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1 José Alberto Azeredo Lopes Ministro da Defesa Nacional Intervenção do Ministro da Defesa Nacional, José Alberto Azeredo Lopes, na sessão solene de abertura do ano académico 2015/2016 do Instituto de Defesa Nacional Lisboa, 16 de dezembro de 2015 Só serão válidas as palavras proferidas pelo orador

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José Alberto Azeredo Lopes

Ministro da Defesa Nacional

Intervenção do Ministro da Defesa Nacional, José Alberto Azeredo Lopes, na sessão

solene de abertura do ano académico 2015/2016 do Instituto de Defesa Nacional

Lisboa, 16 de dezembro de 2015

Só serão válidas as palavras proferidas pelo orador

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Excelentíssimo Senhor General Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, General Pina Monteiro Excelentíssimo Senhor Dr. Jaime Gama Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Defesa Nacional, Dr. Marcos Perestrello Excelentíssimo Senhor Diretor do Instituto da Defesa Nacional, Major-General Vítor Rodrigues Viana Excelentíssimo Senhor Secretário-Geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, Dr. Júlio Pereira Excelentíssimos Senhores Generais Chefes dos Estados-Maiores da Armada, Exército e Força Aérea Excelentíssimos Senhores Deputados Excelentíssimo Senhor Comandante Geral da Guarda Nacional Republicana, Tenente-General Manuel Silva Couto Excelentíssimos Senhores Embaixadores Excelentíssimos Senhores Oficiais Generais Demais Autoridades Civis, Militares e Académicas Ilustres convidados Minhas Senhoras e meus Senhores

É com um gosto muito particular que participo na sessão solene de abertura do ano

académico do IDN. Nesta casa, com efeito, tenho sido conferencista desde há tantos anos

que prefiro nem os referir. E a ela regresso sempre com consideração mais e mais

reforçada pelo trabalho e pensamento que aqui são desenvolvidos.

Hoje, como Ministro da Defesa Nacional, aqui compareço em circunstâncias distintas. E

mal ficaria se, nesta ocasião, não lhes desse a conhecer algumas das linhas tópicas que

seguirei como orientação fundamental da minha acção.

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Antes de seguir adiante, no entanto, algumas palavras preliminares, mas nem por isso

menos devidas ou sentidas.

Ao Senhor Diretor do IDN, MGEN Vítor Viana, quero dirigir o meu agradecimento, não só

pelo convite endereçado para presidir a cerimónia de grande valor simbólico, como

também pela feliz ideia do convite dirigido ao Dr. Jaime Gama para proferir a notável lição

inaugural que acabámos de ouvir.

Não vou, porque a tal não me atreveria, descrever os altos cargos desempenhados pelo

Dr. Jaime Gama, sempre com especial brilho, sentido de Estado e elevação institucional

únicos. Sei bem, por outro lado, a responsabilidade que carrega qualquer Ministro da

Defesa Nacional depois de por lá ter passado o Dr. Jaime Gama.

Mas, principalmente, e num tom um pouco mais pessoal, deixem-me que aproveite este

momento para dizer ao Dr. Jaime Gama da minha gratidão. Porque, tendo exercido a dado

passo funções públicas que não eram fáceis, sempre pude contar com o apoio discreto

mas firme do Dr. Jaime Gama, na altura como Presidente da Assembleia da República.

Feito este agradecimento, sigo em frente, propondo-lhes algumas breves considerações.

A primeira reflexão que aqui deixo refere-se à necessidade de o nosso País contar com

Forças Armadas adaptadas às principais ameaças do ambiente estratégico atual. Isto é,

com forças, meios e organização capazes e resilientes, que se adaptem à mudança e

complexidade dos riscos e das ameaças e à sua natureza cada vez mais imprevisível ou,

talvez melhor, cada vez menos facilmente antecipável. Neste quadro, importa que

garantam não só os nossos objetivos vitais enquanto Estado soberano, independente e

seguro, mas também que nos permitam responder com a devida eficácia e competência

aos compromissos assumidos perante os nossos parceiros e aliados.

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Melhorar a eficiência das Forças Armadas

A Defesa Nacional não é responsabilidade exclusiva das Forças Armadas. Por outro lado,

não é menos certo que estas constituem o seu pilar essencial. As duas afirmações são

verdadeiras.

Mas, por si e descarnadas, são como aquelas declarações de amor rotineiras, que querem

dizer tudo mas verdadeiramente já nada significam. Cabe-nos, por isso, de forma

pragmática, sairmos das grandes afirmações de princípio e descermos ao concreto.

Ninguém discordará da necessidade de modernização das Forças Armadas. Com efeito,

quem diria ser contra tal desígnio?

Porém, em que se traduz essa necessidade? Quais os passos e as etapas propostos? Em

que tempo e com que meios?

Exige-se, por conseguinte, que estas questões tenham resposta transparente e facilmente

percetível a partir da ação governativa. Exige-se, mesmo por respeito a uma ideia cidadã

de accountability, que sejam estabelecidas prioridades claras, centralizando o

investimento, de modo a garantir recursos humanos e materiais adequados ao

cumprimento das missões de que sejam incumbidas as Forças Armadas.

Importa, depois, trazer estabilidade às Forças Armadas para implementar a sua

organização e dispositivo, em parte através de instrumentos recentemente aprovados.

Perguntar-me-ão, legitimamente, se concordo com tudo o que vou conhecendo. Não, não

concordo, e tenho essa circunstância como elementar numa sociedade democrática,

política e plural. Mas posso também assegurar não padecer da doença que consiste em

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modificar por modificar, às vezes por razões de puro penacho legislativo. Se a opção for

entre o “manter, excepto se…”, ou o “alterar, a não ser que…”, prefiro claramente a

primeira.

Por todos estes motivos, conto em muito com a sageza, a experiência e o bom senso dos

chefes militares para, com objetividade e rigor, darmos execução plena e serena a todo o

processo de consolidação do instrumento e do dispositivo militar.

Procurar-se-á também continuar a melhorar a rentabilização dos recursos,

nomeadamente reforçando a partilha no âmbito dos serviços, sistemas de apoio e

logística entre os ramos das Forças Armadas, como facto normal e não ameaçador e muito

menos que possa ser entendido como espada de Dâmocles. Deve ser comum aquilo que

puder ser comum, deverá ser próprio aquilo que ponha em causa a identidade substancial

de cada um dos ramos.

Esta ideia assenta a meu ver na mais elementar racionalidade e na presunção inilidível da

escassez de recursos, e deverá concretizar-se nas Leis de Programação Militar e de

Infraestruturas, tendo em vista a modernização e o investimento nas áreas das Forças

Armadas segundo critérios de necessidade e de eficiência.

Estimular a Indústria da Defesa

O Governo, este Governo, acredita também na necessidade estratégica de uma Indústria

de Defesa, nacional ou com forte componente nacional. Olha-a como instrumento muito

relevante, não só para garantir autonomia e atuação das Forças Armadas, como também,

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não menos importante, para gerar valor acrescentado na economia nacional, mantendo

emprego qualificado e, se possível, reforçando-o.

O papel do Estado passará assim, em primeira linha, pela gestão das participações

públicas na indústria de defesa. Mas não se deixará de lado a promoção da

internacionalização das empresas que operam em Portugal, em moldes que, porventura,

terão que ser decantados e clarificados. Do que se trata é de estimular e apoiar a sua

participação em programas de cooperação internacional, no âmbito da Agência Europeia

de Defesa, da cooperação no seio da NATO ou noutros programas internacionais.

Valorizar o Exercício das funções na área da Defesa

A eficiência das Forças Armadas não depende apenas de equipamentos e sistemas. E

ainda bem.

Apesar de todos os avanços tecnológicos a que assistimos no domínio da defesa e da

sociedade em geral, o fator humano continua a ser o determinante. Numa refeição, seria

sempre o prato principal. E ainda bem, repito.

A estabilidade estatutária e a manutenção dos efetivos assumem-se, a esta luz, como

fatores fundamentais para que a qualidade e a motivação possam ser reforçadas.

Neste plano, o reconhecimento da especificidade da condição militar passa desde logo

por uma atenção especial aos deficientes das Forças Armadas e aos Antigos Combatentes.

Esse é um dever nacional colectivo; esse é, por argumento de maioria de razão, o dever

de qualquer Governo democrático.

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O apoio social e a assistência na doença serão também assuntos prioritários. São áreas

onde, por razões tanto circunstanciais como de estrutura, deverão ser conciliadas as

expectativas legítimas dos utilizadores com as boas práticas de serviço e de gestão, com

responsabilidade partilhada dos vários interlocutores e parceiros. Assim se desenvolverá

também a ação social complementar, que justifica um olhar atento, nomeadamente no

que ao IASFA se refere.

A concretização do processo de instalação e implementação do Hospital das Forças

Armadas, melhorando as boas práticas e os cuidados de saúde aí prestados, enquadra-se

também nesta prioridade de valorização do elemento humano da Defesa Nacional.

Qualificar as Forças Armadas e consolidar a Profissionalização

A melhoria de qualidade dos recursos humanos nas Forças Armadas e na Defesa Nacional,

hoje perceptível a olho nu, deverá prosseguir pelo desenvolvimento adequado de um

sistema que permita alinhar com o Sistema Nacional de Qualificações (SNQ) as formas e

a duração da formação conferida nas Forças Armadas, durante a prestação do serviço

militar.

Insere-se nesta dinâmica o Instituto Universitário Militar, trave-mestra para a

concretização de um desígnio de maior igualdade e qualificação (e em diferentes níveis),

num quadro de responsabilização do ensino militar, tradicionalmente pioneiro no

desenvolvimento do pensamento e do saber e da modernização e onde, mais uma vez, a

eficiência será explorada.

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Dinamizar a Componente Externa da Defesa

Ao longo da nossa história recente, as Forças Armadas têm desempenhado um papel

inestimável enquanto instrumento da política externa do Estado. É objetivo do Governo

manter e – sempre que possível – reforçar a capacidade das Forças Armadas responderem

de modo eficaz às exigências do nosso quadro estratégico de alianças, trate-se da NATO,

da União Europeia, da CPLP, das Nações Unidas, da OSCE ou de outras organizações

regionais.

Focar-nos-emos também na ideia da melhoria sistemática da cooperação técnico-militar,

procurando evitar a tendência para a cristalização e promovendo novas abordagens no

âmbito multilateral da CPLP ou a nível bilateral, mantendo e, se possível, lançando novos

programas, nas áreas da formação, do treino e das indústrias de defesa.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Todos temos presentes factos recentes e menos recentes levados a cabo pelo novo, e

aliás cada vez menos novo, terrorismo transnacional, agora também com capacidade para

combater de forma mais clássica no terreno, na Síria, no Iraque e alhures.

Todos sabemos, por outro lado, como alguns conceitos fundamentais estão sob tensão,

pela dificuldade de adaptação a uma realidade que ainda não conhecemos em todos os

seus contornos. O que significa hoje o ataque armado? E a legítima defesa, individual ou

colectiva? Qual o alcance jurídico, político e militar de agressão, de paz ou de guerra?

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Todos sabemos como, há pouco mais de um mês, um Estado europeu foi atacado de

forma brutal e declarou estar em “guerra” com aquele que identificou como agressor.

Todos sabemos como dias antes tinha sido atacado o Líbano e como, alguns dias volvidos,

foi atacado o Mali. Todos sabemos como, hoje, o alvo pode não ser militar e ser até,

deliberada e exclusivamente, civil. E todos sabemos, finalmente, como estamos perante

dificuldades tremendas, aliás bem descritas na resolução 2249 do Conselho de Segurança

das Nações Unidas, adotada há poucas semanas e que versou sobre o terrorismo

transnacional. Ali se qualifica o Daesh, com efeito compreenderão que recuse falar em

“Estado” ou em “Islâmico”, como “ameaça global sem precedentes à paz e segurança

internacionais”.

Também por todos estes processos de violência não estadual, o repensar do que seja a

defesa e do que seja a segurança já se iniciou, desconhecendo-se muito embora onde

poderá desembocar esta reflexão. Mas sabemos, isso sim, que o desafio impõe a

maximização das capacidades civis e militares existentes e obriga, pela natureza das

coisas, a uma abordagem integrada na resposta às ameaças e riscos, operacionalizando

um efetivo sistema nacional de gestão de crises.

Neste contexto, em particular, reforça-se a necessidade de aprofundar a cooperação

entre as Forças Armadas e as forças e serviços de segurança com o desenvolvimento de

um quadro de coordenação e atuação externa e interna, face ao caráter único das

ameaças e riscos com que agora nos confrontamos.

No plano externo, e ainda muito recentemente na reunião da Iniciativa “5+5 Defesa”, em

Tunes, foi acentuado este desafio de uma nova articulação entre segurança e defesa, seja

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numa perspetiva mais convencional seja, também, no plano da ciberdefesa e da

cibersegurança.

No plano interno, temos o dever estrito de comunicar melhor. Numa perspectiva de

cidadania, temos o dever de promover uma melhor divulgação das atividades

operacionais e da sua inserção no esforço de contenção das ameaças do terrorismo

internacional e da assistência a outros países para melhorar as capacidades para tratar os

respetivos problemas estratégicos.

É assim, e é assim que deve ser. São os cidadãos a razão de ser de qualquer poder público,

é perante eles que respondemos.

Minhas senhoras e meus senhores

Terá ficado evidente, segundo creio, a importância que o Governo atribui à estabilidade

e ao compromisso com todas as entidades ligadas à Defesa Nacional.

Neste contexto, permitam-me que lhes diga, de forma meridianamente pública, como

considero determinante o envolvimento dos Chefes Militares e dos seus subordinados

militares e civis e dos dirigentes dos Serviços Centrais do Ministério e das restantes

estruturas tuteladas pelo Ministério da Defesa Nacional. Conto com o esforço dos

respetivos colaboradores, em todo este processo. E não tenho dúvidas de que assim será.

Este caminho será baseado em orientações concretas e em decisões. Mas saberei sempre

ouvir e, sendo caso disso, não me sentirei diminuído se mudar de opinião.

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Minhas senhoras e meus senhores

Deixem-me que, nesta Casa e antes de caminhar para a conclusão, destaque o papel do

Instituto de Defesa Nacional, referência fundamental no apoio à formulação do

pensamento estratégico nacional.

O seu esforço na promoção e reforço das relações civis-militares, na valorização dos

quadros das Forças Armadas, da Administração Pública, dos setores público, privado e

cooperativo e o seu contributo para a sensibilização da sociedade para as questões da

segurança e defesa, tem que ser aplaudido, deve ser promovido.

Senhor General Viana, através de si agradeço à instituição a que preside e felicito-o pelo

mérito com que tem conseguido alargar os horizontes de intervenção do IDN. E digo-lhe

que, como aliás seria de esperar, contará com o apoio firme da tutela na prossecução

deste caminho.

Senhores Auditores do Curso Defesa Nacional

A minha última palavra é para vós. E é uma palavra para incentivar e aplaudir a vossa

participação neste Curso.

Como nesta altura já sabem, este é um espaço muito qualificado de reflexão e debate.

Esta formação será também, estou certo, uma excelente oportunidade para o

intercâmbio de ideias, que decorre naturalmente da diversidade de percurso académico

e das experiências profissionais de cada um.

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Desejo a todos um excelente ano de trabalho, proveitoso em contributos para as questões

de segurança e defesa.

Muito obrigado pela vossa atenção.