, e pessoa domiciliada ou residente no Brasil;

Êste inciso, em relação ao mesmo inciso do art. 10 – Lei n°

5.010 – incluiu "organismo internacional" e colocou, corrigindo, no

singular Estado estrangeiro. Circunscreveu que a causa deve ser entre o

Estado estrangeiro e pessoa residente ou domiciliada no Brasil; bem

como, causas entre esta e organismo internacional. A correção da

expressão "Estados estrangeiros", que era destoante, levava, na verdade,

mesmo por gôsto ao debate, à conclusão de competência para julgar

causa entre "Estados estrangeiros".

O dispositivo refere-se à pessoa, deixando entender que esta

pode ser física ou jurídica, com a condição sine qua non de ser residente

ou domiciliada no Brasil. É um dispositivo liberal que autoriza o

estrangeiro litigar aqui, fixando uma competência ratione personae.

Êsse aforamento especial decorre do interêsse internacional.

Como as relações, entre os países soberanos, são feitas de país para país,

de govêrno para govêrno, também as relações jurídicas, quando colocadas

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35

Justiça Federal: primeira instância

nesse nível, são verificadas pelo Poder Judiciário da União. É da

competência da União "manter relações com Estados estrangeiros e com

eles celebrar tratados e convenções..." (inc. I, art. 8°, da Const. Fed.).

Daí que, em se tratando de relações jurídicas que dependem, para o seu

seguimento, das relações entre Estados, ou por decorrerem de tratados e

convenções, competir o seu processamento e julgamento, numa

conseqüência lógica, à magistratura que faz parte do Poder Judiciário da

União, que faz parte integrante de um dos Podêres do Govêrno Federal.

A competência dos juízes federais, para cada caso específico,

se fundará pela situação da residência ou domicílio da pessoa no Brasil.

Competente será o juiz da seção judiciária onde a mesma estiver

residindo ou domiciliada; cuja pessoa, para os efeitos de aplicação das

leis, está equiparada ao nacional.

Pode-se dizer, a título de melhor convencimento e ilustração,

que essa competência também tem raízes nas relações jurídicas e

políticas do Brasil com outras nações.

Como os organismos internacionais tratam diretamente com

os governos dos países, por conseqüência, em razão dos argumentos

anteriores, as relações jurídicas entre êles e pessoas aqui residentes ou

domiciliadas serão tratadas pela Justiça Federal.

A respeito salienta, citando autor estrangeiro, CARLOS

MAXIMILIANO(14a):

Como todo país é responsável pela conduta dos seus cidadãos para com os outros povos, as questões referentes à justiça devida aos Estados estrangeiros devem ser liquidadas pela autoridade nacional", acrescentando: "De fato, um Estado estrangeiro pode submeter-se tacitamente à jurisdição da magistratura brasileira propondo perante ela ação ou reconvenção, adquirindo imóveis ou explorando no país indústria ou comércio, enfim, aceitando herança ou legado de pessoa domiciliada em nosso território. Em todos

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(14a) — Ob. cit., pág. 654.

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Justiça Federal: primeira instância

os casos, o fôro competente para o processo e julgamento é o federal.

§ 5°

Inciso III – as causas fundadas em tratado ou em contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional;

Estas disposições fixam a competência ratione materiae.

No inciso II, atrás mencionado, as causas resultam "entre

Estado estrangeiro ou organismo internacional, e pessoa domiciliada ou

residente no Brasil". Neste inciso, acima transcrito, as causas, têm, como

fundamento, as disposições estabelecidas "em tratado ou em contrato da

União com Estado estrangeiro ou organismo internacional". São partes,

pois, o Estado estrangeiro ou organismo internacional e pessoa residente

e domiciliada no Brasil, quando a fundamentação vier das disposições do

inciso II. No caso do inciso, ora em exame, são partes as pessoas que se

fundamentem em causas versando sôbre tratado ou contrato estabelecido

pela União com Estado estrangeiro ou organismo internacional.

Por ser a União parte litigante, processam o feito ante a justiça nacional. Também a esta deve competir dirimir os pleitos que se fundam em convenções ou tratados entre o Brasil e outros países. A denegação de justiça ou uma sentença clamorosamente iníqua perturbam as relações internacionais a cargo do govêrno federal. Também é êle o responsável pelo que tratou. Lògicamente, a magistratura nacional impede resolver os litígios que interessam à tranqüilidade e à honra do Brasil. Os tribunais verificam se o tratado existe legalmente e pode ser invocado para regular as relações jurídicas em causa.(15)

Logo, concluindo, quando o litígio se dá entre um Estado

estrangeiro ou organismo internacional, sejam as pessoas aqui residentes,

nacionais ou estrangeiras, a competência será da justiça federal; bem

assim, quando as causas entre Estado estrangeiro, organismo

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(15) — CARLOS MAXIMILIANO, ob. cit., pág. 654.

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Justiça Federal: primeira instância

internacional e a União, sejam fundadas em tratado ou em contrato entre

esta e o Estado estrangeiro ou organismo internacional.

§ 6°

Inciso IV – os crimes políticos e os praticados em detrimento de bens, serviços ou interêsse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Trata-se de competência ratione materiae.

Desde logo, refira-se que o inciso I, embora se refira ao

interêsse da União, autarquias e emprêsas públicas federais, versal

generalizadamente, com exclusão de crimes, sôbre causas.

Diferentemente, o inciso IV, agora em exame, com disposições restritivas,

trata sôbre crimes. Quer dizer que os interêsses da União, autarquias ou

emprêsas públicas federais são protegidos, em jurisdição especial, na

generalidade das causas ou contra crimes praticados em detrimento dos

seus interêsses.

Não obstante, ainda cabe esclarecer que o inciso acima tem

redação diferente daquela redação estabelecida na Lei n° 5.010, que na

Constituição foi alterado pela redação do seu inciso V, art. 119.

Outrossim, em relação às disposições contidas no inciso em

debate, aproveito-me das considerações expendidas atrás – § 1° –, dêste

Capítulo, para continuar sôbre a conceituação de "crimes políticos"

expressamente incluídos no inciso em referência.

A conceituação de crimes políticos, com um caráter polemista

e apaixonado, sempre apareceu como matéria controvertida. Vale, pela

autoridade do comentador, versando sôbre essa conceituação,

transcrever-se o seguinte:

Assim o definem LOMBROSO e LASCHI: "Todo atentado violento contra o misoneísmo político, religioso, social etc, da maioria, contra o sistema de govêrno que resulta dêsse

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Justiça Federal: primeira instância

misoneísmo, e as pessoas que são do mesmo os representantes oficiais"; ou – "tôda lesão violenta do direito constituído pela maioria para manutenção e respeito da organização política, social ou econômica por ela querida. Esta definição (acrescentam), baseada no conceito objetivo do direito lesado, resolve muitas questões sugeridas no campo jurídico por MORIN, como ORTOLAN, GRIPPO e MECACCI, os quais pretendem considerar político o crime que tenha fim político; a pesquisa do escopo serve para conhecer a objetividade do direito lesado, porém não pode bastar para constituir o crime.

Comentando êste conceito, observa um jurista brasileiro: "Pode haver crimes comuns, cujo autor vise a um escopo político, v. g., o homicídio sectário, anarquístico, como o assassinato de Sadi Canot". Acrescenta: "É perigoso apelar para os princípios de liberdade, quando a política é uma bandeira que cobre muita carga suspeita e impede punir com rigor e com formas comuns muitos crimes abjetos. Por outro lado, muitos dêsses crimes comuns, com roupagens políticas, são cometidos por verdadeiros criminosos natos, os mais perigosos à segurança nacional e que se tornam muito mais neste caso, porque os seus feitos despertam menos repugnância, tanto que encontram apoio nos seus companheiros no mal e a indulgência dos honestos, impelidos muita vez por fanatismo partidário a ver um mártir em todo indiciado político. A paixão política que armou o braço do culpado, servirá para medir a sua punibilidade, em confronto com crimes movidos por paixão mais ignóbil, mas nunca para elevar aquêle crime contra o Estado.(16)

Tem acontecido que uma questão puramente política passe a

assumir a configuração de "crime político", engendrando, por isso,

dificuldade na conceituação para uma definição concreta, correta e exata.

A lei brasileira, definidora, por excelência, dos chamados crimes políticos,

é a Lei de Segurança Nacional – Decreto-lei n° 314, de 13 de março de

1967 – art. 5° e seguintes.

O Ato Institucional n° 2, alterando o art. 105, da Constituição

Federal de 1946, estatuiu no seu § 3°, letra "e", que, respeitada a

competência da Justiça Militar e da Eleitoral, competia, em primeira

instância, aos juízes federais que criou, processar e julgar os crimes

políticos, cujas decisões prolatadas, em caso de recurso, estavam sujeitas

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(16) — CARLOS MAXIMILIANO, ob. cit., págs. 656/7.

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Justiça Federal: primeira instância

a reexame, face a permanência íntegra do art. 101, II, "c", da mesma

Carta, pelo Supremo Tribunal Federal.

A Lei n° 5.010, citada, art. 10, V, também estabeleceu, diante

da introdução daquela alteração constitucional, essa competência aos

juízes federais.

A Constituição vigente, na forma da transcrição feita atrás, em

seu art. 19, n° IV, seguindo as disposições referidas, com recurso ao

Tribunal Federal de Recursos (art. 117, II, da Const. Federal), também

fixou essa competência. A Constituição foi promulgada em 24/1/1967.

Entretanto, aos treze dias do mês de março, dêste ano, dois dias antes da

mesma Constituição entrar em vigor, foi baixado o referido Decreto-lei n°

314, dispondo, quanto à competência para o processamento e

julgamento, dos crimes políticos que êle define, no seu art. 44:

Ficam sujeitos ao foro militar tanto os militares como os civis, na forma do art. 122, §§ 1° e 2°, da Constituição promulgada em 24 de janeiro de 1967, quanto ao processo e julgamento dos crimes definidos neste Decreto-lei, assim como os perpetrados contra as instituições militares.

Por isso, evidencia-se um conflito de jurisdição. A

Constituição, como regra atribuindo competência aos juízes federais para

julgar os crimes políticos e um decreto-lei estabelecendo, como exceção,

com fulcro nas disposições do § 1°, do art. 122, da mesma Constituição,

competência, para seu processamento e julgamento, ao foro militar. Dir-

se-ia, face, também, à sustentação constitucional, referida pelo Decreto-

lei, quanto ao § 1° do art. 122, que houve uma transferência

constitucional de competência, afastando-se a figura do conflito

jurisdicional.

Diante do exposto, afere-se que os crimes políticos até agora

definidos – Decreto-lei n° 314 – são da competência do fôro militar,

cabendo à lei ordinária, face ao mandamento constitucional expresso do

inc. IV, artigo 119, decidir quais os crimes políticos que serão da

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Justiça Federal: primeira instância

competência dos juízes federais, atendendo a ressalva do § 2°, art. 122,

que estabelece competência originária. Presentemente, inexistindo

exclusão à competência do fôro militar, para o processamento e

julgamento dos crimes políticos, não resta nenhum, por inexistirem

definições, que tipifiquem outros, que não aquêles, para a competência

dos juízes federais.

§ 7°

Inciso V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional e os cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;

A competência aqui estabelecida é ratione materiae. A redação

dêste inciso alterou aquela do inciso VI, da Lei n° 5.010.

Especificadamente, ao contrário dos incisos II e III, que

trataram de causas gerais, estas disposições, referem-se a "crimes"

previstos em tratados ou convenções e àqueles cometidos a bordo de

navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar.

Os juízes federais intervêm em tôdas as ações resultantes de

crimes previstos em tratado ou convenção internacional e os cometidos a

bordo de navios ou aeronaves.

A competência dos juízes federais, para o julgamento dos

crimes referidos, é daquelas que abrangem os chamados delitos

internacionais – art. 5°, II, letra "a", do Cód. Penal. Nas espécies

alcançadas por essa competência, ressoa a necessidade, desde que se

trata de acôrdo firmado em tratado ou convenção internacional, de nação

para nação, cumprindo ao Brasil, por uma justiça afim ao Poder Judiciário

da União, de serem reprimidos os delitos de características internacionais,

como o tráfico de mulheres, comércio clandestino e facilitação de uso de

entorpecentes, genocídio, e outros. A respeito, esclarecedor é o parecer

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41

Justiça Federal: primeira instância

do Dr. HAROLDO VALLADÃO, exarado no conflito de jurisdição, n°

4.067/67, sustentando que:

São crimes que o Brasil se obrigou a punir, expressamente, em tratado ou convenção que ratificou. Estão na sua repressão empenhadas a assinatura e a responsabilidade internacional do Brasil ou seja da União. Portanto, à Justiça Federal, que é a Justiça da União, e só a ela, e não à dos Estados, cabe processar e julgar tais crimes.

Prossegue:

O fato de tais normas terem sido incorporadas ao nosso direito interno não modifica a sua relevância internacional, nem a responsabilidade da União pela sua observância. São questões que "afetam as relações jurídicas e podem afetar as relações políticas da República com os Estados estrangeiros" (apud CARLOS MAXIMILIANO – Constituição, 3ª ed., pág. 612).

O Excelso Pretório, em julgamento recente dêsse conflito de

jurisdição, assentando diretriz normativa à essa competência, decidiu que

a mesma limita-se aos casos de ultra ou extraterritorialidade, afirmando

que os casos que não tenham o caráter de internacionalidade devem ser

julgados pela justiça local.(17)

A competência, dentro da fundamentação anotada, para

processar e julgar os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves,

também decorre de matéria internacional, na qual o Brasil se obrigou a

aplicar normas de direito internacional ou costumeiras ou em razão de

tratados ou convenções que assinou. São princípios da chamada justiça

penal universal ou da cooperação internacional na repressão da

delinqüência.

É fixado o princípio fundamental da territorialidade da lei penal, ressalvadas apenas as exceções constantes de convenções, tratados e regras de direito internacional. Absteve-se o projeto de definir até onde vai a renúncia da competência jurisdicional, decorrente das imunidades diplomáticas, bem como a extensão do chamado território

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(17) — Diário da Justiça da União, de 29-9-67, fl. 3.088, 3.a coluna.

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Justiça Federal: primeira instância

fictício, pois tal matéria escapa ao alcance de um código penal, dependendo de acôrdos entre o Brasil e outras nações, ou devendo ser deixada sua solução às normas do direito internacional. Com razão, dizia ANGEL ROJAS, quando da elaboração do atual Código Penal Argentino: "Pensamos que lo que está regido por el derecho de gentes uno debe ser objeto de las leyes internas de un país. Si lo que éstas disponen, se encuentra ya arreglado por aquél, esas leyes son superfluas; si contraria el derecho de gentes, no son aceptables; si omiten casos previstos por la ley de las Naciones, la omisión no importa subtraer esos casos al imperio de dicha ley". O art. 5° cuida da excepcional extraterritorialidade da lei penal. Há certos crimes que afetam tão diretamente o interêsse do Estado, que, embora cometidos no estrangeiro, é como se fôssem praticados no próprio território nacional. Os autores de tais crimes são punidos segundo a lei brasileira, ainda que já tenham sido absolvidos ou condenados no estrangeiro (art. 5°, § 1°). No art. 5°, n° II, e §§ 2° e 3°, são consagradas regras que se inspiram no princípio da universalidade do direito penal ou da cooperação internacional na repressão da delinqüência, ainda que se não trate daqueles crimes tradicionalmente chamados "de direito das gentes.(18)

§ 8°

Inciso VI – os crimes contra a organização do trabalho, ou decorrentes de greve;

A competência aqui estabelecida é ratione materiae. A

presente redação alterou aquela referida pelo inc. VIII, art. 10, da citada

Lei n° 5.010.

Antes da restauração da Justiça Federal de Primeira Instância,

os Egrégios Tribunais Regionais do Trabalho, calcados em disposições

contidas no art. 2°, da Lei n° 1.890, de 13 de junho de 1953, por decisões

iterativas, seguiam a orientação de que as reclamações propostas por

mensalistas e diaristas da União, de entidades autárquicas ou emprêsas

públicas federais, deveriam correr na justiça comum – Varas da Fazenda

Pública Nacional.

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(18) — Apud Exposição de Motivos do Cód. Penal Brás.

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Justiça Federal: primeira instância

Essas decisões, originárias de exceções de incompetência

levantadas e com fundamentos nos artigos 119 e 120 da Lei Orgânica da

Previdência Social (Lei n° 3.807, de 26/7/1960), acolhiam a tese e, com

fundamento básico no art. 201 da Constituição Federal de 1946,

firmavam, como competente, a Vara Privativa da Fazenda Nacional.

Todavia, o Supremo Tribunal Federal fulminou o art. 2°, da

citada Lei n° 1.890, como inconstitucional, cujas disposições, assim,

julgadas, foram suspensas pela Resolução n° 81/1965 do Senado Federal.

Contudo, com o advento da Nova Carta a situação alterou-se.

Define ela, com precisão, a competência dos juízes federais em matéria

própria ao "direito do trabalho", tão-sòmente nos casos, como estatui o

inciso em exame, de crimes contra a organização do trabalho, ou

decorrentes de greve. Fora dêsses casos, incompetentes são os juízes

federais para processarem e julgarem os dissídios individuais entre

empregadores e empregados, cuja competência é da Justiça do Trabalho,

nos têrmos do art. 134 da Constituição.

Os crimes contra a organização do trabalho dizem de perto

aos interêsses da União e da Segurança Nacional. São procedimentos que

colocam em risco a ordem jurídica, a paz social, incompatíveis e contrários

aos interêsses da produção nacional. Em sendo colocado em têrmos

nacionais, emerge a presença da Justiça Federal como órgão afim ao

Poder Judiciário da União, a qual é direta-mente prejudicada com o uso de

meios ilícitos e arbitrários à harmonia dos fatôres da produção. A mesma

ordem de idéias justifica sua competência para processar e julgar os

crimes decorrentes de greve, pois esta não é compatível aos superiores

interêsses nacionais, quando por motivações arbitrárias e excedentes aos

limites dêsse direito, provoque, por coação ou outros meios ilegais,

resultados que atentem contra o interêsse público, servindo de elemento

perturbador à ordem econômica.

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Justiça Federal: primeira instância

A greve e o lockout (isto é, a paralisação ou suspensão arbitrária do trabalho pelos operários ou patrões) foram declarados "recursos anti-sociais, nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis com os superiores interêsses da produção nacional". Já não é admissível uma liberdade de trabalho entendida como liberdade de iniciativa de uns sem outro limite que igual liberdade de iniciativa de outros. A proteção jurídica já não é concedida à liberdade do trabalho, pròpriamente, mas à organização do trabalho, inspirada não sòmente na defesa e no ajustamento dos direitos e interêsses individuais em jôgo, mas também, e principalmente, no sentido superior do bem comum de todos. Atentatória, ou não, da liberdade individual, tôda ação perturbadora da ordem jurídica, no que concerne ao trabalho, é ilícita e está sujeita a sanções repressivas, sejam de direito administrativo, sejam, de direito penal. Daí o nôvo critério adotado pelo projeto, isto é, a trasladação dos crimes contra o trabalho, do setor dos crimes contra a liberdade individual para uma classe autônoma, sob a já referida rubrica. Não foram, porém, trazidos para o campo do ilícito penal todos os fatos contrários à organização do trabalho: são incriminados, de regra, sòmente aquêles que se fazem acompanhar da violência ou da fraude. Se falta qualquer dêsses elementos, não passará o fato, salvo poucas exceções, de ilícito administrativo. É o ponto de vista já fixado em recente legislação trabalhista. Assim, incidirão em sanção penal: o cerceamento do trabalho pela fôrça ou intimidação (art. 197, n° I), a coação para o fim de greve ou de lockout (art. 197, n° II), a boicotagem violenta (art. 198), o atentado violento contra a liberdade de associação profissional (art. 199), a greve seguida de violência contra a pessoa ou contra a coisa (art. 200), a invasão e arbitrária posse de estabelecimento de trabalho (art. 202, 1ª parte), a sabotagem (art. 202, in fine), a frustração mediante violência ou fraude, de direitos assegurados por lei trabalhista ou de nacionalização do trabalho (artigos 203 e 204). Os demais crimes contra o trabalho, previstos no projeto, dispensam o elemento violência ou fraude (arts. 201, 205, 206, 207), mas explica-se a exceção: é que êles, ou atentam imediatamente contra o interêsse público, ou imediatamente ocasionam uma grave perturbação de ordem econômica. É de notar-se que a suspensão ou abandono coletivo de obra pública ou serviço de interêsse coletivo somente constituirá o crime previsto no art. 201 quando praticado por "motivos pertinentes às condições do trabalho", pois, de outro modo, o fato importará o crime

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Justiça Federal: primeira instância

definido no art. 18 da Lei de Segurança(19), que continua em pleno vigor.(20)

Convém dizer, todavia, que essa competência, estabelecida

pelo inciso VI, cede lugar ao fôro militar, quando os crimes contra a

organização do trabalho ou decorrentes do direito de greve, forem

capitulados pela Lei de Segurança Nacional (Decreto-lei n° 314, art. 44).

§ 9°

Inciso VII – os habeas corpus em matéria criminal de sua competência, ou quando o constrangimento provier de autoridade, cujos atos não estejam direta-mente sujeitos a outra jurisdição;

A competência variará ratione materiae, ratione personae,

quando o habeas corpus versar em matéria criminal de sua competência

ou seja requerido em razão de constrangimento vindo de autoridade que

não esteja sujeita a outra jurisdição. Inclusive, é de se revelar que as

disposições acima alteraram a redação inicial do inciso VIII da Lei n°

5.010.

Notícias históricas: "Alguns autores fazem recuar a origem do habeas corpus até ao tempo dos Romanos, pelo menos aos quatro séculos em que êstes ocuparam a Bretânia, e afirmam que se reavivou depois a garantia da liberdade com a restauração da igreja cristã (sétimo século) e a entrega de funções judiciais aos bispos e sacerdotes instruídos. Não lhe atribui, a maioria, tão remota antiguidade, pôsto que o faça decorrer da Common Law. Há referências a êle no livro anual de Eduardo III, que reinou de 1327 a 1377; aplicaram-no juízes no tempo de Henrique VI, isto é, de 1422 a 1461. A princípio servia contra a violência e coação imposta pelos particulares; contra abusos das autoridades começou a vigorar no reinado de Henrique VII, de 1485 a 1509. Desrespeitada pelos Stuarts, a prerrogativa individual figurou, em 1627, na Petição de Direito (Petition of Right), apresentada a Carlos I. O outro Stuart, Carlos II, aprendera, no exílio e com a morte do pai no cadafalso, quanto é perigoso conculcar as franquias populares. Dêle conseguiram, em 1679, a célebre lei de Habeas Corpus (Act

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(19) — A redação do art. 18 da Lei de Segurança, de 5-1-1953, foi alterada pelos arts. 32 e 34, do Decreto-lei n.° 314, de 13-3-1967. (20) — Apud Exposição de Motivos do Cód. Penal.

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Justiça Federal: primeira instância

of Habeas Corpus), que exigia a apresentação do prêso ao juiz ao qual se impetrava a soltura do paciente, em prazo variável conforme as distâncias até o máximo de vinte dias, e punia com a multa de 500 libras quem ordenasse nova detenção do mesmo indivíduo por motivo idêntico. Estendeu-se o remédio, no reinado de Jorge III, aos encarcerados não suspeitos de crime comum. Chamava-se à conquista popular o paladium da liberdade; e o seu nome originava-se das palavras sacramentais com que o writ começava: Habeas cor pus ad subjiciendum. Houve, entretanto, outras quatro modalidades: ad respondendum, ad satisfaciendum, ad prosequendum (e também testificandum ou deliberandum) e ad faciendutn et rescipiendum. O mais importante é o writ de habeas corpus ad subjiciendum.

Dos países da América apenas não o adotaram o México e o Uruguai, que, entretanto, conservam institutos de efeito semelhante.

Estudando a evolução do grande writ inglês, encontramo-lo primeiro amparando a vítima de coação dos particulares, depois o acusado de crime comum, e afinal o encarcerado pelas autoridades por motivos não delituosos. O Império do Brasil foi mais longe: admitiu o habeas corpus preventivo, para o caso de ameaça de constrangimento ilegal. Sob a República estendeu-se o remédio a diferentes postergações de franquias individuais; passou o writ a amparar a inviolabilidade do domicílio, o direito de petição, o de viajar, reunir-se e associar-se, a liberdade de trabalho, pensamento e crenças, e também a de ir e vir (jus manendi, ambulandi, eundi ultro citroque). Permitiu-se renovar indefinidamente o pedido, feito pelo paciente ou por qualquer outra pessoa, embora não investida de mandato judicial; existe, até o habeas corpus ex officio e o impetrado pelo Ministério Público. Semelhantes desenvolvimentos dilataram a eficácia e sublimaram o valor do instituto, sem o desnaturarem. O objetivo hodierno é um desdobramento lógico e coerente do antigo: continua a ser o writ uma garantia da liberdade individual.(21)

Os juízes federais são competentes para conhecer de habeas

corpus em matéria criminal de sua competência e que está definida, nesse

sentido, nos incisos IV, V, VI, IX e X, do art. 119 da Constituição Federal.

47

(21) — CARLOS MAXIMILJANO, ob. cit., págs. 777 a 779.

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Justiça Federal: primeira instância

Essa competência será exercida dentro de sua jurisdição e

êsse remédio heróico deve-se referir a matéria criminal do seu

conhecimento. Também, será competente para conhecê-lo quando a

coação vier de autoridade, "cujos atos não estejam diretamente sujeitos a

outra jurisdição". Essa garantia é assegurada a nacionais ou estrangeiros,

como sustentação legal máxima da liberdade individual, podendo ser

preventivo ou para fazer cessar prisão ilegal.

Pela Lei n° 221, de 20/11/1894, art. 23, como em razão do

Decreto n° 3.084, de 1898, art. 64, os juízes federais inferiores tinham

competência para conceder habeas corpus ainda que a prisão ou ameaça

partisse de autoridade estadual, além da competência natural quando o

coator fôsse autoridade federal ou decorresse de crime da alçada federal.

A título de ilustração, como exemplo de autoridades sujeitas à

outra jurisdição, na Constituição, podem ser mencionadas aquelas

referidas pelas letras "a", "b" e "h", inciso I, art. 114. À outra jurisdição,

também, podem ser apontadas aquelas referidas pela regra dos artigos

117, "c", 122, inc. VII, e 130, da mesma Carta. Outrossim, escapam à

jurisdição, por ser evidente, as causas da competência da justiça estadual

e os que dela façam parte.

§ 10°

Inciso VIII – os mandados de segurança contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal ou dos Tribunais Federais de Recursos;

A competência versada pelas disposições transcritas dizem

respeito a ratione materiae. As mesmas alteraram aquelas do inciso IX,

art. 10, da Lei 5.010.

As normas contidas no § 21, art. 150, da Constituição Federal,

da qual decorre o inciso em exame, trazem, em confronto com as

disposições do § 24, art. 141 (Carta de 1946), a inclusão da palavra

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48

Justiça Federal: primeira instância

individual. Essa intercalação, desde logo, trouxe a dúvida se o mandamus

seria ou não aplicável a entidades públicas ou emprêsas privadas. Porém,

entendendo que, no caso, individual não significa pessoal, as mais

recentes decisões, sob êsse aspecto, do Supremo Tribunal Federal,

oferecendo interpretação, têm esclarecido que a intercalação mencionada

não veda a concessão de mandado de segurança àquelas entidades.

Ressalvadas as competências originárias (art. 114, “i”; art.

117, “b”; 130, VII, da Const. Fed.), os juízes federais são competentes,

nas suas respectivas jurisdições, para julgarem os mandados de

segurança contra atos de autoridade federal. Há que se incluir, como atos

emanados de autoridades federais, aquêles oriundos, praticados pos seus

representantes legais, de autarquias ou emprêsas públicas federais.

A fixação dessa competência visa vestir os juízes federais de

autoridade, em benefício, junto às autoridades coatoras da respectiva

seção jurisdicional, com a celeridade desejável e afim ao processo, para

processarem e julgarem mandados de segurança, com proteção

fulminante a direito líquido e certo não amparado por habeas corpus, em

processamento sumário, como sumário é o rito do habeas corpus,

protegendo direito incontestável, ameaçado ou violado por atos

praticados, por autoridades, in casu, federais, com ilegalidade ou abuso de

poder.

Visa proibir a administração pública de praticar atos ofensivos

a direito líquido e certo, ou restabelecer situação anterior. É uma garantia

contra os excessos do Poder Público, amparando todo aquêle que, em

defesa do seu interêsse violado ou ameaçado, não resguardado pelo

habeas corpus, procure o judiciário como instituição protetora e contra

atos ilegais.

Os juízes federais, nos limites de sua competência, usando dos

meios adequados, processando e julgando o mandado de segurança,

velarão por manter as autoridades federais, sob a sua jurisdição, fiéis,

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Justiça Federal: primeira instância

para não torná-las inócuas ou arbitrárias, às disposições dos

mandamentos legais que regem os seus atos.

§ 11°

Inciso IX – as questões de direito marítimo e de navegação, inclusive a aérea;

A competência ensejada decorre ratione materiae e as

disposições constantes dêsse inciso estão com a mesma redação do inc.

IV, art. 10, da Lei 5.010; apenas alterada a sua ordem numérica.

O inciso abrange todas as questões de Direito Marítimo e

Direito Aeronáutico. Històricamente, pode-se dizer, quanto ao Direito

Marítimo, que foi inspirado pelo art. 15, letra "g", do Decreto n° 848, cit.;

portanto, norteando-se, também, de forma clara, pelas disposições dos

arts. 457 a 796, do Código Comercial. Por outro lado, atendendo-se às

disposições dos incs. II e III, art. 119, da Constituição, compreende-se

que tôdas as questões marítimas ou aéreas, fundadas em tratado,

contrato ou convenção, firmados entre a União, Estado estrangeiro ou

organismo internacional, são da competência dos juízes federais.

O inciso, ainda, inclui "navegação", porque, anteriormente,

desde a Carta de 1891 até a de 1934, quando o litígio dizia respeito

sòmente à navegação, primeiro se indagava se ela se fazia em lago ou rio

que banhava um só Estado. Neste caso, o competente era o fôro local. Se

banhava mais de um Estado ou se se estendia a territórios estrangeiros, a

competência era federal. Os dissídios interpretativos surgiram porque, o

art. 34, n° 6, do citado Decreto n° 848, referia-se apenas aos "rios e lagos

da exclusiva jurisdição da União".

Porém, o texto em análise é taxativo: — "as questões de

direito marítimo e de navegação, inclusive a aérea". A inclusão da

navegação aérea inovou o conceito das constituições anteriores, em cujas

épocas a aviação era incipiente.

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Justiça Federal: primeira instância

No aspecto da competência, dos juízes federais, finalizando o

seu alcance, pode-se afirmar que eles intervêm em todos os litígios,

embora surgidos em rios e lagos, que sejam resolvidos sob a égide do

Direito Marítimo; bem assim, em todas as questões relativas à navegação

aérea e resolvidas pelo Direito Aeronáutico. É competência constitucional

expressa e sem possibilidade de extensão.

Como referência histórica, sobre o Direito Marítimo, cabem

estas anotações:

Nosso Direito Marítimo vem clamando, desde muito, uma boa normatização, pois não só os dispositivos dos títulos XVI a XXII do livro V do Código de Processo Civil, como aquêles do título IX da parte II do Código Comercial, a que pretenderam dar processo, estão obsoletos. Essas leis promanam diretamente da Grande Ordenação para a Marinha de França, de 1681 (a chamada Ordenação de Luís XIV), e, igualmente, partem de princípios relativos a uma época em que só havia navios veleiros e eram impossíveis as comunicações com êles quando em viagem. Por isso, as suas normas não têm correspondência alguma com o tráfego e comércio marítimo da atualidade, nem com as condições dos portos e navegação contemporâneos. Do mesmo mal padecem as outras leis nacionais que versam sôbre o Direito do mar, entre as quais destaca-se a Consolidação das Leis das Alfândegas, ainda chamada de "Nova", apesar de contar mais de sessenta e cinco anos de existência, e, na parte de naufrágio e salvados, ter apenas, copiado o Decreto n° 2.647, de 1860, quase secular, e o Regulamento para as Capitanias de Portos. Neste encontramos tumultuàriamente versados o socorro marítimo, os achados do mar e a recuperação dos cascos naufragados ou encalhados, que também objetivam outras leis, como o Decreto-lei n° 235, de 2 de fevereiro de 1938, a Lei n° 1.471, de 21 de novembro de 1951 e a Lei n° 8.256, de 30 de novembro de 1945. Além do Regulamento para as Capitanias, regula o socorro marítimo o Aviso n° 2.225, de 7 de outubro de 1948, do Ministério da Marinha. Sôbre assistência e salvamento, no Direito Nacional, temos tão-sòmente as regras velhíssimas do Código Comercial, salvo o Direito Aeronáutico onde essa matéria foi normatizada. No Direito Internacional vigem as Convenções de Bruxelas sobre assistência e salvamento.

.....................................................................................

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Justiça Federal: primeira instância

A interpretação dos textos das nossas leis marítimas tem que se proceder mediante referências aos usos e costumes da navegação. Entendendo-as pela letra, procuraríamos uma perturbação considerável nas relações comerciais. Praticaríamos também um êrro jurídico. Aplicando o texto, violaríamos a intenção do legislador. É impossível separar essa intenção dos fatos para os quais a lei foi instituída. Se os fatos se modificaram, cumprirá ter também como alterada a intenção do legislador.

.....................................................................................

Se as nossas leis são tão antigas e as circunstâncias tão modificadas que os textos não correspondem mais aos fatos e relações que pretendem regular, então é a ocasião de exuberar a jurisprudência, procurando sua inspiração nos princípios magnos que dão forma e substância à verdadeira justiça.(22)

Quanto ao Direito Aeronáutico, são oportunas estas

referências:

Numerosas denominações foram dadas, ou foram propostas ao ramo do direito de que nos ocupamos: direito aéreo, direito dos transportes aéreos, direito da locomoção aérea, direito aleatório, direito aeronáutico, e outras menos expressivas. Os autores franceses preferem a expressão direito aéreo, droit aérien. A expressão direito aéreo (droit aérien), de predileção dos franceses foi adotada por ANDRÉ COÜANIER, em 1909, ao tempo da fundação da Escola Superior Aeronáutica de Paris (COÜANIER, Éléments Créateurs du Droit Aérien, Paris, 1929, pág. 3) Os escritores italianos preferem direito aeronáutico (Diritto Aeronautico), que é também da predileção dos latino-americanos. Os alemães usam Luftrecht (direito do ar. direito aéreo), e Luftfabrtrecht, Luftverkerbgesetz (direito do tráfico aéreo). Os ingleses, Air Law (direito aéreo). Direito aeronáutico é o conjunto de normas ou princípios que regulam a navegação aérea. Antecipa-se, aqui, uma definição delimitadora do objeto da coisa definida.

.....................................................................................

Ou, definição mais sintética, Direito aeronáutico é o conjunto de regras e princípios que regulam a navegação aérea.

.....................................................................................

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(22) - JOÃO VICENTE CAMPOS, DOS Sinistros Marítimos, págs. 7 e 8.

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Justiça Federal: primeira instância

O legislador brasileiro de 1938 outorgou-nos um Códido do Ar. O Constituinte de 1946 conhecia a vantagem de distinguir, ao tratar da competência legislativa da União, o direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral e aeronáutico (art. 5°, XV, "a", da Const. Federal). Há quem negue ao direito aeronáutico a importância que se arroga, a liberdade, autonomia com que se quer mover na tábua do xadrez da ciência jurídica. Conquanto Direito nôvo – e talvez por isso mesmo – tem êle características próprias pelas quais se distingue das demais disciplinas.

.....................................................................................

O domínio do ar; a soberania do Estado sôbre o respectivo ar atmosférico; o direito de cruzar os céus de outros estados; organizações técnicas relativas à partida, pouso, rota, comunicações; nacionalidade das aeronaves, sinais distintivos; subvenção de companhias aeronavais e concorrência econômica, êsses e mais outros foram problemas que de logo despertaram a atenção dos interessados e levaram à realização de conferências internacionais. Êsses fatos deram ao direito aeronáutico certo caráter de universalidade e lastrearam de direito internacional as suas fontes. Não foi casual a colocação das Convenções e Tratados em primeiro lugar, entre as fontes de direito aéreo, no Código Brasileiro do Ar (art. 2°).(23)

A União tem competência privativa para legislar sôbre o direito

marítimo e aéreo (art. 8°, inc. XVII, "b" – Constituição Federal).

Enquanto que o inc. V trata de crimes praticados a bordo de

navios ou aeronaves, verificados através de tratados ou convenções que

possam ser invocados, o inc, cujo exame se conclui, cuida de tôdas as

questões sujeitas ao direito marítimo e aeronáutico.

§ 12°

Inciso X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução das cartas rogatórias, após o exequatur, e das sentenças estrangeiras após a homologação; as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção e à naturalização.

A competência aqui fixada é ratione materiae.

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(23) — JÔNATAS MILHOMENS, Direito Aeronáutico, págs. 5 a 7, 10 e 11.

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Justiça Federal: primeira instância

A entrada e permanência de estrangeiro ao território nacional,

bem como as questões relacionadas com a nacionalidade, sua aquisição e

perda, incluindo, por decorrência, a opção, naturalização, reaquisição, são

reguladas por leis especiais que se corporificam em normas do Direito

Internacional Privado.

A execução de sentenças estrangeiras e a execução de cartas

rogatórias, após o exequatur, constituem atos jurídicos, cujos

processamentos obedecem a ordenamentos do direito internacional. Êsses

acontecimentos jurídicos estão ìntimamente ligados às relações

internacionais do Brasil, e, portanto, natural é que seu processamento se

faça, no caso, pelos juízes inferiores, através do Poder Judiciário da União.

O estrangeiro no Brasil precisa de estar informado por que o direito interno fixa as garantias constitucionais, atende aos conflitos de leis, trata da aquisição, perda e reaquisição da nacionalidade, regulamenta sua entrada, registro e permanência, bem como suas atividades sociais, políticas, econômicas e culturais, estabelece restrições a tais atividades, orienta as operações de câmbio e os pagamentos em moeda estrangeira, aplica a lei penal e trata dos casos de extradição, de expulsão, de homologação de sentença estrangeira e do cumprimento de cartas rogatórias. A par do direito unilateral, há o direito convencional, através de tratados assinados entre o Brasil e outros países e convertidos em lei em vigor entre nós.(24).

As principais normas aplicáveis são encontradas no Código de

Direito Internacional Privado, também conhecido por Código de

Bustamante, normatizado pela Convenção de Havana, promulgada pelo

Decreto n° 18.871, de 13 de agôsto de 1929. Porém, preceitos que

versam sobre esses procedimentos são encontrados na Constituição

Federal (arts. 140, 141, 150). Sendo que é da competência da União

legislar sobre naturalização, entrada, extradição, expulsão de

estrangeiros, emigração e imigração (Constituição Federal, art. 8°, inc.

XVII, letras "o" e "p").

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(24) — Leis e Normas do Direito Int. Privado, Ed. Saraiva, pág. 10, 1956.

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Justiça Federal: primeira instância

Tradicionalmente, até a extinção da Justiça Federal de

Primeira Instância, competia aos juízes federais (Lei n° 221, de

20/11/1894 – art. 12, § 4°), cumprir, após o exequatur do Presidente do

Supremo Tribunal Federal, as cartas rogatórias. Abolida aquela, dado o

exequatur, os juízes da Justiça local davam-lhes cumprimento (Cód. de

Proc. Civil, art. 797).

Restabelecida a Justiça Federal, o cumprimento das cartas

rogatórias, após o exequatur, compete, onde tiverem que ser cumpridas,

aos juízes federais da respectiva seção. Se o cumprimento tiver que se

efetivar no interior da seção, o juiz federal deprecará ao juiz da Justiça

Estadual. Essa prestação jurisdicional, mercê de suas graves

responsabilidades, com repercussão no exterior, dos seus efeitos, merece

o máximo cuidado no seu cumprimento, que é a forma das relações

jurisdicionais com autoridade estrangeira.

O Código de Processo Penal, arts. 780 a 790, disciplina

processualmente o cumprimento das cartas rogatórias e trata da

homologação das sentenças estrangeiras. Há que se realçar, entretanto,

que as suas normas que regulavam, para o seu cumprimento, a

competência dos juízes (§§ 1° e 2° do art. 784 e art. 785; §§ 6° e 7°, art.

789), cederam lugar, por competência constitucional fixada, na devida

instância, aos juízes federais.

Sôbre a homologação de sentença estrangeira, para que

sejam exeqüíveis no Brasil, os arts. 785 a 797, do Cód. de Processo Civil,

regulam a matéria. Quanto às cartas rogatórias, o mesmo Código

estabelece condições processuais em seus arts. 13, 167, 175, 213, 214,

215 e 797.

Anote-se que a sentença estrangeira depende de homologação

pelo Supremo Tribunal Federal, enquanto que as cartas rogatórias são

exeqüíveis pelo juiz competente, hoje os juízes federais (ficando

revogadas as disposições do art. 797 que deferia essa competência ao juiz

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55

Justiça Federal: primeira instância

de direito da comarca onde as diligências deveriam ser cumpridas),

dependentes apenas do exequatur do Presidente do Egrégio Pretório.

Outrossim, patenteia-se que essa competência, dos juízes

federais, não se prende sòmente às cartas rogatórias e ao cumprimento

de sentenças estrangeiras que tenham por objeto questões criminais. O

texto, em objeto neste parágrafo, deixa evidente que a mesma alcança "a

execução das cartas rogatórias, após o exequatur, e das sentenças

estrangeiras, após a homologação;...". Basta, conforme o caso, o

exequatur ou a homologação, via Supremo Tribunal Federal, para que os

juízes federais, tanto em causas cíveis ou criminais, exerçam sua

competência.

§ 13°

A competência deferida pelo art. 119, através de seus incisos,

da Constituição Federal, como ficou demonstrado nos parágrafos

anteriores, é fixada ratione personae e ratione materiae.

Em razão da pessoa enquadram-se aquelas enunciadas, na

Constituição, art. 119, pelos incisos I, II, IV, VII e VIII. Estabelecida, em

razão da matéria, aquelas com fulcro nos incisos III, V, VI, IX e X. O inc.

VII, quando em razão da matéria ou da autoridade coatora, fixará

competência ratione materiae ou ratione personae.

Com o efeito de esclarecimentos complementares, é de se

notar que a competência dos juízes federais, fixada pela Constituição

Federal é aquela, com pequenas alterações na redação (ordem de

colocação e numeração), prevista inicialmente pelo Ato Institucional n° 2,

na Emenda Constitucional n° 16 e na Lei n° 5.010, de 30/5/1966. Num

sentido ampliativo foram alteradas, na Lei n° 5.010, as redações dos

incisos I, II, IV, V, VI, VII, VIII, IX e X.

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Justiça Federal: primeira instância

A ordem das disposições naquela Lei foi alterada, ficando o

inc. IV (Lei n° 5.010), como inciso IX; o inc. V, como IV; o VI, como V; o

VII, como VI; o inc. VIII, como VII; e o IX, como XIII.

Capítulo IV

TRIBUNAL DO JÚRI

O Decreto n° 3.084, de 5 de novembro de 1898 (Consolidação

das Leis da Justiça Federal), como competência do júri federal, estabelecia

no seu art. 83:

a) os crimes políticos e como tais se consideram os definidos no livro 2°, tít. 1° e seus capítulos, e tít. 2°, cap. 1° do Código Penal;

b) a sedição contra funcionário federal ou contra a execução de atos e ordens emanadas de legítima autoridade federal, conforme a definição do art. 118 do Código Penal;

c) a resistência, desacato e desobediência à autoridade federal, segundo as disposições dos capítulos 3 a 5 do tít. 2° do citado livro do Código Penal;

d) os crimes de responsabilidade dos funcionários federais que não tiverem fôro privilegiado (tít. 5 do cit. livro), não compreendido o de peculato;

e) os crimes contra a propriedade nacional compreendidos no cap. 1° do tít. 12 do mesmo livro;

f) a falsificação de atos de autoridades federais, de títulos da vida nacional, de papéis de crédito e de valôres da nação ou de banco autorizado pelo Govêrno Federal, não compreendidos os definidos nos arts. 246, 247 e 250 do Código Penal;

g) interceptação ou subtração de correspondência postal ou telegráfica do Govêrno Federal (cap. 4° do tít. 4° do mesmo livro);

h) os crimes contra o livre exercício dos direitos políticos nas eleições federais ou por ocasião de atos a ela relativos (cap. 1° do tít. 4° do mesmo livro);

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Justiça Federal: primeira instância

i) a falsidade de depoimento ou de outro gênero de prova em Juízo federal (seção 4ª do cap. 2° do tít. 6° do mesmo livro);

j) os crimes definidos no tít. 3°, 1ª parte da Lei n° 35, de 26 de janeiro de 1892.

A Lei 5.010, de 1966, não se referiu, ao dar organicidade à

Justiça Federal de Primeira Instância, ao júri. Porém, modificando-a e

suplementando, também, a omissão citada, o Decreto-lei n° 253, de 28

de fevereiro de 1967, dispôs no seu art. 4°:

Nos crimes de competência da Justiça Federal, que devem ser julgados pelo Tribunal do Júri, observar-se-á o disposto na legislação processual, cabendo a sua presidência ao Juiz a que competir o processamento da respectiva ação penal.

Acrescenta o seu parágrafo único:

Nas Seções Judiciárias, onde houver mais de uma Vara, competentes em matéria criminal, a lista dos jurados será organizada, anualmente, por um dos juízes, mediante rodízio, observada a sua ordem numérica.

Em verdade, observa-se que, de qualquer forma, o decreto

lembrado não especificou ou definiu quais os crimes que estarão sujeitos

ao júri da Justiça Federal.

Contudo, na Constituição Federal vigente, em seu art. 150, §

18, ficou estabelecido que: "São mantidas a instituição e a soberania do

júri, que terá competência no julgamento dos crimes contra a vida".

Assim, por preceito constitucional, como regra de competência, os crimes

dolosos contra a vida são necessariamente julgados pelo Júri. Aliás, como

ilustração, "o Supremo Tribunal Federal, a 26 de abril de 1950 (Diário da

Justiça, de 28 de março de 1952), decidiu que, resultando crime doloso

contra a vida, no caso de dois ou mais crimes, em conexão, prevalece a

competência do júri" (Comts. à Const. de 1946, arts. 141 a 156, pág.

402, PONTES DE MIRANDA ).

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Justiça Federal: primeira instância

Isso assentado, sem dúvidas, conclui-se que o Tribunal do

Júri, da Justiça Federal, julgará os crimes dolosos contra a vida. Mas,

quais? Partindo-se das disposições contidas no art. 119, da Constituição

Federal, de 1967, pode-se responder que serão aquêles nascidos rationae

loci, rationae personae e rationae materiae, decorrentes da mesma

competência constitucionalmente deferida aos juízes federais. Para tanto,

será preciso que os agentes da ação, como sujeitos passivos ou ativos, do

crime doloso contra a vida, tenham agido em razão de exercício regular,

ao qual, quando do ato delituoso, estavam subordinados à execução de

obrigações funcionais ou às ordens ou à ação de autoridade federal.

Como exemplo: – imagine-se um agente fiscal aduaneiro, no

exercício de sua função, procurando reprimir o contrabando. Defronta-se

com o contrabandista e vê-se diante da reação armada dêste. Saca

também de sua arma e pratica o crime de homicídio contra a pessoa do

contrabandista. Fm hipótese inversa, o contrabandista tira a vida do

agente aduaneiro que procurava reprimir o contrabando. No exemplo

imaginado, considerando que a repressão ao contrabando é da

competência da União Federal, competindo o processo respectivo ao Juiz

Federal, entendo que o julgamento do homicídio seria da competência do

Júri da Justiça Federal.

Ainda exemplificando, tenha-se que terceiros tentem tirar um

preso que está à disposição do Juiz Federal. Quando, sob a guarda de

agentes da Polícia Federal, um dêstes, enfrentando os terceiros, para

impedir a fuga ou que o prêso seja violado em sua integridade física,

sacando de sua arma, tira a vida de um dos agressores. Tenho que êsse

homicídio seria julgado pelo Tribunal do Júri da Justiça Federal.

Parece-me, com os exemplos formulados, que demonstradas

ficaram hipóteses viáveis de crimes dolosos contra a vida e sujeitos à

jurisdição do Júri da Justiça Federal.

Capítulo V

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Justiça Federal: primeira instância

DA COMPETÊNCIA RESIDUAL

O parágrafo primeiro, do art. 1°, do Ato Complementar n° 2,

bem como o art. 80, § 1°, da Lei n° 5.010, de 30/5/66, dispõem que não

cessará a competência residual da Justiça Comum, nos "processos cuja

instrução houver sido iniciada em audiência".

Logo iniciada, pelos juízes estaduais, em audiência, tanto no

cível como no processo penal, a instrução, evidencia-se que, nos

respectivos autos permanece, na forma residual e temporária, a

competência para processo e julgamento da Justiça Estadual.

Residual, porque decorrente de atos vinculatórios, com

orientação e lastreadores de convencimentos pessoais, praticados em

audiência de instrução. Temporária, desde que cessará, concluído o

processo e julgamento, onde residualmente o juiz exercia jurisdição

competente.

O entendimento está convalescido pelo S 1°, do art. 80, da Lei

n° 5.010:

essa competência residual temporária não cessará depois da posse do titular federal, nos processos cuja instrução houver sido iniciada em audiência, quer perante as Varas Especiais dos Feitos da Fazenda Nacional, quer perante as Varas da Justiça Comum, em todos os feitos que passaram a competência da Justiça Federal.

Inicialmente, houve quem entendesse que essa competência

residual temporária não chegava aos processos criminais. Entretanto, o

texto transcrito é claro porque se refere, sem estabelecer distinção de

varas criminais, às varas especiais "quer perante as Varas da Justiça

Comum", não aludindo exceções aos processos, sejam cíveis ou criminais,

porque a estabelece em "todos os feitos que passaram para a

competência da Justiça Federal".

A12

60

Justiça Federal: primeira instância

O Decreto-lei n° 253, de 28/2/1967, estatuiu, no seu artigo

1°, item X, a inclusão do § 3°, na seqüência do art. 80, da Lei n° 5.010,

cujo § 3° tem a seguinte redação:

No período compreendido entre a cessação da competência residual dos Juízes Estaduais, salvo nos feitos a que já estejam vinculados, e a efetiva instalação da Justiça Federal, ou de uma de suas Varas, onde houver mais de uma, ficam suspensos os prazos de prescrição e de decadência que dentro nele se vencerem.

Nesse caminho de argumentação, oportuna e elucidativa é a

transcrição da síntese do julgamento n° 1.889, feito pelo Tribunal Federal

de Recursos, em processo oriundo de Goiás, publicado à fl. 1.131 do

Diário da Justiça Federal, de 8 de abril de 1968, cuja ementa é a seguinte:

Ato Complementar n° 2, art. 1°, § 1°. Essa norma de interpretação estrita, consubstancia princípio da permanência objetiva do juiz estadual nos processos de competência da justiça Federal, desde que a instrução dêsses processos haja sido iniciada em audiência e nêles incida o princípio da oralidade, como ocorre nos casos do art. 120 do C.P.C, e do art. 538, § 3°, do C.P.P. Em não havendo audiência de instrução e julgamento e incidência do princípio da oralidade, a competência é do Juiz Federal ainda que o processo tenha sido iniciado por Juiz Estadual.

Dessa transcrição viceja que não se adotou, para essa

competência residual, um conceito restritivo de audiência e que apenas

compreenderia, por exemplo, a de instrução e julgamento referida no

Código de Processo Civil e que, ao contrário daquela aludida no preceito, é

um ato destinado a encerrar o procedimento de primeira instância. A

expressão, tal como é empregada no Ato Complementar n° 2, tem o

sentido largo e abrangente, inclusive do interrogatório, que constitui o

têrmo inicial da instrução do processo penal e pelo qual o Juiz ouve a

parte ou seja o denunciado. Nesse tirante tem sido, também, o

entendimento do Dr. Fernando Andrade de Oliveira, digno Procurador da

República, no Estado do Paraná.

A12

61

Justiça Federal: primeira instância

Essas disposições, uma vez mais, convalescem que os Juízes

Estaduais, quer no cível ou no processo penal, com competência residual

temporária, ficam vinculadas aos feitos onde se tenha iniciada a instrução,

dentro da conceituação do parág. 1° do art 80, da Lei n° 5.010.

Sob outro prisma, é oportuno se realçar que a prescrição e a

decadência, mencionadas pelo § 3°, ficam suspensas enquanto não

ocorrer a efetiva instalação da Justiça Federal em cada uma de suas

respectivas seções judiciárias. Essa instalação, que deverá ser solene,

para assim ser entendida, obedecerá ao disposto no art. 12 do Decreto-lei

n° 253, citado.

Enquanto a mesma não ocorrer, os juízes federais, embora

empossados, conforme determinação do Conselho da Justiça Federal, nos

casos urgentes e necessários, a critério do juiz, precàriamente instalados,

exercem competência nos casos enquadrados dentro da urgência

reclamada.

Por coerência, essa competência residual, também, permite

que os serventuários e auxiliares, das justiças estaduais, sirvam,

igualmente, em todos os seus atos e diligências, naqueles feitos, até a

conclusão dos mesmos, quando cessará a competência residual do

respectivo juiz estadual (§ 2°, art. 80, da Lei n° 5.010, cit.).

Capítulo VI

Seção 1

Dos atos e diligências da Justiça Federal

A jurisdição dos juízes federais é exercida em todo o território

das respectivas seções, as quais abrangem o Estado ou Território nela

compreendido (art. 11, Lei n° 5.010, cit.).

Por sua vez, cada Estado ou Território, bem como o Distrito

Federal, constitui uma Seção Judiciária, tendo por sede a respectiva

A12

62

Justiça Federal: primeira instância

Capital; sendo que o Território de Fernando de Noronha faz parte da

Seção Judiciária do Estado de Pernambuco (art. 3°, Lei cit.).

Os atos e diligências, com muita freqüência, são praticados no

interior das seções. Para a hipótese, tendo em vista a jurisdição territorial,

podem ser praticados, em qualquer comarca do Estado ou Território, para

a qual, sendo necessário, também pode se deslocar o próprio juiz (art. 11

e seu parág. único). Entretanto, por conveniência do serviço, êsses atos e

diligências poderão ser praticados pelos juízes locais ou seus auxiliares,

mediante a exibição de ofício ou mandado em forma regular (art. 42, Lei

cit.).

A carta precatória somente será expedida, quando servir como

instrumento mais econômico e suficientemente expedito, para a realização

do ato ou diligência (§ 1°, art. 42, lei cit.), ou, sempre que possível, via

telegráfica ou postal (§ 2°, art. 42, lei cit.).

Em verdade a prática está ensinando, embora pelo espírito da

lei se constitua em exceção, como também por ser comum, econômica e

efetiva para os fins pretendidos, o uso da carta precatória, como regra

aceita e justificável face às dificuldades para o cumprimento de simples

ofício ou, ainda, o uso da via postal e telegráfica. A expedição da

precatória não significa declinação de competência, porque esta continua

privativa e intacta, pertencendo ao juízo deprecante o conhecimento do

processo.

Tratando-se de permissão legal, a precatória é hábil

instrumento jurídico, daí não residirem dúvidas sôbre a sua legítima

utilização e, ao mesmo tempo, descaber razão aos juízes estaduais – já

houve casos – para deixarem de recebê-las ou cumpri-las, máxime,

atendendo que o Cód. de Processo Civil, sem especificar a classificação

funcional do juiz, dispõe: "A citação far-se-á por precatória, quando o

citado se encontrar fora da jurisdição do juiz. . .". Por seu turno, é

determinação generalizada a regra do art. 353 do Cód. de Proc. Penal.

A12

63

Justiça Federal: primeira instância

Seção 2

Dos serviços auxiliares da Justiça Federal

Os serviços auxiliares da Justiça Federal estão regulados pela

forma que dispõe o cap. IV, seção I, da Lei n° 5.010. O provimento inicial

dos cargos dêsses serviços, por aproveitamentos, ocorreu mediante

iniciativa voluntária dos interessados, através de competente decreto do

Presidente da República, na qualidade de "funcionários estáveis da União,

inclusive das Secretarias dos Tribunais Federais e das Varas da Fazenda

Federal do Distrito Federal, e, ainda, servidores estáveis das Varas da

Fazenda Nacional dos Estados" (§ 2°, art. 74, lei cit.). Êsses servidores,

funcionalmente, regem-se pelas normas dos Estatutos dos Funcionários

Públicos Civis da União (art. 52, lei ref.).

Seção 3

Da Polícia Judiciária Federal

A Polícia Judiciária Federal é exercida pelas autoridades

policiais do Departamento da Polícia Federal, observando-se, para êsse

fim, as normas gerais do Código de Processo Penal, ressalvadas as

disposições de leis especiais.

Surgindo necessidade, nos têrmos do inc. IX, alterado pela Lei

n° 5.345, de 3/11/1967, introduzido no art. 13, da Lei n° 5.010, pelo

Decreto-lei n° 253, de 28/2/67, podem, além dos serviços da Polícia

Federal, por competência deferida, os juízes federais: “requisitar fôrça

federal ou estadual necessária ao cumprimento de suas decisões”.

Outrossim, "enquanto a União não possuir estabelecimentos

penais, a custódia de presos à disposição da Justiça Federal e o

cumprimento de penas por ela impostas far-se-ão nos dos Estados, do

Distrito Federal e dos Territórios" (art. 85, Lei n° 5.010, cit.).

Capítulo VII

A12

64

Justiça Federal: primeira instância

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Seção 1

Síntese cronológica da restauração, quadro atual e

comportamento

Saindo-se do ano de 1609, com a instalação, no Brasil, do

Tribunal da Relação, na Bahia, numa rememoração, sintetizando-se o que

ficou esclarecido a princípio, há que se recordar do Ato Adicional, de 12 de

agôsto de 1834, de forma anêmica, se insinuou, na primeira experiência

entre nós, o estabelecimento da dualidade da justiça, até que pela Lei de

Interpretação de 12 de maio de 1840, com a supressão do art. 10, nos 1 e

7, e dos arts. 2, 3, 4. retornou se ao império da competência central.

A idéia foi novamente sacudida pelo Manifesto Republicano de

1870, dêle resultando, mais tarde, o Projeto da Constituição de São Paulo,

que instituía, nos seus artigos 28 a 36, o Poder Judiciário local, voltando a

se confirmar, dando existência à Justiça Federal, com o Decreto n° 848,

de 11/10/1890, como conseqüência do sistema federativo adotado, para

receber o seu primeiro batismo constitucional na Carta de 1891. Seus

preceitos foram completados pela Lei n° 221, de 20/11/1894,

consolidando-se, em nossas tradições, com o Decreto n° 3.084, de

5/11/1898.

Depois, teve seqüência com a Constituição de 1934, sendo,

sem justificação plausível, extinta pela Carta promulgada em 1937,

seguindo-se a omissão na Constituição de 1946, para, finalmente, ser

restaurada a Justiça Federal de Primeira Instância, constitucionalmente,

pelo Diploma de 1967.

Traçado, dentro do quadro histórico e constitucional brasileiro,

o seu restabelecimento, com oportunidade, cabe referir-se sôbre sua

razão e situação presente.

65

A12

Justiça Federal: primeira instância

Tem-se constituído, nos órgãos dirigentes, como de praxe, nos

ciclos das nossas reformas, com desajeitado apêgo à rotina, um

retraimento natural às modificações administrativas, que todos enxergam,

como urgentes, julgam necessárias, mas não aparecendo ninguém para as

introduzir. Sob essa situação encontrava-se a restauração da Justiça

Federal de Primeira Instância.

Apregoava-se a necessidade do seu ressurgimento, como

complementação lógica, dentro da sistemática judiciária brasileira, do

Tribunal Federal de Recursos.

É verdade que muitos, destacando-se ilustres juristas,

defendiam, ao invés de sua restauração, a federalização de tôda a justiça,

Justiça Nacional. Suprimir-se-ia, no entender de muitos, essa restauração

para transformarem-se tôdas as justiças estaduais em Justiça Federal.

Entretanto, valendo como opção e fuga, e reação à rotina, surgindo a sua

restauração, de fonte inspirada no ideal de dotar-se o Poder Judiciário

com instrumento direto de ação na sua organização judiciária federal.

Constitui-se, para alguns, essa restauração, no

reconhecimento da necessidade de se dotar o poder central, na medida

das necessidades nacionais, diante de confusões diárias, em todo o

mundo, da crise dominante no federalismo, de uma expansão reclamada

pelo Poder Judiciário da União. Para outros, restaurou-se em nome do

Poder Nacional e veio de simples conseqüência do impulso revolucionário,

para servir de veículo interpretativo das normas excepcionais e

revolucionárias, institucionalizadas em período de transição política.

Outra corrente, coletando a média das opiniões, defende que a

experiência da delegação de competência, valendo-se de cooperação

imposta às Justiças Estaduais, não rendeu os frutos desejados,

mostrando, ao contrário, a necessidade de o Poder Judiciário da União

aparelhar-se e agir diretamente, com pessoal próprio, no processamento e

A12

66

Justiça Federal: primeira instância

julgamento de variada gama de ações, onde tem o Govêrno Federal

interêsse atual e permanente.

Contudo, por ser evidente, não basta sòmente o seu

restabelecimento, seja válido êste ou aquêle conceito ou conclusão. É

preciso, pairando sôbre as razões das controvérsias, que seja

convenientemente aparelhada, a fim de que as deficiências crônicas da

justiça sejam superadas, tornando essa primeira instância federal o

reflexo, com sua ação, da nossa cultura jurídica, desenvolvimento social e

econômico, e, com capacidade de trabalho, atuando como instrumento de

equilíbrio, com maturidade, independência e saber, para harmonizar os

interêsses em litígio. Pode mesmo ser um fator preponderante da união

nacional, o que vale dizer, dentro da realidade atual, onde todos os meios

que a nação precisa para a consecução dos seus objetivos, como condição

de sobrevivência nacional, são válidos, ela se converte, como órgão

destinado ao fortalecimento do Poder Judiciário da União, em legítimo

esteio do Poder Nacional.

Afiguram-se, pois, os juízes federais, dessa instância, como

uma porção distinta, de grande importância, no quadro jurídico brasileiro,

sôbre êles recaindo a responsabilidade de justificarem, perante a nação, a

oportunidade do restabelecimento de seu cargo, a restauração e

funcionamento da sua instância. Essa é a situação presente.

Cumpre-se-lhes, pelo trabalho, caráter, capacidade e

independência, convertê-las em verdadeira escola de notável saber

jurídico e retidão, inspirando, em quantos dela precisem, confiança

ilimitada, revelando-se como órgão atuante e eficaz na aplicação da

justiça. Da sua dinâmica dependem o seu futuro, a sua estabilidade e o

respeito que deve infundir. Não poderá ser estática, mas encontrar-se em

constante mudança e evolução, para interpretar, com assinalada

oportunidade, as mutações sociais. Seus membros não podem, por isso

mesmo, ser arcaicos, amarrados ao tradicionalismo bolorento e inócuo.

A12

67

Justiça Federal: primeira instância

Devem ser recrutados entre verdadeiros vocacionados, que cientes de

suas garantias constitucionais, sem serem arbitrários, afastem qualquer

pressão, desinteressados em agradar qualquer partido, grupo ou pessoa.

Os juízes federais, assim aportando, têm a obrigação, como

todos os juízes, de cultivar o equilíbrio, sem paixões, imparciais e com a

formação liberal de nossas escolas de direito, de prolongarem, aplicando a

lei em suas sentenças, a segurança de decisões, destinadas à garantia dos

cidadãos e tranqüilidade da comunidade, do Estado e da Nação. Acredito,

dentro dessa linha, que essa primeira instância será uma escola de

juristas que firmará tradição de influência na vida jurídica nacional.

Daí por que os juízes federais, apesar de restaurados em

período de grave crise política, mas, vindos de experiência antiga e

salutar, fiéis à tradição da magistratura brasileira e à linha de seus

antecessores, não podem, pela omissão, se acomodar à opressão e

iniqüidade. Devem fazer prevalecer, garantindo a harmonia e o respeito à

lei, os fundamentos da paz social, necessária para o fortalecimento do

Poder Nacional. Podem, os juízes federais, dar extensão e expressão à

grandeza da Justiça.

A realização dos direitos do homem constitui um dos problemas de ordem jurídica e empírica mais importante da convivência humana. Cria-se a comunidade estatal, a coletividade politicamente organizada para beneficiar os homens nela associados. Entretanto, por razões múltiplas, que por vêzes até independem da vontade do Estado, sofrem os indivíduos opressões e vêem espezinhados os seus direitos mais sagrados. O próprio Estado, de promotor do bem comum e particular, transforma-se, não raro, em opressor, quando não em injusto agressor.(25)

Seção 2

Perspectivas futuras

68

(25) — JOSÉ SODER, Direitos do Homem, prefácio, pág. 3.

A12

Justiça Federal: primeira instância

Revelados suas origens e seu desenvolvimento, assinalada

ficou a utilidade e a necessidade da magistratura federal de primeira

instância, pretendendo-se vê-la independente e como arma de resguardo,

não só dos interêsses da União, das autarquias e emprêsas públicas, mas,

também, de garantia dos direitos individuais contra as usurpações, sem

sujeitar-se às conjunturas especiais desses direitos. O seu valor residirá,

embora competente, nas questões de interêsse do Govêrno Federal, e terá

que agir, não como um juiz em causa própria, porém agirá procurando e

se destinando ao encontro de soluções adequadas aos superiores

interêsses da coletividade, sem deixar-se seduzir pelas pretensões do seu

próprio govêrno.

A independência de procedimento, como traço indelével,

garantir-lhe-á o respeito e estabilidade.

Sua responsabilidade se sobressai, atinando-se que se

restabeleceu numa ocasião em que o país sofre profundas alterações

sócio-econômicas, com repercussões notáveis nas leis, a começar do

estatuto básico. As leis publicadas, durante a implantação do que se

convencionou chamar "ideais revolucionários", formam uma colcha de

retalhos. Exigem largo manuseio e pesquisa para sua interpretação e

aplicação, dentro de uma nova filosofia de ação, com desusada atenção e

equilíbrio.

O século, que se aproxima do seu fim, traz a imagem

fantástica de outro, cujos prenúncios atestam mudanças extraordinárias

no desenvolvimento tecnológico e, por conseqüência, nas relações

jurídicas entre os povos, entre as comunidades, classes e os cidadãos de

uma mesma nação. A restauração da Justiça Federal de Primeira Instância

voltou, quando bem se pode ver a expressão, desde já, de um nôvo

conceito de federalismo, onde é crescente o intervencionismo do Poder

Nacional. Poder que, forçado por situações circunstanciais do nosso

estágio político ou da nova dinâmica das relações entre as nações, usando

A12

69

Justiça Federal: primeira instância

e criando novos meios de ação, para a consecução dos seus mais altos

objetivos, sem perder de vista, por ser flagrante, na sociedade política das

nações, que o quadro tradicional da autonomia federativa cada vez mais

caminha por uma senda de declínio, intervém, paulatinamente, e exclui

podêres mais fracos ou tímidos, para vencer situações que põem em risco

a própria segurança nacional.

A respeito dessas alterações do regime federativo, aparecem

com clarividência e sensibilidade estes apontamentos:

O crescente intervencionismo do poder público na vida econômica e social trabalha para o fortalecimento do govêrno central em tôdas as Federações. Os Estados Unidos e a Suíça, que são as Federações antigas, oferecem a êsses respeito exemplos muito eloqüentes. Em ambos os países essa tendência não encontra resistências maiores e, num e noutro, tem-se como irremediável o declínio da autonomia federativa. Com respeito à noção do Estado Federal tradicional, observa Durand, o quadro jurídico permanece, o título subsiste. Mas o conteúdo e o funcionamento mudaram, sobretudo pela diminuição da situação jurídica dos Estados-membros, pelo recuo de sua autonomia.

Há outras causas que contribuem em maior ou menor parte para o desprestígio dos Estados. Uma delas é o gradual desaparecimento dos particularismos regionais. O crescimento demográfico, o incremento do comércio, o desenvolvimento dos meios de transportes, a mobilidade da população e as migrações internas são condições que, somadas aos tradicionais fatôres de união nacional, tornam inteiramente superada a concepção do Estado-membro como uma pequena pátria.(26)

70

Aceitando-se como tese válida, com efeitos notados, desde

agora, os fundamentos sôbre o recuo da autonomia estadual, em razão de

um crescente intervencionismo do poder central, descaracterizando a

concepção tradicional de federalismo, forçoso é admitir-se a necessidade

da instituição, como instrumento atuante, de uma outra justiça, dentro do

território dos Estados-membros, sob a bandeira da coerência, como

necessidade do fortalecimento do próprio Poder Nacional.

(26) — OSWALDO TRIGUEIRO, Dinâmica da Administração Pública e do Judiciário — 1965 — págs. 5 e 6.

A12

Justiça Federal: primeira instância

Justificando, com muito vigor, a presença da magistratura

federal nos Estados-membros, em capítulo especial, aparece esta lição:

Bem razão tinha Hamilton, o sábio expositor e grande político, cujos escritos, na feliz expressão de João Barbalho, se podem considerar a bíblia do federalismo, ao justificar casos em que se não poderá confiar muito na justiça dos Estados, lembrando a parcialidade natural dos juízes em favor das pretensões dos Governos respectivos.

Por sua vez, o douto e operoso Carvalho de Mendonça escrevera que – "qualquer que seja a independência moral do juiz de um Estado, os laços que o unem ao Govêrno que o colocou e mantém são de natureza a torná-lo suspeito, sempre que aquêle fôr interessado no feito.(27)

Portanto, isso verificado, a Justiça Federal de Primeira

Instância, como membro do Poder Judiciário da União, dentro dessas

perspectivas, vivendo nesse cadinho de profundas mutações, cada vez

mais aceleradas, na dimensão histórica dos acontecimentos que a

circundam, partindo-se dos prenúncios assinalados, está destinada, no

âmbito de sua competência e jurisdição, a influir decisivamente, à medida

de sua estabilidade, com princípios e leis sujeitos à sua apreciação e

decisão, a firmar-se como órgão garantidor e fortalecedor, em atuação

direta, do Poder Nacional.

Por essas razões, estabelecida a premissa de sua necessidade

na organização do Poder Judiciário da União, marcha-se à conclusão de

que, além de se constituir em meio adequado ao aperfeiçoamento e

aceleração da dinâmica judiciária federal, sendo instrumento restaurado

por imperativo incoercível, tende a ver alargadas a sua competência e

atribuições, pelas necessidades contemporâneas, em nome do poder

federal e da própria segurança nacional.

Com êsse porte, restaurou-se a Justiça Federal de Primeira

Instância. As mais palpitantes questões jurídicas estão lhe sendo

submetidas. As esperanças e enorme expectativa convergem sôbre o seu

71

(27) — JOSÉ TAVARES BASTOS, Consolidação das Leis Federais, pág. 11.

A12

Justiça Federal: primeira instância

trabalho, desenvolvimento e, sobretudo, na ação dos seus juízes. Êstes,

verdadeiramente vocacionados, não ocasionais, recrutados entre aquêles

que, mais que a vocação, estribam-se, no seu comportamento, na

decência, na integridade, no estudo, na pesquisa, na vontade de

consolidarem-se na tábua das leis, conscientizados de sua

responsabilidade, alicerçados em sólida e indispensável cultura jurídica,

são os esteios naturais da estrutura que se restaurou.

TRANSCRIÇÃO

CAPÍTULOS DO PODER JUDICIÁRIO

– Constituições de 1891, 1934, 1937, 1946 e 1967

– Tribunal Federal de Recursos

– Constituição do Brasil de 1967 (seção IV – dos Juízes

Federais)

– Lei n° 5.010, de 30/5/66 (textos atualizados)

– Dec. n° 848, de 11/10/1890

– Provimentos do Conselho da Justiça Federal nos: 1, de

4/5/67; 2, de 16/5/67; 3, de 3/7/67; 4, de 3/7/67; 5, de 3/7/67; 8, de

15/9/67; 10, de 13/11/67; 11, de 22/11/67; 12, de 16/4/68; 13, de

15/5/68 e 14, de 15/5/68

PODER JUDICIÁRIO

1. CONSTITUIÇÃO DO IMPÉRIO:

Art. 151 – O poder judicial é independente, e será composto

de juízes e jurados, os quais terão lugar, assim no cível como no crime,

nos casos e pelo modo que os códigos determinarem.

72

A12

Justiça Federal: primeira instância

Art. 152 – Os jurados se pronunciam sôbre o fato e os juízes

aplicam a lei.

Art. 156 – Todos os juízes de direito e os oficiais de justiça são

responsáveis pelos abusos de poder e prevaricação que cometerem no

exercício de seus empregos; esta responsabilidade se fará efetiva por lei

regulamentar.

Art. 157 – Por subôrno, peita, peculato e concussão, haverá

contra êles a ação popular, que poderá ser intentada dentro de ano e dia

pelo próprio queixoso ou por qualquer do povo, guardada a ordem do

processo estabelecido na lei.

Art. 158 – Para julgar as causas em segunda e última

instância haverá nas províncias do Império as relações que forem

necessárias para comodidade dos povos.

Art. 159 – Nas causas crimes a inquirição das testemunhas, e

todos os mais atos do processo, depois da pronúncia, serão públicos

desde já.

Art. 160 – Nas cíveis e nas penais civilmente intentadas

poderão as partes nomear juízes árbitros. Suas sentenças serão

executadas sem recursos, se assim o convencionarem as mesmas partes.

Art. 161 – Sem se fazer constar que se tem intentado o meio

de reconciliação, não se começará processo algum.

Art. 162 – Para êsse fim haverá juízes de paz, os quais serão

eletivos pelo mesmo tempo e maneira por que se elegem os vereadores

das câmaras. Suas atribuições e distrito serão regulados por lei.

2. CONSTITUIÇÃO DE 1891, COM EMENDAS DE 1926:

Art. 55 – O Poder Judiciário da União terá por órgão um

Supremo Tribunal Federal, com sede na Capital da República, e tantos

A12

73

Justiça Federal: primeira instância

juízes e tribunais federais, distribuídos pelo país, quantos o Congresso

criar.

Art. 58, § 2° – O Presidente da República designará, dentre os

membros do Supremo Tribunal Federal, o Procurador Geral da República,

cujas atribuições se definirão em lei.

3. CONSTITUIÇÃO DE 1934:

Art. 63 – São órgãos do Poder Judiciário:

a) – a Côrte Suprema;

b) – os juízes e tribunais federais;

c) – os juízes e tribunais militares;

d) – os juízes e tribunais eleitorais.

Art. 68 – É vedado ao Poder Judiciário conhecer de questões

exclusivamente políticas.

Art. 70 – A Justiça da União e a dos Estados não podem

recìprocamente intervir em questões submetidas aos tribunais e juízes

respectivos, nem lhes anular, alterar ou suspender as decisões, ou ordens,

salvo os casos expressos na Constituição.

§ 1°) Os juízes e tribunais federais poderão todavia, deprecar

às justiças locais competentes as diligências que se houverem de efetuar

fora da sede do juízo deprecante.

§ 2°) As decisões da justiça federal serão executadas pela

autoridade judiciária que ela designar, ou por oficiais judiciários privativos.

Em todos os casos, a fôrça pública estadual ou federal prestará o auxílio

requisitado na forma da lei.

Art. 71 – A incompetência da justiça federal, ou local, para

conhecer do feito, não determinará a nulidade dos atos processuais

A12

74

Justiça Federal: primeira instância

probatórios e ordinatórios, desde que a parte não a tenha argüido.

Reconhecida a incompetência serão os autos remetidos ao juízo

competente, onde prosseguirá o processo.

Art. 72 – É mantida a instituição do Júri, com a organização e

as atribuições que lhe der a lei.

4. CONSTITUIÇÃO DE 1937:

Art. 90 – São órgãos do Poder Judiciário:

a) o Supremo Tribunal Federal;

b) os juízes e tribunais dos Estados, do Distrito Federal e dos

Territórios;

c) os juízes e tribunais militares.

Art. 94 – É vedado ao Poder Judiciário conhecer de questões

exclusivamente políticas.

Art. 122 – ..., os crimes que atentarem contra a existência, a

segurança e a integridade do Estado, a guarda e o emprêgo da economia

popular serão submetidos a processo e julgamento perante tribunal

especial, na forma que a lei instituir.

Art. 172 – Os crimes cometidos contra a segurança do Estado

e a estrutura das instituições serão sujeitos a justiça e processos especiais

que a lei prescreverá.

§ 1°) A lei poderá determinar a aplicação das penas da

legislação militar e a jurisdição dos tribunais militares na zona de

operações durante grave comoção intestina.

§ 2°) O oficial da ativa, da reserva ou reformado, ou

funcionário público que haja participado de crime contra a segurança do

Estado ou a estrutura das instituições, ou influído em sua preparação

A12

75

Justiça Federal: primeira instância

intelectual ou material, perderá a sua patente, pôsto ou cargo, se

condenado a qualquer pena pela decisão da justiça a que se refere êste

artigo.

Art. 173 – O estado de guerra motivado por conflito com país

estrangeiro se declarará no decreto de mobilização. Na sua vigência, o

Presidente da República tem os poderes do art. 106 e os crimes cometidos

contra a estrutura das instituições, a segurança do Estado e dos cidadãos

serão julgados por tribunais militares.

5. LEI CONSTITUCIONAL N° 7:

Art. único – O art. 173 da Constituição fica assim redigido:

Art. 173 – O estado de guerra motivado por conflito com país

estrangeiro se declarará no decreto de mobilização. Na sua vigência, o

Presidente da República tem os podêres do art. 166 e a lei determinará os

casos em que os crimes cometidos contra a estrutura das instituições, a

segurança do Estado e dos cidadãos serão julgados pela Justiça Militar ou

pelo Tribunal de Segurança Nacional.

6. LEI CONSTITUCIONAL N° 14:

Art. 1° – Fica extinto o Tribunal de Segurança Nacional a que

se refere o art. 173 da Constituição, emendado pela Lei Constitucional n°

7, de 30 de setembro de 1942.

Art. 2° – Serão processados e julgados na forma que a lei

determinar, pelos juízes e tribunais referidos no art. 90 da Constituição,

os crimes que atentarem contra:

I – a existência, a segurança e a integridade do Estado;

II – a guarda e o emprêgo da economia popular.

7. CONSTITUIÇÃO DE 1946:

Art. 94 – O Poder Judiciário é exercido pelos seguintes órgãos:

A12

76

Justiça Federal: primeira instância

I – Supremo Tribunal Federal;

II – Tribunal Federal de Recursos;

III – juízes e tribunais militares;

IV – juízes e tribunais eleitorais;

V – juízes e tribunais do trabalho.

8. CONSTITUIÇÃO DE 1967:

Art. 107 – O Poder Judiciário da União é exercido pelos

seguintes órgãos:

I – Supremo Tribunal Federal;

II – Tribunais Federais de Recursos e juízes federais;

III – Tribunais e juízes militares;

IV – Tribunais e juízes eleitorais;

V – Tribunais e juízes do trabalho.

O TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS

1. CONSTITUIÇÃO DE 1891:

Art. 55 – O poder judiciário da União terá por órgão um

Supremo Tribunal Federal, com sede na Capital da República e tantos

juízes e tribunais federais, distribuídos pelo país, quantos o Congresso

criar

Art. 59 – Ao Supremo Tribunal Federal compete:

I – Julgar, em grau de recurso, as questões resolvidas pelos

juízes e tribunais federais, assim como as de que tratam o presente

artigo, § 1°, e o art. 60.

A12

77

Justiça Federal: primeira instância

2. CONSTITUIÇÃO DE 1891, COM EMENDAS DE 1926:

Art. 59 – À Justiça Federal compete:

Ao Supremo Tribunal Federal:

II – Julgar, em grau de recurso, as questões excedentes da

alçada legal resolvidas pelos juízes e tribunais federais.

3. CONSTITUIÇÃO DE 1934:

Art. 78 – A lei criará tribunais federais, quando assim o

exigirem os interêsses da justiça, podendo atribuir-lhes o julgamento final

das revisões criminais, excetuadas as sentenças do Supremo Tribunal

Militar, e das causas referidas no art. 81, letras d, g. h, i e l; assim como

os conflitos de jurisdição entre juízes federais de circunscrições em que

êsses tribunais tenham competência.

Parágrafo único – Caberá recurso para a Côrte Suprema,

sempre que tenha sido controvertida matéria constitucional, e, ainda, nos

casos de denegação de habeas corpus.

Art. 79 – É criado um tribunal, cuja denominação e

organização a lei estabelecerá, composto de juízes, nomeados pelo

Presidente da República, na forma e com os requisitos determinados no

art. 74.

Parágrafo único – Competirá a êsse tribunal, nos têrmos que a

lei estabelecer, julgar privativa e definitivamente, salvo recurso voluntário

para a Côrte Suprema nas espécies que envolverem matéria

constitucional:

1° – os recursos de atos e decisões definitivas do Poder

Executivo, e das sentenças dos juízes federais nos litígios em que a União

fôr parte, contanto que uns e outros digam respeito ao funcionamento de

serviços públicos, ou se rejam, no todo ou em parte, pelo direito

administrativo;

A12

78

Justiça Federal: primeira instância

2° – os litígios entre a União e os seus credores, derivados de

contratos públicos.

4. CONSTITUIÇÃO DE 1946:

Art. 103 — O Tribunal Federal de Recursos, com sede na

Capital Federal, compor-se-á de nove juízes, nomeados pelo Presidente da

República, depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal, sendo dois

terços entre magistrados e um terço entre advogados e membros do

Ministério Público, com os requisitos do art. 99.

Parágrafo único – O Tribunal poderá dividir-se em câmaras ou

turmas.

Art. 104 – Compete ao Tribunal Federal de Recursos:

I – processar e julgar originàriamente:

a) as ações rescisórias de seus acórdãos;

b) os mandados de segurança, quando a autoridade coatora

fôr Ministro de Estado, o próprio do Tribunal ou o seu Presidente.

II – julgar em grau de recurso:

a) as causas decididas em primeira instância, quando a União

fôr interessada como autora, ré, assistente ou opoente, exceto as de

falência, ou quando se tratar de crimes praticados em detrimento de bens,

serviços ou interêsses da União, ressalvada a competência da Justiça

Eleitoral e a da Justiça Militar;

b) as decisões de juízes locais, denegatórias de habeas corpus,

e as proferidas em mandado de segurança, se federal a autoridade

apontada como coatora;

III – rever, em benefício dos condenados, as suas decisões

criminais em processos findos.

A12

79

Justiça Federal: primeira instância

Art. 105 – A lei poderá criar, em diferentes regiões do país,

outros Tribunais Federais de Recursos, mediante proposta do próprio

Tribunal e aprovação do Supremo Tribunal Federal, fixando-lhes sede e

jurisdição territorial e observados os preceitos dos arts. 103 e 104.

5. CONSTITUIÇÃO DE 1967:

Art. 116 – O Tribunal Federal de Recursos compõe-se de treze

Ministros vitalícios nomeados pelo Presidente da República, depois de

aprovada a escolha pelo Senado Federal, sendo oito entre Magistrados e

cinco entre advogados e membros do Ministério Público, todos com os

requisitos do art. 113, § 1°.

§ 1° – A Lei Complementar poderá criar mais dois Tribunais

Federais de Recursos, um no Estado de Pernambuco e outro no Estado de

São Paulo, fixando-lhes a jurisdição e menor número de Ministros, cuja

escolha se fará com o mesmo critério mencionado neste artigo.

§ 2° – É privativo do Tribunal Federal de Recursos, com sede

na Capital da União, o julgamento de mandado de segurança contra ato

de Ministro de Estado.

§ 3° – Os Tribunais Federais de Recursos funcionarão em

plenário ou em turmas.

Art. 117 – Compete aos Tribunais Federais de Recursos:

I – processar e julgar originàriamente:

a) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus

julgados;

b) os mandados de segurança contra ato de Ministro de

Estado, do Presidente do próprio Tribunal, ou de suas turmas, do

responsável pela direção geral da polícia federal, ou de juiz federal;

A12

80

Justiça Federal: primeira instância

c) os habeas corpus, quando a autoridade coatora fôr Ministro

de Estado, ou responsável pela direção geral da polícia federal, ou juiz

federal;

d) os conflitos de jurisdição entre juízes federais subordinados

ao mesmo tribunal ou entre suas turmas;

II – julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos

juízes federais.

Parágrafo único – A lei poderá estabelecer a competência

originária dos Tribunais Federais de Recursos para a anulação de atos

administrativos de natureza tributária.

CONSTITUIÇÃO DO BRASIL

Seção IV

Dos Juízes Federais

Art. 118 – Os juízes federais serão nomeados pelo Presidente

da República dentre brasileiros, maiores de trinta anos, de cultura e

idoneidade moral, mediante concurso de títulos e provas, organizado pelo

Tribunal Federal de Recursos, conforme a respectiva jurisdição.

§ 1° – Cada Estado ou Território, assim como o Distrito

Federal, constituirá uma seção judiciária, que terá por sede a respectiva

Capital. Lei complementar poderá criar novas seções.

§ 2° – A lei fixará o número de juízes de cada seção e regulará

o provimento dos cargos de juízes substitutos, serventuários e

funcionários da Justiça.

Art. 119 – Aos juízes federais compete processar e julgar, em

primeira instância:

A12

81

Justiça Federal: primeira instância

I – as causas em que a União, entidade autárquica ou

emprêsa pública federal fôr interessada na condição de autora, ré,

assistente ou opoente, exceto as de falência e as sujeitas à Justiça

Eleitoral, à Militar ou à do Trabalho, conforme determinação legal;

II – as causas entre Estado estrangeiro, ou organismo

internacional, e pessoa domiciliada ou residente no Brasil;

III – as causas fundadas em tratado ou em contrato da União

com Estado estrangeiro ou organismo internacional;

IV – os crimes políticos e os praticados em detrimento de

bens, serviços ou interêsse da União ou de suas entidades autárquicas ou

emprêsas públicas, ressalvada a competência da Justiça Militar e da

Justiça Eleitoral;

V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional

e os cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência

da Justiça Militar;

VI – os crimes contra a organização do trabalho, ou

decorrentes de greve;

VII – os habeas corpus em matéria criminal de sua

competência, ou quando o constrangimento provier de autoridade, cujos

atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;

VIII – os mandados de segurança contra ato de autoridade

federal, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal

ou dos Tribunais Federais de Recursos;

IX – as questões de direito marítimo e de navegação, inclusive

a aérea;

X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de

estrangeiro; a execução das cartas rogatórias, após o exequatur, e das

A12

82

Justiça Federal: primeira instância

sentenças estrangeiras após a homologação, as causas referentes a

nacionalidade, inclusive a respectiva opção e à naturalização.

§ 1° – As causas em que a União fôr autora serão aforadas na

Capital do Estado ou Território em que tiver domicílio a outra parte. As

intentadas contra a União poderão ser aforadas na Capital do Estado ou

Território em que fôr domiciliado o autor; na Capital do Estado em que se

verificou o ato ou fato que deu origem à demanda ou esteja situada a

coisa; ou ainda no Distrito Federal.

§ 2° – As causas propostas perante outros juízes, se a União

nelas intervir, como assistente ou opoente, passarão a ser da competência

do juiz federal respectivo.

§ 3° — A lei poderá permitir que a ação fiscal seja proposta

noutro foro, e atribuir ao Ministério Público estadual a representação

judicial da União.

LEI N° 5.010 – DE 30 DE MAIO DE 1966

Organiza a Justiça Federal de Primeira Instância e dá outras

providências.

– Texto atualizado com os seguintes diplomas:

1. Decreto-lei n° 30, de 17 de novembro de 1966;

2. Decreto-lei n° 81, de 21 de dezembro de 1966;

3. Decreto-lei n° 253, de 28 de fevereiro de 1967;

4. Lei n° 5.345, de 3 de novembro de 1967;

5. Lei n° 5.368, de 1º de dezembro de 1967.

LEI N° 5.010, DE 30 DE MAIO DE 1966(1)

83

(1) — Publicada no D.O.U. de 1-6-66 e retificada no DOU. de 14-6-66.

A12

Justiça Federal: primeira instância

Organiza a Justiça Federal de Primeira Instância e dá outras

providências.

O Presidente da República,

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a

seguinte lei:

Capítulo I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1° – A administração da Justiça Federal de Primeira

Instância nos Estados, no Distrito Federal e nos Territórios, compete a

Juízes Federais e Juízes Federais Substitutos, com a colaboração dos

órgãos auxiliares instituídos em lei e pela forma nela estabelecida.

Art. 2° – Os Estados, o Distrito Federal e os Territórios para os

fins desta lei, são agrupados nas seguintes Regiões judiciárias:

1ª – Centro-Oeste: Distrito Federal, Goiás; Mato Grosso, Minas

Gerais e Território de Rondônia;

2ª – Norte: Acre, Amazonas, Maranhão, Pará, Território do

Amapá e Território de Rorãima;

3ª – Nordeste: Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco e

Território de Fernando de Noronha, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe

(redação conforme art. 1°, letra "d" da Lei n° 5.345, de 3 de novembro de

1967);

Redação primitiva – 3ª) Nordeste: Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Território de Fernando de Noronha.

4ª – Leste: Bahia, Espírito Santo, Guanabara e Rio de Janeiro;

5ª – Sul: Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São

Paulo.

A12

84

Justiça Federal: primeira instância

Art. 3° – Cada um dos Estados e Territórios, bem como o

Distrito Federal constituirá uma Seção Judiciária, tendo por sede a

respectiva Capital.

Parágrafo único – O Território de Fernando de Noronha

compreender-se-á na Seção Judiciária do Estado de Pernambuco.

Capítulo II

DO CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL

Art. 4° – A Justiça Federal terá um Conselho integrado pelo

Presidente, Vice-Presidente e três Ministros do Tribunal Federal de

Recursos, eleitos por dois anos.

Parágrafo único – Quando escolher os três Ministros que

integrarão o Conselho, o Tribunal Federal de Recursos indicará, dentre

êles o Corregedor-Geral e elegerá, também, os respectivos Suplentes.

Art. 5° – O Conselho da Justiça Federal funcionará junto ao

Tribunal Federal de Recursos.

Art. 6° – Ao Conselho da Justiça Federal compete:

I – Conhecer de correição parcial requerida pela parte ou pela

Procuradoria da República, no prazo de cinco dias, contra o ato ou

despacho do Juiz de que não caiba recurso, ou omissão que importa êrro

de ofício ou abuso de poder (redação conforme o item I do art. 1° do

Decreto-lei n° 253, de 28 de fevereiro de 1967);

Redação primitiva: Conhecer de correição parcial requerida pela parte ou pela Procuradoria da República contra ato ou despacho do Juiz de que não caiba recurso ou que importe êrro de ofício ou abuso de poder.

II – Determinar, mediante provimento, as providências

necessárias ao regular funcionamento da Justiça e à disciplina forense;

A12

85

Justiça Federal: primeira instância

III – Organizar e fazer realizar concursos para o provimento

dos cargos de Juiz Federal Substituto e dos serviços auxiliares da Justiça

Federal;

IV – Propor ao Presidente da República por intermédio do

Ministério da Justiça e Negócios Interiores, a nomeação dos candidatos

aprovados em concurso, obedecida a ordem de classificação e os demais

atos de provimento e vacância dos cargos de Juiz Federal Substituto e de

servidor da Justiça Federal;

V – Conceder licenças e férias aos Juízes;

VI – Conceder licenças aos servidores da Justiça Federal, por

prazo superior a noventa dias e praticar os demais atos de administração

e disciplina do pessoal, sem prejuízo da ação do Corregedor-Geral, e dos

Juízes Federais;

VII – Proceder a correições gerais ordinárias, de dois em dois

anos, em todos os Juízos e respectivas Secretarias, e, extraordinárias,

quando julgar necessário;

VIII – Elaborar e fazer publicar, anualmente até trinta de

março, relatório circunstanciado dos serviços forenses de primeira

instância, relativos ao ano anterior;

IX – Estabelecer normas para a distribuição dos feitos em

primeira instância:

X – Fixar a competência administrativa dos Juízes;

XI – Especializar Varas, fixar sede de Vara fora da Capital e

atribuir competência pela natureza dos feitos a determinados Juízes (art.

12);

XII – Determinar a forma pela qual os Juízes Federais

Substitutos deverão auxiliar os Juízes Federais (art. 14);

A12

86

Justiça Federal: primeira instância

XIII – Regular a distribuição dos feitos entre os Juízes Federais

e entre estes e os Juízes Federais Substitutos (art. 16);

XIV – Prover sôbre as substituições dos Juízes (art. 16);

XV – Aplicar penas disciplinares aos Juízes e servidores da

Justiça Federal;

XVI – Determinar, mediante proposta do Diretor do Fôro, a

lotação dos serviços auxiliares da Seção Judiciária (art. 38, parágrafo

único);

XVII – Elaborar o seu Regimento e submetê-lo a aprovação do

Tribunal Federal de Recursos.

Art. 7° – Dos atos e decisões do Conselho da Justiça Federal

não caberá recurso administrativo.

Art. 8° – O Conselho da Justiça Federal poderá delegar

competência a Juízes Federais para correições gerais ou extraordinárias na

Região a que pertencerem.

Art. 9° – O relator da correição parcial poderá ordenar a

suspensão até trinta dias do ato ou despacho impugnado, quando de sua

execução possa decorrer dano irreparável.

Capítulo III

DOS JUÍZES FEDERAIS

Seção I

Da jurisdição e Competência

Art. 10 – Estão sujeitos à Jurisdição da Justiça Federal:

A12

87

Justiça Federal: primeira instância

I – As causas em que a União ou entidade autárquica federal

fôr interessada como autora, ré, assistente ou opoente, exceto as de

falência e de acidentes de trabalho;

II – As causas entre Estados estrangeiros e pessoa domiciliada

no Brasil;

III – As causas fundadas em tratado ou em contrato da União

com Estado estrangeiro ou com organismo internacional;

IV – As questões de Direito Marítimo e de navegação, inclusive

a aérea;

V – Os crimes políticos e os praticados em detrimento de bens,

serviços ou interêsses da União, ou de entidades autárquicas federais,

ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

VI – Os crimes que constituem objeto de tratado ou de

convenção internacional e os praticados a bordo de navios ou aeronaves,

ressalvada a competência da Justiça Militar;

VII – Os crimes contra a organização do trabalho e o exercício

do direito de greve;

VIII – Os habeas corpus em matéria criminal de sua

competência ou quando a coação provier de autoridade federal,

ressalvada a competência dos órgãos superiores da Justiça da União;

IX – Os mandados de segurança contra ato de autoridade

federal, excetuados os casos do art. 101, I, "i" e o art. 104, I, "a" da

Constituição – (Emenda Constitucional n° 16, artigos 2° e 7°);

X – Os processos e atos referentes à nacionalidade

(Constituição, artigos 129 e 130).

A12

88

Justiça Federal: primeira instância

Art. 11 – A jurisdição dos Juízes Federais de cada Seção

Judiciária abrange tôda a área territorial nela compreendida.

Parágrafo único – Os Juízes, no exercício de sua jurisdição e

no interêsse da Justiça, poderão deslocar-se de sua sede para qualquer

ponto da Seção.

Art. 12 – Nas Seções Judiciárias em que houver mais de uma

Vara, poderá o Conselho da Justiça Federal fixar-lhes sede em cidade

diversa da Capital, especializar Varas e atribuir competência por natureza

de feitos a determinados Juízes.

Art. 13 – Compete aos Juízes Federais:

I – Processar e julgar, em primeira instância, as causas

sujeitas à jurisdição da Justiça Federal (artigo 10), ressalvado o disposto

no art. 15;

II – Abrir, rubricar e encerrar os livros das respectivas

Secretarias;

III – Inspecionar, pelo menos uma vez por ano, os serviços a

cargo das Secretarias, providenciando no sentido de evitar ou punir erros,

omissões ou abusos;

IV – Dar conhecimento imediato da inspeção realizada ao

Corregedor-Geral em ofício reservado, solicitando-lhes as providências

cabíveis;

V – Fornecer, anualmente, dados para a organização de

estatísticas;

VI – Processar e julgar as suspeições argüidas contra os

auxiliares do Juízo;

A12

89

Justiça Federal: primeira instância

VII – Aplicar penas disciplinares aos servidores do próprio

Juízo;

VIII – Apresentar, anualmente, relatório circunstanciado dos

trabalhos sob sua jurisdição;

IX – Requisitar fôrça federal ou estadual necessária ao

cumprimento de suas decisões (item introduzido pelo art. 1°, II, do

Decreto-lei n° 253, de 28/2/1967, mantida a redação pela Lei n° 5.345,

de 3/11/1967, art. 1°, letra "a");

Art. 14 – Aos Juízes Federais Substitutos incumbe substituir os

Juízes Federais nas suas férias, licenças e impedimentos eventuais e

auxiliá-los, em caráter permanente, inclusive na instrução e julgamento

de feitos, na forma que o Conselho da Justiça Federal estabelecer.

Art. 15 – Nas Comarcas do interior onde não funcionar Vara da

Justiça Federal (art. 12), os Juízes Estaduais são competentes para

processar e julgar:

I – os executivos fiscais da União e de suas autarquias,

ajuizados contra devedores domiciliados nas respectivas Comarcas;

II – as vistorias e justificações destinadas a fazer prova

perante a administração federal, centralizada ou autárquica, quando o

requerente fôr domiciliado na Comarca;

III – os feitos ajuizados contra instituições previdenciárias por

segurados ou beneficiários residentes na Comarca, que se referirem a

benefícios de natureza pecuniária;

IV – as ações de qualquer natureza, inclusive os processos

acessórios e incidentes a elas relativos, propostas por sociedades de

economia mista com participação majoritária federal contra pessoas

A12

90

Justiça Federal: primeira instância

domiciliadas na Comarca, ou que versem sôbre bens nela situados (item

introduzido pelo art. 1° do Decreto-lei n° 30, de 17/11/1966).

Seção II

Da Distribuição

Art. 16 – A distribuição dos feitos entre Juízes, bem como sua

substituição, será anualmente, regulada pelo Conselho da Justiça Federal,

em provimento publicado no primeiro dia útil de dezembro, no Diário da

Justiça da União e no Boletim da Justiça Federal das Seções Judiciárias

(redação conforme o disposto no item III, do art. 1°, do Decreto-lei n°

253, de 28/2/1967).

Redação primitiva: A distribuição dos feitos entre os Juízes, bem como sua substituição, será anualmente, regulada pelo Conselho da Justiça Federal, em provimento publicado no primeiro dia útil de dezembro no Diário Oficial da União e no Boletim da Justiça Federal das Seções Judiciárias.

Parágrafo único – A distribuição far-se-á em audiência pública,

mediante rodízio, sempre por sorteio, obedecida a seguinte classificação:

I – ações ordinárias;

II – mandados de segurança;

III – executivos fiscais;

IV – ações executivas;

V – ações diversas:

VI – feitos não contenciosos;

VII – ações criminais;

VIII – habeas corpus;

IX – procedimentos criminais diversos.

A12

91

Justiça Federal: primeira instância

Seção III

Do número e da investidura

Art. 17 – O número de Juízes Federais e de Juízes Federais

Substitutos, para cada Seção, será o constante do anexo I, desta lei.

Art. 18 – Os Juízes de uma Seção Judiciária não poderão

substituir os de outra, salvo na mesma Região, em caso de impedimento,

nem poderão ser removidos senão a pedido, com a aprovação do Tribunal

Federal de Recursos, ou na hipótese do art. 34.

Art. 19 – Os Juízes Federais serão nomeados pelo Presidente

da República, dentre os nomes indicados, em lista quíntupla pelo Supremo

Tribunal Federal.

§ 1° – O Supremo Tribunal Federal, para a organização da

lista escolherá:

a) três dentre nove nomes de Juízes Federais Substitutos

propostos pelo Tribunal Federal de Recursos;

b) dois nomes de bacharéis em Direito, com mais de trinta e

menos de sessenta anos de idade, de notório merecimento e reputação

ilibada, e oito (8) anos, no mínimo de efetivo exercício na advocacia, no

Ministério Público, na Magistratura ou no magistério superior.

§ 2° – Se recair a nomeação em um dos nomes escolhidos na

forma da alínea "b" do parágrafo anterior, a lista quíntupla, para o

provimento da vaga subseqüente, será composta exclusivamente de

Juízes Federais Substitutos.

Art. 20 – O provimento do cargo de Juiz Federal Substituto

far-se-á mediante concurso público, de provas e títulos realizado na sede

da Seção onde ocorrer a vaga, ou, a critério do Conselho de Justiça

Federal, em outra sede de Seção da mesma Região.

A12

92

Justiça Federal: primeira instância

Art. 21 – Com o pedido de inscrição o candidato apresentará.

I – certidão que comprove ter mais de vinte e oito e menos de

cinqüenta anos de idade;

II – prova de estar em dia com as obrigações concernentes ao

serviço militar;

III – título de eleitor e prova de ter cumprido seus deveres

eleitorais;

IV – diploma de bacharel em direito, devidamente registrado;

V – certidão que comprove o exercício, por quatro anos, de

advocacia ou de cargo para o qual se exija o diploma de bacharel em

direito;

VI – certidão negativa dos distribuidores criminais dos lugares

em que haja residido nos últimos cinco anos;

VII – folha corrida;

VIII – quaisquer títulos que entenda devam ser apreciados.

Parágrafo único – O limite máximo de idade, previsto no inc. I

não prevalecerá para magistrados e membros do Ministério Público.

Art. 22 – O Conselho da Justiça Federal sindicará a vida

pregressa dos candidatos e, em sessão secreta, independente de

motivação e conclusivamente, admitirá ou denegará a inscrição.

Parágrafo único – Os candidatos admitidos serão submetidos a

exame de saúde e psicotécnico.

Art. 23 – O Conselho da Justiça Federal organizará os pontos e

o regulamento do concurso e os fará publicar, com antecedência mínima

de trinta dias, no Boletim da Justiça Federal do Diário Oficial dos Estados e

A12

93

Justiça Federal: primeira instância

Territórios da Região em que o concurso se deva realizar e no Diário da

Justiça da União (redação conforme o disposto no item IV do art. 1° do

Decreto-lei n° 253, de 28/2/67).

Redação primitiva: O Conselho da Justiça Federal organizará os pontos e o regulamento do concurso e os fará publicar, com antecedência mínima de trinta dias, no Diário Oficial dos Estados e Territórios da Região em que o concurso se deva realizar e no Diário da Justiça da União.

Art. 24 – O concurso constará de prova escrita e oral.

§ 1° – A prova escrita versará sôbre as seguintes matérias:

Direito Constitucional, Direito Civil, Direito Comercial, Direito Penal,

Direito Administrativo, Direito Processual Civil, Direito Processual Penal,

Direito Fiscal, Direito Internacional Público, Direito Internacional Privado e

Direito do Trabalho.

§ 2° – A prova oral versará sôbre ponto de qualquer das

matérias constantes no parágrafo anterior, sorteado com vinte e quatro

horas de antecedência.

Art. 25 – A Comissão Examinadora designada pelo Conselho

da Justiça Federal, será constituída por um Ministro do Supremo Tribunal

Federal de Recursos, que a presidirá, um Juiz Federal de qualquer Seção

da Região, um professor de Faculdade de Direito federal ou federalizada, e

um advogado militante da Região em que se realizar o concurso indicado

pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

Art. 26 – O prazo de validade do concurso para Juiz Federal

Substituto será de três anos.

Art. 27 – Os Juízes Federais e os Juízes Federais Substitutos

tomarão posse perante o Presidente do Conselho da Justiça Federal.

Parágrafo único – É permitida a posse por procuração.

Seção IV

A12

94

Justiça Federal: primeira instância

Dos Deveres e Sanções

Art. 28 – É vedado aos Juízes Federais e Juízes Federais

Substitutos:

I – exercer atividade político-partidária;

II – participar de gerência ou administração de emprêsa

industrial ou comercial;

III – exercer comércio ou participar de sociedade comercial,

inclusive de sociedade de economia mista, de que o poder público tenha

participação majoritária, exceto como acionista, cotista ou comanditário;

IV – exercer função de árbitro ou de juiz, fora dos casos

previstos em lei.

Art. 29 – Os Juízes Federais e os Juízes Federais Substitutos

enviarão, anualmente, ao Conselho da Justiça Federal, cópia da sua

declaração de bens apresentada à repartição do impôsto de renda.

Art. 30 – Os Juízes Federais e os Juízes Federais Substitutos

deverão residir na cidade que fôr sede da Vara em que servirem, não

podendo, quando no exercício e nos dias de expediente, ausentar-se sem

autorização do Corregedor-Geral.

Art. 31 – Os Juízes usarão toga durante as audiências.

Art. 32 – Os Juízes Federais e os Juízes Federais Substitutos

devem comparecer, nos dias úteis, à sede dos seus Juízos e aí

permanecerem durante o expediente, salvo quando em cumprimento de

diligência judicial.

Art. 33 – Pelas faltas disciplinares cometidas, ficam os Juízes

sujeitos às penas de advertência e de censura, aplicadas pelo Conselho da

Justiça Federal ou pelo Corregedor-Geral, conforme o caso.

A12

95

Justiça Federal: primeira instância

Parágrafo único – A advertência e a censura serão feitas por

escrito, sempre em caráter reservado, e registradas nos assentamentos

do Juiz.

Art. 34 – O Tribunal Federal de Recursos, ocorrendo motivo de

interêsse público, poderá, pelo voto de dois terços de seus membros

efetivos, propor a remoção ou a disponibilidade do Juiz Federal ou do Juiz

Federal Substituto, assegurada, no último caso, a defesa (Constituição,

art. 95, § 4°).

Capítulo IV

DOS SERVIÇOS AUXILIARES DA JUSTIÇA FEDERAL

Seção I

Da Organização

Art. 35 – Os serviços auxiliares da Justiça Federal serão

organizados em Secretarias, uma para cada Vara, com as atribuições

estabelecidas nesta lei.

Art. 36 – Os quadros de Pessoal dos serviços auxiliares da

Justiça Federal compor-se-ão dos seguintes cargos:

I – Chefe de Secretaria;

II – Oficial Judiciário;

III – Distribuidor;

IV – Contador;

V – Distribuidor-Contador;

VI – Depositário-Avaliador-Leiloeiro;

VII – Auxiliar Judiciário;

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Justiça Federal: primeira instância

VIII – Oficial de Justiça;

IX – Porteiro;

X – Auxiliar de Portaria;

XI – Servente.

§ 1° – Os cargos enumerados neste artigo são isolados e de

provimento efetivo, e serão providos mediante concurso público de

provas, organizado pelo Conselho da Justiça Federal.

§ 2° – Os cargos de Distribuidor e de Contador constarão

apenas da lotação das Secretarias das Seções Judiciárias onde houver

mais de uma Vara e nessas Seções poderá ser criada secretaria destinada

aos serviços administrativos do Diretor do Fôro, junto à qual funcionará o

Distribuidor, além dos servidores necessários à execução de seus

encargos.

§ 3° – O regulamento do concurso conterá a relação dos

documentos exigidos para a inscrição, a discriminação das matérias e dos

pontos para as provas e será organizado pelo Conselho da Justiça Federal.

§ 4° – O concurso realizar-se-á na Seção Judiciária em que

ocorrer a vaga, nos têrmos do edital publicado com antecedência mínima

de trinta dias, no "Boletim da Justiça Federal" do "Diário Oficial" dos

Estados ou Territórios que compõem a respectiva Região e no "Diário da

Justiça", e sòmente neste no Distrito Federal.

§ 5° – São requisitos para o provimento do cargo de Chefe de

Secretaria ser bacharel em direito e ter menos de quarenta e cinco anos

de idade (redação do artigo e parágrafos conforme o item V do art. 1° do

Decreto-lei n° 253, de 28 de fev. de 1967).

Redação primitiva: Os Quadros de Pessoal dos serviços auxiliares da Justiça Federal compor-se-ão dos seguintes cargos:

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Justiça Federal: primeira instância

I – Chefe de Secretaria;

II – Oficial Judiciário;

III – Depositário-Avaliador;

IV – Auxiliar Judiciário;

V – Oficial de Justiça;

VI – Porteiro;

VII – Servente.

§ 1° – Os cargos a que se refere êste artigo são isolados e de provimento efetivo e serão providos mediante concurso público de provas, organizado pelo Conselho da Justiça Federal.

§ 2° – O regulamento do concurso conterá a relação dos documentos exigidos para a inscrição, a discriminação das matérias e dos pontos para as provas e será organizado pelo Conselho da Justiça Federal.

§ 3° – O concurso realizar-se-á na Seção Judiciária em que ocorrer a vaga, nos têrmos do edital publicado, com antecedência mínima de trinta dias, no "Boletim da Justiça Federal" do Diário Oficial dos Estados ou Territórios que compõem a respectiva Região e no Diário da Justiça da União.

§ 4° – São requisitos para o provimento do cargo de Chefe de Secretaria ser bacharel em direito e ter menos de quarenta e cinco anos de idade.

Art. 37 – Nos concursos a que se refere o artigo anterior em

caso de igualdade de classificação, terá preferência para a nomeação o

candidato que tiver pertencido à Fôrça Expedicionária Brasileira.

Parágrafo único – Poderão ser aproveitados no provimento dos

cargos criados nesta lei os ex-combatentes que tenham participado das

operações de guerra no segundo conflito mundial, considerando-se o nível

intelectual compatível com o respectivo cargo.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 38 – Os servidores da Justiça Federal tomarão posse

perante o Juiz Diretor do Foro.

Art. 39 – Cada uma das Seções Judiciárias terá o seu quadro

próprio de pessoal, com o número de cargos constante do Anexo II desta

lei.

Parágrafo único – Na Seção onde houver mais de uma Vara, a

lotação do pessoal será determinada pelo Conselho da Justiça Federal,

mediante proposta do Diretor do Fôro.

Art. 40 – O Chefe de Secretaria, em suas licenças, férias e

impedimentos, será substituído pelo Oficial Judiciário designado pelo Juiz.

Seção II

Das atribuições da Secretaria

Art. 41 – À Secretaria compete:

I – receber e autuar petições, movimentar feitos, guardar e

conservar processos e demais papéis que transitarem pelas Varas;

II – protocolar e registrar os feitos, e fazer anotações sôbre

seu andamento;

III – registrar as sentenças em livro próprio;

IV – remeter à Instância Superior os processos em grau de

recurso;

V – preparar o expediente para despachos e audiências;

VI – exibir os processos para consulta pelos advogados e

prestar informações sôbre os feitos e seu andamento;

VII – expedir certidões extraídas dos autos, livros, fichas e

demais papéis sob sua guarda;

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Justiça Federal: primeira instância

VIII – enviar despachos e demais atos judiciais para a

publicação oficial;

IX – realizar diligências determinadas pelos Juízes e

Corregedores;

X – fazer a conta e a selagem correspondentes às custas dos

processos, bem assim quaisquer cálculos previstos em lei;

XI – efetuar a liquidação dos julgados, na execução de

sentença, quando fôr o caso;

XII – receber em depósito, guardar e avaliar bens penhorados

ou apreendidos por determinação judicial;

XIII – expedir guias para o recolhimento à repartição

competente de quantias devidas à Fazenda Pública;

XIV – realizar praças ou leilões judiciais;

XV – fornecer dados para estatísticas;

XVI – cadastrar o material permanente da Vara respectiva;

XVII – executar quaisquer atos determinados pelo Conselho da

Justiça Federal, Corregedor-Geral, Diretor do Fôro ou Juiz da Vara.

Art. 42 – Os atos e diligências da Justiça Federal poderão ser

praticados em qualquer Comarca do Estado ou Território pelos Juízes

locais ou seus auxiliares mediante a exibição de ofício ou mandado em

forma regular.

§ 1° – Sòmente se expedirá precatória, quando, por essa

forma fôr mais econômica e expedita a realização do ato ou diligência.

§ 2° – As diligências em outras Seções sempre que possível

serão solicitadas por via telegráfica ou postal com aviso de recepção.

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Justiça Federal: primeira instância

§ 3° – As malas dos serviços da Justiça Federal terão franquia

postal e gozarão de preferência em quaisquer serviços públicos de

transporte.

§ 4° – A Justiça Federal gozará, também, de franquia

telegráfica.

Art. 43 – Os Oficiais de Justiça terão carteira de identificação

visada pelo Juiz da Vara em que servirem e terão passe livre, quando em

exercício de suas funções, nas emprêsas de transportes da respectiva

Seção Judiciária.

Art. 44 – Mediante ordem judicial específica, os Oficiais de

Justiça terão livre acesso aos registros imobiliários, bem como aos livros e

documentos bancários, para o cumprimento de mandado de penhora,

seqüestro, arresto, busca ou apreensão de bens ou dinheiro em favor da

União ou de suas autarquias.

Capítulo V

Das Custas e Despesas do Processo

Art. 45 – As custas serão pagas na primeira instância pela

forma estabelecida no regimento e compreenderão todos os atos do

processo, inclusive a subida do recurso, dela ficando isentos os

beneficiados com a Justiça gratuita. Na segunda instância não serão

devidas custas, salvo nas certidões e traslados.

Parágrafo único – As custas recebidas serão relacionadas e

recolhidas, semanalmente, pelo Chefe da Secretaria, à repartição federal

arrecadadora competente, mediante guia visada pelo Juiz, como renda

extraordinária da União (redação conforme o item VI do art. 1° do

Decreto-lei n° 253, de 28/2/1967).

Redação primitiva – Não são devidas custas e quaisquer emolumentos na instância superior.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 46 – A União e suas autarquias estão isentas do

pagamento de custas.

Art. 47 – Os Chefes de Secretaria de Varas e os Diretores de

Secretaria de Tribunais ficarão sujeitos à multa de um quinto do valor das

custas do processo, quando este não fôr remetido à Superior Instância ou

devolvido ao Juízo de origem dentro de quinze dias contados,

respectivamente, do despacho ordinatório da subida do recurso ou do

trânsito em julgado da decisão superior.

Parágrafo único – A multa prevista neste artigo será aplicada,

de ofício ou a requerimento do interessado, pelo Juiz da Vara ou pelo

Presidente do Tribunal, e recolhida por guia com recibo nos autos, sob

pena de suspensão do pagamento dos vencimentos do infrator, até a

satisfação dessa exigência.

Capítulo VI

DOS VENCIMENTOS E VANTAGENS DOS JUÍZES E

SERVIDORES DA JUSTIÇA FEDERAL

Art. 48 – Os Juízes Federais e os Juízes Federais Substitutos

terão os vencimentos fixados no Anexo III desta Lei.

Art. 49 – Os vencimentos dos servidores da Justiça Federal

corresponderão aos valôres dos símbolos, constantes do Anexo IV desta

lei.

Art. 50 – Além dos vencimentos fixados para os respectivos

cargos, os Juízes e os servidores da Justiça Federal perceberão

gratificação adicional por tempo de serviço na base de cinco por cento

(5%), por qüinqüênio de efetivo exercício, até sete qüinqüênios (Lei n°

4.345, de 16 de julho de 1964, art. 10) e salário família nas mesmas

condições estabelecidas para os servidores públicos em geral.

Capítulo VII

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Justiça Federal: primeira instância

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 51 – As férias dos Juízes serão individuais e de sessenta

dias, gozadas de uma só vez, obedecida a escala organizada pelo

Conselho da Justiça Federal.

Parágrafo único – Não haverá férias forenses coletivas.

Art. 52 – Aos Juízes e servidores da Justiça Federal aplicam-

se, no que couber, as disposições do Estatuto dos Funcionários Públicos

Civis da União.

Art. 53 – Os Juízes e servidores da Justiça Federal serão

contribuintes obrigatórios do IPASE, facultado aos primeiros contribuir

para o Montepio Federal.

Art. 54 – Os serviços judiciários funcionarão nos locais e

horários estabelecidos pelo Conselho da Justiça Federal.

Art. 55 – O Juiz é responsável pelo regular andamento dos

feitos sob sua jurisdição e pelo bom funcionamento dos serviços auxiliares

que lhe estiverem subordinados.

Art. 56 – Nas Seções Judiciárias onde houver mais de um Juiz

Federal, o Conselho da Justiça Federal designará um dêles, anualmente,

para exercer as funções de Diretor do Fôro e Corregedor permanente dos

serviços auxiliares não vinculados diretamente às Varas.

Art. 57 – A União fará publicar no Diário Oficial de cada Estado

ou Território o "Boletim da Justiça Federal" no qual serão divulgados os

atos da respectiva Seção Judiciária, para os efeitos previstos em lei.

Art. 58 – A União e autarquias federais consignarão,

obrigatòriamente, em seus orçamentos, dotações para atender ao

pagamento de despesas decorrentes de sentenças judiciárias.

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Justiça Federal: primeira instância

§ 1° – Esgotada a dotação, o Presidente do Tribunal Federal

de Recursos proporá a abertura de créditos extra-orçamentários para os

fins indicados neste artigo.

§ 2° – As autoridades competentes deverão tomar as medidas

necessárias à abertura dos créditos, a fim de permitir que as dívidas

regularmente inscritas, no Tribunal Federal de Recursos, sejam liquidadas

no prazo de cento e vinte dias.

Art. 59 – Os pagamentos devidos pela União e pelas

autarquias federais em virtude de sentença judiciária far-se-ão na ordem

de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, sendo

proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias

e nos créditos extra-orçamentários abertos para êsse fim.

Parágrafo único – As dotações orçamentárias e os créditos

abertos serão consignados ao Poder Judiciário, recolhendo-se as

importâncias ao Banco do Brasil, em conta especial, à disposição do

Presidente do Tribunal Federal de Recursos, a quem caberá expedir as

ordens de pagamento, segundo as possibilidades do depósito.

Art. 60 – Na Seção Judiciária em que houver apenas uma

Vara, o Juiz Federal integrará o Tribunal Regional Eleitoral, tendo como

suplente o Juiz Federal Substituto.

Parágrafo único – Quando houver mais de uma Vara, o

Tribunal Federal de Recursos, indicará, com o seu suplente, o Juiz Federal

que integrará o Tribunal Regional Eleitoral.

Art. 61 – Na Seção em que houver Varas da Justiça Federal

especializadas em matéria criminal, a estas caberá o processo e

julgamento dos mandados de segurança e de quaisquer ações ou

incidentes relativos a apreensão de mercadorias, entradas ou saídas

irregularmente do país, ficando o Juízo prevento para o procedimento

penal do crime de contrabando ou descaminho (Cód. Penal, art. 334).

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 62 – Além dos fixados em lei, serão feriados na Justiça

Federal, inclusive nos Tribunais Superiores:

I – os dias compreendidos entre 20 de dezembro e 6 de

janeiro, inclusive;

II – os dias da Semana Santa, compreendidos entre a quarta-

feira e Domingo de Páscoa;

III – os dias de segunda e têrça-feira de Carnaval;

IV – os dias 11 de agôsto e 1° e 2 de novembro.

Art. 63 – O Tribunal Federal de Recursos organizará, para

orientação da Justiça Federal de Primeira Instância e dos interessados,

Súmulas de sua jurisprudência, aprovadas pelo seu plenário, fazendo-as

publicar, regularmente, no Diário da Justiça da União e nos Boletins da

Justiça Federal das Seções.

§ 1° – Poderão ser inscritos na Súmula os enunciados

correspondentes às decisões firmadas por unanimidade dos membros

competentes do Tribunal, num caso, ou por maioria qualificada, em dois

julgamentos concordantes, pelo menos.

§ 2° – Os enunciados da Súmula prevalecem e serão revistes,

no que couber, segundo a forma estabelecida no Regimento de Supremo

Tribunal Federal.

Art. 64 – Nos seus impedimentos temporários excedentes de

trinta dias, ou quando necessário, os membros do Tribunal Federal de

Recursos serão substituídos por Juízes Federais convocados na forma

prevista no seu Regimento.

Art. 65 – A Polícia Judiciária Federal será exercida pelas

autoridades policiais do Departamento Federal de Segurança Pública

observando-se, no que couber, as disposições do Código de Processo

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Justiça Federal: primeira instância

Penal (Decreto-lei n° 3.689, de 3/10/1941), da Lei n° 4.483, de 16 de

novembro de 1964 e demais normas legais aplicáveis ao processo penal.

Art. 66 – O prazo para conclusão do inquérito policial será de

quinze dias, quando o indiciado estiver prêso, podendo ser prorrogado por

mais quinze dias a pedido, devidamente fundamentado, da autoridade

policial e deferido pelo Juiz a que competir o conhecimento do processo

Parágrafo único – Ao requerer a prorrogação do prazo para

conclusão do inquérito, a autoridade policial deverá apresentar o prêso ao

Juiz.

Art. 67 – A autoridade policial deverá remeter, em vinte e

quatro horas, cópia do auto de prisão em flagrante ao Procurador da

República que funcionar junto ao Juiz competente para o procedimento

criminal.

Art. 68 – Da expedição de alvará de soltura o Chefe de

Secretaria dará imediato conhecimento ao Procurador da República.

Art. 69 – O parágrafo único do artigo 21 do Código de

Processo Penal passa a ter a seguinte redação:

Parágrafo único – A incomunicabilidade, que não excederá de três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n° 4.215, de 27 de abril de 1963).

Art. 70 – A União intervirá, obrigatòriamente, nas causas em

que figurarem como autores ou réus, os partidos políticos, excetuadas as

de competência da Justiça Eleitoral e as sociedades de economia mista ou

emprêsas públicas com participação majoritária federal, bem assim os

órgãos autônomos especiais e fundações criados por lei federal.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 71 – Caberá ao Tribunal Federal de Recursos, em sessão

plenária, julgar os mandados de segurança contra ato ou decisão do

Conselho da Justiça Federal.

Art. 72 – É vedada, sob pena de nulidade, a nomeação de

cônjuge ou de parente até o segundo grau, consangüíneo ou afim do Juiz

Federal, para cargo dos serviços auxiliares da Seção Judiciária em que

servir.

Capítulo VIII

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Art. 73 – Dentro de vinte dias, a contar da publicação desta

lei, o Tribunal Federal de Recursos constituirá o Conselho da Justiça

Federal, que passará a funcionar imediatamente.

Art. 74 – As primeiras nomeações de Juízes Federais e de

Juízes Federais Substitutos serão feitas por livre escolha do Presidente da

República, dentre brasileiros de saber jurídico e reputação ilibada.

§ 1° – A nomeação do Juiz Federal e do Juiz Federal Substituto

será precedida do assentimento do Senado Federal.

§ 2° – Para o primeiro provimento dos cargos dos serviços

auxiliares da Justiça Federal poderão ser aproveitados servidores estáveis

da União, inclusive das Secretarias dos Tribunais Federais e das Varas da

Fazenda Federal do Distrito Federal e, ainda, servidores estáveis das

Varas da Fazenda Nacional dos Estados.

§ 3° – Nas Seções Judiciárias em que houver mais de uma

Vara, os decretos de nomeação dos Juízes Federais designarão as Varas

de que serão Titulares (parágrafo introduzido pelo item VII do artigo 1° do

Decreto-lei n° 253, de 28/2/1967).

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 15 – Os Juízes Federais e os Juízes Federais Substitutos

tomarão posse e entrarão em exercício dentro de sessenta dias contados

da publicação do Decreto de nomeação, cabendo ao Ministro Presidente do

Conselho da Justiça Federal designar a data para êsse ato (redação

conforme o inc. VIII do art. 1° do Decreto-lei n° 253, de 28/2/67).

Redação primitiva – Os Juízes Federais e os Juízes Federais Substitutos tomarão posse e entrarão no exercício dos respectivos cargos no prazo improrrogável de vinte dias, contados da publicação do ato de nomeação.

Art. 76 – Nas Seções Judiciárias onde existir apenas uma Vara,

o seu titular presidirá a Comissão de Instalação da Justiça Federal

composta do Juiz Federal Substituto, de um Procurador da República e de

um advogado militante, indicado pelo Conselho Seccional da Ordem dos

Advogados do Brasil, com a incumbência de:

I – escolher e indicar o prédio onde funcionará a Justiça

Federal;

II – preparar as minutas dos atos ou contratos necessários ao

uso ou locação do prédio;

III – apresentar ao Conselho o orçamento para a instalação

das Varas e serviços auxiliares;

IV – providenciar a compra de material, mobiliário, máquinas

e utensílios;

V – adotar medidas para o funcionamento provisório;

VI – executar os encargos cometidos pelo Conselho.

§ 1° – Nas Seções onde existir pluralidade de Varas,

integrarão a Comissão os demais Juízes Federais, sob a presidência do

titular da Primeira Vara.

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108

Justiça Federal: primeira instância

§ 2° – Os servidores nomeados na forma do artigo 74, § 2°,

tomarão posse perante o Juiz titular da Vara única ou da Primeira Vara, e

colaborarão nos atos de instalação da Justiça Federal (redação conforme o

disposto no item IX, do art. 1° do Decreto-lei n° 253, de 28/2/1967).

Redação primitiva – Os servidores nomeados na forma do art. 73 tomarão posse perante o Juiz titular da Vara única, ou da primeira Vara, e colaborarão nos atos de instalação da Justiça Federal.

Art. 77 – Os livros e arquivos dos atuais cartórios das Varas da

Justiça local, privativas dos feitos da Fazenda Nacional, passarão para as

Varas Federais do mesmo número das Seções Judiciárias respectivas.

Parágrafo único – Nas Seções Judiciárias onde não fôr

exeqüível a medida prevista neste artigo, o Diretor do Fôro proverá a

respeito.

Art. 78 – As Secretarias abrirão novos livros ou fichas nos

quais registrarão os feitos recebidos dos Cartórios da Justiça local e os

que lhe forem distribuídos diretamente.

Art. 79 – Nas Seções Judiciárias providas de mais de uma

Vara, enquanto não fôr criado o cargo de Distribuidor, o Diretor do Fôro

designará um Oficial Judiciário para exercer as atribuições a êle

pertinentes, cabendo-lhe, ainda, o recebimento, guarda e conservação dos

livros e papéis que constituem o arquivo dos atuais Distribuidores dos

Feitos da Fazenda Nacional.

Art. 80 – Enquanto não forem nomeados e empossados os

Juízes a que se refere o art. 94, inc. II, "in fine", da Constituição, com a

nova redação que lhe deu o art. 6° do Ato Institucional n° 2, continuarão

a funcionar nos feitos da competência da Justiça Federal os Juízes

estaduais aos quais a legislação anterior atribuía essa jurisdição.

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Justiça Federal: primeira instância

§ 1° – Essa competência residual temporária não cessará,

depois da posse do titular federal, nos processos cuja instrução houver

sido iniciada em audiência, quer perante as Varas especiais dos feitos da

Fazenda Nacional, quer perante as Varas da Justiça comum, em todos os

feitos que passaram para a competência da Justiça Federal.

§ 2° – Os serventuários e auxiliares da Justiça Estadual

servirão, igualmente, nos feitos de que trata êste artigo, até a posse dos

titulares federais.

§ 3° – No período compreendido entre a cessação da

competência residual dos Juízes Estaduais, salvo nos feitos a que já

estejam vinculados e a efetiva instalação da Justiça Federal, ou de uma de

suas Varas, onde houver mais de uma, ficam suspensos os prazos de

prescrição e de decadência que dentro nêle se vencerem (parágrafo

introduzido pelo item X do art. 1° do Decreto-lei n° 253, de 28/2/1967).

Art. 81 – Os processos que passaram para a competência da

Justiça Federal sòmente lhe serão remetidos após o pagamento das custas

dos atos até então praticados, e por quem forem elas devidas, ou por

qualquer interessado.

Art. 82 – O Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Federal de

Recursos farão baixar, de ofício, e independente de pagamento de custas

aos Juízos de origem, dentro de trinta dias da publicação desta lei, os

processos com decisão passada em julgado, recurso deserto ou

desistência homologada.

Art. 83 – Serão declaradas peremptas, e arquivadas, por

despacho, as ações propostas contra a União e suas autarquias, que

estejam paralisadas há mais de um ano, se, dentro de trinta dias,

contados da publicação desta lei, não forem cumpridas as diligências

determinadas aos autores.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 84 – Serão arquivados, cancelando-se a dívida respectiva,

os executivos fiscais inferiores à metade do maior salário mínimo vigente

no país.

Art. 85 – Enquanto a União não possuir estabelecimentos

penais, a custódia de presos à disposição da Justiça Federal e o

cumprimento de penas por ela impostas far-se-ão nos dos Estados, do

Distrito Federal e dos Territórios.

Art. 86 – Serão conservados no exercício dos seus cargos os

Distribuidores das extintas Varas da Fazenda Pública do Estado da

Guanabara (redação de acôrdo com o item XI do art. 1° do Decreto-lei n°

253, de 28/2/1967).

Redação primitiva: Serão conservados no exercício dos seus cargos e perceberão as custas em vigor no Estado da Guanabara os Distribuidores das extintas Varas da Fazenda Pública Federal daquele Estado.

§ 1° – Seus cargos serão extintos à medida que se vagarem e

os servidores em exercício nos ofícios que se extinguirem serão

aproveitados no que fôr compatível com as respectivas habilitações em

vagas que ocorrerem nos quadros da Justiça Federal, Seção da

Guanabara, devendo ser aposentados se contarem 30 (trinta) ou mais

anos de serviço, e não forem aproveitados,

§ 2° – Poderão, ainda, os referidos servidores ser aproveitados

a Juízo do Govêrno do Estado da Guanabara, nos quadros da Justiça

Estadual.

§ 3° – Os servidores e serventuários da Justiça do antigo

Distrito Federal que, com a mudança da Capital Federal para Brasília,

passaram a integrar os serviços judiciários do Estado da Guanabara, e

que, em decorrência desta lei, pela perda de suas atribuições, venham a

ser aposentados ou postos em disponibilidade pelo Govêrno local, terão

seus proventos de aposentadoria ou disponibilidade pagos pela União, nos

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111

Justiça Federal: primeira instância

têrmos da legislação federal em vigor, respeitado, em qualquer hipótese,

o limite fixado pelo art. 13 da Lei n° 4.863, de 29 de novembro de/1965.

§ 4° – Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior, os

serventuários e servidores perceberão os proventos de aposentadoria

próprios a seus cargos atuais, acrescidos da média aritmética das

percentagens recebidas pela cobrança da dívida ativa da União Federal e

autarquias durante os últimos trinta e seis meses, contados

regressivamente do dia em que a aposentadoria ou a disponibilidade fôr

decretada.

Art. 87 – O Conselho da Justiça Federal, dentro de trinta dias a

contar de sua instalação, enviará ao Poder Executivo ante-projeto de lei

que institua o Regimento de Custas.

§ 1° – Até que entre em vigor o Regimento de Custas da

Justiça Federal, aplicar-se-á, em cada Seção Judiciária, o Regimento de

Custas da Justiça Estadual respectiva, vedada ao Juiz a percepção de

percentagens ou custas, a qualquer título.

§ 2° – O Conselho da Justiça Federal fará, anualmente, a

revisão do Regimento propondo as alterações que se fizerem necessárias

pela aplicação dos índices de correção monetária (originalmente constituía

este o parágrafo 3°. Com a derrogação do parág. 2° tornou-lhe o lugar

por disposição do inc. XII do art. 1° do Decreto-lei n° 253, de 28/2/1967).

Redação do § 2° derrogado: As custas a que se refere o parágrafo anterior serão relacionadas pelo Chefe da Secretaria e recolhidas, semanalmente, à repartição federal arrecadadora competente, mediante guia visada pelo Juiz, como renda extraordinária da União.

Art. 88 – São criados, no quadro da Justiça Federal:

I – quarenta e quatro cargos de Juiz Federal;

II – quarenta e quatro cargos de Juiz Federal Substituto;

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Justiça Federal: primeira instância

III – quarenta e quatro cargos de Chefe de Secretaria;

IV – cento e dez cargos de Oficial Judiciário;

V – vinte e nove cargos de Depositário-Avaliador;

VI – noventa e oito cargos de Auxiliar Judiciário;

VII – cento e sessenta e um cargos de Oficial de Justiça;

VIII – quarenta e quatro cargos de Porteiro;

IX – oitenta e oito cargos de Auxiliar de Portaria;

X – cento e dezesseis cargos de Servente.

Art. 89 – São criados, no Ministério Público Federal junto à

Justiça comum, três cargos em comissão de Subprocurador-Geral da

República.

§ 1° – Os cargos a que se refere êste artigo terão a

designação de terceiro, quarto e quinto Subprocurador-Geral da

República, e seus ocupantes funcionarão mediante designação do

Procurador-Geral da República.

§ 2° – Os atuais ocupantes da primeira e segunda

Subprocuradorias-Gerais da República continuarão com a mesma sede e

com as atribuições previstas, quanto ao primeiro, nos artigos 33 e 34 da

Lei n° 1.341, de 30 de janeiro de 1951, e, quanto ao segundo, no artigo

90, inciso I, da Lei n° 3.754, de 14 de abril de 1960.

Art. 90 – São criados na carreira do Ministério Público Federal

junto à Justiça comum:

I – nove cargos de Procurador da República de primeira

categoria;

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Justiça Federal: primeira instância

II – treze cargos de. Procurador da República de segunda

categoria;

III – vinte cargos de Procurador da República de terceira

categoria.

§ 1° – Os cargos a que se refere êste artigo, assim como os

demais cargos já existentes na carreira do Ministério Público Federal junto

à Justiça comum, serão lotados nos Estados, no Distrito Federal e nos

Territórios mediante decreto do Poder Executivo.

§ 2° – Os cargos de Procurador da República, a que se refere

êste artigo, serão providos no nível inicial da carreira, mediante concurso

de títulos e provas a ser realizado dentro de cento e oitenta dias a contar

da publicação desta lei.

Art. 91 – São aproveitados, nos cargos, ora criados, de

Procurador da República de terceira categoria, os atuais Procuradores da

República Adjuntos, ficando extintos os seus cargos.

§ 1° – O cargo de Procurador da República de terceira

categoria passa a constituir o grau inicial da carreira do Ministério Público

Federal junto à Justiça comum.

§ 2° – As atribuições pertinentes aos cargos de Procurador de

terceira categoria criados por esta lei e não providos pela forma prevista

neste artigo serão exercidas, até que haja candidatos aprovados em

concurso, por Assistentes e Procuradores dos Serviços Jurídicos da União

e de suas autarquias, ou do Ministério Público do Distrito Federal.

§ 3° – Poderão ainda os servidores a que se refere o parágrafo

anterior exercer as atribuições dos cargos de Procurador de primeira e

segunda categorias, ora criados e não providos em razão de recusa de

promoção.

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Justiça Federal: primeira instância

§ 4° – Para o cumprimento do que dispõe os §§ 2° e 3°, fica o

Procurador-Geral da República autorizado a fazer as necessárias

requisições às autoridades competentes.

Art. 92 – Enquanto não fôr promulgada a nova Lei Orgânica do

Ministério Público Federal, compete aos Subprocuradores-Gerais e aos

Procuradores da República, conforme o caso, e na forma determinada pelo

Procurador-Geral da República, promover ação penal e intervir em todos

os feitos criminais sujeitos à jurisdição da Justiça Federal.

Art. 93 – São criados no Ministério Público da União junto à

Justiça Militar, dois cargos de Promotor de Primeira Categoria, que

funcionarão na Procuradoria-Geral da Justiça Militar.

Art. 94 – É o Poder Executivo autorizado a abrir, pelo

Ministério da Justiça e Negócios Interiores, o crédito especial de Cr$

7.000.000.000 (sete bilhões de cruzeiros), para atender às despesas

decorrentes da execução desta lei.

Parágrafo único – O crédito a que se refere este artigo será

registrado pelo Tribunal de Contas e automaticamente distribuído ao

Tesouro Nacional.

Art. 95 – Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.

Art. 96 – Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, em 30 de maio de 1966; 145° da Independência e

78° da República.

H. CASTELLO BRANCO

Mem de Sá

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Justiça Federal: primeira instância

DECRETO N° 848, DE 11 DE OUTUBRO DE 1890(*)

Organiza a Justiça Federal

Parte Primeira

Título I

Capítulo I

Art. 1° – A Justiça Federal será exercida por um Supremo

Tribunal Federal e por juízes inferiores intitulados – Juízes de Seção.

Art. 2° – Os juízes federais serão vitalícios e inamovíveis e não

poderão ser privados dos seus cargos senão em virtude de sentença

proferida em juízo competente e passada em julgado.

Parágrafo único – Poderão, entretanto, os juízes inferiores, se

o requererem, ser removidos de uma para outra seção.

Art. 3° – Na guarda e aplicação da Constituição e das leis

nacionais a magistratura federal só intervirá em espécie e por provocação

da parte.

Art. 4° – Ao Presidente da República compete nomear os

juízes federais, dependendo da aprovação do Senado a nomeação dos

membros do Supremo Tribunal Federal.

Capítulo II

DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Art. 5° – O Supremo Tribunal Federal terá a sua sede na

Capital da República e compor-se-á de quinze juízes, que poderão ser

tirados dentre os juízes secionais ou dentre os cidadãos de notável saber e

reputação, que possuam as condições de elegibilidade para o Senado.

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(*) — As importâncias em dinheiro não foram convertidas para cruzeiros novos, figurando conforme constam no original.

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Justiça Federal: primeira instância

Parágrafo único – Os parentes consangüíneos ou afins, na

linha ascendente e descendente e na colateral até o segundo grau, não

podem ao mesmo tempo ser membros do Supremo Tribunal Federal.

Art. 6° – O Presidente da República nomeará um dos membros

do Supremo Tribunal Federal para exercer as funções de Procurador-Geral

da República.

Art. 7° – O Tribunal funcionará com a maioria dos seus

membros. Na falta de número legal serão chamados sucessivamente os

juízes das seções mais próximas, aos quais competirá jurisdição plena,

enquanto funcionarem como substitutos.

Art. 8° – O Tribunal decidirá as questões afetas a sua

competência, ora em primeira e única instância, ora em segunda e última

conforme a natureza ou o valor da causa.

Art. 9° – Compete ao Tribunal:

I – Instruir os processos e julgar em primeira e única

instância:

a) o Presidente da República nos crimes comuns;

b) os juízes de seção nos crimes de responsabilidade;

c) os ministros diplomáticos nos crimes comuns e nos de

responsabilidade;

d) os pleitos entre a União e os Estados ou dêstes entre si;

e) os litígios e as reclamações entre as nações estrangeiras e

a União ou os Estados;

f) a suspeição oposta a qualquer dos seus membros;

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Justiça Federal: primeira instância

g) os conflitos de jurisdição entre os juízes federais, ou entre

estes e os dos Estados.

II – Julgar em grau de recurso e em última instância:

a) as questões decididas pelos juízes de seção e de valor

superior a 2.000$000;

b) as questões relativas à sucessão de estrangeiros, quando o

caso não fôr previsto por tratado ou convenção;

c) as causas criminais julgadas pelos juízes de seção ou pelo

júri federal;

d) as suspeições opostas aos juízes de seção.

Parágrafo único – Haverá também recurso para o Supremo

Tribunal Federal das sentenças definitivas proferidas pelos Tribunais e

Juízes dos Estados:

a) quando a decisão houver sido contrária à validade de um

tratado ou convenção, à aplicabilidade de uma lei do Congresso Federal,

finalmente, à legitimidade do exercício de qualquer autoridade que haja

obrado em nome da União – qualquer que seja a alçada:

b) quando a validade de uma Lei ou ato de qualquer Estado

seja posta em questão como contrária à Constituição, aos tratados e às

leis federais e a decisão tenha sido em favor da validade da Lei ou ato;

c) quando a interpretação de um preceito constitucional ou de

lei federal, ou da cláusula de um tratado ou convenção, seja posta em

questão, e a decisão final tenha sido contrária à validade do título, direito

e privilégio ou isenção, derivado de preceito ou cláusula.

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Justiça Federal: primeira instância

III – Proceder à revisão dos processos criminais em que

houver sentença condenatória definitiva, qualquer que tenha sido o Juiz

ou Tribunal julgador.

§ 1° – Êste recurso é facultado exclusivamente aos

condenados, que interporão por si ou por seus representantes legais nos

crimes de todo o gênero excetuadas as contravenções.

§ 2°– A pena poderá ser relevada ou atenuada quando a

sentença revista fôr contrária a direito expresso ou à evidência dos autos,

mas em nenhum caso poderá ser agravada.

§ 3° – No caso de nulidade absoluta ou de pleno direito, o réu

poderá ser submetido a novo julgamento.

§ 4° – Em ato de revisão é permitido conhecer de fatos e

circunstâncias que, não constando do processo, sejam entretanto

alegados e provados perante o Supremo Tribunal.

§ 5° – A revisão será provocada por petição instruída com a

certidão autêntica das peças do processo e mais documentos que o

interessado queira juntar, independentemente de outra qualquer

formalidade.

§ 6° – O Supremo Tribunal poderá exigir do Juiz ou Tribunal

recorrido os documentos ou informações e mais diligências que julgar

necessárias para o descobrimento da verdade.

IV – Conceder ordem de habeas corpus em recurso voluntário,

quando tenha sido denegada pelos Juízes federais ou por juízes e tribunais

locais.

V – Apresentar anualmente ao Presidente da República a

estatística circunstanciada dos trabalhos e relatórios dos julgados.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 10 – Os membros do Supremo Tribunal Federal serão

julgados pelo Senado nos crimes de responsabilidade.

Capítulo III

DO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Art. 11 – Os membros do Supremo Tribunal Federal elegerão

dentre si um presidente e um vice-presidente, que servirão durante três

anos, podendo ser reeleitos.

Em seus impedimentos temporários será o presidente

substituído pelo vice-presidente, e êste pelo membro mais idoso do

Tribunal.

Art. 12 – Compete ao Presidente:

a) dar posse aos membros do Tribunal e aos juízes de seção

nomeados que se apresentem para esse fim;

b) nomear e demitir os empregados da secretaria e do juízo,

nos casos em que isto lhe é facultado por Lei, empossá-los de seus cargos

e ofícios, e na sua falta ou impedimento dar-lhes substitutos;

c) executar e fazer executar o Regimento interno;

d) dirigir os trabalhos do Tribunal e presidir às suas seções;

e) distribuir os feitos e proferir os despachos de expediente;

f) conceder licença nos têrmos da Lei aos membros do

Supremo Tribunal e aos juízes de seção;

g) organizar e enviar ao Presidente da República e à secretaria

do Senado a lista nominal dos juízes secionais, pela ordem da

antiguidade, sempre que se derem vagas no Supremo Tribunal.

Capítulo IV

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Justiça Federal: primeira instância

DOS JUÍZES DA SEÇÃO

Art. 13 – Cada Estado, assim como o Distrito Federal, formará

uma seção judicial, tendo por sede a respectiva capital, com um só juiz.

Art. 14 – Os juízes de seção serão nomeados pelo Presidente

da República dentre os cidadãos habilitados em direito com prática de

quatro anos, pelo menos, de advocacia ou de exercício de magistratura,

devendo ser preferidos, tanto quanto possível, os membros atuais desta.

Art. 15 – Compete aos juízes de seção processar e julgar:

a) as causas era que alguma das partes fundar a ação ou a

defesa em disposições da Constituição Federal, ou que tenham por origem

atos administrativos do Governo Federal;

b) os litígios entre um Estado e habitantes de outros Estados

ou do Distrito Federal;

c) os litígios entre os habitantes de Estados diferentes,

inclusive os do Distrito Federal, quando sôbre o objeto da ação houver

diversidade nas respectivas legislações, casos em que a decisão deverá

ser proferida de acôrdo com a lei do fôro do contrato;

d) as ações que interessarem ao fisco nacional;

e) os pleitos entre nações estrangeiras e cidadãos brasileiros,

ou domiciliados no Brasil;

f) as ações movidas por estrangeiros e que se fundem, quer

em contratos com o Govêrno da União, quer em convenções ou tratados

da União com outras nações;

g) as questões relativas à propriedade de posse de

embarcações, sua construção, reparos, vistoria, registro, alienação,

penhor, hipoteca e pessoal; as que versarem sôbre o ajuste e soldada dos

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Justiça Federal: primeira instância

oficiais e gente da tripulação; sôbre contratos de fretamento de navios,

dinheiros e risco, seguros marítimos; sôbre naufrágios e salvados,

arribadas forçadas, danos por abalroação, abandono, avarias; e em geral

as questões resultantes do direito marítimo e navegação, tanto no mar

como nos rios e lagos da exclusiva jurisdição da União, compreendidas

nas disposições da parte segunda do Código Comercial;

h) as causas provenientes de apresamento e embargos

marítimos em tempo de guerra, ou de auxílios prestados em alto-mar e

nos portos, rios e mares em que a República tenha jurisdição;

i) os crimes políticos classificados pelo Código Penal, no Livro

2°, Tít. 1° e seus capítulos, e Tít. 2°, Cap. 1°.

§ 1° – Os crimes cometidos em alto-mar a bordo de navios

nacionais, os cometidos nos rios e lagos que dividem dois ou mais

Estados, nos portos, nas ilhas que pertençam à União, e, em geral, nos

lugares de absoluta jurisdição do Govêrno Federal, serão, entretanto,

julgados pelas justiças locais, desde que não revistam o caráter de crimes

políticos.

§ 2° – Para o efeito do disposto no parágrafo antecedente,

quando o criminoso não puder ser processado e julgado no lugar em que

praticou o delito, sê-lo-á respectivamente às hipóteses constantes do

mesmo parágrafo, perante a justiça local do primeiro pôrto nacional em

que entre o navio, ou perante a mais próxima do lugar do delito, onde fôr

encontrado o delinqüente, ou, finalmente, perante aquela que haja

prevenido a jurisdição.

§ 3° – Igual regra se observará relativamente aos juízes de

seção, quando os crimes mencionados forem de natureza política.

Art. 16 – Quando um pleito, que em razão das pessoas ou da

natureza do seu objeto deva pertencer à competência da Justiça Federal,

fôr, não obstante, proposto perante um juiz ou tribunal de Estado, e as

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Justiça Federal: primeira instância

partes contestem a lide sem propor exceção declinatória, se julgará

prorrogada a jurisdição, não podendo mais a ação ser sujeita à jurisdição

federal, nem mesmo em grau de recurso, salvo nos casos especificados no

art. 9°, II, parágrafo único.

Art. 17 – O domicílio em cada Estado e no Distrito Federal será

presumido, para os efeitos da competência e jurisdição, pela residência

contínua de um ano, pelo menos, e em qualquer tempo pelo domínio de

bens de raiz e propriedade de estabelecimento industrial ou comercial, ou

outro qualquer fato que induza & intenção de residir.

Capítulo V

DOS SUBSTITUTOS DOS JUÍZES DE SEÇÃO

Art. 18 – Haverá em cada seção de Justiça Federal um juiz

substituto, nomeado pelo Presidente da República, que servirá seis anos,

não podendo ser removido durante êsse prazo, salvo se o requerer.

Art. 19 – Compete ao juiz substituto:

a) conhecer e julgar as suspeições opostas aos juízes de

seção, com apelação devolutiva tão-sòmente para o Supremo Tribunal;

b) substituir os juízes de seção em todos os impedimentos

dêstes.

Art. 20 – O Presidente da República nomeará um juiz ad hoc

em todos os casos em que não puder funcionar o juiz substituto.

Capítulo VI

DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Art. 21 – O membro do Supremo Tribunal Federal, que fôr

nomeado Procurador-Geral da República, deixará de tomar parte nos

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Justiça Federal: primeira instância

julgamentos e decisões, e, uma vez nomeado, conservar-se-á

vitalìciamente nesse cargo.

Art. 22 – Compete ao Procurador-Geral da República:

a) exercer a ação pública e promovê-la até final em tôdas as

causas da competência do Supremo Tribunal;

b) funcionar como representante da União, e em geral oficiar e

dizer de direito em todos os feitos submetidos à jurisdição do Supremo

Tribunal;

c) velar pela execução das leis, decretos e regulamentos, que

devam ser aplicados pelos juízes federais;

d) defender a jurisdição do Supremo Tribunal e a dos mais

juízes federais;

e) fornecer instruções e conselhos aos procuradores secionais

e resolver consultas dêstes, sôbre matéria concernente ao exercício da

Justiça Federal.

Art. 23 – Em cada seção de Justiça Federal haverá um

Procurador da República, nomeado pelo Presidente da República, por

quatro anos, durante os quais não poderá ser removido, salvo se o

requerer.

Art. 24 – Compete ao Procurador da República na seção:

a) promover e exercitar a ação pública, funcionar e dizer de

direito em todos os processos criminais e causas que recaiam sôbre a

jurisdição da Justiça Federal;

b) Solicitar instruções e conselhos do Procurador-Geral da

República, nos casos duvidosos;

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Justiça Federal: primeira instância

c) Cumprir as ordens do Govêrno da República relativas ao

exercício das suas funções, denunciar os delitos ou infrações da lei

federal, em geral promover o bem dos direitos e interêsses da União;

d) Promover a acusação e oficiar nos processos criminais

sujeitos à jurisdição federal até o seu julgamento final, quer perante os

juízes singulares, quer perante o Júri.

Art. 25 – Os procuradores secionais serão julgados nos crimes

de responsabilidade pelos juízes das respectivas seções, com recurso para

o Supremo Tribunal, no caso de condenação.

Art. 26 – Nas faltas ou impedimentos temporários dos

procuradores secionais, o Procurador Geral da República nomeará quem

os substitua.

Capítulo VII

DOS EMPREGADOS E SERVENTUÁRIOS

Art. 27 – Para o serviço da secretaria do Supremo Tribunal

haverá um secretário, dois oficiais, três amanuenses, dois contínuos e um

porteiro.

Parágrafo único – Para ser secretário é necessário ser

graduado em direito.

Art. 28 – Compete ao secretário, além do serviço ordinário de

seu cargo, escrever em todos os processos e diligências que correrem

perante o Supremo Tribunal, publicar anualmente os julgados deste,

lavrar as atas das suas seções e conferências, as portarias, ordens e

decisões do Tribunal e do seu presidente, digirir os trabalhos da secretaria

e quanto mais lhe fôr prescrito pelo Regimento interno. No impedimento

ou falta do secretário servirá um dos oficiais.

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125

Justiça Federal: primeira instância

Art. 29 – Os oficiais e amanuenses serão auxiliares imediatos

do secretário.

Art. 30 – Incumbe ao porteiro a guarda, limpeza e asseio da

casa do Tribunal, podendo auxiliá-lo um ou mais serventes a arbítrio do

presidente e sob proposta daquele funcionário.

Art. 31 – Os contínuos que acumularem as funções de oficiais

de justiça farão o serviço que nos auditórios é próprio de tais empregados,

da mesma maneira prescrita pelo Regimento interno, e como lhes fôr

ordenado.

Art. 32 – Junto a cada juiz de seção haverá um escrivão e

porteiros, contínuos ou oficiais de justiça, segundo as exigências do

serviço. Êstes empregados serão nomeados livremente pelo juiz

respectivo e por êle empossado de suas funções, não podendo o escrivão

ser destituído senão em virtude de sentença e sendo os demais

demissíveis ad nutum.

§ 1° – No Distrito Federal, e nos Estados de S. Paulo, Minas

Gerais e Pernambuco, servirão dois escrivães.

§ 2° – Na falta ou impedimento de qualquer dêstes

empregados, o juiz designará quem o substitua.

Capítulo VIII

DOS VENCIMENTOS, LICENÇAS E APOSENTADORIAS

Art. 33 – Os vencimentos dos magistrados federais, bem como

os dos demais funcionários, se regularão pela seguinte tabela, sendo dois

terços de ordenado e um de gratificação:

Membros do Supremo Tribunal Federal................18:000$000

Ao presidente do Supremo Tribunal mais juízes de

seção................................................................................2:000$000

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Justiça Federal: primeira instância

Do Distrito Federal............................................14:000$000

Dos Estados do Rio de Janeiro, S. Paulo, Minas Gerais, Rio

Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Pará............................10:000$000

Dos outros Estados.............................................8:000$000

Juízes Substitutos:

Do Distrito Federal..............................................6:000$000

Dos Estados do Rio de Janeiro, S. Paulo, Minas Gerais, Rio

Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Pará..............................4:000$000

Dos outros Estados.............................................3:000$000

Procuradores Secionais da República:

Do Distrito Federal..............................................6:000$000

Dos Estados do Rio de Janeiro, S. Paulo, Minas Gerais, Rio

Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Pará..............................4:000$000

Dos outros Estados.............................................3:000$000

Secretário do Supremo Tribunal............................7:000$000

Oficial de Secretaria do Supremo Tribunal..............4:000$000

Amanuense da Secretaria do Supremo Tribunal......3:000$000

Porteiro do Supremo Tribunal...............................2:400$000

Contínuo............................................................2:000$000

Parágrafo único – Para as despesas de primeiro

estabelecimento serão abonados aos membros do Supremo Tribunal

Federal, 1:500$000 e aos juízes de seção 1:000$000.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 34 – Êstes funcionários terão os vencimentos

especificados no Art. antecedente, sem outra qualquer retribuição.

§ 1° – Os emolumentos e custas que lhes deveriam ser

contados na forma dos regimentos vigentes, serão arrecadados pelos

secretários e escrivães e constituirão renda para o Tesouro Federal.

Art. 35 – O Presidente do Supremo Tribunal concederá licença

aos membros do mesmo Tribunal e aos juízes e procuradores de seção,

não devendo estas exceder o prazo de quatro meses, com ou sem

ordenado. Igual faculdade lhe é conferida em relação aos empregados da

secretaria. Em qualquer caso, porém, tais licenças não poderão ser

prorrogadas nem reproduzidas senão após um ano, contado da data da

primeira concessão.

Art. 36 – O Presidente do Supremo Tribunal e o Procura-dor-

Geral da República só poderão obter licença do Presidente da República,

que a concederá, quando solicitada, dentro dos limites determinados no

artigo antecedente.

Art. 37 – As licenças excedentes de quatro meses com ou sem

ordenado só poderão ser concedidas aos juízes e funcionários da justiça

federal pelo Congresso Nacional.

Art. 38 – Os juízes de seção poderão conferir licença aos

funcionários e empregados do juízo por quatro meses, nos termos do art.

35.

Art. 39 – Os membros do Supremo Tribunal e os juízes de

seção terão direito à aposentadoria, após dez anos de serviços, achando-

se em estado de invalidez, com vencimentos proporcionais ao tempo

decorrido, e com todos os vencimentos após vinte anos completos,

independente de qualquer condição.

Título II

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Justiça Federal: primeira instância

Capítulo IX

DO JÚRI FEDERAL

Art. 40 – Os crimes sujeitos à jurisdição federal serão julgados

pelo júri.

Art. 41 – O Júri Federal compor-se-á de doze juízes, sorteados

dentre trinta e seis cidadãos, qualificados jurados na capital do Estado

onde houver de funcionar o Tribunal e segundo as prescrições e

regulamentos estabelecidos pela legislação local.

O juiz da respectiva seção será o presidente do Tribunal do

Júri Federal.

Art. 42 – As decisões do Júri serão tomadas por maioria de

votos. O empate será em favor do réu.

Art. 43 – Das sentenças proferidas pelo Júri haverá apelação

voluntária para o Supremo Tribunal Federal, esta apelação não terá efeito

suspensivo, senão em caso de condenação do réu.

Art. 44 – O protesto por nôvo julgamento será admitido, com

exclusão de outro recurso, nos processos em que a sentença impuser

pena de prisão celular por trinta anos, ou banimento.

Parte Segunda

Título III

DO PROCESSO FEDERAL

Capítulo X

DO "HABEAS CORPUS"

Art. 45 – O cidadão ou estrangeiro que entender que ele ou

outrem sofre prisão ou constrangimento ilegal em sua liberdade, ou se

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Justiça Federal: primeira instância

acha ameaçado de sofrer um ou outro, tem direito de solicitar uma ordem

de habeas corpus em seu favor ou no de outrem.

Art. 46 – A petição para tal ordem deve designar:

a) o nome da pessoa que sofre a violência ou é ameaçada, o

de quem é dela causa ou autor;

b) o conteúdo da ordem por que foi metido na prisão, ou

declaração explícita de que, sendo requerida, lhe foi denegada, e, em caso

de ameaça, simplesmente as razões fundadas para temer o protesto de

lhe ser infringido o mal;

c) os motivos da persuação da ilegalidade da prisão ou do

arbítrio da ameaça.

Art. 47 – O Supremo Tribunal Federal e os juízes de seção

farão, dentro dos limites de sua jurisdição respectiva, passar de pronto a

ordem de habeas corpus solicitada, nos casos em que a lei o permita, seja

qual fôr a autoridade que haja decretado o constrangimento ou ameaça de

o fazer, excetuada, todavia, a autoridade militar, nos casos de jurisdição

restrita e quando o constrangimento ou ameaça fôr exercido contra

indivíduos da mesma classe ou de classe diferente, mas sujeitos a

regimento militar.

Art. 48 – Independentemente de petição, qualquer juiz ou

Tribunal Federal pode fazer passar uma ordem de habeas corpus ex officio

tôdas as vêzes que no curso de um processo chegue ao seu

conhecimento, por prova instrumental ou ao menos deposição de uma

testemunha de maior exceção, que algum cidadão, oficial de justiça ou

autoridade pública tem ilegalmente alguém sob sua guarda ou detenção.

Art. 49 – Da denegação da ordem de habeas corpus haverá

recurso para o Supremo Tribunal Federal, sendo lícito ao recorrente

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Justiça Federal: primeira instância

interpô-lo no prazo de quinze dias, contados da data da intimação do

despacho em que não fôra atendido.

Capítulo XI

DO PROCESSO CRIMINAL

Art. 50 – Os juízes federais procederão criminalmente,

provocada a sua ação por queixa ou denúncia.

Art. 51 – A queixa compete ao ofendido, seu pai, mãe, ou

cônjuge, tutor ou curador, sendo menor ou interdito.

Art. 52 – A denúncia compete aos procuradores da República e

a qualquer do povo.

a) nos crimes políticos;

b) nos crimes de responsabilidade da alçada federal.

Art. 53 – A queixa ou denúncia deve contar:

a) narração do fato criminoso, com tôdas as suas

circunstâncias;

b) o nome do delinqüente, ou os sinais característicos, se fôr

desconhecido;

c) as razões de convicção ou presunção;

d) nomeação de todos os informantes e testemunhas, não

excedendo estas o número de seis;

e) o tempo e o lugar em que foi o delito cometido.

Art. 54 – Exibida em juízo a queixa ou denúncia ou requerida a

citação do delinqüente, o juiz a ordenará por seu despacho, no qual serão

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Justiça Federal: primeira instância

declarados o fim para que e o lugar e tempo em que deve o delinqüente

comparecer, guardando o disposto no art. 96.

Se o delinqüente residir em lugar diferente do da residência do

juiz, ou estranho à sua jurisdição, será citado por precatória dirigida ao

juiz local ou federal.

Art. 55 – As testemunhas serão citadas na forma acima

prescrita e serão obrigadas a comparecer no lugar e tempo que lhes fôr

marcado, não podendo eximir-se desta obrigação por privilegio de ordem

alguma; se, entretanto, residirem em lugar diferente do juiz, êste

expedirá precatória ao juiz local ou federal, rogando lhe que as interrogue

sôbre o fato criminoso e suas circunstâncias.

Art. 56 – Comparecendo o réu em juízo, ser-lhe-ão lidas tôdas

as peças do processo a que é submetido e em sua presença reinquiridas e

reperguntadas as testemunhas ouvidas em sua ausência, se assim o

requerer.

Art. 57 – Cada vez que duas ou mais testemunhas divergirem

em suas declarações, o juiz as reperguntará em face uma da outra,

mandando que expliquem a contradição ou divergência, se assim lhe fôr

requerido por qualquer das partes.

Art. 58 – O réu será interrogado pela forma seguinte:

a) qual o seu nome, naturalidade e residência?

b) se tem motivo particular a que atribua a queixa ou

denúncia?

c) se é ou não culpado?

Parágrafo único – Não é permitido ao juiz acrescentar outras

às perguntas acima taxadas; ao réu, entretanto, será lícito alegar quando

lhe fôr conveniente, devendo ser escritas tôdas as suas declarações.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 59 – Ao denunciante, o queixoso, pode o juiz fazer as

perguntas que lhe parecerem necessárias para o descobrimento da

verdade.

Art. 60 – A confissão do réu em juízo provará o delito, quando

coincidir com circunstâncias do fato.

Art. 61 – O acusado poderá fazer juntar ao processo todos os

documentos que justifiquem ou provem sua inocência. O juiz conceder-

lhe-á prazo razoável para tal fim.

Art. 62 – Da inquirição das testemunhas, interrogatório e

informações se lavrará têrmo que será escrito pelo escrivão e assinado

pelo juiz, testemunhas e partes.

Art. 63 – Se das peças do processo resultar pleno

conhecimento do delito e indícios veementes, que devam convencer o juiz

de quem seja o delinqüente, assim o declarará aquêle em seu despacho,

pronunciando o réu especificadamente e obrigando-o à prisão, nos casos

em que esta tem lugar e sempre a livramento, arbitrada a fiança, se fôr

caso dela.

Art. 64 – Quando o juiz não obtenha pleno conhecimento do

delito ou indícios veementes de quem seja o delinqüente, declarará por

seu despacho nos autos, que não julga procedente a queixa ou denúncia.

Art. 65 – É livre às partes recorrer para o Supremo Tribunal

Federal do despacho de pronúncia ou improcedência da queixa ou

denúncia. O recurso é suspensivo e será interposto dentro de cinco dias,

contados da intimação do despacho e cada uma das partes. Ficará

traslado dos autos no cartório, e a expedição de recurso, bem como a

cópia do processo serão feitas à custa do recorrente. Será julgado deserto

o recurso que fôr expedido dentro de trinta dias improrrogáveis, contados

da data de sua interposição. O despacho de pronúncia ou improcedência

produzirá em todo caso e desde logo todos os efeitos de direito.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 66 – Logo que passar em julgado o despacho de

pronúncia, o acusador será notificado para oferecer em juízo o seu libelo

acusatório dentro de vinte e quatro horas improrrogáveis, sob as penas de

revelia e perempção da ação.

Art. 67 – Oferecido libelo com o rol das testemunhas e

quaisquer documentos que instruam serão as ditas peças juntadas aos

autos, dos quais se dará vista ao acusado por quarenta e oito horas

improrrogáveis, para contrariar, sendo permitido a êste acrescentar rol de

testemunhas e instrumentos em sua defesa.

Art. 68 – A ação criminal será julgada perempta nos casos em

que não couber denúncia, quando o libelo não houver sido oferecido em

tempo ou não comparecer no Júri o acusado por si ou por procurador,

devidamente autorizado.

Em um e outro caso, a sentença de perempção será proferida

pelo juiz e presidente do Tribunal do Júri, independente de reclamação de

partes.

Art. 69 – A ação criminal prosseguirá à revelia do acusador,

nos casos em que couber denúncia. Se esta proceder de pessoa do povo,

o procurador da República a continuará até os têrmos finais; e se êste for

a revel, nomeará o juiz procurador ad hoc para prosseguir no feito, seja a

revelia procedente de falta de libelo em tempo oportuno, seja de falta de

compadecimento no tribunal do Júri. O procurador da República será em

um e outro caso sujeito a processo de responsabilidade, como no caso

couber, e ser-lhe-á formada culpa ex officio pelo respectivo juiz.

Art. 70 – Quando a acusação fôr abandonada por qualquer do

povo e o procurador da República houver de prosseguir na ação, será

condenado em custas, se as houver o denunciante, não podendo em caso

algum serem-lhe estas contadas a favor. A revelia do procurador da

República sujeita-o à satisfação do dano causado, que será arbitrado pelo

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Justiça Federal: primeira instância

juiz, não tendo sido justificada a falta daquele funcionário, do qual, em

todo caso, serão subtraídos vencimentos correspondentes aos dias de

trabalho do substituto ad hoc nomeado, em proveito dêste e justa

retribuição.

Art. 71 – Ultimado o processo de formação de culpa, oferecido

o libelo e contrariedade, e notificadas as partes e testemunhas, o juiz

federal oficiará às justiças locais competentes, para que constituam o Júri

no mais breve prazo. Esta diligência efetuada, o juiz federal assumirá a

presidência do tribunal, e verificado o comparecimento das partes,

testemunhas e jurados em número legal, abrirá a sessão, declarando o

tribunal constituído e procedendo em seguida ao sorteio do conselho, que

se comporá de doze membros.

Art. 72 – À instalação do tribunal do Júri Federal procederão

editais, marcando definitivamente o dia, hora e lugar da reunião e

notificando de nôvo as partes e testemunhas.

Art. 73 – Encontra-se no sorteamento para formação do

conselho, e à medida que o nome de cada juiz de fato fôr sendo lido pelo

juiz federal, farão o acusado e o acusador suas recusações, sem as

motivarem. Cada um poderá recusar doze jurados.

Art. 74 – Se os acusados forem dois ou mais, poderão

combinar suas recusações; mas, não combinando, ser-lhe-á permitida a

separação do processo, e nesse caso cada um poderá recusar até doze

jurados.

Art. 75 – São inibidos de servir no mesmo conselho

ascendentes e seus descendentes, sogro e genro, irmãos e cunhados

durante o cunhados. Dêstes o primeiro sorteado é o que deve ficar no

conselho.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 76 – Preenchido o número de juízes de fato, que

efetivamente formarão o Júri, o juiz federal lhes tomará a promessa

solene e pública de bem e fielmente cumprirem o seu dever.

Art. 77 – Tôdas as questões essenciais ou incidentais, que

versarem sôbre fatos e de que dependerem as deliberações finais, serão

decididas pelos juízes de fato; as de direito sê-lo-ão pelo juiz federal.

Art. 78 – Depois de formado o conselho, o juiz federal

interrogará o réu pelo modo e forma estabelecidos para a formação da

culpa. Findo o interrogatório, o escrivão lerá todo o processo e as últimas

respostas do réu, que estarão nêle escritas.

Art. 79 – O advogado do acusador abrirá o Código e mostrará

o artigo e grau da pena em que pelas circunstâncias entende que o réu se

acha incurso, lerá o libelo e depoimentos de testemunhas e aduzirá as

provas em que se êle firmar.

Art. 80 – Serão em seguida introduzidas no salão da sessão,

uma após outra, as testemunhas do acusador, que deporão sôbre os

artigos e libelo, sendo primeiro inquiridas pelo acusador, ou seu

advogado, ou procurador, e depois pelo réu, seu advogado, ou

procurador.

Art. 81 – Findo êste ato, o advogado do réu desenvolverá sua

defesa, deduzidas em artigos claros e sucintos.

Art. 82 – As testemunhas do réu serão introduzidas após, e

deporão sôbre os artigos da contrariedade, sendo inquiridas primeiro pelo

advogado do réu, e depois pelo do acusador ou autor.

Art. 83 – O autor e por último o réu, por si ou por seus

procuradores, explicarão verbalmente aos argumentos contrários e

poderão requerer a repergunta de alguma ou de algumas testemunhas já

inquiridas.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 84 – Achando-se a causa no estado de ser decidida por

parecer aos jurados que nada mais resta a examinar, o juiz federal

proporá por escrito ao conselho as questões relativas ao fato criminoso e

suas circunstâncias.

Art. 85 – Entre as questões propostas ao réu será a primeira

sempre de conformidade com o libelo acusatório; assim o juiz a proporá

nos seguintes termos: "O réu praticou o fato (referindo-se ao libelo) com

tal e tal circunstância?".

Art. 86 – Se resultar dos debates o conhecimento da

existência de alguma ou algumas circunstâncias agravantes não

mencionadas no libelo, proporá também a seguinte questão: "O réu

cometeu o crime com tal ou tal circunstância agravante?".

Art. 87 – Se o réu apresentar em sua defesa, ou no debate

alegar como escusa fato ou justificação que o isente de pena, o juiz

proporá a seguinte questão:

"O Júri reconhece a existência de tal fato ou circunstância?".

Art. 88 – Se o réu fôr menor de quatorze anos, o juiz fará a

seguinte questão: "O réu obrou com discernimento?".

Art. 89 – O juiz proporá sempre a seguinte questão: "Existem

circunstâncias atenuantes a favor do réu?".

Art. 90 – Quanto aos pontos da acusação que forem diversos,

o juiz proporá, acêrca de cada um dêles, todos os quesitos indispensáveis

e quantos julgar convenientes à aplicação esclarecida da lei aos fatos

ocorrentes.

Art. 91 – Retirando-se os jurados à outra sala, conferenciarão

sós e às portas fechadas sôbre cada uma das questões propostas, e o que

fôr julgado pela maioria absoluta de votos será escrito e publicado.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 92 – Em seguimento e na mesma seção o juiz federal,

conformando-se com as decisões do Júri e aplicando-lhes a lei, absolverá

ou condenará o acusado, mandando-o pôr em imediata liberdade, se

estiver prêso e a sentença concluir por absolvição.

Art. 93 – Será concedido às partes prazo de três dias para

interposição do recurso das sentenças do Tribunal do Júri e bem assim

para o protesto por novo julgamento.

Art. 94 – Serão decididos e regulados pelas leis e regimentos

locais todos os casos não previstos no presente Decreto e relativos à

instalação do tribunal do Júri, aos trabalhos dêste, à prisão e fiança,

devendo os juízes do Estado prestar à Justiça Federal todo o auxílio que

lhes fôr legalmente invocado.

Art. 95 – A acusação dos empregados públicos em crime de

responsabilidade será feita perante o Júri, guardadas no sumário e no

plenário as formalidades acima prescritas. Excetuam-se:

a) os funcionários com o fôro especial e privilegiado,

estabelecido pela Constituição ou lei do Congresso;

b) os militares, que por crime de emprêgo militar serão

acusados no juízo de seu fôro;

c) os funcionários federais, que tiverem sòmente de ser

advertidos ou castigados com penas disciplinares.

Art. 96 – Apresentada a denúncia ou queixa contra funcionário

público, o juiz lhe mandará dar vista imediata, por quinze dias

improrrogáveis, e bem dos documentos que a instruírem e, findo o prazo,

com resposta ou sem ela, dará comêço à formação da culpa, prosseguindo

nos têrmos ulteriores, como de direito.

Capítulo XII

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Justiça Federal: primeira instância

DO PROCESSO CIVIL E COMERCIAL

Art. 97 – Tôdas as questões de natureza civil ou comercial,

que recaem sob a jurisdição dos Tribunais Federais, serão processadas e

julgadas de acôrdo com as prescrições da presente lei.

Capítulo XIII

DA ORDEM DO JUÍZO

Art. 98 – A citação pode ser feita por despacho, por

precatória, por editais ou com hora certa.

Art. 99 – Para citação requer-se:

a) que o oficial da diligência leia, à própria pessoa que vai

citar, o requerimento da parte com o despacho do juiz, dando-lhe

contrafé, embora esta não seja solicitada;

b) que na fé da citação que passar no requerimento declare

que deu contrafé, e bem assim, se a parte citada a recebeu ou não quis

receber.

Art. 100 – A citação subentende-se feita para a audiência

seguinte, nunca para o mesmo dia da citação; e para lugar do costume,

se outro não fôr designado.

Art. 101 – A citação será feita por despacho, quando for

dentro da cidade e arrabaldes.

Art. 102 – A precatória deve conter:

a) o nome do juiz deprecado, anteposto ao do deprecante;

b) o lugar de onde se expede e para onde é expedida;

c) a petição e o despacho verbo ad verbum;

d) os têrmos rogatórios de estilo.

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139

Justiça Federal: primeira instância

Art. 103 – Para citação edital requer-se:

a) que se justifique a incerteza ou ausência da pessoa que há

de ser citada; achando-se em parte incerta ou lugar não sabido, ou

inacessível, por motivo de peste ou guerra;

b) que os editais sejam fixados nos lugares públicos e

publicados pelos jornais, onde os houver; certificando o oficial no primeiro

caso e juntando-se no segundo aos respectivos autos o jornal ou a

pública-forma do anúncio;

c) que os prazos dos editais sejam marcados pelo juiz, sendo

de trinta dias, quando o réu se achar em lugar não sabido; ou prazo

razoável, conforme a distância, se êle se achar dentro ou fora do país,

mas em jurisdição incerta.

Art. 104 – Para a citação em hora certa, requer-se:

a) que a pessoa que tenha de ser citada, tendo sido procurada

por três vezes, se haja ocultado para evitar a citação, declarando-se assim

na fé que passar o oficial da diligência;

b) que a hora certa para a citação seja marcada pelo oficial

para o dia útil imediato, podendo-o fazer independente de nôvo despacho;

c) que à hora certa seja intimada a pessoa da família, ou da

vizinhança, não havendo família, ou não sendo encontrada pessoa capaz

de receber a citação;

d) que à pessoa assim intimada seja entregue contrafé com a

cópia da petição, do despacho do juiz, da fé de ter sido a parte

devidamente procurada e da hora designada para a citação:

e) que o oficial vá levantar a hora certa, e não encontrando a

parte, passe de tudo a competente fé, dando-se por feita a citação.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 105 – A citação pessoal só é necessária no princípio da

causa e da execução, citando-se também a mulher do réu ou do

executado, se a questão versar sôbre domínio de bens de raiz.

Art. 106 – Achando-se o réu fora do lugar onde a obrigação foi

contraída, poderá ser feita a primeira citação na pessoa de seus

mandatários, administradores, feitores ou gerentes, nos casos em que a

ação derivar de atos praticados pelos mesmos mandatários,

administradores, feitores ou gerentes. O mesmo terá lugar a respeito das

obrigações contraídas pelos capitães ou mestres de navios, consignatários

e sobrecargas, não se achando presente o principal devedor ou obrigado.

Art. 107 – A citação com hora certa é subsidiária da citação

pessoal, quando esta se não pode fazer, por se ocultar a pessoa que tem

de ser citada, ou seja, o réu, ou qualquer dos mandatários e prepostos de

que trata o artigo antecedente.

Art. 108 – A citação por precatória tem lugar quando a parte,

que tem de ser citada, se acha em lugar diferente ou em jurisdição alheia

à do juiz perante a qual tem de responder.

Art. 109 – Cumprida a precatória pelo juiz deprecado,

mandará êste citar a parte por despacho e hora certa, se tanto fôr

preciso.

Art. 110 – A citação por editais tem lugar:

a) quando fôr incerto ou inacessível, por causa de peste ou

guerra, o lugar em que se acha o ausente que tem de ser citado;

b) quando fôr incerta a pessoa que tem de ser citada;

c) quando cumprir fazer intimação de qualquer protesto

judicial ao ausente que não houver notícia.

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141

Justiça Federal: primeira instância

Art. 111 – Passado o têrmo marcado nos editais, com certidão

do oficial, e havida a parte por citada, e nomeando o juiz curador ao

ausente, com êle correrá o feito em seus devidos têrmos.

Art. 112 – No caso de ser feita a citação com hora certa, será

admitido o procurador que se apresentar voluntàriamente para responder

à ação, com procuração bastante, anterior e especial, e com êle correrá a

causa.

Art. 113 – O art. 105 não compreende o caso de haver

procurador bastante e especial ou geral para receber e propor ações

durante a ausência do constituinte, sendo, porém, necessária a citação da

mulher do réu ou do executado, se versar a questão sôbre domínio de

bens de raiz e não houver procuração especial dela.

Art. 114 – Acusada a primeira citação em audiência, se não

comparecer a parte citada por si ou por, seu procurador, seguirá a causa à

revelia até o final; mas, em todo caso, comparecendo a parte lançada,

será admitida a prosseguir no feito, nos têrmos em que êste se achar.

Art. 115 – Não comparecendo o autor por si ou por seu

procurador para fazer acusar a citação, ficará esta circunducta, sendo o

réu absolvido da instância; e não será novamente citado sem que o autor

prove, com certificado do escrivão, não dever custas em juízo.

Capítulo XIV

DAS AÇÕES

Art. 116 – Tôdas as questões de natureza civil e comercial

serão propostas no juízo federal, quando recaiam sob jurisdição, por meio

de ação ordinária, sumária e executiva.

Capítulo XV

DA AÇÃO ORDINÁRIA

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 117 – A ação ordinária é competente em tôdas as causas

de valor excedente a um conto de réis, quando a estas não fôr assinalada

ação especial.

Art. 118 – A ação ordinária será iniciada por uma simples

petição, que deve conter:

a) o nome do autor e do réu;

b) o contrato, transação ou fato de que resultar o direito e

obrigação correlata;

c) o pedido com tôdas as especificações e estimativa do valor,

quando não for determinado;

d) a indicação das provas e todos os documentos em que se

fundar a ação.

Art. 119 – Na audiência para a qual fôr o réu citado deve o

autor propor a ação, oferecendo a mesma petição inicial.

Art. 120 – Se forem muitos os réus e não puderem ser todos

citados para a mesma audiência, serão acusadas as citações à medida que

se fizerem; e a proposição da ação terá lugar na audiência em que fôr

acusada a última citação.

Art. 121 – Proposta a ação, na mesma audiência se assinará o

têrmo de dez dias para a contestação.

Capítulo XVI

DAS EXCEÇÕES

Art. 122 – Nas causas de jurisdição federal só têm lugar as

seguintes exceções:

a) incompetência;

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Justiça Federal: primeira instância

b) suspeição,

Art. 123 – As demais exceções, dilatórias ou peremptórias,

constituem matéria de defesa e serão alegadas na contestação.

Art. 124 – A exceção de suspeição precede a de

incompetência.

Art. 125 – Da exceção de incompetência se dará vista ao autor

por cinco dias para impugná-la, findos os quais o juiz rejeitará ou

receberá.

Art. 126 – Sendo recebida, se porá em prova com uma dilação

de dez dias, depois da qual, conclusos os autos com as provas produzidas,

e sem mais alegações, o juiz julgará definitivamente.

Art. 127 – Sendo rejeitada, se assinará nôvo termo ao réu

para a contestação.

Art. 128 – A exceção da suspeição deve ser oposta em

audiência e oferecida por advogado.

Art. 129 – Se o juiz conhecer a suspeição, o escrivão oficiará

ao substituto, declarando-lhe que lhe compete a decisão do feito.

Art. 130 – Se o juiz não conhecer a suspeição, ficará o feito

suspenso até a decisão dele e o escrivão remeterá imediatamente os

autos à autoridade competente.

Art. 131 – O conhecimento da suspeição do juiz de seção

federal compete ao juiz substituto respectivo.

Art. 132 – Remetidos os autos, e sendo conclusos, decidirá o

juiz preliminarmente se é legítima a suspeição.

Art. 133 – A suspeição é legítima, sendo fundada nos

seguintes motivos:

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Justiça Federal: primeira instância

a) inimizade capital;

b) amizade íntima;

c) parentesco por consangüinidade ou afinidade até ao

segundo grau, direito civil;

d) particular interêsse na decisão da causa.

Art. 134 – Não sendo legítima a suspeição, será a parte

condenada nas custas em tresdôbro, e a causa prosseguirá em seus

têrmos.

Art. 135 – Sendo legítima a suspeição, o substituto ouvirá o

juiz suspeitado, aprazando-lhe têrmo razoável.

Art. 136 – Findo o têrmo de audiência, cobrados os autos,

sendo mister, seguir-se-á a dilação das provas, que será de dez dias; e,

ouvidas as partes no têrmo de cinco dias assinados a cada uma delas, o

juiz decidirá definitivamente a suspeição.

Art. 137 – Se proceder a suspeição, pagará o juiz as custas e

a causa será devolvida ao substituto. Não procedendo a suspeição,

prosseguirá a causa e a parte pagará as custas.

Art. 138 – A suspeição não tem lugar na execução, salvo a

respeito de embargos de terceiros, e preferências.

Capítulo XVII

DA CONTESTAÇÃO

Art. 139 – A contestação deve conter simplesmente a

exposição dos motivos e causas, que podem elidir a ação. A ela se devem

ajuntar os documentos em que se funda.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 140 – Na contestação deve o réu inserir, antes da

alegação da matéria da defesa, argüição das nulidades de todos os atos e

têrmos que tiverem ocorrido até ao ponto da contestação.

Art. 141 – Não sendo a contestação oferecida no têrmo

assinado, seguir-se-á a dilação das provas.

Art. 142 – Oferecida a contestação, terá vista por dez dias

cada um, o autor para replicar, o réu para treplicar. E se a contestação,

ou réplica ou tréplica forem por negação, a causa ficará logo em prova a

requerimento de alguma das partes; da mesma forma se procederá

quando o autor não replicar, ou o réu não treplicar no têrmo assinado.

Capítulo XVIII

DA RECONVENÇÃO

Art. 143 – Se o réu quiser reconvir ao autor, proporá re-

convenção simultâneamente com a contestação no mesmo têrmo para ela

assinado e sem dependência de prévia citação do autor.

Art. 144 – Proposta a reconvenção e oferecida a contestação,

se assinará ao autor o têrmo de quinze dias para a contestação da

reconvenção e réplica da ação.

Art. 145 – Vindo o autor com a referida contestação e réplica,

se assinará ao réu igual têrmo para réplica da reconvenção e tréplica da

ação, e finalmente se dará ao autor vista por dez dias, para a tréplica da

reconvenção.

Art. 146 – Se o autor e réu não oferecerem à contestação

réplica e tréplica nos têrmos assinados, ou elas forem por negação,

seguir-se-á o que está determinado no capítulo antecedente.

Art. 147 – A reconvenção será julgada conjuntamente com a

ação e pela mesma sentença.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 148 – A reconvenção induz a prorrogação da jurisdição

federal.

Capítulo XIX

DA AUTORIA

Art. 149 – Autoria é o ato pelo qual o réu, sendo demandado,

chama o juízo de quem houve a cousa que se pede.

Art. 150 – Compete a autoria sòmente àquele que possui em

seu próprio nome.

Art. 151 – Se o réu houve a cousa de outrem, requererá a sua

citação na audiência, em que fôr proposta a ação.

Art. 152 – Se o chamado à autoria morar fora da sede do

juízo, ou em lugar incerto, será a causa suspensa até verificar-se a citação

pessoal ou edital; se, porém, morar fora do país ou do distrito seccional

federal, prosseguirá a causa, não obstante a expedição da precatória. O

juiz marcará o prazo dentro do qual deve promover o réu essas citações.

Art. 153 – Vindo a juízo o chamado à autoria, com êle

prosseguirá a causa, sem que seja lícito ao autor a escolha de litigar com

o réu principal, ou com o chamado à autoria.

Art. 154 – O chamado à autoria receberá a causa no estado

em que se achar, sendo-lhe lícito alegar o que lhe convier e o juntar

documentos.

Capítulo XX

DA OPOSIÇÃO

Art. 155 – Oposição é a ação de terceiro, que intervém no

processo para excluir autor e réu.

Art. 156 – A oposição corre no mesmo processo

simultâneamente com a ação, se é proposta antes de assinada a dilação

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Justiça Federal: primeira instância

das provas; se sobrevier depois de assinada a dilação, será tratada em

processo separado, sem prejuízo da causa principal.

Art. 157 – Para a oposição não é de mister citação das partes;

o terceiro opoente, ajuntando procuração, pedirá vistas dos autos, que lhe

será continuada por cinco dias, depois de tréplica da ação.

Art. 158 – Proposta a oposição, se assinarão ao autor e réu

por seu turno, para contestarem e replicarem e ao opoente para treplicar,

o têrmo de dez dias a cada um.

Art. 159 – Afinal, arrazoará primeiro o opoente e depois e

sucessivamente, o autor e réu, e a ação e oposição serão

simultâneamente julgadas pela mesma sentença.

Capítulo XXI

DO ASSISTENTE

Art. 160 – Assistente é aquêle que intervém no processo para

defender o seu direito, juntamente com o do autor ou réu.

Art. 161 – Para ser assistente admitido, é preciso que êle

alegue o interêsse aparente que tem na causa, se é fiador, sócio,

condômino de coisa indivisa, vendedor da coisa demandada.

Art. 162 – O assistente pode vir a juízo antes ou depois da

sentença, mas recebe a causa no estado em que ela se acha, e deve

alegar seu direito nos mesmos têrmos que competem àquela a que

assiste.

Art. 163 – O assistente não pode alegar incompetência e

suspeição.

Capítulo XXII

DA DILAÇÃO DAS PROVAS

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 164 – Posta a causa em prova, assinar-se-á na mesma

audiência uma só dilação de vinte dias, e esta dilação correrá

independente de qualquer citação.

Art. 165 – Para vir depor, as testemunhas serão citadas, as

partes, os seus procuradores, com designação do dia e hora, e bem assim

do lugar, se não fôr o do costume. Esta citação pode ser logo feita na

mesma audiência em que a causa se põe em prova.

Art. 166 – O rol das testemunhas, com os respectivos

característicos, será depositado em mão do escrivão vinte e quatro horas

antes da inquirição, sempre que a parte o requerer.

Art. 167 – Tendo alguma das partes testemunhas fora da sede

do juízo, deverá protestar por carta de inquirição, ou na ação ou

contestação, ou em audiência, mas nunca depois de assinada a dilação

das provas. Nesse protesto devem ser indicados os artigos ou fatos sôbre

os quais serão inquiridas as testemunhas.

Art. 168 – Na carta de inquirição se fará declaração da dilação

que o juiz assinar, conforme a distância e dificuldade de comunicação.

Art. 169 – Dentro da dilação serão citadas as partes, os seus

procuradores com a indicação do dia, hora e lugar para extração ou

conferência dos traslados e públicas-formas.

Capítulo XXIII

DAS TESTEMUNHAS

Art. 170 – As testemunhas devem declarar seus nomes,

profissão, domicílio e residência, se são parentes, amigos, inimigos ou

dependentes de alguma das partes.

Art. 171 – Não podem ser testemunhas o ascendente, marido,

mulher, parente consangüíneo ou afim – até o segundo grau – direito civil,

e o menor de quatorze anos.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 172 – Se alguma testemunha houver de ausentar-se, se

por avançada idade ou estado de valetudinário houver receio de que ao

tempo da prova ela já não exista, poderá, citada a parte, ser inquirida a

requerimento dos interessados, aos quais será entregue o depoimento,

para dêle se servirem quando e como lhes convier.

Art. 173 – As testemunhas serão perguntadas, ou

reperguntadas exclusivamente sôbre os fatos e suas circunstâncias,

alegados na ação, contestação, réplica e tréplica

Art. 174 – É lícito às testemunhas comparecerem

independente da citação; se forem, entretanto, citadas e não

comparecerem, ser-lhes-á imposta a pena de desobediência, salvo

plausível justificação.

Art. 175 – As testemunhas serão inquiridas pelas partes que

as produzirem ou por seus procuradores, e perguntadas e contestadas

pela parte contrária, ou procurador desta, devendo os depoimentos serem

escritos pelo escrivão e rubricados pelo juiz, que assistirá à inquirição,

sendo-lhe lícito fazer às testemunhas as perguntas que julgar oportunas.

Capítulo XXIV

DAS PROVAS EM GERAL

Art. 176 – São admissíveis no juízo federal tôdas as provas,

como tais conhecidas em direito, particularmente as escrituras públicas e

instrumentos a esta equiparáveis pelas leis civis e comerciais.

Art. 177 – O original de cópias autênticas, traduções, certidões

extraídas de notas públicas ou atos, será exibido, logo que alguma das

partes o requerer. As cópias públicas-formas ou extratos de documentos

originais podem ser conferidos com êstes na presença do juiz, pelo

escrivão da causa, citada a parte ou seu procurador e lavrado têrmo de

conformidade com as diferenças encontradas.

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Justiça Federal: primeira instância

Capítulo XXV

DAS ALEGAÇÕES FINAIS

Art. 178 – Finda a dilação, serão assinados dez dias a cada

uma das partes para dizerem afinal por seu advogado, dizendo primeiro o

autor e depois o réu. Findo o têrmo, o escrivão fará os autos conclusos ao

juiz para decidir a causa, depois de selados convenientemente.

Capítulo XXVI

DA SENTENÇA

Art. 179 – Se, examinados os autos, o juiz entender

necessária, para julgar afinal, alguma diligência, a poderá ordenar; mas,

julgando que o pleito se acha suficientemente esclarecido, dará sua

sentença definitiva, a qual deverá ser clara, positiva, devendo a

condenação ser de coisa determinada ou valor certo, salvo se a quantia,

sendo incerta, puder ser liquidada na execução.

Art. 180 – A sentença não produzirá efeito antes da intimação

das partes ou seus procuradores.

Capítulo XXVII

DA AÇÃO SUMÁRIA

Art. 181 – A ação sumária é competente em tôdas as causas

de valor excedente de um conto de réis, quando a estas não fôr assinada

ação especial.

Art. 182 – A ação sumária será iniciada por uma petição que

deve conter, além do nome do autor e réu:

a) o pedido, com tôdas as especificações e estimativa do valor

quando êste não fôr determinado, bem como o contrato, transação ou

fato, de que resulte o direito e a obrigação;

b) a indicação das provas em que se funda a demanda.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 183 – Na audiência para a qual fôr o réu citado, presente

êle, ou apregoado e a sua revelia, o autor ou seu advogado lerá a petição

inicial e fé de citação, exibindo os escritos de contrato e documentos,

exporá de viva voz a sua intenção e depositará o rol das testemunhas.

Art. 184 – Em seguida, o réu ou seu advogado fará a defesa

oral ou por escrito, exibindo os documentos que tiver e o rol das

testemunhas.

Art. 185 – Depois da defesa terá lugar a inquirição das

testemunhas, a qual será concluída na mesma audiência, salvo

impossibilidade ou fôrça maior, podendo o juiz, em tal caso, marcar

audiência extraordinária para esse fim.

Art. 186 – Findas as inquirições, arrazoando ou requerendo as

partes o que lhes convier, verbalmente ou por escrito, o juiz fará reduzir a

têrmo circunstanciadamente as alegações e requerimentos orais e

depoimentos das testemunhas; autuado êsse têrmo, com a petição inicial,

documentos e alegações escritas, será imediatamente concluso ao juiz.

Art. 187 – Conclusos os autos, o juiz procederá ex officio, ou a

requerimento das partes, às diligências necessárias para julgar afinal;

devendo a sentença ser proferida na audiência seguinte à conclusão do

processo ou das diligências que houverem sido decretadas.

Art. 188 – Os depoimentos das testemunhas serão escritos por

inteiro, podendo as partes perguntá-las e reperguntá-las.

Capítulo XXVIII

DAS AÇÕES ESPECIAIS

Art. 189 – A ação especial, que será a executiva, terá lugar

nos casos seguintes:

a) hipotecas de todo o gênero;

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Justiça Federal: primeira instância

b) fretes de navios, aluguéis de transporte por água ou terra;

c) penhor;

d) despesas e comissão de corretagem;

e) cobrança de dívidas ativas da Fazenda Nacional, certas e

liquidadas, quando forem provenientes:

1° – dos alcances dos responsáveis;

2° – dos tributos, impostos, contribuições lançadas e multas;

3° – dos contratos ou de outra origem, posto que não seja

rigorosamente fiscal, quando disposição expressa de lei ou contrato assim

autorizar.

Art. 190 – Considerar-se-á dívida líquida e certa, para efeito

da Fazenda Nacional entrar em juízo com sua intenção fundada de fato e

de direito, quando consistir em soma fixa e determinada, e se provar, pela

conta corrente do alcance, julgada definitivamente por certidão autêntica

extraída dos livros respectivos, donde conste a inscrição da dívida de

origem fiscal por documento incontestável, nos casos em que a lei permite

a via executiva, quanto às dívidas que não têm origem rigorosamente

fiscal.

Art. 191 – Procede o executivo fiscal:

a) contra devedor;

b) contra os herdeiros, cada um in solidum, dentro das fôrças

da herança;

c) contra o fiador;

d) contra qualquer possuidor de bens hipotecados à Fazenda

Nacional;

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Justiça Federal: primeira instância

e) contra os sócios interessados do devedor nos contratos de

rendas e bens e arrematação de direitos, celebrados com a Fazenda

Nacional, cada um in solidum;

f) contra o devedor do devedor quando a dívida tem origem

fiscal, ou quando aquêle no ato da penhora confessa a dívida e assina o

auto;

g) contra o sucessor, no negócio pela dívida do antecessor,

quando a ela fôr obrigado;

h) contra o curador fiscal ou administrador da massa falida,

por dívida do falido;

i) contra o curador ou o cônsul, no caso de bens dos ausentes,

ou das heranças jacentes;

j) contra o tutor ou curador do menor ou interdito;

k) contra o diretor, gerente ou administrador, quando se tratar

de sociedade, ou contra um dêles, se houver mais de um.

Capítulo XXIX

DA AÇÃO EXECUTIVA

Art. 192 – O mandado executivo deve determinar que o réu

pague incontinenti; ou se proceda a penhora nos bens que êle oferecer,

ou lhe forem achados, tantos quantos bastem para pagamento da dívida e

custas.

Art. 193 – Acusada a penhora, serão assinados seis dias ao

réu para alegar seus embargos. Se o não fizer, será a penhora julgada por

sentença e se prosseguirá no curso ulterior, como se fôra uma execução.

Art. 194 – Dentro dos seis dias é lícito ao réu produzir

testemunhas e protestar pelo depoimento da parte.

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154

Justiça Federal: primeira instância

Art. 195 – Recebidos os embargos, o juiz assinará ao autor

cinco dias para contestá-los, depois da contestação haverá lugar a dilação

das provas, que durará dez dias, e arrazoando autor e réu, dentro de

cinco dias cada um, será a causa julgada final.

Capítulo XXX

DO EXECUTIVO FISCAL

Art. 196 – Com o documento comprobatório da dívida, iniciar-

se-á o processo requerendo a expedição de mandado executivo, pelo qual

o devedor, ou quem de direito, seja intimado para no prazo de 24 horas,

que correrão em cartório da data da intimação, pagar a quantia pedida e

custas, ou dar bens à penhora; ficando logo citado para os têrmos de

execução até final julgamento, nomeação e aprovação dos louvados,

avaliação e arrematação dos bens penhorados, e remi-los ou dar lançador.

Art. 197 – Se a dívida fôr de alcance ou se fizer necessária

medida de segurança, não só nos casos de insolvabilidade e mudança de

Estado, mas ainda no de impossibilidade de pronta intimação de

mandado, por estar o devedor ausente, ou não ser encontrado, será

requerido desde logo mandado de seqüestro nos bens do devedor. O dito

mandado abrangerá todos os bens dêste, sendo concedido independente

de justificação.

Art. 198 – Iniciado o processo por seqüestro, será êste

intimado ao réu juntamente com o mandado executivo; se êle não

comparecer nas 24 horas, resolvido o seqüestro em penhora ipso facto

seguir-se-ão têrmos ulteriores.

Art. 199 – Comparecendo o réu para se defender antes de

feita a penhora, não será ouvido sem primeiro segurar o juízo, salvo se

exibir documento autêntico do pagamento da dívida, ou anulação desta.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 200 – Concorrendo justa causa, poderá o juiz conceder ao

réu, para prova e sustentação de sua defesa, um prazo extraordinário de

dez dias, contínuos, sucessivos e improrrogáveis.

Art. 201 – A matéria da defesa, estabelecida a identidade do

réu, constituirá na prova da quitação, nulidade do feito e prescrição da

dívida.

Capítulo XXXI

DOS PROCESSOS PREPARATÓRIOS E PREVENTIVOS

Art. 202 – O embargo por arresto tem lugar:

a) nos casos expressos no Código Comercial, arts. 239, 379,

527 e 619;

b) quando o devedor sem domicílio certo intenta ausentar-se

ou vender os bens que possui, ou não pagar a obrigação no tempo

estipulado;

c) quando o devedor domiciliário intentar ausentar-se

furtivamente ou mudar de domicílio sem ciência dos credores;

d) quando o devedor domiciliário muda de Estado, faltando

aos seus pagamentos e tentando alienar os bens que possui; ou

contraindo dívidas extraordinárias; ou pondo os bens em nome de

terceiros, ou cometendo algum artifício fraudulento;

e) quando o devedor possuidor dos bens de raiz intenta

aliená-los ou hipotecá-los, sem ficar com algum ou alguns equivalentes às

dívidas, e livres e desembargados;

f) quando o devedor comerciante cessa os seus pagamentos e

não se apresenta; intenta ausentar-se furtivamente ou desviar todo ou

parte do seu ativo; fecha ou abandona o seu estabelecimento, oculta seus

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Justiça Federal: primeira instância

afeitos e móveis da casa, procede à liquidação precipitada e contrai

dívidas extraordinárias ou simuladas.

Art. 203 – Para concessão do embargo, é necessário:

a) prova literal da dívida;

b) prova literal ou justificação de alguns dos casos de

embargo, referidos no artigo antecedente

Art. 204 – A justificação prévia dos casos de embargos é

dispensável e pode ser suprimida por protesto formal de prova em três

dias, depois de efetuado o embargo nos casos:

a) em que a Lei concede o embargo;

b) de urgência ou ineficácia da medida se fôsse demorada.

Art. 205 – A justificação prévia, quando o juiz a considerar

indispensável pode ser feita em segrêdo, verbalmente e de plano,

reduzido a têrmo o depoimento das testemunhas.

Art. 206 – Pagará as custas em décuplo o requerente do

arresto, que tendo protestado fornecer prova no tríduo não o fizer,

havendo sido, entretanto, efetuada a diligência.

Art. 207 – O mandado de embargo não será executado, mas

ficará suspenso:

a) se o devedor oferecer pagamento incontinenti;

b) se apresentar conhecimento de depósito da dívida;

c) se der fiador idôneo.

Art. 208 – Para o embargo de bens em poder de terceiros,

deve o embargante declará-los especìficamente e designar o nome de

terceiros e lugar em que se acham.

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Justiça Federal: primeira instância

Tais declarações serão inseridas no mandado respectivo.

Art. 209 – O embargo só pode ser feito em tantos bens,

quantos bastem para a segurança da dívida,

Art. 210 – Feito o embargo, serão os bens depositados em

poder de terceira pessoa, que assinará o auto respectivo como depositário

judicial. Convindo ao credor, poderá ser depositário o próprio devedor, ou

aquêle, se concordar o mesmo devedor.

Art. 211 – Se algum terceiro vier com embargos, dizendo que

a cousa é sua, serão os embargos processados e admitidos pela forma

determinada no título das execuções.

Art. 212 – Quando a oposição do terceiro fôr relativa a alguns

bens e não todos os embargos, será, a requerimento de alguma das

partes, separada a oposição para correr em auto apartado, progredindo o

processo de embargo, quanto aos outros bens a respeito dos quais não

versam os embargos de terceiros.

Art. 213 – O embargo ficará de nenhum efeito:

a) se o embargante o não justificar dentro de três dias depois

de efetuado;

b) se o embargante não propuser a ação respectiva dentro de

quinze dias.

Art. 214 – Feito o embargo, poderá o embargado opor-lhe

embargos, que o juiz mandará contestar no têrmo de cinco dias. Vindo o

embargado com os seus embargos, se assinarão dez dias para a prova, e

arrazoados os autos, para que serão concedidos cinco dias a cada uma

das partes, dará o juiz a sentença final.

Art. 215 – O embargado tem direito de pedir indenização por

perdas e danos resultantes do embargo requerido com má-fé.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 216 – O embargo de embarcações só tem lugar nos casos

e pela forma determinada nos arts. 479 e seguintes do Código Comercial.

Art. 217 – O embargo procedente resolve-se pela penhora.

Art. 218 – Quando o embargo se fizer em bens do devedor, e

existentes em poder de terceiros, será êste intimado dentro de vinte e

quatro horas, ou incontinenti, no caso de urgência, dando-lhe o oficial da

diligência contrafé, ou deixando-a entregue em sua casa a pessoa da

família ou da vizinhança, não sendo ele encontrado, o que será declarado

no auto de embargo, sob pena de nulidade.

Art. 219 – Cessa o embargo:

a) pelo pagamento;

b) pela novação;

c) pela transação;

d) decaindo o autor embargante da ação principal.

Capítulo XXXII

DA EXIBIÇÃO

Art. 220 – A exibição dos livros e escrituração mercantil por

inteiro, ou balanços gerais de qualquer casa comercial, pode ser

requerida, como preparatória de ação competente, como é prescrito no

art. 18 do Código Comercial.

Art. 221 – Citada a pessoa a quem os livros pertencem, ou em

cujo poder estão, para exibi-los dentro do prazo e lugar designado com

cominação de prisão, será esta citação acusada em audiência.

Art. 222 – Acusada a citação se o réu pedir vista, lhe será

concedida por cinco dias para contestar, findos os quais terá lugar

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Justiça Federal: primeira instância

declaração das provas por dez dias, e arrazoando autor e réu

sucessivamente, têrmo de cinco dias cada um, o juiz julgará afinal.

Art. 223 – Julgada procedente a ação, mandará o juiz passar

mandado para exibição, que terá lugar incontinenti, sob pena de prisão.

Capítulo XXXIII

DOS PROTESTOS

Art. 224 – O protesto, ou processo testemunhável, formado a

bordo, consistirá:

a) no relatório circunstanciado do sinistro, devendo referir-se

em resumo a derrota até ao ponto do sinistro, e altura em que êste

sucedeu;

b) na exposição motivada da determinação do capitão

declarando se a ela precedeu deliberação das pessoas competentes e se a

deliberação foi contrária ou conforme.

Art. 225 – O protesto será escrito pelo escrivão ou pilôto; em

falta dêles, por pessoa que o capitão nomear, ditado e assinado pelo

mesmo capitão e por aquêles que tomaram parte na deliberação, aos

quais é lícito declararem-se vencidos.

Art. 226 – Os oficiais e pessoas que fazem parte da junta de

deliberação são os pilotos, contramestres, peritos e marinheiros mais

inteligentes e antigos no serviço do mar. A deliberação dessa junta será

tomada em presença dos interessados, no navio ou na carga, se algum se

achar a bordo, os quais não terão voto; devendo o do capitão ser

considerado voto de qualidade, sendo-lhe lícito obrar, sob sua

responsabilidade, de modo diverso da deliberação tomada.

Art. 227 – O protesto não dispensa a ata da deliberação, em a

qual, além do fato e das circunstâncias ocorrentes, se devem declarar os

fundamentos da resolução e dos votos de cada um, assim como os

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Justiça Federal: primeira instância

motivos da determinação do capitão, quando for contrária ao vencido. O

protesto não será admitido à ratificação se no diário da navegação não

constar a ata referida.

Art. 228 – O protesto deverá ser ratificado nas primeiras 24

horas úteis da entrada, devendo o capitão entregar ao juiz, dentro do

referido prazo, o protesto predito e o diário da navegação.

Art. 229 – Notificados os interessados, se forem conhecidos e

presentes, procederá o juiz à ratificação, inquirindo sôbre o sinistro e suas

circunstâncias o capitão e signatários do protesto.

Art. 230 – A ratificação será julgada por sentença, de que não

haverá recurso algum, e será dada por instrumento à parte, para usar

dêle como e quando lhe convier.

Art. 231 – O protesto das letras de câmbio, de risco, da terra,

conhecimento de fretes passados à ordem e endossados, apólices de

seguros endossadas, notas promissórias endossadas, serão regulados pelo

tít. 16, 1°, seção 6ª, parte 1ª do Código Comercial.

Art. 232 – O escrivão que por omissão ou prevaricação fôr

causa de nulidade de um protesto será obrigado a indenizar as partes de

tôdas as perdas, danos e despesas legais resultantes de tal fato, devendo

ser demitido à vista da sentença que o condenar.

Art. 233 – Será permitido às partes a interposição de qualquer

protesto para conservação e ressalva de seus direitos.

Art. 234 – Êsses protestos serão interpostos por petição

endereçada ao juiz e em a qual o requerente narrará o fato e exporá os

fundamentos do protesto, o qual será tomado por têrmo e intimados as

partes e interessados.

Capítulo XXXIV

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Justiça Federal: primeira instância

DOS DEPÓSITOS

Art. 235 – O depósito em pagamento tem lugar:

a) se o credor recusa o pagamento oferecido;

b) se o credor não quer passar quitação, ou não a passa com a

segurança necessária e por tantas vias quantas convém ao devedor;

c) se há litígio sôbre a dívida;

d) se a dívida é embargada em poder do devedor;

e) se a coisa comprada está sujeita a algum ônus ou

obrigação.

Art. 236 – Efetuado o depósito por mandado do juiz, serão

citados os interessados, como no caso couber.

Art. 237 – Se o credor, efetuado o depósito, pedir vista para

impugná-lo, ser-lhe-á concedida por cinco dias.

Art. 238 – Vindo o credor com os embargos no têrmo fixado,

se assinará uma dilação de dez dias para a prova, e arrazoando

sucessivamente o autor e réu em cinco dias cada um, serão julgados os

embargos afinal.

Art. 239 – Julgados provados os embargos, será o devedor

responsável pelas despesas de levantamento, salários e custas do

depósito; e se haverá por não feito o pagamento, correndo por conta e

risco do devedor as perdas e danos acontecidos à coisa, depositada. Se,

porém, forem julgados não provados os embargos, o credor será

condenado nas custas, e serão por sua conta e risco os danos acontecidos

à coisa depositada.

Art. 240 – O depósito por conta de quem pertencer será feito

a requerimento da parte, por mandado do juiz e com citação edital, e

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Justiça Federal: primeira instância

correção por conta de quem pertencer as despesas, salários, perdas e

danos.

Capítulo XXXV

DA EXECUÇÃO

Art. 241 – A carta de sentença sòmente é necessária quando a

coisa excede à alçada do juiz secional. Em nenhum caso ela é necessária

nas causas de natureza fiscal. Se a causa cabe na alçada, será extraído

mandado executivo tão-sòmente, devendo ser nêle inserida a sentença do

juiz. Também será excusada a carta de sentença no caso em que a parte

vencida quiser satisfazer a condenação.

Art. 242 – A carta de sentença deverá conter:

a) a autuação;

b) a fé da citação;

c) a petição da ação;

d) a contestação;

e) a réplica e tréplica nas ações ordinárias;

f) a sentença e documentos em que ela se fundar.

Art. 243 – Nas causas especiais, nos embargos de terceiros,

nos artigos de preferência, deverá a carta de sentença conter:

a) o auto de penhora, quando houver;

b) os embargos, artigos e contestações;

c) a sentença e documento em que ela se fundar.

Art. 244 – É competente para a execução o juiz da causa ou o

que o substituir.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 245 – A execução compete:

a) à parte vencedora;

b) aos seus herdeiros;

c) ao sub-rogado, cessionário e sucessor singular.

Art. 246 – É competente a execução contra:

a) a parte vencida;

b) os herdeiros ou sucessores universais;

c) o fiador;

d) o chamado à autoria;

e) o sucessor singular, sendo a ação real;

f) o comprador ou o possuidor de bens hipotecados, segurados

ou alienados em fraude de execução e, em geral, contra todos os que

recebem causa do vencido, como o comprador da herança;

g) todos os detentores dos bens em nome do vencido, como o

depositário, o rendeiro e inquilino quanto a êsses bens sòmente;

h) o sócio.

Art. 247 – Consideram-se alienados em fraude de execução os

bens executados:

a) quando são litigiosos, ou sôbre êles pendem demanda;

b) quando a alienação é feita depois da penhora, ou

aproximadamente a ela;

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Justiça Federal: primeira instância

c) quando o possuidor dos bens tenha razão para saber que

pendia demanda, e outros bens não tinha o executado para solver a

dívida.

Art. 248 – Sendo fiador executado, pode oferecer a penhora

os bens do devedor, se os tiver desembargados; mas, se contra êles

aparecer embargos ou oposição, ou não forem suficientes, a execução se

exercerá sôbre os bens do fiador, até real embôlso do exeqüente.

Art. 249 – Se o executado não tem bens na sede da causa

principal, ou os que tem são insuficientes, expedir-se-á carta precatória

executória, dirigida ao juízo secional ou local do lugar onde forem os bens

situados para o fim de proceder-se a penhora, avaliação e arrematação

dêles.

Art. 250 – Se o executado possui bens no distrito judicial da

cusa principal e em outro, não correrá simultânea a execução, mas

sucessiva, devendo a princípio ser executados os primeiros, salvo se os

bens, existentes em um e outro distrito, forem manifestadamente

insuficientes.

Art. 251 – Os embargos e execução, em qualquer caso, não

poderão ser opostos senão perante o juiz da mesma execução.

Capítulo XXXVI

DAS SENTENÇAS ILÍQUIDAS

Art. 252 – A liquidação tem lugar:

a) quando a sentença versa sôbre frutos e coisas, que

consistem em pêso, número e medida;

b) quando a sentença versa sôbre interêsses, perdas e danos;

c) quando a ação é universal, ou geral.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 253 – Nas sentenças ilíquidas a primeira citação do

executado será para vir oferecer os artigos de liquidação.

Art. 254 – Oferecidos os artigos na audiência aprazada, o réu

contestará no têrmo de cinco dias; os quais seguir-se-á a dilação

probatória de dez dias, e, arrazoando depois e sucessivamente o

liquidante e liquidado, no têrmo de cinco dias cada um, serão os artigos

julgados afinal, devendo o juiz prèviamente proceder às diligências

necessárias.

Art. 255 – Proferida a sentença de liquidação, correrá a

execução seus têrmos ulteriores.

Capítulo XXXVII

DAS SENTENÇAS LÍQUIDAS

Art. 256 – Sendo a sentença líquida, o executado será citado

para pagar, ou nomear bens à penhora nas vinte e quatro horas

subseqüentes à citação.

Art. 257 – A nomeação feita pelo executado não vale, salvo

convindo o exeqüente:

a) se não é feita conforme a gradação, estabelecida para a

penhora;

b) se o executado não nomeia os imóveis especialmente

hipotecados, ou bens consignados ao pagamento da dívida;

c) se o executado nomeia bens sitos em lugar diferente do da

execução, tendo-os, aliás, no lugar da dita execução;

d) se os bens nomeados não são livres e desembaraçados,

havendo-os, entretanto;

e) se é insuficiente a quantidade de bens nomeados.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 258 – A nomeação tendo sido feita de acôrdo com o

prescrito no artigo antecedente e por têrmo nos autos, os bens são desde

logo considerados penhorados e serão depositados, como se dispõe nos

artigos seguintes.

Capítulo XXXVIII

DA PENHORA

Art. 259 – Se o executado dentro das vinte e quatro horas não

pagar ou não nomear bens à penhora, ou fizer a nomeação contra as

regras estabelecidas antecedentemente, efetuar-se-á a penhora, passado

o respectivo mandado.

Art. 260 – O auto de penhora deve conter:

a) o dia, mês, ano e lugar em que é feita;

b) a descrição dos bens penhorados com todos os

característicos necessários para a verificação da identidade;

c) entrega feita ao depositário que deve assinar, ou por êle

duas testemunhas, com o oficial da diligência.

Art. 261 – A penhora pode ser feita em quaisquer bens do

executado, guardada a gradação seguinte:

a) dinheiro, ouro, prata e pedras preciosas;

b) títulos da dívida pública, e quaisquer papéis de crédito do

Tesouro Federal;

c) móveis e semoventes;

d) bens de raiz ou imóveis;

e) direitos e ações.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 262 – Deve a penhora ser feita em tantos bens quantos

bastem ao pagamento e efetuada dentro de cinco dias sob

responsabilidade do oficial de justiça.

Art. 263 – Se as portas das casas se acharem fechadas, o

oficial não procederá ao abrimento sem expresso mandado do juiz, mas,

expedido o mandado, em presença de duas testemunhas, abrirá ou

arrombará portas, gavetas, armários, ou móveis onde se presuma que

estão os objetos penhorados, e de todo êste procedimento se fará

circunstanciada menção no auto de penhora.

Art. 264 – Em caso de resistência, ou fundado receio dela,

lavrado o auto respectivo, no primeiro caso, e procedendo inquirição

verbal e em segrêdo no segundo, o juiz requisitará da autoridade local

competente a fôrça necessária para auxiliar a penhora e prender o

resistente, que será devidamente responsabilizado.

Art. 265 – Se a penhora fôr vàlidamente feita, sòmente se

procederá à segunda:

a) se o produto dos bens primeiramente penhorados não

chegar para o pagamento;

b) se o exeqüente desistir da primeira penhora, o que só terá

lugar quando os bens penhorados forem litigiosos ou estiverem obrigados

a terceiros.

Art. 266 – Para que se faça penhora em dinheiro do

executado, existente em mão de terceiro, é preciso que êste o confesse

no ato da penhora.

Art. 267 – Se o devedor confessar no ato da penhora,

assinado o auto respectivo, será havido como depositário, a cuja pena fica

sujeito se dentro de três dias, que lhe serão assinados, o não entregar ou

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168

Justiça Federal: primeira instância

depositar. Depositada ou entregue a soma confessada, se considerará

desobrigado.

Art. 268 – O executado que esconder os bens para não serem

penhorados ou por dolo deixar de os possuir, será prêso até que dêles

faça entrega ou do equivalente; ou até um ano se antes não entregar.

Art. 269 – Não são sujeitos à penhora:

a) os bens inalienáveis;

b) os vencimentos dos magistrados e empregados públicos,

dos militares, os equipamentos dêstes;

c) as soldadas de gente do mar, e salários de guarda-livros,

feitores, caixeiros e operários;

d) os utensílios e ferramentas de mestres e oficiais de ofícios

mecânicos e que forem indispensáveis às suas ocupações ordinárias;

e) os materiais necessários para as obras;

f) as pensões, tenças e montepios, inclusive o dos Servidores

do Estado;

g) os fundos sociais pela dívida particular de um dos sócios;

h) os indispensáveis para cama e vestuário do executado e de

sua família, não sendo precioso;

i) as provisões de comida.

Art. 270 – São sujeitos à penhora, não havendo

absolutamente outros bens:

a) o vestuário dos empregados públicos no exercício de suas

funções;

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169

Justiça Federal: primeira instância

b) os livros dos juízes, professôres, advogados, médicos,

engenheiros e estudantes;

c) as máquinas e instrumentos necessários para o ensino

prático, ou exercício das artes liberais e das ciências;

d) os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis;

e) os fundos líquidos que o executado possuir na companhia

ou sociedade comercial.

Art. 271 – Os bens penhorados são avaliados por peritos

idôneos, nomeados em audiência a aprazimento das partes ou a sua

revelia. Quando os bens forem situados fora da sede do juízo, a avaliação

se fará por meio de precatória aos juízes locais, ou ao juiz secional,

cumprindo que a arrematação se faça no local onde existem os preditos

bens.

Art. 272 – Quando a avaliação fôr irregular, excessiva ou

lesiva, ou quando antes da arrematação se descobrir algum ônus que

diminua o valor da coisa avaliada, proceder-se-á a nova avaliação.

Capítulo XXXIX

DA ARREMATAÇÃO E ADJUDICAÇÃO

Art. 273 – Feita a avaliação, passar-se-ão editais, que serão

afixados na casa das audiências e publicados nas fôlhas do dia da afixação

e da arrematação. Entre a afixação dos editais e a arrematação mediarão

três dias, se os bens forem móveis, e nove, se forem de raiz,

independentemente de pregões.

Art. 274 – Os editais devem conter:

a) o preço da avaliação;

b) a qualidade dos bens e suas confrontações, sendo de raiz;

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Justiça Federal: primeira instância

c) o dia da arrematação,

Art. 275 – A arrematação deve fazer-se impreterìvelmente no

dia anunciado. Se por causa ponderosa não fôr possível nesse dia, será

transferido, anunciando-se por editais e pela imprensa o dia novamente

designado.

Art. 276 – Se por sobrevir a noite não fôr concluída a

arrematação no mesmo dia, continuará no dia seguinte, dispensado em tal

caso o edital.

Art. 277 – É lícito ao executado, seu cônjuge ou herdeiros,

remir ou dar lançador aos bens penhorados ou a alguns dêstes, até a

assinatura do auto de arrematação ou publicação da sentença de

adjudicação.

Art. 278 – Quando a penhora consistir em dinheiro, se afixarão

editais, marcando o prazo de dez dias aos credores incertos para virem

requerer preferência; se êstes não requererem ou os credores certos

citados pessoalmente, passar-se-á mandado de levantamento ao

exeqüente.

Art. 279 – A arrematação será feita no dia e lugar anunciados,

presentes o juiz, escrivão e oficial de justiça, e expostos os objetos que

devem ser arrematados, sendo possível,

Art. 280 – É admitido a lançar todo aquêle que estiver na livre

administração dos seus bens.

Excetuam-se:

a) o juiz, escrivão, depositário, avaliadores e oficiais do juízo;

b) o tutor, curador e testamenteiro;

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Justiça Federal: primeira instância

c) a pessoa desconhecida sem fiança idônea, ou procuração da

pessoa por quem comparece;

d) o credor, salvo com licença do juiz.

Art. 281 – Se o arrematante fôr o mesmo exeqüente, será

obrigado a depositar o preço da arrematação nos casos em que não pode

levantá-lo.

Art. 282 – Quando o arrematante fôr o credor exeqüente, é

dispensado de depositar o preço da arrematação prestando fiança nos

casos em que não lhe é lícito levantar o mesmo preço.

Art. 283 – Não havendo arrematante pelo preço da avaliação,

voltarão os bens à praça com intervalo de oito dias e com abatimento de

10%. Se nesta ainda não encontrarem lanço superior ou igual ao valor

determinado pelo dito abatimento, irão à terceira praça com o mesmo

intervalo e nôvo abatimento de 10%. Neste caso serão arrematados pelo

maior preço que for oferecido, sem que em hipótese alguma seja

permitida a ação de nulidade por lesão de qualquer espécie. Para êstes

abatimentos não há necessidade de contas, que serão feitas uma só vez

para os efeitos da arrematação ou da adjudicação.

Art. 284 – Se o arrematante ou fiador não pagar o preço da

arrematação nos três dias seguintes ao ato da arrematação, será prêso

até que o pague, e contra o fiador se procederá segundo as leis em vigor.

Art. 285 – O preço da arrematação não pode ser levantado

sem fiança:

a) pendendo embargos ou apelação;

b) pendendo de ação de nulidade.

Art. 286 – O preço da arrematação não pode ser levantado

havendo embargo ou protesto de preferência e rateio.

A12

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 287 – A arrematação só pode ser feita:

a) por quem oferecer maior lanço, contanto que cubra o preço

da avaliação;

b) com o dinheiro a vista, ou com fiança por três dias.

Art. 288 – Não havendo lançador que cubra o preço da

avaliação, ou abatido êste na forma acima prescrita, se não aparecer

lançador na terceira praça, mas sòmente quem cubra o preço da

adjudicação, a arrematação será feita por êste preço.

Art. 289 – Não havendo lançador que cubra o preço da

adjudicação, serão os bens adjudicados ao credor com os seguintes

abatimentos:

a) décima parte se os bens são móveis e têm valor intrínseco;

b) quarta parte se não são móveis, mas não têm valor

intrínseco;

c) quinta parte se são de raiz ou imóveis.

Art. 290 – O credor não pode ser compelido a restituir

qualquer excesso nó caso de ser o valor dos bens adjudicados superior à

importância da dívida, salvo se a diferença entre um e outro fôr de tal

forma que atinja a soma igual, a um têrço do montante da execução e

neste caso o exeqüente consignará em juízo o excesso, descontado em

próprio proveito um têrço do dito excesso.

Art. 291 – Se os bens são indivisos e o seu valor excede o

dôbro da dívida, não se arremata nem adjudica a propriedade dêles, mas

adjudicam-se ao credor sem abatimento algum, exceto o dos juros legais,

os rendimentos por tantos anos quantos bastem para o pagamento total

da execução.

A12

173

Justiça Federal: primeira instância

Art. 292 – Essa providência se não realizará quando acontecer

que o executado tenha outras dívidas acumuladas e excedentes da

metade do valor dos bens penhorados, ou se êstes não produzirem

rendimento algum.

Art. 293 – Ao credor adjudicatório se imputam os

rendimentos, que por negligência deixar de cobrar, assim como ser-lhe-ão

levadas em conta as despesas necessárias e os ônus reais que pagar.

Art. 294 – A adjudicação dos rendimentos não impede a

arrematação da propriedade por virtude de execuções supervenientes,

mas o adjudicatário será conservado durante o tempo da sua adjudicação.

Art. 295 – O credor exeqüente tem faculdade para requerer e

obter seu pagamento pelos rendimentos dos bens nos casos mesmo em

que êles podem ser arrematados.

Art. 296 – À adjudicação deve preceder:

a) conta da importância da execução, compreendidos os juros,

despesas e ônus reais do prédio;

b) cálculo dos anos que são necessários para o pagamento da

dívida;

c) avaliação dos rendimentos, salvo se o imóvel estiver

alugado ou arrendado, porque neste caso a adjudicação será calculada

pelo aluguel ou renda que forem declarados pelo inquilino, ou constarem

dos recibos do proprietário e lançamento de décima. Entretanto, pode o

exeqüente, alegada fraude conluio entre o inquilino e o executado,

requerer avaliação dos rendimentos, e neste caso não será o inquilino

conservado.

Art. 297 – Nas execuções fiscais serão guardadas as seguintes

cláusulas:

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174

Justiça Federal: primeira instância

a) se na terceira praça não aparecer lançador, poderá ser

requerida a adjudicação com o abatimento da quarta parte do valor da

avaliação, ou o pagamento pelos rendimentos dos bens penhorados;

b) feita a adjudicação, se o executado, seu cônjuge ou

herdeiros não se apresentarem espontâneamente para remir a execução

no prazo de oito dias, serão de nôvo os bens levados à praça sôbre o valor

da adjudicação; e caso ainda não haja lançador, levar-se-á em conta do

débito fiscal o preço da adjudicação, ou resolver-se-á sôbre a

incorporação dos bens, sendo imóveis, aos próprios Nacionais. Qualquer

excesso que alcançarem nesta praça os bens adjudicados acima do preço

da adjudicação, ainda superior a dívida e custas, acresce em proveito da

Fazenda Nacional.

Parágrafo único – Admitir-se-á nôvo lanço depois da

arrematação nos casos de ser êste superior ao da arrematação em mais

da têrça parte, de não estar ainda consumada a arrematação com a

entrega do preço e a posse da coisa arrematada e de não haver mais bens

por onde a Fazenda possa ser plenamente paga e satisfeita.

Capítulo XL

DAS SENTENÇAS SÔBRE AÇÃO REAL, OU COUSA CERTA, OU EM ESPÉCIE

Art. 298 – O réu condenado por sentença a entregar coisa

certa será citado para em dez dias fazer entrega.

Art. 299 – Se o não fizer por a haver alienado depois de

litigiosa, a sentença será executada contra o terceiro, de cujo poder se

tirará a coisa, sem que seja ouvido antes de ser ela depositada. É lícito ao

exeqüente, em lugar de executar a sentença contra terceiro, executar o

condenado pelo valor delas, se já se achar estimada. E, se o vencido não

tiver com que pague a intimação da coisa, que em fraude de execução

fôra por êle vendida, será prêso até pagar, ou até um ano se antes não

pagar.

A12

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Justiça Federal: primeira instância

Capítulo XLI

DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO

Art. 300 – Os embargos opostos à execução sê-lo-ão nos

têrmos seguintes:

a) depois de feita a penhora, dentro dos seis dias

subseqüentes;

b) depois do ato da arrematação, mas antes da assinatura da

carta de arrematação ou adjudicação.

Art. 301 – Nas execuções das ações reais os embargos só têm

lugar dentro de dez dias assinados para a entrega da coisa, mas seguro o

juízo com o equivalente.

Art. 302 – São admissíveis na execução com suspensão dela e

propostos conjuntamente nos seis dias seguintes à penhora os embargos:

a) de nulidade do processo e sentença, com prova constante

dos autos, ou oferecida incontinenti;

b) de nulidade e excesso de execução até a penhora;

c) de moratória;

d) de concordata;

e) de compensação;

f) de declaração de falência;

g) de pagamento, novação, transação e prescrição,

superveniente depois da sentença, ou não alegados e decididos na causa

principal;

h) infringentes do julgado, com prova incontinenti do prejuízo,

sendo opostos pelo menor e pessoa a que cabe o benefício da restituição,

A12

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Justiça Federal: primeira instância

pelo revel e pelo executado, oferecendo documentos obtidos após a

sentença.

Art. 303 – São também admissíveis na execução, com

suspensão dela e propostos conjuntamente depois do ato da arrematação

e antes de assinada a carta de arrematação ou adjudicação, os seguintes

embargos:

a) de nulidade, desordem ou excesso de execução depois da

penhora até a assinatura das cartas de arrematação ou adjudicação;

b) de pagamento, novação, transação, compensação,

prescrição, moratória, concordata, declaração de quebra, superveniente

depois da penhora;

c) de restituição.

Art. 304 – São admissíveis nas execuções das ações reais os

seguintes embargos de:

a) nulidade do processo e da execução com prova constante

dos autos, ou produzida incontinenti;

b) nulidade e excesso da execução;

c) retenção de benfeitorias;

d) infringentes do julgado com prova produzida incontinenti e

oposto pelo menor e outros, aos quais compete a restituição, pelo

chamado à autoria, e pelo executado com documentos havidos depois da

sentença.

Art. 305 – Oferecidos os embargos dentro dos seis dias da

penhora, serão conclusos ao juiz, que os receberá ou desprezará in limine.

Se forem recebidos, o têrmo de cinco dias será assinado para a

contestação e, findo o prazo, terá lugar a dilação das provas; depois,

A12

177

Justiça Federal: primeira instância

arrazoando sucessivamente o embargante e o embargado no prazo de

cinco dias cada um, serão os embargos julgados afinal.

Art. 306 – Independentemente de embargos, pode qualquer

dos litigantes requerer ao juiz da execução a ementa do êrro de conta ou

das quantias exeqüentes; ou das quantias líquidas, ou das custas. O juiz,

em tal caso, decidirá sumàriamente, ouvido o escrivão, e as partes, se

tanto fôr necessário.

Art. 307 – Vindo algum terceiro com embargos à execução,

porque a coisa penhorada lhe pertence por título hábil e legítimo; e tendo

posse natural ou civil com efeitos de natural, ser-lhe-á concedida vista

para alegar e provar seus embargos dentro de três dias.

Art. 308 – Provando o terceiro embargante nos referidos três

dias seus embargos, seja por documentos, seja por testemunhas, serão

recebidos e se concederá ao embargado o prazo de cinco dias para

contestar.

Art. 309 – Findos os cinco dias e vindo o embargado com a

sua contestação, terá lugar a dilação das provas, que será de dez dias; e,

arrazoando o embargante no têrmo de cinco dias cada um, serão os

embargos julgados afinal.

Art 310 – Recebidos os embargos, mandará o juiz passar

mandado de manutenção a favor do terceiro embargante, que prestará a

fiança.

Art. 311 – Se o exeqüente, sendo recebidos os embargos de

terceiro, desistir da penhora nos bens embargados e requerer outra,

cessará a discussão, e a penhora dos bens embargados será levantada.

Art. 312 – Não oferecendo, ou não provando o embargante

seus embargos no tríduo, ou se forem manifestamente caluniosos, serão

rejeitadas in limine, e a execução prosseguirá.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 313 – Nas execuções fiscais o executado só poderá opor

embargos modificativos ou infringentes do julgado, ou relativos ao modo

da execução.

Art. 314 – Os ditos embargos só suspenderão a execução nos

casos seguintes:

a) se forem de nulidade, procedente de falta da primeira

citação;

b) se forem de nulidade do processo da arrematação provada

incontinenti na petição em que a vista fôr requerida.

Art. 315 – Em qualquer período das execuções fiscais até a

assinatura da carta de arrematação ou adjudicação, serão os terceiros

senhores e possuidores admitidos a embargar, com suspensão da

execução, contanto que se legitimem desde logo, apresentando títulos de

domínio e posse.

Art. 316 – Em tal caso o juiz consignará ao embargante o

prazo de dez dias improrrogáveis para serem exibidos embargos títulos e

provas da legitimidade dêstes, seguindo-se o julgamento definitivo. Se os

embargos forem julgados provados, será levantada a penhora; no caso

contrário a execução prosseguirá, condenado em custas o embargante.

Art. 317 – Se os embargos às execuções fiscais não forem

opostos a todos os bens, mas só a alguns dêles, correrão em separado,

prosseguindo a execução sòmente quanto aos bens não embargados.

Capítulo XLII

DAS PREFERÊNCIAS E CONCURSO DE CREDORES

Art. 318 – A preferência deve ser disputada no mesmo

processo da execução, e versará ou sôbre o preço da arrematação, ou

sôbre os próprios bens, se não forem arrematadas, não sendo lícito

disputá-la senão depois do ato da arrematação.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 319 – Em qualquer têrmo da execução até a entrega do

preço de arrematação, ou extração e assinatura da carta de adjudicação,

podem os credores fazer o protesto de preferência e requerer que o preço

não seja levantado, ou se não passe carta de adjudicação, sem que

primeiro se dispute a preferência.

Art. 320 – Para ser credor admitido a concurso é essencial que

se apresente no juízo de preferência munido de escritura pública ou

instrumento equiparável como título de dívida, ou sentença obtida contra

o executado, sem dependência de penhora.

Art. 321 – Para a preferência devem ser citados os credores

conhecidos, com a comunicação de perderem a prelação, que lhes cabe,

salvo aos desconhecidos o direito de disputarem por ação ordinária a

preferência que lhes competir.

Art. 322 – Citados os credores e acusada a citação, serão

propostos os artigos de preferência pelo credor que promoveu o concurso,

e aos demais credores se assinará o prazo de cinco dias a cada um, para

sucessivamente formarem seus artigos.

Art. 323 – Oferecidos todos os artigos, se assinará a cada um

dos credores o têrmo de cinco dias para contestarem na mesma ordem

em que articularem.

Art. 324 – Concluída a contestação, seguir-se-á a dilação das

provas que será de vinte dias; e, finda a dilação e arrazoando os credores

sucessivamente, cada um no termo de cinco dias, serão os autos

conclusos e o juiz julgará a preferência, ou mandará que se proceda a

rateio, no caso de não subsistir privilégio legal.

Art. 325 – A disputa entre os concorrentes pode versar não

sòmente sôbre a preferência, senão também sôbre nulidades, simulação,

fraude e falsidade das dívidas ou dos contratos.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 326 – O concurso de preferência com a Fazenda Nacional

será promovido por meio de petição ao juiz, na qual o credor preferente

legitime a sua qualidade, produzindo logo todos os títulos e razões.

Art. 327 – Autuada a petição, terá vista o procurador da

Fazenda e depois da sua resposta seguir-se-á o julgamento.

Art. 328 – Reconhecida a legitimidade da pretensão do

preferente, suspender-se-á a execução e levantar-se-ão os seqüestros ou

penhoras que se houverem feito; no caso contrário, será excluído, e, junta

a petição aos autos da execução, nela se prosseguirá até integral

pagamento da Fazenda Nacional.

Art. 329 – Não haverá lugar o concurso de preferência nas

causas fiscais:

a) quando houver bens suficientes do devedor comum,

incumbindo ao credor preferente a prova da insolvabilidade;

b) depois de entreque o preço da arrematação, ou de julgada

a adjudicação.

Art. 330 – São títulos de preferência contra a Fazenda

Nacional, provando-se serem anteriores à dívida fiscal:

a) as hipotecas legais ou convencionais especializadas e

escritas na forma da lei;

b) o direito sôbre o valor das benfeitorias, quanto ao credor

que emprestou dinheiro ou concorreu com os materiais ou a mão-de-obra

para a edificação, reparação ou reedificação do prédio bem como para se

abrirem ou arrotearem terras incultas.

Art. 331 – A Fazenda Nacional no juízo fiscal não chama

credores, nem se apresenta como articulante; só tem que disputar os

artigos do preferente.

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Justiça Federal: primeira instância

Capítulo XLIII

DOS RECURSOS

Art. 332 – Dentro de dez dias depois da intimação da

sentença, poderão as partes opor embargos à sentença do juiz sòmente

se forem de simples declaração, ou de restituição. Nas causas fiscais, o

prazo é reduzido à metade e não se admitirão senão embargos de

declaração.

Art. 333 – Os embargos de declaração só terão lugar quando

houver na sentença alguma obscuridade, ambigüidade ou contradição, ou

quando se tiver omitido algum ponto sôbre que devia haver condenação.

Em qualquer dêstes casos requererá a parte, por simples petição, que se

declare a sentença, ou se expresse o ponto omitido da condenação. Junta

a petição aos autos, serão êstes conclusos e decidirá o juiz, sem fazer

outra mudança no Julgado.

Art. 334 – Os embargos de restituição só serão admitidos,

quando os embargantes não tiverem sido parte desde o princípio da

causa, ou tiver corrido a causa a revelia.

Art. 335 – Êstes embargos serão deduzidos nos próprios

autos, pedindo-se para isto vista ao juiz, que a dará por cinco dias, tendo

além disso cada uma das partes igual prazo para impugnação dos mesmos

embargos.

Art. 336 – Se a matéria dêstes embargos depender de fatos,

que só possam ser provados por testemunhas, o juiz poderá conceder

uma só dilação, não excedendo de dez dias, para a prova.

Art. 337 – Tem lugar a apelação para o Supremo Tribunal de

Justiça Federal quando a sentença fôr definitiva ou tiver fôrça definitiva.

Art. 338 – A apelação será interposta em audiência ou por

petição, lavrado têrmo nos autos do despacho que a conceder, sendo

A12

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Justiça Federal: primeira instância

intimados a outra parte ou seu procurador, dentro de dez dias contínuos,

contados da publicação ou intimação da sentença.

Art. 339 – Interposta a apelação, será a causa avaliada em

quantia certa por árbitros nomeados pelas partes, ou pelo juiz, à revelia

delas, dispensada a avaliação, quando houver pedido certo, ou os

litigantes concordarem no valor do pleito expressa ou tacitamente,

deixando o réu de impugnar na contestação a estimativa do autor.

Art. 340 – No mesmo despacho, em que o juiz receber a

apelação, ordenará logo a expedição dos autos para serem apresentados

na superior instância dentro do prazo de seis meses.

Art. 341 – Os efeitos da apelação serão suspensivos e

devolutivos, ou sòmente devolutivos. O suspensivo compete às ações

ordinárias, às ações especiais e aos embargos opostos na execução ou

pelo executado ou por terceiro, sendo julgados provados; o efeito

devolutivo compete em geral a tôdas as sentenças proferidas das demais

ações.

Art. 342 – Sejam quais forem os efeitos da apelação, a

remessa dos autos não se fará sem que fique traslado no cartório.

Art. 343 – O prazo para a apresentação dos autos de apelação

na instância superior decorrerá do despacho do recebimento da apelação,

competindo à parte que tiver interêsse no seguimento do feito promover a

extração do traslado e parelhar a remessa.

Art. 344 – Ao juiz compete julgar deserta e não seguindo a

apelação, se, findo o prazo legal, não tiverem sido os autos remetidos

para instância superior.

Art. 345 – Para o julgamento da deserção deverá ser citado o

apelante, ao seu procurador, para dentro de três dias alegar embargos de

justo impedimento.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 346 – Só poderá obstar o lapso de tempo para o

seguimento da apelação moléstia grave e prolongada do apelante, peste

ou guerra que impeçam as funções dos juízes e tribunais.

Art. 347 – Ouvido o apelante sôbre a matéria dos embargos

por vinte e quatro horas, se o juiz relevar da deserção o apelante, lhe

assinará de nôvo para a remessa dos autos outro tanto tempo, quando fôr

provado que estêve impedido.

Art. 348 – Se o juiz não relevar da deserção o apelante, ou se,

findo nôvo prazo, não tiverem sido ainda remetidos os autos para a

instância superior, será a sentença executada.

Art. 349 – Apresentados os autos ao secretário do Supremo

Tribunal de Justiça Federal, será aí a causa discutida entre as partes e

julgada pela forma determinada para o julgamento das apelações nos

regimentos do Tribunal.

Capítulo XLIV

DAS CUSTAS

Art. 350 – Em qualquer sentença sempre o vencido deve ser

condenado nas custas do processo, ainda que tivesse justa causa de

liquidar. Êste preceito é comum às sentenças definitivas, assim como às

interlocutórias, decisivas de algum incidente e ainda que as custas não

fôssem pedidas pela parte vencedora.

Art. 351 – Pedindo ao autor muitas cousas em sua ação, ou

quantias diversas, e sendo o réu condenado em parte e absolvido em

parte, deverá o juiz condenar cada um na proporção do pedido vencido. A

sentença deve declarar expressamente a quota das custas, em que cada

uma das partes é assim condenada, para o contador poder fazer o rateio.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 352 – Tanto podem ser condenados em custas os

litigantes principais, como os opoentes ou assistentes e os que são

chamados à autoria e aceitam a defesa da causa, sendo afinal vencidos.

Art. 353 – O litigante que desistir da causa em qualquer

instância é condenado em tôdas as custas ocorridas; e, se ambos os

litigantes desistirem, pagarão de permeio.

Art. 354 – No juízo de apelação se deverá condenar o vencido

nas custas de ambas as instâncias.

Art. 355 – Em regra quem requer em juízo algum ato que se

lhe não impugna deve ser condenado nas custas ex causa.

Art. 356 – No juízo federal serão cobradas as custas

judiciárias, emolumentos e salários dos oficiais do juízo e auxiliares, nos

têrmos prescritos pelo Regimento promulgado em o Decreto n° 5.737, de

2 de setembro de 1874.

Art. 357 – Os salários estabelecidos no dito Regimento para os

juízes e procuradores da República por quaisquer despachos, sentenças e

diligências por êstes efetuadas serão pagos em selos da República,

apostos aos autos na proporção que se forem realizando.

Art. 358 – Os escrivães e oficiais de juízo continuarão a

perceber os salários, custas e emolumentos, que lhes são arbitrados pelos

regimentos em vigor e bem assim as percentagens estabelecidas para a

cobrança das dívidas fiscais.

Art. 359 – As penas pecuniárias disciplinares impostas aos

oficiais do Juízo serão cobráveis em dinheiro, que se consignará ao

Tesouro Federal por guia do escrivão e recibo da Repartição, o qual será

autuado como têrmo respectivo.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 360 – O escrivão será o contador do juízo, sob imediata

fiscalização do juiz secional federal.

Capítulo XLV

DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 361 – Nos casos em que houver de aplicar leis dos

Estados, a Justiça Federal consultará a jurisprudência dos tribunais locais;

e vice-versa, a Justiça dos Estados consultará a jurisprudência dos

tribunais federais quando houver de interpretar leis da União (art. 58 da

Constituição).

Art. 362 – As autoridades administrativas, nacionais ou locais,

prestarão o auxílio necessário à execução das sentenças e atos da Justiça

Federal, assim também os juízes ou tribunais dos Estados farão cumprir

os despachos rogatórios, expedidos pela Justiça Federal, quer para fazer

citações ou intimações e receber depoimentos de testemunhas, quer para

dar à execução sentenças e mandados, e praticar outros atos e diligências

judiciais. Em todos êstes casos os atos revestirão sempre a fórmula de

processo estabelecida para juízo rogado ou deprecado.

Art. 363 – As causas de qualquer natureza, pendentes da

decisão dos juízes e tribunais dos Estados ao tempo da promulgação da

presente Lei e que por sua natureza ou caráter dos litigantes devam

pertencer à jurisdição federal, continuam, entretanto, sob a jurisdição em

que foram iniciadas, e contestadas até final sentença e sua execução.

Art. 364 – Para regular a ordem do serviço e da distribuição do

trabalho, tanto em as seções como na secretaria, o Supremo Tribunal

organizará o seu Regimento interno, em o qual poderão ser punidas

correcional ou disciplinarmente as faltas e contravenções dos empregados

e serventuários de justiça, não devendo a prisão exceder de trinta dias e a

suspensão de sessenta dias.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 365 – Os juízes federais de seção darão em cada semana

uma ou mais audiências, conforme a afluência de feitos judiciais sob sua

jurisdição.

Art. 366 – As audiências só se poderão efetuar na casa da

residência do juiz, ou em casa particular que para isso possa servir, não

havendo casa pública para êsse fim destinada.

Art. 367 – As partes que faltarem ao respeito devido ao juiz

em qualquer audiência ou ato judicial poderão ser multadas até a quantia

de 50$, conforme a gravidade do caso. E quando os excessos forem

criminosos, será mais prêso o delinqüente para se ver processar lavrando

o escrivão o respectivo auto.

Art. 368 – O oficial do juízo, que cometer qualquer excesso ou

omissão, será pelo juiz, perante o qual servir, suspenso até sessenta dias

independente de processo, pela verdade sabida.

Art. 369 – Se além da irregularidade, cometer o escrivão, ou

oficial de justiça crime de responsabilidade, será mais punido nos têrmos

da lei criminal.

Art. 370 – Nos lugares onde houver mais de um escrivão,

serão os feitos eqüitativamente distribuídos entre todos pelo juiz da seção

respectiva.

Art. 371 – Deverão ser assinadas por advogado as petições

iniciais das causas e todos os articulados e alegações, que fizerem nos

autos, salvo não havendo advogado no auditório, ou não querendo

prestar-se ao patrocínio da causa nenhum dos que houver, ou não sendo

êles da confiança da parte.

Art. 372 – Só aos advogados poderão os escrivães mandar os

autos com vista, ou em confiança debaixo de protocolo, sob pena de

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187

Justiça Federal: primeira instância

responderem pelo descaminho, ou pelas despesas na cobrança às partes

interessadas.

Art. 373 – Nenhum advogado poderá, sob qualquer pretexto,

reter autos em seu poder, findo o têrmo assinado ou legal, pelo qual lhe

tiverem ido com vista ou em confiança, sob pena de perda, para seu

constituinte do direito de que não tiver feito uso no referido têrmo, além

de pagar tôdas as despesas que para a cobrança dos autos se fizerem.

Art. 374 – Se os autos forem cobrados por mandado judicial,

que só se passará não os entregando o advogado, sendo-lhe pedidos com

o protocolo, depois de findo o têrmo assinado ou legal, por despacho do

juiz requerendo-o a parte contrária, não ajuntará o escrivão aos autos os

articulados ou alegações e razões com que vier o mesmo advogado; e se

alguma coisa nelas estiver escrita, o escrivão riscará de modo que se não

possa ler; devolvendo incontinenti ao advogado ou a seu constituinte o

que extrair dos autos, ou os documentos que assim vierem juntos,

lavrando de tudo o respectivo têrmo.

Art. 375 – Se, porém, o advogado não entregar os autos a

vista do mandado, passada a competente certidão, poderá ser multado

pelo juiz até 100$ e, se persistir, responsabilizado por crime de

desobediência.

Art. 376 – Qualquer falta moratória do advogado, não sendo

de moléstia jurada, será tomada como resposta direta aos têrmos da

causa, ficando êle responsável à parte por essa falta, se fôr culposo.

Art. 377 – Se, todavia, o advogado pretextar moléstia, dar-se-

lhe-á por uma vez sòmente nôvo prazo de cinco dias, findo o qual se

cobrarão os autos.

Art. 378 – A concessão a que se refere o artigo antecedente só

compreende os têrmos das ações ordinárias, de nenhum modo os dos

recursos e incidentes respectivos.

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Justiça Federal: primeira instância

Art. 379 – As dilações são contínuas, e o seu curso não se

suspende nem interrompe por férias supervenientes, salvo se estas

absorverem metade da dilação.

Art. 380 – Não correm os têrmos e dilação havendo

impedimento do juiz, ou obstáculo judicial oposto pela parte contrária.

Art. 381 – Durante as férias se suspendem as funções dos

juízes e do Supremo Tribunal, devendo ser considerados nulos todos os

atos praticados neste período.

Art. 382 – Podem ser tratados durante as férias e não se

suspendem pela superveniência delas:

a) os atos de jurisdição voluntária, como testamentos,

contratos, posses e todos aquêles que forem necessários para

conservação de direitos, ou que ficariam prejudicados não sendo feitos

durante as férias;

b) os arrestos, seqüestros, penhoras, depósitos, prisões civis e

suspeições;

c) ratificação de protestos, penhor, soldadas, alimentos

provisionais e interditos possessórios.

Art. 383 – São feriados, além dos domingos, os dias de festa

nacional, os de comemoração, declarados tais por Decreto, e mais os que

decorrem de 21 de dezembro a 10 de janeiro.

Art. 384 – É lícito aos terceiros prejudicados pela sentença

apelar desta, ainda que não interviessem na causa em primeira instância.

Art. 385 – Quando os que forem citados para responder a

qualquer ação se acharem presos, ou o forem já se achando em juízo,

terão para se defender o dôbro dos têrmos e dilações marcados neste

Decreto, e não começará nem prosseguirá contra êles a causa, sem que

A12

189

Justiça Federal: primeira instância

se lhes nomeie um curador in litem, sob pena de nulidade, tenham ou não

advogado ou procurador judicial constituídos.

Art. 386 – Constituirão legislação subsidiária, em casos

omissos, as antigas leis do processo criminal, civil e comercial, não sendo

contrárias as disposições e espírito do presente Decreto. Os estatutos dos

povos cultos e especialmente os que regem as relações jurídicas na

República dos Estados Unidos da América do Norte, os casos de common

law e equity, serão também subsidiários da jurisprudência e processo

federal.

Art. 387 – Revogam-se as disposições em contrário.

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL Provimento n° 1(*)

O Ministro Américo Godoy Ilha, Presidente do Tribunal Federal

de Recursos e do Conselho da Justiça Federal, no uso das atribuições que

lhe conferem os arts. 6°, itens II e XI, e 12, da Lei n° 5.010, de 30 de

maio de 1966, e de acôrdo com o decidido nas seções do Conselho de 24

de abril e 2 de maio do corrente ano,

RESOLVE:

a) Atribuir competência aos Juízes Federais das 2as Varas das

Seções Judiciárias do Distrito Federal e dos Estados de São Paulo,

Guanabara, Minas Gerais e Pernambuco, Bacharéis OTTO ROCHA, CID

FLAQUER SCARTEZZINI. JORGE LAFAYETTE PINTO GUIMARÃES,

SEBASTIÃO ALVES DOS REIS e ORLANDO CAVALCANTI NEVES,

respectivamente, para conhecerem dos pedidos de habeas corpus e de

mandado de segurança a que se referem os incisos VIII e IX, do art. 10,

da mencionada Lei n° 5.010 e atos interruptivos de prescrição;

b) Designar os Juízes Federais Substitutos da Seção Judiciária

do Distrito Federal, Bacharéis JOÃO AUGUSTO DIER DO RÊGO MACIEL e

190

(*) — Publicado no Diário da Justiça, em 5-5-67.

A12

Justiça Federal: primeira instância

JACY GARCIA VIEIRA para terem exercício nas 1ª e 2ª Varas da respectiva

Seção Judiciária;

c) Determinar aos Juízes Federais Substitutos da Seção

Judiciária do Estado de São Paulo, Bacharéis JARBAS DOS SANTOS

NOBRE, PAULO PIMENTEL PORTUGAL e AMÉRICO LOURENÇO MASSET

LACOMBE, que assumam o exercício das 5ª, 6ª e 7ª Varas da referida

Seção, até o provimento efetivo dêsses cargos;

d) Designar os Juízes Federais Substitutos da Seção Judiciária

do Estado da Guanabara, Bacharéis ELMAR WILSON DE AGUIAR CAMPOS,

RENATO AMARAL MACHADO e AMÉRICO LUZ, para terem exercícios nas

1ª, 2ª e 3ª Varas, respectivamente, da referida Seção;

e) Determinar que os Juízes Federais Substitutos, Bacharéis

RENATO AMARAL MACHADO e AMÉRICO LUZ, acumulem êsse exercício

com os de Juiz Substituto das 4ª e 5ª Varas, respectivamente, da Seção

Judiciária do Estado da Guanabara;

f) Designar os Juízes Federais Substitutos da Seção Judiciária

do Estado de Minas Gerais, Bacharéis ANTONIO FERNANDO PINHEIRO,

JOÃO PEIXOTO DE TOLEDO e GILBERTO DE OLIVEIRA LOMÔNACO, para

terem exercício nas 1ª, 2ª e 3ª Varas, respectivamente, da referida Seção

Judiciária;

g) Designar os Juízes Federais Substitutos da Seção Judiciária

do Estado de Pernambuco, Bacharéis ADAUTO JOSÉ DE MELO e EMERSON

CÂMARA BENJAMIN, para terem exercício nas 1ª e 2ª Varas da respectiva

Seção Judiciária;

h) Determinar ao Juiz Federal Substituto da Seção Judiciária

do Território de Rondônia, Bacharel ELY GORAIEB, que assuma o exercício

do cargo de Juiz Federal da referida Seção, até o provimento efetivo do

respectivo cargo;

A12

191

Justiça Federal: primeira instância

i) Determinar ao Juiz Federal Substituto da Seção Judiciária do

Estado de Sergipe, Bacharel GERALDO BARRETO SOBRAL, que assuma o

exercício do cargo de Juiz Federal da referida Seção, vago em virtude da

desistência do titular nomeado.

O que se cumpra

Publique-se

Brasília, 4 de maio de 1967.

(a) GODOY ILHA

Ministro Presidente

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL

Provimento n° 2

O Conselho da Justiça Federal, de acôrdo com os arts. 8°,

itens II a XI, e 12, da Lei n° 5.010, de 30 de maio de 1966 e em

aditamento ao Provimento n° 1, de 4 de maio de 1967,

RESOLVE:

I – Atribuir competência para conhecerem e decidirem dos

pedidos de habeas corpus, mandados de segurança e processos, de

natureza urgente:

a) aos Juízes Federais das 2as Varas das Seções Judiciárias do

Distrito Federal e dos Estados da Bahia, Pernambuco e Paraná;

b) aos Juízes Federais das 2as e 3as Varas das Seções

Judiciárias dos Estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul;

c) aos Juízes Federais das 2ª, 3ª, 4ª e 5ª Varas da Seção

Judiciária do Estado da Guanabara;

A12

192

Justiça Federal: primeira instância

d) aos Juízes Federais das 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, e 7ª Varas da

Seção Judiciária do Estado de São Paulo;

e) aos Juízes Federais das Seções Judiciárias de Vara única;

II – Determinar aos Juízes Federais Substitutos da Seção

Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul, Bacharéis HERMILLO GALANT e

JOÃO CESAR LEITÃO KRIEGER, respectivamente, que assumam o

exercício das 2ª e 3ª Varas, da referida Seção, até o provimento efetivo

dos respectivos cargos;

III – Designar os Juízes Federais Substitutos das Seções

Judiciárias dos Estados da Bahia e do Paraná, Bacharéis ANTÔNIO DE

SEIXAS SALLES FILHO e FRANCISCO DIAS TRINDADE, LICIO BLEY VIEIRA

e MILTON LUIZ PEREIRA, respectivamente, para terem exercícios nas 1ª e

2ª Varas das referidas Seções Judiciárias;

IV – Designar o Juiz Federal Substituto da Seção Judiciária

Estado da Guanabara, Bacharel CLEVELAND MACIEL, para ter exercício na

4ª Vara, cessando, destarte, a acumulação determinada na alínea "e", do

Provimento n° 1 ao Juiz Federal Substituto, RENATO AMARAL MACHADO,

da referida Seção Judiciária.

O que se cumpra

Publique-se

Brasília, DF., em 16 de maio de 1967.

GODOY ILHA

Ministro Presidente"

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL

Provimento n° 3

A12

193

Justiça Federal: primeira instância

O Conselho da Justiça Federal, no desempenho da atribuição

que lhe confere o art. 6°, II e IX da Lei n° 5.010, de 30 de maio de 1966:

RESOLVE expedir, nos têrmos do art. 16, da referida lei, as

normas abaixo, para a distribuição dos feitos, na Justiça Federal de

Primeira Instância:

1° – A distribuição será feita diàriamente, em audiência

pública, em hora prèviamente designada, em edital publicado no Diário da

Justiça da União ou no Boletim da Justiça Federal, mediante sorteio e por

classes, de conformidade com o art. 16, parágrafo único, da Lei n° 5.010,

de 1966, onde houver mais de uma Vara com a mesma competência.

2° – A audiência de distribuição será realizada por um Juiz

Federal Substituto, designado mensalmente, sempre que possível em

rodízio, pelo Juiz Diretor do Foro.

3° – Nos casos de caráter urgente, poderá a distribuição ser

efetuada fora da audiência, feita a conseqüente compensação, mediante

prévia autorização do Juiz Diretor do Fôro.

4° – Nos dias em que não houver expediente no Fôro da

Justiça Federal, os habeas corpus urgentes serão apresentados

diretamente ao Juiz, onde seu conhecimento competir a uma das Varas,

com exclusividade, ou ao que fôr designado pelo Juiz Diretor do Fôro,

prèviamente e mediante rodízio, onde houver mais de um Juiz

competente, sendo posteriormente anotada a distribuição e feita a

compensação.

5° – As petições e processos a distribuir serão entregues à

Secretaria do Diretor do Fôro, onde houver, e nas demais Seções ao

Distribuidor ou Distribuidor-Contador, que fornecerá ao interessado um

comprovante da entrega, para exame de sua regularidade formal.

A12

194

Justiça Federal: primeira instância

Em caso de dúvida, caberá ao Juiz Diretor do Fôro decidir a

respeito, determinando a distribuição ou exigindo sejam supridas as falhas

ou sanadas as irregularidades encontradas.

6° – As petições e processos recebidos até 1 hora antes da

realização da audiência, serão apresentadas ao Juiz Federal Substituto,

para distribuição, no mesmo dia; as demais deverão ser apresentadas na

audiência seguinte, ressalvadas as hipóteses de dúvida, nos têrmos do

item 5°.

7° – Às audiências deverão comparecer os Distribuidores ou

Distribuidores – Contadores, sendo-lhes entregues, no ato, mediante

recibo na correspondente relação, os processos e petições cujas

distribuições devam registrar.

8° – De cada audiência será organizada, pelo Distribuidor, ou

pelo que fôr designado pelo Juiz Federal Substituto, onde houver mais de

um, uma relação dos feitos distribuídos, que será publicada no Diário da

Justiça da União ou no Boletim da Justiça Federal.

9º – As baixas e retificações, bem como as distribuições por

dependência, serão determinadas pelos juízes competentes para os

processos, sendo os autos ou petições encaminhadas diretamente ao

Distribuidor ou Distribuidor-Contador, para as devidas anotações.

10° – No Estado da Guanabara, enquanto subsistir a situação

prevista no art. 86, da Lei n° 5.010, de 1966, simultâneamente com a

distribuição do feito, será designado o Distribuidor" ao qual caberá

registrar a distribuição, assegurada igualdade nestas designações, que

serão anotadas nas petições ou processos distribuídos.

11° – Nas Seções onde houver apenas uma Vara, ou, havendo

mais de uma, devam determinados feitos ser distribuídos a uma delas, em

virtude de especialização, as petições e processos serão entregues

A12

195

Justiça Federal: primeira instância

diretamente ao Distribuidor ou Distribuidor-Contador, para fim de registro,

sendo encaminhados, a seguir, à Vara competente.

12° – Os casos omissos serão decididos pelo Juiz Diretor do

Fôro, ou pelo Juiz Federal da Seção, onde houver uma única Vara, os

quais poderão baixar instruções para a execução do presente Provimento,

transmitindo cópia das mesmas ao Ministro Cor regedor-Geral.

O que se cumpra

Publique-se

Brasília, 3 de julho de 1967

OSCAR SARAIVA

Ministro Presidente

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL

Provimento n° 4

O Conselho da Justiça Federal, de acôrdo com o art. 6°, II, XII

e XIII da Lei n° 5.010, de 30 de maio de 1966,

RESOLVE, na forma dos arts. 14 e 16 da mesma Lei, expedir o

presente provimento, para regular a forma de distribuição dos processos,

entre os Juízes Federais e os Juízes Federais Substitutos, e o auxílio a ser

por êstes prestado àqueles, determinando sejam observadas as normas

abaixo:

1° – Os Juízes Federais farão redistribuir aos Juízes Federais

Substitutos os processos que lhes forem distribuídos, na proporção de 1/3

(um têrço) para cada uma das espécies de feitos da competência da

Justiça Federal e referidos nos incisos, I, III, IV; V, VI, VII e IX do art. 16

da Lei n° 5.010, de 1966.

A12

196

Justiça Federal: primeira instância

2° – Nos casos de acúmulo de serviço, os Juízes Federais

Substitutos prestarão auxílio aos Juízes Federais, cabendo-lhes o

processamento e julgamento dos feitos que lhes sejam delegados, com

exceção:

I – dos mandados de segurança e ações ordinárias;

II – dos habeas corpus ou processos por crimes a que seja

cominada pena de reclusão.

3° – Delegado o processamento e julgamento de um feito ao

Juiz Federal Substituto, o Juiz Federal não mais poderá avocá-lo;

4° – Nas licenças, férias ou outros afastamentos do Juiz

Federal Substituto, ou no caso de vacância do cargo, o Juiz Federal

exercerá as atribuições do item 1°, competindo-lhe também, em tais

casos, processar e julgar os feitos anteriormente delegados ao Juiz

Federal Substituto;

5° – Quando o Juiz Federal Substituto estiver em exercício

pleno, substituindo o Juiz Federal (art. 14 da Lei n° 5.010, de 1966),

competir-lhe-á, também, processar e julgar os processos mencionados

nos incisos I e II do item 2° (incisos II e VIII do art. 16 da Lei n° 5.010,

de 1966).

6º – Cessado o motivo determinante da substituição

restabelecer-se-á a competência do Juiz Federal ou do Juiz Federal

Substituto, conforme o caso, e nos têrmos dos itens 1º e 2°, sem prejuízo

da competência para o julgamento dos processos a que tenham ficado

vinculados, por fôrça de lei.

O que se cumpra

Publique-se

Brasília, 3 de julho de 1967

A12

197

Justiça Federal: primeira instância

OSCAR SARAIVA Ministro Presidente

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL

Provimento n° 5

O Conselho da Justiça Federal, no desempenho da atribuição

que lhe é conferida pelo art. 6°, II e XIV, e pelo art. 16, da Lei n° 5.010,

de 30 de maio de 1966,

RESOLVE expedir o presente Provimento, para regular a

substituição dos Juízes da Justiça Federal de Primeira Instância:

1° – Os Juízes Federais serão substituídos, em suas férias,

licenças, impedimentos ocasionais, faltas ou em seus afastamentos, por

quaisquer outros motivos, pelos Juízes Federais Substitutos com exercício

em suas Varas, em função de auxílio (art. 14 da Lei n° 5.010, de 1966) e

nas faltas e impedimentos dêstes, pelos Juízes Federais Substitutos das

demais Varas, onde houver, em sua ordem numérica, substituído o da

Vara de número mais elevado, pelo da 1ª Vara.

2° – Nos casos de suspeição ou outro impedimento definitivo

(art. 26,I, do Regimento do Tribunal Federal de Recursos), serão os Juízes

Federais substituídos pelos das demais Varas, onde houver mais de uma,

em sua ordem numérica, ou pelos Juízes Federais Substitutos, como

estabelecido no item 1°, se esgotadas aquelas substituições.

3° – Onde houver uma única Vara, ao Juiz Federal Substituto

caberá substituir o Juiz Federal, nas hipóteses previstas no item anterior.

4° – O Juiz Federal Substituto será substituído pelo Juiz

Federal, nas hipóteses de suspeição ou outro impedimento definitivo; nos

casos de férias, licenças, impedimentos ocasionais, faltas ou afastamento

por outro qualquer motivo, o Juiz Federal exercerá as atribuições

conferidas ao Juiz Federal Substituto.

A12

198

Justiça Federal: primeira instância

5° – Não sendo possível a substituição pelas formas previstas

nos itens anteriores, o Presidente do Conselho da Justiça Federal

designará um Juiz Federal Substituto, de outra Seção, mas sempre da

mesma Região (art. 18 da Lei n° 5.010, de 1966).

6° – Os casos omissos serão submetidos, para a necessária

solução, ao Conselho da Justiça Federal.

O que se cumpra

Publique-se

Brasília, 3 de julho de 1967

OSCAR SARAIVA

Ministro Presidente

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL

Provimento n° 8(*)

O Conselho da Justiça Federal, no desempenho da atribuição

que lhe confere o art. 6° da Lei n° 5.010, de 30 de maio de 1966:

Resolve determinar a observância pelas Secretarias das Varas

Federais, das seguintes normas para padronização dos Livros e

assentamentos necessários aos seus serviços.

1° – Serão adotados pelas Secretarias das Varas Federais, os

Livros que obedecerão aos modelos indicados na relação anexa ao

presente provimento, atendida a respectiva especialização, onde houver.

2° – O Livro previsto sob n° XVII, sòmente será necessário

nas Seções onde não houver Instituto de Identificação e Estatística ou

repartição congênere (Código de Processo Penal art. 709, S 1°).

199

(*) — Publ. no Diário da Justiça, em 10 de outubro de 1967.

A12

Justiça Federal: primeira instância

3° – Os Livros de Audiências a que se refere o n° XII serão em

duplicata, um para as audiências do Juiz Federal e outro para as do Juiz

Federal Substituto, nos processos de sua competência própria ou que lhe

hajam sido delegados, sendo os seus números de ordem acrescidos,

respectivamente, das letras "A" e "B".

4° – Nas Varas com competência cumulativa, no cível e no

crime, os Livros mencionados nos n.os I, II, VI, VII, X, XI e XIII poderão

ser desdobrados, com autorização do Juiz Federal, sendo os seus números

de ordem acrescidos dos algarismos I e II, respectivamente, conforme se

destinem ao cível ou ao crime.

5° – Os Livros serão abertos, rubricados e encerrados pelo Juiz

Federal de cada Vara ou o seu Substituto, constando da capa o fim a que

se destinam, e da lombada o número de ordem, observado o disposto nos

itens 3° e 4°.

6° – Poderão os Livros a que se refere os n.os VII, XII, XIII e

XVII ser de fôlhas sôltas, sem prejuízo das formalidades acima

determinadas, sendo encadernados após escriturada a última fôlha.

7° – As Secretarias manterão, ainda, um fichário onde será

anotado o andamento dos processos.

O que se cumpra

Publique-se

Brasília, 15 de setembro de 1967

OSCAR SARAIVA Ministro Presidente

MODELO XVII

(Fôlhas sôltas)

200

A12

Justiça Federal: primeira instância

Processo n°..........

Vistos etc.

De conformidade com o disposto no artigo 57 do Código Penal,

combinado com o art. 696 do Código de Processo Penal, concedo ao

réu.................................................................o benefício da

suspensão condicional da execução da pena, sob as seguintes:

Condições Gerais:

a) o prazo da suspensão é de............ anos;

b) o réu deverá exercer profissão lícita;

c) não poderá mudar-se dêste Estado sem autorização do Juiz;

d) deverá apresentar-se, em Juízo, de dois em dois meses;

e) não poderá portar arma, de qualquer natureza;

f) não poderá freqüentar casas de jôgo, ou lugares proibidos;

g) deverá pagar as custas e a taxa penitenciária no prazo de

trinta dias.

Condições Especiais:

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

A12

201

Justiça Federal: primeira instância

Intime-se o réu para audiência de advertência e expeça-se o

alvará de liberdade, caso se encontre prêso. P.I.

.........................., de..........................de 19............

(cidade e sigla do Estado)

.......................................................................................

Juiz (Federal ou Substituto)

RELAÇÃO DOS LIVROS MANDADOS ADOTAR PELO PROVIMENTO N° 8

I – Livro Tombo (Feitos Cíveis e Criminais) DIN I e III

II – Livro de Registro de Mandados e Alvarás DIN VI

III – Livro de Registro de Selos e Taxas DIN VII

IV – Livro de Ponto DIN 43

V – Livro de Vista de Autos a Advogados DIN X

VI – Livro de Entrega de Autos DIN XI

VII – Livro de Registro de Livramento Condicional (Modêlo

anexo)

VIII – Livro de Entrega de Correspondência DIN 1472

IX – Livro de Entrega de Autos às Partes sem Traslado

(Modêlo anexo)

X – Livro de Vista ao Ministério Público DIN XI

XI – Livro de Autos Conclusos para Sentença DIN VIII

XII – Livro de Audiências (Ver item 6° do Provimento)

XIII – Livro de Registro de Sentenças DIN V

A12

202

Justiça Federal: primeira instância

XIV – Livro de Rol dos Culpados DIN XXIII

XV – Livro de Termo de Fiança DIN XX

XVI – Livro de Registro de Mandado de Prisão DIN XXI

XVII – Livro de Registro de Suspensão Condicional da

Execução da Pena (Modêlo anexo)

XVIII – Livro de Entrega de Ofícios DIN XIII

XIX – Livro de Reclamações e Inspeções DIN IX

XX – Livro para Atas DIN 1215

OBSERVAÇÃO 1ª – Os livros cujos modelos contenham a

indicação DIN correspondem aos confeccionados pelo Departamento da

Imprensa Nacional;

OBSERVAÇÃO 2ª – Os modelos que não puderem ser

adquiridos de imediato no Departamento da Imprensa Nacional poderão

ser substituídos, a título precário, pelo modêlo indicado no n° XX, ou por

outro, a critério do Juiz Federal, observadas as formalidades prescritas no

item 5°;

OBSERVAÇÃO 3ª – O Juiz Diretor do Fôro providenciará dentro

das necessidades do serviço, a aquisição ou confecção dos modelos

mandados adotar e de outros que se fizerem necessários.

MODÊLO VII

(Fôlhas sôltas)

Processo N°................

Vistos etc.

A12

203

Justiça Federal: primeira instância

De conformidade com o disposto no artigo 60 do Código Penal,

combinado com o artigo 710 do Código de Processo Penal,

Concedo ao

réu...................................................................................................

....................................................................................o benefício do

livramento condicional, sob as seguintes:

Condições Gerais:

a) tomar ocupação lícita no prazo de 30 dias;

b) comparecer ao Juízo cada dois meses com prova de se

encontrar trabalhando;

c) informar, nessas ocasiões, qual o seu salário ou

rendimento, as economias que tenha conseguido realizar e as dificuldades

porventura encontradas para manter-se;

d) comunicar ao Juízo a mudança de residência e não

ausentar-se desta cidade sem prévia autorização do Juízo;

e) não trazer consigo armas ofensivas ou instrumentos

capazes de ofender;

f) não freqüentar casas de bebidas ou de tavolagem, nem

espetáculos ou reuniões contrárias à ordem pública e aos bons costumes.

Assino-lhe o prazo de seis meses para o pagamentos das

custas.

Condições Especiais:

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

A12

204

Justiça Federal: primeira instância

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

.......................................................................................................

Expeça-se a carta de guia, cumprindo-se o disposto no artigo

722 do Código de Processo Penal P. I.

(Cidade e Sigla do Estado)................de .................de 19.....

_________________________________

Juiz (Federal ou Substituto)

MODÊLO IX

LIVRO DE ENTREGA DE AUTOS ÀS PARTES SEM TRASLADO

N°...Distribuição................................... Histórico...........................................

Réu (qualificar).................................. .......................................................

....................................................... .........................................................

....................................................... .........................................................

Autor................................................ .........................................................

Adv. do Autor.................................... .........................................................

Adv. do Réu...................................... .........................................................

10 Cm. 10 Cm.

Livro de 200 fôlhas, aberto e encerrado pelo Juiz, numerado

de 1 a 200 e devidamente rubricado, com as dimensões de 22 cm. x 33

cm. Neste livro devem ser feitas as anotações dos processos entregues às

partes, independentemente de traslado, de sorte a permitir que dêle se

A12

205

Justiça Federal: primeira instância

possam extrair certidões para identificação dos ditos processos e das

partes nêles interessadas. Será precedido de um índice com 30 fôlhas

numeradas de 1 a 30, encadernado juntamente e assim distribuído: letra

A - 2 Fls.; letra B - 1 Fl.; letra C - 2 Fls.; letra D - 1 FL; letra E - 1 FL;

letra F - 2 Fls.; letras GH - 1 FL; letras IJ - 4 Fls.; letras KL - 1 FL; letra M

- 2 Fls.; letras NO - 1 FL; letras PQ - 2 fls.; letra R - 2 Fls.; letra S - 1 FL;

letras TUV - 1 FL; letras XYZ - 1 Fls.; Em branco 5 Fls.

ÍNDICE

Requerido Requerente Natureza do Feito Fôlha

7 Cm.

7 Cm. 4 Cm. 1 1/2 Cm.

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL

Provimento n° 10(*)

O Conselho da Justiça Federal, de acôrdo com o art. 6°, II e

XIII da Lei n° 5.010, de 30 de maio de 1966,

(*) — Publ. no Diário da Justiça, em 17 de novembro de 1967.

A12

206

Justiça Federal: primeira instância

Resolve alterar o critério de distribuição de feitos fixado no

item 1° do Provimento n° 4, de 3 de julho do corrente ano e determinar

aos Srs. Juízes Federais que façam a redistribuição aos Srs. Juízes

Federais Substitutos na proporção da metade para cada uma das espécies

de feitos referidos nos incisos do art. 16 da Lei n° 5.010.

O que se cumpra

Publique-se

Brasília, 13 de novembro de 1967

OSCAR SARAIVA Ministro Presidente

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL

Provimento n° 11(*)

O Conselho da Justiça Federal, de acôrdo com o art. 6°, II, e

na forma do disposto no art. 54 da Lei n° 5.010, de 30 de maio de 1966,

Resolve tornar sem efeito o Provimento n° 7, de 3 de julho de

1967, e atribuir competência ao Juiz Diretor do Fôro ou ao Juiz Federal

das 1as Varas das Seções Judiciárias em que o Diretor do Fôro ainda não

tenha sido designado, para estabelecer o horário de expediente das

respectivas Seções.

O que se cumpra

Publique-se

Brasília, 22 de novembro de 1967

OSCAR SARAIVA Ministro Presidente

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL

Provimento n° 12(*)

207

(*) – Publ. no Diário da Justiça, em 23 de novembro de 1967.

A12

Justiça Federal: primeira instância

O Conselho da Justiça Federal, considerando o disposto no art.

6°, X, da Lei n° 5.010, de 1966, e a necessidade dê se controlar os atos

mediante os quais os Juízes Federais concedem férias aos serventuários

da Justiça Federal de Primeira Instância,

Resolve determinar aos Senhores Juízes Federais que

organizem a escala prevista no art. 84, da Lei n° 1.711, de 1952, e que,

ao deferirem os requerimentos de férias dos serventuários, comuniquem o

deferimento ao Juiz Diretor do Fôro para as necessárias anotações.

Publique-se e cumpra-se

Brasília, 5 de abril de 1968.

AMARÍLIO BENJAMIN

Presidente em Exercício

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL

Provimento n° 13 (*)

O Conselho da Justiça Federal, nos têrmos do disposto no art.

6°, II, da Lei n° 5.010, de 30 de maio de 1966 e,

Considerando que o Provimento número 4, de 3 de julho de

1967, ao regular a forma de distribuição dos processos entre os Juízes

Federais e os Juízes Federais Substitutos e o auxílio que por êstes deve

ser prestado àqueles (art. 6°, XII e XIII, da Lei n° 5.010, de 1966),

determinou:

1° – Os Juízes Federais farão distribuir aos Juízes Federais Substitutos os processos que lhes forem distribuídos, na proporção de 1/3 (um têrço) para cada uma das espécies de feitos da competência da Justiça Federal e referidos nos incisos I, III, V, VII e IX do art. 16 da Lei n° 5.010, de 1966.

208

(*) - Publ. no Diário da Justiça, em 16 de abril de 1968. (*) — Publ. no Diário da Justiça, em 15 de maio de 1968.

A12

Justiça Federal: primeira instância

2° – Nos casos de acúmulo do serviço, os Juízes Federais Substitutos prestarão auxílio aos Juízes Federais, cabendo-lhes o processamento e julgamento dos feitos que lhes sejam delegados, com exceção:

I – dos mandados de segurança e ações ordinárias;

II – dos habeas corpus ou processos por crimes a que seja cominada pena de reclusão;

Considerando que, além do processamento e julgamento dos

feitos da sua competência, ao Juiz Federal designado para as funções de

Diretor do Fôro e Corregedor permanente dos serviços auxiliares não

vinculados diretamente às Varas estão cometidos os encargos dessas

funções administrativas e ainda os de membro dó Tribunal Regional

Eleitoral, o Conselho pelo Provimento n° 10, de 13 de novembro de 1967,

resolveu alterar o critério de distribuição dos feitos estabelecidos no

Provimento número 4 e,

determinar aos Srs. Juízes Federais que façam redistribuir aos Srs. Juízes Federais Substitutos na proporção da metade para cada uma das espécies de feitos referidos nos incisos do art. 16 da Lei n° 5.010;

Considerando a procedência das consultas formuladas pelos

Senhores Juízes que tiveram dúvidas quanto ao exato cumprimento das

normas fixadas nos Provimentos já referidos e os pronunciamentos do

Conselho a êsse respeito:

Resolve, em aditamento, esclarecer que o Provimento n° 10 só

revogou o Provimento n° 4 na parte que se refere à quantidade dos

processos a serem redistribuídos, ficando mantidas, em todos os seus

têrmos, as exceções do item 2°, n.os I e II, do Primeiro Provimento.

Publique-se e cumpra-se

Brasília, 8 de maio de 1968.

209

A12

Justiça Federal: primeira instância

OSCAR SARAIVA

Ministro Presidente

CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL

Provimento n° 14 (*)

O Conselho da Justiça Federal, considerando o disposto nos

arts. 6°, II, e 16 da Lei n° 5.010, de 30 de maio de 1966,

Resolve:

I – O Juiz Diretor do Fôro e Corregedor das Seções Judiciárias

de Varas múltiplas serão substituídos nas suas férias pelo Juiz Federal

indicado na ordem fixada pela escala de férias estabelecida pela Portaria

n° 23, de 12 de dezembro de 1967;

II – Nas Seções Judiciárias em que, a requerimento de um ou

mais Juízes Federais, fôr alterada a escala estabelecida pela referida

Portaria, caberá ao Juiz Federal em exercício, ou ao Juiz Federal

Substituto designado para o exercício pleno do cargo, a substituição do

Diretor do Fôro;

III – Nas licenças e impedimentos eventuais do Juiz Diretor do

Fôro, observar-se-á o mesmo critério estabelecido para a sua substituição

nos itens anteriores;

IV – Nos casos de substituição do Diretor do Fôro, previstos

nos incisos I e II, ao Juiz Federal que o substituir continuará afeto o

processamento e julgamento dos feitos enumerados no item 2°, n.os I e

II, do Provimento n° 4, distribuídos à Vara de que é titular e à Vara do

Substituto;

210

(*) – Publ. no Diário da Justiça, em 20 de maio de 1968.

A12

Justiça Federal: primeira instância

V – Caberá ao Juiz Federal Substituto processar e julgar os

demais feitos que forem distribuídos à Vara na qual já tem exercício como

substituto e, também, os da Vara do Juiz Federal, com exceção dos

processos que permanecem na competência dêste, conforme o

estabelecido no item IV, in fine.

Publique-se e cumpra-se

Ministro OSCAR SARAIVA

Presidente

ÍNDICE GERAL

Prefácio ..........................................................................7

Introdução .................................................................... 9

Cap. I – Das origens constitucionais .................................13

Cap. II – Da jurisdição .................................................. 31

Cap. III – Da competência ..............................................39

Cap. IV – Tribunal do júri............................................... 67

Cap. V – Da competência residual ................................. ..71

Cap. VI – Dos atos, diligências, serviços auxiliares e polícia

judiciária federal ........................................................ .75

Cap. VII – Considerações finais...................................... 79

CAPÍTULOS DO PODER JUDICIÁRIO

1. Constituição do Império ..............................................89

2. Constituição de 1891, com emendas de 1926 ................90

3. Constituição de 1934 ................................................. 90

A12

211

Justiça Federal: primeira instância

4. Constituição de 1937 ..................................................91

5. Lei constitucional n° 7 ............................................... 91

6. Lei constitucional n° 14 ..............................................92

7. Constituição de 1946 ................................................. 92

8. Constituição de 1967 ..................................................92

O TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS

Constituições de 1891, 1934, 1946 e 1967 ....................... 93

JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA

Lei n.º 5.010, de 30-5-66, texto atualizado com os seguintes

diplomas legais: Dec. –lei 30, de 17-11-66; Dec.-lei 81, de 21-12-66;

Dec.-lei 253. de 28-2-67; Lei 5.345, de 3-11-67 e Lei 5.368, de 1-12-67

................................................................................................. 99

Provimentos do Conselho da Justiça Federal: nº 1 ...........189

nº 2 ..........191

nº 3 ..........193

nº 4...........197

nº 5 ..........199

nº 8 ..........201

nº 10 .........207

nº 11 ........ 209

nº 12 .........211

nº 13 .........213

A12

212

Justiça Federal: primeira instância

nº 14 ........ 215

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213