jornal da jornada da juventude sem terra

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M uita gente fala que nas áreas da Reforma Agrária não existe ju- ventude, mas há pelo menos 500 mil jovens nos assentamentos e acampamen- tos do MST espalhados pelo Brasil. Muitos fazem parte de coletivos, setores, espaços de coordenação, núcleos de base. No entanto, a maioria não participa das atividades do nos- so Movimento. Portanto, é um desafio fazer um grande debate para integrá-los na nossa dinâmica de organização. Diante disso, as dúvidas se multiplicam. Como a juventude pode participar e cons- truir os espaços da organização e das arti- culações com outros movimentos do cam- po e da cidade? Essa resposta está imersa num profundo diálogo com a juventude. Num diálogo que provoque a reflexão so- bre questões cruciais como, por exemplo: o que os jovens esperam do MST? O que se espera dessa juventude? Quais seriam os temas mais importantes para a juven- tude neste momento? Quais os temas fundamentais quando se trata de pensar DA JUVENTUDE DESAFIOS SEM TERRA O tempo bate forte e contundente no peito daqueles que estão inquietos... É tempo de an- darmos firmes e convictos unindo vozes ditas ou não ditas (na ti- midez do silêncio), juntando mãos, pés, olhares, frontes, sonhos, perspectivas e cami- nhos. A ausência de alguém pode causar fortes estrondos no amanhã que chega. É tempo mais do que nunca de nós! É tempo de debater arduamente os desa- fios da Juventude Sem Terra no momento histórico, apontar caminhos e viver experi- ências, combater, integrar, fortalecer, orga- nizar a luta e a participação. Um momento propício para aprofundar discussões e te- mas pertinentes ao cotidiano da vida e sua íntima ligação à luta mais ampla. O momento de refletir sobre temas como trabalho e renda, a auto-sustentação da juventude em áreas de assentamentos, a cooperação, os impactos dos agrotóxicos e suas consequências para a saúde humana e o meio ambiente, a urgência de viabili- zar não somente experiências isoladas em agroecologia, mas a produção de alimentos sadios. Além disso, a necessidade de uma educação de qualidade e de caráter libe- rador, uma educação de classe, elementos que fazem parte da nossa campanha con- tra o fechamento das escolas do campo. Não podemos ignorar também as arti- manhas de uma cultura promovida e es- timulada pelo sistema capitalista, com uma fina intencionalidade de amorteci- mento de consciências, em contraposi- ção à urgente necessidade de construir uma cultura revolucionária e dar um novo significado à nossa própria cultura raiz. Esses temas perpassam o debate da Juventude Sem Terra, que nas suas jorna- das com um caráter de agitação, mobili- zação e organização busca instigar a dis- cussão dos nossos desafios no MST, bem como realizar ações concretas para forta- lecer a luta da Reforma Agrária Popular e de toda a classe trabalhadora. O presente jornal apresenta elemen- tos sobre esses temas para estimular, ali- mentar e ajudar no debate nas escolas e nos grupos de jovens dos assentamentos, que tocam as tarefas na área da produ- ção, da educação, da juventude, da cul- tura, da comunicação e tantas outras Mãos dadas Carlos Drummond de Andrade Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente. JUVENTUDE, JUVENTUDE LEVANTA, É PRA LUTAR! que fazem parte do processo permanen- te de construção do nosso Movimento. Reúnam a juventude de todos esses espa- ços e façam uma discussão sobre a situa- ção e desafios da nossa juventude. Quais os principais problemas que a Juventude Sem Terra enfrenta? Como é possível en- frentá-los coletivamente? Como podemos nos organizar e fazer as lutas dos jovens acampados e assentados? Não podemos perder a hora nem as oportu- nidades! É tempo de teimosamente avançar de mãos dadas (como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade) com punho ergui- do e peito aberto à vida que se quer construir. em um novo país? Alguns desses temas com certeza perpassam pela discussão de trabalho e renda, de educação, cultura, da própria sexualidade, gravidez inesperada e aborto. É hora de fazermos o debate so- bre essas questões! Um fantasma comum de aparecer, por exemplo, é a questão do êxodo rural. A saída do assentamento em busca de renda, escolas, arte, acaba sendo uma so- lução imediata, e também individual. É uma mudança da vida pessoal sem que a realidade seja transformada. E ao mes- mo tempo em que isso acontece, as dis- cussões que temos acumulado mostram que a juventude quer ficar no campo, quer participar e propor mudanças. Participar do MST é a possibilidade de encontrar um espaço coletivo onde se possa falar e ser ouvido sobre as deman- das e expectativas que se tem dentro dos acampamentos e assentamentos. É colo- car para o conjunto dos espaços da Refor- ma Agrária o desejo dos jovens de lutar pela conquista de direitos, atuando como sujeitos ativos e transformadores da pró- pria realidade, não permitindo que outros falem em seu lugar. Nessa perspectiva, a juventude pode fazer com que o Movi- mento avance na luta por uma vida me- lhor, uma vida mais completa e intensa. O Coletivo de Juventude do MST tem a tarefa de dar visibilidade sobre as ques- tões que envolvem os jovens, organizá- los nos assentamentos e acampamentos e promover atividades políticas, econô- micas e culturais. Essa discussão ganhou força nos encontros realizados na Uni- camp de 2000 a 2002, com a participação de muitos jovens militantes Sem Terra. Em 2005, na Marcha Nacional pela Re- forma Agrária, cerca de 60% de partici- pantes eram jovens, o que intensificou o debate. Outro marco na trajetória desse coletivo é o Seminário de Juventude da Coordenação dos Movimentos Sociais em 2006, bem como os Seminários da Via Campesina realizados no mesmo período, onde se fortaleceram debates importantes. São diversas as formas de organização que podemos criar. Já existem muitas iniciati- vas interessantes. Podemos nos mobilizar por meio da música, do grafite, do esporte, de um grupo de teatro, nas roças coleti- vas, no lazer e no trabalho, em grupos de jovens, grupos de estudo, organizações de estudantes em nossas escolas, que tem um grande potencial. Como podemos avançar nessas formas organizativas? Ser militante para a nossa juventude é jus- tamente criar perspectivas, um sentido para a vida. É fazer parte de um Movimento que luta para melhorar as condições da po- pulação do campo, por um país diferente, que combate a desigualdade, o pensamento único, o individualismo e o egoísmo. É pela luta, pela organização, pelas práticas coleti- vas, cultivando valores de companheirismo e solidariedade, que muitos dos problemas que vivenciamos podem ser resolvidos, que a vida pode ser reconstruída, e que nossas áreas de assentamentos podem ser fortalecidas e re- feitas com a dignidade que merecemos. Bansky

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Segunda edição

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Page 1: Jornal da Jornada da Juventude Sem Terra

Muita gente fala que nas áreas da Reforma Agrária não existe ju-ventude, mas há pelo menos 500

mil jovens nos assentamentos e acampamen-tos do MST espalhados pelo Brasil. Muitos fazem parte de coletivos, setores, espaços de coordenação, núcleos de base. No entanto, a maioria não participa das atividades do nos-so Movimento. Portanto, é um desafio fazer um grande debate para integrá-los na nossa dinâmica de organização. Diante disso, as dúvidas se multiplicam. Como a juventude pode participar e cons-truir os espaços da organização e das arti-culações com outros movimentos do cam-po e da cidade? Essa resposta está imersa num profundo diálogo com a juventude.

Num diálogo que provoque a reflexão so-bre questões cruciais como, por exemplo: o que os jovens esperam do MST? O que se espera dessa juventude? Quais seriam os temas mais importantes para a juven-tude neste momento? Quais os temas fundamentais quando se trata de pensar

DA JUVENTUDEDESAFIOS

SEM TERRAO tempo bate forte e contundente no peito daqueles que estão inquietos... É tempo de an-

darmos firmes e convictos unindo vozes ditas ou não ditas (na ti-midez do silêncio), juntando mãos, pés, olhares, frontes, sonhos, perspectivas e cami-nhos. A ausência de alguém pode causar fortes estrondos no amanhã que chega. É tempo mais do que nunca de nós!

É tempo de debater arduamente os desa-fios da Juventude Sem Terra no momento histórico, apontar caminhos e viver experi-ências, combater, integrar, fortalecer, orga-nizar a luta e a participação. Um momento propício para aprofundar discussões e te-mas pertinentes ao cotidiano da vida e sua íntima ligação à luta mais ampla.

O momento de refletir sobre temas como trabalho e renda, a auto-sustentação da juventude em áreas de assentamentos, a cooperação, os impactos dos agrotóxicos e

suas consequências para a saúde humana e o meio ambiente, a urgência de viabili-zar não somente experiências isoladas em agroecologia, mas a produção de alimentos sadios. Além disso, a necessidade de uma educação de qualidade e de caráter libe-rador, uma educação de classe, elementos que fazem parte da nossa campanha con-tra o fechamento das escolas do campo.

Não podemos ignorar também as arti-manhas de uma cultura promovida e es-timulada pelo sistema capitalista, com uma fina intencionalidade de amorteci-mento de consciências, em contraposi-ção à urgente necessidade de construir uma cultura revolucionária e dar um novo

significado à nossa própria cultura raiz. Esses temas perpassam o debate da Juventude Sem Terra, que nas suas jorna-das com um caráter de agitação, mobili-zação e organização busca instigar a dis-cussão dos nossos desafios no MST, bem como realizar ações concretas para forta-lecer a luta da Reforma Agrária Popular e de toda a classe trabalhadora.

O presente jornal apresenta elemen-tos sobre esses temas para estimular, ali-mentar e ajudar no debate nas escolas e nos grupos de jovens dos assentamentos, que tocam as tarefas na área da produ-ção, da educação, da juventude, da cul-tura, da comunicação e tantas outras

Mãos dadasCarlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros.Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considero a enorme realidade.O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,

não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente.

JUVENTUDE,

JUVENTUDELEVANTA,

É PRA LUTAR!

que fazem parte do processo permanen-te de construção do nosso Movimento.

Reúnam a juventude de todos esses espa-ços e façam uma discussão sobre a situa-ção e desafios da nossa juventude. Quais os principais problemas que a Juventude Sem Terra enfrenta? Como é possível en-frentá-los coletivamente? Como podemos nos organizar e fazer as lutas dos jovens acampados e assentados?

Não podemos perder a hora nem as oportu-nidades! É tempo de teimosamente avançar de mãos dadas (como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade) com punho ergui-do e peito aberto à vida que se quer construir.

em um novo país? Alguns desses temas com certeza perpassam pela discussão de trabalho e renda, de educação, cultura, da própria sexualidade, gravidez inesperada e aborto. É hora de fazermos o debate so-bre essas questões!

Um fantasma comum de aparecer, por exemplo, é a questão do êxodo rural. A saída do assentamento em busca de renda, escolas, arte, acaba sendo uma so-lução imediata, e também individual. É uma mudança da vida pessoal sem que a realidade seja transformada. E ao mes-mo tempo em que isso acontece, as dis-cussões que temos acumulado mostram que a juventude quer ficar no campo, quer participar e propor mudanças.

Participar do MST é a possibilidade de encontrar um espaço coletivo onde se possa falar e ser ouvido sobre as deman-das e expectativas que se tem dentro dos acampamentos e assentamentos. É colo-car para o conjunto dos espaços da Refor-ma Agrária o desejo dos jovens de lutar

pela conquista de direitos, atuando como sujeitos ativos e transformadores da pró-pria realidade, não permitindo que outros falem em seu lugar. Nessa perspectiva, a juventude pode fazer com que o Movi-mento avance na luta por uma vida me-lhor, uma vida mais completa e intensa.

O Coletivo de Juventude do MST tem a tarefa de dar visibilidade sobre as ques-tões que envolvem os jovens, organizá-los nos assentamentos e acampamentos e promover atividades políticas, econô-micas e culturais. Essa discussão ganhou força nos encontros realizados na Uni-camp de 2000 a 2002, com a participação de muitos jovens militantes Sem Terra.

Em 2005, na Marcha Nacional pela Re-forma Agrária, cerca de 60% de partici-pantes eram jovens, o que intensificou o debate. Outro marco na trajetória desse coletivo é o Seminário de Juventude da Coordenação dos Movimentos Sociais em 2006, bem como os Seminários da Via Campesina realizados no mesmo período, onde se fortaleceram debates importantes.

São diversas as formas de organização que podemos criar. Já existem muitas iniciati-vas interessantes. Podemos nos mobilizar por meio da música, do grafite, do esporte, de um grupo de teatro, nas roças coleti-vas, no lazer e no trabalho, em grupos de jovens, grupos de estudo, organizações de estudantes em nossas escolas, que tem um grande potencial. Como podemos avançar nessas formas organizativas? Ser militante para a nossa juventude é jus-tamente criar perspectivas, um sentido para a vida. É fazer parte de um Movimento que luta para melhorar as condições da po-pulação do campo, por um país diferente, que combate a desigualdade, o pensamento único, o individualismo e o egoísmo. É pela luta, pela organização, pelas práticas coleti-vas, cultivando valores de companheirismo e solidariedade, que muitos dos problemas que vivenciamos podem ser resolvidos, que a vida pode ser reconstruída, e que nossas áreas de assentamentos podem ser fortalecidas e re-feitas com a dignidade que merecemos.

Bansky

Page 2: Jornal da Jornada da Juventude Sem Terra

Em 1880 é criada a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, com a participação de políticos importantes, como Joaquim Nabuco e José do Patrocínio. Este foi o primeiro movimento político nacional que contou com significativa participação dos estudantes organizados, entre eles Castro Alves e Rui Barbosa.

No início do século 20, na Argentina, surgiu um movimen-to de crítica à educação oferecida. Conhecido como “A Reforma de Córdoba de 1918”, que colocou na pauta de toda América Latina a ideia de superação dos modelos educacionais coloniais das universidades .

Após a Reforma de Córdoba, outros países iniciaram pro-cessos semelhantes, como o Chile, Uruguai e Peru. Foi aprofunda-da a ideia de Universidade Popular no Peru, que deveria manter vínculos com a classe trabalhadora e defender a autonomia, a ex-tensão universitária, bolsas para estudantes pobres, a participação paritária nos órgãos universitários, a realização de concursos e a livre docência. Fundada pela federação dos estudantes, mais tarde

a universidade recebeu a contribuição docente do revolucionário peruano José Carlos Mariátegui. Em 1947, as lutas por questões de soberania nacional envolve-ram os estudantes brasileiros, como na campanha “O petróleo é nosso!”.

No ano de 1964, com o golpe militar brasileiro, a União Na-cional dos Estudantes (UNE) é incendiada e, com a lei Suplicy de Lacerda, colocada na ilegalidade. Os estudantes responderam com coesão em inúmeras manifestações. Uma delas foi a greve que paralisou a USP em 1965, com mais de 7.000 estudantes. Em 1966, a UNE demarca oposição aos acordos estabelecidos na educação entre o Brasil e os EUA, o MEC-Usaid.

O ano de 1968 semeou o mundo de ideias e lutas libertárias. Trabalhadores e estudantes franceses se uniram em inúmeras ocupações e greves. O fenômeno deu luzes ao mundo em re-percussões artísticas, anti-imperialistas, feministas. No Brasil,

em repressão, ocorrera o desmantelamento da UNE durante seu 30º Congresso em Ibiúna, realizado clandestinamente. Cer-ca de 1.000 estudantes foram surpreendidos pelas forças mili-tares e detidos.

No dia 28 de março de 1968, o estudante Edson Luís foi assassinado durante uma manifestação contra o fechamento do restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro. O Brasil assistiu cerca de 50 mil pessoas acompanhando o cortejo fúnebre em grande revolta. No dia 26 de junho de 1968, os estudantes voltaram a protagonizar o que seria o maior ato popular contra a ditadura, a passeata dos 100 mil.

No começo dos anos 1980, o Brasil vive um momento de esperança, com o esperado esgotamento da ditadura mili-tar. Em 1979, no Centro de Convenções da Bahia, o Movimento Estudantil marca o momento com a Reconstrução da UNE, no histórico 31º Congresso da entidade.

Em 1984 os estudantes mobilizam, junto com os milhares de trabalhadores brasileiros, as lutas pelas “Diretas Já!”

Em 1992 foi aprovada, no Congresso da UNE, a luta pelo im-peachment do presidente Fernando Collor de Mello. Na campa-nha “Fora Collor”, os estudantes “caras pintadas” marcaram a década com a derrubada do presidente.

O ano de 1999 foi marcado pelas lutas antineoliberais, em que jovens de diversos países se reuniram em Seatle (EUA) con-tra a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC). As atividades se repetiram em outros países com estudantes, am-bientalistas, religiosos progressistas e militantes de esquerda.

Em Salvador (BA), uma onda de protestos tornaram 2003 o ano da “revolta do buzu”, paralisando as ruas da cidade por diversos dias, com inúmeros confrontos policiais. Os protestos contra os aumentos nas tarifas dos transportes públicos leva-ram à criação do Movimento Passe Livre (MPL), em Florianópolis.

Em 2005, a juventude francesa demonstrou, nas ruas, radica-lidade contra a precariedade a que estava submetida. No ano seguinte, derrotaram o plano do presidente Nicolas Sarkozy. A Lei do Contrato Primeiro Emprego permitia flexibilizar as con-dições de trabalho e previa demissões sem indenizações após dois anos de trabalho.

Um movimento de ocupações de reitorias se levanta em 2007, principalmente nas universidades públicas brasileiras. Entre as pautas, estava a retirada do Programa de Apoio ao Plano de Re-estruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).

O início de 2011 foi agitado novamente pelos protestos contra os aumentos das passagens no transporte público das capitais brasileiras. Em São Paulo, aconteceram sucessivos atos e confrontos com a polícia. No mundo, revoltas de grandes pro-porções agitam o povo árabe, como na Tunísia e no Egito. Nes-tes países os estudantes foram os grandes catalisadores das revoltas populares.

Jovens e estudantes nas lutas populares

Eles dizem que só passam isso porque os jovens gostam. Mas vendo bem, achamos que só gostamos desse tipo de música, fil-mes, programas etc., porque não conhe-cemos outros... Nos fizeram acreditar que esse é o único tipo de “arte” a que podemos ter acesso, e que a arte “culta” é chata, que só os ricos gostam e podem ter. Quando te-mos oportunidade e começamos a estudar sobre as diferentes linguagens artísticas, percebemos que também podemos produ-zir música, teatro, painéis, poemas, cinema e que podemos fazê-lo com o nosso ponto de vista, de jovens, do campo, que lutam pela construção de uma nova sociedade. Assim, como todos podem cultivar a terra, produzir alimentos, todos podem produzir arte, desde que queiram e se empenhem para isso. Não existe um talento natural ou

CULTURA É MAIS QUEANIMAÇÃO!Não é questão de talentoApesar de quase todos os dias ouvirmos falar de

cultura, este é um tema bastante complexo, uma vez que cultura é tudo aquilo que fazemos para

produzir a nossa existência. Antigamente, no campo, isso era mais fácil de ver, porque a cultura e a arte estavam muito ligadas ao cultivo da terra. Mas as coisas foram se modificando, e hoje, na maioria das vezes, somos apenas consumidores e meros espectadores, seja da cultura - atra-vés da televisão, dos grandes shows, dos jogos de futebol milionários - seja da nossa própria comida, roupas etc.

A cultura e a arte viraram mais uma mercadoria, e a clas-se dominante as usa para manipular nossos sonhos, dese-jos e principalmente para dificultar a nossa organização coletiva. Querem nos fazer acreditar que os “valores” que

eles pregam, como o individualismo, o culto à pro-priedade privada, o consumismo, devem ser os nos-

sos. Já repararam que na maioria das vezes, quando temos tempo livre, acabamos ficando em casa assistin-do filmes americanos na Globo, ou escutando músicas que falam de mulheres bandidas e homens traídos, que passam nas rádios, mesmo as do assentamento?

dom, o que precisamos ter é a possibili-dade de conhecer, estudar e ter os meios para produzir essa arte, que podem ser um violão, uma filmadora ou um rádio.

Por isso, devemos nos organizar e lutar para que nossas escolas sejam grandes centros culturais e esportivos, onde a arte e o esporte não sejam apenas usados para passar o tempo ou nos animar, ou ainda para “ajudar” o professor a explicar algum fenômeno, por exemplo, com um “teatri-nho”. A arte e a cultura devem ser também um meio de aprendermos, muitas vezes mais interessante que apenas o professor falando, e que nos faça pensar e nos desafie a fazer novas coisas.

Além disso, o trabalho com a cultura e a arte

na escola pode ser um meio de troca com a comunidade e com a juventude da cida-de, pois podemos realizar apresentações de teatro, dança, oficinas e seminários. Que tal recebermos grupos culturais da cidade em nossas escolas e depois retribuirmos com uma visita às escolas deles mostrando nos-sa arte do campo? Ou aprendermos uma arte que nasceu na cidade, como o grafite, para pintarmos nossas escolas? E organi-zarmos sessões de cinema com debate para toda a comunidade?

Fica aqui o desafio, vamos nos organizar e montar brigadas culturais em cada escola de assentamento e acampamento e juntos produzirmos uma cultura que seja nossa, que contribua para termos uma vida me-lhor e nos fazer melhores seres humanos.

A realidade em que vivemos no campo brasileiro nos faz refle-tir sobre como podemos superar

tantas dificuldades para continuar vi-vendo em um lugar em que milhares de crianças, jovens e adultos têm seus direi-tos fundamentais negados pelo Estado. Sem terra, trabalho, renda, uma boa casa, posto de saúde e educação básica...

Não é desistindo de viver no campo que se resolve essas questões, uma vez que os centros urbanos não são uma solução para os problemas. Muito pelo contrário: o crescimento da população das cidades tem como consequência falta de emprego, de educação com qualidade, saúde, moradia e alimentação. Por isso, vemos na TV tantos casos de violência...

O MST, a partir da luta pela Reforma Agrária, tem demonstrado o potencial de organização quando aliamos a defesa dos direitos fundamentais a um projeto po-pular dos trabalhadores. Em toda a nos-sa trajetória de luta, somente quando nos organizamos conseguimos romper a cerca dos latifúndios que impedem o acesso às políticas públicas ao povo do campo. As-sim é em relação à Reforma Agrária, assim é em relação à educação.

No conjunto das ações que o Movimento desenvolve, a luta pela educação é uma das prioridades. Nesse sentido, o acesso à esco-la pública para as crianças, jovens e adultos é a principal bandeira de luta. Por que a escola tem que ser pública? Defendemos que educação é uma construção da huma-nidade, que não se vende nem se compra.

Um elemento importante para essa dis-cussão é o tema do transporte escolar. Por que a escola não pode estar no campo? Uma escola do campo pode corresponder à realidade dos jovens que vivem nas áre-as rurais. Além disso, os educandos teriam mais tempo para estudar, em vez de aguar-dar passar o ônibus e perder muito tempo no trajeto de ida e volta. Não podemos cair no debate imposto aos jovens dos assenta-mentos de defender ou não o transporte escolar que leva os educandos para uma escola fora do campo. O debate é outro.

Isso acontece porque o Estado alega, para fechar as escolas no campo, que há um nú-mero pequeno de educandos. Por isso, não

A gente quer estudar

compensa financeiramente para o Estado. Só que um dos principais problemas para a baixa qualidade das escolas das cidades é o excesso de alunos. Estar nas aulas mas não ter aten-ção necessária do professor e não aprender é um problema tão grande quanto estar fora da escola. Nós temos que nos adaptar ou o Estado deve garantir os nossos direitos? Nesse sentido, nossa pergunta poderia ser: se a educação é um direito garantido em lei, por que uma escola não pode ter poucos educandos? Por que a nu-cleação não pode estar no próprio campo?

Por que precisamos sair do campo quando queremos ir para a universidade?

Educação é um bem da humanidade!

Viver no campo já é uma forma de resistir e de lutar, mas principalmente romper o silêncio. O desafio é denunciar a situação e enfrentar a partir da organização e luta. Com isso, po-demos obter conquistas de políticas públicas capazes de legitimar o campo como espaço de vida, de cultura, de lazer, de educação, de profissionalização e produção.

Só que o modelo capitalista de educação de-fende o conceito de “capital humano”, que faz dos seres humanos apenas mão de obra, força de trabalho a serviço dos interesses dos capitalistas. Os jovens são o alvo princi-pal desse sistema e seu modelo de educação.

Um povo sem educação não tem elementos para compreender a realidade em que vive. Com isso, “serve” apenas para integrar um

contingente de pessoas com pouca qualificação. Já aqueles que têm acesso a uma educação res-trita ao trabalho reforça a massa de capital hu-mano qualifica-do ao mercado.

No campo, o projeto capi-talista se susten-ta nas grandes extensões de terra nas mãos de poucas empresas, que tem o controle da produção. É isso que chamamos de agronegócio. Esse modelo não precisa de escolas nem de políticas públicas, pois nesse projeto não existem comunidades ou assenta-mentos. Não tem a necessidade de povo. No máximo, gente para trabalhar.

Como os jovens ficam nessa situação?

O que temos feito para enfrentar essas questões?

Menos escolas,

menos estudantes...

No meio rural, em 2002, existiam 107.432 escolas. Já em 2009, reduziu para 83.036. Foram

fechadas 24.396 escolas, sendo 22.179 municipais.

O número de matrículas no meio rural, nos referidos anos, reduziu de 7.916.365 para 6.680.375 edu-candos. Um número de 1.235.990

de jovens estão sem escola ou foram obrigados a estudar na

cidade.

A luta pela democratização da comunicação é uma das frentes de batalhas do

MST. Dentro dessa luta, se in-sere a necessidade de democratizar o

acesso à internet, que é mais do que ter espaços com computadores em nossos assentamentos. Por isso, se faz necessá-rio nos somarmos aos movimentos da cidade em defesa do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).

Esse plano pretende garantir a universaliza-ção do direito à internet de alta velocidade para toda a sociedade. Fruto da pressão so-cial, o governo Lula anunciou investimentos com a meta de atingir 40 milhões de casas conectadas com banda larga até 2014.

A implantação da banda larga, pública, gratuita e de qualidade, pode permitir o desenvolvimento de uma política de in-clusão digital nos assentamentos da Re-forma Agrária, permitindo que os sujeitos do campo, historicamente excluídos do acesso à tecnologia de informação, possam utilizar esta ferramenta como forma de in-tercâmbio, capacitação e educação.

Possibilita a nossa própria produção de conteúdos, a troca de experiências produ-tivas e organizativas com outros assentados em todo o país, a ampliação da nossa visão de mundo e a capacidade de nos colocar mais próximos das lutas dos outros movi-mentos sociais no Brasil e no mundo.

Esse é mais um dos latifúndios que temos que ocupar com a nossa luta, que vai ser bastante dura, porque as grandes empre-sas de telefonia são contra esse plano. Não aceitam que o acesso à internet tenha ca-ráter público, pois querem vendê-lo como mercadoria. Precisamos nos organizar e lu-tar para pressionar o governo para que en-frente essas empresas, implemente o plano e garanta a banda larga no meio rural.

QUEREMOS INTERNET! VAMOS À LUTA!

Participe da luta do MST por educação

Conheça as linhas gerais da luta do Movimento pela Educação do Campo

Lutar para acabar com o analfabetismo nos acam-pamentos/assentamentos Universalizar o acesso à es-colarização das crianças, adolescentes, jovens, adul-tos e idosos, ampliando a rede de escolas públicas em todos os assentamentos

Realizar jornada de lutas na esfera municipal, estadu-al e regional, para garantir o acesso à escola pública

Garantir o acesso às uni-versidades e lutar para que tenha cada vez mais uni-versidades construídas em

A LUTA PELA TERRA

A luta pela terraÉ feita com competência

Estamos nesta esperaSem pensar em desistência

O inimigo não dá tréguaMas somos a maioria

É assim que a gente esperaSorrir com alegria

Pra na mesa ter o pãoPrimeiro temos que plantar

Mas se não temos o chãoComo iremos agüentar

A luta pela terraÉ em toda América Latina

Só assim o povo esperaSair dessa ruína

Tem terra improdutivaAbandonada por aí

Tem criança mal vestidaQue nem tem aonde dormir

Às vezes imaginamosPorque tanta diferençaCoração fica pequeninoVendo tanta desavença

Noventa milhões de pobresNão podem ser comandados

Só a gente se incomodaEm mudar o que esta errado

Índio Marçal GuaraniMorto em defesa da terra

Libertador dos negros ZumbiEsta luta não se encerra

Margarida Alves e Chico MendesBarbaramente assassinados

Para sempre em nossas mentesE no coração estão guardados

Dom Oscar RomeroVitima de um massacreFoi um fato verdadeiro

Feito sem piedadeDezessete de Abril

Homenageia os lavradoresO futuro do Brasil

Nas mãos dos trabalhadores

Poesias da Composição Garganta de ouro, Assentado no Assentamento 17 de Abril, Mato Grosso do Sul, município de Nova Andradina.

Militante do Coletivo de Cultura e um dos fundadores do grupo de teatro Utopia e da

Brigada de Cultura Filhos da Terra.

Hasta siempre comandante Che Guevara

territórios camponeses. Campanha Nacional contra o fechamento e pela construção de Escolas do Campo.Tendo em vista o grande número de fechamentos de escolas principalmente no campo, tomamos a decisão de de-senvolver, em nível nacio-nal, uma ampla campanha

Que as escolas do campo devem ser no campo e que tenham todos os níveis e as modalidades de ensino Que as escolas sejam cons-truídas com bibliotecas, áre-as de esporte, cultura, lazer e informática F#m Bm C#

Aprendimos a quererte F#m Bm C#desde la histórica altura F#m Bm C#donde el sol de tu bravura F#m Bm C#le puso un cerco a la muerte.

F#m Bm C#Aquí se queda la clara,

F#m Bm C#la entrañable transparencia, F#m Ede tu querida presencia Bm C#Comandante Che Guevara. Tu mano gloriosa y fuerte sobre la historia dispara cuando todo Santa Clara se despierta para verte.

Aquí se queda la clara, la entrañable transparencia, de tu querida presencia Comandante Che Guevara.

Vienes quemando la brisa con soles de primavera para plantar la bandera con la luz de tu sonrisa.

Aquí se queda la clara, la entrañable transparencia, de tu querida presencia Comandante Che Guevara.

Tu amor revolucionario te conduce a nueva empresa donde esperan la firmeza de tu brazo libertario.

Aquí se queda la clara, la entrañable transparencia, de tu querida presencia Comandante Che Guevara.

Seguiremos adelante como junto a ti seguimos y con Fidel te decimos: hasta siempre Comandante.

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Page 3: Jornal da Jornada da Juventude Sem Terra

A população não quer comer ali-mentos contaminados com agro-tóxicos. Existe uma demanda da

sociedade por alimentos saudáveis, sem venenos que possam causar doenças, como câncer e problemas hormonais, neuroló-gicos e reprodutivos. No entanto, os ali-mentos orgânicos ainda são muito caros.

O modelo agrícola dominante no Brasil, o agronegócio, tem como um dos seus pila-res a utilização excessiva dessas substâncias químicas. As plantações em latifúndios de monocultivos em larga escala para exporta-ção necessita de uma tecnologia que expul-sa as famílias da produção e dos venenos.

Nesse quadro, quem pode produzir ali-mentos saudáveis sem agrotóxicos? A pe-quena agricultura e a Reforma Agrária. Não é porque os pequenos agricultores ou os assentados sejam bons e os latifundi-ários ruins. Mas, pelo fato de que a na-tureza da produção agrícola em pequena propriedades cria condições para produzir de um jeito diferente do agronegócio.

Cabe à pequena agricultura aproveitar ou não esse diferencial. Até agora, as dificuldades para aproveitar têm sido grandes – tanto por falta de políticas, como de consciência. Para enfrentar esse desafio, é preciso lutar. Lutar para que o governo federal, as secretarias de agricultura dos Estados e dos municí-pios e o Incra implementem políticas para viabilizar economicamente a agro-ecologia. As políticas públicas para a agricultura e a tecnologia desenvolvida nos centros de pesquisa das universida-

Há uma invisibilidade das ques-tões juvenis no campo, por con-ta de uma única maneira de se

pensar a realidade a partir do olhar dos centros urbanos para o meio rural, sem levar em consideração a diversidade do campo. Essa luta ideológica contribui para que a juventude se disperse e saia para os centros urbanos em busca de melhores condições para a manutenção e a repro-dução de sua existência, convencidos pela falsa contradição de que “é bom viver na cidade e ruim viver no campo”.

A juventude trabalhadora enfrenta diversos proble-mas, ainda mais quando o assunto é a falta de po-líticas públicas. A criação de condições de trabalho e renda para o jovem do campo é um tema ur-gente. Assim, já que a juventude forma

a maioria da força de trabalho brasileira, cabe nos perguntar: qual será nosso fu-turo em relação ao trabalho e às suas formas de se organizar?

Num contexto em que há hoje 500 mil jovens na base assenta-da e acampada, os movimentos sociais se tornam uma alternativa. Em primeiro lugar, para resolver as demandas ime-

a gente quer comida livre de veneno!

JUVENTUDEdo campo:

Trabalho e Renda

EXPEDIENTE

a gente não quer só comida

des priorizam o agronegócio, que tem poder econômico e político para im-por sua hegemonia sobre esses espaços.

O Movimento conseguiu, em toda sua his-tória com as lutas, questionar o latifúndio e cobrar a democratização da terra, a Re-forma Agrária. Com a expansão do agro-negócio, a luta ficou mais difícil, complexa e ampla. Agora, as nossas lutas não questio-nam somente o latifúndio, mas o modo de produção do agronegócio. E a conquista da terra não é mais suficiente para enfraquecer o latifúndio, que só será derrotado com a construção de um novo modelo agrícola.

Isso significa enfrentar e derrotar o agro-negócio, que subordina o uso das terras e dos recursos naturais brasileiros às neces-sidades das transnacionais da agricultura, como a Bunge, Monsanto, Cargill, Stora Enzo, Syngenta e ADM, e à especula-ção no mercado financeiro internacional.

Nós temos uma proposta

Daí ganha a importância o nosso programa agrário, a nossa proposta de Reforma Agrá-ria Popular, que tem como objetivos gerais eliminar a pobreza no meio rural, combater a desigualdade social e a degradação da na-tureza, que tem suas raízes na estrutura da propriedade e de produção do campo.

A Reforma Agrária representa uma nova organização da propriedade fundiária, mas temos também que mudar a organização da produção no meio rural. Dessa forma, poderemos produzir alimentos saudáveis para o povo brasileiro, ocupando um es-

paço vago pelo agronegócio, que pro-duz com agrotóxicos e para exportação.

Para isso, precisamos lutar para que o Es-tado use todos os instrumentos de polí-tica agrícola, como garantia de preços, crédito, fomento à transição e consolida-ção da produção agroecológica, seguro, assistência técnica, armazenagem para o cumprimento desse programa de Refor-ma Agrária. Deve garantir ainda a com-pra de alimentos dos camponeses e da Reforma Agrária para a redistribuição a todo o país.

É necessário fortalecer e reestruturar o Incra e a Companhia Nacional da Abas-tecimento (Conab) como instrumen-tos para a implementação desta política agrícola. Criar um instituto público vin-culado ao programa de Reforma Agrá-ria, com a função de garantir a assistên-cia técnica pública e gratuita, além de capacitação, em coordenação com ou-tros organismos públicos de pesquisa.

diatas. Em segundo lugar, por possibilitar uma melhora também no que se refere à formação - política e profissional - já que a luta não é só pela terra, mas pelo conjunto de políticas públicas que tornam o campo um lugar mais digno para se viver.

As oportunidades com

as agroindústrias

Um jovem sem condições de acesso à ter-ra e alternativas de produção fica exposto à imposição de trabalho do agronegócio. Isso quer dizer trabalho intenso e sem garantia de direitos. Sem contar o desem-

prego e tantas outras mazelas no campo, como o trabalho escravo e o trabalho infantil. Ainda por cima, a alta rota-tividade nos locais de trabalho entre os jovens acaba por dificultar sua or-ganização e, sem muitas garantias e certezas, surgem as condições para que migrem de um lugar para outro.

Nessa perspectiva, temos que re-fletir sobre esse novo período

histórico que estamos passando no desenvolvimento de nossos as-

sentamentos, principalmente com o avanço do modelo de produção do capital sobre a agricultura. Esse modelo é baseado, sobretudo, na individualização dos créditos e na própria forma de produção, atre-lado à ausência de políticas pú-blicas que ajudem a estruturar

a agricultura camponesa e a cooperação agrícola.

A juventude tem um papel im-portante para debater um novo

projeto para o campo, onde os jovens sejam a principal força a ser atendida, em vista de um desenvolvimento sociocultural, que leve em consideração cultura, esporte, comunicação e lazer para todos os públicos, e que ainda esteja voltado a criar renda nos assentamentos.

Uma das lutas a ser travada é pela imple-mentação, maior planejamento e investi-mentos nas agroindústrias dos assenta-mentos. Dessa forma, será possível abrir mais postos de trabalho, gerar renda na pequena agricultura. Ou seja, criar e di-versificar as oportunidades para juventude que reside nos assentamentos trabalhar em diversas áreas e gerar renda para a família.

Questão de identidade Muitas pessoas tendem a pensar que uma educação para a área rural seria simples-mente formar técnicos agrícolas para ter agricultores mais eficientes no aspec-to produtivo. A realidade do campo, que demanda a construção de agroindústrias, exige profissionais preparados em outras áreas como saúde, educadores, direito, economia, engenharia e arquitetura, cul-tura e comunicação. Além disso, requer também uma educação humanística que situe o morador rural dentro do que se convencionou chamar de modernidade.

Um elemento importante é a própria valo-rização do “ser do campo”, pela auto-esti-ma daqueles que vivem no campo. E tam-bém pelo acesso e uso fruto dos saberes desenvolvidos pela humanidade em favor de uma vida digna no campo. E é dessa maneira que precisamos avançar nas po-líticas públicas, para que a juventude seja

Entre na campanha contra os agrotóxicos!

O município de Lucas do Rio Verde, com 45 mil habitantes na região cen-tral de Mato Grosso, é destaque na produção de soja. Para produzir em larga escala, o agronegócio utiliza uma grande quantidade de venenos...

Os maiores prejudicados são os tra-balhadores rurais, que trabalham na aplicação desses produtos químicos, e as comunidades vizinhas, que so-frem com a contaminação das chuvas e do ar, especialmente com a pulver-ização aérea.

As consequências já apareceram... O leite materno de mulheres de está contaminado por agrotóxicos, rev-elou uma pesquisa da UFMT (Uni-versidade Federal de Mato Grosso). Foram coletadas amostras de leite de 62 mulheres em 2010. A presença de agrotóxicos foi detectada em todas. Em algumas delas havia até seis tipos diferentes de substâncias tóxicas!

Esse quadro está de alastrando para todo o país. O Brasil é o primeiro colo-cado no ranking mundial do consumo de agrotóxicos. Mais de um milhão de toneladas de venenos foram jogados nas lavouras em 2010, de acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola.

Com a aplicação exagerada de produtos químicos nas lavouras do país, o uso de agrotóxicos está de-ixando de ser uma questão relacio-nada especificamente à produção agrícola e se transforma em um problema de saúde pública e preser-vação da natureza.

Diante dessa triste realidade mais de 30 entidades da sociedade civil brasileira, movimentos sociais, en-tidades ambientalistas, estudantes, organizações ligadas a área da saúde e grupos de pesquisadores lançaram a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

A Campanha pretende abrir um de-bate com a população sobre a falta de fiscalização no uso, consumo e venda de agrotóxicos, a contaminação dos solos e das águas.

Você participou de algum debate sobre o Programa Agrário do MST?

O que precisamos para produzir alimentos sem usar agrotóxicos?

O que podemos fazer para cobrar medidas para o desenvolvimento da

pequena agricultura?

Que horizonte o jovem tem ao trabalhar para o agronegócio e deixar

o o assentamento em segundo plano?

Como podemos construir agroindústrias que dêem oportunidades para os jovens?

protagonista e ajude no processo de ren-da das famílias. Que contribua na teoria e prática das experiências de educação e escolarização em nossos assentamentos.

Para avançar nesse sentido, a organização espacial dos assentamentos representa um desafio. A dispersão das famílias em lotes individuais – o chamado “quadrado bur-ro” – só traz menores perspectivas de de-senvolvimento da produção, contribuindo, inclusive, no isolamento social das pessoas que ali (con)vivem.

Com o apoio de:

O Jornal da Juventude Sem Terra foi produzido pelos setores de Comunicação, Cultura, Educação, Formação, Juventude e Produção do MST. Diagramação: Marina Tavares Produção: Alexandre Chumbinho, Ana Cha, An-drea Batista, Antônio Neto, Igor Felippe Santos, Ivan Siqueira Barreto, Joana Tavares, Luiz Felipe Albuquer-que, Marcia Mara Ramos, Maria Cristina Vargas.

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