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JUNTAS DE PAROCIIIA " 9 Ij - -- I I RELATOKIO

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JUNTAS DE PAROCIIIA " 9 Ij ----- -- I I

RELATOKIO

JUNTAS DE PAROCHIA

RELATORIO APRESENTADO POR UMA DAS COMIIISSÕES

DO CURSO 00 3 . O ANNO JURIDICO

DA

U!iIVERSIDADE DE COINBRA

NA AULA DE DIREITO ADMINISTRATIVO

XO ASNO LECTIVO DE 1871-1872

COIMBRA IMPRENSA LITTERARIA

1873

AO

ILLUSTRISSIMO E EXCELLENTISSIMO SENHOR

DR. MANOEL EMYGDIO GARCIA

PROFESSOR DE DIREITO ADMINISTRATIVO

NA

UNIVERSIDADE DE COINBRA

A Cammisaão.

JUNTAS DE PAROCHIA

O que tem sido a parochia ? O que deve ser? Deverão continuar os parochos a exercer as funcçaes

de vogaes e presidentes natos das juntas de parochia ?

Exame, na parte respectiva, da proposta apresentada ultimamente na Camara dos Senhores Deputados, para a reforma da administração.

A vossa cominissão, abaixo assignada, foi incumbida pelo nosso dignissimo professor de Direito Administra- tivo a resposta aos quesitos acima enunciados.

Este assumpto pertence ao campo de Administração, como sabeis, e está por tanto em relacão com a reforma administrativa, proposta ultimamente em CBrtes pelo sr. ministro do Reino.

Náo ignora a vossa commissão quanto as instituições portuguezas, consideradas em todas as suas variadas espe- cies, estão carecendo de maduro exame, e de larga e avan- çada reformação. Creadas quando o systema reprcsen- tativo foi estabelecido em Portugal pelos exforços assi- gnalados e pelos sacrificios cruentos da geração que vai passando, não podiam escapar-se absolutamente ti in- fluencia maligna das velhas ideias, nem sahirem, perfei- tas e completes, da vastissima comprehensão dos legis- ladores. Não era a epocha de 1830 a 1836 a mais azada para inaugurar no paiz as theorias adiantadas das scien- cias yoliticas e administrativas. Estavam ainda então de fresco os monopolios, que enriqueceram n~uitos, e tam- bem os privilegios, os poderes discripcionarios, e tudo quanto se tinha inventado para engrandecer duas clas- ses da sociedade ; e a guerra civil, que n'essa epocha innundara de sangue este forinoso territorio, deixtira accessos os odios violentos e um fogo de vingança, só inextinguiveis com a morte.

Passaram porém estes tempos anomalos, felizmente para todos, liberaes e não liberaes, partidarios do velho regimen e homens do futuro ; e no espaco decorrido a civilisação tem illuminado Portugal com o seu explendor immenso, e a luz tem-se feito nas intelligencias.

Comprehendeu-se já que vamos atravessando uma epo- cha de transiqão, e que é mister acompanhar o movi-

mento progressivo das ideias e a evolução fatal da hu- manidade para o bem. O tempo é de luctas e de dif- ficuldades. Vae na Europa urna guerra enorme, prodi- giosa, homerica, uma das maiores que no futuro hão de encher as paginas da historia e assombrar as gerações. Degladiatn-se dois gigantes ; combatem corpo a corpo ; gemem, agitam-se, rompem em estridores que espantam; cahem; supplantam-se alternadamente; e vê-se que ne- nhum quer deixar o campo, e que o combate é de morte. De um lado está um velho, pallido e niacillento ; a boccn escorre-lhe sangue; unia cabelleira á Luiz lkO, branca e crespa, cahe-lhe até os hombros; veste uma farda mili- tar, pintada com allegorias allusivas ao patibulo e ao niito de ft:; nas costas lê se rim distico, em grossos cara- cloros - crt? ou morre. Do outro levanta-se uin mancebo, cheio de força e de vida, com os olhos brilhantes de en- thusiasmo, e reflectindo o santo ardor qiie lhe fortifica a iilma; não traz distinctivos; apenas se leern Ires pala- vras, penderites d'uma larga fita - Liberdade, igualdade e fra ternidade.

De tempos a tempos cessa o combate; rnas os adver- sarios preparam-se para novo ataque. b s vezes o velho atbleta coiisegue derrubar o maricebo, e prender-lhe os movimentos; mas logo o mancebo, por um exforco su- premo, ressalta fortalecido, q~iando todos o julgavam fraco e exanime. E o velho se debilita a mais e mais, e vae perdendo terreno, e prevê-se que ern pouco cahirá para sempre.

Eis o qiie B esta lucta do passado com o presente, da intolerancia com a tolerancia, do despotismo com a li- berdade. Houve teinpo em que a tyrannia pesou com o seu jugo de ferro sabre os povos, e a liherdade passou vida de tristeza e lagrimas, escondida nos antros ou

agrilhoada pelas cadeias dos senhores. Um dia o ho- mem accordou para si, e , levantando o pescoço para o alto, proclamou os seus direitos. O passado resistiu, e quiz abafar a voz da consciencia, do christianisrrio, e da humanidade; e como era forle, e tinha c r e d o raizes profundas, e dispunha d e elementos tradicionaes e quasi inabalaveis, resistiu ao grande estremecimento d e 1793. Mas o golpe estava dado, e a sua queda era fatal, porque era providencial. Desde então as convulsões re- petem-se ; o passado vae succiimbido, em parte destruido pelo poder da ideia, em parte carcomido pela propria miseria ; e sobre a s ruinns d'uma sociedade miseravel, eivada d e iniquidades, trabalhada pelo egoismo dos maus, pela maldade dos reis, pela especulaçGo dos gran- des, e pela hypocrisia torpissima das classes privile- giadas, reconsirue-se uma sociedade nova, trabalhadora, livre e verdadeiramente christá. A reacção do passado era inevitavel; mas a accão do presente é n a i s pode- rosa. De quem será o futuro? Não é preciso ser prn- pheta, para afirmar que ha de ser da razão, da tole- rancia, da individualidade humana. O velho regimen atravessou os seculos, apoiado na ignorancin das mas- sas, e na forca bruta dos governos ; passou a sua epo- cha, como passa tudo que é do mundo ; e depois do rei- nado da injustiça e do erro, ha de vir, porque Deus não é uma mentira, neni o são tambem as leis psycolo- gico-sociaes, o dominio da justica e da verdade. A Eu- ropa, cremol-o, ha de ser juncada de cadaveres, e as torrentes serão de sangue. Mas que ideia nobre e grande conseguiu vingar, que não fosse sanctificada por este baptismo? E que ha ahi mais fecundo e productivo do que o martyrio por uma causa, e a morte por um pen- samento? Quantas viclimas o passado immolar na sua

resistencia teimosa, nos seus arrancos de moribundo, na sua raiva de desesperado, tontos soldados virão alis- tar-se n'este exercito de valentes, cujo brado de guerra C uiva a l i b e r d a d ~ I E estes morrem com o riso nos la- bios e com a alegria na alma, .porque tem a viveza e o fogo das cienras e sabem que a victoria é certa e o trium- pho seguro.

Ha j B annos que Henri Heine prophetisava a ultima guerra entre as duas mais fortes nacões da Europa; pois n6s prophetisamos hoje uma guerra europeia, não pelas differenças dc raça, mas pela desharmonia de ideias. A liberdade quer desprender-se, e os seus apostolos nso descancam. E os restos da velha sociedade não se des- fazem de todo, sem aquelle estremecimento que 6 a ul- tima manifestação da vida. E ella ho de morrer como viveu, n'um charco de sangue, e blasphemando da jus- iica.

Se, pois, caminhamos para uma transformacão social, é preciso dispbr e accommodar as instituições para que o movimento nos não surprehenda. Não esperemos que o paiz peça o que lhe pertence, e por meios menos pa- cifico~ ; antes, estudando as suas aspiraqões, procuremos satisfazer-lhas de prompio.

Ha hoje duas escolas extremas em politica e adminis- tração; uma que centraliza o poder no governo central, e entende que este deve exercer sobre o Estado uma tu-

tela continua e extensiva ás mais limitadas manifestações da vida local; segundo ella o Estado 13 menor; não póde viver e adquirir por sua propria acção os meios de fi- nalidade; por consequencia o governo central deve ex- tendei a suo acção até aos menos importantes corpos da jerarchia politica, e regular, dirigir e dispbr toda a machina administrativa. Outra, mais oonforme com a natureia humana, sustenta que a existencia d'um go- verno e um attentado contra a liberdade; que os povos devem existir e viver por si e para si; que o Estado é autonomo e soberano, nas suas mais pequenas divisões e circumscripções ; que as localidades, posto que ligadas por um laço commum de interesse ou sympathia, devem considerar-se independentes d'outra auctoridade que não seja a local.

Os principias d'esta escola são sem duvida os mais racionaes. Centralisação significa intolerancia, falta de liberdade ; descentralisação quer dizer liberdade ; a ana- lyse d'estas duas ideias, quer feita phílosophica, quer historicamente, dá aquelles resultados. N'este concurso de liberdade com tyrannia, n'esta antinomia de ideias que se contradizem e destrbem, quem deixará de optar pela liberdade ?

Todavia, se a resolu~áo do problema, considerado thcoricamerite, B facil, náo devemos occultar que actual- mente a d~sccntralisaçáo, com todas as Inrgns vistas dos que a prdgnui, náo póda talvez ser urna realidade. As instituic,ões nlao as fazem os legisladores, sem que o tempo, que 6 o melhor reforniador, disponha os povos para as receberem. A descentralisação em iarga escala, posto que seja o descjo intenso dos modernos pensado- res, occasionaria rios paizes, faltos de illustraçiio e senso politico, um cahos terrivel, que destruiria toda a admi-

11 - nistração. Confiar os direitos a quem não sabe exercel-os com a dignidade e rectidão, que são o verdadeiro apa- nagio do homem publico, é precipitar a aniquilaç80 do

. que se pretendia estabelecer; 6 p8r em risco a existen- cia, do que se afigurava possivel; é dar armas aos ini- migos para sophismarem, com a realidade dos factos, a belleza das iheorias.

N'estas circumstanoias, e para escapar a estes obsta- culos, que muitos julgam inlaginosos, mas que n6s sup- pomos verdadeiros, levanta-se uma pretendida escola, que nem acceita a centralisação, nem a descentralisação completa; antes, collocada entre ellas, procura conci- lial-as de fórma, que o systema de administração, nem seja o complexo de formulas, em que a existencia auto- nomica do povo é sacrificada, nem tambem o desenvolvi- mento completo das doutrinas descentralisadoras, para cujo comprehendimento o povo não está ainda habili- tado. -4 esta escola chamam conciliaddra.

Não questiona porém a vossa commissão se realmente lhe cabe o nome de escola; se ella sustenta principios distinctos, e theorias propriamente suas, dispostas n'uma synthese scientifica; entende, porkrn, quu no estado actual da nação portugiieza, os poderes publicos não podiam, nem deviam inaugurar outras formulas de adrni- nistração. Não quer a commissão com isto indicar que não seja partidaria decidida e convicta da escola descen- tralisadora. Mas 6 do homem do Estado não se deixar conduzir á mercê do vento das ideias, mas dirigir-se no caminho da governação publica pelo leme da pru- dencia. Bem ouve a commissão clamar que só sob uma administracão livre e democratica o povo p6de ser educado no conhecimento dos seus direitos e deveres. Comtudo é obvio a todos que no regimen que nos go-

verna, em que se expõem todas as opiniões, em que sc apresentam todos os alvitres e pareceres, ainda os mais extravagantes, não faltará occasião de elucidar o paiz. Pouco a pouco se irá acostumando a exercer os cargos publicos com limitadas attribuições, que serão alargadas consoante o espirito publico f6r mostrando consciencia e tino. Mais tarde virá a formula mais elevada do sys- tema descentralisador, e então sem perigo para a ordem, nem anarchia na administração.

Não póde pois a vossa commissão deixar de reco- nhecer que o actual governo, filiando-se com a sua pro- posta na escola conciliadora, embora infundadamente lhe chamem conservadora, attendeu ao estado do paiz, e comprehendeu a alta missão que tem a desempenhar.

III

Compete 5. vossa commissão analjsar o tit. 7 . O da proposta de Reforma Administrativa, que trata das Jun- tas de Yarochia e suas attribuições, e da parte respectiva do relatorio do Sr. ministro do Reino. Entende pois a comrnissão que não vem fora de proposito dizer o que a parochia tem sido dosde a sua instituição até ao nosso tempo.

Segundo uns a palavra pnrochia vem de pnirokia, e esta de pairokos, que significa incola, hahitallte ; por- que a parochia é uma circuinseripçáo que comprehende

um certo numero de moradores d'uma ou mais povoa- ~ õ e s . Com esta significação a encontramos nas Pande- ctas, Fr. 239, 5 2 - De Verb. signif., 50, 16. Segundo outros vêm do verbo grego parekein que significa offe- recer, administrar; porque os parochos são encarrega- dos de administrar os sacramentos e provêr a todas as necessidades espirituaes dos individuos confiados aos seus cuidados. N'este sentido se chamavam parochos entre os Romanos uns certos funccionarios, que se oc- cupavam em fornecer sal e outros objectos de primeira necessidade aos extrangeiros, e sobretudo aos embaixa- dores romanos nas suas viagens. D'elles falla o poeta latino :

Proxima Campano pontique villula, tectum Praebuit; et Parochi, quae debent ligna salemque ... (I}.

Nos tres primeiros seculos eram tomadas synonima- mente as palavras -Parochia e Dioecesis -, designando indistinctamente a cidade, com as villas e aldeias an- nexas. sujeitas á jurisdicção de um bispo, que era o unico pastor constituido pela egreja. A regra seguida era esta: ((Presbyteri sine sectentii: episcopi nihil agere pertentent; episcopoDomini populus commissus esl» (2). Quando mais tarde, no seculo 4 . O , começaram a existir autonomicamente as igrejas do campo, dirigidas por um presbytero, eram indicadas egualmente por qualquer dos dois termos. Porém, pouco depois, determinaram-se as expressões, servindo o termo - dioecesis -para desi-

(1) Horat., Satyr., Lib. 1."; 5, v. 45. (2) Thornass. - Vet. e1 N o v . Eccl. Discip. P. I.", Lib. 2.' -

cap 21, o." 4, aonde cita alguns fragmentos dos Canones Apos- tolicos em abono da opinião que mais abhixo apontâmos.

gnnr a circumscripçiio, cujo chefe era o bispo, e a palavra -parochia,-para indicar as pequenas divisões, gover- natlns por um sacerdote, auctorisado pelo ordinario. A s provas d'esta afirmativa são abundantes. O Concilio de Cslcedonia diz no cap. 17-«Quae sunt in magnaque provincia ruraler vicanasque parochias firrnas et incon- cussas manere apud eos, qui illas teneant episcopos ; et maxime si triginta annorum tempore eas sine vi deti- nenles administraverint)). O mcsnio consta do Concilio Valens, can. 2 . O ; de Theodoreto, na ep. 113; de S. Je- ronymo, contra Vigil. c. 2.", etc. Vê-se por tanto que a palavra paroilkia, designando no principio a circums- cripçbo ecclesiastica, de que era chefe o bispo, princi- piou depois a indicar pequenas divisões.

Tambem a palavra dioecesis é tomada para significar as pequenas circumscripções. Assim Sidonius Appolina- ris (1), querendo designar as igrejas pequenas, como se deduz do contexto, emprega os termos - Peragratis forte dioecesi bus. Outros auctores confirmam esta acce- pçáo. E realmente as pequenas igrejas, subordinadas ao presbytero, eram umas dioceses em ponto pequeno, quasi dioeceses, como lhe chama um antigo escriptor. Tambem a estas pequenas circumscripções se chama- va egrejas Qiocesanas, como se deprehende do Concil, Tarrag., c. 8. ((Reperimus nonullas diocesanas eccle- sias esse destituta; outros as designavam pelo nome de igrejas ruraes, e d'aqui vem que o Concil. Neocaesar., c. 13, chama aos presbyteros que as governam - pfi?sd

byteros ruraes (2). ,

Ha um outro termo por que são indicadas as pequenas circumscripções ecclesiasticas - é o termo titulus. E

j l ) Lib. 9.O, Ep. 14.' (2) Bingham, Orig. sive Antiq. Eccl., Lib. 9, C. 8, Q I.*

15 - sobre o motivo da applicayão d'esta palavra n lo estão accordes os criticos. Effectivamente encontramos esta designação em alguns livros antigos. No liaro pontifical, que foi publicado sob o nome do papa S. Damaso, na vida de Marcello se conta que este varão mand8ra edifi- car em Roma uinte e cinco titulos por causa dos muitos baptismos de pagãos convertidos, e da sepultura dos martyres. E no mesmo logar se conta que uma viuva, chamada Lucina, dedicara sua casa com o nome de titulo, e ali passava a vida orando e entoando louvores a Jesus Christo; e que, sabendo isto o tyranno Maxencio, con- vertera a casa em curral.

Estes titulos não podiam ser senão as igrejas peque- nas ou parochiaes, sujeitas B supremacia do bispo. Mas qual seria a razão d'este nome? Divergem os escripto- res. O erudito Baronio suppõe que esta denominacão provinha de que no alto da igreja era collocada uma cruz, signal ou titulo de que pertencia á religião do Cruxificado. Não parece dever acceitar-se esta opinião, não ,515 porque não 6 crive1 que n'esse tempo de perse- guição os fieis se quizessem denunciar tão facilmente, mas porque não encontramos razão plausivel da qual induzamos que a Cruz era distinctivo unicamente das igrejas pequenas, e não da igreja central ou episcopal. Medus suppõe que aquelle nome se fundava, ou em que nas igrejas se esculpia o nome de Christo, a quem ellas pertenciam; ou em que era concedido um titulo de be- neficio cura1 aos presbyteros, a quem o ordinario incum- bia a regencia das igrejas pequenas. Suppõe Bingharn que 6 este ultimo o alvitre mais acceitavel (I). N6s po- rém, em presença do que encontramos nos historiado- res c tractadistas da materia, entendemos que o nome de

(1) Bioghaui - Ob. cit., Lib. 8, cap. I.', 9 10 "

t i t ido era antes dado á igreja, ao edificio, do que 4 cir- cuinscripção de fieis, a que ella pertencia. E isto mais nos confirma o facto, acima apontado de que Lucina dera á sua casa, depois de convertida em igreja, o nome de titulo; e o proprio Bingham falla d'esta materia quando trata de explicar os differentes nomes por que eram e ainda são conhecidas as igrejas ou templos (1). i

Qualquer, porbm, que seja a verdade, basta-nos, para o nosso fim, apenas ter indicado as differentes pala- vras com que encontramos designadas as pequenas cir- cumscripções ou igrejas.

As parochias (usaremos d'este termo para indicar as pequenas divisões ecclesiasticas) foram creadas pela força das circumstancias. É sabido que no primeiro se- culo o christianismo foi prbgado pelos Apostolos e seus discipulos nas principaes cidades da Asia e da Europa, e talvez tambem da Africa. O Divino Mestre tinha dito - ide e ensinae - e os Apostolos, executores fieis das ordens do Salvador, depois de terem recebido o Espirito Santo, marcharam para differentes pontos. fazendo ou- vir a boa nova da regeneração humana. PrBgaram nas grandes povoações, e ahi adquiriram proselytos e for- maram igrejas mais ou menos numerosas, que depois deixaram entregues aos cuidados dos seus discipulos. É até de crer que, segundo se infere d'alguns logares dos hct. dos Ap. e das Ep. de S. Paulo, em Roma e Je- rusalem havia mais que uma igreja no tempo aposto. lico. Náo é pordm esta opinião muito segura; e Tho- mass. prova que nos tres primeiros seculos não havia igrejas ruraes, e que nas cidades s6 existia a Cathedral (e ) ,

Mais tarde o movimento chrislão estendeu-se pouco

(1) Biiigham, Lib. 8, cnp. 1.' (2) Tomass, ob. cit., Part. I.", Lib. 2.", cap . 21, arlt. 1 a 6.

a> pouco para fóra das cidades, ate aos campos, e ás vil- las e aldeias mais retiradas. É claro que, sendo fervorosa a fé dos primeiros christnos, e desejando freqiientemente orar r! receber os Sacramentos, e assistir aos actos eccle- siasticos, sb com muitos sacrificios e incommodos po- diam concorrer de longss distancias á séde episcopal, pois que si5 o bispo podia, por instituição apostolica, reger a igreja. Reconheceu-se então a necessidade de instituir igrejas nas povoações mais pequenas, e mllo- car á testa ci'ellas urn presbytero, auctorisado pelo su- perior ecclesiastico, a qunui pertencia administrar os Sacramentos, e praticar outros actos concernentes ao culto externo e á edilicação das almas. Assim se foram forrnaiido as parochias, ou dioceses pequenas, conforme augrnentava o numero dc christãos.

De fbrrna que nos parecem um tanto ousados os que atlribiiim n fundação das parochias ao papa S. Anaèleto no fim do 1.' seculo, como os que pensam que as institui0 o papa S. Evaristo no principio do 2 . O . Quanto a nús, as parochias foram instituidas por força &.eis- cumstancias, sem poderem ser attribuidas a este ou áquelle pontifice. O que 6 certo 6 que sb, depois que Constantino Magno deu a paz B igreja, appareceni docu- mentos authenticos e inquestionados da existencia das parochias. Acirna vão citados alguns, aos quaes pode- mos accrescentar o t~stiniuiiho de S. Athanasio, que, fallando das igrejas riiraes visinhas de Alexanrlria, os- creveu o seguirite : «Mareotes ager est Alexandriae, quo in loco episcopus nunquam fuit, irrirrio ac chorepiscopus quidem ; se i universae ejiis loci eçclesiae episcopo Ale- xandririo su1)jacetit; ita tamen ut singuli pagi suos pres- byteros habeant (1).

(1) Apol. 2,'- Fid. Dicct. de Gosckler, verb. Crr6. 41

Averiguada assim a origem historica das parochias; segue-se dar algumas ideias a respeito da sua organisa- çáo.

Geralmente define-se parochia d'esta fbrma : ucertus territorii districtus, habens unum rectorem stabilem, cum potestate populum ibideur existcntem regendi et jndicandi, eique sacramenta aliaque divina adminis- trandi (1).

As poucas noticias que temos a respeito dos paro- ehos nos primeiros seculos, fazem-nos suppor que elles estavam completamente dependentes do bispo. Tinham algumas funcções proprias, como eram a pr6gacã0, a ad- ministração dos Sacramentos, e certas bençãos, mas os seus poderes estavam sujeitos 4 vontade do bispo, que lh'os restringia on alargava, conforme julgava conve- niente: E se o bispo, por qualquer caso, se achava na igreja parochial, era elle, e não o presbytero, quem exercia as funcções parochiaes. Mais tarde foi dado 4s funcr;ões parochiaes um pouco mais de lalitude, per- tencendo ao parocho prégar, administrar os sacramen- tos, fazer homilias, conhecer a sua parochia, visitari- do-a, e providenciando para que os bens &a igreja sejam conservados e augmentados, e o culto publico feito com a maior decencia e magestade. O Concilio de Trento reune assim os deveres do parocho : ((Mandat S. Synodus epis- copis, pro tutiori animarum eis commissarum salute, ut, disiincto populo i11 certas propriasque parochias, unicuique, suurn perpetuum peculiaremque parochum assignent, qui eas cognoscere valeat, et a quo solo li- cite sacramenta suscipiant (%).» ).&

(1) Ferraris, Prompta Bibliotheca, verb. Parochia. (2) Sess. 26, c . 13 de Ref.

Não nos pertence agora estudar os officios e$piitituaes da parocho, e as suas relações de dependencia com o bispo ; seria materia alheia ao OSSO proposito. neve- mos porbm dar noticia resumida da administração paro- chial, e indicar quem no decurso do christiani~mp tem sido o encarregadode curar dos bens parachiaes, e diri- gir a fabrica da igreja (I).

É sabido que logo desde o principio a igreja pqsuiw bens. Do Novo Testamento consta que muitos fie&, ~ 0 p

siia livre e erpontanea vontade, vendiam seus haverqs, e iam depositar o dinheiro aos p6s dos Apostolos, para qqp estes o applicassem nas esmolas aos pobres, e em sqkaj obras de caridade. Quando os Apostolos instituiratq os diaconos (a), não foi só para elles exercerem oftici(is:qs- pirituaes, mas para distribuirem pelos christaos necet- sitados o producto d'aquellas vendas.

Depois, desde os primeiros -tempos, os bens eoclesiqs- ticos foram crescendo COUI as dadivas doschristãos. Mgs não foi sempre uniforme a disciplina ecclesiastica g rpk peito da administracão d'elles. Em geral o Rispo e i w ~ a

(1) A palavra fabrica exprimiu primeiramente a conslrucção, o fabrico diurna igreja ; depois coniprehendeu este nome todas a s constriicçõrs, todas a s reparacbes, todas a s despezas qub s e faeiem para a c e l e b r a ~ a o do culto ; depois 8 porçáo 6~ 4asa, cujos rendimentos eram destinados a prover bs d e p p e ~ p s ; e finalmrnte o nonie passou das cousas para a s pessoas, e ser- viu para designar a nssembleia ericarregnda da adrniois t r~cão dos bens da igreja. N'este ultimo sentido s e emprega hoje. Uma fabrica é pois um eslabelerimento destinado a vigiar pela conseivacão dos teniplos, administração d a s esmolas e outros bens pertencentes á ig?eja; 6, n'uma palavra, a cawjmrnp ca tho l ica . (Vid. a Encyclop. Catholica, verb. paroisse). B e p se v& que n6s tomiimos n'este logar a palavra fabrica na ~ e - nultima accepçio.

(3) Act. dos Ap. , c. 6.

a suprema auctoridade na dispensa das cousas tempo- raes; mas, para que elle nBo exhorbitasse d'esta prero- gativa, determinou-se que celebrasse conselho com os presbyteros e diaconos da sua diocese, a fim de que tambem o clero tivesse conhecimento do modo como se fazia a administração dos bens. E, se houvesse razão de queixa contra o bispo, era este obrigado a prestar contas ao Concilio Provincial que para esse fim se reunia. «Si autem accusetur Episcopns, aut Presbyteri qui cum ipso sunt, quod ea, quae pertinent ad Ecclesinm, sibimet usurpent, ita ut ex hoc affligantur paupcres, hoc oportet corrigi, santa synodo id quod condecet approbante (1))).

Em muitas dioceses era nomeado pelo bispo um func- cionario, encarregado da adrninistra(30 dos bens, sujei- to á inspecção do bispo, e obrigado a prestar-lhe con- tas, sempre que elle as exigisse ; chamava-se Eeonomo, ou Administrador. Os economos eram da classe dos presbyteros, e succedia que havia mais do que um nas igrejas, cuja opulencia prodiizia uma complic~çbu de serviços e obr-igacões, que não podiam ser desempenha- das por um s6. N'este caso estava, por exemplo, a igreja< de Constantinopla. O economo era escolhido pelo bispo, mas não podia ser destituido das suas funcções por mero arbitrio d'elle; n'algumas igrejas era eleito pelo clero.

No seculo 5 . O ou 6 . O os bens ecclesiasticos foram di- vididos em quatro partes, para o bispo, para os clerigos, para as pessoas pobres, e para a fabrica da igreja. Ainda n'esse tempo não tinham sido instituidos os beneficias, e o clero vivia das dadivas dos* fieis. t(Quatiior autem tam de redditibus, qiiam de oblationibus fidelium con- venit fieri partitiones, quarum una Pontificis, altera cle-

(1) Can. Ap. 25.

ricorum, tertia pauperum, quarta fabricae applicanda (1). A administracão dos bens da fabrica e dos pobres continiioii a ser confiada ao bispo, ou aos economos, uquae omnia cum jussu et arbitrio çui Episcopi ab eis inil)lentiir», segundo as expressões de S. lsidoro de Se- vilha; e os bens pertencentes ao bispo e clero, como ordinariamente viviam em commum, administrava-os o bispo, ouvido o conselho dos presbyteros e diaconos.

Mais [arde, no seculo 9 . O , desappareceu esta divisão, porque foram instituidos os beneficias ecclesiasticos, e mais o11 menos enriquecidos pelas doações dos fieis. Desde então os parochos tinham a administração dos bens da sua igreja, dos quaes tomavam parte para si, e parte para a fabrica da igreja, e sustentacão dos neces- sitados. Ainda depois esta administração passou para os leigos, dependentes comtudo do parocho ou capitulo que presidia 6 respectiva igreja. ((Laici sine assenssu praelatorum et Capituloruni bona fabricae Ecclesiae de- putara administrare non possunt ( A ) . ) ) De fórma que o parocho era sempre o primeiro fabriqueiro, e a sua UU-

ctoridade era respeitada pelos qiie elle chamava a com- partilharem na admiiiiçtração da fabrica. Fica assim re- futada a opinião dos que pretendem que n'essa epocha foi tirada aos parochos a iiigerencia na administracão clos bens ecclesiasticos.

Esta foi a disciplina conservada durante o correr dos seculos, até que o poder civil secularisou os bens eccle- siasticos, e interveio na gerencia da fabrica (3).

(1) Can. 27. (2) Conc. de Salsbourg. can. 53. (3) Para aniplo desenvolvimen~o vid. Thornass., obr. citada,

Tom. 3 . O , Part. Y.*, Lib. 2.'

Segue-se dar alguns apontamentos relativos 4 historia ãa administraç80 parochial no nosso paiz, desde que se inaugurou o novo systema politico.

A primeira legislação que encontramos sobre Juntas de Parochia, é o decreto da Regencia em nome da Rai- nha, datado de Angra, aos 26 de novembro de 1830, e assignado pelos ministros, rnarquez de Palmella, conde de Villa Flbr, José Antonio Guerreiro, e Luiz da Silva Moii~inho de Albuqiierque. Achamos n'este documenta a creaçao d'aquelle corpo collectivo, com attribuições latissimas, e talvez mais liberaes do que as que lhe são boncedidas por leis posteriores. O decreto (n.O 23) abre d"esta fórma :

«Sendo necessario para o bom regimento e policia &S Pbvos que haja em iodas as Parochias alguma Au- c'toridade local, que possua a inteira confiança dos visi- nhos, e que seja especialrnentc encarregada de prover e administrar os negocios e interesses particulares dos mesnios ; Manda a Regcncia, em nome da Rainha, que, em quanto por Lei Constitiicional náo f6r definitiva- mente estabelecida a nova ordem e adrninistraqão muni- cipal, se guardem as seguintes disposições :B, as quaes vamos dar por extracto.

Determina o decreto; que haverá em cada Parochia lima Junta nomeada pelos visinhos, 'e encarregada de administrar todos os negocios de interesse puramente

local. Nas parochias que tiverem menos de duzentos fo- gos, será composta de tres membros; nas que tiverem duzentos, ou mais até seiscenios, será de cinco rnem- bros; e de sete nas parochias que tiverem seiscentos fogos, e d'ahi para cima (Art. 1 . O ) . Da mesma f0rma e no mesruo teinpo será eleito um secretario da Junta, o qual servir8 de escrivão do regedor. Servem todos por dois annos, e exercem funcções gratuitas, excepto o se- cretario que vence emolumentos (Art. 2 . O ) . Indica q u m os individuos que ngo podem votar na eleitáio d a Jahta de Parochia (Art. 3.O e $8 respectivos; art. 4 . O ) . Podem ser eleitos todos os moradores da Parochia (art. 5.O),

com as excepções marcadas nos $3 respectivos. A ekíção é feita no segundo domingo de dezembro (no anno da promulgação do decreto) e d'ahi em diante em egual dia de novembro, de dous em dous alinos, na igreja paro- chia1 ou no adro d'ella. E presidida por um dos ver* dores, ou pessoas que costumam andar na governança do concelho. A camara designa, quinze dias antes da elei- ção, quem preside a ella, tendo formado antes a lista dos eleitores, que eniwgari4 ao presidente (Art. 6 . O ) . Regula depois o modo da eleição (Artt. 7.O, 8.O, 9 . O e 10.O;. Quando vagar algum dos logares pela morte ou mudança de residencia de algum membro, a camara manda pro- ceder a nova eleiçào (Art. 11.O). A camara compete exa- minar ge na eleição foram guardadas as formulas legaes; s e foi nulla, manda proceder a outra no primeiro ou se- gundo domingo seguinte ; mas é obrigada a dar a sua de- cisão em cinco dias, contados d'aquelle em que lhe foram remettidos os autos da eleicão (Art. 1 2 . O ) . Indica a quem devem pertencer os autos (Ar t . 13.'). A Junta, logo que se institue, nomeia o thesoureiro d'entre os visinhos da parochia (Art. 14.O). Compete ao regedor de parochia;

presidir á jiinta e dirigir os seus trabalhos (Art. 25,0, 8 I); conhecer das causas civeis intentadas contra alaum morador da parochia, o valor das qiiacs não exretl,i mil e duzentos réis ($ 2); conhecer dos damnos, feilos por pessoas ou gados, na propriedade nlheia, dentro dos limites da parochia (8 3) ; fazer executar os seus jiilga- dos, pelos meios que a lei confere (5 4); fazer auto das transgressões de posturas dentro da parochia ; e , se a coima não for maior de mil e duzentos réis, o regedor a julga logo, sendo as cuimss julgadas com applicação ao cofre da parochia; eucepto, havendo parte accusa- dora, que recebe metade ( 5 5); manter a ordem pu1)lica (5 6); lavrar auto dos cririies coinmettidos na sua juris- dicçlo, enviando-o logo paro o juiz de fóra ou do crinie (5 7); prender os culpados em caso de flagrante d ~ l i c t o (5 8); velar sobre os ladrões e salteadores, residentes na parochia, yiiando haja provas, embora no dislricto da parochia não tivessem commettido roubo (8 9); pren- der desertores (5 10); preiider as pessoas contrd qiit!rn lhe for apresentado mandado da auctoridade cornIicl[cnte (5 11); recolher as crianças que encontrar expostiis, e re- mettel-as para a Roda (4 12) ; vigiar sobre estalagens e casas publicas ( 5 13); cuidar na conserhvaqão d~ saiide publica (5 14) (1); obrigar executivarnente os visinhos da

(1) Como curiosidade apresenltimos es te 5 por extenso: «Cuidar na consrrvação da saude publica, fazeiido rrriioter qiiaesquer animaes motlos, ou mnterias puiridns, ~ I I ( ["I-, ~rn inficionar o a r ; mandando nialar os animaea, q t i t , - 1 - i i l~t , r ,

ou fortemente siispritar que são atacados de hydioplicibia, ou raivq; fazendo pear qudlqiier be3ta que escouceia, a c a b r a q a r o boi que marra, ou ara imar o cão que niorde, e dando toda8 a s niais provldericias cvldeniernenle exigidas pelos caáos O&

curentes.)>

parochia u contribuirem com as fintas, ou dias d e traba- lho para os obras do commum (9 15 e art. 28.O); fazer guardar os regulamentos de policia geral (§ 16) ; satisfa- zer as rcquisicões feitas pelo superior criminal (5 17); idem para as feitas pelo superior administrativo do con- celho (8 18). Estas attribuicões não prejudicam o poder que pertence a outras auctoridades sobre os mesmos obje- ctos; das suas decisões legaes não se recorre (Art. 1 6 . O ) . Compete á Junta de Parochia: cuidar na conservação e reparos da igreja, nas despezas do culto; e receber e administrar os rendimentos e esmolas applicadas para a fabrica d'esta parte da igreja (Art. ? 7 . O , $ 1) ; promover a sa6de publica, fazendo esgotar os pantanos, e obviando 6s riiolestias contagiosas, quanio puder (tj 2) ; vigiar sobre as escolas de primeiras lettras, e dar parte dos mestres, se elles não cumprern devidamente ($ 3); cui- dar na aonservscão e limpeza das fontes, poços, etc. (§ 4); cuidar na conservacáo das pontes de uso dos visi- nhos da parochia, exceptuando as estradas reaes (8 5) ; cuidar na plantação d'arvores, e dar porção de terreno (até um moio de terra) baldio, quando o haja, aos visi- nhos, para cultivarem (3 6); dirigir as obras parochiaes (g 7); dispender os dinheiros communs (9 8); administrar os bens parochiaes (5 9); propor e pedir a nomeação de um ou n~a i s jurados, conforme a Ord., Liv. 1 . O , Tit. 66, 5 8 , e o estabelecimento d e posturas para a boa policia municipal, que possa interessar os visinbos da parochia ( 5 10); seguir ou intentar pleitos, em que os visinhos, em commum, sejam auctores oii réos, precedendo o con- sentimento d'elles (8 11); vigiar sobre a crea@o e edu- cação dos expostos (8 12); conservar registo exacto dos casamentos, nascimentos e obitos succedidos na paro- chia ; e formar no mez de janeiro de cada anno um rol

de todas as pessoas residentes n'ella, com indicaçiio do estado, edade e profissio de cada uma, sendo enviada uma copia 4 auctoridade adniinistraliva do concelho ( 5 13); convocar o povo a accordo geral, quando for 1ii.e-

ciso (5 14); guardar os papeis de interesse da parociiia, fazendo-se o respectivo inventario (8 15). A Junta pode recorrer para a Camara do concelho, a qual, ouvida a Junta, decidird o negocio como for justo, sem estrdpito nem figura de juizo (Art. j 8 . O ) . As attribuições dos $5 2, 4, 5 e 6 do Art. 17.O, nas parochias situadas dentro de cidades ou villas, ou em arrabaldes contigiros a sllas, per- tencem exclusivamente 4 Camara do concelho (Art. 19."). Nos concelhos compostos de uma s6 freguezia não ha Junta, e a Camara exerce as attribuições d'ekta ; as do regedor seráto exercidas pelos flituros juiltes de paz (Ar.1. 20.O). No caso de accordo geral (3 14 do Art. 1 7 . O ) sb são convocados os que têm voto na eleição da Junta. Os regedores e os membros da Junta regulam a i6rma da deliberação, e mandam formar o auto, no qual serão declarados os nomes de todos os que votaram a favor ou contra a resoluçáo (brt. 31."). O consentimento do povo é preciso : para comprar bens de raiz para o corn- milm da parochia (Art. 22.O, 5 1); para se venderem bens de raiz do commum (5 2); para se oortarem pelo tronco arvores do comroum (8 3) ; para se emprehender obra nova, ou alterar essencialmente outra, por conta da pa- rochia ($ 4); para se imp6r finta para as despezas do conrnum (§ 5); para se exigir dos visinhos mais dc dois dias de trabalho em cada anno (§ 6); para se intentar li- tigio em nome da parochia (§ 7). Para adquirir bens de raiz para o comrnum da parochin por qualquer titulo 6 preciso o accordo do povo, approvação da Junta, e licença do poder executivo. 30s outros casos basta o accordo

geral, quando houver unanimidade ; quando houver 4- mente mnioria, exige-se approvaqão da Camara, excepto se se tracta de finta pecuniaria, excedente a 200 réis por cada fogo, OU dois dias de trabalho, porque O então precisa a approvação da auctoridade superior ndminis- trativa da provincia ou comarca (Art. 23.O). Os mem- bros da Junta dividem entre si os trabalhos (Art. 2 4 . O ) . O secretario da Junta escreve todos os documentos ne- cessarios, e recebe emoliimentos (Art. 2 5 . O ) . A Junta, que termina as suas funcqões, dá contas á nova Junta dentro dos primeiros oito dias seguintes (Art. 2 6 . O ) . Será afixada uma copia d'ellas no logar mais publico da pa- rochia durante oito dias. A camara tomar8 conhecimento das contas, e jiilgará como f8r de justiça (Art 2 7 . O ) . To- dos os visinhos são partes legitimas para reclamarem so- bre as contas perante a nova Junta ou perante a Camara d o concelho (Art. %.O). As attribuiqões concedidas serão ampliadas ou modificadas conforme as exigencias da prt+ ctica (Art. 2 9 . O ) . Ficam eutinctos desde o 1 . O de Janeiró de 1831 os lugares de juizes d e vintenas, ou dos limites, e dos eleitos, e dos seus respectivos escrivães (Art. 30.O) (1 1.

Vê-se pois d o exposto que este decreto considera a Junta de Parochia coirio uma corporação administrativa, segundo se deprehende da propria lettra do periodo que precede os artigos, como da natureza das funcções e encargos que competem tí mesma Junta.

O decreto de 9 de março d e 1832 acceita n Junta como instituicão já creada e legalisada, e dá-lhe algumas

(1) Encontra-se este decreto na «Colleccáo de decretos e re- gulameiitos, piiblicados durante o governo da regencia do reino, estabelecido na Illia Terceira, desde 15 de junho de 1829 at6'& de fevereiro de 1832,; primeira serie, pag. 61.

at t r ibui~ões a mais. Diz o art. 4 . O -«As camaras mu- nicipaes podem estabelecer os professores que lhes con- vicrcm, e fixar-lhes ordenados por meio de fintas, im- postas em fúrma legal.^ E o art. 5.O: «As Juntas {le Parochia têm a mesma faculdade dentro d o circulo ( l n mesma parochia. » Estas disposições parecem contradi- ctorias, porque o qoncelho compõe-se de freguezias, c por isso o poder de nomear professores não podia ser exercido por duas auctoridades conjunctamente. Mas, seja como for, vê-se em todo o caso que a Junta de Pa- rochia era jB consirlerada como um dos elos da cadeia administrativa, segundo o decreto de 1830.

Dois mezes depois, Mousinho da Silveira publicava as suas excellentes refornias financeiras, administrativas e judiciaes. Em 16 da maio sahiam 4 luz, datados de Ponta- I)c.lgada, tres extensos decretos, precedidos d'urn magiii- fico relatorio, em que o grande homem de estado esta- belece largos principios de descen~ralisaqão na politiee e na adrninistração publica. Os decretos n.Os 22, 23 e 24, e exposiqão relativa, baslam para firmar a reputação de um estadista. Todavia a descentrolisacão não passou do concelho, pois no decreto 11.' 2.2, que se occupa cki reforma administrativa, não se faz menção da Junta de Parochia.

Estes corpos, creados pelo decreto de 1830, aiiida não tinham podido estabelecer-se no reino, em virtude das circumstancias d'aquelles tempos t r i s~es . Mas o decreto n.O 2-2 tambem se n i o refere a elles, porquanto, lendo o cap. 3 . O do Tit. 1 . O , encontramos que os corpos adminis- trativos são : 1 . O junto ao provedor a camara municipal do concelho; 2 . O junto ao sub-prefeito a junta de comarca; 3 . O junto ao prefeilo a junta geral da provincia (Art. 7.'). E quando no 3 1 . O do Art. 2 1 . O se allude ás juntas pro-

vinciaes, estas, conforme consta do decreio n.O 23 da reformação (ia justiça, são assembleias consiituidas pe- los visinhos da freguezia para a eleição de magistrados populares, como o juiz de paz.

Mas na Ilha Terceira, logo desde 1830, foram insti- tuidas as Juntas de Parochia conforrne o decreto d'essc anno. Ha certeza d'este facto, a favor do qual podemos adduzir as seguintes provas :

Em decreto (n.O 36) de 19 de fevereiro de 1831, àa- tado de Angra, e assignado pelos marquez de Palmella, conde de Villa-Flor, José Antonio Guerreiro e Antonio Cesar de Vasconcellos Correia, determina-se que «as Juntas de Parochia são e ficam cl'ora eni diante encar- regadas de administrar todos os bens e rendimentos pertencentes As respectivas igrejas ...... etc.)) (Art. 1 . O ) .

As razões d'esta disposi.lo constam do preambulo do decreto, que diz assim : ' 4Tendo subido A presenqa da regeiicia representações das Juntas de varias parochias d'esta ilha, nas quaes ex- põem haver nas mesmas parochias varios bens e rendi- mentos, deixados para o culto do SS. Sacramento e de alguns Santos, ou para outras obras pias, os quaes são administrados por Juizes, Mordomos, e outros omciaes eleitos por intervençáo da Provedoria dos Residuos, aonde dão contas, e de que resultam excessivas dcspe- zas, que muito bem se podiam escusar: E sendo por $outra parte muito conforme com o espirito do decreto de 26 de novembro de 1830 que a administrar,ão dos mesmos bens e rendimcnlos pertença ás Juntas de paro- chia, eic., etc.)) (1).

Logo, em fevereiro de 1831, apezar de terem mediado

(1) Vid. a Gazeta O f i c i a l , de 1831, 11." 22, pag. 89.

apenas tres mezes depois da publicação do decreto que creou as Juntas, já estas existiam, e administravam.

O sr. A. J. d'Avila (hoje marquez ti'Avila e Bolaina) discursando na catuara dos deputados, ern sessão dc 23 de setembro de 1834, corifirma o facto, declarando que nos AçBres «no momento em que S. M. I. o duque de Bragança partira para o reino a restaurar Q throno de Sua Augusia Filha, e a restituir aos portuguezes a liber- dade de que haviam sido esbulhiidos, se põe em pratica n'aquellas ilhas toda a legislação novissima)), e mais abaixo accroscenta que «a administr@~o estava campleta, e tão completa, que nem nos fallavam as Juntas de Ya- r o c h i a ~ (1).

Mas apezar do decreto de 16 de maio ser omisso, al- guns mezes depois tractou-se de organisar as Juntas de Parochia, e em geral da nova circumsaripção ecclesias- tica.

Na sessão de 93 de outubro de 1834 foi apresentado um relatorio elaborado pela commissão respectiva, com- posta dos srs. Manoel Pires de Azevedo Loureiro, Ma- noel Joaquim Cardoso Castello Branco, José Alexandre de Campos, Antonio Bernardo da Fonseca Moniz, Antonio Manoel Lopes Vieira de Castro, Joaquim Placido Cnlvão Palma, no qual se responde a varios qiiesitos, relativos á divisão ecclesiastica. O 4 . O é este : «Quaes devem ser as bases para G organisação das parochias d g reino? (2).

Na sessão da carnara dos pares de 14 de novembro do mesmo anno foi apresentado um parecer da commissão de Negocios $cclesiasticos e Instrucção Publicd. Tinha vindo da caruara dos deputados uma proposta de lei, regulando

(1) Gazeta Oficial, d c 1834, n." 80, pag. 413. i%) Idem, d e 1834, n." 102, pag. 549.

as congruas dos parochos. A commissáo não a acceitsu, e substitui-a por outra, da qual o primeira artigo diz assim: «Haverá em cada freguezia do reino uma Junta parochial, composta de cinco vogaes, que d'entre si ele- gerão um presidente. Esies vogaes serão eleitos pela fórma, que adiante se declara, e n'elles se comprehen- derá sempre um commissario administrativo.» (1).

No anno seguinte, em 1835, o governo facultou a instituição das Jiinias de Parochia. No art. 6 . O da Carta de Lei de 25 de abril de i835 lê-se :

« O Governo porá ern liarmonia com estas bases os mais ramos de administraqfio, e poderá haver em oada frsguezia uma Junta de Parochia eleita pelos seus habi- tantes para administrar os interesses particulares d ' e l l a .~

Por esta mesma Carta de Lei, art. 5 . O , ficava O $0-

verno auctorisado a fazer provisoriamente a divisão ad- ministrativa do reino, na conformidade das bases indi- cadas na mesma Carta, para depois submetter tí appro- vacão das cbrtes.

Em decreto de 18 de julho do mesmo anno, assignado pelo abalisado ministro, Rodrigo da Fonseca Magalhães, apparece uma nova divisão administrativa. N'este nota- vel documento encontrArnos como determinativo o que na Carta de Lei era facultativo. Ordena-se que haja Jun- tas de Parochia, e consideram-se como corpos collecti- vos de adrninistra~ào. «Junio a cada um dos magistrados adminisirativos, e segundo a ordem da sua hierarchia, haver8 um corpo de cidadãos, eleitos pelo povo. São estes corpos adminisiraiivos : 1.' Junto ao governador civil, a junta geral do dislricto ; 2 . O junto ao administm- dor do concelho, a camara municipal; 3 . O junto ao com-

(1) Gazeta O@cial , ri." 121, pag; 688.

missario de parochia, a junta de parochia (Art. 6 . O ) ;

A16m dos magistrados e corpos adiriinistrativos, de q u ~ se faz menção nos dois artigos antecedentes,-haverá na capital de cada districto administrativo um conselho permanente, com o tiiulo de conselho de districto (Art. 7.O). »

Com relação Q Junia de Parochia determina: qiie seja composta de tres membros nas freguezias que tiveretii menos de duzenios fogos; de cinco nas que tiverem de duzentos até seiscentos; c de sete nas que tiverem de seiscentos para cima ; e fazem parte d'ella os eleitos ereados pela lei de 30 de abril de 1835 (i) contando-so no numero dos membros (Art. 7 . O , 9 1) ; as eleições fa- zem-se com as solemnidades marcadas para as das cama- ras municipaes no decreto de 9 de janeiro de 1834 (2) (5 3); a eleição das juntas deve estsr completa sntes da eleição das camaras ($ 6) ; nos concelhos onde houver uma s6 freguezia, não ha Junta de Parochia, a as attri- buicões que lhe pertenciam, são desempenhadas pela camara municipal ($j 7). As Juntas têm duas sesdões por semana; mas a auctoridade administrativa superior póde oonvocal-as extraordinariamente (Art. 2 4 . O , $1); o mem- bro que faltar sem causa legitima, paga at6 mil réis de

(1) São o s juizes de paz e os juizes eleitos. (Carta delei d e 38 d e abril d e 1835, art. 7 . O ) .

(2) Este decreto é assignado pelo ministro do re ino o Sr. J. A. d'Aguiar; e foi publicado coni o fim que se deprehonde d o seguirite periodo do pequeno relatorio que o precede : t A ins* tiluição das camaras tnunicipaes eleitas pelos povos de ma- neira que possa com verdade dizer-se que os represeetam. e que sáo compostas de pessoas da sua coiifiançd e d a siia esco- lha, 15 um elemento essencial da organisação do sys tema ad- miiiistrativo, e uma das gai antias dos direitos e d3s liberdades pub!icas, estabelecidas n a Carta Coostilucional da Monarchiia.))

iiiulla ( 5 '2) ; as sessões são publicas, e lavra-se acta 8 3); se f8r dissolvida, são chamados os mais votados na ul- tima eleição, e, não os havendo, chamam-se os que pa- gam maior decinia e têm domicilio na freguezia (8 4) ; celebram as sessóes dentro do templo, mas nunca no corpo da igreja (8 5) ; pertence 8 Junta de Parochia: 1 .O

ciiidar na conservacão e reparo da igreja e despezas do cthlto paro~~hial ; "L0 admi~iistrar os bens e esmolas que forem applicadas para a fabrica d'esta parte da igreja; 3.O nomear d'entre os visinhos mais abastados um the- çoureiro annual; 4 . O regular a administração de tudo que perteiicc B parochia; 5 . O tomar contas ao commis- sario da paroctiia das receitas e despezas d'ella, que elle 6 obrigado a apresentar na primeira sessãa do anno, e que depois passern para o concelho de districto; 6 . O re- querer B camara miinici1)~l o estabelecimento de postu- ras; 7 O auetorisar os pagamentos (5 6). O niembro da Junta, eleilo vereador, perde este logar (Art. 21.O). A respeito do presi(lerile da Junta não é bem clara a lei. O Art. %.O diz: ((0s presidentes e secretarios, uma vez nomeados, exercerão as funr:qões d'estes cargos durante toda a sessão anriual. » I'ercorrendo a lei, nada encontrâ- mos peculiar aos presidentes das Juntas de Parochia e das caínaras municiyaes; mas no 8 6 do art. 2 2 . O deter- mina-se que o presiderite da junia geral do districto seja eleito pela assemblcia dos procuradores. Por isto, e pela analogia que tia entre csics tres corpos administrativos, suppomos que era nierite do legislador que a mesma disposição fosse applicada 6 escolha dos presidentes d'aquelles duas corporagões.

N'esta lei figura o commissario de parochia, como executor das deliberayões da Junta, a quem responde. O commissario 6 escolhido pelo admiristrador do con-

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celho sobre lista triplice feita por eleição directa, e pela mesola f6rma das eleições da Junta de Parochia, mas em urna separada (Art. 7 8 . O ) . O substituto é escolhido da inesma f6rma !S 1 ) . Serfio confirmados pelo governa- dor civil os das freguezias qiie tiverem mais de 600 fo- gos (§ 2). Os cornir~issarios poderri ser suspensos pelo administrador do concelho, mas s6 demittidos por alvarh do governador civil (Art. 80.'). Pertence-lhes : executar as delibcraçóes da Junta sobre obj~ctos da sua compe- tencia; exercer as funcções administrativas e do estado civil, que Ihes forem mandadas pelo administrador do concelho; manter a ordem piiblica na parochia; vigiar pelo cumprimento das leis de policia ; participar ao ad- ministrador qualquer successo exlraordinario, que ricon- teça na parochia (hrt. 83.O). a

Estas sBo as principaes disposições do decreto citado, e que n6s transladdmos para aqui, porque são importan- tes, e constituem com o decreto de 26 de novembro d e 1820 as bases de todas as reformas administrativas de 1836 a esta parte.

Este decreto. porém, como se vê, era deficiente, por- que não fixava todas as aitribuições da Junta, e deu lo- gar a duvidas frequentes sobre a intelligeiicia das suas disposições. Para remediar estes incoiivenientes, em 6 de julho de 1836 foi publicado outro decreto, rubri- cado por Agostinho JosB Preire, o qual consta de seis capitulos; o 1 . O tracta das attribuições das Juntas (1) ; o 2 . O dos bens e rendimentos da parochia e seus encargos; o 3.O do commissario de parochia e suas attribuições; o 4 . O do secretario e suas obrigações ; o 5.' do thesou-

(I) Este capitulo nãr, traz epigraphe; mas v&-se do contexto que B d'este objecto que elle se occiipr.

reiro e suas obrigações; o 6 . O das disposições geraes (1).

Este decreto p6de considerar-se como complemento do anterior; as suas disposições foram depois repetidas no codigo d'esse mesmo atino.

Passemos agora a examinar as disposições do codigo administrativo de 1836.

Por portaria de 11 de outubro de 1835 tinha sido encarregado José da Silva P ~ ~ ~ s o s de organisar um cod digo administrativo. Este benemerito cidadão, auxiliado por Olyml~io Joaqiiim $Oliveira (2), em breve apresen- tou os seus trabalhos; e logo o chefe do estado, por portaria rle 9 de deztmhro, nomeou uma comniissão para os examinar, 3 qual era composta dos cidadkos, JOSA da Silva Passos, Olyinpio Josqiiim dlOliveira e An- tonio Fernandcs Coelho. Esta commissão, ein data de 31) de dcz~mhro de 1836, dirigiu ao ministro do reino e se+ guinte officio :

(<Ill.mO e C X . ~ O Sr.- A commiss8o nomeadn pela por- taria de 9 do corrente tem a honra de apresentar a v. e ~ . ~ o pro+jecto do codigo administrativo, que Sua Ma- gestade se dignou siibmettsr ao seu eraine.

As bases d'este codigo são as do decreio de 18 de! jii- lho de 1833, as qiiaes não podiam deixar de ser para elle adoptadas, conio as mais liberaes (a),

(1) V i d . a ~Collercão dc I,eic; e outros documentos offíciaes, publicados desde f de janeiro até 3 de setembro de 1836r.; 5.e serie, pag. 178.

(2) Vid. o relatorio qiie precede o cudigo edminislralira de Passos (Manuel).

(3) ExtrauhBmos qrte a cornmissão náo faça menção espe- cial do decreto de 16 de noveriibro de 1830. Nho sabemos ex- plcet esta falta.

Comtudo a.commissão aproveitou alguns dos regula- mentos administrativos iinteriorrtiente. publicados, e muitas das disposiçáes coaiidas nos excellentes traba- lhos e pareceres das asseruhlrins Iee;islativas da nação, que lhe foram presentes, F! que lhe pareceram dignos de se compilarem no mesrrio cocligo ; e assim deu 6 carta de lei de 25 de abril de 1835, e ao sobredicto decreto de 18 de julho maior amplitude, e lima nova fbrma, sem alterar essen<:ialri~ente as suas bases : additando tam- beni varias disposi(;óes transi torias com referencia aos clecretos e regulan~erilos ruais iinl)ortantes, e connexos com n adtninistra.30, iiltiwamrnte publicados pelo go- verno de Sua Magestade.

N'estíts tei8nios a cornrnissâo, iendn desempenhado com a sollicitude de que era capaz os trabalhos de qiic foi encarregado, julga que o mencioriado codigo merccc a approvação de Sua Magestade.

Deus guarde a v . ex." - Lisboa, ern 30 de dezembro de 1836. - Ill.lno e e ~ . ~ ' sr. hlarioel da Silva Passos, secreiorio de estado dos ncgocios do reino. -José da 3ilva Passos - A ~ ~ l o n i o Ferrt,in~dss Coelho - Olympio Joaqirirn d'Ul iueiru. »

Logo no dia seguinte, 31 de dezembro de 1836, foi publicado o codigo, com uin pequeno mas bem escripto relatorio. rro qual Manoel da Silva Passos justificava a necessidade da nova reforma administrativa. Este codigo tem rniiitas imperfeiçóe~ e incoherencias; deve, porém, confessar-se que a sua ordena~ào e promulgação foram um grande serviço feito ao paiz.

Para o nosso fim pertence ver o modo por que elle constituiu as Juntas de Parochia.

Estas Juntas são consideradas como corporações ad- ministrativas, junto dò\regedor da parochia, que 6 n'esta

circumscripção a auctoridade adrriinistrativa (Art. 7 . O ) .

Estabelece a respeito do numero de membros, de que ellas se devem compor, a mesma doukrina das leis ante- riores. Regula o dia e modo da eleicão, e declara o cargo de regedor de parochia de eleição popular. O presidente é escolhido A pluralidade de votos pelos membros da Junta reunidos com os siibstitutos (Artt. 9 . O a 20.O).

É ás .!untas de Parochia que pertence fazer o recen- seamento dos cidadãos, que podem votar (Art. 28.O). Têm duas sessões por semana, rnas podem reunir ex- traordinariamente, convocadas pelo regedor, ou por auctoridade adminisirativa superior. Não. podem cele- brar as sessões no corpo da igreja (Artt. 95.O e 96.O). São suas attribuicões: invc.ntariar todos os bens da parochia (Art. 97.O, fi 1); inventariar todas as alfaias e utensilios ($ 2); cuidar na consei.va~ão e reparo da igreja e nas des- pezas do culto jlj 3) ; examinar o orçamento apresentado pelo regedor no principio do anno (5 4) ; promover subs- cripções para accudir ás despezas da ptirochia (8 5) ; re- solver sobre a necessidade de coiitibibiiirenl para as des- pezas da parochia as irmandades e confrarias, que n'ella se acharem erectas (9 6) ; designar quando ha necessi- dade de lançar finta aos visinhos da parochia ($ 7) ; ad- niiriistrar todos os bens, edilicios e rendimentos, c o a as excepções marcadas (5 8, n.OS 1 a 6) ; lomar posse, sem licenca do governo, d'aquillo ciijii administrac;ao Ihes perteiice (9 10) ; fiscalisar a administração do que fdr propriedade da parochia (8 11); tomar contas ao re- gedor da parochia (tj 12); requerer á camara o estabe- lecimento de posturas que forem necessarias para o bom regulamento das freguezias (9 13, n.O" a 7) ; requerer á camara a exiinc@o das posturas que forem prejiidi- ciaes B freguezia (5 14); formar as listas dos cidadãos

que podem votar e ser votados nas eleiçees da parochia, nhs das camaras miinicipaes, e na (105 leitores de dis- ti'iolo (8 15); são commissdes de b~neficencia, e perten- ce-lhes (8 16) : fazer o rol das possoas qiie têm direito a ser sustentadas pela bensficeiicitl publica (n . O i ); prorno- t e r a entrada d'ellas nos hospiiaes oii nos asylos (n.O L); promover medidas legaes de repressóo de niendioidade

3); velar pelos expostos (n.' 4). Pertence mais As Juntas: satisfazer As rnquisi~õrs que os rriagistrados su- periores Iheç fizerein (8 17); enviar á cnrnara intiiiioipal e ao administrador do concelho ~elac;ão dos terrenos, baldios, eio., e o arrolamcmto dos mciradores da paro- ohia, com a indicação das propriedades que possiiem, das suas profissdes e rendirnrnias (5 18). São isentas da administração das Juntas, por nno esiarern a cargo dos parochianos, as fabricas das igrejas seguintes: as cnthe- draes; aquellas em que as callegiatlns ou irmandades silo, ou hajam de ser fahi iqueiras : os teinploç, que por alguma cii\curnstancia, esião a cargo do thesouro; as igrejas, cctpellas, ou aliares que pertencem a alguma corporação ou individiio particular ($ 8, n.OB 1 a 4). 0 s bens e reiidiinentos da parochia compdem-se: dos que jA fazem parte. ou veiiham a ser applicados para a fabrica; dos bens das fabricas das parochias sripprimidas, ou que o furem, e qiie serão dados B igreja mais proxima e mais pobre: do producto erpontarieo dos terrenos que servirem de cerriiterio especial d'uma s6 parochia ; do producto dos di i~i tos , quc a fabrica, par lei, uso, ou costum, f6r auctorisada a levar nos baptismos, ca- samentos e obitos, com a excepção marcada ; com o pro- duoto dos bens, mencionados no 8 9 do art. 97.'. e a resto dos indicados no numero 5 do mesmo f i ; do pro- ducto das esmolas; do producto dos subsidio6 offereoi-

dos pelas confrarias; das derramas ou fintas lançadas aos parochianos ; das multas impostas por lei a beneficio da parochia (Art. 98, fj$ 1 a 9). Os encargos da Junta são: prover á despeza e reparo da igreja; prover 4s despezas do culto em paramentos, vasos sagrados, etc.; prover ás despezas da secretaria, e ordenado do secreta- rio e thesoureiro, se o vencerem ; prover 4s despezas das cobrancas, á satisfação dos legados, e aos gastos dos liti- gios, em que a Junta figurar como authora ou ré (Art. 99.O; $5 1 a 4). P6de recorrer-se da Junta para a camara municipal, e em ultima instancia para o conselho de dis- t r i ~ t o (Art. 101.O). As obrigacões do regedor de parochia encontram-se nos artt. 150.O a 158; as do secretario no art. 159; e as do thesoureiro no art. 160.O.

Ficain assim compendiadas as disposicões de toda a legislação parochial at6 dezeaibro de 1836.

Em 1839 encontramos outro docuinento da existencia das Juntas de Parochia. É uma curta de lei da rainha, dada no paço de Cintra, ero 20 de julho de 1839, e as- ~ignnda pelo seu ministro João Cardoso da Cunha Araujo, na qual se determina que sejam arbitradas conqruas aos parochos das freguezias do continente do reino, e aos seus coadjiitores aonde os houver. 1,emos no art. 16.O o seguinte: 4.4s Juntas de Parochia ficam obrigadas a pro- ver á conservação e reparo da igreja e suas dependen- oias, que estiver a cargo dos parochianos; e ás despezas do culto divino em paramentos, vasos sagrados, alfnias, roupas, arroações e guisamentos, e bem assim ao paga- mento dos ordenados dos tbesoureiros, ou sachrislties, onde os houver ; quando esses ordenados não consisti- rem em bolos, premios, ou ouiros rendimentos antigos que não tenham sido extinctos, P que Ficam em vigor4 (1).

(1) Vid . Bbnrio d o Governo, de lR:i!J, n." 178 - o u a ffColh-

Em 1842 foi promulgado o codigo por que actualmente se rege a administracào. Esie coiligo é rssencialrnente centralisador. Em quanto que os anicriores governos tinham descentralisado as funcções admiriisiraiivas até 4 parochia, e dado a rodos os cirladàos maior ou merioi. quinhão na gerencia dos ncgocios p~~!)licos, O codigo administrativo do Sr. Antonio Ilernnrdo da Cosia Cabral centralisa no governo os poderes mais irriporiantes, e estabelece sobre as colleciividades e magistrados inferio- res urria rigorosa t*itella.

Queremos acreditar qiie este sysiema de administra- ção, que aconipanhavn a ceairalisa$io politica, favore- cia altamente as preiençóes d'aqiielle iriinistro, habili- tando-o para estabelecer e alargar a stia influencia a16 ás menores circumscripções do paie.

Assim, o principio da interferencia do pnder central nos negocios publicos menos imporiantes predomina em todo o codigo; e as suas disposiçõt?~ rsiRo sujeilas a esta ideia fundaniental.

Segiin(10 esta lei, as Juntas de Plirocbia não siio cor- pos adn~inistrativos. As Juntas d e Paroohia tião formam parte da organisnção da admiiiistracãa publica (Art. 306.O). Os corpos adminisiraiivos são: A junta geral, junto ao governador civil d o districio; a carnara muni- ripal, junto ao adminisirador do concelho (Árt. 4.O, n.OS 1 e 2). O parocho é vogal naio e presidente da Junta de J'arochia (Art. 291.'). Assim coarctou o eodigo a liber- dade da eleição do presidenie, e iornou irremediaveis as dissidencias entre o parocho e os seus collegiis da Jiinia. Limitou as attribuicõos da Junta 4 administração

cqão de leis e outros documeriios oficiiies, ptiblicados n o ariiio

de 28390, 9." serir ; pag. 214.

( 1 ~ fabrica da igreja, dos bens da parochia, e dos actos de heneficencia que lhe forem incumbidos (Art. 306.O e seg.). Determinou que o regedor fosse nomeado pelo governador civil em vez de ser eleito pelo povo, isto, j4 se vê, ein nome da centralisação que era a base fun- damental do codigo.

As razões que se adduziam para tirar ás Jiintas 3 ca- ihegoria de corpos administrativos, eram -Que a machina administrativa era já d e si compl icad~ e einba- rac,osa, e que náo era de bom estadista acrescentar difli- ciildades e inconvenientes no que jii os havia d e sobra. 2.8 Qiie a maior parte das parochias nao tinha hornens aptos para exercerem devidarnoiite as iinportantes fiiii-

n lava. c ~ õ e s que a lei lhes co r Deixamos ao bom senso das pessoas que lêrt:m, o ava-

liarem a j i i s t i~a d'csins razões Todns as r e fo rn~as~que epparecerani depois do codigo

de 1852, nenhuma das quaes consegui~i vingar, consi- deram a Junta de i'arochia como collcctividade admiiiis- trativa. Algumas propostas de 1861 c 1863 do sr*. Bra- ancatnp e commissões das carnaras dos drp~i!ados; a re- fortria proposta pelo sr. Marteris lier*râo em 1867 (de todas a mais imporiantei; o novo rntligo ad.ninistraiivo da dictadura, approvado por decreto de 21 de julho do 18'70; e ultiniamenie a proposta, elaborada pelo sr . Anio- nio Rodrigues Sarnpaio, dão-lhe este caracier, e in- cluem-na na organisac,ão atiministraiiva.

Não fazemos aqui a historia d'estas modernas refor- mas, niio s6 por sor muito cotihecitla, como por serem copiadas umas das outras, e nós termos ncçasião de nos referirmos a rllíis no decurso d'estr inodesto trnbalho.

No relatorio que precede a proposta do novo cbdigo administrativo, apresentada pelo sr. ministro do reino na sessão da cainnra dos deputados de 19 de janeiro, 14-se o segiiin te periodo :

«NBo é o municipio unia associaqão natural. Depois da familia que o estado não creoii, mas achou estabele- cida, ienios uma associação q u ~ s i tão rintural como ella, e que a lei nào poderia siipprimir seiri violentar a natu- reza das cousas, - é a freguezia nu a parochia. Asso- ciaç8o de familin, ondc se adora o mesmo Deus, se lhe rende o mesmo culto, se lhe erige o rnesmo iemplo, se lhe levanta o mesmo altar, e onde se sopuliam os cada- veres dos seus finados, julgar-se-ia unia profanaçáo o privnl-a d t ~ conservar as siias gloriosas tradiçóes.~

A vossa commissão não pbde conformar-se nem com a doutrina nem com a redac~ão d'este periodo, pelos motivos que tem a honra de expdr em seguitla.

Em primeiro logar, entende a coinmissão que s6 devo ser considersda como sociedade naiurtil, aquella que se firma nus affectos intiiiios da alrna, e lem na propria na- tureza dos individuos que a cornpõem, o seti mais solido fundamento. Desde qiie o interesse, as coriveriiencias da vida material, a convivertcia, os gozos do miiiido, o me- lbor modo de adqiiirir coiritiiodidades, SiiO o unico l a ~ o que prende e ajuncta os membros d'uinn associa@o, de nenhuma sorte podemos dizer qiie a natureza a consti-

tuiu directa e immediatamente. Se nos dizem que 6 o instinclo que nos attrahe para a sociabilidade, e leva o homem a reunir-se com os seres da sua especie, e a for- mar com a reunião de forças diversas elementos de prosperidade e perfeição, n'esse caso concluiremos que toda a sociedade é natural, porque em todas se buscam com empenho os meios de finalidade material e moral. Logo, se este argumento prova de mais, como é claro, a sociedade ndiural bii de ter por base mais alguma cousa do que a tendcncia para a associaçiio, e a procura dos meios indispensaveis para a vida.

Realmente n6s nso adrnittiiuos associiic,ão natural que não seja a familia. N'esta siiri, que os setis membros são impellidos por um elevadissimo sentimento, que os ap- proxin~a e q~iasi OS identifica. Piiirieiro a affeição extrema que faz da iriulher c do homem um uriico ser, pela uni- formitlade de vontadesle de sentimentos; a quem o amor, unico fundamento do matriruonio, sustenta e ailipara em todas as difficuldades da vida, como nos mais for- ruosos dias de alegria e du prazer. Depois vêrii a affeição enorme, incomrnensiiravel, que liga o pae ao filho, pe- daço cla sua alma, unico objecto de todas as suas com- placencias, que se revê n'elle conio representando a indole e as qualidades paternas, e para quem, mais tarde, é o dia do sua maior gloria o da gloria e da honra do filho.

Siio pois o amor de esposo e o de pae, dois affectos que estão inoculados nas inais profundas raizes do cora- cio, o ~ustenlac~ulo indispensavel da fainilia. Portanto a familia náo pbde dizer-se producto dos calculos e con- veriiencias da razão, mas o resiiltado d'uma lei, geral, int'allivel, que jáinais pócle destruir se. O homem n8o p6de deixa\-a para pertencer a outra, porque deixaria

tudo qiianto lhe é mais ciiro; porque abaridoriaria a alma, e o homem não p6de viver sem e l l ~ ; em quanto que nas outras sociedades, a qiie $6 o prende o desejo de passar a vida coni o menor niirnero de incominoilos, é-lhe licito percorrel-as a16 encontrar a qiie lhe ofTereça melhores garantias com maior souirna de bens.

N'estas circumstancias v&-se bem que a parochia não pbde ser considerada corno sociedade natural nem com- pararel á familia. Os visinhos que a cornpoeui, ein regra náo estbo ligados por algiirna affeicão d'aquellas que fazem a grandeza riioral do homem, nias simplesmente porque as conveniencias da vida os obrigam a residir n'uma cidade, e a habitar um certo e deieriiiinado local. Muiras vezes succede que o Iiabitaiite iriucla tle resitien- cia e d e parochia todos os íinnos. Se a parochia, pois, tS uma instituicáo natural, fracos silo os lacos dii natu- reza que corn tanta fncilida(1e c rrl)etiyho sc qucbrarn. Que analogia ba pois entre estas diins socicdad(~s, dt? ca- iactcr tão diverso'!

O redactor do rclatorio, S ~ I I \ I I J O devido respeito a o niais aritieo dos jornalislas portrigiiczes, não fez ideia exacta do sentimento religioso. Este, itiiiiiio ao homem, porqiiu é natural adorar o Ser Sii1)rerno depois de cori- templar as cxplerididas maravilhas que nos cercam, i.eii~lc a approxirnar o honiem de I)ous, r? não o hoint:m tlo Iiomem, snniro para tornar niais cornrnodii a prestaçào do culto. O seutimcnlo religioso irnpelle o hornerii a dar no Creador todas as cieirionstracões de afftxto e rrspeito; iilas este ciilto p6de ser presti~tlo iio silericio do giil)iriete, longe das vistas dos seus similhantes, r Iórii tle toda a comrriuiiicação inundarta. Não foi o tiorncm por iris- tincto natural que creou a parochia e a organisou devi- damente; foi a lei, foi a insiitiiicáo ecclesiastica, foram

os poderes constituidus para reger ii sociedade religiosa. Se a parochia é uma condi~ão indispensavel para mani- festar o senlimento religioso, supprimida ella, o homeni não poderia realisar as tendencias religiosas do seu es- pirito E quem sustentar8 este absurdo?

N6s sabemos, pelo qiie respeita tí parochia christã, que estas pequerias circurnscripções, ou mesolo as grari- des dioceses, foram constituidas conforme a necessidade das circurn~tancias, e se organisaram, attendendo-se simplesmente 8 coaimodidade dos fieis que se agrupa- vam na mesma circu6scripção. Ora, se a parochia fosse constituida nnturalniente, como se podia olhar sómenie para consideraqões ta0 positivas? A não ser que affirme-• mos que iima instituição, firmada nos laços naturaes, esid dependente dn vontade da lei. E demais, não podem ser modificadas as circiimscripções parochiaes? Póde sel-o por ventura a Earnilia? Como poderia Amanhã o sr. ministro do reino arrancar um visinho do seio d'uma parochia, e fazel-o viver, por uma divisão differente, no seio d'outra, se elle está ligado á primeira por força da natureza P Seriam, pois, na doutrina do illustrado rela- tor, absoli~tamente impossiveis todas as nlierar,ões ria povoatão e limites da parochia.

Tauibem pareccrn de pouco valor, senão inteiramente falsas, as razóes i!dduzidas para comprovar a proposic;ão. Está bastante obscura a redaccao do periodo ; mas de- prnhende-se qiie ellas se contêm n'estas palavras : - <tAssoci~cÁo de fiiuiilia, onde se adora o mesmo Deus, se lhe rende o mesmo culto, se lhe erige o mesmo tem- plo, se lhe levanta o mesmo altar, e onde se sepultam os cadavercs dos seus finados.»

Lidas estas expressões sem opinião antecipada, fica a gente pensando que as parochias se separam e distin-

guem em Deus, no culto, e no altar. Se os visinhos d'uma parochia estão unidos pela uniformidade de crencas no mesmo Deus, pelo mesmo culto e pelo mesmb altar, 4 porque os visinhos da outra nko adoram o mesmo I)eus, seguem differente culto, e levantam altares differentes; B porque uns sacrificam a Jehovah, outros a Belial, outros a Vesta, e talvez alguns a Mahomet. Mas, observadas as cousas como ellus realmente são, esle juizo B simples- mente falso ; e todavia a lingiiagern do relatorio aucto- risa a fazel-o.

Se porém o Sr. ministro do reiio quiz significar com rrquellas palavras que o individuo colhia amor á paro-

'chia em qiie vive, devemos responder 1 . O que o homem o adquire não naturalmente, mas em virtude dos facios, mas em virtude de se acostumar a frequentar os sacra- mentos n'uma igreja, e a receber na siia freguezia todos os soccorros espirituaes. Logo aquella especie de ami- zade que se colhe á parochia, nao é anterior ao estabe- lecimento da sua pessoa e familia n'ella, mas nasce da repetição de certos actos cio cullo externo. 2.' Se esta af- feição que se colhe 4 parochia, a constiiúe uma sociedade naiural, então sâo igualmente naturaes os municipios, os districtos e a naçao. O homem estima e deseja mais o engrandecimento do municipio em que vive, do dis- tricto a que pertence, cla na530 de que faz parte, de pre-. ferencia áquelles em que nunca esteve filiado.

Ainda mais. Um dos argumentos addiizidos B - que no eemiterio da parochia se sepultam os cadaveres dos seus finados.)) Ora, pondo de parte a pessima redacção d'estcis expressões, relativamente ás que as precedem, segue-se que a parochia, aonde se não sepultarem os cadaveres dos seus finados, não será uma associação natural ! E como succede em muitas cidades que o cemi-

terio d propriedade municipal, conclue-se que n'estas povoações as parochias deixarão de ser associac,ões na- tiiraes, e passará esta qualidade para os municipios. Em França, por exemplo, as parochias não são assooiações naturaes, porque o cemiterio é propriedade da com- muna; e o produc~o pertence 4 fabrica (1). Eis a que levarn os principios estebclecidos no relatorio.

Parece-nos pois que fica tfernonstrado até á sociedade que a proposição - a parochia é uma associacão qursi Ião nalural como a fauiilia, - 4 insustenlauel, e que não ha analogia alguma entre aquellas duas instituições.

Seguindo agora a ordem das ideias, uejttmos qual o caracter que deve ter a Junta de Parochia. A proposta considera esta instituição como corpo administrativo. E disposição. do art. 5 . O . E administra a fabrica da igreja; as bens e interesses da parochia; e 6 eommissha de be- neficencia. Dil-o o art. 160.O. Mas dever4 a paroahia ser administrada civil ou ecoleeiastioamente? Eis uma qoes- tão importante que se offerece. Quem fdr arrastado pela o o r m t e das ideias, não pdde

(t) Traitk de I'Admisirtration temporclls de8 Paroisses, par Mr. Affre.

deixar de filiar as Juntas na cidii~inistra~áa publica. Mas d'esta vez as ideias são fundameniadas na boa razão.

A proposta 6 descentralisadora, e tende a desenvolver e arreigar a vida local, esterideiido-a até ds rnais peque- nas partes do corpo social. Iiiaugurado o santo principio do governo do povo pelo povo, consagrados os direitos da soberania popular, esta deve ser na parochia o que é no districto e na nação. O prirneiro dogins da descen- tralisação é adivisão e a harmonia dos poderes, ohamando a tomar parte no seu exercicio totios os cidadãos da escala social, cujos direitos são iguaos perante a razão, e o devern ser perante a lei. A divisão das func~ões. em lo- gar de complicar a rcachina administrativa, como in- sensatamente se prégava em 1842, facilita e accommoda os trabalhos da adrninistraç30, porquo diminue por ruuitos os encargos e responsabilidades que pesavam sobre poucos, ou urri s6 corpo admiiiisirativo. Se um paiz se divide em districtos, F? estes ecn concelhos, e estes em parochias, não vernos razao que nos mova a terminar no concelho a descentralisação, e a não leval-a at6 as pequenas circurriscrip~ões, que t8m elementos para se dirigirem e governarem.

Deve ser pois a Junta de Parochia uma cprporação administrativa. Mas devel-o-ha ser tambem ecclesiastica, quer dizer, deverá tomar parte nos negocios da igreja parochial, ou deve sómente limitar-se aos actos de ad- ministração civil ?

A commissáo concorda em que A parochia não devt: ser administrada temporali~iente s6 pelo parocho, mas pela Junta, que a lei institue, e as coiivenienoias acon- selham.

Realmente é ji4 de si embaraçada e trabalhosa a mis- sSo espiritual do parocho. Pastor d'um rebanho nume-

roso, director de muitas almas que são guiadas pelos seus conselhos, pac e amigo dos seiis fregiiezes, o paro- cho carece de todo o terripo para se dedicar com enipe- nho á snlvação espiritual d'aquelles que lhe forain con- fiados. Quem conhece os preceitos da l'asioral, e sabe quanto labor e quantos sacrificios esta sciencia exige ao parocho, que importantes e dificeis encargos elle tem a exercer, vê logo que B poiico o tctnpo para ciim- prir esses sagrados preceitos, ern que de niiiis a mais anda arriscada a sua consciencia e a sua felicidade. Tendo de administrar os sacramentos ás vezes a longas tlisliinrias ; de visitar os seus frcgilczos para os conhe-

os doentes e os necessitados para lhes dispi~nsar consolações e auxilio; sendo d e sua obr.igac,ão iriien- der nas cousas da igreja, celrbrarido missas e festas, vigiando pela deceticia do culio; não ~ ) o d e n ~ l o orxiittir, sem quebra dos canories e disl~osições expressas dos concilios, as homilias aos seus parochianos ; acrescendo a tudo isto alguns encargos que n lei civil, d e cerio por indeclinavel necessidade, lhe impõe ; corno poderá o pa- rocho accudir de prompto á aduiinistrnção dos bens e fabrica da igreja, com todas as questões e litigios que muitas vezes a acomparihaui ? E por isso conveniente incumbir a Junta de Parochia

da adminislraçi%o temporal da igreja, alliviando o pasior d o enorme trabalho que n'outras eras o preoccupava, quasi sempre com prejuizo e grave damrio espiritual das pessoas entregues aos seus cuidados.

N'tlstas circiimstancias entendeu a commissão que a Junta deve não s6 occupar-se da ad~riinistração dos beiis e haveres da parochia, mas lambem da fabrica da igreja; porque, quanto mais o parobho fdr alheio a assumptos temporaes, mais largueza de tempo lhe fica para se en-

4

tregar aos negocios espiriiuaes. Approva pois n'este ponto as dispsiqões clv art . ltiO.o.

Mas deve ter o parocho um logar na Junta , ou ficar inteiramente privado de tomar parte n'elln?

O ~ a r o c l i o deve ser presidentc nnlo da Junta do Pa- rochia 4

O art. 155.O da nova proposta diz assim: « A Junta de Parochia cornpóc-se 40 parocho, presidente, e de quatro uieriihros ~ l i ~ i t o s pi.1~ parochia ou parochias aggregadas. -

- $ 1 . O Nas piirochins ~ggrcgodas servirá de presidente o paincbo cla parfichia mais populosa.- 9 2.O O parocho, qiiaritlo se torne iricoiiir)iitivel com a boa administração paror:hial, p6de ser siispcnso da presidcncia pela com- missa0 dislriçtal sobre representaçgo da Junta de Paro. cliia.)) I:sia doutrina é a do coiligo d e 1842, que nn art 291.O determina o seguinte : « A Junta d e Paroclii;i (.

composta d o parocho. vogal nato e presidente, e de vo- gaes eleitos directarnen te pelos eleitores da parochin. »

Segundo a proposia do sr . Martens Ferrão, de 1867, o exercicio da auctoridade publica na parochia pertencia a uni atliriinistrador d e parochie, a iirn coiiselho paro- chia], e ao plirocho da freguezia aonde f8r a sédu da pnrochia civil (Art. lt.O),'e a presidencia do conselho pertencia ao administrador (Art. 1 4 . O , n.O 1).

1) coiligo adrninislrativo da diciadura de 1870 detcr- mina tio art. 82.': (i \ Jiintti de Parochia, logo qiie cn- tra erri i~uclrcicio, elege em escriitinio secreto, á plurali- datlth alb\o!ula de votos, o 1,residenie e vice-presidente.>, Eslii disposicio se encontra no coJigo aclrninistrativo de IS:j l i , art. 13.': «O presidente ser8 escolhido 8 plurali- dade de votos pelos membros dd Junta de Parochia, reunidos com os siibst;tiitos.»

O decreto de 26 de novenibro de 1830 dava a presi- dencia da Junta ao reg?dor da parochin (Arl. 1 5 . O , 8 1).

O parecer da coriirnissão á proposta (A. ) n.O 23, D. do sr. Anselmo Braaincarril~, a1,resentado em fevereiro de 1863, determina no $j d do arl. 10.': «O parocho tem A presidsncia d e honra na Junlo de I'orochi.9, e sb pre- side ás sessões em que se trc~t:ln da fabrica da igreja ou de assi~rnptos de I)encfic:cnciii ; fA1.a d'estes casos é a Jiinta presidida por aquelle dos seus membros que ella escolher entre si. »

A vossa cornmissáo examinou detidamente todas estas disposi~õss, e opinoii pel;~ clrit;áo t l o presidente.

Não aceitou, nem podia aceitar a presidencia ?bata do paroclio. Ein prirnciro Iogar, 4 attentatorio dt. iodos os principios racioriae.i, que iirn individuo, pelo facto de occupar urn certo lagar, haja de desempenhar um en- cargo, sem previo oonheciinento de suas habilitações. Os cargos não se fazem para os homens, rrias escolhem-se estes, pela sua capaeidade e uptidào, para o desernpe- 11110 tl'elles. Logo, eiitrt~gbr a presidencia da adrninis- tração paroihhial a um individuo, que se suppõe ter habilitações e dignidade, mas que pbde ser tainbem um iriepio sem critica, sem contiecirnentos e sem mo- ralidadv, é ter em pouco a prosperidade maierial da freguezid. É certo que o parocho na maior parte dos

casos é a pessoa mais competente da freguezia pare eslar A frente da administração parocliial; todavia phde não scl o, e é absolutaniente necessario salvaguardar a administraçáo d'esia desgraçada coni ing~ncia .

Aproposta de que nos occiip8inos, prriciitle csrapar-se a esta difficul(lade, deirrrriinan~lo qile « o parocho possa scr suspenso da presidcncin 1,elii cornmissác districtal sob representa~âo dii Junta.)) Não parece porém o remedio eficaz, antes dd logar u novas complicações, e talvez deprecie a independencia do parocho. Se os membros da Junta estiverem ern desacordo coni o presidenie, e o olharem mal, e pretenderem levar a ciibo alguma eni- preza menos justa, a qiie o parocho se opponha, quem nos dd garantitis dc que a Jiiiita náo acciisa infuntlndn- niente o sei1 presidente, para exercsr alnuma vinganca mesqiiinbn, e malquistar o pasior com os seus fregue- zes? Qiicm nos assr5gi~ra que a Jtinia sl, p ~ d i r á mnrali- dade c* jristi,:n I É serdade que rios potlcni r e s p o n d ~ r , que a cornmiss~o districtal avaliar4 dos fundamrntos do re- prcsentaçáo, e decidir8 como f6r de direito. Mas a isto replica a commissào, que 1.' a nova proposta nada re- giila &cerca do processo a seguir, pnrccciido indicar que a coinmissão dimitte o parocho, logo qiie a reprrsenta- $Tio lhe seja apresentada; o que seria soberanamenic despotico; 2 . O que n'este processo, moroso e coriipli- cado, se gastaria muito tempo, e a Junta ficava impossi- bilitada de fuiiccion~r, e os riegocios publicos dn fregiie- zia sem governo nem d i r e c ~ à o . Porque o parocho, por um nobre sentimento de brio, 11Bo assiste niais á s ses- sões; e Iiosto que a lei determina que nas faltas e im- pedimentos do presidente funccione o vice-presidente, e na falta d e ambos (quando ternporaria) presidam os vo- gaes mais voiados, a Junta não deve fazer eleição sem

que a corniniss8o disirictal resolva ; a n8o se r que a faça paran'esse intervallo decidir aquillo a qtir, na tiypothcse dada, o parocho fazia opposi(.ão.

E, al6in d'estrs motivos, quem souber como n'esto paiz se vcncem demandas e se fazem injiistiças 5. mercê da iníliiencia eleitoral, facilniente avaliará que n com- iriissão não destxja desgostar-se com os tuembros da Jiinta, se ellcs forem bons galopins elritoraes, ou pessoas q u e disponham de muitos votos na visinhanca.

Njo deve pois a lei deixar B Junta esta arma contra o presidrlnte ; pois é obrigaçno do legislador equilibrar as forças d'urna corporayão, e niio ex116r nenhum dos seus rnemhros ao nt-potisino d'uma maioria, que tambem pódc ser bronca e teimosa.

A totliis estas dificuldades acresce a ngo menos atten- divel que o parocho nRo p6de muitas vezes coiisagrar-se ao trabaltio d s adn~iriistreção temporal, pois que fre- queiitcriieiite a cspir.itilal lhe exige todas as attenções. N'este caso, obrigar o piistor a ser presidente, 6 expbr ao iib3ndnno e no desleixo os bens parochiaes, porque decerto nriitiurii pastor considera em menos o cuidado e ~ p i r i i u ~ i l das suiis oveltiaç, para lhe sobicp6r os nego- cios adiiiinistrativos ou civis. E preciso pois que a lei seja providente tle ia1 fbrma, que ao mesmo tempo não impossibilite o parocho da irigerencia nos bens ecclc- sins~icos, iiein o inhiba de dedicar-se com o maior zelo B sa lva~ao das almas, que lhe forain entregues. Logo veremos se algum alvitre accomnioda estas duas exigen- cias.

Não devenlos ir além sem notar uma flagranlissima contradicção na proposta, que sb por inadveriencia DO-

dia passar. Ao passo que no art. iJ5 .O se dispõe que O

parocho seja o presidente, no art . 1 3 . O diz-se expressa-

mente : «Os corpos administratiuos têm presidentes e 'vice-presidentes, eleiros an7lvain~r/re pclor v»;goe.v. » Se- ria melhor não apresentar excepcão a este principio t8o liberal.

Se pois o parocho não deve ser presidente nato da Junta, devel-o-ha ser o regedor 4

Entende a vossa commissão qiie de nenhuma sorte se deve entregar a presidencia da Junta ao delegado do administrador na circuniscripc,iio parochial. Se á. Junia d e Parochia imcurnbissein attr ibi i içó~s meraineiiia civis e administrativas, não achava a corriiniss5o inc.onvcriit.nte em que o regedor presidisse dqi~olle corpo cnllectivo; mas as attribuicões s30 tatribem ccclesiiisticos, e estas têm o primeiro logar rid iriipoi t~nlsi:i c nobrrza. O rege- dor póde e deve ser executor das deliherac,ões da Junia ; e por isso ser4 bom que esteja alheio B s que ella tomar, escepto qiinndo f6r chamado para rlur sobre o assumpto em discussão o seu voto particular. A nova proposta está em parte de accordo com esIa iloiitrina, pois dispõe n o art. 159.O: « O r e g d o r de parochia assiçie corn voto consiiltivo 4s sessõcs da Junta, e toiiia assento ao lado esquerdo junto do presidente.»

E depois ha oulra circi~msinricia qiw se n5o deve cles- prezar, porqiie re~iiliii r l d expcrirncia d e totlos os dias; e esta questão, q u r nos occ-iipa, é niais practlica (10 q u e theorica. Ein regra o regedor é um hoiiicrn annlpt~abeto e dependente, que orcrita o cargo, movitlo pela vaidade da ignorancia, ou pela necessidade da siia posiqáo. Ora será conveniente entregar a presitlencia de ii i i i corpo MO imporiantc a um individuo soez, e alheio a toda a civi- iisaçio iitteraria? 6 possivcl qiir isto asqim não seja, passados 50 annos, qiiando todo o povo estiver d allrira dos seiis deveres. Mas emquanto não chega tão feliz dia,

havemos de entregar a gerencia parochial B indiscripção e A incompc~tencia, em logar de chamarmos a ella, quem está habilitado para a exercer? . .

Não faltará ao rrgedor em que se occupe ; não pouco cuidacio lhe darão os encargos do o@cio n'nm systema mais ou rneiios descentraliçndor. Não o sabrcca?rsgue~ mos com obrigações, qiie o r t l inar iamte são superiores As suas forcas, e coin acciimulaqào de serviws que se podem prejudicar reciprocamente. - -.

Tambern a coiniriissbo nao pbde acceitap a ideia. da cornmissao ecclesiastica de 1863. A commissão errtendé que a presidencia tionoraria é uma cousa compbtamente iiiulil no parooho; que nada acrescenta ao seu prestigio nem á sua aiictoridade; nem lhe dá força para fazer ouvir e respeitar a sua voz. Outrrsirn não sympethisa com o alvitre de que o pnroc'no tome a presidencia effe- cliva unias vezes, e iião outras ; e qiie n Junta ora seja coiiiposia dc cinco ora de qiiatro membros. Se o parocho não deve presidir a certos negocios, por serem extranhos á sua rnissão ou 4 sua competericia, para nada serve consideral-o presidente lionorario. E depois teremos o mesmo corpo coiii duas cdbeqas, que se substituem com forme o o1)jeclo de que se tracta nas sessões, o que nos parece anomalia bcin palpavel. No entanto, se tivessemos de o p ~ a r por nlguin dos tres pareceres expostos, de certo escolhcriamcis o ultimo.

Portiriito a r:on~missão entende qiie o presidente da Junta deve ser eleito pela pluralidade de votos dos VO-

gaes qile a constituem, seguirido-se n'este ponto o que dispoem os codigos adininistrativos de 1836 e 1870. Esia doutriiia s,ilvsguarda as conveniencias da boa ad- miiiisiracáo, e a posi~ão especial do paroçho.

Em primeiro logar, consagra-se o principio da eleição,

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que seria muito prira desejar ver applicado á escolha de todos os fiinccioiiarios da michina adrriitiistrativa. Srndo estes, como não podem deixar de considerar-se, mcroç delegados da soberania popular, justo é que o povo os escolha, confiando o mandato a quem Itie merecer mais sympathias, e dér garantias de irielhor empregado. Da mesma sorte o presidente deve ser escolhido pelos seus collegas, porqrie s6 d'esta fbrma terá tlireiio a toda a confianca que é mister para dirigir convenientemente os trabalhos; e ser fiel executor das resolucões da Junta. Em qne posicáo f i c ~ r á collocado utn parncho rresidenle nato, que aliAs não A mau admitiistratlor, mas para quem os vogaes da Junta n l o olham bem, por motivos talvez futeis e ridiculos, e a quem desfeiteiarn sempre qne se Ihes offerece ensejo, porque constituem a maioria?

Nem haja receio de que o parocho seja esquecido ria eleicão. Não, senhores. Se rlle 6 probo, honrado e digno, e os setis freguezrs lhe tr ihiitnm aquelle respeito o submissáo, que sempre inspira o homem virtiioso, o pastor necessariamente ha de ser eleito presidente, quchr pelos parochianos, quer pelos co l l~gas da Junta ; e isio muito mais nas frcgiiezias das aldeias c canil)os, onde ordinariamente o parocho é o director e s~ i r i tud l e tem- poral das coiisas mais ardiias, qiie ali se tractam; aonde o parocho é consultado para tudo, e a sua opiniào se- guida, como se sahisse da b0cca de oraculo inspirado; aonde nRo tia outra fipiira mais importante e niais res- peitada, e , digamol-o n'urna só palavra, mais adorada pela multidão. N'estas parochias, queni deixari de csco- Iher o parocho para as mais importantes funcyões que n'ella se desempcnharri?

O mesmo s u c c ~ d ~ r á nas freguezias da cidade, apezar de n'ellas ahundarcrn as pessoas illustradas. Posto que

o prestigio parochial esteja iim goiico decahido, ainda assiin o pastor, que snbt; c~iiilprir OS seus deveres, 6 considerado por todos os hiibitantes; e decerto o será tambein quando se trscla tl'uiiia e l e i ~ ã o piira um cargo, que toca directamente nas cousas e~c les i a s t i~as .

Vê-se pois que o parocho s6 ficar5 alyastado da Jiinla e da presidencia, qiiancio tiver excitado o desconierita- mento e as iras dos seus paroctiianos, ou houver docu- mentos da sua incapaciclode ou itn1)robidade. li: assiin o parocho que deseja presidir á S I J ~ parochia, cuidará em conciliar as boas grayas dos fregiic?zrs, e terá um inceti- tivo para ser tionrado e digiio, e iiobre nas suas aspira- ções e no seu traclo.

Mas, como p6de succeder qiic o parocho se torne in- digno, qiie, por ser novo e tlescotihecido ria terra, s6 depois denioiistre a sua inhabilidade, a Junta deve ele- ger presidente todos os annos, a fim de que possa obstar As demasias do seu chefe.

Igiialinente ao pnrocho deve ficar o direito de regeitar o cargo, qiian~lu vir qiie esi i iincoinpaiive1 com os col- legas, ou que o trab:ilho espiritual Itie não deixa tempo livre para oiiiros negocios. E assiin fica taiiibem respon- dido, qiiem jiilgasse ver contrarlicçao rritre o parecer aqui expeodido, e as ideias acirria apresenlridas sobre a conciliay.50 dos dois rninisterios.

E como a Jiinia p6de, por vingança ou tná indole, desgostar de proposiio o paroclio ; obrigal-o moralmente a não fazer parte da corporacho; e negar-lhe mesmo o que lhe B preciso para n ctilio e niais despezas da igreja, parece convenienie h coinriiissào q!ie AO paroçho se per- mitta rccorrer para OS trihunaes siiperiores, e apresentar os motivos da stia queixa, para que estes obriguem a Junta a entregar-lhe todos os objectos do culto e a for-

necer-lhe os meios compativeis com as forças economi- cas da parochia.

Quando porém o parocho n8o seja eleito presidente, entende a commissão que ainda assim deve ter voto consultivo nas cousas que. vcrsarerii sobre fabrica e bens e interesses da parochia, nòo só como testiiiiuntio d e consideração á classe respeitavel de que elle faz parte, r, para que se não ntyaste completnmente o piirocho de ne- g o c i o ~ , que apresen!am feiqáci ccclesiiisiica, irias lam- b e ~ ~ ] para que elle exponha d Juiita as necessidades da igreja e as do culto.

Parece que ficarão assim garantidas a indeperidcricia das funcções, a decencia do culto, e o born regimen das cousas parochiaes. Em vista do que a commissão lembra a necessiditde

d e modificar o art. 1 5 5 . O , estabelecendo-se o principio da eleiçbo do presidente da Junta (1).

Resta 4 vossa commissão dizer o que pensa áchrca da organisaçSo da Junta de Parochia. Eni geral, e salvas algumas duvidas e pequenas discordnncias, a corniriissiio conforma-se coru as disposic;ões do titulu 7 . O , ji! sc vê,

(i) Ern França discute-se se o pgroclio e o m a i r e p o d e m ser preeide~iles do Conselho da Fnlriccl. hlr AKre opiiia que a lei o nòo proliibe, mas que 6 coiivtlni*riii: iião t~sr i> lh i~r iit>ni um nem outro, a fiin de evitar rivalidades, c náo deixar entrar no Conselho o espirito d e partido.

na hypothese da Junta ser uma corporação administra- tiva c ecclesiasticd, qiie sob este ponto de visia é consi- d~rac la na Itli, e o ietn sido nas modestas considerações, que temos exposto.

A respr:iio da escolha dli Junta, a commiss'no entende que deve ser feita por e l e i ~ à o , podtrndo votar n'ella to- dos os indivitluos d o sexo masculino, de 21 nrinos, que estivt!rrm dc~iniciliados na pnrochia e no gozo dos direi- tos poliiicos e civis, coni excepqfio dos qiie se affastararn por ri ais de dois annos d Junta drvc ser composta por uin iiuinrro de meriibi~os accon~inorla~lo á populacào da fregiirzia. E assirii a coiiiniissào desejava ver restaiiracla a doutrina do A r t . 9 . O do codigo de 183(i, e decretos anteriores; porque niis pclqiienas parochias, nRo s6 a odriiiriistrac&o parortiiiil é de tào peqriena iinportaneia, qiita uin oii dois inciividuos l)rov&em a clla sem sacrificio, mas taiiibcrn poiqiie no!ii sempre é facil enconlrar cinco pessoas coir: as Iiabiliracãc~s nt!cessarias para o dcsernpc- iiho d o cargo. I'arcce pois que deverd vigorar a dispo- siç?io, que a Junta é composia d e Ires membros nas frrgiiczias qiie tiverem nienos d e duzentos fogos; d e cinco, nas qiie tiverem dc diizeiitos a oitocentos; e d e sete, nas qiic t i vw~r i i de o i t n r ~ ~ n t o s para cima.

J á st. vê que esin opiniào rr1iJuc-a de fundanieiito logo qiie se fizer iima tiivisko parochial liarrnonica, d e fórma que as fregiiezias tentiam igii;iI nu qiiasi igiial numero d e fogos ; mas em qiinriio t1ste destdrrat t tm se não con- segue ( e provaveliiii~nte se nào conseguir4 nunca), é in- conveniente esinhelecer para parochias tão despropor- cionadiis o mesmo nurriero de inernbros de administração paruchial.

A commissão náo acceitn a doutrina de que podem ser votados para membros da Junta aquelles que podem

votar ria eleição. Uiii individuo póde saber quem na sua frcguczia goza do geral conceito de competente para exercer certos cargos, e nso ser ellc habilitado para isso. Pelo que é sua opinião que ningiiem possa ser eleito iiiembro da Junta seai mostrar que sabe ler e escrever. Sada rnais triste do que encarregar funcções publicas a qiiern nem ao menos sabe fi~zei o sei1 nome; nada rnais prejudicial do que entregar Ii ignorancia funcyões im- . poriantes de adminisiração. A conirnissão desejava que ficassem siljeitas a esta exigciicia todos os qiie exercem cargos piiblicos, ainda os de nienos responsabilidade.

A respeito da fórma da eleifão enteride que deve ser directa. É mais difficil subornar iiin grande numero de iritlividuos, entre os quacs phcle haver iriuitos iiidepcn- dentes e illustrados. As desvantagens da eleicão indire- cta ainda hoje se vêein beni n'uin dos cstabcleciineiitos mais importantes de Coiinbra.

O nosso respeitavel lente de Dirc~ito Administrativo estabelece a respeito da eleição (13 Junta os seguintes principios :

'i parochia elege por suffisngio directo e universal um conselho parochiul , composto de cerio riiiincro de rriem- bros. Constituido o conselho, este elege urri presidente, secretario e vogaes, que constituem a coniinissào execu-

> m e n t e com nt- tiva da parochia. O conselho fica simpl(,: tribuições deliberativas e consultivas, sendo convocado conforme o caso exigir.

A commissão não p6de acceitar esta ideia. Sc n'nlgu- mas fregiiezias já 15 dillicil organisar a Junta, por falta d e individuos nas condições exigidas, muito mais tli%cil será encontrar iiunjero suficiente de homens para formarem o conselho. No estado actual da divisão das paroahias é absoliitamcntc impossivel em mais de um ter';o a reali-

. sação d'aquella ideia; e ainda mesmo que uma aovi+ divisho se faça, mais perfeita e rrgiilar, não se poderá constituir dignamente nas freguezias das aldeias, e atG de muitas villas, o ronsolho parochial

A cotninissão não duvida apresentar uma ideia, que, póde não ser por ora renlisavel, mas que suppõe ser mais adrquada á boa organisacáo da admiriistração pu- blica, e colloca os differentes corpos administrativos n'urria relação logica. Desejava a comrnisslo que fossem separadas as funcções tla Jiinia em duas classes ; umas, que pertençam á adt11iiiiscra~3o dss cousas internas da igreja, como paramenlos, alfiiias do culto, etc.; outras á das cousas exiernas, como propriedades rusticas e ur- banas, rendinicnros, etc. Para tractar das primeiras, basiava o parocho; da gerencia das outras seris encar- regada a Junta, a qual dispensaria no parocho os ineios indispensaveis para o ciilto, ein quanto se nÀo consegue estahelccer a indep~.ndencia completa, salvo o mutuo auxilio, dos poderes civil e ecclosiastico. Assirn ficava a Junta com atiribuicões incrameiiie de ordem civil, e correspondia perfeitamente á camara niunicipal do con- selho e á Junta geral do disiricto, com pequenas diffe- renqas; e pela sua parte, o governador civil, o admi- nistrador do concelho, e o regedor de parochia, cada um na sua respectiva circurnsçripção, cncnrregados do poder executivo. h i i n tiirnbem náo se iiltromettia uma corporação de estado civll nas coiisas ecclesiasticas, e o que mais é, o parocho se tornaria complelamcnte eãtra- nho a negocios em que não fosse interessada a igreja parochial. Este alvitre não apresenta os mesmos incon- venientes, que acima notámos, tle carencia de pessoal, porque apenas exige a eleição d e mais um membro para occupar o logar, qiie ao parocho pertence segiintlo o

actual methodo de a(liiiiiistraciio psrorhial. Pe ftlrma que ao parocho, c , se iliii~i:rcrn a uiii oii dois indivi~liios da sua escolha, ficava iriruiiibiila a fabrica dil igreja, qiie poiico tempo roiibiivn iis suas oacupaqõr:~ espiriiiiiic;~. Quando n'urri sgswtna coiiipleto da 11escenlr;ilisac;;iO sc alargar a esplierír, dos direitos e deveres da Jtinta, c lhe compe[irt?rri exterisas attrihui~..ões, coirin poder8 o paro- cho presidir a esta corporação, ciijas funcções, na maior parte, são eatranhas ao seu .niinisterio?

Entende pois a coininiss3o qiie esta separação de po- deres auxiliava a adrti.inistrit(;iio, e concorria muito para o bom des~n ipenhn (10s encargos ~~oror t i iaes .

Em quanto, poréiii, rstiver ern vigor este inodo rnirto de adininisirar a parochia, é a cnmiriissão de parecer que n$ío se podern fazer alterações profundas nas disposiqões da nova proposta tlc rc:lurma. nc!iu nos inodernos e pro- postos codigos adiriiii isir;iiivos, d'onde aquella fni co- piada com rnuito accidentiies nintlificii~ões.

A cornrnissio entende qiie deve dar por terminado o seu traballio, não setn agradecer ao sr . dr . Manocl Fiiij- gdio Giircin os imporiantes subsiclios qiie para a historia paroctiial, desde 1820, Itie s:ihrninistrou, c pedir des- culpa aos seus condiscipulns e arriigos, e a quern ler, da nimiri concisào, e dos defeitos da obra.

Coimbra , fevereiro de 1872.

Jose flibns de Magalhües. presidente (com tleclarações) Jose d e Barros Teizeira da Fotiseca. secretario Luiz dlunoel Macedo Andradc l'inheiro Bu,qz~~lo Cesar de Oliveira Carlos Auguslo Pinlo (vencido) Muwoel Antonio dn Silva Hocha, reiator.