jornal o ponto - novembro de 2005

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J O R N A L L A B O R A T Ó R I O D O C U R S O D E C O M U N I C A Ç Ã O S O C I A L D A F A C U L D A D E D E C I Ê N C I A S H U M A N A S - F U M E C Ano 6 | Número 51 | Novembro de 2005 | Belo Horizonte/MG distribuição GRATUITA Jornalista Rogério Perez critica árbitros Turquia negocia entrada na União Européia Bossa Nova: 45 anos do ritmo brasileiro [ página 8 ] [ página 9 ] [ página 10 ] Tablóides banalizam jornalismo Presos na rede Em outubro, os Diários As- sociados, uma das maiores em- presas jornalísticas do Brasil, lançaram o jornal tablóide Aqui, no intuito de arrebatar o mercado consumidor de notí- cias das classes C, D e E. O jornal veio para concor- rer diretamente com o Super Notícia, publicação controlada pela Sempre Editora que atua no mesmo segmento em BH. De acordo com o Sindica- to dos Jornalistas, o grande problema de um diário como o Aqui é o fato de a equipe contar com apenas editores, não tendo repórteres próprios. Dessa forma, a qualidade da informação fica prejudicada e o novo veículo lança dúvidas no mercado de trabalho. Uma simples brincadeira tornou-se negócio sério: o su- cesso das casas de jogos está ca- da vez mais visível em todo o país. Consideradas uma evolu- ção dos tradicionais cibercafés, as lan houses possuem compu- tadores de última geração, liga- dos em rede, onde os usuários jogam conectados em um úni- co ambiente virtual. Por trás da aparente inocência dos jogos, escondem-se grandes riscos. Jovens e adolescentes,maio- res freqüentadores dessas casas, tornaram-se dependentes, per- dem a noção de tempo e viram a noite jogando.As dificuldades de relacionamento e a compe- titividade presente nas disputas, ultrapassa o espaço virtual. Adolescentes perdem a noção de tempo nas lan-houses Transposição do rio São Francisco seria a solução para a crise de abastecimento hídrico no Nordeste do Brasil ‘Velho Chico’, o rio da polêmica nacional A discussão acerca da trans- posição do Rio São Francisco, que se estende desde o século XVIII, agrava-se com a crise do abastecimento hídrico da região Nordeste do Brasil. O projeto,que prevê a utilização das águas para a perenização de rios e açudes da região duran- te os períodos de estiagens, é repleto de polêmicas. De um lado, estão os que defendem a transposição, visto que veêm nela a única solução para resolver os problemas da seca; de outro, os que estão real- mente preocupados com as conseqüências ambientais e so- ciais que esse empreendimen- to pode vir a trazer. Especialistas afirmam que é preciso avaliar a quantidade de água disponível e a manei- ra como será utilizada. Além disso, deve-se levar em consi- deração a poluição e o asso- reamento que deixam a situa- ção do Velho Chico cada vez mais precária. O São Francisco possui cer- ca de 634 mil km 2 e sua bacia é composta por 504 municípios. O rio atende cerca de 14 mi- lhões de pessoas e é responsável por 17% da energia elétrica pro- duzida no país. Além de mobilizar a capital mineira, com a chegada de mais de 10 mil turistas, a XVI Feira Nacional de Artesanato, que acontece entre os dias 22 e 27 de novembro, no Expominas, também gera benefícios para a economia local, com a criação de 2,5 mil empregos temporá- rios durante o evento. A Feira conta com cerca de 7 mil artesãos de vários países. Ao integrar arte e cultura, o ar- tesanato é uma atividade que re- produz as relações dos artesãos com o meio em que vivem, uma vez que transformam matéria- prima em mercadoria. Artesanato movimenta cultura mineira O verão se aproxima e a es- tação mais quente do ano, sinô- nimo de banhos de sol, piscina, praia e roupas coloridas, tam- bém pode significar perigo. A dengue, considerada um dos principais problemas de saúde pública do mundo, volta com tudo nesse período e já preo- cupa especialistas. Visando amenizar o proble- ma, o projeto Combi, chega a Minas Gerais, mais precisamen- te em Ibirité, região metropo- litana de Belo Horizonte, com o objetivo de informar e cons- cientizar a população dos riscos que a doença pode trazer. Projeto usa mobilização contra dengue Divulgação Guillermo Tângari [ página 11 ] [ página 13 ] [ página 12 ] [ página 14 ] [ página 16 ]

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

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Page 1: Jornal O Ponto - novembro de 2005

J O R N A L L A B O R A T Ó R I O D O C U R S O D E C O M U N I C A Ç Ã O S O C I A L D A F A C U L D A D E D E C I Ê N C I A S H U M A N A S - F U M E C

A n o 6 | N ú m e r o 5 1 | N o v e m b r o d e 2 0 0 5 | B e l o H o r i z o n t e / M G

d i s t r i b u i ç ã oG R A T U I T A

Jornalista Rogério

Perez critica árbitros

Turquia negocia entrada

na União Européia

Bossa Nova: 45 anos

do ritmo brasileiro[ página 8 ][ página 9 ] [ página 10 ]

Tablóides banalizam jornalismo

Presos na rede

Em outubro,os Diários As-sociados,uma das maiores em-presas jornalísticas do Brasil,lançaram o jornal tablóideAqui, no intuito de arrebatar omercado consumidor de notí-cias das classes C, D e E.

O jornal veio para concor-rer diretamente com o SuperNotícia, publicação controladapela Sempre Editora que atuano mesmo segmento em BH.

De acordo com o Sindica-to dos Jornalistas, o grandeproblema de um diário comoo Aqui é o fato de a equipecontar com apenas editores,não tendo repórteres próprios.Dessa forma, a qualidade dainformação fica prejudicada eo novo veículo lança dúvidasno mercado de trabalho.

Uma simples brincadeiratornou-se negócio sério: o su-cesso das casas de jogos está ca-da vez mais visível em todo opaís. Consideradas uma evolu-ção dos tradicionais cibercafés,as lan houses possuem compu-tadores de última geração, liga-dos em rede, onde os usuáriosjogam conectados em um úni-co ambiente virtual.Por trás da

aparente inocência dos jogos,escondem-se grandes riscos.

Jovens e adolescentes,maio-res freqüentadores dessas casas,tornaram-se dependentes, per-dem a noção de tempo e virama noite jogando.As dificuldadesde relacionamento e a compe-titividade presente nas disputas,ultrapassa o espaço virtual.

Adolescentes perdem a noção de tempo nas lan-houses

Transposição do rio São Francisco seria a solução para a crise de abastecimento hídrico no Nordeste do Brasil

‘Velho Chico’, o rio da polêmica nacional

A discussão acerca da trans-posição do Rio São Francisco,que se estende desde o séculoXVIII, agrava-se com a crisedo abastecimento hídrico daregião Nordeste do Brasil. Oprojeto, que prevê a utilizaçãodas águas para a perenização derios e açudes da região duran-te os períodos de estiagens, érepleto de polêmicas.

De um lado, estão os quedefendem a transposição, vistoque veêm nela a única soluçãopara resolver os problemas daseca;de outro,os que estão real-mente preocupados com asconseqüências ambientais e so-

ciais que esse empreendimen-to pode vir a trazer.

Especialistas afirmam queé preciso avaliar a quantidadede água disponível e a manei-ra como será utilizada.Alémdisso, deve-se levar em consi-deração a poluição e o asso-reamento que deixam a situa-ção do Velho Chico cada vezmais precária.

O São Francisco possui cer-ca de 634 mil km2 e sua bacia écomposta por 504 municípios.O rio atende cerca de 14 mi-lhões de pessoas e é responsávelpor 17% da energia elétrica pro-duzida no país.

Além de mobilizar a capitalmineira, com a chegada de maisde 10 mil turistas, a XVI FeiraNacional de Artesanato, queacontece entre os dias 22 e 27de novembro, no Expominas,também gera benefícios para aeconomia local, com a criaçãode 2,5 mil empregos temporá-rios durante o evento.

A Feira conta com cerca de7 mil artesãos de vários países.Ao integrar arte e cultura, o ar-tesanato é uma atividade que re-produz as relações dos artesãoscom o meio em que vivem,umavez que transformam matéria-prima em mercadoria.

Artesanatomovimentacultura mineira

O verão se aproxima e a es-tação mais quente do ano,sinô-nimo de banhos de sol,piscina,praia e roupas coloridas, tam-bém pode significar perigo.Adengue, considerada um dosprincipais problemas de saúdepública do mundo, volta comtudo nesse período e já preo-cupa especialistas.

Visando amenizar o proble-ma, o projeto Combi, chega aMinas Gerais,mais precisamen-te em Ibirité, região metropo-litana de Belo Horizonte, como objetivo de informar e cons-cientizar a população dos riscosque a doença pode trazer.

Projeto usamobilizaçãocontra dengue

Divulgação

Guillermo Tângari

[ página 11 ] [ página 13 ] [ página 12 ]

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01 - Capa - Juliana Morato 21.11.05 14:35 Page 1

Page 2: Jornal O Ponto - novembro de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editor e diagramador da página: Daniel Gomes

2 OPINIÃO

Coordenação Editorial:Profª Ana Paola Valente (Jornalismo Impresso) eProf. Leovegildo Pereira Leal (Redação Modelo)

Conselho Editorial Prof. José Augusto (Proj. Gráfico), Prof. Paulo Nehmy

(Publicidade), Prof. Rui Cézar (Fotografia),Prof. Fabrício Marques (TREPJ II) e

Profª. Adriana Xavier (Infografia)

Monitores de Jornalismo Impresso:Daniel Gomes, Juliana Morato e

Tiago Nagib

Monitores da Redação Modelo:Fernanda Melo e Pedro Henrique Penido

Monitores de Produção Gráfica:Déborah Arduini e Fernando Almada

Monitores do Laboratório de Publicidade e Propaganda:Isabela Rajão e Renato Meireles

Projeto Gráfico:Prof. José Augusto da Silveira Filho

Ilustrações:Daniel Mazzochi, Juliano Mendonça e Rafael Matos

Tiragem desta edição:6000 exemplares

Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127e-mail: [email protected]

Universidade Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro

BH/MG

Professor Pedro Arthur VicterPresidente do Conselho Curador

Profª. Romilda Raquel Soares da SilvaReitora da Universidade Fumec

Prof. Amâncio Fernandes CaixetaDiretor Geral da FCH/Fumec

Profª. Audineta Alves de Carvalho de CastroDiretora de Ensino

Prof. Benjamin Alves Rabello FilhoDiretor Administrativo e Financeiro

Prof. Alexandre FreireCoordenador do Curso de Comunicação Social

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

Tiago Nagib7º Período

Este campeonato brasileirovem revelando uma grande sur-presa:os dois maiores craques dotorneio são estrangeiros. O ar-gentino Tevez e o sérvio Petko-vic são os dois astros da vez.Car-litos (como gosta de ser chama-do) vem capitaneando este Co-rinthians ou,melhor dizendo,Co-ringón,a equipe mais argentina doBrasil, rumo ao título.

Após um início conturbadocom outros jogadores,Tevez semostrou um capitão. Parece teramadurecido e hoje é constante-mente chamado pelo técnico al-vi-celeste José Pekerman. Carli-tos tornou-se a principal peça dotimão, com um arranque feno-menal,belos passes e gols,muitosgols. Carlitos tem ainda se mos-trado solidário para com todos ostécnicos demitidos da equipe.Apoiou o trabalho desenvolvidopor seu compatriota Daniel Pas-sarella em sua fugaz passagem pe-lo Brasil e também elogiou Már-cio Bittencourt,que deixou o ti-mão na ponta da tabela. Semsombra de dúvidas,o Corinthiansé um com Tevez e outro sem ele.

Já o sérvio Petkovic vem bri-lhando no Brasil há tempos.Apóslongos anos encantando as torci-das de Vitória,Vasco e Flamengo,hoje é a torcida do tricolor das

Laranjeiras que desfruta de seuspasses e gols.O Fluminense sem-pre deixou claro que “Pet” é oprincipal astro do clube,chegan-do a se dar o luxo de dispensarFelipe, entre outros motivos, porsua rusga com o sérvio. Desdequando chegou ao “Flu”,Petko-vic vem mostrando serviço e afir-mando-se como um dos melho-res do campeonato brasileiro.

Apesar do talento, Pet não échamado para jogar pela Sérvia eMontenegro, sua seleção,que es-tará na Copa de 2006.Após umabriga há alguns anos com mem-bros da comissão técnica e da fe-deração de futebol sérvia, Petnunca mais foi chamado para de-fender as cores de seu país.

Para não dizer que a legiãoestrangeira manda apenas no ata-que, temos ainda o uruguaio Lu-gano do São Paulo, que segura-mente é um dos melhores za-gueiros deste campeonato.O uru-guaio foi uma das armas são-pau-linas para a conquista do título daCopa Libertadores de 2005.

É no mínimo curioso que opaís que diz ter os melhores jo-gadores tenha em seu própriocampeonato estrangeiros comoastros.Sem dúvida,o futebol bra-sileiro é um dos melhores domundo, mas será tanto assim?Não se sabe. Sabe-se apenas queos melhores do brasileirão 2005são importados.

Daniel Gomes5º Período

Antes de mais nada, é neces-sário afirmar que tudo o que éprioritário é importante,mas nemtudo o que é importante é prio-ritário.Dito isso,é notório que oBrasil jamais teve a educação co-mo prioridade.O próprio repre-sentante da Unesco no Brasil, Jor-ge Werthein, em entrevista a OEstado de São Paulo em 2004,aponta que “a educação é muitoimportante (no Brasil), mas nãoé prioritária.Sendo assim,nós va-mos manter a situação que temos:escassez de recursos,baixa quali-dade do ensino e um sistema quenão consegue incluir e reter ascrianças e jovens”.Além disso, asdiversas tentativas de transformarem lei a implementação de polí-ticas públicas de educação já sãoem si uma forma de alertar a res-peito da abordagem errônea so-bre um assunto de tal seriedade.

As constantes elaborações deleis encobrem um problema im-portante: a descontinuidade ad-ministrativa.Teoricamente, porforça da lei,uma política de edu-cação seria levada a cabo inde-pendentemente de quem estivesseno poder.Entretanto,um plane-jamento educacional necessita dediretrizes norteadoras que indi-quem caminhos,e não engessemum modelo.Dessa forma,pareceóbvio ressaltar que a desconti-nuidade administrativa ou a al-ternância do poder seria um obs-táculo para uma política educa-cional eficiente. Por outro lado,essa característica é premissa bá-sica da democracia.

Encontra-se então uma pro-funda contradição que parece tersua origem no fato de o Brasil vi-ver em um regime democrático.Trata-se entretanto de um regi-me de democracia como meio,enão como fim. Uma nação nãodesenvolve uma democracia ma-dura sem educação e cultura.Se-gundo o filósofo americano JohnDewey,“uma sociedade demo-crática não requer apenas o go-verno da maioria,mas a possibi-lidade de desenvolver, em todosos seus membros,a capacidade depensar,participar na elaboração eaplicação das políticas públicas ejulgar os resultados”.A presençade políticos no Legislativo comorepresentantes de um povo dese-ducado nada demonstra a não sero sucesso do “pleito mais infor-matizado do mundo”, que é obrasileiro. Um pleito que facilitaa votação inclusive para analfa-betos.A garantia de direitos,a co-brança dos deveres e a defesa dosinteresses do cidadão são apenasfábulas democráticas no imagi-nário popular.

Diante do exposto, é aindamais alarmante a constatação deque a educação no Brasil não éprioridade para os quadros polí-ticos do país.O exercício da de-mocracia e, por conseguinte, dacidadania só se torna eficaz dian-te de uma população que tem li-vre e farto acesso à educação dequalidade. Isso permite que elatenha noção de seus direitos e res-ponsabilidade sobre seus atos deforma a construir uma nação maisjusta e autônoma.

Educação:importante ouprioritária?

Craques da bolatipo importação

Renata Quintão6º Período

O tratado de Kyoto,assinadoem 16 de março de 1998,deter-mina que os países industrializa-dos reduzam suas emissões com-binadas de gases de efeito estufaem pelo menos 5% em relaçãoaos níveis de 1990 até o períodoentre 2008 e 2012. Esse com-promisso com vinculação legalvisava uma reversão da tendên-cia histórica de crescimento dasemissões iniciadas nesses paíseshá cerca de 150 anos. Imediata-mente após a proposta da con-venção,170 países aderiram à ini-ciativa de limpar o ar poluído doplaneta e se propuseram a aspi-rar o cheiro dos lucros do mer-cado de carbono.

Mesmo sendo uma iniciativaque,em longo prazo,poderia ger-ar um mercado bilionário de ini-ciativas de produção limpa, omaior emissor de gases do globonão contemplou o tratado comsua assinatura. Difícil entenderquais são as pretensões do presi-dente George W.Bush.Neste se-mestre, aproximadamente US$100 bilhões de prejuízo,com maisde 270 mil desabrigados em No-va Orleans e mais de 70 mil en-tre os estados da Louisiana e Mis-sissipi revelaram uma destruiçãosem precedentes comparada ape-nas à destruição e aos estragoscausados pela bomba atômica deHiroshima e Nagasaki,no Japão,por ocasião da Segunda GuerraMundial,em 1945.A tempestade

que fez o povo americano se sub-meter a condições de miserabil-idade se intitula Katrina.

Além dessa,outras duas damasdesafiam a soberania norte-amer-icana,Rita e Wilma.Rita não es-perou a cidade de Nova Orleansse recuperar do Katrina.A tem-pestade, que chegou à categoria5 - a mais alta da escala de inten-sidade de furacões -, provocou aretirada de dois milhões demoradores no Texas. Já o Wilmaé o 12º desta temporada eameaçou o Caribe e a costa daFlórida, também nos EstadosUnidos. O último ano em queforam registrados 12 furacões emuma única temporada, desde oinício dos registros meteorológi-cos, foi 1969.

O xerife texano, um tantoquanto insano e até mesmodesvairado, acredita que o mun-do lhe concedeu procuraçãopara resolver os problemas cau-sados por seus “inimigos imag-inários”. Com isso, causa maisdestruição que as três damas jun-tas. Como exemplo, podemoscitar a guerra do Iraque que ma-tou milhares de civis, o conflitode etnias no Afeganistão e a de-struição da fauna e flora colom-biana, como pretexto do com-bate ao narcotráfico.

O descaso de Bush com aquestão ambiental, sobretudocom a biosfera terrestre, avaliza-da por sua ausência no tratado deKyoto,nos remete a um velho di-tado popular:“quem planta ven-to, colhe tempestade”.

As damas fatais deGeorge W. Bush

Mercantilização, fé e religiãoErnane Léo5º Período

"Pare! Só leia se você querparar de sofrer” - dizia o fo-lheto anexado à edição do jor-nal Folha Universal da segun-da quinzena de outubro. O fo-lheto vermelho prega a solu-ção de todos os problemas pormeio do nome da igreja: "paraquem está com problemas nocasamento, nunca foi feliz navida, sofre com problemas fa-miliares, enfermidades, ví-cios...". Não considero a Igre-ja Universal um exemplo deigreja cristã, sua ideologia nãoestá ligada a "Salvação" pura esimples por meio do sacrifíciode Jesus. O interesse dessa de-nominação é puramente fi-nanceiro. Mantém ridículos ri-tuais simbólicos para induzir afé na religião, que nada tem aver com a verdade bíblica. Masaté pela verdade bíblica essaigreja se encontra longe cami-nho divino, se é que uma em-presa religiosa possa estar a ca-minho de Deus. Mas, além des-sa igreja, vemos outras que sedizem igrejas sérias, voltadas

para questões sociais.É indiscutível a mercantili-

zação da fé.A maioria das igre-jas evangélicas se baseia no ca-pítulo três do livro de Mala-quias, antigo testamento, paracobrar o dízimo de seus fiéis,de forma autoritária ou não.No entanto, quando se tratados outros mandamentos doantigo testamento, a histórianão é mais a mesma. Podemosconsiderar a Santa Ceia comooutro forte instrumento de re-tenção e manipulação do po-vo. As igrejas, em especial aspentecostais, colocam esse ri-tual como uma obrigatorieda-de para os fiéis ao dizer que omesmo dará força ao crente eusam o argumento de que sóos membros podem tomar par-te desse momento. Entretanto,não existe nenhum texto bí-blico que justifique tal afirma-ção. Da mesma forma, ao finalde cada culto, faz-se uma dra-matização e pergunta-se: "exis-te alguém para aceitar a Jesus?"."Pode ser a última chance!", dizo pregador ao som melancóli-co de um teclado.

De esquina em esquina, ve-

mos igrejas cristãs, e o trânsitotambém se tornou alvo de"panfletagem" religiosa. É nor-mal ver nos vidros traseiros doscarros frases como "Igreja doAvivamento", "A Igreja Mis-sionária", "...do Fogo", etc. Is-so demonstra a divisão de umpovo que, nesse sentido, se jul-ga melhor do que outro.

O amor, caráter intrínsecoà pregação do evangelho deCristo, encontra-se decadentenas igrejas Cristãs na medidaem que os membros de umadeterminada denominação se-lecionam aqueles que acredi-tam ou não no mesmo queeles. Esses membros desconsi-deram o amor pelo próximo, oirmão que acredita no mesmoCristo que eles. Desconsideramtambém o pregar da prosperi-dade ao invés do amor de Deusao ensinar a religiosidade quenada tem a ver com o senti-mento cristão e ao propagan-dear placas de igreja como seuma fosse melhor que a outra.Tudo isso me leva a crer que aigreja como instituição deixoude ser Cristã, se é que em al-gum dia tenha sido.

Referendo: a vitória do medoFernanda Melo

6º Periodo

A propaganda do referendodo desarmamento, com o pre-texto de inserir uma discussãona sociedade, invadiu o horá-rio nobre da televisão com ce-nas de violência e artistas con-vincentes. Entretanto, no que-sito reflexão e análise do as-sunto, deixou muito a desejar.O que era para ser um plebis-cito sobre proibir ou não o co-mércio de armas tomou a for-ma de uma votação onde sedecidia entre desarmar ou nãoa população, e até mesmo so-bre os direitos do cidadão, con-fundindo os conceitos de li-berdade de expressão, patrio-tismo e cidadania, com o di-reito de se portar uma arma.Tudo isso sem prévia análise dalei que estava sendo proposta edo seu estatuto.Tendo em vis-ta o momento político e his-tórico vivido por nosso país,este discurso menosprezava,

com razão, a inteligência dobrasileiro, utilizando-se do me-do e da insegurança presenteem nossa sociedade.

Proibir o comércio de ar-mas com certeza não resolve-ria o problema da violência,mas diminuiria os índices dehomicídios domésticos e entrea classe média, que crescem acada ano. Mas ainda prevaleceo pensamento comum de queviolência está ligada somenteaos bandidos e à favela.A proi-bição do comércio de armas foicolocada de tal forma como seisso fosse ocasionar um arras-tão ou uma chacina, represen-tando o medo de uma socie-dade dominada pela televisãoe pelo sensacionalismo.

A propaganda do “Não”passou a idéia de que qualquerum poderia portar uma arma eque isso seria um direito co-mum e acessível. Não é tãosimples assim. É ingenuidadeacreditar que um bandido te-nha receio de encontrar um ci-

dadão armado no momento doassalto. O ladrão não tem me-do porque ele não tem nada aperder numa sociedade quenão lhe dá esperanças.A popu-lação querer se armar para sedefender é alimentar ainda maisa guerra civil em que vivemos.

O resultado do plebiscitonada mais foi do que uma res-posta ao governo e à crise po-lítica vivida. O povo está to-mado pela desconfiança e coma vitória do “Não”, quis ecoara sua insatisfação. Acredito serimportante discutir não só es-te assunto, mas vários outroscomo o aborto e a eutanásia.Mas como discutir pontos po-lêmicos com uma populaçãototalmente descrente do Esta-do? É preciso reconquistar aconfiança do povo com refor-mas sociais necessárias e comações concretas que garantama segurança. Nas eleições pre-sidenciais de 2002 a esperançavenceu o medo; no referendo,o medo venceu a esperança.

02 - Opinião - Daniel Gomes 21.11.05 13:47 Page 1

Page 3: Jornal O Ponto - novembro de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editora e diagramadora da página: Priscila Piotto

POLÍTICA 3Aldo assume em meio a críticasArticulações elegem ex-ministro de Lula para a Câmara e extrema-esquerda ataca PT e PCdoB

Mariana Barros7º Período

Uma diferença de quinzevotos mostrou que oposição egoverno disputaram a presi-dência da Câmara com unhase dentes. Em 28 de setembro,Aldo Rebelo, alagoano doPCdoB, foi eleito presidente daCâmara dos Deputados. Comas votações de pautas atrasadase depois de um conturbado pe-ríodo com o ex-presidente do“mensalinho”, Rebelo assumea Câmara com desafios “polê-micos” – auto-aprovação de15% de aumento para funcio-nalismo, CPI’s, reforma fiscal,política, eleitoral, sindical e poraí vai. A responsabilidade emretomar a credibilidade e a éti-ca da Casa é um dos maioresdesafios de Rebelo.

À frente da Casa, o palmei-rense Aldo, fã de Dom Quixo-te, ex-Ministro de Lula naCoordenação Política, sofre osataques da extrema-esquerda,que acusam o comunista detrair a classe trabalhadora. OPSTU afirma que PT ePCdoB têm agora o compro-misso de aplicar a política neo-liberal, que no passado, tantocondenaram. Formalmente, oPC do B nunca abriu mão doseu programa socialista, mascomo base aliada, os comunis-tas estão contradizendo suasafirmações ao apoiarem o pro-jeto pró-capital do governoLula. E o gasto de mais de R$1milhão, saído do Tesouro Na-cional três dias úteis depois davitória de Aldo, divulgado pe-la Folha de São Paulo, deu mar-gem à acusação de compra devotos para o governo alcançara vitória na Câmara. Seis diasdepois que Rebelo chegou àCasa, o coordenador políticodo governo, ministro JaquesWagner, se reuniu com 34 de-putados e a pauta era a libera-ção de dinheiro para as emen-das parlamentares.

A eleição do comunista foiuma vitória do governo. “Euma perda para os trabalhado-res”, como argumenta o asses-sor do Sindicato dos Gráficos,Adriano Boaventura. Para ojornalista, “os partidos dispu-

tam fatias de poder para repre-sentarem seus investidores, quepor sua vez cobram o dinhei-ro público para se realizaremobras em seus currais eleito-rais”. Aldo tenta se isentar so-bre as críticas à sua posição dealiado em entrevista à impres-sa, afirmando que sempre res-peitou a gestão dos três líderesda Casa durante o governo deFHC e nunca fez acusações so-bre estes parlamentares – LuizEduardo Magalhães (PFL),Aé-cio (PSDB) e Michel Temer(PMDB) – mesmo que fossemamigos do presidente ou da ba-se governista.Aldo discorda dasuspeita de que as articulaçõespara sua eleição atenderam ainteresses de parlamentares.“Ogoverno agora lança mão daverba para os deputados, cor-rompendo o Congresso e com-provando que a corrupção é omeio mais eficaz administrar osinteresses da burguesia”, atacaAdriano.A vice-presidente doPCdoB, deputada Jô Moraes,declara que o “ponto de parti-da para a vitória de Rebelo foia recomposição da unidade daesquerda” e que agora se “des-cortina uma nova fase na crisepolítica”. Mas Aldo mal che-gou à Casa e a oposição dispa-rou que a pizza já estava no for-no do esquema do valeriodu-to. Ao mesmo tempo, a MesaDiretora foi acusada de não darespaço aos direitos dos acusa-dos e ainda ter "atropelado" osprocedimentos legais para asacusações. O governo sinalizouo interesse em acelerar o anda-mento dos processos e finalizara crise, para que a situação nãoavance para o ano eleitoral.Mesmo Aldo sendo uma peçaimportante nos processos con-tra os parlamentares, os depu-tados são mais importantes ain-da porque a votação das cassa-ções é secreta, o que isenta aculpa do votante publicamen-te. O líder do PSTU de Minas,Boaventura Mendes, diz que “ogoverno e o Congresso nãotêm moral para falar com aclasse trabalhadora”, pois Aldofoi “eleito da mesma forma queos anteriores presidentes forameleitos, com liberação deemendas em troca de votos”.

Impõe 5% de votos válidos em 9 estados além de 2% do total de votos em cada um desses estados.

Cláusula de Barreira

As alianças políticas entre partidos para a disputa federal devem ser obedecidas em todos os níveis da campanha.

Fim da Verticalização

O dinheiro para a realização das campanhas eleitorais deve vir, obrigatoriamente, dos cofres públicos.É proibido o uso de dinheiro da iniciativa privada.

Financiamento público de campanha

O eleitor vota nos candidatos apontados pelo partido, ou seja, o partido prepara uma "lista partidária" e o eleitor vota na legenda, não mais votando no candidato

Lista Fechada

O eleitor tem de votar em candidatos do seu distrito eleitoral.

Voto Distrital

O QUE MUDA NALEGISLAÇÃO ELEITORAL

Herançasde Severinona Casa deAldo Rebelo

“Corrupção é omeio maiseficaz paraorganizar osinteresses daburguesia”

Adriano Boaventura, jornalista

do Sindicato dos Gráficos

“A cláusula debarreira émanobra daselites para semanterem nopoder”

Antônio Faria, vice-presidente

do Partido Verde

“A unidade daesquerda nessemomento foi oponto de partidapara a vitória deRebelo”

Jô Moraes , vice-presidente

do PC do B

Cláusula de barreira acabacom pequenos partidos

Em 1978, o então presiden-te da Câmara, Marco Maciel,promulgou a emenda constitu-cional da cláusula de barreira.De 78 para cá, partidos políticosse transformaram, alguns surgi-ram, alguns morreram e outrosforam absorvidos por partidosmaiores.Muita coisa mudou nostrinta anos que a emenda “flu-tua” na legislação.

Pela Lei dos Partidos Políti-cos (Lei 9096/95), a cláusula debarreira estabelece que o partidoque alcançar 5% de votos,em pe-lo menos nove estados brasilei-ros,e 2% do total de votos de ca-da um desses estados, tem o di-reito a funcionamento parla-mentar, a partir das eleições de2006, em todas as Casas Legisla-tivas para as quais tenha eleito re-presentante.Funcionamento par-lamentar significa que a legendavai ter acesso ao fundo partidárioe à propaganda eleitoral gratuitano rádio e na TV, pode formarbancada,escolher seu líder e par-ticipar das jurisdições da Câma-ra.O não-cumprimento da cláu-sula não impede a existência dopartido,mas abala a representati-vidade da legenda, tanto na Câ-mara quanto na propaganda.Pa-ra obter o registro do estatuto noTSE, o partido precisa ter, pelomenos, 0,5% dos votos dados naeleição anterior para a Câmara.O projeto que reduz para 2% a

exigência dos votos válidos difi-culta a situação do partido pe-queno - obriga-o a eleger depu-tados em um terço dos estados.

No último pleito, cinco par-tidos grandes alcançaram os 5%exigidos pela cláusula – PT,PFL,PSDB, PMDB e PP, enquantoseis não atingiram o mínimo -PCdoB, PTB, Prona, PV, PL ePPS,além do PSB e PDT que fi-caram no limite e alcançaram,res-pectivamente, 5,1% e 5,3% dosvotos do eleitorado.

Para a deputada Jô Moraes,do PC do B,a cláusula diminui onúmero de partidos e a reformacomo está sendo discutida visa“manter o monopólio da repre-sentação política dos grandes par-tidos”. Jô afirma que “muitos pe-quenos partidos surgem das fra-ções dos grandes”,e que “muitosse elegem pelos pequenos parti-dos e depois migram para osgrandes”. O PCdoB sustenta aidéia de que o Brasil necessita deuma reforma para melhorar a es-trutura partidária do país. Para ovice-presidente do PV de Minas,Antonio Faria, a cláusula é “ma-nobra das elites” para manter opoder nas mãos dos grandes par-tidos, muitos deles “herança daditadura para que a Arena se man-tivesse com maioria na Câmara”.Há quem defenda que uma gran-de quantidade de legendas podeameaçar a representação política

à altura do que o país precisa.Naopinião de Lindenberg, as cláu-sulas “limitam os pequenos, masnão pode ser essa orgia de parti-dos.Atualmente, quase 30 parti-dos têm condição de lançar can-didatos”.Lindenberg acredita nu-ma reforma “ampla e séria” parao Brasil ficar livre dos escândalospolíticos. O PSTU critica a re-forma como está sendo propos-ta porque não permite a partici-pação dos trabalhadores.Boaven-tura acredita que “o governo in-cita a anti-democracia e quer eli-minar os partidos que realmentesão da esquerda”.

Os projetos pró-reforma,pa-ra serem válidos já na próximaeleição, não foram votados den-tro do tempo previsto – até 30 desetembro. Resta ao Congresso atentativa de aprovar uma emen-da ampliando o prazo para 31 dedezembro, permitindo que a re-forma tenha mais tempo para servotada,o que possibilitaria a im-plementação da cláusula corrigi-da em 2006.A discussão de umareforma se aproxima de umaquestão delicada - a segurança ju-rídica da legislação brasileira.Bai-xar uma emenda toda vez quegrupos,ou o próprio governo,ti-verem interesse em modificar asregras existentes prejudica a in-dependência e a credibilidade doLegislativo e dos direitos indivi-duais.

Aldo Rebelo ainda sente asheranças deixadas pelo ex-pre-sidente da Câmara Federal, Se-verino Cavalcanti.“A gestão deSeverino tumultuou todo o an-damento dos trabalhos legislati-vos”,observa diretor de redaçãodo jornal Hoje em Dia, CarlosLindenberg.

Uma das heranças é o proje-to de lei que concede reajuste de21% aos servidores da Câmara eamplia de 20 para 25 o númerode assessores que os deputadospodem contratar para seus gabi-netes.A discussão esbarra no ne-potismo, que recentemente foiproibido para os juízes, nega avalidade do concurso público –a perspectiva de contratação semconcurso é de novos 2.565 as-sessores, e onera os gastos públi-cos em mais de R$378 milhões(a folha salarial da Casa é deatualmente R$1,8 bilhão).

O presidente da Casa podedecidir sobre a conveniência decolocar o projeto em votação.Pesa sobre essa decisão os 15%de aumento que os deputadosauto-aprovaram,em setembro, eo fato da própria diretoria-geralda Câmara ter pedido um com-plemento de mais de R$200 mi-lhões para fechar a folha de pa-gamento de dezembro.

Com a pressão para instaurara ordem na pauta das votações,o novo presidente da Câmara vaimesclando a responsabilidade decomandar a Casa com as inter-ferências do governo para veraprovados seus interesses. “Oprimeiro desafio de Aldo é im-primir um ritmo mais aceleradode negociações com colégio delíderes pra definir uma pauta detrabalho nesse trimestre.Pois àmedida que a pauta continuatrancada, aumenta ainda mais odesgaste do legislativo perante aopinião pública”, comenta a de-putada Jô Moraes.

O clima de expectativa ins-talado pela cláusula de desem-penho é, certamente, uma pro-va de fogo para Aldo. Os polê-micos projetos da reforma elei-toral podem significar uma “sen-tença de morte” para seu pró-prio partido, o PC do B.“Nos-so partido ficaria de fora da Câ-mara, pois não teríamos repre-sentação parlamentar por impo-sição e vontade da nossa eliteconservadora.Seria um enormeretrocesso”, ataca Jô Moraes.

Arquivo o Ponto Victor Gontijo Mariana Barros

03 - Política - Priscila 21.11.05 13:47 Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editor e diagramador da página: Ricardo Antônio Moreira dos Santos

4 ECONOMIACidades buscam alternativas à mineração

Tecnologia tenta recuperarextração com investimento alto

Mesmo com as novas tecno-logias que existiam no século 19,a extração do ouro aos poucosperdeu fôlego .O motivo é a di-ficuldade de extração em pro-fundidade.O ouro está cada vezmais profundo, o que dificultasua extração. Porém, o poder eo brilho que o metal reluz fazcom que gerações resistam aodesafio de remexer a terra. No-vas tecnologias estão sendo exi-gidas, e com isso o capital há serinvestido é alto. Somente em-presas fortes do setor de mine-ração e com um grande aportefinanceiro correm o risco decontinuar com a extração dometal.

Segundo dados fornecidospelo Departamento Nacional deProdução Mineral, DNPM, noano de 1814,cerca de 12 mil ga-rimpeiros que exploravam as ja-zidas em Minas produziram so-mente 800 quilos de ouro noano,quantidade bem abaixo das14 toneladas por ano extraídasno auge da extração do ouro emMinas.Somente com o aprimo-ramento da tecnologia no sécu-lo 20, o Brasil volta a aparecerentre os grandes fornecedores deouro. Em 2004, a produção dometal atinge 47,6 toneladas, deacordo com o DNPM.

O ouro industrial apuradopelas técnicas da indústria mi-neral em grandes profundidades,representou 28,5 toneladas, oque equivale a R$ 1,121 bilhãocorrespondendo a 60% do total.O governo federal conseguiucontabilizar só dos garimpos emmina e garimpo a céu aberto19,1 toneladas cerca de R$747milhões.Tudo, isso significa queMinas detêm 35% das reservasbrasileiras, ficando apenas atrásdo Estado do Pará que detem52,3% da extração do ouro.

Exportador de diamantesMesmo assim, Minas Gerais

continua a abastecer o mundocom suas reservas minerais ex-traídas do subsolo. Segundo ocoordenador geral para Assuntos

Internacionais da Secretaria deGeologia, Mineração e Trans-formação Mineral do Ministé-rio de Minas e EnergiaSamirNahass,o estado perde na extra-ção do ouro, mas recupera suahegemonia na produção de 85%dos diamantes exportados peloBrasil para o mundo. Isto equi-vale a US$ 18,81 milhões de dó-lares só no ano de 2004.

Garimpagem ilegalPorém existem problemas,

que estão sendo investigados pe-las autoridades econômicas e po-liciais.De fato o que tem preju-dicado a economia no Estado éa presença de garimpeiros de di-ferentes partes do país e até gen-te de fora do Brasil que invademas regiões de Diamantina, Fru-tal, São Gonçalo do Abaeté eCoromandel. Estas regiões pro-duzem muito diamante, o queatrai todo tipo de problema co-mo saúde pública, saneamentobásico, criminalidade, prostitui-ção, corrupção e muitas outros.Esta invasão gera uma situaçãoeconômica adversa ao estado,di-minuindo à arrecadação devidoao contrabando e a lavagem dedinheiro.

A Polícia Federal têm obser-vado a região, e algumas cidadesestão com as investigações bas-tante adiantadas. É o que diz odelegado da Polícia Federal Dal-ton Mello Gilliot, que não quisentrar em detalhes para não pre-judicar as investigações.A PolíciaFederal acredita que comprado-res de pedras preciosas são res-ponsáveis por quase 80% do con-trabando para Bélgica, EstadosUnidos, Irlanda, Emirados Ára-bes e Alemanha, só não se sabeainda qual a metodologia adota-da pelos contrabandistas para saircom as pedras do Brasil.Todo ocontrabando proveniente dosmunicípios em questão implicamna diminuição de receita para asprefeituras e diminuição na gera-ção de emprego para as pessoasprovocando uma rede de proble-mas para a capital e o estado.

Em 1763, o Rio de Janei-ro se torna capital do Brasilatravés da concentração da for-ça produtiva e da tecnologia daépoca.A historiadora e profes-sora portuguesa Teresa Vital, ci-ta no suplemento “Ouro deMinas 300 anos de história”,do jornal Estado de Minas de29 de maio de 2005, que acorrida do ouro criou umgrande mercado, o que tornoua então cidade de São Sebas-tião do Rio de janeiro na ca-pital brasileira.

Um dos grandes fatores pa-ra a mudança de capital, queantes era Salvador (Bahia), foio fato das descobertas de ou-ro e diamante em Minas Ge-rais, o que passou a movimen-tar a economia do Brasil colo-nial. Tão logo confirmada adescoberta das minas, o gover-no português inicia o contro-le a partir da nova capital.

Segundo o economista bra-sileiro Roberto Simonsen, co-laborador do livro HistóriaEconômica do Brasil, as esco-las ensinam que o Brasil foiprejudicado pela exploraçãodos portugueses. Simonsenalerta para o equivoco dessa in-formação, que é passada paraos alunos em sala de aula atéos dias de hoje.“A despeito detodas as ilusões criadas peloouro, o balanço geral do ciclode mineração brasileira deixousaldos reais em proveito danossa terra”, diz o economis-ta.

Se o forte da economiabrasileira se concentra na re-gião Sudeste, isso é herança dociclo do ouro. Se o interior étodo povoado, tal fato se deveà busca das riquezas de Minas,que criou um mercado até en-tão sem precedentes. O enri-quecimento daqueles que se

dedicavam ao garimpo e os ne-gócios relacionados tambémforam outro importante fatorde desenvolvimento do Brasil.Segundo Tereza Vital, o abas-tecimento inicial do Rio de Ja-neiro a Salvador, da Bahia aMinas, de produtos básicos co-mo farinha, gado, açúcar, fei-jão arroz foi substituído pormercadorias importadas da Eu-ropa como vidros, espelhos,enfeites, louças, tecidos finos,tapeçarias, jóias, vinhos, azei-te, armas, pólvora, chumbo fer-ramentas, sal, ferro e outros. Es-ta mudança de gosto indicouuma evolução da sociedade.

Porém, a mesma sociedadeque achava que a riqueza seriaeternamente duradoura, não sepreparou para o fim da explo-ração das minas por falta detecnologia para explorar o fun-do das lavras.As cidades não seprepararam.Vilas, guetos e fa-

velas foram formados, milha-res de pessoas adoeciam porfalta de saneamento básico, fo-me.Tudo isto refletia e aindareflete atualmente na econo-mia, devido a escassez.

Ainda há um inchaço e es-vaziamento das cidades do“Ciclo do Ouro”, como se fos-sem uma sanfona devido a fal-ta de perspectivas.

Diversas localidades da Re-gião Metropolitana de BeloHorizonte sofrem este efeito,que tem como característica aexploração do ouro ou metaispreciosos. A atividade do ga-rimpo, ao ser deixada de ladopor quetões de custo desmo-tiva as pessoas que sem reaçãose entregam a sorte

A escassez do ouro, e a faltade continuidade por parte dasempresas desetrutura toda a co-munidade que vive em torno daempresa mineradora.

Municípios sofrem grande influência do passado

Bruno Freitas6º Período

A pequena Caeté, cidade daRegião Metropolitana de Be-lo Horizonte e berço da mi-neração em Minas Gerais, temmuita história para contar deseu ouro. Sob os paredões es-cavados no meio da mata, ain-da são retiradas muitas rique-zas de nossas terras. Das mon-tanhas do município já foramretirados pela Companhia Valedo Rio Doce mais de duas to-neladas de ouro. A atividadeencerrou um ciclo de riquezaeconômica para a população de36 mil habitantes, que contacom uma arrecadação munici-pal de R$793 mil por mês. Adependência gerada pela ne-cessidade do ouro fez com quemoradores não percebessem asmudanças econômicas que seapresentavam para o futuro.Hoje a extração requer muitodinheiro para que o ouro pos-sa ser trazido à superfície, poisparece que o mineral chegouao fim nas redondezas.

A recomposição das últimasreservas de ouro, em Caeté, ex-ploradas pela Vale, começa a serpercebida após a desativação dalavra. O subsolo de Caeté é ri-co em depósitos minerais.Coma desativação das minas, e o tra-balho de reposição florestal, osmoradores da cidade terão queprocurar alternativas para a so-brevivência.A pequena indús-tria e o turismo são uma saída e

surgem como novas chances pa-ra que Caeté e outros municí-pios voltem a crescer.

Cidade dormitórioA paisagista Lúcia Regina

Pereira Mattos decidiu investirno potencial econômico da re-gião apostando no turístico e naecologia. Lúcia não tem dúvi-da s de que a cidade dispõe depatrimônio a ser descoberto.“Falta divulgação dos pontos tu-rísticos e não há profissionaisformados para o atendimentoaos visitantes, apesar de a infra-estrutura na cidade ter melho-rado”, afirma. Lúcia Mattostransformou a fazenda de 25hectares herdada do avô empousada. O objetivo é seguraros turistas que visitam a regiãoa procura de modalidades queenvolvem ciclismo, caminhadasentre outros. A montagem delojas especializadas para estaspráticas e outras estruturas, como objetivo de melhor atenderao turista, além de restaurantes,novos hotéis e posadas permi-tiram uma retomada da econo-mia na região.

Mesmo com o fim anun-ciado do ciclo do ouro no en-torno da Região Metropolita-na de Belo Horizonte ainda háuma movimentação das mine-radoras na região.A Anglogold,com sede em Nova Lima, estáinvestindo em um condomínioe parque ecológico fechado,enquanto a MBR de Nova Li-ma, anuncia a transferência da

sua sede para Minas e investi-mentos em uma usina de trans-formação do minério em pe-lotas, produto valorizado in-ternacionalmente. Fica evi-dente que a economia do Es-tado será aquecida, pois só aMBR contribui com 1,5% doPIB do estado, que correspon-de a um total de R$ 166,3 bi-lhões. Este valor possibilita

atrair negócios para o estado, oque resulta na geração de no-vos empregos e fortalecimen-to do comércio nas cidades,onde a empresa vai atuar.

DesenvolvimentoA recém-criada Associação

dos Municípios do Circuito doOuro tem o objetivo principalde que 19 cidades se associem fa-

zendo valer o antigo ditado deque a união faz a força. Comooutras cidades,Caeté é apenas umexemplo dos municípios minei-ros que se desenvolveram a par-tir da mineração e não se prepa-raram para o fim do ciclo do ou-ro.O projeto Estrada Real,a gas-tronomia, o patrimônio históri-co, o barroco e as matas unemprefeituras,na tentativa de reter o

turista entre as cidades.Assim co-mo Caeté,cidades como Sabará,Ouro Preto,Mariana,Ouro Bran-co, Santa Bárbara, Santa Luzia,Raposos e Rio Acima hoje sepreparar para o novo ciclo do ou-ro das cidades por onde percor-reram os bandeirantes. MarcosLamego,diretor-executivo da as-sociação,diz que vários produtospodem ser adquiridos.

Moradores de pequenas mas importantes cidades na extração de riquezas paralisam suas escavações

Sabará (MG). Draga de alcatruzes no Rio das Velhas

Isso transforma as capitais emgrande fonte de problemas.A fal-ta de emprego nos grandes cen-tros provoca grandes problemaspara a economia Os grupos queexploram a mineração na Re-gião Metropolitana de Belo Ho-rizonte contribuem com as ci-dades onde estão localizadas asextrações com atividades cultu-rais levando shows,palestras, es-portes ligados a natureza,porémse esquecem da capital que ab-sorve um grande contingente depessoas a procura de melhor qua-lidade de vida

O uso da tecnologia já é evi-dente, a extração só se dá emgrande profundidade, o investi-mento é muito alto e as pessoasprecisam estar preparada.s paraabsorver e gerar riqueza nas ci-dades no Estado.

Divulgação

04 - Economia - Ricardo Santos 21.11.05 13:46 Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editor e diagramador da página: Paulo Chaves

CIDADE 5Camelôs na mira da prefeituraTrabalho informal dimiui com o remanejamento dos ambulantes para os shoppings populares

Lídia Rabelo, Paula Pereira eWânia Ferreira

5º Período

“Mata barata, mata formiga,é o giz chinês,um real!”,“Com-pro vale e vendo vale, pago bemno vale!”,“Dois CD por 5 cin-co real!”,“Olha o radinho, cin-co reais!”Esta é forma que cen-tenas de ambulantes usam paravender seus produtos.A figura doambulante esteve sempre pre-sente na cena social urbana. Épossível estabelecer uma relaçãode vida dessas pessoas,muitas de-las, há anos nesse cenário infor-mal, com o impacto que elasexercem na economia. Para amaioria delas essa é a única for-ma de sustentar a família e so-breviver diante às crises decor-rentes à falta de emprego. Sãopessoas que já fazem parte da his-tória da cidade e se identificamcom ela,mas que muitas vezes fi-cam no anonimato.Como vivemessas pessoas e, o que elas fazempara sobreviver diante de tantosobstáculos encontrados na eco-nomia informal?

A prefeitura de BH, com aproposta e execução do projetode revitalização, está tirando to-dos os camelôs das ruas e trans-ferindo par aos shoppings popu-lares. Porém, a situação do am-bulante ainda está sem uma so-lução.

Historicamene, o comércioambulante esteve presente naconstrução da maioria das civi-lizações modernas.As figuras domercador e do vendedor torna-ram-se constantes na cena social.É possível estabelecer uma rela-ção de vida dessas pessoas, mui-tas delas, há anos nesse cenárioinformal,com o impacto que elasexercem na economia da cidade.Para a maioria delas essa é a úni-ca forma de sustentar a família esobreviver diante às crises de-correntes à falta de emprego.

O vendedor ambulante, Eli-seu Novaes, 37, trabalha há seisanos na rua Rio de Janeiro, es-

quina com Caetés vendendo va-les transportes, mas afirma quenão consegue mais dinheiro comisso. Hoje, para garantir a renda,além de continuar vendendo al-guns vales e também cigarros pi-cados, ele faz pequenos serviçoscomo servente de pedreiro paraconseguir cuidar de sua mulhere de sua filha de 12 anos.“Anti-gamente eu só mexia com valetransporte,mas depois que o pre-feito proibiu, acabou e, hoje euvendo esses cigarrinhos,mas a fis-calização fica de cima. Eles che-gam, tomam e a gente fica semnada”, relata Eliseu.

Antes de ser vendedor am-bulante Eliseu trabalhava de car-teira assinada.Ele conta que tra-balhou na Casa das Nações umano e cinco meses e também tra-balhou dois anos na UFMG,masdepois que ele partiu para o em-prego informal,nunca mais con-seguiu emprego.“Eu já tenho 37anos, aí fica difícil arrumar em-prego, ainda mais que eu tenhopouca leitura e serviço hoje é praquem tem leitura”,afirma o am-bulante.

Ailton dos Santos Pereira,51,vendedor de vales transporte eTele sena, está a um ano e meionesse tipo de trabalho.Trabalha-va na construção civil.Ficou de-sempregado e resolveu vendervales porque era mais viável fi-nanceiramente.“Dá um retornomais rápido.Se eu conseguir umemprego fixo,eu paro de vendervales”, garante o vendedor.

A economia informal é mui-tas vezes fruto da falta de estru-tura das grandes cidades,que nãoconsegue comportar tanta gen-te.Não se sabe ao certo que saí-da esses ambulantes vão encon-trar para resolver sua situação, jus-tamente porque sabem que es-tão sozinhos neste processo radi-cal de retirada destas pessoas quetrabalham nas vias públicas docentro da cidade. Mas é impor-tante ressaltar a necessidade deresolução do problema, sem queninguém seja mais prejudico.

Paula Pereira

Ataíde Santiago é um dos poucos ambulantes cadastrados que não quer trocar seu ponto pelos shoppings populares

Trabalho informal viraalternativa de emprego

No mercado informal exis-tem pessoas de todas as idades,tendo em sua maioria pessoascom pouco estudo com ressal-va de algumas exceções. Ataí-de Santiago da Silva, 52, traba-lha há 20 anos como ambu-lante, na avenida Olegário Ma-ciel, esquina com Carijós. Ca-sado e pai de cinco filhos, criousua família vendendo balas, re-frigerantes, sucos e água mine-ral. É cadastrado pela prefeitu-ra, mas acha que vai ser pior sefor transferido para o shop-ping, pois além de ter que pa-gar aluguel, o movimento émenor. “Eu trabalho todos osdias, e fico aqui sentado à es-pera dos clientes”.

Jair Santiago da Silva, 56, écasado, tem 12 filhos e trabalhana mesma profissão que Ataíde.Sempre sorridente e satisfeito,trabalha na Olegário Maciel emfrente a um colégio da região,há 19 anos. Criou sua famíliacom a venda de água mineral esucos. Hoje essa renda é só umcomplemento, pois conta coma ajuda da mulher e de duas fi-lhas que trabalham.“Lá em ca-sa, gasta quatro pacotes de ar-roz por semana”, ele fala e ain-da sorri. Com seu carisma, osenhor Jair conquistou o cari-nho de todos que trabalham ecirculam naquela região. É ca-dastrado pela prefeitura, masnão tem vontade de sair dali.“Se me tirarem daqui, eu pre-firo ir pra casa descansar, poiseu sei que não vou conseguirpagar o aluguel”, afirma.

João de Jesus, 71, é aposen-tado, mas ainda trabalha comoambulante para complementara sua renda.Veio da Bahia hádoze anos pra tentar melhorara vida em BH. É divorciado etem sete filhos que sustentacom seu trabalho. Ele tinha umstand no shopping Tupinambásem sociedade com um amigono segundo piso, porém, mes-mo sabendo que é proibidovender, eles negociaram ostand, pois lá não vendiam nempara pagar o aluguel. João vol-tou pra rua, mas a prefeituradeterminou que ele ficasse naOlegário Maciel com Carijós,mas ele não sabe o que podeacontecer depois. Ele vende ca-pa para celular e outros produ-tos que estão em evidência.“Euguardo minhas mercadorias nabanca de jornal, onde pago umreal todos os dias, às 7 da ma-nhã já estou pronto para o tra-balho”, relata o velhinho.

EsperançaHélio Henrique Araújo

Medeiros, 18, trabalha na ruapara ajudar os pais e ter seupróprio dinheiro. Mas isso étemporário, pois assim que sairseu certificado militar, ele pre-tende sair à procura de um em-prego formal. Ele vende aces-sórios para celular, mas o tem-po todo fica de olho na fisca-lização.“Eu gostaria de traba-lhar de carteira assinada paraobter estabilidade e seguran-ça”, declara o esperançoso jo-vem.

Jair Silva vende água mineral e suco há 19 anos para completar a sua renda familiar

Mesmo com a pensão querecebem do governo,muitos de-ficientes buscam no mercado in-formal uma forma de comple-mentar sua renda. Jamil Quin-tão de Oliveira, 46 anos, defi-ciente visual e vendedor ambu-lante trabalha com vendas des-de criança e foi cambista durantemuitos anos. Com a queda domercado de loterias passou avender outros produtos, comopilhas, giz chinês e outros. Ho-je, sempre na rua dos Carijós naesquina com a rua São Paulo,trabalha doze horas diariamen-te. É casado e têm uma filha de12 anos, sua esposa não trabalhafora. Com a pensão que ganhapor ser deficiente não dá pra sus-

tentar a família, por isso ele op-tou pela informalidade comoforma de complementação darenda. Jamil acredita que a pre-feitura irá fazer alguma coisa pa-ra os deficientes.A proposta damesma é colocar todos nosshoppings,mas ele alega que se-rá inviável para pessoas comoele, pois além do capital paramontar o stand e pagar alugueleles ainda precisarão de um au-xiliar para ajudar na administra-ção de seu negócio.Ele tem es-perança que as coisas melhoremse a política econômica do paísmudar e aumentar o poder decompra da população.

Já Francisco Soares de Pau-la Filho, 56 anos, ambulante,

também deficiente visual, há 30anos trabalhando na rua, ficasempre na rua dos Carijós en-tre São Paulo e Curitiba, nãotem a mesma opinião de Jamil.Indignado, fala que existe umadiscriminação muito grandepor parte das autoridades comrelação aos deficientes.“A pre-feitura quer colocar todo omundo no mesmo lugar (shop-ping), porém será uma con-corrência desleal, principal-mente por que não existe umainfra-estrutura adequada paraque possamos trabalhar”, re-clama o vendedor, revoltadoporque um dia os fiscais quise-ram apreender sua mercadoriaà força.

Fotos Paula Perreira

“Se conseguirum empregofixo, eu paro devender vales narua”

Ailton dos Santos Pereira,

51 anos, ambulante

”Eu acreditoque o prefeitoirá fazer algopelosdeficientes”

Jamil Quintão, ambulante

Paula Perreira

Deficientes na informalidade

05 - Cidade - Paulo Chaves 21.11.05 13:45 Page 1

Page 6: Jornal O Ponto - novembro de 2005

O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editor e diagramador da página: Pollyanna Palhares

6 EDUCAÇÃOInternet nas escolas faz a diferença Novos caminhos são implantados nas escolas no intuito de promover acesso tecnológico aos alunos

Izabela SantosCarolina Jardim

4º Período

O desenvolvimento da in-formática exerce um grandeimpacto de produção em todasociedade. O computador e aInternet tornaram-se uma im-portante ferramenta de traba-lho em diversos setores. NoBrasil, o acesso a Internet teveinício em 1990 pela Rede Na-cional de Pesquisa (RNP), queliga as principais instituições deensino e pesquisa do país. De-vido ao uso cada vez mais as-síduo do computador em to-das as esferas vários projetos es-tão sendo executados com oapoio do governo, para que apopulação e as escolas tenhamoportunidade de se inserir nes-te contexto do uso das novastecnologias.

Em Belo Horizonte, a pre-feitura tem se empenhado dediversas formas. Em agosto, foiimplantado o projeto Escolasem Rede, elaborado pela Se-cretaria do Estado de Educa-ção, com a proposta de interli-gar a Internet em 996 escolasdas 3925 que compõe a redeestadual de educação em Mi-nas Gerais.Todas as escolas deBelo Horizonte, da RegiãoMetropolitana, e mais 172 es-colas espalhadas pelo Estado te-rão acesso a Internet, até o iní-cio de 2007, relata a secretáriade Educação Maria do PilarLacerda. No total, serão bene-ficiadas escolas estaduais demais de 850 municípios mi-neiros. Já na rede municipal, oprojeto Internet nas escolas jáestá implantado e funcionandoem 38 escolas. No setor priva-do, cerca de 75% das escolas sãoinformatizadas.

Entretanto, a informáticaestá sendo cada vez mais utili-zada para fins pedagógicos, de-sencadeando vários questiona-mentos sobre a sua eficácia noprocesso da aprendizagem. Oproblema está em saber se so-mente a informatização con-tribui necessariamente na cons-trução de conhecimento e seas pessoas e professores estãosendo capazes de utilizá-la daforma correta, a favor doaprendizado. Segundo a peda-goga Elizabeth Vianna, saber daexistência da informática não

significa muito. “Apenas teracesso à informação não é osuficiente para se construir oconhecimento, por que esteimplica em trabalhar com as in-formações obtidas classifican-do-as, analisando-as e contex-tualizando-as”. Criam-se todosos dias mais de 140 mil novaspáginas de informações e ser-viços na rede. Há informaçõesdemais e muitas vezes, váriasdelas, não são fontes de co-nhecimento.

Mal uso da InternetA Internet, entretanto, não

modifica sozinha o processo deensinar e aprender, esta depen-de das atitudes fundamentaisdas instituições escolares.Gladstone, professor e coorde-nador da Escola da rede parti-cular Santo Tomás de Aquino,acredita que, geralmente, as es-colas que são portadoras e uti-litárias da Internet, não pos-suem programas adequados aoensino, com uma aparelhagemespecífica para investir no co-nhecimento, e também não háuma fiscalização devida para autilização dos recursos pelosalunos. “Investir em equipa-mentos tecnológicos não ex-clui o fato de que os professo-res precisam ser treinados parasaber a melhor forma de utili-zar as ferramentas, e muitas ve-zes, isso não ocorre. Os alunosutilizam a Internet para brin-cadeiras, e quando o objetivoé a pesquisa, costuma-se ‘cor-tar e colar’”.

As tantas possibilidades debusca que a Internet oferece,faz com que a própria navega-ção se torne mais sedutora doque o necessário trabalho deinterpretação. Os alunos ten-dem a dispersar-se diante detantas conexões possíveis e pormeio de imagens e textos quesucedem ininterruptamente.

Segundo José Manuel Mo-ran, professor do curso de Co-municação Social da UFMG,“Ensinar através dos novosmeios tecnológicos como a In-ternet será uma revolução, semudarmos simultaneamente osparadigmas do ensino. Casocontrário servirá somente co-mo um verniz, ou uma jogadade marketing para dizer que onosso ensino é moderno”, afir-ma José Manuel.

Alunos se beneficiam do computador em uma das escolas de Belo Horizonte que são beneficiadas com a inclusão digital

Acesso digital ainda é restritoCom o crescente desenvol-

vimento tecnológico surgem vá-rios questionamentos em rela-ção ao amplo acesso à informa-ção e à educação. Novos e mo-dernos equipamentos como porexemplo o PowerMac G5, sur-gem a todo instante e a cada diaque passa o que era novidade jáse torna ultrapassado.

Entretanto, o que está emquestão é se todos poderão teracesso às novas tecnologias, jáque sua implementação está di-retamente ligada à necessidadede adquirir novos computado-res, programas e o provimento

de acesso à Internet, sendo ne-cessário um alto investimentoem se tratando de instituições deensino e centros comunitários.

O alto custo dos equipa-mentos acaba fazendo com quesomente as pessoas que têm boacondição econômica possamparticipar e usufruir dessas ma-ravilhas da era moderna.TayaneGonçalves,16 anos, aluna do co-légio particular Arnaldino, afir-ma que os professores incenti-vam o uso à Internet,mas o pró-prio colégio em si não disponi-biliza um laboratório para queos estudantes possam utilizá-la.

“Quando preciso fazer uma pes-quisa para um trabalho na In-ternet eu pesquiso em casa,masna minha turma há alunos quenão têm computador e que aca-bam prejudicados”, diz Tayane.

Raíssa do Nascimento, 14anos, aluna do Colégio Munici-pal Central, afirmou que o co-légio não possui computadorespara uso dos alunos e nem aces-so à Internet. Ela diz tambémque os professores não incenti-vam muito o uso da Internet co-mo fonte de informação parapesquisa porque a maioria dosalunos não tem computador.

Outras instituições de ensino,por sua vez, estão tendo que seadaptar a essa nova realidade eestão implantando laboratóriosde informática em suas instala-ções, para que seus alunos pos-sam se familiarizar com o am-biente da informática e da In-ternet. Os estudantes têm quefazer pesquisas para seus traba-lhos escolares pela Rede e, co-mo ainda hoje,grande parte ain-da não possui seus próprioscomputadores - ou mesmo pos-suindo, não têm acesso à Inter-net. as escolas estão começandoa investir em mais laboratórios.

Escolas são beneficiadascom inclusão tecnológica

Através da informatizaçãodas escolas da rede pública, aSecretaria de Estado de Edu-cação pretende implantar vá-rias ações para a melhoria dasatividades administrativas, pe-dagógicas e de auxílio ao pro-fessor. Já estão sendo desenvol-vidos sistemas informatizadosde gestão escolar e o Portal deServiços e Recursos Didáticosalém de um Centro de Refe-rência Virtual do Professor. Acompra dos equipamentos pa-ra as escolas que ainda não pos-sui uma infra-estrutura digitalinstalada que será feita pormeio de pregão.

As empresas Copasa e Te-lemar assinaram termos de par-ceria com a Secretaria, paradoação de computadores e ins-talação da Conexão Velox, res-pectivamente.Além do atendi-mento direto a alunos e pro-fessores, o projeto Escolas emRede vai abrir os laboratóriosde informática das escolas pa-ra capacitar a comunidade.

Por meio de toda esta infra-estrutura dedicada aos profes-sores, possibilitará trabalharcom seus alunos, utilizando osgrandes potenciais pedagógi-cos de pesquisa, autoria, co-

municação e a própria colabo-ração que é comprovada naprodução do Software Livre.

De acordo com a secretáriamunicipal de educação, Mariado Pilar Lacerda Almeida e Sil-va,“promover a inclusão de to-dos na escola significa geraroportunidades para que ascrianças de Belo Horizontepossam conhecer outros mun-dos e outras realidades para en-tender e transformar a socie-dade. Neste sentido a Interneté uma ferramenta de extremaimportância”.

Este modelo de trabalho jáimplementado em algumas es-colas proporciona além da in-terligação de todos os compu-tadores em rede, seja no labo-ratório, na sala dos professoresou na biblioteca, a criação doespaço individualizado do alu-no e professor, no qual podemdisponibilizar as suas produ-ções. O professor pode estarmais próximo dos alunos, re-ceber mensagens com dúvidase passar informações comple-mentares para determinadosalunos. O processo de ensino-aprendizagem ganha dinamis-mo, inovação e poder de co-municação.Alunos do Colégio Arnaldino em aula de informática

Marcela Ziviani

Marcela Ziviani

Marcela Ziviani

Equipamentos modernos à disposição dos alunos

06 - Educação - Pollyanna P. 21.11.05 13:44 Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editor e diagramador da página: Mariana Alves

MÍDIA 7

Clarissa Damas XavierGabriela Falci

2º Período

A abertura de canais de tele-visão no Brasil é dada pelo go-verno federal através de conces-sões. Isso difere as radiodifusõespara empresas jornalísticas,comojornais impressos. Esta diferen-ciação deveria estabelecer a qua-lidade e o papel social, atribuídopelo Estado, da atividade televi-sa.A Constituição de 1988,no ar-tigo 223 ressalta que "compete aoPoder Executivo outorgar e re-novar concessão,permissão e au-torização para o serviço de ra-diodifusão, observado o princí-pio da complementariedade dossistemas público, privado e esta-tal". Entretanto, a realidade nãoapresenta qualquer referência como texto legal.Por ser consideradaum empreendimento comerciala televisão, na prática, se eximedas obrigações, limites e funçãode bem público,baseada na pró-pria constituição.Por outro lado,a TV pública não se adapta a es-trutura dominada pelo modelocomercial,e apenas emissoras es-tatais garantem seu espaço.

Segundo o professor de tele-jornalismo da Fumec,AlexandreCampello, a falta de esclareci-mento da população impede acobrança.“A população tem queter percepção da função socialque compete às redes de televi-são” esclarece Campello. O tri-pé que deveria funcionar a tele-visão não tem suportes institu-cionais.De acordo com o presi-dente do Sindicato dos Jornalis-tas de Minas Geras,Aloísio Lo-pes, as leis que regulamentem acomunicação ainda são dispersas.

Público X PrivadoA indefinição do público e

privado é um assunto recorrentena sociedade. No caso das redestelevisivas comerciais,o Estado dásubsídio, tanto política quanto fi-nanceiramente, entretanto a in-terferência na programação é ape-nas em comunicados executivos,ou em horários eleitorais.A re-novação da concessão não é usa-da como filtro de qualidade.“Nunca teve uma punição comretirada da concessão para ne-nhum canal”afirma Campello.Eem contrapartida, a obtenção deuma concessão é dificultada pelaescassez de espaço nos canais, eredes de interesse da populaçãoacabam sendo restritas à TV porassinatura, o que é o caso da TVAssembléia.“Só é aberta licitaçãopara concessão de tv aberta se al-guma já existente fechar,pois nãotem espaço para abertura de maisredes, e nem para ampliação deemissoras que já operam na tv pa-ga.” explica Campello.

Para Aloísio a TV pública eprivada não é muito definida nopaís.“Existe uma confusão nãosó conceitual,mas também por-que existem interesses políticose empresariais”.Lopes acrescen-ta que as TVs estatais funcionamquase como um canal executi-vo.“O principal problema en-frentado é a estreita dependên-cia do governo, seja nas diretri-zes políticas ou na financeira.Otrabalho do jornalista é estabe-lecido na definição da pauta enão no repórter” afirma Aloísio.

As TVs públicas brasileiras en-frentam desafios em diferentesâmbitos, tendo destaque à ques-tão do financiamento.É relevan-te também a concorrência des-leal com as TVs comerciais e acultura de audiência em massa.Para o gerente geral da rede As-sembléia,Rodrigo Lucena,o ca-nal é direcionado a um públicoseleto e formador de opinião.“Nosso público não é o mesmoque assiste a TV comercials. Anossa programação exige uma re-flexão e um acompanhamento deuma atividade política principal-mente” ressalta Rodrigo.

Colaborou: Mariana Alves

TV no Brasil não segue definição, estrutura legal não prevê controlede qualidade e a população não reconhece sua função social

Concessão é motivo de briga

Aécio Neves vetaentidade sindical

A Rede Minas volta a con-tar com um Conselho Curadordepois de sete anos inexistente.O Conselho é a instância admi-nistrativa máxima da emissora,formada por representantes dopoder público e da sociedadeatravés de entidades culturais ede comunicação. A recente no-meação dos sete membros titu-lares e dos três suplentes causoupolêmica no meio jornalístico.Segundo o sindicato dos jorna-listas a escolha feita pelo gover-nador não obedeceu critérios, eimpediu a participação de no-mes ligados a entidade sidincal.

O conselho está previsto noEstatuto da TV Minas, pela lei11.179 de 10 de agosto de1993, e seu funcionamento erauma cobrança antga do sindi-cato dos jornalistas. O Órgãodetermina a política adminis-trativa e aprova as contas da en-tidade. A nomeação é dada pe-lo governador, após lista indi-cada pelos profissionais e sin-dicatos envolvidos com a emis-sora, os sindicatos dos jornalis-tas, dos radialistas e dos artistas.Desta, Aécio Neves escolheudois representantes, um titulare um suplente. Segundo o pre-sidente do Sindicato dos Jor-nalistas de MG e um dos indi-cados na lista apresentada aogovernador,Aloísio Lopes, exis-

tiu um veto político à sua en-tidade sindical já que nenhumdos nomeados é jornalista e elepróprio foi o mais votado pe-los funcionários da emissorapara ser empossado.“No míni-mo o Perí de Souza [a outra in-dicação do sindicato e o maisvotado dentre os que trabalhamna emissora] pois trabalha lá naTV Minas, teria que ser ou su-plente ou titular” desabafa Lo-pes.As três entidades sindicaisrealizaram uma eleição entre osfuncionários da TV Minas, eentregaram, junto com a indi-cação, o resultado.

Essa instância é adotada naestrutura de TV pública. Paratanto, criam-se conselhos gesto-res autônomos, formados por re-presentantes da sociedade. ParaAloísio, o modelo público temque se manter independente.“Aemissora pública deve ter umagestão pública. Essa gestão pú-blica,pode se dar de diversas for-mas, como por exemplo, parti-cipação da sociedade na direto-ria, no conselho de gestão, noconselho de programação, maso principal como decorrênciadessa gestão pública é a não in-terferência de interesse gover-namental na sua linha editorial,ou de interesse comercial, comoacontece nas outras emissoras”acredita Lopes.

Campanha lutapela qualidadede programção

Os excesso e a falta de regu-lamentação colocaram em deba-te a qualidade da TV.A socieda-de começa a perceber a necessi-dade de uma programação quevalorize o público não apenas co-mo consumidor.Pensando nisso,entidades de todo o país promo-veram o II Dia Nacional de Lu-ta pela Ética na TV.Com a cam-panha "Quem financia a Baixa-ria é Contra a Cidadania",a Co-missão de Direitos Humanos daCâmara dos Deputados,em par-ceria com entidades da socieda-de civil, busca promover o res-peito aos direitos humanos e àdignidade do cidadão nos pro-gramas de televisão.

O movimento parte de trêsquestões.A primeira é que em-presas de publicidade têm res-ponsabilidade sobre a programa-ção.A segunda,é que certas emis-soras não têm se sensibilizadocom os apelos da sociedade e doEstado por mais ética na televi-são.E a última questão apontadaé que cabe à sociedade e ao Con-gresso criar condições para reco-nhecer o direito à comunicaçãocomo um direito humano.

O professor da USP Laurin-do Lalo Leal afirma que a cam-panha faz a função do Estado.“Elafaz o papel de um órgão regula-dor", afirma. Ele propõe a cria-ção de um órgão que possa fazero controle social da programação.

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5H

População não tem acesso a qualidade da informação.

Henrique LisboaProgramação é ditada pelo mercado e espaços de interesse público são cada vez mais escassos na televisão brasileira.

Henrique Lisboa

07 - Mídia - Mariana Alves 21.11.05 13:43 Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editor e diagramador da página: Tiago Nagib

8 INTERNACIONAL

Em via de tornar-se mem-bro da União Européia, a Tur-quia durante séculos foi sinôni-mo de perigo para a Europa.

Surgido em territórios doantigo Império Bizantino, osprimeiros sultões otomanos ra-pidamente conquistaram a pe-nínsula da Anatólia e continua-ram rumo aos Balcãs onde tra-varam em 1389 a célebre bata-lha de Kosovo, derrotando umexército composto por húnga-ros, sérvios e moldávios.Derro-tando ainda uma cruzada envi-da pelo então papa Bonifácio IX,o sultão Bayazid I,que governoude 1389 a 1403,ampliou as con-quistas na Europa e no OrienteMédio.

Após diverssas tentativas, osturcos conquistaram em 1453 acidade de Constantinopla, anti-ga capital do Império Bizantinoe uma das cidades mais impor-tantes de então em todo o mun-do.Ao final do século XIV,o Im-pério Turco chegou ao seu au-ge, após derrotar Veneza e Áus-tria além de conquistar a He-zergovina, a Síria e o Egito.

No século XIX após inten-sas lutas e severas derrotas paraÁustria e Rússia,os turcos foramobrigados a reconhecer a inde-pendência da Grécia, que con-tava com apoio dos ingleses.

Turquia e União Européia dão início às negociações para adesão do primeiro país não cristão ao blocoTiago Nagib7º Período

Após longos e delicados de-bates, a União Européia (UE)acabou decidindo aceitar as ne-gociações para a eventual en-trada da Turquia ao bloco eu-ropeu. O ingresso turco à UEseria um forte gesto de aproxi-mação da Europa ao oriente,principalmente aos países dereligião muçulmana, mas po-deriam também criar grandesdificuldades para o funciona-mento pleno do bloco. Umavez incluída na UE, a Turquiaseria a maior nação européiaem termos de extensão, alémde possuir a segunda maior po-pulação do bloco, atrás apenasda Alemanha.

Apesar disso, ela conta comalguns dos piores indicadoressócio-econômicos do conti-nente, como altas taxas de mor-talidade infantil além de baixaexpectativa de vida para os pa-drões europeus e elevados ín-dices de desemprego.

Desconfiaça européiaApesar de se ter chegado a

um consenso para a entradaturca à UE, alguns governoseuropeus ainda se mostram re-ticentes em relação às possibi-lidade reais da Turquia aderi-rem ao bloco. O chanceler ale-mão, Gerhard Schröder, disseque será "longo e complicado"o processo de negociação paraa entrada do país na União Eu-ropéia. Já o presidente francêsJacques Chirac reiterou seuapoio ao início das negocia-ções, mas afirmou que os tur-cos terão que se adequar aosvalores do bloco se quiserementrar como membros inte-grais.

Para Chirac, será necessá-ria uma “revolução cultural”por parte dos turcos. "A Tur-quia terá sucesso?", questionouainda Chirac. "Eu não sei. Oque está claro é que ela preci-sará de tempo, muito tempo, aomenos 10 ou 15 anos", afirmouo líder francês. O presidentegaulês deixou claro ainda que“os franceses devem ter a últi-ma palavra, como numa de-mocracia” dizendo que a deci-

Entre o Ocidente e o Oriente

são final dependerá da realiza-ção de um referendo na Fran-ça. Já o primeiro ministro ita-liano, Silvio Berlusconi, mos-trou otimismo e afirmou quea Europa tem “uma chance,que não deve desperdiçar, decriar uma ponte entre o Oci-dente e os mundos árabe e mu-

çulmano”.

VantagensPara o coordenador do cur-

so de Relações Internacionaisdo Uni-BH e professor da PUCMinas, Danny Zahredine, o in-gresso da Turquia na União Eu-ropéia deve ser visto de forma

positiva, pois todos podem ga-nhar. A Europa ganharia comuma mão-de-obra mais barata,com altos índices de natalidadee passará a controlar a maior par-te do Mar Mediterrâneo e os es-treitos de Bósforo e de Darda-nelos, deixando assim a Rússiarelativamente dependente da

Europa para chegar ao Medi-terrâneo.

Segundo Zahredine, apesardo apoio explícito dos EstadosUnidos juntamente com a In-glaterra para a inclusão turcaao bloco, isso não enfraquece-ria o eixo franco-germânico,atual locomotiva da UE. Isso

aconteceria porque tanto fran-ceses como alemães ganhariamcom uma maior facilidade pa-ra aquisição de matérias-pri-mas e de mão-de-obra mais ba-rata. Para o Brasil, o professordestaca que o impacto seria po-sitivo porque “finalmente umpaís periférico de grandes pro-porções começa a entrar parao eixo dos países centrais,criando uma mobilidade maiore permitindo que países em de-senvolvimento como o Brasilpossam vir a pertencer tambémao seleto grupo das nações cen-trais”. Apesar de todos os ga-nhos, o professor lembra que adesconfiança ainda é muito for-te pela maior parte da popula-ção européia, principalmenteem países como Áustria, Gré-cia e nações dos Bálcãs que lu-taram no passado contra o en-tão Império Turco-Otomano,além do problema da religião.

A Turquia seria o primeiropaís não cristão a fazer parte daUnião Européia.Apesar de 99%de sua população praticar a reli-gião islâmica, desde o fim daprimeira guerra mundial e daproclamação da república,o Es-tado sempre fez questão de man-ter-se laico e permitir liberdadepara a escolha da religião.

Hoje a Turquia é moderna eum dos maiores países em de-senvolvimento do planeta.Apóssofrer uma forte crise econômi-ca em 2001, o que obrigou ogoverno a promover uma ma-xi-desvalorização da moeda, opaís vem apontando forte re-cuperação, tendo crescido maisde 8% em 2004. No entanto,ainda há graves problemas emsua balança comercial, tendoacumulado somente em 2004um déficit da ordem de US$25bilhões, um dos maiores do pla-neta. Seu passe ao seleto grupoeuropeu poderia revolucionar ascondições de vida da população,mas exigiria também um gran-de esforço por parte do gover-no e da sociedade para se ade-quarem aos padrões europeus.

As negociações já foram ini-ciadas. Resta saber se os turcosrealmente conseguirão adentrarà Europa, em que pese as imen-sas dificuldades que terão pelafrente.

O país dossultões

Durante a I Guerra Mun-dial, apesar de tentar seguir neu-tra, a Turquia acabou envolven-do-se com a Alemanha e ten-do que partilhar parte de seuterritório com os aliados, pro-vocando assim um sentimentode forte nacionalismo que le-vou ao fim do sultanato em1922 e ao início da repúblicapelas mão do general KermalAtaturk.

Atartuk deu início a profun-das reformas, como o estabele-cimento do Estado laico e a im-plantação do alfabeto latino,alémde aliar-se à União Soviética.

Após a morte de Ataturk, aTurquia pendeu para uma ami-zade mais estreita com os Esta-dos Unidos e a Europa Oci-dental, requisitando seu ingrs-so à UE em 1963. Em 1966 opaís sofreu um golpe militar

sustentado por medidas de re-pressão que duraram até 1991,quando ocorreram medidas deflexibilização que tiraram dailegalidade marxistas e políticosreligiosos.

Após intensa flexibilizção, aTurquia sucumbiu à crise eco-nômica do fim da década de 90levando o país ao colapso em2001.Hoje o país tenta recupe-rar-se do trauma sofrido.

Antiga catedral e atual mesquita em Istambul, Santa Sofia é símbolo da dualidade turca entre ocidente e oriente

• Países que já integram a União Européia

• Países que ingressarão na União Européia a curto prazo

• Turquia: candidato cujo processo de adesão será mais lento

Taxa Básica de Juros2% (zona do Euro)

15,8%

0,4%

Crescimento da Economia - 2004

5%

US$26.900,00

Renda Per-Capita

US$4.925,00

78,3 anos

Expectativa de Vida

72,3 anos

0%

Taxa de Analfabetismo

13,5%

459 milhões

População

70 milhões

Fontes: CIA, UE/Eurostat, Banco Central Europeu e Embaixada da Turquia no Brasil

• União Européia

• Turquia

Dados comparativos entre UE e Turquia

Divulgação

08 - Internacional - Nagib 21.11.05 13:43 Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editora e diagramadora da página: Vanessa Nogueira

ESPORTE 9

Pedro BchecheGuilherme Barbosa

5º Período

Rogério Perez é chefe de redação e colunista do diário de esportes dojornal “Hoje em Dia”, onde está desde 1996. Nesta entrevista, ele fala so-bre assuntos que estão em todas as rodas de conversa dos torcedores.Dá suaopinião acerca da situação dos times mineiros, da apuração da mídia nosacontecimentos esportivos e ainda sugere soluções para os escândalos do fu-tebol. Rogério é polêmico ao tratar das denúncias de corrupção envolven-do a arbitragem.Para ele, não há máfia, escândalo do apito, e sim uma cons-tatação de uma corrupção sistêmica, algo que já ocorre há algum tempo.Perez é contra a anulação de apenas 11 jogos e tem uma postura radical comrelação ao que deve ser feito.“Acho que todo o campeonato deveria seranulado”.

Nem sempre atuando como jornalista esportivo, Rogério Perez come-çou sua trajetória no jornalismo no final da década de 60, no jornal Estadode Minas. Era uma época em que, segundo ele, as redações eram bastantediferentes. Ficou lá até 1986, quando foi para a Rede Globo de Televisão,onde trabalhou como editor de esportes da emissora, preparando os pro-gramas que iam ao ar e coordenando as coberturas esportivas.Nessa época,teve passagens por Brasília.Durante 15 anos, esteve na sucursal de Belo Ho-rizonte dos jornais “O Estado de S. Paulo” e “Jornal da Tarde”.Trabalhoutambém na TV Alterosa e na Radiobrás.

O PONTO – O futebol brasileirose vê envolvido em um escândalo decorrupção na arbitragem em meio aum campeonato. Como você avaliaesta situação?ROGÉRIO PEREZ – Para mim,não chega a ser um escândalo, e simuma constatação de uma coisa quejá existe. É mais ou menos igual àcrise que atribuíram ao Lula e ao PT.A crise da política não é de uma pes-soa nem de um grupo, e sim da po-lítica brasileira. No futebol aconte-ce o mesmo.Nessa área de vendas dejuizes envolvendo apostas, já tivemosuns cinco escândalos desse tipo, sóque não há, como agora, interesse deapurar. Se eu tiver autoridade e qui-ser envolver alguma pessoa em qual-quer coisa, eu envolvo, basta escutaruma gravação e atribuir a ela umaimportância que ela não tem. Edíl-son Pereira de Carvalho não é lou-co, ele é esperto, à sua maneira, masum espertalhão. Não há diferençaentre ele e o Armando Marques (ex-chefe de arbitragem da CBF).É cla-ro que sua atitude não foi ética,mo-ral.Agora, eu não sou idiota de acharque ele é o único juiz no Brasil quevende jogo.Não se pode ter a ilusãode que tudo é perfeito. Nada é per-feito, porque só o futebol seria per-feito? Diariamente recebo informa-ções de falcatruas no meio do fute-bol.Pode ser que sejam verdades,masnão se comprovam depois de se apu-rar. Há coisas que não há como se-rem apuradas, porque ninguém dárecibo quando comete ilicitude.Porque apenas 11 jogos são consi-derados contaminados?O PONTO – Você concorda com aanulação destes jogos?ROGÉRIO PEREZ – Eu achoque deveria acabar imediatamentecom todo o campeonato. Todo ocampeonato está comprometido.Maso torcedor é muito ingênuo, passio-nal. O torcedor do Cruzeiro, porexemplo, que pagou para ver a go-leada do Cruzeiro sobre o Botafo-go, jogo que foi anulado, foi nova-mente ao Mineirão pra ver se o ti-me goleava outra vez a equipe ca-rioca (o novo jogo realizado termi-nou empatado em 2 a 2). Isso nãofaz sentido.Se comprovadamente te-

ve algo arranjado, os times teriamque ser eliminados do campeonato.O PONTO – Mas ao que parece,não há times envolvidos diretamen-te nesse esquema.ROGÉRIO PEREZ – Comonão? Como vocês sabem? Não te-ve apuração nenhuma sobre isso.Quem vive no meio da jogatina fa-lava abertamente que não se acei-tava mais aposta do empresário Na-gib Fayad, que contratou o árbitroEdílson Pereira de Carvalho. NaAlemanha e na Itália tivemos casosde corrupção também neste ano.

Isso vai continuar existindo. Nãoserá anulando 11 jogos, eliminadoeste juiz do futebol e prendendo oapostador, que a corrupção acaba-rá. Ela vai continuar pois o futebolé atualmente o maior showbusinessdo mundo. É a única atividade deespetáculo na Terra que conseguetanto dinheiro.O PONTO – Como se resolver en-tão esta questão?ROGÉRIO PEREZ – Cance-

lasse o campeonato, a partir da 30ªrodada não tem mais. Para que nãoficássemos sem um campeão em2005, poderia se fazer um cam-peonato rápido, com um turno cor-rido, só para efeito legal, para se terum campeão e os rebaixados. Paraque não atrapalhe inclusive a má-quina que envolve o futebol, quenão pode simplesmente acabar.O PONTO – Qual o papel que aTV exerce no futebol e em todos es-tes casos?ROGÉRIO PEREZ – A TV de-ve ser a maior culpada de tudo is-

so. É sem dúvida a grande benefi-ciada com esta anulação dos jogos.Isso porque terão 11 jogos, dentreeles cinco ou seis clássicos. É umpay-per-view a mais. Embora di-gam que não será cobrado a parte,eu não acredito.O PONTO – Você acredita que acúpula da CBF pode estar envolvidaem corrupção? ROGÉRIO PÉREZ – O NabiAbi-Chedid, vice-presidente da

CBF, é um pilantra. Pode muitobem estar envolvido em corrupção,assim como Ricardo Teixeira e ou-tros dirigentes. Quando um timechamado grande começa a cair pa-ra a segunda divisão, se arranja umesquema para ajudá-lo. É um as-sunto muitas vezes de interesse pú-blico.Tem armação, claro que tem.O Brasil, por exemplo, vai ficar fo-ra de uma Copa do Mundo? Cla-ro que não, eles arrumam um jei-to. Podem até virar a mesa, comofizeram quando o Fluminense caiu.Há que se desconfiar deste povo.Até pouco tivemos a oligarquia dosFerreira, na Federação Mineira deFutebol (FMF). Eles eram conside-rados sumidades, figuras acima dequalquer suspeita.O PONTO – Trazendo a discus-são para dentro do campo, há doisanos, o futebol mineiro está mal,acumulando fracassos. Como você vêesta situação?ROGÉRIO PEREZ – O fute-bol mineiro está ruim. O Cruzeirodificilmente vai ganhar alguma coi-sa, porque quando um jogador sur-ge fazendo sucesso logo é vendido.Para um time ser bom, tem que terbons jogadores. Já o Atlético temum time fraco. O que está aconte-cendo com o futebol mineiro é fru-to de uma derrocada não só do fu-tebol, mas de Minas Gerais comoum todo, apesar desta fantástica pro-paganda em cima do governo doAécio Neves. Minas está para tráshá muito tempo, em todas as ativi-dades, e o futebol é o reflexo danossa sociedade que está estagnada.Mas isso não quer dizer que não es-tejam acontecendo coisas boas. OAtlético e o Cruzeiro, com relaçãohá 20, 30 anos, melhoraram muitoem termos estruturais.O PONTO – Como você avalia acobertura da imprensa esportiva mi-neira?ROGÉRIO PEREZ – Na mé-dia, a cobertura esportiva em Mi-nas é boa. Não há nenhuma aber-ração aqui. Perde-se para as cober-turas da mídia paulista e gaúcha porexistirem lá melhores condiçõeseconômicas para que haja inde-pendência.

Rogério Perez não mede palavras ao criticar o futebol brasileiro

“Não sepode ter ailusão deque tudo éperfeito.Nada éperfeito,porque só ofutebol seriaperfeito?”

“O futebol é,atualmente,o maiorshowbusinessdo mundo”

“Não vai seranulando 11jogos,eliminandoeste juiz dofutebol eprendendo oapostador,que acorrupçãoacabará”

“A crise dapolítica nãoé de umapessoa nemde umgrupo, e simda políticabrasileira.No futebolacontece omesmo”

“O futebolse tornou omaiorespetáculoda Terra eachar queserá puro,limpo emsuatotalidade ébobagem”

“EdílsonPereira deCarvalhonão é louco,ele éesperto, àsua maneira,mas umespertalhão”

“Há coisasque não hácomo seremapuradasporqueninguém dáreciboquandocometeilicitude”

“Nabi Abi-Chedid, vice-presidenteda CBF, é umpilantra”

“Por que apenas 11 jogos sãoconsiderados contaminados?”Jornalista Rogério Perez acha que todas as partidas envolvidas na máfia do apito devriam ser anuladas

Fonte: Veja On-line, Portal UOL

Camila Leite

1980 - Itália. Totonero era uma espéciede loteria esportiva na qual ganhavamapostadores indicados por uma rede demanipuladores de resultado. Com a de-núncia do esquema, a justiça italiana con-cluiu que a rede aliciou atletas, juízes edirigentes para manipular resultados dejogos. Paolo Rossi, carrasco do Brasil naCopa de 82, foi um dos jogadores envol-vidos e punidos pela justiça.

1982 - Brasil. A revista Placar publicouuma série de reportagens que jogou nalama a credibilidade do futebol brasilei-ro e da Loteria Esportiva. O escândalo fi-cou conhecido como a “Máfia da LoteriaEsportiva”. Segundo as acusações, umaquadrilha provocava resultados imprová-veis (a chamada zebra) e pagava propinaaos atletas dos times envolvidos.

1993 - França. O time francês Olympi-que de Marselha corrompeu árbitros e jo-gadores adversários para conquistar opentacampeonato nacional e a Liga dosCampeões da Europa. Os títulos foramcassados, o clube acabou na segunda di-visão e ainda foi suspenso de competi-ções européias.

1997 - Brasil. Gravações telefônicas re-veladas pela Rede Globo apontaram aexistência de um esquema de suborno deárbitros comandado pelo então diretor dearbitragem da CBF, Ives Mendes, mascom a participação de clubes. Os presi-dentes de Corinthians e Atlético-PR, Al-berto Dualib e Mário Celso Petraglia, fla-grados nas escutas, foram suspensos (ho-je, ambos seguem nos mesmos cargos).Mendes foi afastado do futebol.

2005 - Alemanha. Diversos árbitros fo-ram acusados de manipularem resultadosde jogos de divisões inferiores do Cam-peonato Alemão para uma quadrilha deapostadores ligada a loterias eletrônicasda Europa. A justiça alemã concluiu que oárbitro Robert Hoyzer foi subornado e oprendeu. Hoyzer confessou o crime e de-nunciou outros quatro juízes (um deles daFifa) e 14 jogadores de estarem envolvidoscom o esquema.

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09 - Esporte - Vanessa Nogueira 21.11.05 13:42 Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editora e diagramadora da página: Marina Tofani

10 CULTURA

SuavidadededilhadaUm banquinho, um violão...

A Bossa Nova completa 45 anos de pura melodia

Enzo Menezes2º Período

Um dos mais importantesmovimentos de renovação damúsica popular do Brasil, a Bos-sa Nova é um dos estilos maisinfluentes da música brasileirae o mais difundido no exterior.

O movimento se consoli-dou na década de 60, mas, ofi-cialmente, surgiu em 1958quando João Gilberto cantouChega de Saudade com umabatida de violão diferente. Nomesmo ano, com o disco “Can-ção do amor demais” gravadapor Elizeth Cardoso com par-ticipação de João Gilberto, e ex-clusivamente dedicado as can-ções da dupla iniciante Tom Jo-bim e Vinicius de Moraes, o rit-mo que viria ser conhecido co-mo Bossa Nova ganhou o Bra-sil.

A palavra ‘bossa’ que até en-tão era uma gíria carioca quesignificava jeito, modo, manei-ra, passa a designar algo maior,um novo gênero musical quesurgiu em oposição a tudo queum grupo de jovens considera-va superado. Estes jovens, se-

gundo Ruy Castro, em seu li-vro “Chega de Saudade”, bus-cavam por meio da composiçãoe interpretação, uma linguagemdiferente da que estavam acos-tumados. Uma maior integra-ção entre melodia, harmonia eritmo, letras mais elaboradas euma valorização da pausa e dosilêncio, além de uma maneiramais despojada e intimista decantar são as características, se-gundo o músico carioca Fer-nando Castro, daquele novoritmo, a Bossa Nova.“A Bossasurge como um novo trata-mento que se dá a uma músi-ca, em termos de batida e rit-mo”, explica o músico.

Com nomes do porte deCarlos Lyra,Tom Jobim, Ro-berto Menescal, Nara Leão,Vi-nicius de Moraes, João Gilber-to, entre outros, o movimentomusical ultrapassa as fronteirasda zona sul do Rio de Janeiroe conquista o Brasil, para de-pois ganhar o mundo em 1962,no concerto histórico no Car-negie Hall, em Nova York, queinternacionalizou a Bossa No-va como o maior ritmo brasi-leiro.

O documentário “Coisamais linda – História e casosda Bossa Nova”, do diretor mi-neiro Paulo Thiago, traça umpanorama a partir do depoi-mento de duas principais figu-ras do movimento musical,Roberto Menescal e CarlosLyra. O longa-metragem é umretrato do período concentra-do entre a instauração do ban-quinho e o violão nos aparta-mentos da zona sul da juventu-de carioca, no final da décadade 50, até 1962, quando os pro-tagonistas da Bossa Nova sereuniram no Carnegie Hall, emNova York, para um concertoque internacionalizou a batidasincopada própria do novo gê-nero musical brasileiro.

O diretor filmou depoi-mentos e apresentações de mú-sicos de diferentes gerações co-mo os pianistas João Donato eJohnny Alf e as cantoras AlaídeCosta e Joyce, além de jorna-listas, estudiosos e produtoresmusicais como Sérgio Cabral eNelson Motta. Junto a isso, fo-ram acrescentadas imagens eapresentações de época. Estematerial de arquivo, em algunscasos, bastante deteriorado uti-lizou grande parte do orça-mento de R$ 1,5 milhão paraser recuperado. Segundo PauloThiago, outra parte do orça-mento foi destinada ao paga-mento dos direitos autorais dasmúsicas usadas no filme.

Histórias e casos Através de ícones daquele

tempo como Tom Jobim, JoãoGilberto,Vinicius de Moraes eNara Leão, o documentário re-vela além de curiosidades, mui-tos casos e histórias sobre a Bos-sa Nova.Ainda oferece um pai-nel histórico, musical e infor-mativo sobre o movimento. Pa-ra Rodrigo Zavala, crítico decinema, ‘Coisa mais linda’ éuma produção de grande im-portância pois retrata o estiloresponsável por uma revoluçãona cultura musical brasileira.

Documentáriosobre o ritmocarioca

A efervescente juventudecarioca influenciada pelo im-proviso e a modernidade dojazz americano, ao tentar mis-turá-lo com as raízes do sam-ba criou o ritmo brasileiro maisconhecido no mundo. Nomescomo Frank Sinatra e StanKenton, influenciaram umgrupo de jovens responsáveispela revolução musical – rít-mica, melódica, vocal e poéti-ca- chamada Bossa Nova.

Este grupo de jovens, entreeles Ronaldo Bôscoli, NaraLeão, Roberto Menescal e vá-rios outros, buscavam uma re-novação na música popular , jáque os boleros exuberantes doscantores do rádio, como Vi-cente Celestino, não chamavammais a atenção. O preciosismode Silvio Caldas no samba tam-bém não agradava. A saída foio samba-canção, uma vertentedo samba dos morros, que comsua linguagem informal e te-mática ligada ao cotidiano in-fluenciou as letras simples e co-loquiais da Bossa.

Segundo Fernando Castro, amaior influência do movimen-

to, o jazz e suas formas de com-posição, em 1962, transformouum de seus clássicos em sucessomundial, Desafinado em versãoinstrumental pela dupla StanGetz e Charlie Byrd,mestres dogênero. No mesmo ano, a Bos-sa Nova ganha o mundo atravésdos palcos do Carnegie Hall, co-meçando assim as carreiras in-ternacionais de muitos músicos,como Tom Jobim,Oscar CastroNeves e João Gilberto, que apóso concerto se estabeleceram nosEstados Unidos.

Grandes nomes do jazz tor-naram se admiradores do ritmobrasileiro, como Dizzy Gillespiee Miles Davis que mostraramum interesse especial , além dagravação, em 1964, de um dosdiscos mais importantes e bemsucedidos do movimento,Stan/Gilberto, pelo saxofonistaStan Getz, acompanhado deTom Jobim, João Gilberto e suamulher,Astrud Gilberto.Algu-mas das principais músicas daBossa Nova foram regravadaspor ases como Ella Fitzgerald,Herbie Mann,Bill Evans e inú-meros outros.

Uma nova batida brasileira:samba e jazz juntos

Bossa Nova. 45 anosde história na MPB.

Divulgação

Capa do disco que reuniu brasileiros em Nova York.

Divulgação

Carlos Lyra em momento Bossa Nova na praia de Ipanema, cena do longa- metragem “Coisa mais linda”.

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O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editora e diagramadora da página: Renata Vaz

CULTURA 11

Feito aArtesanato pode se transformar em única fonte de renda, além de promover e divulgar arte e cultura

17 de Novembrodia da Criatividade

Para ser criativo, basta tersensibilidade para extrair omelhor em cada situação.

Peças criativasatraem públicodiversificado

O número de lojas sofistica-das de decoração que vendempeças artesanais cresceu muito.São todas as camadas sociais quese interessam pelo artesanato.

“O mercado para o artesana-to mineiro está se abrindo, po-dendo ser vendido em grandeslojas de decoração no Brasil e noexterior.”– alerta Roberto Silva,superintendente da Central Mãosde Minas.Roberto diz ainda queexistem muitos compradores in-ternacionais que vêm à MinasGerais para conhecer comuni-dades e importar peças direta-mente dos artesãos.

Muitas pessoas querem terpeças artesanais em suas casas ouno local de trabalho. Com isso,os artesãos que têm criatividadee talento sempre vão encontraro seu mercado.Um exemplo dis-so, é a artesã Leila Leite que fazpingüins de cabaça.O seu traba-lho é inovador e de qualidade,oque fez com que ela conseguis-se apreciadores e compradores desua arte em várias cidades do es-tado,como Ouro Preto,São JoãoDel Rey,Paraopeba e Pedro Leo-poldo; e também em São Pauloe na Amazônia.

Arte é esquecida no consumoEm 1969 grupo de intelec-

tuais que tinham o objetivo delevar a arte e a cultura para todasas camadas da população,criarama Feira de Arte e Artesanato deBelo Horizonte, a “Feira da Pra-ça da Liberdade”. Essa Feira foiuma verdadeira expressão de ummovimento cultural e artístico daépoca, fruto de um contexto his-tórico de manifestação e contes-tação à repressão da Ditadura, oqual faz com que logo no inícioa Feira passa a ser identificada po-pularmente como “Feira Hip-pie”, denunciando simbolica-mente uma postura de contesta-ção típica do Movimento Hip-pie americano.

Apenas em 1973 que a Feirafoi oficializada,passando a ser re-gulamentada pela Prefeitura deBelo Horizonte,que acatou a su-gestão do grupo de artistas e crí-ticos de arte que idealizaram aFeira.

Em 1991 ocorre a transfe-rência da Feira para a AvenidaAfonso Pena,a “Feira Hippie”daarte se transformou na feira doconsumo.Um dos elementos res-ponsáveis pela descaracterização

da Feira é o crescimento desor-denado do evento.Segundo da-dos de 2004 da Belotur,a Feira éa maior atração turística de BeloHorizonte, ela atrai cerca de 80mil pessoas, e movimenta umaparcela significativa do PIB da ca-

pital, cerca de 800 mil reais se-manalmente.

A Feira de Arte,Artesanato eProdutores de Variedades da Ave-nida Afonso Pena é o verdadeironome da “Feira Hippie”.Todas aspessoas que circulam na Feira,

nem sempre são consumidoras.“O belo-horizontino muitas ve-zes vai à Feira não para comprar,mas por curiosidade ou apenaspara preencher o lazer.”– diz Or-lins Pellegrini, artesão e um dosfundadores da Feira da Praça daLiberdade.

A “Feira Hippie” têm 2.608expositores.“Feiras como a daAfonso Pena são essenciais para adivulgação do trabalho do arte-são.”- diz a artesã Rosali Mila-gres.Rosali diz ainda que o con-tato com as pessoas de todo o ti-po é muito importante para o seutrabalho.“Cada gesto, todo com-portamento humano me inspirano momento da pintura. O queme toca em relação às cenas docotidiano é o que eu passo paraa tela.”- fala entusiasmada a arte-sã que tem o artesanato comofundamental para a sua vida.

O artesanato muitas vezes setransforma na única fonte de ren-da de uma família. Pela necessi-dade de viver apenas desse meio,muitas vezes, ele é feito apenaspensando em qual peça vendemais, deixando para trás a sensi-bilidade e a criatividade.

Peças artesanais de Leila Leite e Railda Alves: complementação no orçamento.

“Feira Hippie” tem um público estimado de 80 mil pessoas por domingo.

Daniela Venâncio6º Período

Viver da arte, do artesanato,tendo como principais matérias-primas a criatividade e a sensi-bilidade, não é fácil.“É necessá-rio muita persistência para che-gar a ter o artesanato como úni-ca fonte de renda.” – diz a arte-sã Railda Alves.

Railda aprecia o artesanatodesde criança, quando já faziabonecas e bordados.Há mais dedez anos,ela faz fachadas de igre-jas barrocas das cidades históri-cas, casarios antigos e fachadasde patrimônio histórico de Mi-nas e do Brasil, feitas com gesso-pedra e pintadas à mão. O seutrabalho é divulgado e comer-cializado pelo país com a ajudada ong Central Mãos de Minas.“O trabalho da ong é funda-mental para a maior divulgaçãodo meu trabalho”.– afirma a ar-tesã. Hoje ela consegue viverapenas com a comercialização desuas peças.

A ong Central Mãos de Mi-nas presta serviços para tirar o ar-tesão da informalidade, apóia osartesãos com atividades nas áreasde legalização de vendas, centralde compras, central de exporta-ção e comercialização. Hoje elaconta com mais de 7 mil arte-sãos mineiros.“É super impor-tante divulgar o artesanato mi-

neiro pois com isso aumentamosa venda, aumentando a renda doartesão e divulgando assim o Es-tado. Ganha o Estado e princi-palmente o artesão”. – diz Ro-berto Silva, superintendente daCentral Mãos de Minas.

Há 15 anos, a Central Mãosde Minas e o Instituto CentroCape (Instituto Centro de Ca-pacitação e Apoio ao Empreen-dedor - departamento de trei-namento de artesãos) realizama Feira Nacional de Artesanato.A ong Central Mãos de Minaspromove a Feira Nacional de Ar-tesanato nos dias 22 e 27 de no-vembro,no Expominas.Além demovimentar o turismo da capi-tal mineira,com a chegada de 10mil turistas, a XVI Feira Nacio-nal de Artesanato também vaigerar benefícios para a econo-mia local, com a criação de 2,5mil empregados temporários.AFeira vai contar com a presençade 7 mil artesãos de todo o Bra-sil, da Indonésia, Paquistão, Bo-lívia, Quênia, Peru, Uruguai eÍndia.

Os apreciadores do artesa-nato ainda têm muito que des-cobrir sobre a criatividade, adiversidade e a beleza dos tra-balhos dos mineiros. Cada pe-ça tem a sua particularidade edivulga muito bem a arte e acultura.

Colaborou: Renata Vaz

“O maiornúmero deprodutoresculturais deartesanato estãoconcentrados emBelo Horizonte.”

Orlins Pellegrini, artesão e um

dos fundadores da Feira da

Praça da Liberdade.

Divulgação

Arquivo pessoal

Renata Vaz

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O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

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12 MEIO AMBIENTE

Flora Libânio2º Período

O governo federal se pre-para para lançar a transposiçãodo rio São Francisco, que con-siste em enviar as águas do riopara abastecer o sertão do Nor-deste.A discussão existe desdeo século XVIII, quando DomPedro II era imperador e nova-mente vem à tona, quase umséculo e meio depois, ainda semnenhum consenso.

O projeto da transposição tempor objetivo a utilização das águasdo rio para a perenização de riose açudes da região nordeste, du-rante os períodos de estiagem.Osestados beneficiados seriam Pa-raíba, Rio Grande do Norte eCeará,daí a explicação que os po-líticos desses estados estarem de-fendendo o projeto.Por outro la-do,os políticos de Minas Gerais,Bahia,Alagoas e Sergipe não oaceitam bem,pois demonstram-se preocupados com os efeitos emseus respectivos estados e muni-cípios.Além disso, muitos técni-cos no assunto acreditam que orio não oferece condições paraatingir tal objetivo, pois o nívelde água é baixo e o caminho queás águas seguirão é relativamentealto, não atingindo os objetivosdo projeto,além de deixar as po-pulações ribeirinhas de Minas eBahia sem água.A transposiçãotambém levará muito tempo pa-ra ser realizada.Tal contradiçãogera indícios de que o projeto émascarado de ação social,mas na

verdade quer beneficiar planta-ções de políticos.

De acordo com especialistasambientais, a primeira coisa a serverificada para realizar a trans-posição é se existe água suficien-te e,principalmente,para que elaserá usada. Há também os pro-blemas ambientais do São Fran-cisco, como o assoreamento e apoluição, que se intensifica emMinas Gerais e na Bahia. Para aexecução é necessário que hajaum levantamento sobre a sus-tentabilidade da transposição e,principalmente,que seja realiza-do um projeto consistente sobreos possíveis impactos ambientais.

Atual situação do rioO Rio São Francisco possui

cerca de 634.000 km2 e abran-ge seis estados (Bahia,Minas Ge-rais, Pernambuco, Goiânia,Ala-goas, Sergipe) e o Distrito Fe-deral. Sua bacia é composta por504 municípios, atende cerca de14 milhões de pessoas e é res-ponsável por 17% da energiaelétrica produzida no país.

A situação atual do rio não épositiva. Ele é bastante poluídopor resíduos minerais, industriaise domésticos, sua cobertura ve-getal foi reduzida por supressãodas matas ciliares e do topo. Ovolume de água infiltrada é re-duzida, e ao mesmo tempo emque há pouca água é disponível,ocorrem inundações, pois nãohá espaço para a água devido aoassoreamento e a mata ciliar.

O Ibama enviou ao governo

federal um projeto de revitaliza-ção do rio,que,na opinião do en-genheiro agrônomo responsávelpelo projeto, Sérgio Luis Ferrei-ra, seria muito mais eficaz e me-nos custoso que a transposição.

A revitalização é um proje-to que surgiu em 2001 e agoraé um programa.Tem por obje-tivo a recuperação de lagoasmarginais. Se aprovado em Bra-sília, os recursos serão liberadosao Ibama ainda este ano.

Perguntado sobre a transpo-sição,Sérgio afirma que a quan-tidade de água que será retira-da, 25 cm3, além de ser insufi-ciente, tem destino duvidoso,apesar do projeto constar a me-lhoria das condições sociais.

Edmar Araújo, geólogo doIgam (Instituto Mineiro de Ges-tão das Águas), também é con-tra a transposição e acredita quea proposta não será atingida.“Odinheiro desse projeto será malempregado, e a água por si sónão gera riqueza e nem acabacom a seca.

Acredito em outras alterna-tivas-como a revitalização e sa-neamento básico de água e es-gotos- para atender as popula-ções ribeirinhas, que são pobrese precisam dessa água”.

A situação do rio pode pio-rar após a transposição. O im-pacto ambiental será intenso eprovocará a vazão do rio SãoFrancisco, que por sua vez levaa salinização da foz.Então,a águado mar será mais forte e aden-trará ao rio.

Cachoeira Casca Danta, nascente do Rio São Francisco, na Serra da Canastra (MG)

O primeiro projeto de trans-posição do São Francisco surgiudurante o reinado de Dom Pe-dro II.Foram contratados enge-nheiros estrangeiros para desen-volverem um desvio na divisaentre Pernambuco e Bahia, mascomo a tecnologia da época erainsuficiente para superar o rele-vo acidentado da Chapada doAraripe, foi apenas construído oaçude do Cedro, no Ceará.

Durante a década de 50, oengenheiro italiano,Mário Fer-racuti, apresentou seu projeto detransposição, que tinha comoobjetivo construir uma barra-gem perto de Cabrobó,em Per-nambuco, de onde a água seria

bombeada até o Ceará, Paraíbae Rio Grande do Norte. Masnão foi possível concretizar oplanejado,pois o engenheiro re-cebeu muitas críticas na época.

No ano de 1983 o ministroMário Andreazza apresentou suaidéia, até então a mais consis-tente, mas teve seu projeto es-quecido. Em 1993,Aloísio Al-ves reabriu a discussão, com aidéia de retirar até 150 metroscúbicos por segundo de água dorio São Francisco.Os beneficia-dos seriam o Ceará e o RioGrande do Norte. Os paraiba-nos Cícero Lucena e FernandoCatão, quando ocuparam a Se-cretaria Especial de Políticas Re-

gionais, redesenharam o proje-to de Aloísio, incluindo duastransposições para levar água aoestado da Paraíba.

Com um projeto menor,avaliado em US$ 1 bilhão e queaproveita um pouco das expe-riências anteriores,o ministro daIntegração Nacional do gover-no de FHC, senador FernandoBezerra, tentou mais uma vez oretorno do sonho da transposi-ção.O plano foi bastante discu-tido na época, e continua sen-do, mas a crise energética de2001, causada pelo baixíssimonível do São Francisco e outrosrios do país, acabou dificultan-do o andamento do processo.

Discussão vem desde aépoca de Dom Pedro

A maioria dos técnicos noassunto é contra a transposição.É o caso de Renata Filipe Sil-veira,bióloga e professora de en-genharia ambiental.“A situaçãodo rio é miserável.As hidrelétri-cas contaminam as águas e im-pedem o desenvolvimento dascomunidades biológicas, o quedeixa o rio parado e provoca de-sequilíbrio nos ecossistemas lo-cais”. Renata alega que a trans-posição diminuirá a vazão deágua e a energia cairá.

Paula Balabram, engenheiracivil, fica “em cima do muro”.“Eu seria a favor se o projetorealmente cumprisse os objeti-vos propostos. Porém, sabe-se

que o histórico de obras do Bra-sil não foi satisfatório, com issosou contra”, afirma.

Ainda podemos observar umacerta insatisfação por parte de es-tudantes.Ludimila Carmo da Sil-va, estudante de administraçãoambiental demonstra sua opinião.“Somos contra porque poderiamser usadas alternativas mais bara-tas e eficientes como a explora-ção dos açudes alinhada a pro-gramas sociais que lidam com aquestão de equacionamento hí-drico”, comenta.

Patrícia Paula Leite, tambémaluna de administração ambien-tal, acrescenta que a transposi-ção pode acarretar danos irre-

versíveis para o meio ambiente,tais como a extinção de espéciesanimais e vegetais.

Renata Filipe acredita que assisternas poderiam solucionar afalta de água, são mais acessíveise poderiam ser providenciadaspelo Estado e Ong´s ligadas aomeio ambiente.

As alternativas mais viáveis se-riam a revitalização do rio, paraconsertar os danos do assorea-mento e contaminação, a dessa-linização da água, a plantação dematas ciliares,a construção de es-tações de tratamento de esgotose, claro, a conscientização am-biental da população para evitara poluição no rio.

Com o objetivo de acabar com a seca nonordeste, projeto passa por dificuldades e ainda

não tem data prevista para início das obras

TRANSPOSIÇÃODO RIO SÃOFRANCISCO

O Rio São Francisco pode sofrer consequências irreversíveis com a transposição

Soluções para o problema

Victor Schwaner

Arquivo IEF

Consequências sócio-ambientais do projeto:

• cerca de 3.500 pessoas serão remanejadas e reassentadas;

• ampliação de riscos sócio-culturais (comprometimento do patrimônioarquológico e interferência em comunidades indígenas);

• perda e fragmentação de cerca de 430 hectares de áreas com vege-tação nativa e fauna terrestre.

• perda de capacidade de geração de energia (cerca de 137 megawattsdeixarão de ser gerados pelo sistema);

Fonte: Ministério da Integração Nacional

12 - Ambiente - Luísa Gomes 21.11.05 13:41 Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editor e diagramador da página: Rodrigo Mascarenhas

SAÚDE 13

Daniela de Castro5º Período

O verão se aproxima e a esta-ção mais quente do ano tambémpode significar perigo.Segundo aconsultora do Programa Nacionalde Combate à Dengue (PNCD),Jussara Versiani,a dengue é consi-derada um dos principais proble-mas de saúde pública do mundo.Para evitar o avanço no númerode casos,a Organização Pan-Ame-ricana de Saúde (OPS), ligada aOrganização Mundial de Saúde(OMS),lançou em 2003 o proje-to Combi, "um processo de pla-nificação para a comunicação emobilização social para a preven-ção e controle da dengue", queano passado começou a ser im-plantado no Brasil.

Segundo a consultora em co-municação Mônica Prado o de-safio do projeto é fomentar no in-divíduo e na comunidade a in-corporação de práticas de condu-ta que permitam um impacto noaspecto social,mesmo que em lon-go prazo.Para a também consul-tora Linda Lloyd, "haverá impac-to no comportamento somente seutilizarem programas de comuni-cação efetivos,cujas metas se diri-jam à integração multidisciplinarde educação em saúde".

O Estado de Johor, na Malá-sia,foi pioneiro na experiência daaplicação do Combi no combateà dengue. O projeto piloto, pro-posto pela OMS, iniciou-se emjulho de 2001,e teve um custo ini-cial de US$100 mil. O Combipropôs a inspeção da casa pela fa-mília uma vez por semana,durante30 minutos,o tratamento imedia-to para qualquer cidadão que apa-recesse com febre e a formação degrupos voluntários para inspecio-nar as áreas vizinhas.Com o pro-grama, o número de casos mos-trou uma tendência decrescenteem áreas onde a mobilização so-cial foi mais intensa.

No Brasil, o Combi foi im-plantado em São Luís,Porto Ale-gre, Sobral, no Ceará e em Ibiri-té, na Região Metropolitana de

Belo Horizonte.A cidade,que es-tá situada na Zona Metalúrgica deMinas Gerais e conta com umapopulação de quase 160 mil habi-tantes, já vivenciou duas epide-mias, em 1998 e 2001.

Favela Vila IdealDe acordo com o gerente de

controle de zoonoses da Secreta-ria de Saúde do município,Catu-lino Versiani, o bairro escolhidopara iniciar o projeto piloto é a fa-vela Vila Ideal,que possui aproxi-madamente 18 mil habitantes e al-tas taxas de incidência de dengue.Este bairro vem apresentando omaior índice de infestação pelomosquito transmissor nos últimostempos e tem como depósito pre-dominante a caixa d'água. "A es-tratégia de comunicação para mu-dança de comportamento no con-trole da doença é realizada entreos moradores que não possuemtampa, mas que podem comprá-las,e também para aqueles que nãopodem comprá-las",esclarece Ver-siani.

As ações se baseiam na for-mação de uma equipe de campomultidisciplinar que visita os do-micílios;da equipe "Saúde da Fa-vela", que incentiva o fechamen-to das caixas d'água e de materialpublicitário,que é distribuído nosestabelecimentos comerciais.Há,também, lembretes nas contas deágua,luz e telefone e atividade nasescolas,a fim de abordar a impor-tância do projeto na prevenção datransmissão da enfermidade. "Pa-ra as pessoas carentes que não po-dem comprar as tampas, a Admi-nistração Municipal fornece o ma-terial", conclui o responsável.Pa-ra Catulino, o mais difícil para aexecução do Combi é que a Vilaapresenta alto índice de violência,diretamente relacionado ao tráfi-co de drogas, o que dificulta oacesso de pessoas que não são dacomunidade. De acordo comCláudia Gontijo, há grande ex-pectativa quanto à realização doprojeto em outras cidades de altaincidência da infecção, como é ocaso de Belo Horizonte.

Comunicação e mobilizaçãosocial são medidas paraprevenção da doença

Mosquitos domésticosproliferam pelo Brasil

A Organização Mundial deSaúde (OMS) estima que cercade 80 milhões de pessoas se in-fectam anualmente pelo vírus dadengue em todos os continen-tes,exceto na Europa.Dessas,cer-ca de 550 mil são hospitalizadase, pelo menos, 20 mil morremem decorrência da enfermidade.O mosquito transmissor, AedesAegypti, que foi erradicado emvários países do continente ame-ricano nas décadas de 50 e 60,retorna na década de 70,"por fa-lhas na vigilância epidemiológi-ca e pelas mudanças sociais e am-bientais propiciadas pela urbani-zação acelerada dessa época",des-taca Jussara Versiani.Ela acrescentaque o Aedes é encontrado,atual-mente,numa larga faixa do con-tinente americano,que se esten-de do Uruguai até o sul dos Es-tados Unidos, com registro desurtos significativos na Venezue-la, Cuba, Brasil e Paraguai.

Segundo a assessoria de im-prensa da Secretaria de Vigilân-

cia em Saúde (SVS), órgão liga-do ao Ministério da Saúde, em2005,até o mês de setembro, fo-ram notificados quase 160 milcasos de dengue no Brasil. Umaumento de 70% no número denotificações,quando comparadocom o mesmo período em 2004."Esse aumento se deve à dificul-dade de erradicar um mosquitodomiciliado e, também, à possi-bilidade de ocorrência de falhasnas ações do Programa Nacionalde Combate à Dengue (PNDC)em alguns municípios.", afirmao secretário de Vigilância emSaúde, Jarbas Barbosa.

PrevisõesO governo federal tem um

gasto estimado em quase R$ 1bi-lhão por ano, quando computa-dos todos os custos com oPNDC.O secretário confirma asprevisões de que no Brasil,de ja-neiro a junho, há o risco deocorrer uma epidemia de den-gue. "Até termos uma vacina,

nunca estaremos livres desse pe-rigo, por isso não podemos bai-xar a guarda", conclui Barbosa.

O biólogo Evandro FreitasBouzada afirma que o mosqui-to,que se multiplica na água lim-pa, tem preferência por lugarescomo os lixos das cidades,garra-fas, latas,pneus,caixas d'água, to-néis e vasos de plantas. SegundoBouzada, "as atividades de pre-venção da dengue perpassam osetor saúde e necessitam ser arti-culadas com outras políticas pú-blicas, como a limpeza urbana, aconscientização e a mobilizaçãosocial,para que a população man-tenha o ambiente livre da pre-sença do mosquito".

O médico veterinário Aloy-sio Nogueira, que trabalha emsaúde pública há mais de 10 anos,destaca que a incidência da den-gue se deve também "à recenteintrodução de um novo soroti-po, o DEN-3, para o qual, umagrande parcela da população ain-da permanece susceptível".

A dengue é uma doença fe-bril aguda, de natureza viral, ca-racterizada em sua forma clássi-ca por dores musculares e arti-culares intensas. Segundo o mé-dico João Berto, responsável pe-lo treinamento da equipe mul-tidisciplinar de combate à viro-se do município de Santa Luzia,situado na Região Metropolita-na de BH,o vírus possui quatrosorotipos: DEN-1, DEN-2,DEN-3 e DEN-4. "A infecçãocausa desde a forma clássica à fe-bre hemorrágica da dengue.Naprimeira, a letalidade é baixa ena segunda é significativamentemaior", afirma o médico.

Desde 1986, vários estadosdo Brasil apresentam epidemiasde dengue clássica, com isola-mento do vírus DEN-1 eDEN-2. O veterinário AloysioNogueira relata que a doençapode se confundir com outrasque também se manifestam porfebre hemorrágica, como a lep-tospirose e a febre maculosa.Elelembra que o Aedes transmitetambém a febre amarela, doen-ça febril aguda,de gravidade va-riável, encontrada no país.“Porsua estreita associação com o ho-mem, o vetor é essencialmenteurbano e quando em repouso,é encontrado em quartos, ba-nheiros e cozinhas”.

Medidas da FunasaAtualmente,a Fundação Na-

cional de Saúde (Funasa) adota autilização de produtos químicosou biológicos no combate ao ve-tor, através da aplicação de inse-ticidas. Em casos de epidemiaprega-se a aplicação de insetici-das a baixíssimos volumes, parapromover a rápida interrupçãoda transmissão da infecção, asso-ciada a mutirão de limpeza e eli-minação de depósitos de água pa-rada."As pessoas que apresentamalguns dos sintomas da denguedevem procurar atendimentomédico para exames confirma-tórios e instituição de tratamen-to adequado", conclui Berto.

Formas dainfecçãocaracterizamsua gravidade

Consultora do PNCD menciona os perigos da doença

Daniela de Castro

Centro de treinamento para o combate da dengue impulsiona o projeto Combi

INFORMAÇÃO no combate à

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

Caixas d’água são os alvos preferidos para a proliferação dos mosquitos

DENGUE

13 - Saúde - Rodrigo Élcio 21.11.05 13:40 Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editor e diagramador da página: Mariza Procópio

14 COMPORTAMENTO

Daniel Carlos6º Período

“O grande vírus de nossotempo é a pobreza nas relaçõesafetivas, que são pouco estrei-tas”.Assim, o psicólogo VivaldiSalomon define o motivo prin-cipal pelo qual tantas pessoas,principalmente jovens, passamvárias horas todos os dias emfrente ao computador jogando.Ou seja, neste início de séculomarcado pelas novidades tecno-lógicas que deveriam possibili-tar o crescimento e facilitar a vi-da das pessoas,o que pode acon-tecer é justamente o contrário.O exagero no uso de tais tec-nologias é uma realidade na so-ciedade globalizada. Hoje, umjovem de Belo Horizonte podejogar em tempo real com umamigo em Tóquio,por exemplo.Graças à modernidade isto épossível, o problema é quandoestes jogadores ultrapassam os li-mites aceitáveis.

O estudante de direito,Bru-no Augusto, se confessa preocu-pado com o vício cibernético.“Às vezes, quando não jogo, te-nho sensação de abstinência. Jádeixei de sair várias vezes paraficar em casa jogando”, afirma.Ele joga, em média, três horaspor dia, podendo chegar a dezhoras nos finais de semana. Suahistória não é diferente da de vá-rias pessoas da capital.Os jovensde até vinte e cinco anos são osque mais freqüentam as lan-hou-ses (locais onde se paga para jo-gar ou acessar a internet), é oque afirma Marcos de Oliveira,que trabalha na franquia da re-de Monkey.

Para Vivaldi Salomon, estesjovens que passam mais tempoem lan-houses que em casa -mes-mo tendo a possibilidade de jo-

gar no próprio lar- usam os jo-gos justamente como uma ma-neira de suprir as precariedadesafetivas, como uma maneira devetar suas próprias verdades.“Anecessidade de se expor, o me-do de conversar; as pessoas estãose fechando por falta de comu-nicação.Além disso,essa nova ge-ração tem desprivilegiado asgrandes artes em detrimento dasnovas tecnologias, que são alta-mente sedutoras”, explica.

Um exemplo é o jogadorconhecido como Sic, que,mes-mo possuindo infra-estruturapara jogar em casa, gasta entreR$600 e R$700 por mês emuma lan-house.“Ele vem aqui to-dos os dias, joga no mínimo cin-co horas, inclusive nas madru-gadas dos finais de semana”, dizRafael Teixeira,o Ninja,que tra-balha com Marcos Oliveira na

maior casa de jogos cibernéti-cos da cidade. Sic, que estava jo-gando, não quis conversar coma reportagem de O Ponto. Opreço médio da hora nestes lo-cais é de R$3,00, valor acessívelaos jovens que circulam na re-gião. “É comum adolescentesmatarem aula para vir jogaraqui”, confirma Ninja.

Outras pessoas já preferemjogar em casa. O casal de na-morados Carolina Debrot eGustavo Castro são acionistas(assinantes) do Ragnarok. “Agente brinca que é vício. Mui-tas vezes deixei de sair com ami-gos para jogar à noite”, contaCarolina, que joga pelo menostrês horas por dia e pagaR$15,90 por mês pelo jogo.Pa-ra Gustavo, jogar é um progra-ma de casal.“Apesar de prefe-rirmos jogar em casa, devido à

comodidade, muitas vezes pas-samos em uma lan-house após ir-mos ao cinema.O jogo é atraen-te, é um novo universo”, afirma.

MercadoNa Savassi há cerca de três

anos, a lan-house Monkey foiuma das primeiras a sereminauguradas na cidade.Em 2001havia apenas uma. Hoje, só naregião existem cinco. Este rá-pido crescimento se explica pe-la grande popularidade dos jo-gos cibernéticos. Alguns fre-qüentadores, mesmo possuin-do computador e internet emcasa, jogam por até vinte horasseguidas nestes locais. “Temgente que chega aqui às quatroda madrugada para comprarcartões que possibilitam passarde nível em jogos de RPG on-line, como o Ragnarok”, co-

menta Oliveira. O funciona-mento destes cartões é muitoparecido com os de recarga decréditos para celular. O preçopode variar de R$10 a R$49.Henrique Lommez, dono daprimeira lan-house de BH, tam-bém confirma que o públicoprincipal da loja é formado porjovens.“Os adolescentes são osque mais freqüentam a loja”.

O maior mercado para jo-gos eletrônicos do mundo é aCoréia do Sul. Neste país oscampeonatos chegam a ser te-levisionados e prêmios milio-nários são distribuídos aos ven-cedores, mas muitos pagam oônus desta grande febre. Para seter idéia, na década de 90 umcoreano morreu após passar 50horas praticamente na mesmaposição jogando.Algumas ho-ras após sofrer uma trombose

na perna, o jovem teve uma pa-rada cardíaca e não resistiu.

Histórias como esta são bemconhecidas dos adeptos dos jo-gos.“Tem uma senhora,com cer-ca de 50 anos, que vem todos osdias,passa a madrugada inteira jo-gando ‘buraco’em rede.Eu mes-mo já deixei de fazer muita coi-sa, pois passava 18, 19 horas jo-gando, por isso sempre trabalheiem lan-house”, comenta Ninja.

AlertaO excesso de tempo dedica-

do aos jogos pode gerar dificul-dades de relacionamento,déficitintelectual gradativo, além deabrir uma grande lacuna na pers-pectiva de futuro.“O jogo é se-dutor, gera falso glamour. Mui-tas pessoas têm dificuldades defalar de seus medos, é mais fá-cil estar diante do que não sevê”, alerta Vivaldi. Para ele, ofato de tantos adolescentes sedivertirem mais com os jogosque com outras atividadespreocupa.“Muitos jovens nãoquerem estudar, não se preo-cupam com o crescimento in-telectual, também não querempraticar esportes. O esporteque praticam é cibernético”.

Algumas lan-houses oferecempacotes chamados corujão, paraadeptos que jogam de madru-gada.O freguês que escolhe es-te tipo de pacote paga menosque nos outros horários para jo-gar das 11 da noite às 6 da ma-nhã. Menores de 18 anos nãopodem jogar nestes horários.Crianças de até dez anos só po-dem entrar nas lojas até as 6 ho-ras da tarde, acompanhadas dospais ou responsáveis, e as de deza 12 anos só entram até as seishoras da tarde.A lan-house quenão respeitar essas normas podeser multada e perder o alvará.

VÍCIOCIBERNÉTICOO excesso nos jogos virtuais interfere na vida dos jovens,o que gera dificuldades de se relacionar, de lidar com seus medos

Lan-houses abertas em BH

2003 2004 2005**até o mês de outubro

15

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font

e:P

BH

Falta apoio aos profissionaisMuitos jogadores que pas-

sam horas “a fio” frente uma te-la de computador encaram asaventuras como uma profissão.Pedro Rocha, 23 anos, conhe-cido como Soja, disputou vá-rios campeonatos desde 95 eganhou muitos deles. Mesmoassim, afirma que o apoio aosjogadores mineiros ainda é pe-queno. “Em São Paulo e emCuritiba, que são os melhoresmercados do país, as equipes deponta são patrocinadas pormultinacionais, o que nãoacontece aqui”.

Algumas equipes da capitalrecebem o apoio das lan-housesmais estruturadas.“Aqui em BHnenhuma equipe ganha dinhei-ro,o que se recebe são horas pa-ra treinar e as viagens para dis-puta de campeonatos”, contaSoja, que é penta campeão mi-neiro e campeão brasileiro deQuake. Para ele, as equipes da-qui ainda não têm nível para dis-putar com os grandes centros.

“Para se ter uma idéia, um pro-fissional em São Paulo ganha emmédia R$2500, além do patro-cínio das viagens”.

Muitos profissionais não es-tão isentos dos problemas queo exagero pode causar. Soja, quevenceu com sua equipe setecampeonatos regionais deCounter Strike, jogo de mirabaseado na estratégia das equi-pes, afirma que as exigências pa-ra ser um profissional são mui-tas. “Parei de estudar por umano, pois jogava, em média, 16horas por dia. A maioria dosprofissionais é tão viciada queaté as conversas deles giram emtorno dos jogos”.

Soja não joga mais.De acor-do com ele, a diversão deu lu-gar ao profissionalismo, o quenão estava em seus planos. Eleadmite que é complicadoquando os jogos se tornam ex-cessivos, pois começam a atra-palhar as atividades sociais, pro-fissionais e a saúde. Pedro (Soja) já competiu em campeonatos regionais.

Arquivo pessoal

Lorena Campolina

Jovens vidrados

em jogos virtuais

proporcionados

por lan-house

14 - Comport - Mariza Procópio 21.11.05 13:39 Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editor e diagramador da página: Olavo Botelho

FUMEC 15Debate desmistifica o antigo tabu

Psiquiatra Aluísio Andrade discute com estudantes da FCH a discriminalização da maconha

Aluísio Andrade costurou um debate maduro e esclarescedor no auditório Phoenix.

Eduardo Roedel6º Período

A Semana da Comunicaçãopromovida pela FCH realizoudiversas atividades pedagógicas,entre cursos, debates, grupos deestudo e palestras. Um dos des-taques da programação foi o de-bate sobre a descriminalizaçãoda Cannabis Sativa, mais co-nhecida como maconha, queaconteceu no Espaço Phoenix,no dia 26 de outubro.A ativida-de foi ministrada pelo psiquia-tra Aluísio Andrade, e foi dirigi-da aos alunos de ComunicaçãoSocial e Psicologia.

Aluísio, que é especialista noestudo de substâncias psico-ati-vas, iniciou sua fala com um his-tórico da legislação de entorpe-centes no Brasil. O palestranteevidenciou as falhas dessa lei,que não determina a quantida-de de maconha que distingue ousuário do traficante, deixandoque os juízes decidam de formasubjetiva e quase aleatória.“Ou-tra dificuldade é que não pode-mos colocar no mesmo balaioquem fuma maconha e quemusa, por exemplo, cocaína oucraque.”Ele ressaltou também ofato de que o tráfico de drogasé considerado crime hediondopela lei, que inclui no artigo vá-rios verbos que freqüentemen-te são praticados por usuários,como plantar, transportar e for-necer gratuitamente.“Quantosindivíduos, que de algum mo-do se envolveram com certa

quantidade de maconha, têmsuas vidas arruinadas com con-denações de até quinze anos deprisão, sem que tenham ganha-do sequer um centavo como tra-ficantes de drogas?”.

Além da questão legislativa,Aluísio Andrade abordou tam-bém o uso de maconha e outrasdrogas sob o aspecto psiquiátri-co. Explicou o “vazio interior”causado pela dualidade do ser, eas diversas formas procuradas pe-lo homem para tentar preencheresse vazio.“Todo ser humano jánasce pré-dependente químico.E quando encontra algo que odesvie da sua consciência nor-mal e entediante, ele tem a ten-dência de ser apegar à essa coi-sa. Seja ela droga, sexo, comida,dinheiro, poder, conhecimentoou Deus”. Segundo ele, a ma-neira mais eficaz de lidar comisso é estar coerente com suasidéias e atitudes.

Apesar de considerar positi-va a ampliação de percepçõesproporcionada pela maconha,Aluísio alertou a platéia para seusmalefícios: usada freqüente-mente, a maconha causa perdade memória, queda na capaci-dade de concentração e apren-dizagem, dependência, falta demotivação e depressão, além dosprejuízos no sistema respirató-rio causados pela fumaça inge-rida. Indagado pelos alunos pre-sentes,Aluísio Andrade revelouque é a favor da legalização damaconha, porém com a restri-ção de uso em locais públicos.

Estudantes do ensino médio movimentam as instalacoes do Campus I da Universidade Fumec

Mostra Fumec 2005 integraestudantes e profissionais

João Marcelo Passos6º Período

Entre os dias 24 e 28 de ou-tubro, a Universidade Fumecabriu suas portas à comunidadeatravés da segunda edição daMostra Fumec. O evento foicriado com o objetivo de fazera indispensável ponte entre aformação acadêmica e o merca-do de trabalho, e é também umaoportunidade para que os alu-nos do ensino médio conheçama universidade antes do vestibu-lar. Durante a semana da Mos-tra 2005, uma ampla e atualiza-da programação movimentou oCampus I da Universidade: noGinásio, os alunos dos colégiosvisitantes puderam se informarsobre cada um dos 26 cursos degraduação oferecidos pela Uni-versidade Fumec nos estandesmontados pelos próprios alunosdos cursos, que relatavam suasexperiências e apresentavam umpouco da realidade de cada pro-fissão. Para os interessados, umteste vocacional ajudou a orien-

tar quem ainda não decidiu emqual área do conhecimento es-tudar.Na Área de Convivência,estandes de empresas de reno-me se apresentavam e recebiamcurrículos de estudantes de to-do o estado, tornando o elo en-tre a teoria e a prática mais es-treito.Ali aconteceram tambémas exposições de arte, apresenta-ções de dança, ginástica, showse novos talentos que entreteramos visitantes.Na FCH e na FEA,diversas palestras, oficinas, deba-tes e cursos resultaram numaprogramação cultural ampla evariada para os alunos de cadafaculdade.

Paralelamente à Mostra Fu-mec 2005, a Semana Pedagógi-ca do Curso de ComunicaçãoSocial realizou atividades im-portantes para os estudantes daárea, como as palestras que revi-sitaram Marx, um debate sobrea descriminalização da maco-nha, discussões sobre tópicos dearte, grupo de estudos de au-diovisual, entre outros.A Mostra serviu também uma

atividade prática para os alunosde jornalismo que participaramda cobertura do evento.Após conhecerem as instalaçõesda Universidade Fumec e seuscursos de graduação, os alunosdos diversos colégios que esti-veram presentes na Mostra tive-ram também a oportunidade dese inscreverem com descontopara o Vestibular 2006.

A Mostra Fumec 2005 pa-rece ter cumprido seus objeti-vos:“Achei muito interessantevisitar e conhecer a universida-de antes mesmo do vestibular.Aproveitei a oportunidade parafazer um teste vocacional, e achoque estou mais certo do quequero fazer da minha vida”, afir-ma Rodrigo Cançado, 17 anos,estudante do terceiro ano do en-sino médio.O certo é que, nes-te espaço voltado para o incen-tivo ao conhecimento, a infor-mação de qualidade marcou omomento de integração entreestudantes do ensino médio, doensino superior e de profissio-nais de diversos segmentos.

Cobertura emmídia convergente

Daniel Rabello6º Período

A Mostra Fumec 2005 teveum significado especial para osalunos do curso de Comunica-ção Social com habilitação emJornalismo:pela primeira vez,oslaboratórios de diferentes mídiasdo curso de jornalismo traba-lharam de forma integrada, rea-lizando a cobertura da Mostraem mídia convergente. Isso sig-nifica que o material produzidopelos estudantes em todas os for-matos de mídia existentes foidisponibilizado na Internet, atra-vés do site do Ponto Eletrôni-co.O coordenador do laborató-rio de rádio, Getúlio Neurem-berg, disponibilizou cerca de 50alunos, entre repórteres, apre-sentadores, âncoras, apuradorese editores para a cobertura rea-lizada pela Fumec FM, queaconteceu ao vivo na semana daMostra, das 9h às 21h.

Embora não possua um ca-nal à cabo ou em sinal abertopara veicular seus conteúdos, olaboratório de TV , coordenadopor Alexandre Campello e uti-

lizado pelos alunos do sétimoperíodo do curso,disponibilizouseu material em formato adap-tado para o suporte on-line. Jáo laboratório de Jornalismo Di-gital não sofreu mudanças, a nãoser pelo ritmo da produção deseu conteúdo, afirmou o coor-denador Jorge Rocha.Trabalha-ram também na cobertura o la-boratório de Fotojornalismo ea redação do jornal O Ponto.

O setor de tecnologia inte-rativa da Fumec, o i-net, foiquem apoiou e deu o suportedigital para essa cobertura con-vergente.Para Huderson Nasci-mento Alencar, responsável téc-nico do i-net, este se faz presenteem todos os cursos da Univer-sidade: “O i-net é a cara da Fu-mec na internet.A cada dia quepassa a internet está mais pre-sente na vida do estudante atra-vés da aproximação da sala deaula com o aluno, qualquer diada semana, em qualquer lugardo mundo”, explica Huderson.O material produzido pelos alu-nos de Jornalismo pode seracessado através do sitewww.pontoeletronico.fumec.br

Palestra deBeny Cohen na FCH

A palestra sobre JornalismoRegional movimentou e des-pertou curiosidade dos alunosna terça-feira, dia 25. O jorna-lista e editor-geral da Tv Alte-rosa, Benny Cohen resgatou ahistória da TV Alterosa em Mi-nas Gerais e falou da importân-cia da aproximação da progra-mação da TV com o público."As pessoas não procuram maisnotícias de guerra no Iraque,massim notícias de sua rua, seu bair-ro", destaca Cohen.A palestraserviu também para o jornalis-ta apresentar a novidade na TVmineira que vem sendo utiliza-da pela TV Alterosa desde abrildeste ano.A transmissão via ce-lular de flashes para o Jornal daAlterosa vem inovando o meiotelevisivo. "Com a transmissãopelo celular nós conseguimosfuros de reportagens e uma mo-bilidade aliada à agilidade do en-vio dos flashes para a redação daTv,que proporciona noticiar dequalquer canto do Estado, bastaum sinal de celular para enviaras imagens”, enfatizou Beny. Alunos de Jornalismo durante cobertura da Fumec FM.

Divulgação

Divulgação

Divulgação

Fumec édestaque no2º Criafest

Daniel Gomes5º Período

Alunos do curso de Publi-cidade e Propaganda da Fumecforam destaque no 2º Criafest.A Agência Modelo Reflexconcorreu com o filme deapresentação da agência na ca-tegoria Design em Movimen-to e ficou com o 2º lugar.Ou-tro destaque ficou por conta doaluno do 5º período DanielMazzochi, que também con-quistou o 2º lugar na categoriaFotografia.

A Agência Modelo ReflexComunicação é formada poralunos do 4º, 5º e 6º períodosdo curso de publicidade e pro-paganda. De acordo com ocoordenador da agência,AdmirBorges, o prêmio é resultadode uma proposta de trabalho ede desenvolvimento de umprojeto editorial.“É um reco-nhecimento imediato do tra-balho iniciado e da qualidadeque nossos alunos já no 4º pe-ríodo conseguem demonstrar",afirma Borges.

O Criafest (Festival Uni-versitário de Criação Publici-tária de MG) visa contribuirpara a formação profissional dosestudantes.Este ano foram 190universitários incritos.

15 - Fumec - Olavo Botelho 21.11.05 13:38 Page 1

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Sindicato dos Jornalistas pressiona justiçapara evitar abusos por parte das empresas

O PONTOBelo Horizonte – Novembro/2005

Editor e diagramador da página: Daniel Gomes

16 ESPECIAL

Descompromisso com o

Lançamento do ‘Aqui’,tablóide dos DiáriosAssociados, apenasrecicla matérias, temestratégia puramentecomercial e acabadeixando de lado osprincípios da atvidadejornalística

Daniel Gomes5º Período

Mais uma vez o jornalismo mineiro sofre um durogolpe.Ao invés de investir em mão-de-obra mais nu-merosa e qualificada e trabalhar a qualidade da infor-mação, os Diários Associados, uma das maiores empre-sas de comunicação do Brasil, lançam o jornal tablóideAqui.O jornal passou a circular no último dia 17 de ou-tubro.A empresa, que já controla dois grandes jornais deMinas, o Estado de Minas (EM) e o Diário da Tarde (DT),apostou suas fichas na conquista de leitores das classes Ce D por meio de uma publicação com diagramação ques-tionável, conteúdo superficial e, sobretudo, um preçomais do que apelativo: R$0,25.

O lançamento do jornal, a exemplo do que já haviaocorrido por ocasião do lançamento do Super Notícia, ta-blóide da Sempre Editora (que também controla os jor-nais O Tempo e Pampulha), abalou o mercado de trabalho,o mercado consumidor de jornais e contribuiu para a re-tomada da discussão sobre a qualidade da informação.

Qualidade da informaçãoHá quem defenda a iniciativa dos Diários Associados

por abrir mais vagas no mercado de trabalho. Entretan-to, a mera criação de oportunidades de emprego sem oquestionamento da qualidade do veículo em questão nãofaz jus aos princípios do jornalismo.Além disso, a em-presa aproveita a redação de seus outros veículos e “chu-pa” as matérias feitas pelo DT e pelo EM.

De acordo com o vice-presidente do Sindicato dosJornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) e re-pórter de Cidades do jornal Diário da Tarde, Elian Gui-marães, o Aqui parte de uma proposta exclusivamentecomercial.“A nossa preocupação é com a qualidade dainformação. Isso poderia ser resolvido com mais jorna-listas e uma proposta editorial que contemplasse essa qua-lidade”, propõe.

Fim do Diário da TardeO sigilo do lançamento causou alvoroço dentro da

redação do DT,pois o jornal vem sofrendo uma espécie

de boicote por parte da diretoria dos Diários Associa-dos. Conforme Elian Guimarães, a prática dos DiáriosAssociados é a de massacrar o DT.“A gente não sabe queprática é essa da empresa”, diz.“Péssimas condições detrabalho, equipamentos ruins, sucateamento em termosde mobiliário, etc”. Segundo Guimarães, era feita umapesquisa de vendagem em cerca de 100 bancas de BH eo DT vendia o dobro dos três outros jornais de Minas,o EM, o Hoje em Dia e O Tempo.“É um jornal que temuma venda imensa e uma faixa de mercado na qual sepoderia investir”, explica.

A repórter de Esportes do DT Mariana Lara acredi-ta que o diário dificilmente vai acabar, justamente porconcorrer diretamente e “segurar as vendas” de O Tem-po e do Hoje em Dia, mas não constata nenhuma evolu-ção.“O Aqui chegou pra deixar claro pra nós que nãohaverá investimentos”, conclui.

A editora do caderno de Cultura do DT,Neide Ma-galhães, que trabalha no diário há 18 anos, não vislum-bra o fim do jornal.“O jornalismo impresso perdeu ven-dagem. É inevitável, pois a concorrência é forte, mas di-ficilmente o DT vai acabar.Acho que ninguém jogariaum produto dessa natureza fora”, justifica.Entretanto, elaadmite que o preço de capa do novo jornal é irreal.“Es-se jornal não paga nem de longe seus custos”, revela.

Por outro lado, o jornalista Robson Abreu, idealiza-dor da revista independente Pão de Queijo Notícias, acre-dita sim que o DT pode vir a ser extinto.Abreu, que éum defensor ferrenho dos colegas de profissão, crê que,se o Aqui se firmar, as coisas podem mudar.“Se o jornalfisgar a população,o povo de baixa renda, creio que a re-dação do DT será absorvida pelo Aqui”, diz.

Fórmula popularA editora do Aqui, Liliane Corrêa, que foi trazida di-

retamente do principal concorrente do novo tablóide, oSuper Notícia, afirma que a receita do jornal é simples:polícia, esporte,TV, textos curtos de fácil leitura e voca-bulário simples com humor.Entretanto,o jornalista Rob-son Abreu não tem essa percepção.“Qualidade de in-formação do Aqui é menos um”, critica. O jornalistaElian Guimarães vai na mesma linha.“Acho lamentável

você lançar um produto ruim ao invés de investir no quejá tem”. De acordo com ele, por mais tendenciosa queseja uma empresa jornalística, o produto principal é a in-formação.“Se a pessoa tem um hábito de consumir bai-xa qualidade, você tem de resgatá-la. Se existe a opor-tunidade de dar melhor informação,que seja dada”,pon-dera o jornalista.

A discussão acerca da qualidade da informação giratambém em torno da máxima “dar ao povo o que o po-vo quer”.Tal prática contribui para a manutenção daatual situação e não colabora para que a população declasse C e D possa ao menos vislumbrar uma alternati-va.De acordo com a repórter do DT Mariana Lara,“nãoexiste uma preocupação em formar opinião,mas apenasinformar”, salienta.

Marketing e vendasO lançamento do Aqui foi envolto em um podero-

so planejamento de marketing.De acordo com a edito-ra do Aqui, Liliane Corrêa, nem ela soube do preço decapa da publicação até o último momento. Questiona-da sobre o porquê do sigilo, a jornalista explicou quenão se anuncia a entrada de um novo produto no mer-cado, principalmente com os concorrentes à espreita.“Foram feitas pesquisas durante meses, planejamento eestratégia de marketing antes de eu receber o convitepara trabalhar no jornal”, explica.

A editora do DT Neide Magalhães não acredita queo lançamento do Aqui prejudicará muito as vendas dodiário.“Aquele leitor esporádico pode comprar o Aquiatrás de uma notícia qualquer. Pode ser que ele faça op-ção pelo jornal mais barato, mas o leitor do DT é cati-vo”, afirma.

A editora do Aqui alegou não poder mostrar os da-dos do novo tablóide, inclusive qual sua tiragem, masafirma que os números provam que as vendas do DTnão foram abaladas. Segundo ela, há um público fiel.“Éinegável que eles têm seu nicho de segurança, de con-forto. Essa tensão foi gerada pela boataria.Algumas pes-soas do DT não sabiam do lançamento do Aqui e a re-dação do jornal é ao lado da do Estado de Minas, por is-so houve uma certa tensão”, diz.

Donos de banca

também reclamam

O lançamento do Aqui foi motivo de manifestações in-clusive dos vendedores de jornais e revistas de Belo Hori-zonte.De acordo com o Sindicato dos Vendedores de Jor-nais e Revistas de BH,apesar da confusão causada pela ini-ciativa dos Diários Associados, as vendas do Aqui vão devento em popa.A proporção é de três exemplares do Aquipara cada exemplar do Diário da Tarde.

Segundo o presidente do sindicato,Altino Pereira, al-guns jornaleiros ligaram reclamando do baixo preço.A ca-tegoria ganha 30% sobre o preço de capa de tudo o quevende. Com o aumento da venda do Aqui em relação aoDT, o valor do montante das comissões na venda do DT(R$0,36) baixou, causando prejuízo para a categoria,mes-mo com as vendas do Aqui aumentando triplamente.

O presidente lembra que a instituição não tem comoinfluir no preço dos produtos, pois isso é decisão da em-presa.“O sindicato está aqui para mostrar o que é certo pa-ra a categoria. Se os Diários quiserem dar o jornal de gra-ça, eles podem.Não podemos fazer nada”, explica.

Por fim,Altino salienta que as vendas do Aqui têm au-mentado muito e que o jornal é um sucesso.“Eu não pos-so reclamar do preço, pois as pessoas que não têm condi-ção de comprar têm uma opção”, pondera. O presidenteressalta ainda que,caso se opusesse a essa postura,estaria in-do de encontro aos interesses da população.

Uma das principais preocupações dos jornalistas emrelação ao lançamento do Aqui é o fato de ele ter edi-tores, que selecionam e formatam as matérias, mas nãoter repórteres próprios. Quem abastece o Aqui de in-formação são os repórteres do Estado de Minas e doDiário da Tarde. Isso gera toda uma discussão a respei-to da exploração do material produzido pelo jornalis-ta em vários veículos da mesma empresa. Há poucomais de dois anos, o lançamento do Super Notícia ge-rou a mesma discussão, pois era abastecido pelos re-pórteres de O Tempo.

De acordo com o vice-presidente do SJPMG, ElianGuimarães, o sindicato não tem espaço legal para agir.“Oficialmente, o sindicato não fez nem pode fazer na-da”, explica. “Não temos como interferir numa em-presa. O que cabe a nós é buscar saber com esse pro-fissional que exerce a profissão legalmente se a empre-sa está cumprindo com a questão trabalhista e acionaros meios judiciais”, esclarece.

Apesar de não saber o balanço final do recente dis-sídio coletivo, Guimarães afirma que uma das antigasreivindicações do sindicato foi julgada e aprovada, ape-sar de os Diários ainda contarem com recurso.“Plei-teamos que se o profissional tivesse o trabalho usado,teria de ganhar por isso. Estamos aguardando a publi-

cação do acórdão para termos claro se há direito sobreo que você faz”, diz. O dissídio coletivo é uma ação ju-dicial de empregados contra uma empresa, que é julga-da pela justiça após esgotamento dos diálogos que, aliás,não existem por parte dos Diários Associados.“Nem ooffice-boy do sindicato entra na redação do Estado de Mi-nas. É expressamente proibido”, lamenta Guimarães.

O repórter exemplifica a situação ao explicar queos Diários têm três jornais em BH, mais o portal UAI.A matéria feita por um jornalista é utilizada nos qua-tro veículos indiscriminadamente. Seria normal se ca-da um desses veículos não tivesse sua própria publici-dade.A empresa acaba ganhando quatro vezes sobre omesmo trabalho.“Você tira mercado de trabalho e dáa criação do repórter para outro veículo”, ressalta. Ojornalista Robson Abreu lembra que no caso da Sem-pre Editora, que controla O Tempo, é ainda mais grave.As matérias feitas podem acabar sendo utilizadas emcinco veículos diferentes.

A editora do Aqui, Liliane Corrêa, levanta a hipó-tese de haver contratações no futuro. Segundo ela, en-tretanto, o momento é de analisar onde o jornal vainecessitar de mão-de-obra extra. “É necessário di-mensionar isso antes de contratar, mas o material pro-duzido pelo DT e pelo EM é vasto”, salienta.

JORNALISMO

16 - Especial - Daniel Gomes 21.11.05 13:36 Page 1