jornal sem terra - 310

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www.mst.org.br ANO XXIX– Nº 310 – FEVEREIRO/MARÇO 2011 A luta dentro e fora da ordem, por Ademar Bogo Página 3 ESTUDO A organização e os interesses da nova bancada ruralista Página 10 REALIDADE BRASILEIRA 8 de março Em frente, companheiras! Aluísio Azevedo e o naturalismo em “O Cortiço” Página 14 LITERATURA Entrevista com Marisa de Fátima e retrospectiva das ações das mulheres Páginas 4, 5, 8 e 9

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Jornal Sem Terra

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Page 1: Jornal Sem Terra - 310

www.ms t . o rg . b r ANO XXIX– Nº 310 – FEVEREIRO/MARÇO 2011

A luta dentro

e fora da ordem, por

Ademar Bogo

Página 3

ESTUDO

A organização e os

interesses da nova

bancada ruralista

Página 10

REALIDADE BRASILEIRA

8 de março

Em frente, companheiras!

Aluísio Azevedo

e o naturalismo

em “O Cortiço”

Página 14

LITERATURA

Entrevista com Marisa

de Fátima e retrospectiva

das ações das mulheres

Páginas 4, 5, 8 e 9

Page 2: Jornal Sem Terra - 310

2 JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011

EDITORIAL Temos o desafio de denunciar a destruição da natureza pelo agronegócio

Palavra do leitor FRASE DO MÊS

DIREÇÃO NACIONAL DO MST

Edição: Joana Tavares. Revisão: Igor Felippe Santos.Edição de imagens: Marina Tavares. Projeto gráfico ediagramação: Eliel Almeida. Assinaturas: Mary Cardoso da Silva.Impressão: Taiga Gráfica e Editora. Tiragem: 10 mil exemplares.Endereço: Al. Barão de Limeira, 1232 – CEP 01202-002 – São Paulo/SP – Tel/fax: (11) 2131-0840. Correio eletrônico: [email protected]ágina na internet: www.mst.org.br. Todos os textos do Jornal SemTerra podem ser reproduzidas por qualquer veículo de comunicação,desde que citada a fonte e mantida a íntegra do material.

Mande sua mensagem parao Jornal Sem Terra

Sua participação é muito importante. Ascorrespondências podem ser enviadas [email protected] ou para a Alameda Barão de Limeira,1232, Campos Elíseos, São Paulo/SP, CEP 01202-002.As opiniões expressas na seção “Palavra do leitor” nãorefletem, necessariamente, as opiniões do Jornalsobre os temas abordados. A equipe do JST pode,eventualmente, ter de editar as cartas recebidas.

É necessário investirmos emnovas referências, fortalecendoespaços formativos como aescola, a agroecologia,as rádios e as lutas unificadas

INICIAMOS O ANO com mais umEncontro da Coordenação Nacional donosso Movimento. Procuramos com-preender o momento histórico que vi-vemos, avaliando nossa caminhada atéaqui e apontando os próximos passosfrente a um conjunto de desafios, quenão são apenas nossos, mas de toda aclasse trabalhadora.

Segue-se um cenário onde se apro-funda o projeto das elites brasileira einternacional, em velocidade acelerada,inclusive com o uso do Estado. No Bra-sil, a representatividade das bancadasda burguesia no Congresso Nacionalexplicita esta situação. São grandes epermanentes as investidas para aprovarsuas propostas, contrárias aos anseiose necessidades dos trabalhadores.Exemplo disso é a forte articulaçãopara barrar um aumento decente nosalário mínimo e a redução da jornadade trabalho para 40 horas, ou no total

empenho para aprovar o novo CódigoFlorestal, que privilegia o agronegócio.

É inicio de um novo governo, mas oEstado é o mesmo! Dilma é a conti-nuidade do projeto de fortalecimento deum Estado pautado no crescimentoeconômico com um discurso de priori-dade na redução das desigualdades so-ciais. É preciso que a classe trabalhadoraocupe as ruas e as praças e reivindiqueseus direitos para a superação da desigual-dade e pela distribuição das riquezas.

O agronegócio segue como umaprioridade e se desenha como as águasda forte enxurrada que, ao descer mor-ro abaixo, devasta e destrói o queencontra pela frente. A Reforma Agrá-ria continua não sendo prioridade,nem para o assentamento das famíliasacampadas nem na garantia de melho-rias sociais e estruturais às condiçõesde vida nos assentamentos.

A CPMI para investigar o MST e aReforma Agrária acabou, e nada foicomprovado de desvios. Mas precisa-mos ter vigilância permanente, pois asinvestidas vão continuar!

Assim, é necessário investirmos emnovas referências, fortalecendo espaçosformativos como a escola, a agroeco-logia, as rádios e as lutas unificadas.

Logo os principais desafios coloca-dos para a nossa militância são:

1. Massificar os diversos processos departicipação popular, ocupações, mar-chas, mobilizações. Buscando os Sem-Terra, desempregados, sem-teto, sindica-tos, estudantes, donas de casas, operários,numa ampla articulação da classe, lutandoe dialogando com a sociedade.

2. Seguir organizando os assenta-mentos, enquanto espaços de articula-ção política na construção de aliançascom outros setores, urbanos e rurais,para resolver os problemas do povo.Reivindicando e acessando políticaspúblicas. Produzindo alimentos. Poten-cializando a agroecologia como matrizprodutiva. Lutar por escola: Fecharescola é crime! – a importância determos as escolas no campo para ga-rantia do direito ao acesso, territoria-lização e da conquista de tê-la comoum espaço de formação que contribuapara a luta de classes na constituiçãode novos sujeitos sociais, novos ho-mens e novas mulheres. Enfim, fazercom que a luta entorno do assenta-mento seja uma ferramenta de mobi-lização, articulação e elevação da cons-ciência e da emancipação humana.

3. Internacionalmente temos comodesafio duas grandes campanhas queestão diretamente ligadas ao campo porsua relação dos impactos que o capitalfez e faz com superexploração da nature-

É pra nunca mais sair!

Fiquei profundamente emocionadocom essa noticia: ocupação daUsina em Minas Gerais. Por quê?Minha família e eu ficamosescravos dessa fazenda por doisanos de 1963 a 1965. Eu tinha13 anos de idade. Era trabalho“escravo” mesmo, ninguém tinha direitos trabalhistas, só capatazes

É tempo de seguir organizando o povo

za. A campanha “Contra a Crise Climáti-ca” e a campanha “Contra os Agrotóxicose pela Vida”, ambas dialogam com a saúdedo povo do campo e da cidade, suascondições de vida, ao mesmo tempo emque colocam em discussão os grandeslucros das empresas internacionais.

Sejamos criativos e sigamos orga-nizando as diversas lutas, desde a Jor-nada das Mulheres, pautando na sociedadea importância e a necessidade da ReformaAgrária, denunciando a destruição danatureza e o uso intensivo de agrotóxicospelo agronegócio. Buscando mudançasestruturais para o Brasil, que garantamdireitos sociais e avanços significativosaos trabalhadores e trabalhadoras paratermos vida digna.

BOA LUTA PARA TODOS NÓS!PÁTRIA LIVRE, VENCEREMOS!!

É início de um novogoverno, mas o Estado

é o mesmo. Dilmarepresenta a continuidade

de um projeto

“[Eu apoioo MST]primeiro porumaprofunda identificação com oMovimento em todos ossentidos, pela importância dabandeira da Reforma Agrária.O MST desenvolveu umtrabalho de organização docampo, um trabalho criativo,que transpôs as fronteiras.Apoio o MST por coerênciano posicionamento político,mas também por paixão.”

SERGIO MAMBERTI, ATOR

armados controlando ostrabalhadores, carregados emcaminhão “pau de arara”, umaterrível humilhação. Ficoorgulhoso como nunca pela ação doMST. É pra nunca mais sair de lá,para honrar as lágrimas de centenasou mais trabalhadores (as) quesofreram naquela Usina que sechamava na época “Monte Alegre”,mas era uma pura tristeza.

Um abraço companheiros(as), todo omeu apoio daqui do Pará.

PAULINHO ([email protected])

Exemplo do EgitoEstá na hora de nos unirmos e ir àsruas, fazer greve geral. Temos deacabar com o sistema. Vamos fazeraqui o que está sendo feito no Egito!!!Convoque a todos!!

GEOVANI BRAZ

Foto: Arquivo MST

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3JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011

ESTUDO É na luta entre as classes que se provocam as mudanças estruturais na sociedade

ADEMAR BOGO

COORDENAÇÃO NACIONAL

APRENDEMOS NOS ESTUDOS defilosofia que a sociedade capitalistafunciona pela combinação de duas par-tes interligadas. Na primeira, está a“infra-estrutura” onde funciona a baseeconômica, a produção concreta dosbens e da riqueza. Sobre ela se eleva asegunda estrutura, que é chamada de“superestrutura”, onde funciona a polí-tica, os parlamentos, a justiça, as leis,a força policial, a produção cultural, areligião, as escolas, os meios de comu-nicação, enfim, tudo aquilo faz fun-cionar a sociedade no cotidiano.

As forças dominantes que contro-lam o capital e o poder são conhecidascomo forças hegemônicas. A hegemo-nia é um conceito criado para explicara situação em que as forças dominantesse reúnem e são capazes de impor suasdecisões e garantem a direção políticapara o rumo que pretendem seguir.

Sempre ficam imensos setores so-ciais de fora – operários, camponeses,trabalhadores dos serviços e as massaspopulares. Estes lutam em movimentospopulares, sindicatos e também partidospolíticos, formando um conjunto deforças que se opõe ao poder dominante.

Desta maneira é fácil perceber que,assim como na base econômica predo-minam as relações entre patrões e emprega-dos, na superestrutura política e jurídica,acontecem as relações entre dominantes edominados. Logo, há dois caminhos aserem seguidos pelos trabalhadores e asmassas populares: entrar na hegemoniadominante e aliar-se a ela, iludindo-se queassim poderá melhorar de vida; ou organi-zar as forças contra-hegemônicas para lutarcontra o poder das forças dominantes.

Os processos dentroda ordem

Todos os países têm suas constitui-ções, formadas pelo conjunto de leisque determinam o funcionamento daordem social. Nelas, dentre outrascoisas, estão definidos os diretos e osdeveres dos cidadãos. Quem deve vi-giar as leis e aplicá-las corretamentesão os políticos e os juízes.

Sendo as sociedades desiguais, aaplicação das leis também é desigual.

Por esta razão é que há movimentosque reivindicam, através da luta, dentroda ordem dominante, os direitos queestão na lei. Estas lutas reivindicatóriasocorrem dentro da ordem dominanteporque é direito dos cidadãos semobilizarem-se pelo que está previstona Constituição.

Na luta pela Reforma Agrária émuito fácil perceber a relação entreluta social e institucionalidade. Estáprevisto na Constituição brasileira, noartigo 184, que a “terra deve cumprirfunção social”. Na realidade, sabemosque nem todas as propriedades respei-tam a lei. Por outro lado, todo cidadãotem direito ao trabalho, à comida,moradia, escola etc., e as leis deveriamresolver o problema daqueles que nadadisso possuem.

A ocupação da terra é um ato derebeldia contra a não-aplicação da lei.Logo, a reivindicação é que o Estadoe os governos distribuam a terra. Depoisda terra distribuída, a luta continua paraa construção de casas, estradas, escolase demais soluções.

Depois vem a criação de associaçõese cooperativas. Os próprios trabalhado-res criam as suas instituições reconheci-das pelo Estado e devem ser eficientespara garantir o desenvolvimento do as-sentamento. Há também possibilidadesde organização que estão na lei como

o “direito de reunião e organização”,que não precisa de registro. Esse é ocaso de um movimento popular, quefunciona dentro da institucionalidadee é aceito normalmente pela ordem.Assim pode ser uma escola de formaçãopolítica ou uma igreja, por exemplo.

A ilegalidade e a clandestinidade se dãoquando o Estado e os governos nãoreconhecem os direitos dos trabalhadoresde se organizar, fecham suas entidades eperseguem as lideranças para prendê-las.

Qual o lugar da luta?

Um grande revolucionário italiano,Antônio Gramsci, disse no séculopassado que há uma relação muito pró-xima entre a “sociedade civil” - ondeas pessoas vivem e atuam - e a “socieda-de política”, esfera em que funcionamas instituições e o poder político. Estalinha divisória nem sempre é fácil decompreender e discernir. Isto porque asociedade civil depende da intervençãoda sociedade política para resolver osproblemas sociais, garantir a segurançapública, etc. Já a sociedade políticadepende da aceitação, dos votos e dacolaboração da sociedade civil.

Esta íntima relação leva muitasvezes a confusões. Os movimentos po-pulares e os partidos políticos contrá-rios à ordem dominante, ao ver que

ela não funciona corretamente, deci-dem eles mesmos fazê-la funcionar eabandonam todos os tipos de pressãosobre o Estado e o capital.

É verdade que existem muitosespaços dentro da ordem que podemajudar as forças populares a acumu-larem forças, como, por exemplo:fazer as escolas dos assentamentosfuncionarem bem; participar de de-terminados Conselhos Municipais ouparticipar também das disputas elei-torais para derrotar grupos oligár-quicos e posições fascistas que do-minam regiões, estados e o país.

Mas é fundamental que se tenha cla-ro que é na luta entre as classes e com aparticipação das forças populares que seconsegue provocar as mudanças estru-turais na sociedade. Logo, a perguntaque deve sempre estar em evidência é:o que vamos fazer para acumular forçasna direção a que queremos chegar? Senão acumula, nem ajuda a organizar asforças, é desperdício de tempo envolver-se em tais disputas.

Isto nos compromete a achar saídas,para não cair no ceticismo e achar quenada pode ser feito. Se os ConselhosMunicipais oficiais não são importantes,devemos criar conselhos paralelos quesirvam para a população pressionar asautoridades. Se as autoridades oferecemdeterminados benefícios à luta é para queestes sejam aumentados e estendidos atodos. Se não há Reforma Agrária, osinteressados devem ocupar as terras quenão cumprem função social. Acima detudo, a luta pelo poder deve se dar semprepelos enfrentamentos com as forçashegemônicas e não aliando-se a elas.

As forças contra-hegemônicas de-vem ser incentivadas a multiplicar assuas formas organizativas e de lutas,e não apostar em uma única via dadisputa eleitoral. Somente a força co-letiva liberta. O sujeito coletivo surgedas lutas coletivas, nunca da repre-sentatividade individual.

Luta de classes e institucionalidade

A pergunta que devesempre estar em evidência

é: o que vamos fazerpara acumular força?

Os movimentos reivindicam por meio da luta porque as sociedades são desiguais

Arqu

ivo M

ST

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4 JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011

Enfrentamento ao modelo de produção das grandes empresas é o foco da luta das mulheresENTREVISTA

JOANA TAVARES

SETOR DE COMUNICAÇÃO

JST: Qual o tema principalda jornada este ano?

Marisa de Fátima: A jornada dascompanheiras é identificada a partir dealguns temas, vindos dos debates e daslutas. Fundamentalmente é a perspectivade dar continuidade na luta ao enfrenta-mento do agronegócio no campo e paraeste ano com mais visibilidade à temáticados agrotóxicos. E também o debate dacontinuidade da formação das compa-nheiras e a questão da violência contra amulher. Esse é um tema que precisamostrabalhar no decorrer das jornadas do 8de março. Mas fundamentalmente sãoações de denúncia do agronegócio, espe-cialmente dos malefícios dos agrotóxicos.

JST: Em relação aos agrotóxicos, quaissão os tipos de ações previstas?

MF: Temos construído diferentesformas de lutas e atividades nosestados: desde lutas contra empresasprodutoras como ações de denúnciapara a sociedade. Faremos debatesamplos sobre o tema, que aglutina a

mas que elas efetivamente participem doplanejamento e construção das ações.Essa é uma orientação nossa, garantir aluta de forma unitária.

JST: Qual o recado que asmulheres camponesas têm a dar naquestão dos agrotóxicos?

MF: Para nós é uma necessidade fazer adenúncia do avanço do capital no campo.E a temática dos agrotóxicos deixa claraessa realidade. É um tema que dialogacom nossa realidade, e que também pre-cisa ser colocado para o conjunto da so-ciedade, que afeta a todos. A produçãoem grande escala com venenos traz con-sequência para a vida das pessoas, sejano campo, seja na cidade. Temos neces-sidade de consolidar esse debate na cida-de, que é um debate para a humanidade.

JST: Dá para colocar a ReformaAgrária e a agricultura familiar comoum contraponto à produção em largaescala, à base de venenos?

MF: Esse tema coloca um desafio paranós. Enfrentar um modelo tecnológicoe político da agricultura convencional hojeé muito difícil. Precisamos caminhar pri-

Mais um 8 de março, mais um momento de dizer em alto e

bom som: somos militantes, somos lutadoras, queremos

Reforma Agrária e igualdade. O acúmulo de tantas lutas já deixa

claro: o foco das ações é o enfrentamento ao agronegócio. Neste

2011, os agrotóxicos ganham destaque. Um dos pilares do

modelo de exploração capitalista da agricultura, os venenos são

utilizados em larga escala em nosso país. Larguíssima: o Brasil

tem o triste título de “campeão” no consumo desse tóxico. As

mulheres querem denunciar essa realidade, assim como de-

nunciar a violência, que também pode ficar escondida por trás

de belas fotografias ilusórias. Confira a entrevista com Marisa

de Fátima da Luz, assentada na região do Pontal do Para-

napanema (SP), e integrante da Coordenação Nacional do MST.

opinião do conjunto da sociedade, quepauta a soberania alimentar.

JST: Que tipo de ações serãorealizadas?

MF: A partir do levantamento dosestados, a avaliação é que possamosconstruir a partir de experiências que osestados e o Setor de Gênero vêmacumulando. Então teremos lutas deenfrentamento direto contra as empresas.

JST: A Jornada é construídacom outros movimentos?

MF: Sim, temos buscado consolidar o8 de março como um espaço deconstrução conjunta. Para nós mulheresdo MST é muito importante garantir queas atividades e lutas das mulheres sejamarticuladas com a Via Campesina. É umanecessidade política, organizativa.Buscamos não só garantir a participaçãodas companheiras de outros movimentos,

Arqu

ivo M

ST

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5JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011

meiro na resistência e também colocar aconstrução de outras alternativas para aagricultura camponesa, que possam avan-çar na perspectiva de uma produçãoagroecológica. É um desafio muitogrande para toda a sociedade, porque adisputa é em torno do modelo de produ-ção, o modelo da agricultura para o país.

JST: A produção dos assentamentos,tendo condições de chegar até ascidades, poderia ser uma alternativaaos alimentos envenenados?

MF: Temos buscado construir experiên-cias que precisam estar presentes noconjunto da sociedade. Nossa forma deproduzir precisa ser visível, precisa servirde exemplo. Não estamos só denuncian-do, temos propostas para contrapor omodelo de produção capitalista no campo.

JST: O que está colocado em relação àviolência contra a mulher?

MF: Na sociedade em que a gente vive,a violência contra a mulher é escondida,não é posta à vista. Há uma necessidadede trazer essa temática, construir umdebate interno nas organizaçõescamponesas, no MST, e que nós mulherespossamos nos organizar. Há umdiagnóstico que hoje, nos acampamentose assentamentos, muitas mulheres sofreminúmeras violências. E temos que colocarcom muita seriedade esse debate, porquea questão da violência contra a mulher éuma questão de classe. Nesse sentido,precisamos construir espaços e ações paramostrar que precisamos nos ater a certasquestões e situações que nos inquietammuito. Essa situação não está presentesó nas áreas de Reforma Agrária, masno conjunto da classe, na área urbana.Sem debater a violência contra a mulheré difícil pensar uma sociedade nova, um

A partir de 2008, o Brasil se tornou o maiorconsumidor de agrotóxicos do mundo, ultra-passando os EUA. Em 2010 foram utilizados 1bilhão de litros nas lavouras. Isso equivale a umconsumo médio de cinco litros por habitante.Estima-se que 50% desses números sejam deresponsabilidade da lavoura da soja, seguida dacana de açúcar e do milho.A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevêque ocorra, no mundo, o consumo de cerca de trêsmilhões de toneladas de agrotóxicos por ano,expondo apenas no espaço agrícola em torno de500 milhões de pessoas.Os casos anuais de intoxicações agudas nos paísesdo terceiro mundo são estimados em 1 milhão,com 20 mil mortes. As intoxicações crônicaschegam em 700 mil casos ao ano, com 37 milcasos de câncer em países em desenvolvimentocomo o Brasil, e 25 mil casos por ano de outrassequelas. Ainda segundo a OMS, cerca de 3% da

população sofre com intoxicações por produtosquímicos. A Agência Nacional de VigilânciaSanitária (Anvisa) estima que 15% dos produtosalimentícios consumidos no Brasil estão comníveis muito altos de taxas de venenos prejudiciaisà saúde. Segundo a professora Raquel Rigotto,da Universidade Federal do Ceará, o quadro douso de defensivos agrícolas no Brasil épreocupante. Em estudo realizado por ela sobreos efeitos dos agrotóxicos na saúde dostrabalhadores rurais, são ao menos 700 miltoneladas de agrotóxicos ao ano, ou uma médiasuperior a três quilos por brasileiro, com perigososresíduos nos alimentos consumidos no dia a dia.Um destaque negativo é a concentração desse tipode substância na soja (300 mil toneladas/ano) eno milho (100 mil toneladas/ano).

(Fontes: Jornal Sem Terra especial Agrotóxicos/SãoPaulo, Blog Vi o mundo, Rede Brasil Atual, Anvisa)

Mais venenos nos alimentos, mais doenças

Agricultura camponesa é alternativa para produção de alimentos saudáveis

Violência contra a mulher

Em agosto de 2010 a Fundação PerseuAbramo em parceria com o Sescrealizou uma pesquisa com algunstemas que envolvem a violência contraas mulheres no Brasil. O levantamentofoi realizado em 25 estados. Foramentrevistadas 2.365 mulheres e 1.181homens, com mais de 15 anos. Seguemalgumas de suas conclusões:

Agressões:• A cada 2 minutos, 5 mulheres sofremviolência no Brasil. Há 10 anos, eram 8mulheres a cada 2 minutos.• Embora apenas 8% dos homens

capital no campo, que é um acúmulo dos8 de março. Esse é um fator que vemacumular para a luta política do MST. Nósenquanto Movimento temos que nosreposicionar para enfrentar essas lutas.

JST: Houve um avanço na formaçãopolítica das mulheres, as companheirasestão participando de mais espaços dedireção ao longo dos anos?

MF: Esse processo é um acúmulo deexperiências organizativas. A ampliaçãoda participação das mulheres dentro doMST é reflexo de um acúmulo deexperiências organizativas das mulheres,que foram sendo construídas ao longode toda a história do Movimento.

JST: Quais os desafios colocadospara o Setor de Gêneroe para as mulheres do MST?

MF: Consolidar, reforçar, dar um caráterorganizativo para as lutas das mulheresno MST. Essa é uma tarefa, e um desafio:construir espaços de participação, envol-ver as companheiras na efetivação doconjunto das lutas. Precisamos de maisexperiências concretas de envolvimentodas companheiras, de envolvimento orgâ-nico, na base, nos setores, nas instânciasdo Movimento. As companheiras pre-cisam se considerar – e ser – parte doprocesso de construção. E dar conti-nuidade à perspectiva de trabalhar naquestão da formação política.

(COLABORARAM SOLANGE ENGELMANN

E MARY CARDOSO)

digam já ter batido “em umamulher ou namorada”, 25%

diz saber de “parente próximo” que jábateu e 48% afirma ter “amigo ouconhecido que bateu ou costuma baterna mulher”. Dos homens que assumiramjá ter batido em uma parceira, 14%acreditam que agiram bem e 15%afirmam que o fariam de novo.• Cerca de 1 em cada 5 mulheres hoje (18%)consideram já ter sofrido alguma vez“algum tipo de violência de parte de algumhomem, conhecido ou desconhecido”.• Duas em cada cinco mulheres (40%) játeriam sofrido alguma violência, aomenos uma vez na vida, sobretudo algumtipo de controle ou cerceamento (24%),

alguma violência psíquica ou verbal(23%), ou alguma ameaça ou violênciafísica propriamente dita (24%).

Relações Conjugais:• Nas modalidades de violência sexual ede assédio, os patrões, desconhecidos eparentes como tios, padrastos ou outroscontribuíram e em todas as demais, o par-ceiro (marido ou namorado) é o respon-sável por mais 80% dos casos reportados.

Na página da Fundação na Internet vocêpoderá acessar o conteúdo íntegro dapesquisa e outras modalidades pesquisa-das. Segue o link: http://www.fpa.org.br/galeria/perfil-da-amostra.

homem e uma mulher nova. Isso nãoquer dizer que abandonamos a linhapolítica central de enfrentamento aocapital no campo. Essa é nossaorientação geral, mas o tema da violênciaprecisa ser considerado na realidade dosestados, que têm tentado construir suasformas de pautar o tema, seja em espaçosde formação internos, seminários, etc.

JST: O que vem sendo feito junto aoscompanheiros em relação a essa temática?

MF: Estamos buscando construir algunsespaços de debates, por ora mais entremulheres. Claro que é um tema que pre-cisa ser debatido por todos, e queremoscaminhar nesse sentido. Por isso pautaragora, para deixar claro que existe esseproblema, e que precisamos aprofundaresse olhar. Os estados têm a orientaçãode trabalhar essa temática, também juntoa outras organizações, da cidade.

JST: O que as mulheres e o MSTacumularam com as lutas do 8 de março?

MF: O fato de as mulheres desenvolve-rem experiências todo ano, na perspectivade garantir uma unidade e a luta, já é umacúmulo político. Esse processo históricojá um fator positivo. Outro avanço é a

percepção da necessidade de as mulheresse organizarem, construírem suas lutas. Oque a gente observa nesse último períodoé que as mulheres têm buscado, a partirde uma análise da realidade e da questãoagrária, o enfrentamento do modelo do

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6 JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011

ESTADOS Crime foi retaliação a cobranças de salários atrasados por três meses

REYNALDO COSTA

SETOR DE COMUNICAÇÃO

EM UMA OPERAÇÃO daspolícias Militar e Civil doMaranhão foi preso emAçailândia, no final de

janeiro, o fazendeiro Adelson Veras,acusado de mandante do assassinato dostrabalhadores Gilberto Ribeiro Lima eVanderlei Ferreira de Meireles. A opera-ção prendeu ainda seus dois filhos, sus-peitos de queimar, esquartejar e ocultaros corpos das vítimas. Ainda foram presosquatros capangas da fazenda. Um delesconfessou a autoria do crime e que agiu

ANA MARIA AMORIM

JORNALISTA E MILITANTE DA CONSULTA POPULAR

CERCA DE 250 pessoasparticiparam do 23º EncontroEstadual, em Campo do

Meio, dos dias 18 a 21 de fevereiro, paradiscutir os desafios do Movimento paraeste ano. O espaço também previu oEncontro dos Amigos dos Sem Terra, comapoiadores do MST em um momento deformação, confraternização e fortalecimen-to das parcerias.

Reforma Agrária paradaOs dados da Reforma Agrária em

Minas Gerais são alarmantes. Já faz doisanos que o Estado não consegue assentarnenhuma família do Movimento e, paraas famílias que foram assentadas, não háassistência técnica. “No ano de 2010,tivemos o menor número de assentamen-tos por ano no Brasil”, afirma Valdir. Na

Entidade lança

estudo sobre

trabalho escravo

no Maranhão

O Centro de Defesa da Vida e dos DireitosHumanos de Açailândia (CDVDH) lançouno dia 27 de janeiro o Atlas Político-Jurídi-co do Trabalho Escravo Contemporâneono Maranhão. O livro, em sete capítulos,analisa diversos fatores entorno deste fenô-meno chamado trabalho escravo, comoquestões econômicas, sociais e culturais,aliadas à questão da migração e, principal-mente, aos conflitos agrários, já que muitos

trabalhadores são resgatados em fazendas.Organizado pelo advogado Nonnato Mas-son, membro da Comissão de Direitos Hu-manos da OAB-MA, Antonio Filho, ba-charel em direito e coordenador jurídicoda entidade e pelo Setor de Comunicaçãodo MST-MA. “O objetivo do Atlas não évir falar da existência de trabalho escravo,pois está já é de conhecimento dasociedade, o básico deste material é trazeruma análise das fiscalizações e dosprocessos que correm na justiça e outrosdocumentos oficiais relacionado ao tema”,afirma Nonnato Masson.A idealização do livro saiu a partir dos 15anos de atuação do CDVDH que reúneem sua sede centenas de processos e relatosde trabalhadores fugidos de fazendas noestado. “Com base nestes documentos etendo em vista que muitos destes processosficam impunes, que nossa entidade resolveuconstruir este estudo, que é uma análise deprocessos que envolvem dezenas defazendeiros maranhenses com este crime”,explica Antonio Filho. (RC)

Fazendeiro é preso por homicídio de trabalhadorespor ordem do fazendeiro Adelson. Ajustiça ainda tem mandado de prisãocontra outros seis acusados.

Ocorrido em maio de 2008 na fa-zenda Boa Esperança, de propriedadedo acusado, o crime teria sido motivadoa partir de uma dívida que Adelson teriacom os trabalhadores, que trabalhavamhá três meses sem receber. O fazendeironão queria fazer pagamento, uma práti-ca comum na região. Por isso, teriamandado executar Gilberto e Vander-lei, devido às constantes cobrançasrealizadas por eles. A operação en-controu no dia as ossadas dos dois tra-balhadores na fazenda.

O “Gato Adelson”, como é conhecidona cidade, é temido por sua truculência edesrespeito às autoridades. Ele costumapunir os trabalhadores que desrespeitamseu código de trabalho com a morte.Adelson iniciou sua atividade profissionaltrabalhando como “gato” (aliciador demão de obra escrava), para o fazendeiroGilberto Andrade (escravocrata conhecidodo grupo móvel e da Justiça). Arregi-mentador de trabalhadores no Piauí paraas fazendas de Gilberto, ele grilou terrasdentro da Reserva Biológica do Gurupi.Hoje ele é um dos principais acusados dedesmatar a floresta. Todo o seu patri-mônio vem de práticas ilícitas.

MST realiza encontro em berço do latifúndioregião do sul de Minas Gerais um as-sentamento ilustra bem essa realidade: háquatro anos que as famílias do assenta-mento Santo Dias vivem como nos acam-pamentos, pois não chegam as verbas paraefetivar o assentamento no local, obrigandoas famílias a viverem sem água encanada,saneamento, educação e transporte.

A atuação do órgão do governo paracuidar da Reforma Agrária, o Incra, épraticamente inexistente. “Há anos que oIncra está com um superintendenteprovisório e sem verbas. O Incra estápropositalmente congelado”, diz o SemTerra Geraldo Magela Santos.

Nos arredores do assentamento 1º doSul, onde se organizou o encontro, ahistória da luta pela terra é marcada porconflitos e descaso. Nestas terras tam-bém está o “maior conflito de terras doMST em Minas Gerais”, analisa SílvioNetto, da Direção Estadual. Netto serefere às terras da antiga usina Ariadnó-

polis, desativada em 1992. Os proprie-tários da usina e das terras, que somamum total de 6,6 mil hectares, deixaramuma dívida de R$ 5 milhões com os tra-balhadores e mais R$ 392 milhões combancos públicos e privados.

Os próprios ex-trabalhadores da antigausina ocuparam as terras, devido a umaimensa dívida trabalhistas que não foi paga.“Esta ocupação foi em 1997. De lá pra cá,milhares de famílias, tanto dos ex-trabalhadores como famílias pobres quequeriam um pedaço de terra passaram poraqui. Não há, porém, uma postura doEstado para fazer destas terras área deReforma Agrária. Essa luta denuncia afalência da Reforma Agrária em MinasGerais”, completa Netto.

LutaO último dia do encontro foi de luta.

Cerca de 600 Sem Terra se uniram àsfamílias acampadas na antiga usina reivin-dicando aquela área. A decisão sobre adesapropriação do imóvel está congeladahá anos no Incra. Enquanto isso, segundoo MST, os proprietários utilizam uma fa-mília como “testas de ferro” dos proprie-tários. Ou seja, uma família, em acordocom os antigos donos da usina, mora ilegal-mente na terra e se apresenta como osefetivos donos de 6 mil hectares da fazenda.

Já aconteceram seis despejos na áreae há onze acampamentos, com 180 fa-mílias resistindo nas terras. O conflitode Ariadnópolis se arrasta há 14 anos enão se resolverá enquanto a terra nãoestiver nas mãos dos trabalhadores.600 pessoas ocuparam a usina Ariadnópolis

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7JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011

ESTADOS Música, poesia, samba e carnaval fazem parte da luta

MARIA APARECIDA E SOLANGE ENGELMANN

SETOR DE COMUNICAÇÃO

AO SOM da viola caipira, dotambor e de outros instrumen-tos musicais, a Escola Nacio-

nal Florestan Fernandes (ENFF) celebrou,no dia 28 de janeiro, a cultura popularbrasileira no “1º Mutirão de Cantoria daENFF”, em Guararema (SP).

Entoando em coro a música “CálixBento”, de autoria do folclore mineiro,diversos poetas e cantadores deram inícioao que seria uma tarde de música, poesia evalorização da cultura popular.

Dentre os diversos cantadores,estiveram presentes Zé Mulato e Cassiano,representando a essência da música caipira,Pereira da Viola, presidente da AssociaçãoNacional de Violeiros e Violeiras do Brasil(ANVB) e o grupo Ciranda Violeira, deSão Bernardo do Campo, que organizadiversos encontros de violeiros em SãoPaulo. Aproveitando o momento decantoria, a escola de samba Unidos daLona Preta, do MST de São Paulo,apresentou o samba enredo com o qualdesfila pelas ruas do munícipio de Jandira,

JOÃO MÁRCIO

SETOR DE COMUNICAÇÃO

*“Vai em frente mulher,companheira, segue sempre

o teu caminhar deixando paratraz as mazelas rotineiras

para um novo tempo alcançar”...(Sirlene Ferraz da Luz - Cici)

*Trecho do Samba que será cantadopelas mulheres do Pará

COM O TEMA “O Grito dasmulheres pela vida e contrao agronegócio na Amazonas”,

as militantes no Pará fazem uma grandefesta na região sul e sudeste para o diainternacional da mulher, que caijustamente no dia 08 de março, carnaval.

O nome do bloco, batizado de Guer-reiras do Araguaia, traz à tona a his-toricidade de uma região marcada pelaresistência feminina, desde HeleniraRezende e Dina Teixeira, que lutaramna Guerrilha do Araguaia, até as açõescamponesas travadas na década de 70

Mulheres militantes do MST no Pará

colocam bloco na rua no carnaval

aos dias atuais, com as militantes doMST no Pará. “Aproveitaremos o en-sejo para botar nosso bloco das mili-tantes no Pará na rua”, diz Maria Rai-munda, dirigente estadual. “As mulhe-res no Pará sempre participaram deocupações, mobilizações e decisõespolíticas no MST”, completa.

Como ocorreu na ocupação da Fazen-da Rio Vermelho, de umas das famíliasde latifundiários do Sul do Pará, osQuagliato, justamente no dia 8 de marçode 2006, com a participação efetiva dasmulheres, que fizeram uma marcha até olocal, no município de Sapucaia.

Ou como relembra Maria Raimunda,o acampamento Helenira Rezende, emCanaã dos Carajás, que foi consolidadopor uma brigada feminina que “organizouas famílias, o espaço e montou os barracosprovisórios”. Assim, do dia 5 ao dia 8 demarço, nas ruas do Pará, as marcasresistentes dessas mulheres serão entoadaspelos muitos sambas e marchinhas quefalam sobre a história e os temas centraisque as oprime nos dias de hoje na região.

Mutirão de Cantoria da ENFF celebra cultura popular

Unidos da Lona Preta (Veja letra na contra-capa deste edição)

Batucada do povo brasileiro “a luta fazendo o samba; o samba fazendo a luta”

“Cara amiga, caro amigo: a Unidos da Lona Preta é a escola de samba doMovimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Todos os anos nos reunimospara fazer um carnaval diferente, onde o estudo da nossa realidade, a diversãoe a cultura de nosso povo se encontram. Nesta brincadeira todos podemparticipar: crianças, adultos, idosos, homens e mulheres. Seja morador deJandira ou seja morador do mundo, o importante é ter samba na veia.”

(Rosana Santos, da Grande São Paulo)

O espaço em Mutirão

A construção da atividade no espaçoda ENFF tem grande simbologia. “Opróprio nome Mutirão está relacionadoà essência da escola, que foi construídaa partir de mutirões de solidariedade etrabalho voluntário”, relata Felinto Pro-cópio, o Mineirin, integrante do Coleti-vo de Cultura do MST. “É através demutirões também que cantadores epoetas trazem presente a musicalidadee a poesia popular que tem de melhorno Brasil, consolidando assim umsonho de ter a cantoria de resistêncianesse espaço de formação”, completa.

A escola foi construída com o esforçocoletivo de centenas de pessoas que passa-ram por cursos e atividades. “Assim é tam-bém o conhecimento, um esforço, umatarefa coletiva de todos que pensam em mu-danças. A música também se insere aí. Porisso esse Mutirão tem o sentido de construiruma nova percepção da arte, da cultura,como elementos fundamentais para for-mação e animação da luta”, relata Gasparim.

Com base em diversos gêneros damúsica e da cultura popular, o caráter doMutirão de Cantoria é um pouco mais am-plo que o encontro de violeiros, porquepermite ser ocupado por outros gêneros,como o samba, que fazem parte da nossagigantesca e diversificada cultura brasileira.

A viola caipira é um movimento de resistência da cultura camponesa

no carnaval 2011 (ver letra na contracapadesta edição).

Na tarde de poesia e cantoria, estiverampresentes cerca de 500 pessoas, entreartistas, amigos do MST e trabalhadores etrabalhadoras Sem Terra de diversasregiões do país.

O cantador e construtor de instrumen-tos musicais, Levi Ramiro, que acompanhao MST desde meados da década de 90,ressalta que o Mutirão de Cantoria éfundamental para fortalecer a parceria entreo Movimento, os cantadores e a própria

Associação de Violeiros. “A viola caipirano Brasil é um movimento de resistência.Como um movimento social, o MST aca-ba sendo também esse símbolo e por issoajuda a romper barreiras relacionadas àcultura popular e a música caipira”, argu-menta. O encontro surgiu por meio de umtrabalho de valorização da arte e da culturapopular no Movimento, no processo deformação da consciência, como afirmaGeraldo Gasparim, da CoordenaçãoPedagógica da ENFF: “Uma das dimensõesda formação humana, das dimensões doconhecimento passa, obrigatoriamente,pela arte, pela cultura. É um elementofundamental na formação da consciênciadas pessoas. Um povo sem cultura, semraiz, sem tradição é um povo morto”.

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Arquivo MST

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ESPECIAL Livro fotográfico registra lutas em defesa do rio e dos povos

98 JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011JORNAL SEM TERRA • FEVEREIRO 2011

2008

2007

2006

os danos dos monocultivos deeucalipto, além de protestos contraa Syngenta. Houve ação nosexperimentos da Monsanto emSão Paulo e companheiras foramagredidas no Rio Grande do Sul.

Mais de mil mulheresocuparam os trilhos de uma dasprincipais ferrovias da mineradoraVale (antiga Vale do RioDoce), que corta o município deResplendor, na região do Vale doRio Doce, em Minas Gerais.

As mulheres da Via Campesinarealizaram manifestações, protestose ocupações em diversos estadoscontra o agronegócio e em defesa daReforma Agrária. Nesse ano,algumas questões foram centrais,como a decisão do governo emliberar o milho transgênico daMonsanto e Bayer, os prejuízosambientais e sociais da Vale naregião de Minas Gerais e Maranhão,

As mulheres da Via Campesinalevaram às ruas de diversascidades o lema da “Luta pelaSoberania Alimentar e Contra oAgronegócio”. Manifestações eprotestos com esse lema foramrealizados por todo o país. Apresença do presidenteestadunidense George W. Bush noBrasil esquentou ainda mais osprotestos, unificando a esquerdabrasileira e os movimentos sociaisem torno de um mesmo lema: ForaBush! A pauta anti-imperialistafoi marcada principalmente pelaluta contra a expansão doagronegócio e, consequentementedos agrocombustíveis.

Além das manifestações nasruas, a Via Campesina promoveuocupações de empresastransnacionais ligadas aoagronegócio. Na região de RibeirãoPreto, interior de São Paulo,

mais de 900 mulheres ocuparam aárea da usina Cevasa, dia 7. A usinaCevasa é a maior do Brasil e teveparte de seu capital vendido para atransnacional Cargill, líder doagronegócio mundial.

2009 a jornada mostrou aos inimigos daReforma Agrária e dostrabalhadores que vamos continuarenfrentando o agronegócio,colocando um projeto comoalternativa para o campo brasileiro.

Denunciamos as monoculturas, eocupamos uma usina da Cosan, efazendas. Denunciamos as condiçõesprecárias de trabalho, que chegamao cúmulo da exploração escrava.Por isso ocupamos engenhos emPernambuco e realizamos marchas.Denunciamos o projeto detransposição do Rio São Francisco.Denunciamos o modeloagroexportador, que prioriza o lucrodas grandes empresas e ocupamos oPortocel, da Aracruz Celulose,

Ocupamos em Brasília oMinistério da Agricultura,ocupamos escritórios do Incra e doBanco do Brasil. Apostamos naformação e no estudo. Protestamosem frente ao Supremo Tribunal

Federal. Deixamos o compromissode seguir mobilizadas e não vamosnos curvar aos setores maisreacionários, às empresastransnacionais e ao capitalfinanceiro. Enquanto a terra, a águae as sementes estiverem ameaçadas,estaremos de prontidão.

2010A “Jornada de Luta contra o Agronegócio e contra a

Violência: por Reforma Agrária e Soberania Alimentar”mobilizou 16 mil mulheres em 20 estados brasileiros. Asmulheres da Via Campesina se somam à luta feministadurante a celebração do centenário do 8 de março edenunciaram os malefícios do agronegócio contra a vida e otrabalho das camponesas. Em Pernambuco, cerca de 350mulheres ocuparam a sede da Secretaria de Agricultura emRecife. As camponesas lembraram que Pernambuco é umdos estados com maior quantidade de conflitos agrários, masque em dois anos nenhuma nova desapropriação foi efetivada.

Cerca de 10 mil militantes semobilizaram em todas as regiões doBrasil na semana do 8 de março. Emum momento em que o presidentedo Supremo Tribunal Federal (STF),na figura do seu presidente GilmarMendes, perseguia o MST e as lutas,

Em todo o país milhares demulheres saíram às ruas paralutar contra a guerra, omilitarismo, a discriminação, amercantilização do corpo, omachismo e o preconceito.Trabalhadoras do campo e dacidade mostraram no DiaInternacional da Mulher, quenão querem homenagens oupresentes, mas sim respeito eigualdade, todos os dias do ano.

Para isso, se organizaramem marchas, manifestações eacampamentos reivindicandoseus direitos e mostrando quea luta feminista é partefundamental na construção deuma nova sociedade, baseadaem valores comosolidariedade e justiça.

Ganhou o mundo a açãocorajosa no horto florestal daAracruz Celulose, em Barrado Ribeiro (RS), quedenunciou a invasão dodeserto verde, fruto domonocultivo de eucaliptos. Asmudas romperam o silêncio!

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10 JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011

A força dos ruralistas está na ramificação por todos os partidosREALIDADE BRASILEIRA

MAYRÁ LIMA

SETOR DE COMUNICAÇÃO

MAIS UMA VEZ SE inicia uma novalegislatura dentro do Congresso Na-cional, em Brasília, e todos os olharesse voltam para a formação da mais con-servadora das bancadas de parlamen-tares: a chamada bancada ruralista,composta por deputados e senadoresque defendem o agronegócio, tem ca-ráter informal e pluripartidário, semum programa definido, mas extrema-mente competente quando o assunto éa defesa de seus interesses e privilégios.

Segundo o Departamento Intersin-dical de Assessoria Parlamentar (Diap),apesar de apenas 147 deputados teremsido reeleitos, dos iniciais 241, a ban-cada pode agora contar com mais 50novatos que são identificados comopotenciais membros da bancada rura-lista. “A conta nos leva a ter entre 159a 227 deputados”, disse o assessor doNúcleo Agrário do PT, Uelton Fernan-des. No Senado, identificam-se 18 se-nadores ligados ao agronegócio.

De acordo com o assessor do Insti-tuto de Estudos Socioeconômicos (Inesc),Edelcio Vigna, a força ruralista estájustamente na sua capacidade de rami-ficação por todos os partidos e até mes-mo dentro de bancadas estaduais. “Épor esta via que interferem e, às vezes,pautam a posição política de um partidoou de uma bancada. Os ruralistas, desdesua criação, aprimoraram a divisão detrabalho entre eles, conseguindo manteruma média de agregar cerca de um ter-ço dos 513 deputados federais”, explica.

Saber qual a força dos ruralistas éimportante para medir a resistência queprojetos ligados à execução da ReformaAgrária, à defesa do meio ambiente e àpromoção da soberania alimentar podemsofrer dentro do Parlamento. SegundoFernandes, mesmo que a bancada dosdefensores da Reforma Agrária e daagricultura familiar tenha crescido,elegendo representantes de vários par-tidos de esquerda e centro-esquerda,ainda continua sendo insuficiente emtermos de contabilização de votos.

“Também é importante considerarque a correlação de forças no Parlamentodepende diretamente dos movimentosque acontecem nas cidades e no campo.

Neste sentido, se os movimentos sociaise sindical conseguirem, ao menos emalgumas questões mais sensíveis, comoé caso da Reforma Agrária, produziremações conjuntas, acredito que se poderãocriar condições favoráveis não só noparlamento, mas também junto aogoverno”, avalia Fernandes.

Perfil ruralista

De acordo com os gastos de cam-panha declarados ao TSE, os deputadose senadores ruralistas foram financia-dos em pelo menos R$ 6,46 milhõespor grandes propriedades rurais, usinasde álcool, cooperativas agrícolas, lati-cínios, indústrias de celulose e papel,frigoríficos, laticínios, fabricantes de

biodiesel que querem ver seus interessesrepresentados. Para Fernandes, é pos-sível observar uma mudança qualitativanas representações ruralistas. Mesmoque as lideranças que personificam afigura do fazendeiro tradicional devidoa redutos eleitorais mais conservadoresdiminuam a cada ano, aumenta o núme-ro de parlamentares que se identificamcom a agroindústria, com o mercadointernacional e até mesmo a pequenosagricultores. “Processa-se paulatina-mente, a modernização conservadoraque vive o setor agropecuário brasilei-ro. Considerando-se o Parlamento comoum dos espaços institucionais onde a lutade classes se expressa, tem-se cotidia-namente a disputa em torno dos mode-los de produção, da propriedade da ter-ra, do projeto de sociedade”, sintetiza.

Pautas prioritárias

Para Vigna, os ruralistas, neste pri-meiro semestre, estarão voltados paraa votação do substitutivo do CódigoFlorestal, onde há o interesse criar umalegislação que permita a expansão dafronteira agrícola, principalmente naregião Norte do País, descriminalizan-do as infrações ambientais cometidaspelos grandes proprietários rurais e

PMDB

DEM

PP

PSDB

PR

PTB

PDT

36

24

24

22

15

10

9

PPS

PSC

PSB

PMN

PRB

PT do B

Total

6

5

4

2

1

1

159

Número de parlamentaresruralistas por partido

Fonte: Diap

A bancada do agronegócio: quem são eles?

agroindústrias. “Para a bancada rura-lista é uma questão vital, pois se foremderrotados começam a perder a áureamidiática de serem imbatíveis quandodefendem seus interesses”, disse.

O fim do índice de produtividade,que define a produtividade dos imóveisrurais, uma das funções sociais dapropriedade rural para fins de ReformaAgrária, segundo Vigna, também é umponto da agenda ruralista. “Outrospontos que possivelmente estão naagenda dos ruralistas é a compra de ter-ras por estrangeiros, a legislação traba-lhista no campo e a questão da mudançaclimática”, completa.

Fernandes lembra que, apesar do cres-cimento do agronegócio, demandas anti-gas devem se expressar, como é o casodo endividamento rural e a flexibilizaçãona importação de insumos, principal-mente agrotóxicos. O assessor do NúcleoAgrário do PT ainda alerta para os casosem que a bancada, espertamente, fazdisputa ideológica ao adotar bandeirascamponesas dentro do seu rol de interes-ses. “Exemplo deste tipo de ação é fatode lideranças desta bancada já teremanunciado que terão como prioridade aaprovação de um seguro de renda fami-liar, bandeira história dos movimentoscamponeses”, alerta Fernandes.

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11JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011

A culpa pelas catástrofes não é a natureza, mas o modelo de urbanização e a falta de RAREALIDADE BRASILEIRA

FREI BETTO

ESCRITOR E ASSESSOR DE MOVIMENTOS SOCIAIS*

A CATÁSTROFE na região serrana do Riode Janeiro é noticiada com todo alarde,comove corações e mentes, mobiliza go-verno e solidariedade. No entanto, cala umapergunta: de quem é a culpa? Quem é oresponsável pela eliminação de tantas vidas?

Do jeito que o noticiário mostra osefeitos, sem abordar as causas, a impressãoque se tem é de que a culpa é do acaso.Ou se quiser, de São Pedro. A cidade deSão Paulo transbordou e o prefeito emnenhum momento fez autocrítica de suaadministração. Apenas culpou o excessode água caída do céu. O mesmo cinismose repetiu em vários municípiosbrasileiros que ficaram sob as águas.

Ora, nada é por acaso. Em 2008, ofuracão Ike atravessou Cuba de Sul a

Norte, derrubou 400 mil casas, deu umprejuízo de US$ 4 bilhões. Morreram 7pessoas. Por que o número de mortos nãofoi maior? Porque em Cuba funciona osistema de prevenção de catástrofesnaturais. No Brasil, o governo prometeinstalar um sistema de alerta... em 2015!

O ecocídio da região serranafluminense tem culpados. O principaldeles é o poder público, que jamais

promoveu Reforma Agrária no Brasil.Nossas vastas extensões de terra estãotomadas pelo latifúndio ou pela espe-culação fundiária. Assim, o desenvol-vimento brasileiro se deu pelo modelosaci, de uma perna só, a urbana.

Na zona rural faltam estradas, energia(o Luz para Todos chegou com Lula!),escolas de qualidade e, sobretudo,empregos. Para escapar da miséria e doatraso, o brasileiro migra do campo para acidade. Assim, hoje mais de 80% de nossapopulação entope as cidades.

Nos países desenvolvidos, como aFrança e a Itália, morar fora dasmetrópoles é desfrutar de melhorqualidade de vida. Aqui, basta deixar operímetro urbano para se deparar comruas sem asfalto, casebres em ruínas,

pessoas que estampam no rosto a pobrezaa que estão condenadas. Nossos municí-pios não têm plano diretor, planejamentourbano, controle sobre a especulaçãoimobiliária. Matas ciliares são invadidas,rios e lagoas contaminados, morrosdesmatados, áreas de preservação am-biental ocupadas. E ainda há quem insistaem flexibilizar o Código Florestal! Darwinensinou que, na natureza, sobrevivem osmais aptos. E o sistema capitalista criouestruturas para promover a seleção social,de modo que os miseráveis encontrem amorte o quanto antes.

Nas guerras são os pobres e os filhosdos pobres os destacados para as frentesde combate. Ingressar nos EUA e obterdocumentos legais para ali viver é umaepopéia que exige truques e riscos. Mas

Darwinismo socialqualquer jovem latino-americano dis-posto a alistar-se em suas Forças Arma-das encontrará as portas escancaradas.

Tortura cotidiana

Os pobres não sofrem morte súbita(aliás, na Bélgica se fabrica uma cervejacom este nome, Mort Subite). A seleçãosocial não se dá com a rapidez com queas câmaras de gás de Hitler matavamjudeus, comunistas, ciganos e homos-sexuais. É mais atroz, mais lenta, comouma tortura que se prolonga dia a dia,através da falta de dinheiro, de emprego,de escola, de atendimento médico etc.

Expulsos do campo pelo gado que in-vade até a Amazônia, pelos canaviais co-lhidos por trabalho semiescravo, pelo cul-tivo da soja ou pelas imensas extensões deterras ociosas à espera de maior valoriza-ção, famílias brasileiras tomam o rumo dacidade na esperança de uma vida melhor.

Não há quem as receba, quem procureorientá-las, quem tome ciência das suascondições de saúde, aptidão profissionale escolaridade das crianças. Recebida porum parente ou amigo, a família se instalacomo pode: ocupa o morro, ergue umbarraco na periferia, amplia a favela. Etudo é muito difícil para ela: alistar-seno Bolsa Família, conseguir escola paraos filhos, merecer atendimento de saúde.Premida pela sobrevivência, busca aeconomia informal, uma ocupaçãoqualquer e, por vezes, a contravenção, acriminalidade, o tráfico de drogas. É essedarwinismo social, que tanto favorece aacumulação de muita riqueza em poucasmãos (65% da riqueza do Brasil estãoem mãos de apenas 20% da população),que faz dos pobres vítimas do descaso dogoverno, da falta de planejamento e dorigor da lei sobre aqueles que, ansiosospor multiplicar seu capital, ignoram osmarcos regulatórios e anabolizam aespeculação imobiliária. E ainda queremflexibilizar o Código Florestal, repito.

Copyright 2011 – FREI BETTO –Não é permitida a reprodução desteartigo em qualquer meio decomunicação, eletrônico ouimpresso, sem autorização do autor.Assine todos os artigos do escritor eos receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – AgênciaLiterária ([email protected])Municípios não têm plano diretor ou planejamento

O principal culpado pelo ecocídio é o poder público

Nossas vastas extensõesde terra estão tomadaspelo latifúndio ou pelaespeculação fundiária

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12 JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011

Lutas no Egito são fruto do descontentamento com o imperialismo e o empobrecimentoINTERNACIONAL

DOUGLAS ESTEVAM

SETOR DE CULTURA

OS POVOS ÁRABES estão vivendo umdos períodos mais importantes de sua his-tória, de grandes transformações e revolu-ções. Esse processo, resultado de lutas so-ciais que vinham amadurecendo no seiode sistemas políticos conservadores e auto-ritários, sustentados pelos Estados Unidose União Européia, tomou uma nova di-mensão depois que as manifestações sociaisprovocaram a queda de Zine El-AbidineBen Ali, presidente da Tunísia. Em poucotempo, o Egito iniciou seu processo deintensas mobilizações, que culminaram narenúncia do presidente Hosni Mubarak, nopoder há quase 30 anos. As mobilizaçõesdos povos árabes continuam em váriospaíses do norte da África e do OrienteMédio, como na Argélia, Marrocos, Líbia,Iêmen e na Muritânia.

O processo que vive o Egito é decor-rência do descontentamento de vários seto-res da sociedade face a um longo históricode empobrecimento do país e submissãoao imperialismo. A partir dos anos 80, aspolíticas neoliberais provocaram umamaior concentração da riqueza, umaumento da pobreza e do desemprego.Com mais de 80 milhões de habitantes,estima-se que dois terços da populaçãosejam jovens de até 30 anos, dos quaisquase 90% não tem trabalho. Os jovenstiveram uma participação importante naorganização das manifestações que levaramà queda do presidente. As estatísticasapontam que mais de 40% da populaçãoegipiciana vive na pobreza.

Um povo em luta

As manifestações no Egito vinhamaumentando nos últimos anos. Depois deum período de forte repressão contra ossindicatos e os movimentos sociais duranteos anos 80 e 90 - que tinham como justifi-cativa a luta contra o fundamentalismoislamista -, no ano 2000 as lutas come-çaram a tomar uma nova amplitude. Apartir de 2005, um movimento políticode contestação ao presidente havia come-çado, pedindo eleições democráticas. Essemovimento conseguiu ampliar o debatesobre os direitos sociais e reformas dosistema. Em 2006, o movimento ganhamais amplitude, quando são realizadasalgumas das maiores greves dos últimos

60 anos no Egito. O centro foi a indústriatêxtil da região de Mahalla, um dos maiorespólos de trabalho do Oriente Médio, commais de 28 mil trabalhadores. Essas grevesresultaram na criação de dois novossindicatos livres do controle governamen-tal e uma ampliação da pauta de lutas.

Durante o ano 2009 o número demanifestações e os setores envolvidos fo-ram mais expressivos. Mais de 40 mobili-zações ocorreram em 17 regiões do país.Entre os setores envolvidos, destacam-seos jornalistas, mineiros, pescadores,motoristas, funcionários dos correios,empregados de hotéis, a indústria têxtil.A crise alimentar que explodiu no mundointeiro em 2008 teve graves dimensões nospaíses árabes, onde 60% da alimentação éimportada. Depois das manifestaçõescontra a fome, durante o ano de 2009,houve lutas de camponeses em órgãospúblicos reivindicando expropriações deterras, contra os altos valores dearrendamento, por irrigação e acesso àágua. Esse conjunto de mobilizações estána base do grande movimento quederrubou o presidente Hosni Mubarak.

Geopolítica doOriente Médio

O Egito é um dos países maisimportantes do mundo árabe e conta comum dos maiores exércitos da região, com450 mil soldados na ativa, número quechega a 711 mil com membros da reserva.Existem outros 400 mil paramilitares,entre os quais a polícia e a guarda nacional.

O Egito é o segundo país em importânciade investimentos dos Estados Unidos naregião, atrás apenas de Israel. A maior partedos investimentos é utilizada no exército.O país também é consumidor de armas deguerra dos Estados Unidos e da Europa.

Para a política da Casa Branca naregião, a posição do Egito pode ser decisi-va. Desde que assinou o Tratado de Pazcom Israel, em 1979, o Egito tornou-seum dos principais meios de proteção dessepaís. O Egito controla as fronteiras dafaixa de Gaza, por onde passam os supri-mentos para abastecimento do povo pales-tino e os grupos de resistência. O Egitotambém tem um papel importante no en-frentamento contra o Hamas na Palestina.Além da forte influência que o país repre-senta no mundo árabe, seu exército podeter um papel fundamental no enfrenta-mento a possíveis conflitos na região.

Outro aspecto da relevância do Egitoé sua localização geográfica. A históriarecente do país esteve ligada ao Canalde Suez. O Canal é fundamental para otransporte marítimo internacional, pois

permite que se alcance o mercado asiá-tico sem fazer todo o contorno do conti-nente africano. São mais de 34 mil na-vios que atravessam o canal a cada ano,sendo 2.700 navios petroleiros. Asreceitas do Canal são uma das maioresfontes de renda do Estado egipiciano.

O futuro do Egito

A situação continua indefinida. Aposa renúncia do presidente Mubarak, umConselho Supremo das Forças Armadasassumiu o controle do país. As primeirasmedidas anunciadas foram a suspensãoda Constituição e a dissolução doParlamento, que havia sido eleito pormeios fraudulentos ainda sob o governode Mubarak. Há a previsão de novaseleições para os próximos meses.

Essas medidas não foram suficientespara desmobilizar a sociedade. As grevesnas indústrias continuam, manifestaçõesde vários setores sociais em lugares públi-cos e nas ruas não pararam. Diferenças nointerior do Exército podem influir no fu-turo da revolução. Uma parcela das ForçasArmadas controla parte da economia dopaís e mantém vínculos estreitos com osEstados Unidos. Outra parte, principal-mente os oficiais e soldados dos baixosescalões, reconhecem a legitimidade da re-volução. Nos confrontos com os manifes-tantes, que fizeram mais de 360 mortos, oExército não interveio. A formação de no-vas forças políticas e proposições de pro-jetos para o país ainda não estão definidas.A revolução continua em movimento.

Mais um presidente caiu!

Os jovens tiveram participação importante na organização das lutas no Egito

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13JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011

Participante ativo das lutas dos indígenas no México, contribuiu com os ZapatistasLUTADORES DO POVO

JOAQUIN PIÑERO

SETOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A BELA SELVA de Lacandona, localiza-da ao leste do estado mexicano de Chiapas,amanheceu silenciosa no dia 24 de janeiropassado. Em meio à chuva fina e um ventofrio, a notícia do falecimento de TatikSamuel – nome carinhoso dado pelos índiosmaias ao bispo emérito de San Cristóbalde las Casas, Dom Samuel Ruiz García,se espalhou com tristeza pelas montanhase comunidades da região.

Muito presente em todas as discussõesem defesa dos direitos humanos eprincipalmente em defesa dos direitosindígenas de Chiapas, do México e detoda América Latina, Dom Samuel Ruizse tornou mais conhecido por outrospovos do mundo ao participar dasnegociações entre os zapatistas e ogoverno mexicano, durante a rebelião de1994. Sua atuação evitou um massacrepor parte do governo às comunidadesindígenas que participaram do levante.

O Levante

A rebelião do Exército Zapatista deLibertação Nacional (EZLN), de pri-meiro de janeiro de 1994, marcou o iní-cio da vigência do Tratado de Livre Co-mércio (TLC) ou NAFTA – como ficouconhecido pela mídia internacional. Foiuma surpresa para o governo e o país.Dois a três mil indígenas insurgentes,em movimento armado, tomaram o con-trole de San Cristóbal de Las Casas,Ocosingo, Altamirano e Margaritas.

Apoderaram-se de uma estação de rádioe atacaram um quartel do exército. Emseguida, lançaram um manifesto aosmexicanos pedindo apoio à sua luta por“trabalho, terra, moradia, alimentação,saúde, educação, independência, liber-dade, democracia, justiça e paz”.

Em poucos dias o Exército Mexicanoem Chiapas se reforçou, reunindo em tornode 15 mil homens para enfrentar os zapa-tistas. Durante duas semanas de combate,400 pessoas foram mortas (aproximada-mente dois terços deles insurgentes) eoutras 70 foram capturadas e presas.

Após seus estudos de teologia naUniversidade Gregoriana de Roma, foiordenado sacerdote e, 12 anos mais tarde,

em 1959, chega a Chiapas, como bispo daDiocese de San Cristobal de las Casas.

Membro ativo na ConferênciaEpiscopal Latino Americana, DomSamuel teve participação intensa nosdebates teológicos do Concilio VaticanoII, de Medelín, Puebla e Santo Domingo.O bispo dedicou sua vida na formação dascomunidades eclesiais de base e naconsolidação de uma igreja verdadeira,com opção preferencial pelos pobres.

Suas ações e atitudes foram combatidasimplacavelmente por setores reacionáriosda Igreja Católica e pela direita mexicana.Ataques, calúnias e difamações eram cons-tantes em sua caminhada. Mas nem mesmoum atentado contra sua vida, em 1994, esua prisão, em 1995, impediram sua lutaem favor dos miseráveis, marginalizados,despossuídos e oprimidos. Dom Samuelera parte de um grupo de profetas de nossotempo do calibre de Dom Hélder Câmara,Dom Oscar Romero, Dom Pedro Casal-dáliga, Dom José Gomes, Dom TomasBalduíno, entre outros protagonistas dachamada Teologia da Libertação.

México

Sob o império espanhol e mesmo de-pois de o México se tornar independente,a prática social e política submetia os indí-genas ao trabalho intenso nas minas, plan-tações e fazendas. Essa prática se intensi-ficou nos tempos da ditadura de Porfírio

Dom Samuel Ruiz: o Bispo VermelhoDiaz (1875-1910). Com a revolução mexi-cana, em 1910, os indígenas se libertaramda servidão nas fazendas, mas continuaramsubmetidos ao controle político e eco-nômico dos donos das terras.

Assim como aconteceu em nossospaíses, o modelo neoliberal aprofundouo processo do êxodo rural ao excluir oscamponeses do grupo de agentes produti-vos. Com a reforma na Constituição, ogoverno do México não apenas anuloujuridicamente a possibilidade de fortale-cer a produção camponesa, tornandoilegal a luta pela terra, como acentuou arepressão seletiva e a exclusão das organi-zações camponesas pobres ou indígenasdos espaços de negociação. Para os in-dígenas, na prática, isso significou humi-lhações, torturas, encarceramento e ordensde prisões injustas, além de outras viola-ções dos direitos humanos e das garantiasindividuais. Tudo dentro da dinâmica dediscriminação racial, social e política.

Em Chiapas, essa antiga prática escra-vista ainda persiste nas fazendas, ondeindígenas vivem e trabalham em condi-ções semelhantes às existentes no sistemafeudal: trabalham três ou quatro dias porsemana, de forma obrigatória e gratuita,dedicando-se nos demais dias ao cultivode um pedaço de terra na mesma fazenda,para consumo próprio e se colocandoobrigatoriamente à disposição do patrãopara qualquer atividade.

É nessa realidade ainda presente emmuitos países do nosso continente, re-cheada de conflitos pelas crescentes de-sigualdades sociais, políticas neoliberaise governos repressores, que a estaturahumana do bispo Samuel semeava, jun-tamente com sua equipe de pastoral, acoragem, altivez e principalmente a espe-rança de um mundo melhor, mais iguali-tário através da prática de um evangelhovivo e atuante. A fundação do Centro deDireitos Humanos “Frei Bartolomé de lasCasas” ampliou esse trabalho com ascomunidades e passou a ser uma referên-cia de denúncia contra os direitos huma-nos e atuação do trabalho social.

Com a partida de Dom Samuel Ruiz,muitos de seus filhos adotados ao longode sua caminhada ficaram órfãos, masseguramente as sementes deixadas aolongo desse caminho continuarão a brotarlutas transformadoras de uma novaChiapas e uma nova América Latina.

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14 JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011

Autor se misturava às pessoas que inspiravam seus personagensLITERATURA

MARIA DIVINA LOPES

SETOR DE EDUCAÇÃO

ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVESde Azevedo nasceu em São Luís, Mara-nhão, em 14 de abril de 1857 e faleceuem Buenos Aires, Argentina, em 21 dejaneiro de 1913. Sua origem portugue-sa influenciou suas obras ao retratar asituação do imigrante no Brasil. Viveua infância em São Luís, cidade que jáse destacava pelo acervo artístico e ar-quitetônico, em um estado que foi aúltima província a aderir à independên-cia do Brasil e onde ainda hoje o povotraz as marcas da submissão às me-trópoles externas. Em São Luís, estu-dou até a adolescência e trabalhou co-mo caixeiro e guarda-livros. Interes-sou-se por desenho e pintura desde

muito cedo, o que mais tarde o pos-sibilitou caracterizar os personagensdos seus romances e garantir sua sobre-vivência. Ao se mudar para o Rio de

Aluísio Azevedo: um escritor em buscado retrato da vida do povo humilde

Pobre AmorCalcula, minha amiga, que tortura!Amo-te muito e muito, e, todavia,preferira morrer a ver-te um dia

merecer o labéu de esposa impura!

Que te não enterneça esta loucura,que te não mova nunca esta agonia,

que eu muito sofraporque és casta e pura,

que, se o não fôras, quanto eu sofreria!

Ah! Quanto eu sofreriase alegrasses

com teus beijos deamor, meus lábios tristes,

com teus beijos deamor, as minhas faces!

Persiste na moral em que persistes.Ah! Quanto eu sofreria se pecasses,

mas quanto sofro mais porque resistes!

As explorações e safadagens em “O Cortiço”Retrata a história de um homem

trabalhador e sovina que adquire fortuna,junta-se a uma negra e sente cada vez maissede de riqueza. João Romão chega aroubar para construir o que tanto almejava:um cortiço com casinhas e tinas paralavadeiras. Prosperou em seu projeto.

O cotidiano da vida no cortiço vai deacordo com a rotina e a realidade de seushabitantes, onde lavadeiras são o tipo maiscomum. Aos poucos, os novos morado-res, ainda que sérios e respeitáveis, vãosendo influenciados pelo meio em quevivem e, como os demais personagensdo cortiço, acabam com característicasde devassidão e degradação.

Janeiro, em 1876, matriculou-se naAcademia de Belas Artes, e, para semanter, fazia caricaturas para os jornais.Em 1878, a morte de seu pai o obrigoua voltar a São Luís e a responsabilizar-se por sua família. Iniciou sua carreirade escritor, tendo em suas primeirasobras influência do romantismo.

Pensador bastante preocupado emevidenciar as questões sociais de suaépoca, defendia a abolição daescravatura, contrapondo o poder doclero, colaborando e ajudando a lançarum jornal anticlerical. Ao lançar “OMulato”, em 1881, escandalizou asociedade maranhense, por tratar dasquestões raciais. O romance foi bemaceito na Corte, motivando-o a voltarpara o Rio de Janeiro em 1881, dispostoa ganhar a vida como escritor.

Muitos estudiosos dizem que comesta obra Aluísio inaugurou uma novacorrente estética e literária no Brasil: onaturalismo. Essa escola é conhecidapor radicalizar o realismo, apresentar arealidade tal qual ela é, com umalinguagem direta e crua, bem próximada língua falada. Há liberdade paratratar de sexo e uma visão de que o in-divíduo é produto da hereditariedade eseu comportamento fruto do meio social.Um dos principais autores dessa escolaé o francês Émile Zola (1840-1902).

Escritor que criticou duramente asociedade brasileira e as imposições desuas instituições, Aluísio se preocupouem observar e analisar minuciosamentecomo viviam os humildes, retratando asituação de degradação das casas depensão. A exploração dos imigrantes foiinspiração para escrever duas obrasbastante significavas: “Casa de pensão”(1884) e “O cortiço” (1890).

Suas obras nos ajudam a com-preender a história do Brasil e a per-ceber que questões como preconceitosraciais, vícios e diferentes formas dedegradação humana. Questões bastanteatuais que ainda precisam serenfrentadas nos dias de hoje.

A obra trata da exploração dos tra-balhadores, de relacionamentos – in-clusive homossexuais – e da influênciado meio sobre todos. Por vezes, o corti-ço parece um ambiente vivo, um ani-mal, assim como as pessoas tambémsão levadas por instintos, pouco racio-nais, também animalizadas, cheias devícios e mau comportamento.

Trecho da obra:

Eram cinco horas da manhã e ocortiço acordava, abrindo, não osolhos, mas a sua infinidade de portase janelas alinhadas.Um acordar alegre e farto de quemdormiu de uma assentada sete horas dechumbo. Como que se sentiam ainda naindolência de neblina as derradeirasnotas da última guitarra da noiteantecedente, dissolvendo-se à luz lourae tenra da aurora, que nem um suspirode saudade perdido em terra alheia.A roupa lavada, que ficara de vésperanos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. Aspedras do chão, esbranquiçadas nolugar da lavagem e em alguns pontos

azuladas pelo anil, mostravam umapalidez grisalha e triste, feita deacumulações de espumas secas.Entretanto, das portas surgiamcabeças congestionadas de sono;ouviam-se amplos bocejos, fortescomo o marulhar das ondas;pigarreava-se grosso por toda aparte; começavam as xícaras atilintar; o cheiro quente do caféaquecia, suplantando todos osoutros; trocavam-se de janela parajanela as primeiras palavras, osbons-dias; reatavam-se conversasinterrompidas à noite; a pequenadacá fora traquinava já, e lá dentrodas casas vinham choros abafadosde crianças que ainda não andam.No confuso rumor que se formava,destacavam-se risos, sons de vozesque altercavam, sem se saberonde, grasnar de marrecos, cantarde galos, cacarejar de galinhas. Dealguns quartos saiam mulheres quevinham pendurar cá fora, naparede, a gaiola do papagaio, e oslouros, à semelhança dos donos,cumprimentavam-se ruidosamente,espanejando-se à luz nova do dia.

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15JORNAL SEM TERRA • FEV/MAR 2011

Para não esquecerFevereiro

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Elogio da Dialética

...Os caídos que se levantem!Os que estão perdidos que lutem!

Quem reconhece a situaçãocomo pode calar-se?

Os vencidos de agora serão osvencedores de amanhã.

E o “hoje” nascerá do “jamais”.

3 Nascimento de Camilo Torres, 1929.Lutador colombiano, criouo Movimento Universitáriode Promoção Comunal eparticipou do movimentoguerrilheiro Exército deLibertação Nacional (ELN).

5 Morre Adão Pretto, fundadordo MST, da CUT, do PTe parlamentar, 2009.

6 Nascimento de CamiloCienfuegos,1932. Revolucionáriocubano que se destacouna luta de guerrilhas.

7 Nasce Dom Hélder Câmara,arcebispo, fundador da CNBB(Conferência Nacional dos Bisposdo Brasil) e das ComunidadesEclesiais de Base, 1909.

9 Nasce Apolônio de Carvalho, 1912.O brasileiro foi um grande militantesocialista do século XX, que lutouno Brasil, Espanha e França.Confira o filme“Vale a pena sonhar”.

10 Nascimento de Bertold Brecht,1898. Bercht foi um importantemilitante político, poeta edramaturgo, perseguido pelogoverno alemão pela sua posiçãocrítica da sociedade capitalista.

12 Nasce Olga Benário, 1908.Lutadora alemã, referência naluta comunista. Em 1934 édesignada pela InternacionalComunista para viajar ao Brasilcom Luís Carlos Prestes, quedepois se tornaria seucompanheiro. Entra no PartidoComunista do Brasil, é presa pelogoverno de Getúlio Vargas edepois deportada para aAlemanha nazista, onde éexecutada na câmara de gás.Confira o livro:MORAIS, Fernando. Olga.São Paulo: Cia das Letras.

16 Nasce Francisco Julião, advogado,deputado federal e líder das LigasCamponesas do Nordeste, 1915.

Uma visão popular doBrasil e do Mundo

www.brasildefato.com.br

Para não esquecerMarço

1 Nasce o pedagogo socialistaucrâniano, Anton Makarenko, 1889.Defendeu a relação entre educação,trabalho e coletividade na formaçãode personalidades novas, próprias deuma sociedade socialista.

4 Nasce João Pedro Teixeira, principallíder das Ligas Camponesas noNordeste, 1918.

5 Nasce Rosa Luxemburgo, 1871.Intelectual socialista polonesa, que em1893 colaborou na fundação doPartido Social Democrata Polaco.Segundo Rosa, os trabalhadoresdeveriam lutar por reformas através daatividade sindical ou no Parlamento,mas isso nunca bastaria para abolir asrelações capitalistas. O movimentooperário jamais poderia perder de vistaa conquista do poder pela Revolução.

“A massa não é apenasobjeto da ação revolucionária;

é sobretudo sujeito”.5 Nasce Patativa do Assaré, 1909.

Poeta cearense, que chamavaatenção pela criatividade naspoesias e repentes, baseados naoralidade, registrando a vida dosertanejo, suas alegrias e tristezas.

8 Dia Internacional da Mulher.14 Dia Internacional de Luta Contra

as Barragens. Data definida noPrimeiro Congresso dos atingidosde todo o Brasil, em 1991, ondese organiza o Movimento dosAtingidos por Barragens (MAB).Saiba mais: www.mabnacional.org.br

Confira o filme: Cabra Marcado paraMorrer, de Eduardo Coutinho

Inconveniência artísticaHoje eu quero contemplaruma arte inconveniente,criadora, surpreendente!

Uma arte dos artistas loucos,que são poucos.

Dos que perguntam,interrogam, incomodam.Dos que produzem comencanto e sensibilidade.

Dos que decompõe a historia, despertama memória e recriam o cotidiano.

Desejo uma arte que expresse beleza,Que produza riso e fúria.

Que questione o caos e revele ariqueza universal.

Setembro de 2010- Divina Lopes

Esse Mosaico foi criadopor Sônia Piatti, aluna deServiço Social, que esteve noEncontro Estudantes emMovimento, organizadopelo MST Alagoas em 2010.

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