jornal impressão nº 182 - caderno do!s

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8/8/2019 Jornal Impressão nº 182 - Caderno Do!s http://slidepdf.com/reader/full/jornal-impressao-no-182-caderno-dos 1/12 Ano 28 • número 182 • Outubro de 2010 • Belo Horizonte/MG Leia as críticas de Marcos Mendes, que acompanhou os shows de Ney Mato- grosso, em Belo Horizonte, e Maria Bethânia, no Rio de Janeiro. Página 12 Leonardo Lobo O amaleão e a abelha-rainha

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8/8/2019 Jornal Impressão nº 182 - Caderno Do!s

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Ano 28 • número 182 • Outubro de 2010 • Belo Horizonte/MG

Leia as críticas de Marcos Mendes, queacompanhou os shows de Ney Mato-

grosso, em Belo Horizonte, e MariaBethânia, no Rio de Janeiro.Página 12

Leonardo Lobo

O amaleão e aabelha-rainha

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A PáicaImPressão2 Belo HorIzonte, outuBro de 2010

Batidore de umagrande expoição

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Ml nv Vv aúj7º Períodoe: a Tll

Muita gente foi conferirde perto as obras do escultorfrancês, Rodin, na Casa Fiatde Cultura no ano passado.Mas é certo que poucas sabemque para realizar a exposiçãoforam necessários dois anosde produção e muito tra-balho. a gestora da Casa Fiatde Cultura, Ana Vilella.

O primeiro passo, de acor-do com a gestora da institu-ição, Ana Vilella, é elaboraruma proposta com todos osdetalhes, espaço, obras, estra-

tégias de marketing e custos.  A proposta é apresentadaao conselho diretor da CasaFiat. e, se aprovada, inicia-seuma negociação com as insti-tuições que detêm a guardadas obras. Nesse processo épreciso comprovar que háinfra-estrutura adequada parareceber o acervo.Encerradasas negociações, é necessárioconseguir recursos para via-bilizar o projeto. Ana Vilella

conta que para uma exposiçãocomo a de Rodin o custo éde quatro milhões de reais.O próximo passo é aprovar o

plano junto ao Ministério daCultura, para que parte dostributos que seriam repassa-dos a União, pelo grupo Fiat,sejam direcionados para a ex-posição. “Além dos custos demanutenção e funcionamentoda instituição que são assumi-dos pelos mantenedores, osprojetos são viabilizados comum aporte dos patrocinadoresque giram em torno de 20% a30%. O restante é subsidiadoatravés da Lei de incentivoFederal”,explica a gestora.

  Assegurados os recursos,

é hora de finalizar o contratocom a instituição internacio-nal, definir datas para a exi-bição, escolher as obras queserão expostas, enviar técni-cos ao museu de origem daspeças para verificar questõescomo transporte e acondicio-namento. Paralelamente, emBelo Horizonte, as instalaçõessão preparadas para receberas obras (iluminação, e cli-matização). Também é pre-

ciso planejar a melhor dis-posição das peças no espaço.  Já a equipe de comunicaçãoinicia uma pesquisa histórica

e desenvolve conteúdos queserão essenciais para mantero evento.

Segundo Ana Vilella, 80pessoas são contratadas tem-porariamente para trabalharno funcionamento das ativi-dades, “entre elas equipe dereceptivo, segurança, limpeza,produção, técnicos, comuni-

cação e educativo”.Mas o trabalho não acaba

aí. Encerrada a exposição,cabe a instituição cultural

acompanhar a viagem de voltadas obras para o museu de ori-gem e assegurar que cheguemsem sequer um arranhão.

Tenologia A Casa Fiat de Cultura é

uma instituição cultural semfins lucrativos. Foi inauguradaem 2006, em comemoraçãoaos 30 anos da Fiat no Bra-sil. Com área total de 3.650m, está localizada em NovaLima, Região Metropolitanade Belo Horizonte. O maiordiferencial da instituição é a

tecnologia com a qual foi pro-jetada, o que permite receberobras centenárias, tombadaspelo patrimônio histórico dahumanidade.

Para a professora decrítica da escola Guignardda UEMG, Janaina Melo,esse novo espaço insere BeloHorizonte na rota das grandesproduções artísticas. Segundoa professora, “na década de90 a capital recebeu impor-

tantes produções como Ca-mille Claudel, Picasso e Dali,mas a proposta de espaçoscomo o Museu de Arte da

Pampulha, que foi um marcona trajetória artística da nossacidade, mudou, e a casa Fiat,aliada a uma política culturalbastante eficiente, colaborapara formação e ampliação deum público de arte”.

Em resposta às críticasde uma parcela da popula-ção que vê a Casa Fiat comoespaço elitizador da cultura,  Janaina Melo é taxativa: “apartir do momento em que olocal abre as portas para a visi-tação pública, ele não podeser visto como elitizador, e

sim, como democratizador. Oque falta é incentivo e políti-cas de deslocamento até esseslocais”. Durante a exposiçãode Marc Chagall, em ANO, aCasa Fiat ofereceu transportegratuito à população com ôni-bus que saíam regularmenteda Praça da Liberdade.

 Aompanhe a matéria na íntegra

no ite:

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FoTos JuLiana VaLLiM

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A PáicaImPressão   3Belo HorIzonte, outuBro de 2010

Mudança na LeiEm 18 anos de Lei Rouanet, alguns aspectos ainda precisam ser melhorados. Existemdiferenças consideráveis na arrecadação da verba quando se divide o país em regiões.

Realidade da Lei Rouanet

Fonte: MInistério da Cultura

Norte

0,45%

Nortedeste

6,91%Centro-oeste

3,84%

Sudeste

79.11%

Sul

9,69%

M M6º Período

Complexa e exigente. A montagem de exposições

temporárias não é simples edemanda por profissionaisqualificados. Organização,pesquisa, contatos e pa-trocínio são algumas das eta-pas para realizar uma mostra.

O primeiro passo para aelaboração de uma exposiçãode arte é definir o tema e operíodo de duração. Após es-sas decisões, a equipe deve pes-quisar e mapear as obras quese encaixam ao assunto escol-hido. A partir daí começamos contatos entre instituiçõese colecionadores.

 Após vencida esta etapa, oinstituto deve garantir trans-porte adequado, direitos au-torais e seguro para as obras.Esses são os grandes proble-mas que, geralmente, invia-bilizam a realização de váriasexposições, principalmenteinternacionais, no Brasil. Porisso, as instituições recorrema patrocínios e leis de incen-tivo a cultura.

Esta fase representa 50%da montagem da mostra.Para a próxima etapa entramem cena os courries, pessoas

responsáveis pelo acompan-hamento das obras desde oempréstimo até a exposição,além de observar a devoluçãodos objetos.

  A conservação, tempera-tura ambiente, iluminaçãoe segurança devem ser sem-pre observados. O trabalhode montagem mobiliza umagama de profissionais, que vão

desde o curador até o setor deimprensa da exposição.

Em BHO Palácio das Artes abriga

grande parte das exposiçõesna capital mineira. Recente-mente, o espaço recebeu amostra do programa Valoresde Minas, que oferece oficinasde arte para jovens de escolaspúblicas estaduais.

Os trabalhos de 40 alunosforam apresentados e os estu-dantes vivenciaram a monta-gem da exposição, em nívelregional. Primeiro, eles ficar-am três meses trabalhandocom o objetivo de conheceras artes plásticas, criar obras eexpô-las para o público. “No

momento da montagem elesperceberam realmente o queé uma exposição. Participardela é uma estratégia para queeles entendam melhor o pro-cesso”, diz a coordenadora daárea de artes plásticas MarinaBylaardt, do Valores de Mi-nas, do Serviço Voluntário de Assistência Social, o Servas.

O programa Valores deMinas inaugurou, em 2009, oPlug Minas e faz parte do Nú-cleo do Centro de Educação  Juvenil, que funciona na an-tiga Febem, no bairro Horto.

Esta semana, o estilista ecurador Ronaldo Fraga es-treia, no Palácio das Artes, aexposição Lendas do Sertão,que retrata a arte das cidadesribeirinhas do Rio São Fran-cisco. A reportagem esteve nagaleria para conferir a monta-gem da mostra, mas o artistapreferiu não revelar detalhespara surpreender o público.

Etapa de montagem

O Governo Federal en-  viou ao Congresso Nacionaluma proposta de revisão daLei Rouanet, criada em 1991para incentivar a cultura pormeio de renúncia fiscal. A lei tem sido alvo de críticasdesde sua promulgação, sob oargumento de que a empresanão estaria financiando a cul-tura de fato, apenas redirecio-nando parte dos seus tributosdevidos para uma instituiçãoou projeto cultural.

Segundo o Coordenadorda Secretaria de ArticulaçãoInstitucional do Ministérioda Cultura, Bernardo daMata Machado “A cada R$10,00 investidos, R$ 9,50 sãopúblicos e apenas R$ 0,50 édinheiro do patrocinador pri- vado. E o patrocinador aindase beneficia, porque atravésdo projeto faz propaganda desua empresa sem gastar um

tostão.”Bernardo admite que a Lei

cria distorções regionais (videinfográfico) além de privile-giar projetos ligados a empre-sas fortes, uma vez que seusprojetos teriam maior noto-riedade, por conseqüência,maior publicidade. SegundoBernardo “Projetos de cultu-ra popular, circo, biblioteca,restauração de patrimôniocultural, cultura indígena eafro-brasileira, entre outros,

mesmo que aprovados, quasenunca obtêm patrocínio”.

Pela nova proposta dogoverno, os projetos nãoreceberão 100% de isençãoindiscriminadamente. Opercentual de renúncia seráestabelecido de acordo comcritérios de julgamento quelevam em conta dimensõessimbólica, econômica e socialdo projeto.

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Ftvl mcl cltc clc bl Hzt cct c pt cl

dl ottGtv CtLc olv7º Períodoe: a Tll

 Adeptos do rock, em suas

intermináveis vertentes, têmencontro marcado há muitosanos na Galeria do Rock localizada na Praça Sete,patrimônio histórico-culturalda capital mineira. Em 1999 Wellbert Ramos, mais conhe-cido como Bart, decidiu fun-dar ali a sua loja, a 53 Hard-core Company ou 53HC. A partir daí, o produtor musicalnão apenas comercializou ál-buns de bandas alternativas,mas promoveu a cultura in-dependente em todo o paíscom um misto de loja, selo e

produtora.

Disposto a preencher ocalendário cultural da cidadee querendo ampliar as inicia-tivas da 53HC, nasceu o pro-jeto Flaming Night, em 2007.“Percebendo a defasagem queBH possuía em relação ao cir-

cuito underground, quisemostrabalhar para que a partici-pação da cidade nesse meiofosse mais expressiva”, afirmaa assistente de produção da53HC, Rafaela Maini.

 Através do festival, a cidade

se tornou palco de grandesshows e viu despontar talen-tos antes distantes do público.“Nossa proposta é apresentaralguns dos artistas da cena in-dependente, promovendo-ose aumentando o intercâmbioentre estilos musicais”, explicaum dos produtores do festival,Tomaz Alvarenga.

  A cada três meses, umanoite flamejante invade acidade, sempre com artistasemergentes ou surpresas dacena independente. Aindapromove o encontro de públi-

cos de várias faixas etárias, es-

tilos e gostos. Rafaela garanteque a diversidade não temfim. “As atrações do FlamingNight já trouxe para Belo Hor-izonte vão do rockabilly aometal, passando pelo reggae,punk rock, hardcore, indie,

jazz, eletrônico e pretendemostornar cada vez mais variada erica essa lista de estilos.”

  A lista de bandas quetiveram a oportunidade de

mostrar seu trabalho no fes-tival é extensa e conta comnomes como: Móveis Coloni-ais de Acaju, Fresno, Matanza,Strike, Ratos de Porão, DeadFish, Canastra, Autoramas,Forgotten Boys, CopacabanaClub, Cachorro Grande,

Mundo Livre S/A.Um dos fatores que com-provam a valorização e o re-conhecimento do festival éo apoio da imprensa que au-mentou muito desde a primei-ra edição. “A mídia já perce-beu o valor do evento e cada vez mais abre espaço para estesegmento”, ressalta Tomaz.

Segundo o estudante Ber-nardo Biagioni, que não perdeuma edição do festival, o Flam-ing Night mostra quem sãoos artistas mineiros de hoje equais são os novos diálogos da

cultura feita nas mais diversascidades de Minas Gerais. Eletambém acredita na relevânciado evento para o fomento dacultura contemporânea pro-

duzida no Brasil. “Isso é im-portante para compreender-mos os nossos tempos, nossasaspirações, nossas revoluçõespontuais. Com o festival,ficamos por dentro do que háde melhor sendo feito no paíshoje”, destaca Biagioni.

Com visão semelhante,Guto, vocalista da bandamineira The Dead Lover’sTwisted Heart, acredita quea experiência de tocar no fes-tival foi muito boa. “Como éde praxe na Flaming Night,a curadoria mistura públicosdiversos, distinto do nosso ha-bitual e foi um desafio muitolegal. Como músico, o con-tato com públicos diferenteste obriga a experimentar coi-sas novas no palco. Isso é de-mais”, conta.

Outro músico que já par-

ticipou do Flaming Night,Cássio Corsino, acredita nopoder das noites da 53HCpara a música mineira. Atu-al baixista do grupo de BHRagna, o músico analisaque o evento caminha para oamadurecimento no setor or-ganizacional. Ele diz que essetipo de evento é importante,já que “além de colocar a capi-tal mineira na cena musical,auxilia a formação de novospúblicos e perpetua um tra-balho iniciado há décadas”.

 A última edição do Flam-

ing Night foi realizada emsetembro, no Music Hall, emanteve a tradição ecléticacom diversidade de estilos. Nopalco, bandas veteranas comoMatanza e Mukeka di Ratodividiram espaço com as no- vatas Vespas Mandarinas, Vi- vendo do Ócio, Skacildes, e oDj Chuck Hiphólito.

PALcOs

flamejante

shwImPressão4 Belo HorIzonte, outuBro de 2010

Não é fácil realizareventos na capital minei-

ra. Os produtores alegamque o retorno não é ga-rantido, o público mudade opinião e gosto comfacilidade e os preços dealuguel e investimentonão costumam ser baixos.É preciso muita coragem,conhecimento e persistên-cia para tocar um projetoadiante.

Por mais difícil quea concretização da idéiapossa parecer, é precisoacreditar e ir em frente, éo que pensa a assistente de

produção da 53HC, Rafa-ela Maiani. “A dificuldadeé grande, pois até o anopassado realizamos todasas edições dos dois pro-jetos sem qualquer apoiofinanceiro, contando coma bilheteria para cobrir to-dos os custos gerados. Éum grande desafio, mastemos muita expectativaem tornar esses projetoscada vez mais sólidos ericos culturalmente falan-do”, afirma.Outro ponto discutido é a

previsão de início e térmi-no dos festivais. “O eventodeveria ser mais pontual. Assim não terminaria tãotarde - ou cedo da manhãseguinte”, indica Bernar-do Biagioni, ouvinte demúsica independente. A última atração, normal-mente mais aguardada,só sobe ao palco algumashoras depois do início deum novo dia.

  Até a penúltimaedição, o Lapa Multshow foi a casa que sempre rece-

beu o festival, mas desdea 13ª edição, realizada em10 de abril deste ano, oLapa cedeu espaço parao Music Hall, no SantaEfigênia. Procurado pelareportagem para falar so-bre as noites flamejantes,o produtor musical e pro-prietário do Lapa, Gui-lardo Veloso, não quis semanifestar.

 Apoio é

desafo

Confra a matéria também no

ite:

 www.jornalimpreao.om.br@o pt mcl Wlt rm, f 53HC, lz Flmg nght

 anderson auréLio

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CaImPressão   5Belo HorIzonte, outuBro de 2010

Desafos do “novo”

 jornalimo ulturalJlt á ctm pó ct ctú pgm TV m

L scpll8º Períodoe: Lz L

  A televisão e os veículosimpressos abrem espaço para

a cultura, mas de forma restri-ta. Nos quadros culturais doscanais de televisão, o que setorna comum é a reproduçãoda agenda cultural de BeloHorizonte, com coberturas

mais aprofundadas de poucoseventos. Tradicionalmenteos mais populares. De umamaneira geral, são poucas asemissoras que apresentama cultura mineira em algumprograma específico.

Uma das exceções é a RedeMinas, com uma programa-ção voltada para discussõesculturais. Para Fernanda Ri-beiro, apresentadora de umdesses programas, o Agenda,o jornalismo cultural em BeloHorizonte “ainda é peque-no”. A frente do programa,a jornalista faz parte da mino-ria responsável por apresentarinformações culturais em umprograma dedicado integral-mente para o assunto. “Issoainda não é suficiente. BeloHorizonte, há muito, vem

entrando na rota dos grandeseventos, mesmo que com  várias ressalvas, mas é tristepensar que a cultura ainda épouco valorizada na impren-sa”, completa Fernanda.

Sob outro ponto de vista,

a jornalista e apresentadorado programa Trilha MTV,Laura Damasceno acreditaque o jornalismo vem acom-panhando o crescimentocultural em Belo Horizonte.“Os profissionais da área têm

aproveitado a passagem denomes importantes pela ci-dade e a reunião de públicorealmente interessado em cul-tura para produzir conteúdosmuito interessantes e levantarquestões que tratem da cultu-ra não só de maneira ampla,mas também local, ajudandoa fomentar ainda mais a cenacultural em Belo Horizonte.”

Impreo e a ultura  Atualmente o mercado

mineiro conta com três jor-nais impressos de grande cir-

culação que apresentam asinformações culturais belo-horizontinas, através de cad-ernos, semanais ou diários,específicos.

Para a repórter do cadernode cultura Magazine, do jor-

nal O Tempo, Soraya Belusi,os jornais atuais tentam apre-sentar ao seu leitor um textode qualidade, mas acabam seprendendo na reprodução dasagendas culturais. De acordocom Soraya, o Magazine “sai

na frente de seus concorr-entes”, pois tenta trazer paraas matérias, constatações e as-sociações de ideias dos própri-os repórteres.

  Além de trabalhar comorepórter, Soraya participa deum núcleo de pesquisa sobrejornalismo cultural do GrupoGalpão. Nos encontros dogrupo, são discutidos novosformatos para a prática dejornalismo cultural, além detemas que cercam a rotinado profissional que trabalhanessa área. “A idéia é refletir

como o jornalismo culturalpode ir além dos padrões queestão sendo veiculados”, ex-plica Soraya.

Indo contra a tendênciade pouco aprofundamento nojornalismo cultural, em 2007surgiu uma nova opção paraos leitores mineiros: sites espe-

cializados, não só nas agendasculturais de Belo Horizonte,mas também com cobertu-ras jornalísticas da área. Oprimeiro deles foi Guia Entra-da Franca, criado pelo gestorcultural, Alexandre FabelloFernandes, o Alex. Além dele,o site conta com duas jornalis-tas responsáveis pelas reporta-gens, Ártemis Brant e AnaPaula Pimentel.

Outra opção, mas voltadapara o público alternativo, éo Coletivo Pegada. O veículosurgiu a partir de uma carência

de bandas independentes, quebuscavam espaço para apresen-tarem seus trabalhos. O iníciofoi em 2008, impulsionadopor Lucas Mortimer, músico ecoordenador de planejamentodo site. Para ele, os veículos aexemplo de jornais impressos,rádio e televisão, não con-seguiram acompanhar a ve-locidade das mudanças estãoacontecendo no meio cultural.Por isso, a internet forçou um

dinamismo para todo o jornal-ismo, e não apenas o cultural.“Hoje, por exemplo, o Twitteré uma grande ferramenta deinformação. Isso fez com que

as notícias tenham que serbem mais diretas e informati-  vas, utilizando o mínimo decaracteres para passar a infor-mação”.

Para a jornalista e apresen-tadora do Agenda, na RedeMinas, Fernanda Ribeiro,as novas mídias sociais são  válidas para divulgar cada vezmais a cultura. “Acho que hojea coisa é mais casada, como nocaso do Agenda que tem Twit-ter. Mas ainda acho que as mu-danças são pequenas.”

  Já na opinião de Laura

Damasceno as redes sociais,como o facebook e twitter,contribuem para a promoçãoda eventos culturais, mas deuma forma geral, não impactana “maneira de pensar o jor-nalismo cultural”. “O maislegal disso (as redes sociais eblogs) é que muitas vezes asconversas que surgem nessesespaços aumenta o interessedo público pelos eventos cul-turais.”

No movimento inverso

 Aompanhe a íntegra da matéria

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Lucas Mortimer entende que o nicho cultural se diversicou

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FoTos Larissa sCarPeLLi

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eai  ImPressão6 Belo HorIzonte, outuBro de 2010

 Percorrendo as estradas de Minas, os contrastes de cores que surgem das águas, dosol e da mata que se fundem, inunda os olhos do viajante. As terras, que deram lugar aimensidão azul de águas, que reetem a luz do sol, não podem mais ser vistas, fcaram nalembrança dos antigos moradores e na imaginação do andarilho. Para ele, presenciar oanoitecer à beira daquelas águas é reetir sobre cada história mergulhada sob o imensolago, que carrega consigo o curso dos Rios Grande e Sapucaí. A vida de muitos homens emulheres foi transformada em nome da evolução. A energia elétrica que chega nas casas,ruas e empresas brota dali. Todavia, para o viajante, a verdadeira energia não é a quemove a tecnologia, mas sim àquela que alimenta o espírito quando é inspirada pelo toquenatural.

Furna da natureza

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eaiImPressão   7Belo HorIzonte, outuBro de 2010

FoTos:Gl L4º Período

Design Gráco

TexTo e edição:M M8º Período

Jlm

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PREsERVAR  também é preio

 A visão de quem restaura lmes para manter viva a memória audiovisual da sociedade

Lc olv

6º Períodoe: Lz L

Tão importante quantoproduzir novos filmes é recu-perar e arquivar os antigos, afim de permitir ao público in-teressado o acesso à nossa me-mória cinematográfica. Rafaelde Luna, atuante na área dememória audiovisual e histó-ria do cinema brasileiro, con-corda quanto a esta im-portância e dizque estaprát ica“ n ã oé

u m aação que se

encerra. Nenhum fil-me jamais ‘foi’ preservado, elepode ‘estar sendo’ preserva-do. Isso requer ações contínu-as e permanentes para garan-tir a manutenção do estado

dos materiais e sua permanen-te acessibilidade”.

O trabalho de preservaçãode filmes é caro e trabalhoso. A boa notícia para os cinéfilosé que há pessoas e instituiçõesinteressadas em manter viva

nossa história audiovisual,como Patrícia Civelli, MyrnaBrandão (do Centro de Pes-quisadores do Cinema Brasi-leiro), os familiares de Glau-ber Rocha - que com o projetoTempo Glauber recuperou os

títulos: Barravento (1961),Terra em Transe (1967), ODragão da Maldade Contra oSanto Guerreiro (1969), e A 

Idade da Terra (1980); e de  Joaquim Pe-

dro de Andrade (com o proje-to Filmes do Serro); além de Alice Gonzaga. O trabalho de Alice à frente do Cinédia temajudado a mudar o quadroem que se encontra parte doacervo de filmes brasileiro.

Dando continuidade aotrabalho que seu pai, Adhe-mar Gonzaga, iniciou em1930, Alice vem recuperandoboa parte do acervo dos tem-pos de estúdio do Cinédia,além de finalizar em dezem-

bro de 2009–

p e l oInstituto paraPreservação da Memória doCinema Brasileiro (IPMCB)– a recuperação de cinco fil-mes do cineasta Moacyr Fene-lon, nascido em Patrocíniodo Muriaé em 1903,

e um

dos fundadores da  Atlântida Cinematográfica etambém um ativista em defe-sa do cinema nacional, na

fase final de sua car-reira (de

1948 a 1951). Por este seu tra-balho de resgate, foi homena-geada em março deste anopela Academia Brasileira deCinema. A produtora doramo cinematográfico confes-sa que sentiu “mais necessida-

de ainda de ajudar a valorizaros artistas, tanto os conheci-dos quanto os esquecidos”, ecompleta que “os novos espec-tadores precisam conhecer opassado artístico do país. Sãoregistros de nossa cultura eparte do nosso patrimôniohistórico”.

 A preservação de filmes ea disponibilização das cópias

restauradas para con-sulta, seja tanto

para pesquisa oupara liberação

ao público,

e n v o l v e mp r o c e d i -mentos ca-ros, poisn e c e s s i -tam de au-

 xílio de tec-nologias

d i g i -t a i s . A 

e x e m -plo dos

filmes deM o a c y rFenelon.M ui t a s pe l í -culas se encon-

tram emsituação de

perda total.Myrna Bran-

dão, do Centrode Pesquisadores

do Cinema Brasilei-ro, se preocupa com a

qualidade dos filmes antigos,principalmente os realizadosantes da década de 1960. Ela

acredita que “a preservaçãoda nossa memória fílmica éimportantíssima, mas no Bra-sil a situação de muitos filmesé crítica. Muitos se perderame outros estão ameaçados deextinção. O cálculo dos pro-

fissionais é que umgrande núme-

ro de

longas realizado antes da dé-cada de 1960 estão desapare-cidos, entre eles clássicoscomo ‘Favela de meus amo-res’, de Humberto Mauro,‘Barro Humano’, de AdhemarGonzaga, ‘Moleque Tião’, de

 José Carlos Burle (o primeirofilme sonoro brasileiro), ‘Aca-baram-se os Otários’ (o pri-meiro musical), ‘Coisas nos-sas’ (primeira sátira), entreoutros”.

Resgatar e preservar a me-mória da cultura brasileira épossibilitar às futuras geraçõeso acesso a estas obras. Os in-  vestimentos neste sentido sefazem, portanto, necessários.Mas, segundo Alice, “os re-cursos ainda são insuficientes.Nossos filmes precisam serduplicados a fim de evitar a

perda e garantir a manuten-ção dos mesmos”. E ela acres-centa que “os profissionais domeio audiovisual e cultural,inclusive setores da adminis-tração pública, têm uma gran-de responsabilidade social.Os recursos negados a insti-tuições e empresas que preser-  vam acervos cinematográfi-cos, sob o argumento deredução de verba, comprome-tem a própria existência dasprodutoras, pois pode não ha-  ver mais o que pesquisar eusar nas cinematecas do sécu-

lo XXI”.

Hithok O Instituto Britânico de

Filmes tomou uma iniciativainteressante, lançou uma cam-panha de adoção de filmes de Alfred Hitchcock. Através deuma doação, qualquer pessoapode contribuir para a restau-ração de um trabalho do dire-tor e, dependendo do valordoado, pode inclusive recebercréditos na telona depois daprojeção.

Qualquer valor é aceito.

De acordo com cálculos dopróprio instituto, com 25 li-bras é possível restaurar 50centímetros de filme. Para ob-ter o direito a crédito no finaldo filme, o doador deve de-sembolsar 5 mil libras e calcu-la-se que para restaurar inte-gralmente uma película sejamnecessárias 100 mil libras.

CiaImPressão8 Belo HorIzonte, outuBro de 2010

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Preocupados com a situa-ção da preservação, muitasempresas procuram patrocíniopara conseguir salvar parte denossa memória cinematográ-fica. Mas, mesmo com osincentivos obtidos por quemfinancia esse trabalho, obterinvestimento nem sempre étão fácil. Para os cinco filmesde Fenelon que o Institutopara Preservação da Memóriado Cinema Brasileiro (IPM-CB) resgatou, Alice explicouque, no início, foi muito difí-cil, mas acabou conseguindopatrocínios do Ministério daCultura, do Fundo Nacionalde Cultura e da Petrobras.Esta última contribuiu pararestaurar, por exemplo, “Alô, Alô Carnaval” e outros filmesdo Cinédia. O IPMCB at-ualmente finaliza “Berlim naBatucada”, “Bonequinha deSeda” e outros cinco filmes.

  Já Myrna Brandrão expli-ca que enviou seus projetosde restauração para mais de20 empresas, e o resultadosó conseguiu ser alcançadocom a Petrobras e a Labocine,que, com uma equipe técnicacoordenada pelo restauradorFrancisco Moreira, possibili-tou a complementação dosrecursos que foram patroci-nados pela empresa estatal.O CPCB, com seu programa

de restauração, já salvou,em dez anos de atuação, seisfilmes, como “Aviso aos Nave-gantes”, de Watson Macedo,“Tudo Azul”, de MoacyrFenelon, “Menino de Engen-ho”, de Walter Lima Jr., “OPaís de São Saruê”, de Vladi-mir Carvalho, “O Homemque Virou Suco”, de João Ba-tista Andrade, e “A Hora daEstrela”, de Suzana Amaral.Segundo Myrna, todas as res-taurações foram incentivadaspelo Ministério da Cultura –Secretaria do Audiovisual –,através da Lei Rouanet.

Em princípio, qualquerfilme que esteja em gravescondições técnicas pode edeve ser restaurado, porqueindependentemente da quali-dade artística que a produçãopossa ter, todos os filmestrazem em si um componenteforte de memória da épocaem que foi realizado, que deveser preservado. Myrna acredi-ta que os critérios de seleçãoe incentivos financeiros pararecuperação não resolvem oproblema dos inúmeros film-es que estão se perdendo porfalta de um trabalho adequa-do de conservação. “Por isso,outra questão muito difícil éescolher o filme que será res-taurado, entre tantos ameaça-dos”, completa.

 Arreadação para amanutenção de flme

Preservar é um trabalhoconstante para manter viva

uma obra no estado maispróximo possível àquele emque ela foi originalmente real-izada e apresentada. Isto per-mite que as gerações futurastenham acesso à memóriaaudiovisual daqueles retrata-dos por essa obra. Portanto,Restaurar filmes é mais queuma questão relativa à arte,é uma questão de cidadaniae de identidade, seja regionalou nacional. Myrna Brandãodiz que “o cinema é como umespelho onde cada um se vê e vê também sua história e sua

cultura. Se nossos filmes nãoforem restaurados e preser-  vados, corremos o risco deadotar valores de outras cultu-ras que inundam nossas telascom seus filmes”.

O professor Rafael deLuna lembra que “hoje todossabem do valor de um filmecomo “Central do Brasil” ou“Cidade de Deus”, mas nemsempre foi assim. No passadomuitas vezes não se question-ou a possibilidade de se estarperdendo – sobretudo por

descaso e inércia – uma parteda memória cuja ausência

hoje lamentamos”. A boa notícia é que atual-mente muitos já se consci-entizam da importância depreservar os filmes, apesarda falta de um programa deincentivo governamental,por exemplo. A lei Ruanet éuma ajuda importante paraos produtores, mas deixa asprodutoras dependentes dointeresse de empresas em par-ticipar dos projetos. Uma saí-da simples e de custos baixosseria a realização de mais festi- vais e premiações para o setor.

Porém, o que resolveria deforma definitiva o probelma éa criação de políticas públicasadequadas.

  Ainda é difícil conseguiros recursos para manter ourecuperar nossas produções.Depois desta prática, o que seespera é que os espectadoresbrasileiros possam ter maisacesso à nossa cultura cin-ematográfica, e assim se possaprivilegiar os filmes produzi-dos no Brasil, que contêm osnossos valores e costumes.

CiaImPressão   9Belo HorIzonte, outuBro de 2010

Quem etá à frente da reuperaçõe

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 arquiVo

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Fim ou reomeço?Cm bl Hzt p g l cm tm tv

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Que ligação pode existirentre uma pequena cidade te-  xana, chamada Anarene, euma grande metrópole comoBelo Horizonte? Coisa algu-ma, quase nada. Exceto pelofato de ambas as cidades, cada

uma a seu tempo, terem teste-munhado o fim das tradicio-nais salas de cinema. Mesmocomparando a década de 50nos Estados Unidos com osanos 90 no Brasil, essa relaçãofantasiosa é bastante adequa-da, tendo em vista que o de-senvolvimento tardio das ati-  vidades culturais no Brasil– principalmete a TV - fezcom que a crise dos estabeleci-mentos de exibição de filmestambém tivesse efeito retarda-do. O caso de Anarene dá umpequeno entendimento a res-

peito dos motivos que deter-minaram o fechamento dasgrandes salas de cinema.

 Anarene é a cidade retrata-da pelo diretor Peter Bogda-novich no clássico “A últimasessão de cinema”, de 1971. Ofilme, que aborda as desespe-ranças e infelicidades dos mo-radores da pequena cidade,usa o encerramento das ativi-dades da sala de cinema Royalcomo elemento metafóricodessa desilusão, ao mesmotempo em que expõe a fragili-

dade da sétima arte frente àconcorrência da televisão. Nocaso específico da capital mi-neira, o fim das grandes e ba-daladas salas de cinema pare-ce ter diversas outras razões,entre as quais a especulaçãoimobiliária, a disseminaçãoda TV a cabo e o surgimentodos shoppings centers, comsuas modernas instalações deprojeção. No entanto, para al-guns, como o projecionistaEder Mario Delatore, os anos

difíceis podem ter ficado paratrás. Pesquisador do assunto,ele acredita no retorno dos ci-nemas de rua mas ressalta a

importância de um projetoeficiente, que inclua uma po-lítica de preços populares.

O fenômeno do fechamen-to das grandes salas é bastanterecente, sentido por muitosdos belo-horizontinos commais de 20 anos de idade, masuma de suas principais causas

não é tão nova assim. Desde o

seu planejamento, Belo Hori-zonte não foi concebida paraabrigar uma população dequase três milhões de habi-tantes. Como a cidade temdimensões limitadas, cada es-paço é extremamente valioso,e as salas de cinemas tradicio-nais, por ocuparem áreasmaiores, não foram capazesde manter uma estrutura dis-pendiosa (impostos, aluguéis,taxas). Paralelamente, por lo-calizarem-se em um centro co-mercial, as salas nos shoppin-

gs ganharam localização

estratégica, oferecendo facili-dade de acesso e comodidadescom as quais os antigos cine-mas, empreendimentos volta-dos exclusivamente para a exi-bição de filmes, não foramcapazes de competir

O primeiro cinema da ci-dade foi o teatro Paris, inau-gurado em 1906 e, posterior-mente renomeado paraOdeon. Em 1927, foi inaugu-rado o Cine Glória, controla-do pela produtora cinemato-gráfica Metro-Goldwin-Mayer,com capacidade para 1.200

pessoas. Tivemos também ou-tros nomes marcantes emBelo Horizonte, como o CinePathé, na Savassi, o Cine Pa-dre Eustáquio, que tinha ca-pacidade para 1000 pessoas.Tivemos o Cine Acaiaca, oCine Tupi, com capacidadepara 1.800 pessoas e tambémo importante Cine Brasil. Detodas as salas, a única em ple-no funcionamento atualmen-te é o Cine Humberto Mauro,criado nas dependências doPalácio das Artes em 1978.Para o cineasta e diretor exe-

cutivo do Instituto HumbertoMauro, Victor Almeida, os ci-nemas faziam parte de um ri-tual social, mas, com o desen-  volvimento da sociedade demassas, as pessoas começarama ter acesso a outras formas delazer. “Nos Estados Unidos,ela fez com que fossem muda-dos os filmes. Entre nós, a te-levisão, dispensando as pesso-as de saírem de casa, e, alémdisso, sendo de graça, contri-

buiu para o fechamento dos

cinemas, primeiro no interior,depois nos bairros das capitaise, finalmente, nos seus cine-mas de rua. Não foi o cinemaque perdeu o encanto, é queoutros encantos não cessamde aparecer, explica.

A decadência dos cinemasde bairro foi causada por vá-rios fatores externos, mastambém por falta de planeja-mento. O fechamento das sa-las que, quando não demoli-das, se tornaram templosevangélicos ou centros comer-ciais seria uma prova de que

boa parte da população não énostálgica e preza pela quali-dade dos serviços apresenta-dos, afinal, a dinâmica da ci-dade não permite que aspessoas criem uma mobiliza-ção cultural por pura conveni-ência ou para salvar empreen-dimentos que não lhesoferecem qualidade técnicacomparável à das salas de ci-nema dos shoppings.

O público busca qualida-de de som, imagem e atendi-mento, além de outras opçõesde atividades, facilmente en-

contrados em shoppings. A maioria dos moradores da ca-pital mineira já deve ter idoaos cinemas antes desse perío-do de crise. As salas eram umadiversão legítima e o climasempre festivo. Todavia, filasenormes se formavam, o pú-blico se tornou mais exigentee os cinemas se fecharam.

Cia  ImPressão10 Belo HorIzonte, outuBro de 2010

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Cine Brasil exibe um dos ultimos lmes antes do seu fechamento, ocorrido em julho de 1999

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Mariana Medrano

 arquiVo

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O Cine-Theatro Brasil é omaior exemplo da ascensão equeda dos cinematógrafos deBelo Horizonte. Inauguradoem 1932, foi um marco para o

processo de verticalização dacidade, e sua arquitetura con-tribuiu para o design das ruasda região central. Nos anos 80,sentiu o declínio na procurapelos cinemas convencionais,mas resistiu, popularizandoo gênero dos filmes exibidos.Em 1999 o prédio fechousuas portas, paradoxalmenteno mesmo ano em que foireconhecido pelo PatrimônioHistórico e Artístico.

O cinema está sendo refor-mado e se tornará um centrocultural graças à iniciativa pri-

  vada. Segundo Victor Almei-da, não falta interesse dosórgãos públicos. O governodo Estado está transformandoa Praça da Liberdade numgrande centro cultural a céuaberto e a prefeitura mantém  vários centros culturais embairros de Belo Horizonte.“O projeto do Cine Brasil era,talvez, grande demais para ela(a prefeitura). O principal elafez, que foi impedir que osproprietários destruíssem oedifício. Ela teve também asabedoria de entregar o em-

preendimento para a inicia-tiva privada, que está fazendoum belo trabalho de restaura-ção”, afirma.

CiaImPressão 11Belo HorIzonte, outuBro de 2010

O cine Brailrenae “Se souberem dosar,

terão boas chances”

Qual foi a causa do fecha-mento dos cinemas debairros? Com o adventoda TV o público perdeu oencantamento com o cin-ema?

Não acredito. No caso deBH, praticamente todosos cinemas eram de umproprietário só e, quandoele morreu, as salas foramtransformadas em igrejas,lojas, entre outros. Isso no

início dos anos 90, quan-do a televisão a cabo, porexemplo, estava engatin-

hando, bem como eram in-existentes as grandes tevêsde plasma. Agora, numacoisa estamos de acordo,há uma sensível perda deencantamento do públicopelo cinema, tudo parecehoje girar em torno de umaatração visual combinadacom pipocas e refrigerantescaros e enormes. Há umasobreposição da máquinade consumo, que é notórianos shoppings, sobre as sa-

las, ainda que haja o esfor-ço de alguns por uma pro-gramação mais diferente.

Como fazer com que essepúblico perceba a propostade novos olhares sobre ocinema? Difícil responder,mesmo numa cidade privi-legiada como BH, em quehá um circuito alternativoforte em ação, no qual aSala Humberto Mauro é areferência principal.

 Você acredita que salas decinema como as do CineBrasil vão atrair o grandepúblico, visto que osShoppings oferecem maisopções de lazer, comprase, principalmente, segu-

rança?

Ir ao cinema em shoppinghoje é mais imbatível porestas razões. Eu incluiriaainda o estacionamento.Mas é também muito maiscaro, ao contrário do quese observava nos cinemasdo centro e dos bairros.Contudo, acho que, se ocinema dos centros e dosbairros voltarem, devem in- vestir em algo próximo à for-mação de um público, quenão seja totalmente igual à

programação blockbusterdos shoppings, porque aíeles não vão ter nenhuma

chance. Mas se souberemdosar a proposição de umolhar diferente para o cin-ema, para formar o públicoque vai passar a frequentarali e trazer mais público,combinado com alguma  vantagem de serviço (esta-cionamento, cafés, bares esegurança), creio ter boaschances de sucesso.

  A reforma de alguns cin-emas de BH, como o CineBrasil, está sendo realizada por iniciativa privada. Seelas fossem conduzidaspela Prefeitura, já teriam

sido concluídas?

Tudo depende da políticacultural a ser conduzidapelo município. A prefeitu-ra de BH está demorandoa atuar na área, vide a crisegerada pelo adiamentodo FIT. De um lado, devehaver o interesse político.De outro, o suporte finan-ceiro. No caso do CineBrasil, houve ainda umproblema jurídico para sedefinir qual era o dono doimóvel. Agora vamos espe-

rar que o centro da capitaltenha, novamente, um es-paço de cinema.

Nísio Teixeira, jornalista, professor universitário e ciné-filo acredita na possibilidade do retorno dos cinemasde bairro. Segundo ele, se os cinemas dos centros volta-rem, devem investir na formação de um público difer-enciado daquele das programações dos shoppings parater chances de sucesso.

 arquiVo PessoaL

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CíicaImPressão12 Belo HorIzonte, outuBro de 2010

O beijo bandido de Ney Mc M3º Período

No mês de julho, Ney Mato- grosso trouxe a Belo Horizonte oseu mais recente trabalho, o BeijoBandido. O teatro do Palácio das  Artes foi palco de uma memo-rável viagem por grandes suces-sos da música popular brasileira.Surpreendentemente, o camaleãose despe dos excessos para exibir sua excelência vocal num crite-rioso repertório que passeia entrenomes como Herivelto Martins,  Astor Piazzola, Chico Buarquee também de importantes referên-cias do pop/rock nacional comoPaula Toller, Hebert Viana eCazuza.

De cara limpa e terno cor claro aos moldes dos dançarinosde tango, Ney Matogrosso subiuao palco para mostrar um showíntimo e sedutor. Com perfeitaafinação, cantou uma pequenae irretocável seleção de canções,acompanhado apenas de umquarteto de cordas liderado pelopianista e maestro Leandro Bra- ga.

Mesmo sem fantasia, o can-tor não perde sua expressão tea-tral. Parece sentir cada palavra

interpretada como se realmentevivesse tudo aquilo que canta.

Aos 68 anos, o cantor revelasurpreendente forma vocal. De

tom camerístico, Beijo Bandidose encontra na MPB, mas sem a fantasia e os adereços brilhantes

do trabalho anterior do intér-prete, “Inclassificáveis”. Quembrilha em Beijo Bandido é a vozde Ney, emoldurada por um pia-no, violino e violoncelo.

Tudo posto a serviço de rep-ertório irretocável. Ney consegue

se impor até em músicas “bati-das”. Na sua voz, “Fascinação”  ganha uma de suas mais belasabordagens. Sinal de que Ney não

buscou somente hits populares é a gravação de “Invento” (faixa daqual foi extraído o título “BeijoBandido”), canção do inspiradocompositor gaúcho Vitor Ramil.

Merece destaque tambémsua interpretação para Bichode Sete Cabeças, dramáticacanção de Geraldo Azevedo, ZéRamalho e Renato Rocha, quese transformou num quase choro  graças ao bandolim de Ricardo Amado. Sendo uma das músicasmais aplaudidas pelo público emtodo o espetáculo. E o belíssimosamba-canção, “Doce de Coco”

de Hermínio Bello de Carvalhoe de Jacob do Bandolim, eterni-zado na voz de Elizeth Cardoso,que marcam um dos melhores mo-mentos do show.

 Acima de qualquer clima ourótulo, o show expõe a segurançado intérprete e seu total domíniocênico, resultando ainda melhor do que o álbum de estúdio. BeijoBandido apresenta Ney Mato-  grosso em real estado de graça.É (mais um) grande show desse grande intérprete!

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 Aos 68 anos, o cantor revela sua surpreendente forma vocal

 A arte de Maria Bethânia e as palavrasMc M3º Período

Onde começa uma e terminaa outra? Em seu novo espetáculoa resposta fica mais difícil, poisambas se confundem e entrelaçamprofundamente em uma coisa só.Com a sua voz inconfundível epresença de palco marcante, Ma-ria Bethânia aflora toda a sualigação com o teatro e a poesia

para apresentar leituras que nosremetem a grandes escritores, po-etas e compositores.

 A ligação de Maria Bethâniacom o teatro e com as palavrasnão é nenhuma novidade. Porém,nunca esteve tão evidente comoagora. Em “Maria Bethânia eas palavras”, a cantora se libertapara apresentar algo totalmentepouco usual.

No palco, Bethânia mesclaa leitura de textos, selecionadoscom Hermano Vianna e Elias  Andreatto, e poucas canções,capazes de reafirmar sua íntima

ligação com a palavra escrita.  Acompanhada pelo violonistaLuiz Brasil e o percussionistaCarlos César, entoa versos cunha-dos por grandes nomes da cançãoe das letras de língua portuguesa,como Manuel Bandeira (“Tremde ferro”), Caetano Veloso e Fer-nando Pessoa (“Os argonautas”),  Amália Rodrigues (“Estranha forma de vida”), entre outros.

  Alguns poemas já frequen-ta a h P a

do Menino Jesus, de AlbertoCaeiro, e Ultimatum, de Álvarode Campos, ambos heterônimosde Fernando Pessoa. Outros au-tores escolhidos por Bethâniasão de gêneros e épocas distintas,destacando Guimarães Rosa,Cecília Meireles, Ramos Rosa,Sophia de Mello Breyner An-dersen, José Craveirinha, Padre Antonio Vieira, Fausto Fawcet eFerreira Gullar.

  As músicas entram emtrechos, de modo oposto ao queacontece em seus shows. No rep-ertório, clássicos como ABC doSertão (Luiz Gonzaga), Romaria(Renato Teixeira), Último Paude Arara (J. Guimarães/Venân-cio/Corumbá), Marinheiro Só(adaptação Caetano Veloso),casam perfeitamente com ospoemas declamados resultandonum banquete regado a música epoesia, para o brinde de todos osseus fãs.

  A cada trabalho, a cantorase reinventa sem perder a simpli-

cidade que deixa de imensuráveltamanho a beleza do espetáculo.Nesse não é diferente, com ospés descalços como quem sente a força da terra nordestina em suavida e com a voz de uma pessoavitoriosa cada palavra ganha cor-po, alma e voz e ocupa cada la-cuna exposta por nossa carênciapoética e se transforma em algoque transcende os saraus. Faznos acreditar verdadeiramente na

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Heron barbosa