jornal o ponto - março de 2005

16
J O R N A L L A B O R A T Ó R I O D O C U R S O D E C O M U N I C A Ç Ã O S O C I A L D A F A C U L D A D E D E C I Ê N C I A S H U M A N A S - F U M E C Ano 6 | Número 45 | março de 2005 | Belo Horizonte/MG distribuição GRATUITA Violência ameaça taxistas de BH Eleições polêmicas nos diretórios acadêmicos Escolas se adequam para deficientes [ página 15 ] [ página 7 ] [ página 6 ] Quem procura os chamados shoppings populares de Belo Horizonte acaba entrando em uma cilada. Muitos produtos vendidos nestes lugares estão com preços iguais ou até mais mais caros do que no comércio convencional e nas vendas através de sites.Além disso, os logistas não dão ga- rantia caso o produto apre- sente defeito. Mas a gerente do shopping Tupinambás, Aline Azio, garante que o consumidor pode reclamar, embora muitos não façam is- so por desconhecerem os seus direitos. Uma eutanásia branda? A angústia toma conta não somente dos pacientes que procuram o Pronto Socorro do Hospital João XXIII e muitas vezes esperam horas para serem atendidos ( foto). Os médicos também se en- contram diariamente em um terrível dilema causado pela falta de leitos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).Na situação em que o paciente não pode esperar, sob risco de ter o quadro irremediavel- mente comprometido, a alter- nativa é retirar do leito aque- le que não tem mais condições de ser recuperado. Isso não se- ria uma “eutanásia branda”? Esta questão tomou contor- nos dramáticos a partir do ca- so Terri Schiavo,a norte- ame- ricana que morreu dia 31 de março depois de ter a sua ali- mentação interrompida por decisão judicial, sob alegação do marido de que, por estar há 15 anos em coma, não teria mais chance de recuperação. Cuidado ao comprar nos shoppings populares de BH Só no ano passado, quando o governo anunciou o chama- do ‘déficit zero’, a dívida de Minas passou de R$ 1,5 bilhão para R$ 3,5 bilhões. O paga- mento da dívida é um dos fa- tores que leva o governo a cor- tar benefícios dos servidores e investimentos na área social, como denunciam vários dire- tores de entidades sindicais dos funcionários públicos. A se- cretária estadual adjunta do Planejamento, Renata Vilhena, prefere não entrar no mérito da questão social pois alega que o governo tem compromissos a cumprir com a Lei de Res- ponsabilidade Fiscal. Para equilibrar as contas,o governo de Minas chegou a cortar direitos adquiridos dos servidores o que afetou diretamente as áreas de educação e saúde População paga caro pelo déficit zero de Aécio Neves POLÍTICA E MÍDIA Rasteira: A mídia sempre deu pouca aten- ção ao ‘baixo clero’,mas, muitas decisões na Câmara passam por esta bancada que está fora da pauta dos jornais . Café-sem-leite: A concentração de poder dos parlamentares paulistas deixa os pe- tistas mineiros descontentes. Mais um si- nal da crise aguda do PT. Lançamento: Jornalistas e políticos en- trevistados para a produção das matérias do déficit zero e da eleição na Câmara,par- ticipam do lançamento desta edição de O Ponto, no dia 7 de abril, sala 309, na FCH-FUMEC, às 11 horas. [ páginas 8 e 9 ] [ páginas 3 e 5 ] Victor Schwaner [ página 11 ] Arquivo PAI Pacientes esperam horas por atendimento no Pronto Socorro do Hospital João XXIII [ páginas 12 e 13 ] INTERCÂMBIO: Convênio Fumec-Esta leva alunos de Comunicação Social para Portugal. Foi uma oportuni- dade para os estudantes conhecerem a história do país.

Upload: jornal-o-ponto-fumec

Post on 06-Mar-2016

241 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

TRANSCRIPT

Page 1: Jornal O Ponto - março de 2005

J O R N A L L A B O R A T Ó R I O D O C U R S O D E C O M U N I C A Ç Ã O S O C I A L D A F A C U L D A D E D E C I Ê N C I A S H U M A N A S - F U M E C

A n o 6 | N ú m e r o 4 5 | m a r ç o d e 2 0 0 5 | B e l o H o r i z o n t e / M G

d i s t r i b u i ç ã oG R A T U I T A

Violência ameaça

taxistas de BH

Eleições polêmicas nos

diretórios acadêmicos

Escolas se adequam

para deficientes[ página 15 ][ página 7 ] [ página 6 ]

Quem procura os chamadosshoppings populares de BeloHorizonte acaba entrando emuma cilada. Muitos produtosvendidos nestes lugares estãocom preços iguais ou atémais mais caros do que nocomércio convencional e nasvendas através de sites. Alémdisso, os logistas não dão ga-

rantia caso o produto apre-sente defeito. Mas a gerentedo shopping Tupinambás,Aline Azio, garante que oconsumidor pode reclamar,embora muitos não façam is-so por desconhecerem osseus direitos.

Uma eutanásia branda?A angústia toma conta não

somente dos pacientes queprocuram o Pronto Socorrodo Hospital João XXIII emuitas vezes esperam horaspara serem atendidos ( foto).Os médicos também se en-contram diariamente em um

terrível dilema causado pelafalta de leitos na Unidade deTerapia Intensiva (UTI). Nasituação em que o pacientenão pode esperar, sob risco deter o quadro irremediavel-mente comprometido, a alter-nativa é retirar do leito aque-

le que não tem mais condiçõesde ser recuperado. Isso não se-ria uma “eutanásia branda”?Esta questão tomou contor-nos dramáticos a partir do ca-so Terri Schiavo, a norte- ame-ricana que morreu dia 31 demarço depois de ter a sua ali-

mentação interrompida pordecisão judicial, sob alegaçãodo marido de que, por estar há15 anos em coma, não teriamais chance de recuperação.

Cuidado ao comprarnos shoppingspopulares de BH

Só no ano passado, quandoo governo anunciou o chama-do ‘déficit zero’, a dívida deMinas passou de R$ 1,5 bilhãopara R$ 3,5 bilhões. O paga-mento da dívida é um dos fa-tores que leva o governo a cor-tar benefícios dos servidores einvestimentos na área social,como denunciam vários dire-tores de entidades sindicais dosfuncionários públicos. A se-cretária estadual adjunta doPlanejamento,Renata Vilhena,prefere não entrar no méritoda questão social pois alega queo governo tem compromissosa cumprir com a Lei de Res-ponsabilidade Fiscal.

Para equilibrar as contas, ogoverno de Minas chegou acortar direitos adquiridos dosservidores o que afetoudiretamente as áreas de educação e saúde

População paga caro pelodéficit zero de Aécio Neves

POLÍTICA E MÍDIARasteira: A mídia sempre deu pouca aten-ção ao ‘baixo clero’,mas, muitas decisõesna Câmara passam por esta bancada queestá fora da pauta dos jornais .

Café-sem-leite: A concentração de poderdos parlamentares paulistas deixa os pe-tistas mineiros descontentes. Mais um si-nal da crise aguda do PT.

Lançamento: Jornalistas e políticos en-trevistados para a produção das matériasdo déficit zero e da eleição na Câmara,par-ticipam do lançamento desta edição de

O Ponto, no dia 7 de abril, sala 309, naFCH-FUMEC, às 11 horas.

[ páginas 8 e 9 ]

[ páginas 3 e 5 ]

Victor Schwaner

[ página 11 ]Arquivo PAI

Pacientes esperam horas por atendimento no Pronto Socorro do Hospital João XXIII

[ páginas 12 e 13 ]

INTERCÂMBIO: Convênio Fumec-Esta leva alunos de

Comunicação Social para Portugal. Foi uma oportuni-

dade para os estudantes conhecerem a história do país.

01 - Capa 4/1/05 8:37 AM Page 1

Page 2: Jornal O Ponto - março de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Março/2005

Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo

2 OPINIÃO

Coordenação Editorial: Prof. Mário Geraldo Rocha da

Fonseca (Jornalismo Impresso) e Prof. Leovegildo P. Leal (Redação Modelo)

Conselho Editorial Profª Ana Paola Valente (Edição), Prof. José Augusto (Proj.Gráfico), Prof. Paulo Nehmy (Publicidade), Prof. Rui Cezar

(Fotografia), Prof. Fabrício Marques (Trepj II) e Profª. Adriana Xavier (Infografia)

Monitoras do Jornalismo Impresso:Carlos Fillipe Azevedo, Rafael Werkema e Renata Quintão

Monitor da Redação Modelo: Fernanda Melo, Pedro Henrique Penido

Monitor da Produção Gráfica:Débora Arduini e Fernando Almada

Projeto Gráfico:Prof. José Augusto da Silveira Filho

Ilustração e charge: Juliano Mendonça

Tiragem desta edição:6000 exemplares

Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127e-mail: [email protected]

Centro Universitário Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro

BH/MG

Prof. Pedro VicterPresidente do Conselho Curador

Profª. Romilda Raquel Soares da SilvaReitora do Centro Universitário Fumec

Prof. Amâncio F. CaixetaDiretor Geral da FCH/Fumec

Profª. Audineta Alves de CarvalhoDiretora de Ensino

Prof. Benjamin Alves Rabello FilhoDiretor Administrativo

Prof. Alexandre FreireCoordenador do Curso de Comunicação Social

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

Enzo Menezes1º período

O Irã e a Coréia do Nortesão os novos alvos da políticaunilateral dos Estados Unidos.Até aqui nenhuma novidade, jáque haviam sido incluídos noduvidoso eixo do mal,mas a ra-zão é curiosa.Acusados de pos-suir arsenal atômico,os asiáticosestão sendo pressionados a de-sistir destes programas. Que aquestão óbvia dos perigos re-correntes à bomba atômica nemprecise ser feita, mas que sejaabordada por outro foco. Osamericanos evitam qualquerproliferação nuclear pelo mun-do, mas foram os únicos a usaresse tipo de armamento. O quese pergunta é qual a postura dogoverno americano em relaçãoa qualquer grupo que não con-corde com suas políticas ouações? Define-os como amea-ças para o mundo e adota pos-turas para impedir qualquer cres-cimento de suas forças, impli-cando em sanções ou ataques.No fim das contas, quem é maisnocivo? O país que ataca umpovo - sim, um povo, porque éo mais prejudicado em qualquerguerra - ou o que tenta firmarseu poderio através de ameaças?Todos estão errados, afinal ex-tremismos só podem provocarmais conflitos.

O problema é diferente nosdois países. O Irã firmou um

acordo com a Rússia, que for-necerá combustível em troca dogasto - só haveria produção deenergia e não de armas nas usi-nas - e, diante da ameaça deBush, o governo iraniano rea-firmou seu uso energético eacusou os EUA de quereremneutralizar qualquer força quenão compartilhe de seu eixo.Ocaso da Coréia do Norte é maiscomplicado, já que anunciouque tem a bomba,que seria usa-da contra qualquer ameaça.

Mas porque os EUA se sen-tem no direito de obrigaremiranianos e norte-coreanos adesistirem de seus programas-nucleares? Eles próprios nãodetêm um programa atômico?Por que Mohamad Khatami eKim Jong Il são mais perigososque Bush? Quem é mais noci-vo para o mundo atual? Povossubmissos a regimes funda-mentalistas ou a coalizões es-trangeiras que destroem outrospaíses? Ninguém fica tranqüi-lo ao saber que Teerã e P´yong-yang podem ter uma bombaatômica, mas não é o mesmomedo sentido ao saber queWashington - e qualquer outrolugar - também possam ter?

Regimes autoritários comdiscursos e valores escusos pa-recem tecer o novelo que as-susta o mundo. Só que já se foimeia década e o novelo se trans-forma em uma bola de neve,com menos chance de solução.

Paula Ribas1ºperíodo

“A melhor ficção é infinita-mente mais verdadeira que qual-quer tipo de jornalismo”, diziao lendário Hunter Thompson,encontrado morto no domingo20 de fevereiro.Aos 67 anos, opai do gonzo journalism se sui-cidou com um tiro na cabeça.

Não é minha intenção, po-rém, falar sobre a morte ou avida do escritor, mas sobre suaobra e contribuição para ojornalismo.

Gonzeaux, gíria canadenseque significa “caminho ilumi-nado”, foi o nome que o ame-ricano Hunter Thompson ado-tou para o gênero criado por elepróprio, até então, conhecidoapenas como “o filho bastardodo new journalism”. Isso, por-que mantinha sua proposta deaproximar o jornalismo da lite-ratura, mas se sustentava em al-gumas características peculiares.Para Thompson, jornalismo eficção são igualmente artificiaise têm como objetivo comuminformar.O compromisso coma verdade é, portanto,dispensá-vel, desde que haja verossimi-lhança. Os adeptos do gonzoacreditam que a teoria da obje-tividade é uma forma de mas-carar as ideologias que per-meiam o jornalismo e reforça omito de que a notícia é a ex-pressão da verdade. Por isso, ostextos são escritos sempre naprimeira pessoa, expressandouma verdade, a de quem escre-ve.A idéia de observar e relataro fato também é descartada, ogonzo jornalista vive a expe-riência, se torna parte dela. Narealidade, o que de fato carac-teriza o estilo é a ausência de re-gras rígidas.Arrisco dizer que ogonzo é mais que uma fórmu-la aplicável, é uma atitude dian-te do mundo e do jornalismo.

A pergunta é inevitável: amorte do criador significa amorte do gênero? Há quemconsidere Thompson o únicojornalista gonzo do mundo. Eunão. Se o estilo fosse exclusivodele,não faria sentido chamá-lode gonzo ou qualquer outro no-me que não fosse “Thompson”.Como o gênero não tem regras,ele permite variações e inter-pretações,por isso,penso que suaessência esteja presente tanto emsegmentos da imprensa alterna-tiva quanto nos populares blogs.

Seja como for,torço para queas críticas e propostas de Thomp-son não sejam esquecidas. Nãoposso me dizer uma adepta dogonzo ou mesmo fã de seu cria-dor. Seus textos evidenciavampreconceitos e um gosto bizar-ro do jornalista pela violência,oque não é nada admirável. Masele não se escondia em falsos re-cursos de neutralidade, sua opi-nião era destacada.A reportagemrepresenta o ponto de vista dequem a escreve,não o fato em si.Tentar fazer parecer o contráriosó contribui para a hipocrisia queé o discurso autorizado.

Eu poderia concluir dizen-do que é hora de revermos nos-sos conceitos.Mas,além de abo-minar chavões,acredito que nos-so conceitos devem estar emconstante processo de revisão.

Passividade dos estudantesDaniele Amaral

7ºperíodo

Sabemos que a sociedade passa por fre-qüentes mutações ao longo da história e quetudo vai se adaptando aos novos tempos. Massou pragmática ao afirmar que tem certascoisas que jamais poderiam mudar. Uma de-las é a postura do estudante universitário, emespecial, do estudante de jornalismo. Não setrata de exigir dos universitários de hojeaquela disposição, até mesma física, dos es-tudantes da época da ditadura brasileira quearriscavam as próprias vidas na luta por seusideais, nem mesmo expressar aqui mais ummelodrama saudosista. No entanto, incomo-da-me o fato de estar formando daqui algunsmeses e sentir como se não tivesse passadopela agitação típica de uma universidade naqual fervilham novidades, anseios políticos ediscursos inflamados. Então pergunto se es-se sentimento difuso e morno é conseqüên-cia de uma frustração unicamente pessoal so-bre o que eu esperava do ambiente acadê-mico ou se isso pode ser algo comum aosmeus colegas. Digo isso porque a grande di-ferença entre a minha situação como jovemestudante do colegial e de agora como uni-versitária passiva, é que hoje não preciso vi-ver a pressão do vestibular. É claro que, co-mo estudante, adquiri conhecimentos e mepreparei para o mercado de trabalho de uma

maneira que só poderia acontecer no ensi-no superior de qualidade.

Não sou uma estudante de jornalismoque optou fazer este curso como uma deci-são no calor da última hora, nem porque sim-plesmente supunha que o jornalismo seriauma boa maneira de alcançar a fama e trajarlindos taiers na frente de câmeras de tv. Osque estudam para serem jornalistas e se fiamem tais pensamentos não devem ser levadosem conta neste meu questionamento. Eu merefiro à idéia consciente da busca frenéticado preparo para a responsabilidade social ecidadã de ser um formador de opinião e tam-bém das minhas expectativas quanto à ebu-lição de movimentos sociais que eu imagi-nava fazer parte do universo acadêmico. Ho-je sinto frustrada com minha própria falta deatitude porque não participei de passeatas,nunca briguei contra o aumento das mensa-lidades, que acontece a cada ano, sem dar ne-nhuma explicação e sem acrescentar nenhumbenefício para nós alunos. Não organizei umagreve, nunca fiz um abaixo-assinado.

Você, estudante, que está lendo este arti-go lembra se já manifestou por alguma cau-sa? Acho que a resposta da maioria das pes-soas todo mundo já sabe. Quando vamos sairdesse mundo passivo e colocar em prática osnossos questionamentos, conflitos e inquie-tudes?

Para desarmar o crimeRodrigo Fuscaldi

8ºperíodo

Dentro em breve haverá um plebiscito pa-ra os brasileiros opinarem sobre o desarma-mento.O seu próprio mesmo,porque os ban-didos continuarão armados até os dentes, como que existe de mais moderno no mundo, en-tre armamento leve e pesado. Isso é inegávele sabe-se que é assim que vai ficar. É só que-rer enxergar, mirando o exemplo do que jáacontece no Brasil. Por que não desarmamaquela população imensa que vive do crime?Todos sabem que os bandidos não se desar-marão em função da lei.

Assim, por coerência, os brasileiros têmque votar contra o próprio desarmamento, jáque não são bandidos e têm o direito à auto-defesa. Só assim será possível estar em pé deigualdade com os direitos garantidos aos ban-didos, na preservação da manutenção de to-das as armas possíveis.

A verdade é que o desarmamento da po-pulação civil em nada contribui para a dimi-nuição dos índices de criminalidade.A histó-ria nos conta que o desarmamento foi ins-trumento usado por ditaduras e que redun-dou, nos países em que foi instituído, em ex-termínios de populações inteiras.

A eficiência do Estado no combate à cri-minalidade só será alcançada com a erradica-ção das armas irregulares. Os bandidos não

compram armas em lojas.Eles roubam ou im-portam diretamente com os traficantes.

Portanto, o foco do problema está com-pletamente equivocado. O problema brasi-leiro é a segurança pública. O que influen-ciará na diminuição da violência é a im-plantação de uma justiça célere e mais justa,onde a impunidade não seja uma constante.A solução para a diminuição da violência es-tá no investimento em educação e empregoe, principalmente, na eliminação da corrup-ção, que faz da impunidade um fator de re-volta e de exemplo danoso para os menosfavorecidos.

Todos devem ter o direito de andar ar-mados, se assim o desejarem. Cabe ao estadoregular esse direito, não partindo do princí-pio de que todos os brasileiros são uns fracose tendentes à marginalidade.

É bom ficar atento para a verdade. Ou osbrasileiros se levantam contra esta política hi-pócrita do desarmamento ou vão entregarseus filhos e netos a um futuro de incertezase dominação.

A população tem de enxergar a verdade,mesmo que por trás de uma imensa cortina defumaça. Enxergar esta verdade pode ser a di-ferença entre garantir a liberdade e soberania,ou se tornar ainda mais submissos aos que que-rem confundir, desorientar e dominar.

A lei de desarmamento é, antes de qual-quer definição, uma lei demagógica.

Jornalismo,sinônimo de verdade?

Qual das bombas é mais letal?

Henrique Fares3ºperíodo

A proposta que faço aquinão é uma análise acabada, atémesmo pelo espaço físico e tem-po disponíveis. O que vale é aaeração da idéia acerca de umtema que instiga e preocupa osjornalistas: a cobertura da vio-lência pelos veículos de comu-nicação de massa.

Existe uma hipótese que dizque o interesse amplo e constan-te a este tema nos veículos de co-municação é fruto do reflexo nasvendas do mesmo. Esta explica-ção me parece superficial, os finsexplicam os meios.Na falta de co-nhecimento amplo de outras teo-rias explicativas, tenho uma hi-pótese que me martela a cabeça.

A violência causa impacto, éum corte, rompimento na vidaconstante e normal.Os veículosperiódicos têm em seu cerneuma lógica: tem de haver notíciaem todo período de circulação,notícia instigante (princípio di-ferente de outros veículos de co-municação – não pautados peloperíodo de circulação, mas pelaprofundidade da informação).Uma notícia instigante é algo querompe com o comum,notícia éo diferente do acontecimento es-perado, ou o diferente do já co-nhecido.A violência é semprepassível de ser notícia no mode-lo em que habituamos a sermosconsumidores de informação.

A percepção de violência de-ve ser ampliada,para além da vio-

lência física,para todo tipo de vio-lência.A eleição de Severino Ca-valcanti para a presidência da Câ-mara dos deputados, por exem-plo, foi um fato que violentou osistema até então vigente,por is-to a grande cobertura da mídia,todo o processo foi violentado,desde a quantidade de candida-turas.Se tivesse ocorrido um pro-cesso habitual, seria noticiado,pe-lo rompimento,porém em esca-la menor,pois não seria um rom-pimento inesperado.

O que esta hipótese pode nosdizer é que o padrão existentepode ser justificado não usando ahipótese habitual de que o ho-mem é violento,gosta de violên-cia por natureza;ela ventila a pos-sibilidade de que o modelo jor-nalístico escolhido.Essa opção tal-vez o tenha sido por ser mais fá-cil/barato.Há alternativas,como,por exemplo, o que foi a revistaO Cruzeiro editando grandes re-portagens – rompendo assimtambém o comum, trazendo onovo - se tornando a maior re-vista do Brasil. Porém é a buscadesenfreada pela quantidade deinformação, que se reverte emquantidade de lucro.

Esta hipótese traz consigovárias outras diferenças na for-ma de avaliar a comunicaçãoatual. Porém, há a necessidadede confirmação da mesma, pes-quisa relativamente simples po-deria elucidar algumas de suasinterrogações e certamente no-vas perspectivas sobre a comu-nicação de massa.

Espetáculo daviolência na mídia

02 - Opinião - Carlos Fillipe 4/1/05 8:29 AM Page 1

Page 3: Jornal O Ponto - março de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Março/2005

Editor e diagramador da página: Bruno Figueiredo

POLÍTICA 3

Irritado com a decisão daExecutiva Nacional,VirgílioGuimarães disse que não acei-ta a indicação de punição eque poderá recorrer “até najustiça se for preciso”, ameaçaem entrevista coletiva conce-dida na Câmara Municipal deBelo Horizonte, no dia 7 demarço. Ele defendeu a bandei-ra da defesa dos direitos polí-ticos plenos e fez críticas for-tes à sua legenda.“O PT é um

partido sitiado. Não existemmais leis, nem regulamentos,nem estatuto. O que vale é odireito imperial de um grupoque hoje detém o comando dalegenda”, disse.

O ministro do Desenvolvi-mento Social e Combate à Fo-me, Patrus Ananias(PT), disse,em entrevista à Rádio CBN,que Virgílio "esticou a cordaalém do razoável", mas que oPT "está no momento também

de retomar um pouco mais ocontato com as suas bases e rea-lizar encontros mais represen-tativos, que dêem efetivamen-te autoridade política às ins-tâncias partidárias". O deputa-do Adelmo Carneiro Leão tam-bém ressalta a falta de encon-tros nacionais salientando queo partido não se reuniu depoisque Lula foi eleito. “As coisassão decididas no PT sem mui-to diálogo,o que era funda-

mental no princípio do parti-do”, disse Leão.

O PMDB convidou Guima-rães a filiar-se ao partido para for-talecer a ala de oposição ao go-verno de Lula, mas o deputadoestá disposto a continuar no PT.A ameaça de suspensão não im-pediu que o presidente da Câ-mara dos Deputados, SeverinoCavalcanti, indicasse Guimarãespara continuar como relator daReforma Tributária.

FMC engordagasto públicoPrefeitura petista causa polêmica ao extinguir

Secretaria de Cultura de Belo HorizonteAna Luisa Barcelos, Ana FláviaRennó, Leonardo Fernandes,

Luiza de Sá, Yany Mabel3º e 4º períodos

O PT,que historicamente seposicionou contra as privatiza-ções,encontra na PBH uma dis-sonância.No início deste ano, foiextinta a Secretaria Municipal deCultura para dar lugar à Funda-ção Municipal de Cultura(FMC). Essa mudança pretendedar mais agilidade aos projetos de-senvolvidos pela extinta Secreta-ria,mas levanta dúvidas quanto àsua legitimidade devido à maneiracomo foi criada.

Baseado na lei municipal9.011, o Prefeito de Belo Hori-zonte, Fernando Pimentel (PT),instituiu no dia 1º de janeiro des-te ano a Fundação Municipal deCultura.Tal iniciativa provocoureceio no segmento artístico,quejulga um possível regimento dacultura sob as leis de mercado.“Aintrodução da fundação como ór-gão para capitanear uma política

de cultura é uma iniciativa que vaina direção de uma privatizaçãobranca e gradativa da produçãocultural”,afirma Leri Faria,com-positor, ator e diretor teatral. Oprincipal motivo desta mudança,segundo a PBH,é o fato da FMCter autonomia para buscar recur-sos da iniciativa privada, possibi-litando uma maior flexibilidadeadministrativa e financeira.

A criação da FMC foi umprojeto da PBH sem o apoio deentidades representativas da clas-se artística, como o Fórum Per-manente de Cultura, que envia-ram à Câmara Municipal umaemenda na defesa da permanên-cia da Secretaria Municipal deCultura. A bancada do PT eramaior e o voto foi vencido.“Quando se vai extinguir uma se-cretaria é preciso ouvir o setor aoqual ela está envolvida e a popu-lação também” reivindica Rô-mulo Duque,Presidente do Sin-dicato dos Produtores e ArtistasCênicos de Minas Gerais (Sin-parc). Mas o atual presidente da

FMC,Rodrigo Barroso,defendea postura do prefeito em não con-vidar a classe envolvida a partici-par dizendo que “É compreensí-vel que isso faça parte da políticade ação do governo. O prefeitoescolheu esse caminho e o que orespalda,o lastro político, é o vo-to que o eleitor depositou para eleem 3 de outubro.Então eu achoque ele está revestido desse poderpara fazer essas escolhas”.

Na cidade do Rio de Janei-ro, a prefeitura possui a Secreta-ria de Cultura e uma Fundação(RioArte).Ricardo Macieira,Se-cretário de Cultura (SMC), afir-ma que a relação entre a Funda-ção e a Secretaria é institucional,de acordo com o esquema orga-nizacional da Prefeitura.“A SMCdefine as políticas a serem segui-das e ela (Fundação) as aplica”.Ricardo ainda afirma que as açõesda Prefeitura independem dofuncionamento de uma Secreta-ria ou de uma Fundação,mas dasproposições e das condições pa-ra a efetivação das mesmas. Classe artística protesta em frente ao Palácio das Artes

Luiza de Sá

A Fundação Municipal deCultura (FMC) conta com umquadro de funcionários maior doque a da extinta secretaria. AFMC é composta por um presi-dente, dez diretores, um Conse-lho Curador com 11membrosefetivos e 11 suplentes, funcioná-rios que já trabalhavam na extin-ta secretaria,que foram convida-dos a permanecer, além das 275vagas que serão preenchidas atra-vés de concurso público.

No mês de março o saláriodos Secretários Municipais teveum aumento de R$ 4 mil paraR$ 7 mil.Visto que os dez dire-tores da FMC, que têm, não sóstatus, mas também salário igualaos Secretários Municipais, elesengordam a folha de pagamentoda Fundação e comprometemR$ 840 mil do orçamento de R$21 milhões destinados anual-mente à Fundação.Rodrigo pre-tende ampliar a Lei Municipal deIncentivo à Cultura,que esse anovai distribuir R$ 5 milhões, sen-do R$ 3 milhões para o fundode projetos culturais e R$ 2 mi-lhões para renúncia fiscal.

P O L Í T I C A D O

Derrota na eleição para a presidência da CâmaraFederal expõe crise institucional que vive o PT

cafésemleiteBruno Figueiredo e

Clarissa Dama6º e 1º períodos

A derrota do Partido dosTrabalhadores (PT) nas últimaseleições para a presidência daCâmara Federal e as conse-qüências geradas por ela de-monstram que o partido viveuma crise institucional. Comuma representaçãodo PT paulista des-proporcionalmentemais forte no gover-no Lula e com a in-dicação do deputa-do federal LuísEduardo Greenhalgh(PT-SP) como can-didato oficial dopartido, o PT deMinas Gerais semostra preocupado com umaconcentração de poder.

O lançamento da candida-tura avulsa do deputado fede-ral Virgílio Guimarães (PT-MG) foi conseqüência de al-gumas atitudes do partido quecomeçam a vir à tona, em meioa essa confusão. A cúpula pe-tista realizou uma eleição en-tre os membros da bancada naqual o deputado federal mi-neiro ficou em 1° lugar, eGreenhalgh em 4°. Mesmo as-sim o deputado paulista foi o

candidato oficial do partido. Odeputado estadual AdelmoCarneiro Leão (PT-MG) falouda existência de uma pesquisa,a qual indicava Virgílio comofavorito.“A escolha foi feita noDiretório Nacional e, de ummodo estranho para nós, pas-sou a prevalecer desconside-rando as pesquisas realizadasdentro da bancada e na base

aliada e omitindo estas infor-mações”, diz Leão.

Preocupado com o “tomde concentração de poder” dacandidatura Greenhalgh equestionado sobre uma dispu-ta do café com leite dentro dopartido, Leão diz que “se é es-sa a idéia, precisava um pou-quinho mais de leite do quecafé, o café tava muito forte”.Disse também que Virgílio veioem um momento necessário àampliação do espaço geográfi-co de representação no parti-

do e que “o fortalecimento doestado democrático passa pelamelhor distribuição do poder”.

Guimarães foi apontado porsetores do PT como um dosprincipais responsáveis pela der-rota de Greenhalgh, que perdeua presidência da Câmara paraSeverino Cavalcanti (PP-PE).AComissão Executiva Nacionaldo PT pediu a suspensão do de-

putado mineiro porum ano, devido àsua candidaturaavulsa, impedindo-o de votar ou servotado nas instân-cias de direção ounos encontros dopartido, decisão es-ta que terá de serratificada na reuniãodo Diretório Na-

cional do partido, marcada pa-ra os dias 6 e 7 de maio.

O presidente nacional do PT,José Genoíno, declarou, em en-trevista ao jornal Folha de SãoPaulo, que a Executiva Nacionaldo partido considerou a falta deGuimarães grave e que “ele feriuum valor fundamental do PT queé a fidelidade partidária.O parti-do não quer romper integral-mente as relações com ele, masele também tem de dizer qual re-lação que quer com o Partido dosTrabalhadores”.

“Precisava um pouquinhomais de leite do que café, ocafé tava muito forte”

Adelmo Carneiro Leão

Deputado Estadual - PT/MG

PT está sitiado, diz Virgílio Política do café-com-leite foi onome dado a aliança que ocor-reu de 1889 a 1930 entre as oli-garquias de São Paulo e MinasGerais, ligadas ao setor agro-ex-portador.Os paulistas e minei-ros se alternavam na ocupaçãode funções-chave na adminis-tração e o coronelismo predo-minava nos municípios.Com oapoio de Minas no congresso,os cafeicultores paulistas, o se-tor mais dinâmico da economiabrasileira, passaram a controlara política monetária e cambial

do país.Em troca,membros daelite mineira eram nomeadospara cargos na área federal e oestado recebia verbas para obraspúblicas. Em 1929, o paulistaJúlio Prestes foi indicado parasucessor da presidência, o queinterrompeu a alternância dopoder entre os dois estados.Minas então apoiou a Revo-lução de 1930 que instituiu ovoto secreto, a legislação tra-balhista e priorizou a indus-trialização, sob o comando dogaúcho Getúlio Vargas.

O que foi a política do Café-com-LeiteIlustração: Juliano Mendonça de Oliveira / Fotos: Alexandre Mendonça de Oliveira

03 - Política - Bruno F. 4/1/05 8:34 AM Page 1

Page 4: Jornal O Ponto - março de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Março/2005

Editora e diagramadora da página: Renata Quintão

4 ECONOMIAConsumidor aposta no créditoAna Paula Ferreira, HenriqueLisboa, Vânia Ferreira, Natália

Almeida4º Período

Para facilitar a compra deprodutos básicos, o pequenocomércio de Belo Horizontepassou a adotar algumas medi-das que, até pouco tempo, só fa-ziam parte das estratégias devenda de grandes lojas e super-mercados. Padarias, merceariase mini-mercados de regiões pe-riféricas da cidade estão facili-tando a compra de produtoscomo arroz, feijão, açúcar, óleo,etc, com o objetivo de melho-rar as vendas e diminuir a ina-dimplência neste setor.

Agmar Miranda Lacerda,proprietário da panificadoraMega Pão no bairro CidadeNova, que também vende itensda cesta básica, optou por faci-litar as vendas a crédito paraacabar com a inadimplênciacausada pelo grande número decheques sem fundos recebidosno último ano. “O cartão évenda garantida e não têm ina-dimplência”, afirmou o pro-prietário. Clarisse Reis, tesou-reira da rede de supermercados2B,que atende os bairros de pe-riferia de Belo Horizonte, afir-ma que optou pela implantaçãode cartões de créditos e débitopelo mesmo motivo. Há quase20 anos neste setor, a rede desupermercados, segundo ela, au-mentou significativamente asvendas com a implantação so-

lucionando em 80% o proble-ma dos cheques sem fundos.

Lídia Rabelo, vendedora,disse que os itens básicos, porter um custo maior, não cabemno orçamento.“O fato de nãosobrar dinheiro pra comprarintegralmente e os supermer-cados nos darem essa oportu-nidade, a gente acaba com-prando assim, mesmo sabendoque existe acréscimo”. Em po-sição contrária, Jaqueline No-gueira, atendente de telemar-keting, guarda o dinheiro parapagar os itens básicos da cestaà vista e só compra a crédito orestante, quando necessário. JáZenira da Conceição Ferreira,recepcionista, compra a crédi-to porque não têm dinheiropara pagar à vista; “mas, só sefor sem juros”, afirma. Ela pro-cura parcelar de poucas vezespara não ter que pagar mais ca-ro.“O prazo facilita as comprase é uma forma de se podercomprar. Mas deve-se tomarcuidado para não perder o con-trole e comprar mais do que sepode pagar”.

Márcio Guarim, proprietá-rio de uma pequena rede desupermercados, constata umaumento de 15% dos consu-midores que passaram a com-prar a cesta básica a crédito emrelação a 2003. Segundo ele, oque conquista o consumidor éparcelamento da compra mes-mo sabendo que estará pagan-do mais caro devido à cobran-ça de juros.

Falta de recursos faz do cartão de crédito um aliado para pequeno comércio de Belo Horizonte

A prática do uso do cartãode crédito tem aumentado onúmero de dívidas do consu-midor.De acordo com o presi-dente da Federação do Comér-cio do Estado de Minas Gerais(FECOMÉRCIO-MG),Rena-to Rossi, os juros altos como ospraticados no Brasil, resultam emum grande aumento do endivi-damento público.“O governose tornou um mero captador derecursos, contraindo cada vezmais ônus aosfinanciamen-tos”, declaraRenato Rossi.Segundo oeconomistaFernando No-gueira,“os ju-ros altos sãopara estabilizara inflação, issopermite com-pras a longoprazo”, escla-rece.

O governojustifica que osjuros devemser altos para estabilizar a infla-ção. Com os juros altos, espera-se que as pessoas comprem me-nos. Juro é uma taxa de rendi-mento paga por bancos, empre-sas,pessoas físicas e governos quetomam dinheiro emprestado, se-ja para uso próprio ou para re-passe a terceiros.

Os juros da economia brasi-leira têm como referência a ta-xa Selic (Sistema Especial de Li-quidação de Custódia), que édefinida pelo Banco Central emreuniões mensais do Copom(Comitê de Política Monetária).A taxa de juros brasileira é a se-gunda mais alta do mundo(18,75%). Diante de sua fragili-dade econômica, o Brasil éapontado como um país de ris-co para o capital internacional.

Os juros altos do país hoje

são uma continuação do planode estabilização da economia,do plano de meta inflacionaria.A meta pré–estabelecida pelogoverno para redução da infla-ção é de 5,1%.Analisando as úl-timas inflações provavelmentenós não atingiremos esse ano ainflação prevista.O Copom vemaumentando a taxa de juros des-de outubro de 2004.A alta taxade juros têm efeitos negativoscomo o aumento da dívida bra-

sileira e inibeo crescimen-to econômi-co.O dinhei-ro fica maiscaro, menosacessível; di-minui a ati-vidade eco-nômica quegera o desa-quecimentoda econo-mia; caem osnúmeros deinvestimen-tos produti-vos e de em-

préstimos; ocorre o aumentoda dívida pública que obriga ogoverno a gerar um superávitprimário, ou seja, o governoaumenta a arrecadação de tri-butos e diminui os gastos, jus-tamente para pagar seus custos.Isso tudo significa contrair aatividade produtiva e aumen-tar o desemprego.

Para estimular o crescimen-to do país, o governo pode di-minuir a taxa de juros. Porém,o governo brasileiro tem acor-dos internacionais a zelar, comoa meta de inflação acertada como FMI (Fundo Monetário In-ternacional). Em conseqüênciao Brasil fica numa situação de-licada: se os juros baixarem mui-to, a inflação pode aumentarmuito; mas, a taxa elevada pro-voca estagnação econômica.

Consumidorendividado

Vinícius Lacerda3º período

O constante aumento da ta-xa Selic, a taxa básica de jurosda economia, tem como prin-cipal objetivo a estabilização dainflação do país.No entanto, es-ta estabilização gera outras con-sequências para os consumido-res, como, por exemplo, o au-mento de impostos e dos jurosdo cartão de crédito.

Quem estipula a taxa Selicé o Copom (Comitê de políti-ca Monetária).Mensalmente es-te comitê estuda os fatores in-ternos e externos relacionadosà economia para estabelecer ovalor da taxa básica de juros, is-so para manter a meta inflacio-nária anual, que em 2005 estáprevista para 5,1%.

Então de que forma o au-mento da taxa Selic pode in-terferir diretamente na vida docidadão brasileiro? Trata-se deum ciclo vicioso. Com a ele-vação dos impostos o valor fi-nal dos produtos sofre um au-mento, o que reduz o consu-mo. Sem procura as empresasdiminuem seus lucros e demi-tem seus funcionários. Com aelevação do desemprego oconsumo diminui ainda mais,o que torna o mercado brasi-leiro instável. E de nada adian-ta uma constância no preço dosprodutos se, mesmo desta for-ma, o cidadão brasileiro nãotem recursos para comprá-los.

Com o aumento da taxa oatual governo consegue, tam-bém, manter-se bem interna-cionalmente, uma vez que con-segue atingir as metas estipu-ladas pelo FMI e também au-mentar o valor da balança co-mercial.

Com isso quem sofre é ocontribuinte, que, cada vezmais, é tributado e não tem aassistência devida em áreas co-mo educação, saúde e moradia.

“O governo setornou um merocaptador derecursos,contraindo maisônus aosfinanciamentos”

Renato Rossi, presidente do

FECOMERCIO-MG

Influência daSelic para osconsumidores

Cartão de crédito substitui cheque e acaba com inadimplência

Henrique Lisboa

04 -Economia - Eduardo B. 4/1/05 8:30 AM Page 1

Page 5: Jornal O Ponto - março de 2005

Imprensa deMinas Geraistorceu porVirgílioGuimarães

Eleição do deputado SeverinoCavalcanti surpreende a imprensa,que praticamente ignorou acandidatura do pernambucanoDébora Resende, Fernanda Grossi,

Guilherme Barbosa e Pedro Antônio Bcheche

4º período

A vitória do pernambucano Seve-rino Cavalcanti na eleição da Câmarados Deputados Federais, que ocorreuno dia 14 de fevereiro de 2005, conti-nua tendo um efeito devastador sobrea mídia.Fato devido a uma questão quea imprensa insiste em ignorar,mas que,no entanto,é fundamental para enten-der a relação entre política e mídia:porque durante a campanha para a presi-dência da Câmara Federal os grandesjornais não deram a devida atenção aodeputado Severino Ca-valcanti, do PartidoProgressista (PP), quepassou a ser o primei-ro a ocupar o cargomais alto da casa, e oterceiro na hierarquiada República, sem per-tencer ao partido ma-joritário?

Durante os mesesque antecederam o processo eleitoral,somente dois candidatos receberamatenção da grande imprensa:o deputa-do federal paulista Luiz Eduardo Gree-nhalgh e o mineiro Virgílio Guimarães,ambos do PT.A disputa causou um ra-cha na estrutura do partido já que Gree-nhalgh representava a candidatura ofi-cial do governo Lula e Virgílio, sentin-do-se preterido seguiu na disputa deforma avulsa,contrariando as ordens dacúpula petista.A briga na base aliada dogoverno agendou todas as discussõesnos diversos meios de comunicação,deixando de lado as demais candidatu-ras.O grande beneficiado dessa divisãofoi o candidato do PP,que até então eraum político desconhecido do grandepublico.Com propostas polêmicas,Se-verino correu por fora e chegou aoposto mais desejado por todos os de-putados federais.O candidato do PP fi-cou conhecido ao longo de sua carrei-ra política na Câmara, como o “rei dobaixo clero”pelo fato de conseguir al-gum destaque entre os deputados me-nos focados pela mídia e por lançar suacandidatura independente em outrasduas ocasiões.Apesar da candidatura,oSeverino sempre acabava entrando emacordo com os outros candidatos e de-sistia da disputa. Pelo acordo, ele apre-sentava a sua desistência e, em contra-partida,recebia um outro cargo na me-sa.

A imprensa, assim como a políti-ca nacional, preocupou-se em enfa-tizar os políticos que se tornam, deuma forma ou de outra,“celebrida-des”, e por esse motivo acabou ne-gando a Severino visibilidade nessaeleição parlamentar.A mídia limitou-se em mostrar o grande show prota-gonizado pelos polí-ticos petistas à respei-to da desobediênciade uma ala do parti-do às ordens da dire-ção, esquecendo-sedos outros três candi-datos, dentre eles orepresentante princi-pal do chamado “bai-xo clero”.

Em resposta aequipe de reportagem de O Ponto,Marcelo Beraba, que dirige a seção“Ombudsman” do jornal Folha de S.Paulo, relata na edição do dia 20 de fe-vereiro passado que os jornais admi-tiam no máximo a presença de Virgí-lio Guimarães disputando o segundoturno da eleição com o candidato ofi-cial Luiz Eduardo Greenhalgh, massem duvidar da vitória do paulista.Mesmo com os indícios de que a can-didatura oficial do governo não ia

bem,não houve nenhuma reportagemque duvidasse dos cálculos e fontes ofi-ciais, buscando ouvir os anônimoscomponentes do chamado “baixo cle-ro”.“Diante desses indícios e da im-portância da disputa, era de se esperarque no fim de semana os jornais lan-çassem a campo seus principais repór-teres de política para um último tra-balho de perscrutação, algo que per-mitisse oferecer aos leitores,na segun-da-feira da eleição,um relato mais pre-ciso do que de fato ocorria na Câma-ra. Isso não foi feito.As reportagens desegunda são aspas e aspas e não acres-centaram nada.”, argumenta Berabaem sua coluna.

Ainda nessa edição da “Folha”,Val-do Cruz,diretor da Sucursal de Brasí-lia,acredita que a grande imprensa “ca-rece de mais reportagens que apro-fundem a investigação do submundoda política em Brasília,de como se dãoas negociações – a maior parte delasenvolvendo interesses econômicos.”Ele aponta como maneira de melho-rar esse quadro evitar o “fontismo” ebuscar mais fatos.

“Dramatização”“A mídia não tratou a elei-

ção de maneira isolada, simplesmen-te cumpriu um papel dentro do jogopolítico mais amplo”.Essa é a opiniãodo professor de Jornalismo da Facul-dade de Comunicação Social daUFMG,Valdir Castro, integrante da di-retoria do Sindicato dos Jornalistasde Minas Gerais. O professorconsidera que o fato de não dardevida atenção ao candidato doPP não pode ser considerado uma“falha” dos jornalistas. “Foi real-mente uma zebra”, comentou. Paraele, a pouca atenção ao representantedo baixo clero pode ser perfeitamen-te compreensível, uma vez que odeslize na atuação da mídia naeleição da Câmara Federal nãopode ser enquadrada comouma “questão ética”, umavez que a mídia trabalhacom o senso comum, sen-do que este, possui um as-pecto emocional.

Castro usa o termo “dramatiza-ção”para falar de uma situação que nãodiz respeito somente à mídia.“O espe-táculo faz parte da sociedade”. Sendoassim, a linguagem jornalística espelha

essa situação uma vez que faz parte des-se contexto.“A mídia deu visibilidadee dramatizou porque faz parte do jogoda política”, avalia.

O professor defende a mídia usan-do o argumento de que o preconcei-to da qual é acusada de ter cometidona cobertura, é gerado dentro da pró-pria Câmara Federal.“A mídia apenasespelhou e ampliou o preconceitoexistente na Câmara em relação a Se-verino”.

O deputado pernambucano Seve-rino Cavalcanti, filiado ao Partido Pro-gressista (PP), chega a Presidência daCâmara aos 74 anos. Nascido na pe-quena João Alfredo, onde foi prefeito(1964-1966), é filho de um alfaiate euma dona de casa.Casado há 51 anoscom Amélia, tem quatro filhos.

É um homem de posições firmese tem um espírito nato de liderançasendo considerado o “rei do baixo cle-ro” pelo fato de ser filiado a um par-tido de pouca expressão e ser porta-voz dos deputados menos focalizadospela mídia. Na Câmara há uma certadivisão natural que,hierarquicamente,distribui os diversos grupos de acordocom a sua relevância.Assim como naigreja onde havia a separação entre al-to e baixo clero e na sociedade que sedivide em classes: alta, média e baixa.

A chegada de Severino à Câmara

dos Deputados após sete mandatos co-mo deputado estadual em Pernam-buco ocorreu depois de seu parceirode eleição, Ricardo Fiúza (deputadofederal), se envolver no escândalo damáfia que manipulava o orçamento edesistir da reeleição, abrindo então, es-paço para Severino Cavalcanti se can-didatar a deputado federal.

Católico fervoroso e de um perfilextremamente conservador, o novopresidente da Câmara já se envolveuem algumas polêmicas por conta dis-so. É contra o aborto e o casamentohomossexual.

Severino está no seu terceiromandato consecutivo, mas isso nãobastou para que pelo menos um deseus cinqüenta projetos fosse apro-vado. É adepto da prática do nepo-tismo, tendo empregado seu filho co-mo seu assessor.

A cobertura da imprensa mineira so-bre a eleição da Câmara dos Deputadosfoi nitidamente pró-Virgílio.O repórterde política do Jornal O Tempo, PauloHenrique Lobato,entrevistado pela equi-pe de reportagem de O Ponto,confirmaesse fato.“Eu torci para Virgílio mas nun-ca votei nele.Torci por ele pelo fato deser mineiro.Se fosse outro candidato mi-neiro de outro partido, também torceriapor ele.”Além disso, ele destaca que osjornalistas mineiros teriam mais acesso anotícias “em primeira mão”, o que nãoocorreria com a vitória de um candida-to de outro estado.“Por ele ser mineiro,nós teríamos maior acesso a furos.”

Mesmo sem negar a parcialidade daimprensa nesse episódio, Lobato justi-fica a falha lembrando que no históri-co das eleições parlamentares é comumsurgir candidatos avulsos que sem chan-ces de vitória, buscam apenas a pro-moção na mídia.“Esses candidatos dotipo de Severino Cavalcanti se candi-datam sem a intenção de se eleger,massim para ganhar mais espaço na mídia.Mostrar para os eleitores de sua baseeleitoral que está disputando um cargoimportante. Um exemplo disso foi odeputado Jair Bolsonaro (PFL-RJ), querecebeu somente dois votos”.

Porém, a atuação do Jornal O Tem-po pode ser considerada a de melhor co-bertura dentre os jornais mineiros, poisfoi o único veículo que no dia da elei-ção (edição de 14 de fevereiro), apon-tou para a ameaça que Severino Caval-canti representava à base governista.Pau-

lo Henrique Lobatoconta que chegou aser ridicularizado pe-lo destaque dado aocandidato do PP.“Oscolegas da imprensazombaram do alto depágina dado a Seve-rino. Mas nós, de OTempo,sabíamos quea candidatura Severi-no havia crescido aponto de incomodar,mas nunca que che-garia a ser eleito”.

A ajuda dojornalista Ricardo

Noblat, do jornal Correio Brasiliense,foi destacada por Lobato como im-prescindível para a sustentação da teseda ascendência de Severino.“No do-mingo à noite (dia 13), véspera da elei-ção,Ricardo Noblat percebeu que mui-tos deputados iriam votar em SeverinoCavalcanti.Como Ricardo é muito li-gado ao jornal O Tempo, ele nos cha-mou a atenção sobre o crescimento dacandidatura de Severino na reta final”.

Alessandra Mello, repórter da edito-ria do jornal “Estado de Minas”, admi-te a falha da mídia.“Severino era consi-derado por todos um deputado de pou-ca expressão e teve mesmo um descré-dito. Nós mesmos aqui da redação ig-noramos o discurso dele no dia da elei-ção porque acreditávamos que ele nãotinha nenhuma chance de vitória”, rela-ta.Mello ressalta também a importânciada briga interna do PT, seguido de umerro de avaliação.“Quando o partido per-cebeu que Greenhalgh não ganharia noprimeiro turno, forçou a ida de Severi-no para o segundo turno, transferindovotos de Greenhalgh para Severinoachando que seria mais fácil derrotar Se-verino do que Virgílio Guimarães”.

RASTEIRAMÍDIA 5O PONTO

Belo Horizonte – Março/2005

Editor e diagramador da página: Rafael Werkema

na

A imprensa carece de maisreportagens que aprofundema investigação do submundoda política em Brasília”

Marcelo Beraba, ombusdman da Folha de São Paulo

“A mídia apenas espelhoue ampliou o preconceitoexistente na Câmara emrelação a Severino”

Valdir Castro, professor e integrante do Sindicato dos

Jornalistas de Minas Gerais

mídia

Por que Severino é o“rei do baixo clero”?

“Torci por Virgíliopelo fato de ele sermineiro”

“Por ele ser mineiro,nós teríamos maioracesso a furos”

Pedro Henrique Lobato,repórter de O Tempo

05 - Mídia - Rafael Werkema 4/1/05 8:28 AM Page 1

Page 6: Jornal O Ponto - março de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Março/2005

Editor e diagramador da página: Daniela Reis

6 EDUCAÇÃOPBH propõe inclusão de deficientes

Aline ValérioMax ValadaresRaquel Alves

4º Periodo

As escolas da rede regular deensino estão investindo mais nainfra-estrutura e no aprendiza-do de alunos portadores de de-ficiência para atender o conjun-to de necessidades de todos oscidadãos e valorizar a diversida-de. Foi lançada em setembro de2004 uma cartilha com a pro-posta de transformar a escola emum ambiente de convívio res-peitoso e livre de discrimina-ções. Cerca de 80% das escolasmunicipais da cidade têm aces-sibilidade para alunos deficien-tes e as que não tem,muitas ve-zes não se adaptaram completa-mente por falta de verba. Essetrabalho é a remoção de barrei-ras que impedem a freqüênciade alunos deficientes nas esco-las comuns, dando a eles recur-sos educacionais, estratégias deapoio, e diferentes alternativasde atendimento de acordo comas necessidades de cada um.

Segundo Darci TeixeiraCruz,membro da Coordenaçãode Política Pedagógica da Se-cretaria da Educação e profes-sora da Rede Municipal de En-sino, a prefeitura de Belo Hori-zonte (PBH) tem somente o re-curso do tesouro municipal,mascomo o governo federal está im-plantando um programa nacio-nal, a verba para o aluno comdeficiência vai aumentar atravésdo Fundep, o que ainda é pou-co.“A PBH firmou um contra-to com associações de surdosque fornecem instrutores pagosvia caixa escolar. A secretariamunicipal de educação e a PBHdepositam recursos na caixa es-colar da instituição de ensinoque tem um deficiente, para opagamento do profissional queauxilia os alunos surdos”, con-ta.A inclusão de deficientes narede comum de ensino aindaencontra dificuldades, tanto por

parte das famílias, que prefe-rem matricular os deficientesem escolas especiais, quanto naaceitação dos alunos pelos pro-fissionais, pois eles se sentemangustiados por não estarempreparados.

A Lei de Diretrizes e Basesda Educação Nacional (LDBEN)diz que o atendimento educa-cional especializado só podeocorrer em classes ou escolas es-peciais se não puder ser ofere-cido em uma classe comum.Asmatérias do ensino especializa-do compreendem Língua Bra-sileira de Sinais (Libras), ensinode língua portuguesa para sur-dos, sistema Braile, informáticae educação física adaptada,mo-bilidade e comunicação alter-nativa, e atividades da vida au-tônoma pessoal.

No caso dos surdos, profes-sores que entendem de libras es-tão sendo contratados em cará-ter emergencial, pois os profes-sores concursados não sabem es-sa linguagem e estão sendo trei-nados para atender esses alunos.“Na secretaria de educação, te-mos auditórios que constante-mente estão cheios devido aoscursos de iniciação em Libras”,declara.Todas as escolas da redeque possuem alunos surdos têmum instrutor de Libras que en-sina a linguagem aos professo-res, colegas dos surdos e até fa-miliares.A metodologia de en-sino para um deficiente é amesma de qualquer outro alu-no, basta apenas adaptar o ma-terial e o método didáticos.

A professora explica que oaluno deficiente não precisa deuma metodologia diferente, eleprecisa ser respeitado no seuritmo.“Um aluno deficiente sóé alfabetizado no 2º ciclo quan-do os alunos já tiverem 11 ou 12anos, mas não se faz necessárioà retirada desse aluno de sua tur-ma devido aos projetos na esco-la que o auxiliam”.Hoje 182 es-colas de BH possuem ao menosum aluno deficiente.

Idosos voltam aestudar em BH

Thatiana Mendes Rosáurea Patrocínio

Isabella Antunes4º período

Na última década houve umaumento de 13% no número deidosos alfabetizados no país, se-gundo o Censo 2000 do Insti-tuto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE).Mesmo comesse resultado, ainda existem nopaís cerca de 5,1 milhões deanalfabetos. Instituições públi-cas, particulares, ONG´S e oGoverno Federal têm atuado namelhoria da educação dos ido-sos no país “é preciso que se-jam criados cursos voltados pa-ra os idosos. Eles desenvolvemcapacidades físicas e intelec-tuais”, diz a secretária do Nú-cleo Geriátrico do Hospital Ma-ter Dei, Márcia Silva.

De acordo com dados doIBGE,em 1991,55,8% dos ido-sos declararam saber ler e escre-ver pelo menos um bilhete sim-ples. Em 2001 esse percentualsubiu para 68,4%. Um cresci-mento de 16,1% em dez anos.Também foi constatado que noperíodo de duas décadas, o nú-mero de idosos que voltaram aestudar dobrou. Esse aumentopode ser relacionado às váriasações governamentais, econô-micas, políticas e culturais quegarantem ao idoso a continui-dade de sua contribuição socialde forma ativa e produtiva.“Pro-gramas de apoio aos idosos de-senvolvem além da alfabetiza-ção, a inclusão social e cultural

dos mesmos, através dos deba-tes, troca de idéias, artesanato,leitura de textos, livros e poesias,práticas psicológicas e inclusãodigital. O idoso se torna ele-mento atuante na sociedade,ciente de tudo que se passa aoseu redor”, diz Márcia.

Atividades direcionadas apessoas com idade avançada es-tão sendo desenvolvidas em al-gumas Instituições de ensino su-perior de Belo Horizonte. AUniversidade Fumec,por exem-plo, possui o de Estudos Escolada Terceira Idade (Neeti).O ob-jetivo é manter um fórum dedebates, cursos de formação pro-fissional, além de intercâmbiocom instituições. Outro proje-to de apoio aos idosos é o doGrupo Bem Viver.As atividadesacontecem na Faculdade SãoCamilo e além do apoio educa-cional, eles participam de ativi-dades artísticas, palestras e deba-tes.“Para mim é uma oportuni-dade única. Fiquei mais de vin-te anos sem estudar e agora que-ro aprender tudo aquilo que nãopude”, disse Maria das DoresMiranda,aluna do curso.O pro-jeto conta ainda com a partici-pação da ONG Instituto BrasilVivo, do Unicentro NewtonPaiva e da Universidade Fumec..

A Pontifícia UniversidadeCatólica de Minas Gerais(PUC-MG), a Universidade doEstado de Minas Gerais (Uemg)e a Universidade Federal de Mi-nas Gerais (UFMG) tambémpossuem programas de assistên-cia à pessoas da maturidade.

Projeto ainda encontra falhas em MG

Sem materiais adequados crianças assistem aula em BH

Barbára RibeiroLuana BastosPoliane Bosco

1º Período.

O projeto de ampliação dodo ensino fundamental foi im-plantado no estado em 2004 pe-lo governador,Aécio Neves, eatende às crianças a partir de seisanos que ingressam nas escolasno período introdutório.O pro-grama tem o objetivo de au-mentar a qualidade do ensinoem Minas alfabetizando mais ce-do as crianças. Para esta inicia-tiva foram investidos mais de R$500 milhões de reais. Essa verbafoi destinada à compra de ma-terial pedagógico,mobílias e re-forma nas instalações internas.

No ano de lançamento oprojeto beneficiou cem milcrianças em 553 municípios deMinas. De acordo com a asses-soria de imprensa da Secretariado Estado de Educação este anotodos os municípios mineiros jáadotam o sistema de ampliaçãodo ensino básico e mais de 130mil crianças de seis anos fre-qüentam as aulas no estado.

A coordenadora da EscolaEstadual Pandiá Calógeras,AnaLúcia Véo Mendes, afirma queos educadores aprovam o proje-to,pois ele prepara a criança pa-ra as séries seguintes. Mas deacordo com ela o projeto aindaencontra algumas falhas na dis-tribuição de verbas e capacita-ção dos professores e coordena-dores.“Aqui no Pandiá Calór-geras, por exemplo, as criançasestudam em salas inadequadaspara sua faixa etária.A verba des-

tinada à escola não foi suficien-te para modificar toda a infra-estrutura, principalmente cons-truir mais salas e banheiros comsanitários infantis, além de umabrinquedoteca equipada combrinquedos, livros, televisão e ví-deo”, diz a Coordenadora.

A educadora salienta a im-portância da autonomia da es-cola no processo de aprendiza-gem.“A escola precisa de liber-dade para traçar o próprio ca-minho, ou seja, preparar e reci-clar os professores, por em prá-tica os projetos da escola, e man-ter os professores que já estãoambientados com o funciona-mento da instituição”, desabafaa coordenadora.

No município de LagoaSanta, o projeto foi implantadoeste ano em 13 escolas. Sãoaproximadamente 703 alunosdivididos em 32 turmas. Deacordo com a pedagoga da Se-cretaria de Educação da cidade,Enilde Fortunato Castro,os pro-fessores tiveram um curso de ca-pacitação de uma semana noinicio do ano onde fizeram di-versas oficinas baseadas em seusinteresses.Ela disse ainda que asescolas receberam as verbas dogoverno do estado, porém ain-da há uma lista de espera de alu-nos. “Para 2006 há planos deampliação de turmas para supriressa lista de espera que está cres-cendo devido a divulgação doprojeto”, salienta a pedagoga.

A coordenadora da EscolaPandiá explica também quemuitos pais esperam que os alu-nos tenham um aprendizado rá-pido no ciclo introdutório, pois

a propaganda do projeto eluci-da uma idéia de aprendizadocompleto nesse primeiro perío-do, esquecendo que cada crian-ça tem dififuldades específicas eum rítimo próprio de aprendi-zado. Ela disse ainda que ascrianças só passam para o cicloseguinte quando cumprem to-das as etapas e estiverem ao me-mo patamar de toda a turma.

A assessoria da Secretaria doEstado de Educação justificou-se dizendo que ano que vem no-vas turmas serão abertas e maisde R$100 milhões destinadas àsescolas para melhoria de infra-estrutura e material.A assessoriainformou ainda que o programatem retirado crianças das ruas ede creches que não possuemprofissionais capacitados.

Estagiários auxiliam na alfabetizaçãoDarci Teixeira membro da Coordenação de Política Pedagógica da Secretaria de Educação

Juliana Morato

Fenanda Abras

A Secretaria de Educaçãocontratou diversos estagiários pa-ra auxiliar na alfabetização dosportadores de deficiência físicaem Belo Horizonte. Cada esta-giário fica dentro da sala de aulacom um aluno deficiente aju-dando-o quando necessário. Es-ses estagiários foram selecionadosde acordo com o perfil, pois emalguns casos são exigidos o co-nhecimento do braile, língua dossinais e outras técnicas utilizadaspara comunicação e aprendizadodo aluno.

De acordo com Darci Teixei-ra,professora e membro da Coor-denação de Políticas Pedagógicasda Secretaria de Educação, “a

atuação do estagiário é bastanteimportante,pois a professora po-de seguir a turma em um rítimoadequado que não prejudique oaluno deficiente, nem os outrosalunos”. Ela salienta que o esta-giário não realiza as atividades pa-ra a criança,ele apenas auxilia nashoras de dificuldades quando échamado.

A educadora afirma que paise crianças estão satisfeitos com apresença dos estagiários dentrodas salas de aula e garante que es-se projeto deveria ter sido im-plantado há mais tempo.“Se naépoca que meu filho foi alfabe-tizado tivesse esse auxílio comcerteza ele não se atrasaria na es-

cola e nem enfrentaria as dificul-dades que encontrou no proces-so de apredizado”,desabafa a Ro-seli Coelho, mãe de FabrícioCoelho,aluno da rede estadual deensino portador de deficiênciaauditiva.

A Secretaria contrata doistipos de estagiários, os de nívelsuperior e os de nível médio.Eles trabalham quatro horasdiárias e são remunerados porbolsa de um salário minímo.

Para os estagiários essa éuma oportunidade de colocarem prática os conhecimentosadquiridos dentro das faculda-des e entrarem em contatocom a realidade profissional.

“A atuaçãodo estagiárioé bastanteimportante,pois aprofessora podeseguir a turmaem um rítimoadequado.”

Darci Teixeira, membro

Coordenação de Políticas

Pedagógicas

Escolas investem em infra-estrutura e lança cartilha para convívio livre de discriminação

06 - Educação -Daniela Reis 4/1/05 8:26 AM Page 1

Page 7: Jornal O Ponto - março de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Março/2005

Editor e diagramador da página: Daniel Simão

SEGURANÇA 7

Não apenas os homens, masas mulheres têm sofrido com oproblema da violencia na capi-tal. Enfrentando as mesmas di-ficuldades no dia a dia, as ta-xistas apesar disso, vem ga-nhando seu espaço dentro dacorporação, o que tem atraídonovas interessadas. De acordocom os dados concedidos pe-lo Sindicato dos Taxistas, do6036 permissionários, 40 sãomulheres, número que embo-ra pequenovem aumen-tando consi-deravelmentenos últimosanos.

Os moti-vos apontadospela classe sãoa falta de em-prego e a ne-cessidade dasmulheres deajudar nasdespesas dacasa. RegianeCosta Mares étaxista há doisdoi s anos. Pa-ra ela o táxi éuma alternati-va de trabalho,que ajuda a complementar asreceitas da família. “Sou mãede três filhos e quando come-cei a me dedicar ao táxi meumarido estava desempregado.Hoje ganho quase o mesmotanto que ele”, relata.

Em relação ao tratamentorecebido, muitas delas afirmamque sofrem discriminação até

mesmo por parte de colegas detrabalho, pelo fato de seremmulheres. Maria José da SaúdeSouza é uma das taxistas maisantigas da cidade, com 22 anosde profissão. Ela trabalha noponto de táxi da rua Santa Ri-ta Durão, esquina com a ruaPernambuco, no bairro Fun-cionários e diz não ver moti-vos para ser tratada diferente-mente. “Trabalho de seis damanhã até as dez da noite, e

encaro, assimcomo eles, osproblemas daprofissão”,questiona.Maria José já

foi assaltadauma vez eafirma ter evi-tado váriasoutras tentati-vas. “ Meusanos de expe-riência meensinaramevitar esse ti-po de violên-cia”, explica..Já os passagei-

ros parecemestar gostandodo serviço

prestado. Segundo Edilson Nu-nes, usuário constante de táxis,as mulheres são mais gentis emais prestativas.“Me lembro daprimeira vez que fui atendidopor uma mulher e fiquei umtanto quanto encabulado. Como passar do tempo, no entanto,aprendi a valorizar e respeitaressa nova situação”, conta.

Daniel Carlos e João Marcelo5º período

A falta de segurança en-frentada pelos taxistas que tra-fegam em Belo Horizonte, temfeito muitos deles se armaremno combate a violência. Nor-malmente portando armas, ob-jetos pontiagudos e pedaços demadeira escondidos nos veícu-los, alguns taxistas tentam seproteger da ação dos bandidos.

Marcelo Souza, taxista há16 anos, afirma estar revoltadocom a falta de comprometi-mento das autoridades. Para eleo Estado ao invés de desarmaro cidadão de bem, deveria pri-meiro deter os marginais. “Eutenho que me armar.Tenho fa-mília, filhos, muita coisa paraperder”, desabafa.

Para Dirceu Efigênio Reis,presidente do Sindicato dos Ta-xistas ( Sincavir), a não exis-tência de policiamento ade-quado e a insegurança genera-lizada, tem levado muitos ta-xistas a utilizarem meios de de-fesa próprios.“Hoje a situaçãoestá muito complicada para oprofissional do táxi, já que pornão ter como se defender, setornou alvo fácil para assaltan-tes”, afirma.

O sindicato da classe, atra-vés de seu diretor-secretário,Avelino de Araújo, informouque juntamente com a PolíciaMilitar (PM) está promovendoa operação ‘Pára Pedro’, que sãoblitze para taxistas feitas em to-da cidade, que tem o objetivode proporcionar maior segu-rança no exercício de suas fun-

ções.“Essa operação tem dadoalguns resultados, mas ainda éinsuficiente”, conclui. Ele afir-mou também que um convênioestá próximo de ser fechado en-tre a Rádio Táxi, a PM e a Se-cretaria do Estado da Defesa So-cial.“O objetivo é monitorar ospassageiros que utilizam essemeio de transporte”, declara.

Alguns taxistas, no entanto,reclamam do trabalho feito pe-la PM.Vagner Sena, taxista quetrabalha em um dos pontos daAfonso Pena, comenta que cer-ta vez ao ser parado por umadas blitze do Para Pedro, na Av.Vilarinho em Venda Nova, foirevistado pelo policiais, que na-da fizeram em relação ao pas-sageiro.“Fico me perguntandose essas blitzen são mesmo pa-ra proteger os taxistas ou parapuní-los”, questiona.

De acordo com o cabo An-dré Diniz os passageiros são omaior alvo dessas ações.“É cla-ro que os passageiros são nos-sa maior preocupação, mas is-so não impede que os taxistastambém sejam revistados”, es-clarece. Ele aconselha ainda aostaxistas que não andem arma-dos, já que os bandidos estãosempre em vantagem.“Quan-do um indivíduo de bem temuma arma para se defendernormalmente ele a usa em si-tuações adversas e se prejudi-ca”, orienta.

Os taxistas têm tambémacusado os policias de apreen-derem suas armas quando re-vistados, mesmo tendo porte.Carlos Macedo teve faca, cassetete e arma apreendidos pe-

la polícia.“Eles levaram tudo edisseram que eu não tinha mo-tivos para me armar tanto” re-lembra. Ele constatou ainda,conversando com colegas, quenormalmente as armas não sãodevolvidas. “Eles mandam agente buscar, mas, quando che-gamos, sempre inventam umadesculpa” desabafa.

Segundo o cabo Diniz o ta-xista que tem porte de armas,pode utilizá-la, a não ser queesteja embriagado.“Tentamosavaliar qual a intenção do por-tador da arma. Se concluirmosque ele não tem condições de

usá-la adequadamente, apreen-demos.” Ele acrescenta aindaque andar armado sem ter por-te é crime, e que nesse caso apessoa é encaminhada à dele-gacia, podendo ser autuado emflagrante. “Só pode ter armaquem tem autorização parausá-la. Em hipótese alguma,permitimos a posse de armaspor indivíduos não habilita-dos”, conclui.

De acordo com pesquisafeita pelo Sincavir, em média,cerca de seis permissionáriossão assaltados todos os dias nacapital.

O taxista Robson Pereira mostra a marca da violência

‘Olho Vivo’ pode ser discriminatório Apesar de a PM afirmar que não há preconceito, critérios de identificação de suspeitos são discutíveis

No centro de monitoramento do ‘Olho Vivo’ técnicos observam os pedestres

Sistemaapresenta falhasna segurança

Apesar das câmeras do pro-grama Olho Vivo terem a capa-cidade de girar 360 graus e po-derem aumentar a imagem ematé 200 vezes com nitidez, algu-mas pessoas continuam sofren-do com as ações dos marginais.

Ao sair de um banco locali-zado na avenida Olegário Ma-ciel com rua Tupis,Marcela Po-liana Sousa Lima,que presta ser-viços gerais, encontrou comuma amiga, segundo ela bemembaixo de uma das câmeras doprograma Olho Vivo.“Me lem-bro que ao sair da agência fiqueiobservando a câmera acima demim”. Em seguida, duas mu-lheres bem vestidas sairam domesmo banco e surpreenderam-nas.Marcela contou que um po-licial de moto passou e quandoela pediu ajuda, ele se prontifi-cou a fazer uma busca pela re-gião,mas alegou que seria mui-to difícil encontrar as mulheres.Acrescentou também que eladeveria acionar a polícia para fa-zer o boletim de ocorrência.

Em defesa do ‘Olho Vivo’,ostécnicos disseram ser difícil re-gistrar imagens logo abaixo dolugar onde as câmeras foram ins-taladas, porque geralmente é fil-mado o que está em torno de-las. De acordo com o Sub-te-nente Lopes, as pessoas costu-mam achar que o sistema é100% eficaz, e por isso não acei-tam falhas.“As pessoas achamque o olho vivo vai resolver aquestão da violência, o que nãoé verdade.”Os operadores e mi-litares aconselham as vítimas aentrarem em contato imediata-mente com a polícia, logo queocorrer o fato e passar todas asinformações que possam facili-tar na captura do infrator.

Fabiana Lima e Ana Vitória 4º período

O Projeto ‘Olho Vivo’ di-vulgou o número de ocorrên-cias monitoradas pelo sistema nomês de janeiro. De acordo como levantamento feito, das 220ocorrências, 110 consistiram naabordagem de suspeitos nas ruasda capital. Esse número, embo-ra significativo, tem maior im-portância se forem consideradosos critérios utilizados na identi-ficação do potencial criminoso,que normalmente está associa-da à cor e classe social das pes-soas que circulam pelo centro.

A reportagem de O PON-TO esteve no local de funcio-namento das câmeras, localiza-do no Comando da Polícia Mi-litar(PM),na rua da Bahia acom-panhando o trabalho dos técni-cos e quais os procedimentos to-mados na identificação de umsuspeito. Pessoas bem vestidasnão foram consideradas pelostécnicos do posto de policia-mento.

As opiniões daqueles que fre-qüentam as regiões monitoradasse divergem. Para uns o precon-ceito ocorre e está presente nasações policiais já que a maior par-te das pessoas abordadas são asmais pobres. João Evangelista,co-merciante que trabalha no cen-tro, relata que uma vez, cami-nhando com um sobrinho de 18anos, foi surpreendido por poli-cias que sem mais nem menos olevaram para a delegacia.“Estourevoltado. Sou trabalhador ho-nesto. Só porque sou negro, nãosignifica que vou cometer cri-mes”, indigna-se.

Outras,no entanto, apesar denão concordarem com qualquertipo de discriminação, acreditamque para a polícia é difícil de-terminar quem são verdadeira-mente os suspeitos. Para Mariado Carmo Ferreira, costureiraque costuma circular na região

central da capital, é preferívelque a PM cometa excessos enão deixe ‘delinqüentes’ atua-rem livremente.

De acordo com o sub te-nente Lopes, raça e vestes nãosão fatores relevantes para clas-sificar uma pessoa como sus-peito em potencial, mas in-fluenciam.“O comportamentoé o principal, já que tanto pes-soas aparentemente mal vesti-das quanto bem vestidas foramflagradas furtando outras pes-soas”. Ele acrescenta ainda que,para que um indivíduo sejaconsiderado suspeito, é neces-sário que ele fique muito tem-po parado em determinado lu-gar, atento ao movimento outrocando objetos com outraspessoas, o que pode ser even-tualmente tráfico de drogas.

Além dessa questão, outrapreocupante diz respeito à agi-lidade do sistema. O PONTOrecebeu a denúncia de que mui-tos suspeitos têm sido presos, emvirtude das imagens gravadas,mas liberados em seguida porfalta de provas, já que as imagensnão têm chegado com rapidezaos postos da polícia.

De acordo com o Secretário-adjunto de Defesa Social de Mi-nas Gerais, Luís Flávio Sapore,asmedidas cabíveis já estão sendotomadas.Ele defende que o ‘OlhoVivo’ , como qualquer outro sis-tema de seguança, apresenta li-mitações normais de operacio-nalização.“ Problemas como es-te existem, e temos de aprendera lidar com eles, para assim po-dermos extingui-los”,afirma.Se-gundo ele as imagens ficam gra-vadas, mas por causa de uma leiestadual não é permitido seu uso,exceto em casos onde os suspei-tos são levados às delegacias sema presença de uma testemunha ouvítima.Sendo assim,o vídeo é li-berado para procedimento legal,tornando o processo um poucomais demorado.

Mulheres tambémsofrem com violêcia

Taxistas se armam em BH

“Sou mãe detrês filhos, equando comeceia me dedicar aotáxi meumarido estavadesempregado.Hoje ganhoquase o mesmotanto que ele”

Regiane Costa Mares, taxista

Daniel Carlos

Guillermo Tângari

07 - Segurança - Daniel Simão 4/1/05 8:23 AM Page 1

Page 8: Jornal O Ponto - março de 2005

O POBelo Horizonte

Editor e diagramador da p

8 ESPECIAL

DÉFICITFISCAL

No dia 15 de março, pro-fessores da rede estadual deensino fizeram manifestaçãona Superintendência Metro-politana B, localizada na ave-nida Pedro II, com organiza-ção do Sindicato da Uniãodos Trabalhadores do Ensino(Sindi-UTE). Os professoresreivindicavam o pagamentode salário atrasado e tambéma restituição do corte de be-nefícios que foram feitos apósa posse do atual governador.Durante o governo AécioNeves, um dos cortes efetua-dos determina o recebimen-to de um abono salarial euma Parcela RemuneratóriaComplementar (PRC) porpessoa, independentementedo número de cargos queocupa.A professora Sara Da-niela Barbosa, disse que ne-nhum lugar no mundo pagacomo Minas Gerais.“No edi-tal do concurso que fiz, o sa-lário era de R$ 660, masquando alguém ocupa doiscargos, recebe apenas cercade metade desse valor para osegundo cargo, pois os abo-nos e a PRC, que é uma es-pécie de abono, vai apenaspara um dos cargos”, denun-cia.A professora reclama tam-bém da falta de critério nacobrança de descontos comoassistência médica e previ-dência, pois apesar de rece-ber abonos para apenas umdos cargos que ocupa, ela pa-ga essas contribuições para as

duas funções que desempe-nha:“Se você considerar meusalário entre 2002 e 2003,houve uma redução no valorcom a retirada desses abonos,mas continuo pagando o IP-SEMG para os dois cargos re-gularmente”, desabafa.

A assistente social Solan-ge Esteves é outra servidoraque está se sentindo prejudi-cada. Concursada, ela traba-lha em duas instituições,Fhemig e Ipsemg.Apesar dis-so, ela não recebe pelos doiscargos. “Cortaram do meucontra-cheque minha PRC emeu abono de um dos em-pregos”, conta.Ainda assim, édescontado de seus dois salá-rios a assistência médica e aPrevidência Social.“É estra-nho,pois, na hora de receber,só ganho por um dos meusempregos. Na hora de des-contar, descontam dos dois”,ironiza.A assistente social re-clama ainda que não recebemais vale-transporte e nemvale-refeição.“Estou deixan-do de receber pelo menos R$400, sem contar que tenhoque tirar do meu salário meutransporte e minha alimenta-ção”, afirma.

A secretária adjunta da Se-plag explica que a PRC foiuma medida imediatista to-mada pelo governo ItamarFranco e que não vislumbrouos problemas em longo pra-zo. Segundo ela, o plano decarreira, que é um dos obje-

tivos do atual governo, só po-de ser implantado com umatabela, e a incorporação daPRC a essa tabela gera umônus altíssimo aos cofres doestado e dificulta a negocia-ção com os sindicatos.Vilhe-na afirma que a legislaçãoprevê o pagamento de abo-nos como a PRC por servi-dor, e não por cargo, e por is-so houve o corte do paga-mento desses abonos.A se-cretária adjunta também ex-plica o duplo pagamento daprevidência.“O servidor con-tribui para uma aposentado-ria futura e a aposentadoriareflete os dois salários que elerecebe.Portanto, ele paga emdobro”, completa. Entretan-to, não quis entrar no méritodo duplo pagamento para oplano de saúde.“Não sei se opagamento do plano de saú-de também é duplo, mas sefor, é uma lógica perversa”,condena.

De acordo com o diretoradministrativo do Sindi-Saú-de e diretor da CoordenaçãoIntersindical dos ServidoresPúblicos Estaduais, RenatoBarros, há uma deficiência dematerial básico para o fun-cionamento das unidades desaúde. “Falta gaze, papel delimpeza, papel higiênico,ma-terial de sutura. Para um lo-cal onde se promove o aten-dimento ao público,esses ma-teriais são extremamente ne-cessários”, revela.

Salário atrasado ecorte de benefícios

Camila Guimarães, Daniel Gomes,Hernane Léo e Ticiana Cunha

4º período

Ao final do ano passado, ogovernador Aécio Nevesdivulgou amplamente obalanço das contas do Es-tado, que apresentava umdéficit de R$ 2,4 bilhões

em janeiro de 2003 e chegou a zero em2004.Noticiado por toda grande impren-sa mineira, o feito do governador foi re-cebido com otimismo pela população que,no entanto, desconhece o real custo doequilíbrio das contas do estado.

Os cortes promovidos pelo governo deMinas chegaram a prejudicar direitos ad-quiridos pelos servidores públicos que sãogarantidos pela Constituição, como acon-teceu nas áreas da saúde e da educação.Se-gundo a secretária adjunta da Secretaria dePlanejamento e Gestão (Seplag), RenataVilhena,o estado tem metas a serem cum-pridas sob a luz da Lei de Responsabilida-de Fiscal (LRF).“Não entro no mérito daquestão se é justo ou não.O fato é que te-mos compromissos com a LRF e temosque cumpri-los”, revela.

Saúde“Falta gaze, papel de limpeza, papel hi-

giênico.Para um local onde se promove oatendimento ao público, esses materiais sãoextremamente necessários”denuncia Re-nato Barros, da Coordenação Intersindi-cal do Servidores Públicos.

Na Farmácia do Ipsemg, por exemplo,a situação é ainda mais grave.Segundo a as-sistente social Solange Esteves, do setor deServiço Social do Instituto, desde o inícioda gestão de Aécio Neves, a variedade deremédios distribuídos em gratuidade peloIpsemg diminuiu, e as exigências para aaquisição do Cartão da Farmácia aumenta-ram, dificultando ainda mais o acesso doservidor aos medicamentos gratuitos.“Asnovas regras do estudo sócio-econômicopara a liberação do cartão restringiram bas-tante o número de pessoas que teriam aces-so a esse direito.Só para se ter uma idéia,osservidores que tem uma renda mensal fa-miliar bruta superior a R$ 600 nem passamda primeira etapa de avaliação”, revela.

Leila Barros Verçosa, coordenadora doServiço Social de Ambulatório do Ipsemg,afirma que há anos a verba repassada é amesma, mas que o número de servidoresusuários triplicou e o preço dos remédiossubiu.“É impossível conseguirmos traba-lhar com um orçamento tão racionado.Quem sai perdendo é o servidor, que àsvezes, precisa esperar meses para conseguiro medicamento para tratamento”, afirma.

Uma ex-funcionária que não quis seidentificar por medo de represália contaque já viu um paciente psiquiátrico entrarem crise porque não havia no estoque oremédio para sua doença.A coordenadoraconfirma o caso.“O problema é que quan-do o paciente entra em crise, ele é inter-nado aqui mesmo no Ipsemg,gerando gas-tos ainda maiores para o Estado”, revela.

O Serviço Social do Ipsemg recebe deR$ 30 mil a R$ 40 mil por mês. Mas, se-gundo Leila Verçosa, já aconteceram casosem que essa verba durou dois dias.“O setorrecebeu a verba de fevereiro,mas vários pa-cientes que foram à Farmácia buscar medi-camentos em gratuidade estavam desde ou-tubro do ano passado na espera”, explica.

A coordenadora ainda afirma que osproblemas do Serviço Social no Ipsemg jáforam levados à diretoria, e que providên-cias serão tomadas.“Fizemos uma planilhade custos e apresentamos, esperando umreajuste dessa verba”, finaliza.

A secretária adjunta do Seplag, Rena-ta Vilhena, explica que os recursos repas-sados às áreas sociais são previstos no or-çamento do ano anterior e que a Consti-tuição prevê um mínimo de investimen-tos que, se não alocados, submetem o Es-tado à penalização da LRF.Entretanto, elaafirma que, tirados os gastos obrigatórios,não sobra nada para custeio e pessoal, e ocusteio engloba aparelhagem,equipamen-tos e demais verbas para necessidades bá-sicas das repartições de saúde.“A LRF foia forma que a União encontrou para quepolíticas sociais sejam executadas,mas criouum engessamento grande”, admite.

De acordo com a diretora administra-tiva do Sindicato dos Servidores do Ipsemg(Sisipsemg),Antonieta Doledo de Faria,háuma defasagem também com relação aovalor dos vale-transportes que são de di-reito dos servidores. Os vales não são rea-justados há aproximadamente quatro anos,e com a política de corte de gastos do go-verno, essa situação se agravou. Isso podeser constatado também na área da educa-ção.Em 2002,o transporte era responsávelpor 8,89% do seu salário e em 2005, já to-mava quase 13,3% dos seus vencimentos.

Renata Vilhena esclarece que o adven-to do equilíbrio orçamentário estadual per-mite que problemas como o que RenatoBarros ressalta sejam resolvidos.Vilhenaressalta que a dívida flutuante do estadoem 2004, que incluía pagamento de for-necedores e prestadores de serviço, che-gou a $5 bilhões, mas foi sanada em 50%e “até dezembro tudo estará equaciona-do”, completa.

Colaboraram: Bruno Figueiredo eRafael Werkema

“Entre os dias22 e 26 de novem-bro, os pr incipaisjornais mineirosforam contamina-dos pela milionáriacampanha publici-tária do governo es-tadual relacionadaao Déficit Zero”.Assim O Ponto co-meçou a matéria es-pecial da edição denovembro de 2004,mês do anúncio ofi-cial do equilíbr io fi-nanceiro de MinasGerais. O jornal ques-tionou a maneira co-mo o governo investiumaciçamente na divul-gação do ajuste fiscaldo governo Aécio Ne-

ves, colocando em dúvidaa credibilidade do jorna-lismo mineiro. O jornal la-boratório do curso de Jor-nalismo da UniversidadeFumec foi um dos poucosa tocar neste assunto doqual, na época, o gover-no se esquivou de falarabertamente. Não falta-ram elogios à matéria deO Ponto. O colunista deeconomia do jornal Ho-je em Dia, Nairo Almé-ri, disse aos coordena-dores e repórteres dojornal:“Estou certo deque vocês estão no ca-minho da modelagemde um novo jornalis-mo – a do resgate dosentimento do repór-ter”, elogiou. Renata Vilhena: “o Estado tem metas a serem cumpridas sob a luz da lei”

Rafael Werkema

J O R N A L L A B O R A T Ó R I O D O C U R S O D E C O M U N I C A Ç Ã O S O C I A L D A F A C U L D A D E D E C I Ê N C I A S H U M A N A S - F U M E C

A n o 5 | N ú m e r o 4 3 | N o v e m b r o 2 0 0 4 | B e l o H o r i z o n t e / M G

d i s t r i b u i ç ã o

G R A T U I T A

Grupo mineiro divulga

dança pelo mundo

Deficientes sofrem

com falta de estrutura

FCS tem sucesso

reconhecido por alunos

[ página 12]

[ página 13 ]

[ página 14 ]

Propaganda de Aécio Neves

contamina jornais mineiros

Campanha do governo estadual coloca em dúvida a credibilidade do jornalismoEntre os dias 22 e 26 de

novembro,os principais jornais

mineiros (Estado de Minas, O

Tempo e Hoje em Dia) foram

contaminados pela milionária

campanha publicitária do go-

verno estadual relacionada ao

déficit zero, alcançado por es-

tado depois de mais de dez

anos no vermelho.

Aécio Neves investiu alto

nesta campanha.Nos principais

jornais da capital,o governo fez

diversas inserções publicitárias,

chegando a publicar um en-

carte de oito páginas em alguns

veículos.A partir desses fatos,

questiona-se: a publicidade es-

tá pautando o jornalismo? Os

jornais da capital seriam capa-

zes de fazer críticas ao atual go-

verno, sendo que este investiu

pelo menos R$ 200 mil por in-

serção publicitária em cada veí-

culo? Em um artigo especial,

O PONTO analisa e critica a

postura da imprensa mineira.

Anúncio publicitário do Governo de Minas se tornou machete e chamada das capas dos principais jornais de BH

Em entrevista exclusiva ao

jornal O PONTO, o assessor

especial do presidente Lula,

Frei Betto, revela o porquê de

sua saída do Planalto Central

em um momento tão contur-

bado e de perdas para o go-

verno federal, e também ana-

lisa a conduta do Partido dos

Trabalhadores na administra-

ção do país.

Assessor direto

do presidente

Lula deixa o

governo

O Ministério da Saúde lan-

çou, no dia 23 de setembro, a

Rede Pública de Bancos de

Sangue de Cordão Umbilical

e Placentário - Brasilcord.Es-

se banco será uma alternativa

à coleta particular feita em hos-

pitais privados.A rede entrará

em funcionamento no próxi-

mo ano em todo país.

Brasilcord é

alternativade cura para

leucemia

[ página 5 ]

[ página 11 ]

A prefeitura de Belo Hori-

zonte, através da Urbel, já co-

meça a transferir os moradores

e proprietários da Vila Nova

Cachoeirinha, à margem da

avenida Antônio Carlos.A re-

moção se dá devido às obras de

duplicação, resultante do fluxo

intenso de veículos na região.

Não existe prazo definido

para que as famílias deixem o

local e, caso exista resistência,

o proprietário poderá questio-

nar o valor judicialmente. O

parâmetro será determinado

por artigo constitucional.

Depois de Brasil,Venezue-

la e Argentina, agora é a vez do

Uruguai ter um governo de

esquerda. O socialista Tabaré

Vasquéz, do partido da Frente

Ampla, pôs fim a 174 anos de

bipartidarismo e venceu as

eleições no Uruguai em pri-

meiro turno, com 50,7% dos

votos contra 34% de Jorge Lar-

rañaga, do Partido Blanco, e

10,3% de Guillermo Stirling,

do Partido Colorado.

Para cientistas políticos, a

vitória de Vasquéz é funda-

mental para o fortalecimento

do Mercosul. Segundo Jaime

Yaffé, professor de Ciência Po-

lítica na Universidad de la Re-

pública Del Uruguay, a espe-

rança da população é de que

o país continue a se recuperar

da crise de 2002, que abalou e

deixou os uruguaios no “fun-

do do poço”.

Esquerda vence

no Uruguai após

174 anos debipartidarismo

[ páginas 8 e 9 ]

A adrenalina invadiu a pa-

cata cidade de Carandaí, a cer-

ca de 140Km de Belo Hori-

zonte.No feriado do dia 15 de

novembro a cidade sediou a

segunda etapa do campeona-

to brasileiro de Moutain

Board.O esporte, que atrai jo-

vens de todo o mundo, é um

misto de snowboard, skate e

surfe e foi criado pelos surfis-

tas do Havai no início dos

anos 90.As manobras de 180

a 720º são executadas em uma

prancha com quatro rodas

com câmara de ar que vôam

sob os pés dos profissionais.

Em terra, grama ou asfalto os

amortecedores egg-shocks ali-

viam o impacto com o solo

dos saltos que chegam a dois

metros de altura no estilo Big

Air.As quatro categorias nes-

sa etapa foram Free Style, Big

Air, Best Trick e Downhill.

Campeonato de

Moutain Board

invade interior

de Minas Gerais

[ página 15 ]

[ página 16 ]

[ página 3 ]

A insegurança que atinge

os proprietários de veículos na

capital mineira é estatística da

delegacia de furtos e roubos.

Segundo o órgão, no último

ano, cerca de 39 mil carros fo-

ram roubados em Minas Ge-

rais, 18% a mais que em 2002.

Os carros mais visados pelos

ladrões são os modelos Pálio

e Uno, da marca Fiat, pela fa-

cilidade de arrombamento e

revenda. Os bairros mais re-

correntes para o furto são:

Carlos Prates, Padre Eustá-

quio, Pampulha e Serra.

[ página 7 ]

A Proposta de Emenda

Constitucional (PEC) que per-

mite a reeleição dos membros

da Mesa da Assembléia Legis-

lativa de Minas Gerais colocou

em alerta os estrategistas do

PT.A reeleição da mesa pode

atrapalhar os planos do gover-

no federal em relação à manu-

tenção das candidaturas dos pre-

sidentes da Câmara e do Senado.

Partidos da oposição aler-

tam que práticas como as su-

geridas pela PEC são antide-

mocráticas e ferem a soberania

eleitoral popular.

[ página 4 ]

Obras na Antônio

Carlos incomodamCarros são alvo

de marginais

Mesa da ALMG

pode ser reeleita

Vazquéz pede votos a uruguaios residentes na Argentina Esporte radical atrai espectadores e jovens participantes

Tiago Nagib

Divugação

Carlos Fillipe Azevedo

01 - Capa 11/30/04

11:49 AM Page 1

O dedo na ferida do governo

08 e 09 - Especial - Rafael W. 4/1/05 8:21 AM Page 1

Page 9: Jornal O Ponto - março de 2005

ESPECIAL 9ONTOe – Março/2005

página: Rafael Werkema

Não faltam críticas à ma-neira radical com que o atualgoverno conseguiu atingir oequilíbrio das finanças minei-ras. Segundo o deputado es-tadual Adelmo Carneiro Leão(PT/MG), houve de fato umesforço do governador para sechegar ao déficit zero,mas nãose questionou a metodologiausada para tal fim.“O fenô-meno é apenas financeiro, jáque o corte de gastos foi ge-neralizado e prejudicou di-versas áreas do setor socialalém do aumento da arreca-dação por meio de arrochofiscal e da elevação dos preçosde diversos produtos”, de-nuncia. Entre eles, o deputa-do cita combustíveis e ener-gia. Leão ressalta ainda que,do ponto de vista social, hou-ve um aumento do déficit,pois o governo deixou de in-vestir e passou a dever aos ór-gãos estaduais.

Por se tratar de um órgãotécnico do governo, a secre-tária adjunta da Seplag, Re-nata Vilhena, se recusou aavaliar o choque de gestãopromovido por Aécio Ne-ves, se limitando a comentar

os complexos critérios uti-lizados pelo Palácio da Li-berdade para promover oequilíbrio das finanças esta-duais. A secretária trouxe àtona diversas vezes a Lei deResponsabilidade Fiscal(LRF). A LRF controla osestados e municípios no sen-tido de não permitir umaadministração prejudicial aosestados e municípios porparte dos governantes. Deacordo com Vilhena, o esta-do de Minas Gerais conse-guiu se enquadrar dentro daLRF nos dois últimos anoscom ações como a reduçãodo comprometimento da fo-lha de pagamento dos servi-dores públicos de 76% para58%, ficando abaixo dos 60%admitidos pela LRF, além daparalisação de recursos e ne-nhum tipo de reajuste sala-rial ou de recursos. Apesardo “Déficit Zero”, a Lei deDiretrizes Orçamentárias sópermite reajustes baseadosem um comportamento po-sitivo da receita. E, segundoVilhena, “não há nenhumreajuste previsto para o anode 2005”, avisa.

DÉFICIT SOCIAL

O economista Claudio Gontijo, doCentro de Desenvolvimento e Planeja-mento Regional (Cedeplar) e professorda faculdade Estácio de Sá admite queo esforço de contenção de gastos do go-verno é importante, mas que não podecomprometer os setores básicos da edu-cação, segurança pública e saúde. Se-gundo ele, em 2004 houve um conge-lamento virtual da folha de pagamentodo funcionalismo público. O congela-mento de salários aliado à inflação, ain-da que relativamente baixa, gera a dete-rioração do poder de compra. “O go-verno economiza sobre a folha e só aíganha R$ 2 bilhões”, calcula. Houve ain-da corte de gastos no custeio de órgãospúblicos, que inclui aparelhamento daPolícia Militar.“Não por outro motivo,a PM não tem gasolina para colocar nasviaturas e há um aumento expressivo daviolência em BH”, denuncia.

“O Déficit Zero é uma intenção”,constata Gontijo. O economista fez umestudo aprofundado da situação finan-ceira do estado de Minas Gerais nos úl-timos anos e, segundo ele, o fato deanunciar o equilíbrio das contas do es-tado não implica que o governo tenhaatingido um equilíbrio real entre o di-nheiro que entra e o que sai.

A intenção à qual o economista se re-fere diz respeito ao orçamento projeta-do para 2005. “Como estamos traba-lhando com diversos conceitos de défi-cit, em um deles o governo tem razão: oprojetado”, esclarece. O economista ex-plica que existem conceitos diferentesda relação entre receita e despesa, os quaisapontam para resultados também distin-tos, a saber; os resultados nominal, orça-mentário e operacional.“O planejamentoorçamentário ou contábil é, por defini-ção, equilibrado, pois não se projeta gas-tar mais do que se ganha em um ano”,afirma Gontijo. “Entretanto”, pondera,“o governo Aécio está com o resultadoprimário superavitário e o resultado no-minal deficitário”. Gontijo apresenta da-dos das contas públicas que mostram umsuperávit primário recorde em relação aoutros governos, alcançando R$1 bilhãoe meio em 2004. Em 2003, esse valor foide R$1,3 bilhão contra apenas R$500milhões do governo Itamar Franco. “Oobjetivo do setor público brasileiro não

é mais prestar serviço à população, massim gerar superávit primário. E nisso ogoverno Aécio é imbatível”, conclui.

O economista alerta no entanto quea dívida pública mineira subiu, só no anopassado, de R$37,8 bi para R$42,7 bi.Segundo ele, o déficit nada mais é doque a variação dessa dívida. Para um au-mento de R$5 bi na dívida e um supe-rávit de apenas R$1,5 bi, resta um sal-do de R$3,5 bi a pagar. “Como zerarum déficit de R$3 bi em um ano?”,questiona Gontijo. “Em 2004, tivemoscomo encargos da dívida uma soma dequase R$1,4 bi, algo em torno deR$115 milhões ao mês. Esse é o gran-de gargalo das finanças mineiras”, res-salta. Gontijo revela que o governo es-tá distante do equilíbrio orçamentário.“Isso é impossível de ser atingido casonão se resolva o problema da dívida pú-blica”, completa.

A secretária adjunta da Seplag, Re-nata Vilhena, discorda de Gontijo quan-to ao resultado nominal deficitário. Se-gundo ela, o estado não considera omontante da dívida pública em suas con-tas, pois o acordo feito com a União re-za o pagamento dos encargos apenas(cerca de 13% da receita estadual anual),o que é previsto no orçamento. Por es-sa razão, o resultado nominal mineiro foiequilibrado tendo, inclusive, um supe-rávit de cerca de R$ 90 milhões no de2004 (ver quadro).

Cláudio Gontijo, entretanto, afirmaque não há evidências de que o orça-mento para 2005 esteja equilibrado, de-vido a essas fontes indefinidas. E faz umbalanço da metodologia do governo Aé-cio Neves de se atingir um Déficit Ze-ro que pode estar aquém das expectati-vas. Segundo o economista, a populaçãoé que vem pagando por esses ajustes.“Épreferível ter um déficit maior e tam-bém mais recursos para segurança, saú-de e educação,” reflete. Gontijo afirmatambém que o governo precisa conse-guir espaço para renegociar a dívida, queacredita ser “imoral”. E por último, co-menta que de nada adianta uma arreca-dação tributária nominal alta se a traje-tória de crescimento do estado é inter-rompida. “A arrecadação não vai piorporque a economia mineira vai bem”,conclui.

No gargalo das finançaspúblicas de Minas Gerais

Sem entrar no méritoda questão social

I – RESULTADO PRIMÁRIO Receita não-financeira menos Despesa não-financeira

Receita não-financeira

(Receita proveniente da arrecadação de im-postos taxas e contr ibuições da prestação deserviços e outras)

Despesa não-financeira

(Despesa proveniente do total de gastos do gover-no deduzidos o serviço da divida pública a con-cessão de empréstimos)Resultado Primário 2004 = R$ 1.523.274.607,86(superávit)

II – RESULTADO NOMINAL

(Resultado Primário menos Juros e Encargos daDívida Pública – cerca de 13% ao ano)Resultado Nominal 2004 = R$ 151.323.345,85(superávit)

III – RESULTADO FISCAL

[Resultado Nominal + (Receita Financeira me-nos Despesa Financeira exceto juros e encargosda dívida)]Resultado Fiscal 2004 = R$ 90.650.733,46 (superávit)

Por Daniel Gomes

O “Choque de Gestão”promovido pelo governadorAécio Neves teve como prer-rogativa a comparação do es-tado de Minas Gerais comuma grande empresa que em-prega 500 mil funcionáriosalém de diversos setores queprestam serviço de forma ter-ceirizada. Sob essa hipótese,o governador iniciou uma pe-sada reforma, jamais vista nopaís, com vistas a sanar o dé-ficit que assolava o estado háanos.

Entretanto, o engessa-mento das finanças provo-cado pela Lei de Responsa-bilidade Fiscal e pela neces-sidade de se chegar ao “Dé-ficit Zero” promoveu cortesque poderiam ter sido evi-tados caso os técnicos e to-madores de decisão do go-verno tivessem entrado nomérito da questão social,pois tão importante quantoa Lei de ResponsabilidadeFiscal é a Lei de Responsa-bilidade Social, que vem aospoucos sendo discutida porpolíticos e intelectuais de vá-rias partes do Brasil parapromover o controle socialsobre a gestão estatal.

Além disso, o fato de sedivulgar um equilíbrio fi-nanceiro que pode ser inter-pretado de diversas manei-ras é no mínimo ilusório,pois deixa a população coma falsa impressão de pro-gresso. O estado tem umadívida com a União quecresceu, só no ano passado,quase R$ 5 bilhões, mesmopagando mensalmente 13%de toda sua receita em jurosda dívida. Qual a atitudeque o governador vai tomarem relação a esse aspecto?Se há uma dívida a ser pa-ga e que está sendo paga re-gularmente tomando mi-lhões de reais por mês docontribuinte, por quê, em vezde diminuir, ela aumentadescontroladamente? Aquem interessa essa lógicadestrutiva?

O estado pode até fun-cionar como uma empresa,mas seus beneficiários nãosão seus empregados e sim ci-dadãos que pagam impostose dívidas e merecem que ogoverno do estado apresenteuma gestão transparente.Masele só pode atingir seu obje-tivo se divulgar resultados defato transparentes. Os cida-dãos necessitam de um esta-do atuante para que possamproduzir a contento.

críti oc

Pa r a s a b e r m a i s

Economista Claudio Gontijo do Centro de Desenvolvimento e Planejamento

Daniel Gomes

08 e 09 - Especial - Rafael W. 4/1/05 8:21 AM Page 2

Page 10: Jornal O Ponto - março de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Março/2005

Editor e diagramador da página: Douglas Vieira

10 ESPORTEClubes decidem preços de ingressosNo Campeonato Brasileiro de 2005 os times mandantes estão livres para a liberação dos bilhetes

Rodrigo Fuscaldi8º Período

Os clubes da série A doCampeonato Brasileiro e a di-reção da Confederação Brasi-leira de Futebol (CBF) decidi-ram liberar o preço dos in-gressos para os jogos da com-petição, neste ano. O valor se-rá definido pelos mandantes, aquem caberá a renda das par-tidas. Com a decisão, os clubesde Belo Horizonte pretendemreeditar campanhas como aque vem sendo feita no Cam-peonato Estadual do Rio deJaneiro, em que uma parceriacom o governo do Estado per-mite a compra de ingresso porapenas R$ 1.

O Cruzeiro foi um dosclubes que mais lutaram con-tra a fixação dos preços dos in-gressos. O presidente Alvimarde Oliveira Costa já pediu àdireção administrativa a pre-paração dos pacotes para acompetição. O clube deve fa-zer promoções para quemcomprar antecipadamente en-tradas para os 21 jogos.

Entretanto, o preço dos in-gressos, a princípio, será man-tido.“O preço justo seria de R$50, R$ 100. Mas quem temcondições de pagar?”, comen-tou o diretor de futebol doCruzeiro, Eduardo Maluf. Paraele, o público se afasta dos es-tádios por causa do preço dosbilhetes e não pela falta de se-gurança ou outros motivos.“Concordo com a medida por-que o Brasil é um país que temcidades com realidades muitodiferentes. O preço que é bom

para um clube não é necessa-riamente bom para os outros”,avaliou o dirigente.

Já o Atlético é o único aacenar com alguma promoção.Com o fracasso de média depúblico no ano passado, a dire-toria estudou algumas promo-ções especiais de ingressos pa-ra o Campeonato Brasileirodeste ano. O ingresso mais ca-ro custará R$ 15,00.

Entretanto, ao longo dacompetição, a diretoria avisaque serão feitas várias promo-ções, dependendo do apelo decada jogo. "Faremos promoçõesenvolvendo camisas oficiais, in-gressos casados e muitas outras.Mas isso será definido na se-mana que anteceder cada jogo",avisou o presidente do Atléti-co,Ricardo Guimarães, que fes-tejou a decisão que garante osistema de renda do mandantepara os jogos do CampeonatoBrasileiro de 2005.

O jornalista da rádio Tran-samérica, Ari Aguiar, tambémconcordou com a decisão: “Arenda será do mandante, eledecide o preço que quiser nosingressos. O poder aquisitivodo torcedor brasileiro é umproblema sério. Dizemos queele se afasta do estádio porcausa da TV e da falta de se-gurança, mas o problema é fal-ta de dinheiro”. “Ingresso demais de R$ 5,00 está fora darealidade do brasileiro”, defi-niu o jornalista.A decisão ficacom os clubes que devem to-mar um cuidado ainda maiora respeito do Estatuto do tor-cedor para que não sejam pre-judicados no futuro. Clubes são os responsáveis pelos preços dos ingressos para o campeonato brasileiro

Público voltaaos estádiosde futebol

Se dependesse do dinheiroda bilheteria dos jogos doCampeonato Brasileiro, o fu-tebol nacional estaria aindamais falido. Nenhum dos 24clubes que disputaram a pri-meira divisão nacional do anopassado chega sequer perto doautofinanciamento com os re-cursos advindos da venda deingressos dos jogos.

Nunca uma competição na-cional registrou uma média depúblico tão pequena, quanto ado Brasileiro do ano passado.Amédia foi de 7.956 torcedorespor partida.Até então, o recor-de negativo era de 9.136, em1979. A primeira edição docampeonato por pontos corri-dos, em 2003, havia registradouma média de 10.468 torcedo-res. O recorde, no entanto, é de22.953, em 1983.

Os clubes, diante desse pa-norama, têm que se apegar à ou-tras formas de arrecadação, taiscomo venda de direitos de trans-missão de seus jogos, por exem-plo.Entretanto, o presidente doAtlético, Ricardo Guimarães,aposta na bilheteria como umafonte importante de renda:“Atorcida do Atlético é diferencia-da.Além do mais, sempre quefizemos promoções no preçodos ingressos, a torcida deu a res-posta esperada.Agora, com a li-beração dos ingressos, podere-mos sempre fazer promoçõesnos jogos do Mineirão”.

Atlético acertacom novo parceiro

Vinícius Azevedo6º Período

O Atlético fechou no iníciodesse ano uma parceria inova-dora no quesito marketing es-portivo.A Filon chegou a umacordo com o clube mineiro e,através dela, a marca AtléticoMineiro vai estar mais presenteno cenário esportivo nacional einternacional.Os clubes minei-ros (principalmente os da capi-tal) vêm investindo bem no sen-tido de divulgação de seus no-mes. Fazendo uma pequenacomparação, o Atlético estavamuito distante do Cruzeiro emrelação a divulgação de suasmarcas e produtos tanto dentrocomo fora dos gramados.

Com uma diretoria compe-tente e ousada, o Galo vêm en-curtando e muito essa diferença.De acordo com o diretor co-mercial e marketing do clube,Marcelo Vido, a parceria dura-doura com a Filon vai melhorare muito a divulgação do clube.“Os recursos financeiros sãomaiores em relação aos últimosanos e com a Filon, que acertouum contrato de três anos com oclube, será possível um espaçomaior na camisa para outros pa-trocinadores”,comenta Vido.Noúltimo dia 10, o Galo lançou onovo uniforme com o novo for-necedor esportivo:a Diadora.“Aempresa italiana firmou um con-trato de 10 meses com o clube elançou novos uniformes tambémpara mulheres como shorts, mi-ni- blusas etc.Esse projeto foi fei-to especialmente para a massaatleticana, que não torce paraqualquer time, torce para o Atlé-tico, e essa é a nossa aposta” dizMarcelo Vido.

Para André de Oliveira, tor-cedor do clube alvinegro, essaparceria é válida, mas a direto-

ria do Galo deve divulgar, deforma mais clara aos torcedores,como foi esse contrato.“O tor-cedor é o maior patrimônio doclube que tem de deixar bemclaro todos os tipos de parceriasque são firmadas porque quemcompra camisa e vai aos jogossomos nós.Merecemos mais res-peito”,desabafa o torcedor.

Um ponto muito questiona-do também pela torcida são ospoucos eventos que são realiza-dos horas antes dos jogos do Atlé-tico no Mineirão. A torcedoraÉrika dos Santos, de 29 anos,manda um recado.“Nosso de-partamento de marketing tendea crescer.Espero que com a par-ceria, as pessoas que trabalhamnessa área dentro do clube, ou-çam mais as opiniões dos torce-dores. Nossa obrigação é ajudara divulgar a nossa marca, que éúnica”, comenta.

Torcida como aliadaO objetivo maior do Atléti-

co é conseguir unir a força de suatorcida com os inúmeros produ-tos que já estão disponíveis nasvárias lojas de materiais esporti-vos em todo o Brasil.“Houve vá-rias negociações com fornece-dores de material esportivo.Umadelas foi a Nike. Optamos pelaDiadora pois ela entendeu o quequeríamos”, comenta Vido.

A massa atleticana espera queo elenco atual corresponda as ex-pectativas dos torcedores que es-tão apoiando o time na conquis-ta de títulos.A acessora de im-prensa do galo,Adriana Branco,diz que o time deve obter suces-so também no campo.“Todos nósda diretoria estão empenhados etrabalhando muito para conquis-tarmos títulos. Confiamos nonosso elenco e esperamos resul-tados também dentro das quatrolinhas”, comenta Adriana.

Minas aposta na juventude

“Para obter asconquistas, nãobasta jogadoresjovens e simexperiêntes.”

Marcos Miranda, técnico do

Telemig Celular Minas

“O time doMinas temtradição esempre chegaàs finais.”

Fernando Augusto, 13 anos-

torcedor do clube mineiro.

Camila Lanareli

Aline Cezar NogueiraGilmara Lanzetta e Aline Cezar

2º e 5º período

Um Davi entre os vários Go-lias. Assim pode ser descrita aequipe do Telemig – Celular Mi-nas,que,apesar de não ser um ti-me experiente e recheado de es-trelas, é uma das favoritas ao tí-tulo da Superliga masculina devôlei deste ano.Com poucos re-cursos financeiros e com umaequipe bastante jovem, se com-parada às outras que o clubemontou nos últimos anos. Essefato não representa uma barrei-ra para o grupo do técnico Mar-cos Miranda, o Marcão. O Tele-mig-Celular Minas fez uma bri-lhante campanha na fase de clas-sificação da Superliga, obtendoapenas 3 derrotas em 20 jogosdisputados e agora parte com tu-do para os play-offs .

A escassez de estrelas no elen-co não prejudica o sucesso doMinas; os atletas jovens e talen-tosos estão surpreendendo os ad-versários e a torcida com seusbons resultados. Nos últimosquatro anos o time de vôlei mas-culino do Minas Tênis Clubeconquistou vários títulos, prin-cipalmente o da Liga Nacional.Jogadores da seleção brasileira,como André Nascimento,Giba,Maurício e Henrique fizeramparte das conquistas.

Apesar dos jovens,o Telemig-Celular também possui atletas ve-teranos, como o líbero Serginhoe o ponta Ezinho, tricampeão daSuperliga pelo Minas – 1999-2000, 2000-2001 e 2001-2002.De acordo com Ezinho, a baixamédia de idade do grupo nãoprejudica o bom desempenho.“O time está muito bem, con-fiante e motivado”,afirma o pon-ta.Além de Ezinho e Serginho,o time titular do Minas ainda

conta com o levantador Marlon,com o oposto Samuel, com omeio-de-rede Rogério, com oatacante Roberto Minuzzi (umdos maiores pontuadores da Su-perliga e veterano da equipe aos23 anos) e com o meio-de-redeJardel .

Os bons resultados da equi-pe podem ser atribuídos tambémao trabalho do técnico MarcosMiranda, que em apenas 5 me-ses implantou seu estilo e filoso-fia na equipe, criando unidade.“Acho que meu retrospecto comtimes jovens levou o Minas a mecontratar.Conto com atletas queestão tendo suas primeiras opor-tunidades como titulares, depoisde terem sido suplentes em seusclubes anteriores”, conta o téc-nico.Marcão comenta ainda quetrabalhar com jogadores jovens édesafiador pelo fato da falta deexperiência em alguns, mas émuito produtiva e positiva namedida em que uma confiançamútua é estabelecida.“A partirdo momento em que se adquirea confiança deles, o trabalho fluisem problemas e os resultadosaparecem. Cria-se uma espéciede relação paterna entre o trei-nador / comissão técnica e os jo-gadores”, explica Marcão.

Marcos Miranda retornouao voleibol de quadra ao assu-mir o comando do Minas nes-ta temporada após 5 anos àfrente da dupla de vôlei de praiaAna Paula e Sandra “Duas coi-sas que existem muito no vôleide praia e que às vezes não node quadra são a auto disciplinae o profissionalismo. Na praiasó tem dois jogadores e por is-so a pressão sobre eles é muitogrande”,diz. A última vez quedirigiu um time de vôlei dequadra foi em 1998, com o Pal-meiras, quando levou a equipeao quinto lugar da Superliga.

Atletas estão satisfeitos com campanha na Liga nacional

10 - Esporte - Douglas Vieira 4/1/05 8:19 AM Page 1

Page 11: Jornal O Ponto - março de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Março/2005

Editora e diagramadora da página: Denise Tolentino

CIDADE 11Shoppings populares elitizam preçosCondições de venda não superam lojas convencionais e consumidores reclamam da falta de garantia

Raquel Alves, Aline Valérioe Max Valadares

4º período

Os shoppings populares deBelo Horizonte, famosos porapregoarem preços acessíveis áscamadas mais baixas da socieda-de, estão vendendo produtoscom preço igual ou superior aosoferecidos por grande parte daslojas do comércio convencionale sites de venda.De acordo coma pesquisa do jornal O Ponto,além do preço sem atrativos,nãosão oferecidas alternativas de pa-gamento a não ser á vista. Já nasgrandes lojas, o pagamento po-de ser parcelad por meio decheques ou cartões de crédito.

O consumidor que vai ad-quirir um produto no ShoppingTupinambás deve estar prepara-do para aceitar as condições im-postas pelos comerciantes.Mer-cadorias dos setores de papela-ria, informática e eletro-eletrô-nicos são vendidos muitas vezessem garantia de troca e o pro-duto que não funcionar corre-tamente ou apresentar defeitode fábrica não pode ser substi-tuído por outro de mesmo va-lor ou marca. No setor de pa-pelaria, por exemplo,um cader-no de capa dura São Domingosde 200 folhas custa R$ 14,00 jánas lojas tradicionais o cadernode 300 folhas Caderbrás custaR$ 13,90.

O atrativo é mais evidentenas lojas, pois é possível adqui-

rir um caderno com 100 folhasa mais pagando um preço me-nor podendo ainda,dividir o va-lor da compra no cartão de cré-dito ou pagar com cheque. Oproblema não é só pelo preçomais alto, mas pelo fato de quevários produtos como aparelhosde DVDs players de marcas des-conhecidas como a Foston, nãopossuírem qualidade comprova-da como aos que são encontra-dos nas grandes redes de venda.

Numa pesquisa realizada pe-la equipe de reportagem dojornal nos dias 16 e 17 de fe-vereiro deste ano, referente àprocura por material escolarpara o início das aulas, de-monstra a falta de atrativos pa-ra os produtos comercializadosnos shoppings populares. Osprodutos oferecidos a preçosditos promocionais tinham va-lor equivalente ao de mercadopara pagamento à vista.

Os produtos de grande pro-cura como aparelhos de DVD,sons e vídeo-games apresentampreços mais baixos mas além dopagamento à vista em dinheiro,e da falta de garantia por falhasno produto,há outro tipo de di-ferença na mercadoria ofereci-da. Marcas famosas como Gra-diente e Sony foram substituí-das por marcas estrangeiras des-conhecidas como Cosmo eCoastar, sobre as quais o clientenão é informado aonde encon-trar um ponto de assistência téc-nica autorizada.

Cliente reclama deproduto comprado

Alguns dos produtos ofere-cidos nos shoppings popularesapresentam ainda um outro ti-po de fraude. Relógios, ferra-mentas e roupas têm freqüente-mente suas etiquetas adulteradasou falsificadas.

Daniel da Silva Pacheco, 49,morador do bairro Alípio deMelo, comprou uma furadeirada marca Bosh no valor deR$50,00 no Shopping PopularTupinambás.Somente após con-ferir o produto em casa ele per-cebeu que a caixa era de umaoutra marca.A furadeira era naverdade da marca Wall-Tools,mas teve uma etiqueta da Boshcolada por cima da etiqueta ori-ginal.“Só não fui reclamar por-que a máquina funciona perfei-tamente”, afirma.Apesar dissoele garante que não vai maiscomprar nenhum outro produ-to nos shoppings populares.“Éjogar dinheiro fora”, declara.

O código de defesa do con-sumidor estabelece como di-reito básico do consumidor “ainformação adequada e clarasobre os diferentes produtos eserviços, com especificação cor-reta de quantidade, caracterís-ticas, composição, qualidade epreço, bem como sobre os ris-

cos que apresentem”.Além dis-so é direito do consumidor “aproteção contra a publicidadeenganosa e abusiva, métodoscomerciais coercitivos ou des-leais, bem como contra práticase cláusulas abusivas ou impos-tas no fornecimento de produ-tos e serviços”.

O Serviço de Proteção eDefesa do Consumidor (Pro-con) orienta sobre os cuidadosque se deve tomar para adquirirum produto. Produtos com máaparência, amassados, ou enfer-rujados, embalagens abertas oudanificadas, produtos com sus-peita de terem sido falsificadose produtos que não atendam ásua real finalidade devem ser evi-tados.O Procon adverte que umtermo de garantia deve serpreenchido no momento dacompra de uma mercadoria, nafrente do consumidor, e, juntocom ele, deve ser entregue omanual de instalação e instruçãode uso do produto.Ainda que otermo de garantia não exista, ocódigo de defesa do consumi-dor garante todos os direitos.

O consumidor que se sen-tir lesado deve procurar asorientações necessárias nas uni-dades Procon.

Consumidores devem pedir a garantia na hora da compra

A reportagem do Ponto,pro-curou a administração do Shop-ping Tupinambás para saber porque os preços estão mais caros doque nas lojas tradicionais e por-que os comerciantes não dão ga-rantias das mercadorias.A geren-te administrativa,Aline Azio,ne-gou que não exista uma normapara assegurar alguns direitos bá-sicos do consumidor,disse que oscomerciantes dão um prazo de10 a 30 dias degarantia naforma de umcartão da lojapara que ocliente efetuea troca. “Nocaso do co-merciante nãoquerer efetuara troca, a ad-ministraçãopede que atroca seja feita,ou encaminhapara uma assis-tência técnicaonde será fei-to um laudopara saber se oaparelho foirealmentevendido com defeito ou se o de-feito foi causado pela manipula-ção errada do produto. Os co-merciantes é que são responsáveispelos preços das mercadorias enão a administração. Nós admi-nistramos o condomínio não ad-ministramos mercadorias nem lo-jas.Estamos aqui para dar um su-porte”, afirma Aline.

Os comerciantes não aceitampagamentos em cheques ou car-tões de crédito alegando falta devantagens financeiras,mas a no-

ta Técnica 04/2004, publicadaem 22/04/2004 pelo Procon Es-tadual de Minas Gerais,órgão in-tegrante do Ministério Público,considera abusiva a prática derestrição à aceitação de chequepor estabelecimentos comerciais.O fornecedor pode a seu livrecritério aceitar ou não o chequecomo forma de pagamento àvista.Optando em aceitá-lo,nãopoderá condicionar o seu rece-

bimento aotempo deexistência daconta bancá-ria do consu-midor. Paracasos em queo estabeleci-mento nãoaceite o paga-mento comcheque a lei14.126/01prevê que éobrigatória aafixação, nasdependênciasde estabeleci-mento co-mercial situa-do em localvisível para o

consumidor,de aviso que infor-me a decisão.

Os órgãos oficiais integran-tes do Sistema Estadual de De-fesa do Consumidor (Promoto-rias de Justiça de Defesa do Con-sumidor e Procons Municipais)devem verificar a ocorrência daprática abusiva consistente na re-cusa do recebimento de chequedado como forma de pagamen-to à vista, em razão do tempo deexistência da conta bancária,apli-cando as sanções cabíveis. Consumidores pesquisam preços no shopping popularFachada de um dos shoppings populares de Belo Horizonte

Eduardo Klein

Eduardo Klein

“Os comerciantesé que sãoresponsáveispelos preços dasmercadorias. Nósadministramos ocondomínio nãoadministramosmercadoriasnem lojas”.

Aline Azio

Administradora do shopping.

11 - Cidades - Denise Tolentino 4/1/05 8:42 AM Page 1

Page 12: Jornal O Ponto - março de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Março/2005

Editor e diagramador da página: Rafael Werkema

12 SAÚDE

Falta de leitos nas uti’s obriga profissionais Luciana Ribeiro, Gabriela Oliveira e Polyanna Rocha

4º período

m terrível dilema seapresenta diariamentepara os médicos e ou-tros profissionais da áreade saúde que trabalhamnas Unidades de Tera-pia Intensiva (UTI´s)dos hospitais de BeloHorizonte. Para admi-nistrar a falta de leitos,eles estão sendo obriga-dos a escolher que pa-ciente deverá ser inter-nado, levando em con-

sideração aquele que tem maior chance de so-brevida.“Infelizmente, temos que optar que pa-ciente vem para a UTI”, desabafou à equipe deO Ponto o cirurgião do Pronto Socorro do JoãoXXIII, José Eduardo Magri Júnior.

O drama é visível principalmente nos hospi-tais públicos, como é o caso do Pronto Socorrodo João XXIII.“O ideal seria que todos os pa-cientes que precisam de um leito fossem inter-nados, pois não temos como julgar quem vai ounão sobreviver. Mas às vezes, por causa do regi-me de sobrecarga, temos que optar por doentesque têm mais chance de sobrevida do que aque-les que já estão ‘entubados’ na sala de politrau-matizados, como pacientes em estado grave, pa-cientes fora de possibilidade terapêutica e pa-cientes muito idosos com seqüelas de Acidente

Vascular Cerebral (AVC)”, explica o cirurgiãoEduardo Magri Júnior.“Ás vezes, não tem vagapara criança e nós temos que nos desdobrar pa-ra conseguir.Ás vezes não tem e as fazemos apa-recer”, relata.

Além de ter que optar entre um paciente eoutro, existe ainda a situação de decidir o desti-no do paciente que está na UTI e tomar medi-das paliativas para o doente que se encontra emestado irreversível. Esse impasse tem aumentadoa polêmica a respeito daspráticas de apressar amorte de doentes ter-minais.A questão que sediscute é: essas práticas,muito comuns nasUTI´s do Brasil, não se-riam um outro nome,mais brando, para aqui-lo que o Código PenalBrasileiro considera co-mo “eutanásia”?

OrtotanásiaO chefe da UTI Infantil do Hospital João

XXIII, Sérgio Diniz Guerra, defende a opiniãode que a eutanásia não é aplicada no Brasil, e oque ocorre é a “limitação do esforço terapêuti-co” – Ortotanásia, como é chamado no jargãomédico.“É aquela situação na qual o doente nãotem condições de se recuperar e assim tomam-se medidas paliativas para atenuar o sofrimento.“UTI não é lugar de morrer. O paciente quevem para UTI é aquele que tem condição de so-

breviver. Um médico somente desliga um apa-relho de um doente quando ocorre morte en-cefálica, e aí ele vai para doação de órgãos se forda vontade da família”, afirma Guerra.

Para casos de morte cerebral, existe umanorma rigorosa que é protocolada no Conse-lho Regional de Medicina (CRM) e preen-chida cuidadosamente pelos médicos quandodecidem por desligarem os aparelhos. “Nãoexiste paciente com morte encefálica que acor-

de. Morte encefálica émorte. O que existe épaciente que estava emcoma e acordou, são si-tuações distintas e rigo-rosamente observadas”,comenta o chefe daUTI Infantil do JoãoXXIII. Guerra deixaclaro que ao escreveremno mutuário, os médi-cos assumem responsa-bilidades, que ele consi-dera muito sério. “A

forma como procedemos hoje é escrever nomutuário, não reanimar o paciente, não acres-centar medidas, não trocar antibiótico, carim-bamos.Você está assumindo responsabilidadessobre essas medidas, fazemos isto até para criaruma jurisprudência para que seja aplicado demodo universal no país”, reafirma Guerra.

O diretor adjunto da Associação Médica deMinas Gerais, vice-presidente da Associação deMedicina Intensiva do Brasil e pediatra,Walde-

mar Henrique Fernal, que trabalha com tera-pia intensiva há 30 anos, reconhece a prática dachamada “limitação do esforço terapêutico”.Para o paciente que não tem possibilidade dereversão do quadro, inicia-se o “tratamento hu-manitário”, que consiste em ministrar medica-mentos para conter a dor e o sofrimento.“Oefeito desses sedativos podem comprometer arespiração do paciente, levando-o à morte. Masparticularmente, não considero isso uma euta-násia ou uma forma mais branda de eutanásia,embora saiba que esta posição varia de acordocom a cabeça de cada pessoa. Só acho que omédico não deve aplicar ‘tratamentos fúteis’, ouseja, tratamento que não trará benefício aodoente”, finaliza Fernal.

O caso SchiavoOs médicos e a sociedade passaram a se fa-

zer de novo essa pergunta, sobretudo após o ca-so da paciente terminal Terri Schiavo, que teveo tubo de alimentação desligado após 15 anos decoma.A decisão do senado norte-americano,aprovando por unanimidade a lei que transferepara a Justiça Federal a decisão da corte da Fló-rida (EUA), que havia decidido pela retirada dotubo de alimentação indispensável para mantê-la viva, causou profunda comoção nos EstadosUnidos. Schiavo teve a retirada do tubo no últi-mo dia 18 de março, após a corte da Flórida aca-tar a solicitação do marido e tutor de Terri, Mi-chael Schiavo. Mesmo diante do apelo dos paisda paciente para religar a sonda, Schiavo não re-sistiu.

O artigo 121, parágrafo 1º, do Código PenalBrasileiro, considera a eutanásia crime contra avida.A pena é de 6 a 20 anos, podendo ser re-duzida de um sexto a um terço, já que o tipo pe-nal em que se encaixa a conduta é homicídioprivilegiado. Os elementos do crime são: con-duta típica, conduta ilícita e culpável.

O chefe da UTI Infantil do João XXIII, Sér-gio Diniz Guerra, considera indispensável a re-visão da lei para que os profissionais da área desaúde tenham mais tranqüilidade e segurança pa-ra desempenharem suas atribuições sem corre-rem o risco de serem acusados como causadoresda morte de uma pessoa, quando, por exemplo,concluem que a medicação de um paciente de-ve ser suspensa.”Não acrescentar medidas em umpaciente é eticamente aceitável mas, legalmente,este ato pode ter uma conotação diferente.A éti-ca tem que amadurecer e evoluir com a culturae a sociedade”, opina.

O pediatra Waldemar Henrique Fernal afir-ma que, em se tratando de morte cerebral, exis-te uma resolução do Conselho Federal de Me-dicina, do Congresso Brasileiro e das Associações

Médicas de todo o Brasil que normatiza o diag-nóstico de morte encefálica e os procedimentosque se devem tomar quando concluído este diag-nóstico. Ele ainda esclarece que o trabalho queas associações médicas realizam é cobrar dos go-vernos federais, estaduais e municipais,uma maiorcapacitação dos hospitais, aumentando o núme-ro de leitos nas UTI´s, permitindo aos brasilei-ros acesso a uma boa assistência médica.

O integrante do Conselho Regional de Me-dicina de Minas Gerais (CRMMG), presiden-te da Fundação de Amparo à Pesquisa de Mi-nas Gerais (FAPEMIG), José Geraldo de Frei-tas Drumon, médico e professor de ética e di-reitos médicos em medicina legal, esclarece quereferente à escolha entre um paciente e outroque o médico se vê forçado a fazer, mediante afalta de vagas na UTI, o profissional estará am-parado judicialmente se ele comprovar que as-sistiu da melhor maneira possível o paciente.“Ao médico, não pode ser imputado de negli-gência se não tem mais condições para tal, senão há vagas, se não tem respirador, enfim, equi-pamentos necessários ao tratamento. O médi-

co faz o que for possível”, explica. Quanto à si-tuação de não reanimar um paciente, o conse-lheiro enfatiza que tal procedimento só pode-rá ser feito com a prévia autorização do pacienteou do responsável. Já é utilizado no Brasil umdocumento que se chama “Procuração de Não-ressuscitação”, em que o paciente com proble-ma crônico e com possibilidade de inconsciên-cia (se a situação for irreversível) autoriza que,havendo uma parada cardíaca, não se faça ne-nhuma manobra de reanimação. O médico so-mente pode atuar com prévia autorização dopaciente, ou responsável. Segundo José Geral-do, para o paciente em estado final, com câncerem último estágio, inconsciente, não há que setomar medidas, pois a medicina fútil, ou seja,aquela que não irá viabilizar a reversão do ca-so, não é medicina ética.

Geraldo ainda defende a opinião que estáocorrendo no Brasil uma “ eutanásia social”, queacontece com o paciente antes mesmo de ele seratendido na UTI, já que o doente não recebe otratamento ideal e necessário por falta de capa-citação dos hospitais.

como escolher

“infelizmente, temos que

optar que paciente vem

para a unidade de

terapia intensiva”

--------------------José eduardo magri júnior,cirurgião do Pronto socorro dohospital joão XXIII

E U T A N Á S I A É C R I M E N O B R A S I LPor Luciana Ribeiro

Presenciar o drama que os pro-fissionais da área de saúde viven-ciam, criando meios para salvar vi-das, quando tudo parece não ter so-lução, optar entre um paciente e ou-tro, uma verdadeira corrida contra otempo, exigiu de mim, por algunsmomentos, ir para um canto e mequestionar se estar ali, entrevistan-do, somente assistindo estava corre-to. Por mais que na condição de re-pórter você tem que ser um intruso,ali, naquele momento, sem poder fa-zer nada, eu me senti impotente atéme dar conta que estava ao meu al-cance apenas redigir uma matériadeixando claro este drama, eviden-ciando que neste caos os médicos eenfermeiros eram verdadeiros heróis.

Víctor Schwaner

críti oc

12 e 13 - Saúde - Rafael W. 4/1/05 8:42 AM Page 1

Page 13: Jornal O Ponto - março de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Março/2005

Editor e diagramador da página: Rafael Werkema

SAÚDE 13

a priorizar quem tem mais chance de sobreVivência

A falta de vagas nas UTIs tem comprometi-do o bom atendimento dos pacientes, obrigan-do os médicos, residentes e enfermeiros a dri-blarem a situação como podem. Uma corridacontra o tempo. Fato que se tornou rotina emBelo Horizonte, principalmente no Pronto So-corro do João XXIII. O cirurgião José Eduardoconfirma que a sala de recuperação anestésica,que deveria ser destinada ao paciente pós-ope-rado, transformou-se em UTI.

O João XXIII, que é referência estadual emtratamentos de traumas graves, é também cen-tro de toxicologia e queimados e conta com 39leitos na UTI. Desses, 24 são de terapia inten-siva. Número insuficiente para atender uma mé-dia de 110 pacientes ao mês. Segundo SérgioGuerra, chefe da UTI Infantil do hospital, oideal seria 100 leitos,pois com freqüênciatem em média 85 pa-cientes espalhados pe-lo hospital em ventila-ção mecânica, ou seja,pacientes que deveriamestar nas UTI´s. Porhora, o médico vibracom a criação de trêsnovos leitos. Guerraexplica que o ProntoSocorro está em fase detransição, pretendemreservar um andar parao tratamento de Unidade de Terapia Interme-diária, destinada aos doentes que precisam demédicos e enfermeiros 24 horas por dia, porémestão em um estado menos grave.

No dia 9 de março, que a reportagem de OPonto esteve no hospital. O ambulatório de po-litraumas estava com seis pacientes no respira-dor à espera de vaga na UTI. Nesta situação, deestar em local improvisado, se encontrava em co-ma, o adolescente Davisson Renan Dias, 14.Amãe dele, Jaqueline Amália Dias Alves, informouque Davisson tinha dado entrada no ambulató-rio às 9 horas da manhã daquele dia, por into-xicação com medicamentos controlados dosquais ela faz uso por se encontrar em tratamen-to psiquiátrico.

Um dos fatores que contribuem para a su-perlotação do João XXIII é a situação do Pron-to Socorro de Venda Nova. Segundo o cirur-gião do João XXIII, José Eduardo Magri Jú-nior, o HPS de Venda Nova tem suporte paraatendimento grande, talvez do tamanho do JoãoXXIII e do Odilon Behrens, mas está sub-uti-lizado. Segundo o cirurgião, o hospital de Ven-

da Nova não tem bloco cirúrgico funcionandoe as enfermarias não estão todas em funciona-mento.“Se estivesse, ele poderia nos ajudar acombater a sobrecarga”, comenta. Ainda se-gundo o cirurgião, os pacientes vindos do in-terior de Minas contribuem para a superlota-ção, mas não é um fato isolado.

Secretaria Estadual de SaúdeA coordenadora de Credenciamento de UTI

da Secretaria de Estado de Saúde de Minas, Fá-tima Lúcia Guedes Silva, esclarece que os recur-sos para custeio das UTI´s são originados do Go-verno Federal, necessitando portanto, de nego-ciação do gestor estadual com o gestor federal.Os critérios para instalação e distribuição dos lei-tos de UTI são baseados em ensaios técnicos, clí-

nicos, científicos, recur-sos humanos treinadose demanda regional.

Segundo Silva, há umdéficit de 12 leitos deUTI adulto e um supe-rávit de 30 leitos neo-natais na microrregiãode Belo Horizonte.Dé-ficit que para a coorde-nadora é “relativo, já queBelo Horizonte atendeo restante de Minas.“Em 1998, havia umdéficit no Estado de 465

leitos neonatais. Com as ações implementadaspela SES,o déficit hoje é quatro vezes menos,ouseja, 116 leitos. Com relação aos leitos adultos odéficit era de 2000 leitos no ano de 1998 e ho-je é de 708”, explica. Mas essa informação nãobate com o que foi visto pela equipe de O Pon-to no João XXIII, que é a carência de leitos.

Para reduzir o déficit de leitos, a coordena-dora de UTI defende a idéia de que tenha queocorrer uma significante atuação nas condiçõessensíveis ambulatoriais, ou seja,“a atenção bási-ca tem que estar preparada para atuar efetiva-mente na prevenção das patologias que possamser causas de indicação para terapia intensiva nofuturo (prevenção de hipertensão arterial, o con-trole dos diabetes, a prevenção da gravidez de ris-co)”. Segundo Silva, se estas condições foremprevenidas, a necessidade de leitos de UTI seráreduzida em 20%.“Para este ano, temos comoproposta de expansão o credenciamento de seteleitos adultos, três leitos neonatais e reclassifica-ção de 22 leitos adultos, conforme solicitaçõesencaminhadas à secretaria.Serão implantados ain-da 300 leitos de UTI no interior”, conclui.

UTI - Unidade de Terapia Intensiva, onde um paciente, em geral em coma, tem ao seuredor uma séria de aparelhos eletrônicos, indispensáveis ao seu tratamento.

MORTE CEREBRAL - Lesão irrecuperável do cérebro após traumatismo cranianograve, tumor intracraniano ou derrame cerebral.

EUTANÁSIA - Prática pela qual se busca abreviar sem dor ou sofrimento, a vida de umdoente reconhecidamente incurável, geralmente em estado de coma ou de vida vegetati-va persistente.

EUTANÁSIA ATIVA - Aquela em que se dá um medicamento para o paciente mor-rer, ou quando desliga o aparelho visando à morte do paciente.

EUTANÁSIA PASSIVA - É o ato médico que omite ou interrompe a terapia que es-tá mantendo artificialmente a vida de uma pessoa, vitimada de doença grave e irremedia-velmente inconsciente.

DISTANÁSIA - Significa o prolongamento do momento da morte do paciente, atra-vés do uso de métodos reanimatórios.

ORTOTANÁSIA - Morte natural decorrente da interrupção do tratamento terapêu-tico, cuja permanência seria inútil em se tratando de quadro clínico irreversível.

COQUETEL M1 - Associação de sedativos para diminuir a dor do paciente. Quandoaplicado em excesso, leva à morte do paciente

NÚMERO DE LEITOS DE UTI EMBH AINDA É INSUFICIENTE

‘MAR ADENTRO’POLEMIZA QUESTÃOSOBRE O ‘DIREITO DE MORRER’

Quem vai viver?

Leitos de UTI em BHDescrição/Disponíveis SUS

UTI adulto............................235

UTI Pediátrico........................75

UTI Neonatal..........................94

Total.....................................404

para saber mais...

O filme Mar Adentro em cartaz no país, alémde vencedor do Oscar, coloca em pauta a dis-cussão da prática da eutanásia, técnica para apres-sar a morte de pacientes em estado terminal.

No filme de Alejandro Amenábar, o persona-gem principal Ramon Sampedro lutou pela mor-te durante três anos.Em 1968,o espanhol Ramónfoi vítima de um acidente que o deixou tetraplé-gico aos 25 anos. Ele decide lutar na justiça pelodireito de decidir sobre sua própria vida,o que lhegera problemas com a igreja,a sociedade e até mes-mo seus familiares. Seu pedido para que seu mé-dico tivesse autorização de pôr fim a sua vida, foientão negado.Ramón suicidou-se em 1998 coma ajuda de aproximadamente 10 pessoas, amigosdentre os quais,Ramona Maneiro, foi presa.Ma-neira admitiu há pouco tempo que, com as ins-truções de Ramon, deu a ele cianeto e água.

Toda essa abordagem do filme divulgada pe-la mídia tem despertado o interesse dos profis-sionais da área de saúde em ter uma revisão do

Código Penal Brasileiro quanto à prática da eu-tanásia e despertado a curiosidade de leigos.

Em entrevista à Folha de São Paulo, no ca-derno Cotidiano do dia 20 de fevereiro de 2005o professor de bioética da Unifesp (Universida-de Federal de São Paulo) e patologista MarcosAlmeida, afirmou:“é hipocrisia negar que a eu-tanásia seja praticada em UTI’s brasileiras, ondeé freqüentemente utilizado um coquetel de se-dativo batizado de M1”.

O chefe da UTI Infantil do João XXIII, Sér-gio Diniz Guerra, afirma que este procedimentonão é utillizado em terapia intensiva atualmente.“O que ocorre é que o médico tem a obrigaçãode reduzir o sofrimento do doente terminal. Paraisso ele precisa utilizar medicamentos”. Guerraexemplifica:“Às vezes,um remédio para diminuira dor do paciente pode causar outros sintomas,co-mo a depressão, e o médico pode tomar esse tipode decisão. O que não podemos fazer é lavarmosa mão e deixarmos o paciente sentir dor.

Víctor Schwaner

12 e 13 - Saúde - Rafael W. 4/1/05 8:42 AM Page 2

Page 14: Jornal O Ponto - março de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Março/2005

Editora e diagramadora da página: Déborah Arduini

14 CULTURA

Cinema volta ao velho “Chico”Projeto para que moradores das comunidades ribeirinhas tenham acesso à cultura pode continuar

Breno AugustoEduarda Santos

Mayra AbranchesThanit Xavier

4º Período

O projeto “Cinema norio”, que promove a realizaçãode exibição de filmes nas cida-des ribeirinhas, onde não exis-te acesso a esse tipo de lazer,tem grandes chances de conti-nuar este ano. A Telemar foiquem patrocinou o projeto noano passado e, ao que tudo in-dica, o patrocínio será manti-do. Segundo Valdir Vasconce-los, do departamento de mar-keting da Telemar, as chancesde a empresa permanecer como patrocínio são grandes, devi-do ao retorno satisfatório queobtiveram em 2004.

Inácio Neves, produtor cul-tural mineiro, foi o comandan-te do projeto.“ Estamos so-mente aguardando a confirma-ção dos patrocinadores para darcontinuidade ao projeto. Nãoteríamos motivos para não re-tomá-lo, já que nossas expecta-

tivas foram alcançadas, com re-conhecimento internacional ”.O custo que o projeto rendeuem 2004 foi em torno de R$140 mil, já para 2005, calcula-se R$ 650 mil, Inácio esperaque o patrocínador arque comtodos os gastos, pois isso nãoocorreu no ano passado.

Este ano, o projeto está pre-visto para começar a partir doprincípio de julho ao começode agosto. O roteiro é percor-rer 26 comunidades, situadas àbeira do Rio São Francisco –de Pirapora ( Minas Gerais ) atéIbiraba (Bahia).

O projeto exibiu quatro fil-mes ( “Uma Onda no Ar”,“OAuto da Compadecida”,“Tai-ná – Uma Aventura na Amazô-nia” e “Negócio Fechado” ) pa-ra um público de 20 mil pes-soas. Para este ano, estima-se umpúblico ainda maior, espera-sea presença de 80 mil especta-dores. Serão transmitidas du-rante 35 dias, 26 sessões de fil-mes ainda não estabelecidos.

O projeto “Cinema noRio” aconteceu entre 2 e 9 de

agosto do ano passado. Duran-te oito dias, a equipe do proje-to percorreu oito cidades situa-das às margens do rio São Fran-cisco( Pirapora, Barra do Guai-cuí, Ibiaí, Ponto Chique, SãoFrancisco, São Romão, Ca-choeira do Manteiga e Butizei-ro ), para levar a elas sessões gra-tuitas de filmes, oportunidadeinédita para muitos, visto que90% da população das cidadesnunca tinham ido ao cinema.

A missão de levar o cinemaàs comunidades ribeirinhas exi-giu dois meios de transporte, obarco Luminar e um cami-nhão-trailer. O barco Luminar,com capacidade de transportar20 pessoas, percorreu cerca de460 quilômetros de rio e, porterra, o caminhão-trailer cercade 540 quilômetros.

Nas sessões, utilizou-se a te-la inflável, que possui a vanta-gem de ser fácil para transpor-tar, e também, cadeiras, e umalona estendida em frente à telapara as crianças.Os equipamen-tos usados na segunda edição doprojeto serão os mesmos.

Salas itinerantes levarão filmes aspopulações que estão interessadas

Projeto que levou o cinema às comunidades carentes obteve grande repercussão

Bandas independentesenfrentam dificuldades

A idéia de pagar para traba-lhar pode parecer um tanto ab-surda, mas na prática é isso oque acontece com muitas ban-das independentes mineiras quetentam alcançar o tão almejadosucesso. O caminho percorridoaté conseguir o apoio de umagravadora ou até ser remunera-do pelo seu trabalho é longo emuitas vezes tortuoso. Pode serdifícil entender porque algunsartistas, mesmocom muitas difi-culdades, se arris-cam a traçar essecaminho. Mas se-gundo EduardoFaleiro, bateristada banda deRock/Jazz Prime,o prazer que osintegrantes dabanda tem em to-car é superior àvontade que elestêm de receber pelo seus shows.

Um dos principais proble-mas que as bandas indepen-dentes enfrentam diz respeito adivulgação. Sem a ajuda de umagravadora, os músicos têm debuscar patrocínios e apoios cul-turais, e ainda assim cobrir par-te dos custos para poder exporseus trabalhos em veículos decomunicação em massa. ParaEduardo Faleiro, outra grandedificuldade encontrada é con-seguir a verba para gravar umCD.“ Para fazer um Cd é ne-cessário um estúdio com bonsrecursos e para isso é precisouma verba considerável, equanto maior for essa verba

mais tempo se tem para produ-zí-lo, assim, melhor será sua di-vulgação”diz Eduardo.

A internet traz dificuldadespara as gravadoras, devido a fa-cilidade de baixar músicas. Fa-zem altos investimentos na gra-vação dos Cds de seus artistascontratados, e não vendem onúmero esperado. Então as gra-vadoras têm ficado ainda maiscautelosas no processo de fe-

chamento deum contrato.Por outro lado,a Internet semostra benéficapara as bandasindependentes,pois as músicassão divulgadaspraticamentesem custos ecom bastanteeficiência e co-modidade.

Tanto a banda Prime quantoa banda Hatley tem dois Cdslançados em cinco anos de for-mação. E mesmo que tenhamestilos diferentes dos que fazemsucesso na mídia e que contra-riam o gosto das gravadoras,veêm um ponto positivo nessafalta de investimento.“Uma dasvantagens de não ter ninguemnos patrocinando é a garantia daliberdade que temos para ex-pressar a nossa mensagem, emostrar o verdadeiro som dabanda. Essas caracteristica dabanda iriam mudar, caso tives-semos uma gravadora.”desbafaintegrantes da Banda Hatlley,que segue as tendências do rock.

Artista-empresário é umaalternativa no cenário musical

Laura Damasceno1º período

Com a popularização da in-ternet como meio de troca demúsicas e o crescimento da pi-rataria, houve a diminuição degrandes vendagens e investi-mentos de gravadoras. Donosde gravadoras afirmam que senão fosse a pirataria todas asgravadoras teriam retorno ne-cessário para pagar o investi-mento feito em seus artistascontratados e investir em ou-tras bandas. Com isso um dosmodelos em expansão é o doartista-empresário indepen-dente. São artistas que desisti-ram de correr atrás de contra-tos em gravadoras e apelarampara a emancipação de virar do-no do seu próprio selo. Elestêm a necessidade de captar re-cursos, fazer pequenas tiragensde CD e enfrentar dificuldadesde distribuição e difusão.

Segundo dados da CPI daPirataria da Câmara dos Depu-tados e da Associação Brasileirados Produtores de Discos, aABPD, o percentual de artistascontratados pelas gravadoras noBrasil caiu 30% entre 1997 à2003.Assim reduziu- se os lan-çamentos de Cds em 24%.Nes-te mesmo período,o número deCds piratas vendidos saltou de3% para 59%, com isso movi-mentou-se R$ 788 milhões, as-sombrando, assim, as empresas.

Segundo, Felipe Amaral,presidente da Gravadora Pla-neta Fogo.com, ele deixa de in-vestir em artistas alternativos,pela incerteza de obter lucros.“Não vale a pena o gasto quevocê tem para produzir umabanda, gravar, tem o trabalho defazer publicidade por traz de di-vulgação, isto tudo gasta muitodinheiro. Estamos tendo queaumentar o preço dos CDs, porisso muitas pessoas optam porcomprar o falsificado, ou baixarna internet, assim a gente nãotem o retorno necessário dasvendas”, diz Felipe.

Outra alternativa encontra-da pelas bandas independentessão as distribuidoras de CDs.Elas recebem os CDs prontosdos artistas, que não têm ummeio de fazer com que seuproduto chegue ao público, eos distribuem nas principais lo-jas. Mas para que os indepen-tentes consigam produzir seusCds precisam arrecadar muitaverba. Este é o caso da bandade reggae, Manitu, que já estána estrada há quase três anos eenfrenta muitas dificuldades,por não terem um contrato.“Omercado está muito complica-do a gente precisa juntar di-nheiro de shows, fazer bicospara produzir nosso próprioCD, para poder conseguir con-quistar um público sem o res-paldo das gravadoras”, diz obaixista da banda, Fábio Leão.

“Paraproduzir umbom CD énecessárioter verbas”

Eduardo Faleiro, bateris-

ta da Banda Prime

Banda Prime faz shows mesmo sem apoio de gravadoras

Divulgação

Divulgação

O coordenador do projeto“Cinema no rio”, o produtorcultural Inácio Neves, afirmouque tem outros projetos foca-do na área de cinema. Ele ci-tou um em especial, o “Cine-ma inflável”.Trata-se de umasala de cinema itinerante quelevará a exibição de filmes aosinteressados ou mesmo caren-tes de informação e conheci-mento do assunto.

A idéia consiste em uma sa-la de cinema totalmente inflá-vel. Foram produzidos três am-bientes, o primeiro vão é a en-trada, o segundo uma ante-sa-

la, na qual os espectadores per-maneceriam até o início da ses-são e o terceiro é a sala de ci-nema, com 245 cadeiras.

A estrutura, que tem di-mensões de vinte e um metrosde comprimento, dezesseis delargura e oito metros de altura,ergue-se com a ajuda de trêsexaustores externos.Conta tam-bém,com o conforto de ar con-dicionado. Inácio ressalta a im-portância de ser um ambientepressurizado,portanto assegura-do dos riscos de incêndio.

Por enquanto, toda a estru-tura está sendo utilizada para a

exibição de Acústicos MTV, emuma parceria com a rede Co-ca-Cola. Essa parceria já ren-deu visita em algumas cida-des,como Ipatinga e Juiz deFora. A próxima exibição dosacústicos está prevista paraacontecer no BH Shopping.

Com a idéia pensada e a es-trutura criada desde o fim doano passado para a exibição defilmes, Inácio revela que pre-tende que ainda esse ano a salaseja utilizada para que filmes se-jam passados nessas comunida-des, que necesseitamde de maisacesso à esses tipo de cultura.

14 - Cultura - Déborah Arduini 4/1/05 8:40 AM Page 1

Page 15: Jornal O Ponto - março de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Março/2005

Editor e diagramador da página: Daniel Ferreira

FUMEC 15Eleição polêmica no DA de DireitoIrregularidades na organização da eleição e apuração dos votos contraria normas estatutárias do DA

A representatividade dosDiretórios Acadêmicos daFCH-Fumec, na última gestão,foi ausente devido ao desinte-resse dos alunos.As chapas quetomam posse dos órgãos estu-dantis demonstram, a partir desuas propostas, que pretendemmudar esta situação.

Felippe Cordeiro, presidentedo DA do curso de Psicologia,relata a ineficiência do DA.“Exis-tia um diretório fictício,que sem-pre estava fechado”. denuncia.Cordeiro atribui à gestão ante-

rior o fortalecimento da estrutu-ra do Conselho Deliberativo e areaproximação dos estudantes.Se-gundo o presidente,o interesse ea participação dos alunos é maiorno turno da noite, com partici-pação média de 90% dos repre-sentantes contra 50% no turno damanhã,em reuniões do conselho.

O DA do curso de Direito,que agora já pode ter acesso àcontribuição dos alunos,dá con-tinuidade às suas atividades. Nadireção do fortalecimento doCD, eles criaram um instituto

chamado ‘Ouvidoria do Aluno’.“Essa ouvidoria será um trabalhodireto com os representantes dasturmas para atender a qualquernecessidade inerente do estudan-te de Direito”,afirma o presidenteda chapa,Ronaldo Moysés.

O “Grito”, única chapa ins-crita para a eleição do DA deComunicação Social, já inicioucampanha nas salas, no pátio eespalhou cartazes com uma sín-tese dos projetos a serem execu-tados. O presidente da chapa,Tiago Haddad, acredita que pa-

ra um bom funcionamento doDA é necessário a existência deum CD funcional e participati-vo.“O fortalecimento do CDserá positivo para os estudantes,para o curso e até mesmo paraa universidade” reitera.

Estudantes do curso de Pe-dagogia se organizam para queas portas do DA voltem a abrir.“Nós pagamos uma coisa quenão usamos”, se revolta LílianCarvalho, estudante do primei-ro período e possível presiden-te de chapa.

Fumec investe empós-graduação

Barbara Ribeiro e Clarissa1º período

A Faculdade de CiênciasEconômicas ( FACE)da Fumecoferece em 2005 oito novos cur-sos de pós-graduação nas áreasde administração, ciências con-tábeis, computação e turismo.Os cursos são Docência do En-sino Superior de Turismo Ho-telaria, Finanças Corporativas eGestão de Controladoria, Ge-rência da Tecnologia da Infor-mação, Gerência de Telecomu-nicações e Redes de Computa-dores, Gestão de Negócios In-ternacionais com ênfase em ex-portação,Gestão de Pessoas e doConhecimento nas Organiza-ções e Gestão Estratégica deMarketing. O local em que oscursos são ministrados fica narua Vitório de Marçola, n 360-segundo andar no bairro An-chieta. O horário de atendi-mento aos interessados é de se-gunda a sexta-feira,de 8h as 21hpelos telefones 0800-300-200ou 32811388.

De acordo com o coorde-nador do setor de pós-gradua-ção da Face, Oswaldo Correa,os cursos estão sendo atualiza-dos constantemente.“ Devidoa alta rotatividade e concorrên-cia do mercado de trabalho, es-ses cursos passam por esse pro-cesso”, afirma. Segundo Os-waldo Correa, outros aspectosa serem destacados são o pú-blico alvo e a discussão da rea-lidade das empresas no seu dia-

a-dia.” Recebemos alunos re-cém-graduados e também pes-soas já inseridas no mercadocom os quais abordamos as pro-blemáticas das empresas”, ex-plica.A forma de avaliação en-contrada é a seguinte: o alunotem que preparar uma mono-grafia a ser entregue no dia 30de abril e assim receber o cer-tificado pós-graduação LatoSensu( Especialização).

O aluno Felipe Martins, quefará um dos cursos de pós-gra-duação( Gestão Estratégica deMarketing) avalia como umachance de crescimento profis-sional a oportunidade dada aostrabalhadores já inseridos nomercado e principalmente aosestudantes recém-graduados.“Aquele que possui um cursode pós-graduação, seja em queárea for, já tem uma vantagemem relação aos demais concor-rentes na sua profissão”, argu-menta.

A Fumec, com mais dequarenta anos de existencia, ini-cia um novo marco com o lan-camento desses novos cursos depós-graduacao.Voltados para osalunos recém-graduados,espe-ra que a demanda seja tambémde empresários,executivos eadministradores interessados noseu crescimento pessoal e desuas respectivas empresas poiscom o aperfeiçoamento dosseus funcionários , seja qual em-presa for, a produção aumentae gera lucros financeiros e pro-mocionais para os balançosanuais da empresa.

Bruno Figueiredo6º período

A última eleição do Dire-tório Acadêmico (DA) GersonBóson, do curso de Direito daUniversidade Fumec, realizadano dia 17 de novembro do anopassado, causou polêmica en-tre os estudantes. Normas es-tatutárias não foram seguidasno processo preparatório e ir-regularidades foram apresenta-das no momento da apuração.

De acordo com o estatuto,a Comissão Eleitoral (CE) é aresponsável pela organização daseleições. Ela deveria ser com-posta por um presidente no-meado pela diretoria, além dedois mesários e dois secretáriosindicados pelo Conselho Deli-berativo (CD), que é compos-to pelos representantes de tur-ma do curso. O presidente daComissão Eleitoral, GuilhermeLívio do Mattos Costa, do 8ºperíodo de Direito da manhã,foi corretamente indicado peladiretoria. Porém, segundo Cos-ta, os outros componentes daCE foram Paulo Henrique Fer-reira Lopes e Carlos HenriqueLapones, respectivamente pre-sidente e vice-presidente da en-tão diretoria do DA. Costa afir-ma que as eleições sempre fo-ram muito improvisadas.“Vocêbusca as pessoas que estão dis-poníveis no momento.” esclare-ce. A respeito da participaçãodos diretores do DA Costa jus-tificou que eles estavam ali dis-poníveis e organizando efetiva-mente a eleição.

Após a apuração dos votosfoi constatado que existiam 70cédulas a mais do que o núme-ro de assinaturas dos eleitores,ouseja, votos fantasmas.A CE, jun-tamente com fiscais das duas cha-pas concorrentes,mesmo detec-tando o número excedente decédulas, declarou a chapa ‘No-vos Rumos’ eleita.A chapa ‘Par-

ticipativa’ perdeu por uma dife-rença de sete votos e entrou comum recurso para a CE pedindoimpugnação da eleição. O pre-sidente do DA, no entanto, tevesua imparcialidade questionadapara julgar tal recurso devido aoapoio dado publicamente à cha-pa perdedora.O recurso foi en-tão encaminhado para o CD,queestava inativo no momento.

Em fevereiro deste ano, aestudante do 4º período de Di-reito do turno da manhã, Is-mênia Marlene, tomou conhe-cimento do acontecido. Ela re-solveu analisar o estatuto doDA e descobriu que tinha res-ponsabilidades no CD comorepresentante de sua turma.“Jáestamos no 4º período e o DAnunca nos procurou para dizerquais são as nossas responsabi-lidades”, explica Marlene. Elatomou a iniciativa de convocaruma reunião extraordinária doCD para que tomassem umaposição diante das irregulari-dades. Os representantes deturma se reuniram, em ambosos turnos, nos dias 7 e 15 demarço. Dos 36 representantesde turma apenas 16 estavampresentes, sendo nove a favorde que a eleição não fosse anu-lada e sete a favor da anulaçãoe convocação de AssembléiaGeral para ratificar a decisão.

Com a decisão do CD,a cha-pa ‘Novos Rumos’ já pode teracesso ao repasse de sua verba.Este repasse havia sido bloquea-do pela diretoria a pedido da es-tudante Ismênia Marlene,até queo CD se posicionasse.“É mara-vilhoso que os representantes te-nham conhecimento de suas res-ponsabilidades,o CD nasceu.Pa-rece que ele estava somente nopapel e guardado na gaveta”,co-memora Ismênia Marlene.A re-presentante de turma do 4º pe-ríodo noturno, Mônia Lasmar,considera a convocação do CDuma atitude louvável que bene-ficiou os estudantes.

CD pode ganhar força nas próximas gestões

Publicidadelança AgênciaModelo

Carlos Fillipe Azevedo7ºperíodo

As novas linguagens da pro-paganda é o novo tema da 11ªAgência Modelo de Publicida-de e Propaganda da Universida-de Fumec que promoverá o seulançamento no dia 19 de abrilno Espaço Cultural Phoenix.Como não poderia ser diferen-te de qualquer empresa mode-lo, seu objetivo é desenvolvercampanhas e planos de comu-nicação para clientes reais, ga-rantindo aos alunos uma maiorexperiência para competir nomercado de trabalho e dar umamaior visibilidade ao curso dePublicidade e Propaganda.

Os trabalhos serão produzi-dos com os recursos da própriaAgência Modelo,bem como doslaboratórios de PlanejamentoGráfico,TV,Rádio e Fotografia.A nova agência modelo tambémcontara com uma empresa ma-drinha que irá assessorar os pro-jetos dos alunos.

Em todos esses trabalhos osestudantes irão colocar em pra-tica a sua criatividade, mos-trando toda a sua capacidadede trabalhar a sua capacidadede trabalhar de acordo com oritmo de uma agencia comprazos curtos e o desafio debons resultados.

A nova agência modelo se-rá formada pelos alunos do 4ºao 7º períodos de Publicidadee Propaganda, sob a coordena-ção do professor Admir Borges.A equipe será formada Fernan-da Schimeider (Tráfego), Ka-tíuscia (Atendimento), Marce-lo Brant (Atendimento), Fer-nanda Lima (Assessoria de Co-municação), Felipe Diniz(RTVC), Fernanda Felizardo(Redação), João Toledo (Reda-ção), Erick Henrique (Direçãode arte), Gustavo Coelho (Di-reção de arte), Eduardo pi-nheiro (Planejamento), DiogoSalomão (Produção gráfica) e amonitora Aline Ferrero.

Bruno Figueiredo

Conselho Deliberativo do curso de Direito se reúne para discutir as irregularidades da última eleição do DA

15 - Fumec - Daniel Ferreira 4/1/05 8:41 AM Page 1

Page 16: Jornal O Ponto - março de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Março/05

Editora e diagramadora da página: Renata Quintão

FUMEC 16

Intercâmbio, história e culturaApós um mês de intercâmbio na Escola Superior de Abrantes alunos ganham bagagem cultural

Rafael Werkema8º período

“Expandir os horizontes e ampliar nossa vi-são do mundo”. São com essas palavras que Za-hira Souki, professora de Filosofia e História daArte da Universidade Fumec (Belo Horizonte -Brasil),define a proposta do intercâmbio que acon-tece há três anos entre estudantes e professoresbrasileiros e portugueses dos cursos de Comuni-cação Social da Fumec e da Escola Superior deTecnologia de Abrantes (Esta - Portugal).

Em quase um mês de estada em Portugal, osalunos da Fumec tiveram a oportunidade de ex-plorar e conhecer grande parte da riqueza cultu-ral e histórica do país, dentro e fora da sala de au-

la.Como parte do programa, foram realizados di-versos seminários entre os quais se destacam: Di-reito da Comunicação, Concentração dos Meiosde Comunicação, Rádio e Ética e Deontologiade Comunicação. Com as disciplinas foi possívelconhecer a prática jornalística em Portugal, suasvirtudes e seus problemas. Os brasileiros assisti-ram também ao seminário de Direito Comuni-tário, que abordou a história e o papel da UniãoEuropéia no continente e tiveram noções de his-tória e literatura portuguesa e de matérias funda-mentais, como filosofia.

Além disso, a Esta ofereceu visitas de estudosàs cidades de Abrantes,Tomar, Sintra, Santarém,Batalha, Fátima e Évora.Um professor especialis-ta em história acompanhou os alunos nos diver-

sos castelos,mosteiros e abadias,monumentos dopatrimônio histórico mundial.

Foi realizado ainda um encontro com o pre-feito de Abrantes, Nelson de Carvalho, no qualfoi possível conhecer um pouco mais da cidade,seus problemas e qualidades; uma entrevista coma secretária de Educação e Cultura, Isilda Jana,queapresentou um panorama desses setores em Por-tugal e especificamente em Abrantes; e visitas es-pecificas à Rádio e Televisão Portuguesa (RTP) eà fábrica de Azeite Gallo.

Para Mariana Hilbert, estudante do 7º perío-do de Jornalismo, a experiência adquirida no in-tercâmbio foi positiva, pois aumentou o conhe-cimento geral dos alunos.“O intercâmbio é fun-damental para mostrar as diferentes formas de en-

xergar a prática e o aprimoramento da nossa fu-tura profissão”, opinou.

João Pedro Dias, professor de Direito Co-munitário da Esta, afirma que o intercâmbiocontinua mesmo com o regresso dos estudan-tes. “Essa troca de experiências tende a conti-nuar, pois existem meios para isso, como o e-mail”, acrescenta.

Como participar O intercâmbio Esta-Fumec faz parte do Pro-

grama de Apoio Interinstitucional da FCH(PAI) que deve ser procurado pelo estudantede Comunicação Social que quiser participar .As inscrições serão abertas no segundo semes-tre de 2005.

Com quase mil anos, o castelo de Santo Cristo, em Tomar

Mariana Hilbert no laboratório de radiojornalismo da Esta

Visita de estudos à cidade de BatalhaVisita à Rádio e Televisão de Portugal (RTP), em Lisboa

Capela dos Ossos, em Évora, patrimônio histórico mundialÀs margens do Rio D’ouro, no passeio em Porto

Arquivo PAI Arquivo PAI Arquivo PAI

Arquivo PAIArquivo PAIArquivo PAI

16 - Fumec - Renata Q. 4/1/05 8:39 AM Page 1