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Primeiras palavras IMPRESSÃO2 BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL DE 2011

O circo deAssange

William Alves6º PERÍODO

Julian Assange, criador da or- ganização jornalística Wikileakse atual homem mais famoso domundo, publicou um artigo algu- mas horas antes de ser preso naGrã-Bretanha. Um trecho podesoar particularmente inflamávelpara os adeptos do eterno bem-es-

tar: “As pessoas afirmaram quesou antiguerra: que fique registra- do, eu não sou. Algumas vezes,nações precisam ir à guerra e sim- plesmente há guerras. Mas nãohá nada mais errado do que umgoverno mentir à sua populaçãosobre estas guerras e então pedir aestes mesmos cidadãos que colo- quem suas vidas e o dinheiro deseus impostos a serviço dessasmentiras. Se uma guerra é justifi- cável, então diga a verdade e apopulação dirá se deve apoiá-laou não”.

Porém, o texto foi consumidopor uma parcela ínfima da popu- lação interessada em todo o im- bróglio que envolve a organiza- ção. E isso abrange não apenasleitores (ávidos ou relapsos), mastoda a mídia nacional. Sabe-seque o australiano é procurado por um desvio sexual cometido na Su- écia (se é estupro ou uma leve in-

fração local, pouco importa). Osmúltiplos perfis de Assange, con- cebidos às pressas, surgem aos bor- botões; informações sobre o Wiki- leaks e seu funcionamento sãorelegadas a segundo plano. Pou- cos conhecem o que Assange pro- põe. Todos sabem o que ele violou.Um dos critérios de noticiabilida- de do teórico Mauro Wolff, aque- le que privilegia as desgraças e

infortúnios, nunca foi tão aciona- do.

Enquanto esse texto estavasendo escrito, o jornalista era sol- to na Inglaterra. Ele saiu do Tri- bunal com ar triunfal, erguendocom a mão direita a folha de pa- pel que tornava legalizada a suaalforria. Ao redor, milhares demanifestantes vibravam e urra- vam com a liberdade do líder einspirador. Assange ostentava omeio sorriso de um mito recém- criado. Quanto mais as autorida- des da diplomacia mundial (re- presentada por meia dúzia denorte-americanos influentes) ochicoteiam, mais escoladas ficamas carapuças do Wikileaks e a deseu pastor. Em 2011, sua cruza- da contra a condenação conti- nua, mas ela não é solitária.

Assange é um mito inspirador.De que, exatamente, é o que ain- da esperamos descobrir.

ARTIGO

João Paulo Vale6º período

Duas alunas do curso dejornalismo do Centro Univer-sitário de Belo Horizonte(Uni-BH) conquistaram osprêmios mais importantes dacategoria Estudantes de Jor-nalismo, Reportagem Impres-sa, na quarta edição do Prê-mio Délio Rocha deJornalismo de Interesse Públi-co.

A aluna Dayse Felício Car-valho de Souza ficou em pri-meiro lugar com a reportagem“Plaquetas ajudam no trata-mento de doenças”, veiculadano Hoje Em Dia, por meio doconvênio entre o Uni-BH e ojornal. “Fiquei muito satisfei-ta com o resultado, além depoder contar com a ajuda dosprofissionais da Hemominaspara a concretização desse tra-balho”, afirma a premiada.Dayse recebeu o prêmio dagerente de integração e ima-gem institucional da Prefeitu-ra de Belo Horizonte, Alcione

Lara Fonseca.O segundo lugar ficou

com a aluna Nicole Barcelosde Figueiredo, com a matéria“Gravidez antes da hora”, vei-culada no Jornal Impressão,edição 179. “Escolhi o temaporque acho muito interes-sante a questão da gravidez naadolescência. Conversei comalguns profissionais da área(da saúde) e percebi que cadadia mais casos como estesocorrem”, justifica. Nicole re-cebeu a premiação das mãosdo diretor do sindicato emembro da comissão organi-zadora do Prêmio Délio Ro-cha, José Milton Santos.

A premiação, que contoucom cerca de 400 participan-tes, aconteceu no dia 2 de no-vembro, no Espaço UsiminasAEU, onde também foramcomemorados os 65 anos doSindicato dos Jornalistas.

Tanto a página do Hojeem Dia quanto o jornal-labo-ratório, produzidos no Labo-ratório de Jornalismo Impres-so do Uni-BH.

Alunas recebem o prêmio Délio Rochade Jornalismo de Interesse Público

DIVULGAÇÃO

Nicole Barcelos e Dayse Carvalho exibem os troféus, no Sindicato dos Jornalistas de Minas

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Vida públicaIMPRESSÃO 3BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL DE 2011

Impunidade reforça a

polêmica no trânsitoJulia Arantes JabourThiago Henrique Almeida6° PERÍODOEdição: Ana Flávia Tornelli

No Brasil e no mundo, sãoregistrados, diariamente, aci-dentes que envolvem condu-tores sob o efeito do álcool. E,no nosso país, as infrações detrânsito que acabam em mor-tes são julgadas como homicí-dio culposo, ou seja, sem aintenção de matar. Nessecaso, o motorista pode pegaraté quatro anos de prisão e,dependendo da situação,pode haver a substituição dapena. A alternativa seria aprestação de serviços à comu-nidade.

Mesmo após serem julga-dos, no Brasil, os processosnos quais os réus foram consi-derados culpados contamcom a possibilidade de recor-rer à decisão do juiz. Em se-tembro de 2002, o empresárioEduardo Guimarães Pedrasdirigia na contramão do AnelRodoviário com suspeitas deembriaguez. Ele bateu de fren-te com um Gol, e matou apassageira Patrícia Fernandes,19 anos. Eduardo só foi julga-do, em primeira instância, emsetembro de 2008. Condena-do a quatro anos e seis mesesde prisão, ele aguarda resulta-do de recurso em liberdade.

Outro condenado quechegou a ficar preso por ummês e meio, mas aguarda jul-gamento em liberdade é o ad-ministrador de empresas Gus-

tavo Henrique OliveiraBittencourt. Ele dirigia em-briagado na avenida Raja Ga-baglia, em fevereiro de 2008,quando invadiu a contramão

e atingiu um carro de frente.O empresário Fernando Paga-nelli, 48 anos, motorista doveículo atingido, morreu nahora.

A polícia é quem aplica aprimeira punição nos casosde motoristas embriagados.Segundo o inspetor da PolíciaRodoviária Federal, AristidesJunior, “quando são aborda-dos, os condutores alcooliza-dos se recusam a fazer o testedo bafômetro e nós policiaisnão podemos obrigá-los, poisconsta na lei que ninguém éobrigado a produzir provacontra si mesmo”.

Diante disso, às vezes, osinfratores são detidos, mas li-berados em seguida sob o pa-gamento de fiança ou multa.Foi o caso do médico Ander-son Ricelli Nunes Gonçalves,que dirigia um Golf quandocausou um acidente, tambémna Avenida Raja Gabaglia, no

bairro Luxemburgo, em ju-nho de 2009. Além de possi-velmente alcoolizado, o orto-pedista estava em altavelocidade. Anderson bateuem um Uno, invadiu uma loja

com o seu automóvel e fugiudo local. Após ser capturado,ele ainda se recusou a passar

pelo teste do bafômetro.A frota de carros em BH,

hoje, chega a 1,2 milhão deveículos. Isso representa umamédia de dois habitantes porveículo. Segundo a BHTrans(Empresa de Transporte eTrânsito de Belo Horizonte),todos os meses são registradasde 1.400 a 1.500 ocorrênciasde acidentes de trânsito comvítima na cidade. Belo Hori-zonte tem uma taxa de 2,47mortes por cada 10 mil veícu-los. Só o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), re-ferência nacional ematendimentos a vítimas detrânsito, recebeu, de janeiro asetembro de 2009, 10.094 fe-ridos, segundo informou aFundação Hospitalar do Esta-do de Minas Gerais (Fhe-mig).

As famílias de vítimas dosseis acidentes de maior reper-cussão em Belo Horizonte

nos últimos anos ainda aguar-dam a decisão final da justiça.É o caso dos parentes do bar-man Marcos Antônio da Sil-va, 28 anos, morto por atro-pelamento quando voltava dotrabalho. Um jovem de 16anos, com suspeitas de em-briaguez e conduzindo emalta velocidade, atropelou obarman, em dezembro de2004, na Avenida CristóvãoColombo, na Savassi. O pro-cesso contra esse jovem semcarteira de motorista foi ar-quivado pela Justiça.

Os principais fatores queresultam em acidentes nasvias de Belo Horizonte são ouso do álcool antes de dirigire o desrespeito à velocidadeestabelecida. As mortes e le-sões no trânsito da capital sãouma questão de saúde públi-ca. Em 2009, foram gastoscerca de R$12 milhões com ainternação de vítimas do trân-sito, o que representa 3,8%

das Autorizações de Interna-ção Hospitalar (AIH) pagaspelo SUS/BH.

Os crimes citados nestamatéria seriam tratados demaneira diferente em outrospaíses da América. Nos Esta-dos Unidos, por exemplo, po-deriam resultar em prisão per-pétua. Em nosso país, oscarros funcionam como ar-mas nas mãos de motoristasdespreparados e irresponsá-veis. Isto é comprovado por-que no auge do uso do bafô-metro o número de acidentescaiu consideravelmente emvários estados.

Em 2009, foram gastos cerca de R$ 2 mi com internação de vítimas de acidentes automotivos

É fácil matar na capital mineira: dos motoristas que provocaram mortes, nenhum está preso

O Brasil e nove nações(Camboja, China, Egito, Ín-dia, Quênia, México, Federa-ção da Rússia, Turquia e Viet-nam) são responsáveis porquase metade das mortes pro-vocadas no trânsito no mun-do. Esses dez países foramconvidados pela OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS) epela Organização Pan-Ameri-cana de Saúde (OPAS) a parti-cipar de um projeto sobre se-gurança viária, chamado R10(Road Safety in 10 countries).A primeira etapa começou

em 2010 e se estende até 2012.A segunda será realizada entre2013 e 2015.

O objetivo do projeto,também denominado “Vidano Trânsito”, é reduzir asmortes e danos sérios no trá-fego em países de média e bai-xa renda. O Brasil ocupa o 5ºlugar em taxa de mortalidadepor acidentes de TransporteTerrestre. Segundo dados daPolícia Federal Rodoviária,em 2008, foram registrados36.666 óbitos nas rodoviasnacionais.

O “Projeto Vida no Trân-sito” foi implantado, inicial-mente, em cinco capitais bra-sileiras: Curitiba (PR), CampoGrande (MS), Palmas (TO),Terezina (PI) e Belo Horizon-te (MG). Os critérios para es-colha das cidades são: região,população, capacidade técni-ca, dentre outros. “O trânsitoestá cada vez mais complicadoe necessita de uma interven-ção de grande repercussão eeficácia”, disse Geraldo Soa-res, coordenador do projetoem Belo Horizonte.

Projeto quer frear mortes

“Os condutoresse recusam afazer o teste dobafômetro e ospoliciais nãopodemobrigá-los”

Aristides Júnior

FOTOS DIVULGAÇÃO

Frota de carros da capital chega a 1,2 milhão de veículos

Leia a reportagem na íntegra nosite:www.jornalimpressao.com.br@

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Ana Flávia TornelliHugo PereiraJoão Paulo Vale6° PERÍODOLuiz Ladeira7° PERÍODOMariana Medrano8° PERÍODOEdição: Luiz Ladeira

O jornalista investigativoda Rede Globo, Tim Lopes,foi torturado e executado portraficantes no Morro do Ale-mão em junho de 2002. Elepreparava uma reportagem es-pecial sobre a prostituição in-fantil em bailes funk na VilaCruzeiro. Segundo balançodo Comitê para Proteção deJornalistas (CPJ), em 2010 fo-ram mortos em serviço 42 jor-nalistas em todo o mundo. Osnúmeros apresentaram quedaem relação às mortes do anoanterior, que chegaram a 72,porém o resultado ainda éconsiderado alarmante para aAssociação Brasileira de Jor-nalismo Investigativo(ABRAJI).

Para a jornalista e profes-sora Adélia Fernandes, o pa-pel do jornalista investigativonão é fazer o trabalho da polí-cia. Câmeras escondidas, mi-crofones ocultos e investiga-ções em áreas arriscadas,como a que causou a mortede Tim Lopes, ajudam a aler-tar o Poder Público quanto apossíveis casos de corrupçãoou outros crimes, porém a de-núncia não é garantia de pu-nição e coloca o jornalista em

uma situação de vulnerabili-dade, alerta Adélia.A Conselheira da Associa-

ção de Jornalismo Investigati-vo (Abraji), jornalista e profes-sora, Luciana Kraemer, ressaltaque o jornalista deve ter o cui-dado de cercar-se de informa-ções e pareceres oficiais antesde partir para entrevistas so-bre o tema tratado na investi-gação, e que algumas entida-des legítimas podem ajudarantes que o repórter se arris-que por conta própria. “Có-digos jurídicos e sites especia-lizados como a Abraji,Transparência Brasil, ContasAbertas, Portais de Transpa-rência de governos, Tribunalde Constas (Estado e União),são alguns dos exemplos”,cita.

Entretanto, para o jorna-lista vencedor do Prêmio Essode 2010, Solano Nascimento,

o jornalista não pode perder aautonomia investigativa naprodução das reportagens.De acordo com Solano, mes-mo que o aumento na ofertade divulgações das informa-ções oficiais represente umavanço democrático e tenhacontribuído para a transpa-rência de autoridades e insti-tuições, o profissional da im-prensa também precisa fazersuas próprias investigações, jáque os papéis dos agentes defiscalização do Estado e dosjornalistas são diferentes. “Émaravilhoso que o MinistérioPúblico possa atuar comoatua hoje em dia. No entanto,creio que a imprensa deveriatanto divulgar investigaçõesdo Ministério Público, da Po-lícia Federal e de outros agen-tes do Estado, quanto fazersuas próprias investigações,equilibrando as duas frentes”.

Sinergia

Com o fortalecimento e aampliação da atuação do Mi-nistério Público, proporciona-do pela Constituição de 1988,os jornalistas puderam contarcom mais um aliado nas suasinvestigações. Landercy He-merson, jornalista investigati-vo do jornal Estado de Minas,acredita que as duas institui-ções, apesar de independen-tes, são parceiras. “Colocar ojornalismo investigativo de-pendente do MP, ou a qual-quer um dos outros três pode-res, seria uma castração àliberdade de manifestação. OMP faz o trabalho dele e a im-prensa investigativa faz o dela,ainda que em muitos casos osdois possam interargir”.

A relação deve se caracteri-zar pela boa convivência como Ministério Público, comocom tantas outras instituiçõesou organizações que tem algu-ma ligação com a mídia. Paraa jornalista Maria Clara Pra-tes, muitas vezes a fonte prin-cipal pode ser o próprio MP e,com base em um relatório ouação, se vai a campo para ten-tar comprovar as investiga-ções.

Contudo, o jornalista dojornal Hoje em Dia, José Ga-briel dos Santos diz que já en-controu obstáculos em suacarreira no momento da apu-ração com as autoridades.“Historicamente a área judi-cial apresentou dificuldadepara o trabalho de um repór-

ter. É complicado ter acesso apromotores, juízes, funcioná-rios etc”, admite.

Na opinião de Hemerson,o jornalista investigativo de-pende não apenas do Ministé-rio Público, mas de todas asfontes possíveis para aprofun-dar suas apurações, como quemontando um quebra-cabeça.“A dependência existe no sen-tido de uma manifestação ofi-cial da entidade, perante oque foi apurado. Em se tratan-do de Ministério Público, opapel muitas vezes é inverso: éele que, provocado por umadenúncia na mídia, adota asmedidas para defender os in-teresses públicos. Quase sem-

pre, a imprensa é parceira doMinistério Público na divulga-ção, na informação à socieda-de”, completa o jornalista.

Ainda segundo Landercy,a imprensa e o Ministério Pú-blico fiscalizam, cada um den-tro das suas atribuições e ca-racterísticas, a atividadepública. A mídia, através dedenúncias, traz à público asilegalidades de alguns setores.Já o MP, pelos canais que lhecompetem, atua na denúnciacontra quem causa, de fato, oprejuízo e crimes contra os in-teresses públicos. Quase sem-pre, a imprensa é parceira doMP na divulgação dessa infor-mação à sociedade e tambémao informar aquilo que a insti-tuição tem realizado dentrode suas atribuições.

Poder do MP desa a

jornalistas desde 1988Especialistas comentam relação entre promotor e imprensa: “parceiros”, mas independentes

Provocado por uma denúncia na mídia, o MP entra em ação para defender o interesse público

Qual o procedimentocorreto do jornalista quan-do ele tem acesso a docu-mentos importantes capazesde comprovar uma denún-cia? Para o repórter investi-gativo do jornal Estado deMinas, Landercy Hemerson,o jornalista que tem acessoa informações compromete-doras deve agir com cautela,principalmente se a divulga-ção desse documento repre-sentar riscos para as apura-

ções policiais. Além disso,deve-se evitar a exposiçãodos envolvidos. “É bom des-tacar que o jornalista tem odireito de preservar sua fon-te. Se aqueles que estão res-ponsáveis pela investigaçãorequisitarem determinadodocumento, caberá ao pro-fissional de imprensa anali-sar se o acesso a ele vai reve-lar sua fonte”, acrescentaLandercy.

Para a Conselheira daAssociação de JornalismoInvestigativo (Abraji), Lucia-na Kraemer, o jornalistapode contribuir com o Mi-nistério Público e outros ór-gãos responsáveis na apura-ção de determinadadenúncia. “Em muitos casosé a partir de documentostrazidos por jornalistas queautoridades iniciam investi-

gações. Outras vezes o docu-mento vai confirmar umasuspeita ou investigação ofi-cial em curso”. Ainda se-gundo a jornalista, a grandedificuldade dos profissio-nais da mídia é a interpreta-ção de certos documentos.“Para nós jornalistas, quenão temos formação jurídi-ca, fica muitas vezes difícilinterpretar o conteúdo dedocumentos que compro-vem denúncias. Até porque

eles têm uma gramática pró-pria, são recheados de ex-pressões técnicas, portarias,enfim. Obtidas essas primei-ras informações, será possí-vel mapear autoridades quepossam interpretar melhoro documento”, afirma a jor-nalista que acredita queagentes do Ministério Públi-co, Polícia Federal, Tribunalde Contas, entre outros, po-dem ser parceiros do repór-ter nessa empreitada.

Os entrevistados concor-dam que é fundamental queo jornalista tenha consciên-cia de que a ansiedade e odesespero pelo “furo” po-dem prejudicar o andamen-to da investigação. “O papelda imprensa é informar, semrestrições, porém, com im-parcialidade e ética”, com-pleta Landercy.

Como proceder em

casos de denúncia

DIVULGAÇÃO

Leia a reportagem na íntegra nosite:www.jornalimpressao.com.br@

Especial IMPRESSÃO4 BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL DE 2011

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Segundo o seu livro,“Os Novos Escribas”, atual-mente, a maioria das repor-tagens investigativas temcomo base as investigaçõesrealizadas por agentes ofi-ciais do Estado e, há 30anos, 75% das reportagensexclusivas com denúnciaseram feitas por informaçõesapuradas pelo próprio jor-nalista. A que se deve essa drástica mudança e inversãode papéis?

Acredito que há pelo me-nos três causas. Uma delas,que é positiva, é o aumentoda oferta de informações deinvestigações oficiais. Algoque acompanha o avanço dademocracia no país. As nega-tivas são a falta de investi-mento de empresas em re-portagens e a acomodaçãopor parte dos jornalistas, quepreferem optar pelo cami-nho mais fácil de usar umainvestigação alheia em vez de

fazer a própria investigação.

Recentemente, o site“WikiLeaks” vem divulgan-do, através da internet, do-cumentos secretos sobre a diplomacia dos EstadosUnidos. Qual o papel da in-ternet no jornalismo inves-tigativo? Em que ponto ela colabora, e em qual ela atra-palha?

Para mim, a maior cola-boração da internet ao jorna-lismo investigativo é permitiro acesso fácil e rápido a ban-cos de dados oficiais. Comisso se pode fazer cruzamen-tos entre dados distintos econseguir um número novoe forte para uma reportagem.A internet atrapalha quan-do, na avaliação equivocadade alguns internautas, apre-senta como niveladas infor-mações jornalísticas, frutode apuração e checagem, eboatos e especulações.

Qual o procedimentoque o Ministério Público se-gue, ao receber reportagens

com fins investigativos?Desconheço, infelizmen-

te, o procedimento internodo Ministério Público.

Como deve ser a relaçãoentre o jornalista e os órgãosgovernamentais? (Ministé-rio Público e Polícia Fede-ral)

Eu não gosto de expres-sões como parceria, trabalhoconjunto ou coisa assim. Osagentes de fiscalização do Es-tado têm um papel e os jor-nalistas, outro. É muito im-portante a imprensa divulgaro resultado de investigaçõesoficiais – e talvez esteja ai aparte principal da relação -,mas é mais importante aindafazer suas próprias investiga-ções.

De que forma o senhorpode caracterizar essa rela-ção, de modo geral? Em quemomento da reportagem ojornalista passa a dependerdo MP?

O jornalista passa a de-pender quando ele passa a

dar prioridade para a divul-gação de investigações doMP, da PF ou de outros ór-gãos em detrimento de suaspróprias investigações.

A partir da promulgaçãoda Constituição de 1988, oMinistério Público teve suasfunções e prerrogativas am-pliadas. Podemos dizer queo jornalista ficou mais de-pendente desse órgão para conseguir informações?

Na minha avaliação, co-meça com os novos poderes eprerrogativas do MinistérioPúblico, que ganhou autono-mia e independência em rela-ção aos poderes da Repúbli-ca, o fenômeno que eu chamode ‘jornalismo sobre investi-gações’. Foram promotores e,principalmente, procurado-res da República que ‘acostu-maram’ jornalistas a recebe-rem informações muito boasde investigações concluídasou em andamento. Isso setornou muito comum e, apartir daí, realmente passou ahaver certa dependência.

Jornalista Solano Nascimento é autor do livroOs Novos Escri- bas, ganhador doPrêmio Esso 2010 na categoria “Melhor Con-tribuição à imprensa”. De acordo com Solano, a Constituiçãode 1988 deu mais poderes ao Ministério Público e alterou arelação dos jornalistas com a instituição.

“Foram promotores e, principalmente, procuradores daRepública que ‘acostumaram’ jornalistas a recebereminformações muito boas de investigações concluídas ouem andamento”

Entrevista Solano NascimentoALEX RIBONDI

Por João Paulo Vale

Quais as implicações ju-rídicas de uma denúncia feita pela imprensa e quaisos cursos de ação que po-dem ser tomados pelo Mi-nistério Público?

Denúncia tem uma acep-ção específica, significa aacusação formal do Ministé-rio Público apresentada aojuiz, e que inicia a ação pe-nal. Então, o Ministério Pú-blico é o titular da ação pe-nal. Mas ele só podeprocessar alguém se houverprova da existência do crimee indícios suficientes de au-toria. Dessa forma, ao tomarciência de uma reportagemreferente a algum supostocrime, o MP pode: denun-ciar, desde que haja prova daexistência do crime e indí-

cios suficientes de autoria;requisitar à Polícia Civil ainstauração de inquérito

para investigação; fazer in-vestigação própria, apesardessa ação do MP ainda serdiscutida na Justiça; nada fa-zer, por não vislumbrar qual-quer crime nos fatos relata-dos pela reportagem

Então a reportagem emsi não é suficiente para a de-núncia?

Em regra, não. Como co-loquei. A denúncia é o quedá início a uma ação penal.Então é um ato muito sério,pois ser processado criminal-mente é muito sério.

Então, a reportagem sópode ser aceita como de-núncia, se for acompanhada de algum inquérito?

Não há, propriamente,

denúncia em reportagem, oque há é uma notícia de cri-me, “notitia criminis”. Em

regra, a reportagem só pode-rá embasar uma denúnciado MP (peça formal de acu-sação, como falei), se houveroutras investigações, realiza-das, normalmente, pela Polí-cia Civil, para que seja ates-tada a existência do crime eos indícios suficientes de au-toria

O correto então seria ojornalista narrar o aconteci-mento primeiramente a Po-lícia Civil, não é isso?

O que ele tem que se pre-ocupar é com os fatos queveicula e as fontes utilizadas,pois imputar, a alguém, fal-samente, fato definido comocrime configura delito de ca-lúnia. E se as fontes não fo-rem boas, ele pode ser res-

ponsabilizado.E quando o MP seria

acionado?O delegado da Polícia Ci-

vil, ao terminar seu trabalhoinvestigativo, faz um relató-rio, e envia os autos (docu-mentos do inquérito) para ojuiz, que, por sua vez, os re-passa para o MP. Daí o MPpoderá denunciar ou requi-sitar novas diligências inves-tigatórias.

Ao ler uma notícia, um

delegado pode abrir um in-quérito para investigar?

Posso te falar o que a leide fato determina: é deverde ofício do delegado instau-rar inquérito, caso possuaatribuição para investigar ofato, mas desde que se tratede material jornalístico sé-rio, com indicações de ele-mentos concretos que pos-sam justificar o início deinvestigações.

Juiz de Direito há pouco mais de três anos, Gustavo Henrique Moreira do Vale, 31 anos, atuana 1ª Unidade Jurisdicional do Juizado Especial Cível e Criminal de Contagem. Formado naFaculdade de Direito Milton Campos, atualmente mestrando pela mesma instituição.

“Desde que se trate de material jornalístico sério, é deverde ofício do delegado instaurar inquérito”

Entrevista Gustavo Moreira do ValeARQUIVO PESSOAL

Por João Paulo Vale

EspecialIMPRESSÃO 5BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL DE 2011

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A cor do preconceitoPara socióloga, nas relações privadas, considera-se origem étnica como critério de seleção

Pablo NogueiraJúnior MoreiraSandra Leão6º PERÍODOEdição: Luiz Ladeira

Afrodescendentes são amaioria entre os desemprega-dos, recebem os piores salá-rios e estão expostos aos car-gos mais vulneráveis. A constatação é da PED (Pesqui-sa de Emprego e Desemprego)realizada em 2005 pelo DIEE-SE em seis regiões metropoli-tanas. Na categoria ocupaçãoprofissional, os brancos repre-sentam 69,6% dos emprega-dores, enquanto os negros são3,0% e os pardos 27,4%. En-tre os sem carteira assinada eos empregados domésticos, osnegros e pardos representam

57,8% e 61,8%, respectiva-mente. Os dados são apenasalguns indicadores da discri-minação que sofrem os ne-gros.

Para especialistas, o pre-conceito velado, revestido no“mito da democracia racial”,no qual se acredita que negrose brancos tenham as mesmasoportunidades, reforça a ideiade que nada precisa ser feito.Para a socióloga Mônica Bar-ros, “vivemos em um país noqual afrodescendentes têmoportunidades inferiores. Seconsiderarmos as relações degênero, veremos que as mu-lheres afrodescendentes ocu-pam posições ainda mais re-baixadas”. Segundo ela, o queocorre é a dissonância entreos discursos e as práticas so-ciais. Quanto ao racismo,percebe-se a hipocrisia de par-te da sociedade, que afirma

não haver discriminação. En-tretanto, nas relações priva-das, de caráter interpessoal,consideram a cor da pele ou aorigem étnica como critériosde seleção.

RealidadeDe uma forma geral, de-

monstrações de preconceitosão feitas, muitas vezes, na for-mas de piadas e chacotas. Po-rém, o que pode parecer ape-nas brincadeira revela-se umproblema social quando osabusos são cometidos até porautoridades. O estudante Da-niel Evaristo, 17, é uma dasvítimas desse tipo de violên-cia: “Já fui parado várias vezespela polícia sem uma justifica-tiva aparente. As acusações deque eu poderia ser suspeito,

eram feitas, na verdade, ape-nas por que sou negro”, desa-bafa. O garoto também contaque, embora não seja aborda-do, sente-se “perseguido” porseguranças do comércio e,principalmente, dos shoppin-gs de Belo Horizonte, cidadeonde mora.

Basta circular por um sho-pping da Zona Sul de BeloHorizonte e tentar localizar osnegros que lá trabalham. “Écomum encontrarmos situa-ções do tipo: ‘eu não me im-porto em ter um colega detrabalho negro, mas não gos-taria que meu filho se casassecom uma mulher negra’”,exemplifica.

Políticas de inclusão têmcontribuído para acabar coma desigualdade e o resultado ésentido por pessoas afrodes-cendentes de épocas passadas.“No meu tempo, a discrimi-

nação era muito maior. Erampouquíssimos estudantes ne-gros e que sequer recebiam aatenção devida pelos professo-res”, conta a aposentada Se-bastiana Silva, 74, musicista eformada em Teologia. “A dis-criminação hoje existe, masantigamente era mais eviden-te. Lembro de ter sido rejeita-da em empregos como profes-sora e auxiliar de escritório. Ocontratante disse que precisa-va de pessoas com boa aparên-cia, ou seja, brancas. Os dire-tores de escolas diziam quenão podiam contratar umanegra, por imposição dos paisdos alunos”, completa.

Outra iniciativa tomadapela igualdade foi a reserva decotas para negros em institui-ções de ensino superior, con-

tudo, gerou polêmica e atémesmo desaprovação, inclusi-ve por parte da população ne-gra, já que reforçaria a segre-gação. “Penso que as cotas sãonecessárias, mas como políti-ca pública temporária. Elassão válidas para dar oportuni-dade a pessoas que, pelas defi-ciências da escola pública,não tem as mesmas condiçõesde acesso que os demais”,pontua Mônica Barros. “To-davia, dar acesso à universida-de pública de qualidade nãogarante a conclusão do curso,pois muitos afrodescendentesnão têm condições de arcarcom os custos financeiros deestudar numa escola que ain-da privilegia o ensino diurnoe exige muitas horas de estu-do”.

Leia a reportagem na íntegra nosite:www.jornalimpressao.com.br@

A musicista Sebastiana Silva, 74 anos: “A discriminação era maior. Eram poucos estudantes negros que sequer recebiam a devida atenção dos professores”

Os debates sobre as cotasem universidades, o projetodo Estatuto da IgualdadeRacial deixou de fora a defi-nição de cotas para negrosnão só em instituições deensino, mas também paraoutras atividades. O estatu-to, aprovado pelo Senadoem junho de 2010 e sancio-nado pelo ex-PresidenteLula, visa garantir a efetiva-ção da igualdade racial e ocombate à discriminação.

Pela lei, torna-se obriga-tório, entre outras coisas, oensino da história geral daÁfrica e da população negrano Brasil, tanto em escolaspúblicas como particulares,

de nivel fundamental e mé-dio; proíbe empresas de exi-girem aspectos de aparênciapróprios de raça ou etniapara emprego em atividadesque não justifiquem tal exi-gência; além da criação deouvidorias em defesa daigualdade racial.

Outro mecanismo queapoia os negros é a lei quepune o racismo. Apesar devigorar há 20 anos, apenasrecentemente começou a serconhecida pela população.A lei nº 7.716, conhecidacomo Lei Caó, classifica oracismo como crime inafian-çável, púnivel com prisão deaté cinco anos e multa.

Lei reforça direito

“Sou negra, estudante demoda, percussionista e profes- sora no Projeto Escola Integra- da. Mesmo sendo nova, comapenas 19 anos, infelizmentesei sim o que é sofrer situaçõesdo preconceito racial. Não sóo velado, mas também o explí- cito.

Minha mãe, desde novos,trabalhou muito comigo e commeus irmãos a questão daconsciência negra; mas que narealidade em que vivíamos po- deríamos ser vítimas. Ela, queveio de uma realidade muito

humilde e de pobreza, desdecedo começou a trabalhar emcasas de famílias, sendo, nes- tes locais, o primeiro lugar onde sentiu o preconceito.

Nós, enquanto família,onde morávamos, sofremostambém o preconceito racialexplícito por uma vizinha. Oque mais nos chocou – masque nunca fez com que abai- xássemos a cabeça para esse enem para nenhum outro – foiperceber que outros vizinhos atudo viam e nada faziam, ca- lando-se.”

Depoimento

Tramas urbanas IMPRESSÃO6 BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL DE 2011

ANDERSON NAUPE

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Penas alternativas para

usuários de drogas

Ana Beatriz SucroTacila Souza6° PERÍODOEdição: Luiz Ladeira

O juiz José Henrique Ro-drigues Torres, titular da Varado Júri de Campinas, juntocom três desembargadores da6ª Câmara Criminal do Tri-bunal de Justiça de São Paulo,absolveram Ronaldo Lopesem 31 de março de 2008 peloporte de 7,7 gramas de cocaí-na. O homem, condenadoem primeira instância por trá-fico de drogas, foi liberado,

pois os magistrados conside-raram que a quantidade erapara consumo próprio. O queleva a Justiça a conceder umtratamento diferenciado paraquem consome ou trafica dro-

gas? De acordo a advogadaCarolina Moraes, “esse trata-mento diferenciado ocorredevido ao fato de o usuárionão chegar a prejudicar tercei-ros e, sim, a ele mesmo. Já otraficante envolve claramenteoutras pessoas, sendo o agen-te responsável pela dissemina-ção das drogas”.

Carolina explica que, deacordo com a legislação, fica acritério do juiz avaliar se adroga apreendida é destinadaao consumo pessoal ou ao trá-fico. Assim, cabe ao magistra-do se ater à natureza da subs-

tância, à quantidade, ao locale às circunstâncias em que sedesenvolveu a ação, bemcomo à conduta e aos antece-dentes do usuário.

Em 2006, a lei que deter-

minava a prisão de usuáriosde drogas foi modificada de-pois de 20 anos. Com a mu-dança, quem for flagrado por-tando ou usando substânciasilícitas, ao invés de ser preso,

é submetido a medidas socio-educativas e prestação de ser-viços a comunidade. O usuá-rio, no entanto, poderá ficarpreso de seis meses a doisanos caso não cumpra as me-didas educativas determina-das. Atualmente, alguns juízesjá aplicam penas alternativasem vez da pena de prisão. Otema passará a ser determina-do pelo Código Penal. Casoseja detido, o portador de pe-quena quantidade de droganão irá para a delegacia, masdiretamente para o JuizadoEspecial Criminal.

Um exemplo que ilustraessa nova situação é o caso doajudante de pedreiro Fernan-do F.R, 25 anos, que foi sur-preendido em uma blitz e pre-so por portar uma quantidadepequena de maconha. “Estavavoltando de um show comuns amigos quando fomos pa-rados em uma blitz. Fui pegocom 6,5 gramas de maconhae imediatamente levado à de-legacia e, dentro de poucosdias, fui julgado”. De acordocom ele, o julgamento nãodurou muito e a sentença logosaiu: 52 palestras para quemnão trabalhasse e 32 paraquem trabalhasse ou conse-guisse um emprego neste perí-odo. Segundo a socióloga Ma-ria Tereza Cunha, “a questãodas drogas no país deve serolhada com um ponto de vis-ta crítico por parte de todas ascomunidades, ONGs, prefei-turas e Governo Federal, quetem o dever de capacitar agen-

tes para orientar e recuperarusuários de drogas.”

Punições para os dependentes variam de medidas socioeducativas a prestação de serviços

Vários tipos de droga apreendidas pela polícia: Brasil é segundo maior consumidor de cocaína

“Fica a critério dojuiz avaliar se adroga apreendidaé destinada aoconsumo pessoalou ao trá co ”

Carolina Moraes

As drogas estão presen-tes no cotidiano do ho-mem desde as primeirasnotícias de sua existência.Nas civilizações antigas es-tavam ligadas a rituais reli-giosos, culturais, sociais,estratégico militares, entreoutros. Mas já há algumtempo a droga se tornouum mercado, em que há alei da oferta e da procura.Segundo uma pesquisa di-vulgada pela revista inglesa“The Economist”, há umfaturamento anual de cer-ca de R$ 316 milhões comas drogas no Rio de Janei-ro. As gangues lucram cer-ca de R$ 27 milhões.Grande parte dos recursosé destinada à compra dearmas, pagamento de pes-soal e vendedores de dro-gas.

Um relatório daUNODC (Agência daONU Para Drogas e Cri-mes) destacou uma preo-cupação com o aumentoda violência no México,na América Central e, emparticular, no oeste daÁfrica provenientes do co-mércio de drogas. O culti-vo de coca acontece emapenas três países, Colôm-bia, Peru e Bolívia. No en-tanto, a pesquisa identifi-cou uma crescente

diversificação nas rotas detráfico da cocaína.O Departamento de

Estado norte-americanorevelou em março de 2010que o Brasil, maior consu-midor de cocaína do mun-do depois dos EstadosUnidos, passou a ser, em2009, um importante ca-nal para o transporte dedrogas rumo à Europa e àÁfrica. Segundo o relató-rio anual sobre a luta con-tra o tráfico de drogas issoocorreu devido ao aumen-to do cultivo de coca naBolívia, seu principal abas-tecedor de pasta base decocaína e crack. Segundoo relatório do governoamericano, a pasta base ea cocaína entram no Brasiltanto para consumo inter-no como para exportação.

Mercado denarcóticos

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Alternativas para punição

Leia a reportagem na íntegra nosite:www.jornalimpressao.com.br@

Tramas urbanasIMPRESSÃO 7BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL 2011

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Decisões do tribunal

dividem fãs do futebolPunições “exageradas” e controvertidas para jogadores dão destaque na mídia ao STJDFilipe Frossard PapiniLarissa RodriguesRafael Luis Teodoro6° PERÍODOEdição: Mariana Medrano

Já virou clichê dizer que ofutebol é um esporte quemove paixões. O Brasil é umdos países em que esse assun-to é levado muito a sério. Nãoé por acaso que sempre pre-senciamos histórias de violên-cia e declarações de amor en-volvendo o mundo da bola,com provas das mais diversasformas e com casos dos maisvariados estilos. Devido a essaseriedade criada em torno dofutebol, foi preciso criar umórgão para julgar, analisar esentenciar casos polêmicosque envolvam jogadores, clu-bes, campeonatos, dirigentese até empresários. Assim nas-ceu o Superior Tribunal deJustiça Desportiva, o STJD.

Acima de qualquer órgão,o STJD administra, julga e de-fine as regras do esporte noBrasil. Cada esporte tem oseu próprio tribunal, o queacabou se tornando uma solu-ção de extrema importância,principalmente para o futebolbrasileiro.

Na mídia, o Tribunal temaparecido cada vez mais comdestaque, justamente devidoa suas punições e efeitos sus-pensivos, gerando assim mui-ta discussão, principalmenteentre os torcedores, que che-gam a desconfiar das decisõesdo órgão. O estudante Sai-

mon Mryczka Abou Nouh, 19anos, é torcedor do Palmeirase sempre está por dentro dasnotícias futebolísticas. Na opi-nião dele, algumas decisõesbeiram o ridículo, mas nãocrê que são tomadas para be-neficiar um time ou outro. O

narrador da web rádio BolaBrasil, Eduardo Luzardo Cos-ta, pensa de maneira seme-lhante: “Tenho dificuldadespara acreditar que sofra algu-ma influência externa, algu-

mas vezes temos essa impres-são, mas prefiro acreditar quenão”.

Como funcionaResumidamente, o proces-

so completo dos julgamentosno STJD acontece da seguintemaneira: a súmula chega aotribunal e em seguida é distri-buída para a procuradoria doSTJD. Por sua vez, ela faz a de-núncia e tem no máximo trêsdias para intimar o réu. Nojulgamento em primeira ins-tância, são cinco julgadores, eem segunda instância são 11.O repórter da rádio Itatiaia,Wellington Campos, que jácobriu cinco Copas do Mun-do e está presente no dia a diadas decisões do Supremo Tri-bunal de Justiça Desportiva,acredita que esse modelo émuito interessante e total-

mente justo. Acima de tudoele apoia a forma como oSTJD se insere no esporte.“Ele cuida apenas da partedisciplinar, não podendo alte-rar, por exemplo, uma decisão

do árbitro dentro do campo

na interpretação da regra. Sóquando ficar notório que adecisão está viciada”, esclare-ce.

Para Saimon, a maioria

das decisões do STJD é exage-rada, motivo pelo qual, mui-tas vezes, o time prejudicadoentra com um recurso e apena é diminuída considera-velmente. Em seguida, o joga-

dor acaba se livrando da puni-ção e no mesmo dia já podeatuar normalmente. Foi o queocorreu com o jogador DiegoSouza, em 2009, quando atu-ava pelo Palmeiras. Ele se en-volveu em confusão com ozagueiro Domingos, que naépoca defendia as cores doSantos. A procuradoria doTribunal lhe aplicou inicial-mente uma punição de 1.260dias sem jogar. Por fim, os ad-vogados do Palmeiras entra-ram com um recurso e conse-guiram diminuir a pena deforma considerável, para ape-nas oito jogos. Entretanto, oque parece ser algo ilegal eque aparentemente minimizao poder do STDJ, é algo per-feitamente normal. “O efeitosuspensivo é previsto em leiquando o atleta pega acimade dois jogos ou, no entendi-

mento do presidente STJD, ojulgamento da Comissão Dis-ciplinar não foi bem feito”,afirma Wellington Campos.

Mesmo isento de qualquertipo de suspeita, as decisõesdo STJD geram contrapontosentre os torcedores e especia-listas. Talvez muito em funçãoda paixão que os adeptos car-regam ou simplesmente porser muito burocrático. “Sou afavor da criação de uma novaforma de julgamento. Seriamais simples a criação de umcódigo de penas ao invés deconstruir um tribunal apenasvoltado para o futebol. Exis-tem critérios diferentes paracada julgamento e isso acabaprejudicando os times”, refor-ça o narrador Eduardo Cos-ta.

Em suma, conclui-se que,independente de ser um ór-gão polêmico e com decisõescontrárias, o esporte nacional– especialmente o futebol –

precisa de uma fiscalizaçãoque faça valer as leis que re-gem o mundo da bola, afinalde contas, o futebol é conside-rado a paixão do brasileiro.“Hoje o futebol no mundoemprega mais gente que váriasprofissões, perdendo só parao turismo. Futebol mexe compaixões e muito dinheiro dequem administra. Cobramosmais seriedade no futebol doque dos governantes”, enfati-za Wellington Campos. Exa-tamente por isso, o SuperiorTribunal carrega uma granderesponsabilidade, uma vezque existem milhões de pesso-as, ávidas por defender o seutime de qualquer hipotéticainjustiça.

Lances violentos das partidas recebem interpretações diferentes de cada um dos juízes

“Futebol mexecom paixões emuito dinheiro dequem administra.Cobramos maisseriedade nofutebol do que dosgovernantes”

Wellington Campos

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Ação e adrenalina IMPRESSÃO8 BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL DE 2011

Para quem quer se manterinformado sobre as últimasnotícias a respeito de julga-mentos no STJD pode acessaro site da Justiça Desportiva(www.justicadesportiva.com.br). Nele é possível acompa-nhar em tempo real as audiên-cias que acontecem no tribu-nal, visualizar as pautas esentenças dos julgamentos,além de consultar regulamen-tos e estatutos do meio fute-

bolístico.O site ainda oferece notí-

cias, entrevistas, artigos jurídi-cos e colunas com renomadosnomes do meio esportivo. Àsterças-feiras, a repórter espor-tiva Aline Bordalo escrevepara a coluna “Batom narede”, que traz a opinião femi-nina sobre o futebol. Na quar-ta-feira é dia do “Apito Bicu-do”, do ex-árbitro ecomentarista do sistema Glo-

bo/CBN em Curitiba, ValdirBicudo, que aborda assuntossobre o mundo da arbitra-gem.

Além de marcar presençano no Twitter e Facebook,existe também a área do STJDno site oficial da CBF, quedisponibiliza todos os editaise resultados completos dosjulgamentos ocorridos e a es-cala de procuradores e juízesdo tribunal.Audiências são acompanhadas em tempo real no site

STJD se destaca na web

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(IN)JUSTIÇA DESPORTIVA

Niarta OliveiraGislainy Borges6º PERÍODOEdição:

O dia 13 de fevereiro de2009 foi, para o Cruzeiro, umdia de vitória. A Raposa ga-nhou da Caldense por 2 a 0.Logo aos quatro minutos dejogo, o atacante WellingtonPaulista marcou um gol parao time celeste, de cabeça. Mas,como nem tudo é perfeito, ojogador ganhou cartão amare-lo e acabou expulso pelo árbi-tro Emerson de Almeida Fer-reira depois de comemorar ogol subindo no alambrado ese desentender com o jogadoradversário, Fábio Paulista.

A Procuradoria do Supe-rior Tribunal de Justiça Des-portiva (STJD) denunciou oatacante em dois artigos: o250 (praticar ato desleal ouhostil durante a partida) e o258 (assumir qualquer condu-ta contrária à disciplina ou aética desportiva não tipificadapelas demais regras deste Có-digo), ambos do Novo CódigoBrasileiro de Justiça Desporti-va.

Contudo, alguns mistériospermeavam aquela partida. Oclube mineiro perderia seispontos na tabela do Campeo-nato por ter escalado irregu-larmente o atacante, que porsua vez, corria o risco de pe-

gar, como penalidade, nove

jogos de gancho. Por fim, Pau-lista pagou a punição com do-ação de cestas básicas parauma instituição, tornando asua escalação regular sem se-quer comparecer ao tribunal.

Em conversa com Fabi-nho, volante cruzeirense, so-bre os julgamentos feitos peloSTJD, ele afirma que os joga-dores não são obrigados acomparecer no tribunal. Se-gundo o volante, depende daacusação, mas na maioria doscasos, não há necessidade dapresença do jogador. Questio-nado sobre se a repercussãode um time pode ou não in-fluenciar as decisões do Tri-bunal Fabinho disse acreditar“que é levado em conta a faltaque cometeu e não a camisaque ele veste”.

De acordo com o art. 217,II 1º e 2º da CF e arts. 49 até55 da Lei Geral Sobre Des-portos (LGSD), o STJD é umaparelhamento político-admi-nistrativo-jurídico que aplicao Direito Desportivo aos ca-sos de infração disciplinar àsnormas e regulamentos des-portivos.

As decisões que envolvemclubes pequenos, sem estrutu-ra, muitas vezes ilustramcomo a Justiça Desportiva jus-tifica a opinião de quem achaque ela reflete uma injustiçadesportiva.

Jogadores são julgados e muitas vezes recebem penas leves por atitudes incorretas

Wellington Paulista, atacante do Cruzeiro, foi punido por uma comemoração excessivaLeia a matéria na íntegra no site:

www.jornalimpressao.com.br@

Um outro exemplo foi apunição do ex jogador doAtlético Mineiro Diego Sou-za, que recebeu cartão ver-melho por ter dado uma te-soura no adversário duranteo jogo contra o Fluminenseno Campeonato Brasileiro.O caso foi citado na súmulapelo árbitro Paulo HenriqueBezerra por ofensas (teriaxingado o árbitro de ‘safado’e ‘sem-vergonha’) e indicia-do em dois artigos: 254 (pra-ticar jogada violenta) e 243(ofender alguém em suahonra). Se punido, o joga-dor poderia pegar uma pena

de até 12 partidas, o que otiraria do Campeonato Bra-sileiro. No primeiro julga-mento, Diego pegou doisjogos de suspensão pela en-trada violenta e foi inocen-tado do insulto.

Segundo o site JustiçaDesportiva, o jogador volta-rá a ser julgado pela expul-são no jogo contra o Flumi-nense. A Procuradoriasustenta o recurso explican-do que o atleta não pode serinocentado da ofensa ao ár-bitro e entende também quea jogada violenta já era pas-sível de uma pena maior.

Mais uma injustiça

Jogo deslealIMPRESSÃO 8BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL DE 2011

ORGANIZAÇAO DA JUSTIÇA DESPORTIVA DO BRASILAs comissões disciplinares nacionais e estaduais são órgãos que processam e julgam em primeira

instância as pessoas físicas e jurídicas submetidas ao CBJD (Código Brasileiro de JustiçaDesportiva). Já os STJD e TJD, seriam aqueles órgãos judicantes que atuam em grau de recurso(segunda instância, ou até mesmo como terceira instância nas situações de esgotamento da

matéria no TJD e cabimento de recurso ao STJD).

COMISSÃO DISCIPLINAR ESTADUAL -1ª Instância do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD)

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA -Competência para julgar recurso decorrente dedecisão oriunda da Comissão Disciplinar Estadual

COMISSÃO DISCIPLINAR NACIONAl -1ª Instância do Superior Tribunal de Justiça Desportiva(STJD)

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DESPORTIVA (STJD) -Competência para julgar recursodecorrente de decisão oriunda da Comissão Disciplinar Nac ional ou do Tribunal de JustiçaDesportiva para os casos de esgotamento da matéria no TJD.

Fonte: www.educacao sica.com.br

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Foram apreendidos, em 2010, cerca de 1.360 kg de drogas em Belo Horizonte; não apenas drogas, mas munições e equipamentos eletrônicos foram detid

POLÊMICA: LEI ANTIDROGAS

Para alguns, possibilita a reabilitação; para outros, contribui para o crescimento do trácoHugo Pereira6º PERÍODOEdição: Ana Flávia Tornelli

Depois que três magistra-dos da 6ª Câmara Criminalde Justiça de São Paulo (TJ-SP) absolveram, em 31 demarço de 2010, Ronaldo Lo-pes, que fora detido portando7,7 gramas de cocaína, a re-volta tomou conta da popula-ção. O comportamento dasautoridades evidencia que, nonosso país, não só os usuáriosde droga são absolvidos, masos traficantes também. Quan-do as autoridades competen-tes decidem pela punição, elaé “leve”. Aliás, foi assim queos próprios dependentes quí-micos batizaram a pena porporte e uso de drogas.

O menor CLR, 17 anos,estudante, traficante e usuá-rio de cocaína, afirma: a “novalei foi excelente, pois a penaalternativa é bem suave. Alémdisso, ela contribui para que adroga circule livremente, ouseja, aumenta o número deconsumidores.”

A psicóloga RosângelaMonnerat, que há mais de 20anos atua na recuperação deadultos, adolescentes e crian-ças em Belo Horizonte, acre-dita que a Justiça é injusta. Naopinião dela, os usuários etraficantes da classe média eda alta não são punidos e aca-bam contribuindo para o au-mento da reincidência. “A cocaína é droga cara, o sujeitoou ele é um usuário traficanteou ele é bem sucedido a pon-to de poder pagar para susten-tar o seu vício”, diz a psicólo-ga.

A delegada Andréa Ferrei-ra, chefe da Divisão Especiali-zada de Investigação AntiDrogas da Polícia Civil do Es-tado de Minas Gerais, por suavez, afirma que a nova lei nãodistingue e nem dá um trata-mento diferenciado paraquem é bem sucedido e nempara quem tem dificuldadefinanceira.

Segundo o advogado Afon-so Bambirra, a Lei 11.343 de-monstra que o Estado nãosustenta a própria punição,pois está desprovido de estru-tura do ponto de vista judiciá-rio. Há nele um descontroletotal da situação. “A ausênciade numerário de profissionaisque possa se envolver nestaquestão é imensa. A incompe-tência do Estado, não o deixaperceber que o usuário temconsciência do problema,uma vez que, ao ser detido no-vamente, sairá livre”. E com-pleta: “Esta é a sequência iló-gica desta sociedade injustaem que vivemos”.

Leia a matéria na íntegra no site:www.jornalimpressao.com.br@

A técnica em comunica-ção social Silvana Paiva, daCemig, observa que a novalei é uma aberração, pois vaipiorar cada vez mais a segu-rança. Na opinião dela, apena alternativa dá autono-mia para o usuário e o trafi-cante. “O ideal seria umamudança na lei, ou seja,uma revisão, ao invés decriar novas leis”.

O advogado criminalistaCarlos Frederico Cordiloafirma que a Lei 11.343,cuja pena é a prestação deserviços à comunidade, ofe-rece oportunidade para ousuário se recuperar, umavez que ele tem o direito deretornar à sociedade. O ad-vogado acredita que a leinão é a responsável pelo au-mento do consumo de dro-

gas na sociedade.Para a psicológa Rosân-

gela Monnerat, o tratamen-to é a única solução para osdependentes químicos. “Elese constitui envolvendo afamília, conscientizandoesta família, instruindocomo lidar com esse sujeitoe trazê–lo para uma realida-de em que não conviva comoutros usuários”.

A partir daí, ele terá achance de se autoconhecere, conseqüentemente, co-nhecer os efeitos de utiliza-ção das drogas.

O artigo 28 da Lei11.343 estabelece que quem,por exemplo, trouxer consi-go drogas para consumopessoal pode, entre outrassanções, sofrer advertênciasobre os efeitos das drogas.

Lei divide opiniões

“O ideal seriauma mudança nalei, ou seja, umarevisão, ao invésde criar novasleis”.

Silvana Paiva

Vício e trá co IMPRESSÃO7 BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL DE 2011

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Leonardo LôboYvan Muls6º PERÍODOEdição: Luiz Ladeira

O Brasil é um país quetenta abrandar as tensões ra-ciais, e de fato consegue. A idéia de “democracia racial”traçada pelas elites no iníciodo século XX ainda se man-tém presente nos dias atuais,dificultando as ações de lutacontra o racismo. O impactodesse mito muitas vezes é tãoforte e eficaz no controle dapopulação negra, que faz comque os afrodescendentes aca-bem por incorporar a ideia deque realmente não existempráticas racistas no Brasil.

Para a empresária Célia

Rosa, 43 anos, proprietária deum centro de estética no bair-ro Alípio de Melo, a práticado racismo está presente emseu cotidiano: “Pelo fato deser negra, acham que sou ape-nas funcionária do meu esta-belecimento, passei por situa-ções constrangedoras echeguei a denunciar um clien-te que me chamou de “maca-ca abusada”.

Estudos sobre a inserçãoda população negra no merca-do de trabalho, realizadosanualmente pela FundaçãoJoão Pinheiro, Secretaria deEstado de DesenvolvimentoSocial (Sedese) e Departamen-to Intersindical de Estatísticase Estudos Socioeconômicos(Dieese), indicam avanços naredução da desigualdade so-cial, mas ainda insuficientes.

“Números apontam parauma melhoria da condição donegro no mercado de trabalhoda Região Metropolitana deBH e, se for mantida a ten-dência dos últimos cincoanos, a perspectiva é de dimi-nuição da desigualdade”, afir-ma o coordenador da pesqui-sa por Mário Rodarte.

RACISMOEM FOGO BRANDO

Ênia Dara afirma que já se sentiu discriminada e defende uma reformulação da lei antirracismo

No Brasil, afrodescendentes continuam a ter poucas oportunidades no mercado de trabalhoANDERSON NAUPE

Para a doutora em socio-logia Nair Costa, que é pro-fessora titular aposentadado Departamento de Socio-logia e Antropologia daUniversidade Federal deMinas Gerais (UFMG), nãohá democracia racial noBrasil. A estrutura socialainda é hierarquizada, comforça do dinheiro e poderpolítico nas classes domi-nantes. Os baixos saláriosdesfavorecem a qualidadede vida dos negros no país.

Segundo Nair, a tendên-cia à miscigenação trazidapelos portugueses levou auma espécie de “branquea-mento” da pele, criando um

mito de democracia racial.Outro fator que historica-mente contribuiu para re-forçar a idéia de que não háconflitos, foi o processo deabolição da escravidão noBrasil, ideologicamente mis-tificado. Mas a sociólogaafirma que a segregação ain-da existe. Os poucos não-brancos nas elites são exce-ção à regra, mas, aindaassim, eles assumem a ideo-logia e a postura políticados brancos.

No Brasil de hoje, osafrodescendentes continu-am a ter poucas oportuni-dades na educação, no em-prego e no valor do salário.

Elite ainda é branca

“Onde morava,sofri muitopreconceito deuma vizinha, emuitos viam enão faziam nada,calando-se”

Ênia DaraLeia a matéria na íntegra no site:www.jornalimpressao.com.br@

Absurdo!IMPRESSÃO 6BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL DE 2011

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TRÂNSITO

SEM LEI

Carla OliveiraThayane Ribeiro6º PERÍODOEdição: Luiz Ladeira

Impunidade. É o que resu-me a maioria dos crimes detrânsito cometidos no Brasil.A cara de pau dos infratores étamanha, que os motoristassimplesmente ignoram o Có-digo de Trânsito cometendoatos que, em outros países, se-riam motivos para prisão. Onúmero de mortes nas vias éum sinal desse cenário. Se-gundo o mapeamento dasmortes por acidente de trânsi-to do Ministério da Saúde,divulgado no fim de 2009, otrânsito aqui mata 2,5 vezes

mais do que nos Estados Uni-dos. Em 2008, enquanto osEUA obtiveram uma taxa de12,5 mortes a cada 100.000habitantes, o Brasil obteveuma taxa de 30,1; sendo que afrota de carros norte-america-na é o triplo da brasileira.

Comparada com as leis

dos outros países, a nossa le-gislação é branda. Segundo oadvogado especialista em trân-sito Wanderley Sena “o culpa-

do por uma morte em umacidente de trânsito no Brasilpode responder por homicí-dio culposo e lesão corporalculposa”, porém, como a penamáxima é de dois anos, o réupode cumpri-la com serviçoscomunitários.

Em outros países a situa-ção é bem diferente. Na Ingla-terra, por exemplo, os moto-ristas podem ser condenadosa prisão perpétua, caso sejaconfirmado que o veículo foiutilizado como uma armapelo motorista. Já nos EstadosUnidos, se o acidente envol-ver morte e for confirmada aembriaguez, o motorista podeser condenado a até 20 anos.

Um exemplo que mostra aimpunidade no país é o casodo francês Olivier Rebellato.No ano passado, ele dirigiaembriagado na Savassi, regiãoCentro-Sul de Belo Horizon-

te, quando avançou um sinalvermelho em alta velocidade eatingiu um carro, vitimandocinco pessoas. Uma delas está

em estado vegetativo irreversí-vel. Já Olivier Rebellato vivelivremente na França. A Justi-ça brasileira já tentou localizá-lo, mas não encontrou seuendereço.

As razões da impunidadeno trânsito vão desde a irres-ponsabilidade à lentidão nosprocessos. Dados do Tribunalde Justiça de Minas Geraisprovam que desde a implanta-ção da Lei Seca, em junho de2008, cerca de 12.675 proces-sos ligados ao trânsito foramdistribuídos em primeira ins-tância no Estado. Até marçode 2010, apenas 6.709 foramjulgados. Os processos de2009 só devem ser julgadosno ano que vem. Enquantoisso, os culpados continuamsoltos.

Existem casos no qual oinfrator não recebe nenhu-ma punição, mesmo quetenha causado traumas físi-cos e materiais, pois acor-dos entre o motorista e avítima são firmados. Rodri-go Meireles Almeida, moto-rista de ônibus e estudantede engenharia é um exem-plo deste cenário.

No último dia 29 deagosto, o motociclista trafe-gava pela Avenida BarãoHomem de Melo, na regiãocentro-sul de Belo Horizon-te, quando uma mulherque dirigia uma caminho-nete avançou a parada obri-gatória e bateu na lateral damoto. A vítima foi arremes-sada contra a carroceria,batendo a cabeça no pára -choque da caminhonete.Embora tenha sido socorri-

do pelo Serviço de Atendi-mento Móvel de Urgência(SAMU), ele ainda hojeguarda a cicatriz causadapor um corte profundo natesta. Rodrigo alega quepor vários dias sentiu fortesdores de cabeça e não podetrabalhar.

O acordo firmado entreo estudante e a motoristagarantiu somente o paga-mento dos prejuízos da mo-tocicleta. Como resultado,a motorista não ganhoupontos na carteira ou per-deu a habilitação e Rodrigonão recebeu qualquer auxí-lio, além do atendimentodo SAMU. Situação cômo-da, para ambos os lados,que permite a resolução rá-pida do conflito sem o en-volvimento dos meios pú-blicos.

Acordo evita puniçãoPrincipal causa dos acidentes entre junho de 2008 e junho de 2010 foi a falta de atenção; imprudência foi responsável por 12.215 acidentes nas estradas de Mi

Leia a matéria na íntegra no site:www.jornalimpressao.com.br@

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Na Inglaterra, motoristas podem ter prisão perpétua; no Brasil, pena máxima é de 2 anos

Crime no asfaltoIMPRESSÃO 4BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL DE 2011

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Incrível! IMPRESSÃO3 BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL DE 2011

FONTES: Associação Nacional de Jornais; Instituto Verificador de Circulação; Dicionário Aurélio

SENSACIONALISMO

Como surgiu o site?Eu era redator do Casseta, quei desempregado e resolvi voltar à internet.Eu já tinha feito um blog de sucesso antes, o “Eu, Hein”, e achei que ainternet talvez fosse um bom caminho. Eu gostava muito do “The Onion” epensei em fazer uma versão brasileira dele.

Quem são os criadores do site?Eu, que já fui redator do Casseta, Escolinha do Professor Raimundo,Faustão, Tom Cavalcante. Três meses depois veio Marcelo Zorzanelli, quetrouxe o Leonardo Lanna e, por m, eu chamei a Martha Mendonça que játinha escrito uma peça comigo e um livro. Somos casados.

Já tiveram que lidar com algum leitor desavisado, que não percebequal a real intenção do site?Nos comentários sempre tem alguém que acredita (ou nge acreditar), agente nunca sabe bem se a pessoa acreditou mesmo ou se está brincando.

Quais as di culdades em escrever uma matéria sensacionalista?O mais difícil é se manter na linguagem jornalistica. Não fazer algo que umjornal não faria. A tentação é grande porque é divertido fazer piadas.

Como o site se sustenta? Publicidade, iniciativa privada...Temos uma parceria com o [canal fechado] Multishow, que nos dá ahospedagem e uma quantia mensal, mas o site é um hobby, ele não nossustenta. Todos temos - e gostamos bastante das - nossas pro ssões.

Como é decidido qual matéria será veiculada no portal com carátersensacionalista?Tem que ser engraçada e não ser segmentada demais, de modo que sóuma pequena parcela de pessoas possa entender. A regra é humor + fatoconhecido.

Super x Folha

De acordo com pesquisa de 2010 do Instituto Veri cador deCirculação (IVC), o jornal Super Notícia se tornou operiódico de maior circulação no país, batendo a Folha deSão Paulo.

Nos últimos anos, a Folha manteve, de maneira geral, aliderança em circulação no país. Porém, o Super - bem comooutras publicações denominadas populares - apresetamcrescimento forte e constante.

2011

301.871

292.296

2010

294.498

295.701

Média de circulação diária

Folha

Super

Com Nelito Fernandes, criador do www. sensacionalista.com.br6 perguntas

Sensacionalismo -substantivo masculino 1. divulgação e exploração em tom espalhafatoso dematéria capaz de emocionar ou escandalizar; 2. uso de escândalos, atitudes chocantes, hábitoexóticos etc. com o mesmo m; 3. exploração do que é sensacional na literatura, na arte etc.

De nição

Por João Paulo Vale

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EXPEDIENTE

REITORA

Diagramação

Texto

Infográ a

Texto

Foto gra a

DiagramaçãoAlessandra Ferreira

TextoRodrigo Espeschit João Paulo Vale

Ilustrações

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Eleito o melhor Jornal-laboratóriodo país na Expocom 2009

A era do espetáculoAna Flávia Tonelli6º PERÍODO

Usado para definir veículosde comunicação que tratam a no-

tícia como se fosse um espetáculo,o termo sensacionalismo pareceter virado tendência no meio mi- diático, especialmente entre osjornais populares, que muitas ve- zes utilizam o exagero e o alar- de para descrever acontecimen- tos trágicos e violentos, visandochamar a atenção do público. NoBrasil, o início da “imprensa sen- sacionalista” se deu a partir dadécada de 1940, com os chama- dos folhetins.

Para a pesquisadora MárciaAmaral, especialista em jornalis- mo popular e sensacionalismo, o

fato de um jornal ser sensaciona- lista não significa que ele seja,necessariamente, popular, e viceversa. Amaral afirma que os jor- nais populares são destinados às

classes menos favorecidas e, por isso, são vendidos a um preço bembaixo. Enquanto os sensacionalis- tas, utilizam determinadas estra- tégias para alcançar, a qualquer custo, uma ampla camada da po- pulação.

Voltados para as classes B, Ce D, os impressos populares Super e Aqui, evidenciam o estilo sensa- cionalista por eles adotado, atra- vés da explícita forma trágicacom que retratam as notícias. Osjornais são um ótimo exemplo deveículos que são, ao mesmo tem- po, populares e sensacionalistas.

Com preço bastante acessível(R$0,25) e forma escandalosa de re- tratar acontecimentos e, sobretu- do, tragédias, os impressos têmconquistado cada vez mais leito-

res. Para se ter uma ideia, emuma pesquisa realizada pelo Ins- tituto de Verificação de Circula- ção (IVC) divulgada em janeirodeste ano, o Super foi apontadocomo o jornal mais vendido nopaís em 2010, ficando à frente,inclusive, da grande Folha de SãoPaulo. Em fevereiro deste ano foidivulgada uma nova pesquisa,onde a Folha de São Paulo ultra- passou o Super no número deexemplares vendidos, o que com- prova a disputa acirrada dos veí- culos pela liderança.

Tanto os leitores dos jornaistradicionais como dos sensaciona- listas demonstram interesse por catástrofes, crimes, violência,sexo, etc, mas, como atesta o pes- quisador Danilo Angrimani, aforma pela qual os jornais noti- ciam, a linguagem, a diagrama- ção, as imagens, é que faz a dife- rença, dependendo da classe enível cultural.

Ainda segundo Angrimani,não se pode afirmar que os jor- nais sensacionalistas são violen- tos. Para ele, o jornal sensaciona- lista apenas dá um realce maior para a tragédia.. “Recursos comoa dramatização e a humanização

na narrativa dos fatos são utiliza- dos por vários veículos impressos

visando conquistar público”, afir- ma .

Além da forma como as noti- cias são tratadas, o veículo sensa- cionalista, na maioria das vezes,

faz uso do exibicionismo paraatrair o leitor. Voltando ao exem- plo dos impressos belo-horizonti- nos Super e Aqui, observa-se cla- ramente a preferência por mulheres vestindo trajes sumáriosestampadas na capa do jornal.Outro determinante é a maneiracomo a manchete é escrita, de for- ma atraente, dramática e, por vezes, apelativa.

Tendo em vista o públicocada vez maior conquistado pe- los veículos sensacionalistas e ocrescimento deste tipo de jornalis- mo dentre os meios de comunica- ção, a equipe do Jornal Impressãodecidiu experimentar uma novaforma de escrever o jornal. Nestaedição, as matérias escritas pelosalunos do 5º período de jornalis- mo ganharam uma pitada de sen- sacionalismo. Para isso, dividimosas tarefas. Enquanto uma partese incumbiu de escrever a notíciano modelo formal, a outra se en- carregou de escrever a mesma no- tícia no estilo sensacionalista, ouseja,mais dramatizada. O mesmoaconteceu no processo de edição.O resultado deste desafio vocêconfere agora.

Acompanhe a edição 182 tambémpelo site:www.jornalimpressao.com.br@Jornais Super Notícia e Aqui são destaques do segmento

REPRODUÇÃO

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Primeiras palavrasIMPRESSÃO 2BELO HORIZONTE, DEZEMBRO A ABRIL DE 2011

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8/7/2019 Jornal Impressão Edição 183 caderno 1

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CRIMES

SEM PUNIÇÃOO trânsito no país mata 2,5 vezes maisque nos Estados Unidos. Motoristas im-prudentes são os grandes responsáveispelas mortes e não são punidos. A leibrasileira de trânsito é muito branda efavorece a impunidade. PÁGINA 4

Estudante Rodrigo Meireles mostra pontos causados por acidente em BH

A MULHER PERFEITA

Eis a nossa musa da capa eleitapeloImpressão: cabelo da GiseleBündchen, olhos e nariz da MeganFox, lábios da Agelina Jolie, seiosda Pamela Anderson, quadril da

lh b i d

RACISMO

População afrodescendenteainda é discriminada, rece-be menos e tem poucasoportunidades

DROGAS

Lei antidrogas polêmica efalta de estrutura do Estadonão contribuem para redu-zir o consumo e o tráco

ESPORTE

Justiça Desportiva age compouco rigor nos tribunais enas penas aplicadas aosjogadores de futebol

PÁGINA 7

PÁGINA 6

DIVULGAÇÃO

JÚNIOR MOREIRA