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Aglomeração produtiva de laticínios nos Coredes Fronteira Noroeste e Celeiro Julho/2015

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Aglomeração produtiva de laticínios nos Coredes Fronteira Noroeste e CeleiroJulho/2015

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Fundação de Economia e Estatística

Centro de Estudos Econômicos e Sociais (CEES)

Núcleo de Análise Setorial (NAS)

AGLOMERAÇÃO PRODUTIVA DE LATICÍNIOS NA REGIÃO

DOS COREDES FRONTEIRA NOROESTE E CELEIRO

Pesquisadores: Elvin M. Fauth

Rodrigo D. Feix

Bolsista: Eduardo de Gasperi (FAPERGS)

Porto Alegre, julho de 2015

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SECRETARIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Siegfried Emanuel Heuser CONSELHO DE PLANEJAMENTO: Presidente: Igor Alexandre Clemente de Morais. Membros: André F. Nunes de Nunes, Angelino Gomes Soares Neto, André Luis Vieira Campos, Fernando Ferrari Filho, Ricardo Franzói e Carlos Augusto Schlabitz. CONSELHO CURADOR: Luciano Feltrin, Olavo Cesar Dias Monteiro e Gerson Péricles Tavares Doyll. DIRETORIA

PRESIDENTE: IGOR ALEXANDRE CLEMENTE DE MORAIS DIRETOR TÉCNICO: MARTINHO ROBERTO LAZZARI DIRETOR ADMINISTRATIVO: NÓRA ANGELA GUNDLACH KRAEMER

CENTROS ESTUDOS ECONÔMICOS E SOCIAIS: Vanclei Zanin PESQUISA DE EMPREGO E DESEMPREGO: Rafael Bassegio Caumo INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS: Juarez Meneghetti INFORMÁTICA: Valter Helmuth Goldberg Junior INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: Susana Kerschner RECURSOS: Grazziela Brandini de Castro

Esta pesquisa, financiada pela Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento

(AGDI), da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, foi desenvolvida pelo

Núcleo de Análise Setorial, do Centro de Estudos Econômicos e Sociais da Fundação de Economia e

Estatística Siegfried Emanuel Heuser, Secretaria do Planejamento, Mobilidade e Desenvolvimento

Regional do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

Como referenciar este trabalho: FAUTH, E. M.; FEIX, R. D.. Aglomeração produtiva de laticínios nos Coredes Fronteira Noroeste e

Celeiro. Porto Alegre: FEE, 2015. Relatório do Projeto Estudo de Aglomerações Industriais e

Agroindustriais no RS. Disponível em:< http://www.fee.rs.gov.br/publicacoes/relatorios/>

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Sumário

Introdução ................................................................................................................................................. 04

1 Localização e área de abrangência regional da aglomeração .......................................................... 05

2 Histórico da produção de laticínios no Brasil, no Rio Grande do Sul e na Fronteira Noroeste-

-Celeiro .................................................................................................................................................. 07

2.1 A produção de lácteos no Brasil: mudanças no ambiente econômico e institucional .......................... 07

2.2 A produção de laticínios no Rio Grande do Sul .................................................................................... 15

2.3 Antecedentes históricos da AP Laticínios Fronteira Noroeste-Celeiro ................................................. 26

3 Caracterização socioeconômica e produtiva da região dos Coredes Fronteira Noroeste e

Celeiro .................................................................................................................................................. 28

3.1 Região Celeiro ...................................................................................................................................... 28

3.2 Região Fronteira Noroeste ................................................................................................................... 33

4 AP Laticínios Fronteira Noroeste-Celeiro: caracterização e importância ........................................ 36

4.1 As atividades da aglomeração ............................................................................................................. 36

4.2 A produção de leite nas propriedades rurais ........................................................................................ 38

4.3 A indústria de laticínios ......................................................................................................................... 41

Considerações finais ............................................................................................................................... 51

Referências ............................................................................................................................................... 53

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Introdução

Ao passo que a produção de leite está espraiada no território gaúcho, a indústria de laticínios

está concentrada em um menor número de municípios, que se abastecem, sobretudo, da produção de

matéria-prima do seu entorno.

Na região formada pelos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) Fronteira Noroeste

e Celeiro, localiza-se uma das aglomerações produtivas agroindustriais da classe de atividade de

fabricação de laticínios do Rio Grande do Sul. Essa região destaca-se como uma das principais bacias

leiteiras gaúchas. Nos municípios que a compõem, são produzidos aproximadamente 16% da quantidade

de leite in natura, e estão situados 8% do emprego industrial das atividades de preparação do leite,

fabricação de laticínios e outros derivados. A fabricação de laticínios está entre as principais atividades

econômicas industriais locais, tendo influência direta sobre a dinâmica de desenvolvimento regional.

Agroindústrias de base familiar e empresas de médio e grande porte, de atuação nacional e

global, concorrem pelo leite produzido localmente. Como seria de se esperar, as transformações

econômicas e produtivas que afetaram a produção brasileira de laticínios, a partir da década de 90,

também foram sentidas na região.

A recente revalorização do espaço local na literatura sobre desenvolvimento econômico

despertou o interesse pelo estudo e pelo incentivo aos Arranjos Produtivos Locais (APLs). Porém, apesar

da conhecida concentração da produção de leite e derivados lácteos na região, são raros os estudos

voltados à análise da aderência do conceito de APL a essa aglomeração produtiva. Com vistas a

contribuir para o preenchimento dessa lacuna e cumprir outros objetivos específicos, a aglomeração

produtiva de laticínios da região Fronteira Noroeste e Celeiro (doravante AP Laticínios Fronteira

Noroeste-Celeiro) foi selecionada para estudo no âmbito do projeto Estudo de Aglomerações Industriais e

Agroindustriais no Rio Grande do Sul, desenvolvido pela FEE com o apoio financeiro da Agência Gaúcha

de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI). O projeto propõe a análise de um conjunto de

aglomerações produtivas gaúchas a partir do mesmo referencial teórico e analítico sobre APLs, e seu

principal objetivo é avaliar o potencial de aglomerações produtivas locais para promover o

desenvolvimento sustentável do Estado. O pressuposto balizador da pesquisa é o de que as

aglomerações de empresas especializadas em determinada atividade produtiva, especialmente aquelas

que se qualificam como APLs, geram uma série de sinergias, mediante o surgimento de relações

técnicas, econômicas, sociais e políticas na região, o que contribui para melhorar a competitividade das

firmas no mercado e para promover o desenvolvimento econômico do território.

O relatório que segue é a primeira etapa da análise sobre a AP Laticínios Fronteira Noroeste-

-Celeiro e destina-se a caracterizar preliminarmente a aglomeração em termos socioeconômicos e

produtivos. Seu conteúdo será utilizado para instrumentalizar o estudo de campo previsto em uma

segunda etapa da pesquisa. Neste primeiro relatório, será analisada a presença, na região, dos principais

segmentos da cadeia produtiva do leite: (a) produção primária do leite nas propriedades rurais; (b)

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processamento e industrialização da matéria-prima (indústria de laticínios1). A presença e o papel dos

outros segmentos, tais como os de fornecedores de insumos, máquinas e equipamentos, distribuidores e

consumidores dos produtos lácteos, serão avaliados mais detidamente no estudo de campo.

O trabalho está organizado em quatro seções, contadas a partir desta Introdução. A primeira

seção apresenta a localização e a área de abrangência da aglomeração. Em seguida, realiza-se um

breve relato sobre o histórico da produção de laticínios no Brasil, no Rio Grande do Sul e na região da

aglomeração. Na seção 3, destacam-se as características socioeconômicas e da estrutura produtiva das

regiões Fronteira Noroeste e Celeiro. A seção 4 apresenta a descrição das estatísticas setoriais da

aglomeração, revelando sua importância regional. Por último, são realizadas algumas Considerações

finais relacionadas ao conteúdo do relatório e às próximas etapas da pesquisa.

1 Localização e área de abrangência regional da

aglomeração

A aglomeração em estudo está localizada no noroeste do Rio Grande do Sul, a cerca de 500km

de Porto Alegre. Sua área, que equivale a aproximadamente 3,3% do território do Estado, corresponde

ao território de dois Coredes: Fronteira Noroeste e Celeiro. Nos 41 municípios que a compõem, é

identificada a produção de leite. Porém, segundo informações da Relação Anual de Informações Sociais

do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS-MTE), para o ano de 2013 (BRASIL, 2014), apenas em 15

municípios da região é observada a presença de atividades da indústria de laticínios, quais sejam: Três

de Maio, Santa Rosa, Santo Cristo, São Martinho, Três Passos, Tenente Portela, Crissiumal, Boa Vista

do Buricá, Campina das Missões, Doutor Maurício Cardoso, Senador Salgado Filho, Tucunduva,

Chiappeta, Esperança do Sul e Santo Augusto. Nesses municípios, está presente pelo menos um

estabelecimento produtivo que se autoclassificou como sendo especializado nas atividades industriais de

preparação do leite, fabricação de laticínios ou fabricação de sorvetes e outros gelados comestíveis.

Na Figura 1, é possível perceber a área de abrangência da aglomeração estudada,

diferenciando-se os municípios que ofertam apenas a matéria-prima in natura daqueles onde há

empresas que se ocupam do processamento do leite e da produção de derivados lácteos. É importante

referir que, originalmente, a aglomeração produtiva foi identificada apenas na região Fronteira Noroeste2.

A ampliação da abrangência territorial do estudo, de modo a incluir a região Celeiro, foi uma solicitação

da AGDI. Esse recorte territorial da aglomeração é válido para esta análise, podendo ser redefinido a

partir das informações coletadas no estudo de campo.

1 Neste trabalho, convencionou-se chamar de indústria de laticínios o conjunto das atividades industriais de preparação do leite

(código 10.51-1 da CNAE 2.0), de fabricação de laticínios (código 10.52-0 da CNAE 2.0) e de fabricação de sorvetes e outros gelados comestíveis (código 10.53-8 da CNAE 2.0). A produção e o resfriamento da matéria-prima nas propriedades rurais são referidos como produção primária ou simplesmente produção de leite. 2 Segundo a publicação Aglomerações Industriais do Rio Grande do Sul: identificação e seleção, há duas aglomerações

produtivas de laticínios no Estado: uma situada no Vale do Taquari e outra na Fronteira Noroeste (ZANIN; COSTA; FEIX, 2013).

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Figura 1

Produção de leite e presença de agroindústrias na delimitação territorial da aglomeração produtiva de laticínios da Fronteira Noroeste-Celeiro

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL (2014) e IBGE (2013).

Em termos espaciais, parece haver pelo menos dois núcleos principais de produção de matéria-

-prima na região. O principal deles, situado na Fronteira Noroeste, congrega os dois municípios com

maior produção de leite (Santo Cristo e Três de Maio) e municípios adjacentes. O segundo, situado no

Celeiro, abastece-se principalmente da produção de Crissiumal e Três Passos. Ao sul do Corede Celeiro,

destaca-se ainda a produção de Santo Augusto.

Conforme será descrito mais adiante, nos últimos anos foram realizados investimentos que

ampliaram significativamente a capacidade regional de processamento e industrialização do leite, o que

possivelmente acentuou a necessidade da indústria de laticínios local de se abastecer de matéria-prima

originada em outras regiões. A região da aglomeração faz fronteira com outros quatro Coredes (Missões,

Noroeste Colonial, Rio da Várzea e Médio Alto Uruguai) que, em conjunto, respondem por

aproximadamente 20% da produção leiteira estadual. Embora, para fins de delimitação, os municípios

dessas regiões não componham a aglomeração estudada, sua contribuição em termos de oferta de

matéria-prima não pode ser desprezada. Da mesma forma, deve-se ter em conta que parte substancial

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da produção de matéria-prima originada nos municípios da AP Laticínios Fronteira Noroeste-Celeiro é

comercializada com empresas situadas fora dos seus limites. A dimensão dessas relações comerciais

poderá ser mais bem avaliada no estudo de campo.

2. Histórico da produção de laticínios no Brasil, no Rio Grande do Sul e na Fronteira Noroeste-Celeiro

3

Em grande medida, o surgimento e a expansão da AP Laticínios Fronteira Noroeste-Celeiro

foram condicionados pelo ambiente econômico e institucional brasileiro e gaúcho. Por isso, antes de

proceder à sua caracterização, optou-se por relatar, sob uma perspectiva histórica, as principais

mudanças institucionais e econômicas que afetaram a produção laticinista brasileira e gaúcha.

2.1 A produção de lácteos no Brasil: mudanças no ambiente econômico e institucional

No Brasil, o final da década de 80 e o início da década seguinte são frequentemente

referenciados pelos economistas como um período de reestruturação produtiva industrial e abertura

comercial. Essas mudanças, ocorridas num contexto de globalização e desregulamentação econômica,

alteraram profundamente as condições de funcionamento de diversas cadeias agroindustriais.

Nesse período, as empresas laticinistas precisaram redefinir suas estratégias de mercado, seja

pela maior concorrência com produtos importados, seja pelo fim do tabelamento dos preços dos produtos

lácteos. Depois de quase 45 anos de controle governamental, em 1991, estabeleceu-se um novo

ambiente institucional no qual a negociação de preços passava a ser feita livremente entre os agentes

dos diferentes segmentos da cadeia. Até então, os preços pagos ao produtor eram tabelados, enquanto o

preço dos derivados era controlado pela Comissão Interministerial de Preços.

Em relação aos produtos importados, foram removidas restrições tarifárias e quantitativas à

entrada de derivados lácteos no mercado brasileiro. Até o final da década de 80, a importação desses

produtos também era controlada pelo governo, e, com a abertura comercial, essas compras passaram a

ser exclusivamente determinadas pela iniciativa privada. Some-se a isso o fato de o Governo ter

praticamente se retirado do mercado interno como demandante — importantes programas sociais

vinculados ao leite foram extintos — e percebe-se que não é exagero dizer que o quadro econômico-

-institucional brasileiro foi radicalmente alterado em menos de uma década.

3 O projeto Estudo de Aglomerações Industriais e Agroindustriais no Rio Grande do Sul, além da AP Laticínios Fronteira Noroeste-

-Celeiro, também está analisando a AP Laticínios do Vale do Taquari (FEIX; JORNADA, 2015). Assim, a descrição que segue, a respeito do histórico da produção de leite e derivados lácteos no Brasil e no Rio Grande do Sul, é parcialmente compartilhada por esses trabalhos.

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A implantação do Mercado Comum do Sul (Mercosul), oficializada em 1991, é outro fator a se

considerar nesse elenco de mudanças que afetaram o País e se refletiram no setor. A indústria láctea

argentina, tanto quanto a uruguaia, ofertava produtos mais competitivos do que os produzidos no Brasil.

O advento do Mercosul causou grande impacto ao banir, em 1994, as tarifas de importação entre os

países do bloco e estipular uma Tarifa Externa Comum (TEC) entre esses países. Com a instituição

do Mercosul foi facilitada a importação de produtos lácteos de países como Argentina e Uruguai.

Para se ter idéia da importância do Mercosul para as importações de produtos lácteos, em 1994,

51% das importações brasileiras advinham do Mercosul, em 1997 tal índice atingiu 71,6%.

(FIGUEIRA; BELIK, 1999, p. 4).

Foi também na década de 90 que se verificou a propagação do consumo do leite tipo UHT (leite

longa vida)4 no País, o que transformou o mercado de leite fluido. O novo processo consiste na

ultrapasteurização do leite, combinada com o acondicionamento do produto em embalagem especial

cartonada para protegê-lo do ambiente externo. Esse procedimento permite que o leite alcance uma

durabilidade de quatro meses sem necessitar de refrigeração para a sua conservação, o que reduziu os

custos do transporte e da distribuição.5 Essa inovação possibilitou a transformação do leite fluido em

commodity e reduziu a importância da proximidade entre o produtor da matéria-prima e o mercado

consumidor. A abrangência do mercado do leite fluido, que até então era regional, passou a ser nacional.

Com isso, modificaram-se as condições de concorrência, já que o mercado do leite deixou de ser

exclusivo do produtor local e passou a ser disputado por empresas de abrangência nacional e

internacional.

As condições anteriores de oferta limitavam o alcance das plantas industriais e favoreciam a

existência de pequenos laticínios de caráter regional.

Ao aproximar produtores distantes de grandes varejistas, o leite esterilizado [na verdade, o longa

vida] acabou quebrando o equilíbrio das bacias leiteiras tradicionais que abasteciam mercados

locais pulverizados em milhares de pontos de venda. A consequência não podia ser outra: uma

guerra de preços sem precedentes, principalmente no grande varejo, que transformou o longa vida

no produto regulador do mercado do leite, substituindo o papel que era antes desempenhado pelo

leite em pó reidratado na entressafra. (JANK; GALAN, 1999, p. 210).

Jank e Galan (1999) também chamam a atenção para as profundas mudanças estruturais pelas

quais passou o sistema agroindustrial do leite no Brasil com o desenvolvimento de um novo ambiente

competitivo — caracterizado pela desregulamentação do mercado, abertura comercial e estabilização da

economia — que tem desdobramentos ainda nos dias de hoje. O trecho que segue pode ser lido como

uma síntese da realidade do setor à época.

Liberalização e diferenciação de preços da matéria-prima, guerras de ofertas nas gôndolas dos

supermercados, entrada de produtos importados, aquisições e alianças estratégicas no meio

empresarial, ampliação do poder dos laticínios multinacionais e dos supermercados, ampliação da

coleta a granel, redução global do número de produtores, reestruturação geográfica da produção,

problemas de padronização do produto e a amplitude de um pujante mercado informal são itens que

formam o cotidiano do setor. (JANK; GALAN, 1999, p. 179).

4 Na realidade, a utilização da nova tecnologia de ultrapasteurização — processo Ultra High Temperature (UHT) — por empresas

brasileiras deu-se a partir de 1972, 10 anos após seu lançamento na Europa. Todavia seu uso foi difundido apenas na década de 90. 5 O leite pasteurizado, conhecido como “leite de saquinho”, tem um prazo de validade de três a cinco dias e necessita refrigeração

para sua conservação.

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Figueira e Belik (1999), fazendo um balanço da década de 90, destacam que as mudanças no

ambiente institucional intensificaram a concorrência no elo industrial da cadeia produtiva do leite e

impactaram as vantagens competitivas das empresas da indústria de laticínios, especialmente no caso

das cooperativas:

As cooperativas de produtores de leite, que possuíam grande importância na cadeia produtiva do

leite até o final da década de 80, deparam-se com problemas na década de 90 para se adequar a

essa nova realidade concorrencial perdendo espaço para as empresas privadas, principalmente as

transnacionais (FIGUEIRA; BELIK, 1999, p.12).

O novo cenário econômico e as inovações no processo de produção e comercialização também

trouxeram consigo a tendência à concentração. Segundo Jank e Galan (1999), mais da metade dos

grandes laticínios atuantes em 1981 foi adquirida por outros grupos ou desenvolveu parcerias

estratégicas.

Na verdade, as grandes multinacionais do leite prosperaram no período, valendo-se basicamente de

estratégias de crescimento por integração horizontal, por meio da aquisição de empresas dentro de

um escopo nacional de atuação. A Parmalat é o maior exemplo, ao adquirir cerca de duas dezenas

de empresas entre 1988 e 1997. (JANK; GALAN, 1999, p. 229).

Além de grandes laticínios nacionais, os pequenos laticínios privados e algumas cooperativas

foram incorporados por empresas privadas transnacionais. Referindo-se aos anos 90, Figueira e Belik

(1999) afirmam que “a tendência mais evidente de concentração da indústria de laticínios é percebida

principalmente pelo fato de as dez maiores empresas do setor controlarem 53% da captação de leite sob

inspeção federal e as três de maior porte exercerem controle sobre 31% desse leite” (p. 8). As principais

mudanças patrimoniais da indústria de laticínios no período foram decorrência das investidas ousadas da

Parmalat e da Nestlé.

As fusões e aquisições, além de aumentar o porte médio das empresas do setor, induziram

mudanças na relação entre o produtor rural e a indústria. A indústria estabeleceu exigências mínimas de

escala e qualidade de produção para manter seus contratos. Produtores com pequena escala e situados

fora das “linhas de coleta” foram descartados como fornecedores de algumas das grandes empresas

privadas, e investimentos nas propriedades rurais passaram a ser exigidos. Nas palavras de Carvalho

(2002, p. 14), “[...] verifica-se uma seleção natural com os produtores”. Para a empresa, a redução do

número de fornecedores e o aumento da produção média por produtor de leite permitiram a redução dos

custos de transação e, em alguns casos, o estabelecimento de contratos funcionou como um sistema de

quase integração.

[A] relação entre a indústria e o produtor primário do leite passou a ser regida sob as implicações de

um oligopsônio, ou em muitos casos, monopsônios, em que o ofertante do leite não beneficiado

atua como tomador de preços, sendo a quantidade ofertada sua única decisão a ser tomada. Assim,

apesar de ser o agente que lida com os mais diversos riscos da atividade, o produtor de leite, não

raro, internaliza qualquer choque adverso de custo. (MAIA et al., 2013, p. 394).

Esse conjunto de transformações impactou o volume de produção e a produtividade média das

propriedades rurais. Até então, o principal vetor de crescimento da produção leiteira brasileira era o

tamanho do rebanho. A partir da década de 90, a produção passou a ser mais determinada pelos ganhos

de produtividade (Tabela 1).

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Tabela 1

Taxas de crescimento da produção de leite, rebanho e produtividade no Brasil e no Rio Grande do Sul — 1974-2012

(%)

LOCAL 1974-90 1991-2000 2001-12 1974-2012

Rebanho

Brasil .................................. 75,97 -10,41 25,34 110,39

Rio Grande do Sul ............. 42,81 -1,87 25,93 84,52

Produtividade

Brasil .................................. 15,91 46,33 25,67 116,22

Rio Grande do Sul ............. 31,74 43,95 44,71 184,39

Produção

Brasil .................................. 103,97 31,09 57,51 354,91

Rio Grande do Sul ............. 88,13 41,25 82,24 424,76 FONTE: IBGE (2013) NOTA: As variações no rebanho, na produção e na produtividade foram calculadas com base, respectivamente, no número de vacas ordenhadas, número de litros de leite produzidos e produção média por vaca ordenhada.

No Brasil, a produtividade média anual, medida em litros por animal ordenhado, saltou de 759,4

para 1.105,2 entre 1990 e 2001. A produtividade gaúcha seguiu a mesma tendência e continuou

crescendo sustentadamente no período seguinte, tendo alcançado 2.669 litros/animal em 2012, o que

equivale a 1,88 vezes a média brasileira (IBGE, 2013).

Conforme observa Dürr (2004), apesar desse crescimento, no início dos anos 2000 o produtor de

leite típico no Brasil ainda trabalhava com uma escala reduzida e em condições muito aquém dos

padrões técnicos recomendados. A sinalização do mercado, porém, foi cristalina: permaneceria na

atividade aquele que se tornasse um profissional do leite. Tornou-se cada vez mais necessária a

reorganização produtiva das propriedades rurais.

Além de escala mínima de produção, o atendimento a parâmetros de qualidade também passou

a ser exigido e valorizado. Foi a partir da percepção da necessidade de melhorar a qualidade do leite

produzido no País que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou, em 2002,

a Instrução Normativa nº 51 (IN 51) (BRASIL, 2002). A IN 51 aprovou os regulamentos técnicos de

produção, identidade e qualidade dos leites tipo A, B e C, do leite pasteurizado e do leite cru refrigerado,

assim como o regulamento técnico da coleta de leite cru refrigerado e seu transporte a granel. Essa é

considerada a principal alteração de regulamentação que alcançou o setor na primeira década dos anos

2000. Contudo, em razão das dificuldades enfrentadas por uma significativa parcela dos produtores de

leite para fazer valer a IN 51, o MAPA foi compelido a rever o regulamento.

A Instrução Normativa nº 62 (BRASIL, 2011), publicada em dezembro de 2011, estabeleceu um

novo cronograma para adaptação gradativa dos produtores e definiu novos limites de Contagem

Bacteriana Total (CBT) e Contagem de Células Somáticas (CCS). Criou-se um escalonamento de prazos

e limites para a redução de CBT e CCS até 2016, tendo em vista a heterogeneidade dos produtores

brasileiros de leite. Segundo Silva (2012), na discussão que resultou na revisão dos parâmetros previstos

na IN 51, tornou-se evidente a necessidade de discutir questões cujas soluções se impõem como

prioritárias para a implantação definitiva dos regulamentos: assistência técnica, extensão rural, crédito e

melhoria de infraestrutura e logística (energia elétrica e estradas). Conforme ressalta a autora, esses

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pontos são básicos para dar, democraticamente, condições para os produtores ofertarem leite de

qualidade, pois não é intenção do Governo excluir parte significativa dos produtores de leite da atividade,

mas sim criar condições para que eles se adaptem às novas necessidades do mercado.

A publicação da IN 51 coincidiu com um novo processo de reorganização estrutural no setor, com

arrefecimento temporário da tendência de concentração na indústria láctea brasileira.6 A expansão do

mercado interno e a perspectiva de maior inserção externa incentivaram a realização de investimentos e

a entrada de novos laticínios. Para Paiva, Rocha e Thomas (2014, p. 45-46), são dois os fundamentos do

crescimento da demanda interna e externa pelos produtos lácteos:

Em primeiro lugar encontra-se o processo de redistribuição de renda em curso no Brasil, que tem

garantido o ingresso de um segmento expressivo da população ao mercado de consumo de bens

de maior elasticidade-renda, no qual se incluem os produtos lácteos em geral e os derivados de

leite em particular (queijos, iogurtes, chocolate ao leite, achocolatados, etc.). Em segundo lugar está

o crescimento do mercado mundial de leite, que vem sendo puxado, em especial, pela China e pelo

sudeste asiático.

De fato, o consumo aparente per capita de lácteos, no Brasil, cresceu a uma taxa média de 3,0%

a. a. entre 2001 e 2014 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LATICÍNIOS VIVA LÁCTEOS, 2015).

Aproveitando-se do aquecimento da demanda e das vantagens competitivas estruturais de algumas

regiões brasileiras, tradicionais indústrias do setor de carnes (Perdigão, Sadia, Aurora e Bertin) investiram

na produção leiteira. Grandes grupos internacionais também passaram a investir mais intensamente na

captação, no processamento e na transformação da matéria-prima. Em 2003, uma parceria entre a Nestlé

e a neozelandesa Fonterra, para atuação na América Latina, deu origem à Dairy Partners Americas

(DPA). Na prática, foram criadas duas joint ventures, uma responsável pela captação de leite fresco e

produção de leite em pó e outra pela produção, pelo marketing, pelas vendas e pela distribuição de

produtos refrigerados e líquidos envasados em UHT (creme de leite e achocolatados). Fundos de

investimentos também foram atraídos para a indústria de laticínios. Exemplo desse terceiro tipo de

movimento foram a aquisição, pela Latin America Equity Partners (LAEP), da Parmalat Brasil, em 2006, e

a compra do Laticínios Morrinhos — detentor da marca Leitbom — pela GP Investimentos (Monticiano

Participações), em 2008.

Para Gomes (2008), na Região Sul passou a ocorrer uma verdadeira corrida em busca do “ouro

branco”. No final do período 2000-10, estavam sendo implantadas pelo menos 15 indústrias com grande

capacidade de captação e processamento. Esses investimentos, somados às ampliações de plantas já

existentes, mais do que dobraram a capacidade instalada da região, acirrando ainda mais a concorrência

pelo leite captado junto aos produtores (Figura 2).

6 A partir de 2002, passa a ser notada uma redução na participação de mercado das quatro maiores empresas: Nestlé, Itambé,

Elegê e Parmalat (FERNANDES; AGUIAR, 2007).

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Figura 2

Principais investimentos na indústria de laticínios da Região Sul do Brasil

FONTE: Gomes (2008)

Os principais investimentos na Região Sul do País ocorrem no sudoeste do Paraná, oeste de

Santa Catarina e noroeste do Rio Grande do Sul. Essas mesorregiões respondem por mais da metade da

produção leiteira da Região Sul e compartilham características atrativas ao desenvolvimento da cadeia

leiteira, tais como: clima temperado, disponibilidade de água, estrutura fundiária dominada por pequenas

propriedades, mão de obra familiar, sistema de produção a base de pasto, acesso a crédito subsidiado

(Pronaf) e falta de alternativas mais rentáveis, estáveis e permanentes aos produtores rurais.

Mais recentemente, novos investimentos, fusões e aquisições envolvendo os maiores grupos

empresariais contribuíram para o retorno da tendência de concentração produtiva no setor. Destaca-se,

em 2011, a fusão entre a empresa goiana LeitBom e a gaúcha Bom Gosto. A operação, apoiada pelo

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), deu origem a maior empresa de

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capital nacional especializada em lácteos, tendo capacidade de produção de dois bilhões de litros de leite

por ano. A nova empresa, chamada LBR Lácteos Brasil, juntou-se a DPA e a BRF7 na liderança na

captação e no processamento de leite no Brasil. Porém, o gigantismo da LBR rapidamente se

transformou em fonte de problemas financeiros, dada a concentração do faturamento em produtos de

baixo valor agregado (leite em pó e longa vida) e à complexidade da operação, que envolvia fábricas

dispersas no território e um número elevado de marcas próprias concorrendo entre si. Em 2013, após

acumular prejuízos e desativar algumas de suas fábricas, a LBR entrou com pedido de recuperação

judicial, aprovado por seus credores, numa tentativa de viabilizar as transformações necessárias para o

aumento da eficiência e sustentabilidade de seus negócios. Como parte do plano, em 2014, a empresa

desfez-se de significativa parcela dos ativos, localizados em diferentes regiões do País.8

Na Mesorregião Noroeste do Rio Grande do Sul, onde estão situados os Coredes Fronteira

Noroeste e Celeiro, aos investimentos citados por Gomes (2008), nos últimos anos se somaram ainda os

realizados ou anunciados pela BRF em Três de Maio (leite em pó e queijos) e Ijuí (queijos), Renner em

Estação (soro de leite em pó), Nutrifont em Três de Maio (derivados do soro de leite) e Santa Clara em

Casca (leite longa vida).

Seja em razão de dificuldades financeiras enfrentadas pelas empresas do setor ou por decisões

estratégicas de seus grupos controladores, 2014 se destacou como um ano de mudanças significativas

na cadeia produtiva do leite:

a) no mês de maio, Nestlé e Fonterra anunciaram a revisão da parceria iniciada em 2003. Pelo

novo acordo, as fábricas de leite em pó operadas pela joint venture DPA no Brasil — duas delas

situadas no Rio Grande do Sul, em Carazinho e Palmeira das Missões — voltaram ao comando

da Nestlé. A DPA passou a estar restrita ao setor de refrigerados lácteos, tendo participação

acionária majoritária da Fonterra. No Rio Grande do Sul, na prática, a Nestlé assumiu a maior

parte da captação do leite, já que os negócios de leite em pó são os maiores demandantes da

matéria-prima.

b) em setembro, insatisfeita com as baixas margens da sua divisão de lácteos, a BRF anunciou

sua retirada do mercado, tendo vendido suas unidades industriais e cedido as tradicionais marcas

Elegê e Batavo para a Parmalat S.p.A., empresa pertencente ao grupo francês Lactalis. O

negócio envolveu a venda de 11 unidades, cinco das quais situadas no Rio Grande do Sul: Ijuí

(queijo); Três de Maio I (queijo) e Três de Maio II (leite em pó); Santa Rosa (doce de Leite,

requeijão, leite pasteurizado) e Teutônia (leite condensado, manteiga, aromatizados, leite em pó,

UHT e especiais). A Lactalis é a maior empresa do setor de leite e derivados do mundo e, antes

da aquisição da divisão de laticínios da BRF, havia comprado quatro fábricas da LBR, além do

direito de usar a marca Parmalat no Brasil (esse direito era da empresa de investimentos LAEP e

7 A Brasil Foods (BRF) foi criada a partir da fusão entre duas das maiores empresas do setor alimentício brasileiro, Perdigão e

Sadia, em 2009. 8 A LBR vendeu 14 unidades produtivas isoladas para seis empresas diferentes: a francesa Lactalis, a ARC Medical Logística, a

Colorado, o Laticínios Bela Vista, a Cooperativa do Vale do Rio Doce e a Agricoop.

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havia sido repassado à LBR). Projeta-se que os investimentos da Lactalis devam concentrar-se

nos produtos de maior valor agregado, como queijos de alta qualidade e iogurtes. Segundo

matéria publicada pela revista Exame em setembro de 2014, entre as principais apostas da

empresa no Brasil, além do leite Parmalat, estão o requeijão da marca Poços de Caldas,

comprada da LBR, e os iogurtes Batavo, que pertenciam à BRF. No momento do anúncio dos

investimentos da Lactalis, persistia a incerteza quanto ao tipo de relação a ser estabelecida entre

a empresa e os produtores de leite. Para o diretor da Associação Gaúcha de Laticínios e

Laticinistas (AGL), Osmar Redin, no Estado a tendência é que se aproxime do sistema da Nestlé,

ou seja, atue preferencialmente com produtores de maior volume e diferencial de qualidade,

enquanto os menores se acomodam em cooperativas locais (CIGANA, 2014).

No Quadro 1, estão listadas as 12 maiores empresas que atuam no setor lácteo brasileiro,

segundo números de 2013.

É nítido o predomínio de grandes grupos empresariais, nacionais e multinacionais, diversificados

e especializados. Se consideradas em conjunto, as 12 empresas ranqueadas responderam, em 2013, por

aproximadamente 35% do total de leite inspecionado adquirido no Brasil. Todas as empresas listadas

abaixo com operação no Rio Grande do Sul possuem plantas industriais na Mesorregião Noroeste.

Quadro 1

Ranking das maiores empresas de laticínios do Brasil — 2013

CLASSIFICAÇÃO EMPRESAS RECEPÇÃO

DE LEITE (1.000 l)

ORIGEM DO

CAPITAL

ESTRATÉGIA DE

PRODUÇÃO (4)

LOCALIZAÇÃO DOS LATICÍNIOS

1º DPA (2) 2.033.000 Estrangeiro Diversificada RS, SP, MG, RJ, GO, BA, ES

2º BRF 1.377.264 Nacional Diversificada PE, PR, MG, SC, MS e RS

3º ITAMBÉ 1.056.264 Nacional Especializada MG e GO

4º LATICÍNIOS BELA VISTA 828.630 Nacional Especializada GO e SC

5º CASTROLANDA E BATAVO

(3) 548.674 Nacional Diversificada PR

6º EMBARÉ 527.721 Nacional Especializada MG

7º DANONE 448.716 Estrangeiro Especializada MG

8º CONFEPAR 411.037 Nacional Especializada PR

9º JUSSARA 330.380 Nacional Especializada SP e MG

10º VIGOR 280.061 Nacional Diversificada SP e MG

11º CENTROLEITE 246.301 Nacional Especializada GO

12º FRIMESA 219.604 Nacional Diversificada PR e SC

- LBR (1) 1.576.800 Nacional Especializada RS, SC, PR, MS, SP, RJ,

MG, GO, PA e PE

- ITALAC (1) 936.901 Nacional Especializada RS, GO, RO, MG, PA FONTE: LEITE BRASIL (2015).

(1) As empresas LBR e a Italac, que estavam presentes, respectivamente, no 2º e 4º lugar do ranking de 2012, não apresentaram dados no ranking de

2013. Para essas empresas, os números de recepção de leite contidos no quadro referem-se a 2012. (2) Números referentes à compra de leite

realizada pela DPA Manufacturing Brasil em nome da Nestlé, da Fonterra, da DPA Nordeste e da Nestlé Waters. (3) As duas cooperativas exercem

operação conjunta no segmento de lácteos. (4) As empresas consideradas especializadas são aquelas que produzem exclusivamente produtos

derivados do leite.

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2.2 A produção de laticínios no Rio Grande do Sul

Pode-se considerar que a produção de leite e derivados é uma atividade presente no Rio Grande

do Sul desde os tempos da ocupação do território. Contudo foi só com a chegada dos imigrantes, no

século XIX, e com o povoamento mais denso do Estado que seu consumo se difundiu. A partir desse

momento, nas regiões coloniais, o leite passou a ser consumido em maior quantidade, tanto in natura

quanto na forma de derivados de fabricação caseira (nata, queijo, manteiga, cremes, etc.), mas “[...] ainda

com característica de atividade pouco especializada, conjugada a uma dinâmica de produção para

subsistência e consumo local” (TRENNEPOHL, 2010, p. 129).

O crescimento dos centros urbanos estimulou a exploração intensiva do gado leiteiro,

principalmente nas proximidades de Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, em razão da configuração de

um mercado consumidor com grande potencial. Nessa circunstância, os próprios produtores

transportavam o leite — sem qualquer beneficiamento — dos locais de produção aos consumidores

residenciais. As dificuldades de conservação decorrentes do percurso dessas distâncias fizeram com que

surgissem, nas primeiras décadas do século XX, pequenas unidades de processamento para a produção

de derivados menos perecíveis, em especial a manteiga e o queijo.

Foi no início século XX que surgiram as primeiras indústrias laticinistas gaúchas formalmente

constituídas. Em Ijuí, no ano de 1908, foi fundada a firma Carlos Franke S. A. (CAFRASA) e, em 1912, foi

constituída a Cooperativa de Laticínios União Colonial, formada por pequenos agricultores da região de

Santa Clara, na época 4º Distrito de Montenegro e atualmente pertencente a Carlos Barbosa. Dados do

Censo Industrial de 1920, citados por Carvalho (2002), acusam a existência de 24 laticínios no Rio

Grande do Sul, em um total de 78 no Brasil. O Estado só ficava atrás de Minas Gerais, que contava com

32 estabelecimentos voltados para a fabricação de laticínios. Curiosamente, esses dois estados

mantiveram a liderança na produção leiteira nacional. Porém, de acordo com os dados da RAIS-MTE

para o ano de 2013, o Rio Grande do Sul foi ultrapassado por Paraná e São Paulo no ranking das

unidades federativas com maior número de estabelecimentos laticinistas (BRASIL, 2014).

Os primeiros sinais de organização da atividade leiteira datam de 1936, com a fundação da

Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul. No ano seguinte, a Sociedade

Anônima Beneficiadora de Leite (Sabel) arrendou uma usina de beneficiamento de leite que funcionava

em um prédio construído pelo Governo do Estado, o que, segundo Trennepohl (2010, p. 129), “[...] teve

reflexos imediatos no incremento do volume de produção e consumo do produto”. A Sabel instalou postos

de coleta em vários municípios próximos à Região Metropolitana de Porto Alegre e uma rede de

desnatadeiras, com o objetivo de aproveitar a produção dos municípios um pouco mais distantes da

Capital. A partir de meados da década de 40, o objetivo passaria a ser atingir todo o Estado, quando

novos postos de coleta e resfriamento foram instalados. Em 1946, o Governo do Estado encampou a

Sabel e formou a Sociedade de Economia Mista “Entreposto do Leite S/A” (ELSA). Dois anos depois, em

1948, assumiu o ativo e o passivo da ELSA, transformando-a em autarquia estadual com o nome

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Departamento Estadual de Abastecimento de Leite (DEAL), vinculado à então Secretaria de Agricultura,

para atuar na área de laticínios em todo o Estado.

Na década de 60, ocorreram sensíveis transformações na indústria de laticínios, no Rio Grande

do Sul, com o surgimento de novas empresas, tanto de caráter local quanto regional, e a modernização e

ampliação de plantas industriais. A citação abaixo sinaliza o sentido dessas mudanças:

A conquista de novos fornecedores levou as empresas a uma fase de grande competição mútua,

“fato inusitado nas bacias leiteiras do Estado”. Assim, a partir da década de 1960, presenciou-se

uma notável alteração no relacionamento das indústrias com os produtores. Estas, que se

mantinham praticamente indiferentes aos produtores, aliaram-se a eles. Temendo um colapso no

setor de produção, as indústrias tomaram a iniciativa de sugerir aumentos de preço para o produto

ao que, anteriormente, faziam oposição sistemática. A necessidade de obter produções condizentes

com a capacidade de beneficiamento de suas empresas, ora ampliadas, foi o fator fundamental que

justifica essa mudança de posicionamento (CEDIC, 1974, p. 56 apud TRENNEPOHL, 2010, p.129).

Em 1962, com a criação da Superintendência Nacional do Abastecimento (Sunab), os preços

passaram a ser controlados em nível federal. Nessa época, iniciaram-se também as atividades da

Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (ASCAR), que prestou importante apoio à produção

leiteira e às indústrias privadas de laticínios do interior do Estado. As crises de desabastecimento e

superprodução também voltam a ocorrer e, ao final da década, cresceu a oposição da iniciativa privada à

intervenção estatal e à “concorrência desleal” do DEAL no abastecimento do leite. Verifica-se ainda a

influência da ideologia desenvolvimentista na ação governamental em relação ao setor, manifesta,

sobretudo, na preocupação básica com a industrialização para resolver os problemas de abastecimento

do leite (BORGHETTI, 1980).

Porém, foi na década de 70 que ocorreram dois fatos que se mostraram decisivos para o

desenvolvimento da cadeia produtiva gaúcha do leite no período pré-liberalização do mercado: (a) em

1970, o DEAL foi transformado em sociedade de economia mista, dando origem à Companhia

Riograndense de Laticínios e Correlatos (Corlac); e (b) em 1976, foi estruturada a Cooperativa Central

Gaúcha de Leite Ltda (CCGL).

Com a transformação de uma autarquia (DEAL) em sociedade de economia mista (Corlac), foram

viabilizados os planos de expansão e modernização das instalações, diversificação da produção e

ampliação da área de atuação da empresa no interior gaúcho. O início da operação da Corlac é

referenciado como um marco na história da indústria de laticínios gaúcha, tendo enfrentado ampla

oposição da iniciativa privada à época. Em 1993, as unidades produtivas da Corlac foram privatizadas.

Conforme previsto em lei, suas atividades foram assumidas por ex-funcionários e produtores de leite sob

a forma de cooperativação.9 Segundo Carvalho (2002), a desativação desse sistema levou a uma

9 No projeto de lei enviado pelo poder executivo à Assembleia Legislativa, foi definido que a privatização ocorreria dessa forma, ou

seja, pela constituição de uma cooperativa central, formada por pequenos produtores e ex-funcionários da Corlac. Assim, em 1994, foi criada a Cooperativa Riograndense de Laticínios e Correlatos (Coorlac), que passou a produzir os alimentos da marca Corlac. Esse processo tem origem na organização e na luta dos movimentos sociais ligados à agricultura familiar, especialmente da região Alto Uruguai. O objetivo inicial da cooperativa era atuar ao longo da cadeia produtiva do leite e, dessa forma, possibilitar que o valor agregado pudesse ser compartilhado por todos os associados (SOUZA, 2007). Em 2008, o Grupo Bom Gosto incorporou as operações industriais da Coorlac em Erechim e adquiriu os direitos de uso da marca Corlac. A partir de então, a Coorlac restringiu sua atuação à oferta de assistência técnica e comercialização conjunta do leite captado junto aos seus associados.

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desarticulação setorial, com prejuízo aos produtores e desestimulo à produção, sobretudo nas áreas de

maior atuação da antiga empresa — Regiões Metropolitana, Nordeste e Central.

Em se tratando da CCGL, vale destacar que, até a venda do seu controle acionário em 1996, a

empresa foi uma das maiores do setor, chegando a deter mais de 60% da produção gaúcha de leite e a

reunir 21 cooperativas, com mais de 52.000 cooperados10

. A sua importância é tal que, segundo

Carvalho (2002, p. 6), “[...] a história da atividade no Rio Grande do Sul confunde-se com a história da

CCGL sobretudo em face do aspecto concentrador que exerce”. Até a década de 70, a comercialização

do leite dependia do desempenho dos chamados caminhoneiros compradores, que recolhiam o leite nas

“colônias” para depois fazer um leilão junto à indústria. A CCGL, por sua vez, surgiu para atuar na

industrialização e comercialização centralizada do leite produzido por associados de um grupo de

cooperativas agropecuárias. Seu principal objetivo era viabilizar, aos agricultores familiares, alternativas

de maior rentabilidade por área em relação à produção de grãos (soja e milho).

Desde o início, a cooperativa comprometeu-se a receber toda a produção junto às cooperativas

associadas. Para tanto, foram construídos postos de recepção e resfriamento nas bacias leiteiras em

formação. Após a abertura da primeira unidade industrial no Município de Ijuí, em 1978, e da

encampação de indústrias particulares que enfrentavam dificuldades financeiras, a cooperativa inaugurou

unidades industriais em Passo Fundo, Uruguaiana, Santa Rosa, Três de Maio, São Lourenço e Teutônia

(SLUSZZ et al., 2006). No período de criação da CCGL, predominavam práticas rudimentares na

atividade leiteira, situação que a levou a ofertar um amplo e pioneiro programa de assistência técnica e

extensão rural. A condição dos pequenos produtores de leite foi radicalmente melhorada através de

ações que envolviam a alimentação animal, cuidados de higiene e resfriamento, práticas de manejo do

rebanho e ordenha, melhoria genética do rebanho, etc.

Com o novo ambiente institucional estabelecido na década de 90, deixaram de operar as duas

principais empresas laticinistas gaúchas. No caso da CCGL, o que mais contribuiu para sua venda foi a

grave crise financeira das cooperativas tritícolas gaúchas, que recaiu também sobre a estrutura produtiva

do leite. Já a privatização da Corlac reflete um contexto de crise financeira do Estado, em um momento

de grande questionamento das suas atribuições.

Com a redução da intervenção governamental no setor e o afluxo de investimentos externos, a

industrialização e a distribuição do leite gaúcho passaram a ser dominadas pelo capital privado. Depois

da fase pré-liberalização, quando a indústria era formada por pequenas e médias unidades empresariais,

10

Nos anos 90, após a sua aquisição pela Avipal, a empresa passou a denominar-se Elegê Alimentos, marca comercial da antiga cooperativa, transformando-se em empresa privada. Essa operação, que modificou a natureza da sua gestão, teve um primeiro efeito desorganizador sobre os elos da cadeia do leite em todo o Estado. Em 2007, a Avipal vendeu a companhia para a Perdigão. Cabe observar que, na transação com a Avipal, a CCGL vendeu as suas unidades de beneficiamento de leite e se comprometeu a não operar no mercado de laticínios por um período de 10 anos. Passado esse período, a cooperativa voltou a atuar, conservando a marca CCGL com um novo significado (Cooperativa Central Gaúcha Ltda). Segundo o site institucional da empresa, atualmente estão associadas à CCGL as principais cooperativas agropecuárias gaúchas, o que representa um universo de 171.000 produtores rurais, em mais de 350 municípios do Rio Grande do Sul. A CCGL conta com três unidades de negócios: CCGL LOG (logística de grãos), CCGL TEC (tecnologia agropecuária) e CCGL LAC (laticínios). A CCGL LAC, sediada em Cruz Alta, anunciou recentemente o início das obras de ampliação de sua unidade industrial, cuja capacidade de processamento de leite deve ser duplicada (de 1 milhão de litros para 2,2 milhões de litros por dia).

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com forte presença de cooperativas e empresas estatais, foi inaugurado um novo momento,

caracterizado pela concentração da indústria e das redes de supermercados.

A partir dos anos 90, ocorre a eliminação do setor estatal, e as cooperativas passam a ter um

papel periférico, praticamente de intermediárias no fornecimento de matéria-prima ou de pequenas

unidades industriais de porte regional. Nesse período, o mercado relevante de bens e serviços passou a

ser dominado por empresas globais (SILVEIRA; PEDRAZZI, 2004, p. 2).

Exemplos desse movimento são a Elegê Alimentos (Avipal) e a Parmalat. Segundo Bitencourt et

al. (2002 apud Carvalho, 2002), essas empresas respondiam por mais de três quartos da produção do

leite fluido no Rio Grande do Sul em 1999. O restante da produção era industrializada,

preponderantemente, por cooperativas de médio porte, dentre as quais se destacavam as seguintes: Sul

Riograndense de Laticínios (Consulati), Santa Clara, De Suinocultores de Encantado (Cosuel), Tritícola

Getúlio Vargas, Agropecuária Petrópolis (Piá), Agrícola Mista Aceguá (Camal), Riograndense de

Laticínios e Correlatos (Coorlac).

O ingresso da Parmalat no Rio Grande do Sul fez parte de uma estratégia agressiva de

crescimento da empresa no Brasil via aquisições11

. Em 1993, a multinacional italiana adquiriu as plantas

industriais da Lacesa, segunda maior empresa do mercado de leite gaúcho. A Parmalat também induziu

e se beneficiou do processo de espraiamento da produção de leite em direção ao noroeste do Rio

Grande do Sul. Em 2012, a Mesorregião Noroeste já respondia por dois terços da produção do Estado,

tendo quadriplicado sua produção e ganhado participação sobre todas as demais regiões desde o início

da década de 90 (Figura 3). Atenta a esse movimento da produção, em 1995, a empresa instalou a sua

maior fábrica no Brasil no Município de Carazinho. A partir de 2007, a Parmalat voltou a enfrentar

dificuldades financeiras, agravadas pela crise econômica internacional, e optou por se desfazer de vários

ativos, dentre os quais a unidade industrial de Carazinho, que foi adquirida pela Nestlé em novembro de

2009.

A produção leiteira gaúcha cresceu em todas as regiões, aproveitando-se, principalmente, de

ganhos de produtividade. Na região Noroeste, a esses ganhos somou-se ainda o efeito do aumento do

rebanho — que dobrou entre 1990 e 2012 (IBGE, 2014) — enquanto, nas demais regiões, a tendência foi

de estabilidade ou redução do número de vacas ordenhadas.

11

A expansão da Parmalat no mercado brasileiro deu-se por meio da aquisição de diversas empresas, além de investimentos vultosos e um processo audacioso na construção de marca, com campanhas criativas e de grande visibilidade. No final dos anos 90, a Parmalat estava entre as maiores empresas de alimentos do Brasil, era a segunda maior em captação de leite e tinha presença firmada em todas as regiões (CHAMPI JUNIOR, 2004).

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Figura 3

Produção de leite nas Mesorregiões Geográficas do Rio Grande do Sul — 1990-2012

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE (2013). NOTA: Em milhares de litros.

Entre as principais fontes de vantagens competitivas à produção leiteira dessa região, estão a

estrutura fundiária e a falta de atividades alternativas de maior rentabilidade no meio rural (PAIVA;

ROCHA; THOMAS, 2014). Ao contrário do que ocorre no Brasil e mais intensamente que em outras

regiões gaúchas, a Mesorregião Noroeste tem seu território ocupado por minifúndios, administrados por

agricultores familiares, para os quais os custos com trabalho na produção leiteira são muito menores em

relação à produção capitalista.12

Segundo os dados do último Censo Agropecuário 2006 (IBGE, 2009),

apenas 6% da produção leiteira da região era proveniente de propriedades com área de pastagem

superior a 20 hectares, ao passo que, no Rio Grande do Sul, eram 11% (Tabela 2)

12

Os dados do Censo Agropecuário 2006 apontam que, no Rio Grande do Sul, aproximadamente 85% da produção de leite é proveniente da agricultura familiar (conforme definição estabelecida na Lei nº 11.326 de 2006).

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

3.500.000

4.000.000

4.500.000

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012

Noroeste Nordeste Centro Oriental Metropolitana de Porto Alegre Sudeste Sudoeste Centro Ocidental

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Tabela 2

Distribuição da produção de leite de vaca nos estabelecimentos agropecuários, segundo grupos de área de pastagem no Brasil, no Rio Grande do Sul e nas Mesorregiões do Rio Grande do Sul — 2006

(%)

GRUPOS DE ÁREA DE PASTAGEM

BRASIL

RIO GRANDE DO SUL

Total Noroeste Nordeste Centro

Ocidental Centro Oriental

Metropolitana de Porto Alegre

Sudoeste Sudeste

Maior que 0 e menor que 1 ha .. 1,4 5,0 5,0 3,9 2,2 9,6 7,1 1,3 1,8

De 1 a menos de 2 ha ............... 3,2 11,2 12,2 9,0 4,4 15,9 12,4 1,3 4,8

De 2 a menos de 5 ha ............... 10,3 29,8 33,9 25,2 16,1 31,8 23,5 4,2 15,8

De 5 a menos de 10 ha ............. 10,4 20,3 21,5 21,5 20,7 19,3 12,8 8,8 18,1

De 10 a menos de 20 ha ........... 12,2 11,0 9,4 13,9 18,1 7,8 10,8 19,8 20,8

De 20 a menos de 50 ha ........... 18,3 6,3 4,4 6,8 14,6 3,0 9,7 23,3 16,6

De 50 a menos de 100 ha ......... 13,1 1,9 0,9 2,5 8,2 0,4 4,0 8,7 5,7

De 100 a menos de 200 ha ....... 10,2 1,3 0,5 2,0 3,9 0,1 2,4 9,8 3,9

De 200 a menos de 500 ha ....... 8,8 0,8 0,1 1,7 3,3 0,1 0,6 7,2 3,8

De 500 e mais ha ...................... 5,3 0,7 0,1 0,6 3,2 0,3 0,6 6,8 3,5

Produtor sem área de pastagem 6,8 11,6 12,0 12,8 5,4 11,7 16,3 8,8 5,2

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE (2009).

A empresa gaúcha de maior crescimento e destaque nacional nos anos 2000 também atua nessa

região. A Laticínios Bom Gosto iniciou suas atividades em 1993, no Município de Tapejara (Corede

Nordeste), industrializando o leite de produtores integrados. A partir de 2000, a Bom Gosto ampliou sua

linha de produtos, com a instalação de nova planta industrial para a fabricação de leite longa vida (UHT),

leite condensado e concentrado, creme de leite e achocolatado. Em 2011, quando se fundiu com a

Leitbom, dando origem a LBR, além de Tapejara, a empresa possuía unidades laticinistas situadas nos

Municípios de Fazenda Vilanova (Vale do Taquari), Crissiumal (Celeiro), Gaurama e Erechim13

(Norte),

além de diversos postos de captação distribuídos em municípios da Metade Norte do Estado. Em 2014,

como parte do plano de recuperação judicial da empresa, a LBR desfez-se das suas principais unidades

industriais no Rio Grande do Sul.

Nos dias atuais, as principais empresas de laticínios que operam no Estado são as que estão

listadas no Quadro 2.

Quadro 2

Principais empresas laticinistas com plantas industriais ativas no Rio Grande do Sul

EMPRESA MUNICÍPIO PRODUTOS MARCAS

Lactalis

Ijuí Queijos

Batavo e Elegê

Três de Maio Queijos e leite em pó

Santa Rosa Doce de leite, requeijão e leite pasteurizado

Teutônia Leite condensado, manteiga, aromatizados, leite em pó, UHT e especiais

Lactalis Fazenda Vilanova Leite UHT e leite em pó Parmalat

Nutrifont Três de Maio Proteína concentrada e lactose, a partir do soro do leite

ARC Medical Logística Tapejara Leite UHT, leite em pó, creme de leite e leite condensado

Agricoorp Gaurama Queijos

ARC Medical Logística Crissiumal Queijos

PIA - Cooperativa Agropecuária Petrópolis

Nova Petrópolis Leite condensado, requeijões, bebidas lácteas, creme de leite, doces de leite, iogurte, leites e queijos

PIA e Plenna

(continua)

13

A fábrica de laticínios de Erechim, adquirida pelo Grupo Bom Gosto da cooperativa COORLAC, foi desativada pela LBR em 2011.

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Quadro 2

Principais empresas laticinistas com plantas industriais ativas no Rio Grande do Sul

EMPRESA MUNICÍPIO PRODUTOS MARCAS

Cooperativa Santa Clara Carlos Barbosa

Leite UHT, leites pasteurizados (tipos B, C e light), leite em pó, queijos, bebida láctea, creme de leite, doce de leite, leite condensado e requeijão

Santa Clara

Getúlio Vargas Queijos

DPA-Nestlé

Carazinho Leites UHT premium, creme de leite, achocolatados e leite condensado

Ninho, Molico, Leite Moça e Nescau

Palmeira das Missões

Leite em pó Nestlé

CONSULATI - Cooperativa Sul-Rio-Grandense de Laticínios

Capão do Leão Leite em pó, leite pasteurizado, leite UHT, queijos, manteiga, bebida láctea, doce de leite e requeijão

Danby Consulati

CCGL Cruz Alta Leite UHT, leite em pó, achocolatado, creme de leite CCGL

Cooperativa Languiru Teutônia Leite pasteurizado, leite UHT, queijos, doces de leite, requeijões, bebidas lácteas, natas, leite em pó, achocolatados

Mimi, Languiru, Fruitness, Efetive, Chocolan

Vonpar Viamão Doce de leite Mu-Mu

COSUEL - Cooperativa dos Suinocultores de Encantado Ltda

Arroio do Meio Creme de leite, leite UHT, leite em pó, bebida láctea Dália

COOTALL - Cooperativa Taquarense de Laticínios

Taquara Leite em pó, leite pasteurizado, creme de leite, iogurte e bebida láctea

Cootall e Mega Milk

Parmíssimo Viamão Queijos, doce de leite Parmíssimo

Frizzo Planalto Queijos, requeijão, bebida láctea, nata Frizzo

Laticínios Pinhalense Pinhal Queijos Frizzo

Cotrilac Anta Gorda Queijos, ricota, nata e bebidas lácteas Latsul e Bella Estância

Kunzler Porto Alegre Queijos Kunzler

Hollmann Imigrante Queijos, bebida láctea, creme de leite, leite UHT Hollmann

Laticínios Princesul Casca Queijos Princesul

Serro Azul Laticínios Cerro Largo Queijos, requeijão, bebidas lácteas , leite pasteurizado tipo C, nata e doce de leite

Mais Milk, Alvorecer

RAR Vacaria Queijos Gran Formaggio e Campos de Vacaria

Tangará Foods Estrela Compostos lácteos, leite condensado e creme de leite Purelac, Nutricional e Lativale

Italac Passo Fundo Leite UHT, creme de leite, achocolatados Italac

Relat - Laticínios Renner Estação Soro de leite em pó Relat

Laticínios Roesler São Pedro da Serra Queijos, creme de leite, leite pasteurizado, bebida láctea e doce de leite

Granja, Milk Fresh e Campestre

Quinta do Vale Doutor Ricardo Queijos Quinta do Vale

Cabanha da Maya Bagé Queijos Cabanha da Maya

Laticínio Deale Almirante Tamandaré do Sul

Queijos, manteiga, requeijão, bebida láctea Deale

Laticínio Stefanello Rodeio Bonito Queijos, ricota, requeijão, manteiga Stefanello

Laticínios Bela Vista Nova Ramada Leite fluido resfriado Piracanjuba

COOPAR - Cooperativa Mista dos Pequenos Agricultores da Região Sul

São Lourenço do Sul

Queijos, creme de leite, doce de leite e bebida láctea Pomerano

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul (2015). Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (2014).

NOTA: Também foram consultados os sites das empresas na Internet.

As empresas de laticínios atuantes no Rio Grande do Sul são responsáveis pela produção de um

amplo mix de produtos (Figura 4). É evidente a concentração da indústria gaúcha em produtos de menor

valor agregado, para os quais a competitividade está muito associada à escala de produção.

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Figura 4

Distribuição percentual do mix de produtos da indústria de laticínios do Rio Grande do Sul — 2012

8,7

2,5

2,4

3,0

5,8

29,3

48,4

Outros

Leite Pasteurizado

Leite Condensado

Queijo Prato

Queijo Mussarela

Leite em Pó

Leite UHT

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Conseleite-RS (2015). NOTA: média mensal entre janeiro e dezembro de 2012.

Na região de abrangência deste estudo (Fronteira Noroeste-Celeiro), antes da ocorrência do

recente processo de aquisições, as empresas mais atuantes no recebimento do leite junto aos produtores

eram a BRF (Três de Maio e Santa Rosa), a LBR (Crissiumal) e a DPA/Nestlé. Em Crissiumal, a venda

da unidade produtiva da LBR para a ARC14

— e posterior arrendamento para a Italac — causou

repercussões econômicas graves à cadeia do leite. Ao se desfazer desse ativo, a LBR não quitou todas

as dívidas com os fornecedores de leite da região, o que desencadeou uma série de protestos dos

agricultores envolvidos, impedindo o início das operações da Italac no Município.

Uma mudança institucional recente que pode se refletir em ganhos futuros para a cadeia

produtiva do leite foi a criação do Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite do Rio

Grande do Sul (Fundoleite-RS), em dezembro de 2013. Os recursos do fundo serão formados

principalmente a partir da cobrança de uma taxa incidente sobre a quantidade produzida de leite e serão

utilizados com vistas a atender cinco objetivos principais: (a) melhorar as condições de coordenação da

cadeia produtiva do leite bovino e dos seus produtos lácteos; (b) promover o fortalecimento das relações

entre os setores públicos e privados da cadeia produtiva do leite e dos seus produtos lácteos do Rio

Grande do Sul; (c) melhorar a renda dos agricultores familiares inseridos na produção de leite e de

produtos lácteos, como resultado da melhoria de competitividade da cadeia produtiva do leite; (d)

14

Dentre os ex-ativos da LBR situados no Rio Grande do Sul, além da planta industrial de Crissiumal, a Italac também arrendou o posto de captação de leite situado em Giruá e a planta industrial de Tapejara.

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promover o aumento da produtividade e da qualidade na produção do leite e dos produtos lácteos; e (e)

promover a ampliação dos mercados consumidores de leite e de produtos lácteos.

Em decorrência da criação do Fundoleite-RS, surgiu a necessidade de formar uma entidade

beneficiária dos recursos, representativa dos produtores de leite e da indústria de leite e de produtos

lácteos. Assim, em fevereiro de 2014, fundou-se o Instituto Gaúcho do Leite (IGL). A exemplo do que já

ocorria na vitivinicultura, orizicultura e erva-mate, a cadeia do leite também passa a equilibrar-se no tripé

composto por programas, fundo e instituto. Porém importantes entidades, como o Sindilat-RS e a

Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), ainda não aderiram ao IGL, o que

gerou questionamentos quanto a sua legalidade e legitimidade e escancarou a dificuldade de

entendimento entre os atores representativos da cadeia produtiva do leite e destes com o Governo. Com

os recursos das contribuições ordinárias das taxas recolhidas pela indústria e pelo Governo do Estado, o

IGL contará com aproximadamente R$ 2,7 milhões por ano para investir em projetos de interesse da

cadeia produtiva do leite no Rio Grande do Sul.

Raupp (2013) qualificou as mudanças verificadas a partir da década de 90 no Sistema

Agroindustrial (Sag) leiteiro gaúcho como amplas e profundas. O autor destacou tendências gerais de

mudança, que podem ser assim apresentadas:

a) maior influência do mercado externo na dinâmica local da atividade em decorrência da

abertura comercial e integração regional do Mercosul;

b) agroindústrias multinacionais de laticínios e grande distribuição assumiram papel relevante na

coordenação do Sag leiteiro com a desregulamentação do mercado e consequente saída do

Estado;

c) maior disponibilidade e diversidade de opções tecnológicas;

d) consolidação de distintos referenciais tecnológicos de produção de leite;

e) consolidação da ordenha mecanizada e de resfriadores a granel como tecnologias básicas a

serem adotadas nos sistemas de produção leiteiros, atuando ao mesmo tempo como vetores de

melhoria higiênico-sanitária do produto e de exclusão de produtores de leite sem capacidade

financeira de adotá-las;

f) multiplicação das experiências de grupos formais e informais de produtores de leite que se

unem para finalidades diversas no âmbito do Sag leiteiro, dentre as quais, acesso a tecnologias,

negociação de preços, comercialização conjunta;

g) redefinição das principais regiões produtoras de leite através do deslocamento da produção de

leite para longe das principais regiões consumidoras, aumentando a participação da Mesorregião

Noroeste Rio-Grandense no total da produção de leite do RS;

h) confirmação dos produtores de leite que trabalham em regime de economia familiar como

majoritários na atividade;

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i) consolidação de sistemas de pagamento ao produtor de leite que, direta ou indiretamente, têm

remunerado melhor quem obtém escala de produção e adota ordenha mecanizada e resfriamento

a granel;

j) aumento do grau de dependência e fidelidade do produtor de leite em relação à agroindústria

de laticínios via contratos de fornecimento, financiamentos, etc.;

k) crescimento da oferta total de leite produzido no RS, originando excedentes produtivos no

âmbito estadual e federal;

l) coexistência de diversos arranjos organizacionais na interface entre produtor de leite e

agroindústria de laticínios;

m) aumento da produtividade individual (litros/dia) dos produtores;

n) maior especialização produtiva dos produtores de leite;

o) melhoria da qualidade sanitária do leite comercializado pelos produtores de leite;

p) maior capacitação dos produtores de leite;

q) redução gradual do número total de produtores de leite;

r) maior importância econômica da atividade em relação a outros cultivos e criações no âmbito

das unidades de produção;

s) redução e concentração do número de agentes que atuam na industrialização de leite e

derivados, decorrente de fusões e aquisições, que aumentaram a participação das empresas

multinacionais nesses segmentos do Sag leiteiro;

t) novas tecnologias de embalagem, com hegemonia do padrão longa vida;

u) possibilidades reais de exportação de lácteos;

v) consolidação de um sistema de formação de preço a ser pago ao produtor pelo litro de leite

referenciado nos aspectos conjunturais do mercado;

w) as cooperativas do RS que estruturam a atividade leiteira no Estado, depois de um processo

de saída da atividade, reinseriram-se nela através de estratégia de intercooperação, concretizada

na planta industrial da CCGL, instalada em Cruz Alta, RS;

x) generalização do sistema de coleta refrigerada a granel;

y) maior diversificação e diferenciação dos derivados do leite comercializados;

z) direcionamento das plantas industriais para produção de leite em pó;

aa) redução da informalidade;

ab) emergência da grande distribuição como principal canal de comercialização de leite e

derivados;

ac) redução e concentração do número de agentes que atuam na distribuição do leite e

derivados, decorrente de fusões e aquisições, que aumentaram a participação das empresas

multinacionais nesses segmentos do Sag;

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ad) consolidação do leite longa vida como principal forma de comercialização do leite,

incrementando a competição inter-regional e acabando com a reserva de mercado proporcionada

pelas limitações de transporte do leite pasteurizado tipo C;

ae) maior sofisticação e exigências do mercado consumidor;

af) desregulamentação da dinâmica de formação de preços;

ag) implantação de novos normativos privados e estatais relacionados com a inspeção industrial

e qualidade do leite;

ah) maior fiscalização sanitária e tributária sobre os agentes do Sag leiteiro;

ai) criação do Conselho Paritário do Leite do Rio Grande do Sul (Conseleite-RS);

aj) reativação da Câmara Setorial do Leite do RS;

ak) criação da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite do MAPA;

al) divisão da representação dos agricultores familiares do RS;

am) criação do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA);

an) criação do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa);

ao) surgimento do “comprador de leite”15

;

ap) estruturação de programas de crédito rural;

aq) inclusão do leite na Política de Garantia de Preços Mínimos;

ar) ampliação das políticas de comercialização;

as) criação do Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite;

at) criação do Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar;

au) redução dos conflitos e multiplicação dos exemplos de cooperação entre os agentes do Sag

leiteiro, particularmente entre produtores de leite e agroindústria de laticínios;

av) redução da relevância dos circuitos locais de produção, processamento e consumo de

lácteos.

Ainda segundo Raupp (2013), a natureza dos processos de mudança é diversa, abrangendo

questões de ordem técnica, organizacional, social, institucional e econômica. Nesse contexto, para o

autor, a inserção, a viabilidade e a permanência dos produtores de leite no Sag leiteiro colocam-se como

algo impreciso, incerto e desafiador, condicionado por fatores múltiplos, muitos dos quais estão fora do

seu campo de decisão.

A recente atuação do Ministério Público do Rio Grande do Sul, no sentido de denunciar e coibir

as fraudes no mercado do leite (Operação Leite Compensado), afetou pelo menos duas das tendências

15

O termo “comprador de leite” é utilizado para caracterizar dois perfis distintos de agentes que atuam no âmbito do Sag leiteiro. O primeiro refere-se a alguns transportadores de leite que atuam na coleta do leite junto aos produtores para entrega nas agroindústrias de laticínios, onde são eles que aparecem como vendedores ("freteiros"). Assim, a partir do valor que estes recebem pelo litro de leite, estabelecem política própria de remuneração dos produtores de leite. Nesse arranjo, é comum encontrar situações em que os produtores de leite não sabem para quem efetivamente estão vendendo sua produção, se para o transportador, agroindústria A, agroindústria B, etc. O segundo perfil, também caracterizado como comprador de leite, remete a empresas constituídas especialmente para fazer a mediação comercial entre o produtor de leite e a agroindústria de laticínios, assegurando abastecimento de matéria-prima ao segundo e remuneração do primeiro. Nesse caso, assim como no primeiro, atuam também administrando o transporte e a manipulação do leite dos locais de produção até o seu destino final nas agroindústrias, mas não determinam o preço pago ao produtor.

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referidas anteriormente. A primeira refere-se ao questionamento da continuidade da figura do "freteiro" no

transporte e na comercialização da matéria-prima com as agroindústrias; a segunda, ao aumento dos

conflitos e da desconfiança entre os agentes da cadeia leiteira, particularmente entre produtores de leite

e agroindústrias, o que pode limitar a cooperação.

2.3 Antecedentes históricos da AP Laticínios Fronteira Noroeste-

Celeiro

Na região Fronteira Noroeste-Celeiro, a produção agropecuária ocorre, sobretudo, em pequenas

propriedades que se dedicam tanto a culturas agrícolas temporárias quanto à produção animal. Em

muitos casos, as culturas de soja, milho e trigo dividem espaço com a pecuária leiteira, que

tradicionalmente é identificada como uma fonte complementar de renda. O crescimento significativo da

produção leiteira nessa região ao longo dos últimos 20 anos somente foi possível a partir das mudanças

tecnológicas ocorridas na indústria. A introdução do leite UHT ocupa centralidade nesse processo, pois

permitiu que a produção de leite e derivados ocorresse a grandes distâncias dos centros consumidores.

Ao produtor rural foi ofertado um conjunto de possibilidades para garantir ganhos de

produtividade, o que envolveu tanto a melhoria genética e alimentação animal quanto a sofisticação do

processo produtivo. A inseminação artificial, a ordenha mecânica e o cultivo de pastagens artificiais são

exemplos de práticas que se difundiram, contribuindo para o aumento da produção. Em meados da

década de 80, a produção de leite iniciou sua trajetória de acelerado crescimento na região Fronteira

Noroeste. Na vizinha Celeiro, a produção leiteira avançou mais lentamente até o final da década

seguinte, quando passou a se expandir em ritmo similar ao da região Fronteira Noroeste (Figura 5). Os

ganhos de produtividade permitiram o aumento da produção mesmo em um quadro de redução contínua

dos preços pagos ao produtor.

Com a venda da CCGL para a Avipal, em 1996, e a consequente estruturação da Elegê

Alimentos, mudanças importantes ocorreram na cadeia produtiva do leite da região Fronteira Noroeste-

-Celeiro. A princípio, a Elegê manteve a mesma estrutura de captação de leite e de relacionamento com

as cooperativas que já existia na estrutura da CCGL. Nesse modelo, o papel das cooperativas que

integravam o sistema era o de reunir a produção de seus associados para vendê-la em conjunto, a um

preço único, para a indústria (Elegê), que realizava a industrialização do produto. As cooperativas

também forneciam assistência técnica, crédito, facilidade na aquisição de insumos, entre outros

benefícios aos seus cooperados. Na região em estudo, as cooperativas atuavam mais intensamente no

mercado de grãos, ocupando a atividade leiteira um papel secundário. A partir de 2003, a Elegê

Alimentos modificou sua estratégia de atuação junto às cooperativas parceiras, reclamando para si o

direito sobre o recolhimento de leite dos produtores associados, retirando das mesmas a tarefa de

intermediação da relação entre produtor e indústria (WAQUIL; MARASCHIN, 2004).

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Figura 5 Produção de leite e número de vacas ordenhadas nos Coredes Fronteira Noroeste e Celeiro — 1974-2013

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE (2014). NOTA: a produção de leite está expressa em milhares de litros.

Nesse momento, as cooperativas integrantes do Sistema Elegê precisaram definir uma estratégia

de atuação, tais como: (a) reunir a produção de seus produtores e repassá-la à indústria, para que esta

realizasse as atividades de produção com maior valor agregado e que exigem maior investimento em

ativos específicos de marca e reputação; (b) ou assumir as atividades de maior valor agregado,

investindo em plantas de processamento, estabelecimento de redes de distribuição, desenvolvimento de

produtos e marca; (c) ou retirar-se do setor. Assim, três das maiores cooperativas com atuação na região

da aglomeração cederam seus direitos de originação16

do leite dos seus cooperados, o que praticamente

significou sua retirada da atividade leiteira. A Cooperativa Tritícola Santa Rosa Ltda. (Cotrirosa), a

Cooperativa Tritícola Alto Uruguai Ltda. (Cotrimaio) e a Cooperativa Agropecuária & Industrial (Cotrijui)

permitiram que a Elegê Alimentos passasse a se relacionar diretamente com os produtores, que inclusive

começaram a receber assistência técnica e crédito da empresa. Na região, a única das grandes

cooperativas que adotou estratégia diferente foi a Cooperativa Mista São Luiz Ltda. (Coopermil). A opção

da Coopermil foi de não abrir mão da produção de seus cooperados, o que a induziu a investir na

construção de uma plataforma própria para recebimento de leite no Município de Santa Rosa.

Assim, ao contrário do observado em outras regiões gaúchas, na região Fronteira Noroeste-

-Celeiro, as principais cooperativas com atuação na cadeia produtiva do leite não investiram na

industrialização do leite e na constituição de um mix de produtos com marca própria. Essa decisão

facilitou o avanço soberano das empresas Elegê Alimentos (mais tarde Perdigão e depois BRF), Nestlé e

LBR na originação e industrialização do leite produzido na região.

16

Por originação, entenda-se a aquisição da matéria-prima, que pode ocorrer diretamente dos produtores ou através da ação de intermediários.

405.330

114.303

309.503

95.030

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

450.000

1974 1977 1980 1983 1986 1989 1992 1995 1998 2001 2004 2007 2010 2013

Produção - Fronteira Noroeste Número de vacas - Fronteira Noroeste

Produção - Celeiro Número de vacas - Celeiro

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Anos depois, em 2005, a CCGL reingressou na atividade. A CCGL LAC, que corresponde à

divisão de laticínios da empresa, está sediada em Cruz Alta e é responsável pela industrialização do leite

originado por suas cooperativas associadas. Na prática, o retorno da CCGL significou a retomada de um

modelo dependente da participação ativa de suas cooperativas associadas na originação da matéria-

-prima. São associadas da CCGL as seguintes cooperativas que atuam na área de abrangência da AP

Laticínios Fronteira Noroeste-Celeiro: Cooperativa Mista Tucunduva Ltda. (Comtul), Coopermil, Cotrijui,

Cooperativa Tritícola Mista Campo Novo Ltda (Cotricampo), Cotrimaio e Cotrirosa. Dessas cooperativas,

a única que ensaiou o ingresso na produção de derivados lácteos foi a Comtul, porém sem sucesso.

3 Caracterização socioeconômica e produtiva da região dos

Coredes Fronteira Noroeste e Celeiro

Apesar de lindeiras, as regiões Celeiro e Fronteira Noroeste apresentam características

socioeconômicas e produtivas significativamente distintas, que poderiam passar despercebidas em uma

análise conjunta (agregada) dos dois Coredes. Assim, optou-se por realizar a análise individualizada,

ressaltando as particularidades de seus municípios. Como será evidenciado na sequência, a Fronteira

Noroeste é uma região mais populosa, industrializada, urbana e desenvolvida que a região Celeiro. Nesta

última, possivelmente em razão do menor dinamismo econômico, a perda de população foi mais intensa

nos últimos anos. Em comum, as regiões têm o fato de a renda ter-se expandido abaixo da média gaúcha

na última década (ZANIN, COSTA; FEIX, 2013).

3.1 Região Celeiro17

A região do Corede Celeiro é formada por 21 municípios, que abrigam 1,3% da população

gaúcha, ou seja, 141.482 habitantes, de acordo com o Censo Demográfico — 2010. A população rural

da região chega a 42,4%, sendo que apenas sete municípios possuem população rural inferior a 40%,

conforme ilustra a Figura 6. Esse percentual é o terceiro maior do Estado e muito superior à média

estadual, que é de aproximadamente 15%. De acordo com o estudo Região de Influência das Cidades

2007, elaborado pelo IBGE (2008), Três Passos, que abriga cerca de 17% da população do Corede, é o

município com maior destaque da rede urbana, sendo polarizada, principalmente, pelo centro regional de

Ijuí. Desse modo, a região mantém ainda forte vínculo com o seu núcleo de origem, tendo em vista que o

Corede Celeiro desmembrou-se do Corede Noroeste Colonial.

17

Essa subseção tomou por base a descrição realizada por Cargnin et al. (2012). Quando possível, as informações estatísticas foram atualizadas e a análise complementada.

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Figura 6

Concentração da população rural, por município, na região do Corede Celeiro — 2010

FONTE: Cargnin et al. (2012).

Chama atenção o decréscimo populacional da região verificado no período de 2000 a 2010,

quando a população passou de 149.590 para 141.482 habitantes, registrando uma perda de 8.108

habitantes (IBGE, 2015). Nesse período, a taxa de crescimento anual da população do Corede Celeiro

chegou a -0,56%, a segunda maior taxa negativa entre todos os 28 Coredes, superada somente pelo

Corede Missões. Entre os 21 municípios que integram a região, 18 apresentaram crescimento

populacional negativo. Outro dado relevante é que, entre 2000 e 2010, todos os municípios do Corede

perderam população rural (cerca de 13.240 pessoas), enquanto em 18 municípios houve aumento de

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população urbana, mas em proporção menor. Isso evidencia que houve tanto o deslocamento da

população rural para o meio urbano, como também a saída de habitantes da região.

É importante ressaltar ainda, em relação à composição da população, a presença numerosa de

habitantes autodeclarados indígenas, segundo o Censo Demográfico 2010 (IBGE, 2015). Estes últimos

chegam a 7.225 pessoas (5% da população total) e encontram-se em maior número nos Municípios de

Redentora, São Valério do Sul, Tenente Portela e Miraguaí. Em Redentora e São Valério do Sul, esse

percentual aproxima-se de 40%, e, em Tenente Portela, gira em torno de 15%.

O Produto Interno Bruto (PIB) da região, em 2012, foi calculado pela FEE (2014) em R$ 2,37

bilhões, ou seja, 0,9% do total do Estado. Considerando o total do PIB, a região ocupa a 25ª posição

entre os 28 Coredes. O Município de Três Passos concentra 20,2% da renda regional, sendo seguido,

em ordem de importância, por Santo Augusto (11,7%) e Crissiumal (9,1%). A renda média da região,

medida pelo PIB per capita, situa-se bem abaixo da média do Estado, com o valor de R$ 16.918,22. Os

maiores valores entre os municípios são observados em Miraguaí (R$ 21.834,49), São Martinho

(20.782,09) e Vista Gaúcha (R$ 20.516,90).

Os números de 2012 indicam que a estrutura econômica do Valor Adicionado Bruto (VAB) da

região apresenta maior participação do setor serviços (62,4%) e da agropecuária (23,9%). A indústria

contribuiu com apenas 13,7% do VAB do Corede Celeiro. Somente a agropecuária se destaca na

participação do VAB do Estado, atingindo 2,6% em 2012. Dentre as atividades produtivas agrícolas,

merece destaque o cultivo de cereais e da soja que, juntos, contribuem com cerca de um terço do VAB

da agropecuária do Corede. A criação de bovinos e outros animais é a principal atividade agropecuária

regional e responde por aproximadamente dois quintos do VAB da agropecuária, sendo seguida em

importância pela criação de suínos. Na região, o Valor Adicionado da atividade de criação de bovinos e

outros animais é, em grande parte, decorrente da produção de leite e derivados nas propriedades rurais

(mais de quatro quintos). Os municípios que mais contribuem para o Valor Adicionado regional da

produção de leite e derivados são Crissiumal, Santo Augusto, Três Passos e São Martinho (FEE, 2014).

As atividades agropecuárias são desenvolvidas, predominantemente, em pequenas unidades

produtivas, tendo em vista que aproximadamente 95% das mais de 19.000 propriedades rurais da região

possuem área inferior a 50 hectares. A produção de leite e derivados está presente nas propriedades

rurais de todos os municípios, sendo que em 13 deles essa produção representa mais de 30% do VAB da

agropecuária (IBGE, 2009).

Segundo os dados disponibilizados pela Secretaria da Fazenda do RS (RIO GRANDE DO SUL,

2014), em 2013, a fabricação de produtos alimentícios respondeu por 90% do valor das saídas fiscais da

indústria de transformação do Corede. Essa estatística indica a relação de estrita dependência entre a

produção agropecuária local e sua indústria. Destaca-se a importância das atividades do grupo de abate

e fabricação de produtos de carne, responsáveis por cerca de dois terços do valor da produção da

indústria local. A indústria de laticínios é o segundo grupo mais importante, sendo responsável por 12,0%

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do valor das saídas da indústria de transformação do Corede. Aproximadamente 1,5% da indústria de

laticínios do Rio Grande do Sul está situada na região Celeiro (Tabela 3).

Tabela 3

Estrutura de atividades da indústria de transformação do Corede Celeiro — 2013

(%)

DESCRIÇÃO ESTRUTURA PARTICIPA-

ÇÃO NO RS Corede Estado

INDÚSTRIAS DE TRANSFORMAÇÃO ............................................................................. 100,00 100,00 0,29

Fabricação de produtos alimentícios ............................................................................. 89,98 20,93 1,26

Abate e fabricação de produtos de carne ........................................................................ 66,36 5,47 3,56

Fabricação de óleos e gorduras vegetais e animais ....................................................... 5,34 3,97 0,40

Laticínios .......................................................................................................................... 12,04 2,42 1,46

Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais ..................... 6,24 7,18 0,26

Preparação de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e

calçados ............................................................................................................................ 3,50 5,12 0,20

Fabricação de calçados ................................................................................................... 3,50 3,57 0,29

Fabricação de máquinas e equipamentos ..................................................................... 1,05 7,99 0,04

Fabricação de máquinas e equipamentos de uso geral .................................................. 1,05 1,45 0,21

Fabricação de móveis ...................................................................................................... 1,00 1,97 0,15

Outros ................................................................................................................................ 4,47 63,98 - FONTE DOS DADOS BRUTOS: Rio Grande do Sul (2014). NOTA: 1. Os dados não contemplam empresas que declaram a Declaração Anual do Simples Nacional.

2. Elaborado por FEE/CIE.

Do ponto de vista da infraestrutura, diagnósticos como o Rumos 2015 (RIO GRANDE DO SUL,

2006) já indicavam deficiências na acessibilidade rodoviária, principalmente no que diz respeito à ligação

de Três Passos com os centros regionais vizinhos, como Horizontina, e outros centros maiores, como

Santa Rosa, Ijuí e Palmeira das Missões. Dos 21 municípios, seis não contavam com acesso asfáltico até

2011 — Barra do Guarita, Braga, Derrubadas, São Valério do Sul, Sede Nova e Vista Gaúcha. Isso,

somado à grande distância entre a região e os mercados da Região Metropolitana de Porto Alegre, do

Porto de Rio Grande e dos demais mercados nacionais, colabora para seu isolamento. A ligação com a

fronteira internacional da Argentina se dá mediante a travessia do Rio Uruguai, por balsa, na localidade

de Porto Soberbo, Município de Tiradentes do Sul, passando por uma aduana e chegando a El Soberbio.

Já o acesso ao centro regional de Chapecó, em Santa Catarina, é realizado por rodovia implantada não

pavimentada, com travessia do Rio Uruguai, por balsa, entre os Municípios de Barra do Guarita e

Itapiranga.

Na área de energia, observam-se limitações na rede de geração e transmissão de energia

elétrica, principalmente para uso no meio rural, o que acaba por limitar o desenvolvimento de atividades

relacionadas especialmente à bacia leiteira e à produção de suínos, as quais demandam o fornecimento

constante de energia. O meio rural também é deficiente em termos de telecomunicações e telefonia,

comprometendo o acesso a novas informações e conhecimentos que podem dinamizar a região.

A presença, no Corede, da maior reserva indígena do Estado, com 23.400 hectares, no Município

de Tenente Portela, do Parque Estadual do Turvo, em Derrubadas, e de importante área remanescente

da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica constituem um diferencial para a região. Esses são ativos que

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podem ser explorados no sentido de estimular a geração de emprego e renda através do

desenvolvimento do turismo ambiental e cultural, o que constitui uma alternativa ao modelo de produção

predominante, calcado na atividade agropecuária.

Outro diferencial da região é a tradição cooperativista. Segundo o Censo Agropecuário 2006, na

região, em média 56% dos estabelecimentos rurais contavam com produtor associado a cooperativas ou

a cooperativas e entidades de classe (sindicatos, associações e/ou movimentos de produtores e

moradores, etc.), enquanto, no Estado, o percentual ficava em torno de 36,1%. Conforme será observado

na sequência do trabalho, o Corede é sede de diversas cooperativas de produção agropecuária.

A dimensão do desenvolvimento econômico, avaliada através do Índice de Desenvolvimento

Socioeconômico (Idese)18

, mostra que o Corede Celeiro, em 2012, apresentou um índice da ordem de

0,72, o que o classifica como região de médio desenvolvimento, ocupando a 17ª posição entre as 28

regiões gaúchas (Tabela 4).

Tabela 4

Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese) dos municípios do Corede Celeiro — 2012

MUNICÍPIOS BLOCO

EDUCAÇÃO BLOCO RENDA BLOCO SAÚDE IDESE

Celeiro 0,73 0,61 0,81 0,72 Barra do Guarita ...... 0,73 0,47 0,84 0,68 Bom Progresso ....... 0,70 0,57 0,81 0,69 Braga ....................... 0,69 0,47 0,80 0,65 Campo Novo ........... 0,73 0,58 0,85 0,72 Chiapetta ................. 0,76 0,61 0,84 0,74 Coronel Bicaco ........ 0,67 0,53 0,80 0,66 Crissiumal ............... 0,77 0,59 0,82 0,73 Derrubadas ............. 0,74 0,29 0,79 0,61 Esperança do Sul .... 0,63 0,58 0,83 0,68 Humaitá ................... 0,74 0,68 0,83 0,75 Inhacorá .................. 0,63 0,48 0,87 0,66 Miraguaí .................. 0,72 0,72 0,81 0,75 Redentora ............... 0,56 0,39 0,79 0,58 Santo Augusto ......... 0,74 0,70 0,82 0,75 São Martinho ........... 0,77 0,68 0,83 0,76 São Valério do Sul .. 0,61 0,48 0,83 0,64 Sede Nova .............. 0,70 0,68 0,82 0,73 Tenente Portela ....... 0,74 0,59 0,81 0,71 Tiradentes do Sul .... 0,69 0,57 0,77 0,68 Três Passos ............ 0,80 0,70 0,81 0,77 Vista Gaúcha ........... 0,75 0,71 0,86 0,77 Rio Grande do Sul ..... 0,68 0,74 0,80 0,74

FONTE DOS DADOS BRUTOS: FEE (2014a).

No que se refere ao Idese geral, convém observar que o Rio Grande do Sul caracteriza-se por ter

somente municípios com valores nos estágios de médio e alto desenvolvimento. No caso do Corede

Celeiro, todos os municípios encontram-se em estágio de médio desenvolvimento. Os Municípios de

Vista Gaúcha, Três Passos e São Martinho são os que apresentam melhores indicadores do Idese, ao

18

O Idese, divulgado anualmente pela Fundação de Economia e Estatística (FEE), é um indicador sintético, elaborado nos moldes do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Sua elaboração resulta de um amplo conjunto de indicadores, agrupados em três grandes blocos: Educação, Renda e Saúde. Pela abrangência das variáveis socioeconômicas que compõem o Idese, sua utilização permite a classificação em três estágios de desenvolvimento: baixo desenvolvimento (de zero até 0,499); médio desenvolvimento (entre 0,500 e 0,799); e alto desenvolvimento (acima de 0,800 até 1,000).

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passo que os piores desempenhos são observados nos Municípios de Redentora, Derrubadas e São

Valério do Sul.

Uma breve análise da composição do Idese por blocos indica que estes apresentam

comportamentos diferenciados de acordo com a natureza das variáveis. Comparativamente às demais

regiões do Rio Grande do Sul, a região Celeiro apresenta melhor desempenho nos blocos Educação e

Saúde, situando-se na 6ª e na 14ª posição entre os 28 Coredes, respectivamente.

3.2 Região Fronteira Noroeste

A região do Corede Fronteira Noroeste compreende 20 municípios, que abrigam 1,9% da

população gaúcha, ou seja, 203.494 habitantes, de acordo com o Censo Demográfico 2010 (IBGE,

2015). A população rural da região chega a 32,4%, sendo que apenas sete municípios possuem

população rural inferior a 40% (Tabela 5). Assim como o verificado no Corede Celeiro, esse percentual é

superior à média estadual. O principal núcleo populacional e econômico da região é Santa Rosa. Ao

passo que a população dos principais municípios da região Celeiro encontra em Ijuí, município situado no

Corede Noroeste Colonial, uma referência em termos de oferta de bens e serviços especializados, Santa

Rosa cumpre papel similar na Fronteira Noroeste.

Tabela 5

População dos municípios do Corede Fronteira Noroeste, segundo situação do domicílio — 2000 e 2010

MUNICÍPIO 2000 2010 VAR %

2000-10 Urbana Rural Total Urbana Rural Total

Fronteira Noroeste .................. 128.449 81.917 210.366 137.632 65.862 203.494 -3,3 Santa Rosa .......................... 55.950 9.066 65.016 60.366 8.221 68.587 5,5 Três de Maio ........................ 17.725 6.411 24.136 18.962 4.764 23.726 -1,7 Horizontina .......................... 13.721 3.978 17.699 14.569 3.779 18.348 3,7 Santo Cristo ......................... 7.284 7.606 14.890 7.781 6.597 14.378 -3,4 Tuparendi ............................ 5.107 4.435 9.542 5.294 3.263 8.557 -10,3 Alecrim ................................. 2.069 6.418 8.487 2.165 4.880 7.045 -17,0 Independência ..................... 3.987 3.321 7.308 4.157 2.461 6.618 -9,4 Boa Vista do Buricá ............. 3.663 2.924 6.587 4.366 2.208 6.574 -0,2 Cândido Godói ..................... 1.630 5.462 7.092 1.846 4.689 6.535 -7,9 Campina das Missões ......... 2.275 4.739 7.014 2.188 3.929 6.117 -12,8 Tucunduva ........................... 3.847 2.458 6.305 4.035 1.863 5.898 -6,5 Porto Lucena ....................... 2.416 3.982 6.398 2.331 3.082 5.413 -15,4 Doutor Maurício Cardoso .... 2.619 3.710 6.329 2.619 2.694 5.313 -16,1 Alegria ................................. 1.607 3.760 5.367 1.585 2.716 4.301 -19,9 Novo Machado .................... 1.496 3.222 4.718 1.553 2.372 3.925 -16,8 Senador Salgado Filho......... 632 2.295 2.927 880 1.934 2.814 -3,9 Nova Candelária .................. 267 2.616 2.883 709 2.042 2.751 -4,6 Porto Mauá .......................... 924 1.878 2.802 954 1.588 2.542 -9,3 São José do Inhacorá .......... 728 1.674 2.402 832 1.368 2.200 -8,4 Porto Vera Cruz ................... 502 1.962 2.464 440 1.412 1.852 -24,8 Rio Grande do Sul ................ 8.317.984 1.869.814 10.187.798 9.100.291 1.593.638 10.693.929 5,0

FONTE DOS DADOS BRUTOS: FEE (2014b).

Entre os anos de 2000 e 2010, ocorreu um decréscimo populacional, na região, de 6.872

habitantes (-3,3%). Apenas em dois dos 20 municípios que integram a região ocorreu crescimento

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populacional: Santa Rosa e Horizontina. Esses municípios destacam-se pela produção industrial e baixa

participação da população rural. Aliás, a população rural decresceu em todos os municípios da Fronteira

Noroeste. O incremento da população urbana também ocorreu na região, porém em menor intensidade.

Quadro similar já havia sido observado na região Celeiro, evidenciando o deslocamento da população

rural para o meio urbano — intra e inter municípios do Corede — e a saída de habitantes para outras

regiões.

Em 2012, a renda per capita da região situava-se próxima à média do Estado, com um valor de

R$ 24.560,39 (FEE, 2014). A maior renda média era observada em Horizontina (R$ 43.853,30), município

seguido por Nova Candelária (R$ 32.333,94) e Santa Rosa (R$ 28.011,39). Esses municípios são os

mais industrializados da região. Horizontina e Santa Rosa destacam-se na produção nacional de

colheitadeiras de grãos, know-how gestado à época do início da mecanização da colheita de milho, trigo

e soja. Essa atividade é intensiva em tecnologia e demanda profissionais com capacidades técnicas

específicas, o que resulta na oferta de salários superiores à média da região. Por sua vez, Nova

Candelária é dependente das atividades da indústria gráfica e de móveis.

O PIB da região, em 2012, foi calculado pela FEE em R$ 4,97 bilhões, o que equivale a 1,8% da

renda do Estado. Nesse ano, a região ocupou a 12ª posição no ranking dos Coredes com maior produto.

Os três municípios com maior população também são os que mais contribuem para a geração do PIB

regional: Santa Rosa (38,9%), Horizontina (16,3%) e Três de Maio (10,4%).

Na estrutura do VAB da região, a maior participação é a do setor serviços (57,4%) e da indústria

(28,1%). A agropecuária responde por 14,5% do VAB do Corede Fronteira Noroeste, o que equivale a

3,2% do VAB do setor no Rio Grande do Sul. Dentre as atividades produtivas agrícolas, o cultivo de

grãos merece destaque na composição do VAB da agropecuária do Corede. Dentre as atividades

pecuárias, o destaque é a criação de bovinos e outros animais, responsável por mais de dois quintos do

VAB da agropecuária regional, sendo seguida em importância pela criação de suínos. A Fronteira

Noroeste é responsável por aproximadamente um décimo do Valor Adicionado da criação de suínos do

Rio Grande do Sul, destacando-se os Municípios de Santo Cristo, Santa Rosa e Nova Candelária como

os principais produtores regionais. Na Fronteira Noroeste, o Valor Adicionado da atividade de criação de

bovinos e outros animais também é predominantemente constituído pela produção de leite e derivados

(aproximadamente quatro quintos), o que corresponde a pouco menos de um décimo do valor estadual.

Os municípios que mais contribuem para o Valor Adicionado regional da produção de leite e derivados

são Santo Cristo, Três de Maio e Santa Rosa.

Assim como na região Celeiro, as atividades agropecuárias da Fronteira Noroeste são

desenvolvidas, predominantemente, em pequenas unidades produtivas. Segundo o Censo Agropecuário

de 2006, havia, na região, 24.069 propriedades rurais, 96,3% das quais dotadas de área inferior a 50

hectares. A produção de leite e derivados também está presente em todos os municípios, sendo que, em

12 deles, essa produção representa mais de 30% do VAB da agropecuária.

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Conforme já foi observado, a indústria de transformação da Fronteira Noroeste também é

dependente da agropecuária. Porém, ao contrário da região Celeiro, a fabricação de produtos

alimentícios não é a principal atividade. Em 2013, o grupo de atividades de fabricação de tratores e de

máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária respondeu por 61,3% do valor das saídas da

indústria local, seguido pelos grupos de atividades de moagem, fabricação de produtos amiláceos e de

alimentos para animais (14,3%) e de abate e fabricação de produtos de carne (7,9%). As atividades da

indústria de laticínios respondem por 5,8% do valor das saídas da Fronteira Noroeste que, por sua vez,

responde por 5,1% do valor da produção estadual dessas atividades (Tabela 6).

Tabela 6

Estrutura de atividades da indústria de transformação do Corede Fronteira Noroeste — 2013

(%)

DESCRIÇÃO ESTRUTURA PARTICIPA-

ÇÃO NO RS Corede Estado

Fabricação de produtos alimentícios ................................................................................ 31,78 20,93 3,21

Abate e fabricação de produtos de carne .......................................................................... 7,93 5,47 3,06

Laticínios ............................................................................................................................ 5,83 2,42 5,08

Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais ....................... 14,32 7,18 4,22

Fabricação de máquinas e equipamentos ........................................................................ 62,70 7,99 16,57

Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária ..... 61,28 4,31 30,03

Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos ............................. 2,39 1,09 4,63

Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos ................................................... 1,75 1,06 3,50 FONTE DOS DADOS BRUTOS: Rio Grande do Sul (2014). NOTA: 1. Elaborado por FEE/CIE.

2. Os dados não contemplam empresas que realizam a Declaração Anual do Simples Nacional.

Em termos de desenvolvimento econômico, a região está bem posicionada, sendo a oitava

melhor ranqueada no Estado de acordo com os números do Idese (FEE, 2014a). A Fronteira Noroeste,

em 2012, apresentou um índice da ordem de 0,77, situando-se no limite superior da faixa que classifica

as regiões de médio desenvolvimento.

Horizontina e Nova Candelária são os municípios com melhor desempenho no Idese, sendo os

únicos na região a se classificarem como de alto desenvolvimento. No extremo oposto, posicionam-se os

Municípios de Porto Vera Cruz, Alecrim e Porto Lucena (Tabela 7).

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Tabela 7

Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese) dos municípios do Corede Fronteira Noroeste — 2012

MUNICÍPIOS BLOCO

EDUCAÇÃO BLOCO RENDA

BLOCO SAÚDE

IDESE

Fronteira Noroeste ................... 0,75 0,71 0,84 0,77 Alecrim ................................. 0,59 0,52 0,84 0,65 Alegria ................................. 0,72 0,59 0,84 0,72 Boa Vista do Buricá ............. 0,77 0,70 0,87 0,78 Campina das Missões ......... 0,76 0,58 0,79 0,71 Cândido Godói .................... 0,76 0,67 0,85 0,76 Doutor Maurício Cardoso .... 0,74 0,65 0,83 0,74 Horizontina .......................... 0,79 0,83 0,81 0,81 Independência ..................... 0,66 0,61 0,84 0,70 Nova Candelária .................. 0,74 0,83 0,86 0,81 Novo Machado .................... 0,70 0,57 0,80 0,69 Porto Lucena ....................... 0,63 0,55 0,79 0,66 Porto Mauá .......................... 0,72 0,53 0,84 0,70 Porto Vera Cruz ................... 0,59 0,51 0,81 0,64 Santa Rosa .......................... 0,75 0,75 0,84 0,78 Santo Cristo ......................... 0,75 0,71 0,83 0,76 São José do Inhacorá ......... 0,77 0,65 0,90 0,77 Senador Salgado Filho ........ 0,63 0,65 0,82 0,70 Três de Maio ....................... 0,79 0,72 0,85 0,79 Tucunduva ........................... 0,82 0,71 0,84 0,79 Tuparendi ............................ 0,76 0,68 0,83 0,76 Rio Grande do Sul ................. 0,68 0,74 0,8 0,74 FONTE DOS DADOS BRUTOS: FEE (2014a).

4 AP Laticínios Fronteira Noroeste-Celeiro: caracterização e

importância

4.1 As atividades da aglomeração

A classe de atividade que deu origem à identificação e à escolha para estudo da AP Laticínios

Fronteira Noroeste-Celeiro foi a fabricação de laticínios — código 10.52-0 da Classificação Nacional de

Atividades Econômicas (CNAE) 2.019

. Conforme relatado anteriormente, além da atividade de fabricação

de laticínios, optou-se ainda por considerar, neste estudo, as atividades industriais a ela mais diretamente

associadas (preparação do leite e fabricação de sorvetes e outros gelados comestíveis), constituindo-se

um grupo de atividades que se convencionou chamar de indústria de laticínios.

Segundo a Comissão Nacional de Classificação (Concla, 2013), a fabricação de laticínios

compreende: (a) a fabricação de creme de leite, manteiga, coalhada, iogurte, etc.; (b) a fabricação de

bebidas à base de leite; (c) a fabricação de leite em pó, dietético, concentrado, maltado, aromatizado,

etc.; (d) a fabricação de queijos, inclusive inacabados; (e) a fabricação de farinhas e sobremesas lácteas;

(f) a fabricação de doce de leite; e (g) a obtenção de subprodutos do leite (caseína, lactose, soro e

outros).

19

Para maiores detalhes sobre os critérios de identificação e seleção das aglomerações, acessar as publicações Zanin, Costa e Feix (2013) e Feix (2013).

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Já a atividade de preparação do leite (código 10.51-1) compreende (a) a fabricação de leite

resfriado, filtrado, esterilizado, pasteurizado, UHT, homogeneizado ou beneficiado de outro modo e (b) o

envasamento de leite, associado ao beneficiamento. Obviamente, trata-se de atividade correlata à

fabricação de laticínios, podendo os produtos de ambas ser ofertados por uma mesma planta produtiva.

Por sua vez, a atividade de fabricação de sorvetes e outros gelados comestíveis (código 10.53-8)

foi incorporada na análise em razão de a produção de sorvetes concorrer pela mesma matéria-prima

utilizada na produção dos demais produtos de laticínios (o leite)20

.

A análise conjunta dessas três atividades industriais contribui para o entendimento da dinâmica

setorial e regional de produção de laticínios. Porém precisa ser complementada pela avaliação da

produção de leite nas propriedades rurais. Em verdade, a concentração da produção primária costuma

ser a principal determinante para o surgimento de aglomerações de empresas especializadas na

produção de laticínios. Existe, portanto, uma direta vinculação econômica e territorial entre a produção

primária e a industrialização do leite.

Embora o trabalho centre sua análise na produção do leite e na sua industrialização, a presença

dos demais elos da cadeia produtiva do leite na região da aglomeração também será avaliada (Figura 7).

Figura 7

Estrutura da cadeia produtiva do leite

NOTA: Adaptado de Oliveira e Michels (2003) e Figueiredo Neto et al. (2007).

Através do trabalho de campo, será possível, por exemplo, levantar a origem dos insumos

empregados na produção primária e os principais destinos da produção. A priori, por meio do

levantamento das empresas associadas ao Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos

Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers), é possível observar, na área de abrangência da aglomeração,

a presença de um conjunto de empresas fornecedoras de máquinas e equipamentos destinados ao

sistema agroindustrial leiteiro (Quadro 3).

20

Além da fabricação de sorvetes, também compreendem essa classe de atividade a fabricação de picolés, bolos e tortas gelados e a fabricação de bases líquidas ou pastosas para a elaboração de sorvetes.

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Quadro 3

Empresas situadas na região que atuam na oferta de máquinas e equipamentos para o sistema agroindustrial do leite

EMPRESA MUNICÍPIO COREDE PRODUTOS

Resfriadores Ligia Miraguaí Celeiro Resfriadores de leite

Metalinox Santo Cristo Fronteira Noroeste Tanques e reservatórios metálicos

Inox Design Santo Cristo Fronteira Noroeste Produtos diversos de aço inox

Tecnoinox Santa Rosa Fronteira Noroeste Resfriador de leite e tanques isotérmicos

Implemis Santa Rosa Fronteira Noroeste Ordenhadeiras, resfriadores

Picetti Tuparendi Fronteira Noroeste Sistemas de ordenha balde ao pé e canalizadas FONTE: Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (2015).

Além das empresas acima listadas, sabe-se, por exemplo, da atuação da empresa Jardinox,

situada em Três de Maio, voltada à fabricação de tanques isotérmicos para o transporte e

armazenamento do leite. No Município de Boa Vista do Buricá, localiza-se a empresa Agrogel, produtora

de tanques isotérmicos, resfriadores e ordenhadeiras. Na região Celeiro, em Crissiumal, a empresa

Refrinox produz ordenhadeiras.

Fora da área de abrangência da aglomeração, mas próximo a ela, também há um conjunto de

empresas fornecedoras de equipamentos especializados. Em Ijuí, no Corede Noroeste Colonial, está

localizada a empresa Gimenez Soluções para Sistemas de Ordenha, considerada uma das maiores

fabricantes de componentes para ordenha do Brasil. Também em Ijuí situa-se a empresa Grimm,

produtora de resfriadores de leite. Ainda no Corede Noroeste Colonial, no Município de Panambi,

encontra-se a empresa Fockink, que possui uma divisão de ordenhadeiras e resfriadores de leite.

4.2 A produção de leite nas propriedades rurais

Em 2013, nas propriedades rurais da AP Laticínios Fronteira Noroeste-Celeiro, foram produzidos

714.833 milhões de litros de leite (IBGE, 2014). Na década de 90, a produção de matéria-prima na região

cresceu aceleradamente (9,1% a. a.), acima da média do Estado (3,8% a. a.). No período seguinte, o

ritmo de crescimento diminuiu, alinhando-se ao avanço da produção estadual. Assim, desde o início da

abertura comercial e desregulamentação do setor, a região ganhou participação na produção estadual de

leite, passando de 9,8% para 15,9% entre 1990 e 2013. Neste último ano, o Corede Fronteira Noroeste

contribuiu com 56,7% da produção da aglomeração, e o Celeiro, com 43,3% (Tabela 8).

Tabela 8

Produção de leite nas regiões Fronteira Noroeste e Celeiro — 1990-2013

DISCRIMINAÇÃO 1990 2000 2010 2013 ∆% 1990-2000

(a. a.) ∆% 2000-13

(a. a.)

A. Fronteira Noroeste 87.578 213.110 347.020 405.330 9,3 5,1

B. Celeiro 55.257 128.810 235.770 309.503 8,8 7,0

C. Fronteira Noroeste-Celeiro 142.835 341.920 582.790 714.833 9,1 5,8

D. Rio Grande do Sul 1.451.797 2.102.018 3.633.834 4.508.518 3,8 6,0

Participação % (C/D) 9,8 16,3 16,0 15,9 - - FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE (2014). NOTA: A produção de leite é expressa em milhares de litros.

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39

Apesar de estar presente em todos os municípios da aglomeração, a produção de leite é

concentrada. Em 2013, mais da metade da produção deu-se em apenas 12 dos 41 municípios que

compõem a aglomeração. Santo Cristo lidera o ranking dos municípios da aglomeração produtores de

leite, tendo produzido 59,9 milhões de litros em 2013, o que equivaleu a 8,4% da produção da

aglomeração. O segundo maior produtor regional é Três de Maio (42,2 milhões de litros; 5,9% do total da

região), seguido por Crissiumal (40,0 milhões de litros; 5,6% do total). Vale destacar que, na lista dos 10

principais municípios produtores da aglomeração, apenas três situam-se na região Celeiro, onde a

produção é mais pulverizada (Tabela 9).

Tabela 9

Produção de leite, número de vacas ordenhadas e produtividade nos municípios dos Coredes Celeiro e Fronteira Noroeste — 2013

MUNICÍPIO PRODUÇÃO

(1.000l)

VACAS ORDENHADAS (em cabeças)

PRODUTIVIDADE (1.000l/vaca)

PARTICIPAÇÃO NA PRODUÇÃO

(%)

Celeiro ...................................... 309.503 95.030 3,3 43,3 Crissiumal ............................. 40.000 12.000 3,3 5,6 Santo Augusto ....................... 25.000 6.000 4,2 3,5 Três Passos .......................... 24.000 7.200 3,3 3,4 Tiradentes do Sul .................. 23.000 7.200 3,2 3,2 São Martinho ......................... 20.000 5.000 4,0 2,8 Humaitá ................................. 19.500 5.000 3,9 2,7 Redentora ............................. 18.396 7.730 2,4 2,6 Miraguaí ................................ 17.030 7.360 2,3 2,4 Tenente Portela ..................... 16.800 5.100 3,3 2,4 Esperança do Sul .................. 16.000 4.200 3,8 2,2 Chiapetta ............................... 14.000 3.700 3,8 2,0 Derrubadas .......................... 14.000 4.000 3,5 2,0 Sede Nova ............................ 14.000 3.500 4,0 2,0 Vista Gaúcha ......................... 13.000 3.700 3,5 1,8 Coronel Bicaco ...................... 9.977 5.640 1,8 1,4 Bom Progresso ..................... 5.500 1.500 3,7 0,8 Campo Novo ......................... 5.000 1.350 3,7 0,7 São Valério do Sul ............... 4.800 1.250 3,8 0,7 Braga ..................................... 4.000 1.200 3,3 0,6 Barra do Guarita .................... 3.000 1.250 2,4 0,4 Inhacorá ................................ 2.500 1.150 2,2 0,3 Fronteira Noroeste ................... 405.330 114.303 3,5 56,7 Santo Cristo .......................... 59.943 15.275 3,9 8,4 Três de Maio ......................... 42.245 10.486 4,0 5,9 Santa Rosa ........................... 31.393 7.928 4,0 4,4 Tuparendi .............................. 31.025 8.320 3,7 4,3 Cândido Godói ...................... 26.090 9.100 2,9 3,6 Campina das Missões ........... 24.600 9.100 2,7 3,4 Boa Vista do Buricá ............... 24.360 5.497 4,4 3,4 Nova Candelária ................... 21.885 5.526 4,0 3,1 Horizontina ............................ 19.800 4.883 4,1 2,8 Independência ....................... 15.936 4.718 3,4 2,2 Senador Salgado Filho .......... 14.370 4.076 3,5 2,0 Doutor Maurício Cardoso ...... 13.538 3.412 4,0 1,9 São José do Inhacorá ........... 13.151 3.727 3,5 1,8 Tucunduva ............................ 13.020 3.977 3,3 1,8 Alecrim .................................. 12.775 3.162 4,0 1,8 Alegria ................................... 12.396 3.397 3,6 1,7 Porto Lucena ......................... 10.665 5.640 1,9 1,5 Porto Mauá ............................ 7.745 2.097 3,7 1,1 Novo Machado ...................... 6.734 2.372 2,8 0,9 Porto Vera Cruz .................... 3.659 1.610 2,3 0,5 Fronteira Noroeste-Celeiro .... 714.833 209.333 3,4 100,0 FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE (2014).

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O número de vacas ordenhadas na região é superior a 200.000, o que equivale a 13,5% do

rebanho gaúcho. Como seria de se esperar, a produtividade média nos principais municípios produtores

de leite da aglomeração supera a média estadual (2,9 mil litros/vaca/ano) e supera ou iguala a média

local (3,4 mil litros/vaca/ano)21

.

Os dados do Censo Agropecuário 2006 (IBGE, 2009), apesar de defasados, permitem

aprofundar a análise da origem da produção de leite e suas principais características na Fronteira

Noroeste-Celeiro. Dentre os 25.275 estabelecimentos agropecuários que se dedicavam à atividade

leiteira na região, aproximadamente 95% reuniam características compatíveis com a definição legal de

agricultura familiar22

. Naquele ano, a agricultura familiar contribuía com 91,9% da produção de leite de

vaca da região (IBGE, 2009a).

Ainda segundo o Censo Agropecuário 2006, na área de abrangência da aglomeração, o número

médio de vacas ordenhadas por estabelecimento (6,1 cabeças), a produtividade por estabelecimento

(15,6 mil litros/estabelecimento/ano) e a produtividade por animal (2,6 mil litros/vaca/ano) eram

superiores à média estadual. Vale referir que há desigualdades significativas entre os municípios da

região e mesmo entre os Coredes Fronteira Noroeste e Celeiro. Na Fronteira Noroeste, são verificados

melhores indicadores tanto no que se refere ao número de vacas por estabelecimento quanto à

produtividade. Os dados da Pesquisa da Pecuária Municipal do IBGE confirmam que o diferencial de

produtividade por animal da região da aglomeração continua elevado, tendo-se acentuado em relação ao

Brasil e tendido à estabilidade em relação ao Rio Grande do Sul (Figura 8).

21

Exceção feita aos Municípios de Crissiumal e Três Passos, que apresentam produtividade média ligeiramente inferior à da região da aglomeração. 22

No Brasil, segundo definição estabelecida em lei federal (nº 11.326/2006 e alterações), o agricultor familiar ou empreendedor rural familiar é aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos: não detenha, a qualquer título, área maior do que quatro módulos fiscais; utilize predominantemente mão de obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento; tenha renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento e que dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família. Na região dos Coredes Celeiro e Fronteira Noroeste, a área do módulo fiscal varia entre 16 e 20 hectares.

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Figura 8

Evolução da produtividade média da produção de leite no Brasil, no RS e nos Coredes Fronteira Noroeste e Celeiro — 1990-2013

FONTE DOS DADOS BRUTOS: IBGE (2014). NOTA: Em milhares de litros por vaca ordenhada.

4.3 A indústria de laticínios

Segundo os dados da RAIS-MTE referentes a 2013 (BRASIL, 2014), no Rio Grande do Sul o

conjunto das três atividades da indústria de laticínios é responsável por 9.484 empregos diretos, o que

representa 1,3% do emprego industrial do Estado — tomando-se por base as indústrias extrativas e de

transformação — e 7,7% do emprego da indústria de laticínios no Brasil.

A indústria de laticínios é responsável, respectivamente, por 12,0% e 5,8% do valor das saídas

fiscais da indústria de transformação dos Coredes Celeiro e Fronteira Noroeste, o que reforça a

percepção da sua relevância econômica regional (RIO GRANDE DO SUL, 2014). Em termos setoriais, a

concentração dessa indústria no território gaúcho também é evidenciada pela participação conjunta

desses Coredes no valor das saídas da atividade de fabricação de laticínios (6,5%).

O surgimento da AP Laticínios Fronteira Noroeste-Celeiro está diretamente vinculado ao avanço

da produção leiteira local. Em 2013, estavam instalados na região 39 estabelecimentos cuja atividade

principal faz parte da indústria de laticínios. Esses estabelecimentos empregavam formalmente 744

trabalhadores (Tabela 10).

1,49

2,90

3,55

3,26

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012

Brasil Rio Grande do Sul Fronteira Noroeste Celeiro

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Tabela 10

Número de empregos e de estabelecimentos na indústria de laticínios dos Coredes Fronteira Noroeste-Celeiro — 2013

COREDES E MUNICÍPIOS

PREPARAÇÃO DO LEITE

FABRICAÇÃO DE LATICÍNIOS

FABRICAÇÃO DE SORVETES (...)

TOTAL

Empregos Estab. Empregos Estab. Empregos Estab. Empregos Estab.

Corede Celeiro ...................... 0 1 45 8 27 9 72 18

Chiappeta ........................... 0 0 5 1 0 0 5 1

Crissiumal .......................... 0 0 17 2 0 0 17 2

Esperança do Sul ............... 0 0 3 1 0 0 3 1

Santo Augusto ................... 0 0 0 0 8 1 8 1

São Martinho ...................... 0 1 20 3 3 1 23 5

Tenente Portela ................. 0 0 0 1 7 2 7 3

Três Passos ....................... 0 0 0 0 9 5 9 5

Corede Fronteira Noroeste ... 10 1 635 12 27 8 672 21

Boa Vista do Buricá ........... 10 1 0 0 0 0 10 1

Campina das Missões ........ 0 0 0 0 1 1 1 1

Doutor Maurício Cardoso ... 0 0 39 1 0 0 39 1

Santa Rosa ........................ 0 0 112 2 21 3 133 5

Santo Cristo ....................... 0 0 118 3 4 2 122 5

Senador Salgado Filho ...... 0 0 2 1 0 0 2 1

Três de Maio ...................... 0 0 363 4 1 2 364 6

Tucunduva ......................... 0 0 1 1 0 0 1 1

Fronteira Noroeste-Celeiro 10 2 680 20 54 17 744 39

Rio Grande do Sul ............... 1.370 62 6.498 137 1.616 247 9.484 446

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Brasil (2014).

No Corede Fronteira Noroeste, está situada a maior parte dos empregos formais da indústria de

laticínios da aglomeração (90,3%). Três de Maio, Santa Rosa e Santo Cristo concentram mais de 80%

dos empregos, o que deriva da presença dos estabelecimentos de maior porte nesses municípios.

O fato de a aglomeração contribuir mais para a produção leiteira estadual (15,9%) do que para o

emprego da indústria de laticínios gaúcha (7,8%) indica que uma parte substancial da matéria-prima local

é industrializada fora da região. Tanto na Fronteira Noroeste como na região Celeiro, identifica-se a

presença de empresas e cooperativas especializadas no recebimento da matéria-prima dos produtores

para posterior comercialização com empresas que mantêm unidades produtivas fora da aglomeração.

Exercem essa atividade, por exemplo, a Coopermil (Santa Rosa), a Laticínios Tirol (Boa Vista do Buricá)

e um conjunto expressivo de cooperativas de agricultores familiares da região Celeiro. Aliás, é na região

Celeiro que parece haver uma menor taxa de industrialização do leite. As unidades produtivas da BRF

(Ijuí, Santa Rosa e Três de Maio), Nestlé (Palmeira das Missões), CCGL (Cruz Alta) e Promilk (Estrela),

por exemplo, abastecem-se da matéria-prima produzida na região.

A maior parte dos empregos da AP Laticínios Fronteira Noroeste-Celeiro está concentrada na

atividade de fabricação de laticínios (91,4%). No período recente, o emprego formal da indústria de

laticínios na região cresceu sustentadamente até 2011, momento em que se estabilizou (Figura 9). Entre

2006 e 2013, o emprego cresceu nas atividades de fabricação de laticínios (+357 empregos) e fabricação

de sorvetes e outros gelados comestíveis (+20 empregos). O emprego da atividade de preparação do

leite é o menos representativo e declinou sensivelmente nesse período (-12 empregos). O crescimento do

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emprego na atividade de fabricação de laticínios, que quase dobrou, reflete os investimentos recentes na

região, sobretudo os ocorridos em Três de Maio. Esse município desponta como centro dinâmico da

indústria de laticínios da região Fronteira Noroeste-Celeiro, tendo sido escolhido para abrigar os

investimentos das maiores empresas.23

Figura 9

Evolução do número de empregos nas atividades da indústria de laticínios da região Fronteira Noroeste-Celeiro — 2006-13

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Brasil (2014).

Assim como em outras regiões do Estado, percebe-se na AP Laticínios Fronteira Noroeste-

-Celeiro um duplo movimento em termos de investimentos: (a) em resposta ao avanço da produção de

leite da região e de seu entorno, empresas aportaram recursos para criar ou aumentar a capacidade de

captação e beneficiamento da matéria-prima; (b) visando aumentar sua participação em linhas de

produtos de maior valor agregado, com maiores margens de rentabilidade, as empresas investiram na

produção de derivados lácteos.

Entre 2006 e 2013, o número de estabelecimentos na indústria de laticínios da região manteve-

-se praticamente o mesmo, variando de 38 para 39 unidades. No Corede Celeiro, estão situados 18

estabelecimentos, metade dos quais classificados nas atividades de preparação do leite ou fabricação de

laticínios. Nessa região, segundo o critério do emprego, o porte de todos os estabelecimentos é o de

microempresa (Tabela 11).

23

Entre 2006 e 2013, o emprego da indústria de laticínios do município cresceu 180% (+234 empregos).

744

10

680

54

0

100

200

300

400

500

600

700

800

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Total Preparação do leite

Fabricação de laticínios Fabricação de sorvetes e outros gelados comestíveis

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Tabela 11

Número e porte dos estabelecimentos da indústria de laticínios dos Coredes Fronteira Noroeste e Celeiro — 2006 e 2013

COREDES E MUNICÍPIOS 2006 2013

Micro Pequena Média Grande Total Micro Pequena Média Grande Total

Corede Celeiro .............................. 16 1 0 0 17 18 0 0 0 18 Bom Progresso .......................... 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 Chiappeta ................................... 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 Crissiumal .................................. 2 1 0 0 3 2 0 0 0 2 Derrubadas ................................ 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 Esperança do Sul ....................... 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 Santo Augusto ........................... 3 0 0 0 3 1 0 0 0 1 São Martinho .............................. 2 0 0 0 2 5 0 0 0 5 Sede Nova ................................. 2 0 0 0 2 0 0 0 0 0 Tenente Portela ......................... 3 0 0 0 3 3 0 0 0 3 Três Passos ............................... 2 0 0 0 2 5 0 0 0 5 Corede Fronteira Noroeste ........... 19 0 2 0 21 14 4 3 0 21 Alecrim ....................................... 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 Boa Vista do Buricá ................... 1 0 0 0 1 1 0 0 0 1 Campina das Missões ................ 2 0 0 0 2 1 0 0 0 1 Doutor Maurício Cardoso ........... 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 Horizontina ................................. 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 Santa Rosa ................................ 5 0 1 0 6 4 0 1 0 5 Santo Cristo ............................... 3 0 0 0 3 3 2 0 0 5 Senador Salgado Filho .............. 1 0 0 0 1 1 0 0 0 1 Três de Maio .............................. 4 0 1 0 5 3 1 2 0 6 Tucunduva ................................. 1 0 0 0 1 1 0 0 0 1 Fronteira Noroeste-Celeiro ........ 35 1 2 0 38 32 4 3 0 39

FONTE DOS DADOS BRUTOS: RAIS-MTE (BRASIL, 2014).

No Corede Fronteira Noroeste, encontram-se 21 estabelecimentos, concentrados nos Municípios

de Três de Maio (6), Santo Cristo (5) e Santa Rosa (5). Há, na região, três estabelecimentos de médio

porte e quatro de pequeno porte, todos classificados na atividade de fabricação de laticínios. Por sua

localização, é possível deduzir que os estabelecimentos de médio porte correspondam às unidades

agroindustriais da BRF, situadas em Três de Maio e Santa Rosa. Os estabelecimentos classificados

como sendo de pequeno porte possivelmente correspondem às empresas Noroeste Laticínios (Doutor

Maurício Cardoso), Laticínio Petry (Três de Maio) e Laticínio Santo Cristo e Doceoli (Santo Cristo). No

Município de Três de Maio, foi inaugurada recentemente a fábrica da Nutrifont, resultado de uma parceria

(joint venture) entre a empresa irlandesa Carbery e a BRF. Essa fábrica é a primeira do Brasil a produzir

proteína concentrada de soro de leite (whey protein) e lactose e deverá gerar pelo menos 50 novos

empregos diretos, enquadrando-se, portanto, no critério de empresa de pequeno porte.

As principais empresas da indústria de laticínios com unidades produtivas instaladas na região da

aglomeração são listadas no Quadro 4. Quanto às atividades desenvolvidas, as empresas podem ser

classificadas em dois grupos: o primeiro, constituído pelas que se dedicam à transformação da matéria-

-prima em produtos de maior valor agregado, não se restringindo ao beneficiamento do leite para

consumo humano; e o segundo, constituído por empresas que atuam no recebimento do leite para envio

a unidades produtivas situadas fora da área de abrangência da aglomeração.

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Quadro 4

Empresas laticinistas dos Coredes Fronteira Noroeste e Celeiro

EMPRESA MUNICÍPIO COREDE PRODUTOS MARCAS

1. Fabricação de Laticínios

Lactalis

Três de Maio Fronteira Noroeste Queijos

Batavo e Elegê Três de Maio Fronteira Noroeste Leite em pó

Santa Rosa Fronteira Noroeste Doce de leite, requeijão e leite pasteurizado

ARC Medical Logística (1)

Crissiumal Celeiro Queijos Parmalat, Bom Gosto

Laticínios Noroeste Doutor Maurício Cardoso

Fronteira Noroeste Queijos Kunzler

Nutrifont Três de Maio Fronteira Noroeste Proteína concentrada e lactose, a partir do soro do leite

Laticínios Progresso Três de Maio Fronteira Noroeste Queijos

Laticínios Petry Três de Maio Fronteira Noroeste Queijos, bebida láctea Petry

Doceoli Santo Cristo Fronteira Noroeste Queijos, creme de leite, doce de leite, iogurte e bebida láctea

Doceoli

Cappelari Alimentos Santa Rosa Fronteira Noroeste Bebida láctea, creme de leite, doce de leite, leite fluido, ricota

Cappelari

Laticínio Santo Cristo Santo Cristo Fronteira Noroeste Queijo, ricota, creme de leite e bebida láctea Tchê Milk

Laticínio Taurino Tenente Portela Celeiro Queijos

Laticínio Santa Mônica Esperança do Sul Celeiro Queijos Santa Mônica

2. Resfriamento do leite

Laticínios Tirol Boa Vista do Buricá Fronteira Noroeste Leite fluido resfriado

Coopermil Santa Rosa Fronteira Noroeste Leite fluido resfriado

Promilk Tiradentes do Sul Celeiro Leite fluido resfriado

Cooperativa Agroindustrial do Paraná - Confepar

São Martinho Celeiro Leite fluido resfriado

Cooperyucumã Derrubadas Celeiro Leite fluido resfriado

FONTE: Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul (2015). Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (2014). Associação das Pequenas Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (2015).

NOTA: Também foram consultados os sites das empresas na Internet. (1) A unidade industrial que pertencia à LBR, situada em Crissiumal, encontra-se arrendada pela Italac.

Em se tratando da estratégia de operação, também é possível observar diferenças entre as

empresas. A BRF e a LBR são empresas de atuação nacional e ofertam um amplo mix de produtos

derivados do leite. Suas plantas industriais na região cumprem um papel específico e determinado nas

suas divisões de negócios de laticínios, aproveitando-se da disponibilidade regional de matéria-prima. A

Nutrifont ingressou no mercado para atender a um nicho específico no Brasil, até então abastecido por

produtos importados. A empresa Laticínios Noroeste pertence ao Grupo Kunzler, com sede em Porto

Alegre, especializado na industrialização e comercialização de queijo parmesão ralado. As unidades da

Laticínios Tirol, da Promilk e da Confepar atuam exclusivamente na originação do leite para as suas

fábricas situadas, respectivamente, em Santa Catarina, Vale do Taquari (RS) e Paraná. As demais

empresas são de origem local e suas unidades industriais estão predominantemente situadas na região.

Além da especialização produtiva, algumas das empresas listadas acima compartilham a

experiência de terem passado recentemente — ou ainda estarem passando — por momentos de

instabilidade. Esse quadro decorre de fatores estruturais do setor no País (exógenos às empresas), de

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estratégias de negócios equivocadas ou ainda de comportamentos oportunistas de atores locais que

resultaram ser nocivos para a cadeia de produção (endógenos à aglomeração).

As baixas margens de lucro são um traço conhecido desse setor e explicam parte do movimento

de concentração industrial — principalmente via fusões e aquisições — em busca de ganhos de escala.

Conforme observado anteriormente, quase no mesmo período em que a BRF deixou o mercado, a LBR

alienou diversos empreendimentos. Para as demais empresas da região, que recentemente enfrentaram

dificuldades no mercado, as principais fontes de instabilidade são de natureza institucional ou de gestão,

por vezes associadas a um presumido comportamento oportunista das mesmas e/ou de seus

fornecedores de matéria-prima.

Em outubro de 2014, em razão de dificuldades financeiras, a Promilk paralisou seus postos de

resfriamento em Estrela, no Vale do Taquari. A empresa atuava como elo intermediário na cadeia, entre

as empresas fabricantes de laticínios e os produtores rurais, e, na região em estudo, contava com um

posto de recebimento em Tiradentes do Sul. Segundo comunicado da empresa, ao longo daquele ano

seu principal cliente (LBR) passou a atrasar pagamentos. Não bastasse essa dificuldade, outros fatores

negativos, como a Operação Leite Compensado, restringiram o crédito bancário para empresas do setor

lácteo no Rio Grande do Sul. Como consequência, o fluxo de caixa da Promilk ficou a descoberto, não

conseguindo honrar compromissos com seus fornecedores. Em protesto pela falta de pagamento,

produtores bloquearam por um dia o acesso ao posto de recolhimento de leite situado em Tiradentes do

Sul.

A Operação Leite Compensado, deflagrada em maio de 2013, revelou a existência de um

esquema que adulterava o leite produzido no Rio Grande do Sul. Na ocasião, o Ministério Público

Estadual denunciou que transportadores de leite estavam adicionando água e ureia ao leite cru para

aumentar o volume e disfarçar a perda nutricional. O transportador autônomo de leite, também conhecido

como “freteiro”, foi identificado como o principal responsável pelo esquema. Seu surgimento remonta ao

final da década de 90, quando grandes empresas do setor passaram a adquirir a matéria-prima junto dos

produtores rurais para garantir o volume necessário para viabilizar suas operações. Em alguns casos, a

estratégia das empresas foi a terceirização da logística, o que abriu espaço para o transportador

autônomo explorar o mercado, comprando a matéria-prima e revendendo à indústria. Segundo matéria

publicada no jornal Zero Hora (COLUSSI, 2013), os freteiros transportam 10% do leite produzido no Rio

Grande do Sul. O restante é realizado por cooperativas e indústrias, que transportam o produto em

caminhões próprios ou terceirizados. Nestes últimos, os transportadores recebem apenas pelo frete e não

pela venda do produto.

Ao longo das oito fases da Operação Leite Compensado, que atingiu praticamente todas as

regiões produtoras do Estado, percebeu-se que a fraude conta com a participação de agentes de várias

etapas da cadeia produtiva — produtores, transportadores, laboratoristas e postos de resfriamento. As

investigações evidenciaram a necessidade de maior fiscalização e transparência no controle de

qualidade do produto. A existência da figura do transportador autônomo passou a ser questionada, tendo

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sido objeto de debate na Assembleia Legislativa. Mesmo as empresas que não foram objeto de

investigação foram afetadas, pois o leite gaúcho passou a ser menos valorizado no mercado, havendo

dificuldade de escoamento para outros mercados.

A imagem do leite gaúcho foi abalada pelas consequências da Operação Leite Compensado,

resultando em queda no consumo local e na venda para outros estados.24

Em 2014, a redução na

relação consumo/oferta e a fragilidade financeira de um número expressivo de empresas — dentre as

quais se destaca a LBR — contribuíram para o rebaixamento da remuneração aos produtores gaúchos

de leite, que se defrontaram ainda com elevações nos custos de produção. Segundo as estatísticas do

Conseleite-RS, entre junho e dezembro de 2014, o preço de referência pago pelo leite-padrão situou-se

abaixo do praticado em 2013.25

A trajetória de queda manteve-se até fevereiro, momento em que o

preço de referência atingiu R$ 0,74 e voltou a subir (Figura 10).

Figura 10

Preço de referência do leite-padrão ao produtor — 2013/15

0,60

0,65

0,70

0,75

0,80

0,85

0,90

0,95

Janeiro

Fev

ere

iro

Març

o

Abril

Maio

Junho

Julh

o

Agost

o

Sete

mbro

Outu

bro

Nove

mbro

Deze

mbro

2015 2014 2013

FONTE DOS DADOS BRUTOS: Conseleite-RS (2015). NOTA: 1. Valor para o leite posto na plataforma do laticínio com Funrural incluso (preço bruto — o frete é custo do produtor).

2. Os preços efetivos para 2015 vão até março. A informação de abril é estimativa. 3. Os preços estão em reais por litro.

Na região Fronteira Noroeste-Celeiro, a fraude foi identificada em diversos municípios:

Horizontina, Boa Vista do Buricá, Três de Maio, Santo Augusto, Crissiumal, Campina das Missões e São

Martinho. A principal prática denunciada foi a adição de água e ureia ao leite, e os principais envolvidos

24

Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul, Alexandre Guerra, aproximadamente 60% da produção gaúcha de laticínios é comercializada fora do Estado (SINDILAT..., 2015). Em 2014, o consumo nacional cresceu 2%, enquanto a produção avançou 5%. No Rio Grande do Sul, a produção cresceu ainda mais (7%), o que contribuiu para a queda nos preços. Vale destacar ainda que os preços internacionais dos principais produtos lácteos também seguiram trajetória de queda nesse período. 25

O Conseleite-RS reúne representantes da indústria láctea e produtores rurais para estabelecer mensalmente o preço de referência do leite-padrão, abaixo do padrão e acima do padrão ao produtor. Esse sistema de valoração do produto, baseado em estudo técnico da Universidade Federal de Passo Fundo (UPF), premia, com melhor remuneração, a qualidade oferecida pelos produtores, que recebem da indústria de 10% a 20% a mais do valor. O leite-padrão tem por base a Instrução Normativa Nº 51 do MAPA. O preço de referência está condicionado ao valor que a indústria obtém na negociação com o varejo para os seus produtos.

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são agentes da cadeia que atuam principalmente no transporte ou resfriamento do produto. Na região,

diversamente do ocorrido no Vale do Taquari, inicialmente não foi constatada a participação direta de

indústrias gaúchas nas fraudes. Porém, em sua sexta fase, ocorrida em junho de 2014, a operação

denunciou a adição de água e substâncias químicas para mascarar a deterioração do leite produzido na

região e comercializado com a Cooperativa Agroindustrial do Paraná (Confepar). Funcionários da

Confepar que atuavam no posto de resfriamento da cooperativa em São Martinho foram denunciados

pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul. Mais recentemente, em junho de 2015, o Ministério Público

gaúcho denunciou a adulteração do queijo produzido pela empresa Laticínios Progresso (Três de Maio),

ação que ficou conhecida como Operação Queijo Compensado 1. Segundo a denúncia, farinha de milho

e leite rejeitado pelas indústrias eram utilizados na fabricação do produto. Além disso, a empresa estaria

distribuindo irregularmente parte da produção em municípios do Vale do Rio dos Sinos.

Além das empresas de laticínios anteriormente referidas no Quadro 4, há registro de pelo menos

mais 11 agroindústrias familiares que processam leite na área de abrangência da AP Laticínios Fronteira

Noroeste-Celeiro (Quadro 5). Em 2014, algumas dessas agroindústrias estavam cadastradas no

Programa Estadual de Agroindústria Familiar (PEAF), coordenado e operacionalizado pela Secretaria de

Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo do Rio Grande do Sul (SDR-RS). As demais, situadas

no Corede Celeiro, fazem parte do chamado “APL Agroindústria Familiar - Região Celeiro”26

.

Quadro 5

Agroindústrias familiares especializadas na produção de laticínios dos Coredes Fronteira Noroeste e Celeiro

AGROINDÚSTRIA FAMILIAR MUNICÍPIO PRINCIPAIS PRODUTOS

Corede Celeiro

Cooperarchi Chiapetta Laticínios

Agroindústria Grun Willy Crissiumal Laticínios

Comprol - Coop. Mista Progresso São Martinho Laticínios

Queijos NH São Martinho Queijos

Queijaria Sabor da Roça Tiradentes do Sul Queijos

Corede Fronteira Noroeste

Coopral - Coop. de Produtores de Alecrim Alecrim Leite fluido resfriado, queijo, iogurte

Casa do Queijo Doutor Maurício Cardoso Queijo e iogurte

Agroindústria Denysiuk Doutor Maurício Cardoso Queijo, requeijão, doce de leite

Sabor do Campo Independência Leite fluido resfriado, queijo

Laticínios União Porto Lucena Leite fluido resfriado, bebida láctea

Agroindústria Morari Porto Lucena Queijo

FONTE: Rio Grande do Sul (2013).

Na região Celeiro, existe um conjunto expressivo de cooperativas, o que denota um certo grau de

organização e empreendedorismo por parte dos agricultores. Segundo Cenci et al. (2014), a constituição

de grupos, associações e cooperativas pelos pequenos produtores, destinados a comercialização ou

industrialização conjunta de seus produtos, foi a alternativa encontrada para viabilizar a produção de

leite. A Associação Gaúcha de Empreendimentos Lácteos (AGEL), também foi criada, em 2008, com o

26

No ano de 2013, essa foi uma das propostas selecionadas para participar do Programa de Fortalecimento das Cadeias e Arranjos Produtivos Locais, coordenado pela AGDI. A área de abrangência do potencial arranjo é formada pelos 21 municípios do Corede Celeiro. Fez parte da proposta um conjunto expressivo de entidades e agroindústrias, produtoras de diversos produtos derivados da agricultura familiar. A entidade gestora do APL é a Associação Gaúcha dos Empreendimentos Lácteos.

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propósito de congregar, orientar e assistir as cooperativas associadas; instruir e estimular a cooperação

entre as empresas no tocante à organização empresarial, prospecção de novos mercados e clientes; ter

ganhos de escala na aquisição de produtos, mercadorias e serviços na produção e comercialização de

bens e serviços e na publicidade conjunta.

[A] Agel se constitui na entidade central encarregada da Governança do APL Celeiro, assumindo os

desafios da articulação de cooperativas e produtores rurais diferenciados, uma vez que a prática da

agropecuária nos distintos municípios se apresenta de forma diversa e com particularidades

internas de organização da produção. (CENCI et al., 2014, p. 110).

Os pequenos produtores da região Celeiro, reunidos em cooperativas, conseguem dispor de um

volume significativo de produção, o que enseja a disputa das empresas compradoras do leite. Muenchen

e Basso (2014) constataram que um conjunto de 12 cooperativas participantes do APL Agroindústria

Familiar — Região Celeiro responde pela comercialização de aproximadamente 20% da produção da

região. Segundo os autores, essas pequenas organizações atuam na parte marginal do mercado

regional do leite e demais produtos. Na região Celeiro, há 1.739 sócios dessas cooperativas e 6.956

pessoas (membros das famílias) que, de alguma forma, se envolvem com a produção de leite.

A produção de leite, no âmbito dos associados, apresenta problemas de rendimento físico, que é

baixo para os padrões da indústria. De forma coletiva, no entanto, conseguem negociar preços

que, se não são maiores que os praticados pelo mercado, pelo menos garantem preços iguais.

Esta estratégia permite, segundo dados das cooperativas, um aumento médio na renda dos

associados de 35%. (MUENCHEN; BASSO, 2014, p. 185).

A localização das cooperativas que fazem parte do APL Agroindústria Familiar — Região Celeiro

pode ser observada na Figura 11.

No setor de lácteos, a atividade agroindustrial das cooperativas da região Celeiro é realizada em

agroindústrias próprias (Comprol) ou de parceiros e associados (Vily Grün, Queijaria Portelense, Promilk,

etc.). Porém aproximadamente 90% do volume de leite fluido captado é vendido para a indústria após o

resfriamento (AGEL, 2012). Os produtores maiores ou situados próximos às linhas de coleta do leite

negociam diretamente com as cooperativas tritícolas e empresas da região ou do seu entorno.

Na região Fronteira Noroeste, também existem cooperativas locais que atuam exclusivamente na

captação do produto para comercialização com unidades laticinistas situadas fora dos limites da

aglomeração. Conforme relatado no histórico da aglomeração, as cooperativas Comtul, Coopermil,

Cotrijui, Cotricampo, Cotrimaio e Cotrirosa são associadas à CCGL e destinam parte da produção de

leite dos seus associados à unidade industrial situada em Cruz Alta.

Por fim, destaca-se que a produção local de laticínios é quase exclusivamente destinada ao

mercado interno brasileiro. Segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio

Exterior (BRASIL, 2015), entre 2009 e 2014, praticamente não houve registro de exportações de laticínios

com origem fiscal nos municípios da aglomeração. As exportações gaúchas do período também são

inconstantes e de pouca significação econômica27

, o que reflete um quadro mais amplo de subordinação

da produção à demanda interna. Segundo publicação do Departamento de Pesquisas e Estudos

27

Em 2014, foi registrado o maior valor nas exportações de laticínios do Rio Grande do Sul: US$ 38,5 milhões (BRASIL, 2015).

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Econômicos do Bradesco (BRADESCO, 2015), apenas 0,5% do leite fluido produzido no Brasil, em 2013,

foi utilizado como matéria-prima para produção de lácteos que foram direcionados ao exterior.

Figura 11

Distribuição geográfica das cooperativas da agricultura familiar da região Celeiro

FONTE: AGEL (2012).

Nos últimos meses, esforços foram empreendidos para habilitar plantas industriais gaúchas à

exportação de produtos lácteos para a Rússia, cujo mercado teria potencial para absorver parte da

produção doméstica. O MAPA e entidades representativas da cadeia do leite no Brasil também estão se

articulando a fim de lançar um projeto nacional de melhoria da competitividade do setor lácteo brasileiro.

Além de incentivar o consumo interno desses produtos, pretende-se qualificar a produção e ampliar as

vendas no mercado internacional. Segundo Sperotto (2012), uma das principais dificuldades do setor

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lácteo brasileiro é a padronização da qualidade do leite produzido com base nos níveis internacionais de

qualidade e segurança alimentar e de acordo com as exigências dos mercados consumidores. São cada

vez maiores as barreiras sanitárias impostas pelos países importadores de lácteos, que exigem controles

desde a seleção do rebanho, métodos de criação e manutenção, como vacinação e controle da saúde

dos animais, além de exigências quanto ao controle de todo o sistema de produção do leite, desde a

utilização de ambiente e manejo adequado de ordenha, armazenamento, estocagem, transporte e

manuseio do leite, até a execução de testes para verificação da qualidade do produto ao longo das

etapas desse processo. Em certa medida, a continuidade da expansão da produção doméstica de leite

no Brasil está condicionada ao atendimento dos padrões internacionais de produção, o que poderá

significar uma nova fonte de dinamismo para a atividade.

Considerações finais

O presente estudo procedeu à caracterização preliminar da AP Laticínios Fronteira Noroeste-

-Celeiro, sob os pontos de vista socioeconômico e produtivo. As informações levantadas serão utilizadas

para subsidiar o estudo de campo a ser realizado junto aos principais atores locais (empresas,

instituições, etc.), com vistas à caracterização e à análise da aglomeração segundo o recorte analítico

baseado no conceito de APL.

Em termos específicos, o estudo de campo previsto tem como objetivos: (a) identificar os

entraves à competitividade das empresas que compõem a aglomeração; (b) avaliar as vantagens

locacionais existentes e o potencial de desenvolvimento engendrado no território a partir da atividade

leiteira e laticinista; (c) analisar os vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre

as empresas e os produtores de leite aglomerados e destes com outros atores locais, tais como governo,

associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.

Nesta análise preliminar, tornou-se evidente a significativa importância da cadeia produtiva de

laticínios para a dinâmica econômica da região. Conforme relatado por Büttenbender (2015), a produção

primária local está alicerçada num tecido composto por numerosos produtores — em sua maioria,

organizados em cooperativas que, por sua vez, estão combinadas às indústrias nacionais e

internacionais, destacando-se a CCGL, a BRF/Carbery e a DPA-Nestlé — , indústrias de médio porte e

um grande número de indústrias de pequeno porte, com grandes impactos na economia dos municípios.

No estudo de campo, procurar-se-á avaliar como se dão os vínculos de articulação entre as indústrias e,

principalmente, destas com os produtores rurais. A literatura reconhece a existência e a importância dos

múltiplos meios de vinculação entre o produtor e a agroindústria do leite para a introdução de inovações e

conquista da competitividade na cadeia láctea. As práticas de pagamento por qualidade, oferta de

assistência técnica e sinalização de um preço de referência, por exemplo, são valorizadas pelos

produtores rurais (MILK POINT, 2010).

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Na Fronteira Noroeste, porção mais desenvolvida do território estudado, a indústria de

transformação é menos dependente das atividades agropecuárias locais, havendo um predomínio do

setor metalmecânico vinculado, sobretudo, à produção de máquinas e equipamentos para a

agropecuária. É nesse Corede que estão situados os municípios com maior produção e produtividade no

leite, característica que contribuiu para o direcionamento dos investimentos recentes da indústria de

laticínios. Também é no Corede Fronteira Noroeste que se identifica a presença de uma ampla rede de

oferta de serviços especializados e de máquinas e equipamentos voltados à produção leiteira.

Não obstante o Corede Celeiro produza o equivalente a três quartos da produção leiteira da

Fronteira Noroeste, não ocorreram investimentos significativos na indústria de laticínios nessa região nos

últimos anos. Uma parcela significativa da produção local é reunida em postos de recebimento para

transferência às plantas industriais situadas fora dos seus limites territoriais. Nesse Corede, muitos

agricultores familiares ainda encontram no segmento leiteiro sua principal atividade. No entanto, com a

saída das maiores cooperativas regionais do ramo leiteiro, que concentraram suas atividades na cadeia

de grãos, ocorreu uma perda de espaço e atenção aos pequenos produtores de leite. A principal

alternativa encontrada por esses produtores foi a reunião em torno de cooperativas menores, muitas das

quais criadas para gerar vantagens na comercialização da matéria-prima.

Da região da AP Laticínios Fronteira Noroeste-Celeiro, partiram duas propostas de

enquadramento e reconhecimento de APLs no Programa de Fortalecimento das Cadeias e Arranjos

Produtivos Locais. A primeira partiu de um conjunto de agroindústrias familiares do Corede Celeiro, que

se mobilizaram para atender ao edital de seleção de propostas de APL, lançado em 2012 pela AGDI.

Tendo obtido êxito na seleção, a AGDI aportou recursos ao fortalecimento da governança local e à

estruturação de um plano de desenvolvimento estratégico para o potencial arranjo, que abrange os 21

municípios do Corede. Os autores da proposta avaliam que a constituição de grupos e cooperativas para

comercialização e/ou agroindustrialização conjunta do leite e o diálogo permanente entre todos os atores

envolvidos com o tema do desenvolvimento local e regional criarão condições favoráveis para o

fortalecimento do APL da Agroindústria Familiar da Região Celeiro (AGDI, 2014).

A segunda proposta reporta-se ao Corede Fronteira Noroeste, onde, em 2013, foram iniciadas as

atividades visando ao reconhecimento do APL do Leite no Município de Santo Cristo. A iniciativa para

reconhecimento do APL do Leite partiu da Fundação Educacional Machado de Assis (FEMA), com sede

em Santa Rosa. O comitê gestor criado conta com a participação de atores locais representantes de um

número expressivo de entidades e empresas, tais como FEMA, Corede Fronteira Noroeste, Associação

Comercial, Industrial, Serviços e Agropecuária de Santo Cristo, prefeitura municipal, Coopermil,

produtores de leite representados pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais, Cresol, Cotrirosa, Doceoli,

Emaer, Coopasc, Tchê Milk e Unijuí. No ano seguinte, após a primeira avaliação da proposta pela AGDI,

foi sugerida a ampliação da área de abrangência do potencial APL. Os Municípios de Alecrim, Porto

Lucena, Candido Godoi, Tuparendi, Campina das Missões, Porto Vera Cruz e Santa Rosa foram

convidados a aderir à iniciativa. O reconhecimento de APL é importante e perseguido pelos atores do

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aglomerado em razão de habilitar os participantes a acessar benefícios como o Fundopem/Integrar e

linhas de financiamento específicas, além de oportunizar a apresentação de projetos no orçamento

estadual.

A expansão recente da produção de matéria-prima a taxas superiores à média gaúcha contribuiu

para consolidar a região Fronteira Noroeste-Celeiro como uma das principais bacias leiteiras estaduais.

Por sua vez, as atividades da indústria do leite encontraram incentivos à expansão nesse território. Os

maiores investimentos partiram de empresas com atuação nacional, merecendo destaque ainda o retorno

da CCGL à atividade, o que induziu o reingresso de algumas cooperativas regionais na atividade de

originação da matéria-prima.

A expansão das atividades leiteiras e agroindustriais também contribuiu para o fortalecimento de

ramos auxiliares, como os de fornecedores de insumos, de bens de capital e de serviços especializados,

bem como o incremento do processo de aprendizado, do acúmulo e da difusão de conhecimentos

através do desenvolvimento de tecnologias e de instituições de apoio28

. Essas características são de

difícil identificação à distância, bem como o detalhamento das relações de cooperação e as atividades

desenvolvidas pelas empresas de menor porte, tornando-se necessário e importante auscultar o local.

O atual momento para a cadeia produtiva do leite gaúcha é de instabilidade, decorrente da

queda nos preços, da fragilidade financeira de algumas empresas e da suspeição sobre a qualidade do

produto (Operação Leite Compensado). O monitoramento da evolução desse quadro, nos próximos

meses, far-se-á necessário para determinar o melhor momento para complementar a pesquisa,

procedendo-se à coleta de informações junto aos principais atores do aglomerado. A pesquisa de campo

deverá revelar até que ponto esses fatores mais recentes afetam o desenvolvimento da aglomeração e a

manutenção das relações de cooperação.

Referências AGÊNCIA GAÚCHA DE DESENVOLVIMENTO E PROMOÇÃO DO INVESTIMENTO (AGDI). APL agroindústria familiar — região Celeiro. 2014. Disponível em: <http://www.agdi.rs.gov.br/upload/1404417796_APL%20AGROINDÚSTRIA%20FAMILIAR%20-%20Celeiro.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2015. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LATICÍNIOS VIVA LÁCTEOS. Estatísticas do setor. 2015. Disponível em: <http://vivalacteos.org.br/estatisticas-do-setor>. Acesso em: 24 abr. 2015. ASSOCIAÇÃO DAS PEQUENAS INDÚSTRIAS DE LATICÍNIOS DO RIO GRANDE DO SUL. Associados. 2015. Disponível em: <http://www.apilrs.com.br/?p=associados.php>. Acesso em: 23 abr. 2015.

28

Em Três de Maio, vale referir a importância da Sociedade Educacional Três de Maio (Setrem) para a formação e qualificação de especialistas que atuam na cadeia produtiva do leite. A Setrem mantém os cursos superiores de Agronomia e de Tecnologia em Laticínios e o curso técnico em Agropecuária.

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ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DOS EMPREENDIMENTOS LÁCTEOS (AGEL). Proposta de arranjo produtivo local Corede Celeiro. Tenente Portela: Agel, 2012. Disponível em: <http://www.agdi.rs.gov.br/upload/1351170948_Proposta%20Edital%2005-2012%20APL%20Agroindustria%20Familiar%20-%20Regi%C3%A3o%20Celeiro.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2015. BANCO BRASILEIRO DE DESCONTOS (Bradesco). Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos. Leite e derivados. 2015. Disponível em: <http://www.economiaemdia.com.br/EconomiaEmDia/pdf/infset_leite_e_derivados.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2015. BORGHETTI, L. C. Expansão estatal, capitalismo e democracia. 1980. 253 f. Dissertação (Mestrado em Administração) — Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1980. Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/17506/000718371.pdf?sequence=1>. Acesso em: 3 jun. 2015. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 51, de 18 de setembro de 2002. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 set. 2002. Disponível em: <http://sistemasweb.agricultura.gov.br/sislegis/loginAction.do?method=acessoLivre>. Acesso em: 21 mai. 2015. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 62. 2011. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/legislacao>. Acesso em: 21 mai. 2015. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Aliceweb2. 2015. Disponível em: <http://aliceweb.mdic.gov.br//index/home>. Acesso em: 24 abr. 2015. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Brasília, DF, 2014. BÜTTENBENDER, P. Leite de qualidade do noroeste gaúcho. Revista Afinal, [S.l.], n. 49, 2015. Disponível em: <http://www.revistafinal.com/2015/03/leite-de-qualidade-do-noroeste-gaucho.html>. Acesso em: 26 jun. 2015. CARGNIN, A. P. et al. Corede Celeiro: perfil socioeconômico. Porto Alegre: SEPLAG, 2012. Disponível em: <www.seplag.rs.gov.br/download/20130730151920perfil_celeiro.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2015. CARVALHO, V. R. F. Indústria de laticínios no Rio Grande do Sul: um panorama após o movimento de fusões e aquisições. In: ENCONTRO DE ECONOMIA GAÚCHA, 1., 2002, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: PUCRS, 2002. Disponível em: <http://cdn.fee.tche.br/eeg/1/mesa_10_carvalho.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2015. CENCI, D. R. et al. Caracterização geral do arranjo produtivo local agroindústria familiar da Região Celeiro. In: BASSO, D.; TRENNEPOHL, D. (Org.). Planejamento estratégico de arranjos produtivos locais: plano de desenvolvimento do APL agroindústria familiar da Região Celeiro 2014-2020. Ijuí: Unijuí, 2014. Disponível em: <http://www.agdi.rs.gov.br/upload/1408122017_PD%20-%20APL%20Celeiro.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2015. CHAMPI JUNIOR, A. Lições de uma crise. Revista Brasileira de Comunicação Empresarial, Curitiba, v. 53, n. 4, p. 30-31, 2004. Disponível em: <http://www.aberje.com.br/revista/4_2004/RCE%2053_artigo2.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2015. CIGANA, C. Grupo francês alimenta a concorrência no estado. Zero Hora, Porto Alegre, 15 set. 2014. Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/campo-e-lavoura/noticia/2014/09/grupo-frances-alimenta-a-concorrencia-no-estado-4598548.html>. Acesso em: 21 abr. 2015.

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